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Gestão da Demanda e

dos Estoques
Material Teórico
Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

Responsável pelo Conteúdo:


Prof Ms José Joaquim do Nascimento

Revisão Textual:
Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone
Critérios de Avaliação dos Estoques:
Metodologias

• Introdução

• Critérios de Avaliação dos Estoques

• O Critério de Avaliação dos Estoques e a


Margem de Lucro

·· Nesta unidade, vamos conhecer os Critérios de Avaliação de


Estoque para empresas. Entender os critérios de avaliação dos
estoques significa identificar os métodos ou a sistemática de
avaliação dos estoques.
·· A realização dos exercícios é fundamental para a fixação e a
aprendizagem da unidade. Além disso, sua participação nas
atividades e nos fóruns é muito importante.

Nosso tema central são os Critérios de Avaliação dos Estoques. Trata-se de um item que
compõe a análise da Gestão de Estoques.

Ao concluir este módulo, você deve ser capaz de entender:


99 quais são os principais critérios utilizados para avaliar o estoque de uma empresa;
99 quais são as diferenças entre cada metodologia de avaliação dos estoques;
99 o que chamamos de custos da mercadoria vendida.

Trata-se de um tema que compõe nosso estudo sobre estoque nas empresas, tema que teve
seu desenvolvimento na contabilidade de custos. É um indicador de valor dos estoques e,
portanto, uma ferramenta para tomada de decisões, uma vez que cada critério pode sugerir
margem de lucro diferente para uma empresa.

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Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

Contextualização

As transformações ocorridas com a globalização fizeram com que as empresas se tomassem


mais competitivas, isto é, tivessem que utilizar alguns mecanismos para não perder mercado
nesse novo contexto, como reduzir a margem de lucro, ter um estoque menor e, com isso,
adquirir uma maior flexibilidade e controle do fluxo de caixa, além de possuir um controle
de estoque.
Outra preocupação das empresas é a obrigação de desembolsar dinheiro para o pagamento
de impostos, como o imposto de renda. Isso faz com que os seus administradores elaborem
planos ou metas para que esses impostos não representem uma quantia elevada. Um dos fatores
determinantes para o valor desse imposto é o “estoque”.

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Introdução

A discussão que segue adiciona mais uma questão relevante para a gestão de estoque: a
avaliação de estoques. Para Marion (2009), ela foi uma das primeiras aplicações gerenciais
da Contabilidade de Custos. O autor salienta que é, geralmente, aceito que os problemas de
avaliação de estoques estejam na própria origem da Contabilidade de Custos e, ainda, que essa
avaliação permitiu o desenvolvimento de procedimentos típicos de análise e apuração de custos
das mercadorias vendidas (MARION, 2009).
Como os estoques são ativos que estão em algum lugar da empresa, segundo Dias (2009),
é necessário ter uma dimensão de quanto valem tais ativos. Para se determinar tal dimensão
é precisoseguir um método ou, ainda, um critério. O critério a ser estabelecido não pode ser
qualquer um que a empresa queira;é importante que seja um aceito pela legislação em vigor
(DIAS, 2009).
Colocar a figura do Leão do I.Renda!

Figura 1 – A importância do Critério de Avaliação e o Imposto de Renda


Devemos ter em mente que o governo regula as atividades produtivas e comerciais. Daí
ser necessário um critério de avaliação que atenda às leis do governo. Além dessa questão
legal, temos também a questão gerencial. Um critério para avaliação dos ativos em estoque
é de fundamental importância para apuração do resultado contábil por esses ativos estarem
diretamente relacionados ao custo dos produtos (MARTINS, 2002).

Você Sabia ?
A obrigatoriedade de avaliar o estoque está determinada por lei e está diretamente relacionada
à contabilidade

No encerramento de resultado de cada período de apuração do Imposto de Renda e da


Contribuição Social,são necessários o levantamento e a avaliação dos estoques de mercadorias
para revenda, de matérias-primas, de materiais de embalagem, produtos acabados e produtos
em elaboração para formação do cálculo do custo (POZO, 2007).

