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SÃO CARLOS/SP
NOVEMBRO DE 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCar)
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS (CECH)
DEPARTAMENTO DE TEORIAS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
(DTPP)
SÃO CARLOS/SP
NOVEMBRO DE 2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 4
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 22
INTRODUÇÃO
Porém, com o passar do tempo, os graduandos passam por uma transformação, uma
vez que sua bagagem de conhecimentos específicos se edifica, suas visões de mundo a partir
das conversas com os colegas, das leituras e discussões em sala de aula, sob a orientação de
um professor, ou dos relatos dos colegas que, passaram ou passam pela experiência de
lecionar. Assim, o estágio, para muitos, é o primeiro contato que o professor em formação tem
com seu campo de atuação e sua prática futura, bem como com os alunos, com a realidade
escolar, com o sistema educacional e seus colegas de profissão.
Por fim, a oficina, o graduando “assume” a classe por uma aula, no lugar do professor.
Essa atividade requer a elaboração antecipada de plano de aula, seleção e preparação de
material didático e avaliação, apresentados ao professor da sala e ao supervisor de estágio.
Esta contribui para uma aula diversificada, que lhe atribuirá conhecimento pela própria
experiência vivenciada, assim, não somente as crianças serão beneficiadas com um novo
conhecimento, mas, sobretudo o graduando que terá aqui uma das contribuições para sua
identidade enquanto futuro professor. Portanto, a elaboração e o desenvolvimento da oficina
constituem-se numa etapa essencial para a formação do professor. Trata-se de um momento
no qual o graduando vivencia todas as ações a serem executadas.
Após a experiência vivenciada, reconheço que é por meio do estágio que os futuros
professores e professoras tem a oportunidade de colocar seus conhecimentos teóricos em
prática, retomar e compreender conceitos, organizar seus pensamentos quanto a realidade
educacional e trilhar os caminhos que pode seguir, de acordo com suas concepções políticas.
Entendo que estágio não está, diretamente, ligado aos métodos e práticas de outros
professores, ou à observação para verificação de que vertente a escola ou o professor seguem.
Mais além, como defensora de uma educação libertadora, que possibilite a transformação e
desenvolvimento do homem enquanto sujeito, acredito que o estágio dá oportunidade para
reflexão sobre práticas criativas e que efetivamente possam levar a criança ao conhecimento
critico-reflexivo e científico. O trabalho do graduando, na inserção no estágio deve ser
realizado de forma a possibilitar mudanças não somente é resultado de conhecer, ansiar e agir,
mas também de vivenciar, experimentar, arriscar e persistir.
Contudo, o presente trabalho está pautado nas concepções sobre estágio a pouco
explicitadas, este se apresentará em quatro capítulos, considerações finais, referências,
apêndices e anexos. O primeiro capítulo discorrerá sobre as características do local no qual o
estágio foi desenvolvido, inclusive do principal grupo de crianças que tive contato. O segundo
capítulo se refere à história da Educação Infantil, focando as políticas públicas. O terceiro
capítulo refletirá sobre as linguagens infantis, de acordo com os teóricos estudados na
disciplina e as discussões em sala. O quarto capítulo trará um pouco das experiências vividas
no atual estágio. Por fim, finalizo meu relatório de estágio com algumas considerações finais
calcada na experiência vivenciada e na reflexão geral diante do trabalho.
1. CRECHE E PRÉ-ESCOLA SÃO CARLOS (USP)
Para que esse objetivo seja alcançado à creche busca planejar ações que envolvam
pais, professores, diretores, funcionários e crianças, evidenciando sempre a infância como um
momento de descobertas, vivências, criações, manifestações e compreensões do mundo
experimentado pelas crianças de modo muito singular.
