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O Futuro da Natureza Humana – A caminho de uma eugenia liberal?

MODERAÇÃO JUSTIFICADA. EXISTEM RESPOSTAS PÓS-METAFÍSICAS PARA A QUESTÃO SOBRE A “VIDA


CORRETA”?

Tema Citação Comentário Página


A filosofia e a “Enquanto a filosofia ainda acreditava que podia Quando a filosofia tratava da totalidade, a metafísica 3-5
questão da “vida se assegurar da totalidade da natureza e da também oferecia modelos de vida. Tinha-se as doutrinas de
correta”. história, ela dispunha de uma posição boa vida – ética e política – que formavam um todo. No
supostamente consolidada, na qual a vida entanto, com a aceleração da transformação social, o
humana dos indivíduos e das comunidades devia período de declínio desses modelos de vida foi se tornando
se inserir.” curto, independendo de pra onde sua orientação estivesse
dirigida. Essa evolução tem seu ponto final marcado com o
liberalismo político e a reação de alguém como John
Rawls. Ele tira suas conclusões mediante o fracasso de
todas as tentativas até então feitas pela filosofia para
designar modos exemplares de vida universais. Segundo
Rawls, uma sociedade justa deve permitir que as pessoas
decidam o que querem fazer com suas vidas, e garantir
liberdade para que desenvolvam por si uma compreensão
ética, bem como critérios e capacidade própria de
desenvolver uma concepção própria de boa vida.
A filosofia e a “Uma cultura só consegue se afirmar perante as Habermas pontua que os projetos individuais de vida 5
questão da “vida outras convencendo suas novas gerações.” dependem dos contextos partilhados intersubjetivamente
correta”. “Não pode nem deve haver uma proteção cultural para formação. Mas, dentro da sociedade, uma cultura se
das espécies.” afirma convencendo suas novas gerações das suas
vantagens e sua força no que se refere a ação. E, as novas
gerações podem, por si, dizer não. Diante dessa ação
concedida as novas gerações de ter a liberdade de dizer
não, Habermas coloca que não pode nem deve haver uma
proteção cultural das espécies. Nesse sentido, em um
Estado constitucional democrático, a maioria não pode ditar
às minorias a própria forma de vida cultural.