Critérios de Avaliação dos Estoques


O objetivo primário, para se determinar o valor das mercadorias em estoque, diz respeito à
obrigação de natureza fiscal e, em segundo plano, gerencial. Para Marion (2009), a determinação
de custos das mercadorias postas à venda ou da produção deve respeitar critérios técnicos que,
ao serem adotados, permitem-nos determinar o lucro com uma unidade de uma mercadoria
vendida do ponto de vista econômico e contábil.
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Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

Estamos dizendo que os critérios de valoração ou, ainda, de avaliação dos estoques ajudam a
determinar os lucros da empresa em um exercício social, porém o lucro, como um indicador da
atividade econômica de uma empresa, depende, ainda, de vários fatores. Para Martins (2002),
no que tange aos critérios existentes de avaliação dos estoques, há também fatores diversos que
influenciam as decisões dos gestores relativas a qual critério deve ser adotado, tais como:
99 aceitabilidade do critério para efeito fiscal, portanto pelas autoridades da Fazenda Nacional;
99 a praticidade de uso do critério na avaliação do estoque;
99 aobjetividade do método de avaliação, tendo em vista que os lucros indicados devem
refletir uma maior coerência com a lógica de mercado.

Diversos teóricos, como Martins (2002); Dias (2009); Pozo (2007); Wanke (2011) e Tadeu
(2011), exploram, em seus estudos, a questão dos critérios de avaliação dos estoques, sendo
esse, portanto, um tema comum nas discussões teóricas relacionadas à administração de
materiais e à área de contabilidade de custos, conforme já mencionado. Quando mencionamos
os critérios mais tradicionais, a nossa leitura pode iniciar por qualquer um deles. Vamos direto
ao assunto, analisando os mais comuns:
99 * Custo Médio Ponderado;
99 * PEPS - Primeiro a entrar, primeiro a sair ou (FIFO) – First In First Out;
99 *UEPS - Último a entrar, primeiro a sair ou (LIFO) – Last In First Out.

Todos são fáceis de compreender, visto que, com aritmética simples, chegamos aos valores
das mercadorias em estoques ou, ainda, do custo dos produtos em estoques. O que não significa
que, para a gerência, seja simples determinar um método, mesmo compreendendo o significado
do método na determinação dos lucros da empresa (WANKE, 2011).
Outra questão diz respeito ao momento econômico em que se encontra a empresa, visto que,
em momentos de inflação ou deflação, muito observados no Brasil,a adoção de um critério
pode fazer a diferença no quesito margem de lucro auferida pela empresa em um exercício
social, ou seja, dos sócios.
Estudiosos do assunto, como Ching (2010), dizem que, para tomada de decisões gerenciais,
a empresa pode utilizar qualquer um dos métodos indicados acima, uma vez que eles permitem
avaliar os níveis de retorno do período. Para a adoção de um critério, é preciso verificar qual
deles significará maior ônus tributário ou, ainda,permitirá o conhecimento e o controle dos
valores monetários investidos em estoques ou, até mesmo, assegurará que os recursos investidos
em estoques estejam de acordo com a política estratégica da empresa. Vamos a uma análise
mais elaborada de cada um deles.

Custo Médio Ponderado


Caso a empresa deseje um método que possa agir como um estabilizador de preços à medida
que estabiliza as flutuações de preços das mercadorias compradas, ela deve adotar o critério
do custo médio ponderado. Para Viana (2002), este método, também chamado de método
da média ponderada ou média móvel, permite, a longo prazo, refletir melhor o custo real dos
produtos ou materiais comprados.

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Para Paolesch (2012), o critério de avaliação baseado no custo médio ponderado está
baseado na aplicação dos custos médios em lugar dos custos efetivos, ou seja, tem por base o
preço de todas as retiradas, o preço médio do suprimento total do item em estoque. Ele é um
critério de valoração aceito pelo Fisco Nacional, ou seja, adequado à legislação do Imposto de
Renda(PAOLESCH, 2012).
Esta sistemática é baseada na apuração realizada em cada entrada de mercadoria ou
matéria-prima, que se ajusta pela quantidade das compras em relação à quantidade total
do estoque de cada item.
Para melhor entendimento, vamos observar uma ficha de estoque utilizando o método de
avaliação em questão, o custo médio.Essa fichademonstra que foram realizadas algumas compras
e vendas, como identificadas nas colunas da tabela 1 abaixo, em que realizo a determinação do
estoque final pelo critério do custo médio.

Entradas Saídas Saldo


Custo Custo Custo
Data Histórico Quant. Total R$ Quant. Total R$ Quant. Total R$
Unitário R$ Médio R$ Médio R$
03.12.2012 Compra 100 20,00 2.000,00 - - - 100 20,00 2.000,00
10.12.2012 Compra 120 22,00 2.640,00 - - - 220 21,09 4.640,00
15.12.2012 Venda - - - 10 21,09 210,90 210 21,09 4.429,10

23.12.2012 Compra 100 23,00 2.300,00 - - - 310 21,71 6.729,10


28.12.2012 Venda - - - 200 21,71 4.342,00 110 21,71 2.387,10

Totais 320 - 6.940,00 210 - 4.552,90 110 21,71 2.387,10

Tabela 1 – Método de Avaliação do Estoque pelo Custo Médio Ponderado.

