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KIT DE CONTEÚDO

NEGOCIAÇÃO E COMPRAS
PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

Produção
ÍNDICE
03 Como negociar contrapartidas para melhorar
produtividade e custos

11 Negociação competitiva ou cooperativa:


quando usar cada uma delas

17 Dicas para negociar com fornecedores


nacionais e estrangeiros
Como negociar
contrapartidas para
melhorar produtividade
e custos?
Nas negociações com fornecedores, setor de
compras deve procurar as melhores estratégias
para garantir a sobrevivência de parceiros.
Compartilhamento pode ser uma boa opção

Texto: Redação AECweb / e-Construmarket


Publicado em 16/11/2017

Em momentos de mercado em crise, é comum que as


construtoras procurem negociar com seus fornecedores
para a redução de custos de materiais e serviços. Porém,
é preciso cuidado para evitar práticas predatórias, que
inviabilizem o negócio.
A parceria entre construtoras e fornecedores é uma alternativa para evitar o fim dos
pequenos e médios negócios (Foto: Shutterstock / Urfin)

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“Em alguns casos, esse oportunismo predatório está ocorren-
do”, alerta o engenheiro Paulo Sérgio de Arruda Ignácio, profes-
sor doutor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em um ambiente de poucas obras, os pequenos fornecedores
perderam o seu poder de barganha, que acabou concentrado
nas médias e grandes empresas.

“Como as de menor porte trabalham com custos e margens me-


nores, muitas vezes é preferível descontinuar o negócio do que
aceitar contratos com valores abaixo do viável”, diz. Para ele, ne-
gociações mais agressivas com alguns segmentos da cadeia pro-
dutiva retroagiram ao período anterior a 2006.

Na análise do professor, a prática é perigosa para a continuidade


dos pequenos e médios negócios, principalmente de fabricantes
de materiais. “Já no fornecimento de serviços, a barganha apare-
ce menos, até porque há ainda alguma proteção legal à mão de
obra”, lembra.

Essa pressão das construtoras pretende que a indústria de mate-


riais aumente sua produtividade – leia-se, faça mais com menor
custo. Consequentemente, ela deverá transferir a maior eficiên-
cia obtida para os preços dos produtos comercializados com a
construtora.
(Foto: Shutterstock / urfin)

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CONTRAPARTIDAS

“Tenho notícias de que algumas empre- Construtoras de médio e grande porte


sas reduziram sua capacidade de forne- podem oferecer contrapartidas técnicas
cimento para 30%. Quando um produto nas negociações com fornecedores pe-
ou serviço sofre essa queda, será que quenos e médios. Nesse segmento, os
continua sendo útil?”, indaga Ignácio, fabricantes têm, em geral, dificuldade de
que aponta dois caminhos: ou a empresa implementar novas tecnologias e infraes-
muda aquela oferta de produto ou agrega trutura em suas plantas. São fabricantes
algum outro valor. e não empresas desenvolvedoras ou de
pesquisa.
No segundo caso, sugere, por exemplo,
que o fornecedor passe a entregar o ma- “Em casos como esses, as construtoras
terial ao cliente que, antes, se responsa- conseguem oferecer subsídios para que
bilizava por essa etapa. “Não sei o quanto elas possam trabalhar novo material ou
todas estão capacitadas para isso”, co- nova técnica e, até mesmo, oferecer al-
menta. gum equipamento para a produção”, res-
salta.

(Foto: Shutterstock / LightField Studios)

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Em momentos de crise, a construtora que Esse tipo de ação, que reforça a fideli-
tem um fornecedor principal de determi- zação, é mais segura do que substituir o
nado produto ou serviço deve garantir fornecedor. “Na reativação da economia,
a ele a manutenção de demanda, mesmo o novo poderá abandonar o contratan-
que pequena. O professor se refere às te por outro mais conveniente. É esse
empresas de menor porte, que têm um tipo de relação que critico”, acrescenta
ou dois clientes, para quem fornecer o Ignácio.
equivalente a 80% de sua receita. Se esse


volume for reduzido para 20%, elas têm
grande chance de falir. A construtora e um conjunto
de fornecedores que estão em
determinada rota poderiam
“Portanto, é preciso que a construtora
criar um hub de transporte.
saiba identificar entre seus fornecedores
Ou seja, seria criada uma
quem vale a pena manter, estimulando o
logística de entrega no
processo de compras. É um grande valor canteiro com o uso de um
agregado que a construtora pode propor- único veículo. Posteriormente,
cionar à sua cadeia”, recomenda. seria feita a divisão do
custo do transporte entre os
participantes

