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COMENTADO A LUZ DA RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA

NOVO
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

A.COUTO & ADVOGADOS ASSOCIADOS


A.Couto & Advogados Associados

Antonio Ferreira Couto Filho


Alex Pereira Souza

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1ª Edição - 2010

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eletrônico ou mecânico, inclusive por processos xerográficos, de
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5.998, de 14.12.73)

Reservados os direitos de propriedade desta edição pela


A.Couto & Advogados Associados
SUMÁRIO

Novo Código de Ética Médica..............................................................07

Comentários sobre o Código................................................................24

Conclusão.............................................................................................47
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

RESOLUÇÃO CFM Nº 1931/2009 CONSIDERANDO o decidido pelo Conselho Pleno Nacional reunido em 29
(Publicada no D.O.U. de 24 de setembro de 2009, Seção I, p. 90) de agosto de 2009;
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido em sessão plenária de 17 de
Aprova o Código de Ética Médica. setembro de 2009.

RESOLVE:
O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições Art. 1º Aprovar o Código de Ética Médica, anexo a esta Resolução, após sua
conferidas pela Lei n.º 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada revisão e atualização.
pelo Decreto n.º 44.045, de 19 de julho de 1958, modificado pelo Decreto
n.º 6.821, de 14 de abril de 2009 e pela Lei n.º 11.000, de 15 de dezembro Art. 2º O Conselho Federal de Medicina, sempre que necessário, expedirá
de 2004, e, consubstanciado nas Leis n.º 6.828, de 29 de outubro de 1980 Resoluções que complementem este Código de Ética Médica e facilitem sua
e Lei n.º 9.784, de 29 de janeiro de 1999; e aplicação.

CONSIDERANDO que os Conselhos de Medicina são ao mesmo tempo Art. 3º O Código anexo a esta Resolução entra em vigor cento e oitenta dias
julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e após a data de sua publicação e, a partir daí, revoga-se o Código de Ética
trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho Médica aprovado pela Resolução CFM n.º 1.246, publicada no Diário Oficial
ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a da União, no dia 26 de janeiro de 1988, Seção I, páginas 1574-1579, bem
exerçam legalmente; como as demais disposições em contrário.

CONSIDERANDO que as normas do Código de Ética Médica devem Brasília, 17 de setembro de 2009
submeter-se aos dispositivos constitucionais vigentes; EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE
LÍVIA BARROS GARÇÃO
CONSIDERANDO a busca de melhor relacionamento com o paciente e a PresidenteSecretária-Geral
garantia de maior autonomia à sua vontade;

CONSIDERANDO as propostas formuladas ao longo dos anos de 2008 e


2009 e pelos Conselhos Regionais de Medicina, pelas Entidades
Médicas, pelos médicos e por instituições científicas e universitárias para
a revisão do atual Código de Ética Médica;

CONSIDERANDO as decisões da IV Conferência Nacional de Ética


Médica que elaborou, com participação de Delegados Médicos de todo o
Brasil, um novo Código de Ética Médica revisado.

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CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA Capítulo VIII:


Remuneração
Resolução CFM nº 1931/2009, publicada no D.O.U de 24 de Profissional...................................................................................... Pág. 22
setembro de 2009.
Capítulo IX:
Índice Sigilo Profissional............................................................................ Pág. 24
Preâmbulo......................................................................................Pág.7
Capítulo X:
Capítulo I: Documentos Médicos...................................................................... Pág. 25
Princípios
Fundamentais................................................................................ Pág. 8 Capítulo XI:
Auditoria e Perícia Médica.............................................................. Pág. 27
Capítulo II:
Direitos do Capítulo XII:
Médicos........................................................................................ Pág.11 Ensino e Pesquisa Médica.............................................................. Pág. 28

Capítulo III: Capítulo XIII:


Responsabilidade Publicidade Médica ........................................................................ Pág.30
Profissional................................................................................... Pág.13
Capítulo XIV:
Capítulo IV: Disposições
Direitos Gerais.............................................................................................. Pág. 31
Humanos.......................................................................................Pág.16

Capítulo V:
Relação com Pacientes e
Familiares.................................................................................... Pág. 17

Capítulo VI:
Doação e Transplante de Órgãos e
Tecidos........................................................................................ Pág. 20

Capítulo VII:
Relação entre
Médicos....................................................................................... Pág. 20

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Preâmbulo Capítulo I
Princípios Fundamentais
I - O presente Código de Ética Médica contém as normas que devem ser -A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da
seguidas pelos médicos no exercício de sua profissão, inclusive no coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza.
exercício de atividades relativas ao ensino, à pesquisa e à administração
de serviços de saúde, bem como no exercício de quaisquer outras II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em
atividades em que se utilize o conhecimento advindo do estudo da benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua
Medicina. capacidade profissional.

II - As organizações de prestação de serviços médicos estão sujeitas às III - Para exercer a Medicina com honra e dignidade, o médico necessita
normas deste Código. ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa.

III - Para o exercício da Medicina impõe-se a inscrição no Conselho IV - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da
Regional do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal. Medicina, bem como pelo prestígio e bom conceito da profissão.

IV - A fim de garantir o acatamento e a cabal execução deste Código o V - Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e
médico comunicará ao Conselho Regional de Medicina, com discrição e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.
fundamento, fatos de que tenha conhecimento e que caracterizem
possível infração do presente Código e das demais Normas que regulam VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará
o exercício da Medicina. sempre em seu benefício Jamais utilizará seus conhecimentos para
causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano, ou
V - A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.
Código é atribuição dos Conselhos de VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo
Medicina, das Comissões de Ética, das autoridades da área de Saúde e obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua
dos médicos em geral. consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência
de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua
VI – Este Código de Ética Médica é composto de 25 princípios recusa possa trazer danos à saúde do paciente.
fundamentais do exercício da Medicina, 10normas diceológicas, 118
normas deontológicas e cinco disposições gerais. A transgressão das VIII - O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum
normas deontológicas sujeitará os infratores às penas disciplinares pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer
previstas em lei. restrições ou imposições que possam prejudicar a eficácia e correção de
seu trabalho.

IX - A Medicina não pode, em nenhuma circunstância ou forma, ser exercida


como comércio.

