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Almanaque de

FISIOLOGIA
Maurício Barbosa Salviano
Almanaque de
FISIOLOGIA

Maurício Barbosa Salviano


Médico Veterinário (UFPI)
Mestre em Ciências Veterinárias (FCAV/UNESP)
Doutor em Medicina Veterinária (UFRGS)
Professor Adjunto do Curso de Medicina
Centro Universitário UniFacid
FOLHA DE ROSTO
COLABORADORES
Ana Flávia Machado de Carvalho
Fisioterapeuta
Doutora em Fisioterapia pela Universidade
Estadual da Paraíba (UEPB)
Professora UniFacid

Gabriela Dantas Carvalho


Fisioterapeuta
Doutora em Biotecnologia pela Universidade
Federal do Piauí (UFPI)
Professora da UniFacid

Kelson James Silva de Almeida


Médico Neurologista
Doutor em Ciências pela Universidade de São
Paulo (USP)
Professor da Universidade Federal do Piauí e
da UniFacid

Rayssa Maria de Araújo Carvalho


Médica Veterinária
Doutora em Patologia Experimental pela Fun-
dação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
Professora da UniFacid
PREFÁCIO
O Almanaque de Fisiologia foi um projeto arquitetado ao longo de cinco anos de carreira na do-
cência na disciplina de fisiologia, com o intuito de tornar um pouco mais lúdica e acessível uma
disciplina tão importante, complexa e extensa dentro das ciências da saúde.
Nosso objetivo foi fazer com que os alunos das várias áreas de saúde começassem a aplicar os
conhecimentos da fisiologia na prática clínica, essa por vezes executada fora dos padrões técnicos
necessários para a boa prática.
Várias pesquisas apontam que muitos profissionais de saúde não conseguem realizar as práticas
clínicas dentro das normas de segurança e/ou com a acurácia necessária para aferir a saúde dos
pacientes. Muitos erros técnicos são cometidos em hospitais, clínicas e unidades básicas de saúde,
desde a simples aferição de uma pressão arterial.
Este almanaque tem o proposito de ter uma linguagem simples e direta como uma conversa entre
professor e aluno, com bastante ilustrações, gráficos e links de material de apoio online.
Este material é composto de capítulos curtos com textos explicativos e informativos, roteiros de
práticas, temas para discussões, questionários, jogos e casos clínicos. No entanto, não se propôe a
substituir os grandes livros didáticos da literatura, posto que o material é apenas complementar.
No ensejo de que esta obra seja de muita valia para os futuros profissionais que irão conduzir
nossas integridades fisicas e mentais brevemente despeço-me agradecendo a todos os colabora-
dores (extremamente importantes e competentes em suas atividades profissionais) e aos leitores
(“executores”).

