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Art. 38 ETIJ
Como resulta da distinção entre fontes materiais e formais do dto, o conteúdo
do dto deriva das primeiras, enquanto as segundas correspondem à formulação e à
introdução desse conteúdo no dto positivo.
A XII Convenção de Haia de1907 (art. 7) previa a seguinte enumeração das
fontes formais do direito: «Se a questão de direito a resolver for prevista por uma
convenção em vigor entre o beligerante captor e a potência que é parte no litígio, ou
cujo natural é parte no litígio, o tbnal conforma-se com as disposições da citada
convenção. Na falta de tais disposições, o tbnal aplica as regras do DI (aqui
entendidas como regras consuetudinárias gerais). Se não existirem regras geralmente
reconhecidas, o tbnal decide de acordo com os princípios gerais da justiça e da
equidade.»
Mas sobre esta questão de determinação das fontes formais convem que haja
consenso universal (comprometendo a quase totalidade dos Es), o que não existia com
a convenção de Haia, que nem chegou a entrar em vigor.
Com a criação de organizações universais e das primeiras jurisdições com
vocação universal surgem condições para estabelecer a enumeração das fontes,
primeiro no ETPJI e depois no ETJI, em ambos no art.38, segundo o qual:
“1. O tbnal, cuja função é resolver, de acordo com o DI, os litígios que lhe sejam submetidos,
aplicará:
a) As convenções internacionais, gerais ou especiais, que estabeleçam regras expressamente
reconhecidas pelos Es em litígio;
b) O costume internacional, como prova duma prática geral aceite como de dto;
c) Os princípios gerais de Dto reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) Sob reserva das disposições do art. 59.º, as decisões judiciais e os ensinamentos dos
publicistas mais altamente qualificados das várias nações, como meios auxiliares para a
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Este artigo apresenta grande importância, uma vez que todos os EM da ONU,
praticamente todos os países do mundo, são parte do ETIJ. Além disso, este artigo é
mesmo retomado noutros tratados sobre a resolução pacifica de conflitos, pelo que
esta se trata de uma enumeração universalmente aceite das fontes formais de DI; de
um instrumento comum de enunciação das fontes do DI.
Analisando o art. 38 verificamos que este distingue entre fontes escritas e não
escritas; fontes primárias e secundárias; que não contém uma hierarquia de fontes
formais, nem fixa os critérios de relacionamento entre as normas internacionais; e que
deverá ser feita uma interpretação actualista da alínea c).
O art. 38 é, ainda assim, criticado por ser ambíguo em algumas das suas
formulações e por não fornecer uma lista exaustiva das fontes formais de DI
contemporâneo, não referindo, por exemplo:, os actos unilaterais dos Es e as decisões
das OIs.
O princípio é que não existe qualquer hierarquia de fontes formais em DI. Essa
hierarquia não consta do art 38 ETIJ, embora parecesse resultar do art. 7 da Conv
Haia de 1907. Não é possível admitir, como postulado geral, que os tratados
prevaleçam sobre costume ou vice-versa. Seria diferente se, por um processo
centralizado, uma das fontes dispusesse de uma primazia incontestada. A ideia de uma
hierarquia de fontes formais é particularmente inaceitável numa abordagem
voluntárias, segundo a qual todas as fontes resultam, de alguma forma, da vontade dos
Es.
A ausência de hierarquia de fontes só vale para o dto interestadual. O mesmo
não se verifica nos sistemas jurídicos mais organizados, como os elaborados dentro
das OIs. Note-se ainda que as fontes propriamente interestatais não são
hierarquicamente superiores às que são características das OI e de outros sujeitos
internacionais, até porque muitas vezes são as mesmas.
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Codificação do DI
O art. 13/1 a) CNU diz que «a AG promoverá estudos e fará recomendações,
tendo em vista [...] incentivar o desenvolvimento progressivo do direito internacional
e a sua codificação;» Por codificação entende-se a operação de conversão das regras
consuetudinárias num corpo de regras escritas. Já por desenvolvimento do dto entese-
se a operação de afirmação de regras novas com base no dto existente.
