Você está na página 1de 27

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS E EM PÓS-GRADUAÇÃO

E PESQUISA – CESAP

PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL

VERA LÚCIA AZEVEDO SIMÕES

UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE AS DIFICULDADES DE


APRENDIZAGENS ESPECÍFICAS DE ALUNOS SEM LAUDO MÉDICO

SALVADOR
2019
VERA LÚCIA AZEVEDO SIMÕES

UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE AS DIFICULDADES DE


APRENDIZAGENS ESPECÍFICAS DE ALUNOS SEM LAUDO MÉDICO

Trabalho apresentado ao Centro de Estudos


Avançados em Pós-Graduação e Pesquisa - CESAP,
como requisito parcial para a conclusão do curso de
Pós-Graduação em Psicopedagogia orientado pela
Coordenadora Ana Beatriz Chagas.

SALVADOR
2019
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 04

2. ALGUNS ASPECTOS DA HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA .................................... 05

3. PRINCIPAIS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS ........................ 06


4.1 DISLEXIA ........................................................................................................................................ 06
4.2 DISCALCULIA ............................................................................................................................... 07
4.3 DISGRAFIA..................................................................................................................................... 07
4.4 DISPRAXIA..................................................................................................................................... 08
4.5 TDAH................................................................................................................................................ 08
4.6 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA .............................................................. 100
4.7 SÍNDROME DE ASPERGER ..................................................................................................... 100
4.8 TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO – TOC ........................................................... 11

5. CONSIDERAÇÕES MEC: MATRÍCULA DE ALUNOS COM DAE ............................. 11


5.1 ASPECTOS LEGAIS DO LAUDO MÉDICO .............................................................................. 13

6. ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO: ALUNO COM DAE E SEM LAUDO MÉDICO 13

7. UM OLHAR SOBRE A PESQUISA ..................................................................................... 15

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 18

9. REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 19

ANEXOS ....................................................................................................................................... 21
RESUMO
O tema proposto neste artigo buscou conhecer como acontece a inclusão de alunos que mesmo
apresentando acentuada Dificuldade de Aprendizagens Específicas - DAE's não apresentam laudo
médico que comprovem seu diagnóstico no momento da matrícula na rede pública de ensino.
Estudar e aprofundar-se na temática abordada nesse trabalho é de suma importância para que
psicopedagogos e docentes saibam como lidar no dia a dia com as dificuldades desses alunos. O
objetivo de estudo foi a reflexão para um olhar atento do psicopedagogo, assim como do docente
para que estes possam perceber qual a real necessidade daquele aluno que apresenta um possível
diagnóstico de dificuldade de aprendizagem específica dentro do ambiente escolar. A metodologia
utilizada foi a pesquisa bibliográfica, bem como a pesquisa qualitativa onde teve a participação de
70 (setenta) professores atuantes de escolas públicas que responderam uma pesquisa na plataforma
do Google Forms e que ajudou muito na realização desse artigo. O laudo médico apesar de não ser
exigência para a matrícula, segundo o MEC, faz-se necessário para atender algumas especificidades
no que diz respeito ao Atendimento Educacional Especializado, assim como pressuposto para que
a gestão escolar possa solicitar Auxiliar de Desenvolvimento Infantil para dar apoio ao aluno com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
matriculados nas classes comuns das escolas públicas.

Palavras-chave: Psicopedagogo. Dificuldade de Aprendizagem Específicas. Laudo Médico.


Inclusão.

ABSTRACT
The theme proposed in this article sought to know how the inclusion of students happens that even
with a marked Specific Learning Difficulty - SLD do not present a medical report that proves their
diagnosis at the time of enrollment in the public school system. Studying and deepening the theme
addressed in this work is of paramount importance so that psychopedagogists and teachers know
how to deal with the difficulties of these students on a daily basis. The objective of the study was to
reflect on the psychopedagogue's attention, as well as the teacher, so that they can understand the
real need of that student who presents a possible diagnosis of specific learning difficulties within
the school environment. The methodology used was bibliographic research, as well as qualitative
research, in which 70 (seventy) public school teachers participated, who answered a survey on the
Google Forms platform and which helped a lot in the realization of this article. The medical report,
despite not being a requirement for enrollment, according to the MEC, is necessary to meet some
specificities with regard to Specialized Educational Assistance, as well as an assumption for school
management to request Child Development Assistants to provide support. to students with
disabilities, global developmental disorders and high skills or giftedness, enrolled in the common
classes of public schools.

Keywords: Psychopedagogists. Specific Learning Disability. Medical Report. Inclusion