– Paulo Sérgio de Arruda Ignácio

(Foto: Shutterstock / LightField Studios)

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COMPARTILHAMENTO

Compartilhamento é um conceito-chave na relação entre cons-


trutora e fornecedor, especialmente no contexto atual de avanço
tecnológico em que equipamentos sofisticados e a manufatura
aditiva das impressoras 3D asseguram maior produtividade.

“Precisamos considerar que ambos podem compartilhar recur-


sos”, observa. É o caso, por exemplo, da construtora com con-
dições de investir, adquirir e alocar determinado equipamento
necessário à produção do fornecedor. Posteriormente, poderá
fazer a transferência definitiva do bem.

Outras formas de compartilhamento envolvem transporte e áre-


as de armazenagem, permitindo reduzir custos sem afetar ques-
tões sociais. Essas práticas acabam por induzir ambientes de pro-
dução mais seguros, rápidos, organizados e, ao mesmo tempo,
mais flexíveis.

(Foto: Shutterstock / Syda Productions)

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Ignácio exemplifica: “A construtora e um Um passo além e de aproveitamento má-
conjunto de fornecedores que estão em ximo do compartilhamento seria o uso
determinada rota poderiam criar um hub por fornecedores da mesma área em
de transporte. Ou seja, seria criada uma que a construtora produz estruturas de
logística de entrega no canteiro com o concreto para suas obras. Ao invés de a
uso de um único veículo. Posteriormente, empresa produzir apenas colunas de con-
seria feita a divisão do custo do transpor- creto, os contratados poderiam armaze-
te entre os participantes”. nar, no local, materiais complementares
como massa e revestimento cerâmico,
É possível, também, compartilhar espa- por exemplo. “Isso é compartilhar espaço
ço de estocagem de materiais no galpão físico, transporte e mão de obra”, reforça
de um dos fornecedores, mais próximo Ignácio.
ao canteiro. E, de lá, abastecer a obra.
“Ao invés de construir ou alugar um ar-
mazém, o ideal é usar aquele ativo que
já está pronto e, depois, ratear. A solução
resulta num custo menor para o pool de
fornecedores”, orienta o professor.

(Foto: Shutterstock / Miljan Zivkovic)

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CADEIAS PRODUTIVAS

Para o professor, é importante que as construtoras passem a


considerar seriamente o conceito de cadeias produtivas de su-
primentos. “As competições não ocorrem mais entre empresas
individuais, mas entre cadeias produtivas. É muito positivo ter
parceiros que reagem rápido”, afirma.

Numa analogia, seria substituir uma corrida de 100 m, com cada


um competindo individualmente, pela categoria 4 x 100 m, em
que a passagem do bastão de um parceiro para o outro exige
sincronismo, sem atrasos.

“Do produtor de areia ao montador do sistema elétrico, quanto


maior a integração na cadeia, mais fluidez há na troca de infor-
mações e de produtos. A cadeia que flui, sem rupturas, é uma
cadeia competitiva, que traz menores custos ao empreendimen-
to. Cabe, então, à construtora gerenciar o repasse dessa redução
ao cliente ou sua absorção para justificar o momento crítico de
poucas obras e vendas”, conclui Ignácio.

(Foto: Shutterstock / seroma72)

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COLABORAÇÃO TÉCNICA

Paulo Sérgio de Arruda Ignácio

Doutor em Engenharia Civil pelo LALT - Laboratório de Aprendizagem em Logística


e Transportes, vinculado ao Departamento de Geotecnia e Transportes da
Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp
(2010), na área de Engenharia de Transportes. Possui graduação em Engenharia
de Produção Mecânica pela Universidade Metodista de Piracicaba (1985) e
mestrado em Gestão da Qualidade pelo IMECC (2001). É professor doutor da
Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). E referee ad hoc em periódicos. Possui artigos publicados em revistas
e congressos nacional e internacional. Tem experiência acadêmica e consultoria
em gestão de operações e serviços, com ênfase em gestão de operações, logística,
gestão da cadeia de suprimentos, produtividade, armazenagem, qualidade e
medição do desempenho, com modelagem de sistemas.

