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2ª edição
Teoria da Literatura
Elivania Lima
Teoria da Literatura
DIREÇÃO SUPERIOR
Chanceler Joaquim de Oliveira
Reitora Marlene Salgado de Oliveira
Presidente da Mantenedora Jefferson Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira
Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira
Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira
Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Marcio Barros Dutra
FICHA TÉCNICA
Texto: Elivania Lima
Revisão: Lívia Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior
Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos
Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus
Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos
Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos
COORDENAÇÃO GERAL:
Departamento de Ensino a Distância
Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br
204 p. ; il.
CDD 801
Palavra da Reitora
Sumário
Apresentação da Disciplina
Caro aluno,
ao longo de nossa vida, é comum que ouçamos frases de quem se contenta
com nossas chegadas. Neste momento, além de lhe dar as sempre bem-vindas
boas-vindas, desejo-lhe mais: desejo-lhe que você, já estando inserido em nosso
curso, mantenha-se prazerosamente incluído em nossa Teoria da Literatura. Esta é
a nossa disciplina. Este é o caminho que você e eu trilharemos ao longo das 75
horas previstas em nossa carga horária.
Por sermos brasileiros, sabemos bem o quanto a cultura de nosso país
infelizmente não nos tem preparado para chegarmos a um curso como este já
dispondo de um histórico privilegiado de leituras. Quantos amigos você tem dos
quais é possível dizer que são pessoas que cultivam o prazer de ler? E, restringindo
ainda mais: quantos amigos você possui dos quais é possível dizer serem pessoas
leitoras da dita “alta literatura”? Aquela da qual fazem parte autores cujos nomes
até nos som familiares mas que pouco conhecemos por aquilo que escreveram?
Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano
Ramos, João Cabral, Machado de Assis, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles,
DaltonTrevisan, enfim, minha intenção não é a de listá-los e, muito menos,
restringir nomes à literatura brasileira. Poderia, aqui, citar, Shakespeare, Cervantes,
Dostoiévski, Flaubert, Gabriel Garcia Marquez, Mia Couto e, assim, vemos que uma
das grandes vantagens de nossa disciplina é que ela abarca a palavra literária, o
fazer poético, a literatura como linguagem universal e atemporal, isto é, ela não
está presa ao tempo em que foi escrita nem ao lugar de onde partiu, à nação a que
pertenceu seu autor.
Portanto, quero apenas que, por um momento de reflexão, você perceba o
quanto nos é ingrato o fato de não nos termos permitido ler bons textos, bons
autores ao longo desses nossos anos. Veja, então, que difícil desafio temos pela
frente: trataremos da teoria mas pouco conhecemos da literatura! Teorizaremos
sobre algo que pouco conhecemos?!
É preciso calma nessa hora. Calma para sabermos que essas palavras
introdutórias não se pretendem desestimulantes – muito ao contrário! Sei e tenho
a mais absoluta segurança em afirmar - e tenha certeza de que sou uma pessoa
bastante comum, tipicamente pertencente às dificuldades da realidade econômica
e educacional brasileira – que, independentemente de nossas leituras prévias
(fartas ou não), nosso curso pode ser extremamente produtivo para você, fazendo-
o/a encantar-se com a beleza da palavra literária, com a infinitude das
possibilidades que uma palavra, bem escolhida e contextualizada, pode gerar.
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
É mais ou menos familiar a você essa situação? Então, fique tranquilo/a: você
está entre amigos! Ao longo de nossa caminhada, desejo lhe apresentar bases para
entendermos questões como: com o que estamos lidando, afinal, quando temos,
diante de nós, a literatura e em que gêneros, de que forma ou em que fôrmas ela se
manifesta? O que significa um cânone literário e por que determinadas obras são
consideradas canônicas? Teria isso a ver com as infinitas controvérsias entre
algumas serem consideradas literatura e outras não? E, afinal, quem são o autor e o
leitor? O que compete a cada um deles? Enfim, caro aluno, cara aluna, assim você
percebe que aqui, em nossa disciplina, você encontrará coisas já conhecidas, outras
nem tanto mas todas, espero, construirão em sua mente uma possibilidade nova
de se ler um texto literário.
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Teoria da Literatura
Sendo este o nosso planejamento, sigamos, certos de que valerá a pena sob a
única condição de nossa alma não ser pequena, como nos deixou por herança o
admirável Fernando Pessoa.
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Teoria da Literatura
Plano da Disciplina
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Teoria da Literatura
Bons Estudos!
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Teoria da Literatura
1 Introdução à Literatura
O que é Literatura?
A Teoria da Literatura
Teoria da Literatura
OBJETIVOS DA UNIDADE
Conceituar Literatura;
PLANO DA UNIDADE
O que é Literatura?
A Teoria da Literatura
Bons estudos!
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Teoria da Literatura
Enfim, aqui estamos! Não sei quanto a você mas me lembro que quando
comecei numa faculdade de Letras, há 27 anos, não tinha qualquer intimidade com
a Literatura. Não sabia o que me esperava e não tinha, sequer, quaisquer
expectativas: fiz o vestibular, passei e, pronto, estava numa faculdade. Parecia-me
que era apenas isso: uma faculdade. As coisas mudaram muito e sinto-me feliz por
trabalhar com algo que me apaixona e encanta mas, ao longo de minha
experiência em sala de aula, encontro, comumente, não poucas pessoas que
também não sabem por que estão ali – simplesmente estão. Há, inclusive, os que
dizem coisas do tipo: “eu vim para este curso porque tive uma professora que era
muito legal e que dava aula de português e Literatura. Então, estou aqui.” Bem,
simplifiquei, obviamente, as coisas, é verdade, mas acredito que você entende este
perfil que estou traçando.
Pode ser que você não seja como eu fui ou como alguns que encontro pelo
caminho mas o fato é que muitos que entram em um curso como o nosso não o
fazem por amarem tanto assim a poesia ou a prosa literária – em menor número
ainda (se bem que felicíssimos seriam estes!), encontraremos os que podem se dar
ao luxo de cursar uma faculdade que lhes preencha a sede que possuem de
conhecer mais e melhor o fenômeno literário ... Creio que não me engano se penso
que são muitos os que, no meio de tantas outras disciplinas, se veem precisando
enfrentar – sim, parece que se trata mesmo de um enfrentamento! – algo como
“Teoria da Literatura”. A filosofia sofre de um mal parecido: como não somos fruto
de uma sociedade que privilegia o saber das carreiras ditas humanas, tudo o que
não se posicionar na estante do “útil” tem a tendência a ser pouco valorizado. Não
é assim?
Então, reflita, durante poucos minutos, sobre o que faz você encontrar-se aqui,
neste momento, diante deste texto. Decisão? Imposição? Privilégio? Tortura?
Prazer? Indiferença? Perturbação? Paixão?
Não sei se minha criatividade deu conta de perceber as diversas opções para
que o nosso encontro tenha se dado. A verdade é que são essas, pelo menos em
linhas gerais, as que tenho encontrado em sala de aula. Ainda que haja outras, cada
um dos nomes relacionados apresenta uma disposição prévia para este estudo.
Veja: eu disse “prévia”, o que significa que você a traz consigo no momento de sua
chegada mas isso não exclui que outras se interponham entre você e o estudo, as
mesmas se confirmem ou, até, sejam negadas ao longo do processo. O que quero
dizer é que se você chegou aqui por decisão, por escolha pessoal, suas disposições
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Teoria da Literatura
são diferentes daquele que chegou por imposição – logo, por decisão de outrem,
quer este outrem seja o mercado de trabalho, a família que exige um curso
superior ou qualquer outra coisa que o/a tenha empurrado para cá.
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Teoria da Literatura
Quando você fez o exercício de conceituar o que lhe motiva a estar neste curso
(pelo menos, até este momento), quando analisou, você percebeu categorias em si
mesmo que teriam passado sem a sua atenção. Você se deu a chance de interpretar
suas motivações. Abriu-se a nomear o que já estava presente mas que, por não
haver atenção suficiente, quase lhe teria escapado. (Jogo muito parecido com o
que acontece quando lemos um texto mas sobre isso falaremos nas próximas
unidades.)
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Teoria da Literatura
Você e eu sabemos que há inúmeras coisas que não estão presas ao mercado
econômico: relações, percepções, descobertas, valorações próprias ao momento,
ao lugar, à pessoa neles inserida. Assim:
Que dizer de tudo isso? Tudo isso é inútil? Reflita: as possibilidades que
acabamos de apresentar são, provavelmente, o que todos desejamos. Todos
desejamos perceber as coisas, não é verdade? Quem de nós não quer descobrir os
verdadeiros valores encobertos por trás das coisas apresentadas? Quem de nós não
quer alargar os horizontes? Ver mais? Ver além?
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Teoria da Literatura
O que é Literatura?
Para o que queremos aqui referir, é necessário que entendamos que queremos
marcar uma distância entre o que significa definição e o que significa conceito.
Quando defino, apresento uma explicação precisa, exata, fixa, estabelecida e aceita
universalmente. O dicionário, por exemplo, lida com definições. Quando conceituo,
quero representar, em meu pensamento, o objeto sobre o qual me lanço, por causa
das características que ele, o objeto, apresenta. A propósito, a palavra conceito veio
do latim con-cepio – com, que significa junto e o verbo cepio, cepire, que significa
agarrar, pegar. Assim, quando conceituo, busco captar uma palavra, uma ideia ou
um termo unindo este termo, esta palavra ou esta ideia à coisa real que lhe
corresponde.
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Assim, o fato de não ter um compromisso com o real de onde partiu já torna o
texto literário instigante, sedutor, às vezes até desconfortável, não é mesmo?
Muitas vezes, preferimos as definições exatas em lugar de termos de
cavar as significações que não estão totalmente prontas para o nosso
pensamento! Mas, não basta que fiquemos aqui. Precisamos ir adiante
e pensar no aspecto estético do texto, ou seja, na capacidade que ele
tem de proporcionar sensações de prazer ou emoção em nós, seus
leitores.
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Teoria da Literatura
Aristóteles foi o primeiro a compreender duas coisas que, agora, muito nos
interessam: não se diz que algo é poesia por estar escrito em versos (como
podemos perceber logo em seu primeiro capítulo) e não podemos confundir o
discurso literário com o discurso histórico. Um não tem compromisso algum com o
outro. Então, vamos por partes e entendamos que:
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Mais à frente, estudaremos este conceito.
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Teoria da Literatura
Em primeiro lugar, não é a forma o que dita que um texto seja literário. Não é a
capa, não é o título, não é o nome do autor que indicam se um texto é literário ou
não (mais à frente, estudaremos aspectos típicos a uma linguagem literária e a uma
não-literária.) Ou seja, não é porque algo está em versos que será chamado poesia
ou, podemos pensar também, não é porque um texto foi escrito por um autor
conhecidamente literário que ele será, então, Literatura. Reiterando o que nos
ensinou Aristóteles, poderíamos ter, por exemplo, um tratado de Medicina
apresentado em versos e o mesmo não seria considerado Literatura. Tanto para
Aristóteles, que pensou essas questões três séculos antes de Cristo, quanto para
nós, alunos e leitores pertencentes ao século 21, depois de Cristo, a poesia não
pode ser entendida, superficialmente, como o conjunto de composições em verso.
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Teoria da Literatura
Quando digo que me alegro por algo, isso não significa que minha alegria seja
igual à sua mas, porque você sabe, do seu jeito, o que é se alegrar, você me
entende. Isso não se traduz pelo fato de que será esgotado o pensamento que eu e
você tenhamos do que é alegrar-se: antes, o que é dito sugere que ali esteja
presente uma faceta da natureza humana que é reconhecida por você que me
ouve (ou que me lê). Não preciso documentar, catalogar minha alegria, dizer todos
os aspectos e medidas em que foi sentida, por quais fatos, historicamente
localizados, foi motivada para que você a compreenda ou mesmo acredite nela.