4

1. INTRODUÇÃO
Muitos alunos matriculam-se nas escolas públicas e particulares todos os anos e, mesmo
tendo Dificuldades de Aprendizagens Específicas, as denominadas DAE’s, alguns não possuem
laudo médico. No entanto, as escolas precisam matricular essas crianças, pois é exigência do MEC
que toda criança em idade escolar seja matriculada, mesmo sabendo que alguns desses alunos
precisam de atendimento especial no seu processo de ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva,
procura-se nesse trabalho buscar argumentos de como um psicopedagogo e até mesmo um professor
deverá proceder diante de alunos que apresentam DAE’s e que não têm laudo médico que comprove
o seu diagnóstico.
A importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagens específicas de
alunos matriculados sem apresentar laudo médico é algo relevante no contexto escolar. A obra do
russo psicólogo Lev Vygotsky (1896-1934) pode ajudar muito na busca por estratégias
pedagógicas inclusivas. Postula o autor que o desenvolvimento de qualquer pessoa depende das
oportunidades de aprendizagem e das relações que o indivíduo estabelece. O autor defendia que os
alunos fossem encorajados a superar suas habilidades através da ZDP (Zona de Desenvolvimento
Proximal), significa que o indivíduo tem potencial, mas às vezes não atingiu ainda sua
potencialidade, podendo atingir com a ajuda de um adulto ou de uma criança mais experiente.
Já para HUDSON (2019, p.9), alguns alunos com DAE’s podem parecer capazes e
articulados, mas geralmente têm baixo rendimento em determinadas matérias ou tarefas. É por isso
que se faz necessário o estudo dessa temática, assim como a formação, dedicação e um olhar
diferenciado do psicopedagogo, dos docentes e de todos que trabalham no ambiente escolar para
com os alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem.
Sendo assim, abordaremos neste artigo as características e principais dificuldades de
aprendizagens que alguns alunos apresentam em sala de aula e que os mesmos não apresentam
Laudo Médico; o conceito de Laudo Médico e a sua exigência dentro do ambiente escolar;
Resolução do Ministério da Educação - MEC sobre Laudo Médico; atuação do psicopedagogo
diante de alunos sem laudo médico e que apresentam DAE. Ressaltando que houve a participação
de 70 (setenta) professores, atuantes de escolas públicas de Salvador e Lauro de Freitas onde
contribuíram muito para a realização desse trabalho. Essas perguntas foram disponibilizadas online
através da ferramenta Google Form, enviadas através de WhatsApp. Todas as respostas dos
participantes encontram-se no Anexo desse artigo.
5

2. ALGUNS ASPECTOS DA HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA

A História da Psicopedagogia iniciou-se na Europa no século XIX e segundo BOSSA (2000)


ela surgiu devido à preocupação com as questões referentes a dificuldade de aprendizagem. Mas na
época acreditava-se que o não aprender estava relacionado às causas orgânicas, ou seja, procuravam
identificar no físico o déficit escolar do aluno.
Nas décadas de 40 a 60 a ação do pedagogo na França era vinculada à do médico, tanto assim
que em 1946 em Paris foi criado o primeiro Centro Psicopedagógico. O objetivo era a colaboração
de médicos e pedagogos para acompanhar crianças com problemas escolares ou de comportamento.
Estas crianças geralmente apresentavam quadros de doenças crônicas como tuberculose, diabetes,
cegueira, surdez ou problemas motores. Essa denominação “Psicopedagógico”, foi escolhida em
detrimento da junção “Médico/Pedagogo”. Era o ensinar, cuidar e o tratar em voga.
O trabalho psicopedagógico a priori era priorizar a reeducação do indivíduo que “não
aprendia”. Eles tinham o objetivo de investigar as questões relativadas à dificuldade de
aprendizagem. Essa concepção transcorreu por um longo período, e muitas crianças foram
diagnosticadas como indivíduos que ‘não aprendem’. Mas essa abordagem discriminatória foi
questionada na Europa, no século XIX, por alguns médicos, pedagogos e psiquiatras, entre eles:
Maria Montessori1, Decroly e Janine. (GASPARIAN,1997,p.15-30).
A criança rotulada como indivíduo que “não aprende” foi tratado durante muito tempo
como ‘doente mental’, sendo que alguns termos que até pouco tempo eram utilizados para nomeá-
los foram enormemente influenciados pelos conhecimentos e terminologia da medicina, como
podemos citar: idiotia, retardado (século XIX); debilidade mental (início século
XX); imbecilidade, retardo mental e deficit intelectual e deficiência mental (final século XX e
início do século XXI). Entretanto, houve mudanças significativas nos últimos anos e a expressão
‘deficiência mental’ que até pouco tempo era utilizada como parâmetro para os problemas
neurológicos, foi substituída por ‘deficiência intelectual’2. (PLETSCH, 2009, p. 143-156).
O aluno com deficiência intelectual não significa que há comprometimento na sua
mente como um todo, e sim limitações intelectuais. Sendo assim, a partir do momento que o
psicopedagogo ou o professor conhece o aluno, estimula-o a fazer as atividades, se propõe a intervir

1
É conhecida pelo método educativo que desenvolveu e que ainda é usado hoje em escolas públicas e privadas mundo
afora. Destacou a importância da liberdade, da atividade e do estímulo para o desenvolvimento físico e mental das
crianças. Para ela, liberdade e disciplina se equilibrariam, não sendo possível conquistar uma sem a outra. Adaptou o
princípio da auto-educação, que consiste na interferência mínima dos professores, pois a aprendizagem teria como base
o espaço escolar e o material didático.

2
Em 2002, a Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Mental aprovou por unanimidade uma resolução
substituindo a expressão “deficiência mental” por “deficiência intelectual”.
6

de forma responsável e apresenta-lhe diversificados recursos didáticos, esse aluno poderá adquirir
excelentes desempenhos escolares.

3. PRINCIPAIS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS

O termo “Dificuldade de Aprendizagem Específica” foi definido segundo


WORTHINGTON (2003 apud Hudson, 2019, p. XX) como “uma determinada dificuldade em uma
área de aprendizagem de uma criança que tem desempenho satisfatório em outras áreas”. No
entanto, tais indivíduos podem ser ensinados a descobrir uma série de estratégias com o objetivo de
assimilar e reter informações e ser bem-sucedidos.

De acordo HUDSON (2019,p.9),

Alunos com DAE’s podem parecer capazes e articulados, mas geralmente têm baixo
rendimento em determinadas matérias ou tarefas. Podem apresentar trabalhos escritos
abaixo do padrão esperado e serem desorganizados ou “difíceis”. Por outro lado, esses
mesmos alunos podem ser engenhosos, perspicazes, criativos e talentosos. O desafio para
os professores é possibilitar que esses jovens encontrem maneiras de contornar seus
problemas e aproveitar seus talentos.

