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Présence Africaine, 1961/3, n 38, p. 45-60 (Tradução de trecho entre as páginas 45-50)
civilizações, que apresentam as grandes datas da história universal, não há nenhuma data
sequer sobre a história da África. Ora, é fácil demonstrar que a história africana existe,
que ela pode ser escrita e que ela gozou, repetidas vezes, de um papel decisivo na história
universal.
Os documentos são bastante numerosos. Sejam os documentos escritos de origem
africana, europeia, hindu, chinesa, brasileira etc, sejam os vestígios de civilização (apesar
do papel destrutivo dos elementos), sejam os testemunhos orais. O testemunho oral
merece aqui uma atenção particular. Ele não deve ser minimizado. Com efeito, para dar
apenas um exemplo, os sítios arqueológicos atualmente explorados na África foram,
frequentemente, como no caso de Koumbi-Saleh, descobertos a partir de uma indicação
conservada pela tradição oral. Por outro lado, os documentos escritos não são quase
sempre a recolha de um testemunho oral, de uma narrativa escutada e não vivida por quem
o escreve?
A título de exemplo, em 1960, um ancião de 80 anos pode testemunhar sobre os
eventos ocorridos em torno de 1830 se ele escutou aos 15 anos de idade, em 1895, os
relatos de seu avô, nascido em 1815. Nós podemos dizer, então, que cada vez que um
ancião africano lúcido e experiente morre, é todo um plano da paisagem histórica de seu
país que é abolida.
É possível, portanto, edificar uma metodologia da história africana que levará em
conta os critérios particulares desta civilização do verbo (como, por exemplo, os métodos
tradicionais de datação), mas que não sacrificaria nada de fundamental no que concerne
o que se convencionou chamar de “objetividade histórica”. Essa metodologia deverá se
apoiar em um aparelho de documentação e de “provas” judiciosamente edificado. Mas,
para isso, é preciso que desde hoje um trabalho gigantesco de acumulação seja
completado, ao qual a UNESCO pode trazer um apoio decisivo. Fitas magnéticas, filmes
e microfilmes, fotocópias, nomenclaturas e catálogos devem ser constituídos, a fim de
formar um estoque no qual os especialistas poderão trabalhar posteriormente. Daí a
necessidade de cada região ter uma pequena equipe de arquivistas especializados nesse
trabalho de inventariado, de coleta e de classificação.
Além disso, como em geografia, é importante que os alunos africanos conheçam
a história dos países do mundo que têm mais ou menos a mesma idade tecnológica, assim
como tenham tido exposição a eventos históricos como o Islã, em razão da importância
da população muçulmana destes territórios. Em todo caso, é preciso rejeitar sem mais
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