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Definições

Trova: composição poética

Antes de entrarmos na análise do texto propriamente dita,


é importante distinguir Vilancete de Cantiga.

Classificam-se como vilancetes as composições cujo mote


possui entre 2 a 3 versos e as voltas ou glosas (uma ou
mais por texto) 7 versos, sétimas, devendo cada uma das
voltas repetir como último verso, o último verso do mote.

Do mesmo modo, classificam-se como cantigas as


composições cujo mote possui 4 ou 5 versos e as voltas ou
glosas (uma ou mais por texto) 8 ou 10 versos, oitavas ou
décimas, devendo cada uma das voltas repetir como
último verso, o último verso do mote.

Endechas a Bárbara escrava:


O sujeito poético começa com um jogo de palavras: cativo/cativa que é
sugestivo da escravidão amorosa do sujeito poético. Se por um lado
Bárbara é escrava/cativa (socialmente), o sujeito poético também o é. É
escravo do seu amor.
Aquela cativa que me tem cativo - Porque nela vivo Já não quer que
viva.
O sujeito poético faz um elogio à beleza da amada construindo já a
tradicional hipérbole, onde superioriza a amada. Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Eu nunca vi rosa amada, Em suaves molhos,
Os elementos da Natureza são os escolhidos para ajudar a descrever a
beleza da amada

Comparativamente com as flores e/ou as


Nem no campo flores, estrelas, a sua amada é muito mais bela. Nem no
céu estrelas
Note-se que todo o elogio é pessoal, ou seja, Me parecem belas parece
ao sujeito poético que a sua amada tem Como os meus amores. uma
beleza incomparável à beleza da Natureza. da Rosto singular
grandiosidade Está presente uma Olhos sossegados comparação.
Pretos e cansados, Mas não de matar. O rosto da amada não é um
rosto banal, é singular/diferente/único, ou seja não corresponde
aos padrões habituais.
Mais uma vez, os olhos são apresentados como um espelho sujeito
poético joga da alma, neste caso estão sossegados, o que mais uma
vez com as palavras e diz reforça a ideia da calma e serenidade que
caracterizava as que ela está cansada, mulheres da lírica camoniana.
mas não de matar Mas logo de seguida, apresenta características que
se…de amor, não de opõem ao modelo de mulher: “olhos pretos e
cansados”, ou seduzir e de inspirar seja paixões., olhos escuros e
doridos do trabalho duro.
Antecedente – “olhos”
O reforço da graciosidade da mulher é contínuo e assemelha-se ao
modelo de mulher.
ua graça viva,
Que neles lhe mora, Mais uma vez se joga com as palavras Pera ser
senhora “senhora” e “cativa”, reforçando a ideia de quede quem é cativa.
apesar de ser cativa/escrava, domina, é senhora Pretos os cabelos, dos
corações apaixonados. Onde o povo vão Perde a opinião Que os louros
são belos. O “povo vão”, ou seja, a opinião geral e pouco acertada é
de que os cabelos louros é que são belos. O sujeito poético põe em
causa o modelo da época e substitui-o por outro.

Inicia esta oitava com uma apóstrofe à Pretidão de amor, mulher


amada, pondo em destaque Tão doce a figura, precisamente as
características que se opõem ao modelo de mulher da época, Que a
neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão Mas logo se sucedem
características Que o siso acompanha; psicológicas que se adequam ao
modelo: Bem parece estranha Doçura, leda mansidão, siso. Mas
bárbara não. Toda esta descrição pode parecer diferente, mas não
agressiva, ofensiva (“bárbara”).Presença serena Novamente o
reforço da serenidade. E também a Que a tormenta amansa; presença
da antítese, que põe em destaque as Nela, enfim descansa contradições
amorosas e os conflitos de opinião. Toda a minha pena. Esta é a cativa
O sujeito poético encaminha para uma conclusão todo este elogio, (Que
me tem cativo). dizendo que nela se concentra a sua inspiração poética
e sofrimento poético (“pena”).É força que viva. E, pois nela vivo,