Maurício Barbosa Salviano


Teresina, Piauí, 2020
CONTEÚDO
Biossegurança e Procedimentos
Laboratoriais

Introdução no interior do laboratório não é permitido (exce-


to quando forem objetos de análise), não pode-se
Biossegurança é o termo utilizado para agru- comer, beber, fumar e/ou aplicar cosméticos nas
par procedimentos, ações, técnicas, metodologias, dependências do laboratório.
equipamentos e dispositivos com objetivo de evi- Uso de adereços como brincos, pulseiras e re-
tar e/ou minimizar os riscos de se contrair enfer- lógios devem ser evitados. Os materiais reagentes
midades em ambientes de trabalho ou situação de deverão ser armazenados e estocados em instala-
risco. ções apropriadas no laboratório.
Logo, falar em biossegurança envolve quatro A bancada de trabalho deverá ser descontami-
pilares importantes e interligados: meio ambien- nada ao final do trabalho e/ou sempre que houver
te, risco, acidente e ética (fig.1.1). Não podemos contaminação com agentes biológicos ou com ma-
avaliar riscos para a saúde do homem e de animais terial biológico potencialmente infeccioso.
sem que o meio ambiente não esteja envolvido, Materiais perfurocortantes deverão ser mani-
consequentemente, não podemos analisar os ris- pulados com muito cuidado. Agulhas não devem
cos sem antes prever acidentes. ser dobradas, quebradas, recapeadas, removidas
ou manipuladas antes de serem desprezadas. O
Classificação dos níveis de biossegu- descarte deste material deve ser realizado em cai-
xas de descartes especiais (Descarpack®).
rança As vidrarias quebradas deverão ser descartadas
com cuidado e protegidas para que não oferessam
A biossegurança é classificada em quatro níveis
perigos durante o manuseio do lixo. Todos os de-
de acordo com o gradiente de periculosidade, sen-
mais demais resíduos deverão ser descartados se-
do o nível NB-1, mínimo, e NB-4, grau máximo.
gundo as normas vigentes e de acordo com o Plano
NB-1: nível básico de contenção e compreende
a aplicação das Boas Práticas de Laboratório, sem
necessariamente exigir equipamentos específicos Ética
de proteção (cabines de segurança biológica, auto-
claves, etc), pois o trabalho pode ser realizado em
bancada. Neste nível enquadra-se praticamente
todas as atividades práticas propostas nessa obra.
No entanto, é indispensável que sejam observadas Meio
as informações pertinentes a segurança antes de Ambiente
cada atividade.
São normas comuns neste nível a lavagem de
mãos antes e depois de entrar no laboratório, em
caso de necessidade a pipetagem deve ser reali- Risco Acidente
zada apenas com o uso de aparelhos adequados Figura 1.1 Integração da ética, risco e acidente ccom o meio
(nunca com a boca), armazenamento de alimentos ambiente
11
Almanaque de Fisiologia
de Gerenciamento de Resíduos da instituição. ria ou de transmissão desconhecida, para os quais
Planos de Contingência e Emergência deverão não há meedidas profiláticas ou terapêuticas efica-
ser estabelecidos e divulgados a todos os profis- zes. Somente podem trabalhar nestes laboratórios
sionais do laboratório, devendo haver sempre um pessoas com formação e superior e altamente trei-
kit de primeiros socorros à disposição para o caso nadas para desenvolver as atividades.
de eventual acidente.
A rotina de controle de insetos, artrópodes e Normas gerais para o uso do labora-
roedores deverá ser descrita e mantida, a fim de
evitar sua presença no ambiente laboratorial.
tório de fisiologia
NB-2: Neste nível, todas as medidas do nível an-
terior devem ser revisadas e é recomendado que O trabalho no laboratório, seja em atividades
os profissionais e/ou operadores sejam subme- profissionais seja de aprendizado, exige que sejam
tidos à avaliação médica e recebam imunizações seguidas, rigorosamente, as regras de segurança
apropriadas aos agentes manuseados ou poten- para evitar acidentes e prejuízos de ordem huma-
cialmente presentes no laboratório (em casos de na ou material. Os acidentes podem ser evitados se
utilização de patógenos). Deve-se ter uma política devidas precauções forem tomadas ou, ao menos,
de manutenção, calibragem e descontaminação suas consequências minimizadas. A seguir estão
dos equipamentos, além de regulamentação com relacionadas algumas regras de laboratório:
relação ao uso dos equipamentos de proteção in- 1. É obrigatório o uso de jaleco de mangas
dividual (EPIs). Lembrando que ao sair do labora- com a logomarca da UniFacid, equipamento de
tório, estes devem ser retirados. Todos os proce- proteção individual (EPI), quando a prática em
dimentos devem ser cuidadosamente realizados. execução recomendar ou de acordo com as orien-
Devem ser minimizados a criação de aerossóis e tações do professor e/ou técnico
ou gotígulas. No caso de uso de materiais perfu- 2. Os usuários do laboratório devem usar cal-
rocortantes, só podem ser utilizados por pessoas ça e sapato fechado, não sendo permitido o uso de
com segurança. sandálias abertas, shorts, bermudas ou saias cur-
NB-3: Este nível de segurança é aplicável aos tas
laboratórios que utilizam patógenos que podem 3. Guardar em locais indicados pelo profes-
causar doenças em humanos e animais, potencial- sor, os objetos pessoais, como bolsas, livros e ou-
mente letais, por meio da inalação de agentes bio- tros
lógicos. Todas as medidas de NB-1 e NB-2 devem 4. Leia o roteiro de prática antes de iniciar o
ser aplicadas. É impressindível que neste nível de experimento
segurança os operadores devam receber treina- 5. Todos os instrumentos perfuro-cortantes
mento específico para o manejo de agentes e ma- devem ser manipulados com cuidado, as agulhas
terial biológico patogênico. não devem ser encapadas nem desconectadas das
NB-4: Este nível é indicado para o trabalho la- seringas descartáveis
boratorial com agentes biológicos com elevado po- 6. Não é permitido beber, comer, fumar ou
der de transmissibilidade e exóticos, que possuem aplicar cosméticos dentro do laboratório, devido
alto risco individual de infecção por via respirató- risco de contaminação

