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PROCESSO CIVIL III

EXECUÇÃO CIVIL

INTRODUÇÃO

A execução é uma matéria muito relacionada ao Direito Material. É necessário conhecer


bem o Direito Material para entender o processo de execução.
Ao mesmo tempo que existe a tutela jurisdicional cognitiva, que é o conjunto de técnicas
empregadas para reconhecer ou não a existência de um direito, também existem outras formas de
tutela, que não a jurisdicional cognitiva. Além dela, existem ainda a tutela de execução e a tutela
cautelar. Antigamente, falava-se de separação por tipos de processos (processo de conhecimento,
processo de execução...). Hoje, não é mais correto falar desse modo, pois que um mesmo
processo pode ter vários tipos de tutela.
Enquanto a tutela cognitiva atua em um campo mais abstrato de aplicação de normas
jurídicas (juiz verifica uma realidade apresentada pelas partes e emite um juízo normativo sobre
o dever ser daquela realidade, respondendo à pretensão jurisdicional), ou seja, “transforma os
fatos em direito”; a tutela jurisdicional executiva, ao invés de procurar reconhecer a existência ou
não de direitos, tem a finalidade de satisfazer o direito reconhecido em um título. Por isso diz-se
que a tutela executiva atua em um plano concreto, transformando o “dever ser” em um “ser”, ou
“transformando o direito em fatos”. A sentença é buscada para que, a partir dela, se tenha uma
providência completa. Essa providência vem com a execução.
Por isso, não é possível dizer que a jurisdição se esgota no conhecimento, com a
pronúncia jurisdicional. A execução também é uma atividade jurisdicional.
Muitas vezes, há uma pronúncia jurisdicional, mas essa pronúncia não vai ser cumprida.
É preciso fazer o indivíduo relutante a cumprir a obedecer o comando da sentença. Por esse
motivo, a execução era chamada pelos mais antigos de “execução forçada”, justamente porque se
pensava que nem todo cumprimento da pronúncia jurisdicional é forçada (é possível que haja um
cumprimento espontâneo). A execução, para esses autores, estava dentro do poder de império do
estado, de fazer cumprir suas decisões.
Hoje, não se fala mais em “execução forçada”. Quando uma sentença precisa ser
executada, fala-se em “cumprimento de sentença”. Isso não é uma novidade do NCPC, já vindo
desde o CPC de 1973. Fala-se em cumprimento de sentença quando o assunto é a execução de
uma decisão judicial (arts. 513ss); e em execução de título executivo extrajudicial, quando o
título não é uma sentença (arts. 771ss). O cumprimento da sentença não é um ato do estado.
Quem cumpre a sentença é aquele que é condenado a partir da análise do direito material. O
estado apenas forçará o cumprimento por quem tem que cumprir, se necessário. Cumprir e fazer
cumprir são coisas totalmente diferentes.
Dentro do cumprimento de sentença, existem subespécies com regras específicas. Um
exemplo é o cumprimento de sentença contra a fazenda pública. Porém, existem regras gerais
que tratam de todo o processo de execução. Na verdade, o CPC é um pouco assistemático nesse
sentido, uma vez que regras que estão apenas na parte da execução de título extrajudicial se
aplicam também ao cumprimento de sentença. O art. 771 deixa bem claro isso: “Este Livro

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regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-
se, também, no que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos
realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos
processuais a que a lei atribuir força executiva. Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à
execução as disposições do Livro I da Parte Especial”.
Quando inserimos a execução dentro da perspectiva de atividade jurisdicional (que esta
não se exaure com a pronúncia da sentença), isso também está relacionado com o Princípio do
Acesso à Justiça. O estado não exaure o cumprimento desse princípio com a sentença. O
indivíduo tem que ter assegurado a possibilidade de usufruir desse direito, concretamente. Logo,
para que a tutela jurisdicional seja cumprida de maneira completa e integral, há que se
compreender que a execução faz parte da perspectiva de tutela jurisdicional. Uma dimensão
importante do Princípio do Acesso à Justiça está consagrada no CPC, em seu art. 4º: “As partes
têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade
satisfativa”. Esse artigo, em sua parte final, fala “incluída a atividade satisfativa”, demonstrando
o valor que se dá à atividade executiva.

Uma primeira pergunta que surge é: quando o processo de execução deve ser instaurado?
Quando haverá necessidade de um processo de execução? A resposta para essa pergunta está
relacionada à suficiência da tutela cognitiva. Quando a tutela cognitiva é suficiente para
satisfazer a pretensão da pessoa, não haverá necessidade de execução. O principal caso é quando
a sentença é declaratória, servindo apenas para suprir a manifestação de vontade de uma pessoa.
A sentença valerá como a vontade da pessoa.
Tradicionalmente, as sentenças são separadas em declaratória, constitutiva e
condenatória. Há outras classificações, como a sentença mandamental. A sentença declaratória
declara a existência ou inexistência de uma relação jurídica e seu modo de ser. Um exemplo é
uma pessoa que entra com uma ação pedindo a declaração de inexistência de uma relação de
paternidade. Do mesmo modo, a sentença constitutiva. No exemplo anterior, a pessoa que quer
ser reconhecida como filho entra com uma ação de reconhecimento de paternidade. A sentença
será constitutiva dessa relação, mas não há necessidade de execução.
Já quanto à sentença condenatória, essa terá necessidade de ser executava. Também uma
sentença declaratória ou constitutiva que tenha conteúdo condenatório também deverá ser
executada. A existência de conteúdo condenatório em uma sentença é que levará à necessidade
de um procedimento de execução. Nos outros casos, há o que se chama de EXECUÇÃO
IMPRÓPRIA, que é aquela que, após o exaurimento da atividade cognitiva, o juízo pratica
alguns atos para dar concretude àquele comando, mas normalmente atos simples, praticados pelo
próprio juiz.

PRINCÍPIOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

O primeiro princípio que pode ser destacado é o da AUTONOMIA. Esse princípio,


antigamente, dizia que o processo era autônomo em relação ao processo de conhecimento.
Quando não havia o cumprimento da sentença, a pessoa deveria entrar com uma nova ação. A
atividade executiva e a atividade cognitiva não se misturavam. Havia uma necessidade de se
dirigir novamente ao magistrado caso não houvesse adimplemento da sentença.

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Esse formato foi seguido no Brasil (vinha desde o Direito Romano). Contudo, ao longo
ainda do século XX, houve um movimento por meio do qual a autonomia começou a ruir. Foram
movimentos de uma integração da atividade cognitiva na atividade executiva e vice versa. Tudo
começou com a possibilidade do executado se defender dentro do próprio processo de execução.
No começo, isso não era possível: o processo executivo tinha que ser “limpado” de qualquer
cognição. Tudo que tivesse cognição jurídica tinha que vir em processos autônomos. Essa,
inclusive, era a lógica dos embargos de execução no começo. Com o passar do tempo, foi visto
que o processo de cognição tinha, muitas vezes, uma atividade executiva envolvida. Isso
começou com variados instrumentos de tutela específica: o juiz decidia e poderia se valer de
medidas de apoio para força o fazer/não fazer.
Logo, essa autonomia já não ficava muito clara. Até que, em 2005, esse movimento fez
com que surgisse um processo único, dividido em fases ideais: a fase cognitiva e a fase
executiva. A relação processual é uma só, apesar de divida em duas fazes. A sentença é
executada como uma sequência dos atos do processo cognitivo. Desde 2005, então, não há um
processo autônomo para cumprimento de sentença em todos os casos.
Por outro lado, não é correto dizer que acabou a autonomia da execução. Essa autonomia
foi muito reduzida. Ainda haverão processos autônomos em outras hipóteses. Hoje, é possível ter
um processo em que vários tipos de tutela e atividades sejam realizados e se complementem.
O CPC continua tratando como processo autônomo algumas situações. A execução de
título extrajudicial continua sendo autônoma: se a execução se dá a partir de um título
extrajudicial, não houve fase cognitiva. A execução contra a fazenda pública também é
autônoma. No mesmo sentido, a execução fiscal, que se inicia com a inscrição do débito em
dívida ativa. A execução civil de sentença penal é também um processo executivo autônomo. A
execução de sentença arbitral, perante o judiciário, funciona como um processo autônomo
(apesar de, na opinião do professor, haver uma tendência à que se permita aos árbitros ter um
poder executivo, mesmo que limitado às medidas não violentas). Também as execuções
concursais: insolvência civil; falência.
Cabe destacar que o CPC não conseguiu reunir todos os procedimentos executórios em
seu bojo. Existem alguns tipos de execuções, como de alguns títulos de crédito ou a própria
execução fiscal, que são tratadas em leis próprias. Alguns procedimentos especiais e
pulverizados não vão respeitar a lógica de unidade entre cognição e execução, continuando a
tramitar como processo autônomo.
Então, o princípio da autonomia, para alguns, foi extinto; enquanto, para outros, ele foi
extremamente reduzido. Esse segundo entendimento parece ser o mais correto. Cabe destacar,
por outro lado, que a quebra da autonomia não tem relação nenhuma com dizer que a execução
se tornou oficiosa, podendo ser iniciada de ofício pelo juízo. Isso não é verdade: a quebra da
autonomia quer dizer que a execução e a cognição não são mais procedimentos completamente
segregados. Na realidade, no Brasil, a execução não pode sempre ser iniciada de ofício pelo
juízo, devendo ser peticionada pela parte interessada (ainda que, como visto, a autonomia tenha
ruído) nos casos das obrigações de dar. As obrigações de fazer, por outro lado, podem ser
iniciadas de ofício pelo juízo.

Outro princípio da execução é o chamado TÍTULO. A execução, em geral, é baseada em


um título executivo. A ideia é que o que se pode executar é um documento chamado de título

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executivo. Esse título é que vai pautar todo o procedimento executivo (toda a execução se baseia
no título executivo).
A ideia do título, que, como veremos, é um pressuposto para o processo de execução, está
consagrado no CPC nos arts. 778, 783, e 786: “Art. 778. Pode promover a execução forçada o
credor a quem a lei confere título executivo (...) Art. 783. A execução para cobrança de crédito
fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível (...) Art. 786. A execução
pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível
consubstanciada em título executivo”. Por sua vez, a consequência da ausência de título está
prevista no art. 803, I: “É nula a execução se: I - o título executivo extrajudicial não
corresponder a obrigação certa, líquida e exigível; (...)”.
Esse título deve preencher necessariamente às seguintes características: (i) ser certo; (ii)
líquido; e (iii) exigível.
Contemporaneamente, alguns autores vem dizendo que a exigência de um título
executivo é desnecessário. Em alguns ordenamentos estrangeiros, estão surgindo alguns
procedimentos executivos nos quais a apresentação do título é dispensada. Isso ocorre por conta
da tecnologia. A teoria do título executivo é muito baseada na lógica tradicional do papel; da
teoria dos títulos de crédito, baseada na Cartularidade. Se isso já não faz sentido para muitos
títulos de crédito hoje em dia, também não faça sentido para os títulos executivos. Isso ainda não
entrou com força no Brasil, mas é um fenômeno para o qual se deve atentar.

Um terceiro princípio é o da PATRIMONIALIDADE. A execução é direcionada


predominantemente ao patrimônio do executado. Ao contrário dos procedimentos executivos
medievais ou do Direito Romano, em que a execução poderia recair sobre o próprio sujeito ou
sua liberdade, os avanços civilizatórios levaram a uma patrimonialização da execução. A
execução era muito rude e intensa contra a pessoa do executado, tendo deixado de ser com a
passagem para o estado moderno.
Como regra geral, os meios executivos serão orientados para o patrimônio: a execução
visa o patrimônio do executado. Por isso, no direito anglo-saxão, os atos de constrição contra o
executado são chamados de “no money judgement”. Tais procedimentos, contra a pessoa do
executado, estão cada vez mais raros. Um exemplo, até no Brasil, é a prisão civil do depositário
infiel, declarada inconstitucional pelo STF, mesmo estando prevista na própria Constituição.
Cabe destacar que a lógica da patrimonialidade não exclui a possibilidade de uma
constrição contra a pessoa do executado. Tanto que, também no Brasil, ainda é permitida a prisão
civil do devedor de alimentos.

Há também o princípio do RESULTADO (EFETIVIDADE). A ideia desse princípio é


que a execução é uma atividade específica, ou seja, deve ser voltada para a tutela específica do
bem objeto da tutela executiva. Além disso, a execução se realiza sobre o bem do exequente; ela
será tão mais bem sucedida quando se aproximar de dar ao exequente aquilo que está
consubstanciado no título executivo.
O art. 797 prevê essa ideia de que a execução se realiza no interesse do exequente:
“Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal, realiza-
se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência
sobre os bens penhorados. Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo
bem, cada exequente conservará o seu título de preferência”.

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Em uma primeira análise, esse princípio parece tutelar apenas o credor (exequente). Mas
ele também protege o executado. A especificidade da tutela executiva proíbe a realização de atos
inúteis ou desnecessários. A ideia de que a execução tem que partir de uma tutela específica para
atingir o bem objeto do título executivo proíbe que se praticam atos inúteis, o que favorece o
executado, uma vez que é ele que arcará com tais atos executivos (já que foi ele que deu causa à
execução). Isso é corroborado pelo art. 907: “Pago ao exequente o principal, os juros, as custas
e os honorários, a importância que sobrar será restituída ao executado”.

Outro princípio é o da DISPONIBILIDADE. O processo de conhecimento é um processo


em que o resultado final pode beneficiar tanto o autor quanto ao réu. Por isso, após a citação, as
possibilidades do autor desistir da ação se reduzem: ele precisa ter a concordância do
demandado.
No processo de execução, isso não acontece, pois que a fase executiva só pode beneficiar
o exequente. Dentro dessa ideia, diz-se que a execução tem um desfecho único. Isso faz com que
a desistência da ação executiva seja livre para o exequente, independentemente da concordância
do executado. Daí o processo executivo ser disponível.
Porém, existem diversas mitigações dessa possibilidade. Quando houver impugnação, por
parte do executado, que possa levar a um juízo cognitivo favorável a ele, não haverá
disponibilidade por parte do exequente. A partir do momento em que, como vimos, a cognição
entrou na execução, este procedimento também pode levar a um resultado favorável ao
executado. Mas cabe destacar que não são todos os casos de impugnação que pode haver esse
resultado favorável ao executado, mas somente naqueles em que a impugnação levantar questões
de mérito.
Isso está no art. 775: “O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de
apenas alguma medida executiva. Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o
seguinte: I - serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões
processuais, pagando o exequente as custas processuais e os honorários advocatícios; II - nos
demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante”. Logo,
versando a impugnação sobre questões de mérito, não cabe a desistência unilateral; versando
sobre apenas questões processuais, ainda pode o exequente desistir unilateralmente.
A disponibilidade da execução abre espaço para o debate sobre acordos processuais em
execução. Muitas vezes, vemos a execução como uma atividade estatal. Porém, se formos ver a
principiologia da execução, ela é muito mais disponível que o processo de conhecimento. Parece
clara essa diretriz da disponibilidade quando o art. 775, § único, fala que, havendo apenas
questões formais, a disponibilidade é total. Logo, não é possível enxergar restrições muito
grandes para que as partes convencionem no processo executivo.

Há ainda o princípio da ADEQUAÇÃO. Dentro da ideia de eficiência processual,


consagrada no art. 8º do CPC, na execução, deve-se buscar uma relação de pertinência e de
cabimento entre o bem perseguido e os meios executivos utilizados.
Historicamente, os ordenamentos romano-germânicos nunca deram ao juiz uma liberdade
para escolha do meio executivo; nosso ordenamento, inclusive, sempre foi muito pautado para
escolha dos meios executivos. Porém, a ideia é que esses meios executivos sejam pautados por
dois critérios: (i) natureza do bem procurado; e (ii) resistência do executado. Essa não é a lógica
de outros sistemas, em que o juiz tem uma liberdade maior para definir os meios executivos.

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De qualquer maneira, essa ideia de adequação responde também à uma exigência de
efetividade. Se a execução não deve permitir a prática de atos inúteis e desnecessários, a
adequação é uma decorrência lógica da aplicação dessa ideia de efetividade na escolha dos meios
executivos. Inclusive, hoje, exige-se em alguns casos que o juiz justifique a escolha de um meio,
principalmente se este meio não for aquele usualmente utilizado para determinada hipótese. O
que vemos hoje é um aumento do número de escolhas que parecem discricionárias ao juiz sem a
correspondente fundamentação como contrapartida. Hoje, por exemplo, a multa coercitiva
pecuniária tornou-se no Brasil o meio coercitivo por excelência. Essa multa acaba sendo
escolhida sem nenhum juízo sobre se ela é o meio adequado e suficiente para aquele caso
específico; inclusive, a escolha do valor da multa também deve ser justificada; idem a
periodicidade da multa.
Assim, a escolha de um meio de tutela específica pode ser discricionária, mas nunca
arbitrária, devendo haver sempre uma fundamentação. O art. 139, §4º, do CPC é visto como uma
cláusula geral da atipicidade dos meios coercitivos, não estando o magistrado vinculado às
hipóteses de coerção previstas no Código expressamente. Essa matéria de parâmetros para
definir os meios coercitivos ainda é um tema a ser explorado.

Fala-se também do princípio da EXECUÇÃO MENOS GRAVOSA PARA O


EXECUTADO (ECONOMICIDADE). Alguns falam em execução menos gravosa para o
devedor, mas não é completamente correto falar que o executado é sempre o devedor (e o
exequente sempre o credor), pois que isso parte de um princípio, que não é verdadeiro, de que o
exequente sempre tem razão, sendo credor. Muitas vezes, o exequente não é credor, pois ele não
tem razão. Logo, o mais correto é falar em executado e exequente.
Esse princípio empurra um pouco a ideologia da execução para o lado do executado,
equilibrando a balança de um procedimento que normalmente pende para o exequente. Na
existência de meios variados para fazer cumprir a obrigação prevista em um título, deve ser
escolhido aquele meio que imponha efeitos menos restritivos à esfera de direitos do executado.
Alguns dizem que esse princípio decorre de uma regra geral de favorecimento ao devedor; ou do
próprio princípio da equidade; ou ainda da ideia de que, embora a execução favoreça o
exequente, a humanização da execução leva a um equilíbrio maior dos interesses em jogo.
Não há aqui um exame de proporcionalidade da execução, mas a ideia de equilíbrio entre
os interesses contrapostos. Isso ocorre porque tal princípio só incide quando há mais de um meio
executivo possível para fazer cumprir o título executivo. Se há apenas um meio possível para
executar a obrigação, este deverá ser utilizado, incidindo o princípio da obrigação.
A partir do equilíbrio entre princípio do resultado e princípio da execução menos gravosa,
seria possível extrair um princípio de fungibilidade dos meios executivos. Isso quer dizer que o
pedido formulado pelo exequente sobre as medidas coercitivas, o juízo não fica vinculado ao
específico meio solicitado pelo exequente, podendo determinar outras formas de atingir o mesmo
resultado. Claro que o resultado mediato, que é o bem perseguido, continua o mesmo; o que
muda é o resultado imediato, que é o meio coercitivo.
Esse princípio está no art. 805: “Quando por vários meios o exequente puder promover a
execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo
único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros
meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já

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determinados”. Esse artigo deixa claro que deve haver uma possibilidade de escolha; não
havendo, não se aplica esse princípio.
Importante destacar a novidade constante do § único desse dispositivo. Existe um ônus
para aquele que indica que há um outro meio mais eficaz e menos oneroso de demonstrar qual é
esse meio e provar que, além de menos oneroso, ele pode chegar ao mesmo resultado. Porém, a
redação da lei está errada. A lei fala em “meio mais eficaz e menos oneroso”, mas, na verdade,
aceita-se que basta mostrar que há um meio igualmente eficaz e menos oneroso; não é preciso
provar uma maior eficiência, basta que a eficiência seja a mesma e ele seja menos oneroso. O
que não pode o executado é preferir um meio menos eficaz apenas por ele ser menos oneroso.

Por fim, há que se destacar um princípio que parece estar em extinção, que é o princípio
do CONTRADITÓRIO. Ainda há autores que discutem se na execução há contraditório. Essa
discussão vem da ideia de que a execução é apenas um mecanismos para avaliação de bens para
sua venda e satisfação do crédito, tirando do processo executivo qualquer cognição. Por isso,
autores mais antigos defendem que a execução prescinde do contraditório.
Hoje, essa concepção é absolutamente retrógrada e atenta inclusive contra os Direitos
Fundamentais. No NCPC, inclusive, a possibilidade de contraditório na execução fica ainda mais
clara. Os autores que defendem que não há contraditório na execução são considerados muito
autoritários. Essa discussão hoje está errada e superada.

CLASSIFICAÇÕES DAS EXECUÇÕES

QUANTO AO TÍTULO

Quanto ao título, a execução é dividida entre JUDICIAL e EXTRAJUDICIAL. A


execução de título judicial é aquela na qual houve um processo cognitivo anterior à fase
executiva. Já as execuções de título extrajudicial são aquelas nas quais o título não foi produzido
em uma fase anterior do processo; tratam-se de documentos que permitem às partes sua execução
sem terem que passar por uma fase cognitiva anterior, como os Títulos de Crédito.
Como veremos, essa classificação tem consequências nas possibilidades de defesa do réu
à execução.

QUANTO À POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DO TÍTULO

Algumas execuções permitem que a atividade executiva vá adiante ainda que haja
alteração do título; em outros casos, não. Por isso, há divisão em EXECUÇÃO DEFINITIVA e
EXECUÇÃO PROVISÓRIA.
A execução definitiva é aquela baseada em decisão judicial transitada em julgado.
Embora a coisa julgada possa ser desfeita, não há uma tendência a que isso aconteça, de modo
que a execução é definitiva.
Por sua vez, a execução provisória é aquela fundada em título judicial que ainda não
transitou em julgado, estando pendente de recurso. Nesse caso, o título é instável. Essa
instabilidade pode ser maior ou menor, a depender de onde a lide se encontra na cadeia recursal,
mas ela sempre existe. Daí se dizer que a execução é provisória. Quando pode ocorrer a

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execução provisória? Quando o recurso não tem efeito suspensivo. Nesse caso, a decisão
recorrida não é impedida de produzir seus efeitos. Por óbvio, essa execução provisória tem
restrições, justamente porque o título executivo pode ser modificado e eventual modificação
pode trazer consequências ao executado. A execução provisória só avança até certo ponto, não
abrangendo, por exemplo, atos de expropriação patrimonial. Essas restrições estão nos arts. 520 a
522.
Antigamente, a execução provisória só seguia até a penhora, não indo mais adiante.
Agora, já há a possibilidade de, apesar da execução ser provisória, poderem ser realizados atos
de expropriação. Contudo, nesses casos, o exequente tem que prestar caução. O procedimento da
execução provisória para a definitiva não muda tanto; o que muda é a preocupação com os atos
de expropriação.
Cabe a pergunta: a execução de título extrajudicial é definitiva ou provisória? Definitiva.
A execução de título executivo extrajudicial é sempre definitiva. Para os títulos executivos
extrajudiciais, como será visto, os requisitos serão diferentes dos títulos judiciais. Esses títulos
precisarão nascer com esses requisitos para serem executados. Os títulos executivos
extrajudiciais nascem com todos seus requisitos e não se modificam.

QUANTO À NECESSIDADE DE INGRESSO NO PATRIMÔNIO DO EXECUTADO

Quanto a esse critério, a execução se divide em PRÓPRIA e IMPRÓPRIA. A execução


própria é a tradicionalmente denominada de execução forçada. Nesta, há necessidade de adentar-
se no patrimônio do executado. O Estado alcança o patrimônio do executado, pega um bem,
vende esse bem e paga o executante. São hipóteses de sentenças condenatórias e títulos
executivos extrajudiciais.
Já a chamada execução imprópria é aquela que acontece em alguns tipos de sentença em
que não há necessidade de ingresso no patrimônio do executado, mas alguma providência
concreta precisa ser tomada para dar cumprimento à decisão. Essas providências concretas
configuram execução, mas uma execução diferente da forçada, uma vez que não há necessidade
de ingresso no patrimônio do executado. São hipóteses de sentenças declaratórias, constitutivas e
mandamentais, sendo ainda controverso até hoje.

