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RESUMO SOBRE INATISMO, AMBIENTALISMO, INTERACIONISMO

Mário Manuel Mbajaia

1. INATISMO

O inatismo é uma teoria antiga e persistente na filosofia. Podemos recuar aos


trabalhos de Platão para avistá-la em seu nasce douro. Ela voltou a ser fortemente
defendida por filósofos dos séculos 17 e 18 como DESCARTES, LEIBNIZ e ESPINOSA.
Mais recentemente, foi defendida tanto por NOAM CHOMSKY, quanto por JERRY
FODOR. Alguns entendem que o inatismo de cada um dos autores supracitados é um tanto
diferente.

1.1. O INATISMO DA LINGUAGEM ANTECIPADO POR CHOMSKY

NOAM CHOMSKY notou quão maravilhosa é a capacidade humana de se


expressar pela linguagem. O fato é que mesmo em meio a uma pobreza de estímulos
obtidos do ambiente circundante, os infantes acabam dominando as complexas
informações da linguagem natural. JERRY FODOR enfatiza este mesmo ponto na teoria
de CHOMSKY:

“O problema central da aquisição da linguagem surge da pobreza do “dado


linguístico primário” a partir do qual a criança efectua essa construção; e a
solução proposta do problema é que grande parte do conhecimento de que a
competência linguística depende é avaliável para a criança a priori”.

A pobreza dos estímulos ambientais não faz jus ao aprendizado das linguagens
humanas, pois elas são estruturalmente complexas. A criança recebe pouca informação do
seu ambiente cultural se comparamos com as intricadas informações da linguagem que ela
desenvolve. Mas se não é o ambiente externo que pode explicar a aquisição de uma
linguagem, o que a explica deve ser interno, ou inato, ao homem. A conclusão de
CHOMSKY, a partir de tais dados, é que o conhecimento inato favorece o processo de
aquisição da linguagem. Esta conclusão deixou muitos filósofos e linguistas atónitos.
Como ressalta PIAGET:

“A mistura tão interessante de geneticismo e de cartesianismo que


caracteriza CHOMSKY leva-o a defender uma opinião inesperada em um
linguista contemporâneo e que liga as “ideias inatas” de Descartes à
hereditariedade”.
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O inatismo actualmente é uma das teorias mais aceitas para se entender o universo
do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, um dos fatos notáveis a cerca
da linguagem é a sua criatividade a circunstância de aos cinco ou seis anos de idade as
crianças serem capazes de produzir e entender um número indefinidamente grande de
elocuções das quais não tinham tido prévio conhecimento CHOMSKY jogou por água
abaixo as teses behavioristas para a aquisição e desenvolvimento da linguagem, a primeira
no que se refere a imitação, argumentou que [...] “as crianças produzem muitas frases que
jamais poderiam ter ouvido adultos produzirem”, (KAUFMAN, 1996, p. 58).

1.1.1. AMBIENTALISMO

A difusão do ambientalismo – uma das representações sobre a relação entre


humanos e natureza possíveis - é chamada por MCCORMICK como “revolução
ambientalista”, uma das mais importantes revoluções conceituais do século XX. Já
MORIN entende esse fenómeno como resultado do encontro entre a ciência ecológica e o
movimento neonaturista. Defender a natureza não era mais “coisas simplesmente
irracionais, infantis, femininas. Ao contrário, a preocupação com a defesa da natureza
torna-se uma atitude prudentemente racional”, (MORIN, 1997, p. 56).

O ambientalismo não é uma ciência. Tampouco pode ser definido como uma
filosofia strictu sensu embora venha nos últimos 20 anos frequentando cada vez mais os
debates filosóficos e os estudos culturais da contemporaneidade, firmando-se como uma
ideologia, contrariamente ao que previa os discursos dos pensadores iniciais do pós-
modernismo. O ambientalismo poderia ser definido como uma resposta das sociedades em
escala global aos modelos de compreensão e apropriação da natureza que a civilização
contemporânea adoptou. MARCUSE, H. (2009), já discutia esse apartamento quando
falava da necessidade de uma cooperação mais afectiva com a natureza que reequilibrasse
a relação apenas movida pelo interesse das actividades humanas:

“A oposição entre homem e natureza, sujeito e objeto, é superada. O ser é experimentado


como gratificação. O que une o homem e a natureza para que a realização plena do
homem seja, ao mesmo tempo, sem violência, a plena realização da natureza”, (p.151).

