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Experiência e
interculturalidade
Ilustração da capa
https://www.istockphoto.com/br/foto/reserve-gm484017844-70996017
(STILLFX)
ISBN 978-65-5608-147-2
CDU 94:37(813.2)
EDITORA
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www.ideiaeditora.com.br
SUMÁRIO
Apresentação 10
Aliny D. P. de Medeiros Pranto
Paulo Souto Maior
Azemar dos Santos Soares Jr
My Little Girl: Abordando em sala de aula a figura feminina nas canções de rock
dos anos 50 e 60 12
João Paulo Brito Lima
Independência dos corpos e seus prazeres: sair do armário ainda é proibido... ao menos
no “7 de Setembro” 35
Walber Ferreira da Silva
O papel da mulher no período colonial: a(s) perspectiva(s) dos discentes sobre novos
temas nas aulas de História 41
José Evangilmárison Lopes Leite
Literatura e ensino de História: mandela, ontem um filho da África, hoje, o pai dos
africanos 105
Luana Pereira da Cunha
Paulo Roberto Souto Maior Junior
Continuando os diálogos
Apresentação
SUMÁRIO
Ensino de História e Gênero
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INTRODUÇÃO
1
Graduado do curso de licenciatura plena em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) em 2017.
Atualmente mestrando no Programa de Pós Graduação em História pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG), aluno bolsista do CNPQ.
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social, criando uma atmosfera de alegrias, risadas, conversas. Em sala de aula, pode facilitar a
aprendizagem de certos conteúdos, de forma mais prazerosa, descontraída. Sobre música
como uma fonte histórica e um elemento de construção social, hoje em dia, é de conhecimento
que,
Dito isto, este trabalho vem abordar uma forma diferente de trabalhar questões de
gênero em sala de aula, através da análise de algumas letras de música que fizeram muito
sucesso em suas épocas e são perpetuadas até hoje sem que nos toquemos do conteúdo sexista
e machista de suas letras. Também traremos um pouco sobre o que é o rock and roll, um pouco
sobre o que é feminismo e qual feminismo essas músicas estão inseridas, além de trazer em
algumas composições das décadas de 50 e 60, como as músicas do gênero rock and roll
desenhavam a figura feminina e como isso pode ser abordado nas aulas de História. Será feito
a análise de 4 músicas de artistas e bandas da época nas quais poderemos ter uma noção de
como a mulher, jovem, era vista e retratada nessas canções. Além de um apanhado geral sobre
o que é o rock and roll, o feminismo e como inserir estes assuntos didaticamente, em sala de
aula.
[...] Música é linguagem (...) Outro aspecto fundamental na relação entre História, música e
o processo de aprendizagem é a articulação entre o texto e o contexto para que a análise
histórica não seja reduzida, limitando, assim, a própria importância do objeto analisado. O
grande desafio do pesquisador é mapear os sentidos embutidos numa obra musical, bem
como suas fontes de inserção na sociedade e na história. [...] (ABUD, 2010, p. 61-62).
“LUTE COMO UMA MULHER”: nascimento e ascensão do feminismo nos Estados Unidos
Primeiramente, para que possamos discutir a categoria “gênero” utilizamos autores
como Ferreira (2008), que vai na direção de uma definição de gênero enquanto construção
social. Em seus estudos, Ferreira (2008) traz o conceito de gênero, e o coloca na importância
de ser uma construção social das diferenças sexuais ou anatômicas. Tendo a clareza de que os
sujeitos, plurais em seus pensamentos e seus corpos, não são iguais também do ponto de vista
fisiológico, e que portanto estes não deveriam ser considerados uns inferiores aos outros. Dito
isto, ele aponta que,
[...] gênero respeita a cultura, o tempo, o lugar, as condições sociais. Implica produções de
significados, de identidades múltiplas e plurais, de mulheres e de homens no interior das
práticas sociais, portanto, dentro de relações de poder. As formas como homens e
mulheres se relacionam não apenas instituem os sujeitos, mas também dão sentidos às
instituições (FERREIRA, 2008, p. 61).
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Segundo Levi,
[...] O feminismo, portanto, era visto como um ramo destas “perigosas” ideologias de
esquerda — a ameaçar a “estabilidade” da Pátria, da Família e da Religião —, em alguns
casos ultrapassando-as para chegar até ao Anarquismo, derradeira escolha anti-americana
e, portanto, “digna” de ser erradicada com todos os meios [...]. (LEVI, 2007, p. 64).
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Já nos anos 1960, deu-se o movimento que ficou conhecido como a “Segunda Onda
Feminista”. Na segunda metade da década de 60, as mulheres participantes desse movimento
buscavam escandalizar os abusos diários sofridos, a grande censura por parte do seus
parceiros em termos de escolhas, empregos, vestimentas, entre outros; além dos abusos e
autoridades do serviço doméstico. Em suas pautas feministas, elas buscaram direitos sexuais
e reprodutivos, além de poderem contestar seus papéis na sociedade e em suas residências.
[...] Na maioria das vezes, pensam que feminismo se trata de um bando de mulheres bravas
que querem ser iguais aos homens. Essas pessoas nem pensam que o feminismo tem a ver
com direitos – é sobre mulheres adquirirem direito iguais [...] (HOOKS, 2020, p. 12).
Dito isto, é neste contexto social da chamada “Segunda Onda Feminista” que se deu o
surgimento do rock and roll, a adesão dos jovens que mergulharam nesse estilo musical e
viveram intensamente sobre carros possantes, jaquetas de couro, bebidas e muita música e
dança. No próximo tópico iremos abordar um pouco do surgimento desse ritmo que levou
milhões de jovens a loucura.
“BEM, ELA SÓ TINHA DEZESSETE ANOS, VOCÊ SABE O QUE EU QUERO DIZER”: Um pouco
da história do Rock ‘N’ Roll
O título deste tópico é de um trecho de uma música escrita por Paul McCartney e depois
finalizada com a ajuda de John Lennon em 1962, e fala de um garoto que viu uma garota de 17
anos sozinha, no canto do salão onde estava tendo um baile, mas que se apaixonou
perdidamente por ela, e que depois disso, não poderia deixá-la sozinha nem dançar com outra
menina.
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É um tanto romântico quando ouvimos a música e lemos a letra dessa canção. Somos
imediatamente transportados para um momento onde, dois jovens adolescentes, com suas
emoções a flor da pele, se olharam e se apaixonaram perdidamente em meio a toda multidão
que os rodeava, e ficamos a imaginar quantos momentos especiais não aconteceram dessa
forma? Quantos rapaz poderiam dançar com outra quando viram ela parada lá? A imaginação
flui com essas histórias românticas...
Mas também, agora com um viés histórico e crítico, percebemos que esta canção, como
tantas outras que surgiram nesta época, relega a jovem moça a um papel de inocente,
desprotegida, de uma beleza inspiradora, e que ela está somente esperando seu jovem rapaz
para “tirá-la para dançar”. Escutar com atenção letras de canções pode ser uma aula de
história! Devemos propor uma contextualização entre a música com a época, a região, os
grupos sociais e seus costumes, além de interpretar as gírias e metáforas utilizadas na letra,
gerando conversas sobre história, sociedade, política, cultura e tantos outros elementos.
O fenômeno do surgimento e ascensão do rock and roll ou pop/rock nos Estados Unidos
e na Europa, e posteriormente no resto do globo, não se deu do dia para a noite, e muito menos
pelo acaso. Existiram elementos decisivos que criaram o rock e alçaram ao estrelato da fama
internacional, passando a fazer parte não somente como gosto musical, mas também uma
filosofia, um estilo de vida para algumas pessoas. Hobsbawn (2017) em sua obra sobre a
história social do Jazz, nos dá uma ideia de como e em que sociedade este estilo musical surgiu
e foi difundido. O rock and roll como conhecemos hoje em dia é um produto artístico nascido
na fusão de vários outros elementos artísticos, como o country, do rhythm & blues e o jazz,
predominantemente tocado pelos negros de Chicago.
Esse ritmo mudou gerações em todo o mundo, e ainda hoje faz muito sucesso. É uma
forma, creio eu, bastante criativa e divertida de levar para dentro da sala de aula para tratar
de assuntos de tamanha seriedade como a questão de gênero e até mesmo de raça. “Tratar
pedagogicamente do gênero e sexualidade nas escolas significa inserir os assuntos referentes
a este tema da diversidade no currículo, por meio dos conteúdos contemplados nas diretrizes
curriculares.” (GOMES, 2013, p.02).
Portanto, vamos as letras das canções e as respectivas analises. Sobre as letras das
canções que podem servir de exemplo para analisar e serem abordadas em sala de aula, a
primeira é Baby, Let's Play House – Elvis Presley (Querida, vamos brincar de casinha), de 1955.
“Bem, você pode ir à universidade / Você pode ir à escola / Você pode ter um Cadillac cor de rosa
/ Mas não seja a idiota de ninguém...”2. Podemos ver neste pequeno trecho que o homem coloca
a mulher como uma propriedade sua, e que ela pode ter aquilo que ele disse, mas não pode ser
idiota de ninguém, denotando que ela é uma pessoa inocente e que tivesse cuidado.
2
“Well, you may go to college / You may go to school / You may have a pink cadillac / But don't you be nobody's fool…”
É uma canção escrita por Arthur Gunter em 1954 e foi gravada e lançada por Elvis Presley em 25 de abril de 1955.
Possui 2:55 de duração. Letra e tradução disponíveis em https://www.letras.mus.br/elvis-presley/31582/,acessado
em 16/11/2020.
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Seguindo a analise, trago Everybody’s Trying To Be My Baby – Carl Perkins (Todas Estão
Tentando Ser Minhas), de 1957. Vendo pela perspectiva do garoto, o seguinte trecho da letra
diz o seguinte: “Quando saí na noite passada, eu não fiquei até tarde, / Antes de voltar para casa,
eu tive dezenove encontros, / E todas estão tentando ser minhas, / Todas estão tentando ser
minhas, / Todas estão tentando ser minhas, agora...”3. Podemos perceber neste trecho que o
jovem rapaz está dizendo que está sendo altamente cobiçado por todas as mulheres, todas elas
agora estão “tentando ser dele”, demonstrando um superego, e que todas as garotinhas estão
parando suas vidas e se concentrando em apenas serem dele.
A próxima música analisada é The Last Time – Rolling Stones (A Última Vez), 1965. O
seguinte trecho da música diz assim: “Bem, eu lhe disse uma vez e lhe disse duas vezes / Mas
você nunca escuta meus avisos / Você não se esforça para me satisfazer / Com o que você conhece,
isto deveria ser fácil...”4. Notemos como o jovem rapaz interpela a mulher, em tom de
reclamação e desaprovação, e até mesmo sugere que ela tem um conhecimento sexual e
erótico demasiado, que ela não se esforça para satisfazê-lo mesmo sendo fácil para ela,
denegrindo a sua imagem e como se ela ou qualquer mulher tivesse essa obrigação em um
relacionamento.
Seguindo para a próxima e última música desse nosso trabalho, trago a letra em que
considero uma das mais pesadas em termos de machismo contra a mulher. A música Run For
Your Life – The Beatles (Corra Por Sua Vida), de 1965, traz em seu conteúdo, o seguinte trecho:
“É melhor você salvar sua vida, se puder, garotinha, / Esconda sua cabeça na areia, garotinha, /
Te pegar com outro homem é o fim, garotinha, / Que isso seja um aviso, falo sério tudo o que
disse, / Baby, estou determinado e prefiro te ver morta...” 5. Podemos perceber com este tipo de
letra o quanto é agressiva e violenta a abordagem que o garoto (que não é o mesmo compositor
da canção) aborda a garota, e que até mesmo chega a ameaçá-la de agredir ela e até mesmo
morte caso ela esteja com outro garoto fazendo qualquer coisa, por mais simples que seja.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como propõe Durval (2010), por uma educação que deforme, devemos deformar o
ensino, mas não no sentido negativo da palavra. Mas, pelo contrário, devemos fazer diferente.
Diferenciar, fazer abordagens sensíveis aos alunos da sala de aula, problematizar os
sentimentos e os desejos desses alunos, respeitar suas alteridades. Devemos desmistificar a
escola como um lugar chato, corriqueiro, obrigatório. Devemos iluminar nossas salas e ensinar
3
“Went out last night, I didn't stay late‘ / Fore I got home I had ninteen dates, / Everybody's trying to be my baby, /
Everybody's trying to be my baby, / Everybody's trying to be my baby, now…” É uma canção escrita por Carl Perkins em
1956 e foi gravada e lançada no mesmo ano. Possui 2:15 de duração. Letra e tradução disponíveis em
https://www.letras.mus.br/carl-perkins/30535/, acessado em 16/11/2020.
4
“Well, I told you once and I told you twice / But ya never listen to my advice / You don't try very hard to please me /
With what you know it should be easy…” É uma canção escrita por Mick Jagger e Keith Richards em 1965 e foi gravada
e lançada pelos Rolling Stones em 26 de fevereiro de 1965 no Reino Unido e 13 de março do mesmo ano nos Estados
Unidos. Possui 3:41 de duração. Letra e tradução disponíveis em https://www.letras.mus.br/the-rolling-
stones/33934/traducao.html/, acessado em 16/11/2020.
5
“You better run for your life if you can, little girl / Hide your head in the sand, little girl / Catch you with another man,
that's the end, little girl / Let this be a sermon, I mean everything I've said / Baby, I'm determined and I'd rather see you
dead…”. É uma canção composta por John Lennon e Paul McCartney, que foi gravada e lançada em 3 de dezembro de
1965. Possui 2:20 de duração. Letra e tradução disponíveis em https://www.letras.mus.br/the-
beatles/273/traducao.html, acessado em 16/11/2020.
SUMÁRIO
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[...] Fazer as aulas de História “fazerem sentido” para o aluno precisa ser um exercício
contínuo do professor. Para isso, sensibilidade, imaginação e experiência são fundamentais.
Essas são palavras que combinam com uma prática cotidiana. (...) ou seja, trazer á tona
aquilo que se sente, que se pensa e que tantas vezes fica apenas no interior dos corpos e
mentes pela ausência de oportunidade de expor. Revelar a sensibilidade em sala de aula
torna-se uma oportunidade de expressão, de autoafirmação, de comunicar o que sentimos
ao outro, de deixar à mostra nossas fragilidades e, ao mesmo tempo, nossa fortaleza. [...]
(SOARES JR, 2019, p.7-8).
REFERÊNCIAS
ABUD, Kátia Maria. Ensino de história / Kátia Maria Abud, André Chaves de Melo Silva, Ronaldo Cardoso Alves.
– São Paulo: Cengage Learning, 2010.
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Por um ensino que deforme: o docente na pós-modernidade.
Disponível em: www.cnslpb.com.br/arquivosdoc/MATPROF.pdf. Acesso em: 01 nov. 2020.
FERREIRA, J. L. Homens ensinando crianças: continuidade-descontinuidade das relações de gênero na escola
rural. João Pessoa. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal da Paraíba, 2008.
GOMES, Andréa Regina de Carvalho. Gênero e Sexualidade na Escola. XI Congresso Nacional de Educação –
EDUCERE. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba, 2013. (pp. 20699-20706).
HOBSBAWM, Eric. História Social do Jazz: [tradução Angela Noronha], – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.
HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras/ bell hooks; tradução Bhuvi Libiano.
– 11ª ed. – Rio de Janeiro: Rosa Dos Tempos, 2020.
LEVI, Joseph Abraham. Estudos de Mulher e Gênero nos Estados Unidos da América. Séculos XIX-XXI:
Temáticas e Abordagens. 2007.(pp. 63 – 76).
MANOEL, Diogo Silva. "Música para Historiadores: [RE]Pensando Canção Popular como Documento e
Fonte Histórica.”. Encontro Regional de História: Profissão Historiador: Formação e Mercado de Trabalho, XIX.
Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora (2014).
MOREIRA, Ana Claudia. & SANTOS, Halinna. & COELHO, Irene S. A Música na Sala de Aula – A Música Como
Recurso Didático. UNISANTA Humanitas – p. 41-61; Vol. 3 nº 1, (2014).
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NAPOLITANO, Marcos. História & Música: História cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica,
2002.
SOARES JR. Azemar dos Santos. Ensino de História e Sensibilidade: O Ver, o Ouvir e o Imaginar Nas Aulas de
História. História & Ensino, Londrina, v. 25, n. 02, p. 167-190, jul./dez. 2019.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
1
Mestranda em História pela UFCG, professoraemanuellabezerra@gmail.com
2
BITTENCOURT; Circe Maria F: “Ensino de História: Fundamentos e Métodos” São Paulo. Ed Cortez, 2004. P. 33-55.
SUMÁRIO
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PLANEJAMENTO DO PROJETO
Sejamos professores de desejo, nos resinificar, nos
reconstruir a cada momento. Sandra Corazza
A frase dessa professora foi a última fala de um texto que li, em uma disciplina do
componente curricular ESO I, com a minha professora e amiga, in memoria Marisa Tayra, em
que questionava junto a mesma a solução para o ensino, para a escola como conseguiríamos
driblar o sistema tradicional educacional, esse que nos embrutece tanto. E claro, não chegamos
a um ponto final desta indagação e sim ao início de um belo parágrafo, logo procuramos nos
reinventar, procuramos antes de tudo o desejo pelo ensinar e aprender com a escola. Tais
reflexões são relevantes para pensar a escola como espaço de sensibilidade e questionar o
nosso lugar como docente.
Bom o que fazer para trabalhar conteúdos3 que eram tidos como desinteressantes para
os alunos? A antiguidade por apresentar um largo espaço de temporalidade com o
contemporâneo, oferece uma distância maior aos jovens adolescentes em pleno século XXI,
então começamos o ano letivo com um diálogo com as turmas 1ºF, 1ºC, 1ºB. Em que indicamos
para as turmas saber o “porque” eles deviam estudar história, qual o significado para as suas
vidas a história tinha. Muitas expressões foram apresentadas como: “estudar história é bom
para conhecer o passado” “é importante estudar história para saber o que aconteceu com
nossos antepassados” “estudar história é importante para sabermos os acontecimentos
importantes, as datas”.
Frases como estas, estão congeladas no nosso currículo e na própria formação
acadêmica da disciplina de história é preciso se liberta das correntes da escola tradicional e
que procurava apenas a memorização como Bittencourt exclama: os métodos de memorização
utilizados para os alunos dominarem inúmeras informações, o que, na prática significava
saber de cor saber a maior quantidade possível de acontecimentos da história nacional.
Evidentemente que estas práticas passaram a sofrer críticas mais tarde pelas professoras que
utilizavam os métodos ativos. Que eram propostas metodológicas que envolviam e
incentivavam os alunos na aprendizagem. É importante diferenciar a memorização consciente
do “saber de cor”, pois a memorização mecânica (de cor) é o grande vilão dos métodos de
aprendizagem. Entretanto, é necessária a memorização consciente para aprender História.
Porém outros resultados foram apresentados por uma minoria em sala de aula, que vão
demonstrar uma quebra com o currículo tradicional e com os métodos de memorização e que
a perspectiva histórico critica se torna mais prevalecente.
DISCENTE (A)
Eu estudo história e gosto da matéria de história pelo fato dessa matéria estudar coisas que já
aconteceram no nosso passado, mais que ainda hoje fazem parte do nosso presente mesmo
3
Antes do início das atividades do PIBID 2015.1, nos reunirmos com o coordenador geral que discutiu sobre a proposta
de estabelecer um ensino que se partilha da vivencia do aluno como Bourdier menciona parafraseando devemos nos
adaptar a vivencia do aluno e ao seu capital cultural, se não temos o erudito vamos buscar nos reinventar a partir da
realidade do meu aluno.
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acontecido a vários anos, sem a história não seriamos o que somos hoje. A história vai ser
sempre relevante ao nosso presente e também ao nosso futuro.
DISCENTE (B)
Eu gosto muito de história, essa matéria é muito importante para todos nós. Tem várias
histórias que é muito legal como por exemplo a Ditadura militar essa história foi a que eu mais
gostei na minha vida. Essa matéria é muito importante para obter conhecimento sobre nossa
cidade e outros lugares como a colonização Europeia e outros lugares do mundo.
DISCENTE (C)
Estudar história é muito importante, nela aprendemos coisas que tem sentido em nosso
cotidiano. A história estar presente em todos os lugares em nossa vida, na televisão. Agente
ver coisas impressionantes coisas que nunca vimos antes imagens que aprendemos com ela
[...] gente que não gosta de estudar história é porque não entende o significado dela.
Essas respostas são três exemplos 4 de um exercício proposto em sala de aula como
formar de fazer a abordagem dos conhecimentos prévios. Durante o semestre trabalhamos
com três turmas porém a metodologia aplicada em uma turma não apresenta o mesmo
significado que nas demais. Em uma turma começamos o ano letivo com uma proposta de
dialogar sobre a epistemologia do que seria a própria Clio a história e se a disciplina tinha
algum sentido para eles, porém em uma turma mais introspectiva fizemos a seguinte questão:
“Fale porque estudar história e qual o significado para seu cotidiano?”
Essa proposta não buscava respostas prontas e acabadas, queríamos o movimento o
questionamento dos alunos. Depois de ministrar aula sobre o seguinte conceito da disciplina
de história. Que abordamos como a disciplina seria no antigo modelo tradicional positivista e
como está se modifica com as reformas na academia e explicamos também a própria escola
que se modificava com o tempo.
Após a aula inaugural nos reunirmos com a professora supervisora na escola em que
nos incorporarmos com os alunos para sondar seus conhecimentos, sobre a temática,
procuramos nos reunir e saber qual o recorte histórico iriamos abordar para o conteúdo da
Antiguidade em que trabalhamos Egito e Mesopotâmia, o que estabeleceria em sentido e uma
aprendizagem significativa.
O Egito foi abordado no viés da história cultural, em que não procuramos apenas saber
o nome dos faraós, sua organização econômica mas algo que trouxesse sentido sócio cultural,
assim partimos com o documento do MEC5 em que se instrui trabalhar gênero desde o ensino
no fundamental I, O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006), assinado pelo
Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, parte da concepção de
que a educação em direitos humanos se faz paralelamente à educação para a valorização da
diversidade. Elaborado pelo Comitê Nacional de Educação e Direitos Humanos por meio de
diversas estratégias, entre elas consulta à sociedade civil, o Plano define como uma de suas
ações programáticas para a Educação Básica:
[...] fomentar a inclusão, no currículo escolar, das temáticas relativas a gênero, identidade
de gênero, raça e etnia, religião, orientação sexual, entre outros, bem como todas as formas
4
As atividades e fotografias do projeto se encontram no final do relatório em forma de apenso.
5
Ministério da Educação (CADERNOS SECAD) Gênero e diversidade na Escola: Reconhecer diferenças e superar
preconceitos. Brasilia,2007.
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Diferente das atuais sociedades ocidentais e do próprio Egito antes do contato com os
Gregos, o Egito antigo é exemplo de uma sociedade de matrilinear, em que a igualdade de
gênero prevalecia, diferente da nossa realidade em que feminicídios, homofobia e desrespeito
a tudo que não se encaixe ao padrão heteronormativo. Para compreender as relações de
gênero e o papel feminino na sociedade egípcia é importante ter em mente a organização
social, suas hierarquias e quais os segmentos sociais entravam nos registros escritos da época.
Segundo Gregory6 da Silva Balthazar a sociedade egipcia era organizada em hierarquias em que
o divino se encontrava no topo, sucedendo a figura do faraó e sua família que poderia ser homem
ou mulher e também representante divino, posteriormente os secerdotes, os burocratas,
escribas e a grande massa da população camponeses, artesãos e escravos que sustentavam a
economia e a base da piramide social.
“[...] a mulher que ocupava a posição de rainha era humana, elas eram, por extensão,
removidas da esfera mortal e dotadas de aspectos divino. A noção de realeza feminina era
complementar ao rei, e a conexão entre os dois significava que uma não podia existir sem
o outro” (ROBINS, 1996, p 42).
GÊNERO E DIVERSIDADE
O choque entre costumes e culturas existe e sempre vai existir na história, a partir do
ponto em que observamos dentro de um meio ao qual já estamos inseridos. Não podemos pôr
os fatos em relação ao que vivemos, e sim, aprofundar e conhecer a cultura daquele que
tratamos como estrangeiro. Não era de se admirar que os Gregos se surpreendessem com a
realidade encontrada no Egito, as mulheres dotavam de profunda liberdade, casavam-se com
que elas escolhessem e diferente dos gregos, e até mesmo das sociedades patriarcais que
estiveram sempre presente em todos os períodos da história, as egípcias tinha uma voz ativa
em sua sociedade, e ocupavam até cargo de poderes, como é o caso da primeira faraó mulher,
Hatchepsut4.
É possível que os homens, que deixaram os testemunhos de que dispomos, se
preocupassem em acentuar a sexualidade das mulheres para os seus próprios fins - que eram
ao mesmo tempo religioso e de prazer, mas não para a promoverem como força independente
e subversiva. A sua atitude em relação à sexualidade era ambivalente. Nas histórias, a sedutora
malvada é um tema comum e a poesia amorosa do Novo Império é frequentemente escrita nas
palavras da mulher ardente, neste caso sem os mesmos tons moralíssimos. Embora as
histórias tivessem elementos religiosos, ambas estas fontes dão-nos um ponto de vista secular
sobre o assunto.
Gênero com os alunos desde as vestimentas deles a sexualidade; usamos de mídias para
o enriquecimento da aula, mostramos como os homens e mulheres se vestiam, mostrando que
tanto homens quanto mulheres usavam túnicas e não eram descriminados pelas suas
vestimentas, trazendo essa questão para atualidade, que se homens usarem roupas como
túnicas são rotulados de gays na atualidade, mostramos que tudo passa por uma questão de
6
Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011
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construção histórico cultural em meio de como nós vestimos vai a partir dos nossos costumes,
e deixamos bem claro para eles que o quê vestimos faz parte de nossa subjetividade, claro que
é bom ressaltar que vivemos em tempos diferentes e que termos que usamos hoje não se pode
ser usado antes, pois cometeríamos anacronismo. Usamos de um filme brasileiro para discutir
a questão de gênero, o filme é “Hoje eu não quero voltar sozinho”. Após os alunos verem os o
filme fizemos uma boa discussão com eles.
Como analisar uma imagem, como olhar através da lente obscura, como olhar através
dos olhos? Onde buscar referência? A cupilagem fotográfica não é natural ela é histórica e por
ser histórica ela permeia marcadores sociais. Trata-se de identificar o papel do arquivo como
o depositário das memórias de experiências de homens e mulheres no tempo, suas lógicas de
seleção e descarte e o papel que as fotografias cumprem nesse contexto de guarda (MAUAD,
2007, p. 93). Como construir outras memórias das experiências e memórias vividas? Esse texto
é fruto e construção de uma prática pedagógica revisitada, mas daí a revisitar as imagens, e
utiliza-las como imagem documento histórico é outra perspectiva.
É na fotografia que vamos buscar a construção de modelo de beleza, uma padronização
e um conjuntos de elementos que vão ditar o que é belo e o que não é; logo o olhar fotográfico
a utilização de determinadas escolhas de cenário, vestimenta será um fator pré determinante
sobre o que é o belo e o que não, consequentemente o que está a margem deste padrão é posto
a margem e uma grande maioria é colocada em minoria alimentando um fosso social de
desigualdade social e econômica.
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descarte e o papel que as fotografias cumprem nesse contexto de guarda (MAUAD, 2007,
p. 93).
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Dois meninos, adolescentes descobrindo o afeto por si, sem o peso do pré julgamento,
só a beleza do sentimento, sem pré determinações. Um deles é cego o que traz toda uma
metáfora de conhecer o mundo pelos olhos do outro.
É preciso se ater ao fato de que a narrativa cinematográfica não é constituída para ser
um trabalho histórico, seu trabalho é interagir com o espectador, causar emoção, alegria, ou
seja, é uma ferramenta de atração para um público alvo apresentando outros elementos que
tentam fazer representações, neste caso medievais. O que faz com que o trabalho das
historiadoras e dos historiadores sejam mais cuidadoso com a apropriação histórica de um
determinado filme, observando elementos de composição sonora e visual, e estudando a
narrativa do filme, as referências que o diretor e o roteirista utilizam para tal filme. A narrativa
cinematográfica para Marc Ferro tem duas dimensões: o filme que passa a ser um instrumento
de um testemunho histórico contemporâneo a época de sua produção e o filme que trata de
personagens históricos que lhe permite uma leitura do passado, tornando-se, portanto criador
de consciência histórica, mas fora da perspectiva analítica que lhe é própria. (MACEDO, 2009,
PP 13-25).
Nesta segunda fotografia, eu havia proposto após o filme e pós debates uma produção
textual, geralmente eles não gostavam de expressar-se ler em voz alta, era uma turma com um
perfil mais contido, mais calados, porém gostavam muito de escrever. Esse aluno de camisa
azul da gincana do ano passado, era um aluno da zona rural, muito dedicado, sempre chegava
mais cedo, às vezes trazia seu pão e comia na escola. Neste dia ele pediu “professora eu escrevi
um texto posso ler em voz alta?” Eu imediatamente disse claro que sim. Aquele menino
expressou tantos silêncios, tantas experiências da sua vida escolar que lhe sufocava e dentre
as frases estava “mas eu aprendi que nem sempre foi assim”. E isso me tocou, havia passado 1
semana do nosso encontro e as ideias passaram o final de semana martelando as mentes. E
somente talvez tenha sido o assunto da hora do intervalo, da sala dos professores; nem que
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seja a triste frase que ouvi de uma colega que trabalhava na instituição “a professora passou
filme de veado”, e não preciso discorrer que o assunto rendeu bastante na época.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro da minha narrativa histórica como professora mais vejo e aprendo que ensinar
história não está nos livros, não está nos manuais, aproximo as estratégias e práticas aos
educandos, ao olhar sensível a cada indivíduo; não estou rasgando aqui as normas e regras,
nem as memórias que visitamos, mas alegando que o saber conteudista sem sentido para os
alunos em nada ira significar e transformar essa sociedade, é preciso colocar a mão na colmeia,
levar umas picadas para poder colher o mel, assim e a partir da minha primeira abordagem de
gênero no ensino, observo a construção da professora que se faz. O ensino de história como
disciplina humanística foi um dos setores mais oprimidos no Brasil, desde a universidade a
escola. Na contemporaneidade os desafios e questões são: como fazer um aluno que não tem
muitas vezes a ideia de o porquê estar ali sentado naquela escola, questione o tempo inteiro
para que estudar história? Coisa do passado, Coisa de velho, Aqui não tem história. São falas
corriqueiras do alunado. Falas como essa fazem com que o professor de história ganhe um
desafio a cada aula, para que o aluno construía um saber que tenha sentido para sua vida.
Derrubar as concepções que o professor é detentor de um saber absoluto, acabar com as
concepções que muitos alunos têm sobre o professor de história, são desafios que nos
estudantes de licenciatura temos quando assumirmos nosso trabalho na escola. Afinal o que
somos enquanto professores de história? E qual o nosso devir de pesquisador sobre o ensino
de história?
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe. M. F. Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: 11. Ed. Contexto, 2008.
BLOC, Marc. Apologia da História, ou, O oficio de historiador. Tradução: André Telles. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar,2001.
CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação,
Porto Alegre, n. 2, p. 117-229, 1990.
CIAVATTA, Maria. O Mundo do Trabalho em Imagens: Memória, História e Fotografia The Working World in
Pictures: Memory, History and Photography
DEMO, Pedro. Pesquisa e Construção de Conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. 4. ed.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000.
FREIRE, Paulo. Professora sim tia não. 16. Ed. São Paulo: Olho d´água, 2006.
NADAI, Elza. O ensino de História e a pedagogia do cidadão. In: PINSKY, Jaime (org.) O ensino de história e a
criação do fato. São Paulo: Contexto, 1991. P. 28.
SAVIANI, Demerval. A escola Pública no Brasil: história e historiografia. Campinas – SP: Autores Associados,
2005.
SILVEIRA, Josiane Alves da. Ensino de História: Na busca de novas atuações, abordagens e perspectivas. História
& Ensino, Londrina, v. 18, n. 2, p. 203-232, jul./dez. 2012.
SOUZA, Aline Fernandes. A Mulher-Faraó: Representações da rainha Hatshepsut como instrumento de
legitimação (Egito Antigo) – Século XV A.C. Dissertação de Mestrado, no programa de pós-graduação da UFF.
2010 P 26-32.
ROBINS, Gay. Reflections of Women in the New Kingdom. San Antonio: Siclen Books, 1995.
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INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a pesquisa de gênero no Brasil tem ocupado um espaço cada vez
maior no meio acadêmico, exatamente por ser um assunto tão relevante no meio social e
cultural, sendo foco em vários congressos, colóquios e seminários, a exemplo deste trabalho,
que parte da observação de como a mulher está disposta no ensino de História, traremos a
discursão de algumas metodologias que tornem viáveis, no sentido de visibilizar e refletir a
respeito da figura feminina em sala de aula.
O nosso trabalho destoa dessa visão que configura a mulher como elemento secundaria,
de figuração3, cujas qualidades e requisitos ideais são referenciadas como donas do lar, gentil,
amável e dócil, enquanto o homem sempre viril e protetor da mulher, Sobre esta construção
da figura feminina e masculina dialogaremos com (COLLING, 2002). Esta história contada em
sala de aula, pode, reproduzir no imaginário dos discentes e consequentemente se refletir na
sociedade, neste debate sobre a escola como espaço de reprodução de violência simbólica,
conversaremos com (BOURDIEU, 2009).
Desta forma, nossa proposta visa trazer, dentro do ensino de história a mulher para o
lugar que é dela por direito; a mulher não fora só cuidadora, nem sempre do lar, ela ocupou
espações de luta e resistência, nesse contexto traremos de algumas possibilidades
metodológicas para trabalhar Dandara dos Palmares, através da música, no qual o docente
pode encontrar algumas possibilidades para os alunos conhecerem melhor essa agente
histórica, e a paraibana Margarida Maria Alves que fora uma sindicalista e defensora dos
direitos humanos, e será trabalhada através de os versos de cordéis.
O primeiro modelo de ensino de história que trouxe a história como disciplina escolar
surgiu no século XIX, na França, inspirados pelos movimentos de tornar a sociedade
independente de qualquer discurso religioso. No Brasil, a instalação de história enquanto
disciplina também se deu através de uma disputa das autoridades religiosas versus o avanço
da laicidade civil, sobre essa inserção do ensino de história no Brasil é colocado que:
1
Graduada em História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
2
Mestranda em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
3
Aquela ou aquele, que sozinho ou misturado a um grupo de pessoas, ocupam um papel secundário ou insignificante.
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A partir dessa breve amostra a respeito dos prelúdios do ensino de história no Brasil,
partimos para a questão da visibilidade da figura feminina no ensino de história enquanto
agente histórico. Uma breve observação sobre a historiografia das mulheres, nos revela que
apenas a partir da terceira geração do Annales que as mulheres foram incluídas nas produções
historiográficas, tendo como uma das principais expoentes a Michelle Perrot na França, ao
analisar os “Excluídos da História”, a partir das pesquisas de sua vida cultural e social. Essa
então exclusão da mulher como agente histórica, até hoje é sentida, de modo que as narrativas
históricas carecem na maioria das vezes de sua participação ativa, refletindo em um ensino de
história na qual a presença masculina e dos heróis brancos, figuram a participação das
mulheres e de outros sujeitos históricos nos bastidores e nas margens.
Nessa perspectiva como Pontua, Burke (2010) a história das mulheres serviu como um
sinal para uma nova perspectiva, perspectiva essa, de arquitetar outras esferas do passado,
com personagens que até então estavam sendo esquecidos. (PETER BURKE, 2010).
Desta forma, observamos que a história das mulheres fora abordada de forma vagarosa
em comparação a história dos grandes heróis que são destacados no ensino de história, a partir
desta problemática, levantamos alguns questionamentos, tais como: Como as mulheres estão
sendo apresentadas em sala de aula? Essa apresentação é satisfatória para os dias atuais? De
que modo queremos ensinar essa história?
A história das mulheres em sala de aula deixa a desejar, pela invisibilidade da figura
feminina, ser ainda, uma questão muito recorrente, principalmente no ensino de história,
tendo em vista que a escola se faz como espaço pedagógico que produz e reproduz tendências
sentimentos sobre o masculino e feminino. Essas concepções são assentadas em uma
manifestação de um discurso das diferenças, biológica, corporal e cultural, que se expressão
cotidianamente através da linguagem e práticas a diferença sexual é sempre construída pelos
discursos que sustentam e a legitimam. (CHARTIER, 2002).
A investigação do ensino de história em sala de aula nos traz uma notória desigualdade
na presença da figura masculina e feminina em imagens e textos, estes discursos se
transmutam em instrumentos sexistas em sala de aula, e tem contribuído para um pensamento
educacional patriarcal e o silenciamento da história das mulheres no ensino de história, sobre
isto, Tedechi coloca: “Basta percorrer o panteão das ilustres e veneradas figuras pedagógicas
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brasileiras para perceber que as teorias educacionais foram construídas pelo masculino”.
(Tedeschi, 2006, p. 2).
Podemos usar como exemplo a escrita de Aristóteles que fora um dos primeiros à
escrever em meio diversos assuntos, sobre as mulheres, ele diz que, esta metade da
humanidade é descrita como inferior, não muito digna de confiança, insuficiente desenvolvida,
pouco inteligente e assim por diante (...) A justificação da autoridade é baseado no princípio
de que o “macho é mais apto para a direção do que a fêmea...” (COLLING,2002).
Vale destacar também que o ensino de história no ato de selecionar currículos e
conteúdos, colabora para sustentar ou questionar conteúdos estipulados de como explicar a
história em sala de aula, que normalmente se fazem por meio de dualidade, operando entre o
privado e público, masculino e feminino, dominante e dominado. Referente os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s) Monteiro e Méndez, colocam:
“Para tanto, faz-se necessário discutir os currículos para a área (...) Implica em observar,
entre outros aspectos, as políticas e diretrizes educacionais. Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN’s) para a área de História apontam a relevância de uma práxis educacional
que seja inovadora, que busque aproximar-se de tendências teóricas capazes de refletir
sobre a pluralidade da produção historiografia.”(Monteiro, Méndez, 2012, p. 2)
Ao pensar e estabelecer o que será ensinado nas aulas de História, é preciso levar em
consideração as estruturas de dominação social, as formas de violência simbólica
reproduzidas por agentes sociais e instituições entre elas a escola (BOURDIEU, 2009). Ainda
sobre a escola enquanto estrutura de dominação: “Todo sistema de educação é uma maneira
política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes
que eles trazem consigo.” (FOUCAULT, 1970). Michel Foucault tem teorias pautadas na relação
entre poder e conhecimento, e de que forma essas relações podem controlar a sociedade.
Desta forma podemos perceber que a escola como meio de propagação das relações de
poder, merece nossa atenção enquanto docente da disciplina de História, para tornar viável a
visibilidade das mulheres enquanto agente sócio cultural, as alternativas metodológicas para
tal feito, serão abordadas nas próximas páginas do nosso artigo.
O Ensino de História ainda parte de uma visão masculina da história, comumente nas
aulas falamos dos grandes líderes políticos, dos heróis, dos guerreiros, das personalidades
masculinas que mudaram o rumo da história por levantes, traições, reivindicações, tudo
porque, durante muito tempo na historiografia a história foi dominada por um viés político da
qual não abarcava a diversidade e as complexidades dos sujeitos da história, conforme cita
Martinho Guedes dos Santos Neto (2008): “A história política tradicional cunhou uma visão
institucionalizada do poder definindo os temas e os objetos. Ela pretendeu ser memória, na
medida em que privilegiou os Heróis, as personalidades políticas e as guerras” 4. Nesse sentido,
sujeitos como mulheres, negros, índios, ciganos, dentre outros grupos apareciam nas margens
ou nos bastidores da história.
4
NETO, Martinho Guedes dos Santos. História ensinada: linguagens e abordagens para a sala de aula. João Pessoa:
Ideia, 2008. Cultura Política e Poder: Perspectivas Para o Ensino de História. P, 135.
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5
Cardoso, Marco Antônio. O movimento negro em Belo Horizonte: 1978-1998. Movimento Negro: Quilombo,
Resistência e Identidade. Marcos Antonio Cardoso. 2. Ed. – Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011.
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Percebemos nesses versos a importância que a figura histórica representa para muitas
mulheres negras, que buscam em personalidades como Dandara uma identificação com a
história, que mostrem negras para além das narrativas da ama de leite, escravizadas
domésticas, da exploração nas lavouras, partindo para histórias que mostrem negras e negros
ativos contra o sistema que maculavam seus corpos, mentes e almas. Ainda temos muitas
Dandaras para conhecer, do passado e do presente, igualmente importantes para serem
trabalhadas em sala de aula.
A despeito das músicas, o professor pode dividir a turma em grupos nos quais eles
podem pesquisar músicas sobre Dandara e apresentá-las em sala de aula, assim como criar
seus próprios versos a partir do que foi discutido pelo docente, bem como no livro didático,
fazendo um paralelo de como essa agente histórica é trabalhada no livro e nas canções levadas
em sala de aula.
Outra importante agente histórica da luta social e política, é a paraibana nascida em
Alagoa Grande, Margarida Maria Alves. Não, ela não nasceu na mesma época que Dandara, a
sindicalista nascera em Agosto de 1933, mais de 200 anos as separam, inclusive suas
reivindicações, contudo, tinha algo que as aproximavam, o fato de preferir morrer na luta, a se
entregar aos algozes. Margarida Maria Alves tinha como principal lema “É melhor morrer na
luta que morrer de fome”, fala a primeira mulher presidente do sindicato dos trabalhadores
rurais na cidade que nascera, tendo como seu propósito de vida a defesa dos direitos dos
trabalhadores sem-terra, tendo uma participação ativa nas reivindicações e denúncias por
melhores condições de vida. A ação de Margarida Alves foi tão significativa que acionou a
covardia e o medo dos latifundiários:
“No dia 12 de agosto, do ano de 1983, novos tiros, novas mortes assombraram o mundo
camponês brasileiro. Desta feita, atingiram a Presidenta do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Alagoa Grande (PB), Margarida Maria Alves, assassinada, covarde e
barbaramente, pelos senhores de terras do Brejo paraibano. Seus algozes seriam
amparados pela justiça paraibana, permanecendo impunes até os dias de hoje.”
(FERREIRA, 2017, p.11).
Margarida Maria Alves é uma importante agente histórica para o professor abordar em
sala de aula em diversas temáticas, como: a representação feminina no âmbito regional, assim
como na luta pelos direitos civis e trabalhistas, acionando outras agentes históricas como, por
exemplo, Elizabeth Texeira; no campo da história local de Alagoa Grande; questionar e refletir
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sobre os conflitos de terra não apenas na região paraibana, mas a nível nacional, uma vez que
a problemática da terra é algo que sempre existiu em nosso país, presentes na luta do MST e
também dos grupos indígenas que nunca deixaram serem atacados pela posse de suas terras.
Para trabalhar Margarida Maria Alves em sala de aula, escolhemos os versos de cordéis,
uma vez que existem amplas possibilidades para o alunado criar e pesquisar, a exemplo da
poesia do paraibano Medeiros Braga (2008), sobre Margarida Maria Alves 6:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
NADAI, Elza. O ensino de história no Brasil: trajetória e perspectiva. Revista Brasileira de História, v. 13, n.
25/26, p. 143-162, 1992.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
CHARTIER, Roger. A história entre narrativa e conhecimento. In: À beira da falésia. A história entre certezas e
inquietudes. Porto Alegre, Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
PEREIRA, Nilton M. & SEFFNER, Fernando. O que pode o ensino de história? Sobre o uso de fontes na sala de
aula. Revista Anos 90. Porto Alegre, v. 15, n. 28, dez. 2008.
BRAGA, Medeiros: Cordel Margarida Maria Alves, disponível em: http://www.rnsites.com.br/cordeis-
margarida.htm. Acessado em: 03/11/2020
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula: Livros didáticos entre textos e imagens. São
Paulo:Contexto, 2012. P.69
CARDOSO, Marco Antônio. O movimento negro em Belo Horizonte: 1978-1998. Movimento Negro:
Quilombo, Resistência e Identidade. Marcos Antonio Cardoso. 2. Ed. – Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011.
FERREIRA, Ana Paula Romão de Souza. Margarida, Margaridas: memória de Margarida Maria Alves (1933-
1983) através das práticas educativas das Margaridas/ Ana Paula Romão de Souza Ferreira. – João Pessoa:
Editora da UFPB, 2017
NETO, Martinho Guedes dos Santos. História ensinada: linguagens e abordagens para a sala de aula. João
Pessoa: Ideia, 2008. Cultura Política e Poder: Perspectivas Para o Ensino de História. P, 135.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Editora
Universidade Estadual Unesp, 2010.
MONTEIRO, Katani Maria Nascimento; MÉNDEZ, Natalia Pietra. Gênero, biografia e ensino de História. AEDOS,
v. 4, n. 11, 2012.
Link das músicas:
Dandara – artista: Bia Nogueira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UdXza6OMpH0. Acessado
em: 03/11/2020
Dandara – artista: Nina Oliveira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vr7NlJbpf74 . Acessado
em: 03/11/2020
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“E a gente vai à luta e conhece a dor, consideramos justa toda forma de amor”
1
Walber Ferreira da Silva é graduado em História (UFCG); Especialista em História do Brasil e da Paraíba (Faculdades
Integradas de Patos - FIP); Aluno do Mestrado do PPGH (UFCG); Professor da rede pública municipal da cidade Cubati
– PB.
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aceitá-lo. Eu sentia na pele o quanto era abjeto para aquela senhora, temido como uma ameaça
a estabilidade da comunidade, a perturbação da ordem.
Os gays da comunidade escolar, deveriam ser, imediatamente interditados em suas
palavras, em seus corpos performáticos, caracterizando o currículo oculto e biopolítico,
comprometido com uma imposição heternormativa. Em nome da decente família, era acionada
a polícia dos enunciados. A mãe começou a mobilizar as pessoas próximas a ela, sobre esse
“escândalo” que seria o desfile cívico da cidade. A história passava a ter muitas versões, a
população da cidade se dividia entre os que estavam a favor da família, da moral e bons
costumes e aqueles que estavam do lado dos imorais, gays depravados, que queriam
influenciar seus filhos a partir de suas práticas pedagógicas, de suas sexualidades desviantes.
A notícia viralizou nas redes sociais e os comentários a favor ou contra, fez acirrar os
ânimos dos sujeitos envolvidos, em uma situação que não deveria tomar tais proporções. Não
havia, no esboço do professor de artes, nada que ferisse a moral da família, não havia a
intenção de se colocar corpos nus, considerando que a nudez seja também um ponto a ser
questionado ou debatido por parte de uma moral cristã. Apenas o desejo de se colocar em
pauta um debate transversal sobre igualdade de gênero e respeito às minorias ou mais
precisamente aos LGBTQs, mostrar pedagogicamente, que esse grupo, muitas vezes silenciado
e interditado, existia. Talvez tenhamos errado na metodologia, ou não ter abordado o tema
com a comunidade escolar, de forma prévia, ter promovido um debate não para se assimilar a
“diversidade”, mas para se discutir criticamente as “diferenças”.
Quantos alunes, alunas e alunos LGBTQ não se sentiriam representados por nós
naquele instante. Quantos alunes, alunas e alunos não LGBTQ aprenderiam o respeito à
diferença? Me coloquei como um defensor dos Direitos Humanos, tentando levar à cabo o tema
do desfile, porque só num contexto de paz, seria possível pensar nos chamados “direitos
individuais” e “direitos coletivos”. Esse meu esforço pessoal e consciente não só de minha
responsabilidade profissional, bem como de meu papel enquanto sujeito histórico, não
conseguiu adesão ao coletivo. Fiquei falando em meio à multidão, eu e o professor de artes,
que não podia se manifestar em razão de ser um professor contratado, parecia que estávamos
sozinhos remando num mar em fúria contra a nossa existência.
A secretaria de educação da cidade nos chamou para uma reunião e pediu para que
mudássemos nossas estratégias sobre o desfile cívico. Prontamente atendemos ao pedido da
gestão municipal e o já famoso “armário” não foi visto no desfile. Ele foi visto nas redes sociais,
problematizado por pais, que viam nessa prática educativa, a ameaça da feminização de seus
filhos. Pais que também estavam desempenhando suas práticas educativas da sexualidade,
como o machismo ou mesmo a homofobia.
Estávamos sendo encurralados por discursos que não queriam nos invisibilizar, mas
também não queriam nos dar sossego. Por ser uma cidade pequena, era o assunto do
momento, ouvíamos as vozes de quem falava nas calçadas, quando passávamos, os risos e
olhares de reprovação. Já estávamos sendo punidos sem nem mesmo, haver a materialização
daquilo que só foi apenas pensado como uma ideia a ser posta em prática.