QUANTO AOS MEIOS EXECUTIVOS EMPREGADOS

Por este critério, a execução se divide em DIRETA (SUBROGATÓRIA) e INDIRETA


(COERCITIVA).
A execução direta é aquela que vai empregar meios de subrogação. São meios executivos
que prescindem da participação do executado. Já a execução indireta é aquela na qual a vontade
do executado é relevante para o meio executivo. Quando a vontade do executado é relevante, o
juízo aplica meios executivos diversos, que são os meios de coerção.
Veremos que essa classificação faz cada vez menos sentido. Isso porque, hoje, é muito
comum que, em um mesmo processo executivo, sejam aplicados meios de subrogação e de
coerção simultaneamente. Se antigamente os meios de coerção sempre ficavam à margem dos
meios executórios, hoje em dia, os meios de coerção se aplicam como regra, mesmo em casos
em que a vontade do executado é prescindível. Ainda assim, muitos autores continuam hoje
fazendo a divisão.
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MEIOS EXECUTIVOS

Nos Códigos brasileiros, o legislador sempre falou em meios executivos como espécies
de execução. Há anos isso é criticado. Mesmo assim, veio o CPC de 2015 e fala das espécies de
execução. Quando o CPC fala em espécies de execução, ele está falando dos meios executivos.
Os meios executivos são correlatos: (i) aos bens perseguidos; e (ii) à resistência do executado. Os
meios variam a depender desses dois fatores.
O bem que está sendo buscado pode ser: (i) uma coisa corpórea (corpus); (ii) uma soma
em dinheiro ou coisas passíveis de conversão, ou seja, coisas fungíveis (genus); ou (iii) uma
atividade inatividade (facere ou non facere). Esses diferentes bens perseguidos na execução vão
atrair diferentes meios executivos.
Além disso, se o executado está cooperando, vão ser atrair determinados meios
executivos. Se o devedor é relutante, outros meios executivos entram em cena. Daí a divisão dos
meios executivos em de SUBROGAÇÃO e de COERÇÃO.
Nas execuções de subrogação, o Estado-juiz substitui ou ignora a vontade do devedor,
invade sua esfera patrimonial e procede à execução. É o caso, por exemplo, da imissão na posse,
busca e apreensão, pagamento de quantia...). De outro lado, quando a vontade do executado é
essencial, os meios de coerção são preferidos. Isso ocorre quando o objeto da execução é uma
obrigação de fazer infungível. Um exemplo é quando uma pessoa é contratada para determinado
serviço que ninguém mais pode fazer (contratado por sua características pessoais). Assim,
utilizam-se meios de coerção para buscar a prestação compulsória da obrigação.
Hoje, como dito, o CPC atua no sentido de tentar fornecer ao executante a prestação mais
próxima daquela que ele conseguiria se a obrigação fosse cumprida espontaneamente. É a busca
da tutela específica. Antigamente, os juízos costumavam aceitar a mera conversão em perdas e
danos. Atualmente, isso não é mais tão admitido, buscando-se sempre a tutela específica da
obrigação devida. Daí os meios de subrogação virem perdendo espaço para os meios de coerção.
A conversão em perdas e danos veio perdendo espaço para a coerção ao cumprimento da tutela
específica.

SUBROGAÇÃO

DESAPOSSAMENTO

Trata-se do meio de execução adequado para as obrigações de entregar coisa certa.


Sempre que uma pessoa quer determinado bem que não pode ser substituído por outro, o meio
executivo adequado é o desapossamento.
O desapossamento varia se o bem perseguido é um bem móvel ou imóvel. No caso de
bem móvel, o desapossamento se dá por BUSCA E APREENSÃO. No caso de bem imóvel, o
desapossamento se dá por IMISSÃO NA POSSE.
Isso está em diversos artigos do CPC: Art. 536, §2º; 538; e 806, §2º.

TRANSFORMAÇÃO

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Trata-se do meio executivo adequado para as obrigações de fazer fungível. Nesse caso, o
que se quer é a realização de uma atividade que não é contratada tendo em vista atributos
pessoais do contratado. Nesse caso, quando o devedor está relutante em cumprir e como o fazer
pode ser prestado por terceiros, existe a possibilidade de que o credor apresente ao juízo
orçamentos de outras pessoas as quais ele acredite que tem condições de cumprir a obrigação e
essa pessoa é contratada.
Antigamente, havia uma “mini licitação” para definir como essa escolha era feita. Hoje,
não há mais esse procedimento, de modo que fica à discricionariedade do juiz o modo de
escolha. A antiga lógica era de proteção do executado, ou seja, havia um procedimento quase que
licitatório para proteger o executado. Parece que hoje a execução caminha mais no sentido de
considerar que o executante também possui direitos que devem ser resguardados. Daí porque o
CPC não possuir previsões similares.
A transformação está nos arts. 816ss.

EXPROPRIAÇÃO

A expropriação é o que todo mundo entende mais ou menos como execução. São os
meios adequados para as obrigações pecuniários. O procedimento expropriatório começa pela
afetação de bem do patrimônio do executado, sua venda e, posteriormente, a incorporação do
valor pecuniário ao patrimônio do executante.
Um método de expropriação é o DESCONTO em folha de pagamento. Normalmente,
esse método é muito utilizado para executados que são empregados e são devedores de execução
alimentícia. O juízo remete um ofício ao empregador, que passará a descontar um valor sobre
cada salário que será remetido ao executante. Esse meio é específico de execução alimentícia.
Por que? Porque existe um princípio geral de impenhorabilidade dos salários no Brasil, exceto
para as obrigações de alimento e alguns outros poucos casos. Vincular a execução ao salário é
uma forma de reduzir inadimplência.
Outra forma de expropriação é a ADJUDICAÇÃO (art. 905, I), que é a conversão da
coisa penhorada ao patrimônio do exequente sem intermediação de qualquer tipo de venda
pública. O bem passa direto do patrimônio do executado ao patrimônio do exequente. Hoje, a
adjudicação é o meio de execução preferencial, ou seja, só serão utilizados outros meios se não
for possível a adjudicação (como se o credor não quiser o bem). Essa preferencia se dá pela
adjudicação ser muito mais barata (executado não gasta dinheiro com leiloeiro) e não afeta a
esfera de direito de terceiros (a relação é entre executante e executado).
Não sendo possível a adjudicação, ocorre a ALIENAÇÃO (art. 905, II). Nesse caso,
vende-se o bem do executado para satisfazer o executante. Essa venda é feita em hasta pública.
Antigamente, a hasta pública se dividia em leilão, para bens móveis; e praça para bens imóveis.
Essa diferenciação acabou: aplica-se o leilão tanto para bens móveis quanto para bens imóveis.
No leilão, marca-se uma data, qualquer pessoa pode comparecer, as pessoas dão lances e aquele
que der o maior lance (o arrematante) receberá o bem. O arrematante passa a ser o terceiro que
entra na relação de execução, inclusive com direitos próprios (ele passa a ter a expectativa sobre
o bem). Já o produto da venda (dinheiro apresentado pelo arrematante) é imputado ao pagamento
da dívida.
Outro meio expropriatório é a APROPRIAÇÃO DE FRUTOS E RENDIMENTOS.
Existem bens que dão frutos. Um imóvel alugado, por exemplo, produz um fruto civil: o aluguel.

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Pode, então, não haver uma expropriação do bem em si, mas desses frutos e rendimentos do bem.
Trata-se, muitas vezes, de aplicação do princípio da execução menos gravosa: ao invés de retirar-
se o bem de vez do patrimônio do executado, tiram-se os seus frutos. Esses rendimentos podem
vir também de uma atividade empresarial, quando são expropriados os lucros e dividendos aos
quais teria direito o executado.
Por fim, há ainda a CONSTITUIÇÃO DE RENDA. Quando se condena alguém a
prestação de alimentos em caráter indenizatório, o CPC, já desde o CPC de 1973, permite que o
juiz determina a constituição de um capital que ficará destinado ao pagamento da indenização. A
ideia é evitar que um dos agentes econômicos se descapitalize e se desincumba do pagamento de
determinada quantia. O CPC de 2015 trouxe três mudanças sobre a constituição de renda: (i) ela
não pode mais ser determinada de ofício, devendo ser requerida pela parte; (ii) a constituição de
renda pode se dar sobre direitos reais de imóveis; e (iii) a constituição de renda torna-se um
patrimônio de afetação, ou seja, um destaque patrimonial que não pode ter outro uso senão
aquele para o qual ele foi constituído.

O regramento mais detalhado sobre os meios de expropriação está nos arts. 825ss. O art.
825 prevê: “A expropriação consiste em: I - adjudicação; II - alienação; III - apropriação de
frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens”.
Por sua vez, o art. 826 prevê o fenômeno da REMIÇÃO DA EXECUÇÃO: “Antes de
adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo, remir a execução, pagando
ou consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários
advocatícios”. É caso em que o executado paga o valor da execução. É a chance que ele tem de
não ser expropriado. Não se confunde com a remissão, que é o perdão da dívida.

O CPC trouxe algumas modificações importantes nesse tema. Por exemplo, na


ADJUDICAÇÃO, uma pessoa tem a possibilidade de adquirir aquele bem antes que ele seja
alienado em hasta pública. O adjudicado tem um direito de preferencia sobre a aquisição daquele
bem. Além do executante, outras pessoas podem alienar os bens, e é esse direito de preferência
que está previsto no art. 876, §5º: “Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados no
art. 889, incisos II a VIII, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo
cônjuge, pelo companheiro, pelos descendentes ou pelos ascendentes do executado”.
Essa legitimidade para o “direito de preferência” existe mesmo antes que o exequente
possa adquirir o bem em questão. Antigamente, os parentes do executado não poderiam
adjudicar; poderiam apenas remir. Hoje a ideia se inverteu: podem os parentes do executado
adjudicar o bem. Essa lógica se inverteu porque, antes, a alienação era preferencial à
adjudicação, de modo que, se os parentes quisessem adquirir o bem, eles poderiam participar do
leilão. Hoje, como a adjudicação vem antes da alienação, surge esse direito de preferencia. No
mesmo sentido, não há mais possibilidade dos parentes de remir, já que, caso queiram adquirir os
bens, poderão fazê-lo no momento da adjudicação.
Como vimos também, a adjudicação é um procedimento que visa evitar que o bem
penhorado seja vendido em hasta pública. Mas e se o bem é penhorado, ninguém tem interesse
em adjudicar e, posteriormente, também ninguém tem interesse em alienar. Pelo art. 878, sendo
frustrada a alienação, é possível que haja uma nova adjudicação: “Frustradas as tentativas de
alienação do bem, será reaberta oportunidade para requerimento de adjudicação, caso em que
também se poderá pleitear a realização de nova avaliação”.

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Na sequência da adjudicação, o CPC de 2015 também trouxe mudanças significativas na
ALIENAÇÃO. Como dito, hoje, a hasta pública não é mais a regra, sendo aplicada apenas
quando não for possível a adjudicação. Extrai-se isso do art. 881: “A alienação far-se-á em leilão
judicial se não efetivada a adjudicação ou a alienação por iniciativa particular. §1o O leilão do
bem penhorado será realizado por leiloeiro público. §2o Ressalvados os casos de alienação a
cargo de corretores de bolsa de valores, todos os demais bens serão alienados em leilão
público”.
Além disso, acabou a diferença entre leilão e praça: toda hasta pública é feita por meio de
leilão. A alienação é subsidiária em relação à adjudicação. Dentro da alienação, prefere-se que
esta ocorra por iniciativa particular. Apenas quando isso não for possível é que será feita a
alienação em hasta pública. Essa valorização da alienação pelos particulares foi uma pressão dos
próprios executados, no sentido de exigir uma profissionalização da função do leiloeiro. Quando
essa atividade é exercida por um profissional, normalmente, o leilão consegue ser mais
abrangente, gerando uma maior concorrência que consequentemente resulta em um preço de
alienação maior do bem. Para o executado, a melhor coisa que tem é que o leilão seja o mais
eficiente possível para que o bem seja alienado pelo maior valor possível, de modo que sobre
alguma coisa após saldada a dívida com o executante.
Essa pressão já resultou, no âmbito do CPC de 1973, na previsão da possibilidade de
alienação por iniciativa privada dos bens. Essa alienação particular continuou existindo no CPC
de 2015 e, ao que parece, consagrou-se uma preferência ao leilão realizado em hasta pública,
conduzida por um leiloeiro público. Esse leiloeiro público é considerado um dos auxiliares da
justiça. Mesmo os leiloeiros públicos hoje vivem um movimento de modernização. A ideia,
assim como no leilão por iniciativa privada, é possibilitar a realização mais eficiente do leilão.
Uma das formas de modernização é a valorização de meios eletrônicos para a realização
da hasta pública. Isso ocorre porque, antigamente, com o leilão presencial, era difícil a
participação do maior número possível das pessoas por conta da necessidade de comparecimento
presencial à hasta (normalmente no Fórum) em horários comerciais. Daí o CPC de 2015 ter
consagrado, no art. 882, que, preferencialmente, o leilão será eletrônico: “Não sendo possível a
sua realização por meio eletrônico, o leilão será presencial. §1o A alienação judicial por meio
eletrônico será realizada, observando-se as garantias processuais das partes, de acordo com
regulamentação específica do Conselho Nacional de Justiça. §2o A alienação judicial por meio
eletrônico deverá atender aos requisitos de ampla publicidade, autenticidade e segurança, com
observância das regras estabelecidas na legislação sobre certificação digital. §3o O leilão
presencial será realizado no local designado pelo juiz”. Pela leitura do artigo, percebe-se que o
leilão será presencial apenas quando não puder ser eletrônico.
Antigamente havia também a questão do chamado PREÇO VIL. Considerava-se que o
bem não poderia ser vendido por menos de 50% de seu valor de avaliação, pois isso
caracterizaria preço vil. Porém, isso só ocorria na primeira tentativa de alienação do bem. Caso o
bem não conseguisse ser vendido no primeiro leilão e fosse levado a novo leilão, ele poderia ser
vendido por qualquer preço. A disciplina do preço mudou. Hoje, o art. 885 do CPC assim prevê:
“O juiz da execução estabelecerá o preço mínimo, as condições de pagamento e as garantias
que poderão ser prestadas pelo arrematante”.
Assim, deverá o juiz estabelecer um preço mínimo para o bem e as condições de
pagamento. Antes, não havia essa fixação. Cabe destacar que esse valor instituído com o juiz não

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se confunde com o valor de avaliação (obviamente a tendência é que o valor mínimo seja menor
que o valor de avaliação). Além do preço, deve o juiz estabelecer também as condições de
pagamento. Isso porque é possível que o pagamento do preço se dê em prestações, a critério do
juiz.
Todas as disposições sobre o preço vil são reguladas de modo diferente no CPC de 2015.
Antigamente, o primeiro leilão para alienação de cada bem acabava não tendo qualquer
atendimento, já que, caso se aguardasse o segundo leilão, os preços poderiam ser muito mais
baixos. Como vimos, como forma de combater isso, o art. 885 determinou que o juiz deve
estipular preço mínimo. O art. 891 complementa essa disposição: “Não será aceito lance que
ofereça preço vil. Parágrafo único. Considera-se vil o preço inferior ao mínimo estipulado pelo
juiz e constante do edital, e, não tendo sido fixado preço mínimo, considera-se vil o preço
inferior a cinquenta por cento do valor da avaliação”.
Sobre o disposto no art. 891, cabe destacar que o dispositivo não abre espaço para que,
em leilões em sequência, possa-se abrir mão do preço mínimo. Como regra, o juiz pode fixar um
preço mínimo. Quando houver essa fixação, preço vil é aquele abaixo do estipulado pelo juiz.
Por outro lado, caso o juiz não estipule um preço mínimo, o preço vil será aquele inferior a 50%
do valor de avaliação, independentemente de ser o primeiro leilão ou outros.
Por sua vez, o art. 886 disciplina o edital do leilão e o que deve constar desse edital: “ O
leilão será precedido de publicação de edital, que conterá: I - a descrição do bem penhorado,
com suas características, e, tratando-se de imóvel, sua situação e suas divisas, com remissão à
matrícula e aos registros; II - o valor pelo qual o bem foi avaliado, o preço mínimo pelo qual
poderá ser alienado, as condições de pagamento e, se for o caso, a comissão do leiloeiro
designado; III - o lugar onde estiverem os móveis, os veículos e os semoventes e, tratando-se de
créditos ou direitos, a identificação dos autos do processo em que foram penhorados; IV - o
sítio, na rede mundial de computadores, e o período em que se realizará o leilão, salvo se este se
der de modo presencial, hipótese em que serão indicados o local, o dia e a hora de sua
realização; V - a indicação de local, dia e hora de segundo leilão presencial, para a hipótese de
não haver interessado no primeiro; VI - menção da existência de ônus, recurso ou processo
pendente sobre os bens a serem leiloados. Parágrafo único. No caso de títulos da dívida pública
e de títulos negociados em bolsa, constará do edital o valor da última cotação”.
O CPC traz diversas previsões dizendo que o CNJ deverá manter uma plataforma de
edital. Logo, preferencialmente, deve o edital ser publicado na rede mundial de computadores, o
que reduz muito seu custo, já que, antigamente, deveria o edital ser publicado em jornal de
grande circulação. Por isso, antigamente, havia uma previsão de que o edital pode ser dispensado
em caso de bens de pequeno valor. Como o custo do edital foi reduzido muito por conta da
internet, essa previsão não existe mais.
Além disso, o CPC traz previsões específicas de publicação a depender do bem que está
sendo levado a leilão. Por exemplo, caso se trate de leilão de carros, o art. 887, §5º, exige seja o
edital do leilão publicado em cadernos especializados sobre o tema: “Os editais de leilão de
imóveis e de veículos automotores serão publicados pela imprensa ou por outros meios de
divulgação, preferencialmente na seção ou no local reservados à publicidade dos respectivos
negócios”.
O art. 887, §6º, permite uma reunião para publicações de editais de leilões, ainda que
referentes a execuções diferentes tramitando em varas diferentes. A ideia é reduzir custos. Muitas
podem ser as formas de reunião dos editais. Um exemplo é fazer uma publicação com todos os

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editais de leilões dos bens de determinada empresa (quando ela tiver muitos bens penhorados).
Nos termos do art. 887, §6º: “O juiz poderá determinar a reunião de publicações em listas
referentes a mais de uma execução”.
O art. 889 vai determinar quem são os sujeitos que devem ser intimados do edital.
Quando o executado for revel, não há necessidade da publicação de dois editais: o edital do
leilão vale como edital de citação. Nos termos do art. 889: “Serão cientificados da alienação
judicial, com pelo menos 5 (cinco) dias de antecedência: I - o executado, por meio de seu
advogado ou, se não tiver procurador constituído nos autos, por carta registrada, mandado,
edital ou outro meio idôneo; II - o coproprietário de bem indivisível do qual tenha sido
penhorada fração ideal; III - o titular de usufruto, uso, habitação, enfiteuse, direito de
superfície, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso,
quando a penhora recair sobre bem gravado com tais direitos reais; IV - o proprietário do
terreno submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para
fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos
reais; V - o credor pignoratício, hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora
anteriormente averbada, quando a penhora recair sobre bens com tais gravames, caso não seja
o credor, de qualquer modo, parte na execução; VI - o promitente comprador, quando a penhora
recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada; VII - o
promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de
compra e venda registrada; VIII - a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem
tombado. Parágrafo único. Se o executado for revel e não tiver advogado constituído, não
constando dos autos seu endereço atual ou, ainda, não sendo ele encontrado no endereço
constante do processo, a intimação considerar-se-á feita por meio do próprio edital de leilão”.
O art. 890 vai tratar da legitimidade para arrematar: “Pode oferecer lance quem estiver na
livre administração de seus bens, com exceção: I - dos tutores, dos curadores, dos
testamenteiros, dos administradores ou dos liquidantes, quanto aos bens confiados à sua guarda
e à sua responsabilidade; II - dos mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou
alienação estejam encarregados; III - do juiz, do membro do Ministério Público e da Defensoria
Pública, do escrivão, do chefe de secretaria e dos demais servidores e auxiliares da justiça, em
relação aos bens e direitos objeto de alienação na localidade onde servirem ou a que se estender
a sua autoridade; IV - dos servidores públicos em geral, quanto aos bens ou aos direitos da
pessoa jurídica a que servirem ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; V - dos
leiloeiros e seus prepostos, quanto aos bens de cuja venda estejam encarregados; VI - dos
advogados de qualquer das partes”.
Pelo art. 892, o pagamento pode ser efetuado por meio eletrônico. Além disso, o §2º do
mesmo dispositivo traz um direito de preferencia a alguns personagens, como parentes, em caso
de igualdade de ofertas. Nos termos do art. 892: “Salvo pronunciamento judicial em sentido
diverso, o pagamento deverá ser realizado de imediato pelo arrematante, por depósito judicial
ou por meio eletrônico. §1o Se o exequente arrematar os bens e for o único credor, não estará
obrigado a exibir o preço, mas, se o valor dos bens exceder ao seu crédito, depositará, dentro de
3 (três) dias, a diferença, sob pena de tornar-se sem efeito a arrematação, e, nesse caso,
realizar-se-á novo leilão, à custa do exequente. §2o Se houver mais de um pretendente,
proceder-se-á entre eles à licitação, e, no caso de igualdade de oferta, terá preferência o
cônjuge, o companheiro, o descendente ou o ascendente do executado, nessa ordem. §3o No

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caso de leilão de bem tombado, a União, os Estados e os Municípios terão, nessa ordem, o
direito de preferência na arrematação, em igualdade de oferta”.
Antigamente, como mencionado, o arremate à prestação era permitido apenas sobre bens
imóveis, como forma de criar uma garantia contra o arrematante que dizia que iria pagar em
prestações e “sumia”. Hoje, admite-se o pagamento em prestação da arrematação de qualquer
bem, a critério do juiz. Do valor total, a lei prevê que, no mínimo, 25% do valor de arrematação
deverá ser pago à vista. Além disso, o restante deve ser pago em até 30 vezes. Essas previsões
estão no art. 895. Cabe destacar que essas propostas devem ser apresentadas antes do início do
leilão. Isso evita que os demais participantes do leilão sejam “pegos de surpresa” por uma
proposta que pensam ser a vista e na realidade é por prestações. Além disso, permite que
verifique-se, a priori, qual a melhor oferta, para caso de empate ou de alguns dispositivos, como
o §2º do art. 892 acima citado.
O art. 902 trata do leilão de bem hipotecado. Trata-se de dispositivo que se aplica quando
for penhorado bem hipotecado. Nesse caso, o executado tem direito de remir o bem, oferecendo
preço igual ou maior do que o lance vencedor. Qual a diferença dessa remição para aquela vista
como meio de execução? No primeiro caso, a execução é extinta, pois o valor foi pago. No
segundo caso, a execução continua, mas o executado paga para extinguir a hipoteca que grava
seu bem. Logo, essa remição do art. 902 trata do caso em que o executado tem interesse em
extinguir a hipoteca sobre seus bens: “No caso de leilão de bem hipotecado, o executado poderá
remi-lo até a assinatura do auto de arrematação, oferecendo preço igual ao do maior lance
oferecido. Parágrafo único. No caso de falência ou insolvência do devedor hipotecário, o direito
de remição previsto no caput defere-se à massa ou aos credores em concurso, não podendo o
exequente recusar o preço da avaliação do imóvel”.
O art. 903 vai tratar do controle da arrematação. Antes, esse controle era feito por meio
de Embargos à Arrematação, o que acabou no CPC de 2015. No novo Código, esse controle
pode ser feito por petição autônoma, a depender do vício em questão, ou por ação autônoma.
Pelo art. 518, existe a possibilidade de vícios serem arguidos nos próprios autos sem necessidade
de ação autônoma. Além dessa possibilidade de discutir vícios por mera petição, o §4º do art.
903 trata de ação autônoma para discussão de vícios da arrematação: “Após a expedição da carta
de arrematação ou da ordem de entrega, a invalidação da arrematação poderá ser pleiteada por
ação autônoma, em cujo processo o arrematante figurará como litisconsorte necessário”.
Pelo art. 903, a arrematação é considerada perfeita, acabada e irretratável, mesmo que
sejam julgados procedentes os Embargos à Execução. O adquirente do bem executado é
protegido. A arrematação não é desfeita, via de regra. Isso é uma segurança ao arrematante. Tudo
se resolve em perdas e danos. Porém, o §1º desse dispositivo traz os casos em que a arrematação
conterá vícios que resultarão em seu desfazimento, nos seguintes termos: “Ressalvadas outras
situações previstas neste Código, a arrematação poderá, no entanto, ser: I - invalidada, quando
realizada por preço vil ou com outro vício; II - considerada ineficaz, se não observado o
disposto no art. 804; III - resolvida, se não for pago o preço ou se não for prestada a caução”.
O §4º do art. 903 parece gerar uma contradição com seu caput. Isso porque o caput diz
que a arrematação é perfeita, a fim de proteger o arrematante, mas o §4º trata de uma ação
autônoma que, em tese, pode invalidar a arrematação. Como conciliar esses dispositivos? Ao que
parece, é preciso levar em conta qual o tipo de vício. Quando houver um vício insanável, como o
vício de ilegitimidade, é possível a anulação da arrematação pela ação autônoma. Quando, por
outro lado, houver um vício menos grave, como a aquisição do bem por preço vil, não há

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necessidade de desfazimento da arrematação, visto que a questão pode ser resolvida em perdas e
danos.
O art. 903, §5º, trata das hipóteses em que o arrematante poderá desistir da arrematação:
“O arrematante poderá desistir da arrematação, sendo-lhe imediatamente devolvido o depósito
que tiver feito: I - se provar, nos 10 (dez) dias seguintes, a existência de ônus real ou gravame
não mencionado no edital; II - se, antes de expedida a carta de arrematação ou a ordem de
entrega, o executado alegar alguma das situações previstas no §1o; III - uma vez citado para
responder a ação autônoma de que trata o §4o deste artigo, desde que apresente a desistência
no prazo de que dispõe para responder a essa ação”. Trata-se de um direito postestativo do
arrematante em desistir da arrematação. Isso ocorre quando, por exemplo, quando há a compra
de bens que não estavam descritos em todas as suas características; ou quando houver uma
discussão sobre os vícios do bem.
Já o art. 903, §6º, prevê a aplicação de multa para qualquer um que faças alegações no
sentido de forçar ou conduzir o arrematante à desistência da arrematação. A ideia é evitar
alegações temerárias de vícios: “Considera-se ato atentatório à dignidade da justiça a
suscitação infundada de vício com o objetivo de ensejar a desistência do arrematante, devendo o
suscitante ser condenado, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos, ao pagamento
de multa, a ser fixada pelo juiz e devida ao exequente, em montante não superior a vinte por
cento do valor atualizado do bem”.