Para efeito do Imposto de Renda, o Fisco admite que as saídas sejam registradas unicamente
no final do mês, desde que avaliadas ao preço médio, sem considerar a baixa para fins de cálculo
daquele custo médio.Veja como fica o saldo com base nos dados da ficha de estoque acima,
caso se adote o registro de uma única vez no final do mês, ou seja, saldo total R$ 2.387,10.

Entradas Saídas Saldo


Custo Custo Custo
Data Histórico Quant. Total R$ Quant. Total R$ Quant. Total R$
Unitário R$ Médio R$ Médio R$
03.12.2012 Compra 100 20,00 2.000,00 - - - 100 20,00 2.000,00
10.12.2012 Compra 120 22,00 2.640,00 - - - 220 21,09 4.640,00
23.12.2012 Compra - - - 10 21,69 - 210 21,69 6.940,00
Vendas no
31.12.2012 100 23,00 2.300,00 - - 4.554,90 310 21,69 2.385,10
Mês

Totais 320 - 6.940,00 210 - 4.552,90 110 21,69 2.385,10

Tabela 2 - Método de Avaliação do Estoque pelo Custo Médio Ponderado

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Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

Veja que a discrepância de valores foi pequena, ou seja, de R$ 2,00, refletindo a diferença
de R$ 2.387,10 para R$ 2.385,10. Neste caso, estamos considerando um momento de
estabilidade de preços.

Vamos analisar outro caso em que a avaliação dos estoques acontece em um momento
com inflação. Neste, a empresa não tem estoque inicial, logo o estoque inicial é zero. Vamos
relacionar entrada de mercadorias com a compra e saída de mercadorias com a venda. Nos
estoques entram e saem mercadorias e nossa análise é avaliar os estoques finais. Os valores
diferentes para o produto, de um dia para outro,decorrem da variação geral dos preços: inflação.

Exemplo I
Vamos considerar que os dados da ficha abaixo referem-se às compras e às vendas realizadas
por uma empresa em um determinado momento. Para os dados que seguem, usando o critério
do custo médio, qual deve ser o saldo dos estoques? O produto imaginário aqui é o biscoito e as
entradas aconteceram nas datas 01, 02 e 03/01, enquanto houve apenas uma saída em 04/01.
Veja que o valor indicado de R$ 1,17 reflete a média dos produtos em estoque que entraram em
datas diferentes com preços diferentes,consequentemente foi considerado o custo médio para
efeito de venda e determinação do lucro.

Ficha de Controle de Estoque Biscoito


Janeiro / 2005
Data Entrada Saída Saldo
SALDO INICIAL 0 0,00 0,00
01/01 1 1,00 1,00 - - - 1 1,00 1,00
02/01 1 1,20 1,20 - - - 2 1,10 2,20
03/01 1 1,30 1,30 - - - 3 1,17 3,50
04/01 - - - 1,17 1,17 1,17 2 1,17 2,34

Tabela 3 – Ficha de Controle de Estoque

Nossa planilha pelo custo médio tem um detalhe. O custo da mercadoria que será
vendida, ou seja, que sairá do estoque corresponde à média ponderada entre a mercadoria
que entrou e as mercadorias que estavam em estoque. Veja que, à medida que temos
mais entrada de mercadorias a preços maiores,alteramos o valor do estoque médio final e
indicamos o saldo em termos de média ponderada. E, assim, esse valor seria considerado
nos custos das mercadorias vendidas.

Vamos partir para outro critério de avaliação muito conhecido que é o PEPS ou FIFO. O
termo FIFO deriva de uma terminologia em inglês – “First In First Out” –, como indicado acima.

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Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair (PEPS)

Explore
Comece este item assistindo ao vídeo disponível no link abaixo. Trata-se de um tutorial que
ajudará você a compreender mais facilmente a leitura disposta abaixo e nossos exercícios.
www.youtube.com/watch?v=28OFL5q83Ds

A própria sigla sugere que o custo a ser considerado para mercadoria que será vendida será o
custo da primeira mercadoria que entrou no estoque. À medida que ocorrem as vendas, vamos
dando baixa no estoque a partir das primeiras mercadorias que foram compradas e ainda se
mantêm em estoque. Isto equivale à seguinte lógica: vendemos as mercadorias que compramos
primeiro ou, então, as primeiras unidades produzidas (TADEU, 2011).