CUIDADO Tarja de alerta


Observar a coloração da tarja: verde
Uso eletivo de signi�ica que o equipamento de proteção
individual (EPI) é opcional, no entanto a
tarja vermelha indica a obrigatoriedade
dos EPIs

LUVAS TOUCA MÁSCARA ÓCULOS CUIDADO


Equipamento de Proteção Individual (EPI)
Todo EPI é altamente recomendado em laboratórios.
Algumas ocasiões eles precisam ser especi�icados, por
exemplo, luvas de látex são in�lamáveis, devem ser
evitadas em práticas que exige a manipulação de fogo.
Observar e atender sempre as recomendações do profes-
sor ou técnico.
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Biosegurança e Procedimentos Laboratoriais
7. É proibido armazenar comidas nas depen- aplicar gazes esterilizada embebida com solução
dências dos laboratórios ou geladeiras de conser- fisiológica, mantendo a compressa, até consultar o
vação dos reagentes médico. Caso o produto químico atinja o corpo, di-
8. É vetado o uso de aparelhos de som, tais rigir-se imediatamente ao chuveiro de emergência
como rádios, MP3, iPods, DVDs e CDs em quais- mais próximo. Em seguida, o acidentado deve ser
quer áreas do laboratório encaminhado para o hospital levando o nome da
9. Não é permitido o acesso ou permanência substância.
de pessoas não autorizadas no laboratório Os lava-olhos e chuveiro de emergência estão
10. Pessoas que tenham cabelos longos devem estrategicamente localizados no laboratório de
mantê-los presos enquanto estiverem no laborató- Bioquímica e laboratório Multidisciplinar I e II.
rio Acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Ur-
11. Higienizar as mãos ao entrar e sair do la- gência (SAMU – telefone 192) sempre que neces-
boratório sário, Corpo de Bombeiros (telefone 193).
12. A permanência de alunos nos laboratórios
só é permitida com a supervisão do docente ou Gerenciamento de resíduos
técnico do laboratório
13. Evite brincadeiras nos laboratórios Resíduos pontiagudos ou cortantes (vidraria
14. Ao terminar as atividades práticas deixe quebradas, agulhas, lâminas de bisturi, frascos de
tudo em ordem, nos locais adequados. vidro e ampolas) utilizados nos laboratórios deve-
rão ser colocados na caixa de perfuro-cortantes es-
Orientações em caso de acidentes pecífica que está fixada em cada laboratório. Agu-
lhas não devem ser reencapadas.
Todo acidente deverá ser informado ao pro- Culturas microbianas produzidas nos laborató-
fessor e técnico do laboratório. Em casos de lesão rios serão descaracterizadas em autoclave. A cul-
com sangramento, manter a calma e chamar o pro- tura quebrada deverá ser coberta com papel toa-
fessor ou técnico responsável. A UniFacid disponi- lha e hipoclorito de sódio 1% por 30 minutos. A
biliza em cada andar, uma caixa de primeiros so- seguir, o material quebrado e as toalhas de papel
corros com materiais para realização de curativos deverão ser recolhidos com a pá e desprezados em
e contenção do sangramento. sacos de resíduo infectante.
Nos casos de projeção de produtos químicos Peças anatômicas, pele e tecido adiposo, con-
nos olhos, não abrir os olhos, nem esfregar as mãos servados em formol, serão acondicionados em
na parte atingida, dirija-se imediatamente ao lava- saco vermelho duplo até o recolhimento pela em-
-olhos mais próximo. Permanecer com os olhos presa Sterlix. Caso contenha peças anatômicas de
fechados nos primeiros minutos, a área atingida humanos, deverá constar ainda descrição do con-
deve ser lavada por 15 a 20 minutos em seguida teúdo, data e nome da unidade geradora e a inscri-

