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enterite viral canina é uma das causas mais comuns de diarreia infecciosa em cães com menos de 6
meses de idade. O parvovírus (CPV; do inglês, canine parvovirus)2 e o coronavírus (CoVC) caninos
têm sido incriminados como patógenos primários. O CPV1 e os rotavírus caninos (CRV; do inglês,
canine rotaviruses) podem causar doença leve a inaparente em filhotes caninos jovens (com menos de
8 semanas de idade) e seu significado clínico é considerado baixo. Foram isolados ou identificados
astrovírus, herpesvírus, enterovírus, calicivírus, vírus parainfluenza, reovírus e outras partículas
similares a vírus em fezes de cães com diarreia, mas sua patogenicidade é incerta.*
Etiologia
Os CPV são pequenos vírus de DNA sem envoltório que precisam de células em divisão rápida para
sua replicação (Figura 8.1). Como no caso de todos os parvovírus, o CPV2 e o 1 são muito estáveis e
resistentes a influências ambientais adversas (ver Criação). No texto a seguir, vamos usar CPV como
um termo geral para cepas do CPV; as cepas específicas serão designadas por seus respectivos
números.
É provável que a enterite causada pelo CPV seja um dos distúrbios infecciosos mais comuns de cães,
e esse vírus o mais prevalente nos cães com diarreia infecciosa.287,297 Essa doença altamente
contagiosa, quase sempre fatal, é causada pelas cepas do CPV2 (2, 2a, 2b e 2c). Como outros
parvovírus de carnívoros, ele pertence ao subgrupo de parvovírus felinos do gênero Parvovirus.272 O
CPV2 evoluiu a partir de uma fonte desconhecida de parvovírus no período de 10 anos antes de sua
adaptação completa aos cães e da disseminação pandêmica no final da década de 1970.19,206,251
Subsequentemente, como resultado de mutações e seleção imune, a cepa original do CPV2 sofreu
mutações genéticas no cão, com o desenvolvimento de novas cepas virais.201,202,204 Em 1980, a cepa
original do CPV2 evoluiu para o tipo 2a (CPV2a); em 1984, surgiu outra variante, designada tipo 2b
(CPV2b). No ano 2000, outra cepa (CPV2c) foi isolada pela primeira vez em cães na Itália.15,151
Conhecida como Glu426, essa cepa tem uma substituição do aminoácido na posição 426 de asparagina/
ácido aspártico para ácido glutâmico e alterou o local antigênico do capsídio viral, epítopo A,
disseminandose rapidamente e tornandose um dos principais isolados em todo o mundo.* Essas
alterações no CPV foram associadas a adaptação genética e mudança na região do epítopo B do
capsídio, capacitando o parvovírus a replicarse e disseminarse de maneira mais eficaz em cães
suscetíveis, além da propriedade de infectar gatos. Também foram identificadas várias cepas
coinfectando o mesmo cão ou gato.8,105,283 Além disso, há evidência inicial de recombinação entre o
vírus da panleucopenia felina (FPV; do inglês, feline panleukopenia virus) e cepas do CPV na
natureza.190 As cepas do CPV2 são pouco frequentes e os isolados são 2a, 2b ou 2c. Na América do
Sul, na Europa e no norte da África, todas as três foram observadas em muitos países onde se obteve
grande número de amostras. Os isolados 2b e 2c predominam na América do Norte. Na Ásia e em
nações insulares isoladas com restrições para importação, como o Reino Unido, o Japão e a Austrália,
predominam as cepas 2a e 2b.33,45,164
Figura 8.1 Estrutura do parvovírus. (Arte de Kip Carter © 2004 University of Georgia Research Foundation.)