A codificação tem com vantagens uma maior clareza e certeza jurídica quanto
à existência e conteúdo da norma, uma menor dispersão das regras sobre a mesma
matéria; podendo favorecer um relançamento das regras consuetudinárias (por
exemplo: dto do mar). Por outro lado, faz desaparecer a flexibilidade maleabilidade da
regra.
O costume
Trata-se de uma fonte formal do dto, uma vez que é, de facto, um processo
regido pelo DI e autónomo em relação aos outros modelos, como o modo
convencional. Isto é confirmado pelo art.38 do ETIJ. Segundo a doutrina, o costume,
para ser perfeito, deve reunir dois elementos: o elemento material e o psicológico. Nas
palavras do TIJ: a pratica efectiva e a opinio juris dos Es.
Fundamento jurídico
Aqui temos duas teorias. A teoria do acordo tácito é defendida pela corrente
voluntarista e afirma que a força obrigatória do costume assenta num acordo tácito
entre os Es e que as regras de costume não são oponíveis a Es que não deram o seu
consentimento. Mas esta teoria é criticada por reconhecer um papel quase exclusivo
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
ao elemento psicológico e por não explicar como é que o costume geral se aplica a
todos os Es.
A doutrina da formação espontânea do dto consuetudinário reconhece que a
formação de regras de costume é um fenómeno essencialmente sociológico que se
efectiva após a tomada de conseguia jurídica colectiva da necessidade social. Esta
teoria permite explicar a validade erga omnes do costume geral e não distorce a
realidade das diferenças de poder entre sujeitos de DI.
Os elementos do processo
Elemento material
A formação do costume apoia-se em toda a actuação dos sujeitos de DI (Es,
OI, etc.). Para que se forme uma norma costumeira é necessária a repetição do
precedente no tempo. Deve, portanto, ser uma prática constante, efectivamente
seguida e sem alteração (uniforme e continua). A uniformidade é a concordância dos
actos sucessivos de um E, que devem ser semelhantes uns aos outros. Se os
precedentes de um E, a propósito da mesma questão, colidem com os precedentes
(distintos) seguidos por outros Es, a formação da regra consuetudinária será travada.
Note-se que a uniformidade não exclui a eventualidade de violações. A continuidade
exige a prática frequente e uniforme, do precedente, por um certo lapso de tempo.
Mas não é suficiente que a repetição dependa do mesmo E autor do primeiro
precedente. A dispersão é necessária, mas não tem de ser universal. Para a s regras
consuetudinárias gerais o ETIJ diz que elas resultam de uma prática geral, não de uma
prática unânime (o que, aliás, seria irrealizável). Quanto ao costume regional, será
razoável pensar que, quanto mais restrito for o circulo de Es interessados, maior será a
unanimidade necessária, sendo esta exigida, claro está, em costumes bilaterais.
Elemento psicológico
Admite-se, geralmente, que a simples repetição de precedentes não basta e que
uma regra de costume só existe se o acto considerado for motivado pela consciência
de uma obrigação jurídica. É esta característica que a permite distinguir dos usos e da
cortesia internacional. Tradicionalmente é a prática que está na origem da opinio juris,
mas o contrário também pode acontecer (por exemplo: resolução da AG das NU que
leva a uma prática que consuma a formação de uma norma consuetudinária). Quanto a
oponibilidade da norma, dir-se-á que a regra costumeira é inoponível aos Es que tenha
colocado objecções à criação de tal norma, mas que tal inoponibilidade já não vale
para Es que se tornam independentes após a formação da regra.
Aplicação do costume
O costume foi, durante vários séculos, a principal fonte de DI. No que diz
respeito à relação entre normas consuetudinárias sucessivas, diga-se que:
1.º normas c. gerais: prevalece a norma mais recente sobre a mais antiga; norma
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Os actos unilaterais
Ao lado das convenções, a prática e jurisprudência internacionais reconhecem
a existência e a contribuição para a formação de DI de outras categorias de
instrumentos jurídicos que se distinguem dos tratados seja pelo seu carácter unilateral,
seja pela sua autonomia em relação ao dto dos tratados. Mas estes actos têm sempre
uma característica, que é comum: eles são a expressão de vontade num sujeito de DI,
tendentes a criar efeitos de dto. Um acto unilateral é um acto imputável a um único
sujeito de DI, podendo este ser um E ou uma OI (mas, note-se que esta definição não
deve ser entendida de forma rígida).
