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Direito Penal – Parte Geral I

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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
1. Conduta (Continuação):...................................................................................... 2
1.1 Funções do conceito de ação: ....................................................................... 3
1.2 Teorias da ação ................................................................................................. 4
1.3 Teoria Causal: ................................................................................................ 4
1.4 Teoria Finalista: ............................................................................................. 6
1.5 Teoria social da ação: .................................................................................... 8
1.6 O conceito negativo de ação: ........................................................................ 9
1.7 O conceito pessoal de ação: ........................................................................ 10
1.8 Casos de ausência de ação: ......................................................................... 11
1.9 Consequências da ausência de conduta: .................................................... 12
1.10 Pessoas jurídicas podem praticar crime? ................................................... 12
2. Resultado: ......................................................................................................... 16
2.1 Relação de causalidade: .............................................................................. 17

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1. Conduta (Continuação):
Na aula anterior foi iniciado o estudo sobre conduta, terminando os sistemas sobre
teoria do delito.
Vale lembrar que se iniciou a teoria do delito e que crime é uma ação típica, ilícita e
culpável.

culpável
ilícita
típica
ação

Quando se fala em crime como ação, quer-se referir na verdade à conduta.


Quando se fala em “teoria da ação”, na verdade, está-se a tratar das teorias da
conduta, que pretende oferecer um conceito para abranger ação e omissão.
A função do direito penal moderno é regular condutas, que dá a ideia do direito
penal do fato. Isso porque as pessoas são sempre punidas em razão de seus
comportamentos e não por uma forma de ser ou personalidade. Assim, opôs-se a ideia do
direito penal do fato e de direito penal de autor.
Essa visão de direito penal de autor, atualmente, no direito penal brasileiro não pode
servir de base à incriminação, ou seja, para a punição. Desse modo, deve-se sempre
criminalizar um comportamento, porém, essas ideias têm influência no momento da
aplicação da pena. O sujeito, como ele é, é um dado que na visão do legislador brasileiro é
importante para a aplicação da pena.
O artigo 59 do Código Penal prevê que os antecedentes e a personalidade
influenciam na quantidade de pena a ser imposta. Esclareça-se que serão considerados
apenas os dados da personalidade que tenham sido relevantes para o cometimento daquele
crime. Exemplo 1: sujeito agrediu a sua mulher, o fato dele ser, via de regra, agressivo, pode
ser considerado pelo juiz no momento da fixação da pena. Exemplo 2: se o sujeito praticou
uma fraude em seu trabalho e, além disso, é agressivo, o fato de ser agressivo não está
relacionado com a fraude e, portanto, não pode ser considerada para a fixação da pena.
Assim, alguns resquícios do direito penal de autor sobraram ainda na legislação, mas
somente no momento da aplicação da pena e então a pessoa é punida não por causa da sua
personalidade, mas em razão de dado relevante para a fixação da pena, como no caso do
exemplo 1 acima.
Isso é da tradição do direito brasileiro, há muito tempo é pensando dessa forma,
porém, atualmente, essa escolha legislativa vem sendo muito criticada, principalmente pela

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doutrina alemã, quanto aos critérios relativos às circunstâncias judiciais, ainda que o STF
venha rechaçando a tese de inconstitucionalidade.
Assim, o direito penal do fato é aquele que regula condutas e é o direito penal
brasileiro e moderno.

1.1 Funções do conceito de ação:


Antes de se trabalhar os conceitos de condutas, é necessário se esclarecer o que um
conceito de ação precisa ter para ser um bom conceito.
A partir dessa ideia serão feitas críticas a cada um dos conceitos.
Um conceito perfeito de ação deve ser neutro: o conceito de ação deve ser anterior à
tipicidade, ilicitude e culpabilidade (segundo escada da teoria do delito).
Ou seja, deve ser um conceito de ação que descreva não somente as ações típicas,
isto é, aquelas proibidas pela Lei Penal, mas também todas as outras ações. Exemplo: beber
água, que corresponde a uma ação, ainda que não seja uma ação típica.
Logo, o conceito de ação deve descrever todas as ações, sejam elas típicas ou
atípicas. Exemplo: matar alguém com uma facada e beber um copo de água.
Assim, deve ser um conceito neutro, livre de valorações. Ainda não se está
abordando a ação proibida, mas apenas a ação.
Dessa forma, o conceito de ação deve ser neutro frente às valorações jurídicas a
serem feitas nos estratos seguintes (não se está buscando, ainda, por exemplo, a ação
proibida).
Além disso, um conceito de ação bem estruturado deve atender às seguintes
funções:
a) função de unificação (ação + omissão): conduta é gênero e tem como espécies a
ação e a omissão. Esse conceito de conduta deve abranger as duas espécies.
b) função de fundamentação: conduta é o substantivo e típica, ilícita e culpável são
os adjetivos que se agregam a essa conduta. Quando a doutrina vai desenvolver um conceito
de conduta, deve ser um conceito adequado a receber no futuro essas qualidades. Não se
pode desenvolver um conceito de conduta ao qual não se possa agregar no futuro a
valoração que vai ser feita na ilicitude ou na culpabilidade. Por exemplo, poderia se pensar
num conceito de conduta que envolvesse fenômenos da natureza, ora, somente é possível
se pensar em conduta praticada pelo homem, pois somente a conduta desse é que faz
sentido no juízo de valor que será feito posteriormente. Essa ideia é um dos grandes
problemas da responsabilidade penal da pessoa jurídica ao tratar de conduta, porque vários