Simbologia comum em laboratórios

Perigo de incêndio Perigo de eletrocussão Substâncias corrosivas Comburente

Risco radioativo Risco biológico Vários perigos Nocivo ou irritante

13
Almanaque de Fisiologia
ção “PEÇAS ANATÔMICAS”.
Animais utilizados em experimentos, carcaças
de animais, vísceras são encaminhadas ao freezer
em saco vermelho até o recolhimento pela empre-
sa Sterlix. Para animais mortos, carcaças e/ou vís-
ceras, alé das informações anteriores, constar tipo
de contaminação e a inscrição “PEÇAS ANATÔMI-
CAS DE ANIMAIS”.
Resíduos químicos que contenham íons de ma-
teais pesados ou solventes orgânicos não devem
ser dispensados na rede de esgoto, informe ao
técnico do laboratório para providenciar a emba-
lagem específica para resíduo químico.

ATENÇÃO
1. Leitura do roteiro de práticas
!
2. Treinar habilidades com os instrumentos e equipamentos

3. Observar atentamente a demonstração do


professor, técnico ou monitor

!!!
4. Replicar o experimento minuciosamente

5. Discussão dos resultados em grupo e posteriormente


com toda a sala
14
Homeostase e Estresse

Introdução O corpo humano é composto por mais de 75


A fisiologia é o estudo das funções orgânicas milhões de células imersas em uma variedade de
dos seres vivos para estabelecimento da vida. meios (meio extracelular), ou seja, várias concen-
Esta área do conhecimento é muito abrangente e trações de solutos como íons e outras pequenas
dependente de outras áreas como por exemplo a moléculas, água, pH, dentre outros. Para o bom
química, biologia celular e molecular, física, dentre funcionamento das células é essencial que níveis
outras; e, o estabelecimento da vida está atrelado à fisiológicos desses substratos se mantenham.
manutenção dos processos vitais, como por exem- No entanto, durante as atividades das próprias
plo, fornecimento de nutrientes para as reações células geram produtos de metabolismos (meta-
químicas (oxigênio, glicose, vitaminas, aminoáci- bólitos) que podem se acumular alterando o meio
dos, dentre outros). intra e extracelular. Essas alterações devem ser
corrigidas. Muitos mecanismos podem ser ativa-
dos ou inativados para o reestabelecimento e ma-
nutenção das funções.
A partir desta idéia surge o conceito homeos-
Fome Saciedade tase, processo pelo qual o organismo mantém a
sua condição “supostamente” ótima. Para ilustrar
esse funcionamento tomemos por base um am-
Calor Frio biente frio: para que nosso corpo mantenha as
funções corretamente, algumas adaptações são
necessárias (figura 2.1). Para manter o ar próximo
Hipertensão Hipotensão ao nosso corpo mais agradável ocorre a piloereção
arterial arterial (ereção dos pêlos), que mantem uma camada de
ar mais aquecida ao redor de nossa pele, ou, por
exemplo, os tremores musculares, que aumentam

