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Universidade Federal do Ceará
Faculdade de Direito
Departamento de Direito Processual
Direito Processual Civil III -‐‑ Execução -‐‑ 2018.2 Diurno
Docente: Juliana Cristine Diniz Campos
Monitor: Tales Luis de Oliveira Batista
Nota de Aula 01 -‐‑ Unidade I:
Da Execução em Geral. Origem, modelo e características. Princípios aplicados ao Processo de
Execução. Tutela Específica e os novos direitos. Aspectos da competência na execução
forçada. Legitimidade ativa e passiva: partes no Processo de Execução. Título Executivo.
Características e tipos: judicial e extrajudicial. As espécies de Execução previstas no CPC.
Noções gerais. Nova sistemática da execução.
1. Aspectos Introdutórios
Historicamente, a tutela executiva, decorrente de relação jurídica
fundada no direito subjetivo da parte credora a uma prestação em face do
devedor, era objeto da clássica tripartição de tutelas consagrada no Código de
Processo Civil de 1973, em que vigia a distinção procedimental das demandas
de conhecimento, de execução, e das cautelares.
O modelo constitucional de processo inaugurado pela ordem
constitucional vigente trouxe a perspectiva do processo como instrumento,
como meio para a garantia do direito material a ele subjacente. Acerca da
instrumentalidade processual, nas lições de Cândido Rangel Dinamarco:
"ʺCom tudo isso, chegou o terceiro momento metodológico do
direito processual, caracterizado pela consciência da
instrumentalidade como importantíssimo pólo de irradiação
de idéias e coordenador dos diversos institutos, princípios e
soluções. O processualista sensível aos grandes problemas
jurídicos, sociais e políticos do seu tempo e interessado em
obter soluções adequadas sabe que agora os conceitos
inerentes à sua ciência já chegaram a níveis mais do que
satisfatórios e não se justifica mais a clássica postura
metafísica consistente nas investigações conceituais
destituídas de endereçamento teleológico. Insistir na
autonomia do direito processual constitui, hoje, como que
1
preocupar-‐‑se o físico com a demonstração da divisibilidade
do atómo"ʺ.1
Com o advento da tendência de instrumentalidade na ciência
processual, em razão da busca pela celeridade e economias processuais, a
tutela executiva foi sendo objeto de sucessivas mudanças legislativas,
levando, pouco a pouco, ao modelo sincrético de processo, privilegiando a
economia e a celeridade processuais em detrimento do rigor formal próprio
da tripartição das tutelas constante do CPC de 1973.
O sincretismo processual ganhou força em especial a partir do
surgimento, com as Leis nº 8.952/1994, 10.444/2002 e 11.212/2005, das
chamadas “ações sincréticas”, algumas ações específicas em que a lei
determinava que o processo de execução passaria a ser mera fase
procedimental de satisfação do direito reconhecido na fase de conhecimento.
Passando ao largo de expor todo o histórico do sincretismo
procedimental, destaque-‐‑se apenas que, com o advento do CPC/2015, o
Processo Civil brasileiro ressaltou o referido sincretismo quanto às tutelas
cognitivas, executivas e cautelares, mediante a previsão da fase
procedimental do cumprimento de sentença, regendo a execução dos títulos
executivos judiciais (salvo algumas exceções, como se verá a seguir), e a
continuidade da previsão do processo autônomo de execução, mas somente
para a execução de títulos extrajudiciais.
2. Conceito de Tutela Executiva e Procedimento Executivo
Nas palavras de Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula
Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira:
“Executar é satisfazer uma prestação devida. A execução
pode ser espontânea, quando o devedor cumpre
voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o
cumprimento da prestação é obtido por meio da prática de
atos executivos pelo Estado”2.
Assim, pode-‐‑se definir tutela executiva jurisdicional como a satisfação
forçada, através da tutela jurisdicional estatal, de um direito subjetivo já
reconhecido, cuja prestação é devida pela materialização, em um título
1 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 15. ed. São Paulo: Malheiros,
2
executivo (judicial ou extrajudicial), de uma obrigação líquida, certa e
exigível.
Obs: cumpre destacar que o que deve ser líquido, certo e exigível é a obrigação
contida no título executivo, e não o titulo em si.
O Estado-‐‑juiz, no exercício do poder jurisdicional, após o devido
reconhecimento do direito da parte credora, mediante a apresentação de
título executivo (judicial ou extrajudicial), constatado o inadimplemento
(mora) do devedor (interesse de agir), passa à execução forçada da obrigação,
mediante a fase procedimental do cumprimento de sentença, no caso dos
títulos executivos judiciais, ou mediante o processo autônomo de execução,
no caso dos títulos executivos judiciais.
