Você está na página 1de 16

Introdução à química de alimentos 1

Owen R. Fennema, Srinivasan Damodaran e Kirk L. Parkin

CONTEÚDO dial dos biólogos inclui reprodução, crescimento


1.1  O que é química de alimentos? . . . . . . . . . . . . 1
e modificações que o material biológico sofre em
1.2  História da química de alimentos . . . . . . . . . . . 1 condições ambientais compatíveis ou razoavel-
1.3  Estratégias para o estudo da química de mente compatíveis com a vida. Por outro lado, o
alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 químico de alimentos ocupa-se mais do material
1.3.1  Análise de situações ocorridas durante biológico morto ou moribundo (fisiologia pós-
o armazenamento e o processamento de -colheita de plantas e pós-morte dos músculos) e
alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 das modificações sofridas por ele quando exposto
1.4  Papel social do químico de alimentos . . . . . . 13 a diversas condições ambientais. Por exemplo, as
1.4.1  Por que o químico de alimentos deve
condições adequadas para a manutenção dos pro-
estar envolvido em questões sociais? . . . . . . . . 13
cessos vitais residuais são de interesse do químico
1.4.2  Tipos de envolvimento . . . . . . . . . . . . . . . 14
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 de alimentos durante a comercialização de frutas
frescas e vegetais, ao passo que as condições de
incompatibilidade com os processos vitais são de
1.1  O QUE É QUÍMICA seu interesse quando a preservação do alimento a
DE ALIMENTOS? longo prazo é desejada. Além disso, os químicos
de alimentos ocupam-se das propriedades quími-
A ciência dos alimentos trata de suas propriedades
físicas, químicas e biológicas e de suas relações cas de alimentos derivados de tecidos processados
com estabilidade, custo, processamento, seguran- (farinhas, sucos de frutas e vegetais, constituintes
ça, valor nutricional, salubridade e conveniência. isolados e modificados, alimentos manufatura-
A ciência dos alimentos é um ramo das ciências dos), alimentos provenientes de material uni-
biológicas e um tópico interdisciplinar que envol- celular (ovos e microrganismos) e de um fluido
ve basicamente microbiologia, química, biologia e biológico fundamental, o leite. Em resumo, eles
engenharia. A química de alimentos é um dos tó- têm muito em comum com os biólogos, embora
picos principais da ciência dos alimentos, tratando tenham interesses que são, de maneiras distintas,
da composição e das propriedades dos alimentos, de extrema importância para a humanidade.
bem como das transformações químicas que eles
sofrem durante a manipulação, processamento e
1.2  HISTÓRIA DA QUÍMICA
o armazenamento. A química de alimentos está
diretamente relacionada à química, à bioquímica, DE ALIMENTOS
à botânica, à zoologia e à biologia molecular. O As origens da química de alimentos são obscuras
químico de alimentos depende do conhecimen- e os detalhes de sua história não são estudados e
to das ciências antes mencionadas para estudo e registrados com rigor. Esse fato não é surpresa,
controle efetivos dos materiais biológicos usados uma vez que a química de alimentos não assumiu
como matéria-prima para a alimentação humana. uma identidade clara até o século XX e que sua
O conhecimento das propriedades inatas do mate- história está profundamente associada à da quími-
rial biológico e o domínio de seus métodos de ma- ca agronômica, cuja documentação histórica não
nipulação são de interesse comum dos químicos é considerada extensa [1,2]. Portanto, a breve ex-
de alimentos e dos biólogos. O interesse primor- posição que segue, sobre a sua história, é incom-
2   Química de alimentos de Fennema

pleta e seletiva. Entretanto, a informação dispo- Nicolas-Théodore de Saussure (1767–1845),


nível é suficiente para indicar quando, onde e por um químico francês, trabalhou muito para for-
que alguns eventos-chave ocorreram na química malizar e esclarecer os princípios das químicas
de alimentos, relacionando-os a mudanças signi- agrícola e de alimentos fornecidos por Lavoisier.
ficativas em relação à qualidade do fornecimento Ele também estudou as trocas de CO2 e O2 duran-
de alimentos a partir do início do século XIX. te a respiração das plantas (1804) e o conteúdo
Embora a origem da química de alimentos, mineral das plantas por calcinação, fazendo a
de consenso, reporte-se à antiguidade, as desco- primeira determinação precisa da composição
bertas mais relevantes, conforme nosso conhe- elementar do etanol (1807).
cimento atual, tiveram início no final do século Joseph Louis Gay-Lussac (1778–1850) e
XVIII. Os melhores registros de desenvolvimen- Louis-Jacques Thenard (1777–1857) elabora-
to desse período, os de Filby [3] e Browne [1], ram, em 1811, o primeiro método para deter-
e grande parte da informação apresentada neste minar as porcentagens de carbono, hidrogênio e
texto baseiam-se nessas fontes. nitrogênio em substâncias vegetais desidratadas.
Durante o período de 1780 a 1850, diversos O químico inglês Sir Humphrey Davy (1778–
químicos famosos fizeram descobertas importantes, 1829), nos anos de 1807 e 1808, isolou os elemen-
muitas delas direta ou indiretamente relacionadas tos K, Na, Ba, Sr, Ca e Mg. Sua contribuição para as
aos alimentos. Esses trabalhos contêm as origens químicas agrícola e de alimentos tornou-se ampla
da química de alimentos moderna. Carl Wilhelm por meio de seus livros sobre química agrícola, dos
Scheele (1742–1786), um farmacêutico sueco, foi quais o primeiro (1813) foi Elements of Agriculture
um dos maiores químicos de todos os tempos. Além Chemistry, in a Course of Lectures for the Board of
de suas famosas descobertas do cloro, do glicerol Agriculture [4]. Seus livros serviram para organizar
e do oxigênio (três anos antes de Priestly, embora e esclarecer o conhecimento existente naquela épo-
não tenha sido publicado), ele isolou e determinou ca. Na primeira edição, ele afirmou:
propriedades da lactose (1780), preparou ácido
múcico pela oxidação do ácido láctico (1780), de- Todas as partes diferentes das plantas podem
senvolveu um método para preservar vinagre por ser decompostas em alguns poucos elemen-
aplicação de calor (1782, aprimorando a “desco- tos. Seus usos para alimentação ou aplicação
nas artes dependem da organização desses
berta” de Appert), isolou o ácido cítrico de suco de
elementos em compostos, os quais podem ser
limão (1784) e de groselhas (1785), isolou o ácido obtidos tanto a partir de suas partes organi-
málico de maçãs (1785) e testou 20 frutas comuns zadas, como a partir de seus sucos; a análise
para a presença dos ácidos málico, cítrico e tartárico da natureza destas substâncias é uma parte
(1785). O isolamento de vários compostos quími- essencial da química agrícola.
cos novos a partir de materiais de origem animal e
vegetal é considerado o início da pesquisa analítica Na quinta edição, ele afirmou que as plantas
de precisão nas químicas agrícola e de alimentos. costumam ser compostas por apenas sete ou oito
O químico francês Antoine Laurent Lavoisier elementos e que “as substâncias vegetais mais
(1743–1794) desempenhou um papel fundamen- essenciais consistem em hidrogênio, carbono e
tal na rejeição final da teoria do flogisto e na for- oxigênio em diferentes proporções, geralmen-
mulação dos princípios da química moderna. Em te isolados, mas, em alguns casos, combinados
relação à química de alimentos, ele estabeleceu com azoto [nitrogênio]” (p. 121) [5].
os princípios fundamentais de análise da com- Os trabalhos do químico sueco Jons Jacob
bustão orgânica, sendo o primeiro a demonstrar Berzelius (1779–1848) e do químico escocês
que um processo de fermentação pode ser ex- Thomas Thomson (1773–1852) resultaram no iní-
presso por uma equação estequiométrica. Além cio das fórmulas orgânicas, “sem as quais a análi-
disso, fez a primeira tentativa de determinação da se orgânica seria um deserto sem trilha e a análise
composição elementar do álcool etílico (1784) e de alimentos, uma tarefa sem fim” [3]. Berzelius
apresentou um dos primeiros artigos (1786) so- determinou os componentes elementares de 2 mil
bre ácidos orgânicos em diversas frutas. compostos, confirmando, assim, a lei das propor-
Capítulo 1   Introdução à química de alimentos   3