Por fim, a Creche e Pré-Escola atende filhos de funcionários docentes, não docentes e
alunos, esta organiza suas turmas em dois módulos: módulo I (grupos: I, II e III) e módulo II
(grupos: IV, V e VI). Possui trinta e sete funcionários: uma técnica de nutrição, duas
cozinheiras, um lactarista, um auxiliar de cozinha, uma funcionária de serviços gerais, uma
encarregada, três auxiliares de limpeza, um jardineiro, dezoito técnicas de apoio educativo
(professoras), duas estagiárias, uma diretora, um coordenador pedagógico, uma técnica em
enfermagem, dois técnicos para assuntos administrativos e uma técnica em nutrição. A
jornada de trabalho da maioria dos funcionários é de 8 horas.
Realizei estágio no grupo II, alguns dias no período matutino (7h15 – 12h15) e outros
no período vespertino (13h – 18h), com as professoras Margarete e Ismália e com as
estagiárias concursadas Kenia e Vanessa (atualmente cursam Pedagogia na UNICEP).
O grupo II, faixa etária de um a dois anos de idade, é composto por nove crianças,
sendo seis meninas e três meninos, somente duas crianças da turma frequenta apenas o
período da manhã, por isso as professoras preferem fazer as oficinas neste período. Todas as
crianças andam, estão desenvolvendo a linguagem oral e não têm necessidade especial
diagnosticada. As crianças são muito comunicativas, participam das atividades e dos projetos
com muita empolgação. Elas amam contação de história, principalmente quando envolve lobo
mal.
Para tanto é interessante fazer uma retrospectiva dessa fase da educação. Em meados
da década de 70 o movimento feminista lutava pelo direito da criança à educação e o
movimento das mulheres tinha como foco o direito da mulher ao trabalho, ou seja, o direito a
creche provinha da assistência à mãe trabalhadora. Os dois movimentos lutavam pela mesma
causa, o acesso à creche, porém com os objetos diferentes. Com os movimentos sociais em
seu auge, a Educação Infantil vai abrindo espaço para a criança na sociedade e a
compreendendo como um sujeito de direitos, não se restringindo apenas ao assistencialismo.
No entanto, foi apenas um direito conquistado, esta etapa não se tornou obrigatória, ou
seja, parte integrante do sistema de educação básica. A partir disso o Estado passa a ter o
dever de conceber este direito se a família considerar necessário. Após CF/88 cria-se o
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (1990) este foi de extrema significância para o
reconhecimento da Educação Infantil e dos direitos da criança.
A Lei nº 9.394 - LDB constitui a Educação Infantil como primeira etapa da educação
básica, sendo oferecida em creches para crianças de zero a três anos de idade e pré-escolas
para crianças de quatro a seis anos de idade, no art. 29:
Kuhlmann (1999) critica a organização deste documento, pois ele diz que o RCNEI
polariza o cuidar e o educar: creches como assistencialistas e pré-escolas como educacionais
(a última como uma preparação para o ensino fundamental). O autor defende que a separação
entre creche e pré-escola deve ser feita, única e exclusivamente, por faixa etária e a ação entre
o cuidar e o educar devem estar vinculadas em ambas as etapas. Além disso, ele repreende o
Referencial por ser a única proposta possível a ser seguida, já que esta vinha sendo
concretizada de maneira hegemônica mesmo não tendo caráter obrigatório. Ainda afirma que,
desta forma, aos poucos vão se perdendo as especificidades da Educação Infantil e seu
desenvolvimento, já que esta passa a ser uma preparação para o ensino fundamental.
Para que não tenha essa relação de subordinação ou de negação de uma com a outra
(Educação Infantil e ensino fundamental) é importante que haja uma articulação entre o cuidar
e o educar, e assim considere a dimensão lúdica de todas as potencialidades de
desenvolvimento da criança.
Em 2006 a discussão dos direitos das crianças voltou à pauta, nessa época houve a
publicação dos três documentos: Política Nacional da Educação Infantil: pelos direitos das
crianças de zero a seis anos à Educação; Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação
Infantil; Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil.
Por fim e não menos importante institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação Infantil - DCNE (2010) com caráter obrigatório. As Diretrizes compreendem a
criança como um ser de direitos, com características singulares e produtora de cultura.
Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que
vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza
e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, p.12).
Ou seja, a criança precisa de cuidados de saúde, higiene e afeto, ao mesmo tempo em
que é capaz de agir e estar no mundo. As Diretrizes apresentam a escola de Educação Infantil
dotada de práticas sociais / pedagógicas em que o currículo deve ser vivenciado mediante a
imersão das crianças em experiências de diferentes linguagens.
3. LINGUAGENS INFANTIS
Considerar as diferentes linguagens das crianças implica elaborar e garantir para elas e
com elas ricos ambientes contendo materiais diversos, a aproximação da arte em suas formas
(teatro, cinema, dança, exposições, literatura, música), reivindicando o direito às
manifestações artístico-culturais além do contexto escolar, transpondo-o de modo corrente e
constante.
As DCNEI orientam sobre propostas pedagógicas dessa fase, deixando claro que deve
ser uma prioridade “garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e
articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens” (BRASIL, 2010, p.
18). As propostas pedagógicas então devem respeitar princípios estéticos, apontando para
diferentes manifestações artísticas e culturais que considerem a diversidade cultural, religiosa,
étnica, econômica e social do país (BRASIL, 2010).
Pensando nas creches e pré-escolas como ambientes ricos culturalmente, Prado (1999,
p. 111) discorre o seguinte:
Pensando no termo “alfabetização dos adultos”, a autora se refere aos educadores que
devem se “alfabetizar” (reconhecer, compreender e conhecer) quanto às diversas linguagens
existentes social e culturalmente, no que se refere à infância.
Discutindo um pouco sobre a cultura, as crianças quando brincam não apenas refletem
ou imitam movimentos – elas recriam, reelaboram e ressignificam. Assim, na Educação
Infantil, as crianças se apropriam dos espaços, dos objetos e dos brinquedos de diversas
formas, muitas vezes de formas não esperadas pelos adultos que as acompanham, mostrando
uma capacidade de renovação de referencial. Através das interações, as crianças constroem
seu mundo de cultura, com expressões culturais específicas, devido às especificidades da
infância (PRADO, 1999).
Holm (2004) afirma que a experiência cultural é muito mais rica quando se permite
que a criança use sua criatividade. De acordo com a autora, a criança possui um talento
natural, uma energia criativa, que é um instinto humano primitivo, principalmente de construir
ambientes. A criança muda objetos de lugar, constrói plantações, cidades e momentos em suas
brincadeiras. Quando essa energia criativa é estruturada, ela se torna algo cultural. E quando
essa energia se torna um produto (um desenho, uma pintura, uma modelagem), um nome
artístico é dado. Às vezes, os adultos, quando deparados com desenhos de crianças pequenas,
acreditam que o teor da obra não possui significado ou substância, mas as crianças são
fascinadas pelo desenhar, pelo pintar. Holm (2004) reflete que o teor explicativo do desenho
de uma criança pequena esteja no momento da pintura, de sua linguagem artística.
Fonseca (2012) discorre sobre atividades de leitura, e ressalta que é preciso oferecer
tempos para ler e falar sobre a leitura. A leitura precisa ocupar momentos de destaque na
rotina escolar, pois se a criança pequena observa que a leitura é importante e aparece com
regularidade no cotidiano, ela aprende que é algo útil, valorizado e passa a considerá-lo dessa
forma.
A rotina das crianças se inicia juntamente com o grupo III, neste momento acontecem
às oficinas de recepção (7h15 às 8h15), estas são organizadas de um modo bem diversificado,
pois permite envolver faixas etárias diferentes. Logo cada turma vai para sua sala, e as
crianças tem liberdade para brincarem com os materiais que estão aos seus alcances, com os
colegas ou sozinhos. Este é um momento de reconhecimento do espaço, enquanto isso a
professora ou a estagiária faz a organização das mochilas, toalhas, fraldas, roupas e lençóis
nos colchões.
