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MARÇO:

O que é Filosofia?
Se você quer conhecer mais sobre o mundo e abrir sua mente para várias ideias diferentes,
veja essa revisão. É conteúdo de Filosofia para o Exame Nacional do Ensino Médio!
Você já deve ter ouvido alguém utilizando a palavra Filosofia por aí, certo? Seja para retratar
a maneira com que algum doidão vive a vida (“Minha Filosofia de vida é ser vida ‘loka’.”), na
maneira com que alguém se comporta frente a certo assunto (“Fica tranquilo, aqui é
Filosofia Reggae.”) ou ainda para ressaltar algum argumento estranho (“Vish, filosofou
hein!?”).

Fato é que a Filosofia está presente no mundo há muito tempo! Há mais de dois milênios,
para ser mais exato. Mas, para esta aula não virar bagunça, vamos restringir o uso da palavra
Filosofia para algo mais específico.

Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a
invenção da palavra Filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa
pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.

O que é Filosofia?

Filosofia é, basicamente, uma maneira de enxergar o mundo. Podemos traçar sua origem lá
na Grécia Antiga, uma época de grande produção intelectual no mundo. Naquela época o
Budismo se desenvolvia na Índia, o Confucionismo e Taoísmo ascendiam na China e o
pensamento Filosófico emergia na Grécia.

Com o surgimento da Filosofia, os gregos começaram a diferenciar as visões do mundo entre


Filosofia e Mito, como o que fazemos hoje em dia entre Ciência e Religião.

Naquela época, de um lado haviam os Aedos, isto é, artistas (como uma espécie de bardo)
que cantavam as epopeias que explicavam o mundo com o auxílio de um instrumento
musical. Já do outro lado estavam os primeiros filósofos que tentavam explicar o mundo
através de métodos mais analíticos e quiçá até científicos, embora não tivessem ainda o
conceito de Ciência.

Ora, a “hype” na Grécia naquele momento era a Filosofia, uma nova maneira de tentar dar
sentido à “loucura” que é esse mundão. Então, quando os estudiosos gregos utilizavam o
termo Filosofia, eles queriam se referir ao estudo (acadêmico) de qualquer coisa.

Sendo assim, você poderia estudar qualquer “paranauê” filosoficamente na Grécia antiga.
Dessa maneira, o ato de “filosofar” poderia incluir as coisas mais aleatórias possíveis, desde
o questionamento sobre a razão da existência até uma discussão sobre pinguins terem ou
não joelhos!

Com esse povo (que não curtia muito a ideia de se barbear) surgiram as primeiras
Universidades do Ocidente: a Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles. Lá, estudava-se
Matemática, Poesia, Biologia, Politica, Ética, Estética, Astronomia e muitas outras coisas.
Alguns desses conhecimentos filosóficos acabaram ganhando seu próprio campo de estudo
devido a sua importância. Já a Filosofia passou a ser entendida mais como uma maneira de
se pensar o mundo.

Mas, se liga aí: para pensar o mundo filosoficamente, a galera achou melhor refinar a
parada. Aquela vibe de “estudo de qualquer coisa” não estava mais dando muito certo. Os
gregos passaram, então, a dividir a Filosofia em campos de estudo mais definidos.
Metafísica

A começar por aquela que vem depois da física, a Metafísica! Esse ramo da Filosofia se
ocupa da Ontologia, ou seja, em descrever os fundamentos, as leis, a estrutura fundamental
de toda a bagunça existente. Resumindo, a Metafísica se ocupa do sentido e da finalidade da
realidade como um todo. Ela ficou encarregada de perguntas como: De onde viemos? Para
onde vamos? Existe um deus? Ou seriam deuses? Ou deusas? A partir de que idade se pode
dizer que uma pessoa morreu de velhice? Para que servem os bolsos de um pijama?!

Como você pode ver, desde a antiga Grécia, compreender o mundo parece muito
trabalhoso, não acha? E não para por aí. Sócrates, um dos primeiros filósofos, disse que
quando você se pergunta sobre o mundo, você acaba se perguntando sobre si mesmo. Então
quem é você? Você possui uma alma? Há algo imortal em ti que irá sobreviver depois que
você morrer? É pergunta que não acaba mais!

Epistemologia

Poxa, como você pode conhecer tudo isso então? Aliás, é possível conhecer tudo isso? Veja
bem, a essa pergunta em especial, a Filosofia dedicou um campo de estudo inteirinho: a
Epistemologia. A Epistemologia é, basicamente, o campo de estudo que se ocupa em dizer
como nós podemos saber as respostas para todas essas perguntas.

Sendo assim, Epistemologia é literalmente, o estudo do conhecimento. Por meio dela a


Filosofia se ocupa de temas como a verdade e de como obtê-la. Por exemplo, seria a Ciência
a melhor maneira de conhecer o mundo?

Ou talvez uma abordagem mais etérea? Num exemplo prático: O que me garante que as
cores que eu enxergo são as mesmas que você enxerga?

Calma, se você já não sabe mais do que pode ter certeza, está no caminho certo para
começar a filosofar! Então não se desespere, ainda que nenhum dos campos da Filosofia
(Metafísica e Epistemologia) apresentados sejam práticos, vou te falar de um que talvez
possa fornecer uma abordagem mais concreta na sua vida.
Ética

Você já deve ter ouvido falar de Ética, aquela coisa que falta nos políticos e sobra nos
Cavaleiros Jedi. Ela é o campo da Filosofia que estuda como encontrar o melhor estilo de
vida e de convivência. Assim sendo, está diretamente ligada às decisões que você toma.

Portanto, se depois de tudo isso você ainda está se perguntando o que é a Filosofia, digo a
você que a Filosofia é a “parada” que ultrapassa as fronteiras dos outros conhecimentos. A
Filosofia nos leva a pensar sobre tudo, a questionar, a debater e até a oferecer soluções para
aquilo que nos inquieta. Então, tenha uma atitude filosófica perante o mundo, ela vai te tirar
da pequenez e te transformar em uma baita pessoa.
Exercícios:
1- (UEPB/2006) A filosofia surgiu nas colônias gregas da Magna Grécia, entre o final do
século VII e o início do século VI a.C. Várias condições históricas propiciaram o surgimento
dessa forma de conhecimento que iria influenciar decididamente o Ocidente.

Entre outras causas do surgimento da filosofia, é CORRETO apontar:

a) a invenção da arte náutica, da matemática e da astrologia.

b) a invenção da política, com o surgimento da lei como “instrumento regulador” das ações
humanas em conjunto, e a descoberta do espaço público onde o discurso mítico e
enigmático é substituído por aquele persuasivo, acessível a todo cidadão, que pôde, então,
argumentar racionalmente, sustentando sua tese contra os demais.

c) a introdução de pesos e medidas nos territórios da Grécia por parte dos orientais.

d) a invenção da lógica por Aristóteles, que definiu as regras do silogismo, tornando possível
o tratamento científico da opinião pública e abatendo a pretensão dos sofistas de manipulá-
la.

e) a Guerra do Peloponeso que aperfeiçoou as técnicas de combate naval e dos hoplitas, os


primeiros infantes, cujo status de corpo armado democrático favoreceu a busca da isonomia
e enterrou de vez a pretensão dos partidos aristocráticos.

2- (UFOP/2015) Os processos de indução e de dedução foram tratados nos Tópicos e nos


Analíticos posteriores, na Metafísica e Ética a Nicômaco.

a) Aristóteles.

b) Platão

c) Pitágoras

d) Kant

e) Cartésio

3- (UEL 2015) De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que
ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a
partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra
coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia.
Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia,
alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo
é feito?

A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que
os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra
sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas.
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995. p.43-44.

a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza


e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as
histórias contadas acerca do mundo dos deuses.

b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância


básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natureza e, a
partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas.

c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do


século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por
sua enorme capacidade de transformação.

d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o


antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular
acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas.

e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio


originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os
olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas.

Gabarito:
1- B

2- A

3- B

O senso comum e a filosofia


Vamos analisar a diferença entre o ordinário e o incomum ao falarmos do conceito de senso
comum, conteúdo presente no Enem. Prepare-se com a gente!
A filosofia é frequentemente antagonizada por vários argumentos. Tem quem diga que a
religião é seu antônimo, quem ache que ela é oposta a mitologia, já ouvi até mesmo dizerem
que filosofia e ciência não se misturam. No entanto, talvez a mais corriqueira dessas
comparações seja entre a filosofia e o senso comum.

O que é senso comum?

Mas, o que é senso comum? Podemos defini-lo como um modo genérico que a maior parte
das pessoas utiliza para ponderar as coisas – daí a ideia de comum – que acontecem em seus
respectivos cotidianos. Valendo-se de noções muitas vezes rústicas e superficiais, o senso
comum é o conhecimento que adquirimos ao observar e experimentar esse mundão em que
vivemos.
Tem um outro campo de conhecimento que também se apoia na experiência para entender
o mundo, a ciência. Chamamos isso de empirismo. Aliás, empirismo é uma “parada” bem
comum na Filosofia.

Ora, então o que difere então o senso comum da ciência ou da filosofia? É a questão
do método. O senso comum acumula conhecimento através da vivência das pessoas, sendo
o conhecimento passado entre as gerações. Já a ciência utiliza algo chamado método
científico.

O senso comum e a filosofia

Note que o senso comum também não pode ser filosofia, pois ele é composto por um
conhecimento não refletido, isto é, livre de um senso crítico. E, se você já entende bem
sobre o que é filosofia, sabe que ela está fortemente baseada na ideia de reflexão crítica
acerca do mundo.

Dessa maneira, os filósofos acabam utilizando o termo senso comum para procurar explicar
as interpretações que a galera tem sobre a realidade à sua volta. Ele serve, principalmente,
para orientar as pessoas e não as deixar malograr como no passado.

Com o fim da filosofia do renascimento, o senso comum, enquanto fonte válida de


conhecimento, entrou em declínio. Lá nos meados do século VII, a filosofia racionalista
começou a ganhar muito destaque. Nesse âmbito, uma obra corroborou enormemente com
o declínio do senso comum, o Discurso do Método de René Descartes.

Concomitantemente, a ciência e seus métodos científicos também ganharam bastante


espaço no campo do conhecimento. Essas novas abordagens fizeram com que o senso
comum parecesse algo arcaico e caracterizado como carente de rigor metodológico.

Por que é importante separar senso comum de filosofia?


A importância dessa distinção vem de uma época há muito passada, quando as pessoas
acreditavam nas coisas sem uma base argumentativa e racional sólida. Isso gerou, por
exemplo, uma crença em diversos deuses e outros engôdos que foram se proliferando
geração após geração.

Imagine que na Antiguidade, ou até mesmo antes disso, as explicações de mundo careciam
de metodologias ou quaisquer tipos de formalização do pensamento. Assim, afirmar algo
como verdadeiro era demasiadamente simples. Grandes oradores possivelmente se dariam
muito bem, bastando-lhes apenas o carisma para edificar o conhecimento!

É fácil entender como as explicações de mundo de outrora, apesar de simples e muitas vezes
equivocadas, ganharam tanto respaldo. Ao que parece, nós temos a tendência de colocar a
vida no piloto automático depois de um tempo.

A gente fica tão exausto de nossas rotinas de trabalho, estudo, e outras atividades que acaba
não ponderando sobre vários acontecimentos à nossa volta. Afinal, tudo está funcionando,
está tudo tão rotineiro, não há uma necessidade emergente de mudança.
A importância da reflexão

Mas olha só, conforme o tempo vai passando e a barba vai crescendo, algumas situações
tendem a mudar. Isso porque as pessoas acabam, ocasionalmente, se chocando com a
realidade. Isto é, há um espanto que tende a acontecer ao nos confrontarmos com algo que
rompa com a normalidade das nossas vidas, algo que geralmente quebra nossa rotina.

Assim, num dia qualquer, começou a nascer a necessidade de um outro olhar sobre a
realidade. Fenômenos antes facilmente explicáveis tendem a não se encaixar mais nos
moldes das nossas explicações, abrindo caminho então para novas possibilidades de
explicação. Aqui, então, podemos pontuar a cisão do que era senso comum para algo novo,
incomum. Cara, e a Filosofia é bem isso aí, o incomum.

Analisada pelo viés da filosofia, essa cisão pode ser encarada como a revolução que pôs fim
ao mito, originando a própria Filosofia. Assim sendo, nós, pessoas ordinárias, acabamos por
sair do piloto automático e, desestabilizados, procuramos edificar novas bases para
solidificar a realidade à nossa volta. Isso porque a normalidade passa a nos incomodar e a
quebra de rotina nos causa angustia.

Os perigos do senso comum


Dentre os vários tipos de informação que vem do senso comum e circulam em nosso
cotidiano, algumas são tão absurdas que demoramos a acreditar que há quem as considere
verdadeiras. Essas informações, em sua maioria, são consideradas superstições. Por
exemplo: gato preto dá azar, cortar o cabelo na lua crescente para crescer mais rápido, e o
número 13 dá sorte ou azar.

Todavia, existem aquelas que insistem em assumir-se como algo além das superstições e
tendem a galgar um status de conhecimento legitimo. Um exemplo muito bom disso é a
crescente ascensão dos autointitulados “coachs”, principalmente, daqueles com discursos
quânticos e outras trends que flutuam no mainstream da internet.

A maioria dessas informações apresentadas por essa galera não possuem nenhum tipo de
embasamento filosófico, quiçá científico, e se mascara como se fosse filosofia ou ciência.
Mas, não se engane, é a boa e velha charlatanice em uma nova roupagem, mas ainda
movida pelo que os romanos chamavam de auri sacra fames, a fome de dinheiro!

Informações falsas

Talvez hoje a maior preocupação em relação à não reflexão da realidade à nossa volta seja o
fenômeno mundial chamado fake news. Nada define tão bem o malogro do senso comum na
atualidade como a desinformação que tomou conta das redes sociais.

A não reflexão e a fácil aceitação dos discursos carismáticos que dialogam com o sujeito
comum tem gerado um nível alarmante de pessoas alheias à realidade. Elas vão de
analfabetos políticos a terraplanistas que teimam em serem detentores da verdade, mesmo
sem um método ou qualquer rigor nos discursos.

Por fim, embora dotado de uma utilidade prática e carregado de conhecimentos válidos a
respeito do mundo, o senso comum, enquanto forma de conhecimento do mundo, pode ter
desdobramentos nefastos. Isso porque diferente da filosofia e da ciência, não lhe é
necessário qualquer crivo metodológico para afirmar algo. Por conta disso tudo, o senso
comum passou a não satisfazer mais a galera. Carecíamos de descobrir outra maneira de
abordar os problemas causados pela realidade e então fomos levados a refletir.

Exercícios:

1- FGV – 2013
Analise os fragmentos a seguir.
Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou recusamos coisas,
pessoas, situações (??). [Achamos] óbvio que todos os seres humanos seguem regras e
normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos (?).

(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1999, p. 9, 111)

O que se costuma solicitar à Filosofia é que ilumine o sentido teórico e prático daquilo que
pensamos e fazemos, (?) que nos diga alguma coisa sobre nós mesmos, que nos ajude a
compreender como, por que, para quem, por quem, contra quem ou contra o que as
ideias e e os valores forram elaborados e o que fazer deles.

(CHAUÍ, Marilena. A Reforma do ensino. Refazendo a Memória. 1987, p. 1559.)

Com base nos fragmentos acima, assinale a alternativa que distingue corretamente o ”
filosofar” espontâneo, próprio do senso comum, do ” filosofar” propriamente dito.

a) A filosofia e o senso comum consideram o conhecimento como crença verdadeira


justificada.

b) A filosofia é uma experiência do pensamento que supera os limites da experiência


imediata.

c) A filosofia e o senso comum são sistemas teóricos que demonstram o que é a realidade ou
o mundo.

d) O senso comum estabelece juízos e raciocínios a respeito do mundo que têm validade
necessária e universal.

e) A filosofia e o senso comum produzem inferências que desnaturalizam a realidade.

2- Unicamp 2017
“Muitos políticos veem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e
funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam de
uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais
vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. ”

Karl Jaspers, Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1976, p.140.

Assinale a alternativa correta.

a) O filósofo lembra que a filosofia tem um potencial crítico que pode desagradar a políticos,
poderosos e ao senso comum, tal como ocorreu na Grécia em relação a Sócrates.
b) A filosofia precisa ser entediante para estimular o pensamento crítico, rigoroso e formar
pessoas sensatas, a partir do ensino de lógica, retórica e ética.

c) A ditadura militar no Brasil retirou a disciplina de filosofia das escolas por considerá-la
subversiva, mas atenuou a medida estimulando os Centros Populares de Cultura (CPC),
ligados a entidades estudantis.

d) Os políticos e a estrutura escolar não são o verdadeiro obstáculo ao ensino de filosofia,


mas a concepção de que ela é difícil e tediosa, considerando-se que existem mecanismos
para aproximá-la do senso comum.

3- Enem PPL 2012


Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer justificá-las racionalmente,
pode-se desprezar as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles,
nenhum homem honesto pode ignorar que uma outra atitude intelectual foi experimentada,
a de adotar crenças com base em razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de
descobrir seu sentido último.

ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002.

Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do pensamento Ocidental. No


texto, é ressaltado importante aspecto filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais,
refere-se à

a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade.

b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas.

c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade.

d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade.

e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente.

GABARITO

1- B

2- D

3- E

O que a Filosofia estuda


O que a Filosofia estuda é uma questão que causa muita curiosidade. Vem pra essa aula
entender o que metafísica, política, ética, estética e outros problemas abordados pela
disciplina!
Os problemas da Filosofia
Se você acha que tem problemas, não imagina quantos problemas tem a Filosofia! Inclusive,
essa problemática disciplina gosta de compartilhar suas aflições nas provas do Enem. Para
não ser pego surpresa, chega mais e vem compreender o que a Filosofia estuda.

Desde que a Filosofia surgiu no século VI a.C. até o presente, muita coisa despertou a
atenção dos filósofos. Mas, dentre um emaranhado de temas, algumas problemáticas
tendem a se destacar, como veremos ao longo desta aula de Filosofia para o Enem.

O filósofo, enquanto sujeito pensante, é uma pessoa questionadora cheia de perguntas


sobre o mundo que o cerca. Mas, provavelmente, a questão mais importante para quem
estuda Filosofia seja: “o que é isto?” Essa simples pergunta, que pode até parecer um tanto
tola, foi o que deu origem a importantes descobertas da humanidade. Perguntar o que é
algo é problematizar esse algo. Os filósofos se questionavam tanto que se perguntam até
mesmo o que é a própria Filosofia!

Mas, antes de continuarmos falando dos principais problemas que preocupam os filósofos,
talvez se faça necessária uma rápida inflexão para entender o que exatamente a Filosofia
estuda.

O que a Filosofia estuda?

Nos primórdios da civilização ocidental, surgiu lá na Grécia essa tal de Filosofia, cujo foco era
desvendar os mistérios do mundo. Através da Filosofia, os primeiros filósofos tentavam
desvincular a mitologia da razão.

Sendo assim, a Filosofia surge como uma linha de pensamento que busca compreender o
mundo. Ora, os problemas mundanos são parte desse mundo. Logo, todo problema
mundano pode, essencialmente, ser um problema filosófico. Contudo, reserva-se à Filosofia
os problemas mais requintados.

Metafísica
Lá no século VI a.C., a principal preocupação dos estudos filosóficos dizia respeito à
cosmologia. Essa área da Filosofia se interessava principalmente em estudar o que é o
universo, preocupando-se com a sua origem e com sua evolução.

Aqueles a quem hoje chamamos de primeiros filósofos eram fissurados em descobrir a


essência do nosso universo. Eles se perguntavam: do que é feito esse mundo em que
vivemos? E as propostas deles para explicar o mundo iam desde as mais rudimentares, como
os elementos (água, ar, fogo, etc) até as mais sofisticadas. Um exemplo é a elaboração dos
filósofos Leucipo e Demócrito. Há aproximadamente 2400 anos, eles disseram que tudo é
feito de umas partículas indivisíveis, chamadas átomos.

Esses caras, a quem chamamos de pré-socráticos, tentaram durante um bom tempo resolver
os problemas da cosmologia. Assim, na medida do possível, tudo ia bem na Grécia. Até
chegar um tal de Sócrates. Com esse grande filósofo, as perguntas (e as respostas) mudaram
de foco.
Da cosmologia à ontologia
Nos diálogos platônicos, é possível ver Sócrates utilizar o método maiêutico para buscar
respostas dos problemas que assolavam a vida dos cidadãos da polis. Nesse momento,
começou, ainda que lentamente, uma troca do foco das investigações filosóficas. A
cosmologia passou ser, aos poucos, deixada de lado em detrimento a ontologia.

Entendemos por ontologia a parte da Filosofia que estuda as propriedades mais gerais do
ser. Isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum, que é inerente a todos e a
cada um dos seres objetos de seu estudo.

Essas duas áreas fundadoras da filosofia são parte de uma macro área que conhecemos
como metafísica. Podemos entende-la como a parte da filosofia que se ocupa em investigar
a natureza fundamental das coisas, seja o ser (ontologia) ou o Universo (cosmologia).

Apesar de essas serem as raízes da Filosofia na antiguidade, nem só de metafísica vive a


Filosofia. Nomes como Platão e Aristóteles ficaram famosos também pelos seus escritos
sobre política, estética, ética, teoria do conhecimento e muitos mais. Mas, vamos focar no
primeiro da lista.

Dos problemas políticos da polis ao problema dos políticos


É isso aí, camarada! Os problemas envolvendo política já eram algo presente na antiguidade.
Tanto é que o radical da palavra política vem de polis. Ou seja, a palavra política é derivada
da palavra grega politeia, que indicava todos os procedimentos relativos à polis, ou cidade-
Estado grega.

Platão, por exemplo, em sua obra “A República” escreveu sobre a sociedade ideal. Para
Platão, na cidade ideal os filósofos seriam os governantes e as pessoas seriam valorizadas
pelas suas competências, livres de preconceitos sexuais ou raciais.

Sendo assim, desde Platão e sua proposta política, os filósofos vêm estudando essa área tão
complexa. De lá para cá, muito mudou. Abolimos a escravidão, criamos o sufrágio universal ,
campos de concentração foram erguidos e depois caíram, ditadores tombaram e outros
tomaram seus lugares. Tudo isso tem sido estudado pela Filosofia. E seus arautos, os
filósofos, tentam incessantemente achar uma maneira para que algumas das atrocidades do
passado causadas pela política não se repitam.

A política e a educação

Peguemos como exemplo disso o filosofo Theodor Adorno. Esse filósofo escreveu um texto
fantástico chamado “Educação após Auschwitz” em que ele denuncia como a formação de
pessoas com grande capacitação técnica e quase nenhuma formação humana é danosa à
sociedade.

Esse problema investigado a fundo por ele fica claro numa passagem na qual um engenheiro
constrói uma estrada de ferro. Esse maravilhoso projeto da engenharia auxilia os militares
nazistas a transportar com máxima eficiência os vagões.

Todavia, o engenheiro esquece, ou talvez se faz esquecer, que nestes vagões estão sendo
transportados milhares de judeus que seriam torturados em campos de concentração
(também projetados por engenheiros) e viveriam nesses campos em condições sub-
humanas até que fossem exterminados em um processo super eficiente (do ponto de vista
técnico) nas câmaras de gás.

Com esse exemplo, espero que você tenha percebido que os problemas políticos são parte
importante das investigações filosóficas. Entretanto, é muito fácil notar como em nosso
cotidiano muitas vezes todo esse conhecimento é simplesmente ignorado e acabamos por
cometer os mesmos erros do passado, de novo e de novo.

Ética
Na tangente da política, outra problemática filosófica de grande importância é a ética.
Também de origem grega (novidade, né?) ela surgiu inicialmente em uma obra chamada
“Ética a Nicomaco”, escrita pelo grande filosofo Aristóteles.

Os problemas abordados pela ética talvez sejam os mais próximos ao nosso cotidiano. Isso
porque ela lida com as relações entre as pessoas, refletindo acerca de quão viável, válida ou
justa determinada ação foi, é ou será.

Para além do bem e do mal, a ética busca uma reflexão racional acerca dos problemas que
que nos assolam de forma a resolvê-los – dentro de um conjunto de valores – da maneira
mais justa possível.

Kant e a ética

São vários os problemas que se tornaram famosos a partir das reflexões dos filósofos sobre o
tema. Temos por exemplo o filósofo Immanuel Kant com o problema da mentira. Segundo
Kant, a mentira, qualquer que seja a sua motivação, nunca seria algo que serviria à ética.
Através do chamado imperativo categórico, ele explica que jamais devemos mentir e nos dá
bons argumentos do porquê.

Mas daí, para tacar lenha na fogueira, digo para ilustrar melhor, um tal político francês
Benjamin Constant (1767-1830) propôs mais ou menos o seguinte: imagine que um
assassino vai na sua casa e educadamente bate na porta. Você está amedrontado e ouve sua
mãe indo atender a porta, então o assassino pergunta se você está em casa. O que sua mãe
deveria responder?

Segundo Kant, sua mãe deveria dizer a pessoa que atende a porta a verdade, pois jamais a
mentira seria algo bom. Entretanto, o imperativo categórico não priva nenhuma pessoa de
mentir, basta deixar claro que essa não foi uma ação moral.

Essas “tretas” polêmicas, tipo aquela do avião que foi abatido em 11 de setembro durante os
atentados terroristas que derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center, são a praia
da ética. Aliás, é bem fácil achar problemas éticos em nosso cotidiano citando alguns temas
como: aborto, Estado laico, eutanásia, legalização de entorpecentes e muitos mais.

A arte do belo
Para além das polêmicas da ética está a estética, um ramo da Filosofia que tem por objetivo
o estudo da natureza, da beleza e dos fundamentos da arte. Há muito tempo os filósofos se
dedicam a teorizar sobre a arte, embora, entender a beleza seja algo bastante complexo
dado a subjetividade de certos conceitos. Analisar os problemas da estética produziu uma
vastidão de conhecimento sobre o assunto.

Depois dos gregos, muitos foram os filósofos que se preocuparam com os problemas da
estética – que aqui não tem nada a ver com manicures ou cabeleireiros – como Santo
Agostinho e sua visão de inspiração aristotélica, Immanuel Kant com sua “Crítica da
Faculdade do Juízo”, além de muitos outros nomes como Hegel, Baudelaire e Nietzsche.

Teoria do conhecimento
Agora, por trás de tudo isso que acabamos de ver, existe mais uma problemática famigerada
na Filosofia, a teoria do conhecimento. Em geral, quase todos os filósofos que alcançaram
grande destaque perante a academia têm algo a dizer sobre essa área.

Ela engloba os demais problemas que vimos até agora, já que essa parte da Filosofia se
pergunta acerca do que podemos conhecer. Isto é, quais são os limites do nosso
conhecimento e como posso saber se este conhecimento está correto?

Para entender melhor, vamos tomar como exemplo o azul do céu de uma linda manhã
ensolarada a beira-mar. O que me garante que o azul que eu enxergo é o mesmo azul que
você enxerga? Sendo esse azul uma convenção e não o azul em si, eu posso realmente
chamá-lo assim se tampouco é a cor que eu enxergo?

Bem, acho que você já percebeu que são muitos os assuntos que a Filosofia estuda, não é?

Exercícios sobre o que a Filosofia estuda:


1- (Enem/2017)
Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem
que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer
firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem
ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever
livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação
seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo,
embora saiba que tal nunca sucederá.

KANT, l. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo. Abril Cultural, 1980

De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto

a) Assegura que a ação seja aceita por todos a partir livre discussão participativa.

b) Garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra.

c) Opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.

d) Materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios.

e) Permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas.
2- (Enem/2016)
Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola
que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao
contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as
preocupações.

SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a
qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à

a) a consagração de relacionamentos afetivos.

b) administração da independência interior.

c) fugacidade do conhecimento empírico.

d) liberdade de expressão religiosa.

e) busca de prazeres efêmeros.

3- (Enem/2017)
Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o
mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo
bem. Mas não terá o conhecimento grande influência sobre essa vida? Se assim é
esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual
das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo
pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra.

Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciências que
devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que
ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia
e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro
lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência
deve abranger as duas outras, de modo que essa finalidade será o bem humano.

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991 (adaptado)

Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe que

a) O bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses.

b) O sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade.

c) A política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade.

d) A educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente.

e) A democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum.


4- (Enem/2012)
TEXTO I

Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar
inteiramente em quem já nos enganou uma vez.

DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

TEXTO II

Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem
nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta
ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para
confirmar nossa suspeita.

HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).

Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A


comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume

a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.

b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica


e crítica.

c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.

d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.

e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do


conhecimento.

5- (Enem/2012)
TEXTO I

Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e
existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-
se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar
por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais
condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível,
transforma-se em pedras.

BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).

TEXTO II

Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no
princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face
desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se
origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como
julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de
aranha.”

GILSON, E.: BOEHNER, P. Historia da Filosofia Crista. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).

Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do
universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo,
e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que

a) eram baseadas nas ciências da natureza.

b) refutavam as teorias de filósofos da religião.

c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.

d) postulavam um princípio originário para o mundo.

e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.

Gabarito

1. C
2. B
3. C
4. E
5. D.

O ceticismo filosófico e a vida comum


Você é daqueles que desconfia de tudo? Só acredita nas coisas vendo? O ceticismo é a
corrente filosófica favorita dos desconfiados, chega mais e vamos entender um pouco desse
conteúdo do Enem!
O ceticismo é uma das escolas da filosofia que datam da Antiguidade, da mesma maneira
que o estoicismo, o epicurismo, o hedonismo, etc. No entanto, pouca coisa daquilo foi
escrito pelos céticos antigos sobreviveu à passagem do tempo.

Pirro de Élis

Lá na Grécia, berço da filosofia, há muito tempo atrás, um cara chamado Pirro foi o
responsável pela criação da escola cética. Pirro era um cara comum que tentou se tornar
pintor. Entretanto, não obteve muito sucesso nessa empreitada. Decidiu, então, se juntar a
uma expedição organizada por Alexandre, o grande, aquele que se tornou o soberano do
império Macedônio e ajudou a difundir a cultura helênica pelo mundo.
Conta-se que nessa expedição, Pirro conheceu diversos sábios da Pérsia e também da Índia,
absorvendo muito de seu conhecimento. A partir desse choque de culturas, o fundador do
ceticismo cresceu muito como filósofo e passou a dedicar-se com afinco à filosofia.

Retornando à Grécia, Pirro fundou o que veio a ser conhecido como ceticismo. Podemos
caracterizar essa escola principalmente pela sua obstinada recusa aos dogmas, isto é, os
céticos (filósofos da escola de Pirro) eram contrários a qualquer doutrina de caráter
indiscutível.

Fundamentos do ceticismo

Existem algumas ideias que fundamentam a filosofia dos céticos, a começar pela
impossibilidade de conhecermos a natureza do mundo a nossa volta. Essa incapacidade foi
chamada de acatalepsia. A palavra nasce da oposição ao pensamento de outra escola da
época, os estoicos, que afirmavam ser possível compreender o mundo a nosso redor, o que
chamaram de catalepsia.

Ademais, era de extrema importância para os céticos manter uma suspensão dos juízos. Isto
é, se existem diversas afirmações acerca do mundo, nenhuma delas é passível de ser
conhecida em sua real natureza. Logo, nenhuma delas é melhor que a outra. Assim sendo,
aos céticos é fundamental essa despreocupação acerca do mundo, algo que foi chamado
de ataraxia, conceito comum também aos estoicos e epicuristas.

Bom, então nossa impossibilidade de conhecer esse mundão que nos cerca deve, segundo os
céticos, nos levar a uma vida mais despreocupada. Está aí um bom argumento para a gente
“ficar de boas”, não é? Afinal, debater sobre o mundo é debater sobre coisas imaginárias, já
que não podemos conhecer realmente a natureza dessas coisas. Mas como “ficar de boa”
não faz ninguém gabaritar o Enem, vamos seguir com a nossa aula.

O ceticismo no cotidiano
Talvez o mais importante legado do ceticismo para nossa vida cotidiana seja o
antidogmatismo, ou seja, não aceitar o mundo como algo cheio de verdades absolutas
incontestáveis.

O dogma é uma parada fundamentada na nossa aceitação da verdade, sem qualquer tipo de
questionamento sobre a sua veracidade. Um argumento dogmático deve ser tido como
verdade absoluta. Assim sendo, fica evidente a antítese do ceticismo ao dogmatismo.

Trazendo isso para nosso cotidiano, o ceticismo nos desperta do sono dogmático, assim
como foi com Kant, e nos dá uma nova alternativa para enxergar o mundo. Você pode não
ser um cético, mas mesmo assim adotar uma postura cética em relação as adversidades da
vida.

Problemas complexos tais como legalização de entorpecentes, a dissolução da polícia ou


mesmo a laicidade do Estado, devem ser analisados com um olhar mais cético. Dessa
maneira, nos livramos dos preconceitos tolos e dos dogmas que aprisionam nosso intelecto.

Aliás, o preconceito é algo inadmissível do ponto de vista cético. Observe que o prefixo da
palavra advém de uma concepção prévia de algo. Ou seja, antes mesmo de conhecer algo,
você já emite um juízo acerca dele.
Essas ideias absurdas, como racismo, xenofobia, homofobia e o machismo – para citar só
alguns dos vários preconceitos existentes – são fundamentadas em dogmas que não fazem,
do ponto de vista racional, sentido algum. Daí a importância dessa postura cética, não
aceitar esses absurdos só porque dizem conhecer a real natureza deles. Além do que, muitas
das origens dessas besteiras se perderam num passado remoto.

Exercícios:

1- A palavra “ceticismo” ou “cético” possui muitos significados. Quando falamos do


ceticismo antigo, o qual das alternativas abaixo define mais corretamente seu pensamento?

a) Não acreditar em nada que não possa ser observado.

b) Negar a existência de deus e outros seres sobrenaturais.

c) Suspender o juízo sobre todas as crenças.

d) Defender que somente os deuses conhecem a verdade.

2- Entre os filósofos abaixo, qual pode seguramente ser considerado um cético?

a) Platão.

b) Aristóteles.

c) Kant.

d) Pirro.

3- Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma
maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a
lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta
doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando
tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.

LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.

O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:

a) Desprezar qualquer convenção e obrigação social.

b) Atingir o verdadeiro prazer como princípio de uma vida feliz.

c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.

c) Aceitar o determinismo e ocupar-se com as verdades absolutas.

Gabarito

1- C
2- D

3- C

Do Mito e da Filosofia
Ah! O Mito. Favorito dos roteiristas de Hollywood, das crianças e das perguntas do ENEM.
Mas afinal, de onde se originou? Como nasceu? Qual é a sua função?

Para falarmos sobre o Mito na Filosofia preciso que você me acompanhe numa jornada pela
história. Vamos voltar alguns anos no tempo até um período que chamamos de antiguidade.
Foi lá onde nasceu a concepção de Mito (e os 114 filhos de Zeus!). Aprenda mais sobre a
influência da mitologia na Filosofia com esta aula para o Enem!

Você já deve ter ouvido falar de mitologia grega, certo? Ela é umas das formas de expressão
do Mito. Nessa Grécia de outrora, as pessoas se encontravam num mundo que carecia de
explicações. Bom, como não havia um Curso feito o nosso para clarificar as ideias, os gregos
buscavam explicações em fontes alternativas. As mais populares das fontes eram as histórias
e as canções que contavam de maneira fantasiosa como funcionava o mundo.

Foram essas histórias que primeiro chamamos de mitologia, isto é, um conjunto de mitos
que explicavam o mundo. Assim sendo, desde aquela época, o Mito é uma narrativa sobre a
origem ou forma de alguma coisa.

No começo, a transmissão dessa mitologia acontecia de maneira oral, geração após geração.
Mas, com o passar do tempo, passou a se dar pela escrita. Ainda hoje há diversos
fragmentos dessas histórias a serem estudados.

Como você pode ver, o conhecimento de mundo se dava a partir dessas histórias. Mas,
talvez você esteja se perguntando: quem contava essas histórias? Na Antiga Grécia existiam
uns “malucos” que saiam caminhando pelas estradas, cantando sobre o mundo.

Estes eram os chamados Aedos, que na antiguidade transmitiam o conhecimento sobre a


origem do mundo, dos homens, dos animais, do bem e do mal, das doenças, da morte e
tudo mais. Loucura, né?

O mais famoso deles, Homero, narrou a história da guerra de Troia, bem como a jornada
épica de Odisseu, que tentou voltar para casa após a guerra, mas sofreu a fúria dos deuses.
Ah! Falando em deuses, eles são outro aspecto importante dos mitos.

Para dar mais credibilidade às histórias, adicionou-se à elas um caráter divino (ou você
acreditaria numa boa na existência de um animal meio leão, meio bode e meio serpente que
ainda por cima soltava fogo pelas ventas?). O nosso contador de história (Aedo) então se
utilizava de uma garantia divina para atribuir ao Mito o caráter de incontestabilidade, pois os
deuses eram (e ainda são) inquestionáveis.

Ora, o Mito nasce com a finalidade de ajudar a humanidade a se livrar das dúvidas e das
incertezas da sua existência. Nesse sentido, nada é mais aconchegante do que uma boa e
velha explicação fantasiosa sobre o mundo.
Dessas que nos fazem sentir alheios aos acontecimentos a nossa volta, retirando de nós o
peso da responsabilidade e a ansiedade e o desespero da existência. Em todo caso, foi assim
que, dentre cavalos carnívoros, mulheres com cauda de serpente e homens chifrudos
(literalmente) a Grécia prosperou.

Mas como nada é perfeito, veio um sujeito reclamar. Depois de anos acreditando em Sátiros,
Harpias, Centauros e Górgonas, surge na Grécia uma galera que passa a desconfiar dessas
explicações. Em especial, um camarada chamado Tales de Mileto. Ele deu início a toda uma
geração de pensadores que passou a desconfiar da existência dos próprios deuses!

Foi assim que a partir do século VI a.C. com a orientação de Tales e de outros filósofos, o
Mito passa a ser combatido pela mais nova invenção da época. Aquilo que fez Sócrates
morrer, Aristóteles caminhar e Diógenes morar num barril: a Filosofia!

O Mito e a Filosofia possuem essencialmente a mesma finalidade: explicar o mundo a nossa


volta. Todavia, a maneira como o fazem diverge. Logo, é possível notarmos um certo
antagonismo entre os dois.

Enquanto a Filosofia se baseia na razão e na observação do mundo para produzir enunciados


possivelmente verdadeiros. O Mito produz explicações baseado em uma narrativa fantasiosa
que tem seu respaldo nos deuses, tornando-o assim incontestável.

MITO FILOSOFIA
Inquestionável Questionável
Sobrenatural Real
Incoerente Racional
Ilógico Lógico
Suposição Verdade

Entretanto, se por algum motivo um Mito é rebatido, a gente encara aquela “parada”
chamada tabu, ou seja, uma espécie de proibição por conta da violação da pressuposta
“norma”. Inclusive, teve um cara que curtiu bastante essa ideia em uma época mais recente,
um tal de Comte. Esse cara aí contestou o pensamento mítico quando atribuiu à ciência o
único modo para de chegar à verdade.

Mas, não precisamos avançar tanto no tempo. A transição entre o pensamento mítico e o
pensamento racional progrediu ainda na Grécia. Houve uma certa polarização à medida que
a população ia se aproximando da Filosofia e se distanciando do Mito. Inclusive, foi nesse
cenário que Sócrates foi acusado de corromper a juventude com a sua Filosofia pois negava
os deuses e combatia o Mito.

Sócrates tentava despertar as pessoas para realidade, tal como fez Morpheus em Matrix, ele
mostrava aos habitantes de Atenas as portas para a verdade (a Filosofia). Contudo, não são
todas as pessoas que querem sair do aconchego das explicações fantasiosas pois a
alternativa ao Mito (a Filosofia) é amarga e cobra um preço alto, de maneira que nem todos
estão dispostos a pagar.
Com o passar do tempo, o Mito se configurou como inimigo da Filosofia. Todavia, as pessoas
que, dotadas de razão, deveriam combater o Mito acabaram por fazer parte de sua
propagação. Isso porque a maioria dessas pessoas não está pronta para despertar da ilusão
criada pelo Mito. Aliás, muitas estão tão inertes e dependentes do Mito que irão lutar para
protegê-lo.

Então se liga aí! Para que fique bem claro as diferenças entre Mito e Filosofia, vou fazer um
breve resumo: O Mito explicava as paradas através das “tretas” ou alianças entre deuses e
outros “paranauês” sobrenaturais. Já a Filosofia, explica tudo baseado em causas naturais,
que podem ser observadas ou racionalmente deduzidas.

O Mito falava que as coisas tiveram origem em um passado imemorial, se usando disso para
criar todo um conto de fadas de como as coisas eram antes de serem como são. Já a Filosofia
quer dar o papo reto, explicando o como e o porquê das coisas do mundo, sejam elas no
passado, no presente e no futuro.

Enfim, embora a mitologia grega não passe de uma fonte de inspiração para livros
adolescentes, heróis e heroínas da moda e filmes de Hollywood. O Mito como forma de
interpretação de mundo ainda se faz presente no cotidiano do século XXI. Cabe a Filosofia
continuar sendo a porta para livrar as pessoas dessa falácia. Entretanto, a Filosofia é só a
porta. Cabe a você abri-la e explorar esse mundão!

Questão 01 – (UEG GO/2014)    

A filosofia surge na Grécia aproximadamente no século VII a.C. e procura formular questões
e respondê-las apenas com auxílio da razão, voltando-se contra o mito, os preconceitos e o
senso comum. Nessa busca pelo conhecimento do mundo e do homem, ela se constitui, em
sua origem, como uma cosmologia racional de tendência monista. Isso significa que a
filosofia surge

a) como um conhecimento alimentado pela codificação mítica e procura elucidar os


mistérios dos tempos primordiais por meio de uma verdade revelada.

b) propondo uma concepção racional da ordem cósmica e buscando um princípio único


originário.

c) como diálogo da razão com ela mesma, não se interessando inicialmente por questões
referentes ao cosmo, sendo sua preocupação primordial o mundo humano.

d) reforçando o testemunho dos sentidos; portanto, afirma a multiplicidade e a


transitoriedade de todos as coisas.

Questão 02 – (Fac. Cultura Inglesa SP/2014)    

Os gregos possuíam um vasto repertório de histórias míticas. O mito permitia aos gregos da
época arcaica apreender e conhecer seu passado histórico. Mas o mito não estendia seu
controle sobre tudo. Os gregos estavam, cada vez mais, em presença de explicações e de
justificações divergentes, até mesmo inconciliáveis, mas coexistentes: umas eram míticas,
outras não. A partir do século VI a.C., alguns exprimiram sua dúvida e seu ceticismo; eles não
foram, entretanto, numerosos, pois a maior parte das pessoas não “estudava” os mitos,
contentando-se, simplesmente, em repeti-los.

(Moses Finley. Os primeiros tempos da Grécia, 1980. Adaptado.)

O excerto, que faz uma síntese significativa da cultura do final do período arcaico da história
grega, alude ao surgimento

a) de direitos políticos concedidos à maioria do povo pela democracia grega, com a exclusão
dos militares.

b) do ateísmo e da incredulidade na Grécia Antiga, que abarcaram o conjunto do mundo


grego.

c) de críticas às interpretações tradicionais, que se mantiveram restritas a um pequeno


número de indivíduos.

d) da noção de beleza ideal nas artes gregas, elaborada pelas filosofias platônicas e
aristotélicas.

e) da união política das cidades gregas, que foi sustentada por fundamentos filosóficos e
crenças religiosas comuns.

Questão 03 – (UESPI/2009)     

A filosofia grega contribuiu para articular o pensamento ocidental durante séculos. O


pensamento dos filósofos gregos já tinha destaque com o surgimento da Escola de Mileto,
que:

a) seguiu um idealismo filosófico bastante abstrato, reforçando princípios míticos e religiosos


da época.

b) buscava explicar o mundo, usando idéias vindas das religiões mesopotâmicas, nas quais
predominava a astrologia.

c) procurava entender as origens das coisas e do cosmos, não reafirmando as crenças míticas
da época.

d) conseguiu, assemelhando-se ao idealismo platônico, influenciar toda a filosofia do mundo


ocidental.

e) criticou as explicações racionalistas do universo, assegurando a força religiosa dos mitos e


dos sacerdotes.

Questão 04 – (PUC SP/2007)     

“No caso da Grécia, a evolução intelectual que vai de Hesíodo [séc. VIII a.C.] a Aristóteles
[séc. IV a.C.] pareceu-nos seguir, no essencial, duas orientações: em primeiro lugar,
estabelece-se uma distinção clara entre o mundo da natureza, o mundo humano, o mundo
das forças sagradas, sempre mais ou menos mesclados ou aproximados pela imaginação
mítica, que às vezes confunde esses diversos domínios (…)”.

Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990,
p. 17

A partir da citação acima e de seus conhecimentos, pode-se afirmar que, no período


indicado, os gregos

a) separavam completamente a razão do mito, diferenciando a experiência humana de suas


crenças irracionais.

b) acreditavam em seus mitos, relacionando-os com acontecimentos reais e usando-os para


entender o mundo humano.

c) definiram o caráter irracional do ser humano, garantindo plena liberdade de culto e


crença religiosa.

d) privilegiavam o mundo sagrado em relação ao humano e ao natural, recusando-se a


misturar um ao outro.

e) defendiam a natureza como um reino intocável, tomando o homem como um risco para o
bem-estar do mundo.

GABARITO:  1. B, 2. C, 3.C, 4.B.

Filósofos da natureza, buscando a Arché


Venha descobrir como os pensadores da antiguidade se confrontavam utilizando os
elementos da natureza pelo domínio supremo da arché.
Desde o início de nossa história fazemos perguntas acerca do mundo e sobre nosso lugar
nele. Assim como você, as primeiras civilizações buscavam respostas para entender a
realidade a sua volta.

Como não podiam recorrer ao nosso Curso (ou melhor, às tecnologias que temos hoje),
acabavam buscando respostas na religião. Ora, as ações dos deuses explicavam o
funcionamento do mundo oferecendo uma maneira de estruturar as sociedades daquela
época.

Mas, assim como você tem aquele amigo “do contra”, aquela pessoa chata que discorda de
tudo… as sociedades de outrora tiveram os filósofos da natureza. Estes filósofos marcaram
presença lá na Grécia do século VI a.c. e foram os responsáveis pelo surgimento da filosofia.
Essa galera “diferentona” contraria o pensamento predominante da época e passa a
entender o mundo com base na razão e na observação e não mais na religião e fabulação.
Com isso, eles concluem que: os acontecimentos no mundo têm causas naturais (filósofos da
natureza, sacou?). O que é uma linha de pensamento bem diferente da que se tinha antes.

Como disse anteriormente, antes desses filósofos os acontecimentos do mundo eram


atribuídos aos caprichos volúveis dos deuses e não aos fenômenos naturais.

Essa mudança marcou o nascimento da filosofia, e como seu pioneiro, temos ele, o
queridinho de Mileto – cidade grega situada na atual Turquia – criador do teorema que leva
o seu nome, o sempre hidratado, Tales! Este pioneiro, fazendo uso da razão para investigar a
natureza do universo, impulsionou outros a fazerem o mesmo.

O teorema de Tales foi criado pelo filósofo quando ele tentou calcular a altura de uma
pirâmide com base na sua sombra.

Com o passar do tempo, a principal preocupação dos filósofos da natureza – os primeiros


filósofos – era encontrar a arché. Isto é, o principal questionamento desses pensadores
convergia na pergunta formulada por Tales: “do que é feito o mundo? ”

A esse elemento, que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas
as coisas do mundo, damos o nome de arché.

A resposta obtida por Tales de Mileto dá origem a toda uma complexa linha de raciocínio
que parte dos filósofos da natureza até os cientistas de hoje! Mas afinal, o que concluiu
Tales ao se questionar sobre a matéria prima básica do universo? Para ele, o universo
deveria ser composto de:

Algo a partir do qual tudo possa ser formado;

Essencial à vida;

Capaz de se mover;

Capaz de mudar.

Então, se a substância fundamental do universo é algo a partir do qual tudo possa ser
formado, essencial à vida, capaz de se mover, capaz de mudar…. Logo, Tales concluiu que
tudo é feito de ÁGUA! Isso mesmo, a fantástica conclusão de Tales é que o mundo é feito de
água.

Embora, essa concepção possa parecer ridícula atualmente, ao enunciarem que tudo é feito
de água os filósofos da natureza estavam dizendo algo sobre a origem das coisas e fazendo
isso sem a ajuda de fabulações ou religião. E ainda nesta ideia, mesmo que de maneira
rudimentar, eles construíram um famoso pensamento que perdura até hoje em algumas
concepções de mundo: “tudo é um”.

Arché: elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo de criação
dos seres naturais.
Assim sendo, tudo aquilo que existe vai ter uma causa anterior, de tal maneira que exista um
vínculo originador entre os “paranauês” naturais. Melhor dizendo, todos os acontecimentos
do mundo vêm de uma causa, que vêm de outra causa, que têm origem em uma nova causa,
que é efeito de uma causa anterior… e por aí vai. Infinitamente!

Todavia, não podemos explicar o mundo assim. Afinal, essa sequência que acabei de explicar
poderia ser usada como explicação racional e acadêmica? Claro que não.

Dessa maneira, para impedir que a explicação seja tão sem sentido ou embasamento quanto
as explicações religiosas de antes, os filósofos da natureza vão tentar constituir uma causa
primeira. Essa causa primeira seria um primeiro princípio ou conjunto de princípios que
servissem como ponto de partida para todo o processo racional.

É aí que encontramos a arché. Por essas razões, é que consideramos Tales o primeiro
filósofo.

Bom, agora que você viu como é que surgiram esses filósofos, vamos analisar seus principais
expoentes mais de perto:

– Anaxímenes (588-524 a.c.) vai afirmar que tudo vem do ar e que tudo volta ao ar. Ele
concluiu que as substâncias, por rarefação e condensação, vão se alterando de maneira tal
que se transfiguram em fogo, depois vento, depois nuvem para assim se tornam água.

A água, por sua vez irá se transformar em terra e pedras que por fim se tornarão as coisas
que emanam destas. Percebeu que ele busca uma causa fundamental (arché), um elemento
essencial que constitui todas as coisas para assim explicar racionalmente o mistério da
causalidade?

– Heráclito (435-475 a.c.) por sua vez irá postular que tudo é movimento. Pois, afinal, nada
pode permanecer estático, certo? A isso ele chamou de Panta Rei, isto é, “tudo flui”.
Contrariando Tales que afirma que a arché é imutável, a mudança que Heráclito afirma
incide em tudo.

Suas ideias vão ficando mais interessantes à medida que essas mudanças invariavelmente
incidem em uma oscilação entre opostos. O mundo é bem antagônico para ele, veja: o dia
anoitece e a noite amanhece, assim sendo, não existiria dia sem noite, nem claro sem
escuro, nem Sonic sem mola ou Ash sem pokébola. Sacou? O mundo ocorre na mudança, ou
seja, nos opostos se alternando!

– Pitágoras (580 – 500 a.c.), que você provavelmente deve conhecer por conta do teorema,
vai falar o seguinte: o princípio fundamental que forma todas as coisas é o número. Ah! Essa
galera das exatas! Eles consideram o número como o elo entre os elementos. Enxergam as
ligações numéricas entre as formas, as leis da natureza e as substâncias. A partir daí, para
Pitágoras, tudo que existe pode ser concebido como números. Você acredita?

Números! Tanta coisa mais legal para explicar os eventos do mundo e os pitagóricos definem
sua arché como números! (A galera “de humanas” entende esse sentimento, não é mesmo?)
– Parmênides (510-470 a.c.) alegava que o mundo poderia ser entendido a partir da
imutabilidade do ser, ou seja, a arché de Parmênides está apoiada na ideia de que as coisas
são eternas e imutáveis, além de não serem geradas.

Você já deve ter sacado que isso vai de encontro com o que o Heráclito dizia, né? Então! Vai
ter aí uma “treta” entre os dois filósofos da natureza a respeito de tomar banho! Hábitos de
higiene à parte, a história de “se banhar duas vezes no mesmo rio” é um dos dilemas da
filosofia pré-socrática.

Em conclusão, a origem do universo ainda permanece um mistério para nós mortais. Não
sabemos quase nada a respeito de onde viemos, contudo, a ideia de buscar um elemento
fundamental ainda se faz presente na filosofia e nas ciências.

A arché que é a bola da vez é o Bóson de Higgs, uma partícula que supõem os físicos ser o
elemento que justificaria a composição de toda a matéria no universo. E aí, qual a sua ideia
de arché?

Exercícios:
1. (UEL 2003) “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a
existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem,
sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima… podendo com
boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se
costuma chamar civilização ocidental.”

(REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.
p. 29.)

A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados
pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal
problema por eles investigado.

a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.


b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.

2. (Enem 2015) A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição:
a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e
leva-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia
algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e
enfim, em terceiro lugar, porque nela embora apenas em estado de crisálida, está contido o
pensamento: Tudo é um.

NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999

O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?

a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades


racionais.
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.

3. (Uff 2010) Como uma onda

“Nada do que foi será/ De novo do jeito que já foi um dia/ Tudo passa/ Tudo sempre
passará/
A vida vem em ondas/ Como um mar/ Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é/ Igual ao que a gente/ Viu há um segundo/ Tudo muda o tempo todo/
No mundo
Não adianta fugir/ Nem mentir/ Pra si mesmo agora/ Há tanta vida lá fora/ Aqui dentro
sempre/ Como uma onda no mar/ Como uma onda no mar/ Como uma onda no mar”

(Lulu Santos e Nelson Motta)

A letra dessa canção de Lulu Santos lembra ideias do filósofo grego Heráclito, que viveu no
século VI a.C. e que usava uma linguagem poética para exprimir seu pensamento. Ele é o
autor de uma frase famosa: “Não se entra duas vezes no mesmo rio”.

Dentre as sentenças de Heráclito a seguir citadas, marque aquela em que o sentido da


canção de Lulu Santos mais se aproxima

a) Morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo é sono.
b) O homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra.
c) Ao se entrar num mesmo rio, as águas que fluem são outras.
d) Muita instrução não ensina a ter inteligência.
e) O povo deve lutar pela lei como defende as muralhas da sua cidade.

Gabarito:

1.D

2.C

3.C

Condições históricas para o surgimento da filosofia ocidental


Quais foram os ingredientes para o surgimento da Filosofia?
Há aproximadamente 2600 anos, surgiu no mediterrâneo uma forma revolucionária de
encarar o mundo, a Filosofia. Guiada por uma insaciável curiosidade pela maneira que as
coisas eram explicadas, ela transformou toda a civilização ocidental. Mas quais foram as
condições para o surgimento da filosofia?
Em um lugar chamado de Península Balcânica, alguns povos começaram a se organizar em
sociedades maiores e mais complexas. Concomitante a isso, houve algumas invasões a essa
região (por exemplo os Dórios, que invadiram a região do Peloponeso).

Como a geografia da Península Balcânica era bastante irregular, essas sociedades recém
organizadas não possuíam unicidade entre si. No entanto, por suas características
semelhantes, denominamos o conjunto dessas sociedades de Grécia Antiga. Foi esse local
que proporcionou as condições históricas para o surgimento da filosofia ocidental.

A necessidade faz a desmistificação

As sociedades estabelecidas na península balcânica eram baseadas em histórias míticas


acerca do mundo. Por isso, a organização social dessas cidades era muito influenciada por
lendas e costumes religiosos, que poderiam variar de cidade para cidade.

Como o solo da região não era muito fértil, o comércio foi umas das maneiras encontradas
pelas cidades de suprirem suas necessidades. Ao passo que os poetas narravam a existência
de feras míticas nos confins do mundo, a crescente necessidade de alimento e outros
insumos fazia com que os habitantes das pólis viajassem cada vez mais longe em busca
desses suprimentos.

Com o passar do tempo, houve a descrença nas histórias mitológicas, visto que comerciantes
viajavam por toda a região e não encontravam nada fora do ordinário (nem cachorros de
três cabeças, nem mulheres com serpentes nos cabelos e tampouco unicórnios saltitantes).
Esse lance fez com que os maiores sábios colocassem em xeque tudo o que sabiam sobre o
mundo.

A consternação pela desmistificação do mundo está entre as principais condições para o


surgimento da filosofia, que, por sua vez nasceu contrapondo-se ao mito.

Da abstração do real

Juntamente com a desmistificação do mundo, outro fator crucial para o surgimento da


filosofia foi a ideia de abstração. Os gregos faziam o uso da moeda para realizar as barganhas
mercantis. Ou seja, em vez do escambo, na Grécia já rolava dinheiro. O uso dessa grana vem
do fato de agregar valor aos produtos negociados, o que requer uma capacidade de
abstração e uma noção do conceito de valor, ambos capitais para a filosofia.

Além da grana, a constituição do calendário deu competência para os habitantes das


pólis medirem tempo. Embora ainda de maneira arcaica se compararmos com a nossa vida
hoje em dia, essa habilidade fez com que o tempo deixasse de ser uma força divina e
passasse a fazer parte dos domínios mortais. Em outras palavras, ao criar um calendário, os
gregos refinaram suas noções de abstração do pensamento.

Somado ao calendário e à moeda, a escrita e o desenvolvimento de um alfabeto revelaram o


potencial da capacidade de abstração dos habitantes da península balcânica. Diferente dos
hieróglifos utilizados pelos egípcios, o alfabeto grego não representava uma imagem da
coisa a que se refere, mas a ideia da coisa. Assim, o que pensamos a respeito de algo
passava a ser transcrito, condição fundamental para o surgimento da filosofia.
Do crescimento da pólis ao florescer da política
A outra parte da receita que possibilitou o surgimento da filosofia foi a política. Conforme as
cidades-estados cresciam, novas necessidades emergiam e, muitas vezes, tornavam as
deliberações administrativas de outrora obsoletas. Assim sendo, uma crescente ânsia por
novas leis que atendessem a demanda de crescimento se tornou imperativa.

Bom, a gente falou antes sobre a organização da pólis vir de uma concepção mitológica,
lembra? Aquela “parada” de sacerdote, aedo, adivinho ou qualquer outra via de contato
com o divino que recebia um WhatsApp dos deuses dizendo aos homens (a mulher não fazia
parte dessas deliberações até então) quais eram as leis e as deliberações administrativas que
eles deveriam obedecer, já não estava mais colando.

Ora, isso levou ao gradual abandono da mitologia e cada cidadão passou a emitir seu juízo
acerca da administração da pólis publicamente. Essa aí foi a origem daquelas discussões
sobre política no bar, algo tão comum hoje em dia. Discutir com os demais cidadãos e
convence-los a concordar com sua visão sobre assuntos políticos fez emergir a ideia de
discurso.

As discussões racionais e compartilhadas que deliberavam sobre a vida na pólis foram umas
das bases para o surgimento da filosofia. Isso porque a política instiga uma reflexão crítica
que busca compartilhar com todos os demais cidadãos a busca por uma pólis melhor.

Por fim, quando juntamos esses ingredientes: desmitificação do mundo, capacidade de


abstração, criação de uma linguagem escrita, rigor lógico argumentativo e uma discussão
racional compartilhada temos as condições históricas para o surgimento da filosofia
ocidental.

Exercícios sobre o surgimento da filosofia:

1- (UNESPAR, 2018)
De forma geral, admitimos que a filosofia ocidental surgiu na Grécia antiga, no período que
compreende do século VI ao século V a.C., e que uma série de fatores contribuiu para esse
surgimento. Mesmo considerando que a diversidade dos fatores que promoveram o início
da reflexão filosófica nos leva à conclusão de que seria muito difícil apontar o que
exatamente determina o início da filosofia, podemos afirmar que:

a) Os primeiros filósofos se preocuparam inicialmente em negar a existência de Deus;

b) As primeiras especulações se dirigiam às questões de ordem natural, especialmente em


relação ao cosmos;

c) Os primeiros filósofos optaram por escrever em forma de poema por entender que seria a
escrita mais científica disponível na época;

d) A ética foi o primeiro grande tema da filosofia a ser abordado;

e) Sócrates foi o primeiro filósofo de que se tem notícia, seguido por Platão, seu discípulo.
2- (FEPESE, 2014)
Com relação à origem da filosofia ocidental, é correto afirmar:

a) Seus fundamentos foram estabelecidos durante o Renascimento, quando na Europa se


conseguiu realizar uma separação entre os campos da ciência e da crenças.

b) Nasceu quando os pensadores gregos realizaram a passagem de um pensamento mítico


para uma visão racional do mundo, da sociedade e dos seres humanos.

c) Tem sua origem ligada ao pensamento aristotélico e a harmonização entre o pensamento


intelectivo e a experimentação.

d) Foi gestada pelos pensadores pré-socráticos, que superaram as fronteiras entre o mundo
das aparências e da existência concreta.

e) Surgiu com os pensadores iluministas, que superaram os limites do pensamento


intelectivo e estabeleceram as bases da filosofia como ciência da verdade.

3- (Unesp 2012)
Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de
pagar pelo preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os
inspira mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar
humano. Sua visão particular age sobre as partes do tempo inacessíveis às criaturas mortais:
o que aconteceu outrora, o que ainda não é.

 (Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)

O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre outros aspectos,

a) o papel exercido pelos aedos, responsáveis pela transmissão oral das tradições, dos mitos
e da memória.

b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade


da terra.

c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da
tradição clássica.

d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica.

e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que


viviam.

Gabarito

1- B

2- B

3- A
Interpretações da realidade: o uno, o múltiplo e o movimento
Se você acha que o jogo Uno não tem relação com a Filosofia, venha conferir o que isso tem
a ver com as interpretações da realidade prepare-se para o Enem!
Uma das maiores discussões da Filosofia é a dicotomia presente no ramo da Metafisica
acerca do uno e do múltiplo nas interpretações da realidade. Esses conceitos são abordados
por diversos filósofos ao longo das eras, mas para entendermos os fundamentos dessa
contenda, vamos precisar voltar lá para a Antiguidade.

Interpretações sobre a realidade

Nesse momento, você deve estar cercado de várias coisas, como pessoas, animais,
eletrônicos e fascistas. Todas essas coisas possuem diferentes formatos, são feitas de
diferentes matérias, possuem as mais variadas cores. Ora, há diversos arquétipos de coisas
reais ou ao menos que aparentam ser reais.

Caso a realidade transcenda essas várias paradas singulares, indo além daquilo que nos
cerca, podemos entendê-la como una. Dessa maneira, cada elemento no cosmos é uma
parte de algo maior, um aspecto de algo que os ultrapassa.

Todavia, é possível pensarmos que a realidade dos elementos do cosmos está em cada um
desses elementos. Ou seja, não existe um todo maior que é composto por esses elementos.
Se assim for, a realidade é então chamada de múltipla.

Logo, nós, na condição de filósofos, acabamos perguntando: seria a realidade reduzida a


cada um desses objetos, ou na verdade eles estão contidos dentro de uma realidade muito
mais ampla? Indo mais além, seria a nossa realidade completamente perceptível ou existem
coisas a nossa volta que não conseguimos ver?

Pluralismo e movimento

Juntamente com essa discussão existe uma “treta” entre o movimento e o imobilismo
(ausência de movimento), representados na Antiguidade principalmente pelos pensamentos
de Heráclito e Parmênides

Conta-se que um tal de Zenão, junto com seu mestre Parmênides, fizeram uma profunda
reflexão para contra-argumentar as ideias daqueles que defendiam a existência do
movimento, como Heráclito. E também defendiam a existência de mais de um elemento
primordial. Isto é, o cosmos seria composto de um múltiplo número de elementos em vez de
um único elemento.

Paradoxos de Zenão

Para tentar invalidar os argumentos de seus opositores, Zenão criou uma série de paradoxos
(cerca de uns 40!). Dentre eles, destacam-se:

O paradoxo de Aquiles: Imagine uma corrida entre um atleta velocista (Aquiles) e uma
tartaruga. Suponhamos que é dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância.
Aquiles jamais a alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu,
ela já terá percorrido uma nova distância. Quando ele atingir essa nova distância, a tartaruga
já terá percorrido uma outra nova distância, e assim, ao infinito.

O paradoxo da flecha imóvel: Uma flecha em voo está a qualquer instante em repouso. Ora,
se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões, e
se a flecha em voo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo, a flecha em
voo está em repouso.

Os filósofos que defendiam o imobilismo (Parmênides, Zenão e cia) criaram um impasse ao


tentar explicar as mudanças que ocorrem no mundo. Em suma, eles diziam que a ocorrência
do movimento era uma ilusão dos sentidos. Como essa conclusão não era satisfatória,
começou um movimento contrário que acreditava na existência de vários princípios
formadores do universo.

Essa oposição era formada por filósofos como Demócrito, o cara do átomo, Anaxágoras, que
dizia que a realidade era composta por partículas minúsculas, e um sujeito chamado
Empédocles que afirmava que a realidade era composta por terra, água, fogo e ar.

O que unia todas essas visões de mundo era a ideia de que o cosmos não era formado por
um único elemento, como diziam Parmenides e Zenão. Mas, na verdade, consistia em vários
elementos que, ao se movimentarem, davam vida a uma pluralidade de coisas. É daí o nome
múltiplo.

Monismo
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a postular argumentos sobre o uno. Isso se
iniciou quando eles, procurando uma explicação de mundo que atendesse às suas
demandas, afirmaram que existia uma substância fundamental na criação do cosmos, a
arché.

Boa parte dessa galera pré-socrática compõe a turma dos chamados Monistas. Os filósofos
que mais ficaram conhecidos falando sobre isso foram Heráclito e Parmênides, Zenão de
Eleia e, é claro, Tales de Mileto.

Saindo um pouco da Antiguidade, também encontramos a ideia do Monismo em outras


épocas ao longo da história. Um exemplo da modernidade é de Baruch Espinoza, que
defendeu que devíamos estimar a existência de uma única coisa, a substância.

Por fim, a busca pela realidade última das coisas está no âmago da filosofia, como nos disse
Nietzsche ao afirmar que: “quando a ideia tudo é um foi proposta, ela fez de Tales o
primeiro filósofo”. Assim, a discussão entre tudo ser uno ou múltiplo é parte vital da
Filosofia.

Exercícios:

1- Analise o texto abaixo.


Denomina-se ……………………….. a teoria segundo a qual a realidade é constituída por uma
única substância, sendo os diversos seres redutíveis, em última instância, a essa unidade. Ela
se opõe ao ………………………… e ao dualismo.
Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto.
a)  Realismo idealismo
b) Monismo – pluralismo

c) Substancialismo – racionalismo

d) Imanentismo – positivismo

e) Unicismo – aristotelismo

2- (Enem 2016 adaptado)


Texto I

Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal
alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança,
dispersa e de novo reúne.

HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).

 Texto II

Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto,
inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo.
Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?

PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).

Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo


das

a) investigações do pensamento sistemático.

b) preocupações do período mitológico.

c) discussões de base metafísica.

d) habilidades da retórica sofística.

e) verdades do mundo sensível.

3- (Enem PPL 2013)


A substância é um Ser capaz de Ação. Ela é simples ou composta. A substância simples é
aquela que não tem partes. O composto é a reunião das substâncias simples ou Mônadas.
Monas é uma palavra grega que significa unidade ou o que é uno. Os compostos ou os
corpos são Multiplicidades, e as Substâncias simples, as Vidas, as Almas, os Espíritos são
unidades. É preciso que em toda parte haja substâncias simples porque sem as simples não
haveria as compostas, nem movimento. Por conseguinte, toda natureza está plena de vida.

LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísicas e outros textos. São Paulo: Matins Fontes, 2004
(adaptado).
Dentre suas diversas reflexões, Leibniz voltou sua atenção para o tema da metafísica, que
trata basicamente do fundamento de realidade das coisas do mundo. A busca por esse
fundamento muitas vezes é resumida a partir do conceito de substância, que para ele se
refere a algo que é

a) complexo por natureza, constituindo a unidade mínima do cosmo.

b) estabilizador da realidade, dada a exigência de permanência desta.

c) desdobrado no composto, em vez de gerá-lo unindo-se a outras substâncias simples.

d) considerado simples e múltiplo a um só tempo, por ser um todo indecomponível


constituído de partes.

e)essencial na estrutura do que existe no mundo, sem deixar de contribuir para o


movimento.

Gabarito

1- B

2- C

3- E

Filósofos Pré-Socráticos
Se você, assim como eu, tem curiosidade para saber qual a origem do mundo e de todo
cosmos a nossa volta, venha conferir nesse post as principais ideias filosóficas cobradas pelo
Enem.
Para trocarmos uma ideia sobre os filósofos Pré-Socráticos é interessante entender a relação
que eles têm com a mitologia. O mito foi um elemento cultural importante na Grécia antiga,
uma vez que proporcionava ordem, unidade e uma certa identidade a um povo que, embora
fosse uma nação, era dividido em cidades-estados.

Na mitologia grega os deuses e deusas eram os personagens que protagonizavam a maior


parte dos mitos. Eles relacionavam-se com a natureza e, sempre que ficavam entediados,
achavam alguma maneira de interagir com a humanidade (geralmente “trollando” ou
namorando alguém). Isso era tão importante que podemos atribuir às divindades gregas
caraterísticas próprias da humanidade, como raiva, ódio, ciúme etc.

Dessa maneira, você pode perceber o grande poder que a mitologia exercia sobre os gregos.
É aí que entrem os Filósofos Pré-Socráticos. Essa galera, que recebe esse nome pelo fato de
existirem antes de Sócrates, foram os primeiros gregos a explicar o mundo de maneira
racional a partir de discussões de bases ontológicas. Isto é, estes filósofos passam a
argumentar sobre a natureza das coisas sem a ajuda dos mitos ou de coisas sobrenaturais.

Com o passar do tempo as pessoas deixaram de acreditar na mitologia e começaram a ver


mundo sobre a ótica da Filosofia.
Os Pré-Socráticos tinham uma fixação em entender a realidade a sua volta, eram pessoas
que estudavam a natureza ao seu redor. Por essa razão chamamos alguns deles de filósofos
da natureza. Esses são, sem dúvida, os mais famosos filósofos da antiguidade.

Por buscarem entender a organização racional do universo, de maneira diferente do


pensamento mítico, os Pré-Socráticos eram vidrados na cosmologia, ou seja, o estudo do
cosmos. Isso porque eles se utilizam de princípios e leis que o regem o próprio universo para
explicar tudo ao seu redor.

Esses filósofos tentavam encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos da


natureza, isto é, buscavam explicar o porquê as coisas acontecem. Ademais, todos buscavam
um princípio ou elemento primordial a partir do qual explicariam os fenômenos naturais, a
este elemento chamamos Arché.

Foi a partir de Tales de Mileto que consideramos o nascimento da Filosofia e início do


período Pré-Socrático. Este período se encerra com a popularização da Filosofia de Sócrates.

Principais escolas pré-Socráticas


Podemos dividir os Pré-Socráticos em Escolas a partir do foco e o local de desenvolvimento
da Filosofia. As principais Escolas do período Pré-Socrático são:

A Escola Jônica

Foi em Mileto, na Jônia, que esta escola se desenvolveu. Os Pré-Socráticos desta Escola
Filosófica procuravam investigar o problema cosmológico.

O que diferencia a Escola Jônica das demais escolas dos Pré-Socráticos é a sua concepção de
um tempo unitário e pluralista do universo. (Ahn?) Em outras palavras, essa Escola
acreditava em uma substância única deu origem a toda a variedade do cosmos. Foi Tales de
Mileto quem “fundou” essa escola e inspirou os outros filósofos Pré-Socráticos a pensarem
de maneira contraria ao pensamento mítico. Além de Tales de Mileto, tivemos outros
filósofos famosos na Escola Jônica, como Anaximandro, Anaxímenes, Anaxágoras, Arquelau e
finalmente Heráclito.

A Escola Pitagórica

A Escola Pitagórica se desenvolveu no sul da Itália. O filósofo principal desta Escola foi
Pitágoras de Samos. Esse camarada aí (para tristeza do pessoal de humanas) afirmou serem
os números as essências das coisas. Suas investigações da física e matemática eram
misturadas com misticismo. (Parece até contradição existir um filósofo místico, não é?)

A Escola Eleática

A Escola Eleática tem o seu nome derivado da cidade de Eleia, lugar de origem de seus
principais pensadores: Parmênides, Zenão e Melisso. Os Pré-Socráticos dessa escola
divergem dos demais pois não procuraram uma explicação da realidade baseada na
natureza. Suas preocupações eram mais abstratas e apresentaram o primeiro sopro de uma
lógica e de uma metafísica.
Como você pode ver, essa escola tinha ideias contrárias à Escola Jônica. Na Escola Jônica,
Heráclito defendia a ideia de um mundo contínuo, enquanto na Escola Eleática, Parmênides
definia um ser único, um ser imóvel.

Nessa treta sobre a origem das coisas, Heráclito apresentava o movimento e a mudança,
enquanto Parmênides apresenta a estabilidade e imutabilidade como princípios fundantes.
Ao criarem esse debate, eles deixam evidente à Filosofia conceitos importantes como o “ser,
o não-ser” e o “devir”.

Esses caras aí também ajudaram na construção do pensamento de outros filósofos. Como,


por exemplo, Platão, que a partir destes dois pensamentos criou uma teoria que consistia
em dois mundos: um inteligível e outro sensível.

De um lado os Pré-Socráticos de Eleia defendiam a existência de uma realidade única, por


isso ficaram conhecidos também como monistas. A realidade para eles era única, imóvel,
eterna e imutável. Do outro os Pré-Socráticos de Mileto pensavam o mundo como algo em
movimento, a água que congela e evapora, o ápeiron que não pode ser determinado e não é
estático, o ar nada palpável e o fogo que está sempre em movimento e transformando o que
queima.

A Escola Atomista

Seu fundador foi Leucipo, lá nos idos do século V a.C. Dos Pré-Socráticos dessa Escola
destaca-se Demócrito. Esse filósofo propunha que todo objeto físico é composto por átomos
e vácuo que se organizavam em diferentes formas. É isso mesmo que você entendeu! Esse
cara, no século V antes de Cristo, já estava pensando em Átomo! Inclusive, o termo foi usado
por ele pela primeira vez.

Demócrito e a todas suas ideias filosófica foram alopradas, zoadas e troladas por Platão pois
ele não aceitava a ideia atomista. Contudo, a história provou que Demócrito estava mais
perto da verdade do que Platão poderia imaginar.

Essa Escola atomista acreditava que os átomos eram partículas extremamente pequenas
(que não podiam ser separadas ao meio) e possuíam diferentes tamanhos, formas,
movimentos, arranjos e posições. Além disso, Demócrito dizia que quando colocados juntos,
os átomos criavam tudo o que está no mundo visível.

Por fim, ainda que vários destes filósofos falaram outras paradas que não a natureza das
coisas, como é o caso de Demócrito, que escreveu também sobre ética, é o questionar-se
sobre a natureza das coisas que os une. Vale lembrar que, neste período a ideia do ser
humano como objeto da Filosofia só vai aparecer com Sócrates. Daí vem a diferenciação dos
Pré-Socráticos e de toda a galera que veio depois, sacou?

Agora, para ver se você aprendeu tudo sobre os Filósofos Pré-Socráticos, responda as
perguntas abaixo.

1. (UEL_2003) – “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a
existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem,
sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima… podendo com
boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se
costuma chamar civilização ocidental. ” (REALE, Giovanni. História da filosofia: Antiguidade e
Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)

A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados
pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal
problema por eles investigado.

A) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.


B) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
C) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
D) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
E) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.

2. (Uncisal 2012) O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas
discussões se prendem a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e
imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de
toda formulação filosófica. Em tal contexto, Leucipo e Demócrito afirmam ser a realidade
percebida pelos sentidos ilusória. Eles defendem que os sentidos apenas capturam uma
realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os
sentidos apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que
constituem essa realidade jamais se alteram. ” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra.
Para Leucipo e Demócrito a physis é composta:

A) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio.


B) pela água.
C) pelo fogo.
D) pelo ilimitado.
E) pelos átomos.

3. (Enem 2016)

Texto I
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal
alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança,
dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).

Texto II
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto,
inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo.
Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).

Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo


das

A) investigações do pensamento sistemático.

B) preocupações do período mitológico.


C) discussões de base ontológica.

D) habilidades da retórica sofística.

E) verdades do mundo sensível.

Gabarito 1.D, 2.E, 3.C

Os Sofistas
Você provavelmente conhece alguém metido a “sabichão”, certo? Desde a antiguidade tem
gente assim. Os sofistas eram aqueles que de tudo sabiam e de tudo falavam. Quer saber
mais? Vem com a gente revisar Filosofia Enem!

Na Grécia, em meados do século V a.C. um grupo de filósofos monetizou suas atividades e,


com isso, levantaram polêmicas a respeito da função da Filosofia. Eles foram os Sofistas,
uma galera considerada “malandra” pelos demais filósofos da época. Apesar disso, as ideias
pregadas pelos Sofistas são tema recorrente do Enem e ainda hoje são muito usadas.

Quem eram os Sofistas?

Os Sofistas eram uma espécie de tutores ambulantes que percorriam as cidades ensinando a
arte da retórica às pessoas interessadas. Porém, isso era feito mediante pagamento (eram
“empreendedores”). Eles se ocupavam de ensinar o que os gregos chamavam de Arete, isto
é, a virtude. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida
política.

Todavia, só nos restou desses de seus ensinamentos alguns poucos fragmentos e tampouco
algumas citações. Assim sendo, fica complicado entender certinho como esses caras
pensavam. Ainda que, saibamos coisas importantes sobre a Filosofia dos Sofistas, a maior
parte do conhecimento que temos sobre eles vem Platão e Aristóteles. Que, diga-se
passagem, foram opositores dos Sofistas.

Por essa razão, antes de nos aprofundarmos nos Sofistas, vamos trocar uma ideia sobre o
contexto histórico que estava rolando naquela época.

Contexto histórico

Athenas durante o século V a.C teve como governante um homem chamado Péricles.
Durante seu regime, tivemos o auge da democracia ateniense.

O exercício da Democracia ateniense acontecia na Ágora. A Ágora era uma espécie de praça
pública, onde se fazia a política por meio da argumentação e da retórica. Essas duas artes
eram muitos populares (ainda são) pois, a partir delas era possível convencer os outros de
suas opiniões e ideias por mais estranhas, nefastas ou mentirosas que fossem. Soa familiar?

Para entender melhor, imagine que você está vivendo na Grécia antiga sem nosso Curso ou
qualquer tipo de educação formal para te auxiliar. Como seria possível melhorar sua
habilidade de argumentar? Como você, enquanto cidadão da Pólis, iria aperfeiçoar sua
oratória? Você poderia contratar os Sofistas!
As pessoas apelavam para os Sofistas na intenção de aprimorarem sua retórica para as
dificuldades que enfrentariam na vida pública. Por isso os Sofistas não eram bem uma escola
filosófica, era mais como uma “prática”.

Embora a democracia exista até hoje, vale lembrar que a democracia ateniense diverge
bastante do conceito atual de democracia. Na Grécia, faziam parte da vida política apenas os
cidadãos, isto é, os homens, maiores de idade possuidores de bens. Ser cidadão na Grécia
era ser “playboy”, cheio da grana e do prestigio.

Pois bem, temos aqui uma “treta”, muito atual por sinal. Veja só: toda essa necessidade de
uma boa argumentação e o dinheiro envolvido, vai ser o cenário perfeito para a ascensão
dos Sofistas. Contudo, como você já sabe, só quem tem a grana era capaz de contratá-los.
Portanto, somente os mais ricos tinham acesso a esse conhecimento.

As ideias Sofistas

Mas afinal, o que eles ensinavam que deixava todo mundo bom de oratória e retórica? Os
Sofistas propagavam a ideia de que o conhecimento é relativo, isto é, só será verdade aquilo
que for útil para ação humana.

Com isso, eles alastram a ideia de que nós só conseguimos expressar opiniões a respeito de
qualquer tema se tivermos capacidade de argumentar. Ou seja, os Sofistas não estavam
interessados na procura pela verdade e sim no refinamento da retórica, a arte de vencer
discussões. Para eles, a verdade era relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o
homem está inserido.

Principais Sofistas

Temos entre os principais Sofistas: Protágoras, Górgias, Pródico, Hípias, Trasímaco, Antifonte
e Crátilo. Vale então falar um pouco de Protágoras, um dos mais conhecidos Sofistas, uma
vez que Platão mencionou ele em uma de suas obras.

Segundo Platão, além de ensinar a retórica, Protágoras foi nomeado por Péricles para redigir
a constituição de uma colônia ateniense. No diálogo Teeteto, Platão dá voz ao pensamento
de Protágoras:

“O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como
não são”.

Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal
coisa é a verdade para ela.

Sócrates e os Sofistas

Toda essa conversa de relativismo vai irritar alguns filósofos, em especial um cara chamado
Sócrates. Esse camarada aí ensinava a galera, mas não curtia a ideia de cobrar pelas aulas.
Sócrates acreditava que o ensino não era uma mercadoria que podia ser comprado, mas
uma parada que era construída.
Descordando dos Sofistas, Sócrates pensava que a opinião é uma expressão individual,
todavia o conceito é universal, ou seja, você até pode ter uma opinião, mas não significa que
ela seja válida.

Por fim, vamos ter uma diferença importantíssima, dessas que caem no Enem, entre
Sócrates e os Sofistas.

De um lado os Sofistas ensinavam (mediante pagamento) a retórica para que seus alunos
pudessem convencer os outros que sua opinião é a melhor. Do outro lado, Sócrates ensinava
(de graça) à dialética contrapondo argumentos (por meio da maiêutica).

Sócrates dizia que não sabia de nada para levar seus interlocutores a duvidar do próprio
conhecimento e com isso chegar a um conhecimento seguro pois, estava preocupado com a
verdade.

Já está sabendo tudo sobre os Sofistas agora? Legal, então vamos testar seus conhecimentos
com as questões abaixo:

Questão 01 – (UEA AM/2014)    

O sofista é um diálogo de Platão do qual participam Sócrates, um estrangeiro e outros


personagens. Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele
gostaria de recorrer para definir o que é um sofista.

Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar, numa
longa exposição ou empregar o método interrogativo?

Estrangeiro: – Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é esse
mesmo; com um interlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si
mesmo.

(Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)

É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico,


adotar

a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos.

b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.

c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos.

d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova de existência de Deus.

e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do saber humano.

Questão 02 – (UEG GO/2011)    

No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros
estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto
importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. Para obter a
aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e
persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de
discursar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte da
oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de
pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como

a) maniqueistas.

b) hedonistas.

c) epicuristas.

d) sofistas.

e) retóricos.

Questão 03 – (UFPE/2007)    

A sociedade grega criou seus mitos e deuses, mas também elaborou um pensamento
filosófico que expressava sua preocupação com a verdade e a ética.

Além de Aristóteles, Platão e Sócrates, muitos pensadores merecem ser citados e discutidos,
como os sofistas, que:

a) defenderam a liberdade de expressão, embora estivessem ligados à aristocracia


ateniense, contrária à ampliação da cidadania.

b) construíram reflexões sobre o comportamento humano que serviram de base para


Aristóteles pensar a sua metafísica.

c) criticaram a existência de verdades absolutas, afirmando ser o homem a medida de todas


as coisas.

d) ajudaram a consolidar o pensamento conservador grego, reafirmando a importância da


mitologia.

e) formularam princípios éticos, revolucionários para a época e de grande significado para o


pensamento de Platão.

Questão 04 – (UESPI/2008)    

A construção da história requereu lutas contra as dificuldades naturais e grande capacidade


de invenção. Muitas reflexões filosóficas foram importantes para pensar a condição da
cultura. Os sofistas contribuíram com essas reflexões, quando:

a) defenderam a relatividade, mostrando as impossibilidades para se chegar à verdade


universal.
b) confirmaram as teorias políticas de Sócrates, ressaltando o valor da república
democrática.

c) seguiram os ensinamentos do cristianismo, fundando uma religião sem rituais e


hierarquias.

d) ampliaram as dimensões da filosofia platônica, afirmando a força do idealismo estético


para a arte.

e) criticaram as idéias de Aristóteles, embora aceitassem suas reflexões sobre os


fundamentos da verdade.

GABARITO: 

1. A, 2.D, 3.C, 4.A.

Sócrates e os Sofistas
Vamos caminhar pelas estradas da filosofia antiga! Revise Sócrates e os sofistas para bombar
no Enem esse ano!

Pensar os temas da filosofia antiga se faz extremamente importante. É um dever para com a
história da filosofia!

Para começar, vamos nos situar no tempo, espaço e contexto: nesta aula vamos falar de
filósofos da Grécia antiga (aproximadamente séc. VII e VI a.C), do período em que surge a
filosofia no ocidental a partir da cosmologia pré-socrática e dos movimentos históricos que
muito contribuíram com essa realidade. Então, vem com agente revisar a relação entre
os sofistas e Sócrates! Revise Filosofia par o Enem.

Na Grécia Antiga, na parte baixa de uma cidade (em Atenas, como no exemplo) situava-se a
ágora ou praça pública. Esse espaço tinha uma relevância gigante porque ali se discutia os
rumos da cidade, tomavam-se as decisões e discutiam-se as ideias filosóficas.

E, na ágora, estavam os sofistas (palavra derivada do grego que significa “grande mestre ou
sábio” ou “super sábios”). Estes filósofos residiam nas periferias gregas, muito embora não
tivessem um local específico ou uma residência, porque eram como que professores
viajantes vendendo seus conhecimentos, principalmente a arte da retórica, do falar bem.

Se utilizavam do areté (do grego, significa “excelência” ou “virtude”), para ensinar as artes
gregas que eram muito valorizadas na época (esportes, política e matemática, por exemplo).
O momento histórico desse tempo favorecia essas relações de aprendizado. Devido às
assembleias democráticas, os cidadãos sentiam a necessidade de aprender a falar em
público e, na discussão de ideias, persuadir as pessoas e fazer prevalecer os interesses
individuais ou de seu grupo social.

No decorrer do tempo, os sofistas foram ganhando uma conotação não muito boa: a de
enganadores ou ladrões do saber. Principalmente pelas críticas de Sócrates e Platão, como
veremos daqui pra frente. A arte dos sofistas ou a sofística, começou a ser alvo de críticas
pelos filósofos antigos, uma vez que, segundo eles, não buscava a verdade (a aletheia, do
grego), mas sim, buscava manipular, iludir e produzir falsos conhecimentos. Para os
pensadores antigos, a busca pela verdade era o principal foco do ensinamento e da busca
filosófica, assim como afirma Sócrates: “uma vida que não tem busca, não merece ser
vivida”.

A crítica dos filósofos clássicos, como assim são conhecidos Sócrates, Platão e Aristóteles,
vem de encontro ao tipo dos ensinamentos dado pelos sofistas, principalmente o da retórica
e o bom uso do Areté. E por que a ideia de excelência e virtude retornam logo aqui? Para
Sócrates, essencialmente, você ensinar ou indicar o caminho das virtudes para as pessoas
era um dever, uma missão para com o ideal do conhecimento e a sua busca necessária. Não
algo a ser vendido como faziam os Sofistas.

Portanto, a crítica por parte de Sócrates e de outros filósofos é o da instrumentalização do


ideal de excelência e virtude (o Areté), demonstrando que a forma de ensinamento dos
sofistas parte de pressupostos e olhares que não eram o da justiça, do bem comum ou
também do autoconhecimento (foco da reflexão socrática).