Observa-se, no entanto, que existe uma frequência de alunos com dificuldades de


aprendizagens específicas matriculados nas escolas públicas e privadas sem laudo médico e isso
dificulta. Nesse sentido é importante que os profissionais da educação saibam identificar as
possíveis causas da dificuldade de aprendizagem do aluno para que encontrem maneiras de
contornar suas dificuldades e aproveitar seus talentos. Seguem de forma sucinta as principais DAE’s
e suas características.

4.1 DISLEXIA

Alunos com dislexia têm dificuldade com a linguagem escrita e, consequentemente, terá
problemas com a leitura, escrita, ortografia. Segundo Worthington (2013, apud HUDSON, p.26), a
dislexia foi definida como uma “dificuldade de interpretação da linguagem escrita em um indivíduo
que não tem deficiência visual, deficiência auditiva ou deficiência intelectual. ”
Algumas técnicas de captação de imagens do cérebro de pessoas com dislexia mostram que
as informações são processadas de maneira diferente das demais pessoas. Segundo SCHNEP (2014
apud HUDSON, 2019, p.27), crianças com Dislexia “tendem a pensar mais em imagens do que em
palavras e fazem conexões laterais rápidas”. Em geral, a dislexia é descoberta devido a discrepância
que tem o aluno entre a boa capacidade oral e seu desempenho ruim na leitura e escrita.
7

Estudos revelam que a dislexia é um transtorno de linguagem de origem neurobiológica. Ou


seja, os indivíduos considerados disléxicos são portadores de necessidades educacionais especiais e
específicas de leitura, bem como para reconhecer, soletrar e decodificar palavras. Pode-se dizer que
o disléxico é portador de uma dificuldade, porém não de uma deficiência.
Recorrendo a Leis de Diretrizes e Bases - LDB nota-se que teoricamente não existe nenhuma
regulamentação que fale sobre o tempo para os alunos disléxicos realizar alguma atividade escolar,
o que existe é uma interpretação de que pessoas com dificuldades têm direito a receber condições
especiais no ambiente escolar para desenvolver a aprendizagem. Sendo assim, os psicopedagogos,
os professores poderão ver possibilidade de encontrar alguma estratégia, uma delas é um tempo
adicional ou até mesmo fazer prova oral com esse aluno.

4.2 DISCALCULIA

A discalculia de acordo o Department for Education and Skill em 2001 foi definida como uma
“condição que afeta a capacidade de adquirir habilidades matemáticas”. Isso significa que
indivíduos com discalculia apresentam dificuldades para realizar cálculos ou resoluções
matemáticas.
De acordo a Associação Britânica de Dislexia (apud HUDSON, 2019, pg.52), a discalculia
foi reconhecida na Inglaterra como uma dificuldade de Aprendizagem Específica (DAE) e pode ser
identificada através de exames especializados.
Segundo HUDSON (2019, p.53), a maioria dos alunos com discalculia apresenta alguns
indicadores como: a não compreensão intuitiva dos números, ele não sabe automaticamente qual é
o número maior ou menor do que outro; frequentemente contará usando os dedos; inverte números,
por exemplo, 650 ao invés de 605; pode confundir números parecidos como 3 e 8 ou 6 e 9; tem
dificuldade em arredondar números; não consegue realizar simples cálculos mentais; dados
numéricos são complicados de serem lembrados; apresenta dificuldades em aprender tabuada
principalmente a de multiplicação.

4.3 DISGRAFIA

A disgrafia é também considerada uma Dificuldade de Aprendizagem Específica – DAE, esta


é menos conhecida, porém afeta muitos indivíduos, no que diz respeito a escrita à mão e a conversão
dos pensamentos escritos no papel.
Segundo HUDSON (2019, p.71), indivíduos com disgrafia estão dentro da faixa normal de
inteligência, no entanto eles lutam para colocar suas ideias no papel, já verbalmente têm mais
facilidade de se expressar. Ou seja, há uma certa disparidade entre a escrita e a compreensão da
mesma. Sua capacidade de leitura é normal, mas a caligrafia geralmente é ilegível ou desorganizada,
8

até a forma escrever com o lápis, ou caneta parece desajeitada. O aluno demora para copiar e pode
reclamar de dor na mão.
A Associação Americana de Psiquiatria descreve a disgrafia como “habilidades de escrita que
estão substancialmente abaixo daquelas esperadas, dadas a idade do indivíduo, a inteligência medida
e a educação apropriada”. Sendo assim, certas atitudes do psicopedagogo são importantes frente ao
aluno com disgrafia. Ele pode se mostrar compreensivo, mas também deixar claro que o ato de
escrever necessita de concentração extra e deverá encontrar maneiras de contornar as dificuldades
do aluno para que ele acompanhe o restante da turma e não se sinta frustrado nem prejudicado.