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juízos que serão feitos depois dificilmente aplicáveis a ela (exemplo: consciência da ilicitude,
imputabilidade).
c) função de delimitação: é uma das que possui maiores importâncias práticas, pois
significa que a solução jurídica concreta vai ser diferente de acordo com uma opinião ou com
outra.
Para a solução de casos concretos é muito importante saber o que é e o que não é
ação. Ou seja, quais são as causas de exclusão da ação, que são hipóteses que não há ação e,
portanto, não há crime.
1.2 Teorias da ação
Vai se estudar os conceitos construídos pela doutrina. Há que se ressaltar que
nenhum conceito que será estudado é perfeito, posto que a doutrina não conseguiu
construir nenhum conceito que cumpra todas as funções (de unificação, de fundamentação
e de delimitação) e ainda ser neutro.
É um tema que deve se ter conhecimento para o estudo da teoria do crime, mas a
sua incidência em concursos públicos é cada vez menor, pois não se chegou a um consenso
sobre qual seria o conceito de ação perfeito, além disso, em termos práticos (para a função
delimitadora), não faz muita diferença entre qual conceito de conduta é adotado. Com
exceção do conceito causal, que não faz mais sentido com a teoria do delito trabalhada (com
dolo no tipo), todos os demais conceitos chegam ao mesmo resultado prático. Tanto é que
todas as causas de exclusão da ação são as mesmas para todas as teorias.

1.3 Teoria Causal:


A teoria causal foi utilizada nos sistemas clássico e neoclássico e a inspiração dela são
as ideias naturalistas, decorrentes do positivismo, com a prevalência das ciências naturais,
desde os primórdios do sistema clássico.
O conceito de ação da teoria causal é naturalista. A ideia de ação parte do que se vê
do mundo real, sem juízo de valor. Assim, o conceito para essa teoria da ação seria apenas o
processo mecânico da causação do resultado. Ou seja, é o movimento do corpo que produz
um resultado.
Vantagem desse conceito: é um conceito simples, porém, tem como defeitos:
1) o conceito explica muito bem a ação, mas não explica a omissão.
Por que é tão difícil um conceito que explique, ao mesmo tempo a ação e a omissão?
A ação é algo que realmente existe no mundo da vida (ações, movimentos do corpo), existe
um substrato no mundo real, que pode se agregar e construir algo a partir desse. As

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omissões são juízos de valor. Exemplo: a professora recebe valores para ministrar aula,
esperando-se que seja transmitido o conhecimento, a matéria do dia do programa. Os
alunos pagam para receber esse conhecimento, esperando-se que sejam assistidas as aulas e
não ocorrerá omissão, pois é o que se espera do aluno. Se a professora chegar na sala de
aula e ficar o tempo inteiro da aula parada, sem ministrar qualquer aula, ela estará se
omitindo, pois embora o comportamento seja o mesmo, a ação esperada da professora é
diferente da ação esperada dos alunos. Vai se concluir pela existência de omissão, pois é
juízo de valor, sempre por meio de comparação entre o que aconteceu e o que deveria ter
acontecido. Desta forma, é difícil um conceito que consiga explicar a ação, que é algo existe
no mundo do ser e da natureza e explique ao mesmo tempo a omissão, que é algo que
existe no mundo do dever ser.
A teoria causal explica a omissão como a contenção dos músculos, isto é, uma inação.
Contudo, esse conceito não explica a omissão, pois pode se praticar uma ação e ainda assim
estar se omitindo.
O grande defeito da teoria causal é não incluir dentro do conceito de ação a ideia de
finalidade. Foi visto na aula sobre sistemas de teoria de delito que o conceito de ação é
extremamente objetivo. Assim, a ação é movimento do corpo que produz um resultado.
Aquilo que o sujeito pretende, deseja, o seu objetivo não está dentro do conceito de ação, o
conteúdo da vontade está dentro da culpabilidade.
Esse conceito de ação exige que para haver ação o movimento do corpo seja
impulsionado pela sua vontade, isto é, um movimento voluntário. O que se pretende com a
ação é o conteúdo da vontade, que reside na culpabilidade e não está dentro do conceito de
ação. Exemplo: beber água, em que se movimenta o braço para pegar o copo, que é um
movimento voluntário e se está fazendo isso porque o cérebro dá esse comando ao braço. O
que se pretende com isso, ou seja, o conteúdo da vontade, a finalidade, que é ingerir a água,
faz parte da culpabilidade (se isso for um crime).
Esse conceito de ação não conseguiu explicar a tentativa.
Se para os adeptos da teoria causal ou causalista a ação era exclusivamente objetiva,
o conteúdo dessa vontade era estudado dentro da culpabilidade. Quando se estuda a
tipicidade, para se escolher qual é o tipo penal aplicável, é necessário conhecer o conteúdo
da vontade do sujeito. Exemplo: Pessoa pega uma arma de fogo e atira no fundo de uma
sala, a depender do conteúdo da vontade, a tipificação do crime poderá variar. Se quer
matar, poderá ser tentativa de homicídio, se só se quer machucar, pode ser tentativa de
lesão corporal, se quer assustar todos no recinto, poderá ser um crime de perigo.
Assim, o conteúdo da vontade, a intenção, é importante já no momento da
tipicidade, para se definir qual é o tipo penal aplicável. Exemplo: o crime de dano só existe
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na modalidade dolosa, inexistindo dano culposo, motivo pelo qual deve-se estudar a
intenção do sujeito.
Portanto, um dos erros da teoria causal é analisar o conteúdo da vontade somente na
culpabilidade.
A ação é a produção, conduzida pela vontade humana (que é sinônimo de
voluntariedade), de uma modificação no mundo exterior.
A conduta é um fazer voluntário, mas o conteúdo da vontade faz parte da
culpabilidade – idealismo (a teoria separa algo que no mundo real está junto, pegando-se
algo do mundo real e construindo algo diferente).