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X - O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com postulados éticos.
objetivos de lucro, finalidade política ou religiosa.
XIX – O médico se responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido,
XI - O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha pelos seus atos profissionais, resultantes de relação particular de confiança
conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos e executados com diligência, competência e prudência.
previstos em lei.
XX - A natureza personalíssima da atuação profissional do médico não
XII - O médico empenhar-se-á pela melhor adequação do trabalho ao ser caracteriza relação de consumo.
humano, pela eliminação e controle dos riscos à saúde inerentes às
atividades laborais. XXI – No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com
seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as
XIII - O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e
formas de deterioração do ecossistema, prejudiciais à saúde e à vida. terapêuticos por eles expressos, desde que adequados ao caso e
cientificamente reconhecidas.
XIV - O médico empenhar-se-á em melhorar os padrões dos serviços
médicos e em assumir sua responsabilidade em relação à saúde pública, XXII – Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a
à educação sanitária e à legislação referente à saúde. realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e
propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos
XV - O médico será solidário com os movimentos de defesa da dignidade apropriados.
profissional, seja por remuneração digna e justa, seja por condições de
trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu XXIII – Quando envolvido na produção de conhecimento cientifico, o médico
aprimoramento técnico-científico. agirá com isenção e independência, visando ao maior beneficio para os
pacientes e a sociedade.
XVI - Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de
instituição pública ou privada, limitará a escolha, pelo médico, dos meios XXIV – Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou
cientificamente reconhecidos a serem praticados para o estabelecimento qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem
do diagnóstico e da execução do tratamento, salvo quando em benefício como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa.
do paciente.
XXV – Na aplicação dos conhecimentos criados pelas tecnologias,
XVII – As relações do médico com os demais profissionais devem basear- considerando-se suas repercussões tanto nas gerações presentes quanto
se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, nas futuras, o médico zelará para que as pessoas não sejam discriminadas
buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente. por nenhuma razão vinculada a herança genética, protegendo-as em sua
dignidade, identidade e integridade.
XVIII - O médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e
solidariedade, sem se eximir de denunciar atos que contrariem os

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Capítulo II Medicina da pertinente jurisdição.


Direitos do Médico
VII - Requerer desagravo público ao Conselho Regional de Medicina
É direito do médico: quando atingido no exercício de sua profissão.

- Exercer a Medicina sem ser discriminado por questões de religião, VIII – Decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua
etnia, sexo, nacionalidade, cor ,orientação sexual, idade, condição social, experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao
opinião política, ou de qualquer outra natureza. paciente, evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas venha a
prejudicá-lo.
II - Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas
cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente..
IX - Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei,
III - Apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das sejam contrários aos ditames de sua consciência.
instituições em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da
profissão ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros, devendo X – Estabelecer seus horários de forma justa e digna.
dirigir-se, nesses casos, aos órgãos competentes e, obrigatoriamente, à
Comissão de Ética e ao Conselho Regional de Medicina de sua
jurisdição.

IV - Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada


onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar a
própria saúde ou a do paciente, bem como a dos demais profissionais.
Nesse caso, comunicará imediatamente sua decisão à comissão de ética
e ao Conselho Regional de Medicina.

V - Suspender suas atividades, individualmente ou coletivamente,


quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer
condições adequadas para o exercício profissional ou não o remunerar
digna e justamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência,
devendo comunicar imediatamente sua decisão ao Conselho Regional
de Medicina.

VI - Internar e assistir seus pacientes em hospitais privados com ou sem


caráter filantrópico ou não, ainda que não faça parte do seu corpo clínico,
respeitadas as normas técnicas aprovadas pelo Conselho Regional de

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Capítulo III Art. 9º - Deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou


Responsabilidade Profissional abandoná-lo sem a presença de
substituto, salvo por justo impedimento.
É vedado ao médico:
Parágrafo único: Na ausência de médico plantonista substituto, a direção
Art. 1º - Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável técnica do estabelecimento de saúde deve providenciar a substituição.
como imperícia, imprudência ou negligência.

Parágrafo único: A responsabilidade médica é sempre pessoal e não Art. 10 - Acumpliciar-se com os que exercem ilegalmente a Medicina, ou
pode ser presumida. com profissionais ou instituições médicas que pratiquem atos ilícitos.

Art. 11 – Receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem


Art. 2º - Delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da a devida identificação de seu número de registro no conselho Regional de
profissão médica. Medicina da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas de
receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos médicos.
Art. 3º - Deixar de assumir responsabilidade sobre procedimento médico
que indicou ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham Art. 12 - Deixar de esclarecer o trabalhador sobre condições de trabalho que
assistido o paciente. ponham em risco sua saúde, devendo comunicar o fato aos empregadores
Art. 4º - Deixar de assumir a responsabilidade de qualquer ato profissional responsáveis.
que tenha praticado ou indicado, ainda que este tenha sido solicitado ou
consentido pelo paciente ou por seu representante legal. Parágrafo único: Se o fato persistir, é dever do médico comunicar o ocorrido
às autoridades competentes e ao Conselho Regional de Medicina.
Art. 5º - Assumir responsabilidade por ato médico que não praticou ou do
qual não participou. Art. 13 - Deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais,
ambientais ou profissionais de sua doença.
Art. 6º - Atribuir seus insucessos a terceiros e a circunstâncias ocasionais, Art. 14 - Praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela
exceto nos casos em que isso possa ser devidamente comprovado. legislação do País.

Art. 7º - Deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando Art. 15 - Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de
for de sua obrigação fazê-lo, expondo a risco a vida de pacientes, mesmo órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação artificial e abortamento,
respaldado por decisão majoritária da categoria. manipulação ou terapia genética.

Art. 8º - Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo § 1º No caso de procriação medicamente assistida, a fertilização não deve
temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento conduzir sistematicamente à ocorrência de embriões supranumerários.
de seus pacientes em estado grave.

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§ 2º O médico não deve realizar a procriação medicamente assistida com paciente ou da sociedade.
nenhum dos seguintes objetivos:
Art. 21 - Deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir a
I – criar seres humanos geneticamente modificados; legislação pertinente.

II – criar embriões para investigação; Capítulo IV


Direitos Humanos
III – criar embriões com finalidades de escolha de sexo, eugenia ou para
originar híbridos ou quimeras. É vedado ao médico:

§ 3º Praticar procedimento de procriação medicamente assistida sem que Art. 22 – Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu
os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado,
sobre o mesmo. salvo em caso de risco iminente de morte.

Art. 16 – Intervir sobre o genoma humano com vista à sua modificação,


exceto na terapia gênica, excluindo-se qualquer ação em células Art. 23 – Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar
germinativas que resulte na modificação genética da descendência. sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto.

Art. 17 - Deixar de cumprir, salvo por justo motivo, as normas emanadas Art. 24 – Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir
dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina e de atender às suas livremente
requisições administrativas, intimações ou notificações, no prazo sobre a sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade
determinado. para limitá-lo .

Art. 18 – Desobedecer aos acórdãos e às resoluções dos Conselhos Art. 25 – Deixar de denunciar prática de tortura ou de procedimentos
Federal e Regionais de Medicina ou desrespeitá-los. degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente
com quem as realize ou fornecer meios, instrumentos, substâncias ou
Art. 19 – Deixar de assegurar, quando investido de cargo ou função de conhecimentos que as facilitem.
direção, os direitos médicos e as demais condições adequadas para o
desempenho ético-profissional da Medicina. Art. 26 - Deixar de respeitar a vontade de qualquer pessoa, considerada
capaz física e mentalmente, em greve de fome, ou alimentá-la
Art. 20 – Permitir que interesses pecuniários, políticos, religiosos ou de compulsoriamente, devendo cientificá-la das prováveis complicações do
quaisquer outras ordens, do seu empregador ou superior hierárquico ou jejum prolongado e, na hipótese de risco iminente de morte, tratá-la.
do financiador público ou privado da assistência à saúde interfiram na
escolha dos melhores meios de prevenção, diagnóstico ou tratamento Art. 27 - Desrespeitar a integridade física e mental do paciente ou utilizar-se
disponíveis e cientificamente reconhecidos no interesse da saúde do de meio que possa alterar a personalidade ou sua consciência em

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investigação policial ou de qualquer outra natureza. riscos e objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa
provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação a seu responsável
Art. 28 - Desrespeitar o interesse e a integridade de paciente, em legal.
qualquer instituição na qual o mesmo esteja recolhido
independentemente da própria vontade. Art. 35 - Exagerar a gravidade do diagnóstico ou prognóstico, complicar a
Parágrafo Único: Caso ocorram quaisquer atos lesivos à personalidade e terapêutica, ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer
à saúde física ou psíquica dos pacientes confiados ao médico, este outros procedimentos médicos.
estará obrigado a denunciar o fato à autoridade competente e ao
Conselho Regional de Medicina. Art. 36 - Abandonar paciente sob seus cuidados.

