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UNIDADE 2

IDENTIFICAÇÃO
E ANÁLISE DAS
EXPOSIÇÕES A PERDAS

O QUE VOCÊ ESTUDARÁ NESTA UNIDADE?


O primeiro passo do processo de gestão de riscos é a identificação e aná-
lise das exposições a perdas. Os cinco passos do processo são importan-
tes, pois a falha em qualquer um deles pode significar o fracasso da gestão
de riscos como um todo. O alerta a ser feito é que, normalmente, esse
passo, se não for corretamente executado, pode gerar eventos que invia-
bilizem os objetivos da organização. É comum encontrarmos nos meios de
comunicação notícias sobre eventos de grande impacto na sociedade e,
por consequência, na organização, que não foram corretamente identifi-
cados e, por isso, deixaram de ser analisados no processo de gestão de
riscos. Nesses casos, a identificação pode ocorrer tardiamente, ou seja,
depois da ocorrência de evento de grande impacto sobre os objetivos da
organização (lembrando que, na gestão de riscos, conforme a norma ISO
31000, riscos são os efeitos das incertezas nos objetivos). Nesta unidade,
estudaremos os quatro tipos de exposição a perdas, cada um deles com
suas três características próprias. Depois, serão abordadas as técnicas de
identificação de riscos e a análise de riscos, que gerará a matriz de riscos,
uma importante ferramenta no processo de gestão de riscos.
TÓPICOS
DESTA UNIDADE OBJETIVOS DA UNIDADE
2.1 EXPOSIÇÕES A PERDAS Identificar e compreender Entender a importância
as exposições a perdas de da identificação de riscos
2.2 IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS
patrimônio, responsabilidade no processo de gerência
civil, pessoas e receita. de riscos e as técnicas
2.3 ANÁLISE DAS
EXPOSIÇÕES A PERDAS
disponíveis.

RESUMO Conceituar matriz de riscos e sua aplicação na gerência de riscos

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UNIDADE 2

2.1 EXPOSIÇÕES A PERDAS


A exposição a perdas é uma perda futura, e deve ser analisada em três
dimensões a seguir:

☐ Os valores expostos a perdas;


☐ Os riscos que causam essas perdas;
☐ As consequências financeiras dessa perda.

Qualquer variação em alguma dessas dimensões altera a exposição a


perdas.

As exposições a perdas podem ser agrupadas em quatro grandes catego-


rias, que são:

Patrimonial
Refere-se ao patrimônio propriamente dito, constituído do imóvel, seu
conteúdo, contas a receber etc. Um patrimônio que também é sujeito
a perdas futuras é o valor da marca da organização. Acidentes ou
qualquer tipo de evento que macule o valor da marca da organização
significam uma redução de seu valor patrimonial.

Responsabilidade Civil
Refere-se à responsabilidade civil gerada por leis, códigos ou estatu-
tos. Se a organização cometer algum ato ilícito que gere responsabi-
lidade civil será obrigada a reparar ou reembolsar os danos causados
a terceiros, gerando perdas futuras para ela.

Pessoas-chave
Refere-se à perda de pessoas, que pode ocorrer tanto pela ida para a
concorrência quanto por morte. Como uma pessoa individualmente ou
um grupo de pessoas pode ter expertise específica, ou conhecimento
de mercado ou conhecimento de processos produtivos exclusivos, sua
perda pode gerar perdas futuras para a organização.

Receita Líquida
Normalmente decorre de alguma das exposições a risco elencadas
nos itens anteriores. Por exemplo, uma explosão que cause mortes
na vizinhança, um produto defeituoso que cause acidentes para os
clientes ou desvios de conduta da diretoria podem provocar queda
da receita líquida da organização. Também temos situações de perda
de receita líquida não diretamente ligadas aos itens anteriores, como
a entrada de novos concorrentes, condições econômicas adversas,
novas tecnologias que substituam as da organização etc.

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As exposições a perdas de cada um dos quatro grupos (patrimonial, respon-


sabilidade civil, pessoas e receita líquida) são analisadas em três dimensões:
valores expostos a perdas, riscos que causam essas perdas e consequência
financeira das perdas. Para entendimento do conceito de exposições a
perdas, faremos a análise de cada dimensão e cada análise abrangerá os
quatro grupos. O entendimento das exposições a perdas é condição para
o correto desenvolvimento desse primeiro passo: identificação e análise
das exposições a perdas.

2.1.1 VALORES EXPOSTOS A


PERDAS (1ª DIMENSÃO)
GRUPO PATRIMONIAL

O patrimônio da organização pode ser dividido em dois grandes grupos,


a saber:

☐ Bens tangíveis, que são bens físicos, ou seja, que podem ser
tocados. Os bens tangíveis, por sua vez, podem ser divididos em:
prédio (construções, estruturas em geral, bens em construção
ou montagem, incluindo também o terreno); e conteúdo/equipa-
mentos, que são os outros bens tangíveis (mercadorias, maté-
rias-primas, produtos acabados, equipamentos fixos e móveis,
máquinas etc).
☐ Bens intangíveis, que são aqueles que não têm substância física,
mas que fazem parte do patrimônio da organização, como mar-
cas, patentes, licenças, direitos, informações em geral etc.

Os valores expostos a perdas no grupo patrimonial englobam não somente


o valor do bem propriamente dito, mas também outros itens, como veremos
a seguir:

Patrimônio
É o patrimônio propriamente dito, que pode sofrer perdas parciais ou
perda total, necessitando de reparação ou reposição.

Desentulho do local
São despesas necessárias para limpeza do local após uma perda patri-
monial. Por exemplo: após o desmoronamento de um viaduto ou um
incêndio envolvendo prédio e conteúdo, serão necessários recursos
financeiros, muitas vezes elevados, para limpeza e desentulho do local
antes da reposição ou reconstrução do bem danificado.

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Despesas de demolição
Trata-se de patrimônio não totalmente danificado por um evento, mas
que, por problemas econômicos ou por determinação dos órgãos
competentes, precisa ser demolido. Por exemplo: após a ocorrência
de um vendaval, a estrutura do prédio foi condenada pela Prefeitura
ou pode ocorrer do custo do reparo ser proibitivo, sendo preferível
sua demolição e reconstrução com custo inferior ao reparo.