Dentre alguns sofistas que caminhavam pela Grécia, ficaram mais conhecidos: Protágoras de
Abdera (séc V a.C) que afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, o
mundo é relativo a cada um, suas vivências e percepções da realidade. Protágoras embasava
suas reflexões no subjetivismo. O outro sofista conhecido é Górgias de Leontini (séc V a.C),
que foi um grande orador e os documentos históricos afirmam que, ele falava tão bem que
era capaz de convencer qualquer pessoa sobre qualquer coisa.

Embora Sócrates fosse confundido com os sofistas, justamente por estar em grande parte
nos mesmos espaços, ele travou grandes polêmicas com os “sábios” sofistas. O filósofo
procurava respostas para perguntas essenciais para a caminhada humana: o que é o bem? O
que é a virtude? O que é a justiça? Sócrates afirmava que os sofistas não procuravam as
respostas mais profundas para essas realidades, porque eles se preocupavam com a ilusão
do conhecimento ou não o desejavam de toda vontade.

ABRIL:

Método socrático: ironia e maiêutica


Você costuma usar a ironia no seu dia a dia? Sabe quem gostava muito disso? Sócrates. Bora
saber como a ironia socrática cai no Enem! 

Nos primórdios da Filosofia, diversos filósofos contribuíram para moldar a nossa civilização.


Entretanto, alguns foram muito mais influentes que outros. É o caso do ateniense Sócrates ,
que ao lado de Platão e Aristóteles, formou os pilares que edificaram as sociedades
Ocidentais. Na aula de hoje, vamos conhecer mais sobre o método socrático e entender
como ele chegava às suas conclusões.

Lamentavelmente, Sócrates não deixou nenhum legado escrito. Isso se deve à maneira como


ele praticava a Filosofia. Valendo-se principalmente de dois métodos chamados de maiêutica
e ironia, a Filosofia Socrática era algo muito mais executado no plano da ação do que na
Literatura. 
Por esse motivo, tudo aquilo que sabemos sobre Sócrates foi escrito por outras pessoas.
Ora, em sua grande maioria, os relatos sobre a sua vida aparecem nos diálogos aporéticos de
Platão. Assim sendo, é nessa onda aporética que vamos investigar o método socrático. 

Um filosofo irônico 

Diz-se que meu camarada Sócrates era muito mais preocupado com chegar na verdade do
que com o convencimento do seu interlocutor. O filósofo ateniense ficou marcado pelos
vários embates travados com os sofistas, pessoas que afirmavam serem capazes de falar
bem acerca de quaisquer assuntos. 

Antagonizando essa ideia de saber algo sobre tudo, Sócrates dizia não saber nada, afirmava
que os sofistas só convenciam as pessoas, mas não sabiam a verdade. Assim começa a
“quest” Socrática que pode ser lida na obra de Platão “Apologia a Sócrates”. 

Movido pela busca do saber, Sócrates se propôs a provar que os discursos sofistas eram
falaciosos. Isto é, não passavam de uma ilusão da verdade feita para convencer as pessoas.  

A ironia no método socrático

Imagine Sócrates, naquela época, saindo por aí chamando os sofistas para o debate. Eles,
diferentemente de certas figuras públicas, não fugiam do debate, e começavam a trocar
ideia com Sócrates tentando convencê-lo. Para dar início ao processo dialético, Sócrates
fazia uso da ironia ao iniciar sua jornada de rumo à verdade. 

O uso da ironia como método consistia em perguntar sobre algo que seria objeto do debate,
negando os pré-conceitos e concepções acerca do assunto em questão. Aliás, ironia vem da
palavra eirein. Em uma tradução livre seria algo como perguntar, ou o ato de perguntar
fingindo não saber. 

A ironia, enquanto método, se dá pela elaboração de diversas perguntas feitas ao


interlocutor visando expor que seu ponto de vista é apenas uma opinião e não uma verdade
absoluta e universal. Assim, quando Sócrates começava os seus diálogos, o fazia sempre
indagando sobre algo que seu interlocutor tinha como certo para demonstrar que aquilo era
somente uma visão parcial do assunto. 

Maiêutica
Bom, agora que sabemos que os diálogos se iniciavam com a ironia, vamos entender como é
que eles se desenvolviam pelo método socrático.

Dando sequência ao debate, Sócrates continuava fazendo perguntas. Todavia, a finalidade


agora era outra. Ao invés de livrar o interlocutor dos preconceitos e opiniões infames,
Sócrates queria que o interlocutor conseguisse definir algum conceito a respeito de algo.  

Essas novas perguntas tinham por objetivo conduzir o debate até que alguma nova
perspectiva se formasse. Chamamos isso de maiêutica. O termo faz referência à mãe de
Sócrates, que era parteira. Por conta disso, a Maiêutica é entendida como a arte auxiliar a
dar à luz as ideias. 
Você deve ter reparado que foi dito que a maiêutica auxilia no nascimento das ideias e não
que ela gera as ideias, certo? Isso porque Sócrates pensava que nós já possuímos as ideias
em nosso espírito. Ele pressupunha que as pessoas tinham uma espécie de alma imortal,
sendo necessário apenas encontrar o caminho para que essa ideia viesse ao mundo. 

Sacou como na visão de Sócrates perguntar é a maneira de mostrar o caminho da


verdade? Para Sócrates, não é possível que uma pessoa ensine algo a outra, visto que nossos
espíritos já sabem das coisas, é necessário apenas lembrá-las.  

Entendemos, então, Filosofia como a arte da reflexão, pois só a partir da reflexão


conhecemos o mundo. Assim sendo, ao utilizar a Maiêutica partimos de preposições simples
e vamos, pergunta após pergunta, aprimorando nosso conhecimento e nos lembrando
daquilo que nossos espíritos aparentemente se esqueceram. 

Por fim, os usos da ironia e da maiêutica alicerçam a Dialética de Sócrates. Começa-se por
descontruir os conceitos dúbios gerando um estado de aporia e em seguida busca-se sair
desse estado com a maiêutica procurando, assim, o caminho para a verdade.  

Exercícios:

1- (FCC)
Sócrates nada deixou escrito. Suas ideias foram divulgadas por seus discípulos Platão e
Xenofonte. Nas conversas com seus discípulos, privilegia as questões morais.Aprendemos de
Sócrates que o conhecimento resulta de uma busca contínua, enriquecida pelo diálogo, que
corresponde ao filosofar. Sócrates é responsável por um método dialógico que se compõe
de dois momentos. 

As etapas do método socrático são: 

a) a dialética e a argumentação. 

b) a ironia e a maiêutica. 

c) o juízo e o raciocínio. 

d) a proposição e a discussão. 

e) a tese e a antítese. 

2- (ENEM 2017)
Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e
embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os
temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que
são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se
censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua
orientação. 

BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977. 

O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na 


a) contemplação da tradição mítica. 

b) sustentação do método dialético. 

c) relativização do saber verdadeiro. 

d) valorização da argumentação retórica. 

e) investigação dos fundamentos da natureza.

3- (UNCISAL 2011)
Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer
perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o
diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua
própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte
sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar
certos valores religiosos. 

Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu
pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia 

 a) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população


ateniense. 

b) transmitia conhecimentos de natureza científica. 

c) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade. 

d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão. 

e) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica. 

Gabarito

1- B

2- B

3- D

O julgamento de Sócrates
Você considera a democracia um regime bom? Na Grécia antiga um famigerado filósofo
questionou o direito ao voto e acabou tomando cicuta. Fique por dentro das discussões
políticas e conteúdos do Enem nesse post sobre Sócrates.
A história de Sócrates, personagem icônica dos diálogos platônicos, é heroica e fatalmente
trágica. Nesta aula, veremos a trajetória do filósofo e quais foram as ideias e ações que
resultaram no famoso julgamento de Sócrates.
Sócrates era um filósofo que viveu na cidade de Atenas por volta do século V a. C. Embora
não tenha escrito nada, há diversas histórias sobre suas aventuras na ágora atenienses. Para
entendermos sua morte, isto é, a razão por trás de seu sacrifício, temos que analisar o que
Sócrates defendia e com quem ele brigava. Comecemos, então, pela ideia acerca da
concepção da filosofia e seus amantes.

Amar a sabedoria

Na visão socrática é dever do filósofo opor-se ao misticismo, pois ele obscurece o


conhecimento. O misticismo lança suas sombras sobre o mundo e impede as pessoas de
desvendarem os mistérios do cosmo. Em outras palavras, filósofo é aquele que se opõe
ao mito, buscando de maneira aguerrida a verdade para libertar o mundo das correntes da
tirania e do misticismo.

Sócrates levava bem a sério essa “parada” de se opor ao mito. Ele passava seus dias
torrando a paciência da galera que achava saber das coisas, mas que na visão socrática era
apenas iludida.

Ora, diferente de quem posta “hashtag” nas redes sociais como forma de manifestação
política, Sócrates era um cara da ação. Ele ia para a rua, ocupava os espaços públicos e
debatia com seus opositores. Combatia os discursos falaciosos ao enfrentar os supostos
messias, pessoas que diziam deter o conhecimento, mas tudo que possuíam era um discurso
frágil de apelo popular.

Conhecimento x opinião

É justamente na ideia de deter o conhecimento que Sócrates fazia sua maçante filosofia.
Segundo o filósofo, é descabido pensar que algo possa ser conhecido de maneira absoluta.
Logo, tudo aquilo que constituísse uma definição absoluta das coisas era uma doxa, ou seja,
uma reles opinião acerca de algo.

Vamos deliberar aqui, então, que quando você não tem certeza absoluta de algo,
chamaremos isso de doxa. Isto é, uma visão de mundo sua que mais parece uma crença do
que uma teoria, pois não possui uma comprovação ou uma investigação séria acerca do
assunto.

Por exemplo: achar que a Terra é plana, que vacinas fazem mal, que aquecimento global é
mentira por que hoje está frio ou até que mesmo acreditar que são os ricos que geram a
riqueza. Tudo ilustra o quão absurdo um discurso construído a partir de uma doxa pode ser.

Antagonizando tudo isso existe o verdadeiro conhecimento chamado de episteme. Vale


ressaltar que o termo aqui difere em significado daquele empregado por Aristóteles. Então,
fique atento, a episteme socrática é uma definição absoluta de algo.

Sendo assim, para Sócrates, chegar a definição absoluta das coisas é uma “parada”
importante, pois livra os discursos das ambiguidades deixando mais fácil o entendimento do
que está sendo discutido. Do contrário ficaríamos naquela situação “tosca” em que uma das
pessoas acha que está discutindo o assunto em questão, mas está falando uma “parada”
completamente aleatória. Aposto que já fizeram isso com você!
A condenação da democracia

Nessa jornada em busca da episteme, Sócrates acabou irritando bastante gente,


principalmente por conta das “tretas” que acabaram por envolver a organização política da
pólis. Se liga no contexto da coisa: Sócrates vivia em Atenas, local onde se teve origem o
regime político denominado democracia.

Nesse regime, após a chamada era de ouro ateniense – na qual destaco Péricles, figura
importante e maior ícone da época –, começou a decadência da democracia e de suas
instituições. É justamente nesse declínio que viveu Sócrates, na crise da democracia grega.

Bom, como era de costume nas manhãs atenienses, o sol brilhava no céu, o vento soprava e
Sócrates discutia com os sofistas. Sócrates costumeiramente discutia com os sofistas por
conta das divergências de ambos.

Em um desses debates, entre ele e o sofista Glauco, Sócrates usa uma metáfora sobre um
navio, indagando sobre quem seria a pessoa ideal para guiar a embarcação. Seria um sujeito
admirado pela tribulação, queridinho dos tripulantes, ou alguém versado nas artes
marítimas, sujeito estudado e conhecedor de embarcações?

A metáfora deixa evidente a visão antidemocrática de Sócrates, uma vez que os cidadãos
atenienses acabam sempre optando por algum sujeito carismático para guiar sua nação em
vez de escolher alguém realmente preparado e versado nos estudos políticos.

O voto na visão de Sócrates


A fim de resolver esse problema, Sócrates começou a defender publicamente que o voto é
algo que deve ser ensinado. Ou seja, não podemos dar a qualquer pessoa o direito de
escolha pois não é qualquer pessoa que está apta a escolher.

Esta visão, embora considerada elitista em algumas panelinhas de filósofos posteriores, foi
adotada em certa medida por importantes filósofos da época, como Platão e Aristóteles.
Mas vale ressaltar que as histórias que sabemos a respeito de Sócrates foram, em grande
parte, narradas pelo próprio Platão.

A proposta socrática, que implicava em um acompanhamento educacional na qual o votante


seria versado nas artes da Filosofia para aprender a votar. Com base nessa premissa,  é fácil
concluir que ela se aproxima bastante daquela proposta por Platão sobre o rei filósofo,
narrada na obra “A República”.

Ao defender que o direito ao voto precisaria ser conquistado após muito se estudar filosofia,
Sócrates estava desafiando abertamente o poder vigente em Atenas. Concomitante a isso,
como bom filósofo que era, Sócrates fazia, como mencionado, oposição ao mito.

O julgamento de Sócrates

Ao opor-se ao mito, o filósofo ateniense consequentemente acabava se opondo ao panteão


grego, isto é, ele negava os deuses e deusas que o estado tinha como verdadeiros.

Imagina só, um sujeito que estava ficando bastante popular ao fazer oposição aos sofistas –
que, diga-se de passagem, eram professores dos ricos – em debates públicos. Sujeito esse
que era contrário às explicações fantasiosas que a religião e o Estado forneciam ao povo.
Inclusive, opunha-se ao regime democrático de Atenas.

E para deixar a lenda mais legal ainda, além disso tudo, Sócrates dizia que a única coisa que
ele sabia era que não sabia de nada! Gente, como não amar essa fofura de filósofo?

Como era de se esperar, toda essa irreverência e rebeldia de Sócrates teve um preço. O
filósofo incomodou bastante gente poderosa, uma vez que o povo passou a se questionar
acerca do mundo e de como as coisas são da maneira que são.

Aí já sabe: um povo crítico e esclarecido é algo que o governo definitivamente não quer!
Para os poderosos é preferível que o povo se porte feito gado enquanto são conduzidos para
o abatedouro e não como filósofos questionadores do status quo.

Por conta de toda essa parada, Sócrates de Atenas, considerado a pessoa mais sábia
da Grécia, foi acusado de corromper a juventude com sua filosofia, bem como, de negar os
deuses e até criar novos. Tais acusações foram levadas ao tribunal, no qual se deu o
julgamento de Sócrates.

A argumentação no julgamento
No tribunal, constituído por 501 cidadãos, os acusadores Ânito, Meleto e Lícon, difamavam
Sócrates em frente os cidadãos. Ânito, que era um político influente da democracia
ateniense – e também rico, curtidor de peles e influente orador –, dizia que seu filho se
tornou discípulo de Sócrates, que ria dos deuses e se voltava contra o Estado.

Na obra “Apologia a Sócrates”, é relatado que Sócrates refutou as acusações que pendiam
sobre ele. Disse que sua ocupação era justamente mostrar aos cidadãos que a verdadeira
virtude não vinha da riqueza, tampouco dos bens materiais.

Nas palavras de Platão, Sócrates teria dito em julgamento:

“Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de
que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas, e
a vos dizer que a virtude não provém da riqueza, mas sim que é a virtude que traz a riqueza
ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada. Se,
dizendo isso, eu estou a corromper a juventude, tanto pior; mas, se alguém afirmar que digo
outra coisa, mente”.

Daí julgamento vai, julgamento vem, e Sócrates vai “trolando” geral, lacrando os acusadores
que, por vezes, acabavam por não saber ao certo do que estavam acusando Sócrates.
Quando foi dado um veredito, em uma votação de margem apertada, o destino de Sócrates
não poderia ser outro que não de culpado.

Condenação de Sócrates

O julgamento de Sócrates terminou com o acusador Meleto pediu a pena de morte.


Entretanto, como a margem tinha sido apertada e Sócrates tinha muita moral em Atenas –
afinal de contas, o cara lutara bravamente na guerra por sua cidade e por seu povo – a pena
poderia ser convertida em outra coisa, geralmente algo financeiro. Era só pagar uns trocados
que ele poderia sair dali.
Todavia, aceitar uma pena qualquer que fosse, era, para Sócrates, aceitar ser culpado.
Então, o filósofo acabou por argumentar com seus algozes e escolheu a morte. Juntando
seus camaradas, decidiu por beber cicuta (veneno) e selar seu destino. Assim se foi Sócrates.

Por fim, sua morte deixaria em evidência como ele estava correto em sua crítica a
democracia, pois, por uma votação, Sócrates foi injustiçado. E a injustiça do julgamento de
Sócrates foi cometida por cidadãos de bem que foram levados ao caminho errado pelos
discursos dos poderosos que visavam interesses próprios, diferente de Sócrates, que
permaneceu correto até o fim, um pináculo da virtude.

Exercícios sobre o julgamento de Sócrates:

1- (Fac. Cultura Inglesa SP)


Sócrates foi julgado e condenado à morte pelo tribunal da cidade de Atenas por volta do ano
de 399 a.C. O filósofo fez a sua defesa no tribunal ateniense, procurando refutar seus
acusadores:

Cidadãos atenienses, eu vos respeito e vos amo, mas enquanto eu respirar e estiver na posse
de minhas faculdades, não deixarei de filosofar e de vos exortar ou de instruir cada um,
dizendo-lhe, como é meu costume: – Ótimo homem, tu que és cidadão de Atenas, da cidade
maior e mais famosa pelo saber e pelo poder, não te envergonhas de fazer caso das
riquezas, para guardares quanto mais puderes e da glória e das honrarias, e de não fazer
caso da sabedoria, da verdade e da alma?

(Platão. Apologia de Sócrates, 1969. Adaptado.)

O sentido que Sócrates dava à razão pode ser relacionado, no aspecto político, com a
implantação, em Atenas, da

a) Oligarquia.

b) Teocracia.

c) Tirania.

d) Democracia.

e) Talassocracia.

2- (UEG GO)
A Grécia foi o berço da filosofia, destacando-se pela presença dos filósofos que pensaram o
mundo em que viveram utilizando a ferramenta da razão. O período da história grega e o
filósofo que afirmou que “só sei que nada sei” foram respectivamente o

a) período pós-clássico e Sócrates.

b) período helenístico e Platão.

c) período clássico e Sócrates.


d) período clássico e Platão.

3- (UEG GO)
No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros
estavam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto
importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. Para obter a
aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e
persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de
discursar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte da
oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de
pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como

a) maniqueistas.

b) hedonistas.

c) epicuristas.

d) sofistas.

4- (UDESC SC)
Os gregos da antiguidade clássica desenvolveram métodos de explicação do mundo,
observando o que acontecia à sua volta, para depois buscar explicações racionais e lógicas
para o que haviam percebido. Esse método recebeu o nome de filosofia.

Sobre esse assunto, assinale a alternativa incorreta.

a) Na fase socrática, os filósofos passaram a se preocupar também com os problemas


relacionados com o indivíduo e com a organização da humanidade.

b) O surgimento da filosofia fez nascer uma das grandes criações do pensamento humano,
base das ciências modernas.

c) A preocupação dos primeiros filósofos era principalmente com a origem do mundo e da


natureza.

d) A obra mais famosa de Sócrates, A República, defende uma forma de governo para a
sociedade; para o filósofo, governar deveria visar ao bem comum e não aos interesses
particulares.

e) No final do século V a.C., com o desenvolvimento da democracia ateniense, a filosofia


grega inicia uma segunda fase, conhecida como socrática, cujo principal filósofo foi Sócrates.

Gabarito

1. D
2. C
3. D
4. D
A filosofia de Sócrates: resumo para o Enem e vestibular
Sócrates representa a mudança na Filosofia. Ele criou a nova arte do pensamento, focada no
ser humano. Antes dele o foco era conhecer a natureza das coisas. Veja:
O pensador Sócrates tem uma importância visível dentro da caminhada filosófica de mais de
27 séculos: a busca pela verdade. Ao afirmar que nada sabe e o fato de colocar a dúvida
como princípio do conhecimento, o coloca num patamar dos filósofos que mais contribuíram
para o diálogo racional na antiguidade.

O filósofo, nascido em Atenas (469-399 a.C), na Grécia, é um marco na história da filosofia,


uma vez que os que vieram antes são conhecidos como pré-socráticos e os que apareceram
posteriormente, de pós-socráticos.

O pensamento original de Sócrates

Como você neste resumo de introdução, apesar de sua importância, Sócrates não deixou
nada escrito, o que se sabe sobre ele e de suas ideias veio a partir de seus discípulos. O mais
ilustre deles é Platão.

Sócrates era de família humilde e simples, filho de um escultor e de uma parteira. Usava sua
origem como uma dupla simbologia para ilustrar suas ideias, principalmente seu método, o
de ajudar as pessoas a “dar à luz” às suas próprias ideias.

Sócrates se parecia com os sábios professores gregos, embora não “vendesse” seus
ensinamentos. Ficava na praça pública (ágora, do grego), desenvolvendo seu saber junto aos
mais jovens, mostrando que era preciso a concretude do pensamento, unir o saber e o fazer,
consciência intelectual à prática.

A Filosofia de Sócrates

O filósofo grego abandona a tradição dos pré-socráticos, de explicação do mundo a partir


dos elementos da natureza e concentra-se na problemática do ser humano. Por isso, o
autoconhecimento era um dos pontos básicos da filosofia socrática. “Conhece-te a ti
mesmo”, frase escrita no Oráculo (local para escutar a resposta de uma divindade), foi uma
fala repetida inúmeras vezes por Sócrates para seus discípulos.

Acusado de corromper a juventude e de renegar os deuses atenienses (devido à crença


remanescente do período dos mitos), foi condenado a morte por ingestão de um veneno
chamado cicuta.

Sócrates e a Dialética

A filosofia de Sócrates era toda baseada em diálogos críticos (dialética) com seus
interlocutores, fazendo isso com um método muito claro, dividido em dois momentos:

– a ironia: primeiro passo era o de duvidar de todas as certezas que o interlocutor carregava


consigo, questionando o que eles achavam saber, fazendo-lhes perguntas e procurando
mostrar as contradições de suas ideias. O objetivo desse primeiro momento era fazer com
que a pessoa que dialogasse com ele tomasse consciência de sua própria ignorância.
– a maiêutica: você se recorda da profissão da mãe de Sócrates? Pois bem, ele remonta a
tradição de sua querida mãe que era parteira, para dar base imaginária a esse segundo
passo do diálogo socrático.

O diálogo socrático consiste em continuar as várias questões e perguntas ao interlocutor,


mas não para perceber suas contradições como vimos na Ironia, mas sim, com o objetivo de
ajudar o interlocutor a construir suas próprias ideias, livre de preconceitos, ou seja, um “dar
à luz” a conceitos e afirmativas novas, assim como o próprio nome Maiêutica se refere.

A Origem da Filosofia

A ruptura provocada por Sócrates pode ser melhor entendida por você ao observar como
era o pensamento dos Filósofos da Natureza, e que ficaram conhecidos também como os
Filósofos Pré-Socráticos. Confira no resumo:

Gostou do Resumo sobre O pensamento de Sócrates, e as diferenças com os filósofos que o


antecederam? Então, agora é a hora de testar seus conhecimentos!

A Filosofia de Platão e o Mundo das Ideias


Veja a essência da Filosofia de Platão e o Mundo das Ideias, e também conheça a Alegoria da
Caverna. Ele foi pupilo de Sócrates, e cai muito no Enem.

Você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre o mundo das ideias e de Platão, esse
grego barbudo de ombros largos é um dos principais filósofos da antiguidade.

Ele foi aluno de Sócrates. Acredita-se que que Platão conheceu seu mestre por volta dos 30
anos de idade. Aliás, grande parte dos escritos deixados por Platão são os diálogos
socráticos, isto é, uma espécie de contos no qual Sócrates é a personagem principal porta-
voz das ideias de Platão.

Em razão disso, é um pouco complicado separar as teorias genuínas de Platão daquilo que
tenha sido pensado por Sócrates. Todavia, é fácil enxergar a importância e a influência de
Sócrates na vida e nas obras de Platão.

Existe aí um modo característico de se filosofar que de Sócrates a Platão influenciou o


desenvolvimento de ideias pioneiras nos campos da epistemologia, metafisica, ética, estética
e política.

Uma dessas ideias revolucionárias é justamente a ideia de um “Mundo de Ideias”! Parece


confuso, né? Para que você entenda os motivos que levaram Platão a desenvolver essa
“parada” de Mundo das Ideias, devemos antes falar um pouquinho do pensamento pré-
socrático.

Os pré-Socráticos
Dentre as várias ideias que surgiram na Grécia na tentativa de explicar o mundo e seu
funcionamento, duas delas foram imprescindíveis para que Platão desenvolvesse essa
parada de Mundo das Ideias.

Os autores dessas ideias foram Heráclito e Parmênides. Filósofos de correntes de


pensamento diferentes que tentavam explicar o mundo a partir de pontos de vistas
antagônicos.

Na vulgata filosófica, Heráclito é o pensador do panta rei “tudo flui” e do fogo, que seria o
elemento do qual deriva tudo o que nos circunda. Sintetizando a ideia de um mundo em
movimento perpétuo.

O Heráclito, vulgo Skoteinós, algo como “O Obscuro” em grego antigo, era um cara que
entendia o mundo de maneira mais caótica. Muitos o consideravam contraditório pelo fato
de suas ideias parecerem muitas vezes sem sentido.

Heráclito falou sobre um mundo que é contínuo pois, está sempre em constante
movimento. Esse movimento era importante de maneira tal que coisa nenhuma é idêntica
tampouco imutável, ao contrário, transforma-se.

Deixa-me exemplificar as ideias desse nosso filósofo obscuro. Pense em quando você olha
para a chama de uma vela. Parece meio óbvio que a chama ardendo é sempre igual, embora
tremule e crepite, parece sempre a mesma. Mas não é. Na realidade, o que estamos vendo é
um processo de transformação!

A vela está numa constante transformação: a cera da vela é transformada em fogo, o fogo
em fumaça e a fumaça em ar. Louco, né? Tudo isso acontecendo num mesmo instante em
um eterno caos de transformações.

É nesse caos de transformações que Heráclito desenvolve suas ideias. Isso vai de encontro
ao que pensa a outra personagem desse post, nosso querido Parmênides. Ele dizia que o ser
é imutável, infinito e imóvel, assim ele não se transforma mas permanece sempre idêntico a
si mesmo.

É importante entender que nas ideias de Parmênides a aparência sensível do mundo não
existe. Isto é, as coisas irão sempre parecer em movimento, mas isso não passa de ilusão.

Vamos olhar uma vela de novo para entender melhor. É possível perceber a luz vinda da vela
e em decorrência disso a escuridão. Para Parmênides a escuridão não passa de uma negação
da luz, uma não-luz. Sabendo disso já dá para você olhar aquela famosa citação “O Ser é e o
Não-Ser Não é” além do tom de obviedade!

Platão analisou que enquanto a unidade de Parmênides é idêntica e imutável, a de Heráclito


está entre dois polos. Isto é, mesmo que o “Ser e o Não-Ser” sejam parte e coabitem o
mesmo, não podem ser descartados como simples ilusões.

A partir dessas ideias, Platão elaborou uma teoria metafísica dualista, ou seja, ele dividiu o
mundo em duas categorias: o Mundo das Ideias e das Formas e o mundo sensível.

Mundo das Ideias e o Mundo Sensível


Esse tal de Mundo das Ideias é o local onde estaria a essência de tudo, sejam conceitos ou
coisas. No Mundo das Ideias encontramos as Ideias fixas e imutáveis (olha o Parmênides
aqui) que geram essencialmente cada coisa que existe seja ela ser ou objeto.

Ora, o tal do Mundo Sensível, em oposição ao Mundo das Ideias, é a realidade do dia a dia,
esse cotidiano que vive se transformando (olha o Heráclito aqui) e que experienciamos
através de nossos sentidos (daí o nome sensível).

Para Platão o mundo sensível é uma realidade “fake”. A realidade não passa de uma ilusão e,
como toda fakenews, nos leva ao erro. Portanto, por percebemos o mundo com nossos
sentidos, enxergamos as aparências das coisas do mundo e não sua essência. Essa essência
aí estaria em outro mundo, o das Ideias.

O mundo das Ideias está relacionado com a chamada teoria da alma. Num livro chamado a
Republica, Platão vai afirmar que as pessoas possuem corpo e alma.

O corpo, como você sabe, é uma parada que se transforma (espera só a puberdade que você
vai ver), mas a alma é imutável. (Ah! Agora ficou ainda mais fácil entender a inspiração
dialética de Heráclito e Parmênides).

Podemos ver essa teoria de Platão ao longo de todas as suas obras. Essa ideia é pioneira no
estabelecimento do conceito de idealismo pois, quando Platão criou seu Mundo das Ideias
passamos a nos questionar a respeito da verdadeira essência em sua forma ideal, o que seria
a verdade absoluta e imutável.

Por fim, segundo nosso camarada Platão, o que conhecemos por meio de nossos sentidos
seriam apenas ilusões, por conseguinte, são apenas imitações da verdade. O verdadeiro
conhecimento se encontra no Mundo das Ideais.

Exercícios sobre Platão e o Mundo das Ideias

1 – Universidade Estadual Paulista (UNESP) 2009

O que é terrível na escrita é sua semelhança com a pintura. As produções da pintura


apresentam-se como seres vivos, mas se lhes perguntarmos algo, mantêm o mais solene
silêncio.

O mesmo ocorre com os escritos: poderíamos imaginar que falam como se pensassem, mas
se os interrogarmos sobre o que dizem (…) dão a entender somente uma coisa, sempre a
mesma (…) E quando são maltratados e insultados, injustamente, têm sempre a necessidade
do auxílio de seu autor porque são incapazes de se defenderem, de assistirem a si mesmos.

Platão, Fedro ou Da beleza. São Paulo; Guimarães, 1998

Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com a pintura, contrapondo-os à sua
concepção de filosofia.

Assinale a alternativa que permite concluir, com apoio do fragmento apresentado, uma das
principais características do platonismo.
a) A forma de exposição da filosofia platônica é o diálogo, e o conhecimento funda-se no
rigor interno das argumentações, produzido e comprovado pela confrontação dos discursos

b) O platonismo se vale da oratória política, sem compromisso filosófico com a busca da


verdade, mas dirigida ao convencimento dos governantes das Cidades

c) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de pequenas sentenças com sentido
completo, as quais, no seu entender, esgotam o conhecimento acerca do mundo

d) O discurso platônico tem a mesma natureza do discurso religioso, pois o conhecimento


filosófico modifica-se segundo as habilidades e a argúcia dos filósofos

e) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias platônicas, sendo a filosofia uma
sabedoria alcançada na velhice e ensinada pelos mestres aos discípulos

2. (ENEM 2012)

Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é
um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto
racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do
segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente.

ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012


(adaptado).

O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina
das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante
dessa relação?

A). Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas

B). Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles

C). Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis

D). Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não

E). Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão.

3. (ENEM 2014)
No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto.

Esse gesto significa que o conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem
descobre a:

a) Suspensão do juízo como reveladora da verdade.

b) Realidade inteligível por meio do método dialético.

c) Salvação da condição mortal pelo poder de Deus.

d) Essência das coisas sensíveis no intelecto divino.

e) Ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.

Gabarito 1.A; 2.D; 3.B.

A filosofia de Platão
Nesta revisão sobre Platão, entenda o que o filósofo quis dizer com o Mito da Caverna e
aprenda a concepção dele sobre o mundo das ideias e o mundo dos sentidos. Esse assunto é
super cobrado no Enem!
Platão é uma figura clássica da filosofia grega. Nascido em Atenas, no ano de 428 a.C.,
recebeu o nome de Arístocles. Mas, devido à sua composição física, tendo os ombros
bastante largos, recebeu o apelido de Platão, que do grego, significa ombros largos.

Platão foi discípulo de Sócrates e, após a condenação e morte de seu professor (por
acusações como “não acreditar nos costumes e deuses gregos) ficou decepcionado com a
democracia ateniense e passou a viajar por outras cidades. Retornou no ano de 387 a.C. a
Atenas, fundou sua escola filosófica: a Academia. Sócrates morreu em 348 a.C

A Academia de Platão

Platão deu este nome à sua escola filosófica em homenagem a um legendário herói grego
chamado de Academo. Até hoje usamos o termo Academia para as Universidades – veja: as
matérias são chamadas de disciplinas acadêmicas e os estudantes são chamados de
acadêmicos.

Além de propagar sua própria linha de pensamento com a demarcação entre o mundo das
ideias, onde a perfeição seria possível, e o mundo dos sentidos, onde impera a percepção da
realidade, a obra de Platão resgata o pensamento de Sócrates.

O mundo das ideias

Platão acreditava que por de trás de nossa realidade material existe uma realidade abstrata.
Vamos exemplificar: quando você vai à padaria e encontra um monte de pães parecidos, já
se perguntou por que estes pães ficam quase do mesmo tamanho e do mesmo formato? Se
estiveres pensando que é por causa da forma, acertou.

A forma, como o nome já diz, dá o formado parecido de todos os pães. Para Platão, todas as
coisas do mundo são como os pães da padaria, ou seja, por trás de tudo que existe, há uma
forma.

No mundo das ideias, existem todas as ideias primordiais, sendo que essas ideias são
perfeitas e eternas – as formas. Uma cadeira, por exemplo, pode mudar o formado
(redonda, quadrada, 3 ou 4 pés), mas a “ideia cadeira” sempre será a mesma: um objeto
para sentar.

Segundo Platão, só podemos alcançar essa realidade – o mundo das ideias – por meio da
razão.

O mundo dos sentidos

O mundo dos sentidos para Platão é o mundo que habitamos – o mundo material. Este
mundo é uma cópia do mundo das ideias. No entanto, por ser uma cópia, ela está sujeito ao
erro e não é eterno, tem um tempo de duração.

Na verdade, com a criação destes dois mundos, Platão resolve um problema criado pelos
pré-socráticos: Parmênides e Heráclito. O problema era a respeito do movimento: se para
Heráclito tudo está em constante movimento e nada dura para sempre, para Parmênides
este movimento é uma ilusão.

Para Platão, no mundo das ideias não existe mudança, pois tudo é eterno – assim como
Parmênides – e, no mundo dos sentidos, tudo está mudando e sujeito ao erro, assim como
para Heráclito.

O verdadeiro conhecimento

Se você entendeu a diferença entre o mundo dos sentidos e o mundo das ideias, pode
afirmar, seguindo as ideias de Platão, onde se encontra o verdadeiro conhecimento.

Se no mundo dos sentidos tudo está sujeito o erro, Platão conclui que o conhecimento
verdadeiro se encontra no mundo das ideias, onde estão as ideias primordiais. Lembra que
acima eu disse que, segundo o filósofo, só podemos chegar ao mundo das ideias por meio da
razão? Platão afirma isso porque acredita que o uso dos sentidos nos leva ao erro.

Para Platão, o homem é um ser dual, isto é, corpo e alma. O corpo está ligado ao mundo dos
sentidos, tem defeitos e tem um fim. Já alma é a morada da razão, ela é eterna, abstrata,
não conseguimos ver e nem tocar. Se alma é eterna e o mundo das ideias também é eterno
ela sempre viveu lá, apenas passou habitar um corpo.

Na ótica de Platão, não se ensina nada nada a ninguém, pois nossa alma (que é a morada da
razão) já sabe de tudo, só que ao habitar um corpo, ela se esquece do que já sabe.
Aprender, portanto, é apenas recordar – o que ele chama de reminiscência. Em outras
palavras, é sairmos do mundo dos sentidos para o mundo das ideias, para o conhecimento
teórico.

Para finalizar, faça os exercícios sobre Platão que selecionamos:

Questão 01 – (UEPA/2015)

Platão:

A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de seus
interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e seus ódios; confiar-
lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor rigor.
Quanto às pretensas discussões na Assembleia, são apenas disputas contrapondo opiniões
subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu
caráter insuficiente.

(Citado por: CHATELET, F. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17)

Os argumentos de Platão, filósofo grego da antiguidade, evidenciam uma forte crítica à:

a) oligarquia
b) república
c) democracia
d) monarquia
e) plutocracia

Questão 02 – (UEG GO/2009)

Para Platão, a polis é o modelo de vida em grupo. É na República que o autor apresenta os
vários grupos que compõem a sociedade. De acordo com suas ideias, o grupo que deve
governar a polis é o dos:

a) comerciantes que, sabendo da importância das riquezas para as cidades-estados da


Grécia, levariam riquezas para a polis.
b) filósofos que, por conhecer a verdade e o bem através da contemplação do mundo das
ideias, proporcionariam o maior bem comum a todos.
c) guerreiros, pois se caracterizavam por sua força, integridade e seu grande amor aos
sentimentos mais nobres, como fidelidade e bravura.
d) trabalhadores que, por meio das mais diversas profissões e movidos pela ambição do
lucro, garantiriam o sustento de toda a polis.

GABARITO:
1) Gab: C

2) Gab: B

Platão, Política e Justiça.


Ah! A Política. Se você se curte esse assunto que é trend topic tanto no Twitter quanto no
Enem, vem comigo embarcar nessa jornada filosófica para desvendar as ideias de Platão
acerca do assunto.

Um dos temas mais polêmicos tratados pela Filosofia é a Política. Sempre em altas nos
jornais, nas rodas de amigos, nas reuniões de família e naquele grupo chato
de WhatsApp que você quer sair ou não pode. Já na Grécia antiga as pessoas discutiam e
brigavam por conta dessa disciplina filosófica. E um dos filósofos gregos mais famosos,
Platão, estudou muito sobre este tema. Nesta aula de filosofia para o Enem, você vai
entender a visão da Justiça e da Política em.

Arístocles, o famosos Platão

Das diversas coisas que os filósofos se dedicam a estudar, o convívio em sociedade é um dos
pontos mais esmiuçados. E, esse tema foi uma das coisas que mais chamou a atenção de um
filosofo em especial, Arístocles. Esse sujeito barbudo que vivia em Atenas, entre 428 e 348
a.C, dedicou seu tempo a estudar a Política, o Estado e todos os seus desdobramentos.

Não é à toa que a palavra Política vem do Grego. Foi lá nas cidades-estados, conhecidas
como Polis, que se iniciou o estudo dessa disciplina filosófica. Assim sendo, os filósofos
gregos questionaram-se a respeito dos seus governantes, das leis, da origem da organização
social dentre outras coisas.

Ora, em Atenas, o famoso Arístocles, mais conhecido como Platão (que você provavelmente


já deve ter ouvido falar por conta de seu mestre Sócrates ou mesmo por ser um dos filósofos
preferidos do Enem), vai se revoltar com o governo de sua polis e sistematizar uma ideia
política.

(Platão era de uma família rica, e, diga-se de passagem nobre, pois dizia-se que seu pai
Ariston descendia do rei Codro, o último rei de Atenas. Era também descendente de Sólon,
um dos legisladores e estadistas de maior destaque da política ateniense.)
 

A Política em Platão

A trajetória de Platão é marcada por vários acontecimentos políticos importantes. Ele lutou
na Guerra do Peloponeso, vivenciou a Tirania dos 30, viu seu mestre Sócrates morrer e foi
conselheiro do governante da Sicília que o vendeu como escravo.

Essa agitada vida política o levou a perceber a desigualdade de conhecimento entre as


pessoas. Platão passou então a valorizar o conhecimento como algo importantíssimo para a
vida política. E, a partir disso, desenvolveu um projeto governamental.

Mais tarde, esse projeto foi integrado ao restante de suas obras que, por fim, culminou na
fundação de sua escola. Essa escola posteriormente tornou-se a famosa Academia de
Atenas.

Platão pensava que as pessoas comuns eram vítimas da falta de conhecimento (que ele
chamava de opinião). Por conta disso, havia então a necessidade de serem governados por
aqueles que eram mais sábios. Essa é uma das ideias principais da Política em Platão. É nessa
ideia que encontramos o ponto de partida para o desenvolvimento de sua Política.

Platão compara a Polis e seus habitantes, dizendo que ambos possuem uma estrutura muita
parecida, quiçá igual. Pois, para Platão, tantos as pessoas quanto a Polis podem ser divididas
em três categorias, listadas a seguir.

Corpo e Alma

Segundo Platão, o pupilo de Sócrates, as pessoas possuem corpo e alma. Nossa alma estava
num tal de “mundos das ideias”. Mas, acabou virando prisioneira do corpo, que se encontra
no mundo sensível e por isso esqueceu todo o seu conhecimento.

(Platão era dualista, acreditava que as pessoas se dividiam em corpo e alma. Ideia está que
será apropriada por muitos outros filósofos e servirá de base para o cristianismo.)

Sendo assim, a alma das pessoas teria uma capacidade inata que cabe a cada um buscar.
Platão vai então dividir a sociedade em grupos, de acordo com as suas almas.

Alma concupiscível

A menos ilustre das categorias é a classificada como alma apetitiva (Concupiscível). Essa é


responsável pelos desejos carnais de sobrevivência. Buscando a satisfação dos apetites do
corpo, tanto os necessários à sobrevivência como os que apenas causam prazer.

Alma emotiva

No meio caminho, entre a mais e menos ilustre das almas temos a alma emotiva (Irascível).
Como o nome sugere ela é a responsável pelas emoções. Ela é uma espécie de alma da
“treta”, defendendo o corpo das agressões. Sempre reagindo à dor, as vezes colérica e
violenta a fim de garantir a nossa existência.

(Um problema abordado por Sócrates nos diálogos platônicos é o paradoxo de quem iria
fiscalizar os guardiões? Problema que fica famoso na frase do poeta romano Juvenal: sed
quis custodiet ipsos custodes? (quem vigia os vigilantes?) Retratando assim os abusos dos
guardiões. Hoje essa discussão se faz muito atual dado o colossal número de abusos
policiais.)
 

Alma racional

Por fim, a mais ilustre delas, a alma racional. Essa aí é a imortal “cereja do bolo”. Segundo
Platão, ela é responsável pela racionalidade e sabedoria humana. A alma racional deve estar
no controle sobre as outras duas, pois, o homem deve pautar a sua vida com base na razão.
A razão permitiria ao homem reconhecer o bem e o mal, por isso ela deve moderar as outras
duas.
Figura 5. Para Arístocles a alma tinha até um lugar específico no corpo, bem como seus
vícios.
 

A trindade da Polis

Quanto à Polis, ela também terá uma trindade política. Platão a dividiu em três tipos de
grupos. Os produtores (agricultores, artesões, comerciantes, a galera do trabalho braçal) que
cuidam da subsistência e garantem a sobrevivência material da pólis.

Os guardiões, que são os responsáveis pela defesa e manutenção da ordem na cidade. E, por
fim, os governantes, que legislam e administram a Polis.

Agora, vamos juntar as duas coisas para que a Polis seja próspera. Assim sendo, Platão
dividiu os habitantes nesses três grupos, cada habitante se encaixa na cidade numa função
que condiz com a sua alma.

Ao praticar suas virtudes, a população iria exercer uma ação na sociedade. Cada um nas suas
funções, colaborando para o bom funcionamento da Polis.

A justiça segundo Platão

E a justiça como fica? Para Platão, o Estado deveria dar educação aos cidadãos. As pessoas
iriam passar um tempo da vida sendo preparado para sua função de acordo com seu tipo de
alma.

O barbudo de ombros largos (Platão), afirmava que a justiça é idealizada a partir da ideia de
que as pessoas seriam altruístas. Assim sendo, numa situação em que uma pessoa levaria
vantagem sobre a Polis, isto é, todo o resto dos habitantes seriam prejudicados, o cidadão
optaria sempre pela sociedade, ao invés de escolher o benefício próprio. Já disse que Platão
era um idealista? Então!

Enfim, numa sociedade justa quem deve governar são aqueles dotados de sabedoria,
aqueles cuja alma é a mais ilustre, aqueles que passam suas vidas estudando e aprimorando
suas ideias para se aproximar do mundo perfeito (o mundo das ideias), os filósofos
(conveniente não?).
Se uma pessoa (ou um seleto grupo de pessoas) está no poder, ora, fica implícito que o
poder (o Kratos em grego) não é exercido por todos, logo não é uma democracia. Platão não
curtia muito a ideia de democracia, afinal de contas ela matou Sócrates, seu mestre.

Ele afirmava que a democracia era um tipo de governo fadado ao fracasso visto que a
maioria das pessoas carece de conhecimento, deste modo, os filósofos seriam as pessoas
ideias para ocuparem os postos de comando.

Do mesmo modo, uma sociedade injusta seria então aquela onde as pessoas sábias,
estariam sendo governadas por pessoas que não tem toda essa sabedoria e sagacidade para
governar (parece familiar?).

Por fim, para Platão, para haver justiça precisamos usar toda a capacidade de nossas almas
para fazer aquilo que nos é destinado a fazer. Pois quem não  tem a alma em harmonia com
a Polis e consigo mesmo, tem seus desejos voltados ao corpo e não a razão.

Questões sobre a Justiça e Política em Platão

1 Universidade do Estado do Pará (UEPA) 2015

Platão: A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de
seus interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e seus ódios;
confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor rigor.

Quanto às pretensas discussões na Assembleia, são apenas disputas contrapondo opiniões


subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu
caráter insuficiente.

CHATELET, F. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17

Os argumentos de Platão, filósofo grego da antiguidade, evidenciam uma forte crítica à:

A) Oligarquia

B) República

C) Democracia

D) Monarquia

E) plutocracia

Universidade Estadual de Goiás (UEG) 2010

O mundo grego no século IV a. C. era marcado por uma estrutura de cidades-Estado


dispersas pelo território helênico. Essa fragmentação política levou os filósofos a procurarem
estabelecer uma ideia sobre as formas de governo que fossem as mais adequadas. Entre
essas ideias, pode-se destacar

A) a democracia racional, defendida por Demócrito


B) a oligarquia comercial, defendida por Sócrates

C) a aristocracia rural, defendida por Heráclito

D) o governo de filósofos, defendido por Platão

E) a tirania dos militares, defendida por tolos

(Uenp 2011) Platão foi um dos filósofos que mais influenciaram a cultura ocidental. Para ele,
a filosofia tem um fim prático e é capaz de resolver os grandes problemas da vida. Considera
a alma humana prisioneira do corpo, vivendo como se fosse um peregrino em busca do
caminho de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do corpo e contemplar o inteligível.
Assinale a alternativa correta.

A) A teoria das ideias não pode ser considerada uma chave de leitura aplicável a todo
pensamento platônico.

B) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma ética racionalista que desconsiderava a vontade
como elemento fundamental entre os motivadores da ação. Ele acreditava que o
conhecimento do bem era suficiente para motivar a conduta de acordo com essa ideia (agir
bem).

C) Platão propõe um modelo de organização política da sociedade que pode ser considerado
estamental e antidemocrático. Para ele, o governo não deveria se pautar pelo princípio da
maioria. As almas têm natureza diversa, de acordo com sua composição, isso faz com que os
homens devam ser distribuídos de acordo com essa natureza, divididos em grupos
encarregados do governo, do controle e do abastecimento da polis.

D) Platão chamava o conhecimento da verdade de doxa e o contrapõe a uma outra forma de


conhecimento (inferior) denominada episteme.

E) Para Platão, a essência das coisas é dada a partir da análise de suas causas material e final.

Gabarito

1.C,2.D,3.C.

Aristóteles: o Homem é um animal político – Filosofia Enem


Você concorda que a natureza do homem é ser político? Quer entender como Aristóteles
compreende o surgimento da pólis? Então continue estudando conosco para o Enem e fique
por dentro deste tema.
Quem foi Aristóteles? Ele foi um dos grandes pensadores da Grécia antiga. Aristóteles
nasceu na antiga cidade de Estágira, na Macedônia, Grécia, no ano de 384 a.C. e viveu até o
ano de 332 a.C. Seu pai era médico do rei Amintas III e, por isso, recebeu sólida formação em
Ciências Naturais.
Com 17 anos partiu para Atenas, foi estudar na “Academia de Platão”. Aristóteles estudou e
questionou violentamente com seu professor, mas, apesar das brigas constantes, mestre e
discípulo se adoravam mutuamente. Aristóteles se tornou o predileto de Platão.

Conteúdo  

1 Aristóteles

2 Democracia: a melhor forma de governo

3 Política + ética: pólis

4 Introdução sobre Aristóteles

5 A vida de Aristóteles

6 Exercicios sobre Aristóteles

Aristóteles
“Minha Academia se compõe de duas partes: o corpo dos alunos e o cérebro de Aristóteles”,
afirmava Platão.

Depois de estudar na Academia de Platão, Aristóteles partiu para tornar-se professor de


filosofia e conselheiro de chefes de estado. Com o tempo, tornou-se famoso por suas
próprias ideias e abriu sua própria escola.

Animal político – “zoon politikon”

Aristóteles entendia que o ser humano trazia na sua natureza a sociabilidade, pois para
sobreviver precisa relacionar-se com os seus semelhantes. Para realizar este fim, surge a
pólis, ou seja, a cidade.

A polis, portanto, não é algo externo ao ser humano, mas vai-se construindo conforme o ser
humano vai se relacionando com o outro, por isso, que por natureza, o homem é um animal
político, pois naturalmente também é voltado a justiça, ao bem comum e a felicidade.

Democracia: a melhor forma de governo


Diferente de seu professor Platão, Aristóteles defendia a democracia (demos: povo e cracia:
poder, poder na mão do povo), pois se o homem era por natureza um ser sociável e também
era de sua natureza a busca do bem comum, então a democracia era a realização plena
deste homem que tende se organizar politicamente.

Cabe ressaltar que para Aristóteles nem todos eram considerados cidadãos, pois afirmava
que não havia diferenças naturais entre os seres humanos, por isso a igualde entre os
homens se dava em razão de sua qualidade superiores. Ficavam de fora, portanto, as
mulheres, os estrangeiros e as pessoas escravizadas ou economicamente pobres.

Constituição
Aristóteles propunha uma constituição, ou seja, uma organização prévia e hierárquica das
autoridades presentas na pólis. No entanto, o governante deveria estar submetido a esta
constituição.

O estado para ele era um conjunto formado pelos cidadãos e pelo governante sendo ambos
regidos pela constituição que era capaz de promover a virtude e o bem comum.

Política + ética: pólis


O exercício da política não estava desassociado da ética, aliás, a política é uma continuidade
da ética. Então vamos entender como ele compreendia a ética.

A ética para Aristóteles é a busca da virtude, ou seja, agir sempre na moderação, jamais a
falta ou o excesso. Vou dar um exemplo para ficar melhor. Comer de menos não faz bem
para o corpo, pois precisamos de muitos nutrientes e, por esse motivo, nosso prato deve
conter um pouco de tudo.

No entanto, não pode conter tudo de um pouco, pois o excesso de um tipo de nutriente não
é saldável, ou seja, devemos ter uma alimentação moderada.

Conseguiu entender? A ética para Aristóteles é a busca da felicidade que se encontra na


virtude, ou seja, agir moderadamente, ou como também é conhecido, ética do meio termo. 
No entanto, a felicidade plena do ser humano está na sociabilidade, pois isso a vida política é
uma continuidade da ética.

Introdução sobre Aristóteles

A vida de Aristóteles
Quando Platão morreu, em 347 a.C., Aristóteles fazia vinte anos de Academia e esperava ser
o substituto natural do seu mestre na direção da escola. No entanto, foi rejeitado por ser
considerado estrangeiro. Decepcionado, deixou Atenas e partiu para a Ásia Menor, onde se
tornou conselheiro de estado de seu antigo colega, o filósofo e político Hermias.

Casou-se com Pítia, filha adotiva de Hermias, mas entrou em choque com a sede de riqueza
de seu colega, em contraste com seus ideais de justiça. Quando os persas invadiram o país e
crucificaram seu governante, mais uma vez Aristóteles ficou sem pátria.

Aristóteles voltou para a Macedônia em 343 a.C. e o rei Filipe II da Macedônia o chamou
para ser o tutor de seu filho Alexandre. O rei queria que seu filho fosse um requintado
filósofo. Aristóteles permaneceu com Alexandre durante dois anos e depois se separaram. O
soldado partiu para conquistar o mundo, tornando-se posteriormente o conhecido
Alexandre Magno (ou Alexandre o Grande). Ele e Aristóteles permaneceram amigos.

Em 335 a.C. Aristóteles abriu sua própria escola, chamada Liceu, por estar situada nos
edifícios dedicados ao deus Apolo Lício. Além de cursos técnicos, ministrava aulas públicas
para o povo em geral.
A sabedoria de Aristóteles chegou até nós através de alguns escritos, mas que representam,
por si, uma enciclopédia inteira, pois contêm praticamente os começos de todas as nossas
modernas artes e ciências.

O fim de Aristóteles foi trágico. Quando o rei da Macedônia, Alexandre Magno morreu,
irrompeu em Atenas uma grande explosão de ódio, não somente contra o conquistador, mas
contra todos os seus admiradores e amigos. Um dos melhores amigos de Alexandre era
Aristóteles. Estava prestes a ser preso, quando conseguiu escapar em tempo.

Aristóteles deixou Atenas dizendo que não daria à cidade oportunidade de cometer um
segundo crime contra a filosofia. Pouco tempo depois do exílio que se impusera, adoeceu.
Desiludido com a ingratidão dos atenienses decidiu por fim à vida bebendo, como Sócrates,
uma taça de cicuta.

Aristóteles morreu em 322 a.C., em Cálcia, na Eubéia. Em seu testamento determinou a


libertação de seus escravos. Foi essa talvez, a primeira carta de alforria da história.

 Exercicios sobre Aristóteles

Vamos verificar seu você conseguiu entender o pensamento de Aristóteles? Resolva as


questões que selecionamos para você e faça sua revisão para o Enem.

1- (Enem 2013) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do
mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em
Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é
ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades,
e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. ARISTÓTELES. A Política. São
Paulo: Cia. das Letras, 2010.

Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a


identifica como:

A) busca por bens materiais e títulos de nobreza.

B) plenitude espiritual e ascese pessoal.

C) finalidade das ações e condutas humanas.

D) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.

E) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.

2- (Enem 2009) Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e
naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida
de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis
com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania,
pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das
atividades políticas”.

VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.
O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania:

A) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos
de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de
trabalhar.

B) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma
concepção política profundamente hierarquizada da sociedade.

C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava
todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica

D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos
deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais.

E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que
tinham tempo para resolver os problemas da cidade.

3- (UEL – 2011) Leia o texto a seguir.

A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa
mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional
próprio do homem dotado de sabedoria prática.

(Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril
Cultural, 1973. Livro II, p. 273.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles, pode-se
dizer que a virtude ética

a) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta.

b) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta.

c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou a


falta.

d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas.

e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos
torna mais perfeitos.

4- ((UEL-2004) Observe a charge e leia o texto a seguir.


Animal Político Não alimente

Fonte: LAERTE. Classificados. São Paulo: Devir, 2001. p. 25.

“É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que o homem é
naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade, e que aquele que, por
instinto, e não porque qualquer circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade,
é um ser vil ou superior ao homem […].” (ARISTÓTELES. A política. Trad. de Nestor Silveira
Chaves. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 13.)

Com base no texto de Aristóteles e na charge, é correto afirmar:

a) O texto de Aristóteles confirma a ideia exposta pela charge de que a condição humana de
ser político é artificial e um obstáculo à liberdade individual.

b) A charge apresenta uma interpretação correta do texto de Aristóteles segundo a qual a


política é uma atividade nociva à coletividade devendo seus representantes serem afastados
do convívio social.

c) A charge aborda o ponto de vista aristotélico de que a dimensão política do homem


independe da convivência com seus semelhantes, uma vez que o homem bastasse a si
próprio.

d) A charge, fazendo alusão à afirmação aristotélica de que o homem é um animal político


por natureza, sugere uma crítica a um tipo de político que ignora a coletividade privilegiando
interesses particulares e que, por isso, deve ser evitado.

e) Tanto a charge quanto o texto de Aristóteles apresentam a ideia de que a vida em


sociedade degenera o homem, tornando-o um animal.

5- (UEL 2009) Com base nos conhecimentos sobre o pensamento político de Aristóteles, é
correto afirmar.

a) A reflexão aristotélica estabelece uma clara separação entre política e ética, uma vez que
a parte (vida individual) não pode se confundir com o todo (comunidade política).

b) A lei, para Aristóteles, como expressão política da ordem natural e, portanto,


intimamente ligada à justiça, é o princípio que rege a ação dos homens na pólis.
c) Aristóteles sustenta que cada homem, por sua liberdade natural, sempre age tendo em
vista algo que lhe parece ser um bem, alcançando sua perfeição pela satisfação de suas
paixões e necessidades individuais.

d) O conceito de felicidade a que, segundo Aristóteles, visa individualmente a ação humana,


está desvinculado do conceito de justiça como um exercício político orientado ao bem
comum.

e) Na concepção política de Aristóteles, torna-se evidente que a ideia de bom governo, de


regime justo e de cidade boa depende da tripartição dos poderes.

Respostas:
1: c; 2: b; 3: a; 4: d; 5: B

Ato e potência na filosofia e Aristóteles


A teoria do ato e potência, criada por Aristóteles, afirma que as coisas existem enquanto Ato
e que a Potência é a possibilidade de transformação. Venha descobrir como Aristóteles
resolveu a cisma do “movimento”, assunto recorrente no ENEM.
Antes de mais nada, para compreender a teoria do ato e potência, é importante
contextualizá-la. Por volta do século VI a.C. Aristóteles, o fundador da Escola Peripatética, se
interessou por uma reflexão. Era a reflexão que seus predecessores Heráclito e Parmênides
fizeram sobre o “movimento”. Essa reflexão girava em torno da possibilidade de existir a
mudança nas coisas que compõe o mundo.

Parece estranho se indagar sobre o movimento, mas dá só uma olhada no que existe por trás
dessa reflexão. Dessa forma, você vai entender melhor como é que se duvida da existência
de algo tão óbvio a nós.

De Heráclito e Parmênides

Anteriormente aos estudos de Aristóteles, essa dupla de filósofos protagonizou um dos


primeiros embates filosóficos da história. O problema em questão, que gerou toda a
discussão, foi o “movimento”. Isto é, será que existe mudança? Você enquanto ser se altera
ou é sempre idêntico a si?

Além de Aristóteles, esse debate também ganhou bastante fama nas teorias de Platão.
Principalmente, quando ele criou seu mundo das Ideias.

As ideias de Heráclito sobre movimento


Do ponto de vista de Heráclito, a mudança ocorre a todo o momento. Tudo no mundo está
em constante movimento, pois, tudo flui. Essa parada de fluidez ficou conhecida como Panta
Rei e diz respeito à doutrina dos opostos, criada pelo filósofo.

De acordo com essa doutrina, tudo é movimento. Assim, coisa nenhuma pode permanecer
parado – Panta Rei – exceto o movimento. Bom, embora a doutrina vá além disso, o que
importa nesse momento é entender que para Heráclito a existência está em constante
mudança.
Parmênides e suas ideias sobre movimento
Por outro lado, Parmênides, sujeito sossegado, dizia aos seus opositores que a mudança não
existia. Ao contrário: o que havia era uma organização racional do cosmos que era imutável.

Desta maneira, a teoria de Parmênides defendia o que chamamos de imobilismo. Isto é, não
existe movimento, as mudanças que conseguimos ver ao nosso redor não passam de
aparências.

Essa dupla aqui apresentada faz parte de uma galera que chamamos de Pré-Socráticos.

Entenda a diferença entre as ideias desses dois filósofos

A “treta” se dava pois Heráclito opunha-se a um princípio defendido por Parmênides


chamado princípio da não contradição. Nele, uma coisa só pode ser ela e nunca outra,
expressada de maneira lógica, A=A e nunca A=B pois só B=B.

Dizia Parmênides ser absurdo que algo possa ser e não ser ao mesmo tempo, uma vez que
uma maçã só pode ser uma maça e nunca um tomate. Contudo, para Heráclito propriedades
contrárias podem subsistir e não subsistir no mesmo sujeito. Por exemplo, embora o tomate
seja uma fruta, você não o coloca numa salada de frutas!

Ato e Potência: a teoria de Aristóteles


Na tentativa de resolver essa “treta” sobre o movimento, Aristóteles criou sua teoria do Ato
e da Potência, que faz parte de um estudo maior, a Etiologia, também conhecida como
“estudo das causas”. Para se aprofundar mais sobre o assunto, há aqui no CEG um post a
respeito da Etiologia intitulado Metafísica, A Filosofia Primeira de Aristóteles.

A sacada de Aristóteles para resolver a querela do movimento foi, em um primeiro


momento, juntar ambas as teorias conflitantes. Desta maneira, juntando algumas ideias de
Heráclito e outras de Parmênides, foi possível a criação de uma nova proposta acerca do
movimento.

Para Aristóteles as coisas existem enquanto Ato. Isto é, como aquilo que caracteriza algo em
um determinado momento, ele é a concretização de um fim. Isto é, podemos entender Ato
como qualquer coisa que exista ao nosso redor com uma finalidade. Uma caneta por
exemplo, ou o dispositivo eletrônico usado para ler isso, ou até mesmo você!

Já a Potência é a possibilidade de transformação. Ou seja, Potência é a capacidade de algo


atingir outro fim. Por exemplo: A caneta pode virar um canudinho para jogar bolinhas de
papel nos seus amigos, o dispositivo usado para ler isso pode virar lixo eletrônico daqui a
algum tempo e você pode se tornar um aprovado no ENEM. Potencialmente todas essas
coisas podem acontecer.

Vamos refletir sobre a teoria do ato e potência?


Pois bem, as coisas estão em constante transformação, todavia, existe uma certa lógica
nessa transformação. Ora, não podemos, ao menos por hora, supor que uma caneta se
transforme em um avião, ou você se torne o Batman. Assim sendo, existe uma lógica que
atua no cosmos de modo que A (Ato) se transforme (Potência) em B (Ato).
Aos aficionados pela Física cabe perguntar, o movimento não precisa de uma força para
acontecer? Não dá para se mover do nada. Aristóteles também já sacava isso aí há muito
tempo atrás. Em seus escritos ele teorizou a existência de um motor primeiro, algo que
desse origem a todo o movimento para que as demais coisas começassem a se transformar.

Essa solução, embora nada elucidativa, pois ainda permanece a questão acerca do que criou
o primeiro motor, serviu de base para diversos escritos religiosos posteriores que trataram
de atrelar essa causa originária do movimento a um Deus, criador dos céus e da terra.

Conclusão: a importância da teoria do ato e potência

Em suma, na visão de Aristóteles o Cosmos se organiza de maneira lógica, partindo de um


primeiro motor, desta maneira as coisas no universo existem enquanto Ato e possuem
dentro delas a possibilidade de ter outra finalidade, a Potência, se tornando então outra
coisa, um novo Ato.

Desta maneira, Aristóteles buscou juntar o Imobilismo de Parmênides com a Fluxo continuo
proposto por Heráclito. Ora, embora as coisas possuam uma identidade elas potencialmente
são capazes de assumir outras finalidades que não aquelas que já possuíam. Portanto,
quando falamos em Ato nos referimos a forma das “paradas” e quando falamos em Potência
nos referimos a mudança que pode acontecer com as coisas do mundo.

Por fim, Aristóteles conseguiu a partir dos conceitos de Ato e Potência preservar a unidade
das coisas e ainda tornar admissível o movimento. Desta forma sua Metafisica, no que tange
a Etiologia ganha um pano de fundo sólido para se estruturar.

Agora é contigo, bora se mover e resolver as questões abaixo:

1. (Ufu 2012) Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão “ser segundo a potência e o ato”,
indicam-se dois modos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opostos. Aristóteles, de fato,
chama o ser da potência até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao ser-em-ato, o
ser-em-potência é não-ser-em-ato.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Vol. II. Trad. de Henrique Cláudio de Lima Vaz e
Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349.
A partir da leitura do trecho acima e em conformidade com a Teoria do Ato e Potência de
Aristóteles, assinale a alternativa correta.

(A) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capacidade de se transformar em algo


diferente dele mesmo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em relação à estátua
(ser-em-potência).
(B) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência explica o movimento percebido no
mundo sensível. Tudo o que possui matéria possui potencialidade (capacidade de assumir ou
receber uma forma diferente de si), que tende a se atualizar (assumindo ou recebendo
aquela forma).
(C) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o ser-em-ato. Isto ocorre porque o
movimento verificado no mundo material é apenas ilusório, e o que existe é sempre
imutável e imóvel.
(D) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensível (das coisas materiais) e a
potência se encontra tão-somente no mundo inteligível, apreendido apenas com o intelecto.
2. (UFU – 2008) Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C), apesar de ter sido discípulo de Platão, criou sua
própria filosofia. Uma das diferenças marcantes entre os dois é a importância dada aos fenômenos
naturais do chamado mundo sensível. No mundo sensível, a mudança é constante, característica
que Aristóteles procura explicar a partir das concepções de matéria, forma, potência e ato.
Com base nos seus conhecimentos e no texto acima, assinale a alternativa que define
corretamente a concepção aristotélica de ato e potência.

(A) A potência e o ato são conceitos que não se referem, de fato, às coisas materiais sujeitas
à transformação.
(B) A potência é o momento presente, atual da matéria; ato é o que ela poderá vir a fazer.
(C) A potência e o ato não se relacionam com a matéria.
(D) A potência é o que a matéria virá a ser, seu devir, o princípio do movimento; ato é aquilo
que ela é no presente.

3. (UEL – 2011) Leia os textos a seguir.


Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, defende o sentido epistêmico do princípio de não
contradição como o princípio primário, incondicionado e absolutamente verdadeiro da
“ciência das causas primeiras”, ou melhor, o princípio que se apresenta como fundamento
último (ou primeiro) de justificação para qualquer enunciado declarativo em sua pretensão
de verdade.

“É impossível que o mesmo atributo pertença e não pertença ao mesmo tempo ao mesmo
sujeito, e na mesma relação. […] Não é possível, com efeito, conceber alguma vez que a
mesma coisa seja e não seja, como alguns acreditam que Heráclito disse […]. É por esta
razão que toda demonstração se remete a esse princípio como a uma última verdade, pois
ela é, por natureza, um ponto de partida, a mesma para os demais axiomas.

(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro IV, 3, 1005b apud FARIA, Maria do Carmo B. de. Aristóteles: a
plenitude como horizonte do ser. São Paulo: Moderna, 1994. p. 93.
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre Aristóteles, é correto afirmar:

(A) Aqueles que sustentam, com Heráclito, conceber verdadeiramente que propriedades
contrárias podem subsistir e não subsistir no mesmo sujeito opõem-se ao princípio de não
contradição.

(B) Pelo princípio de não contradição, sustenta-se a tese heracliteana de que, numa
enunciação verdadeira, se possa simultaneamente afirmar e negar um mesmo predicado de
um mesmo sujeito, em um mesmo sentido.

(C) Nas demonstrações sobre as realidades suprassensíveis, é possível conceber que


propriedades contrárias subsistam simultaneamente no mesmo sujeito, sem que isso incorra
em contradição lógica, ontológica e epistêmica.

(D) Para que se possa fundamentar o estatuto axiomático do princípio de não contradição,
exige-se que sua evidência, enquanto princípio primário, seja submetida à demonstração.

(E) Com o princípio de não contradição, torna-se possível conceber que, se existem duas
coisas não idênticas, qualquer predicado que se aplicar a uma delas também poderá ser
aplicado necessariamente à outra.
Gabarito: 1. B, 2. D, 3. A.

 
 

A Lógica de Aristóteles: a arte de argumentar


É lógico que você quer saber sobre a Lógica aristotélica, porque logicamente a Lógica é
assunto do Enem. Então, vem comigo nessa jornada descobrir o que é Lógica! Revise
Filosofia para o Enem!

Afinal o que é Lógica? Usamos essa palavra em nosso cotidiano, as vezes até
demasiadamente. Mas será que sabemos o que ela representa? Vamos entender isso antes
de ver a Lógica de Aristóteles.

A Lógica foi um conceito estudado por várias civilizações da antiguidade. Embora nesta aula
revisaremos a concepção grega pensada por Aristóteles, existiram reflexões sobre a Lógica
na China e na Índia também em épocas passadas.

O primeiro registro escrito sobre Lógica é um conjunto de textos de Aristóteles (considerado


o pai da Lógica). Suas ideias sobre o assunto tiveram grande aceitação em todo o mundo.
Tanto é que durante a Idade Média teve gente usando Aristóteles para explicar a fé cristã.

( Lógica, tem origem no termo grego logiké. Em uma tradução aproximada seria algo como
logos, razão, palavra ou linguagem.)
 

Você provavelmente já deve ter ouvido alguém empregar a palavra Lógica em várias
situações. Ela é uma palavra bem difundida em nosso vocabulário. Aliás, passamos muito
tempo supondo que tudo o que havia para ser descoberto nessa área já havia sido dito pelo
meu camarada Aristóteles.

Mas como diria Heráclito: “tudo flui” e atualmente há mais a saber sobre Lógica do que
somente a Lógica de Aristóteles.

Kant uma vez comentou que nada de significante havia sido adicionado à Lógica nos dois
milênios entre seu tempo e o de Aristóteles. Isso porque tudo o que havia para saber sobre o
estudo formal do raciocínio já estaria no trabalho de Aristóteles.
 

A lógica moderna

Existe hoje outros sistemas lógicos que não o de Aristóteles. O nascimento da chamada
Lógica moderna, faz surgir à tona algumas limitações da Lógica aristotélica e com isso gerou
uma variedade de outros modelos Lógicos inspirados em Aristóteles.

Um tipo bem conhecido é a Lógica matemática, que consiste em um sistema dedutivo de


enunciados que tem como objetivo criar um grupo de leis e regras para determinar a
validade dos raciocínios.
Você já deve ter se deparado com um problema de Lógica matemática como: Em um certo
verão, uma fábrica de sorvetes realizou uma promoção que previa a troca de dez palitos de
sorvete por um sorvete de palito. Nessa promoção, um palito de sorvete corresponde a que
fração do preço de um sorvete? Para resolver este problema, você usa a “lógica”.

Há também a Lógica de programação, uma linguagem usada para criar um programa. É daí
que vamos partir, da linguagem, ou mais especificamente de como organizamos as palavras
para dar sentido a linguagem.

A Lógica em Aristóteles

A Lógica aristotélica usa a linguagem para expressar os juízos que são formulados pelo
pensamento. Ela estuda os formatos que um argumento pode tomar para assim sabermos
quais desses formatos podem ser considerados plausíveis ou não. Em suma, é um esforço
para desvendar qual é a melhor maneira de se elaborar o nosso raciocínio.

Em outras palavras, a Lógica aristotélica tem como objetivo estudar as relações do


pensamento com a verdade. Ela vai prenunciar a possibilidade de alcançarmos determinadas
conclusões partindo de certas noções a respeito do assunto. Funciona como uma ferramenta
para alcançarmos um argumento válido.

Dentro dessa Lógica, Aristóteles vai “pirar o cabeção” numa “parada” que ele chamou de
Silogismo. O Silogismo é um tipo de raciocínio dedutivo. Ele parte de uma generalização para
chegar em algo particular. Por isso tem sua conclusão (particular) derivada das premissas
(geral).

Todavia, o Silogismo não está preocupado em atribuir o valor de verdade ou falsidade às


proposições (premissas) nem à conclusão. Ele é apenas a forma de construção do
argumento.

Os princípios da Lógica Aristotélica

De acordo com Aristóteles, para que nosso argumento tenha uma Lógica consistente,
precisamos respeitar algumas “paradas” definidas por ele (Aristóteles) incluindo três
princípios básicos que são:

 O Princípio da Identidade: Declara que uma coisa só é igual a ela mesma. (A=A). Isso
quer dizer que você é especial igual a todo mundo! Isto é, só existe um de você.
Ainda que você tenha um clone ele será apenas semelhante, mas não igual a você.

Imagina que você “tá de boas” na rua e avista aquela moto dos seus sonhos (a minha é a
Ducati Panigale V4) logo atrás vem outra moto do mesmo modelo. Você poderia dizer que
elas são iguais certo? Mas, segundo nos postulou Aristóteles, nesse tal princípio da
identidade, você estaria errado em afirmar que elas são iguais.

O que ocorre é a semelhança entre as motos, mas não igualdade. Assim, nunca existirá duas
coisas exatamente idênticas ao mesmo tempo.
 O Princípio da não contradição: Declara que dois enunciados contraditórios não
podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, isto é, eu não posso surfar e não surfar ao
mesmo tempo. (A é A e não -A).
 O Princípio do Terceiro Excluído: Declara que toda afirmação ou é verdadeira ou é
falsa, e não há um terceiro caso possível. Ou seja, se um vestido é (inteiro) branco ele
não pode ser azul. (A é x ou não-x, não há terceira possibilidade).

É assim que Aristóteles conseguiu montar esse sistema de Lógica, simplificando as


afirmações de um argumento para atribuir aos enunciados o valor de verdade ou falsidade.
Com isso ele deu seguimento ao que chamou de Silogismo, um tipo de argumento lógico que
extrai uma conclusão de dois ou mais enunciados, que se supõe verdadeiros.

Veja, então, que a forma básica do Silogismo é composta por no mínimo três termos que,
por sua vez, nos proporcionam três proposições distintas: uma premissa maior, uma menor
e uma conclusão que deriva dessas premissas. Exemplo:

Premissa Maior: Se, todo filósofo (A) é fanfarrão (B) [A implica B]

Premissa Menor: Ora, Aristóteles (C) é fanfarrão (B) [C implica B]

Conclusão: Logo, Aristóteles (C) é filósofo (A) [C implica A]

Figura 5. Símbolos fundamentais no uso da linguagem Lógica.


 

Podemos complicar um pouco mais e adicionar mais premissas a nossos argumentos, por
exemplo:

Premissa: Se Zeus ajuda (A) quem cedo madruga (B) … [A→B]

Premissa: Ora, quem cedo madruga (B), dorme à tarde (C) … [B→C]


Premissa: Se, quem dorme à tarde (C), não dorme à noite (D) … [C→D]

Premissa: Ora, quem não dorme à noite (D), sai na balada! (E) … [D→E]

Conclusão: Logo. Zeus ajuda (A) quem sai na balada! (E) [A→E]

Os enunciados apresentados nas premissas servem de evidência para a conclusão. Assim


sendo, precisamos ter como ponto de partida uma verdade geral, ou seja, já estabelecida.

A falácia

Retomando o que esbocei há pouco, nem sempre o argumento com esse formato é
verdadeiro. Às vezes partimos de premissas erradas ou chegamos a conclusões absurdas.

Podemos também elaborar uma premissa partindo de uma conclusão, isto é, a conclusão de
uma coisa pode ser a premissa de outra. Assim se a conclusão for falsa a premissa também
será. Quer ver só:

Premissa: Se Deus é amor.

Premissa: Ora, o amor é cego.

Premissa: Se Steve Wonder é cego.

Conclusão: Logo, Steve Wonder é Deus.

Outro exemplo:

Premissa: Se eu sou Ernani;

Premissa: Ora, Ernani não é ninguém na fila do Pão.

Conclusão: Logo, eu não sou ninguém na fila do pão.

Premissa: Ninguém é perfeito.

Conclusão: Então, eu sou perfeito.

Premissa: Todavia, só Deus é perfeito.

Conclusão: Portanto, Eu sou Deus.

Premissa: Se Steve Wonder é Deus,

Conclusão: Eu sou Steve Wonder!!

Conclusão: Meu Zeus, eu sou cego!!!


Bom, se você me conhecesse perceberia de cara que eu não sou cego. Então embora o
argumento acima seja válido ele não é verdadeiro. Portando, quando o Silogismo não é
valido ocorre então uma Falácia.

A falácia consiste no ato de chegar a uma determinada conclusão errada a partir de


proposições que são falsas. Isto é, um raciocínio errado que tenta passar como verdadeiro,
normalmente com o intuito de ludibriar outras pessoas. A isso Aristóteles chamou de Falácia
Formal.

Além dela temos também a Falácia informal que diferente da formal, usa de raciocínios
válidos, a princípio, para chegar a resultados que sejam inconsistentes e com premissas
falsas.

Ao contrário das falácias formais, que são mais fáceis de identificar, as falácias informais, por
apresentar uma forma lógica válida, podem ser de difícil identificação.

Retórica

Cara, dá para usar esse tipo de Silogismo para convencermos a galera sobre várias coisas
absurdas. Embora isso aí não seja algo “bacana” de se fazer, pois foge da verdade.
Entretanto, esse tipo de argumentação (convencer o outro) também foi explorado por
Aristóteles, ele se refere a isso em sua Retórica.

Para o filósofo grego, a retórica não consiste meramente numa arte da persuasão, mas
numa faculdade de descobrir especulativamente os recursos que podem servir para
persuadir.

Ora, é necessário que saibamos reconhecer as falácias (às vezes não é tão simples). Os
argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não validade
Lógica. Existem diversos tipos de falácias lógicas, sendo que cada uma é focada num método
ou técnica diferente de tentar convencer a partir de um argumento falso.

Uma Falácia que ficou muito famosa com a eleição de Donald Trump foi o Whataboutism,
que é um nome “chique” da Falácia do “Tu Quoque”. Quando se responde a uma acusação
virando-se contra o acusador, evitando que se dê efetivamente uma resposta a ela. Aqui no
Brasil ela foi muito utilizada como mecanismo de evasão nas discussões políticas.

Dica: Você pode ver exemplos práticos disso nesse programa da HBO

Como você pode ver, a utilização da Lógica aristotélica vai além de Silogismos e Falácias. Ela
continua sendo fundamental para a Filosofia e a Ciência. Sem ela muitas das descobertas e
dos avanços científicos e tecnológicos que desfrutamos hoje não seriam possíveis.

Ademais, agora que você já está craque na Lógica de Aristóteles, é só praticar com os
exercícios a seguir para assim mandar super no ENEM e continuar, assim como a Lógica, a
contribuir com os avanços da humanidade.

1) (UFFS) Com relação à lógica dita clássica, é incorreto afirmar:


(A) O objeto da lógica é a proposição, que é a expressão dos juízos formulados pela razão
humana
(B) A lógica estuda e define as regras do raciocínio correto, porém não é de sua competência
estabelecer os princípios que as proposições devem seguir.
(C) Quando se atribui um predicado a um sujeito, temos uma proposição.
(D) O raciocínio lógico se expressa através de proposições conectadas, e essa conexão
chama-se silogismo.
(E) Existem determinados princípios que toda proposição e todo silogismo devem seguir
para serem considerados verdadeiros.

2) Leia o argumento abaixo.


– Todos os animais são mortais.
– Alguns répteis são animais.
– Alguns répteis são mortais.
Assinale a alternativa que indica se o argumento é um silogismo válido ou inválido e, se for
este o caso, qual regra violou.

(A) Este é um silogismo que atendeu às regras da validade silogística.


(B) O argumento anterior é um silogismo inválido porque o termo “mortais” está distribuído
na conclusão, mas não na premissa.
(C) Este silogismo é inválido porque tem duas premissas particulares.
(D) Este silogismo é inválido, porque o termo médio nunca está distribuído, pois em ambas
as premissas é predicado.
(E) Este silogismo é inválido porque a conclusão é particular, mas uma das premissas é
universal.

3) Teste a validade do argumento seguinte, utilizando tabelas de verdade.


– O livre-arbítrio é possível ou somos joguetes dos Deuses.
– Se o livre-arbítrio for possível, não somos joguetes dos Deuses.
– Logo, não somos joguetes dos Deuses.
Seja:
P = O livre arbítrio é possível e
Q = Somos joguetes dos Deuses
Assinale a alternativa correta.

(A) A forma dada é inválida porque tanto na circunstância em que P é falsa e Q verdadeira
como na circunstância em que tanto P como Q são falsas, a premissa é verdadeira e a
conclusão, falsa.
(B) A forma dada é válida, tendo em vista que não há circunstância alguma na qual as
premissas sejam verdadeiras e a conclusão, falsa.
(C) O argumento dado é inválido porque na circunstância em que P é falsa e Q verdadeira, as
premissas são verdadeiras e a conclusão, falsa.
(D) O argumento dado é inválido porque na circunstância em que Q é falsa e P é verdadeira,
as premissas são verdadeiras e a conclusão, falsa.
(E) O argumento dado é inválido porque na circunstância em que Q e P são ambas falsas, as
premissas são verdadeiras e a conclusão, falsa.

Gabarito 1. B, 2. A, 3. C.
Felicidade para Aristóteles: da Virtude à Política
O que te faz Feliz? Se uma boa nota no Enem te ajuda a buscar a felicidade, então vem
comigo entender o que é a Felicidade para Filosofia. Vamos voltar à magna Grécia sob a
orientação de Aristóteles e descobrir qual a relação entre Ética, Política e Felicidade.

O que faz a vida valer a pena ser vivida? Em seu livro “Ética a Nicômaco”, meu
camarada Aristóteles refletiu a respeito da vida e de como deveríamos vivê-la. Com a
intenção de encontrar algo que seja comum a todas as pessoas, ele empreendeu sua
investigação sobre o cosmos. Saiba mais sobre como a Felicidade em Aristóteles nesta aula
de Filosofia para o Enem.

(Aristóteles nasceu em Estagira, na Macedônia, em 384 a.C. Com 17 anos, partiu para Atenas
e começou a frequentar a Academia de Platão. Lá se indagou a respeito do que nos faz feliz.)

Ao ponderar sobre os debates entre Heráclito e Parmênides, o filosofo grego Aristóteles


conclui que o universo é algo ordenado. Para Aristóteles, cada coisa tem um lugar certo,
tudo está organizado. Portanto as paradas do cosmo, não estão aí flutuando de bobeira, ao
contrário, as coisas no universo têm uma finalidade a cumprir.

Assim, nós enquanto seres pensantes (alguns nem tanto) temos um lugar nesse circo
cósmico ao qual estamos inseridos. Agora, eu não sei você, mas eu tenho uma grande
dificuldade em achar meu lugar em meio a esse caos. Isso é algo angustiante do ponto de
vista aristotélico. Quer ver só?

A felicidade para Aristóteles

Para Aristóteles se você não encontrar seu lugar nesse mundão, você certamente vivera mal.
Isto é, Aristóteles acreditava que se não cumprir sua finalidade, você jamais se sentirá
realizado na vida. Como o Thanos (vilão carismático da Marvel) sem as Joias do Infinito,
entende?

Como você pode ver, nesta linha de pensamento, a condição da vida boa é achar seu lugar
ao sol. É um acordo da vida com o universo, na qual você tem uma finalidade dentro de toda
essa engenhoca cósmica que é nossa existência.

A finalidade das coisas

Agora você talvez esteja pensando: “Pois bem, segundo Aristóteles, o universo é todo cheio
das finalidades e tudo existe por uma razão. Então, se cada pedacinho do universo cumprir
sua finalidade, o todo (o universo) também irá cumprir sua finalidade. Sendo assim, qual é a
resposta? Qual é a finalidade do universo, da vida e tudo mais?”

E aí? Pensou nas possíveis respostas para essas perguntas que acompanham a humanidade
há tanto tempo? Cara, posso até adivinhar o que você pensou.

Isso porque é provável que qualquer coisa que você consiga pensar está escrava do
cumprimento da sua função, da sua finalidade. Segundo a ideia Aristotélica, é por isso que o
sol nos ilumina, por isso a Terra gira, por isso os gatos miam. Em geral, as coisas (irracionais)
vivem de boa, já que não há outra função para elas além da sua finalidade natural.

Agora, o mesmo não pode se dizer de nós. Ao contrário das demais coisas no universo, nós
fomos agraciados (ou não) com a liberdade e a capacidade de raciocínio. O que faz da tarefa
de achar nossa função neste mundo, algo árduo e muitas vezes bem “treta”. Tanto que,
alguns de nós são levados à depressão, loucura ou ao suicídio nessa busca por uma
finalidade (telos em grego).

A busca pela felicidade

Como Aristóteles é um camarada “humildão” e não se julga superior a nós, você não
encontrará em suas obras menções ao caminho correto a seguir na busca pela Felicidade.
Mesmo porque não há motivo para ele dizer qual é a sua finalidade, pois ela é só sua! Quem
tem que descobrir a sua finalidade é você. Isto faz parte do processo de encontrar sua
função no mundo, sua tarefa é procurá-la.

Assim sendo, se você quer um manual de como viver bem, ou seja, de encontrar no mundo
sua finalidade, a razão da sua existência, não será em Aristóteles que você encontrará.
Tampouco será na filosofia que você deve buscar esse manual.

A ética e a Virtude

Ao invés de um manual de como viver, o que Aristóteles nos propõe é uma teoria moral bem
peculiar baseada na Virtude. Tal teoria compõe um estudo maior acerca da ética que acaba
por analisar o caráter dos indivíduos ao invés de pregar um manual comportamental.

Para entender o que Aristóteles queria dizer, vamos pensar em um exemplo. Você
provavelmente conhece alguém “sagaz”, que sempre sabe o que dizer nos momentos
difíceis, certo? Em geral, a gente sempre tem aquele amigo ou amiga com quem pode
contar.

Seja aquela pessoa confiante que está sempre nos motivando, ou aquela “miga louca” que
está sempre no rolê te livrando dos embustes da vida noturna. Fato é que sempre há alguém
que se destaca por conta de suas características.

A essas habilidades, Aristóteles deu o nome de Virtude. Ele se baseia naquela ideia ancestral
de que nós (humanos) temos algo inato que nos faz buscar ser melhor. Isto é, a natureza nos
“moldou” com um certo instinto para buscarmos a Virtude.

Na realidade, a palavra utilizada por Aristóteles é Arete, às vezes traduzida como Virtude,
outras vezes como Excelência. Fato é que Aristóteles herda o conceito de Virtude dos seus
antecessores, Sócrates e Platão, para os quais um homem deve ser senhor de si.

De qualquer maneira, virtuoso é aquele que, segundo Aristóteles, tem suas qualidades
dispostas não em extremos, mas na justa medida. Por exemplo, entre a covardia e a
imprudência temos a coragem; entre o “vacilão” e o “puxa saco” está a amizade.
Não enxergar o meio termo, ou mesotês como Aristóteles gostava de chamar, é algo muito
comum em nossa sociedade. Na política moderna, a polarização é justamente a
consequência de não se enxergar o meio termo. Quando agimos de maneira radical frente a
um adversário não estamos sendo virtuosos.

Os virtuosos

Agora, imagine alguém que consiga reunir diversas dessas características (corajoso, gente
fina, sangue bom, inteligente etc.). Difícil não? Esse seria o tipo de pessoa que todo mundo
quer ser, ou ter por perto. Alguém que parece ter dominado a arte de ser. Parece impossível
não? Mas Aristóteles colocava fé nisso aí. É isso que ele dizia que a gente deveria ser,
virtuosos!

Mas, por que devemos ser virtuosos? Segundo Aristóteles ser virtuoso nos permite alcançar
a Felicidade. Na verdade Aristóteles nunca falou em Felicidade, afinal de contas essa é uma
palavra do nosso vernáculo (português). Ele falava em Eudaimonia, um termo grego que
significa o estado de ser habitado por um bom gênio. O que em geral é traduzido como
Felicidade.

Então, como você já viu, Aristóteles argumenta que a natureza colocou em nós o desejo de
sermos virtuosos. Nós somos, enquanto espécie, potencialmente virtuosos. Isso porque,
embora no momento podemos não ter a Virtude, podemos (e devemos) alcançá-la.

Sendo assim, para Aristóteles, nós nascemos para sermos felizes! Basta dominarmos a
Virtude e então conquistaremos a Felicidade. Todavia, o que é ser virtuoso? Segundo o
próprio Aristóteles nos ensina, basta fazer a coisa certa, na hora certa, do jeito certo, na
quantidade certa para as pessoas certas.

