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Franz Boas

“Para Boas, antes de supor que


fenômenos aparentemente semelhantes
pudessem ser atribuídos às mesmas causas,
como faziam os evolucionistas, era preciso
perguntar, para cada caso, se eles não teriam se
desenvolvido independentemente, ou se não
teriam sido transmitidos de um povo a outro.”
A comparação deveria ser limitada a um
território bem definido. Antes de grandes
generalizações, era preciso estudar muitas
culturas.
As limitações do método comparativo
da antropologia – A sociedade humana se
desenvolveu em diversos lugares, em
diferentes tempos, mas todas elas possuem
traços comuns. Logo é possível falar de leis que então governam esse desenvolvimento.
Há antropólogos que dizem que tais pesquisas das relações dos costumes
anteriores devem ser feita pelos historiadores, e os antropólogos devem se limitar a
pesquisa dessas leis
Antes, similaridades culturais eram vistas como provas de uma conexão histórica
desses povos, e até origem em comum, mas a nova antropologia recusa essa visão, e
considera como resultado do funcionamento uniforme da mente humana.
Vendo que ideias simples como a noção do homem, leis, invenções são
parecidas e distribuídas quase universalmente, e ideias complexas e curiosas aparecendo
em um ou outro povo, fica de fora a ideia de que todas tem uma origem histórica
comum.
“A descoberta dessas ideias universais, contudo, é apenas o começo do trabalho
do antropólogo. A indagação científica precisa responder a duas questões em relação a
elas: primeiro, quais são suas origens? Segundo, como elas se afirmaram em várias
culturas?”
As ideias não são idênticas em todo lugar, elas variam. Essas variações podem
tanto ocorrer por fatores externos, como o ambiente, e como fatores internos, como os
psicológicos. Logo essas duas categorias de fatores influenciam nas leis que regem o
desenvolvimento da cultura.
Uma forma de investigar esses fatores é isolar e classificar as causas, agrupando
certos fenômenos de acordo com as condições externas onde se encontram esses povos,
ou de acordo com as causas internas que influenciam as mentes deles. Assim podemos
ver quais causas operam na formação da cultura humana. Dessa forma também é
possível ser estudado os efeitos dos diferentes fatores psíquicos.
Sobre a origem dessas ideias universais, é algo muito mais difícil de se falar, e
não há um consenso, e alguns afirmar ser impossível detectar a fonte última dessas
ideias. Ainda nisso, se um fenômeno etnológico se desenvolve independentemente em
vários lugares, ele então é o mesmo em toda parte – esses fenômenos tem sempre as
mesmas causas. Isso leva a uma generalização de que essa semelhança de fenômenos é
a prova de que a mente humana obedece às mesmas leis em todos os lugares. Só que a
questão é que os mesmos fenômenos podem se desenvolver de formas bastantes
diferentes.
“Tribos primitivas são quase universalmente divididas em clãs que possuem
totens. Não pode haver dúvida de que essa forma de organização social surgiu repetidas
vezes de modo independente. Certamente justifica-se a conclusão de que as condições
psíquicas do homem favorecem a existência de uma organização totêmica da sociedade,
mas daí não decorre que toda sociedade totêmica tenha se desenvolvido em todos os
lugares da mesma maneira.”
O objetivo da pesquisa antropológica então é para descobrir os processos onde
as culturas se desenvolveram. Os costumes e crenças por si só não é a finalidade última
da pesquisa. A questão é sobre saber o porquê tais costumes e crenças existem – logo, a
história de seu desenvolvimento.
Um método confiável de pesquisa seria o estudo detalhado desses costumes em
relação com a cultura total da tribo, junto com uma investigação da distribuição
geográfica desta com tribos vizinhas. Isso dá uma precisão sobre causas históricas que
levaram a formação de tal costume, além dos processos psicológicos que atuaram no
desenvolvimento.

Bronislaw Malinowski
Bastante lembrado pela contribuição
antropológica quanto ao método da observação
participante, criando a imagem do antropólogo
quanto aquele que vai até o povo e lá permanece
vivendo como um deles.
Argonautas do Pacifico Ocidental –
Introdução: objeto, método e âmbito desta
investigação – As populações das ilhas dos
mares do sul são formadas por ótimo
navegadores e grandes comerciantes.