Art. 29 – Participar, direta ou indiretamente, da execução de pena de § 1° - Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom
morte. relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o
médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique
Art. 30 - Usar da profissão para corromper os costumes, cometer ou previamente ao paciente ou seu representante legal, assegurando-se da
favorecer crime. continuidade dos cuidados e fornecendo
todas as informações necessárias ao médico que lhe suceder.

Capítulo V § 2° - Salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou aos a seus


Relação com Pacientes e Familiares familiares, o médico não abandonará o paciente por ser este portador de
moléstia crônica ou incurável e continuará a assisti-lo ainda que para
É vedado ao médico: cuidados paliativos.

Art. 31 - Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal Art. 37 - Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto
de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade
terapêuticas, salvo em caso de iminente riso de morte. comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente
após cessar o impedimento.
Art. 32 - Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e
tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance em favor do Parágrafo único: O atendimento médico a distância, nos moldes da
paciente. telemedicina ou outro método, dar-se-á sob regulamentação do Conselho
Federal de Medicina.
Art. 33 - Deixar de atender paciente que procure seus cuidados
profissionais em casos de urgência ou emergência, quando não haja Art. 38 - Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados
outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo. profissionais.

Art. 34 - Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os Art. 39 - Opor-se à realização de junta médica ou segunda opinião solicitada

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pelo paciente ou seu responsável legal. Capítulo VI


Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos
Art. 40 - Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-
paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou de É vedado ao médico:
qualquer outra natureza.
Art. 43 - Participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão de
Art. 41 – Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu suspender meios artificiais para prolongar a vida do possível doador,
representante legal. quando pertencente à equipe de transplante.

Parágrafo único: Nos casos de doença incurável e terminal, deve o Art. 44 – Deixar de esclarecer o doador, o receptor ou seus representantes
médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem legais sobre os riscos decorrentes de exames , intervenções cirúrgicas e
empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, outros procedimentos nos casos de transplantes de órgãos.
levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na
sua impossibilidade, a de seu representante legal. Art. 45 - Retirar órgão de doador vivo, quando este for juridicamente
incapaz, mesmo se houver autorização de seu representante legal, exceto
Art. 42 - Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre o nos casos permitidos e regulamentados em lei.
método contraceptivo, devendo sempre esclarecê-lo sobre a indicação,
segurança, reversibilidade e risco de cada método. Art. 46 - Participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos ou
de tecidos humanos.

Capítulo VII
Relações Entre Médicos

É vedado ao médico:

Art. 47 - Usar de sua posição hierárquica para impedir, por motivo de crença
religiosa, convicção filosófica, política, interesse econômico ou qualquer
outro, que não técnico-científico ou ético, que as instalações e os demais
recursos da instituição sob sua direção, sejam utilizados por outros
médicos no exercício da profissão, particularmente se forem os únicos
existentes no local.

Art. 48 - Assumir emprego, cargo ou função para suceder médico demitido


ou afastado em represália à atitude de defesa de movimentos legítimos da
categoria ou da aplicação deste Código.

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Art. 49 - Assumir condutas contrárias a movimentos legítimos da Capítulo VIII


categoria médica, com a finalidade de obter vantagens. Remuneração Profissional
Art. 50 - Acobertar erro ou conduta antiética de médico.
É vedado ao médico:
Art. 51 - Praticar concorrência desleal com outro médico.
Art. 58 – O exercício mercantilista da Medicina.
Art. 52 – Desrespeitar Alterar prescrição ou tratamento de paciente,
determinado por outro médico, mesmo quando em função de chefia ou Art. 59 – Oferecer ou aceitar remuneração ou vantagens por paciente
de auditoria, salvo em situação de indiscutível benefício para o paciente, encaminhado ou recebido, bem como por atendimentos não prestados.
devendo comunicar imediatamente o fato ao médico responsável.
Art. 60 - Permitir a inclusão de nomes de profissionais que não participaram
Art. 53 - Deixar de encaminhar o paciente que lhe foi enviado para do ato médico, para efeito de cobrança de honorários.
procedimento especializado de volta ao médico assistente e, na ocasião,
fornecer-lhe as devidas informações sobre o ocorrido no período em Art. 61 - Deixar de ajustar previamente com o paciente o custo estimado dos
quepor ele se responsabilizou. procedimentos.

Art. 54 - Deixar de fornecer a outro médico informações sobre o quadro Art. 62 – Subordinar os honorários ao resultado do tratamento ou à cura do
clínico de paciente, desde que autorizado por este ou por seu paciente.
representante legal.
Art. 63 - Explorar o trabalho de outro médico, isoladamente ou em equipe, na
Art. 55 - Deixar de informar ao substituto o quadro clínico dos pacientes condição de proprietário, sócio, dirigente ou gestor de empresas ou
sob sua responsabilidade ao ser substituído ao fim do seu turno de instituições
trabalho. prestadoras de serviços médicos.

Art. 56 - Utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus Art. 64 - Agenciar, aliciar ou desviar, por qualquer meio, para clínica
subordinados atuem dentro dos particular ou instituições de qualquer natureza, paciente atendido pelo
princípios éticos. sistema público de saúde ou dele utilizar-se para execução de
procedimentos médicos em sua clínica privada, como forma de obter
Art. 57 – Deixar de denunciar atos que contrariem os postulados éticos à vantagens pessoais.
comissão de ética da instituição em que exerce seu trabalho profissional
e, se necessário, ao Conselho Regional de Medicina. Art. 65 - Cobrar honorários de paciente assistido em instituição que se
destina à prestação de serviços públicos; ou receber remuneração de
paciente como complemento de salário ou de honorários.

Art. 66 – Praticar dupla cobrança por ato médico realizado.