A herança dessa dualidade que foi característica da modernidade na cultura


ocidental marcou os pensamentos iniciais do ambientalismo, referenciando-o como o
homem cuidando da natureza. Isso contribuiu para os ambientalistas ainda hoje serem
chamados por alguns de ecologistas.
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Conquanto a definição de ambientalismo enunciada acima tenha carácter genérico e


universal, é tradicionalmente reconhecido também pelos seus diversos conceitos e dos seus
múltiplos modi operandi descodificados também em classificações. LEIS (2004), o situa
em três grandes categorias. A primeira o considera como a manifestação de grupos de
pressão organizados para exercer demandas no seio dos sistemas políticos ao exemplo dos
lobbies tradicionais. A segunda categoria compreende o ambientalismo como o surgimento
de um novo movimento social fundamentado em princípios éticos e normativos, contrário
à ordem capitalista, aproximando-o a outras manifestações de ordem pacifistas e aos
sectores radicais. A terceira categoria caracteriza-o como um movimento histórico,
considerando insustentável o modelo actual de desenvolvimento, incluindo neste as
instituições, os valores consumistas e o crescimento económico a todo custo.

Na visão de SANTOS (1992), as classificações voltam a aparecer, e situam o


ambientalismo contemporâneo em etapas cronológicas a partir das contradições do final da
modernidade, com a recusa aos modelos unificadores da cultura, à ciência fragmentada, o
pacifismo antinuclear e o repúdio às guerras recentes. Essa tendência começa a surgir nos
Estados Unidos com um movimento de conotações niilistas e que ficou conhecido como a
geração beatou beatniks.

1.1.2. INTERACIONISMOS

Naturalmente, a palavra interacionismo originou-se de interacção. De acordo com


MORATO (2004), o interacionismo, no âmbito da linguística, marcou a metade do século
XX como uma reacção das posições teóricas externalistas contra o psicologismo que
impregnava a ciência da linguagem naquela época.

A mesma autora sustenta que podem ser considerados interacionistas aqueles


domínios da linguística que se baseiam numa posição externalista sobre a linguagem. Entre
essas vertentes, ela destaca: a sociolinguística, a pragmática, a psicolinguística, a semântica
enunciativa, a análise da conversação, a linguística textual e a análise do discurso.

Pode-se afirmar que o termo partiu de uma conceituação ampla e se manteve ampla.
Sobre isso, MORATO (2004), esclarece que é preciso situar o que se entende por
“linguagem” e por “social” em determinada construção teórica. Daí obtém-se a base
necessária para se identificar o tipo de interacionismo que se reivindica ou anuncia.
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A primeira vertente a ser mencionada é a Socionguística interacional. Em linhas


gerais, essa abordagem coloca o conhecimento sócio-cultural-cognitivo que se constrói e se
expressa nas interacções face a face como foco central de análise. Tal conhecimento está
na base das interpretações sobre a situação comunicativa, dos papéis desempenhados e dos
enunciados produzidos pelos participantes, (SCHIFFRIN, 1994 apud OLIVEIRA, 2009).

Outra linha é a etnografia, a qual é constituída do estudo das formas costumeiras de


viver de um grupo particular de pessoas associadas de alguma maneira. Segundo
PARANÁ (2005), essa abordagem surgiu por volta do final do século XIX e início do
século XX, tendo como objectivo revelar o significado quotidiano no qual as pessoas
agem, assim como encontrar o significado das suas acções.