Tudo bem até aqui? Agora, avancemos um pouco mais e pensemos se não é isso o
que acontece com tantas páginas literárias que lemos: através do discurso literário,
nos aproximamos das verdades humanas, comuns a homens e lugares os mais
diversos e os mais próximos porque todos, afinal, somos feitos da mesma matriz.
Carregamos todos sangue nas veias e sabemos todos quando experimentamos
dor, alegria, vaidade, orgulho, medo, inveja, amor, saudade, compreensão, enfim,
sabemos quando essas vivências estão presentes (ou ausentes) ou, até, quando
estamos diante de uma outra pessoa que as vivencia. Ou seja, todos sentimos – isso
é um fato. Alguns, privilegiadíssimos, sabem abordar tais realidades de modo a nos
alcançar, mexer conosco, falar conosco, incomodar-nos.
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Teoria da Literatura
italianas, Italo Calvino. Em seu livro Por que ler os clássicos, ele nos apresenta uma
razão muito simples e absolutamente definitiva para nos tornarmos leitores (no
caso deste livro, leitores de obras clássicas): sim, ler é simplesmente melhor do que
não ler! Veja o que Calvino nos afirma:
Ou seja: de forma muito simples, o autor nos afirma que lemos porque ler é
infinitamente melhor do que não ler e o desdobramento desta verdade é o fato de
que quanto mais nós lemos, muito, muito, muito mais nós nos formamos para
lermos ainda mais – e com maior compreensão e maior humildade.
A Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Retomando, então, o que dizia sobre o ensino histórico, há, ainda o risco – e
considero este muito pior – de tornarmos a Literatura matéria para que se estude a
linguagem, a gramática. E, tradicionalmente, isso ocorre bastante quando abrimos
os livros didáticos dos ensinos fundamental e médio e percebemos que, ali, os
textos são apenas pretexto para que se vejam as
ocorrências dos substantivos, dos sujeitos ocultos, das Filologia é o estudo da
orações subordinadas substantivas completivas língua, sob uma visão
nominais... Com esta abordagem filológica, histórica, a partir de seus
confundimos análise gramatical ou sintática com documentos escritos.
análise literária!
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Teoria da Literatura
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O texto pode ser lido em www.ufrgs.br/proin/versao_1/teoria2/index11.html
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Teoria da Literatura
É HORA DE SE AVALIAR
LEITURA COMPLEMENTAR:
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Exercícios – Unidade 1
Vários dias foi rodando, até que tudo se tornou monótono. O cano por dentro
não era interessante.
d) não literário porque representa tão bem a realidade que, para prová-lo, a
personagem da mãe da menina não deu ouvidos a ela.
e) não literário pois confirma o fato de que tudo o que entra por um cano sai no
esgoto.
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2. O texto não esgota o real, não o define, não o limita: o texto literário sugere,
evoca, aponta para o real e para as coisas de que é feito.
3. O texto literário parte de uma realidade para esgotar as percepções que o autor
tem sobre ela e, assim, criar novos mundos.
a) Estão corretas todas as afirmações.
b) Estão incorretas todas as afirmações.
c) Estão corretas somente as afirmações 1 e 2.
d) Estão corretas somente as afirmações 1 e 3.
e) Estão corretas somente as afirmações 2 e 3.
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Teoria da Literatura
Leia o texto abaixo, escrito por Manoel de Barros para que você responda à
questão 4, feita logo a seguir:
"Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso a menos.
Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso trocado a
menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa
disfunção lírica.
Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica:
Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância aos passarinhos do
que aos senadores." (Manoel de Barros)
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Teoria da Literatura
b) A teoria literária analisa de que é feito o texto literário, como manifestação oral
em que se reconheçam propriedades escritas que o qualifiquem como uma
elaboração específica da linguagem.
QUESTÃO 6: Não se diz algo é _______________ por estar escrito em versos pois,
segundo Aristóteles, não é a ________________ o que dita que um texto seja
literário.
a) poema / observação
b) forma / teoria
c) poesia / forma
d) literatura / poesia
e) poesia / teoria
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QUESTÃO 9: Por que afirmamos que a Literatura parte da realidade mas não está
compromissada em reproduzi-la?
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QUESTÃO 10: Explique por que o crítico Massaud Moisés afirma que o texto
ficcional constitui uma “para-realidade”?
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2 O Fenômeno Literário
Denotação e conotação
Estética literária
A metáfora
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Teoria da Literatura
Neste começo de uma nova unidade, precisamos nos deter sobre um aspecto
fundamental do texto literário, aquilo, aliás, que é a sua principal via de realização e
construção: a linguagem, a palavra que o constrói e que lhe dá forma. Vamos lá?
OBJETIVOS DA UNIDADE:
PLANO DA UNIDADE
Denotação e conotação
Estética literária
A metáfora
Bons estudos!
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Teoria da Literatura
- se vemos em uma placa o desenho de uma cruz, ali entendo que há uma
referência a uma igreja ou ao cristianismo, conforme o contexto onde
estiver;
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Teoria da Literatura
- uma pegada na areia, por exemplo, indica que ali, onde ela está, houve a
presença de um ser humano ou animal (conforme o formato que se possa
perceber);
O significado, por sua vez, constitui a parte mental, o conceito, isto é, o que
nos vem à mente no momento em que, por exemplo, pronunciamos a palavra.
Quando lemos a palavra “mesa”, logo nos vem à mente o objeto representado por
esta palavra.
- Aquele jovem tem bom coração: por isso devolveu o mal com o bem.
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Teoria da Literatura
Lendo as quatro frases que coloquei acima, além de perceber que são bastante
simples, você nota que, em cada uma delas, a palavra “coração” ocupa um lugar
diferente e, por isso, pede uma interpretação diferente. Confira comigo:
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Teoria da Literatura
O segundo fato importante é que a Literatura tem por natureza mostrar novas
possibilidades de uso da lingua natural, do uso que fazemos das palavras em seu
uso cotidiano. É importante frisarmos que a Literatura obedece ao código da língua
em que é composta. Por exemplo, se um autor escrever algo do tipo:
a frase não será compreendida ainda que esteja escrita no idioma que
reconhecemos, o português. O que aconteceu aqui foi que o seu autor não
respeitou o código que orienta a língua: a sintaxe, a ordem dos termos numa frase.
A frase deveria ser: “A criança caiu do balanço em que estava.”
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E, agora, parece que estamos preparados para perceber o que faz de uma
linguagem o ser literária e de outra, não. Ou, de outra forma, que diferenças há
entre ambas?
“Artigo 1
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Teoria da Literatura
Artigo 2
Todo homem tem capacidade para gozar os
direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração sem distinção de qualquer espécie (...)
Artigo 3
Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal.
Artigo 4
Ninguém será mantido em escravidão ou
servidão; a escravidão e o tráfico de escravos estão
proibidos em todas as suas formas.
Artigo 5
Ninguém será submetido a tortura, nem a
tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
Artigo 6
Todo homem tem o direito de ser, em todos os
lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo 7
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem
qualquer distinção, a igual proteção da lei. (...)
Artigo 11
Todo homem acusado de um ato delituoso tem o
direito de ser presumido inocente até que a sua
culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei
(...)
Artigo 12
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida
privada, na sua família, no seu lar ou na sua
correspondência, nem a ataques a sua honra e
reputação. (...)
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Teoria da Literatura
Artigo 13
Todo homem tem direito à liberdade de
locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado. (...)
Artigo 18
Todo homem tem direito à liberdade de
pensamento, consciência e religião; (...)
Artigo 19
Todo homem tem direito à liberdade de opinião e
expressão; (...)
Artigo 21
... A vontade do povo será a base da autoridade
do governo; (...)
Artigo 23
Todo homem tem direito ao trabalho, à livre
escolha de emprego, a condições justas e favoráveis
de trabalho e à proteção contra o desemprego. (...)
Artigo 26
Todo homem tem direito à instrução. (...)
Artigo 30
Nenhuma disposição da presente Declaração
pode ser interpretada como o reconhecimento a
qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de
exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato
destinado à destruição de quaisquer direitos e
liberdades aqui estabelecidos.”
(www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm)
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Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
Agora vale a vida, e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm
direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas, que os
girassóis terão direito a abrir-se dentro da
sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem não precisará
nunca mais duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem como a
palmeira confia no vento, como o vento confia no
ar, como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens estão livres
do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar a couraça do
silêncio
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Quando, linhas atrás, nos referimos aos signos, é hora de trazermos à mente o
entendimento de que:
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Você a entendeu? Eu, de minha parte, não, devo logo lhe dizer. Mas o que está
expresso aqui é, objetivamente, compreensível. Bastaria que fizéssemos uma
pesquisa, aprendêssemos os conceitos inerentes aos termos usados e,
explicitamente, poderíamos compreender estas informações pertinentes à teoria
da Relatividade Geral. Neste tipo de discurso, portanto, os signos são
unívocos ou univalente, isto é, a todas as pessoas a quem eles forem
apresentados, independentemente de sua cultura, sua idade, seu
gênero, todas elas irão compreendê-los (se dispuserem, obviamente,
dos recursos para tal) de maneira semelhante, pois eles só admitem
uma forma de interpretação. Se você voltar à Declaração, verá ali
construções que se pretendem indubitáveis, ou seja, que pretendem
que tudo o que está expresso em seus artigos seja compreendido por
todos quantos os leiam.
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Prenda de Anos
O pai acenou. Que sim, trouxera da viagem para o aniversário da mais nova.
Uma anônima pedra, sem tamanho nem cor especiais. Ser pedra era o único valor
daquela prenda.
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Assim aprendera a inventar nome para os muitos incógnitos objetos. Ela vestia
esses pequenos desvalores com histórias que retirava de sua fantasia. Nesse criar
ela mesma se iluminava.
A restante família se opunha a este fazer de conta. Para os outros, aquilo era
um desgaste de tempo, desconversação. As amigas da moça, por igual, lhe
desvalorizavam as dádivas. E exibiam os seus pertences, cheios de preços. E tanto o
faziam que, às vezes, a menina era roída por súbitas invejas. Como aquela que
agora despontava em sua alma. Porque ela, sentada na penumbra do quarto, não
lograva inventar nenhuma fantasia para a prenda de anos, algo que convertesse a
pedra em coisa única.
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Teoria da Literatura
Vejamos, então: é possível que esta tenha sido a primeira vez que você tenha
lido esse texto. Se é assim, aconselho a lê-lo mais uma vez - se quiser, inclusive, leia-
o em voz alta (há um segredo profundo em se lerem textos literários em voz
audível e esta é uma arte que você pode praticar, sem nenhum prejuízo, sem
nenhuma contra-indicação). Lendo-o, verá que, a partir do título, toda a sua
linguagem é explicitamente diferente. Mas, o texto nos veio para que, além de
desfrutarmos o prazer de lê-lo, percebamos as tais propriedade sobre as quais
escreveu o filósofo grego que, obviamente, não conheceu o texto do qual agora
nos aproximamos. Caráter mimético, verossimilhança,
universalidade e potencial catártico é o que ora veremos. Mímesis – mimese ou
mímesis vem do grego
Por caráter mimético, vamos entender a teoria da
mímesis que nos foi apresentada por Aristóteles. A escrita mimesis e significa
Em Prenda de anos, por exemplo, vemos o encontro de um pai com sua filha
mais nova, dando-lhe uma pedra como presente de aniversário. Por seu caráter
mimético, reconhecemos ali uma representação do real, produzindo em nós algo
parecido com um “efeito de real”: parece-nos reconhecível a cena, parece-nos
familiar, parece-nos real, mas o texto não quer parecer-se com o real. Ele quer ser
um outro real. O real do próprio conto!
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Teoria da Literatura
Verossimilhança
Assim como a obra literária parte do real mas não está presa a ele, do mesmo
modo, a criação literária traz em si verdades que são inerentes a ela sem terem,
necessariamente, um compromisso com o que sejam as verdades exteriores à obra,
as verdades do famoso “mundo real”. Enquanto lemos, podemos, muitas vezes,
pensar: “isso é tolice; jamais aconteceria na vida real”.