ções definidas. Ele também elaborou um modo de quantitativa de substâncias orgânicas, principal-
determinar com precisão o conteúdo de água em mente por combustão, publicando, em 1847, o
substâncias orgânicas, uma das deficiências do que parece ser o primeiro livro sobre química de
método de Gay-Lussac e Thenard. Thomson de- alimentos, Researches on the Chemistry of Food
monstrou que as leis que governam a composição [8]. Estão incluídas nesse livro as descrições de
de substâncias inorgânicas aplicam-se à matéria sua pesquisa sobre componentes hidrossolúveis
orgânica, um tópico de extrema importância. do músculo (creatina, creatinina, sarcosina, áci-
Em um livro intitulado Considérations do inosínico, ácido láctico, etc.).
générales sur l’analyse organique et sur ses É interessante que o desenvolvimento
applications [6], Michel Eugene Chevreul descrito anteriormente tenha ocorrido em paralelo
(1786–1889), um químico francês, listou os ele- ao início de problemas graves e disseminados
mentos conhecidos naquela época, presentes em concernentes a adulterações em alimentos, não
substâncias orgânicas (O, Cl, I, N, S, P, C, Si, sendo exagerado afirmar que a necessidade de
H, Al, Mg, Ca, Na, K, Mn e Fe), citando os pro- detectar impurezas em alimentos foi o maior
cessos então disponíveis para análise orgânica: estímulo para o desenvolvimento da química
(1) extração com solventes neutros, como água, analítica em geral e da química analítica de
álcool ou éter aquoso; (2) destilação lenta ou alimentos em particular. Infelizmente, também é
destilação fracionada; (3) destilação por vapor; verdade que os avanços na química contribuíram,
(4) passagem da substância por um tubo aque- em parte, para as adulterações em alimentos,
cido à incandescência; e (5) análise com oxigê- uma vez que fornecedores inescrupulosos de
nio. Chevreul foi um dos pioneiros da análise alimentos puderam utilizar-se da literatura
de substâncias orgânicas. Sua pesquisa clássica química disponível, que incluía formulações de
sobre a composição da gordura animal levou à alimentos adulterados, além de trocarem modos
descoberta dos ácidos esteárico e oleico. empíricos antigos e pouco eficientes de adultera-
O Dr. William Beaumont (1785–1853), um ção por estratégias mais eficientes, baseadas em
cirurgião do Exército Norte-Americano, lota- princípios científicos. Portanto, a história da quí-
do no Forte Mackinac, em Michigan, realizou mica de alimentos e a da adulteração de alimen-
experimentos clássicos sobre digestão gástri- tos estão intimamente interligadas por diversas
ca, desmistificando o conceito existente desde relações de origem, tornando plausível a consi-
Hipócrates, de que os alimentos contêm um úni- deração do tema da adulteração de alimentos a
co componente nutritivo. Seus experimentos fo- partir de uma perspectiva histórica [3].
ram realizados durante o período de 1825 a 1833 A história da adulteração de alimentos nos
em um canadense chamado Alexis St. Martin, países atualmente mais desenvolvidos ocorreu em
cuja ferida causada por um mosquete permitiu três fases distintas. De épocas ancestrais até por vol-
o acesso direto ao interior de seu estômago, pos- ta de 1820, a adulteração de alimentos não era um
sibilitando a introdução direta de alimentos e o problema sério, não havendo grande necessidade de
subsequente exame de alterações digestivas [7]. métodos de detecção. A explicação mais óbvia para
Entre suas mais notáveis realizações, Justus essa situação é a de que os alimentos eram com-
von Liebig (1803–1873) mostrou, em 1837, que prados de pequenos negócios ou de pessoas, o que
o acetaldeído ocorre como um intermediário en- fazia as transações envolverem, em grande parte,
tre o álcool e o ácido acético durante a fermen- responsabilidade interpessoal. A segunda fase ini-
tação do vinagre. Em 1842, ele classificou os cia-se no começo do século XIX, quando as adul-
alimentos como nitrogenados (fibrina vegetal, terações intencionais em alimentos aumentaram
albumina, caseína, carne e sangue) e não nitro- de forma significativa, em frequência e gravidade.
genados (gorduras, carboidratos e bebidas alcoó- Esse incremento pode ser atribuído principalmente
licas). Embora essa classificação não seja correta ao aumento da centralização do processamento e da
em diversos aspectos, serviu para distinguir dife- distribuição de alimentos, com um decréscimo cor-
renças importantes entre vários alimentos. Além respondente de responsabilidade interpessoal e, de
disso, ele aperfeiçoou os métodos para a análise modo parcial, ao aparecimento da química moder-
4   Química de alimentos de Fennema