Ok, isso não ajudou muito, né? Mas é como lhe disse, se você busca um manual de como ser
feliz, não é Aristóteles nem tampouco a Filosofia que irá lhe fornecer isso. Contudo, nesse
caso não há necessidade de ser especifico. Se você é virtuoso saberá o que fazer. Saberá o
que é justo, o que é certo e por que é certo.

Talvez agora você deva estar se perguntando, como é que você saberá o que é justo ou
certo. Bom, a Virtude só se aprende por meio da experiência. Para Aristóteles ela é uma
sabedoria prática. Você tem que ter a manha da coisa, ser sagaz.

Aprendemos a Virtude pelo hábito. Isto é, aprendemos a Virtude levando uma vida digna por
meio da prática contínua da Virtude a partir do uso da razão em nossas escolhas e
atividades.

Vale ressaltar que para conduta de quem ocupa uma função política a Virtude é ainda mais
necessária. Pois, para Aristóteles, não é possível tratar de assuntos de Estado quando não se
possui Virtude.

Assim sendo, apesar de ser “da hora” alcançar a Virtude, é muito mais “da hora” atingir esse
estado virtuoso para uma nação. Como diz Aristóteles, o objetivo da vida política é o melhor
dos fins, e cabe a Filosofia dedicar o melhor de seus esforços para fazer com que os cidadãos
sejam virtuosos. Então veja: está tudo relacionado, Virtude, Ética, Política e Felicidade.
Resumindo, temos como finalidade última (Telos) buscar a Felicidade, para isso, precisamos
agir eticamente. Embora tal finalidade seja a mesmo tanto para nós (indivíduos) quanto para
o Estado, é mais importante, atingirmos essa finalidade no âmbito do Estado. Assim, a
Política é algo muito maior a alcançar do que a Ética. Todavia, uma é dependente da outra!

Por fim, Felicidade significa viver na eudaimonia, significa lutar contra os fracassos e
desapontamentos do cotidiano, buscando sempre a superação. É reconhecer que a vida não
é feita de arco-íris, deuses e messias. Sejam eles fantasiosos ou reais. Viver na eudaimonia é
provar do gosto amargo da realidade e fazer o seu melhor para mudar o mundo. É assim que
a gente alcança a Felicidade. (Ou não).

Bom, agora é contigo!. Teste seus conhecimentos aristotélicos a respeito da Felicidade.

1) (ENEM 2013)

A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses
atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a
mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”.
Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a
melhor, nós a identificamos como felicidade.

ARISTOTELES. A Política. São Paulo: Cia das Letras, 2010.

Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristoteles a identifica


como

a) busca por bens materiais e títulos de nobreza.

b) plenitude espiritual e ascese pessoal.

c) finalidade das ações e condutas humanas.

d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.

e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.

2) Qual é a obra na qual Aristóteles dedica-se a pensar sobre a felicidade?

a) Política

b) Poética

c) Ética a Nicômaco

d) Metafísica

 
3) O que significa dizer que a filosofia aristotélica é teleológica?

a) Uma filosofia voltada para preocupações existenciais e religiosas;

b) Uma filosofia orientada pela busca do prazer;

c) Uma filosofia orientada pela comprovação científica;

d) Uma filosofia que está orientada pela busca por uma finalidade.

4) (UEL) Ora, nós chamamos aquilo que deve ser buscado por si mesmo mais absoluto do
que aquilo que merece ser buscado com vistas em outra coisa, e aquilo que nunca é
desejável no interesse de outra coisa mais absoluto do que as coisas desejáveis tanto em si
mesmas como no interesse de uma terceira; por isso chamamos de absoluto e incondicional
aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa”.
Fonte: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São
Paulo: Nova Cultural, 1987, 1097b, p. 15.De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a
ética de Aristóteles, assinale a alternativa correta:

a) Segundo Aristóteles, para sermos felizes é suficiente sermos virtuosos.


b) Para Aristóteles, o prazer não é um bem desejado por si mesmo, tampouco é um bem
desejado no interesse de outra coisa.
c) Para Aristóteles, as virtudes não contam entre os bens desejados por si mesmos.
d) A felicidade é, para Aristóteles, sempre desejável em si mesma e nunca no interesse de
outra coisa.
e) De acordo com Aristóteles, para sermos felizes não é necessário sermos virtuosos.

Gabarito

1.C; 2.C; 3.D; 4. D.

Metafísica, a Filosofia Primeira de Aristóteles


Para além da física convencional, o filósofo Aristóteles elaborou uma vasta teoria a respeito
das causas do mundo. Quer saber mais? A gente explica!

Na Grécia há muitos anos, muito antes da internet 4G, havia grupos de filósofos que se
ocupavam em explicar a origem daquilo que os cercava.

Alguns desses pensadores teorizaram explicações de mundo fenomenais. Estas teorias


permaneceram válidas por milhares de anos, inspirando e servindo de base para os
cientistas ainda nos dias de hoje.

Um desses estudos bombásticos é a Ontologia. A Ontologia é a parte da Filosofia


encarregada do estudo das propriedades mais gerais do ser. Para tanto, aparta-se da
infinidade de determinações que, ao qualificá-lo particularmente, ocultam sua natureza
plena e integral.

Embora essa ideia de investigar a natureza do ser, da existência e da própria realidade (que é
a Ontologia) tenha começado com Parmênides e Platão, costuma-se atribuir seu nascimento
a Aristóteles. Isto porque foi ele quem formulou a ideia de estudo que tem como finalidade
própria o estudo do Ser, denominando-a Filosofia Primeira.

(Na Metafisica de Aristóteles, as coisas do mundo são verdadeiras e possuem validade, ao


contrário da concepção platônica de conhecimento, que seria composto, em sua verdade,
apenas pelas ideias ou formas.)
 

Metafísica de Aristóteles: A Filosofia Primeira

Filosofia Primeira era como Aristóteles chamava os seus estudos de Metafísica. A razão de


levar esse nome deve-se ao fato de que esse estudo abordava um conjunto de
conhecimentos independentes de qualquer atividade empírica. Ou seja, a metafísica não
leva em conta qualquer experiência sensorial.

(A obra Metafisica é composta de uma série de tratados escritos por Aristóteles, organizados
em um conjunto de quatorze livros. Tudo organizado por Andrônico de Rodes após a morte
de Aristóteles. Foi Andrônico quem também deu o título de Metafísica ao conjunto.)
 

Nos estudos da Metafísica (Filosofia Primeira) que Aristóteles desenvolveu, é muito clara a
relação com a Lógica (aristotélica). Isso porque ambas as teorias independem da experiência
sensorial. Os primeiros princípios da Metafísica descrevem justamente os princípios lógicos
da identidade, da não contradição e do terceiro excluído. Essas relações servem para
garantir a realidade do mundo.

Dados esses três princípios lógicos, Aristóteles fundamentou o que foi chamado de Etiologia,
isto é, o estudo da Causa. Conforme Aristóteles afirmou, existem quatro Causas capitais para
que as coisas existam. São elas: Causa Material, Causa Formal, Causa Eficiente, Causa Final.

Causa material

É a “substância” que forma as coisas no mundo, sua matéria. Para exemplificar é só pensar
em algo concreto como uma estátua: a Causa material dela seria o mármore (ou qualquer
outro material que a estátua seja feita).

No limite, poderíamos afirmar que sem a matéria as coisas empíricas (sensíveis) não
existiriam. Todavia, a matéria sozinha seria incapaz de produzir a maravilha estética dessa
escultura fazendo-se necessário, ainda, a forma. E é aqui que passamos para a segunda
Causa.

Causa formal

De maneira simples, podemos dizer que a Causa Formal se refere à forma que as coisas
possuem. É como se fosse o “conceito” das coisas. Ao contrário de Platão, Aristóteles dirá
que a forma não vem de um Mundo das Ideias, mas do mundo real mesmo. Daí, temos que a
Causa formal é aquilo que ao dar forma as coisas as tornam únicas.
(O termo Metafísica jamais foi empregado por Aristóteles em nenhum desses livros: ele usa
a expressão Filosofia Primeira, ciência das causas primeiras, dos primeiros princípios e da
finalidade de tudo o que é, enquanto é.)
 

Assim sendo, essas duas Causas (material e formal) são as responsáveis pela composição
material e individual de qualquer coisa. Todavia, como tudo muda (panta rei) essas Causas
por si só não dão conta de explicar as mudanças pelas quais tudo passa ao longo da
existência. Razão a qual Aristóteles cria as demais Causas.

Causa eficiente

Ela é a Causa que dá origem a algo. Por exemplo, a causa eficiente da escultura de Davi é
Michelangelo.

Causa final

Essa Causa diz respeito a finalidade das coisas, isto é, qual é o motivo delas existirem. É
possível achar essa ideia de finalidade nos escritos de Aristóteles a respeito da Felicidade e
da Ética. Neles, o filosofo também usa o conceito de Finalidade (Télos) para explicar sua
teoria.

Ficou difícil de entender? Então, vou combinar todas as Causas agora em um exemplo que
vai fazer você entender melhor. Vamos pensar em algo simples como uma estátua.
Mentaliza aí então uma estátua feita de bronze de uma mulher montada num galo enquanto
segura um garfo!

A Causa material dessa linda obra de arte é o bronze, o material do qual é feita. A Causa
formal é o exótico galináceo sendo montado por uma diva que empunha talheres gigantes.
Já a Causa eficiente é o artista criador de tal obra, Roberto Fabelo. ~ O quê? Achou que eu
estava inventando isso aí? A obra existe mesmo! ~ Por fim, existe ainda, a quarta Causa que
vai além dos nossos sentidos, nos levando ao entendimento racional da obra, ou seja, o
objetivo do artista em criar essa obra de arte.

(As Causas são: material, formal, eficiente e final. A causa material é a matéria da qual é feita
a essência das coisas. A Causa formal diz respeito à forma da essência. A Causa eficiente é
aquela que explica como a matéria recebeu determinada forma. A Causa final é aquela que
determina a finalidade das coisas existirem e serem como são.)

Como você pode ver, de modo geral, existe na Metafísica de Aristóteles uma ideia central de
que tudo tem uma Causa. Todavia, se fizermos uma regressão das coisas afim de buscar
Causa primeira, estaríamos fadados a cair num “looping” de causas.

Pensando nisso Aristóteles criou o conceito de Motor Imóvel. Esse primeiro motor é quem
Causa todas as demais causas. Ele é a origem de tudo, que não teria sido originada por nada.
Ou seja, se entendermos que para tudo no mundo existe uma causa anterior, deve haver um
momento inicial onde não haveria mais causas anteriores.
Por fim, embora Aristóteles seja considerado um “camarada” sistemático (no sentido de
catalogar o conhecimento em sistemas), seu papel no estudo geral das coisas, isto é, no
estudo da Metafisica é fundamental para o desenvolvimento da Filosofia.

Questões sobre a Metafísica de Aristóteles

1) Aristóteles apresenta a metafísica, em primeiro lugar, como “busca das causas primeiras”.
Assim, devemos determinar quais e quantas são essas “causas”. Aristóteles então estipulou
que as causas, necessariamente, devem ser finitas quanto ao número e referiu-se ao mundo
do devir reduzindo-se às seguintes quatro causas, EXCETO:

(A) Causa Material

(B) Causa Formal

(C) Causa Metafisica

(D) Causa Eficiente

(E) Causa Final

2) (UFU-2001). Sobre a teoria das quatro causas de Aristóteles é correto afirmar:

I- É próprio da ciência investigá-las, pois são as causas do movimento e do repouso, ou seja,


da passagem da potência ao ato.

II- A causa eficiente atua sobre a forma, visto ser a matéria o ato a que aspiram os seres.

III- A causa final é própria daquele ser que deve atualizar as potências contidas em sua
matéria para alcançar a finalidade própria.

IV- A forma é o princípio de indeterminação dos seres.

Assinale a única alternativa que apresenta as assertivas corretas.

(A) Apenas I e III.

(B) I, III e IV.

(C) Apenas II e III.

(D) Apenas I e II.

(E) Nenhuma das Alternativas.

3) (UEL-2008) Quatro tipos de causas podem ser objeto da ciência para Aristóteles: causa
eficiente, final, formal e material. Assinale a alternativa correta em que as perguntas
correspondem, às causas citadas.

(A) Por que foi gerado? Do que é feito? O que é? Quem gerou?
(B) O que é? Do que é feito? Por que foi gerado? Quem gerou?

(C) Do que é feito? O que é? Quem gerou? Por que foi gerado?

(D) Por que foi gerado? Quem gerou? O que é? De que é feito?

(E) Quem gerou? Por que foi gerado? O que é? Do que é feito?

Gabarito.

1.C, 2.A, 3.E.

 
 

O que foi o Helenismo e as suas escolas filosóficas?


Qual é maneira correta de levarmos a vida? Bom, para quem não sabe o caminho, qualquer
um é válido. Então venha conferir o que diziam Diogenes, Zenão, Epicuro, Pirro e cia sobre
esse assunto tão cobrado no Enem.
As escolas do Helenismo são assim chamadas por conta da região em que surgiram. No
Mediterrâneo há um tempinho, por volta do século XVII a.C., uma proeminente civilização
tomava forma. Seus cidadãos chamavam-se helenos, entretanto, acabaram sendo
conhecidos mundo a fora como gregos. Confira na aula um resumo sobre Helenismo.

Figura
1. Na mitologia helênica (grega) conta-se que um tal de Heleno teve três filhos e que deles se
originaram as principais civilizações que viriam a compor a região que posteriormente ficaria
conhecida como Grécia.

As Escolas do Helenismo
Agora que já sabemos por que elas são assim chamadas, bora lá descobrir o que foram essas
tais escolas do Helenismo. A começar pelas coisas que as unem, as escolas do Helenismo
possuem uma forte influência socrática.

Uma vez que, foram fundadas após a morte de Sócrates, famigerado filósofo ateniense que
foi condenado à morte e um sujeito que ganhou bastante notoriedade com suas
investigações acerca da vida.
Foi justamente nessa onda de investigação sobre a vida que as escolas do período
Helenístico ficaram vidradas. Ora, a Filosofia começou tentando desvelar os mistérios acerca
do mundo a sua volta com filósofos como Tales, Heráclito e Demócrito que tentaram
explicar o cosmos, isto é, como e do que esse mundão é feito.

Todavia, Sócrates acabou mudando um pouco o foco do assunto. Não que ele tenha deixado
de lado as questões metafisicas dos pré-socráticos. Mas, ele acabou ganhando notoriedade
por trabalhar outros assuntos mais ligados à vida cotidiana.

Helenismo e características

Na “vibe” socrática de como viver a vida, as escolas do Helenismo cativaram em suas


características uma certa Filosofia da boa vida. Isto é, elas investigam como nós podemos
viver as nossas vidas de maneira que a angustia da existência não seja um fardo a ser
carregado.

As principais escolas do Helenismo, ou ao menos as que ganharam mais notoriedade, foram:


Os Estoicos, os Céticos, os Hedonistas, os Epicuristas, os Peripatéticos, os Ecléticos e os
Cínicos.

Todas elas partilhavam de um amor incondicional pela sabedoria, entendendo que é só pela
sabedoria que encontramos a harmonia com o cosmos.

Dentre as escolas do Helenismo que abordaremos aqui, talvez a mais peculiar delas seja a
escola Cínica. O cinismo é uma corrente filosófica que foi fundado pelo filósofo Antístenes de
Atenas. Filósofo esse que era discípulo do meu grande amigo Sócrates.

O Cinismo
O Cinismo enquanto corrente filosófica idealizava uma vida simples. Ora, para os filósofos
Cínicos a maneira que levavam a vida não poderia divergir da sua Filosofia. Portanto, era
comum aos filósofos Cínicos levarem uma vida simples, sem apego a coisas materiais.

As escolas do Helenismo buscam em essência uma maneira de alcançar a felicidade e como


parte integrante delas, não poderia ter sido diferente com o Cinismo. Os Cínicos acreditavam
que somente os virtuosos conseguiriam alcançar a Felicidade.

Bom até aí nada de revolucionário, o ilustre Aristóteles já falava da busca pela eudaimonia,


isto é, da busca pela felicidade através das Virtudes.

O que divergia da busca aristotélica com as demais escolas do Helenismo era a maneira com
que faziam isso. No caso dos Cínicos, era conveniente que os adeptos dessa corrente
filosófica levassem uma vida simples e natural.

Mediante a aversão pelas riquezas, o desprezo pelo conforto e a busca pelo desapego, os
Cínicos tentavam levar uma vida livre das convenções sociais.

A origem do Cinismo e seus maiores representantes


Isso pode ser demonstrado pela própria arquitetura do nome, a palavra Cinismo vem do
grego kynismós, que em uma tradução livre seria algo como cão, ou melhor dizendo, viver
como um cão. A ideia é fazer referência a maneira a qual devemos viver para alcançar a
felicidade.

O mais expressivo e famigerado dos Cínicos foi meu chapa Diógenes de Sínope. Reza a lenda
que Platão certa vez disse que Diógenes era um Sócrates que enlouqueceu. Veja só o que
Diógenes fazia para entender esse suposto escárnio do Platão.

Como bom adepto do Cinismo, Diógenes levara uma vida simples, rejeitando os confortos
materiais, bem como o fizera Sócrates.

Entretanto, Diógenes achava que viver como Sócrates era muito “nutella”, o lance era ser
mais “raíz”. Diógenes então levou ao extremo essa ideia de simplicidade, rejeitou então os
valores mundanos e passou a morar num velho barril de vinho feito de argila!

Não obstante, Diógenes praticava a desobediência civil. Por exemplo, havia um certo receio
de se comer no mercado de Atenas, mas é claro que esse filosofo fanfarrão ignorou o tabu e
bateu aquele rango.

Quando indagado sobre quão inapropriado era isso, ele respondeu que era apenas
adequado comer quando se tem fome.

As histórias de Diógenes e sua simplicidade


Dizem que Diógenes andava por Atenas carregando uma lamparina em plena luz do dia,
dizendo estar à procura de uma pessoa honesta, mas só encontrara pessoas mesquinhas,
hipócritas e sujeitos cheios de si.

Há uma quantidade absurda de histórias sobre Diógenes que vão de algumas das
obscenidades como se masturbar em público, urinar sobre as pessoas que o insultaram, e
defecar em um teatro até seu encontro com Alexandre.

Plutarco narrou em sua obra Moralia, que certa vez Diógenes, já velho, estava em seu barril
tomando um banho de sol, como era de seu costume quando apareceu em sua frente
Alexandre, imperador de toda Grécia.

O conquistador disse que estava admirado com o filósofo e gostaria de conhecê-lo.


Alexandre então em um gesto de reconhecimento disse a Diógenes que ele poderia pedir
qualquer coisa.

Diógenes teria respondido: “Senhor, não tire de mim o que não pode me dar, quero apenas
que saia da frente do sol.” Zeus do céu!

Apesar de estapafúrdio – já que chamá-lo de excêntrico soa como um grande eufemismo –


Diógenes foi bastante reverenciado no meio filosófico, principalmente pelos Estoicos, outra
escola do Helenismo. Sendo inclusive considerado um ideal de filósofo.

Enfim, segundo o Cinismo a pessoa mais próxima da Felicidade é aquela que tem mais.
Todavia, eles não se referiam a bens materiais, mas sim a pessoas que vivem em harmonia
com a natureza, saciando suas necessidades ao passo que elas surgem, livre das convenções
impostas pela sociedade e se satisfazendo com o mínimo.
O fundador do Estoicismo
Após a morte de Aristóteles, duas grandes escolas do Helenismo surgiram: o Estoicismo e o
Epicurismo. Embora tivessem bastante coisa em comum, essas escolas divergiam em alguns
pontos capitais.

O Estoicismo foi uma doutrina filosófica fundada por Zenão de Cítio, um discípulo de
Diógenes de Sínope. Já de antemão aviso que Zenão não é nem de longe tão polêmico ou
irreverente quanto seu mestre, mas sua Filosofia foi muito mais popular e duradoura.

A parada começou quando o barco de Zenão, que até então era um mercador, naufragou e
ele perdeu toda a sua riqueza. Zenão acabou chegando em Atenas e lá teve contato com as
idéias de Sócrates e seu discípulo Platão, bem como com a Filosofia de Aristóteles e os
Peripatéticos.

Foi a partir daí que o fundador do Estoicismo percebeu que o mundo não material era mais
agradável de viver do que aquele em que a sua versão mercadora vivia.

Assim, decidiu se dedicar ao estudo da Filosofia que eventualmente levou a fundação da


escola estoica.

O nome Estoicismo vem da expressão grega stoà poikile, que em uma tradução livre seria
algo como Pórtico das Pinturas, o local onde Zenão ensinava os seus discípulos em Atenas.

As características do Estoicismo
Assim como os cínicos, Zenão tinha pouco interesse nas investigações metafisicas acerca do
mundo. Ele buscava uma abordagem mais prática para Filosofia, falando de coisas como a
morte, a felicidade e outros aspectos da vida cotidiana.

Tudo isso em detrimento às investigações dos seus antecessores que buscavam as origens
do mundo ou mesmo a substância que originou o universo. De maneira simples, o
Estoicismo prega que a Filosofia nos ensina a agir, não a falar.

Podemos entender a corrente estoica a partir do seu aspecto ético latente. Com isso quero
dizer que o Estoicismo buscava atingir a felicidade a partir de uma conduta ética. Essa se
baseava em certas virtudes que orientam o comportamento humano.

Partindo da premissa que diz que o cosmos é uma bagunça ordenada, ideia provavelmente
inspirada na Filosofia de Aristóteles, o modelo Estoico sugere que exista um Logos. Isto é,
uma estrutura racional do cosmos composta por relações de causas e seus efeitos.

Ora, é possível observar, e por meio da razão, entender essas causas e efeitos pois suas
manifestações mundanas são cognoscíveis a nós. Assim, o Estoicismo afirmava que não é
possível controlar todas as relações existentes no cosmos.

Todavia, é possível controlar como decidimos lidar com essas relações, ou seja, não
podemos mudar as coisas a nossa volta, mas é possível mudar como lidamos com elas.
Exemplo:
Vou mandar um exemplo para ficar mais fácil. Imagine que você está planejando um “rolê”
há muito tempo. Então finalmente chega o dia, você sai de casa feliz da vida rumo ao seu
destino. No meio do caminho, o tempo muda abruptamente. Nuvens de chuva surgem e seu
passeio pode estar da beira da ruína.

Do ponto de vista do Estoicismo, você tem duas alternativas: deixar que seu passeio seja
arruinado ou entender que vai continuar chovendo até que a chuva decida cessar.

Um estoico analisaria essa situação e optaria pela segunda opção. Pois não há sentido
racional em deixar que algo, que você não tem controle algum, acabe com um passeio que
você programou.

(memento mori” é um conceito fundamental do Estoicismo que está em nossa cultura ainda hoje.
Conta-se que os imperadores usavam um escravo na volta para casa (após grandes conquistas) para
lembra-se que mesmo após grandiosos feitos eles ainda são meros mortais. O conceito refere-se a
Morte como uma parada normal e certeira que não deve ser temida, mas sim, apreciada. Afinal, a
vida é um “rolê” do qual jamais sairemos vivos.)

Cinismo e Estoicismo
Seguindo a linha do Cinismo, o Estoicismo também busca o auto aperfeiçoamento do
indivíduo, que é o caminho para a felicidade através das virtudes. Podemos reduzi-las
essencialmente a quatro: sabedoria, temperança, justiça e coragem.

Em suma, o Estoicismo busca agir de acordo com a natureza. Mudar o que dá para mudar e
mudar a forma com que lidamos com aquilo que não dá para mudar. Isso é, uma espécie de
indiferença frente ao mundo (que os gregos chamaram de ataraxia).

Isso tudo pode ser feito a partir de uma vida centrada no auto aperfeiçoamento que se
desenvolve ao praticar uma conduta ética fundamentada em quatro virtudes elementares.

Assim, quando uma pessoa consegue atingir um grau de autocontrole e consciência, ela
consegue inspirar a mudança nos demais.

O Ceticismo e a dúvida
A outra escola do Helenismo que falaremos aqui é o Ceticismo, uma corrente filosófica da
galera que é “cabreira” em acreditar nas coisas, isto é, o constante questionamento do
mundo é o que caracteriza essa escola.

O fundador da escola, um sujeito chamado Pirro de Élida, acompanhou meu camarada


Alexandre, o Grande – aquele que Diógenes pediu para sair da frente – nas suas aventuras
pelo Oriente.

Dizem nas fofocas filosóficas que Pirro morreu lecionando. Enquanto andava com uma
venda em seus olhos, um de seus estudantes o alertou a respeito de um abismo a sua frente,
mas como bom cético que era, o cara não acreditou! Daí o filosofo descrente acabou caindo
no abismo e batendo as botas.
No que o Ceticismo acredita?

De maneira resumida, o Ceticismo é a escola que refuta as verdades absolutas e se guia por
esse espirito de dúvida. Para isso, mantém sempre uma postura neutra em relação aos
acontecimentos do mundo, de maneira que não seja possível admitir a existência de
quaisquer dogmas.

Os Céticos, assim como as demais escolas do Helenismo, estavam preocupados bem mais
com as questões da práxis do que as viagens metafisicas de outrora.

Por conta disso, eles dedicaram bastante esforço e energia filosófica ao estudo da Felicidade.

Para os Céticos só era possível alcançar a felicidade se nós suspendêssemos os julgamentos


acerca do mundo a nossa volta. Isso significava entrar num estado que eles chamavam de
ataraxia, inclusive esse estado compartilha alguns atributos da escola estoica.

O Epicurismo
Para finalizar nossa jornada por entre as escolas do Helenismo, vamos agora falar sobre o
Epicurismo. Essa corrente filosófica recebeu esse nome por conta de fundador Epicuro de
Samos.

Passado a grande revolução da Filosofia – após Platão e seu pupilo Aristóteles – o foco das
atividades filosóficas estava migrando. Saiamos da Metafísica e nos debruçávamos sobre a
Ética.

Assim, o Epicurismo, bem como as demais escolas do Helenismo que vimos, abordou um
pensamento mais voltado aos indivíduos e suas aflições cotidianas.

O Epicurismo busca a paz de espirito, para assim alcançar o objetivo das nossas vidas
(felicidade). Para isso, ele conta com uma série de teorias bem sagazes acerca das coisas que
nos afligem.

A arte de superar o medo da morte


Talvez o exemplo mais famoso do discurso epicurista seja aquele acerca da morte. Saca só
essa fita: se o objetivo da vida é ser feliz, devemos analisar o que causa nossa infelicidade.

Para Epicuro nossa infelicidade se dava por conta dos nossos medos. Ademais, nosso maior
medo é o medo da morte. Ora, ao superarmos o medo da morte, tiraríamos um imenso
obstáculo de nossos caminhos rumo a felicidade.

Contudo, como é que se supera o medo do pavoroso encontro com Hades? Bom, se a morte
é o fim das sensações corpóreas, logo, ela não pode ser dolorosa.

Ademais, ela também é o fim de nossa consciência, logo, tampouco ela pode ser
mentalmente desagradável. Portanto, não há nada a temer na morte.

Ou como meu camarada Epicuro certa vez me disse: a morte não é nada para nós, pois,
quando existimos, não existe a Morte, e quando existe a Morte, não existimos mais.
Racionalidade do Epicurismo
Essa racionalidade do Epicurismo culminava na busca por um comportamento sempre
moderado. Para os adeptos dessa corrente filosófica a vida deveria ser levada buscando
sempre o prazer moderado, nunca em demasia.

Assim, estaríamos sempre em harmonia, pois com tudo na medida certa a Felicidade se
torna sempre presente.

Deu para perceber que as escolas do Helenismo partilham de vários conceitos em suas
abordagens, isso se deve principalmente pela mudança em que a Filosofia passou naquela
época.

Aliás, as fundações dessas escolas aconteceram em um período bem próximo. Epicuro viveu
de 341 até 270, Diógenes de 404 até 323, Zenão de 332 até 265 e Pirro de 318 até 272.
Todos eles foram contemporâneos.

Enfim, esses filósofos deixaram valiosas lições sobre as maneiras que podemos levar a vida e
conviver em sociedade. Muitos foram aqueles que fizeram uso da Filosofia produzida nessa
época.

Cabe a nós agora, rever nossos conceitos acerca da vida numa época tão materialista como o
século XXI, na qual as pessoas são tão pobres que a única que elas têm é dinheiro.

Bom, agora é contigo camarada! Resolva as questões sobre o Helenismo a seguir e veja o
quão afiado você está para o Enem:

1) (Enem 2016)
Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma
maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a
lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta
doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando
tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.

LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.

O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:

(A) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.

(B) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.

(C) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.

(D) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente.

(E) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo.

2) (Enem 2014)
Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros,
nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem
dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito,
quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.

EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de


Janeiro: Eduff, 1974

No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim

(A) alcançar o prazer moderado e a felicidade.

(B) valorizar os deveres e as obrigações sociais.

(C) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.

(D) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.

(E) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.

3) (Ufsj 2012)
Sobre a ética na Antiguidade, é CORRETO afirmar que

(A) o ideal ético perseguido pelo estoicismo era um estado de plena serenidade para lidar
com os sobressaltos da existência.

(B) os sofistas afirmavam a normatização e verdades universalmente válidas.

(C) Platão, na direção socrática, defendeu a necessidade de purificação da alma para se


alcançar a ideia de bem.

(D) Sócrates repercutiu a ideia de uma ética intimista voltada para o bem individual, que, ao
ser exercida, se espargiria por todos os homens.

4) (Unisc 2012)
Nas suas Meditações, o filósofo estoico Marco Aurélio escreveu:

“Na vida de um homem, sua duração é um ponto, sua essência, um fluxo, seus sentidos, um
turbilhão, todo o seu corpo, algo pronto a apodrecer, sua alma, inquietude, seu destino,
obscuro, e sua fama, duvidosa. Em resumo, tudo o que é relativo ao corpo é como o fluxo de
um rio, e, quanto á alma, sonhos e fluidos, a vida é uma luta, uma breve estadia numa terra
estranha, e a reputação, esquecimento.

O que pode, portanto, ter o poder de guiar nossos passos? Somente uma única coisa: a
Filosofia. Ela consiste em abster-nos de contrariar e ofender o espírito divino que habita em
nós, em transcender o prazer e a dor, não fazer nada sem propósito, evitar a falsidade e a
dissimulação, não depender das ações dos outros, aceitar o que acontece, pois tudo provém
de uma mesma fonte e, sobretudo, aguardar a morte com calma e resignação, pois ela nada
mais é que a dissolução dos elementos pelos quais são formados todos os seres vivos.

Se não há nada de terrível para esses elementos em sua contínua transformação, por que,
então, temer as mudanças e a dissolução do todo?”
Considere as seguintes afirmativas sobre esse texto:
I.Marco Aurélio nos diz que a morte é um grande mal.

II. Segundo Marco Aurélio, devemos buscar a fama, a riqueza e o prazer.

III. Segundo Marco Aurélio, conseguindo fama, podemos transcender a finitude da vida
humana.

IV. Para Marco Aurélio, a filosofia é valiosa porque nos permite compreender que a morte é
parte de um processo da natureza e assim evita que nos angustiemos por ela.

Só a fé em Deus e em Cristo pode libertar o homem do temor da morte, segundo Marco


Aurélio.

Para Marco Aurélio, o homem participa de uma realidade divina.

Assinale a alternativa correta.

(A) Somente as afirmativas I e V estão corretas.

(B) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.

(C) Somente as afirmativas IV e VI estão corretas.

(D) Todas as afirmativas estão corretas.

(E) Somente a afirmativa IV está correta.

5) (Uem 2008)
O Período Helenístico inicia-se com a conquista macedônica das cidades-Estado gregas. As
correntes filosóficas desse período surgem como tentativas de remediar os sofrimentos da
condição humana individual: o epicurismo ensinando que o prazer é o sentido da vida; o
estoicismo instruindo a suportar com a mesma firmeza de caráter os acontecimentos bons
ou maus; o ceticismo de Pirro orientando a suspender os julgamentos sobre os fenômenos.
Sobre essas correntes filosóficas, assinale o que for correto.

(01) Os estoicos, acreditando na ideia de um cosmo harmonioso governado por uma razão
universal, afirmaram que virtuoso e feliz é o homem que vive de acordo com a natureza e a
razão.

(02) Conforme a moral estoica, nossos juízos e paixões dependem de nós, e a importância
das coisas provém da opinião que delas temos.

(04) Para o epicurismo, a felicidade é o prazer, mas o verdadeiro prazer é aquele


proporcionado pela ausência de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.

(08) Para Epicuro, não se deve temer a morte, porque nada é para nós enquanto vivemos e,
quando ela nos sobrevém, somos nós que deixamos de ser.
(16) O ceticismo de Pirro sustentou que, porque todas as opiniões são igualmente válidas e
nossas sensações não são verdadeiras nem falsas, nada se deve afirmar com certeza
absoluta, e da suspensão do juízo advém a paz e a tranquilidade da alma.

Gabarito
1.C,

2,A.

3, A.

4. C.

5. 01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31.

 
Razão e Fé: um embate milenar
Você acredita em Deus? E na Ciência? É possível acreditar em ambos? Desde os tempos mais
primórdios essa treta está aí, intrigando as pessoas e as questões do Enem.

Razão e Fé são formas (às vezes antagônicas) de entendermos o mundo que nos cerca. Há
alguns milênios, os gregos cansados de serem ludibriados pelos deuses e deusas de outrora,
decidiram tomar seu destino de volta a suas mãos. Em resumo, é assim que nasceu a
Filosofia: uma alternativa à religião. Para tanto, a “arma” que a Filosofia usou para libertar as
pessoas dos grilhões da religião foi a Razão.

A Filosofia surgiu em um momento épico de batalhas travadas na Grécia Antiga. Pois bem,
falamos que a arma da Filosofia para derrotar os mitos na Grécia foi a Razão, mas afinal que
“diacho” é isso?

A Razão

A palavra Razão pode ter diversos significados. Desde aquilo que você nunca terá numa
discussão com seu/sua cônjuge, até aquilo que podemos utilizar na matemática.

Mas como o foco aqui são as questões de Ciências Humanas do Enem, ficaremos com o
conceito de Razão utilizado pela Filosofia. Os filósofos veem a Razão como uma
característica humana única.

A Razão nos permite identificar e operar conceitos em abstração, resolver problemas,


encontrar coerência ou contradição entre eles e, assim, descartar ou formar novos conceitos
de uma forma Lógica.

A Fé

A Fé se dá quando a pessoa passa a acreditar de maneira incondicional numa explicação de


mundo e a considera como sendo uma verdade absoluta, ainda que haja qualquer tipo de
prova objetiva (racional) a contrariando. Portanto, é impossível duvidar e ter Fé ao mesmo
tempo.
Agora que você já está por dentro dos conceitos, vamos contrapor os dois para entender
como essa “treta” faz parte da história da humanidade.

(Na Filosofia define-se que um argumento é uma tautologia quando a proposição analítica
permanece sempre verdadeira, uma vez que, o atributo é uma repetição do sujeito. A ideia
de usar um texto sagrado (inquestionável) para afirmar a existência de um deus
(inquestionável) que afirma a existência de um texto sagrado é uma tautologia.)
 

A Razão e a Fé na história da humanidade

A Fé veio primeiro. Os primeiros textos sagrados do Hinduísmo, os Vedas, foram escritos há


mais de 3.500 anos. As origens das religiões, porém, têm raízes na Pré-História!

Já a Razão surgiu junto com a Filosofia em contraposição a religião. Isso aconteceu em


meados do século VI antes de Jesus nascer. Sendo assim, a Filosofia é consideravelmente
mais nova que a religião. E, desde o surgimento da Filosofia, a Razão e a Fé se tornaram
conceitos antagônicos.

Todavia, foi só durante a Idade Média que o conflito se acirrou (principalmente no Ocidente)


por conta do surgimento do Cristianismo. Religião que, como você sabe, surge inspirada num
mano “gente boa” chamado Jesus.

Causas do antagonismo Razão e Fé

Tanto a Filosofia quanto a religião estão tentando explicar o mundo segundo seus próprios
princípios e metodologias. Apesar de sua intenção ser a mesma, suas conclusões e a maneira
que elas são obtidas diferem muito.

A galera adepta da Razão entendia que o cosmos era algo regido por leis naturais e
compreensíveis. Embora houvesse (e ainda há) desacordo a respeito das explicações de
como o mundo foi criado, como ele funciona, qual é o nosso papel nele, tudo isso é
explicável racionalmente para os adeptos da Razão.

Ora, a Filosofia formula que para entendermos o mundo não basta ter Fé, “au contrarie”,
sua característica fundante é suspeitar de tudo. Partindo daí (da duvida) para que realmente
possamos entender algo como verdadeiro, são necessárias comprovações, sejam elas por
meio das ciências humanas, exatas, biológicas ou qualquer que seja o artificio. O importante
é que seja Racional.

Assim sendo, é unicamente por meio da Razão que conseguimos entender o cosmos, pois,
somos seres dotados de Razão. Tendo em vista que o cosmos é ele próprio racional, é
através da Razão (logos) que nós conhecemos o mundo e reconhecemo-nos como elemento
do cosmos.

Já quem prima pela Fé acredita no modelo teocêntrico, isto é, a compreensão do mundo se


dá a partir da compreensão da entidade (Zeus, Alá, Deus, Jeová, Javé, Odin, Heka,
Olodumare, Brahma, Nhanderuvuçú ou seja lá quem for) criadora do cosmos.
Dessa forma, a origem das coisas será bastante diferente dependo da Fé que as pessoas
adotarem. Por exemplo, a origem dos macacos, segundo a Fé Asteca, dá-se quando os
humanos, que foram assomados por um grande vento feito por Quetzalcóatl, precisaram
agarrar-se em árvores.

Dessa forma, transformaram-se em macacos. Algo parecido explica a origem dos peixes
nessa civilização. Para os astecas, os humanos viraram peixe para não morrerem no dilúvio
causado pela deusa Chalchiuhtlicue.

Outra explicação um tanto quanto curiosa para a origem do mundo é a apresentada pela
mitologia nórdica. Nela Odin e seus irmãos carregaram o corpo do pai (o gigante Ymir) e
assim fizeram a Terra de sua carne e as rochas de seus ossos. Seu sangue deu origem aos
lagos e mares, a abóbada celeste foi formada de seu crânio esfacelado. Peculiar né?

Pegando, então, essas explicações como modelo, você consegue notar como não há um
critério racional para explicar as coisas. Tampouco evidências que sustentem essas teorias. O
que há é o que chamamos de Teocentrismo.

Por Teocentrismo entendemos a teoria que considera uma entidade divina como centro do
cosmos e responsável pela criação de tudo o que há no universo. Esta ideia era fortemente
defendida na Idade Média (e ainda hoje), o que gerava conflito. Pois, há na explicação pela
fé apenas uma narrativa fantasiosa sobre a origem das coisas e não provas racionais.
Confirmando assim o antagonismo entre Razão e Fé.

Patrística

Da tentativa de transformar as explicações religiosas em algo mais acreditável, em algo mais


plausível, vai aparecer em cena uma galera que tentou aproximar Fé e Razão. A essa
tentativa a gente deu o nome de Patrística.

Bom, mas como nem tudo no mundo são flores, em 17 de fevereiro de 1600, na cidade de
Roma, aconteceu uma “parada sinistra”. Centenas de pessoas lotaram uma praça no centro
da cidade, para assistir à morte na fogueira de Giordano Bruno, por ordem da Santa
Inquisição.

Giordano Bruno que era padre, filósofo, místico, poeta e várias outras coisas, defendia uma
hipótese polêmica a respeito do universo ser infinito e repleto de astros como o Sol e os
planetas.

Ele acabou falando que Deus não existe fora do universo, mas é a soma de tudo o que existe.
Por isso, foi condenado pela Igreja Católica e morreu queimado na fogueira da Inquisição.

Além do Giordano, existiram diversos outros casos de gente sendo morta, das maneiras mais
bizarras e brutais possíveis, por conta dessa “treta” entre Razão e Fé. Talvez o caso mais
famoso seja o de Galileu Galilei.

Esse “camarada” de nome engraçado defendia uma tese postulada por um outro cara
chamado Nicolau Copérnico. Tal tese dizia que o Sol era o centro do nosso Sistema Solar e
não a Terra.
Em 1616, a galera pautada pela Fé afirmava que o centro do universo era a Terra. O
problema é que Galileu defendia que o Sol era o centro do universo publicamente. Assim, a
igreja proibiu que Galileu divulgasse ou ensinasse suas ideias.

Todavia, o cara era teimoso (deveria ser capricorniano) e publicou seu Diálogo sobre os Dois
Maiores Sistemas do Universo. A igreja ficou então “pistola” com ele e o condenou a viver
em uma prisão domiciliar.

(Galileu morreu em 8 de janeiro de 1642. Estava quase cego por observar as manchas
solares sem uma proteção nos olhos. Trezentos e cinquenta anos mais tarde – em 31 de
outubro de 1992 –, suas teorias foram reconhecidas formalmente pelo papa João Paulo II.)
 

Enfim, como você pode ver, o cosmos é algo complexo e dificílimo de ser entendido. Embora
a Razão não tenha grandes certezas a respeito do cosmos, ela permanece fiel aos filósofos
de outrora que contrariam toda a explicação fantasiosa, muitos dos quais deram suas vidas
em prol do conhecimento.

É hora de testar os seus com as questões a seguir.

1) (Puccamp). Preparando seu livro sobre o imperador Adriano, Marguerite Yourcenar


encontrou numa carta de Flaubert esta frase: “Quando os deuses tinham deixado de existir e
o Cristo ainda não viera, houve um momento único na história, entre Cícero e Marco
Aurélio, em que o homem ficou sozinho”. Os deuses pagãos nunca deixaram de existir,
mesmo com o triunfo cristão, e Roma não era o mundo, mas no breve momento de solidão
flagrado por Flaubert o homem ocidental se viu livre da metafísica – e não gostou, claro.
Quem quer ficar sozinho num mundo que não domina e mal compreende, sem o apoio e o
consolo de uma teologia, qualquer teologia? (Luiz Fernando Veríssimo. Banquete com os
deuses)

A compreensão do mundo por meio da religião é uma disposição que traduz o pensamento
medieval, cujo pressuposto é

(A) o antropocentrismo: a valorização do homem como centro do Universo e a crença no


caráter divino da natureza humana.

(B) a escolástica: a busca da salvação através do conhecimento da filosofia clássica e da


assimilação do paganismo.

(C) o panteísmo: a defesa da convivência harmônica de fé e razão, uma vez que o Universo,
infinito, é parte da substância divina.

(D) o positivismo: submissão do homem aos dogmas instituídos pela Igreja e não
questionamento das leis divinas.

(E) o teocentrismo: concepção predominante na produção intelectual e artística medieval,


que considera Deus o centro do Universo.
2) (Ufu 2012). Na medida em que o Cristianismo se consolidava, a partir do século II, vários
pensadores, convertidos à nova fé e, aproveitando-se de elementos da filosofia greco-
romana que eles conheciam bem, começaram a elaborar textos sobre a fé e a revelação
cristãs, tentando uma síntese com elementos da filosofia grega ou utilizando-se de técnicas
e conceitos da filosofia grega para melhor expor as verdades reveladas do Cristianismo.
Esses pensadores ficaram conhecidos como os Padres da Igreja, dos quais o mais importante
a escrever na língua latina foi santo Agostinho.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia: Ser, Saber e Fazer. São Paulo: Saraiva, 1996, p.
128. (Adaptado)
Esse primeiro período da filosofia medieval, que durou do século II ao século X, ficou
conhecido como

(A) Escolástica.

(B) Neoplatonismo.

(C) Antiguidade tardia.

(D) Patrística.

(E) Hinduísmo.

3) (UNITAU SP/2015). Aceitar que o sol ocupava o centro do cosmo era entrar em


contradição com várias passagens da Bíblia: a Terra tinha sido criada por Deus antes do sol;
Deus criou duas grandes luminárias, uma para iluminar a Terra durante o dia e outra,
durante a noite. A Bíblia afirmava ainda que enquanto a Terra existisse existiriam o frio e o
calor, o verão e o inverno, o dia e a noite […]. Para esse novo universo era necessária uma
nova física, que começou a ser escrita por Galileu […]. Mas a história pessoal de Galileu é
triste. A Igreja o acusou de heresia, pois se o Universo era como ele descrevia, a Bíblia estava
errada […]. O desacordo entre Galileu e as autoridades eclesiásticas tornara-se irreconciliável
[…]. Padres, bispos, cardeais e o próprio Papa defendiam exclusivamente o domínio da fé
[…].

SANTOS, Maria das Graças V. P. dos. O Renascimento. São Paulo: Ática, 2002. pp.26 e 28.

Em relação ao desenvolvimento da ciência durante o Renascimento, é CORRETO afirmar:

(A)   A ciência avançava de modo expressivo e sem limites nesse período, de maneira a
apontar descobertas fascinantes e revolucionárias.

(B)   A produção científica foi direcionada pela razão (entendida como valor acima da fé), o
que permitiu aos cientistas produzirem seus conhecimentos de forma autônoma à Igreja,
assegurando-se a liberdade de pensamento.

(C)   O conhecimento produzido por pessoas como Galileu revelava uma nova mentalidade,
que entrava em choque com antigas explicações de mundo, de forma a evidenciar os
conflitos desse período.
(D)   A partir do avanço do conhecimento científico e, principalmente, das descobertas de
Galileu, os cléricos, apesar de discordarem das ideias desse cientista, começaram a discutir o
domínio exclusivo da fé.

(E)    A ciência, com Galileu, ganhou novos rumos. Paralelamente, a Igreja, mesmo em
desacordo com suas ideias, saiu fortalecida, pois pôde agregar os conhecimentos produzidos
por esse cientista ao domínio da fé.

4) (UNCISAL AL/2012). As expressões artísticas renascentistas, fundadas no estudo do


homem, da natureza e do espírito crítico, desdobraram-se no desenvolvimento científico,
notadamente na área da física, astronomia, matemática e biologia. Contrariando as antigas
concepções geocêntricas defendidas pela Igreja, ganhou aceitação definitiva, na época, a
teoria heliocêntrica.

Na divulgação da nova concepção, destacaram-se

(A)   Nicolau Copérnico, Montaine e Thomas Morus.

B) Albrecht Dürer, Rabelais e Giordane Bruno.

(C)   Giordane Bruno, Galileu Galilei e Leonardo Da Vinci.

(D)   Nicolau Copérnico, Giordano Bruno e Galileu Galilei.

(E)    Galileu Galilei, Rafael Sânzio e Thomas Morus.

Gabarito

1.E,2.D,3.C,4.D.

Patrística, a Filosofia dos padres


Já ouviu falar sobre a Patrística, a Filosofia dos padres? Não? Então nos acompanhe nesta
aula de Filosofia para o Enem e saiba o que rolou com a Filosofia durante a Idade Média.
Bora lá conhecer essa corrente filosófica e gabaritar as questões de Ciências Humanas do
Enem!

O que foi a Patrística?

A Patrística foi uma doutrina filosófica criada por alguns padres que também exerceram a
função de filósofos durante um período da história. A missão desses caras era proporcionar
uma argumentação Lógica e ontológica com a finalidade de afirmar e defender a existência
de um Deus (Católico, uno, onipotente, onipresente e onisciente).

Além disso, era tarefa da Patrística, isto é, dos padres, a compreensão profunda da Fé cristão
e sua eventual transcrição para um formato mais racional. Ora, Fé e Razão nem sempre
andam lado a lado, muito pelo contrário, antes disso esses dois conceitos eram antagônicos.
Sendo assim, a Patrística foi uma corrente filosófica que se passou durante a Idade Média,
quando os padres produziram textos para defender o Cristianismo, buscando uma
conciliação entre Fé e razão, que nem sempre se deram bem.

Essa corrente filosófica (Patrística) ocorreu numa uma época marcada pela forte presença da
religião, onde epidemias que mataram um terço da população. Para entender melhor este
período, vamos contextualizá-lo historicamente:

Idade Média

A Idade Média foi um período bastante longo. Estendeu-se desde o século V (quando
Teodósio I instituiu o Cristianismo como a única religião permitida no Império Romano) até o
século XV (pouco antes do Brasil ser invadido).

O seu início foi marcado pela queda do Império Romano do Ocidente no ano de 476. Já seu
fim tem como marco histórico a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453, pouco
antes das grandes navegações.

Há quem chame a Idade Média de Idade das Trevas. Visto que, muito dos avanços científicos
ocorridos na Europa, sofreram uma grande oposição. Essa oposição é por vezes interpretada
como retrocesso se comparamos à produção cultural e científica da Antiguidade Clássica.

Durante esse período, a humanidade foi assolada pela Peste Negra, uma das mais
devastadoras pandemias da nossa História. Essa peste matou cerca de 200 milhões de
pessoas na Europa e Ásia. Dizem que só na Europa, houve a morte de pelo menos um terço
da sua população total.

Figura 3. Os médicos da peste em suas máscaras sinistras, eram quase tão (ou mais)
assustadores que a própria Peste Negra, doença que foi causada pela bactéria Yersinia pestis
e transmitida ao ser humano através das pulgas (Xenopsylla cheopis) dos ratos-pretos
(Rattus rattus).
Ora, nem tudo foram pulgas e pânico na Idade Média, muita coisa boa surgiu nessa época
também. Na produção agrícola por exemplo, foi inventado o moinho, a charrua e várias
técnicas de adubamento e rodízio de terras.

Agora, a herança que mais nos interessa aqui nos foi deixada por influentes filósofos, como
Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Esses dois padres, posteriormente canonizados,
juntamente com o trabalho de vários de seus monges, corroboraram para preservar a
cultura grega e romana. Isso vai ser essencial para o surto de revalorização da Antiguidade
Clássica ocorrido durante o Renascimento.
A Filosofia Cristã

A Filosofia Cristã da Idade Média, isto é, a Patrística, procurava interpretar o cristianismo a


partir de conceitos da filosofia grega. Ora, como não havia uma Lógica na narrativa cristã,
muitos questionamentos eram levantados e pouco consenso havia dentro da religião. A
Lógica, inspirada na Lógica aristotélica, foi uma peça fundamental que a Patrística se valeu
para a construção da doutrina cristã.

A sacada da Patrística foi unificar as ideias cristãs. Tal acontecimento levou a igreja a
abandonar os ideais da doutrina cristã primitiva e incorporar várias ideias gregas. Isso tornou
possível o combate das heresias e a justificativa da fé para converter a todos para a fé cristã.

Figura 5. A filosofia Patrística está diretamente ligada à evangelização e à defesa da religião


cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos.
Dentre as principais ideias que a Patrística trouxe à tona estão: a teologia e o teocentrismo,
bem como, o tal do pecado original, a criação do mundo a partir do nada, além é claro
daquelas confusas ideias de um Deus como trindade una.

Teologia e Teocentrismo

O Teocentrismo é uma doutrina religiosa que acredita que Deus é o centro de todo o
Universo. Ele é responsável pela criação de todas as coisas, inclusive do próprio universo.
Vale lembrar que qualquer tipo de ideia que contrariava essa noção era rechaçada pela
igreja, fazendo com que a mentalidade teocêntrica permanecesse forte na população por
séculos.

Teocentrismo vem do grego Theos, que significa Deus, e do sufixo Kentron que significa


centro. Embora não tenha gênero (assim como anjos) é comum tratamos Deus sempre no
masculino, além de representa-lo como um velho branco barbudo.

Outro ponto importante da Patrística é a Teologia. Ela consiste no estudo da natureza de


Deus, desde os seus atributos até sua relação conosco. Em sentido estrito, limita-se ao
Cristianismo, mas em sentido amplo, aplica-se a qualquer religião. É ensinada como uma
disciplina acadêmica, tipicamente em universidades, seminários e escolas de teologia.

O papel fundamental da Patrística tendo a Teologia como sua ferramenta foi a revolução e,
em certo sentido, a modernização dos dogmas da Igreja. É importante ressaltar que foi nesse
período que as Universidades foram criadas. As primeiras escolas medievais se instalavam e
eram regidas pelas igrejas e mosteiros, a partir daí vai surgir outra parada importante para
época que foi a Escolástica.

Os Santo Padres

Os grandes responsáveis por toda essa Filosofia Medieval foram os padres. Estudiosos da
Filosofia e grandes teólogos esses padres foram, em sua grande maioria, consagrados santos
devido a sua imensa contribuição para a Fé cristã.

Uma das coisas mais desafiadoras e importantes que foi teorizado pelos padres, mais
especificamente por Santo Agostinho, diz respeito a forma como o mal pode existir no
mundo. uma vez que, tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade.

Meu camarada Aurelius Augustinus Hipponensis, Santo Agostinho para os íntimos, foi um
cara influenciado pelo maniqueísmo. Essa parada aí dizia que o mundo seria regido pelas
forças do bem e do mal, uma concepção platônica de mundo.

Figura 7. Aurelius Augustinus Hipponensis, conhecido como Santo Agostinho, foi um dos
mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, cujas obras
foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e da Filosofia Medieval. Ele era
o bispo de Hipona. Vivenciou a era Patrística e foi considerado um dos mais importante
Padres da Igreja Ocidental.
Na pegada de combater esse maniqueísmo, Agostinho aprimorou o conceito de pecado
original e desenvolveu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus. Tudo isso
culminou na mais famosa teoria de Agostinho a respeito da origem do mal.

Vamos lá, se Deus é perfeito, criador de tudo, ele também seria criador do mal? Ora, se Deus
criou o mal, como é possível que ele possua uma bondade infinita? E digo mais, se ele é
onipotente, como “diacho” existe tanta miséria e desgraça no mundo? Seria ele o mano
responsável por toda essa infelicidade?

Para Santo Agostinho, não! Segundo o filósofo, o mal não é mais que a ausência do bem, a
ausência da obra divina. Ou, para ser mais preciso, o mal não é algo que foi criado. A origem
do mal estaria no livre-arbítrio, concedido por Deus. Ora, todo mal seria o resultado do livre
afastamento do bem. Isto é, resultado do afastamento das pessoas em relação a Deus.
Além dessa, existe outra teoria famosa postulada por Agostinho, essa teoria parte do fato de
sermos criados à imagem e semelhança de Deus. Por isso, possuímos uma centelha divina
que nos dá a condição para alcançar as verdades eternas.

Todas as pessoas têm essa parada aí (centelha divina). Essa é a Teoria da Iluminação de
Santo Agostinho. Essa ideia de Agostinho é inspirada numa outra teoria mais antiga, a
reminiscência de Platão, segundo a qual as ideias já residiriam em nossa alma e caberia ao
filósofo despertá-las.

Por fim, Agostinho defendia a ideia de que, embora a verdade estava na Fé, o melhor
caminho para alcança-la seria a razão. Com isso Santo Agostinho consegue conciliar Fé e
Razão. Essa genialidade serviu para inspirar outros filósofos como Tomás de Aquino.

Para tirar suas dúvidas sobre a Patrística, veja esta aula do CEG, nosso canal no youtube:

Bom, se liga nos exercícios a seguir e teste aí seus conhecimentos a respeito da Patrística e da Filosofia
Medieval.

1 (Uncisal 2011) Uma das preocupações de certa escola filosófica consistiu em provar que as
ideias platônicas ou os gêneros e espécies aristotélicos são substâncias reais, criadas pelo
intelecto e vontade de Deus, existindo na mente divina. Reflexões dessa natureza foram
realizadas majoritariamente no período da história da filosofia:

(A) Pré-socrático.

(B) Antigo.

(C) Medieval.

(D) Moderno.

(E) Contemporâneo.

2 (Ufu 2010) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo


cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de
Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de
Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de
tornar-se cristão).

(PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François (org.) A
Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p.77.)

Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o
pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de
Platão.

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças:

(A) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto,
para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
(B) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para
Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos.

(C) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é
apenas a forma do corpo.

(D) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias


que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da
Iluminação divina, a centelha de Deus que existe em cada um.

3 (Ufu 2003) A teoria da iluminação divina, contribuição original de Agostinho à filosofia da


cristandade, foi influenciada pela filosofia de Platão, porém, diferencia-se dela em seu
aspecto central.

Assinale a alternativa abaixo que explicita esta diferença.

(A) A filosofia agostiniana compartilha com a filosofia platônica do dualismo, tal como este
foi definido por Agostinho na Cidade de Deus. Assim, a luz da teoria da iluminação está
situada no plano suprassensível e só é alcançada na transcendência da existência terrena
para a vida eterna.

(B) A teoria da Iluminação, tal como sugere o nome, está fundamentada na luz de Deus, luz
interior dada ao homem interior na busca da verdade das coisas que não são conhecidas
pelos sentidos; esta luz é Cristo, que ensina e habita no homem interior.

(C) Agostinho foi contemporâneo da Terceira Academia, recebendo os ensinamentos de


Arcesilau e Carnéades, o que resultou na posição dogmática do filósofo cristão quanto à
impossibilidade do conhecimento da verdade, sendo o conhecimento humano apenas
verossímil.

(D) A alma é a morada da verdade, todo conhecimento nela repousa. Assim, a posição de
Agostinho afasta-se da filosofia platônica, ao admitir que a alma possui uma existência
anterior, na qual ela contemplou as ideias, de modo que o conhecimento de Deus é anterior
à existência.

Gabarito 1. C, 2. D, 3. B.

Escolástica
Venha conferir como a Filosofia se configurou na Idade Média e fique por dentro da principal
corrente filosófica dessa época e suas principais questões no Enem!

A Escolástica foi uma corrente filosófica resultante da Patrística, uma vertente da Filosofia
criada pelos padres filósofos.

Ao passo que a Teologia se desenvolvia, surgiram as escolas, que foram fundadas na Europa
no século XII. Embora na Grécia Antiga as crianças já recebessem algum tipo de educação, foi
apenas na Idade Média que passamos a ter um sistema escolar parecido com o atual.
Figura 1. Durante o século XII na Europa as primeiras escolas surgiram. Nelas as crianças
eram ensinadas a ler, escrever, contar e principalmente eram catequizadas.
 

Todo o conhecimento ficava restrito aos membros da Igreja e a poucos nobres. Foi aí, nessas
escolas, que a Filosofia Escolástica foi introduzida. Recorrendo a base proposta pela
Patrística, foi criada uma corrente filosófica dedicada à pesquisa e a reflexão. Um viés mais
especulativo que deixou de lado, em parte, a teologia em favor de uma Filosofia cristã.

Figura 2. O período conhecido como Escolástica perdurou até o fim da Idade Média e tem
seu nome derivado da palavra latina “scholasticus”, que significa “aquele que pertence a
uma escola”.
Essa Filosofia cristã, que chamamos Escolástica, valia-se de um método embasado no estudo
minucioso de determinadas obras, analisadas a exaustão. Dentre as quais se destacam as
obras de filósofos gregos como Platão e Aristóteles.

Platonismo Medieval

Meu “camarada” Platão  foi um grande influenciador da concepção de mundo medieval.


Visto que, para ele, existe uma mistura entre aquilo que é permanente e aquilo que muda.
Isto é, a uma distinção dualista entre alma e corpo.

Essa noção de alma foi algo fundamental para Platão, tanto quanto para a Teologia, mais
precisamente para a fé cristã. A alma foi intensamente estudada pela Escolástica. Ora, de
acordo com essa corrente filosófica é na alma que reside a verdade e, conforme pregava a
Escolástica, a verdade é Deus.
Em linhas gerais, a teoria de Platão embasou a ideia de que as pessoas são dotadas de uma
alma encarnada em um corpo. Ou seja, a alma não está necessariamente unida ao corpo,
mas o comanda, tal qual um motociclista comanda sua moto.

Através da Filosofia Escolástica, aquela ideia de Platão a respeito de mundo ideal cujas ideias
chegam a nós no mundo sensível (esse que vivemos) foi reescrita com uma perspectiva
cristã. Nessa nova perspectiva, Deus imprime na alma as ideias eternas (as ideias de Platão)
que são as ideias divinas.

Aristotelismo Medieval

Uma outra perspectiva estudada minuciosamente pela Escolástica foi a concepção de


mundo postulada por Aristóteles. Para ele, o mundo é um conjunto bem organizado, no qual
todas as “paradas” têm seu funcionamento bem como seu comportamento estáveis. Ou
seja, para Aristóteles, tudo tem um local e uma função de ser.

Ora, por ser criado de maneira bem organizada, bem estruturada e lógica, o mundo precisou
de um arquiteto (ou programador). A entidade responsável por essa criação não poderia ser
outra senão Deus! Que seria fruto da mais pura Razão.

Figura 3. O criacionismo é a crença religiosa de que a humanidade, a vida, a Terra e o


universo são a criação de um agente sobrenatural. Um ser único, absoluto, perfeito, não-
criado, que existe por si só e não depende da existência do Universo, denominado Jeová ou
Deus. Seria essa entidade, o elemento central da estrutura criacionista. Exercendo seu
infinito poder criativo, criou o Universo em seis dias e no sétimo descansou.
 

Com isso, o uso da razão foi bastante enfatizado. Para isso, houve até uma recuperação dos
trabalhos de Aristóteles, resultando em uma síntese da doutrina cristã e da teoria
aristotélica. Esse acontecimento definiu o que seria a Filosofia da Igreja Católica nos séculos
seguintes.

Vale ressaltar que foi a partir das liberdades criadas pela Escolásticas na Teologia que
o Malleus Maleficarum foi escrito. Seus autores, dois teólogos alemães, Heinrich Kramer e
James escreveram a respeito de pessoas que adoravam o diabo e como identificá-las.
Todavia, a Igreja Católica proibiu o livro pouco depois da sua publicação, colocando-o no
“Index Librorum Prohibitorum” (“Índice dos Livros Proibidos”).
Santo Tomás de Aquino

O pensador mais ilustre a usar essas ideias foi Santo Tomás de Aquino, maior expoente da
Filosofia Escolástica. Membro da Ordem dos Dominicanos e professor da Universidade de
Paris, Aquino foi aluno de Santo Alberto Magno.

Aquino era vidrado em Aristóteles e suas teorias são muito inspiradas no filósofo grego. As
obras de Aquino são de suma importância para a Igreja Católica até os dias atuais.

Contudo, após o período dominado pela Filosofia de Tomás de Aquino, a Escolástica entrou
em decadência. Com o surgimento de novas teorias e outras correntes filosóficas, bem
como, com o enfraquecimento do poder da Igreja, a Escolástica deixou de ser parte central
da Filosofia e passou a ser um campo de estudo específico.

Figura 4. Durante o Concílio de Trento, a obra de Santo Tomás de Aquino foi colocada no
altar ao lado da Bíblia, sendo considerada fundamental para o combate e a refutação do
protestantismo.
Em suma, a Escolástica era uma corrente filosófica interessada em transformar o
conhecimento religioso com base na da Filosofia grega.

Por fim, a Escolástica não era uma corrente que buscava entender o mundo como os gregos
fizeram outrora. Todavia, ela produziu conhecimento ao reafirmar o pensamento dominante
da época e criar um complexo sistema Lógico que explicava o mundo sob uma ótica
religiosa.

Agora é hora de você testar seus conhecimentos a respeito da Escolástica:

1) (FAAP) A doutrina de Platão influenciou os primeiros filósofos medievais, Santo


Agostinho, bispo de Hipona (354 a 430) e Boécio (480 a 524), autores de “Confissões” e
“Consolação da Filosofia”, respectivamente. Mas a Filosofia que predominou na Idade Média
foi a:

(A) Sofística

(B) Epicurista

(C) Escolástica

(D) Existencialista

(E) Fenomenológica
2) (Uncisal 2011) Uma das preocupações de certa escola filosófica consistiu em provar que
as ideias platônicas ou os gêneros e espécies aristotélicos são substâncias reais, criadas pelo
intelecto e vontade de Deus, existindo na mente divina. Reflexões dessa natureza foram
realizadas majoritariamente no período da história da filosofia:

(A) Pré-socrático.

(B) Antigo.

(C) Medieval.

(D) Moderno.

(E) Contemporâneo.

3) (IF-RS 2015) São Tomás de Aquino, principal representante da __________, desenvolve


um pensamento profundamente ligado ao de __________. Seu papel principal foi o de
organizar as verdades da religião e de harmonizá- las com a filosofia. Para ele, então, a
__________, criada por Deus, e a __________, revelação de Deus, não podem entrar em
__________, porque procedem do mesmo Princípio.

Assinale a alternativa que preencha corretamente as lacunas do texto apresentado.

(A) Escolástica – Aristóteles – razão – fé – contradição.

(B) Patrística – Platão – razão – fé – conflito.

(C) Escolástica – Aristóteles – fé – razão – acordo.

(D) Patrística – Platão – fé – razão – contradição.

(E) Sofística – Sócrates – razão – fé – conflito.

Gabarito

1.C, 2.C, 3.A.

 Disciplinas

São Tomás de Aquino e o Tomismo


Você consegue provar a existência de Deus? São Tomás de Aquino conseguiu. Venha ver o
que o ENEM cobra sobre o assunto nas questões envolvendo Filosofia.

Nesta aula de Filosofia você vai aprender mais sobre São Tomás de Aquino, um frade que é
considerado o maior expoente da Filosofia Escolástica. Aquino se inspirou nos santos padres
que ficaram superfamosos durante o período chamado Patrística, em meados do século V,
para desenvolver uma nova corrente de pensamento que veio a inspirar toda uma geração
de pensadores. Vamos revisar?
Figura 1. Pintura representando São Tomás de Aquino. São Tomás de Aquino foi um
importante filósofo e padre italiano da Idade Média, intitulado Doutor da Igreja Católica, em
1567.
Apesar de ter se inspirado nos padres filósofos da patrística, São Tomás de Aquino
desenvolveu um trabalho diferente de seus predecessores. O trabalho de Aquino foi mais
ligado à Filosofia de Aristóteles. Já o de Santo Agostinho, expoente da Patrística, tinha ideias
inspiradas em Platão e o no platonismo.

Tomás eleva a Escolástica para outra fase, uma “vibe” distinta das anteriores, com maior
ênfase no uso da razão. Para tanto, ele se vale das ideias – especialmente a Metafisica, de
Aristóteles. Com isso, Aquino elaborou uma síntese entre o cristianismo e as teorias de
Aristóteles, o que auxiliou na elaboração de uma Filosofia Cristã. O cara foi superimportante
para a igreja Católica.

Tomismo

Todo o conjunto das doutrinas teológicas e filosóficas de São Tomás de Aquino ficou
conhecido como Tomismo. Essas teorias, foram consideradas a “cereja do bolo” do
pensamento Escolástico, uma vez que buscavam a harmonia entre o racionalismo
aristotélico e a tradição cristã.

As ideias de São Tomás foram revolucionárias. Pense comigo: o paradigma vigente antes de
Aquino era a concepção platônica de Santo Agostinho. Essa concepção postulava a ideia de
que o conhecimento das pessoas era algo que dependia da iluminação divina. Ou seja, para
Santo Agostinho, nós enquanto humanos estávamos em contato direto com Deus.
Figura 2. Santo Agostinho se inspirou em Platão na elaboração de suas teorias.
Isto porque para Agostinho somos uma criação divina. Assim sendo, através do contato com
nosso criador era possível conhecer o mundo a nossa volta. Todavia, o “mano lá no céu” é
perfeito e nós não. Dessa maneira, para Santo Agostinho cabia a nós, humanos, apenas o
entendimento imperfeito das coisas que nosso pensamento poderia alcançar. Sendo
impossível entender os mistérios de Deus.

Veja que esse pensamento é uma espécie de releitura do Mundo das Ideias de Platão. Essa
ideia nos traz uma concepção dualista de mundo que divide a galera em corpo e alma, bem
como, o cosmos em mundo ideal  e mundo real.

De qualquer forma, o fato foi que Aquino se opôs a tudo isso. Claro que a Igreja a princípio
não gostou, mas como o frade era um gênio, a Igreja acabou abraçando suas ideias. Essa
inicial não aceitação da Igreja se deu por conta do Tomismo. Essa concepção elaborada por
São Tomás pregava a ideia de que nós podemos conhecer o mundo sem essa “história” de
iluminação divina.

Figura 3. O Tomismo foi uma tentativa de conciliar Aristóteles com o Cristianismo. Diversos
aspectos da Filosofia Ocidental floresceram como respostas a posicionamentos de Aquino,
com influência na ética, teoria política e metafísica.
Segundo o Tomismo, as pessoas podem conhecer o mundo sem a obrigação da intervenção
de Deus. Podemos aprender o mundo por meio de nossos sentidos. Para entender melhor
essa ideia, São Tomás elaborou uma analogia interessante.
Para ele as pessoas são como a água, não podem se aquecer sozinhas. Todavia, quando
exposta ao fogo a água esquenta. Da mesma forma são as pessoas que quando expostas às
coisas feitas para serem conhecidas pelos sentidos, são capazes de conhecê-las.

Desconsiderando a noção de que somos animais homeotérmicos, a analogia de Aquino


serviu para trazer aquela velha discussão entre Aristóteles e Platão de volta. A intenção de
Aquino foi refutar o platonismo de Santo Agostinho e Cia, o que acabou por revolucionar a
Filosofia da época.

As Cinco Vias – Prova da existência de Deus

São Tomás de Aquino ficou “pop” quando teorizou a existência de Deus. Para isso ele
afirmou que a Filosofia não pode ser substituída pela Teologia, e ainda, que não pode haver
contradição entre Fé e Razão. A partir desses pontos principais, Aquino provou a existência
de Deus por meio de cinco vias:

1ª Via – O motor imóvel: A Primeira via de Aquino supunha a existência do movimento no
cosmos. Todavia, as coisas não se movem sozinhas, ora, as coisas ou são movidas ou movem
outras coisas. Logo, é fútil buscarmos uma causa primeira, pois não explicamos o movimento
se não encontrarmos um primeiro motor que move todos os outros.

2ª Via – A prima causa eficiente: A segunda via vai complementar a primeira, alegando os
efeitos do tal motor imóvel. Ao observar o movimento temos a percepção da causa e efeito
(qualquer semelhança com a terceira lei de Newton  é mera coincidência, ou não!). Assim
sendo não existe efeito sem causa e vice-versa. Isto posto, é impossível chegar a uma causa
eficiente que dê início ao movimento das coisas.

3ª Via – O ser necessário e os seres possíveis: A terceira via é uma indagação sobre o ser que
é e o ser que não é (e você achando que ser ou não ser era coisa de Shakespeare). Aquino
dizia que para o Ser existir ele primeiro precisou não ser, isto é, não existir. Todavia, nada
vem do nada, certo? Portanto, é necessário algo que dê existência ao ser, ou seja, é
necessária um elemento que fundamente sua existência.

4ª Via – Os graus de perfeição: A quarta via é uma reflexão acerca da perfeição. Segundo
Aquino, como no mundo as coisas têm diferentes graus de perfeição, há de existir um grau
máximo, quiçá um ser máximo. Os graus de perfeição têm como teto esse grau máximo que
é o verdadeiro ser.

5ª via – O governo supremo: A quinta e última via indaga a respeito da finalidade das
paradas. Aquino argumenta a respeito da existência de um arquiteto inteligente gerenciador
do cosmos. Se no mundo há ordem então é necessário que alguém ou algo coordene e de
finalidade a todas as coisas.
Figura 5. Heráclito dizia que tudo está em movimento constante, nada permanece imutável.
A isso ele chamara de Panta Rei – tudo flui.
Então camarada, olha no que deu: Como o movimento precisa de algo para ter início (1ª
Via); como uma causa sempre será efeito de outra (2ª Via); como é preciso algo existir para
criar outra coisa (3ª Via); como as coisas tem graus de perfeição e é necessário que algo seja
perfeito para termos graus de perfeição (4ª Via); e como o universo é organizado (e assim
sendo é preciso que alguém o organize), quem seria candidato a fazer tudo isso? Quem seria
a causa primeira?

Ah! Você já deve estar imaginando a essa altura que o responsável pela harmonia cósmica, o
cara que é causa e efeito, o motor que se move sozinho, o não criado e tudo mais é ninguém
mais ninguém menos que… Deus!

Santo Anselmo

Embora essa teoria a respeito das Cinco Vias fosse algo novo, tinha um outro cara, Santo
Anselmo, que já havia proposto uma tentativa de provar a existência de Deus. Para Anselmo
a prova era intuitiva, ou seja, a priori.

Santo Anselmo tentava provar a existência de Deus com um argumento ontológico. Esse
argumento consistia em demonstrar a existência de Deus a partir da ideia dele em nossas
cabeças. Ora, só faria sentido conseguirmos imaginar algo tão perfeito se esse algo pudesse
ir além de nossa imaginação, não sendo então mera construção humana.

São Tomás de Aquino foi muito mais feliz na explicação e deixou os argumentos de Anselmo
aquém do Tomismo ao propor as cinco vias da existência de Deus. Seu argumento é
conhecido como cosmológico dentro da Filosofia, já o de Anselmo é ontológico.

Figura 6. As teses de São Tomás de Aquino foram banidas pela Igreja, mas depois de alguns
anos foram readmitidas.
Enfim, São Tomás de Aquino foi sem sombra de dúvidas o filosofo mais importante da
Escolástica. Seu diferencial foi “provar” a existência de Deus a partir das coisas que nós
podemos perceber acerca do mundo e não antes de nossa experiência. Podemos resumir
seu pensamento na ideia de que por conhecermos o cosmos que devemos ser levados a crer
que Deus existe de verdade e não só em pensamento.

Para entender melhor, o pensamento de São Tomás de Aquino, veja a videoaula:

Bom, agora que você está em “paz com o criador”,  já podendo provar sua existência, bora lá
testar seus conhecimentos com essas questões:

1) (IFRS) São Tomás de Aquino, principal representante da __________, desenvolve um


pensamento profundamente ligado ao de __________. Seu papel principal foi o de organizar
as verdades da religião e de harmonizá- las com a filosofia. Para ele, então, a __________,
criada por Deus, e a __________, revelação de Deus, não podem entrar em __________,
porque procedem do mesmo Princípio.

(A) Escolástica – Aristóteles – razão – fé – contradição.

(B) Patrística – Platão – razão – fé – conflito.

(C) Escolástica – Aristóteles – fé – razão – acordo.

(D) Patrística – Platão – fé – razão – contradição.

(E) Sofística – Sócrates – razão – fé – conflito.

2) (Puccamp) Preparando seu livro sobre o imperador Adriano, Marguerite Yourcenar


encontrou numa carta de Flaubert esta frase: “Quando os deuses tinham deixado de existir e
o Cristo ainda não viera, houve um momento único na história, entre Cícero e Marco
Aurélio, em que o homem ficou sozinho”. Os deuses pagãos nunca deixaram de existir,
mesmo com o triunfo cristão, e Roma não era o mundo, mas no breve momento de solidão
flagrado por Flaubert o homem ocidental se viu livre da metafísica – e não gostou, claro.
Quem quer ficar sozinho num mundo que não domina e mal compreende, sem o apoio e o
consolo de uma teologia, qualquer teologia? (Luiz Fernando Veríssimo. Banquete com os
deuses)

A compreensão do mundo por meio da religião é uma disposição que traduz o pensamento
medieval, cujo pressuposto é

(A) o antropocentrismo: a valorização do homem como centro do Universo e a crença no


caráter divino da natureza humana.

(B) a escolástica: a busca da salvação através do conhecimento da filosofia clássica e da


assimilação do paganismo.

(C) o panteísmo: a defesa da convivência harmônica de fé e razão, uma vez que o Universo,
infinito, é parte da substância divina.
(D) o positivismo: submissão do homem aos dogmas instituídos pela Igreja e não
questionamento das leis divinas.

(E) o teocentrismo: concepção predominante na produção intelectual e artística medieval,


que considera Deus o centro do Universo.

3) (UFU 1999) O filósofo grego que maior influência exerceu sobre Santo Tomás de Aquino
foi

(A) Platão.
(B) Aristóteles.
(C) Sócrates.
(D) Heráclito.
(E) Parmênides.

4) (FEPESE). Santo Tomás de Aquino demonstra a existência de Deus de cinco maneiras, que


são conhecidas como cinco vias.

1. Pelo movimento.
2. Pela causa eficiente.
3. Pelo possível e pelo necessário.
4. Pelos graus da perfeição.
5. Pelo governo do mundo.
6. Pela ontologia.
7. Pela contingência dos entes.

Os argumentos que pertencem à prova apresentada por São Tomás de Aquino são:

(A) Apenas os argumentos 1, 2, 3, 4 e 5.

(B)Apenas os argumentos 1, 2, 3, 5 e 6.

(C) Apenas os argumentos 1, 3, 4, 5 e 7.

(D) Apenas os argumentos 2, 3, 4, 5 e 6.

(E) Apenas os argumentos 3, 4, 5, 6 e 7.

5) (FEPESE) Para Santo Tomás, filosofia e teologia são ciências distintas porque:

(A) A filosofia se funda no exercício da razão humana e a teologia na revelação divina.


(B) A filosofia é uma ciência complementar à teologia.
(C) A filosofia nos traz a compreensão da verdade que será comprovada pela teologia.
(D) A revelação é critério de verdade, por isso não se pode filosofar.
(E) A teologia é a mãe de todas as ciências e a filosofia serve apenas para explicar pontos de
menor importância.

Gabarito

1.A, 2. E, 3. B, 4. A, 5. A.
 

A Filosofia do Renascimento
Vamos falar da Filosofia do Renascimento? É matéria do Enem e do vestibular! Então vem
conferir como pensavam os filósofos na passagem da Idade Medieval para a Moderna!

A Filosofia do Renascimento teve seu início com o declínio da Escolástica  (corrente Filosofia


que surge da Patrística) nos meados do século XIV. A principal característica desse período
foi o resgate das ideias Clássicas. Durante esse período histórico ocorreram muitas
transformações no mundo, desde a transição do feudalismo para o mercantilismo até a
passagem da Teologia para o Humanismo.

Figura 1. O Renascimento foi um movimento filosófico, cientifico, artístico, cultural, social,


econômico e político que teve origem no século XIV na Europa, principalmente em Florença
na Itália.
Da Antiguidade ao Renascimento

Ao longo da história há um certo movimento pendular nas revoluções filosóficas que, por
consequência, deram origem à Filosofia do Renascimento.

Para compreendermos esse período precisamos lembrar que durante a Antiguidade o


Mito era o discurso dominante. Porém, com o passar do tempo, houve um movimento para
superar essa ideia a partir do discurso filosófico.

A origem da Filosofia, inclusive, deu-se a partir desse movimento em direção à


racionalização. Durante esse período de transição, foi fundamental combater toda ideia
fantasiosa – poderia dizer religiosa – que não fosse racional.

Porém, na Idade Média, com o aparecimento da Patrística, o pensamento volta a ser


explicado retomando o Mito, ainda que numa nova roupagem. Durante esse período a Igreja
tratou de trazer a religião ao centro do pensamento filosófico ocidental. Embora o Mito
grego não seja necessariamente um paralelo exato para religião cristã, ambos apresentam
uma narrativa fantasiosa a respeito do mundo.
Como você pode observar, o movimento filosófico é pendular. Assim sendo, a Filosofia do
Renascimento vai fazer o resgate do pensamento filosófico da Antiguidade Clássica. Aliás,
vale ressaltar que a Escolástica também se usou desse pensamento filosófico. Entretanto,
esse resgate feito pela Igreja serviu para fundamentar uma Teologia e não uma
emancipação, como pregavam os filósofos gregos.

Figura 2. A obra o Rapto de Perséfone é uma escultura de Gian Lorenzo Bernini, considerado
um dos maiores artistas do século XVII. Os detalhes no mármore fazem a rocha parecer
macia. Uma verdadeira obra prima!
É justamente por conta desse movimento que usamos o termo Renascimento. Esse termo se
refere ao resgate da cultura e do esplendor que o período grego de outrora trouxe a
Filosofia. Isso fica evidente nas transformações econômicas, culturais, políticas, sociais e é
claro, religiosas que aconteceram durante o Renascimento.

Humanismo & Teologia

A Teologia era aquela “parada” que colocava Deus como centro do pensamento. Os adeptos
da Teologia se ocupavam em refletir sobre Deus, sua natureza, seus atributos, além de suas
relações com o homem e com o universo. Enfim, Ele era o centro de tudo e a humanidade
ficava em segundo plano.

Dessa maneira, a principal mudança causada pela Filosofia do Renascimento foi a transição
da Teologia para o Humanismo. Com o declínio da Escolástica houve um enfraquecimento
do pensamento dogmático, bem como da influência da Igreja sobre a sociedade.

Em contrapartida, o aparecimento da burguesia, a invenção da imprensa e uma série de


outras revoluções cientificas fez com que o Renascimento promovesse a valorização da
Razão, assim como, da genialidade do indivíduo. Durante esse período grandes nomes
surgiram e desafiaram a Igreja e todo o pensamento por ela defendido. Desse modo, deu-se
início a valorização do ser humano frente a Deus.
Figura 3. O Humanismo pregava o desenvolvimento das potencialidades e faculdades do ser
humano, possibilitando o desenvolvimento da sua capacidade para a criação e
transformação do mundo.
Foi essa nova “vibe” a respeito do lugar do ser humano que fundamentou as ideias de uma
galera chamada de Humanistas. Essas pessoas “descoladas”, rejeitavam os princípios da
Escolástica, buscando revalorizar sua sociedade baseado nos valores da Antiguidade Clássica.

Assim sendo, temos que o Humanismo foi um movimento de valorização da capacidade


humana, priorizando um saber crítico e a busca de um maior conhecimento da humanidade
enquanto espécie. Fundamentando-se na potencialidade das faculdades das pessoas e no
seu livre arbítrio, o Humanismo é a reação filosófica a Teologia.

Gênios Notáveis

Já que Deus deixava de ser visto como o ponto central do pensamento filosófico, novas
abordagens começam a surgir. Os limites antes impostos pelos dogmas da Igreja começavam
a sumir paulatinamente. Com isso, vários pensadores começaram a adotar posturas distintas
de pensamento, criando um movimento heterogêneo que há muito não se via.

Dentre esse turbilhão de ideias que foram surgindo (e não se engane, a Igreja não aceitou
facilmente essa transição) podemos destacar William Shakespeare na Inglaterra, Miguel de
Cervantes Saavedra na Espanha e Galileu Galilei na Itália.

Agora, tem uma cidade da Itália que é considerada como o berço do Renascimento, ou ao
menos berço das principais obras do Renascimento. Está cidade é Florença, o cenário de
obras de artistas do Renascimento, como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rafael,
Donatello, Giotto di Bondone, Sandro Botticelli, dentre outros.
Figura 4. Os grandes mestres do Renascimento italiano, Donatello, Leonardo, Michelangelo e
Rafael.
Leonardo da Vinci

Talvez o nome mais conhecido dessa época, quiçá o artista mais conhecido do mundo, foi
Leonardo di ser Piero da Vinci, o maior expoente da Filosofia do Renascimento. Meu
“camarada” Leo foi um filósofo polímata, isto é, ele era uma espécie de faz tudo. Da Vinci
entendia de Filosofia, mas além disso também era matemático, engenheiro, inventor,
anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta, músico e mestre Pokémon (#sqn).

Leonardo pregava que o espirito humano tinha uma capacidade ilimitada pois fazia uso da
razão. Aliando esse preceito filosófico a um método empírico, ao contrário da Escolástica
Medieval, que se limitava basicamente à consulta do passado, Leonardo criou coisas
fantásticas. Dentre suas criações, estão máquinas voadoras e tanques de guerra. Por conta
disso ficou conhecido como o percursor da aviação e da balística.

Nicolau Maquiavel

Outro sujeito que ficou muito “pop” nessa época foi Niccolò di Bernardo dei Machiavelli,
nascido em (adivinha?) Florença. Maquiavel foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e
músico italiano. Sua importância para a Filosofia se dá por suas teorias políticas. Aliás, muito
da ciência política moderna se deve a ele.

Nicolau ganha notoriedade quando propõe a ideia de os governantes serem cruéis afim de
obter ou manter o poder. Vale lembrar que a Itália nessa época não possuía uma unidade
governamental, mas várias cidades independentes. Maquiavel ajudou a fundamentar a ideia
de um único soberano que governaria a nação por qualquer meio, inclusive a violência.
Assim, o príncipe com seu exército nacional que substituísse as precárias forças mercenárias,
deveria ser capaz de estender seu domínio sobre todas as cidades italianas, acabando com a
discórdia.

Enfim, a Filosofia do Renascimento foi um movimento importantíssimo para o


desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento. Muitas crenças foram refutadas pela
Filosofia do Renascimento que contou com o apoio da ciência e das investigações empíricas.
Assim, o predomínio da religião deixou de ser absoluto e abriu caminho para o
desenvolvimento das demais áreas e servindo de pano de fundo para a separação que
ocorreria entre o Estado e a Igreja, bem como, para o movimento Iluminista que surgiria
anos mais tarde.

Cara, bora lá então testar seus conhecimentos renascentistas com essas questões:

1) (Enem) (…) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma
estrela fixa rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama.
Que, além dos planetas principais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como
satélites em redor dos planetas principais e com estes em redor do Sol. (…). Não duvido de
que os matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar
conhecimento, não superficialmente, mas duma maneira aprofundada, das demonstrações
que darei nesta obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim
o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a que torçam o sentido, desprezarei
os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos.
(COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium caelestium)

Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um
navio sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes
de fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as
experiências produzem os mesmos efeitos. Nenhuma investigação humana pode se
considerar verdadeira ciência se não passa por demonstrações matemáticas. (VINCI,
Leonardo da. Carnets)

O aspecto a ser ressaltado em ambos os textos para exemplificar o racionalismo moderno é

(A) a fé como guia das descobertas.

(B) o senso crítico para se chegar a Deus.

(C) a limitação da ciência pelos princípios bíblicos.

(D) a importância da experiência e da observação.

(E) o princípio da autoridade e da tradição.

2) (UEL) O Renascimento, amplo movimento artístico, literário e científico, expandiu-se da


Península Itálica por quase toda a Europa, provocando transformações na sociedade. Sobre
o tema, é correto afirmar que:

(A) o racionalismo renascentista reforçou o princípio da autoridade da ciência teológica e da


tradição medieval.

(B) houve o resgate, pelos intelectuais renascentistas, dos ideais medievais ligados aos
dogmas do catolicismo, sobretudo da concepção teocêntrica de mundo.

(C) nesse período, reafirmou-se a ideia de homem cidadão, que terminou por enfraquecer os
sentimentos de identidade nacional e cultural, os quais contribuíram para o fim das
monarquias absolutas.
(D) o humanismo pregou a determinação das ações humanas pelo divino e negou que o
homem tivesse a capacidade de agir sobre o mundo, transformando-o de acordo com sua
vontade e interesse.

(E) os estudiosos do período buscaram apoio no método experimental e na reflexão racional,


valorizando a natureza e o ser humano.

3) (Uneb-BA) Leia atentamente os relatos a seguir:

“O pintor que trabalha rotineira e apressadamente, sem compreender as coisas, é como o


espelho que absorve tudo o que encontra diante de si, sem tomar conhecimento”.
“Experiência, mãe de toda a certeza”

“Só o pintor universal tem valor”

São trechos de Leonardo da Vinci, personagem destacada do Renascimento. Neles, o autor


exalta compreensão, experiência, universalismo, valores que marcaram o:

(A) Teocentrismo, como princípio básico do pensamento moderno.

(B) Epicurismo, em alusão aos princípios dominantes na Idade Média.

(C) Humanismo, como postura ideológica que configurou a transição para a Idade Moderna.

(D) Confucionismo, por sua marcada oposição ao conjunto dos conhecimentos orientais.

(E) Escolasticismo, dado que admitia a fé como única fonte de conhecimento.

Gabarito

1. D, 2. E, 3. C.

Metafísica e a Modernidade
A Metafísica é um tema recorrente da Filosofia desde a Grécia Antiga, passando pela
Modernidade até a prova do Enem. Nesta aula vamos investigar quais foram as principais
mudanças que ocorreram na Metafísica durante a Modernidade. Vem com a gente!