Propriedades não danificadas


Podem sofrer perda de valor em função da perda de sua utilidade. Por
exemplo: no caso de danos a parte das instalações de um complexo
industrial, as demais partes não danificadas podem sofrer perda de
valor em função da não reconstrução ou reposição da parte danifi-
cada, decisão que pode ter origem na:

☐ Mudança do código de obras da localidade, que impede a recons-


trução ou reposição das partes danificadas;
☐ Mudança no estado da arte da indústria, ou seja, surgimento de
novos processos ou novas tecnologias que tornam os utilizados
pela organização defasados em relação ao grau tecnológico
atualmente existente;
☐ Situação econômica do setor ou da economia desfavorável;
☐ Posição da administração em não continuar no mesmo ramo ou
mudar para outro local etc. Nessas situações, o patrimônio não
danificado ficará ocioso e perderá seu valor.

Aumento dos custos de reconstrução ou reposição


Pode ocorrer que o prédio tenha sido construído segundo determi-
nado código de obras e que na época da reconstrução ou reposição
do patrimônio esteja em vigência outro código. Nesse caso, para ade-
quação, seriam necessários custos adicionais, gerando aumento nos
custos de reconstrução ou reposição do patrimônio. O aumento dos
custos de reconstrução ou reposição provavelmente deve vir acom-
panhado de aumento dos impostos, em função do aumento do valor
do patrimônio. Se considerarmos bens intangíveis como a marca, sua
reconstrução terá custo maior do que a sua construção inicial.

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Valor do par
Refere-se à perda do valor do conjunto quando um dos elementos
desse conjunto é danificado. Exemplo: no caso de um par de brincos,
a perda de um deles reduz o valor do outro a menos da metade. O par
refere-se ao valor do conjunto e não a dois elementos propriamente
ditos. No caso de um jogo de xadrez, a perda de uma peça ocasiona a
perda da utilidade e do valor das demais. Em uma indústria automobi-
lística, a falta de um componente gera a perda de valor do automóvel
como um todo, como ocorreu em situações passadas em que os pátios
das montadoras ficavam com várias unidades aguardando a entrega
de componentes. O mesmo efeito pode ser observado em confecções
de roupas, quando a falta, por exemplo, de um zíper, gera a perda do
valor da confecção como um todo. Embora essa perda de valor seja
temporária (até o fornecimento do componente faltante), ela poderá
ensejar perda de receita, que, como veremos adiante, tem nas perdas
do patrimônio uma de suas origens.

Valor de continuidade
Os bens patrimoniais normalmente têm valor agregado maior quando
se considera o conjunto, ou seja, o valor do conjunto é maior do que a
soma dos valores individuais das unidades. Se, em função de perda, a
organização resolve vender parte dos ativos não atingidos pela perda,
é possível que o valor conseguido na operação sofra desvalorização
em relação ao valor que ele tinha quando participava do todo.

RESPONSABILIDADE CIVIL

A exposição a perdas decorrentes de responsabilidade civil refere-se à


possibilidade de perdas que a organização pode sofrer em consequência
da aplicação de leis, estatutos e códigos. Estatutos são leis que regulam
as relações de certas pessoas que têm em comum o pertencimento a um
território ou sociedade. Exemplos: Estatuto da Criança e do Adolescente,
Estatuto do Idoso, entre outros. Códigos são leis que regulam normas de
um mesmo ramo do Direito. Exemplos: Código Civil, Código de Defesa
do Consumidor, Código Nacional de Trânsito, entre outros. A exposição a
perdas decorrentes de responsabilidade civil pode gerar perdas severas
e, portanto, deve ser objeto de atenção da organização, especialmente da
área de gestão de riscos. O Código Civil Brasileiro, no seu artigo 186, diz
que aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudên-
cia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito. Depois, em seu artigo 927, diz que aquele que, por ato
ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Finalizando, o artigo
942 define que os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito
de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver

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mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. (BRA-


SIL, 2002). Se não houver dano a outrem, não existe ato ilícito e, portanto,
não existe responsabilidade civil. Os danos causados a outrem, ou seja, os
danos causados a terceiros, também têm grande abrangência podendo
ser agrupados em:

☐ Danos pessoais, que englobam os danos corporais, os danos


morais (ligados a dor, sofrimento, angústia) e os danos estéticos;
☐ Danos materiais;
☐ Danos imateriais, como lucros cessantes e perda de imagem.

A responsabilidade civil pode ser classificada em responsabilidade civil sub-


jetiva e responsabilidade civil objetiva. Na responsabilidade civil subjetiva,
são necessários quatro elementos para sua caracterização:

1) Ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência.

2) Culpa, ou seja, o dano não foi causado por ato intencional.

3) Relação de causalidade, ou seja, que os danos sejam conse-


quentes dos itens 1 e 2.

4) Existência dos danos propriamente ditos.

Na responsabilidade civil objetiva prescinde-se do elemento culpa, ou seja,


para a sua caracterização são necessários os itens 1, 3 e 4. Ela surge em
função de leis (como o Código de Defesa do Consumidor) ou por meio
de Jurisprudência (decisões constantes e uniformes dos tribunais sobre
certa questão jurídica), como no caso da responsabilidade civil do hos-
pital quando ocorre imperícia do médico que realiza cirurgias no local. A
responsabilidade civil objetiva é prevista no parágrafo único do artigo 927
do Código Civil, quando é dito que haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem (BRASIL, 2002).

A responsabilidade civil também pode ser classificada em contratual ou


extracontratual. Os atos ilícitos discutidos até aqui geram responsabilidade
civil extracontratual, pois o terceiro prejudicado é um elemento de aparição
incidental. Já na responsabilidade civil contratual, existe uma relação formal
entre as partes. Tanto a responsabilidade civil contratual quanto a extra-
contratual geram responsabilidades, conforme definido pelo Código Civil.
Em algumas organizações internacionais que operam no Brasil, todos os
contratos têm que, obrigatoriamente, ser validados pela área de gestão de
riscos. Outro assunto importante é a relação entre a responsabilidade civil

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e a responsabilidade criminal. Ele é esclarecido no artigo 935 do Código


Civil, segundo o qual a responsabilidade civil é independente da criminal,
não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem
seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo
criminal. (BRASIL, 2002). O Código de Defesa do Consumidor também tem
papel importante nesse campo, pois prevê que a responsabilidade civil nas
relações de consumo é objetiva e que todos os participantes da cadeia de
suprimento dos produtos ao consumidor são responsáveis civilmente. No
artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor, temos que o fabricante, o
produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos cau-
sados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondi-
cionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos. (BRASIL, 1990).