Figura 2.1 Mecanismos de homeostase. A grande maioria dos processos fisiológicos são dependentes de mecanismos para sua
manutenção, por exemplo: quando a glicose diminui sua concentração no sangue (hipoglicemia) ativa os glicorreceptores no centro
da fome em nosso hipotálamo (SNC) que desencadeia a sensação de fome. Quando comemos a glicemia está alta os glicorreceptores
são inativados dando-nos a sensação de saciedade. Outro exemplo é que em ambiente quente nosso corpo recebe calor, que aumen-
ta sua temperatura, ativando os mecanismos de termorregulação (ativação da circulação mais periférica aumentando a liberação
de água para as glândulas sudoríparas e fazendo nos suar), para redução da temperatura. Enquanto que no frio esses mecanismos
são inibidos diminuindo o fluxo de sangue para as extremidades o que consequentemente deixam a pele mais branca (menos quan-
tidade de sangue), consequenetemente diminuindo a perda de calor. No último exemplo temos a pressão arterial: quando a pressão
sanguínea diminui do “normal” (hipotensão) são ativados baroceptores (receptores de pressão) na região das artérias carótidas
que mandam a informação para o cérebro aumentando a frequência cardíaca, por exemplo, o que aumenta a pressão. Quando a
pressão aumenta (hipertensão) esse mecanismo é bloqueado, diminuindo a frequência cardíaca e a pressão arterial, consequente-
mente, diminui.

15
Almanaque de Fisiologia
a temperatura de nossos corpos (devido ao au-
A Estímulo
mento do metabolismo muscular).
Devemos então pensar em homeostase como

Concentração sérica
Substância X
um processo de equilíbrio e por conseguinte, di-
nâmico. Dinâmico pois nosso corpo está a todo
momento sendo submetido à alterações extracor-
poreas (ambiente) ou intracorporea (demanda de
nutrientes). A todo momento ele está se adaptan- SubstânciaY
do às mudanças, em especial os sistemas nervoso,
Tempo
endócrino e imunológico.
B
Atuação da homeostase
Substância X
Os mecanismos de homeostase funcionam,

Concentração sérica
principalmente, através de sistemas de retroali-
mentação (feedback) positivos ou negativos. Onde,
feedback positivo é caracterizado pelo aumento de
um fator quando o mesmo fator ou outro relacio- SubstânciaY
nado já está alto no corpo (figura 2A); e o feedback
negativo é caracterizado pelo aumento de um fator
Tempo
quando este fator ou outro correlato está abaixo
de seu ponto de equilíbrio no sangue (figura 2B). Figura 2.2 Exemplos hipotéticos de feedback positivo (A) de-
monstrando que conforme uma substância X se concentra no
Na grande maioria dos mecanismos de home-
sangue induz o acúmulo da substância Y até que um estímulo
ostase utilizam feedback negativo, devido a autor- impeça o descontre da primeira substância; e a figura B repre-
regulação, já o feedback positivo geralmente leva a senta o feedback negativo onde o decréscimo da concentração
morte pois necessita de um estímulo para parar a de X induz o aumento de Y e vice-versa.
progressão dos níveis séricos da substância.
Um exemplo de feedback negativo é o nível sé- Homeostase e estresse
rico de insulina (hormônio que induz a captação Quando há uma alteração (estresse) maior do
de glicose pelas células adiposas, hepáticas, mus- que a nossa capacidade de responder e manter a
culares e nervosas) e a glicemia (concentração de homeostase, instala-se o um quadro patológico.
glicose no sérica). Já um exemplo de feedback po- Essa alteração pode ser por agentes externos ou
sitivo é o caso de hemorragia (perda de sangue) internos (psicológicos) causadores de estresse,
que gera um aumento na frequência de batimento incluem lesão, falta de nutrientes e invasão de pa-
cardíaco, que induz, consequentemente um au- rasitas ou de outros microorganismos. Em outras
mento da velocidade de perda de sangue. palavras; as doenças ocorrem quando a homeosta-
Em outras palavras o feedback positivo é conhe- se não é mantida.
cido como “ciclo vicioso”, pois o mecanismo induz Hans Selye, um endocrinologista austro-hún-
à instabilidade e ao desequilíbrio das funções do garo, conceituou em 1946 estresse como sendo
organismo. A disfunção dos sistemas de controle “a resposta não específica do corpo a qualquer
altera o meio interno promovendo o estado conhe- demanda, seja ela causada por, ou resultando, em
cido como doença: A disfunção generalizada ou de condições favoráveis ou não favoráveis” (SELYE,
órgãos vitais, pode provocar a morte. 1946).
No organismo mamífero quase todos as subs- Em suas pesquisas este autor ainda propôs que
tâncias que precisam de controle (quantidades ou a estas reações existe a Síndrome da Adaptação
concentrações específicas) dentro de um limite es- Geral (SAG), composta de três fases (figura 2.3):
treito possuem um ponto de ajuste (set point). Em ase de alarme ou alerta: onde há a rupturado
outras palavras, praticamente todas as substân- equilíbrio interno do indivíduo e a consequen-
cias que influenciam no metabolismo mamífero te mobilização para enfrentar o agente estressor.
possuem controles de retroalimentação. Nesta fase ocorre principalmente a ativação do
Estas substâncias incluem, por exemplo, a água sistema nervoso central autônomo (como veremos
e os íons (controlados através da osmolaridade em capitulos mais adiante) denominado por ativa-
pelo tronco encefálico e seus receptores osmó- ção do sistema de “luta ou fuga”.
ticos, situados no organum vasculosum), glicose Fase de resistência: onde ocorrem as respostas
(controlado através da concentração sérica pelas fisiológicas e comportamentais para manutenção
células beta-pancreáticas através da liberação de da homeostase. Essas respostas são ajustes dos ní-
insulina ou glucagon), dentre outros mecanismos veis de cortisol (hormônio do estresse) de acordo
existentes. com o agente estressor. São observados sinais de