O art. 905 traz uma proteção em caso de CONCURSO DE CREDORES, não sendo
específico de qualquer meio de execução. Nos seus termos: “O juiz autorizará que o exequente
levante, até a satisfação integral de seu crédito, o dinheiro depositado para segurar o juízo ou o
produto dos bens alienados, bem como do faturamento de empresa ou de outros frutos e
rendimentos de coisas ou empresas penhoradas, quando: I - a execução for movida só a
benefício do exequente singular, a quem, por força da penhora, cabe o direito de preferência
sobre os bens penhorados e alienados; II - não houver sobre os bens alienados outros
privilégios ou preferências instituídos anteriormente à penhora. Parágrafo único. Durante o
plantão judiciário, veda-se a concessão de pedidos de levantamento de importância em dinheiro
ou valores ou de liberação de bens apreendidos”.
Proteção no caso de concurso de credores. É possível que o mesmo bem responda por
vários créditos. Por isso, no levantamento de quantia, juízo deve ter cuidado. Há certas
preferencias. Créditos trabalhistas se pagam primeiro; depois créditos fiscais (primeiro união,
depois estados e depois municípios); depois quando bens hipotecados ou penhorados; e depois
créditos quirografários. Isso pode estar reunido em uma recuperação judicial ou falência; ou ficar
pulverizado em várias execuções, cabendo ao exequente evitar que se perca essa preferência. A
primeira penhora gera preferência quando créditos do mesmo tipo.
O §único desse art. 905 trouxe uma regra muito importante. Antigamente, era comum que
utiliza-se o plantão do judiciário para pedidos de levantamento de importância, inclusive
surpreendendo a parte executante (o executado pedia a liberação de seus valores). Hoje, com o
CPC de 2015, isso foi vetado. Agora, não há mais a possibilidade de levantamento de
importância em dinheiro ou valores ou liberação de bens apreendidos em sede de plantão do
judiciário.

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COERÇÃO

Meios de coerção, como visto, são meios executivos, mas que não se enquadram na ideia
tradicional de ingresso direto no patrimônio do executado. Nesse caso, o cumprimento é
coercitivo, mas voluntário. Ser voluntário não se confunde com ser espontâneo.
Os meios de coerção se dividem em dois grupos: (i) meios de coerção PESSOAL, que
vão impor constrições contra a própria pessoa do executado de maneira a pressionar pelo
cumprimento da obrigação; e (ii) meios de coerção PATRIMONIAL, que impõe constrições
sobre o patrimônio do executado.
Nos países democráticos, os meios de coerção pessoal costumam se limitar à prisão civil.
No Brasil, a prisão civil é admitida como forma de coerção para pagamento de obrigação de
alimentos. Antigamente, aqui, também havia a possibilidade de prisão civil do depositário infiel.
Outros países possuem outros meios de coerção pessoal. A Rússia, por exemplo, possui uma
espécie de banimento para o não pagamento de algumas dívidas.
Por outro lado, temos os meios de coerção patrimonial. O meio mais comum são as
multas. As multas como meio de coerção podem ser cumuladas com a aplicação de multas de
litigância de má-fé. A multa imposta como meio de coerção tem como objetivo pressionar para
adoção de uma conduta futura (o cumprimento da obrigação); a multa por litigância de má-fé é
uma punição por um ato já praticado (no caso, a litigância de má-fé).
Na Idade Média, os meios de coerção era praticamente todos pessoais e muito
rudimentares, consistindo principalmente em castigos físicos. Com a visão do liberalismo,
vedou-se completamente a possibilidade de coerção pessoal. Contudo, essa vedação do
liberalismo acabou resultando na frustração de diversas execuções, o que resulta, atualmente, na
convivência das duas formas de execução: pessoal e patrimonial.
Existem, assim, vários regimes diferentes de meios de coerção. O mais comum é o
regime das astreintes. Trata-se de tipo de multa sem limitação temporal ou valorativa para
compelir o executado ao cumprimento de determinada obrigação. Tanto o tempo de aplicação
quanto o valor da multa podem ser majorados, a depender da conduta do executado. Essa falta de
limites é criticada por uma parte da doutrina e da jurisprudência, uma vez que era possível que a
astreinte gerasse uma multa superior ao valor executado.
Com isso, houve inclusive esforços no sentido de limitar a aplicação das astreintes.
Contudo, essa não parece ser a melhor solução. A astreinte tem uma função pública, que é a
prerrogativa estatal de fazer cumprir suas determinações, ou seja, as astreintes têm fundamento
não em eventual contrato, mas no poder estatal da coercio. Por isso, ela não pode ficar vinculada
a uma limitação de valor. A contradição é que, no Brasil, o valor arrecadado com essa
prerrogativa estatal reverte-se em favor do ente privado, que é a parte executante, de modo que
ocorrer acusações de enriquecimento sem causa.
Um outro regime, como o alemão, é um regime misto no qual existe a aplicação de multa
e, em caso de descumprimento, a prisão do devedor. Tanto a multa, quanto a prisão, no regime
alemão, são limitados. Outro regime ainda é o de “juros sobre juros” acima do limite legal, ou
seja, o devedor é compelido ao pagamento sob pena de correrem juros muito maiores. Também
destaca-se o contempt of court, considerando o não pagamento como uma espécie de desacato ao
judiciário (uma desobediência) que enseja a prisão por desacato. Este último regime é adotado
principalmente nos Estados Unidos.

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PRISÃO CIVIL

O art. 5º da Constituição somente autoriza a prisão civil do: (i) depositário infiel; e (ii) do
devedor de prestação de alimentos. A ideia é que esse meio de coerção restrit a situações
excepcionais e mais sensíveis.
Porém, o STF declarou inconstitucional a prisão civil do depositário infiel, seguindo a
linha do direito internacional. Decisões vieram em meados de 2005 e 2006 quando STF afirmou
que no caso do depositário infiel, há outros meios para que o credor possa obter o pagamento da
quantia, sem necessidade da prisão. A argumentação do STF se deu com base no princípio da
proporcionalidade de proibição do excesso, entendendo que o meio para obtenção daquele
resultado era demais gravoso.
O Art. 5º da Constituição autoriza o legislador infraconstitucional a permitir a prisão civil
nessas únicas hipóteses. Ele não expressamente determina que haja a prisão, de modo que o STF
não incorreu em erro ou julgou inconstitucional uma determinação expressa da Constituição
Federal, o que seria, evidentemente, impossível. Diante do manifesto excesso caracterizado pela
prisão do depositário infiel (especialmente considerando que os maiores interessados seriam as
instituições bancárias, em hipótese alguma hipossuficientes), o STF entendeu pela
inconstitucionalidade do dispositivo.
A Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/68) já previa essa possibilidade de prisão civil em seu
art. 19, mesmo antes do CPC de 1973. Havia discussão pelo tempo de prisão porque lei de
alimentos não dava esse tempo. Legislação infraconstitucional já previa e CF apenas autorizou
nessas 2 hipóteses.
Surgiu discussão se essa parte do art. 5º teria sido revogada pelo Pacto San Jose da Costa
Rica em meio a discussão de entrada de convenções internacionais como norma constitucional.
Dizia-se que art. 5º da Constituição teria sido revogado para depositário infiel por conta do
referido tratado. Isso era uma discussão evolvendo a hierarquia de tratados internacionais face à
Constituição e as normas infraconstitucionais. O STF decidiu que não poderia haver prisão do
depositário infiel. Essa discussão existiu porque o Pacto San José foi antes do § 3º ao art. 5º da
CF, acrescentado em 2004, e depois da CF.
O Min. Peluzzo entendeu que no caso da alienação fiduciária, não correspondia
propriamente um deposito pois no caso do deposito o contrato não permite que depositário use o
bem. Então na alienação fiduciária não é ação de deposito então ação de cobrança não poderia
ser convertida em ação de deposito. Entre decisão do STF e 2006 havia essa discussão sobre essa
conversão.
Em 2006, o art. 666 do CPC de 1973 foi modificado. Se houver efetivamente um
depósito, sujeito poderia ser preso? Novamente STF se manifestou e decidiu pela
inconstitucionalidade. Disse que em qualquer caso existem meios menos gravosos e tão efetivos
quanto para credor obter crédito, confirmando a inconstitucionalidade da prisão do depositário
infiel, inclusive pela Súmula Vinculante nº 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel,
qualquer que seja a modalidade de depósito”. Qualquer que seja a modalidade do depósito, não
será possível a prisão civil.

CONTEMPT OF COURT

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O contempt of court é caracterizado quando a parte tem conduta que desacata ou
desobedece o judiciário. Se parte toma conduta considerada desobediente, o juiz pode reputar
como desacato e se parte continuar, pode mandar prender ou impor por multas severas. Trata-se
de meio de coerção prisional que permite o encarceramento em razão de desacato à autoridade
judicial. É muito comum no sistema do common law e funciona como mecanismo de vedação a
condutas desrespeitosas à jurisdição. Alguns autores brasileiros defendem a aplicabilidade do
instituto como forma de vedar comportamentos atentatórios à dignidade da justiça.
O judiciário adverte de que uma conduta pode ser considerada um desacato e se sujeito
continuar a conduta, pode ser preso. É prisão para forçar um tipo de comportamento muito
comum no common law. Ada Pellegrini e muitos autores defenderam o contempt of court para
reprimir condutas atentatórias à dignidade de justiça. Quando se fala em boa-fé no processo, a
disciplina da má-fé processual divide-se em: (i) atos de litigância de má-fé; e (ii) atos
atentatórios à dignidade de justiça.
Em 2014 o CPC de 1973 foi modificado permitindo multas por desobediência inclusive à
pessoa do advogado. Isso mostra que o legislador via o advogado como sujeito autônomo e a
multa poderia ser imposta a ele também, o que não é muito frequente, já que o advogado
raramente é visto como sujeito autônomo no processo, sendo normalmente vinculado à parte que
defende. Então começou-se a discutir se poderia haver prisão, a concretude do direito americano,
para reprimir atos atentatórios à dignidade de justiça.
Duas correntes surgiram nesse contexto. A primeira relaciona o contempt of court ao
crime de desobediência, art. 330 do CP, segundo a qual o juiz poderia determinar a prisão do
jurisdicionado caso este desobedecesse ordens mandamentais do magistrado. Por sua vez, a
segunda dialoga com o crime de desacato (art. 331 do CP), entendendo que, para que fique
caracterizado o crime de desacato, deve ocorrer o desrespeito à autoridade judicial no âmbito do
descumprimento de uma determinação judicial. Desacato é mais difícil porque deve estar
caracterizada a ofensa relacionada ao desrespeito a uma decisão judicial, por isso, não seguiu
muito adiante esse entendimento.
O problema de ambas essas linhas de argumentação é que não há como relacionar o
contempt of court com esses tipos penais, já que sequer haveria a necessidade de discussão
acerca da viabilidade de eventual prisão civil, na medida em que eles já preveem prisão penal em
flagrante. A discussão fica vazia, sem objeto. Ou seja: as correntes acabam prevendo formas de
prisão penal; não civil, não sendo contempt of court.
Sobre a desobediência houve alguns percalços porque grande parte dos descumprimentos
da decisão judicial no brasil é do poder público e desobediência é crime do particular contra a
administração públoca. O maior responsável pelo descumprimento de decisões judicias no Brasil
é o próprio Estado, o que consubstancia crime de prevaricação (art. 319 do CP). O problema é o
elemento subjetivo do tipo penal, “satisfazer interesse pessoal”, o que praticamente impossibilita
a prisão em razão da incidência nesse tipo penal. A diferença entre esses dois tipos afastou a
possibilidade de prisão pelo descumprimento de decisão judicial, já que os maiores
descumpridores eram funcionário públicos, o que fazia necessário ser caracterizado o crime de
prevaricação, o que nunca ocorria em razão da inexistência do elemento subjetivo,
diferentemente do crime de desobediência.
O STF (no julgamento do HC nº 86.254) afirmou que o não cumprimento de astreintes ou
de outra ordem judicial não configura o crime previsto no art. 330. A partir daí o Tribunal
afastou a possibilidade de aplicação do contempt of court.

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AMPLITUDE PARA APLICAÇÃO DOS MEIOS COERCITIVOS

O art. 139, IV, do CPC tem redação ampla e fala sobre medidas do coerção e de indução,
que é o discutido no bloqueio do whastapp e retenção de carteira de motorista. Nos termos do
dispositivo: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
(...) IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias
necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por
objeto prestação pecuniária (...)”.
Este inciso representa uma evolução nos termos de coerção. A lógica tradicional era que
a divisão em meios de subrogação e coerção se dava pela relutância do executado em cumprir.
Logo se vontade prescindível, poderia buscar bens no seu patrimônio para pagar o credor. A
evolução foi no sentido de que meios de coerção também servem para pagamento de prestação
pecuniária. Clausula geral do art. 139, IV, do CPC colocou que pode também se aplicar a
prestações pecuniárias para não ter dúvida.
Os meios de coerção no novo CPC não são apenas cabíveis nas hipóteses de obrigação de
fazer infungíveis. Anteriormente, fora das obrigações de fazer infungíveis, não seriam aplicáveis
os meios de coerção, mas tão somente aqueles de sub-rogação. Isso ocorria porque a aplicação
dos meios era questão de cabimento, de adequação dos meios a cada obrigação. A evolução no
Direito foi no sentido de que os meios de coerção também são cabíveis nas hipóteses de
pagamento de valor pecuniário, com o objetivo de forçar o pagamento, não sendo mais
excepcionais.
O art. 536 também trouxe esse tópico dos poderes do juiz: “No cumprimento de sentença
que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou
a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. § 1o Para
atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de
multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o
impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força
policial”.
O sujeito que tem dívida, por exemplo, não deveria poder pegar um empréstimo bancário
para se endividar mais ainda. Deveria juiz dar ordem de que enquanto não quitar essa divida não
possa adquirir novas dívidas. Também deveria ser vedada a participação em licitação, é Estado
reconhece que não são aptas.
Quando lei não for clara sobre qual meio de coerção que incide, sendo sua fixação e
escolha feita por decisão judicial, o juiz deve fundamentar especificamente a escolha. O juiz
deve dizer porque está escolhendo uma medida e não outra porque existe uma compreensão
velada de que medida de coerção natural é a multa pecuniária, quando na verdade a multa é uma
medida coercitiva que pode ser aplicada como varias outras. Deveria ser justificada, mas não é.
Existe um entendimento predominante de que a multa é a medida em regra a ser aplicada
em todas as hipóteses. Todavia, a escolha do meio de coerção deve ser fundamentado pelo
magistrado, especialmente tendo em vista que por diversas vezes a pena de multa se mostra
ineficaz. Não há dispositivo que a defina como a medida a ser adotada via de regra e a priori (art.
537 do CPC c/c art. 489, §1º). Os dois dispositivos mencionados devem ser interpretados

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sistematicamente para impor um dever de fundamentação do juiz ao escolher a multa como meio
de coerção, inclusive justificando o valor e a periodicidade determinadas.
Nos termos do mencionado art. 537: “A multa independe de requerimento da parte e
poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de
execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo
razoável para cumprimento do preceito. §1o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento,
modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que: I - se
tornou insuficiente ou excessiva; II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente
da obrigação ou justa causa para o descumprimento. §2o O valor da multa será devido ao
exequente. §3o A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser
depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença
favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos incisos II ou III do art. 1.042. §4o A
multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá
enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. §5o O disposto neste artigo aplica-
se, no que couber, ao cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de
natureza não obrigacional”.
Esse dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o art. 489, §1º, que fala da
fundamentação das decisões judiciais.

PROTESTOS DE SENTENÇA

Ainda no campo dos meios de coerção, o NCPC trouxe avanços em relação à disciplina
existente na legislação anterior. O primeiro deles é o protesto de sentença, previsto no art. 517:
“A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois
de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523. §1o Para efetivar o
protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão. §2o A certidão de teor
da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a qualificação do
exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo
para pagamento voluntário. §3o O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar
a decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da
propositura da ação à margem do título protestado. §4o A requerimento do executado, o
protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no
prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a
satisfação integral da obrigação”.
A Lei do Protesto autorizava o protesto já à época do CPC de 1973, tenso sido alterada
para que Fazenda Pública pudesse protestar em vez de apenas executar. A Fazenda prefere não
executar porque processo custa mais caro para o Estado do que não cobrar. Assim, a Fazenda
Pública inscreve em dívida ativa e protesta; ou pode pegar a sentença em que há credito
reconhecido e protestar. Isso ocorre quando créditos menores.
Normalmente, o protesto leva à restrição em pedir crédito, etc., o que faz com que sujeito
tenha interesse em pagar. São mecanismos de execução direta que não eram previstos no CPC de
1973. O NCPC trouxe previsão expressa nesse sentido.
O protesto somente pode ser realizado após o cumprimento do prazo para adimplemento
voluntário da obrigação. Atentar para a menção ao trânsito em julgado da decisão. Caso haja

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ação rescisória em curso, isso pode ser anotado no cartório de protestos para demonstrar que a
pessoa não é um caloteiro, mas que existe uma dúvida sobre aquela dívida.

INSERIR O NOME DO EXECUTADO EM CADASTRO DE INADIMPLENETES

Essa última hipótese que será vista dos meios de coerção está no art. 782, §§3º, 4º e 5º, do
CPC, que prevê: “§3º A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do
executado em cadastros de inadimplentes. §4º A inscrição será cancelada imediatamente se for
efetuado o pagamento, se for garantida a execução ou se a execução for extinta por qualquer
outro motivo. §5º O disposto nos §§ 3º e 4º aplica-se à execução definitiva de título judicial”.
O referido § 5º se aplica também depois de transito em julgado. A restrição é para evitar
que decisões provisórias possam levar a uma vingança de serem protestados os títulos antes de
que questão seja decidida definitivamente pelo judiciário.
PRESSUPOSTOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Normalmente, falamos em dois pressupostos da execução: (i) INADIMPLEMENTO


(pressuposto de fato); e (ii) TÍTULO EXECUTIVO (pressuposto de direito).
Esses pressupostos podem ser extraídos do art. 786: “A execução pode ser instaurada
caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título
executivo. Parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito
exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título”. Ve-se que o dispositivo fala
em “título” e em “não satisfação” de uma obrigação.

INADIMPLEMENTO

Há uma controvérsia teórica sobre se o inadimplemento é realmente um pressuposto à


execução. Essa divergência fazia sentido porque ela estava relacionada ao que é o mérito na
execução, ou seja, o que será apreciado e julgado pelo juiz na execução. Como vimos,
antigamente havia o processo de execução como processo autônomo (separado do de
conhecimento) e, em paralelo, um processo autônomo de defesa do executado, que era os
embargos do executado. A ideia de todas essas separações era “limpar” o processo executivo de
qualquer cognição.
Por isso, para muitos autores, sequer havia um objeto (um mérito) na execução. Caso
houvesse um mérito na execução, ele seria apreciado em sede de embargos; não no processo
executivo. Qualquer que fosse o mérito da execução, então, ele não seria apreciado dentro do
processo executivo, mas em sede de embargos.
Se existe algum mérito na execução, esse mérito tem a ver com a existência ou não de um
crédito. Para se dizer se existe ou não um crédito, é preciso analisar o adimplemento, uma vez
que, havendo o adimplemento, não há crédito (o adimplemento é uma forma de extinção das
obrigações). Por isso, para diversos autores, o inadimplemento não é pressuposto da execução;
mas sim uma questão de mérito. O adimplemento e o inadimplemento são questões de mérito.

O art. 787 assim prevê: “Se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação senão
mediante a contraprestação do credor, este deverá provar que a adimpliu ao requerer a

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execução, sob pena de extinção do processo. Parágrafo único. O executado poderá eximir-se da
obrigação, depositando em juízo a prestação ou a coisa, caso em que o juiz não permitirá que o
credor a receba sem cumprir a contraprestação que lhe tocar”. Esse dispositivo trata de casos
em que uma pessoa só é obrigada a cumprir sua obrigação após o cumprimento da obrigação da
outra parte. São casos de obrigações sucessivas. Nesse caso, é necessário a prova de que a
primeira obrigação foi cumprida para que a segunda seja exigida. Só haverá inadimplemento da
segunda obrigação caso seja comprovado que a primeira foi cumprida.
Existe uma questão também sobre o INADIMPLEMENTO FORTUITO. Se o
inadimplemento é fortuito, a obrigação se resolve. Nesse caso, não há culpa pelo inadimplemento
e, portanto, não há exequibilidade (não é possível executar o título).
E se o adimplemento for ruim, ou seja, houver vícios no inadimplemento? Isso está no
art. 788: “O credor não poderá iniciar a execução ou nela prosseguir se o devedor cumprir a
obrigação, mas poderá recusar o recebimento da prestação se ela não corresponder ao direito
ou à obrigação estabelecidos no título executivo, caso em que poderá requerer a execução
forçada, ressalvado ao devedor o direito de embargá-la”. Logo, havendo inadimplemento
viciado, é possível a execução. Isso se relaciona com a ideia de inadimplemento total e parcial.
Cabe destacar que existem obrigações que não comportam um inadimplemento relativo. Um
exemplo é o da obrigação de não fazer, na qual qualquer atitude de quebra desse “não fazer” é
um inadimplemento total.