A filosofia pós- “...ainda hoje a filosofia prática não renuncia A filosofia se limita a questões sobre justiça no que se 5-6
metafísica e as totalmente a reflexões normativas. Todavia, na refere às reflexões normativas, ou seja, se esforça para
reflexões sua totalidade, ela se limita a questões sobre esclarecer o ponto de vista moral que usamos para julgar
normativas sobre justiça.” normas e ações buscando estabelecer o que é de igual
a ética. “...a filosofia se desloca para um plano superior e interesse bom para todos. No entanto, as questões éticas
passa a analisar apenas as propriedades formais sobre a própria vida seguem sempre um contexto, seja de
dos processos de autocompreensão, sem adotar uma determinada história de vida, portanto, se identificam
ela mesma uma posição a respeito dos com questões de identidade, quem somos e quem
conteúdos.” queremos ser.
Nossa autocompreensão pode se alimentar das imagens
das narrativas metafísicas e religiosas, mas a filosofia não
pode mais intervir nesse debate dos poderes de fé. Então,
ela passa a analisar as propriedades formais dos
processos de autocompreensão.
Filosofia Ética Formas de autocompreensão
existencial.
Autocompreensão “As convicções morais só condicionam As teorias deontológicas após Kant, pontua Habermas, 7
e questão ética. efetivamente a vontade quando se encontram explicam como as normas morais devem ser aplicadas e
inseridas numa autocompreensão ética, que fundamentadas, mas não respondem o porquê devemos
coloca a preocupação com próprio bem estar a ser morais, ou o porquê os cidadãos de uma comunidade
serviço do interesse pela justiça.” devem se orientar pelo bem estar comum em vez de se
contentarem com um modo de vida voltado para fins
específicos.
“Por que a ética “...a ética filosófica deixou o campo livre àquelas Alexander Mitscherlich entende a doença psíquica como 7-8
filosófica deixou o psicoterapias, que, com a eliminação de uma lesão a um modo de existência humana. O humano
campo livre perturbações psíquicas, se carregam da clássica perde a liberdade por causa da doença. O objetivo da
àquelas tarefa de orientar a vida sem grandes escrúpulos.” terapia seria um autoconhecimento, que transformaria a
psicoterapias” doença em sofrimento, mas um sofrimento que não aniquila
a liberdade do humano. O conceito de doença psíquica é
uma construção analógica com doença somática. Mas,
Habermas atenta para a falta de parâmetros de observação
para determinar o que é estado saudável, então, é preciso
ainda uma norma para compreender o “ser em si mesmo
não perturbado” para substituir os indicadores somáticos
que faltam.
Kierkegaard e a “...Kierkegaard o pensador que reformula a Kierkegaard deu uma resposta à questão da vida correta 8-12
questão ética. questão ética de um modo surpreendentemente com um conceito pós-metafísico do “poder ser si mesmo”.
inovador e a responde de maneira substancial e Foi reconhecido pelos filósofos existencialistas como
com formalismo suficiente.” aquele que reformulou a questão ética. Ele traça a imagem
de uma existência hedonista que se diverte com seu
egocentrismo e presa pelo prazer desejado. Segundo ele
na conduta ética de vida, o sujeito deve se concentrar em si
próprio e se libertar da dependência do ambiente
“O indivíduo arrepende-se dos aspectos dominador, precisa recobrar a consciência de sua
condenáveis de sua vida pregressa e decide individualidade de sua liberdade, não se mais objeto dos
continuar agindo do modo em que ele consegue seus desejos, e se libertar.
se reconhecer novamente sem se envergonhar.” Na dimensão social, o sujeito assume a responsabilidade
pelos seus atos e se compromissa com seus semelhantes.
Na dimensão temporal, a preocupação do sujeito consigo
cria uma consciência de historicidade de uma existência,
futuro e passado – o sujeito torna consciente de si mesmo
como uma/um tarefa/futuro, que é imposta, mesmo que a
tenha escolhida conscientemente. Em autocrítica, o sujeito
apropria-se de seu passado histórico, tendo em vista as
possiblidades futuras.
Kierkegaard coloca que a existência ética é produzida por
esforço próprio, mas estabilizada pela relação com Deus.
Ele deixa pra trás a filosofia especulativa e desenvolve um
pensamento pós-metafísico.
1 – Avaliação moral;
2 – Autocrítica de sua historicidade;
3 – Se reconhece em si e em poder ser.
Kierkegaard e o “Enquanto basearmos a moral, que fornece o Kierkegaard se serve do argumento utilizado por Hegel 11-12
problema da critério para a investigação de si mesmo, apenas contra Kant, e faz menção a época em que se considerava
motivação. no conhecimento humano, no sentido socrático ou uma sociedade esclarecida do ponto de vista cristão, mas
kantiano, faltará motivação para converter em que era corrupta apesar de todo saber e compreensão.
prática os julgamentos morais.” Esse saber e compreensão, segundo ele, não exercem
“Se a moral pudesse impulsionar a vontade do poder sobre a vida das pessoas. Bom, já que temos tantos
sujeito cognoscente mediante apenas bons modelos de fracasso e sucesso de vida, tanta experiência
argumentos, não se poderia explicar aquele vindoura do passado, não dá pra pensar que o estado
estado de desolação que o crítico de época injusto do mundo se deve a falta de conhecimento.
Kierkegaard, sempre volta a apontar...” O reconhecimento de um estado injusto do mundo não se
deve a um déficit de conhecimento, mas a uma corrupção
do desejo. Kierkegaard fala de pecado, e da dependência
de uma absolvição esperada do poder absoluto (aqui creio
que ele se refira a Deus) que pode intervir no decorrer da
história de forma a restabelecer a ordem. E diz, também,
que uma consciência moral deve estar inserida numa
autocompreensão religiosa para se transformar em uma
conduta de vida consciente.
CLIMACUS e “Esse Climacus não tem nenhuma certeza de que Kierkegaard coloca em cena um Anticlimacus com a 12-15
ANTICLIMACUS essa mensagem cristã de salvação, que ele pretensão de “ultrapassar Sócrates” com ajuda da
hipoteticamente considera como um ‘projeto de fenomenologia psicológica. Então, com base em formas
pensamento’, seja mais ‘verdadeira’ do que um sintomáticas de vida, ele descreve uma “doença mortal”,
pensamento imanente...” um desespero reprimido que ultrapassa a consciência e
impõe um retorno da consciência centra no eu:
Consciência da finitude Desespero Fuga numa forma
de vida hedonista ou em outra consciência, em outras
alternativas Retorno da consciência centrada no eu
Obstinação por querer ser si mesmo por si mesmo
Fracasso desesperado Transcendência de si mesmo
Reconhecimento da dependência em relação a um outro
Liberdade.

Logos da língua. “O si mesmo existe realmente apenas perante A liberdade de comunicação para tomar posição não é uma 16
Deus.” questão de arbítrio subjetivo, mas intersubjetivo. A conduta
“Nenhum participante individual pode controlar a de vida eticamente consciente não pode ser compreendida
estrutura.” como auto permissão própria de uma visão limitada. A
dependência de um poder que não nos está disponível
deve ser entendida vinculada, e assim pontua Habermas, a
um relacionamento interpessoal.

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