No entanto, há exceções à essa regra geral, havendo certos títulos
executivos judiciais que não se submetem ao procedimento de cumprimento
de sentença, conforme determinação do art. 515, § 1o :
Títulos Executivos Judiciais que não se submetem ao procedimento de
cumprimento de sentença:
-‐‑ Sentença penal condenatória transitada em julgado
-‐‑ Sentença arbitral
-‐‑ Sentença estrangeira homologada pelo STJ
-‐‑ Decisão interlocutória estrangeira homologada pelo STJ
Ainda em relação aos procedimentos executivos, cabe ressaltar que
impera sobre o cumprimento de sentença e o processo autônomo de execução
uma subsidiariedade recíproca, ou seja, naquilo que as diposições do CPC
forem omissas em relação a um procedimento, e também naquilo que for
compatível com a natureza e os fins do procedimento executivo, aplica-‐‑se, de
forma subsidiária, as disposições normativas do outro procedimento.
É o que se infere pela análise dos arts. 513, caput, c/c 771, caput, do CPC:
Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as
regras deste Título, observando-‐‑se, no que couber e conforme a
natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte
Especial deste Código.
Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução
fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se,
também, no que couber, aos procedimentos especiais de
execução, aos atos executivos realizados no procedimento de
3
cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou
fatos processuais a que a lei atribuir força executiva.
No tocante aos tipos de tutelas executivas, sabe-‐‑se que as obrigações
civis podem consubstanciar prestações de fazer, não-‐‑fazer ou dar/pagar
quantia, havendo tutelas executivas próprias para cada tipo de prestação
obrigacional, tanto no procedimento do cumprimento de sentença como no
processo autônomo de execução.
Assim como no processo/fase de conhecimento, o processo de execução
e o cumprimento de sentença passam pelas fases:
Ø Postulatória, em que há apresentação do título executivo pelo
credor ao magistrado;
Ø Instrutória, em que o juízo executório se utiliza dos atos de
constrição patrimonal para satisfazer o direito do exequente; e
Ø Decisória, com a prolação da sentença, formação da coisa julgada
executiva, e o devido adimplemento da obrigação, com a
consequente extinção da relação obrigacional entre credor e
devedor.
3. Classificação das Tutelas Executivas
Pode-‐‑se classificar as tutelas executivas conforme diversos critérios.
a) Quanto ao procedimento: Execução Comum e Execução Especial
A execução comum é aquela que o procedimento executivo pode ser
utilizado para a satisfação de uma generalidade de créditos. É o modelo
previsto no cumprimento de sentença e no processo de execução.
A execução especial, por sua vez, é aquela em que o procedimento
executivo serve para a satisfação de apenas alguns créditos específicos, como
é o caso do cumprimento de sentença/processo de execução de alimentos e do
cumprimento de sentença/processo de execução execução contra a Fazenda
Pública.
É importante ressaltar que à execução especial se aplicam, de forma
subsidiária, as regras inerentes à execução comum, naquilo que os
procedimentos especiais forem omissos, e naquilo que lhe for cabível,
conforme dispõe o art. 771, caput, do CPC:
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Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução
fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se,
também, no que couber, aos procedimentos especiais de
execução, aos atos executivos realizados no procedimento de
cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou
fatos processuais a que a lei atribuir força executiva.
b) Quanto ao Título: Judicial ou Extrajudicial
Como já mencionado, a natureza do título executivo determina o
procedimento adotado para a sua satisfação. Assim, salvo as exceções já
destacadas, a execução do título executivo judicial se dará por meio do
cumprimento de sentença e a do título executivo extrajudicial por meio do
processo de execução.
Tais procedimentos apresentam diferenças substanciais.
Como exemplo, pode-‐‑se citar o fato de que o cumprimento de sentença
pode ser definitivo ou provisório, a depender da definitividade do título que
a lastreia, enquanto o processo de execução tem caráter exclusivamente
definitivo.
Ademais, o espectro de matérias alegáveis em sede de embargos à
execução é significativamente maior que os alegáveis em sede de impugnação
ao cumprimento de sentença.
c) Quanto à participação do devedor: Execução direta (por subrogação)
ou Execução indireta (por coerção psicológica)
Na execução direta, o Estado-‐‑juiz subroga-‐‑se à vontade do devedor.
Assim, o procedimento executório se dará sem qualquer participação
voluntária do devedor. É o caso do desapossamento, nas execuções para
entrega de coisa imóvel (imissão na posse) e da expropriação, no caso das
execuções para pagamento de quantia.
Na execução indireta, por sua vez, o Poder Judiciário busca promover a
execução contando com a conduta voluntária do devedor, embora não-‐‑
espontânea. Em outras palavras, o magistrado incentivará o demandado para
que ele próprio cumpra a prestação a que está obrigado, seja por meio de
coerção psicológica ou pelo incentivo positivo. Como exemplo, mencione-‐‑se
as astreintes, multas periódicas impostas pelo magistrado com fins ao
cumprimento da obrigação (coerção psicológica), e a redução pela metade
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dos honorário advocatícios fixados pelo juízo no início do processo de
execução por quantia certa (incentivo positivo).
Destaque-‐‑se que, em alguns casos, como nas execuções fundadas em
títulos executivos que consubstanciam obrigações de fazer personalíssimas,
as quais só podem ser adimplidas pelo próprio devedor, o único meio idôneo
para que se forçe o exequido ao cumprimento da origação é a execução
indireta, por coerção psicológica.