1.4 Teoria Finalista:


Welzel desenvolveu um conteúdo de ação em que ele incluía dentro de seu conceito
tanto os aspectos objetivos (externos, como o movimento do corpo), quando o subjetivo
(finalidade).
O conceito de ação é o exercício da atividade final.
Assim, é um ato de vontade dirigido a uma finalidade e manifestado no mundo
exterior. A ideia de resultado saiu do conceito de ação, sendo que o resultado é uma
consequência do conceito de ação, que pode existir ou não.
Portanto, é um conceito objetivo-subjetivo. Objetivo é o aspecto externo dele
(visível) e subjetivo é a intenção.
Não se deve confundir finalidade ou intenção com motivo. Motivo na teoria do crime
é sempre algo que existe antes da conduta e a finalidade é algo que se está perseguindo na
frente. Exemplo: porque meu marido me traiu (motivo), golpeio-o com uma facada
desejando sua morte (movimento do corpo dirigido a uma finalidade para matá-lo).
A finalidade existe na ação e quando ela é proibida ela se transforma em dolo e
reside dentro dos tipos penais. Assim, a finalidade existe em todas as ações e quando ela é
proibida ela está descrita no tipo penal e recebe o nome de dolo. Os motivos, na teoria do
delito, são estudados na culpabilidade, influenciando no grau de censurabilidade da
conduta.
A finalidade existe em todas as condutas e essa ideia é o gênero que tem como
espécies as finalidades lícitas e as ilícitas penalmente. O conceito de ação finalista ou de
conduta pretende explicar todas as condutas (desde beber água até matar alguém). Se a
finalidade for ilícita e estiver prevista em um tipo penal ela passará a se chamar dolo.

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Logo, dolo não é sinônimo de finalidade, mas algumas finalidades configuram dolo,
que são aquelas descritas como proibidas num tipo penal. Exemplo: finalidade de matar,
finalidade de subtrair coisa alheia móvel.
O conceito de ação é também um conceito ontológico ou realista, ou seja, tomado e
emprestado da natureza.
A ação finalista compreende o comportamento exterior, conteúdo psicológico (ou
seja, uma vontade dirigida a um fim), a antecipação mental do resultado pretendido, a
escolha dos meios e a consideração dos efeitos concomitantes.
Além disso, é um conceito pré-jurídico, na medida em que o conceito finalista
pretende descrever todas as ações e não apenas as ações típicas, que são aquelas
importantes para o direito.
Esse conceito de ação é compatível com os crimes culposos? Sim. Na culpa, a
intenção do agente não abrange ou não pode abranger o resultado ocorrido. Exemplo: se
alguém morre, para ser homicídio culposo, não se pode ter desejado essa morte, caso
contrário seria crime doloso. Os tipos culposos descrevem ações e todas as ações são finais,
o que ocorre nas ações culposas é que nelas a finalidade é irrelevante para o legislador.
Existe uma finalidade, mas ela não foi selecionada importante para o legislador. Exemplo:
sujeito quer chegar no trabalho mais cedo e dirige veículo automotor em alta velocidade de
forma desatenta, e então atropela e mata alguém. Existe uma ação culposa, pois se está em
excesso de velocidade e essa é uma ação final, pois se tem uma finalidade com essa ação,
que é chegar no trabalho mais cedo e essa finalidade é lícita e não foi descrita como proibida
pelo legislador. A característica dos crimes culposos é que a finalidade é lícita, mas ações são
finais também. Repise-se, toda ação é final, inclusive a ação culposa. A diferença da ação
culposa para a ação dolosa é que na ação dolosa o tipo penal proíbe tanto o
comportamento, com a produção do resultado, quanto a finalidade. Nas ações culposas o
tipo penal proíbe a forma de realização da conduta, mas não proíbe a intenção.
Portanto, as ações culposas são ações finais, só que nelas a finalidade é lícita e não
vem descrita como proibida no tipo, sendo que esse somente se importa com o aspecto
objetivo da conduta.
Outro questionamento é em relação à omissão. Se é trabalhado com um conceito
ontológico de ação, ou seja, uma ideia de ação que existe no mundo da natureza, isso
dificilmente irá conseguir explicar a omissão. Esse conceito de conduta somente explica a
ação, mas não explica a omissão.
Os autores finalistas defendem que se quer oferecer um conceito que existe no
mundo da vida, isto é, na natureza, onde somente existem ações. As omissões são

