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Ensino de história para alunos surdos

Língua Brasileira de Sinais


Libras ou Língua Brasileira de Sinais é a segunda língua oficial do Brasil desde
2002. Tendo sua regulamentação decretada no ano de 2005. No entanto, a
prática de ensino de libras no país data desde o século XIX, com destaque para
o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que garantiu e garante que
os deficientes auditivos tenham acesso à educação.

Fonte: portal.mec.gov.br/ines. Acesso em:


27/06/22
O desafio de uma educação inclusiva
1. Libra como primeira língua

● A primeira língua também é componente curricular considerada como língua de


comunicação e de instrução, que possibilita ao aluno surdo o acesso ao conhecimento e
ampliação do uso social da língua em diferentes contextos.

2. Ensino Bilingue

● A segunda língua (Portuguesa, de modalidade escrita) seria uma espécie de


complemento da língua primária (libras) já que esta é pouco influenciada pela
escrita.

● O objetivo do ensino da Língua Portuguesa para surdos é proporcionar a esses


alunos o domínio “dos gêneros textuais, usados nas diversas esferas de
comunicação” (SÃO PAULO, 2008, p. 109)

3. As escolas brasileiras

● Bilingues /regulares
O desafio de uma educação inclusiva

Ensino de história para alunos surdos em escolas regulares

Integração tardia ao ensino:

“(...) a dificuldade do aluno surdo para aprender a disciplina de História ocorre


porque o entendimento de conceitos históricos - por serem complexos e
específicos - exigem deles sofisticadas propriedades organizacionais da
estrutura cognitiva, determinantes na significação do material estudado. Além
disso, a dimensão temporal da Disciplina afeta ainda mais este processo e, por
conta disso, o aprendizado do aluno surdo se dá mais lentamente, pois ele tem
mais tarefas a realizar do que um aluno ouvinte (VERRI; ALEGRO, 2006, p.
99-107).”
As particularidades da língua de sinais
“Tendo em vista o caráter espacial-visual da língua de sinais e, naturalmente,
o maior desenvolvimento das habilidades relacionadas à memória e
raciocínio visuais, as atividades que envolveram imagens e o contato com
objetos de significado histórico foram as que obtiveram melhores resultados
e que geram maior interesse e participação da turma. (NEVES, Ano, pp.
7907)”

"Nesse sentido, Lucinda Ferreira Brito (1997) aponta que a Língua de Sinais
é diferente das demais línguas orais pela sua natureza, que é
visual-espacial, articulando-se no espaço e sendo percebida visualmente,
dessa forma, é no espaço que constitui os seus mecanismos (fonológicos,
morfológicos, sintáticos e semânticos) veiculando significados (...).
(ALMEIDA, Ano, pp. 161).”
As particularidades e metodologias viáveis de um
ensino de história para alunos surdos

● A construção do saber histórico: 1) sinais, para a compreensão do


que está sendo trabalhado; 2) língua portuguesa escrita, para
construção de uma narrativa histórica; 3) utilização de recursos
visuais, como a linha do tempo, para auxiliar na noção de
simultaneidade temporal (ALMEIDA, ANO pp. 162-164).
-
Os desafios do ensino de história para alunos surdos

Os estudantes têm dificuldade na formulação de conceitos históricos. Os professores


precisam estar atentos a esta particularidade.

"A mesma situação de conhecer o conceito e desconhecer a palavra é bastante recorrente, e


o professor precisa estar atento a isto. O fato de o aluno não conhecer uma determinada
palavra em português não significa que ele não domine o conceito, muitas vezes o que falta
apenas é fazer a relação entre o conceito e a palavra que também pode ser feita através da
combinação de sinais. (NEVES, ANO, pp. 7908-7909).

"(...) a dificuldade do aluno surdo para apreender a disciplina de História ocorre porque o
entendimento de conceitos históricos (...) exigem deles sofisticadas propriedades
organizacionais da estrutura cognitiva, determinantes na significação do material estudado.
(ALMEIDA, ANO, pp. 164)
O que podemos aprender com esses desafios?

Como podemos notar, as narrativas (com exceção da penúltima) são, em sua


maioria, curtas, e, no geral, registram parte do conteúdo de História estudado,
como da chegada dos escravos africanos ao Brasil e de seu trabalho na produção
da cana de açúcar. Somente em uma das narrativas aparece a formação e o
combate aos Quilombos, assim como o ciclo econômico do ouro no Brasil.
Também é notável uma quase ausência de datações e de demarcações
diacrônicas, o que explicita uma das maiores dificuldades dos alunos surdos no
estudo da disciplina de História. Apesar disso, há uma lógica na sequência dos
acontecimentos históricos narrados, expressando certo entendimento temporal do
processo histórico estudado. (ALMEIDA, Ano, pp. 170) "
Outros desafios do ensino de História para surdos

● Inexistência de sinais correlatos entre Português e Libras: dificulta a


construção de significados junto de alunos surdos. Seria interessante
desenvolver um glossário de sinais que representam conceitos históricos
(AZEVEDO; MATTOS, 2007, p. 130).

