Você está na página 1de 5

Seminários de casa

ECT

SEMINÁRIO II – SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO


TRIBUTÁRIO, MANDADO DE SEGURANÇA E LIMINARES

Carolina Carmagnani

Questões

1. No art. 151 do CTN, que significa o termo "exigibilidade"? Quando surge


essa “exigibilidade”? E, qual o efeito da suspensão da exigibilidade?
Impede-se (i) o lançamento, (ii) a inscrição na dívida ativa, (iii) a execução
fiscal; (iv) todos estes atos?

O termo exigibilidade na esfera tributária diz respeito à possibilidade do


Fisco cobrar do Contribuinte um tributo não pago anteriormente e/ou pago
equivocadamente. Essa “exigibilidade” surge após a lavratura do Auto de
Infração que confirma o não pagamento e/ou o pagamento equivocado pelo
Contribuinte.

Em outras palavras, o Fisco lançando o tributo não pago ou pago


equivocadamente, o aperfeiçoa para cobrança, mediante execução fiscal.
Assim, pode-se concluir que a exigibilidade surge com o lançamento do
crédito tributário. [mesmo antes do vencimento? Mesmo durante o prazo
para impugnação? E no caso de declaração?]

No caso desta exigibilidade ser suspensa, dentre as hipóteses previstas


pelo artigo 151 do CTN, fica então o Fisco vedado de cobrar seu crédito,
ainda que o mesmo continue a existir.

Ou seja, a suspensão da exigibilidade do crédito é uma condição temporária


que não impede o lançamento (tendo em vista que este já deve estar
constituído previamente, confirmando o crédito), mas sim os atos que
decorrem depois deste, quais sejam: a inscrição na dívida ativa e a
execução fiscal.

2. Em que acepção a expressão “crédito tributário" foi utilizada no art. 151 do


CTN? Essa expressão congrega também liames decorrentes da prática de
atos ilícitos (e.g. multa por desrespeito aos deveres instrumentais)? As
hipóteses de “suspensão da exigibilidade do crédito tributário” previstas no
art. 151 do CTN são taxativas? (Vide anexo I).

A expressão “crédito tributário" foi utilizada no art. 151 do CTN em sentido


amplo, i.e. este “crédito tributário” é aquele advindo de um processo
fiscalizatório [não necessariamente, pois há a possibilidade de crédito
tributário constituído sem processo fiscalizatório, por exemplo, declaração
do próprio contribuinte], que resultou na lavratura de um auto de infração,
que formalmente lançou o tributo, tornando-o exigível.

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por pessoas estranhas e desvinculadas de
suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
Seminários de casa
ECT

Neste sentido, as multas decorrentes do descumprimento de obrigações


acessórias também estão englobadas neste crédito, já que também são
resultantes de processos e atos fiscalizatórios prévios.

Quanto à taxatividade das hipóteses de “suspensão da exigibilidade do


crédito tributário” previstas no art. 151 do CTN, deve-se ter em mente o
artigo 146, III, alínea “b”, da Constituição Federal.

Isso porque, de acordo o aludido artigo, caberá à lei complementar


estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre obrigação, lançamento e crédito tributário.

Nesta esteira, como o CTN recebeu status de lei complementar, caberá


então apenas a este ordenamento estipular as hipóteses de suspensão da
exigibilidade do crédito tributário, tal como faz por meio do artigo 151.

Portanto, tem-se que as hipóteses de suspensão são taxativas e limitadas


apenas às hipóteses dispostas pelo art. 151 do CTN, em consonância com
o disposto pela Carta Magna.

3. Sobre o depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória


proposta antes da constituição do crédito tributário, pergunta-se: Trata-se de
faculdade do contribuinte? Há distinção entre depósito judicial para fins do
artigo 151, II do CTN e a prestação de caução em dinheiro? O levantamento
do depósito judicial pelo contribuinte vincula-se ao êxito (com trânsito em
julgado) da ação ou o juiz pode a qualquer tempo autorizar o levantamento
do depósito? (Vide anexo II).

O depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória proposta


antes da constituição do crédito tributário é uma faculdade do Contribuinte,
pois, caso venha a receber um auto de infração cobrando o tributo ora
debatido na ação, já quer suspender a sua exigibilidade.

Este depósito, caso feito, se assemelha à prestação de caução em dinheiro,


tendo em vista que este último é uma forma de suspensão
da execução do crédito tributário para que este seja discutido por meio de
embargos à execução.

Ainda, o levantamento do depósito pelo contribuinte vincula-se ao trânsito


em julgado de sentença de mérito favorável, pois, na hipótese da decisão
lhe ser desfavorável, o tributo ora cobrado deverá ser recolhido na forma da
garantia oferecida, ou seja, mediante a conversão em renda do depósito, tal
como o próprio STJ já definiu:

“TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO


EM RECURSO ESPECIAL.COFINS. COISA JULGADA.
DEPÓSITO JUDICIAL. LEVANTAMENTO DOS
VALORES. CONTRIBUINTE VENCEDOR NA
DEMANDA.

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por pessoas estranhas e desvinculadas de
suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
Seminários de casa
ECT

REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO


NÃO PROVIDO.1. O depósito judicial suspende a
exigibilidade do crédito tributário, conforme art. 151, II,
do CTN. Com a superveniência do trânsito em
julgado da sentença, poderá ser levantado pelo
contribuinte, se ele obtiver êxito na demanda, ou,
caso contrário, deverá ser convertido em renda,
ressalvando que em ambos os casos os valores devem
ser atualizados monetariamente, conforme arts. 1º, § 3º,
I e II, da Lei 9.703/98 e 32 da Lei 6.830/80.” (AgRg no
AREsp 274554, acórdão publicado em 01/07/2013)

Ocorre que esta possibilidade de levantamento de depósito feito apenas


após o transito em julgado da sentença se mostra equivocada quando se
trata de uma ação declaratória, pois, como esta ação visa afastar uma
eventual relação jurídica entre Fisco e Contribuinte, não teria por que, em
caso desta ação ser favorável ao Fisco, o depósito ser convertido em renda
deste.

Em outras palavras, o Fisco ficando com o valor depositado pelo


Contribuinte estaria cometendo enriquecimento ilícito, pois não havia, à
época da ação, uma cobrança em andamento na qual o Contribuinte teria
de arcar.

Portanto, no caso de uma ação declaratória, na qual se busca a declaração


de existência ou não de uma relação jurídica, o juiz só poderia transformar
o depósito feito pelo Contribuinte em renda em prol do Fisco com sua
anuência, tendo em vista que esta renda não seria um direito adquirido
deste último (faltaria ainda o lançamento do crédito, sua inscrição em dívida
ativa e a execução fiscal).

4. Há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o


crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de liminar
concedida em Mandado de Segurança, posteriormente cassada por ocasião
da sentença? E se a liminar foi concedida depois de vencido o prazo para
pagamento do tributo? (Vide anexos III e IV).

Não há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em


que o crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de
liminar concedida em Mandado de Segurança, ainda que posteriormente
cassada por ocasião da sentença, porque, em relação à multa, muito
embora a mesma seja uma sanção administrativa por descumprimento de
obrigação, no presente caso, o descumprimento ocorreu em razão de uma
ordem judicial (liminar), sendo assim uma exceção à aplicação da multa.

Tanto é que assim dispõe o parágrafo 2º do art. 63 da Lei nº 9.430/96: “a


interposição da ação judicial favorecida com a medida liminar

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por pessoas estranhas e desvinculadas de
suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
Seminários de casa
ECT

interrompe a incidência da multa de mora, desde a


concessão da medida judicial, até 30 dias após a data da publicação da
decisão judicial que considerar devido o tributo ou contribuição.”