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Parágrafo único: A complementação de honorários em serviço privado Capítulo IX


pode ser cobrada quando prevista em contrato. Sigilo Profissional

Art. 67 – Deixar de manter a integridade do pagamento e permitir É vedado ao médico:


descontos ou retenção de honorários, salvo os previstos em lei, quando
em função de direção ou de chefia. Art. 73 - Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de
sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por
Art. 68 - Exercer a profissão com interação ou dependência de farmácia, escrito, do paciente.
indústria farmacêutica, óptica ou qualquer organização destinada à Parágrafo único: Permanece essa proibição: a) Mesmo que o fato seja de
fabricação, manipulação, promoção ou comercialização de produto de conhecimento público ou o paciente tenha falecido. b) Quando de seu
prescrição médica qualquer que seja a sua natureza. depoimento como testemunha. Nesta hipótese, o médico comparecerá
perante a autoridade e declarará seu impedimento;c) na investigação de
Art. 69 - Exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia ou obter suspeita de crime, o médico estará impedido de revelar segredo que possa
vantagem pelo encaminhamento de procedimentos, pela expor o paciente a processo penal.
comercialização de medicamentos, órteses, próteses ou implantes de
qualquer natureza, cuja compra decorra da influência direta em virtude da Art. 74 - Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade,
sua atividade profissional. inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha
capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa
Art. 70 - Deixar de apresentar separadamente seus honorários quando acarretar dano ao paciente.
outros profissionais participarem do atendimento ao paciente.
Art. 75 - Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou
Art. 71 - Oferecer seus serviços profissionais como prêmio, qualquer que seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos
seja sua natureza. médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do
paciente.
Art. 72 – Estabelecer vínculo de qualquer natureza com empresas que
anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de Art. 76 - Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame
descontos os consórcios para procedimentos médicos. médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos dirigentes de
empresas ou de instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos
empregados ou da comunidade.

Art. 77 - Prestar informações a empresas seguradoras sobre as


circunstâncias da morte do paciente sob seus cuidados, além das contidas
na declaração de óbito, salvo por expresso consentimento do seu
representante legal.

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 23 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 24
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

Art. 78 - Deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo Art. 87 - Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.
profissional e zelar para que seja por eles mantido.
§ 1º O prontuário deve conter os dados clínicos necessários para a boa
Art. 79 - Deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem
honorários por meio judicial ou extrajudicial. cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico
no Conselho Regional de Medicina.

Capítulo X § 2º O prontuário estará sob guarda do médico ou da instituição que


Documentos Médicos assiste o paciente.

É vedado ao médico: Art. 88 - Negar, ao paciente, acesso ao seu prontuário, deixar de lhe
oferecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações
Art. 80 - Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao
que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade. próprio paciente ou a terceiros.

Art. 81 - Atestar como forma de obter vantagens. Art. 89 – Liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando
autorizado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para
Art. 82 - Usar formulários de instituições públicas para prescrever ou sua própria defesa.
atestar fatos verificados na clínica privada.
§ 1º Quando requisitado judicialmente o prontuário será disponibilizado
Art. 83 - Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou ao perito médico nomeado pelo juiz.
quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último
caso, se o fizer como plantonista, médico substituto, ou em caso de § 2º Quando o prontuário for apresentado em sua própria defesa, o
necropsia e verificação médico-legal. médico deverá solicitar que seja observado o sigilo profissional.

Art. 84 - Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando Art. 90 – Deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente
assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta. quando requisitado pelos Conselhos Regionais de Medicina.

Art. 85 – Permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por Art. 91 – Deixar de atestar atos executados no exercício profissional,
pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua quando solicitado pelo paciente ou por seu representante legal.
responsabilidade.

Art. 86 – Deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu


representante legal quando aquele for encaminhado ou transferido para
continuação do tratamento ou em caso de solicitação de alta.

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Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

Capítulo XI Capítulo XII


Auditoria e Perícia Médica Ensino e Pesquisa Médica
É vedado ao médico:
É vedado ao médico:
Art. 92 - Assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-
legal, quando não o tenha realizado pessoalmente o exame. Art. 99 - Participar de qualquer tipo de experiência envolvendo seres
humanos com fins bélicos, políticos, étnicos, eugênicos ou outros que
Art. 93 - Ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua atentem contra a dignidade humana.
família ou de qualquer pessoa com a qual tenha relações capazes de
influir em seu trabalho ou de empresa em que atue ou tenha atuado. Art. 100 – Deixar de obter aprovação de protocolo para a realização de
pesquisa em seres humanos, de acordo com a legislação vigente.
Art. 94 - Intervir, quando em função de auditor, assistente técnico ou
perito, nos atos profissionais de outro médico, ou fazer qualquer Art. 101 – Deixar de obter do paciente ou de seu representante legal o termo
apreciação em presença do examinado, reservando suas observações de consentimento livre e esclarecido para a realização de pesquisa
para o relatório. envolvendo seres humanos após as devidas explicações sobre a natureza e
as conseqüências da pesquisa.
Art. 95 – Realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres
humanos no interior de prédios ou de dependências de delegacias de Parágrafo único: No caso do sujeito de pesquisa ser menor de idade, além
polícia, unidades militares, casas de detenção e presídios. do consentimento se seu representante legal, é necessário seu
assentimento livre e esclarecido na medida de sua compreensão.
Art. 96 – Receber remuneração ou gratificação por valores vinculados À
glosa ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou de auditor. Art. 102 – Deixar de utilizar a terapêutica correta, quando seu uso estiver
liberado no País.
Art. 97 – Autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de
auditor ou de perito, procedimentos propedêuticos ou terapêuticos Parágrafo único: A utilização de terapêutica experimental é permitida
instituídos, salvo, no último caso, em situações de urgência, emergência quando aceita pelos Órgãos competentes e com o consentimento do
ou iminente perigo de morte do paciente, comunicando, por escrito, o fato paciente ou de seu representante legal, adequadamente esclarecidos da
ao médico assistente. situação e das possíveis conseqüências.

Art. 98- Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para Art. 103 – Realizar pesquisa em uma comunidade sem antes informá-la e
servir como perito ou como auditor, bem como ultrapassar os limites de esclarecê-la sobre a natureza da investigação e deixar de atender ao
suas atribuições e de sua competência. objetivo de proteção à saúde pública, respeitadas as características locais
e a legislação pertinente.
Parágrafo único: O médico tem direito a justa remuneração pela
realização do exame pericial. Art. 104 – Deixar de manter independência profissional e científica em

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 27 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 28
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

relação a financiadores de pesquisa médica , satisfazendo interesse Capítulo XIII


comercial ou obtendo vantagens pessoais. Publicidade Médica

Art. 105 - Realizar pesquisa médica em sujeitos que sejam direta ou É vedado ao médico:
indiretamente dependentes ou subordinados ao pesquisador.
Art. 111 - Permitir que sua participação na divulgação de assuntos médicos,
Art. 106 - Manter vínculo de qualquer natureza com pesquisas médicas, em qualquer meio de comunicação de massa, deixe de ter caráter
envolvendo seres humanos, que usem placebo em seus experimentos, exclusivamente de esclarecimento e educação da sociedade.
quando houver tratamento eficaz e efetivo para a doença pesquisada.
Art. 112 - Divulgar informação sobre o assunto médico de forma
Art. 107 – Publicar em seu nome trabalho científico do qual não tenha sensacionalista, promocional, ou de conteúdo inverídico.
participado; atribuir-se autoria exclusiva de trabalho realizado porseus
subordinados ou outros profissionais, mesmo quando executados sob Art. 113 - Divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou
sua orientação, bem como omitir do artigo científico o nome de quem dele descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido por
tenha participado. órgão competente.

Art. 108 – Utilizar dados, informações ou opiniões ainda não publicados, Art. 114 – Consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de
sem referência ao seu autor ou sem sua autorização por escrito. comunicação de massa.