Essa heteronormatividade que nos censurou, também impunha regras para os demais,
a exemplo dessa mãe machista e homofóbica que liderou esse movimento contra,
ironicamente, aquilo que estava sendo proposto no desfile, a paz. Essa experiência educacional
que nos afetou, foi costurada por padrões morais que se traduziam em normas e regras de um
dado recorte temporal, e que mesmo de forma indireta nos colocavam subalternizados e
abjetos.
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Sem deixar-nos abater, precisávamos de uma reviravolta tática, uma vez que, invisíveis
já não éramos mais, diante da dimensão causada por esta celeuma. Então, partindo da ideia
abortada, mas trazendo uma outra abordagem sobre a temática pretendida, convidamos mães
de LGBTQs para participar do desfile cívico. Estas levavam placas e cartazes, com dizeres
contra a homofobia.
Assim, não fomos impedidos de discutir o tema, de abordar de maneira leve a questão
da “paz na diversidade”, que também falou de religiões e outras subtemáticas associadas, mas
nenhuma delas, causou tanto desconforto quanto a do amor, que segundo Oscar Wilde que
viveu na era vitoriana, não poderia ousar dizer seu nome.
O Dia da Pátria foi criado ainda no governo Dutra em 1949, após a ditadura militar de
1964, a ideia do civismo encarnou os desfiles, que mesmo sendo apropriados por outras
formas de abordagem como a cidadania, proposta pela secretaria de educação do município,
eles ainda não perderam seu caráter autoritário e repressor, não apenas político mas também
constitutivo de um estado-nação e que também neste nível cultural colaboram para a
reafirmação dessa masculinidade hegemônica neste contexto local.
A mãe que iniciou esta querela, contrária ao respeito e ao reconhecimento às
diferenças, protestando agora de forma silenciosa, por nós estarmos femininizando um desfile
cívico carregado de signos do masculino, e reafirmando seu lugar machista e heteronormativo,
foi às ruas assistir a escola desfilar, vestida de preto, debaixo de um sol escaldante de nosso
desabrochar da primavera no Curimataú paraibano. Ao vê-la, percebi que aprisionada estava
ela, encarcerada simbolicamente naquele luto, num sol à pino, dentro de uma moral construída
não somente para os nossos corpos, mas para o dela também. Talvez o luto fosse por ela
mesma, não conseguir, performar seu gênero com criatividade, como estávamos fazendo.
Muitas pessoas olhavam com reprovação a participação das mães no desfile, chegavam
a tirar fotos delas com suas placas carregadas com mensagens de empoderamento,
contrariando o auto propalado desinteresse em questões relativas à sexualidade.
O pensamento pós – estruturalista presente no texto de Michel Foucault (2014), foi o
meu amparo durante a escrita deste artigo, apoiando-me com a sua análise sobre a hipótese
repressiva e a incitação aos discursos. Assim, busquei refletir sobre uma das práticas
educativas da sexualidade, a homofobia, dentro de uma escola de ensino básico, seus discursos
de interdição dos corpos, e a produção desses sujeitos e suas performances de gênero.
A escolha deste recorte temporal se deu por ter sido um dos casos mais emblemáticos,
em vinte anos de trabalho, em escola pública em Cubati. Deixando-me marcas que me
reelaboraram enquanto sujeito histórico. Vale lembrar que somente em Junho de 2019, o
Supremo Tribunal Federal, determinou que a discriminação por orientação sexual e
identidade de gênero passasse a ser considerada um crime e mesmo assim, a morosidade da
lei nos traz a sensação de um tempo bastante lento, deixando-nos próximos desta vontade de
nos interromper, de nos interditar.
Como fonte, trago uma narrativa de minha vida, como disse anteriormente, um
pequeno recorte, uma elaboração provisória completamente exposta a possíveis correções
posteriores, considerando esta arte de viver como um eterno devir, um eterno (re) elaborar
de minha existência, suavizando marcas que ao serem feitas, doem a princípio, mas que as
carrego com orgulho e sem nenhum arrependimento, pois elas dizem um pouco de mim.
Apesar das diferenças não serem respeitadas em meio a diversidade, o tema proposto
à nossa comunidade escolar repleta de sujeitos LGBTQs, nos conduzia à fala, ao grito, ao eco
de nossas vozes e ao brilho de nossos corpos performáticos, o que não diminuiu ou ofuscou a
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narrativa do desfile, quanto ao tema e sua abordagem para outros segmentos como a religião,
por exemplo. Para além disso, o desfile cívico, nunca deixou de ser uma aula de história,
embora elaborada a partir de um tema que veio de cima (secretaria de educação), ela foi
planejada pelo professor de artes e supervisionada pelo gestor da escola, cuja formação
docente é em História.
Durval Muniz (2019) nos reforça o pensamento: “Uma aula, como a própria origem da
palavra indicia, deve basear-se numa atividade de discussão, de partilhamento de ideias, de
emulação entre distintas posições”. Assim, pudemos perceber o quanto foi importante, o tema,
a abordagem, as discussões entre os sujeitos envolvidos da comunidade escolar, pais,
professores, secretaria de educação, todos estes, estavam se posicionando, debatendo. Mesmo
que dentro dessas narrativas, houvesse práticas educativas da sexualidade como o machismo
e a LGBTQfobia, não nos calamos. O mesmo dispositivo de sexualidade que nos aprisiona e nos
silencia, foi o que nos deu corpo e voz para falarmos de nós mesmos, de nossas existências, de
nossas identidades e diferenças.
Falar de si, num espaço educativo, como o desfile cívico, foi um ato de transgressão,
desordenando as regras que nos foram postas, com a ingenuidade legítima em acreditar que
estávamos vivendo tempos de liberdade, tempos de “paz na diversidade” de opiniões, de
religiosidade, de desejos, de identidades, de sexualidades.
Em Cubati, a prática do desfile cívico é carregada de vários sentidos, assim, concordo
com Sandra Pesavento (2003), ao dizer que ao lermos um texto, percebemos outro. E nessa
leitura intertextual da prática pedagógica, percebemos o que Foucault (2014) chama de “rede
sutil de discursos, saberes, prazeres e poderes”, se entrelaçando, formando esse retalho que
busquei narrar, a partir de minhas memórias.
A mãe que tentou regular e defender uma das masculinidades hegemônicas, na escola,
alegava que não cabia discutir gênero, nem na sala de aula e muito menos num desfile cívico,
tomando de assalto, a autoridade do professor e da própria escola, passando ela a (des)educar
com seu machismo e sua homofobia. Era o poder da mãe enunciado em seu discurso
autorizado, não apenas a falar de sexualidade como de desautorizar qualquer um que o falasse
fora do espaço educativo e pedagogizante da casa.
Ao passo que, enquanto educadores, dizíamos que falar de sexualidade, de gênero, é
sim, possível e necessário, não para deslegitimar o lugar de autoridade da mãe ou mesmo do
dispositivo de aliança que é a família, mas para desestabilizar preconceitos arraigados,
bagunçar, como um aluno indisciplinado, uma outra prática educativa da sexualidade que
anula o prazer homoafetivo, que o interdita e o silencia.
O dispositivo de sexualidade que tentou nos emudecer, também nos deu a palavra, não
apenas a mim e ao professor de artes, bem como aos alunos que se engajaram no projeto, além
das mães daqueles estudantes homoafetivos. Entre o silêncio e a fala, não houve uma disputa
ou queda de braço, mas uma (re)construção de padrões masculinos hegemônicos, que se
cruzaram e alinhavaram, um tecido de relações expostas.
A presente pesquisa não tem a pretensão de ser conclusiva. Ela faz parte do início de
uma investigação de um projeto de mestrado em andamento. A pesquisa é um processo de
libertação e aqui pego por empréstimo um conceito de Foucault (2014) para dizer que esses
discursos postos nesta narrativa, são instrumentos e efeitos de poder, pontos de resistências
e ponto de partida para uma escrita de si mais longa, que vai abarcar um recorte de tempo
maior. E o nosso papel como educadores e constitutivos deste biopoder, é preparar nossos
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 40
alunos para conviver com as diferenças, é estimular não somente a empatia, mas criar laços
de solidariedade para sermos resistência em tempos de obscurantismo.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. O tecelão dos tempos: novos ensaios de teoria da História. São Paulo:
Intermeios, 2019.
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Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 1ª ed. São Paulo, Paz e Terra, 2014.
MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: Um aprendizado pelas diferenças/3ª ed. rev. e ampl.; 1 reimp. – Belo
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Diversidade
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 3ª ed.; 1ª reimp. – Belo Horizonte: Autêntica Editora,
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escrita. Athenea Digital – 13(3): 243-263. (noviembre 2013).
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
apesar das permanências que lembravam o ensino do século anterior, marcado pela
monumentalidade dos feitos atribuídos a heróis nacionais e um ensino tradicional sem
espaço para discussões, reflexões, promoção da autonomia do pensamento, no final da
segunda metade do século XX novas discussões e mudanças nos pressupostos teórico-
metodológicos da história e da educação contribuíram para a construção de propostas
didáticas e curriculares marcadas por diferentes concepções de ensino, aprendizagem e
avaliação.
1
Graduado e Mestre em História - UFRN
Professor de História - Secretaria de Estado da Educação e da Cultura - SEEC/RN
SUMÁRIO
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2
A atividade foi desenvolvida de forma assíncrona – em virtude do contexto de aulas remotas provocado pela
Pandemia da COVID-19 – na Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel (Natal/RN), na qual exerço minha prática
docente em História há mais de uma década. Ressaltamos que os posicionamentos dos discentes objeto desse artigo
dizem respeito exclusivamente às atividades respondidas e postadas na plataforma digital da Secretaria de Estado da
Educação e da Cultura (SEEC/RN), o SEEC-SIGEduc – Sistema Integrado de Gestão da Educação. A turma do 2º ano
Integral é composta por 28 alunos (09 homens e 19 mulheres) e, desse total, foram respondidas e postadas 17
atividades. Já a turma do 2º ano Técnico (Curso Técnico em Sistemas de Energia Renováveis) é composta por 19 alunos
(12 homens e 07 mulheres) e, desse total, foram respondidas e postadas 12 atividades.
SUMÁRIO
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Mulher, mulheres: como seriam no passado? O que faziam? Como viviam, ou melhor,
sobreviviam? [...] [Na América Portuguesa], sua quase invisibilidade as identificava “aos de
baixo”. Isso porque a maioria das mulheres era analfabeta, subordinada juridicamente aos
homens e politicamente inexistente. Sua condição as excluía de qualquer exercício de
função nas câmaras municipais, na administração eclesiástica, proibindo-as de ocupar
cargos de administração que lhes garantissem reconhecimento social. O sistema patriarcal
instalado no Brasil colonial, sistema que encontrou grande reforço na Igreja Católica, que
via as mulheres como indivíduos submissos e inferiores, acabou por deixar-lhes,
aparentemente, pouco espaço de ação explícita (PRIORE, 2000, p. 9-10).
3
Ressaltamos que a atividade se refere ao período colonial da História do Brasil (1500-1822) porque tal período
compõe o currículo de História das turmas citadas. Sendo assim, dentro dessa periodização pesquisamos e planejamos
a atividade para que os/as alunos/as percebessem as perspectivas diversas sobre uma mesma espacialidade e
temporalidade históricas. Ressaltamos, ainda, que a atividade proposta envolvia vários aspectos, todavia, nos limites
da discussão proposta no presente artigo, abordaremos somente as questões referentes ao papel da mulher no
período colonial.
SUMÁRIO
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mostrando como o ser social, que ela é, articula-se com o fato social que ela também fabrica e
do qual faz parte integrante”, partir daí, construir os posicionamentos objeto de nossa análise.
2 - A(s) perspectiva(s) dos discentes sobre novos temas nas aulas de história
as propostas curriculares que concebem o currículo e a educação dentro dos padrões mais
atualizados constroem a trama expositiva procurando envolver o aluno por meio da
problematização dos temas, de sua abordagem, da relação necessária com o mundo
cultural do aluno; as atividades constituem o cerne do trabalho pedagógico apresentado,
pensando sempre do ponto de vista da construção de um conhecimento escolar
significativo. [...] Trata-se, portanto, de ensinar os alunos não a contemplar o “edifício da
História” como algo já pronto, mas ensinar-lhes a edificar o próprio edifício.
4
Ressaltamos que para fazer referência direta às respostas dos/as alunos/as, os nomes oficiais foram substituídos por
nomes dos deuses e deusas da mitologia grega.
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO
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REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
Ensino de História e Novas
Tecnologias
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Certamente falar do litigioso campo da História e de seu ensino em sala de aula não se
confere numa tarefa simplória, principalmente em virtude da gama de produções existentes
sobre tais temáticas. Assim, como não é pretensão esgotarmos este assunto, nem, tão pouco,
dizermos o que já fora dito, neste momento tentaremos fornecer uma visão panorâmica acerca
do campo da História, bem como o ofício do historiador, e das propostas atuais do ensino da
disciplina, a fim de contextualizar o nosso objeto de estudo: o ensino da Segunda Guerra
proposto nos Objetos Educacionais Digitais2.
Comecemos pela indagação “o que é História? ”. Muitas são as respostas possíveis para
tal questão, em vista das lentes culturais 3 de quem observa tal campo, como por exemplo
designar a História como: “a ciência dos homens no tempo”; o “diálogo interminável entre o
presente e o passado”; “uma dialética da duração”; uma “forma científica da memória coletiva”;
o estudo “das transformações complexas ao longo do tempo”; “a narrativa de
acontecimentos”4.
Diante da pluralidade de respostas, adotamos aqui o que escreveu Marc Bloch, na obra
Apologia da História ou ofício do historiador (2001), para pensarmos o vasto campo da História
como a ciência dos homens no tempo (p.55). Se a História e, por conseguinte o historiador, se
debruça no estudo do “ser humano no tempo”, precisa levar em consideração, para tanto, os
vestígios deixados pelo seu objeto de estudo, conhecidos por fontes ou documentos. Podemos
afirmar, com toda certeza, que sem documentos não se faz História.
De início ligado à escrita, e tido por prova cabal dos fatos, a concepção do que viria a
ser documento se ampliou em virtude dos Annales5, e a “entrada em cena” de novos métodos
e novas abordagens no campo da História.
Não podemos deixar de considerar que os documentos são fabricados em uma dada
sociedade, em um dado contexto histórico, e que, portanto, precisam ser questionados já que
1
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS)
2
Objetos Educacionais Digitais, ou simplesmente OEDs, são conteúdos multimídias em formato DVD que integraram
os livros didáticos aprovados pelo PNLD 2014, e foram distribuídos para o ensino fundamental maior das escolas
públicas brasileiras, para serem utilizados durante o triênio 2014, 2015 e 2016.
3
Ver: LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
4
Definições retiradas: ALVES, Francisco José (org.). Segunda unidade: os usos sociais da historiografia (Material da
Disciplina de Introdução à História). São Cristóvão: UFS, 2011.
5
Revisa Annales d’Histoire Économique et Sociale, criada em 1929 por Bloch e Febvre “com o explícito objetivo de
fazer dela um instrumento de enriquecimento da história, por sua aproximação com as ciências vizinhas e pelo
incentivo à inovação temática” (BURKE, 1997, p.4). Ver: BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989). São Paulo,
Fundação Editora da UNESP, 1997.
SUMÁRIO
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eles resultam do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro, voluntária ou
involuntariamente, determinada imagem de si próprias.
Se tudo que se relaciona com os seres humanos diz respeito à História, podemos ter
uma ideia de quão grande, diversificados, variados e polêmicos, são os seus territórios, fruto
da especialização do ofício de historiador, cujos campos de investigação vão desde de história
agrária, à, por exemplo, história das religiões, do cotidiano, e da paisagem.
Diante de tanta diversidade, surge a questão: como abordar um campo tão vasto, como
é o campo da História, em sala de aula? De acordo com Joaquim Prats, em artigo intitulado
Ensinar História no contexto das Ciências Sociais: princípios básicos (2006), dever-se-ia
“implementar um ensino de História que tenha muito presente como é o método de análise
histórica” (2006, p.28), ou seja inserindo o discente no ofício de historiador no que se refere
a: levantar explicações prévias; criar hipóteses explicativas; analisar e classificar as fontes
históricas; fornecer explicação histórica do fato estudado.
Essa inserção do aluno no ofício do historiador não deveria ser algo penoso, mas
palatável, feito de forma a propor um profícuo diálogo entre o vasto campo da História e a
realidade do discente, para além de aulas expositivas e do tão conhecido “cuspe e giz”. Porém,
como afirma Derocina Josa e Luana Tavares, em artigo intitulado Ensino de História e novas
tecnologias (2013), o que se percebe hoje no ambiente escolar é que
Há um crescente desinteresse por boa parte dos alunos que possuem pouco hábito de
leitura [...] para assistir aulas expositivas, não se envolvem com as atividades,
apresentando [...] baixos resultados nas avaliações. Acredita-se que o desinteresse [...] está
[...] ligado ao distanciamento da escola com as modificações sociais ocorridas [...] (JOSA;
TAVARES, 2013, p. 825)
As autoras defendem que com o uso de diferentes tecnologias seria possível tornar a
aula de História mais dinâmica, despertando o interesse dos alunos, fazendo inclusive relações
com o tempo presente. Ainda nessa perspectiva, vemos que muitas vezes o desestímulo dos
alunos com a disciplina atrela-se a falta de inovação na forma de transmitir o conhecimento
histórico, uma vez que o aluno se mantem em contato com um mundo moderno que dispõe de
inúmeras formas de tecnologias (CIAMPI, 2003 apud ALVES; ROSA, 2016, p. 36).
Por um lado, sabemos que, contrapondo-se a tal debate, prevalece no ensino de História
o método tradicional, que, nas palavras de Circe Bittencourt (2004), fundamenta-se na ideia
de que ensinar é transmitir um conhecimento e aprender é repetir tais conhecimentos da
maneira como foi transmitido (BITTENCOURT, 2004, p. 230).
Por outro lado, sabemos que a concepção de aluno e de aprendizado se modifica com a
sociedade e o contexto vivenciado. As pessoas e o próprio processo de ensino aprendizagem
se renovam (ALVES; ROSA, 2016, p.38). Neste sentido, a perspectiva mais contemporânea de
ensino da História propõe torna-lo voltado para a realidade do discente (SILVA; FIGUEIREDO,
2013). Mas que realidade seria essa? Nos valendo das análises de Pierre Lévy, em Cibercultura
(1999), os jovens de hoje fazem parte do ciberespaço, ou melhor no “universo oceânico de
informações que a intercomunicação dos computadores fez surgir” (p.17). Assim, os alunos de
hoje não são os mesmos para os quais o nosso sistema educacional foi pensado, eles são
“falantes nativos” da linguagem digital dos computadores, vídeo games e internet, para os
quais devemos inventar metodologias para transmissão do conhecimento (PRENSKY, 2001).
Tal imersão no mundo tecnológico, vivida em grande parte pelos discentes, acaba
agindo de forma incisiva no processo de ensino-aprendizagem, já que faz com que a escola
SUMÁRIO
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sinta a necessidade de atualizar os seus meios didáticos para que o ensino possa tornar-se
prazeroso e eficaz, utilizando novos métodos, linguagens e meios (ALVES; ROSA, 2016),
valendo-se das novas tecnologias em sala de aula.
Utilizamos aqui o termo “novas tecnologias” para além da internet, jogos ou redes
sociais, mas também recursos audiovisuais (iconografia, mapas) e até computador (SILVA;
FIGUEIREDO, 2013). Diante de tal abrangência semântica, analisaremos em seguida o caso dos
Objetos Educacionais Digitais (OEDs), aprovados pelo PNLD 2014 e distribuídos pelo governo
ao ensino fundamental maior das escolas públicas brasileiras para o triênio 2014, 2015 e
2016. Eles se conferiram numa tentativa do governo de proporcionar um ensino mais
interativo e atraente, conforme o já mencionado debate existente em torno da temática.
Ressaltamos que, de certa forma, o nosso trabalho se relaciona a preocupação de
estudos educacionais, que por sua vez vem na esteira dos Annales, com novos métodos, novos
temas, novas fontes, novas abordagens (CARVALHO, C.; CARVALHO, L., 2010)
Na pesquisa que por hora utilizamos para confecção deste artigo, intitulada O ensino da
Segunda Guerra Mundial e os Objetos Educacionais Digitais: um estudo comparado das coleções
do PNLD 2014, nos dispomos a investigar, a partir de uma perspectiva comparada6, a proposta
de ensino da História da Segunda Guerra Mundial existente nos Objetos Educacionais Digitais
(OEDs) que integram as obras aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
2014 e foram destinadas às escolas públicas brasileiras.
De antemão, diante da abrangência de assuntos possíveis, como vimos, no vasto campo
relacionado ao ensino de História, escolhemos a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em
virtude desse ter sido um dos piores conflitos bélicos do século XX, que atingiu uma escala de
horrores até então impensada, deixando um rastro de destruição por onde passou, como nos
afirma Richard J. Evans, em A chegada do Terceiro Reich (2016), a partir da entronização da
discriminação racial e do ódio no centro de sua ideologia, uma guerra de conquista implacável
e destrutiva (EVANS, 2016, p. 21)
Assim, diferentemente do senso comum, consideramos que este conflito não está
sepultado no passado, em virtude da gama de produções (bibliográfica, audiovisuais, lúdicas)
que o representam, e de notícias de jornais que trazem novas descobertas, na esteira, como
Evans bem apresentou em sua obra, da “terceira fase” de pesquisas em torno da temática,
concentradas a partir da década de 1990, nas quais
6
Buscando encontrar semelhanças e diferenças, consequentemente, o que é comum e específico entre os 18 OEDs
que serão comparados. O uso da metodologia da história comparada proporcionará aumentarmos o nosso campo de
visão e não nos limitarmos ao analisarmos diferentes variáveis, através da iluminação recíproca (BARROS, 2007, p.18).
SUMÁRIO
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Segunda Guerra um tempo vivido, um tempo presente. Esclarecido este ponto, nos voltemos
para o caso dos Objetos Educacionais Digitais, os OEDs.
Conforme mencionamos, os OEDs são materiais, ou melhor, documentos multimodais
interativos de suporte digital ou hiperdocumentos (LÉVY, 1999), em formato DVD, que
integravam os livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
2014, e que foram distribuídos pelo MEC ao ensino fundamental maior das escolas públicas
brasileiras para o triênio 2014, 2015 e 2016.
O PNLD é um programa existente há décadas, transformado em uma política de Estado
no governo Lula (2007-2010) (ASSIS, 2015), cujo objetivo é avaliar livros didáticos e distribui-
los nas escolas públicas brasileiras. O programa é executado em ciclos trienais e cada ciclo é
destinado a um nível escolar (ensino fundamental menor e maior e ensino médio). As editoras
submetem suas coleções ao Edital PNLD para serem avaliadas por especialistas de cada área,
conforme as normas deste documento. Em seguida, é produzido o Guia PNLD que contém
resenhas dos materiais aprovados para as escolas públicas escolherem as coleções que melhor
se adéquam ao seu programa pedagógico. A compra é feita pelo Estado que os distribui aos
alunos. Desta forma, as editoras precisam se enquadrar às exigências do Programa para serem
aprovadas e assim garantir a compra de seus produtos.
Um exemplo da amplitude do Programa: no PNLD 2014 para o ensino fundamental
houve um investimento de R$ 879.828.144,04; com 23.452.834 alunos atendidos; 50.619
escolas beneficiadas referentes aos anos finais e 103.229.007 livros distribuídos. Isso, para as
editoras, é um mercado estratégico e altamente lucrativo, sendo por isso fundamental para
elas se enquadrarem às exigências dos editais PNLD.
Em 2012 foi aprovado um edital, cujo objetivo era a
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por sua vez, diz respeito ao “novo meio de comunicação que surge da intercomunicação dos
computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação
digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga” (LÉVY, 1999, loc.cit.).
Segundo o relatório TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) Educação 2012,
ano de lançamento do Edital para o referido PNLD, do Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGI) 62% dos alunos das escolas públicas possuíam computador em casa e 54% possuíam
acesso à internet (CGI, 2012, p. 172). Sendo que 91% já utilizara internet, ou seja, mesmo que
não tenham acesso no domicílio procuraram o contato por outros meios seja nas escolas (9%),
nas lanhouses (14%) ou nas casas de terceiros (13%) (Ibidem, p. 173).
Para se integrar ainda mais na vida destes alunos, a escola deveria tentar incorporar
essa cultura em seus métodos, uma estratégia da política educacional contemporânea de
tornar o ensino voltado à realidade do discente, contribuindo para a fixação de sentidos sobre
os temas relacionados ao conhecimento. Com o uso dos OEDs, podemos considerar que o MEC
afirmava, ao lançar o edital ainda em 2013, a pretensão em ligar as novas tecnologias ao ensino
de História
Tal ensino deve ser de qualidade, ou seja, deve adequar-se às necessidades socioculturais
da sociedade brasileira, considerar os interesses e as potencialidades cognitivas dos
alunos, levar em conta os saberes gestados na prática docente e oferecer tecnologia
educacional compatível, seja com a legislação educacional em vigor, seja com as tendências
científicas abonadas pela academia (MEC, 2012, p. 58).
ou não ser abordada determinada temática. Tirando o fato de que, por vezes, autores e editoras
não possuem a mesma “visão de mundo” em torno do que deve conter nos OEDs, havendo,
assim, disputas em relação ao que deve ou não ser abordado (ASSIS, 2015).
Lembremos que a compra do material aqui tratado é feita pelo Estado, o que acaba por
obrigar as editoras a se enquadrarem às exigências do edital para garantir a aprovação e
compra de seus produtos, um mercado, como vimos, altamente lucrativo.
Diante disto, podemos dizer que a presente pesquisa pretende “des-ocultar”, deixar
claro e compreensível a mensagem implícita nos objetos digitais acerca do ensino de história
(SILVA, 2003).
Destacamos que: analisar os OEDs que integram os livros didáticos, suporte importante
nas escolas públicas brasileira, é uma forma de estudarmos a história da educação, e como ela
pode ser influenciada pelos aspectos econômicos, no que tange os lucros para as editoras
quando uma livro é aprovado e comprado pelo governo; investigar a Segunda Guerra nos OEDs
nos possibilitará percebermos como que este conflito influencia o ensino de história; ao
investigarmos tal conflito nos objetos educacionais, estaremos investigando, mesmo que
indiretamente, como o governo tentou “oficializar” os conteúdos, os assuntos, as abordagens
que constam nos livros didáticos e, por conseguinte, nos objetos educacionais (já que o
material em circulação passou pelo crivo governamental); com este estudo também
poderemos ter uma ideia em torno dos usos (ou não) feitos pelo governo destes objetos para
legitimar o poder até então em vigor no país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vale a pena ressaltarmos que o projeto de pesquisa utilizado para a confecção deste
artigo se insere em uma linha de pesquisa que propõem percebermos a educação como um
fato social (NUNES, 1984; BOTO, 1996; HILSDORF, 2006).
Claro que não a enxergamos como algo estático, antes a consideramos a partir da ideia
de pluralismo no que se refere a pensarmos que o “complexo social ora se estrutura tendo
como determinação básica o fator econômico ora os fatores políticos, culturais, religiosos,
psicossociais” (FRIGOTTO, 2010, p.92).
Diante disto afirmamos não podermos estudar a educação, de maneira geral, e o ensino
de história proposto pelos OEDs, de forma específica, como algo descolado da realidade. Não
podemos desconsiderar que os OEDs em questão foram pensados para compor o processo de
escolarização e que, portanto, “portam mensagens”, por serem um elemento que também tem
a pretensão de educar.
Neste artigo não apresentamos as conclusões desta pesquisa. Isto se explica pelo fato
da mesma ainda ser algo incipiente. Muito ainda precisa ser pesquisado para sustentar nossas
análises. O que, antes de ser um problema, se confere num grande desafio que faz convergir as
vastas e riquíssimas áreas da História, da Educação e das Novas Tecnologias. Áreas estas que
por sua vez se encontram amplamente vinculados aos contraditórios interesses da sociedade
e do tempo histórico ao qual fazem parte.
REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 57
INTRODUÇÃO
A sala de aula, na ampla maioria das vezes, é admitida como um local de transmissão
de conhecimentos e, por sua vez, consolidou-se como um ambiente de seriedade. Assim,
verificar o humor e o riso como métodos da tal transmissão de conhecimentos pode ser, por
muitas vezes, suprimido e rejeitado por educadores e por coordenadores das instituições de
ensino formais. Entretanto, o ato de rejeitar o aspecto lúdico no aprendizado pode suplantar
uma realidade que fomenta a adesão ao conhecimento através de atividades que envolvam a
criatividade, o humor e a imersão.
Com o passar dos anos, a educação tornou-se enrijecida, isto é, pautada em um modelo
de transmissão unilateral e vertical, ignorando as necessidades individuais de cada pessoa
dentro do ambiente educativo. Nesse sentido, precisa-se entender que existe uma dificuldade
de implementar, de modo geral e compreensível, as possibilidades envolventes sobre a
utilização de metodologias que abarcam um número exponencial de educandos, isto de
métodos simples até os mais complexos. A par disso, é possível verificar uma linha de
abrangência social através de movimentos artísticos, isto é, a apropriação de elementos
visuais, auditivos e táteis de modo distinto ao convencional da sala de aula gera mais atenção
e interesse por parte dos estudantes devido à exploração de meios que fogem do convencional
enrijecido. Esta realidade caminha em congruência com a pesquisa da Anabela Ruas de
Oliveira que afirma que “com a abordagem de ensino multissensorial, o cérebro tem a
oportunidade de acionar diferentes canais para a entrada de conhecimento, contemplando
todos os estilos de aprendizagem” (2018, p. 84).
A par disso, pode-se contemplar a ideia da utilização do teatro, da dança, da música, da
caricatura e de várias outras atividades artísticas que creditem um valor diferenciado e
promovam os vários tipos de aprendizados que existem. Nesse contexto, uma dessas
possibilidades de criação de um ambiente educativo divergente com o convencional é a
utilização do humor que passa por continuidades, por transformações e por modificações. Isto
é, o aspecto humorístico já foi aplicado de diversas formas em variadas manifestações
artísticas, no entanto, a que destacamos é o humor introduzido ao desenho ou as construções
imagéticas.
Em vista disso, dentro da uma realidade adversa, a utilização de charges é construída,
em sua maioria, para promover a crítica com base no humor que, por sua vez, distingue-se da
comédia. Logo, muitas críticas sociais e históricas são desenvolvidas em torno das charges,
seja na contemporaneidade, seja sobre o passado. Destarte, dentro da sala de aula, muitos
docentes apropriam-se desse método para promover debates e análises críticas sobre as
intenções e as abordagens presentes nos textos imagéticos. Por vez, cabe destacar a ampla
apropriação desse método, seja convencionalmente, seja na aplicação de testes.
Através disso, é preciso evidenciar que, atualmente, a utilização de outra estratégia, que
permite uma relação com a ideia das charges, podem ser cruciais para a exploração de uma
identificação e da compreensão das informações por parte dos educandos, gerando o
aprendizado. Isto é, o surgimento de uma nova forma de linguagem que, com o passar dos
anos, torna-se mais utilizada e difundida, os memes. Hoje em dia, a difusão dos memes como
imagens de rápida compreensão geral é algo que fica cada vez mais amplo e alcança um
número maior de pessoas. Ou seja, os estudantes que tendem a estar inseridos no ambiente
digital compartilham e se identificam com essas mensagens que mesclam humor e imagens
pontuais.
Com isso, atualmente, uma série de páginas na internet surgem para a criação e para o
compartilhamento dos memes, nessa sequência, uma nova onda mescla o potencial entre a
educação e os memes. Assim sendo, a criação de contas como “História no Paint” somam mais
de 500 mil seguidores em redes sociais, este é resultado da criação de memes em torno de
conceitos e de abordagens históricas. Entretanto, não é um caso isolado, a criação de espaços
como esses dentro da internet tornou-se comum e com um potencial distintivo entre si que
permite que os públicos dinamizem, compartilhem e renovem o aprendizado.
SUMÁRIO
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REDES SOCIAIS
Com esses números é sabido que os números de usuários tendem a aumentar cada vez,
e a utilização das redes também, já que cada vez mais elas oferecem ferramentas para ajudar
na cotidiano dessas pessoas, como também oferecem térreo para o desenvolvimento de
projetos que podem da muito certo e vem se percebendo cada vez a migração de alguns
empresas para a utilização dessas redes, para ter o maior contato com os usuários de
determinada plataforma, pois é um meio de atingir o público que é pleiteado pelo seu produto.
Ao se observar essas pesquisas e o aumento de uma grande quantidade de pessoas
utilizando as redes socias e as de ainda vão utilizar, é recomendado a necessidadede
orientação para essas pessoas, trazendo mais um novo tipo de aprendizagem, pois mesmo que
esses números tendem a crescer, pessoas ainda tem dificuldade na utilização dessas
ferramentas como também as que não entram por não terem o conhecimento, então se
recomenda a inserção da alfabetização digital.
Alfabetização é uma fase que todos necessariamente temos que ser submetidos para
desenvolvermos as habilidades de escrita e leitura, o termo é conhecidos por toda comunidade
da educação, já que é uma passagem básica para que o aluno venha desenvolver todas as
outras as habilidades, porém vem sé observando que só a alfabetização clássica não supra a
necessidades do novo mundo com a expansão da rede mundial de computadores e outras
tecnologias da informação e comunicação(TIC), agora é pensado uma nova forma de
alfabetizar disso se vem pensando na alfabetização digital, que de acordo com a Universidade
de Cornell, como “a habilidade para encontrar, avaliar, compartilhar e criar conteúdo
utilizando tecnologias da informação e a Internet”.
Temos que entender que mesmo que tenhamos jovens que utilizem dos meios digitais,
podem não saber como utilizar, por isso a necessidade de uma boa educação mas alguns
professores tem dificuldade de trabalhar esse tipo de coisas, ou o local que está inserido não
deixa brechas que faça tal tipo de trabalho, aí a necessidade da renovação da educação ou o
professor realmente não entende do assunto, já que essas novas ferramentas apareceram
muito rápido e eles não puderam ter tempo de aprender tudo, sendo necessário então a
capacitação desses profissionais, que disso talvez tenhamos uma possibilidade de alfabetizar
digitalmente as futuras gerações, mas vale ressaltar que países como o Brasil, que tem outros
tipos de atrasos, a possibilidade de sanar essa nova necessidade vai demorar, já que as mais
antigas ainda permanecem.
Voltando a temática desse texto que é a utilização das redes socias para ensinar por
meio dos memes, observamos duas páginas que utilizam de desse meio para ensinar sobre a
temática de cada um, o @ClickMuseus foi o primeiro observado, em que utilizar de memes
para educação patrimonial, mas também para refletir sobre o cotidiano das idas aos museus,
como também procura interagir com seus usuários a partir de enquetes, a pagina sé localiza
no instagram e atualmente eles tem mais de dez mil seguidores nessa plataforma.
A segunda página observada foi o @Histórianopaint, pagína que utiliza de memes para
transmitir a história em geral, um conteúdo muito diversificado, onde o autor aproveita para
não só retratar os fatos históricos, como também pontua sobre as situações do
contemporâneo, até fazendo links com momentos do passado, a pagina se localiza tanto no
instagram como no Twitter, que juntas elas tem mais de 600 mil seguidores.
Ao se observar que os memes não só poderia ser um recurso muito bom para divertir
as pessoas e gerar um breve conhecimento de algo, foi criado pela Universidade Federal
Fluminense, o #MUSEUdeMEMES, é um museu desenvolvido por alunos da graduação e pós-
graduação, como também de docentes, onde eles desenvolvem um plataforma que tira o
SUMÁRIO
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METODOLOGIA DE APLICAÇÃO
Ao se observar tudo que foi elencado, pensamos que a forma que vai se utilizar desse
recurso é como um auxiliar, muito similar como é utilizado os flashcards por alguns, mas os
memes como além de trabalhar com os textos curtos, também trabalha com o visual,
auxiliando no ensino continuado do aluno. O professor ao utilizar dentro da sala de aula, tanto
pode utilizar os que já foram feitos por páginas das redes sociais, e gerando assim discussões,
como também pode produzir com seus alunos, mediando o assunto que deve ser abordado,
mas deixando livre para que o aluno desenvolva o assunto e gerando uma discussão com os
demais.
Destarte, pode-se compreender a metodologia de aplicação o trabalho sobre a ideia de
uma Educação 4.0, ao qual envolve os educandos sobre seu próprio aprendizado de forma
direta. Isto é, os estudantes aprendem através da interação e da criação, ao qual, é construída
uma realidade voltada às competências e às habilidades, como análise crítica, trabalho em
equipe e capacidade de comunicação, além de outras questões que acabam por ser analisadas
e empreendidas diante do movimento citado. Portanto, precisa-se entender que a aplicação
dos memes em sala de aula constitui-se como uma válvula de adesão e de criação de alicerces
entre educandos e conhecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto vemos que a educação vem saindo dos moldes herdados pelos jesuítas e vai
tomando a direção de uma modernização e aceitação do livre pensamento do aluno, pois
começamos entender que o aluno é protagonista do seu aprendizado, e por isso ele deve ser
incentivado a usar das mais variadas formas para chegar ao nível de aprendizagem, cabendo
aos sistemas de ensino entenderem essa nova realidade de que seus alunos vem.
Mas não é só a educação que cabe andar com os passos da mudança, toda a sociedade
civil tem que participar da mudança, e aceitar ela, como também fazer com que as esferas
governamentais sanem as problemáticas já existentes no Brasil, para que assim possamos ter
uma revolução educacional tecnológica harmônica, em que todos tendo o mínimo para serem
inseridos nessa nova forma de pensar o aprendizado e a sociedade em geral, que podemos
depositar muito dessa nova forma de pensar pelas novas formas de gerar o pensamento crítico
nos alunos. Então o nosso texto teve o intuito de abrir o legue de possibilidade de ensino com
mais uma nova ferramenta para auxiliar o professor e aluno, como também mostrar como
temos uma estrada longa para gerar a mudança.
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
1
Universidade Estadual da Paraíba
2
Universidade Estadual da Paraíba
3
VERGUEIRO, Waldomiro; SANTOS, Roberto Elísio dos (org.) O Tico-Tico: centenário da primeira revista de quadrinhos
do Brasil. São Paulo: Opera Graphica, 2005.
SUMÁRIO
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1970, mas, apenas no ano de 1996 com a promulgação da lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), as HQs no Brasil passam por um marco em sua trajetória de aceitação de seu
uso como ferramenta pedagógica utilizada em sala de aula.
Ainda que inicialmente vista de forma negativa a começar por professores que
cresceram na época das más contribuições da leitura das Histórias em Quadrinhos, com a
evolução dos tempos as HQs passaram a evidenciar seus benefícios para o ensino, e assim
garantir a sua presença no ambiente escolar. Este trabalho, portanto, tem como objetivo
apresentar as Histórias em Quadrinhos no ensino, mostrando um pouco de sua história, suas
relações disciplinares e de que maneira está intrínseca ao processo de aprendizagem.
4
SILVA, Cíntia Cristina da, Quem inventou as histórias em quadrinhos?
Disponível em: <https://mundoestranho.abril.com.br/cultura/quem-inventou-as-historias-em-quadrinhos/> Acesso
em 16 de Janeiro de 2018.
5
Ângelo Agostini (1843-1910) foi um ilustrador, caricaturista, desenhista e pintor italiano, o mais importante artista
gráfico do Brasil na segunda metade do século XIX. Foi um dos criadores das histórias em quadrinhos no Brasil, foi
editor e ativista político. (FRAZÂO, 2017). Disponível <em:https://www.ebiografia.com/angelo_agostini/> Acesso em
18/01/2018.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 65
também se encontravam em suas páginas, como: os contos da "Mãe Preta" de Orico, "Papae"
de Juracy Camargo e "O Detetive errado" de Luís Sá, por exemplo.
Nesse cenário, outras HQs foram surgindo, e marcaram época no Brasil, entre elas
temos: O Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen apontado como um grande incentivador das
Histórias em Quadrinhos no país, e conhecido por fundar a Editora Brasil América Ltda.
(EBAL), O Gibi de Roberto Marinho, O Amigo da Onça do cartunista Péricles, O Perêrê de
Ziraldo, Capitão 7 de Aires Campos e a Turma da Mônica, criação de Mauricio de Souza que
atualmente não apenas é sucesso das revistas, como também das telinhas de televisão. 6
6
CRUZ, Dandara Palankof e, Matéria: A história dos quadrinhos no Brasil - Parte 2
Disponível em <http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=materias&cod_materia=558>. Acesso em 16 de
Janeiro de 2018.
7
Expressão difundida pelo jornalista e estudioso de quadrinhos francês Francis Lacassin em 1962 dando continuidade
a classificação proposta pelo intelectual italiano Ricciotto Canudo no seu Manifesto das Sete Artes publicado em 1923.
Fontes: PACHECO, Elza Dias. Comunicação, educação e arte na cultura infanto-juvenil. São Paulo: Loyola, 1991. P.62;
LACASSIN, Francis. Pour un neuvième art, la bande dessinée, Paris: Slatkin, 1982.
SUMÁRIO
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Embora as Histórias em Quadrinhos impliquem na leitura, não é correto dizer que ela
é literatura, e por mais que compartilhem elementos narrativos literários, quadrinho é
quadrinho, e sua aplicação no processo de aprendizado se insere nas inúmeras adaptações das
áreas de ensino podendo ser utilizadas para reforçar pontos específicos dos conceitos teóricos
desenvolvidos em aula. Outra característica dos quadrinhos é que eles não devem ser vistos
como a solução de todos os problemas e serem colocados acima de qualquer outra ferramenta
de ensino, pois cada uma tem o seu benefício pedagógico, deve-se então haver uma integração
entre os quadrinhos e as outras ferramentas de ensino, pois o quadrinho leva o leitor para o
cinema, para a literatura, para o teatro e assim para as demais artes.
Neste seguimento, ao trabalhar as HQs o professor ao selecionar o material que vai
utilizar em sala de aula deve levar em conta: a proposta didática que está sendo estudado, o
objetivo da aula, o nível escolar, a faixa etária dos alunos e, por conseguinte o desenvolvimento
destes a partir da proposta feita de acordo com o tema da aula.
Não existindo regras enquanto a seu uso, o bom aproveitamento do uso das HQs em
sala de aula é a criatividade do professor, cabendo a ele no processo de planejamento e
desenvolvimento de qualquer disciplina, estabelecer as estratégias que mais se adequam tanto
as suas necessidades quanto também as necessidades e compreensão de seus alunos.
Dominado esses elementos, o professor fará dessa ferramenta de ensino um grande aliado do
processo de aprendizagem, além de dinamizar sua aula, trabalhará com um aluno motivado e
disposto a participar da aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO
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REFERÊNCIAS
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
O audiovisual na Europa e na América do Norte e até mesmo no Brasil obteve seu apogeu
no início do século XX, com o cinema antigo, com imagens ainda em preto e branco, era a atração
na época, posteriormente a televisão com a imagem em movimento que nos anos seguintes foram
fabricadas com som. Antes dessa tecnologia as máquinas fotográficas deram o apogeu às
câmeras e filmagem que assim permitiu que o cinema oferecesse uma forma de chamar a atenção
da sociedade.
Além do desenvolvimento dessas máquinas foram surgindo outras tecnologias audiovi-
suais como os videogames que eram de acordo com a faixa etária de crianças, adolescentes e
jovens, mas por situação social e econômica, muitas pessoas não tinham acesso a esses
mecanismos, por conta do custo de imposto o preço dessas maquinas eram abundantes, por isso,
a tecnologia “não era para todos”.
O cinema, vídeos, televisão e videogames como uma atração foram se desenvolvendo
para outros campos importantes na humanidade, como a comunicação social e também para o
campo da História.
1
Graduada do departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
SUMÁRIO
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O cinema como fonte de conhecimento e fonte de pesquisa histórica foi ganhando força,
historiadores avaliavam os filmes que relatavam sobre temáticas históricas, foram sendo
trabalhados juntamente com cineasta uma forma de incentivar a compreensão da história para a
sociedade através de imagens em movimento gerando uma perspectiva diferente de entender o
passado sem se limitar somente na escrita. Hagemeyer ainda afirma que, “A história dos meios
audiovisuais é parte da história da cultura[...]” (2012, p. 65)
Como já foi abordado, a linguagem audiovisual subdivide-se entre outras linguagens que
possuem a junção da imagem com o som e que pode reproduzir a “realidade”, isto é, “São critérios
de representação visual do mundo, que concebem a 'tela' como uma 'janela' aberta para o
imaginário.” (HAGEMEYER, 2012, p.66).
Contudo, a história nos remete a arte moderna que também carrega esse sentimento do
imaginário e da representação e o principal: da crítica. Seja uma tela de pintura que reflete uma
história, assim com uma tela cinematográfica, ou até mesmo de um vídeo que possui uma
diferença enquanto produção e sentido eletrônico, Hagemeyer aborda essa diferença entre
ambas quando detalha: “A linguagem do vídeo, nesse sentido, é muito mais devedora do colorido
da lanterna mágica do que o cinema.” (HAGEMEYER, 2012, p.66).
Vale salientar que, para a construção da linguagem audiovisual na sociedade antes
mesmo o destaque é para a artes visuais como a pintura e posteriormente a fotografia, ambas,
tem o sentido de, instruir no espectador a curiosidade e a reflexão de compreender o sentido da
obra e que cada espectador possui uma interpretação diferente até mesmo do artista ou
fotógrafo.
Com essa perspectiva a imagem e o som foi mais um processo tecnológico da humanidade
para despertar cada vez o espírito de reflexão e conectividade. Dessa maneira, o autor enfatiza
que “Na era digital, é o saber que viaja veloz nas estradas virtuais da informação." (KENSKI, 2003,
p.32).
Nesse caso, em uma turma do segundo ano do Ensino Médio, foi aplicado pelos alunos
universitários e supervisão do PIBID2, um episodio de uma série que retratava sobre a escravidão
negra na América do Norte, a série televisiva The Book of Negroes, seu primeiro episódio que
revisa o conteúdo sobre a escravidão negra, acompanhados de um roteiro para nortear a
visualização e, posteriormente, a aplicação de slides sobre as principais cenas do episódio. Além
disso, pensamos a importância da produção textual dos discentes, resenha crítica, para
compreender como se deu a recepção e aprendizagem dos mesmos.
Esses apontamentos, facilitam na compreensão do aluno tanto para aprender a analisar
um filme como também compreender o objetivo da aula que é a compreensão da historicidade
juntamente com a posição de opiniões ou críticas. Como enfatiza o historiador Hagemeyer:
“O recurso musical provavelmente amplifica o poder evocativo das imagens, assim como
auxiliava a fixação melódica e rítmica da poesia e ajudava na sua memorização, conferindo
maior estabilidade na conotação das palavras.” (HAGEMEYER, 2012, p 62)
É com essa mesma ideia que o historiador supracitado enfatizou em sua obra, os autores
Azevedo e Souza, que afirmam: “Logo, o uso do recurso audiovisual transmitido na aula, faz com
que os alunos fixem melhor o conteúdo, guardem a imagem, ela situa na maioria das vezes o
aluno historicamente e geograficamente." (AZEVEDO; SOUZA, 2013, p. 4).
Um mecanismo importantíssimo do audiovisual é o vídeo, onde o professor pode trabalhar
junto com os alunos uma oficina de produção de vídeo, onde instigue os alunos a pesquisa e
trazer informações e criatividade facilitando o trabalho em grupo, além de interligar a arte, a
imagem e a partir disso colocar em movimento todo o esquema construído e o melhor, a
imaginação ganhando vida.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas na utilização desses mecanismo, no ano de
2018, em escola pública, com a mesma turma citada anteriormente, turma do segundo ano do
Ensino Médio, foi utilizado o método do vídeo produzidos pelos alunos a partir do conteúdo
sobre as grandes navegações especificamente da América espanhola, os alunos juntamente com
a supervisão e alunos do PIBID 3 a qual eu estava incluída, elaboramos um vídeo lúdico sobre a
vinda de Colombo para a América, assim como sua biografia. Isso implica o que Coutinho (2006)
fala sobre reflexões e consequências desses mecanismos:
Mais do que os conteúdos que cada filme possa trazer, a presença docinema, da televisão, dos
vídeos, na escola, pode se constituir emmomentos dereflexão que transcendamos próprios
filmes e incluamo olhar de cada umà narrativa que o diretor propôs e nos ofereceu,
emimagens e sons (COUTINHO, 2006, p.75)
No entanto, é importante estar ciente de que esses mecanismos (trabalhar com jogos
digitais) podem promover tanto distração como aprendizado, o videogame exemplifica isso. A
primeira impressão que se tem é que o videogame seria uma distração com objetivo de lazer e que
tira o foco do aluno em relação ao conteúdo, mas temos que instruir os alunos a visualizar o
videogame como um mecanismo didático que eles podem utilizar desse modo uma forma de
2
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCENCIA – Departamento de
História da Universidade Estadual da Paraíba.