na, como já mencionado. As adulterações intencio- que as adulterações intencionais em vários alimen-
nais permaneceram como um problema grave até tos e ingredientes prevaleceram no século XIX,
cerca de 1920, data que marcou o final da fase dois conforme citado por Accum e Filby, incluindo itens
e o início da fase três. Nesse momento, as pressões como urucum, pimenta-preta, pimenta-de-caiena,
legais e os métodos efetivos para a detecção redu- óleos essenciais, vinagre, suco de limão, café, chá,
ziram a frequência e a gravidade das adulterações leite, cerveja, vinho, açúcar, manteiga, chocolate,
intencionais para níveis aceitáveis. Essa situação pão e produtos de confeitaria.
tem melhorado, gradativamente, até os dias atuais. Como a gravidade das adulterações em ali-
Alguns podem argumentar que uma quarta fase mentos no início do século XIX tornou-se evidente
da adulteração de alimentos iniciou-se por volta de ao público, as medidas de remediação aumentaram
1950, quando os alimentos que continham aditivos gradativamente. Essas medidas tomaram a forma
químicos permitidos pela legislação tornaram-se de novas legislações que criminalizaram a adulte-
prevalentes, o uso de alimentos extensivamente pro- ração, gerando-se um grande esforço dos quími-
cessados aumentou, passando a representar a maior cos em compreender as propriedades nativas dos
parte da dieta humana da maioria das nações indus- alimentos, os compostos mais usados em adultera-
trializadas, e a contaminação de alguns alimentos ções e as maneiras de detectá-los. Portanto, duran-
por subprodutos indesejáveis da industrialização, te o período de 1820 a 1850, a química e a química
como mercúrio, chumbo e pesticidas, tornou-se pú- de alimentos começaram a assumir muita impor-
blica e de relevância legislatória. A validade dessa tância na Europa. Isso foi possível devido ao traba-
colocação é muito debatida, não existindo um con- lho dos cientistas já citados, tendo sido amplamen-
senso até hoje. Entretanto, o andamento desse tema te estimulado pela implantação de laboratórios de
ao longo dos anos seguintes tornou-se claro. O in- pesquisa em química para jovens estudantes, em
teresse público sobre segurança e adequação nutri- várias universidades, e pela fundação de novos pe-
cional dos alimentos continua a evocar mudanças, riódicos para pesquisa em química [1]. Desde en-
tanto voluntárias como involuntárias, na maneira tão, o avanço da química de alimentos tem seguido
como os alimentos são produzidos, manipulados e em um ritmo acelerado e alguns desses avanços,
processados. Essas ações são inevitáveis, pois nos junto a suas causas, serão mencionados a seguir.
ensinam mais sobre as práticas adequadas de manu- Em 1860, foi estabelecida, em Weede,
seio de alimentos e sobre as estimativas de ingestão Alemanha, a primeira estação experimental
máxima tolerável de constituintes indesejados, que agronômica mantida por recursos públicos.
se tornam mais precisas. W. Hanneberg e F. Stohmann foram nomeados
O início do século XIX foi um período de como diretor e químico, respectivamente. Com
especial interesse público sobre qualidade e se- base no trabalho de químicos precursores, eles
gurança dos alimentos. Essa preocupação, ou me- desenvolveram um procedimento de rotina impor-
lhor, essa indignação, foi iniciada na Inglaterra tante, para a determinação de componentes majo-
pela publicação de Frederick Accum, A Treatise ritários dos alimentos. Dividindo uma amostra em
on Adulterations of Food [9], bem como por uma diversas partes, eles eram capazes de determinar
publicação anônima, intitulada Death in the Pot conteúdo de umidade, “gordura bruta”, cinzas e
[10]. Accum afirmava que, “de fato, seria difícil nitrogênio. Logo, multiplicando-se o valor de ni-
mencionar um simples item de alimentos que não trogênio por 6,25, eles chegaram ao conteúdo de
estivesse associado a um estado adulterado; exis- proteína. A digestão sequencial com ácido diluído
tem algumas substâncias que costumam ser muito e álcali diluído gerou um resíduo denominado “fi-
escassas para serem genuínas” (p. 14). Ele ainda bra bruta”. A porção remanescente após a remo-
comenta, “não é menos lamentável que a aplica- ção de proteína, gordura, cinzas e fibra bruta foi
ção extensiva da química para objetivos nobres da denominada “extrato livre de nitrogênio”. Acre-
vida tenha sido pervertida como um auxiliar desse ditava-se que essa fração representava os carboi-
comércio nefasto [adulteração]” (p. 20). dratos digeríveis. Infelizmente, por muitos anos,
Embora Filby [3] defenda que as acusações de químicos e médicos pensaram erroneamente que
Accum foram de certo modo exageradas, é certo os valores obtidos por esse procedimento repre-
Capítulo 1   Introdução à química de alimentos   5

sentavam o valor nutricional, não importando o postas à segurança do abastecimento de alimentos.


tipo de alimento [11]. Esses tópicos incluem natureza, eficácia e impac-
Em 1871, Jean Baptiste Duman (1800–1884) to de componentes não nutrientes em alimentos,
sugeriu que dietas constituídas apenas de pro- suplementos dietéticos e fitoquímicos que podem
teína, carboidratos e gordura não eram adequa- promover a saúde humana, além da simples nutri-
das para a manutenção da vida. ção (Capítulo 13); a engenharia genética de grãos
Em 1862, o Congresso dos Estados Unidos (organismos geneticamente modificados [OGMs])
aprovou o Land-Grant College Act, de autoria de e seus benefícios justapostos a seus riscos à se-
Justin Smith Morrill. Essa lei ajudou no estabele- gurança e à saúde humana (principalmente no
cimento de faculdades de agricultura nos Estados Capítulo 16); e o valor nutritivo comparativo de
Unidos, dando um estímulo considerável ao treina- colheitas obtidas por métodos de cultivo orgânico
mento de químicos agrícolas e de alimentos. Ainda em contraponto ao cultivo convencional.
em 1862, o Departamento de Agricultura dos Esta-
dos Unidos foi implementado e Isaac Newton foi
nomeado como seu primeiro delegado. 1.3  ESTRATÉGIAS PARA
Em 1863, Harvey Washington Wiley tornou- O ESTUDO DA QUÍMICA
-se químico-chefe do Departamento de Agricultu- DE ALIMENTOS
ra dos Estados Unidos e a partir de seu gabinete
A química de alimentos, caracteristicamente, está
então liderou uma campanha contra alimentos
adulterados e erroneamente rotulados, culminan- relacionada à identificação dos determinantes
do na instituição do primeiro Pure Food and Drug moleculares de propriedades dos materiais e da
Act, nos Estados Unidos (1906). reatividade química de matrizes alimentares, bem
Em 1887, foram implantadas estações agronô- como à aplicação efetiva desse entendimento à me-
micas experimentais nos Estados Unidos, seguin- lhora de formulações, processos e estabilidade dos
do a deliberação do Hatch Act. O representante do alimentos. Um de seus objetivos importantes é a
Missouri, William H. Hatch, presidente do House determinação de relações de causa-efeito e estrutu-
Committee on Agriculture, foi o autor desse es- ra-funcionalidade entre diferentes classes de com-
tatuto. Como resultado, o maior sistema nacional ponentes químicos. Os fatos resultantes do estudo
de estações agronômicas experimentais do mundo de um alimento ou de um sistema-modelo podem
foi implementado, causando um grande impacto à ser aplicados à compreensão de outros produtos
pesquisa em alimentos, nos Estados Unidos. alimentícios. A abordagem analítica da química de
Durante a primeira metade do século XX, alimentos inclui quatro componentes, a saber: (1)
muitas das substâncias essenciais das dietas foram determinação das propriedades que são característi-
descobertas e caracterizadas, incluindo vitaminas, cas importantes de um alimento seguro e de elevada
minerais, ácidos graxos e alguns aminoácidos. qualidade; (2) determinação das reações químicas e
O desenvolvimento e o uso extensivo de bioquímicas que influenciam de maneira relevante
substâncias químicas como auxiliares de cresci- em termos de perda de qualidade e/ou salubridade
mento, manufatura e comercialização de alimen- do alimento; (3) integração dos dois pontos anterio-
tos foi um evento marcante e satisfatório na meta- res, de modo a entender como as reações químicas
de do século XX. e bioquímicas-chave influenciam na qualidade e
Esta revisão histórica, embora breve, sugere na segurança; e (4) aplicação desse conhecimento
que o abastecimento atual de alimentos pareça a várias situações encontradas durante formulação,
quase perfeito em comparação ao que existia no processamento e armazenamento de alimentos.
século XIX. Entretanto, nessa redação, vários te- A segurança é o primeiro requisito de qualquer
mas atuais têm substituído os históricos, isso no alimento. Em sentido amplo, isso significa que um
que diz respeito a quais pontos a comunidade en- alimento deve estar livre de qualquer substância
volvida com a ciência de alimentos deve abordar química ou contaminação microbiológica preju-
para promover a salubridade e o valor nutricional dicial no momento de seu consumo. Em termos
dos alimentos, abrandando as ameaças reais ou su- operacionais, essa definição toma uma forma mais
6   Química de alimentos de Fennema