Há também a questão do chamado INADIMPLEMENTO ANTECIPADO DO


CONTRATO (antecipatory breach). A princípio, o termo marca inadimplemento e mora, ou
seja, o devedor tem até o termo para cumprir. Se foi dado ao devedor um prazo para cumprir, ele
não pode ser considerado inadimplente ou em mora antes do prazo; essa é a ideia. O termo então
é o marco executivo: antes do termo, não há exigibilidade do título, pois não é possível dizer que
houve inadimplemento.
Porém, existem situações em que, apesar de haver um prazo para cumprimento, o
contrato envolve a exigência de uma preparação, por parte do devedor, para o adimplemento.
São casos normalmente que envolvem questões tecnológicas, nas quais o devedor precisa de todo
um “know-how” para cumprir o contrato. Nesse sentido, é possível que, antes do termo, possa
ser demonstrado que já houve um adimplemento. Mostra-se que o cumprimento da obrigação é
impossível ou improvável, ainda que haja prazo. É importante, aqui, que se olhe para obrigação e
se verifique se a pessoa pode cumprir ou não, ainda que não advindo o termo.
Se trouxermos isso para o processo de execução, isso vai interferir na exequibilidade do
título, uma vez que o adimplemento pode ser comprovado mesmo antes da chegada do termo
final.

TÍTULO EXECUTIVO

Para os que entendem que o inadimplemento é o mérito da execução, este é o único


pressuposto da execução.
O título executivo surgiu, historicamente, com as necessidades do comércio. Ainda antes
da revolução industrial, quando os burgos começaram a se desenvolver, o comércio se tornou
uma atividade muito lucrativa. Contudo, havia uma dificuldade muito grande no transporte de

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riquezas. Havia, então, essa dicotomia: uma necessidade de desenvolvimento do comércio; mas
uma dificuldade do transporte de riquezas por conta da insegurança nas estradas.
Por conta disso, pensou-se, engenhosamente, que um papel poderia representar riqueza.
Daí surgiram também os bancos, que passaram a emitir títulos de crédito que equivaliam a
determinadas riquezas representadas nesses títulos. O título executivo, então, surgiu como uma
ideia engenhosa de transportar riquezas com mais segurança. Esse título, que era um documento
em papel que permitia a execução, passou a agilizar as cobranças judiciais.
Com isso, o comércio conseguiu ser incentivado. O título passou a permitir a cobrança
dos créditos mediante mera apresentação do título. Nessa gênese, o título executivo passou a
representar também uma garantia para os indivíduos. Uma pessoa só poderia ser executada pelo
estado caso fosse apresentado um título (um papel) que tivesse aquela força. Esse papel poderia
ser extrajudicial ou uma sentença. Surgiu essa cultura de só permitir a execução caso houvesse
um papel que estabelecesse os limites dessa execução.

NATUREZA JURÍDICA DO TÍTULO EXECUTIVO

Sobre a natureza do título, uma parte da doutrina dizia que o título executivo faz prova do
crédito. Haveria, assim, uma NATUREZA PROBATÓRIA do título. O título unia o direito ao
crédito. Essa posição foi muito criticada por ser concretista: quem tem a ação executiva é
necessariamente quem tem o direito material subjacente. Isso não é verdade. Nem sempre o
exequente é o credor. É possível que o exequente esteja cobrando uma dívida prescrita. Ou ainda
esteja cobrando mais do que tem direito. O credor não é necessariamente o exequente, como já
foi falado.
Por outro lado, outra parte da doutrina vai dizer que a execução tem uma NATUREZA
SANCIONATÓRIA. Como a execução vem de uma sentença condenatória, o título executivo
veicula a efetividade daquela sanção. Essa sanção poderia vir de uma decisão judicial; ou de uma
previsão legal. Essa parte da doutrina rejeitava a tese do título com natureza probatória com base
na teoria dos títulos de crédito. Isso porque, via de regra, os títulos de crédito são abstratos.
Se olharmos essas duas teorias, vemos que ambas são complementares. Nenhum dos dois
está completamente com a razão. A primeira teoria compreende o valor documental do título,
confundindo prova e forma. O que os defensores dessa primeira doutrina queriam salientar é que
o título tem uma forma documental que ser (na maior parte das vezes) como prova. A forma do
título como documento é essencial. Por isso que a segunda teoria também não serve em sua
plenitude. Isso porque seus defensores esquecem da existência do título executivo extrajudicial:
nesses casos, não há sanção anterior. O título executivo, então, assume essa função por ser
documento.
Nesse debate, é importante ver que o título executivo tem duas dimensões (planos): (i)
um material; e (ii) outro processual. No PLANO MATERIAL, o título executivo traz uma
declaração relativa de certeza: ele permite uma conclusão com alta probabilidade da certeza do
crédito. Em decorrência disso, não há uma cognição acentuada sobre o crédito consubstanciado
no título. O juízo de admissibilidade não será acentuado em vista do alto grau de probabilidade
de existência do crédito que o título permite. Admite-se esse juízo menos rigoroso por conta do
alto grau de probabilidade.

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Já no PLANO PROCESSUAL, o título é um documento. É um documento formal. Para
alguns, trata-se até de um documento público, o que o professor discorda. Não há dúvidas de que
é um documento formal: caso não atenda os requisitos legais, o título extrajudicial não produz os
efeitos que dele se espera; a formalidade é essencial.

EFICÁCIA DO TÍTULO EXECUTIVO

O título executivo tem, como se chama na prática, uma eficácia abstrata. Ele tem uma
eficácia abstrata porque a norma, através do título, dispensa a verificação da atividade para que a
atividade executiva comece. A propulsão da atividade executiva existe a partir de um mero juízo
de admissibilidade. Não há necessidade de uma verificação da existência do crédito para que a
atividade executiva comece.
Inclusive, é possível que a existência do crédito não seja nem verificada. Caso a parte que
está sendo executada não alegue qualquer impugnação à execução, o juízo continuará
impulsionando a atividade executiva. O título, então, permite uma simplificação analítica do
suporte fático da norma.
Além disso, o título é uma prova pré-constituída da causa de pedir. Por isso, no processo
de execução, o título é uma prova essencial, que deve acompanhar a causa de pedir. Essa questão
dos documentos essenciais está presente, por exemplo, no art. 522, § único: “Não sendo
eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de cópias das seguintes peças do processo,
cuja autenticidade poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade
pessoal: I - decisão exequenda; (...)”. No mesmo sentido, o art. 798, I, a: “Ao propor a execução,
incumbe ao exequente: I - instruir a petição inicial com: a) o título executivo extrajudicial; (...)”.
No caso, é preciso que seja juntado aos autos o original do título, a fim de impedir a continuidade
da circulação daquele título e que ele seja executado novamente. Claro que essa questão acaba
por ser um pouco relativizada pela existência dos títulos eletrônicos.

CONTEÚDO DO TÍTULO EXECUTIVO

O título executivo delimita a ação executiva. O conteúdo do título é importante para


identificar o bem que será atingido pela execução, as partes da execução e a responsabilidade
patrimonial, dentre outros aspectos da atividade executiva. É a partir do título que saberemos
qual o bem que será perseguido; quais as partes estão legitimadas para figurar nos polos ativo e
passivo do processo executivo.
No que se refere ao conteúdo do título, o mais importante é pensar nos títulos executivos
extrajudiciais, uma vez que o conteúdo destes deve ser mais especificado e detalhado. Isso
porque a atividade executiva deflagrada a partir do título executivo extrajudicial depende da
observância dos parâmetros legais para que aquele documento seja considerado um título
executivo; a observância desses parâmetros é fundamental.

CARACTERÍSTICAS NECESSÁRIAS

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Para que a execução seja válida e eficaz, ela deve ter algumas características. Antes,
falava-se que essas características tinham que ser do título, o que não é correto. Quem deve ter
essas características não é o título, mas sim a obrigação subjacente. Isso foi corrigido pelo Novo
CPC. São três características: (i) certeza; (ii) liquidez; e (iii) exigibilidade.
Quando estudamos os pressupostos do processo de execução, vimos que o art. 786 fala
dessas características: “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a
obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo. Parágrafo único. A
necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a
liquidez da obrigação constante do título”. A redação desse dispositivo já corrigiu o aludido
defeito: não é o título que deve ser certo e exigível, mas a obrigação.

A CERTEZA da obrigação é o chamado an debeatur: o que é devido. Tem a ver com a


existência do crédito. Segundo a literatura majoritária e o STJ, esse é o único atributo do título
executivo que pode não surgir com ele; é um atributo que não pode ser complementado
posteriormente. Aqui existe um obstáculo ao princípio da prevalência da decisão de mérito. Não
há como suprir um defeito se ele disser respeito à existência da própria obrigação. Isso não se
confunde com o defeito de prova da existência. Por exemplo, se um contrato não está assinado,
isso não quer dizer que aquele crédito não exista; mas que sua prova está comprometida.

A LIQUIDEZ da obrigação é o chamado quantum debeatur: quanto é devido. Diz


respeito ao valor ou ao objeto da obrigação. A liquidez pode ser, para alguns títulos executivos,
uma característica que não surja desde o início no título, vindo a aparecer posteriormente. É
possível que o título surja sem liquidez. Quando ao título faltar liquidez, isso não faz com que ele
deixe de ser um título executivo; só não permite que se instaure a obrigação desde logo. Há que
se proceder, primeiramente, a um procedimento de litigância adicional chamado de “liquidação”,
previsto nos art. 509 a 512 do CPC. Porém, existem alguns títulos executivos que exigem a
liquidez desde seu nascimento: os títulos executivos extrajudiciais, que, se não forem líquidos, se
descaracterizam como tais. Logo, só o título executivo judicial pode ser ilíquido.
E quando esse título poderá ser ilíquido? Quando o pedido não puder ser certo ou
determinado. Vimos que uma das exigências da petição inicial é um pedido certo e determinado.
Quando esse pedido é certo e determinado, a sentença é líquida. Porém, as vezes, a lei admite
que a parte formule pedido que não é certo e determinado. São os caso de pedidos genéricos,
quando a parte não consegue estimar, desde logo, o valor. Formulado o pedido genérico, a lógica
tradicional é de que a sentença seria ilíquida. A jurisprudência do STJ passou a defender que,
mesmo efetuado o pedido genérico, o juízo já proferisse uma sentença líquida quando houvesse
elementos nos autos que o permitissem. Isso quebrou a lógica original de “pedido genérico =
sentença ilíquida; pedido certo e determinado = sentença líquida”, pois era possível pedido
genérico com sentença líquida. O CPC consagrou esse entendimento do STJ no art. 491: “Na
ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão
definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o
termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo
quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; II - a apuração
do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente
dispendiosa, assim reconhecida na sentença”. Logo, o juiz deverá proferir sentença ilíquida,
salvo se não puder assim proceder.

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É possível o contrário? Pode o juiz proferir sentença ilíquida diante de pedido certo e
determinado. Tradicionalmente, se dizia que não poderia haver sentença ilíquida diante de
pedido certo e determinado porque partia-se da premissa da impossibilidade de fracionamento do
mérito: o processo tinha que ter uma sentença única resolvendo todas as questões. Logo, no caso
de pedido certo e determinado, se houvesse uma sentença ilíquida, ela seria uma sentença citra
petita (julga menos daquilo que foi posto para julgamento), sendo nula. A sentença deveria
encerrar o processo: não era possível dar duas sentenças de mérito no mesmo processo, de modo
que a sentença tinha que resolver tudo. Porém, como vimos, hoje esse paradigma acabou. O
mérito hoje pode ser fracionado em várias decisões. Se o mérito pode ser fracionado em várias
decisões, talvez seja possível utilizar a prolação de sentenças incompletas como técnica de gestão
de complexidade do processo, sem que essa incompletude seja considerada um vício da sentença.
Essa ideia abre o debate, ainda inexistente no Brasil, sobre “sentenças condicionais”,
dentre estas a chamada “sentença com reserva”. A sentença condicional é aquela que submete
um ou algum de seus efeitos a um evento futuro ou incerto. A sentença com reserva é aquela que
resolve uma parte do processo com reservas de que outra parte será resolvida em procedimento
posterior. Isso, no Brasil, sempre foi afastado por conta da redação que hoje consta do art. 492 do
CPC: “É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a
parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. Parágrafo único.
A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional”. Esse dispositivo traz a
regra de adstrição entre decisão e pedido. A ideia é que a sentença tem que ser completa e
responder a tudo que foi pedido. Segundo seu parágrafo único, a decisão tem que ser certa, ainda
que resolva relação jurídica condicional. Esse dispositivo sempre foi invocado como uma
vedação às sentenças condicionais. Porém, se formos ler o que está dizendo esse dispositivo, não
há vedação às sentenças condicionais: o que a sentença tem que ser é certa, ainda que se
referindo a relação jurídica condicional. Isso porque a sentença deve definir o que deve ser
prestado; mas nada impede que a sentença reconheça a existência desse dever a depender da
ocorrência de uma condição ou do advento de um termo. Isso não retira a característica de
certeza da sentença, parecendo ser equivocada a interpretação de que esse dispositivo vedaria
que sentenças condicionais sejam proferidas.
A partir do entendimento de que o art. 492 não veda sentenças condicionais e do
parcelamento de mérito, podemos admitir sentenças ilíquidas como técnica decisória. Essa
técnica decisória que vai consagrar alguns princípios processuais. Seria resolver desde logo o que
está simples no processo, deixando para um procedimento mais alongado aquilo que é mais
complexo. O parcelamento de decisões serve para gerir o tempo global do pedido. Isso porque, o
art. 512 do CPC permite que a liquidação seja feita na pendência de recurso: “A liquidação
poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de
origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais
pertinentes”. São casos em que o juiz já determinou a existência de um dever de indenizar; mas
ainda não ficou claro qual o valor dessa indenização. Parece que, hoje, é possível que, ainda que
o pedido seja certo e determinado, o juiz profira uma decisão determinando a obrigação e
dizendo que só definirá o quantum em procedimento liquidatório. Isso permite que as partes já
recorram desde logo, ao mesmo tempo em que se instaura procedimento de liquidação. Há uma
superposição no tempo dessas atividades, o que contribui muito para a celeridade processual; o
tempo global de litigância é reduzido.

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Importante observa que, quando o juiz define a forma de cálculo na sentença, ainda que
não atribua um valor específico, isso já quer dizer que a sentença é líquida. Não há mais hoje a
“liquidação por cálculo”. Existe hoje a obrigatoriedade da parte de juntar uma memória de
cálculo. Somente muito raramente, dependendo do tipo de decisão, o cálculo será muito
complexo, devendo o juiz encaminhar o processo para o contador. Contudo, isso não
descaracteriza a sentença como líquida.

A EXIGIBILIDADE da obrigação quer dizer que esta não pode estar sujeita a condição
ou termo. Isso não se confunde com sentença condicional, como falamos. Estamos falando da
obrigação em si, que não pode estar sujeita a condição ou termo. Havendo obrigação condicional
ou sujeita a termo, a lei exigirá que o exequente comprove o adimplemento da condição ou o
advento do termo. Isso está no art. 514: “Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a
condição ou termo, o cumprimento da sentença dependerá de demonstração de que se realizou a
condição ou de que ocorreu o termo”. No mesmo sentido o art. 798, I: “Ao propor a execução,
incumbe ao exequente: I - instruir a petição inicial com: (...) c) a prova de que se verificou a
condição ou ocorreu o termo, se for o caso; (...)”. Idem o art. 803, III: “É nula a execução se:
(...) III - for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo” O art. 917, §2º,
V: “§2º Há excesso de execução quando: (...) V - o exequente não prova que a condição se
realizou”.
Existe alguma possibilidade de prosseguir na execução mesmo com a existência de
condição ou termo? Nas hipóteses de vencimento antecipado da obrigação. Se já for possível
comprovar que, ainda no tempo, existe inviabilidade que o devedor se aparelhe para prestar, é
possível dizer que o inadimplemento se configurou, mesmo na existência de termo. Por isso, com
vencimento antecipado, a obrigação sujeita a termo torna-se exigível.

FORMA DO TÍTULO EXECUTIVO

No que se refere à forma, o título executivo tem que ser o original. Apesar de ser um
documento, existem títulos executivos que podem circular. A apresentação do original é
importante porque a circulabilidade do título pode modificar a legitimidade. Porém, essa
apresentação do original acaba sendo cada vez menos obrigatória por conta da digitalização,
tanto do processo, quanto dos títulos de crédito e das assinaturas. Logo, passa a não fazer tanto
sentido essa exigência formal. Porém, enquanto ainda houver títulos executivos em papel que
circulem fisicamente, essa formalidade deve ser observada.
Sobre a forma do título, cabe destacar aqui a incidência do PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE: o título executivo é nulo sem lei que o defina (nullus titulus sine lege). Somente
a lei federal pode instituir títulos executivos. Dizer que só a lei pode estabelecer título executivo
não significa dizer que apenas o CPC estabelece títulos executivos. Diversas leis estabelecem
títulos executivos. O exemplo mais claro são os títulos de crédito, estabelecidos em diversas leis
esparsas. Também a Constituição traz títulos executivos, como os acórdãos dos Tribunais de
Contas, estabelecidos no art. 171, §3º.
Dizer que a lei trará exequibilidade para certos instrumentos não significa dizer que a
escolha do legislador é livre. Alguns autores vão defender que a escolha do legislador é livre
sobre se alguns títulos serão ou não títulos executivos. Porém, a doutrina mais acertada parece
ser a que diz que a exequibilidade depende do processo de cognição ou de uma confissão de

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dívida. A confissão de dívida atua como uma forma de suprir o devido processo legal no caso
dos títulos executivos extrajudiciais: a confissão vale como julgado. O que está subjacente a essa
ideia é que, embora nos títulos executivos extrajudiciais não haja o procedimento cognitivo, a
confissão de dívida supriria isso. Logo, se a lei criar um título executivo extrajudicial que
permita a exequibilidade sem confissão de dívida, isso seria inconstitucional. Um exemplo é a
duplicata sem aceite (o aceite é a forma pela qual se dá a confissão de dívida nos títulos de
crédito). Daí os autores inclusive falarem que o procedimento legalmente previstos para suprir o
aceite na duplicata é inconstitucional. Outro exemplo que se dá é o da certidão de dívida ativa,
que é o título executivo na execução fiscal. Muitos dizem que a certidão de dívida ativa, por ser
emitido pela Fazenda em seu favor, não pode ser caracterizada confissão de dívida (sendo
inconstitucional sua força executiva). Contudo, isso é criticável, uma vez que a emissão da
certidão de dívida ativa exige um anterior processo administrativo.

TAXATIVIDADE DOS TÍTULOS EXECUTIVOS

Normalmente, o título executivo deve ter uma base normativa prevista em lei, o que
costuma ser, equivocadamente, relacionado à taxatividade. No entanto, são coisas distintas falar
sobre a fonte normativa da qual o título pode provir e dizer que não há abertura no sistema para a
criação de outros títulos. Não há correlação necessária entre ambos.
Dentro dessa lógica enunciada pela literatura tradicional, decorrem duas consequências.
Primeiro, dizer somente que não cabe aos títulos executivos interpretação extensiva por analogia,
o que impõe que as disposições normativas sobre os títulos sejam interpretadas restritivamente.
No entanto, a regra da taxatividade não tem a ver com a legalidade, pois pode ser empregada
para normas que não sejam leis. Ademais, sabe-se que o título deve ser compreendido de forma
restritiva porque importa o ingresso no patrimônio do executado sem uma verificação anterior
respeitadas as garantias fundamentais pelo processo de conhecimento. Essa ideia também
poderia já ser inferida da importância que tem a forma para o título executivo.
Segundo, a impossibilidade de que houvesse título executivo formado por convenção processual,
eventual cláusula executiva seria nula em função dessa união entre legalidade e taxatividade.
Conduziu-se, assim, à falsa impressão de que só poderia ser formado título executivo se a regra
fosse legislada. Essa compreensão, porém, hoje é inadequada, pois as partes têm sim prerrogativa
de formar um título executivo, principalmente em função da disponibilidade da execução, em
grau muito maior do que a atividade cognitiva. Existe uma ampla disponibilidade para o
exequente: o credor tem possibilidade mais ampla de desistir da execução, seja por completo,
seja em relação a alguns atos. Essa compreensão sofre restrição quando há procedimentos
cognitivos incidentais de defesa do executado, incidindo, nesses casos, a mesma regra do
processo de cognição, de necessidade de anuência do executado. Mas, então, a disponibilidade
será equivalente à da cognição, onde são admitidos os acordos processuais. Quando não há essa
defesa, a disponibilidade na execução é ainda maior do que na cognição, e, por maior razão, os
acordos na execução não poderiam ser excluídos.
Os negócios podem ser celebrados das mais diversas formas, é possível, p.ex., assinar
uma nota promissória que servirá como título executivo; escolher o pagamento em cheque. A
manifestações de vontade nos títulos executivos extrajudiciais é a observância do devido
processo legal, o aceite p.ex. Ora, se a manifestação de vontade de aderir é o que leva à produção
dos efeitos executivos aos títulos extrajudiciais, não faria sentido vedar a formação atípica de

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títulos. A cláusula geral de negociação processual (arts. 190 e 200) já é autorizativo normativo
suficiente para a formação de títulos executivos.
Para tanto, deve ser rompida a falsa associação entre taxatividade e legalidade. A única
forma de ainda sustentar a taxatividade é dizer que, ao interpretar o negócio processual para o
título executivo, esse negócio específico deve ser abarcado no rol taxativo. Seria uma regra de
difícil acepção, porque exclusiva aos negócios processuais em execução, e ainda mais
especificamente quanto à formação do título.
Marinoni e Arenhart são bastante contrários à taxatividade, diante da formação de título
executivo por meio eletrônico e dos avanços tecnológicos. No entanto, suas premissas não são
suficientes para chegar aos negócios jurídicos processuais para formação de título, porque esses
autores não são entusiastas das convenções.

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

A liquidação de sentença está prevista nos art. 509 a 512. Trata-se de procedimento que
visa estabelecer o quantum debeatur.
É preciso esclarecer, desde já, que nem sempre é preciso se valer desse procedimento. Se
a pessoa já tiver um título que contenha a obrigação certa, líquida e exigível, passa-se de
imediato ao procedimento da execução. Por isso, até na maioria dos casos, esse procedimento
não ocorre: o juiz já estabelece na própria sentença o valor a ser executado. Pelo art. 491,
inclusive, a diretriz do CPC é que o juiz profira sentenças líquidas.
Por outro lado, a sentença ilíquida é aquela que não estabelece o valor da condenação. Os
arts. 783 e 803, I, do CPC, preveem que, para que se cogite de execução, é preciso ter um título
executivo que contenha obrigação certa, líquida e exigível. É nula a execução que não contiver
obrigação certa, líquida e exigível. Mas é preciso atentar que não se considera ilíquida a
obrigação que depende apenas de mero cálculo aritmético, nos termos do art. 509, §2º, do CPC.
Quando que o juiz prolata sentenças ilíquidas? Há uma diretriz para que o juiz
quantifique o valor a ser executado na própria sentença, até porque conta da duração razoável do
processo. O processo não deve ser rápido apenas na fase de conhecimento; deve ser rápido
também na fase satisfativa. Essa diretriz de que o juiz liquide sentenças é sempre razoável
quando presentes todos os elementos para tanto.
O juiz define a responsabilidade civil quer dizer que ele estabelece o an debeatur. Em
algumas situações, não há ainda elementos para apurar o quantum debeatur; ou os fatos ainda
não estão claros, sendo necessário que outros fatos sejam demonstrados em juízo para
estabelecer o valor (e não a responsabilidade, que já foi definida). Daí o juiz proferir uma
sentença, que encerra a fase de conhecimento, estabelecendo o an debeatur; deixando para depois
o quantum debeatur. É uma ideia de celeridade: o juiz já prolata a decisão, deixando para depois
a determinação do valor.
As duas hipóteses de necessidade de liquidação de sentença acima referida estão no caput
do art. 491: “Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido
genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção
monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos
juros, se for o caso, salvo quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o
montante devido; II - a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização
demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença. §1º Nos casos
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previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação. §2º O disposto no
caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença”.
Qual a grande vantagem do juiz prolatar de logo a sentença? Que o condenado já pode
recorrer. O eventual recurso do condenado é apreciado concomitantemente à liquidação
provisória da sentença, fazendo com que todo o processo seja mais célere. O dispositivo que fala
da liquidação provisória está no art. 512: “A liquidação poderá ser realizada na pendência de
recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante
instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes”. E se a apelação da parte
condenada no processo de conhecimento tiver efeito suspensivo, o que é a regra na apelação? A
apelação com efeito suspensivo suspeita a eficácia da decisão. Contudo, a liquidação provisória
independe do efeito da apelação, ou seja, mesmo que apelação tenha efeito suspensivo, ainda
assim será possível dar início à liquidação provisória. O que não pode é começar a executar
provisoriamente.
A relação que ordinariamente se faz é do pedido genérico, previsto no art. 324, §1º, com
a sentença ilíquida. Isso é o que ordinariamente acontece, mas não é o que sempre acontece.

