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Manual Poupança –

conceitos básicos
Área de Formação – 621-Produção Agrícola e
Animal
UFCD 9822-Poupança – conceitos básicos
Formadora: Carma Morais

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A Poupança,
O Investimento e
A Taxa de Juro

O rendimento das pessoas tem dois destinos:

1 – O consumo
2 – A poupança

Porque será que as pessoas poupam parte do seu rendimento?

A) Envelhecimento

A maior parte do nosso rendimento deriva do trabalho (entre 2/3 e 4/5)

Quando formos velhinhos não teremos capacidade de trabalho

A nossa capacidade de gerar riqueza tem um ciclo de vida.

-É pequena quando somos crianças e velhos.

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B) Risco - Contingências futuras

1- Podemos ficar sem emprego

2- Podemos ter um acidente


- Perder capacidades
- Despesas avultadas (saúde)
- Perda das poupanças

Um empregado tem 1%/mês de prob. de perder o emprego


Uma vez desempregado, tem 5%/mês de prob. de arranjar novo emprego

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- É uma cadeia de Markov

Em média, esse emprego dura 100 meses e, acontecendo desemprego, dura


20 meses

Para regularizar o consumo, é preciso poupar 20% do ordenado.

Também existe incerteza quanto ao nosso rendimento futuro.

Pode aumentar ou não

C) Poupança/investimento

Quando um bem dura mais do que um período, e.g., o frigorífico, a sua


aquisição é poupança que se vai amortizando.

Se eu compro um televisor por 500€ que vai durar 5 anos então, no ano da
compra consumo 100€ e poupo 400€.

Cada um dos 4 anos seguintes, consumo 100€ de televisor.


Se não repuser a depreciação, nesses anos tenho uma poupança negativa.

A produção de bens e serviços precisa de bens duráveis (capital).


Máquinas, instalações fabris, escritórios, barcos, camiões, estradas, etc.

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O capital ajuda a produzir B&S ou produz um B&S que vai sendo consumido.

Não é possível usufruir de leite fresco sem ter um frigorífico.

Em termos económicos, o frigorífico é tanto capital como as máquinas das


fábricas.

Ter filhos é poupança.

Sustentamos os filhos e depois recebemos contrapartidas na velhice.

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Constituir stocks também é poupança.

Eu guardar roupa, arroz,


Leite em pó, etc.

D) Comprar um bem dispendioso no futuro

Este ponto obriga à existência de trocas (mercado)

A poupança e o risco

A poupança aumenta com mais incerteza quanto ao futuro.

Diminui com a existência de Segurança Social.

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Como tem evoluído a poupança em Portugal?

Poupança Bruta em Portugal


30
% do PIB
25

20
-1pp/ano
15

10

5
1970 1980 1990 2000 2010

Retirando o capital que vai sendo consumido (depreciação), vê-se que a


poupança líquida está negativa.

Cada vez temos menos capital.

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E a natalidade?

filhos/1000 pessoas
24

20

16

Limiar de substituição
12

8
1960 1970 1980 1990 2000 2010

A entrada na UE fez a nossa poupança (e natalidade) cair abaixo do limiar de


substituição.

Será coincidência?

Para aumentar a natalidade e a poupança é preciso diminuir o Estado social.

Vou comparar com a Alemanha e com a China.

A Poupança Bruta

10
55

50

45

40

35 China

30 Germany
Portugal
25

20

15

10
1970 1980 1990 2000 2010

E a poupança Líquida da Alemanha e da China?

11
40

30
China
Germany
20
Portugal

10

-10
1970 1980 1990 2000 2010

A necessidade do mercado de crédito

Eu posso poupar em termos pessoais comprando bens duráveis e


constituindo stocks

Frigoríficos, carros, barcos,


casas, terrenos, roupa,

Mas os stocks depreciam-se

E há bens que eu não consigo armazenar

Água;

Eletricidade;
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Telefone;

TV cabo;
Cabeleireiro;

Férias no Brasil.

Tenho que emprestar

Eu tenho 100 galinhas que pretendo poupar.


Como não as posso guardar, empresto-as a um vizinho.

Daqui a 20 anos, recebo de volta 120 galinhas.

Mas o meu empréstimo pode não ser poupança

Eu poupei as galinhas mas, se a pessoa a quem eu as emprestar as comer,


não existe poupança.
Quando depositamos dinheiro no banco, é a nossa poupança.

Mas apenas é poupança do país se esse dinheiro se transformar em bens


duráveis (e não em consumo de outros).

Com um mercado de crédito já posso trazer rendimento do futuro para o


presente.

As crianças/jovens podem-se endividar com a promessa de que vão pagar


quando forem adultos.

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Classificação da remuneração do capital

- Juro
- Aluguer
- Renda

Se o bem for fungível

As 100 galinhas são indistintas

As 100 galinhas são o capital (o principal) e as 20 galinhas são os juros.

