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31/07/2021 ConJur - Procuração em causa própria não é título translativo de propriedade

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CONCEITUAÇÃO CONTROVERSA

Procuração em causa própria não equivale


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30 de julho de 2021, 19h57 Imprimir Enviar VEM AÍ
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Por Danilo Vital soluções pacíficas de conflitos

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CONCEITOS E DISPUTAS
IESS e Copedem lançam livro sobre a
judicialização da saúde

SÓ SE QUISER
Plano de saúde não é obrigado a
A procuração em causa própria não é — nem pode vir a ser — título
fornecer remédio de uso domiciliar
translativo de propriedade. A delimitação conceitual do tema, considerado
bastante controverso, foi feita pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, FALTA DE DECORO
em julgamento de caso em que a autora requereu declaração de invalidade dos Temor de Bolsonaro pela derrota
atos praticados pela pessoa a quem outorgou tal procuração. eleitoral não justifica ataques
Reprodução
O processo foi movido por uma
mulher contra o próprio marido, que, Facebook Twitter
em posse de procuração em causa
própria, alienou áreas de um imóvel Linkedin RSS
rural de sua (da mulher) propriedade.
Ela pediu a restituição dos bens ou o X
valor equivalente, de cerca de R$ 2,5 1.00
milhões.

Essas áreas teriam sido objeto de


Procuração em causa própria dá ao
outorgado o poder de dispor do direito contrato de compra e venda assinado
objeto alvo da procuração
pelo marido, como administrador dos 00:00/00:59
bens da mulher, em nome de outros
dois corréus, que no mesmo dia teriam assinado instrumentos particulares de
promessa de venda para transmitir a propriedade ao marido.

https://www.conjur.com.br/2021-jul-30/procuracao-causa-propria-nao-titulo-translativo-propriedade 1/5
31/07/2021 ConJur - Procuração em causa própria não é título translativo de propriedade

A declaração da invalidade dos atos praticados foi pedida com base em vícios
de simulação, erro, dolo, coação e fraude.

As instâncias ordinárias julgaram improcedente a ação pela prescrição, pois a


ação foi ajuizada mais de quatro anos após a celebração dos negócios jurídicos,
"especialmente da procuração in rem propriam" (em causa própria). Aplicou-se
artigo 178, parágrafo 9°, inciso V, alínea 'b' do Código Civil de 1916, vigente à
época

Foi nesse contexto que o relator na 4ª Turma, ministro Luis Felipe Salomão,
abordou o tema para concluir que a procuração em causa própria não equivale
ao título translativo de propriedade, documento que efetivamente transfere a
propriedade do imóvel.

Sandra Fado
Direito de transferir x transferência

O voto do relator, que foi


acompanhado por unanimidade pelos
integrantes da 4ª Turma, aponta que o
tema gera "todo tipo de vacilação
doutrinária e jurisprudencial",
controvérsias e "aspectos nebulosos".

A procuração em causa própria é um


negócio jurídico muito utilizado no
A procuração em causa própria não é título
âmbito do direito imobiliário. Nele, o translativo de propriedade, fixou o ministro
vendedor dá ao comprador o poder de Luis Felipe Salomão, relator do processo

representá-lo em cartório quando da


lavratura da escritura definitiva de compra e venda. É um meio de dispensar o
vendedor da conclusão do negócio e transferência imobiliária.

Quem confere essa procuração dá ao outorgado de forma irrevogável,


inextinguível pela morte de qualquer uma das partes e sem dever de prestação
de contas, o poder de dispor do direito objeto da procuração.

"Em outras palavras, a rigor não se transmite o direito objeto do negócio


jurídico, outorga-se o poder de transferi-lo", resumiu o ministro Luis Felipe
Salomão. É por isso que a procuração em causa própria não é equivalente a
título translativo de propriedade.

"As balizas fixadas acerca da procuração em causa própria não podem


X
desvirtuar todo o sistema erigido pelo direito brasileiro para a transmissão dos
1.00
direitos subjetivos patrimoniais", acrescentou o relator.

Reprodução
Consequência

No caso concreto, as instâncias


ordinárias concluíram que houve a 00:00/00:59
prescrição do direito a anulação de
contrato por vício de consentimento,
pois o pedido foi feito mais de quatro

https://www.conjur.com.br/2021-jul-30/procuracao-causa-propria-nao-titulo-translativo-propriedade 2/5
31/07/2021 ConJur - Procuração em causa própria não é título translativo de propriedade

anos depois da data da procuração em


causa própria.

Para o ministro Luis Felipe Salomão,


a conclusão é contraditória, ao
reconhecer ter sido outorgada
procuração ao ex-marido da autora,
com a natureza de ser em causa
própria, e, no tocante às alienações
Caso concreto trata da alienação de partes de com uso do instrumento, questiona
propriedade rural por meio de procuração

"Com efeito, soa até mesmo


contraditório reconhecer ter sido outorgada procuração ao ex-marido da autora,
com a natureza de ser em causa própria, e, no tocante às alienações com uso do
instrumento, questionar erro, simulação ou fraude acerca do dia em que
realizado o ato ou contrato", afirmou o relator.

Para enfrentar o problema, Salomão considerou assim a distinção entre os


institutos da nulidade e da anulabilidade. 

"Nessa linha de intelecção, Pontes de Miranda propugna que o ato jurídico


pode ser válido ou não válido (nulo ou anulável), eficaz ou ineficaz. Se o
negócio jurídico não existe, não há pensar em conceito de validade ou de
eficácia. Primeiro vem o ser, isso antes do valer e do ter efeitos. O que não
existe é nada; se lhe chama "nulo", é em sentido que não se põe no plano da
validade: é o não ser, que equivocamente se chamou de nulo", disse.

Já a anulabilidade é "sanção menos enérgica decorrente da prática de atos


jurídicos que prejudicam diretamente os interesses particulares ou privados dos
cidadãos".

No caso, o relator considerou que o processo trata de negócios translativos de


propriedade feitos a partir de procuração em causa própria que, de fato, não
têm vícios de anulabilidade. Ou seja, os negócios são válidos e eficazes. No
entanto, são também fruto de "conluio entre os réus" para lesar a autora, que
afirma ter havido até mesmo prática de crime.

Portanto, o caso não configura hipótese de anulabilidade, o que derruba a


incidência do prazo de quatro anos, conforme o artigo 178 do CPC de 1916.

Concluiu, assim, que houve error in procedendo (cerceamento da ampla X


1.00
defesa, em vista do julgamento antecipado) no caso. A decisão é de anulação
dos atos processuais a contar da decisão interlocutória que declarou a
prescrição, para propiciar a regular tramitação e instrução do processo.

Clique aqui para ler o acórdão

00:00/00:59
REsp 1.345.170

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31/07/2021 ConJur - Procuração em causa própria não é título translativo de propriedade

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Danilo Vital é correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília.

Revista Consultor Jurídico, 30 de julho de 2021, 19h57

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