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905 911 1 PB
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Markus Berger1, Walter Orlando Beys da Silva 2, Lucélia Santi1, Jorge Almeida Guimarães1
Abstract: Haemostasis is a complex defence mechanism responsible for the control of blood loss
resulting from a vascular trauma. It is a finely regulated multifunctional process that involves multiple
physiological cellular and acellular components, including the vascular response, platelet aggregation and
the coagulation system. Disturbances of haemostasis could be associated with both haemorrhage and
thromboembolic diseases. In this paper, we performed a brief review of the haemostatic mechanisms and
its regulatory processes.
1 INTRODUÇÃO
A hemostasia representa um complexo, redundante e eficiente mecanismo
fisiológico de defesa contra a perda não controlada de sangue. O estado normal de
fluidez do sangue circulante é mantido pelas propriedades não trombogênicas das
paredes intactas das células dos vasos. O dano a esses vasos provoca uma pronta resposta
hemostática que previne a hemorragia (FIGURA 1). Tendo em vista a importância da
hemostasia tanto para processos onde há a perda descontrolada de sangue quanto para a
progressão de doenças tromboembólicas, neste artigo realiza-se uma breve revisão dos
mecanismos hemostáticos e de seus processos regulatórios.
Após a ocorrência de uma lesão vascular, três processos principais evitam a perda
descontrolada de sangue: (i) vasoconstrição, que limita o aporte de sangue para o local
da lesão; (ii) agregação plaquetária, que, pela adesão, ativação e agregação das plaquetas
circulantes, formam o primeiro tampão no local da lesão; e (iii) coagulação sanguínea,
que, pela ativação sequencial de fatores presentes no plasma, forma o coágulo de fibrina
responsável pela sustentação e forma do coágulo final.
2 AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA
O rompimento da monocamada de células endoteliais que recobre a parede vascular,
seja fisiologicamente ou em consequência de uma lesão tissular, causa a exposição da
matriz subendotelial, ocorrendo, inicialmente, a atração para o local das plaquetas
circulantes. Como consequência desse contato, as plaquetas sofrem profunda mudança
de sua forma discoide (processo de shape change), caracterizada pela transformação desse
formato nativo em uma forma mais esférica, com a emissão de inúmeros pseudópodes
(ALLEN et al., 1979). Essa transformação induz à adesão progressiva de outras
plaquetas que se espraiam sobre a matriz subendotelial pela interação com proteínas
adesivas, como fator de Von Willebrand e colágeno. Os receptores glicoproteicos GPIb-
IX-V e GPVI e a integrina α2β1 são importantes nessa interação, sendo responsáveis
por manterem as plaquetas no sítio da lesão. Em seguida ao processo de adesão, ocorrem
a ativação e a agregação das plaquetas pela interação de agonistas, como colágeno,
trombina e adrenalina, liberados na lesão tissular, com receptores de superfície.
Outros receptores tornam-se funcionais quando as plaquetas são ativadas. Assim, na
formação de um agregado compacto, são mobilizados alguns receptores de membrana,
particularmente as glicoproteínas IIb e IIIa (GPIIb-IIIa, complexo conhecido como
integrina αIIbβ3), em resposta aos agonistas extracelulares.
A ativação e a agregação inicial das plaquetas próximas ao local da lesão tissular
induzem à efetiva reatividade plaquetária, que produz a secreção de organelas
plaquetárias de estoque contendo outros agonistas, como ADP, tromboxana A 2
(TXA 2) e serotonina (5-HT), potentes agentes pró-agregantes. O complexo processo
de adesão, reatividade e ativação plaquetária acaba provocando o recrutamento e
a agregação de outras plaquetas circulantes à primeira camada, levando à formação
de um tampão celular (FIGURA 2). Juntamente com a mudança de forma e adesão,
um rearranjo nas fosfolipoproteínas de membrana forma uma apropriada superfície
catalítica pró-coagulante (BLOCKMANS et al., 1995; ANDREWS; BERNDT,
2004), potencializando sobremaneira o processo hemostático como um todo.
O estado de ativação plaquetária é dinamicamente modulado pelo balanço de
ações estimulatórias e inibitórias da função plaquetária. O processo de ativação é, em
geral, iniciado pela exposição a um agonista plaquetário, que se liga a receptores de
superfície e desencadeia uma cascata de eventos bioquímicos. Como já mencionado
3 COAGULAÇÃO SANGUÍNEA
Paralelamente à agregação plaquetária, a reação de coagulação é iniciada,
culminando na formação de fibrina. Em 2001, um modelo de hemostasia baseado
em células foi proposto, enfatizando a interação de fatores plasmáticos da coagulação
com superfícies celulares específicas (HOFFMAN, 2003a; HOFFMAN, 2003b;
HOFFMAN; MONROE, 2001; ROBERTS et al., 2006). O modelo de coagulação
baseado em células é uma evolução conceitual do processo da cascata da coagulação
formulado em 1964 por Davie e Ratnoff e MacFarlane (DAVIE; RATNOFF, 1964;
MACFARLANE, 1964), que propunham os conhecidos modelos das vias intrínseca
e extrínseca para a cascata de coagulação sanguínea. Esse novo modelo mostra a
importância da interação entre as proteínas plasmáticas e as superfícies celulares para
o início da coagulação e confirma que a manutenção do processo depende das reações
bioquímicas de ativação dos fatores da coagulação.