Daí dizermos que, a partir deste critério de avaliação do estoque, o valor dos produtos
em estoque é representado pelos preços dos produtos antigos (dos produtos/mercadorias)
apresentando, dessa forma, uma relação bastante significativa com o custo de reposição.

É óbvio que, do ponto de vista contábil, a diferença entre o preço de compra e o preço que
vamos adotar para venda pode ser expressiva, o que impacta positivamente a margem de
lucro. Assim: se compro um produto por R$ 10,00 e a venda é feita por R$ 30,00 em função,
digamos, de uma variação de preço orientada pelo mercado, então minha margem de lucro vai
ser elevada, consequentemente, a tributação sobre o lucro também.

Para Tadeu (2011), é por isso que os gestores posicionam-se contrários a este critério para
determinar o custo dos estoques. Vamos a um resumodo significado deste critério de valoração
do estoque para alguns produtos ou materiais:

99 Este critério pode ser interessante, tecnicamente, quando se trata de produtos ou


materiais que estão sujeitosà perda de qualidade em função de sua perecibilidade
(PAOLESCH,2012).

99 No que tange aos custos reais dos recursos usados na elaboração de uma mercadoria ou
até mesmo de venda, este critério é mais coerente do que os demais critérios existentes
(PAOLESCH, 2012).

Para podermos comparar com o sistema de custo médio, vamos observar como ficariam as
mesmas operações do exemplo anterior, agora avaliados pelo PEPS.

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Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

Entradas Saídas Saldo


Custo Custo Custo
Data Histórico Quant. Total R$ Quant. Total R$ Quant. Total R$
Unitário R$ Médio R$ Médio R$
03.12.2004 Compra 100 20,00 2.000,00 - - - 100 20,00 2.000,00
100 20,00 2.000,00

10.12.2004 Compra 120 22,00 2.640,00 - - - 120 22,00 2.640,00

220 4.640,00
90 20,00 1.800,00
15.12.2004 Venda - - - 10 20,00 200,00 120 22,00 2.640,00
210 4.440,00
90 20,00 1.800,00
120 22,00 2.640,00
23.12.2004 Compra 100 23,00 2.300,00 - - -
100 23,00 2.300,00
310 6.740,00
90 20,00 1.800,00 0 0 0
28.12.2004 Venda - - - 110 22,00 2.240,00 10 22,00 220,00
200 4.220,00 110 2.300,00

Totais 320 - 6.940,00 210 - 4.420,00 110 2.520,00

Tabela 4 - Método de Avaliação do Estoque pelo Critério PEPS

Vamos analisar a avaliação do estoque final considerando o método PEPS em um


momento com inflação, ou seja, quando os preços de aquisição estão se alterando
constantemente. Exemplo: uma mercadoria X comprada três semanas atrás custou R$
10,00; a mesma mercadoria comprada duas semanas atrás custou R$ 15,00 e uma semana
atrás custou R$ 25,00. Essas variações de preço semanais alteram substancialmente o
custo de uma mercadoria vendida nesta semana, dependendo do critério de avaliação
do estoque que estejamos usando.
Nossa perspectiva, neste caso, é o critério PEPS – Primeiro que Entra é o Primeiro que
Sai –, portanto a venda da mercadoria nesta semana terá o custo lançado a menor, ou
seja, o preço de aquisição de R$ 10,00. Isso faz toda a diferença na margem de lucro,
pois, se usássemos a última mercadoria, esta teria sido adquirida a R$ 25,00, o que
levaria a um resultadomenor em termos de lucro. Os valores que usamos na tabela nos
dizem a mesma coisa; os valores são menores, mas a lógica é a mesma.
Ao analisarmos a tabela acima, percebemos que, devido ao fator inflação, que elevou
o preço do produto, o saldo final do estoque ficou mais alto: R$ 2,50, em detrimento
do anterior, R$ 2,34, que foi o valor pelo método do custo médio. Porém o aspecto
importante na determinação do retorno é o primeiro preço e o preço de venda final, que,
certamente, é superior ao preço de aquisição do último a ser comprado (WANKE, 2011).
Agora vamos para o terceiro método de avaliação dos estoques, o UEPS ou LIFO –
derivada do inglês – “Last In First Out”

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UEPS - Último a Entrar, Primeiro a Sair (LIFO) – Last In First Out.
A sigla sugere que o custo da mercadoria adotada para determinar a diferença entre o custo
de aquisição e o valor de venda seja o preço do último produto que entrou no estoque. Neste
critério, o procedimento vai ser adotar o “último que entra no estoque é o primeiro a sair do
estoque” (WANKE, 2011).