Art. 109 – Deixar de zelar, quando docente ou autor de publicações Art. 115 - Anunciar títulos científicos que não possa comprovar e
científicas, pela veracidade, clareza e imparcialidade das informações especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e
apresentadas bem como deixar de declarar relações com a indústria de registrado no Conselho Regional de Medicina.
medicamentos, órteses, próteses, equipamentos, implantes de qualquer
natureza e outras que possam configurar conflitos de interesses, ainda Art. 116 - Participar de anúncios de empresas comerciais qualquer que seja
que em potencial. sua natureza, valendo-se de sua profissão.

Art. 110 – Praticar a Medicina, no exercício da docência, sem o Art. 117 – Apresentar como originais quaisquer idéias, descobertas ou
consentimento do paciente ou de seu representante legal, sem zelar por ilustrações que na realidade não o sejam.
sua dignidade e privacidade ou discriminando aqueles que negarem o
consentimento solicitado. Art. 138 – Deixar de incluir, em anúncios profissionais de qualquer ordem, o
seu número de inscrição no Conselho Regional de Medicina, do diretor
técnico.

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 29 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 30
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

Capítulo XIV COMENTÁRIOS SOBRE AS INOVAÇÕES


Disposições Gerais

-O médico portador de doença incapacitante para o exercício Bem, eis o novo Código de Ética Médica. Importante
profissional, apurada pelo Conselho Regional de Medicina em frisar, que não temos a pretensão de esgotar o assunto, tampouco imprimir
procedimento administrativo com perícia médica, terá seu registro nossos comentários como verdade absoluta, valendo dizer que nos
suspenso enquanto perdurar sua incapacidade. ateremos aos pontos que consideramos mais relevantes –
preferencialmente que não possuíam dispositivo correspondente no Código
II - Os médicos que cometerem faltas graves previstas neste Código e anterior – e não comentaremos, portanto, tudo o que foi modificado.
cuja continuidade do exercício profissional constitua risco de danos
irreparáveis ao paciente ou à sociedade poderão ter o exercício Aliás, nessa esteira, vale mesmo dizer que o presente
profissional suspenso mediante procedimento administrativo específico. estudo visa, antes de tudo, proporcionar ao leitor nossa visão sobre as
mudanças, sendo certo que procuraremos apontar as questões que
III – O Conselho Federal de Medicina, ouvidos os Conselhos Regionais entendemos poderão repercutir além da seara administrativa – ou ética –
de Medicina e a categoria médica, promoverá a revisão e a atualização do adentrando na atmosfera jurídica em seu sentido mais amplo, isto é, perante
presente Código, quando necessárias. o Judiciário.

IV - As omissões deste Código serão sanadas pelo Conselho Federal de Dito isso, passaremos agora a ressaltar os dispositivos
Medicina. que já se encontram acima transcritos na ordem do Código e, em seguida,
tecer nossos comentários.

VEJAMOS:

Primeiramente, cumpre esclarecer que os capítulos


IX ao XIII tiveram seus títulos alterados.

Dos Princípios Fundamentais (Capitulo I )

INCISO XX

O texto é extremamente corajoso e já não era sem


tempo a sua existência. Os subscritores desse trabalho já vêm, de longa
data – há quase duas décadas – defendendo essa bandeira, qual seja, que a
relação médico-paciente não pode ser regida pelo Código do Consumidor,

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 31 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 32
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

isto é, não se consubstancia em relação de consumo. Sobre essa matéria tais situações, por outro lado, porém, há a família e o próprio doente (quando
reportamos o leitor para nossas obras, quais sejam: Instituições de Direito em gozo de suas faculdades mentais e/ou consciente) a continuar, na
Médico e Responsabilidade Civil Médica e Hospitalar, ambas da editora maioria das vezes, acreditando na cura e, por via de consequência,
Lumen Juris. requerendo todos os tratamentos possíveis e disponíveis.

Esse passo, a nosso ver demorado, dado pelo


Conselho Federal de Medicina, é importantíssimo na medida em que Responsabilidade Profissional (Capítulo III)
representa um primeiro passo institucional rumo à mudança desse
cenário em outras esferas – política e judiciária – e, esperamos, em curto
ou médio espaço de tempo. PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 1º

Se por um lado não podemos dizer que com esse Outro dispositivo corajoso que, a exemplo do inciso XX
texto a relação médico-paciente passará, automaticamente, a não ser de dos Princípios Fundamentais, já visto linhas atrás, vai de encontro com o
consumo, por outro é certo que já existe, a partir de agora, um dispositivo que está estabelecido pela doutrina e jurisprudência. Explicaremos:
legal a ser empregado e sustentado, nos tribunais e fora dele, acerca primeiro, ao se falar em responsabilidade pessoal, o que nos parece mais do
desse pensamento. Há muito a se percorrer, especialmente pelo fato da que razoável – para não dizer óbvio – é preciso que se tenha em mente que à
hierarquização das leis e também da jurisprudência sedimentada. luz do judiciário e da doutrina jurídica, existe a figura da responsabilidade
Todavia, a doutrina jurídica tem e deverá exercer esse papel fortemente, solidária e, mais importante, da chamada culpa in eligendo e culpa in
mais do que nunca. vigilando. Trocando em miúdos, é perfeitamente possível que um
profissional médico responda – num caso concreto - ainda que o ato (em
INCISO XXI senso estrito) tenha sido pratico por outro profissional. É o caso do cirurgião
que é visto como o chefe da equipe.
Apenas por uma questão didática, inserimos nesse
momento o referido inciso, sendo certo que dele nos incumbiremos mais Outra questão – e nesse passo não sabemos se o
adiante em conjunto com os outros dispositivos acerca do tema: dever de legislador do Código de Ética na verdade não quis falar em culpa – é o fato
informação. Sendo que o leitor para lá deve se reportar. de que à luz do Código do Consumidor e, especialmente, em razão da
denominada inversão do ônus da prova a favor do consumidor (paciente), a
INCISO XXII culpa do prestador de serviço (médico) é presumida, ou assim poderá ser
encarada na medida em que seja deferida, no processo judicial, a aludida
Aqui, sem a pretensão de adentrarmos inversão probante, devendo esse fazer a prova em contrário do que está
profundamente no tema da bioética e do biodireito, não podemos deixar sendo alegado. Vejamos o que dispõe o Código de Defesa do Consumidor
de destacar que esse dispositivo enfrenta uma situação no mínimo (Lei nº 8.078/90).
dicotômica, pois se por um prisma procura preservar o melhor para o
paciente terminal sem que sejam realizados procedimentos Artigo 6º. São direitos básicos do consumidor:
desnecessários, passando por uma análise financeira como manto de (...)

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 33 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 34
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do Que a informação é fundamental não há dúvidas,
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for tampouco o seu dever por parte do médico. Acontece que não basta
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as informar, é preciso provar que informou. Acreditamos que o emprego nesse
regras ordinárias de experiências. novo dispositivo do termo “Deixar de obter..” quer trazer, sutilmente, a
mensagem de que é importante obtê-lo materialmente, isto é, por escrito,
Se a mens legis foi no sentido de responsabilidade não valendo muito esse consentimento verbal. Não vale aliás, o argumento
mesmo, formamos fileira que a responsabilidade do médico é pessoal de que se o paciente se submeteu ao procedimento é porque consentiu, pois
sim, não podendo ser presumida jamais, porém fazemos as ressalvas a questão da informação se torna relevante não em relação do tratamento
acima, tendo em vista que há muitas filigranas jurídicas que, caso a caso, propriamente dito, mas no que concerne a complicações e riscos quando
aparecem e precisam ser enfrentadas. acontecem.

