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DIREITO SUCESSÓRIO POSITIVO COM ENFOQUE NAS MODALIDADES DE
SUCESSÃO E NA POSIÇÃO DO CÔNJUGUE SOBREVIVO NA CLASSE DE
SUCESSÍVEIS
Ora bem, feita esta breve apresentação do tema, passemos agora a
exposição.
O primeiro Capítulo – GENERALIDADE SOBRE A SUCESSÃO:
HISTÓRIA E CONCEITOS, neste capítulo e no que respeita a evolução
histórica do fenómeno, é de realçar que fenómeno sucessório surge desde
os primórdios, porém como nas sociedades primitivas existia o primado da
propriedade colectivo, os sucessores das pessoas falecidas ascendiam
apenas à posição jurídico-política do falecido dentro da tribo.
O fenómeno sucessório tal como hoje o concebemos começou a desenhar-
se na idade média através do Direito romano e o Direito germânico, cujo
sistemas sucessórios influenciaram grandemente o surgimento do sistema
sucessório angolano.
A sucessão no sentido lato, traduz-se na circunstância de alguém tomar
posse de direitos e obrigações pertencentes a outrem, sendo tais direitos e
obrigações os mesmos que o anterior titular possuía. Neste caso, exite
sucessão inter vivos (entre vivos) e sucessão mortis causa (por causa da
morte). Contudo, interessa-nos neste trabalho a sucessão mortis causa- que
ocorre em virtude da morte de alguém.
Consiste no chamamento de uma ou mais pessoas vivas à titularidade das
relações jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente
devolução dos bens que a esta pertenciam.
Etimologicamente o termo sucessão vem do latim: “Sucedere” de
(sub+cedere) que significa vir depois, ocupar lugar de… Sucessão
significa, por isso, submeter de uma pessoa em determinada posição ou
situação jurídica.
De realçar que foram ensaiadas a nível da doutrina vários conceitos de
sucessão, conforme os diferentes autores, pelo que destacamos aqui, o
conceito legal de Sucessão, prevista no art. 2024.º do C.C. “ Diz-se
sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das
relações patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução
dos bens que a esta pertenciam”
Por via de regra seria o próprio de cuiús quem tivesse o direito de proceder
a designação sucessória, isto é, a indicação dos seus sucessíveis à
titularidade dos direitos e deveres, antes da sua morte mediante um acto
voluntário (testamento ou contrato). Porém, sendo a morte um evento
naturalístico, ocorre casos em que a pessoa falece sem no entanto, dispor
dos referidos bens. Dai que, para suprir a falta de vontade da pessoa
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falecida, o legislador adotou outras formas através da qual pode ser feita a
designação sucessória. Desta feita, os factos designativos podem ser, legais
ou voluntárias. Os legais são os que decorrem da própria lei (Sucessão
legítima e Legitimária); Ao passo que os voluntários decorrem da
manifestação de vontade do de cuiús (Sucessão testamentária e contratual).
Com a morte extingue-se a personalidade jurídica. Pelo que, a morte
determina o momento de abertura da sucessão das suas relações jurídicas
patrimoniais
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Ora, esta solução do legislador afigura-se manifestamente injusta,
considerando que os cônjuges estabelecem um consórcio de toda vida,
estabelecem uma comunidade total, exclusiva e indissolúvel. Em que se
empenham como uma só carne, em todos os aspectos do seu ser e sua vida.
Solução diversa foi adotado pelos ordenamentos jurídicos de vários países,
a título de exemplo citação o português, que á luz dos artigos 2133.º, n.º1, 2
e 2157.º do Cód. Civil Português, a ordem por que são chamados os
sucessíveis é a seguinte: primeira classe, a) Cônjuge e descendentes;
segunda classe, b) Cônjuge e ascendentes; terceira classe, c) quarta classe,
Irmãos e seus colaterais; d) outros colaterais até quarto grau; e) quinta
classe, Estado.