Aquela cativa “Aquela” implica um distanciamento, pois o sujeito (que


me tem cativo,) poético ainda não apresentou a personagem. Porque
nela vivo Já não quer que viva. Eu nunca vi rosa Em suaves molhos,
Que pera meus olhos Pretidão de amor, Fosse mais fermosa. Tão doce
a figura, “ Esta” implica Que a neve lhe juraEm no campo flores,
proximidade, pois Que trocara a cor. Nem no céu estrelas agora as
Leda mansidãoMe parecem belas características desta Que o siso
acompanha; Como os meus amores. Bem parece estranha Rosto
singular personagem são Mas bárbara não. Olhos sossegados
conhecidas. Pretos e cansados, Presença serena Mas não de matar.
Que a tormenta amansa; Ela, enfim descansa ua graça viva, Toda a
minha pena. Que neles lhe mora, Esta é a cativa Pera ser senhora Que
me tem cativo.de quem é cativa. E, pois nela vivo, Pretos os cabelos,
Onde o povo vão É força que viva. Perde a opinião Que os louros são
belos
A escrava contraria o modelo de mulher renascentista pelas suas
características físicas que fogem ao pré-estabelecido: loiro, olhos
claros, pele branca. A sua serenidade, sensatez, calma e forma
distante já se inscrevem nesse modelo.

Tema: a beleza da amada bela "rosa", formosa "fermosa", rosto


"singular", olhos Qualidades físicas da "sossegados, pretos e
cansados" com "graça viva", cabelos amada "pretos", negra "pretidão de
amor", figura "doce", presença "serena". Sossegada "olhos sossegados",
doce "doce a figura", Qualidades psicológicas alegre e meiga "leda
mansidão", ajuizada "o siso da amada acompanha", "Presença serena"
Escrava "Aquela cativa", "para ser senhora/de quem éClasse social da
amada cativa" Esta é a cativa que me tem cativo Justificação de Ela é
escrava do sujeito poético mas sujeita-o como seu expressões vassalo
pois conseguiu que ele a amasse, ficou cativo dela pelo amor
Trocadilho: "Cativa/cativo; vivo/viva"; Hipérbole: "Eu nunca…
fermosa", "Nem no campo… amores", "que a neve… de cor",
"presença… amansa";
Recursos estilísticos:
Adjetivação: em todo o poema; utilizados no retrato
Enumeração: "Eu nunca… matar";
Personificação: "a neve lhe jura"; Antítese: "Presença… amansa“
Endechas - tema triste,
Tipo de composição
quadras (ou oitavas) em versos de redondilha menor (5).
Rima: abba (se considerarmos as quadras) Ou: abbacddc // (se
considerarmos as oitavas) Rima emparelhada nos versos 2,3, 6 e 7 e
interpolada nos restantes
Aquela triste e leda madrugada

Camões Corrente renascentista


Tema:
A despedida dos amantes; Saudade causada pela separação. O tema
deste conhecido soneto é a separação (despedida) dos amantes numa
madrugada simultaneamente “triste e leda”. Triste porque testemunha da
grande dor que os domina, portanto, subjetivamente triste; e alegre,
porque se trata do romper duma aurora “amena marchetada” de um dia
radioso, portanto objetivamente, alegre.

Assunto:
A madrugada assiste, como simples espectadora, à despedida dolorosa
de duas almas que se amam. Ressalta a oposição entre os planos
objetivos e subjetivo – a madrugada, enquadrada na sua beleza
multicolor, assiste, impassível, à dor lancinante de duas almas
apaixonada que se despedem e que possivelmente nunca mais se
verão.