Mutações genéticas na estrutura da superfície do receptor de transferrina do vírus resultaram em
alterações estruturais que controlam a adaptação do hospedeiro de cepas do CPV e podem influenciar a
reatividade cruzada em testes imunológicos.97,113,272 Em comparações lado a lado, há possibilidade de a
virulência de cepas geneticamente diferentes variar.176 A relevância clínica dessas alterações estruturais
e o grau de proteção cruzada heteróloga entre as cepas precisa de uma classificação adicional (ver
Proteção por cepa heteróloga, no item Prevenção). Para uma discussão adicional sobre as cepas do
CPV em gatos, ver Infecção pelo parvovírus canino em gatos, no Capítulo 9.
Epidemiologia
Foram relatadas infecções naturais pelo CPV em cães domésticos (Canis familiaris), cachorrosdo
mato (Speothos venaticus), coiotes (Canis latrans), lobos (Canis lupus), raposasdomato ou
guaraxains da América do Sul (Cerdocyon thous) e lobosguarás (Chrysocyon brachyurus); se não
todos, a maioria dos canídeos é suscetível. Infecções experimentais podem ser provocadas em furões
domésticos, visões e gatos, mas em geral são autolimitadas. Foi isolado em guaxinins um parvovírus
relacionado, mas geneticamente distinto.130 Os isolados originais de CPV2 causaram apenas infecções
sistêmicas e intestinais em cães,274 enquanto as cepas mais novas dos tipos 2a e 2b podem infectar
felinos tanto em circunstâncias experimentais167,173,278 quanto naturais171,273 (ver Infecção pelo
parvovírus felino, no Capítulo 9). Em cães domésticos, a infecção pelo CPV não resulta
necessariamente em doença aparente; muitos cães que adquirem a infecção experimental nunca
desenvolvem sinais clínicos francos, em especial quando há anticorpos maternos residuais. Quando a
doença ocorre, a apresentação clínica é mais grave em filhotes caninos jovens em crescimento rápido
que abrigam helmintos intestinais, protozoários e certas bactérias entéricas, como Clostridium
perfringens, Campylobacter spp. e Salmonella spp. Em animais suscetíveis, a incidência de doença
grave e de óbitos pode ser muito alta.
O CPV é altamente contagioso, e a maioria das infecções ocorre como resultado do contato com
fezes contaminadas no ambiente. Além disso, em seres humanos, instrumentos (equipamentos em
instituições veterinárias ou de tosa), insetos e roedores podem servir como vetores. Há possibilidade de
cães transportarem o vírus na pelagem por longos períodos. O tempo de incubação das cepas originais
do CPV2 em campo foi de 7 a 14 dias; no contexto experimental, foi de 4 a 5 dias. No caso das cepas
do CPV2a, 2b e 2c, o período de incubação pode ser tão curto quanto de 4 a 6 dias.40,48,258
É possível observar enterite aguda causada pelo CPV em cães de qualquer raça, idade ou sexo.
Apesar disso, filhotes caninos entre 6 semanas e 6 meses de idade, cães das raças Rottweiler,
Dobermann Pinscher, Labrador Retriever, American Staffordshire Terrier, Pastoralemão e os de
corrida de trenó (sled dogs) do Alasca parecem estar sob maior risco. 90,101,112 Também foram relatados
alguns surtos de gastrenterite grave com mortalidade por infecções pelo CPV2c em cães adultos (com
mais de 6 meses de idade).18,43,44
Patogenia
O CPV disseminase rapidamente de um cão para outro via exposição a fezes contaminadas. A
replicação do vírus iniciase no tecido linfoide da orofaringe, em linfonodos mesentéricos e no timo,
disseminandose para as criptas intestinais do intestino delgado por meio de viremia. Observase
viremia plasmática acentuada 1 a 5 dias após a aquisição da infecção. Subsequentemente à viremia, o