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construções valorativas dos seres humanos, então o conceito do finalismo somente irá
explicar as ações. As omissões também serão ações no mundo da vida, mas ações diferentes
daquelas que deveriam ser feitas. É descoberto se uma ação configura uma omissão no
momento da tipicidade.
Para o finalismo, no mundo da vida, que é anterior à tipicidade, somente existem
ações. Dentro da tipicidade é que se vai pegar a ação e vai-se comparar com um dever de
agir e vai se verificar se isso configura omissão ou não. Exemplo: sujeito dirigindo veículo
atropela alguém e foge, configura omissão de socorro. Há que ressaltar que a teoria finalista
não explica a omissão atípica, que são aquelas que derivam de dever de agir, mas que não
tem relevância penal. Exemplo: professora que vai para sala de aula e não ministra aula,
violando o seu dever contratual.
No finalismo a omissão é problema dos tipos penais e é tratada como a ideia de aliud
agere (agir diferente). Logo, para o finalismo somente existem ações, e a omissão é uma
ação diversa daquela que deveria ser praticada.
Além disso, a omissão é um problema dos tipos penais, que será estudado na
tipicidade.

1.5 Teoria social da ação:


Foi desenvolvida após o finalismo e pretende oferecer um conceito de ação que
possa englobar a ação e a omissão, inserindo um elemento valorativo dentro desse conceito.
Observação: Quando foi estudado os sistemas de teoria do delito, foi visto que nem
toda a mudança de um sistema para o outro é causada ou devido a um novo conceito de
ação. O sistema clássico trabalha com o conceito causal de ação e o sistema neoclássico
também. Do sistema neoclássico para o sistema finalista houve uma mudança importante.
Esse novo conceito de ação foi o causador de uma série de mudanças dentro da teoria do
delito, sendo que dolo e culpa saíram da culpabilidade e foram para o tipo, e a culpabilidade
ficou exclusivamente normativa.O conceito da teoria social da ação não gerou a construção
de um novo sistema de teoria do delito. Assim, pode-se trabalhar tranquilamente com o
conceito de teoria social da ação com a teoria do delito com o formato da teoria finalista.
O conceito de ação da teoria social da ação pretende oferecer um conceito que tenha
algum elemento valorativo para que possa explicar ao mesmo tempo ação e omissão. Esse
conceito agrega ao conceito finalista um outro elemento, que é a relevância social do
comportamento. Ação é um comportamento socialmente relevante. Ser relevante ou
irrelevante é um juízo de valor, portanto, é um elemento valorativo. Não se exclui a ideia de
comportamento final (ideia de finalidade).

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Socialmente relevante é todo o comportamento que repercute no outro, que faz


parte do interagir entre as pessoas. Alguns comportamentos não são socialmente relevantes
e não repercutem no outro e não serão conduta para a teoria social da ação. Exemplo: beber
água, que não repercute no outro.
A ideia de relevância social é agregar dentro dela a ação e a omissão, pois todo o
comportamento que repercutir no outro vai ser conduta e não somente o comportamento
ativo. Exemplo: deixar de cumprimentar um conhecido é uma conduta, pois repercute no
outro e com isso seria possível agregar ação e omissão.
Portanto, socialmente relevante seria a conduta capaz de afetar o relacionamento do
indivíduo com seu meio social, que transcende a terceiros (repercutindo no outro), fazendo
parte do interacionar humano. Logo, a ideia era agregar esse elemento valorativo ao
conceito de conduta para conseguir explicar a omissão, que é valorativa.
Dois importantes autores defendem esse conceito de ação, que são Jescheck e
Wessels (não confundir com Welzel, criador do finalismo) e aproveitam a estrutura do
finalismo.
Críticas: segundo Zaffaroni, se usar esse conceito, que é mais restritivo, todas as
ações de uma pessoa em uma ilha não repercutem no outro. A relevância social é uma
qualidade social de uma ação, assim, significa que já existe ação antes da relevância social.
Quando se agrega uma qualidade (relevância social), está se agregando uma qualidade a
algo que já existe antes, que é a própria ação. Assim, as ações podem existir independente
da relevância social.
A qualidade de relevância social é um juízo de valor e, às vezes, se pode antecipar
alguma valoração que deve fazer no tipo penal. Por isso, esse conceito muitas vezes não é
um conceito neutro.Às vezes quem dá a relevância social a um comportamento é o próprio
tipo penal ou são as leis. Assim, está se antecipando uma valoração que deveria ser feita
mais para frente. Alguns comportamentos as vezes são vistos como perigosos, ou seja,
capazes de atingir terceiros pois a Lei assim prevê. Se é considerado isso no momento da
ação, para considerar a relevância social, estar-se-ia antecipando uma valoração que deveria
ser feita no estrato seguinte.

1.6 O conceito negativo de ação:


O conceito é desenvolvido por Günther Jakobs, Herzberg, Behrendt, que são autores
funcionalistas. Há que se ressaltar que muitos autores continuam usando o conceito finalista
de ação, mas não renegam várias conquistas do funcionalismo. No Brasil, Juarez Cirino dos
Santos adota um conceito finalista de ação, mas ao mesmo tempo adota a teoria da
imputação. Desta forma, nenhum dos conceitos estudados é perfeito.

