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Aspectos Antropologicos e Sociologicos Da Educação
Aspectos Antropologicos e Sociologicos Da Educação
Sociológicos da Educação
2014
Editorial
Comitê Editorial
Magda Maria Ventura Gomes da Silva
Lucia Ferreira Sasse
Marina Caprio
Autor do Original
Fernando de Figueiredo Balieiro
Bons estudos!
em sua experiência.
As disciplinas de Antropologia e Sociologia vêm, então, em
seu auxílio na sua caminhada intelectual, apresentando diferen-
tes visões sobre a realidade humana enquanto grupo que produz o
que chamamos de “cultura” – esta que se manifesta socialmente. É
importante entender o que é exatamente este animal social que é o ser
humano. Será que você já reletiu verdadeira e profundamente sobre
quem é o ser humano – na verdade, quem somos nós?
Objetivos da aprendizagem
• Compreender o contexto de surgimento das disciplinas de Sociologia
e Antropologia;
• Reletir sobre a dimensão social do ser humano;
• Identiicar os aspectos fundamentais da perspectiva positivista;
• Compreender o desenvolvimento da Antropologia enquanto ciência;
• Deinir o conceito antropológico de cultura;
• Compreender o que é etnocentrismo;
• Aprender as diferenças iniciais de objeto entre a ciência socioló-
gica e a antropológica.
Você se lembra?
Qual foi a última vez que ouviu falar sobre ciências sociais? O
que você achou que as deiniu? Neste capítulo, vamos aden-
trar duas das ciências sociais, a Antropologia e a Sociolo-
gia e, então, você verá como são duas ciências que se
debruçam sobre o caráter social do ser humano, mas
com focos e metodologias distintas.
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
O tema especíico da cultura será visto mais para a frente. Por en-
quanto, o que importa, para se entender o que é Sociologia, é saber que a
cultura é o conjunto de valores, hábitos, costumes e normas que organi-
zam a vida em sociedade. O homem adequado ao seu meio social é aquele
que foi socializado, ou seja, aprendeu como agir socialmente.
Veja como o ser humano se transforma em ser social:
SER HUMANO
SER SOCIAL
EDUCAÇÃO
APRENDIZAGEM
CULTURA
SOCIALIZAÇÃO
LINGUAGEM
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
René Descartes
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Augusto Comte
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
1.1.5 O positivismo
O positivismo pode ser considerado o berço que embala a Socio-
logia há mais de um século, desde o seu nascimento. Assim, conhecer a
história da Sociologia exige um conhecimento básico do positivismo, so-
bretudo por ele ser considerado um conjunto de pensamentos e ações que
formam o sistema de vida típico do século XIX, mais do que apenas uma
doutrina.
Os positivistas eram pensadores conservadores que se preocupa-
vam com a ordem, a estabilidade e a coesão social e consideravam que
a sociedade moderna era dominada pela desordem, pela anarquia. Eles
enfatizavam a importância da disciplina, da autoridade, da hierarquia, da
tradição e dos valores morais para a conservação da vida social. A inluên-
cia da doutrina positivista icou marcada na bandeira do Brasil pelo lema
“Ordem e progresso”.
Diante das transformações sociais que ocorriam no século XIX, eles
viam a necessidade de criar uma ciência que resgatasse os princípios con-
servadores, e não uma que objetivasse mudanças. Augusto Comte dividia
hierarquicamente a ilosoia positiva em cinco ciências: astronomia, físi-
ca, química, isiologia e física social.
O “físico social” deveria, para Comte, buscar constantemente as leis
universais imutáveis nos fenômenos sociais, à semelhança do que ocorria
na física. Todos os fenômenos estudados deverim ser observados, experi-
mentados, comparados e classiicados, para serem considerados verdadei-
ros e cientíicos.
As características mais importantes do positivismo são:
– empirismo: submissão da imaginação à observação, à experi-
mentação e à comparação;
– classiicação dos fenômenos sociais da maneira como é feita
com os fenômenos naturais;
– a ciência tem como função principal a capacidade de prever;
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
HOMEM SOCIEDADE
EAD-14-Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação – Proibida a reprodução – © UniSEB
1 Leis consuetudinárias: leis impostas pela tradição, pelo costume, não escritas. Clãs e linhagens: são formas de
agrupamento social encontradas nas sociedades “tribais”.
2 Ameríndio: termo que designa o índio das Américas.
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
1.2.2 Método
A centralidade do método etnográico para a antropologia tende a
ser tão pronunciada que chega a constituir parte do que tradicionalmente
deine a disciplina. Como vimos, a pesquisa de campo intensiva nasce
com a moderna antropologia e torna-se uma exigência tanto para a con-
fecção de monograias sobre os povos “exóticos” quanto para a legitima-
ção do saber produzido sobre o outro. Mas, em que consiste tal método?
Teria esse método sofrido transformações desde que foi instituído?
Em primeiro lugar, a ideia de pesquisa de campo implica que o pes-
quisador se desloque para o lugar que lhe propiciará o contato direto com
seu objeto de estudo, ou seja, ele vai a campo e lá permanece o intervalo
de tempo necessário para testemunhar os fatos que deseja interpretar ou
analisar. Tradicionalmente, o “campo” do antropólogo era uma “aldeia”,
em geral na África, América ou em uma ilha do Pacíico. Hoje, o lócus da
investigação etnográica pode ser uma empresa, um hospital ou mesmo um
arquivo. O campo se refere ao lugar ou cenário onde o antropólogo procede
às suas observações. Em segundo, as notórias palavras de advertência de
Clifford Geertz: “Os antropólogos estudam nas aldeias e não as aldeias”.
