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Efeitos práticos da Resolução nº

13/2012 do Senado no dia-a-dia das


empresas
Gustavo Ferreira Barros

Publicado em 01/2013. Elaborado em 01/2013.

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 ASSUNTOS:
 RESOLUÇÃO DO SENADO Nº 13/2012
 ICMS SOBRE PRODUTOS IMPORTADOS
 RESOLUÇÕES DO SENADO DE 2012
 RESOLUÇÕES DO SENADO POR ANO

A Resolução nº 13 do Senado Federal trouxe às empresas brasileiras grande


incerteza ao atual e complexo quadro tributário nacional, em especial para as
empresas que comercializam produtos importados ou de origem estrangeira.

1. INTRODUÇÃO

A famigerada Resolução 13, do Senado Federal, publicada em 26 de abril de


2012, trouxe às empresas brasileiras grande incerteza ao atual e complexo quadro
tributário nacional, em especial para as empresas que comercializam produtos
importados ou de origem estrangeira.

Pois bem. A Resolução 13/2012, estabeleceu novas alíquotas interestaduais


para operações produtos importados, conforme destacamos abaixo:

Art. 1º A alíquota do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de


Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), nas operações interestaduais com
bens e mercadorias importados do exterior, será de 4% (quatro por cento).
Numa leitura inicial do artigo 1º da resolução, a alteração nos parece bem
simples, onde foi alterada apenas a alíquota nas operações interestaduais com
mercadorias importadas do exterior para 4%.

Enganam-se os tributaristas e atuantes na seara fiscal e tributária (como eu)


que pensaram desta forma, pois com a edição e vigência da Resolução 13, serão
necessárias diversas mudanças nas operações comerciais realizadas por estas
empresas com alterações significativas para praticamente todas às áreas das
empresas afetadas, compras, suprimentos, fiscal, contabilidade e setor comercial.

Debruçando um pouco mais sobre a aplicabilidade e consequencias da


Resolução 13, nos vêm à baila diversos questionamentos que não foram totalmente
esclarecidos por esta norma:
- A alíquota de 4% será aplicada somente na primeira operação interestadual
após a importação, ou em todas as operações seguintes da cadeia de comercialização
deste produto?

- Haverá aumento ou redução do preço do produto em razão da alteração da


alíquota?

- Como ficará o cálculo do ICMS/ST para produtos sujeitos a esta sistemática


de tributação?

- A alíquota de 4% se aplicará somente nas operações interestaduais para


clientes Contribuintes do ICMS ou também para clientes Não Contribuintes?

Diante destas questões que certamente foram levantadas pela maioria das
empresas, tentaremos em breves comentários e exemplos trazer um pouco da
aplicabilidade prática desta resolução, sem o intuito de formar conceitos ou definições
sobre o tema, até porque vários destes questionamentos estão ainda em discussão
embrionária dentre os mais renomados juristas sobre o tema.

Também não teceremos comentários acerca da constitucionalidade ou não


desta Resolução, apesar de alguns entenderem que tal norma tem o vício insanável
da inconstitucionalidade.

2. APLICAÇÃO DA ALÍQUOTA INTERESTADUAL DE 4% NA CADEIA DE


COMERCIALIZAÇÃO

Foi amplamente divulgado pela mídia especializada, o objetivo do governo


(Senado) na edição da Resolução 13 que alterou a alíquota interestadual para
importados, visa primordialmente acabar com a guerra dos portos, de modo a reduzir o
efeito dos benefícios fiscais concedidos por Estados da Federação para atração de
empresas e maior volume de negócios em seu território.

Esta “exposição de motivos” para a edição desta Resolução traz inicialmente


o entendimento de que esta alíquota seria aplicada somente na primeira operação
com produtos importados do exterior, até porque após a sua comercialização inicial
pelo importador o produto considera-se nacionalizado.

Assim, a Resolução 13/2012 definiu em poucas palavras que a alíquota


interestadual seria de 4% “nas operações interestaduais com bens e mercadorias
importados do exterior”.

Todavia, surgiu a dúvida se esta alíquota interestadual será aplicada apenas


na primeira etapa da cadeia de circulação da mercadoria (primeira
comercialização/saída após sua importação) ou se esta tributação ocorrerá em todas
as etapas em que estas mercadorias forem comercializadas em operações
interestaduais.

