Você está na página 1de 4

Eficácia, Eficiência, Efetividade

Abdon de Paula

Para tornarmos mais precisos os conceitos com os quais trabalhamos sobre as


palavras eficaz, eficiente e efetivo precisamos entendê-las em suas várias dimensões
dentro da sociedade. Desta forma, poderemos defender posições com algum rigor,
uma vez que estes conceitos impactam nas mensagens que transmitimos de nossos
serviços.

Dimensão Etimológica

A primeira dimensão é a etimológica, onde buscamos a origem das palavras e o seu


significado na língua.

A palavra eficaz vem do latim efficax e se refere a alguém ou alguma coisa que
produz o resultado ou efeito esperado. Alguém ou algo capaz, útil, seguro, infalível, que
realiza aquilo a que se destina ou as funções que lhe competem, sem precisar de
ajuda. Algo ou alguém competente que origina resultados.

Está associada a se produzir o trabalho definido, o escopo. Atende a questão:


“o que fazer”

A palavra eficiência vem do latim efficiens e se refere a alguém ou alguma coisa


que produz bons resultados. Algo ou alguém competente e produtivo, que origina bons
resultados, com um dispêndio mínimo de recursos.

Note-se que já em sua origem no latim ambas as palavras, de mesmo radical,


tinham em comum o resultado. Ou seja, ambas se referiam a atingir o resultado e
diferiam no fato de que a eficiência agregava algo a mais, representado pelo adjetivo
“bons”.

O termo eficiência está, assim, etimologicamente, associada a se produzir


também o trabalho definido, atendendo também a questão sobre “o que fazer”, porém
agregando um novo valor: - “fazer bem, atingir o resultado de forma melhor”. Ou seja,
agrega-se a algo de especificação sobre “o como fazer”.

Por se referirem a um mesmo atingimento de objetivo, as palavras passaram, na


língua portuguesa, a serem tratadas como sinônimos segundo o Dicionário Houaiss
(2003, p.183):

“- Eficiente, adj. 2 g. 1 que realiza bem as funções 2 que traz bons resultados
[...] Eficaz, adj. 2g. 1 eficiente 2 seguro, infalível.”

Podemos, assim, verificar que o eficaz está relacionado ao atingimento do


objetivo com muita constância ou sempre. E o eficiente, por ser sinônimo, também,
mas restou ainda, na língua portuguesa, vestígios do latim e, em geral, mesmo nos
dicionários, quando vemos o termo eficiente acrescenta-se o termo bons, para adjetivar
o substantivo plural resultados (fazer com bons resultados).

Dimensão da Ciência Física e da Engenharia

Na física, e na engenharia, não faz sentido se desenvolver uma solução


(trabalho) que não atinja resultado algum. Na realidade, chamamos de perda por atrito
aquela parcela da energia aplicada que decai, não produzindo trabalho e existe uma
busca constante para eliminar tal parcela. Os estudos são voltados para se produzir
sempre mais com menos.

Desta forma, o termo escolhido para ter um significado especial foi o termo
eficiência, onde o adjetivo plural “bons” passa a ter um significado de economicidade
de recursos. O bom resultado na física é atingido quando a economicidade é
alcançada. Menos consumo de combustível (ou energia) na realização do trabalho,
mas o trabalho já deve estar definido e garantido o atingimento dos objetivos
pretendidos.

Na engenharia, não faz sentido, por exemplo, construir-se com economicidade


um carro que não se movimenta, um avião que não voa, ou um navio que não flutua.
Fazer bem algo que não atinge o objetivo precípuo, nestas ciências, não é considerado
de adequado, nem aceitável. É pura falha!

Não tem sentido na física sequer pensar na realização do trabalho inútil. Mesmo
que não se consumisse energia alguma. Se não chegar lá, sequer é considerado como
alternativa.

Assim o termo eficaz se torna lugar comum. Em todos os estudos já se parte de


definições soluções. Ou seja, de algo que está enquadrado como solução, sendo
intrinsecamente eficaz. O que resta buscar é o resultado com alguma economicidade
de recursos, a eficiência, que é definida como a fração entre o trabalho alcançado e a
energia dispendida (para alcançar o resultado).

Dimensão do Instituto do Direito

Buscando na Teoria dos Contratos alguma explicação para diferentes usos dos
termos, observamos que é comum encontrar-se na literatura especializada de
avaliação referências a dimensões desejáveis de desempenho de organizações e
programas avaliados, que se traduzirá aqui por exigências de eficiência e de eficácia
dos programas. A eficiência denotaria competência para se produzir resultados com
dispêndio mínimo de recursos e esforços.