aplicada. Na indústria de enlatados, a esterilidade to. Algumas das classes mais importantes dessas
“comercial”, aplicada a alimentos de baixa acidez, reações estão listadas na Tabela 1.2. Cada classe
significa a ausência de esporos viáveis de Clostri- de reação pode envolver diferentes reatantes ou
dium botulinum. Isso pode ser traduzido por um substratos, dependendo especificamente do ali-
conjunto de condições específicas de aquecimento mento e das condições particulares de manipula-
para um produto específico, em uma embalagem ção, processamento ou armazenamento. Elas são
específica. Dados os requisitos de tratamento tér- tratadas como classes de reações, pois a natureza
mico, pode-se selecionar condições específicas de geral dos substratos ou dos reatantes é similar
tempo e temperatura para que se otimize a retenção para todos os alimentos. Logo, o escurecimento
de atributos de qualidade. Do mesmo modo, em um não enzimático envolve reações de carbonilas,
produto como a manteiga de amendoim, a seguran- que podem surgir da existência de açúcares redu-
ça operacional pode ser considerada, principalmen- tores ou ser geradas a partir de diversas reações,
te, como a ausência de aflatoxinas − substâncias como oxidação do ácido ascórbico, hidrólise do
carcinogênicas produzidas por algumas espécies amido ou oxidação de lipídeos. A oxidação pode
de fungos. As etapas da prevenção do crescimento envolver lipídeos, proteínas, vitaminas ou pig-
do fungo em questão podem ou não interferir na mentos e, mais especificamente, a oxidação de
retenção de algum outro atributo de qualidade; ain- lipídeos pode envolver triacilgliceróis em alguns
da assim, as condições que resultam em produtos alimentos e fosfolipídeos em outros. A discussão
seguros devem ser empregadas. detalhada sobre essas reações será realizada em
Uma lista de atributos de qualidade de ali- capítulos subsequentes deste livro.
mentos e algumas alterações que podem ser As reações listadas na Tabela 1.3 causam as al-
sofridas por eles durante o processamento e terações listadas na Tabela 1.1. A integração da in-
armazenamento é apresentada na Tabela 1.1. formação contida em ambas as tabelas pode condu-
As modificações que podem ocorrer, com exce- zir ao entendimento das causas de deterioração dos
ção das que envolvem valor nutricional e seguran- alimentos. A deterioração de um alimento costuma
ça, são rapidamente percebidas pelo consumidor. ser constituída por uma série de eventos primários,
Muitas reações químicas e bioquímicas po- seguidos de eventos secundários, que, por sua vez,
dem alterar a qualidade ou a segurança do alimen- tornam-se evidentes pela alteração de atributos de

TABELA 1.1  Classificação das alterações que podem ocorrer durante manipulação,
processamento ou armazenamento
Atributo Alteração
Textura Perda de solubilidade
Perda de capacidade de retenção de água
Endurecimento
Amolecimento
Sabor Desenvolvimento de:
Rancidez (hidrolítica ou oxidativa)
Sabor cozido ou caramelo
Outros odores indesejados
Sabores desejados
Cor Escurecimento
Branqueamento
Desenvolvimento de cores desejadas (p. ex., escurecimento em produtos cozidos)
Valor nutricional Perda, degradação ou alteração da biodisponibilidade de proteínas, lipídeos, vitaminas,
minerais e outros componentes benéficos à saúde
Segurança Geração de substâncias tóxicas
Desenvolvimento de substâncias com efeito protetor à saúde
Inativação de substâncias tóxicas
Capítulo 1   Introdução à química de alimentos   7

TABELA 1.2  Algumas das reações químicas e bioquímicas que podem levar à alteração da
qualidade ou da segurança dos alimentos
Tipo de reação Exemplos
Escurecimento não enzimático Produtos cozidos, secos e de umidade intermediária
Escurecimento enzimático Frutas e vegetais cortados
Oxidação Lipídeos (odores indesejáveis), degradação de vitaminas,
descoloração de pigmentos, proteínas (perda de valor nutricional)
Hidrólise Lipídeos, proteínas, carboidratos, vitaminas, pigmentos
Interações com metais Complexação (antocianinas), perda de Mg da clorofila, catálise da
oxidação
Isomerização de lipídeos Isomerização cis → trans, não conjugado → conjugado
Ciclização de lipídeos Ácidos graxos monocíclicos
Oxidação e polimerização de lipídeos Formação de espuma durante a fritura
Desnaturalização de proteínas Coagulação da gema do ovo, inativação de enzimas
Interligação entre proteínas Perda de valor nutricional durante processamento alcalino
Síntese e degradação de polissacarídeos Pós-colheita de plantas
Alterações glicolíticas Pós-colheita do tecido vegetal, pós-morte do tecido animal

TABELA 1.3  Exemplos de relações causa-efeito associadas a alterações em alimentos


durante manipulação, armazenamento e processamento
Atributo influenciado
Evento primário Efeito secundário (ver Tabela 1.1)
Hidrólise de lipídeos Ácidos graxos livres reagem com Textura, sabor, valor nutricional
proteínas
Hidrólise de polissacarídeos Açúcares reagem com proteínas Textura, sabor, cor, valor nutricional
Oxidação de lipídeos Produtos de oxidação reagem com Textura, sabor, cor, valor nutricional; pode
diversos outros constituintes ocorrer formação de substâncias tóxicas
Contusões em frutas Ruptura celular, liberação de Textura, sabor, cor, valor nutricional
enzimas, disponibilidade de oxigênio
Aquecimento de produtos Perda de integridade de parede e Textura, sabor, cor, valor nutricional
da horticultura membrana celulares, liberação de
ácidos, inativação de enzimas
Aquecimento do tecido Desnaturalização e agregação de Textura, sabor, cor, valor nutricional
muscular proteínas, inativação de enzimas
Conversão cis → trans em Aumento da taxa de polimerização Formação excessiva de espuma durante a
lipídeos durante a fritura fritura, diminuição do valor nutricional e
biodisponibilidade de lipídeos, solidificação
do óleo de fritura

qualidade (Tabela 1.1). Exemplos desse tipo de associados e o efeito sobre o atributo de qualida-
sequência são mostrados na Tabela 1.3. Percebe-se, de. De forma alternativa, pode-se determinar as
em particular, que determinado atributo de qualida- causas prováveis de uma alteração de qualidade
de pode ser alterado como resultado de vários even- observada (coluna 3, Tabela 1.3), considerando-
tos primários diferentes. -se todos os eventos primários que podem estar
As sequências da Tabela 1.3 podem ser apli- envolvidos e então isolando, por meio de testes
cadas em duas direções. Operando-se da esquer- químicos apropriados, o evento primário prin-
da para a direita, pode-se considerar um evento cipal. A utilidade do desenvolvimento dessas
primário em particular, os eventos secundários sequências é o estímulo à abordagem analítica
8   Química de alimentos de Fennema

de problemas de alterações de alimentos. As pro- cessamento e a manipulação de alimentos estão


priedades físicas e químicas dos constituintes resumidas nas Figuras 1.1 a 1.3. Estes conjuntos
majoritários dos alimentos, isto é, proteínas, complexos de reações/interações têm um papel
carboidratos e lipídeos, são invariavelmente al- essencial no desenvolvimento de propriedades
teradas durante o processamento. Essas altera- sensoriais e nutricionais desejáveis e indesejá-
ções envolvem reações/interações intra e inter- veis nos alimentos.
componente. As principais reações envolvendo A Figura 1.4 é um resumo simplificado
proteínas, carboidratos e lipídeos durante o pro- de reações e interações dos principais compo-