Esta distinção é cabal porque o que interessa é o que o pesquisador
procura, para quais fatos dirige seu olhar investigativo, que perguntas faz
e que teoria lhe guia. Com efeito, o próprio modo como os antropólogos
tendem a falar contribui para certa confusão, eles dizem “Evans-Pritchard
estudou os Nuer”, o que signiica que Evans-Pritchard realizou pesquisa
de campo na aldeia dos Nuer e escreveu sobre sua economia, parentesco
e até sobre a geograia da aldeia. Mas, é fato também, que o modelo das
monograias clássicas pretendia abarcar boa parte dos (se não todos os)
aspectos da vida social de um povo ou da totalidade de uma cultura, abor-
dando sua economia, relações de parentesco, sistema mágico-religioso,
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to possível dos valores de sua própria sociedade, fosse capaz de tornar in-
teligíveis as instituições e os costumes das chamadas sociedades primiti-
vas, oferecendo uma descrição genuína da cultura nativa em seus próprios
termos, e procurando mesmo capturar o ponto de vista nativo. Finalmente,
as etnograias, então produzidas, eram, como já foi mencionado, estudos
abrangentes que buscavam dar conta de todas as dimensões de uma socie-
dade desde o parentesco até a economia.
Predominou ainda nas monograias clássicas a perspectiva sincrôni-
ca, ou seja, a análise da sociedade no tempo presente. A proposta destes
trabalhos era oferecer um retrato da sociedade, um relato dos vários as-
pectos da vida social real de um grupo no momento em que transcorriam
e eram observados pelo antropólogo. Artifícios como o uso do presente
do indicativo e a eliminação da perspectiva histórica congelam a ação,
suspendem o tempo e criam a ilusão de que o objeto da descrição é con-
temporâneo ao leitor. Esta convenção narrativa icou conhecida como
“presente etnográico”.
O autor de algumas das etnograias mais admiráveis da Antropolo-
gia Social Britânica, Sir. Edward E. Evans-Pritchard, teceu alguns comen-
tários valiosos acerca do trabalho de campo a partir de relexões sobre sua
experiência pessoal. Evans-Pritchard insiste na importância de distinguir
entre as ideias preconcebidas dos leigos a respeito das sociedades primiti-
vas, as quais costumam ser desinformadas e preconceituosas, e, portanto,
devem ser sim descartadas, e as ideias que o antropólogo leva para campo,
as quais são fruto do seu conhecimento cientíico e treinamento teórico.
Ou seja, para ele é crucial que, como ocorre com qualquer outro pesqui-
sador, o antropólogo inicie sua investigação orientado por um interesse
teórico e que colha dados para testar hipóteses previamente formuladas a
respeito da realidade estudada.
Em contrapartida, ele ressalta que o encontro com a sociedade pes-
quisada é sempre decisivo e pode redirecionar a abordagem para assuntos
nem de longe suspeitados antes da incursão ao campo. Sua opinião, bom
base em seu próprio caso, é que o antropólogo deve se deixar conduzir
pelo que encontra em campo. Assim, Evans-Pritchard confessa:
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Eu não tinha interesse por bruxaria quando fui para o país zande,
mas os Azande tinham; e assim tive de me deixar guiar por eles.
Não me interessava particularmente por vacas quando fui aos
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
Nuer, mas os Nuer, sim; e assim tive aos poucos, querendo ou não,
que me tornar um especialista em gado (EVANS-PRITCHARD,
2005, 204-205).
da alteridade se manteve.
construção da distância, ainda que mínima, permanece
É significativo que central. Assim, Peirano observa que a alteridade mu-
as próprias condições que dou de dimensão, mas não foi eliminada porque
é um aspecto fundante da disciplina, sem o
permitiram o florescimento qual ela não pode se reconhecer
da antropologia, no século XIX, (Peirano, 1999).
envolvam um ambiente intelectu-
al em que a noção de alteridade ganhava
proeminência, ainal o contexto era o de confronto com o exotismo dos
povos do além-mar – contatados alguns séculos antes. A construção do
imaginário europeu sobre o “outro” se forjou ao longo de séculos de nar-
rativas de viajantes e conquistadores em um extenso período que cobre os
descobrimentos, a conquista da América, o estabelecimento dos Impérios
Coloniais, a organização do empreendimento missionário. Mas qual era a
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
imagem dos povos do Novo Mundo que prevalecia na época? Eles eram
representados ora como seres irracionais, infantis e tolos, ora como mons-
tros, seres bestiais e perigosos. O ponto de partida era sempre o contraste
com a civilização europeia, o que determinou que os chamados “primiti-
vos” fossem encarados tanto pela ótica da falta: sem roupa, sem escrita e
sem Estado, quanto pela ótica do desregramento: sexualidade desviante,
canibalismo, crueldade.