Obs: A prisão civil do devedor de alimentos, prevista constitucionalmente, é
hipótese típica de meio de execução indireta por coerção psicológica, sendo
utilizada apenas no cumprimento de sentença/processo de execução de alimentos,
em razão de ser uma execução pessoal, exceção à regra da responsabilidade
patrimonial do exequido.
d) Quanto à definitividade: cumprimento definitivo e provisório de
sentença
O cumprimento de sentença pode ser definitivo ou provisório, a
depender da definitividade do título que a lastreia, enquanto o processo de
execução tem caráter exclusivamente definitivo.
Assim, se se tratar de decisão com trânsito em julgado (coisa julgada
material), o cumprimento de sentença será definitivo.
No entanto, se se tratar de decisão (interlocutória,sentença ou acórdão)
sem trânsito em julgado ou submetida a recurso sem efeito suspensivo, ou
seja, ainda passível de anulação ou reforma, o cumprimento de sentença será
provisório, correndo tal procedimento executivo sob responsabilidade
objetiva do credor. O cumprimento provisório de sentença será objeto de
análise posteriormente.
4. Cognição e Mérito no Processo de Execução
Parte da doutrina processualista aduz não haver atividade cognitiva ou
conhecimento e julgamento de mérito em sede de processo de execução, com
a consequente não-‐‑formação de coisa julgada material executiva.
Entretanto, deve prevalecer o entendimento de que o processo de
execução está, de forma efetiva, sujeito à atividade cognitiva do
magistrado, ainda que tal atividade seja mais restrita que na fase de
conhecimento.
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Como prelecionam Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha,
Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira:
"ʺNão há atividade jurisdicional que prescinda de cognição. O
que se tem de fazer é adequar o grau de cognição à tarefa que
se espera ver cumprida pelo Poder Judiciário. (...) se se
pretende a execução, a cognição judicial não deve abarcar, ao
menos inicialmente, as questões que digam respeito à
formação do título, mas, necessariamente, envolverá
questões que dizem respeito à efetivação da obrigação, ou
seja, os pressupostos de admissibilidade e a sobrevivência da
obrigação executada"ʺ.3
Assim, cabe ao juízo exercer a cognição em pontos específicos do
processo executivo, mormente quanto às questões de existência e de validade
da obrigação objeto de execução, como a prescrição.
No tocante ao mérito executivo, sabe-‐‑se que este consiste na efetivação
ou satisfação do direito à uma prestação líquida, certa e exigível
consubstanciada em um título executivo judicial ou extrajudicial.
Desse modo, deve-‐‑se reconhecer a devida existência de mérito no
processo de execução, que consiste na declaração de mérito contida em
sentença que declara a satisfação do crédito exequido e a extinção da
obrigação subjacente.
5. Princípios Executivos
Além dos princípios que se aplicam à toda a dogmática processual e a
todos os institutos do Direito Processual Civil, há princípios intrínsecos à
atividade executiva jurisdicional, cuja análise se fará a seguir, destacando-‐‑se
apenas os mais importantes dentre aqueles apontados pela doutrina.
a) Princípio da Efetividade Processual
Este princípio rege toda a condução do processo de execução, tendo o
novo CPC positivado no seu art. 4º o direito das partes de obter em prazo
razoável não só a solução de mérito, mas também a atividade satisfativa do
direito objeto da demanda:
3
DIDIER JUNIOR, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil: Execução. 8. ed. Salvador: Ed.
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Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.
Assim, em busca da efetividade processual, a tutela executiva deverá ser
realizada de forma a buscar a maior efetividade possível do direito já
reconhecido do exequente, assim como o magistrado deverá adotar todos os
meios executivos aptos à prestar de forma efetiva e integral a tutela
executiva.
b) Princípio do Contraditório
Tendo natureza de processo judicial, ao processo de execução se aplica
o direito ao contraditório, assegurado constitucionalmente no art. 5º, LV, da
CF/88, e em sede infra-‐‑constitucional no art. 7º do CPC:
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa,
aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Assim, também durante o processo de execução deve ser assegurado às
partes a participação efetiva durante o processo, pelo direito de acompanhar
e de se manifestar em relação aos atos processuais, pela possibilidade de
produção de provas, pelo direito a ser informado e de as decisões
jurisdicionais serem devidamente motivadas, entre outros direitos inerentes
ao contraditório judicial.
No tocante à tutela executiva, o contraditório se manifesta de forma
diferida. Isso porque se aplica ao processo de execução a técnica monitória, que
consiste, essencialmente, na inversão do ônus de provocar o contraditório,
atividade que incumbe ao devedor.
Assim, no processo de execução, cabe ao devedor, através do exercício
da defesa processual, provocar o contraditório, sendo que a sua inércia
significará o não exercício do seu direito de defesa.
c) Princípio da Menor Onerosidade do Executado
Esse princípio está previsto no art. 805 do CPC:
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Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva
mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos
onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já
determinados.
Assim, quando o resultado prático for o mesmo e houver dois ou mais
meios de execução aptos para alcançá-‐‑lo, o magistrado deverá escolher
aquele menos gravoso para o executado.
Nesse sentido, o executado que se insurgir contra determinado meio
executivo utilizado pelo magistrado para satisfazer o direito do exequente,
deverá indicar outros meios mais eficazes ou tão eficazes quanto e que sejam
menos onerosos a ele, sob pena de manutenção dos atos executivos já
determinados pelo juízo.