● Carência de referências prévias à escola: o conhecimento histórico ensinado


nas escolas incorpora não apenas os saberes escolares e acadêmicos, mas
também informações de fora do ambiente escolar, provenientes das mídias,
dos grandes meios de comunicação e dos valores familiares. Como o contato
dos surdos com a cultura de massa é reduzido por causa das diferenças
linguísticas, esses alunos dispõem de menos referências prévias do que os
ouvintes (AZEVEDO; MATTOS, 2007, pp. 115-122).
Soluções ao ensino de História para surdos

● Assim como o Português, a Língua brasileira de sinais é capaz de


transmitir conhecimentos e de construir significados. Assim, as
informações transmitidas aos surdos devem ser elaboradas em Libras.

● Os historiadores estudam a ação dos humanos no tempo e atribuem


sentido às experiências passadas. O ensino de história para surdos deve
ser construído em Libras, porque é a língua a partir do qual eles conferem
sentido às suas experiências (AZEVEDO; MATTOS, 2007, pp. 116-120).
Exemplo de sequência didática

● Eixo temático: os conceitos de ruptura e permanência, relacionados ao tempo histórico

● Método: uso de recursos visuais (fotografias)

● Importância da imagem: informações visuais

● Atividade: os alunos levam fotos pessoais e as arranjam em ordem cronológica. Depois,


os alunos analisam as imagens, relatando as informações em Libras e em português, na
modalidade escrita.
A semiose imagética
● Pedagogia Visual: a Semiose imagética - Charles Sanders Peirce

“A semiótica imagética, que teve origem nos estudos de Charles


Sanders Peirce, estuda as imagens como signos, isso permite a
compreensão de um quadro assim como possibilita entender
como os estudantes surdos aprendem. Isso é possível porque
“[...] Enquanto o olho examina as imagens, o pensamento vai
sendo constituído, em uma relação de interdependência. A
semiose imagética traduz um conceito (significado) em imagem”
(KELMAN; MARTINS; TAVEIRA, 2012:4633).

Charles Sanders Peirce


Exemplo de charge e como a mesma pode ser trabalhada
em sala de aula inclusiva
“fazer história é contar uma história”, a aula é uma prática que também produz história, logo, o professor
de História também produz um saber, mas que não tem por base o texto.(MATTOS, 2006).

“Para Souza (2018) é preciso tratar a imagem como


documento histórico em sala de aula e não como mera
ilustração. Além disso, é preciso enfatizar que incluir as
imagens nas aulas com educandos surdos não significa
tornar o conteúdo mais fácil de assimilar, mas sim, construir
os significados históricos através da relação entre oralidade
e visualidade”(SILVA, 2020,p.6)

“A fórmula democrática. OS DETENTORES – Tenham paciência, mas aqui não


sobe mais ninguém!” Fonte: Careta, ano XVIII, número 899, 27 de agosto de
1925, capa.
Exemplo da charge: possível roteiro

“A análise imagética aqui proposta foi adaptada para o contexto da sala de aula a partir dos estudos de
Santaella (1998; 2015) sobre a teoria de Peirce, que resumidamente, segue três etapas: no primeiro
olhar sobre uma imagem, busca-se os ícones, algo que se apresenta à mente pela qualidade do seu
fundamento. O segundo momento, deve-se descobrir os índices, o objeto do signo, as associações que
são possíveis, o que ele indica, se refere ou representa. Por fim, temos o efeito interpretativo que o
signo provoca, momento de examinar os símbolos, ou seja, as representações possíveis. Tratada como

fonte histórica, o objetivo é desvendar os códigos da charge, os significados da época, para assim,
revelar as representações sociais sobre aquele contexto histórico.”(SILVA, 2020, p.6)
● Questionamentos: 1ª Etapa - Identificação dos ícones(quais cores formam a imagem? Há
a sobreposição de uma cor sobre as outras? Em qual parte há uma maior variação de
cores? Como as linhas estão distribuídas?)

● 2ª Etapa - Identificação dos signos (quais elementos da natureza/atmosfera são


perceptíveis (morro, céu e nuvem)? Há personagens humanos? Como estão distribuídos
(em cima/embaixo)? O que eles vestem? O que há de interessante em cima do morro que
desperta o interesse dos homens?

● 3ª Etapa - as conclusões interpretativas… Com base nas percepções atingidas na 1 e 2ª


etapa, utilizar-se da exposição do conteúdo curricular apresentado na charge, no caso, o
exemplo tratado aqui é a questão da hegemonia dos estados de São Paulo(produtores de
café e Minas Gerais(produtores de leite) durante a vigência da chamada República
Oligárquica, em que a presidência se alternava, ora entre um representante paulista, ora
mineiro.

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