4.4 DISPRAXIA

O prefixo DIS da palavra ‘dispraxia’ vem do latim e significa dificuldade. Praxia vem do
grego e significa fazer. Então a ‘dispraxia’ significa dificuldade em fazer. O indivíduo que tem
dispraxia tem dificuldade de movimento e coordenação, principalmente as habilidades do fazer com
as mãos. E um Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC), esse é outro termo para
determinar que uma pessoa tem dispraxia.
Aluno com dispraxia pode parecer desajeitado por tropeçar, derramar ou deixar coisas caírem,
ficar inquieto na aula, tem dificuldade com jogos, dificuldade para equilibrar-se, andar de bicicleta,
dançar. Geralmente isso influenciará na coordenação motora fina como: caligrafia ruim e
habilidades de desenho imaturas; lentidão para se vestir, para amarrar um cadarço, laços.
É preciso o psicopedagogo, o professor estar cientes das dificuldades genuínas do aluno.
Deixar claro para o aluno que valoriza o intelecto e a participação dele na sala de aula. Manter o
chão da sala desimpedido de mochilas no chão, livros, casacos; certificar que o aluno está ciente de
degraus ou outros obstáculos próximos à sala de aula. Ou seja, antecipar possíveis acidentes no
próprio ambiente escolar. Se o aluno estiver se sacudindo pode ser para manter o equilíbrio e obter
feedback muscular, nesse caso é benefício para o aluno deslocar-se do recinto periodicamente.
(HUDSON, 2019, p. 82-103).

4.5 TDAH

De acordo o DSM – IV, que é um manual de classificação internacional de transtornos


mentais, adotado pela OMS, a característica essencial do Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade consiste no indivíduo apresentar um padrão persistente de desatenção e/ou
hiperatividade-impulsividade mais frequente e grave do que em outros indivíduos em nível
equivalente de desenvolvimento.
9

O TDAH é caracterizado por desatenção, atividade motora excessiva e impulsividade


inadequados à etapa do desenvolvimento e presente em ao menos dois ambientes distintos. Ou seja,
é um distúrbio neurobiológico que não tem cura, mas que pode responder a medicamento e terapia
comportamental, assim como mudanças de estilo de vida.
HUDSON (2019, p.104-105) postula que indivíduos com esse tipo de transtorno pode sofrer
também de outras dificuldades específicas como a dislexia ou um transtorno do espectro autista
(TEA), além disso podem apresentar também insônia e ansiedade. Os sintomas devem apresentar
antes dos doze anos de idade, afeta de forma negativa o desempenho social, acadêmico e
profissional.
Por muito tempo o indivíduo com TDAH era tratado como resultado de uma má educação
da família. Hoje é oficialmente reconhecido pela medicina e aceito pela Organização Mundial de
Saúde - OMS. Pessoas afetadas com esse tipo de transtorno significa que na parte frontal do cérebro
há problema de comunicação com os neurotransmissores3. A teoria científica atual explica que
quando acontece disfunção dos neurotransmissores resulta na impulsividade do indivíduo.

Imagem 1: neurotransmissores

Cortex Pré-Frontal

Fonte: Google
Ressaltando que o Cortex Pré-Frontal é o responsável pela inibição da impulsividade, pelo
autocontrole, pelo planejamento, pela capacidade de organização. Se essa região for afetada
acontece o transtorno de déficit de atenção e geralmente a impulsividade. É por isso que o

3
Neurotransmissores são os mensageiros químicos responsáveis pelo controle do comportamento racional, lógico,
comportamental e de personalidade do indivíduo.
10

psicopedagogo, os professores, a família e a sociedade de um modo geral deverá ter um olhar atento
para o indivíduo que apresenta quadro típico de TDAH.
4.6 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA

Indivíduos com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista - TEA têm dificuldade de


interpretar o comportamento e conversa de outras pessoas, assim como dificuldades em entender as
normas sociais, padrões de comportamento informais e de comunicação. Essas pessoas podem
parecer “estranhas”, pois querem estar socialmente isoladas.
O TEA não é uma Dificuldade de Aprendizagem Específica (DAE), mas uma condição
médica geralmente diagnosticada por um pediatra. Entretanto, devido o aluno se restringir a
interação social, poderá apresentar também Dificuldade de Aprendizagem Específica. De acordo a
Associação de Psiquiatria modificou em 2013 o diagnóstico de TEA baseando-se em duas áreas de
comportamento: interação social e padrões de comportamento.
Aluno com TEA pode parecer estranho e socialmente isolados. Na comunicação, por
exemplo, ele terá dificuldade em entender piadas ou trocadilhos; não capta informação implícita ou
indeferida; acha as reações das pessoas imprevisíveis e confusas. Na interação social terá dificuldade
em compreender contextos sociais e entender como os outros pensam; às vezes parece sem noção e
pode até invadir o espaço pessoal de alguém ou ficar muito distante; geralmente não consegue reagir
às emoções de outrem e pode até responder de maneira inadequada.
Sendo assim, o psicopedagogo e professor devem ficar atento quando o aluno prefere trabalhar
sozinho ou às vezes se aprofundar inesperadamente em determinados temas. Esses alunos podem
também ter um ponto de vista inflexível e não gostar de mudanças. Eles não se enturmam com os
colegas, geralmente gostam de fazer algo do seu interesse já que é ordenado, relaxante e mais seguro.
(HUDSON, 2019 p.125-131).

4.7 SÍNDROME DE ASPERGER

TEIXEIRA (2019, p.77) esclarece que o termo síndrome de Asperger tem sido utilizado para
um diagnóstico semelhante às deficiências do autismo, porém os indivíduos que apresentam esta
síndrome tendem a apresentar maiores habilidades linguísticas, intelectuais e de comunicação do
que os diagnosticados com TEA.
Segundo o Manual do Autismo, esse nome vem do médico pediatra vienense Hans Asperger
que identificou um grupo de meninos os quais eram mais capazes dentro do espectro do autismo.
Segundo Hans Asperger, essas crianças “apresentavam problemas comportamentais e de
comunicação, mas também uma série de habilidades; sua fala e inteligência estavam na faixa de
normal a alta”. (HUDSON, 2019 p.126).
11

Sendo assim, o psicopedagogo poderá juntamente com o professor estruturar um


Plano Individual de Educação levando em consideração as necessidades particulares do aluno e as
metas do profissional da educação para com esse alunado. Lembrando de respeitar as limitações
individuais e estimulando sempre as potencialidades desse aluno.