Parágrafo 3º: O fabricante, o construtor, o produtor ou o importa-


dor só não será responsabilizado quando provar:

I. Que não colocou o produto no mercado;

II. Que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito


inexiste;

III. A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (BRASIL, 1990).

Ainda dentro do campo da responsabilidade civil, temos a responsabilidade


dos diretores e conselheiros. O artigo 158 da Lei 6.404 (Leis das S/A) diz que:

O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que


contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão;
responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:

I – Dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;

II – Com violação da lei ou do estatuto (BRASIL, 1976).

Além dos danos a terceiros propriamente ditos, existem os custos de hono-


rários advocatícios, que, dependendo do tipo de demanda judicial, podem
atingir valores elevados. Esses custos advocatícios existirão independen-
temente da obrigação ou não de ressarcir os danos aos terceiros. Muitas
vezes a organização investe nesses custos para preservar sua boa imagem
junto à sociedade e ao mercado em geral.

Como visto, o ambiente legal e regulatório que envolve as organizações

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gera várias exposições a risco decorrentes de responsabilidade civil que


pode ser imputada a elas e que podem gerar grandes desvios nos resul-
tados e objetivos da organização. Cabe à área de gestão de riscos minimi-
zar a probabilidade de essas exposições a perdas prejudicarem os obje-
tivos da organização ou, em situações extremas, inviabilizarem a própria
organização.

PESSOAS-CHAVE

Uma organização pode sofrer perdas em decorrência de pessoas-chave


que a deixam por vontade própria, por alguma desabilidade temporária ou
permanente, por aposentadoria ou até mesmo por morte. Quando o valor
agregado de um colaborador é superior ao valor que ele recebe como
rendimento sua perda gera perda financeira para a organização. Pessoas-
chave são muito importantes para que a operação da organização ocorra
de maneira estável. O pagamento de benefícios aos colaboradores permite
atrair e manter talentos, mas também representa custos. Uma vez identifi-
cadas as pessoas-chave da organização, a área de gestão de riscos deve
desenvolver procedimentos a serem adotados e seguidos para garantir sua
segurança e integridade.

RECEITA LÍQUIDA

O valor da receita líquida de uma organização corresponde ao valor das


receitas, deduzidas as despesas, em determinado período de tempo. Por-
tanto, a perda de receita líquida pode ocorrer pela redução de receitas,
pelo aumento de despesas ou pela ocorrência de ambos ao mesmo tempo.

A diminuição da receita pode ocorrer por:

☐ Interrupção de negócios;
☐ Interrupção de negócios contingente;
☐ Perda de lucros antecipados sobre mercadorias vendidas e não
entregues;
☐ Redução da receita de aluguel;
☐ Redução da coleta dos recebíveis;
☐ Aumento das despesas variáveis, que são aquelas diretamente
relacionadas com as vendas; e
☐ Decisões equivocadas relacionadas ao risco do negócio.

O aumento das despesas pode ocorrer em função de:

☐ Aumento das despesas fixas, como acordos salariais, alteração


da tributação etc;

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☐ Aumento das despesas de aluguel;


☐ Aumento das despesas de distribuição.

A perda de receita líquida pode ocorrer por fatores internos (riscos da


operação) ou por fatores externos à organização (riscos de mercado).Na
sequência, analisaremos a perda de receita líquida, que pode ter origem
(1) na diminuição da receita; (2) no aumento das despesas; ou (3) na com-
binação desses dois fatores.

Na análise de perda de receita líquida, analisaremos os fatores internos à


organização (riscos da operação), pois os fatores externos estão fora de
seu controle direto (embora não estejam no seu controle direto, os fatores
externos deverão ser tratados por meio de técnicas apropriadas, como
veremos adiante). Por exemplo, a recessão econômica é um fator externo
sobre o qual a organização individualmente não tem ação, mas ela deverá
tomar medidas que mitiguem essa exposição a perdas.

Interrupção dos negócios


A causa mais frequente de interrupção dos negócios são danos ao
patrimônio que interrompem as operações da organização. A perda
de receita líquida ocorre pela diminuição das receitas decorrente de
paralisação total ou parcial das atividades e pelo aumento das des-
pesas necessárias para a recuperação da organização. O período de
recuperação compreende o período a partir do qual a organização
paralisa total ou parcialmente suas atividades até a recuperação da
capacidade operacional. A recuperação da receita pode ainda deman-
dar um período adicional, pois provavelmente os clientes anteriores
não retornam imediatamente para a organização.

Interrupção de negócios contingente


A interrupção dos negócios analisada no item anterior decorre de
danos ao patrimônio da própria organização. A perda de receita
líquida decorrente de interrupção de negócios contingente ocorre
em função de danos ao patrimônio de outras organizações, mas que
geram queda da receita e aumento das despesas da organização.
Por exemplo: o terremoto e o tsunami que atingiram o Japão em 2011
geraram perda de receita líquida em empresas ao redor do mundo
devido à falta de componentes produzidos na região devastada por
esse evento da natureza. Também pode haver perda de receita líquida
decorrente de interrupção de serviços como eletricidade e água.

Com o alto grau de globalização e a produção just in time (operação


com baixos estoques), a interrupção de negócios contingente é con-
siderada um dos dois principais riscos emergentes da atualidade – o
outro grupo é o dos riscos cibernéticos.

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Também pode ocorrer perda de receita líquida se as vendas da orga-


nização estão concentradas em poucos consumidores. Caso ocorra
danos nas propriedades dos consumidores, o efeito de perda de
receita líquida é semelhante ao analisado quando há danos na pro-
priedade dos fornecedores.

Outra situação possível de perda de receita líquida contingente é o


caso das organizações-âncora. Essa situação pode ser mais bem visu-
alizada no caso de shopping centers, em que existem lojas-âncora
que atraem o movimento de consumidores. No caso de danos na
propriedade dessas lojas, as demais sofrerão perda de receita líquida
em função da menor movimentação de consumidores no local.

Cabe esclarecer que a perda de receita líquida nesses casos teve


origem em outras organizações, mas que têm relacionamento direto
com a organização em questão, possibilitando a ela tomar medidas de
controle de riscos, como diversificação de fornecedores ou busca de
alternativas aos fornecedores atuais. Essa situação difere das expo-
sições a riscos externos à organização, sobre os quais ela não tem
controle direto.

Perda de lucros antecipados sobre mercadorias vendidas e não


entregues
Caso ocorra um dano que atinja as mercadorias vendidas e não entre-
gues, a perda financeira engloba os custos das mercadorias propria-
mente ditas, acrescidos dos lucros que se esperava dessa operação.
Supondo que não haja condições imediatas de reposição dessas mer-
cadorias vendidas e não entregues, além da perda de receita líquida,
haverá perda de lucro da organização nessa operação.

