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PRODUÇÃO DE MUDAS E SEMENTES

Aula IV – Produção de Sementes

Frutos Secos

Felipe Kuhn Leão de Salles


Eng. Agrônomo/Msc. Fitotecnia (UFRRJ)
Rede de Sementes Agroecológicas do Rio de Janeiro

Juliana Pereira de Freitas


Eng. Agrônoma (UFRRJ)
Mestranda em Ciências Veterinárias com ênfase em plantas medicinais (UFRRJ)
Conteúdo Programático
Aula Temática Conteúdo

- Introdução - Agroecologia, papel das sementes, agrobiodiversidade e


guardiões de sementes;
I (05/01) - Sementes e Produção - Centros de origem, formação e definição de sementes,
mudas agroecológicas e legislação, modelos de baixo
de Mudas
custo e tipos de recipientes.
- Passo-a-passo mudas e - Substrato para mudas, espécies propagadas por
propágulos sementes e propágulos, escolha de variedades, local de
semeadura e gasto de sementes por área;
II (06/01) - Recomendações para
algumas espécies - Manejo básico de espécies propagadas por sementes e
propágulos.
- Cenário de sementes no - Dados do mercado, sementes transgênicas, legislação e
Brasil sementes agroecológicas;
III (07/01)
- Produção de sementes - Pré-requisitos e etapas, colheita, secagem e
armazenamento.
- Frutos secos - Alface, brássicas, coentro, feijão, milho e quiabo;
IV (08/01)
- Frutos carnosos -Abóbora, berinjela, pimenta e tomate.
Principais Tópicos

❖ Recomendações para espécies de frutos secos;

❖ Alface, brássicas, coentro, feijão-vagem, milho e quiabo.


Alface (Lactuca sativa L.)

❖ Origem – Mediterrâneo;

❖ Registro de uso datam de 4.500 anos atrás (medicinal) e 2.500


anos como hortaliça;

❖ Climas amenos (variedades verão e inverno);

❖ Existem 757 cvs de alface registradas no RNC, MAPA.


Alface (Lactuca sativa L.)

Botânica – Família Asteraceae

• Inflorescência do tipo capítulo;


• Cada apresenta 10-25 floretes;
• Cálice coberto por penugem branca,
denominada “papus”;
• Aquênio;
• Ciclo composto de 2 fases.
Alface (Lactuca sativa L.)

Ciclo da cultura:

• Fase vegetativa – em torno de 60 dias (incluindo fase de


muda);
• Fase reprodutiva – duração de até 4 meses.

> 25°C
Alface (Lactuca sativa L.)

Solo e adubação:

• pH entre 6,0 e 6,8 e saturação por bases de 70%;


• Deficiência de cálcio ocasiona desordem fisiológica ‘tipburn’
ou queima das bordas na folha;
• Prejudica a emissão do pendão floral e florescimento;
• Favorece entrada de patógenos.
Alface (Lactuca sativa L.)

Solo e adubação:

• Similar ao cultivo comercial da alface;


• Pendoamento-Florescimento – exige os seguintes
macronutrientes P, K, Ca, Mg e S em torno de 2-3 mais;
• Adubação complementar nessa fase!
• Usar insumos obtidos na propriedade e aqueles
recomendados para agricultura orgânica;
• Matéria orgânica.
Alface (Lactuca sativa L.)

Tratos culturais:

• Irrigação – especialmente na fase expansão da cabeça;

• Tutoramento – individual ou em linhas;

• Limpeza da “saia”;

• Eliminação plantas atípicas;

• Abertura manual da cabeça.


Alface (Lactuca sativa L.)
Tabela 1. Recomendações gerais para produção de sementes de alface

Espaçamento (entre N° plantas Época de Época de Ciclo


Espécie
linhas X plantas) por 100 m² plantio colheita (dias)
0,80 a 1,00 X 0,30 a Outubro a
Alface 400 Abril a maio 150 – 180
0,25 m novembro

Colheita e beneficiamento:

• Parcial ou total;
• 60-70% de “papus” nas inflorescências;
• Pré-secagem e secagem após limpeza – teor de água 6%;
• Rendimento médio entre 15-22 g/planta;
• 1 g contém cerca de 1.000 sementes.
Brássicas

❖ Origem – Mediterrâneo;

❖ Cultivo das espécies remonta há 2.000 e 2.500 anos;

❖ Climas amenos e frios (variedades modernos de verão);

❖ Englobam as couves, couve-flor, couve-nabo, rábano,


rabanete, repolho e brócolis;

❖ Existem 182 cvs de brócolis registradas no RNC, MAPA.