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O conceito de Jakobs é um conceito compatível com as ideias dele. Foi visto em aula
anterior, quando foi abordado o funcionalismo de Jakobs, que é um sujeito que renuncia
completamente à teoria do delito dele, renunciando completamente os dados da realidade.
Ao contrário do funcionalismo de Roxin, pretende agregar os dados da realidade e as
valorações jurídicas.
O conceito de ação de Jakobs é totalmente construído e não toma como base
nenhum dado da realidade, que é o conceito negativo de ação. Esse conceito trabalha com a
ideia de evitabilidade. Assim, a ação é a evitável não “evitação” do resultado.
Esse conceito é muito criticado pois ele antecipa uma série valorações importantes
que se fariam mais à frente. A ideia de evitabilidade é um juízo de valor que é trabalhado na
ilicitude, na culpabilidade. Esse conceito não é neutro.
Sustenta que não existem ações fora do direito. A escada da teoria do delito (ação 
tipicidade  ilicitude  culpabilidade) não existe para Jakobs. Ação não existe antes da
tipicidade, mas sim dentro da tipicidade. É a tipicidade que constrói o conceito de ação. Para
o autor é o tipo penal que constrói o conceito de ação.
Logo, o conceito situa-se dentro do tipo de injusto.
Críticas: não abrange ações neutras ou positivas. A ação da vítima não é considerada
ação para a Jakobs, como a legítima defesa. O conceito de inevitabilidade é comum a várias
outras categorias da estrutura do delito, como imputabilidade, o erro de proibição e,
portanto, estar-se-ia antecipando valorações.

1.7 O conceito pessoal de ação:


Para Roxin, ação é a manifestação da personalidade e, pretende trabalhar com um
conceito pré-jurídico, visto que a personalidade existe no mundo da vida.
Esse conceito não é fácil de se trabalhar, visto que a personalidade é um conceito
confuso no âmbito do direito, para os não profissionais de psicologia.
A personalidade tem dois aspectos: genético e ambiental. No aspecto genético, a
personalidade da pessoa é formada por toda a carga genética que se recebe dos pais e que
vai influenciar no temperamento. O outro aspecto da personalidade são os valores, que se
recebe com a criação.
Conduta é tudo o que pode ser atribuído ao ser humano como centro anímico
espiritual de ação (ou seja, um centro de vontade), sendo manifestação dele.
Críticas: é um conceito impreciso. Juarez Cirino dos Santos afirma que as
manifestações da personalidade, um aspecto dela é controlado pela consciência, mas outro

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aspecto não é controlado por ela, como as fobias. O conceito de Roxin abrangeria o
controlável e o incontrolável.
Dentro da omissão, Roxin reconhece que o conceito não vai ser neutro, pois muitas
vezes será necessário realizar valorações que seriam características dos tipos penais para
poder detectar a existência de omissão. Assim, o autor reconhece que na omissão será
sempre necessário atentar para as expectativas de ações, daí porque seu conceito não será
neutro frente às valorações jurídicas.

1.8 Casos de ausência de ação:


Todos os conceitos de ação estudados até o momento têm um elemento em comum,
que é a voluntariedade (até mesmo o conceito causal). A ação tem que ser comandada pela
sua vontade, sendo que o conceito causal também defende isso, contudo afirma que o
conteúdo da vontade não faz parte do conceito de ação.
Se todas as ações têm que ser voluntárias, não haverá ação quando o movimento do
corpo não for comandado pela vontade da pessoa.
São causas de exclusão da ação as decorrentes de comportamentos involuntários.
Hipóteses: atos reflexos (dentre eles o ataque epilético), força física irresistível (ocorre
quando o corpo é utilizado como uma massa mecânica nas mãos de outra pessoa, como é o
caso do sujeito que é arremessado por uma outra pessoa em uma terceira pessoa), estados
de inconsciência (sonambulismo, movimentos praticados durante o sono).
Vale esclarecer que coação irresistível pode ser física ou moral, sendo que na coação
física a pessoa sequer age, enquanto a coação moral é uma hipótese de exclusão da
culpabilidade (exemplo: ameaçar alguém mediante violência ou grave ameaça para que essa
pessoa realize uma conduta típica ilícita).
A doutrina predominante não considera que a hipnose gere a exclusão da ação, pois
já se comprovou cientificamente que o hipnotizado, mesmo diante de uma hipnose
profunda, não realiza determinadas condutas que sejam frontalmente contrárias ao caráter
do sujeito (exemplo: alguém pede o sujeito hipnotizado matar outra pessoa e esse não
realizará o ato, desde que isso seja contrário ao seu caráter). A hipnose poderá excluir a
culpabilidade, mas não a exclusão da ação.
Não afastam a existência de conduta as chamadas ações em curto-circuito, que são
reações explosivas ou impulsivas. Exemplo: sujeito xinga outro e esse rebate imediatamente.
Além disso, os automatismos, que são comportamentos de prévio condicionamento por
parte do ser humano. Exemplo: trocar de marcha quando se está dirigindo.