Redução da receita de aluguel


Caso a organização tenha como fonte de receita líquida parcial ou total
aluguéis de seu patrimônio, eventuais perdas nesse patrimônio redu-
zirão sua receita líquida. Essa redução não ocorre se: (1) o patrimônio
danificado não estava alugado ou não seria alugado durante o período
de reconstrução ou reposição; (2) a parte danificada é pequena, de tal
modo que não prejudica a receita líquida proveniente do aluguel; e (3)
o contrato de aluguel prevê a continuidade do pagamento indepen-
dentemente da ocorrência de danos ao patrimônio alugado.

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Redução da coleta dos recebíveis


A redução da coleta de recebíveis pode ocorrer pelo não pagamento
dos devedores ou pela desorganização no processo de cobrança des-
ses recebíveis, resultando na perda de receita líquida. Com a queda
do volume de recebíveis, também podem ocorrer despesas adicionais
decorrentes de juros que a organização eventualmente tenha que
pagar sobre empréstimos necessários para manter as operações.

Aumento das despesas operacionais


Para reduzir o impacto da redução da receita líquida e manter a conti-
nuidade dos negócios, a organização pode fazer um esforço adicional
e incorrer em despesas operacionais extras, como aluguel de outras
instalações para possibilitar a continuidade, pelo menos parcial, de
suas atividades, realização de seus serviços por terceiros, compra de
commodities de concorrentes para manter os contratos de entrega,
horas extras de sua equipe, afretamento de transporte de mercadorias
urgente e outros procedimentos que vão garantir a continuidade nor-
mal dos negócios e de sua receita líquida, mas que irão gerar aumento
das despesas operacionais.

Decisões equivocadas relacionadas ao risco do negócio


Decisões estratégicas equivocadas podem causar a perda de receita
e o aumento das despesas. Podem ocorrer, por exemplo, decisões
inadequadas sobre o uso de tecnologia, a oferta incorreta de produtos
e serviços para nichos de mercado específicos, canais de empréstimo
de capital, operações de fusão e aquisição, entre outras.

COMBINAÇÃO

Até aqui, estudamos os valores expostos a perdas separadamente em:


patrimônio, responsabilidade civil, pessoas-chave e receita líquida.

Em uma situação real, um evento pode afetar essas quatro categorias de


exposições a perdas.

Exemplo 1: Um incêndio de grandes proporções atinge um complexo indus-


trial, causando mortes e vazamento de substâncias tóxicas.

Na exposição a perdas patrimoniais, teremos os danos físicos ao prédio e


ao conteúdo do complexo industrial e, devido ao vazamento de substâncias
tóxicas para a comunidade, haverá perda da marca da organização.

Na exposição a perdas de responsabilidade civil, teremos os danos à


saúde e a contaminação da vizinhança, além da paralisação das atividades

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e da perda de receita dos terceiros em função da contaminação de suas


propriedades.

Na exposição a perdas de pessoas-chave, pode ocorrer a morte delas no


acidente ou mesmo eventual prisão da direção, caso se chegue à conclu-
são de que houve dolo eventual (culpa grave) da direção da empresa na
ocorrência do acidente.

Na exposição a perdas de receita líquida, haverá interrupção da produção e


despesas extraordinárias para contenção e combate ao evento, bem como
para a retomada da produção. Também pode ocorrer a redução da receita
líquida em função da desvalorização da marca da empresa.

Exemplo 2: A alta administração da empresa e seu Conselho de Adminis-


tração são envolvidos em atos administrativos fraudulentos.

Na exposição a perdas patrimoniais, embora seja mantida a integridade


dos bens físicos, existe perda substancial do valor da marca, implicando
sua perda de valor de mercado, ou seja, perda do seu valor patrimonial.

Na exposição a perdas de responsabilidade civil, haverá demandas judi-


ciais dos acionistas contra a administração da empresa ou contra a própria
empresa, lembrando que, além da eventual condenação monetária, ocor-
rerão despesas extraordinárias elevadas relativas às custas judiciais de
defesa da organização.

Na exposição a perdas de pessoas-chave, haverá troca de executivos em


função de demissão, retirada voluntária ou mesmo prisão dessas pessoas.
Caso elas sejam detentoras de conhecimentos específicos ou essenciais
para a organização, essa expertise será perdida junto com elas.

Na exposição a perdas de receita líquida, a perda da marca e da confiança


junto ao mercado ocasionará dificuldade na venda de seus produtos e
impacto na comercialização de suas ações caso seja uma companhia aberta
e com ações negociadas em Bolsa de Valores.

2.1.2 RISCOS QUE CAUSAM


PERDAS (2ª DIMENSÃO)
Os riscos que causam perdas são a segunda dimensão das exposições a
perdas e podem ser divididos em riscos naturais, riscos humanos e riscos
econômicos.

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Riscos Naturais
Incluem vendaval, chuvas excessivas, alagamento, inundação, geada,
desgaste, infestação, vermes, insetos, doenças, entre outros. Os riscos
naturais estão fora do controle humano e sua frequência é ditada pela
própria natureza. Porém, a severidade dos riscos naturais está sob
nosso controle e eles podem ser mitigados pelo processo de gestão
de riscos.

Riscos Humanos
Incluem, entre outros, ações ou omissões do indivíduo ou de peque-
nos grupos relacionadas a roubo ou furto qualificado, homicídio, van-
dalismo, atos negligentes ou falha por incompetência ou desonesti-
dade no cumprimento das obrigações de um contrato. A frequência
e severidade das perdas causadas pelos riscos humanos podem ser
mitigadas pelo processo de gestão de riscos por meio de seleção,
treinamento e controle das pessoas envolvidas.

Riscos Econômicos
Os riscos econômicos referem-se a ações de grande número de pes-
soas, como greves, tumultos, boicotes, concorrência desleal, mudan-
ças de tecnologia, mudanças de preferência do consumidor, entre
outras, podendo gerar oportunidades de negócio para uns e desem-
prego e recessão para outros. A gestão de riscos também deve ter em
mente o risco político, caso a organização tenha operações em outros
países, considerando as flutuações políticas e econômicas do local.

Riscos Combinados
Pode ocorrer a sobreposição de riscos naturais, humanos e econômi-
cos. Por exemplo, um incêndio pode ser consequência do risco natural
de raio ou do risco humano de manutenção inadequada; a morte de
pessoas pode ocorrer em decorrência de tumultos ou mesmo guerra
que tenha origem em riscos econômicos.