Frise-‐‑se que este princípio não poderá de forma alguma reduzir a
efetividade do direito do exequente, não devendo o magistrado utilizar meio
executivo gravoso ao direito do exequente, de modo a não satisfazer de forma
integral e efetiva a sua pretensão.
Os meios executivos menos gravosos ao devedor deverão ser
igualmente ou mais eficazes em relação ao direito do exequente, a fim de
obter a tutela específica ou o resultado prático equivalente.
d) Princípio da Primazia da Tutela Específica do credor
Este princípio, inerente a todo o sistema da tutela executiva do CPC,
determina que toda a atividade jurisdicional (procedimentos, atos
constritivos, etc.) deve se dar de forma a alcançar de forma exata aquilo que
seja o objeto do direito do exequente (tutela específica).
Tal diretriz está contida, por exemplo, nos procedimento de
cumprimento de sentença referente à obrigação de fazer, nos artigos 497 e 499
do CPC:
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de
não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela
específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente.
Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos
se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a
obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
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Desse modo, a tutela executiva será prestada de forma a buscar ao
máximo o cumprimento da obrigação devida pelo devedor (tutela específica),
seja por meio da execução indireta, fundada na coerção psicológica ou na
sanção premial, seja pela execução direta.
No caso das obrigações de fazer personalíssimas, caso não haja o
cumprimento espontâneo da obrigação pelo devedor, só restará ao
magistrado converter a obrigação de fazer em obrigação de pagar quantia
certa, pela conversão da obrigação em perdas e danos.
É importante salientar que a mencionada conversão da relação
obrigacional só poderá ser realizada de ofício caso o juiz aponte os elementos
fáticos, constantes dos autos, que comprovem a impossibilidade fática da
obtenção da tutela específica ou do resultado prático equivalente.
e) Princípio da Disponibilidade da Execução
A execução é disponível em relação ao exequente. Assim, poderá o
credor não executar o título executivo, ou executando-‐‑o, desistir de forma
parcial ou total do processo executivo ou do cumprimento de sentença, a
depender da natureza do título.
Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução
ou de apenas alguma medida executiva.
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título), quando então deverá haver a concordância do executado para que a
execução seja extinta pela disponibilidade do exequente.
f) Princípio da Responsabilidade Objetiva do Exequente
De acordo com este princípio, a execução corre por conta e risco do
exequente, independentemente de demonstração de culpa ou dolo.
Este raciocínio se aplica ao cumprimento provisório de sentença, como
se verá adiante, nos termos do art. 520, I, do CPC: “corre por iniciativa, conta e
responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os
danos que o executado haja sofrido”.
Ademais, o art. 776 do CPC determina que “o exequente ressarcirá ao
executado os danos que este sofreu, quando a sentença, transitada em julgado,
declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que ensejou a execução”.
g) Princípio da Responsabilidade Patrimonial
Em síntese, trata-‐‑se do postulado, pautado na carga valorativa inerente
ao princípio da dignidade da pessoa humana previsto constitucionalmente
(art. 1o, III, da CF/88), que determina que os atos constritivos realizados
durante a fase instrutória do processo executivo, assim como toda a atividade
de satisfação do crédito perpetrada durante o procedimento executivo,
devem ser realizados sobre o patrimônio do exequido, e nunca sobre a sua
pessoa (com exceção da prisão civil do devedor de alimentos, conforme o
entendimento do STF). Ou seja, a execução civil é real, nunca pessoal.
6. Legitimidade ad causam e Partes na Execução
Assim como no processo de conhecimento, a legitimidade ad causam das
partes para a propositura de demanda executiva é condição necessária para a
existência (partes) e validade (legítimas) da relação jurídico-‐‑processual, sendo
importante o estudo dos legitimados ordinários e extraordinários no processo
de execução. Nesse tópico também se analisará a possibilidade de haver
litisconsórcio ou intervenção de terceiros no processo executivo.
a) Legitimidade Ativa
A legitimação ativa está regulada pelo art. 778 do CPC:
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Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei
confere título executivo.
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título executivo lhe seja transferido por ato entre vivos. É o caso da cessão de
crédito, por exemplo, conforme previsto nos dispositivos relacionados ao
direito civil obrigacional (arts. 286 e ss. do CC de 2002).
O inciso IV, por fim, confere legitimidade extraordinária ao sub-‐‑rogado,
nos casos de subrogação legal ou convencional, nos termos do art. 346 e ss. do
CC de 2002.
Finalizando a análise da legitimidade ativa, é importante destacar que o
§ 1 aduz que os referidos legitimados podem propor a demanda executiva
o
III -‐‑ o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a
obrigação resultante do título executivo;
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cujus devedor, o espólio, sucessores e herdeiros só responderão no limite das
forças da herança, ainda que o valor exequido seja superior ao quinhão
recebido por cada sucessor ou superior ao montante inventariado, no caso do
espólio, em atenção ao regramento civil-‐‑constitucional referente ao tema.