Como a letra fria da resolução dar margem para os dois entendimentos, “bens
e mercadorias importados do exterior”, a nosso ver o Ajuste Sinief 20/2012[1] veio
reforçar o entendimento de que a alíquota de 4% incidirá em todas as etapas de
circulação comercial destas mercadorias, atingindo assim, esta alteração, não só as
empresas importadoras e distribuidoras, como também quaisquer outras empresas
que comercializam mercadorias que não foram produzidas no Brasil, sendo esta
empresa importadora, distribuidora, atacadista ou varejista.

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 Unificação da alíquota interestadual do ICMS: exceções

O Ajuste Sinief 20/2012, criou novas origens de mercadorias (primeiro número


do CST), trazendo agora novos códigos que indicam se é uma mercadoria importada
diretamente por quem a esta comercializando (1), se é uma mercadoria estrangeira,
mas adquirida no mercado interno (2), se é uma mercadoria estrangeira, sem similar
nacional, mas adquirida no mercado interno (7), dentre as outras origens descritas
neste ajuste.

Desta forma, através destes novos códigos de origens vigentes a partir de


01/01/2013, os contribuintes saberão quando adquirirem mercadorias qual a sua
origem e classificação, podendo assim parametrizar o seu sistema de acordo com a
origem da mercadoria, o que não ocorria antes deste ajuste.

Por isto, o entendimento majoritário é o que de este ajuste veio a viabilizar a


tributação de 4% para determinados produtos importados (exceto listagem da Camex)
para todas as etapas de circulação destas mercadorias, sendo que, antes deste
ajuste, o contribuinte que adquiria mercadorias no mercado brasileiro, não tinha
conhecimento se a mercadoria tinha origem importada ou nacional, o que agora terá
com esta nova codificação.

Do mesmo modo, este ajuste não teria significado prático se não fosse por
este entendimento, pois não haveria sentido em segregar estas mercadorias em
códigos diferenciados se a tributação fosse à mesma para todos os códigos.

Feitas estas considerações, apesar de não haver nenhuma norma


suplementar que esclareça o tema de forma clara, nos parece o mais provável e lógico
que a alíquota de 4% para operações interestaduais deva incidir em todas as etapas
da circulação da mercadoria importada ou de origem estrangeira e não somente na
primeira operação de saída após uma importação.

3. POSSIBILIDADE DE AUMENTO OU REDUÇÃO NO PREÇO DA MERCADORIA


IMPORTADA
Também como uma questão ainda não muito discutida está à possibilidade de
aumento ou redução no preço da mercadoria que se sujeita à nova sistemática de
tributação nas operações interestaduais.

Para clarear a questão, demonstramos abaixo exemplo de uma operação de


venda de produto sujeito a ICMS (não sujeito à substituição tributária), comercializado
de São Paulo para Minas Gerais:

Tributação até 31/12/12 - Venda de São Paulo para Minas Gerais

1) Venda de São Paulo para Minas Gerais

Valor da mercadoria no estoque do fornecedor

Margem Bruta utilizada

ICMS na operação

Pis/Cofins (não cumulativo)

Cálculo Preço final da Nota Fiscal de Venda

Valor Total da Nota Fiscal para o Distribuidor

2) Mercadoria recebida pelo Comprador em Minas Gerais


 

Valor Total da Nota Fiscal

ICMS a recuperar

Pis/Cofins a recuperar

Custo em estoque

3) Venda do Distribuidor em Minas Gerais para Consumidor Final em Minas Gerais

Valor da mercadoria no estoque do fornecedor

Margem Bruta utilizada

ICMS na operação

Pis/Cofins (não cumulativo)

Cálculo Preço final da Nota Fiscal de Venda

Valor Total da Nota Fiscal para Consumidor Final


A partir da Resolução 13/2012, o cálculo será o seguinte:

Tributação após 31/12/12 - Venda de São Paulo para Minas Gerais - 4%

1) Venda de São Paulo para Minas Gerais

Valor da mercadoria no estoque do fornecedor

Margem Bruta utilizada

ICMS na operação

Pis/Cofins (não cumulativo)