Proteínas

Controle de pH
H2O Proteinases H2O Anaeróbico

Neutro,
Ácido H2S
Alcalino severo Aminoácidos,
peptídeos
Congelamento
Transferência de acil
– Desnaturalização/agregação – Desnaturalização/
– Racemização agregação
– Ligação cruzada – Desnaturalização/agregação
– Hidrólise
– Hidrólise – Plasteínas – Insolubilização
– Inativação de enzimas e – Gelificação
– Desaminação – Funcionalidade alterada
alguns antinutrientes – Funcionalidade alterada
– Funcionalidade alterada – Funcionalidade alterada

Proteínas
Taninos
insolúveis com
valor nutricional
– Desnaturalização/agregação
reduzido
– Ligação cruzada
(ligações isopeptídicas)
– Funcionalidade alterada

Lipídeos Oxidação Lipídeos Tecido animal Carbonilas ou Aldeídos ou


oxidados (creatinina), peróxidos açúcares
severo lipídicos

– Complexos não – Proteínas com


Aminas
covalentes lipídeo- ligação cruzada
heterocíclicas
-proteína
(mutagênicas) – Textura alterada
– Textura alterada

– Resíduos de AA oxidados e
– Produtos da reação de Maillard
produtos de desnaturalização
e degradação de Strecker com
– Ligação cruzada/polimerização
valor nutricional reduzido, cores,
induzida por radicais livres
sabores, contaminantes,
– Ligação cruzada dissulfeto
compostos tóxicos
– Valor nutricional reduzido
– Textura alterada
– Perda de atividade enzimática
– Textura alterada

FIGURA 1.1  Principais reações que as proteínas podem sofrer durante o processamento e a manipulação
de alimentos. (De Taoukis, P. e Labuza, T.P., em: Food Chemistry, 3rd edn., Fennema, O., ed., Marcel Dekker,
New York, 1996, p. 1015.)
Capítulo 1   Introdução à química de alimentos   9

Tecido rico em carboidratos

Substâncias Celulose
pécticas
Hemiceluloses Amido nativo

Puro
Açúcar
Géis
Vitamina C
H+

No tecido
em suco H2O ∆ Amido
de fruta modificado Enzimas
quimicamente Tecido
amolecido

Amido Ca2+∆ Tecido


gelatinizado rígido
Pectina
metilesterase

H2O Enzimas
+ ∆ Complexos
H
fitato/
H+ minerais
Sacarose
∆ Anaeróbico
∆ Oligossacarídeos
H+
H2O Enzimas
∆ ou H+ H2O Enzimas
∆ ou H+

Pentoses
Glicose isomerase Glicose
Frutose Glicose
+
H ∆ oxidase

Furfural Gluconolactona
e outros
compostos
H+ Proteínas,
∆ ∆ ∆ H2 O
aminoácidos,
–NH2

Cores e 5-Hidroxi- – Proteína com valor


sabores metilfurfural nutricional reduzido
e outros – Compostos
potencialmente tóxicos

FIGURA 1.2  Principais reações que os carboidratos podem sofrer durante o processamento e a manipulação
de alimentos. (De Taoukis, P. e Labuza, T.P., em: Food Chemistry, 3rd edn., Fennema, O., ed., Marcel Dekker,
New York, 1996, p. 1016).

nentes dos alimentos que levam à deterioração de lipídeos e da degradação de carboidratos,


da qualidade do alimento. Cada classe de com- podendo levar a destruição do valor nutricional,
posto sofre um tipo particular de deterioração. descoloração e destruição de sabores. Certamen-
É notável o papel que compostos com carbonilas te, essas mesmas reações conduzem a sabores e
desempenham em diversos processos de deterio- cores desejados durante o cozimento de diversos
ração. Elas surgem principalmente da oxidação alimentos.
10   Química de alimentos de Fennema

Lipídeos

Lipases H+ ou
ou OH– e ∆ H2, ∆, P, Ni Lipídeo
Proteínas ou bio-hidrogenação hidrogenado

Cat. (enzimas
Lipídeo
– Complexos Ácidos NaOCH3 e outros) interesterificado
não covalentes graxos ∆
lipídeo-proteína

Oxidação
– Textura alterada Calor moderado
a severo Dímeros acíclicos
e cíclicos, cetonas

Hidroperóxidos

Proteínas
Peróxidos
Vitaminas Sabores Pigmentos (trans,
conjugados)
– Ligação cruzada de – Proteína oxidada
Vitaminas Descoloração proteína dissulfeto – Valor nutricional reduzido
inativas de pigmentos – Textura alterada – Perda de atividade
enzimática
– Textura alterada
Alteração
de sabor

Aldeídos, alcoóis, ácidos, epóxidos,


cetonas, monômeros de ácidos graxos
cíclicos, dímeros, polímeros,
esteróis oxidados, etc.

O
Proteínas
C

– Produtos da reação de Maillard e


degradação de Strecker
– Cores e sabores alterados
– Proteínas com valor nutricional reduzido
– Compostos potencialmente tóxicos
– Textura alterada

FIGURA 1.3  Principais reações que os lipídeos podem sofrer durante o processamento e a manipulação de alimentos.
(De Taoukis, P. e Labuza, T.P., em: Food Chemistry, 3rd edn., Fennema, O., ed., Marcel Dekker, New York, 1996, p. 1017).

1.3.1  Análise de situações a consideração sobre a aplicação dessa informa-


ocorridas durante o ção a situações ocorridas durante o armazena-
mento e o processamento de alimentos.
armazenamento e o As variáveis importantes durante o armaze-
processamento de alimentos namento e o processamento de alimentos estão
Uma vez que já foram descritos os atributos de listadas na Tabela 1.4. A temperatura é, talvez, a
alimentos seguros e de alta qualidade, as reações variável mais importante, em decorrência da sua
químicas relevantes envolvidas na deterioração de grande influência em todos os tipos de reações
alimentos e a relação entre ambos, pode-se iniciar químicas. O efeito da temperatura em uma reação
Capítulo 1   Introdução à química de alimentos   11

Oxidado
O2, Calor P
L Peróxidos P
Catálise

Calor, ácido Sabor indesejável


ou base Cor indesejável
Pigmentos,
forte Carbonilas
C vitaminas e Perda de valor
reativas
sabores nutricional
Perda de textura
Reatividade dependente
da atividade de água
e da temperatura
P

FIGURA 1.4  Resumo das interações químicas entre os componentes principais dos alimentos: L, lipídeos
(triacilgliceróis, ácidos graxos e fosfolipídeos); C, carboidratos (polissacarídeos, açúcares, ácidos orgânicos, etc.);
P, proteínas (proteínas, peptídeos, aminoácidos e outras substâncias que contêm N).