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1.9 Consequências da ausência de conduta:


Primeiramente, há que destacar que se não há conduta também não haverá crime.
Isso irá gerar outras consequências, como:
a) aquele que se vale de alguém para realizar o delito é autor direto. No caso de
concurso de agentes, é estudada a autoria mediata, que é aquela situação em que o sujeito
se vale de um terceiro, geralmente não punível, para cometer o crime para ele. Exemplo:
pede-se para uma criança colocar veneno na bebida de alguém. Para existir a autoria
mediata, esse terceiro tem que agir. Se a pessoa de que se está utilizando sequer age, sendo
utilizada apenas como massa mecânica nas mãos do sujeito, isso será autoria direta.
b) cabe estado de necessidade contra quem está em ausência de conduta, mas não
legítima defesa. Na legítima defesa, revida-se contra uma agressão ilícita humana (ação ou
omissão imprópria, logo, deve ser uma conduta). Exemplo: se está dentro de um elevador
pequeno e dentro dele uma pessoa entra em convulsão e ataques epiléticos e começa a
machucar as demais pessoas no interior do elevador, o sujeito, para se defender, contém
aquela pessoa. Assim, não será legítima defesa, pois não se está revidando a uma agressão,
pois o epilético não está agindo e não há conduta, o revide será em estado de necessidade.
c) nos tipos de concurso necessário, não se computa aquele que pratica conduta.
Exemplo: o concurso necessário pode englobar a associação criminosa.
d) não cabe participação na ausência de conduta. Em concurso de agentes, a conduta
do partícipe deve aderir a conduta de um autor e esse tem que agir de forma típica e ilícita
para que o partícipe seja punido. Se o autor sequer age, a participação é impunível.
Exemplo: sujeito “A” empresta uma arma para “B” para matar alguém e se esse não iniciar
uma ação típica, o partícipe “A” permanece impune.

1.10 Pessoas jurídicas podem praticar crime?


A Constituição Federal tem previsão no artigo 225, §3º, que trata das condutas
praticadas por pessoas jurídicas.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(...)
3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.(...)

Esse dispositivo trouxe a questão da responsabilidade penal da pessoa jurídica, que


tradicionalmente não era admitida pela doutrina.

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A interpretação que prevaleceu a respeito desse dispositivo constitucional é que ele


criou a responsabilidade penal da pessoa jurídica no Brasil.
Para a jurisprudência predominante, a CF admitiu a responsabilidade penal da pessoa
jurídica,que deve respeitar o princípio da legalidade. Logo, o dispositivo constitucional
autoriza a responsabilização, mas ela precisa ser instituída posteriormente por uma lei e, no
Brasil, existe somente a lei para crimes ambientais, que é a Lei nº 9.605/98.
Logo, não há que se falar em responsabilidade penal de pessoas jurídicas para outros
crimes que não sejam ambientais, pois não há previsão legal.
A posição minoritária, defendida por Juarez Cirino dos Santos afirma que o artigo
225, §3º, da Constituição Federal não prevê a responsabilidade penal da pessoa jurídica. O
dispositivo trata de conceitos relacionados, como condutas e atividades, de pessoas físicas e
pessoas jurídicas e de sanções penais e sanções administrativas. Assim, autor afirma que
condutas são para pessoas físicas e possuem sanções penais, enquanto as atividades são
para pessoas jurídicas e possuem sanções administrativas.
A doutrina inicialmente era contrária à responsabilidade penal de pessoas jurídicas
ao argumento que essas não praticam conduta, pois se trabalha com um conceito de
conduta que é pré-jurídico (pressupondo algo que existe na natureza), entrando em conflito
com as pessoas jurídicas, que são entidades fictícias.
a) Defendem que as pessoas jurídicas são incapazes de produzir conduta Zaffaroni e
Pierangelli. Afirmam que a vontade da ação humana é um fenômeno psíquico que não pode
conceber-se em uma pessoa jurídica.
O STJ entende que se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento
jurídico e pratica atos no meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir
a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível de responsabilização penal.
b) Outro ponto defendido por Magalhães Noronha é que as pessoas jurídicas são
incapazes de ter culpabilidade.
O STJ entende que a culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade
social, e a culpabilidade da pessoa jurídica , neste contexto, limita-se à vontade do seu
administrador ao agir em seu nome e proveito.
Note-se que todos os argumentos do STJ contra as críticas da doutrina sempre
atrelaram a responsabilidade da pessoa jurídica à responsabilidade da pessoa física,
tomando-se emprestado aquilo que interessa das pessoas físicas, como o conteúdo da
vontade. Por isso, o STJ desenvolveu a ideia de dupla imputação.

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Na dupla imputação deve-se pegar algumas condutas do ser humano emprestado


para a conduta da pessoa jurídica (como conteúdo da vontade), passando-se a exigir a dupla
imputação. Assim, o STJ exigia (pois alterou seu posicionamento recentemente) que para
denunciar a pessoa jurídica criminalmente deveria se denunciar juntamente a pessoa física
por meio da qual os atos foram praticados.
Portanto, é possível imputação de crime a pessoa jurídica isoladamente, sem
imputação a pessoas físicas na mesma denúncia? Sim. O STJ recentemente alterou o seu
posicionamento, como no Resp 889.528.
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE.
DENÚNCIA REJEITADA PELO E. TRIBUNAL A QUO. SISTEMA OU TEORIA DA DUPLA
IMPUTAÇÃO.
Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que
haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou
em seu benefício, uma vez que "não se pode compreender a responsabilização do ente
moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo
próprio" cf. Resp nº 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJ de 13/06/2005
(Precedentes). Recurso especial provido.
(STJ – REsp 889.528/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
17/04/2007, DJ 18/06/2007, p. 303)