Nota: actos unilaterais não autónomos são aqueles que têm uma função instrumental,
que se encontram inseridos num processo ou procedimento.
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Tratados
Conceito
Por tratado ou convenção entende-se um acordo de vontades entre sujeitos de
DI, regulado pelo DI, constitutivo de direitos e deveres ou de outros efeitos nas
relações entre eles. Para alguns autores, só quando os efeitos consistirem na criação
ou modificação de normas é que estaremos perante tratados como fonte de direito.
Segundo Jorge Miranda, se um tratado vem codificar o costume, então não é fonte.
Esta posição pode prejudicar, na prática, o desenvolvimento do DI.
Então, o conceito envolve: (1º)um acordo de vontades; (2º) a necessidade de as
partes serem todas sujeitos de DI e de agirem nessa qualidade; (3º) a regulamentação
pelo DI; (4º) e a produção de efeitos com relevância nas relações internacionais(sejam
estritos efeitos nessas relações, sejam efeitos nas ordens internas das partes).
Terminologia
O termo geral usado é tratado ou convenção. Mas numerosos tratados em
especial ou sobre objecto específico, recebem designações particulares. Por exemplo:
carta, constituição ou estatuto (tratado constitutivo de uma OI ou regulador de um
órgão internacional); pacto (tratado de aliança militar ou tratado político de grande
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
importância); concordata (tratado entre Santa Sé e E), acto geral (tratado conclusivo
de uma conferencia ou congresso internacional), etc.
Classificações
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Reservas
Em principio as partes num tratado obrigam-se à totalidade das suas cláusulas.
A vinculação a algumas delas só se torna possível se o tratado o permite ou se as
outras partes o consentem (art.17 CV). Todavia nos tratados multilaterais podem ser
admitidas reservas, verificados certos pressupostos e observados certos
procedimentos, com a consequente alteração dos termos da vinculação das diversas
partes. Nas reservas há dois interesses contraditórios em presença: extensão da
convenção - deseja-se que esta valha para o maior numero de Es (aceitando-se
arranjos); e integridade da convenção - as mesmas regras devem valer, tanto quanto
possível, para todas as partes. Para facilitar as relações convencionais tem-se vindo a
adoptar uma posição mais flexível.
Por reserva entende-se uma declaração unilateral, seja qual for o seu conteúdo
ou designação, feita por um E quando assina, ratifica, aceita ou aprova um tratado ou
a ele adere, pelo qual visa excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições
do tratado na sua aplicação a este E – art. 2/1,d) CV69.
Para que produza efeitos a reserva tem de ser aceite por, pelo menos um E
(art.20/4 c)); ou por todas as partes (art. 20/2 CV69), quando tal resulte (1) do
número restrito de Estados, (2) bem como do objecto (3) ou fim do tratado. Quando o
tratado é constitutivo de uma OI, a não ser que disponha diversamente, a reserva exige
a aceitação do órgão competente (art. 20/3 CV69). Note-se que a aceitação de reservas
pode ser tácita - a reserva será tida como aceite por um E se este não tiver objectado
nos 12 meses subsequentes à sua notificação nem no momento em que tiver expresso
o seu consentimento a vincular-se pelo tratado, se o fez posteriormente (art.20/5
CV69).
