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O Elementarismo Cosmologico Teorizado Nas Metafisicas de Tales Anaximenes Heraclito E Empedocles PDF
O Elementarismo Cosmologico Teorizado Nas Metafisicas de Tales Anaximenes Heraclito E Empedocles PDF
Jorge-Américo Vargas-Freitas
Petrópolis, 05 de Dezembro de 2013
Introdução
Os que por primeiro filosofaram, em sua maioria, pensaram que os princípios de todas as coisas fossem
exclusivamente materiais. De fato, eles afirmam que aquilo de que todos os seres são constituídos e
aquilo de que originalmente derivam e aquilo em que por último se dissolvem é elemento e princípio
dos seres. Por esta razão eles crêem que nada se gere e nada se destrua, já que tal realidade sempre se
conserva. (ARISTÓTELES, 2002, Metafísica, I, 3, p. 15-16)
Teorias cosmológicas buscam saber sobre o que constitui a estrutura geral do universo
e sobre as leis que regem o cosmo, em uma concepção puramente filosófica, analisando a
1
origem e descrevendo a mecânica da realidade 1 . Tradicionalmente, os primeiros filósofos
gregos abordaram a cosmologia seguindo um raciocínio cientificista, perfazendo metonímias
entre indução e dedução em que do particular se induz o total e da unidade se deduz a
multiplicidade.
A teoria clássica dos elementos, criada pelos gregos na antiguidade, concebe quatro
elementos como constituintes do universo e do mundo, a saber, água, ar, fogo, terra. Os
elementos estipulados podem ser associados a qualidades sensíveis básicas, como calor/frio e
umidade/secura.
Contudo, ora os elementos são postos em sua simplicidade, ora são postos em sua
composição2. Eis as correntes, monista, representada por Tales, Anaxímenes e Heráclito, e
pluralista, representada por Empédocles, que entendiam, respectivamente, a unidade e a
multiplicidade.
Tales: Νερό
Tales, de ascendência fenícia, era natural da Jônia, na Ásia Menor, cidade famosa pelo florescente
comércio marítimo, pátria também de Anaximandro e Anaxímenes. Floresceu pelo ano de 585 a.C.
Segundo a tradição, é o primeiro físico grego ou investigador das coisas da natureza como um todo. De
suas idéias, no entanto, pouco se conhece; nem há certeza de que tenha escrito um livro. Também não se
conhecem fragmentos seus. Sua doutrina só nos foi transmitida pelos doxógrafos. (SOUZA, 1989, Ao
Pré-Socráticos, Tales de Mileto, Dados Bibliográficos, p. 51)
Tales de Mileto (624-546 a.C.) foi o primeiro filósofo a postular uma ordem
cosmológica fundamentada por um elemento principal, baseando-se, em vez de na mitologia,
na filosofia 3 . Um dos fundadores da escola milésia, definiu princípios gerais e hipóteses,
contudo, não restaram sequer fragmentos de suas obras, senão descrições e interpretações.
1
Nova Enciclopédia Barsa. Macropédia, Volume 4, Cosmologia, p. 450.
2
Nova Enciclopédia Barsa. Macropédia, Volume 5, Elemento, p. 340.
3
Nova Enciclopédia Barsa. Macropédia, Volume 13, Tales de Mileto, p. 455.
4
Os Pré-Socráticos, Creta a Mileto, Tale, O Primeiro Filósofo, Geômatra e Astrônomo, p. 40.
2
a interpretação formal de fenômenos específicos, habilitando-se a perceber a natureza em sua
regularidade.
Tales ainda propôs que a terra existe em água, isto é, resta sobre a água, o que pode ser
resultado do desenvolvimento de suas investigações e da aplicação de suas leis universais8.
Interessante é notar como a cientificidade de sua base investigativa, ainda que sujeita a falhas,
tenha sido capaz de associar racionalmente diversas relações entre o universo e o mundo por
meio da análise de fenômenos naturais, descartando completamente o dogmatismo
mitológico, fundando a Filosofia Ocidental.