SUMÁRIO
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retirar dúvidas e aproximar conteúdos para o seu dia a dia pessoal como também educacional.
Nesse sentido, o videogame é um mecanismo audiovisual porque tem a aparição da
imagem juntamente com o movimento da fotografia, ângulos digitais e trilha sonora também,
e principal possui regras e o condutor tem a autonomia de controlar esse jogo.
Com a temática ministrada pelo professor de forma verbal, o videogame pode somar em
relação de uma prática educacional, onde os alunos terão contato com a história investigando a
cada nível do jogo os detalhes das informações e atuações. Além disso, é uma forma de ensino
aprendizagem, chamando a atenção para a instigação de saber sobre tal esquema do jogo que os
leva ao campo da história como se fosse na vida presente.
Destarte, entende-se que o videogame possui as mesmas mobilizações e animações do
cinema e vídeo, mas a única diferença entre todas as linguagens audiovisuais é a que o videogame
se diferencia quando se trata do condutor que seria o jogador, o próprio aluno.
Para que haja o movimento desse mecanismo precisa-se de um jogador, por isso daria
certo para um aluno como condutor de um jogo, condutor das informações históricas do jogo
relacionando com o ensino de história. “A simulação do game aponta não só para o audiovisual,
mas também para o táctil, buscando criar um tipo de simulação onde mais de dois sentidos da
percepção humana não mobilizados.” (HAGEMEYER, 2012, p. 100) Kenski diz que “Não importa
o lugar que o aluno estiver, em casa, em um barco, no hospital, no trabalho. Ele tem acesso ao
conhecimento disponível nas redes, e pode continuar a aprender." (KENSKI, 2003, p.32). Assim,
todas essas possibilidades que a linguagem audiovisual transmite para a sociedade juntamente
com a educação, facilita no ensino aprendizagem, onde os professores e alunos estão abertos a
expressões de opiniões e debates.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO
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REFERÊNCIAS
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Simposio Nacional de História. ANPUH. Natal – RN, 2013.
CBC|Toronto ,Honouring The Book of Negroes. Disponível em:
<http://www.cbc.ca/news/canada/toronto/events/bold-black-risk-takers-honouring-the- book-of-negroes-
1.2933723>. Acesso em 13 de maio de 2017
COUTINHO, Laura Maria. Audiovisuais: arte, técnica e linguagem. 60 horas — Brasília: Universidade de
Brasília, 2006.
HAGEMEYER, Rafael Rosa. História & audiovisual. - Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. – (História &...
Reflexões,15).
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e Ensino presencial e a distância. – Campinas, SP: Papirus, 2003. - (Série
Prática Pedagógica).
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
Para início de conversa, gostaríamos de sinalizar aos leitores que os parágrafos que se
seguem correspondem a uma adaptação do segundo capítulo – No trote do passado digital: as
histórias de Campina Grande nas tramas do SESI Museu Digital – da dissertação23 de Thiago
Raposo, orientada pela professora Vivian de Andrade. Sendo assim, o texto se apresenta como
um convite para aqueles que se sintam curiosos em relação aos processos de produção,
divulgação e ensino de história em lugares de memória que se apropriam do uso da tecnologia
em seus espaços.
Ao analisarmos as manifestações da História Pública Digital em Campina Grande,
verificamos que o SESI Museu Digital seria, juntamente com o Blog Retalhos Históricos de
Campina Grande (um museu virtual), formatos de divulgação do passado da cidade,
construídos e/ou consumidos pelo público. Seus recursos tecnológicos destacam essa
instituição em relação as demais da cidade, justamente por oferecer possibilidades interativas
e imersivas, estimulando a participação do público com o conteúdo disposto pelo espaço.
Diante de tais observações preliminares, torna-se importante indicar para o leitor parte
de base teórica, responsável por balizar a analise apresentada a seguir. Tomamos de
empréstimo a percepção de Larrosa a respeito da experiência, segundo ele
[...] a experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto
de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar
para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais
devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos
detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o
automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar
sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do
encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (LARROSA, 2002, p. 24).
1
Universidade Federal de Campina Grande
2
Universidade Federal de Campina Grande
3
A dissertação “Um barco que veleje nesse (in)formar: A história Pública Digital em Campina Grande (2009-2020)” foi
apresentada ao programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande em 2020.
Todavia, em decorrência da pandemia de COVID-19, ela ainda não se encontra disponível nas plataformas virtuais da
instituição, havendo uma previsão para o começo de 2021.
SUMÁRIO
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Essa experiência se manifesta pelo campo subjetivo dos sujeitos, num ato de
desligamento momentâneo do mundo que o circula para vivenciar algo por meio das
sensibilidades. No caso do museu em questão, ela se manifesta principalmente por meio da
interatividade e da imersão possibilitadas pelos equipamentos que fazem parte da exposição.
Complementando essa percepção, nos valemos de uma história das sensibilidades pensada
por Pesavento (2004), que nos ajuda a treinar o nosso olhar, para que sejamos capazes de
investigar esse formato de educação dos sentidos.
O autor assinala como as instituições museólogas passam a adotar cada vez mais a
interação entre a exposição e o público, ampliando as possibilidades de consumo do material
exposto (até mesmo daquelas exposições que não possuem acesso à rede) pelo
enriquecimento da interatividade, expressa pelo processo autônomo ofertado aos visitantes.
Esse comportamento põe em evidência a fluidez conceitual que caracteriza as manifestações
da História Pública Digital. No caso do Museu Digital, o acesso à internet não está interligado
as atividades oferecidas – excluindo-se apenas o trecho denominado Selfie, onde o visitante
pode mandar uma foto tirada no lugar para seu e-mail pessoal –, porém isso não impede que
muitas pessoas o façam de maneira espontânea.
Nesse lugar de memória, podemos encontrar uma mistura de tradição e modernidade
ao trazer, “sob o lombo de velhos burros”4 (Figura 1), parte da história da cidade sob o formato
digital. O prédio foi construído como monumento em homenagem ao sesquicentenário de
emancipação política da cidade, porém só fora concluído um ano após essa data, em 2015,
quando a cidade já tinha completado seus 151 anos. Após a conclusão do mesmo, a Prefeitura
Municipal não possuía nenhuma proposta sobre o que seria instalado no interior do
monumento, o que já demonstra certo desinteresse das instituições públicas com a
manutenção de seus espaços de memória, apesar de enaltecer a história. A ociosidade levou
ao repasse do prédio para Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEPB) 5 que, em
4
Referência ao monumento que busca representar o trabalho desempenhado pelos Tropeiros da Borborema.
5
De acordo com o site institucional: a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba foi constituída em 1949, e filiada
à Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 1957, sendo considerada como entidade de grau superior de
representatividade industrial do Estado da Paraíba.
SUMÁRIO
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parceria com Serviço Social da Industria (SESI) 6, transformou o espaço no primeiro museu
digital da Paraíba, inaugurado em novembro de 2017.
Campina Grande mais uma vez sai na frente, com esse museu que tem uma tecnologia
pioneira. Aqui, o visitante vai poder fazer uma viagem no tempo, através da tecnologia,
conhecendo a história da cidade, monumentos, prédios e pessoas que fizeram história
aqui. Nós ficamos felizes em fazer parte disso (Canal da FIEPB, 2017).
6
Criado em 1946, o SESI atende indústrias e trabalhadores em gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SST) e na
promoção da saúde e educação dos trabalhadores, seus dependentes e comunidade.
7
Não obtivemos acesso ao documento do Museu Digital.
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Em sua fala, assim como na própria visão historiográfica do museu, é possível observar
a utilização de argumentos que se esforçam para elencar a Campina Grande uma trajetória de
sucesso e pioneirismo, que a colocam como uma cidade que está à frente de seu tempo,
discurso recorrente na historiografia campinense e que está em consonância com o olhar da
historiografia tradicional da cidade, a exemplo de Almeida (1978) e Câmara (2006). A
tecnologia assume, segundo Gadelha, o papel de conduzir o presente e futuro em direção ao
passado, conectando tempos e pessoas. Os discursos responsáveis por inscrever a cidade
como um ambiente de sucesso e de contínua evolução são revestidos de uma roupagem
tecnológica, muito mais sedutora, explorando os sentidos auditivos, visuais e táticos; e
possibilitando múltiplas experiências e significações sobre o passado campinense.
Outros trechos de sua fala, na mesma ocasião, fazem parte de um vídeo institucional
utilizado pelo site do museu como porta de entrada para apresentação do espaço/projeto.
Francisco Gadelha utiliza um trecho de autoria de Miguel de Cervantes 8 para estabelecer a
visão de história que norteia a proposta da instituição, onde “a história é a guardiã dos fatos.
É o testemunho do passado, é o exemplo do presente e a advertência do futuro” (GADELHA,
2017). Trata-se de uma visão que atribui a história uma tarefa utilitarista e que se constrói de
maneira linear e evolutiva, atribuindo ao museu o dever de guardar os fatos que representam
a história de Campina Grande.
O presidente da FIEPB continua seu discurso afirmando que “nós (o museu) seremos
obrigados a apanhar as fotografias, as páginas dos cartórios e transformar em vídeo, porque
essa é a missão do Museu Digital” (GADELHA, 2017, os termos em destaque são nossos). Nesse
sentido, a instituição agrega a tarefa de guardar fatos, a obrigação de coletar dados e de
oferecê-los por meio de um suporte tecnológico, estabelecendo uma ponte entre passado e
futuro, entre os visitantes do museu e a história da cidade. Trata-se de uma história factual,
que procura narrar os eventos tal qual ocorreram e apresentar para o público a verdadeira
história da cidade, características de uma visão histórica metódica (REIS, 1996).
Nesse mesmo evento, o princípio educativo é evocado pelo presidente da Confederação
Nacional das Indústrias (CNI), Robson Braga de Andrade, como uma das funções a serem
desempenhadas pelo SESI Museu Digital. Segundo ele,
[...] o que a Federação das Indústrias da Paraíba, por meio do SESI, fez aqui (no museu) foi
exatamente proporcionar a população de toda a Campina Grande e seus visitantes, a
oportunidade de conhecerem uma escola rica em cultura, arte, educação, trabalho e de
sucesso. Este museu é extremamente importante e vai contribuir muito para que crianças,
jovens e as pessoas, em geral, que estão iniciando a sua vida escolar e ainda não conhecem
a história da cidade, a terem acesso aos fatos históricos principais deste município. Isso
aqui é, realmente, uma inovação do Sistema Indústria e, com certeza, servirá de modelo
para uma série de outros que podem surgir em outros estados brasileiros (ANDRADE,
2017, os termos em destaque são nossos).
8
A frase proferida por Francisco Gadelha é uma paráfrase da encontrada na obra Dom Quixote: “[...] deverem ser os
historiadores muito pontuais, verdadeiros, e nada apaixonados, sem que nem interesse, nem temor, nem ódio, nem
afeição, os desviem do caminho direito da verdade, que é a filha legítima de quem história, êmula do tempo, depósito
dos feitos, testemunha do passado, exemplo e conselho do presente, e ensino do futuro” (CERVANTES, 2005, p. 59).
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9
O espaço funciona de terça a sexta-feira das 9h às 18h e nos sábados das 9h às 13h, no qual o atendimento às
instituições educacionais é feito por meio de agendamento prévio9, estando as escolas públicas a possuir entrada
franca e as privadas precisam pagar o valor de R$ 5,00 por estudante. No caso dos demais públicos, excluindo-se visitas
em grupo, não é necessário o agendamento. O valor unitário por pessoa é de R$ 10,00, exceto para crianças menores
de 07 anos e idosos acima de 65 anos, que possuem isenção. Professores e guias turísticos, que acompanham grupos
de visitantes, também garantem direito à gratuidade da entrada.
SUMÁRIO
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visitantes do museu são conduzidos a uma viagem pela imaginação, por meio da utilização de
diversos efeitos audiovisuais, rompendo as fronteiras da racionalidade ao incentivar o público
a tocar, seguir, interromper ou iniciar dispositivos.
No Brasil, o Museu da Língua Portuguesa também apresentava uma proposta de
interatividade com experiências de realidade virtual e de intervenção nos dispositivos digitais.
Entre o conteúdo disponível na exposição, podemos citar a existência de um mapa interativo
que apresentava exemplos de variação linguística no país e um piso luminoso que projetava
poemas de grandes intelectuais da língua portuguesa e que variava conforme o público
“pisava” nele. As técnicas imersivas não se encerram com essas duas seções citadas, elas
estavam disponíveis em todo o espaço da instituição. Em 2015, o prédio que comportava o
museu sofreu um incêndio de grandes proporções, mas o acervo sobreviveu por conta de seu
formato majoritariamente digital. De acordo com o site oficial da instituição, o museu será
aberto durante o ano de 2021.
Retornando para a seção do museu campinense, podemos observar que o título sugere
algo que não é oferecido pela experiência durante a visita. Supõe-se, pelo convite, uma visita à
cidade de Campina Grande em todos os ângulos possíveis, todavia, o que temos é um passeio
pela Pirâmide do Parque do Povo10. Feita as devidas colocações, vale salientar que tal turismo
virtual é acompanhado do uso de fones de ouvido, estimulando, juntamente com as imagens
oferecidas pelos óculos de realidade virtual, a imaginação do usuário, que se vê em meio a uma
apresentação de quadrilha junina. Tal experiência é auxiliada pela existência de um banco de
madeira que executa o movimento giratório em 360º. Para onde olhamos, observamos
músicos tocando forró e dançarinos executando os tradicionais passos da festividade realizada
em homenagem a São João, evento esse que é responsável por levar o nome da cidade ao
contexto internacional. A experiência proporciona a sensação é de que todos os personagens
da projeção estão olhando para o usuário dos óculos, provocando a conhecida experiência
humana de se sentir observado por alguém. O visitante é colocado como o centro de todas as
atenções e isso enriquece a proposta do “mergulho”.
A seção estimula os sentidos dos visitantes, levando-os a viver experiências novas ou
até mesmo revisitar outras já vividas, estimulando a sensibilidade daqueles que são tocados
pela exposição. “A sensibilidade é, pois, capacidade humana, que fundamenta a apreensão do
real; é uma habilitação sensorial que marca a capacidade de ser afetada pelo mundo ou de
reagir a estímulos físicos ou psíquicos por meio das sensações” (PESAVENTO, 2004, p. 224).
Assim como não é possível entrar duas vezes no mesmo rio, tal qual observara o filosofo grego
Heráclito (1996), é impossível não ser tocado por alguma parte da exposição. Em algum ponto
ela nos toca, seja por nostalgia de algo que vivemos (ou não), admiração ou indiferença.
Experiências, na perspectiva de Larrosa (2002), podem ser gestadas ao colocar o
equipamento do museu, onde o visitante se desliga momentaneamente do mundo físico e
passa a viver uma outra realidade – a virtual – construindo significações que parte de suas
subjetividades individuais. Mesmo apresentando um conteúdo simples e que não condiz com
seu título, a seção acaba envolvendo o público por oferecer uma experiência que foge aos
padrões dos espaços culturais paraibanos, como o Museu Histórico e Geográfico de Campina
Grande e o Museu de História e Tecnologia do Algodão, onde o acervo é completamente
material. Uma forma criativa e atrativa de compartilhar o conhecimento sobre a principal
10
Corresponde a uma área coberta do Parque do Povo, cujo formato se assemelha a uma pirâmide, onde são realizadas
durante o mês de junho apresentações de quadrilhas juninas e de trios de forró.
SUMÁRIO
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festividade da cidade, corroborando para a difusão dos discursos sobre a grandeza de suas
festividades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, podemos notar que o SESI Museu digital apresenta em seu formato, uma
manifestação de ensino de história da cidade de Campina Grande por vias digitais e que, apesar
de muitas informações não estarem em consenso com os discursos acadêmicos, ela se
apresenta como uma possibilidade pública de acesso a informações sobre o passado da cidade.
As técnicas imersivas e interativas podem conduzir os visitantes a uma viagem por universos
alternativos, provocando os sentidos desses sujeitos, possibilitando a experiência.
REFERÊNCIAS
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Piccinin, F. (Orgs.). Narrativas Comunicacionais Complexificadas II – A Forma. Santa Cruz do Sul: Edunisc,
pp.239-258, 2014.
CÂMARA, Epaminondas. Os Alicerces de Campina Grande: esboço histórico-social do povoado e da Vila
(1697-1864). Campina Grande: Edições Caravela, 2006.
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CERVANTES, Miguel. D. Quixote de La Mancha – Primeira parte. Edição: Ebooks Brasil, 2005. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/eb00008a.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2020.
HERÁCLITO. Fragmentos. Tradução: José Cavalcante de Souza. Editora Nova Cultural: São Paulo, 1996.
LARROSA, Jorge Bondía. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista brasileira de
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LEMOS, André. Ciber-socialidade: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Logos, v. 4, n. 1, p. 15-19,
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Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v. 10, 1993. Disponível em:
<https://revistas.pucsp.br/revph/article/viewFile/12101/8763>. Acesso em: 26 jul. 2020.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Ressentimento e ufanismo: sensibilidades do Sul profundo. In: BRESCIANI, Stella;
NAXARA, Márcia (orgs.) Memória e (res) sentimento: indagações sobre uma questão sensível. Campinas:
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REIS José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. São Paulo: Editora Ática, 1996.
SANTHIAGO, Ricardo. Duas palavras, muitos significados: alguns comentários sobre a história pública no
Brasil. In: MAUAD, Ana Maria; DE ALMEIDA, Juniele Rabêlo;
SANTHIAGO, Ricardo (org.) História pública no Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, p. 23-36,
2016.
SUMÁRIO
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Desde o mês de março de 2020 até os dias atuais, o Grupo de Estudos e Projeto de
Extensão Fontes Históricas da Ditadura do curso de Licenciatura de História da
FECLESC/UECE realizam uma série de atividades remotas devido a Pandemia de Covid-19,
como por exemplo, discussões sobre pesquisas acadêmicas relacionadas a ditadura civil-
militar no Ceará (1964-1985) e a produção de Podcasts, dentre estes, a série "Escutas da
Docência: Aulas de História sobre a Ditadura", com professores de escolas do Sertão Central
Cearense. O presente trabalho objetivou trazer um relato de experiência a respeito da
produção da série de Podcasts, e das discussões desenvolvidas nesta quais sejam: ensino de
história, autoritarismo, pandemia, dentre outros. Ao longo dos meses supracitados, realizamos
as gravações para lançarmos nossa série de Podcast, que de acordo com Souza (2017), é uma
mídia "que permite aos usuários uma maior liberdade na sua relação com o conteúdo,
permitindo que seja possível escolher seus programas preferidos sem depender
exclusivamente de conteúdos previstos em uma grade de programação" (p. 44).
Assim sendo, após as gravações lançamos os episódios em diversas plataformas digitais
como Youtube, Spotify, etc. Para a realização de nossos objetivos, tratamos de utilizar daquilo
que Meihy e Holanda (2018) denomina de história oral temática onde há a "existência de um
foco central que justifica o ato da entrevista" (MEIHY e HOLANDA, 2018, p. 35). Neste sentido,
utilizamos questionários previamente confeccionados. Ainda sobre isto, destacamos que
todos os episódios foram específicos em si, haja visto que cada um abordou questões diferentes
que enriqueceram ainda mais nossa série. Sobre isto, Portelli (1997) já nos alertara quando diz
que "Cada entrevista é importante, por ser diferente de todas as outras” (PORTELLI, 1997, p.
17).
O momento atual é difícil, o autoritarismo no mundo todo (vide os exemplos nos EUA,
Hungria, Filipinas, dentre outros) resolveu sair, com todas as forças, das sombras e esgotos
nos quais haviam se escondido durante algum tempo. O Brasil também o sente, pelo menos
com mais força, desde o início da década passada (já que como nossa história nos atenta, este
nunca deixou de estar presente), agora com uma nova roupagem, evocando novamente o seu
monstro autojustificativo – o “perigo comunista” – ao passo em que se atrela a
fundamentalismos religiosos e negacionismos científicos, se fazendo presente nos diferentes e
mais distantes rincões de nosso país, no sentimento das pessoas, nos espaços públicos,
atacando constantemente nossa democracia.
Aulas de história, principalmente aquelas relacionadas a temáticas recentes e delicadas,
como o caso da ditadura civil-militar de 1964, por exemplo, tornam-se alvos prediletos dos
negacionistas. Nega-se a ocorrência da ditadura, nega-se a tortura como ação legitimada pelo
Estado, nega-se a morte de vários cidadãos brasileiros durante o período. Quando muito,
mencionam tais situações, mas de modo defensivo e heroico, justificando-as como a luta contra
1
Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central/FECLESC
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caso, para completarem sua carga horária de trabalho ou mesmo para assegurarem seus
primeiros empregos são obrigados a lidarem com disciplinas, conceitos, problemáticas e
reflexões que por mais que se aproximem da disciplina de história (como as demais ciências
humanas, no caso), também apresentam disparidades e questões específicas que em muito
dificultam a vida dos professores.
Outra questão interessante abordada por estes, especificamente sobre o ensino da
temática da ditadura civil-militar brasileira foi o fato de existir uma enorme defasagem quanto
ao volume ao qual tal conteúdo é submetido, não só na disciplina de história, mas na educação
de um modo geral. De acordo com os relatos dos professores, o currículo escolar aborda a
temática apenas em séries específicas e em momentos muito específicos, o que torna o
conhecimento sobre esse período de nossa história algo muito carente, pouco desenvolvido e
pobre de reflexões mais acuradas e críticas. Quando observa-se, por exemplo, que no terceiro
ano do ensino médio a temática se apresenta apenas no final do ano letivo – momento em que
os alunos estão com a atenção voltada quase que exclusivamente para provas externas – tal
problemática se torna ainda mais flagrante.
No fim das contas, esta defasagem e falta de continuidade no que diz respeito ao trato
com a temática supracitada – muito por conta de um currículo voltado para um projeto
específico (e autoritário) –, faz com que, quando muito, uma memória oficial e conciliatória
sobre a ditadura civil-militar continue imperando, uma vez que o próprio esquecimento
(justificado por errôneas ideias de revanchismo, por exemplo) seja instigado. No fim das
contas, essa ferida ainda aberta continua sem um tratamento adequado. Falando em ferida
aberta, tal questão também é abordada pelos professores de ciências humanas e integrantes
do núcleo gestor da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral César Cals, da cidade de
Quixadá, instituição a qual recebeu as atividades e reflexões proporcionadas pelo Projeto de
Extensão Fontes Históricas da Ditadura, durante o ano de 2018, e que também participaram de
nossa série de podcasts.
Como dito, a questão da memória e das implicações que a temática da ditadura civil-
militar impõe também se apresentam fortemente na fala de tais docentes. Um exemplo tácito
disto se dá a partir do próprio nome da escola, assim como de logradouros e diferentes espaços
públicos não só da cidade, mas por todo o país, onde militares e demais personagens daquele
período autoritário continuam sendo lembrados e cultuados, nos evidenciando mais uma vez
a vertente conciliatória final daquele período e, consequentemente, de sua memória, o que faz
com que narrativas que buscam legitimar ou defende-lo acabem tomando gigantescas
proporções, principalmente nos espaços cibernéticos.
As redes sociais, portanto, foram outra problemática abordada com muita ênfase pelos
professores da referida escola. A cada dia que passa torna-se mais evidente que estas possuem
uma força enorme e, consequentemente, uma grande influência social, principalmente em
termos políticos e sociais a partir do espalhamento de notícias falsas e/ou manipuladas a
partir de interesses específicos, o que acaba por influenciar também o contexto escolar que é,
como se sabe, um ambiente em que as questões da sociedade se refletem a partir de suas
especificidades, obviamente.
Deste modo, as aulas de história, como mencionamos ao longo do texto e como
enfatizaram os professores em nosso podcast, acabam por tornarem-se um desafio ainda
maior, visto que os discursos negacionistas e ideologicamente revisionistas espalhados
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pelas redes sociais, bem como outras plataformas (Youtube, por exemplo) são apropriados
pelos alunos que, por não checarem esses fatos e por analisarem-nos a partir de seus
interesses e crenças pessoais, acabam por duvidar constantemente das reflexões críticas
desenvolvidas nas aulas a partir das práticas docentes.
O Podcast gravado com os professores do ensino básico das cidades de Itapiúna e
Capistrano foi marcado por falas a respeito da complexidade do ensino de História,
especialmente do tema ditadura militar por toda a delicadeza e cuidado que é necessário se
ter na hora de se promover um amplo debate. Também foi apontado que por vezes o currículo
escolar não se atentava para a importância de se discutir com profundidade a ditadura, ou que
por seguir a cronologia do livro didático o conteúdo era tocado nos últimos meses dos anos,
podendo acontecer até mesmo de não ter tempo para sua abordagem, o que após foi visto
como um erro gravíssimo e o que levou a reformulação do currículo.
Já sobre os métodos didáticos usados do tema nas salas de aula, os professores
responderam que buscam além do livro didático trazem fontes diversas para que haja ampla
percepção do conteúdo por parte dos alunos. O uso da música e das artes se mostram
fundamentais na hora de se entender a resistência a repressão causada pelo período.
Já as professoras da escola Abraão Baquit localizada na cidade de Quixadá, declararam
sobre a passagem do projeto com grande alegria por parte da gestão, dos docentes como
também dos discentes. Pontuaram que iniciativas como as do Projeto de extensão Fontes
Históricas da Ditadura são meios de trazer a universidade para mais perto do âmbito escolar,
sendo assim uma parceria mútua.
Quando perguntados sobre as dificuldades em relação ao ensino da história da ditadura
militar, as professoras expressaram que há uma grande necessidade de mostra- los que o que
é levado para sala pelos professores não são meras opiniões sobre o assunto, que a é História
uma ciência que se baseia em documentos e fontes e os docentes são profissionais éticos que
exercem seu trabalho com profissionalismo.
Uma das dificuldades abordadas no episódio de Quixadá e Quixeramobim é apontado a
era da Fake News, que acaba prejudicando a área do ensino de História. Mencionada por um
dos professores, a discussão que existe na atualidade sobre a Educação é a de que todos
querem opinar sobre como deve ser o processo de ensino nas escolas, mas não se dá o espaço
devido para o professor que, durante todo o processo, é quem está na linha de frente. Nos é
relatado também que muitas vezes o currículo limita a profundidade de alguns temas como a
Ditadura Militar já que tal conteúdo é (estrategicamente?) abordado apenas em momentos
curtos e específicos. Sobre isto, mencionam a importância do Projeto de extensão e a parceria
com as demais escolas da rede básica, pois existe a necessidade da valorização de projetos que
incentivem a pratica histórica de ensino.
No bloco onde os professores falam sobre didática, eles mencionam que ao abordar o
tema Ditadura Militar dentro de sala, atualmente, é preciso ter prudência no momento de fala,
por conta de toda uma desvalorização da História. A abordagem do docente não pode ser vista
por seus alunos como uma afronta, mas sim como uma maneira de debater o conhecimento
histórico por meio da crítica, fazendo indagações sobre o período, para assim combater
negacionismo que rodeia a história da Ditadura.
Consideramos que a produção da série de podcasts "Escutas da Docência: Aulas de
História sobre a Ditadura", nos ajudou a ter um feedback do Projeto de extensão das escolas
que já passamos, além de dar voz aos professores do ensino básico a respeito dos desafios e
possibilidades frente ao contexto atual (pandemia e autoritarismos), e também a
compartilharem seus métodos didáticos sobre o ensino de história da ditadura.
SUMÁRIO
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REFERÊNCIAS
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Dissertação (Mestrado Académico) - Mestrado Interdisciplinar em História e Letras, Universidade Estadual do
Ceará, Quixada, 2018
CONCEIÇÃO, FLÁVIO DA. AS PRÁTICAS POLÍTICAS DO “MOVIMENTO DOS SARGENTOS” NA BASE AÉREA DE
FORTALEZA (1962-2002). 2015. 172 f.
Dissertação (Mestrado Acadêmico ou Profissional em XX) – Universidade Estadual do Ceará, 2015.
COSTA, Jucélio Regis da. Os jornais em marcha e as marchas da vitória nos jornais: a imprensa e o golpe civil
militar no Ceará (1961-1964). 2015. 157f. – Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Programa
de Pós-graduação em História, Fortaleza (CE), 2015
FARIAS, José Airton de. Além das armas: guerrilheiros de esquerda no Ceará durante a ditadura militar. 2007.
201 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Ceará, Departamento de História,
Programa de Pós-Graduação em História Social, Fortaleza-CE, 2007
FILHO, José Airton Sampaio. O movimento estudantil secundarista em Fortaleza e a Comissão Pró-CESC em fins
da década de 1970. 2020. Dissertação (Mestrado em Mestrado Interdisciplinar de História e Letras) - Faculdade
de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central - UECE.
GOMES, ATHAYSI COLAÇO. A ATUAÇÃO DAS MULHERES NO MOVIMENTO
ESTUDANTIL SECUNDARISTA FORTALEZENSE NA LUTA CONTRA A
DITADURA MILITAR (1964-1968). 2019. 134 f. Dissertação (Mestrado Acadêmicoou Profissional em XX) –
Universidade Estadual do Ceará, , 2019.
MACIEL, CAROLINA MARIA ABREU. SER ESTUDANTE NA FORTALEZA DE 1945-1963: A CONSTRUÇÃO DE UM
PERFIL ESTUDANTIL ATRAVÉS DOS DISCURSOS E DAS PRÁTICAS COTIDIANAS. 2017. 204 f. Dissertação
(Mestrado
Acadêmico ou Profissional em XX) – Universidade Estadual do Ceará, , 2017
MEIHY, J. C. S. B.; HOLANDA, F. História Oral Como Fazer Como Pensar. São Paulo: Contexto, 2018.
PORTELLI, A. Tentando aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre a Ética na História Oral. Projeto
História. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP,
São Paulo, v. 15, p. 13-50, abr. 1997.
SILVA, Thiago de Sales. Espetáculo inconveniente para qualquer horário: a censura e a recepção das telenovelas
na ditadura militar brasileira (1970-1980). 2016. 146f. – Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do
Ceará, Programa de Pós-graduação em História, Fortaleza (CE), 2016
SOUZA, Enilce Lima Cavalcante de. Campo e palavras: dimensões da Questão Agrária no Ceará, 1954-1964.
2005. 259f. – Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em
Historia, Fortaleza (CE), 2005.
SOUZA, R. F. O Podcast no Ensino de História e as demandas do Tempo Presente: Que possibilidades?.
Transversos: Revista de História. n. 11, p. 42-62, 2017. Disponível em:
https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/transversos/article/view/31585/22491 a cesso em
14/10/2020.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
1
Graduanda do curso de Pedagogia, Campus III da UFPB.
2
Graduanda do curso de Pedagogia, Campus III da UFPB.
3
O Programa de Responsabilidade Social é desenvolvido exclusivamente pelo Campus III da UFPB, que financia o
desenvolvimento de projetos que abordem conteúdos e ações pertinentes às Políticas de Educação Ambiental, de
Educação em Direitos Humanos, de Educação para as Relações Étnico-Raciais e Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira, Africana e Indígena, bem como a defesa da memória cultural, produção artística e preservação do
patrimônio histórico.
4
Orientado pela professora Dra. Vivian Galdino de Andrade. Departamento de Educação – DE/UFPB/Campus III.
vivetica@hotmail.com.
5
Repositório Digital “História da Educação do Município de Bananeiras- HEB”, disponível:
http://www.cchsa.ufpb.br/heb.
6
Decreto de Lei Nº 31.842 de 03 de dezembro de 2010, disponível no repositório digital HEB, no seguinte endereço
eletrônico: http://online.pubhtml5.com/vced/rzoz/
7
A Peteca de banana é uma sobremesa declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Bananeiras – PB pela
Medida provisória Nº 06, de 02 de outubro de 2017.
SUMÁRIO
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Moreno, era distrito de Bananeiras até os primeiros anos da década de 1950, trazendo ares de
um comércio populoso, que se destaca pela economia e pelas festas juninas, inscritas no
Circuito do Caminho do Frio.
Mapear estes espaços de memória não foi uma tarefa fácil, principalmente em um
contexto de pandemia que inviabilizou a pesquisa em arquivos e a realização de entrevistas in
loco. Foi para narrar este processo de pesquisa e coleta destes dados que propomos este artigo,
voltado a enfatizar o papel das novas tecnologias dentro de uma pesquisa histórica.
Metodologia
Nossa investigação percorreu diversos acervos digitais, bem como buscou captar as
oralidades em meios virtuais, como nas redes sociais Instagram, WhatsApp, sendo esses
caminhos prováveis para a realização das entrevistas. Livros de memória e alguns jornais
foram adquiridos em acervos pessoais e digitalizados para acesso de todos os componentes
de nosso Grupo de Pesquisa8. Outros Jornais (como A União9) e demais documentos locais
foram consultados em diversos acervos virtuais, como o repositório HEB, bem como em
demais hemerotecas digitais, tais como “Jornais e Folhetins Literários da Paraíba” 10,
“Biblioteca Nacional Digital”11 e “Biblioteca Britânica”12. Estas plataformas foram
instrumentos essenciais para o desenvolvimento de nossas atividades de pesquisa.
8
Os livros de memória consultados não estavam disponíveis – em sua grande maioria- nas Bibliotecas Municipais,
principalmente considerando o caso de Solânea. Vale ainda destacar que estes espaços também se encontravam
fechados devido ao contexto da Pandemia.
9
Jornal A União: https://auniao.pb.gov.br/servicos/arquivo-digital/jornal-a-uniao
10
Jornais e Folhetins Literários da Paraíba. Disponível em: http://www.cchla.ufpb.br/jornaisefolhetins/acervo.html
11
Jornais da Biblioteca Nacional Digital. Disponível em http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
12
Jornais da Biblioteca britânica: Disponível em: https://eap.bl.uk/search/site/Bananeiras%2520
SUMÁRIO
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[...] os lugares de memória são, antes de tudo, um misto de história e memória, momentos
híbridos, pois não há mais como se ter somente memória, há a necessidade de identificar
uma origem, um nascimento, algo que relegue a memória ao passado, fossilizando-a de
novo. O passado nos é dado como radicalmente outro, ele é esse mundo do qual estamos
desligados para sempre. É colocando em evidência toda a extensão que dele nos separa
que nossa memória confessa sua verdade como operação que, de um golpe a suprime.
Para ele, os lugares de memória existem por que não há mais memória, por isso ser
preciso criar espaços específicos de memória para resguardá-las. Por meio deles, os indivíduos
se reconhecem como sujeitos partícipes de uma história. Neste contexto, o que podemos
encontrar em Bananeiras e em Solânea como espaços de memórias? Bananeiras é uma cidade
localizada no Brejo Paraibano, a 136 km de João Pessoa. Marcada historicamente como uma
das maiores produtoras de café e açúcar da Paraíba no início do séc. XX, esta cidade traz em
seu casario marcas dessa cultura. Solânea, produtora de fumo, foi Chã de Moreno (em 1832),
Distrito da Paz (em 1926) e Vila de Bananeiras, sendo emancipada administrativamente em
26 de novembro de 1953. Para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN, 2014) lugares de memória são
[…] aqueles que possuem sentido cultural diferenciado para a população local, onde são
realizadas práticas e atividades de naturezas variadas, tanto cotidianas quanto
excepcionais, tanto vernáculas quanto oficiais. Podem ser conceituados como lugares
focais da vida social de uma localidade, cujos atributos são reconhecidos e tematizados em
representações simbólicas e narrativas, participando da construção dos sentidos de
pertencimento, memória e identidade dos grupos sociais13.
13
Citação disponível no seguinte endereço: http://portal.iphan.gov.br/fototeca/detalhes/18/fototeca-registro-dos-
lugares. Acesso: 20/10/2020.
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Fonte: www.cchsa.ufpb.br/heb
Fonte: https://issuu.com/marianaferreira195/docs/cartilha_final
No que se refere a confecção do Inventário, o item “memória histórica” possui grande
potencial didático para o debate da história local, pois pode subsidiar a produção de pesquisas
e recursos educativos na área. Informações como localização, data de fundação, função social
14
Acesse a cartilha “Jogos Culturais: um olhar sobre o patrimônio”, produzidas pelas professoras Vivian Galdino de
Andrade e Mariana Ferreira pelo endereço eletrônico: https://issuu.com/marianaferreira195/docs/cartilha_final.
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Fonte: http://www.cchsa.ufpb.br/heb/contents/arquivos/educacao-patrimonial/patrimonio-arquitetonico-1
SUMÁRIO
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Fonte: encurtador.com.br/fpsLT
Fonte: encurtador.com.br/pLQT1
Esses mapas são instrumentos cartográficos que representam “os processos que
envolvem a construção identitária” dos sujeitos (CIASCA, 2018, p.212). Eles podem permitir o
acesso a memória e aos vínculos afetivos que determinados moradores tecem com os
lugares/espaços da cidade onde vivem. Por meio deles é possível reunir dados que possam
auxiliar na produção de políticas públicas de preservação do patrimônio local, uma vez que
eles são também artefatos que materializam memórias sociais.
Diante desta trajetória narrada até aqui, podemos ver o papel das tecnologias para o
desenvolvimento da pesquisa histórica. No entanto, não podemos deixar de alertar que,
mesmo diante das inúmeras possibilidades do fazer pesquisa, mais especificamente no
contexto da operação historiográfica, surgidas nessa "Era Google" (GINZBURG, 2010),
devemos superar uma perspectiva dicotômica e advogar o saudável convívio entre o digital e
o impresso. Acreditamos na construção de instituições híbridas de guarda e difusão do saber,
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onde tanto o impresso quanto o digital tenham o seu lugar, estando os recursos tecnológicos
como auxiliadores na preservação do patrimônio histórico-documental impresso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As tecnologias são tomadas como ferramentas que facilitam a vida dos sujeitos sociais,
estando presentes na humanidade desde sempre. Não diferentemente tem ocorrido no âmbito
da pesquisa historiográfica, estando estas ferramentas a auxiliar as atividades de pesquisa e
ensino no campo da História. Dentro da História Local de algumas cidades brejeiras, como
Bananeiras e Solânea, estes artefatos tem possibilitados a produção de recursos didáticos para
o debate da história local, ampliando o acesso a informações antes isoladas em acervos
pessoais.
Mesmo reconhecendo o benefício e o potencial destas ferramentas, repudiamos
posturas extremas que defendem a supremacia absoluta das novas tecnologias, visto que, o
advento das TIC não implica no abandono dos antigos procedimentos. Mas também refutamos
posições que negam as diversas possibilidades proporcionadas por estas mídias na
propagação da comunicação e da informação, mais enfaticamente no que se refere a produção
do conhecimento histórico em âmbito local. Enquanto objetos culturais, tanto o impresso
quanto o digital indiciam aspectos das sociedades que os produziram (e produzem) e em que
circularam (ou circulam). Portanto, oportunizar a existência de ambas é ansiar garantir a
indestrutibilidade da materialidade textual e de suas formas de difusão.
REFERENCIAS
ALMEIDA, Fabio Chang de. O historiador e as fontes digitais: uma visão acerca da internet como fonte
primária para pesquisas históricas. In: Aedos, n.8, v.3, jan./jun. 2011. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/16776>. Acesso em: 20 de set. 2017.
ARÉVALO, Marcia Conceição da Massena. Lugares de memória ou a prática de preservar o invisível através do
concreto. Revista História Hoje. Revista eletrônica da história. Volume 3, Nº 7, 2005.
GONDRA, José G. A leveza os Bips: história da educação e as novas tecnologias. In: FARIA FILHO, Luciano
Mendes de (Org.). Arquivos, fontes e novas tecnologias: questões para a hstória da educação. Campinas, SP:
Autores Associados, 2000. (p. 3-18)
NORA, Pierre. Entre memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: PUC-SP,
1993.
SUMÁRIO
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1
Luciana Angelice Biffi é doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Educação, Arte e História da Cultura na
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia (2018). Faz parte
do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura – NEHAC e da REDE de Pesquisa em História e Cultura no
Mundo Contemporâneo.
SUMÁRIO
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angústia sobre a condição docente. Todos tiveram que se ‘reinventar’. Mas nós estávamos
preparados e estamos preparados para isso?
Isso posto, as reflexões partem da premissa de que os alunos possuem acesso a um
smartphone e a internet assim como os professores, alguns inclusive, considerados ‘nativos
digitais’2. Invariavelmente, isso afetou, afeta e afetará cada vez mais o cotidiano da sala de aula
e tem-se que se aprender a lidar com ela e tudo que ela produz, tantos os aspectos
considerados bons, que auxiliam e facilitam o processo de ensino-aprendizagem quanto as
ruins, que atrapalham a aula e dificultam o desenvolvimento.
Pensar essas questões dentro do cenário contemporâneo parece algo diatópico, onde
as relações sociais e a própria dinâmica da sala de aula, tudo parece estar competindo com o
professor pela atenção do aluno. A utilização de celulares faz com que inclusive o aluno
questione os dados, datas, acontecimentos históricos, já que basta ele “dar um google” que
surgem todas as respostas, das mais diversas maneiras (vídeo, desenhos, podcasts, textos etc.)
e com as mais diversas interpretações.
Alguns dos efeitos imediatos do nosso tempo são as fakes news, notícias falsas que
sempre existiram, mas não com a quantidade e rapidez que se tem hoje, criadas no mundo
‘online’ podendo reverberar no mundo ‘offline’. Outra noção que surge é ideia de cancelamento,
onde alguém fez algo o público julga estar errado, equivocado, rapidamente ele perde
patrocínio, é excluído das redes sociais, e o outro ponto é relacionado as redes sociais
(Facebook, Instagram, Twitter, alguns exemplos) temos o compartilhamento de manada, onde
muitos usuários compartilham e publicam a mesma imagem. De alguma forma todos esses
conceitos e problemáticas são conteúdo dos professores das ciências humanas, da história, que
em alguma medida vai ter que elaborar, processar e interpretar em um exercício dialógico com
seus alunos essas questões que permeiam e transpassam a sociedade contemporânea.
No atual cenário, não apenas no Brasil, vemos emergir questões complexas que
influenciam o cotidiano das pessoas e que causam questionamentos profundos na sociedade.
Pensar o ensino de história se tornar muito importante, em tempos de revisionismo histórico,
de disputas por espaços nas redes sociais e entre narrativas que tentam se firmar na memória.
Alguns dos acontecimentos recentes foram as derrubadas de estátuas de escravocratas nos
Estados Unidos, na Bélgica e em outros países com o movimento Black Lives Matter (Vidas
Negras Importam), assim como cancelamentos de filmes e artistas considerados racistas e/ou
misóginos, são alguns dos acontecimentos para entendermos como esse revisionismo aparece
efetivamente. Contudo, não podemos olhar para esses eventos sem o auxílio da história e
entendendo-os como fruto do seu próprio tempo e possível de acontecer na especificidade do
nosso tempo.
“Pensar com a história” não é o mesmo que pensar sobre a história, como uma forma geral
de produzir sentido. Isso é o que os filósofos ou teóricos da história fazem. Pensar com a
história implica o emprego dos materiais do passado e das configurações em que os
organizamos e compreendemos para nos orientar no presente. Em um modo, pensamos
com o produto substantivo da investigação histórica, com as imagens que formamos do
passado, a fim de nos definir por estática, uma imagem ou tableau vivant de uma cultura
que pertence ao passado. Podemos também ‘pensar com a história’ de outro modo, quando
concebemos história como processo. Então a história é dinâmica, ligando ou dissolvendo
2
Termo criado pelo norte americano Marc Prensky, para determinar os nascidos a partir dos anos 80 que tiveram
acesso desde o seu nascimento e cresceu com tecnologias digitais na sua vivência.
SUMÁRIO
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elementos estáticos num padrão narrativo de mudança. Podemos ainda tratar esse
processo como um objeto, mas é difícil divorciá-lo de nossa existência como sujeitos
pensantes. Se nos situamos na corrente da história, podemos começar a nos ver e à nossa
vida mental, seja pessoal, seja coletiva, como condicionados pelo presente histórico tal
como ele se define a partir do – ou contra o – passado. “Pensar com a história”, no primeiro
sentido, implica, portanto, a utilização de elementos do passado na construção cultural do
presente e do futuro. No segundo sentido, torna relativo o sujeito, seja pessoal, seja
coletivo, de um modo auto-reflexivo, ao fluxo do tempo social.3
Como escreve Carl Shorske, é preciso ‘pensar com a história’ e isso significa levar em
consideração o nosso passado. Enquanto historiadores, não podemos julgá-lo, sendo esse um
dos ensinamentos basilares de Marc Bloch em ‘Apologia da História’, mas compreender as
características do seu tempo. Isso significa compreender quais eram os valores de uma
sociedade em um determinado tempo histórico e aqui, lembrar dos preceitos teóricos de
Koseleck em ‘Estratos do Tempo’ quando ele traz a ideia de que existem no nosso presente,
várias camadas temporais, que coexistem, e neste sentido o historiador/pesquisador tem que
fazer um exercício arqueológico, como diz Michael Foucault, de cavar e descobrir essas
‘camadas’ do passado que estão no presente.
Em tempos efêmeros ou líquidos como diz o Bauman, onde quase tudo que é sólido se
desmancha no ar, é possível apontar um agravamento, um aceleramento desse ‘presentismo’
através dos dispositivos tecnológicos como celulares, como a internet, sites de pesquisa como
o Google. O foco está no agora, se vê o que as pessoas nas redes sociais estão comendo, lendo,
viajando, comprando, agora. Nessa lógica, pode-se pesquisar sobre qualquer assunto, neste
exato momento, inclusive em uma perspectiva acadêmica, ao utilizarmos o Google Acadêmico,
a Plataforma Lattes, ou qualquer outra. Isso acarreta numa percepção típica do século XXI, faz
com que até o conhecimento, entre na lógica de uma entrega quase imediata, que é mediada
pela internet, um site, um aplicativo, que é o ‘delivery’ (entregar, tradução livre).
E o que isso nos diz sobre nós, enquanto sociedade? Revela em partes que não se tem
um conhecimento claro de como funciona a lógica de uma pesquisa, um baixo ‘letramento
científico’, independentemente da área do conhecimento. Ficando evidente ao vermos
promessas, notícias de que a ‘vacina contra o corona vírus vai sair em 2021’, quando pesquisas
com vacina levam até quatro (4) anos para serem aplicadas na população, a angústia de querer
um tratamento que corresponda imediatamente a nossa doença, quando na verdade para um
remédio dar certo, outros tantos tiveram que dar errado. Qualquer pesquisa envolve o erro. E
leva tempo, porque pesquisa é processo que requer acúmulo teórico, de método, diálogo entre
pares para que algo de qualidade possa ser apresentado e experiência na realidade. Esse
imediatismo, de ‘feed infinito’ que é atualizado a todo momento, a forma como nos
relacionamentos com o conhecimento, os acontecimentos do nosso tempo, precisam ser
analisados com cuidado. Como diz a professora Drag-Queen Rita von Hunty:
3
SCHORSKE, Carl E. Pensando com a história: indagações na passagem para o modernismo. Editora Companhia das
Letras, São Paulo. 2000. P. 13 - 14.
4
DELIVERY DE CONHECIMENTO. Disponível em:
< https://www.youtube.com/watch?v=ifegCpvnvdo > Acesso dia 05 de novembro de 2020.
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Neste sentido, pensar historicamente, nunca foi tão importante. Porque entender o
processo no qual vivemos faz parte do ofício do historiador, assim como buscar quais são as
disputas em jogo é fundamental para compreendermos o cenário atual. Ao nos depararmos
com a quantidade de documentos, sejam eles fakes, posts em Instagram, ou o cancelamento de
alguma celebridade, se constitui como documento para o história, que, através do método,
pode e deve ser analisado pelo historiador Ou seja, o método, o pensamento crítico e o
manuseio dos documentos é fundamental no ensino de história, independente do grau
educacional. E apesar das adversidades, do calendário rígido, do conteúdo a se seguir, das
cobranças das provas e do cumprimento do livro didático, é preciso achar uma brecha para a
compreensão da produção de conhecimento histórico.
O que o professor de história vai ensinar? Quais as habilidades queremos desenvolver
nos alunos e nos professores? Desta forma, dois possíveis desdobramentos são como isso afeta
o currículo e a construção do conhecimento, que tem como consequência pensar
historicamente. Analisar o currículo do ensino de história, sendo algumas dessas questões já
estão previstas nas Bases Nacional Comum Curriculares (BNCC) e como aplicar a metodologia
cientifica da ciência histórica. Pensando nos exemplos supracitados, fake news, cancelamentos
e publicação (o chamado repost) ‘pensar com a história’ auxilia a análise, a interpretação dos
eventos contemporâneos, compreendendo o passado, manuseando esses novos documentos
que estão sendo produzidos em grande quantidade e chegam para nós das mais diversas
formas.