A ideia da dupla imputação está ultrapassada e o STF se posicionou contrariamente a


essa tese.
Inicialmente, o STF no RE 628.582 AgR/RS, Rel. Dias Toffoli (Informativo 639) admitiu
que é possível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que
haja absolvição da pessoa física em relação ao mesmo delito.
É possível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que
haja absolvição da pessoa física relativamente ao mesmo delito. Com base nesse
entendimento, a 1ª Turma manteve decisão de turma recursal criminal que absolvera
gerente administrativo financeiro, diante de sua falta de ingerência, da imputação da
prática do crime de licenciamento de instalação de antena por pessoa jurídica sem
autorização dos órgãos ambientais. Salientou-se que a conduta atribuída estaria contida
no tipo penal previsto no art. 60 da Lei 9.605/98 (“Construir, reformar, ampliar, instalar
ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou
serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais
competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena -
detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente”).
Reputou-se que a Constituição respaldaria a cisão da responsabilidade das pessoas física
e jurídica para efeito penal (“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

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de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-


lo para as presentes e futuras gerações. ... § 3º - As condutas e atividades consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados”).
(STF - RE 628582 AgR/RS rel. Min. Dias Toffoli, 6.9.2011. – Informativo 639).

Recentemente, a 1ª Turma do STF no Informativo 714 discordou explicitamente da


dupla imputação e admitindo a denúncia somente contra pessoa jurídica.
Seguindo a posição do STF, a orientação atual do STJ (5ª e 6ª Turmas) foi a alterada e
passou a entender ser desnecessária a dupla imputação.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL.
DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA
JURÍDICA.
1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal
não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à
simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da
empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181,
Relatora Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico
DJe-213, divulg. 29/10/2014, public. 30/10/2014).
2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos
ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que
agia em seu nome. Precedentes desta Corte.
3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a
prática de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua
condução.
4. Recurso ordinário a que se nega provimento.
(STJ – RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 06/08/2015, DJe 13/08/2015)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PLEITO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.


ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. EXORDIAL
ACUSATÓRIA QUE ATENDE AO DISPOSTO NO ART. 41 DO CPP. AUSÊNCIA DE
NECESSIDADE DA DUPLA IMPUTAÇÃO EM CRIMES AMBIENTAIS, QUANDO HÁ DENÚNCIA
EM DESFAVOR SOMENTE DA PESSOA FÍSICA. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
1. Esta Corte pacificou o entendimento de que o trancamento de ação penal pela via
eleita é cabível apenas quando manifesta a atipicidade da conduta, a extinção da
punibilidade ou a ausência de provas da existência do crime e de indícios de autoria.
2. Devidamente descrito o fato delituoso, com indicação dos indícios de materialidade e
autoria, não há como trancar a ação penal, em sede de habeas corpus, por falta de justa

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causa ou inépcia da denúncia, pois plenamente assegurado o amplo exercício do direito


de defesa, em face do cumprimento dos requisitos do art. 41 do Código de Processo
Penal.
3. De acordo com o entendimento jurisprudencial sedimentado nesta Corte de Justiça e
no Supremo Tribunal Federal, o ato judicial que recebe a denúncia, ou seja, aquele a que
se faz referência no art.
396 do Código de Processo Penal, por não possuir conteúdo decisório, prescinde da
motivação elencada no art. 93, IX, da Constituição da República (AgRg no HC n.
256.620/SP, Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, DJe 1º/7/2013).
4. A responsabilidade da pessoa física que pratica crime ambiental não está
condicionada à concomitante responsabilização penal da pessoa jurídica, sendo possível
o oferecimento da denúncia em desfavor daquela, ainda que não haja imputação do
delito ambiental a esta.
5. Recurso em habeas corpus improvido.
(STJ – RHC 53.208/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
21/05/2015, DJe 01/06/2015)

2. Resultado:
Resultado é a modificação no mundo externo e está dentro da tipicidade.
Há que destacar que alguns tipos penais selecionam como importantes os resultados
decorrentes das condutas. É possível praticar uma conduta sem que haja nenhuma
modificação no mundo. Nem toda a conduta produz resultado. Exemplo: é possível
gesticular e falar, isso é uma conduta e nada mudou no mundo após essa conduta.
Muitas condutas produzem resultado, mas somente vão interessar para o direito
penal aqueles resultados selecionados como importantes pelo tipo penal. Exemplo: crimes
de mera conduta, que são aqueles que não produzem resultado, como a violação de
domicílio.
Atenção: é possível produzir resultado com a conduta. Exemplo: se alguém entrar em
casa alheia sem autorização, com o pé sujo de lama, sujando a casa inteira, isso será um
resultado decorrente da conduta, mas o tipo penal não selecionou esse resultado como
relevante, e, assim, não será resultado para fins penais.
Resultado para fins penais somente é aquela modificação no mundo que o tipo penal
selecionou como importante e descreveu.
Portanto, resultado é a modificação do mundo externo que se segue à conduta no
seu plano natural.
Não se deve confundir resultado naturalístico com resultado jurídico, pois esse é
sinônimo de lesão ao bem jurídico. Lesão ao bem jurídico todo crime tem, em razão do

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princípio da lesividade. Resultado naturalístico alguns crimes têm e outros não têm, como é
o caso dos crimes de mera conduta que não têm resultado.
A noção de resultado é um problema dos tipos penais, sendo que a ação pode
produzir vários resultados, mas se isso não for selecionado pelo tipo penal como relevante,
não será estudado.
A localização do resultado e do nexo causal possui divergentes visões doutrinárias.
Para Welzel devem ser considerados em nível pré-típico, já para Maurach e Zaffaroni devem
ser considerados na teoria do tipo.
Com efeito, embora a causalidade e o resultado pertençam ao mundo do ser, é
problema jurídico a forma como o direito penal releva o resultado e a causalidade para o
efeito da proibição legal da conduta.