Segundo Rapport e Overing, o Ocidente adotou um sistema de alte-
ridade pautado pelo princípio da exclusão. Neste sistema, os processos de
construção da diferença e de caracterização do estranho como monstruoso
implicam na instituição de fronteiras rígidas entre o “nós” e o “eles”, eli-
minando a possibilidade da interação. No discurso dos conquistadores, a
imagem que surge dos povos do Novo Mundo corresponde a uma perfeita
inversão daquilo que os europeus julgam ser a sua própria sociedade. O
selvagem aparece então como a antítese do civilizado o que assegura
que a diferença seja percebida como absoluta. A distância construída é
tão abissal que sugere a negação da humanidade do “outro”. Assim, o
esquema colonial de processamento da alteridade não somente reduziu a
diferença ao exotismo, como promoveu a neutralização de sua potência,
tratando de rebaixá-la para reairmar a superioridade europeia (RAPPORT
E OVERING, 2000).
Contudo, a exclusão e a inferiorização não consistem nas únicas
formas de apreensão da alteridade. Rapport e Overing sugerem que há
também um regime inclusivo da alteridade característico dos índios da
Amazônia. No sistema indígena, o estranho e o desconhecido não deixam
de ser encarados como monstros em potencial (o diferente pode sempre
representar um perigo), no entanto tal sistema enfrenta o problema da
neutralização dos poderes do “outro” prescrevendo como solução a assi-
milação destes poderes, o que no caso de alguns povos implica na prática
do canibalismo ritual. A estratégia para lidar com os perigos da alteridade
consiste na absorção dos poderes do “outro” através da antropofagia – no
exemplo dos guerreiros Tupinambás, isto se dava através da ingestão de
um pedaço do corpo do inimigo (RAPPORT e OVERING, 2000).
Resta pouca dúvida que apesar de se orientarem por princípios opos-
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Fotograia bem conhecida em que Boas estaria ilustrando o movimento de uma dança que
ele observou em campo.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
4 Epifenômeno: fenômeno que é um mero acessório, um efeito fenômeno que se toma principalmente em consideração.
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
Quase não é necessário sublinhar que o arco, arma única dos caça-
dores, é um instrumento exclusivamente masculino e que o cesto,
coisa das mulheres, só é utilizado por elas: os homens caçam, as
mulheres carregam. A pedagogia dos guaiaqui se estabelece princi-
palmente nessa grande divisão de papéis.(...)
ALOISIO CABALZAR/ISA | HTTP://PIBMIRIM.SOCIOAMBIENTAL.ORG
SERGIO BLOCH | HTTP://PIBMIRIM.SOCIOAMBIENTAL.ORG
Menino Waimiri-atroari com seu arco em miniatura e Índia hupda do Médio Tiquié
singular que organiza o mundo em que homens concretos vão viver, inclu-
sive deinindo o que será considerado necessário, prioritário e supérluo
por estes homens. Atribui signiicados muito diversos às suas práticas, por
exemplo, tomando o caso da nutrição, é a ordem cultural que estabelece
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
Atividades
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Reflexão
De acordo com Charles Wright Mills (1918-1962), a Sociologia ser-
ve para que o indivíduo desenvolva uma imaginação sociológica. Mas o
que é isso, ainal? Seria a capacidade do indivíduo de perceber aquilo que
ocorre no cotidiano dele e de seus contemporâneos e de relacionar essas
ocorrências com questões mais amplas com o que ocorre na sociedade.
Por exemplo: o desemprego pode ser uma questão pessoal ou uma ques-
tão da própria estruturação da sociedade; a guerra atinge indivíduos
pessoalmente, mas é uma questão mais ampla, envolve países, questões
econômicas, políticas etc. É a relação do individual com o social que nós
chamamos de imaginação sociológica; é também fazer a ponte entre o que
acontece no seu cotidiano e as questões mais amplas que te envolvem. O
indivíduo só pode compreender sua própria experiência e avaliar o seu
próprio destino localizando-se dentro do seu período histórico. Ele só
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Leituras Recomendadas
Para uma relexão mais abrangente sobre o conceito antropológico
de cultura, consulte o texto de Roberto DaMatta Você tem cultura?, aces-
sível em: <http://naui.ufsc.br/iles/2010/09/DAMATTA_voce_tem_cul-
tura.pdf>. Para um aprofundamento em sociologia, ler MARTINS, C. B.
O que é sociologia? Coleção Primeiros Passos. Rio de Janeiro: Brasilien-
se, 1988 e ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo:
Referências bibliográficas
BENEDICT, Ruth. Padrões de Cultura: Lisboa. Editora Livros do Brasil.
Alves, 1990.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
FABIAN, Joannes. Time and the other. How anthropology makes its
object. New York: Columbia University Press, 1983.
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Introdução à Aspectos Sociológicos e Antropológicos da Educação – Capítulo 1
1980.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
No próximo capítulo
No próximo capítulo veremos aspectos fundamentais da obra de
três sociólogos clássicos - Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber - e
discutiremos elementos voltados à educação presentes nas teorias de
cada um.
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Os Clássicos da
Sociologia e a Educação
Neste capítulo, teremos como foco os
Objetivos da aprendizagem
Cap
Você se lembra?
Nas suas aulas de História e nas leituras que já realizou, você tomou co-
nhecimento acerca do fato de que o século XIX apontou a consolidação
do sistema capitalista na Europa e que este momento histórico forneceu
muitos elementos para o surgimento da sociologia como uma nova ci-
ência.
Isso ocorreu porque, nesse contexto, apresentou-se um quadro de
transformações, marcado por mudanças políticas e econômicas, a
emergência da burguesia, o enfraquecimento do poder da Igreja,
o fortalecimento do Estado Moderno, a eclosão da razão em
oposição à fé, o desenvolvimento tecnológico, a industrializa-
ção, a urbanização acelerada, a intensiicação da exploração
do trabalho em busca de maior produtividade, o trabalho
assalariado e uma maior e intensa divisão do trabalho.