Uma vez mais, observamos a expressão resultados que, no caso da eficiência, é


adjetivada um pouco mais. Parte-se da ideia de que ambas, eficácia e eficiência,
atinjam resultados, ou seja, o efeito desejado e, uma vez, mais percebemos a
conotação de que, ao efeito desejado, agregasse economicidade de recursos, para o
caso da eficiência.
No instituto do Direito mencionado, eficácia é uma medida normativa do alcance dos
resultados, enquanto eficiência é uma medida normativa da utilização dos recursos
nesse processo...

Ou seja, inequivocamente, trata-se dos mesmos resultados (nesse processo).

A eficiência é uma relação entre custos e benefícios agregada ao processo. Ao


mesmo processo que já deve ser eficaz, ou estaríamos incorrendo em um paradoxo: -
usar menos recursos em processos que não atinjam resultados.

Que economicidade teríamos?

Assim, a eficiência está voltada para a melhor maneira pela qual as coisas
devem ser feitas ou executadas (métodos), a fim de que os recursos sejam aplicados
da forma mais racional possível (...) (CHIAVENATO, 1994, p. 70).

Dimensão em Administração

É na Ciência da Administração que alguma confusão adicional é criada. Alguns


autores empregam os termos com as seguintes definições:

- Eficácia - como medida do alcance dos resultados, e eficiência – como medida


normativa da utilização dos recursos.

Desta forma, restou desvinculado o processo, que deveria ser o mesmo. Criou-
se a possibilidade de utilizar bem os recursos e ao mesmo tempo não se atingir o
resultado. Puro paradoxo na lógica e na etimologia.

Restou para alguns autores, apenas o uso dos termos por definição. Abortou-se
qualquer vínculo lógico ou etimológico. Os termos são usados apenas em sua
característica adjetiva, separou os significados de eficácia, em apenas o atingimento do
objetivo e o de eficiência na sua função de fazer bem feito, divorciado de atingir sequer
o resultado planejado.

Assim, pretendem que a eficácia remeta à capacidade de alcançar as metas


definidas para uma ação ou experimento. E a eficiência indique a competência para se
produzir resultados com dispêndio mínimo de recursos e esforços, porém omitem o
atingimento das metas. Como se fosse possível fazer bem feito sem atingir o objetivo.
Desta forma, o termo eficácia, responderia a pergunta “o que fazer” e a eficiência
relacionada tão somente a “como fazer”.

Tais definições não encontram respaldo na etimologia, nem na física, menos na


engenharia e tão pouco na lógica.

Não é lógico classificar como bem feito, algo que não chega sequer aos
resultados pretendidos.

A Efetividade
A efetividade tem sua origem no Latim effectivus - “o que produz, o que tem
efeito”. Relacionada, assim, também com o termo eficaz. Na nossa língua atual, ela
agrega a capacidade de se promover resultados pretendidos. Também se confundindo
com eficaz.

Em seu uso na literatura administrativa e política ela adquiriu a conotação de


realizar a coisa certa para transformar a situação existente.

Com tal definição, observamos o emprego no conceito de que se uma


determinada organização é efetiva se está desempenhando seu papel com sucesso.
Aqui o termo fica relacionado com o conceito de fazer algo para o bem. Algo que tem
que ser feito. O que implica numa nova dimensão de análise, ou seja, há que se
especificar quem possui o poder de definir o bem para a particular sociedade. Alguém
com legitimidade social para definir o bem comum para aquela sociedade. De qualquer
forma, ressalta que a razão de fazer aparece no conceito. Responde a pergunta
“porque fazer”.

Também existe a conotação para o termo de que algo que efetivo é duradouro,
permanente. Entrando com o conceito temporal na avaliação dos resultados.

Conclusão

Em que pese o assunto das definições dos termos ser controverso, nos é licito
concluir, dentro da lógica, da etimologia, do Direito e das Ciências Físicas, um uso, um
emprego, para os termos de forma coerente sem precisar recorrer a definições
contraditórias e paradoxais. Assim acreditamos que as definições a seguir sejam
coerentes:

Eficaz – aquilo que atinja o objetivo, as metas.

Eficiente - aquilo que atinja o objetivo, as metas com alguma economicidade de


recursos. Um subconjunto especial das soluções eficazes.

Efetivo – aquilo que atinge o objetivo, as metas e tenha sido definido por alguém com
legitimidade representativa para especificar o bem de uma particular sociedade e de
resultados duradouros, até mesmo permanentes.

Você também pode gostar