Temos, pelo procedimento comum, o processo sincrético, ou seja, um processo uno, mas
com diversas fases subsequentes. Esse procedimento já passou por diversas reformas, até conter
a lógica segundo a qual o processo se inicia no conhecimento; segue-se a fase de liquidação; e,
por fim, a fase da execução. Esse sincretismo atual existe apenas de 2005. Antes, era preciso uma
ação autônoma e subsequente para cada fase. Logo, hoje, a liquidação de sentença, desde a Lei nº
11.232/2005, não é mais uma ação autônoma.
Sendo assim, qual a natureza jurídica da liquidação? A liquidação é tida como mera fase
ou incidente processual.
A liquidação da sentença, então, é resolvida por decisão interlocutória, da qual cabe
agravo de instrumento, nos termos do art. 1015, §único, do CPC.

Cabe frisar que, ao tratarmos da liquidação de sentença, estamos tratando de títulos


executivos judiciais. É o título executivo judicial por excelência. Foi proferida uma decisão, após
fase de conhecimento, e essa decisão será liquidada.
A doutrina costuma falar que os títulos executivos extrajudiciais possuem obrigações que
são intrinsecamente líquida. Caso a obrigação de um título extrajudicial não seja líquida, certa a
exigível, deverá ser ajuizado processo de conhecimento. Porém, há autores que defendem a
possibilidade de liquidação de título executivo extrajudicial. Um exemplo que usam é o do
Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, previsto no art. 5º, §6º, da Lei nº 7.347/1985. Diz-se
que, nesse caso, esse tipo de título executivo extrajudicial pode ser imediatamente liquidado, sem
passar pelo processo de execução.

Nesse procedimento de liquidação, não haverá um novo julgamento da causa. O CPC


estabelece isso no art. 509, §4º: “Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a
sentença que a julgou”.
A liquidação de sentença já trata do fato que foi reconhecido na sentença. A decisão que
liquida a sentença visa apenas determinar a extensão do dano, não discutir a existência do dano
novamente.

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É possível haver uma liquidação parcial da sentença do processo de conhecimento? Para
verificar isso, é preciso analisar o art. 509, §1º: “Quando na sentença houver uma parte líquida e
outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos
apartados, a liquidação desta”.
Logo, sendo parte da sentença líquida e outra parte ilíquida, é possível ao credor iniciar
desde logo a execução da parte que for líquida; enquanto, ao mesmo tempo, promover em autos
apartados a liquidação da parte que for ilíquida.
No mesmo sentido, como já estudado, o art. 356 trata da decisão parcial antecipada do
mérito. Se o juiz já tem todos os elementos necessários para apreciar um pedido, ele poderá,
desde logo, analisar o mérito desses pedidos. Os demais pedidos, que necessitam de uma
amplitude de prova, serão apreciados posteriormente e decididos na sentença. Pelo §1º deste art.
356, o juiz pode julgar parcialmente o mérito, seja de forma líquida ou ilíquida.

MODALIDADES DE LIQUIDAÇÃO

O legislador estabelece as modalidades de liquidação. Aqui, faz-se novamente a ressalva


de que, se depender de cálculo aritmético, não há necessidade de liquidação. O próprio
interessado deverá promover o cálculo e promover o processo de execução desde logo. E se o
devedor discordar do cálculo do credor? Nesse caso, poderá o devedor apresentar uma
impugnação ao cumprimento de sentença, no qual será alegado o excesso de execução. Isso está
no art. 525, §1º, V, do CPC.
Entrando efetivamente nas modalidades de liquidação, previstas no art. 509: “Quando a
sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a
requerimento do credor ou do devedor: I - por arbitramento, quando determinado pela sentença,
convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; II - pelo
procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo”.
A primeira modalidade de liquidação é a LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO (art.
509, I). A segunda modalidade é a LIQUIDAÇÃO PELO PROCEDIMENTO COMUM (art. 509
II). Essa segunda modalidade, no CPC de 1973, era denominada de “liquidação por artigos”. O
processo continua o mesmo, mas a denominação mudou.
Se o juiz, na sentença, determina uma das modalidades de liquidação, isso inibe que a
liquidação se dê por outro forma? A definição da modalidade de liquidação na sentença se torna
preclusa? Não. Inclusive, a Súmula nº 344 do STJ diz que a liquidação por forma diversa da
estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada. Então, esse pensamento é importante porque
há diferenças entre os procedimentos; mas não tem tanta diferenças assim, sendo reconhecida até
uma espécie de “fungibilidade” das modalidades de liquidação.

A liquidação por arbitramento se vale de elementos já constantes nos autos. Portanto, ela
acaba se demonstrando como uma liquidação/quantificação posterior à sentença. Isso está no art.
510: “Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de
pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano,
nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial”.

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O art. 510 deixa claro que, normalmente, a liquidação por arbitramento se dá, via de
regra, por meio de perícia. Porém, o próprio dispositivo legal diz que serão requeridos outros
elementos (pareceres ou documentos elucidativos), de modo que não se trata sempre apenas de
perícia. Um exemplo é o art. 81, §3º, que trata da indenização do litigante de má-fé pelos danos
causados (além da multa, o litigante de má-fé pode ser condenar a ressarcir eventuais danos
causados, dano este que será apurado por arbitramento).

A liquidação pelo procedimento comum está previsto no art. 511: “Na liquidação pelo
procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado
ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação
no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da
Parte Especial deste Código”.
A diferença entre as liquidações é que, na pelo procedimento comum, é preciso a prova
de fato novo, nos termos do art. 509, II. O fato novo é um fato externo ao processo, não
necessariamente um fato que ocorreu depois da sentença. Pode ser um fato que simplesmente
não foi ainda reconhecido pelo juiz. O exemplo é quando uma pessoa foi atropelada por outra e,
só depois da sentença que reconheceu os danos, ela foi submetida a uma cirurgia exatamente por
conta desse atropelamento.
Nesse tipo de liquidação há uma imprecisão maior. Isso porque não se está apenas
calculando o valor devido. Há ainda uma discussão quanto aos fatos que serão incluídos nessa
responsabilidade. Tanto isso que, nos termos do art. 511, o requerido poderá inclusive apresentar
contestação. Logo, esse procedimento de liquidação pelo procedimento comum tem um caráter
cognitivo.

HIPÓTESES ESPECÍFICAS DE LIQUIDAÇÃO

Há a questão da LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA, da


SENTENÇA ARBITRAL e da SENTENÇA ESTRANGEIRA HOMOLOGADA.
Nesses três casos, a grande diferença é que a fase de liquidação será iniciada por petição
inicial. Na sentença arbitral, a sentença foi proferida fora do âmbito do judiciário. Já no caso de
sentença estrangeira, esta foi proferida fora do Brasil. No caso da liquidação de sentença penal
condenatória que produz efeitos civis, esta foi proferida em competência diversa da do processo
civil.
Logo, a despeito de se ter um título executivo judicial, o início da liquidação se dará de
forma diferenciada, por meio de petição inicial, nos termos do art. 515, §1º: “Nos casos dos
incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a
liquidação no prazo de 15 (quinze) dias”. Nos demais casos, como vimos, o processo de
liquidação é uma continuação do de conhecimento, iniciando-se por simples petição.

Há que se falar também na LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA COLETIVA PROMOVIDA


INDIVIDUALMENTE, prevista nos arts. 95 e 97 do CDC. Nas ações coletivas, a sentença
proferida pode ter efeitos erga omnes, para além das partes integrantes. A sentença coletiva,
então, é genérica (como dizendo: “condeno o devedor a ressarcir todas vítimas do ato
cometido”). A partir da sentença, todos os que se inserem em seu âmbito deverão promover a
execução de sua parte.

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TÍTULOS EXECUTIVOS EM ESPÉCIE

TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS (ART. 515)

O art. 515 traz um rol que não é muito diferente daquele previsto no CPC anterior. A
ampliação desse rol já era algo que tinha sido trabalhado e efetivado na reforma de 2005/2006 ao
CPC de 1973. Muito foi espelhado no CPC de 2015. Nos termos do art. 515: “São títulos
executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de
pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II - a decisão homologatória de
autocomposição judicial; III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de
qualquer natureza; IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V - o crédito de
auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por
decisão judicial; VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença
arbitral; VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX - a
decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo
Superior Tribunal de Justiça; X - (VETADO) §1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será
citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15
(quinze) dias. §2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e
versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo”.
O inciso I é bastante amplo. Em regra, o elemento condenatório da sentença é o que será
executado, ainda que a sentença não seja condenatória, executando-se somente a condenação em
custas e honorários, ou litigância de má-fé. Foi o que levou à compreensão de que a execução
não se dá sobre sentenças declaratórias e constitutivas, sendo a tradição romano-germânica. Mas
o inciso I não para por aí: hoje, se fala em reconhecer a existência de obrigação de fazer, não
fazer, entregar coisa ou pagar quantia. Essa é uma redação que já vinha na reforma do CPC de
1973, e que gerou uma grande discussão sobre a possibilidade de serem executadas sentenças
meramente declaratórias. Instalaram-se duas correntes: Dinamarco, Barbosa Moreira, Leonardo
Greco, Araken de Assis defendiam que não haveria essa possibilidade; ao passo que uma posição
mais nova dizia que a sentença declaratória poderia ser sim executada. Se um cheque ou uma
duplicata podem ser títulos executivos, por que não seria título executivo uma sentença que
declara que entre A e R existe uma dívida que venceu a partir de determinada data? Em suma,
desde que respeitados os pressupostos de liquidez, certeza e exequibilidade, a sentença
declaratória poderia ser executada. A ideia seria a desnecessidade de submeter a parte vitoriosa a
um novo processo cognitivo apenas para que se obtivesse a condenação.
Essa defesa teve início em alguns acórdãos do STJ, mas sem muita fundamentação,
sempre em matéria tributária. Em matéria tributária, muitas vezes o contribuinte pedia em juízo o
direito à compensação tributária, e a jurisprudência entendeu que não cabe ao juiz compensar
tributos. Só pode compensar quem tem o poder para lançar, ao passo que o lançamento é um ato
administrativo. Mas o juiz poderia verificar a presença das condições legais que autorizam a
compensação de um tributo por outro, ex: tributo pago a maior por contribuinte que possui outro
tributo devido à fazenda de mesma natureza. Se a administração tributária se negasse a

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compensar, o contribuinte poderia ir à via judicial, de modo que a sentença resultante declararia
a compensação, e seria levada à administração para compensar. O problema é quando o
contribuinte tem o crédito, pagou a maior, mas não tem um débito em relação a outro tributo, não
tendo como compensar. Nesses casos, costumava-se executar a sentença a fim de compensar essa
quantia a mais. Teori Zavaski começou a defender essa posição no STJ, e foi acompanhado pela
produção literária, que levou os autores mais novos a defenderem essa possibilidade.
O problema de considerar que sentença declaratória pode ser executada é, em primeiro
lugar, que a sentença de improcedência, enquanto sentença declaratória negativa, geraria um
título executivo em favor do réu, o que seria um contrassenso, pois a causa de pedir daquela ação
é limitada. Outro argumento é dizer que a sentença de improcedência não seria certa, líquida e
exigível, vez que não define em qualidade e quantidade nada em favor do réu, limita-se a dizer
que o autor não pode ter aquilo que pediu.
Além disso, existe grande diferença, em termos de raciocínio judicial, entre o juízo pela
procedência e o juízo pela improcedência. Para chegar a uma conclusão de improcedência, basta
que uma das situações jurídicas invocadas pelo autor não se verifique ou não seja provada,
enquanto, para o juízo de procedência, devem ser excluídas todas as possibilidades inversas que
extingam o direito do autor, o que imprime força muito maior à procedência.
Outro problema quanto à exequibilidade da sentença declaratória é que pode haver
declaração sem inadimplemento, que é uma regra antiga, desde Adolf Wach, o que permitiu que
a ação se desprendesse do concretismo: o direito de ação pode ser ostentado independentemente
do inadimplemento, portanto a parte pode almejar o reconhecimento da dívida, a declaração de
que a dívida existe, sem que tenha havido inadimplemento, por ainda haver prazo para cumprir
p.ex. Nessas hipóteses, como seria possível executar? A prova que seria produzida em uma ação
condenatória (essencialmente a prova do inadimplemento) teria que ser feita dentro da execução,
travestindo um processo cognitivo de processo executivo.
Além disso, existe um problema prescricional: a prescrição não retira o direito à ação
declaratória. A obrigação tem três elementos: sujeito, objeto e vínculo jurídico, o que une o
sujeito a outro sujeito, e que se subdivide em débito (Schuld) e responsabilidade (Haftung) ou
exigibilidade. A prescrição atinge a exigibilidade, e, em termos processuais, atinge a pretensão, a
prerrogativa de exigir.
Essa discussão é importante porque pode haver ação declaratória mesmo depois de
violado o direito (art. 19). A ação declaratória, note-se, é independente da ação condenatória.
Uma vez que já tivesse havido o decurso do prazo prescricional, a admissão da execução de
sentença declaratória significaria que a parte poderia executar uma dívida prescrita. Seria como
se o processo estivesse permitindo, por uma via transversa, algo que a lei material quis evitar, a
exigibilidade daquela prestação.
O art. 523, § 1º, ademais, prevê uma multa para o caso de condenação, sua redação é
mais restrita do que aquela do art. 515, I, falando objetivamente em sentença condenatória: “No
caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre
parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias,
acrescido de custas, se houver. §1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o
débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez
por cento (...)”.

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Portanto, haveria novamente um contrassenso no sistema, pois, no caso de declaração, não
incidiria a multa, de modo que seria sempre mais benéfico ao executado que a execução se
fundasse em sentença declaratória. Havia o argumento das “emendas de redação”, o que levou a
essa discussão ao substituir a dicção anterior do inciso I do art. 515, “sentença condenatória”, por
uma redação mais ampla, que inevitavelmente geraria essa questão da exequibilidade das
decisões declaratórias.
Para o professor, por essas razões apontadas por Talamini, não há como garantir que a
sentença declaratória seja exequível, o que não significa um decréscimo das faculdades
executivas do réu, se compreendido que, ao se defender, o réu pode ampliar o objeto do
processo, pode formular pedido.
Há também uma questão de boa-fé e vedação de decisões-surpresa. O réu pode nada fazer
e ser beneficiado por uma decisão de improcedência que levaria à execução em relação a outras
relações jurídicas que não fazem parte da causa de pedir, o que geraria uma surpresa para o autor.

O inciso II do art. 515 segue uma tendência de estímulo à autocomposição. O art. 57 da


Lei nº 9.099/1995 já dizia que o juiz poderia homologar transações nos Juizados Especiais ainda
que extrapolassem o valor da alçada dos Juizados. O art. 515, II deve ser combinado com o § 2º,
que permite que essa autocomposição abranja outras questões e outros sujeitos que intervieram
no processo apenas para celebrar o acordo.

O inciso III, diferente do inciso II que trata da autocomposição judicial, trata da


autocomposição extrajudicial, instrumentos contratuais celebrados fora do processo. Esses
instrumentos podem, então, ser levados à homologação judicial. O STJ tem algumas decisões
anteriores ao CPC de 2015 que rejeitaram a homologação de autocomposições extrajudiciais sob
o argumento de que o judiciário não teria a função de “carimbar” acordos das partes, que, afinal,
entre elas, já produzem efeitos. Sustentou que se deve apostar no cumprimento espontâneo fora
do judiciário, de modo que estimular as homologações assoberbaria o judiciário para uma
espécie de jurisdição voluntária não prevista em lei, uma função de administração judiciária.
Este inciso parece mudar um pouco essa compreensão, pois agora há expressa previsão legal de
que o instrumento contratual homologado torna-se título executivo, ainda que não tenha qualquer
das características do título executivo – e mais: torna-se título executivo judicial, o que faz com
que depois a defesa do executado ainda seja reduzida. Note-se que esse dispositivo reforça a
ideia de confecção de título executivo por negócio, e também permite a reformulação das
próprias funções jurisdicionais. Será que realmente não caberia ao judiciário ser um
“carimbador”, comportar uma função de fornecer segurança jurídica aos indivíduos na linha
justamente de evitar conflitos e fomentar a autocomposição?

O inciso IV fala no formal e certidão de partilha, instrumentos extraídos no inventário,


que são documentos importantes porque designam o que cabe a cada herdeiro e legatário,
especificam o quinhão de cada um. Havendo qualquer descumprimento, o formal de partilha
pode servir como título executivo.

O inciso V trata do crédito de auxiliar de justiça, somente quando essas parcelas tiverem
sido aprovadas por decisão judicial.

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Note-se que o inciso VI prevê que a sentença penal condenatória tenha transitado em
julgado, o que não incide sobre as sentenças cíveis, pois estas podem ser executadas
provisoriamente – tampouco pode haver liquidação provisória da sentença penal condenatória,
porque depende do trânsito em julgado para que se torne título, e não haveria ainda an debeatur.
Em função do fenômeno de incidência múltipla, o mesmo suporte fático atrai a incidência de
normas diferentes (cíveis, penais, administrativas).
No sistema brasileiro, a parte tem duas opções: aguardar a condenação na ação penal para
buscar o título executivo (art. 91 do Código Penal) ou ajuizar ação civil autônoma condenatória,
a ação civil ex delito. A jurisprudência já diferencia a hipótese em que haveria possibilidade de
execução cível ainda que alguns efeitos penais tenham sido extintos, pela prescrição p.ex., a
anistia extingue os efeitos penais (a punibilidade), mas não os extrapenais. Essa distinção de
efeitos é importante para se visualizar até onde podem ser perseguidas sanções em outras esferas.
Tradicionalmente, a sentença penal condenatória não era apta a instaurar o processo de
execução, por falta de liquidez. Havia inclusive um problema de competência, pois não cabia ao
juízo penal fixar o quantum de condenação da vítima, somente o quantum da pena. Isso começou
a mudar quando o CP acrescentou uma modalidade de pena: a prestação pecuniária em favor da
vítima (diferente da multa, que favorece a fazenda pública). Se essa é a pena aplicada, essa
sentença seria líquida ao menos nessa parcela para ser executada no cível.
Outra possibilidade de fixação de quantum indenizatório pelo juiz criminal veio com a alteração
do art. 387, IV do CPP em 2008, que permite que o juiz criminal fixe um mínimo indenizatório
em favor da vítima. Estabeleceu-se uma comunicação entre as instâncias criminal e civil no
sentido de que hoje o juiz criminal tem competência para fixar o mínimo. Isso gera uma série de
controvérsias sobre caso esse mínimo não compreenda todos os aspectos do dano. Logicamente,
a ação civil ex delito seria condenatória. Alguns autores, por outro lado, defendem que isso
poderia ser feito por liquidação de sentença, mas seria estranho que se liquidasse antes da
definição do an debeatur.
É possível que a execução civil já tenha se encerrado e posteriormente sobrevenha uma
modificação do título, pela revisão criminal, que, ao contrário da ação rescisória, não tem prazo.
Neste ponto, há várias correntes. Alguns autores dizem que se o executado já pagou teria direito
a tudo o que pagou no cível. Outros defendem o extremo contrário, no sentido de que não
haveria efeitos da revisão criminal na esfera cível se já encerrada a execução. Outros autores
levam em consideração o momento da decisão de revisão criminal e o conteúdo.
Em relação ao momento, se o devedor ainda não foi pago, aplica-se imediatamente a
desconstituição do título e encerra-se a execução, prosseguindo-se apenas em relação ao resíduo.
Se já foi pago, depende do conteúdo da revisão criminal, verificando se o que houve foi
reconhecimento de matéria processual ou de mérito. Se de natureza processual, nada se altera na
esfera cível; já se o tribunal tiver examinado o mérito e excluir o crime ou a ilicitude da conduta,
o devedor tem direito à repetição do indébito porque o pagamento era ilegal. O problema é que,
finda a execução, existem direitos de terceiros que devem ser protegidos, nos institutos da
arrematação, adjudicação por exemplo, há terceiros que interferem e adquirem uma parte do
patrimônio do executado. Muitas vezes, não haverá o que fazer: o executado terá perdido seus
bens, e a questão será resolvida em perdas e danos. Protege-se assim o arrematante ou o
adjudicante.

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A sentença arbitral é, pelo inciso VII, título executivo judicial, tem a mesma força
executiva da sentença do juiz estatal, o que é um dos argumentos para se defender o caráter
jurisdicional da arbitragem. É mais um fomento aos meios extrajudiciais de solução de
controvérsias que se reflete no rol dos títulos executivos judiciais.

O inciso VIII trata da sentença estrangeira homologada pelo STJ. Esse dispositivo foi
alterado no ordenamento anterior em razão da EC45, pois na redação original da CR, antes de
2004, a competência era do STF. Diante de sentença estrangeira, não é qualquer uma que será
executada, é necessário que seja homologada para alçar o status de título executivo. Esse
procedimento de homologação está disciplinado no CPC, pelo qual o órgão brasileiro que
chancela a sentença estrangeira não adentra o mérito da sentença, apenas analisa
superficialmente o mérito da decisão estrangeira, verificando se foram respeitados os art.15-16
da LINDB, direitos fundamentais, citação, etc. Daí a se falar que esses procedimentos são feitos
com base no juízo de delibação (do latim, delibare, tocar de leve), uma expressão que reflete a
superficialidade do procedimento de homologação.
Os títulos executivos extrajudiciais estrangeiros dispensam o juízo de delibação, podem
ser executados de imediato desde que respeitem os requisitos do nosso ordenamento, um cheque
estrangeiro deve respeitar os mesmos requisitos que um cheque brasileiro p.ex. Existem alguns
países com os quais o Brasil tem tratados internacionais em que existe uma simplificação
procedimental para a execução, o maior exemplo são os países do MERCOSUL, para os quais
existe o protocolo de Las Leñas. Permite-se que o procedimento não siga mais a homologação de
sentença estrangeira. Na União Europeia, esse ato de aceitação não é necessário para que sejam
executados títulos de outros países do bloco. Porém, na hipótese do protocolo de Las Leñas, o
STF entendeu não estar dispensado o ato de reconhecimento pelo Brasil de um valor executivo,
somente seguiriam um procedimento simplificado do exequatur.
Nesses casos, a execução da sentença estrangeira será de competência da Justiça Federal.
É uma das hipóteses do art. 109 da Constituição. Logo, a homologação é feita pelo STJ e, uma
vez homologada, a sentença será executada na justiça federal.

O inciso IX diz que a decisão interlocutória estrangeira também é executada. Não é caso
de homologação de sentença estrangeira porque não há sequencia estrangeira. Há um juízo de
validação feito pelo STJ, mas que não se confunde com o procedimento próprio de homologação
de sentença estrangeira.
Novamente, aqui, vemos que o CPC de 2015 valoriza as cartas rogatórias. Trata-se de
uma ideia geral de simplificação. Novamente, aqui, vemos um fomento à carta rogatória sendo
privilegiado em relação à homologação. De todo modo, a carta rogatória ainda é um instrumento
muito lento. Poderia o CPC de 2015 ter ido mais além.

Os incisos VI a IX são aqueles em que o título executivo é produzido em uma outra sede
que não o juízo cível competente. Em alguns casos, o título é produzido até no exterior. Logo,
como não houve processo cognitivo naquele juízo, é correto que haja uma verdadeira citação do
devedor para cumprimento da sentença, nos termos do §1º.

TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS (ART. 784)

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Esses títulos estão concentrados no rol do art. 784 do CPC e 2015, que são aqueles que
vão dar início à execução sem um processo cognitivo anterior. Esse rol mudou muito pouco no
novo CPC. Uma alteração é que havia no antigo rol dos títulos executivos extrajudiciais os
chamados “créditos de serventuários de justiça”. Esse título, na verdade, era um título executivo
judicial, tendo sido trasladado para o rol correto pelo CPC de 2015.
Esse rol do art. 784 é um rol taxativo, até porque já estudamos a ideia de legalidade e
taxatividade dos títulos executivos, proibindo interpretações analógicas pela importância que a
formalidade tem. Dizer que o rol é taxativo não quer dizer que ele seja o único. Sabemos que há
títulos executivos até na Constituição. Outras leis preveem a possibilidade de outros documentos
terem a força de dar início às execuções. Porém, no CPC, esse é o artigo que concentra as
hipóteses de título executivo.
Nos termos do art. 784: “São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a
nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro
documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e
por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público,
pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por
conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V - o contrato garantido por hipoteca,
penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI - o
contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII
- o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de
encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; IX - a certidão de dívida ativa
da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições
ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou
aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI - a certidão
expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais
despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII -
todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. §1o A
propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor
de promover-lhe a execução. §2o Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país
estrangeiro não dependem de homologação para serem executados. §3o O título estrangeiro só
terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de
sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação”.

O inciso I fala dos títulos de crédito em geral. Muitos títulos de crédito estão em leis
esparsas, que preveem esses títulos como títulos executivos.
Como visto, o art. 2º da Lei da Duplicata prevê a possibilidade de execução sem o aceite.
Trata-se da figura do aceite presumido. O credor junta uma série de documentos, inclusive o
título protestado, e consegue executar sem que tenha havido o aceite.

O inciso II fala da escritura ou outro documento público assinado pelo devedor.


Um exemplo são os registros de ocorrência policiais. Se duas pessoas batem o carro e
uma assume a culpa, é importante que a vítima faça questão de que esse fato conste no registro,
para que este valha como título executivo. Por outro lado, o testamento, apesar de documento
público, não é título executivo para haver bens, pois que isso depende do inventário. Porém, o

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testamento pode valer como título executivo para uma obrigação, como o caso em que uma
pessoa, em seu testamento, confesse uma dívida.

O inciso III fala do documento particular assinado pelo devedor e duas testemunhas. No
Brasil, qualquer contrato assinado por duas testemunhas é título executivo. Por isso a praxe, no
direito negocial, de que os contratos sejam assinados por duas testemunhas. Uma confissão de
dívida assinada apenas pelo devedor não é confissão de dívida não é título executo; mas se esse
documento for assinado por mais duas testemunhas, será.
O documento não assinado por duas testemunhas poderá, por outro lado, ser utilizado
para embasar uma ação monitória, utilizada quando se tem prova escrita do crédito.
Muito se discutia, no CPC anterior, se a parte que já tem título executivo poderia optar
por ação de conhecimento ou por uma ação monitória. Muitos autores, diziam que não era
possível, pois, no fim, ele obteria a coisa que ele já tinha de início: um título executivo. Só faria
sentido caso o título executivo já estivesse prescrito, como um cheque cujo prazo de execução já
se esgotou. Haveria, assim, no entendimento desse grupo, uma falta de interesse de agir.
O CPC de 2015 pacificou essa questão no art. 785: “A existência de título executivo
extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de obter título
executivo judicial”. Logo, hoje, é juridicamente possível que alguém que tenha um título
executivo ajuizar ação cognitiva ou monitória. Qual a utilidade prática disso? Reduzir as
hipóteses de defesa do executado. Na execução de título executivo extrajudicial, o executado
pode alegar qualquer matéria de defesa. Já no cumprimento de sentença, o executado tem formas
restritas de defesa. Ainda assim, isso não é muito utilizado e, realmente, a utilidade prática é
pequena.

O inciso IV fala de instrumentos de transação. Nesse caso, trata-se de instrumento


particular, como no inciso anterior. Porém, não há necessidade de que ele seja assinado por duas
testemunhas. Basta que seja assinado por “Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela
Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado
por tribunal”.
A novidade do CPC de 2015 neste inciso IV está no conciliador e no mediador. O
instrumento celebrado sob fiscalização desse conciliador ou mediador tem valor de título
executivo.

O inciso V trata do título garantido por “hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real
de garantia e aquele garantido por caução”. Esse rol foi ampliado na vigência do novo CPC para
atualizar o rol de direitos reais. Acrescentou-se, assim, a caução e ainda uma cláusula geral de
“qualquer outro direito real de garantia”.

O inciso VI, por outro lado, ficou mais restrito. É título executivo o seguro de vida em
caso de morte. O CPC de 2017 falava apenas do seguro de vida. Porém, no âmbito do CPC
anterior, se havia morte ou invalidez, o contrato de seguro poderia ser executado desde logo. Por
outro lado, o seguro que fosse executado, mas não fosse caso de morte ou invalidez, poderia
seguir pelo extinto procedimento sumário.
Porém, havia um problema enorme aqui: a questão da liquidez. A execução dos contratos
de seguro por conta de invalidez sempre resultava em uma grande discussão sobre a extensão

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dessa invalidez, abrindo uma janela executiva muito grande. Na prática, não se executava direto
nunca, pois sempre havia discussão. Por isso, o legislador de 2015 resolveu tirar a invalidez das
hipóteses de execução direta do contrato de seguro. Agora, só em caso de morte.

O inciso VII fala do foro e laudêmio. Há a obrigatoriedade de pagamento de foro e


laudêmio quando houver direito real de enfiteuse sobre determinados imóveis. Hoje, muitos
imóveis são gravados por enfiteuse, havendo necessidade de pagamento de foro e laudêmio sobre
a posse desses imóveis.

O inciso VIII fala do crédito de aluguel de imóvel, taxas e despesas de condomínio, desde
que documentalmente comprovados. Logo, nesse caso, é preciso ter algo escrito pelo qual o
locatário assume que vai pagar despesas de condomínio, além do aluguel. Isso porque os
proprietários não deixam de ser devedores da obrigação de pagamento desses débitos perante os
terceiros, pouco importando a estes que ele tenha transferido contratualmente ao locatário. Por
isso, há possibilidade dessa execução.

O inciso IX fala das certidões de dívida ativa. As certidões de dívida ativa são títulos
executivos aptos a iniciarem a execução fiscal. Os créditos dos entes fazendários são cobrados
pelo procedimento da Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/1980). Essa execução fiscal serve
para cobrar créditos que não sejam tributários, previstos na LEF.
A cobrança de créditos pelo Estado é precedida de um processo administrativo. A
administração tributária faz um lançamento do tributo e ouve o contribuinte, que é notificado
para tomar ciência, caso queira impugnar. Terminado o processo administrativo, o resultado
positivo para a fazenda pública é incorporado em uma certidão de dívida ativa, assinada por um
Procurador da Fazenda Nacional.
É muito comum se dizer que a certidão de dívida ativa e a execução fiscal representam a
possibilidade que o Estado tem de produzir unilateralmente seus títulos executivos. Normalmente
se diz isso de uma forma pejorativa, como se fosse feito para prejudicar o contribuinte. Na visão
do Professor, isso parece ser um equívoco. O processo administrativo que precede a formação da
certidão de dívida ativa é franqueado à participação do potencial devedor, inclusive com
possibilidade de impugnação.

O inciso X fala de créditos constituídos pela convenção de condomínio edilício ou em ata


de assembleia desses. Novamente, há necessidade de que isso seja documentalmente
comprovado. Aqueles que se comprometeram ao pagamento de determinado valor pela
assinatura da convenção de condomínio em ata de reunião de condomínio podem ser diretamente
executados por esse valor.

O inciso XI fala da “certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a


valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas
tabelas estabelecidas em lei”.
Esse título executivo parece ser absurdo. O cartório realiza determinada atividade. Caso
não receba os emolumentos por essa atividade, o cartório pode produzir, unilateralmente, um
título executivo e executá-lo. Ao contrário da certidão de dívida ativa, aqui, não há procedimento
nenhum. O cartório pode criar seu título e cobrar do devedor.

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O inciso XII fala dos demais títulos a que a lei atribuir força executiva. Esse dispositivo
deixa claro aquilo que já foi adiantado, no sentido de que é possível que outras leis tragam a
possibilidade de que certos documentos sejam considerados títulos executivos.
Um exemplo comum são os Termos de Ajustamento de Conduta – TAC, documento
firmado por órgãos públicos em litígios coletivos.
A Lei nº 8.429/1992, em seu art. 6º, estende as sanções de improbidade aos particulares
que são beneficiários dos atos de improbidade. Por isso que uma pessoa jurídica que se beneficia
de ato fraudulento poderá ser atingida pela Lei de Improbidade Administrativa. O art. 17, §1º,
dessa lei diz que é vedada qualquer transação em ação de improbidade. Esse dispositivo havia
sido revogado por uma Medida Provisória em 2012. Apesar da motivação de tal Medida
Provisória ter sido nebulosa, parece que fazia sentido o que ela buscava. Hoje, não faz sentido,
no ordenamento brasileiro, impedir as convenções processuais. Após 1992, quando essa lei foi
criada, houve uma virada negocial no processo judicial brasileiro. Inclusive, com a Lei 12.046,
dos acordos de leniência, essa previsão não faz o menor sentido: a pessoa jurídica pode fazer um
acordo de leniência; mas a pessoa física não pode fazer acordo por conta da vedação do art. 17,
§1º. De todo modo, essa medida provisória expirava no começo de 2016, de modo que não foi
renovada. Hoje, por isso, vivemos essa contradição: pessoa jurídicas podem ser beneficiadas por
acordos de leniência em caso de se beneficiarem de improbidade; enquanto pessoas físicas não.

COMPETÊNCIA NA EXECUÇÃO

COMPETÊNCIA NA EXECUÇÃO DE TÍTULOS JUDICIAIS

O legislador, quando fixa a competência, busca a competência que pareça mais adequada
para cada tipo de caso. Assim não vai ser diferente na execução. A competência no processo de
execução é distribuída com base em critérios que levam em consideração a economia de recursos
do judiciário, a eficiência e o acesso à justiça. Quando mais perto o juízo estiver dos envolvidos
e dos bens a serem atingidos, melhor é para as pessoas comparecerem ao judiciário e verem seus
direitos satisfeitos.
Esse critérios são muitos variados na doutrina estrangeiras. As vezes busca-se a
competência do foro onde se localizam os bens, especialmente em caso de bens imóveis. Outras
vezes, busca-se o foro do local onde reside o executado; ou o lugar onde a obrigação deveria ter
sido cumprida.
No Brasil, a tradição era estabelecer um critério funcional: o local do processo executivo
seria o local onde ocorreu o processo cognitivo anterior. Isso era para o caso de título executivo
judicial: a execução corre no foro da cognição. Caso essa cognição se desse nos Tribunais, o
próprio Tribunal executaria.
Contudo, ao longo dos anos, percebeu-se que esse critério não atendia aos requisitos de
eficiência do processo. Nem sempre tramitar a execução no foro da cognição é eficiente. As
regras do processo cognitivo têm outra lógica. Como você ainda não sabe quem tem razão, as
regras do processo cognitivo levam em consideração diversos fatores que nem sempre interessam
à execução. Normalmente, as ações de caráter pessoal são ajuizadas, no processo cognitivo, no
domicílio do réu. Isso porque entende-se que o autor tem até a prescrição para planejar sua

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demanda, enquanto o réu, via de regra, tem apenas 15 dias para responder. Porém, a partir do
momento em que esse réu é condenado, nem sempre manter a ação nesse domicílio do réu é
eficiente. As vezes o réu reside em um lugar, mas seus bens estão localizados em outro lugar.
Pessoas jurídicas as vezes também têm sede em lugares diversos daqueles em que estão
localizados seus bens, até por questões de eficiência fiscal.
Por isso, hoje, entende-se que o critério funcional é ultrapassado. Hoje, a situação de
riquezas é bem diferente daquela do século anterior. Antigamente, bens valiosos significava bens
imóveis. Hoje, muitas pessoas possuem mais riquezas em bens imateriais do que em bens
materiais. Por conta disso, o critério funcional acabava por ser considerado “disfuncional”.
Com a reforma da execução de 2005, hoje uma modificação dessa questão da
competência, reproduzida no CPC de 2015. Essa regra está no art. 516: “O cumprimento da
sentença efetuar-se-á perante: I - os tribunais, nas causas de sua competência originária; II - o
juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; III - o juízo cível competente, quando
se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de
acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o
exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se
encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a
obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será
solicitada ao juízo de origem”.
A regra geral continua igual: trata-se de um foro funcional. Contudo, surge uma
possibilidade do exequente requerer a execução em juízo diverso. Essa opção se mostra bem
ampla no CPC de 2015. Essa opção do exequente está no parágrafo único do mencionado
dispositivo: pode o exequente optar (i) pelo juízo de residência do executado; (ii) pelo juízo do
local onde se localizam os bens; ou (iii) pelo juízo onde deva ser executada a obrigação de fazer
ou não fazer. Além disso, no caso de obrigação de alimentos, o art. 528, §9º, prevê ainda a
possibilidade do exequente requerer a execução em seu próprio domicílio: “Além das opções
previstas no art. 516, parágrafo único, o exequente pode promover o cumprimento da sentença
ou decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio”.
Logo, hoje, a competência funcional, apesar de existir, não é mais inderrogável.
Em todos os casos, essa execução é exercia unilateralmente pelo exequente. Não pode o
executado questionar qualquer desobediência à competência original. Nessa linha, o melhor
entendimento parece ser o de que, se o exequente pode decidir unilateralmente a competência, é
também possível que ele e o executado decidam de comum acordo. Sempre que houver a opção a
uma das partes, deve haver também a opção de composição entre as partes, por meio de negócio
jurídico processual.

Há as execuções em caso de arbitragem. A arbitragem se encerra com a sentença e, via de


regra, o árbitro não tem poder de executar. Para fazer cumprir suas decisões, o árbitro precisa da
justiça estatal. Há pessoas que questionam esse entendimento, dizendo que, embora não possa
usar força, o árbitro pode executar. De todo modo, a regra é que a arbitragem se encerra com a
sentença. Se não houver cumprimento espontâneo, é preciso recorrer ao judiciário.
Por sua vez, há ainda o caso da execução de sentença penal. O juízo civil não fica
vinculado à sentença penal. Não interessa ao juízo cível onde foi proferida a sentença criminal.
Mesmo sendo na justiça federal ou na justiça militar, a execução seguirá a competência cível
como prevista, via de regra na justiça estadual. Apenas nos casos da Constituição será seguida

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competência funcional. Não é porque, por exemplo, o processo criminal correu na justiça federal
que a execução ficará na justiça federal.

COMPETÊNCIA NA EXECUÇÃO DOS TÍTULOS EXTRAJUDICAIS

Nesses casos, não houve processo cognitivo anterior. Logo, não há como estabelecer
competência funcional.
Para descobrir a competência de título executivo extrajudicial, a primeira coisa que deve
ser feita é olhar para o título. Normalmente, não estando expressa no título, essa competência é
do lugar do adimplemento. Outras leis que preveem títulos executivos extrajudiciais falam que a
competência executiva é do lugar do domicílio do obrigado. Logo, é preciso conjugar as regras
do CPC com a legislação esparsa.
As regras do CPC estão no art. 781: “A execução fundada em título extrajudicial será
processada perante o juízo competente, observando-se o seguinte: I - a execução poderá ser
proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título ou, ainda, de situação
dos bens a ela sujeitos; II - tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no
foro de qualquer deles; III - sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a
execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio do
exequente; IV - havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será
proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente; V - a execução poderá ser proposta
no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título,
mesmo que nele não mais resida o executado”.
O inciso I fala novamente de uma opção ao exequente. Poderá este propor a ação no foro
do domicílio do executado, do local onde estão os bens sujeitos ao título ou ainda em eventual
foro de eleição, quando previsto.
O inciso II trata de foros concorrentes. Havendo mais de um domicílio do executado, este
poderá ser demandado em qualquer um deles. Contudo, esse artigo há que ter uma interpretação
conforma a boa-fé. Não pode o exequente, propositalmente, escolher o foro que vai tornar mais
difícil a defesa por parte do executado.
O inciso III novamente estabelece foros concorrentes, quando incerto ou desconhecido o
domicílio do executado, a execução será onde ele for encontrado ou no foro do domicílio do
exequente.
O inciso V, por fim, trata do foro de constituição da obrigação.

O art. 782 complementa as disposições sobre execução: “Não dispondo a lei de modo
diverso, o juiz determinará os atos executivos, e o oficial de justiça os cumprirá. § 1o O oficial
de justiça poderá cumprir os atos executivos determinados pelo juiz também nas comarcas
contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana. § 2o
Sempre que, para efetivar a execução, for necessário o emprego de força policial, o juiz a
requisitará. § 3o A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do
executado em cadastros de inadimplentes. § 4o A inscrição será cancelada imediatamente se for
efetuado o pagamento, se for garantida a execução ou se a execução for extinta por qualquer
outro motivo. § 5o O disposto nos §§ 3o e 4o aplica-se à execução definitiva de título judicial”.
O §1º desse dispositivo demonstra que há, hoje, uma flexibilização da territorialidade.
Antes, o corte de onde determinado juízo poderia exercer suas competência era absoluta. Hoje,

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temos que, havendo comarcas contíguas, há a possibilidade de que o juiz ultrapasse sua
competência originária e realize diligências sem necessidade de cartas precatórias.

O art. 782 trata da questão dos SUJEITOS do processo de execução. Esse dispositivo diz
expressamente que os atos executivos vão ser praticados pelo juiz. Claro que esse juiz vai se
apoiar na atividade de diversos sujeitos auxiliares da justiça, mas a predominância é de atos
judiciais. Essa lógica da execução judicial é uma tradição do Direito Português, que não
incorporou, com as invasões napoleônicas, o modelo de outros países da Europa. A execução
civil na França segue um modelo praticamente desjudicializado. Nesse país, a execução é
conduzida por um servidor da justiça (como espécies de oficiais de justiça, sob a supervisão do
juiz). No Direito Europeu, a execução judicial é uma exceção.
No mesmo sentido segue a lógica dos países da common law. Existe uma
desjudicialização de atos executivos e sua atribuição a outros personagens processuais diversos
do juiz.
Hoje, até Portugal e Espanha, que inspiraram o modelo brasileiro, passaram a seguir o
modelo europeu e da common law. Nesses países, desde o começo dos anos 2000, a execução
deixou de ser exercida pelo juiz e passou a ser exercida por um “agente de execução”, a quem
incumbe a prática de praticamente todos os atos executivos, desde as notificações até a penhora
dos bens e pagamentos. Os atos desses agentes são sempre controlados pelo juiz, que também
atua quando houver uma controvérsia.
Porém, o CPC de 2015 não avançou nesse tema. No Brasil, continuamos com um modelo
de centralização da execução na figura do juiz, modelo que foi abandonado em quase todos os
países que inspiraram nosso Código. Claro que o CPC permite uma série de delegações a outros
sujeitos: a execução é pródiga nisso. A execução é uma sede onde constantemente o juiz delega
competência. Um exemplo disso é quando a execução compreende a penhora de empresa. Essa
penhora é feita por um administrador. Esse administrador exerce a penhora e se reporta ao juiz.
Também quando há penhora de frutos, também feita por administradores. Ou ainda, como já
mencionamos, os atos de expropriação por iniciativa privada.
O problema é que, ao que parece, nosso sistema vive um momento de “privatização” da
execução, sem uma descentralização. Há uma verdadeira desestatização dos atos executivos, mas
ainda centralizada na figura do juiz, que apenas delegas suas funções. O melhor, seguindo a
doutrina do exterior, parece ser manter o procedimento executivo em sede do poder estatal, mas
descentralizado da figura do juiz, como se outro funcionário pudesse centralizar as funções,
ficando apenas sob supervisão do juiz.

EXECUÇÃO E PROCESSO INCIDENTAIS

A competência na execução atrai a COMPETÊNCIA DOS PROCESSO INCIDENTAIS.


Os embargos de terceiros, embargos de execução etc. são atraídos pela competência do processo
de execução.
Isso é criticado por parte da doutrina. O Professor, por exemplo, entende que pode haver
uma desvinculação. No caso concreto, é preciso ver se essa vinculação é eficiência. Não sendo,
deve haver a desvinculação.

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CONDIÇÕES DA AÇÃO DE EXECUÇÃO

LEGITIMIDADE DE PARTE

Onde estão os legitimados para execução? No título executivo. Essa legitimidade pode
ser ordinária ou extraordinária. A LEGITIMIDADE ORDINÁRIA se subdivide em dois tipos: (i)
inicial ou primária; e (ii) superveniente.
A Legitimidade Ordinária INICIAL é aquela em que o título continha os envolvidos. Já a
Legitimidade Ordinária SUPERVENIENTE é aquela em que o título é inicialmente omisso. É o
caso, por exemplo, da sentença penal algumas vezes, ao não indicar quem é o beneficiário, que
pode não ser a vítima. Da mesma forma, é possível falarmos, na execução, em sujeitos que não
teriam primariamente, mas apenas secundariamente, a legitimidade para executar. Como
exemplo, temos o espólio e o cessionário do direito. Nesse caso, o título não esclarece tudo. É
importante olhar o título, mas, algumas vezes, ele não vai dizer quem são as partes legítimas.
Essas previsões estão no art. 778: “Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei
confere título executivo. § 1o Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em
sucessão ao exequente originário: I - o Ministério Público, nos casos previstos em lei; II - o
espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for
transmitido o direito resultante do título executivo; III - o cessionário, quando o direito
resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos; IV - o sub-rogado, nos
casos de sub-rogação legal ou convencional. § 2o A sucessão prevista no § 1o independe de
consentimento do executado”.
Pela redação do §1º, temos que esses sucessores podem não apenas propor a execução,
mas também “nela prosseguir”, ou seja, é possível que a execução seja proposta pelo legitimado
ordinário e continue com o legitimado extraordinário. Além disso, o §2º deve ser lido com o art.
109, §1º, ambos do CPC. Na sucessão, a execução independente de consentimento do executado.
Na cognição não é assim, como já vimos.

Por sua vez, temos a LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA, que pode ser (i)
autônoma; ou (ii) subordinada. A legitimidade extraordinária subordinada depende de uma
omissão do legitimado ordinário. É muito comum nas execuções coletivas, em casos em que o
MP só pode atuar quando o prejudicado não o faz. Por outro lado, temos legitimidades
extraordinárias autônomas, em que a atuação do legitimado extraordinário independente da
atuação do legitimado ordinário. Também é muito comum em ações coletivas, quando o MP
pode entrar com ação de execução independentemente dos legitimados ordinários terem entrado
concorrentemente.
A doutrina destaca uma hipótese de legitimidade extraordinária autônoma exclusiva. Isso
é excepcional porque a atuação do legitimado extraordinário exclui a legitimidade do legitimado
ordinário. É o caso do trustee dos debenturistas previsto na Lei nº 6.404/1976. A atuação do
agente fiduciário impede que os debenturistas atuem por si só na execução.

Por outro lado, o art. 779 prevê a LEGITIMIDADE PASSIVA: “A execução pode ser
promovida contra: I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II - o espólio, os
herdeiros ou os sucessores do devedor; III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento

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do credor, a obrigação resultante do título executivo; IV - o fiador do débito constante em título
extrajudicial; V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do
débito; VI - o responsável tributário, assim definido em lei”.
O inciso III trata de casos de cessão de débito. É diferente da cessão de crédito. Isso é
uma diferença do Direito Civil. Via de regra, a pessoa pode ceder seu crédito sem anuência do
devedor. Por outro lado, a assunção de débito, também via de regra, só pode ocorrer mediante o
consentimento do credor.

RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

No tema da legitimidade, cabe tratar ainda da RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL.