O kula é o objeto central do texto. É um
complexo sistema de trocas com diversas
ramificações em diversas ilhas próximas e em territórios vizinhos. Faz parte da base da
vida dos nativos que participam, e também esse sistema é importante para a satisfação
das necessidades desses povos.
É importante para qualquer ciência a discriminação do método utilizado para a
coleta dos dados.
Existe uma diferença no material bruto da informação, aquela que é apresentada
de maneira direta a partir das próprias observações, daquela que é apresentada no final
dos resultados. Essa distância deve ser trabalhada pelo pesquisador.
Com um inglês pidgin, é impossível alcançar uma verdadeira comunicação com
o nativo, isso só é alcançado com o uso da língua do nativo. Sem a chance de engendrar
uma conversa concreta ou mais profunda, Malinowski parte para a coleta de dados
concretos, um censo daquela comunidade. Mas isso não permite ter qualquer inferência
sobre a mentalidade daquele povo.
Princípios do método: 1 - deve possuir objetivos científicos reais e conhecer os
valores e critérios da etnografia moderna. 2 – Deve se colocar em boas condições de
trabalho, viver sem outros brancos, no meio dos nativos. 3 – Tem de aplicar vários
métodos especiais de colear, manipular e fixar suas evidencias.
Sobre o segundo princípio, é interessante ter o contato com o homem branco
para momento de doença ou cansado dos nativos, mas isso não deve virar uma muleta e
ser usada a todo momento e apenas ir para a aldeia para trabalhar.
Com o contato rotineiro do pesquisador com o nativo, o primeiro deixa de ser
uma variável perturbadora do cotidiano desse povo, então é possível ver o dia a dia
comum dessas pessoas, coisa que só é possível com a imersão. Os acontecimentos,
depois de um tempo imerso com os nativos, começam a surgir naturalmente com o
tempo, se apresentando bem diante do etnógrafo. Brigas serias, ritos mágicos, mortes,
doenças. Caso essas coisas dramáticas ou importante aconteçam, é essencial investiga-la
no próprio momento em que se dá, já que os nativos não conseguem falar sobre ela, por
motivos de agitação, reticentes ao assunto e/ou mentalmente preguiçosos para detalhes.
Acontece de cometer gafes, porém os nativos acostumados com o pesquisador logo
apontam seu erro, e com isso vai-se criando a sensibilidade para as boas e más
maneiras. A partir do momento que a evolução do comportamento do pesquisador, a
participação de seus divertimentos e jogos, é o começo de um bom trabalho de campo.
No momento em que a etnologia atua numa dimensão onde apenas o senso
comum espetacularizou, que era o mundo desses selvagens, ela introduz leis que
organizam essa ciência e ordem nesse novo mundo que parecia apenas caótico. O
organiza em diversas comunidades com sua lógica própria, com leis e ordem, beleza nas
produções artísticas e coerência própria nas relações de parentesco.
A constituição social e as leis e regularidades dos fenômenos da tribo é algo de
suma importância e elemento básico do trabalho de campo etnográfico. Isso é o
esqueleto básico da vida tribal e que deve ser determinado logo. Assim, é obrigatório o
levantamento desses fenômenos e não apenas selecionar o material mais sensacional e
estranho. Todos os aspectos da vida dessa tribo devem ser selecionados e examinados
na pesquisa, só assim é possível enxergar a coerência e ordem que prevalece dentro da
lógica daquele povo.
Essas regras e leis não estão escritas em lugar algum, estão dentro dos próprios
homens. Eles obedecem às forças dessas leis, mas não a compreendem, assim como
seguem seus instintos e impulsos. Essas regularidades são resultadas diretos das
interações das forças mentais da tradição e condição material do ambiente.
“A coleta de dados concretos de uma ampla série de fatos é, portanto, um dos
principais pontos do método do trabalho de campo”.
Mwali (braceletes de concha).
Além do esqueleto social registrado, partindo da constituição tribal, dados da
vida diária e do comportamento comum, que formam a carne e sangue, ainda é preciso
registrar o espirito – ideias, opiniões e depoimentos dos nativos. “Pois em cada ato da
vida tribal há primeiro a rotina prescrita pelo costume e a tradição, depois a maneira
como ela é executada e finalmente o comentário sobre ela, contido na mente do nativo.”