Se estivéssemos nos referindo às características das mercadorias e estas fossem determinantes


de uso dos critérios existentes, naturalmente, teríamos produtos adequados a este critério, como,
por exemplo, os vinhos. Os vinhos mais antigos têm mais valor e, assim, ao adquirirmos garrafas
de vinho para venda, estaríamos vendendo as últimas que entraram e mantendo no estoque as
primeiras que foram adquiridas, com uma perspectiva de valorizar o produto em estoque. No
entanto, a orientação para o uso do critério não se resume a essa perspectiva do empresário do
setor (TADEU, 2011).

A suposição neste critério de avaliação do estoque é que o estoque final consiste nas unidades
mais antigas e é avaliado ao custo dessas unidades. Assim, de acordo com o método UEPS, o
custo dos itens vendidos ou alocados para produção, no caso fabril, tende a refletir o custo dos
itens mais recentemente comprados.

Ainda, para Tadeu (2011), o critério UEPS permite reduzir os lucros líquidos relatados a
uma importância que, se colocada à disposição dos acionistas, poderia prejudicar as operações
futuras da empresa.

Vamos supor que estivéssemos em um período de inflação. Neste ambiente, ométodo UEPS
não alcança a realização do objetivo básico, porque são debitados contra a receita os custos
mais recentes das aquisições e não o custo total de reposição de todos os itens utilizados, como
salienta Wanke (2011). Outra questão é que, como nos critérios já mencionados, este método
também possui vantagens e desvantagens, como as elencadas abaixo:

99 entende-se que este critério é mais realista do que os demais;


99 os saldos dos estoques são menores, implicando negativamente nas margens de lucro,
pelo menos em momento de inflação, e o inverso ocorre em momento de deflação.

O que acontece é que os preços mais elevados de aquisição dos produtos são apropriados
mais rapidamente pelo produto produzido ou pelo produto vendido, levando a margem de
lucro sobre o produto a ser menor. De acordo com Paolesch (2012), a relação entre custos
correntes para a fabricação ou a comercialização dos produtos está mais próxima da receita
corrente da empresa à medida que a mesma realiza a venda, por isso os lucros são menores.
Vale ressaltar que isso só acontece se o ambiente econômico estiver vivendo uma oscilação dos
preços: inflação.

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Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

Vamos a um exemplo, porém, com mais entradas e saídas. Vamos considerar 10 operações
entre compras e vendas ou, ainda, entre entradas e saídas de mercadorias do estoque.

Exemplo I
Considere, na tabela abaixo, que as entradas são as compras de uma mercadoria qualquer
e as saídas são as vendas da mercadoria em questão. Observe que, ao adotarmos o método
de avaliação dos estoques a partir do UEPS – Último que Entra é o Primeiro que Sai –, vamos
baixar o valor do estoque a partir dos últimos produtos que entraram nos estoques, ou seja, das
últimas compras.
99 Entrada de mercadoria em 01/08 – Compra de 50 unidades por R$ 75,00
99 Entrada de mercadoria em 03/08 – Compra de 60 unidades por R$ 60,00
99 Saída de mercadoria em 04/08 –venda de 5 unidades por R$ 80,00
99 Entrada de mercadoria em 06/08 – Comprade 100 unidades por R$ 85,00
99 Saída de Mercadoria em 09/08- Venda de 50 unidades por R$ 85,00
99 Saída de Mercadorias em 12/08 – Venda de 20 unidades por R$ 85,00
99 Entrada de Mercadoria em 15/08 – Compra de 130 unidades por $ 95,00
99 Entrada de Mercadoria em 18/08- Compra de 30 unidades por R$ 100,00
99 Saída de Mercadoria em 25/08 – Saída de 30 unidades por R$ 100,00
99 Entrada de Mercadoria em 31/08- Compra de 25 unidades R$ 105,00

Veja os lançamentos na Ficha de Controle de Estoque e a avaliação do estoque final pelo


método UEPS.