2.1.3 CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS


(3ª DIMENSÃO)
A terceira dimensão das exposições a perdas refere-se à consequência
financeira que ocorre quando um risco que pode causar perdas (segunda
dimensão) atinge valores sujeitos a perda (primeira dimensão). As conse-
quências financeiras não são necessariamente atreladas ao valor da perda
patrimonial. Por exemplo, o dano elétrico de um pequeno computador que
controla o processo operacional de uma indústria pode trazer como con-
sequência a paralisação do processo produtivo da planta industrial. No
outro extremo, podemos ter um incêndio de grandes proporções em um

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prédio que iria ser demolido para dar lugar a um novo empreendimento. Se
não houver responsabilidade civil envolvida no evento, as consequências
financeiras serão mínimas. Portanto, a gestão de riscos preocupa-se com as
consequências financeiras, e não necessariamente com as consequências
físicas da realização de uma exposição a perdas.

As consequências financeiras de um risco que atinge valores expostos a


perdas se elevam com o aumento da frequência (número de perdas em
um período de tempo) do risco e da severidade do evento (valor total de
cada perda individual).

Uma ferramenta muito utilizada para avaliar as exposições a perdas cha-


ma-se matriz de riscos. Essa matriz é construída a partir da frequência e da
severidade de cada evento analisado, obedecendo a uma escala.

Escala de Frequência:
☐ Insignificante: ocorrência extremamente improvável.
☐ Leve: pode ocorrer, mas não existe histórico de sua ocorrência.
☐ Moderada: ocorre eventualmente.
☐ Alta: ocorre regularmente.

Escala de Severidade:
☐ Leve: a organização pode prontamente reter cada perda.
☐ Significativa: a organização não pode reter cada perda, ou seja,
parte dela precisa ser transferida.
☐ Severa: a organização precisa transferir a possível perda sob
pena de não sobreviver após a ocorrência dessa perda.
☐ Catastrófica: a Organização perderá totalmente sua capacidade
de atingir seus objetivos.

A matriz de riscos é visualizada da seguinte forma:

QUADRO 1 MATRIZ DE RISCOS


MATRIZ DE RISCO
SEVERIDADE
FREQUÊNCIA
Leve Significativa Severa Catastrófica
Alta
Moderada
Leve
Insignificante

Fonte: SAKAMOTO (2016).

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A matriz de riscos possibilita uma visualização rápida e intuitiva da signi-


ficância financeira das perdas pela sua classificação em cada célula de
frequência X severidade. Em determinada exposição a perdas, a frequência
e a severidade tendem a ser inversamente proporcionais. Por exemplo, um
incêndio tem severidade alta e frequência baixa; anomalias que requerem
pequena manutenção têm severidade baixa e frequência alta. As exposi-
ções a perdas de severidade baixa e frequência alta também merecem
atenção da gestão de riscos, pois o agregado dessas pequenas perdas ao
longo do tempo pode ter um impacto financeiro significativo. Nesse ponto,
é importante recordarmos que:

☐ A exposição a perdas é uma possível perda futura, e não uma


perda que já tenha ocorrido.
☐ O risco, que é um dos componentes da exposição a perdas, gera
incertezas nos objetivos da organização.
☐ O programa de gestão de riscos visa aumentar a probabilidade
da organização atingir seus objetivos.

Esquematicamente temos:

FIGURA 2 ESQUEMA DE
Figura GESTÃO
1- Fluxograma DOS RISCOS
do planejamento estatístico

PESSOAS-CHAVE RESPONSABILIDADE
CIVIL

INCERTEZA NOS
PATRIMONIAL RECEITA
OBJETIVOS DA
LÍQUIDA
ORGANIZAÇÃO

PESSOAS-CHAVE RESPONSABILIDADE
CIVIL

GERÊNCIA AUMENTA A
PATRIMONIAL RECEITA
DE RISCOS PROBABILIDADE
LÍQUIDA
DA ORGANIZAÇÃO
ATINGIR OS OBJETIVOS

Fonte: SAKAMOTO (2016).

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Tendo conhecimento das exposições a riscos, inicia-se o processo de ges-


tão de riscos propriamente dito. Seu primeiro passo é a identificação e a
análise de riscos.

2.2 IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS


O ponto fraco de qualquer programa de gestão de riscos é o desconheci-
mento de qualquer exposição a perdas que seja importante e possa preju-
dicar os objetivos da organização. O desconhecimento de uma exposição
a perdas implica a impossibilidade do seu tratamento. Todas as etapas da
gestão de riscos decorrem da correta identificação das exposições a per-
das. Se ela não ocorrer corretamente, todo o processo fica comprometido.
As atividades, os recursos e o ambiente da organização estão em constante
mudança e, portanto, suas exposições a perdas também. Assim, o pro-
cesso de identificação de riscos é dinâmico e precisa acompanhar essas
mudanças. Como é impraticável para a área de gestão de riscos o acom-
panhamento diário das alterações das exposições a perdas, ela deverá se
valer de um sistema de informações estruturado, que garanta a fluidez de
informações de outras áreas da organização. Os métodos de identificação
de exposição a perdas a serem estudados nesta unidade são:

1. Questionários;

2. Histórico de perdas;

3. Demonstrativos financeiros;

4. Outros registros e documentos de apoio;

5. Fluxogramas;

6. Inspeção de riscos;

7. Especialistas internos e externos.

Questionários:
Por serem genéricos, têm a vantagem de captar informações impor-
tantes para a análise das exposições a perdas, mas, ao mesmo tempo,
deixam de captar informações particulares da organização. Normal-
mente, o questionário deve ser complementado com outras fontes
de informação.

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Histórico de Perdas:
O histórico de perdas fornece uma base para a identificação e a aná-
lise das exposições a perdas. Embora não haja qualquer garantia de
que o histórico passado venha a se repetir no futuro, se as condições
que geraram a perda no passado continuam a existir no presente,
existe probabilidade de que elas venham a ocorrer novamente.

Demonstrativos Financeiros:
Os demonstrativos financeiros fornecem importantes informações
sobre a organização. Neles, encontramos dados sobre o ativo, o pas-
sivo e o patrimônio líquido, bem como o demonstrativo de lucros e
perdas, com informações sobre receitas e despesas. O balanço patri-
monial fornece informações da posição da organização em determi-
nado instante. A comparação de três balanços sucessivos indica a
evolução dos índices financeiros da organização, que são importantes
para a identificação e a análise das exposições a perdas.