Brócolis (Brassica oleracea var. italica
Plenck)

Botânica – Brassica oleracea var. italica Plenck

• Inflorescência do tipo ramoso e cabeça única;


• Polinização cruzada (distanciamento ou telas de mosquito);
• Inflorescências podem atingir mais de 1,50 m;
• Síliqua – 10 a 30 sementes cada.
Brócolis (Brassica oleracea var. italica)

Solo e adubação:

• Solos profundos e boa drenagem (raízes atingem até 80 cm);

• pH entre 6,0 e 6,5 e saturação por bases 80%;

• Exigente em nutrientes;

• Sensível a deficiência de Mg, Mo e B;

• 3 aplicações foliares durante o ciclo (pré-floração);

• Adubação orgânica com até 40-60 t/ha de composto ou


esterco curtido;
Brócolis (Brassica oleracea var. italica)

Cuidados antes do estabelecimento:

• Rotação é extremamente importante;


• Não cultivar em áreas onde houve produção de outras
brássicas, espinafre ou beterraba;
• Doenças principais Xanthomonas campestris (podridão negra)
e Plasmodiophora brassicae (hérnia das crucíferas).
Brócolis (Brassica oleracea var. italica)

Ciclo da cultura:

• Fase comercial (muda/florescimento) – em média 120 dias

1. 0-30 dias: germinação até 5-7 folhas definitivas;


2. 30-60 dias: expansão folhas externas;
3. 60-90 dias: diferenciação de primórdios florais;
4. 90-120 dias: desenvolvimento da inflorescência

• Fase frutificação – formação das síliquas (temperaturas


amenas).
Brócolis (Brassica oleracea var. italica Plenck)

Tratos culturais:

• Irrigação – formação e desenvolvimento das inflorescências;

• Tutoramento – mesmo modelo da alface;

• Eliminação de plantas atípicas;

• Rotação de culturas e controle de plantas daninhas.


Brócolis (Brassica oleracea var. italica)
Tabela 2. Recomendações gerais para produção de sementes de brócolis

Espaçamento (entre N° plantas Época de Época de Ciclo


Espécie
linhas X plantas) por 100 m² plantio colheita (dias)
0,80 a 1,00 X 0,60 a Fevereiro a Outubro a
Brócolis 150 – 160 180
0,80 m abril novembro

Colheita e beneficiamento:

• Síliquas em diferente estágio de desenvolvimento;


• Parcial em pequenas áreas;
• Trilhagem semelhante a alface;
• Acondicionar em sacos de papel em local frio e seco;
• Abertura natural das síliquas ou bater levemente os sacos de
papel para soltar as sementes.
Coentro (Coriandrum sativum L.)

❖ Origem – Norte da África e Sul da Europa;

❖ Registro de uso datam de 3.000 anos atrás no antigo Egito;

❖ Climas quentes;

❖ Existem 48 cvs de coentro registradas no RNC, MAPA.


Coentro (Coriandrum sativum L.)

Botânica – Apiaceae

• Inflorescência do tipo umbela;


• Polinização cruzada;
• Porte da planta pode atingir até 1 m;
• Diaquênio – 2 sementes cada.
Coentro (Coriandrum sativum L.)

Ciclo da cultura:

• Fase vegetativa – 30-45 dias (precoces) e 50-60 dias (tardios);


• Temperaturas amenas (18-25°C);

• Fase reprodutiva – florescimento e frutificação;


• Temperaturas quentes (25-30°C).
Coentro (Coriandrum sativum L.)

Solo e adubação:

• Pouco exigente em nutrientes;


• pH entre 5,5 e 6,5;
• Aplicação de 5-8 kg/m² de matéria orgânica;
• Nitrogênio parcelado aos 20, 30 e 40 dias;
• Fósforo 2/3 no plantio + 1/3 nas últimas coberturas de N;
• Cálcio no início da floração favorece a boa formação de
sementes;
Coentro (Coriandrum sativum L.)