CPV localizase, na maioria dos casos, no epitélio de revestimento gastrintestinal (GI) da língua e das
mucosas bucal e esofágica, bem como no intestino delgado e no tecido linfoide, como timo, linfonodos
e medula óssea. Também pode ser isolado dos pulmões, do baço, do fígado, dos rins e do miocárdio.294
Normalmente, as células epiteliais das criptas intestinais amadurecem no intestino delgado e, então,
migram do epitélio germinativo das criptas para as extremidades das vilosidades (Figura 8.2 A). Após
alcançarem as extremidades das vilosidades, as células epiteliais intestinais adquirem sua capacidade
de absorção e ajudam a assimilar os nutrientes. O parvovírus infecta o epitélio germinativo das criptas
intestinais, causando destruição e colapso do epitélio (Figura 8.2 B). Como resultado, a renovação
celular normal (em geral, entre 1 e 3 dias no intestino delgado) é prejudicada e as vilosidades ficam
mais curtas. O CPV também destrói mitoticamente precursores ativos de leucócitos circulantes e
células linfoides. Nas infecções graves, os resultados costumam ser neutropenia e linfopenia. Infecções
bacterianas secundárias por flora gramnegativa e anaeróbica causam complicações adicionais
relacionadas com dano intestinal, bacteriemia e entotoxemia, além de coagulação intravascular
disseminada.192,276,277 A excreção ativa de cepas do CPV2 começa no terceiro ou quarto dia após a
exposição, em geral antes do surgimento dos sinais clínicos francos. O CPV2 é eliminado
extensamente nas fezes por um máximo de 7 a 10 dias após a inoculação, conforme determinado pelos
métodos de isolamento do vírus e ensaio imunossorvente ligado a enzima (ELISA; do inglês, enzyme
linked immunosorbent assay). No entanto, empregandose ensaios de detecção do ácido nucleico
(reação em cadeia da polimerase [PCR] em tempo real), foram detectadas variantes (a, b, c) do CPV2
nas fezes por várias semanas após a infecção.40,48 É mais provável que o desenvolvimento de anticorpos
intestinais locais seja importante para o término da excreção fecal do parvovírus. Os títulos séricos de
anticorpo podem ser detectados já com 3 a 4 dias após a infecção e permanecer razoavelmente
constantes por pelo menos 1 ano.
Achados clínicos
A infecção pelo CPV foi associada a três tecidos principais – trato GI, medula óssea e miocárdio –,
mas a pele e o tecido nervoso também podem ser acometidos. Além disso, é possível haver outras
complicações clínicas decorrentes de infecção secundária ou trombose. Observase variação acentuada
na resposta clínica de cães à infecção intestinal com o CPV, que vai desde infecção inaparente a doença
aguda fatal. Ocorre infecção inaparente, ou subclínica, na maioria dos cães, sobretudo em filhotes
caninos com títulos intermediários de anticorpos de origem materna, que podem protegêlos da doença,
mas não da infecção.
Figura 8.2 A. Vilosidade intestinal normal, mostrando diferenciação celular ao longo de sua extensão. B. Vilosidade
infectada pelo parvovírus mostrando colapso e necrose. (Arte de Dan Beisel e Kip Carter © 2004 University of
Georgia Research Foundation.)
Doença neurológica
Há possibilidade de o CPV causar doença neurológica primária, porém ela é mais comum como
resultado de hemorragia no sistema nervoso central (SNC) em decorrência de coagulação intravascular
disseminada ou da hipoglicemia durante o processo mórbido, sepse ou distúrbios no equilíbrio
acidobásico.2 Também é possível haver infecção concomitante com outros vírus, como o da cinomose.