Ao trazer o método e a técnica do historiador para a sala fará a diferença, tanto na sala de
aula, quanto na formação dos alunos enquanto cidadão. Compreendendo a história como
processo, articulando as temporalidades e as camadas temporais para compreender as
características do nosso tempo, através dos nossos espaços de experiencias e dos nossos
horizontes de expectativas. O pensamento crítico, a análise de documentos, o processo de
disputa da memória são ferramentas que a história e o ensino de história podem oferecer.
Principalmente para os desafios dos impactos que envolvem as relações no ciberespaço.
Nunca foi tão importante pensar historicamente, precisamos levar em consideração o
nosso passado para entendermos uma estrutura de sociedade. A importância de entender que
existem camadas temporais que temos que aprender a escavar e a ver. Não obstante é
importante entender que existem espaços de disputas da memória. “Não basta vencer no
processo, você tem que vencer na memória” Hannah Arendt. Ou seja, as coisas não são dadas
por acaso. É também pensar metodologicamente os documentos e fontes que são produzidas
hoje e saber lê-las. Pensar com a história é levar tudo isso em consideração, é difícil e dá
trabalho, e tanto nós professores, quanto nossos alunos, vão ter que estudar para sempre, para
alcançar uma autonomia.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. "Vida líquido." Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar 2008
BLOCH, Marc. Apologia da história ou, O ofício do historiador. Editora Zahar. Rio de Janeiro, 2001.
KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre o tempo. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC Rio,
2014.
SCHORSKE, Carl E. Pensando com a história: indagações na passagem para o modernismo. Editora
Companhia das Letras, São Paulo. 2000.
RIFKIN, Jeremy. O Fim dos Empregos: O contínuo crescimento do desemprego em todo o mundo. M. Books,
São Paulo. 2020.
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FAVA, Rui. Trabalho, Educação e Inteligência Artificial: A Era do Indivíduo Versátil. Penso Editora, São Paulo.
2018.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Editora Paz e Terra. Rio de Janeiro. 1996.
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Toda sociedade passa por processos de mudanças que exigem formas inovadoras para
enfrentar as novas experiências e problemas que surgem, isso ocorre em todas as áreas,
inclusive no campo educacional. Atualmente discutir o ensino de História, como o de outras
áreas do conhecimento, passa pelo exercício de se pensar em novas práticas educativas
atrelados à realidade dos educandos. Pesquisadores discutem a importância de uma boa
relação entre professores e alunos, bem como a necessidade de conduzir o discente a pensar
e a agir em seu meio.
No campo da História, tem-se buscado redefinir não apenas o aspecto seleção e
organização dos conteúdos, mas também novas metodologias para trabalhar os conteúdos
com os alunos com o propósito de tornar mais atrativas as aulas de história, já que são vistas
por muitos alunos da educação básica como “chatas”. Esses métodos são pensados na
perspectiva do professor e do aluno como sujeitos da História. Segundo Vygotsky, o contexto
interfere diretamente no desenvolvimento do indivíduo, os jovens estão acostumados dentro
da lógica da web, esse contexto no qual a tecnologia está cada mais presente no cotidiano das
pessoas e não deve ser ignorado na sala de aula.
Nesta sociedade contemporânea, as Tecnologias da Informação e Comunicação-TICs
vem destacando-se como campo fértil na produção e difusão de informações. Desse modo, o
uso dessas ferramentas nas escolas pode proporcionar aos professores e alunos uma
comunicação de forma multimidiática, o que oportuniza experimentações pedagógicas de
construção do conhecimento, além de permitir novas práticas culturais (TORI, 2013).
Neste aspecto “os jogos digitais também apresentam-se como forte base de
entretenimento entre os estudantes da escola pública, que deslumbram-se com o meio virtual
a ser apresentado nestes” (DUARTE, 2013, p. 12), Pois os processos de aprendizagem ocorrem
em todos os espaços, tanto dentro da escola como nas experiências sociais fora dela.
Desta forma, o presente artigo é resultado da experiência de um projeto de pesquisa
em andamento, que tem como referência a utilização de jogo em realidade virtual que retrata
a História de Roraima no ensino fundamental I nas salas de aula do município de Boa Vista,
Roraima, foi criado em 2018 e é resultado do Programa de Talentos da Prefeitura de Boa Vista,
capital do estado de Roraima.
O jogo foi denominado BV1282 porque no ano de sua criação era comemorado o
aniversário de 128 anos da cidade. Neste momento contextualizaremos a metodologia digital
nas salas de aula e posteriormente um breve relato de como o jogo se constitui e os resultados
das primeiras experiências do projeto.
1
Universidade Federal de Roraima
2
Jogo disponível gratuitamente pelo link:
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.fabriciolpu2.boavista128
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O termo nativo digital aqui apresentado surge a partir das definições do educador e
pesquisador norte americano Marc Prensky (2001), em seus estudos ele analisa os
comportamentos da nova geração na Era da informação. Esse período é entendido a partir dos
anos de 1980, caracterizado especialmente pela popularização da Internet e de novas
tecnologias digitais, o que ocasionou modificações sociais, culturais, comportamentais nas
sociedades pelo mundo.
Para Prensky, a tecnologia digital é entendida como uma linguagem e define dois
grupos de usuários dessa língua: os nativos digitais considerados todos nascentes a partir da
década de 1980 e os migrantes digitais que seriam os que aprenderam a lidar com tecnologia
a partir da vida adulta. Entretanto, dentro das definições do autor, observa-se a exclusão das
pessoas que mesmo nascidas posteriormente ao período supracitado, não possuem acesso às
tecnologias por conta das questões financeiras que lhes privam desse conhecimento. Com isso,
a pesquisa aqui apresentada observa os nativos digitais a partir da premissa que são aqueles
que “falam” a linguagem digital desde que nasceram pois possuem acesso as tecnologias e
recursos disponibilizados.
A partir dessas definições, percebe-se que essa geração de jovens possui
características no modo de agir, pensar e se comunicar diferentes das gerações anteriores. Os
nativos digitais estão acostumados a obter informações de forma rápida e costumam recorrer
primeiramente a fontes digitais e à Web antes de procurarem em livros ou na mídia impressa
(PESCADOR, 2010). Para Prensky (2001) a familiaridade desses jovens com a linguagem
digital faz com que ela seja para eles como uma segunda língua.
A analogia de Prensky (2001) sobre linguagem digital como segunda língua também
estende-se aos migrantes digitais, ou seja, as gerações anteriores. Para o autor, as pessoas que
aprenderam a usar tecnologia ao longo da vida adulta possuem “sotaques”, pois mesmo que
aprendam a ser fluentes no uso da linguagem digital, eles ainda manifestam certos costumes
da sua primeira língua, analógica, como por exemplo, escrever antes de digitar e buscar
informações primeiramente em fontes impressas.
Os contrastes entre as gerações mais novas e mais velhas não estão relacionados
apenas ao que esses jovens estão fazendo, mas também a como estão fazendo. Palfrey e Gasser
(2008) afirmam que os nativos digitais estão acostumados a receberem informações muito
rapidamente e processam mais de uma coisa por vez, realizando multitarefas. Para eles é
comum que realizem duas ou três coisas ao mesmo tempo, como, por exemplo, assistir filmes,
enquanto fazem download de arquivos ou interagem com amigos virtuais através das redes
sociais. Segundo Mattar (2010), os nativos digitais aprendem de forma interativa e baseada
em suas próprias descobertas, são impacientes com aulas meramente expositivas pois
aprendem através do processo de tentativa e erros.
Atualmente as salas de aulas do ensino básico são compostas, na sua grande maioria,
por, alunos falantes nativos 3 e professores Imigrantes Digitais. Para Prensky (2001) os
educadores usam uma linguagem pré-digital e estão lutando para ensinar uma população que
fala uma linguagem totalmente nova. Desse modo, o docente precisa falar a mesma língua
3
PRENSKY, M.: Digital Natives Digital Immigrants. In: PRENSKY, Marc. On the Horizon. NCB University Press, Vol. 9 No.
5, October (2001a). Disponível em . Accesso em 13/Março/2008.
SUMÁRIO
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digital do seu aluno ao mesmo tempo que ensina conteúdos do currículo tradicional, neste
contexto o autor afirma que é necessário fazer adaptações dos materiais e repensar as
metodologias. Prensky (2001) indica que guiar as produções de metodologia através da
percepção dos alunos é uma das alternativas para esse repensar metodológico, dentro disso,
os jogos digitais são uma boa ferramenta já que possuem um idioma familiar para os alunos.
Corroborando com essa afirmativa, Mattos (2010) ao falar sobre os jogos
digitais e sua aplicação na educação, aponta que produzem um aprendizado
altamente social pois é comum que os seus jogadores, para atingir objetivos individuais,
realizem um trabalho de troca de experiência. Realizando o compartilhamento de descobertas
e dúvidas através das comunidades virtuais criadas nas redes sociais, canal no youtube ou pela
plataforma do próprio jogo.
Os nativos digitais buscam explorar como funciona determinados sistemas fugindo de
informações baseadas por meio de instruções. Segundo Arruda (2011) Os games são
projetados intencionalmente para que as regras se tornem aparentes à medida que se joga, ou
seja, para que o jogador aprenda jogando na medida que passa de fases e geralmente eles
fazem uso de estratégias por meio de experiências adquiridas a partir de outros games que já
conhecem.
Os games são ferramentas culturais e transformam conhecimentos através da
internalização que o sujeito faz dos processos no ambiente do jogo (MATTAR,2010), são
utilizados pelos nativos digitais como lazer e integram a construção de sua cultura, visto que
geram interesse e motivação em sua prática (AZEVEDO, 2012). Os games permitem a prática
exploratória de aprendizagem baseada na tentativa e erro. Essa forma de aprendizagem
baseado nas próprias descobertas encontra respaldo na teoria de Vygotsky (1998) no qual
afirma que o conhecimento é o resultado da ação que se passa entre o sujeito e um objeto.
A sociedade modernizou-se por meio do avanço das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs), com esse processo surgiram novos modos de pensar e aprender.
Considerando o processo de transição vivenciado no campo educacional, que se faz necessário
para acompanhar essas mudanças, é perceptível que a escola não vem acompanhando estas
mudanças na mesma rapidez (DUARTE, 2013). Nota-se que a prática educativa ainda está
enraizada em métodos e parâmetros tradicionais que não encontram mais um formato
satisfatório entre nossos jovens.
Portanto, visando contribuir com o debate sobre a adequação das escolas e as novas
metodologias que estejam integradas à realidade dos jovens, o presente artigo apresenta uma
proposta de gamificação voltada para o campo educacional, uma possibilidade a ser pensada
e inserida nas salas de aulas.
BV128 - A experiência
SUMÁRIO
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O aplicativo foi elaborado pelo Estúdio Canaimé, Statup formada a partir de uma
iniciativa pública municipal para o desenvolvimento de tecnologias que valorizassem a cultura
local. A atualmente a equipe é composta com 9 membros dentre programadores, designes,
modeladores e pesquisadores. Após um intenso estudo com base em documentos e fontes
iconográficas, produzimos uma versão da Boa Vista do século XIX.
A narrativa construída no jogo contempla, em partes, a visão do papel dos indígenas,
que em sua grande maioria foram excluídos da história oficial, mas que fizeram e deram
significado na cidade de Boa Vista. Buscando romper com o que Pesavento (2007) chama de
“memória cristalizada”, contribuindo assim para a valorização da cultura local que sofre forte
influências das tradições indígenas. A figura 1 é um Screen shot retirada do jogo BV128 na sua
parte introdutória, explicando brevemente a presença dos índios no forte junto aos
portugueses.
Para o piloto do projeto, atendemos 2 escolas da rede pública municipal da cidade de Boa
Vista-RR, as instituições escolhidas pela Secretaria de Educação foram a Escola Municipal
Raimundo Eloy Gomes e Escola Municipal Pequeno Polegar, localizadas na zona oeste da
cidade. O projeto atendeu cerca de 300 alunos do 4° ano do ensino fundamental.
Antes da aplicação do jogo na sala de aula, houve um treinamento com os professores
para manuseio dos equipamentos, além disso, houve uma formação para os professores sobre
História regional. Foram ministradas pelos 2 historiadores da equipe 5 aulas sobre História de
Roraima, produzimos também um material de apoio para auxiliar os docentes nas aulas que
antecederam a aplicação do jogo com os discentes. Houve todo um preparo teórico com os
alunos sobre o jogo e sua finalidade para a disciplina, pois a experiência foi aplicada como uma
atividade avaliativa integrada a plataforma do jogo.
Através do financiamento público municipal a startup Canaimé pode adquirir todas as
ferramentas utilizadas na aplicação do projeto, dentro e fora da sala de aula, como Celular,
Óculos de RV e Fones de Ouvido, Tablet com o aplicativo do BV128 VR, tablet com aplicativo
de Realidade Aumentada, livro e material de apoio para docente, para acesso em Laboratório
de Informática ou domiciliar, portal EAD: com apostilas, artigos, vídeos, livro digital; versão
WEB (Linux e Window), Android do BV128.
O projeto foi aplicado efetivamente na sala pela equipe da Canaimé studio, levamos os
equipamentos, distribuímos, houve uma breve explicação de como funcionava o jogo e
introduzimos o aluno na época em que se passa o cenário. Como não havia equipamentos
SUMÁRIO
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suficientes para todos da sala, fizemos um rodízio das ferramentas até que todos os alunos
fizessem uso da Realidade Virtual e aumentada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO
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No contexto da aprendizagem dos nativos digitais percebe-se que não querem ser
simples ouvintes, são estimulados e motivados em atividades que possam interagir a partir de
negociação e trocas de informações, no qual sua opinião é respeitada e levada em
consideração.
No sentido de buscar aprender novas maneiras para se aplicar o conteúdo do currículo
tradicional e fazer algo antigo dentro da dinâmica educacional atual, é necessário se estudar
melhor a geração que se apresenta e entender como utilizar as ferramentas de modo
produtivo. Os alunos são nativos digitais, porém, muitas vezes eles só tem domínio de
aplicativos das redes sociais mas em relação em contextualizar, a trazer para o processo
educacional eles ainda precisam de uma pessoa mediadora, que seria o professor.
Nativos e imigrantes digitais devem juntos construir uma parceria que seja benéfica
para as práticas educativas. Portanto, dentro do quadro exposto é possível a realização de boas
práticas por meio da inserção de tecnologias como os jogos digitais pois proporcionam um
aprendizado por meio de troca de experiências e ações colaborativas que fortalecem a
comunicação com e entre os jovens.
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SUMÁRIO
Experiências no Ensino de
história na Educação Básica
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1 INTRODUÇÃO
ensinar a edificar o próprio ponto de vista histórico, significa ensinar a construir conceitos
e aplicá-los diante das variadas situações e problemas, significa ensinar a selecionar,
relacionar e interpretar dados e informações de maneira a ter uma maior compreensão da
SUMÁRIO
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realidade que estiver sendo estudada; ensinar a construir argumentos que permitam
explicar a si próprios e aos outros, de maneira convincente, a apreensão e compreensão da
situação histórica; significa, enfim, ensinar a ter uma percepção o mais abrangente possível
da condição humana, nas mais diferentes culturas e diante dos mais variados problemas
(RUIZ, 2015, p. 77).
SUMÁRIO
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1
Biografia do autor consultada no periódico: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/405-rogerio-andrade-
barbosa.
SUMÁRIO
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África, levando-os a perceber que a localização geográfica tornava o país um ponto estratégico
no comércio entre Europa e Índia, o que resultou no início da colonização. Com isso, será
possível despertar o olhar crítico e perceber que esses países objetivavam recursos, explorar
os homens, impor as leis e segregar os nativos. Nesta aula, o professor deve buscar recursos
audiovisuais (vídeos ou imagens) para que os alunos percebam a segregação racial e
construam uma reflexão crítica perante esse fenômeno que ainda faz parte da construção
histórica e segregativa da sociedade. Todas essas provocações podem resultar na produção de
um texto coletivo.
- Mandela: o africano de todas as cores: este momento pode ser iniciado com
questionamentos sobre as cores do livro, por meio das perguntas: as cores no livro são
vibrantes? Será que têm um significado? Transmitem alguma ideia? Com intuito de
demonstrar que a presença de muitas cores é para representar os diferentes grupos da África
do Sul. A união dessas cores foi resultado de muita luta e resistência, pois um país que durante
três séculos viveu sob o domínio de uma única cor, precisa demonstrar em sua história o poder
das cores2. Depois os alunos serão instigados a pensar em palavras que apresentem ideias
contraditórias (exemplo: alegria/tristeza; paz/guerra), que serão anotadas no quadro e, para
cada uma delas, deverão pensar em cores para representar. Terminado esse momento será
entregue uma folha de papel pardo para que os alunos utilizando as antíteses escritas no
quadro ilustre cada uma com imagens de revistas para criar um mural que representará a
identidade do grupo por meio da participação de todos e construção de todos, pois era essa a
intenção de Mandela. Além disso, nesse momento com as cores escolhidas a professora pode
propor a (re) ilustração individual da capa do livro “Madiba: o menino africano”a ser entregue,
ao final, para a professora.
- O que é liberdade para você? Os heróis são reconhecidos por um povo pelos seus ideais e
pelo empenho que dedicam para realizá-los. A trajetória é sempre marcada pela dedicação e
luta. Em muitos casos, esse trajeto pode expressar violência, dor, morte, mas também é
possível vencer pela resistência. E os nossos heróis? Será realizado um diálogo com os
estudantes sobre quem são os heróis da ficção e da vida deles. Em seguida, em trios, eles
criarão os seus próprios heróis, identificando: qual seu nome; se terá identidade secreta;
contra o que vai lutar; qual a sua trajetória de luta. Cada trio escreverá um parágrafo para ler
para turma. Terminado esse momento, serão levantadas as características de um herói e
questionado: O que fez de Nelson Mandela um herói? Este momento levará os alunos a
refletirem sobre o que era o Apartheid, solicitando que eles procurem no livro o que era esse
sistema, qual a importância do seu fim, qual foi a trajetória de luta para que se colocasse um
ponto final nesse regime, quais foram os direitos conquistados para os negros, o que a luta
representou para a sociedade. Além disso, será construído um texto-suporte sobre o regime
utilizando as fontes abaixo, ou seja, à medida que forem falando as características, serão
realizadas anotações no quadro. Depois, será proposta a construção de uma esquete,
demonstrando a realidade dos negros na época do Regime, bem como a importância de Nelson
Mandela nesta luta.
- Os sonhos de cada um: Esta sequência será finalizada com a inspiração de leitura coletiva e
vagarosa do poema “Nossos Medos”, de Nelson Mandela, com intuito de levar os alunos a
pensarem que, assim como Mandela, todos nós temos sonhos e talentos que cultivamos, bem
2
Essa informação foi contextualizada por meio da pesquisa no Portal Sua Pesquisa disponível no link:
https://www.suapesquisa.com/paises/africa_do_sul/bandeira_africa_do_sul.htm.
SUMÁRIO
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como apresentar a que mundo o poema se refere. Inspirados pela sua história, será proposto
que os alunos registrem seus sonhos em formato textual propondo um olhar sobre as
injustiças que mais os incomodam, e pedindo que observem seus talentos e os conhecimentos
que acreditam poder disponibilizar em suas vidas para tornar o mundo melhor. Assim, será
construído o livro dos sonhos, das mudanças e lutas da turma, acompanhado da (re) ilustração
proposta no momento “Mandela: o africano de todas as cores”, considerando que a arte foi e é
mobilizada por muitas pessoas para pensar e intervir no mundo.
Ao final da sequência didática será possível mobilizar e despertar os conhecimentos
dos alunos sobre Nelson Mandela e sua representatividade, assim como desconstruir “os
estereótipos e estigmas relacionados a esse segmento da população; produzir sentimento de
representatividade nas crianças afrodescendentes; proporcionar contato com as diversidades
raciais, geográficas, de gênero, de classe e linguísticas” (SOUZA; BOAKARI, 2018, p. 85).
Tais apontamentos permitem inferir que nas proposições pedagógicas cotidianas com
o ensino de História nos Anos Iniciais é possível utilizar a obra literária como
fonte/documento para o conhecimento e saber histórico. Por fim, a educação, como
mecanismo de transformação social, não pode ficar alheia a essa questão do racismo, pois,
como afirma Paulo Freire (2003), na ação docente o educador precisa propor mecanismos de
intervenções na sociedade. Essa sequência possibilita, de acordo com o pressuposto freireano,
a construção de uma pedagogia e didática antirracista.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve por objetivo refletir a relação entre ensino de História e a fonte
literária, delimitando reflexões para os Anos Iniciais do ensino fundamental. Para isso,
pensamos as possibilidades de aprendizagem sobre os conhecimentos históricos por meio da
leitura e trabalho acerca da obra literária: Madiba: o menino africano, do autor Rogério
Andrade Barbosa. Evidenciamos que esta pode ser utilizada como fonte/material didática com
potencial para aproximar-se do universo lúdico das crianças, despertando e mobilizando a
construção de conhecimentos de forma crítica para possibilitar a compreensão da realidade.
Para o ensino de História, o professor precisa desenvolver um olhar sensível e
perceptível e respeitar os limites das informações transmitidas, como também não trocar a
história real com a ficcional, por isso é importante observar e entender as metáforas presentes
na ficção. Assim, mediar a organização dos conhecimentos sobre a África é necessário para a
formação humana e o reconhecimento do continente Africano, estimulando a criticidade para
conhecer as terras africanas e perceber a importância do fim do regime do Apartheid para a
história.
Este trabalho interdisciplinar, além de proporcionar o conhecimento histórico e
ficcional, desperta o interesse no campo disciplinar, estimula a criatividade e criticidade, além
de ajudar os estudantes a compreenderem o mundo da realidade. Portanto, a Literatura pode
ser considerada como fonte histórica e uma possibilidade para enriquecer o desenvolvimento
das propostas pedagógicas, reconhecendo que o texto literário contém potencialidades que
contribuem para a análise histórica, social, política e cultural.
REFERÊNCIAS
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
Cã, segundo filho de Noé, exibiu-se diante de seus irmãos, gabando-se de ter visto o sexo
de seu pai, quando esse se encontrava bêbado. Para castigá-lo, o patriarca amaldiçoou
Canaã, filho de Cã; ele e sua descendência se tornariam servidores de seus irmãos e sua
descendência. Eles migraram para o sul e para a cidade das sexualidades malditas:
Sodoma. Depois atingiram Gomorra. Lendas contam que os filhos dos filhos dos
amaldiçoados foram viver em terras iluminadas por um sol que os queimava, tornando-os
negros (DEL PRIORE & VENANCIO,2004, p. 59).
O ensino de História nas escolas de Ensino Fundamental não se limita a uma mera
submissão ao conhecimento produzido pelos historiadores. Nas escolas, alunos e professores
geralmente dialogam com os conhecimentos eruditos da História, produzem e (re)produzem
conhecimentos históricos. Os professores, então, não são meros reprodutores de
conhecimentos produzidos por pensadores que se encontram fora do ambiente escolar. A
velha noção de divisão do trabalho entre os que pensam e os que executam o pensado não se
enquadra nesse caso.
Os professores, então, cumprem um significativo papel de (re)produzir conhecimentos
eruditos importantes para a sociedade, ao mesmo tempo, são pensadores que produzem
conhecimentos no espaço escolar. Por isso mesmo, ainda tem sido recorrente a valorização de
uma qualificada formação e uma vez bem formados serão para desempenhar as inúmeras
tarefas que lhe são atribuídas. Contudo, o ambiente escolar apresenta-se desafiador ao
professor para a abrangência de novos conhecimentos face ao que se demanda da própria
sociedade representada pelos alunos para ampliação e/ou aquisição de novas aprendizagens.
Rüssen (2006) afirma que o aprendizado da História não deve se limitar à aquisição do
conhecimento histórico como uma série de fatos objetivos. Para além dessa perspectiva, o
conhecimento histórico deve atuar como regra nos arranjos mentais tornando-se, de forma
dinâmica, parte integrante da vida do sujeito. Em outras palavras, o conhecimento histórico
não significa simplesmente o acúmulo de uma quantidade de informações relacionadas a fatos
do passado.
Na perspectiva da consciência histórica, o conhecimento histórico deve servir como
uma ferramenta de orientação temporal que levaria a uma leitura do mundo no presente e
embasaria uma avaliação quanto às perspectivas de futuro alicerçadas nas experiências
humanas do passado. Desse modo, aqueles que desenvolveram a consciência histórica não
conheceriam apenas o passado, mas utilizariam esse conhecimento como meio para auxiliar a
compreensão do presente e/ou “antecipar”, no plano mental, o futuro em forma de previsão
pertinente (MEDEIROS, 2006; BARCA, 2006).
É sob essa perspectiva, que nos debruçamos sobre a relevância da abordagem do nosso
objeto de estudo. Tendo a consciência de que as religiões afro-brasileiras podem ser
construídas em sala de aula, através e inclusive, a partir das narrativas de alunos e professores,
não se atendo apenas ao livro didático. E neste sentido, diagnosticaremos as discriminações
históricas a respeito. Por outro lado, as mudanças exigem novas possibilidades que se tornam
inseridas no cotidiano dos estudantes do Ensino Fundamental (Anos Finais). Neste sentido
busca-se na escola o conhecimento sobre as religiões de origem africana por serem
questionadas até por professores ao desconhecerem o conhecimento, não somente como
responsáveis, por falta mesmo de Formação atualizada. É o que se espera no cotidiano escolar.
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Assim visto nas pesquisas há algumas décadas o livro didático não é um instrumento
moderno, estudos comprovam que, na metade do século XVI, já existia uma preocupação em
adotar livros adequados para a prática de transmissão de conhecimentos.
No Brasil, o livro didático é controlado pelo Estado através da legislação desde 1938,
pelo Decreto n. 8.469. Não obstante os livros tem mudado no século atual, assim estes
instrumentos didáticos só podem ser adotados com a autorização do Ministério da Educação.
Ou seja, o livro deve cumprir o papel de estimulador da cidadania, produzindo efeito contrário
a todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação dentro ou fora da escola com se tem
registro de imagens de livros didáticos dos anos 40 (BITTENCOURT, 1993) onde o índio era
visto como passivo , inferior , Por sua vez os negros eram apresentados sempre em trabalhos
“pesados” no campo, disseminados a indicar dificuldades na aprendizagem quando as
pesquisas dos anos 40 e 50 já mostravam visões, se bem que isoladas ideologicamente, de
grandes destaques na sociedade brasileira quer seja na arte, no teatro, nas grandes obras, na
literatura, e outros campos. (NASCIMENTO, 2017)
Isto quer dizer que, está presente na maioria dos livros didáticos, formas de
discriminação ao negro, além da presença de estereótipos, que equivalem a uma espécie de
rótulo utilizado para qualificar de maneira conveniente grupos étnicos, raciais ou, até mesmo,
sexos diferentes, estimulando preconceitos, produzindo assim influências negativas, baixa
autoestima às pessoas pertencentes ao grupo do qual foram associadas tais "características
distorcidas".
Por ser o principal portador de conhecimentos básicos das variadas disciplinas que
compõem o currículo dentro das escolas, o livro didático torna-se um dos recursos mais
usados em sala de aula, e um instrumento pedagógico bastante difundido, por isso facilita à
ação da classe dominante de registrar como quer e como lhe convém a imagem do negro na
sociedade brasileira. Caberá ao professor ter a preocupação com a forma pela qual o conteúdo
histórico é exposto nos livros didáticos, na medida em que possam contribuir para combater
as abordagens incompletas e estereotipadas das imagens dos afrodescendentes.
Neste trabalho os livros didáticos escolhidos fazem parte de uma série publicada pela
editora FTD e foi adotado numa escola da rede pública. A diversidade cultural pontuada nos
livros pode ser percebida a partir de suas capas. Vejamos:
SUMÁRIO
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essa não faz parte de nossas influências. Aqui, neste espaço, cabe ao professor ou professora,
abrir espaço para o debate sobre a mitologia dos orixás, para que os estudantes entendam que
existem várias mitologias, a exemplo da egípcia, grega, germana e iorubá.
No livro do 7º ano, temos:
• A unidade 1 inicia com o tema diversidade e discriminação religiosa, no entanto, dá
ênfase à tríade islamismo-judaísmo-cristianismo. A ideia é introduzir o conteúdo da
Europa Medieval a partir do entendimento da intolerância religiosa, visto que o
capítulo se encerra com o tema das cruzadas, guerra religiosa a qual envolvia essas
três religiões.
No entanto, nesse início de unidade, a professora pode discutir sobre o atual contexto
que vivemos no Brasil, onde as religiões de matriz africana são duramente perseguidas por
religiões cristãs.
• Povos e culturas africanas: malineses, bantos e iorubas (um capítulo que aborda
esses reinos africanos e as influências culturais que eles trouxeram para o Brasil).
Apesar de toda a influência religiosa que esses povos nos trouxeram, o livro perde até
novo programa a oportunidade de aprofundar o assunto e não fala em Candomblé, por
exemplo. Porém, o debate pode ser sugerido em sala para que possam ser abordados o
Candomblé e Umbanda, Jurema, por exemplo. Na ocasião pode ser feita uma investigação para
descobrir se existem adeptos dessas religiões em sala de aula.
• A economia açucareira (seis páginas abordando sobre a mão de obra escrava no
Brasil colonial);
Esse tema já é muito usual nos livros didáticos de uma maneira geral. A novidade seria
aprofundar o conteúdo fazendo uma relação da mão de obra nos tempos do Brasil Colonial
com os dias atuais. Pode-se trabalhar, neste caso, o mercado de trabalho para negros e negras
do Brasil, o índice de escolaridade, de presidiários e a situação atual do negro no Brasil.
Neste capítulo não há nenhuma menção sobre a dimensão religiosa afro-brasileiras e
suas dificuldades ao serem trabalhadas nas escolas. Há um silêncio nesse aspecto. Também
seria uma oportunidade de estudar sobre este tema.
O livro do 8º ano aborda as seguintes questões relacionadas aos negros e à África:
• Africanos no Brasil: dominação e resistência (um capítulo que trata da escravidão,
do tráfico de escravizados, do trabalho, da violência, da resistência e dos
quilombos).
O momento em que se fala em resistência poderia ser abordado sobre a resistência
religiosa, que apesar de proibições e perseguições, as religiões de matriz africana resistem até
os dias atuais. Como o livro deixa a desejar neste sentido, a professora pode levantar o debate
em sala de aula.
• A sociedade mineradora (uma página que aborda os escravizados da região das
minas).
Nesse trecho de capítulo, pouco se fala sobre a religião, as festas e a resistência.
Apenas uma breve menção sobre a congada.
• Conjuração Baiana (duas páginas que abordam brevemente sobre a presença da
população afrodescendente em Salvador).
• Revolta dos Malês (duas páginas que tratam da revolta escrava considerada a mais
importante do Brasil). A seção esclarece o motivo pelo qual a revolta fica conhecida
como Revolta dos Malês e traz algumas imagens de africanos e afro-brasileiros.
SUMÁRIO
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Por fim, no livro do 9º ano, os conteúdos abordados sobre nosso objeto de estudo são:
Em geral, em nossas escolas os conteúdos de história brasileira contam apenas uma versão
dos fatos históricos, pautada numa visão eurocentrista da descoberta de nosso país e do
desenrolar da economia daquela época, apresentando a história do negro apenas por meio
do negro escravo, do tráfico negreiro, um pouco das senzalas e muito pouco ou quase nada
do modo de vida e da ascendência africana (COUTINHO et al, 2008, p. 76).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil: contribuição a uma sociologia das interpretações de
civilizações. São Paulo: Pioneira, 1971. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais).
BITTENCOURT, Circe Fernandes. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar.
Tese de doutorado em História Social, Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo, 1993.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC/SEF, 2004.
SUMÁRIO
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COUTINHO, Ana Cecília Porto Cunha et al. Raça, etnia e a escola: possibilidades de Implementação da Lei
10.639/03. Cadernos de Pedagogia, ano 2, v. 2, n. 4, ago.-dez./2008, p. 74-85.
DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à história da África Atlântica. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2004.
MEDEIROS, Daniel Hortêncio de. Manuais didáticos e a formação da consciência histórica. Educar, Especial, p.
73-92. Editora UFPR. Curitiba, 2006.
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo:
perspectiva, 2017.
RÜSSEN, Jörn. Didática da história: passado, presente e perspectiva a partir do caso alemão. Práxis Educativa.
v. 1, n. 2, p. 70-16, Ponta Grossa, PR. jul.-dez. 2006.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
1
Doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Professor de História – Prefeitura Municipal de
Lençóis Paulista/SP.
2
Mestre em Docência para Educação Básica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP, Campus Bauru); Diretor de
Escola – Prefeitura Municipal de Lençóis Paulista/SP; Professor de Ensino Médio e Técnico do Centro Paula Souza (CPS)
– ETEC Cidade do Livro.
SUMÁRIO
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Talvez seja um equívoco considerar que o currículo articula-se apenas entre as aspirações
da classe operária e a elite dominante a partir das necessidades de mercado, resumindo-
se em um discurso polarizado. Em verdade, essas aspirações perpassam pelas
necessidades dos grupos sociais que lutam pela sobrevivência de suas identidades,
principalmente as culturas que tendem a ser silenciadas pelo discurso hegemônico
(ROSTAS, 2010, p. 35).
Pautado, destarte, por uma atuação social, a execução do currículo também se coloca a
partir de múltiplas possibilidades, que incluem o docente como elemento fundamental de sua
viabilização. Ao selecionar materiais, criar sequências didáticas e estimular a construção do
conhecimento dos estudantes de maneira abrangente e participativa, o professor desempenha
uma função de relevância que permite contemplar a realidade de seus alunos, reconhecer e
valorizar suas experiências e atribuir vida ao currículo.
Neste processo, em uma abordagem social do currículo, a mediação pedagógica se
destaca como prática significativa no processo de ensino-aprendizagem. O aluno é estimulado
e desafiado a construir seu conhecimento, e o docente enquanto facilitador, apropria-se de
nova função, que se distancia do papel tradicional de comunicação dos conteúdos
programáticos, tendo em vista a orientação para estudos. Como afirma Masetto (2000), a
mediação é
Esta modificação de atitude requer uma grande mudança de mentalidade, que envolve
entre outras ações, a seleção de técnicas que enfatizam a participação dos alunos, o trabalho
em equipe, a pesquisa, o diálogo e desenvolvimento de habilidades, possuindo como
referência a concepção que a aprendizagem engloba “o desenvolvimento intelectual, afetivo
[e] o desenvolvimento de competências e de atitudes”. (MASETTO, 2000, p.143)
No escopo das práticas de mediação, o trabalho com fontes históricas em sala de aula se mostra
sugestivo, possibilitando avançar sobre conteúdos a partir de análises críticas de documentos
de distintas tipologias. O cotejo de dados e informações, o entendimento do contexto e a
elaboração de argumentos são fundamentais à atitude historiadora.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por meio dos processos de identificação,
comparação, contextualização, interpretação e análise, sugestiona que o conhecimento
histórico desenvolvido nesta etapa de formação deve contemplar a atitude historiadora, que
não pode ser dissociada de um trabalho constante com distintas fontes de conhecimento.
Acerca desta questão, uma das competências específicas do componente curricular é
“elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em relação a documentos,
interpretações e contextos históricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens e mídias,
exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito”. (BRASIL,
2017, p. 398) A atitude historiadora aqui se configura como prática de entender a sociedade e
exercer a cidadania, já que os procedimentos característicos da disciplina de História
aparecem interligados com o exercício de atividades fundantes da vida social contemporânea.
A BNCC busca neste processo, trazer aos estudantes uma percepção crítica da
sociedade, ao mesmo tempo que destacar a necessidade de dialogar, pesquisar e compreender
para argumentar. A História se volta, dentro das Humanidades, não apenas à apreensão dos
conhecimentos do passado e sim como possibilidade de pensar as ações do homem no tempo
e relacioná-las com sua própria experiência, cultura e saberes, dotando-a de significação para
o aluno. Deste modo, refletir sobre as maneiras de se contar o tempo, os papéis sociais em
distintas temporalidades e as formas de registro, são questões que permeiam todo o conteúdo
programático sistematizado na Base.
Nesta linha, os aspectos do trabalho do historiador e a importância do trabalho com
fontes históricas são explorados no documento do Ministério da Educação nas primeiras
unidades temáticas do 6o ano e se estendem por todas as seriações do Ensino Fundamental e
Ensino Médio, assinalando que estes elementos são cruciais para o desenvolvimento do aluno
no componente curricular.
Se as fontes históricas são destacadamente um recurso relevante no ensino de História,
o papel do professor na seleção, adaptação e utilização de documentos evidencia-se e coloca-
se como ponto importante na preparação de aulas e na abordagem dos conteúdos. Estas etapas
são primordiais para que o trabalho seja estruturado e possibilite o aprendizado significativo
dos estudantes, isto é, que faça sentido e colabore para sua construção intelectual. Assim, como
argumenta Silva, “trazer para a sala de aula diferentes fontes para o uso didático permite ao
professor despertar a curiosidade dos alunos e ultrapassar a rotina teórica do ensino de
história, pautada tradicionalmente no livro didático e na reprodução maciça de conteúdos
pouco flexíveis” (SILVA, 2014, p.35).
SUMÁRIO
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constituem nossa trajetória histórica e política também podem ser consultados de maneira
remota na Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Além das instituições e respectivos canais de atendimento citados, outros tantos
estabelecimentos executam ações similares, estendendo o bastião de possibilidades dos
professores no que concerne a acessibilidade às fontes históricas. Não obstante, o simples
contato com a documentação histórica não possibilita o desenvolvimento da atitude
historiadora. É preciso preparação por parte dos docentes para que as fontes selecionadas não
sejam utilizadas como ilustrações de dados conteúdos, mas como possibilidade de se avançar
sobre aspectos fundamentais à construção da narrativa historiográfica.
Priorizar o tratamento técnico e a abordagem investigativa são bons caminhos na
preparação das aulas no Ensino Fundamental. Isto é, selecionar documentos e metodologias
adequadas a cada tipo de fonte são fundamentais, do mesmo modo que promover adequação
a cada seriação, para que aquilo que foi escolhido seja inteligível pelos alunos.
Neste sentido, nos anos finais do Ensino Fundamental, uma introdução aos
procedimentos de pesquisa e a prática de cotejo de informações são fundamentais,
possibilitando que a posteriori, perguntas de maior complexidade sejam elaboradas. Tais
medidas permitem inicialmente o conhecimento sobre o fazer historiográfico e o
reconhecimento de distintos tipos de fontes e tratamentos. Em um segundo momento, coletar
informações explícitas e implícitas e realizar comparações são importantes para a construção
de argumentos por parte dos estudantes.
Outro elemento fundamental, é enfatizar o processo social de concepção das fontes e
contextualizá-lo temporal e espacialmente. Como argumenta Araújo
Ao aprender e compartilhar a ideia de fontes como práticas e expressão das práticas sociais
imbricadas no fazer-se da experiência social, articuladas ao desenvolvimento da história,
torna-me perceptível para novas questões, sensível a outras vozes e atenta às tensões
sociais na disputa por espaços e poderes. (ARAÚJO, 2009, p.103)
SUMÁRIO
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que foi constituída uma equipe composta por três alunos e um professor responsável por
coordenar as ações.
Para ampliar o repertório do grupo de trabalho inicial e possibilitar aos alunos o
contato com diferentes tipos de documentos, a equipe foi inscrita na Olimpíada Nacional de
História do Brasil (ONHB), organizada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Uma das características da Olimpíada é explorar manuscritos, como cartas, e documentos
oficiais, além fontes visuais, como fotografias e pinturas. A ONHB também contribuiu no
sentido de abordar aspectos singulares, distantes da história tradicional, ou história dos
vencedores, nas palavras de Walter Benjamin (1996).
Em um segundo momento, o grupo foi ampliado para dez pessoas, nove alunos e um
professor. Os discentes foram selecionados de acordo com o interesse, após apresentação do
projeto nas turmas dos terceiros anos do Ensino Médio. Para instigar os debates com o novo
grupo, foi utilizado o samba-enredo História para Ninar Gente Grande, da Estação Primeira de
Mangueira, referente ao ano de 2019. A letra, de autoria de Wantuir, faz uma crítica a narrativa
tradicional e valoriza personagens como Dandara, Luiza Mahim e Chico da Matilde, o Dragão
do Mar, entre outras “páginas ausentes” da história oficial.
Após as discussões, estudos e planejamento entre o grupo de trabalho inicial, teve início
a mobilização com os demais alunos da escola. A primeira ação ocorreu com a apresentação
do tema central “memória silenciadas”. Em seguida, o grupo apresentou aos colegas a carta de
Luiz Gama a Lúcio de Mendonça. A missiva, transcrita em Menucci (1938), é permeada de
elementos autobiográficos:
negro, de indígenas e operários no combate ao regime, demonstrando que a luta não se limitou
a setores da classe média, de maioria branca. Os sites da Comissão da Verdade da ALESP
(Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)3 e Memórias da Ditadura4, foram valorativos
ao desenvolvimento das atividades, mormente por possuirem grande acervo sobre a temática,
que pode ser explorado em sala de aula.
Após a preparação dos materiais, foi organizada uma sala temática sobre a Ditadura
Militar, com diversos documentos sobre violação dos direitos durante a regime, como o
racismo presente em documentos do SNI (Serviço Nacional de Informação) e relatórios
confidenciais do DOPS/SP. A sala temática foi aberta à comunidade os alunos envolvidos com
o projeto puderam levantar questões sobre direitos humanos, valorização das fontes
históricas e resistência à pressão.
A partir da sequência didática apresentada, evidencia-se possibilidades do trabalho
com documentos em sala de aula e a desconstrução de narrativas excludentes a partir de
distintas perspectivas. Sendo que as plataformas digitais mencionadas anteriormente,
contribuiram significativamente para colocar os alunos em contato com diferentes
documentos e aguçar o desejo de investigação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À guisa de conclusão, este artigo buscou discorrer sobre elementos basilares sobre a
utilização de fontes históricas na Educação Básica, destacando o papel do professor como
mediador no processo de ensino-aprendizagem. Nosso argumento principal é que as fontes
em sala de aula colaboram para aproximação dos estudantes às práticas de investigação:
analisando e comparando documentos, extraindo informações e formulando criticamente
questões. Acreditamos que tais procedimentos colaboram na criação de argumentos
fundamentados e pautados na compreensão do papel social que a História desempenha.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, B. C. S. A. O trabalho com fontes e os desafios da escrita da História. In: BORGES, A. S. (Ed.). O trabalho
com as fontes no ensino e na pesquisa histórica. Campo Grande: Editora UFMS, 2009. p. 99–112.
BENJAMIN, W. Obras Escolhidas: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1996.
BLOCH, M. Apologia da História, ou, O ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministerio da Educação, 2017.
FERNANDES, C. O. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2007.
MASETTO, M. T. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: MORAN, J. M. (Ed.). . Novas tecnologias e
mediação tecnológica. Campinas: Papirus, 2000. p. 113–173.
MENUCCI, S. O precursor do abolicionismo no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938.
MORAES, M. C. Complexidade e currículo: por uma nova relação. Polis, v. 9, p. 289–311, 2010.
PRATS, J. Ensinar História no contexto das Ciências Sociais: princípios básicos. Educar em Revista, n. spe, p.
01–20, 2006.
ROSA, M. R. Educação histórica, fontes históricas e novas tecnologias: descompassos e possibilidades. Àgora, v.
2, p. 13–24, 2011.
3
Cf. <www.comissaodaverdade.al.sp.gov.br>. Acesso em: 21. nov. 2020.
4
Cf. <www.memoriasdaditadura.org.br>. Acesso em: 21. nov. 2020.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
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Nosso trabalho se iniciou dentro de uma escola da rede pública de educação da cidade
de Natal-RN, a Escola fica localizada na zona oeste da cidade, oferta todos os anos do ensino
fundamental I, funciona no período integral e possui o Atendimento Educacional Especializado
(AEE), conta com uma sala de recursos multifuncionais, uma biblioteca bem equipada, uma
sala de informática e uma quadra poliesportiva. A instituição dispõe de um grande espaço
dentro das suas imediações e um corpo de funcionários que em sua maioria possuem
dedicação exclusiva na Escola.
Através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) tivemos a
oportunidade de trabalhar no turno matutino com a turma do 4ªano da Escola durante todo o
segundo semestre de 2018 e no ano seguinte, ficamos com a turma do 5ª ano durante todo o
ano de 2019, encerrando o contrato em janeiro de 2020. Embora tenhamos acompanhado a
transição da turma do quarto ano para o quinto, nossos alunos não foram os mesmos, por uma
questão de organização das turmas e a mudança de docente.
No PIBID fazíamos parte do núcleo das Diferenças que tinha como premissa trabalhar
com a diversidade que existe dentro da sociedade, onde o objetivo central eram atividades
desenvolvidas para a valorização das diferenças socioculturais, por meio do reconhecimento
das características individuais dos alunos. Nesse sentido, nossa atuação abordava aspectos das
diferenças, por meio de temáticas, tais como: a cultura afro-brasileira, questões acerca de
gênero, gordofobia, musicalidade, culturas e a homofobia.
METODOLOGIA
SUMÁRIO
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comparou seus respectivos tons de pele se declarando negra e o aluno visualizou que a sua cor
ainda é mais escura que a dela, mas não se sentiu confortável com a palavra negro.
Nas intervenções desenvolvidas buscamos trazer conhecimentos sobre África, mostrar
que ela não está tão distante de nós como pensamos e possibilitar que as crianças tenham
acesso a informações que os livros didáticos não nos contam. Para nos auxiliar recorremos a
literaturas, vídeos, curtas-metragens e afins. Desta forma, apostamos em materiais que
trouxessem reflexões e fossem ricos em representatividade, resistência e riquezas presentes
no continente.
Assim iniciamos a reflexão sobre as pessoas negras que as crianças veem na tv. Após elas
citarem alguns exemplos de pessoas negras na mídia e perceberem que este número é bem
menor que o de pessoas brancas, foram colocados como principais papéis realizados por
pretos na tv: Empregada, escrava, cantora e passistas em escola de samba.
O curta “Cores e botas”, foi apresentado à turma. Ele trata de uma menina que sonha
em ser paquita, mas que se encontra com a realidade do racismo na escola. Contextualizamos
os anos 80 e mostramos as paquitas evidenciando que não haveria nenhuma negra entre elas.
Com a turma dividida em grupos, perguntas suleares foram também divididas para que
pudéssemos promover a discussão sobre a situação da personagem e fazendo paralelos com a
realidade do Brasil. Ao final das discussões as crianças compartilharam suas opiniões sobre o
tema, levantando que o fato da personagem Joana ser uma menina negra não a impedia de ser
paquita, mas que na trama isso não foi possível por conta do racismo que estava exposto nas
atitudes dos personagens da trama.
Foi realizada também uma oficina de Abayomi. As bonecas são símbolo da resistência,
nos navios negreiros para amenizar a dor das longas viagens, as mães faziam bonecas com
pedaços dos tecido de suas saias para as crianças. Elas eram feitas apenas com nós e sem olho
e maiores características físicas para simbolizar toda a população africana sem estereótipo.
Todas as bonecas produzidas na oficina foram expostas na Mostra Cultural da Escola. Nesta
atividade os alunos montaram a boneca e tiveram contato com todos os materiais necessários
para a sua feitura, ao final da atividade foi relatado que a turma já tinha visto a boneca
Abayomi, pois ela havia sido abordada com a turma vizinha, mas que mesmo assim a
experiência de montar e conhecer a história foi bastante agradável e diferente para eles.
Mais uma vez tratando sobre racismo e mídias sociais, organizamos a turma em grupos e
propomos como tarefa montar um telejornal e entrevistar funcionários da Escola a fim de
saber qual a opinião deles sobre o racismo em nossa sociedade. As perguntas de cada grupo
foram propostas pelos próprios alunos bem como a função de cada um dentro da atividade,
auxiliados pelos professores autores deste relato, os grupos foram em busca das pessoas
escolhidas para entrevista, após as filmagens foi pedido aos alunos que escrevessem um
pequeno texto do o que havia aprendido com a atividade. Segue o relato de uma das alunas da
turma:
“Eu aprendi que todas as pessoas tem uma opinião diferente sobre o racismo, mas que
todas as opiniões tem o mesmo sentido que é que o racismo não é legal, essa experiência
serviu para me ensinar que assim que as pessoas sofrem racismo,é como uma doença que
você se sente oprimido e isso não é nada legal.”