Essas são as principais características do quadro
geral sobre o qual pensadores do século XIX se
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Os Clássicos da Sociologia e a Educação – Capítulo 2
Émile Durkheim
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
as pessoas se unem por meio da crença, dos laços religiosos, das tradições
etc. Na segunda, por sua vez, os laços de interdependência são decorrentes
das diferentes funções e especializações que cada indivíduo, em sua ca-
tegoria (econômica, proissional, religiosa, familiar etc.), desempenha na
relação com os demais.
Quando a sociedade se encontra em estado de solidariedade, os
órgãos solidários estão em contato entre si, percebendo a necessidade da
interdependência. As trocas se fazem sem diiculdade, levando à regulari-
zação da sociedade, ao equilíbrio social. Dessa forma, a divisão do traba-
lho deve produzir a solidariedade entre os indivíduos e segmentos. Se não
o faz, é porque as relações dos órgãos sociais não estão regulamentadas
– estão em estado de anomia.
Quando uma sociedade não se encontra em estado de solidariedade, tende a
encontrar-se em estado de anomia social.
Karl Marx
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
O que é mais-valia?
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nárias dos seres humanos. O que Marx queria era ver o ser humano livre
das amarras do capital, emancipado e liberto, podendo ser autônomo.
Você se identiicou com alguma dessas abordagens em especial?
Não há uma mais correta ou menos correta que a outra. São apenas pontos
de vista diferentes lançados para os mesmos fenômenos sociais.
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Os Clássicos da Sociologia e a Educação – Capítulo 2
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Os Clássicos da Sociologia e a Educação – Capítulo 2
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
“fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde,
pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu
bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador
ou crítico” (BITTAR, FERREIRA JR., 2008, p. 639).
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Os Clássicos da Sociologia e a Educação – Capítulo 2
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Max Weber
entretanto, não achava que uma sucessão de fatos históricos izesse senti-
do por si mesma. Ele propunha o método compreensivo para o estudo dos
fenômenos sociais. Mas em que consiste esse método?
O método compreensivo consiste num esforço interpretativo do
passado e de sua repercussão nas características peculiares das sociedades
contemporâneas. Para decodiicar o mundo social, Weber propõe que se
compreenda a ação dos seres humanos do ponto de vista do sentido e dos
valores, e não apenas a partir das causas e pressões exteriores. A essa ação
humana ele chamou de ação social.
Ação social é a conduta humana dotada de sentido. Assim, o homem
passou a ter, na sociologia de Weber, uma importância enquanto sujeito
que atribui sentido aos fatos. É o homem que dá sentido à sua ação social,
estabelecendo a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita
e seus efeitos. Por estudar as ações sociais, a sociologia weberiana chama
os homens de atores sociais.
Mas, se cada indivíduo atribui um sentido às ações, como é que elas
podem ser sociais?
O caráter social da ação individual decorre da interdependência dos
indivíduos. Um ator age sempre em função de sua motivação e da cons-
ciência de agir em relação a outros atores, embora não consiga controlar
todos os efeitos de sua ação. O cientista social deve captar os sentidos e os
motivos produzidos pelos diversos atores sociais nas sociedades.
Weber distingue ação social de relação social: para haver relação so-
cial, é preciso que o sentido seja compartilhado. Vamos ver um exemplo?
Um sujeito que pede uma informação na rua a outro pedestre realiza
EAD-14-Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação – Proibida a reprodução – © UniSEB
uma ação social: ele tem um motivo e age em relação a outro indivíduo,
mas tal motivo não é compartilhado. Ambos os pedestres não chegam a
travar uma relação social.
Numa sala de aula, onde o objetivo da ação dos vários sujeitos é
compartilhado (todos estão ali para aprender), estabelece-se uma relação
social dos alunos entre si e dos alunos com o professor.
Weber argumentava que os fatos sociais não são coisas e que a
neutralidade do sociólogo é impossível. O cientista social parte de uma
preocupação com signiicado subjetivo, pessoal. Sua meta é compreender,
buscar nexos causais que deem sentido à ação social.
A obra mais conhecida de Max Weber é A ética protestante e o espí-
rito do capitalismo, em que analisa o papel do protestantismo (da religião)
na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
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Os Clássicos da Sociologia e a Educação – Capítulo 2
Atividades
01. Assista ao ilme A testemunha e analise as diferenças de duas reali-
dades sociais, marcadas (uma) pela solidariedade mecânica e (outra) pela
solidariedade orgânica.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Reflexão
Quando as bases da vida em sociedade se modiicaram radicalmente
na Europa, emergiu a preocupação com a vida social, expressa por meio
de teorias sociológicas que procuravam compreender o quadro de pro-
fundas crises e transformações advindas do capitalismo, consolidado no
século XIX.
Como a religião já não era suiciente para dar as explicações que a
nova realidade social, política, cultural e econômica exigia, o pensamento
social passou a ganhar proeminência e destaque.
No campo das ideias, a pesquisa cientíica e as descobertas tecno-
lógicas tornavam-se uma meta cultural e social da maior importância. O
individualismo emergia como valor essencial da identidade humana, tra-
zendo junto de si a competição no mundo do trabalho.