Divisão em partes lógicas:


Aquela triste e leda madrugada,
•1ª. parte: O sujeito lírico anuncia o desejo de cheia toda de mágoa e de
piedade, nunca mais ver esquecida a madrugada em enquanto houver
no mundo saudade, que se deu a separação. quero que seja sempre
celebrada. Ela só, quando amena e marchetada

•2ª. parte: Justificação do desejo expresso – saía, dando ao mundo


claridade, recordar sempre essa madrugada porque fviu apartar-se d`ua
outra vontade, ela a única testemunha da separação. que nunca poderá
ver-se apartada. Ela só viu as lágrimas em fio,

•3ª. parte: Há uma concretização dos que duns e doutros olhos


derivadas, fenómenos presenciados: a separação dos 2s`acrescentaram
em grande e largo rio; amantes, as lágrimas em fio, as palavras
magoadas. Ela viu as palavras magoadas, Verifica-se, assim, um
estruturação lógica das que puderam tornar o fogo frio, ideias – há um
percurso do mundo interior e dar descanso as almas condenadas. para
o mundo exterior, do mais geral para o mais particular.
1º. Momento:
constitui uma introdução, expõe cheia toda de mágoa e de piedade, a
ideia geral de um eu: o poeta manifesta a enquanto houver no mundo
saudade, vontade (“quero”) de que “aquela triste e leda quero que seja
sempre celebrada. madrugada (…) seja sempre celebrada” ; Ela só,
quando amena e marchetada
2º. Momento: justifica-se a necessidade da saía, dando ao mundo
claridade, celebração dessa madrugada, correspondendo viu apartar-se
d`ua outra vontade, cada uma dessas estrofes a um momento da que
nunca poderá ver-se apartada.
justificação.
Cada um desses momentos é marcado, não só pela divisão estrófica,
mas Ela só viu as lágrimas em fio, também pela repetição do pronome
pessoal que duns e doutros olhos derivadas, “Ela”, referido à
madrugada, personagens acrescentaram em grande e largo rio; principal
e única testemunha (“viu”) daquela separação.
Ela viu as palavras magoadas, que puderam tornar o fogo frio, e dar
descanso as almas condenadas.
1º. momento
2º. momento
SUJEITO Poeta Poeta OBJETO Madrugada Separação triste e leda,
lágrimas em fio, DESCRIÇÃO DO cheia de mágoa palavras OBJETO
piedosa magoadas

O sentimento predominante neste soneto é a tristeza provocada pela


separação (sofrimento amoroso). Esse sofrimento foi testemunhado pela
Aquela triste e leda madrugada, madrugada: cheia toda de mágoa e de
piedade, -utilização do termo anafórico “Ela”, enquanto houver no mundo
saudade, que substitui a palavra madrugada ao quero que seja sempre
celebrada. longo do poema - a madrugada é personificada Ela só,
quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu
apartar-se d`ua outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada. Ela
só viu as lágrimas em fio, que duns e doutros olhos derivadas,
s`acrescentaram em grande e largo rio; Ela viu as palavras magoadas,
que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso as almas condenadas.
O soneto desenvolve o contraste entre a beleza da Natureza e a tristeza
da despedida.
O tema das despedida dos apaixonados ao amanhecer é uma
característica herdada das composições medievais (albas). A tristeza –
devida à Aquela triste e leda madrugada, despedida; cheia toda de
mágoa e de piedade, A alegria – porque se enquanto houver no mundo
saudade, anuncia um novo dia, quero que seja sempre celebrada. cheio
de luz, cor e Os amantes, ainda que movimento Ela só, quando amena e
marchetada separados fisicamente, saía, dando ao mundo claridade,
estariam sempre unidos viu apartar-se d`ua outra vontade, pelo amor,
porque que nunca poderá ver-se apartada. constituem uma «única O
sofrimento desumano, vontade». acima do que é normal Ela só viu as
lágrimas em fio, aguentar-se, maior do que duns e doutros olhos
derivadas, que o próprio sofrimento s`acrescentaram em grande e largo
rio; do inferno. Ela viu as palavras magoadas, que puderam tornar o fogo
frio, e dar descanso as almas condenadas.O sofrimento veiculado por
estas palavras era maior do que o dos condenados ao Inferno; por isso,
atéas almas desses condenados se sentiriam aliviadas por verem outros
sofrer ainda mais do que eles.