A Metafísica é um campo bem antigo da Filosofia, surgiu lá na Grécia Antiga quando um


camarada chamado Aristóteles decidiu investigar a essência do mundo. Embora essa ideia
não fosse nada inédita para época, pois os filósofos pré-socráticos já buscavam explicações a
respeito do mundo.

Os Pré-Socráticos teorizavam que o cosmos foi gerado por um princípio metafisico


chamado Arché, isto é, uma substancia que daria origem a todo o universo. Cada um deles
tinha sua hipótese, desde Tales e a água até Demócrito e o átomo.

Atenção! Uma vez que a Metafísica é em si algo problemático e problematizado pela


Filosofia, e a Modernidade é influenciada por diversos acontecimentos históricos anteriores
a ela, é muito importante que você tenha o contexto global que abrange o tema na ponta da
língua. Portanto, é bastante interessante que você leia as aulas anteriores sobre a Metafisica
de Aristóteles, os Pré-Socráticos e a Escolástica.

Todavia, generalizando uma explicação, a Metafísica estuda o que não é aparente. Por
exemplo: a natureza das coisas, a necessidade delas ou mesmo o mundo e o seu primeiro
princípio.

Figura 1. A Ontologia é classificada na Filosofia como o ramo geral da Metafísica porque se


ocupa dos temas mais abrangentes e abstratos da área.
Sendo assim, é plausível supor que qualquer que seja o filósofo, ao fazer uso da razão afim
de explicar algum aspecto do mundo também faz uso da Metafísica. Ora, os campos
da Política, Ética, Estética e afins enunciam algo a respeito da realidade das coisas. Assim
sendo, implicam em um ponto de vista Metafísico sobre a forma como essa realidade se dá.
Ou seja, ao falar sobre o mundo, estamos falando da Metafísica.

Modernidade

Se desde a Grécia Antiga os filósofos já discutem essa tal de Metafísica, é provável que os
antigos paradigmas acabaram dando lugares a outros. É só pensar no quanto a Filosofia se
dividiu dando origem às diversas ciências que, por sua vez, se dividem em áreas cada vez
mais especificas. Com esta mudança os estudos metafísicos passaram a desempenhar papeis
um tanto quanto diferentes daqueles originalmente propostos por Aristóteles em sua
Filosofia Primeira.
Figura 2. A Modernidade é um período histórico no qual a razão é crivo e filtro indispensável
a todo entendimento. Vai do século XV até o XIX. Nesse período Deus foi e substituído pela
ciência humana. É importante não confundir com Contemporaneidade, que é a qualidade ou
condição de ser contemporâneo, de existir ao mesmo tempo; coexistência.
Ora, com o declínio da Escolástica, pensamento religioso que caracterizou a Idade Média e a
revolução ocasionada pela Filosofia do Renascimento, houve um certo empoderamento da
Razão. Isso culminou no movimento Iluminista do século XVIII e deu origem a Modernidade.
Fato que traria gigantescas mudanças para a Filosofia, bem como, para toda sociedade,
ocidental e oriental.

Embora seja um tanto quanto complicado datar a passagem de um período filosófico para o
outro, no que tange a Modernidade, o consenso é que, as “paradas” que originaram
a Revolução Francesa foram o auge da superação da Filosofia Escolástica bem como da Idade
Média.

Então, foi justamente na “treta” com o pensamento Escolástico (aquela corrente filosófica
da idade média) e na reafirmação da razão como o meio para o conhecimento desatado de
dogmas teológicos, é que a Metafísica se estabeleceu na Modernidade.

Metafísica na Modernidade

A princípio, todo esse uso da Razão aliado com as ideias de alguns filósofos da época como
René Descartes, serviram de pano de fundo para os acontecimentos inaugurais da
Modernidade.

A Razão passou a ser mais objetiva, uma ferramenta utilizada para a compreensão da
realidade e do pensamento humano. Esse processo recebeu de um grande filósofo chamado
Weber o nome de desencantamento do mundo.
Figura 3. Na Modernidade passamos a nos despir do conhecimento fundamentado em
crenças e religiões. As explicações acerca do mundo se fundamentavam na razão, quebrando
aquela “vibe” religiosa dos séculos passados.
A Metafísica na Modernidade se ocupou de desvencilhar Razão e Fé, enquanto lançava uma
nova busca a respeito do ser. Daí a importância de René Descartes na transição para a
Modernidade.

Além disso, esse sujeitinho ilustre indagava-se sobre a possibilidade do conhecimento, isto é,
o que nos é possível conhecer? Resgatando, em certa medida, debates remotos que datam
da Grécia Antiga, reaparecem na Patrística e Escolástica e agora ganham uma nova
abordagem.

Figura 4. Descartes que afirmava que o ser humano seria composto por duas substâncias,
que são distintas e separadas, res cogitans ou substância pensante e res extensa ou
substância extensa.
A questão do método é algo bastante importante para a história do pensamento filosófico,
foi com esse tipo de discussão que foram criadas correntes filosóficas como o Empirismo,
que veio fazer frente ao chamado Racionalismo.
Empirismo e Racionalismo

O Empirismo é a corrente filosófica que defende a ideia de que conhecimento só pode vir
(exclusivamente) da experiência. Ora, tudo aquilo que podemos saber a respeito do mundo
nos é aprendido pelo mundo externo através de nossos sentidos. Essa galera se pautava
naquele método criado pela Lógica chamado de Indução. Eles ficaram conhecidos como
empiristas.

De maneira geral, o método indutivo busca alcançar a verdade a partir da análise de uma
quantidade de casos particulares. Assim, é possível, segundo alguns empiristas, chegar a
uma verdade geral. Saca só:

A Capitã Marvel voa;

A Capitã Marvel é uma super heroína,

O Homem de Ferro voa;

O homem de Ferro é um super herói.

A Ravena voa;

A Ravena é uma super heroína.

O Thor voa;

O Thor é um super herói.

Logo super heróis/heroínas voam.

Figura 5. Fica ligado(a), nem todo argumento Lógico é verdadeiro. Aristóteles já dizia que,
qualquer enunciado ou raciocínio falso que simula a veracidade é um sofisma, ou seja, uma
falácia.
Por outro lado, o racionalismo é a corrente filosófica que (também) faz uso da Lógica para
extrair conclusões. Contudo, essa galera aí prioriza a razão como o meio para encontrar a
verdade.
O Racionalismo, como o nome sugere, vai priorizar a razão em detrimento da experiência.
Portanto, todo o cosmos deve então ser passível de compreensão, ou seja, inteligível. Ainda
que não podemos demostrar empiricamente algo, não significa (para os racionalistas) que
esse algo não seja verdade.

O método utilizado por esses caras é a dedução, que consiste em uma análise lógica dos
argumentos, elencando premissas afim de chegar a uma conclusão. A conclusão torna
explícito um conhecimento já existente nas premissas.

Figura 6. Immanuel Kant, revolucionou a discussão entre Racionalismo e Empirismo ao


propor uma alternativa a essa “treta”. Talvez você já tenha escutado que Kant teria matado
a Metafísica. “Véi”, maior viagem isso aí. O que Kant quis dizer é que não é possível
apreender as “paradas” em si mesmas. Isto é, para alcançar a realidade não basta a própria
realidade, mas a interpretação que os nossos sentidos fazem da realidade que nos cerca.
(#MINDBLOWING)
Bom, não há nada de muito inédito nesse embate entre Racionalismo e Empirismo, visto
que, já podemos ver isso naquela discussão entre Platão e seu pupilo Aristóteles. Platão
(racionalista) falava sobre a existência de um Mundo das Ideias e que a Razão nos
aproximava dele. Já Aristóteles era o cara que falava sobre a experiência e de como
devemos conhecer o mundo a partir de nossos sentidos.

Por fim, a Metafísica na Modernidade é “ligadona” em entender as possibilidades do


conhecimento. Surgiram dessa “brisa” várias correntes filosóficas que moldaram a maneira
que entendemos o mundo. As teorias derivadas disso aí inspiraram desde nossos costumes
até viagens no tempo!

Agora que você já está por dentro dos “paranauês” da Modernidade e da Metafísica, bora lá
testar seus conhecimentos!

1) (UNESP 2013)

A modernidade não pertence a cultura nenhuma, mas surge sempre CONTRA uma cultura
particular, como uma fenda, uma fissura no tecido desta. Assim, na Europa, a modernidade
não surge como um desenvolvimento da cultura cristã, mas como uma crítica a esta, feita
por indivíduos como Copérnico, Montaigne, Bruno, Descartes, indivíduos que, na medida em
que a criticavam, já dela se separavam, já dela se desenraizavam. A crítica faz parte da razão
que, não pertencendo a cultura particular nenhuma, está em princípio disponível a todos os
seres humanos e culturas. Entendida desse modo, a modernidade não consiste numa etapa
da história da Europa ou do mundo, mas numa postura crítica ante a cultura, postura que é
capaz de surgir em diferentes momentos e regiões do mundo, como na Atenas de Péricles,
na Índia do imperador Ashoka ou no Brasil de hoje.

(Antonio Cícero. Resenha sobre o livro “O Roubo da História”. Folha de S. Paulo, 01.11.2008.
Adaptado)

Com a leitura do texto, a modernidade pode ser entendida como

(A) uma tendência filosófica especificamente europeia e ocidental de crítica cultural e


religiosa.
(B) uma tendência oposta a diversas formas de desenvolvimento da autonomia individual.
(C) um conjunto de princípios morais absolutos, dotados de fundamentação teológica e
cristã.
(D) um movimento amplo de propagação da crítica racional a diversas formas de
preconceito.
(E) um movimento filosófico desconectado dos princípios racionais do iluminismo europeu.

2) Enem (2013)

TEXTO I

“Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas
falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão
mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera
crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.”
(DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural,
1973) (adaptado).

TEXTO II

“É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de


busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí
terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma
daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.” (SILVA, F. L. Descartes:
a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001). (adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução


radical do conhecimento, deve-se:

(A) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.

(B) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.

(C) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.

(D) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
(E) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.

3) (UEL)

Leia o texto a seguir.

A razão humana, num determinado domínio dos seus conhecimentos, possui o singular
destino de se ver atormentada por questões, que não pode evitar, pois lhe são impostas pela
sua natureza, mas às quais também não pode dar respostas por ultrapassarem
completamente as suas possibilidades.

(KANT, I. Crítica da Razão Pura (Prefácio da primeira edição, 1781). Tradução de Manuela
Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1994, p. 03.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Kant, o domínio destas intermináveis
disputas chama-se

(A) experiência.
(B) natureza.
(C) entendimento.
(D) metafísica.
(E) sensibilidade.

GABARITO

1. D, 2. E, 3. D.

A Questão do Método
Qual é o melhor Método para adquirir conhecimento? Existe um Método perfeito? O que a
Filosofia tem a dizer sobre essa questão? Confira aqui o que o Enem cobra a respeito do
Método.

Durante nosso processo civilizatório, toda ação humana que buscou conhecer o mundo e
obteve sucesso contou com um Método. Chamamos de Método na Filosofia o procedimento
racional que a partir de um processo lógico e ordenado consegue produzir algo.

Ora, dentro da Filosofia isso acontece a partir de uma sequência de operações lógicas que
busca atingir um resultado. O Método é importantíssimo para a legitimação do resultado
atingido.

Essa legitimação ocorre sobretudo em virtude do descarte da subjetividade do indivíduo


perante sua pesquisa. Embora seja difícil, quiçá impossível de atingirmos uma imparcialidade
total no raciocínio filosófico, principalmente no tocante a Ética e a Política, é muito
importante continuarmos buscando essa imparcialidade.
Figura 1. O Método Científico é um elaborado conjunto de operações lógicas que visa
desenvolver uma experiência, tal Método visa produzir novos conceitos, além de corrigir ou
aprimorar os conhecimentos já existentes.
O curioso é que existe todo uma galera dedicada ao estudo do Método enquanto forma
(ferramenta) de conhecimento do mundo. O que levou a criação de um Método para o
estudo do Método!

Muitos foram os filósofos que escreveram acerca desse tema, dentre os principais destacam-
se o filosofo francês René Descartes, defensor do método dedutivo e o inglês Francis Bacon
com o famigerado método indutivo. Além deles, também temos o Inglês David Hume e claro,
não poderíamos deixar de fora o prussiano Immanuel Kant.

Método na Filosofia

Bom, para que você por dentro dos métodos mais consagrados da Filosofia, vale super a
pena acessar nossos conteúdos e dar uma olhada no Racionalismo Cartesiano, no Empirismo
de Bacon bem como no Criticismo Kantiano. Alguns desses são uma espécie de Trend Topics
da Filosofia, sempre presentes nas discussões filosóficas ao longo da história.

Figura 2. O filosofo francês René Descartes é talvez o nome mais importante nas questões
acerca do Método. Descartes escreveu uma obra chamada Discurso do Método na qual
discute a necessidade de utilizar a razão como parâmetro metodológico para todas as coisas
ao invés dos dogmas vigentes. Bom, ser contra dogmas nessa época obviamente não era
algo boa. Em 1663, vários de seus livros foram colocados no Índex de livros proibidos pela
igreja.
O Método Dialético
O Método dialético consiste na elaboração de um diálogo que possui diferentes pontos de
vista a respeito de um assunto incomum. Tal discurso propõe-se a fundar a verdade por
meios de argumentos lógicos.

De maneira simples, você pega uma teoria e uma antítese, isto é, uma outra teoria que
corresponde ao oposto da teoria original. Como por exemplo o Flash e seu arqui-inimigo o
Flash Reverso. Se você não é um fã da DC, pense no Mufasa (de Rei Leão) e sua antítese o
Scar. Ou ainda, no liberalismo e no conservadorismo políticos.

Figura 3. No esquema é possível


observar, de maneira bem concreta, como funciona o Método dialético.
Enfim, o resultado do diálogo entre a teoria apresentada e sua antítese provoca uma síntese.
Essa resultante vai ser algo que irá além da teoria original bem como de sua antítese. Assim
sendo, embora preserve elementos da teoria original e sua antítese, a síntese será uma
parada completamente nova. O que por sua vez gera uma nova teoria.

E a gente super utiliza esse Método no dia a dia. Sempre que você troca uma ideia com
alguém, seja na escola, em casa, na rua e sei lá onde mais, você acaba criando, mesmo sem
querer, um choque de ideias, ou seja, um discurso dialético.

Imagina aí, você com a galera discutindo qual é o melhor time de futebol do país. Cada um
tem sua tese a respeito do assunto, depois de algum tempo debatendo algumas ideias
surgem, ao chocar essas ideias produziremos a síntese: O melhor time de futebol do Brasil.
Tese 1 – Internacional; Tese 2 – Grêmio; Síntese – Palmeiras!
Figura 4. A Dialética em um sentido bastante genérico, consiste no conflito originado pela
contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos.
Sócrates e a Maiêutica

Quem era craque nos paranauês da Dialética era Sócrates. O Método que Sócrates
empregava para alcançar a verdade era a chamada Maiêutica. Segundo ele, a Maiêutica era
um diálogo focado em aflorar o conhecimento nas pessoas de maneira paulatina. Isto é, aos
poucos ir se aproximando da verdade por meio de um diálogo lento e gradual.

Esse Método se dava a partir de questões que tinham por finalidade ironizar e refutar
conhecimentos dogmáticos. Quero dizer, Sócrates queria acabar com as certezas que a
galera tinha a respeito de diversos assuntos. Com isso Sócrates convencia, por meio da
ironia, seus interlocutores que eles não sabiam tanto quanto pensavam.

Bom, já deu para entender que o Método socrático não era algo que de cara já desvelava a
verdade. Por conta disso, Sócrates é chamado de “parteiro das ideias”. Dizia Platão que a
verdade é uma coisa que é “parida”. Desse trabalho de parto emergia um novo
conhecimento que era mais próximo da verdade. Assim sendo, a Maiêutica é uma espécie de
Dialética com outra roupagem.

F
igura 5. Aquela famosa máxima “Conhece-te a ti mesmo” é oriunda da Grécia e relacionada
com a Dialética socrática. O Sócrates pregava que a verdade está dentro de nós, por meio do
questionamento das coisas ele conseguia chegar a verdades universais.
Por fim, o Método é uma questão importantíssima para a Filosofia, bem como para a nossa
vida, visto que afeta diretamente nossos afazeres cotidianos. Buscando um caminho para
chegarmos aos nossos objetivos, acabamos por buscar o Método que nos levará a nosso
destino.

Agora é com você! Confira as questões abaixo e teste seus conhecimentos a respeito do Método na Filosofia,
preparando-se para o Enem.

1) ENEM (2017)
Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e
embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os
temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que
são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se
censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua
orientação.

BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977

O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na

(A) Contemplação da tradição mítica.

(B) Sustentação do método dialético.

(C) Relativização do saber verdadeiro.

(D) Valorização da argumentação retórica.

(E) Investigação dos fundamentos da natureza.

2) UNIMONTES (2011)

Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que era um homem feio, mas, quando falava,
exercia estranho fascínio. Podemos atribuir a Sócrates duas maneiras de se chegar ao
conhecimento.

Essas duas maneiras são denominadas de

(A) Doxa e Ironia.

(B) Ironia e Maiêutica.

(C) Maiêutica e Doxa.

(D) Maiêutica e Episteme.

(E) Maiêutica e Método


3) UNCISAL (2011)
Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer
perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o
diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua
própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte
sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar
certos valores religiosos.

Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu
pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia

(A) Transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população


ateniense.

(B) Transmitia conhecimentos de natureza científica

(C) Baseava-se em uma contemplação passiva da realidade.

(D) Ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão.

(E) Procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica.

Gabarito

1.B,2.B,3.D.

Do Geocentrismo ao Heliocentrismo
As teorias filosóficas da antiguidade influenciaram bastante o pensamento Ocidental. Venha
descobrir como esse conteúdo do ENEM foi importante para a humanidade.
Oriunda da Grécia há mais de dois mil anos, a Filosofia alterou os paradigmas desse mundão
por incontáveis vezes. Coisas que eram antes reconhecidas como verdade foram abaladas
pela força destruidora dos argumentos filosóficos. Nessa aula, vamos estudar as
contribuições filosóficas do Geocentrismo ao Heliocentrismo.

Os filósofos e o formato da Terra

O filosofo grego Pitágoras, por exemplo, foi quem derrubou a ideia – que na época não era
cretina – da Terra ser plana. Já no século VI a.C. o cara implantou o paradigma da Terra
esférica, que perdura por anos.

Naquela época a ideia da Terra esférica, proposta por Pitágoras, foi embasada em evidências
empíricas. Isto é, Pitágoras ficou observando o céu e  o ambiente ao seu redor tentando
achar padrões. Foi assim que, a partir de Pitágoras, tornou-se possível determinar com um
certo grau de certeza que a Terra era esférica.

Em seguida, corroborando com ele, veio Aristóteles, um dos mais proeminentes filósofos da


história. Assim como Pitágoras, ele dedicou seu tempo na investigação sobre o formato da
Terra. Preocupado com a ideia de Homero, que afirmara que a Terra era uma espécie de
disco plano, Aristóteles se debruçou sobre os trabalhos de Pitágoras. Com isso, consolidou,
através de experimentos empíricos, a noção de Terra Esférica.

Figura 1. O modelo homérico data do


século X a.C. foi superado pelo modelo de Pitágoras que se consolidou com o modelo de Aristóteles
no século V a.C.

Ao contrário do argumento de Homero, o argumento Aristotélico se deu pelo uso de uma


observação empírica e da formulação de experiências para demostrar o que foi observado.

Os experimentos que comprovaram o formato da Terra

Ademais, no que se refere ao formato da Terra, foi o filósofo Eratóstenes quem provou
empiricamente as ideias de Aristóteles. O cara leu as obras aristotélicas e decidiu prová-las
de maneira matemática. Partindo de uma ideia bastante simples – e diga-se de passagem
genial – Eratóstenes colocou postes de madeira em diferentes regiões da Grécia e mediu
suas sombras.

Como os valores das medições – feitas com certo rigor – foram diferentes, a sacada de
Eratóstenes foi que isso só seria possível se a Terra tivesse uma curvatura. Não obstante, o
cara foi além e com base dos ângulos das medições ele mediu a circunferência da Terra! Um
feito muito impressionante.

Geocentrismo

Retomando as teorias de Aristóteles, outra proposta que perdurou por bastante tempo foi o
Geocentrismo. Segundo este modelo cosmológico, a Terra estaria parada no centro do
universo e os demais corpos celestes (Sol, Lua, Planetas, demais astros) estariam girando ao
seu redor.

Todavia, foi um sujeito chamado Ptolomeu quem apresentou a versão mais lapidada – e
mais aceita – do Geocentrismo em sua grande síntese conhecida como “Almagesto”.

Nesse trabalho, Ptolomeu defendia que os planetas moviam-se em círculos, semelhante ao


conceito de órbitas, girando em torno da Terra. Além disso, existia uma ordem desses
círculos. Partindo da Terra, viriam a Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno.
Figura 2. O modelo acima ilustra a ideia do Geocentrismo, com a Terra ao centro e os demais
planetas a circulando em “Órbitas”.

Com isso, o Geocentrismo foi adotado pela Igreja durante a Idade Média. Isso porque
haviam passagens bíblicas que supostamente a justificavam.

Em contrapartida, os filósofos da época, aqueles que fizeram parte da Patrística e


da Escolástica, tiveram que contornar esse episódio do Geocentrismo ser considerado um
dogma. Isto é, algo que não poderia ser contrariado.

Aliás, se você se interessa por esse conflito entre a igreja do Ocidente os pensadores que se
contorciam para continuar suas pesquisas, se liga no post que a gente tem sobre o
assunto: Razão e Fé.

Heliocentrismo

A “treta” entre a religião e a Filosofia se acirrou ainda mais quando as teorias de um sujeito
chamado Aristarco de Samos foram trazidas à tona após 1800 anos da sua elaboração. Em
seguida, um novo modelo proposto a partir das ideias de Aristarco fora elaborado por um
polonês chamado Nicolau Copérnico.

Esse modelo propunha que os astros se moviam ao redor do Sol em detrimento do modelo
anterior em que a Terra era o centro das coisas. Ora, a palavra grega para Sol é Hélios,
portanto o modelo ficou conhecido como Heliocentrismo, ou seja, o Sol no centro.

Depois, o astrônomo Johannes Keppler aperfeiçoou o modelo ao criar as chamadas leis de


Kepler. Elas são usadas para descrever os movimentos dos planetas do sistema solar a partir
de modelos heliocêntricos.

O bacana foi que as teorias de Keppler eram empíricas. Isto é, para confirmar seus modelos,
o astrônomo fez uso de métodos que possibilitaram o teste e a generalização das leis de
Keppler.
Figura 3. Foi bastante
complicado, durante a Idade Média, colocar a certeza acima da dúvida para aqueles cuja ocupação se
baseava em duvidar das coisas, os filósofos.

Heranças Filosóficas: do Geocentrismo ao Heliocentrismo

O Heliocentrismo teve uma grande repercussão, sendo destaque através do Ocidente. Isso
levou a igreja a iniciar um debate para contestar as ideias de Copérnico. Todavia, não se
engane,: nada disso foi feito visando um debate filosófico que buscava a verdade ou o
aperfeiçoamento dos conhecimentos astronômicos.

O motivo por trás desse confronto de ideias – Heliocentrismo X Geocentrismo – era político.
A igreja não poderia admitir que uma ideia dogmática pudesse ser contestada por um
simples polonês. Dentro do discurso religioso, isso abriria precedente para a contestação de
diversas outras “paradas” que sustentavam as bases da religião cristã.

Claro que do ponto de vista do universo, toda essa discussão não fazia o menor sentido, pois
ele continua a ser o mesmo, quer você ache que a Terra ou Sol é seu centro. Entretanto,
retirar a Terra do centro do universo consiste em admitir que o discurso científico é o
verdadeiro e, como consequência, as explicações religiosas são uma falácia.

Embora o modelo atual (século XXI) seja bastante diferente de ambos, para a história do
pensamento o conflito entre o Heliocentrismo e o Geocentrismo foi bastante importante.
Isso porque inaugurou o renascimento da Ciência e dos ideais filosóficos de outrora. Assim, a
Filosofia mudava seu foco de uma “parada” teológica (deus como tema) para algo mais
focado nas pessoas, isto é, um “rolê” mais humanista.
Figura 4. O documento do Santo Ofício de 1616 dizia “que o Sol seja o centro do mundo e imóvel de
movimento local é proposição absurda e falsa em Filosofia, e formalmente herética por ser
expressamente contrária à Sagrada Escritura”.

As contribuições filosóficas, do Geocentrismo ao Heliocentrismo, no desenvolvimento do pensamento


ocidental
Por fim, é importante entendermos o processo pelo qual se desenvolveu o pensamento
ocidental para que possamos nos orientar em relação ao nosso futuro. As contribuições
filosóficas que dão início à revolução que tomou corpo na Europa durante o Renascimento
ocorreram a partir de ideias vindas da Antiguidade.

Ainda que o debate envolvendo o Heliocentrismo e o Geocentrismo seja só uma das


múltiplas formas em que a Filosofia do Renascimento se manifestou, os ideais empregados
nesse debate são comuns a todo o pensamento revolucionário da época.

Agora, resolva os seguintes exercícios sobre as contribuições filosóficas do Geocentrismo ao Heliocentrismo


que separei para você:

01. (Udesc) Analise as proposições a seguir sobre as principais características dos modelos de
sistemas astronômicos.
I. Sistema dos gregos: a Terra, os planetas, o Sol e as estrelas estavam incrustados em
esferas que giravam em torno da Lua.

II. Ptolomeu supunha que a Terra encontrava-se no centro do Universo e os planetas


moviam-se em círculos, cujos centros giravam em torno da Terra.

III. Copérnico defendia a ideia de que o Sol estava em repouso no centro do sistema e que os
planetas (inclusive a Terra) giravam em torno dele em órbitas circulares.

IV. Kepler defendia a ideia de que os planetas giravam em torno do Sol, descrevendo
trajetórias elípticas, e o Sol estava situado em um dos focos dessas elipses.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.

b) Somente a afirmativa II é verdadeira.


c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.

02. Marque a alternativa correta a respeito do modelo astronômico proposto por Cláudio
Ptolomeu.
a) O modelo ptolomaico propunha que o Sol girava ao redor da Terra e todos os outros
planetas giravam ao redor do Sol.

b) Nicolau Copérnico no século XVI propôs que a Terra era o centro do sistema planetário,
proposta que era contrária à de Ptolomeu.

c) O sistema planetário proposto por Ptolomeu trazia a ideia de que a Terra era o centro do
Universo e os demais astros giravam ao seu redor.

d) A proposta de Ptolomeu era a de um universo simples, por isso, o Sol deveria ser o centro
e os demais planetas girariam ao seu redor.

e) O modelo planetário proposto por Ptolomeu não foi aceito por muito tempo porque
confrontava as ideias da Igreja.

03. (ENEM 2009) Na linha de uma tradição antiga, o astrônomo grego Ptolomeu (100-170 d.C.)
afirmou a tese do geocentrismo, segundo a qual a Terra seria o centro do universo, sendo que o
Sol, a Lua e os planetas girariam em seu redor em órbitas circulares. A teoria de Ptolomeu resolvia
de modo razoável os problemas astronômicos da sua época. Vários séculos mais tarde, o clérigo e
astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), ao encontrar inexatidões na teoria de
Ptolomeu, formulou a teoria do heliocentrismo, segundo a qual o Sol deveria ser considerado o
centro do universo, com a Terra, a Lua e os planetas girando circularmente em torno dele. Por fim,
o astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571-1630), depois de estudar o planeta
Marte por cerca de trinta anos, verificou que a sua órbita é elíptica. Esse resultado generalizou-se
para os demais planetas. A respeito dos estudiosos citados no texto, é correto afirmar que
a) Ptolomeu apresentou as ideias mais valiosas, por serem mais antigas e tradicionais.

b) Copérnico desenvolveu a teoria do heliocentrismo inspirado no contexto político do Rei


Sol

c) Copérnico viveu em uma época em que a pesquisa científica era livre e amplamente
incentivada pelas autoridades

d) Kepler estudou o planeta Marte para atender às necessidades de expansão econômica e


científica da Alemanha

e) Kepler apresentou uma teoria científica que, graças aos métodos aplicados, pôde ser
testada e generalizada

Gabarito: 1. C; 2. C; 3. E.
 
 

Galileu Galilei e as novas ciências


Nem sempre se pensou que a Terra girava entorno do Sol, vamos nos aventurar com Galileu
e descobrir como é que foi essa jornada que culminou na Revolução Cientifica do século XVII,
assunto tão cobrado pelo Enem.
Lá pelas bandas de 1600, um sujeito de nome engraçado decidiu investigar a vastidão do
universo. Por meio da leitura de pensadores clássicos, Galileu Galilei ficou cético em relação
às afirmações postuladas pelos filósofos da Antiguidade.

Figura 1. Na imagem há uma fotografia de um retrato de Galileu Galilei pintado por Justus
Sustermans. A pintura se encontra exposta na Galeria Uffizi, em Florença, na Itália. Galileu Galilei
nasceu em 1564, naquela cidadezinha que ficou famosa por sua torre inclinada chamada Pisa.

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1 A ciência ganha força

2 Contribuições de Galileu Galilei para revolução

3 Revolução e Inquisição

4 O discurso das novas ciências de Galileu Galilei

A ciência ganha força


Para Galileu, as teorias de outrora, embora ainda aceitas, pareciam-lhe um tanto quanto
equivocadas. Afinal, na época de Galileu, os paradigmas estavam mudando. No século XVII,
muito se teorizava sobre o mundo à luz de uma nova perspectiva que há algum tempo vinha
ganhando força. Vários eram os intelectuais que queriam pensar sem os grilhões da religião,
o que levou a um crescente movimento de revolução em relação à autonomia do
pensamento.

Ao invés daquele olhar religioso e teológico, pensadores como Galileu adotavam uma visão
muito mais cientifica e humanista para enxergar o mundo e assim desvendar seus mistérios.
Todavia, em um período em que o Ocidente era dominado pela visão hegemônica da igreja,
essa nova visão não agradou muito quem estava no poder.
Dica: Você pode entender melhor o que se passou nesse período em uma aula chamada A
Filosofia do Renascimento. Assim, você entenderá melhor as principais mudanças ocorridas
com a diminuição da pressão religiosa e o desabrochar de uma nova era.

Contribuições de Galileu Galilei para revolução


Galileu Galilei investigou os céus acima da Itália e comparou seus estudos com aqueles
publicados pelos mestres da antiguidade. Suas conclusões se aproximaram mais das ideias
heliocêntricas de Erastóstenes do que daquelas propostas por Ptolomeu e endossadas pela
igreja, cuja ideia fundamental era o Geocentrismo.

Figura 2. Tirinha do Armandinho, personagem de Alexandre Beck.

Conforme suas investigações progrediam, Galileu sentiu-se limitado pelas ferramentas de


seu tempo. Isso fez com que ele se dedicasse a criar outras ferramentas para assim
prosseguir com seus estudos.

Um excelente exemplo da sua determinação e genialidade ocorreu em 1609, quando ele


inventou seu próprio telescópio. Esse objeto Galileu batizou de Perspicillum, gerando um
grande avanço nas investigações acerca do cosmos.

Com ele em mãos, foi possível desvelar uma série de fenômenos antes escondidos de nós.
Um exemplo foram as fases que Vênus – assim como a Lua – apresenta. Além disso,
podemos citar a descoberta das chamadas Luas de Galileu, que são quatro das sessenta e
nove luas de Júpiter.

Sendo assim, tudo isso foi bastante importante para ajudar a firmar o ponto central das
investigações de Galileu. Esse ponto central era provar a rotação da Terra entorno do Sol.
Isso porque as fases de Vênus indicavam que o Planeta (Vênus) girava em torno do Sol e não
da Terra. E, ainda, as Luas de Júpiter orbitavam Júpiter e não a Terra.
Figura 3. Além do telescópio, Galileu também criou a balança hidrostática, o relógio de pêndulo, o
binóculo, o compasso geométrico entre outras bugigangas cientificas.

Revolução e Inquisição

Em 1616, a igreja proibiu que quaisquer filósofos defendessem o Heliocentrismo. Todavia,


isso não foi um problema para um cara que inventou seu próprio telescópio. O malandrão
do Galileu escreveu um diálogo, bem naquele estilo de Dialogo Socrático, que nos dá
impressão de que um dos interlocutores é meio tolo e o outro é bem sagaz.

Essa conversa aparece na obra Diálogo Sobre os Dois Máximos Sistemas de Mundo, em que
a personagem que defende o Heliocentrismo é superesperta. Por outro lado, a personagem
que defende o Geocentrismo é bastante singela. Inclusive, dizem as fofocas filosóficas que o
defensor do Geocentrismo foi feito caricaturando o próprio Papa Urbano VIII.

Embora Galileu estivesse munido de inúmeras evidências a favor do Heliocentrismo, a igreja


pouco ligou para seus estudos empíricos ou seus fundamentos metodológicos. Com isso, foi
logo condenando o infeliz.

Como consequência, todas obras de Galileu foram proibidas, entrando para o famigerado
Index librorum prohibitorum. Isso ocorreu com o trabalho de outros celebres autores.
Exemplos: Giordano Bruno, Immanuel Kant, Baruch de Espinosa, David Hume, Thomas
Hobbes, Jean Jacques Rousseau, René Descartes, Voltaire etc.
Figura 4. “Meme” com pinturas que representam Galileu.

O discurso das novas ciências de Galileu Galilei

Dado a popularidade de Galileu, a igreja o ameaçou afim de coagi-lo a se retratar por suas
publicações hereges. Ora, o filosofo foi levado a público para dizer que as teorias
Heliocentricas não passavam de mera especulação.

Figura 5. Outro “meme” sobre Galileu Galilei.

Por fim, Galileu foi condenado a viver em prisão domiciliar. Todavia, isso não o impediu de
dar continuidade aos seus estudos. O cara era persistente e escreveu no cárcere seu último
livro intitulado Discorsi e dimostrazioni matematiche, intorno à due nuove scienze, Essa obra
leva ao florescimento da ciência moderna, marcando a revolução cientifica do século XVIII.

Esse livro foi publicado na Holanda, pois dessa forma a igreja não teria como censurá-lo.
Nele, estão reunidos todos os esforços de Galileu em prol do conhecimento. A obra inclui as
chamadas ‘novas’ ciências, que dizem respeito ao movimento e à mecânica e à ciência de
materiais.
Dessa forma, os estudos de Galileu foram a base para o desenvolvimento das teorias acerca
da Mecânica de outro filósofo, o Isaac Newton. Este foi outro sujeito que revolucionou a
maneira como conhecemos o mundo.

Por conta de toda essa fundamentação de teorias que ainda viriam, além da sua eximia
metodologia de trabalho, Galileu transformou a maneira dos filósofos fazerem ciência. Isso
porque foi um dos pioneiros do Renascimento, juntamente com outros filósofos como
Giordano Bruno e Francis Bacon.

Com base na observação e nas experiências, a metodologia cientifica ganhou muita força
depois da Filosofia do Renascimento, graças a Galileu e cia. O que proporcionou um pano de
fundo para o desenvolvimento da Filosofia e da Ciências modernas.

Por fim, Galileu foi perdoado pela igreja muitos anos após sua morte. Somente em 1997 é
que as teorias de Galileu Galilei foram reconhecidas pelo então Papa João Paulo II. Mesmo
excomungado e encarcerado, Galileu virou um ícone e uma inspiração para aqueles que
lutam por uma voz livre para professar suas teorias e descobertas.

Bom, agora é contigo! Bora resolver os exercícios sobre Galileu Galilei e ficar craque para o Enem.

01. (ENEM).

“(…) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa
rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além
dos planetas principais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como satélites
em redor dos planetas principais e com estes em redor do Sol. (…). Não duvido de que os
matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar
conhecimento, não superficialmente, mas duma maneira aprofundada, das demonstrações
que darei nesta obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim
o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a que torçam o sentido, desprezarei
os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos. ”
(COPÉRNICO, Nicolau. De revolutionibus orbium coelestium.)

“Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um
navio sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes
de fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as
experiências produzem os mesmos efeitos. Nenhuma investigação humana pode se
considerar verdadeira ciência se não passa por demonstrações matemáticas. ” (DA VINCI,
Leonardo. Cartas.)

O aspecto a ser ressaltado em ambos os textos para exemplificar o racionalismo moderno é:

a) a fé como guia das descobertas.

b) o senso crítico para se chegar a Deus.

c) a limitação da Ciência pelos princípios bíblicos.

d) a importância da experiência e da observação.


e) o princípio da autoridade e da tradição.

02. No contexto da Revolução Científica, levada a cabo no século XVII, as pesquisas de Galileu
Galilei foram decisivas. A respeito da vida e obra de Galilei, assinale a única alternativa que não
está correta:
a) Galileu desenvolveu o telescópio a partir do aperfeiçoamento de lunetas e lentes.

b) Galileu elaborou teorias consistentes sobre o movimento dos corpos, sendo a Lei da
Inércia uma expressão dessas teorias.

c) Galileu foi submetido ao tribunal da Inquisição para esclarecer suas opiniões a respeito do
movimento do planeta Terra em torno do Sol.

d) Galileu colaborou diretamente com Isaac Newton na elaboração do livro “Philosophiae


naturalis principia mathematica (1678).

e) Galileu conseguiu observar, por meio do telescópio, as imperfeições da Lua, como as


crateras que nela existem.

03. Leia o trecho a seguir:


É em função da astronomia que se elabora (…) a nova física; mais precisamente: em função
dos problemas postos pela astronomia coperniciana, e, especialmente, da necessidade de
responder aos argumentos físicos apresentados por Aristóteles e por Ptolomeu contra a
possibilidade do movimento da Terra. (KOYRÉ, Alexandre. Estudos Galilaicos. Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1992. p. 205.)

O historiador do pensamento científico, Alexandre Koyré, destaca que a “nova física”, que foi
erigida sobretudo por Galileu e, depois, Newton, desenvolveu-se a partir das discussões em
torno dos fenômenos astronômicos, sobretudo a respeito do movimento da Terra.
Copérnico, Galileu e outros questionavam a física aristotélica e ptolomaica porque essa
afirmava, entre outras coisas:

a) que as teses sobre a imobilidade da Terra não tinham valor porque foram concebidas por
pessoas ignorantes.

b) que o telescópio usado por Aristóteles não era preciso o suficiente para a observação
astronômica.

c) que as investigações de Aristóteles não puderam ser compreendidas, haja vista que seus
livros foram alterados pelos árabes.

d) que Aristóteles não poderia compreender bem os fenômenos naturais, pois viveu na
época errada.

e) que o cosmos estava organizado em esferas celestes e que a Terra era imóvel.

Gabarito: 1. D; 2. D; 3. E.

Teoria do Conhecimento na Modernidade


Como é possível ter certeza daquilo que se sabe? Está é uma das perguntas da série de
problemáticas levantadas pela Teoria do Conhecimento. Fique por dentro desse campo que
é conteúdo do Enem.
A Teoria do Conhecimento é um campo relativamente recente na Filosofia. Isso porque ela
se estruturou enquanto campo de estudos somente durante a Modernidade. Todavia, é
possível ver sua aplicação prática ainda na Grécia Antiga e em outros momentos anteriores à
Modernidade.

Em outras palavras, quando Sócrates proferia a icônica máxima “Só sei que nada sei” ele
estava fazendo aquilo que a Teoria do Conhecimento propõe. Ou seja, ele propunha
investigar os limites e a validade do conhecimento humano.

Ainda assim, esse tipo de investigação filosófica só ganhou uma repercussão maior durante a
Modernidade. Além disso, foi nesse período que ela passou a ser encarada como um campo
de análise de conhecimento da Filosofia. Isso ocorreu quando filósofos, como René
Descartes, debateram exaustivamente os assuntos englobados pela Teoria do
Conhecimento.

Figura 1. Busto do filósofo Sócrates com a frase “Sábio é aquele que conhece os limites da própria
ignorância”. * Esse filósofo remeteu a discussão central do que veio a se tornar a Teoria do
Conhecimento. Isso porque ele indagou sobre quais são os limites do conhecimento.

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1 Teoria do conhecimento

2 O que é conhecimento?

3 A Teoria do Conhecimento na Modernidade

4 Teoria do Conhecimento e a Ciência


Teoria do conhecimento
Em primeiro lugar, tentamos entender e explicar os acontecimentos à nossa volta desde os
primórdios da humanidade. De lá para cá, várias foram as maneiras que utilizamos para
explicar a realidade. Lá na Antiguidade, por exemplo, entendíamos o mundo através da
mitologia, de maneira a explicar os fenômenos que nos cercavam com auxílio dos mitos e
das fábulas.

Para além do Mito, é possível ver o mundo através de outras óticas, como a Ciência, a
religião, o Senso Comum e a própria Filosofia. Essas maneiras de enxergar a realidade fazem
parte da discussão central da Teoria do Conhecimento.

Sendo assim, as várias maneiras de conhecer esse mundo é o que dá corpo às investigações
acerca daquilo que podemos conhecer. Além disso, fica a cargo da Teoria do Conhecimento
investigar como podemos conhecer as coisas.

Figura 2. Três potes preenchidos


com liquido amarelo até a metade, cada um com uma interpretação acerca da maneira que se
concebe a realidade. * Ao mudar a maneira que você conhece as coisas as coisas, as coisas que você
conhece mudam.

A Teoria do Conhecimento pode ser concebida como campo da Filosofia que procura
entender como é que conhecemos as coisas. Assim, podemos centralizar a problemática em
torno da origem, da natureza e da compreensão daquilo que pode ser conhecido por nós.

O que é conhecimento?

Antes de tudo, é justo começar pela mais elementar das perguntas: o que é Conhecimento?
Ora, parece sensato dizer que o Conhecimento é o resultado da interação entre a gente e o
mundo que nos cerca. Isto é, Conhecimento é o produto gerado pela relação entre indivíduo
e objeto, suscitando uma outra coisa.

Dessa maneira, a Teoria do Conhecimento busca entender as origens dessa interação. Por
volta do século XVII, o filosofo francês René Descartes foi um dos pioneiros nessa discussão.
Esse filósofo tentou provar o que poderíamos entender como Conhecimento verdadeiro.
Para isso, ele elaborou uma complexa teoria acerca da validade daquilo que sabemos
partindo da negação das suas certezas.

Juntamente com as ideias cartesianas que embasaram o que veio a ser conhecido como
Racionalismo, surgiram também as teorias Empiristas, tendo como expoente filósofos como
Francis Bacon e John Locke.

A Teoria do Conhecimento na Modernidade

A discussão que deu o que falar dentro da Teoria do Conhecimento foi o embate entre o
Racionalismo e o Empirismo. A grosso modo, o Racionalismo diz que a realidade percebida
através dos nossos sentidos (tato, olfato, audição, visão e paladar) é enganosa. Assim, é
somente por uso do nosso intelecto que podemos alcançar o Conhecimento.

Por outro lado, o Empirismo dita que o Conhecimento vem das nossas experiências. Isto é,
trata-se do conjunto das experiências vivenciadas pelos nossos sentidos. Um bom exemplo
de explicação para esse discurso empirista é a metáfora da tábula rasa, a princípio usada por
Aristóteles.

Essa discussão se estendeu até o século XVIII gerando diversas novas teorias. Entre as
emergentes linhas de raciocínio da época, uma em particular ganhou bastante repercussão:
o Criticismo de Immanuel Kant.

Figura 3. Dois botões, Racionalismo e Empirismo, representando cada um uma vertente da Teoria do
Conhecimento, com o filósofo Immanuel Kant abaixo escolhendo os dois. * A Teoria de Kant foi
fundamental para o avanço da discussão acerca da origem do Conhecimento.

Kant conseguiu propor uma terceira via ao antagonismo entre Racionalismo e Empirismo.


Essa via ficou conhecida como Teoria Crítica. De uma maneira bem geral, ela tende a unificar
ambos os raciocínios (Racionalismo e Empirismo) para encontrar um terreno comum em
ambas as concepções.

Teoria do Conhecimento e a Ciência

Com o surgimento de uma área dedicada a estudar e validar o Conhecimento, os discursos


de caráter mais racional se sobrepuseram àqueles discursos devaneadores pregados pela
religião. Assim, o discurso científico ganhou força. Isso porque ele se fundamentava nesse
campo da Filosofia para produzir seus enunciados acerca do mundo.

Figura 4. Galileu vestido de astronauta * O filósofo e cientista Galileu Galilei estabeleceu uma
importante relação entre a Filosofia e a Ciência ao inaugurar o método hipotético dedutivo que
combina hipóteses com experimentos.

Atualmente, com o rápido avanço da tecnologia, o acesso à informação e a produção de


Conhecimento deu um salto revolucionário. Todavia, existe uma diferença importante a ser
destacada entre os conceitos de Conhecimento e Informação, uma vez que nem toda a
informação é Conhecimento.

Assim, pode-se perceber a importância da Teoria do Conhecimento. Ela é responsável por


validar tudo aquilo que entendemos como verdadeiro. Por exemplo: a eficácia dos
medicamentos, a veracidade de um acontecimento histórico ou mesmo a quantidade de
carboidratos do nosso café da manhã.

Essa validação se dá a partir de uma metodologia. Ou seja, dá-se à partir de uma série de


estruturas criadas para validar algum enunciado a respeito de algo. Essa ideia de estruturar o
Conhecimento é um dos pontos de destaque na Teoria do Conhecimento.

Importância dessa teoria na atualidade

Isto tudo para não sermos enganados pelos discursos falaciosos que nos cercam, uma vez
que a quantidade de informação produzida com a chegada da internet é algo colossal.
Assim, não é porque você tem alguma informação sobre algo que você conhece algo, ainda
que essa informação seja verdadeira.

Por exemplo, eu sei que motor a combustão foi uma invenção criada durante o século XIX
que utiliza a força de uma explosão para gerar movimento. Contudo, se supormos que por
qualquer razão infeliz eu esteja em um veículo que venha apresentar defeito no motor, eu
ainda não conseguirei consertá-lo.

Por fim, a Teoria do Conhecimento é o que nos auxilia nas descobertas e pesquisas
científicas. Além disso, auxilia na garantia do Conhecimento produzido por elas e que, por
meio da informação disseminada, chega a nós. Dessa forma, garantir a veracidade das coisas
é de extrema importância para evitar acontecimentos potencialmente desastrosos.

Em seguida, resolva os exercícios sobre esta aula:

01. (Unioeste 2013)


“… esta palavra, Filosofia, significa o estudo da sabedoria, e por sabedoria não se deve
entender apenas a prudência nos negócios, mas um conhecimento perfeito de todas as
coisas que o homem pode saber, tanto para a conduta da sua vida como para a conservação
da saúde e invenção de todas as artes. E para que este conhecimento assim possa ser, é
necessário deduzi-lo das primeiras causas, de tal modo que, para se conseguir obtê-lo – e a
isto se chama filosofar –, há que começar pela investigação dessas primeiras causas, ou seja,
dos princípios. Estes devem obedecer a duas condições: uma, é que sejam tão claros e
evidentes que o espírito humano não possa duvidar da sua verdade, desde que se aplique a
considerá-los com atenção; a outra, é que o conhecimento das outras coisas dependa deles,
de maneira que possam ser conhecidos sem elas, mas não o inverso. Depois disto, é
indispensável que, a partir desses princípios, se possa deduzir o conhecimento das coisas que
dependem deles, de tal modo que, no encadeamento das deduções realizadas, não haja
nada que não seja perfeitamente conhecido.”

Descartes.

“À medida que Descartes vai desenvolvendo sua ideia de um sistema reconstruído de


conhecimento, vemos surgir dois componentes específicos da visão cartesiana. O primeiro é
um individualismo radical: a ciência tradicional, ‘composta e acumulada a partir das opiniões
de inúmeras e variadas pessoas, jamais logra acercar-se tanto da verdade quanto os
raciocínios simples de um indivíduo de bom senso’. O segundo componente é uma ênfase na
unidade e no sistema: ‘Todas as coisas que se incluem no alcance do conhecimento humano
são interligadas’”.

Cottingham.

Considerando os textos acima, que tratam da teoria cartesiana do conhecimento,


é  INCORRETO  afirmar que
a) a teoria cartesiana do conhecimento implica um sistema em que todos os conteúdos
encontram-se intimamente relacionados.

b) a teoria do conhecimento cartesiana pretende, a partir da elaboração de um método


preciso, reconstruir o conhecimento em bases sólidas.

c) a teoria do conhecimento cartesiana, que tem como objetivo a elaboração de uma ciência
universal, serve-se, em certa medida, do modelo indutivista para alcançar seu objetivo.

d) o conhecimento que se tem de cada coisa deriva de um processo no qual cada etapa pode
ser conhecida sem o concurso de etapas posteriores, mas não o inverso.

e) quando determinada noção se apresenta com clareza e com distinção, o sujeito pensante
entende que se encontra frente a um conhecimento verdadeiro pela própria natureza da
concepção cartesiana do conhecimento.
02. (Uem 2011) Entre os problemas principais da Filosofia, destaca-se a teoria do conhecimento,
que tem por objetivo investigar as fontes do conhecimento, as formas de juízos verdadeiros e as
regras para a obtenção do conhecimento seguro. Sobre a teoria do conhecimento, assinale o que
for correto.
01) O problema do conhecimento, em suas diferentes formas de fundamentação, seja
racional (através da razão) ou empírica (através da experiência), não diz respeito ao
nascimento da Filosofia, na Grécia antiga, nem à filosofia da Idade Média. Ele se deve apenas
à filosofia moderna.

02) O sofista Protágoras, com a afirmação de que “o homem é a medida de todas as coisas”,
pode ser considerado um precursor do relativismo contemporâneo, do ponto de vista da
teoria do conhecimento.

04) O que diferencia, segundo Platão, opinião e conhecimento, é que a opinião fornece
apenas um quadro provisório do mundo, ao passo que o conhecimento é o estudo do
imutável e permanente.

08) Para René Descartes, o desejo de verdade não é suficiente para fundar o conhecimento,
mas, sim, regras para a direção do espírito, estabelecidas pelo rigor de um método lógico e
metafísico.

16) Em se tratando das formas do conhecimento, para Platão, no mito da caverna, abordado
em A República, o conhecimento sensível é idêntico ao conhecimento inteligível.

03. (Uem 2009)


“Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão. Suponhamos que a mente é, como
dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias;
como ela será suprida? (…) De onde apreende todos os materiais da razão e do
conhecimento?
A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela
fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento.”

(LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.
165).

Assinale o que for correto.


01) Para John Locke, embora nosso conhecimento se origine na experiência, nem todo ele
deriva da experiência. No entendimento, existem ideias inatas abstraídas das coisas pela
reflexão.

02) Como seguidor de Descartes, John Locke assume a diferença entre conhecimento
verdadeiro, que é puramente intelectual e infalível, e conhecimento sensível, que, por
depender da sensação, é suscetível de erro.

04) John Locke é o iniciador da teoria do conhecimento em sentido estrito, pois se propôs,
no Ensaio acerca do entendimento humano, a investigar explicitamente a natureza, a origem
e o alcance do conhecimento humano.
08) Para John Locke, todo nosso conhecimento provém e se fundamenta na experiência. As
impressões formam as ideias simples; a reflexão sobre as ideias simples, ao combiná-las,
formam ideias complexas, como substância, Deus, alma etc.

16) John Locke distingue as qualidades do objeto em qualidades primárias (solidez, extensão,
movimento etc.) e qualidades secundárias (cor, odor, sabor etc.); as primeiras existem
realmente nas coisas, as segundas são relativas e subjetivas.

Gabarito: 1. C; 2. 14 (02+04+08); 3. 28 (04 + 08 + 16).

Filosofia da Ciência
O que valida a ciência? Qual é papel da Filosofia em pleno século XXI? A Filosofia da Ciência é
um dos campos da Filosofia mais recentes e discutidos tanto pelos cientistas quanto pelo
Enem.
Antes de entendermos o que é a Filosofia da Ciência, é importante saber que a Filosofia e a
Ciência são áreas que partilham muitas características em comum. É corriqueiro
encontramos uma se fundamentando na outra. Isto é, usamos a Filosofia para fundamentar
a Ciência e usamos a Ciência para pensar Filosofia.

Isto não é nada inédito. Ainda que o surgimento da Ciência Moderna seja algo recente,
houve momentos anteriores à Modernidade em que uma relação simbiótica entre essas
duas áreas veio a acontecer.

Aristóteles e o início da Ciência


Antes de tudo, vamos voltar um pouco no tempo. Em meados do século V a. C., meu
camarada Aristóteles já se dedicava a estudar determinados assuntos com uma metodologia
um tanto moderna. Ou seja, com uma metodologia que ganhou destaque durante a
Modernidade e hoje se tornou um paradigma da Ciência.

Esse filósofo elaborou uma teoria acerca da origem da vida. Nela, Aristóteles pensava que
era possível algo se tornar vivo a partir de algo inanimado, como se fosse possível criar vida a
partir do barro. Essa teoria ficou conhecida como abiogênese e perdurou por um tempão.
Inclusive, serviu de fundamentação e inspiração para criação dos dogmas do Cristianismo.
Figura 1. Na tirinha de Carlos Ruas o protagonista se depara com uma escolha entre dois caminhos
(representados por portas), um é a Ciência e o outro a Religião. Ao escolher o caminho da Ciência
cada porta que ele abre leva a mais portas, até o empasse de um número absurdo de portas.
Transtornado ele retorna ao principio e escolhe o caminho da Religião. Neste caminho há apenas um
“deus” e, segundo ele, ele próprio é resposta para tudo.

Um outro exemplo dessa relação Filosófico-Cientifica envolvendo Aristóteles se deu na


pioneira divisão e classificação do reino animal. Tal metodologia ainda hoje é utilizada nos
estudos da Biologia.

A distante proximidade entre Filosofia e Ciência


Além das teorias de Aristóteles, existem diversas outras áreas da Ciência que têm suas
origens na Filosofia. Elas contam com importantes filósofos como seus ilustres expoentes.
Exemplos: Pitágoras e Tales e seus respectivos teoremas, René Descartes e seu plano
cartesiano, além de muitos outros.

Sendo assim, toda essa introdução filosófica foi fundamental para o desenvolvimento
científico. Todavia, é estranhamente comum ouvir pessoas dizendo que não existe relação
entre Filosofia e Ciência. Ou então, chegando a discursos absurdos (até mesmo por partes de
políticos) que afirmam que a Filosofia é uma perda tempo e devemos priorizar a engenharia
ou a medicina.

O que essa galera megalomaníaca esquece é que não existiria a Ciência tal qual temos hoje
sem a Filosofia. Ora, os feitos de Aristóteles evidenciam que certas áreas hoje categorizadas
como Ciência foram, inicialmente, pensadas pela Filosofia. Podemos pegar a Física como
outro exemplo. Antes, os assuntos tratados por esse ramo da Ciência eram enquadrados
dentro da Filosofia Natural.

Figura 2. Na imagem o mestre Splinter de TMNT (Tartarugas Ninja) ainda jovem representa a
Filosofia, conduzindo as tartarugas ainda crianças representando a Ciência Moderna. Abaixo, a
imagem se inverte, as tartarugas já adultas conduzem o mestre Splinter já velho.

A Filosofia também traz contribuições materiais


Os discursos que contrapõem Ciência a Filosofia parecem ser frutos de uma visão bastante
limitada do mundo. Isso porque demonstram uma incapacidade de perceber os elementos
que constituem a realidade a nossa volta.

Ainda assim, podemos compreender a origem desses discursos. Olhando superficialmente,


há uma certa concretude na Ciência, mas não na Filosofia. Isso faz com que a Ciência pareça
a única capaz de resolver os problemas do mundo real e a Filosofia, por outro lado, incapaz
de tal proeza.

Porém, não é esse o caso, mesmo que, para cada problema mundano solucionado pela
Filosofia, tenha-se criado uns dez outros. Sendo assim, devemos analisar esse pretenso
dilema com mais consciência histórica e com uma visão mais profunda sobre o assunto.

Para aqueles que se iludem pensando que a Filosofia não possui nada material para
acrescentar, olhe além do perceptível pelos seus sentidos. Olhe para as coisas que compõe
aquilo que você consegue tocar. Quando a missão Cassini (que revolucionou os
conhecimentos sobre Saturno) ocorreu, por exemplo, foram os escritos filosóficos de Albert
Einstein que a tornaram possível.

Agora, se você ainda acha tudo isso pouco concreto, imagine que para
seu smartphone funcionar, foi necessário um a criação de um programa. Esse, por sua vez,
precisou de uma linguagem. E essa linguagem foi formulada a partir da Lógica, metodologia
elaborada por Aristóteles.

Enfim, embora exista uma inexorável proximidade entre a Filosofia e a Ciência, há uma
sensação de que existe uma oposição entre elas. Essa sensação é criada, geralmente, por
forças que não fazem parte nem da Filosofia, nem da Ciência. Isso um antagonismo falacioso
daquilo que deveria ser parte de um todo.

Filosofia da Ciência e suas contribuições


Extrapolando a análise das relações históricas entre a Filosofia e a Ciência, resta falar da
Filosofia da Ciência e sua atuação. Durante a revolução industrial, foi necessário ampliar a
nossa compreensão do mundo. Para isso acontecer, foi necessário compreender os limites
daquilo que podemos conhecer.

Concomitante ao surgimento da Filosofia da Ciência, também emergiu a Teoria do


Conhecimento. Essa área serviu de base para elaboração das teorias filosóficas que
aplicamos ainda hoje na formulação de paradigmas e na comprovação de teorias científicas.

Figura 3. Na imagem Rogério, um pato retratado como intelectual, dita uma série de enunciados
científicos comprovados em provocação as ideias não cientificas, tais como: Astrologia é uma
fraude / A homeopatia é placebo / Os desastres naturais não são castigos divinos / As vacinas não
causam autismo / A evolução é real.

Essa validação das teorias científicas é um dos eixos centrais da Filosofia da Ciência. Isso
porque, para formular-se uma teoria, é necessário uma metodologia. Além disso, é
necessário a validação da própria metodologia. Por fim, nem sempre uma teoria científica
pode levar à uma melhora na condição humana, tampouco ela pode ser validada a partir de
uma pretensa melhora.

Método Indutivo na Ciência

Filósofos como o inglês Francis Bacon foram responsáveis por verdadeiras revoluções


científicas. Sendo um dos principais expoentes da Filosofia da Ciência, Bacon foi responsável
pela aplicação do Método Indutivo na Ciência.

O método indutivo é aquele que utiliza um conjunto de fatos particulares para deduzir uma
conclusão universal. De maneira bem simplória, imagine que você está descobrindo uma
nova criatura, o Saci por exemplo. Você passa dias observando e consegue ver alguns Sacis.
Mesmo que você não tenha visto todos e nem saiba quantos existam, foi possível, a partir da
amostragem observada, chegar a algumas conclusões.

Embora você não conheça todos os Sacis do mundo, é universalmente aceito, a partir das
observações de alguns poucos Sacis em particular, que o Saci é um indivíduo negro, do
gênero masculino, que possui apenas uma perna. Assim se configura, salvo a simplicidade do
argumento, o método indutivo.

Dica: Além das contribuições metodológicas de Bacon, houveram também Descartes, Galileu


Galilei, Isaac Newton e muitos outros filósofos.

Rejeição ao Método Indutivo

Talvez, o nome mais recente a abalar as fundamentações da Ciência e da Filosofia foi o


austríaco Karl Popper. Meu camarada Popper foi um grande crítico do método indutivo. Ele
alegava que este método não garantia a veracidade das coisas. Para isso, ele se baseou na
impossibilidade de conhecimento de todos os particulares. Ou seja, e se houver um Saci
albino, ou mesmo um Saci com ambas as pernas?

Além disso, nem mesmo a A.N.C.S. (Associação Nacional dos Criadores de Saci) é capaz de
conhecer todos os Sacis que habitam esse planeta. Isto é, é impossível conhecer todos os
particulares. Não podemos inferir então que todos sejam da maneira que os concebemos.
Isso porque, havendo um só que seja diferente, nossa teoria científica ficaria arruinada.
Figura 4. Na tirinha, é dada a uma das personagens um cubo grande representando a Ciência, ela
pega o cubo e passa-o por um funil reduzindo ela a um pequenino cubo, representando as crenças. *
A Ciência – bem como a Filosofia – busca entender o mundo de maneira racional, ao passo que não é
possível acreditar apenas no que se convém, visto que essas disciplinas não têm quaisquer vínculos
com a crença, pelo contrário, a combatem.

Por fim, Popper falava que o papel da Ciência é falsear e não induzir. Ao contrário do
proposto por Bacon, ele pensava que deveríamos partir dos universais e tentar falsear essas
universalidades afim de verificar os particulares.

Proximidades entre Filosofia e Ciência

Portanto, a Filosofia da Ciência é a área da Filosofia responsável pelo questionamento, pela


validação daquilo que a Ciência diz ser verdadeiro. Ao passo que a Ciência se ocupa das
particularidades das coisas, a Filosofia se atém aos problemas mais gerais em relação a elas.
Assim sendo, essas áreas, longe de serem contraditórias, são parte da mesma busca por uma
só coisa: o conhecimento. Inclusive, Filosofia vem do Grego Sophos, Sabedoria e Ciência vem
do Latim Scientia, Sabedoria.

Ah! Se você ficou curioso com a história do Saci, tenho um alento para sua curiosidade. O
presidente da A.N.C.S. explica certinho essa parada de criar Saci nessa entrevista do
Programa do Jô.

Por fim, para finalizar essa aula, veja a videoaula do professor Alan para o nosso canal no YouTube, o Curso
Enem Gratuito:

Em seguida, resolva os exercícios abaixo separados para você:

01. (Unesp)
Se me mostrarem um único ser vivo que não tenha ancestral, minha teoria poderá ser
enterrada.

(Charles Darwin)
Sobre essa frase, afirmou-se que:

I. Contrapõe-se ao criacionismo religioso.

II. Contrapõe-se ao essencialismo de Platão, segundo o qual todas as espécies têm uma
essência fixa e eterna.

III. Sugere uma possibilidade que, se comprovada, poderia refutar a hipótese evolutiva
darwiniana.

IV. Propõe que as espécies atuais evoluíram a partir da modificação de espécies ancestrais,
não aparentadas entre si.

V. Nega a existência de espécies extintas, que não deixaram descendentes.

É correto o que se afirmar em

a) IV, apenas.

b) II e III, apenas.

c) III e IV, apenas.

d) I, II e III, apenas.

e) I, II, III, IV e V.

02. (Enem PPL 2012)


Assentado, portanto, que a Escritura, em muitas passagens, não apenas admite, mas
necessita de exposições diferentes do significado aparente das palavras, parece-me que, nas
discussões naturais, deveria ser deixada em último lugar.

GALILEI, G. Carta a Benedetto Castelli. In: Ciência e fé: cartas de Galileu sobre o acordo do
sistema copernicano com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009. (adaptado)

O texto, extraído da carta escrita por Galileu (1564-1642) cerca de trinta anos antes de sua
condenação pelo Tribunal do Santo Oficio, discute a relação entre ciência e fé, problemática
cara no século XVII. A declaração de Galileu defende que

a) a bíblia, por registrar literalmente a palavra divina, apresenta a verdade dos fatos
naturais, tornando-se guia para a ciência.

b) o significado aparente daquilo que é lido acerca da natureza na bíblia constitui uma
referência primeira.

c) as diferentes exposições quanto ao significado das palavras bíblicas devem evitar


confrontos com os dogmas da Igreja.

d) a bíblia deve receber uma interpretação literal porque, desse modo, não será desviada a
verdade natural.
e) os intérpretes precisam propor, para as passagens bíblicas, sentidos que ultrapassem o
significado imediato das palavras.

03. (Ufsm 2015) Há diversos indícios empíricos da evolução das espécies. Alguns desses indícios são
conhecidos desde Darwin, tais como o registro fóssil, as variações entre indivíduos de uma mesma
espécie e a distribuição geográfica das espécies. Outros indícios provêm de estudos mais recentes,
notadamente em genética. O conjunto desses indícios torna a teoria da evolução mais
provavelmente verdadeira que qualquer outra hipótese alternativa. Essa inferência, em que se
parte de indícios empíricos e se conclui com teorias ou enunciados gerais, é comumente chamada
de inferência
a) lógica

b) dedutiva

c) analógica

d) indutiva

e) biológica

Gabarito: 1.D; 2. E; 3. D.

O Príncipe de Nicolau Maquiavel: resumo de filosofia Enem


É atribuída a Maquiavel a ideia de que “os fins justificam os meios”. Mas, veja o que ele
realmente quis dizer com essa frase. Entenda também o que significa dizer que uma pessoa
é “maquiavélica”. Agora, no resumo Enem

Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, na Itália, em 1469, e foi um importante historiador,


filósofo, diplomata, estadista e político italiano, até falecer em 1527. Suas principais obras
são “O Príncipe” e “Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio”. Ele entrou para a história
da ciência política e das artes do pensamento ao registrar em obras geniais as observações e
recomendações que fazia sobre a arte de governar na passagem da Idade Média para a
Idade Moderna.

Conteúdo  ocultar 
1 O Príncipe de Maquiavel
2 O que significa ser maquiavélico?
3 O Estado Moderno
4 Virtù e Fortuna

O Príncipe de Maquiavel
Na obra O Príncipe, Maquiavel escreveu sobre as relações que um soberano deve ter com a
nobreza, com o clero e com o povo, demonstrando como se deve agir para conseguir chegar
ao poder e também como preservá-lo. Explicou, ainda, como manipular a vontade do povo,
além de dar instruções de como desfrutar de seus poderes.

Na verdade, esta obra é uma análise fiel da época em que viveu, de como era o poder
político e sua atuação.
Maquiavel imaginou que um príncipe de alguma cidade italiana pudesse dominar pela
argumentação, pelo dinheiro e pela força as outras cidades, tornando-se um soberano
absolutista da Itália. Desse modo, a obra O Príncipe é o conjunto de recomendações para
que tal governante chegue e se mantenha no poder.

Em síntese, a ideia é: “os fins justificam o meio”.

O que significa ser maquiavélico?


Principalmente pela frase: “os fins justificam o meio”, passou a ser chamada de maquiavélica
a pessoa que era firme em seus propósitos.

Em suma, trata-se da pessoa que aspira uma sociedade perfeita. No entanto, com o tempo,
tanto a frase dele quanto sua frase, foram mudando de sentido e o adjetivo maquiavélico foi
distorcido por uma interpretação pejorativa, que agora são associadas a ser malvado, agir de
forma injusta, terrível.

O Estado Moderno
Nicolau Maquiavel escreveu seus livros no contexto da emergência do Estado Moderno no
continente europeu. Veja como era a concepção de mundo e das formas de poder naquela
época com o resumo do professor Allan, do canal do Curso Enem Gratuito. Assim você vai
captar melhor o pensamento de Maquiavel.

Muito bom este resumo. Têm mais aulas do professor Alan no canal do Curso Enem
Gratuito. Depois de terminar a revisão de Maquiavel aqui, corre lá. Agora, veja na obra de
Maquiavel como ele articula as questões de virtude de um governante e as interações com
as necessidades reais do exercício do poder.

Virtù e Fortuna
Virtù e Fortuna são dois conceitos que permeiam O Príncipe. Vamos entender esses dois
conceitos?
Quando Maquiavel afirma que o príncipe deve ser virtuoso, ele não usa o conceito cristão de
virtude, mas o conceito pré-socrático, onde a virtude é força, planejamento, capacidade de
se impor. Neste sentido, virtù é a qualidade do homem que o capacita a realizar grandes
obras e feitos, é o poder humano de efetuar mudanças e controlar eventos, em suma, é o
pré-requisito da liderança.

A virtù contrapõe a fortuna, porque esta é o acaso, o curso da história, o fatalismo. Isto é, se


na virtù trata-se da capacidade do príncipe em controlar as ocasiões e acontecimentos do
seu governo, das questões do principado, na fortuna está relacionada às circunstâncias, ao
tempo presente e às necessidades.

Embora seu pensamento não fosse compreendido corretamente, mas seu objetivo era
escrever um livro com recomendações ao príncipe para que este pudesse permanecer mais
tempo no poder. Neste sentido, o fim que era a permanência no poder, deveria estar acima
daquilo que ele ia fazer para conquistar as pessoas. O príncipe, portanto, deveria ser
virtuoso, isto é, saber governar com prudência e capacidade.

Como você já percebeu, embora o pensamento de Nicolau Maquiavel não fosse


compreendido corretamente, seu objetivo era escrever um livro com recomendações ao
príncipe para que este pudesse permanecer mais tempo no poder. Neste sentido, o fim, que
era a permanência no poder, deveria estar acima daquilo que ele ia fazer para conquistar as
pessoas. O príncipe, portanto, deveria ser virtuoso, isto é, saber governar com prudência e
capacidade.

Complemente a sua visão sobre o pensamento de Maquiavel com esta aula sobre a


transição da Idade Média para o Estado Moderno.

Agora, teste seus conhecimentos com questões sobre Nicolau Maquiavel.

1- (UEL-2005) “A escolha dos ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca
importância: os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe
demonstrar. A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência, é
dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se sempre
considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e manter fidelidade.
Mas quando a situação é oposta, pode-se sempre dele fazer mau juízo, porque seu
primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores”. (MAQUIAVEL, Nicolau. O
Príncipe. Trad. de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 136.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Maquiavel, é correto afirmar:

a) As atitudes do príncipe são livres da influência dos ministros que ele escolhe para
governar.

b) Basta que o príncipe seja bom e virtuoso para que seu governo obtenha pleno êxito e seja
reconhecido pelo povo.

c) O povo distingue e julga, separadamente, as atitudes do príncipe daquelas de seus


ministros.
d) A escolha dos ministros é irrelevante para garantir um bom governo, desde que o príncipe
tenha um projeto político perfeito.

e) Um príncipe e seu governo são avaliados também pela escolha dos ministros.

Resposta: e

2- (ENEM 2013) QUESTÃO 10

Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado.
Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito
mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos
homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores,
covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te
o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas
quando ele chega, revoltam-se.

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas.


Maquiavel define o homem como um ser

A – munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros.

B – possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política.

C – guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes.

D – naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos


naturais.

E – sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.

Resposta: C

3- (Enem/2010) O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se


seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros
poderá ser mais clemente de outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que
levam ao assassinato e ao roubo.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009.

No século XVI, Maquiavel escreveu “O Príncipe”, reflexão sobre a Monarquia e a função do


governante.

A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na

A) inércia do julgamento de crimes polêmicos.

B) bondade em relação ao comportamento dos mercenários.


C) compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas.

D) neutralidade diante da condenação dos servos.

E) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe

Resposta: E

4- (Universidade Estadual de Londrina) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o


pensamento de Maquiavel acerca da relação entre poder e moral, é correto afirmar.

a) Maquiavel se preocupa em analisar a ação política considerando tão somente as


qualidades morais do Príncipe que determinam a ordem objetiva do Estado.

b) O sentido da ação política, segundo Maquiavel, tem por fundamento originário e,


portanto, anterior, a ordem divina, refletida na harmonia da Cidade.

c) Para Maquiavel, a busca da ordem e da harmonia, em face do desequilíbrio e do caos, só


se realiza com a conquista da justiça e do bem comum.

d) Na reflexão política de Maquiavel, o fim que deve orientar as ações de um Príncipe é a


ordem e a manutenção do poder.

e) A análise de Maquiavel, com base nos valores espirituais superiores aos políticos, repudia
como ilegítimo o emprego da força coercitiva do Estado.

Resposta: d

O que é a dialética e o idealismo histórico de Hegel


Você já teve a sensação de que mesmo que duas ideias sejam opostas, ambas podem ser
verdade? Hegel teve! Descubra como funcionam o idealismo e a dialética hegeliana!
Você já ouviu que o que move o mundo são as ideias? Essa frase tem tudo a ver com a
dialética de Hegel e suas ideias sobre o idealismo histórico e dialético. Ficou confuso com
esses conceitos difíceis? Então acompanhe esta aula de Hegel, um filósofo contemporâneo,
para entender o que eles significam e não chegar com dúvida no Enem!

Contexto do surgimento da dialética de Hegel


Durante a Modernidade, um dos assuntos mais discutidos na Filosofia foi a Teoria do
Conhecimento, um campo da Filosofia dedicado ao estudo de como é possível conhecer as
coisas.

Discussões antigas, como a contenda entre Heráclito e Parmênides, foram novamente


trazidas à tona para compor novas teorias acerca do tema. Talvez esse foi o acontecimento
filosófico de maior destaque da época – fora a síntese kantiana entre o Racionalismo e
o Empirismo.
A partir da Teoria do Conhecimento kantiana, os paradigmas da Filosofia começam a mudar,
abrindo espaço para nova discussões. É aí que se sobressai – em resposta a Kant – o autor
que protagoniza esse post, Georg Wilhelm Friedrich Hegel.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel.

A dialética e o idealismo
A Teoria do Conhecimento hegeliana retoma um método bastante antigo, a dialética. Já no
período clássico da Grécia, quando os filósofos ocupavam as ágoras, esse método era
empregado como forma de retórica. No entanto, a teoria hegeliana dá uma nova vida a essa
“parada”, se liga aí.

A premissa da qual partimos é que toda a ideia pode ser contraposta por uma outra ideia.
Essa simples premissa é o que embasa o processo dialético. A “sacada” de Hegel foi
desenvolver um pouco mais a dialética. Ele afirmou que uma ideia oposta não é algo que
exclusivamente destrói a ideia original. Ao contrário, ela pode criar algo, isto é, uma nova
ideia que não seja nem a ideia original, nem ela própria.

Existe, então, uma noção de movimento na dialética. Essa “sacada” do movimento é o que
chamamos de noção de progresso na teoria de Hegel. Ele entendia a história como um
processo de construção que progredia à medida que novas ideias eram pensadas. Daí a
noção de idealismo dialético, ou seja, Hegel pensava que era a partir da dialética de ideias
que existia o progresso da humanidade.
Divisão da ideia de Absoluto em categorias.

Caso você queira dar mais uma aprofundada no método dialético, a gente aqui do Blog tem
um post mais detalhado sobre essas teses e antíteses de Hegel.

O idealismo histórico

Meu camarada Hegel dizia que seu sistema filosófico englobava a imensa gama de sistemas
filosóficos existentes. Isto é, o pensamento hegeliano seria a fusão das ideias desde a
discussão entre Heráclito e Parmênides até aquele momento.

Nessa concepção hegeliana de mundo, fica evidente a existência de um movimento no


pensamento que começa de maneira mais pitoresca e vai, com o passar das eras se
refinando. Hegel afirmava que esse movimento, longe de ser só algo restrito ao plano
teórico, podia ser percebido no mundo, nos acontecimentos a nossa volta.

Para entender melhor, vamos pensar dessa maneira: existe um certo pensamento que
predomina em determinado tempo e espaço específico. Pense na legislação, por exemplo.
Em geral, as pessoas entendem a lei como algo correto, algo bom e que deve ser seguido.

Todavia, em determinados momentos da nossa história, a noção de lei foi algo ausente, ou a
princípio demasiadamente rústico para chamarmos de lei. Contudo, ainda que usemos, por
exemplo, o Código de Hamurabi como modelo inicial, ele não tem quase nada em comum
com a nossa legislação atual. Assim sendo, a noção de legislação está circunscrita à um
determinado tempo e espaço.
.

A imagem mostra escravos, judeus e pessoas não caucasianas sendo discriminadas dentro da
legalidade, no tráfico negreiro, no holocausto e no Apartheid.

Essa “sacada” acerca da consciência da nossa espécie mudar ao longo do tempo e isso ser
visível em nossa história comprova que não exista nada, na caminhada que a humanidade
fez dos seus primórdios, que não seja de caráter histórico.

Espírito absoluto
Seguindo essa “vibe”, Hegel faz uso da dialética para completar seu pensamento, uma vez
que, tudo que se dá, é produto de um processo que contém uma ideia anterior e, ao se
deparar com uma nova ideia, gera um conflito que termina na síntese dessas ideias. Em
outras palavras, a humanidade caminha de maneira dialética. Assim, tudo que produzimos é
fruto do nosso passado e será base para nosso futuro.

É por essa razão que a natureza da consciência humana não é, segundo Hegel, um simples
fruto do acaso. Isso porque a consciência humana se dá pela existência de um intrincado
conjunto de teses e antíteses que surgem com uma finalidade. Essa finalidade foi o que
Hegel chamou de espírito absoluto.

Por fim, Hegel tentou, a partir de seu sistema filosófico, transformar o estudo da Filosofia em
uma “parada” mais científica. Por conta disso, sofreu inúmeras críticas. No entanto,
nenhuma delas ofuscou o brilhantismo de seu trabalho ao nos mostrar que a realidade é o
que nosso pensamento conhece a partir de um processo de desenvolvimento histórico.
Para saber mais sobre Hegel e o idealismo dialético, veja esta videoaula do professor Alan
para o nosso canal no YouTube:

Exercícios

1- (UEG 2010)
Hegel, prosseguindo na árdua tarefa de unificar o dualismo de Kant, substituiu o eu de Fichte
e o absoluto de Schelling por outra entidade: a ideia.

A ideia, para Hegel, deve ser submetida necessariamente a um processo de evolução


dialética, regido pela marcha triádica da:

(A) Experiência, Juízo e Raciocínio.

(B) Realidade, Crítica e Conclusão.

(C) Matéria, Forma e Reflexão.

(D) Tese, Antítese e Síntese.

2- (Ufu/2005)
Hegel, em seus cursos universitários de Filosofia da História, fez a seguinte afirmação sobre a
relação entre a filosofia e a história: “O único pensamento que a filosofia aporta é a
contemplação da história”.

HEGEL, G. W. F. Filosofia da História. 2 ed. Brasília: Editora da UnB, 1998, p. 17.

De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar que:

I. a razão governa o mundo e, portanto, a história universal é um processo racional.

II. a ação dos homens obedece a vontade divina que pré estabelece o curso da história.

III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao real existente.

IV. a ideia ou a razão se originam da força material de produção e reprodução da história.

Assinale a alternativa que contém somente assertivas corretas.

(A)  III e IV.

(B)  I e II.

(C)  II e III.

(D) I e III

3- (Ufu 2012)
O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o refuta; do mesmo
modo que o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade
em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se repelem como
incompatíveis entre si […].

HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1988.

Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto acima, assinale a alternativa correta
segundo a filosofia de Hegel.

(A) A essência do real é a contradição sem interrupção ou o choque permanente dos


contrários.

(B) As contradições são momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem,


todos são igualmente necessários.

(C) O universo social é o dos conflitos e das guerras sem fim, não havendo, por isso, a
possibilidade de uma vida ética.

(D) Hegel combateu a concepção cristã da história ao destituí-la de qualquer finalidade


benevolente.

Gabarito

1. D
2. D
3. C

René Descartes e o Racionalismo


Você consegue diferenciar um sonho da realidade? Como você consegue provar que
realmente existe? Essas foram indagações que o filósofo francês René Descartes fez séculos
atrás e que o Enem adora colocar em suas questões. Vamos descobrir as respostas?

Como é possível ter certeza das coisas? Em que devemos acreditar? Foram essas
inquietações que levaram o filosofo francês René Descartes a meditar por muito tempo em
busca de respostas.

Figura 1: René Descartes, foi um filósofo, físico e matemático francês, também era
conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius.
Descartes viveu durante o Século XVII, uma época de forte ceticismo oriundo da Filosofia do
Renascimento que gerou rápidos avanços na ciência e culminou no declínio da Filosofia
Escolástica. Nessa época, a autonomia do sujeito pensante estava em alta por causa do
crescente movimento humanista. Esses elementos deixaram as pessoas um tanto quanto
descrentes das certezas de outrora.

Nessa onda de incertezas, Descartes inspirou-se nas ideias de Francis Bacon, que havia
constituído um novo método para conduzir experimentos científicos por meio da observação
e do raciocínio dedutivo. O francês partilhava dessa empolgação em relação ao fim do
ceticismo. Isto é, Descartes pôde vislumbrar a possibilidade de trazer de volta as certezas em
relação ao mundo que foram abaladas pela Filosofia do Renascimento.

Em sua obra intitulada Meditações, Descartes vai se aventurar nos domínios da Metafísica a
fim de comprovar a possibilidade de um conhecimento verdadeiro, ainda que partindo das
mais céticas posições.

Figura 2: Frase de René Descartes: “Devemos investigar que tipo de conhecimento a razão
humana é capaz de atingir, antes que comecemos a adquirir conhecimento sobre as coisas
em particular”.
Curiosamente, essa obra é escrita em primeira pessoa, isso porque Descartes queria que
seus interlocutores trilhassem o mesmo caminho que ele havia percorrido ao escrever a
obra. Desta maneira, o leitor seria coagido a assumir o ponto de vista do filosofo francês.
Aliás, isso lembra bastante o método utilizado por Sócrates quando convencia seus
interlocutores.

A dúvida metódica de René Descartes

Para obter sucesso nessa empreitada em busca da verdade, Descartes fez uso de uma
ferramenta que chamamos de Dúvida Metódica. Ela parte do pressuposto de que tudo que
existe e pode ser contestado deve ser deixado de lado. Ou seja, qualquer dúvida que possa
surgir em relação à veracidade de algo significa que deve ser ignorado.

Basicamente, esse processo funcionava assim: Descartes sujeitava suas certezas a uma
porção de questionamentos céticos. Em outras palavras, ele fazia várias perguntas acerca
das coisas e tentava respondê-las.  Ele levou tão a sério essa linha de pensamento que
acabou por duvidar da sua própria existência!

Algumas de suas reflexões a respeito do mundo ganharam bastante notoriedade, dentre as


contestações mais famosas temos:

“Como é que eu posso saber que o mundo não passa de uma ilusão?”

“Como eu posso saber se não estou sonhando?”

Esses temas são bem recorrentes e abordados ainda hoje, alguns exemplos disso são os
filmes Matrix (1999) e A Origem (2010).

Figura 3: Em um mundo onde é possível entrar nos sonhos das pessoas, Cobb (Leonardo
DiCaprio) está entre os melhores na arte de roubar segredos valiosos do inconsciente.
Durante o desenrolar da trama as personagens lutam para diferenciar o que real e o que é
sonho.
Essa incerteza vem da ideia de que nós contamos com nossos sentidos para conhecer o
mundo. Ora, esses sentidos podem nos enganar. Logo, não posso confiar em meus sentidos.
Essa alegação é fundamental para entendermos o Racionalismo Cartesiano, uma vez que ele
faz frente ao Empirismo.

O Empirismo é a corrente filosófica que se baseia nos sentidos (na observação do mundo por
meio deles) para conhecer o mundo. Todavia, se eu (assim como fez Descartes) perceber
que os sentidos podem me enganar, então todo o meu conhecimento de mundo é uma
enganação.

Gênio Maligno

Para ajudar em sua busca pela verdade e eliminar os conhecimentos falsos, René Descartes
criou uma ferramenta que ele batizou de Gênio Maligno. Imagine que exista um gênio que
está constantemente ao seu lado tentando te enganar. Assim sendo, sempre que estava em
dúvida a respeito de algo, Descartes se indagava: será que o gênio pode estar me enganando
a respeito disso?

Sempre que a resposta fosse sim, o francês deixava de lado essa crença pois ela era
duvidosa. Não podendo ter certeza a respeito de nada ele caiu numa espiral cética infinita
que quase pôs fim a sua Meditação em busca da verdade.
Contudo, é de Descartes que estamos falando. O filósofo vai, então, se apegar em algo que
não poderia ser duvidoso, um fato solitário que deveria ser verdade: sua existência. Vamos
lá descobrir se a gente existe mesmo?

Já sabemos que um Gênio Maligno me faz acreditar em coisas falsas, então não há nada que
eu possa ter certeza. Todavia, quando eu afirmo que eu existo, não posso estar errado a
respeito disso. Ainda que o Gênio esteja me enganando eu preciso existir para que ele me
engane. Portanto, se eu penso na possibilidade de ser enganado, logo eu existo!

Essa reviravolta é bem bacana de ser lida na obra, visto que Descartes narra todo drama e
até um leve desespero que ele passou até conseguir uma reles certeza.

René Descartes e o Racionalismo

Pode parecer estranho um único argumento ser tão importante assim. Mas, é sobre essa
certeza que Descartes, ao longo de suas Meditações, constrói seu raciocínio. Ele é o alicerce
do Racionalismo Cartesiano.

Bom, se considerarmos que os sentidos nos enganam, daí para você chegar a uma conclusão
verdadeira é preciso algo a mais que os sentidos. O Racionalismo Cartesiano é justamente
esse processo que você acompanhou até agora. Isto é, por meio da razão a gente criou todo
uma Lógica para elucidação de um problema sem contar com nossos sentidos, mas nos
apoiando na Razão.

Figura 4: Na imagem acima as linhas horizontais parecem estar inclinadas, mas não estão.
Não é porque percebemos elas assim que isso é verdade. Nossos sentidos podem nos
enganar.
Racionalismo é, então, a corrente filosófica que se apoia na razão em detrimento dos
sentidos na busca pela verdade. Assim sendo, a razão é a fonte de todo do conhecimento
verdadeiro e autônomo aos sentidos.

Agora que você já conhece René Descartes, tem algo que pode lhe deixar com a pulga atrás
da orelha. Dentro dessa lógica de Descartes, a ideia do “Penso, Logo Existo” contém uma
premissa oculta: algo que está pensando, existe.
Imagina só alguém que pensa bastante, tipo o Bruce Wayne, o Macaco Louco, o Tony Stark
ou mesmo o Cebolinha com seus planos infalíveis. Essa galera toda aí existe? Essa é uma das
críticas feitas ao Racionalismo Cartesiano.

Por fim, René Descartes foi um filósofo que pregava a autonomia do sujeito, como era
comum em sua época. A partir do pensamento dedutivo, ele conseguiu provar a nossa
existência. Depois disso, todo o mundo, quero dizer, todo o pensamento foi influenciado por
suas ideias. O Iluminismo, principal corrente filosófica do século XVIII, foi fortemente
influenciada por Descartes.

Exercícios:

1- (Enem 2013)

TEXTO I

“Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas
falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão
mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera
crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.”

(DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural,


1973) (adaptado).

TEXTO II

“É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de


busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí
terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma
daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.”

(SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001).


(adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução


radical do conhecimento, deve-se:

(A) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.

(B) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.

(C) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.

(D) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.

(E) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.


 

2- (Fepese – SC– 2012) René Descartes tornou-se famoso pela frase “Cogito, ergo sum”
(penso logo existo), pilar fundamental da filosofia:

(A) Racionalista.

(B) Fenomenológica.

(C) Teocêntrica.

(D) Empirista.

(E) Liberal.

3- (ENEM 2016)  Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória
possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver
toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios
de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto.
Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias.

Descartes, R. Regras para a orientação do espírito.

Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico,
como resultado da

(A) Investigação de natureza empírica

(B) Retomada da tradição intelectual

(C) Imposição de valores ortodoxos

(D) Autonomia do sujeito pensante

(E) Liberdade do agente moral

Gabarito:

1- B

2- A

3- D.

Francis Bacon e o empirismo inglês


Vamos investigar Francis Bacon e o empirismo inglês? Pois, como dizia filósofo,
conhecimento é poder! Então bora ficar poderoso e gabaritar no Enem!
Conhecimento é poder! Essa é a máxima de um sujeito chamado Francis Bacon. Ele possuía
uma acuidade com a Filosofia que transformou o mundo a sua volta. Por isso, é
frequentemente chamado de pai do empirismo britânico.