Podemos ver aqui que o cônjuge ocupa um lugar prioritário nas duas
primeiras classes, concorrendo directamente e em pé de igualdade com os
descendentes e ascendentes.
Para podermos ilustrar melhor a nossa indignação, vamos dar um exemplo,
imaginemos por hipótese que, A esposo de B, casados há 5 anos em regime
de separação de bens, A é comerciante, B cuidava apenas das tarefas
domésticas. Durante os cinco anos de constância do casamento A foi
acumulando um património avaliado de em kzs.100.000.000.00 (cem
milhões de Kwanzas). A e B não têm filhos. A tem mãe que encontra-se em
vida. Infelizmente A faleceu num acidente sem deixar um testamento.
Ora, a morte de A dá lugar a abertura da sucessão. Não tendo este em vida
disposto dos seus bens, a sucessão será a legítima, termos em que será
chamada á sucessão dos cem milhões de kwanzas, segundo o preceituado
no art. 2133º al. b) do C.C, apenas a mãe de A na medida em que A não
deixou filhos. Assim, a mãe de A herdará a totalidade dos cem milhões e B
que durante os cinco anos auxiliava e apoiava o marido nos negócios,
cuidava da sua alimentação e sua aparência fica sem nada.
A solução seria completamente diversa e mais justa se adotássemos solução
idêntica de outros ordenamento jurídico como o Português onde nos termos
dos artigos 2133º nº 1 e 2, 2157 do CC. Português, o património de A teria
sido repartido por igual entre B e a mãe de A. Assim seria cinquenta
milhões para cada uma. Solução mais justa considerando o papel de B na
vida de A e também para conseguir o referido património.
CONCLUSÃO
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Tendo em conta os objectivos preconizados apresentamos, as seguintes
conclusões:
Não é possível salvaguardar e tutelar, efectiva e eficazmente os
direito e interesses do cônjugue sobrevivo, posicionando-o em quarto
lugar, tendo em atenção que, por força do princípio da preferência de
classe de sucessíveis, como refere o artigo 2134.º do Código Civil, o
cônjugue sobrevivo só poderá suceder caso inexistam os herdeiros
que lhe precedem.
A atribuição ao cônjugue sobrevivo, do direito à meação e do direito
ao usufruto, tal como prevê o artigo 2146.º do Código Cívil, não
obstante constituírem prerrogativas alinhadas com a natureza
voluntária-intimista da relação conjugal, não são suficientes pra
afasta-lo dos lugares cimeiros quer da sucessão legítima quer da
sucessão legitimária.
As razões justificativas que impulsionaram o legislador a colocar o
cônjugue sobrevivo nas actuais posições são essencialmente de
carácter sócio-cultural. E, sendo tais, são relativas e ultrapassadas.
Visto e ponderados todos os aspectos inerentes ao problema da
investigação, é razoável, curial e urgente proceder-se à alteração da
actual posição do cônjugue sobrevivo na classe de sucessíveis
legítimos, estabelecendo-o na primeira posição em concurso com os
descendentes e ascendentes; vice-versa, figura-lo, nesta mesma
posição, como sucessor legítimo.
RECOMENDAÇÕES
Em virtude dos objectivos gizados, deixamos as seguintes
recomendações:
Que o legislador ordinário proceda à uma revisão parcial do Código
Civil em matéria de direito sucessório com particular enfoque nos
artigos 2133.º e 2157.º;
Que o princípio da paridade de direitos e de deveres na vida familiar
seja levado em conta nessa revisão a fim de que se altere a vocação
sucessória entre os cônjugue e demais sucessórios;
Que o legislador insira o cônjugue sobrevivo a concorrer com os
descendentes e com os ascendentes nas respectivas classes;
Na vigência do actual regime sucessório, que entre os cônjugues haja
a cultura do testamento para que se proporcionem mutuamente
maiores garantia mortis causa.
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