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Negociação competitiva
ou cooperativa: quando
usar cada uma delas?
Em geral, a compra de produtos pede uma
estratégia mais competitiva, enquanto a de
serviços deve ser mais cooperativa. Saiba
mais sobre cada modalidade

Texto: Redação AECweb / e-Construmarket


Publicado em 16/02/2018

Negociação competitiva ou cooperativa? Quando usar uma ou


outra? De acordo com o professor Marcelo Fernandes, diretor
da DN2 Negócios, é preciso primeiro conhecer as características
de cada abordagem e, depois, entender as regras básicas. Mas é
certo que, quando a empresa pratica a gestão compartilhada, a
estratégia que melhor se encaixa é a cooperativa. Afinal, trata-
se do exercício de participação de todos os intervenientes, que
devem fazer as concessões necessárias em benefício do projeto.
Não existe uma negociação melhor que a outra, a questão é saber quando usar cada uma delas
(Foto: Shutterstock / boonchoke)

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NEGOCIAÇÃO COMPETITIVA

“Na negociação competitiva, o objeti- As consequências são inúmeras, a co-


vo é a maximização dos ganhos. Nessa meçar pela inibição do surgimento de
modalidade, uma parte não está muito opção criativa que atenda a ambos e o
preocupada com os interesses da outra desgaste no relacionamento. “A negocia-
e, também, não justifica a consistência ção muito competitiva pode resultar em
das demandas e concessões”, explica. acordo de difícil – ou quase impossível
– cumprimento. A parte mais forte exi-
Nessa estratégia, o relacionamento entre ge concessões significativas, e pode ser
comprador e fornecedor não é impor- que chegue num ponto em que o outro
tante. Ou seja, a parte mais forte negli- aceite. Porém, com alto risco de não
gencia o contato para negócios futuros. cumprir o que foi acordado”, alerta
Muitas vezes, o outro é visto como Fernandes.
inimigo, que tem que ser derrotado.
“A negociação competitiva, em geral,
não exige grande preparação e acaba
convergindo para preço”, observa.

(Foto: Shutterstock / slonme)

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A estratégia é, em geral, adotada pela Diante de elevadas exigências, mas pre-
parte mais forte, o comprador. Mas exis- cisando fechar o negócio, o fornecedor
tem situações em que o fornecedor está aceita, mas poderá não cumprir os pra-
em vantagem, por se tratar de um pro- zos e entregar produtos ou serviços em
duto ou serviço único. “São situações desacordo com a qualidade especificada.
mais raras”, diz. Esse tipo de negociação “Isso, no final, vai custar muito caro. O
pode ser benéfica para a parte mais for- ganho financeiro inicial pode se trans-
te, com resultados imediatos bastante formar, depois, num grande problema”,
vantajosos. completa.


Segundo o consultor, a negociação com-
Na negociação competitiva,
petitiva é confortável para os agentes –
o objetivo é a maximização
denominação que utiliza para identificar
dos ganhos. Nessa
intermediários que negociam, mas que modalidade, uma parte
não são os responsáveis para a execu- não está muito preocupada
ção da obra e se posicionam distantes da com os interesses da outra
realidade do empreendimento. e, também, não justifica a
consistência das demandas
e concessões

– Marcelo Fernandes

(Foto: Shutterstock / BongkarnGraphic)