Os principais representantes do conhecimento sociológico desta
época foram Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim, autores até hoje
estudados e conhecidos como os representantes da sociologia clássica.
Por meio de diferentes abordagens, esses autores nos permitem interpre-
tar a realidade social, a partir de temáticas que, embora tenham nascido
na transição para o mundo moderno, e se consolidaram no século XIX,
perpassaram o século XX e continuam se colocando como essenciais no
século XXI, contexto em que vivemos os relexos e as intensiicações do
que signiicou e permaneceu existindo como sociedades complexas pro-
duzidas pelo advento do capitalismo.
Leituras recomendadas
Para um aprofundamento na obra dos clássicos da sociologia, leia
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense, 1980;
FREUND, Julien, Sociologia de Max Weber. 4ª ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 1987; e RODRIGUES, José Albertino. Introdução. In: Durkheim
(org. Rodrigues, José Albertino). São Paulo, 2ª ed. Ática, 1981: p. 39-70.
Referências bibliográficas
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Os Clássicos da Sociologia e a Educação – Capítulo 2
No próximo capítulo
No próximo capítulo reletiremos sobre abordagens mais contempo-
râneas da sociologia, relacionando-as com a àrea da educação.
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A Educação e as Teorias
Sociais Contemporâneas
3 Muitas vezes agimos tão “naturalmente” que
não nos damos conta de que incorporamos dis-
lo
posições sociais em nossa forma de agir e pensar.
Pouco atentamos que a forma como somos é fruto de
ít u
Você se lembra?
Nos capítulos anteriores, abordamos as relexões sobre a
socialização, conceito fundamental que versa sobre o ser
humano enquanto “ser social”. A obra durkheiminiana,
fruto de relexões fundadoras do pensador clássico da
sociologia, considera um aspecto fundamental da
relação entre sociedade e indivíduos: a coerção
social, por meio da qual a coletividade se impõe a suas partes. Voltaremos a
este tema reconigurados na obra de dois autores contemporâneos também
franceses.
A Educação e as Teorias Sociais Contemporâneas – Capítulo 3
Pierre Bourdieu
3.1.1 Habitus
Você já se perguntou sobre algumas de suas ações mais simples?
Como dormir, ou escovar os dentes, por exemplo? Na linguagem do senso
comum chamamos essas ações de “hábito”. Geralmente estão ligadas a
coisas que fazemos mecanicamente, sem pensar. E tomar banho? Parece
algo tão natural, não é mesmo? É como se o incômodo provocado pela
sujeira pedisse que nos banhássemos!
Mas todas essas ações não são naturais, elas são resultado de um
processo de socialização. Internalizamos essas práticas a ponto de “natu-
ralizá-las”, de confundirmos ações sociais com “instinto” ou “determina-
ções biológicas”. Até poucos séculos atrás, acreditava-se, por exemplo,
que as camadas de sujeira nos protegiam das doenças!
Pensando em como os processos de socialização são apreendidos
pelos homens, ou seja, como aquilo que é constituído social e historica-
mente nos parece algo “natural”, é que Pierre Bourdieu elabora o conceito
de habitus. Este conceito permite compreender como interiorizamos e
exterioridade social e como exteriorizamos nossas interioridades, como a
sociedade se deposita nos indivíduos e se transforma em disposições du-
ráveis que exprimem as necessidades objetivas deles. São como estruturas
formadas para pensarmos, sentirmos e agirmos. Seriam, comparativamen-
te, as práticas sociais duradouras, que chamamos de tradição, costumes.
A conceituação de Bourdieu faz do habitus um operador prático
para que possamos entender o princípio uniicador que rege os grupos
sociais, e que gera as práticas socialmente reconhecidas, estas que encon-
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tram limites nas condições das quais elas são produto. Esses limites não
são necessariamente econômicos – apesar de o capital inanceiro ser um
dos condicionantes.
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A Educação e as Teorias Sociais Contemporâneas – Capítulo 3
91
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
3.1.2 Campo
Já vimos que todos nós pertencemos a grupos sociais – a mais de
um, inclusive – mas já repararam que nos comportamos de maneira muito
diferente em cada um deles? Utilizamos maneiras diferentes de falar, agir,
até mesmo de demonstrar nossos sentimentos. As relações sociais se ade-
quam ao grupo social, é como se cada grupo tivesse suas próprias regras,
sua própria lógica, e, então, temos de “jogar conforme as regras” daquele
jogo, no trabalho, na família, entre os amigos da escola, entre os amigos
da igreja, com os vizinhos etc. Foi justamente percebendo que os grupos
sociais possuem características especíicas que Bourdieu elaborou um outro
conceito que permite compreendermos os processo de socialização, mais do
que isso, possibilita a veriicação de que tal processo ocorre de diferentes
maneiras em diferentes grupos sociais, o que o teórico chamou de campo.
O campo é, para Bourdieu, um espaço social estruturado em que
ocorre uma disputa (um jogo) de forças entre dominantes e dominados,
em uma relação de desigualdade. Essa luta entre os indivíduos pertencen-
tes a um determinado campo se orienta na intenção de conservar ou de
transformar a posição no interior desse mesmo campo, posição que indica
a força que cada indivíduo possui.