O modelo celular da hemostasia baseia-se em três etapas, que ocorrem no plasma
e em superfícies de diferentes tipos celulares. Como mostra a Figura 3, a primeira fase,
ou iniciação, ocorre em células extravasculares (principalmente fibroblastos) carreadoras
de fator tecidual (tissue factor - TF). Na fase de amplificação, plaquetas e cofatores são
ativados, propiciando a geração de trombina. Finalmente, a propagação ocorre na
superfície das plaquetas ativadas, aderidas ao local da lesão, resultando na produção
de grandes quantidades de trombina e na subsequente formação do coágulo de fibrina
(HOFFMAN; MONROE, 2001; MONROE et al., 2002; MONROE; HOFFMAN,
2006).
Legenda: TF - fator tecidual; Hem - Hemácias; FBG - Fibrinogênio; FIB - Fibroblasto; PLT
- Plaquetas; PLTa - Plaquetas ativadas; Thr - Trombina.
Além disso, a via regulatória composta pelo sistema do plasminogênio também tem
papel importante na degradação da rede de fibrina gerada pela ativação do processo
hemostático. A via é ativada por dois ativadores fisiológicos de plasminogênio (PA):
ativador de plasminogênio do tipo tissular (t-PA) e ativador de plasminogênio tipo
uroquinase (u-PA). A via de ativação mediada por t-PA está primariamente envolvida
na homeostase da fibrina. Por outro lado, a via mediada por u-PA está envolvida em
fenômenos como migração celular e remodelagem de tecidos. O plasminogênio ativado
gera plasmina, que atua na degradação de fibrina e de fibrinogênio. A inibição do
sistema de regulação do plasminogênio ocorre na etapa de ativação de plasminogênio,
pela ação específica de inibidores de ativadores de plasminogênio (PAI) e diretamente
na plasmina ativa, por meio da serpina α2-antiplasmina (VAUGHAN; DECLERCK,
1998; COLLEN, 1999).
4 CONCLUSÃO
O processo hemostático resulta da ação de diversos componentes celulares e
moleculares atuando em um complexo mecanismo de defesa e de controle da perda
de sangue como consequência de uma lesão vascular ou mesmo em outras condições
patológicas, como câncer, sepsis, colite e outras doenças inflamatórias sistêmicas.
A hemostasia é, assim, um processo multifuncional, complexo e de regulação
finamente controlada, envolvendo a participação de diversos componentes fisiológicos
celulares e acelulares, incluindo a parede vascular e a membrana basal, microfibrilas e
colágeno, ativação plaquetária e as cascatas de coagulação e da fibrinólise.
A refinada regulação desses sistemas coloca em posições antagônicas dois processos
em equilíbrio permanente. De um lado se situa um eficiente processo fisiológico, a
hemostasia, constituindo um complexo, redundante e eficiente mecanismo de defesa
capaz de prevenir a perda não controlada de sangue. Do outro lado, basicamente
os mesmos componentes celulares e moleculares que asseguram função fisiológica
para a hemostasia constituem as bases do mecanismo desencadeador das condições
fisiopatológicas graves, como a hemorragia funcional, as hipercoagulopatias e a
trombose vascular. Assim, o quadro tromboembólico, frequentemente incompatível
com a própria vida, pode ser considerado uma extensão mal regulada do processo da
hemostasia.
Dessa forma, a compreensão dos mecanismos envolvidos nesses fenômenos são
essenciais para o descobrimento de novos princípios ativos e o desenvolvimento de
drogas e produtos capazes de propiciar a adoção de procedimentos clínicos e terapêuticos
como instrumentos de intervenção antitrombótica.
REFERÊNCIAS
ALLEN, R.D.; ZACHARSKI, L.R.; WIDIRSTKY, S.T.; ROSENSTEIN, R.; ZAITLIN,
L.M.; BURGESS, D.R. Transformation and motility of human platelets: Details of the shape
change and release reaction observed by optical and electron microscopy. Journal of cell
biology, v. 83, p.126-142, 1979.
DAVIE, E.W.; RATNOFF, O.D. Waterfall Sequence for Intrinsic Blood Clotting. Science,
v. 145, p.1310-1312, 1964.
HOFFMAN, M. A cell-based model of coagulation and the role of factor VIIa. Blood
Reviews, v. 17, n. 1, p. 1-5, 2003a.
MACFARLANE, R.G. An enzyme cascade in the blood clotting mechanism, and its
function as a biochemical amplifier. Nature, v. 202, p. 498-499, 1964.
MONROE, D.M.; HOFFMAN, M.; ROBERTS, H.R. Platelets and thrombin generation.
Arteriosclerosis, Thrombosis and Vascular Biology, v. 22, p. 1381-1389, 2002.
MONROE, D.M.; HOFFMAN, M. What does it take to make the perfect clot?
Arteriosclerosis, Thrombosis and Vascular Biology, v. 26, p. 41-48, 2006.
VAUGHAN, D.E.; DECLERCK, P.J. Fibrinolysis and its Regulation. In: LOSCALSO, J.;
SCHAFER, A.I. (eds.). Thrombosis and Hemorrhage, p. 155-170, Baltimore, Williams &
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