Os estados mentais dos nativos são carimbados pelas instituições que eles
vivem, pelas influências das tradições e do folclore, pela linguagem, etc. “O ambiente
social e cultural em que eles se movem força-os a penar e sentir de determinada
maneira.”
O terceiro mandamento o trabalho de campo diz: encontre as maneiras típicas de
pensar e sentir correspondentes às instituições e à cultura de uma dada comunidade, e
formule os resultados da maneira mais convincente.
“Nossas considerações indicam que o objetivo do trabalho de campo etnográfico
dever ser abordado seguindo três caminhos.
1) A organização da tribo e a anatomia de sua cultura devem ser registradas
num esboço firme, claro. O método de documentação concreta, estatística, é o meio
pelo qual esse esboço deve ser feito.
2) Os imponderáveis da vida real e o tipo de comportamento devem ser
inseridos no interior dessa estrutura. Eles têm de ser colhidos mediante observações
minuciosas, detalhadas, na forma de algum tipo de diário etnográfico, possibilitando
estreito contato com a vida nativa.
3) Uma compilação de depoimentos etnográficos, narrativas características,
pronunciamentos típicos, itens de folclore e fórmulas mágicas deve ser considerada um
corpus inscriptionum, como documentos da mentalidade nativa.”
A partir destas três abordagens, é que é possível se atingir o objetivo ultimo do
etnógrafo. O de compreender, do ponto de vista do nativo, a relação com a vida e
perceber a sua visão de seu mundo.
Kula – Interessante no sentido da sua extensão geográfica e sociológica, com
uma grande interação intertribal, unindo os vínculos sociais e um grande numero de
pessoas, ligando-as com laços definidos de obrigações reciprocas. Além do grande nível
de cultura que é possível encontrar apenas nessa instituição.
Tem um caráter interessante de transação, que é a substancia dessa instituição.
Desde trocas semicomerciais, até semicerimonial. Com um fim em si mesmo, é
realizado para preencher um profundo desejo de possuir.

Radcliff-Brown
Estrutural-funcionalista. Considera que os dados obtidos pelo próprio
antropólogo são muito superiores aos de segunda mão. Também considera que as
instituições de um povo devem ser estudadas como um único sistema. Crê que a função
social dos costumes, crenças e cerimonias é manter e transmitir entre as gerações a força
moral que a sociedade impõe aos indivíduos, necessária para a sua existência.
A interpretação dos costumes e crenças andamaneses – Para o antropólogo, a
interpretação de um costume não é a descoberta de sua origem, mas sim de seu
significado. Como um estrutural-funcionalista, gosta de usar de analogias biológicas, e
considera que os costumes e crenças possuem uma função tal qual um órgão de um
corpo vivo. A soma dessas instituições, costumes e crenças, formam o único todo, ou
sistema, que determina a vida da sociedade. É menos sobre pensar sobre as origens do
povo e de seu costume, e mais sobre o porque eles agem de certa maneira.
As analises não são afetadas por questões históricas, mas apenas de como esses
costumes existem no momento presente, e muito menos com comparações entre esses
costumes com os de outros povos. O que se compara nas análises não são as instituições
e costumes, mas sim o sistema por inteiro ou os tipos sociais.
Considera que as interpretações do povo em questão feitas a partir do estudo de
campo é muito superior aquelas que são feitas a partir de segunda-mão, e pior ainda
feita de segunda-mão e com pouco conhecimento daquele povo. Isso porque é a partir
da vivencia e convivência com as pessoas da qual o pesquisador estuda, é que são
extraídos pequenos entendimentos, impressões, que o guia nas relações com essas
pessoas, e o que faz entender melhor a peculiaridade mental do povo.
Considera que para o avanço da antropologia acontecer, é necessário que a
elaboração das hipóteses e a observação dos fatos devem ser consideradas
interdependentes do mesmo processo, e desconsiderar a divisão dessas partes. A
observação, analise e interpretação do povo em questão são realizadas juntas pelo
pesquisador que está no campo.
Nos mostra uma hipótese da antropologia inglesa onde os autores consideram
que as crenças desses povos são resultado de tentativas desses homens de explicar para
si os fenômenos da vida e da natureza. Essas crenças são primarias, surgem como
crenças e depois ganham o poder de influenciar a ação, criando então cerimonias e
costumes. Outra tem como base a hipótese de que as crenças dos homens são derivadas
de emoções como surpresa e terror, estupefação e assombro, que são despertadas pela
contemplação da natureza.