Anaxímenes: Αέρας
Anaxímenes foi discípulo e continuador de Anaximandro. Escreveu sua obra, Sobre a Natureza,
também em prosa. — Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua
recebe sua luz do Sol. — Os antigos consideravam Anaxímenes a figura principal da escola de Mileto.
(SOUZA, 1989, Os Pré-Socráticos, Anaxímenes de Mileto, Dados Bibliográficos, p. 67)
5
Os Pré-Socráticos, Creta a Mileto, Tales, O Primeiro Filósofo, Geômatra e Astrônomo, p. 42.
6
ARISTÓTELES, Da Alma, 5, 422 a 7 (DK11A22).
7
SIMPLÍCIO, Física, 23, 22 (DK11A13).
8
Os Pré-Socráticos, Creta a Mileto, Tales, O Primeiro Filósofo, Geômatra e Astrônomo, p. 41.
9
Nova Enciclopédia Barsa. Macropédia, Volume 1, p. 369.
10
Os Pré-Socráticos, Creta a Mileto, Anaxímenes: o Fôlego do Universo, p. 49.
11
Os Pré-Socráticos, Creta a Mileto, Anaxímenes: o Fôlego do Universo, p. 50.
3
O ar, em Anaxímenes, é a definição da matéria ilimitada, o elemento material
transformador das coisas, intrínseco a tudo o que é 12 . Os processos de rarefação e
condensação pautados em sua filosofia atravessam todas as demais substâncias, ora
assumindo a forma de fogo, ora de água ou terra, mantendo o movimento originador da
realidade em permanência.
Como alma, o ar mantém unificadas todas as coisas, havendo, assim, uma única vida
totalizante, particularizada em fragmentos de matéria etérea em processo, sob a forma da
qualidade do movimento por que passa 13 . Cientificamente, esta formulação é bastante
importante sob o ponto de vista orgânico, tendo em vista que vincula a maneira como o corpo
humano lida com o ambiente mediante a respiração a uma suposta vitalidade universal.
Heráclito: Φωτιά
Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais
(descendentes do fundador da cidade). Seu caráter altivo, misantrópico e melancólico ficou proverbial
em toda a Antigüidade. Desprezava a plebe. Recusou-se sempre a intervir na política. Manifestou
desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Sem ter tido
mestre, Heráclito escreveu o livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão
concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Floresceu em 504-500 a.C. — Heráclito é por
muitos considerado o mais eminente pensador pré-socrático, por formular com vigor o problema da
unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias.
Estabeleceu a existência de uma lei universal e fixa (o Lógos), regedora de todos os acontecimentos
particulares e fundamento da harmonia universal, harmonia feita de tensões, "como a do arco e da lira".
(SOUZA, 1989, Os Pré-Socráticos, Heráclito de Éfeso, Dados Bibliográficos, p. 89)
Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.) foi o primeiro filósofo a adotar uma perspectiva
dialética sobre a realidade, elaborando um estado de coisas em que o devir funciona como
motor essencial da existência14. Filósofo de conteúdo obscuro buscou compreender as tensões
regentes da realidade, lidando diretamente com a mecânica operante da transformação nas
coisas.
12
Os Pré-Socráticos, Creta a Mileto, Anaxímenes: o Fôlego do Universo, p. 50.
13
AECIO, 1, 3, 4 (DK13B2).
14
Nova Enciclopédia Barsa. Macropédia, Volume 7, Heráclito, p. 358.
15
HIPÓLITO, Refutação, IX, 10 (DK22B57).
4
Sua ciência está em desvendar, em meio às nuances da realidade, a razão que comanda
a ordem das coisas, com sapiência acerca das ambiguidades derivadas das inquietudes
beligerantes do devir16. Heráclito põe a justiça, nesse contexto, como a própria instância da
discórdia, conquanto implicam: a paz em guerra e a guerra em paz17.