Tratos culturais:

• Irrigação;
• Eliminação de plantas atípicas (5 fases // pré-colheita);
• Doenças transmissíveis por sementes;
• Antracnose (Colletotrichum gloesporioides), queima-das-
folhas (Alternaria sp.), podridão de esclerotinia (Sclerotinia
scleotirum), Oídio (Erysiphe spp.)
Coentro (Coriandrum sativum L.)
Tabela 3. Recomendações gerais para produção de sementes de coentro

Espaçamento (entre N° plantas Época de Época de Ciclo


Espécie
linhas X plantas) por 100 m² plantio colheita (dias)
Agosto a
Coentro 0,80 X 0,20 m 600 Março a maio 150
setembro

Colheita e beneficiamento:

• 50-60% dos frutos na coloração amarelo-dourado, marrom-


claro ou pardo;
• Abertura de diaquênios = queda no rendimento;
• Trilhagem e pré-secagem em lonas;
• Secagem inicial à 32°C e final à 38°C – 6-7% de umidade;
• Revolvimento de sementes em telas de mosquito.
Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)

❖ Origem – América do Sul;

❖ Registro de uso datam de 8.000 a 10.000 anos atrás no Peru e


Argentina;

❖ Climas quentes e amenos;

❖ Existem 371 cvs de feijão registradas no RNC, MAPA.


Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)

Botânica – Fabaceae

• Inflorescência em rácemos;
• Autopolinização;
• Vagens do tipo macarrão e manteiga;
Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)

Tipos de feijão e ciclo:

• Determinado – 65 dias
(variedades precoce e com
maturação uniforme);

• Indeterminado – 80 a 105 dias


(ciclo mais longo e algumas
variedades trepadoras);

• Ramificação ereta e fechada


ou aberta (e as vezes prostrada).

Ramificação ereta e fechada (a) e


aberta (b)
Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)

Clima e desenvolvimento da planta:

• Ampla adaptação – 15-27°C para médias mínima e máxima;


• < 15°C crescimento é lento;
• > 35°C redução no pegamento de flores;

• Umidade do ar elevada favorece incidência de doenças;


• Transmissíveis via sementes
1. Mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum);
2. Antracnose (Colletotrichum lindemuthianum);
3. Crestamento bacteriano (Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli)
Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)

Solo e adubação:

• Nitrogênio – solo, adubação e fixação biológica;


• Fósforo no plantio – pré-florescimento até a formação das vagens
(30-55 dias após emergência de plantas - DAE);
• Potássio – maior demanda entre 25-35 DAE (diferenciação do
botão floral) e 45-55 DAE (final do florescimento e formação de
vagens);
• Molibdênio – rendimento e qualidade de sementes (principalmente
em pH < 6,0)
Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)
Tabela 4. Recomendações gerais para produção de sementes de feijão-vagem

Espaçamento (entre N° plantas Época de Época de Ciclo


Espécie
linhas X plantas) por 100 m² plantio colheita (dias)
Feijão Fevereiro a
0,60 X 0,20 m 800 Junho a julho 120
rasteiro março
Feijão Fevereiro a
1,20 x 0,20 m 400 Julho a agosto 150
trepador março

Produção de sementes:

• Tutoramento – maior qualidade (cerca cruzada é mais comum);


• Facilidade de tratos culturais e inspeções no campo;
• Rotação e consórcio – espécies de folha estreita;
• Consorcio com milho – 2 de milho para 4 linhas de feijão com
espaçamento de 50 cm (1:2, 1:3 e 2:3 – milho/feijão);
Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)

Tratos culturais:

• Isolamento entre variedades – 3 m;

• Uso de quebra-ventos;

• Irrigação – floração e enchimento da vagem;

• Plantas daninhas – fase inicial de desenvolvimento (redução no


rendimento de sementes), além de serem hospedeiras de doenças;

• Eliminação de plantas atípicas


Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)

Colheita e secagem:

• Cor das sementes das variedades;

• Amarelecimento e queda de folhas;

• Atraso de colheita (chuvas e caruncho);

• Pré-secagem em lonas ao sol;

• Trilhagem quando sementes atingirem 16-20%;

• Secagem em lonas, terreiros ou secadores (<38°C) até atingirem


11-12% de umidade.
Milho (Zea mays L.)

❖ Origem – América Central e do Sul;

❖ Registro de uso datam de 7.000 a 10.000 anos atrás;

❖ Ampla adaptação (temperatura e altitude);

❖ Existem 5.552 cvs de milho registradas no RNC, MAPA.