Aluna do 5ºAno.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com todas as nossas intervenções dentro da sala de aula nos foi possível observar
fatores que indicam mudança de comportamento dos sujeitos em relação às questões étnicos-
raciais, é pertinente relatar que com o passar das atividades e dos dias, observamos que
começam surgir personagens negros nas histórias criadas pela turma, algo que não estava
presente nas primeiras aulas. Na produção de um livro de histórias criadas pelos alunos onde
eles puderam escolher quaisquer temáticas já trabalhadas por nós, surgiram personagens
negros pelo menos na metade destas criações, apontando que eles começam a visualizar e
perceber a importância dos corpos negros na sociedade e de suas existências representadas
na literatura.
SUMÁRIO
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Houve claramente a ressignificação do termo “negro” onde alunos aprenderam que não
havia problema de pronunciar a palavra, assim como também mudaram o entendimento de
palavras racistas e xingamentos proferidos aos colegas com teor racista como “cabelo ruim”.
No referente à identidade os ganhos foram muitos, a turma pôde refletir e alunos
negros passaram a ter orgulho de sua cor de pele quando antes sentiam vergonha em se
declarar como pessoa negra. Quanto ao cabelo, percebemos que apesar de haver uma mudança
de olhar em relação ao cabelo cacheado e afro, as meninas seguiam alisando o cabelo,
sobretudo aquelas matriculadas no 5º ano.
Nesse sentido, a oficina de Abayomis representou um instrumento didático que pode
auxiliar o educador na práxis docente, demonstrando que é possível trabalhar a temática da
cultura africana e afro-brasileira de maneira lúdica, criativa, sem que haja a folclorização desta
questão trazendo uma história verdadeira e que representa um povo ancestral. Aliando ao
trabalho de gênero que já vinha sendo desenvolvido simultaneamente, todas as crianças
fizeram as bonecas, inclusive os meninos, numa turma que ao chegarmos ainda acreditava que
haviam brinquedos de meninas e de meninos. Consideramos essa atividade uma das mais
importantes por permitir, de forma lúdica, uma aprendizagem de descolonização de corpos e
saberes.
As atividades realizadas ao longo de nossa permanência no projeto, proporcionaram
uma mudança de postura dos estudantes diante do continente africano, seus saberes e suas
relações sociais no próprio contexto. Por meio das práticas adotadas, do espaço de
acolhimento e escuta, muitos alunos conversaram sobre situações que os deixavam tristes e
preconceitos sofridos, conseguimos atrair a atenção dos estudantes, possibilitando abordar
questões mais complexas e até pessoais, bem como ampliar seus conhecimentos acerca da
verdadeira história das culturas africanas, favorecendo assim, o fortalecimento da autoestima
e identidade étnica de alguns estudantes.
Em tom de conversa na sala de aula, já sabendo que o nosso trabalho na escola estava
acabando, questionamos sobre como se sentiram no processo, e dois dos alunos negros, um
menino e uma menina em particular, demonstraram extrema satisfação, pertencimento e um
lindo discurso identitário. Suas produções quanto a isso resultaram nos seguintes relatos:
“Professora antes eu não gostava da minha cor, mas agora amo minha cor,
tenho orgulho.”
Aluno, 5º ano
"Eu gostei muito dessa experiência pois nunca tinha estudado sobre minha cor. Antes eu
já me considerava parda mas essa experiência me fez ver que minha cor significa muito,
mas tem gente que acha que é só uma coloração para pele boba, mas por conta desses
tempos de estudo consegui ver que minha cor não é só isso, minha cor tem direitos, eu
tenho direitos mas tem gente que não enxerga isso, essa gente zomba das pessoas, eu sofri
isso mas eu levava como brincadeira e nem ligava. Se as pessoas que sofrem isso levarem
como se nem ligassem, as pessoas que fazem não param por quê sabem que isso não lhe
“aflinge”. E essa é minha dica!"
SUMÁRIO
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Aluna, 5 ano1
Os demais alunos, mesmo aqueles que não possuem a pele negra, também expressaram
bastante satisfação ao participar das aulas ministradas pelos proponentes desse relato, e
ficaram bem satisfeitos com as metodologias e assuntos abordados durante o período de
vigência do projeto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, resta lembrar que África é somente o berço da nossa humanidade. Estudos nos
contam que o primeiro homo sapiens surgiu no continente e que estes construíram
civilizações, há registros que indicam migrações e assim os negros africanos foram povoando
o mundo. De forma resumida, essa exposição já nos dá conta de pensar que, a partir disso,
surgiram outras civilizações e também foram exportados saberes, culturas e invenções criadas
em África. Sabermos disso é extremamente necessário, consideramos o primeiro passo para a
construção de uma educação antirracista, além de uma afirmação científica fundamentada e
que nos oferece a possibilidade de negras/os e não negras/os perceberem que o mundo em
que vivemos hoje advém do continente africano. É urgente o entendimento de que a matriarca
de toda humanidade é o oposto dos ideais e padrões eurocêntricos, assim deixar de assumir o
discurso e o "estudo" apresentado pelo colonizador.
O povo preto não apenas descende de escravos, mas de homens e mulheres incríveis
que desenvolveram tecnologias como a escrita, as pirâmides, a ciência e muito mais. O
estereótipo precisa parar de ser alimentado, de alimentar o próprio racismo, inclusive para
as/os próprias/os negras/os conseguirem desconstruir a identidade apresentada ao encontro
da ancestralidade, deixando de ver tudo que vem do negro como negativo.
Enquanto estudantes de Pedagogia que ao entrar no projeto não tinham tido contato
no ambiente acadêmico com essas discussões, e que anteriormente na educação básica
também tiveram uma educação eurocêntrica, assim por sua vez reforçando e silenciando o
racismo, pertencente ao sistema, fortemente marcada e influenciada pela história única e pelo
mito da democracia racial; nos demos conta que a formação para os pedagogos não contempla
como deveria as relações étnico-raciais.
Percebemos nas professoras que nos receberam em suas salas a imensa vontade de
perpetuar o ensino antirracista e inclusivo (não só na perspectiva de pessoas com deficiência)
e que elas são exceções ao observar o trabalho de outras docentes, além de que há sim, uma
necessidade de aprofundamento nas questões para além de só um desejo. Nós, enquanto
licenciandos não estávamos sendo preparados para tal (tanto que colegas de outras escolas
relataram muitas dificuldades em trabalhar com os temas) e nem os professores atuantes
estão preparados a contento. Isso nos indica que esses docentes e nós, apesar de termos
cursado a escola em épocas diferentes, tivemos a mesma educação que apaga as pessoas
negras. A escola precisa ser reinventada.
Concluímos com isso, que os pedagogos devem ser preparados em sua formação para
lidar com a complexidade destas questões em suas práticas. Reforçamos que a Lei Federal nº
10.639/03 precisa fazer parte do cotidiano de toda a escola (O que fazíamos mesmo
trabalhando outros temas também) não apenas no dia da Consciência Negra e ela requer um
1
Nota dos autores: Os relatos foram escritos conforme a escrita original dos alunos.
SUMÁRIO
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investimento na formação docente, este perpassa inclusive pela revisão dos referenciais
teóricos da própria academia que nos forma, visto que as questões étnico-raciais estão
presentes diariamente em nossas vidas e não podemos nos desvincular dessas discussões
enquanto sujeitos.
REFERÊNCIAS
TOLENTINO, Luana. Outra educação é possível. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2018.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: Companhia da Letras, 2019.
HAMPATÉ BÁ, Amadou. A tradição viva: História Geral da África, v. 1, SP, Ática/Unesco, 1980.
BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnicoraciais e para o ensino de
história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília, Ministério da Educação/Secad/Seppir. 2004
ENSINO de História da África ainda não está nos planos. Entrevista com Petronilha
Beatriz Gonçalves e Silva por Rute de Pina. Brasil de Fato, São Paulo, 8/1/2017.Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2017/01/08/ensino-de-historia-da-africa-ainda-naoesta-nos-planos-
pedagogicos-diz-professora/ Acesso em 01/11/2020
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo
Horizonte: Autêntica, 1999.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 136
INTRODUÇÃO
Neste ensaio, teremos como objetivo destacar a maneira pela qual a educação e
experiência segregaram a partir do século XIX, uma vez que ao criar às instituições escolares
essa relação se separa, de acordo com o historiador inglês Edward Palmer Thompson. Assim,
há o estabelecimento de poder que se constitui em aspectos culturais da burguesia europeia,
sobretudo na Inglaterra que impõe sua ideologia marcada pelos interesses políticos, sociais e
econômicos. Por conseguinte, teremos como foco a importância de recordar o passado como
forma de impedir que violências e barbaridades cometidas no passado se repitam no presente,
bem como destacar-se a importância da educação nesse processo.
É partir do Estudos Culturais e da Teoria Crítica, que buscaremos assinalar que o
esquecimento do passado é favorável aos grupos que estão no poder e que se beneficiam com
esta prática ao passo que seus privilégios são mantidos e reforçados. Desse modo,
compactuamos com a abordagem de Thompson (2002) que a experiência é feita de maneira
concreta com homens e mulheres, ou seja, educação é experiência humana. Portanto,
procuraremos destacar que a escola enquanto espaço de educação formal, é pensada e
estruturada para mascarar ou mesmo ocultar o caráter excludente do sistema capitalista, ou
seja, está a serviço da manutenção da ordem burguesa desde sua construção.
Ademais, os filósofos e sociólogos alemães Max Horkheimer e Theodor Adorno, ligados
à teoria crítica, apontam que nos séculos XIX e XX o conhecimento muitas vezes não serviu
para a emancipação do ser humano, não consistindo em forma de razão crítica. Por outro lado,
1
Mestrando PPGEdu/UFMT
2
Mestrando PPGEdu/UFMT
SUMÁRIO
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foi tomado pela lógica da razão instrumental, também denominada técnico-científica, que se
estabelece através da técnica e da tecnologia como instrumentos para reforçar a dominação.
Nesse sentido, os educadores necessitam adotar a pedagogia da responsabilidade para
a constituição de um perfil que consiga promover emancipação entre os sujeitos, com
objetivos de compreensão das causas que levaram ao sofrimento e assim precaver para que a
barbárie não se repita. Sobre isso Adorno afirma,
A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma alto-reflexão crítica.
Contudo na medida em que, conforme os ensinamentos da psicologia profunda, todo
caráter, inclusive daqueles que mais tarde praticam crimes, forma-se na primeira infância,
a educação que tem por objetivo evitar a repetição precisa se concentrar na primeira
infância (ADORNO, 2000, p. 2).
No fundo, tudo dependerá do modo pelo qual o passado será referido no presente; se
permanecemos no simples remorso ou se insistimos ao horror com base na força de
compreender até mesmo o incompreensível. Naturalmente, para isso será necessária uma
educação dos educadores. (ADORNO, 2000, p.10-11).
SUMÁRIO
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materiais estão sujeitas a todas as configurações de violência e injustiças. Por isso, a partir da
educação formal pouco ou nada contribuem para que possam ter melhores condições na
qualidade de vida, uma vez que muitos ainda vivem sem os princípios considerados básicos:
moradia, saúde e educação. Para tanto, isso vem sendo naturalizado por uma parcela da
sociedade que com discurso meritocráticos contribuem para a enorme desigualdade social.
A partir das situações mencionadas acima, no ambiente escolar e fora dele os
profissionais educativos devem estar atentos através do fazer pedagógico cotidiano, com
maior comprometimento de suas ações/atitudes que priorizem por uma educação autônoma
e emancipatória. Visto que se não estivermos atentos as mudanças globalizadas que o modelo
econômico neoliberal se fundamenta suas ideologias nos espaços educativos, estaremos
fortalecendo a sua existência, uma vez que tenhamos adotado práticas pedagógicas de uma
educação bancária, que se reconfiguram dando sustentabilidade na engrenagem social. De
acordo com Freire, se os sujeitos não decodificarem tais transformações no modelo educativo,
tratarão seus pares como coisas:
“Toda educação que faz jus a esse nome envolve a relação de mutualidade, uma dialética,
e nenhum educador que se preze pensa no material a seu dispor como uma turma de
passivos recipientes de educação. Mas, na educação liberal de adultos, nenhum mestre
provavelmente sobreviverá a uma aula – e nenhuma turma provavelmente continuará no
curso com ele – se ele pensar, erradamente, que a turma desempenha um papel passivo. O
que é diferente acerca do estudante adulto é a experiência que ele traz para a relação. A
experiência modifica, às vezes de maneira sutil e às vezes radicalmente, todo o processo
educacional; influencia os métodos de ensino, a seleção e o aperfeiçoamento dos mestres
e o currículo, podendo até mesmo revelar pontos fracos ou omissões nas disciplinas
acadêmicas tradicionais e levar à elaboração de novas áreas de estudo.” (THOMPSON,
2002, p. 13)
na cultura popular e na mídia de massa, nota-se que algumas imagens são de publicidade
e ilustrações de revistas que utilizam estereótipos raciais datadas do período da
escravidão ou do imperialismo popular do final do século XIX. A pergunta que surge com
essa comparação através dos tempos é: os repertórios da representação em torno da
“diferença” e da “alteridade” mudaram ou as características anteriores permanecem
intactas na sociedade contemporânea? (KELLNER,2001, p.140)
Neste sentido, se faz jus a uma pedagogia cultural a partir da relação de educação das
experiências dos sujeitos se colocando como um meio educacional eficaz e que traga
resultados positivos as populações que estão sendo discriminadas, marginalizadas e
estereotipadas ao longo dos séculos. Pois, devido aos interesses econômicos dos países
colonizadores da época, muitos tiveram suas vidas ceifadas, tanto quanto em aspectos de
escravização por parte de uma Europa que se constituiu sobre as bases de suas colônias.
Assim, restaram resquícios em vários países no mundo das brutalidades que fizeram com os
negros, indígenas, homossexuais, judeus, ciganos e outros grupos.
Neste aspecto, ressaltamos que em pleno século XXI, com base no ATLAS da Violência 3,
inúmeras pessoas negras ainda são vítimas de racismo, ou injúria racial, que ainda as exclui
dificultando o acesso ao mercado de trabalho e a outros espaços sociais, as relegando à
pobreza e a condições precárias de vida. Incontáveis pessoas negras são assassinadas todos os
dias em diferentes contextos e quase ninguém se importa. A vida destas pessoas tem pouco
valor, a violência se banalizou, o amor ou a sensibilidade é inexistente frente ao desespero de
famílias que perdem seus entes queridos constantemente.
Atualmente, milhares de pessoas pelo país ainda se encontram sem desfrutarem do
acesso e continuação na escola, isto é, são excluídos, ou nem sequer entram numa escola, que
em vários casos se revela inóspita para muitos. Conforme as palavras de Eliane Cavalleiro; “A
globalização da economia aumentou o que se tem, impropriamente, denominado de “exclusão
social”, marcadamente pautada na cor” (CAVALLEIRO, 2000, p.11). Além disso, é um direito de
toda brasileira e todo brasileiro que não é consolidado, mesmo que a garantia a esse direito
esteja explicitamente oficializada e estipulada na Constituição como dever do Estado. Para a
3
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/atlas-da-violencia-2019
SUMÁRIO
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sociedade brasileira fazer valer esse direito tem sido um desafio que requer inovadoras
soluções.
A cultura que representa uma sociedade, assim como as relações étnico-raciais,
enquanto informações a serem ensinados aos discentes e aos profissionais que atuam na área
da Educação, não podem ser desconsideradas ou negadas, uma vez que é um direito garantido
por Lei 10.639/034. Seguindo esse raciocínio, acrescentamos as palavras de Kabengele
Munanga:
O resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos
alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências étnicas,
principalmente branca, pois ao receber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles
também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas. Além disso, essa memória não
pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual
nos alimentamos cotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das
condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na
formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional. (MUNANGA, 2005, p.16)
Portanto perante estes fatos, distintos grupos sociais, assim como os vários
segmentos que compõem os Movimentos Negros no Brasil, nos últimos tempos, sobretudo a
partir do final do século XX, apontaram a escola como lugar primordial para socializar as novas
gerações e transmitir a elas: valores, hábitos, atitudes, posturas, conhecimentos acumulados e
constituídos ao longo da História. Contudo, na área educacional, a reflexão e as pesquisas estão
num patamar que apontam caminhos para que se possa combater o racismo efetivamente e
promover uma educação antirracista. É neste cenário sociocultural e político, no qual a
diversidade e as relações étnico-raciais estão inseridas, que surgiram algumas políticas
definidas como “Ações Afirmativas”, sancionadas com o intuito de reparar injustiças e
discriminações com relação a determinados grupos étnico-raciais.
4
BRASIL. Lei n.10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p.1, 10
jan.2003.
SUMÁRIO
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à formação integral da pessoa humana é reservada apenas aos que detém o poder econômico
e político no mundo capitalista.
Por fim, ressaltamos que a educação por si só não tem papel decisivo, porém, não se
pode negar sua importância no sentido de promover debates e reflexões que apontem em
direção a um mundo em que as pessoas possam conviver valorizando a vida e não o lucro. Um
mundo onde se defenda o bem-estar de todos, e que todas as causas sociais que levam à
barbárie possam ser rejeitadas. E que o ato educativo se coloque em favor dos oprimidos dessa
sociedade, construindo outra forma de organização de sociedade mais justa e humana que
esteja pautada no educar para emancipar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deste modo, identificamos que a educação tem papel fundamental para conter as
práticas de injustiças no Brasil e no mundo. Obviamente, fará sentido se for capaz de se
posicionar contra toda a barbárie social existente, bem como considerar a relevância dos
profissionais educativos neste processo. Assim, há que se considerar que a educação sozinha
não pode ser apontada como a grande responsável pela transformação do atual modelo de
sociedade, mas ela é fundamental na luta contra toda forma de barbárie decorrente do atual
modelo social.
Todavia, as comunidades educativas devem prezar por práticas progressistas,
autônomas e de libertação, uma vez que sem estas ações não há possibilidade de educar para
emancipar. Por outro lado, os espaços de constituição de saberes precisam estimular os
sujeitos em direção a uma sociedade com justiça e qualidade de vida para todos. Assim, se faz
necessário que a educação vise promover o respeito mútuo entre as pessoas, e que esteja
voltada para a convivência e não para a competição.
Hoje, vivemos um momento em que o sistema econômico capitalista é incapaz de
assinalar soluções aos problemas mais básicos, como a violência, a fome, a saúde e a miséria.
Por conseguinte, um sistema como esse que só visa a lucratividade, promove a diminuição do
bem-estar e dos direitos fundamentais dos cidadãos. Neste arcabouço, nota-se outros graves
problemas como o retorno de práticas políticas autoritárias e conservadoras, o crescimento
da desigualdade de renda e riqueza, a acelerada degradação da natureza, e frente a tudo isso,
a educação precisa ter como objetivo tornar esta cruel realidade inaceitável, ajudando
desvendar os mecanismos que são utilizados para a sustentabilidade e manutenção deste
fenômeno.
Portanto, que o perfil do educador(a) deve estar pautado para uma prática
emancipatória e que seja capaz de promover a reflexão e a crítica ao atual modelo de
sociedade, pois isso é fundamental para a superação das condições de desigualdade e
dominação que caracterizam o Sistema do Mundo Moderno. Destacamos ainda que, no atual
contexto político em que vivemos, torna-se urgente que a educação se posicione contra toda a
barbárie social que se propaga nos diversos espaços sociais todos os dias, em nosso cotidiano,
afetando aqueles e aquelas que estão à margem de nossa sociedade.
Conclui-se que os Estudos Culturais e a Teoria Crítica são epistemologias fundamentais
para a formação dos sujeitos, uma vez que tais estudos possibilitam a criticidade em relação
aos mecanismos que estão sendo implantados nos diferentes segmentos e a educação é uma
dessas que continua sendo afetada por ações e métodos mascarados deste meio econômico
perverso. Por fim, ressaltamos também que educação, experiência e memória são
SUMÁRIO
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fundamentais para o ato de educar pela convivência. Para tanto, também podem ser maneiras
de resistir frente ao autoritarismo e ao conservadorismo que insiste em prevalecer nos dias
atuais e que interessa tão somente a grupos sociais que, historicamente, sempre foram
beneficiados com tais atitudes.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T.W. Educação após Auschwitz. In: Educação e Emancipação. 3 Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
ADORNO, T.W. O que significa elaborar o passado. In: Educação e Emancipação. RJ: Paz e Terra, 2000.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 2007.
CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação
infantil. São Paulo: Contexto, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido.17 Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas. In:
Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. RJ: Jorge Zahar Ed., 1985
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia- estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-
moderno/ Douglas Kellner; traduação de Ivone Castilho Benedetti. Bauru, SP: EDUSC,2001.
MUNANGA, Kabengele. Algumas considerações sobre “raça”, ação afirmativa e identidade negra no
Brasil: fundamentos antropológicos. In: Revista USP – São Paulo, n.º 68, dez/fev, 2005/2006, p.46-57.
THOMPSON, E. P. (Edward Palmer), 1924-1993 T39 r Os Românticos / E. P. Thompson; tradução de Sérgio
Moraes Rêgo Reis. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
SUMÁRIO
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É difícil colocar em palavras um momento tão presente, sentido por meio dos noticiários
de cada dia que atualizam o número de mortes. (...) Não precisaríamos desenhar o pior dos
cenários para fazer valer aquilo que deveria ser a regra número da História: a empatia, o
exercício da cidadania. (...) Cito outro texto, agora da professora Alessandra Nicodemos:
"como garantir, em um país desigual como o nosso, acesso democrático aos dados e
instrumentos/ferramentas da cultura digital em contexto de educação"? (COSTA, 2020)
INTRODUÇÃO
1
Mestre em História pelo Programa de Pós Graduação em História pela Universidade Federal da Paraíba
(PPGH/UFPB). Graduada em Licenciatura Plena em História na UFPB. Graduanda em Biblioteconomia pela UFPB.
Atua como Professora de História na Prefeitura Municipal de João Pessoa e na rede privada de Ensino.
2
Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação pela Universidade Federal da Paraíba
(PPGE/UFPB). Graduada em Licenciatura Plena em História na UFPB. Graduada em Licenciatura Plena em
Pedagogia na UniDBSCO. Membro do Núcleo de Estudos, Projetos e Pesquisas sobre Formação Docente
NEPESF/UFPB. Atua como Professora de História na Prefeitura Municipal de João Pessoa e coordenadora
pedagógica do Ensino Fundamental e Médio.
3
Este trabalho tem como base o debate sobre o Fundamental II, no que consiste nas turmas de 6º a 9º ano.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 145
continuidade desse formato (ensino remoto e/ou Educação a Distância - EaD) cresce cada vez
mais. E no estado da Paraíba, mais especificamente, as aulas foram suspensas em 18 de março,
e a cada quinze dias tínhamos uma resposta governamental se retornaríamos ou não.
Compreendemos igualmente que o termo “práticas docentes” abrange diversos
significados, entre eles: a formação dos professores (que tem se dado igualmente de forma
virtual); a problemática que envolve o pagamento dos professores, tendo em vista que muitos
colegas tiveram seus salários reduzidos nesse contexto; a saúde física e mental da comunidade
escolar; a alteração do espaço-escola e as suas consequências; as (velhas) questões “Como
chamar a atenção das crianças?”, agora em formato digital; as conversas paralelas substituídas
no plano do chat do aplicativo; a obrigatoriedade e a eficácia do uso das mídias na sala de aula,
entre outros.
Diante dessas colocações iniciais, dialogaremos como se deram as práticas que
perpassaram o dia-a-dia escolar ao longo desses meses, no que diz respeito ao Ensino de
História, compartilhando esta relação entre os diferentes sujeitos educacionais (atuação dos
docentes e como se deu o parecer do alunado) nesse atípico processo de ensino aprendizagem.
Desenvolvimento
4 De acordo com os órgãos responsáveis pela normalização da educação nacional (Ministério da Educação – MEC
e o Conselho Nacional de Educação - CNE) temos as possibilidades de que o “ensino remoto funcionará até
dezembro de 2021, com a fusão dos anos letivos de 2020 e 2021, tendo como ênfase igualmente a flexibilização
da aprovação escolar”. Para o sistema público de ensino, até o presente momento de escrita deste texto, o ano
letivo de 2020 não terminará em 2020.
5 A BNCC “fornece informações sobre os direitos de aprendizagem durante a educação básica, tanto das escolas
públicas quanto das particulares. Com a nova reforma, espera-se favorecer uma crescente melhora na educação
do Brasil.” A lei é uma só. Na prática há a diversidade, no sentido negativo da palavra. A pandemia agravou ainda
mais essas peculiaridades.
SUMÁRIO
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Resultados e Discussões
Considerações Finais
Como nos foi apresentado ao longo do texto, a pandemia acentuou velhos problemas e
trouxe à tona novos problemas para o sistema educacional, seja ele no plano público ou
privado. Os alunos inseridos na vivência de serem nativos digitais começaram a utilizar essa
experiência agora para a prática do aprender a estudar.
Escolher um canto em sua casa, que permita esse espaço de estudo, de uma rotina
escolar em casa, era um desejo dos docentes, mas não imaginávamos que aconteceria dessa
forma.
A produção historiográfica para o ensino remoto e EaD para a educação básica está a
todo vapor. Precisamos cada vez mais colocar em prática essa “nova” e presente realidade. O
processo de ensino-aprendizagem ganha novos desafios.
Compreendemos igualmente que fatores externos também interferem neste processo
educacional, como a saúde física, mental e emocional dos discentes, por exemplo, mas que no
momento não é trazido nesta proposta de trabalho.
Esse ano servirá de lição, de análise, de fonte histórica para as práticas docentes, para
a História da Educação, do Ensino de História e de todas as demais áreas do conhecimento.
REFERÊNCIAS
ANTÔNIO, José Carlos. Uso pedagógico do telefone móvel (celular), Professor Digital,SOB, 13 de jan. 2010.
Disponível em: https://professordigital.wordpress.com/2010/01/13/uso-pedagogico-do-telefone-movel-
celular/ Acessado em: 01 nov.2020.
BOTO, Carlota J. M. C. dos R. A educação e a escola em tempos de coronavírus. Disponível em:
https://jornal.usp.br/artigos/a-educacao-e-a-escola-em-tempos-de- coronavirus/. Acesso em: 01/11/2020.
CHARTIER, Roger.Encontros Históricos 2020 - Historiar no Século XXI: novos desafios, novas respostas.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hHIO4PczzKY&feature=youtu.be. Acesso:
04/11/2020.
COSTA, Marcella Albaine Farias da. Qual o papel do ensino de História em tempos de covid-19? Disponível
em: https://anpuh.org.br/index.php/mais-rj/noticias- rj/item/5719-qual-o-papel-do-ensino-de-historia-em-
tempos-de-covid-19. Acesso em: 01/11/2020.
NUNES, I. B. A história da EAD no mundo. In: Fredric Michael Litto, Manuel Marcos Maciel Formiga (orgs.).
Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. Cap. 1, p. 2.
MERCADO, L. P. L (Org). Vivências com aprendizagem na Internet. Maceió. EDUFAL: 2005. Disponível em:
https://books.google.com.br/books?id=c21XfpbzgSwC&printsec=frontcover&hl=ptBR #v=onepage&q&f=false
Acesso em: 20 nov.2020.
PINTO, S. C. C. S. et al. Redes Sociais: impactos, desafios e pesquisas no cenário educacional. In: SCHNEIDER, H.
N.; LACKS, S. (org.). Educação no século XXI: desafios e perspectivas. São Cristóvão: Editora UFS, 2012.
SCHNEIDER, H. N. A educação na contemporaneidade: flexibilidade, comunicação e colaboração. In: Int. J.
Knowl. Eng. Manage, Florianópolis, v. 2, n. 2, p. 86-104, mar./maio, 2013.
OLIVEIRA, Elida. Conselho Nacional de Educação aprova juntar anos letivos de 2020 e 2021 e ensino
remoto até fim do ano que vem. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/10/06/cne-
aprova-ensino-remoto-ate- dezembro-de-2021-e-fusao-de-anos-letivos.ghtml. Acesso: 01/11/2020.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 148
INTRODUÇÃO
1
Orientado pela professora Vivian Galdino de Andrade. Departamento de Educação – DE/ UFPB/Campus III.
2
Conheça nossas linhas de pesquisa no seguinte link: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/9244025594549006
3
Disponível em www.cchsa.ufpb.br/heb.
SUMÁRIO
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também foram realizadas tomando como base os princípios da história oral; 3. Com os dados
coletados passamos a produzir inventários, que se materializam na produção de memórias
históricas, com fotos e informações históricas sobre cada lugar catalogado.
Teoricamente, nos orientamos pela definição de lugares de memória a partir de Pierre
Nora (1993), que aponta:
Estes espaços resguardam histórias, lembranças que falam do lugar onde estão
inseridos, símbolos históricos situados no tempo e no espaço, carregados de sentido e
identidade. Desde sua origem, os lugares de memória impregnam um significado próprio e
particular, ao mesmo tempo em que se associam ao social com o qual possuem contato, de
geração em geração. Eles constituem e são constituídos pela memória desse lugar, objetos de
celebração, marcas do povo, de sua cultura e religião. Os sujeitos sociais devem estabelecer
com eles vínculos de pertencimento e afetividade, dotando-os de sentido e valorizando-os
como parte integrante de sua identidade, pois é isso que os levam a querer preservá-los e
mantê-los vivos.
SUMÁRIO
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4
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras: Apanhados Históricos. João Pessoa: Sal da Terra Editora. 2007.
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras sua história, seus valores. Bananeiras. Luz e sombra. 1997.
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras, uma visão do Passado. João Pessoa. Sal da Terra, 2016.
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras, uma visão do Passado-2ºEd.rev. e atual- Bananeiras- PB: Edição do Autor. 2019.
SILVA, Manoel Luiz. “Uma volta ao passado”. Bananeiras. Editora e Impressa. 1999
5
Alguns dos jornais consultados já tinham sido digitalizados em outros projetos de nosso Grupo de Pesquisa, que
desde 2015 tem desenvolvido trabalhos com o patrimônio documental de Bananeiras. Para acessar estes jornais
consulte: http://www.cchsa.ufpb.br/heb/contents/menu/acervos-digitais/jornais.
6
Confira esse jornal em nosso repositório HEB. Disponível em:
http://www.cchsa.ufpb.br/heb/contents/paginas/correio-do-moreno.
SUMÁRIO
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ESTAÇÃO 1. Armazém;
FERROVIÁRIA 2. Túnel - 1918;
3. Estação
SUMÁRIO
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1. O Combate;
2. O Mirante;
3. Ensaio;
4. Labor - 1897;
5. Rebento -1898;
6. Rebentinho -1899;
7. Lápis -1901;
8. Cidade de Bananeiras - 1908 e 1940;
JORNAIS 9. Pharol - 1909;
10. Momento - 1934;
11. Vida Agrícola -1947 (mudando de nome para “Agro-lux”);
12. Verdade -1961;
13. Giro – 1961;
14. O Renovador;
15. Jornal estudantil “O saber”;
16. O Momento;
17. A Cidade;
18. Era Nova - 1921;
19. Encrenca;
RÁDIO 1. Muricituba;
SUMÁRIO
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SÍTIOS 1. Umari;
ARQUEOLÓGICOS 2. Pedra Preta;
3. Gruta dos Morcegos
1. Engenho Roma;
2. Canafístula II;
3. Coiós;
4. Farias;
ENGENHOS 5. Goiamunduba
6. Gamelas
7. Pau D’Arco
8. Poções
9. Santo Antônio I
10. Santo Antônio II
11. São José
12.Tanques
SUMÁRIO
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"Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea,
que é preciso criar arquivos, organizar celebrações, manter aniversários, pronunciar
elogios fúnebres, notariar atas, porque estas operações não são naturais". (ARÉVALO,
2005, p.4)
Solânea é uma cidade que mesmo muitos desacreditando do seu potencial histórico ela
apresenta parcos, mas riquíssimos ambientes de socialização que serão apresentados do
quadro 2 abaixo:
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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Todavia, se torna válido alertar que para a composição destas memórias históricas, as
informações registradas estavam condicionadas ao que foi coletado nas fontes documentais,
dados que muitas se demonstraram contrários ao que expuseram os entrevistados em suas
falas. Isso revela a necessidade de ampliar a pesquisa, intensificando a busca e o registro
destas memórias em narrativas escritas.
CONCLUSÕES
7
Confira algumas possibilidades de recursos didáticos no nosso repositório HEB. Disponível em:
http://www.cchsa.ufpb.br/heb/contents/menu/acervos-digitais/recursos-didaticos-1.
SUMÁRIO
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REFERÊNCIAS
ARÉVALO, Marcia Conceição da Massena. Lugares de memória ou a prática de preservar o invisível através
do concreto. Revista História Hoje. Revista eletrônica da história. Volume 3, Nº 7, 2005. Disponível em:
<https://www.anpuh.org/revistahistoria/view?ID_REVISTA_HISTORIA=7 >.
Acesso em 04/03/2020.
FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim et al. Educação Patrimonial: inventários participativos: manual de
aplicação. Brasília: Iphan, 2016.
FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim. Educação Patrimonial: Programa mais Educação. Brasília:
MEC/Secretaria de Educacao Basica e Minc/Iphan, 2012. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/EduPat_EducPatrimonialProgramaMaisEducacao_fas1_m.pdf
>. Acesso em: 27 de outubro, 2020.
FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim; Fernanda Gabriela, BIONDO. Educação Patrimonial Expandida:
inventários participativos como instrumentos de educação patrimonial e participação social.
Patrimônios Possíveis, 2016, p. 50-58. Disponível em: <https://patrimonios-
possiveis.medialab.ufg.br/05_sonia_rampim.html>.
Acesso em: 29 de outubro, 2020.
GRUNBERG, Evelina. Manual de atividades práticas de educação patrimonial. Brasília, DF: IPHAN, 2007. (p
1-24)
NORA. Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. São Paulo: Projeto História, 1993.
Repositório Digital História da Educação do Município de Bananeiras - HEB.
Disponível em: <www.cchsa.ufpb.br/heb>
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras: Apanhados Históricos. João Pessoa: Sal da Terra Editora. 2007.
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras sua história, seus valores. Bananeiras. Luz e sombra. 1997.
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras, uma visão do Passado. João Pessoa. Sal da Terra, 2016.
SILVA, Manoel Luiz. Bananeiras, uma visão do Passado-2ºEd.rev. e atual- Bananeiras- PB: Edição do Autor.
2019.
SILVA, Manoel Luiz. “Uma volta ao passado”. Bananeiras. Editora e Impressa. 1999.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
1
Graduanda pela UFRN
2
Graduanda pela UFRN
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mostrou na prática como é possível usar um problema e transformá-lo em solução, pois pode
acrescentar diversos materiais nas aulas.
No que se refere aos meios de comunicação com os alunos, o professor afirmou que o
SIGEDUC (plataforma de acesso para alunos de escolas estaduais) passou a ser mais utilizado,
e o google meet foi uma saída encontrada para ministrar aulas. Essa última ferramenta,
segundo o professor, foi apreendida na prática tanto pelo professor, quanto pelos alunos
devido a pandemia.
Já o formulário dos alunos, foi respondido por 37 estudantes. Ao que parece os alunos
não sabem ou não se lembram exatamente quando a aula online começou, assim quando
perguntados sobre o início das aulas remotas, as respostas variaram entre março e junho. Mas
de acordo com o professor foi durante o mês de maio que as aulas começaram neste formato.
Nós acreditamos que essas respostas talvez signifique que alguns professores possam ter
passado atividades pelo SIGEDUC antes do retorno das aulas, e que uma parte dos alunos
somente souberam do retorno mais tarde, pelo menos o que acreditavam que as aulas
começaram novamente em junho. Uma outra pergunta do formulário, foi se gostavam de
História e o que preferiam estudar, a maioria dos alunos responderam que sim, já os assuntos
escolhidos, 4 responderam quase tudo, 1 epidemias, 4 não disseram o assunto, 6 História do
Brasil (3 especificamente Brasil Colônia), 2 estudar o passado, 2 “escravos”, 1 guerras, 1 gosta
da aula do professor, 1 Revolução Francesa, 1 História Geral, 1 reflexórios (texto-resumo feito
pelos alunos sobre o que aprenderam na aula, que é uma das metodologias utilizadas pelo
professor, supervisor), 1 Brasil e Portugal, 1 “sobre a história do pais”, 1 cotidiano, 1 sobre o
desenvolvimento do país e revoluções, 1 aprender coisas novas, e outro “(...) conhecer o
passado para entender o presente e projetar o futuro, não repetir os erros de nossos ancestrais
e compreender a atuação da humanidade …”. Essas respostas mostram para nós que esses
alunos, pelo menos a maioria gostam de estudar História e se interessam por diversos temas,
podendo se entender que isso também reflete a boa qualidade das aulas ministradas pelo
professor supervisor. Os alunos também foram questionados sobre a importância de estudar
História, as respostas foram bastante interessantes, como mostra a seguir: 6 alunos afirmaram
que é um aprendizado para hoje em dia; 2 gostam por saber do passado; 1 saber a História do
país; 2 saber dos lugares que nos cercam; 2 conhecer o passado para refletir e entender o
presente; 1 as diferenças entre a sociedade do passado e atual; 1 “Tem muita importância”; 1
coisas que marcam a nossa História; 1 não respondeu; 1 para evitar erros; 1 “Devido a história
sabemos quem fomos, quem somos e quem seremos no futuro”. Essas respostas nos
surpreendeu bastante, percebemos que os alunos não somente gostavam de História, mas
tinham uma consciência histórica bastante desenvolvida, algumas respostas mostram
claramente a função da História de entender o presente, de saber as origens e de tentar
responder questões do presente. A ótima qualidade das respostas, fizeram com que nós nos
esforçamos mais ainda para tentar ministrar uma boa aula.
A 4ª pergunta do questionário foi se os alunos tinham acesso a uma estrutura
apropriada para estudar, 43, 2% afirmaram que sim, 56,8 % disseram que não, isso pode talvez
ser uma das causas porque a maioria dos alunos não assistem aula, uma vez que não foi dado
apoio financeiro para os alunos terem acesso a computador ou internet. Além disso, 40,5%
dos alunos afirmaram que incluindo eles em casa, moram 5 ou mais pessoas, uma casa com
muitas pessoas as vezes não é muito silenciosa, principalmente se a casa não for muito grande.
Mas para além disso, com a pandemia 35,1% dos alunos afirmaram que precisaram trabalhar,
então outro motivo que nos parece fundamental para o número reduzido de alunos nas aulas
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sincrônicas, foi que alguns alunos precisaram trabalhar. Sobre o trabalho ajudando os pais são
4, já trabalhando como vendedor são mais 4, além de, 1 moto táxi, e outros dois que trabalham
como ajudantes. Então como esses alunos têm acesso às aulas? 97,3% assistem aula pelo
celular, e 2,7 % pelo tablet e 2,7 por notbook. No que se refere a internet, 59,59% consideram
que tem uma internet regular, 21,6% que é boa, 16,2% que é ruim e 2,7% dizem que é ótima.
Assim percebemos, que a maioria dos alunos possuem uma internet que não lhes garante uma
boa qualidade de uso e que utilizar o celular para assistir a aula torna mais cansativo ainda
esse processo.
No tocante a ferramenta que os alunos usam para estudar, 75,7% afirmaram que eram
slides, 10,8% apenas a narração, 18,9% videos, 5,4,% aplicativos paralelos, 10,8% resumo de
capítulos de livros. Esse dado nos mostra que a maioria dos alunos procuram alguns outros
meios de informação além da aula. Por fim, foi perguntado quantos alunos fizeram as
inscrições do Enem 16 disseram que sim, e 21 que não. Essa resposta foi bastante triste, pois
o Enem é uma porta de entrada para cursos de graduação e técnicos, talvez isso seja uma
expressão da medo da pandemia, mas segundo o professor no ano passado poucos alunos
prestaram esse exame. Assim, talvez a escola precisa-se se voltar mais para si, para entender
porque esses números.
Dessa forma, a turma em que o estágio foi feito, foi as três turmas do 3ª série que
estavam tendo aulas juntas. No que se refere ao planejamento das aulas, o professor já havia
decidido os temas, e como só havia 8 semanas para fechar as notas, o professor concedeu 5
aulas, uma de redação, e outras quatro que iriam desde do Império até a ditadura civil-militar,
que deveria ser relacionada com as epidemias das épocas. Dessa forma, também fizemos as
provas do 3º e 4º bimestre. E decidimos fazer um pequeno material didático sobre cada aula,
pois nem todos alunos têm livro.
A criação do material
Material didático, na concepção de Circe Bittencourt (2008) pode ser entendido como
um instrumento de trabalho que serve de mediador entre ensino e aprendizagem, apoiando,
assim, a prática docente em um número considerável de ferramentas a serem refletidas e
fazerem refletir. Bem como afirmam Ferreira e Oliveira (2019), que um material didático será
aquilo que o professor/mediador decidir o que ele seja dentro de um parâmetro de uso
considerado ou não didático, dependendo da sua aplicação.
O material didático desenvolvido nessa experiência de estágio, foi pensado pelas
estagiárias como um apoio direcionado aos alunos que, devido uma situação ímpar, não
possuíam os livros distribuídos pela escola, bem como não tinham acesso ao material em um
formato compatível às ferramentas tecnológicas (celulares, notebooks, computadores,
kindles, etc). Deste modo, a função assumida nessa experiência foi o que Circe Bittencourt
(2008) nomeou de suporte informativo, cujo objetivo se concentra na apresentação dos
elementos do saber da disciplina em questão.
Tendo em vista esta característica, elaboramos as páginas de acordo com a temática
das aulas, dividindo uma parte para o contexto histórico e outra para a relação entre a
epidemia vigente e as ações político-culturais que tiveram lugar no seu tempo. Levamos em
conta, também, os limites, as vantagens e as desvantagens que esse material possui como
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estão frequentando menos as aulas porque somos nós que estamos ministrando. Com isso,
vamos nos esforçar para ministrar boas aulas para ver se os alunos voltam.
Na terceira semana de aula novamente começou com 2 alunos e finalizou com 7 alunos.
A aula foi sobre a Primeira República e o processo de vacinação. Os alunos logo no início da
aula se queixaram da atualização do google meet que tornou mais difícil o envio de mensagens
no chat. Isso nos mostrou que as vezes os alunos não participam das aulas remotas muitas
vezes por desconhecimento do manuseio das plataformas. Nessa aula a participação foi boa,
dois alunos participaram duas vezes, um dos alunos apenas respondendo sim ou não. E a outra
aluna ligou o microfone e falou sobre sua posição em relação a obrigatoriedade da vacina, a
qual tinha dúvida sobre, uma vez que considera que o governo não deve forçar as pessoas se
vacinarem.
Nessa aula novamente a média de alunos foi 7. Antes da aula começar, o professor
comentou que houve muitos alunos que desistiram de estudar, por causa da pandemia do
Novo Coronavírus e as informações desencontradas sobre como seria o retorno às aulas. Tal
informação, aponta para mais uma das tristes consequências da pandemia. Sobre nossa aula,
hoje a participação foi maior, 5 alunos participaram, apesar das respostas terem sido via chat
e se limitando a ser “sim” e “não”. Por outro lado notamos que os alunos estão se acostumando
com a gente. Segundo a professora do estágio isso iria acontecer com o tempo, mas
infelizmente só se acostumaram com a nossa presença na penúltima aula. Hoje aprendemos
que é preciso esperar para que os alunos se sintam mais à vontade para interagir.
Em nossa última aula que começou com 7 alunos e com a presença do professor
supervisor, mas como esse teve que sair a maioria dos alunos saíram. Mas para além do
número de alunos que frequentaram nossas aulas, o importante foi a experiência e o
aprendizado. Um triste dado, que aponta para uma enorme evasão, é que dos 143 das três
turmas, apenas 36 fizeram as provas que estão sendo entregues impressas pela escola, e que
eles tem uma semana para fazer.
CONCLUSÃO
Uma das dificuldades apresentadas no Ensino Remoto, é o tempo da aula que foi
consideravelmente reduzido para as interações, mas que se estendeu para a possibilidade
narrativa. As mudanças na didática que foram impostas ao professor, sem um curso prévio,
visto que esse formato é inédito para a maioria dos professores do ensino básico, bem como
para os alunos, que ficaram desassistidos de qualquer auxílio e orientação para esse formato
também foi uma grande dificuldade. Outro ponto a ser considerado é o de que boa parte dos
alunos que não possuem acesso a internet, por isso se distanciaram da escola, provavelmente
a evasão escolar vai ser um dos principais problemas a serem combatidos nos próximos anos
letivos.
Ademais, uma parcela dos alunos que assistem às aulas remotas terminam por apenas
escutar sem perguntar, possivelmente por acharem estranho esse formato de aula, uma
atitude que já vem refletida da sala de aula quando há pouco diálogo no espaço escolar. Esse
formato também dificulta a participação dos alunos que gostariam de responder os
questionamentos em sala de aula, uma vez que nem todos estão acostumados a utilizar
recursos como o google meet e suas atualizações.
Um ponto apresentado pelo professor, foi a desistência de alunos, ou seja um aumento
na evasão escolar durante a pandemia. Pode-se inferir que essa realidade, além de uma falta
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REFERÊNCIAS
ANNUNCIATO, Pedro. Inovação na educação. Nova Escola, n. 299, p. 26-33, fev. 2017.
AZEVEDO, C. Estágio Supervisionado como lugar de pesquisa: o caso dos estágios do curso de História da
UFRN. In: AZEVEDO, C. (Org.). Docência em História: experiências de Estágio Supervisionado e Formação do
Professor-pesquisador. Natal: EDUFRN, 2017.
ARRUDA, Eucidio Pimenta. Educação remota emergencial: elementos para políticas públicas na educação
brasileira de COVID-19. Revista EmRede: Revista de Educação a Distância, v.7, nº1. Porto Alegre, 2020, p.257-
275. Disponível em: https://www.aunirede.org.br/revista/index.php/emrede/article/view/621.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 2.ed. São Paulo: Cortez,
2008.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros
curriculares. Brasília: MEC/SEF, 1997.
FERREIRA, Marieta de Moraes. OLIVEIRA, Margarida Dias de. Dicionário de ensino de história. Rio de Janeiro:
FGV Editora, 2019.
MACHADO, André Roberto de A.; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Golpes na História e na Escola: o Brasil e
América Latina nos séculos XX e XXI/MACHADO, André Roberto de A.; TOLEDO, Maria Rita de Almeida (Orgs.).-
1.ed.- São Paulo: Cortez: ANPUHSP-Associação Nacional de História- Secção São Paulo, 2017.
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INTRODUÇÃO
Desde muito cedo, o indivíduo na sociedade está envolvido com as realidades históricas
de seu tempo, sejam elas relacionadas à sua vida pessoal, ao lugar onde vive, seu país, ou ao
mundo, mas, sempre se ouve uma história e sempre se memoriza uma, quer em casa, na rua
ou na escola, e apesar disso ao longo de sua vida em algum momento ele passa a se questionar:
Mas afinal, o que é História? Esse é um questionamento que ressoa nas aulas de História,
todavia, percebemos que mais importante que a conceituação é perceber os sujeitos que
mudaram a história, que contribuíram para a sociedade, a cultura, a política e economia.
Dentre desses universos de personalidades masculinas e femininas, iremos tratar de uma,
especificamente, um poeta negro brasileiro, que usou sua arte como forma de expressão e
identidade. Caro leitor, apresento Francisco Solano de Trindade.
Francisco Solano Trindade nasceu em 24 de julho de 1908, no Bairro de São José, em
Recife PE, fixando moradia no Rio de Janeiro na década de 40. Trindade, homem negro e
nordestino inicia sua vida na militância no Movimento Negro ainda na juventude, não somente
por ser de descendente de escravizados, mas, sobretudo pela admiração e o prazer que tinha
em vivencia a sua cultura [afro-brasileira], não à toa que é uma das principais personalidades
da cultura e história afro-brasileira no Brasil3.
Considerado como o criador de uma poesia “assumidamente negra”4, Trindade
conciliava as produções de suas poesias com a atuação na criação de outras manifestações da
arte negra, como a inauguração, juntamente com sua esposa Margarida e o sociólogo Edison
Carneiro, do Teatro Popular Brasileiro, em 1951. Faleceu em 1974 na cidade do Rio de Janeiro
de pneumonia.
Artistas como Solano Trindade, comumente são lembrados entre os ciclos de conversas,
em aniversários de sua morte, nos simpósios e colóquios acerca da temática afro-brasileira.