As últimas abordagens que destaca-se é o Sócio-interacionismo ou Interacionismo


social; e sobre esta trataremos mais detalhadamente. Essa teoria parte de um materialismo
dialéctico, apoiando-se na concepção de um sujeito interactivo que elabora seus
conhecimentos sobre os objectos, em um processo mediado pelo outro. Assim, tal
concepção entende que o conhecimento se dá a partir das relações sociais, sendo produzido
na intersubjectividade e marcado por condições culturais, sociais e históricas. Um dos
principais nomes dessa abordagem é VYGOTSKY.

Assim, consideramos interessante destacar que, no primeiro capítulo de “A


formação social da mente”, VYGOTSKY (1998), trata da natureza das relações entre o uso
de instrumentos e o desenvolvimento da linguagem. Para esse teórico, a preocupação
primeira é descrever e especificar o desenvolvimento daquelas formas de inteligência
prática especificamente humanas. Ele considera que a unidade dialéctica da inteligência
prática e do uso de signos no adulto humano constitui a verdadeira essência no
comportamento humano complexo. Por conseguinte, o autor atribui à actividade simbólica
uma função organizadora específica. Segundo VYGOTSKY (ibid.), quando a fala e o uso
de signos são incorporados a qualquer acção, esta se transforma e se organiza, produzindo
formas novas de comportamento que, mais tarde, constituirão o intelecto.

Nesse sentido, VYGOTSKY considera que tudo nasce da interacção com o outro, a
criança, antes de controlar o próprio comportamento, começa a controlar o ambiente com a
ajuda da fala. Esta é tão importante quanto a acção para atingir um objectivo, de acordo
com a perspectiva deste teórico. Ele postula que quanto mais complexa é a acção exigida
pela situação e menos directa a solução, maior é a importância que a fala adquire na
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operação como um todo. O autor também destaca que essa unidade de percepção, fala e
acção provoca a internalização do campo visual.

Então, para VYGOTSKY (1998), a história do processo de internalização da fala


social é também a história do intelecto prático das crianças. Ele postula que os processos
elementares são de origem biológica, enquanto as funções psicológicas superiores são de
origem sociocultural. E do entrelaçamento dessas duas linhas, nasce a história do
comportamento da criança, na concepção desse estudioso. Por isso, VYGOTSKY (ibid.)
considera a história natural do signo como estudo fundamental para a história do
desenvolvimento das funções psicológicas superiores e concebe o uso de instrumentos e a
fala humana como as raízes do desenvolvimento.

2. O INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO

Em continuidade aos princípios do interacionismo social, Jean-Paul Bronckart


desenvolve o Interacionismo sociodiscursivo. Essa abordagem tem muitos elementos em
comum com a abordagem anterior, tanto que é considerada um prolongamento dela,
adotando três princípios gerais.

De acordo com BRONCKART (2006, p. 9), o primeiro princípio defende que o


problema da construção do pensamento consciente humano deve ser tratado
paralelamente ao da construção do mundo dos fatos sociais e das obras culturais. É por
isso que ele considera os processos de socialização e individuação como vertentes
indissociáveis do desenvolvimento humano. O segundo princípio trata do questionamento
das Ciências Humanas, o qual deve apoiar-se na filosofia (de Aristóteles a Marx) e
preocupar-se ao mesmo tempo com questões de intervenção prática. O terceiro princípio
fundamenta-se nas problemáticas centrais de uma ciência do humano, acreditando que elas
implicam relações de interdependência entre os aspectos psicológicos, cognitivos, sociais,
culturais, linguísticos, e também os processos evolutivos e históricos.

Segundo BRONCKART (2009), por meio da diversidade das sumarizações dos


mundos representados, tem-se a variação da cultura. Isso acontece porque os grupos
humanos estão separados geograficamente, são de ramos diferentes, estabelecem relações
com o mundo diferentes, fazendo com que cada língua tenha uma semântica própria e,
através da semântica própria de cada língua, os mundos representados são construídos.

Maputo, 23 de Fevereiro 2021

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