Bom, você entende que quando uso a expressão “vida real” estou me referindo
ao que vivemos: comer o que nosso dinheiro pode comprar, usar o transporte que
nos cabe conforme nossa situação possibilita, lidar com pessoas com as quais
encontremos, enfim, viver mais ou menos coerentemente com as possibilidades,
chances, oportunidades que experimentamos. Mas, é preciso que entendamos que
a obra de arte é mímesis, não é o real; portanto, as verdades que ali têm vez
são verdades internas à obra. Possuem semelhança com a verdade (a palavra
vem do latim: veru – verdade; simile – semelhante). Possuem equivalência de
verdade, isto é, é possível que aconteçam, dadas as construções da narrativa,
dadas as condições dos personagens.
No texto que lemos, a menina vai sendo contagiada pelo discurso de seu pai
que a leva a perceber a grandeza daquela prenda, a grandeza daquela pedra. Só
ela. Nenhuma outra. Somente um pai como aquele, uma alma como aquela,
poderia começar explicando à filha:
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Teoria da Literatura
Numa conversa como esta, tem vez a explicação para a palavra “paisagem”:
“paisagem vem de pai” e imediatamente a menina riu, cúmplice de toda aquela
verdade que o pai lhe apresentava. Ora, em nossa “vida real” paisagem não vem de
pai: esta palavra é derivada do francês paysage (pays = país, região, território,
pátria, etc.) e significa, genericamente, o espaço geográfico que a visão pode
abarcar, mas a menina, tão acostumado aos inventares de seu pai, sorri diante da
novíssima criação que ele gerara. Naquele contexto, portanto, nada mais
verossímil, nada mais semelhante à verdade, do que paisagem vir, mesmo, de pai,
já que fora ele quem trouxera à filha um tão banal objeto (a pedra), vestindo “esses
pequenos desvalores com histórias que retirava de sua fantasia.”
(E agora acho que pode lhe ser extremamente prazeroso voltar ao texto: leia-o
de novo e se perceba sendo também envolvido pela voz do personagem que nos
leva a perceber prendas em pedras.)
Universalidade
- aquilo que se estende por toda parte (logo, pode nos alcançar);
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Teoria da Literatura
Uma ida rápida ao dicionário nos fez ver todas essas definições para uma
palavra que foi aproximada da Literatura por Aristóteles. O que ele quis com esse
uso? Pensemos: a qualidade de universal pertencente à obra de arte literária tem a
sua pertinência no fato de que um texto - escrito em lugar que pode ser próximo
ou distante ao do leitor, por autor de uma cultura semelhante ou não à de quem o
lê - tal texto pode ser lido por mim ou por você, leitores, e nele enxergaremos
aspectos que não estão restritos a uma geografia ou a uma cultura. Nele
enxergaremos algo absolutamente universal: a própria natureza humana.
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Teoria da Literatura
Pensando na Prenda de anos que nos foi apresentada acima, o texto, de origem
moçambicana, escrito em uma cultura de experiências tão diversas da nossa,
apresenta-nos o encontro universal que pai e filha têm, ali, naquele quarto,
sentados. Entramos naquela conversa, universalmente acolhedora, e nela vemos
pai, filha, afeto, encontro, cumplicidade, vemos uma simples pedra transformar-se
em prenda, em presente dos mais valiosos, e saberá Deus que novos pensamentos,
em cada leitor, também entram em ovulação, também iniciam nova vida... Tudo
isso porque o assunto nos pertence a todos - ainda que não nos pertença a mesma
forma de encará-los! E nunca é demais acrescentar que um texto literário ser
revestido de universalidade não significa ser universalmente aceito ou
compreendido!
Por catarse, entendamos que se trata do fato de que as obras de arte – Teatro,
Cinema, Música ou Literatura – possuem a atribuição de gerarem um efeito
purificador sobre aquele que as assiste, ouve ou lê. Aristóteles teorizou que catarse
é a purificação que experimentamos através da descarga emocional que expelimos
tamanho o envolvimento em que nos vemos ante o narrado.
Parece-me que o encontro entre pai e filha, criado pelo texto de Mia Couto,
não é propriamente o que diríamos de uma situação dramática. Normalmente,
entendemos por esta expressão algo como um ato mais, por assim dizer,
grandioso: algo como uma morte, um atentado, uma traição, um choque
inesperado enfim, situações que nos parecem menos corriqueiras e mais extremas.
O encontro e a conversa que pai e filha tiveram parecem-se mais com o que
chamamos de normal, não é? Ambos sentados, diante de um objeto que fora
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Teoria da Literatura
presente (mesmo que este objeto seja estranho para ser tratado como presente),
conversam. No entanto, se lemos esta conversa, se quase a ouvimos, se
percebemos a realocação que as coisas recebem – os novos valores que são ali
construídos –, é possível que esta conversa tenha sobre nós um efeito de purificar
nossa própria memória familiar, nossa memória afetiva, nosso olhar sobre as coisas,
sobre os outros, sobre nós mesmos. É possível, pelo menos! Ficou claro o porquê
da catarse?
Creio ser possível entendermos que todas essas facetas que o texto literário
pode apresentar o tornam algo incomum e o tornam manifestos à nossa
consciência, à nossa elaboração. Certamente, não cabe sairmos por aí procurando
mímesis, verossimilhança, catarse ou universalidade em todos os textos para que
provemos se estamos, ou não, diante de um texto literário. Lembre-se de que,
atrás, falamos sobre o terreno movediço sobre o qual estamos! E lembre-se
também de que falamos, atrás, que estamos caminhando por conceitos, buscando
desenhar contornos que, antes de limitar, querem dar forma ao que estamos
abordando. Quando uma criança faz seus traços e os chama de desenho e nos diz
que ali estão um cavalo, um castelo, uma princesa e um príncipe lutando com um
dragão – e nós o olhamos e ali vemos somente uns rabiscos -, aquela criança nos
mostrou os contornos que não limitam o seu desenho: antes, e ao contrário, são
aqueles contornos que, magicamente, magistralmente, apresentam o seu desenho
a nós! Tudo bem até aqui? Então, vamos, agora, ao encontro das compreensões a
respeito de estética literária e de metáfora, dois temas caríssimos à Literatura.
Estética Literária
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Teoria da Literatura
Terceiro) A ideia do estético, a partir do século XVIII, está atrelada à origem que
a palavra possui no grego, aesthesis, que significa conhecimento sensorial, isto é,
conhecimento adquirido a partir da experiência dos sentidos humanos, da
experiência, da sensibilidade, e refere-se às artes como sendo criações da
sensibilidade humana. Portanto, a pressuposição que havia era a de que a arte –
em qualquer manifestação que se dê: Música, Literatura, Dança, Escultura, Pintura e
outras – é produto da sensibilidade, da inspiração do artista que buscou criar sua
obra como um tributo à beleza; por parte do público, a este caberia a
contemplação, a percepção do belo que ali existe.
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
3
Na Unidade 6, estudaremos o conceito de eu-lírico.
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Teoria da Literatura
Por isso, a afirmação de que a estética está ligada à arte já que esta é uma
criação que se origina de um olhar sensível ao mundo: a realidade inspira músicas,
poemas, fotografias, esculturas, filmes, pinturas, peças teatrais e tudo isso possui
conteúdos estéticos, conteúdos que nos confrontam e que nos fazem perguntar
sobre as leituras de mundo que estão sendo feitas em tal obra: que emoções,
desejos ou revoltas estão expressos ali? Que interpretação e crítica da realidade
estão presentes naqueles versos, naquelas cores, naquele som? E tudo isso tem a
nossa participação explícita pois, como receptores, nossa visão de mundo também
dialogará com a visão expressa pela obra e seremos levados a, se desejarmos,
analisarmos os elementos ali presentes, buscando saber de que maneira eles
constroem a obra. E cada vez que nos expomos à estética literária, por exemplo,
somos levados a pensar nas palavras, nas relações que elas mantêm entre si, no
porquê daquele título, na razão daquela metáfora que o escritor concebeu, enfim,
cada vez que nos dispomos a pensar sobre essas coisas, nós mesmos é que
experimentamos crescimento e aprendemos a ter sobre o mundo e sobre nós
mesmos visões mais críticas, mais sensíveis, mais interessantes. Tudo bem, então?
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Teoria da Literatura
A Metáfora
O que iremos ver agora é tema caríssimo – confesso que particularmente sou
encantada com as possibilidades ilimitadas que a metáfora inaugura e com o fato
de ela ser criada, instaurada, pelo ser humano. Ter o prazer de alcançar o que uma
palavra metafórica pode sugerir é coisa que podemos experimentar – basta que
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Houve, nas duas últimas frases vistas, transposições criadas a partir de uma
palavra que contém uma significação primária da qual alguém se apropria
para, num outro contexto, criar uma nova significação. Houve transposição,
para uma coisa, dos conteúdos pertencentes a uma outra coisa. Houve, portanto,
nessas frases, uma criação metafórica.
“Fulano é mala.”
Suponhamos que alguém nos ouça falar que “Fulano é mala” e entenda com
isso que se trata de alguém, por exemplo, valioso. (É verdade, também acho muito
improvável mas estamos apenas fazendo um exercício para compreendermos o
valor das transposições bem feitas.) Valioso, essa pessoa poderia pensar, porque o
objeto em questão é, normalmente, muito caro e, numa viagem, é ali que
carregamos as lembranças, os presentes e, inclusive as surpresas – pense ou
lembre-se da grande expectativa que temos (as crianças, muito mais) quando
alguém, recém-chegado de viagem, nos diz que há presentes para todos e eles
estão ... na mala! Sendo assim, poderíamos pensar em conteúdos muito positivos,
não poderíamos? E, se o fizéssemos, teríamos entendido a frase e a intenção
ofensiva da pessoa que a formulou? Ou seja, teríamos demonstrado entender que
se trata de chamar o tal Fulano de uma pessoa chata, que se arrasta atrás da gente,
difícil de ser “carregado” (outra metáfora!)?
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Teoria da Literatura
Metáfora
Uma lata existe para conter algo
mas quando o poeta diz lata
pode estar querendo dizer o incontível.
Há, aqui, várias coisas que nos chamam à atenção. Os versos trabalham a
própria questão do incontível e do inatingível presentes e pertencentes a uma
construção metafórica que não limita o discurso, nem limita a palavra, nem se
limita ao discurso nem à palavra. Um pouco do que vimos acima, quando falamos
dos aspectos de movimento constante e provisório de que é feita a metáfora. Uma
lata que, por natureza, é feita para conter algo por ser um recipiente que em si
mesmo carrega um espaço vazio limitado pelo fundo, pelas suas paredes e pela
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Teoria da Literatura
tampa, mesmo lata pode ser, dentro de uma criação poética, a metáfora
do incontível, numa apropriação da palavra que seria absolutamente
inimaginável para ela. O que nos interessa não é pensar o que ela
poderia conter: a riqueza está em também pensarmos na ruptura
que ocorre aqui com a serventia que, normalmente, o objeto possui, o
serviço que costumeiramente, ele cumpre sem que nos apercebamos
disso – é a palavra quem nomeia e é por causa dela que repensamos e
alargamos também nossos horizontes.
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Teoria da Literatura
Imagino que você, se ainda não havia lido qualquer parte desse romance,
talvez tenha estranhado a forma, a maneira como o personagem-narrador
(Riobaldo) expressa o seu discurso. É um linguajar muito típico ao homem do
sertão, ao jagunço, não comprometido com a gramática formal. Enfim, não vamos
nos prender à riqueza das construções que um estudo mais voltado para a língua
poderia fazer. Quero, pelo menos, perceber com você onde houve manifestação
metafórica nessas passagens:
Em cada um dos casos, vemos que está implícita, está subentendida uma ideia
de comparação, ainda que ela não esteja formalmente apresentada.