Figura 1: Francis Bacon ostentava o título de Barão de Verulam e Visconde de Saint Alban. É
considerado por muitos o fundador da Ciência Moderna.
Pai do empirismo britânico porque, como você deve imaginar, Francis Bacon é inglês. A Grã-
Bretanha por sua vez, teve uma forte tradição de filósofos empiristas, pensadores que foram
inspirados por Francis Bacon a seguir essa corrente filosófica. Mas vamos com calma, antes
de tudo bora lá trocar uma ideia sobre a época em que Bacon estava inserido.

Revolução Científica

Francis Bacon nasceu após o ápice da Filosofia do Renascimento. Toda aquela empolgação
do período anterior com o mundo antigo já havia passado. A moda agora era uma
abordagem mais científica do conhecimento, seguindo a onda de nomes como Giordano
Bruno, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton.

Esse conjunto de ideias e interpretações inovadoras do mundo ao nosso redor ficou


conhecido como Revolução Científica. Durou de meados do século XVI até o século XVIII.
Nessa época, a ciência, que antes estava ligada à Teologia, separou-se da igreja e se tornou
um conhecimento autônomo.
Fig
ura 2: O conceito de Revolução Científica não era utilizado na época em que ocorreu.
Somente em 1939 que um pensador chamado Alexandre Koyré começou a usar o conceito
para se referir ao período de mudanças intelectuais radicais pós Renascimento.
O empirismo inglês

Em Londres, cidade de Bacon, a igreja já não tinha tanto poder assim. Isso porque toda
confusão matrimonial causada por Henrique VIII, que foi excomungado pela igreja católica
em julho de 1533, levou a Inglaterra a romper com Roma. Daí toda aquela pressão da igreja
que atravancava os avanços da ciência acabou sendo bem mais amena na Inglaterra. Isso
criou um cenário propício para o surgimento da tradição empírica no país.

O próprio Bacon dizia reconhecer como legítimas as doutrinas da igreja. Contudo, ele
também se manifestava a favor de a ciência ser estudada de maneira separada da religião.
Com isso, a aquisição do conhecimento seria algo bem mais fácil, rápido e prático.

A partir desse contexto surgiram outros pensadores que adotaram o empirismo como
corrente filosófica. Os herdeiros mais famosos dessa tradição foram John Locke, George
Berkeley e David Hume.

Figura 3: Filósofos empiristas ingleses.


Método Científico

Talvez a maior contribuição de Bacon para posteridade foi a elaboração de um método


científico. O pensador defendia que a Filosofia avançava por meio da formulação de leis de
generalidade crescente. Ou seja, para conhecer o mundo devemos observá-lo e, a partir
disso, criar regras universais para seu entendimento.
Segundo o filosofo, nós somos capazes de observar o mundo de duas maneiras. A primeira é
pela antecipação, ou seja, sem a necessidade de experimentos, fazendo com que não se
exija amostras práticas para que o conhecimento seja verdadeiro. A segunda maneira se dá
pela observação e interpretação, ou seja, utilizando um método para realizar experiências.
Assim, podemos observar o mundo em busca de verdades gerais.

Figura 4: O método indutivo vai do menor para maior, isto é, parte de uma premissa
individual para chegar em uma premissa geral. Já no método dedutivo, a conclusão está
implícita nas premissas.
Para Bacon, o conhecimento válido é aquele que pode ser repetido. Desta forma, o filosofo
aplica o que chamamos de método indutivo. É possível traçar as origens desse método até a
Grécia Antiga, num momento próximo ao surgimento da Filosofia. O grande Aristóteles já
fazia uso da indução quando falava sobre sua Filosofia Primeira.

Em seus estudos sobre lógica, Aristóteles dizia que a partir da observação de uma


característica que se repete em determinada coisa, podemos, por meio do método indutivo,
concluir que todas as coisas possuem essa característica. Se liga no exemplo:

Observando os animais mamíferos, eu posso notar que eles não botam ovos. Ora, eu
observei individualmente centenas de mamíferos e notei que eles não botam ovos. Basta,
segundo Aristóteles, observar esse grupo para ser induzido a concluir que mamíferos não
botam ovos. Pelo fato de a característica de não botar ovos se repetir, por meio do método
indutivo, eu concluo que todos os mamíferos possuem essa característica.
Figura 5: Para mostrar que nem sempre
essa história de observação e repetição e válida, conheça o Ornithorhynchus anatinus, vulgo
Ornitorrinco. Um mamífero que bota ovos!
De volta a Bacon, o inglês propôs uma variante dessa abordagem. Em vez de observamos o
mundo e partir disso extrair conclusões afirmativas (como por exemplo: todo filosofo é
barbudo, a fim de concluir que para ser filosofo é preciso ter barba), ele propôs o oposto:
buscar exemplos negativos.

Esse exemplo negativo funciona de maneira contrária, buscando o grupo dos filósofos que
não possuem barba. Embora a finalidade seja a mesma, elencar por meio da observação as
coisas em categorias para obtenção de uma lei universal, o método empregado é bem
diferente.

Ora, ambos os métodos acima são considerados empíricos, pois se fundamentam na


observação do mundo para produzir enunciados verdadeiros. Contudo, a variação proposta
por Bacon foi algo inédito até então.

Tal variação é muito importante para prevenir essas falsas conclusões, como no caso do
ornitorrinco, pois a partir dela é possível a eliminação de características não essenciais
naquilo que observamos. Portanto, é algo que vai além do empirismo aristotélico ao buscar
a qualidade das coisas e não somente a quantidade.

Ciência como guia

Francis Bacon acreditava no papel transformador das ciências nas vidas das pessoas. O inglês
desejava algo a mais do que o estudo meramente teórico do mundo. Ele buscava uma
abordagem prática para os problemas cotidianos que o cercavam, corroborando com a luta
pelo fim da superstição da época.

É bacana (talvez demasiadamente otimista) embarcar na onda de Francis Bacon e pensar


que o conhecimento é algo que nos dá poder para nos livrar dos grilhões que a ignorância
nos submete. Pensar que a partir dos avanços nas ciências o homem deixa de ser escravo da
natureza e passa a ser um sujeito autônomo que, através do progresso científico, molda o
mundo em benefício da humanidade.

Contudo, ficam os questionamentos: será que é como ele dizia, conhecimento é mesmo
poder? Essa noção de progresso científico não trouxe só benefícios para humanidade. Basta
olharmos para as duas grandes guerras, que com campos de extermínio e bombas atômicas,
aterrorizaram o mundo com o conhecimento científico que acumulamos.

Continue seus estudos sobre Francis Bacon com esta videoaula!

Exercícios:

01- (Enem 2013)

Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico.


Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de
que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em
programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo
Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas
da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.

CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São
Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).

Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista


concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries
da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em

(A) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda


existentes.

(B) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi
da filosofia.

(C) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o
progresso.

(D) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos
e religiosos.

(E) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates
acadêmicos.

02- (Uel 2012)

A figura do homem que triunfa sobre a natureza bruta (Fig. 5) é significativa para se pensar a
filosofia de Francis Bacon (1561-1626). Com base no pensamento de Bacon, considere as
afirmativas a seguir.

I. O homem deve agir como intérprete da natureza para melhor conhecê-la e dominá-la em
seu benefício.
II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende da experiência guiada por método
indutivo.

III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem que parte de proposições gerais


para, na sequência e à luz destas, clarificar as premissas menores.

IV. Os homens de experimentos processam as informações à luz de preceitos dados a priori


pela razão.

Assinale a alternativa correta.

(A) Somente as afirmativas I e II são corretas.

(B) Somente as afirmativas II e IV são corretas.

(C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

(D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

(E) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

03- (Uel 2011)

Leia o texto a seguir.

O pensamento moderno caracteriza-se pelo crescente abandono da ciência aristotélica. Um


dos pensadores modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles –
considerando que esta não permitia explicar o progresso do conhecimento científico – foi
Francis Bacon. No livro Novum Organum, Bacon formulou o método indutivo como
alternativa ao método lógico-dedutivo aristotélico.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Bacon, é correto afirmar
que o método indutivo consiste

(A) na derivação de consequências lógicas com base no corpo de conhecimento de um dado


período histórico.

(B) no estabelecimento de leis universais e necessárias com base nas formas válidas do
silogismo tal como preservado pelos medievais.

(C) na postulação de leis universais com base em casos observados na experiência, os quais
apresentam regularidade.

(D) na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de autoridades científicas aceitas


universalmente.

(E) na observação de casos particulares revelados pela experiência, os quais impedem a


necessidade e a universalidade no estabelecimento das leis naturais.
 

GABARITO:

01- C

02- A

03- C.

John Locke e o Estado liberal


John Locke é pensador contratualista, ou seja, para ele a sociedade civil é resultado de um
contrato entre todos os indivíduos. Revise a teoria do filósofo!

John Locke foi um importante filósofo inglês. É considerado um dos líderes da doutrina
filosófica conhecida como empirismo e um dos ideólogos do liberalismo e do iluminismo.
Nasceu em 29 de agosto de 1632 na cidade inglesa de Wrington.

Locke teve uma vida voltada para o pensamento político e desenvolvimento intelectual.
Estudou Filosofia, Medicina e Ciências Naturais na Universidade de Oxford, uma das mais
conceituadas instituições de ensino superior da Inglaterra. Foi também professor desta
Universidade, onde lecionou grego, filosofia e retórica.

No ano de 1683, após a Revolução Gloriosa na Inglaterra, foi morar na Holanda, retornando
para a Inglaterra somente em 1688, após o restabelecimento do protestantismo. Com a
subida ao poder do rei William III de Orange, Locke foi nomeado ministro do Comércio, em
1696. Ficou neste cargo até 1700, de onde precisou sair por motivo de doença. Locke faleceu
em 28 de outubro de 1704, no condado de Essex (Inglaterra). Nunca se casou ou teve filhos.

A visão política de Locke

Locke criticou a teoria do direito divino dos reis. Para Locke, a soberania não reside no
Estado, mas sim na população. Embora admitisse a supremacia do Estado, Locke dizia que
este deve respeitar as leis naturais e civis.

Locke também defendeu a separação da Igreja do Estado e a liberdade religiosa, recebendo


por estas ideias forte oposição da Igreja Católica. Locke, assim como Montesquieu, defendia
que o poder deveria ser dividido em: Executivo, Legislativo e Judiciário. De acordo com sua
visão, o Poder Legislativo, por representar o povo, era o mais importante e, portanto, os
outros dois deveriam estar subordinados a ele.

Embora defendesse que todos os homens fossem iguais, foi um defensor da escravidão. Não
relacionava a escravidão à raça, mas sim aos vencidos na guerra. De acordo com Locke, os
inimigos e capturados na guerra poderiam ser mortos, mas como suas vidas são mantidas,
devem trocar a liberdade pela escravidão.

A visão liberal do Estado

Podemos compreender “liberalismo” como uma determinada concepção de Estado, na qual


este tem poderes e funções limitados. Assim, será o avesso daquele Estado no qual o poder
absolutista imperou em boa parte da Idade Média e da Idade Moderna. Da mesma forma,
Locke se contrapõe ao que hoje consideramos ser o Estado social, ou de bem-estar social
que se viu na URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) no século XX.

O Estado liberal seria fruto de um pensamento liberal, pensamento este discutido por vários
intelectuais nos últimos cinco séculos. Mas, para muitos filósofos, o pensamento liberal teria
suas bases nas teses de John Locke (1632-1704), considerado o pai do liberalismo
principalmente por conta de suas ideias em “Dois tratados do governo civil”, obra publicada
no final do século XVII.

Para Locke, o homem é anterior à sociedade e a liberdade e a igualdade fazem parte de seu
Estado de natureza. No entanto, elas não são vistas de forma negativa como nas ideias de
Thomas Hobbes (o qual afirma que os sentimentos de liberdade e igualdade conduzem a
guerra constante), mas sim dizem respeito a uma situação de relativa paz, concórdia e
harmonia.

No estado natural do homem, ele possuiria direitos naturais que não dependeriam de sua
vontade (um estado de perfeita liberdade e igualdade). Locke afirma que a propriedade é
uma instituição anterior à sociedade civil (criada junto com o Estado) e por isso seria um
direito natural ao indivíduo, que o Estado não poderia retirar. “O Homem era naturalmente
livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho” (WEFFORT, 2006, pg. 85).

Contudo, apesar de John Locke acreditar no lado positivo da liberdade e da igualdade no


estado de natureza, tal situação não estava isenta de inconvenientes como a violação da
propriedade. Para contornar esses inconvenientes era preciso fazer um contrato social, que
unisse os homens a fim de passarem do estado de natureza para a sociedade civil.
Seria necessário instituir entre os homens um contrato social ou um pacto de
consentimento. Neste “pacto” o Estado seria constituído como “dono” do poder político
para assim preservar e consolidar ainda mais os direitos individuais de cada homem. Direitos
estes que eles já possuíam desde o estado de natureza. Assim, “é em nome dos direitos
naturais do homem que o contrato social entre os indivíduos que cria a sociedade é
realizado, e o governo deve, portanto, comprometer-se com a preservação destes direitos.”

Quer saber mais sobre John Locke e suas concepções acerca do Estado? Vem pra essa aula do professor Alan!

John Rawls: a teoria de Justiça e o véu da ignorância


John Rawls foi um filósofo norte-americano, autor de Uma Teoria da Justiça, Liberalismo
Político e O Direito dos Povos. Ele trabalhou como professor de filosofia em Harvard.
Já pensou como as leis poderiam ser diferentes? Talvez mais justas? John Rawls já!
Embarque nessa aula sobre Política e Justiça, dois conteúdos super em alta no Enem e nos
vestibulares.

Quem foi John Rawls?


O filósofo estadunidense John Rawls trouxe à tona as ideias contratualistas, criando uma
abordagem mais inovadora afim de atender as demandas do século XXI.

Retrato de John Rawls.

Rawls foi um filósofo que se dedicou com afinco aos temas políticos. Ele era adepto do
contratualismo, um modelo que ganhou fama com as ideias de Hobbes, Locke e Rousseau há
alguns séculos.

Contratualismo

Para entender qual é a discussão que John Rawls está inserido, é bacana a gente fazer uma
rápida excursão nas ideias contratualistas. O Contratualismo é uma teoria filosófica que se
fundamenta na existência de um Contrato Social. Ou seja, a gente entra em um comum
acordo para que conseguir viver em harmonia.
Segundo os filósofos contratualistas, é a partir do firmamento desse contrato que nos
libertamos da Natureza. Ou seja, deixamos de agir conforme nossos instintos primitivos.

Passamos a estabelecer uma nova lógica de funcionamento para realidade a nossa volta, a
viver de maneira racional. Ao contrário dos demais animais, a espécie humana é capaz de
criar suas leis, sua moral e sua cultura.

O que é Contrato Social?

Ora, a partir do Contrato Social é possível buscar uma existência mais harmônica através da
nossa capacidade – ímpar – de sair do estado original e criarmos uma sociedade a parte
dessa natureza, na qual coexistimos com outros seres humanos sob uma lógica própria e em
harmonia. Ou quase.

Caso você esteja se indagando sobre quando assinou tal contrato, ou esteja ligando para um
advogado para analisar melhor as cláusulas de tal arranjo funesto, calma! Não existe
concretamente um contrato.

É mais como uma alegoria que representa todo o processo que falamos há pouco. Então,
infelizmente, não há como processarmos a sociedade por esse malogro da nossa espécie.

lustração mostrando um aventureiro encontrando finalmente o Contrato Social. No último


quadrinho, após analisar o contrato, ele não encontra sua assinatura.

Partindo dos Primórdios


A visão contratualista de John Rawls, embora compartilhe da essência de seus
predecessores, como Locke e Hobbes, se dá a partir de uma experiência alicerçada na ideia
de posição original. Ou seja, uma população que esqueceu seus lugares na sociedade.
Para facilitar seu entendimento, vamos criar uma metáfora. Imagine só que você está de boa
em casa, no conforto do sofá com a bebida de seu gosto em vossas mãos.

Um estrondo de proporções colossais corta os céus e rola o apocalipse nuclear, as cidades


são reduzidas as cinzas e a civilização como você conheceu deixa de existir.

Passado a loucura atômica que seria esse apocalipse, você se encontra refugiado com um
grupo de pessoas desconhecidas em uma ilha inabitada até então. Com desamparo no olhar,
vocês percebem que não restou nada, será necessário reconstruir a sociedade desde o início.

Conceito de posição original de John Rawls


O exemplo, embora exagerado, tem como objetivo demostrar o que John Rawls chamou de
posição original. Isto é, regressar ao período de concepção da sociedade afim de entender e
moldar as principais características que deram forma as diversas civilizações pelo mundo,
culminando na sociedade que temos hoje.

Segundo o autor, nessa reconstrução do mundo, você vai tentar garantir a sua
sobrevivência. Para isso ocorrer, muito provavelmente você irá agir de acordo com seus
próprios interesses. No entanto, perceberá que determinadas coisas só poderão ser
alcançadas através do trabalho coletivo. Esse trabalho coletivo é o tal Contrato Social, do
qual estamos falando.

John Rawls e a teoria da justiça


Agora que já temos nosso pano de fundo, o estado original – você está prestes a reconstruir
a sociedade – a grande sacada de Rawls começou ao indagar e que maneira seriam
estabelecidos os princípios da Justiça.

E isso é algo bem complexa, visto que conceituar uma palavra carregada de significados e
representações é por si só uma tarefa hercúlea.

Todavia, para não nos perdermos nos limites da linguagem, vamos definir Justiça de maneira
bem simples e corriqueiramente encontrada nos dicionários, como qualidade do que está
em conformidade com o que é justo, correto, direito.

Observe que é muito complicado falar daquilo que é certo ou justo. Há muito tempo essa
discussão é palco de embates filosóficos. Um bom exemplo disso são as escolas helenísticas,
cada qual com sua visão de justo e correto.

Ora, para haver Justiça, na visão de Rawls, devemos nos guiar por princípios tais como a
imparcialidade e a racionalidade. Logo, devemos estabelecer regras que sejam imparciais e
racionais.

Exemplos de regras

Por exemplo, imagine que em um país qualquer, decreta-se uma lei do pescotapa (aquele
tapa que a gente dá no pescoço dos amigos sabe-se lá por qual motivo), que autoriza
esbofetear o pescoço de quem tem renda baixa.

Assim sendo, banqueiros, fazendeiros e grandes empresários se beneficiarão dessa medida


imediatamente, pois se enquadram nos critérios safos. Ao passo que trabalhadores
assalariados, pequenos produtores e pequenos empresários irão contorcer-se para
sobreviver a caça dos pescoços.

Segundo Rawls, essa seria uma lei injusta, visto que não respeita o princípio da
imparcialidade. O mesmo aconteceria se estapeássemos o infeliz pescoço de alguém ao
acaso, uma vez que, isso não tem um sentido racional explicito.

Portanto, as leis devem respeitar tais princípios para serem justas.

Exemplos reais

Se um exemplo fictício lhe pareceu forçado, lembre-se do Apartheid, quando pessoas de


outras etnias eram obrigadas – por força da lei – a condições de vida inferiores aos brancos.

Na década de sessenta nos Estados Unidos, uma senhora negra foi presa por não sentar no
fundo do ônibus, lugar destinado a pessoas que não eram brancas.

As pessoas negras sequer podiam beber água no mesmo lugar que as brancas.

Para além da questão racial podemos lembrar também do sufrágio universal. Aqui nas terras
tupiniquins, fazem aproximadamente uns oitenta anos que é permitido por lei as mulheres
votarem.

Foi só 1932 que se expediu um decreto permitindo as “minas” de votarem, o que se


consolidou na constituição de 1934 e está em rolando desde então.

Conclusões de John Rawl

Bom, John dizia que em face dessas injustas conjunturas é preciso ignorar os fatores
externos. Isto é, Rawls falava em lançar um véu da ignorância sobre as coisas que nos
cercam.

Desta maneira, não saberemos de onde viemos, no que trabalhamos, qual etnia
pertencemos, enfim, para além do sexo, classe social ou credo, conseguiríamos pensar numa
lei que beneficiaria a todos.

Ora, para você estruturar a sua sociedade justa será necessária uma pitada de ignorância
sobre os demais companheiros para assim todas as partes conseguirem entrar num acordo
genuinamente imparcial.
Portanto, partindo-se do princípio que você não sabe qual é o seu lugar na sociedade, e
como dissemos no início, você vai agir de acordo com seus próprios interesses e para isso
será necessário a cooperação dos demais é natural que vocês formem leis para assegurar
isso.

Assim, para melhor servir a si, é bom que essas leis sejam aplicadas igualmente a todos,
assim sendo, os princípios da Justiça devem ser escolhidos sobre o véu da ignorância.

Questões políticas atuais


A teoria de John Rawls acerca da Justiça foi a sua principal contribuição para o debate atual
sobre a política contemporânea, pois critica a forma como são formuladas as decisões
governamentais e a estrutura política vigente.

Essa problemática é algo exaustivamente debatido pela Filosofia ao longo dos séculos, uma
vez que  escolher o que é melhor para todos é sempre um problema político fundamental. Já
pensou, por exemplo, nos diferentes sistemas de votação que existem e qual seria o melhor
para você ou para a sociedade como um todo?

Peguemos nosso país como exemplo. O Brasil após a redemocratização converteu-se em


uma república federativa, adotando o presidencialismo e uma democracia representativa.

O véu da ignorância

Por conta disso, nossas leis são elaboradas por pessoas de determinados segmentos, tais
como empresários, grandes pecuaristas, religiosos entre outros.

Fazendo uso das ideias de Rawls que acabamos de ver, podemos concluir que essas pessoas,
que compõe o poder legislativo, buscam aquilo que julgam melhor para elas.

Ora, o poder legislativo representa parcelas da população que o elegeu. Portanto, o poder
legislativo busca aquilo que julga melhor para quem o elegeu, uma vez que, representa
parcelas da população ao invés da população como um todo.

Dessa maneira, as leis elaboradas no país estão em desacordo com aquilo que Rawls chamou
de véu da ignorância, pois existe uma evidente discriminação das pessoas que se beneficiam
ou não com as leis.

De forma que um representante das pessoas que são canhotas dificilmente será o autor de
uma lei que oferece vantagens aos destros.

Por fim, John Rawls foi um importante filosofo que ajudou no desenvolvimento do debate
sobre a política atual, suas ideias foram contestadas em 1947 por Robert Nozick que criticou
sua teoria da posição original, em sua celebre obra “Anarquia, Estado e Utopia”.

Entretanto, as ideias de Rawls ainda são importantes para compreensão do contratualismo


contemporâneo.

Questões sobre John Rawl


(FGV 2013)
O pensador norte-americano John Rawls (1921-2002), contribuiu para a reformulação do
pensamento moral contemporâneo, ao pretender ampliar o conceito e o papel da justiça.
Nesse sentido, seu modelo de justiça

(A) é igualitarista, identificando a justiça com igualdade econômica, a ser conquistada por
meio da planificação e estatização da economia.

(B) se baseia em uma concepção metafísica e apriorística de Bem, que obriga a pessoa a se
orientar etinicamente através de imperativos categóricos que comandam o sentido
individual de suas ações.

(C) é utilitarista, pois concebe uma sociedade justa quando suas organizações são instituídas
de forma a alcançar a maior soma de satisfação para o conjunto de indivíduos.

(D) defende as assimetrias econômicas e sociais, na medida em que recusa o argumento de


ser vantajoso amparar os menos favorecidos.

(E) é pluralista, no sentido de compreender o universo social como composto por elementos
diferentes e conflitantes, mas orientado por princípios, entre os quais, o da liberdade.

(SEDUCI 2015)
Sobre a teoria da justiça de John Rawls, marque a alternativa CORRETA.

(A) Um conceito central no contratualismo de Rawls é o de Estado de Natureza.

(B) Em Rawls a justiça é definida como equidade, baseada em princípios formulados por
sujeitos situados no que denominou de “posição original”.

(C) Rawls defende uma versão renovada do utilitarismo na formulação de seu conceito de
justiça.

(D) Segundo Rawls, uma sociedade justa eliminaria toda a desigualdade natural entre os
homens.

(E) Na teoria rawlsiana da justiça como equidade há uma prevalência do bem sobre o justo.

Gabarito
1. E, 2. B,

Thomas Hobbes: quem foi, obras, ideias e “O Leviatã”


Thomas Hobbes foi um matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de diversas obras
sobre a política e a metafísica. Hobbes também escreveu ensaios sobre temas como
consciência, mente e alma.
Se isolada da sociedade desde o nascimento, uma pessoa seria boa ou má? Foi sobre isso e
muito mais que pensou Thomas Hobbes em sua teoria política. Vem dar uma espiada nas
principais ideias e frases de Thomas Hobbes, tão cobrado no Enem.

Quem foi Thomas Hobbes?


Thomas Hobbes foi um matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de diversas obras
sobre a política e a metafísica. O filósofo foi bastante influenciado pelo contexto histórico e
político que vivia.

Durante o século XVII, a Inglaterra passou por uma turbulenta época que ficou conhecida
como Revolução Inglesa. O país viveu um caos político por conta da crise do absolutismo,
pois a dinastia Stuart tentava implantar o absolutismo e dissolver o parlamento.

Hobbes era parceiro da família real inglesa, frequentou os mesmos círculos que a realeza e
acabou se envolvendo com a monarquia. Nesse sentido, tornou-se um grande defensor
desse tipo de regime.

Essa relação corroborou para criação da obra “O Leviatã” que ganhou bastante notoriedade,
sendo uma das leituras consideradas obrigatórias para o estudo da política.

Figura 1: A imagem é uma montagem de um retrato pintado a óleo do filósofo Thomas Hobbes sobre
a qual fora colocados óculos escuros. O retrato de Thomas Hobbes encontra-se na National Portrait
Gallery, na Inglaterra.

Hobbes e a metafísica

Para além da política, Thomas Hobbes se dedicou a muitas outras ciências, como a
Matemática, a Física e a Psicologia. Uma parte menos popular de seus estudos, mas tão
importante quanto seu tratado sobre a política, foram seus ensaios.

Hobbes abordou temas como consciência, mente, alma e outras ideias que fazem parte de
uma grande e antiga discussão, a Metafisica.

O filósofo descreveu o cosmos como sendo algo material. Em outras palavras, o inglês dizia
que tudo o que existe é corpóreo e possui uma dimensão no espaço, corroborando assim
para a discussão Metafísica da época.
Essa ideia foi melhor desenvolvida em uma trilogia de obras (De Cive; De Corpore; De
Homine) que, embora sejam bastante importantes a Filosofia, ficaram ofuscadas pela grande
repercussão das suas publicações sobre política.

Oposição à Escolástica

A teoria Metafísica de Hobbes meio que seguiu o que era “trend topic” no século XVII, onde
dominava uma visão empirista de mundo, com pouco espaço para coisas demasiadamente
abstratas.

Isto porque as ciências naturais estavam em alta, pois áreas como a física traziam
explicações mais concretas dos fenômenos antes cercados de um obscurantismo herdado da
Idade Média.

Opondo-se as ideias Escolásticas de outrora, Hobbes considerava as Ciências Modernas e o


surgimento da corrente empirista na Filosofia como o perfeito inverso daquela filosofia
retrógrada da Idade Média, em que a razão estava ligada a fé e ao sobrenatural.

Inclusive, durante o seu trabalho como mentor da nobreza, ele teve a oportunidade de
conhecer toda a “galera descolada” que trocava altas ideias sobre Filosofia na época. Isso
inclui o “almofadinha” da turma, René Descartes, o que sempre estava de “bacon com a
vida”, Francis Bacon, e por fim, mas não menos importante, o revolucionário Galileu Galilei.
I
magem 3: charge sobre a origem da humanidade e o Estado de Natureza.

O Estado de Natureza
Toda essa reviravolta levou ao questionamento da natureza humana. Alguns filósofos,
incluindo Hobbes, decidiram investigar mais a fundo a natureza humana, para além das
concepções apresentadas pelas doutrinas religiosas que os precederam.

A partir de uma análise racional do comportamento humano, chegou-se a diversas


conclusões acerca da condição da humanidade antes das estruturas e normas sociais.

Chamamos esse estado pré-civilizatório, em que as pessoas ainda não desenvolveram


estruturas e tampouco normas sociais, de Estado de Natureza.

Entretanto, visto que essa é uma ideia teórica, embora haja um estudo com base racional
que fundamente o assunto fazendo uso de uma metodologia científica para obtenção de
dados relevantes que estruturem a teoria, muito do que foi dito na época era mera
especulação.

A ideia por de trás desse estudo era conseguir propor um modelo político que conseguisse
buscar a harmonia e o bem estar social a partir da análise do comportamento humano em
seu estado pré-civilizatório.

Ora, foram várias as definições de Estado de Natureza que surgiram, mas poucas delas
tiveram tanto sucesso quanto o Estado de Natureza proposto por Hobbes.

magem 3: charge sobre a origem da humanidade e o Estado de Natureza.

O Estado de Natureza de Hobbes – Homo Homini Lupus

Na visão de Hobbes, descrito na obra “O Leviatã”, a humanidade em seu Estado de Natureza


é algo sinistro. Isso por conta do que ele chamou de busca por autopromoção, ou seja, a
“galera” vai tentar – racionalmente – buscar vantagens individuais, tentando alcançar o
melhor para si.

Ora, nessa busca pelo individual a gente acaba se chocando com o resto da sociedade
fazendo o mesmo, buscando o que é melhor para si. Nesse sentido, surgem os conflitos, uma
vez que, podem não existir recursos, locais ou quaisquer outras vantagens que sejam
impassíveis de compartilhamento.

Assim, o Estado de Natureza de Hobbes seria quando duas pessoas querem algo que só pode
pertencer a uma delas, nesse sentido, provavelmente acontecerá uma disputa.

Exemplo

Imagine que em um dia qualquer do período pré-civilizatório (Estado de Natureza) você está
de boa passeando feliz pelo mato.
Imagine que depois de vários dias sem comer nada, em uma manhã qualquer você se depare
com o maior pedaço de bacon frito da história (ou o equivalente a isso, caso você não coma
carne), sedento pela suculenta peça que irá saciar os seus mais delirantes devaneios
culinários, você corre em disparada ao encontro de seu santo graal da gastronomia.

Na direção oposta, uma outra pessoa, também famélica, se deparou com a mesma cena e
também saiu correndo em direção a iguaria em questão. Ao notarem-se ficam nítidas suas
intenções e, segundo o Estado de Natureza de Hobbes, ambos estariam em um dilema entre
a autopromoção e a autopreservação.

Por um lado, você precisa muito se alimentar, por outro, você tem medo de arriscar um
conflito no qual pode morrer.

Nesse sentido, para Hobbes, quando em Estado de Natureza, as pessoas irão buscar sua
sobrevivência, mesmo que isso signifique extinguir a possibilidade de sobrevivência de
outrem, gerando assim uma guerra pela sobrevivência.

magem 4: meme de Thomas Hobbes com sua famosa frase “O homem é o lobo do homem”.

Do Contrato Social
Além de viver em uma constante guerra por sua sobrevivência, deixada sem governo a
humanidade ficava em um ininterrupto estado de alerta.

Visto que, os conflitos gerados no Estado de Natureza por vezes tinham desfechos letais, de
modo que as pessoas temiam a morte, em particular elas tinham medo de uma morte
violenta.

É igual você andar de madrugada e encontrar uma viatura policial, você fica “cabreiro” com
o que pode acontecer, mesmo que não tenha feito nada de errado.

Assim, existe no Estado de Natureza, um peso que as pessoas acabam carregando por
exercerem a sua liberdade. Visto que em uma situação em que todo mundo pode fazer tudo,
ou seja, a pessoa pode exercer sua liberdade sem quaisquer restrições, os limites das ações
individuais acabam sendo apenas os limites da força do próprio indivíduo.

Ora, enquanto seres racionais tementes pela própria vida, nós acabamos buscando uma
solução que garanta a auto preservação do indivíduo. Bem como, a sua autopromoção.

Assim para evitar a morte, e sobretudo a morte violenta, é proposto a criação de


um Contrato Social, ou seja, o abandono do Estado de Natureza.

Do absolutismo e da defesa da monarquia

Esse Contrato Social na teoria hobbesiana se dá a partir da renúncia de certas liberdades


individuais em favor de uma autoridade soberana. Nesse sentido, a personificação dessa
autoridade soberana é a figura monárquica.

A soberania de um indivíduo com poderes ilimitados irá prevenir à luta de todos contra
todos, pois a sociedade abriria mão do seu poder de morte. Ou seja, da liberdade de matar
alguém, dando esse poder único e exclusivamente ao soberano.

Dessa maneira, cabe somente ao estado, representado na figura de um soberano (Rainha ou


Rei), a utilização desse poder de morte, isto é, a utilização da força como ferramenta
coerciva e garantidora da paz e do bem estar social.

/I

magem 5: meme mostrando a diferença das pessoas antes do Contrato Social e depois desse. As
pessoas são representadas pelo Bob Esponja.

O Leviatã

A teoria política de Hobbes então se dá a partir do Contrato Social, quando a sociedade


investiu o poder em um elemento externo, que para ele seria melhor representado na figura
de um soberano. Tudo isso é muito bem descrito na obra “O Leviatã”, que faz alusão ao
monstro colossal que aparece na história bíblica de Jó.

O estado seria, na visão de Hobbes, o tal Leviatã, uma besta a ser temida, todavia necessária
para que haja o bem estar e a proteção dos cidadãos. Bem como o próprio Hobbes explicou
“o grande Leviatã que não é se não um homem artificial para cuja proteção em defesa foi
projetado”.
Por fim, Thomas Hobbes foi um filósofo de grande importância para Filosofia Política,
embora sua visão a respeito do Estado de Natureza tenha sido rivalizada por outros grandes
nomes da Filosofia como Jean-Jacques Rousseau.

E, apesar de sua defesa da monarquia absolutista hoje não seja nada popular, suas obras
permanecem em um lugar de destaque dentro do estudo da Política. Em outras palavras,
Hobbes é um autor muito importante para você estudar!

Exercícios

1) UNESP 2014
A China é a segunda maior economia do mundo. Quer garantir a hegemonia no seu quintal,
como fizeram os Estados Unidos no Caribe depois da guerra civil. As Filipinas temem por um
atol de rochas desabitado que disputam com a China. O Japão está de plantão por umas
ilhotas de pedra e vento, que a China diz que lhe pertencem. Mesmo o Vietnã desconfia
mais da China do que dos Estados Unidos. As autoridades de Hanói gostam de lembrar que o
gigante americano invadiu o México uma vez. O gigante chinês invadiu o Vietnã dezessete.

André Petry. O Século do Pacífico. Veja, 24.04.2013. Adaptado.

A persistência histórica dos conflitos geopolíticos descritos na reportagem pode ser


filosoficamente compreendida pela teoria

(A) iluminista, que preconiza a possibilidade de um estado de emancipação racional da


humanidade.

(B) maquiavélica, que postula o encontro da virtude com a fortuna como princípios básicos
da geopolítica.

(C) política de Rousseau, para quem a submissão à vontade geral é condição para
experiências de liberdade.

(D) teológica de Santo Agostinho, que considera que o processo de iluminação divina afasta
os homens do pecado.

(E) política de Hobbes, que conceitua a competição e a desconfiança como condições básicas
da natureza humana.

2) UNIOESTE 2011
“A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito que,
embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de
espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a
diferença entre um e outro não é suficientemente considerável para que qualquer um possa
com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como
ele. (…)

Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos


nossos fins. Portanto, se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo (…)
esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro. (…) Com isto se torna manifesto que,
durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de manter a todos
em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama de guerra; e uma guerra
que é de todos os homens contra todos os homens”.

Com base no texto citado, seguem as seguintes afirmativas:


I. Os homens, por natureza, são absolutamente iguais, tanto no exercício de suas
capacidades físicas, quanto no exercício de suas faculdades espirituais.

II. Sendo os homens, por natureza, “tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito”
é razoável que cada um ataque o outro, quer seja para destruí-lo, quer seja para proteger-se
de um possível ataque.

III. Na inexistência de um “poder comum” que “mantenha a todos em respeito”, a atitude


mais racional é a de manter a paz e a concórdia na “esperança” de que todos e cada um
atinjam seus fins.

IV. A condição dos homens que vivem sem um poder comum é de guerra generalizada, de
todos contra todos.

V. O homem, por natureza, vive em sociedade e nela desenvolve suas potencialidades,


mantendo relações sociais harmônicas e pacíficas.

(A) Apenas I está correta.

(B) Apenas II e III estão corretas.

(C) Apenas I e V estão corretas.

(D) Apenas II e IV estão corretas.

(E) Todas as afirmativas estão corretas.

3) UFPA 2013
“Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência:
que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí
ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na
guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não fazem
parte das faculdades do corpo ou do espírito. Se assim fosse, poderiam existir num homem
que estivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus sentidos e paixões.”

HOBBES, Leviatã, São Paulo: Abril cultural, 1979, p. 77.

Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a injustiça como não pertencentes às


faculdades do corpo e do espírito, considere as afirmativas:

I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos homens em sociedade, e não na
solidão.

II. No estado de natureza, o homem é como um animal: age por instinto, muito embora
tenha a noção do que é justo e injusto.
III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é instituído o poder do Estado.

IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em conformidade com o poder soberano;
ele favorece os mais fortes.

Quais alternativas estão corretas?

(A) I e II

(B) I e III

(C) II e IV

(D) I, III e IV

(E) II, III e IV

4) UFU 2013
Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em
resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do
temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões
naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas
semelhantes.

HOBBES, Thomas. Leviatã. Cap. XVII. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza
da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103.

Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que:

(A) O seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce com o advento do contrato social
deve assiná-lo, para submeter-se aos compromissos ali firmados.

(B) A condição natural do homem é de guerra de todos contra todos. Resolver tal condição é
possível apenas com um poder estatal pleno.

(C) Os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a criação do Estado deve servir como
instrumento de realização da isonomia entre tais homens.

(D) A guerra de todos contra todos surge com o Estado repressor. O homem não deve se
submeter de bom grado à violência estatal.

Gabarito
1. E, 2. D, 3. B, 4. B.

A filosofia de Jean-Jacques Rousseau


Aprenda os ensinamentos do filósofo Rousseau, que ficou
conhecido por desenvolver o conceito do Contrato Social.
Rousseau é um dos mais famosos filósofos contratualistas. Entenda os principais aspectos de
sua contribuição e por que o filósofo continua relevante até hoje!

Jean-Jacques Rousseau nasceu numa família calvinista em Genebra. Sua mãe morreu apenas
alguns dias depois de seu nascimento. Alguns anos mais tarde, seu pai abandonou a casa
após um duelo, deixando-os aos cuidados de um tio.

Aos dezessete anos, Rousseau foi para a França e se converteu ao catolicismo. Enquanto
tentava se tornar conhecido como compositor, trabalhou como funcionário público, tendo
sido designado para Veneza por dois anos. Ao retornar, começou a escrever filosofia.

Suas visões controversas levaram seus livros à proibição na Suíça e na França, onde foram
dadas ordens de prisão. Foi forçado a aceitar o convite de David Hume para viver na
Inglaterra por um curto período. Voltou para a França com um nome falso. Mais tarde, foi-
lhe permitido retornar a Paris, onde morreu aos 66 anos.

O bom selvagem de Rousseau

Assim como os demais filósofos jusnaturalistas (defende que o direito e independente da


vontade humana), Rousseau também descreveu a vida do homem antes da organização
social, estado de vida chamado estado de natureza.

No estado de natureza de Rousseau os homens seriam pessoas boas, com sentimentos de


compaixão e empatia. Viveriam isolados, livres e felizes, enfim, em grande harmonia com o
habitat natural. Por isso eram chamados de bom selvagem. Mas como tudo isso terminou?

Segundo Rousseau este ambiente termina quando alguém cerca um pedaço de terra e diz
que é seu. Isto é, neste exato momento surge a propriedade privada. Com o surgimento da
propriedade privada surge a sociedade civil.

Aqui surge outro problema, as pessoas começam a se comparar umas com as outras.
Começaram a surgir desigualdades tanto físicas quanto nas habilidades, como também na
propriedade. Dentro desse contexto surge a necessidade do contrato social.

O contrato social

O contrato social é uma retomada para a liberdade que outrora os homens tinham no
estado de natureza.

No entanto, a liberdade agora é uma conquista civil. Ou seja, o povo seria soberano e a
vontade geral deveria estar acima de tudo, neste sentido, as leis seriam elaboradas pelo
povo que elegeriam um soberano para representá-los. No entanto, este podia ser destituído
quando sua representação não estivesse de acordo com a vontade geral, pois o povo estaria
acima do soberano.

A educação

Rousseau, em sua obra Emílio ou Da Educação, propõe um projeto para a formação de um


novo homem e de uma nova sociedade, apresentando-nos os princípios gerais para uma
educação de qualidade.
Primeiramente, Rousseau defende a formação do homem natural no seu lar, junto aos
familiares, por constituir um ser integral voltado para si mesmo, que vive de forma absoluta.

Em seguida a formação do cidadão deve ser no circuito público proporcionado pelo Estado,
pois é tão somente uma parte do todo, e por esta razão se inicia numa vida relativa. O
aprendizado social não produz nem o homem e nem o cidadão, mas sim uma junção de
ambos.

A formação dois, portanto, implica investir no saber do ser humano em seu estágio natural,
por exemplo, quando criança, e o cidadão só terá existência a partir desta condição, ou seja,
a partir do estágio natural e como fio condutor a trajetória individual

Em resumo, Rousseau, com sua teoria do bom selvagem, acredita que o homem em estado
natural era feliz, livre e benevolente. No entanto, tudo isso acaba quando alguém cerca um
pedaço de terra e diz que é seu. Com o surgimento da propriedade privada começa a surgir
às brigas e a violência, também começam surgir às leis para legitimar a ganância de uns e
acalmar as revoltas de outros. A sociedade criada por alguns passa a ser um instrumento que
corrompe os homens, pois tira todas as benevolências que existiam nos homens em estado
natural e, para poderem sobreviver, usam da maldade e da esperteza.

Em resumo, Rousseau, com sua teoria do bom selvagem, acredita que o homem em estado natural
era feliz, livre e benevolente. No entanto, tudo isso acaba quando alguém cerca um pedaço de
terra e diz que é seu.
Com o surgimento da propriedade privada começam a surgir as brigas e a violência; em
consequência, surgem as leis para legitimar a ganância de uns e acalmar as revoltas de outros.
A sociedade criada por alguns passa a ser um instrumento que corrompe os homens, pois tira
todas as benevolências que existiam nos homens em estado natural e, para poderem sobreviver,
usam da maldade e da esperteza.
 

Confira mais esta aula do professor Alan e conheça mais sobre a concepção de Estado de Rousseau

Questões sobre Rousseau

1. (Unicamp 2012) “O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros. O que se
crê senhor dos demais não deixa de ser mais escravo do que eles. (…) A ordem social, porém,
é um direito sagrado que serve de base a todos os outros. (…) Haverá sempre uma grande
diferença entre subjugar uma multidão e reger uma sociedade. Sejam homens isolados,
quantos possam ser submetidos sucessivamente a um só, e não verei nisso senão um senhor
e escravos, de modo algum considerando-os um povo e seu chefe. Trata-se, caso se queira,
de uma agregação, mas não de uma associação; nela não existe bem público, nem corpo
político.”
(Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social. [1762]. São Paulo: Ed. Abril, 1973, p. 28,36.)

No trecho apresentado, o autor


a) argumenta que um corpo político existe quando os homens encontram-se associados em
estado de igualdade política.
b) reconhece os direitos sagrados como base para os direitos políticos e sociais.
c) defende a necessidade de os homens se unirem em agregações, em busca de seus direitos
políticos.
d) denuncia a prática da escravidão nas Américas, que obrigava multidões de homens a se
submeterem a um único senhor.

2. (Enem PPL 2012) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro
absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é
apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua
relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor
sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e
transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como
tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que
a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza.
b) as instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural.
c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele.
d) o homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto.
e) as instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é um ser político.

3. (FGV-SP) “O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros. O que se crê
senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles (…) A ordem social é um
direito sagrado que serve de base a todos os outros. Tal direito, no entanto, não se origina
da natureza: funda-se, portanto, em convenções.”
J.J. Rousseau, Do contrato social. in: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 22.

A respeito da citação de Rousseau, é correto afirmar:


a) Aproxima-se do pensamento absolutista, que atribuía aos reis o direito divino de manter a
ordem social.
b) Filia-se ao pensamento cristão, por atribuir a todos os homens uma condição de
submissão semelhante à escravatura.
c) Filia-se ao pensamento abolicionista, por denunciar a escravidão praticada na América, ao
longo do século XIX.
d) Aproxima-se do pensamento anarquista, que estabelece que o Estado deve ser abolido e
a sociedade, governada por autogestão.
e) Aproxima-se do pensamento iluminista, ao conceber a ordem social como um direito
sagrado que deve garantir a liberdade e a autonomia dos homens.

4. (Uel 2007) “A passagem do estado de natureza para o estado civil determina no homem
uma mudança muito notável, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às
suas ações a moralidade que antes lhe faltava. E só então que, tomando a voz do dever o
lugar do impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até aí levando em
consideração apenas sua pessoa, vê-se forçado a agir, baseando-se em outros princípios e a
consultar a razão antes de ouvir suas inclinações”.
Fonte: ROUSSEAU, J. Do contrato social. Tradução de Lourdes Santos Machado. São Paulo:
Nova Cultural, 1999, p.77.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contratualismo de Rousseau, assinale a


alternativa correta:
a) Por meio do contrato social, o homem adquire uma liberdade natural e um direito
ilimitado.
b) O homem no estado de natureza é verdadeiramente senhor de si mesmo.
c) A obediência à lei que se estatui a si mesmo é liberdade.
d) A liberdade natural é limitada pela vontade geral.
e) Os princípios, que dirigem a conduta dos homens no estado civil, são os impulsos e
apetites.

Respostas
1: a; 2: a; 3: e; 4: c

Montesquieu e a teoria da divisão dos três poderes


Montesquieu foi um filósofo francês que viveu no século XVIII e é o autor a teoria da divisão
dos 3 poderes. Entenda porque essa divisão é essencial para a democracia!
Quem foi Montesquieu

Montesquieu foi um filósofo francês que viveu durante o século XVIII, uma época de grandes
mudanças e famosas revoluções. Ele foi herdeiro da linha reformista da filosofia do
Renascimento, que deu início ao questionamento das doutrinas religiosas, servindo de base
para o Iluminismo.

Assim como Jean-Jacques Rousseau e Voltaire, seus contemporâneos, ele se dedicou ao


estudo da filosofia política, tornando-se um dos filósofos mais importantes na área.
Montesquieu sintetizou suas teorias em um tratado político intitulado “O Espíritos das Leis”,
no qual busca solucionar os problemas que afligiam a sociedade ocidental.

Retrato de Charles-Louis de Secondat, filósofo e político francês. Ficou mais conhecido por
Montesquieu, pois herdou o título de Barão de Montesquieu, no qual, assume a presidência do
Parlamento de Bordeaux.

O Iluminismo

Seguindo o espírito de contestação da Filosofia do Renascimento, bem como as reviravoltas


do século XVII com sua revolução científica, o Iluminismo foi um movimento que ficou
conhecido pela defesa de ideais marcantes para estruturação da política atual. Foi algo tão
marcante que os pilares desse movimento, sustentam ainda hoje a estrutura política atual
de diversas nações pelo mundo.

É válido ressaltar que a maneira como uma sociedade encara a vida influencia diretamente
na maneira como ela se estrutura politicamente. Isso porque existem valores pelos quais as
sociedades pautam a formulação de sistema político. Dessa maneira, campos da Filosofia,
como ética e política, acabam se entrelaçando. Isso aconteceu durante o Iluminismo.

Contudo, muito antes do século XVIII é possível observar esse fenômeno. Se você quiser
saber mais sobre os diferentes aspectos da compreensão da realidade, se liga no post sobre
o Helenismo.

Durante o período do Iluminismo, tendo a razão como sua musa inspiradora, a Filosofia se
tornou uma importante ferramenta para alicerçar as revoluções que viriam a acontecer no
século XVIII. O maior exemplo foi a Revolução Francesa.

Os filósofos iluministas se pautavam numa interpretação de mundo puramente racional.


Deixaram de lado toda aquela ladainha religiosa em um processo que ficou conhecido como
desencantamento do mundo.

Dessa forma, a autoridade das instituições religiosas, bem como os discursos não embasados
na razão, foi mitigada pelas descobertas científicas pungentes que emanavam da Filosofia. A
ideia de uma monarquia estruturada e embasada no direito divino era um absurdo político
calamitoso. Isso fez com que Montesquieu e outros filósofos da época investigassem
maneiras de suplantar esse obstáculo.

Obra de Eugène Delacroix chamada “La liberté guidant le peuple”. Nela, a liberdade guia o povo em
uma batalha contra a tirania e a opressão.

Montesquieu e a separação dos três poderes

A partir da sua experiência política e da análise dos governos da época, Montesquieu


afirmou que a causa do malogro político das sociedades se dava por conta do despotismo.
Essa era uma forma de governo na qual uma única entidade governa com poder absoluto e
que foi herdada da Idade Média.

Para solucionar os problemas acarretados por um despotismo, ou seja, de um governo


absolutista, Montesquieu, não se ocupou de criticar a figura do governante – como fizeram
alguns de seus predecessores. O filósofo decidiu elaborar uma teoria fundamentada na
constituição de um governo que evitasse o acúmulo de poder.
Debater sobre os tipos de governo e quais figuras devem exercer o poder não é algo novo
para Filosofia. Já na Grécia e em Roma os filósofos debatiam sobre isso. Inclusive, você pode
conhecer essa discussão no post sobre as formas de governo em Aristóteles.

Ora, a “sacada” de Montesquieu foi propor que a figura que exerce poder tem um papel
secundário frente ao tipo de poder que ela exerce. Em outras palavras, a concentração do
poder em uma única entidade é o que ameaça o povo, arruinando monarquias e até mesmo
as repúblicas.

Logo, para que seja possível um governo livre das garras do despotismo e que promova a
liberdade do indivíduo em detrimento da tirania do Estado, o barão de Montesquieu inovou
ao apresentar a separação da entidade detentora do poder no Estado.

Dessa maneira, instituições distintas seriam responsáveis por exercer o poder, gerando um
enfraquecimento das entidades, mas, mais importante, gerando um equilíbrio entre elas.

Figura com a representação dos três poderes que governam o Brasil e seus respectivos prédios.

Dos três poderes aos governos atuais


Temos, então, a premissa necessária para derrubar aquela “parada” já arcaica que foi
herdada da Idade Média. A separação dos poderes asseguraria que nenhum deles pudesse
ser detentor de todo o poder, já que cada parte seria restringida dos abusos pelos demais.
Esse acordo mútuo é o que traria equilíbrio para sociedade e livrar-nos-ia do despotismo.

Para implementar sua teoria, trazendo-a para prática política, Montesquieu propôs a divisão
do governo em três poderes:

 Legislativo, responsável pela aprovação e alteração das leis;


 Executivo, responsável pelo cumprimento das leis;
 Judiciário, responsável pela interpretação das leis criadas pelo Estado.

Essa divisão serviu de base para a constituição de incontáveis governos ao longo da história,
ainda que tenha encontrado grandes dificuldades na França. O sistema político do Brasil, dos
Estados Unidos, da própria França e de várias outras democracias ao redor do mundo foi
inspirado na teoria tripartite da divisão dos poderes.
Atualmente no Brasil – oficialmente República Federativa do Brasil – existe uma divisão
entre os poderes a fim de garantir a harmonia entre o Estado e o povo. Contudo, nem
sempre foi assim.

Voltando um pouco em nossa história, durante o período imperial, ainda que adotássemos
um governo baseado na divisão de poderes, o regime divergia da proposta de Montesquieu.
Isso porque durante esse período o governo adicionou o quarto poder, chamado de poder
moderador, que era exercido pelo próprio imperador.

Regimes ditatoriais

Já durante o século XX, houve períodos de ditadura caracterizados, muitas vezes, de maneira
eufêmica como regimes de exceção. Durante esses períodos, a tríade de poderes foi
desfeita. Entre os anos 1937 e 1946, Getúlio Vargas efetuou um golpe de Estado, instituindo
a ditadura do Estado Novo.

Vargas fechou o Congresso Nacional, pondo fim ao equilíbrio entre os poderes do Estado. Ele
alegava que os demais poderes não o deixavam governar. Esse ato foi na contramão da
teoria de Montesquieu. Isso porque quando há algum atrito entre os poderes, ocorre um
equilíbrio entre eles, pois um poder cerceia o outro. Ao fechar o Congresso, esse equilíbrio
foi rompido, trazendo de volta um Estado despótico.

Também entre os anos de 1964 e 1985, no período de ditadura militar, o Congresso Nacional
foi fechado algumas vezes. O chamado Ato Institucional nº 2 garantia ao presidente da
república o direito de legislar, bem como a prerrogativa de fechar o Congresso.

Indo ainda mais na contramão da teoria de Montesquieu, o Ato Institucional nº 5 fechou o


Congresso e cerceou diversos direitos do povo brasileiro. Assim, o Estado brasileiro tornou-
se algo muito parecido com aquilo que Montesquieu tanto se opôs: um despotismo.

Jornalista Vladimir Herzog que supostamente suicidou-se durante seu cárcere no DOI-CODI de São
Paulo. A ausência de outros poderes durante o regime militar originou um despotismo que
condenava aqueles que se opunham ao regime, ceifando, assim, milhares de vidas.

A situação brasileira após a redemocratização


Com o final da ditadura militar, o Brasil ganhou uma nova Constituição embasada nas teorias
de Montesquieu. Isso permitiu que o país retomasse seu Estado Democrático de Direito,
garantindo aos seus cidadãos a tão almejada liberdade.

A teoria de Montesquieu permite que nós desfrutemos de uma nação livre do despotismo e
garante a liberdade individual de cada brasileiro que vive aqui. Essa separação é
fundamental para manutenção e para harmonia da política no país, pois como a história já
nos demonstrou, quando essa harmonia foi quebrada, a tirania e o despotismo reinaram
com mãos de ferro sobre um povo oprimido.

A redemocratização garantiu também a livre expressão de ideias no país. Imagine que o


próprio Montesquieu sofreu censura da Igreja e do governo. Com o fim da ditadura e a
implementação da divisão de poderes, temos garantida por lei a nossa liberdade de
expressão.

O paradoxo da tolerância
Todavia, não foram apenas benefícios que a essa liberdade trouxe. Vários problemas foram
desencadeados a partir da separação dos poderes e da garantia de livre expressão. Um deles
é o famoso paradoxo da tolerância elaborado por Karl Popper.

O paradoxo da tolerância consiste no problema originado num governo não despótico que tolera a
liberdade expressão. Com essa liberdade vem também a liberdade de pedir o fim da liberdade,
gerando, assim, um paradoxo.
Popper afirmou que era necessário pôr um fim ao discurso de intolerância para garantir a
tolerância. Do ponto de vista de Montesquieu, podemos compreender essa situação como
mais um motivo para existência de outros poderes.

Se analisarmos o Brasil, os movimentos surgidos em 2013 apresentaram uma grande


insatisfação com a política nacional. Contudo, não existiu uma pauta mais concreta, o que
ocasionou uma série de divergências políticas. Dentre as diversas reivindicações populares,
que iam desde a volta da monarquia até a implementação do anarquismo, tivemos algumas
que desafiavam as ideias de Montesquieu.

Desde então, se tornou relativamente comum ver nas ruas pessoas pedindo o fim da divisão
dos poderes. É o caso das manifestações subsequentes a 2013 que pediam o fechamento do
STF, do Congresso Nacional, chegando inclusive a pedirem a volta do Ato Institucional nº 5.

Essa demonstração pública da barbárie, embora tenha sua expressão garantida nos
princípios da liberdade, fere toda a teoria de Montesquieu acerca da necessidade de
separação dos poderes. Ora, atacar Montesquieu é atacar indiretamente os pilares do nosso
sistema político. E, por consequência, atacar a liberdade em detrimento do despotismo.

Videoaula

Por fim, a teoria de Montesquieu visa a garantir uma sociedade livre da opressão, uma vez
que, se deixado sem fiscalização o poder se torna despótico. Assim, rapidamente se converte
em um regime tirânico, como as inúmeras ditaduras ao longo da história nas quais apenas os
detentores desse poder se beneficiavam.

Embora escrita no século XVIII, a teoria de Montesquieu sobre os três poderes é algo muito
atual e que é constantemente colocada em xeque aqui na antiga Pindorama.

Exercícios

1- (ENEM 2013)
Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido
pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou
dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as
resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se
os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a
efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma pessoa ou grupo exercer os
referidos poderes concomitantemente.

MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).

A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa
haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que
haja

(A) Exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.

(B) Consagração do poder político pela autoridade religiosa.


(C) Concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.

(D) Estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo.

(F) Reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito.

2- (ENEM 2012)
É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não
consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é
liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão
pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também
teriam tal poder.

(MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 – adaptado).

A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito

(A) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo.

(B) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis.

(C) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis.

(D) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das
consequências.

(E) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais.

3- (ENEM 2003)
Observe as duas afirmações de Montesquieu (1689-1755) a respeito da escravidão: A
escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao senhor, nem ao escravo: a este porque
nada pode fazer por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos toda sorte de maus
hábitos e se acostuma insensivelmente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se
orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel. Se eu tivesse que defender o direito que
tivemos de tornar escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os povos da Europa
exterminado os da América, tiveram que escravizar os da África para utilizá-los para abrir
tantas terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos cultivassem a planta
que o produz.

(A) o preconceito racial foi contido pela moral religiosa.

(B) a política econômica e a moral justificaram a escravidão.

(C) a escravidão era indefensável de um ponto de vista econômico.

(D) o convívio com os europeus foi benéfico para os escravos africanos.

(E) o fundamento moral do direito pode submeter-se às razões econômicas.


Gabarito

1. D
2. B
3. E

Estado Moderno: surgimento, características e filosofia


O Estado Moderno surgiu com o fim do Feudalismo e o início das Monarquias Absolutistas.
Uma de suas principais características é a centralização do poder, se opondo às
características da Era Feudal.
Primeiramente, nesse post você entenderá como chegamos até o modelo atual de Estado.
Para saber mais sobre as bases que fundamentam nossa política atualmente, vamos analisar
o Estado Moderno, um assunto importante dos vestibulares e Enem.

O que é Estado?
Desde o início do processo civilizatório, na época do neolítico, a humanidade vem tentando
achar uma maneira de conviver em harmonia. Dentre as várias soluções propostas, teve uma
ideia que ficou bastante popular de uns tempos para cá, a criação de um Estado.

A ideia do que é Estado surgiu em meados do século XIII, quando os europeus quiseram
expressar sua soberania e organização política. Essa expressão de poder e identidade
“viralizou” mundo a fora, tornando-se hoje algo corriqueiro em nosso cotidiano.

Figura 1. Fotografia de bandeiras de diversos países. A bandeira é a representação de um Estado.

Contexto histórico

Para entender melhor o que está acontece atualmente, precisamos voltar as primeiras
civilizações.

Quando a civilização Mesopotâmica se formou, foi necessário que alguém pensasse em uma


maneira de estruturar a sociedade da época. Para isso, foi criado uma estrutura social que
mantivesse a harmonia e garantisse a sobrevivência daqueles povos.

Os povos da Mesopotâmia (babilônios, sumérios, caldeus, hititas, assírios e por aí vai)


possuíam tradições milenares que os levaram a se associar e interagir. Dessa maneira, um
grupo de pessoas que compartilhavam características como língua, etnia, costumes, religião,
entre outros, se configuraram em algo mais do que apenas seres humanos flutuando em
uma rocha pelo vazio sideral. Isso porque juntas elas possuíam uma identidade coletiva.
O mesmo pode ser dito do surgimento dos demais povos do ocidente, como os gregos ou
mesmo os romanos. Para a ascensão de um povo, foi necessária uma organização social
possibilitada pela afinidade e necessidade dos indivíduos. Entretanto, conforme ia
crescendo, o povo se engajava em situações mais complexas, como por exemplo, encontrar-
se com outros povos.

Surge então uma necessidade de deliberar acerca das relações com esses povos, tornando as
relações sociais existentes cada vez mais complexas. O que por sua vez, demandava
maneiras cada vez mais refinadas para se resolver essas relações complexas.

Cidade-Estado na Grécia

Olhando para a Antiguidade, os gregos são uma civilização bastante interessante de


analisarmos. Oriundos de uma invasão da península balcânica, os povos do que veio a ser
chamado de Grécia, embora compartilhassem diversas características, se organizavam em
cidades independentes chamadas Pólis, uma espécie de Cidade-Estado.

Figura 2. Foto aérea da praça de São Pedro no Vaticano. O Vaticano é um exemplo de uma Cidade-
Estado atual.

Cada uma dessas cidades pensou sua organização política de uma maneira, de modo que,
embora interligadas elas desfrutavam de uma liberdade e de uma autonomia como se
fossem um Estado soberano.

A partir do surgimento da Filosofia, os gregos começaram a pensar, de maneira crítica e


analítica, em uma forma de otimizar as estruturas sociais embasando-se em uma ética
própria. Essa seria composta de valores fundantes ,que variam de cidade para cidade. Esse
esforço intelectual dos gregos foi o que originou a política.

Platão, por exemplo, acreditava que um regime centrado na figura de um único governante,
provido de virtudes e sabedoria, seria a maneira ideal de se gerenciar um Estado.

Para dar conta do que viria a ser o Estado, foi criado na Filosofia uma vertente de estudo
exclusiva, chamada de política, que se dedicava a buscar a melhor maneira de criar uma
sociedade na qual as pessoas conseguissem viver em harmonia. Aristóteles por exemplo,
escreveu uma obra inteira dedicada a política.
Complexidade de um Estado
Conforme as eras foram passando, essa relação entre pessoas e povos foi se tornando cada
vez mais complexa. Problemas como a soberania territorial e a necessidade de recursos se
tornaram parte das discussões políticas. Essas discussões, por sua vez, sofreram
modificações nos valores que as fundamentavam.

Durante um período, por exemplo, a Cidade-Estado de Atenas era centrada na prosperidade


e na liberdade de seus cidadãos, desenvolvendo regimes de governo como a democracia que
prezavam pela garantia desses valores. Governantes como Péricles se tornaram figuras
lendárias, tamanho o sucesso de suas gestões.

Em contrapartida, a Cidade-Estado de Esparta prezava por valores diferentes. Os espartanos


perseguiam uma vida mais austera, se devotando a nação em detrimento de si. Legisladores
como Licurgo, tinham uma visão completamente diferente de uma Cidade-Estado quando
comparados a seus compatriotas atenienses.

Portanto, a estrutura Ética vigente em determinado momento civilizatório é a responsável


direta pela construção da estrutura política da civilização em questão. Em outras palavras, a
maneira que um povo decide levar a vida individualmente repercute na maneira que ele leva
sua vida coletiva.

Podemos também analisar Roma, que sofreu inúmeras mudanças em sua gestão, que vão
desde uma Monarquia até uma República. Inclusive, é justamente com o final do Império
Romano que temos o surgimento dos reinados europeus e introdução formal do conceito de
o que é Estado.

Figura 3. Imagem colocando em oposição Sócrates e um Hoplita espartano.

Formação do Estado Moderno


Durante a Idade Média, o despotismo roubou a cena política do ocidente. Reinados surgiam
e ruíam, levados pelos constantes conflitos entre os povos. A insatisfação popular crescia
conforme as instituições que exerciam o poder se tornavam cada vez mais tirânicas.

Com as crises do Feudalismo e o crescimento da influência da igreja, uma nova estrutura de


poder seria criada. Afim de manter suas regalias, a nobreza se aliava aos clérigos e abraçava
os valores cristãos.

Principais filósofos do processo


Durante esse período, diversos filósofos tentavam defender os regimes políticos que
garantiriam a sobrevivência dos valores e costumes que eles consideravam corretos.
Filósofos como Maquiavel defendiam que para a sobrevivência do Estado, era necessário
que seu soberano governasse com mãos de ferro, servindo inclusive de um exército
nacional.

Segundo Maquiavel, princípios éticos como transparência e honestidade não se aplicariam


aos governantes.

Figura 4. Retrato de Nicolau Maquiavel maquiado.

Outros defensores da Monarquia, como o inglês Thomas Hobbes, teorizavam que o Estado


deveria ser uma entidade implacável a ser temida pelo povo.

Em todo caso, nomes como Maquiavel, Thomas Hobbes e Jacques Bossuet construíram as
visões que firmaram a ideia de que o Estado – um Estado soberano – é algo necessário para
a existência de uma sociedade harmoniosa. Desde então, o esforço intelectual feito nessa
área busca, salvo exceções, uma solução que inclua a existência de um Estado.

É possível compreender que as bases do Estado como originárias da Antiguidade, quando


havia a existência de um desejo comum as pessoas que ansiavam por uma estrutura –
Estado – que as regessem e não as deixassem a mercê do caos.

Ademais, com o afloramento dos diversos países surgidos a partir do fim do Império
Romano, a Idade Média fundamentava a necessidade do Estado a partir da
imprescindibilidade da garantia da soberania de um país, que embora já presente ao longo
da história, se tornou ainda mais pungente durante esse período.

Características do Estado Moderno

Dessa maneira, o Estado Moderno surgiu como resposta a descentralização do poder dos
senhores feudais, bem como do conflito entre a manutenção do poder nas mãos de uma
elite e as demandas populares das classes emergentes querendo buscar paridade com essa
elite.
Cabe ressaltar rapidamente que a noção de território é um algo fundamental para existência
de um Estado, pois sem um lugar físico não existe Estado, ainda que seja possível se falar em
nação.

Isso porque, se o povo que compartilha uma cultura sem um território, embora unido e até
mesmo estruturado politicamente, é apenas entendido como uma nação, esse povo não
pode então ser considerado um Estado.

Figura 5. Foto de um grupo de ciganos. Os ciganos são um exemplo de um povo (uma nação) sem
território.

Com o desabrochar do Iluminismo, as demandas sociais em relação ao Estado mudaram.


Esse movimento revolucionário, que contou com grandes nomes como Voltaire e Kant, abriu
espaço para as demandas sociais e fez frente ao despotismo espalhado por todo o Ocidente.

A importância de Montesquieu

Foi durante esse período que surgiu uma das figuras mais marcantes para edificação dos
regimes governamentais nos moldes atuais, o filósofo Montesquieu, ele foi o responsável
por uma das teorias que estruturaram a maneira que o poder é gerido nos Estados
Modernos.

O Iluminismo é responsável pela a utilização, às vezes até exacerbada, da Razão para


fundamentação das diretrizes do Estado. A partir da priorização da Razão, foram abolidas da
conceituação do Estado as relações com a religião. Por conta disso, surgiram definições
como Estado laico, adotada em diversos países atualmente, inclusive aqui no Brasil.
Figura 6. Bandeira do Brasil com a representações dos três poderes responsáveis por gerir o Estado
brasileiro.

A racionalização do Estado trouxe também uma maior demanda por leis e aparelhamentos
legais que garantissem os valores do Iluminismo. Valores como a Liberdade e a Felicidade
passaram a ser garantidos em certas constituições.

Durante a Idade Média, o Estado era pautado por valores opostos, como a servidão e a vida
em função da Felicidade no outro mundo. Todavia, o meu “camarada” Aristóteles já havia se
preocupado com a relação entre a Felicidade e a Política, isso lá na Antiguidade.

Do Estado Moderno até nossa vida cotidiana

Bom, dando aquela olhada ao longo da história é possível entender o movimento que nos
trouxe até aqui. O Estado é o resultado das diversas incursões na política, seja diretamente
governando ou indiretamente teorizando sobre o assunto, que os seres humanos realizaram
ao longo das eras.

É importante entender que esse movimento se deu principalmente pela necessidade e pela
insatisfação da população. Platão, por exemplo, estava “pistola” com a Democracia
Ateniense, por toda aquela história da morte de Sócrates e por isso escreveu uma das obras
cânones da política.

Figura 7. Retrato de Luís XIV. * O monarca francês Luís XIV teria dito: “O Estado sou eu”, essa
afirmação analisada atualmente nos faz perceber a diferença chocante entre o Estado Moderno e a
configuração democrática que vivemos até então.

Foi, entre outros motivos, essa insatisfação popular que fez os modelos absolutistas
definharem dando início ao Estado Moderno. A revolta popular era tamanha que diversos
reis e rainhas foram decapitados.

Contudo, o mundo já viveu uma série de outros acontecimentos desde então. A


configuração atual de Estado é algo bem diferente do que se pensou séculos atrás. Talvez o
fator mais relevante para a configuração atual do Estado Moderno seja o início das grandes
navegações.

O surgimento do mercantilismo deu origem ao complexo sistema econômico em que o


mundo se encontra. Isso se consolidou durante o século XIX, com a Revolução Industrial e a
expansão do Capitalismo.

A expansão do Capitalismo
A adoção do Capitalismo como modelo econômico teve grandes impactos sociais pelo
mundo, bem como, criou um contra movimento expressivo.

Por exemplo, durante a década de 1960 o mundo se pautou basicamente na adoção de dois
regimes fundamentados principalmente na economia (Socialismo e Capitalismo) para
estruturação de um Estado.

Houve também aqueles pensadores que atribuíram ao Estado Moderno (e do Estado em


geral) a culpa pelos malogros da sociedade. Os filósofos anarquistas como Mikhail Bakunin,
Piotr Kropotkin, Pierre-Joseph Proudhon e Emma Goldman, pensaram em um mudo no qual
não existiria um Estado.

Figura 8. Bandeira do movimento anarquista. * O Anarquismo é uma teoria social que se fundamenta
na ideia de que a sociedade contraria e livre do poder exercido pelo Estado, uma vez que ele (Estado)
é encarado como algo nocivo a humanidade.

Ainda hoje são vários os filósofos que se debruçam sobre os problemas do Estado Moderno,
tivemos grandes pensadores contemporâneos dedicados resolver os problemas políticos da
atualidade, por exemplo John Rawls.

Por fim, o Estado Moderno surgiu com o fim do Feudalismo e o início das Monarquias
Absolutistas. Contudo, a concepção de Estado é algo que continua a mudar, visto que, ele é
composto por um conjunto de valores que foram sendo selecionados ao longo das eras e
estruturados em um sistema político que consiga dar conta das demandas de um povo que
continua a moldá-lo.

Exercícios sobre o Estado Moderno


(ETAPA SP/2006)
No processo de formação das Monarquias Nacionais, destacou-se:

a) a adesão dos monarcas às propostas de Lutero como forma de eliminar a influência da


Igreja.

b) a formação de uma aliança de estados europeus com a finalidade de contestar a


autoridade imperial.

c) a adoção de formas representativas de governo que visavam dispor do apoio popular e


reforçar a autoridade do monarca.
d) o esforço dos monarcas no sentido de obter a subordinação do clero e da nobreza aos
desígnios da autoridade do poder real.

e) a adoção de uma política econômica liberal como uma forma de eliminar a influência das
corporações de ofício.

(UFAL/2013)
Durante os séculos XV a XVIII, ocorreu em grande parte da Europa um processo de
fortalecimento dos governos das monarquias nacionais. Esse processo resultou no chamado
absolutismo monárquico. A autoridade do rei tornou-se a fonte suprema dos poderes do
Estado; em nome do soberano, o poder era exercido pelos diversos membros do governo.
Vários teóricos elaboraram argumentos que justificavam o absolutismo; dentre eles,
destacam-se:

a) Thomas Hobbes e Jacques Bossuet.

b) Thomas Hobbes e Diderot.

c) Maquiavel e Voltaire.

d) Voltaire e Jean Bodin.

e) Montesquieu e Jaques Bossuet.

(UERJ/1995)
A formação dos Estados nas várias regiões da Europa reordenou as relações feudais
originando os chamados estados modernos, que constituíram mais um elemento da nova
ordem que se articulava na Europa ocidental, nos séculos XV-XVIII.

Como características gerais destes estados modernos podemos citar.

a) superação das relações feudais / eliminação do direito costumeiro / não-intervenção da


economia.

b) fortalecimento do poder papal / fortalecimento dos reinos dinásticos / consolidação do


localismo político.

c) centralização e unificação administrativa / formação de uma burocracia / montagem de


um exército nacional.

d) consolidação da burguesia industrial no poder / liberalização da economia /


descentralização administrativa.

e) estímulo à produção urbano-industrial / eliminação dos entraves feudais / apoio à prática


do mecenato nas artes.

(UNIFICADO RJ/1994)
Assinale a opção que expressa corretamente uma prática dos Estados Modernos Absolutos
europeus nos séculos XV/XVIII.
a) Combate aos privilégios da nobreza.

b) Centralização política e administrativa.

c) Política econômica liberal.

d) Fragmentação territorial.

e) Abandono do tributarismo e do fiscalismo.

Gabarito:

1. D, 2. A, 3. C, 4. C.

Filosofia Iluminista
A filosofia iluminista defendia o uso da razão e da ciência para alcançar o progresso. Estude
o Iluminismo e os principais filósofos iluministas neste resumo de Filosofia para o Enem!

O Iluminismo foi um importante movimento que surgiu na França no século XVII e que
defendia o uso da razão como o instrumento para alcançar a autonomia, a liberdade e a
emancipação. Foi um movimento que permeou todas as áreas de conhecimento da época,
que foram influenciadas pela filosofia iluminista que predominava.

O nome de iluminismo vem da palavra alemã Aufklärung que significa esclarecimento,


iluminação. Esse termo foi criado em reação ao período Medieval, que ficou conhecido
como Idade das Trevas.

O que defendia a filosofia iluminista?

O movimento iluminista foi um movimento global que uniu diversas áreas: filosofia, política,
social, cultural e econômico. Dentro do campo da Filosofia, Gilberto Cotrin em seu
livro Fundamentos da Filosofia apresenta três indicadores:

 Estudo da natureza e ser humano: nada mais é explicado pelo teocentrismo. Ou seja,
Deus deixa de ser o centro de tudo e a explicação das coisas que aconteciam. Agora
temos um antropocentrismo e busca por resposta a partir da capacidade e do
próprio ser humano.
 História: tem-se o uso da história como explicação e resposta para o bem estar do
ser humano.
 Progresso: tem-se um novo ideal a partir das descobertas.

Immanuel Kant, filósofo alemão, chama este período de “Saída do homem da menoridade”,
da qual ele é o próprio responsável. Segundo ele, o homem é responsável por essa causa
quando deixa que os outros pensem por ele.

Vamos exemplificar: quando vamos ao médico, temos uma postura de estar diante de
alguém que sabe tudo, enquanto nós somos leigos, não sabemos nada. O diagnóstico do
médico torna-se uma profecia, algo inquestionável e tomamos isso como uma verdade. No
entanto, esquecemos que ele pode estar sujeito ao erro e, por isso, nós também devemos
usar da nossa razão para pesquisar, questionar e buscar outros diagnósticos. Por isso,
segundo Kant, devemos usar nosso próprio entendimento e não confiar em tudo que nos é
dito.

Os filósofos, em suma, davam uma importância central à educação como instrumento


promotor de mudança e melhoria na civilização.

Principais pensadores iluministas

Iluminismo, Filosofia das Luzes, Ilustração ou Século das Luzes é a crença de que a razão, a
ciência e a tecnologia seriam os meios pelos quais levariam a humanidade ao progresso e a
verdade. Neste contexto, os pensadores desse período acreditavam que seriam iluminados
pelo uso razão e não mais pela submissão à religião e a um ser superior.

Os principais filósofos do Iluminismo foram:

 John Locke (1632-1704) acreditava que o homem adquiria conhecimento com o


passar do tempo através do empirismo;
 Voltaire (1694-1778) defendia a liberdade de pensamento e não poupava crítica a
intolerância religiosa;
 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) defendia a ideia de um estado democrático que
garanta igualdade para todos;
 Montesquieu (1689-1755) defendeu a divisão do poder político em Legislativo,
Executivo e Judiciário;
 Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), que juntos
organizaram uma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos
filosóficos da época.

O Iluminismo, em resumo, foi um grande movimento que envolveu diversas áreas com o
intuito de usar a razão como instrumento de emancipação. Recebeu este nome em reação à
Idade das Trevas, expressão criada para caracterizar a Idade Média. A filosofia iluminista,
enfim, defende que a educação é o ponto chave dessa grande mudança para o uso da razão.

Para terminar sua revisão sobre o Iluminismo, confira a paródia abaixo!

Foi também a partir do iluminismo que surgiu a forma moderna de Estado. Quer saber mais? Veja esta
videoaula!

Agora, teste seus conhecimento com exercícios sobre o Iluminismo selecionados pelo professor:

1. (Uerj 2012) O Iluminismo é a saída do homem do estado de tutela, pelo qual ele próprio é responsável. O
estado de tutela é a incapacidade de utilizar o próprio entendimento sem a condução de outrem. Cada um é
responsável por esse estado de tutela quando a causa se refere não a uma insuficiência do entendimento,
mas à insuficiência da resolução e da coragem para usá-lo sem ser conduzido por outrem. Sapere aude!*
Tenha a coragem de usar seu próprio entendimento. Essa é a divisa do Iluminismo. IMMANUEL KANT (1784)

*Expressão latina que significa “tenha a coragem de saber, de aprender”.


In: BOMENY, Helena e FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos modernos, tempos de sociologia.
São Paulo: Ed. do Brasil, 2010.
No contexto da expansão capitalista no século XIX, uma das ideias centrais do Iluminismo, de
acordo com o texto, está associada diretamente à valorização da:
a) superioridade técnica
b) soberania econômica
c) liberdade política
d) razão científica

2. (Fatec 2003) O iluminismo surgiu na França, no século XVIII, e se caracterizava por


procurar uma explicação racional para todas as coisas. É correto afirmar que
a) a filosofia iluminista preocupou-se com o estudo da natureza, por isso, acreditava-se em
Deus e no poder da Igreja para chegar a Ele.
b) seus pensadores eram divididos em dois grupos: os filósofos e os economistas, sendo
estes últimos defensores de uma economia totalmente supervisionada pelo Estado.
c) os déspotas esclarecidos, monarcas e ministros europeus adeptos de ideias iluministas,
modernizaram seus Estados abandonando o poder absoluto.
d) para corrigir a desigualdade social era preciso modificar a sociedade, dando a todos
liberdade de expressão e de culto, além de proteção contra a escravidão, a injustiça, a
opressão e as guerras.
e) um de seus maiores pensadores foi Montesquieu, que escreveu o Contrato Social, no qual
criticava a Igreja e defendia a liberdade dos homens.

3. (Pucrj 2002) Analise as afirmativas abaixo referentes ao Iluminismo:


I – Muitas das ideias propostas pelos filósofos iluministas são, hoje, elementos essenciais da
identidade da sociedade ocidental.
II – O pensamento iluminista caracterizou-se pela ênfase conferida à razão, entendida como
inerente à condição humana.
III – Diversos pensadores iluministas conferiram uma importância central à educação
enquanto instrumento promotor da civilização.
IV – A filosofia iluminista proclamou a liberdade como direito incontestável de todo ser
humano.
Assinale:
a) se apenas a afirmativa II estiver correta.
b) se apenas as afirmativas I e IV estiverem corretas.
c) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
d) se apenas as afirmativas I, II e IV estiverem corretas.
e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

4. (Mackenzie) Sobre o iluminismo, é correto afirmar que:


a) defendia a doutrina de que a soberania do Estado absolutista garantiria os direitos
individuais e eliminaria os resquícios feudais ainda existentes.
b) propunha a criação de monopólios estatais e a manutenção da balança de comércio
favorável, para assegurar o direito de propriedade.
c) criticava o mercantilismo, a limitação ao direito à propriedade privada, o absolutismo e a
desigualdade de direitos e deveres entre os indivíduos.
d) acreditava na prática do entesouramento como meio adequado para eliminar as
desigualdades sociais e garantir as liberdades individuais.
e) consistia na defesa da igualdade de direitos e liberdades individuais, proporcionada pela
influência da Igreja Católica sobre a sociedade, através da educação.
05) Assinale a alternativa que apresenta um princípio filosófico do Século das Luzes.
a) Crença na razão como fonte para a crítica social e política.
b) Defesa do ideal monárquico para a garantia da unidade política.
c) Ideia do Direito Divino dos Reis para legitimar o Absolutismo.
d) Ideia de indivisibilidade do Estado em poderes independentes.

06) ENEM 2013 QUESTÃO 41 – Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada
do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da
Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No
entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como
Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”,
“de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de
enriquecersua vida, física e culturalmente.
CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São
Paulo, v. 2 n. 4, 2004 (adaptado).
Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista
concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries
da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em
A) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda
existentes.
B) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi
da filosofia.
C) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o
progresso.
D) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos
e religiosos.
E) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates
acadêmicos.

07) ENEM 2012 QUESTÃO 2 – Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da


qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu
entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa
menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de
decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de
fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a
covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a
natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de
bom grado menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado)
Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do
contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant,
representa
A) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.
B) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.
C) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma.
D) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.
E) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão.

Respostas: 1: d; 2: d; 3: e; 4: c; 5: a; 6: c; 7: a
 
Kant e o criticismo – A razão crítica a si mesma
Você enxerga o mundo de maneira diferente? Consegue resolver tretas milenares? Confira
aqui como Kant, um cidadão de uma pacata cidade, mudou os paradigmas da sociedade e
ainda inspirou o movimento Iluminista mundo!
Se você é uma pessoa que implica com tudo, gosta das coisas feitas nos mínimos detalhes
(~ou é virginiano~), essa aula é a sua cara! Vem comigo trocar uma ideia sobre um dos
maiores pensadores da modernidade: Immanuel Kant!

Figura 1. Immanuel Kant, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804.

Immanuel Kant, um prussiano arretado nascido em 1724 em Königsberg, indagou sobre a


origem do conhecimento – como podemos conhecer o mundo? –  e suas indagações
contribuíram para quebra de paradigmas de sua época.

Essas contribuições são de extrema importância para as discussões contemporâneas,


influenciando na ciência e na política do século XXI. Você duvida? Imagine aquele seu tio
meio sem noção, se ele tivesse lido Kant certamente não iria compartilhar fakenews no
grupo da família no Whatsapp! Acompanha meu raciocínio que você vai entender o porquê.
Vem comigo nesta aula sobre Kant e o criticismo para mandar bem no Enem e nos
vestibulares!

O criticismo de Kant
O criticismo de Kant, como o próprio nome sugere, é a ideia de criticar as coisas. Simples
assim? Então sair falando mal de tudo te faz um filosofo “boladão”? Não! É um pouco mais
complicado que isso. Mas se liga aí: A crítica kantiana coloca a própria razão e as
possibilidades do conhecimento em debate. Ou seja, ao contrário de questionar a maneira
que você conhece as coisas, Kant vai investigar se o próprio conhecimento é plausível. Isso é
a chamada filosofia transcendental.

Segundo Kant, todo conhecimento (tanto o especulativo quanto o prático) concentra-se nas
três seguintes perguntas:
1. O que posso saber?
2. Que devo fazer?
3. O que me é dado esperar?

Você provavelmente deve saber que a discussão sobre a origem do conhecimento é algo
milenar. Essa questão sobre o que podemos ou não conhecer, tem seu marco em Platão e
seu pupilo Aristóteles. Nesta época, originam-se duas teorias: o Racionalismo e
o Empirismo. O criticismo kantiano é a resposta do filósofo ao debate entre racionalistas e
empiristas, a chamada Revolução Copernicana da Filosofia.

Figura 3. Platão (a esquerda) aponta para cima em referência ao mundo das ideias (racionalismo) e
Aristóteles (a direita) aponta para baixo em referência ao mundo sensível (empirismo)

O Racionalismo

Os racionalistas sustentam a ideia de que o conhecimento origina-se inteiramente da razão.


Eles consideram que as ideias são inatas, isto é, não decorrem da experiência, muito pelo
contrário, estão em nós desde o nascimento.

Ora, se o Racionalismo afirma que o conhecimento não decorre da experiência, mas se dá


pela razão, então, isso vai resultar em uma desconfiança das percepções sensoriais.  Afinal
se todo o conhecimento seguro só pode vir da razão tudo aquilo que vem de fora (não na
minha cabeça) é duvidoso?

O Empirismo

A outra gangue da nossa história, que fez frente aos racionalistas, são os chamados
empiristas. Segundo o próprio Kant, uma de suas maiores influências surgiu da leitura dos
empiristas ingleses, sobretudo de David Hume. Como ele próprio sugere, foi Hume quem o
acordou do sono dogmático que se encontrava. Os empiristas aceitavam a ideia de que a
experiência era a única fonte segura de todo conhecimento, ou seja, é através da nossa
capacidade de conhecer o mundo a partir dos sentidos que os objetos se estabelecem em
nós.
Para tanto, os empiristas se valiam de um método chamado de indutivo, tal método era
utilizado para obter enunciados universais através de enunciados particulares. Para
entender melhor, imagine o exemplo com a situação hipotética abaixo:

Você observa que os unicórnios que você viu ultimamente usam laço rosa e pensa: “todo o
unicórnio usa laço cor rosa”. Para ter certeza disso, você realiza essa experiência diversas
vezes. Para isso, faz uma expedição de campo para Nárnia afim de observar esses cavalinhos
fálicos. Daí, se em tuas observações você vê que todos os unicórnios observados têm laços,
você chegar a mesma conclusão e pode determinar que todo unicórnio usa laço rosa. Assim,
você obteve enunciados universais através de enunciados particulares. Isto é, você aplica o
método indutivo.

Figura 5. O Método Indutivo.

Em suma, a questão então é a seguinte: De onde vem o conhecimento? Da razão, isto é, das
ideias que eu tenho desde que nasci, ou, do mundo à minha volta (que conheço por meio
dos meus sentidos).

De onde vem o conhecimento?

Na tentativa de resolver esse problema (de onde vem o conhecimento?) Kant formulou a sua
epistemologia. Embora o conhecimento venha da experiência, existem outros fatores
anteriores a ela. Portanto, apesar de afirmar que o conhecimento advém da experiência, ou
seja, é empírico, ele não resulta única e exclusivamente dela. Existe então outra fonte de
conhecimento que não a experiência, tal fonte tem sua origem na razão (Daí o Racionalismo,
Sacou?).

Portanto, Kant vai demostrar que as teorias de seu tempo, apesar de parecerem
antagônicas, podem vir a convergir. Dessa forma ele criou uma solução intermediaria para
essa dicotomia entre empirismo e racionalismo, o qual chamou-se conhecimento
transcendental.

Por fim, existe na constituição do pensamento kantiano uma similaridade com o próprio
processo pelo qual o século XVIII se constitui. Da mesma forma que Kant é influenciado pelo
empirismo e pelo racionalismo, o século XVII é representado por duas vertentes: o
empirismo inglês e o racionalismo francês. Ambos irão avançar paralelamente pelo século
XVIII servindo de pano de fundo para composição do pensamento kantiano.
Resumo de Kant
Exercícios sobre Kant

1) (Enem 2013)
até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as
tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento
malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se
resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular
pelo nosso conhecimento.

KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Guibenkian, 1994 (adaptado).

O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana
da filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que
A) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento.
B) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo.
C) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão
filosófica.
D) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos
objetos.
E) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas
recusadas por Kant.

2) Na perspectiva do conhecimento, Immanuel Kant pretende superar a dicotomia


racionalismo-empirismo. Entre as alternativas abaixo, a única que contém informações
corretas sobre o criticismo kantiano é:  a) A razão estabelece as condições de possibilidade
do conhecimento; por isso independe da matéria do conhecimento.