4.8 TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO – TOC

TOC é considerado um transtorno de ansiedade que afeta meninos e meninas geralmente em


idade escolar. Normalmente o comportamento do aluno com TOC é recorrente de medo, obsessões,
ações repetitivas e parecem excessivamente ansiosos e preocupados. Ao contrário das outras
Dificuldades de Aprendizagem Específicas discutidas nos tópicos anteriores, esta pode ser tratada e
controlada com Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e às vezes com medicação prescrita pelo
médico.
HUDSON (2019, p. 146)) postula que o TOC “pode afetar gravemente a vida escolar, o
desempenho acadêmico e os relacionamentos”. Acrescenta ainda que geralmente ocorre associado
a outros problemas, como depressão, Tdah e TEA.
É importante um olhar atento do psicopedagogo e do professor e que busquem entender os
sintomas do TOC e a melhor maneira de ajudar o aluno que esteja sofrendo desse transtorno; visto
que geralmente demora de ser diagnosticado e não é bem compreendido.

5. CONSIDERAÇÕES MEC: MATRÍCULA DE ALUNOS COM DAE

Praticamente em todas as escolas públicas há uma parcela de alunos com dificuldade de


aprendizagem específica e muitos desses alunos não apresentam laudo médico no momento da
matrícula na rede regular de ensino. Para muitos professores uma criança com laudo médico facilita
a parte pedagógica no que diz respeito a realização atividades diferenciadas, tempo estendido para
atividades ou provas, acesso ao Atendimento Educacional Especializado – AEE no contraturno da
aula, dentre outros recursos pedagógicos que o professor poderá aplicar quando tem conhecimento
do diagnóstico do aluno.
O laudo médico do ponto de vista legal, trata-se de um registro emitido por um médico
especialista ou por uma equipe multidisciplinar (formada por fonoaudiólogos, psiquiatras,
psicólogos e psicopedagogos) que descreve o diagnóstico, as alterações observadas no paciente e a
conclusão.
A exigência do laudo médico não é uma determinação do MEC para matrícula de alunos na
modalidade educação especial. O que acontece é que a escola precisa de um respaldo para junto à
secretaria de educação exigir inclusão desse aluno no AEE. Segundo o MEC o atendimento
educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar os principais recursos
12

pedagógicos, assim como de acessibilidade para a eliminação das barreiras, considerando as


necessidades específicas desse aluno e objetivando a sua plena participação. Ressaltando que todo
esse processo deverá ocorrer no contraturno da aula.
Ou seja, alunos com Dificuldade de Aprendizagem Específica ou até mesmo deficiência
física não podem ser impedidos de efetuar matrícula na rede regular de ensino. A resolução nº 4
do Ministério da Educação (MEC) sobre o Atendimento Educacional Especializado garante que, no
caso de alunos com alguma deficiência acentuada ou não, é prescindível a apresentação de
comprovação de laudo médico para realização da matrícula. O que pode acontecer é a escola exigir
o laudo para alunos com determinadas tipos de deficiência (como cegueira, paralisia, surdez) para
buscar recurso específicos, pois alguns equipamentos multifuncionais estão condicionados à
apresentação desse documento. A apreciação desse direcionamento encontra-se nas Diretrizes
Nacionais da Educação Básica, instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 4/2010, conforme disposto
no seu Parágrafo 1ºdo Art. 29:

§ 1º Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos


globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
regular e no atendimento educacional especializado (AEE), complementar ou suplementar
à escolarização ofertado em sala de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede
pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.

O Atendimento Educacional Especializado - AEE4 contempla alunos com deficiência com


objetivo de complementar ou suplementar a escolarização. O AEE deverá integrar a proposta
pedagógica da escola, assim como envolver a participação da família e ser realizado em articulação
com as demais políticas públicas. Em nenhum momento esse Parecer aborda documento específico
para que o aluno tenha direito a esse programa. Isso significa que nenhum aluno com deficiência
deverá ser cerceado pela exigência de laudo médico no momento da matrícula na rede regular de
ensino.
Deve-se ressaltar que nem todas escolas têm condições de implementação do Atendimento
Educacional Especializado no que diz respeito a Salas de Recursos Multifuncionais, pois para que
isso aconteça é necessário que a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão – SECADI, indique as escolas que estejam em conformidade com as exigências e
condições gerais de implementação desse programa.

4
Considera-se Atendimento Educacional Especializado – AEE, segundo o Parecer CNE/CEB nº 13, o “conjunto de
atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar
ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular”
13