Aquela triste e leda madrugada, Antítese Perífrase cheia toda de mágoa


e de piedade, Hipérbole enquanto houver no mundo saudade, Metáfora
Anáfora uero que seja sempre celebrada. Ela só, quando amena e
marchetada Sinédoque Personificação saía, dando ao mundo
claridade,viu apartar-se d`ua outra vontade,que nunca poderá ver-se
apartada. Paradoxo - apartar-se dua outra vontade/ que nunca poderá
ver-se apartada;Ela só viu as lágrimas em fio,que duns e doutros olhos
derivadas, paradoxo, hipérbole, antítese – ass`acrescentaram em
grande e largo rio; palavras magoadas/ que puderam tornar o fogo frio e
dar descanso às almasEla viu as palavras magoadas, condenadasque
puderam tornar o fogo frio,e dar descanso as almas condenadas.
Adjetivação simples: "magoadas", Adjetivação dupla: "triste e leda",
"frio", "condenadas” "amena e marchetada".

Este soneto é constituído por duas quadras e dois tercetos em versos


decassilábicos, com esquema rimático, ABBA/ABBA/CDC/CDC, Ela só,
quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade,
verificando-se a existência de rima viu apartar-se d`ua outra vontade,
interpolada em A, emparelhada em que nunca poderá ver-se apartada.
B e interpolada em CD.Ela só viu as lágrimas em fio,que duns e doutros
olhos derivadas,s`acrescentaram em grande e largo rio;Ela viu as
palavras magoadas,que puderam tornar o fogo frio,e dar descanso as
almas condenadas.
Recurso Expressivo
Exemplo Antítese Aquela triste e leda madrugada
Adjetivação Dupla cheia toda de mágoa e de piedade Metáfora Ela só
viu as lágrimas em fio
Personificação Ela viu as palavras magoadas
Metáfora que puderam tornar o fogo frio,

Estrofes: 14 versos, divididos em duas quadras e dois tercetos - soneto;


• Versos- Exemplos:
• -A/que/la /tris/te e /le/da /ma/dru/ga/da= 10 sílabas
métricas( decassílabos).
• -Ela/ viu as/ pa/la/vras/ ma/go/a/das= 8 sílabas métricas.
1. Introdução Desenvolvime nto Conclusão
 • Aquela triste e leda madrugada, A
• cheia toda de mágoa e de piedade, B
• enquanto houver no mundo saudade B
• quero que seja sempre celebrada. A
• Ela só, quando amena e marchetada A
• saía, dando ao mundo claridade, B
• viu apartar-se d’ua outra vontade, B
• que nunca poderá ver-se apartada. A
• Ela só viu as lágrimas em fio, C
• de que uns e outros olhos derivadas D
• se acrescentaram em grande e largo rio. C
• Ela viu as palavras magoadas D
• que puderam tornar o fogo frio, C
• e dar descanso às almas condenadas. D Rima Pobre & Rima Consoante
Rima Rica & Rima Consoante Rima Pobre & Rima Consoante Rima Rica &
Rima Consoante Rima Pobre & Rima ToanteRima Pobre & Rima Consoante
Rima Rica & Rima ToanteRima Pobre & Rima Consoante
2. 9. • Aquela triste e leda madrugada, A • cheia toda de mágoa e de
piedade, B • enquanto houver no mundo saudade B • quero que seja
sempre celebrada. A • Ela só, quando amena e marchetada A • saía,
dando ao mundo claridade, B • viu apartar-se d’ua outra vontade, B •
que nunca poderá ver-se apartada. A • Ela só viu as lágrimas em fio, C •
de que uns e outros olhos derivadas D • se acrescentaram em grande e
largo rio. C • Ela viu as palavras magoadas D • que puderam tornar o
fogo frio, C • e dar descanso às almas condenadas. D Interpolada
Emparelhad a Interpolada Emparelhada Cruzada Cruzada Cruzada
Cruzada
O tema deste conhecido soneto é a separação dos amantes numa
madrugada.
Sentimento de dor da separação transforma a madrugada num momento
marcante para o poeta. A madrugada é portanto, poeticamente um
elemento sensível, humanizado, que se comove com a dor alheia,
mas incapaz de expressar-se, contrastando sua beleza plástica com
o sofrimento humano.
Análise de "Descalça vai pera a fonte"
● Classificação
 
• Vilancete     - mote de três versos

- duas voltas de sete versos (sétimas)