Hipoplasia cerebelar macroscópica, comum em filhotes de gatos infectados no período prénatal ou
neonatal com o FPV, não foi frequentemente associada à infecção pelo CPV. O DNA do CPV foi
amplificado usandose a PCR em tecido cerebral de 2 cães com hipoplasia cerebelar, mas o tempo de
exposição ao CPV não foi mencionado.241 Esse vírus foi detectado por imunohistoquímica e
hibridização in situ em lesões do SNC de filhotes caninos resultantes de cruzamentos consanguíneos e
com leucoencefalopatia.241a O CPV foi identificado por imunohistoquímica em muitos tipos celulares
(inclusive neurônios) no interior do SNC de filhotes caninos com tremores generalizados e dismetria da
marcha em membro pélvico.248 Encontrouse meningite linfohistiocítica leve a moderada ou
leucoencefalite e, em um caso, havia vacuolização cerebelar e da substância branca cerebral. A imuno
histoquímica falhou em demonstrar antígenos contra o CPV2 no cérebro de cães279 com sinais de
enterite pelo parvovírus e sem manifestações clínicas, mas com alterações histopatológicas
neurodegenerativas discretas. Entretanto, o DNA60 e o RNA mensageiro (mRNA) 76 do CPV foram
detectados inclusive em títulos elevados no cérebro de cães sem sinais neurológicos, indicando
replicação ativa do vírus nos tecidos nervosos. Além disso, foram detectadas sequências do CPV2 no
cérebro de gatos pelos mesmos pesquisadores, porém não foram incluídos controles negativos com
relação à PCR para eliminar a possibilidade de contaminação laboratorial das amostras processadas,
sendo necessária maior investigação (ver também Infecção do sistema nervoso central no item
Infecção pelo parvovírus felino, no Capítulo 9).
Figura 8.3 Cão com diarreia sanguinolenta grave, característica de enterite grave pelo parvovírus. (Fotografia de
Craig Greene © 2004 University of Georgia Research Foundation.)
Doença cutânea
Diagnosticouse eritema multiforme em um cão com enterite causada por parvovírus.81 As lesões
cutâneas incluíram ulceração dos coxins plantares em pontos submetidos a pressão e na mucosa bucal e
vaginal. Também havia vesículas na cavidade bucal e placas eritematosas no abdome e na pele
perivulvar. Parvovírus foi confirmado por imunohistoquímica nas células acometidas.
Miocardite causada pelo parvovírus canino 2
Pode ocorrer miocardite decorrente de infecção in utero ou em filhotes caninos com menos de 6
semanas de idade. Em geral, todos os filhotes de uma ninhada são acometidos. Aqueles com miocardite
causada pelo CPV em geral morrem, ou sucumbem após um episódio curto de dispneia, choro e ânsia
de vômito. É possível os sinais de disfunção cardíaca serem precedidos pela forma entérica da doença
ou ocorrerem subitamente, sem afecção prévia aparente. O espectro de doença miocárdica em
indivíduos é amplo e pode incluir qualquer dos seguintes: diarreia aguda e morte, sem sinais cardíacos;
diarreia e recuperação aparente seguida pela morte, semanas ou meses mais tarde, como resultado de
insuficiência cardíaca congestiva; ou início súbito de insuficiência cardíaca congestiva, observada em
filhotes caninos aparentemente normais com 6 semanas a 6 meses de idade. A doença miocárdica vem
se tornando cada vez menos comum em cães infectados por parvovírus, desde a disseminação
pandêmica original do CPV2 no final da década de 1970.2 Depois desse surto, a maioria das cadelas
foi vacinada ou exposta a cepas do CPV, tendo desenvolvido respostas imunes humorais fortes;
portanto, o alto título de anticorpos de origem materna em filhotes caninos lactentes evita a ocorrência
de infecção neonatal com o vírus no período inicial da vida, quando está ocorrendo a replicação de
células miocárdicas. Ocasionalmente, ainda se detecta miocardite em filhotes caninos que não
mamaram o suficiente ou nasceram de cadelas isoladas, não vacinadas.288 Com ou sem enterite, a
miocardite foi associada a infecções naturais com o CPV2a e 2b em cães com 6 a 14 semanas de idade
na Coreia.295 A infecção pelo CPV não parece ser uma causa comum de doença cardíaca, porque a
análise por PCR à necropsia de 27 cães com miocardiopatia dilatada ou miocardite não detectou o CPV
em qualquer das amostras.159
Trombose
Cães com infecções naturais pelo CPV têm evidência clínica e laboratorial de hipercoagulabilidade,194
podendo desenvolver trombose ou flebite com cateteres ou trombos viscerais.