Outros Registros e Documentos de Apoio:


Além das demonstrações contábeis, existem outros documentos que
fornecem informações para a identificação dos riscos. Por exemplo,
manuais de procedimentos, manuais de auditoria e atas de reunião
fornecem informações sobre a operação da organização que ajudam
na coleta de informações para o processo de gestão de riscos.

Fluxogramas:
Fluxogramas são representações gráficas sequenciais de um pro-
cesso em particular. Eles são muito úteis na identificação de opera-
ções-chave e processos de produção. Qualquer interrupção em uma
operação pode causar paralisação de todo o processo. Uma orga-
nização sofre uma perda quando um evento impede ou torna seu
processo de produção mais moroso. A análise do fluxograma também
permite que a gestão de riscos verifique se, além de perdas no próprio
processo da organização, podem ocorrer perdas em função de falha
ou atraso no fornecimento de suprimentos.

Inspeção de Riscos:
A inspeção das instalações da organização e das instalações de ter-
ceiros (fornecedores e compradores) complementa as informações
obtidas pelos métodos anteriormente citados e pode identificar novas
fontes de exposição a perdas ainda não identificadas. O contato pes-
soal com os envolvidos na operação e o conhecimento in loco da ope-
ração enriquecem a atividade de identificação de exposição a perdas.

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Especialistas Internos e Externos:


O trabalho de identificação de riscos pode envolver tanto fontes
internas quanto externas. Os próprios colaboradores da organização
conhecem as exposições a perdas oriundas de sua atividade, pois são
eles que executam o trabalho. O envolvimento e a cooperação deles
no processo de gestão de riscos é importante para que o programa
aumente a probabilidade de atingir seus objetivos. Para complemen-
tar a identificação das exposições a perdas, a gestão de riscos pode
buscar informações junto a consultores externos na área de atuação
da organização, em sindicatos ou associações a que a organização
esteja ligada ou em órgãos governamentais que regulam a atividade.

2.3 ANÁLISE DAS EXPOSIÇÕES A PERDAS


No passo 1 (Identificação e Análise das Exposições a Perdas), estudamos:

☐ O que são exposições a perdas e quais são suas três dimensões


dentro de cada um dos quatro grupos, lembrando que as exposi-
ções a perdas são a base do processo de gestão de riscos, mas
sua existência independe do processo propriamente dito.
☐ Como podem ser identificadas essas exposições a perdas.

Nesta subunidade, estudaremos como analisar as exposições a perdas divi-


dindo pelos grupos patrimonial, responsabilidade civil, pessoas e receita líquida.

2.3.1 PATRIMONIAL
VALORES EXPOSTOS A PERDAS

Após identificadas as exposições a perdas do grupo patrimonial, é neces-


sária sua valoração. Para fins do processo de gestão de riscos, a valoração
do patrimônio deverá abranger:

Recursos naturais
Água (lagos, rios, enseadas, nascentes, águas subterrâneas), carvão,
óleo, cobre, ferro, bauxita, areia, pedras, atrações naturais com valor
comercial (cavernas, águas terapêuticas, locais históricos), plantas em
crescimento (florestas, pomares e árvores frutíferas, campos de milho,
pastagens naturais), animais selvagens nativos.

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Prédios e outras estruturas


Construções em geral, devendo ser considerados o tipo de constru-
ção, a ocupação, os sistemas protecionais e a localização.

Conteúdo
compreendendo valores monetários e papéis com valor em geral;
recebíveis; mercadorias; móveis; equipamentos; suprimentos; máqui-
nas em geral; equipamentos computacionais; equipamentos móveis.

Patrimônio intangível
imagem; direitos autorais; patentes; marcas; franquias; licenças; segre-
dos industriais; despesas pré-pagas.

RISCOS QUE CAUSAM PERDAS

As causas de perdas listadas abaixo não são completas e exaustivas, mas


visam propiciar uma visão da amplitude de riscos que podem causar perdas
ao patrimônio.

Riscos naturais
Atos da natureza, sem interferência direta do homem, como colapso;
seca; terremoto; evaporação; erosão; incêndio de causas naturais; ala-
gamento; geada; gelo; aluimento do terreno; raio; meteoros; fungos;
perigos vindo do ar (por exemplo, turbulência); perigos vindo do mar
(por exemplo, tsunamis, icebergs, ondas); pó; temperaturas extremas;
vermes; erupção vulcânica; água; ventos (tornados, furacões, tufões) etc.

Riscos humanos
Atos de um indivíduo ou de um pequeno grupo de indivíduos, como
incêndio criminoso; vazamento químico; contaminação; discrimina-
ção; sobrecarga elétrica; infidelidade de empregados; expropriação;
confiscação; explosão; incêndio ou fumaça de origem humana; erros
humanos; greves; poluição (fumaça, nuvem, barulho); tumultos; sabo-
tagem; explosão sônica; terrorismo; roubo; furto qualificado; fraude;
vandalismo; vibração etc.

Riscos econômicos
Atos envolvendo grande número de pessoas que agem independen-
temente, respondendo a uma condição particular. Exemplos: mudan-
ças das preferências do consumidor; flutuações da moeda; recessão
econômica; inflação; obsolescência; queda do mercado de ações;
consequências de greves; avanços tecnológicos; guerra etc.

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CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS

Na análise das consequências financeiras da exposição a perdas do grupo


patrimonial, dois itens deverão ser verificados :

1. O critério da valoração patrimonial, que pode ser: custo histórico


(valor pelo qual o bem foi adquirido); valor para fins de imposto
(como o valor venal do Imposto Predial e Territorial Urbano, IPTU);
valor contábil (valor de lançamento contábil); valor de novo (valor
de reconstrução ou da máquina/equipamento novo); valor de
reprodução (valor de reprodução do bem utilizando os mesmos
materiais e recursos artísticos); valor funcional (valor de um bem
que execute a mesma função); valor de mercado (valor de venda
considerando as condições do mercado); valor atual (valor de
novo, subtraindo-se a depreciação); valor econômico ou de uso
(valor das futuras receitas atribuídas ao uso desse patrimônio).

2. Quem tem interesse nas eventuais perdas de patrimônio: o


atual proprietário, o futuro proprietário, a pessoa que está usu-
fruindo do patrimônio atualmente ou a pessoa que estará no
futuro usufruindo do patrimônio.

2.3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL


Como já visto anteriormente, as fontes de geração de responsabilidade civil
são baseadas em leis, códigos e estatutos.