Recorte da vinculação para os Es: (1º) Para os Es que não formularam reservas
nem objectaram à sua formulação, é o princípio do cumprimento integral que aqui se
aplica. (2º) Para os Es que formularam reservas e para os que as aceitaram, as reservas
modificam, quanto às disposições que selas são objecto, as relações entre esses Es
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Entrada em vigor
Um tratado entra em vigor segundo as modalidades e nas datas fixadas pelas
suas disposições ou convencionadas por acordo dos Es que tenham participado nas
negociações (art. 24/1 CV69). Na falta de disposição a norma supletiva é a de entrar
em vigor logo que o consentimento a ficar vinculado seja manifestado por todos os Es
que tenham participado na negociação (24/2). Quando o consentimento de um E a
ficar vinculado por um tratado seja manifestado em data posterior à entrada em vigor
o tratado entra em vigor em relação a esse Estado nessa data, a não ser que disponha
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
As cláusulas dos tratados não têm aplicação retroactiva (regra geral). A menos
que tal resulte do tratado ou que tenha sido estabelecido de outro modo, as
disposições de um tratado não vinculam uma parte no que se refere a um acto ou facto
anterior ou a qualquer situação que tenha deixado de existir à data da entrada em vigor
do tratado em relação a essa parte (art. 28 CV69).
a) Por vontade das partes: abrogação – art. 54,b CV69 ou celebração de tratado
ulterior sobre a mesma matéria (art. 59 CV69).
b) Por caducidade: Decurso do prazo de vigência do tratado; execução do próprio
tratado; ou alteração fundamental de circunstâncias ou cláusula rebus sic stantibus
(art. 62).
c) Impossibilidade superveniente de execução (art. 61).
Pode ainda formar-se um costume contrário, mas não parece que tal possa
determinar a cessação total da vigência de um tratado.
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Nota: Outras fontes: actos unilaterais; jurisprudência e doutrina (são meios auxiliares
para determinar normas de DI. As decisões judiciais não têm efeitos erga omnes – art.
59 ETIJ, i.e., não vale o princípio do precedente. Mas na prática o tbnal tem grande
importância no DI).
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Art. 38 ETIJ
Como resulta da distinção entre fontes materiais e formais do direito, o
conteúdo do direito deriva das primeiras, enquanto as segundas correspondem à
formulação e à introdução desse conteúdo no direito positivo.
A XII Convenção de Haia de1907 (art. 7) previa a seguinte enumeração das
fontes formais do direito: «Se a questão de direito a resolver for prevista por uma
convenção em vigor entre o beligerante captor e a potência que é parte no litígio, ou
cujo natural é parte no litígio, o tbnal conforma-se com as disposições da citada
convenção. Na falta de tais disposições, o tbnal aplica as regras do DI (aqui
entendidas como regras consuetudinárias gerais). Se não existirem regras geralmente
reconhecidas, o tbnal decide de acordo com os princípios gerais da justiça e da
equidade.»
Mas sobre esta questão de determinação das fontes formais convem que haja
consenso universal (comprometendo a quase totalidade dos Es), o que não existia com
a convenção de Haia, que nem chegou a entrar em vigor.
Com a criação de organizações universais e das primeiras jurisdições com
vocação universal surgem condições para estabelecer a enumeração das fontes,
primeiro no ETPJI e depois no ETJI, em ambos no art.38, segundo o qual:
“1. O tbnal, cuja função é resolver, de acordo com o DI, os litígios que lhe sejam submetidos,
aplicará:
a) As convenções internacionais, gerais ou especiais, que estabeleçam regras expressamente
reconhecidas pelos Es em litígio;
b) O costume internacional, como prova duma prática geral aceite como de direito;
c) Os princípios gerais de Direito reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) Sob reserva das disposições do art. 59.º, as decisões judiciais e os ensinamentos dos
publicistas mais altamente qualificados das várias nações, como meios auxiliares para a
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Este artigo apresenta grande importância, uma vez que todos os EM da ONU,
praticamente todos os países do mundo, são parte do ETIJ. Além disso, este artigo é
mesmo retomado noutros tratados sobre a resolução pacifica de conflitos, pelo que
esta se trata de uma enumeração universalmente aceite das fontes formais de DI; de
um instrumento comum de enunciação das fontes do DI.
Analisando o art. 38 verificamos que este distingue entre fontes escritas e não
escritas; fontes primárias e secundárias; que não contém uma hierarquia de fontes
formais, nem fixa os critérios de relacionamento entre as normas internacionais; e que
deverá ser feita uma interpretação actualista da alínea c).