A) O homem conhece pela razão a realidade fenomênica porque Deus é quem afinal
determina este processo.

B) O conhecimento é constituído de matéria e forma. Para termos conhecimento das coisas,


temos de organizá-las a partir da forma a priori do espaço e do tempo.

C) O conhecimento é constituído de matéria, forma e pensamento. Para termos


conhecimento das coisas temos de pensá-las a partir do tempo cronológico.

D) A razão enquanto determinante nos conhecimentos fenomênicos e noumênicos


(transcendentais) atesta a capacidade do ser humano.

3) (UFU 1/1999)
Na obra Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant, examinando o problema do conhecimento
humano, distinguiu duas formas básicas do ato de conhecer. Assinale a alternativa CORRETA.

A) O conhecimento religioso e o conhecimento ateu.

B) O conhecimento mítico e o conhecimento cético.

C) O conhecimento sofístico e o conhecimento ideológico.


D) O conhecimento empírico e o conhecimento racional.

E) O conhecimento fanático e o conhecimento tolerante.

Gabarito
1.A 2.B 3.D

Immanuel Kant: ética, Imperativo Categórico e ascensão da razão


Immanuel Kant foi um renomado filosofo alemão que dissertou a respeito das implicações
Éticas das nossas ações. Ele é responsável pela ideia de imperativo categórico.
Quem foi Immanuel Kant?

Nascido na pequena cidade de Königsberg na Prússia, Immanuel Kant foi um filósofo muito
influente dentro da história do pensamento ocidental. Era um sujeito bastante excêntrico,
que chegou até a virar alvo de chacota. Dada a sua absurda pontualidade e o rigor de sua
disciplina, chegou-se ao ponto de Heine afirmar que as donas de casa na cidade de
Königsberg ajustavam seus relógios quando Kant passava.

Sua obra Crítica da razão pura, foi considerada um divisor de águas para Filosofia. Nela, Kant
formula uma complexa teoria acerca do conhecimento, que ficou conhecida
como Criticismo.

Figura 1. Retrato de Immanuel Kant.

Após a publicação da Crítica em 1781, Immanuel Kant decidiu se dedicar a um outro


problema da Filosofia, ainda que relacionada com seus escritos anteriores. Assim nasceu a
obra publicada em 1785 denominada Fundamentação da Metafísica dos Costumes, que teve
como sua ideia central a Ética.

O que é Ética?

Antes de mergulharmos no sistema kantiano, vamos falar sobre o que é isso que chamamos
de Ética. Primeiramente, o conceito de Ética dá uma boa variada ao longo das eras. Ou seja,
o que se passou por Ética na Antiguidade não é entendido da mesma maneira hoje.
Fazendo uma generalização do conceito da Ética, dá para afirmarmos que ela é uma linha de
pensamento que estuda as ações das pessoas a partir de um conjunto de valores. A partir
disso, é possível chegarmos a juízos acerca das ações. Ou seja, dependendo de como você
agiu, é possível dizer se sua ação foi boa ou não, justa ou injusta, correta ou errada.

Voltando lá nas origens da Filosofia, por volta do século V os gregos já se aventuravam a


estudar a Ética. O filósofo Sócrates, por exemplo, já questionava os princípios morais,
contrapondo-se aos sofistas ao fundamentar a Moral na própria natureza humana.

Inclusive tem um exemplo utilizado por Platão para demonstrar o que é Ética, o rapper Fabio
Brazza tem um som maneiro explicando o dilema do Anel de Giges:

Além disso, essa época tivemos uma série de propostas sobre como devemos viver a vida,
algumas bem doidas, outra bastante originais. Teve até uma espécie de “deboísmo”
filosófico, o Helenismo.

A importância de Aristóteles

Entretanto, foi com um velho amigo chamado Aristóteles que a Ética ganhou espaço dentro
da Filosofia. Ele ficou encantado com o potencial humano e se dedicou a estudar a melhor
maneira de alcançarmos esse estado.

Aristóteles elaborou a Ética a Nicômaco, uma obra dedicada a seu filho, afim de deixar algo
de bom e duradouro para o futuro. Nessa obra, composta de dez livros, Aristóteles faz uma
espécie de pedagogia paterna da felicidade.

Em outras palavras, ele assume um papel de tutor e tenta, por meio do estudo da Filosofia,
ensinar o caminho para felicidade, ao passo que desenvolve nesse processo um sistema
Ético inédito até então.

Figura 2. Busto de Platão e Aristóteles * Juntamente com Sócrates, os filósofos Platão e Aristóteles
formularam as primeiras teorias a respeito da Ética.
A Ética na Idade Média
Avançando mais alguns séculos, na Idade Média a Ética deixou de ser entendida como
resultado de convenções sociais. Como a igreja e o discurso religioso cresceram de maneira
descomunal, a Filosofia foi intensamente influenciada.

E, como resultado, a Ética também se alterou, a racionalidade saiu de cena para introdução
de uma moral religiosa, assim sendo, na Idade Média a Ética se embasava nos preceitos
religiosos.

Todavia, isso durou até meados do século XIV, pois com a Filosofia Renascentista o discurso
religioso perdeu espaço para as revolucionárias ideias cientificas que chegariam ao seu ápice
no século XVII, fazendo com que a fundamentação religiosa da Ética caísse em descrédito.

Ascensão da razão e Metafísica dos Costumes de Kant


No século XVIII, as ideias renascentistas deram lugar ao movimento chamado de Iluminismo.
O movimento iluminista sobretudo considerava a razão a mais importante ferramenta para
alcançarmos o conhecimento.

Foi nessa época que Immanuel Kant desenvolveu suas teorias filosóficas a respeito do
conhecimento, das leis morais, da Ética e da Estética. O filósofo prussiano manifestava sua
indignação, porque em mais de dois milênios ninguém havia conseguido provar – a partir de
um argumento racional valido – a existência do mundo externo a nós.

A partir da formulação de sua teoria do conhecimento, Immanuel Kant criou o pano de


fundo para discussões acerca do comportamento humano. Na vontade de criar uma nova
perspectiva a respeito da Ética, ele então destacou o papel da razão, uma vez que é ela que
distingue os seres humanos dos outros seres da natureza.

Assim surgiu A Metafisica dos Costumes, obra que evidencia a visão de Kant em relação ao
estudo da Ética.

Figura3. Contra capa da obra “Metafísica dos Costumes” * No original


“Die Metaphysik der Sitten” é uma obra composta pelo prefácio e por três seções.

A Boa vontade de Immanuel Kant


Immanuel Kant mudou a forma que se entendia a moral ao apresentar o conceito de Boa
vontade. Esse conceito fez a transição do conhecimento moral da razão vulgar para o
conhecimento filosófico. Pois Kant considerava que nossa boa conduta se dá a partir de um
comportamento esperado. Todavia, essa conduta não é algo obrigatório.

Embora essa conduta seja esperada de nós, ela não é impreterivelmente obrigatória. Logo,
existe a possibilidade de transgressão dessa conduta. Assim sendo, a conduta depende da
vontade.

Ora, se a vontade for má, a conduta será má também. Logo a vontade precisa ser boa para
que a conduta seja boa. Entendeu o que Immanuel Kant quis dizer com “Boa vontade”?

Bom, então se são as leis morais que nos guiam, Kant pensou que ao falarmos que uma coisa
é boa ou má ela não pode ser boa ou má em si. Mas, sim, pode ser boa ou má a partir do
sentido que a gente dá para elas, visto que, nós fazemos as coisas de acordo com nossa
própria vontade.

Assim sendo, a única coisa que pode ser boa ou má é na verdade a nossa vontade.

Relação entre a boa vontade e a razão


Segundo Kant somos os únicos seres capazes de fazer juízos sobre as coisas, pois, somos
dotados de razão. Ela, por sua vez, é a única coisa que tem poder para influenciar à vontade.

Portanto, a razão é a única capaz de conceber uma vontade boa em si e não boa a partir das
suas finalidades. Em outras palavras, com o uso da razão podemos tornar a vontade boa,
pois ela seria algo puramente racional e, portanto, não estaria submissa a banalidades – do
instinto – como a satisfação pessoal.

A partir disso Kant teve uma “ideia genial”: ele afirmou que existe uma diferença entre
cumprir as leis morais por dever e cumprir as leis morais conforme o dever.

Em outras palavras, ao agirmos conforme o dever estamos agindo por algum interesse que
está sujeito aos instintos, em contrapartida, quando agimos por dever estamos agindo
conforme a vontade, que está sujeita à razão.

Imperativo Categórico

Resta agora saber como é possível agir racionalmente de maneira que nossa ação seja feita
por dever, configurando assim algo bom em si e não boa somente para si. Para essa árdua
tarefa, Immanuel Kant criou o seu famigerado Imperativo Categórico, uma espécie de
medidor da conduta moral.
Figura 4. Ilustração do rosto de Immanuel Kant * Para o filósofo prussiano, imperativo categórico é o
dever de toda pessoa agir conforme princípios dos quais considera que seriam benéficos, caso
fossem seguidos por todos os seres humanos

O Imperativo Categórico consiste no método de inquirir se sua ação pode ser


universalmente empregada. É possível dividi-lo em três formas básicas expressas por Kant
em sua obra através das máximas:

Lei Universal do Imperativo Categórico


“Handle nur nach derjenigen Maxime, durch die du zugleich wollen kannst, dass sie ein
allgemeines Gesetz werde”

Que, em uma tradução livre, é algo como:

“Age como se a máxima da tua ação fosse transformada, através da tua Vontade, em uma lei
universal da natureza.”

Fim em si mesmo
“Handle nach der Maxime, die sich selbst zugleich zum allgemeinen Gesetze machen kann”

Que, em uma tradução livre, é algo como:

“Aja de tal forma que uses a Razão sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca
simplesmente como meio.”

Legislador universal no Imperativo Categórico


“Handle so, daß die Maxime deines Willens jederzeit zugleich als Prinzip einer allgemeinen
Gesetzgebung gelten könne.”

Que, em uma tradução livre, é algo como:

“Aja de tal forma que a máxima de sua Vontade possa ser um princípio da legislação
universal.”

Exemplo do Imperativo Categórico de Immanuel Kant

Para entender melhor, veja o exemplo: imagine que você está no meio de uma pandemia,
um vírus sinistro vem transformando seus compatriotas em zombies. O governante do seu
país acabara de demitir o responsável pelo gerenciamento dessa crise de proporções
bíblicas.

Quando indagado pelo povo, o governante promete resolver a situação. Todavia ele sabe
que não cumprirá essa promessa. O governante pode até achar que sua conduta foi
aceitável, pois o livrou de uma situação complicada, e impediu que ficasse em maus lençóis.

Apesar disso, ele – ser humano dotado de razão – não irá considerar aceitável que outros
ajam da forma que ele agiu, realizando falsas promessas para se livrar de situações difíceis.
Pois, se elevada a um patamar de ação universal, essa ação é danosa a qualquer um que não
o seu praticante.
A partir disso, concluímos que – de acordo com o imperativo categórico – a ação em questão
não é uma ação moralmente boa.

Crítica da razão prática

Por fim, Immanuel Kant foi um renomado filósofo cujas ideias influenciariam o pensamento
alemão por muitos anos após sua morte. Sua visão acerca da Ética nos mostrou como a
Razão é peça fundamental na distinção do comportamento humano ao reger nossas
condutas.

Assim, a partir de suas teorias foi possível entender como a lei moral, se imbuída de boa
Vontade, se transforma em algo positivo para toda a humanidade.

Exercícios sobre Immanuel Kant

Agora é contigo, portanto bora resolver umas questões sobre esse super filósofo:

1) (Enem 2017)
Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem
que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer
firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem
ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever
livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação
seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo,
embora saiba que tal nunca sucederá.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto

(A) assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa.

(B) garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra.

(C) opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.

(D) materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os


meios.

(E) permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas
envolvidas.

2) (Enem PPL 2016)


Os ricos adquiriram uma obrigação relativamente à coisa pública, uma vez que devem sua
existência ao ato de submissão à sua proteção e zelo, o que necessitam para viver; o Estado
então fundamenta o seu direito de contribuição do que é deles nessa obrigação, visando a
manutenção de seus concidadãos. Isso pode ser realizado pela imposição de um imposto
sobre a propriedade ou a atividade comercial dos cidadãos, ou pelo estabelecimento de
fundos e de uso dos juros obtidos a partir deles, não para suprir as necessidades do Estado
(uma vez que este é rico), mas para suprir as necessidades do povo.
KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.

Segundo esse texto de Kant, o Estado

(A) deve sustentar todas as pessoas que vivem sob seu poder, a fim de que a distribuição
seja paritária.

(B) está autorizado a cobrar impostos dos cidadãos ricos para suprir as necessidades dos
cidadãos pobres.

(C) dispõe de poucos recursos e, por esse motivo, é obrigado a cobrar impostos idênticos dos
seus membros.

(D) delega aos cidadãos o dever de suprir as necessidades do Estado, por causa do seu
elevado custo de manutenção.

(E) tem a incumbência de proteger os ricos das imposições pecuniárias dos pobres, pois os
ricos pagam mais tributos.

3) (Unesp 2015)
A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento estético de Kant. Praticamente
tudo o que fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo o que
fazemos serve para alguma coisa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquanto
objeto de apreciação estética, uma coisa não obedece a essa razão instrumental: enquanto
tal, ela não serve para nada, ela vale por si.

As hierarquias que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto é,
nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto
tais. Sendo assim, a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter também a arte à
razão instrumental, isto é, tem por fim recusar também à arte a dimensão em virtude da
qual, sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da luta pelo empobrecimento
do mundo.

(Antônio Cícero. “A autonomia da arte”. Folha de São Paulo, 13.12.2008. Adaptado.)

De acordo com a análise do autor,

(A) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filosofia de Kant, fornece os


fundamentos para a apreciação estética.

(B) um mundo empobrecido seria aquele em que ocorre o esvaziamento do campo estético
de suas qualidades intrínsecas.

(C) a transformação da arte em espetáculo da indústria cultural é um critério adequado para


a avaliação de sua condição autônoma.

(D) o critério mais adequado para a apreciação estética consiste em sua validação pelo gosto
médio do público consumidor.
(E) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está prioritariamente subordinada à sua
valorização como produto no mercado.

4) (Enem 2012)
Um Estado é uma multidão de seres humanos submetida a leis de direito. Todo Estado
encerra três poderes dentro de si, isto é, a vontade unida em geral consiste de três pessoas:
o poder soberano (soberania) na pessoa do legislador; o poder executivo na pessoa do
governante (em consonância com a lei) e o poder judiciário (para outorgar a cada um o que
é seu de acordo com a lei) na pessoa do juiz.

ANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.

De acordo com o texto, em um Estado de direito

(A) a vontade do governante deve ser obedecida, pois é ele que tem o verdadeiro poder.

(B) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a representação da vontade geral.

(C) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, pois é ele que outorga a cada um o que
é seu.

(D) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, pois depende dele para validar suas
determinações.

(E) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, na pessoa do governante, pois ele
que é soberano.

5) (Uel 2011)
Leia o texto a seguir.

Na Primeira Secção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant analisa dois


conceitos fundamentais de sua teoria moral: o conceito de vontade boa e o de imperativo
categórico. Esses dois conceitos traduzem as duas condições básicas do dever: o seu aspecto
objetivo, a lei moral, e o seu aspecto subjetivo, o acatamento da lei pela subjetividade livre,
como condição necessária e suficiente da ação.

(DUTRA, D. V. Kant e Habermas: a reformulação discursiva da moral kantiana. Porto Alegre:


EDIPUCRS, 2002. p. 29.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria moral kantiana, é correto afirmar:

(A) A vontade boa, enquanto condição do dever, consiste em respeitar a lei moral, tendo
como motivo da ação a simples conformidade à lei.

(B) O imperativo categórico incorre na contingência de um querer arbitrário cuja


intencionalidade determina subjetivamente o valor moral da ação.

(C) Para que possa ser qualificada do ponto de vista moral, uma ação deve ter como
condição necessária e suficiente uma vontade condicionada por interesses e inclinações
sensíveis.
(D) A razão é capaz de guiar a vontade como meio para a satisfação de todas as necessidades
e assim realizar seu verdadeiro destino prático: a felicidade.

(E) A razão, quando se torna livre das condições subjetivas que a coagem, é, em si,
necessariamente conforme a vontade e somente por ela suficientemente determinada.

6) (Ufu 2013)
Autonomia da vontade é aquela sua propriedade graças à qual ela é para si mesma a sua lei
(independentemente da natureza dos objetos do querer). O princípio da autonomia é,
portanto: não escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam incluídas
simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal.

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela.


Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85.

De acordo com a doutrina ética de Kant:

(A) O Imperativo Categórico não se relaciona com a matéria da ação e com o que deve
resultar dela, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva.

(B) O Imperativo Categórico é um cânone que nos leva a agir por inclinação, vale dizer, tendo
por objetivo a satisfação de paixões subjetivas.

(C) Inclinação é a independência da faculdade de apetição das sensações, que representa


aspectos objetivos baseados em um julgamento universal.

(D) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os desejos pessoais do homem. Trata-se
de fundamento determinante do agir, para a satisfação das inclinações.

Gabarito

1. C, 2.B, 3.B, 4.B, 5.A, 6.A.

Voltaire: quem foi, biografia e o espírito do Iluminismo


Voltaire foi um escritor e filósofo francês. Ele defendia com vigor as liberdades individuais,
bem como a liberdade de expressão e tolerância.
O Iluminismo foi uma época revolucionária na Filosofia, embora famosa por conta das
revoluções francesa e norte americana, que só foram possíveis graças a nomes como o
ilustre Voltaire, que desafiou a opressão absolutista.

Quem foi Voltaire?


Durante o século XVIII, uma figura ganhou bastante destaque, chamavam-no de Voltaire. Ele
era um cara polêmico e sem dúvida foi o filósofo mais famoso do Iluminismo. Voltaire
defendia com vigor as liberdades individuais, bem como a liberdade de expressão e
tolerância.
Figura 1. Retrato de François Marie Arouet, que
ficou conhecido pelo pseudônimo Voltaire.

Juntamente com outros iluministas, as ideias de Voltaire serviram de inspiração para


a Revolução Francesa, chegando a cruzar o Atlântico e inspirar a Revolução Norte
Americana. Ele foi um talentosíssimo escritor, responsável por mais de setenta obras.

Embora tenha escrito bastante, Voltaire não deixou como legado um sistema filosófico
formal, como aqueles que a gente vê em obras como a de Montesquieu, “O Espirito das
Leis”.

Voltaire a a personificação do Iluminismo

Durante o Iluminismo, movimento revolucionário que aconteceu no século XVIII, a


popularidade das Monarquias Absolutistas despencou. Isso porque os ideais do Iluministas
se pautavam na Razão e nas Ciências, coisas que poucas monarquias aceitavam. Voltaire,
como bom “fanfarrão” que era, polemizava as questões que envolviam o Estado e a Igreja.

Figura 2. Tirinha com Voltaire se confrontando com Hitler e sendo morto por defender suas ideias até
o fim. * A Famosa frase atribuída a Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que
você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Foi na verdade escrita por Evelyn
Beatrice Hall, que a escreveu para ilustrar as crenças de Voltaire, na sua biografia sobre o autor
“Amigos de Voltaire”.

As atitudes de Voltaire, assim como seu discurso, que era por vezes inflamado, mas ainda
assim satírico, tinham como alvos principais a Igreja Católica e a Monarquia francesa.
A prisão
Voltaire foi um militante de respeito, disseminava os ideais iluministas enquanto divulgava
suas ideias, ao passo que, fazia escarnio de seus desafetos. Essa atitude acabou fazendo com
que tivesse a prisão decretada, sendo mandado para Bastilha em 1717. Inclusive, foi nesse
momento de cárcere que ele adota o pseudônimo Voltaire.

Vale ressaltar que até meados do século XVII a Europa ainda aceitava, meio a contra gosto,
as explicações da igreja. Foi somente com a Revolução Científica, possibilitada por figuras
como Galileu, Newton, Giordano Bruno e uma série de outros gênios, que a religião perdeu
força e passou a dar espaço as ciências.

Figura 3. Capa da Enciclopédia criada durante o século XVIII * Voltaire foi um dos pioneiros na criação
da Enciclopédia. O projeto iluminista visava reunir conhecimentos de diversas áreas. No total a obra
continha 36 volumes e contava com verbetes de Voltaire, Montesquieu, Rousseau e outros autores.

O absurdo de ter certeza

Inspirado pela ideia racional, herdada da Filosofia Renascentista, Voltaire elaborou uma
teoria para refutar as tradições, visto que, elas são preciosas tanto para a religião quanto
para a nobreza. Com isso, surgiu o argumento da certeza ser absurda.

Demonstrando – a partir de uma análise racional – que ao longo da nossa história, quase
tudo já foi revisto e reinterpretado. O que se dava como fato em determinado período
passou a ser absurdo em outro.

Por exemplo: algo que estava super em alta naquela época foi a constatação de que a Terra
não é o centro do universo. Isso antes era um fato, hoje é absurdo pensar – ou ao menos
deveria – que alguém acredita nisso.
Figura 4. Tirinha retratando uma conversa entre Voltaire e Deus.

Ora, salvo algumas verdades que permanecem até então imutáveis, como é o caso da
matemática, os fatos não passam de meras interpretações. Voltaire se utiliza inclusive de
algumas ideias de John Locke, como aquela concepção das ideias inatas.

Isso é, segundo John Locke não existem ideias inatas, tudo que entendemos do mundo vem
da nossa experiência.

A importância da filosofia de Voltaire


Esse ceticismo de Voltaire tornou-se ainda mais válido quando ele argumenta que
determinadas coisas que são tidas como verdades absolutas, variam de acordo com a região
que você se encontra. É como se uma pessoa que segue o cristianismo no Brasil só o faz
porque nasceu nessa região e nessa época específica. Haja visto que não existiam nativos
cristãos antes da invasão portuguesa.

Imagine que você nasceu na Birmânia, a chance de você ser budista é muito maior que a
chance de você ter alguma religião. Isso pode valer para diversos outros exemplos além da
religião, como seu time de futebol. Um palmeirense dificilmente torceria para esse time se
morasse no Rio de Janeiro, por exemplo.

Daí a importância da Filosofia. Voltaire acreditava que ela seria a responsável por
desenvolver uma metodologia capaz de se aproximar mais do que poderia a ser uma
verdade, pois acreditava que a verdade até poderia existir, entretanto não temos os meios
para alcançá-la.

Figura 5. Tirinha retratando uma conversa entre Voltaire e Deus.

Filosofia e Revolução
O discurso de Voltaire sempre vinha acompanhado dessa história de não termos certezas
sobre as coisas e de que não existem verdades absolutas. Dentre outras coisas, esse discurso
tinha como propósito desafiar a Monarquia francesa e a Igreja Católica, visto que o discurso
religioso se pauta em dogmas. Ou seja, é fundamentado em verdades absolutas e
irrefutáveis.

Isso também vale para a Monarquia Absolutista francesa. Lembra-se do rei Luís XIV? Ele
reinou de 1643 até 1715, foi batizado como Louis-Dieudonné, algo como “Luís, o presente de
Deus”. Nota-se aí que a Monarquia e a Igreja estavam fortemente ligadas, e compartilhavam
de uma estrutura narrativa bem semelhante. O que deve ter facilitado a vida de Voltaire na
hora de criticá-los.

As sátiras

Deixando o rei Sol de lado por um instante, quando Voltaire afirmava que a certeza é algo
mais agradável ao ser humano do que a dúvida, ele provoca seus interlocutores a questionar
as declarações do Estado.

Pois, em suas sátiras, ele argumentava a favor de pensarmos por nós mesmos. Esse talvez
seja o princípio mais importante do Iluminismo, sendo reproduzido de diversas maneiras e
por diversos autores, como por exemplo Immanuel Kant em sua famosa máxima: Sapere
Aude!

Figura 6. Retrato de Immanuel Kant * Sapere Aude é uma máxima que vem do latim e em uma
tradução livre é algo como “Ouse Saber”, o filosofo Immanuel Kant sem seu famoso opúsculo
“Resposta à Pergunta o que é Esclarecimento” escreveu essa máxima ao propagar suas ideias e
defender o Iluminismo.

Por fim, Voltaire tinha um viés político bastante libertário, assim como, era característico da
época, pregava a necessidade de se duvidar das coisas, dizia que a dúvida não é condição
agradável, mas a certeza é absurda.
Com isso, fazia sua militância e embasando um movimento de resistência contra a opressão
do absolutismo e da igreja que culminou na Revolução Francesa, deflagrada 11 anos após
sua morte.

Resumo sobre Voltaire

Para finalizar a sua revisão e estudar um pouquinho mais sobre Voltaire, veja essa videoaula
do canal Parabólica:

Exercícios

1) (UFF 2010)
O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos
grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a
importância de manter acesa a chama da razão:

“Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças da
hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos
devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-
á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote
onde a inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que
a verdade não deve mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos
do alimento com medo de sermos envenenados”.

Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire.

(A) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um risco
desnecessário.

(B) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os seres
humanos.

(C) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem para
enfrentar o obscurantismo e o fanatismo.

(D) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não precisa mais
estar alerta.

(E) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo.

2) (UFPR 2010)
A respeito do iluminismo, movimento filosófico que se difundiu pela Europa ao longo do
século XVIII, considere as seguintes afirmativas:

Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, Voltaire e Diderot, foram leitores,
admiradores e divulgadores da filosofia política produzida pelos ingleses, como John Locke
com sua crítica ao absolutismo.
Quanto à organização do Estado, os filósofos iluministas não eram contra a monarquia, mas
contra as ideias de que o poder monárquico fora constituído pelo direito divino e de que ele
não poderia ser submetido a nenhum freio.

A descoberta da perspectiva e a valorização de temas religiosos marcaram as expressões


artísticas durante o iluminismo.

Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu grande impulso das descobertas marítimas.

Assinale a alternativa correta.

(A) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.

(B) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

(C) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

(D) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

(E) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

3)
“É proibido matar e, portanto, todos os assassinos são punidos, a não ser que o façam em
larga escala e ao som das trombetas.”

“Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o direito
de dizê-la.”

As frases acima são exemplos de um dos filósofos iluministas mais conhecidos, caracterizado
por frases sarcásticas e irreverentes. Quem é o autor das frases?

(A) Montesquieu.

(B) John Locke.

(C) Voltaire.

(D) Descartes.

(E) Rousseau.

Gabarito

1.C, 2. B, 3. D.
O que é idealismo alemão e o que tem a ver com Kant
O idealismo alemão pode ser descrito como um conjunto de teorias a respeito da realidade
fundamental das coisas e surgiu a partir das ideias de Kant no século XVIII.
Após o Iluminismo, novas ideias surgiram para debater os problemas levantados no século
das luzes. O idealismo alemão, uma corrente muito importante para filosofia, também surgiu
assim. Venha acompanhar o que ocorreu com a filosofia após as teorias de Immanuel Kant.

Movimento pós-kantiano
Na Alemanha, entre o final do século XVIII e o século XIX, houve a ascensão de uma corrente
filosófica fortemente embasada nas discussões propostas por Immanuel Kant (1724-1804).
Kant foi um filósofo iluminista responsável por obras geniais como a “Crítica da Razão Pura”
e a “Metafísica dos Costumes”.

Esse movimento pós-kantiano ficou conhecido como idealismo alemão e foi considerado
umas das inclinações filosóficas mais influentes dentro da história da filosofia. Tudo isso por
conta do meu camarada lá de Königsberg, Immanuel Kant, que se dedicou a resolver alguns
problemas hercúleos da Filosofia.

Talvez a “treta” mais famosa que Kant veio a apaziguar foi no campo da teoria do
conhecimento. O prussiano conseguiu uma saída de mestre para uma discussão que datava
da Antiguidade a respeito dos limites do nosso conhecimento. Ele, em uma espécie de
coalescência de ideias, aproximou duas linhas de pensamento antagônicas –
o racionalismo e o empirismo – e criou uma síntese entre elas.

Além dessa façanha, houve inúmeras outras. Alguns exemplos são a discussão sobre a razão
prática, as coisas em si e os fenômenos, o “rolê” sobre sujeito e objeto, além é claro, da
discussão sobre a ética.

Figura 1: Retrato de Immanuel Kant.

A influência de Kant e do Iluminismo

O idealismo alemão pode ser descrito, de maneira bem geral, como um conjunto de teorias
a respeito da realidade fundamental das coisas. Podemos entendê-lo a partir dos
desdobramentos causados pelas três críticas. Essas obras geraram uma tremenda reviravolta
na maneira de se enxergar a realidade. Aliás, para entender o idealismo alemão é
interessante entender um pouquinho do criticismo de Kant.

Ao analisarmos a ideia do que é uma crítica, fica mais fácil entender o que estava “rolando”
na época. Kant viveu durante o Iluminismo, quando a liberdade se tornou um valor capital
para filosofia. A partir disso, podemos entender a concepção de uma crítica como algo
vinculado à liberdade, visto que você é livre para criticar as coisas. Ou seja, crítica é a
capacidade do indivíduo de questionar a realidade a sua volta sem os grilhões da opressão,
em especial do Estado e da Igreja.

As críticas de Kant
Saca só: a “Crítica da Razão Pura” pode ser entendida como um questionamento sobre o
conhecimento. Já a “Crítica da Razão Prática” pode ser entendida como um questionamento
da moral. E, por fim, a “Crítica do Juízo” pode ser entendida como um questionamento da
estética. Juntas, essas três obras de Kant são uma declaração da liberdade do indivíduo,
liberdade esta que era o “trend topic” do Iluminismo.

As ideias de Kant e o movimento iluminista forjam um indivíduo capaz de traçar o próprio


caminho, uma pessoa que é senhora de seu próprio destino. Configura-se, assim, uma
realidade que deixou de ser estática e passou a ser estruturada na mudança. O maior
exemplo disso talvez seja a Revolução Francesa, que transformou radicalmente a realidade
da época.

Figura 2: Retrato dos filósofos idealistas, Kant, Fichte, Schelling e Hegel. Não é exagero dizer que tudo
que a filosofia produziu desde então, dedicou algum momento para realizar um diálogo (meio que
um acerto de contas) com o idealismo. Esse movimento influenciou a ideia alemã de Estado, as
teorias de Karl Marx sobre o comunismo e até mesmo o fascismo.

Bom, essa revolução copernicana causada pelas ideias de Kant, especialmente aquelas da
primeira Crítica, inspiraram filósofos como Fichte (1762 – 1814) e Schelling (1775 – 1854) a
conceberem suas teorias pautadas a partir das ideias kantianas, transformando Immanuel
Kant em um marco para a filosofia moderna. Essa discussão foi avançando dentro da
Alemanha, tornando-se destaque nas universidades e tendo como seu ápice as teorias do
filósofo Georg Hegel (1770 – 831).

A influência do idealismo alemão

O legado de Kant, embora formidável, deixou algumas questões em aberto e, como o


próprio corpus kantiano pressupõe, gerou uma nova gama de problemas. Os filósofos que
vieram depois de Kant fizeram uma espécie de crítica das críticas, o que evidencia novos
desafios. Um exemplo é a distância existente nas obras de Kant entre o conhecimento
teórico e a prática da ação.

Figura 3: Retrato de Johann Gottlieb Fichte. Ele é um exemplo de filósofo que tentou pensar a razão
unificada, retomando as teorias kantianas. Fichte desenvolveu um sistema que visava a aproximar a
teoria da prática.

O pensamento alemão, com a ascensão do idealismo, em um primeiro momento buscou


uma continuação das ideias iluminista, algumas vezes pensando na razão de maneira até
mais radical. Todavia, com o surgimento de novos nomes da filosofia, o idealismo passou a
pensar a razão de maneira mais diversificada.

Com o idealismo, a razão passou por um movimento de expansão. A compreensão do


racional passou a ser explorada por novas formas de pensamento que haviam se tornado
populares na época, como, por exemplo o Romantismo. Assim, longe de ser apenas uma
corrente filosófica conduzida por alguns poucos filósofos, o idealismo é o espírito de uma
época.

Enquanto espírito de uma época, as concepções das ideias idealistas vão para além da
filosofia. Áreas como a literatura e música, sofreram grande influência do idealismo e
acabaram gerando grandes artistas como Goethe e Mozart, ao passo que o próprio
idealismo é composto desses mesmos nomes. Assim, deu-se um movimento simbiôntico
entre a filosofia e as demais áreas.

Por fim, o idealismo alemão, embora não denominado assim pelos filósofos que o compõe,
foi um movimento que acabou moldando o pensamento ocidental, dando precedente aos
pensadores da modernidade que seguiram problematizando as questões fundamentais a
vida humana.

Exercícios sobre o idealismo alemão

Agora é com você! Resolva as questões abaixo e teste seus conhecimentos sobre o idealismo
alemão.

1- (Ueg 2010)
Hegel, prosseguindo na árdua tarefa de unificar o dualismo de Kant, substituiu o eu de Fichte
e o absoluto de Schelling por outra entidade: a ideia. A ideia, para Hegel, deve ser submetida
necessariamente a um processo de evolução dialética, regido pela marcha triádica da

a) experiência, juízo e raciocínio.

b) realidade, crítica e conclusão.

c) matéria, forma e reflexão.

d) tese, antítese e síntese.

2- (Enem 2012)
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A
menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro
indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra
na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a
direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha,
continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.

KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).

Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do


contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant,
representa

a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.

b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.

c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma.

d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.


e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão.

Gabarito

1. D
2. A

O materialismo dialético de Marx


O ser humano é um ser material, formado a partir do trabalho. Veja esta revisão que
preparamos para você e fique por dentro do que cai no Enem sobre Marx.

Materialismo dialético é a concepção filosófica elaborada por Karl Marx e utilizada pelo
Partido marxista-leninista. Chama-se materialismo dialético, porque o seu modo de abordar
os fenômenos da natureza, seu método de estudar esses fenômenos e de concebê-los, é
dialético.

Já sua interpretação dos fenômenos da natureza, seu modo de focalizá-los, sua teoria, é
materialista, baseia-se em fatos. O materialismo histórico, portanto, é a aplicação dos
princípios do materialismo dialético ao estudo da vida social, aos fenômenos da vida da
sociedade, ao estudo desta e de sua história.

A palavra dialética vem do grego “dialegos”, que quer dizer diálogo ou polêmica. Os antigos
entendiam por dialética a arte de descobrir a verdade evidenciando as contradições
implícitas na argumentação do adversário e superando essas contradições. Alguns filósofos
da antiguidade entendiam que o descobrimento das contradições no processo discursivo e o
choque das opiniões contrapostas era o melhor meio para encontrar a verdade.

Mas, em cada modo de produção, a consciência dos homens sempre se transforma e essa
transformação depende exclusivamente das condições materiais de produção. Isso porque
não são as ideias que movem a História, ao contrário, são as condições históricas que as
produzem.

O materialismo explica que são as condições materiais de existência (as relações sociais de
produção) que determinam o modo de ser e a pensar de cada um. Porém, esse modo é
histórico, já que a sociedade e a política não surgem da ação da natureza, mas da ação
concreta dos seres humanos no tempo.

Para Marx, a História não é um processo linear e contínuo, uma sequência de causas e
efeitos. Mas, sim, um processo de transformações sociais determinadas pelas contradições
entre os meios de produção (as formas de propriedade) e as forças produtivas (o trabalho,
seus instrumentos, as técnicas).

A ideologia ou o modo dominante de produção de ideias de uma época, segundo Marx, seria
um fenômeno social que tem origem no modo de produção econômico, acabando por
exprimir a divisão social do trabalho de cada época. A Ideologia entretanto, surge à partir de
um momento histórico específico, quando acontece a divisão entre dois tipos de trabalho: o
material (a produção de coisas) e o intelectual (a produção de ideias).

A partir daí, aqueles que produzem as ideias (a classe dominante), passam a construir um
discurso (ideologia) que justifica a dominação como uma relação social “natural”. Dessa
maneira, conseguiriam garantir sua hegemonia através da ocultação da exploração do
trabalho dos dominados, vista como uma relação igualitária e não de exploração (alienação).

Para Marx, as classes dominadas, alienadas pelo discurso dominante, mantêm-se exploradas
acreditando que esse processo é um fenômeno normal. Aceitam que a desigualdade pode
ser justificada como sendo incapacidade e inabilidade de alguns de ascenderem socialmente.
Assim, a classe dominante opera sua dominação de classe usufruindo das benesses que a
divisão social e o trabalho explorado propiciam.

Das sociedades classistas e desiguais que Marx estudou, o autor focalizou a sociedade
contemporânea e capitalista. Ele afirma que de todas as classes sociais que enfrentam a
burguesia – classe dominante do período, somente o proletariado é revolucionário, porque
traz em si o potencial de transformação social por possuir o gérmen de novas relações de
produção. Sua emancipação significaria portanto a libertação humana e a abolição das
classes e de todas as formas de alienação, exploração e dominação.

Marx propunha o fim do capitalismo e de sua desigualdade. Defendia uma nova sociedade,
instaurada pelo proletariado, que acabaria com a divisão social do trabalho e com a relação
de dominadores e dominados. Isto seria possível através da crítica à ideologia burguesa, que
só poderia ser feita, após sua desmistificação enquanto inversão da realidade.

Para substituir o capitalismo por uma sociedade igualitária pela via revolucionária, Marx
previu o comunismo, etapa superior do socialismo. Neste ideal efetivamente as forças
produtivas desenvolveriam-se de tal forma, que os homens e mulheres desta nova
sociedade poderiam obter os bens necessários para sua sobrevida de um fundo de recursos
comuns.

Dessa maneira, cada um poderia dispor de lazer e energia suficientes para desenvolverem
sua personalidade com respeito e dignidade, sem a exploração do trabalho humano.

A alienação do trabalho e o comunismo para Karl Marx


A alienação do trabalho ocorre quando os bens produzidos
deixam de pertencer a quem os confeccionou e passam a
pertencer a quem comprou a força de trabalho.
Na Alemanha, lá nos idos do século XIX, um jovem filósofo revolucionário chamado Karl
Marx (1818-1883) alegava ter solucionado um grande problema do seu tempo. Ao fazer uma
análise ímpar do sistema capitalista, meu camarada Carlão (Marx) expôs a alienação do
trabalho ao passo que desenvolvia uma fantástica análise histórica do mundo.

Figura 1: Karl Marx foi um filósofo revolucionário nascido 1818, mas também se tornou historiador,
jornalista, sociólogo e economista.

O conceito de trabalho
A investigação de Marx começou na análise dos diferentes sistemas econômicos e sua
relação com trabalho. De acordo com Marx, o trabalho é algo em constante mudança e que
possui uma relação direta com o bem-estar e a satisfação humana.

Por isso, para compreendermos a teoria marxista, é necessário pensar no trabalho como
algo que impacta diretamente a vida do trabalhador da forma mais ampla possível.

Ora, segundo Marx, o trabalho é algo que gera uma sensação de satisfação, como se rolasse
uma espécie de bem-estar eufórico quando a gente trabalha. A princípio, a maioria das
pessoas relutam em concordar com tal afirmação. Algumas inclusive se revoltariam, pois
enxergariam um absurdo aí.

Como disse certa vez meu camarada Charles Bukowski (1920-2004):

“Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6:30 da manhã, por um
despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se a força, defecar, mijar, escovar os dentes e
os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é
encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar
gratidão por receber essa oportunidade?”
Figura 2: Foto de Charles Bukowski, que foi um poeta, contista e romancista nascido na Alemanha.

A satisfação do trabalho
Bem, sentir prazer em trabalhar certamente é um despautério para Bukowski e muitas
outras pessoas nesse mundão. Mas “saca só, Marx acreditava que quando nos dedicamos a
criação de algo, colocando nossa força de trabalho na confecção ou transformação de algo
em um produto, este produto é a materialização do nosso esforço.

Em outras palavras, quando tentamos construir algo, como esse texto, por exemplo, temos
uma relação direta com os frutos do nosso esforço. À medida em que o objeto, fruto do
nosso esforço, vai se moldando, torna-se possível vislumbrarmos nossa criação. Para Marx,
isso gera uma sensação de satisfação, uma vez que consigo realizar minha vontade ao
construir algo.

A alienação do trabalho

Todavia, a problemática em torno do trabalho vai se dar com o surgimento do capitalismo.


Na visão de Marx, o sistema capitalista transforma o trabalho em uma mercadoria. Isso
porque o capitalismo separa a sociedade em grupos de pessoas que detém capital e aqueles
que só possuem a força de trabalho.

Dessa forma, os trabalhadores se veem obrigados a vender sua força de trabalho – como
forma de subsistência – aos detentores do capital. Estes, por sua vez, conseguem obter lucro
por meio da venda dos bens de consumo que obtiveram com a exploração dos
trabalhadores.

Essa mercantilização do trabalho, dentre outras coisas, acaba por alienar os trabalhadores
daquilo que produzem. Isso ocorre porque os bens produzidos deixam de pertencer a quem
os confeccionou e passam a pertencer a quem comprou a força de trabalho. O que, por sua
vez, gera um sentimento de insatisfação no trabalhador.

Como funciona a alienação do trabalho


“Saca só”, imagine que você é um fabricante de algum objeto cotidiano, algo como um sabre
de luz, aquela espada laser da franquia de Star Wars. Bom, você faz artesanalmente seus
sabres de luz nas mais variadas cores e modelos, seguindo um ritmo que corresponde a sua
demanda.
Figura 3: Recorte de um episódio de Family Guy onde as personagens empunham sabres de luz.

A confecção desses instrumentos passa por árduos processos, alguns até imbuídos de
significados ritualísticos. Com o produto do seu trabalho (o sabre de luz) você pode sair por
aí desbravando a galáxia, bem como, pode vendê-lo. Em todo caso, a maestria da confecção
é corporificação dos seus esforços, o que gera, inclusive, apreço pelas suas distintas
habilidades.

Com o passar do tempo, há uma alteração na relação de trabalho, decorrente da abertura de


uma fábrica que consegue confeccionar o mesmo produto que você. No entanto, devido à
mecanização e a alta rotatividade de mercadorias, a fábrica produz de maneira mais rápida e
mais barata.

Não obstante, a grande quantidade de funcionários faz com que o volume de bens
produzidos na fábrica seja infinitamente maior do que a quantidade que você consegue
produzir, mesmo trabalhando até a exaustão.

A venda da força de trabalho

Privado de sua fonte de renda, já que se tornou inviável a competição pelo mercado de
sabres de luz, você acaba sendo forçado a buscar sua fonte de renda de outra maneira.
Ironicamente, o único lugar que suas distintas habilidades podem ser colocadas em uso é a
fábrica responsável pela sua miséria.

Dessa forma, você acaba vendendo a sua força de trabalho para outrem, que transforma os
bens de consumo produzidos por você em objetos desconectados. Isto é, em bens de
consumo que não possuem uma conexão com quem os fabrica. Dessa maneira, o sabre
produzido por você será de propriedade do dono da fábrica.
Figura 4: Levando em conta a crescente especialização do trabalho, isto é, quando o trabalhador
passa a desempenhar um papel super específico na confecção de um produto, sua satisfação no
trabalho é completamente minada, acirrando a alienação do trabalho, bem como, o conflito de
classes.

Em suma, embora o trabalhador seja capaz de produzir objetos magníficos, o faz para que
outra pessoa desfrute deles. Ao mesmo tempo, ao fazer isso o trabalhador torna-se alienado
da própria produção, gerando para si apenas a angústia da limitação.

A luta de classes

Além da alienação, que acaba por retirar parte da identidade do trabalhador, outra coisa
importantíssima para Marx é a criação de uma nova classe social a partir dessa
mercantilização do trabalho.

Os detentores dos meios de produção, isto é, aqueles que possuem as tecnologias e as


propriedades – privadas – para uma produção competitiva em um mercado voraz, acabam
acumulando uma imensa quantidade de capital. Enquanto isso, os trabalhadores, por não
possuírem os meios de produção, se veem obrigados a vender a sua força de trabalho para
aqueles que são detentores dos meios de produção.

A partir dessa relação, o trabalhador se encontra em uma relação de confronto com quem é
detentor dos produtos originados do seu trabalho, ou seja, aquele que enriquece às custas
do trabalho dos outros.
Figura 5: Um conceito fundamental criado por Marx, a fim de explicar o sistema capitalista, é a mais-
valia – Mehrwert – que consiste na diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma
do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que é a base do lucro no sistema capitalista.

Para Marx, existe aí uma relação meio que simbiôntica entre a propriedade privada e a
alienação do trabalho. “Se liga”: a divisão da sociedade em classes, na qual há certas pessoas
quem detêm os meios de produção e outras pessoas que vendem sua força de trabalho, é a
causa da alienação do trabalho. Tal alienação é a responsável pela manutenção da divisão
em classes, pois enriquece os donos dos meios de produção em detrimento daqueles que
vendem sua força de trabalho.

Essa relação de exploração do trabalhador garante a manutenção do sistema capitalista.


Todavia, Marx também pensou que, havendo a possibilidade de acabar com uma dessas
coisas, seria possível, então, provocar a ruína da outra, visto que estão ligadas.

O comunismo

Diferente de seus antecessores, Marx buscou não apenas interpretar o mundo, mas mudá-
lo, convertendo-o em um lugar onde não houvesse a exploração da classe operária e onde o
bem-estar social seria mais importante que os lucros individuais.

Para isso, teorizou a substituição do capitalismo por um regime cujos valores prezassem o
coletivo em detrimento do individual. Como fervoroso militante, escreveu juntamente com
seu “parça” Friedrich Engels (1820-1895) um pequeno manifesto (o Manifesto Comunista)
no qual explicava um revolucionário sistema que seria a solução para os problemas entre os
seres humanos e quiçá sua relação com a natureza. A esse sistema batizaram de comunismo.

Ora, o comunismo visava restaurar a interação humana que, para Marx, se tornou um meio
de ganho econômico, ou seja, as pessoas se relacionam com as outras visando alguma
vantagem (econômica). Contudo, essa relação não deveria ser assim, pois as pessoas
deveriam se relacionar umas com as outras como finalidade em si mesma e não como meio
de obter vantagens.

Figura 6: O revolucionário cubano Ernesto ‘Chê’ Guevara dizia que: “Não há outra definição de
comunismo válida para nós que a da abolição da exploração do homem pelo homem”.

Para que isso fosse possível, o sistema visionado por Marx, o comunismo, ditava que seria
necessário abolir a propriedade privada, pilar central do sistema capitalista. Desda forma, as
pessoas iriam se associar de maneira mais natural, segundo suas afinidades.

Todavia, a transição do capitalismo para o comunismo é uma das “paradas” mais mal
entendidas da teoria de Marx. Isso porque, ainda que tenha havido ao longo da história
algumas nações autointituladas comunistas, o comunismo de fato nunca se concretizou.
A concretização do comunismo
O que houve na real, foram tentativas de se alcançar o comunismo. Para entender melhor
essa “parada” é preciso falar de um outro conceito, o socialismo. De maneira bem resumida
e simplista, o socialismo é a etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo.

O socialismo seria um sistema com o objetivo de alcançar a igualdade entre as pessoas e


abolir a propriedade privada. Desse modo, a sociedade seria a proprietária dos meios de
produção. Com isso, conseguiríamos desconstruir a alienação do trabalho, que
inevitavelmente culminaria no comunismo.

No entanto, para além da teoria, a coisa é um pouco mais complicada. Podemos citar alguns
países que se inspiraram na teoria de Marx como estudo de caso. Alguns exemplos são a
China, ou mesmo a Rússia, em especial durante o governo de Stalin. Podemos afirmar que
eles não são sequer socialistas, pois seus Estados despóticos firmados sobre um partido
único exercem um poder sobre o povo, criando uma outra luta de classes.

Somente o fim da propriedade privada (incluindo a propriedade do Estado) levaria,


inevitavelmente, ao fim da alienação do trabalho. Isso, somado às relações mais
humanizadas entre as pessoas, criaria um mundo em que seria possível a produção de bens
de consumo que satisfizessem a todos e não somente a uma elite dominante.

Por fim, embora tenha morrido na pobreza, as ideias de Karl Marx influenciaram de maneira
sem igual os desdobramentos históricos que o sucederam. As mais renomadas academias
discutem ainda hoje suas obras. Elas  servem de base para novas teorias e diversos outros
espíritos revolucionários que não se conformam com as injustiças desse mundão.

Videoaula

Saiba mais sobre o pensamento de Marx com esta aula do professor Alan no nosso canal do
YouTube:

Exercícios

1- (UNESP SP/2016)
A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da
riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital; a condição de
existência do capital é o trabalho assalariado. […] O desenvolvimento da grande indústria
socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação
dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória
do proletariado são igualmente inevitáveis.

(Karl Marx e Friedrich Engels. “Manifesto Comunista”. Obras escolhidas, vol. 1, s/d.)

Entre as características do pensamento marxista, é correto citar

(A) A caracterização da sociedade capitalista como jurídica e socialmente igualitária.

(B) O princípio de que a história é movida pela luta de classes e a defesa da revolução
proletária.
(C) A celebração do triunfo da revolução proletária europeia e o desconsolo perante o
avanço imperialista.

(D) O temor perante a ascensão da burguesia e o apoio à internacionalização do modelo


soviético.

(E) O reconhecimento da importância do trabalho da burguesia na construção de uma


ordem socialmente justa.

2- (UEG GO/2013)
Em sua 11.ª tese sobre Feuerbach, Karl Marx (1818-1883) afirma que “Os Filósofos até hoje
interpretaram o mundo, cabe agora transformá-lo”. Muitos marxistas interpretaram mal a
frase de Marx e abandonaram livros, teoria e partiram para a prática, negligenciando o
significado da noção de práxis em Marx. Nesse sentido, tem-se que

(A) A tese marxista estimulava a prática e não a teoria, já que a ideia de práxis privilegia o
fazer em detrimento do pensar, o que levaria à condenação da filosofia como teoria pura.

(B) A noção de práxis em Marx exige que a filosofia sempre permaneça nos limites do
conhecimento teórico, pois a práxis humana deve ser conduzida por peritos técnicos e não
por filósofos.

(C) A tese marxista criticava a filosofia por não favorecer uma práxis revolucionária na qual
toda prática suscita a reflexão, que por sua vez vai incidir sobre a prática reorientando uma
ação transformadora.

(D) A ideia de práxis em Marx foi desvirtuada por aqueles que não perceberam que existe
uma ruptura entre teoria e prática, e que o trabalho intelectual deve prevalecer sobre o
trabalho manual.

3- (UFGD MS/2013)
Karl Marx e Friedrich Engels são importantes e destacados autores das teses do socialismo
científico, cuja proposição se baseou

(A) No desenvolvimento e execução de sucessivas reformas em diferentes modelos


econômicos, visando ao aperfeiçoamento do Liberalismo.

(B) Em redefinir o movimento sindical, por considerar que ele estaria ultrapassado após a
Revolução Russa.

(C) No desenvolvimento e execução de sucessivas reformas em diferentes modelos


econômicos, visando ao aperfeiçoamento do Liberalismo.

(D) Na perspectiva de que seria urgente a redução do papel do Estado na economia.

(E) Em apontar e discutir as contradições do capitalismo, a partir da ideia de que seria


necessária a ação revolucionária dos trabalhadores.

Gabarito:
1. B
2. C
3. E

MARCUS
Hegel, Dialética e Idealismo
Vamos embarcar numa jornada rumo a compreensão das ideias de Georg Hegel e ver como
elas inspiraram desde o materialismo de Marx e o existencialismo de Sartre até as questões
do Enem.

Talvez um dos mais famosos filósofos do século XIX e um dos grandes nomes da Filosofia no
campo da Metafísica é, sem sombra de dúvida, Georg Hegel. Defensor do monismo, Hegel
era um adepto do Idealismo, teoria filosófica a qual o mundo material só consegue ser
conhecido inteiramente de maneira subjetiva.

Figura 1. Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi um filósofo alemão forçado a deixar a
Universidade de Jena quando a cidade foi invadida por Napoleão Bonaparte. Ele só
conseguiu salvar sua obra A Fenomenologia do Espírito que posteriormente revolucionou a
Filosofia alemã.
A ideia central dentro da Filosofia hegeliana é que as “paradas” que existem no mundo são,
todas elas, aspectos de uma única coisa que se modifica. Isto é, os fenômenos a nossa volta
são concepções distintas de um mesmo espírito que, com o passar do tempo, reintegra essas
concepções em si mesmo.

Um Hegel inspirado

Antes de continuarmos “Hegel a dentro”, faz-se necessário entender de onde é que veio
toda essa história. Bom, a começar por Immanuel Kant, ícone da Filosofia Moderna.

Kant havia proposto, anteriormente a Hegel, uma teoria acerca do mundo conciliando a
visão empirista de David Hume e a visão Racionalista de René Descartes.
Figura 2. Immanuel Kant abordou o Idealismo Transcendental e Georg Hegel o Idealismo,
ambos na área da Metafísica.
Em oposição às ideias de Kant, surgiu o idealismo alemão. Essa abordagem tinha como foco
suplantar a Filosofia kantiana e seu idealismo transcendental.

Embora Hegel reconhecesse os diversos avanços que Kant havia feito ao tentar eliminar toda
ingenuidade filosófica que se destacava até então, seu fracasso estava na sua explicação de
mundo por meio das categorias.

Georg Hegel vai então tentar entender o mundo sem suposições, como o fizera Kant.
Principalmente no que diz respeito a ideia de categorias, uma vez que as categorias
kantianas são exclusivas e por isso não podem derivar-se umas das outras. O pensamento
hegeliano afirmava justamente o contrário, o mundo (as categorias) está sujeito
a mudanças.

Essa discussão já ocorreu há muito tempo, quando dois caras argumentaram a respeito de
tomar banho duas vezes no mesmo rio, mas calma! Não tem nada a ver com quando a gente
começa a cheirar mal. Na realidade, é sobre o rio ser o mesmo ou ter mudado.

A Filosofia hegeliana baseia-se nessa discussão sobre o rio, em especial a ideia de Panta Rei –
tudo flui – que Heráclito defendia. Então, vale super a pena você conferir aqui no Blog nossa
discussão sobre os Filósofos Pré-Socráticos para entender melhor de onde Hegel tirou suas
ideias.

Sendo assim, para Hegel tudo está em constante transformação, todas as coisas do mundo
são sujeitas à mudança, assim como disse Heráclito lá nos meados do século VI a.c. Ora, as
categorias kantianas se baseavam na imutabilidade das coisas. Então, em oposição a isso
Hegel vai propor a Dialética, partindo da premissa de Heráclito de que tudo fui.
Figura 3. O filosofo Pré-Socrático Heráclito é lembrado como o pai da Dialética. Ganhou o
apelido de Obscuro devido a obra Sobre a Natureza que continha um estilo sinistro, tipo dos
oráculos da época.
A Dialética de Hegel

A dialética é um algo meio antigo na filosofia. Ela deu as caras junto com Zenão, filósofo
grego, na famosa Escola de Eléia. Vários foram os filósofos que fizeram uso dessa ferramenta
da Lógica, até o próprio Kant se utilizou desse recurso. Entretanto, Hegel a colocou num
outro patamar ao propor o que hoje chamamos de Dialética hegeliana.

Hegel propõe uma interpretação imanente do mundo, ao contrário de Kant que propôs uma
realidade transcendente. Isto é, quando eu falo em imanente me refiro a algo que possui seu
próprio princípio e fim. Já a interpretação transcendente diz respeito a algo que possui uma
finalidade exterior e superior a ela própria.

Assim sendo, Hegel afirmou que sua interpretação imanente garantiria quatro coisas. A
começar por não supor nada. Segundo, só lhe seria útil aquilo que fosse o mais amplo
possível. Em terceiro lugar disse que as noções gerais dessa interpretação de mundo
imanente geram noções especificas.

Agora, a quarta noção é de longe a mais importante para que você fique fera em Hegel e
mande bem no Enem. A quarta afirmação diz que esse processo acontece inteiramente
dentro dele mesmo.

Isso quer dizer que, toda a tese contém nela própria uma antítese. Esse conflito só será
solucionado a partir de uma superação desse problema, isto é, uma síntese. Portanto, a
contradição entre tese e antítese se torna apenas uma limitação gerada pela falta de
entendimento do problema original.

O filósofo alemão utiliza um exemplo muito bom para explicar isso. Veja:

Para Hegel o conceito de Ser – denotando tudo que existe – contém a antítese do Não Ser –
denotando aquilo que não existe. Embora contrários, eles são dois aspectos de um mesmo
conceito melhor aprimorado.

O conceito síntese que soluciona essa problemática, quase shakespeariana, entre o ser e o
não ser é o conceito de vir a ser. Pois, quando afirmamos que algo vem a ser, dizemos que
ela se move de uma condição de não ser para uma condição de ser!
Figura 4. A Dialética de Hegel mostra como conceitos opostos obtêm a resolução.
Ora, o conceito de Ser não era um conceito exclusivo (e imóvel), era somente uma das três
partes que compõe o conceito de vir a ser. À vista disso, o conceito de vir a ser não é um
conceito alienígena, ou seja, um conceito que vem de fora. Pelo contrário, para resolver a
questão do ser e do não ser devemos entender que tornar-se foi sempre o significado da
contradição entre o ser e o não ser.

Esse exemplo que Hegel utilizou no qual a tese (ser) e sua antítese (não ser) geraram uma
síntese (vir a ser) marca o princípio do processo que é a Dialética. Essa “parada” se repete
numa espiral de conceitos cada vez mais refinada pois cada síntese é uma nova tese que por
consequência tem sua antítese e gera uma nova síntese.

Por fim, ao defender a ideia de que conhecemos o mundo a partir da Dialética, Hegel afirma
que as estruturas do pensamento são mutáveis e não irredutíveis como afirmava Kant.
Dessas estruturas surgem novas estruturas, cada vez mais refinadas num movimento lógico
de teses e antíteses. Essas ideias acabaram inspirando uma gama de pensadores como Karl
Marx em 1846 e Jean-Paul Sartre em 1943.

Veja nossa aula sobre Hegel e estude mais para o Enem!

Bom, agora é com você, é hora de testar seus conhecimentos com as questões a seguir.

1) (Ueg 2010) Hegel, prosseguindo na árdua tarefa de unificar o dualismo de Kant, substituiu


o eu de Fichte e o absoluto de Schelling por outra entidade: a ideia. A ideia, para Hegel, deve
ser submetida necessariamente a um processo de evolução dialética, regido pela marcha
triádica da

(A) experiência, juízo e raciocínio.


(B) realidade, crítica e conclusão.
(C) matéria, forma e reflexão.
(D) tese, antítese e síntese.
2) (Ufu 2013) A dialética de Hegel

(A) envolve duas etapas, formadas por opostos encontrados na natureza (dia-noite, claro-
escuro, frio-calor).

(B) é incapaz de explicar o movimento e a mudança verificados tanto no mundo quanto no


pensamento.

(C) é interna nas coisas objetivas, que só podem crescer e perecer em virtude de
contradições presentes nelas.

(D) é um método (procedimento) a ser aplicado ao objeto de estudo do pesquisador.

3) (Ufu 2012) O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o
refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se
como sua verdade em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se
repelem como incompatíveis entre si […].

HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1988.

Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto acima, assinale a alternativa correta
segundo a filosofia de Hegel.

(A) A essência do real é a contradição sem interrupção ou o choque permanente dos


contrários.

(B) As contradições são momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem,


todos são igualmente necessários.

(C) O universo social é o dos conflitos e das guerras sem fim, não havendo, por isso, a
possibilidade de uma vida ética.

(D) Hegel combateu a concepção cristã da história ao destituí-la de qualquer finalidade


benevolente.

GABARITO

1.D, 2. C, 3. B.

 
Filosofia contemporânea – Filosofia Enem
Revise os acontecimentos históricos que influenciaram a
filosofia contemporânea e as principais correntes filosóficas
da atualidade.
A filosofia contemporânea tem seu início no século XIX e se estende até os dias atuais.  Na
primeira parte deste post você vai revisar alguns acontecimentos históricos que acabaram
influenciando não só no contexto social, mas também no campo filosófico. Já na segunda
parte você vai estudar as principais correntes filosóficas contemporâneas.

Influências da filosofia contemporânea

Um acontecimento histórico que marca essa passagem da Idade Moderna para a Idade
Contemporânea é a Revolução Francesa (1789 – 1799) e junto com ela nasceram os ideais de
liberdade, igualdade e fraternidade.

Tudo isto culmina em um entusiasmo, em um certo progresso da humanidade e na defesa


da ciência como a principal condutora desse caminho, ou seja, passando a acreditar
totalmente no saber cientifico e na tecnologia para controlar a Natureza, a sociedade e os
indivíduos.

A expansão do progresso técnico científico e a consolidação do capitalismo trouxeram


consigo novas formas de exploração do trabalho humano.

Começou-se a questionar, portanto, até que ponto os avanços da ciência e da


industrialização tornaram os serem humanos mais felizes. Dentro desse contexto e buscando
uma resposta a esta pergunta, surgem as correntes socialistas e suas lutas.

Ainda dentro desse cenário, surge também, um movimento cultural


chamado Romantismo. Este movimento foi uma reação ao espírito racionalista, que
pretendia abraçar o mundo e orientar a sociedade.

Na passagem do século XIX para o século XX com a criação da Psicanálise de Freud e a teoria
da psicologia do inconsciente muitos pensadores começaram a ter dúvidas sobre a total
confiança da razão sobre os assuntos humanos.

Nesse mesmo tempo surge a Teoria da Relatividade de Einstein e, um tempo mais tarde,
Heisenberg cria o princípio da incerteza, lançando, portanto, uma progressiva mudança nos
paradigmas da ciência.

Não podemos deixar de ressaltar também que neste período tivemos duas guerras mundiais
que destruíram muitas famílias, vilas, cidades e países. Ao término destas guerras surge o
contraste da tecnologia. Dá-se início a grandes invenções como os telescópios que exploram
os confins do universo, naves espaciais, engenharia genética e a tecnologia da informação e
diversão.

Em contrapartida, a tecnologia também trouxe uma corrida para o armamento juntamente


com o medo de uma destruição atômica. E, como alguns teóricos já alertavam, a tecnologia
não contribuiu grandemente para diminuir as crescentes desigualdades sociais.

A partir destes fatos históricos já começamos a perceber que a total confiança na razão que
surgiu no período moderno começa a entrar em crise. Surge, portanto, uma mentalidade
menos arrogante quanto aos benefícios infalíveis da racionalidade científica.

Na Filosofia Contemporânea, passou-se a perceber que tanto a ciência, quanto a tecnologia


contribuíram para a destruição dos valores éticos.
Correntes da filosofia contemporânea

Em reação a isso tudo surgem correntes filosóficas que procuraram voltar a pensar o próprio
ser humano num todo e não somente na razão.  Vamos conhecer, de maneira geral, as
principais correntes surgidas nessa época.

 Existencialismo

Tem como ponto de partida a própria existência humana e é a partir da existência que
formulam suas reflexões. Em suma, “existir” para essa corrente, nada mais é que a relação
consigo mesmo, com os outros seres humanos, com a cultura e com a natureza.

Os principais autores da corrente existencialista foram Albert Camus, Jean Paul Sartre,
Simone de Beauvoir, Martin Heidegger e Soren Kierkegaard.

 Escola de Frankfurt

É um nome dado a um grupo de pensadores alemães de Instituto de Pesquisa Social de


Frankfurt, fundado na década de 1920.

A produção desse grupo ficou conhecida como “Teoria crítica da sociedade como um todo”.
Os pontos de partida para as reflexões foram as teorias marxistas, freudianas e também
tiveram influência da Hegel, Kant e de Max Weber.

Os autores mais destacados da Escola de Frankfurt foram Theodor Adorno, Jürgen


Habermas, Herbert Marcuse, Walter Benjamin e Max Horkheimer.

 Filosofia Pós-Moderna

Esse termo é aplicado a um grupo de intelectuais que apresentam como ponto de partida
uma crítica ao projeto da modernidade, ou seja, a emancipação humana-social por meio do
desenvolvimento da razão.

Eles têm como ponto de partida para a reflexão os desastres sociais e ambientais como a
miséria, desigualdade social, guerras, países economicamente destruídos.

Veja na imagem abaixo os principais autores pós-modernos e as teorias de cada um.


Fonte: https://www.slideshare.net/victorfranca1
A filosofia contemporânea tem como ponto de partida uma reação a total confiança na
razão como meio de emancipação do ser humano e da sociedade. Diante de tantos
problemas surgidos na época anterior, surgiram correntes filosóficas que buscaram no
próprio ser humano e no seu contexto o meio para as reflexões filosóficas.

Questões sobre filosofia contemporânea

1. Instituto Federal de Educação – PI – 2011


Uma marca da desconfiança da filosofia para com o otimismo cientificista foi o aparecimento
da noção de razão instrumental, formulada pelos teóricos da Escola de Frankfurt. Sobre
razão instrumental é possível afirmar:
A) Refere-se aos instrumentos usados pela razão para encontrar as explicações mágicas do
mundo.
B) Trata-se do exercício da racionalidade científica, que tem por empresa o domínio da
natureza para fins lucrativos e coloca a técnica e a ciência em função do capital.
C) Corresponde à maneira através da qual os filósofos Adorno, Horkheimer e Marcuse
descreveram a racionalidade ocidental como instrumentalização da emoção.
D) Defende as ideias de progresso técnico e neutralidade científica como elementos que
resguardam a positividade da ciência.
E) Os filósofos da Escola de Frankfurt afirmam que a razão instrumental reflete sobre as
contradições e os conflitos políticos e sociais, fato que fez com que eles ficassem conhecidos
como os filósofos da Teoria Crítica.

2. Instituto Federal de Educação – PI – 2011


Assinale a alternativa que NÃO corresponde aos fundamentos da ciência contemporânea:
A) Noção de método como conjunto de regras, normas e procedimentos gerais, a fim de
definir o objeto e para a orientação do pensamento durante a investigação e,
posteriormente, para a confirmação ou refutação dos resultados encontrados.
B) As leis científicas definem seus objetos conforme sistemas complexos de relações
necessárias de causalidade, complementaridade, inclusão e exclusão, objetivando o caráter
necessário do objeto e o afastamento do contingencial.
C) Distinção entre sujeito e objeto do conhecimento, que permite estabelecer a ideia de
subjetividade, isto é, de dependência dos fenômenos em relação ao sujeito que conhece e
age.
D) A ideia de método pressupõe a adequação do pensamento a certos princípios lógicos
universalmente válidos, dos quais dependem o conhecimento da verdade e a exclusão do
falso.
E) O objeto científico é submetido à análise e à síntese, que descrevem fatos verificados ou
constroem a própria objetividade como um campo de relações internas necessárias, isto é,
uma estrutura que pode ser conhecida em seus elementos, propriedades, funções e formas
de permanência ou de mudança.

3. (UFMT-2012) A um determinado conjunto de práticas, ideias e pesquisas sociais durante


o século XX convencionou-se chamar de Escola de Frankfurt. A respeito do que fizeram e
produziram seus principais autores, é correto afirmar:
a) Inspirados nos ideais iluministas, criaram conceitos como os de alienação,
reprodutibilidade técnica, indústria cultural e teoria da cultura; com base na leitura de
autores neopositivistas como Karnap e Schlick, ao mesmo tempo faziam a proposta de
revisão crítica do marxismo.
b) Inspirados nos ideais do Iluminismo – ainda, segundo eles, não totalmente realizados –
criaram conceitos como o de indústria cultural; partindo da leitura da obra de autores como
Kant e Schopenhauer, criticaram o neopositivismo e procederam à releitura crítica do
marxismo.
c) Inspirados pela releitura de Kant – revisão do Iluminismo numa nova forma – e pelas
leituras de Schopenhauer e Nietzsche, criaram conceitos como os de teoria crítica e de
alienação; partiram da ideia de cultura de massa criticando a evidente oposição entre
marxistas e neomarxistas.
d) Criaram conceitos como o de cultura de massa, reprodutibilidade social e teoria social,
partindo de uma revisão crítica da obra de neopositivistas como Ernest Bloch e outros;
baseados nos percalços da Revolução Russa, criticaram tanto posturas neopositivistas
quanto neomarxistas.

4. (UFV) Sobre a chamada Revolução Científica, marque a afirmativa INCORRETA:


a) A lei da gravitação universal foi formulada por Newton, a partir da teoria heliocêntrica e
da teoria do movimento dos astros.
b) O método da observação e da experimentação, aliado a razão matemática, contribuiu
para o desenvolvimento das ciências modernas.
c) A Revolução Científica foi um movimento de legitimação do poder absoluto monárquico e
de aumento do poder eclesiástico.
d) As novas descobertas científicas possibilitaram as grandes navegações e a ascensão da
burguesia.
e) As ideias racionalistas de Descartes e a física newtoniana influenciaram o pensamento
iluminista do século XVIII.

5. Sobre a Filosofia Contemporânea, quais correntes filosóficas NÃO correspondem a esse


período?
a) Idealismo de Hegel; Positivismo de Comte.
b) Racionalismo Cartesiano; Empirismo de Francis Bacon.
c) Pragmatismo de Charles S. Peirce; Neokantismo de Hermann Cohen.
d) Fenomenologia de Husserl; Martin Haidegger.
e) Marxismo de Gramsci; Estruturalismo de Claude Lévi-Strauss.

6. (FUNCAB 2012) Reunidos na Escola de Frankfurt, filósofos alemães (Adorno, Marcuse,


Horkheimer) descreveram a racionalidade ocidental como instrumentalização da razão. A
ideia de razão instrumental pressupõe uma:
A) transformação de uma ciência em ideologia cientificista.
B) análise neutra e imparcial da natureza e da sociedade.
C) forma de acesso aos conhecimentos verdadeiros.
D) ciência transparente e desmistificada.
E) aplicação de novos saberes e descobertas ao progresso material.

Respostas: 1: b; 2: c; 3: b; 4: c; 5: b; 6: a

 
Niilismo: significado, origem, características e principais filósofos
O Niilismo é uma corrente filosófica que teve origem no século XVIII, e que defende que a
existência não tem sentido além daquele que atribuímos a ela.
O Niilismo é uma “parada” que surgiu nos meados do século XVIII, quando o Idealismo
Alemão era acusado de ser niilista. Isso ocorreu porque as teorias do filósofo Immanuel Kant
desestruturaram os alicerces intelectuais da época de tal maneira que os paradigmas
vigentes acabaram por ruir.

O nada e a quebra de paradigmas

Com a publicação da obra de Immanuel Kant (1724 – 1804), A Crítica da Razão Pura, vários
dos debates que a precederam tornaram-se obsoletos, visto que eram apoiados no que
denominamos Metafísica Clássica – ou a “parada” que Kant refutou. A Metafísica Clássica
foi, durante um bom tempo, a principal ferramenta da Filosofia para desvelar o mundo que
nos cerca.

Tirou-se então o foco do ‘o que é?’ e entraram em cena perguntas acerca dos limites daquilo
que podemos conhecer. Em outras palavras, não adianta querer saber a realidade última das
coisas se antes não soubermos se essa realidade pode ser conhecida por nós.

Entretanto, vos pergunto: o que “diachos” é o nada? “Se liga” na “treta”: para respondermos
isso, é preciso atribuir algum valor ao nada e, consequentemente, transformar o nada em
algo!

Zeus do céu! Então como afirmar que existe o nada? Ao que parece, é impossível
concebermos a ideia de nada, pois não dá para falar que ele é algo, já que assim ele deixa de
ser nada e se converte em algo.

Contexto do Niilismo

É por isso que Kant, embora não seja um niilista, é uma figura necessária para compreensão
do Niilismo. Ora, ele postulou que não adianta ficar perdendo tempo com umas coisas que a
gente não pode conhecer como, por exemplo, o nada, o infinito, a perfeição, a idade do
Silvio Santos, se Capitu traiu ou não Bentinho ou mesmo Deus. Em vez disso, cabe a nós o
conhecimento daquilo que pode ser conhecido.

Deixando meu “camarada” Kant de lado por um momento, outro fator importante que
devemos levar em conta ao falarmos da origem do Niilismo foi a revolução científica que se
deu no século XVII. Inclusive, temos um post sobre um dos maiores filósofos do século
XVII, Galileu Galilei, e suas contribuições para a revolução científica.

Em seguida, avançando para século XVIII, a maioria dos pensadores da época detonaram
com a Metafísica Clássica e a hegemonia da religião. O Ocidente, especialmente a Europa,
acabou por ficar desconfiado daquelas verdades de outrora. Dessa forma, as produções
intelectuais da Igreja caíram em descrédito.

Enquanto isso, no século XIX, essa descrença ganhou mais força e passou ser estudada com
afinco por alguns pensadores. Assim, livres dos grilhões da religião e da opressão dos
Estados despóticos, intelectuais como Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) e Friedrich
Nietzsche (1844 – 1900) se tornaram notórios por suas perspectivas realistas e críticas
muitas vezes ácidas a sociedade da época.
I

lustração dos filósofos Friedrich Nietzsche (esquerda) e Arthur Schopenhauer (direita).

Origem do Niilismo

A fim de não nos perdermos em meio a esses diversos acontecimentos históricos, bora
elencar os fatores que corroboraram para o surgimento do Niilismo? Já falamos da guinada
do pensamento causada por Immanuel Kant. Somado e ela, houve também a revolução
científica e o descrédito da igreja. Lembre-se que já tinha até rolado a reforma protestante,
então a Igreja Católica estava enfraquecida.

Tudo isso fez com que a maneira de enxergar o mundo mudasse, dando origem, então, a
novas possibilidades de interpretação das coisas. Uma dessas possibilidades foi o Niilismo.
Portanto, a origem do Niilismo está ligada ao ceticismo do pensamento moderno e à intensa
mudança de paradigmas que levou as instituições tradicionais da época ao descrédito.

As características do Niilismo

Fundada a partir da descrença em que o mundo vivia no pós-Iluminismo, o Niilismo vai


defender a ideia de que não há uma finalidade última (Thelos) no mundo, em oposição aos
discursos religiosos. Ademais, essa corrente filosófica também faz frente à autoridade do
Estado e outras instituições que tentam reger as pessoas.

Portanto, o Niilismo se configura na destruição dos valores de outrora, destruindo todas as


convicções que temos acerca da possibilidade de se responder àquelas questões
fundamentais levantadas pela humanidade desde os primórdios. Dessa maneira, o sentido
que a vida assumia antes, seja ele religioso ou algum outro, deixa de ser o foco do problema.

Ora, se não há um sentido para vida, o que há então? Bom, segundo o Niilismo, não há nada,
isto é, não há um sentido para a vida além do sentido que atribuímos a ela. Isso impacta
várias áreas da Filosofia, como a ética, a política e mesmo a metafísica. Isso ocorreu porque
mudou-se o foco do nosso agir, pois deixou-se de lado aquelas verdades absolutas e aquelas
finalidades existenciais.
Cara, “se liga”: antes a Filosofia se preocupava com o agir humano visando um fim
específico. Por exemplo, “tenho que me comportar para ir para o paraíso”. Mas com a
reviravolta causada pelo Niilismo, o poder de escolha está em nossas mãos e não mais
subjugado a uma finalidade fajuta.

Dessa forma, o agir humano é dado de acordo com a nossa vontade e não de acordo com
uma suposta finalidade (ir para o paraíso), pois não existem essas tais finalidades as quais
entendíamos como verdades absolutas.

Montagem com Nietzsche e a famosa pintura de Michelangelo no teto da Capela Sistina

As teorias Niilistas

Atualmente, o Niilismo se configura em uma série de pequenas derivações de uma macro


teoria. É possível encontrar pensadores associando Niilismo à luta de classes, ao
anarquismo, ao positivismo, ao primitivismo, enfim, a lista é grande.

Entretanto, a base estrutural dos argumentos niilistas permanece a mesma.Todas as


vertentes possuem um desapego das verdades absolutas do mundo, uma espécie de olhar
cético para a existência em suas mais singelas faces.

Dos vários nomes que assumiram o manto de niilistas, o mais famoso e maior arauto dos
preceitos niilistas, foi o filósofo Friedrich Nietzsche. Isso porque esse alemão peculiar
defendia a ideia de uma ausência de sentido na existência humana.

Ele foi o responsável pela famigerada frase: “Deus está morto”, que até hoje provoca
inquietação nos mais variados círculos de convivência. A ideia por trás da frase diz respeito
àquela revolução na Filosofia que falamos há pouco, sobre não ser possível conhecer a
verdade a respeito das coisas.

Essa afirmação serviu para denunciar uma Europa que ficou afundada no Niilismo na época
em que viveu Nietzsche.

Atualmente ainda há muitos pensadores que tem o Niilismo como base para seu trabalho.
Entretanto, talvez seja longe da academia que o Niilismo mais se tornou popular. Vemos no
cinema, na música, nas tramas em quadrinhos e na cultura pop de maneira geral, muitos
preceitos e fundamentos niilistas.
Cena da animação Rick and Morty. O desenho tem uma gigantesca pegada niilista.

Por fim, o Niilismo é uma corrente filosófica que defende a destruição dos ídolos do passado
e visa reestruturar o mundo a partir da vontade humana. Dessa maneira, retomaríamos
aquilo que a religião roubou de nós e assim construiríamos um mundo livre de significados
que não os nossos próprios.

Exercícios

1- (Enem 2016)
Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras.
Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo
passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado
amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de
nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram
para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos
querem tragar!

NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, Rio de Janeiro. Ediouro, 1977.

O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista,
uma vez que:

a) reforça a liberdade do cidadão.

b) desvela os valores do cotidiano.

c) exorta as relações de produção.

d) destaca a decadência da cultura.

e) amplifica o sentimento de ansiedade.

2- (IFRS 2015)
Precisamente nisso enxerguei o grande perigo para a humanidade, sua mais sublime
sedução e tentação – a quê? ao nada? –; precisamente nisso enxerguei o começo do fim, o
ponto morto, o cansaço que olha para trás, a vontade que se volta contra a vida, a última
doença anunciando-se terna e melancólica: eu compreendi a moral da compaixão, cada vez
mais se alastrando, capturando e tornando doentes até mesmo os filósofos, como o mais
inquietante sintoma dessa nossa inquietante cultura europeia; como o seu caminho sinuoso
em direção a um novo budismo? a um budismo europeu? a um – niilismo?…”

(NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução, notas e posfácio de Paulo
César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 11-12.)
De acordo com o referido fragmento e considerando a totalidade do pensamento de
Friedrich Nietzsche, podemos afirmar que a alternativa INCORRETA é:

a) A elaboração nietzschiana sobre o niilismo é a oportunidade em que o filósofo reconcilia-


se com Immanuel Kant, julgando-o como aquela honrosa exceção que, em pleno século
XVIII, salva guardou o pensamento alemão dos ataques da metafísica. Na opinião de
Nietzsche, o imperativo categórico é o antídoto ao niilismo.

b) Uma das adversárias de Nietzsche é a moral da compaixão, pois nela se intensifica a


decadência, a miséria e sua conservação. Sob a afirmação de “Deus” ou do “além”, como
aquilo que genuinamente definiria a verdadeira vida, amoral da compaixão oculta o “nada”.

c) Nietzsche reconhece a ambiguidade do conceito de niilismo. Eis a razão pela qual ele
diferencia o niilismo ativo do passivo. O niilista ativo é o “espírito livre” que reconhece e
utiliza sua potência para ir além dos valores tradicionais. Já o niilista passivo, é o espírito
cansado que se subordina à decadência dos valores religiosos e morais.

d) A disposição de afastar-se da aparência, da mudança, do vir a ser, do desejo, conduz o


humano à vontade de nada, uma renúncia da vida que se configura como causa do niilismo.

e) Uma das expressões mais conhecidas de Nietzsche, com a qual o autor inicia suas análises
sobre o niilismo, é o fragmento dedicado à morte de Deus. No aforismo de A Gaia Ciência, a
morte de Deus conduz-nos ao diagnóstico da ausência de justificações absolutas e de
orientações para o alcance do sentido da vida.

3- (UEG GO/2018)       
Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um importante e polêmico pensador contemporâneo,
particularmente por sua famosa frase “Deus está morto”. Em que sentido podemos
interpretar a proclamação dessa morte?

a) O Deus que morre é o Deus cristão, mas ainda vive o deus-natureza, no qual o homem
encontrará uma justificativa e um consolo para sua existência sem sentido.

b) Não fomos nós que matamos Deus, ele nos abandonou na medida em que não aceitamos
o fato de que essa vida só poderá ser justificada no além, uma vez que o devir não tem
finalidade.

c) O Deus que morre é o deus-mercado, que tudo nivela à condição de mercadoria,


entretanto o Deus cristão poderá ainda nos salvar, desde que nos abandonemos à
experiência de fé.

d) A morte de Deus não se refere apenas ao Deus cristão, mas remete à falta de fundamento
no conhecimento, na ética, na política e na religião, cabendo ao homem inventar novos
valores.
e) A morte de Deus serve de alerta ao homem de que nada é infinito e eterno, e que o
homem e sua existência são momentos fugazes que devem ser vividos intensamente.

Gabarito:

1. D
2. A
3. D

Filosofia alemã: a questão da Razão e principais filósofos


A filosofia germânica influenciou o mundo, tendo filósofos muito importantes, como Marx.
Esse influenciou a Revolução Russa, a Revolução Cubana, a Chinesa, entre outras.
Qual a influência da filosofia alemã em nossas vidas? Venha ficar por dentro dos principais
pensadores cobrados pelo Enem quando o assunto é Razão e Revolução.

Filosofia alemã
Umas das grandes influências do pensamento moderno certamente foi a filosofia alemã.
Nomes como Immanuel Kant, Karl Marx, Arthur Schopenhauer, Georg Hegel, Friedrich
Nietzsche entre outros, serviram como alicerce das diversas Revoluções, tanto sociais
quando intelectuais, que se conflagraram ao longo dos séculos.

Figura 1. Bandeira do antigo Império Germânico. A bandeira é amarela, com um brasão e uma coroa
em cima. * O termo germânico se refere as diversas nações que existiram, como por exemplo a
Alemanha, em determinada região da Europa.

A ascensão da Razão

Embora a ideia da Razão enquanto forma de enxergar o mundo seja o que originou a
Filosofia, sua popularidade sofreu altos e baixos com passar das eras. O conceito de Razão
surgiu e se expandiu na Grécia, contrariando o discurso mitológico utilizado para explicar os
fenômenos do mundo.

No Ocidente, durante o período que ficou conhecido como Idade Média, o uso da Razão foi
paulatinamente substituído pela fé. Isso gerou uma nova mistificação dos fenômenos do
mundo, dando origem a diversas interpretações equivocadas da realidade a nossa volta,
como o Geocentrismo ou a inquisição.

Com o início do Renascimento essa relação se inverteu e foi possível observar uma forte
oposição ao dogmatismo da igreja bem como uma expansão dos discursos racionais.

O Ápice dessa onda se deu no século XVIII, durante um movimento que ficou conhecido
como Iluminismo.

A razão na filosofia alemã

Esse movimento trazia novamente a Razão para o centro do debate intelectual da Época.
Ora, essa guinada ao racional chegou a tal ponto que um jornal germânico chamado
Berlinische Monatschrift estampou em uma de suas edições uma famosa pergunta acerca do
Iluminismo: O que é esclarecimento/Iluminismo?

Foram várias as respostas enviadas ao jornal. Todavia, uma em particular ganhou muito
destaque. Tratava-se da resposta de Immanuel Kant, em seu famoso opúsculo Resposta à
Pergunta, O que é o Esclarecimento? (Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung).

Nesse texto, Kant discorre acerca dos ideais iluministas e a libertação das pessoas de um
certo aprisionamento intelectual em que se encontravam. Ele discorre sobre o uso da Razão
como principal agente libertador da humanidade.

Figura 2. Retrato de Immanuel Kant. * A mudança de paradigmas que se deu a partir de Kant foi
tamanha que seu pensamento ficou conhecido como a Revolução copernicana da Filosofia.

Talvez essa obra seja a maior representação do movimento iluminista, bem como a maior
herança que temos da centralização do conhecimento em torno daquilo que é racional em
detrimento dos discursos fantasiosos e das mazelas causadas pelo mito.

Da Razão prática à pratica da Razão

Após a publicação das obras de Kant, seguiu-se uma série de outros filósofos que se
inspiraram em suas ideias, no que ficou conhecido como Idealismo Alemão. Dentre eles,
Georg Hegel, um alemão bastante crítico a teoria kantiana.
Hegel elaborou diversas teorias acerca do mundo e de como compreendê-lo, das quais
destacou-se a ideia do Materialismo Dialético.

O Materialismo Dialético é um conceito que explica a influência do meio em que nós


estamos inseridos e a nossa influência no meio ao qual estamos circunscritos. Em outras
palavras, a “parada” diz respeito a capacidade do ambiente de nos moldar e ao mesmo
tempo a nossa capacidade de moldar esse ambiente, uma via de mão dupla, daí a ideia de
dialética.

Inspirado na dialética hegeliana – que por sua vez é uma resposta as ideias kantianas – Marx
juntamente com Friedrich Engels, desenvolveram um conceito que trazia uma práxis, isto é,
uma aplicabilidade cotidiana para as ideias hegelianas.

Marx e Engels

Marx era muito empolgado pela teoria de Hegel. Entretanto, ele percebia nela uma certa
imobilidade. Hegel afirmava a existência de um espírito da época, ou seja, uma vontade
metafísica coletiva que geria a maneira com que as pessoas viviam.

Sendo assim, as coisas no mundo eram da maneira que eram por conta desse espirito da
época. Todavia, Marx enxergava um contrassenso nessa ideia, pois havia uma certa
imobilidade das classes sociais dentro da teoria hegeliana que o deixava inquieto.

Daí, juntamente com Engels, Marx desenvolveu então o que posteriormente foi chamado de
Materialismo Histórico, que visou sair do plano teórico e passou para o plano prático. Para
tanto, foi necessário a análise das mudanças que ocorreram na sociedade através das
relações de trabalho existentes.

Figura 3. Ilustração das mudanças nos processos de produção. * Seguindo a ideia de Hegel, a história
avança de maneira dialética. Na visão de Marx, há uma tese ou modo de produção, que é
confrontado por uma antítese, isto é, a negação da tese e que por sua vez produz uma síntese.
Podemos interpretar essa síntese como um novo meio de produção.

Da Revolução da Razão
A filosofia alemã dos séculos XVIII e XIX causou um tremendo impacto na história do
ocidente. Ora, a partir da revolução deflagrada por Kant, que deu origem ao idealismo
alemão, foi possível a elaboração de novas maneiras de pensar, como foi o caso do
pensamento hegeliano.
Hegel por sua vez, serviu de base para estruturação da teoria marxista, responsável por dar
um direcionamento prático a produção filosófica germânica. As ideias de Marx se
espalharam pelo mundo a fora e provocaram grandes inquietações sociais, atingindo seu
ápice com as revoluções socialistas do século XX.

As ideias de Marx, serviram de base para Revolução Russa, bem como, para a Revolução
Cubana, a Revolução Chinesa, a Comuna de Paris e até a Intentona Comunista aqui no Brasil.
Sua influência foi tão grande que dividiu o mundo e particularmente a Alemanha, em dois
blocos políticos/econômicos.

Por fim, o legado germânico é composto de uma série de complexas teorias acerca do
mundo e das relações entre seus habitantes. De um ponto de vista mais cosmopolita, é
possível divagar que a Revolução kantiana desencadeou uma série de pós Revoluções que
nem mesmo Kant poderia imaginar.

Exercícios

1) (Uece 2010)
Leia com atenção o texto a seguir. “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem
como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se
defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.

MARX, Karl. O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Centauro, 2006.

Baseado no texto, assinale a afirmação verdadeira.