É simples: você se lembra que há pouco falamos da metáfora como sendo dois
pensamentos de diferentes coisas que atuam juntos? Como eles seriam unidos se
não houvesse um fio de pensamento que conduzisse uma ideia a outra? Este fio
condutor é a comparação interna, subentendida. É por isso que podemos ler que,
para Riobaldo, a vida sem Deus é burra. Por que burra? Diz-se que uma pessoa
burra é aquela que não aprende, para quem as coisas não fazem qualquer sentido
já que ela não tem condições, por sua falta de inteligência, de assimilar os fatos,
entender as sutilezas, compreender os dados que lhe são apresentados. Está
subentendida, portanto, uma comparação: uma vida, então, sem Deus seria como
uma vida em que as coisas não podem ser compreendidas, assimiladas, percebidas
e sequer questionadas (aliás, um dos grandes problemas da ignorância é a fatal
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Teoria da Literatura
Na segunda passagem, Riobaldo afirma que aquilo que Reinaldo lhe falava
“virava sete vezes”, ou seja, havia tanta importância, para Riobaldo, nas palavras do
seu amigo que a tudo ele dava importância sétupla! Era como se a opinião ou a
palavra de Reinaldo valesse não duas, não três, mas sete vezes, atestando o valor, o
prestígio, a consideração que aquele lhe tinha. Há, portanto, uma comparação
escondida aí dentro da expressão que dá forma ao conteúdo.
Neblina é névoa, coisa que nos atrapalha enxergar o horizonte com limpidez,
às vezes até nos paralisa se for muito densa. Diadorim era-lhe um mistério tão
profundo que era como se fosse sombra, empecilho para ver claramente, algo tão
misterioso quanto bonito, tão indevassável quanto sedutor. Lendo o romance e
chegando ao final, essa metáfora assume maior significação – mas esta prefiro
deixar para você.
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Você deve estar fazendo uma ponte entre este conteúdo e o que vimos sobre
as nuances dos discursos denotativo e conotativo, percebendo, com isso, a intensa
relação que a metáfora possui com a conotação. Certamente, isso não é casual: um
se alimenta do outro e em ambos o que tem vez é a polissemia, a
plurissignificação, a polivalência, a significação múltipla construída a partir
de dois pensamentos distantes entre si, tornados próximos em um mesmo,
por causa do discurso em que se fizeram.
É HORA DE SE AVALIAR!
LEITURA COMPLEMENTAR
DICA DE FILME
DICA DE SITE
http://oseculoprodigioso.blogspot.com/2005/12/salgado-sebastio-fotografia.html.
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Exercícios – Unidade 2
a) ela se configura por uma linguagem não-verbal; tem por natureza esconder
novas possibilidades de uso da lingua natural e obedece ao código da língua
em que é composta.
b) ela se configura por uma linguagem não-verbal; tem por natureza mostrar
novas possibilidades de uso da lingua natural e não obedece ao código da
língua em que é composta.
c) ela se configura por uma linguagem verbal; tem por natureza romper com
novas possibilidades de uso da lingua natural e não obedece ao código da
língua em que é composta.
d) ela se configura por uma linguagem verbal; tem por natureza mostrar novas
possibilidades de uso da lingua natural e obedece ao código da língua em que
é composta.
e) ela se configura por uma linguagem verbal; tem por natureza mostrar novas
possibilidades de uso da lingua oral e obedece ao código da literatura em que
é composta.
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Teoria da Literatura
c) constrói uma semelhança com o real a fim de que o escritor expresse sua
sensibilidade.
e) identifica-se com o real para que não haja dúvidas de que a obra é verdadeira.
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Teoria da Literatura
a) significante
b) denotativo
c) unívoco
d) significativo
e) conotativo
QUESTÃO 4: Nos versos “Eu quero o silêncio das línguas cansadas / Eu quero a /
esperança de óculos / Meu filho de cuca legal / Eu quero plantar e colher com a
mão / A pimenta e o sal.”, vemos a presença de _______________, isto é, dois
pensamentos de diferentes coisas atuam juntos e escorados por uma única palavra,
ou frase, cujo sentido é consequência de sua interação.
a) estética
b) metáfora
c) poesia
d) literatura
e) metonímia
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c) há palavras mais especiais o que outras por isso nós as entendemos melhor.
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QUESTÃO 10: Por que podemos afirmar que toda metáfora é uma comparação?
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3 O Cânone Literário
Literatura e Paraliteratura
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Teoria da Literatura
Então, aqui estamos, nesta unidade, para conversar sobre algo que, de certa
forma e comumente, nos assusta um pouco. Cânone literário? Afinal, do que se
trata e por que pensar a respeito disso? Bem, o encaminhar de nossa unidade
objetiva que você entenda o porquê de haver tal classificação que, em lugar de
inibir, de fragilizar e assustar o leitor, deve servir-nos como referência por se tratar
de obras e autores considerados formadores e fundadores da história literária de
uma cultura. Sigamos, então?
OBJETIVOS DA UNIDADE
Conceituar paraliteratura.
PLANO DA UNIDADE
Literatura e Paraliteratura
Bons estudos!
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
O trecho que você acabou de ler faz parte de uma obra de imenso valor
literário, dada a riqueza que carrega tanto em sua forma quanto em seu conteúdo.
(Confesso que sinto vontade de citá-la a todo momento, tamanha a inesgotável
leitura existente em suas páginas...) Lendo, percebemos que se trata de algo
diferente daquilo com o que estamos acostumados a lidar em nossas leituras e em
nosso dia a dia, não é verdade? Sua linguagem é, obviamente, nada semelhante à
que, em geral, encontramos em revistas, textos teóricos, jornais, enfim, em textos
de uma natureza mais objetiva, mais denotativa, além de nos parecer mais
complexa em relação àquela que vemos em outros textos literários que, mesmo
metafóricos e conotativos, parecem-nos mais “fáceis” de serem assimilados – talvez
você tenha achado esse aqui mais complicado do que, por exemplo, o Soneto de
fidelidade, de Vinicius, visto na última unidade, foi assim?
Note que a obra de Guimarães pede que sejamos cautelosos em sua leitura,
que a leiamos de forma lenta, sem nos aprisionarmos aos estranhamentos que
experimentamos com a sua sintaxe, suas palavras incomuns, suas metáforas, o jeito
diferente com que Riobaldo narra a sua história. E, sob um olhar atento, veremos
grandezas existentes ali: por exemplo, a frase “Deu alma em cara.”, jeito todo
próprio de dizer o quanto a alma de Diadorim estava exposta para Riobaldo, como
se eles já se conhecessem há tempos... E, porque ele se sentiu plenamente
satisfeito tendo a mão de Diadorim entre as suas, seus olhos penetrantes que agora
lhe olhavam, tendo visto que entre ambos houvera tamanha cumplicidade, aquele
jagunço tão bravo com os seus inimigos sentiu-se leve e feliz a ponto de afirmar
que tantas emoções fizeram-no afirmar: “Aquele dia fora meu, me pertencia.” Tudo
bem até aqui? Sabemos que, algumas vezes, instrumentos como um dicionário nos
ajudam a entender o significado das palavras mas, muitas, muitas, vezes,
precisamos de um passo mais largo: é necessário mergulhar mesmo na estrutura
que o texto nos propõe, aceitá-la e buscar respostas para as perguntas que nos
surgirem. O seu autor, Guimarães Rosa, escreve com uma sintaxe diferente – é fato.
Por causa disso, ficaríamos sem lê-lo, então? Ou tentaremos, aos poucos,
devagarzinho, compreendê-lo? Atitude que, aliás, nos remete à ideia de que
aprender (inclusive a ler) é um ato afetivo e, a esta altura, são bem-vindas as
palavras do poeta anglo-americano Thomas Stearns Elliot, mais conhecido como T.
S. Elliot, citado por Antoine Compagnon, em O demônio da teoria, quando afirma
que:
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Teoria da Literatura
Quantas pessoas você conhece que leem, por iniciativa que lhe deu a resposta
própria, os autores que citei há pouco? Sendo assim, é correta - espero que você
muito natural que nos sintamos pouco à vontade num tenha ficado curioso(a) e
primeiro momento mas, se quisermos, a cadeira pode queira ler esta obra que
tornar-se bem mais confortável – depende mais de nós pertence ao cânone mundial.
mesmos do que imaginamos. Bem, feitas essas
considerações, entendamos o porquê do cânone.
O termo cânone (ou cânon) se origina do grego kanon que significava uma
“espécie de vara com funções de instrumento de medida” – estendendo-se, daí,
para a concepção daquilo que se tornaria uma norma, uma referência, segundo a
qual as coisas seriam julgadas. Tal significado se alastrou e alcançou diversas áreas -
a religiosa talvez seja a mais comum. No contexto da religião católica, por exemplo,
há duas instâncias em que a palavra é usada: quando se diz que alguém foi
canonizado significa dizer-se que a vida daquela pessoa tornou-se um padrão, um
modelo para os fiéis; quando é feita referência aos textos bíblicos, canônicos por
excelência, entendem-se aqueles considerados fruto de divina inspiração. Em uma
extensão desse raciocínio, então, devemos compreender que quando teóricos
e críticos falam em cânone literário, querem-se referir ao corpo, ao conjunto
de obras (e seus autores) social e institucionalmente consideradas modelos
por serem as que representam a história da poesia e da prosa em uma cultura
e comunicam valores estéticos e humanos essenciais, tornando-se, por isso,
dignas de serem estudadas e transmitidas de geração em geração.
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Teoria da Literatura
É bem verdade que há tantos que usam tal classificação como se ela, por ela
mesma, fosse a legitimadora das qualidades de um texto literário – e é bastante
proposital que estejamos vendo esta questão do cânone, justamente depois de
havermos estudado sobre as particularidades de um texto literário. Pense que
estamos trabalhando para que você e eu nos tornemos, a cada leitura, leitores
críticos e competentes para perceber as qualidades de um texto, suas nuanças,
suas riquezas e, claro, percebermos também quando estivermos diante de um
texto falsamente literário (Aliás, preciso usar este parêntese para chamar a sua
atenção para que você se dê conta de que muitos textos que circulam pela internet,
ilegitimamente “assinados” por Drummond, Fernando Pessoa ou Clarice, são um
atentado à literariedade desses últimos, tamanha a banalidade com que são
escritos. Somente um leitor mais interessado no conteúdo de uma obra do que em
sua (falsa) autoria poderá perceber quando estiver diante de um embuste, de uma
impostura como essa. E fecho parêntese.)
Sobre a tal legitimidade que estaria atrelada ao cânone, pensemos que algo
similar acontece com a eleição de imortais para a Academia Brasileira de Letras:
pensaríamos que, pelo fato de ocuparem as cadeiras, seriam aqueles ali os
escritores modelares de nossa cultura literária? Se afirmarmos que sim, deveríamos
perguntar se o renomado cirurgião plástico Ivo Pitanguy, ou o ex-vice-presidente
Marco Maciel ou, ainda, Paulo Coelho que à época de sua eleição era um best seller,
conseguiram seus assentos em uma das cadeiras da ABL, e se Carlos Drummond de
Andrade e Clarice Lispector nunca participaram dessa Academia, os valores
literários dos três primeiros são superiores aos desses últimos? E quem, em juízo
perfeito, poderia defender coisa tão louca? Sendo assim, se sabemos que
Drummond transformou seu enorme talento literário em belíssimas prosas e
poesias e tem-se tornado, atemporalmente, lido, não é o fato de não ter ocupado
uma cadeira na ABL que diminui o seu reconhecimento, não é verdade? Aliás,
Mario Quintana, poeta, hoje em dia, fartamente celebrado, também é um dos que
nunca entrou para a Academia e, sobre a recusa do seu nome, ele criou o célebre e
bem-humorado Poeminha do contra:
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Teoria da Literatura
eles passarão.