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Um dos principais alvos da crítica de Bourdieu, nos seus últimos anos de vida,
foi a atuação dos meios de comunicação, que estariam, segundo ele, cada vez mais sub-
metidos a uma lógica comercial inimiga da palavra e dos significados reais da vida. Bourdieu
foi um crítico feroz do tipo de cultura produzido pelas mídias contemporâneas.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
101
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Foucault era um ativista político, mas não fazia de sua obra intelec-
tual um panleto partidário, suas discussões ultrapassam o imediatismo
histórico e abrem discussões profundas sobre o sujeito, o poder, a lingua-
gem, o saber.
Por ser um pensador da segunda metade do século XX, conheceu
a ascensão da mídia televisiva e a hegemonia da indústria cultural, por
isso era um homem de seu tempo, midiático, existem diversas entrevistas
e debates gravados em que o pensador aparece expondo e discutindo as
questões de seu tempo, entre elas, a doença que o aligia, tão contempo-
rânea quanto ele, a aids. Foucault foi, admiravelmente, um pensador da
práxis política e ilosóica. Sua vasta produção teórica e política impede
uma sistematização de seu pensamento, por isso, via de regra, o caminho
escolhido é o cronológico, que coincide com suas abordagens temáticas.
Sendo assim, dividimos sua obra em três épocas: arqueologia do saber,
genealogia do poder e ética e estética de si.
Em comum, estes três períodos possuem a preocupação com o
sujeito e sua relação com o saber, o poder e a verdade – as três formas
primordiais de controle social –, por isso, são classiicadas também como:
saber saber, saber poder e saber fazer. Devemos lembrar que essa é uma
opção para classiicar o pensamento foucaultiano, não é a única, e nem
poderia ser diante de uma obra tão complexa, “encaixar” sua obra em
classiicações estanques seria negar sua abrangência, suas idas e vindas,
suas reformulações.
O grande legado de Foucault foi pensar o homem como sujeito e ob-
jeto do conhecimento, por isso não há como negar a herança iluminista de
sua ilosoia – apesar de reformulá-la. O homem é um produto do próprio
homem, de sua prática discursiva e das intervenções de poder e controle
social. O homem é efeito de sentido. Seu trabalho é investigar como os
sentidos sobre esse homem foram produzidos com a intenção de dominá-lo,
controlar suas práticas e pensamentos, para isso deine seu método: o
arqueológico. Em Arqueologia do saber explica suas considerações me-
todológicas e traça um caminho teórico que irá segui-lo em seus escritos
sobre os saberes que falam sobre o homem (ilosoia, história, medicina,
psiquiatria, direito etc). Por esse fato, Foucault não se atém a uma ciência
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102
A Educação e as Teorias Sociais Contemporâneas – Capítulo 3
109
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
111
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
O poder está em toda parte; não porque englobe tudo e sim porque
provém de todos os lugares. E “o” poder, no que tem de permanen-
te, de repetitivo, de inerte, de autorreprodutor, é apenas efeito de
conjunto, esboçado a partir de todas essas mobilidades, encadea-
mento que se apóia em cada uma delas e, em troca, procura ixá-las
(...) o poder não é uma instituição e nem uma estrutura, não é uma
certa potência de que alguns sejam dotados: é o nome dado a uma
situação estratégica complexa numa sociedade determinada. (FOU-
CAULT, 1999)
116
A Educação e as Teorias Sociais Contemporâneas – Capítulo 3
Atividades
01. Deina o conceito de habitus em Bourdieu.
02. “O poder está em toda parte; não porque englobe tudo, e sim porque
provém de todos os lugares. [...] o poder não é uma instituição e nem uma
estrutura, não é uma certa potência de que alguns sejam dotados: é o nome
dado a uma situação estratégica complexa numa sociedade determinada”
(FOUCAULT, 1999).
118
A Educação e as Teorias Sociais Contemporâneas – Capítulo 3
Reflexão
Esse capítulo nos fez pensar no processo de socialização. Foi possí-
vel relacionar o tema a um ponto-chave: entender que a sociedade se for-
ma e se organiza em todas as instâncias e que o processo de socialização
é a internalização de regras e condutas sociais, para que possamos repro-
duzir “naturalmente” aquilo que é social e histórico. Bourdieu nos ajudou
com os conceitos de habitus e campo, Foucault com a sua relexão sobre
o sujeito e o saber poder. Vimos, embasados nesses dois autores, como a
educação escolar é veículo fundamental da socialização. De um lado, ins-
tância reprodutora das desigualdades, de outro, espaço caracterizado pela
disciplinarização e normalização.
Leituras recomendadas
Para um aprofundamento sobre a abordagem de Pierre Bourdieu
sobre a educação, leia: NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, C. M. M.
Bourdieu & a Educação. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. Para
aprofundamento das relexões de Michel Foucault, leia GREGOLIN, M. R.
V. Foucault e os domínios da linguagem. Nessa obra, a autora recupera os
principais conceitos elaborados por Michel Foucault e sua discussão sobre
as formas de controle, principalmente o controle efetivo dos discursos.
Referências bibliográficas
BOURDIEU. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1999.
119
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
120
A Educação e as Teorias Sociais Contemporâneas – Capítulo 3
No próximo capítulo
No próximo capítulo discutiremos aspectos mais elementares sobre
a desigualdade educacional no Brasil e a problemática educação na socie-
dade globalizada.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Minhas anotações:
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Educação,
Globalização e
Desigualdades na
Contemporaneidade
4 Neste capítulo, perpassaremos as desigualdades
lo
na contemporaneidade, repensando suas relações
com o processo de globalização. Abordaremos os
ít u
Objetivos da aprendizagem
• Reletir sobre as desigualdades socioeconômicas e educacionais
no Brasil;
• Identiicar as diversas interpretações do fenômeno da globalização;
• Compreender as relações entre globalização e mídia;
• Entender o impacto dos meios de comunicação de massa na educação.