(A) A história não é construída pelos homens porque ela é predefinida pelo destino.

(B) A história permite perceber que a realidade depende unicamente das escolhas dos
homens.

(C) A história é feita pelos homens dentro de condicionamentos herdados do passado.

(D) A história não é feita pelo passado, e sim pelas circunstâncias das escolhas.

2) (Uem 2010)
Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o kantismo. Endereçou a todos a mesma crítica, a
de não terem compreendido o que há de mais fundamental e essencial à razão: o fato de ela
ser histórica. Com base nessa afirmação, assinale o que for correto.

(01) Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel considera a razão como sendo relativa, isto é,
não possui um caráter universal e não pode alcançar a verdade.

(02) Não há para Hegel nenhuma relação entre a razão e a realidade. Submetida às
circunstâncias dos eventos históricos, a razão está condenada ao ceticismo, isto é, “ao
duvidar sempre”.

(04) A identificação entre razão e história conduz Hegel a desenvolver uma concepção
materialista da história e da realidade, negando entre ambas a possibilidade de uma relação
dialética.
(08) No sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a ser aplicado, mas é o
próprio tecido do real e do pensamento. O mundo é a manifestação da ideia, o real é
racional, e o racional é o real.

(16) Karl Marx, ao afirmar, na Ideologia alemã, que não é a história que anda com as pernas
das ideias, mas as ideias é que andam com as pernas da história, critica, ao mesmo tempo, o
idealismo e a concepção da história de Hegel e dos neo-hegelianos.

3) (ENEM 2012)
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A
menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro
indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra
na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a
direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha,
continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.

KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).

Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do


contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant,
representa:

(A) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.

(B) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.

(C) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma.

(D) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.

(E) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão.

Gabarito

1. C, 2. 8 e 16, 3. A.

Existencialismo: o que é, origem e principais filósofos


O existencialismo é um movimento que surgiu na Filosofia durante o século XX que busca
analisar o ser humano a partir de suas experiências.
Há algum sentido em nossa existência? Essa é uma das perguntas que compõem o
existencialismo. Venha estudar esse conteúdo e aperfeiçoar seus conhecimentos para o
Enem!

O existencialismo é um movimento que surgiu na Filosofia durante o século XX, visando a


abordar os problemas de uma sociedade em transformação. Visto que a humanidade
acabara de sair de duas guerras mundiais, essa corrente filosófica tinha por foco analisar o
ser humano e sua prática existencial.
Um certo bairrismo marca esse movimento, pois a grande maioria dos filósofos
existencialistas são franceses. Todavia, não é porque a França é o palco do movimento que
não existem pensadores existencialistas ao redor do globo. Inclusive, um século antes alguns
filósofos já faziam algo que serviu de base para o existencialismo. Há quem diga que o
próprio Sócrates já fazia essa parada lá na Grécia antiga.

Origens do existencialismo: Kierkegaard e Dostoiévski

Podemos traçar as bases estruturantes do movimento existencialista a partir do século XIX.


Alguns filósofos daquela época concentraram seus esforços na reflexão acerca da vivência
humana em um mundo cheio de significados.

Meu “camarada” Sören Aabye Kierkegaard (1813 – 1855) foi um desses percursores do
existencialismo. Ele teorizava que os significados do mundo são dados pelo indivíduo.
Portanto, devemos viver da maneira mais fascinante e verdadeira que conseguirmos, ainda
que existam momentos em que a angústia ou o absurdo nos afastem disso.

Além de Kierkegaard, outro “camarada” que serviu de modelo para as ideias existencialista
foi o filósofo russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821 – 1881). Meu “parça” Dostoiévski
ficou bem famoso por conta das suas obras literárias como “Crime e Castigo”, de 1866, “O
Idiota”, de 1869 e “Os irmãos Karamazov”, de 1881.

As obras acima, embora não apresentem um sistema filosófico estruturado, influenciaram a


formação do existencialismo. Elas apresentam diversos questionamentos sobre a vida e
defendem a liberdade como valor central da existência humana de tal maneira que alguns
trechos se tornaram motes dessa linha de pensamento. Por exemplo: ‘Se Deus não existe,
tudo é permitido’, demostrando, assim, essa “pegada” mais libertária.

Bom, já que falamos de Kierkegaard e Dostoiévski, não podemos deixar de fora o homem do
bigode mais lustroso da Filosofia, Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900). Durante sua
caótica trajetória como filósofo, ele tratou das mais variadas questões em suas obras,
incluindo questões acerca da existência humana.

Lá no século XIX, Nietzsche denunciou o crescente niilismo em que se encontrava a Europa e


defendia uma mudança nos critérios levados em consideração ao fazermos as escolhas de
nossas vidas. Marcado por afirmações ácidas e histórias extravagantes, Nietzsche é
responsável por grande parte das teorias que estruturaram o existencialismo do século XX.

A temática do existencialismo

A corrente existencialista trata dos temas que permeiam a nossa existência, buscando
refletir o sentido de nossas ações e os valores que são caros à nossa vida. Tudo isso tendo
como base a liberdade do indivíduo e a reflexão humanista, uma vez que não considera
válidas as crenças deterministas de outrora.

Ora, para embarcar nessa onda, precisamos assumir a liberdade como ponto de partida para
a reflexão acerca da nossa existência. O axioma central para tal é aquela famosa ideia de a
existência precede a essência. Isto é, a gente primeiro é (existe) e depois busca ao longo da
vida a nossa essência.
Assim, o existencialismo se configura em uma “parada” antagônica a qualquer forma de
alienação e determinismo, pois defende que nós somos os responsáveis imediatos pelo
significado que damos às nossas vidas.

Outra coisa bastante recorrente no pensamento existencialista é a reflexão acerca da


barbárie. Como ela – a barbárie – foi algo escrachado e periclitante no século XX, os
intelectuais da época dedicaram-se a analisar e evidenciar suas causas e consequências.

Bom, se colocarmos em perspectiva aquela ideia sobre tudo ser possível, estaríamos
também admitindo que as regras éticas são voláteis? “Saca só”, se há uma falta de sentido
no mundo além daquele que nós atribuímos, há também uma falta de moralidade ou
mesmo noção de justiça?

Essas e outras questões sobre os problemas que cercam a investigação do absurdo e da


barbárie são temas recorrentes de diversos pensadores existencialistas, como, por exemplo,
Albert Camus, filósofo ganhador do Nobel de literatura de 1957.

Kierkegaard e o indivíduo singular


O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, enquanto percursor do existencialismo, foi um
crítico feroz da religião, particularmente do cristianismo. Suas obras, recheadas de ironias e
metáforas, retratam o problema do indivíduo singular.

Para Kierkegaard, é equivocado pensar um sistema filosófico pautado em conceitos, pois o


sujeito pensante – indivíduo singular – não tem uma existência conceitual. Dessa maneira, os
sistemas filosóficos, em geral, acabam se preocupando mais com os conceitos das paradas
do que com a existência.

A ideia do dinamarquês é que devemos viver a nossa vida em torno de uma ideia que
represente para nós, individualmente, o ideal de uma existência vivida. A sacada aí é buscar
algo com caráter mais pessoal, visto que as escolas helênicas, por exemplo, tinham uma
pegada parecida, mas com foco mais universal.

Principais filósofos do existencialismo

O mundo viveu a aflição de duas grandes guerras durante o século XX. Assim, nesse período,
vários intelectuais acabaram servindo no front de batalha, fato que mudou abruptamente a
maneira que enxergavam o mundo. Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905 – 1980) foi um
deles.

Meu “camarada” Sartre foi o autor daquela máxima que há pouco comentamos: ‘A
existência precede a essência’. Ele negava que exista uma essência determinadora do ser,
afirmando que somente a nossa experiência existencial é capaz de definir nossas vidas.
Dessa forma, nós nos estruturamos segundo nossas experiências materiais cotidianas. Em
outras palavras, a gente se define a partir da nossa caminhada por esse “mundão”.

Além de Sartre, outra pensadora importante do existencialismo e da Filosofia foi Simone


Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir (1908 – 1986), cujo talento conseguia ser maior
que sua quantidade de nomes. Simone e Sartre geralmente são citados aos pares, isto
porque formaram um casal durante longos anos. Como não poderia deixar de ser, essa
relação era algo fora do normal, os dois mantinham, o que hoje chamamos de relação
aberta, algo super polêmico para época.

Existencialismo na literatura e no cinema


Saindo um pouco da França, é possível encontrar vários outros pensadores existencialistas,
como Franz Kafka, o cara que escreveu aquele incrível conto intitulado ‘A Metamorfose’, no
qual o protagonista acorda no corpo de uma barata. Também ficou famoso por sua obra ‘O
Processo’, na qual um indivíduo se vê acusado que um crime que não sabe se cometeu.

Além da literatura, o existencialismo também inspirou cineastas renomados como Ingmar


Bergman e Jean-Luc Godard, ganhadores do Oscar. Mais recentemente podemos citar
Stanley Kubrick, diretor de vários filmes icônicos do cinema contemporâneo.

Montagem com os principais filósofos existencialistas do século XX.

Por fim, o existencialismo é uma corrente filosófica bastante atual. Sua influência aparece
nas mais diversas áreas, se estendendo pelas mais variadas expressões artísticas. Suas
teorias, mais do que responder a questões elementares da filosofia, como: ‘qual o sentido da
vida?’, nos fazem refletir acerca da pertinência dessas perguntas.

Videoaula
Para saber mais sobre a filosofia existencialista, veja esta videoaula do canal Parabólica:

Exercícios

1- (Enem 2016)
Ser ou não ser – eis a questão.
Morrer- dormir- Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.

SHAKESPEARE, W. Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.


Este solilóquio pode ser considerado um precursor do existencialismo ao enfatizar a tensão
entre:

a) consciência de si e angústia humana.

b) inevitabilidade do destino e incerteza moral.

c) tragicidade da personagem e ordem do mundo.

d) racionalidade argumentativa e loucura iminente.

e) dependência paterna e impossibilidade de ação.

2- (Uenp/2009)
Segundo Raymond Plant, em seu livro Política, Teologia e História, o argumento de que a
essência precede a existência implica na necessidade de um criador; assim, quando um
objeto vai ser produzido (um martelo, uma caneta, uma máquina), ele obedece a um plano
pré-concebido, que estabelece sua forma, suas principais características e sua função, ou
seja, ele possui um propósito definido, uma essência que define sua forma e utilidade, e
precede a sua existência. Segundo Sartre há um ser onde essa situação se inverte, e a
existência precede a essência: o ser humano. Assim, seria o próprio homem o definidor de
sua essência.

De acordo com Sartre, a expressão “a existência precede a essência” pode ser interpretada
como:

a) O homem se constrói de acordo com sua própria história e não de acordo com uma
essência abstrata e pré-determinada.

b) A existência humana depende do plano que Deus determina a cada um.

c) A essência é mais importante que a existência.

d) O Homem não tem existência livre, pois ela é sempre precedida pela essência.

e) A liberdade não participa do contexto da existência do homem, porque ele segue as


determinações da essência.

3- (Ueap 2011)
“A existência precede a essência.” O que melhor define esta frase do filósofo francês Sartre?

a) Primeiro o homem existe, depois se define.

b) O homem é o que ele concebe e não o que ele faz.

c) O homem é “em si” e não “para si”.

d) A vida de um homem está ligada a sua essência.

e) A vida humana é totalmente determinada por Deus.


Gabarito

1. A
2. A
3. A

 
O Critério da Vida
A vida tem critério para ser vivida? Quais seriam os valores que devemos levar em conta ao
viver? O filósofo prussiano Friedrich Nietzsche faz uma reflexão Niilista sobre assunto. Bora
conferir?

Qual é o critério certo para viver a vida? Quer dizer, será que estudar, compartilhar memes,
rejeitar chamadas de São Paulo e pagar boletos podem resumir a ideia de viver? A
inquietação acerca do porquê fazemos tais ações foi o que levou o filósofo prussiano
Friedrich Nietzsche a escrever sobre esse tema, “o critério da vida”. Veja mais sobre a
filosofia de Nietzsche nessa aula.

Figura 1. Friedrich
Wilhelm Nietzsche filósofo nascido na Prússia em 1844, além da Filosofia, Nietzsche ficou
conhecido pelos seus estudos nos campos da filologia, poesia e da música.
A filosofia de Nietzsche e o critério da vida

Nietzsche defendia a ideia de que a vida deveria ser o critério a ser levado em conta quando
refletimos acerca de nossas ações e ponderamos sobre nossos julgamentos. De maneira
mais objetiva, essa ideia diz algo a respeito de criarmos o nosso próprio caminho e não
vivermos a sombra dos caminhos dados a nós.

De Platão e do Cristianismo

Desde os primórdios da Filosofia, diversos pensadores ponderaram a respeito da vida. Ora,


os filósofos vêm tentando dar sentido ao mundo e com isso acabaram por criar uma
narrativa filosófica a respeito da vida.

Desde antes dos estudos sobre a Felicidade dos quais Aristóteles se ocupou, existe uma
vertente claramente dominante no pensamento ocidental. É nessa linha que a filosofia de
Nietzsche vai focar seus esforços numa “Genealogia insana” em busca da verdade.

É sensato dizer que, quando Platão divide o mundo em dois, com aquela história de Mundo
das Ideias ele “viralizou” na Filosofia. Diversos outros pensadores adotaram seu raciocínio de
uma forma ou de outra. E, a partir dele, desenvolveram várias outras linhas de pensamento
filosófico.
Todavia, essa ideia de dois mundos (Mundo Real e Mundo das Ideias) teve vasta influência
na maneira em que nós entendemos o mundo. A filosofia de Nietzsche vai alegar que a partir
dessa visão platônica o mundo das ideias se tornou o lugar em que jazem os valores.

Em contrapartida, o mundo real, esse em que você supostamente está agora enquanto lê
essa aula, converteu-se em algo supérfluo. Uma espécie de mundo “café com leite”, em que
o real valor das coisas não está aplicado em si. Ou seja, um mundo sem importância.

Figura 2. Nietzsche via em Deus o principal conceito a ser erradicado da Filosofia, uma vez
que Deus é o maior expoente da Moral escravizante tão rechaçada pelo autor.
Em sua jornada genealógica, Nietzsche vai investigar os principais momentos em que essa
dicotomia se espalhou na filosofia, buscando a época em que esse papo de dois mundos foi
considerado “trend topic”.

E o que Nietzsche encontrou? Bom, após Platão, o cristianismo voltou a sugerir de maneira
enérgica a existência de dois mundos. Ao invés de um mundo das ideias, a doutrina cristã
prega a imagem de um céu/paraíso no qual os virtuosos seriam bem recebidos.

A filosofia de Nietzsche e o cristianismo

Assim sendo, Nietzsche entendeu que o cristianismo – incluindo Santo Agostinho  e São


Tomás – valorizava mais o céu do que o mundo em que vivemos. Isto é, na doutrina cristã, o
próprio mundo real é menos real que o paraíso!

Para o filósofo, no cristianismo o mundo real é desvalorizado frente a esse mundo ideal, pois
a fé cristã o entende como um degrau para alcançar o céu. Sendo assim, Nietzsche entende
que o cristianismo está negando a própria vida real em favor de uma vida no além.

Toda essa influência, desde a concepção do pecado até a criação de um mundo imaginário
como recompensa, é algo que, segundo Nietzsche, nos afasta da vida e nos aproxima da
morte. Por isso, o filósofo chamava de sacerdotes da morte aqueles que pregavam a religião,
pois, eles pregavam o abandono desse mundo e dessa vida em detrimento a um mundo
imaginário.

A consequência de toda essa ideia se manifesta em nossas vidas de maneira bastante


impactante. Somos levados a sentir pesar por viver, o ressentimento pelo deleite de viver é
algo que nos ataca por todos os lados.
Figura 3. A angustia existencial muitas levas nos leva a adesão aos preceitos religiosos. É
mais fácil aceitar uma mentira aconchegante do que a dura verdade da realidade.
O Niilismo

Qual é a superação dessa condição de escravos do além? As críticas de Nietzsche, embora


bastante ácidas também serviram para a criação de uma superação desse dualismo
platônico.

Sendo assim, para Nietzsche, a maior preocupação que devemos ter é com a vida. Ou seja,
para o filósofo é importante valorizar o mundo em que vivemos, o mundo real e não esse
conto de fadas moralista que pregam por aí.

Assim sendo, antes de cairmos de braços abertos nesse mundo e aproveitar a vida, é preciso
primeiro derrubar os ídolos. Isto é, precisamos nos libertar dos grilhões impostos pelas
doutrinas dos outros, principalmente as do cristianismo.

Para isso, o caminho tomado por Nietzsche foi a adesão ao Niilismo. Essa corrente filosófica
adota uma postura crítica frente ao mundo. Há um princípio cético que norteia essa teoria,
fazendo com que seus adeptos não tomem por certo qualquer que seja a suposta verdade
apresentada.

Figura 4. O Niilismo considera que as crenças e os valores tradicionais são infundados, a


palavra deriva do latim Nihil, que significa nada.
O termo Niilismo apareceu pela primeira vez na obra literária de Turguêniev “Pais e Filhos”.
Nela, um personagem afirma: “Um niilista é um homem que não se curva ante qualquer
autoridade, nem aceita nenhum princípio sem exame, qualquer que seja o respeito que esse
princípio envolva”.

Nietzsche definiu o Niilismo como sendo a morte da Divindade Cristã e seus princípios. Ele
diz algo mais ou menos assim: “O Niilismo é a falta de convicção em que se encontra o ser
humano após a desvalorização de qualquer crença”. Assim, só após nos livramos de todas as
crenças, após não restar mais nada é que estamos verdadeiramente livres para escolher
nosso caminho.

Por fim, a proposta apresentada por Nietzsche consiste em renunciarmos o paraíso em


detrimento ao mundo real pois, o critério da vida não pode ser outro que não ela própria.
Para isso, podemos nos apoiar no Niilismo e com ele alcançar a liberdade para escolher
nosso caminho. Resta saber qual é o caminho a ser escolhido.

Agora, para complementar seus conhecimentos sobre o assunto dessa aula, veja nossa aula:

1) (Ufsj 2012) Na perspectiva nietzscheana, o livre-arbítrio é um erro porque

a) ao declarar que os homens são livres, as forças coercitivas, como o poder da Igreja, agem
com o claro intuito de castigá-los, julgá-los e declará-los culpados.
b) os homens, indignos como são, jamais alcançarão a dimensão da ideia implícita no livre-
arbítrio.
c) o cristianismo, apesar de seus esforços candentes, não conseguiu tirar a culpa do ser
humano.
d) a fatalidade impressa no ser humano está na sua historicidade, no seu livre-arbítrio, e por
isso mesmo o Homem está condenado à culpa.

2) A transvalorização da moral proposta por Nietzsche é:

a) A aceitação da moral tradicional como sendo universal e absoluta.

b) É o estudo sobre a origem da moral tradicional para que possamos conservá-la, tendo em
mente a sua importância ao desenvolvimento do indivíduo como ser humano.

c) É a crença incondicional que os valores que devem ser preservados são aqueles que
provêm da fé cristã, única fonte capaz de dizer o que é bom ou mal à humanidade.

d) É a superação da moral tradicional, para que os atos do homem forte não sejam pautados
pela mediocridade das virtudes estabelecidas. Para tanto é preciso recuperar o sentimento
de potência, a alegria de viver, a capacidade de invenção e a condição do próprio homem
definir o que é bom ou ruim para si e para os demais, sem imposição ou aceitação do que já
foi convencionado por estranhos.

3) (Enem/2016) Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se


das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo
é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau
olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima
de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes
secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não
nos querem tragar!

NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, Rio de Janeiro. Ediouro, 1977.

O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista,
uma vez que
A) reforça a liberdade do cidadão.
B) desvela os valores do cotidiano.
C) exorta as relações de produção.
D) destaca a decadência da cultura.
E) amplifica o sentimento de ansiedade.

Gabarito

1) A,

2) E,

3) D.

A Genealogia da Moral de Nietzsche


Na Moral, já ouviu falar de Nietzsche? Esse camarada se aventurou numa jornada para
desvendar a origem do Bem e do Mal.

Venha conferir o que Nietzsche descobriu, é conteúdo do Enem!

Traçar as origens, essa é a função da Genealogia. Ela se ocupa de estudar a origem de


alguém, buscando através de estudos documentais os antepassados do sujeito em questão.
A partir disso é possível a criação daquilo que conhecemos popularmente por árvore
genealógica, um resumo do estudo genealógico realizado.

Figura 1. Friedrich Nietzsche além de filosofo era também um filólogo, isto é, estudioso ou
conhecedor de filologia; filologista.
Nietzsche vai usar da Genealogia para estudar algo mais inusitado. Ao invés de estudar um
sujeito, ele decidiu que iria estudar a Moral. Isto porque ele era empenhado nessa coisa de
Bem e Mal, certo e errado e tudo aquilo ligado à Moral e aos bons e maus costumes.

Como Nietzsche era também um filólogo, ele decidiu colocar como centro dos seus estudos
genealógicos os conceitos de Bem e Mal. Foi assim que seu deu sua busca pelas origens
desses termos que tinham como finalidade a melhor compreensão da moral do seu tempo.

A Moral em Nietzsche

A Moral é uma espécie de GPS que usamos para que possamos decidir as questões da vida.
Embora ela seja frequentemente representada como um conjunto de regras, o conceito de
Moral é bem mais amplo do que isso.

Ao invés de regras, é legal que você entenda a moral como um punhado de costumes
adquiridos por meio da cultura de um povo. Ou ainda, o conceito de Moral está
fundamentalmente ligado ao conjunto de coisas que orienta o nosso agir.

Dado essa noção, Friedrich Nietzsche (e seu belo bigode) indagou acerca da origem desses
costumes. Pois, como é que toda uma sociedade segue um bando de costume sem se
perguntar o porquê?

Figura 2. O Bem e o Mal são frequentemente


representados em nossas como anjos e demônios, o que mostra a influência do cristianismo
na sociedade ocidental.
Para começar essa jornada rumo as origens da Moral – esta Genealogia da Moral – Nietzsche
tentou unir a filosofia e a história sem aquela pegada clichê de história bonitinha. O cara quis
ir a fundo e descobrir as “tretas” mais sinistras por trás dessa fantasia bonitinha que é a
Moral histórica.

Problematizando a História

Bom, o problema da história segundo Nietzsche começa quando ela se apresenta como uma
verdade. Segundo ele, a história não passaria de uma narrativa contada por aqueles que a
deturpariam em razão dos seus próprios interesses pessoais. Assim, só seriam contados os
fatos que beneficiariam uma classe de pessoas enquanto o restante da história seria
omitido, quando não alterado.
Figura 3. Uma narrativa comum na história do país se deu quando os portugueses
“descobriram” o Brasil, civilizaram e catequisaram os nativos. O genocídio epistemicída
(travestido de processo civilizatório) que ocorreu ainda hoje tem forte consequência no país.
A gravidade dessa política (que Nietzsche apontou) pode ser sentida em nosso cotidiano, na
desigualdade social, no racismo, nas queimadas, no desmatamento da Amazônia e na
violência contra os nativos.
O outro problema que Nietzsche elenca é seleção dos acontecimentos históricos. Ora, os
acontecimentos históricos têm importâncias distintas, todavia, qual é o juiz que atribui
importâncias aos fatos ocorridos? De acordo com Nietzsche só seriam retidos os fatos cujo
interesse fosse de alguma classe que se beneficiaria disso. Assim, a história deixa de ser algo
imparcial e se transfigura em algo que serve aos interesses de privados.

Não paremos por aí, os arautos do pensamento (a.k.a. filósofos) também tem, segundo
Nietzsche, forte influência na história. Por exemplo, quando Hegel determina que as coisas
no mundo acontecem de maneira Dialética, ele impõe uma teleologia que remete a um
certo ordenamento da história.

Enfim, seguimos uma Moral que é fruto da história, entretanto, essa mesma história não é
confiável, pois está a serviço de interesses privados de classes dominantes. Ora, como
confiar em tal Moral sendo que seus alicerces são uma farsa?

Uma polêmica para além do Bem e do Mal

Assumindo a imparcialidade da história, Nietzsche nos conduz para um show de destruição


dos referenciais, que inclui inclusive a polêmica morte de Deus – tema central para o
entendimento da Filosofia de Nietzsche – e a investigação acerca do Bem e do Mal.

A origem do termo Bom não decorre do atributo de quem faz o Bem. Segundo as
investigações de Nietzsche, os bons são os nobres, poderosos, superiores em posição e
pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons. Assim, o Filósofo
entende que o conceito de Bom se dá em oposição a aquilo cujo pensamento não era nobre,
isto é, ao plebeu.

QUando Nietzsche afirma que o conceito de Bom não está ligado à sua utilidade prática, ou
seja, a uma ação Moral, ele quer demostrar que na realidade o Bom diz respeito ao nobre.
Portanto, é o próprio nobre (Bom) que diz o que é Bom. Com isso, essa classe dominante
passa a ditar os valores do mundo a partir dela própria.

Isso nos leva a pensar: se a Moral é o GPS que nos norteia, o Bem é o seu Norte. Todavia, se
esse Norte na realidade não é aquilo que aparenta ser, toda minha jornada está sendo
guiada na direção errada. Portanto, a Moral é uma farsa e viver de acordo com ela é uma
ilusão.

Figura 4. Os ataques a Moral feitos por Nietzsche têm, na maioria das vezes, como alvo a
Moral Judaico-Cristã.
Vale lembrar que a proposição de Nietzsche acerca da Moral vai de encontro a noção
proposta por Immanuel Kant, uma vez que Kant afirmava que a Moral é um imperativo que
deve ser categórico, portanto deve valer em qualquer situação que o indivíduo passa na
vida.

Nietzsche discordava de Kant, pois dizia que existem duas morais: A Moral dos senhores e a
Moral dos escravos. Para Nietzsche a Moral não é um imperativo categórico, ela é um objeto
que sofreu influência ao longo da história.

Por fim, Friedrich Nietzsche tentou, ao elaborar uma Genealogia da Moral, destruir os
alicerces da Moral escravizante. Isso é, o filosofo se opunha fortemente à uma vida cujo
critério se guia por uma (farsa) Moral, que reduz a capacidade das pessoas e nos torna
somente uma sombra do que poderíamos ser. Contrário a isso, o filosofo pregava uma vida
cujo critério fosse ela própria.

Para finalizar seus estudos e para tirar todas as suas dúvidas sobre o assunto, veja nossa aula:

Agora é contigo, teste seus conhecimentos sobre Nietzsche nas questões abaixo:

1) (UFSJ) -Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é fundamental entender a crítica que ele faz à
metafísica. Nesse sentido, é CORRETO afirmar que essa crítica

a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contentamento, plenitude.


b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem metafísica através do método
genealógico.
c) é o discernimento proposto por Nietzsche para levar à supressão da tendência que o
homem tem à individualidade radical.
d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua razão, tem como conceber uma
metafísica qualquer, que não tenha recebido a chancela da observação.
e) a metafísica é válida, pois trata de Deus e da liberdade humana.
2) Nietzsche empreendeu uma Genealogia da moral, com a qual desejou mostrar que os
valores da tradição judaico-cristã eram basicamente niilistas. No prólogo do livro, Nietzsche
enuncia sua nova exigência, segundo a qual:

a) Será preciso descobrir a verdade dos valores morais.


b) O próprio valor dos valores morais deverá ser questionado.
c) A vontade de vingança deverá operar contra a metafísica.
d) Os fracos deverão ser protegidos da vontade dos fortes.
e) A vontade de saber deverá prevalecer sobre todas as outras.

3) (UFSJ) – De acordo com a discussão que Nietzsche realiza sobre a origem dos valores
morais, pode-se afirmar que:

a) na avaliação reativa, os fracos primeiro avaliam a si mesmos como bons e daí decorre a
avaliação do outro, o forte, como mau

b) os gestos úteis foram inicialmente valorados como bons, tendo se tornado hábito passar a
considerá-los como bons em si

c) a moral escrava tem sua origem no cristianismo, religião na qual a oposição entre bem e
mal foi primeiramente constituída

d) a filologia mostra que as palavras usadas para designar a nobreza social adquiriram
progressivamente o sentido de nobreza de espírito

Gabarito

1. B, 2. B, 3. D.

O Super Homem nietzschiano


Bora descobrir quem é o Clark Kent da Filosofia? O filosofo Friedrich Nietzsche criou o
conceito de Super Homem para dar fim a uma vida escravizante, ao fazê-lo acaba por
coincidência “matando” Deus! Venha entender essa história direito porque ela é conteúdo
do Enem.

Um dos filósofos mais conhecidos da modernidade é Friedrich Wilhelm Nietzsche (cujo


nome é sempre uma aventura escrever), talvez isso se deva ao fato de suas obras serem
bastante aforismáticas – Já disse que ele era poeta? E, por isso, tiveram trechos destacados
e viralizados se tornando muitas vezes até mensagens de autoajuda, o que ironicamente vai
na contramão do pensamento nietzschiano.
Figura 1. Muitos dizem que a filosofia nietzschiana embasou o nazismo, todavia não é
verdade que ele era a favor de doutrinas nazistas, mas sim que Hitler utilizou seus textos
publicados postumamente e manipulados por sua irmã (que foi casada com um membro do
exército alemão) para inventar seu apoio.
Nascido na Prússia em 1844, Nietzsche era filho de um pastor luterano, fato curioso pois
grande parte da sua obra tem como alvo o estudo de uma moral judaico-cristã. Grande parte
de suas obras trabalha com essa temática religiosa, ainda que muitas vezes seja  coadjuvante
do intento principal. Assim é o conceito de Übermensch, que numa tradução livre seria algo
como além-homem, mas que ficou mais conhecido como: O Super Homem de Nietzsche.

Bom, existe em Nietzsche uma certa busca pelo Critério da Vida, uma ruptura com os valores
morais de outrora. Essa ruptura é embasada numa Genealogia que o filósofo faz com
algumas ideias de outrora. Nietzsche vai criticar o que ele chama de Filosofia Apolínea em
detrimento de uma Filosofia mais Dionisíaca.

Essa jornada genealógica começa a partir de Platão e foca posteriormente no cristianismo,


pois ambos defendem que o mundo em que vivemos é apenas uma representação aparente
do que realmente existe em um outro mundo muito mais extraordinário do que esse.

Essa teoria de Mundo das Ideias de Platão ou paraíso cristão nos levou, segundo Nietzsche,
deixar de curtir os “rolês” desse mundo, pois estamos pilhados em outro mundo que quiçá
nem existe! Esta ideia é absurda na concepção do filósofo, daí todo o empenho dele em
escrever a respeito do Critério da Vida.

De acordo com o filósofo, só existe um mundo, e ao enxergarmos isso, notaremos também


que nossos valores, nossa moral e tudo mais que fundamenta ela está completamente
equivocada. Ora, a moral cristã é estruturada na ideia de um ser extra planar, uma entidade
desse além-mundo, ou seja, em um Deus.

Portanto, se devemos nos desfazer das coisas que fundamentam uma falsa moral e Deus é o
principal desses fundamentos, logo, devemos nos desfazer desse Deus. Deus bateu as botas.

Mas o que é o Super Homem de Nietzsche?

Para entender o que está por trás dessa ideia de Super Homem de Nietzsche, é capital
explicar sobre uma das frases mais famosas do filosofo prussiano em questão, aquela que
enuncia: Deus está morto! Cara, pensa numa frase incompreendida, muita gente lê e associa
este enunciado a uma parada religiosa, quiçá satanista! Mas, assim como boa parte das
máximas nietzschianas ela está longe de ser isso.

Figura 3. “Não
ouvimos o barulho dos coveiros ao enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação
divina? – Também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o
matamos! ” – Nietzsche, Gaia Ciência, §125
Bom, embora filho de um pastor, Nietzsche era um ateu desses bem osso duro de roer. Ora,
se ele era ateu, por que ele diria que algo em que não acreditava estava morto? Ah! Ao invés
de uma afirmação religiosa maniqueísta, essa ideia, esse deicídio cometido pelo filósofo é o
pano de fundo de sua filosofia. Pois, a ideia da morte de Deus é uma metáfora do fim de
uma Filosofia metafísica que vinha se arrastando pelas eras.

Foi em uma obra chamada “A Gaia Ciência” escrita em meados de 1882, que Nietzsche nos
concedeu seus famigerados 383 aforismos. De todos estes eu vou destacar o de número
125, no qual aparece, ainda em estado bruto, a ideia do deicídio.

Posteriormente, na obra “Assim Falou Zaratustra” esse mesmo argumento (da morte de
Deus) reaparece muito mais lapidado. Essa obra narra de maneira bem tranquila a história
de um mano chamado Zaratustra e por meio dele o filósofo alemão introduz a fundamental
ideia da morte de Deus.

É importante lembrar que não devemos encarar o deicídio como uma exaltação do ateísmo.
Na real, o assassinato de Deus é a metáfora que marca o princípio de uma discussão na
nossa sociedade. Pois, antes desse assassinato, vivíamos em função de um sistema de
valores e uma moral guiados pela igreja. Após o anúncio da morte de Deus deixamos de
viver desta forma.
Figura 4. Se Deus está morto, Nietzsche
tropeçou no cadáver, mas são impressões digitais de Kant que estão na arma.
Para além do ser humano

Seguindo com essa a ideia de que Deus está morto, a intenção de Nietzsche em apontar o
niilismo europeu vigente (ou seja, a queda da moral judaico-cristã) fica evidente a
diminuição da influência da igreja enquanto instituição política. Perceba que a ideia
nietzschiana não é destruir a religião pura e simplesmente. O filosofo foi além, combatendo
toda a influência que o pensamento cristão exerceu na vida cotidiana.

Assim como antigamente, Nietzsche pôs a Filosofia a lutar contra os mitos, só que agora, não
mais com Zeus, Medusas e Minotauros mas com a Igreja e toda a Teologia e a moral
derivada dela. Assim sendo, a religião e sua Moral judaico-cristã passou a minguar e
paulatinamente desvanecer-se. Esse é o propósito do deicídio, a morte de Deus serviu para
libertar as pessoas da moral de escravo, isto é, serviu para percebermos que o Critério que
devemos utilizar para viver a vida é a própria vida.

Figura 5. Quando se separou o conceito de Natureza do conceito de Deus, tudo foi por água
abaixo! E então tudo o que é natural passou a ser negado e abominado em nome de Deus,
que não está na natureza e nem é natural, mas está além do mundo.
Bom, o arranque se deu com a morte dos valores cristãos e a partir disso, há um certo
sentimento de inquietude, pois, não existe mais um guia moral dizendo as pessoas o que
fazer. Elas estão demasiadamente livres e isso faz com que fiquemos perdidos a princípio.

Essa liberdade foi descrita por Nietzsche como algo problemático.  A galera trocou Deus por
pontos mais mundanos, substituindo aqueles ideais divinos pela ciência ou por outras
práticas humanas, como diria o próprio Nietzsche, uma moral demasiadamente humana.
Embora Deus esteja morto seu corpo permanece insepulto a medida em que nós
permanecemos a venerar ídolos, disfarçando a velha moral cristã. De nada valeu o deicídio
se a humanidade continuou crente! Transformando a Fé em Razão e idolatrando a ordem e
o progresso enquanto a moral escrava nos faz dobrar os joelhos e continuar a servir.
Trocamos o Deus de outrora pela releitura demasiadamente humana da ordem e progresso.

Como superar isso então? Será que viveremos sempre reféns de uma moral que nos
escraviza? E agora Nietzsche o que faremos? Ah! Para sair dessa o filosofo propõe a
superação de nós mesmo. Funciona assim, mesmo que esteja tudo um caos ao seu redor,
com florestas ardendo e nativos mortos em nome do progresso, é preciso que dancemos. É
você não leu errado, Nietzsche propõe que dancemos!

“É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor.
Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na
loucura. E eu, que estou bem com a vida, creio que para saber de felicidade não há como as
borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens. Ver revolutear
essas almas aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca a Zaratustra lágrimas
e canções.

Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar. E quando vi o meu demônio, pareceu-me
sério, grave, profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas.
Não é com cólera, mas com riso que se mata. Adiante! matemos o espírito do pesadelo!
Eu aprendi a andar; por conseguinte corro. Eu aprendi a voar; por conseguinte não quero
que me empurrem para mudar de sítio. Agora sou leve, agora voo; agora vejo por baixo de
mim mesmo, agora salta em mim um Deus” – Assim Falou Zaratustra.”

Na obra “Assim Falou Zaratustra”, é possível encontrar essa metáfora algumas vezes. Com
essa ideia de dança, Nietzsche, por meio do protagonista Zaratustra, quis expor a sua ideia
de curtir a vida, de Amor Fati, Zaratustra abraçou a vida pois aprendeu a dançar.

A metáfora se trata de ouvir o mundo e todo seu ritmo e com ele dançar. Para ficar mais
coeso, nossa própria existência se dá dentro de algo que chamamos de mundo, cabe a nós
apreender a sentir e entender esse mundo e depois disso, é só viver – É preciso ter o caos
dentro de si para dar à luz a uma estrela dançante, bora dançar!

Essa ideia do dançarino compõe o conceito do Super Homem de Nietzsche. O Clark Kent
nietzschiano é um sujeito dançante cujo ressentimento a respeito das desgraças do mundo
ele superou. O além-homem deve deixar tudo para trás e com isso destruir todos os ídolos,
martela-los até se tornarem poeira. Somente assim, o ser humano se transforma no artista.
Naquele que é dono de si, no sujeito dançante pois, compreendeu o sentido do Eterno
Retorno.

O eterno retorno, esse é um dos mais bonitos conceitos apresentados pelo filósofo em suas
obras. De maneira sucinta, o conceito que aparece no aforismo 341 de “A Gaia Ciência” e
também na obra de Zaratustra, serve para que entendamos o Critério da Vida. Bom, e já que
tem toda uma poética envolvida, vale a pena conferir um pedacinho do texto, eis aqui o
eterno retorno:

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te


dissesse: «Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda
uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e
cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua
vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha
e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna
ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!
(…)”

Vish! A partir daí Nietzsche faz a reflexãod: dado essa oferta (de reviver sua vida toda
igualzinha) você iria temer esse demônio vil e cruel ou diria que és um Deus? Bom, dessa
ideia de eterno retorno, o filósofo desejou expressar que devemos viver a vida tal como ela
deve ser vivida e deixar de lado o que não importa, pois, repetir infinitas vezes sua vida seria
uma dádiva, não um castigo.

Viver essa vida dançante, essa vida em que o Eterno Retorno seria uma dádiva é ir além, é
ultrapassar todas as formas de “ismos” que vemos pelo mundo e nos libertar dos
moralismos que nos aprisionam. É como Nietzsche um dia me disse, ao invés de perguntar o
que pode o homem? Caí na real e perceba que ele não pode mais nada. A mais sensata
alternativa seria superá-lo, seria ir além do homem, ser o Super Homem de Nietzsche!

Figura 7. “Os mais preocupados perguntam hoje: como conservar o homem? Mas Zaratustra
é o primeiro e único a perguntar: Como superar o homem? ” – Nietzsche, Assim Falou
Zaratustra, p. 272
Em suma, depois de Deus morrer, se deu início ao jogo de poder para definir qual seria as
novas regras da moral. Com isso o niilismo trouxe angústia e até desespero pelas incertezas
da vida. Todavia, é o Übermensch (o Super Homem de Nietzsche) quem transcende o bem e
o mal, Deus e toda as religiões. Com isso também fica para trás a moral judaico-cristã, as leis
dos homens e tudo aquilo que nos aprisiona, o Super Homem supera a moral do escravo.

Por fim, embora a morte de Deus tenha sido o estopim, foi somente com o tal do Super
Homem nietzschiano que o deicídio se tornou algo decisivo, pois, é com o desvanecer do
homem que iria emergir o homem que irá além dele próprio. Superando assim Deus, bem
como todos os demais valores apolínios para finalmente pôr fim a angustia e noticiar o que
Nietzsche chamou de filosofia do meio-dia.

Zaratustra foi um herói acima de Deus e dos homens, mas o que faz de um herói alguém
especial? Confira no videio abaixo:

Agora é contigo, teste seus conhecimentos nas questões a seguir.

1) UEG – No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche vislumbrou o advento do


“super-homem” em reação ao que para ele era a crise cultural da época. Na década de 1930,
foi criado nos Estados Unidos o Super-Homem, um dos mais conhecidos personagens das
histórias em quadrinhos. A diferença entre os dois “super-homens” está no fato de
Nietzsche defender que o super-homem

a) agiria de modo coerente com os valores pacifistas, repudiando o uso da força física e da
violência na consecução de seus objetivos

b) expressaria os princípios morais do protestantismo, em contraposição ao materialismo


presente no herói dos quadrinhos

c) abdicar-se-ia das regras morais vigentes, desprezando as noções de “bem”, “mal”, “certo”
e “errado”, típicas do cristianismo

d) representaria os valores políticos e morais alemães, e não o individualismo pequeno


burguês norte-americano

2) (UFSJ 2012) Assinale a alternativa que expressa o pensamento de Nietzsche sobre a


origem do bem.

a) “Faça isto e mais isto, não faça aquilo e mais aquilo – e então serás feliz, contrário…”
Dessas ações procedem o bem em si.

b) “Todo o bem procede do instinto e é, por conseguinte, leve, necessário, espontâneo”.

c) “O vício e o luxo são a causa do perecimento de povos e raças”. Libertar-se de tais


desequilíbrios, eis aí a fórmula do bem original.

d) “O cornarismo resume toda a origem do bem e é prerrogativa cultural da raça humana”.

e) “Deus é o criador do bem”.


3) (UFSJ 2012) Na perspectiva nietzscheana, o livre-arbítrio é um erro porque

a) ao declarar que os homens são livres, as forças coercitivas, como o poder da Igreja, agem
com o claro intuito de castigá-los, julgá-los e declará-los culpados.

b) os homens, indignos como são, jamais alcançarão a dimensão da ideia implícita no livre-
arbítrio.

c) o cristianismo, apesar de seus esforços candentes, não conseguiu tirar a culpa do ser
humano.

d) a fatalidade impressa no ser humano está na sua historicidade, no seu livre-arbítrio, e por
isso mesmo o Homem está condenado à culpa.

Gabarito

1.C, 2.B, 3.A.

Veja o que é Fenomenologia e as filosofias de Hegel a Husserl


A Fenomenologia é um método filosófico que se propõe a investigar os fenômenos da
experiência.
Nessa aula você descobrirá como a Fenomenologia se tornou a corrente filosófica sensação
do século XX e como esse conteúdo pode cair no Enem e nas provas dos vestibulares.

O que é Fenomenologia?
A Fenomenologia é uma corrente filosófica que ganhou notoriedade durante o século XX. O
filósofo alemão Edmund Gustav Albrecht Husserl na tentativa de desvelar os mistérios do
mundo que o cercava, optou por uma nova abordagem dos problemas filosóficos.

Assim, foi a partir das suas investigações filosóficas que surgiu a Fenomenologia.

Figura 1. Foto de Edmund Gustav Albrecht


Husserl, um filósofo e matemático do século XX.

Husserl e a origem da Fenomenologia


Husserl, assim como a grande maioria dos filósofos que o precederam, buscava ter certeza
acerca das coisas. Ora, certeza nas Ciências Humanas é algo bastante complicado. É como
tentar resolver uma equação infinita, na qual cada operação concluída gera diversas outras
em uma espécie de conta sem nexo ou fim.
Todavia, Husserl além de filósofo era chegado nas Exatas e como tal, trouxe uma visão
diferente daquilo que os filósofos vinham fazendo até então. Quando ele começou a divagar
sobre isso, a metodologia popular da filosofia era o Positivismo.

O alemão foi um crítico do Positivismo e ostentava uma certa desconfiança à metodologia


francesa. Para ele, embora as teorias científicas sejam embasadas nos experimentos, estes
experimentos são cheios de suposições e achismos.

Como a ideia de Husserl era acabar com as incertezas, esse tipo de coisa não era cabível – já
que o Positivismo falha ao possibilitar suposições – para alguém que busca a certeza.

Por conta disso, Husserl fez algo que um outro filósofo já havia tentado antes. Ele se livrou
de todo conhecimento incerto, bem como o fizera René Descartes, alguns séculos antes.

Entenda mais sobre Husserl com a videoaula do nosso canal:

Uma ótica universal e menos particular


A teoria de Husserl então era utilizar uma abordagem mais científica para lidar com a
experiência. Dessa forma deixaria de lado toda aquela suposição, achismos e opiniões
insensatas. Enfim, deixaria de lado tudo o que é particular.

Essa é uma lição demasiadamente valiosa. Visto que é comum observar pessoas que tomam
suas experiências individuais como algo universal. Muitas vezes é necessário tentar entender
os problemas a partir de uma ótica mais universal e menos particular.

Bom, Husserl afirmou que a Ciência busca a certeza, todavia, como ela é empírica, a ciência
depende da experiência. Ora, a experiência está sujeita aos nossos “achismo” e opiniões
particulares. Assim sendo, a experiência não pode ser considerada Ciência.

Portanto, a visão de Husserl foi criar uma abordagem livre das influências alheias. Essa
abordagem foi denominada Fenomenologia. Assim, a Fenomenologia é a investigação sobre
os fenômenos da experiência!

Em suma, de acordo com Husserl, a Fenomenologia é um método filosófico que se propõe a


uma descrição da experiência vivida da consciência.

A Fenomenologia segundo Hegel


O alemão Georg Hegel foi um nome muito importante da Fenomenologia. Responsável por
uma abordagem mais pragmática dos problemas mundanos, ele escreveu uma obra
chamada “A Fenomenologia do Espirito” para tratar dos problemas abordados por essa
corrente filosófica.

A Fenomenologia de Hegel tentou evidenciar a experiência da consciência que se relaciona


com a substância enquanto objeto da própria consciência. É bacana ter em mente que a
Fenomenologia de Hegel se apoia no movimento dialético que ele tanto defendia.

Bom, a Dialética dentro da Fenomenologia funciona assim: existe no mundo uma


discordância entre a certeza que a consciência tem do objeto e a verdade sobre o objeto.
Essa disputa (consciência x verdade) gera várias interpretações dos objetos, visto que nossa
consciência do objeto varia.

Nesse sentido, conforme a gente vai vivendo e ganhando experiencia, a própria experiência
faz com que surjam novas interpretações dos objetos. Logo, esses objetos acabam sendo
distintos do que eram. Assim faz-se necessário uma nova interpretação para entendê-los.

Figura 2. Meme sobre Hegel e sua famigerada citação acerca da consciência.

Entenda mais sobre Hegel com a videoaula


O Fenômeno enquanto objeto de estudo
Dizer que a Fenomenologia estuda os fenômenos é meio que chover no molhado.
Entretanto, diferente do usual, quando empregamos o termo “fenômeno”, não há nada de
sobrenatural ou extraordinário. É somente uma designação daquilo que pode ser
observável.

Para além da visão, quando os filósofos dizem observar algo, eles se referem a perceber esse
algo através dos seus sentidos. Além disso, tentam entender a essência que as coisas
possuem.

Essa discussão acerca da essência das coisas é uma “parada” milenar. Platão a mais de dois
mil anos atrás dizia que as coisas no mundo são meras sombras da sua real forma. Desde
então essa discussão se arrastou, sendo objeto da atenção de muitos filósofos como
Descartes, Hume e Kant.

Figura 3. Antes da Fenomenologia se estruturar como corrente filosófica, os filósofos


Descartes (esq) Hegel (centro) e Kant (dir) foram os principais pensadores a discutir a
compreensão que podemos ter dos fenômenos do mundo.
Todos esses filósofos, que precederam a Fenomenologia, serviram de base para o método
fenomenológico. Ora, a fenomenologia tem como meta entender qual é a essência das
coisas. Ou seja, entender aquilo que por anos a Filosofia tem debatido.

Por fim, quando Hegel veio com essa ideia de movimento entre consciência e concepção da
realidade, ele gerou a maior reviravolta filosófica.

Com isso, a Fenomenologia ganhou ainda mais destaque nos debates filosóficos, tornando-
se uma grande influência para os vários filósofos que o sucederam.

Exercícios

1) (Uem 2011)
A fenomenologia é um método e uma filosofia que surge no final do século XIX, com Franz
Brentano, tendo como um dos principais representantes o filósofo Edmund Husserl. Sobre a
fenomenologia, assinale o que for correto.

01) A fenomenologia de Edmund Husserl procura superar as teorias do conhecimento


empirista e idealista, como também o dualismo entre o sujeito e o objeto.

02) Para a fenomenologia, a consciência é sempre consciência de alguma coisa; portanto,


não há uma realidade pura, isolada do homem, mas a realidade enquanto ser percebido.

04) O filósofo alemão Martin Heidegger, pertencente à escola fenomenológica, resgata um


conceito de verdade desenvolvido pelos gregos arcaicos: o conceito de alétheia, que significa
o não oculto, aquilo que se mostra ou se desvela.

08) O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty defende uma concepção dualista para a
matéria e o espírito. De um lado, estão os objetos e o corpo, de outro, o sujeito e a
consciência.

16) A gestalt, corrente da Psicologia que se desenvolveu no começo do século XX, ao


reconhecer a influência da fenomenologia, opõe-se à psicologia de tendência positivista.

(Unicentro 2010)

2) Qual o postulado básico da fenomenologia?


a) A fenomenologia afirma que o conhecimento não passa de uma interpretação da
realidade, isto é, de uma atribuição de sentidos determinada por uma escala ontológica de
valores, constituindo-se, portanto, numa metafísica dos costumes.

b) Em nome da verdade subjetiva, a fenomenologia recusa o projeto da filosofia moderna,


recusando o pensamento analítico. Seu postulado básico afirma que o real deixa de ser
racional.

c) A fenomenologia procede por decomposição, enumeração e categorização dos objetos,


fragmentando-os. Seu postulado básico é estabelecer a dicotomia entre razão e experiência.
d) A fenomenologia pretende realizar a superação da dicotomia razão-experiência no
processo do conhecimento, afirmando que toda consciência é intencional, ou seja, o objeto
só existe para um sujeito que lhe dá significado.

e) O postulado básico da fenomenologia é a metafísica fenomenológica, isto é, voltada para


o reconhecimento do ser em si dos fenômenos, portanto, vinculada a uma noção de ser
abstrata e a uma consciência transcendental.

3) (Uem 2010)
A filosofia de método fenomenológico foi criada na Alemanha pelo matemático e filósofo
Edmund Husserl. A fenomenologia como teoria do conhecimento contesta tanto o
empirismo quanto o idealismo. Para a fenomenologia, o empirismo conduz ao ceticismo, e o
idealismo reduz o conhecimento a uma atividade puramente psicológica. Sobre a
fenomenologia, assinale o que for correto.

01) Para a fenomenologia, só podemos alcançar a verdade reproduzindo, pelas experiências


realizadas nos laboratórios, os fenômenos que observamos na natureza.

02) Edmund Husserl buscou nos Cursos de filosofia positiva, de August Comte, os princípios
que irão fundamentar um método seguro para alcançar a verdade científica.

04) Da mesma maneira que Platão, a fenomenologia considera que o mundo sensível
apresenta-se sob o engano da aparência. A verdade deve ser procurada no mundo inteligível
das ideias.

08) A fenomenologia considera que a consciência é intencionalidade, ou seja, a consciência é


sempre consciência de alguma coisa. Por isso, a fenomenologia não busca explicar a
consciência, mas descrevê-la no ato do conhecimento. É a partir da intencionalidade da
consciência que devemos entender como se produz o conhecimento.

16) O filósofo francês Jean-Paul Sartre encontrou na fenomenologia os fundamentos para


elaborar a filosofia existencialista e sua concepção de liberdade.

Gabarito
1. 23 (01 – 02 – 04 – 16),

2. D,

3. 24 (08 – 16).

 Disciplinas

Conheça Merleau-Ponty e seus estudos sobre fenomenologia


Filósofo, combatente da Segunda Guerra e assunto cobrado no Enem, Merleau-Ponty foi um
pensador do século XX que você vai conhecer nesta aula de Filosofia!
Nascido na França no início do século XX, meu “camarada” Maurice Merleau-Ponty foi um
sujeito curioso que se dedicou a investigar os fenômenos do mundo. Companheiro de
estudos de outros grandes filósofos, como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, ele
colaborou para expansão de uma nova filosofia após a Segunda Guerra Mundial.
A fenomenologia de Merleau-Ponty
Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961) era particularmente fascinado pelas investigações da
nossa vida cotidiana. O cara analisava os fenômenos do mundo desde os mais banais aos
mais exóticos. Isso incluiu ele na corrente filosófica chamada fenomenologia. Além Merleau-
Ponty, a fenomenologia conta com outros grandes pensadores, como Edmund Husserl, Max

Scheler, Karl Jaspers, Ernesto Grassi e muitos outros.


Retrato de Merleau-Ponty. Assim como Sartre, Merleau-Ponty também lutou na II Guerra
Mundial, se alistando na infantaria.

Para compreensão das ideias de Merleau-Ponty, é importante entender um pouco sobre a


fenomenologia, uma metodologia de investigação criada por Edmund Gustav Albrecht
Husserl, no início do século XX.

Como o próprio Husserl explicou certa vez: “Fenomenologia é o método filosófico que se
propõe a uma descrição da experiência vivida da consciência, cujas manifestações são
expurgadas de suas características reais ou empíricas e consideradas no plano da
generalidade essencial.”

A fim de entender melhor o pensamento de Husserl, assista a esta aula do prof. Alan  canal
do Curso Enem Gratuito:

O corpo enquanto crítica ao dualismo

A visão de Husserl inspirou a abordagem utilizada por Merleau-Ponty. Entretanto, há uma


diferença fundamental entre as duas teorias. Para Merleau-Ponty a análise de Husserl é
falha, pois não reconhece algo fundamental: o corpo.

Desde Descartes, existe uma certa tradição na filosofia que tende a separar a mente do
corpo. Merleau-Ponty vai romper com essa ideia, colocando o corpo como uma das figuras
centrais de sua teoria. Com isso, a mente e o corpo não são coisas separadas, mas juntos
compõe um todo experiencial.

Para Merleau-Ponty, nossa percepção de mundo se dá através do corpo. Isto é, nosso corpo
e nossa consciência são partes de um sistema único de apreensão da realidade. Essa ideia é
uma forma de antagonizar o pensamento dualista que ganhou notoriedade com René
Descartes.
Conceito de forma para Merleau-Ponty

Outra ideia importante para compreensão do filósofo francês é o conceito de forma –


Gestalt – utilizado para formular essa distinta visão fenomenológica. A “parada” é centrada
no papel do formato que as coisas possuem. Na visão de Merleau-Ponty, as formas são a
síntese entre a natureza e a ideia.

Todavia, o que importa nesse pensamento não é propriamente o formato da forma, mas a
estrutura que possibilita o entendimento das coisas no mundo. “Se liga”: você consegue
perceber algo de maneira pura? Uma cor por exemplo, você consegue perceber o vermelho
sem atrelá-lo a alguma “parada” mundana?

Bom, as coisas são perceptíveis para nós quando elas tomam forma, o azul se torna algo
perceptível quando vislumbramos o mar ou quando devaneamos ao olhar para o céu.
Todavia, sem uma forma não seria possível perceber as cores.

Meu “camarada” Maurice, afirmava que essas percepções se dão de maneira espontânea. É
interessante notar essa espontaneidade é bastante parecida com aquela que Aristóteles se
referiu ao falar de Filosofia, quando disse algo como: ‘A Filosofia é a nossa capacidade de se

espantar com o mundo’.


Merleau-Ponty ofereceu uma nova perspectiva de interpretação de mundo, prezando
primeiramente pela não aceitação do habitual.

Por fim, as investigações de Merleau-Ponty são uma importante adição à fenomenologia.


Apesar de sua morte ter sido prematura, o destaque que ele deu para o corpo, bem como
suas teorias acerca da mente, se tornaram uma base sólida para as investigações que os
cientistas cognitivos fariam depois.

Para finalizar sua revisão, veja mais esta videoaula do professor Alan no nosso canal do
YouTube:

Exercícios sobre Meleau-Ponty


1- (Uem 2012)
“O pensamento moderno, não por objeção frontal, mas pelo desenvolvimento do próprio
saber, leva a uma revisão das categorias clássicas, a uma reforma da ontologia clássica do
sujeito e do objeto. O núcleo desse desenvolvimento – que deve levar, por sua vez, a uma
nova filosofia – consiste na descoberta de que a situação, seja do ‛objeto’, seja do ‛sujeito’,
não é mais passível de exclusão da trama do conhecimento.

Dito de outra forma: o objeto ‛verdadeiro’, aquele de que a ciência trata, não é mais aquele
objeto absoluto de que falavam os clássicos, mas se torna, intrinsecamente, relativo. Em
suma, não há mais um objeto puro, em si, um objeto tal como o próprio Deus (isto é, um
observador absoluto) o veria. Também não há mais esse sujeito absoluto, aquele que
começava por afastar toda manifestação sensível, isto é, que começava por afastar,
correlativamente, seu próprio corpo para colocar-se como puro espírito.”

(MOUTINHO, L. D. Merleau-Ponty: entre o corpo e a alma. In: Antologia de textos filosóficos.


Curitiba: SEEDPR, 2009, p. 494.)

Sobre a nova filosofia de que fala o texto, assinale o que for correto.

01) A fenomenologia critica as distinções clássicas, tais como alma e corpo, sujeito e objeto,
matéria e espírito, coisa e representação.

02) O ponto de vista de Deus não é mais possível, nem necessário, para a renovação da
filosofia.

04) O positivismo é esta filosofia nova, pois revoga a ontologia clássica.

08) Merleau-Ponty privilegia o corpo, pois, através dele, o homem constitui-se de uma
consciência fática ou concreta.

16) A situação do objeto e do sujeito é relativa, pois a fenomenologia é o retorno à isegoria


dos gregos e ao “meio termo” de Aristóteles.

2- (Uem 2010)
A fenomenologia é um dos fundamentos da Filosofia de Maurice Merleau-Ponty. No âmbito
da escola da fenomenologia, ele contesta princípios basilares da Psicologia clássica, de
cunho mecanicista-racionalista.

Com base na afirmação acima, assinale o que for correto.

01) A sensação é concebida, por Merleau-Ponty, pelos efeitos que os estímulos externos dos
objetos exercem sobre os sentidos. O campo visual, por exemplo, é concebido como um
mosaico de sensações despertadas pelos estímulos do objeto sobre a retina

02) Para Merleau-Ponty, a percepção é o conhecimento sensorial de formas ou de


totalidades organizadas e dotadas de sentido.

04) Conforme um dos princípios da fenomenologia de Edmund Husserl, a consciência, para


Merleau-Ponty, não exerce nenhuma atividade na produção de conhecimentos científicos.

08) Para Merleau-Ponty, a consciência de si é o resultado de um esforço intelectual de


conhecimento e não depende da facticidade de nosso engajamento.
16) Para Merleau-Ponty, imanência e transcendência são conceitos antitéticos que se
comunicam, dada a configuração de nosso corpo no mundo.

Gabarito

1. 11 (01+02+08)
2. 18 (02+16)

Conheça Martin Heidegger e suas ideias sobre o ser e o tempo


Martin Heidegger é considerado um dos maiores filósofos do século XX. Nascido na
Alemanha, desenvolveu importantes estudos na fenomenologia e acerca do que somos.
A curiosidade acerca do que somos é algo sempre presente. O filósofo alemão Heidegger
decidiu investigar mais a fundo o que realmente somos. Venha conferir essa fantástica
investigação que é conteúdo do Enem.

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1 O que é o ser humano

2 Heidegger e o que somos

3 Videoaula

4 Exercícios

O que é o ser humano


Você conseguiria se definir? O que faz de nós o que somos? O filósofo alemão Martin
Heidegger (1889 – 1976) foi fascinado por esse tipo de questão. Bom, não só ele, pois há
muitas eras filósofos se questionam acerca do que somos. Mas, afinal, o que é o ser
humano?

Voltando lá nos idos da Antiguidade, diversos filósofos construíram definições acerca do ser
humano. Platão, reza lenda, reuniu uma galera para trocar aquela ideia a respeito disso.
Depois de muito ponderarem, definiram o ser humano como um bípede sem penas.

Enquanto admiravam a conclusão do seu trabalho foram subitamente interrompidos pelo


meu “camarada” Diógenes, que irrompeu aquela cena com uma galinha depenada em sua
mão e então bradou: Contemplem, um Homem!
Tirinha retratando Diógenes “tirando onda” com as teorias de Platão no meio das reuniões
da Academia.

Um “tremendo fanfarrão” esse Diógenes! Aliás, se você quiser saber mais histórias
mirabolantes sobre esse filósofo cínico, dá só uma olhada nesse post sobre as escolas
helênicas e fique por dentro dos feitos do maior “troll” da história da Filosofia.

Heidegger e o que somos


Bom, galinhas à parte, pode ser um tanto quanto complicado definir o que o ser humano é.
A história está recheada de tentativas, como, por exemplo, Aristóteles com seus animais
políticos, Hobbes com seus lobos de si mesmo ou até Millôr Fernandes com seu animal digno
de deboche.

Em todo caso, essas definições são demasiadamente abstratas e para Martin Heidegger não
eram suficientes. Inspirado pela análise que a fenomenologia de Hussert fez do mundo, meu
“parça” Martinho Heidegger “bolou” uma teoria ímpar que destoava de tudo que fora
pensado até então.

Já que não iria se prender às antigas análises externas, Heidegger fez sua própria análise do
ser a partir de uma perspectiva interna. Em outras palavras, se a gente quer entender qual é
a questão do ser – o que é o ser – é necessário ponderar a questão, a começar do ponto de
vista dos seres (dos entes) para qual ser é um tema.

Saindo um pouco do “filosofes”, imagine um animal qualquer, por exemplo, um guaxinim ou


mesmo um ornitorrinco. Eles podem ser considerados seres, certo? Todavia, até onde
sabemos, eles não se indagam acerca da sua existência ou nada do tipo. Portanto, só os
seres humanos têm essa particularidade.

Tirinha de
Carlos Ruas sobre os problemas existências de ser um ornitorrinco.

O ser e o tempo

O Magnum opus do alemão intitulado ‘O Ser e o Tempo’ discutiu com profundidade as


questões relacionadas à nossa existência. Já que nós somos os únicos animais a refletir nossa
condição, Heidegger investigou e analisou o ser do ente, começando com nós mesmos. Isto
é, o que significa para você existir?

A obra recebe esse título pois, como você deve suspeitar, vindo de um filósofo
existencialista, trata dos problemas que envolvem o ser. Ora, o outro ponto de destaque na
obra é o tempo. Heidegger dizia que nós somos seres temporais, o que, particularmente, é
uma outra maneira de dizer que somos mortais.

Ao nascer, nós somos inseridos em um mundo que já existia antes de nós. Daí, em meio a
tropeços e pancadas, esse mundo vai se apresentando a nós. Percebemos, então, que
estamos inseridos em um mundo que além de existir antes de nós, possui na duração de
nossas vidas uma configuração específica das “paradas”.

Nós, em nossa curta existência, tentamos entender ‘qualé desse mundão’ para dar sentido
ao mundo. Para tanto, a gente acaba por desenvolver uma série de passatempos, que
podem ser considerados produtivos – como aprender filosofia –, ou quem sabe passatempos
recreativos, como, por exemplo, maratonar séries ou assistir vídeos fofos de gatos. Pode até
ser que tenhamos passatempos exóticos como criar Sacis ou ser adepto da taphophilia.

Saca só, é por conta dos nossos passatempos que arquitetamos o nosso futuro, ou seja, o
que define nossa existência futura são as “paradas” que estamos fazendo. Todavia, como
você deve suspeitar, essa “parada” aí de projetar o futuro tem um fim. Portanto, todos os
nossos passatempos se findarão, estejam eles concluídos ou não.
Foto de Martin Heidegger, filósofo e escritor alemão.

Heidegger e a morte

É como Heidegger dizia, a morte é o horizonte mais distante do nosso ser, uma vez que,
todas as “paradas” que fazemos estão situadas dentro desse horizonte e nós, enquanto
seres temporais, não podemos ver além dele.

Ademais, ao vivermos alheios da nossa finitude, nós perdemos o aspecto mais fundamental
da nossa existência, o que é para Heidegger uma maneira não autêntica de viver a vida.

Então, ele quer dizer que, quando estamos vivendo imersos em nossos afazeres, tão
preocupados com nossa vaga na universidade, nota do Enem ou sabe-se lá o que, devemos
nos perguntar: estamos realmente vivendo ou apenas pagando boletos e compartilhando
memes enquanto o tempo passa?

Por fim, todo ser é um ser rumo a morte! Todavia, somente nós, humanos, somos capazes
de ponderar acerca disso. É como Heidegger afirmou: estamos inseridos no tempo e,
portanto, devemos perceber que nossas vidas são temporais. Somente assim seremos
capazes de levar uma vida com autenticidade, uma vida que valha a pena ser vivida.

Videoaula
Para saber mais sobre esse filósofo, veja esta videoaula do canal “Se liga na história”:

Exercícios
1- (Unioeste 2017)
Martin Heidegger (1889-1976) afirmou: “ser homem já significa filosofar”. Sua tese é a
seguinte: o homem se caracteriza pela distinção entre o “é” e as características de qualquer
coisa, ou seja, de qualquer ente; com isso, no encontro cotidiano com os entes,
antecipadamente (antes de encontrá-los e conhecê-los) sabemos (a) que eles são e (b) que
eles não são o “ser”, que são diferentes de sua “existência”. Eis por que todos podemos, a
qualquer instante, nos lançar às perguntas pelo ser dos entes e pelo sentido do ser em geral,
ou seja, às perguntas filosóficas. Independente de filosofarmos expressamente, as questões
e a força para a investigação, portanto, estariam na raiz mesma de nosso ser, e precedem
todo conhecimento e pensamento aplicado.

De modo análogo, a primeira frase da Metafísica de Aristóteles afirma: “Todos os seres


humanos tendem essencialmente ao Saber”. Essa tendência essencial significa que uma
propensão para o Saber está presente, ainda que inexplorada, em todos os seres humanos.
Como Aristóteles escolheu, para o Saber, uma palavra grega que se assemelha ao “Ver”
imediato (eidénai), pode-se compreender que se trata tanto do conhecimento em geral
quanto (e principalmente) do Saber metafísico, sobre o princípio essencial ou estrutura
metafísica da realidade. Em suma, Aristóteles já estaria dizendo que ser homem significa
filosofar.

Com base no que foi dito, marque a alternativa CORRETA.

a) Uma contradição total reina entre as teses contemporâneas e gregas, em filosofia.

b) Não tem importância central a atenção nem a interpretação das formulações e termos
filosóficos.

c)Segundo Heidegger, a distinção entre o ente e o ser torna possível o pensamento.

d) Aristóteles afirma a tendência essencial do ser humano a ficar preso ao sentido da visão,
nas sombras.

e) Heidegger e Aristóteles têm como tese que filosofar expressamente é um destino humano
comum.

2- (IFRN 2012)
A concepção que Heidegger apresentava sobre a metafísica leva a pensar que:

a) a investigação metafísica busca fundamentalmente a contemplação da natureza do ser


primordial, Deus ou o primeiro motor imóvel.

b) a metafísica é uma ferramenta que pode ser utilizada como um mecanismo ontológico de
ascensão contemplativa, da opinião em direção ao conhecimento teorético de todas as
coisas.

c) a metafísica se preocupa com as causas fundamentais dos entes particulares, de maneira


a fornecer uma visão sistemática sobre cada um dos entes, classificados taxionomicamente a
partir dessas mesmas causas do Ser.

d) aquele que questiona, na investigação metafísica, está envolvido com a questão de modo
que pode ser surpreendido, pois ele é um ente em meio aos entes e implicitamente
transcende os entes como um todo.

Gabarito

1. C
2. D
Veja quem foi Jean-Paul Sartre e a teoria do Existencialismo
Jean-Paul Sartre foi um filósofo francês, conhecido pelo
movimento do Existencialismo. Ele acreditava que a
existência precedia a essência.
Qual o sentido da vida? O que define nossa existência? Somos livres para escolher como
viver? Foram essas questões que levaram o filosofo francês Jean-Paul Sartre a se debruçar
sobre o Existencialismo garantindo a ele um local de destaque entre os intelectuais do
século XX.

Quem foi Jean-Paul Sartre


Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi o principal filósofo do movimento filosófico chamado
de Existencialismo. Ele discutiu um tema que intriga a humanidade desde os primórdios da
Filosofia, provavelmente até antes disso: a nossa existência.

Talvez você mesmo já tenha se perguntado sobre qual é o propósito da nossa existência? Ou
quem sabe foi além e divagou a respeito do que é existir?

Bom, se você o fez provavelmente isso lhe trouxe algum crescimento pessoal, se não o fez, é
interessante fazê-lo. Em todo caso, vamos adentrar esse tema em uma jornada com Sartre
como nosso guia. Bora lá?

Figura 1.  Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi


um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo.

Da Natureza Humana

Há quem diga que existe algo que faz de nós o que somos (bípedes implumes?), na Filosofia
chamamos isso de Natureza Humana. Algo como uma essência predeterminada que todos
os humanos têm.

Muitos eventos que aconteceram no mundo giram ou giraram em torno da Natureza


Humana. As religiões abrâamicas, por exemplo, dizem que nós somos seres moldados a
semelhança de um ser supremo – ao invés de bípedes implumes – e nosso agir está
diretamente ligado ao “ser” lá no céu.

Como cópias – defeituosas – do “cara lá de cima”, somos fadados a herdar sua essência.
Com isso nossa vida fica restrita a uma única maneira de viver, ainda que sejamos “livres”
para não a seguir.
Todavia, isso implica em uma série de coisas, incluindo um pacote exclusivo de férias no
inferno com duração de uma eternidade!

Influência da Grécia Antiga

Para além das religiões monoteístas dos desertos do Oriente Médio, existem também outros
pontos que assumem que nós temos uma essência da qual somos imbuídos. É o caso do
politeísmo em geral e de toda elemento considerado pagã, incluindo a mitologia grega.

Foram os gregos que vieram com esse papo de estudar Ética e com ela veio as noções de
certo e errado, os valores e tudo mais.

Lá na Grécia antiga, Platão dizia que tudo o que existe possui uma natureza, algo que faz as
coisas serem do jeito que são.

Em sua Teoria das Ideias Platão falou que nós temos uma essência imutável. E é aí o ponto
de conflito quando fazemos o embate com Sartre. Isso porque o francês não concordava
com a existência de uma natureza humana inalterada no tempo-espaço.

Figura 2. Sartre foi o autor da obra ‘O Ser e o Nada’ sua principal publicação. Embora, foram
as citações de ‘O Existencialismo é um Humanismo’ que se tornaram populares por
desenvolver o significado Ético do Existencialismo.

Entenda mais sobre Sartre com a videoaula:

O Existencialismo

Umas das frases mais famosas de Jean-Paul Sartre é aquela da Existência preceder a
Essência, ela tem tudo a ver com esses pontos que vimos de Natureza Humana.

Grande parte das teorias que concebem uma Natureza Humana vem de metáforas que
falam sobre um ser criador que nos faz com um propósito em mente, uma finalidade para
nossa existência.

Para ficar mais fácil entender isso, imagine que você precisa dividir seu shawarma com a
pessoa amada, para tanto você necessita de uma faca.
A existência precede a essência

Você então faz a escolha mais sensata e decide forjar uma. Visto que o propósito da sua faca
é repartir um shawarma em dois pedaços iguais (porque se não dá briga) existem certos
critérios que devem ser atendidos para que isso seja possível, bem como para que sua faca
seja apenas isso, uma faca.

Esses critérios dizem basicamente que, seu utensilio doméstico tem que ser afiado o
suficiente para cortar, do contrário não seria uma faca. Ele tem que ser pequeno para ser
fácil de manejar, se não seria um facão ou uma espada, mas não pode ser curto demais se
não seria um canivete.

Tampouco precisa ter ambos os lados afiados pois aí seria uma adaga, nem muito pontudo
se não seria um punhal. Enfim, é impossível uma faca ser uma faca sem que se saiba a sua
finalidade.

Ora, é basicamente essa essência que diferencia a lingerie do biquíni! Daí, o raciocínio de
Sartre para justificar essa coisa da existência preceder a essência é bem simples.

Em uma analogia, diria que: um biquíni é arquitetado por alguém, nós não. Em outras
palavras, como não existe uma entidade divina consciente que tenha nos criado, todo esse
papo de Natureza Humana não passa de uma baboseira.

Contexto das ideias de Sartre

Sartre lutou na Segunda Guerra, foi capturado pelos nazistas e preso em campo de
concentração! Esses eventos insanos, certamente influenciaram bastante em sua crença no
divino, bem como, em tudo o que ele veio a teorizar depois.

Inclusive, ele se tornou um militante Marxista após retornar a França.

Além disso, Sartre era ateu, como a grande maioria dos filósofos do século XX,
principalmente quando falamos daqueles que se dedicaram a corrente existencialista.
Todavia, existe uma vertente chamada Existencialismo cristão, que pressupõe uma entidade
divina.

Enfim, para que fique bem didático, veja um resumo sobre as ideias de Sartre e o
Existencialismo.

Primeiramente, não há um deus e por isso nós não somos criados por um deus. Quando nós
criamos algo, o fazemos com um propósito seja ele qual for.

Ao contrário de nossas criações, nós não fomos criados com quaisquer propósitos. Portanto,
a nossa existência vem antes do nosso propósito, ou seja, a existência precede a essência.

Da Liberdade e do outro
Inspirado nas ideias de Martin Heidegger, Sartre tentou definir o que somos, isto é, o que é
ser? Indo além das definições fisiológicas e das tautologias linguísticas, Jean-Paul fez uma
análise da nossa essência.
Nós somos a única espécie que pode assumir a natureza que escolhermos, isto é, nossa
essência é algo que cabe somente a nós.

Essa particularidade nos faz diferente de todas as outras espécies que habitam esse planeta.
Em suma, você é aquilo que você escolhe fazer de si e nenhum outro animal pode sustentar
tal afirmação além do ser humano.

Essa habilidade sui generis é baseada na nossa Liberdade e embora o conceito


de Liberdade seja por vezes romantizado e problematizado, vamos entende-lo de maneira
simples:

Conceito de liberdade para Sartre


Liberdade é a capacidade individual de optar com total autonomia, mas dentro dos
condicionamentos naturais, por meio da qual o ser humano molda a si próprio.

Do mesmo modo, através da Liberdade nós conseguimos nos tornar seres ímpares em toda
extensão do que conhecemos do mundo. Ora, diferente da gente, um ornitorrinco por
exemplo, jamais poderá escolher ser anarquista ou escolher um time de futebol para torcer.

Todavia, vale ressaltar que para essa Liberdade ser vivida em sua plenitude é super
recomendado nos desprendermos daquelas maneiras engessadas de pensar. A ideia é que
devemos pensar além das construções sociais e preconceitos morais, pois nada disso é
predeterminado.

Portanto, existe, segundo Sartre, uma infinidade de possibilidades para vivermos, pois se a
existência precede a essência então tudo nos é possível. Contudo, como diria o Tio Ben
(aquele do Homem-Aranha) com grandes poderes vem também grandes responsabilidades.

A liberdade é uma responsabilidade

Sartre já pensava nisso muito antes do cabeça de teia. Ele diz que a Liberdade é a maior das
responsabilidades, uma vez que não somos responsáveis unicamente por nós. Nossas ações
implicam em uma macro estrutura de relações e o resultado dessas ações impacta
diretamente os outros.

Assim, sem nenhum princípio original que justifique nossas ações (já que nossa existência
precede tudo isso) somos os responsáveis diretos por nossas ações e estas recaem sobre
toda a humanidade, impactando o outro das maneiras mais diversas possíveis.

Conviver com o outro talvez seja o maior problema da sociedade. Analisando o mundo
segundo a visão proposta por Sartre, fica evidente que meus valores, isto é, as coisas que
considero importantes, podem ser diferentes das coisas que os outros consideram
importantes.

Isso já era evidente nos primórdios da Filosofia quando as escolas helênicas divagavam sobre
o nosso papel nesse mundo.

Diferenças entre a Antiguidade e Sartre


Em todo caso, a diferença da antiguidade para o que Sartre está falando, é que para o
francês os outros não estão errados ou certos. Isso depende da visão de quem julga, ou seja,
as outras pessoas são livres (assim como eu) para escolher fazer o que quiserem (lembra que
a existência precede a essência).

Dessa maneira, surgem conflitos porque temos valores diferentes que se contrafazem.

Então é o olhar do outro que nos mostra quem somos, inclusive, nos mostra os ângulos que
geralmente não gostamos, como nossos erros e falhas. Em outras palavras, Sartre conclui
então que a Liberdade de outrem extingue a nossa própria Liberdade e nos torna apenas um
objeto da Liberdade alheia.

Causando assim um aprisionamento em uma sombria solidão, em suma, o inferno são os


outros.

É tipo aquela fase da vida em que nós deixamos de procurar os monstros embaixo de nossas
camas, quando percebemos que eles estão dentro de nós. É desesperador, mas ao que
parece faz parte do aprendizado de se relacionar com as outras pessoas.

Além de Sartre, Albert Camus e Friedrich Nietzsche também discutiram essas problemáticas


sociais sob a luz do existencialismo.

Da condenação de ser livre


Até o momento, vimos que somos seres livres, sem nada em que nos apoiar. Pode até soar
desesperador já que, sem um modelo a seguir nos encontramos sozinhos em um mundo
caótico no qual tudo é permitido.

Aliás, essa é a razão pela qual as ideias de Sartre são consideradas pessimistas. No entanto, o
filósofo faz apenas uma leitura realista da vida, mas na real, isso lhe deprime? Saber o quão
sozinho você realmente está?

Reflita você mesmo, se nada possui um sentido predeterminado, então tudo me é


permitido. Ora, se eu posso fazer o que quiser, então a vida é em si é algo sem sentido.

Todavia, as coisas que eu faço possuem um sentido, portanto eu sou o único responsável
pelo sentido da minha vida, isto é, estou condenado a ser livre.

Otimista ou pessimista?

Então, indo além de ideia de um pensamento depressivo, ou mesmo pessimista, a visão de


mundo proposta por Sartre pode ser bastante animadora. Isso porque não temos com o que
se preocupar, podemos encarar a vida como uma aventura da qual não sairemos vivos.
Figura 5. Parafraseando um certo palhaço, poderia
dizer que a verdadeira piada é a nossa convicção teimosa até os ossos de que de algum jeito
ou de outro, tudo isso faz sentido! Isso me faz gargalhar toda vez!

Essa ideia coloca muita coisa em cheque! Noções como o racismo ou o machismo que
pregam uma superioridade natural do branco sobre o negro ou do homem em relação a
mulher, se tornam ainda mais absurdas frente a teoria proposta por Sartre. Inclusive, sua
companheira Simone dialoga bastante com as ideias de Jean-Paul ao escrever sobre o
Feminismo.

Por fim, Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi uma grande influência do século XX, suas ideias
são responsáveis por fundamentar inúmeras manifestações no mundo, mas principalmente
na França, onde os movimentos libertários chegaram a derrubar o governo inspirados pelo
filosofo.

Sartre permanece como um arauto da lucide em meio a uma sociedade insana, que acredita
que o ser humano tem que ser de uma maneira especifica, enquanto na verdade ele pode
ser infinito.

Exercícios
1) (Ufsj 2013)
Na obra “O existencialismo é um humanismo”, Jean-Paul Sartre intenta

(A) desenvolver a ideia de que o existencialismo é definido pela livre escolha e valores
inventados pelo sujeito a partir dos quais ele exerce a sua natureza humana essencial.

(B) mostrar o significado ético do existencialismo.

(C) criticar toda a discriminação imposta pelo cristianismo, através do discurso, à condição
de ser inexorável, característica natural dos homens.

(D) delinear os aspectos da sensação e da imaginação humanas que só se fortalecem a partir


do exercício da liberdade.
2) (Unioeste 2013)
“Quando dizemos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós
se escolhe a si próprio; mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-se a si
próprio, ele escolhe todos os homens. Com efeito, não há de nossos atos um sequer que, ao
criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como
julgamos que deve ser.

Escolher isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca
podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós
sem que o seja para todos. Se a existência, por outro lado, precede a essência e se
quisermos existir, ao mesmo tempo em que construímos a nossa imagem, esta imagem é
válida para todos e para a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do
que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade”.

Sartre.
Considerando o texto citado e o pensamento sartreano, é INCORRETO afirmar que

(A) o valor máximo da existência humana é a liberdade, porque o homem é, antes de mais
nada, o que tiver projetado ser, estando “condenado a ser livre”.

(B) totalmente posto sob o domínio do que ele é, ao homem é atribuída a total
responsabilidade pela sua existência e, sendo responsável por si, é também responsável por
todos os homens.

(C) o existencialismo sartreano é uma moral da ação, pois o homem se define pelos seus
atos e atos, por excelência, livres, ou seja, o “homem não é nada além do conjunto de seus
atos”.

(D) o homem é um “projeto que se vive subjetivamente”, pois há uma natureza humana
previamente dada e predefinida, e, portanto, no homem, a essência precede a existência.

(E) por não haver valores preestabelecidos, o homem deve inventá-los através de escolhas
livres, e, como escolher é afirmar o valor do que é escolhido, que é sempre o bem, é o
homem que, através de suas escolhas livres, atribui sentido a sua existência.

3) (Ueap 2011)
“A existência precede a essência.” O que melhor define esta frase do filósofo francês Sartre?

(A) Primeiro o homem existe, depois se define.

(B) O homem é o que ele concebe e não o que ele faz.

(C) O homem é “em si” e não “para si”.

(D) A vida de um homem está ligada a sua essência.

(E) A vida humana é totalmente determinada por Deus.


4) (Uema 2011)
O tema da liberdade é discutido por muitos filósofos. No existencialismo francês, Jean-Paul
Sartre, particularmente, compreende a liberdade enquanto escolha incondicional.

Entre as afirmações abaixo, a única que está de acordo com essa concepção de liberdade
humana é:

(A) O homem primeiramente tem uma essência divinizada e depois uma existência
manifestada na história de sua vida.

(B) O homem não é mais do que aquilo que a sociedade faz com ele.

(C) O homem primeiramente existe porque sendo consciente é um ser em si e para o outro.

(D) O homem é determinado por uma essência superior, que é o Deus da existência, pois,
primeiramente não é nada.

(E) O homem primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio
se fizer.

5) (Ufu 2012)
Leia o excerto abaixo e assinale a alternativa que relaciona corretamente duas das principais
máximas do existencialismo de Jean-Paul Sartre, a saber:

“a existência precede a essência”

“estamos condenados a ser livres”

Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por
referência a uma natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o
homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos
já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. […] Estamos
condenados a ser livres. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o
homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no
entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.

SARTRE, Jean-Paul.  O Existencialismo é um Humanismo. 3ª. ed. S. Paulo: Nova Cultural, 1987.
(A) Se a essência do homem, para Sartre, é a liberdade, então jamais o homem pode ser, em
sua existência, condenado a ser livre, o que seria, na verdade, uma contradição.

(B) A liberdade, em Sartre, determina a essência da natureza humana que, concebida por
Deus, precede necessariamente a sua existência.

(C) Para Sartre, a liberdade é a escolha incondicional, à qual o homem, como existência já
lançada no mundo, está condenado, e pela qual projeta o seu ser ou a sua essência.

(D) O Existencialismo é, para Sartre, um Humanismo, porque a existência do homem


depende da essência de sua natureza humana, que a precede e que é a liberdade.
Gabarito

1. B, 2.D, 3. A, 4. E, 5. C.

OUTUBRO:

Simone de Beauvoir e o Feminismo Existencialista


A filósofa francesa Simone de Beauvoir é autora da célebre frase: “ninguém nasce mulher:
torna-se mulher”. Entenda o que essa frase significa e a contribuição de Beauvoir para o
feminismo existencialista!

 O que é o homem? Essa pergunta acompanha a filosofia desde os tempos mitológicos e


provavelmente inquieta a humanidade desde os tempos imemoriáveis. Pensando nisso,
diversos filósofos se dedicaram-se a estudar o tema ao longo da história.

Conteúdo 
1 Quem foi Simone de Beauvoir
2 O que é ser mulher para Simone de Beauvoir
3 “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”
4 A opressão do ser humano sobre o outro
5 O que é o feminismo
6 Exercícios sobre a filosofia de Simone de Beauvoir

Quem foi Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir foi uma filósofa feminista, ativista política, escritora e teórica social
francesa. Aos 21 anos, ela foi a pessoa mais jovem a fazer o exame de filosofia na Sorbonne.

Beauvoir surgiu como uma figura bastante interessante no cenário filosófico do século XX ao
perguntar: o que é a mulher?
Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre

Durante seus estudos na Sorbonne, Simone de Beauvoir conheceu o filósofo Jean-Paul


Sartre, que se tornou seu companheiro. Contudo, Sartre não era um simples amante, mas
um parceiro intelectual de Beauvoir. O filósofo francês foi um dos marcos da corrente
existencialista na Filosofia.

O existencialismo entende a vida como algo sem sentido e considera que tentar dar sentido
a uma coisa sem sentido (vida) é absurdo.

Como existencialista, Sartre teorizava que nós humanos nascemos sem qualquer propósito.
Isto é, não somos imbuídos de um sentido pelo qual viver e por isso não há razão nenhuma
para não sermos quem quisermos ser.

Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre compartilhavam aquela ideia acerca da existência


preceder a essência – l’existentialisme à l’essentialisme. Ou seja, ela entendia que o ser
humano é algo que existe sem um propósito predeterminado na vida além daquele que ele
vier a escolher.

A partir dessa reflexão, ela percebeu que algumas coisas que aconteciam na sociedade eram
completamente descabidas. Uma delas é a misoginia, a qual ela pôde experienciar em
primeira mão durante sua vida.

Simone de Beauvoir entendia o machismo como algo retrógrado e equivocado. Ao


analisarmos as investigações sobre o que é o ser humano, boa parte das explicações são
fundamentadas ou influenciadas pelas histórias infundadas das religiões abraâmicas, como
aquela história da mulher vir de uma das costelas do homem.

Indo além, na criação do mundo descrita em Gênesis, há trechos completamente destoantes


do que prega um estado democrático de direito. Por exemplo, na passagem de Gênesis 3:16:
“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz
filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”.

A ideia de que a mulher deve ser algo semelhante ao que foi narrado pelas religiões é algo
infortúnio para o desenvolvimento de uma sociedade justa, já que nas religiões judaico
cristãs elas tem um papel servil e inferior ao homem. Esse tipo de pensamento demostra
como a ideia de superioridade masculina é algo entendido como predeterminado e,
portanto, avesso ao existencialismo.

O que é ser mulher para Simone de Beauvoir

Aquela pergunta fundamental ao existencialismo sobre o que é ser humano, a qual os


filósofos existencialistas vinham desde o século XIX se indagando, também foi feita por
Beauvoir. Entretanto, a filósofa vai além e passa a trilhar um caminho inédito até então.

Simone de Beauvoir se indagou sobre o que é ser mulher. Em seu prestigiado livro “O
segundo sexo”, a filósofa definiu muito assertivamente que a mulher não é o homem, ela é o
outro.
Ela diz isso, pois enxergou que o homem é definido como ser humano, mas a mulher é
apenas o outro. Ora, quando os filósofos ponderavam acerca do que é o ser humano, na
realidade eles estavam pensando sobre o que é o homem.

Ao longo das eras, a figura masculina tem definido historicamente o que é ser humano, visto
que a maioria dos grandes nomes da filosofia é composta por homens e foram eles que
escreveram sobre a natureza humana. Assim, eles adotaram o gênero masculino como o
padrão com o qual julgamos a natureza humana.