As 8h30 as crianças lavam as mãos e comem o lanche da manhã (ovo e suco), depois
as professoras fazem as trocas de fraldas de todas as crianças para irem à mangueira, neste
momento as crianças que não estão trocando ficam livres para brincar e se socializar. Na
mangueira as crianças se interagem com outros grupos, com a natureza e com os objetos e
brinquedos próprios da área externa. Às vezes, na mangueira, tem alguma atividade
direcionada/planejada parte de algum Projeto.
Na volta a sala, iniciam-se os banhos e as crianças que não estão no banho brincam
nos “cantinhos” organizados pelas professoras ou brincam do que querem (livre escolha).
Sempre dois adultos (estagiárias, ou estagiária e professora, ou professoras) dão banho e um
terceiro fica observando as outras crianças.
As 10h45 as crianças lavam as mão para o almoço (arroz, feijão, carne, legumes ou
salada) e a fruta. Após o almoço continuam os banhos, caso não tenha terminado, e os
“cantinhos” também. Às vezes, neste momento tem alguma atividade direcionada. Das 12h as
12h45 é o momento da visita das famílias e integração das crianças dos grupos I e II.
A hora do sono é das 13h às 15h, mais ou menos, conforme as crianças vão acordando
já tomam o leite (na mamadeira) e em seguida trocam-se as fraldas. As crianças só podem
tomar o leite até as 15h15, pois se passar desse horário fica muito perto da janta. Após a troca,
as crianças vão à mangueira (15h15 às 16h). A janta se inicia às 16h e vai até às 17h, sempre é
sopa, cada dia é de um tipo.
Por fim, na volta à sala, as crianças brincam nos “cantinhos” organizados pelas
professoras ou brincam do que querem (livre escolha), logo os grupos II e III chegam à sala
do grupo I e começam as oficinas de despedida. Os pais levam e buscam seus filhos nas salas.
Realizei as oficinas depois do almoço, antes do grupo I chegar a sala. Foram três
oficinas, primeira, contação de história: A Chapeuzinho Vermelho, para isso utilizei o avental
como recurso. Em seguida, fizemos massinha, e com esta preparamos alguns docinhos para a
vovozinha. A terceira oficina foi à dramatização da história.
Com base no tema escolhido, pude observar nas crianças que acompanhei suas
diversas formas de expressão e linguagens. Não somente a fala, que esta se desenvolvendo
nessa fase de dois anos, mas a forma como as crianças se movimentam, desenham, brincam e
se socializam. As intervenções serviram de apoio para que eu pudesse compreender mais
especificamente como a criança compreende e interage com o discurso escrito (a história
contada), revelando através de sua linguagem artística (modelagem/dramatização) suas
compreensões, sentimentos e cultura. A forma como as crianças demonstraram interesse e
divertimento no momento de contação da história revelou que o conteúdo da mesma era
chamativo para elas. E a disposição em realizar as atividades deram intenso sabor para a
realização da proposta, tornando os momentos evidentemente proveitosos não só para mim
como estagiária, mas para as crianças também.
O tema que aborda as linguagens na Educação Infantil é um dos eixos relevantes para
a formação do docente que pretende trabalhar nessa etapa da educação básica. Compreender
como a criança se expressa e interage com o mundo é essencial para a formação de uma
prática pedagógica que seja condizente com as especificidades da Educação Infantil. Dessa
forma, é preciso garantir que a criança possa se expressar por meio de múltiplas linguagens,
que ela realize suas próprias produções ao invés de reproduzir modelos prontos, que escolha e
organize suas próprias brincadeiras. O professor necessita, assim, considerar as singularidades
infantis nas suas práticas pedagógicas, as capacidades de aprender mediante a criação de
condições em que elas possam interagir com as situações tanto no cuidar e no educar,
apropriando-se de conhecimentos e experiências vividas, ensinadas e aprendidas em contextos
educativos.
REFERÊNCIAS
HOLM, A. M. A energia criativa natural. Pro-Posições. Campinas, SP, v. 15, n. 1 (43), p. 83-
95, jan./abr. 2004.