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DIREITO DA FAMÍLIA.

AULA TEÓRICA – 24 DE NOVEMBRO

Filiação e responsabilidades parentais: situação, conteúdo e exercício


Os artigos 1877.º e ss. CC fixam as responsabilidades parentais. Obedecem a três regras: são

irrenunciáveis pelos pais, são imutáveis (i.e., a lei estabelece o conteúdo, a forma de exercício

e não cabe às partes – pais e filhos – a alteração deste conteúdo) e são inalienáveis (não são,

portanto, susceptíveis de serem transmitidas a outrem). Há excepções a todas estas regras.

O conteúdo das responsabilidades parentais é previsto pelo artigo 1878.º e ss. (dever

de sustento, representação, educação e administração de bens), vindo o modo de exercício

regulado nos artigos 1901.º e ss. A forma como o legislador define o exercício das

responsabilidades parentais depende da situação dos pais: existem, assim, regras especificas

para o âmbito do matrimónio, para casos de divórcio, separação judicial de pessoas e bens e

declaração de nulidade ou anulação do casamento.

O princípio que rege todas estas normas é o princípio da verdade biológica. As regras

relativas ao estabelecimento da maternidade e da paternidade têm formas diferentes de

estabelecimento: para a maternidade, a declaração de maternidade e o reconhecimento

judicial; para a paternidade, a presunção de paternidade, o reconhecimento judicial e a

perfilhação. No código encontramos ainda a averiguação oficiosa quer da maternidade, quer

da paternidade, que constitui uma forma de chegar ao estabelecimento dos vínculos.

As formas de estabelecimento da maternidade e paternidade estão reguladas pelos

artigos 1803.º e ss. O legislador distingue entre a maternidade declarada a menos e há mais

de um ano, prevista pelo artigo 1805.º, que requer a presença da mãe no acto ou a sua

confirmação posterior (aqui, o silêncio pode ter valor declarativo). O reconhecimento

judicial encontra-se nos artigos 1814.º e ss. Apenas o filho tem legitimidade activa para

intentar a acção.

O artigo 1815.º estabelece que não é admitido o registo quando resulte dessa acção a

alteração da maternidade já estabelecida – caso em que é necessária uma impugnação prévia

da maternidade. Entende-se que o artigo, protegendo a segurança jurídica não permitindo


uma intrusão na vida dos investigados, limita o direito ao conhecimento das origens. Pereira

Coelho e Guilherme de Oliveira aduzem como razões para este artigo, além da segurança

jurídica, a censura de determinados casos em que se pretende beneficiar de efeitos

sucessórios. O Prof. Jorge Duarte Pinheiro resolve o problema considerando que os efeitos

patrimoniais de um estabelecimento após o prazo não devem verificar-se, mas tão-só os

efeitos pessoais.

A impugnação judicial da maternidade vem regulada pelo artigo 1807.º: tem, neste

caso, legitimidade para intentar a acção uma pluralidade de sujeitos.

O estabelecimento da paternidade segue as três formas acima elencadas. A presunção

é a mais simples e reflecte o dever de fidelidade conjugal; esta presunção pode ser elidida,

nos casos previstos pelos artigos 1828.º e ss. O artigo 1834.º refere os casos que admitem

uma dupla presunção de paternidade. É importante frisar que se trata sempre de uma

presunção, que pode, como tal, ser afastada sempre que se prove que não corresponde à

realidade.

A perfilhação (artigos 1849.º e ss.) é a figura análoga à declaração de maternidade; é

uma declaração mista de consciência e de ciência. O carácter deste acto é pessoal e livre,

sendo as limitações legalmente estabelecidas nos termos do mesmo artigo. O artigo 1852.º

estabelece as formas que a perfilhação pode revestir. A perfilhação pode efectuar-se a todo o

tempo, incluindo em momento prévio ao nascimento. Aplica-se, portanto, a pessoas já

falecidas (1856.º) e a maiores (1857.º), sendo o assentimento necessário para produção de

efeitos.

O reconhecimento judicial vem previsto pelos artigos 1859.º e ss. Não se distingue

de forma acentuada do regime do reconhecimento judicial da maternidade, operando de

acordo com idênticos pressupostos, e para onde o legislador justamente remete. Difere,

todavia, a legitimidade activa, que pertence sempre ao filho (a mãe, se for menor, tem

legitimidade para representar o filho nesta acção sem necessitar da representação dos pais).
A averiguação oficiosa é, diferentemente, uma forma de chegar ao estabelecimento

de maternidade ou paternidade. Os artigos 1864.º e ss. regulam a averiguação da paternidade;

a averiguação da maternidade encontra-se regulada pelos artigos 1808.º e ss.

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