1
Aluna do curso de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
2
Graduada em História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
3
Em 1934, no Recife é um dos organizadores do I Congresso Afro-brasileiro e em 1936 funda a Frente Negra
Pernambucana, juntamente com o pintor Barros Mulato e o escritor Vicente Lima Ver: Fundação Palmares: 111 anos
de Solano Trindade, o poeta do povo e pai da poesia negra brasileira. Disponível em:
http://www.palmares.gov.br/?p=54702
4
Ver: Portal Geledés: Solando Trindade. Disponível em: https://www.geledes.org.br/solano-trindade/
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Não obstante, suas poesias estão presentes nos livros didáticos de História, muitas das vezes
deixadas de ser contemplada a historicidade e o teor criativo e crítico de sua obra.
Nessa perspectiva, partimos de tais objetivos para acionar a relevância de se estudar
artistas como Solano Trindade, pois, acreditamos no potencial histórico e discursivo de sua
escrita, fundamentalmente por fazer parte de importantes transformações políticas e sociais
entre as décadas de 30 até o ano de sua morte, ademais, assim como a sensibilidade e
profundidade em que toca os temas relativos à escravidão, dotados de um preciosismo
poético, mas, pontual e firme em suas narrações. Solano de trindade é um importante agente
histórico que não pode ficar esquecido nos finais dos capítulos dos livros de história, para isso
que pensamos na reflexão de duas de suas vastas obras: Sou Negro (1961) e Navio Negreiro
(1961).
Para tanto, utilizaremos como aporte teórico para reflexão de nossos diálogos, os
autores: Almeida (2019), Bittencourt (2012), Neto (2008), Pesavento (2003), Chagas (2008),
entre outros autores que discutem em suas produções historiográficas o ensino de História e
a Literatura Negra Brasileira.
Por muito tempo o ensino de História foi evidenciado pela mecanização do ensino-
aprendizagem, onde o fato de aprender estava ligado ao saber de datas, nomes contemplativos
e grandes transformações ocorridas na sociedade. Além disso, o documento como fonte
imprescindível do saber histórico para o historiador foi um fenômeno do século XIX. Essas
evidências definidas como pensamentos positivistas foram rompidas com novas vertentes
históricas que surgiram no fim do século XIX para o início do século XX, ampliando assim a
didática do estudo histórico, estas novas vertentes surgiram com a Escola dos Annales 5 que
valorizavam outras fontes além do documento muito importantes.
Se antes tínhamos o documento escrito como principal e única fonte do que é
verdadeiro, aqui, novas fontes seriam trabalhadas como a música, a literatura, as imagens ou
a cultura material. Este fator modificou, portanto, o conceito de fontes históricas, entendendo-
as como vestígios, registros do passado ligados diretamente aos estudos como o cotidiano, o
imaginário, a alimentação, as tradições e a cultura, por exemplo. No entanto, os documentos
escritos não perderam seu valor, mas passaram a ser reinterpretados partindo de técnicas
interdisciplinares. Além disso, sua principal proposta foi ampliar o conhecimento histórico
acerca dos tantos outros agentes históricos que não estão registrados nos documentos ditos
oficiais.
5
A escola dos Annales traduz a essência das pretensões do grupo de historiadores formado a partir de quatro grandes
nomes: Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel e Jacques Le Goff cujas obras, unidas, sintetizam o espírito desta
escola: “Historiadores sejam geógrafos. Sejam juristas, também, e sociólogos, e psicólogos.”. BURKE, Peter. A Escola
dos Annales. São Paulo: UNESP, 1997.
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“Essa realidade é denotativa de que não basta fazer referência à África, à cultura afro-
brasileira e ao negro (a) na sala de aula, é preciso atentar para a abordagem dada aos
conteúdos trabalhados, ela também aponta para a necessidade da formação docente, uma
vez que os problemas identificados decorrem da estratificação de um imaginário sobre a
África que a concebe como continente pobre, subalterno e incivilizado.” (NETO, 2008, P.
163).
SUMÁRIO
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Nesse segundo momento temos como principal objetivo trabalhar os poemas Sou negro
(1961) e Navio Negreiro (1961), dialogando a respeito de como a produção literária de Solano
Trindade pode ser trabalhada. Optamos por propor ao docente trabalhar o poema em partes,
caracterizando os elementos contidos e fazendo com que o aluno reflita acerca do diálogo que
Solano de Trindade propõe.
Sou negro (1961)
Meus avós foram queimados
Pelo Sol da África
Minh’ alma recebeu o batismo dos tambores
Atabaques, gonguês e agogôs.
No passo que Trindade se aprofunda no diálogo com o leitor ele nos revela de onde seus
avós vieram, de Luanda, capital da Angola, uma das muitas regiões que foram retirados de seu
solo milhares de seres humanos para serem escravizados no Brasil. Como pontuado, tratados
como “mercadoria de baixo preço”, para trabalhar no engenho. A didática do autor nesses
trechos é de extrema relevância, pois, ele toca especificamente em uma das principais
características da escravidão: retirar seres humanos do seu lugar de origem, extrair suas
6
Ver: Bittencourt, Circe. O saber histórico na sala de aula (org) 12 ed. São Paulo: Contexto, 2012, - P.86
SUMÁRIO
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identidades e vendê-los como mercadoria para serem explorados nos engenhos que
enriquecerem os latifundiários.
Doravante, o autor em sua plena intimidade com sua escrita, estabelece uma relação
mais próxima do leitor, ele nos aponta característica do avô, que mesmo sem ter um nome
revelado, nos fala que o mesmo era valente, briguento, de temperamento forte, uma vez que
brigou “como um danado nas terras do zumbi”. Ora, teria o tal avô fugido do engenho e sendo
acolhido no Quilombo dos Palmares? cuja permanência foi atentada por inúmeros ataques a
esse espaço de resistência, até a morte do último líder Zumbi, como também de sua
companheira a guerreira Dandara.
Não obstante, percebemos o propósito de Trindade em caracterizar elementos
históricos, como a referência a África, a musicalidade africana, ao espaço de resistência e
liberdade que foi o Quilombo dos Palmares, ao citar a valentia do avô, o faz o mesmo processo
com a avó, não a deixando de mencionar sua participação na Guerra dos Malês:
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
na guerra dos Malés
ela se destacou.
Na minh’alma ficou
O samba
O batuque
O bamboleio
E o desejo de libertação
Nestes versos acima, Trindade elucida o povo negro, na perspectiva de um olhar crítico,
onde, naquelas cargas vindas para o Brasil, o negro era bem mais do que os estereótipos
ligados à sua figura: a selvageria. No contrário da desumanização, eles eram humanos,
inteligentes e poéticos, Trindade, no entanto, é uma representação disso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando toda a discussão do ensino de história voltada para o uso metodológico dos
poemas de Solano Trindade, a não limitação apenas da compreensão do tempo histórico ou
fato histórico, instigam nos alunos uma complexidade de significados históricos que estão
relacionados às intencionalidades de informações ligadas aos atores sociais de uma
determinada época, servindo estes como elemento provocador, que faz o aluno repensar as
múltiplas representações de conhecimentos históricos já cristalizados ao longo dos tempos,
estimulando assim, com que estes proponham debates, indo à busca de informações e
elaboração de seus próprios argumentos.
Nesta perspectiva, faz-se necessário que o professor de história use e não apenas esses
poemas aqui trabalhados como parte de seu material didático, haja vista a sua importância e
contribuição na formação de um sujeito crítico mediante as informações que lhes são
apresentadas.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Roberto Emerson Câmara. A África está em nós: história e cultura afro-brasileira/ Roberto
Benjamin. – João Pessoa, PB. Editora Grafset, 2004. P. 9-10
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico em sala de aula/ Circe Bittencourt (org.) Livros Didáticos entre textos e
imagens, p.69. 12, ed – São Paulo: Contexto, 2012. P.86.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales. São Paulo: UNESP, 1997.
CHAGAS, Waldeci Ferreia. Cultura afro-brasileira na escola: A obrigatoriedade da lei e o compromisso
político. P.163. História ensinada: linguagens e abordagens para a sala de aula/ Martinho Guedes dos
Santos (org.). João Pessoa: ideia, 2008. P.197
FONSECA, S, G. Ensino de História: diversificação de abordagens. Revista Brasileira de História, São
Paulo, vol. 9, n. 19, p. 197-108, set. 1989/fev.1990.
Fundação Palmares: 111 anos de Solano Trindade, o poeta do povo e pai da poesia negra brasileira.
Disponível em: http://www.palmares.gov.br/?p=54702. Acessado em: 03/11/2020
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História &... Reflexões. História & História Cultural. Ed Autêntica. 3ª ed. 2003.
Portal Geledés: Solando Trindade. Disponível em: https://www.geledes.org.br/solano-trindade/. Acessado em:
03/11/2020.
Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 3, n.7, p. 89-94, set./dez. 2002.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
O Brasil se destaca como uma das maiores sociedades multirraciais do mundo e abriga
um contingente significativo de descendentes africanos dispersos na diáspora. De acordo com
o censo de 2000, o país conta com um total de 170 milhões de habitantes; destes, 91 milhões
de brasileiros(as) se auto classificam como brancos (53,7%), 10 milhões como pretos (6,2%),
65 milhões como pardos (38,4%), 761 mil como amarelos (0,4%), e 734 mil indígenas (0,4%).
Essa distribuição demográfica e étnico-racial é passível de diferentes interpretações
econômicas, politicas e sociológicas.
Visto que, desde meados do século XIX, as elites intelectuais discutiam a criação de uma
identidade para o Brasil. Essa identidade implicava em transformar o caráter rural e escravista
do país em modernidade, espelhada em transformações urbanas e arquitetônicas, no advento
de novos costumes e na incorporação de novas ideias cientificas. O período final do século XIX
culminou no desenvolvimento do pensamento ocidental, e nele se assistiu a discussão do
racismo cientifico, que associava raça e cultura. Entre as várias discussões em curso, os
“homens das ciências” estudavam a contribuição das raças na identidade nacional, para
melhor discernir soluções para o país (SCHWARCZ, 1995, p.40).
O presente estudo é sugestionado a partir de inquietações acerca dos estudos étnicos
raciais e especificamente a respeito da África e a complexidade que encontramos nos
professores (as) em lecionar acerca do tema de maneira segura, objetivando também
desmistificar o eurocentrismo que ainda é predominante nesse campo do conhecimento. As
ações propostas aqui surgem como proposta pedagógica para auxiliar o (a) professor (a) de
História nas séries do Ensino Fundamental II, de maneira que consiga trabalhar o conteúdo a ser
ministrado conforme o currículo escolar e atrele isto à fonte lúdica de fácil acesso.
Percebe-se que as ações do professor (a) de história podem ser desenvolvidas de forma
lúdica, para estimular o aluno pelo gosto da leitura, especialmente pela história do povo
africano e afro-brasileiro desmistificando, também, a ideia de que a aula de história é
monótona e enfadonha. Desta forma, propomos a utilização de novas ferramentas nas aulas,
como o uso de recursos multimídias, a fim de que os alunos possam conhecer a realidade do
povo africano e sua identidade. Com esse objetivo surge nossa proposta, como diz BRITO
(2017):
O papel do professor é de fundamental importância nesse caso para que novas metodologias, e
recursos tecnológicos, assim como os trabalhos pensados de forma lúdica tragam resultados
positivos, os professores necessitam trabalhar em parceria e também ter conhecimentos a
1
Graduanda em Licenciatura plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail:
vivian.gualberto9@gmail.com
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respeito do que está sendo trabalhado [...] utilizando destas atividades para a interação e
comunicação entre áreas diferentes de conhecimento, facilitando o ensino e promovendo o
aprendizado, que, por sua vez, pode ser mútuo (BRITO 2017, p.8).
A palavra lúdica vem do latim Ludus, que significa jogo, divertimento, gracejo, escola.
Este brincar também se relaciona à conduta daquele que joga, que brinca e se diverte. Por sua
vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo: seu saber, seu
conhecimento e sua compreensão de mundo. Portanto, entendemos como necessário a
utilização do lúdico na sala de aula, e desta forma, utilizaremos em nossa proposta o livro “A
Caixa de segredos” do autor Rogério Andrade Barbosa com ilustrações de Gerson Conforti que
aborda a narrativa das memórias de Malã, apresentado como tataravô do narrador, o qual
descreve um percurso de sofrimento, participação e superação. A obra também traz elementos
que mobilizam a curiosidade a partir das ilustrações que vão sendo esclarecidas.
Consideramos, pois, que o professor (a) deve provocar o aluno (a) a pensar e criar
situações para sua interação no contexto escolar; e solicitar que ele (a) acompanhe a
construção do conhecimento, através de uma aula que se apodere de instrumentos lúdicos,
especificamente as ilustrações contidas na proposta do livro “A caixa de segredos”. Porém o
mais próximo possível da sua realidade, porque assim ficará mais fácil para os alunos (as)
identificarem, investigarem e resolverem problemas, bem como gerar sentimentos de
pertencimento, equidade ao estudar sobre a África e os Afro-brasileiros criando um ambiente
em que o professor (a) será capaz de construir situações de problematizações que serão
desencadeadoras de conhecimentos.
Fundamentação Teórica
Dessa forma, antes de apresentar os procedimentos para a abordagem dos textos a que
nos referimos, visto que é preciso entender o que é a História da África e a cultura Afro-
Brasileira, faremos uma apresentação teórica do tema. Pontuamos que a educação em países
multiculturais deve se desenvolver sem discriminações, sem fazer omissões, garantindo,
valorizando e respeitando os vários segmentos e etnias que constituem a nação.
Indiscutivelmente, a percepção que ainda se tem da África, junto a um imaginário
europeu que foi construído no paulatino decorrer da história, é a que existia muita miséria,
fome, doenças e escravos. Segundo Carlos Serrano e Maurício Waldman em sua obra “Memória
d’África” (2007), a percepção do europeu sobre o africano no século XVI foi o alicerce para os
inúmeros preconceitos que a comunidade negra ainda sofre, tendo em vista que várias
explicações de cunho religioso fundamentaram uma visão pessimista sobre a África, como por
exemplo, o mapa dos salmos e a teoria camita.
Ao tornar obrigatório o ensino da temática história e cultura afro-brasileira em todos
os níveis de ensino, busca-se germinar questionamentos e reflexões sobre a diversidade em
todos os níveis em especial a racial e cultural, como um conhecimento que valorize e promova
respeito à diversidade de nosso país. Definido os objetivos, torna-se necessário apontar fontes
para o trabalho com essa temática em sala de aula.
A literatura lúdica seria não como uma solução de problemas, mas uma ferramenta a
mais para o professor (a) nortear seu trabalho. Assim como, os livros didáticos oferecem
algum “suporte” as mais variadas disciplinas, da mesma forma que é investido milhões em
livros didáticos, também pode ser investido em algo que facilite a compreensão do tema que
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tem levantado diversos movimentos. Em síntese, como concluem Maria da Glória Bordini e
Vera Aguiar:
Para que a escola possa produzir um ensino eficaz da leitura da obra literária, deve
cumprir certos requisitos como: dispor de uma biblioteca bem aparelhada, na área da
literatura, com bibliotecários que promovam o livro literário, professores leitores com
boa fundamentação teórica e metodológica, programas de ensino que valorizem a
literatura e, sobretudo, uma interação democrática e simétrica entre alunado e
professor (1988, p. 17)
[...] em alguns setores da mídia, dos meios intelectuais e políticos permanecem tensões
e discordâncias sobre a importância da inclusão da temática étnico-racial nas políticas
curriculares e nos processos de gestão. A Lei 10.639/03, suas diretrizes nacionais e a
Resolução CNE/CP 1/2004 podem ser consideradas como um divisor de águas e, ao
mesmo tempo, a explicitação dos tensionamentos sobre a responsabilidade do poder
público no combate às desigualdades raciais. (GOMES, 2009, p.51)
Segundo Cruz (2006), apesar de ser possível constatar o alto índice de pessoas negras
ou seus descendentes no Brasil, ainda falta ampliar o leque de conhecimento dos mesmos
acerca da História e da cultura africana. A preocupação em desmontar os preconceitos logo
nas primeiras séries se explica pelo fato de que os efeitos perversos da intolerância são
sentidos ainda cedo. A articulação da disciplina história da África tem como objetivo dar a
ancestralidade aos grupos africanos que vieram para a América. Saber quem eram, o que
faziam, onde se localizavam e enfocar suas contribuições nas relações sociais.
Uma ferramenta para auxiliar no debate é a educação. Entre tantas possibilidades
selecionamos uma de Rogério Andrade Barbosa – pioneiro e expoente na literatura que versa
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sobre a temática africana e afro-brasileira – apresenta no livro A caixa dos segredos (Galeria
Record, 2010), que conta a história de Malã, narrada pelo o seu tataraneto Antônio (batizado
com nome cristão).
Ao longo da obra o leitor conhece a história desde a captura do povo africano à chegada
ao Brasil e sua permanência no país. O livro é dividido em quatro etapas: A primeira fase
enfatiza a infância de Malã (nome de origem africana), sequenciada dos ensinamentos sobre
sua religião e a mudança do seu nome para Antônio, assim como o primeiro contato com
línguas, costumes diferentes e a servidão que lhe fora imposta depois da invasão que fazem na
Aldeia onde ele morava. O capítulo também retrata a sua captura para o Rio de Janeiro, em que
anúncios foram colocados sobre a chegada de vários negros, inclusive Malã (que teve sua
venda anunciada com destaque nos jornais da época) com o realce de “peça rara” porque os
seus vendedores espalharam as boas qualidades que viram desenvolver durante a sua captura
sendo um dos primeiros a ser vendido e levado pelo um dono lusitano que, tinha um vasto
comércio de lojas e alfaiataria para a cidade de São Salvador. Após este episódio o protagonista
passa a ser chamado por Antônio, embora sempre fizesse questão de manter seu nome
africano que usaria por toda a vida: Malã.
O segundo capítulo retrata a sua juventude, em que é apresentada a vasta população
negra da cidade de São Salvador. O protagonista relata que às vezes tinha a impressão de estar
em um reino Africano dominado por brancos. Nessa fase, Malã foi colocado para trabalhar
numa das alfaiatarias que seu dono tinha, ficando sobre os cuidados de um empregado
chamado Licurgo. O que Malã não imaginava era que esse homem também iria dar
continuidade aos ensinamentos que ele tivera na infância sobre as rezas do alcorão e a escrita
árabe advertindo que evitasse falar sua origem. O personagem presencia e participa da revolta
dos malês, na qual acontece a morte de Licurgo a quem ele tinha grande estima, considerando-
o como mestre. O capítulo finaliza com o seu retorno ao Rio de Janeiro, onde é vendido a outro
comerciante.
No terceiro capítulo, maturidade, Malã torna-se um alfaiate conhecido e respeitado por
sua sabedoria, assim como pela agilidade com as agulhas. É aí que conhece Eponina
(descendente de poderosas “tias baianas”) sua futura esposa e companheira de lutas e
sacrifícios a quem chamava carinhosamente de Nininha. Depois de muito tempo trabalhando,
ele consegue comprar sua carta de alforria. Ele e Nininha tiveram sete filhos, mas somente três
atingiram a idade adulta, os outros morreram em decorrência de várias doenças. Cada um de
seus filhos seguiu um rumo, mas o mais novo, chamado Balbino (capoeirista e metido a
valentão) acabou sendo recrutado à força para servir como “soldado voluntário” durante a
guerra no Paraguai. Depois de anos ele volta com medalha no peito, mas com uma perna só, a
outra acaba ficando no campo de batalha. Mesmo assim, Malã mantém seu sincretismo sendo
chamado de mestre por todos os que conheciam. Nos fundos do seu estabelecimento, ensinava
outros meninos e meninas a ler e a escrever e, também, a costurar.
Por último na quarta fase, velhice, Malã, à medida que envelhece, limita-se a registrar
os fatos mais marcantes que tivera o privilégio de testemunhar. A campanha abolicionista fora
um deles. Participava sempre que podia dos comícios e das marchas cívicas que agitaram as
ruas e praças do Rio de Janeiro. Mesmo na velhice ele se preocupava com a falta de medidas
efetivas para a integração do negro à nova realidade, até que conhece João Cândido, em 22 de
novembro de 1910, e juntos passaram a liderar a rebelião da marujada para acabar com os
castigos corporais e por melhores condições de trabalho. Malã foi um mestre popular,
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testemunha da história de nosso país, que tanto ajudou a construir sua luta, seu sofrimento e
seu trabalho, faleceu um mês depois do final da Revolta da Chibata, na véspera de Natal.
A partir das ideias discutidas neste trabalho sugerimos que, sempre que possível, as
atividades de sala de aula sejam iniciadas com alguma atividade motivacional, visto que, como
diz BRITO (2017) tais atividades visam preparar os alunos (as), de forma lúdica, para realizar
as atividades que serão propostas pelo professor (a), utilizando do humor, como ferramenta
de estímulo aos alunos (as), para que possam entender à diversidade cultural brasileira, assim
como, aceitar esta diversidade e reconhecê-la, visto que o Brasil é formado a partir da
miscigenação dos povos. Para tanto, propomos as seguintes atividades que estarão divididas
em três momentos diferentes, para que sejam desenvolvidas em sala de aula:
O professor (a) poderá iniciar a sua primeira aula fazendo a abordagem do nome
ÁFRICA com visibilidade no quadro e perguntará aos alunos (as) o que esse nome traz a
memória, seja algum personagem, conto, palavra, entre outros. A partir do que for exposto e
acrescentado ao quadro, faz-se necessário que seja iniciado um pequeno debate do que é
discutido nas escolas. Após este primeiro procedimento, será dado à continuidade com a
distribuição de alguns papéis para que eles respondam as seguintes perguntas:
a) “O que vocês conhecem acerca da África?”.
b) “Na sua escola com que frequência é passada sobre a cultura dos africanos e afro-
brasileiros? Já ouviram esse termo?”.
Num segundo momento, será solicitado aos alunos que listem as atividades que
lembrarem no papel e socializem suas respostas. Após essa atividade, propomos que seja feito
o seguinte questionamento:
a) Alguém tem consciência do que é o continente Africano?
Com base nas respostas, apresentar a geografia onde está localizado o continente e logo
após, apresentar de maneira didática a História da África, fazendo uso de slides e fotografias.
No terceiro e ultimo momento, será trabalhado sobre o preconceito e visões acerca da história
da África e afro brasileira com as seguintes perguntas: Você já foi vítima de algum preconceito?
De que tipo e onde? Sente-se à vontade para poder falar sobre o assunto? O que o continente
Africano traz a sua memória?
A partir da atividade anterior serão apresentadas aos alunos (as) as ilustrações do livro
“A caixa de segredos” e explorado cada fase que o autor narra sobre a vida de Malã. Pode ser
entregue aos alunos (as) as ilustrações que vem no livro, dividindo a turma em trios e
sorteando diferentes ilustrações que o autor narra no livro durante cada fase de sua vida. Cada
grupo terá que expressar através de mímicas a ilustração que foi entregue.
Após o momento acima, deve-se proceder a um pequeno debate sobre o continente
Africano e o preconceito contra os africanos e afro-brasileiros com intenção de ocasionar um
ambiente de reflexão, desconstrução, respeito e pertencimento.
CONCLUSÃO
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envolva o combate às formas de intolerância que, junto com o debate, possa promover a
inclusão.
Acreditamos, pois, que estes procedimentos podem facilitar o processo de ensino-
aprendizagem no âmbito escolar e a partir do lúdico, os alunos (as) possam assimilar melhor
os conteúdos, compreendendo, dessa forma, como os povos africanos e afro-brasileiros se
reinventarem, para que possam ser quebrados diversos preconceitos com uma cultura que
luta por ter seu papel de contribuição na sociedade e também uma conscientização juntamente
com momentos que podem se tornar prazeroso através das ilustrações utilizadas na obra em
trabalho. A proposta apresentada faz-se necessária ao ambiente escolar para dar suporte aos
professores (as) de história, assim como, oferecer aos alunos (as) da educação básica aulas
pautadas em propostas pensadas de forma lúdica e multimodais.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Rogério Andrade. A caixa dos segredos. Il. Gerson Conforti. Rio de Janeiro: Record, 2010.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor. Alternativas
metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
COSSON, Rildo. O espaço da literatura na sala de aula. In: PAIVA, Aparecida; MACIEL, Francisca; COSSON, Rildo
(Coords). Literatura: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica,
2010.
GOMES, Nilma Lino. Limites e possibilidades da implementação da Lei 10.639/2003 no contexto das políticas
públicas em educação. In: PAULA, M; HERINGER, R. (Orgs.) Caminhos emergentes: estado e sociedade na
superação das desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Boll, ActionAid, 2009.
GOMES, Nilma Lino. Implantação da Lei 10.639 esbarra na gestão do sistema e das escolas. Nação escola, 2, p.6-
9, 2010.
CERRI, Luís Fernando. Ensino de história e educação: olhares em convergência. Ponta Grossa: UEPG, 2007.
p.153.
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além de pequenos conhecimentos retirados dos livros didáticos, que muitas vezes, os docentes
ou a própria instituição de ensino oferece aos estudantes.
Refletir sobre o ensino de História acarreta diversos desafios, um deles é a busca por
legitimação sobre a importância de um conhecimento que no âmbito escolar vem sendo
desvalorizado. A História cumpre sua função enquanto conhecimento científico, para isto, é
necessário que se constitua uma consciência histórica por meio de uma formação histórica,
que se realiza entre outras instâncias, por meio da aprendizagem escolar. Propõe-se, destarte,
um diálogo entre a construção do saber histórico escolar e o conhecimento histórico científico,
valorizando o seu caráter orientador na vida humana. Considerando isso, podemos afirmar
que estudar História é de fundamental importância para tornar os alunos cidadãos mais
conscientes e formadores de opiniões críticas.
De acordo com Caimi (2008), o campo do ensino de história propõe abarcar
competências como: a compreensão da relatividade do conhecimento histórico, fruto não de
verdades definitivas, mas do olhar do historiador, sempre seletivo, do método e das fontes; a
ruptura com a ordenação temporal e espacial dos conteúdos, fundamentada na noção de
múltiplas temporalidades, de Fernand Braudel (1978), e na perspectiva francesa da história
por eixos temáticos; o consenso em torno da impossibilidade de estudar toda a história da
humanidade, de todas as épocas e lugares, e da necessidade de fazer recortes de temáticas e
problemáticas de estudo nos programas escolares, com base em preocupações advindas das
práticas sociais e das problemáticas do tempo presente; a compreensão da memória histórica
como instrumento de luta, de emancipação e de transformação social, na medida em contribui
para o desenvolvimento de habilidades de pensamento que permitem a desnaturalização do
passado e o questionamento das tradições herdadas, a incorporação de diversas linguagens
de ensino, com especial atenção para o cinema, a música, a imagem e documentos históricos
impressos em geral, a tentativa de substituição da memorização pela reflexão histórica,
favorecendo a aprendizagem pela descoberta e pela construção do conhecimento; a ênfase na
produção do conhecimento pelo manuseio de fontes históricas, visitações a arquivos, museus,
sítios arqueológicos, destacando-se o esforço de promover a apropriação dos procedimentos
da pesquisa histórica, pelos estudantes, e ainda a valorização da história local pelo estudo do
meio e pela memória oral.
Relacionando as informações supracitadas com as respostas dos alunos, destaca-se a
falta de associação entre a história e a realidade em que vivem, como se a história fosse um
passado sem relação nenhuma com o presente e o futuro. Possivelmente, essa não associação
é ocasionada pelo sistema de ensino positivista, narrativo, burocrático e repetitivo que acaba
desestimulando alunos e professores, dado a transmissão de conhecimentos e experiências
socialmente acumulados se dar sem o estímulo ao desenvolvimento das habilidades que
tornam o aluno apto a aprender a conhecer. Ciampi (2003), chama atenção ao fato de que o
conhecimento produzido diariamente por pesquisadores dentro das universidades não chega
às salas de aula, tornando, por consequência, o ensino monótono e pouco atrativo.
Deste modo, observamos ser preciso trazer à tona a ideia de que o conhecimento
histórico é conseguido através de pesquisas e descobertas, como afirmou Schmidt (2004), e
portanto não é algo fixo que deve ser apenas absorvido, mas sim interpretado e ressignificado.
Desta forma, temos a figura do professor como mediador do conhecimento, como já indagava
Piaget, “o que é desejado é que o professor deixe de ser um expositor satisfeito em transmitir
soluções prontas; o seu papel deveria ser aquele de um mentor, estimulando a iniciativa e a
pesquisa” (PIAGET, 1973, p. 16).
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REFERÊNCIAS
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Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998.
SUMÁRIO
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CAIMI, Flávia Eloísa. Aprendendo a ser professor de história. Passo Fundo: Editora Universidade de Passo
Fundo, 2008.
CAIMI, Flávia Eloisa. Fontes históricas na sala de aula: uma possibilidade de produção de conhecimento
histórico escolar? Anos 90, Porto Alegre, v. 15, n. 28, p. 129-150, dez. 2008.
CIAMPI, H. O Processo do Conhecimento/pesquisa no ensino de história. In: História & Ensino: Revista do
Laboratório de Ensino de História. Londrina . Eduel. 2003.
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SCHMIDT, M. A. A formação do professor de história e o cotidiano da sala de aula. In: BITTENCOURT, Circe. O
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História do Ensino
de História
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INTRODUÇÃO
Quando consideramos o enorme poder político e social que adquirem aqueles que
dominam o saber e o uso que fazem do conhecimento, surge a indagação sobre quais
seriam seus interesses em apresentar uma determinada visão da História. (NEMI, 2009, p.
9).
obra escrava. Dessa forma, os proprietários de terra foram o primeiro grupo dominante do
Brasil, que buscaram se assemelhar a cultura européia e diferenciar-se dos povos negros e
indígenas.
Foi iniciado um processo de catequização que tinha como objetivo a conversão ao
cristianismo dos povos que habitavam o Brasil, logo foi fundado pelos jesuítas colégios que
ensinavam as primeiras letras aos indígenas e filhos de colonos. A fase estudantil que hoje
chamamos de ensino médio era destinada apenas aos filhos da elite, que posteriormente
iriam para Europa completar a sua formação acadêmica, aos negros e aos pobres não havia
espaço nas escolas.
O ensino de História associava-se a lições de leitura, para que se aprendesse a ler utilizando
temas que incitassem a imaginação dos meninos e fortificassem o senso moral por meio de
deveres para com a Pátria e seus governantes. Assim, desde o início da organização do
sistema escolar, a proposta de Ensino de História voltava-se para uma formação moral e
cívica, condição que se acentuou no decorrer do século XIX e XX. Os conteúdos passaram a
ser elaborados para construir uma idéia de nação associada à de pátria, integradas como
eixos indissolúveis. (BITTENCOURT, 2009, p.61).
SUMÁRIO
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O conceito de cidadania, criado com o auxílio dos estudos de História, serviria para situar cada
indivíduo em seu lugar na sociedade: cabia ao político cuidar da política, e ao trabalhador comum
restava o direito de votar e de trabalhar dentro da ordem institucional. Os feitos dos “grandes
homens”, seres de uma elite predestinada, haviam criado a Nação, e os representantes dessas
mesmas elites cuidariam de conduzir o País ao seu destino. (BITTENCOURT, 2009, p. 65).
faculdades de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLs) que se multiplicavam a partir dos anos
40 e 50. Vários artigos publicados em revistas de História propunham mudanças nos
métodos, mas com diferentes posições sobre os objetivos da disciplina. Em muitos desses
artigos divulgava-se a idéia de que o professor deveria manter uma atitude de neutralidade
diante de todos os acontecimentos históricos do passado ou do presente. A constante
solicitação da postura neutra do professor evidenciava, paradoxalmente, o caráter político
da disciplina. (BITTENCOURT, 2009, p. 89).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos e métodos – 3. Ed. – São Paulo:
Cortez, 2009.
FOUCALT, Michel. A Ordem do Discurso. Trad. Laura F. de Almeida Sampaio. Loyola. São Paulo, 1996.
NEMI, Ana Lúcia Lana. Ensino de história e experiências: O tempo vivido: volume único: livro do professor/
Diego Luiz Escanhuela, João Carlos Martins. São Paulo: FTD, 2009.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma breve reflexão acerca do ensino de
História. Destacando como esta disciplina foi sendo constituída ao decorrer dos anos. Trata-
se de uma abordagem bibliográfica, realizada a partir de autores que discutem de forma
pertinente esta temática tão relevante para a educação.
A partir das leituras realizadas entende-se que a disciplina de História era considerada
uma disciplina decorativa. Desse modo, as aprendizagem históricas se resumiam apenas, a
memorização de datas históricas e dos nomes dos heróis da pátria. Nesse sentido, percebe-se
que não havia nenhuma possibilidade para despertar a consciência crítica dos educandos. Essa
situação agravou-se consideravelmente, sobretudo, no período da ditadura militar no Brasil,
a disciplina de História passou por uma redução da carga horária, enquanto isso, passaram a
ter mais espaço algumas disciplinas doutrinárias a exemplo de: Educação Moral e Cívica e
Organização Social e Política do Brasil.
Todavia, o ensino de História foi passando por reformulações, logo:
O conteúdo da História ensinada assumiu diferentes imagens nos diversos espaços onde
se processam os debates, as discussões e as reformulações, visando revalorizá-la como
campo de saber autônomo fundamental para a formação do pensamento dos cidadãos
(FONSECA, 2003, p. 26).
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Graduanda do curso de Pedagogia da UFCG-CFP campus Cajazeiras-PB.
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Dessa forma, o ensino de História, cujo objeto de estudo é explicitamente citado no decreto
68.065/71, foi sutilmente ‘vinculado’ aos ‘princípios norteadores da educação moral e
cívica’. De um lado os professores de História e Geografia ou estudos sociais passaram a
envolver-se, diretamente, ao ministrar as duas disciplinas, e na medida em que o conteúdo
e os conceitos de moral e civismo perpassavam todas as disciplinas e atividades
extraclasse. Por outro lado, os estabelecimentos de ensino passaram a ser obrigados,
legalmente, a cumprir o programa fixado pelo Conselho Federal de Educação, diminuindo
a carga horária de história e geografia ou estudos sociais, e cedendo espaço na grade
curricular da escola para as duas disciplinas obrigatórias: EMC e OSPB. (FONSECA, 2003,
p.21).
Nesse sentido, o ensino de história perdeu espaço na grade curricular das escolas para
duas disciplinas doutrinárias no caso de Educação Moral e Cívica e Organização Social e
Política do Brasil. Eram disciplinas que visavam manter os ideias do poder dominante, na
tentativa de banir qualquer possibilidade de revolta dos educandos. Além disso, eram
consideradas disciplinas de formação especial, enquanto história e geografia eram disciplinas
de formação geral.
Para aquele contexto de opressão foi inevitável a redução da carga horária da disciplina
de história, visto que, esta era compreendida como uma disciplina que despertava a
consciência crítica dos educandos, logo, representava uma ameaça para o poder dominante.
De fato: “[...] havia uma intenção de dissolução desses campos do saber como disciplinas de
formadoras do espírito crítico”. (FONSECA, 2003, p.24).
Nesse período era exigido a postura neutra do professor, sobretudo do professor de
história, visto que, a disciplina de História de certa forma envolvia aspectos políticos. Dessa
forma, cabia ao professor manter uma postura neutra diante dos fatos do passado e do
presente.
Direcionando-se para o contexto histórico atual essas concepções ainda são
valorizadas, uma vez que, surgiu o projeto da escola sem partido, ou seja, tal proposta proibia
os professores de tratar de temas como a: diversidade religiosa, sexualidade, problemas
sociais e políticos. Percebe-se que historicamente vem surgindo concepções que tentam
ocultar a postura do educador crítico e reflexivo.
Sendo assim, entende-se que ao longo dos anos tentam exigir uma postura neutra dos
educadores. No entanto, como afirma Freire (2018, p.108), “Não há nem jamais houve prática
educativa em espaço- tempo nenhum de tal maneira neutra, comprometidas apenas com
ideias preponderantemente abstratas e intocáveis”. Em outras palavras, é impossível a
educação ser neutra, uma vez que, todas as posturas adotadas sempre estão seguindo um viés
político, ou seja, seguindo os interesses de uma classe.
Portanto, diante das discussões apresentadas entende-se que o ensino de História era
comprometido com o viés nacionalista, isento de qualquer crítica. Estudar a História resumia-
se a memorização de conteúdos. Tais práticas eram condizentes com a neutralidade tão
cobrada dos educadores. Entretanto, não podemos permitir que a educação atual seja
comprometida com a neutralidade, pois, nunca houve neutralidade na educação. Trata-se
apenas de um discurso que tenta impedir a liberdade do educador crítico reflexivo.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 194
No que se refere ao ensino de História, esta deve ser estudada não apenas para
relembrar os acontecimentos do passado, mas, sempre buscando desconstruir verdades e
falsos conceitos que vão sendo difundido de geração a geração sem nenhuma crítica.
Dessa forma, compreende-se que o passado não deve ser entendido como irrelevante
para o presente, uma vez que, os fatos do passado sempre são discutidos no presente, muitas
das vezes, aparecem ideologias que tentam amenizar tais acontecimentos. Atualmente surgiu
discursos que afirmavam que no Brasil não houve ditadura militar, uma concepção errônea de
uma elite conservadora que justifica suas ideias a partir da religião e dos valores morais. Esses
discursos são graves, e pode afetar o entendimento dos jovens estudantes de hoje, esses jovens
podem acreditar neste discurso, e passar a acreditar que nunca houve ditadura militar no
Brasil. Diante desse caos ideológico, somente um bom professor ou professora de História,
pode desfazer essa confusão, esclarecendo para os educandos que houve ditadura militar, que
muitas pessoas morreram, podem mostrar que há vários livros que apresenta depoimentos de
pessoas que sofreram repressão. Além disso, há músicas que tratam desse acontecimento na
História do Brasil. Desse modo, percebe-se que é fundamental que o professor ou professora
de História seja um intelectual crítico, pois, uma das suas principais funções como historiador
e historiadora é desconstruir preconceitos.
Outra questão que surge quando se trata da História, trata-se de questionamentos
sobre sua importância. Afinal para que serve estudar a História ? Provavelmente muitos
educandos já fizeram essa pergunta. É possível que uma das respostas que tiveram foram
como essa: “é conteúdo para o Enem”. No entanto, essa concepção é reducionista, estudar
História não é importante só para o Enem. O ensino de História possibilita a compreensão da
identidade dos seres humanos e da sociedade em que vivemos. Sendo assim, contribui para a
formação de sujeitos críticos e conscientes.
Tendo em vista as discussões apresentadas vale destacar que o ensino de História, só
pode adotar uma perspectiva crítica desde que tenha os livros como principal instrumento de
estudo. Afinal: “O pensamento crítico não se sustenta sem leitura, vicio silencioso, lento e
profundo”. (PINSKY, PINSKY, 2007, p. 35). Além disso, não deve pautar-se somente nos livros
didáticos, há várias formas de estudar História, além de muitos livros podem ser usadas fontes
documentais, iconográficas, objetos e etc.
Outrossim, é preciso enfatizar que a História como ciência também tem suas falhas.
Durante muito tempo foi excludente, muitos personagens e sujeitos históricos ficaram a
margem das narrativas. A História trazia em destaque os grandes homens, pessoas da classe
dominante, enquanto isso, os pobres, os negros, e as mulheres ficavam a margem da História.
Nesse sentido, para que os educandos passem a gostar da História, e sobretudo,
compreender a sua importância é necessário que os educandos percebam-se como sujeitos
que também fazem parte da História. Para isso há muitas possibilidades a serem trabalhadas,
os professores podem propor pesquisas sobre a comunidade onde reside os educandos, seus
primeiros habitantes e etc. Desta maneira os educandos podem entender que a História faz
parte do seu cotidiano, embora essas histórias não estejam registradas em livros, mas possui
um valor histórico inestimável.
Portanto, compreende-se que o ensino de História deve adotar uma postura crítica,
então, cabe aos professores sujeitos políticos, tornar as aulas de História um momento de
desconstrução de preconceitos. Caso contrário, essas aulas serão apenas uma apresentação
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 195
romantizada dos acontecimentos históricos. Como afirmava Paulo Freire (2018) a educação é
política, por isso as aulas de História tem um papel fundamental na formação de sujeitos
críticos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Fundamentos e métodos. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de História: Experiências, reflexões e aprendizados.
Campinas, SP: Papirus, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 24 ed. São Paulo: Paz e
terra, 2018.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. Por uma história prazerosa e consequente. In: KARNAL, Leandro.
História na sala de aula: conceitos práticas e propostas (org.) -5.ed. São Paulo: Contexto, 2007.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 196
A Eugenia foi um termo criado por Francis Galton em 1883 que significava “bem-
nascido”. Mas é importante salientar que não se pode pensar a eugenia sem antes
compreender como o evolucionismo de Charles Darwin foi a base do nascimento dessa ciência.
A Teoria da Evolução de Darwin foi um dos principais alicerces teóricos da eugenia. Em
1859, Charles Darwin publicou sua obra A origem das espécies por meio da seleção natural, ou
a preservação das raças favorecidas pela vida, com os resultados de sua pesquisa sobre a
seleção natural. Esse trabalho deu origem ao darwinismo, a teoria que rompeu com o
criacionismo (crença na origem mítico-religiosa do homem), afirmando que a ordem biológica
e natural rege a vida e o desenvolvimento da humanidade. Dessa forma, somente os seres os
mais adaptados, os mais “equipados” biologicamente, sobreviveriam. Essas ideias vão
encontrar eco nas teorias econômicas e sociais que justificavam o comportamento humano em
sociedade. Deste debate surgiu o darwinismo social, fornecendo uma base científica para o
controle e a permanência no poder da burguesia industrial.
Neste contexto, higienistas e evolucionistas contribuíram para a biologização da
sociedade. Os higienistas eram adeptos do lamarckismo, teoria criada por Jean-Baptiste
Lamarck segundo a qual o meio ambiente e o comportamento teriam a capacidade de
influenciar os caracteres hereditários. Por outro lado, os evolucionistas se baseavam nas
teorias mendeliana e weismanniana acerca da hereditariedade. Gregor Johann Mendel é
conhecido como o “pai da genética”, pois foi o pioneiro ao demonstrar as leis da
hereditariedade. A teoria de August Weismann complementa a de Mendel e reforça a de
Darwin. Neste sentido, conforme os estudos de Weismann, os gametas são os responsáveis
pela transmissão dos caracteres ancestrais e são imutáveis em face da ação do meio ambiente.
Dessa maneira, a seleção natural das espécies estaria assegurada por eliminar os caracteres
defeituosos, inferiores e mais fracos adquiridos na sucessão das gerações. (DIWAN, 2020)
O darwinismo social se apropriou dessas ideias e as usou numa tentativa de aplicação
nas sociedades humanas. Quis justificar a pobreza pós-revolução industrial, por exemplo,
afirmando que os pobres eram seres inferiores, que não possuíam a habilidade e/ou a
capacidade necessária para se adaptar e evoluir com aquele novo sistema e com a nova
sociedade que surgia.
Francis Galton, por sua vez, dedicou-se ao desenvolvimento de técnicas biométricas
capazes de melhorar o gênero humano e Charles Darwin, seu primo treze anos mais velho,
sempre o apoiou nesses empreendimentos. A teoria evolutiva e a seleção natural inspiraram
Galton a se debruçar sobre uma teoria social que tivesse por objetivo a evolução da raça
humana. Mas neste sentido, a discussão teórica de Darwin e Galton se distanciam, pois, para
1
UFABC/Seduc-SP
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 197
Galton, a teoria de melhoria da raça seria validada pela seleção dos caracteres mais
importantes (atributos físicos, mentais, de raça e de classe) e o meio ambiente não poderia ter
influência na carga hereditária.
Com a publicação da obra Hereditary Genius (Gênio Hereditário), de 1869, Francis
Galton afirmava que o talento é hereditário e não resultado do meio ambiente, desenvolvendo
a teoria eugênica e o estudo de distribuição do talento nas populações.
Depois de passar quase vinte anos tentando provar que o talento é hereditário, Galton
voltou a sua investigação no sentido de mostrar que a doença mental, o crime e a
marginalidade resultavam também da herança genética. Com a publicação de Inquires into
Human Faculty and its Development (Investigação da capacidade humana e seu
desenvolvimento) em 1883, Galton fundou a pesquisa antropométrica, criando instrumentos
de medição do físico humano (análise de digitais) e iniciando estudos para os testes de
inteligência, conhecidos atualmente como testes de QI (DIWAN, 2020).
Em 1884 Francis Galton instalou um Laboratório de Antropometria na International
Helth Exibition, realizada em Londres. Através de um programa de investigação científica,
através de esforços conjugados provenientes da matemática, da estatística, da biologia e da
antropologia com o objetivo de propor uma teoria da hereditariedade humana. (CONT, 2013).
Dessa forma, Galton intencionava, na posse desses dados, controlar casamentos, impedir a
reprodução.
Galton estudou a herança das características humanas físicas e não físicas. Para o
cientista, comportamentos humanos como a preguiça, alcoolismo, criminalidade e a
inteligência, eram hereditários e para demonstrar sua teoria, utilizou seus conhecimentos de
estatística aplicados aos estudos de heranças em famílias (TEIXEIRA & SILVA, 2017).
Para mostrar a viabilidade da eugenia, Francis Galton publicou em 1873 o livro Heredity
Improvement (Hereditariedade aperfeiçoada), propondo que o valor da raça seria superior e
mais importante do que a educação e o meio ambiente. Essa obra recomendava, inclusive,
também que os “débeis” poupassem a sociedade de seus descendentes, adotando o celibato.
Finalmente, em 1907, Francis Galton pediu a seu amigo, o físico e estatístico Karl
Pearson, que fundisse o Laboratório de Biometria com o Escritório de Registros Eugênicos,
este fundado em Londres por ele, Galton, em 1904. Assim foi criado o Laboratório Galton para
Eugenia Nacional e se lançou o conceito de “eugenia nacional”. Nesse mesmo ano Galton criou
a Sociedade de Educação Eugenista, que em 1912 promoveu o Primeiro Congresso
Internacional de Eugenia, em Londres, dando status de ciência à eugenia.
De acordo com Nancy Leys Stepan (STEPAN, 2005), no Brasil e no restante da América
Latina, a receptividade às teorias eugênicas se manifestou desde fins do século XIX e se
mantiveram, até à época pós-colonial, na ordem do dia em relação aos estudos e práticas
científicas no “Terceiro Mundo”. Com o objetivo de incorporar o “novo mundo” à “velha
civilização”, o darwinismo social se apropriou das ideias e propôs aplicá-las nas sociedades
humanas.
Procurava-se explicar a pobreza provocada pelas consequências da Revolução
Industrial, relacionando-a a formação de um proletariado urbano e desprovido das mínimas
condições de vida em termos de habitação, higiene e alimentação (DIWAN, 2020). Seguindo a
mesma linha de pensamento, também, considerava-se as diferenças culturais entre os povos
que a empreitada neocolonialista incorporava ao mundo capitalista. Afirmava-se, dessa
maneira, que pobres e etnias africanas, asiáticas e latino americanas eram inferiores, pois não
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 198
Há que se sublinhar que não foi apenas o governo nazista que fez uso das teorias
eugênicas para justificar suas políticas discriminatórias de estado. Nos Estados Unidos,
Charles Davenport foi o maior expoente da eugenia naquele país, cujos estudos e práticas
foram utilizados para institucionalizar práticas de esterilização e segregação racial.
Tendo isso em vista, surpreende que o debate do conceito de eugenia não apareça nos
livros didáticos de História da educação básica nos diversos lugares e tempos históricos.
Muitas vezes o termo aparece de maneira descritiva e ligado apenas às políticas de extermínio
nazistas. Dessa maneira, nosso objetivo é a investigação da maneira como esse conceito
aparece ou não no interior das obras didáticas de História. Neste sentido, nossa proposta é a
de comparar como o conceito de eugenia tem sido apresentado em diferentes livros didáticos
de História para o ensino fundamental, anos finais e ensino médio, além de apontar os desafios
do debate acerca da temática dentro da sala de aula.
REFERÊNCIAS
DEL CONT, Valdeir. Francis Galton: eugenia e hereditariedade. Scientiae Studia, São Paulo, v.06, n. 2, p. 201-
218, 2008.
DEL CONT, Valdeir. O controle de características genéticas humanas através da institucionalização de
práticas socioculturais eugênicas. Scientiae Studia, São Paulo, v.11, n. 3, p. 511-530, 2013.
DIWAN, Pietra. Raça Pura: uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2020.
GALTON, Francis. Hereditary Talent and Character. In: Macmillan’s Magazine, 12, 157-166.1865. Disponível
em: <http://galton.org/essays/1860-1869/galton-1865-hereditary-talent.pdf > Acesso em 06/10/2020.
