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Esse drástico reajuste – cujos reflexos não estão adstritos ao DF – não contou com
a participação do Estado de Goiás, tendo em vista a delegação objeto do convênio ora
impugnado – que, como discorrido na inicial (e reiterado nas linhas subsequentes), viola a
autonomia federativa do Estado de Goiás, a necessitar do provimento jurisdicional ora
pleiteado.
Pertinente assinalar, nesse ponto, que o Estado de Goiás vinha envidando esforços
destinados à obtenção de uma solução autocompositiva – o que, culminou, inclusive, na recente
suspensão desta ACO. A despeito disso, a autorização de reajuste foi realizada sem qualquer
consulta ao Governo do Estado de Goiás, a demonstrar, ainda mais, ser imprescindível a
concessão do pleito cautelar.
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Nesse sentido: “[...] as medidas de urgência seguem a lógica rebus sic stantibus, ou seja, são avaliadas conforme o panorama
fático-jurídico no momento do pedido. No caso concreto, embora eu tenha indeferido o pedido de tutela de urgência, no início
da Ação Rescisória, o Mandado de Imissão de Posse não foi cumprido até a presente data. Demais, a autora reside no imóvel
há anos. Assim, tendo em conta sua especial situação de saúde, notadamente em razão da COVID-19, até mesmo por questões
sanitárias é adequada a suspensão do cumprimento do Mandado de Imissão de Posse, até o julgamento no Colegiado, o qual
será realizado com brevidade. Desta feita, prestigia-se o Poder Geral de Cautela do Juiz. Diante do exposto, DEFIRO medida
cautelar para determinar a suspensão do cumprimento de qualquer Mandado de Imissão de Posse contra a autora, referente
ao imóvel em discussão nesta Ação Rescisória, até o julgamento colegiado”. (TJ-DF 07302085620208070000, Relator:
EUSTÁQUIO DE CASTRO, 2a Câmara Cível, Data de Publicação: 07/02/2022)
Dito isso, o caput do art. 300 do Código de Processo Civil exige que, de sorte a se
conceder uma tutela de urgência, os elementos constantes da exordial evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, de modo a
justificar, no plano da cognição sumária, a inversão do ônus da espera processual. Exige-se,
ainda, a reversibilidade da decisão, consoante intelecção “a contrario sensu” extraível do art.
300, §3º, do CPC.
Na espécie, mediante o cotejo dos elementos de prova que instruem a presente peça,
é possível observar, de plano, o atendimento aos pressupostos necessários à concessão da tutela
provisória ora pleiteada.
No que diz respeito aos fundamentos jurídicos, ao passo em que (de sorte a evitar
redundâncias) nos reportamos à petição inicial – que, per se, são suficientes à demonstração da
probabilidade do direito –, sumarizamos os argumentos que militam em benefício da concessão
da tutela de urgência:
(iii) o convênio firmado entre a ANTT e o DF também abalroa o arts. 21, IX, 43 e
48, VI, da Constituição Federal e a Lei Complementar nº 94/98, que criou a RIDE/DF. Conforme
se depreende do Decreto nº 7.469/2001, responsável por regulamentar a Lei Complementar nº
94/98, a atuação na RIDE-DF deve ser diligenciada de forma coordenada e harmônica pelos
entes federativos envolvidos (DF, GO e MG), inclusive no que diz respeito aos serviços públicos
comuns – incluindo, portanto, o transporte interestadual –;
(iv) resta violada a autonomia federativa do Estado de Goiás, por deixá-lo alheio à
gestão de serviço público que lhe é de interesse, em violação à ratio fixada na ADI 1842/RJ;
(v) como apontado nos memoriais coligidos ao caderno processual (evento nº 89),
as requeridas, em suas contestações, confessaram o completo esvaziamento das competências
do Estado de Goiás, cingindo-se a controvérsia “à forma distorcida como interpretam os
dispositivos da Constituição e das leis de regência”.
Ao abono da verdade – e como não poderia deixar de ser –, fato é que o próprio
caso narrado, responsável por subsidiar o presente pedido, é exemplo cabal do esvaziamento da
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“§1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”.
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§ 3º Aplica-se subsidiariamente o disposto nesta Lei aos serviços públicos prestados por particular.
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Nesse sentido, leciona a doutrina; “[...] em outra vertente, é de ver que a aplicação da Lei nº 13.460/17 não afasta a
necessidade de cumprimento da Lei nº 8.078/1990, conhecida como Código de Defesa do Consumidor, quando caracterizada
relação de consumo (art. 1º, §2º, II), nem de normas regulamentadoras específicas, quando se tratar de serviço ou atividade
sujeitos a regulação ou supervisão (art. 1º, §2º, I). Essa supervisão frequentemente envolve as agências reguladoras e serviços
prestados indiretamente pelo Estado, como o fornecimento de energia elétrica e serviços de telecomunicações (art. 1º, §2º, I)”
(Código de Defesa do Usuário do Serviço Público: apontamentos sobre a lei 13.460/2017 e normas regulamentadoras /Anjuli
Tostes Faria Melho – Recife: FB. Da Silva Livros, 2018)..
Não sobreleva ressaltar, nesse ponto, que os reflexos desse reajuste incidem sobre
os usuários desse serviço, majoritariamente residentes no Estado de Goiás, o que inclui pessoas
em situação de vulnerabilidade e situadas em regiões periféricas – sob a perspectiva das regiões
mais centrais do DF. É dizer: o ônus do aumento da tarifa recaíra, em regra, sobre parcela da
população dependente do transporte público que, em regra – e mais ainda sob a égide de
conhecida intempérie econômica –, sentirá gravemente tal declínio patrimonial.
Não por outra razão, a tutela provisória aqui pleiteada visa, a um só tempo, garantir
a participação do Estado de Goiás na gestão de um serviço público que lhe é de interesse e zelar
pelos seus standards qualitativos, sobretudo a modicidade das tarifas.
Por fim, ressalva-se: não se está, aqui, a contestar o direito das concessionárias
a pleitear – e, se for o caso, de obter – o reajuste tarifário como medida destinada ao
reequilíbrio econômico-financeiro da concessão – o que lhe é de direito. Ao revés: apenas
pleiteia-se a participação do Estado de Goiás nesse mister, ante a sua vinculação à gestão do
serviço.
III – PEDIDOS
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A propósito, também com supedâneo nesse argumento, resta devidamente configurada a reversibilidade dos efeitos da decisão
concessiva da tutela de urgência; pressuposto negativo ao deferimento da medida, ex vi do art. 300, § 3º, do CPC.
Procuradora-Geral do Estado
OAB/GO nº 18.587