- métrica: redondilha maior (7 sílabas métricas)

 
• O vilancete é uma forma poética musical composta a partir de um mote curto
(constituído por 2 ou 3 versos), tradicional, geralmente alheio, que introduz o
tema. De início, este mote era tirado de uma canção popular-vilã e a ele
cabia, em exclusivo, a designação de vilancete, que depois passou a atribuir-
se a todo o poema. A seguir ao mote existem as voltas ou glosas, compostas
por sete versos (sétimas), que desenvolvem o tema introduzido pelo mote. A
glosa divide-se, por sua vez, em cabeça (os primeiros 4 versos) e cauda (os
restantes 3). O último verso da cabeça rima com o primeiro da cauda, fazendo
assim a ligação entre ambos; os dois últimos versos da cauda rimam com os
dois últimos versos do mote, e o último deste é, no vilancete perfeito,
integralmente repetido no último verso da cauda.
 
 
● Tema: a mulher / a beleza feminina – o retrato da mulher amada e idealizada.
 
 
● Estrutura interna
 

  Mote (tese) – Apresentação de Leanor:

• localização espacial: a caminho da fonte (ambiente bucólico e


rural);

• tempo; primavera (a “verdura”) – presente;

• caracterização da figura retratada:

▪ nomeação/identificação: Leanor;

▪ social:

- pobre / do povo (“Descalça”);

- atividade doméstica: ida à fonte;

▪ física: formosa / bela;

▪ psicológica:
- insegura (“não segura”)

- ansiosa

• posição do sujeito poético: observador da figura feminina.

 
  Voltas (confirmação da tese) – Desenvolvimento:

• da caracterização física:

▪ pele branca – “mãos de prata” – metáfora

▪ formosa – “fermosa” – adjetivação expressiva

▪ cabelo louro – “cabelos de ouro” – metáfora

▪ muito bela – “tão linda que o mundo espanta”


– hipérbole + oração subordinada adverbial
consecutiva

▪ graciosa – “chove nela graça tanta” – metáfora + trocadilho

▪ vestuário:

- “cinta de fina escarlata” – vermelho → alegria, paixão,


sensualidade

- “sainho de chamalote” – diminutivo → carinho

- “vasquinha de cote, / mais branca que a neve pura“


– comparação + hipérbole – branco → pureza

- “a touca”

- “o trançado”

- “fita”

▪ cores

- vermelho → alegria, sensualidade, paixão

- branco → pureza

- louro dos cabelos

▪ elementos do quotidiano de trabalho de Leanor

- o pote
- o testo

 
• efeitos da sua beleza física:

▪ espanta o mundo

▪ dá graça à formosura

 
• da caracterização psicológica:

▪ insegura e ansiosa

▪ apaixonada

▪ causas da insegurança:

- caminhar com o pote na cabeça > insegurança


(desequilíbrio) > encontro com o amigo?

- a beleza (ser ou não ser apreciada)?

- o encontro com o namorado (faltará ou marcará


presença?)

- os seus sentimentos?

 
 
● Estrutura narrativa do poema
 
      Espaço: ambiente campestre, rural, bucólico (“verdura”, “fonte”).

 
      Tempo: presente – momento em que o sujeito observa a mulher.

 
      Ação: ida à fonte – “vai para a fonte”.

 
      Personagem: Leanor.

 
 
● Forma
 
• Métrica: redondilha maior (versos de 7 sílabas métricas) – medida velha.
 
• Rima:
- esquema rimático: ABB / CDCCBB
- emparelhada e interpolada
- consoante (“verdura”/”segura”)
- rica (“verdura”/”segura”) e pobre (“prata”/”escarlata”
- grave ou feminina (“verdura”/”segura”)
 
 
● Recursos expressivos

 
• Nomes:

- fonte: ambiente rural e campestre; local de cumprimento de uma tarefa


doméstica; possível local de encontro amoroso;

- verdura: ambiente rural e bucólico;

- neve: a pureza e tom de pele claro de Leanor;

- ouro, prata: metais preciosos que sugerem o tom de pele claro e os cabelos


louros de Leanor, bem como a sua preciosidade.

