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Vitimologia II

Intervenção com vítimas de crime:


 A/O técnico de apoio á vítima (não é matéria de avaliação)
Pode trabalhar em diferentes contextos de apoio, com diferentes tipos de crimes/vítimas e com vítimas
com diferentes níveis de vulnerabilidade
Técnico de apoio á vítima (TAV): É uma pessoa devidamente habilitada que no âmbito das suas
funções presta apoio e assistência direta às vítimas
Ele deve compreender o que a vítima sente e aquilo porque passa depois de sofrer o crime. Missão:
ajudá-la a ultrapassar
Requisitos obrigatórios para a habilitação como técnico de apoio á vítima:

 Habilitação académica de nível superior na área das ciências socias e humanas ou de outras
áreas, mas que possuam experiência profissional relevante no domínio da violência
doméstica.
 A frequência com aproveitamento de 90 horas de formação para técnicos de apoio á vítima.
TAV- perfil pessoal:

 Relacional;
 Respeito;
 De autogestão emocional.
TAV- perfil técnico

 Conhecimento suficiente sobre dinâmicas e processos abusivos de formas especificas de


vitimação;
 Conhecer/saber identificar os tipos mais frequentes de violência e suas consequências para a
vítima;
 Saber reconhecer sinais indicadores da ocorrência de violência;
 Identificar as necessidades centrais da vítima;
 (Re) Conhecer o impacto da vitimação;
 Saber que a maioria desses atos constitui um crime consignado no Código Penal;
 Estar sensibilizado para esta problemática e para lidar com as especificidades emocionais e
comportamentos de vítimas de violência pontual e continuada;
 Saber os tipos de apoio disponíveis e quais os tipos de encaminhamento e de articulação com
outros serviços que podem disponibilizar em cada área de conhecimento
Competências e estilos de comunicação- conceitos-chave

 Escuta ativa:
 Deixar falar;
 Ouvir o que esta a ser dito e tentar perceber o ponto de vista do outro;
 Avaliar a forma como está a ser dito- sentimentos conteúdos, intenção;
 Mostrar empatia;
 Centrar se no que é dito e dar sinal disso á vítima;
 Mostrar interesse, por exemplo, fazendo perguntas sobre o que a vítima acaba de
dizer, ou através da postura corporal (inclinar se um pouco, olhar nos olhos);
 Reformular (ex.: “fui clara/o?”; “o que eu disse era compreensível?”; em vez de
“compreendeu?” ou “não percebeu?”)
 Manter o contacto visual com o emissor
 Manter o silencio enquanto o emissor fala, emitindo interjeições de encorajamento
(ex.:” hum-hum”, “sim, compreendo”) e, quando necessário, interromper
cordialmente.
 Responder dar feedback
 Não deixar transparecer as emoções pessoais
 Observar as reações. Fazer perguntas de controlo para verificar se está a ser
compreendido e a compreender adequadamente
 Começar por se apresentar, indicando o seu nome e função, tratando-a também de
forma personalizada, usando o nome da vítima
 Clarificar os objetivos e procedimentos do atendimento;
 Ser empático e mostrar respeito pelos sentimentos, comportamentos e as decisões
da vítima
 Ter disponibilidades para ouvir e apoiar;
 Saber lidar com os silêncios, com a desorganização emocional, ataques de choro,
hesitações
 Recorrer as estratégias de facilitação da comunicação;
 Informar
O TAV deve informar de um modo adequando e adaptado às características socioculturais do utente, e
de forma doseada. Ajudar a vítima a tomar decisões informadas, mas não tomar decisões por ela

 Resumir
 Questionar
 Voz
 A intensidade ou volume (forte/fraca; alto/baixo)
 O ritmo ou cadencia das palavras (monótono ou variado)
Especificidades no atendimento face a face (presencial)

 Pronunciar as palavras clara e corretamente


 Não falar muito alto nem muito baixo
 Não falar muito depressa nem muito devagar
 Não usar termos técnicos
Princípios de boa conduta e atitudes:

 Respeitar os direitos das vítimas;


 Respeitar a privacidade;
 Acreditar;
 Não dar concelhos pessoais, não fazer julgamentos nem emitir juízos;
 Não deve assumir competências estranhas á sua formação;
 Deve reconhecer os limites das suas próprias competências
 Assegurar a confidencialidade
Aspetos que podem colocar em causa a confidencialidade:

 Reconhecer os perigos que poderão advir, se ela não for eficazmente garantida
Questões gerais na intervenção:
Estado de crise
Crise:

 Não é um estado patológico


 É uma reação normal de adaptação a circunstâncias anormais
 Associa-se a outros, mecanismos de sobrevivência psicológica e emocional das vítimas de
violência
A severidade e duração de uma crise dependem fundamentalmente:

 Do grau e tipos de violência envolvidos


 Das capacidades e competências da vítima para enfrentar o problema
 Da intervenção ou apoio (formal ou informal) que recebe apos o episodio gerador de crise
A intervenção em crise é direcionada para a solução imediata do problema

 Focaliza-se nos acontecimentos ou situações precipitantes


 Procura potenciar as capacidades da vítima para se confrontar e lidar com o problema e as
suas consequências
Intervenção em crise - orientações globais para a atuação adequada dos profissionais no apoio à
vítima

 Valorizar a denúncia- reforçar a coragem e civismo ao comunicar o crime


 Validar a experiência- ter escuta empática e normalizar as reações apresentadas
 Restabelecer o controlo- esta associado á partilha de informação; não substituir a vítima na
tomada de decisão; respeitar as escolhas da vítima
 Romper a ideia de “vulnerabilidade única” - há mais pessoa a viver aquilo sem partilhar a
ideia que que aquilo que a vítima passou não é importante tem de haver equilíbrio nestas duas
vertentes. Faz se através do fornecimento de informações sobre o crime e a sua prevalência
 Prevenir a culpabilização- não criticar nem tecer comentários que possam levar a vítima a
pensar que a estamos a culpar pelo dano sofrido
 Prevenir o evitamento- a vítima evita certos locais e situações de forma a esquecer o ocorrido
e a não ser olhada de forma diferente por exemplo. No entanto é importante retomar as rotinas
 Promover o processamento emocional e cognitivo da experiência – deixar a vítima a falar e
não dizer para ela esquecer. A vítima vai narrar o que aconteceu o que sentiram e o que
sentem é muito importante na tarefa de se reorganizar. No entanto não a devemos pressionar.
 Prevenir novos crimes- através da discussão de estratégias de segurança
 Prevenir o isolamento- perguntar se já falou com alguém ou se sente que alguém que ela
conhece a pode ajudar, isto é, podemos ajudá-la a identificar pessoas- apoio social

Avaliação da problemática- recolha de informação:


O primeiro atendimento- 3 finalidades:

 Prestação de apoio emocional


 Recolha e prestação de informação: elemento essencial
 É importante que esta informação seja doseada e gerida de acordo com a situação
emocional da vítima
 Avaliação do grau de risco e plano de segurança pessoal
 Identificação de fatores de risco e proteção que podem ajudar a perceber se a vítima
possui risco alto ou baixo de voltar a ser vítima de crime
Quanto mais pormenorizada e relevante for a informação recolhida mais precisa poderá ser:

 Avaliação da(s) problemática(s)


 Avaliação do risco
 O levantamento das necessidades ao nível jurídico, psicológico e social
No final do atendimento devemos poder responder a estas 2 perguntas:

 Qual foi o crime?


 Quais são as necessidades de intervenção que nós identificamos
Guião de entrevista- 3 níveis de informação

 História de pré-vitimação e pessoal: história familiar da vítima e a história educacional e/ou


profissional; antecedentes de vitimação
 Narração da vitimação: as origens, a evolução e as dinâmicas de manutenção da vitimação
 Conhecer o detalhe do incidente de agressão
 Padrões de severidade e frequência
 Identificar fatores de risco para a ocorrência de novo episodio de violência
 Iniciativas de resolução do problema
 Se é violência continuada
 História pós-vitimação: informação acerca das condições de manutenção do problema, as
estratégias e os recursos pessoais para lidar com este, o que implica conhecer a rede de
suporte primária e secundária da vítima, aferindo o seu grau de isolamento social e familiar.