TABELA 1.4  Fatores relevantes que controlam a estabilidade de alimentos durante


manipulação, processamento, armazenamento
Fatores do produto Fatores ambientais
Propriedades químicas dos componentes individuais Temperatura (T ); tempo (t); composição da atmosfera;
(incluindo catalisadores), conteúdo de oxigênio, pH, tratamentos físicos, químicos ou biológicos impostos;
atividade de água, Tg e Wg exposição à luz; contaminação; dano físico
Nota: atividade de água = p/po, onde p é a pressão de vapor da água sobre o alimento e po é a pressão de vapor da água pura;
Tg é a temperatura de transição vítrea; Wg é o conteúdo de água do produto na Tg.

individual pode ser estimado a partir da equação ções competitivas, (3) o estado físico do sistema
−ΔE/RT
de Arrhenius, k = Ae . Dados em conformida- pode mudar (p. ex., congelamento), ou (4) um ou
de com a equação de Arrhenius resultam em uma mais reatantes podem ser totalmente consumidos.
linha reta quando log k é graficado versus 1/T. O Outro fator importante na Tabela 1.4 é o tem-
parâmetro ΔE é a energia de ativação que repre- po. Durante o armazenamento de um alimento,
senta a variação de energia livre necessária para costuma-se informar sobre qual período se espera
elevação da espécie química de um estado basal que o alimento mantenha um nível específico de
para o de transição, a partir do qual a reação pode qualidade. Portanto, interessa-se pelo tempo em
ocorrer. Os gráficos de Arrhenius da Figura 1.5 relação ao total das alterações químicas e/ou mi-
representam reações importantes na deteriora- crobiológicas que ocorrem durante o período es-
ção de alimentos. É evidente que as reações em pecífico do tempo de armazenamento e pelo modo
alimentos geralmente seguem a correlação de como a combinação dessas alterações determinam
Arrhenius em um intervalo limitado de tempera- um prazo específico para o armazenamento do
turas, mas desvios a essa correlação podem ocor- produto. Durante o processamento, existe interes-
rer em temperaturas mais baixas ou mais elevadas se em se conhecer o tempo necessário de inativa-
[12]. Logo, é importante lembrar que a correlação ção de uma determinada população de microrga-
de Arrhenius para sistemas alimentares é válida nismos ou o tempo necessário para que uma reação
somente para intervalos de temperaturas que te- ocorra, na extensão desejada. Por exemplo, pode
nham sido verificados experimentalmente. ser de interesse o conhecimento de quanto tem-
Desvios da equação de Arrhenius podem po é necessário para a produção do escurecimento
ocorrer em consequência dos seguintes eventos, desejado em chips de batata durante a fritura. Para
muitos dos quais são induzidos tanto por altas tanto, deve-se considerar a mudança da tempe-
como por baixas temperaturas: (1) a atividade en- ratura em função do tempo, ou seja, dT/dt. Essa
zimática pode ser perdida, (2) a rota (passo limi- relação é importante, pois permite determinar-se
tante) da reação pode mudar, influenciada por rea- em que extensão a velocidade da reação muda em
12   Química de alimentos de Fennema

Log da constante de velocidade de reação observada


Não enzimática

c
b

Catalisado
por enzima
d

0 °C

Temperatura (K–1)

FIGURA 1.5  Ajuste de reações importantes de deterioração de alimentos à equação de Arrhenius. (a) Acima de
determinados valores de T, podem ocorrer desvios da linearidade, devido a mudanças na rota da reação. (b) Com
a diminuição da temperatura abaixo do ponto de congelamento do sistema, a fase de gelo (essencialmente pura)
aumenta, e a fase fluida, que contém os solutos, diminui. A concentração de solutos na fase líquida pode diminuir as
velocidades de reação (suplementando o efeito de diminuição da temperatura) ou aumentar as velocidades de reação
(opondo-se ao efeito de diminuição da temperatura), dependendo da natureza do sistema (ver Capítulo 2). (c) Para
uma reação enzimática existe uma temperatura máxima, na qual a enzima é desnaturalizada, resultando em perda
de atividade, e (d) em temperatura próxima ao ponto de congelamento da água, na qual mudanças sutis, como a
dissociação de um complexo enzimático, podem levar a um forte declínio da velocidade da reação.

função da temperatura da matriz alimentar duran- Valores extremos de pH costumam ser necessários
te o processamento. Se o ΔE da reação e o perfil para que se iniba ostensivamente o crescimento
de temperatura do alimento são conhecidos, sua microbiano ou de processos enzimáticos. Essas
análise integrativa permite a previsão do acúmulo condições podem acelerar reações catalisadas por
líquido do produto da reação. Isso também é de in- ácidos ou bases. Em contrapartida, mesmo uma
teresse para alimentos que se deterioram de mais mudança relativamente pequena no pH pode cau-
de uma maneira, como por oxidação de lipídeos sar alterações importantes na qualidade de alguns
e escurecimento não enzimático. Se os produtos alimentos, como, por exemplo, no músculo.
da reação de escurecimento são antioxidantes, é A composição do produto é importante, pois
importante que se saiba se as velocidades relativas determina quais reatantes estão disponíveis para
dessas reações são suficientes para a ocorrência de transformações químicas. Também é importante a
uma interação significativa entre elas. determinação da influência de sistemas alimentares
Outra variável, o pH, influencia na veloci- celulares; acelulares e homogêneos; e heterogêneos
dade de diversas reações químicas e enzimáticas. na disposição e na reatividade dos reatantes. É de
Capítulo 1   Introdução à química de alimentos   13

particular importância, do ponto de vista da qua- como pela remoção de reatantes indesejáveis,
lidade, a relação existente entre a composição da como, por exemplo, a remoção de glicose do al-
matéria-prima e a composição do produto acabado. búmen de ovo desidratado.
Por exemplo, (1) o modo como frutas e vegetais são A composição da atmosfera é importante, em
manipulados no pós-colheita pode influenciar no especial, em relação à umidade relativa e ao con-
conteúdo de açúcar, e isso, por sua vez, pode in- teúdo de oxigênio, embora o etileno e o CO2 tam-
fluenciar no grau de escurecimento obtido durante bém sejam importantes durante o armazenamento
desidratação ou fritura; (2) o modo como tecidos de tecidos de origem vegetal. Infelizmente, em
animais são manipulados no pós-morte exerce in- situações nas quais a exclusão do oxigênio é desejá-
fluência sobre a velocidade e a extensão da glicóli- vel, essa condição é quase impossível de ser obtida
se e sobre a degradação de ATP, e esses fatores, por por completo. Em alguns casos, os efeitos deleté-
sua vez, podem influenciar em tempo de armaze- rios de quantidades residuais de oxigênio tornam-se
namento, rigidez, capacidade de retenção de água, aparentes durante o armazenamento. Por exemplo,
sabor e cor; e (3) a mistura de matérias-primas a formação prematura de pequenas quantidades de
pode resultar em interações inesperadas, como, por ácido desidroascórbico (a partir da oxidação do áci-
exemplo, a taxa de oxidação pode ser acelerada ou do ascórbico) pode resultar em escurecimento pela
inibida dependendo da quantidade de sal presente. reação de Maillard, durante o armazenamento.
Outro fator determinante de relevância, rela- Para alguns produtos, a exposição à luz pode
cionado à composição do alimento, é a atividade ser deletéria. Nesses casos, é adequado que os
de água (aa). Diversos pesquisadores têm demons- produtos sejam embalados em material refratário
trado que a aa influencia fortemente na velocidade à luz ou que se controlem a intensidade e os com-
de reações catalisadas por enzimas [13], na oxi- primentos de onda da luz, se possível.
dação de lipídeos [14,15], no escurecimento não Os químicos de alimentos devem ser capa-
enzimático [16,14], na hidrólise da sacarose [17], zes de integrar as informações sobre atributos de
na degradação da clorofila [18], na degradação de qualidade dos alimentos, reações de deterioração
antocianinas [19], entre outros. Como será abor- a que os alimentos são suscetíveis e fatores que
dado no Capítulo 2, a maioria das reações tende controlam os tipos e as velocidades dessas rea-
a diminuir de velocidade em aa, tornando-se in- ções, a fim de resolverem problemas relaciona-
ferior ao intervalo correspondente a alimentos de dos a formulação, processamento e estabilidade
umidade intermediária (0,75−0,85). A oxidação durante o armazenamento.
de lipídeos e seus efeitos secundários associados,
como descoloração de carotenoides, são exceções
a essa regra, ou seja, essas reações são aceleradas 1.4  PAPEL SOCIAL DO
na extremidade inferior da escala de aa.
QUÍMICO DE ALIMENTOS
Mais recentemente, tornou-se evidente que a
temperatura de transição vítrea (Tg) de alimentos 1.4.1  Por que o químico de
e o correspondente conteúdo de água (Wg) na Tg alimentos deve estar envolvido
estão relacionados às taxas de eventos de difusão em questões sociais?
limitada nos alimentos. Portanto, Tg e Wg têm
Os químicos de alimentos, pelas seguintes ra-
relevância para propriedades físicas de alimentos
zões, devem sentir-se impelidos a se envolverem
congelados e desidratados, condições adequadas
em questões sociais, as quais permeiem aspectos
de liofilização, alterações físicas que envolvem a
tecnológicos pertinentes (questões tecnossociais):
cristalização, a recristalização, a gelatinização e a
retrogradação do amido, e para reações químicas •• Os químicos de alimentos tiveram o privilé-
limitadas por difusão (ver Capítulo 2). gio de receber uma educação de alto nível,
Em produtos industrializados, a composição tendo adquirido habilidades científicas espe-
pode ser controlada pela adição de compostos ciais. Esses privilégios e habilidades trazem
químicos permitidos, como acidulantes, agentes consigo um alto nível de responsabilidade
quelantes, flavorizantes ou antioxidantes, bem correspondente.
14   Química de alimentos de Fennema