Os juros moratórios também não seriam aplicáveis, pois tratam de uma


punição pela inadimplência, e, como a cobrança do tributo tinha sido
afastada pela liminar, não tinha que se falar em falta de pagamento à época
em que a cobrança ficou afastada.

Todavia, no caso de a liminar ser concedida depois de vencido o prazo para


pagamento do tributo, uma vez cassada a liminar e restando o contribuinte
sem êxito, tem este a obrigação de pagar o tributo juntamente com os juros
e multa.

Isso porque, à época que a liminar foi concedida, o descumprimento e o


inadimplemento da obrigação já tinham se caracterizado. Com a liminar
cassada, nada mais afastaria este descumprimento e o inadimplemento,
dando ensejo assim aos juros e multa correspondentes.

5. Dado o seguinte caso concreto: Gênesis Waves Ltda. obteve liminar em


Mandado de Segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário
que posteriormente foi “cassada” pela sentença de denegação da
segurança. Pergunta-se: na hipótese de a empresa apelar da sentença que
“cassou” a liminar, o recebimento de sua apelação no efeito suspensivo e
devolutivo tem o condão de afastar os efeitos da sentença e reconstituir os
efeitos da liminar? (Vide anexo V).

Na hipótese de a empresa apelar da sentença que “cassou” a liminar, o


recebimento de sua apelação no efeito suspensivo e devolutivo não tem o
condão de afastar os efeitos da sentença e reconstituir os efeitos da liminar,
pois como esta ordem judicial foi concedida com base nos pressupostos da
verossimilhança das alegações do autor, com o julgamento improcedente
esta verossimilhança se desfaz.

Ademais, aplicando-se analogicamente o disposto na Lei de Introdução ao


Direito Brasileiro (LIDB), que proíbe que uma lei que anula uma norma
revogadora, faça a norma revogada ganhar novamente seus efeitos, no
presente caso a apelação não pode reconstituir os efeitos da liminar.

Súmula nº 405 – Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no


julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida,
retroagindo os efeitos da decisão contrária.

Vale dizer ainda que o correto, no caso, seria a apelação da empresa


receber apenas efeito devolutivo, pois, nas palavras do Ministro Humberto
Gomes de Barros, no REsp 768.363/SP, “não há dúvida de que se o juiz
julga, numa só sentença, os processos cautelar e principal, a apelação
interposta terá efeito meramente devolutivo no que toca a

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por pessoas estranhas e desvinculadas de
suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
Seminários de casa
ECT

cautelar (...) é razoável interpretar extensivamente o art.


520, VII, do CPC, que determina a concessão apenas de efeito devolutivo à
apelação interposta contra sentença que confirma a antecipação de tutela.”

6. Com a edição da Lei Federal nº 12.016/2009 o magistrado no momento em


que concede a medida liminar está autorizado a determinar o oferecimento
de caução pelo Impetrante (art. 7º, III). Pergunta-se: (i) qual a natureza
jurídica dessa caução? (ii) na hipótese de se tratar de
Mandado de Segurança preventivo, como deverá o juiz proceder ao
determinar a caução, já que não há crédito tributário constituído?

A natureza jurídica da caução está vinculada à proteção, pois ela é uma


medida tomada para se acautelar contra um dano provável.

Na hipótese de se tratar de Mandado de Segurança preventivo, não deve o


juiz proceder com o pedido de caução. Isso pois, se não há credito tributário
constituído, não pode se falar em um provável dano ao Fisco, que nem
procedeu com o lançamento do crédito.

Inclusive, quem sofreria o dano se fosse pedida a caução seria o


Contribuinte, pois, se ele está impetrando o Mandado de Segurança
preventivo é porque ele não tem a certeza da incidência do tributo e quer
discuti-lo. Colocar a caução para poder ocorrer essa discussão é uma forma
de obstar seu devido processo legal.

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por pessoas estranhas e desvinculadas de
suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.

Você também pode gostar