5.1 ASPECTOS LEGAIS DO LAUDO MÉDICO

A Nota Técnica 04/2014 do MEC/SECADI/DPEE faz cair a exigência do laudo médico


para incluir aluno com dificuldade de aprendizagem específicas, deficiência intelectual ou até
mesmo deficiência física em classes comuns de escolas regulares. O seu conteúdo deixa claro que
a exigência de um laudo médico restringe o acesso a um direito universal já garantido em Convenção
Internacional e, sendo assim, deve configurar-se como documento acessório.
Para o MEC o nome da doença registrada no laudo não pode ser o único parâmetro para
inclusão. Essa interlocução clínico-escolar pode acontecer sem uma “denominação de doença”
transcrita no laudo médico, visto que uma criança considerada “laudada” muitas vezes tem o efeito
discriminatório no próprio ato que seria para a sua inclusão. Sendo assim, diagnósticos fechados
não se aplicam à infância, visto que é uma fase ainda em desenvolvimento e que depende de todos
os que estão à sua volta: pais, educadores, médicos, família, sociedade.
Nessa perspectiva, a escola não pode considerar imprescindível a apresentação de laudo
médico para o aluno público-alvo da educação especial quando matriculado na rede regular de
ensino nem para ter direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE). O que pode
acontecer é integrar o AEE à proposta pedagógica da escola, assim como envolver a participação da
família para garantir pleno acesso e participação desses estudantes, devendo sua oferta constar no
PPP que é o Projeto Político Pedagógico da escola em todas as etapas e modalidades da educação
básica, a fim que seja efetivado o direito desses estudantes à educação.
Geralmente a gestão das escolas públicas solicita a apresentação de laudo médico quando o
aluno tem alguma mobilidade reduzida, Dificuldade de Aprendizagem Específica (DAE),
Dificuldade Intelectual (DI) ou alguma dificuldade de visão ou cognição. De posse desse laudo a
gestão escolar terá respaldo para solicitar um Auxiliar de Desenvolvimento Infantil - ADI, para fazer
cumprir as orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, onde corrobora no artigo
58 "haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às
peculiaridades da clientela de Educação Especial".

6. ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO: ALUNO COM DAE SEM LAUDO


MÉDICO

O psicopedagogo tem destaque e importância dentro do ambiente escolar. Ele é sempre


acionado quando o assunto se refere a aluno com DAE. Não importa se o aluno tem diagnóstico ou
não, é o psicopedagogo que estará sempre presente para identificar problemas como dificuldades,
14

transtornos, distúrbios. Ele com técnicas e ações apropriadas de prevenção ou correção poderá
intervir no problema sendo ele de natureza emocional, mental, social ou física.
SANTOS (2011, p. 02) postula que,

O trabalho na instituição escolar apresenta duas naturezas: O primeiro diz respeito a uma
psicopedagogia voltada para o grupo de alunos que apresentam dificuldades na escola. O
seu objetivo é reintegrar e readaptar o aluno à situação de sala de aula, possibilitando o
respeito às necessidades e ritmos. Tendo como meta desenvolver as funções cognitivas
integradas ao afetivo, desbloqueando e canalizando o aluno gradualmente para a
aprendizagem dos conceitos conforme os objetivos da aprendizagem formal. O segundo
tipo de trabalho refere-se à assessoria junto a pedagogos, orientadores e professores. Tem
como objetivo trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e
redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da
aprendizagem dos conceitos e as diferentes áreas do conhecimento.

Um dos grandes desafios atualmente das escolas é saber lidar com os alunos que apresentam
dificuldades na aprendizagem escolar, principalmente aqueles sem laudo médico. Se a escola não
tiver profissionais bem qualificados pode desencadear no alunado mais problemas ou agravar os já
existentes, reforçando a desmotivação, o desinteresse e outros mecanismos de defesa, como a
indisciplina, a rebeldia ou a agressão que eles utilizam como álibi para justificar a dificuldade no
processo de aprendizagem.
A Coordenadora de Inclusão Educacional e Transversalidade da SMED, Jaqueline Araújo,
explica em uma palestra que é necessário que o professor, o psicopedagogo “olhem para as
potencialidades das pessoas com deficiência, no sentido de fortalecer a cultura de inclusão em nosso
cotidiano”. O psicopedagogo quando adota esse olhar diferenciado ele consegue distinguir que o
foco da sua atenção não são apenas as dificuldades de aprendizagem do alunado, mas o processo de
aprendizagem em sua totalidade, e se tiver algo que atrapalhe esse processo ele saberá identificar e
intervir, buscando sempre uma maneira que deixe o aluno se sentir mais confiante.
O psicopedagogo precisa ter um olhar atento não apenas para o aluno que possui um laudo
médico, visto que esse já está assistido e terá amparo dos professores, mas principalmente para
aquele que tem DAE e é cobrado, persuadido a fazer atividades como se fosse um aluno normal,
justamente por não apresentar laudo médico que comprovasse seu diagnóstico. Para Vygotsky (1989
apud COSTA 2006) “todas as crianças podem aprender e se desenvolver”. O autor ainda acrescenta
que mesmo a criança tendo sérias deficiências isso poderá ser compensado com ensino apropriado
e organizado que resulte em um desenvolvimento mental, ou seja, o aluno poderá alcançar a Zona
de Desenvolvimento Proximal - ZDP5. Então, isso sinaliza dizer que uma criança com dificuldade

5
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é um conceito elaborado por Vygotsky, e define a distância entre o nível
de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda e o Nível de
desenvolvimento potencial determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com outro companheiro (uma criança mais velha).
15

de aprendizagem específica é capaz de muito mais quando tem a assistência de outra pessoa do que
se fizesse sozinha.

7. UM OLHAR SOBRE A PESQUISA

Esta pesquisa teve como público alvo 70 (setenta) professores de diversas escolas e
localidades, onde responderam três perguntas, sendo duas de livre escolha dentre três alternativas e
outra subjetiva onde os professores que participaram da pesquisa opinaram de forma enriquecedora.
Essa pesquisa foi realizada no formulário online do Google Forms e encaminhada através de grupos
de WhatsApp de professores. Todas as opiniões relativas a terceira pergunta encontram-se
catalogadas no anexo deste artigo.
Seguem as perguntas e respectivas respostas calculadas em porcentagem e gráfico.