•• As atividades dos químicos de alimentos ter sua visão observada e considerada. A aceita-
influenciam na pertinência do abastecimen- ção dessa postura, que é certamente indiscutível,
to de alimentos, na saúde da população, nos leva a uma questão óbvia: “O que deve fazer exa-
custos dos alimentos, na geração e na utili- tamente um químico de alimentos para exercer
zação de resíduos, no uso de água e energia sua função, nesse tema, de maneira correta?”
e na natureza das legislações de alimentos. Várias atividades são adequadas:
Como esses assuntos vão ao encontro do
1. Participação em sociedades profissionais
bem-estar público em geral, é razoável que
pertinentes.
esses químicos sintam a responsabilidade de
2. Realização de trabalhos como consultor em co-
direcionarem suas atividades ao benefício da
mitês governamentais, quando houver convite.
sociedade.
3. Comprometimento com iniciativas pessoais
•• Se os químicos de alimentos não se envol-
em atividades de natureza pública.
verem em questões tecnossociais, a opinião
de outras pessoas − cientistas de outras pro- O terceiro ponto pode envolver cartas a jornais,
fissões, lobistas profissionais, mídia, con- periódicos, legisladores, agências governamen-
sumidores ativistas, charlatães, entusiastas tais, executivos de empresas, administradores de
antitecnologia − prevalecerá. Muitos desses universidades, e outros, bem como palestras a
indivíduos são menos qualificados que um grupos da sociedade civil, incluindo sessões com
químico de alimentos em temas relacionados estudantes e demais agentes sociais.
a alimentos, sendo que alguns são obviamen- Os objetivos principais desses esforços são
te desqualificados. educar e esclarecer o público em relação a alimen-
•• Os químicos de alimentos têm a missão e a tos e práticas dietéticas. Isso envolve a melhora
oportunidade de ajudar na resolução de con- da capacidade do público de avaliar de forma in-
trovérsias que causem impacto ou que são teligente as informações desses tópicos. Alcançar
entendidas como conflitantes, no que se re- tal objetivo não será fácil, pois uma parte signifi-
fere à saúde pública e em como o público en- cativa da população tem arraigadas noções falsas
xerga o desenvolvimento da ciência e da tec- sobre alimentos e práticas dietéticas e, em decor-
nologia. Exemplos de algumas controvérsias rência de o alimento ter, para muitos indivíduos,
atuais são segurança da clonagem e OGMs, conotações que se estendem para muito além da
uso de hormônios de crescimento animal na visão estrita dos químicos. Sua função pode inte-
produção agrícola e valor nutricional relativo grar práticas religiosas, herança cultural, rituais,
de colheitas produzidas por meio de métodos simbolismo social ou uma rota para o bem-estar
de cultivo orgânico e convencional. fisiológico. Para a maioria, essas posturas não de-
vem ser consideradas na análise dos alimentos e
1.4.2  Tipos de envolvimento de práticas dietéticas, com valor científico sólido.
As obrigações sociais do químico de alimentos Um dos temas alimentares mais controver-
incluem bom desempenho profissional, cidada- sos, o qual tem evadido à avaliação científica,
nia e respeito à ética da comunidade científica, pelo público, é o uso de substâncias químicas
porém o cumprimento desses requisitos tão ne- para a modificação de alimentos. A quimiofo-
cessários não é suficiente. Um papel adicional de bia, medo de substâncias químicas, tem afligido
grande importância, que muitas vezes permanece grande parte da população, fazendo os aditivos
sem abordagem pelos químicos de alimentos, é químicos, na mente de muitos, representarem
a função de auxílio na determinação de como o riscos que não condizem com os fatos. Pode-se
conhecimento científico é interpretado e usado encontrar, com facilidade preocupante, artigos na
pela sociedade. Embora os químicos de alimen- literatura popular em que se alerta para os alimen-
tos e outros cientistas de alimentos não devam ter tos fornecidos aos Estados Unidos, os quais es-
opinião absoluta a respeito dessas decisões, eles tariam suficientemente carregados com venenos,
devem, para fins de uma tomada de decisão sábia, podendo causar malefícios, no melhor dos casos,
Capítulo 1   Introdução à química de alimentos   15