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NEGOCIAÇÃO COOPERATIVA

Aqui, o princípio básico é o relaciona-


mento entre as partes visando o “É aquela negociação em que o forne-
negócio presente e futuro, numa visão cedor, por exemplo, sai da mesa com
de longo prazo. “Sem perder de vista a certeza de que foi uma negociação
a maximização dos ganhos”, ressalta. dura, mas justa e honesta, porque os
A estratégia busca atender às necessi- interesses de todos foram considerados”,
dades do comprador e do fornecedor, expõe.
inclusive desenvolvendo soluções criati-
vas com esse objetivo. Para que uma negociação cooperativa
aconteça, as duas partes precisam estar
“A negociação cooperativa exige mais alinhadas, dispostas a negociar coope-
preparação e, também, um certo pata- rativamente. É mais trabalhosa e, via de
mar de confiança, porque, muitas vezes, regra, resulta em contratos mais equili-
informações relevantes terão de ser aber- brados.
tas de parte a parte”, afirma Fernandes.
Os critérios para as demandas e conces-
sões tendem a ser mais justos, apoiados
em dados de mercado.

(Foto: Shutterstock / Enrique Alaez Perez)

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QUAL USAR?

O consultor chama a atenção para o fato de que não existe uma


estratégia melhor do que a outra. A questão é quando usar uma
ou outra.

A regra é adotar a negociação competitiva para a compra de


materiais e empregar a abordagem cooperativa para a
contratação de serviços. “Na compra de um produto, a empresa
é pontual e pode ser facilmente verificada quanto à
conformidade com a especificação. O serviço é uma expe-
riência, algo construído pelas partes. Há uma interação, e a
entrega vai acontecendo ao longo do processo. Portanto,
há um risco maior. Daí a disposição de as partes negociarem
em termos mais razoáveis”, ensina.


A negociação cooperativa exige mais preparação
e, também, um certo patamar de confiança,
porque, muitas vezes, informações relevantes
terão de ser abertas de parte a parte

– Marcelo Fernandes
(Foto: Shutterstock / Worawee Meepian)

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COLABORAÇÃO TÉCNICA

Marcelo Fernandes

Engenheiro civil (UFMG); pós-graduado em Marketing e com MBA em Finanças (FGV);


MBA em Gestão de Telecomunicações (Bailbrook College England); Teaching Negotiation
(Harvard Law School). É professor da Fundação Dom Cabral, consultor sênior da
Krauthammer e da Siemens. É diretor da DN2 Inteligência em Negócios e que tem como
principais clientes: Accenture, Vale, CNI, Converteam (ex-Alstom), Parker, Thyssenkrupp,
Thomson Tube Corp, Cummins (DCML), TCU, Laboratórios Fleury (SP), Cia Muller de
Bebidas, TIM, Mapal do Brasil, Oi, Cemig, GP Administradora de Ativos, Telefônica,
Cleartech, Grupo Core Synesis, CNI, Unimed, Bucyros do Brasil, Banco Central, IMA,
Agroceres, Hospital Sírio Libanês, INDI, Prosegur, GEFCO (Citroen/Peugeot), AkzoNobel
(Tintas Coral), Petrobras, Editora Abril, TAM, Instituto AMANI, ArcelorMittal, Ericsson,
Accenture, Siemens, SBM Offshore, Johnson&Johnson e Reta Engenharia.

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Dicas para negociar
com fornecedores
nacionais e
estrangeiros
Independentemente de que parte do mundo é
o fornecedor, profissional de suprimentos deve
estar muito bem preparado antes de comprar,
com todas as suas dúvidas esclarecidas

Texto: Redação AECweb / e-Construmarket


Publicado em 21/06/2016

Mudam os países, muda a cultura dos negociadores de


suprimentos para a construção civil. É isso que mostra a
experiência do engenheiro Paulo Sérgio F. de Oliveira,
CEO da Mutual Engenharia Construções, que já esteve
em mesas de negociações de praticamente todos os
continentes.
Contratos de todo tipo de materiais e sistemas envolvem uma grande negociação
(Foto: Shutterstock / Vitchanan Photography)