Pergunta 1

Ao perguntar ao professor para indicar a quantidade de alunos que frequenta sua sala de aula
e que apresenta notável dificuldade de aprendizagem específica, porém não tem laudo médico que
comprove seu diagnóstico, 55,7% marcou a opção ‘mais de 5 alunos por sala’; 41,4% marcou menos
de 5 alunos por sala e apenas 2,9% marcou que todos os alunos com DAE têm laudo médico.
Observa-se que a maioria dos alunos com DAE não apresenta laudo médico (55,7%). Como
vimos a LDB obedecendo a Constituição no seu artigo 208 assegura oferta obrigatória e gratuita,
inclusive a todos àqueles que não tiveram acesso na idade escolar. Ou seja, não fazendo objeções
para matriculas de alunos com alguma deficiência seja ela física, intelectual ou alguma dificuldade
de aprendizagem específica como Dislexia, Discalculia, Disgrafia, Dispraxia, TDAH, TEA,
Síndrome de Asperger, TOC. Isso significa dizer que o psicopedagogo ou professor não deverá
16

ficar limitado a um diagnóstico formal, nesse caso o laudo médico, é necessário entender o processo
da dificuldade do aluno e intervir de forma profissional e sensata.

A dificuldade de aprendizagem específica de um aluno pode ocorrer através de fatores físico,


emocional, social. Cabe ao psicopedagogo ou mesmo ao professor ter um olhar sistémico, ou seja,
ir além de um relatório que contém um CID transcrito num laudo médico como se esse fosse a única
forma de o aluno receber um atendimento digno e eficaz para o desenvolvimento da sua
aprendizagem no ambiente escolar. Faz-se necessário uma boa didática que abranja a todos e,
sobretudo o bom senso para entender a real necessidade de cada aluno.

Pergunta 2

Ao perguntar ao professor entrevistado qual a principal dificuldade que o ele enfrenta diante
de alunos com Dificuldade de Aprendizagens Específicas – DAE’s que não apresentam laudo
médico, 18,6% respondeu que a dificuldade é por não ter apoio de um psicopedagogo na escola;
11,4% respondeu que sente dificuldade no processo de inclusão do aluno com DAE’s no momento
de estabelecer nota ou realização de atividades diferenciadas; apenas 1,4% acredita que a nota do
Ideb fica prejudicada, pois como esses alunos não possuem laudo médico são considerados normal,
ou seja não são computados como alunos de inclusão; já a maioria (68,6%) dos professores
responderam que todos os fatores anteriores respondidos são preponderantes para dificultar o
professor a lidar com alunos com dificuldade de aprendizagens específicas sem diagnóstico médico.
Nota-se que boa parte dos professores sentem a necessidade de ter apoio de um
psicopedagogo no ambiente escolar. Inclusive várias escolas particulares já adotam essa prática, já
a implementação de um psicopedagogo nas redes estaduais e municipais segundo o Ministério da
Educação (MEC), ocorrerá no Programa das Escolas Cívico-Militares onde a União colocará à
17

disposição de governos estaduais e municipais estrutura e profissionais das Forças Armadas, sendo
que na área Didático-pedagógica haverá desenvolvendo de atividades de supervisão escolar e de
psicopedagogia. Ressaltando que a ideia do governo federal é ofertar 216 escolas cívico-militares
no país até 2023.

Pergunta 3

Para a pergunta supracitada, 72 professores tiveram acesso a ela através da pesquisa


elaborada no Formulário do Google Forms, sendo que 68 clicaram em responder, porém somente
65 professores de fato responderam à pesquisa. A maiorias desses professores responderam com
base na vivência diária que têm em sala de aula com alunos que apresentam Dificuldades de
Aprendizagens Específicas – DAE’s e que os mesmos não apresentam laudo médico. Alguns
professores relatam que a maioria dos pais não aceitam a ideia de que o filho possui algum tipo de
DAE e acredita que o filho não precisa de tratamento. Muitos opinaram que essa postura dos pais
tende a atrapalhar muito o processo de escolarização do aluno com DAE. No anexo desse artigo
encontra-se na íntegra as 65 (sessenta e cinco) opiniões desses profissionais da educação que
contribuíram na realização desse trabalho.
A maioria dos professores responderam que a escola deverá convocar as famílias dos alunos
com possível DAE sem apresentar laudo médico para orientá-los a procurar profissionais da saúde
que possam diagnosticar e acompanhar o aluno. Muitos disseram que é preciso ter um
psicopedagogo na escola para orientar os trabalhos didáticos e pedagógicos do professor em relação
aos alunos com dificuldade de aprendizagem. Muitos enfatizaram também que é necessário a
Secretaria de Educação oferecer treinamento aos professores e funcionários para lidar com as
crianças que apresentam distúrbios e dificuldades de aprendizagem. Para alguns é preciso descrever
as dificuldades, sistematizar, criar articulação com os colegas e pesquisar a respeito da dificuldade
do o aluno, além disso ter apoio da coordenação e de um psicopedagogo para ajuda-los nas suas
demandas para que eles possam melhor encarar as dificuldades de aprendizagem dos alunos.
18