16
Homeostase e Estresse

te
s t re ssan o) CORTISOL
rE gic
Fato u psicoló
oo
(�ísic Pertubações orgâni-
cas (insônia, perda da
libido, sensação de Fase de Recuperação
CORTISOL cansaço...)

Fase de Alarme Fase de Resistência

Alerta do sistema
nervoso central CORTISOL Fase de Exaustão
Comportamento de
“luta ou fuga”
Instalação
do processo
patológico CORTISOL
(doença)

Figura 2.3 Esquema proposto por Selye (1946) para estudar a Síndrome da Adaptação Geral (SAG) do indivíduo à fatores es-
tressantes. São observadas três fases no processo (com duas resoluções possíveis): a primeira diretamente decorrente do fator
estressante (seja ele físico ou psicológico) denominada de fase de alarme, onde o sistema nervoso central é ativado em resposta,
geralmente sendo ativado o comportamento de “luta ou fuga” para adaptação. Persistindo o fator estressante ocorre a fase de
resistência onde o organismo é re-adaptado para a nova condição, geralmente ocasionando hipertensão, insônia, sensação de can-
saço, perda da libido, entre outras; e findando por uma fase de recuperação onde o corpo reage positivamente, retornando ao seu
estado normal ou instalando-se o processo patológico (fase de exaustão). Um dos hormônios relacionados com todo este processo
é o cortisol (hormônio do estresse) que aumenta com o fator estressante, torna-se dentro da normalidade (na maioria das vezes)
durante a fase de resistência e decresce na recuperação, ou aumenta na intalação do processo patológico. No entanto, nesta última
fase pode-se observar um decréscimo em casos de resistência do corpo ao próprio hormônio denominada de Doença de Addison.

insônia, perda da libido, diminuição da imunidade, Objetivos


entre outros. Demonstrar a presença de mecanismos de re-
A terceira fase implica em duas resoluções pos- gulação das funções orgânicas e analisar a intera-
síveis. Caso o indivíduo consiga combater o agente ção entre os mecanismos de regulação de algumas
agressor com as modificações sistêmicas passa- funções corporais
mos à fase de recuperação, onde há o retorno à
homeostase. No caso de não conseguir neutralizar Materiais
o agente agressor entramos na fase de exaustão, Termômetro clínico
onde há sobrecarga energética e exaustão dos sis- Fita indicadora de pH e escala colorimétrica de
temas, levando à instalação das doenças. pH
Cronômetro

Procedimentos
Pulso radial
Colocar dois dedos (com exceção do polegar)
sobre a artéria radial, entre o osso rádio e o ten-
dão, na altura do punho. Posicionar os dedos do
CUIDADO mesmo lado do polegar do voluntário. Com a pol-
pa dos dedos, sentir a pulsação da artéria, dando
Uso eletivo de atenção à frequência, à intensidade e ao ritmo du-
rante um minuto.