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Apesar da particularidade de cada lugar, máximo que ele pode dar. Não há espaço
o que conta, em geral, é a boa preparação para especulação e, se houver insistência,
dos negociadores. “É fundamental que o o fornecedor certamente vai se estressar.
profissional de suprimentos estude muito “Tendo em mãos uma proposta bem es-
bem o que vai comprar e tenha todas as truturada, com escopo claro, o compra-
dúvidas previamente esclarecidas. E só dor não conseguirá mais nada depois de
parta para a negociação quando souber negociado desconto ou qualquer outro
onde está pisando, especialmente nas benefício na contratação, como uma
compras lá fora”, aconselha. prestação de serviço. São muito sérios e
definem com precisão o que será entre-
Oliveira observa que a impessoalidade é gue e o prazo de entrega”, conta.
traço comum dos fornecedores europeus
e japoneses. Essa objetividade é caracte- Isso não quer dizer que fornecedores eu-
rística, também, dos negociadores do sul ropeus não podem decepcionar. Oliveira
do Brasil, enquanto as reuniões do su- relata uma experiência envolvendo uma
deste e nordeste são pautadas pela infor- empresa multinacional portuguesa de
malidade, normalmente precedidas pelo estrutura metálica, contratada para a am-
cafezinho e conversas sobre futebol, por pliação de um shopping center. “Pode ter
exemplo. sido um caso único, mas aconteceu”, diz.
Os portugueses apresentaram problemas
O fornecedor europeu não tem muita pa- na entrega dos materiais e na montagem,
ciência com uma prática comum no Brasil o que obrigou Oliveira a concentrar a obra
de forçar o limite de preço – o desconto da estrutura no fornecedor nacional.
(Foto: Shutterstock / sculpies)

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Por outro lado, teve ótimas surpresas Como já trabalhou em multinacionais
com alemães, ingleses, suíços e italianos com operações nos Estados Unidos, o
na compra de itens complexos, que de- CEO da Mutual conhece bem o mercado
pendem de grande quantidade de peças e a capacidade dos fornecedores norte-
e montagens. “O conhecimento deles -americanos de bem negociar. “Eu ex-
não se limita ao que fabricam, pois co- portava para eles e também importava
nhecem bem o supply chain, como será produtos químicos destinados à indús-
feita a remessa e os estágios pelos quais tria da construção civil”, afirma. Um dos
terão de passar. O planejamento é bem poucos problemas enfrentados era bem
detalhado”, revela. brasileiro: as greves portuárias quase
que anuais, que atrasam a liberação da
Fornecedores japoneses são ainda mais mercadoria importada.


detalhistas e profissionalizados. Mas,
para Oliveira, não são fáceis para nego- É fundamental que o profissional
ciar, principalmente quando o compra- de suprimentos estude muito
dor precisa de alguma concessão. “Os bem o que vai comprar e tenha
europeus permitem que o interlocutor todas as dúvidas previamente
perceba como estão se sentindo, o que esclarecidas. E só parta para a
nos dá condições de medir a temperatura negociação quando souber onde
da reunião. Já a comunicação não verbal está pisando, especialmente nas
com os japoneses é praticamente nula”, compras lá fora

observa Oliveira. – Paulo Sérgio F. de Oliveira

(Foto: Shutterstock / SeventyFour)

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RISCOS DA IMPORTAÇÃO

De maneira geral, a importação é sem- Um bom exemplo são os selantes para a


pre um risco, pois há aspectos que o construção civil da Nova Zelândia e Aus-
comprador não consegue dominar, prin- trália, produzidos por fabricantes britâni-
cipalmente quanto à logística da opera- cos. Nesses países, a incidência de raios
ção. “Mesmo o Chile, que se pauta pela ultravioletas é uma das maiores do mun-
seriedade dos fornecedores, tem apenas do. “O selante que tem boa performance
uma rota para o Brasil atravessando a cor- lá tem excelente aqui”, diz. Já no caso do
dilheira dos Andes. Por conta de neve, o vergalhão de aço, a norma brasileira dife-
caminho pode ser bloqueado por alguns re das internacionais, daí a necessidade
dias, atrasando a entrega”, destaca. de adaptação do projeto.