Descrição do Produto: Qualquer Mercadoria - Método UEPS - Ficha de Controle


Data Quant Unitário Total Quant Unitário Total Quant Unitário Total
01/08/X7 50 75,00 3.750,00 - - - 50 75,00 3.750,00
03/08/X7 60 80,00 4.800,00 - - - 60 80,00 4.800,00
Subtotal 110 8.550,00
04/08/X7 - - - 50 80,00 4.000,00 50 80,00 4.000,00
10 80,00 800,00
06/08/X7 100 85,00 8.500,00 - - - 100 85,00 8.500,00
Subtotal 160 13.050,00
09/08/X7 50 85,00 4.250,00 50 85,00 4.250,00

Subtotal 110 8.800,00


12/08/X7 20 85,00 1.700,00 20 85,00 1.700,00
30 85,00 2.550,00
Subtotal 90 7.100,00
15/08/X7 130 95,00 12.350,00 130 95,00 12.350,00
18/08/X7 30 100,00 3.000,00 30 100,00 3.000,00
Subtotal 250 22.450,00
25/08/X7 30 100,00 3.000,00 45 75,00 3.000,00
70 95,00 6.650,00 30 85,00 6.650,00

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60 95,00 5.700,00
250 12.800,00
31/08/X7 25 105,00 2.625,00 25 105,00 2.625,00

Total 395 540,00 35.025,00 235 520,00 19.600,00 230 15.425,00

Tabela 5 - Método UEPS -Último que Entra, Primeiro que Sai.

Veja que os valores tidos como saldo do estoque final mantêm os valores antigos e é dada
saída aos valores novos, ou seja, aos últimos. Logo, as últimas mercadorias a entrar no estoque
são as primeiras a sair do estoque. As baixas do estoque acontecem a partir das últimas
mercadorias que entraram no estoque.

Explore
Para você melhorar sua compreensão, veja, agora, a questão pela ótica contábil. Assista ao
vídeo, disponível no site abaixo, com bastante paciência para avançar neste tema:
www.youtube.com/watch?v=HxcWrYTvrfY

O Critério de Avaliação dos Estoques e a Margem de Lucro

Para entendermos como os critérios de avaliação poderão afetar os lucros, precisamos de


um conceito importante encontrado nas análises das demonstrações dos resultados econômicos
de uma empresa – DRE. É importante vincularmos a questão do CMV – Custo da Mercadoria
Vendida – para, então, entendermos como os lucros serão diferentes à medida que alteramos o
critério de avaliação dos estoques, como comentado acima (MARION, 2009).

O Critério PEPS e a Margem de Lucro


Com o critério de avaliação a partir do método PEPS, as mercadorias que primeiro entram
na empresa devem ser as primeiras que sairão no momento da venda. Com isso, o valor do
CMV (custo das mercadorias vendidas) corresponde ao valor das compras mais antigas, isto
é, no momento da venda de produtos que foram adquiridos em diferentes períodos e com
preços variados, serão registrados os valores dos produtos que foram comprados nos primeiros
períodos (MARION, 2009).

Exemplo:
Vamos supor que a empresa na qual você trabalha comercialize o produto XYZ. Digamos
que, em janeiro de um ano X, ela tivesse em estoque 200 unidades desse produto que foi
adquirido por R$50,00 cada unidade. Digamos, ainda, que, em fevereiro, ela tenha adquirido
15
Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

mais 300 unidades ao preço de R$ 65,50 cada e que,em março do mesmo ano X, a empresa
tenha realizado uma venda de 250 unidades do produto por R$ 70,00 a unidade. Podemos
determinar o saldo do estoque assim como o lucro da empresa pelos métodos indicados e
verificarmos qual deles pode indicar melhor lucratividade e qual deles é mais adequado à
legislação do Imposto de Renda, por exemplo. Vamos lá?

Organizando os dados indicados no exercício:

99 Estoque inicial – 200 unidades – compradas por R$ 50,00


99 Entradas no estoque – 300 unidades – compradas por R$ 65,50
99 Saída do estoque- 250 unidades – Vendidas por R$ 70,00

Saldo do Estoque a partir do Critério PEPS – Primeiro que Entra, Primeiro que Sai.
Pelo critério que estamos adotando, vamos tirar as 200 unidades que foram adquiridas
primeiro e mais 50 unidades da segunda aquisição. Então, a diferença será o saldo do Estoque
medido ao preço de aquisição.
Logo:
·· (200 x 50,00 = 10.000,00) e mais (50 x 65,50 = 3.275,00). Sobraram 250 unidades ao
preço de aquisição de R$ 65,50.
Logo:
·· O saldo do estoque é = R$ 16.375,00
O Lucro obtido com a venda é igual à Receita Bruta obtida com a venda menos o Custo da
Mercadoria Vendida. Ou seja, CMV = 10.000,00 + 3.275,00 = 13.275,00e a Receita Bruta de
Venda é igual a 250 unidades vezes 70,00, que é igual a 17.500,00.
Assim, lucro total = RBV – CMV = 17.500 – 13.275,00 = 4.225,00