Cálculo Preço final da Nota Fiscal de Venda

Valor Total da Nota Fiscal para o Distribuidor

2) Mercadoria recebida pelo Comprador em Minas Gerais

 
Valor Total da Nota Fiscal

ICMS a recuperar

Pis/Cofins a recuperar

Custo em estoque

3) Venda do Distribuidor em Minas Gerais para Consumidor Final em Minas Gerais

Valor da mercadoria no estoque do fornecedor

Margem Bruta utilizada

ICMS na operação

Pis/Cofins (não cumulativo)

Cálculo Preço final da Nota Fiscal de Venda

Valor Total da Nota Fiscal para Consumidor Final

Neste caso teremos com a mesma margem aplicada em todas as


operações, redução no preço de venda da mercadoria de 1,34%.
Pelo exemplo acima verificamos que o custo da mercadoria tributação a 4%
nas operações interestaduais, terá uma redução final do custo de 1,34% em relação à
tributação com alíquota de 12% no exemplo acima.

Importante verificar ainda neste exemplo que, para o Distribuidor em Minas


Gerais, haverá um crédito de 4% na aquisição da mercadoria (anteriormente o crédito
era de 12%) e um débito de 12% na revenda do bem em Minas gerais (exemplo com
alíquota reduzida), porém, o custo do fabricante na venda para este distribuidor se
reduziu em razão da tributação nesta operação, que antes era de 12% (alíquota
interestadual) e agora será de 4% para estas mercadorias importadas, nacionalizadas
ou com conteúdo de importação superior a 40%.

No caso de operações de venda com mercadorias sujeitas ao ICMS/ST, o


reflexo é maior ainda, pois com a “criação” do MVA[2] ajustado, quanto menor a
alíquota interestadual, maior é o percentual atingido pelo MVA para o cálculo do ICMS
por substituição tributária.

Vejamos abaixo um exemplo com uma autopeça, com MVA original em Minas
gerais de 59,60% e MVA ajustado de 86,85%.

Venda de produtos importados com a Res. 13 do Senado a partir de 01/01/2013

     

Operação DE: S

Cliente: Contribuinte do ICMS

Alíquota do Destinatário  

     

Operação até 31/12/2012  

NCM    

Valor do produto 100,00  

Alíquota ICMS 12%  

Valor do ICMS 12,00  


Alíquota do IPI 0%  

Valor do IPI 0,00  

MVA da mercadoria 59,60%  

BC do ICMS/ST 159,60  

Valor do ICMS/ST 16,73  

Valor Total da NF 116,73  

     

Aumento do custo em

Pelo exemplo acima, verificamos que, não havendo alteração do valor do


produto pelo fornecedor da mercadoria, o custo final para o comerciante ou distribuidor
em Minas Gerais aumentará em 11,06%, elevando assim o custo final de venda.

Assim, o que poucos artigos e juristas e colegas da área tributária tem


discutido é que, a partir desta resolução os fornecedores, importadores e
fabricantes, que comercializam as mercadorias sujeitas a esta nova alíquota
interestadual, terão que reduzir estes preços de venda, pois na composição total
do custo da mercadoria, ao invés de incluir o ICMS de 7% ou 12%, terá agora que
recolher somente o ICMS de 4%, sendo uma redução do ICMS neste exemplo de
8%.

Sem esta redução, o custo final da mercadoria ao consumidor ficará mais


cara e, consequentemente, o fabricante ou importador aumentará seu lucro bruto, pois
terá o aumento de sua margem bruta com a diminuição do ICMS Próprio a pagar sem
o respectivo repasse desta redução a estes clientes (distribuidores/comerciantes).

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 Legislação por ano
 ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
 Direito Tributário

Autor

Gustavo Ferreira Barros

Advogado tributarista em Belo Horizonte (MG). Gerente tributário de empresa de grande porte.

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Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)

BARROS, Gustavo Ferreira. Efeitos práticos da Resolução nº 13/2012 do Senado no dia-a-dia das


empresas. Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3494, 24 jan. 2013. Disponível
em: <http://jus.com.br/artigos/23533>. Acesso em: 20 nov. 2014.

Publique no Jus Navigandi


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sonia christina da silva

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