O inciso III se refere ao instituto da assunção de dívida, nos termos dos
arts. 299 e ss. do Código Civil, sendo necessário, no entanto, o consentimento
do credor, sob pena de o negócio ser ineficaz em relação ao titular do crédito
cedido.
O inciso IV se refere ao fiador, que é legitimado passivo que se
responsabilizou pelo afiançado em razão de contrato de fiança, que é título
executivo extrajudicial (art. 784, V, do CPC). Assim, quando demandado,
atuará em juízo em nome próprio, pois é titular da relação jurídica material,
sendo sua legitimidade ordinária.
Importante destacar, quanto ao fiador, o que dispõe o art. 513, § 5 o, do
CPC: "ʺO cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do
coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento"ʺ.
Assim, a responsabilidade patrimonial do fiador só restará caracterizada
caso prevista em título executivo extrajudicial, não devendo aquele ser
responsabilizado em caso de título executivo judicial, caso não tenha
participado da fase de conhecimento do processo.
O inciso V reconhece a responsabilidade do titular do bem vinculado
por garantia real ao adimplemento do débito. Assim, o que se executa não é o
contrato de garantia real de natureza acessória (hipoteca, penhor, anticrese,
alienação fiduciária em garantia, etc.), mas o contrato que consagra a
obrigação principal, sendo legitimado passivo o contratante principal
inadimplmente, e não o terceiro que prestou a garantia real.
O inciso VI, por fim, se refere ao responsável tributário, o qual constitui
o polo passivo da relação jurídico-‐‑tributária em razão de disposição legal,
embora não esteja vinculado diretamente ao fato gerador do tributo (não-‐‑
contribuinte), nos termos dos arts. 128 e ss. do CTN.
c) Cumulação de demandas executivas
É possível a cumulação de demandas no processo de execução, assim
como no processo de conhecimento.
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Tal possibilidade está prevista no art. 780 do CPC:
Art. 780. O exequente pode cumular várias execuções, ainda que
fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo e
desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o
procedimento.
Assim, para que se torne possível a cumulação de demandas, é
necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:
Ø Identidade de partes
Ø O juízo seja competente para apreciar as demandas executivas cumuladas
Ø O procedimento da execução adequado para a solução das demandas seja o
mesmo
Como conclusão lógica, deduz-‐‑se que não é possível a cumulação de
demandas executivas fundadas em título executivo judicial e extrajudicial
ao mesmo tempo.
Isso porque tanto o cumprimento de sentença como o processo
autônomo de execução possuem particularidades quanto aos prazos e atos
processuais inerentes a cada um dos referidos procedimentos executivos,
motivo pelo qual não preenchem o requisito nº III para a cumulação de
demandas.
Ademais, em certos casos não será cabível a cumulação de demandas
quando se tratar de títulos executivos judiciais formados por capítulos de
sentença transitada em julgado que preveem condenações à obrigações de
natureza distinta.
Como exemplo, imagine determinada ação em que o magistrado
condene o réu, em capítulo de sentença próprio, à obrigação de fazer (retirar
o nome do autor do cadastro de inadimplentes), e em capítulo de sentença
distinto condene o réu à obrigação de pagar quantia certa a título de danos
morais.
Nesse caso, como se tratam de procedimentos de cumprimento de
sentença de natureza distinta (cumprimento de sentença que reconheça a
exigibilidade de obrigação de fazer e cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de pagar quantia certa), incabível será a cumulação
de demandas, devendo ser executado cada capítulo da sentença em
procedimentos de cumprimento de sentença distintos, embora se trate de
título executivo único.
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d) Litisconsórcio no Processo de Execução
No processo de execução é possível a formação de litisconsórcio, seja no
polo ativo, seja no polo passivo, seja misto (litisconsórcio no polo ativo e no
polo passivo simultaneamente).
Em geral, o litisconsórcio formado nas demandas executivas é o
litisconsórcio facultativo, ou seja, aquele em que fica a critério dos litigantes
a formação do litisconsórcio, sendo a sua formação não-‐‑obrigatória.
Para que haja a formação de litisconsórcio, entretanto, é necessário
observar as regras referentes à cumulação de demandas, previstas no art. 780,
que impõe como requisito de admissibilidade para a cumulação a identidade
de partes.
Assim, somente é possível a formação de litisconsórcio se todos os
exequentes ou todos os exequidos estiverem vinculados à parte contrária em
razão do mesmo título, ou em razão de mesma situação jurídico-‐‑material,
ainda que subjacente a dois títulos diferentes.
Por exemplo: X é autor de ação indenizatória em face de Y e Z,
condenados em sentença judicial transitada em julgado. Assim, X poderá
propor demanda executiva, via cumprimento de sentença, contra Y e Z em
litisconsórcio, pois o título em que se funda a execução contra ambos os
litisconsorte é o mesmo.