Milho (Zea mays L.)

Botânica – Poaceae

• Espécie monoica (flores feminina e masculina em diferentes partes da


planta);
• Polinização cruzada (95% do pólen vem de outras plantas);
• Alta biodiversidade;
• Exigente em calor e umidade.
Milho (Zea mays L.)

Solo e adubação:

• Boa fertilidade natural;

• pH entre 5,5 e 6,5 e saturação por bases em torno de 70%;

• Preferência por solos leves (plantio direto);

• Adubação de plantio: 30 a 40 Kg de N, 40 Kg de P e K;

• Extração de nutrientes: K>N>Mg>P>Ca>S;


Milho (Zea mays L.)

Isolamento:

• Distância de 500 a 800 m entre lavouras;

• Intervalo de plantio de 30 a 50 dias;

• Contaminação varietal e transgênicos;

• Manutenção – 200 espigas.


Milho (Zea mays L.)

Planejamento e Tratos culturais:

• Época de plantio (condições climáticas e disponibilidade de água);


• Irrigação – polinização e formação da espiga;
• Adensamento (espiga menor e dificuldade no controle de lagarta);
• Plantas daninhas;
• Insetos praga e doenças;
• Eliminação de plantas atípicas;
• Rotação;
• Consórcios (leguminosas, adubos verdes e outras)
• Milho-mandioca-feijão (2:1:5)
Milho (Zea mays L.)
Tabela 5. Recomendações gerais para produção de sementes de milho

Espaçamento (entre N° plantas Época de Época de Ciclo


Espécie
linhas X plantas) por 100 m² plantio colheita (dias)

Milho 1,00 X 0,20 m 500 Março Setembro 180

Colheita e secagem:

• Formação de ponto negro na base da semente;


• Teor de água superior a 13%;
• Condições climáticas;
• Secagem em espiga não ultrapassar 38°C;
Quiabo (Abelmoschus esculentus L.)

❖ Origem – África, provavelmente na Etiópia;

❖ Cultivado há mais de 2.000 anos;

❖ Climas quentes;

❖ Rio de Janeiro é grande produtor da espécie;

❖ Existem 62 cvs de alface registradas no RNC, MAPA.


Quiabo (Abelmoschus esculentus L.)

Botânica – Malvaceae

• Flores axilares e hermafroditas;


• Polinização cruzada e autopolinização;
• Planta semi-lenhosa que atinge até 3 m;
• Fruto é uma cápsula.
Quiabo (Abelmoschus esculentus L.)

Clima e desenvolvimento da planta:

• Ampla adaptação – 18-35°C para médias mínima e máxima;


• < 18°C abortamento de flores;

• Populações menores resultam em melhor desenvolvimento do


quiabeiro;
• Auto-sombreamento é prejudicial para algumas variedades;
• Frutos mais curtos e grossos apresentam mais sementes ;
Quiabo (Abelmoschus esculentus L.)

Solo e adubação:

• pH entre 6,0 e 6,8 e saturação por bases em torno de 70%;

• Responsiva à aplicações de Nitrogênio e Fósforo;

• Adubação-cobertura: 100 a 120 Kg de N e 80 a 100 Kg de K


parceladamente em 4-5 vezes;

• Fósforo até 280 Kg/ha;


Quiabo (Abelmoschus esculentus L.)

Tratos culturais:

• Isolamento entre variedades: 400 a 600 m;

• Uso de quebra-ventos;

• Dificuldade na manutenção de pureza varietal;

• Eliminação de plantas atípicas;

• Irrigação – floração;

• Poda apical – 70 ou 80 cm de altura.


Quiabo (Abelmoschus esculentus L.)
Tabela 6. Recomendações gerais para produção de sementes de quiabo

Espaçamento (entre N° plantas Época de Época de


Espécie Ciclo (dias)
linhas X plantas) por 100 m² plantio colheita
1,00 X 0,50 a 0,60
Quiabo 200 Março a abril Julho a agosto 150 - 180
m

Colheita e secagem:

• Parcial ou total;
• Armazenamento pós-colheita é benéfico para sementes;
• Atraso da colheita – sementes duras;
• Secagem em lonas ou terreiros na sombra;
• Teor de água ideal entre 11-13%;
Obrigado!!!
felipesad@hotmail.com

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