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos nesse trabalho, pode-se verificar o quanto é importante um
olhar atento do psicopedagogo para àqueles alunos que apresentam Dificuldade de Aprendizagem
Específica – DAE, mas que não possuem laudo médico. O resultado da pesquisa também contribuiu
muito na reflexão sobre a didática e o fazer pedagógico do profissional da educação, assim como
sobre a importância do apoio da família. Sabendo que a educação eficaz só acontece com base no
tripé: Aluno, Escola, Família; tendo o Aluno como o centro do processo ensino-aprendizagem.
Nesse contexto, espera-se que a escola proporcione ao aluno com DAE uma educação que o
torne crítico, politizado, consciente, com pensamento autônomo, que conheça seus direitos e
deveres. Para SCOZ (1998) uma das funções da aprendizagem é a função transformadora. É essa
que irá oportunizar a participação efetiva do aluno na sala de aula, influenciá-lo a ser protagonista
do seu próprio aprendizado, ter autoconfiança, aprender a conhecer sua história e valorizá-la.
Para a Coordenadora Ladjane Sousa6, existem duas situações para lidar com um aluno que
apresenta DAE: uma é burocrática e outra pedagógica. A burocrática diz respeito àquele aluno que
é acolhido por possuir um laudo médico e este tem todo suporte didático, amparado pela Secretaria
de Educação. A outra situação é unicamente pedagógica. Ou seja, àquela em que o aluno é acolhido
pela escola independente de um diagnóstico prescrito por um profissional da área da saúde. Segundo
ela, a partir do momento que o educador percebe que o aluno tem dificuldade nos conteúdos
apresentados, deverá ficar atento. O que fará a diferença é a sua didática, seu fazer pedagógico, sua
demonstração de comprometimento com aquele aluno, ressaltando que a aprendizagem não se limita
à escola, é necessário também o apoio da família no que diz respeito aos valores éticos, morais para
que a escola possa cumprir sua função social na construção do conhecimento desse aluno.
Então, com base nessas evidências nota-se que o laudo médico não é peça fundamental para
acontecer a inclusão. Se tiver um psicopedagogo institucional na escola é preciso que esse
profissional acompanhe cada caso, se proponha a ajudar o aluno, estabeleça grau de confiança e
trabalhe em parceria com o professor e também com a família desse aluno.
É necessário, sobretudo, entender a dificuldade do alunado. Nesse sentido, deverá respeitar
seu tempo, seus limites, proporcionando meios para que ele interaja com o conhecimento de forma
lúdica, com atividades diferenciadas e valorizando suas habilidades. Tudo isso com o objetivo de
minimizar as limitações causadas pela deficiência. Logo, a DAE não deve ser empecilho para o
aluno desenvolver seu potencial no que diz respeito as quatro aprendizagens fundamentais da
educação: aprender a Conhecer, aprender a Fazer, aprender a Conviver, aprender a Ser.

6
Doutoranda e escritora, Ladjane Alves Sousa, é Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal Paulo Freire.
19

9. REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Psicopedagogia- ABPP. Disponível em: http://www.abpp.com.br.


Acesso em: 20 de dezembro de 2019.

BOSSA, Nádia. Dificuldade de Aprendizagem: o que são? Como tratá-las? Porto Alegre:
Artmed, 2000.

COSTA, Dóris Anita Freire. Superando limites: a contribuição de Vygotsky para a educação
especial. Rev. Psicopedag. [online]. São Paulo, 2006, v. 23, n. 72, pp.232-240. ISS 0103-8486

GASPARIAN, Maria Cecília Castro. Contribuições do modelo relacional sistêmico para a


psicopedagogia institucional. São Paulo: Lemos Editorial, 1997.

HUDSON, Diana. Dificuldades específicas de aprendizagens: ideias práticas para trabalhar


com: dislexia, discalculia, disgrafia, Tdah, TEA, Síndrome de Asperger, TOC. Petrópolis. RJ:
Vozes, 2019.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n°. 9394 de dezembro de 1996. Brasília:
Congresso Nacional, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
Acesso em: 12/01/2020.

Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 04, de 02 de outubro de


2009. Institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na
Educação Básica – Modalidade Educação Especial. Diário Oficial da União Brasília, nº190, 05 de
outubro de 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf. Acesso
em: 03/03/2020.

___________________, Secretaria de Educação Especial. Nota Técnica nº11 de 2010. Dispõe


sobre Orientações para a institucionalização da oferta do Atendimento Educacional Especializado
– AEE em Salas de Recursos Multifuncionais, implantadas em escolas regulares. Disponível em:
www.mec.gov.br/seesp. Acesso em: 13/02/2020.

___________________, Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 04, de 13 de julho de


2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Disponível em:
www.mec.gov.br/cne. Acesso em: 18/01/2020.

___________________, Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível em:


http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=428-diretrizes-
publicacao&Itemid=30192. Acesso em: 15/01/2020.

___________________, MEC. Implantação Salas de Recursos Multifuncionais.


http://portal.mec.gov.br/pet/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-
223369541/17430-programa-implantacao-de-salas-de-recursos-multifuncionais-novo. Acesso em:
03/03/2020.
20

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE [OMS]. Declaração de Montreal sobre a


Deficiência Intelectual. Montreal Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem na área da
Deficiência Intelectual Canadá, 06 de outubro de 2004. Disponível em:
http://www.defnet.org.br/decl_ montreal.htm. Acesso em: 10/03/2020.

PLETSCH, Márcia Denise. A formação de professores para a educação inclusiva: legislação,


diretrizes políticas e resultados de pesquisas. Educ. rev. [online]. 2009, n.33, pp.143-156. ISSN
0104-4060. https://doi.org/10.1590/S0104-40602009000100010.

SANTOS, R. A. O Psicopedagogo na Instituição Escolar: Intervenções Psicopedagógicas no


processo de ensino-aprendizagem, 2011 (Revista Educação e Psicologia).

SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. 2ª


Ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1994.

TEIXEIRA, Gustavo. Manual do autismo. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2019.
21

ANEXOS
22
23
24
25
26

Você também pode gostar