Bacteriúria
Detectouse infecção assintomática do trato urinário em aproximadamente 25% de filhotes caninos
após enterite por CPV.131 Tal predisposição foi atribuída à contaminação fecal da genitália externa em
associação a neutropenia. A infecção subclínica do trato urinário não tratada pode resultar em infecção
urinária crônica como uma consequência indesejável.
Diagnóstico
O início súbito de diarreia sanguinolenta de odor fétido em um cão jovem (com menos de 2 anos de
idade) em geral é considerado indicativo de infecção por CPV. Contudo, nem todos os cães com
diarreia sanguinolenta (com ou sem vômitos) estão necessariamente infectados com o CPV, e diarreia
não hemorrágica em geral é causada pelo CPV. Infecções parasitárias ou por bactérias
enteropatogênicas, sozinhas ou combinadas, também devem ser consideradas64 (ver Capítulo 37), bem
como outras infecções virais, inclusive por CoVC entéricos e pantrópicos.37 Em raros casos, todos os
sinais clínicos característicos de infecção pelo CPV estão evidentes ao mesmo tempo. A leucopenia,
embora não encontrada em todos os cães, costuma ser proporcional à gravidade e ao estágio da doença
no momento da coleta do sangue. O monitoramento das alterações leucocitárias pode dar informação
prognóstica sobre a evolução provável da infecção.91 Filhotes caninos que morrem por causa da doença
em geral apresentam contagens leucocitárias totais iguais ou inferiores a 1.030 células/μ ℓ e têm
linfocitopenia, monocitopenia e eosinopenia persistentes nos primeiros 3 dias de hospitalização.
Resultados anormais nas provas de coagulação podem incluir prolongamento do tempo de
tromboplastina parcial ativado, aumento da amplitude do tromboelastograma e menor atividade da
antitrombina III.194 Em cães com enterite causada por parvovírus, os níveis séricos de colesterol total e
lipoproteína de alta densidade diminuíram e os de triglicerídios aumentaram, embora os aumentos no
colesterol tenham sido proporcionais à gravidade da doença.299 Similarmente, concentrações séricas
altas de cortisol e baixas de tiroxina 24 e 48 h após a hospitalização foram associadas a mortalidade em
cães com diarreia causada por parvovírus.243 A troponina I cardíaca é um marcador plasmático de dano
miocárdico e tem sido usada para detectar lesão cardíaca após doenças traumáticas ou infecciosas em
cães. Cães com 6 meses a 4 anos de idade e infecção por parvovírus não tinham níveis elevados,73 o
que sugere que o dano miocárdico é restrito a filhotes caninos muito jovens. Os índices de estresse
eritrocitário oxidativo foram significativamente maiores em cães com gastrenterite e resultados
positivos para CPV fecal à PCR do que naqueles com resultados negativos.196
Detecção do organismo
Testes antigênicos pelo ELISA fecal estão disponíveis para uso hospitalar em casos de infecção pelo
CPV. Tais testes são específicos, porém pouco sensíveis para detectar infecção pelo CPV.* Ao usar o
ELISA, lembrese de que o período de eliminação fecal costuma ser curto, correspondendo aos
primeiros dias de doença clínica. Com um período de incubação que varia de 4 a 6 dias, é raro detectar
cepas do CPV pelo ELISA por mais de 10 a 12 dias após a infecção natural, e a eliminação pode ser
intermitente. Portanto, resultados negativos durante ou após esse período não excluem a possibilidade
de infecção pelo CPV. Resultados falsonegativos obtidos com métodos com base no ELISA foram
associados ao surgimento precoce de anticorpos, capazes de sequestrar partículas do CPV no lúmen
intestinal, impedindo assim a ligação subsequente ao anticorpo monoclonal utilizado no teste.69 Não há
diferença significativa na capacidade de detecção de variantes do CPV2 pelos testes ELISA, com a
recémsurgida CPV2c sendo detectada nas mesmas taxas da CPV2a ou da CPV2b.46 Os resultados
negativos no teste ELISA para o CPV podem ser confirmados pelos métodos de PCR. Resultados
positivos confirmam infecção ou é possível que sejam encontrados quando se empregam alguns dos
métodos de ensaio comerciais após a administração de vacinas com o CPV vivo atenuado. Em
contraste com os resultados fortemente positivos habituais após infecção natural, o vírus da vacina
pode levar a um resultado falsopositivo fraco em cães 4 a 8 dias após a vacinação.