Nesse passo, desejamos chamar a atenção do leitor


DIREITOS HUMANOS (CAPÍTULO IV) para o inciso XXI - cujo conteúdo dissemos lá atrás que deixaríamos para
depois – que utiliza, além de ser redação sem precedente no Código
anterior, o termo “ ....por eles expressos...”
ARTIGO 22 (É vedado ao médico)
Veja que o referido inciso fala de tomada de decisões
profissionais levando em conta a escolha do paciente. Aliás, diz aquele
Bem, nesse artigo houve alteração na redação sem, dispositivo que “....o médico aceitará as escolhas.... por eles expressos”
contudo, ao menos num primeiro momento, ter havido mudança no seu
sentido, pois o objetivo continuou o mesmo, qual seja, ratificar a Nesse momento, deve o leitor estar indagando: E daí?
importância da informação.
Bem, é que juridicamente, o termo “expresso” significa
Antes, a redação era: “Efetuar qualquer procedimento médico sem o “por escrito”, é justamente o contrário de “tácito”. Isso quer dizer que, a
esclarecimento e consentimento.......” Agora passou para: “Deixar de nosso ver, que é possível que haja a mensagem do novo Código de Ética de
obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após que é fundamental que o esculápio promova documento hábil e cabal
esclarecê-lo sobre.......”. acerca das informações prestadas ao paciente e de suas decisões. Ainda
que se diga que nossa interpretação é exagerada, não temos dúvidas de
Cremos que essa alteração que, como dito, parece, dizer que formamos fileira, realmente, com essa ideia.
a princípio, não ter alterado nada, quis dizer muita coisa. Não é de hoje
que os tribunais de todo o Brasil, mormente nas grandes capitais, têm Pelo nosso turno, como já temos preceituado há anos,
sido cada vez mais rigorosos quanto à prova de que a informação foi essa iniciativa veio em excelente hora, abraçando na verdade, o que já
dada. Lembramos uma vez mais que o rigor do Código do Consumidor acontece nos julgamentos de processos judiciais aonde muitas vezes fica
contribuiu sobremaneira para esse fenômeno jurídico. constatada a ausência de desvio de conduta no que diz respeito ao
procedimento realizado, mas permanece a interpretação de negligência

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 35 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 36
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

médica por não ter ficado provado que houve a informação sobre Embargos Infringentes nº 70016099418 – 3º Grupo de Câmaras Cíveis –
determinado risco e/ou sequela. TJRS

A título exemplificativo, reproduzimos abaixo, “Embargos Infringentes. Responsabilidade Civil. Laqueadura de Trompas.
literalmente, alguns trechos de decisões proferidas em processos que Dever de informação do médico quanto às chances de gravidez, não
tramitaram na justiça, ou ainda tramitam, acerca do dever de informação. obstante a realização do procedimento cirúrgico. Receita de remédio
abortivo. Não há que se falar em responsabilização da médica que realizou
Recurso de Apelação nº 2005.001.44742 – 2ª Câmara Cível – a cirurgia na autora, em razão desta, mesmo após o procedimento cirúrgico,
TJRJ ter engravidado, com posterior aborto, porquanto demonstrado que a ré
informou à demandante sobre a possibilidade de o fato ocorrer (...).”
“Reconhecida a obrigação como de resultado, impunha-se ao recorrido o
dever de informar, adequadamente, a apelante acerca das Apelação Cível nº 0031035-29.2007.8.19.0001 – 20ª Câmara Cível –
consequências da cirurgia, visto que o resultado não foi o esperado.” TJRJ

“Responsabilidade Civil. Responsabilidade Contratual Subjetiva. Cirurgia


Recurso de Apelação Cível nº 2006.001.39425 – 7ª Câmara Cível – plástica corretiva. Obrigação de meio. Danos estético e moral resultante do
TJRJ descumprimento do dever de informar ante a peculiaridade do caso. (...).”

“(...) atividade que está, porém, submetida aos demais preceitos do Apenas para reforçar o raciocínio, sugerimos a leitura
Código de Defesa do Consumidor. Dever de informar de modo suficiente mais atenta dos artigos 13; 42; 44 e 101 desse Código que, igualmente,
e claro sobre a possibilidade do reaparecimento do sinal. Apelante que falam do dever de informação do médico, sendo que o último (101) ainda
negligentemente não determinou a realização do exame histopatológico menciona a designação “termo de consentimento livre e esclarecido”, sem
(...).” prejuízo de quaisquer outros que a esse dever, ainda que sutilmente, façam
alusão.
Recurso de Apelação Cível nº 70016614604 – 10ª Câmara Cível –
TJRS Para finalizar esse comentário, talvez o mais longo
desse trabalho em razão de sua importância, vale dizer que esses
“(...) Prova técnica que atesta a adequação das cirurgias realizadas com o dispositivos, com essas redações novas, somados aos preceitos – ainda
intuito de baixar a pressão intra-ocular no olho direito do demandante, prevalecentes – do Código do Consumidor, se consubstanciam em grande
que já apresentava baixa visual antes do procedimento. Negligência, fundamentação jurídica para os tribunais se posicionarem mais e mais no
imprudência e imperícia médica não evidenciada, no caso. Tese de que sentido de exigir a prova de que, em última análise, o médico deu a chance
os demandados não cumpriram com o seu dever de informação (...).” (através da informação adequada) para o paciente decidir realizar ou não
determinado procedimento.

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 37 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 38
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

RELAÇÃO COM PACIENTES (CAPITULO V) atitudes, com vistas a valer-se do consentimento informado expresso.

ARTIGO 37 (É vedado ao médico)


ARTIGOS 31 E 34 (É vedado ao médico)
Neste artigo, entendemos por bem destacar as duas
“pequenas” mudanças nele inseridas – na verdade duas inserções – tendo
Não obstante inexistir profundas modificações em vista a nossa casuística grande de reclamações inseridas no contexto
nesses dispositivos, na verdade só houve alterações no artigo 31, das ações judiciais, por parte do paciente, no sentido de dizer que não
desejamos destacá-los, sem maiores comentários por razões óbvias, tiveram a devida atenção do médico e que o mesmo se limitou a prestar
tendo em vista que os mesmos disciplinam a informação ao paciente e o alguma orientação por telefone, muitas vezes prescrevendo algum
respeito, por conseguinte, a escolha que ele fizer. Por isso, ainda que medicamento.
repetitivos, não cansaremos de dizer que paciente não informado (e não
provar que informou tem a mesma conotação) é o mesmo que não ter É de bom alvitre reparar que foram inseridos nesse
respeitado seu direito de decidir livremente. artigo os termos “emergência” e “após cessar”.