Concomitante a isso, eles definiram a mulher como algo que difere do homem e, portanto,
algo que difere do padrão. Por isso, Beauvoir diz que o homem é definido como ser humano
e a mulher como o outro, ou seja, algo que não é o homem e, por extensão, diverge das
indagações sobre o que é ser humano.

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”

Embora as ideias de Simone de Beauvoir ultrapassem as discussões sobre o gênero, já que


ela faz uma brilhante análise da autonomia indivíduo, é indiscutível que suas contribuições
para autonomia feminina sejam indispensáveis.

Essa ideia de um feminismo existencialista que ela inaugura trouxe uma distinção entre o
feminino e feminilidade, que avançou muito a discussão sobre a autonomia feminina. Para
Beauvoir, o ente biológico não tem nada a ver com a maneira com a qual a mulher exprime
seu ser.

Do ponto de vista existencialista, nós temos a capacidade de nos estruturarmos enquanto


sujeitos sociais. Ou seja, a construção da maneira que podemos nos manifestar socialmente
é aberta as mudanças do indivíduo e, portanto, existem várias maneiras de ser. Mais
especificamente, existem várias maneiras de ser mulher.

Uma das citações mais famosas de Simone de Beauvoir é esta: “ninguém nasce mulher:
torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a
fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse
produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”

Essa afirmação contém justamente essa ideia da construção do ente como algo social e não
predeterminado. O interessante é que Beauvoir vai além do feminismo e da busca por
direitos equânimes. Ela defendia a ideia de uma mulher livre, só que mais do que a liberdade
modelo feminino predeterminado, ela queria que a mulher fosse livre da ideia de ser igual
ao homem.

A opressão do ser humano sobre o outro

Ao comparar as noções fornecidas pelo existencialismo, que dizem não sermos nada além de
nossas ações, isto é, nós somos definidos pelas escolhas que fazemos ao longo da vida, com
a ideia de mulher, é possível notar que a mulher possui sua identidade já predeterminada.
Pensando no cotidiano, não é preciso se esforçar muito para perceber como a mulher é
definida a partir do que lhe impõe o mundo, mundo este que é também definido pelos
homens. É o caso dos estereótipos como: mãe, esposa, donzela em perigo etc. Pense nas
histórias da Disney e em quantas princesas são resgatadas por seus príncipes encantados.

Trecho do filme Wi-Fi Ralph que faz piada com os estereótipos femininos perpetuados pelas
animações da Disney durante muitos anos.

Na maioria dessas histórias infantis, o papel da mulher é meramente existir até que um
homem a encontre e ela se torne alguém em função dele. Se você acha exagero, vamos
pegar a Branca de Neve como estudo de caso. No conto alemão, uma mulher é definida
como bela (Branca de Neve), o que causa inveja em uma outra mulher (sua madrasta), que
tenta matá-la.

Perceba que o valor associado à mulher é a beleza. O fato de ela ser bonita é basicamente o
que a define enquanto ser. Isso ajuda a criar aquela ideia de objetificação da mulher, visto
que, para a Filosofia, historicamente falando, ela não é nada além do outro. Nesse caso, ou
outro (a mulher) é entendido como um objeto, pois quem reflete sobre o ser é o homem e
ela não é homem.

A ideia desse exemplo é mostrar uma noção, ainda que vaga, sobre a diferença entre o
homem e a mulher. Saindo dos contos infantis, podemos também analisar a inserção da
mulher na sociedade, mais especificamente no mercado de trabalho.

Essa análise é de extrema importância, já que trabalhar é um aspecto importante da


autonomia do sujeito e como a mulher é o outro sujeito, ela não está bem inserida no
mercado de trabalho. Por exemplo, isso fica evidente na pesquisa feito pelo Instituto Ethos
em 2010 que mostrou que as mulheres ocupavam apenas 13% dos cargos de nível executivo
e sênior nas 500 maiores empresas do Brasil.

O que é o feminismo
Foi contra toda essa opressão masculina que surgiu um movimento preocupado com as
mazelas sofridas pelo outro sexo. O feminismo é um movimento que teve origem ainda no
século XIX e se consolidou no século XX com a ajuda de ativistas notórias como Simone de
Beauvoir, responsável por proporcionar uma solução marxista sobre várias questões
feministas.

As pensadoras feministas visavam direitos equânimes. Embora isso pareça algo simples, é
importante ressaltar essa demanda, já que há muita desinformação e demasiada selvageria
dentro do senso comum, no que tange as pautas feministas.

Ora, que fique bem entendido que o feminismo não é o contrário do machismo. Não há um
discurso de ódio, tampouco uma valorização da mulher sobre o homem dentro da teoria
feminista. Como dito, o feminismo é a busca por direitos equânimes, ou seja, por uma
sociedade na qual as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens.

Não parece nada demais querer que as pessoas do mundo desfrutem dos mesmos
direitos. Platão já falava isso há mais de dois mil anos quando escreveu “A República”, obra
que defendia a valorização do ser humano por suas virtudes e não por seu gênero.

Todavia, existe uma imensa misoginia quando as pautas feministas ganham visibilidade. A
coisa é tão baixa que as alegações não se estruturam na filosofia, quiçá na ciência. Em geral,
o que se passa por argumento é apenas um discurso de ódio moldado em um Argumentum
ad Hominem.

Nesse caso específico, o chamado Argumentum ad Hominem é quando se ataca a


pessoa que apresentou um argumento e não o argumento apresentado. Recomendamos a
leitura do texto sobre A Lógica de Aristóteles, no qual há uma explicação mais detalhada
acerca da lógica e seus usos.

Agora, você reparou que o nome dessa parada é ad Hominem? Numa tradução livre, é algo
como contra o homem. Isso exemplifica bem como a linguagem é um outro instrumento de
desigualdade entre os sexos, reforçando a teoria de Beauvoir de como a mulher é enxergada
como o outro.

Por fim, Simone de Beauvoir buscou uma vida autêntica, defendeu os ideais existencialistas
e incorporou a eles sua visão feminista. Ela se tornou um ícone da autonomia das mulheres,
bem como da sua liberdade de ser quem elas quiserem ser. Suas ideias ainda hoje
permanecem atuais e extremamente necessárias na busca pela liberdade e pela igualdade.

Exercícios sobre a filosofia de Simone de Beauvoir

1) (ENEM 2015) Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico,
psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é
o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o
castrado que qualificam o feminino.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um


movimento social que teve como marca o(a):
(A) Ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.

(B) Pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.

(C) Organização de protestos púbicos para garantir a igualdade de gênero.

(D) Oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos.

(E) Estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.

2.

Na imagem, da década de 1930, há uma crítica à conquista de um direito pelas mulheres,


relacionado com a:

(A) redivisão do trabalho doméstico

(B) liberdade de orientação sexual

(C) garantia da equiparação salarial

(D) aprovação do direito ao divórcio

(E) obtenção da participação eleitoral

3. (UERJ 2020)

APÓS 70 ANOS, SIMONE DE BEAUVOIR AINDA MOSTRA CAMINHO DA LIBERDADE


FEMININA
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. A célebre frase que abre o segundo volume
de O segundo sexo, de 1949, sintetiza as teses apresentadas por Simone de Beauvoir nas
mais de 900 páginas de um estudo fascinante sobre a condição feminina. Beauvoir admite
que as diferenças biológicas desempenham algum papel na construção da inferioridade
feminina, mas defende que a importância social dada a essas diferenças é muito mais
determinante para a opressão. Ser mulher não é nascer com determinado sexo, mas,
principalmente, ser classificada de uma forma negativa pela sociedade. É ser educada,
desde o nascimento, a ser frágil, passiva, dependente, apagada, delicada, discreta,
submissa e invisível.

MIRIAN GOLDENBERG
Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 10/03/2019.

As reflexões de Simone de Beauvoir na obra O segundo sexo continuam presentes nos


debates atuais referentes ao feminismo e às condições de vida das mulheres, em diversas
sociedades.

De acordo com o texto de Mirian Goldenberg, a abordagem realizada por Simone de


Beauvoir valoriza princípios do seguinte tipo:

(A) étnico-raciais

(B) político-religiosos

(C) histórico-culturais

(D) econômico-científicos

GABARITO

1. C
2. E
3. C

Saiba quem é Kierkegaard e o que é existencialismo cristão


Søren Kierkegaard (1813–1855) foi um filósofo dinamarquês que dedicou-se ao estudo da
ética, da religião, da moral cristã e da investigação de nossa existência.
O existencialismo é uma corrente filosófica que consiste na reflexão metafísica da existência
humana sob a luz da liberdade das nossas escolhas. Essa corrente se tornou conhecida após
ser adotada por alguns intelectuais franceses, como Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.
Já o chamado existencialismo cristão, estudado por Kierkegaard, é uma variação do
existencialismo.

Como o nome sugere, ele integra a teleologia cristã – uma vez que possui uma série de
pressupostos e teorias que fazem parte do cristianismo – para fundamentar sua reflexão
acerca da existência humana.
O responsável pelo desenvolvimento dessa variação do existencialismo foi o dinamarquês
Søren Kierkegaard (1813 – 1855), um filósofo que dedicou sua vida ao estudo da ética, da
religião, da moral cristã e da investigação de nossa existência.

Quem foi Søren Kierkegaard

Kierkegaard, assim como boa parte dos filósofos que se tornaram famosos, vinha de uma
família rica. Por conta disso, foi possível que ele estudasse na Universidade de Copenhague
durante a chamada era de ouro da cultura dinamarquesa.

Através de sua rica formação, ele teve contato com diversos pensadores. Um exemplo
é Immanuel Kant, que escreveu a “Crítica da Razão Prática”, obra que discute a importância
da liberdade nas nossas escolhas morais.

Além de Kant, o jovem Kierkegaard também estudou outros filósofos importantes da época,
incluindo os autores do idealismo alemão, um movimento filosófico que tinha Georg
Hegel como um de seus principais expoentes. Foi justamente o modelo apresentado por
Hegel que deixou o jovem Søren inquieto.

Figura 1: Søren Aabye Kierkegaard foi um filósofo, teólogo, poeta e crítico social
dinamarquês.

“Saca só”, Helgel propôs, em seu complexo sistema filosófico, a existência de uma
consciência histórica – Geist – que influencia a maneira que vivemos. Essa consciência
histórica é a responsável pela relação entre a consciência do indivíduo e o mundo onde ele
se encontra.

De acordo com Hegel, o ser humano seria parte de um desenvolvimento histórico


irrevogável, no qual as pessoas são parte de um processo histórico dialético. Essa “parada”
deixava Kierkegaard “pistola”, pois ele não curtia muita a ideia de sermos determinados por
algo externo. Tampouco ele concordava com as explicações hegelianas a respeito do ser
humano enquanto parte de um sistema filosófico maior.

Kierkegaard e a liberdade do ser

Em vez dessa visão que ignorava a existência concreta do indivíduo, Kierkegaard começou a
se aventurar na busca acerca do que é ser um ser humano sob um viés mais subjetivo. Isto é,
ele rompeu com o pensamento sistemático hegeliano e lançou uma investigação do ser
humano como indivíduo autônomo.

Dessas investigações ele concluiu que somos seres providos de liberdade, algo que é
particular de nossa espécie. Portanto, na visão de Kierkegaard, a característica que define
um ser humano é a liberdade. Assim sendo, cada ser humano é algo exclusivo, não cabendo
dentro de uma análise sistemática.

Em outras palavras, é por conta dessa liberdade que nós agimos sendo que nossas vidas são,
por consequência, fruto dessas ações. Ora, diferente de Hegel, que dizia que essas ações
eram deliberadas pelas condições históricas em que os indivíduos se encontravam,
Kierkegaard dizia que nossas escolhas são livres e individuais.

igura 2: Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi um filósofo alemão cujo sistema filosófico se
tornou um marco na filosofia e inspirou diversos pensadores.

A influência do cristianismo

A família de Kierkegaard era cristã e, por isso, ele recebeu desde cedo uma educação
religiosa. Entretanto, o dinamarquês não enxergava que o cristianismo era praticado de
maneira satisfatória pela Europa.

O cara viveu em uma época de incertezas sobre a fé cristã e passou a estudar com mais
afinco o tema. Então, juntando sua crítica aos grandes sistemas filosóficos de outrora com
uma análise do cristianismo, Kierkegaard deu origem ao chamado existencialismo cristão.

Os existencialistas, de maneira geral, entendem o mundo como algo sem sentido. Meu
“camarada” Camus, inclusive, criou até uma denominação para essa “parada”, ele chamou
de “o absurdo”. Esse conceito define a “treta” entre a nossa propensão de buscar um
significado inerente à vida e a nossa incapacidade de encontrar esse significado.

O conceito de Camus não é exatamente o que Kierkegaard entendia por existencialismo.


Mas, de maneira geral, ambas as vertentes compartilham de muitas coisas. Para
Kierkegaard, essa nossa incapacidade de compreender as “paradas” se aplicava
(principalmente) no que diz respeito à religião.

O exemplo maior disso, segundo o dinamarquês, é a figura do meu “parceiro” Jesus Cristo.
Segundo a teologia cristã, J.C. é o filho de Deus, mas mais do que isso, o cara é a união entre
Deus e o homem. Ora, essa união está além da compreensão humana e, portanto, é algo
paradoxal.

O que é existencialismo cristão


O existencialismo cristão consiste em termos consciência de nossas escolhas. Isso se dá
quando os seres humanos deixam de ser sujeitos óbvios para eles mesmos e passariam a
questionar sua existência perante a criação.

Essa ideia foi desenvolvida por Kierkegaard. Para ele, nós deveríamos ser responsáveis por
nossas escolhas, visto que somos sujeitos livres. Ora, enquanto seres humanos buscamos
agradar ao nosso criador e nada pode interferir com essa responsabilidade. Portanto, cada
indivíduo deveria agradar a Deus de maneira livre, pois estaria liberto das imposições
estruturais da sociedade.

Todavia, é uma “parada” complicada essa tal de liberdade, já que podemos escolher fazer ou
não fazer as coisas, sejam elas o que forem. “Rola”, então, uma certa vertigem perante essa
liberdade, isto é, um sentimento de angústia que nos acompanha após nos depararmos com
a liberdade absoluta.

Embora essa denominada “vertigem da liberdade” seja algo que cause certo desespero, ela
não é completamente negativa, uma que vez que nos proporciona uma maior compreensão
das nossas escolhas. Isso porque o leque de possibilidades é quase infinito, o que aumenta
nossa consciência acerca da responsabilidade pessoal das nossas escolhas.

Para entender melhor o que é essencialismo cristão, confira a aula do prof. Alan no canal do
Curso Enem Gratuito no Youtube:

As esferas da existência
Com base nisso, Kierkegaard elaborou uma teoria que separava a existência em três esferas.
São elas: a estética, a ética e a religiosa.  Essa distinção se dava de acordo com o
comportamento humano, isto é, de acordo com nossas escolhas frente ao amplo leque que
a liberdade nos proporcionou.

Na esfera estética ele enquadrou as pessoas mais simples, que buscam apenas a satisfação
dos seus desejos. Já na esfera ética, o filósofo delimitou aquelas pessoas que agem
conforme o bem estar social, sempre procurando fazer a coisa certa.

A última esfera, a religiosa, seria aquela onde seus integrantes se caracterizariam por uma
busca da existência através da fé. As pessoas deveriam se entregar a Deus e na totalidade do
seu ser contemplar a existência perante o suposto criador.

Figura 3: Embora não tenha perdido a fé em Deus, Kierkegaard era um dos maiores críticos
da Igreja. Em 1855, o filósofo caiu inconsciente na rua e veio a falecer um mês depois.
Por fim, ainda que ele tenha permanecido cristão e não abandonado sua fé, suas ideias
foram muito além. Isso porque filósofos como Martin Heidegger, Friedrich Nietzsche, Jean-
Paul Sartre, Simone de Beauvoir e muitos outros se inspiraram nessa “parada” da percepção
da autoconsciência para desenvolver uma reflexão não religiosa sobre a existência humana.

Exercícios:

Agora é contigo, tente responder as questões a seguir:

Questão 1

Leia as afirmações abaixo: a respeito da obra do filósofo Søren Aabye Kierkegaard.

I) O dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard é considerado o pai do racionalismo. Sua frase


mais conhecida é “Penso, logo existo”.

II) O pensamento de Søren Aabye Kierkegaard é marcado pelo objetivismo. Para ele, a
filosofia deveria ser demonstrada por argumentos lógicos.

III) A filosofia de Søren Aabye Kierkegaard é sistemática e pretende incluir em um sistema


integrado todas as grandes questões da filosofia.

IV) A problemática central de Søren Aabye Kierkegaard consiste na irracionalidade de nossa


experiência do real; tinha uma preocupação filosófica com o “tornar-se cristão”.

V) A filosofia de Søren Aabye Kierkegaard apresenta um vocabulário técnico que possui um


sentido próprio no interior de sua obra. Para compreender o que um conceito significa é
preciso entender toda a sua obra.

Com base nas afirmações acima, estão corretas:

a) Apenas I e IV;

b) Apenas II e IV;

c) Apenas IV;

d) Apenas II, III e V;

e) Apenas I, II, III e V.

Questão 2
O filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard identificou três estádios distintos ou
modos de existência. São eles:

a) Empírico, racionalista, existencialista;

b) Científico, religioso, jurídico;

c) Estético, ético, religioso.


d) Ético, jurídico, existencialista;

e) Estético, técnico, filosófico;

Questão 3
A religiosidade tinha uma grande relevância para o filósofo Søren Aabye Kierkegaard, e isso
está relacionado ao seguinte fato da sua vida:

a) O filósofo, ateu na juventude, teve uma enfermidade física. Depois de uma cura
milagrosa, converteu-se ao cristianismo.

b) O filósofo recebeu, na infância, uma educação religiosa rigorosa por parte de seu pai,
Michael Pedersen. O pai de Kierkegaard nasceu e viveu seus primeiros anos de vida na
Jutlândia e a expressão religiosa jutlandesa era marcada por um pietismo triste e ancorada
na culpa e no medo da punição.

c) O filósofo, após a morte do pai, Michael Pedersen, ficou muito pobre e precisou trabalhar
como pastor para terminar seus estudos de filosofia e teologia, como também para garantir
sua subsistência. Mesmo assim, não se converteu ao cristianismo e, por isso, dissemos que
seu existencialismo é ateu.

d) O filósofo, abandonado pela noiva Régine Olsen, encontrou na religião uma forma de se
recuperar da decepção amorosa. Depois de se converter, tornou-se pastor, casou-se com
uma mulher que trabalhava como doméstica em sua casa e foi pai de sete filhos.

Gabarito

1. C
2. C
3. B

O pensamento de Arthur Schopenhauer


Arthur Schopenhauer foi um filósofo alemão do século XIX que elaborou a teoria do mundo
como vontade e representação. Schopenhauer ficou popularizado por sua visão pessimista
do mundo e seus charmosos aforismos

Conteúdo  
1 Quem foi Arthur Schopenhauer
2 A influência de Kant no pensamento de Schopenhauer
3 Os limites do mundo para Schopenhauer
4 A felicidade para Schopenhauer
5 Questões sobre a filosofia de Arthur Schopenhauer

Quem foi Arthur Schopenhauer

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer foi um famigerado dissidente da Filosofia de seu


tempo. Ele viveu durante o período de transição entre os séculos XVIII e XIX, quando
o Iluminismo e a Filosofia de Immanuel Kant já haviam atingido seu ápice.
Schopenhauer admirava muito as ideias de Kant, que foi de extrema influência para
elaboração das suas teorias. O filósofo usou a Metafísica de Kant como o ponta pé inicial da
sua visão de mundo, assim como boa parte dos filósofos idealistas da época.

Todavia, enquanto a Alemanha olhava admirada para os desdobramentos das ideias de Kant,
Schopenhauer se opunha ao chamado idealismo alemão, em especial as teorias de Georg
Hegel. Suas críticas a Hegel eram severas e possuíam um tom ácido e debochado, o que
popularizou a má fama de Schopenhauer dentro dos círculos acadêmicos.

Artur Schopenhauer se tornou um dissidente de seu tempo, uma espécie de ovelha negra da
filosofia alemã.

A influência de Kant no pensamento de Schopenhauer

As teorias propostas por Schopenhauer partem da premissa kantiana acerca da percepção


do mundo. Para Kant, apreendemos a realidade que nos cerca por meio dos Fenômenos e
dos Númenos, isto é, a partir dos nossos sentidos e das coisas em si.

Em suma, Kant disse que nós construímos uma espécie de visão de mundo própria que é
derivada das nossas experiências. Ou seja, a partir do contato com o mundo fenomênico nós
apreendemos a realidade através dos nossos sentidos. Todavia, nós somos incapazes de
apreender o mundo em si, isto é, o mundo Numênico.

Por conta disso, nós somos dotados de uma visão de mundo limitada, uma vez que só
conseguimos apreender aquilo que nossos sentidos são capazes de captar. Como existem
coisas que não apreensíveis por meio dos sentidos, acabamos não conhecendo o mundo em
sua totalidade.
M
odelo ilustra de maneira simplificada a Teoria do Conhecimento proposta por Kant.

Os limites do mundo para Schopenhauer

Corroborando com a interpretação de mundo kantiana, Schopenhauer vai acrescer uma


indagação acerca do ser humano. Ele pontuou que nós, enquanto humanos, aceitamos os
limites do nosso conhecimento como se estes fossem os limites do próprio mundo. Dessa
maneira, o mundo é uma representação individual.

Embora essa ideia não seja nada inédita na Filosofia, haja visto que os gregos antigos já
debatiam sobre isso, a inovação de Schopenhauer, que foi também sua divergência com o
Kant, foi estruturar um sistema em que os mundos Fenomênicos e Numênicos sejam parte
de um mesmo mundo.

Assim, o que Schopenhauer está propondo é o seguinte: se nossa visão de mundo é


apreendida através dos sentidos, a nossa visão de mundo é algo limitado, dado as restrições
com as quais nossos sentidos operam.

Somando isso a ideia de que nós somos apenas parte de uma Vontade maior, podemos
então indagar que a minha visão de mundo não pode incluir as questões que meus sentidos
não captaram, tampouco a vontade universal que eu não pude experimentar.

Portanto, todos nós acabamos por tomar os limites de nosso campo de visão individual
como os limites do mundo.
Essa ideia acima foi desenvolvida na obra “O mundo como Vontade e Representação” que
traz uma discussão interessantíssima sobre os limites do nosso conhecimento, bem como, a
criação de um conceito que se tornou fundamental à Filosofia: a Vontade.

O Mundo como Vontade e Representação foi a grande obra de Schopenhauer, foi publicada
em 1819 sendo composta por quatro livros. O primeiro livro é dedicado à Teoria do
Conhecimento; o segundo, à Filosofia da Natureza; o terceiro, à Metafísica do Belo; e o
último, à Ética.
O mundo como Representação

Ao invés de dois mundos como afirmara Kant, Schopenhauer propôs um mundo unificado
que é sentido de duas maneiras distintas. Dessa forma, as coisas se manifestariam ou
através da Vontade, ou através da Representação, fazendo jus ao nome da obra em que
esses conceitos são apresentados e desenvolvidos.

Para entender melhor essa ideia, basta pensar no corpo humano. Imagine que você quer
colocar o pé gelado em alguém que esteja quentinho e aconchegante. O fato de você querer
fazer isso é o que chamamos de Vontade, enquanto a execução desse fatídico movimento é
a potência.

Assim sendo, um ato da Vontade e a ação resultante desse ato não estão em mundos
distintos. Ao contrário, são a mesma coisa, só que sentidos de duas formas diferentes, de
maneira interna através da Vontade e de maneira externa através do movimento do corpo.

Mesmo quando sentimos algo fora de nós, assim dizendo, como uma Representação
objetiva e não como nossa própria Vontade, o mundo ainda continua funcionando, segundo
Schopenhauer, de maneira tal que existam concomitantemente as realidades internas e
externas das coisas.

A Vontade no pensamento de Schopenhauer

Perceba que a palavra Vontade – Wille, em alemão – apareceu bastante. Isso porque
Schopenhauer escolheu propositadamente esse termo em seus textos. O alemão cunhou o
conceito para representar uma força caótica, cuja manifestação se dá no mundo
fenomênico.

Essa energia chamada Vontade é algo atemporal e indivisível. Portanto, a Vontade do


cosmos e a minha Vontade são uma coisa só. Além disso, é válido ressaltar que o sistema
filosófico criado por Schopenhauer tem como pressuposto que tanto o tempo quanto o
espaço são entidades a priori e existem dentro de nós, o que corrobora com a ideia de uma
única Vontade.

Pois bem, a discussão entre Arthur Schopenhauer e seus contemporâneos se deu


justamente em relação a essa Vontade. Isso porque Schopenhauer não acreditava que essa
Vontade era necessariamente boa ou má: ela era simplesmente irracional. Todavia, essa
alegação ia na contramão do que filósofos como Georg Hegel pregavam, gerando um
conflito filosófico.

Já que os contemporâneos de Schopenhauer tinham uma visão otimista da Vontade, e como


Schopenhauer era a oposição da boa Vontade (hegeliana), ele ficou tachado como um
filósofo pessimista. Porém, vale relembrar que para ele a Vontade não é nem boa e nem má.

Somando isso às investigações acerca da vida que o filósofo fez quando, por exemplo,
ponderava a respeito de por que as pessoas têm essa Vontade de permanecerem vivas, sua
fama foi piorando ainda mais.

Não quero dizer que seja errado refletir sobre nossa morte, muito pelo contrário, é uma
condição essencial para a boa prática da Filosofia. E, embora seja funesto esse tipo de
ponderação, é de grande importância para nossa existência compreender o motivo pelo qual
somos compelidos a continuar vivendo.

A felicidade para Schopenhauer

Na visão de Schopenhauer, ainda que saibamos que a morte é um destino certo, nós somos
parte de uma Vontade irracional. Por isso, nada mais evidente do que buscarmos a
sobrevivência sem uma causa inteligível.

É por conta dessa Vontade caótica que nós nos contorcemos buscando a felicidade e, no
final, o máximo que nós conseguimos é obter alguma satisfação. Isso na melhor das
circunstâncias, pois o normal mesmo é alcançarmos o sofrimento, a angústia, a dor e o
pesar.

Lendo Schopenhauer, fica nítido que para o filósofo a felicidade é inútil. Entretanto, como a
maioria das afirmações filosóficas que ganham fama, ela é mal interpretada.

Compreenda então que a Felicidade é a interrupção temporária da dor, criando uma ilusão
de segurança e entusiasmo. Todavia, esse prazer é algo momentâneo, pois não existe
felicidade duradoura. Assim sendo, toda a Felicidade é o ponto de partida da dor e do
sofrimento e, portanto, viver é sofrer.

Essa visão é muitas vezes comparada com algumas ideias do estoicismo, entretanto as
semelhanças e as diferenças tornam essa comparação bastante complicada.
A superação estética

Bom, mas nem tudo está fadado à tristeza e à danação. Na perspectiva de Schopenhauer, há
uma saída bastante óbvia dessa condição infeliz, caracterizada como a “não existência”. O
que pode ser encarado de maneira menos radical como uma privação da satisfação, ou
melhor dizendo, uma lapidação da maneira que vivemos.

A coisa toda é baseada em uma experiência de vida estética, onde o indivíduo deve
contemplar o mundo e buscar alívio para suas mazelas na música e nas artes. Somente assim
será possível perceber que existe uma ilusão à nossa volta.

Portanto, através da estética é possível entender que a separação entre a Vontade do


cosmos e a nossa vontade não passa de ludibrio, pois, nossas vontades individuais e a
Vontade cósmica são uma única coisa.

Embora Arthur Schopenhauer seja um filósofo bem conhecido no mundo, suas ideias foram
vastamente ignoradas pelos seus contemporâneos. Muito disso se deve ao brilhantismo e à
aceitação de Hegel, que acabara por ofuscar seu compatriota.

Ademais, seu estilo de vida peculiar, somado aos temas impopulares, a misantropia e ao ar
pessimista de seu discurso fizeram dele a ovelha negra da Filosofia.

Entretanto, pouco tempo depois de sua morte o conceito de Vontade foi resgatado e
tornou-se bastante estudado por grandes filósofos que o sucederam, como Friedrich
Nietzsche.

Por fim, Arthur Schopenhauer foi um filósofo brilhante de temperamento controverso –


afinal, qual não o é? – que serviu de base para psicanalise de Jung e Freud, e deu origem ao
o pragmatismo de Bérgson e as noções de Vontade de poder elaboradas por Nietzsche.

Questões sobre a filosofia de Arthur Schopenhauer

1 (Enem 2016) Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo
assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua
fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para
sempre de todas as preocupações.
SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a
qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à

(A) A consagração de relacionamentos afetivos.

(B) A administração da independência interior.

(C) A fugacidade do conhecimento empírico.

(D) A liberdade de expressão religiosa.

(E) A busca de prazeres efêmeros


2 (Unesp 2017) Nossa felicidade depende daquilo que somos, de nossa individualidade;
enquanto, na maior parte das vezes, levamos em conta apenas a nossa sorte, apenas
aquilo que temos ou representamos. Pois, o que alguém é para si mesmo, o que o
acompanha na solidão e ninguém lhe pode dar ou retirar, é manifestamente mais
essencial para ele do que tudo quanto puder possuir ou ser aos olhos dos outros. Um
homem espiritualmente rico, na mais absoluta solidão, consegue se divertir
primorosamente com seus próprios pensamentos e fantasias, enquanto um obtuso, por
mais que mude continuamente de sociedades, espetáculos, passeios e festas, não
consegue afugentar o tédio que o martiriza.

(Schopenhauer. Aforismos sobre a sabedoria de vida, 2015. Adaptado.)

Com base no texto, é correto afirmar que a ética de Schopenhauer

(A) corrobora os padrões hegemônicos de comportamento da sociedade de consumo atual.

(B) valoriza o aprimoramento formativo do espírito como campo mais relevante da vida
humana.

(C) valoriza preferencialmente a simplicidade e a humildade, em vez do cultivo de qualidades


intelectuais.

(D) prioriza a condição social e a riqueza material como as determinações mais relevantes da
vida humana.

(E) realiza um elogio à fé religiosa e à espiritualidade em detrimento da atração pelos bens


materiais.

3 (Ufsj 2013) “A Filosofia a golpes de martelo” é o subtítulo que Nietzsche dá à sua


obra Crepúsculo dos ídolos. Tais golpes são dirigidos, em particular, ao(s)

(A) conceitos filosóficos e valores morais, pois eles são os instrumentos eficientes para a
compreensão e o norteamento da humanidade.

(B) existencialismo, ao anticristo, ao realismo ante a sexualidade, ao materialismo, à


abordagem psicológica de artistas e pensadores, bem como ao antigermanismo.

(C) compositores do século XIX, como, por exemplo, Wolfgang Amadeus Mozart, compositor
de uma ópera de nome “Crepúsculo dos deuses”, parodiada no título.

(D) conceitos de razão e moralidade preponderantes nas doutrinas filosóficas dos vários
pensadores que o antecederam e seus compatriotas e/ou contemporâneos Kant, Hegel e
Schopenhauer.

(E) ao socialismo da URSS, que reutiliza o martelo como símbolo central da classe operária.

GABARITO

1. B
2. B
3. D

Entenda o que é Indústria Cultural e Escola de Frankfurt


Entre os séculos XIX e XX, os filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer criaram o conceito
de Indústria Cultural, termo importante e de grande base para teorias filosóficas atuais.
Em meados da década de 40, o termo Indústria Cultural – Kulturindustrie – era cunhado
pelos filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer, integrantes de um movimento
vanguardista na Europa. Esse conceito bastante ousado permanece atual, sendo o
fundamento de várias investigações filosóficas contemporâneas.

O ponto de partida para entender o que levou Adorno e Horkheimer a criarem o conceito de
Indústria Cultural foi a ação de analisar. Eles observavam o mundo em que viviam o
comparando com aquele que deveriam estar vivendo, ou seja, um mundo ideal que não
existia na época.

Mas, antes de falar da teoria que revolucionou o século XX, vamos fazer uma rápida jornada
histórica e descobrir o movimento que deu origem a toda uma cadeia de ideias, incluindo o
próprio conceito.

Conteúdo 

1 Fundadores da Indústria Cultural: A Escola de Frankfurt

2 O que é Teoria Crítica

3 Iluminismo como base do pensamento

4 A criação do conceito de Barbárie

5 A industrialização do poder

6 Razão Instrumental contrária à Indústria Cultural

7 Sobre a Indústria Cultural

8 Videoaula

9 Exercícios

Fundadores da Indústria Cultural: A Escola de Frankfurt

Na Alemanha do século XX, um grupo de pensadores decidiu juntar seus poderosos


intelectos a serviço da sociedade. Foi então fundado o Instituto de Pesquisa Social, ou como
ficou conhecida, a Escola de Frankfurt, uma das mais célebres instituições
filosóficas contemporâneas.

A escola tinha como seu alicerce o pensamento Marxista, juntamente com as teorias de


Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud. Ela reuniu as mentes mais sagazes da Alemanha que,
por sua vez, se inspiraram em renomados autores germânicos para criar a Teoria Crítica.
Núcleo fundador da Escola de Frankfurt que cunhou o termo indústria cultural

O que é Teoria Crítica

A Teoria Crítica é uma análise de mundo centrada na reflexão sobre o capitalismo,


o iluminismo e a Revolução Industrial, inspirados no pensamento marxista. Mas resumir
toda a produção da Teoria Crítica ao marxismo é algo muito simples.

Os autores que trabalharam no desenvolvimento de uma crítica, que tinha como foco os
problemas políticos da época, também buscavam estudar as repercussões econômicas em
menor escala.

A Teoria Crítica, que consistia numa análise filosófica do mundo, denunciou um mundo cruel,
cuja engenhosidade tecnológica influenciava a sociedade de modo a promover uma espécie
de condicionamento social. O conceito principal desse condicionamento transformava a vida
dos indivíduos em algo mais homogêneo e padronizado, reduzindo a autonomia das pessoas
as moldando em um objeto social útil.

Foto de Adorno e Horkheimer.

Iluminismo como base do pensamento

No século XVIII, houve um movimento chamado Iluminismo que nasceu na Europa e


difundiu-se por todo o globo. Essa ideia foi uma das grandes bases para o pensamento
cultural de Horkheimer e Adorno.
Inspirados na razão como ponto de partida filosófico, os ideais iluministas eram bastante
otimistas, já que acreditavam que o intelecto humano seria capaz de ofuscar nossas
limitações e promover um mundo livre da ignorância.

Essa busca pelo aperfeiçoamento se dava nas mais variadas esferas, indo desde descobertas
científicas e avanços tecnológicos até o aprimoramento da moral, desenvolvendo assim uma
sociedade cada vez mais instruída.

A criação do conceito de Barbárie

Com a ascensão dos regimes autoritários em meados do século XX, na Alemanha com Hitler,
na Itália com Mussolini e na União Soviética com Stalin, foi possível observar que a Europa
não estava progredindo de acordo com os ideais iluministas, mas sim fazendo caminho
contrário.

As duas grandes guerras que aconteceram nessa época agravaram muito os problemas


sociais que o Iluminismo supostamente resolveria. Foi a partir da miséria que assolava a
sociedade em contrapartida com o avanço tecnológico fugaz, que os filósofos Theodor
Adorno e Max Horkheimer criaram o conceito de Barbárie.

Os campos de concentração foram um exemplo da barbárie vivida na época.

A industrialização do poder

Com as grandes divergências entre o avanço da tecnologia e o regresso social, os


governos totalitários e os grandes detentores de capital obtinham cada vez mais poder.

Os governos eram atraídos pela tecnologia e sua capacidade de produção em larga escala, o
que transformava a produção em massa em uma grande arma política. Quem detinha essa
capacidade de construção eram as indústrias em sua ampla maioria que, por sua vez, eram
atraídas pelo poder do governo.

Foi dessa relação que nasceu, por exemplo, o antissemitismo. As câmaras de gás utilizada na
Alemanha nazista, eram uma maneira extremamente econômica e prática de acabar com os
dissidentes do regime de Hitler. Assim, o governo poupava dinheiro e ainda matava uma
camada da sociedade que era julgada por eles como inútil.

Razão Instrumental contrária à Indústria Cultural


A racionalidade instrumental, é um dos exemplos desse pensamento. Ela acontecia quando
profissionais, como engenheiros e médicos trabalhavam para encontrar uma maneira
eficiente e econômicas de exterminar os judeus.

Um dos exemplos era as mortes dentro de caminhões baús. Lá eram colocadas pessoas
nuas, as portas eram trancadas e, por um buraco, era colocada uma mangueira conectada
ao escapamento do caminhão, dentro da parte em que os judeus estavam. Ou seja, as
pessoas eram assassinadas com o gás do escapamento do caminhão.

Esse é uma das ideias contrárias à indústria cultural e que preconizava a propaganda de
massa para alienar a população. Portanto, o pensamento filosófico da época sabia que a
mídia tornava as pessoas mais ignorantes e menos informadas com a realidade à sua volta.

Sobre a Indústria Cultural

Figura 4. A Indústria Cultural ainda é algo presente em nosso cotidiano, entretanto, o


advento das redes sociais tornou essa discussão ainda mais complexa.

Adorno e Horkheimer foram os filósofos que refletiram acerca de um sistema massivo de


controle do população. Então eles deram o nome de Indústria Cultural a uma ferramenta
que domina ideologicamente suas vítimas de modo que elas sequer percebam que estão
sendo dominadas.

Um exemplo disso era a indústria midiática, cuja concentração partia do rádio, jornais e até
mesmo do cinema. Esses meios de comunicação eram capazes de oferecer informação de
fácil absorção e entendimento para a população, o que facilitava seu controle.

Por fim, é possível afirmar que por meio da instrumentalização da razão se dissemina uma
cultura cuja complexidade é superficial para possibilitar o entendimento dos níveis menos
intelectualizados da sociedade e, assim, influenciar as pessoas a se portarem da maneira que
convém ao sistema.

Exercícios

Agora é com você, responda as questões a seguir:

1- (UFG GO/2013)
Observe a imagem:
Andy Warhol foi um dos representantes da art pop, surgida na Inglaterra e nos Estados
Unidos na década de 1950. A imagem apresentada traduz a concepção desse movimento
artístico, quando:

(A) fortalece o mito do american way of life, utilizando-se de personagens icônicas.

(B)  transforma imagens veiculadas na indústria cultural, ampliando as possibilidades de


relação com a arte.

(C) escolhe uma personalidade feminina para tema, associando a arte à luta do movimento
feminista.

(D) apresenta um único rosto em sequência, demonstrando a singularidade dos indivíduos


celebrados.

(E) critica o padrão de beleza feminina, expondo o elitismo das produções cinematográficas.

2- (Unespar 2015)
Leia o fragmento abaixo, da canção “Bienal”, de Zeca Baleiro.

“Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio Faço um quadro com moléculas de


hidrogênio Fios de pentelho de um velho armênio Cuspe de mosca, pão dormido, asa de
barata torta Meu conceito parece, à primeira vista, Um barrococó figurativo neo-
expressionista Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista calcado da revalorização da
natureza morta”.

A letra sugere uma série de questões que se pode levantar sobre a criação artística e sobre o
processo da elaboração de uma obra de arte. Além disso, indica de forma bem humorada a
dificuldade que encontramos hoje para emitir uma opinião, julgar ou mesmo fazer uma
crítica das obras de arte das últimas décadas. Segundo Adorno e Horkheimer, esse
fenômeno poderia ser entendido a partir do processo de industrialização da cultura, que
tem como um dos pontos fundamentais a:

(A) Diferença entre alta cultura e baixa cultura;

(B) A explosão de manifestações culturais de baixa qualidade;

(C) O advento de novas tecnologias como o cinema e a fotografia;

(D) A ausência de gênios artísticos no último século;

(E) A transformação da obra de arte em mercadoria.

3- (Enem/2016)
Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e
empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais.
Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização
histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a
liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em
todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.
ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de
Janeiro: Zahar, 1985.

A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a)

(A) legado social.

(B) patrimônio político.

(C) produto da moralidade.

(D) conquista da humanidade.

(E) ilusão da contemporaneidade.

Gabarito

1.B, 2. E, 3. E.

Verdade e Poder em Foucault


Venha conferir como o filosofo francês Michael Foucault revolucionou os estudos acerca do
Poder e sua relação com a Verdade. Esse filósofo moderno nos mostrou como a influência
das Fake News impacta nossas vidas. Vem conferir, é conteúdo do Enem.

Quando falamos sobre verdade, de maneira geral, entendemos como uma coisa única e
imutável que permanece inabalável com o passar das eras ao passo que guia a humanidade
rumo ao futuro. O filosofo francês Michael Foucault, olhou toda essa ideia e decidiu estudar
o assunto mais afundo. Nessa aula, você vai entender mais sobre a ideia de verdade e poder
em Foucault.

Figura 1. Foucault foi um filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo, crítico
literário e professor da cátedra História dos Sistemas do Pensamento, no célebre Collège de
France desde 1970 até 1984 ano em que nos deixou. =(

Para isso, Foucault rompe com a visão estabelecida de verdade, como pináculo imutável da
humanidade. Ele defende, então, a ideia de que a verdade é algo criado a partir de
determinadas forças políticas para manter uma elite no controle.

A Verdade está lá fora


Fazendo uma análise histórica do problema em questão, Foucault investiga o pensamento
humano em busca da origem das coisas. Essa investigação foi chamada pelo autor de
arqueologia das ciências humanas.

O estudo de Foucault tem uma pegada bem parecida com o estudo feito por Nietzsche ao
escrever A Genealogia da Moral. Isso porque ambos os estudos buscam, principalmente a
partir da análise da língua e da história, entender a origem de conceitos e costumes que
temos hoje.

Nosso agir, segundo Foucault, é regido por uma série de regras – das quais podemos ou não
estar cientes – que são determinadas pelo momento histórico em que nos encontramos.
Ora, por serem atreladas à história, essas regras acabam mudando com o passar do tempo.
Logo, é necessária uma arqueologia para exumar a maneira que as pessoas pensavam eras
atrás.

Figura 2. Com essa arqueologia, Foucault demonstrou que supor os conceitos e as verdades
não são eternas, mas fazem parte de uma história das ideias que possibilita a elaboração de
uma Genealogia das ideias.
 

Nessa busca arqueológica, Foucault focou (#trocadilhofilosófico) em dois conceitos


específicos: o homem e a humanidade. Misoginia a parte, esses conceitos se fundamentam
nas ideias de Immanuel Kant, o filósofo que floresceu a Filosofia ao deixar de lado aquela
velha ideia a respeito de como é o mundo, e passou a se indagar sobre a maneira como
vemos o mundo.

Ao supor que a humanidade sempre foi dessa maneira, isto é, ao supor que a verdade é algo
imutável, estamos falando que essa humanidade sempre foi o conceito de verdade criado
pelos iluministas do Século XVIII. Assim, desconsideramos todo o pensamento antigo,
medieval, renascentista e etc. que precedeu nossa época.

Compunha-se assim a justificativa base para a tese de que a verdade é mutável e altera-se
de acordo com as circunstâncias, tais como o espaço e o tempo; ela é gerada por um
fenômeno denominado Poder.

O Poder em Foucault

Dissertar sobre o Poder não era algo novo na época do Foucault, ainda sim, a Filosofia tinha
até esse momento postulado a fonte do Poder no estado. Hobbes acreditava que o Poder
residia (e necessitava residir) no soberano – alguém cujo poder seja soberano – para assim
livrar as pessoas das mazelas da sociedade.
Um outro sujeito famoso era Maquiavel, que pregava a ideia de que o Poder era demostrado
por meio da força e imposição da vontade de um soberano de maneira mais visceral. Sua
visão a respeito do Poder fica bem nítida com aquela ideia que prioriza ser temido ao invés
de ser amado.

Figura 3. Segundo Maquiavel, para um líder se manter no poder é


mais seguro ser temido do que ser amado.
A visão do poder em Foucault era diferente do que até então havia se teorizado. O filósofo
francês acreditava que, ao invés de centralizado na figura do estado ou de um soberano o
Poder estava difundido nos micro-lugares.

Assim sendo, é supérfluo fundamentar uma teoria filosófica na autoridade institucional


analisando essa “instituição” chamada de Estado. Visto que o Estado é apenas uma das
diversas expressões da estrutura e das configurações que o Poder assume na nossa
sociedade.

Já que o Estado é apenas uma das diversas faces do Poder, quais são as outras? O poder em
Foucault teria micro relações. Por exemplo, quando você está na escola ou no cursinho,
existe uma relação de Poder entre você e seu professor. Ou ainda, no caso de uma
penitenciária, existe uma relação de poder entre o sujeito encarcerado e o carcereiro.

Essas relações acontecem em nossa vida das maneiras mais ordinárias possíveis. Desde sua
relação com seu patrão (empregado/empregador) até na sua estrutura familiar. Por conta
disso, o Poder em Foucault não pertence a ninguém. Para Foucault o Poder não está
localizado ou centrado em uma instituição.

Da Verdade e do Poder em Foucault

Bom, já dizia Francis Bacon nos idos do Século XVII que “Conhecimento é Poder”.


Corroborando com essa visão, Michael Foucault entendia que o conhecimento (aquela
“parada” gerada pela verdade) garantia, a quem o detém, certos privilégios. Assim, podemos
adaptar a máxima de Bacon para algo como Verdade é Poder.

Como a verdade é algo mutável, pois é uma produção histórica, ela existia nas mais diversas
formas. O que fez com que determinados grupos ou indivíduos conseguissem, por meio de
um discurso, que se dizia verdadeiro, determinados privilégios na sociedade. Ora, o Poder é
um efeito da Verdade, isto é, aquele que detém a narrativa a respeito de um campo, tem
sobre esse campo Poder.

Veja, se você olhar internet a fora, vai encontrar um monte de pessoas dizendo um monte
de absurdos sobre os mais diversos temas. Como exemplo, podemos pensar no
terraplanismo. Você acha até pretensos filósofos, sem quaisquer credenciais, defendendo
esse absurdo que já foi devidamente refutado quando o Poder que o sustentava – A igreja e
o pensamento cristão – ruiu.

Então perceba que essa Verdade está atrelada a uma época cuja maior expressão do Poder
vinha da Igreja (e todas as micro relações envolvidas com ela).

Se você quiser desenvolver seu filósofo interior, é só comparar a enxurrada de Fake News
em que o mundo tem se afogado nessa década e as relações de Poder que isso gerou. Temos
alguns indivíduos postulando enunciados falsos (ou como dizemos na Lógica: Falácias) e
compartilhando com o mundo.

Por conta das micro-relações, como por exemplo, do Youtuber com o inscrito ou do digital
influencer com o seu seguidor, essas pretensas Verdades (falácias) acabam se alastrando e
gerando mudanças no tecido social. Garantindo, assim, o poder a uma corja de enganadores
que depois fazem a manutenção dessas falácias de maneiras esdrúxulas para continuar com
o Poder.

Figura 4. “Todo o Poder é um efeito de verdade e toda a verdade produz efeitos de Poder”
Há então uma relação direta entre Verdade e Poder, tanto é que na arqueologia elaborada
por Foucault foi possível concluir que algumas relações de Poder, isto é, a ação de
determinados instrumentos de Poder, produziram uma Verdade diferente ao longo da
história.

Temos então um ciclo da Verdade e do Poder. O Poder é utilizado para postular algumas
verdades e essas verdades por sua vez garantem Poder a quem as forjou, fazendo com que o
Poder permaneça tal como é, garantindo a validade da Verdade.
Figura 6. Um conceito interessante (e preocupante) estudado por Foucault é o Racismo de
Estado. Um dispositivo que garante a função assassina do Estado em um regime de Poder
que se exerce sobre a vida, cabendo ao Estado a escolha de quem deve viver e quem deve
morrer.

Por fim, meu camarada Foucault pregava que a Verdade é uma construção histórica e
consequentemente se alterava de acordo com o Poder vigente na época. Assim, a Verdade
passou de algo que era absoluta para uma coisa relativa e nós assim como a Verdade
também somos produtos de nossa história e estamos sujeitos aos efeitos dessa relação
entre Verdade e Poder.

Agora, para testar seus conhecimentos, faça os exercícios que selecionamos para você.

1) (Unioeste 2016) Os estudos realizados por Michel Foucault (1926-1984) apresentam


interfaces que corroboram para estudos em diversas áreas de conhecimento, entre as quais
a Filosofia, Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquiatria, Medicina e Direito. Em 1975, Foucault
publicou a obra “Vigiar e Punir: história da violência das prisões”, na qual propunha uma
nova concepção de poder, a qual abandonava alguns postulados que marcaram a posição
tradicional da esquerda do período. Sobre a concepção de poder foucaultiana, é CORRETO
afirmar.

(A) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de um privilégio adquirido pela classe
dominante que detém o poder econômico.

(B) O poder está centralizado na figura do Estado e está localizado no próprio aparelho de
Estado, que é o instrumento privilegiado do poder.

(C) Todo poder está subordinado a um modo de produção e a uma infraestrutura, pois o
modo como a vida econômica é organizada determina a política.

(D) O poder tem como essência dividir os que possuem poder (classe dominante) daqueles
que não têm poder (classe dos dominados).

(E) O poder não remete diretamente a uma estrutura política, ao uso da força ou a uma
classe dominante: as relações de poder são móveis e só podem existir quando os sujeitos
são livres e há possibilidade de resistência.
2 (Enem 2010) A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros
pastores: a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm
sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas;
ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo.

FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da sociedade. São Paulo:


Martins Fontes. 1999

O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à
organização social.

Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das sociedades
modernas é

(A) combater ações violentas na guerra entre as nações.

(B) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados.

(C) coagir e servir para refrear a agressividade humana.

(D) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma nação.

(E) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.

3) Enem (2010) A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros
pastores: a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm
sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas;
ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo.

FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da


sociedade. São Paulo: Martins Fontes. 1999

O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à
organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização
das sociedades modernas é

(A) combater ações violentas na guerra entre as nações.


(B) coagir e servir para refrear a agressividade humana.
(C) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma nação.
(D) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.
(E) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados.

Gabarito

1. A, 2. B, 3. E.

NOVEMBRO:

Quem foi Walter Benjamin e sua importância para o mundo


Walter Benjamin foi um filósofo que discutiu os problemas da tecnologia no mundo
moderno. Fique por dentro desse conteúdo importante para o ENEM.
O filósofo alemão Walter Benedix Schönflies Benjamin ou somente Walter Benjamin foi um
dos integrantes pioneiros da renomada Escola de Frankfurt. Analogamente adepto da Teoria
Crítica, o “camarada” Benjamin se inspirou no Marxismo para formular teorias filosóficas e
ensaios literários.

alter Benjamin foi um filósofo, ensaísta, sociólogo, crítico literário e tradutor. Nasceu na
Alemanha 1892 e era judeu.

Embora ele tenha se destacado pela elaboração de uma visão não evolucionista da história,
na verdade foram suas obras e teorias sobre a Estética que o tornaram conhecido por todo o
mundo. Só para exemplificar, Walter Benjamin escreveu sobre arte numa época em que a
sociedade se deparava com o crescimento maciço da Reprodutibilidade Técnica.

Conteúdo  

1 A arte de Walter Benjamin e a sua Aura

2 A aura de Walter Benjamin e a produção de massa

3 A crítica de Walter Benjamin ao teatro e ao cinema

4 O cinema como ferramenta para uma nova narrativa

5 O capitalismo e o meio ambiente para Walter Benjamin

6 A obra de Walter Benjamin contra o capitalismo

7 A história contrapelo ou contrária

8 Walter Benjamin e a Alemanha nazista

9 Perseguição política a Walter Benjamin

10 Exercícios
A arte de Walter Benjamin e a sua Aura

Por certo, Benjamin acredita que uma obra de arte só é aquilo que possui uma “Aura”, ou
seja, uma espécie de selo de autenticidade da individualidade e da originalidade da
produção artística. Em resumo, esse conceito surgiu para antagonizar o processo de
produção massivo que na época era amparada pela tecnologia.

Assim, uma espécie de produto cultural feito em massa para as massas, surgiu no século XX.
Portanto, a ideia da cultura ser um objeto a consumido pelas massas já era discutida por
outros integrantes da Escola de Frankfurt, dentro das suas peculiaridades. Inclusive os
filósofos Adorno e Horkheimer cunharam um termo para designar esse fenômeno, a
Indústria Cultural.

A aura de Walter Benjamin e a produção de massa

Primordialmente, a cultura de massa foi especialmente incorporada pelo cinema. Todavia,


para Benjamin, cada tentativa de reprodução artística feita pelo cinema, ou até mesmo de
cópia, acabava por diluir a Aura do objeto copiado. Pois dessa maneira a individualidade
daquela obra se perdia.

Sobretudo pode até parecer estranho pensar no cinema como uma expressão artística sem
vida. Porém, com todos os efeitos especiais, as projeções 3D, as cadeiras e as imagens em
alta definição, ele parece, em uma análise superficial, a mais viva das artes. Entretanto, na
visão de Benjamin, isso não adiantava nada se não era possível a sustentação de uma Aura.

As salas de cinema hoje


são verdadeiros templos da tecnologia áudio visual. Com telas alcançando resoluções de
10.000 por 7.000 pixels.

A crítica de Walter Benjamin ao teatro e ao cinema

Assim como citado acima a falta de Aura, quando comparamos ao teatro, por exemplo, a
pessoa que está interpretando um personagem é um sujeito dotado de tal Aura. Dessa
maneira ele é capaz de transmiti-la para a plateia que por sua vez faz a interlocução da
expressão. Desse modo configura-se uma dialética da arte, na qual a Aura protagoniza a
excelência da obra, tornando-a única.
Por outro lado, no cinema não há público, apenas ferramentas tecnológicas para captar
aquilo que servirá de base para reprodução das performances dos envolvidos. Dessa forma a
interferência é tamanha que, por vezes, se sobressaem aos próprios atores e atrizes.

O cinema como ferramenta para uma nova narrativa

Apesar das críticas, Walter Benjamin acreditava que o cinema poderia ser uma excelente
ferramenta para elucidação do povo. Principalmente por ser marxista, Benjamin teorizou
uma possível construção da narrativa popular através do cinema. Dessa maneira ele
imaginava que o cinema seria uma importante ferramenta, quando o povo chegasse a
assumir seu lugar de direito.

Então podemos dizer que, a tecnologia é uma ferramenta para Benjamin que precisa ser
usada com cautela. Sobretudo, ele havia teorizado que o século XX chegou até um limiar
tecnológico capaz de extirpar o legado cultural dos povos. Ou seja, ao passo de que essa
mesma tecnologia também seria capaz de criar novas conexões artísticas com o povo.

Tempos Modernos é uma obra cinematográfica de 1936 idealizada por Charles Chaplin, que
retrata bem como a modernidade incorporou a industrialização.

O capitalismo e o meio ambiente para Walter Benjamin

Para além das discussões acerca da arte, Walter Benjamin também foi um defensor do meio
ambiente. Principalmente, na obra intitulada ‘Rua de mão única’, o filósofo alemão defendia
a conservação dos recursos naturais e ainda argumentava que a exploração do planeta era
uma maneira dos sistemas imperialistas se manterem no poder.

Então ele considerava que o resgate da natureza deve ser realizado como um ato
revolucionário, ou seja, por uma destruição total do capitalismo. Decerto a revolução, além
de ser um acontecimento contra a história, é um ato em defesa da natureza.

A obra de Walter Benjamin contra o capitalismo

Na obra citada anteriormente, Benjamin argumentou que a burguesia nos arrasta para o
abismo. Dessa maneira, a produção desenfreada das mercadorias é uma ameaça capaz de
obliterar a natureza como a conhecemos.

Entretanto, a revolução defendida pelos marxistas para Benjamin é algo que vai além de
uma luta de classes. Também existe uma necessidade de impedir que soframos uma sina
catastrófica nas mãos da burguesia capitalista.
Existem atualmente
diversos pensadores fazem uma abordagem marxista dos problemas ambientais. Eles
partem do pressuposto de que problemas ambientais derivam do sistema social.

A história contrapelo ou contrária

Outra temática abordada por ele é a interpretação da história contrapelo ou contrária, isto
é, analisar a história do ponto de vista dos derrotados. Essa ideia parte do pressuposto de
que a história é contada por aqueles que saíram triunfantes dos embates ao longo tempo.

Sendo assim, existe uma elite detentora da narrativa histórica que a usa e a molda conforme
seus interesses. Dessa forma Walter Benjamin se posicionou contrário a essa tradição
conformista do historicismo alemão.

Walter Benjamin e a Alemanha nazista

Por fim, Walter Benjamin viveu em um dos mais funestos momentos da história.
Primordialmente com a ascensão do nazismo na Alemanha, durante a década de 30, ser um
judeu tornou-se algo perigoso, para dizer o mínimo.

Em consequência dessa situação Benjamin buscou refúgio em Paris. Inicialmente o filósofo


era apaixonado pela cidade das luzes, declarou mais de uma vez a admiração por um de seus
ilustres filhos, o poeta Charles Baudelaire.

Posteriormente influenciado pelas galerias da capital francesa, Benjamin decidiu escrever o


‘Trabalho das Passagens’. Entretanto este livro foi a obra mais ambiciosa do filósofo, pois
mais tarde uma tragédia interromperia de vez a sua produção.

Perseguição política a Walter Benjamin

Enquanto fugia do regime totalitário de Hitler, Walter Benjamin foi detido junto a um grupo
de refugiados na cidade de Portbou na Espanha. Especula-se que a Gestapo, estaria no
encalço do filósofo, o que provavelmente o deixou bastante atordoado.

Assim, no meio das aflições do holocausto, Walter Benjamin ingeriu uma alta dosagem de
morfina, o que levou o filósofo a óbito. Contudo, as circunstâncias de sua morte ainda são
misteriosas por causa do envolvimento da segunda guerra e toda a perseguição que sofreu.
Exercícios

1 – (Uece 2019) 

“A crescente proletarização dos homens de hoje e a crescente formação das massas são dois
lados de um mesmo acontecimento. O fascismo procura organizar as massas proletarizadas
recém-surgidas sem tocar nas relações de propriedade, por cuja abolição elas pressionam.
Ele vê sua salvação em deixar as massas alcançarem a sua expressão (de modo algum seu
direito). As massas possuem um direito à mudança das relações de propriedade; o fascismo
busca dar-lhe uma expressão conservando essas relações. O fascismo resulta,
consequentemente, em uma estetização da vida política.”

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre:
Zouk, 2012, p. 117.

Considerando o que diz Benjamin sobre os efeitos sociais da reprodutibilidade técnica dos
objetos de fruição estética, é correto afirmar que

(A) o fascismo elimina a luta de classes, pois unifica a todos sob uma mesma bandeira e com
a mesma camisa, unindo a nação no amor pela pátria e seus símbolos, tornando a política
mais bela.

(B) a luta de classes é um elemento constitutivo do fascismo, que cria a propriedade privada
e, portanto, estabelece antagonismos sociais insuperáveis pela política.

(C) a obra de arte tecnicamente reproduzida apresenta uma necessária superação do


fascismo, pois a contemplação estética popularizada conduz as massas para um estado de
gozo apolítico.

(D) o fascismo organiza o proletariado como massa, mas não põe em questão sua condição
de classe, tornando a relação social mera aparência de unidade, sob símbolos, cores e gritos
estandardizados — estetização.

2 – (Uem 2018) 

“Com o advento do século XX, as técnicas de reprodução atingiram tal nível que, em
decorrência, ficaram em condições não apenas de se dedicar a todas as obras de arte do
passado e de modificar de modo bem profundo os seus meios de influência, mas de elas
próprias se imporem, como formas originais de arte. Com respeito a isso, nada é mais
esclarecedor do que o critério pelo qual duas de suas manifestações diferentes – a
reprodução da obra de arte e a arte cinematográfica – reagiram sobre as formas tradicionais
de arte. À mais perfeita reprodução falta sempre algo: o hic et nunc (aqui e agora) da obra
de arte, a unidade de sua presença no próprio local onde se encontra. É a essa presença,
única, no entanto, e só a ela que se acha vinculada toda a sua história.”

(BENJAMIN, W. A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução. In: ARANHA, M.


L. Filosofar com textos: temas e história da Filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p. 82).

A partir do texto citado, assinale o que for correto.


(01) Para o filósofo, a reprodução em escala das obras de arte as desvincula de seu tempo
histórico.

(02) Para o filósofo, as técnicas de reprodução artística retiraram a originalidade das obras


de arte.

(04) Para o filósofo, as técnicas de reprodução artística não conseguem produzir obras de


mesmo nível artístico daquelas obras elaboradas antes do século XX, visto que essas técnicas
se perderam ao longo do tempo.

(08) Para o filósofo, a arte cinematográfica e as reproduções artísticas são exemplos da


perfeita vinculação da arte com o seu tempo.

(16) Para o filósofo, a obra de arte está ligada diretamente ao seu momento histórico de
criação, o que é uma marca de sua originalidade.

3 – (Enem PPL 2017) 

A crítica é uma questão de distância certa. O olhar hoje mais essencial, o olho mercantil que
penetra no coração das coisas, chama-se propaganda. Esta arrasa o espaço livre da
contemplação e aproxima tanto as coisas, coloca-as tão debaixo do nariz quanto o
automóvel que sai da tela de cinema e cresce, gigantesco, tremeluzindo em direção a nós. E,
do mesmo modo que o cinema não oferece móveis e fachadas a uma observação crítica
completa, mas dá apenas a sua espetacular, rígida e repentina proximidade, também a
propaganda autêntica transporta as coisas para primeiro plano e tem um ritmo que
corresponde ao de um bom filme.

BENJAMIN, W. Rua de mão única: infância berlinense – 1900. Belo Horizonte: Autêntica,


2013 (adaptado).
O texto apresenta um entendimento do filósofo Walter Benjamin, segundo o qual a
propaganda dificulta o procedimento de análise crítica em virtude do(a)

(A) caráter ilusório das imagens.

(B) evolução constante da tecnologia.

(C) aspecto efêmero dos acontecimentos.

(D) conteúdo objetivo das informações.

(E) natureza emancipadora das opiniões.

Gabarito

1. D, 2. 19 (1+2+16), 3. A.

Platão e Suas Formas de Governo


Você se interessa por política? Quer saber mais sobre a democracia? Confira aqui as
principais ideias de Platão acerca da Formas de Governo que são tema recorrente do ENEM.
Faz pouco mais de dois mil anos que estudamos o legado de Platão e dentre as várias coisas
analisadas por ele se encontra a política. Platão pensava que ela (a política) deveria ser
ensinada a sociedade, sobretudo, aos jovens em sua base educacional. Isso porque Platão
entendia a política como uma virtude. (Aliás, poderia uma virtude ser ensinada?)

Platão divagava a respeito da organização dos tipos de governo em seus estudos


sobre política. Convido você a ler a obra A Republica (um dos trinta e seis livros que ele
escreveu) para conhecer ainda mais sobre o assunto.

Como a obra já tem mais de dois mil anos, ela é de domínio público. Sendo assim, você pode
ler esta obra em pdf aqui.

Para Arístocles, vulgo Platão, a organização das nações se fundamentava nas formas de
governo que as cidades estados (Polis) adotavam. Essas formas de governo se alteram ao
longo dos anos à medida em que os Estados passam a desenvolver sistemas de acordo com
as suas demandas sociais.

Figura 1. A imagem mostra fragmentos da obra “A


República” de Platão. São pedaços de pergaminho onde se vê letras do alfabeto grego. Uma
das maiores influências da cultura ocidental, seja em seus aspectos políticos ou metafísicos.
 

A origem da política de Platão

Tendo em vista que Platão ficou a maior parte da sua vida em Atenas, trocando uma ideia
com seus alunos (incluindo Aristóteles) sobre uma tal de Filosofia Política, seu ponto de
partida não poderia ser outro senão o governo ateniense. Lá ele propôs sua teoria acerca
das formas de governo, do mundo das Ideias e da consciência dos cidadãos.

Antes de partimos para esse “rolê” de Formas de Governo, é interessante ter em mente que
fundamentando isso está a interpretação do mundo feita por Platão. Algo bastante peculiar
e pioneiro para a época, uma vez que, para o filosofo de ombros largos nosso mundo não
passava de uma cópia de um outro mundo chamado Mundo Das Ideias.
Figura 2. Na imagem vemos um esquema em que temos as divisões das almas no Mundo das
Ideias de Platão. Deriva do mundo das Ideias a Polis justa, que é governada pelos filósofos,
protegida pelos guardiões e mantida pelos produtores. Cada grupo cumprirá sua função de
acordo com a aptidão de sua alma, todos trabalhariam então para o bem da Polis.
 

De maneira sucinta, para que a Polis prospere precisaríamos dividir seus habitantes em três
grupos cujas almas (é meu camarada, existe toda uma teoria sobre as Almas da galera)
possuem distintas virtudes. Dessa forma, elas iriam exercer uma função na sociedade,
colaborando como podem para o bom funcionamento da Polis.

Ora, tendo os cidadãos comprometidos com seus deveres de acordo com suas respectivas
virtudes, Platão propõem três formas de governo para que seja possível a administração da
cidade estado, são elas:  a Monarquia, a Aristocracia e a Democracia.

Os dirigentes das cidades deveriam ser filósofos detentores do conhecimento verdadeiro,


seus atributos precisariam ser diferenciados como ser Belos e Bons.

Formas de governo em Platão

– Monarquia: A Monarquia, uma das mais antigas formas de governo, é como o nome
sugere: o governo em que apenas uma pessoa exerce o poder. Para Platão, essa pessoa seria
o Rei-Filósofo. Ora, para o filósofo, só alguém cuja alma aspire as mais ilustres virtudes
poderia ser encarregada de governar.
Figura 3. Na imagem vemos uma cena do filme “Minions” em que um minion vestido de rei
segura um microfone na mão. Hoje (2019) existem no mundo 33 reinos, 3 principados, 3
emirados, 2 sultanados, 1 império, 1 grão-ducado e 1 papado que ao todo somam 44
monarquias.
 

– Aristocracia: A Aristocracia, uma espécie de meio termo entre Monarquia e Democracia, é


o governo composto por um grupo de pessoas escolhidas segundo suas virtudes a fim de
construir o bem comum. Para Platão, é necessário que os cidadãos tivessem uma boa
educação moral, para assim entender os interesses do povo.

Figura 4. Na imagem há uma tabela


resumindo as formas de governo em Platão. A monarquia, a aristocracia e a (boa)
Democracia, nesta ordem de preferência, são as formas adequadas, enquanto que a
demagogia, a oligarquia e a tirania, são as que devem ser evitadas. A tirania é a pior das
formas de governo e a democracia a pior das melhores e a melhor das piores.
 

– Democracia: Já a Democracia, que apareceu pela primeira vez na cidade-Estado de Atenas,


tinha suas características distintivas da democracia atual. Nem todas as pessoas eram
autorizadas a falar e a votar na assembleia, este privilégio era dos cidadãos.

Diferente das democracias modernas, ser um cidadão de Atenas era um pouco complicado.
Veja bem, para começar você não podia ser mulher, nem escravo e nem estrangeiro.
Ademais, você só precisava ter mais de vinte anos e ser proprietário de terras.
Figura 5. Tirinha de Quino, Mafalda – O Kratos (não é o mano do God of War) é a autoridade
exercida por um governo. Na tirinha vemos quatro quadrinhos. No primeiro, Mafalda lê um
verbete do dicionário: “DEMOCRACIA (do grego demos, povo e kratos, sabedoria) governo
no qual a soberania é exercida pelo povo.” Nos demais quadrinhos, Mafalda está em várias
situações cotidianas “se acabando de rir”.
 

A degeneração política

Cada um desses três governos é passível de degeneração. Isto é, pode se converter em algo
ruim.

Assim sendo, a monarquia poderia se tornar uma tirania. Ou seja, um governo em que o
monarca é extremamente repressor e utilizará seus poderes para benefício próprio de
maneira tal que sua vontade será imposta acima da vontade do povo.

A aristocracia poderia se transformar em oligarquia. Isto é, um governo em que uma


pequena elite detém o poder e o usa para benefício próprio em detrimento de zelar pelo
coletivo. Seria como se os políticos governassem para favorecer a eles mesmos (Familiar?).

Por sua vez, a demagogia é a degradação da democracia. Nesta degeneração, o povo não
consegue agir de maneira coletiva gerando assim uma desordem social, o caos.

Segundo Platão há uma ordem classificatória das Formas de Governo: partindo da mais
ilustre delas é a aristocracia seguida da timocracia, oligarquia, democracia, demagogia e
enfim chegando a mais vil, a tirania.
Figura 6. Na imagem vemos o brasão da República Federativa do Brasil. Entre 1882 e 1889 o
Brasil passou pelo período monárquico. Embora com o golpe 1889 nos convertemos em uma
República Presidencialista, em 1961 recorremos ao Parlamentarismo, em 1964 a uma
ditadura e atualmente “desfrutamos” da democracia presidencialista.
 

A democracia

Deu para notar que a democracia está do lado “bom da força”. Contudo, Platão não era
assim um grande fã dela, afinal de contas foi a democracia que matou Sócrates e levou
Atenas à guerra e à ruína.

Segundo Platão, a prosperidade da Polis se pautava em sua capacidade de educar as pessoas


para que essas aprendam virtudes e assim trabalhassem juntas na construção de um bem
comum.

Ora, é possível um governo, em que as pessoas não são igualmente capazes de aprender
sobre suas virtudes e sobre a justiça, dar certo?

Em outras palavras, se nem todos são capazes de trocar uma ideia sobre política, nem todos
“manjam” de administrar a cidade, já que uns são melhores do que outros em aspectos
diversos, por que todos devem exercer o poder político?

É essa crítica a igualdade que Platão faz a Democracia ateniense. O “velhote” insinuava que
ela levaria fatalmente à tirania, a pior forma de governo pois, o tirano é a antítese do rei-
filósofo.

O bacana nessa ideia é que do ponto de vista de Platão, ainda que todas as pessoas sejam
diferentes, era necessário que elas (homens e mulheres) tivessem a oportunidade de
desempenhar qualquer papel na Polis.
Quer dizer, há mais de dois mil anos atrás já pensavam que a capacidade para algo reside
única e exclusivamente na capacidade do indivíduo e não em seu sexo (#FEMINISMO).
Assim, para Platão, as mulheres teriam os mesmos diretos visto que a cidade perfeita
prioriza a justiça (e não um pênis).

Figura 7. Vemos duas imagens de fundo amarelo. Na primeira uma mulher na pose clássica
do movimento feminista com um dos braços dobrados e o punho fechado. Na segunda,
vemos um homem fazendo a mesma pose. Na República de Platão, há igualdade entre os
gêneros. As mulheres recebem as mesmas condições e podem conseguir as mesmas
posições. Platão foi revolucionário ao defender que as mulheres têm as mesmas capacidades
que os homens para serem administradoras.
 

Educação e o governo

Em todas as (boas) formas de governo de Platão, temos em comum a educação. Se tivermos


uma educação na qual o conhecimento verdadeiro seja a passagem para formação de
cidadãos dispostos para a construção de uma cidade perfeita, as formas de governos por ele
descritas seriam bem-sucedidas.
Figura 8. No processo educacional de Platão as crianças são entregues a tutela do estado
para que fosse assegurado a igualdade de oportunidades.
 

Em suma, esse barbudo de ombros largos (Platão) acreditava na ideia de que a educação era
a solução para a transformação do mundo atual em um mundo melhor e mais justo. Para
tanto, a pessoa responsável por guiar a galera nesse mundo seria esse tal de filosofo rei.

Enfim, Platão é um mano muito atual. É possível notar em suas obras temas como a livre
expressão, o bem comum, o feminismo e a fraternidade universal do homem. O Cara lá na
Grécia Antiga discute desde o controle da natalidade e o amor livre até os padrões de
moralidade e posse pública da riqueza.

Todavia, existe em meio a esse mar de temas uma unidade em seu pensamento, um anseio
constante de contemplar uma sociedade em que a virtude reina soberana. Uma sociedade
em que Sócrates, em vez de ser assassinado, fosse eleito rei. É isso que ele escreveu em “A
República”, a primeira utopia da história. Irado!

Exercícios sobre as formas de governo em Platão:

1) Universidade do Estado do Pará (UEPA), 2015

Platão: A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de
seus interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e seus ódios;
confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor rigor.
Quanto às pretensas discussões na Assembleia, são apenas disputas contrapondo opiniões
subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu
caráter insuficiente.

CHATELET, F. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17

Os argumentos de Platão, filósofo grego da antiguidade, evidenciam uma forte crítica à:

A) oligarquia

B) república

C) democracia

D) monarquia

E) plutocracia

2) Universidade Estadual de Goiás (UEG), 2010

O mundo grego no século IV a. C. era marcado por uma estrutura de cidades-Estado


dispersas pelo território helênico. Essa fragmentação política levou os filósofos a procurarem
estabelecer uma ideia sobre as formas de governo que fossem as mais adequadas. Entre
essas ideias, pode-se destacar

A) a democracia racional, defendida por Demócrito

B) a oligarquia comercial, defendida por Sócrates

C) a aristocracia rural, defendida por Heráclito

D) o governo de filósofos, defendido por Platão

3) Universidade Estadual de Goiás, 2008

A forma com que os gregos viviam as questões da polis levou às primeiras reflexões sobre as
formas ideais de governo. Coube a Platão escrever a primeira obra sistematizada de ciência
política do Ocidente, A República. Nesta obra, Platão, entre outros assuntos, discute temas
como justiça, educação, cidadania e formação dos governantes. A classificação das formas
de governo realizada por Platão em A República é a seguinte:

A) Aristocracia, Democracia, Oligarquia, Tirania, Anarquia e Monarquia


B) Aristocracia, Timocracia, Oligarquia, Democracia, Demagogia e Tirania
C) Timocracia, Democracia, Aristocracia, Demagogia, Monarquia e Tirania
D) Monarquia, Oligarquia, Democracia, Tirania e Timocracia

Gabarito

1. C, 2. D, 3. B.
Theodor Adorno, a Escola de Frankfurt e a dialética negativa
Theodor Adorno (1903 – 1969) foi um filósofo alemão e um dos fundadores da Escola de
Frankfurt. Possui estudos sobre indústria cultural, dialética negativa e filosofia moral.
O filósofo alemão Theodor Adorno (1903 – 1969) foi um integrante do Instituto para
Pesquisa Social – Institut für Sozialforschung – popularmente chamado de Escola de
Frankfurt. Adorno, ao lado de Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas,
Wilhelm Reich e outros mais, foi um dos neomarxistas que fundaram o instituto em 1924.

Theodor
Ludwig Wiesengrund Adorno foi um filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor. Nasceu
em Frankfurt, Alemanha, no dia 11 de setembro de 1903.

Conteúdo

1 A Escola de Frankfurt e a Alemanha nazista

2 A dialética de Adorno

3 Indústria Cultural, Teoria Crítica e Filosofia Moral

4 Videoaula sobre Theodor Adorno

5 Exercícios sobre Theodor Adorno

A Escola de Frankfurt e a Alemanha nazista

Em conjunto com seu grande amigo Marx Horkheimer, Adorno deu um viés mais filosófico e
sociológico ao pensamento da Escola de Frankfurt, já que esta tinha uma abordagem mais
econômica do mundo.

As primeiras obras de Adorno tinham como objeto de estudo as artes de maneira geral. Ele
foi um grande crítico da produção artística da época, ao lado de seu conterrâneo Walter
Benjamin, o qual teve obras publicadas pelo próprio Adorno após sua trágica morte.

A escola de Frankfurt foi uma das várias instituições afrontadas pela ascensão do regime
nazista na Alemanha. Esse acontecimento fez com que a maioria de seus intelectuais (que
tinham uma orientação marxista) deixassem a Alemanha, pois temiam uma perseguição por
parte do regime de Hitler.

Inclusive, a própria Escola de Frankfurt se mudou da Alemanha. O instituto foi inicialmente


deslocado para Genebra e Paris, mas em 1935 foi transferido para Nova Iorque. Foi a
Universidade de Colúmbia quem concedeu asilo aos frankfurtianos até 1953, quando
finalmente a Escola de Frankfurt retornou para sua cidade natal.

Adorno se mudou para Nova Iorque em 1938. Desimpedido do regime totalitário de Hitler e
novamente reunido com a maioria de seus colegas acadêmicos, ele retomou suas
investigações filosóficas.

A dialética de Adorno

O pensamento de Adorno era contrário à ideia de total compreensão do mundo por meio da
razão. Esse apego ao racional se tornou muito popular durante o século XVIII,
principalmente com o florescimento dos ideais defendidos pelo movimento Iluminista.

Contrário a essa abordagem cosmopolita, o alemão difundia a ideia de que é impossível


captar a plenitude da realidade a partir do exercício do pensamento, como fizeram seus
antecessores.

Antagonizando essa ideia, ele propôs uma parada que até então tinha sido ignorada, em sua
maior parte, pelos seus antecessores: a peculiaridade daquilo que é individual. Assim,
resgatando a discussão feita por Georg Hegel em sua famosa “Fenomenologia do Espírito”,
Adorno trouxe à tona uma abordagem distinta do que era pregado nos séculos XVIII e XIX.

Essa abordagem foi desenvolvida pelo filósofo na obra “A Dialética Negativa”, publicada em
1966.

O que é dialética

De maneira geral, dialética se refere à oposição, ao conflito originado pela contradição entre
princípios teóricos ou fenômenos empíricos. Essa noção é vista na filosofia desde seus
primórdios nas obras de Platão, Aristóteles e até mesmo em filósofos pré-socráticos.

A dialética é uma parada contraditória do real. Isto é, por conta da dialética é possível
entender que os fenômenos do mundo, sejam eles manifestações da natureza ou relações
entre as pessoas, acontecem sempre de maneira recíproca e nunca por acaso. Assim sendo,
não podemos entender nada de maneira isolada, ou seja, tudo que existe é compreendido
dentro de uma infinita estrutura de relações.

A dialética negativa

Retomando o sistema de Hegel, na qual a dialética se faz presente, Adorno tentou refutar a
vertente conciliadora, positivista e até fenomenológica apresentada por Hegel. Em sua obra,
o processo dialético é redesenhado partindo dessa abordagem hegeliana. Você pode
conferir com mais detalhes as ideias de Hegel aqui mesmo em nosso blog, no texto Dialética
de Hegel.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi o autor da Fenomenologia do Espírito. Esta obra é
considerada um marco na Filosofia mundial.

Em oposição a Hegel, meu camarada Adorno rejeitava essa ideia de síntese conciliadora.
Para ele, ao invés dessa vertente positiva, deve haver justamente uma perspectiva negativa
da dialética.

Ora, é somente através de uma dialética assim que se faz possível reconquistarmos a
experiência particular sem que esta seja obliterada pelos conceitos universais. Portanto, a
ideia de uma dialética negativa recusa a formação de conceitos para apreender a experiência
e traz consigo mais materialidade à metafísica.

Os chamados conceitos abstratos são o reverbério do mundo dissimulado, visto que a


totalidade é algo falso. Com isso, Adorno defendeu a necessidade de se pensar os
particulares em detrimento dos grandes sistemas filosóficos que tentavam englobar tudo
que lhes era passível de existência.

Em suma, podemos entender a dialética negativa como a incapacidade de compreender o


todo por meio do pensamento. Ao contrário, Adorno buscou um conhecimento da não
identidade entre sujeito e objeto em vez de respaldá-lo meramente na relação entre o
indivíduo e o objeto a ser conhecido.

Indústria Cultural, Teoria Crítica e Filosofia Moral

Para além de uma dialética negativa, Theodor Adorno escreveu sobre variados temas. A sua
mais famosa obra foi escrita em conjunto com seu camarada Max Horkheimer, a “Dialética
do Esclarecimento”, que tratava das mazelas que então nos afligiram com o surgimento do
que eles chamaram de Indústria Cultural.
Para Ad
orno, “O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna
uma extensão do trabalho.”

Em outras palavras, a Indústria Cultural era, para os filósofos de Frankfurt, um


empreendimento que tinha como desígnio a manipulação das consciências através dos
meios de comunicação.

Outro ponto importante do pensamento adorniano foi a sua concepção estética. Na obra
‘Teoria Estética’ – Ästhetische Theorie – publicada nos anos 1970, ele discorreu sobre a
recusa de todo o tipo de fetichismos, além de algumas elucidações sobre a beleza e as artes.

Tais obras dever-se-iam estabelecer a fundamentação para o pensamento adorniano,


tornando-se os pilares que sustentariam suas ideias. Todavia, o seu projeto acerca de uma
filosofia moral ficara incompleto. Por conta disso, os três pilares do pensamento de Adorno
nunca se concretizaram enquanto ele era vivo.

Por fim, Theodor Adorno foi um dos mais celebres pensadores da Escola de Frankfurt. Foi
um crítico ferrenho do holocausto e um escritor sem igual. Suas ideias servem até hoje de
base para o desenvolvimento de uma educação mais humanizada, bem como um alerta para
a dominação das massas que o capitalismo faz através do condicionamento cultural.

Exercícios sobre Theodor Adorno

1- (ENEM 2016)
Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e
empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais.
Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização
histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a
liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em
todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.

ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de


Janeiro: Zahar, 1985.

A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a)

a) legado social.

b) Patrimônio político

c) Produto da Moralidade
d) Conquista da Humanidade

e) Ilusão da Contemporaneidade

2- (Ufu 2013)
A dialética de Hegel

a) envolve duas etapas, formadas por opostos encontrados na natureza (dia-noite, claro-
escuro, frio-calor).

b) é incapaz de explicar o movimento e a mudança verificados tanto no mundo quanto no


pensamento.

c) é interna nas coisas objetivas, que só podem crescer e perecer em virtude de contradições
presentes nelas.

d) é um método (procedimento) a ser aplicado ao objeto de estudo do pesquisador.

3- (UEL/2008)
Leia o texto a seguir.
O saber que é poder não conhece nenhuma barreira, nem na escravização da criatura, nem
na complacência em face dos senhores do mundo. Do mesmo modo que está a serviço de
todos os fins da economia burguesa na fábrica e no campo de batalha, assim também está à
disposição dos empresários, não importa sua origem.

(ADORNO, T. W. & HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos.


Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. p. 20.)

Com base no texto e no conhecimento dos conceitos de esclarecimento e racionalidade


instrumental em Adorno e Horkheimer sobre o referido saber, é correto afirmar:

a) Seu conteúdo é racional por si mesmo e de natureza crítico-reflexiva.

b) É principalmente técnico e carente de conteúdo racional por si mesmo.

c) Tem uma dimensão reflexiva e seus objetivos são racionais por si mesmos.

d) É caracterizado por forças sobrenaturais indomáveis que animam tudo.

e) Estabelece limites para o domínio nas relações sócio-econômicas.

Gabarito:

1. E
2. C
3. B
A filosofia de Michel Foucault
Vamos juntos aprofundar os conceitos e as principais ideias do filósofo francês
contemporâneo, Michel Foucault.
Michel Foucault (1926-1984) foi um filósofo francês que se dedicou à reflexão da relação
entre poder e conhecimento.

Crítico, Foucault foi um ativista que se envolveu em campanhas contra o racismo e pela
reforma do sistema penitenciário. Estudou e elaborou diversas análises sobre diferentes
problemas sociais. Dentre eles, o sistema penitenciário, a instituição escolar, a psiquiatria e a
psicanálise praticadas de forma tradicional e a sexualidade.

O BioPoder em Michel Foucault

Foucault tornou-se amplamente conhecido por seus trabalhos onde discute as relações de
poder na sociedade. Esta temática, já encontrada em suas primeiras publicações, ganha
destaque a partir do ano de 1970, quando o filósofo passa a ministrar cursos sobre o assunto
no Collège de France. Nestes cursos, Foucault examinou as diversas estruturas políticas
engendradas pelas sociedades ocidentais, desde a antiguidade greco-romana à
contemporaneidade.

Para o filósofo, o poder encontra-se sempre associado a alguma forma de saber. Sendo
assim, exercer o poder torna-se possível mediante conhecimentos que lhe servem de
instrumento para atingir os objetivos almejados e justificativa para o uso desse poder.

Segundo Foucault, em nome da “verdade” de um detentor de poder, legitimam-se e


viabilizam-se práticas autoritárias de segregação, monitoramento, gestão dos corpos e do
desejo.

Inversamente, é no centro de aparatos sofisticados de poder que sujeitos podem ser


observados, esquadrinhados, de maneira que deles sejam extraídos saberes produtores de
subjetividade.

Atendo-se a uma análise nominalista, Foucault recusa-se a pensar o poder enquanto coisa
ou substância, as quais seriam possuídas por uns e extorquidas de outros. Segundo o
pensador, o poder opera de modo difuso, capilar, espalhando-se por uma rede social que
inclui instituições diversas como a família, a escola, o hospital, a clínica. O poder é, por assim
dizer, um conjunto de relações de força multilaterais.

Como você pode ver, as reflexões do filósofo consistem na tentativa de estabelecer uma
análise que escape às teorias políticas tradicionais. Nas análises clássicas as relações de força
são pensadas a partir do modelo do contrato social, da luta de classes, ou ainda da figura de
um Estado absoluto e opressivo em oposição à sociedade civil.

Dessa maneira, contrapondo a filosofia tradicional, Foucault acredita que o poder não atua
em conformidade à lógica binária dos dominadores versus dominados. Isso quer dizer que
não é da onisciência de um soberano-que-tudo-sabe que o poder emana ou conserva-se. Ele
irradia-se de modo microfísico, sem possuir um centro permanente.

Sob esta ótica, as relações de força seriam móveis e suscetíveis de se modificarem,


compondo arranjos transitórios dados a uma constante transfiguração. Será tal mobilidade
que permitirá Foucault contemplar a possibilidade de resistência face ao controle,
reconhecendo-a enquanto elemento indissociável de seu exercício.

A Política na visão de Michel Foucault

“No pensamento e também na análise política, ainda não guilhotinamos o rei”, escreve
Foucault em 1976. O que significa isso? Foucault se refere aqui à figura de um poder
majestático, concentrado num lugar determinado, sempre longe e pelo alto, que irradia
verticalmente sua vontade sobre seus súditos/vítimas.

Substitui-se o rei pelo Estado, pelo império da lei ou pela dominação de classe, e continua-se
a reproduzir uma forma de entender o poder: uma espécie de “sala de mandos” situada no
vértice da sociedade. Todo o trabalho de Foucault se dirige para romper com esse esquema
conceitual/mental.

Em lugar de um poder que se concentra e se deduz das grandes figuras (Estado, Lei, Classe),
Foucault nos propõe pensá-lo como um “campo social de forças”. O poder não deriva de um
poder soberano, ele vem de todos os lados: milhares de relações de força atravessam e
configuram nossa forma (prática) de entender a educação, a saúde, a cidade, a sexualidade,
o trabalho.

Sendo assim, aqueles que usam o poder são formas terminais, mas não passivas. As figuras
visíveis do poder são o resultado do campo social de forças e se apoiam sobre ele, mas
também o fixam (mesmo que nunca definitivamente). Portanto, encadeiam distintas
relações de forças concretas e locais, produzindo efeitos globais e estratégias de conjunto.

Vejamos uma passagem muito clara de Foucault, discutindo com o marxismo dominante dos
anos 1970: “não me parece que seja a classe burguesa (ou tais e quais de seus elementos)
que impõe o conjunto das relações de poder. Digamos que essa classe as aproveita, as
utiliza, as modifica, busca intensificar umas e afrouxar outras. Não há, pois, um foco único do
qual todas elas saiam como se fosse por emanação, mas um entrelaçamento de relações de
poder que, em suma, torna possível a dominação de uma classe social sobre a outra, de um
grupo sobre o outro”.

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