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Herberto Helder Poetas contemporâneos

EDUCAÇÃOLITERÁRIA|GRAMÁTICA

1. Identifica a realidade representada na imagem.

2. Lê a Parte II de “Do mundo”.

Do mundo
Se perguntarem: das artes do mundo?
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
despenharem-se
nas grandes massas de água; depois, as brasas pelos recantos,
charcos entre elas.
Quero na escuridão revolvida pelas luzes
ganhar batismo, ofício.
Queimado nas orlas de fogo das poças.
5
O meu nome é esse.
E os dias atravessam as noites até aos outros dias, as noites
caem dentro dos dias – e eu estudo
astros desmoronados, mananciais, o segredo.

HELDER, Herberto, Op. cit., p. 494.

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3. Divide o poema em três partes lógicas, fundamentando.

4. Explica a conceção de poeta presente no poema.

5. Mostra que, de acordo com o poema, a experiência passa pela perceção da transformação das
coisas.

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Herberto Helder Poetas contemporâneos

LEITURA|GRAMÁTICA ARTIGO DE OPINIÃO

1. Lê o artigo de opinião “HH”.

HH
O poeta – poeta é aquele que, como os cometas, sabe aparecer e desaparecer. Herberto Hel-
der diz: “Se perguntarem: das artes do mundo? / Das artes do mundo escolho a de ver cometas
/ despenharem-se / nas grandes massas de água; depois, as brasas pelos recantos, / charcos entre
elas. / Quero na escuridão revolvida pelas luzes / ganhar batismo, ofício. / Queimado nas orlas
de fogo das poças. / O meu nome é esse.” E, depois de o dizer, o poeta caminha para o sítio do
silêncio, pois sabe ser aí que a terra treme e que o fogo se faz.
Neste hoje rodeado de tumultos tímidos, de gritos gratuitos, de barulhos baratos, quero trazer
aqui a quase perfeita invisibilidade e o silêncio de Herberto Helder, que valem mais, na sua
5 chama oculta, do que a voz do vazio que nos cerca. A sua arte é a de aparecer e desaparecer.
Aparece para nos entregar a sua poesia incandescente e desaparece, logo a seguir, para o lugar
onde as palavras não se cansam de esperar. Com ele, não há dizer por dizer, nem falar por falar,
nem estar por estar. O que há a fazer por ele, apenas a obra o faz, o fará. Não há promoção da
imagem, do livro, da fama, como a praticada esforçadamente pelos que põem mais talento e mais
trabalho na propaganda da obra do que na obra, cumprindo esta lei quase imutável: quanto mais
medíocres, mais “mediáticos”; quanto mais nulos, mais loquazes; quanto mais insignificantes,
mais autossuficientes. Num tempo em que os que escrevem mais baixo são os que falam mais
10 alto e em que muitos escritores – mesmo poetas – não resistem à tentação de usar as palavras
para negar as palavras, caindo na “tagarelice da época”, saúdo, na invisibilidade e no silêncio de
Herberto Helder, um raro exemplo de recusa, de responsabilidade, de integridade ética e poética.
A sua é uma poesia de grande voo vocal. Gosto de me aproximar do seu céu de palavras e
olhá-las como se olha um prodígio lento. Aí, as imagens do mundo são a força que nos atravessa
como uma corrente elétrica de alta intensidade.
Embora os desprevenidos e os frívolos possam pensar o contrário, a renúncia mundana de
15 Herberto é o resultado da atenção ao mundo. E o seu recuo do onde a vida não está, a sua rejeição
do que entorpece e vicia as palavras é uma escuta do que não se deixa afogar no tempo estéril,
como num mar viscoso e sujo.
SANTOS, José Manuel. “HH” [Em linha]. Expresso, 10-12-2007 [Consult. em 09-01-2017].

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Herberto Helder Poetas contemporâneos

2. Este texto é um artigo de opinião marcado por uma intenção estética.


2.1. Explicita o ponto de vista defendido pelo autor, bem com os argumentos utilizados para o
fundamentar.
2.2. Identifica, exemplificando, os recursos expressivos que marcam a intencionalidade estética do
texto.

3. Transcreve do texto: RETOMA


a. um deítico temporal;
b. um deítico espacial;
c. um deítico pessoal que aponte para o enunciador.

4. Transforma a oração subordinada adverbial concessiva finita presente na linha 23 numa oração
não finita com sentido equivalente. RETOMA

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SOLUÇÕES|SUGESTÕESMETODOLÓGICAS

“Do mundo” (p. 64)

Educação Literária
1. Cometa a aproximar-se da Terra.
3. Exemplo:
• Primeira parte (v. 1): apresentação de uma interrogação retórica que introduz o assunto a abordar no texto (seleção de
uma arte do mundo).
• Segunda parte (vv. 2-5): apresentação de uma resposta à interrogação formulada (identificação de uma arte do mundo e
justificação a opção).
• Terceira parte (vv. 6-12): apresentação do objetivo que move o sujeito poético.

4. Poeta como ser que nasce da escuridão para as várias luzes do mundo e que visa o conhecimento profundo da essência
das coisas (“segredo”, v. 12).

5. O sujeito poético perceciona a experiência do mundo através da visão, focando um processo de transformação: cometa
que se desloca e despenha em “grandes massas de água” (v. 4), transformando-se em “brasas” (v. 4).

Leitura | Gramática
2.1. Ponto de vista: valorização da poesia de Herberto Helder; crítica a certo tipo de literatura atual. Argumentos: o
“silêncio” e a “invisibilidade” (l. 8) de Herberto Helder valem mais do que “a voz do vazio” (l. 9) que caracteriza a sociedade
atual e refletem a sua integridade ética e estética; a poesia de Herberto Helder é assertiva, depurada e superior (“poesia de
grande voo vocal”, l. 20); Herberto Helder não valoriza o culto “da imagem, do livro e da fama” (ll. 12-13), investindo o seu
talento na sua obra – ao contrário do que acontece com outros escritores; a desvalorização do culto da imagem mostra que
Herberto Helder está atento ao mundo (e não o contrário).
2.2. Exemplo: metáfora (“A sua é uma poesia de grande voo vocal.”, l. 20), paralelismo conjugado com a anáfora, a
repetição do advérbio “mais” e o uso expressivo do adjetivo (“quanto mais medíocres, mais “mediáticos”; quanto mais nulos,
mais loquazes; quanto mais insignificantes, mais autossuficientes”, ll. 14-16), enumeração (“Não há promoção da imagem,
do livro, da fama”, ll. 12-13).

3. a. “hoje” (l. 7). (nota: o deítico “hoje” tem um sentido lato, apontando não apenas para o momento específico da
enunciação, mas para o tempo atual/contemporâneo). b. “aqui” (l. 8). c. “quero” (l. 7), “saúdo” (l. 18).

5. Exemplo: Pensando os desprevenidos e os frívolos o contrário.

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