Você se lembra?
Vemos em nosso dia a dia uma gritante desigualdade social. A escola,
como espaço social, relete a sociedade em que vivemos. Tendo em vista
o processo de globalização e a posição do Brasil como um país periférico,
buscaremos envolver as relações da escola com as desigualdades.
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
4.2.2 Os estamentos
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nobreza, mas o que deinia o prestígio era a posse de terra. Por exemplo,
no feudalismo, aqueles que não possuíam terra eram econômica e politi-
camente dependentes, além de socialmente inferiores.
A dinâmica dos estamentos está fundamentada em uma relação de
reciprocidade. Pensemos novamente na sociedade feudal: havia sempre um
conjunto de obrigações dos servos para com os senhores (trabalho) e vice-
versa (proteção), a despeito da intransponível barreira que os separava.
cia do setor terciário, posto que sua análise está voltada para a ediicação
de uma teoria do valor.
É necessário analisar a constituição histórica das classes sociais, o
modo como elas se relacionam e como atuam no processo de produção
126
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
Figura 1 – Escola
127
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
As possibilidades de aprimo-
ramento do ensino no Brasil estão
associadas à modiicação das condi-
ções de seu desenvolvimento, tendo
em vista suas múltiplas dimensões.
É necessário que o educador busque
proporcionar ao aluno uma ponte
entre o ambiente escolar e seu uni-
verso social e cultural, já que há
entre os dois universos uma aparente
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134
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
tros que enxerga em seu oponente uma ameaça à sua distribuição interna
de poder, de independência e até uma possibilidade de extinção física.
Tal como mostramos até aqui, conclui-se que a globalização pare-
ce novidade, mas não é. Até mesmo Marx fazia referência às formas de
expansão do capitalismo, ao mercado mundial e às transformações da
grande indústria e dos monopólios, sublinhando o papel da burguesia no
sentido de promover a internacionalização da produção e do consumo. O
modo de produção capitalista requer dimensões mundiais para viabilizar
sua produção e reprodução material e intelectual (SANTOS, 2001).
136
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
Desde a era Vargas, nas décadas de 1930 e 1940, seguida pela lide-
rança política de Juscelino, nos anos 1950, o Brasil assiste a um alto volu-
me de investimento na infraestrutura da informação e do lazer, período de
surgimento de um mercado ávido por produtos culturais.
140
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
141
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
142
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
143
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
144
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
145
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
como facilitadores para que esse novo sistema de educação pudesse ob-
ter sucesso. Veremos mais adiante que a administração desse sistema de
educação por uma instituição acadêmica e a popularização do computador
puderam contribuir bastante para a transformação do EAD.
146
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
149
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
152
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
153
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
fundamentos de educação à
53% do total de alunos a distância do país, distância. 1998. Disponível em:
<http://www.eps.ufsc.br/disserta98/
o equivalente a 163.887 estudantes. O roser/cap2.htm>.
154
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
Nordeste tem o segundo maior grupo, com 18,7% do total de alunos, segui-
do pela região Sul (17%).
Ao adentrarmos no ambiente educacional on-line, muita coisa nos
parece diferente da modalidade que estamos acostumados a vivenciar. E
realmente são diferentes, porém não menos eicazes. Os alunos e o profes-
sor geralmente não se conhecem pessoalmente; o meio de ler o conteúdo
do curso passa a ser a tela, e não mais o papel (embora alguns preiram
imprimir para ler); o modo como as aulas podem ser comentadas, como
podemos dar vazão às nossas opiniões, mostrar nossos descontentamentos e
criar discussões agora são mais abertos do que em uma sala de aula comum,
onde muitas vezes o aluno não consegue ou tem vergonha de se manifestar.
Podemos tirar dúvidas a qualquer momento é só escrever um e-mail, o qual
em breve será respondido pelo professor ou também por algum outro colega
que possa contribuir com alguma experiência.
por vergonha, ou por se achar menos inteligente que os demais, pode per-
guntar na aula on-line e discutir tudo o que quiser. O aluno torna-se um
sujeito potente, capaz de realizar ações que a isicalidade da sala de aula
não permitiria, que a identiicação da relação interpessoal não possibilita.
Alguns sites especializados em EAD disponibilizam depoimentos de seus
alunos tratando dos benefícios desta modalidade educacional:
155
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
156
Educação, Globalização e Desigualdades na Contemporaneidade – Capítulo 4
Atividades
01. Deina os seguintes sistemas de estratiicação social: castas, estamen-
tos e classes.
Reflexão
Vimos que a globalização, por abarcar elementos antagônicos, man-
tém entre si relações dialéticas e deve ser analisada como um fenômeno
contraditório. Ela produz aspectos positivos e negativos. De um lado, a
sociedade global propicia o compartilhamento facilitado de informação
e conhecimento e, de outro lado, é marcada por uma acentuada exclusão
social (tendo uma de suas variantes: a exclusão digital) de amplos seg-
mentos da população.