Saldo do Estoque a partir do Critério UEPS – Último que Entra, Primeiro que Sai.
Pelo critério que estamos adotando agora, vamos tirar as 250 unidades que foram adquiridas
por último e, caso estas não fossem suficientes, teríamos de tirar mais unidades adquiridas
anteriormente. Então, a diferença será o saldo do estoque medido ao preço de aquisição.
Logo:
·· (250 x 65,50 = 16.375,00). Como a quantidade adquirida por último foi suficiente,
vamos ao saldo do Estoque ao preço de aquisição. Sobraram 50 unidades a R$ 65,50 e
mais 200 unidades a R$ 50,00.
Logo:
·· O saldo do estoque é = (50 x 65,50 + 200 x 50,00) = 3.275,00 + 10.000,00 = 13.275,00

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O Lucro obtido com a venda é igual à Receita Bruta obtida com a venda menos o Custo da
Mercadoria Vendida. Ou seja, CMV = 250 x 65.50 = 16.375,00e a Receita Bruta de Venda é
igual a 250 unidades vezes 70,00, que é igual a 17.500,00.
Assim,lucro total = RBV – CMV = 17.500 – 16.375,00 = 1.125,00

Veja que o saldo do estoque é menor, o que implicará no lucro da empresa.

Saldo do Estoque a partir do Critério MMP – Custo Médio Ponderado.


Pelo critério que estamos adotando agora, vamos somar os valores adquiridos e tirar a média
e, a partir dessa média, vamos calcular a receita de vendas e o saldo do estoque.
Logo, o Custo Médio Ponderado é : [(200 x 50,00 + 300 x 65,50]/ 500 = 59,30
O que estamos salientando é o valor da mercadoria vendida ou o custo da mercadoria
vendida será o valor médio, logo, R$ 59,30. O mesmo procedimento será adotado para o saldo
do estoque final. Multiplica-se a quantidade em estoque pelo valor médio, ou seja, R$ 59,30.
Logo:
·· O saldo do Estoque é = (250 x 59,30) = 14.825,00.
O Lucro obtido com a venda é o resultado da Receita Bruta obtida com a venda menos
(subtraído) o Custo da Mercadoria Vendida. Ou seja, CMV = 250 x 59,30 =14.825,00 e a
Receita Bruta de Venda é igual a 250 unidades vezes 70,00, que é igual a R$ 17.500,00

Assim,lucro total = RBV – CMV = 17.500 – 14.825,00 = 2.675,00

Vejamos uma comparação no quadro abaixo, em que estão os três critérios de avaliação dos
estoques. Nele, podemos notar a diferença nas margens de lucro à medida que alteramos o
método de avaliar os estoques.

PEPS MPM UEPS


Receitas 17.500,00 17.500,00 17.500,00
(-) CMV 13.275,00 14.825,00 16.375,00
= Lucro 4.225,00 2.675,00 1.125,00
Estoque Final 16.375,00 14.825,00 13.275,00

Tabela 6 - Quadro Comparativo dos Diversos Critérios de Controle de Estoque

Como você pode observar, o critério UEPS tende a criar retornos menores, ou seja, menores
lucros e, portanto, custos da mercadoria vendida maiores. Se houver processo inflacionário
significativo, o resultado será pior ainda, diz Ching (2010).Lembre-se de que este critério não é
aceito pela legislação do Imposto de Renda.
O critério adotado para avaliar os estoques interfere em indicadores de desempenho da
atividade econômica da empresa, por exemplo, na margem de lucro. O critério de avaliação de
estoques interfere nos saldos finais dos estoques.

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Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

De outro modo, podemos dizer que a relação entre os critérios de avaliação e o resultado
econômico da atividade em um período se dá, inicialmente, pelo fato de que, quanto maior o
valor de avaliação dos estoques (valor do final do período em analise), menor será o valor dos
Custos das Mercadorias Vendidas (CMV). Ter um CMV menor implica em um maior resultado
do exercício, o que acarreta num valor maior do imposto de renda a ser pago pela empresa.

Para Pensar
Para Ching (2010), algumas empresas preferem ter um valor menor no lucro para ter
um valor menor de imposto de renda a pagar; outras empresas buscam um valor maior
no lucro para distribuir aos acionistas,através de dividendos, e valorizar-seno mercado.Para isso,
é necessário que os seus administradores escolham, entre os métodos de avaliação do estoque, o
critério que atenda às suas necessidades gerenciais e que também atenda às exigências fiscais, que
não permitem o uso de todos os critérios existentes deavaliação de estoque.