Creio, então, que estamos preparados para avançar um pouco mais e vermos
que estamos lidando com um assunto que merece olhares cautelosos, posto que
nem tudo o que não é considerado canônico é destituído de valor.
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Comecemos pelo termo clássico. Essa palavra, que tantas vezes nos serve
como sinônimo para obras-primas ou canônicas, se origina de classis que, em latim,
significa “classe de escola”. Por conseguinte, e conforme nos ensina Marisa Lajolo,
“os clássicos eram chamados assim por serem julgados adequados à leitura de
estudantes, úteis na consecução dos objetivos escolares.” (LAJOLO, 1982, p. 21).
Dentre tais objetivos a serem alcançados pela escola, encontram-se o ensinar
conteúdos e o formar cidadãos: a escola, então, não é a que apenas distribui
conhecimentos, a que somente ensina como ler e escrever - é ali que também se
ensina o que ler e escrever. Fica-nos claro, consequentemente, por que ela é uma
das instituições a serviço de definir, reiterar, corroborar, perpetuar, preservar a
canonização de certas obras literárias. Ou seja, o que vemos, ao longo das décadas,
é que os textos usados nas escolas são aqueles que privilegiam valores estéticos (e
éticos) historicamente reconhecidos num consenso institucional.
Tanto no que diz respeito à Literatura, quanto à Arte ou à Música, temos visto
as fronteiras entre os clássicos e os populares se tornarem cada vez mais tênues. E
você deve se lembrar, por exemplo, do conceito da arte ready made, aquela em que
se transporta, para o universo das artes, um objeto comum, tal qual ele existe em
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Teoria da Literatura
A renovação dos olhares que lançamos sobre a Arte ou sobre a Literatura tem
nos feito valorizar e reconhecer profunda riqueza existente nas diferenças entre a
cultura erudita e a popular, entre as produções tradicionalmente canônicas e as
contemporâneas. (Abro mais um parêntese para reforçar uma prova a que toda
matéria artística está sujeita: a sua permanência ao longo do tempo, isto é, a
capacidade que ela carrega em si de manter suas qualidades estéticas ao longo de
anos, décadas, séculos. Ler Shakespeare é testemunhar o quanto os séculos XVI e
XXI estão mais próximos do que a linha do tempo gostaria de nos fazer acreditar. E,
então, fecho o que abri.) E devemos nos lembrar, ainda, dos ensinos que Aristóteles
nos deixou a respeito da universalidade: se o conteúdo traduz aspectos de uma
realidade reconhecivelmente humana, as leituras a serem provocadas por tal texto
ultrapassam barreiras – territoriais, culturais e temporais, não foi isso o que vimos
em nossa última unidade? E, somente para reforçarmos a importância da mescla
entre variadas vozes, o escritor Ricardo Azevedo, pesquisador sobre a cultura
popular, afirma que “conhecer e reconhecer as diferenças entre a cultura oficial e a
cultura popular, aceitando que ambas, e não apenas a oficial, sejam relevantes, é
uma questão de autoconhecimento social, pode ampliar nossa visão de mundo e
permitir que a gente consiga pensar melhor sobre nossa sociedade, sobre nossa
arte, sobre nossa literatura, sobre nossa educação e sobre nós mesmos.”
(www.ricardoazevedo.com.br)
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima. ...
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Literatura e Paraliteratura
Por mais que não tenhamos todas as respostas sobre um texto literário,
quando nos deparamos com sua linguagem, com o que ela nos apresenta,
tentamos perceber suas peculiaridades: conotação, signos polivalentes,
compreensão instigante e desafiadora, construções que são fruto de uma
imaginação criadora e inovadora na forma de perceber e conceber o objeto
narrado, enfim, todas essas são características pertinentes a um texto literário. No
entanto, é questão bastante comum, quando pensamos neste assunto, nos
perguntarmos sobre outras linguagens que podem carregar consigo outras
atitudes criadoras. Perguntamo-nos, por exemplo, sobre uma letra musical, sobre
telenovelas, sobre quadrinhos, sobre romances “cor de rosa” – afinal, eles também
são Literatura? Eles são textos literários?
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
É HORA DE SE AVALIAR!
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Teoria da Literatura
LEITURA COMPLEMENTAR
Dica de Filme:
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando. (MORAES, 1974, p. 235)
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Teoria da Literatura
Exercícios – Unidade 3
a) em oposição à Literatura.
b) inferior à literatura.
c) próxima à Literatura.
d) antagônica à Literatura.
e) superior à Literatura.
b) a legitimação de que uma obra seja literária e aceita por seu público leitor.
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Teoria da Literatura
a) nacionalismo
b) universalismo
c) pluralismo
d) poder ditador
e) totalitarismo
a) a oralidade de um acadêmico.
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Teoria da Literatura
QUESTÃO 7: O conceito de que o cânone deva ser reverenciado tem sido revisto
desde o século XX. No Brasil, que movimento foi responsável por abalar, não o
cânone, mas o culto a ele?
e) A Semana Antropofágica
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Teoria da Literatura
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QUESTÃO 10: Qual é a relação entre cânone literário e nossa herança literária?
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Teoria da Literatura
4 Caminhos da Crítica
Correntes textualistas
Correntes sociológicas
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Teoria da Literatura
OBJETIVOS DA UNIDADE
PLANO DA UNIDADE
Correntes textualistas
Correntes sociológicas
Bons estudos!
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Teoria da Literatura
Enfim, cá estamos, já em nossa quarta unidade: como está o seu estudo até
aqui? Torço para que esteja tão prazeroso quanto produtivo o seu pensar o
universo literário.
Até aqui, vimos aspectos concernentes aos textos literários; nesta unidade,
trataremos de entender como a crítica se divide em sua análise sobre as produções
literárias. Ou seja: veremos como os olhares especializados têm se dividido quando
tratam de tantas e tantas páginas e obras de Literatura. Se já estudamos aspectos
relativos à literariedade, se já vimos a questão do cânone, é hora de sabermos
quem é e como se divide a corrente especializada de nossa área de estudo. Em
primeiro lugar, vejamos a diversidade que a envolve.
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Teoria da Literatura
Então, vamos lá: o dicionário de termos literários nos esclarece que a crítica
tem papel relevante pois, por ela, o público entende que características há na
obra que a fazem ser classificada como pertencente a determinado período
estético – por isso, até, história e crítica literária são áreas que se misturam
bastante. Por ela, nós, como leitores, somos introduzidos ao universo que faz
com que, por exemplo, conheçamos como os textos são diferentes entre si e
quais as melhores chaves de que podemos dispor para abri-los. Por isso, à
crítica caberão reflexões, análises e julgamentos a respeito da obra.
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Teoria da Literatura
Formalismo Russo
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Teoria da Literatura
Estilística
A Nova Crítica (ou New Criticism) surgiu nos Estados Unidos, a partir de 1930, e,
em princípio, seus teóricos iniciam uma reação às análises formalistas ou estilísticas
mas ainda buscam o enfoque no texto, privilegiando os aspectos internos a ele.
Uma diferença fundamental está no fato de que esta corrente analisa a obra
considerada em sua totalidade, mas de maneira minuciosa. Assim, seus críticos
buscariam abandonar preocupações biográficas ou autorais e analisar o texto em
suas minúcias, retirando de suas categorias gramaticais, de seus valores
denotativos ou conotativos, de suas ambiguidades, paradoxos, ironias, dos efeitos
de suas imagens poéticas, de seus temas, principais e secundário, os elementos
que fazem de um poema ou de uma narrativa obras literárias. Seu ideal estava
baseado no fato de que à crítica literária interessam os aspectos que caracterizem a
obra como literária e não os aspectos morais, sociológicos, psicológicos que,
eventualmente, poderiam ser vistos ali:
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Teoria da Literatura
ESTRUTURALISMO
O francês Claude Lévi-
O Estruturalismo tem sua origem entre Strauss (1908-2009) foi um
pensadores franceses, herdeiro de algumas dos grandes pensadores do
orientações metodológicas do Formalismo Russo. século 20 e seus estudos
Entretanto, diferentemente das outras correntes, que foram fundamentais para o
se ativeram, de forma exclusiva, às críticas e análises
desenvolvimento do
literárias, o Estruturalismo acabou por constituir uma
Estruturalismo em
atitude metodológica, ou seja, uma maneira de se olhar
Antropologia. A partir de suas
para a sociedade como um sistema de maneira que
várias expedições ao interior
cada um dos seus elementos somente pode ser
analisado se se levarem em conta todos aqueles com do Brasil e às diversas tribos
os quais ele interage – por isso, o Estruturalismo foi tão da África, Lévi-Strauss
119
Teoria da Literatura
A partir dos anos 50, em pleno Pós-Guerra, com literárias, tais como O muro, A
destino e na capacidade que este tem de escolher os da razão, Sursis e Com a morte
destinos que regerão sua construção como ser (livre- na alma, além de
corrente filosófica que estendeu suas marcas à crítica tais como O Ser e o Nada e O
120
Teoria da Literatura
Como o nome já nos aponta, a crítica marxista alemão. Juntamente com seu amigo,
proletariado -, quanto pelos fatores econômico- para continuar esse volume, mas não
121
Teoria da Literatura
A Crítica Sociológica
A Estética da Recepção
122
Teoria da Literatura
É HORA DE SE AVALIAR!
LEITURA COMPLEMENTAR:
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Teoria da Literatura
124
Teoria da Literatura
Exercícios – Unidade 4
a) a Estilística
b) o Formalismo Russo
c) a Estética da Recepção
d) a Crítica Sociológica
e) a Crítica Existencialista
a) crítica sociológica
b) crítica marxista
c) crítica existencilista
d) crítica estilística
e) crítica formalista
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Teoria da Literatura
a) a Nova Crítica
b) o Formalismo Russo
c) o Estruturalismo
d) a Estética da Recepção
e) a Estilística
126
Teoria da Literatura
a) literariedade
b) nomenclatura
c) constituição morfológica
d) interpretação
e) significação
a) transtextualistas
b) textualistas
c) imanentistas
d) recepcionais
e) estruturalistas
b) Estruturalismo / intratextuais
c) Imanentismo / intratextuais
d) Pós-estruturalismo / extratextuais
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
5 Técnicas de
comunicação
Os vazios do texto
A morte do autor
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Teoria da Literatura
OBJETIVOS DA UNIDADE
PLANO DA UNIDADE
Os vazios do texto
A morte do autor
Bons estudos!
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Teoria da Literatura
131
Teoria da Literatura
A imagem foi-lhe tão impactante que aquele homem passou, a partir desse
dia, a procurar-se, segundo suas próprias palavras, “ao eu por detrás de mim”. O
personagem investe, então, na busca de um conhecimento até então tido como
óbvio demais para ser percebido: sua própria imagem, sinônimo, claro, de sua
identidade.
132
Teoria da Literatura
Então, ele não tinha mais aparência, formas, rosto, nada? Ficou
mais aturdido ainda e decidiu deixar suas experimentações de lado,
tamanha a sua perplexidade. Passados anos, o personagem de novo
se defronta:
133
Teoria da Literatura
134
Teoria da Literatura
O teórico Wolfang Iser, em seu texto A interação do texto com o leitor, nos fala
dessa relação e considero muito válido que o escutemos:
135
Teoria da Literatura
Então, vamos lá: o que Iser afirma, aqui, é que há, sim, uma interação entre o
texto e o leitor e esta não é uma relação fácil de ser compreendida, porque não é
fácil de ser conceituada – apesar de ser muito fácil percebermos que ela exista e ser
muito fácil também sabermos quais são os polos desta relação, uma vez que já
sabemos que, de um lado, encontram-se palavras de um texto, a história ali
narrada, e, do outro, o leitor. Tudo bem? Iser avança pensando em, para
compreendermos a interação leitor-obra, fazermos um paralelo com o que ocorre
quando duas pessoas conversam, mantêm um diálogo (esta é a significação da
expressão “relação diádica”, relação entre duas pessoas, entre um par). Ou seja:
quando dois conversam, normalmente ambos podem expressar suas opiniões ou
dúvidas, tendo a chance de trocar suas mútuas impressões ou esclarecer eventuais
não-compreensões a respeito do que foi dito, não é assim? Nas palavras de Iser,
eles poderão, através de perguntas, ter a certeza de que estejam, como dizemos
por aí, “falando a mesma língua”. Vivemos isso, em nosso dia a dia, quando,
conversando, podemos perceber se a pessoa está sintonizada, ou não, conosco, em
nosso assunto, não é mesmo?