GALTON, Francis. Hereditary Genius. Disponível em < http://galton.org/books/hereditary-
genius/text/pdf/galton-1869-genius-v3.pdf >. Acesso em 06/10/2020.
GERALDO, Endrica. Entre a raça e a nação: a família como alvo dos projetos eugenista e integralista de nação
brasileira nas décadas de 1920 e 1930. Dissertação de Mestrado. Campinas: Unicamp, 2001.
MAIO, Marcos Chor Maio; SANTOS, Ricardo Ventura (orgs). Raça como questão: História, Ciência e Identidades
no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2010
RODRIGUES, José Carlos. O corpo na história. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999.
SÁ, Dominichi Miranda. A ciência como profissão: médicos, bacharéis e cientistas no Brasil (1895-1935). Rio
de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006.
SCHWARTZMAN, Simon. A formação da comunidade científica no Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, Rio de
Janeiro: Financiadora de Estudos e Projetos, 1979.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930.
São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A política biológica como projeto: a “eugenia negativa” e a construção da
nacionalidade na trajetória de Renato Kehl (1917-1932). Dissertação de Mestrado (História das Ciências), Casa
de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2006.
STEPAN, Nancy Leys. A Hora da Eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: FIOCRUZ,
2005.
TEIXEIRA, Izabel Mello; SILVA, Edson Pereira. História da eugenia e ensino de genética. História da Ciência e
Ensino, São Paulo, v. 15, p. 63-80, 2017.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 200
INTRODUÇÃO
O livro didático tem sido, desde o século XIX, o principal instrumento de professores e
alunos, sendo utilizado nas mais variadas salas de aula e condições pedagógicas, servindo
como mediador entre a proposta oficial do poder expressa nos programas curriculares e
conhecimento escolar ensinado pelo professor.
1
A Guerra Fria foi um período de instabilidade na geopolítica global. Sendo instaurada logo após a Segunda Guerra
Mundial o conflito teve como oposição os Estados Unidos da América e a União Soviética, ou seja, capitalismo versus
SUMÁRIO
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As fontes utilizadas na pesquisa foram uma coleção de livros didáticos traduzidos pelo
professor Paschoal Lemme2 da União Soviética para o Brasil. Os referidos manuais eram
destinados aos estudantes soviéticos, sendo todos manuais do ensino de História. Essa coleção
de manuais didáticos da disciplina de História, produzidos e destinados aos estudantes
soviéticos foram trazidos e traduzidos para o Brasil, alguns anos antes de se concretizar o
golpe militar de 1964.
socialismo. As duas potências nunca chegariam a realizar conflito aberto, apenas patrocinar e promover conflitos nos
países de terceiro mundo.
2
Paschoal Lemme (1905-1997) foi um educador comprometido com as causas sociais e com a transformação da
realidade brasileira. Possui uma vasta obra sobre a história da educação no século XX.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 202
A história da sociedade demonstra que, como resultado de uma longa luta dos oprimidos
contra os opressores, conquista-se o estabelecimento de uma nova etapa, na qual não
existe a exploração, nem a opressão, nem potentados, nem capitalistas. Essa nova etapa é
o socialismo. (MICHULIN, 1960, p. 16)
SUMÁRIO
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A queda de Roma no final do primeiro volume se apresenta como uma Revolução, onde
se anunciava através dos levantes de massa. Se no período antigo a classe oprimida em
evidência na cena histórica eram os escravos que constantemente se rebelavam contra suas
condições de existência, na Idade Média a classe que carregará esse germe da luta serão os
camponeses; “a luta social entre os exploradores – os senhores feudais – e os explorados – os
camponeses – constitui a característica essencial do regime feudal” (KOSMINSKY, 1960, p. 29).
Agora superado o modo de produção escravista, uma nova estrutura social se instaura:
o regime feudal. Nesse regime social as classes que seriam a força motriz da luta na nova
estrutura social são os grandes senhores de terra e os servos da gleba. E, assim como durante
todo o período da antiguidade a característica essencial pela qual se desenrolava a história na
perspectiva de tais autores; a luta de classes, também no volume presente se encontra uma
série de sublevações que eclodiriam no período da Idade Média.
O declínio da Idade Média é apresentado a partir do advento das grandes navegações
europeias. A partir disso é apresentado o panorama desenvolvimento e a consolidação dos
impérios coloniais. É uma das raras vezes a ser citado o continente americano no decorrer das
obras num conjunto total, visto sob o aspecto do colonialismo. A América é concebida como
um produto europeu demonstrando a visão eurocêntrica assumida pelos autores. É através,
justamente, desse contexto levantado pelo autor evidencia-se o que ficou conhecido como
acumulação primitiva de capital:
3
O stalinismo pode ser definido como um fenômeno tanto teórico quanto histórico. Após a morte de Lênin, Stálin
toma o poder na União Soviética e o marxismo sofre severas deformações teóricas, sendo reduzido e denominado
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 205
como “marxismo vulgar”, em grande medida pela influência de Stálin que se isola em uma autocracia política. A esse
respeito, ver: NETTO, José Paulo, 1981.
SUMÁRIO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir, dessa forma, que o livro didático de História se constitui como um
instrumento histórico utilizado para uma determinada finalidade adquirindo, portanto, uma
função específica no cotidiano escolar. Obviamente, há uma grande diferença entre aquilo que
é posto pelo autor como uma expectativa a ser atingida com o texto didático e o que de fato
acontece na prática diária por alunos e professores quanto à assimilação e transmissão de
conteúdo. O livro didático contribui para a formação de mentalidades e representações de
mundo diferenciadas, ou seja, como os alunos se vêm e vêm os outros ao seu redor.
Há, de certa maneira, uma relação de diferentes histórias criadas em sua mentalidade
e repassadas pelos professores. Ora, no caso específico da pesquisa essa “rede de histórias as
quais mediam e experiência do mundo, o conhecimento histórico ministrado pela escola se vê
deslegitimado pela evidencia de sua manipulação ideológica” (CARRETERO, 2010, p. 82).
Compreender o trajeto pelo qual passou o ensino de História em diferentes contextos
históricos contribui para que, a partir desse trajeto histórico, não se cometam novamente tais
equívocos, caminhando sempre na direção de um ensino emancipador e de uma História que
seja útil para a vida prática dos alunos.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e imagens. In: O saber histórico na sala de aula. 9ª ed. São
Paulo: Contexto, 2004.
CARRETERO, Mario. Vozes e ecos nos programas e nos textos. In:______. Documentos de identidade: a
construção da memória histórica em um mundo globalizado. Porto Alegre: Artmed, 2010.
CAMPOS, Raymundo B. Memória de Manuais de História. Em Aberto, Brasília, ano 16, n.69, jan./mar. 1996.
SUMÁRIO
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CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 30, n. 3, p. 549-566, set./dez. 2004.
EFÍMOV, N. História Moderna. Tradução: Paschoal Lemme. Editora Vitória: Rio de Janeiro, 1960.
FERRO, Marc. Imagens e variantes na História da URSS. In______. A Manipulação da História no ensino e nos
meios de comunicação. São Paulo: IBRASA, 1983.
JVOSTOV, V. M.; ZUBOK; L. I. História Contemporânea. Tradução: Paschoal Lemme. Editora Vitória: Rio de
Janeiro, 1961.
KOSMINSKY, E. A. História da Idade Média. Tradução: Paschoal Lemme. Editora Vitória: Rio de Janeiro, 1960.
MATOS, Júlia Silveira. Os livros didáticos como produtos para o ensino de História: Uma análise do Plano
Nacional do Livro Didático – PNLD. Historiæ, Rio Grande, 3 (3): 165-184, 2012.
MICHULIN, A.V. História da antiguidade. Tradução: Paschoal Lemme. Editora Vitória: Rio de Janeiro, 1960.
MORENO, Jean Carlos. Limites, escolhas e expectativas: horizontes metodológicos para análise dos livros
didáticos de história. Antíteses. v. 5, n. 10, p. 717-740, jul./dez. 2012.
NETTO, José Paulo. O que é Stalinismo. São Paulo: Brasiliense, 1981.
REVUNENKOV, V. G. História dos Tempos Atuais. Tradução: Paschoal Lemme. Editora Vitória: Rio de Janeiro,
1961.
SILVA, Jeferson Rodrigo da. Livro didático como documento histórico: Possibilidades, questões e limites de
abordagem. Revista de Teoria da História. Ano 2, Número 5, junho/ 2011.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
1
Fundada em outubro de 1961, na cidade de Marília, estado de São Paulo, a Associação Nacional dos Professores
Universitários de História, ANPUH. A entidade trazia na sua fundação a aspiração da profissionalização do ensino e da
pesquisa na área de história, opondo-se de certa forma à tradição de uma historiografia autodidata ainda amplamente
majoritária à época. Atuando desde seu aparecimento no ambiente profissional da graduação e da pós-graduação em
história, a ANPUH foi aos poucos ampliando sua base de associados, passando a incluir professores dos ensinos
fundamental e médio e, mais recentemente, profissionais atuantes nos arquivos públicos e privados, e em instituições
de patrimônio e memória espalhadas por todo o país. O quadro atual de associados da ANPUH reflete a diversidade
de espaços de trabalho hoje ocupados pelos historiadores em nossa sociedade. A abertura da entidade ao conjunto
dos profissionais de história levou também à mudança do nome que, a partir de 1993, passou a se chamar Associação
Nacional de História, preservando-se, contudo, o acrônimo que a identifica há mais de 50 anos. Texto disponível no
site da instituição - https://anpuh.org.br/index.php/quem-somos - acesso em 08 de novembro de 2020.
2
O conceito de capital cultural, que se auto explica usando as palavras do próprio Bourdieu retiradas do texto “Os três
estados do capital cultural” Bourdieu (1979): “O capital cultural pode existir sob três formas: no estado incorporado,
ou seja, sob a forma de disposições duráveis do organismo; no estado objetivado, sob a forma de bens culturais -
quadros, livros, dicionários, instrumentos, máquinas, que constituem indícios ou a realização de teorias ou de críticas
dessas teorias, de problemáticas, etc.; e, enfim, no estado institucionalizado, forma de objetivação que é preciso
colocar à parte porque, como se observa em relação ao certificado escolar, ela confere ao capital cultural - de que são,
supostamente, a garantia - propriedades inteiramente originais. (BOURDIEU p.02)”.
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debate e de uma proposta de formar para a criticidade, mas, essa preocupação é mais
fortemente gestada a partir de dois acontecimentos históricos, a Conferência Mundial de
Educação para Todos3 (Tailândia, 1990) e a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional4 (LDB 9. 394/1996)5, documentos que irão levar a educação a uma série de
transformações, exigindo, inclusive do Estado, uma nova postura frente ao tema.
Mas tudo é mutável, tudo se desmancha no ar, como nos alerta Berman (1980) e ao
analisar as aventuras e desventuras da modernidade, hoje os desafios são outros, as demandas
da educação se ampliaram e abrangem o mundo digital, os novos movimentos sociais,
migratórios. Além disso, as demandas da juventude, seus desejos e projetos devem passar a
fazer parte de nossa formação, mais que qualquer coisa, precisamos ampliar os debates e
inserir debates para formar professores, que estejam atentos para entrar na sala de aula,
formar cidadãos e contribuírem para a sociedade, assim, o tema da formação docente, e as
demandas relacionadas ao ensino, devem ser sempre acompanhadas de uma intensa reflexão
sobre a realidade, a sociedade e os atores sociais e sua consciência histórica (CERRI, 2014).
Em um texto bastante interessante sobre formação docente, os professores Margarida
Maria Dias de Oliveira e Itamar Freitas (2014), iniciam a discussão por definir quem é o
professor de História, esse movimento é importante no sentido em que se trata de um esforço
em estabelecer uma identidade ao docente, de desenhar aquilo um professor se constitui ao
longo de sua trajetória e principalmente, a partir de sua formação. O professor de História é
alguém situado no tempo e na sociedade, faz parte dos debates políticos e sociais. Um segundo
aspecto relacionado ao profissional é pensá-lo dentro da necessidade de formação, os autores
defendem que a formação não pode ser compreendida como um momento pré-determinado
ou cronometrado, a formação deve acontecer de maneira constante e sempre de acordo com
as necessidades docentes.
Um corpus documental muito importante para se investigar as ações da ANPUH no que
diz respeito ao Ensino de História são as revistas editadas pela instituição, a saber, a Revista
Brasileira de História6 e Revista História Hoje 7. A Revista Brasileira de História teve seu
primeiro número publicado em 1981, quando a instituição esteve sobre a direção da
professora Alice Canabrava, e contava com poucos artigos não organizados em forma de
dossiê, mas com temas diversos8. Merece destaque o texto “A Associação Nacional dos
Professores Universitários de História”, de autoria da diretora da instituição naquele momento,
no texto a autora dedica-se a fazer uma reflexão sobre o expaço que a ANPUH almejava criar
naquele e ressalta qual a importância do lançamento da revista.
3
Fruto da Conferência, temos o documento que é a Declaração Mundial sobre Educação Para Todos, um documento
de grande importância para se pensar a educação e do qual vários países, inclusive o Brasil, são signatários. A integra
do documento pode ser acessado em https://www.unicef.org/brazil/declaracao-mundial-sobre-educacao-para-todos-
conferencia-de-jomtien-1990. Acesso em 12 de novembro de 2020.
4
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira está disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em 12 de novembro de 2020.
5
Essa contextualização é proposta por FONSECA; COUTO (2008), no texto, as autoras apresentam um panorama de
como forma pensadas as estratégias para a formação de professores de História no Brasil, destacando a ação da
ANPUH nesse cenário.
6
Todos os números da Revista Brasileira de História podem ser encontrados no site do periódico, disponível em
https://anpuh.org.br/index.php/revistas-anpuh/rbh.
7
Todos os números da Revista História Hoje podem ser encontrados no site do periódico, disponível em
https://anpuh.org.br/index.php/revistas-anpuh/revista-historia-hoje-i.
8
https://anpuh.org.br/index.php/revistas-anpuh/rbh.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 210
9
https://anpuh.org.br/index.php/revistas-anpuh/revista-historia-hoje-i/numeros-anteriores. Acesso em 17 de
novembro de 2020.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 211
METODOLOGIA
Como forma de colher material, os sites das duas revistas atreladas a ANPUH foram
visitados, para que os números e os principais textos relacionados ao tema fossem analisados,
devido aos limites de tempo e o objetivo do texto, que não é exaurir a discussão, mas apontar
algumas observações, não foi possível a leitura e a análise de todos os números, mas o que se
fez foi buscar a discussões dentro dos números das duas revistas editadas pela ANPUH.
O número 10 da RBH trás um texto de Zita de Paula Rosa sobre formação do professor
“I” e o ensino de História, o mesmo, um texto de apenas cinco laudas apresenta uma análise,
nele a autora priblematiza a formação de professores polivalentes e as suas limitações para
ensinar história. Ao final do seu texto, a professora Zita de Paula, defende a formação
continuada, como mecanismos de se alcançar uma visão de mundo mais ampla para o docente
de História, com o objetivo de que “essa formação se revigore num processo contínuo de
ensinar e aprender” (ROSA, 1985, p, 259). Considero imporante ressaltar a importância desta
publicação por ser o primeiro momento em que dentro da RBH se pensa alguma questão
relacionada à formação dos professores de história, e mais ainda, por se tratar de uma
preocupação direcionada aos professores sem a formação especifica.
Antes de seguir com a busca do tema da formação, cabe aqui abrir um grande parêntese.
O ensino de história ocupa grande espaço das publicações das revistas dos anos 1980 e nos
anos 1990, o que mostra um movimento bastante instigante para se pensar como os
professores universitários, a exemplo de Joana Neves, Ernesta Zamboni, Pedro Paulo Funari,
etc., estão propondo novas questões para os professores da educação básica, em um momento
muito especifico, onde a educação passa por um processo de reestruturação. Uma bela reflexão
sobre as condições de trabalho do professor de história é tecida por Joana Neves e Zeluiza
Brandão (1986), mostrando a preocupação da ANPUH com o ensino de história na escola
pública, preocupação esta que passa a ocupar o centro das discussões da instituição.
O dossiê “História em quadro-negro: escola, ensino e aprendizagem”, número 19,
publicado em 1989/1990 apresenta um conjunto de reflexões sobre o processo de
escolarização e as dinâmicas do ensino de história. Como afirma Marcos Silva, já na
apresentação do dossiê, a revista naquele momento se tornava um lugar de fala, para se tratar
de algo tão importante como a educação escolar e a educação histórica, ressalta-se que é um
número surgido em um momento chave do processo de redemocratização, as eleições para
presidente e aparecimento da nova Constituição.
MARTINEZ (2004) desenvolve a apresentação de proposta de ação institucional e seus
fundamentos teóricos e metodológicos para a formação de professores de História, a partir de
uma realidade específica que é o Núcleo de Ensino da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp,
em Assis/SP, para seu texto ela parte do enfoque na elaboração de material didático, nas
atividades de ensino e aprendizagem e na avaliação sobre as questões ambientais presentes
no conhecimento histórico escolar, nas práticas de pesquisa e educação ambiental.
Somente em 2010, a RBH passa a dedicar mais um dossiê voltado para a relação entre
história e educação, neste dossiê, vários textos são dedicados para pensar a formação e o
ensino de história, merecendo destaque os textos de Selva Guimarães Fonseca, em parceria
com o professor Marcos Silva e o texto de Aryana Lima Costa. Refletindo sobre a importância
dada ao ensino e a formação. Selva Guimarães e Marcos Silva (2010) apresentam uma reflexão
muito pertinente, sobre as funções do saber histórico e sua relação com as reformas
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 212
Essas dimensões curriculares de que falam os autores são um ponto importante para
se pensar como fundamento de um ensino que precisa movimentar-se, modificar-se de acordo
com as dinâmicas sociais, culturais e politicas a que estão atrelados. O ensino, tal qual a
formação são processos continuos, inacabados sempre.
O texto de Aryana Lima (2010) volta-se para o Ensino Superior, discutindo as
alterações ocasionadas pela extensão universitária, e como isso tem contribuido para que a
universidade saia de seus muros e tenha uma ação direta na comunidade. Até o momento este
foi o último dossiê voltado para a discussão sobre ensino de história e formação de
professores, como já dito anteriormente, o fato de não ser uma publicação total voltada para
o tema, ele não desparece, mas permeiam vários números da RBH, a partir de outros enfoques
e outras abordagens, autores que continuam a dedicar-se a pensar esses processos como algo
que carece de constantes reflexões.
A Revista História Hoje passou a circular no meio acadêmico em 2003. Mas é em 2011,
no seu número 11 que há uma edição em que a maioria dos textos dedicados a pensar a
formação do professor e do ensino de história. Mesmo sem haver um titulo expressore sobre
os dois temas, os textos do número 11 da revista ressaltam a importância da formação e da
relação que os professor deve estabelecer conexões com os PCNS e as recentes alterações na
educação, como o trabalho a parir da Lei 10. 639/2003.
A partir de 2012 a Revista História Hoje, passou por várias modificações, com um
formato novo e uma proposta quase que voltada exclusivamente para o ensino de história, a
mesma passou a utilizar desse ponto, o ensino de história, para balisar a sua linha editorial. Na
apresentação do primeiro número, desta nova etapa da revista podemos ler que:
A revista História Hoje inicia uma nova fase com a publicação do número 1
desta série. Em julho de 2011, retomando discussões e anseios que marcaram
sua criação em 2003, o Conselho Editorial assumiu a tarefa de revitalizar o
periódico, adotando a temática “História e Ensino” como estrutura de sua linha
editorial. Para isso, investiu na publicação de Dossiês Temáticos, reviu a
periodicidade da revista, agora semestral, e criou novas seções para a RHHJ –
“História Hoje na Sala de Aula”, “E-Storia” e “Falando de História Hoje”, com a
finalidade de manter canais de diálogo permanentes com professores e
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 213
Podemos perceber que a partir deste momento, o olhar da equipe editorial da revista
passa a ter como principal ponto de observação, o ensino, e as práticas docentes. A meu ver, a
RHH inaugura assim um espaço dedicado ao professor e as suas múltiplas experiências
docentes e para novas perspectivas para se pensar o espaço da sala de aula e as necessidades
educativas. Todos os números da RHH versam sobre ensino.
Pensar essas duas publicações da ANPUH e suas relações com o tema da formação
docente e do ensino de história são antes de tudo desafios que se abrem a qualquer
pesquisador, e isso pode ser pensado por vários motivos. Um deles é compreender que as
revistas, por mais que tenham uma linha, uma orientação para suas publicações, são espaços
de múltiplas vozes, são espaços polifônicos, expressam concepções e ideais muito diferentes,
mas, nisso também está a riqueza dos debates.
Para ao analisar o cenário de produção cientificada revista da Universidade de São
Paulo, NASCIMENTO (2018) fala das revistas acadêmicas como espaço multifacetado de
produção histórica e espaço de uma vasta produção historiografica, no sentido que Michel de
Certeau (2008) dá ao conceito. É preciso levar em consideração que, as revistas científicas e
acadêmicas são parte constitutiva da paisagem intelectual do mundo moderno e de um cenário
acadêmico em ascensão no Brasil, a isso basta perceber a qualidade das publicações dos
Programas de Graduação e Pós-Graduação em História das universidades brasileiras. Estas
desde o século XIX, pelo menos, elas desempenham papel fundamental tanto para a divulgação
do conhecimento, em suas várias formas, quanto para abrigar e potencializar inovações que
muitas vezes tiveram, e têm, profundo impacto sobre seus respectivos campos disciplinares,
inclusive por transgredir barreiras institucionais, ultrapassar limites geográficos e reformular
fronteiras do saber.
Muito embora não seja o foco das revistas acadêmicas ditar as regras ou as diretrizes
para a formação de professores de história e o ensino da disciplina, elas são responsáveis pela
divulgação científica e por um conjunto de ações que são fundamentais para a ampliação,
divulgação e também para fomentar o debate sobre o tema. O lugar ocupado pela ANPUH
diante desse contexto é o de estimular e ampliar as ações nesse sentido, proporcionando aos
profissionais de História formação e estímulos para sua prática docente.
CONCLUSÃO
A guisa de conclusão, acredito que as palavras de Luís Fernando Cerri (2013) fazem eco
às considerações tecidas no texto:
formar seu estudante para atuar como mediador da sociedade em seu relacionamento com
todas as representações do tempo, para o que precisa conhecer e ser capaz de manejar a
produção de saberes e a crítica dos saberes produzidos, com capacidades técnicas para
desenvolver essa função intelectual na escola e em todas as demais instituições e espaços
sociais. O fator da comunicação do conhecimento, assim, constitui-se num fator intrínseco
não apenas à competência profissional do graduado em história, mas à própria reflexão e
produção histórica (p, 179).
Aos profissionais de História cabe o lugar de cobrar, de requerer e buscar ações que
contribuam para uma formação sólida e que esteja de acordo com as exigências da sala de aula
em contextos especificos, nesse sentido, é necessário cobrar das instituições e do GT de Ensino
de História ações concretas que visem a melhoria da prática. As revistas nesse sentido
precisam ser espaços docentes por excelência de discussão da realidade e das necessidades
educativas.
REFERÊNCIAS
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução: Carlos Felipe
Moisés e Ana Maria L. Ioriatt. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1988.
BOURDIEU, Pierre. Les trois états du capital culturel. Actes de la recherche en sciences sociales, Paris, n. 30,
nov. p. 3-6, 1979.
CANABRAVA, Alice Piffer. A Associação Nacional dos Professores Universitários de História. Revista Brasileira
de História, São Paulo, n. 1, 1988. Disponivel em
https://www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=1294. Acesso em 17 de novembro de 2020.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
CERRI, Luis Fernando. A formação de professores de história no Brasil: antecedentes e panorama atual. Revista
História, histórias. Brasília, vol. 1, n. 2, 2013.
_________. Os saberes escolares e o conceito de consciência histórica. Revista Educação e Fronteiras On-Line,
Dourados/MS, v.4, n.11, mai./ago. 2014.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizagens.
Campinas, SP: Papirus, 2003. – (Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico).
FONSECA, Selva Guimarães; COUTO, Regina Célia do. A formação de professores de História no Brasil:
perpectivas desafiadoras do nosso tempo. In; ZAMBONI, Ernesta; FONSECA, Selva Guimarães (Orgs.). Espaços
de formação do professor de História. Campinas, SP: Papirus, 2008. – (Coleção Magistério: formação e
trabalho pedagógico).
MARTINEZ Paulo Henrique. Laboratório de História e meio ambiente: estratégia institucional na formação
continuada de historiadores. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 24, nº 48, 2004.
NASCIMENTO, Bruno César. Revista de História: trajetórias historiográficas na Universidade de São Paulo.
Serra: Editora Milfontes, 2018.
NEVES, Joana; BRANDÃO, Zeluiza. Condições de trabalho de professor e ensino de história. Revista Brasileira
de História. São Paulo, n. 12, 1986.
ROSA, Zita de Paula. A formação do “Professor I” e o ensino de história. Revista Brasileira de História. São
Paulo, n. 10, 1985.
SILVA, Marcos Antônio da; FONSECA, Selva Guimarães Fonseca Ensino de História hoje: errâncias, conquistas e
perdas. Revista Brasileira de História. São Paulo, n 60, 2010.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias; FREITAS, Itamar. Formação do profissional de história na
contemporaneidade. Revista Mouseion, Canoas, n. 19, dez. 2014. Disponível em
https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Mouseion/article/view/1835/1239. Acesso em 03 de novembro
de 2020.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 215
INTRODUÇÃO
no cenário político e social também corroboram para períodos de maior ou menor valorização
da disciplina de História.
No Brasil Colonial, a educação, de maneira geral, ficava a cargo dos padres jesuítas da
Companhia de Jesus e os ensinamentos eram mais voltados às ideias religiosas, biografias dos
santos (hagiografias) e aos elementos que compunham o Ratio Studiorum1. No entanto, como
enfatiza Fonseca (2006), o fato de os jesuítas ensinarem temas de História em suas escolas nos
séculos XVII e XVIII não significa que este conhecimento já estivesse organizado como
disciplina tal qual a definição contemporânea que dela temos. Ou seja, na época em questão,
não havia elementos suficientes para considerar a História como disciplina escolar de fato, à
medida que as particularidades que a compõe ainda não estavam metodologicamente e
epistemologicamente definidas.
Foi somente após a Independência que há de fato a constituição de uma disciplina
dotada de características e metodologia definidas em consonância com a estruturação do
sistema de ensino imperial. Como discorre Fonseca (2006, p. 23) nas décadas de 20 e 30 do
século XIX surgiram vários projetos educacionais para o ensino de História, que incluíam:
História Sagrada, História Universal e História Pátria. Percebe-se com essa divisão uma
tentativa de englobar os dilemas sociais que estavam em voga no período.
O século XIX, portanto, é marcado pela consolidação da História (e de outras disciplinas
como a Sociologia) enquanto ciência e disciplina independente. É a partir da segunda metade
do século XIX que começam a surgir os primeiros livros e manuais de ensino da disciplina. Um
dos mais conhecidos é o de Joaquim Manuel de Macedo, então professor do Imperial Colégio
Pedro II, que escreveu a obra “Lições de História do Brasil para uso dos alunos do Imperial
Colégio de Pedro II”, que se tornaria um clássico por muitas décadas. Com o advento
republicano, a preocupação maior era a de transmitir conhecimentos que agregassem valores
de civismo e patriotismo para os estudantes, bem como em delimitar as fronteiras
metodológicas da disciplina e evidenciar seus aportes pedagógicos.
A primeira metade do século XX é marcada pela criação, em 1930, do Ministério da
Educação e Saúde Pública (atual Ministério da Educação – MEC). A criação da entidade
promoveu uma significativa mudança nas bases ensino no Brasil. Conforme Fonseca (2006,
p.52), o ministério definiu programas e instruções sobre os métodos de ensino, bem como
retirou a autonomia das escolas para a elaboração dos programas e unificou os conteúdos em
detrimento de interesses regionais. Foi neste período, portanto que, como discorre Souza e
Pires (2010), houve o projeto integrador de Vargas que visava centralizar o processo
educacional a nível nacional, com o intuito de reduzir as liberdades regionais e fortalecer a
União.
Todavia, é a partir do golpe de 1964 que a disciplina de História tem seu maior revés:
História e Geografia são fundidas em Estudos Sociais. A História então intensificou as
abordagens anteriormente já utilizadas de História Tradicional, de “grandes heróis”,
principalmente os do novo regime.
1
Conjunto de norrmas e orientações pedagógicas que definia, prioritariamente, procedimentos e não conteúdos,
tendo em vista objetivos evangelizadores, e formação moral e a difusão do Cristianismo (Fonseca, 2006).
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 217
meio do uso de um livro didático ou de outros meios mais acessíveis à realidade escolar do
profissional e do educando. Diante da realidade educacional brasileira, o livro didático é um
instrumento que deve sim ser utilizado, mas sobretudo, problematizado com os estudantes.
O capítulo procura tecer uma breve análise das obras “História do Brasil” de Maria
Januária Vilela Santos (1982), “Oficina de História do Brasil” de Flávio de Campos (1999) e por
fim, “História e Vida Integrada” de Claudino e Nelson Piletti (2008) por meio das seguintes
categorias: (i) análise da imagem de capa das obras; (ii) presença de textos e/ou atividades
complementares; (iii) referências a fontes históricas advindas da produção cultural -
ilustrações, pinturas, livros, filmes, músicas, histórias em quadrinhos - e (iv) apresentação de
abordagem crítica dos conteúdos.
A primeira obra a ser analisada, é o livro “História do Brasil” de autoria de Maria
Januária Vilela Santos. Trata-se de um livro de 6° ano, do antigo primeiro grau. O ano de
impressão é 1982, sendo a 13° edição do mesmo pela editora Ática. O livro aborda o período
da História do Brasil desde 1822 até a data de publicação da obra. Portanto, engloba o período
do Brasil Imperial e Republicano.
Na imagem de capa do livro aparece, em primeiro plano, uma ilustração de Benjamin
Constant (um dos líderes militares responsáveis pela Proclamação da República em 1889). No
plano secundário é possível visualizar, em cores mais sóbrias, fragmentos do quadro “A
Proclamação de República” de Benedito Calixto (1893). Quadro este que se propunha a
retratar o momento da queda do império com a deposição de Dom Pedro II e a Proclamação
da República pelos líderes militares. Podemos ver nesta imagem de capa, uma preocupação
em retratar os grandes heróis desse processo, portanto, utilizando uma abordagem tradicional
positivista da História:
O segundo item a ser verificado na obra é se há ou não a presença de textos ou
atividades complementares aos conteúdos. Os capítulos apresentam textos complementares,
de maneira geral, acerca de personagens relevantes dos momentos históricos estudados.
Assim como na imagem de capa, a maneira de abordar é considerada tradicional, à medida que
os grandes “heróis” são reverenciados em detrimento de outras maneiras de tratar os mesmos
acontecimentos. As atividades também reforçam esta metodologia, à medida que são apenas
descritivas de fatos, datas e episódios marcantes.
O exemplar apresenta poucas referências a fontes históricas advindas da produção
cultural. Há a utilização de pinturas para ilustrar as matérias, mas sem retorno das mesmas
em atividades para serem analisadas pelos estudantes. Desta maneira, elas só estão presentes
para reforçar o que está sendo dito no texto.
Quanto à abordagem crítica dos conteúdos, a obra, como já dito anteriormente, segue a
metodologia tradicional, de maneira descritiva e dando ênfase aos grandes feitos e aos grandes
personagens. No entanto, a própria autora faz questão de atentar para isto, no prefácio
dedicado os alunos:
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estradas e defenderam o país... O Brasil e tudo que ele tem foi feito por milhões de
brasileiros, a maioria pobres e desconhecidos (SANTOS, 1982, p. 3).
em Brasília, no ano de 2002. Os índios estão ajoelhados diante da estátua que representa a
justiça. Apresenta-se, portanto, uma valorização do elemento indígena, por meio da escolha da
imagem para a capa da obra.
A utilização de textos e atividades complementares é constante. Todos os capítulos
fazem uso deste suporte. As atividades são diversas assim como os textos. Há uma
preocupação com o uso das imagens e a leitura correta das mesmas. São empregados textos
jornalísticos, poemas, letras de músicas, crônicas e fragmentos da literatura para
complementar e ampliar os conteúdos. Desta maneira existe uma forte referência a fontes
históricas advindas da produção cultural, bem como capítulos específicos para tratar de
cultura, colocando-a no mesmo patamar dos acontecimentos nos âmbitos político e
econômico.
Toda essa gama de conteúdos e a integração entre a História do Brasil e a Mundial faz
com que ocorra uma abordagem mais crítica em relação aos temas estudados. Além disso, o
livro apresenta a reunião de alguns temas transversais de bastante relevância como a questão
da globalização, da ecologia, da fome, das epidemias mundiais, entre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As três obras analisadas são de diferentes períodos históricos, havendo uma diferença
de 26 anos entre obra mais antiga, “Historia do Brasil” de Maria Januária Vilela Santos e a mais
atual “História e vida integrada” de Nelson e Claudino Piletti. Em virtude da questão temporal,
é a obra de 1982 que apresenta uma maior discrepância entra as outras duas. O método de
apresentar a História, neste caso, é mais tradicional, com a descrição de datas e fatos e a
menção aos heróis e seus grandes feitos. Existe pouco espaço para outras fontes históricas e
emprego de referências advindas da produção artística e cultural. No entanto, nos outros dois
livros, este emprego é suficientemente utilizado assim como a abordagem crítica dos
conteúdos.
Outra diferença encontrada são as opções ora pela História Convencional (seriada), ora
pela História Integrada. Nas duas primeiras obras analisadas os conteúdos são apresentados
de forma seriada, ou seja, a História do Brasil era estudada de maneira à parte aos chamados
temas da História Geral. É na terceira e mais atual que ocorre uma mudança nesse aspecto,
integrando os fatos ocorridos nacionalmente aos de âmbito regional e mundial, bem como ao
emprego de temas transversais e capítulos inteiros reservados aos elementos artísticos e
culturais presentes em dado tempo histórico.
O trabalho de análise de livros didáticos se mostrou de grande relevância, à medida que
contribuiu para a verificação de como o conhecimento histórico é transposto didaticamente e
como ele pode se constituir de elemento fundamental na formação dos estudantes. Foi
possível também verificar as diferentes maneiras de transmitir o conhecimento histórico além
de examinar as principais questões que interferem no conteúdo didático: mudanças político-
sociais e o incremento de novas correntes historiográficas.
REFERÊNCIAS
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
O artigo busca fazer uma breve discussão sobre como os arquivos escolares que
compõem o Acervo de Escolas Extintas podem constituir-se em locais de memóriae história
da educação.
Quando uma instituição de ensino não preserva seus registros documentais, estão
descartando a memória das pessoas que por ali fizeram sua história, trazendo muitos
problemas à aqueles que porventura necessite de dados específicos quanto a comprovação
dos seus estudos e consequentemente dificulta o trabalho do pesquisador da História da
Educação que, por exemplo, esteja em busca de elementos para compreender o
desenvolvimento das políticas voltadas para educação.
Por meio de uma revisão bibliográfica, buscar-se à compreender a finalidade da
história e sua importância para o entendimento da conservação e preservação dos arquivos
escolares, bem como o reconhecimento do Patrimônio que os mesmos representam.
Fundamentado no pensamento dos teóricos como Le Goff (2013), Benjamin (1994), Mogarro
(2005), dentre outros, o breve estudo buscará trazer à luz o entendimento da importância dos
registros documentais para as pesquisas e para a própria formulação do conhecimento
histórico da educação.
Discussão
Para Benjamin, “a memória é a mais épica de todas as faculdades” (1994, p. 210). Essa
frase é marcante principalmente porque na atualidade a preocupação por informações rápidas
com respostas precisas muitas vezes fundamentadas somente no fato e não no contexto, tem
contribuído para que o uso da memória seja dia a dia menos utilizada. Ao procurar narrar uma
história seja através da escrita ou em uma roda de conversa o uso da memória é fator
imprescindível para que ocorra buscando fatos históricos que fizeram parte do momento ao
qual quer ser relembrado.
É muito importante destacar sucintamente o que significa história. Para Le Goff
(2013, p. 22), “[...] falar de história não é fácil”. Em suas pesquisas um dos significados da
1
Mestranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação Strito Sensu em Educação-PPGE /PUC-GO. E-mail:
arlethbfp@hotmail.com
2
Profa. Adjunta PUC-GO/Escola de Formação de Professores e Humanidades/Líder do Diretório/CNPqGrupo de
Pesquisa "EDUCAÇÃO, HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURAS EM DIFERENTES
ESPAÇOS SOCIAIS". Programa de Pós-Graduação Strito Sensu em Educação-PPGE/LPESC/NUPE. e-
mail:zeneide.cma@gmail.com
SUMÁRIO
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palavra história, que vem do grego antigo, é “testemunha”, no sentido de “aquele que vê”.
Porém, a história pode ter também outro significado o de "narrativa".
De acordo com Thompson (1992, p. 20), a história depende de uma finalidade social
e no passado era transmitida de uma geração a outra através da tradição oral e pela crônica
escrita.
Le Goff (2013), faz um importante esclarecimento sobre o valor da memória no viés
coletivo quando escreve
[..]
pesquisadores em educação como afirma Furtado (2011, p. 145), “o arquivo escolar é fonte de
elementos significativos para a reflexão sobre o passado da entidade, das pessoas que o
frequentaram, das práticas que nela circularam e, mesmo, sobre asrelações de seu entorno”.
Quando a instituição de ensino extinta repassa ao Acervo de Escolas Extintas a
responsabilidade da guarda, conservação e preservação dos arquivos não significa que
daquele momento em diante pode considerar toda a sua história em um "arquivo morto". Cada
documento que compõe essa história continuará a ser utilizado para expedir documentos
escolares quando solicitados por pessoas que por ali passaram. A historiadora Mogarro,
enumera muito bem e organizadamente as múltiplas “fontes de informação escolar” sendo
importante reproduzi-las:
A riqueza de informações contidas nos arquivos traz à luz um pensamento que deve
ser pertinente, a conservação e preservação da memória e história da instituição escolar
extinta através de cada documento existente. Para justificar essa importância dos arquivos
escolares, sob uma análise entre memória e esquecimento de instituições deensino, diz
Mogarro:
Para Le Goff (2013, p. 485), os materiais da memória coletiva, em sua forma científica,
os registros como “documentos e monumentos”, ele apresentou de duas formas: “os
monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador”. O teórico explica
adefinição para ambos os registros:
SUMÁRIO
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CONCLUSÃO
Como afirmou Le Goff (2013, p. 435) "A memória é um elemento essencial do que se
costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades
fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia". Os arquivos
das Instituições que estão no Acervo são compostos dessa memória tanto no individual quanto
SUMÁRIO
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no coletivo. Cada uma delas tem a sua identidade formada nos arquivos que as compõem.
Um Acervo com arquivos de toda história de instituições de ensino tem uma
importância significativa para contribuir com os estudos em História da Educação de um
município, Estado ou do país proporcionando conhecimentos significativos sobre as pessoas
queviveram seu momento épico. Os diversos documentos que as compõem possibilitam uma
rememoração do ato registrado, pronto para realizar uma reflexão da trajetória do ensino
livre de uma visão romântica de escola.
Diante da importância dos arquivos que constam em um Acervo é pertinente tratar
da necessidade de ser considerado um Patrimônio de extremo valor pelos profissionais da
educação e impreterivelmente por aqueles que estão dentro das instituições em atividade.
Com esse breve estudo é perceptível a urgência em trabalhar com alunos,
profissionais da educação, autoridades e a sociedade em geral, na sensibilização e
compreensão que os registros escolares arquivados fazem parte da História da Educação
porque tratam da memória e a identidade de cada uma delas. É necessário também ter o
compromisso e responsabilidade ao registrar os fatos tais quais na forma que foram ocorridos.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história dacultura. (Obras
Escolhidas; v.1) São Paulo: Brasiliense, 1994.
LE GOFF, J. História e Memória. 7. ed.rev. Campinas: Editora da Unicamp, 2013. THOMPSON, P. A. A voz do
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FURTADO, A.C. Os arquivos escolares e sua documentação: Possibilidades e limites para a pesquisa em História
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MOGARRO, M. J Arquivo e educação:a construção da memória educativa. Sísifo. Revista de Ciências da
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SUMÁRIO
Ensino de História
e História Oral
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INTRODUÇÃO
Esse artigo tem por objetivo analisar as relações dialógicas de ressignificação das
práticas alimentares de uso dos cactos e das bromélias nas memórias dos habitantes da
comunidade Moita de Boqueirão-PB. Essa ressignificação de uso dos cactos e das bromélias
ocorrida no ambiente escolar, se deu em 2002 e 2003, por meio de projetos pedagógicos,
realizados na Escola Municipal Osias Francisco de Normandia, com uma turma da Educação
de Jovens e Adultos (EJA). Esses projetos eram sobre a história da comunidade Moita, em
particular, a história das práticas alimentares. Só foi possível os professores, estudantes e
demais membros da comunidade escolar, terem acesso a esse conhecimento culinário
presente na memória dos idosos da referida localidade, por meio da oralidade. Por isso,
problematizamos como os cactos e as bromélias fizeram parte da dieta dos moitenses pela
história oral. O intuito é de com os saberes constituídos oralmente, desnaturalizar as
identidades dos sujeitos e desses espaços, associados à cultura da seca, da fome e da miséria.
A terra que apoiamos a panela do banquete, é denominada de comunidade Moita, desde
o início do XIX, e, está localizada no município de Boqueirão, no Cariri Paraibano, há 181 km
da capital paraibana. A terra dessa comunidade é formada por uma “multiplicidade de
territórios” (HAESBAERT, 2007) regados “de sonhos, desejos, projetos de vida, cura, amores”
(OLIVEIRA, 2011, p. 764).
O recorte temporal que debruçamos nesse artigo é de 2002 a 2004. Em 2002, foi o ano
em que as práticas alimentares de cactos e de bromélias começaram a adentrar o ambiente
escolar, e, em 2004, é o ano que foi construída uma agroindústria de derivados de cactos na
comunidade Moita a partir da ressignificação dessas práticas alimentares.
A escolha do tema se deu pelo fato que cresci ouvindo esses sujeitos dizerem em suas
rotinas alimentares que comiam cactos e bromélias crus, assados e cozidos não só por fome,
mas também por prazer. Ao ampliar os espaços de escuta dessas vozes, estaremos incluindo
narrativas de resistências de pessoas comuns no discurso histórico, valorizando as
experiências dos idosos, desnaturalizando estereótipos, trazendo reflexões sobre a
Mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande e professor de História do Estado da Paraíba
e das Séries Iniciais no Município de Campina Grande-PB.
Orientador e professor da Universidade Federal de Campina Grande; bolsista de Produtividade do CNPq.
SUMÁRIO
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Ingredientes do banquete
Modo de preparo
Por compreender que a linguagem é um tipo de poder que os sujeitos têm para se
comunicar, trocar experiências e estabelecer vínculos sociais, usamos como modo de preparo
do banquete à análise do discurso para ler os documentos. Para Foucault (2008, p.133), a
noção de discurso é empregada como “um conjunto de regras anônimas, históricas sempre
determinadas no tempo-espaço, que definiram em uma dada época, e para uma área social,
econômica, geográfica, ou linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa.”
Nessa perspectiva, Brandão (2004, p. 11) afirma que “a linguagem enquanto discurso é
interação, é um modo de produção social; ela não é neutra, inocente e nem natural”. A autora
acrescenta que “a linguagem é lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser
estudada fora da sociedade, uma vez que os processos que a constituem são histórico-sociais”
(BRANDÃO, 2004, p. 11). Dessa forma, as fontes analisadas nesse artigo foram vinculadas às
condições histórico-sociais de produção, isto é, ao lugar-tempo, aos interesses e intenções
envolvidas na elaboração do discurso.
SUMÁRIO
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Resultados e discussões
Foi a partir de 2002, com o projeto “Quem não conhece suas raízes, desconhece sua
existência” que as falas dos idosos da comunidade Moita referente aos hábitos de uso dos
cactos e das bromélias começaram a ocupar as práticas educativas no espaço escolar. O intuito
do projeto era explorar juntamente com os educandos, as potencialidades e os aspectos
culturais, históricos e geográficos da comunidade Moita por meio da história local. Devido à
escassez ou total ausência de material escrito sobre a comunidade, nos baseamos na história
oral para compreender como essa localidade foi formada e consequentemente como fomos
constituídos. “‘Compreender’, diz Dilthey, ‘é reencontrar o eu no tu’. É alargar nossos
horizontes em relação às possibilidades de vida humana, é vivenciar outras existências”
(ALBERTI, 2019, p. 18).
Foi nesse processo de trabalhar com a história oral, que ao vivenciarmos outras
existências, que também passaram a ser a nossa, que tivemos a oportunidade, por meio das
falas dos idosos e demais habitantes da comunidade, de entrar em contato com as práticas
alimentares daquele lugar, em especial, as de uso dos cactos e das bromélias. Essas práticas
ajudaram na nossa formação identitária.
A história oral tem o grande mérito de permitir que os fenômenos subjetivos se tornem
inteligíveis – isto é, que se reconheça, neles, um estatuto tão concreto e capaz de incidir
sobre a realidade quanto qualquer outro fato. Representações são tão reais quanto meios
de transportes ou técnicas agrícolas, por exemplo” (ALBERTI, 2019, p. 09).
Daí por diante, paramos para ouvir as “experiências” (LARROSA, 2019) dos habitantes
da Moita, preferencialmente, dos idosos sobre os fenômenos subjetivos e as representações
existentes nas práticas alimentares. Passamos a escutá-los com mais atenção para aprender
os modos de fazer dos alimentos derivados dos cactos e das bromélias. “Antes de tudo, é
preciso saber, ‘ouvir contar’: apurar o ouvido e reconhecer esses fatos, que muitas vezes
podem passar despercebidos” (ALBERTI, 2019, p. 10).
As práticas alimentares de uso dos cactos e das bromélias não passaram despercebidas.
Tínhamos aprendido a “ouvir contar”. Primeiro foi o doce de facheiro, que os estudantes
aprenderam e fizeram a exposição, de forma também oral em 2002. “Quando bem aproveitada,
a história oral tem, um elevado potencial de ensinamento do passado, porque fascina com a
experiência do outro” (ALBERTI, 2019, p. 22). A experiência dos idosos nos fascinou,
principalmente pelos ensinamentos do passado que chegavam até nós pela comida. Vejamos
a receita do doce de facheiro:
Doce de facheiro
Ingredientes
2 Quilos de açúcar
1 Quilo de facheiro (polpa)
SUMÁRIO
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Modo de preparo
Coloque na panela a polpa do facheiro, o açúcar e meio livro de água. De vez enquanto
mexa os ingredientes para não grudar na panela. Sempre que a panela estiver secando,
acrescente meio livro de água, até o doce ficar consiste (Receita extraída do depoimento do
senhor Feliciano)
Foto 01 Foto 02
O ato fotográfico nos dá a “(...) ideia de indício, de resíduo da realidade sensível impressa
na imagem fotográfica. Em virtude desse princípio, a fotografia é considerada como testemunho:
atesta a existência de uma realidade” (MAUAD, 2005, p. 136). Essas fotos em análise nos
oferecem indícios da realização da I Mostra Pedagógica, em 2002. Essas imagens deixam
resíduo testemunhal da existência da representação de uma “realidade” pautada na oralidade
sobre a história da localidade.
A foto 01, não só mostra uma aluna segurando o facheiro e alguns adultos pousando
para a tessitura da imagem ao degustarem o doce da respectiva planta. Ela também representa
a materialização discursivas de uma prática por meio da oralidade se reinventando e se
socializando, penetrando no dia a dia desses sujeitos primeiro pelo ouvido e depois pelo
paladar. Já a foto 02, não só mostra a aluna com o doce de facheiro, rodeada de crianças para
servi-las após a explanação de como prepará-lo. Mas, nos traz indícios de que essa aluna estava
servindo as crianças, por meio da oralidade, o sabor de uma época e como esses sabores,
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ressignificados na sala de aula, podem inscrever e escrever nas sensibilidades dos sujeitos
desde pequenos valores que os humanizam.
Foi nessa tarde que o doce de facheiro ganhou expressiva visibilidade na mostra
cultural. Crianças, jovens, adultos e idosos queriam provar a iguaria. Para alguns, o doce
proporcionava um reencontro com práticas presentes em suas identidades por meio do sabor.
Para outros, essas práticas estavam moldando e inventando as suas concepções identitárias
pelo paladar. “O paladar é um elemento poderoso e permanente na delimitação das
preferências alimentares humanas, e está profundamente enraizado em normas culturais. A
escolha de nossos alimentos diários está ligada a um complexo cultural flexível (CASCUDO,
1983, p. 26-7). Era uma mistura flexível de múltiplas identidades móveis se (re) inventando
nos sujeitos ali presente (HALL, 2005).