Veja as diferenças entreum ambiente com inflação e outro sem inflação:


Avaliação dos estoques em um momento de inflação (preços subindo). Neste ambiente, os
valores dos preços são crescentes em função de vários fatores econômicos. Desta forma, ao longo
do tempo, cada compra, mesmo em quantidades iguais, terá valor sempre mais alto que a anterior.
Avaliação dos estoques em um momento de deflação (preços em queda) Neste ambiente,
os valores dos preços são decrescentes em função dos fatores econômicos. Desta forma, ao longo do
tempo, cada compra, mesmo em quantidades iguais, terá valor sempre mais baixo que a anterior.

Conclusão
A periodicidade da avaliação do estoque pode seguir a apuração do Imposto de Renda, ou
seja, pode ser trimestral ou anual. No caso de apuração anual, por ocasião de levantamento de
balanço para suspensão ou redução do imposto, durante o ano-calendário, também devem ser
levantados e avaliados os estoques (MARION, 2009).
As mercadorias, as matérias-primas e os bens em almoxarifado serão avaliados pelo custo
de aquisição; os produtos em fabricação e acabados serão avaliados pelo custo de produção;
e o valor dos bens existentes no encerramento do período-base poderá ser avaliado pelo custo
médio ou das últimas aquisições.
O mais aconselhável é a adoção dos critérios Custo Médio Móvel Permanente ou Custo
Médio Móvel Mensal, pois eles espelham maior realidade nos custos, no lucro e no estoque final
(WANKE, 2011).
O único que não é aceito pela legislação do Imposto sobre a Renda é o UEPS, pois esse
critério distorce completamente os resultados, apresentando custo maior, lucro menor e estoque
final diferente do da realidade. Por fim, paraTadeu (2011), a empresa poderá adotar o critério
que achar mais conveniente, mas, ao usar o UEPS, deverá apresentar a diferença para tributação
no Livro de Apuração de Lucros e Resultados.

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Material Complementar

Vídeo:
Assista ao vídeo disponível no link: www.youtube.com/watch?v=qcBNv9zWawU
Esse vídeo mostra os critérios de avaliação dos estoques pela ótica da contabilidade, o que ajudará
você a entender o vínculo da gestão de estoque com a contabilidade.

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Unidade: Critérios de Avaliação dos Estoques: Metodologias

Referências

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de suprimento. São Paulo: Atlas, 2004.

BRUNI, A. L., FAMÁ, R. – Gestão de Custos e Formação de Preços: Atlas. 2012.

CHING, Y.H. – Gestão de Estoques na Cadeia de Logística Integrada. 4ª. Edição. São
Paulo: Atlas, 2010.

CORRÊA, H. L. Gestão de Redes de Suprimento: integrando cadeias de suprimento


no mundo globalizado. São Paulo: Atlas, 2010.

DIAS, M. A. P. Administração de materiais: princípios, conceitos e gestão. 6ª ed. São Paulo:


Atlas, 2009.

FLEURY, P. F.; FIGUEIREDO, K. F.; WANKE, P. F. Logística empresarial: a perspectiva


brasileira. São Paulo: Atlas, 2000.

MARION, J. Carlos. Contabilidade Básica. 4ª. Edição. São Paulo, Editora Atlas, 2009.

MARTINS, Petrônio Garcia; ALT, Paulo Renato Campos. Administração de materiais


erecursos patrimoniais. 1. ed. São Paulo: Saraiva,2002.

NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. 3ª ed. Rio de


Janeiro: Campus, 2007.

PAOLESCH, B. – Almoxarifado e Gestão de Estoques. São Paulo: Editora Erica,2012.

POZO, Hamilton. Administração de materiais e patrimoniais: uma abordagemlogística,


4ª ed. São Paulo: Atlas 2007.

RITZMAN, L. P.; KRAJEWSKI, L. J. Administração da produção e operações. São Paulo:


Pearson Education, 2004.

SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3ª ed. São


Paulo: Atlas, 2009.

TADEU, H. F. B. Gestão de Estoques: Fundamentos, Modelos Matemáticos e Melhores


Práticas Aplicadas. Editora Cengage Learning. São Paulo, 2011.

VIANA, João José. Administração de Matérias. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

WANKE, P. F. Gestão de estoques na cadeia de suprimento: decisões e modelos


quantitativos. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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Anotações

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