E por que isso seria semelhante ao que ocorre em uma leitura? Por que se trata
de uma relação dialógica se o texto está ali, na minha frente, impresso em folhas de
papel, capaz, jamais, de ser alterado por qualquer opinião que eu venha a ter sobre
ele? Diálogo não impõe a fala entre duas pessoas, a troca de opiniões e ideias?
136
Teoria da Literatura
Pois bem: o teórico continua o seu pensamento, dizendo que uma conversa
nos serve para comparação mas, logicamente, com um texto, a situação é outra
pois se, na conversa, podemos conferir a “sintonia” de nosso interlocutor, com um
texto, tal sintonia jamais poderá ser verificada (pela situação óbvia de que a obra
jamais saberá se quem a lê compreende o que lê...) e o leitor, por sua vez, nunca
terá certezas definitivas a respeito de suas interpretações (lembra-se que, atrás,
falamos que lidamos com um terreno de chão movediço?). Bem, se nunca
saberemos se “nossa compreensão é a justa”, nunca vamos sentir conforto em ler?
137
Teoria da Literatura
Dito isso, somos levados ao terceiro questionamento que fizemos atrás (“no
que o “sim?” final de O espelho se aproxima da frase de Clarice com que iniciamos
este capítulo?). Lembremo-nos da fala do narrador de A hora da estrela, quando
afirma que “tudo no mundo começa com um sim” e pensemos que dizer “sim” é
uma das respostas que também o leitor poderá dar à obra que lê: sim a interpretá-
la, sim a amá-la (como nos ensinou Elliot em nossa terceira unidade), sim a assumir
que não a entende mas que, nem por isso, pode afirmar que seja ruim, sim a
superar suas (nossas) próprias preguiças para ler mais, ler além. Sim. Essa talvez seja
a resposta que, como leitores, melhor nos caiba realizar, quando estivermos diante
de um texto literário (ou diante de um filme, ou de uma música, ou de uma peça
teatral, ou diante de um quadro ...). Se o dito até aqui ficou claro, a síntese possível
é: a interação entre o leitor e o texto se dá à medida que o primeiro vá construindo
significados sobre o que lê.
138
Teoria da Literatura
reconstituirá a situação vivida mas, obviamente, não será possível que descreva
exatamente tudo o que aconteceu. Se, por exemplo, você disser que alguém deu
uma gargalhada, caberá ao seu ouvinte imaginar como teria sido tal risada. No
momento em que o imaginário desse ouvinte criou o que teria sito a risada, aí,
nesse momento, ocorreu o que Umberto Eco chamou de o leitor fazendo “uma
parte” do trabalho:
139
Teoria da Literatura
Então, vamos dar mais uns passos e entender tais vazios e, para isso, pensemos
em um exemplo simples que poderia acontecer com qualquer um de nós:
suponhamos que, numa manhã, cumprindo o caminho que faz todos os dias para
chegar ao lugar onde trabalha, você ouve uma música que não faz parte daquela
cena, nem daquela confusão, nem do seu repertório musical. Você ouve e, sem que
planeje, imediatamente olha para encontrar de onde vinha aquele som, tão doce,
tão diferente de tudo porque tão calmo diante do tumulto costumeiro.
Bem, você usará as palavras que conhece, fará alguns gestos, procurará
alguma coisa similar à experiência, passageira e marcante, que teve mas nenhuma
dessas artimanhas propiciará ao seu interlocutor saber exatamente do que você
fala. Afinal, ele não estava lá e não experimentou a cena descrita por você – e, ainda
que estivesse, as sensações dele não seriam iguais às suas, não é verdade?
A construção literária caminha por aí. Ela representará o real e o fará a partir
daquilo que está presente na imaginação do autor, do escritor, do poeta, isto é,
daquilo que vem à sua mente e que, traduzido em palavras (em signos, como
vimos em nossa segunda unidade), se torna a representação das realidades
sensíveis a ele (lembra-se do que vimos sobre a estética?). A questão é que, assim
como em nosso exemplo - quando não havia possibilidade de se esgotarem
todas as descrições a respeito da música ouvida e das emoções que ela
despertou, a despeito da ânsia do narrador em fazer com que o seu
interlocutor entendesse, o mais completamente possível, a experiência vivida
140
Teoria da Literatura
141
Teoria da Literatura
142
Teoria da Literatura
A morte do Autor
Veja este outro exemplo, intitulado Toda saudade, música de Gilberto Gil:
Lendo o que está escrito acima, podemos até pensar que o poeta quis, mesmo,
definir o que seja saudade e que ele teria, então, dado conta de esgotar o assunto.
Mas nossa leitura - de dissermos “sim” a ela, obviamente – mostrará,
provavelmente, que encontramos aqui, expresso de um jeito poético, aquilo que
nós mesmos sentimos quando vivenciamos o tema do poema. Sim, quando a
saudade bate, há, sem dúvida, “a presença da ausência”; há um “não” (de “alguém,
de algum lugar, de algo enfim”) porque estamos sendo privados da companhia, da
presença, da realidade que desejamos estivesse fisicamente presente. Mas há
também um “sim” porque a saudade promove que o que está ausente se torne
presente por meio da emoção, da lembrança, do sorriso que rememora, da lágrima
que traz de novo ao coração. A realidade nos esconde o que desejávamos tocar,
ver, sentir com as mãos, com o corpo, mas a saudade nos deixa ver, entrever,
porque guardado no coração de onde nada, nem ninguém, pode arrancar fatos,
pessoas, lugares guardados. De tamanha ausência de luz – metáfora daquilo de
que nos vemos privados - brota um clarão de luz que nos invade por causa de uma
lembrança nostálgica ( o sol na solidão...).
143
Teoria da Literatura
Você sente saudades, eu as sinto, o poeta as sente: nós sabemos bem quando
ela está presente e não há qualquer possibilidade de ela ser esgotada em
definições. E não nos importa se o poeta, quando escreveu tais versos, estava em
exílio, se morria de saudades de uma amada, se sofria loucamente porque estava
privado do que queria ver, sentir, cheirar. Nada disso ampliará mais a leitura do
poema do que um leitor que se lance a ele e tente desvendá-lo, percebendo
sutilezas e construções que comunicam-se com ele, leitor, com suas emoções, com
sua razão e capacidade interpretativa. Portanto, se ao leitor caberão as
significações, as interpretações do que lê, tal relação há de desconsiderar o
autor como detentor das chaves para se interpretar um texto literário. O autor,
enquanto sinônimo de autoridade sobre o escrito, está, então, irremediavelmente,
morto? Sim e vamos entender por quê.
144
Teoria da Literatura
Não desejo ser simplista: nossa sociedade, nossa cultura, não nos prepara para
nos sentirmos à vontade com textos que nos parecem difíceis (talvez você tenha
experimentado isso até mesmo com o conto O espelho, que usamos aqui) e,
quando lemos, também não pensamos na interação entre ele e nós, leitores. Cabe-
nos, no entanto, seguir as pegadas de Antonio Candido, pois faremos melhor se
estivermos atentos à formação de nossa consciência, nossa crítica, nossa liberdade
de expressão e de imaginação. O desafio é viver a Literatura de modo que ela não
se torne idealista, distante, fragmentada; mas que, ao contrário, participe do
despertamento da nossa sensibilidade criativa.
É HORA DE SE AVALIAR!
LEITURA COMPLEMENTAR:
- É muito válido também que você leia A hora da estrela, de Clarice Lispector.
Um romance inovador tanto no que diz respeito à maneira como a história é
construída, quanto no que se refere às singularidades de sua personagem
principal, Macabéa, uma nordestina surpreendente.
- E, já que você vai ler o livro, também veja o filme: A hora da estrela, uma
produção brasileira de 1985.
145
Teoria da Literatura
146
Teoria da Literatura
Exercícios – Unidade 5
Leia os versos abaixo, escritos por João Cabral de Melo Neto e, a seguir, responda à
questão 1:
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre outros galos.
147
Teoria da Literatura
Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde
Sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela... Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com
indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela
um anseio.
148
Teoria da Literatura
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito
e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou –
o tempo da cozinheira dar um grito – e em breve estava no terraço do vizinho, de
onde, em outro voo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno
deslocado, hesitando ora num pé ora no outro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa,
lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de
almoçar, vestiu radiante o calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha:
em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta hesitante e trêmula escolhia
com urgência ouro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a
telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais
selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar
sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E
por mais ínfima que fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada.
Às vezes, na fuga, pairava ofegante no beiral de telhado e, enquanto o rapaz
galgava outros com dificuldade, tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o
rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa e pousada no chão da cozinha
com certa violência.(...)” (Uma galinha, Clarice Lispector)
149
Teoria da Literatura
150
Teoria da Literatura
QUESTÃO 8: Com a declarada morte do autor, as chaves para uma leitura deverão
considerar:
e) as marcas extratextuais.
151
Teoria da Literatura
Portanto,
não faz mal que devagar
o dia vença a noite
em seus redutos
de leste – o que nos cabe
é ter enxutos
os olhos e a intenção
de madrugar.”
(Geir de Campos)
QUESTÃO 9: Podemos pensar que também o ato de ler não exige pressa. Você
concorda com essa afirmação? Por quê?
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QUESTÃO 10: Explique por que Umberto Eco afirma que todo texto literário é uma
“máquina preguiçosa”.
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Teoria da Literatura
6 Gêneros Literários
Gênero Lírico
Gênero Narrativo
Gênero Dramático
153
Teoria da Literatura
Estamos em nossa sexta unidade e já demos passos bastante largos até aqui –
adoraria saber como você está se saindo em nosso estudo, em nossa caminhada.
Esta é uma unidade que nos apresentará um conteúdo que, possivelmente, você já
tenha estudado em seu ensino médio. Aqui, veremos um pouco de como este
conteúdo se desenvolve ao longo da história literária, quais são os principais
gêneros e como os textos literários podem ser prazerosamento lidos tendo esta
teoria como apoio.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Compreender a conceituação de gêneros literários;
Reconhecer os diversos gêneros literários;
Compreender as manifestações literárias nos diversos gêneros.
PLANO DA UNIDADE
Os gêneros e suas questões
Gênero Lírico
O eu lírico
Musicalidade
A relação entre o lírico e o social
Gênero Narrativo
Epopeia
Romance
Novela
Conto
Gênero Dramático
Tragédia
Comédia
Drama
Formas especiais
Ensaio
Crônica
Bons estudos!
154
Teoria da Literatura
Falei acima de apoio e, é verdade, começamos por aqui porque não podemos
pensar que a teoria seja um tecido aprisionador da arte. O artista não conceberia
um texto atemporal e universal se estivesse preso a qualquer critério
preestabelecido por gêneros ou fôrmas ou por teóricos e críticos literários que
visassem apenas atestar a sua adequação a quaisquer modelos prévios. A beleza e
o alcance da palavra são infinitamente maiores do que qualquer gênero, do que
qualquer estética literária. A propósito, não custa esclarecer que entendemos a
Literatura como sendo a expressão de um estado de consciência do artista ante a
sua época, o seu mundo interior, como resposta a ideologias, anseios,
perplexidades, valorações, questionamentos que lhe são contemporâneos. Daí, nós
vermos as obras criadas em um determinado período histórico, dentro de um
mesmo contexto social, geográfico e ideológico, possuírem características
semelhantes – tais semelhanças podem manifestar-se tanto no que diz respeito à
forma quanto ao conteúdo (ou a um e outro).
