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Judas Iscariotes tinha de ser o traidor de Jesus ou poderia ter escolhido

outro destino? (Judas poderia não ter traído Jesus?)

https://www.youtube.com/watch?v=CWDfxD2x79s

Pr. Marcos Granconato, Igreja Batista Redenção.

Site da Igreja: http://igrejaredencao.org.br/ ou

http://www.sermonaudio.com/source_detail.asp?sourceid=igrejaredencao

Judas tinha de ser o traidor; conquanto fosse completamente responsável


pelos seus atos, Judas não tinha livre-arbítrio. [Não ter livre-arbítrio e mesmo
assim ser responsável pelos próprios atos é um mistério]. Há a soberania
e o decreto de Deus sobre a vida dos indivíduos. O Senhor é soberano na
administração da sua graça salvadora, e o modo como Ele administra essa
graça permanece um mistério para nós.

Temos algumas inclinações próprias do nosso raciocínio que imediatamente


levantam objeções em relação a predestinação (no caso, a predestinação de
Judas pra trair Jesus). Dentro da nossa lógica que é limitada, rasa, superficial,
racional e meramente natural, nós entendemos que se Deus predestinou
alguém seja pra trair seja pra salvar ou seja pra qualquer outra coisa, então a
liberdade humana desaparece e com ela a responsabilidade humana, ou seja,
ninguém é culpado de nada (daí a razão gera a pergunta “Como é que Deus
pode me condenar, já que Ele escreveu a minha história de antemão e eu sou
apenas alguém que está cumprindo os seus decretos”). Dentro da nossa lógica
não conseguimos ajustar a verdade teológica à essa lógica natural/humana,
por isso precisamos não dessa lógica racional (do raciocínio humano), e, sim,
da revelação divina; quando a razão não encontra mais respostas; quando ela
se vê limitada; quando ela não consegue mais caminhar, então recorremos à
revelação que, muitas das vezes, ela apresenta coisas que contrariam a lógica
humana.

O Senhor é Aquele que decreta toda a História das nações, das


instituições e também dos indivíduos e isso, curiosamente, por mais que
pareça contraditório, não anula a responsabilidade das pessoas que são
objetos do decreto estabelecido. Mas como é isso? A Bíblia não explica.
Veja Lc 22.22: “E, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está
determinado [decreto divino]; mas ai daquele homem por quem é traído!
[responsabilidade humana]”. Vimos que não há um versículo que explique esse
paradoxo entre decreto divino e responsabilidade humana. A Bíblia deixa essa
“lacuna” pra que entendamos que a mente e os decretos de Deus são
inescrutáveis, estão pra além da nossa compreensão. Isso nos mostra que a
mente de Deus está acima da nossa, ou seja, que Ele não pode ser julgado e
interpretado (bem como as ações dEle) a partir do raciocínio humano. Quer um
exemplo? Tente explicar a Trindade com a nossa lógica: temos o Pai, o Filho e
o Espírito Santo, portanto três pessoas. Mas a Bíblia diz que só há um Deus,
mas os três são Deus. Não conseguimos aplicar a lógica humana pra entender
uma doutrina bíblica, então recorremos a revelação.

A Bíblia afirma que Judas foi um instrumento/escolhido de Deus para realizar a


traição [decreto divino], enquanto que ao mesmo tempo ela diz que o próprio
Judas é culpado por tal ação e ai dele por ter feito isso [responsabilidade
humana]. Nem tudo que Deus fala é decreto; A Palavra de Deus e o “assim diz
o Senhor” não são feitos só de decreto; há outros textos de outra natureza que
não é um decreto. Mas a traição de Judas, a morte de Jesus são um decreto:
“Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado
aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da
perdição, para que a Escritura se cumprisse” – Jo 17.12.

Lc 22.22: “E, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está


determinado [decreto divino]; mas ai daquele homem por quem é traído!
[responsabilidade humana]”.

Se Judas podia se arrepender e não trair Jesus, como pois então se cumpriria
as Escrituras? É a pergunta que Jesus fez, mas em relação a outro fato. Veja:
“Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que
aconteça?” – Mt 26.54.

Pedro diz que a traição bem como o suicídio de Judas, aconteceram para que
se cumprisse a Escritura: “Homens irmãos, convinha que se cumprisse a
Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas,
que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus; Porque foi contado conosco e
alcançou sorte neste ministério. Ora, este adquiriu um campo com o galardão
da iniqüidade; e, precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas
entranhas se derramaram. [...]. Porque no livro dos Salmos está escrito: Fique
deserta a sua habitação, E não haja quem nela habite, e: Tome outro o seu
bispado. 25 Para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se
desviou, para ir para o seu próprio lugar” – At 1.16-20, 25.