Temperatura corporal
Verificar se a coluna de mercúrio do termôme-
tro está no nível zero. Constatado isso, colocar o
LUVAS TOUCA MÁSCARA ÓCULOS
bulbo do termômetro na boca do voluntário, em-
baixo da língua, deixando-o nessa posição por 3
minutos. Pedir ao voluntário para que permaneça
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Almanaque de Fisiologia
com a boca fechada, sem mexer no termômetro.
Após esse período, retirar o termômetro e fazer a
leitura da temperatura corporal do voluntário, to-
mando o cuidado de não tocar no bulbo.

Entende-se por R1, repouso 1 (antes do exercício); AEx, medidas logo após o exercício e R2, repouso 2 (após 15 minutos do final do exercício).
Frequência respiratória

Voluntários
Deve-se realizar a contagem de quantos mo-
vimentos respiratórios (inspiração e expiração,
conjuntamente) são realizadas no período de um
minuto.

pH bucal
Segurar uma das pontas da fita indicadora de
pH e introduzir, aproximadamente 1/3 da fita na

R1
boca do voluntário, mantendo-a dentro até o com-

Pulso Radial
pleto umedecimento com a saliva, colocar a pon-
ta da fita sob a língua a fim de favorecer o contato

AEx
com o líquido bucal. Após 10 segundos retirar a
fita e fazer a leitura, comparando a reação de cor
ocorrida com a escala colorimétrica fornecida na

R2
caixa de fitas.

1. Determinar o pulso radial, a frequência respi-


ratória, a temperatura corporal e o pH bucal de

Frequência Respiratória
R1
2 alunos voluntários (alunos que não tenham
impedimento para a realização de esforços fí-
sicos). A essas aferições daremos o nome de re-

AEx
pouso 1 (R1)
2. Solicitar aos voluntários que realizem exercí-
cios físicos (por exemplo: polichinelo, correr,
subir escadas, ou outros) por 5 minutos

R2
3. Imediatamente após a realização do exercício
físico determinar o pulso radial, a frequência
respiratória, a temperatura corporal e o pH bu-

Temperatura Corporal
R1
cal. Anotar os resultados (AEx)
4. Colocar os voluntários em repouso por 15 mi-
nutos. Após esse período, proceder novamente
AEx

à determinação dos parâmetros em estudo (re-


pouso 2, R2)
5. Preencher o quadro a seguir.
R2

Discussão
• Quais alterações foram detectadas com o
exercício? O repouso restaurou as condi-
R1

ções?
• Qual a relação funcional entre os parâme-
pH bucal

tros estudados?
AEx

• Por que ocorrem estas alterações provoca-


das pelas manobras experimentais?
R2

18
Homeostase e Estresse
Bibliografia
HALL, J. E. Organização funcional do corpo humano e controle
do “meio interno”, In: Tratado de fisiologia médica, 12 ed.,
Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Homeostasia dos líquidos
corporais, In: Berne & Levy: Fisiologia, 6 ed., Rio de Janei-
ro: Elsevier, 2009.
McEWEN, B.S.; WINGFIELD, J.C. What´s in a name? Integrating
homeostasis, allostasis and stress. Hormones and Behavior

CRUZADAS
n.57, v.2, p.105-111, 2010.
RAFF, H.; LEVITZKY, M. Conceitos básicos de fisiologia, In:
Fisiologia Médica: Uma abordagem integrada, 1 ed., Porto
Alegre: Artmed, 2012.
SELYE H. The general adaptation syndrome and the diseases
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lism, v. 6, n.2, p.117-230, 1946.
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SOUSA, M.B.C.; SILVA, H.P.A.; GALVÃO-COELHO, N.L. Resposta
ao estresse: I. Homeostase e teoria da alostase. Estudos de

PALAVRAS

em
Psicologia, v.20, n.1, p.2-11, 2015.