155
Teoria da Literatura
156
Teoria da Literatura
1) Em primeiro lugar, quando se fez, ali, menção ao fato de este ser um assunto
presente nos estudos literários de todas as épocas, não há exagero. Platão, no
século IV a.C., foi o primeiro a refletir sobre a comédia, a tragédia e a epopeia,
tomando-os como gêneros literários. Após ele, Aristóteles (384 a.C e 322 a.C), em
sua Arte Poética, ampliou o pensamento platônico com sua concepção de mímesis,
voltando-se para a arte poética e os diferentes gêneros já relacionados com o
modo como o leitor percebe e recebe tanto o processo narrativo (poema épico,
isto é, o poema que louva as grandezas dos homens) quanto o processo dramático
(tragédia e comédia) – daqui a pouco, veremos tais conceitos.
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Teoria da Literatura
Quantos aos gêneros, isso significa que não basta termos lido em algum livro
teórico que, por exemplo, o Soneto de separação, de Vinicius de Moraes, é um texto
lírico para que, categoricamente, seja enquadrado neste gênero. É necessário mais.
158
Teoria da Literatura
mesmas de sempre?
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Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
- outra questão: o título, que pode ser traduzido por “ficção científica”, como
todos sabemos, nos remete a escritas narrativas que discorrem sobre seres
extraterrestres e uma possível comunicação entre eles e nós, humanos. Ora, que
lirismo é esse que traduz encontros com marcianos? Isso parece ser a coisa mais
afastada de nós, pelo menos, falando de forma pragmática, empírica, física ....
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Teoria da Literatura
Acredito que estamos prontos para entrar na teoria sobre cada um dos
gêneros, estudando suas manifestações e formas.
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Teoria da Literatura
Gênero Lírico
163
Teoria da Literatura
Todas essas questões nos levam à reflexão sobre o que significa fugir, escapar,
alienar-se. É bem verdade que há um tipo de texto - aqueles romances açucarados
em que o bem sempre vence o mal, em que a mocinha bonita casa-se com o
rapazinho “tudo de bom”, como se houvesse uma espécie de compensação, por
parte desse tipo de texto, para as mazelas e as dores humanas. No entanto ...
164
Teoria da Literatura
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Teoria da Literatura
Com o passar dos anos, a forma cantada foi abandonada e o poeta passou a
expressar seus sentimentos e percepções através da escrita. Entretanto, as fortes
marcas que acompanharam o nascimento da poesia - então cantada ao som da lira
- e que remetiam aos cantares da individualidade, tais marcas permaneceram e são
elas que nos possibilitam enxergar lirismo num poema. Trata-se das marcas da
emoção, da musicalidade e da eliminação do distanciamento entre o sujeito e o
objeto.
166
Teoria da Literatura
O eu-lírico
Partamos do dado mais objetivo que temos sobre um poema lírico: o pronome
eu. Através de uma pessoa do discurso, a primeira do singular, o chamado eu-
lírico, canta-se uma experiência, uma emoção, uma percepção da vida. Preste
atenção ao fato de que dissemos que “canta-se” e não que “o poeta canta qualquer
coisa”. É um simples detalhe que faz grande diferença porque se dissermos que o
eu é a voz do poeta, estamos dizendo, então, que o poema é autobiográfico e isso
não precisa ser a necessária razão de o poema ter sido escrito.
Musicalidade
167
Teoria da Literatura
O olhar partiu de um sujeito, de um ser que tem a sua localização social; partiu
do eu-lírico que se solidariza com a dor do outro, por exemplo, como é o caso do
poema Tarefa, de Geir Campos:
4
Caso, por exemplo, do poema de Drummond, Os ombros suportam o mundo, em que aparecem vários
verbos conjugados na 2ª. pessoa, fato que sinaliza para a presença de um ser que fala, um eu, portanto.
168
Teoria da Literatura
Formas líricas
Há diversas formas pelas quais a poesia pode se exibir. As mais conhecidas são:
169
Teoria da Literatura
170
Teoria da Literatura
Lendo, nos deparamos com a densidade com que o sujeito lírico (mediante o
uso da segunda pessoa, isto é, aquele com quem ele fala, o que poderia apontar
tanto para um diálogo interior quanto para uma conversa com quem o lê), o sujeito
lírico, dizia, se refere ao “mundo caduco”, onde caminhamos “por entre os mortos”,
no qual perdemos o “tempo de semear” por estarmos tão envolvidos com “a
guerra, o desemprego e a injusta distribuição”. E lembre-se de que este mundo,
“onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo”, estaria em plena
guerra, de escalas planetárias, um ano depois, em 1939...
- balada – de origem francesa, as baladas têm forma mais fixa: seu ritmo
acentuado pelas rimas constantes impõe musicalidade intensa. Abaixo, há um
exemplo de versos de balada compostos por Manuel Bandeira e intitulados Balada
do rei das sereias:
O rei atirou
Seu anel ao mar
E disse às sereias:
- Ide-o lá buscar,
Que se o não trouxerdes
Virareis espuma
Das ondas do mar!
Foram as sereias,
Não tardou, voltaram
Com o perdido anel
Maldito o capricho
De rei tão cruel!
O rei atirou
Grãos de arroz ao mar
E disse às sereias:
- Ide-os lá buscar,
Que se os não trouxerdes
Virareis espuma
Das ondas do mar!
171
Teoria da Literatura
Foram as sereias
Não tardou, voltaram,
Não faltava um grão.
Maldito capricho
De mau coração!
O rei atirou
Sua filha ao mar
E disse às sereias:
- Ide-a lá buscar,
Que se a não trouxerdes
Virareis espuma
Das ondas do mar!
Foram as sereias...
Quem as viu voltar?...
Não voltaram nunca!
Viraram espuma
Das ondas do mar.
(BANDEIRA, 2001, p. 84)
Narrativo
172
Teoria da Literatura
por todos aqueles que convivem com crianças: enquanto narramos, enquanto
contamos as histórias, seus olhos brilham e experimentamos o prazer de vermos
no outro uma expectativa para uma trama que nós, como narradores, já
conhecemos5.
O gênero narrativo é esse que conta as histórias, que narra os fatos a partir de
personagens, enredo, tempo, espaço, a partir, enfim, de todos os elementos que
compõem a trama. Se no gênero lírico, vemos o poeta unindo-se ao objeto de sua
poesia, no gênero narrativo, teremos, prioritariamente, um narrador que se
distancia do seu objeto. É isso que lhe permite, inclusive, contar a história.
5
É claro que o processo de contar histórias pode, muitas vezes, provocar mudanças na história que
originalmente tínhamos em mente, conforme a recepção daquele público infantil (ou qualquer outro tipo
de público que ouça nossas narrativas) – mas, sem querer fazer apenas um jogo de palavras, isso é uma
outra história).
173
Teoria da Literatura
Epopeia
Romance
“Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei
no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de
chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos
ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta e os versos
pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que como
eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para
que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
174
Teoria da Literatura
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso mas não passou
do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes
feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. (...)” (ASSIS, 1973, p. 5)
175
Teoria da Literatura
Novela
Definir novela é um tanto difícil por causa da semelhança que ela tem com o
romance. Normalmente, os teóricos afirmam que a novela é um formato
intermediário entre o romance a o conto: menor que aquele e maior que este.
Também se apresenta em prosa e em capítulos – no entanto, nesta forma, os
capítulos são quase autônomos entre si e, em alguns casos, cada um constitui
quase uma historieta completa. A novela apresenta os mesmos elementos
estruturadores do romance.
Conto
“Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de
nove horas da manhã.
Foi, pois, uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo,
inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um
instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em
176
Teoria da Literatura
177
Teoria da Literatura
A) O enredo
178
Teoria da Literatura
b) Os personagens
179
Teoria da Literatura
Ainda entre os seres que compõem uma narrativa, há uma a quem pouco
damos o nome de personagem. Trata-se do narrador. Lembre-se de que o narrador
nunca pode ser confundido com o autor, a pessoa que existe social e fisicamente.
O narrador é já uma criação da narrativa e, portanto, um personagem que,
obviamente, tem sobre si a tarefa de contar a história dos outros, mas não
deixa de ser, ele mesmo, um personagem.
c) O Tempo
180
Teoria da Literatura
d) O Espaço
Este é o cenário, o ambiente, a localização em que se dá a narrativa ou a
situação em que ela ocorre. Como nos afirma Afrânio Coutinho, “o ambiente é o
conjunto de elementos materiais ou espirituais que formam o local onde vivem os
personagens e se desenvolve a ação.” (COUTINHO, 1976, p. 41) Tais elementos
podem ser físicos (espaço exterior) ou psicológicos (espaço interior) e podem ser
apresentados de maneira minuciosa ou apenas sugeridos.
e) O Ponto de vista
O ponto de vista ou foco narrativo, como o próprio nome indica, será o ponto
de vista do qual o narrador contará a história. Atente para o fato, já referido, de que
o narrador também é um personagem. Sim, porque, da mesma forma como não
podemos confundir o eu-lírico com a biografia do autor, também não podemos
achar que as narrativas em 1ª. pessoa são a voz do autor ou são o próprio autor, o
que seria uma confusão perigosa. Seria tratarmos os escritos em primeira pessoa
como se fossem biográficos, o que, como já vimos, é um engano.
Há três grandes visões a partir das quais uma história pode ser contada. Por
exemplo, se você contar para uma amiga uma situação que tenha acontecido entre
um passageiro do ônibus e, por exemplo, o motorista, você poderá contar apenas o
que viu, já que não pode conhecer a mente das duas pessoas envolvidas. Neste
caso, você narrará como se estivesse por fora da situação.
De outra forma, se você estiver ao telefone com alguém que lhe pergunta: “o
que você está fazendo agora?” Você lhe narrará o que, naquele momento, está
vivenciando, não podendo lhe apresentar nenhum fato que ainda não tenha
acontecido justamente por você, como narrador, ter uma visão que acompanha os
fatos no momento mesmo em que ocorrem.
181
Teoria da Literatura
Há, ainda, um outro jeito. Você discutiu com uma pessoa no trabalho, ficou
muito aborrecido e precisa conversar com alguém para pôr a cabeça no lugar.
Procura um amigo e lhe conta o que houve. Depois de narrar sua história,
impressionado com a terrível discussão, seu amigo logo lhe pergunta: “mas por
que a pessoa lhe disse isso?” Bem, você conhece a pessoa, convive com ela durante
muitas horas por dia, percebe algumas expressões faciais e já sabe o que significam
e, então, juntando todas essas informações, você apresenta os porquês de tanta
confusão. Sua narrativa será, então, construída a partir de quem está por trás de tudo
o que houve, conhecendo todos os detalhes (ou achando que conhece todos os
detalhes).
- externa ou interna: no primeiro caso, o narrador é alguém que está fora dos
acontecimentos narrados, o seu ponto de vista é externo, ou seja, quem narra não
é um dos participantes da narrativa. No segundo caso, o narrador será alguém que
está dentro dos acontecimentos, o seu ponto de vista é interno e a narrativa será
em 1ª. pessoa;
182
Teoria da Literatura
4.4 - Dramático
183
Teoria da Literatura
A palavra drama vem do grego drâo que significa fazer, no sentido de realizar,
agir. Por isso, este é o gênero em que se realizam as representações, no sentido
teatral do termo, ou seja, nele, a história é contada por meio da ação (daí, o
nome). Logo, é o gênero que apresenta as histórias como se elas existissem
por si mesmas, sem a interferência de um narrador, com
contínuos diálogos e partes interdependentes. Mediante os
diálogos, conhecemos toda a trama e acompanhamos a
resolução dos conflitos.