Onde está a justiça de Deus quando Ele determina que uma pessoa deve
fazer um mal? (Essa pergunta já foi feita e respondida pelo apóstolo Paulo em
Rm 9.15-20). Deus faz o que quer. A justiça dele está em tudo. Não devemos
olhar para as ações de Deus e julgar, pois Ele é justo em todos os seus
caminhos, inclusive naqueles que eu não compreendo. Pela fé sabemos que,
ainda que a mente engane e as percepções sejam limitadas, a justiça de Deus
é perene e inabalável.
Apesar da tentativa de Eli em fazer com que seus filhos se arrependessem de
seus atos, os mesmos foram impedidos por Deus porque o decreto/propósito
do próprio Deus era matá-los (o que ocorreu de fato). Ou seja, eles não tiveram
opção (liberdade) para se arrependerem: “Pecando homem contra homem, os
juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por
ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria matar” – I
Sm 2:25.

Deus pode fazer vasos para honra e para desonra: “O Senhor fez todas as
coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal”
– Pv 16.4.

O amor não significa o gozo completo da liberdade, pois é exatamente o fato


de nós amarmos nossos filhos pequenos é que colocamos limites/regras.

Salvação não é pra todos, mas pra alguns [é um decreto divino]. Paulo diz que
a fé não é de todos. Jesus diz que alguns não eram suas ovelhas : “Mas vós
não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” – Jo
10.26. O Senhor diz a Paulo pra pegar em Corinto porque o Senhor tinha muito
povo naquela cidade, e não todo mundo: “E disse o Senhor em visão a Paulo:
Não temas, mas fala, e não te cales; Porque eu sou contigo, e ninguém lançará
mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade” – At 18.9,10.
Existe um povo eleito: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do
mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” – Ef
1.4. Paulo se dirige a igreja chamando-a de “os eleitos de Deus”.

No livro de Deus foram escritos todos os meus dias quando nenhum deles
havia ainda, ou seja, o Senhor escreveu a história de cada um. “Os teus olhos
viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram
escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma
delas havia” – Sl 139.16. Judas foge à regra? Não.

Judas é chamado de “filho da perdição” por Jesus em João 17.12. Mas o anti-
Cristo também é chamado de “filho da perdição”: “Ninguém de maneira alguma
vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se
manifeste o homem do pecado, o filho da perdição” – II Ts 2:3. O anti-Cristo
poderá ter a escolha/opção de ir contra a profecia que a respeito dele se diz na
Escritura (enganar as nações, fazer cair fogo do céu, ser inimigo de Cristo)? Se
dissermos que quando Deus decreta o mal Ele é pecador, então no caso do
anti-cristo Deus está pecando, pois o anti-Cristo fará o que a Escritura diz que
veio fazer e o mesmo não se arrependerá.

Qual é a culpa da pessoa que é destinada por Deus a fazer o mal? A culpa
dela é total, integral. A Bíblia fala que Deus decreta o mal e que o homem é
responsável por cumprir esse mal; isso é um mistério. Veja: “E, na verdade, o
Filho do homem vai segundo o que está determinado [decreto divino]; mas ai
daquele homem por quem é traído! [responsabilidade humana]” – Lc 22.22.
Deus guardou esse mistério (peça do quebra-cabeça) pra que nós sejamos
sempre discípulos e Ele sempre o mestre.

No livro de Atos diz que Herodes e Pôncio Pilatos fizeram tudo que o propósito
e a mão do Senhor pré-determinaram: “Porque verdadeiramente contra o teu
santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio
Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; Para fazerem tudo o que a tua
mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer
[decreto divino]” – At 4:27,28. Jesus diz a Pilatos que o próprio tinha culpa e
que Judas tinha maior culpa por ter entregado-o a Pilatos: “Respondeu Jesus:
Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele
[Judas] que me entregou a ti maior pecado tem [responsabilidade humana]”
– Jo 19.11.

Por que não podemos aceitar que a eleição se baseie na presciência de


Deus? Isso anularia a soberania dEle? Não podemos crer que a eleição é
com base na presciência porque esta pressupõe que Deus olhou no “corredor
da história” (no tempo) e viu as pessoas que creriam e por isso as escolheu,
então, nesse caso, a eleição não seria gratuita, e sim meritória, ou seja, não
seria eleição pela graça. A Bíblia não diz que a graça de Deus procura
pessoas dignas ou eleitos e então as chama. Mas diz que a graça de Deus
olha/procura pessoas indignas e as transforma em pessoas dignas. Ou
seja, a eleição de Deus não é pela presciência porque isso pressupõe mérito
naqueles que Deus escolheu.

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