Do mesmo modo, suponha que X possua notas promissórias, das quais
Y e Z sejam devedores solidários em razão de cadeia cambiária formada em
relação à referida cártula. Desse modo, poderá X propor demanda executiva,
via processo autônomo de execução, contra Y e Z em litisconsórcio, pois os
títulos em que se fundam a execução contra ambos os litisconsortes são os
mesmos.
e) Intervenção de Terceiros no Processo de Execução
Apesar da divergência doutrinária inerente ao tema, cabe apenas
destacar que é possível a intervenção de terceiros no processo de execução,
mas apenas nas modalidades da assistência, do incidente de desconsideração
da personalidade jurídica e do amicus curiae.4
4
DIDIER JUNIOR, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil: Execução. 8. ed. Salvador: Ed.
Juspodivm, 2018, p.331.
16
7. Competência na Execução
As regras de determinaçao da competência do juízo executório irão
depender conforme o procedimento adotado, se do cumprimento de
sentença, ou se do processo autônomo de execução.
a) Competência no Cumprimento de Sentença
No cumprimento de sentença, procedimento pelo qual se executam os
títulos judiciais constantes do art. 515, inciso I a V, a regra geral é de que a
fase procedimental de cumprimento de sentença se dará no juízo que decidiu
a causa na fase cognitiva. Essa regra, entretanto, possui exceções.
O art. 516 do CPC trata das regras de competência no cumprimento de
sentença:
II -‐‑ o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;
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Ponto de análise mais detida é o que aduz o parágrafo primeiro do
dispositivo acima colacionado. Trata-‐‑se de competência concorrente, uma
faculdade conferida ao exequente para escolher outros foros para promover a
execução:
-‐‑ O juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação
-‐‑ O juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou não fazer
-‐‑ O atual domicílio do executado.
Assim, se for de seu interesse, o exequente poderá optar entre os foros
acima destacados.
b) Competência no Processo Autônomo de Execução
A execução fundada em título extrajudicial (e nos casos dos títulos
judicais constantes do art. 515, incisos VI a IX) se dará conforme dispõe o
artigo 781 do CPC:
I -‐‑ a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de
eleição constante do título ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos;
II -‐‑ tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro
de qualquer deles;
III -‐‑ sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução
poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio
do exequente;
IV -‐‑ havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução
será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente;
V -‐‑ a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o
ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não
mais resida o executado.
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Caso não haja foro eleito pela vontade das partes, passa-‐‑se aos critérios
estabelecidos no artigo acima destacado, devendo a execução ser proposta no
foro do domicílio do executado ou, alternativamente, no foro da situação dos
bens.
No caso do executado ter mais de um domicílio, poderá ser demandado
em qualquer um deles.
Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução
será proposta no lugar onde for encontrado ou no foro do domicílio do
exequente.
Havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução
será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente.
Por fim, caso o título tenha se originado de fato ou de ato, o exequente
poderá optar entre demandar no lugar em que se praticou o ato ou em que
ocorreu o fato, mesmo que nele não mais resida o executado.
8. Liquidação de Sentença
A sentença condenatória, para que possa ser exequível, deve ser líquida,
definindo de forma completa a norma jurídica individualizada que formará o
título executivo judicial.
Isso significa dizer que a decisão deve conter cinco elementos essenciais:
o an debeatur (existência da dívida); o cui debeatur (a quem é devido); o quis
debeat (quem deve); o quid debeatur (o que é devido); e o quantum debeatur (o
quanto é devido).
Tais elementos propiciarão às partes e ao juiz que mensurem
exatamente o direito do credor à prestação devida pelo devedor
(mensurabilidade do valor da prestação).
A iliquidez consiste, por outro lado, pela falta de previsão na decisão do
montante devido ou o objeto da prestação, assim como da falta de elementos
para que se apure tal montante e tal objeto prestacional. Assim, a sentença
será genérica, demandando um processo de integração.
É o que ocorre, por exemplo, nas ações coletivas, nas quais muitas vezes
é impossível determinar o credor durante a fase de conhecimento.
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Por tal motivo, o CPC prevê a liquidação de sentença, que consiste em
uma atividade judicial cognitiva pela qual se busca integrar a norma
jurídica individualizada estabelecida num título judicial.
Essa atividade cognitiva, frise-‐‑se, não tem relação com a necessidade de
meros cálculos aritméticos para que se determine o quantum devido,
necessidade esta que não retira a liquidez da obrigação inscrita no título
executivo, conforme a previsão do parágrafo único o art. 786 do CPC:
Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a
obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo.
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,
proceder-‐‑se-‐‑á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor:
§ 2o Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo
aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento
da sentença.
Destaque-‐‑se também que, em regra, não é possível falar em liquidação
de título executivo extrajudicial, já que a certa, exigibilidade e liquidez são
atributos indispensáveis para a propositura de ação autônoma de execução.
Obs: No caso dos títulos judiciais tais atributos também são essenciais, mas a
sentença proferida na fase de conhecimento pode, como já dito acima, ser iliquida em
razão da não determinação ou não determinabilidade dos elementos essenciais da
sentença.
Excepcionalmente, entretanto, no curso de processo autônomo de
execução, a obrigação de entregar coisa ou de fazer pode se tornar
inexequível, sendo forçado o magistrado a converter a obrigação primária em
obrigação de pagar quantia certa, mediante indenização por perdas e danos
por parte do exequido, conversão esta que demandará um incidente
processual de liquidação de sentença para apuração do quantum debeatur.