O art. 38 é, ainda assim, criticado por ser ambíguo em algumas das suas
formulações e por não fornecer uma lista exaustiva das fontes formais de DI
contemporâneo, não referindo, por exemplo:, os actos unilaterais dos Es e as decisões
das OIs.
O princípio é que não existe qualquer hierarquia de fontes formais em DI. Essa
hierarquia não consta do art 38 ETIJ, embora parecesse resultar do art. 7 da Conv
Haia de 1907. Não é possível admitir, como postulado geral, que os tratados
prevaleçam sobre costume ou vice-versa. Seria diferente se, por um processo
centralizado, uma das fontes dispusesse de uma primazia incontestada. A ideia de uma
hierarquia de fontes formais é particularmente inaceitável numa abordagem
voluntárias, segundo a qual todas as fontes resultam, de alguma forma, da vontade dos
Es.
A ausência de hierarquia de fontes só vale para o direito interestadual. O
mesmo não se verifica nos sistemas jurídicos mais organizados, como os elaborados
dentro das OIs. Note-se ainda que as fontes propriamente interestatais não são
hierarquicamente superiores às que são características das OI e de outros sujeitos
internacionais, até porque muitas vezes são as mesmas.
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
Codificação do DI
O art. 13/1 a) CNU diz que «a AG promoverá estudos e fará recomendações,
tendo em vista [...] incentivar o desenvolvimento progressivo do direito internacional
e a sua codificação;» Por codificação entende-se a operação de conversão das regras
consuetudinárias num corpo de regras escritas. Já por desenvolvimento do direito
entese-se a operação de afirmação de regras novas com base no direito existente.
A codificação tem com vantagens uma maior clareza e certeza jurídica quanto
à existência e conteúdo da norma, uma menor dispersão das regras sobre a mesma
matéria; podendo favorecer um relançamento das regras consuetudinárias (por
exemplo: direito do mar). Por outro lado, faz desaparecer a flexibilidade
maleabilidade da regra.
O costume
Trata-se de uma fonte formal do direito, uma vez que é, de facto, um processo
regido pelo DI e autónomo em relação aos outros modelos, como o modo
convencional. Isto é confirmado pelo art.38 do ETIJ. Segundo a doutrina, o costume,
para ser perfeito, deve reunir dois elementos: o elemento material e o psicológico. Nas
palavras do TIJ: a pratica efectiva e a opinio juris dos Es.
Fundamento jurídico
Aqui temos duas teorias. A teoria do acordo tácito é defendida pela corrente
voluntarista e afirma que a força obrigatória do costume assenta num acordo tácito
entre os Es e que as regras de costume não são oponíveis a Es que não deram o seu
consentimento. Mas esta teoria é criticada por reconhecer um papel quase exclusivo
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
ao elemento psicológico e por não explicar como é que o costume geral se aplica a
todos os Es.
A doutrina da formação espontânea do direito consuetudinário reconhece que a
formação de regras de costume é um fenómeno essencialmente sociológico que se
efectiva após a tomada de conseguia jurídica colectiva da necessidade social. Esta
teoria permite explicar a validade erga omnes do costume geral e não distorce a
realidade das diferenças de poder entre sujeitos de DI.
Os elementos do processo
Elemento material
A formação do costume apoia-se em toda a actuação dos sujeitos de DI (Es,
OI, etc.). Para que se forme uma norma costumeira é necessária a repetição do
precedente no tempo. Deve, portanto, ser uma prática constante, efectivamente
seguida e sem alteração (uniforme e continua). A uniformidade é a concordância dos
actos sucessivos de um E, que devem ser semelhantes uns aos outros. Se os
precedentes de um E, a propósito da mesma questão, colidem com os precedentes
(distintos) seguidos por outros Es, a formação da regra consuetudinária será travada.
Note-se que a uniformidade não exclui a eventualidade de violações. A continuidade
exige a prática frequente e uniforme, do precedente, por um certo lapso de tempo.