Também foi desenvolvido um teste de aglutinação em lâmina, em que se utilizam eritrócitos de
suínos para detectar o CPV2 em amostras fecais e intestinais.157 Podese usar a hemaglutinação com
eritrócitos suínos ou felinos para detectar o CPV2, mas provouse que ela é apenas ligeiramente mais
sensível do que o ELISA e pouco específica com relação à possível existência de isoaglutininas em
amostras fecais ou outros vírus hemaglutinantes (sobretudo reovírus). Além disso, esse método requer
a disponibilidade constante de doadores de eritrócitos.69
Outros procedimentos de imunoensaio têm sido usados para detectar vírus nas fezes ou em tecidos
(ver Achados patológicos). O CPV tipicamente acarreta lesões no jejuno, no íleo, nos linfonodos
mesentéricos e em outros tecidos linfoides, podendo ser isolado desses tecidos ou de fezes por meio de
sistemas de cultura tecidual, se isso for feito logo de início. Em uma fase mais adiantada da evolução
da doença, os vírions ficam cobertos por anticorpos e são depurados. São observadas inclusões na
maioria dos tecidos. No epitélio lingual, é parecer que tais inclusões estão dentro do citoplasma,
quando na verdade originamse no espaço nuclear.115 Também há possibilidade de serem empregados
métodos imunoquímicos, em conjunto com microscopia óptica (MO) ou eletrônica (ME), para detectar
vírus em cultura de tecidos ou fezes (ver Achados patológicos).
Os métodos de amplificação do ácido nucleico baseados no DNA viral aumentaram bastante a
sensibilidade da detecção do vírus.69 Não apenas a metodologia da PCR tem sido um meio sensível
para detectar o CPV nas fezes de cães infectados,26,167,173,281 como também ensaios quantitativos (PCR
em tempo real) podem dar uma estimativa da carga de DNA viral. 52,133a Embora os métodos
imunoquímicos e de isolamento viral geralmente detectem vírus nas fezes por menos de 10 dias de
infecção, os resultados da PCR quantitativa para o CPV2c atingiram o máximo em 10 dias e
permaneceram positivos, ainda que em níveis inferiores, por até 54 dias.48 Estudos de transmissão
precisam determinar se o vírus detectado pela PCR é infeccioso. A PCR também detecta o vírus
vacinal no sangue e nas fezes por pelo menos 2 semanas após a vacinação.244a,285 O ensaio quantitativo
para o vírus foi capaz de distinguir a infecção decorrente da vacinação versus a natural porque, no
último caso, a carga viral é maior.285 Além disso, agora dispõese dos ensaios de PCR em tempo real
com sondas de ligação de sulco mínimo para a identificação específica das variantes do CPV2
circulantes em campo53 e para a discriminação entre cepas vacinais e de campo.51,58 Tais ensaios são
particularmente úteis para excluir a reversão potencial para virulência do vírus da vacina ou, com mais
frequência, a detecção simultânea de cepas da vacina e de campo do CPV em filhotes caninos que
apresentam gastrenterite aguda logo após vacinação com o CPV.49
Detecção de anticorpo
A sorologia não é o melhor método para diagnosticar infecção pelo CPV, porque a maioria dos cães é
vacinada contra ele ou já foi exposta a ele antes. Em contrapartida, os testes sorológicos podem ser
úteis para avaliar os títulos de anticorpos maternos em filhotes caninos ainda não vacinados. Como
regra geral, os parvovírus causam hemaglutinação de eritrócitos. É possível usar a inibição da
hemaglutinação (IH) de eritrócitos porcinos pelo CPV adicionandose soros de teste para demonstrar a
existência do anticorpo sérico específico contra o CPV.157 Um alto título na IH feita com uma única
amostra de soro coletada após um cão não vacinado ter ficado clinicamente enfermo por 3 dias ou mais
é diagnóstico de infecção pelo CPV. Também é possível demonstrar títulos em elevação
(soroconversão) quando são comparadas amostras de soro das fases aguda e de convalescença em 10 a
14 dias, usandose CPV ou parvovírus felino (FPV; do inglês, feline parvovirus) em testes de IH e
neutralização viral (NV). Dispõese ainda do ELISA para distinguir IgG de IgM. 235 Há kits comerciais
para realização do ELISA em consultório, destinados a estimativas semiquantitativas de IgG e IgM
(Immunocomb, Biogal Labs, Megiddo, Israel)289–291 e para determinação dos títulos adequados de IgG
para vacinação (TiterCHEK CPV/CDV Test Kit, Synbiotics, San Diego, CA).