2.1 Relação de causalidade:


Responsabilidade jurídico penal pelo resultado, isto é, uma pessoa praticou uma
conduta, um resultado ocorreu e vai se analisar se o resultado pode ser imputado a essa
pessoa e se ela vai ser punida em razão daquele resultado.
Para que isso ocorra é necessário detectar a existência de uma conduta e deve existir
um resultado previsto em um tipo penal.
A responsabilidade pelo resultado vai depender ainda de se constatar a existência de
uma relação de causalidade e depois a possibilidade de imputação.
Atenção: a responsabilidade jurídico penal pelo resultado tem duas etapas
diferentes.
A primeira etapa é o estudo da relação de causalidade física, que pertence ao mundo
da natureza, que é uma etapa intransponível (Roxin) na visão predominante no Brasil. É
uma primeira etapa que tem de existir (para avançar para a próxima etapa) e se não existir
não haverá responsabilidade penal pelo resultado.
A segunda etapa é a imputação. É possível que em alguns casos haja relação de
causalidade física, mas não há imputação e o sujeito não responderá por nada ou pelo
resultado.
Afere-se a relação de causalidade, isto é, se ela existe no caso concreto usando a
teoria da conditio sine qua non, que trabalha a relação de causalidade física e está prevista
no artigo 13 do Código Penal.
Relação de causalidade

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Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem


lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a
quem os praticou.
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

A teoria da conditio sine qua non(Von Buri) afirma que para se saber se existe relação
da causalidade física entre uma conduta e um resultado, deve-se utilizar o método da
eliminação hipotética (Thyrén). Para tanto, coloca-se os antecedentes de um resultado, e há
dois antecedentes e quer saber qual deles foi causa desse resultado. Apaga-se o
antecedente que se está pesquisando e vai verificar o que acontece com o resultado.
Exemplo: sujeito sofreu um tiro na praia e em seguida veio tsunami e matou todos
que estavam na praia. Quer se saber se a pessoa que deu o tiro vai responder por homicídio
tentado ou consumado, ou seja, a responsabilidade jurídico penal pelo resultado. A primeira
etapa é a relação de causalidade física, que é estudada de acordo com o artigo 13 do Código
Penal por meio do método de eliminação hipotética. No caso, apaga-se o tiro e vai se
verificar se mesmo assim o resultado continua acontecendo. Se o resultado permanecer é
porque o tiro não foi a causa do resultado. Nesse exemplo, o tsunami matou todos que
estavam na praia, independente do tiro, e o resultado não desaparece. E assim, o tiro não foi
causa do resultado. Quando apagar o antecedente e o resultado desaparecer também é
porque o antecedente foi causa física do resultado.
Imagine-se que um sujeito “A” passe por um penhasco e o sujeito “B”, que é inimigo
de “A”, escorrega e fica pendurado num galho prestes a cair. “B” iria cair de qualquer forma
e morrer. “A” vendo “B” pendurado no galho, resolve pisar na mão desse a fim de que “B”
caia imediatamente, antecipando o resultado morte que iria ocorrer.
Usando o método da eliminação hipotética, a conduta de pisar na mão é causa do
resultado, pois quando se analisa o resultado, não considera o resultado morte em abstrato,
mas sim o resultado morte concreto, exatamente como ele ocorreu, naquele momento e
com todas as suas características. O resultado morte, após “A” pisar na mão “B” e esse
morrer, é exatamente como ele ocorreu. Se “A” não tivesse pisado na mão da vítima ela

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teria morrido de qualquer forma, mas não exatamente naquele momento e com aquelas
características.
Assim, quando se estuda relação de causa e efeito, vai se considerar o resultado
exatamente como ele ocorreu. Se o antecedente contribui de alguma maneira para o
resultado, mesmo que se associando a uma outra causa, ele vai ser causa também.
O estudo da relação entre causalidade física e imputação será necessariamente para
os crimes materiais.
Os crimes de acordo com a existência ou a importância do resultado podem ser de
mera conduta, materiais ou formais.
Crime de mera conduta é aquele que o legislador somente descreve a conduta, não
selecionando nenhum resultado como importante. Exemplo: violação de domicilio.
Crime material é aquele que o legislador descreve uma conduta, descreve um
resultado e esse resultado tem que acontecer para que haja crime consumado e se o
resultado não ocorrer, haverá crime tentado. Exemplo: homicídio.
Crime formal é aquele que o legislador descreve uma conduta, descreve um
resultado, mas o resultado não precisa acontecer para que ocorra crime consumado. Se a
conduta ocorrer sozinha, sem o resultado, o crime já é consumado. Logo, o resultado não é
importante para a consumação.
O estudo da relação de causalidade deve se preocupar somente com os crimes
materiais.

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