Mas não é suficiente que a repetição dependa do mesmo E autor do primeiro
precedente. A dispersão é necessária, mas não tem de ser universal. Para a s regras
consuetudinárias gerais o ETIJ diz que elas resultam de uma prática geral, não de uma
prática unânime (o que, aliás, seria irrealizável). Quanto ao costume regional, será
razoável pensar que, quanto mais restrito for o circulo de Es interessados, maior será a
unanimidade necessária, sendo esta exigida, claro está, em costumes bilaterais.
Elemento psicológico
Admite-se, geralmente, que a simples repetição de precedentes não basta e que
uma regra de costume só existe se o acto considerado for motivado pela consciência
de uma obrigação jurídica. É esta característica que a permite distinguir dos usos e da
cortesia internacional. Tradicionalmente é a prática que está na origem da opinio juris,
mas o contrário também pode acontecer (por exemplo: resolução da AG das NU que
leva a uma prática que consuma a formação de uma norma consuetudinária). Quanto a
oponibilidade da norma, dir-se-á que a regra costumeira é inoponível aos Es que tenha
colocado objecções à criação de tal norma, mas que tal inoponibilidade já não vale
para Es que se tornam independentes após a formação da regra.
Aplicação do costume
O costume foi, durante vários séculos, a principal fonte de DI. No que diz
respeito à relação entre normas consuetudinárias sucessivas, diga-se que:
1.º normas c. gerais: prevalece a norma mais recente sobre a mais antiga; norma
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Os actos unilaterais
Ao lado das convenções, a prática e jurisprudência internacionais reconhecem
a existência e a contribuição para a formação de DI de outras categorias de
instrumentos jurídicos que se distinguem dos tratados seja pelo seu carácter unilateral,
seja pela sua autonomia em relação ao direito dos tratados. Mas estes actos têm
sempre uma característica, que é comum: eles são a expressão de vontade num sujeito
de DI, tendentes a criar efeitos de direito. Um acto unilateral é um acto imputável a
um único sujeito de DI, podendo este ser um E ou uma OI (mas, note-se que esta
definição não deve ser entendida de forma rígida).
Nota: actos unilaterais não autónomos são aqueles que têm uma função instrumental,
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Tratados
Conceito
Por tratado ou convenção entende-se um acordo de vontades entre sujeitos de
DI, regulado pelo DI, constitutivo de direitos e deveres ou de outros efeitos nas
relações entre eles. Para alguns autores, só quando os efeitos consistirem na criação
ou modificação de normas é que estaremos perante tratados como fonte de direito.
Segundo Jorge Miranda, se um tratado vem codificar o costume, então não é fonte.
Esta posição pode prejudicar, na prática, o desenvolvimento do DI.
Então, o conceito envolve: (1º)um acordo de vontades; (2º) a necessidade de as
partes serem todas sujeitos de DI e de agirem nessa qualidade; (3º) a regulamentação
pelo DI; (4º) e a produção de efeitos com relevância nas relações internacionais(sejam
estritos efeitos nessas relações, sejam efeitos nas ordens internas das partes).
Terminologia
O termo geral usado é tratado ou convenção. Mas numerosos tratados em
especial ou sobre objecto específico, recebem designações particulares. Por exemplo:
carta, constituição ou estatuto (tratado constitutivo de uma OI ou regulador de um
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Classificações
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Reservas
Em principio as partes num tratado obrigam-se à totalidade das suas cláusulas.
A vinculação a algumas delas só se torna possível se o tratado o permite ou se as
outras partes o consentem (art.17 CV). Todavia nos tratados multilaterais podem ser
admitidas reservas, verificados certos pressupostos e observados certos
procedimentos, com a consequente alteração dos termos da vinculação das diversas
partes. Nas reservas há dois interesses contraditórios em presença: extensão da
convenção - deseja-se que esta valha para o maior numero de Es (aceitando-se
arranjos); e integridade da convenção - as mesmas regras devem valer, tanto quanto
possível, para todas as partes. Para facilitar as relações convencionais tem-se vindo a
adoptar uma posição mais flexível.