4.4.1 - A Tragédia
184
Teoria da Literatura
“Édipo:
(...)
O Coro:
4.4.2 - A Comédia
185
Teoria da Literatura
No Brasil, ainda que ouçamos falar pouco dele, temos a genialidade de Martins
Pena (1815-1848) e Ariano Suassuna (O auto da compadecida) com suas peças que
ridicularizam elementos muito familiares a nós, brasileiros.
4.4.3 - O Drama
186
Teoria da Literatura
Gianfranceso Guarnieri, Caio Fernando Abreu, João Cabral de Melo Neto são
autores de grande expressão dramática. Morte e vida severina, escrito por João
Cabral em 1954, é um retrato dramático das mortes presentes no sertão nordestino
ao lado da insistente presença da vida, ainda que severina:
“— Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
187
Teoria da Literatura
4.5.1 – O Ensaio
188
Teoria da Literatura
Com o passar dos anos, o ensaio deixou de ter essa marca do inacabado para
tornar-se conclusivo, pronto, ou seja, as ideias ali apresentadas já não têm tanto a
marca da experimentação: tornam-se definitivas e definidoras. A linguagem
tornou-se mais elaborada, chegando às vezes a ser incompreensível a uma pessoa
que não conheça ou domine o assunto que está sendo ensaiado.
4.5.2 – A Crônica
189
Teoria da Literatura
É HORA DE SE AVALIAR!
LEITURA COMPLEMENTAR
Até aqui, já temos bastante coisa sobre o que pensar, não é verdade? Ao longo
de toda a nossa caminhada, você conheceu conceitos e particularidades que
pretenderam ampliar sua visão sobre a palavra literária. Quanto a mim, lhe desejo
largas, críticas e sensibilizadas leituras. A propósito, que tal manter a chama acesa
com estes versos de Vinicius, intitulados Soneto de separação?
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
190
Teoria da Literatura
Exercícios – Unidade 6
c) basta que reconheçamos traços isolados na obra para que um texto seja
reconhecido como lírico, épico ou dramático.
e) este assunto pode ser ignorado pelos estudos literários pois o que importa é o
que o leitor sente diante da obra.
191
Teoria da Literatura
QUESTÃO 4: Dentre as opções abaixo, assinale aquelas que são formas líricas:
192
Teoria da Literatura
a) no poema – A poesia
b) no romance – A literatura
c) no conto – A epopéia
d) no drama – A tragédia
e) no ensaio – A crônica
193
Teoria da Literatura
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194
Teoria da Literatura
Considerações finais
Continuar a ler, a deixar-se abrir para o novo, para o poético, para o humano
que há expresso em tantas e tantas páginas literárias, de tempos próximos e
distantes, de autores vizinhos e longínquos no tempo e no espaço. O processo
pertence a você, somente a você. Dificuldades são sempre menores, acredite, do
que nossas escolhas e nossas vontades. E como já disse em uma das páginas desse
curso, dizer “sim” ao processo de tornar-se leitor que amplia, que dialoga, que
acolhe é decisão que nos deixa, dentre as imprevisibilidades dos frutos, a certeza
de que a vida e a arte não decepcionam nunca – testemunho isso, a cada dia, a
cada página.
porque
195
Teoria da Literatura
Conhecendo o autor
Pedindo licença, falo de mim: sou Elivania Lima e o que lhe escrevi é fruto de
uma caminhada que começou há uns vinte e sete anos – tempo em que iniciei
minha graduação em Letras, pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em
Niterói, no Rio de Janeiro. Depois de concluída, graduei-me também, pela mesma
Universidade, em Comunicação Social. Em 2001, concluí o meu Mestrado em
Literatura, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e, atualmente, sou
professora da Universidade Salgado de Oliveira, lotada em Niterói, onde ministro
aulas no curso de Letras e junto à qual publiquei, além deste, os cursos on-line de
Teoria da Literatura I, Literatura Portuguesa I, Metodologia da literatura, Relações
Intertextuais da Literatura Portuguesa, Relações Intertextuais da Literatura Brasileira,
além de Prática Docente de Literatura 1.
Sou agraciada por ser casada com Vand, meu amor, e por cuidarmos juntos de
nossos três filhos, João Pedro, Isabelle e Antônio - os quatro são belíssimos poemas
com quem tenho o prazer de conviver. Além, sem que eu possa deixar de citá-lo,
do nosso adorável Muleki, um beagle que nos encanta com seu jeitinho de um
cachorro que incorporou o nome que carrega. Enfim, uma família que eu adoro e
com quem sou muito feliz.
196
Teoria da Literatura
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar,
1979. Volume único.
Os ombros suportam o mundo, Science fiction, Elegia 1938, Amar são, dentre
muitos, poemas de valor inestimável. Drummond é único e sempre bem-vindo.
ARISTÓTELES. Arte poética. Trad. Ana Maria Valente. Lisboa : Fundação Calouste
Gulberkian, 2004.
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Dom Casmurro. São Paulo : Círculo do livro,
1973.
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Notícia da atual literatura brasileira. Instinto
de nacionalidade. In Antologia brasileira de literatura. 2.ed. Rio de Janeiro : Letras e
Artes, 1967.
197
Teoria da Literatura
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Cultrix, 1993.
O que é um clássico e por que lê-lo? Este livro fornece várias respostas a essas
perguntas. Calvino reapresenta as diversas facetas de um clássico, para depois
iluminar o leitor com uma leitura de seus próprios clássicos. O livro é uma
coletânea de artigos sobre os mais de trinta expoentes da tradição ocidental -
Voltaire, Balzac, Stendhal, Flaubert, Dickens, Tolstoi, Borges, Montale, Homero,
Ovídio.
Você o conhece mais por suas letras cantadas pela irmã, Marina Lima. Mas é
poeta, dessa palavra escrita, lida, guardada.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
198
Teoria da Literatura
LIMA, Luís Costa (1983). Teoria da literatura em suas fontes. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, V. II.
Este livro apresenta uma antologia básica de textos das principais correntes da
Crítica Literária. As correntes que destacamos, ao longos das unidades, são a
estilística, o formalismo russo, o new critcism, a crítica sociológica, o estruturalismo
e a estética da recepção.
ISER, Wolfgang. A interação do texto com o leitor. In.: LIMA, Luiz Costa (org.). A
literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Seleção, Tradução e Introdução
de Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
LISPECTOR, Clarice. Água viva. 5.ed. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1980.
199
Teoria da Literatura
São textos de uma inesgotável escritora que se autodefiniu como sendo uma
pessoa “caleidoscópica”: os três títulos apresentados são a prova dessa
personalidade magistral que foi Clarice.
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. 3.ed. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1990.
Volta e meia, folheio este livro por sua riqueza infinita. O poema que lhe dá
título me acompanha por causa desse “ou” que não nos larga.
MELLO, Thiago de. Faz escuro mas eu canto. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil,
1999.
Muito amigo de Geir Campos, Thiago de Mello também escreve com paixão
pela liberdade e pelo humano, visceralmente humano.
MOISÉS, Massaud. A criação literária : poesia. 14.ed. rev. São Paulo : Cultrix,
2000.
MORAES, Vinicius de. Poesia completa e prosa. Org. Alexei Bueno. Rio de Janeiro
: Aguilar, 1974.
Ter Vinicius por perto é coisa que todos devem fazer – sempre.
NETO, João Cabral de Melo. Morte e vida severina e outros poemas para vozes.
Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994.
Este auto de natal é de beleza ímpar: inaugurar o novo é dom de João Cabral.
200
Teoria da Literatura
POUND, Ezra. A arte da poesia – ensaios escolhidos. 3ª. ed. São Paulo : Cultrix,
1991.
Poeta e crítico com igual paixão pela arte e pela literatura, Pound é leitura que
modifica, amplia, dá prazer.
Este a cor do invisível é sugestiva metáfora para Quintana: poeta que enxerga
onde ninguém vê.
Precisei que me controlar para não citar Vidas secas a todo momento. É um
livro que leio há alguns anos com um prazer que cresce e me encanta.
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Trad. Paulo Rónai. Rio de Janeiro :
Globo, 1989.
Este não é um livro teórico mas as cartas que Rilke envia a Kappus constroem,
com beleza singular, pensamentos sobre o fazer poético.
ROSA, João Guimarães. Ficção completa. vol. II. Rio de Janeiro : Nova Aguilar.
1995.
SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Convite à estética. Trad. Gilson Baptista Soares. Rio
de Janeiro : Civilização Brasileira, 1999.
201
Teoria da Literatura
Este livro possibilita um passeio pela mais jovem das ciências humanas: a
semiótica, tendo como guia o teórico Charles Sanders Peirce. Nessa obra temos
uma visão panorâmica dos princípios fundamentais, particularidades e fronteiras
da teoria geral dos signos.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da Literatura. São Paulo: Ática, 1986. Série
Princípios.
202
Teoria da Literatura
Anexos
203
Teoria da Literatura
Gabaritos
Unidade 1
1. b
2. c
3. b
4. d
5. e
6. c
7 c
8 e
9 R: O autor literário parte dos fatos da vida, parte da realidade para conceber o
seu texto, mas não quer nem pode esgotar essa realidade. No dizer de Afrânio
Coutinho, “os fatos que lhe deram origem perderam a realidade primitiva e
adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra
natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou
pelo social.”
10 R: Em um texto literário, o que tem vez é mais próximo do que Massaud
Moisés chama de para-realidade, isto é, “o mundo ficcional (aquele criado pela
imaginação criadora do escritor ou poeta) está ‘ao lado’, paralelo à realidade
ambiente, com ela realizando um permanente intercâmbio e nela se integrando
inextricavelmente”, inseparavelmente. O texto não esgota o real, não o define, não
o limita: o texto literário sugere, evoca, aponta para o real e para as coisas de que é
feito.
Unidade 2
1. d
2. c
3. e
4. b
5. a
6. a
7 e
8 b
9 R: Ainda que respeito e código, a literatura inova os significados que as
palavras comumente apresentam, por causa do signo polivalente de que é feita.
10 R: A metáfora aproxima termos e ideias habitualmente isolados mediante uma
comparação interna, subentendida.
204
Teoria da Literatura
Unidade 3
1. b
2. c
3. c
4. a
5. c
6. a
7 b
8 b
9 R: Quando se fala em cânone literário, faz-se referência ao corpo, ao conjunto
de obras (e seus autores) social e institucionalmente consideradas modelos por
serem as que representam a história da poesia e da prosa em uma cultura e
comunicam valores estéticos e humanos essenciais, tornando-se, por isso, dignas
de serem estudadas e transmitidas de geração em geração.
Unidade 4
1. d
2. a
3. b
4. c
5. e
6. a
7 b
8 e
9 R: A Estética da Recepção tem como marco o final dos anos 60 quando, na
Alemanha, um grupo de teóricos passou a dar ênfase a um elemento quase nunca
considerado, em termos de crítica literária: o leitor ou receptor do texto.
205
Teoria da Literatura
Unidade 5
1. b
2. a
3. b
4. c
5. a
6. c
7 d
8 d
9 R: Os versos expressam a vagareza com que os fenômenos da natureza
ocorrem e servem de paralelo para pensarmos que também é leitura é vagarosa, na
medida em que ela é preenchimento de vazios, compreensão, interpretação e tais
movimentos exigem pensamento, reflexão para que os frutos brotem.
10 R: O texto é “máquina preguiçosa” pois, ao construir uma multiplicidade de
acontecimentos e personagens, não pode dizer tudo sobre tal mundo – por isso, há
uma parte que nos cabe.
Unidade 6
1. a
2. b
3. e
4. a
5. b
6. c
7 d
8 e
9 R: As características que os gêneros possuem são norteadores para o
entendimento das potencialidades do texto e não os marcos fixadores,
delimitadores de um discurso literário. Quanto mais conhecemos tais
características, mais largos serão os horizontes da leitura.
206