Ele então nos mostra as hipóteses com qual trabalha, e são elas:
“1) uma sociedade depende para sua existência da presença, na mente de seus
integrantes, de um certo sistema de sentimentos pelo qual a conduta do indivíduo é
regulada em conformidade com as necessidades da sociedade;
2) cada característica do próprio sistema social e cada evento ou objeto que afeta
de alguma maneira o bem-estar ou a coesão da sociedade tornam-se um objeto desse
sistema de sentimentos;
3) na sociedade humana os sentimentos em questão não são inatos, mas
desenvolvidos no indivíduo pela ação da sociedade sobre ele;
4) os costumes cerimoniais de uma sociedade são um meio pelo qual se dá
expressão coletiva aos sentimentos em pauta em ocasiões apropriadas;
5) a expressão cerimonial (isto é, coletiva) de qualquer sentimento serve tanto
para mantê-lo no necessário grau de intensidade na mente do indivíduo quanto para
transmiti-lo de uma geração a outra. Sem essa expressão, o sentimento envolvido não
poderia existir.”
Basicamente, se utilizando do conceito de função social, ele nos diz que a função
social dos costumes andamaneses é de manter e transmitir de uma geração a outra as
disposições emocionais de que a sociedade (tal como está constituída) depende para sua
existência.
Ele quer nos mostrar através a aplicação dessas hipóteses que existe uma
correspondia entre as instituições (costumes e crenças) a um sistema de sentimentos e
com relação a constituição dessa sociedade.
Sobre o método, nos apresenta que:
1 Para explicar qualquer costume, é de suma importância levar em consideração
a explicação dada pelos próprios nativos, já que eles também racionalizam as próprias
ações, e as razões dadas por eles ajude a explicar o próprio costume, pois um costume
só é suficientemente explicado se além do costume em si, explicar a razão do porque os
homens o fazem;
2 Um costume igual ou similar, quando praticado em varias ocasiões diferentes,
tem o mesmo significado ou similar em todas essas ocasiões, e as ocasiões também
possuem algo em comum que permita a repetição desses costumes, e o significado do
próprio costume será descoberto analisando qual o elemento comum;
3 Diferentes costumes praticados numa mesma ocasião, tem elementos em
comum. Analisando o ponto em comum desses costumes, explicará o significado de
cada um;
4 Evitar comparações dos costumes de um povo com o de outros.
Começa analisando a cerimônia de casamento andamanesa. Ela exige que o
noivo e a noiva se abracem em público. O abraço geralmente é sempre uma expressão
de um sentimento positivo como o amor, afeição e amizade entre as pessoas. O
significado do casamento é de que eles estão agora numa relação especial e intima um
com o outro, unidos, e essa união é representada simbolicamente e expressada pela
união física desse abraço. E a própria cerimonia introduz na mente desse casal e dos
espectadores de que os dois estão entrando numa nova relação social, onde devem ter
afeição um pelo outro.
O ritual tem dois aspectos, um do ponto de vista do casal e outro das
testemunhas. Dessas ultimas, elas fazem parte no sentido de que a comunidade participa
dando a sanção daquela união diante deles, já que aquele que condutor da cerimonia
está ali representando a própria comunidade. Assim, a cerimonia não diz respeito apenas
ao casal, mas também para a comunidade, que mantem o sentimento ao casamento em
geral sempre vivo. Casamentos ilegítimos, onde casais se junta sem a devida cerimonia,
despertam sentimentos de reprovação por parte da comunidade, como se o casal tivesse
deixado de lado um importante princípio social.
Outro aspecto desse costume é que ele serve como um reconhecimento, da parte
das testemunhas, de uma mudança do status do casal, no sentido de que não são mais
duas crianças, mas dois adultos. Nessa sociedade existe uma divisão bem marcada entre
os casados e os não casados, da forma como são vistas pelos seus colegas, e que papel
ocupam na comunidade. Da parte dos casados, eles também compreendem esse novo
status que possuem, numa intensidade bem maior, compreendendo novos direitos e
deveres.