A racionalização lógica que Heráclito emprega para estimar o cosmo aponta para o
senso de identidade e diferença que, embutida na dialética do devir, transforma-se em outra
enquanto mesma 21 . O filósofo contempla uma realidade movida por conflitos em tensão
constante para manterem o próprio equilíbrio e procura, por via da linguagem, representar o
que os regulamentos rígidos da ciência não permite.
16
Os Pré-Socráticos, Heráclito, O Filósofo “Obscuro” Contra as Opiniões Comuns, p. 102.
17
HIPÓLITO, Refutação, IX, 9 (DK22B53).
18
HERÁCLITO, Alegorias, 24 (DK22B48a).
19
HIPÓLITO, Refutação, IX, 10 (DK22B67).
20
Os Pré-Socráticos, Heráclito, Os Opostos e sua Harmonia, p. 107.
21
Os Pré-Socráticos, Heráclito, Os Opostos e sua Harmonia, p. 104.
5
Empédocles de Agrigento (490-430 a.C.) foi um filósofo relacionado à profecia e à
magia, intérprete da ordenação universal sob o misto elementar, postulou a composição dos
quatro elementos como fontes de todos os fenômenos universais22. O conjunto de ciência e
misticismo combinado em sua obra retoma parte do tradicionalismo mitológico grego e
propõe uma nova abordagem teórica dos elementos.
Os elementos, em Empédocles, isto é, o fogo, o ar, a terra, a água, ou seja, Zeus, Hera,
Edoneu, Nestis, respectivamente, passam por processos de mistura e separação: união e
divisão23. O movimento não tem começo nem fim e representa senão uma mudança de forma,
uma alteração de componentes24.
22
Nova Enciclopédia Barsa. Macropédia, Volume 5, p. 382.
23
PLUTARCO, Contra Colotes, 10 (DK31B8).
24
PLUTARCO, Contra Colotes, 22 (DK31B9).
25
Os Pré-Socráticos, Empédocles, As Raízes, o Cosmo e o Mundo, p. 118.
26
Os Pré-Socráticos, Empédocles, As Raízes, o Cosmo e o Mundo, p. 118.
27
Os Pré-Socráticos, Empédocles, As Raízes, o Cosmo e o Mundo, p. 118.
28
SIMPLÍCIO, Física, 157 (DK31B17).
29
Os Pré-Socráticos, Empédocles, As Raízes, o Cosmo e o Mundo, p. 119.
6
Empédocles ousa também propor uma teoria evolutiva baseada em sua cosmologia
pluralista. Como produtos da terra, os seres passam por diversas configurações metamórficas
até que, pelo aprimoramento do sobrevivente, ascensão ao sexo, tem-se a humanidade30.
Conclusão
Por um lado, o monismo passa, em Tales, a impor a água como fonte elementar de
todas as coisas, carregando sentido denotativo, enquanto, em Heráclito, a representar o fogo
como símbolo da dialética do devir na conformação de suas tensões conflitantes, carregando
sentido conotativo. Por outro lado, o pluralismo de Empédocles, aliando filosofia e literatura,
versa sobre possibilidades de cunho extremamente imaginativo.
Destaca-se a função a que ao elemento terra sempre lhe coube: como efeito causado
por processos realizados pelos demais elementos. E como a humanidade surge após um longo
procedimento de detalhamento de recursos: como produto final da especialização da matéria
cósmica.
30
SIMPLÍCIO, Do céu, 586, 29 (DK31B57); ELIANO, Natureza dos Animais, XVI, 29 (DK31A61); SIMPLÍCIO, Física,
381, 29 (DK31B62).
7
Bibliografia
CASERTANO, Giovanni. Os Pré-Socráticos. Trad. de Maria das Graças Gomes de Pina. São
Paulo: Editora Loyola, 2011.