Achados patológicos
As lesões iniciais são mais pronunciadas no duodeno distal; em seguida, o jejuno é acometido mais
gravemente. A parede intestinal costuma estar espessada e com alteração da cor em segmentos, áspera
ou com fibrina aderida nas superfícies serosas; dentro do lúmen, há desnudação da mucosa intestinal e
material escuro aquoso, às vezes sanguinolento, no estômago e no intestino (Figura 8.4). Nos casos
leves, não é fácil distinguir as lesões daquelas de uma enterite inespecífica. Foram observados aumento
e edema de linfonodos torácicos e abdominais.
As lesões intestinais caracterizamse por necrose do epitélio das criptas no intestino delgado.261
Podem ser vistos corpúsculos de inclusão intranucleares nessas células epiteliais e por todo o epitélio
descamativo do trato GI superior.158 Há possibilidade de as alterações patológicas variarem de
inflamação discreta a enterite hemorrágica difusa. As vilosidades estão encurtadas ou obliteradas
devido à ausência de substituição epitelial pelas células em maturação das criptas, resultando em
colapso da lâmina própria (Figura 8.5). Há necrose e depleção do tecido linfoide (p. ex., placas de
Peyer, linfonodos mesentéricos, timo e baço). É possível observar edema pulmonar ou alveolite em
cães que morrem em decorrência de septicemia como complicação.277 O exame histológico costuma ser
definitivo, embora possa haver identificação específica do parvovírus em amostras de tecidos por
imunofluorescência ou outros métodos imunoquímicos. O teste do anticorpo fluorescente indireto
possibilita encontrar o antígeno em cães com enterite letal pelo CPV no lado dorsal da língua (em
96,3% dos casos), na faringe (81%), no esôfago (50%), na parte ventral da língua (20,4%), no plano
nasal (5,6%), na mucosa do intestino delgado (85,2%), na medula óssea (81,6%), no baço (79,6%), no
timo (66,7%), em linfonodos mesentéricos (50,4%), nas tonsilas palatinas (58,5%) e no miocárdio
(1,9%).294 A hibridização in situ ou os métodos quantitativos da PCR têm sido recursos específicos
valiosos para a identificação do vírus em amostras de tecidos.76,287 Ele pode ser detectado com maior
prevalência na língua, em comparação com outros tecidos, quando há autólise ou congelamento e
descongelamento antes da necropsia.162 A PCR quantitativa de amostras de cães com a infecção natural
mostrou distribuição tecidual similar entre as cepas virais, com as mais altas concentrações do vírus em
tecidos linfoides, níveis intermediários no tecido nervoso e os mais baixos na bexiga.59
A miocardite causada pelo parvovírus, quando houver, é reconhecida à observação macroscópica
como estrias pálidas no miocárdio (Figura 8.6). As lesões miocárdicas consistem em miocardite não
supurativa com infiltração multifocal de linfócitos e plasmócitos dentro do miocárdio. Foram
observados corpúsculos de inclusão basofílicos nas fibras do músculo cardíaco e demonstradas
partículas virais semelhantes às do parvovírus à ME e pela hibridização in situ288 nos corpúsculos de
inclusão.