O avanço é sentido e no caminho do cada vez maior Na redação anterior (artigo 62 do Código antigo) não
respeito ao paciente. Notória a maior autonomia do paciente à luz do novo havia o termo “emergência” apenas urgência e, quanto ao término do
Código de Ética Médica. impedimento, preceituava a redação anterior da seguinte forma: “......fazê-lo
imediatamente cessado o impedimento”. Nota-se que foi incluído o advérbio
Esse novo regramento sugere punição para essas “após”, dando a entender uma ideia mais urgente do tempo para se proceder
práticas onerosas e que trazem nenhum ou desprezível ganho de ao exame direto do paciente. Não fosse essa a intenção, não haveria
melhora para o paciente. necessidade de incluir tal advérbio. Portanto, está mais claro do que na
redação antiga, o caráter excepcional de atendimento indireto que, via de
Há um confronto entre o que a tecnologia dispõe e a regra, se dá por telefone. Nesta esteira, não se pode deixar de mencionar o
sua eficácia no diagnóstico ou na terapêutica, tanto no campo parágrafo único deste dispositivo, aí sim, sem dispositivo correspondente no
econômico-financeiro, quanto no campo ético. Código anterior.

O mundo dos negócios, admitido no Brasil pela Podemos entender que o atendimento sem exame
Constituição Federal – portanto, absolutamente legal – está subsumido à direto é excepcional, provisório e incompleto. Pelo que o médico precisará
plena eficácia dos gastos empregados na melhora do paciente, vê-lo.
responsabilizando e punindo médicos que não se comprometem com
essa assertiva. O parágrafo único do artigo em comento, ratifica a
excepcionalidade do atendimento indireto, todavia diz que as exceções –
O novo Código de Ética Médica obra na direção de nos moldes da telemedicina ou outro método – será regulamentado pelo
aumentar o seu rigor, e o médico precisa rever seus conceitos e Conselho Federal de Medicina. (grifo nosso). Logo, é preciso estar muito

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 39 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 40
Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

atento a essas eventuais e futuras regulamentações para que o médico Esse regramento nos obriga a entender que gastar
não se insira, em qualquer hipótese, em infração ética. menos e lucrar mais é meta única, exclusiva e saudável de todas as
empresas que atuam no segmento da saúde.

O rigor imposto ao médico é de tal ordem que ficará ele


Não seria preciso dizer, mas o faremos por amor ao colocado como “julgador” do mundo dos negócios e de sua aplicabilidade no
trabalho ora desenvolvido, que nos casos de pós-operatório, nos quais, caso concreto sob sua responsabilidade. Daí decorrer a gravidade do alto
muitas vezes, os pacientes encontram-se ainda frágeis emocionalmente, grau de subjetividade, pois, não raro, ele desconhecerá que o uso da
e principalmente naquelas situações mais delicadas ou de maiores mercantilização é benéfico ou maléfico, até porque estará ele focado nos
riscos, vale redobrar o cuidado e procurar dar assistência presencial em seus pacientes e a mercantilização está subordinada aos rigores éticos de
caso de queixas insistentes do paciente. agentes fiscalizadores específicos e constitucionais, como é o caso da ANS,
ANVISA, CNRM, ABNT e Ministério da Saúde, além de outros.
Há que se fazer valer essa proporcionalidade de
quanto maior for a delicadeza da situação, maior será o aumento da Uma vez mais, o consentimento informado e expresso
assistência presencial. poderá ser útil na proteção de médicos e pacientes.

REMUNERAÇÃO PROFISSIONAL (CAPÍTULO VIII) ARTIGO 72 (É vedado ao médico)

ARTIGO 58 (É vedado ao médico) Este dispositivo, sem dúvida alguma, é reflexo dos
novos tempos, nos quais tem crescido o número de empresas
intermediadoras entre procedimentos médicos (principalmente na área da
Esse dispositivo, cuja redação foi totalmente cirurgia plástica e outros procedimentos estéticos) e os candidatos a eles,
modificada, não nos esquivaremos de comentar, em razão de nos ter ou seja, os pacientes.
chamado a atenção o fato de que na redação anterior (art. 86) nos parecia
mais eficaz – ao menos do ponto de vista literal – do que agora. O texto A nosso ver, trata-se de dispositivo delicado, na medida
atual dá margem a muitas discussões, na medida em que sua em que será preciso estabelecer, com serenidade, o que significa “...vínculo
interpretação encontra-se, de certo modo, com uma carga muito grande de qualquer natureza...”
subjetiva.
A toda evidência que é perfeitamente legal – e direito de
O mercantilismo da saúde, legal e constitucional, qualquer cidadão – se submeter a uma empresa financiadora – instituição
através do regular e correto uso da Saúde Suplementar, é pleno e bancária ou não – a fim de obter recursos para pagar algo que deseje ou
dinâmico, como qualquer outro segmento da economia de mercado da necessite, uma cirurgia por exemplo. Peguemos por hipótese, sem esgotar
iniciativa privada. o tema, o paciente que passou pelo crivo da consulta médica, realizou os

NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 41 NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (Comentado aLluz da Responsabilidade Civil Médica) 42
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exames necessários e, na hora “H”, informa ao médico que a empresa “X” recebem “SELIC”, entendendo que um aufere juros de 5% (cinco por cento),
irá pagar os honorários e demais despesas devidas, sendo que o contrato em média, ao ano, e o outro, em média, 9% (nove por cento) ao ano. É o
de tal financiamento foi celebrado entre o paciente e a referida empresa. Brasil.
Pergunta-se: Há vínculo do médico com a empresa? Está vedado ao
médico
SIGILO PROFISSIONAL (CAPÍTULO X)

Nesse capítulo, que trata de tema muito importante,


receber diretamente da intermediadora? qual seja, o sigilo profissional, há os artigos 73 ao 79 que trouxeram, aqui e
acolá, algumas alterações e/ou inovações que valem a pena serem lidas
Parece-nos uma questão importante, desafiadora, com atenção e para lá sugerimos que vá o leitor nesse momento.
mormente nos tempos atuais e que precisa ser debatida, sem aqui, de
forma alguma, desrespeita o aludido dispositivo. Destacamos, no entanto, as inovações trazidas nos
artigos 73 e 75, nos quais, respectivamente, se depreende que é vedado ao
No Brasil, temos Saúde como direito de todos e médico revelar segredo da relação médico–paciente que possa expor este
dever do Estado. Porém, essa regra constitucional não é regra geral, visto último a processo penal em investigação de suspeita de crime, bem como
que, na prática, não é direito de todos, tampouco dever do Estado. Assim, fazer referência a casos identificáveis ou exibir pacientes e seus retratos
criou a Constituição a Saúde Suplementar, cujo regramento anula, mitiga, mesmo com a autorização do paciente.
critica, desmente, limita, restringe ou torna hipócrita o dizer do artigo 196
da Carta Magna.
DOCUMENTOS MÉDICOS (CAPÍTULO XI)
Não estamos contra um ou contra outro; apenas
estamos ressaltando a difícil convivência com essa dicotomia, sendo
importante anotar que o médico, em sítio de Código de Ética Médica, não ARTIGO 85 (É veado ao médico)
pode ter seus direitos constitucionais violados, em nome de um
regramento ético que lhe exija o que está acima de sua capacidade. Entendemos destacá-lo, pois não há dispositivo
correspondente no Código anterior, embora não se trata, propriamente, de
A aferição de seu comportamento ético terá que uma grande inovação, pois evidente que nenhuma pessoa que não esteja
estar subsumida aos atos médicos praticados e nunca poderá se exigir sob o manto da obrigação do sigilo deve ter acesso à documentação médica
que ele dê conta de questões ligadas ao Banco Central, CVM, Fenaseg de qualquer paciente.
ou outros órgãos vinculados ao mundo econômico-financeiro.
Há um prisma interessante que julgamos conveniente
É bom entender que o Brasil até admite dois comentar. Em casos de nosocômio, quer público, quer privado, seria
tratamentos para o mesmo dinheiro, pois o povo “poupa” e recebe juros oportuno ou justo exigir do médico que permita ou proíba o manuseio do
de poupança, sendo certo que Bancos e investidores internacionais prontuário?