Além da comum troca de presentes entre os próprios andamaneses, também é
comum dar presentes, por parte da população, aos recém casados como forma de
aprovação e boa vontade da sociedade.
Outra cerimonia comum é a de restabelecimento da paz, feita a partir da dança
entre dois grupos, onde expressam os seus sentimentos agressivos ao outro. Gritam,
utilizam gestos ameaçadores, sacodem membros do outro grupo, tudo isso enquanto o
outro grupo aceita numa certa passividade, sem demonstrar nenhum medo ou
ressentimento. De um lado a expressão coletiva da raiva coletiva, que então é
apaziguada; do outro a submissão e humilhação diante dos seus inimigos, expiando seu
erro.
Pode-se perceber então a função dessa cerimonia, que produz uma mudança nos
sentimentos dos dois grupos em relação um ao outro, e então é substituído o sentimento
de inimizado pelo de solidariedade entre os grupos.
É comum ver em certos momentos e cerimonias os andamaneses chorando
juntos. Radcliff-Brown nos lista alguns:
“1) quando dois amigos ou parentes se encontram depois de passar algum tempo
separados, eles se abraçam e choram juntos;
2) na cerimônia de restabelecimento da paz, os dois grupos de ex-inimigos
choram juntos, abraçando-se;
3) no fim do período de luto, os amigos dos enlutados (que não estivessem eles
mesmos de luto) choram com eles;
4) depois de uma morte os amigos e parentes abraçam o cadáver e choram sobre
ele;
5) quando os ossos de um homem ou de uma mulher mortos são recuperados do
túmulo, chora-se por eles;
6) por ocasião de um casamento, os parentes da noiva e do noivo,
respectivamente, choram por eles;
7) nos vários estágios das cerimônias de iniciação, os parentes do sexo feminino
de um rapaz ou de uma moça choram por ele ou por ela.”
Nesses casos, os choros não representam sentimentos espontâneos das pessoas,
mas sim um choro ritualístico, cerimonial, com uma execução especifica e exigida.
Deixar de fazer nesses momentos é uma grande ofensa diante de todos.
Então o antropólogo parte para a analise da explicação dos costumes que
justifique as diferentes ocasiões da presença desse rito, já que ele tem o mesmo
significado todas as vezes em que aparece. Logo esse rito para Brown é uma expressão
do sentimento de apego, tanto da parte do abraço como do choro – vide o costume do
reencontro de pessoas que estavam a um tempo sem se verem, o do reestabelecimento
de paz entre grupos, e o do luto – e também tem o sentido de renovar as relações sociais
quando elas foram interrompidas.

Evans-Pritchard
Um estrutural-funcionalista, mesma corrente de pensamento de Radcliff-Brown.
Fez pesquisa de campo na África entre os Azande e os Nuer no sul do Sudão entre 1920
e 1930.
Critica a ideia de que existe uma forma de mentalidade primitiva, pré-lógica ou
irracional, diferente da mentalidade racional e cientifica da sociedade ocidental,
analisando a crença zande na bruxaria e sua onipresença no dia a dia desse povo. A
logica da bruxaria é única entre esse povo e não contradiz em nada com o conhecimento
empírico de causa e efeito. A partir da própria filosofia zande que é explicado como isso
ocorre.
A noção de bruxaria como explicação de infortúnios – bruxaria como
filosofia que explica a relação dos homens com o infortúnio, e as suas reações a eventos
funestos; e um sistema de valores que regulam as suas condutas.
A bruxaria esta presente em todos os âmbitos da vida dos azandes, como em
atividades para a própria sobrevivência como a busca de alimentação, e principalmente
se esta é correlacionada com um acontecimento negativo da vida comum do povo.
A língua da bruxaria para os azande é a língua dos infortúnios – e por elas a
bruxaria é explicada. Para os zande é de se esperar que no dia a dia em algum momento
você irá esbarrar com a bruxaria, estranho seria não a encontrar por ai. E como os
esperam diariamente, criam formas de combate-la. Não ficam com medo ou paralisados
diante da bruxaria, mas ficam aborrecidos, pois a bruxaria é sempre uma maldade
lançada, uma manobra suja. A agressividade é a resposta a bruxaria, ao contrario de
uma estranheza sobrenatural ou medo dos ocidentais.