VALORES EXPOSTOS A PERDAS:

Os valores expostos a perda decorrente de responsabilidade civil devem


ser analisados pela gestão de riscos levando-se em conta a operação da
organização em particular. Exemplificando:

☐ Se a organização for uma distribuidora de produtos importados,


os valores expostos a perda são relacionados ao não funcio-
namento ou a acidentes causados pelos produtos distribuídos.
Os valores expostos a perda correspondem à exposição que a
organização pode ter em função dos danos causados por esses
produtos.
☐ Se a organização for um supermercado, seus valores expostos
são danos a terceiros decorrentes da distribuição dos produtos
ou da operação das lojas, o que envolve a segurança de suas
instalações e a guarda de veículos.
☐ Se a organização for uma indústria, seus valores expostos a perda
serão os decorrentes de possíveis reclamações de seus produtos

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fabricados, bem como de danos causados a terceiros pela sua


operação (incêndio, explosão, poluição gerada pela indústria).

Não existe uma fórmula exata para calcular os valores expostos a perdas
decorrentes de responsabilidade civil. A gestão de riscos deverá analisar as
operações e estimar a máxima exposição a que a organização está sujeita
em função de suas operações.

RISCOS QUE CAUSAM PERDAS:

Os atos ilícitos previstos no Código Civil brasileiro ou outras legislações


geram responsabilidade civil para a organização. Novamente, a análise
deverá ser particularizada. Como regra geral, os interesses e as obrigações
dos indivíduos ou das entidades envolvem:

☐ Promessa de desempenho (principalmente em contratos).


☐ Segurança física (de pessoas, como clientes, ou de outras enti-
dades, como empresas vizinhas).
☐ Liberdade de movimento (por exemplo, responsabilidade civil
imputada ao lojista que reteve o cliente para fins de revista devido
à suspeita de furto de pequenos objetos).
☐ Proteção à propriedade (que gera responsabilidade civil caso
o proprietário sinta-se invadido, por exemplo, devido a barulho
excessivo da organização).
☐ Segurança da reputação (gera responsabilidade civil caso o ter-
ceiro sinta-se difamado por ação ou omissão da organização).
☐ Direito à privacidade (que ocorre, por exemplo, quando a organi-
zação levanta, sem autorização, dados financeiros de terceiros).
☐ Liberdade econômica (quando uma terceira empresa entende
que a organização está realizando concorrência desleal).

CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS:

As consequências financeiras da exposição a perdas de responsabilidade


civil podem ser divididas nos seguintes grupos:

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Compensação monetária para reparação dos danos


A organização fica sujeita ao pagamento de compensação a terceiros
por danos pessoais (corporais, morais e estéticos), materiais e ima-
teriais (lucros cessantes, perda de receita etc). Essa compensação
pode ocorrer por ordem judicial, caso as partes envolvidas discutam
o assunto em Juízo, ou por acordo extrajudicial, quando as partes che-
gam a um entendimento fora do Judiciário. Em determinados casos,
também pode ser utilizada a arbitragem, prevista em legislação espe-
cífica. A arbitragem é uma alternativa aos processos judiciais, que
normalmente são dispendiosos e consomem muito tempo. Na arbi-
tragem, é necessário que as partes concordem com sua utilização,
sendo o árbitro um especialista no assunto em discussão (não neces-
sariamente especialista em Direito), que faz a arbitragem definindo os
direitos e responsabilidades de cada parte. Além disso, a organização
pode incorrer em danos punitivos ou exemplares, penalidade aplicada
pelo Judiciário quando este entende que a conduta da organização foi
extremamente inadequada no trato com o terceiro reclamante.

Custos para cumprir ordens judiciais ou similares


A organização pode ter custos para realizar ou se abster de uma ati-
vidade específica. Por exemplo, ela pode assumir compromissos no
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que requerem custos para
serem cumpridos. Também em função de uma ordem judicial a orga-
nização pode ser obrigada a suspender uma atividade ou interromper
a produção de um produto, gerando perda de receita líquida e/ou
despesas fixas que se tornam improdutivas (as despesas fixas conti-
nuarão como encargo da organização, embora a atividade tenha sido
suspensa ou a produção do produto tenha sido interrompida).

Custos advocatícios e de especialistas


Mesmo que o caso não seja conduzido ao Judiciário, dependendo
de sua complexidade, serão necessárias horas de trabalho de advo-
gados internos ou externos para análise do caso e determinação da
existência de responsabilidade civil, o que representa despesa para
a organização. Ainda dependendo da especificidade do caso, poderá
ser necessária a contratação de peritos no assunto para a correta
investigação e definição de responsabilidades.

Perda de reputação e participação de mercado


A publicidade negativa gerada por um caso que tenha repercussão na
mídia pode ter efeito mais negativo do que os valores compensatórios
e punitivos a serem pagos pela organização. Perda de reputação, com
a consequente perda de mercado, gera redução de receita líquida e
aumento das despesas, pois os custos para recuperação da imagem
da organização poderão ser altos.

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2.3.3 PESSOAS-CHAVE
VALORES EXPOSTOS A PERDAS:

Os valores expostos a perda de pessoas-chave correspondem ao valor que


essas pessoas agregam à organização e às despesas necessárias para sua
reposição e para a continuidade dos negócios da organização. Exemplos:

☐ Cantor principal de uma série de apresentações cuja doença ou


morte leva ao cancelamento desses shows.
☐ Lideranças das equipes de vendas que, em um voo para uma
convenção, são vítimas de um desastre aéreo.
☐ Grupo de pesquisadores que, às vésperas do lançamento de um
novo e importante produto, decide se desligar da organização,
fundando sua própria empresa.

RISCOS QUE CAUSAM PERDA:

Os riscos que podem causar a perda dessas pessoas-chave são:

☐ Morte.
☐ Desabilitação para a função exercida pela pessoa-chave, que
pode ser temporária (por exemplo, decorrente de doença) ou
permanente (por exemplo, por acidente automobilístico com
sequelas irreversíveis). Tanto a desabilitação temporária quanto
a permanente podem ter origem em doenças ou acidentes.
☐ Aposentadoria.
☐ Desligamento por vontade da pessoa-chave ou por iniciativa da
organização (nesse caso, a empresa pode estar com dificuldade
financeira para manter essa pessoa-chave).

CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS:

As consequências financeiras da perda de pessoas-chave podem ser ana-


lisadas sob dois pontos de vista:

Perdas temporárias ou permanentes


Na perda temporária, deverá ser analisada a perda de receita asso-
ciada a esse evento em contraposição ao custo de substituição
durante esse período. No caso de perda permanente, a organização
deve analisar, antes da substituição, se uma mudança de estrutura ou
de procedimento pode compensar essa perda permanente e se ela
não irá gerar o cancelamento ou atraso de algum projeto importante.

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Normalidade ou não das perdas


Deverá ser observada se a frequência e a severidade das perdas de
pessoas-chave estão de acordo com o histórico da organização e com
os históricos de organizações similares. Caso esteja acima da média
da organização ou do mercado, a gestão de riscos deverá investigar
o assunto.

2.3.4 RECEITA LÍQUIDA


VALORES EXPOSTOS A PERDAS:

Inicialmente, é necessário que haja um orçamento das vendas e outras


receitas, bem como das despesas, desconsiderando qualquer tipo de
evento anormal. Os valores expostos a perda de receita líquida podem
ocorrer em função de:

☐ Diminuição das vendas ou outras receitas devido à ocorrência de


eventos acidentais ou de situações econômicas e/ou de mercado.
☐ Aumento das despesas decorrentes dos mesmos eventos citados
no item anterior.

RISCOS QUE CAUSAM PERDAS:

Normalmente, a perda de receita líquida decorre de outras exposições a


perda, como de patrimônio, de responsabilidade civil, de pessoas-chave
ou de outras causas externas (concorrência, novos entrantes, flutuação
econômica e política etc).

Danos ao patrimônio
O patrimônio usado no processo de agregar valor e gerar receita
líquida pode ser prédio ou conteúdo, bens tangíveis ou intangíveis,
bens próprios ou de terceiros. Embora o patrimônio possa ser de ter-
ceiros, ele é parte integrante do processo de geração de receitas,
como o patrimônio de clientes ou fornecedores-chave, empresas-ân-
cora ou fornecedoras de utilidades como eletricidade e água. Even-
tuais danos a quaisquer desses patrimônios (incluindo o de terceiros)
podem impedir ou dificultar a obtenção da receita líquida.

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Responsabilidade civil
A organização, em função da eventual responsabilidade civil que lhe
seja imputada, pode ter despesas não previstas relacionadas à com-
pensação de danos causados a terceiros acrescidas de despesas
advocatícias. Adicionalmente, a organização pode, por determinação
legal ou por vontade própria, retirar-se de uma linha de produto ou
deixar de atuar em determinada atividade, diminuindo suas receitas.

Pessoas-chave
Se houver a perda de pessoas-chave, conforme já estudado ante-
riormente, e se elas não puderem ser rapidamente repostas, a orga-
nização incorrerá em perda de receita líquida e aumento de suas
despesas.

Outros fatores
Outros fatores, políticos e/ou econômicos, estudados no item ‘Riscos
de Mercado’ da unidade 1, podem impactar a receita líquida da orga-
nização e suas despesas.

CONSEQUÊNCIAS FINANCEIRAS:

As consequências financeiras da perda de receita líquida motivada pela


queda nas receitas ou pelo aumento de despesas vão depender da conju-
gação dos seguintes fatores:

Período de impedimento
A perda de receita líquida é proporcional a um possível período de
impedimento, que é o tempo de paralisação e/ou reposição necessá-
rio para eliminar o impedimento. Quanto maior o período de impedi-
mento, maior será a perda de receita líquida.

Grau de impedimento
A perda de receita líquida é proporcional ao grau de um possível
impedimento, que está relacionado ao nível de gravidade do impedi-
mento. Quanto maior o grau de impedimento, maior será a perda de
receita líquida.

Redução das receitas


Deverá ser estabelecido o critério para a definição da perda de receita
líquida, utilizando-se os parâmetros: vendas, valor de venda dos pro-
dutos produzidos e retorno sobre o investimento.

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UNIDADE 2

Nível normal da receita líquida


Uma organização que tem um alto volume de receita líquida normal-
mente sofre maior perda de receita líquida motivada por um impedi-
mento se comparada com uma organização com menor volume de
receita líquida.

Aumento das despesas


Durante o possível período de impedimento, temos o aumento das
despesas devido às despesas fixas que perduram após o início do
impedimento e às despesas adicionais para garantir a continuidade
das operações e para reduzir as perdas de receita líquida.

Tempo adicional necessário para retorno das atividades normais


Em geral, o nível de receita líquida não retorna à normalidade logo
após o término de um possível período de impedimento. Normal-
mente, é necessário um período adicional para que a receita líquida
volte aos níveis de antes da ocorrência do impedimento.

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RESUMO

Nesta unidade, estudamos os fundamentos do passo 1 do processo de


gestão de riscos. Inicialmente, devemos entender o conceito de exposição
a perdas, que é uma possível perda futura, e não uma perda que já tenha
ocorrido.

A exposição a perdas tem três dimensões, que são: valores expostos a


perdas, riscos que causam essas perdas e consequências financeiras da
perda. Essas três dimensões são aplicadas aos seguintes grupos: patrimo-
nial, responsabilidade civil, pessoas-chave e receita líquida.

Um importante instrumento para a identificação e a análise de riscos é a


matriz de riscos, que fornece uma classificação das exposições a perdas,
considerando individualmente sua frequência e severidade.

Para a identificação de exposições a perdas são usadas algumas técnicas,


como: questionários, histórico de perdas, demonstrativos financeiros, outros
registros e documentos de apoio, fluxogramas, inspeção de riscos e espe-
cialistas internos e externos.

Na análise das exposições a perdas do patrimônio, são analisados:

☐ Valores expostos a perda: recursos naturais, prédios e outras


estruturas, conteúdo e patrimônio intangível.
☐ Riscos que podem causar as perdas: riscos naturais, riscos huma-
nos e riscos econômicos.
☐ Consequências financeiras: que devem considerar os critérios de
valoração e o interesse na perda patrimonial.

Na análise das exposições a perdas de responsabilidade civil, são enfocados:

☐ Valores expostos a perdas: a análise dessa dimensão deve ser


particularizada, considerando o tipo, o tamanho e as atividades
da organização.
☐ Riscos que podem causar as perdas: advêm das leis, códigos e
estatutos aplicáveis à organização, sendo necessária a análise
dos interesses e das obrigações do indivíduo ou das entidades.
☐ Consequências financeiras: podem ser agrupadas em com-
pensação monetária para reparação dos danos, custos para
cumprir ordens judiciais ou similares, custos advocatícios e de

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