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Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

O prontuário está, em tese, sempre sob a Há que se ter em mente o ato médico praticado pelo
responsabilidade do médico, vez que a conduta é sua, fazendo valer o esculápio, sob o prisma da eticidade, de tal sorte que lhe seja exigido o que
fato de que o diagnóstico e o tratamento devem ser estabelecidos a partir for verossímil, mas adstrito ao seu campo pessoal e profissional, por óbvio.
de sua
Prontuário legível estará vinculado ao fator tempo e às
condições de trabalho, pois, em emergências, não se pode exigir que o
legível seja confundido com letras desenhadas com tempo e para ser lido
orientação, mas a posse e guarda dioturna do prontuário não está, por todos.
necessariamente, na pessoa do esculápio, portanto, essa regra genérica
e de altíssimo rigor seria aplicável a todos os seres humanos que Por outro lado, codificação de doenças e outras
transitam no nosocômio, e nunca para o médico, mormente pelo fato de codificações determinadas pelos órgãos públicos (TISS, TUSS etc.) são
que, não raro, o médico guarda vínculo empregatício com o nosocômio. frequentes e devem ser toleradas, embora tragam em seu bojo uma
discussão quanto à legitimidade.
Compreendemos o sentido que se pretende dar ao
dispositivo, mas há que se observar o seu sentido estrito, pois, da Uma vez mais fica clara a necessidade de se discutir
maneira como está posto, encerra uma responsabilização acima das caso a caso, pois prontuário legível não é obrigação exclusiva de médicos.
possibilidades humanas. Porém, a interpretação e sua aplicação nos
casos concretos é que deverão fazer os ajustes para se obter a intimidade
entre eticidade e justiça. ARTIGO 89 E SEUS PARÁGRAFOS 1º e 2º (É vedado ao médico)

Nesses dispositivos, desejamos fazer um comentário


ARTIGO 87 E SEUS PARÁGRAFOS 1º e 2º (É vedado ao médico) mais acentuado em relação à redação do parágrafo 1º que diz: “ Quando
requisitado judicialmente o prontuário será disponibilizado ao perito médico
nomeado pelo juiz.”
No caput do artigo houve uma inserção sutil, mas da
mais alta relevância, qual seja, o prontuário tem que ser LEGÍVEL., sendo A nosso ver, deve o aludido parágrafo ser interpretado
exatamente essa a palavra incorporada ao dispositivo. de forma mais ampla, extensiva e muito menos, data venia, literal. A uma
porque o próprio caput do artigo 89 determina que o prontuário seja
Nos seus parágrafos, trouxe também inovações, ao fornecido para atender ordem judicial. A duas, e principalmente, pelo fato de
determinar que o prontuário tem de ser preenchido cronologicamente, que nem sempre um Juízo irá solicitar um prontuário já havendo perito
com o registro do médico, etc, finalizando o conceito já consagrado no nomeado no processo – passaremos ao largo das características do por que
meio jurídico de que o prontuário médico está sob a guarda do médico ou isso acontece, por não ser objeto do presente trabalho – mas via de regra,
da instituição de saúde. Vale dizer, a toda evidência, que o prontuário quem está no pólo ativo da demanda é o paciente ou seu familiar e, por isso,
pertence ao paciente, sendo o esculápio ou a instituição apenas o há legitimidade para requerer o prontuário. É preciso analisar o caso
depositário. concreto.

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Antonio Ferreira Couto Filho Alex Pereira Souza

Não queremos dizer com isso, que não vale a Frustra-nos não apresentar um trabalho mais amplo e
Instituição ou o médico, diante de uma ordem judicial, argumentar que por voltado para os comentários de todos os artigos, mas, por ora, ficará no
campo dos nossos desejos.
força deste dispositivo, somente entregará se houver perito nomeado.
Porém, respeitando as opiniões em contrário, não nos parece o melhor Consideramos um avanço esse novo Código, vez que
caminho. se compromete na defesa do não enquadramento da atividade médica
como relação de consumo. Aliás, essa atitude foi por nós defendida em livro
CONCLUSÃO no ano de 2001 e só agora adotada pelo CFM, mas os Códigos são lentos e
não acompanham a velocidade dos fatos sociais.

Talvez conclusão não seja o melhor título para essas Imaginamos que um mundo novo poderá surgir nesta
palavras finais. Isso porque em matéria de análise e interpretação de seara, a partir da entrada em vigor do novo Código, pois com esse novo
legislação, não há, ao menos no campo jurídico, por óbvio, ainda que se entendimento, de que o ato médico não é relação de consumo, as entidades
trata, como no caso presente, de legislação ética, como se concluir, isto é, médicas, finalmente, podem começar a trabalhar na direção de solidificar os
de fixar um pensamento absoluto e imutável. Não temos dúvidas que entendimentos que tivemos há mais de uma década, iniciando uma
muito faltou a ser dito neste pequeno trabalho e que, por outro lado, o dito retomada da valorização e do respeito ao profissional médico, fazendo com
poderá ser revisto a todo tempo, pois é assim o Direito, é assim a que seu fórum de responsabilização seja como o dos outros profissionais
Sociedade. autônomos, isto é, regido pelo Código Civil Brasileiro, ficando o Código de
Defesa do Consumidor para ser utilizado quando o poder econômico estiver
É cristalino que os pilares conceituais hão de exercendo seu mister e em todas as áreas, não só no segmento saúde.
prevalecer sim, sem dúvida, e serem vistos até mesmo de forma imutável,
como por exemplo, o dever de informar do médico. O que se quer dizer Inversão do ônus da prova, gratuidade de justiça e
com “não fixar um pensamento absoluto e imutável” é quanto às formas. dano moral descomprometidos com a realidade são rigores estabelecidos
pela lei e contra os médicos, dando origem à chamada “indústria das
Toda legislação tem seu nascedouro nos anseios de indenizações”, mas hoje comemoremos essa verdadeira assertiva
uma classe ou grupo de interesses em especial, e nos da Sociedade em determinada pelo Código de Ética Médica em vigor.
geral, e assim tem que ser, principalmente em matéria de saúde.
Todavia, é inquestionável que os dispositivos vão se amoldando aos Um projeto de Lei para equalizar a relação médico-
casos concretos e, para isso, há a jurisprudência e, nos casos dos paciente é um passo esperável.
Conselhos de Medicina, as Resoluções e Pareceres.

Eis o novo Código de Ética Médica, que passa a


existir com seus acertos e defeitos, mas sem sombra de dúvida, com a Os Autores
exclusiva vontade de acertar e aprimorar as relações na área da saúde,
preservando a dignidade do médico e do paciente.

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