A responsabilidade patrimonial é uma situação potencial, no sentido de ser uma
possibilidade de sujeição do patrimônio de alguém às medidas executivas.
Existe uma controvérsia sobre se essa responsabilidade patrimonial teria natureza de
Direito Processual ou Direito Material. Quem diz que tem natureza processual, foca na relação
entre Estado e indivíduo na coerção para execução. Por outro lado, outras pessoas vão dizer que
essa relação não tem nada a ver com processo, sendo uma forma de pressionar ao cumprimento
das obrigações de forma persuasiva da norma. Toda norma jurídica pressupõe a possibilidade do
Estado agir para fazer cumprí-las, de modo que essa relação não tem nada a ver com Direito
Processual.
Com relação aos bens, surge a pergunta: a quem cabe assegurar os bens que façam frente
ao pagamento da dívida? Novamente, alguns autores vão dizer que há um dever do Estado
satisfazer o crédito. Nesse sentido, seria dever do Estado procurar bens para assegurar o
pagamento da dívida. Na França, por exemplo, o Ministério Público pode ser chamado para
procurar bens. Nos EUA, o juiz pode prender a pessoa por desacato caso ela não indique onde se
localizam seus bens. Há ainda legislações que prevejam uma penhora genérica, com
indisponibilidade de todos os bens do devedor (a partir do bloqueio geral, o devedor fica
constrangido a indicar alguns para a execução).
No Brasil, sempre se entendeu que a obrigação de indicar bens do executado era do
exequente. Se o exequente não conseguisse indicar bens, a execução seria suspensa ou extinta.
Pelas regras do CPC de 1973, o executado ganhava a oportunidade de indicar bens para
execução. Caso ele não faça, ele perde essa faculdade, que passa ao exequente, ou seja, o
exequente passa a ter o poder de indicar o bem que quiser para execução. Há, assim, uma
transmissão da obrigação ao exequente, não ao Estado. Desse modo, o CPC de 1973 era muito
benéfico ao executado. O executado era citado para pagar ou nomear bens à penhora (bens que
deveriam suportar a atividade executiva, em caso de não pagamento). Caso o executado não
pagasse e não indicasse bens à penhora, nada acontecia, pois a única sanção era não poder
indicar bens a penhora mais tarde (e correr o risco de que a penhora recaia sobre qualquer bem
de seu patrimônio). Não havia, assim, um dever do executado indicar bens (não era considerado
um ilícito a não indicação). Caberia ao exequente a procura desses bens.
O CPC de 2015 trouxe alguns instrumentos para pressionar o executado a indicar seus
bens, com sanções pesadas caso o executado não cumpra esse dever. Hoje, então, há um
verdadeiro DEVER DO EXECUTADO DE APRESENTAR BENS APTOS A SUPORTAR A
ATIVIDADE EXECUTIVA. Deve o executado, assim, indicar os bens e sua localização (se

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móveis). Esses bens devem ser penhoráveis, ou seja, despidos de quaisquer ônus; bens que
possam efetivamente se prestar ao pagamento.
Criam-se formas de pressão de modo a desestimular condutas indesejáveis, tendo em
vista a efetividade do processo executório. Um exemplo é a redução dos honorários de
sucumbência para 10% em caso de pagamento espontâneo, nos termos do art. 827, §1º: “No caso
de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será
reduzido pela metade”. Por outro lado, quando rejeitados os embargos à execução, os honorários
serão de 20%, nos termos do §2º do mesmo dispositivo: “O valor dos honorários poderá ser
elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração,
caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo, levando-se em conta
o trabalho realizado pelo advogado do exequente”.
Outra pressão que existe sobre o executado são os ATOS ATENTATÓRIOS CONTRA
A DIGNIDADE DA JUSTIÇA. Essa disciplina está muito ampliada no CPC de 2015. Manteve-
se a configuração do ato atentatório à dignidade da justiça sobre condutas que tentam dificultar a
execução (como esconder os bens). Mas essa disciplina foi ampliada para abranger defesas
abusivas por parte do executado. Se o executado realiza uma defesa muito abusiva, ele pode
levar terceiros a desistirem do processo executivo (por exemplo, pode levar o arrematante a
desistir da arrematação). Logo, a lei vem sancionar e pressionar o executado a não utilizar
defesas abusivas. O executado só vai ser estimulado a se defender com argumentos com base nos
quais ele efetivamente visualize uma possibilidade de vitória. Isso não quer dizer que toda defesa
considerada improcedente leva a uma sanção ao executado. Estamos falando aqui de uma defesa
que não tenha argumentos sólidos, não seja embasada em provas etc. Isso está no art. 903, que
será visto adiante.
Existe também agora um mecanismo poderoso para equilibrar um pouco essa pressão que
existe contra o executado, evitando também a procrastinação do credor. Embora isso não seja tão
comum quanto a procrastinação por parte do executado, é possível que interesse ao exequente
que a execução se prolongue. Manter o executado com seus bens bloqueados, por exemplo, pode
funcionar como uma pressão (abusiva) para que haja uma transação processual. Isso pressiona
até quando o executado tem razão: o executado tem uma defesa sólida, mas se vê compelido a
celebrar uma transação não muito favorável a ele apenas para ver seus bens livres para
celebração de um negócio.
O mecanismo mais efetivo no CPC de 2015 para prevenir esses atos abusivos do
exequente é a PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. Se o processo fica suspenso porque os bens
não são achados; ou porque não surgiram arrematantes no leilão, há esse tipo de prescrição.
Antigamente, o processo ficava suspenso indefinidamente até que bens surgissem. Hoje, é
possível que ocorra uma prescrição intercorrente (no curso do processo) que pode levar à
prescrição. Isso está nos parágrafos do art. 921: “(...) §1o Na hipótese do inciso III, o juiz
suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se suspenderá a prescrição.
§2o Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado ou que sejam
encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos. §3o Os autos serão
desarquivados para prosseguimento da execução se a qualquer tempo forem encontrados bens
penhoráveis. §4o Decorrido o prazo de que trata o §1o sem manifestação do exequente, começa
a correr o prazo de prescrição intercorrente. §5o O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo
de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o §4o e extinguir o
processo”. Hoje, inclusive, alguns doutrinadores questionam se essa prescrição intercorrente não

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se aplicaria também ao processo de conhecimento. Para os doutrinadores legalistas, o argumento
é de que ela está previsto apenas para a execução. Por outro lado, outros doutrinadores alegam
que a prescrição é a mesma, não tendo motivo para que esta não se aplique ao processo cognitivo
“deixado de lado” pelo autor.

O art. 789 do CPC é que vai definir a base da responsabilidade patrimonial: “O devedor
responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações,
salvo as restrições estabelecidas em lei”.
As restrições previstas em lei são as impenhorabilidades. O que são “bens presentes e
futuros”? Essa expressão tem origem no direito italiano, tendo como objetivo estabelecer alguns
marcos temporais, de modo a determinar quais bens podem ser atingidos pela execução. Bens
presentes são aqueles que atualmente são do patrimônio do executado; bens que são de sua
propriedade desde o momento de constituição da obrigação (de celebração do contrato). Logo,
isso não tem nada a ver com o processo: começa bem antes dele.
Já os bens futuros são considerados a partir da instauração da execução. Bens futuros são
aqueles que não eram do patrimônio do executado ao tempo da obrigação, mas foram adquiridos
depois. Bens que foram adquiridos até o momento de instauração da execução podem ser
atingidos pela responsabilidade patrimonial.
A ideia geral é que a execução possa atingir os bens que o executado possua até o início
do processo cognitivo, mas também aqueles que forem sendo adquiridos em seu curso. Também
a ideia de excluir os bens pretéritos, ou seja, que já foram do patrimônio do executado, mas não
são mais (já foram alienados, doados etc.).
Além disso, existem alguns bens que são do patrimônio do executado e não serão
atingidos, como os adquiridos após o começo da execução; e bens que já saíram do patrimônio
do executado e podem ser atingidos. Que bens são esses? São aqueles (i) com garantia real; e (ii)
os bens alienados em fraude, ainda que não gravados por ônus reais. As alienações em fraude
precisam ser reconhecidas judicialmente. Os bens com ônus real independem de reconhecimento
judicial para que possa haver uma perseguição pelo credor; as alienações em fraude, por sua vez,
precisam ser reconhecidas judicialmente. Em ambas essas hipóteses, é importante verificar que a
execução está sendo direcionada a BENS DE TERCEIROS, ou seja, bens de terceiros podem ser
chamados a responder pela dívida do executado.
O art. 790 elenca os bens sujeitos à execução: “São sujeitos à execução os bens: I - do
sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação
reipersecutória; II - do sócio, nos termos da lei; III - do devedor, ainda que em poder de
terceiros; IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua
meação respondem pela dívida; V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento,
em ação autônoma, de fraude contra credores; VII - do responsável, nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica”.
Já o art. 791: “Se a execução tiver por objeto obrigação de que seja sujeito passivo o
proprietário de terreno submetido ao regime do direito de superfície, ou o superficiário,
responderá pela dívida, exclusivamente, o direito real do qual é titular o executado, recaindo a
penhora ou outros atos de constrição exclusivamente sobre o terreno, no primeiro caso, ou
sobre a construção ou a plantação, no segundo caso. § 1o Os atos de constrição a que se refere
o caput serão averbados separadamente na matrícula do imóvel, com a identificação do

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executado, do valor do crédito e do objeto sobre o qual recai o gravame, devendo o oficial
destacar o bem que responde pela dívida, se o terreno, a construção ou a plantação, de modo a
assegurar a publicidade da responsabilidade patrimonial de cada um deles pelas dívidas e pelas
obrigações que a eles estão vinculadas. §2o Aplica-se, no que couber, o disposto neste artigo à
enfiteuse, à concessão de uso especial para fins de moradia e à concessão de direito real de
uso”.
No caso do direito de superfície, onde os atributos do direito e propriedade se dividem, a
execução só vai recair sobre a parcela a que o executado tem direito nessa divisão. Isso porque,
se assim não fosse, haveria uma violação ao direito de propriedade de alguém que não está sendo
executado. Antigamente, isso não existia e atrapalhava muito a execução. Logo, nessas hipóteses
em que o direito de propriedade é dividido, submete-se à execução apenas a parcela desse direito
que pertence ao executado.
O art. 794 assim prevê: “O fiador, quando executado, tem o direito de exigir que
primeiro sejam executados os bens do devedor situados na mesma comarca, livres e
desembargados, indicando-os pormenorizadamente à penhora. §1o Os bens do fiador ficarão
sujeitos à execução se os do devedor, situados na mesma comarca que os seus, forem
insuficientes à satisfação do direito do credor. §2o O fiador que pagar a dívida poderá executar
o afiançado nos autos do mesmo processo. §3o O disposto no caput não se aplica se o fiador
houver renunciado ao benefício de ordem”.
Esse dispositivo consagra o benefício de ordem, que existe no Código Civil ao fiador. O
CPC de 2015 traz essa restrição à mesma comarca.

Agora, vamos analisar as MODALIDADES DE FRAUDE. A primeira é a FRAUDE


CONTRA CREDORES. A segunda é a FRAUDE À EXECUÇÃO. A terceira é a ALIENAÇÃO
DE BEM PENHORADO.
A FRAUDE CONTRA CREDORES (fraude pauliana) é a diminuição patrimonial do
executado até o pondo de reduzí-lo à insolvência, ou seja, até o ponto em que o patrimônio do
executado não comporte mais o pagamento da dívida. São dois requisitos para a fraude contra
credores: (i) o dano; e (ii) a fraude. O dano é a verificação objetiva da redução patrimonial. Já a
fraude é um elemento subjetivo, sendo a intenção de causar o dano. No caso de alienações não
onerosas, como uma doação, a fraude é presumida. Existe aqui um elemento objetivo, que é o
dano; e outro subjetivo, que é a intenção.
Qual a consequência do ato praticado com fraude contra credores. O CC de 1916 dizia
que a consequência dessa fraude é a anulabilidade do negócio jurídico. Isso foi reproduzido pelo
CC de 2002. Hoje existe uma compreensão muito mais correta no que diz respeito à fraude, que
é perceber que a fraude não é um vício do consentimento, mas sim um dos chamados “vícios
sociais”. Ela não é um defeito intrínseco ao ato, mas extrínseco. Isso faz com que ela seja causa
de ineficácia, e não de invalidade. Trata-se de uma ineficácia relativa: só é ineficaz contra o
credor; contra o exequente. Mas isso não quer dizer que o ato é inválido. Tanto não são inválidas
que os terceiros prejudicados por este ato fraudulento e estejam de boa-fé poderão regredir contra
o alienante fraudador. Porém, esses terceiros não podem se opor a essa execução: o bem será
chamado para pagamento da dívida. Se a alienação fosse inválida, a indenização seria
extracontratual; como a alienação é válida (somente ineficaz contra o exequente), a
responsabilidade é contratual.

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Na fraude contra credores, o reconhecimento da fraude depende do ajuizamento de uma
ação autônoma. Há que se ajuizar uma ação autônoma que vai correr paralelamente ao processo
de execução que vai reconhecer (ou não) a existência de fraude. Trata-se da chamada Ação
Pauliana, que é ajuizada pelo credor contra o adquirente do bem. Inclusive, se você considera
que o ato de alienação praticada com fraude, a Ação Pauliana teria que ser proposta contra o
alienante e o adquirente em litisconsórcio. Contudo, considerando que o ato fraudulento é apenas
ineficaz, basta a propositura contra o adquirente, que é quem sofre os efeitos prejudiciais da
condenação. Ao fim da ação pauliana, o juiz irá proferir uma sentença que reconhece (ou não)
que o negócio jurídico ocorreu com fraude. Surge um questionamento sobre se essa sentença é
declaratória ou constitutiva. Os que entendem que a sentença é declaratória defendem que a
ineficácia ocorreria desde o momento em que foi celebrado o negócio jurídico; já os que
entendem que é constitutiva defendem que a ineficácia começa apenas na sentença. O mais
correto parece ser no sentido de que a sentença é constitutiva, uma vez que o domínio até
permanece com o exequente.
É possível a penhora do bem alienado com fraude contra credores sem o ajuizamento de
ação pauliana? Prevalece o entendimento de que não. O bem alienado com fraude contra
credores é considerado um bem pretérito, portanto fora da responsabilidade patrimonial. A
sentença da ação pauliana, por outro lado, serviria como uma forma de trazer esse bem pretérito
a presente, de modo que passe a estar abrangido pela responsabilidade patrimonial.
Em segundo lugar, temos a FRAUDE À EXECUÇÃO, que foi bastante modificada no
CPC de 2015. A característica geral da fraude à execução é que esta dispensa o requisito
subjetivo. Portanto, a fraude à execução é mais severa que a fraude contra credores: existe o
dano, mas não a intenção de alienação em fraude. Para muitos autores, inclusive, um ato em
fraude contra credores é um ato atentatório contra a dignidade da jurisdição. Além disso, no
elemento objetivo, o ônus probatório é do executado, ou seja, existe uma espécie de presunção de
insolvência. Quem deve provar que não teve uma redução patrimonial ao ponto de chegar à
insolvência é o executado.
O que o CPC de 2015 mudou em relação a esse tipo de fraude? A ideia geral é e sempre
foi a proteção aos interesses do exequente. Porém, o novo CPC de preocupou com a boa-fé do
adquirente. Essa parece ter sido a maior modificação. Muitos criticam esse ponto, dizendo que
“ficará mais fácil fraudar”. Porém, a proteção do terceiro adquirente de boa-fé parece ser algo
importante para o sistema. Por outro lado, o credor terá que ser mais diligente. Isso porque o
novo CPC utiliza e pressupõe o sistema público de registro de bens. A jurisprudência dizia que,
havendo registro público de bens, quando um terceiro quer adquirir o bem de uma pessoa, ele vai
a esse registro e pega as informações sobre quem é o proprietário do bem. Se ele tiver essas
certidões, a boa-fé já está comprovada; o terceiro se comportou como qualquer indivíduo se
comporta, com a devida diligência. Logo, a jurisprudência do STJ já vinha se orientando no
sentido que essa diligência era meramente a análise da matrícula e demais certidões do local
onde se localizasse o bem (não seria preciso tirar certidões no país inteiro para saber se há
alguma ação em curso que poderia tirar o bem dele). Por sua vez, o credor precisa ser diligente
porque o CPC permite que a propositura da execução pode ser averbada no registro de bens. Ai
deve o credor requerer essa averbação, de modo que o terceiro de boa-fé terá ciência dessa
execução. Se o credor assim agir, não haverá como o terceiro se dizer de boa-fé.
A previsão de fraude à execução está no art. 792: “A alienação ou a oneração de bem é
considerada fraude à execução: I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou

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com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no
respectivo registro público, se houver; II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a
pendência do processo de execução, na forma do art. 828; III - quando tiver sido averbado, no
registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo
onde foi arguida a fraude; IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava
contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência; V - nos demais casos expressos em lei.
§1o A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente. §2o No caso de
aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou
as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas
no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem. §3o Nos casos de desconsideração
da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da citação da parte cuja
personalidade se pretende desconsiderar. §4o Antes de declarar a fraude à execução, o juiz
deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo
de 15 (quinze) dias”.
Falando do inciso IV, quando o réu já tem ciência da demanda. Normalmente, entende a
doutrina que a partir da citação. Logo, se a demanda existe, mas o réu ainda não foi citado, não
há fraude à execução. Contudo, a doutrina mais moderna costuma ir no sentido de que isso é
matéria de prova. Logo, se resta comprovado que, mesmo antes da citação, o réu já sabia da
demanda, pode ser comprovado também que ele alienou seus bens com fraude à execução.
Além disso, o mesmo inciso fala na tramitação de ação capaz de reduzir o devedor à
insolvência. Contudo, essa parte é incompleta. Não se trata aqui só da demanda. Não é apenas a
demanda que possa levar o devedor à insolvência, mas a demanda somada à alienação com
fraude. Se a demanda é de 300 mil e o devedor tem patrimônio de 600 mil, somente a demanda
não pode leva-lo à insolvência. Contudo, se ele realizar uma alienação de 400 mil, a demanda,
junto com a fraude, leva-o ao estado de insolvência.
Os parágrafos desse dispositivo são a grande novidade. O §1º demonstra que acabou a
discussão acima vista: a fraude não é causa de invalidade, mas de ineficácia relativa. Além disso,
aqui, cabe destacar que, na fraude à execução, não há necessidade de ação própria. Essa fraude
pode ser reconhecida na própria execução e a penhora pode recair sobre os bens alienados com
fraude. Isso é uma importante diferenciação para a fraude contra credores, que pressupõe a Ação
Pauliana.
O §2º fala da prova da diligência pelo terceiro no caso de bem não sujeito a registro. No
caso de bem sujeito a registro, ele não precisa provar nada: basta demonstrar que consultou o
registro. Contudo, no caso de bem móvel não sujeito a registro, deve o terceiro comprovar que
tomou as diligências necessárias, inclusive com a demonstração das certidões extraídas no local
onde se encontra o bem e no domicílio do devedor.
Por sua vez, o §3º fala da desconsideração da personalidade jurídica. Esse dispositivo,
com redação truncada, quer abranger tanto a desconsideração da personalidade normal como a
desconsideração inversa (tanto quando a pessoa blinda seu patrimônio utilizando-se da pessoa
jurídica; quanto quando a pessoa jurídica blinda seu patrimônio na pessoa física). A fraude, nesse
caso, considera-se a partir do momento da citação: seja a citação do processo de execução; seja a
citação no incidente processual de desconsideração da personalidade jurídica.
Já o §4º abre a possibilidade do adquirente opor embargos de terceiro. Ou seja, o juízo
intima o terceiro sobre o reconhecimento da fraude à execução, de modo que o terceiro

52
adquirente também pode apresentar sua defesa. Isso foi uma modificação importante e consagra
o devido processo legal.
A terceira modalidade de fraude é a ALIENAÇÃO DE BEM PENHORADO. Com a
penhora, o que existe é uma identificação do bem que está sujeito à execução. Com a penhora,
existe uma redução do espectro de bens que vão poder ser atingidos pela execução. Isso não
exclui que o restante do patrimônio venha a responder, mas a penhora tem esse efeito de
especificação, de modo que a lei trata com maior rigor a alienação de bem penhorado.
Nesse caso, não importa a ausência do elemento subjetivo e nem do objetivo. Pouco
importa que haja uma redução patrimonial que leve o devedor à insolvência. Ela se caracteriza
ainda que não tenha havido intenção de fraudar a execução e que essa alienação leve o devedor à
insolvência. Ela é tão grave, que está prevista criminalmente no art. 347 do Código Penal.

Por outro lado, como falamos, existem bens que, ainda que estejam no patrimônio do
executado, não podem ser alcançados pelo processo de execução. Trata-se das
IMPENHORABILIDADES. As impenhorabilidades são exceções e, portanto, devem ser
interpretadas dessa forma.
A impenhorabilidade é um “meio termo” entre o princípio da execução menos gravosa e
o da efetividade, ou seja, ao mesmo tempo em que a execução deve possuir meios eficientes de
satisfação do crédito, a execução não pode arruinar a vida do executado.
O rol dos bens impenhoráveis está no art. 833 do CPC: “São impenhoráveis: I - os bens
inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, os
pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de
elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio
padrão de vida; III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se
de elevado valor; IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias
recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o §2o; V -
os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis
necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado; VI - o seguro de vida; VII - os
materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os
recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação,
saúde ou assistência social; X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de
40 (quarenta) salários-mínimos; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por
partido político, nos termos da lei; XII - os créditos oriundos de alienação de unidades
imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. §1o A
impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive
àquela contraída para sua aquisição. §2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à
hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua
origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais,
devendo a constrição observar o disposto no art. 528, §8o, e no art. 529, §3o. §3o Incluem-se na
impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os equipamentos, os implementos e as
máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto
quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a

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negócio jurídico ou quando respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou
previdenciária”.
Esse dispositivo não faz uma diferenciação, que existia no CPC de 1973, entre bens
ABSOLUTAMENTE impenhoráveis e bens RELATIVAMENTE impenhoráveis. Muitos
autores, por isso, defendem que essa discussão acabou no novo CPC: ou o bem é penhorável, ou
não. Porém, o Professor tem dúvidas sobre se essa discussão realmente acabou. Realmente, o
caput do art. 833 não faz expressamente essa distinção. Por outro lado, se olharmos o art. 834,
este é uma forma diferente de impenhorabilidade: “Podem ser penhorados, à falta de outros
bens, os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis”.
Os bens absolutamente impenhoráveis não poderiam ser penhorados em nenhum
hipótese, nem que não houvesse nenhum outro bem. Já os bens relativamente impenhoráveis
poderiam ser penhorados em último caso. Essa parece ser a hipótese do art. 834, que traz uma
categoria de bens que podem ser penhorados em algumas hipóteses, de maneira
subsidiária/secundária, a depender da existência, ou não, de outros bens livres e desembaraçados.
Logo, parece que essa distinção não acabou, de modo que o art. 833 diz respeito a bens
absolutamente impenhoráveis; enquanto o art. 834 diz respeito a bens relativamente
impenhoráveis.
Contudo, como veremos pela análise do art. 833, não seria correto afirmar que todos
esses bens não podem ser penhorados em nenhuma hipótese. Veremos que, em algumas
circunstâncias, é possível a penhora de alguns deles.
O inciso I do art. 833 fala dos “bens inalienáveis”, ou seja, aqueles que estão fora do
comércio; ou aqueles declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução. Essa declaração é
um negócio jurídico, normalmente em caso de testamento. Ao que parece, no melhor
entendimento, se essa impenhorabilidade pode ser determinada por ato unilateral, também pode
por ato bilateral.
O inciso II fala dos móveis que guarnecem a residência. Trata-se de um “braço” da
impenhorabilidade do bem de família, que, como veremos, possui uma regulamentação própria.
Logo, o conceito amplo de bem de família não é só o imóvel, correspondendo também a outros
bens que estão na residência. Essas referências ao bem de família, assim como outras presentes
nesse rol, são formas de concretização do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que
assegura aos indivíduos o mínimo existencial. Contudo, o mínimo existencial dispensa luxo: tudo
que é luxo, não é mínimo. Por isso, os móveis que guarnecem a residência, se forem de valor
elevado, podem ser penhorados no processo executivo. A lei, então, não pretende tornar
miserável o executado, mas impedir que ele continue vivendo uma vida de luxo enquanto o
exequente fica sem o pagamento de seu crédito.
O inciso III é no mesmo sentido que o anterior. As vestimentas, em regra, são
impenhoráveis. Contudo, novamente, vestimentas de alto valor, luxuosas, estão sujeitas à
penhora.
O inciso IV todo tem a ver com remuneração. Há uma tradição brasileira de
impenhorabilidade total das remunerações: salários, vencimentos, pensões, soldos... Alguns
doutrinadores consideram exagerada essa amplitude da proteção dos salários, que, para eles,
demonstra um desequilíbrio na proteção dos interesses de exequente e executado. Para eles, se a
essência das impenhorabilidades é garantir ao executado o mínimo existencial, deveria existir a
possibilidade de penhora do salário, ainda que não alcance toda a remuneração. Na Espanha, o
salario só é impenhorável até o limite do salário mínimo; em Portugal, 1/3 do salário pode ser