e ameaça à vida, no pior. É, de fato, chocante, di- obtidas na internet e não se submeter à simples
zem eles, a maneira como os industrialistas en- facilidade de acesso.
venenam nossos alimentos por lucro enquanto a Apesar da expansão atual e crescente do
ineficiente Food and Drug Administration obser- conhecimento sobre ciência de alimentos, ainda
va com despreocupação. Autores com esse ponto existe discordância sobre segurança alimentar
de vista devem merecer crédito? A resposta para e outros temas concernentes a essa ciência. A
essa questão reside no mérito e na credibilidade maioria dos pesquisados reconhecidos apoia a
que o autor tem em relação ao tema científico que visão de que nosso suprimento de alimentos é ra-
está no centro da discussão. A credibilidade está zoavelmente seguro e nutritivo e que os aditivos
fundamentada em educação formal, treinamento, alimentares legais não apresentam riscos inde-
experiência prática e contribuições ao conjunto sejáveis [20−30], embora a vigilância contínua,
do conhecimento ao qual uma discussão particu- em virtude de efeitos adversos, seja prudente.
lar está ligada. Atividades de ensino podem ter a Entretanto, um grupo relativamente pequeno de
forma de pesquisa, descobrimento de novos co- pesquisadores reconhecidos acredita que o forne-
nhecimentos, revisão e/ou interpretação do corpo cimento de alimentos apresenta riscos desneces-
do conhecimento. Credibilidade é, ainda, funda- sários, em particular em relação a alguns aditivos
mentada em experimentação objetiva, a qual re- legalizados.
quer consideração de pontos de vista alternativos O debate científico em fóruns públicos tem
sobre o conhecimento existente do tema enquanto se expandido recentemente, incluindo a segurança
exequível, em vez do simples apontamento de fa- pública e ambiental de OGMs, o valor nutricional
tos e interpretações que dão suporte a um ponto relativo de colheitas orgânicas e convencionais e a
de vista preferencial. O conhecimento acumulado adequação de afirmações conduzidas pela mídia
pela publicação de resultados de estudos na lite- que podem ser interpretadas pelo público como be-
ratura científica (a qual é submetida à revisão por nefícios à saúde em relação a suplementos dietéti-
consultores e está baseada em padrões profissio- cos, entre outros. O conhecimento científico desen-
nais específicos de protocolos, documentação e volve-se de forma cumulativa e lenta, de modo que
ética) é, portanto, mais merecedor de créditos que pode nos preparar completamente para a próxima
publicações populares. discussão. É papel dos cientistas o envolvimento
Mais próximo à imaginação diária do estu- com esse processo, estimulando as partes envolvi-
dante ou do profissional em ciência de alimentos das a manter o foco na ciência e no conhecimento,
em formação, o tema contemporâneo em relação permitindo que políticos adequadamente mais in-
à credibilidade da informação trata da expansão formados encontrem conclusões apropriadas.
da informação (incluindo a de natureza científi- Em suma, os cientistas apresentam mais
ca) que está pronta e facilmente acessível pela obrigações com a sociedade que indivíduos sem
internet. Algumas dessas informações costumam educação científica formal. Espera-se dos cientis-
não ser atribuídas a um autor e o site pode ser tas a geração de conhecimento de maneira pro-
carente de credenciais óbvias para ser creditado dutiva e ética, mas isso não é suficiente. Além
como admissível fonte de credibilidade e mérito. disso, eles devem aceitar sua responsabilidade de
Algumas informações podem ser postadas para o garantir que o conhecimento científico seja usa-
favorecimento de pontos de vista ou causas, po- do de modo a render o maior benefício possível
dendo fazer parte de uma campanha de marketing à sociedade. O preenchimento dessa obrigação
que tenha a finalidade de influenciar percepções requer que os cientistas não apenas zelem pela ex-
ou hábitos de consumo dos visitantes. Algumas celência e conformidade a altos padrões de ética
informações da rede são meritórias, tendo sido em suas atividades profissionais diárias, mas que
disseminadas por cientistas treinados e editores também desenvolvam uma profunda preocupação
científicos; no entanto, o estudante é encorajado com o bem-estar e com o esclarecimento científi-
a considerar com cautela as fontes de informação co do público.
16   Química de alimentos de Fennema

REFERÊNCIAS 16. Eichner, K. and M. Karel (1972). The influence of water


content and water activity on the sugar-amino browning
1. Browne, C. A. (1944). A Source Book of Agricultural reaction in model systems under various conditions. J.
Chemistry, Chronica Botanica Co., Waltham, MA. Agric. Food Chem. 20:218–223.
2. Ihde, A. J. (1964). The Development of Modern Chemis- 17. Schoebel, T., S. R. Tannenbaum, and T. P. Labuza (1969).
try, Harper & Row, New York. Reaction at limited water concentration. 1. Sucrose
3. Filby, F. A. (1934). A History of Food Adulteration and hydrolysis. J. Food Sci. 34:324–329.
Analysis, George Allen & Unwin, London, U.K. 18. LaJollo, F., S. R. Tannenbaum, and T. P. Labuza (1971).
4. Davy, H. (1813). Elements of Agricultural Chemistry, in Reaction at limited water concentration. 2. Chlorophyll
a Course of Lectures for the Board of Agriculture, Long- degradation. J. Food Sci. 36:850–853.
man, Hurst, Rees, Orme and Brown, London, U.K. Cited 19. Erlandson, J. A. and R. E. Wrolstad (1972). Degradation
by Browne, 1944 (Reference 1). of anthocyanins at limited water concentration. J. Food
5. Davy, H. (1936). Elements of Agricultural Chemistry, 5th Sci. 37:592–595.
edn. Longman, Rees, Orme, Brown, Green and Long- 20. Clydesdale, F. M. and F. J. Francis (1977). Food, Nutri-
man, London, U.K. tion and You, Prentice-Hall, Englewood Cliffs, NJ.
6. Chevreul, M. E. (1824). Considérations générales sur 21. Hall, R. L. (1982). Food additives, in Food and People
l’analyse organique et sur ses applications, F.-G. Le- (D. Kirk and I. K. Eliason, Eds.), Boyd & Fraser, San
vrault. Cited by Filby, 1934 (Reference 3). Francisco, CA, pp. 148–156.
7. Beaumont, W. (1833). Experiments and Observations of 22. Jukes, T. H. (1978). How safe is our food supply? Arch.
the Gastric Juice and the Physiology of Digestion, F. P. Intern. Med. 138:772–774.
Allen, Plattsburgh, NY. 23. Mayer, J. (1975). A Diet for Living, David McKay, Inc.,
8. Liebig, J. von (1847). Researches on the Chemistry of New York.
Food, edited from the author’s manuscript by William 24. Stare, F. J. and E. M. Whelan (1978). Eat OK—Feel OK,
Gregory; Londson, Taylor and Walton, London, U.K. Ci- Christopher Publishing House, North Quincy, MA.
ted by Browne, 1944 (Reference 1). 25. Taylor, R. J. (1980). Food Additives, John Wiley & Sons,
9. Accum, F. (1966). A Treatise on Adulteration of Food, New York.
and Culinary Poisons, 1920, Facsimile reprint by Mallin- 26. Whelan, E. M. (1993). Toxic Terror, Prometheus Books,
ckrodt Chemical Works, St. Louis, MO. Buffalo, NY.
10. Anonymous (1831). Death in the Pot. Cited by Filby, 27. Watson, D. H. (2001). Food Chemical Safety. Vol. 1:
1934 (Reference 3). Contaminants, Vol. 2: Additives, Woodhead Publishing
11. McCollum, E. V. (1959). The history of nutrition. World Ltd., Cambridge, U.K.
Rev. Nutr. Diet. 1:1–27. 28. Roberts, C. A. (2001). The Food Safety Information
12. McWeeny, D. J. (1968). Reactions in food systems: Ne- Handbook, Oryx Press, Westport, CT.
gative temperature coefficients and other abnormal tem- 29. Riviere, J. H. (2002). Chemical Food Safety—A
perature effects. J. Food Technol. 3:15–30. Scientist’s Perspective, Iowa State Press, Ames, IA.
13. Acker, L. W. (1969). Water activity and enzyme activity. 30. Wilcock, A., M. Pun, J. Khanona, and M. Aung (2004).
Food Technol. 23:1257–1270. Consumer attitudes, knowledge and behaviour: A re-
14. Labuza, T. P., S. R. Tannenbaum, and M. Karel (1970). view of food safety issues. Trends Food Sci. Technol.
Water content and stability of low-moisture and interme- 15:56–66.
diate-moisture foods. Food Techol. 24:543–550. 31. Taoukis, P. and T. P. Labuza (1996). Summary: Integra-
15. Quast, D. G. and M. Karel (1972). Effects of environ- tive concepts (shelf life testing and modeling), in: Food
mental factors on the oxidation of potato chips. J. Food Chemistry, 3rd edn. (O. Fennema, ed.), Marcel Dekker,
Sci. 37:584–588. New York, pp. 1013–1042.

Você também pode gostar