A legitimidade ativa para a insaturação da liquidação de sentença é do
credor e do devedor, conforme determinação do art. 509, caput.
20
O devedor detém tal legitimidade pois somente com a apuração do
valor pela liquidação será possível a ele cumprir espontaneamente a
obrigação, se assim o desejar.
Ademais, é importante ressaltar que há atividade cognitiva e
contraditório em sede de liquidação de sentença.
A cognição será restrita horizontalmente, não podendo haver
rediscussão ou alteraração do conteúdo das matérias de mérito da fase de
conhecimento, mas tão somente as matérias relativas à mensurabilidade da
prestação devida, conforme o art. 509, § 4o :
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,
proceder-‐‑se-‐‑á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor:
§ 4o Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a
sentença que a julgou.
É o que se denomina regra da fidelidade ao título executivo, o qual
deve ser considerado premissa inafastável, inerente a qualquer discussão em
sede de liquidação de sentença, não podendo esta dispor de modo
controverso com o que está disposto no título executivo.
No tocante ao contraditório, as partes deverão ser intimadas e se
manifestar acerca de todos os atos processuais realizados durante a
liquidação, mas o devedor só poderá alegar em sua defesa algumas matérias
específicas, como por exemplo as causas de extinção ou alteração do crédito
obrigacional, não podendo adentrar as matérias que foram analisadas no
mérito da fase cognitiva.
Quanto ao momento para requerer a liquidação, está poderá se dar de
forma definitiva ou "ʺprovisória"ʺ, neste caso quando da pendência de recurso
(com ou sem efeito suspensivo), nos termos do art. 512 do CPC:
Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso,
processando-‐‑se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao
liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.
Ademais, se a decisão a ser liquidada for em parte líquida e em parte
ilíquida, é possível ao credor promover de forma simultânea a liquidação do
capítulo ilíquido (em autos apartados) e a execução do capítulo líquido, nos
termos do art. 509, § 1o, do CPC:
21
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,
proceder-‐‑se-‐‑á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor:
§ 1o Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida,
ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e,
em autos apartados, a liquidação desta.
Quanto ao procedimento, a liquidação de sentença poderá se dar por
meio de:
a) fase procedimental de liquidação de sentença
Esse modelo processual de liquidação ocorrerá no caso dos títulos
executivos judiciais previstos no art. 515, I a V, do CPC.
Assim, após prolação da sentença condenatória iliquida, credor ou
devedor peticionarão nos autos requerendo a insautração da fase
procedimental de liquidação de sentença, que terá objeto próprio, qual seja a
apuração exata do objeto prestacional em todos os seus aspectos, mediante
atividade cognitiva jurisdicional que não poderá adentrar o mérito já
discutido na fase de conhecimento.
Trata-‐‑se de um interlúdio entre a fase de conhecimento e a fase de
cumprimento de sentença.
Aqui, conforme determinação expressa dos arts. 510 e 511 do CPC, o
devedor será intimado para apresentar contestação, e não citado, em razão
de já fazer parte da relação jurídica processual.
O provimento final da fase de liquidação é a sentença, porque finaliza
uma fase cognitiva do procedimento, a qual será impugnável por apelação
(art. 1.009 do CPC).
b) processo autônomo de liquidação de sentença
Esse modelo processual de liquidação ocorrerá no caso dos títulos
executivos judiciais previstos no art. 515, VI a IX, do CPC.
Assim, para que se proceda à liquidação das sentenças penais
condenatórias transitadas em julgado, das sentenças arbitrais, das sentenças e
das decisões estrangeiras homologadas pelo STJ, deverá se ajuizada ação
autônoma para tais fins liquidatórios.
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Aqui, conforme determinação expressa do art. 515, § 1o , do CPC, o
devedor será citado para a liquidação no prazo de 15 dias. O devedor, assim,
será citado para compor a relação jurídica processual.
O provimento final do processo autônomo de liquidação é a sentença,
porque finaliza uma fase cognitiva do procedimento, a qual será impugnável
por apelação (art. 1.009 do CPC).
c) incidente processual de liquidação de sentença
A liquidação só terá esta forma em situações excepcionais, como no caso
em que, no curso de processo autônomo de execução, a obrigação de entregar
coisa ou de fazer pode se tornar inexequível, sendo forçado o magistrado a
converter a obrigação primária em obrigação de pagar quantia certa,
mediante indenização por perdas e danos por parte do exequido, conversão
esta que demandará um incidente processual de liquidação de sentença
para apuração do quantum debeatur.
Assim, como incidente processual, que se poderá se dar tanto na fase
procedimantal do cumprimento de sentença como no processo autônomo de
execução, o provimento que resolve o incidente tem natureza de decisão
interlocutória, impugnável, pois, por agravo de instrumento.
Quanto às espécies, a depender da providência a ser tomada para a
integração do provimento jurisdicional, a liquidação se dará por:
a) Liquidação por Arbitramento
Aquela em que para a devida mensurabilidade da prestação é
necessária a produção de prova técnica, em geral a prova pericial, em
qualquer de suas modalidades.