157
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Leituras Recomendadas
Para uma relexão atualizada sobre a desigualdade brasileira, leia:
SOUZA, Jessé . A parte de baixo da sociedade brasileira. Interesse Na-
cional, v. 14, p. 33-41, 2011.
Referências bibliográficas
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2003, p. 13-33.
No próximo capítulo
No próximo capítulo veremos alguns aspectos contemporâneos da
discussão sobre educação e cultura. O foco recairá sobre os temas da di-
versidade cultural, gênero e sexualidade na escola.
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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Minhas anotações:
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160
Educação e
Diversidade Cultural
5 No primeiro capítulo, abordamos o conceito
antropológico de cultura, o qual vamos retomar
lo
neste capítulo, com foco na relação entre cultura
e educação escolar. Vamos repensar como a escola,
ít u
Você se lembra?
Já vimos a importância central do conceito de socialização e com-
preendemos a escola como uma instituição socializadora. Neste
capítulo, vamos recuperar essa discussão associada à questão da
diversidade cultural, ao gênero e à sexualidade.
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
164
Educação e Diversidade Cultural – Capítulo 5
racial quando se percebe que determinados grupos são mais valorizados que
outros e que membros destes grupos têm sua cultura invisibilizada no currí-
culo escolar e, atrelado a isso, sofrem preconceito e discriminação por conta
de características fenotípicas, como cor da pele, tipo de cabelo, formato do
nariz, bem como por pertencerem a grupo cultural distinto do valorizado
socialmente, qual seja, o branco de origem europeia.
Neste sentido, falar de cultura na escola é pensar sua relação com
uma das instituições socializadoras mais importantes da sociedade. So-
cialização é um conceito que denota o processo no qual os indivíduos são
inseridos na sociedade, incorporando seus valores e visões de mundo,
ou seja, as formas de ver o mundo, de se pensar no mundo, as formas de
compreensão de si e as formas de relação com o outro passam pelo que se
aprende na escola. Assim, cabe à escola desenvolver uma perspectiva que
valorize a diversidade cultural em seu amplo sentido.
Nosso foco estarão as relações entre escola, cultura, gênero e se-
xualidade. Veremos que há padrões de gênero e sexualidade que são
reforçados na escola desde sua acepção moderna. De outro lado, outras
visões vêm sendo desenvolvidas de forma a questionar como um saber
supostamente neutro acaba por produzir preconceitos em relação a gênero
e sexualidade. Veremos, portanto, que o currículo escolar se caracteriza
fundamentalmente por valores que sustentam o privilégio masculino e he-
terossexual e como este tem sido reconigurado nos últimos tempos.
ginal, ainda nos anos 1950, que inluenciou várias acadêmicas posteriores
foi a da ilósofa existencialista Simone de Beauvoir, companheira de Jean
Paul Sartre, com sua frase muito conhecida: “não se nasce mulher, torna-
se mulher”. O que esta frase aponta é o questionamento de uma deinição
biológica do “ser mulher” e o princípio da consideração dos determinan-
tes culturais da feminilidade.
O desenvolvimento dos estudos feministas contribuíram para várias
áreas do conhecimento, com a consolidação de um repertório teórico-
-conceitual. Gênero é um conceito fundamental que possibilita compreen-
der as categorias de masculinidade e feminilidade como fundamentais na
ordem cultural. Joan Scott (1994) deine:
gênero é um saber que estabelece signiicados para as diferenças
corporais. Esses signiicados variam de acordo com as culturas, os
grupos sociais e no tempo, já que nada no corpo, incluídos aí os
órgãos reprodutivos femininos, determina univocamente como a
divisão social será deinida (SCOTT, 1994, p. 12-13).
Embora haja toda uma pressão instituída para a adequação dos me-
ninos e meninas às normas de gênero, nem todos as seguem e poucos se-
guem-nas à risca, sem apresentar ambiguidades. Quem convive na escola
sabe da existência corrente de meninos que são mais femininos e meninas
consideradas mais masculinas e, muitas vezes, professores, inspetores e
diretores não sabem como agir em relação às diferenças, na medida em
que o currículo escolar aponta para padrões de gênero e sexualidade. Se-
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Atividades
01. Redija um texto sobre os questionamentos do currículo escolar basea-
do na chamada “cultura universal”.
Reflexão
Como vimos, a escola é uma instituição socializadora que se baseia
em valores e signiicados culturais. Por muito tempo, tais valores e signi-
icados eram invisibilizados pelo pressuposto de que a escola operava de
forma “neutra”, apenas utilizando conhecimentos tidos como universais.
Hoje sabemos que o que se chama de universal, na verdade, corresponde a
valores dominantes que obscurecem outras formas de viver considerando
a cultura, o gênero e a sexualidade. Para tanto, há outras pedagogias sendo
pensadas a partir destas relexões.
175
Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação
Leituras Recomendadas
Sobre novas perspectivas de educação e sexualidade, lei MISKOL-
CI, Richard. Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo
Horizonte: Autêntica/UFOP, 2012. Sobre a experiência do curso Gênero e
Diversidade na Escola, oferecido pela Universidade Federal de São Car-
los, leia: VENCATO, Anna Paula . A diferença dos outros: discursos so-
bre diferenças no curso Gênero e Diversidade na Escola da UFSCar. Con-
temporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 4, p. 211-229, 2014.
Referências Bibliográficas
BELELI, Iara. Gênero. In: Marcas da diferença no ensino escolar.
São Carlos: EdUFSCar, 2009.
176