 
• Verbo “chover”, com valor transitivo e sentido hiperbólico: a graça de
Leanor era tão evidente e abundante como a chuva.
 
• Advérbios de intensidade “tanto” e “tão”: intensificam a beleza física de
Leanor.
 
• Personificação: “tão linda que o mundo espanta”.
 
• Diminutivos – “sainho” e “vasquinha”: sugerem o carinho e a simpatia do
sujeito pela mulher, bem como o seu encantamento face à sua beleza e
graciosidade.
 
• Trocadilho: “Chove nela graça tanta / Que dá graça à fermosura”.
 
• Aliteração em /v/.
 
• Alternância de sons abertos (ó, á), sugestivos de vitalidade, fechadas (ô, u) e
nasais (on, na).
 
• Transporte: vv. 1-2, 15-16.
 
• Associação de cores (o vermelho do vestuário, o branco da pele e o louro dos
cabelos) para sugerir a alegria, a pureza e a perfeição de Leanor,
respetivamente.
 
• As peças de vestuário e os objetos que transporta, cuja graciosidade o
sujeito poético pretende transferir para a mulher.
 
 
● Retrato de Leanor – síntese
 
▪ Social:
- do povo
- pobre – descalça
- cumpre tarefas domésticas
 
▪ Físico:
- jovem
- bela
- pele branca
- cabelo louro
 
▪ Psicológico:
- pura
- insegura
- ansiosa
 
▪ Ideal de mulher petrarquista
 
 
● Influências - Intertextualidade
 
  Petrarca (inovações renascentistas):
- caracterização física (a pele branca, o cabelo louro…) e psicológica da mulher
(a pureza, a castidade;
- caracterização predominantemente psicológica e só aparentemente física.
 
  A utilização do trocadilho, da hipérbole e do jogo de conceitos e ambiguidades,
como recursos do engenho poético (também existentes na endecha "Aquela
cativa"), coloca, em certa medida, Camões como precursor da poesia cultista e
conceptista do século XVII.
 
Este texto é fundamentalmente uma descrição de Lianor
em que o sujeito poético “tenta” aqui a abordagem da
temática amorosa, ou do Amor, com um tom ligeiro.
Este texto aproxima-se das tradicionais cantigas de amigo
tanto formal como tematicamente: por um lado, é uma
redondilha, por outro, estamos na presença de uma jovem
que vai à fonte, temática recorrente naquele género
medieval.

A jovem é descrita como estando descalça, indo formosa e


não segura. Aqui, a falta de segurança, pode ser o
resultado da sua beleza que a torna alvo de sedução ou
tentações do Amor, contra os quais se encontra
desprotegida e livre.

Os elementos que prendem a atenção do sujeito poético


são a sua vestimenta e a sua beleza. Relativamente à
primeira, o eu utiliza referências cromáticas (de cor) que
podem ser associadas à sua juventude, como o “escarlata”
ou o “encarnado”. Por outro lado, os cabelos de ouro e
as mãos de prata sugerem a pureza e a beleza,
característicos do modelo clássico de mulher ideal.

Outros elementos a considerar:

- metáfora - nas mãos de prata

- comparação e hipérbole - mais branca que a neve pura;

- as formas verbais Leva – traz – vai – chove conferem


movimento à descrição, dinamismo.
- bem ao gosto petrarquista, o eu poético faz uma
descrição desta rapariga, assumindo uma posição
meramente contemplativa. Na sua contemplação, destaca
os atributos físicos em detrimento da característica
psicológica, e não segura, única representação neste
soneto.

A referência ao cabelos de ouro – metáfora – e às mãos


brancas de neve/prata, são igualmente aspetos de natureza
e preferência petrarquistas. A predominância de nomes e
de adjetivos permitem salientar a beleza e a graciosidade
da jovem nesta descrição.

Em forma de refrão, o verso “vai fermosa, e não segura”


resume o retrato físico no adjetivo “fermosa” embora “e
não segura” acrescente a esta descrição
predominantemente física, o único traço psicológico que é
atribuído a esta mulher.

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