A liquidação por arbitramento se dará sempre que for determinada na
sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da
liquidação (caso mais corriqueiro), conforme o art. 509, inciso I:
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,
proceder-‐‑se-‐‑á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor:
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Determinada a liquidação por arbritramento, o procedimento seguirá
conforme o art. 510 do CPC, com a intimação das partes para apresentação de
pareceres e documentos, além de eventual nomeação de perito, caso haja
necessidade, seguindo então o procedimento probatório da prova pericial até
posterior prolação de provimento final:
Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a
apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar,
e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-‐‑se, no que
couber, o procedimento da prova pericial.
b) Liquidação por Procedimento Comum
A liquidação por procedimento comum é instaurada sempre que houver
necessidade de alegar ou provar fato novo.
Deve-‐‑se entender por fato novo aquele fato relacionado ao objeto, valor
ou outro elemento prestacional que não foi objeto de anterior cognição na
fase de conhecimento, não constando dos autos, necessitando de
contraditório sobre tal elemento em sede de liquidação de sentença, conforme
o art. 509 do CPC:
Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,
proceder-‐‑se-‐‑á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor:
Destaque-‐‑se, por fim, que incidirá o efeito material da revelia perante a
inércia da parte intimada para contestar, com a presunção relativa de
veracidade dos fatos novos afirmados na petição que instaurou a liquidação.
24
Finalizando o estudo da Liquidação de Sentença, é imprescindível que
se mencione o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que se aplica à liquidação de sentença o princípio processual da
fungibilidade, nos termos da Súmula 344 do STJ:
Súmula 344/STJ: A liquidação por forma diversa da
estabelicida na sentença não ofende a coisa julgada
Desse modo, ainda que o título estabeleça que a liquidação deve se dar
por meio do procedimento comum, nada impede que ela se faça por
arbritramento, no caso de o procedimento adotado ser suficiente e apto a
integrar a atividade cognitiva realizada na fase de conhecimento.
9. Título Executivo
Por ser temática de grande relevância, cumpre transcrever trecho do que
aduzem Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e
Rafael Alexandria de Oliveira em seu Curso de Direito Processual Civil:
"ʺO título executivo é muito importante na execução. Sem ele
não podem ser aferidos a causa de pedir, o pedido, a
legitimidade, o interesse de agir etc., enfim, pode-‐‑se dizer
que o título executivo é onipotente: ele é o documento
indispensável para a propositura da execução e é com base
nele que todos os elementos da ação, vários requisitos
processuais serão examinados. A partir de seu conteúdo, o
título executivo identifica as partes na ação de execução,
determina o objeto da atividade judicial e limita a
responsabilidade do executado"ʺ.5
Liebman: o título executivo seria um ato jurídico que incorpora a sanção, exprimindo a
vontade concreta do Estado de que se proceda a determinada tutela executiva. O título teria,
então, natureza constitutiva, fazendo surgir a ação executiva e conferindo ao credor
legitimidade para ajuizá-‐‑la.
5
DIDIER JUNIOR, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil: Execução. 8. ed. Salvador: Ed.
Juspodivm, 2018. p. 260.
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Francesco Carnelutti: o título teria caráter de documento. Além de prova legal do fato,
demonstra também a eficácia jurídica de um fato, ou seja, a relação jurídica que nele é
certificada. Tal documento seria provido de uma eficácia mais intensa do que a de simples
fonte de prova, pois estabeleceria a existência de determinada relação jurídica.
Barbosa Moreira e Fredie Didier Jr. (posição mais aceita): o título, no seu aspecto
material, é ato normativo que confere a determinado indivíduo o dever de prestação. No seu
aspecto formal, é o documento que formaliza esse ato jurídico. Tal documento tem o efeito
jurídico de permitir a instauração da atividade executiva para satisfazer a prestação
(obrigação certa, líquida e exigível) nele contida.
Obs: com o advento do CPC de 2015, questiona-‐‑se a possibilidade de criação de
títulos executivos extrajudiciais (apenas extrajudiciais) por negócio jurídico
processual, mediante autorização do art. 190 do CPC e a autonomia da vontade. Este
tema é alvo de divergência doutrinária, não havendo consenso quanto ao tema.
O rol dos títulos executivos judiciais consta do art. 515 do CPC:
26
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-‐‑se-‐‑á de
acordo com os artigos previstos neste Título:
§ 1o Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo
cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no
prazo de 15 (quinze) dias.
27
II -‐‑ a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
VI -‐‑ o contrato de seguro de vida em caso de morte;
IX -‐‑ a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos
na forma da lei;
XII -‐‑ todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a
lei atribuir força executiva.
Por fim, encerrando a temática do título executivo, como decorrência do
princípio da disponibilidade da execução, destaque-‐‑se a previsão do art. 785
do CPC, que autoriza a parte a optar pelo processo de conhecimento, ainda
28
que munida de título executivo extrajudicial, a fim de obter título executivo
judicial:
Art. 785. A existência de título executivo extrajudicial não impede a parte
de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título executivo
judicial.
___________________________________________________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DIDIER JUNIOR, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil:
Execução. 8. ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2018.
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 15. ed.
São Paulo: Malheiros, 2013.
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