Por reserva entende-se uma declaração unilateral, seja qual for o seu conteúdo
ou designação, feita por um E quando assina, ratifica, aceita ou aprova um tratado ou
a ele adere, pelo qual visa excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições
do tratado na sua aplicação a este E – art. 2/1,d) CV69.
Para que produza efeitos a reserva tem de ser aceite por, pelo menos um E
(art.20/4 c)); ou por todas as partes (art. 20/2 CV69), quando tal resulte (1) do
número restrito de Estados, (2) bem como do objecto (3) ou fim do tratado. Quando o
tratado é constitutivo de uma OI, a não ser que disponha diversamente, a reserva exige
a aceitação do órgão competente (art. 20/3 CV69). Note-se que a aceitação de reservas
pode ser tácita - a reserva será tida como aceite por um E se este não tiver objectado
nos 12 meses subsequentes à sua notificação nem no momento em que tiver expresso
o seu consentimento a vincular-se pelo tratado, se o fez posteriormente (art.20/5
CV69).
Recorte da vinculação para os Es: (1º) Para os Es que não formularam reservas
nem objectaram à sua formulação, é o princípio do cumprimento integral que aqui se
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aplica. (2º) Para os Es que formularam reservas e para os que as aceitaram, as reservas
modificam, quanto às disposições que selas são objecto, as relações entre esses Es
(efeitos inter partes). (3º) Havendo Estados que objectaram às reservas, o
relacionamento vai depender da atitude que estes assumirem, visto que: podem
simplesmente ter formado uma objecção; ou podem ter objectado e sido contra a
entrada em vigor. As reservas e as objecções a estas podem ser revogadas, mas não a
aceitação de uma reserva (art. 22/1 e 2 CV 69).
Ao nível interno a competência para emitir, modificar ou revogar reservas
depende das normas constitucionais relativas à aprovação dos tratados.
Entrada em vigor
Um tratado entra em vigor segundo as modalidades e nas datas fixadas pelas
suas disposições ou convencionadas por acordo dos Es que tenham participado nas
negociações (art. 24/1 CV69). Na falta de disposição a norma supletiva é a de entrar
em vigor logo que o consentimento a ficar vinculado seja manifestado por todos os Es
que tenham participado na negociação (24/2). Quando o consentimento de um E a
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ficar vinculado por um tratado seja manifestado em data posterior à entrada em vigor
o tratado entra em vigor em relação a esse Estado nessa data, a não ser que disponha
diversamente (art. 24/3). Em certos casos admite-se a aplicação de um tratado a titulo
provisório(art. 25 CV 69).
As cláusulas dos tratados não têm aplicação retroactiva (regra geral). A menos
que tal resulte do tratado ou que tenha sido estabelecido de outro modo, as
disposições de um tratado não vinculam uma parte no que se refere a um acto ou facto
anterior ou a qualquer situação que tenha deixado de existir à data da entrada em vigor
do tratado em relação a essa parte (art. 28 CV69).
a) Por vontade das partes: abrogação – art. 54,b CV69 ou celebração de tratado
ulterior sobre a mesma matéria (art. 59 CV69).
b) Por caducidade: Decurso do prazo de vigência do tratado; execução do próprio
tratado; ou alteração fundamental de circunstâncias ou cláusula rebus sic stantibus
(art. 62).
c) Impossibilidade superveniente de execução (art. 61).
Pode ainda formar-se um costume contrário, mas não parece que tal possa
determinar a cessação total da vigência de um tratado.
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Curso de Direito Internacional Público – Parte II
lícita quando se tiver estabelecido, terem as partes admitido a sua possibilidade ou tal
puder ser deduzido da natureza do tratado (art. 56 CV69).
b) Inexecução do tratado por uma parte.
Nota: Outras fontes: actos unilaterais; jurisprudência e doutrina (são meios auxiliares
para determinar normas de DI. As decisões judiciais não têm efeitos erga omnes – art.
59 ETIJ, i.e., não vale o princípio do precedente. Mas na prática o tbnal tem grande
importância no DI).
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