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penhorado. Já houve tentativa de tornar pelo menos parte do salário impenhorável, ainda na
égide do CPC de 1973, mas essa ideia foi vetada.
Esse inciso ressalva o §2º, que prevê hipótese em que não se aplica a impenhorabilidade
de remuneração. Sendo o executado devedor de alimentos, haverá desconto em folha da
remuneração, independentemente de quanto ele receba. Além disso, as importâncias excedentes a
50 salários mínimos mensais, ou seja, aquele que recebe mais de 50 salários mínimos mensais
poderá ter esse excedente executado. De todo modo, para aqueles que defendem uma maior
penhorabilidade da remuneração, trata-se de regra ainda muito tímida, uma vez que, no Brasil,
são muito poucos os que ganham acima de 50 salários mínimos.
Há um questionamento sobre se os juízes poderiam penhorar conta poupança, uma vez
que só estaria abrangida pela proteção da remuneração as chamadas “conta salário”. Porém, o
STJ já se manifestou no sentido de que a penhora de saldo em conta (qualquer que seja a conta) é
medida excepcional. Contudo, parece que isso mudou, pois, hoje, o art. 835 traz uma ordem de
penhora. Nessa ordem de penhora, o dinheiro de depósito em instituição financeira está no inciso
I dessa ordem. O dispositivo não faz qualquer diferenciação entre esses depósitos, de modo que
questiona-se se esse posicionamento do STJ não precisa ser revisto.
Alguns doutrinadores, como Leonardo Grego, entendem que, por conta da especificidade
desses dispositivos de proteção ao executado, a Lei do Bem de Família, que ainda será vista, se
tornou inócua, de modo que foi substituída pela disciplina das impenhorabilidades do CPC de
2015.
O inciso V fala de bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do
executado. Esses instrumentos de trabalho só serão impenhoráveis se não puderem ser
substituídos por outros de demais valor. Não pode, por exemplo, uma advogado falar que precisa
de uma caneta de mais de mil reais para realizar seu trabalho, uma vez que ele pode substituí-la
por outra de menor valor. Aqui, a lei fala em exercício de profissão. Isso é importante porque
esse inciso não serve para proteção da pessoa jurídica: pessoa jurídica não tem profissão. Esse
inciso deve ser lido em consonância do o §3º desse art. 833. Esse parágrafo estende, em alguns
casos, a proteção da pessoa natural para atividades da empresa agrícola. O argumento é no
sentido de que muitas vezes as empresas rurais tinham utensílios que eram arrendados, de modo
que, se fossem vendidos, inviabilizariam o exercício da atividade. Fora essa exceção, a regra
geral é que a pessoa jurídica não deve ser protegida por este inciso V.
Cabe destacar aqui que a jurisprudência já admitida, há um tempo, a impenhorabilidade
de faturamento da pessoa jurídica. Logo, também não se aplica às pessoas jurídicas a proteção
acima vista ao salário. Isso está na ordem do art. 835 e no art. 866. Normalmente, essa
penhorabilidade é limitada a um percentual do faturamento, ainda numa esteira de proteção da
“remuneração” da pessoa jurídica. A ideia é a preservação da empresa, de modo a não
inviabilizar sua atividade. Contudo, vemos aqui que a regra é mais benéfica ao exequente quando
comparada à proteção da remuneração da pessoa física. Inclusive, essa penhora sobre o
faturamento incide sobre qualquer montante do faturamento, independentemente de ser superior
a 50 salários mínimos ou não. A pessoa jurídica não tem Dignidade da Pessoa Humana, de modo
que a penhora que recai sobre ela pode ser mais rigorosa.
O inciso VI fala do seguro de vida.
O inciso VII fala de materiais de obra em andamento, salvo se a própria obra for
penhorada.

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O inciso VIII fala da pequena propriedade rural trabalhada pela família. Esse dispositivo
foi levemente alterado pelo CPC de 2015. O art. 5º, XXVI, da Constituição consagra a proteção
da pequena propriedade rural. Mas aqui há uma limitação: essa pequena propriedade rural deve
ser trabalhada pela família. Não da para o proprietário arrendar o lote ou constituir direito de
superfície. A ideia aqui não é proteger os especuladores, mas o pequeno núcleo familiar rural.
Por sua vez, o inciso IX fala dos recursos públicos recebidos por instituições privadas
para assistência social e educação. Tratam-se de repasses feitos muitas vezes para instituições
beneficentes (OCIPS) para aplicação em finalidades específicas. Esses recursos não podem ser
penhorados, uma vez que, ainda que repassados para a entidades, não perdem sua natureza de
recurso público.
O inciso X consagra a penhorabilidade da quantia depositada em caderneta de poupança.
Até 40 salários mínimos, essas quantias são impenhoráveis. A partir de 40 salários mínimos,
admite-se a penhorabilidade.
O inciso XI fala dos recursos públicos do Fundo Partidário.
O inciso XII fala dos recursos vinculados a incorporação imobiliária vinculados à
execução de obra.
Como adiantamos, o art. 384 fala dos bens RELATIVAMENTE IMPENHORÁVEIS.
Eles só serão penhorados quando (i) não houver bens penhoráveis; ou (ii) quando esses bens
penhoráveis não conseguirem sanar a dívida. Logo, tratam-se de bens que, em princípio, não são
penhoráveis, mas que podem vir a ser.
É o caso dos frutos e rendimentos dos bens inalienáveis. Logo, via de regra, se o bem é
inalienável, seus frutos e rendimentos também são. Contudo, será possível penhorar esses frutos
e rendimentos quando não houver outros bens penhoráveis. Isso é interessante para que se
chegue no equilíbrio entre exequente e executado.

Temos que tratar agora dos BENS DE FAMÍLIA.


Como visto, alguns autores vem defendendo que a Lei do Bem de Família (Lei nº
8.009/1990) foi completamente revogada, pois que o CPC de 2015 disciplina a matéria por
completo. Essa lei tem que ser lida em conjunto com o Código Civil, que no art. 1711 trata da
proteção do bem de família.
A proteção do bem de família, nos termos do art. 1º da Lei do Bem de Família, é sobre
qualquer dívida, inclusive as fiscais. Além disso, não é preciso que o executado seja proprietário
do bem, bastando que ele resida para receber a proteção. Contudo, não é possível que haja essa
proteção sobre mais de um bem, ou seja, só há um bem de família.
No mesmo sentido o art. 1º, §1º, da Lei do Bem de Família fala da impenhorabilidade de
alguns móveis. O art. 833 parece ser inclusive mais amplo aqui, pois não coloca algumas
limitações a essas impenhorabilidades, como faz a Lei do Bem de Família.
Essas impenhorabilidades da Lei do Bem de Família sempre precisam ser interpretadas
restritivamente, uma vez que não é possível admitir que bens luxuosos sejam protegidos sobre o
argumento de serem bens de família. A impenhorabilidade tem que sempre ser a exceção. O STJ
ampliou de mais o rol de bens que se inserem nos bens de família, não apenas para imóveis,
entendendo que imóveis de alto valor também não podem ser penhorados, mas também
ampliando a concepção de bens móveis integrantes do imóvel que também não podem ser
penhorados. Além disso, o STJ começou também a flexibilizar o conceito de família. Passou-se a
admitir, por exemplo, que dois irmãos que moram juntos constituam núcleo familiar. Inclusive, o

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STJ admite que a pessoa que vive sozinha em um apartamento (solteiro) também pode ser visto
como família.
Nas hipóteses do art. 3º da Lei do Bem de Família, o bem poderá ser penhorado. Nessas
hipóteses, o bem de família não tem proteção, podendo ser penhorado independentemente de
existirem outros bens penhoráveis (ou seja, trata-se de exceção até ao art. 834, que permite a
penhora de alguns bens impenhoráveis quando não existirem bens penhoráveis).
É possível que haja renúncia ao bem de família? Tradicionalmente se dizia que não, que o
bem de família, por dizer respeito ao mínimo existencial, representaria uma norma de ordem
pública. Contudo, há pelo menos 1 década, o STJ permite a renúncia ao bem de família e outras
impenhorabilidades. Inclusive, tratam-se de exemplos de renúncias a direitos processuais
fundamentais. O que não pode é haver uma renúncia a direitos de terceiros. Nesse caso, a
questão não é a possibilidade ou não de renúncia do bem de família, mas da disposição de
direitos de terceiros. Por isso, por exemplo, um pai não pode sozinho abrir mão de seu bem de
família, uma vez que sua mulher e seus filhos, ainda que não sejam proprietários, têm aquele
bem como de família e seriam prejudicados por esse ato. Como visto, a Lei do Bem de Família
não protege apenas o proprietário.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Essas normas do cumprimento de sentença são normas sobre execução, mas não estão no
livro específico de execução. Temos, no CPC, um livro específico sobre execução. Mas as
normas sobre cumprimento de sentença estão no livro do processo de conhecimento. Há uma
lógica de continuidade da fase de conhecimento no cumprimento de sentença. Mas as normas de
execução se aplicam ao cumprimento de sentença. Isso está expresso no art. 771, que é a ponte
entre a execução e o cumprimento de sentença: “Este Livro regula o procedimento da execução
fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que couber, aos
procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento de
cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir
força executiva. Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições do
Livro I da Parte Especial”. Logo, o cumprimento de sentença irá sempre dialogar com o livro de
execução.
A execução pelo cumprimento de sentença é chamada de “fase de execução”, não de
“processo de execução”. Daí o nome cumprimento de sentença. Nela, você está a executar um
título executivo judicial. Os títulos executivos judiciais, como já visto, estão no art. 515. São os
títulos executivos constituídos em juízo. O título é um documento que legitima a execução. O
título judicial é o título executivo constituído em juízo. A fase de conhecimento vai culminar na
sentença, que é o título executivo judicial por excelência, que dará início a uma nova fase, que é
o cumprimento de sentença.
Essa fase só ocorre quando o devedor não cumpre a sentença voluntariamente. Por isso,
para dar início à fase de execução, é preciso o título executivo judicial + inadimplemento. Caso o
devedor cumpra a decisão, não há que se falar em fase de cumprimento da sentença. Porém, não
cumprido, é possível se utilizar do aparato estatal para exigir esse cumprimento. Por se tratar de
um título judicial, não faz sentido haver um processo apenas para isso. Logo, trata-se de uma
fase do processo que tratará da execução. É a já vista ideia do processo sincrético: um processo
uno com fases subsequentes.
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Sendo um processo só, a lógica é a economia processual: não há que se inaugurar todo
um novo processo, com uma nova petição inicial. Sendo uma mera continuidade, essa
continuação é automática? Não! Esse cumprimento de sentença exige requerimento do
exequente, nos termos do art. 513, §1º: “O cumprimento da sentença que reconhece o dever de
pagar quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a requerimento do exequente”. Isso vale para a
“execução padrão”, que é a execução do pagamento de quantia certa. Caso a sentença seja de
entrega de coisa ou de fazer, ela, como será visto, é autoexecutiva.

Como é esse requerimento da continuidade do processo para a fase de execução? É uma


mera petição. Não é uma petição inicial. O que é possível postular nesse requerimento? Nele, em
geral, se postula a intimação do devedor (e não citação, pois não há que se falar em integrar o
demandado ao processo) para cumprir voluntariamente a obrigação constante da sentença. Para
alguns, essa “cautela legislativa” de solicitar ao credor que cumpra a obrigação é até demasiada,
pois o devedor já sabe que deve cumprir a sentença quando ela transita em julgado. Porém, o art.
513, §2º, é expresso ao afirmar que o devedor deverá ser intimado.
Uma vez intimado, o executado terá 15 dias para cumprir voluntariamente a obrigação.
Esse prazo de 15 dias está no art. 523: “No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada
em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da
sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o
débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver”. Esse cumprimento
voluntário não se confunde com o próprio cumprimento da sentença. O cumprimento voluntário
da condenação ocorrem nos 15 dias previstos no art. 523. Se o devedor não cumprir no prazo de
15 dias, o exequente peticiona novamente requerendo a penhora, ou seja, a execução forçada.
Essa execução forçada caracteriza o cumprimento de sentença. Nesse caso é que incidirá multa e
nova verba honorária. O cumprimento voluntário não enseja a cobrança de multa e verba
honorária. Isso está no art. 523, §1º: “Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o
débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez
por cento”.
Imaginando que uma sentença transitou em julgado, como se dará o procedimento da
execução? A sentença é um título executivo judicial. Essa sentença pode ser atacada por recurso,
e ai veremos a execução provisória e definitiva. Mas partindo do princípio que o réu não
recorreu, o credor deve apresentar uma simples petição requerendo que o devedor cumpra a
obrigação voluntariamente. Nessa petição, deve o credor já trazer um cálculo da dívida, nos
termos do art. 524. Isso é um marco da atuação colaborativa do exequente: este também deve
colaborar. Isso está no art. 524: “O requerimento previsto no art. 523 será instruído com
demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição conter: I - o nome
completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§1o a 3o; II - o
índice de correção monetária adotado; III - os juros aplicados e as respectivas taxas; IV - o
termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados; V - a periodicidade
da capitalização dos juros, se for o caso; VI - especificação dos eventuais descontos
obrigatórios realizados; VII - indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível”.
Inclusive é por isso que o exequente deve ser intimado para o pagamento: é nesse
momento que o credor apresentar o quanto exatamente ele deve. O prazo para pagamento, por

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isso, não corre do trânsito em julgado, mas da intimação do executado pelo exequente. Isso já era
previsto na Súmula nº 70 do TJRJ mesmo antes do CPC de 2015.
O §1º desse artigo fala do caso em que o cálculo do credor aparentemente parece
incorreto: “Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da
condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a
importância que o juiz entender adequada”. Ou seja, se o credor não traga valor que pareça
verossímil, a execução será iniciada por esse valor pretendido, mas a penhora dependerá do valor
que o juiz entender que é o devido, ou seja, passa-se a obrigação para as mãos do juiz.
Voltando ao art. 513, este fala como se dará a intimação do executado, nos termos de seu
§2º: “O devedor será intimado para cumprir a sentença: I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de
seu advogado constituído nos autos; II - por carta com aviso de recebimento, quando
representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos,
ressalvada a hipótese do inciso IV; III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1o do art.
246, não tiver procurador constituído nos autos IV - por edital, quando, citado na forma do art.
256, tiver sido revel na fase de conhecimento”. Mesmo sendo a parte responsável pelo
pagamento, via de regra, a intimação será feita na pessoa de seu advogado constituído nos autos.
Como trata-se de uma continuação de um processo já iniciado, o executado terá advogado
constituído nos autos. Então, cabe a citação na pessoa de seu advogado.
E se o executado não tem advogado constituído nos autos? O mesmo art. 513, §2º, traz
outras hipóteses. Sendo o executado representado pela Defensoria Pública, ele não tem advogado
particular. Havia, antigamente, um questionamento sobre a possibilidade de intimação na pessoa
do Defensor. O Defensor não escolhe suas causas e seus clientes: ele presta um serviço público.
Muitas vezes, o Defensor nem consegue mais contato com seu assistido. Logo, nesse caso, o
executado representado por Defensor Público deve ser intimado por carta com aviso de
recebimento, não valendo a intimação na pessoa do Defensor Público. Além disso, essa também
será a forma de intimação do executado que não tiver procurador constituído nos autos. Isso
acontece quando o executado é revel; ou quando o advogado tem seu mandato revogado.
Se a carta acima mencionada for positiva, haverá a contagem do prazo de 15 dias da
juntada do aviso de recebimento aos autos. Por outro lado, o art. 513, §3º, trata da hipótese em
que o retorno é negativo: “Na hipótese do §2º, incisos II e III, considera-se realizada a
intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo,
observado o disposto no parágrafo único do art. 274”. Se houver um aviso de recebimento
negativo por mudança de endereço, a intimação negativa será considerada como positiva quando
essa mudança de endereço não tiver sido informada ao juízo. Novamente aqui há a questão da
colaboração das partes. As partes devem manter seu endereço atualizado perante o juízo. O
contrário é falta de colaboração processual, sancionada na forma deste art. 513, §3º. O CPC, ao
mesmo tempo que protege o executado exigindo essa citação, não protege o devedor que faltou
com sua colaboração por não avisar da mudança de endereço.
Esse art. 513, §3º, deve ser lido em conjunto com o art. 77, V, que prevê: “Além de outros
previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de
qualquer forma participem do processo: (...) V - declinar, no primeiro momento que lhes couber
falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando
essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva; (...)”.
Continuando o art. 513, §2º, III, fala da intimação do devedor por meio eletrônico. Isso
ocorrerá quando este executado não tiver procurador constituído nos autos. Como visto, havendo

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advogado constituído nos autos, o devedor será intimado na pessoa dele. O art. 513, §2º, III, faz
remissão ao art. 246, §1º. Esse dispositivo trata da comunicação por meio eletrônico das pessoas
jurídicas públicas e privada que têm prévio cadastro no sistema do processo eletrônico. Assim,
não havendo advogado constituído nos autos, mas já houver endereço eletrônico registrado no
cadastro, a pessoa jurídica poderá ser intimada deste modo. É preciso, para tanto, aguardar um
pouco para que esse sistema passe a ter um funcionamento melhor.
Por fim, a última forma de intimação do cumprimento de sentença fala da intimação por
edital. Esta se dará quando o executado, na forma do art. 256, foi revel na fase de conhecimento.
A citação por edital é meramente presumida, podendo o réu ser revel. Nesse caso, citado por
edital e não tendo advogado constituído nos autos, a intimação poderá ser por edital novamente
para o cumprimento de sentença.

Continuando no processo de execução, o prazo de 15 dias visto para pagamento é


contado em dias úteis ou corridos? Trata-se de um prazo processual ou material? Isso gera
dúvida na doutrina. Quem tem que pagar é o devedor, não o advogado. Ao que parece, sendo
para o devedor pagar, o prazo é material e contado em dias corridos. Na dúvida, o melhor é pagar
em 15 dias corridos, mas há divergência.
Havendo o pagamento nos 15 dias, encerra-se a execução. Porém, pode o executado
permanecer inerte e não pagar no prazo de 15 dias. Nesse caso, como visto, pelo art. 523, §1º, o
débito será acrescido de multa de 10% e honorários advocatícios de 10%. Isso é uma forma de
sancionar o executado que não colabora. A doutrina dá a isso um caráter sancionador, embora
também haja aqui um caráter coercitivo, incentivando que o executado efetue logo o pagamento.
Logo, além da multa, incide também honorários de 10%. Na sentença o juiz fixa verba honorária
pelo trabalho realizado no novo processo de conhecimento. O art. 85, §1º, reforça essa previsão,
dizendo que são devidos honorários no caso do cumprimento da sentença.
E se o pagamento for parcial? O art. 523, §2º, diz que incide multa sobre o saldo, além de
honorários: “Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários
previstos no §1º incidirão sobre o restante”. Isso novamente mostra que o ideal é que seja pago o
valor que se acha devido. Sobre este valor não incidirá mais multa e honorários; apenas sobre o
saldo é que haverá essa incidência.

Qual a defesa do executado no cumprimento de sentença? A defesa no cumprimento de


sentença é a IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, prevista no art. 525. Esse
artigo fala da “tese dos 15 mais 15”. A impugnação ao cumprimento de sentença terá seu prazo
de 15 dias iniciado findo os 15 dias do cumprimento voluntário. Logo, são 15 dias para
cumprimento voluntário e mais 15 dias que o impugnado tem para entrar contra a impugnação.
Esse segundo prazo de 15 dias se dá independentemente de nova intimação. Não haverá nova
intimação do executado: o prazo para impugnação começa a contar do dia seguinte ao término do
prazo para pagamento voluntário. Além disso, nesse caso do prazo para impugnação, não há
dúvidas de que os 15 dias são contados em dias úteis.
Para a impugnação, o Novo CPC não exige prévia garantia do juízo. Isso está no caput do
art. 525: “Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o
prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação”. No CPC de 1973, havia discussão
sobre se o executado deveria indicar um bem para penhora ou até penhorar efetivamente esse

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bem para poder impugnar. Essa discussão acabou, tendo o CPC de 2015 optado por permitir a
impugnação independentemente da indicação do bem a penhora.
Por outro lado, se o executado quiser obter o efeito suspensivo da execução, ai sim ele
terá que ofertar um bem como garantia ou fazer um depósito de garantia. Isso está expresso no
art. 525, §6º: “A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos,
inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que
garantido o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se
seus fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da execução for manifestamente
suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação”. Caso o bem não
seja ofertado em garantia, a despeito da impugnação, a execução irá prosseguir.
O §1º do art. 525 vai trazer as matérias arguíveis em impugnação: “Na impugnação, o
executado poderá alegar: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o
processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou
inexigibilidade da obrigação; IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; V - excesso de
execução ou cumulação indevida de execuções; VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo
da execução; VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,
novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença”.
Chama atenção o inciso IV acima transcrito, que trata da penhora incorreta ou avaliação
errônea. Isso parece estranho: em 15 dias para impugnar, ainda não houve a penhora. Isso é um
resquício do sistema anterior, quando a impugnação exigia a garantia do juízo. No CPC de 2015,
com o prazo dos “15 mais 15”, isso parece, a princípio, um contrassenso. Porém, se lido com o
§11 do mesmo dispositivo, esse inciso passa a fazer sentido: “As questões relativas a fato
superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas
relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes,
podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de
15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da
intimação do ato”. Logo, poderá o executado questionar penhora incorreta ou avaliação errônea
por mera petição.
Nessa impugnação, a defesa do executado é limitada. Isso porque há uma sentença
transitada em julgado. Essa sentença vai imunizar todas as discussões da fase de conhecimento.
Por isso a defesa é restrita. O contrário seria uma violação à coisa julgada. Isso diferencia o
cumprimento de sentença dos embargos à execução da execução de título executivo extrajudicial,
que possui uma cognição mais ampla, visto que nunca houve processo de conhecimento.

Há que se falar ainda da COMPETÊNCIA. O art. 516 trata do tema: “O cumprimento da


sentença efetuar-se-á perante: I - os tribunais, nas causas de sua competência originária; II - o
juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; III - o juízo cível competente, quando
se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de
acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o
exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se
encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a
obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será
solicitada ao juízo de origem”.
Se alguém obtém a sentença em determinado juízo, via de regra, como o cumprimento de
sentença é uma continuidade do processo, esta fase deve se dar perante o mesmo juízo. Isso está

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no inciso II do art. 516. Mesmo que uma sentença suba para o tribunal e até quando ela for
revertida, os autos retornam à primeira instância para cumprimento de sentença. Se o processo
chegou ao STF, não é o STF que fará o cumprimento de sentença; mas a primeira instância.
Trata-se de regra de competência funcional.
Porém, essa regra tem exceções. A exceção importante está no art. 516, §único. Esse
dispositivo trata do caso em que os bens do executado não estão no local onde foi proferida a
sentença em primeira instância. Nesses casos, a lei faculta ao credor promover a execução onde
estão os bens do executado. Se ele quiser, ele pode manter o juízo que proferiu a sentença.
Porém, cabe essa opção de executar a sentença no juízo de domicílio do executado ou no local
onde estejam os bens deste. Trata-se de exceção ao princípio da competência funcional.

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