A bruxaria liga o indivíduo que sofreu dano com a situação especifica em que
lhe ocorreu, e não que tudo pode é causa de bruxaria, mas que situações especificas que
corriqueiramente não acontecem nada, naquele caso especifico deu errado.
Temos os exemplo do celeiro usado para guardar o milho, que fica suspenso por
madeira e é pesado pelo uso na construção de barro e madeira. Ela proporciona uma
sombra aconchegante onde os zande gostam de ficar abaixo em dia de sol. Acontece que
as vezes esse celeiro desaba enquanto tem pessoas embaixo e isso é causado por
bruxaria. Eles sabem que os cupins roem a madeira até aquilo desabar; sabem que as
pessoas vão ali pra baixo para se protegerem do sol; mas o que para nós é uma
coincidência, para os zande é exatamente a bruxaria, já que o celeiro poderia ter
desabado qualquer outra hora, sem ninguém estar ali por exemplo.
A bruxaria é tão intrinsecamente ligado ao dia a dia que é difícil simplesmente
perguntar para o zande o que a bruxaria é em si. O tema é geral e vago, além de imenso
demais para ser descrito; mas o que acontece é o zande explica através de situações
empiricamente atestadas, tal qual um búfalo que ataca alguém, a caça improdutiva
enquanto a de outra pessoa foi melhor. Os fatos não são explicados por si próprios, mas
leva-se em consideração a bruxaria.
Evans nos dá um exemplo de como funciona a linha de raciocínio e um zande
para entender a total extensão sobre a causalidade.
Ele diz: “Fulano foi embruxado e se matou.” Ou, mais simplesmente: “Fulano
foi morto por bruxaria.” Mas ele está falando da causa última da morte de
fulano, não das causas secundárias. Você pode perguntar: “Como ele se
matou?”, e seu interlocutor dirá que fulano cometeu suicídio enforcando-se
num galho de árvore. Você pode também inquirir: “Por que ele se matou?”, e
ele dirá que foi porque fulano estava zangado com os irmãos. A causa da morte
foi enforcamento numa árvore, e a causa do enforcamento foi a raiva dos
irmãos. Se então você perguntar a um zande por que ele disse que o homem
estava embruxado, se cometeu suicídio em razão de uma briga com os irmãos,
ele lhe dirá que somente os loucos cometem suicídio, e que se todo mundo que
se zangasse com seus irmãos cometesse suicídio, em breve não haveria mais
gente no mundo; se aquele homem não tivesse sido embruxado, não faria o que
fez. Se você persistir e perguntar por que a bruxaria levou o homem a se matar,
o zande lhe dirá que acha que alguém odiava aquele homem; e se você
perguntar por que alguém o odiaria, seu informante vai dizer que assim é a
natureza humana.
A bruxaria porque os acontecimentos são nocivos, e não como eles acontecem.
Um zande percebe como eles acontecem da mesma forma que nós.
Essa crença não contradiz o conhecimento de causa e efeito. Eles não
negligenciam as causas secundarias que pra gente é a causa principal da morte. O que
fazem é uma abreviação a cadeia de eventos e selecionam a causa socialmente relevante
numa situação social particular. E essa causa social é relevane pois ela permite
intervenção, e determina assim o comportamento social.
A morte não é apenas um fato natural de que o corpo simplesmente perdeu os
sinais vitais e suas funções, mas um fato social de que é a morte de um membro de uma
família, a morte do parentesco, de um pedaço da comunidade, então caso seja associado
a uma bruxaria, ela tem relevância e condiz o comportamento social, levando a consulta
de oráculos, ritos e a busca de vingança.
A bruxaria não é a explicação para todo infortúnio. Ela não faz alguém mentir,
nem cometer adultério, e afirmar nesses casos que foi a bruxaria pode ser motivo de
escarnio diante dos outros. A bruxaria também não é levada em conta se ela se choca
com as leis morais e tabus.
Incompetência, preguiça, ignorância podem ser causas de fracassos. Eles não são
ingênuos se por exemplo, um pote rachar e posteriormente for verificado que existia um
erro no processo de criação, afirmar que a causa disso é a bruxaria. Ainda que quem
sofra o infortúnio afirme que é vitima da bruxaria, os demais não concordarão com o
sujeito.
Infortúnios sérios, aqueles que levam a morte, quase sempre são considerados
bruxaria.

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