Oliveira recomenda às construtoras que Os contratos de todo tipo de materiais


desejam importar que analisem quem e sistemas envolvem uma grande nego-
são os fabricantes e aceitem apenas ciação e, em geral, são bipartites com
aqueles de primeira linha e com opera- tradução juramentada nos dois idiomas,
ções de porte. Os produtos dessas em- ajustando os termos para que atendam
presas possuem certificação internacio- às necessidades legais brasileiras.
nal e quesitos de desempenho que, no
mínimo, respondem às exigências das
normas técnicas brasileiras.
(Foto: Shutterstock / Avigator Fortuner)

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FACHADAS CORTINAS DA CHINA

Oliveira não guarda boa lembrança da aquisição de fachada


cortina de alumínio de fornecedor chinês. Sua negociação en-
volveu uma indústria de grande porte, que ofertava o sistema
com significativa diferença de preço em relação aos fornece-
dores nacionais.

“A fachada era caminho crítico para a entrega do prédio. Ti-


vemos de cancelar o fornecimento e contratar outra empresa
– europeia em consórcio com indústria brasileira –, com preço
mais alto e atraso de cerca de quatro meses”, conta.

Várias construtoras viveram situação semelhante com a im-


portação de fachadas pele de vidro da China ou atraso da en-
trega de equipamentos, como gruas, especialmente nos anos
recentes de forte expansão da construção civil no Brasil. Neste
momento, a retração do mercado somada à relação cambial
desfavorável desestimulam a importação.

(Foto: Shutterstock / Arcansel)

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BRASIL

Para Oliveira, indústrias nacionais forne- Outra situação é a do segmento de for-


cedoras de materiais da curva A estão necedores de serviços, que se caracteriza
totalmente alinhados ao padrão de qua- por um atendimento flutuante, dispondo
lidade das indústrias internacionais. Ao de quadros técnicos mais ou menos es-
comprar elevadores, fachadas, estruturas truturados, dependendo do momento.
metálicas, escadas rolantes, concreto, en- “Esses fornecedores precisam se profis-
tre outros, o negociador das construtoras sionalizar mais e se preparar para enten-
sabe o que pode esperar, pois os compro- der seu papel nessa cadeia de valores”,
missos de entrega são firmes. “Embora comenta Oliveira.
os fornecedores da curva A sejam confi-
áveis, em mercados mais demandados é
preciso acompanhar esse fornecimento”,
aconselha.


Embora os fornecedores da curva A sejam
confiáveis, em mercados mais demandados é
preciso acompanhar esse fornecimento
– Paulo Sérgio F. de Oliveira

(Foto: Shutterstock / Keni)

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De acordo com o CEO, é essencial que a área de supri-
mentos faça uma avaliação criteriosa em relação à capa-
cidade de atendimento, entrega, número de obras que
estão sendo atendidas, quadro profissional, entre outros
requisitos. Providência igualmente bem-vinda é a avalia-
ção de desempenho ao longo do fornecimento.

A obra recebe ainda serviços menores e materiais de aca-


bamento – louça e metais sanitários, marcenaria, entre
outros – que, se atrasarem, vão comprometer a entrega
do empreendimento. São elementos que dependem da
organização do fornecedor. “Muitas vezes, por questões
de tributação, faz sentido a própria construtora comprar
os insumos, como a madeira para o marceneiro”, diz. Su-
primentos de mármore e granito, entre outras pedras,
exigem acompanhamento desde a seleção do material
até a produção, certificando-se de que a qualidade é a es-
pecificada e sem alterações de padronagem. É bom, tam-
bém, contar com auxílio de consultorias especializadas.

(Foto: Shutterstock / Fascinadora)

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COLABORAÇÃO TÉCNICA

Paulo Sérgio Ferreira de Oliveira

Graduado em Engenharia Civil (Itajubá – MG) e pós-graduado em várias disciplinas na área


de Materiais de Construção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP);
com MBA Executivo Internacional, com especialização em Administração Estratégica pela
FIA-USP (associada ao American Assembly of Collegiate Schools of Business – Executive MBA
Council); Project Manager Professional (PMP), pelo Project Management Institute (PMI).
Ocupou os cargos de diretor Técnico da Brookfield Incorporações S.A.; diretor-presidente
da JHSF Incorporações S.A.; diretor da Método Engenharia, entre outros. É CEO da Mutual
Engenharia e Construções.

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Oferecimento

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