Se o bem não for fungível e for móvel

As 100 galinhas devolvidas têm que ser as mesmas.

As 100 galinhas são o “bem” e as 20 galinhas são o aluguer.

Se não for fungível e for imóvel

e.g., o galinheiro

As 20 galinhas são a renda.

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Se empresto 100 galinhas que têm que me ser devolvidas dentro de 1 ano
(mais velhas)
e ainda
5 ovos/dia e 2kg de milho por dia.
Isto é o aluguer

Agora vamos aos juros

O juro é o preço do crédito

O juro não é o preço do dinheiro mas o preço do crédito de um bem fungível.

Taxa Anual Efectiva

Tal como os preços são uniformizados ao kg, e.g, bifanas a 2.49€/kg,


os juros são uniformizados a 100€ e a um ano
e.g., 3%/ano

Um bem exposto a venda tem que ter o preço uniformizado a 1kg.


e.g., um bem tem 247g/u e o preço são 4.99€/u.
Teremos:

4.99 / 0.247 = 20.20€/kg

É obrigatório afixar este preço.

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A taxa de juro também precisa de ser uniformizada.

E.g., empresto 500€ e recebo 507€ passados 45 dias.

A taxa de juro nominal é de 1.4%

Como queremos uma taxa de crescimento, a conta de uniformização é uma


potenciação:

507 = 500*(1+i)^(45/365)

i = (507/500)^(365/45)-1
i = 11.937%/ano

Taxa Anual Efetiva Global

A taxa uniformizada a um ano é a Taxa Efetiva - TAE.


Incluindo todas as despesas, diz-se Global – TAEG

Se a taxa de juro num mês é de 1%/mês

A TAE será

i = (1+1%)^12-1
i = 12,683%/ano

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A taxa nominal é 12%/ano

Se a TAE é de 12%/ano

A TME (taxa mensal) vem


i = (1+12%)^(1/12)-1
i = 0,949%/Mês

Em termos nominais é 1%/mês

Fica mais complicado se estiverem previstas prestações

Empresto 100 galinhas e recebo 10 galinhas no fim de cada ano durante 12


anos.

Qual a taxa de juro implícita neste contracto?

Em termos nominais são 20% mas eu preciso da TAE.

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Vou usar o Excel

Fazer em direto

C2: =B2*$G$1 e copiar


E2: =B2+C2-D2 e copiar
B3: =E2 e copiar

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Investimento

Posso usar a mesma folha de cálculo para avaliar um investimento.

Fazer em directo
D2: =B2+C2 e copio
E2: =B2
F2: =E2*$H$2 e copio
G2: =E2+F2+C2 e copio
E3: =D3+G2 e copio

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Mudo a taxa de juro H2 até G11 dar zero

Taxa Bruta / Taxa Líquida

O conceito de Bruto tem a ver com a inclusão de uma parcela que não deve lá
estar.

É assim no Resultado Bruto antes de Impostos (é preciso retirar a


depreciação do capital).

Taxa Bruta / Taxa Líquida

No caso dos juros, a Taxa Bruta dever-se-ia chamar Taxa Antes de Impostos.

Assim, a taxa de juros bruta é a taxa que o devedor paga e a taxa líquida é a
taxa que o credor recebe.

A diferença é o IRS

Vamos a um exemplo
Taxa Nominal Bruta de 1%/trimestre.

TAE bruta = (1+1%)^4-1


TAE bruta = 4.060%/ano
TAE líquida (IRS= 28%)

20
= 4.060% x (1-28%)
TAE líquida = 2,923%/ano

O sistema bancário

Quando eu poupo, preciso emprestar os recursos a outras pessoas.

Isso tem risco de incumprimento (calote).

Tem custos de administração dos ativos

Os bancos são empresas especializadas a intermediar poupanças.

Pedem emprestado à taxa p - passiva,


emprestam à taxa a - activa

A diferença (a-p) serve para cobrir os riscos do negócio

Os bancos apenas podem emprestar se alguém colocar lá recursos.

É exatamente igual a uma bomba de gasolina que apenas pode vender


gasolina se tiver gasolina nos tanques.

Eu poupo recursos (arroz) o que se traduz em notas

Eu deposito as notas no banco

O banco empresta as notas

A devedor gasta os recursos (arroz) que eu poupei.

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No futuro o devedor poupa recursos (massa) que se traduz em notas

Ele paga a divida ao banco

O banco entrega-me as notas

Eu gasto as notas em recursos (massa).

As notas e os bancos são apenas intermediários nas transações

Hoje
eu -> arroz -> devedor
Futuro
devedor -> massa -> eu

Muita coisa ficou por dizer

Mas o principal é compreender os conceitos básicos.

Com estes conceitos simples, já se podem construir financeiros raciocínios


complexos.

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