Exercício 1:

Aspetos a observar: Observações:


Contacto ocular
Postura

Pedofilia vs. violência sexual contra crianças: (importante distinção)


Pedofilia- É uma classificação psicopatológica, ta diagnosticada não. O autor de violência sexual pode
não ter diagnostico de pedofilia.
Violência sexual contra crianças:

 Formas: (alguns exemplos de comportamento associados á violência sexual contra crianças)


 Toques não desejados
 Comentários ou piadas de caráter sexual que fazem a vítima sentir se desconfortável
 Ser obrigada a assistir ou participar em filme de caráter sexual
 Forçar alguém a prostituir-se
 Grooming
 Ocorrência:
 Pontual
 Repetida
 Contexto:
 Intrafamiliar
 Extrafamiliar
 Online
Contexto intrafamiliar:
Atos sexualmente abusivos são cometidos por elementos da família, mais duradouro e com escalada
O autor partilha laços de consanguinidade e/ou forte vínculo afetivo com a criança, pode desempenhar
o papel parental (ex. pai e mãe ou padrasto e madrasta), pode ser um elemento do agregado da família
nuclear (ex. irmão e irmã) ou um membro da família alargada (ex. avô e avó)
Contexto extrafamiliar:
Violência sexual é perpetuada por elementos externos á família da criança (ex. vizinho, amigo da
família- não é da família, mas pode ter um acesso mais facilitado á criança.
Contexto online:
É uma nova abordagem por parte dos/das agressores/as sexuais e são fenómenos emergentes e
crescentes, que se dão muitas vezes pela reduzida ou quase inexistência supervisão parental no que
diz respeito a internet e redes sociais. Este tipo de vitimaçao poderá perpetuar-se no tempo
considerando que, no que diz respeito ao conteúdo pornográfico.

Tipo de severidade do abuso (Importante para o exame: ligar a severidade do abuso ao contexto em
que ocorreu)

 Muito severo
 Severo
 Menos severo
Contexto intrafamiliar- maior duração, abuso mais severo e intrusivo

Fatores de vulnerabilidade ao abuso:


- na família
 Famílias punitivas face á comunicação sobre temas sexuais
 Afetividade negativa
 Falta de afeto físico e emocional do pai em relação á criança
 Modelo familiar patriarcal: crianças são propriedades dos pais
 Isolamento social
 Relações incestuosas entre os membros da família
 Inadequação da relação conjugal
 Presença de um substituto paterno
 Baixo rendimento da família (ex. crowding)
Estratégias do/a autor/a do crime:

 Construção de uma relação de proximidade afetiva, de confiança ou de


amizade/familiaridade;
 Construção de laços de afetividade: os atos sexuais são percecionados pela criança como
demonstrações de afeto;
 Proporcionar á criança o acesso a bens materiais (ex. doces, jogos). Pode ser utilizada como
estratégias de culpabilização da criança por ter aceitado;
 Recurso á surpresa: o/a autor/a do crime adoto comportamentos inesperados para com a
criança/jovem (ex. surpreender a criança á noite, no quarto)
 Recurso ao engano (ex. “agora vamos fazer um jogo em que damos beijos na boca”)
 Ameaças de castigos
 Recurso á violência verbal e psicológica
 Recurso á violência física e á força
 Recurso ao segredo
 O abuso tende a ser progressivo: tende a começar por atos menos evasivos e evolui até ao
coito
O abuso como síndroma do segredo para a criança:
Fatores externos ao segredo

 Falta de evidencia médica: torna a situação de abuso difícil de provar se esta não envolveu
penetração
 Ameaças, violência, subornos
 Tentativas de revelação mal sucedidas
 Medo das consequências da revelação
Fatores internos ao segredo:

 Aspetos internacionais do segredo


 Contexto do abuso
 Transformação do abusador “noutra pessoa” - experiência dicotómica (ex. este é o
pai, este é o abusador)
 Interação abusiva no abuso sexual da criança
Fatores de intensificação do impacto do abuso sexual:

 Proximidade da relação ofensor-vítima


 Pratica de atos mais intrusivos
 Uso de força ou ameaça
 Maior duração e frequência
 Múltiplos abusadores
 Inicio precoce
 Abuso físico e sexual conjuntos
 Penetração vaginal ou anal
 Diferença de idades entre abusador/a vítima
 Tentativas de revelação mal-sucedidas
 Características da vítima: estilo atribucional, estratégias de coping
 Ausência de figuras de vinculação positivas e protetoras (falta de apoio e proteção parental)
Violência sexual contra mulheres
Conceito que possui definições diversificadas. Obrigar outra pessoas a praticar qualquer ato
sexual indesejado, independentemente da relação sexual ser ou não consumada
Formas de violência sexual
 Avanços/ toques não desejados
 Assédio sexual
 Forçar a iniciação sexual
 Coerção sexual
 Negar a contraceção
 Mutilação genital feminina
 Testes de virgindade
 Prostituição forçada
 Trafico e exploração sexual
Nota: a violação não implica sempre violência física.
A violência sexual pode não envolver a utilização de violência física

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