Muitos idosos se fizeram presente no evento “patrocinado” por suas vozes. Essas vozes
estavam sendo “ouvidas por outras vozes” (BRANDÃO, 2004, p.09). Dona Zilda, uma das
idosas da comunidade Moita, que aparece na foto 03 (logo abaixo), pegando o doce para
degustar nos repassou oralmente muito dos conhecimentos sobre as práticas de uso dos
cactos e das bromélias. De maneira ressignificada, essa senhora estava saboreando as suas
vozes advindas de suas experiências alimentares. Uma degustação agenciada pela oralidade e
servida na mesa da prática educativa.
Foto 03
Após os visitantes ouvirem as explicações dos alunos, o doce era degustado. De acordo
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), “a educação abrange os processos
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, [...]. A educação
escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social” (BRASIL, 2019, p. 08). As
práticas de uso dos cactos e das bromélias estão permeadas de sociabilidades. Elas fazem parte
da vida familiar e da convivência humana dos habitantes da Moita. Por isso, esse hábito deve
estar presente na contextualização das práticas educativas das instituições de ensino e de
pesquisa.
A Base Nacional Comum Curricular (2019), traz a contextualização como um dos seus
principais conceitos com foco na aprendizagem para fomentar a qualidade da Educação Básica
em todas as modalidades. A BNCC, baseando-se no Parecer CNE/CEB nº 7/2010, define o
conceito de contextualização “como ‘a inclusão, a valorização das diferenças e o atendimento
à pluralidade e à diversidade cultural resgatando e respeitando as várias manifestações de
cada comunidade’” (BRASIL, BNCC, 2019, p. 11). As práticas alimentares locais presentes na
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Foto 04 Foto 05
Sobre a vida de um estilo de vida que não tínhamos vivenciado e agora pela fala escorria
para dentro de nós pelo ouvido, (re) estruturando as nossas percepções, sentidos e
sensibilidades sobre o ambiente. A foto 04, mostra como estávamos explorando o nosso
próprio espaço (muitas vezes despercebido por nós pelas narrativas hegemônicas dos livros
didáticos). Já a foto 05, pautada nas técnicas e saberes dos idosos, mostra um dos alunos
aprendendo a retirar a “polpa” do facheiro para fazermos o doce dessa planta. Técnicas essas
que nos passou e nos tocou, como afirma Larrosa (2019).
Foi a partir das afetações desses relatos e da visibilidade do doce de facheiro que surgiu
a ideia de realizarmos a II Mostra Pedagógica, especificamente só com alimentos derivados
dos cactos e das bromélias. Observou-se que a “polpa” extraída do facheiro era possível
produzir outros tipos de alimentos e que essa mesma “polpa” encontrada no facheiro, também
poderia ser obtida do xique-xique, do coroa de frade e do mandacaru.
Desse momento em diante, começamos novamente as ressignificações das práticas
alimentares de uso dos cactos e das bromélias, surgindo outros alimentos à base de cactos.
Somos históricos e culturais, estamos o tempo todo nos transformando e reinventando
cotidianamente (CERTEAU, 2019).
SUMÁRIO
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Mousse de facheiro
Ingredientes
500 gramas de doce de facheiro
01 lata de leite moça
01 lata de creme de leite
Modo de fazer
Bata todos os ingredientes no liquidificador até ficarem homogêneos. Depois deixe na
geladeira por alguns minutos e estará pronto para ser servido.
Foto 06 Foto 07
A foto 06, mostra os estudantes que ficaram encarregados de expor e explicar como se
faz o biscoito de facheiro. A foto 07, mostra os alunos servindo doce e biscoito de xique-xique.
As plantas dos referidos alimentos encontram-se dentro de uma panela de barro. Em ambas
as fotos é perceptível a quantidade expressiva de pessoas que o banquete da oralidade
conseguiu convidar para degustá-lo e a satisfação dos estudantes em estarem ali para servir
ao público um pouco do sabor de si também pela oralidade.
Esse segundo banquete da oralidade ganhou repercussão nos ouvidos e paladares dos
ali presentes. As vozes saborosas dos idosos ganharam eco nas panelas e caldeirões da sala de
aula, servido na mesa do pátio da comunidade Moita. Esse conhecimento que se ressignificava,
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 235
deixava de ser apenas um doce, para ser “uma doce esperança de uma comunidade caririzeira”
(PESSOA, 2005), de retirar o seu próprio sustento das práticas alimentícias de uso dos cactos.
Nesse mesmo ano (2003), o governo do Estado, por meio do Projeto Cooperar, estava
reunindo e convidando comunidades rurais do município de Boqueirão-PB, para
apresentarem algumas demandas ou possíveis projetos a serem implantados. O projeto sobre
o uso dos cactos e das bromélias passou a ser principalmente por meio da oralidade, a
bandeira de luta e de reinvindicação da comunidade Moita nessas reuniões. No final do ano de
2003, a agroindústria de derivados de cactos começou a ser construída e finalizada logo no
início de 2004.
Foto 08 Foto 09
Essas fotos são de uma encenação da Paixão de Cristo, em 2006. A encenação foi
realizada ao lado da agroindústria. Na foto 08, é possível observar a lateral da construção. Já a
foto 09, mostra um pouco a lateral do prédio e ao fundo é possível avistar uma caixa d’água,
construída juntamente com a agroindústria. Essa caixa d’água permitiu que uma boa parte da
comunidade Moita tivesse acesso a água encanada em suas residências desde 2004.
Considerações finais
SUMÁRIO
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REFERÊNCIAS
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CASCUDO, Luís da Câmara. História da Alimentação no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da
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CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: arte de fazer. Petrópolis: Vozes, 2019.
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LARROSA, Jorge. Tremores - Escritos sobre experiência. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
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SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 237
INTRODUÇÃO
JUSTIFICATIVA
Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise sobre três dos patrimônios locais e
propor uma discussão entre discentes e docentes a respeito desta temática, para que assim seja
possível perceber qual a situação parcial do ensino em Aquidauana/MS quando se trata de
educação patrimonial.
O que busco promover com esta pesquisa é a produção de levantamentos bibliográficos
a respeito da legislação patrimonial do estado de MS, partindo assim, para a análise de três
patrimônios históricos culturais locais e discutir as informações reunidas por mim com alunos
do Instituto Federal onde serão questionados sobre o conhecimento que possuem acerca dos
mesmos monumentos.
Para que se busque desenvolver um senso crítico sobre a representatividade histórica
destes patrimônios e consequentemente da cidade, será utilizada a história Oral e o
testemunho de alunos e professores elucidará parte do panorama de como certo grupo de
estudantes percebem o Patrimônio.
1
Graduanda em História-Licenciatura pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus de Aquidauana-Brasil
SUMÁRIO
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OBJETIVO GERAL
Objetivos específicos
METODOLOGIA
REVISÃO DE LITERATURA
REFERÊNCIAS
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SQUINELO, Ana Paula; ZARBATO, Jaqueline- Ensino de História, Educação Histórica e Linguagem- Olhares
além do Eixo. 1ª Ed. Campo Grande: Life Editora, 2008.
SUMÁRIO
E n s i n o d e H i s t ó r i a : E x p e r i ê n c i a e I n t e l e c t u a l i d a d e | 240
1. INTRODUÇÃO
1.1. Problema
Como a memória oral dos tradicionais ofícios das rendeiras e bordadeiras pode ser
preservada através do ensino de História?
1.2. Hipóteses
1
Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Licenciada em Artes Visuais
pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU); com Pós-Graduação Lato Sensu em História
da Arte: Teoria e Crítica pela Faculdade Paulista de Artes (FPA) e mestranda em História da Arte pela Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP).
SUMÁRIO
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1.3. Objetivos
Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar o ensino de História como preservação
da memória oral e valorização da cultura do tradicional ofício das rendeiras e bordadeiras.
1.4. Justificativa
A tradição oral desse ofício deve ser preservada como memória cultural, revelando as
características regionais e os diferentes saberes, especialmente das mulheres, que tecem as
histórias de suas vidas em cada fio, demonstrando a importância desse ofício como construção
da identidade de um povo.
O ensino de História pode despertar nos estudantes do Ensino Fundamental I e II a
conscientização sobre a importância de se preservar a tradição de um ofício através da
História Oral, e consequentemente valorizar as culturas regionais.
1.5. Metodologia
Porta (2012) ressalta que um bem cultural é preservado quando se tem uma função
social, se degradando quando a perde, já que para se preservá-lo não bastam a restauração,
conservação ou a documentação, mas sim reforçar ou restabelecer essa função social.
Ainda de acordo com Porta (2012), o Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial
é o instrumento de reconhecimento e valorização das expressões diante a política nacional de
preservação, gerando o compromisso do Estado em documentar as expressões registradas e
estimular de forma sustentável a sua continuidade, fortalecendo também a autoestima das
comunidades representadas.
“O registro de um bem imaterial não é definitivo, devendo ser avaliado e revalidado a
cada dez anos, em razão da natureza dinâmica e mutável dos bens imateriais.” (PORTA, 2012,
p. 54)
O ofício das rendeiras e bordadeiras faz parte da cultura popular de determinada
região, pois está ligado à prática cotidiana de seus habitantes, que a possuem como forma de
sustento econômico, além de conter as características próprias do saber que é transmitido
através de gerações, e não necessita de especialização para ser exercido.
SUMÁRIO
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A história do artesanato não é uma sucessão de invenções nem de obras únicas (ou
supostamente únicas). Na realidade, o artesanato não tem história, se concebemos a
história como uma sucessão ininterrupta de mudanças. Entre seu passado e seu presente
não há ruptura nem continuidade. O artista moderno lança-se à conquista da eternidade, e
o designer à do futuro; o artesão se deixa conquistar pelo tempo. Tradicional mas não
histórico, preso ao passado mas livre de datas, o objeto artesanal nos ensina a desconfiar
das miragens da história e das ilusões do futuro. O artesão não busca vencer o tempo, mas
juntar-se ao seu fluxo. (PAZ, 1991, p. 53)
Paz (1991) reitera ainda que o artesão não é leal à uma ideia ou imagem, mas à prática
de seu ofício. A oficina é o microcosmo social, que possui leis próprias, sem horário rígido e
raramente possui um trabalho solitário, tendo como chefe um mestre que quase sempre é um
parente ou vizinho, considerando-se que sua imperfeição é a dos homens e não dos sistemas.
O bordado era uma atividade praticada, nos séculos anteriores, também pelas meninas
e mulheres dentro da própria família, pois não era permitido o contato com o mundo exterior,
muito menos era permitido avançar nos estudos ou trabalhar fora.
“A maior parte das meninas não aprendia a ler. Passavam a meninice entre o oratório e
a esteira. Ensinavam-lhes a fazer renda, bordado, costura. Esperava-se que fossem incultas,
piedosas, prisioneiras da casa.” (DEL PRIORE, 2013, p. 19)
SUMÁRIO
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Pode-se observar que o costume de usar panos de parede tinha por objetivo, a partir dos
dizeres que continham, reportar ao comportamento que era esperado/exigido das
mulheres. O trabalho contínuo era uma virtude e demonstrava a força física e moral da
mulher. À mulher também cabia a abnegação, o silêncio e o sacrifício concretizados na
maternidade, na obediência ao marido, como um dever-ser exigido dessas mulheres. Esse
comportamento foi transmitido de geração em geração, reforçado ainda mais pelos
discursos da Igreja e de textos escritos como os jornais da época. (STIMAMIGLIO, 2010, p.
35)
Stimamiglio (2010) revela ainda que nos bordados as mulheres expressavam suas
crenças, sonhos, angústias, alegrias, temores e histórias, considerando-se que os bordados
também estão intimamente ligados à identidade dessas mulheres, sendo também narrativas
constituintes da identidade de cada uma.
Dewey (2010) enfatiza que os objetos artísticos comunicam algo por serem
expressivos, sendo essa a consequência do trabalho do artista, pois a comunicabilidade não
tem a ver com popularidade.
A produção artesanal compreende a tradição têxtil das bordadeiras e rendeiras, que
possui o valor estético de acordo com o trabalho manual das mulheres que colocam nesse
ofício as suas histórias de vida e as lembranças de seus antepassados.
Os ofícios das rendeiras e bordadeiras são transmitidos de geração para geração
através da tradição oral, sendo que estes saberes não costumam estar documentados em
registros escritos. Em cada comunidade o ofício é transmitido pelas pessoas adultas às
crianças e adolescentes para que dêem continuidade a este saber.
Dessa forma, torna-se desafio constante dos professores de história, praticar métodos
pedagógicos que propiciem aos alunos uma compreensão de que a história é matéria
elementar para compreensão da realidade em que eles vivem, ou seja, a história é a ciência
capaz de demonstrar, através das características políticas, econômicas, culturais e sociais,
as atuais condições do seu bairro, cidade, estado, país e mundo. (PONTES, 2016, p. 3)
Nesse sentido, Pontes (2016) ressalta ainda que a história possibilita a compreensão
da sociedade do presente, a partir do entendimento do passado, através da mediação pelo
professor de História da educação básica.
Conforme Pontes (2016), o uso da história oral no ensino de história possibilita trazer
a história para perto dos alunos, compreendendo que todos são sujeitos históricos e que
escrevem seus fatos, especialmente ao conhecer e ouvir sujeitos da história, permitindo uma
aproximação dos fatos históricos e dos aspectos da realidade local.
Nóbrega, Soldera e Senna (2009) relatam que a partir da década de 1980, o ensino de
História no Brasil passou a incorporar as fontes orais como uma ferramenta para o processo
de construção do sujeito, possibilitando que o estudante se entenda como sujeito ativo,
partícipe e construtor do processo histórico, aproximando o aluno desta disciplina.
Nesse sentido, o alcance da utilização das fontes orais vai muito além da mera gravação de
uma fita, ou transcrição de uma entrevista escrita. Utilizar as técnicas de história oral no
ensino de história possibilita aos alunos desenvolverem habilidades lingüísticas tanto
faladas como escritas, tendo em vista que estes participam ativamente do processo de
redação das perguntas a serem feitas, assim como da realização da entrevista em si.
(NÓBREGA; SOLDERA; SENNA, 2009, p. 5)
Dessa forma, o ofício das rendeiras e bordadeiras deve ser preservado, sendo
transmitido às demais gerações através da oralidade como expressão popular, contendo a arte
dessa tradição e das pessoas que a representam, ou seja, a “arte do saber”.
Através da História Oral é possível que o ofício das rendeiras e bordadeiras seja
preservado e transmitido às novas gerações através do ensino de História, mostrando-o como
um elemento cultural, que possui destaque em determinadas regiões como característica local,
SUMÁRIO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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SUMÁRIO
Práticas do ensino de História
na Educação Básica
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RESUMO
No ano de 2020, com o advento da pandemia por corona vírus, muitas atividades
tiveram de se adequar a uma realidade marcada pelo isolamento social, dentre elas, o ensino.
Para que os estudantes não ficassem desassistidos nesse momento, muitas foram as iniciativas
adotadas pelas escolas públicas, com o intuito de promover o aprendizado e fazer com que a
instituição de ensino chegasse na casa de cada um dos alunos da melhor maneira possível.
Mas, como fazer isso? Usando quais ferramentas? Instituiu-se assim um grande desafio para
os gestores, coordenadores e professores de todo o mundo. Os métodos adotados variam de
lugar para lugar, dependo da realidade social de cada escola e da faixa etária dos alunos. O
ensino ofertado remotamente, geralmente, remonta ao acompanhamento síncrono ou
assíncrono, no primeiro as aulas se dão em tempo real através de plataformas como o
Microsoft Teams, Google Meet, dentre outros, esse tipo de ensino demanda que os alunos
possuam equipamentos eletrônicos e internet banda larga; no modo assíncrono são
elaborados conteúdos que podem ser acompanhados a partir das mais diversas mídias como
o rádio, a televisão e as redes sociais como o WhatsApp, também por meio de material
impresso.
Sou historiadora e professora de História do munícipio de João Câmara e atuo na Escola
de Seis Salas, uma escola em tempo integral projetada com base no projeto de mesmo nome
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. A escola atende alunos do
terceiro ao sexto ano do Ensino Fundamental. No município de João Câmara, localizado na
região do Mato Grande potiguar, optou-se pela forma assíncrona, tendo em vista que a grande
maioria dos alunos da rede municipal de ensino é da classe menos favorecida e não possuem
os meios necessários para o acompanhamento síncrono. Assim sendo, o acompanhamento das
crianças e jovens se dá com a distribuição dos alimentos referentes à merenda escolar, junto
com os insumos as famílias recebem um caderno com atividades impressas, elaboradas pelos
professores da rede, com base nos eixos temáticos determinados pela Secretaria Municipal de
Educação e Cultura da cidade. Os estudantes, no processo de resolução das atividades, são
acompanhados pelos professores através de grupos do WhatsApp, ao final de cada ciclo
mensal, as atividades são devolvidas e corrigidas. Entretanto, para dinamizar o ensino, bem
como para aproximar os professores dos alunos nesse momento de crise, optou-se ainda pela
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gravação de vídeos curtos, com duração de dois a dez minutos, para ensinar e divertir os
alunos. Tendo a elaboração e edição desse material como um grande desafio para os
professores, o presente texto tem por objetivo partilhar a experiência de gravação de vídeos
curtos para o ensino remoto, considerando como invenção de um novo cotidiano para o Ensino
de História.
Com base em Certeau (1994), quando entende que o cotidiano não corresponde a uma
simples repetição1, sofrendo transformações diárias através das práticas dos sujeitos
históricos imbricados no processo de construção do real. O autor destacou ainda que o
cotidiano é caracterizado pelas relações de poder que, por sua vez, são marcadas pelas práticas
sociais entre os dominantes e os dominados. Entretanto, a dominação não se dá de maneira
passiva, sendo um embate representacional constantemente ressignificado pelas estratégias
e táticas. A invenção do cotidiano remete as artes de fazer, as formas de apropriação e de
reapropriação dos bens culturais, dos espaços e dos usos. Assim sendo, compreende-se que a
produção de materiais audiovisuais, aqui representados pelos vídeos curtos, remetem a uma
tática dos professores que tem como objetivo inventar um novo cotidiano em tempos de
isolamento social e, com isso, conseguir chegar na casa dos alunos.
Na perspectiva técnica de produção dos vídeos curtos, relato que precisei de: aparelho
celular, computador, tripé e internet. No tocante aos aplicativos, lancei mão dos seguintes:
IShot (para editar), Vídeo Show (para produzir a vinheta), ApowerREC (para gravar com os
slides) e Hand Brake (para reduzir o tamanho do vídeo). Também tem sido muito importante
o PowerPoint e o site giphy.com na composição das animações. As gravações são feitas com a
câmera do celular ou a câmera do computador, dependendo do tipo de vídeo. Utilizo ainda
uma série de materiais complementares para realização das dinâmicas propostas.
Com relação ao método de composição intelectual desse material, considero o eixo
temático proposto pelo SMEC e busco a relação deste com o Ensino de História. Selecionado o
tema do vídeo, o passo seguinte refere-se à composição do roteiro que norteará a produção.
Para além das produções referentes aos eixos temáticos, tenho produzido outros tipos de
vídeos, como as séries: “João Câmara: meu lugar no mundo” que trata de aspectos históricos
da cidade e “Eu sou do Nordeste” que aborda os elementos culturais da região; ainda destaco
a produção de vídeos alusivos as datas comemorativas, que contam um pouco de como essas
datas foram incorporadas ao calendário nacional, como por exemplo o dia do estudante e o dia
das crianças.
1
Diferentemente de Certeau, Agnes Heller entendeu que o cotidiano é o espaço da repetição.
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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REFERÊNCIAS
SUMÁRIO
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Introdução
Metodologia
Tendo como foco principal dentro do projeto do Estágio III a inserção da História Local
e Regional, o projeto será voltado para as Grandes Navegações e, correlacionando, o Rio
Grande e seu impacto para a região do Oeste da Bahia, com ênfase na cidade de Barreiras.
Dessa forma, o esperado é que os alunos consigam relacionar como as navegações foram
importantes ao longo dos séculos em diversos locais do mundo e quais seus impactos para as
civilizações.
Fundamentação Teórica
Vilma de Lurdes Barbosa (2006), entende que a história e o ensino de história devem
ser feitos do global para o local, sempre contextualizando o objeto de conhecimento retratado
a partir da visão de mundo do aluno, dentro de sua realidade. Para Barbos (2006) o currículo
não deve chegar pronto e acabado às mãos do professor, como se fosse uma imposição. O
professor deve se formar e pensar sua prática didática refletindo sobre o local, o lugar onde
está. O professor deve dar um novo significado às suas aulas.
SUMÁRIO
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Conclusão
REFERÊNCIAS
SUMÁRIO
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Introdução
Cã, segundo filho de Noé, exibiu-se diante de seus irmãos, gabando-se de ter visto o sexo
de seu pai, quando esse se encontrava bêbado. Para castigá-lo, o patriarca amaldiçoou
Canaã, filho de Cã; ele e sua descendência se tornariam servidores de seus irmãos e sua
descendência. Eles migraram para o sul e para a cidade das sexualidades malditas:
Sodoma. Depois atingiram Gomorra. Lendas contam que os filhos dos filhos dos
amaldiçoados foram viver em terras iluminadas por um sol que os queimava, tornando-os
negros.
1
Graduado em História pela Universidade de Pernambuco (UPE), especialista em Ensino de História pela Faculdade
Venda Nova do Imigrante (FAVENI), Docência do Ensino Superior pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) e
História e Cultura Afro-Brasileira pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais (IPEMIG), professor de História do quadro
efetivo da rede municipal de ensino do município da Lagoa dos Gatos – PE, ID Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4762429040202808, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9088-8610, E-mail:
jlxfilho@hotmail.com
SUMÁRIO
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Metodologia
Fundamentação teórica
SUMÁRIO
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CONCLUSÃO
O ensino de História nas escolas de Ensino Fundamental não se limita a uma mera
submissão ao conhecimento produzido pelos historiadores. Alunos e professores, geralmente,
dialogam com os conhecimentos eruditos da História, produzem e (re)produzem
conhecimentos históricos. Os professores, então, não são meros reprodutores de
conhecimentos produzidos por pensadores que se encontram fora do ambiente escolar. A
velha noção de divisão do trabalho entre os que pensam e os que executam o pensado não se
enquadra nesse caso.
Os professores cumprem um significativo papel de (re)produzir conhecimentos
eruditos importantes para a sociedade, ao mesmo tempo, são pensadores que produzem
conhecimentos no espaço escolar. Por isso mesmo, é muito importante que sejam valorizados
e bem formados para desempenhar as inúmeras tarefas que lhe são atribuídas. O professor
também atua para aumentar a abrangência da utilização de determinados conhecimentos
apresentando novos desafios para ampliação e/ou aquisição de novas aprendizagens. Com
base no contexto vivenciado pelos estudantes, o professor desafia, encoraja, esclarece e
oferece novas possibilidades para que sejam redirecionados, ampliados ou desenvolvidos
novos enfoques sobre o conhecimento.
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
Continuando os diálogos
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Introdução
Primeiras considerações
No século XVII, o jesuíta André João Antonil emitia o seguinte posicionamento sobre
a cristianização de negros quilombolas: “E bem é que saibam [os senhores] que isto lhes há de
valer, porque, de outra sorte, fugirão [os escravos] por uma vez para algum mocambo no mato,
e se forem apanhados, poderá ser que se matem a si mesmos...” (ANTONIL apud VAINFAS,
2016, p. 83)
Embora não citasse o quilombo de Palmares, maior organização quilombola do
período colonial, que ia do sul da capitania de Pernambuco até o território do atual estado de
Alagoas, (BALLESTER, 2017, p.31), é bem possível que Antonil escrevesse tendo o quilombo
em mente (uma vez que tal trecho foi escrito no fim do século XVII, momento de forte embate
contra Palmares), isso é o que nos sugere o historiador Ronaldo Vainfas em seu texto “Deus
contra Palmares” (VAINFAS, 2012). Naquela produção, o autor indica uma série de sermões
proferidos por jesuítas, demonstrando que não havia um consesso sobre a catequização, ou
não, de escravizados revoltosos. No entanto, um ponto chama atenção, mesmo escrevendo no
século XVII, mesmo mirando os acontecimentos ocorridos em torno do quilombo dos
1
Professora do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo da UFRN.
SUMÁRIO
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Palmares, nenhum daqueles padres se referia diretamente a Palmares. Por quê? Qual a
intenção por trás desta omissão?
Não conhecer a resistência palmarina era pouquíssimo provável, haja vista a
repercussão em torno do quilombo, já que havia décadas esse não conseguia ser derrotado
pelos portugueses. Indiferença aos seus acontecimentos também não parece ter sido a
motivação. Então, por que não se remeter a Palmares? Vainfas sinaliza, e concordo com ele,
que a não referência era algo proposital. Era preciso alertar para os riscos de cristianizar
revoltosos e seus potenciais perigos ou ganhos, sem no entanto, permitir a promoção de sua
memória.
Falar de Palmares, citar seu nome, mesmo que para apresentar uma conotação
negativa a seu respeito, possibilitava que a resistência fosse lembrada, permitia que seu nome
fosse divulgado, espalhado e conhecido por muitos. E isto era justo oposto do que buscavam a
Coroa portuguesa e a Igreja através de seus jesuítas.
A dominação de uma crescente população escravizada passava também pela
veiculação de discursos de controle, mas como afirmar que havia total domínio do colonizador
sobre estes povos, se havia, no meio do território supostamente dominado pelos
colonizadores, uma organização política e social capaz de agrupar, organizar e gerir cerca de
20 mil pessoas em seu ápice? (BALLESTER, 2017, p. 31).
Proferir o nome quilombo dos Palmares era o mesmo que lembrar a incapacidade de
controle dos colonizadores. Era o mesmo que atestar que eles, homens brancos (considerados
em muitos momentos da História como representantes da civilização) não era capazes de
conter um número cada vez maior de pessoas trazidas para cá forçadamente para serem
escravizadas. Diante disso, o que fazer? Alertar sobre seus perigos, mas não citá-lo, não
permitir que seus feitos fossem registrados e assim sua memória, mesmo deturpada, fosse de
alguma forma preservada.
A estratégia tem fundamento e foi, e ainda é, repetida diversas vezes. Ou alguém crer
ser mera coincidência termos um currículo escolar historicamente eurocentrado, masculino,
heróico e branco? Quantos de nós tivemos oportunidade de estudar, ler, conhecer sobre o
funcionamento de Palmares e de tantos outros quilombos espalhados por todo país? Que
espaço houve, ou há, para que a resistência negra, indígena, feminina possa ser apresentada,
discutida, profundamente analisada?
O calar dos jesuítas foi mantido com o intuito de fazer morrer qualquer marca de
resistência. Não bastava prender e matar Dandara, Zumbi e demais lideranças. Não bastava
reescravizar os sobreviventes, mesmo crianças e idosos. Era preciso mais que isso, era
necessário fazer calar 100 anos de resistência, de humilhação das forças portuguesas, de
demonstração da ineficiência das tropas portuguesas. Mesmo quando do domínio do núcleo
de Palmares, seu nome era pouco citado ou referenciado, pois era preciso que as gerações
vindouras esquecessem aquela organização, aquela luta, aquela sociedade alternativa dentro
do sistema colonial.
Vocês devem se perguntar se há algum paralelo entre o Brasil setecentista e este que
vivemos hoje. Posso lhes assegurar que muito mudamos, nos transformamos, somos outro
país, mas também somos o mesmo. Pensar historicamente exige que compreendamos que se
há mudanças com o passar do tempo, há também permanências. Ao mesmo tempo que
rompemos, também mantemos. E que mesmo períodos de avanços podem ser seguidos de
inúmeras tentativas de refluxo. Tudo isso faz parte do que chamamos processo histórico.
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Por tudo isso, sim, ainda temos pontos que tangenciam este passado distante,
sobretudo, porque algumas práticas estão profundamente entranhadas em nosso imaginário
e são refletidas em nosso cotidiano. Ainda vivemos em uma sociedade marcada por valores
patriarcais e autoritários, ainda estamos mergulhados em uma cultura do mandonismo, em
que muitos se julgam os novos “coronéis”, ou os atuais donos de laranjais. Vivemos em um país
ainda movido por oligarquias, que como bem enfatiza Lilia Schwarcz (2019, p.58), associam o
poder local e a concentração de renda. Ainda estamos em um país em que a morte João Alberto 2
não é um caso isolado, mas o reflexo de tantos outros que não foram filmados ou tiveram a
mesma repercussão na mídia.
E neste país, mesmo após 17 anos da promulgação da lei 10.639/03, ainda
“engatinhamos” em busca de um currículo mais progressista, menos eurocentrado e mais
representativo. Os avanços e recuos podem ser notados se observarmos as inúmeras
mudanças ocorridas nas diferentes versões da BNCC de História para o Ensino Fundamental
anos finais (2017), por exemplo, partindo de uma proposta notadamente focada na História
do Brasil e considerando a diversidade de povos, culturas, etnias, até a fastidiosa chegada em
uma versão ainda movida pela Europa e com alguns tímidos espaços voltados às nossas
histórias, no plural, seguindo uma organização há muito conhecida dos nossos livros didáticos
da área.
Mesmo com os avanços alcançados a partir de legislações específicas (10.639/03 e
11.645/08), ainda há reação por parte de grupos conservadores para que não tenhamos um
ensino de História efetivamente plural. Sobre essa questão, a professora Circe Bittencourt
afirma que:
2
Homem negro, morto nas dependências do supermercado Carrefour no ano de 2020. O caso foi amplamente
divulgado pela mídia, pois as imagens das agressões foram registradas em vídeos de celulares e compartilhadas na
internet.
SUMÁRIO
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tentar negar uma educação plural, diversa, que possibilite a aprendizagem de histórias no
plural.
Movimentos revisionistas que buscam negar a ditadura militar, a tortura, mortes e
desaparecimentos dela resultante, que tentam impedir que se discuta racismo e gênero na
escola, por exemplo, são ações orquestradas e conscientes em busca de um povo cada vez mais
passivo, acrítico, que assista a “boiada passar” sentado diante da TV ou da tela do celular.
Negar que o nosso Paulo Freire seja o patrono da educação brasileira, ou mesmo que
nomeie uma plataforma digital de formação continuada é a busca pela permanência daquela
antiga estratégia jesuítica: tirem seu nome, para que seu legado seja apagado e não traga
“riscos” às futuras boiadas. Tenhamos apenas nomes técnicos e neutros para que as futuras
gerações não saibam que um dia foi possível aprender a ler em 40h, ou frequentar salas de
aulas circulares, em que o pedreiro ao mesmo tempo que lia a palavra tijolo, também discutia
seus parcos rendimentos (FREIRE, 1967). É preciso esquecer certos temas, épocas, assuntos,
mulheres e homens que resistiram a regimes opressores, para que a cada dia nós acreditemos
mais e mais que somos incapazes de lutar contra qualquer coisa, que tudo já está posto, que
sempre foi assim, que nosso futuro já está dado, que nosso país tem a síndrome da Gabriela: já
nasceu assim, já cresceu assim e será sempre assim.
É preciso que nós sejamos devorados pelo pessimismo e pelo desânimo, para que
percamos a capacidade de sonhar, de sentir e consequentemente de ser. No entanto, nós
historiadoras e historiadores, professoras e professores, que somos ou que seremos, temos o
compromisso de lembrar, de pesquisar e de fazer conhecer. E mais que isso, ao escolher a
docência e assumir uma postura progressista temos o dever de, relembrando Paulo Freire,
esperançar, transformar a esperança em verbo e nos colocar a andar adiante.
À guisa de conclusão...
não, não somos demoníacos, nem reconhecemos seu demônio! Porque sabemos que a História
é feita de histórias, com s, no plural, permeadas por muitas e muitas memórias,
cotidianamente recuperadas, rasgadas e publicizadas hoje e cada vez mais.
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bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática
"História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acesso em outubro de 2020.
BRASIL. Lei 11.645/2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de
9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial
da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em outubro de 2020.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
_____. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
SCHWARCZ, Lilia. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
VAINFAS, Ronaldo. Deus contra Palmares. In: REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos (Orgs.) Liberdade por
um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
SUMÁRIO
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Era fins do ano de 2018. Aquilo que parecia ser uma noite de alegria numa boate da
cidade de Florianópolis, acabou ao menos para vítima, sendo razão para dor e tristeza ao ter
seu corpo violentado sexualmente. Na ocasião não foi rompido a força apenas o seu hímen,
mas o direito de uma mulher ter liberdade sobre o controle de seu corpo. Nessa semana, dois
anos após o crime de estupro, ocorreu de forma remota o julgamento do caso, na qual, a vítima
tornou-se ré. Foi acusada de através de suas fotografias publicadas em suas redes sociais, de
incitar o dito macho-alfa a cometer estupro, que culminou com a sentença de um “estupro
culposo”. Noutras palavras, a vítima foi acusada e teve a denúncia aceita pela justiça brasileira,
por ser aquela que por possuir um corpo cuidado e vestido a seu modo, provocou o estupro.
Ao homem que a estuprou, nenhuma pena lhe foi aplicada. A boate em que o crime aconteceu
foi responsabilizada por pagar a assistência psicológica da vítima e de sua família.
Mariana Ferrer teve seu corpo violado em 2018 pela ação de um homem que acha que
mulher é um pedaço de carne que pode ser comida a seu bel prazer. Mariana Ferrer teve em
2020 seu corpo novamente violentado por homens de toga que expuseram imagens da vítima
lhes atribuindo adjetivações que induziam seus pares a concordarem que ela era uma mulher
vulgar e que merecia portanto o estupro. Nos vídeos expostos nas páginas de internet nenhum
dos quatro homens presentes exigiram respeito. Nenhum dos homens no recinto on-line saiu
em defesa. Todos os homens presentes a humilharam sejam com falas exaltadas, seja com o
silêncio. Os quatro homens que representam a justiça brasileira, concordaram com a hipótese
do advogado de defesa do criminoso e o inocentaram.
Essa não é uma história apenas de violência. Não é apenas uma história de impunidade.
Essa é uma história que se repete historicamente em nosso país. Trata-se de uma narrativa em
que a mulher, ou como eles a tratara, “um pedaço de carne” é vista por homens machistas. Essa
é uma história que revela uma educação tradicional na qual esses homens foram adestrados
para, enquanto machos, sugar as mulheres de forma a satisfazer a suas vontades. São como
chamou Durval Albuquerque Jr. (2009, p. 106) homens-drácula, que mantém uma relação de
dependência com as mulheres, aquelas que lhes dão a vida, que os alimentam, que os educam,
que deles cuidam ao longo de toda a vida e esses em troca oferecem a tirania, o domínio e a
exploração, em troca lhes sugam até a última gota de sangue. O homem-drácula é aquele que
na hora da cópula, para satisfazer seu desejo sexual revela-se um animal, uma fera a estuprar
e possuir o corpo feminino transformando as mulheres em mortas-vivas que passam a
obedecer-lhes e realizar suas vontades e desígnios. André de Camargo Aranha, o estuprador;
o advogado, Claudio Gastão da Rosa Filho e o juiz Rudson Marcos são exemplos de homens-
drácula. São filhos de uma sociedade machista, patriarcal e que se rejubila na lama do fascismo.
São homens que não aprenderam sobre direitos humanos, muito menos sobre a empatia e o
1
Doutor em Educação. Professor do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. Credenciado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (UFRN) e em História (UFCG).
SUMÁRIO
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respeito. São homens que se aliaram para defender o direito do outro de ser machista e de
perpetuar o modelo de cabra-macho-rico-conservador-e-que-acha-que-pode-comer-quem-
quiser.
Temos muito a dizer e a aprender com essa história. Primeiro, como homem, quero
pedir perdão a todas as mulheres pela ação daqueles que se dizem homem e que acham que
todo o seu poder está concentrado no pênis. Quero dizer que nem todos os homens são assim.
Infelizmente, esses homens-dráculas ainda são muitos e cada um de nós conhecemos alguns.
Segundo, dizer que as manifestações postadas nas redes sociais por mulheres e homens, não
são apesar uma rede de apoio a Mariana Ferrer, mas o grito de revolta contra esse modelo de
homem e de uma justiça que julga conforme os princípios da camaradagem. Essas
manifestações de indignação são uma aula de história fora da sala de aula. Uma aula que vai
de encontro ao que está posto no currículo e no livro didático. Vai de encontro a uma história
masculina, cheias de heróis brancos e que por tantos anos negligenciou ao descaso as
mulheres, as crianças, as questões de gênero e sexualidade, os negros e os indígenas. Há nessa
história uma grande produção de documentos, e, entendo aqui por documento conforme
escreveu Circe Bittencourt (2017), aquilo que não foi produzido com a intenção de ser
problematizado em sala de aula, mas que pode ser apropriado por professores e alunos como
material didático. Existe na trágica e impune história de Mariana Ferrer hoje não só os vídeos
do circo dos horrores que foi a audiência de julgamento, mas como as postagens que levou a
hashtag #justiçapormariferrer ao top trend do Twitter.
Lembro como professor formador de outros professores, que quando queríamos
orientar os docentes a falar sobre determinada temática que não era contemplada pelo
currículo, afirmávamos que sempre que surgisse uma demanda através de algum
acontecimento, esse deveria ser um bom momento para discutir determinados temas em sala
de aula. Hoje, acho que nem é mais preciso esperar que aconteça, pois todos os dias tem
acontecido atrocidades que nos deixam em polvorosa, desgostosos com a humanidade,
enfurecidos pela impunidade de criminosos e estupradores. O professor precisa falar não
apenas do que está acontecendo, como tornar essa uma ação cotidiana nas aulas de história.
Sobretudo, quando se trata de uma profissão em que a maioria de seus profissionais são
mulheres. Mulheres que também são transpassadas pelas notícias que correm nas redes
sociais e violentam nossos sentidos. Mulheres que precisam assumir a dianteira na hora de
adestrar seus alunos para uma vida não fascista, para se tornarem cidadãos antimachistas,
antipreconceituosos e antimisóginos. Mulheres que sentiram e sentem na pele o que é ser
sugada por um homem-drácula e receber de volta a violência como forma de gratidão.
As sensibilidades me parece ser um ingrediente fundamental na hora de preparar uma
aula de história. Dela, provem as formas de apreensão do muno, as formas de sentir e de estar
no mundo. É a possibilidade que cada indivíduo tem de expressar para si ou para o outro as
maneiras de compreender. É aquilo que foge do racional e adentra o mundo das sensações e
emoções. Para Sandra Pesavento (2007) a sensibilidade exige percepção enquanto atividade
reflexiva, evocando as emoções dos alunos de forma a desejarem ou rejeitarem determinadas
ações. O uso das sensibilidades na pratica docente não autoriza o professor a criar situações
meramente ilustrativas, mas lhe atribui o exercício de evocar nos alunos aquilo que se sente
diante das histórias contadas em sala de aula. As sensibilidades fazem com que os alunos se
coloquem no lugar do outro a partir de sua realidade. Emoções como alegria e dor, por
exemplo, são bastante comuns aos nossos alunos. De um lado uma sensibilidade que é
desejada, de outro uma que causa pavor. Ao levar os alunos a imaginarem uma dessas
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emoções, cria-se posturas nos alunos capazes de elaborar consigo práticas de cuidado de si e
do outro, a querer promover as boas ações e a rejeitar as más emoções. Assim, a aula de
história sensível, deve rejeitar a transmissão pura de informações e fazer despertar nos alunos
os sentimentos suscitados a partir daquilo que o professor problematiza em sala de aula. Nesse
sentido, passo a elencar alguns pontos que considero fundamental para uma aula de história
sensível. Um pequeno manual para o Ensino de História e Sensibilidades.
2. Conheça seus alunos. Jorge Larrosa (2016) nos fala sobre o tempo do professor que é curto,
apressado e agitado, fato que lhe impede de parar para viver o exercício da experiência. O
professor seria aquele que muito lhe acontece mas nada lhe toca, lhe transpassa, porque a falta
de tempo lhe impede de parar para sentir e refletir. Larrosa ainda chama atenção para
perceber com calma as ações, parar para sentir, para pensar, para imaginar, para elaborar. Mas
como fazer isso quando o tempo é corrido e as salas de aula estão lotadas das mais diversas
subjetividades? Esse é mais um desafio para o professor, especialmente porque faz-se
necessário conhecer seus alunos para conseguir fazer com a aula de história faça sentido. É
preciso vencer a adversidade do tempo corrido e parar para olhar para seus alunos, para ouvi-
los. Pergunte sobre o que eles gostam de assistir e de escutar, quais são seus jogos prediletos,
qual a sua relação com as redes sociais, em que comunidade vivem, em que cultura estão
inseridos, quais os principais problemas sociais existentes na comunidade. Investigue seus
sonhos e suas angustias. Perceba que conhecer seus alunos é trazer o mundo deles para a aula
de história. Que precisamos ensinar história a partir daquilo que faz parte do cotidiano deles.
Alguns dados já são realidade: a maioria dos alunos de escola pública são negros e pobres,
tiveram pouca oportunidade e os heróis que conheceram foram apenas aqueles que possuem
superpoderes e que são exibidos nos filmes em televisão aberta, que muitos dos seus heróis
domésticos agridem mulheres, fazem uso de drogas, promovem violência. Permita que seus
alunos contem suas histórias, você verá que existe nessa oportunidade uma carga emotiva
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bastante alta. Explore essas sensibilidades levado seu aluno a se conhecer, a fazer a autocrítica.
Lembre que a prática de si orienta para que cada um se desfaça de seus maus hábitos, de
opiniões falsas que podem receber das multidões. Conheça seu aluno e o leve a “desaprender”,
a apartar-se de si. Conhecer seu aluno, fará com que você crie nele a função de luta, aquilo que
pode ser tido como um combate permanente. É preciso dar aos nossos alunos as armas da
coragem para lutar contra toda forma de violência e preconceito. Assim, essas armas podem
ser conceitos como cidadania, democracia, respeito, coragem, alteridade, diferença... Não
esqueça que nem sempre seu aluno gosta das mesmas coisas que você professor. Portanto, o
que devemos conhecer e trazer para a sala de aula é o mundo dos alunos. E nesse mundo, o
professor precisa inserir os debates necessários para a formação do cidadão fazendo-os
sentirem e refletirem sobre a história de tantos homens e mulheres. Hoje, nossos alunos estão
mais preocupados em escutar “Rita”, aquela que seu companheiro implora: “Oh Rita, volta
desgramada. Volta Rita que perdoo a facada. Oh Rita não me deixa. Volta Rita que retiro a
queixa”. Talvez a história de Rita seja uma excelente oportunidade para discutir questões
sobre violência contra mulheres e empoderamento feminino. Mas pra isso, é preciso que o
professo pare para viver a experiência como nos ensinou Jorge Larrosa (2016), deixando-se
afetar. A história de Rita, de Tifany, de Edilene e de Letícia, cantadas hoje pela sofrência pode
ser a realidade de muitos de nossos alunos.
3. Use nas aulas documentos que permitem evocar as emoções dos alunos. O professor de história
precisa ser um pesquisador. Aprendemos na formação de nosso ofício que a pesquisa é o
caminho para encontrar as fontes que serão problematizadas e transformadas em enunciados
discursivos, que chamamos de História. O ofício do professor de história está diretamente
ligado ao exercício do historiador. Acredito que não seja possível um historiador que não se
atualiza, que não faz leituras, que não conhece novas culturas. Acredito também, que o mesmo
acontece com o professor. Mesmo cansado dos problemas existentes nas escolas, das parcas
condições de trabalho e dos salários defasados, o professor deve assumir uma postura de
pesquisador e levar para sala de aula materiais didáticos, aqui me refiro mais especificamente
aos documentos, para desenvolver uma boa aula de história. Os documentos são fragmentos
de um dado passado, memórias que foram produzidas intencionalmente por alguém
registrando um dado acontecimento. O professor precisa não apenas fazer a leitura e
apresentação do documento em sala de aula, mas também levar o aluno a imaginar a situação
descrita na narrativa documental. Ao imaginar o acontecimento, é preciso leva-lo a sentir
aquilo que foi vivido pelas pessoas envolvidas na trama. Os sentimentos evocados pela história
ali contada fará com que os alunos se posicionem, assumam um ponto de vista, defendam sua
versão e construam o conhecimento a partir de seu lugar social. Convide o aluno a se colocar
no lugar do outro, permita que ele conheça as características da época, os direitos que as
pessoas tinham, as formas de punir, as consequências marcadas em seus corpos. Acredito ser
o uso de documentos, claro, adequados ao entendimento e faixa etária do aluno, uma boa
forma de fazê-lo refletir sobre seu lugar no mundo, sobre o reconhecimento de si e sobre a
defesa da vida.
4. Elabore boas perguntas. Somos seres que questionam por excelência. Em geral quando
temos dúvidas ou mesmo alguma curiosidade. A aula de história é um espaço fundamental
para despertar o interesse. Lembro que os alunos ficavam vidrados quando começávamos a
contar uma história que continha suspense ou mesmo que se referia a sexualidade de um povo
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numa dada época. Essas aulas eram as melhores, porque os alunos perguntavam para
satisfazer as suas curiosidades. Quando falamos em ensino e sensibilidades, acredito que boas
perguntas devem ser elaboradas pelo professor e direcionadas aos alunos. As perguntas
elaboradas pelos professores pode conter a intenção de fazer com que os alunos se coloquem
no lugar do outro, que imaginem a condição do outro, que sinta a dor ou a alegria do outro. Um
exemplo: ao apresentar a imagem de um indígena sendo capturado no período colonial
brasileiro e levado para o cativeiro, o professor pode apenas deixar que os aluno veja a imagem
e tire suas conclusões, ou mesmo que o professor afirme como um dado que os indígenas
foram capturados, escravizados e mortos. Mas, terá um efeito de entendimento mais
apropriado se o professor ao apresentar as imagens realizar perguntas do tipo: “Você já se
imaginou sendo capturado e escravizado? Sendo impedido de fazer todas as coisas que você
gosta e obrigado a um trabalho compulsivo?”; “Você já foi proibido de ir a algum lugar? Como
você se sentiu?”; “Qual o sentimento evocado quando você é impedido de ter o direito à
liberdade?”. Essas questões vão levar o aluno ao exercício da alteridade e da empatia. São
questões que exigem que o aluno viva a experiência de parar para sentir, para pensar, para
refletir. Um exercício sensível. Professor, faça sempre boas perguntas capazes de afetar o
outro.
5. Seja criativo. Esse é um exercício que demanda tempo. Na hora de preparar as suas aulas de
história, leve em consideração o professor que você quer ser para seus alunos. Considere
aquilo eu você conseguiu conhecer de seus discentes. Não esqueça que a maioria dos nossos
alunos não possui recursos para comprar material. Portanto, as atividades utilizadas em sala
de aula precisa estar de acordo com os recursos que a escola dispõe, ou que pode ser
apropriado a partir do que a natureza ou mesmo a reciclagem permitem. Façam jogos, montem
protestos, confeccionem cartazes, elaborem cartas, escrevam mensagens, façam postagens nas
redes sociais, construam maquetes, gravem podcasts, produzam vídeos caseiros com
celulares, encenem um jogral, pintem imagens... Essas atividades podem fazer parte do
processo de avaliação e são fundamentais para o ensino e a aprendizagem. Não esqueça que
seu aluno também é criativo. Ofereça a ele a oportunidade de criar. Produzam juntos o material
didático que será utilizado para aprender em sala de aula. Já imaginaram o quanto os alunos
vão se sentir importantes quando eles em parceria com o professor construírem um material
didático que o professor vai problematizar em seguida na sua sala de aula para construir o
conhecimento? Os alunos vão aprender duplamente.
Acredito ainda, que diversas outras ações são importantes para uma aula de história
sensível. Esse pequeno manual apresenta apenas cinco pontos que considero fundamental
para tocar o interior de docentes e discentes para o uso das emoções em sala de aula. Não
podemos esquecer que a aula de história precisa fazer sentido para nosso aluno. Para isso,
precisamos também estar bem informados sobre o que está acontecendo na comunidade, no
estado e no mundo; precisamos ser leitores, conhecer novas histórias e culturas; precisamos
atualizar sempre nossa forma de lidar com as formas de ensinar e de usar a tecnologia em sala
de aula, especialmente num mundo digital; precisamos aprender sobre conceitos que prezam
pela vida em comunidade e pela defesa da vida. Um ensino de história sensível, precisa
sobretudo, promover a consciência de viver a e na diferença. Educação assim, irá contribuir
para que mulheres não sejam estupradas e que homens as vejam com respeito e amor. O
ensino de história sensível é uma forte arma que temos na defesa de uma vida não fascista.
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SUMÁRIO