1. Tipo de feedback entre glicemia e secreção de insulina.


2. Equilíbrio dinâmico do corpo humano.
3. Sistema orgânico responsável pela secreção de hormônios e sensivelmente susceptível à fatores estressantes.
4. Tipo de feedback entre a leptina (hormônio liberado pelos adipócitos) e a fome.
5. Vaso presente no pescoço facilmente palpável para detecção do pulso arterial.
6. Hormônio produzido e secretado pelas glândulas adrenais com função de adequar o corpo humano à condições de estresse.
7. Variação do sistema nervoso neurovegetativo capaz de adaptar o corpo humano às condições de estresse.
8. Sinônimo de retroalimentação.

19
Antropometria e Metabolismo

Introdução atividade (vigília) ou em relaxamento (descanso,


Metabolismo pode ser conceituado como sendo sono). Quando em relaxamento ou em menor es-
a totalidade das reações químicas do corpo. Todos forço físico possível, dá-se o nome de metabolis-
os animais apresentam o mesmo metabolismo? mo basal.
Existe variação entre indivíduos dentro da mesma De acordo com a Organização Mundial de Saú-
espécie? de (World Health Organization, WHO, 1985), vá-
O metabolismo é extremamente variável en- rios fatores podem influenciar no metabolismo,
tre e dentro das espécies! por exemplo, o sexo, atividade física, composição
Logo, em um indivíduo que faz rotineiramente corporal, volume do corpo, idade, entre outros.
atividades físicas acelera seu metabolismo quando Logo, podemos concluir que cada indivíduo
comparado com outro que não as faz. Isso porque tem sua própria demanda de nutrientes, por isso
a atividade física acelera o número de reações quí- foi criada a taxa de metabolismo basal (TMB) que
micas para manutenção das atividades e manuten- pode ser definida como a quantidade básica de
ção do corpo. Este fato se relaciona indubitavel- energia para a manutenção das funções do orga-
mente com a demanda energética do corpo. nismo em condições de repouso, varia em função
Sabendo que as reações dos organismos são ba- do sexo e da idade, sendo comumente empregada
sicamente exotérmicas (quadro 3.1) e produzidos como indicador associado à porção significativa
principalmente pelo metabolismo das gorduras,
carboidratos e proteínas (GARCIA, 2002), quanto A B
maior o número de células e maior a quantidade
de reações, maiores são as temperaturas. Ou seja,
em teoria, quanto mais células maior o metabolis-
mo, embora o corpo humano siga um padrão (fi-
gura 3.1).
Pode-se então observar que indivíduos com
maiores quantidades de tecido adiposo (na qual
aumenta-se o volume das células, em especial adi-
posas) possuem menor metabolismo, posto que
têm menor gasto de energia e, consequentemente
acumulando energia em forma de lipideos.
Existem dois tipos de reações metabólicas: as
reações que acarretam o armazenamento de ener-
gia (anabolismo) e as que acarretam liberação de
energia (catabolismo).
37oC 36oC 34oC 32oC 31oC 28oC
Na fisiologia e ciências correlatas, como por
exemplo a farmacologia, é imprescindível que con- Figura 3.1 Variação da temperatura corporal de acordo com
algumas regiões do corpo, onde A indica as temperaturas su-
sideremos os vários tipos de metabolismo, seja em
perficiais e B as profundas.
21
Almanaque de Fisiologia
Quadro 2.1 Reações exotérmicas
Reações exotérmicas são aquelas em que o os reagentes possuem Entalpia (H)
maior entalpia (HR), em outras palavras, conteúdo de calor maior o
çã
que os produtos (HP), logo a variação de entalpia (ΔH) é negativa: e ra alor
HÙ b
ΔH = HP - HR Li de c
ΔH
“Reações exotérmicas liberam calor, HP
ou seja, esquentam o sistema ou ambiente!”
o corpo humano!!
(60 – 70%) da quantidade total do dispêndio de O2 controlado
energia diário (BRUNETTO et al., 2010).
Para determinar a TMB existem basicamente
duas formas, calorimetria indireta (CI) (figura 3.2) O2 expirado
e extrapolação matemática. A primeira apesar de
ser mais precisa exige aparelho específico e caro
quando comparado ao método matemático, po-
rém, muito menos preciso.
Parte do O2 substituido
Objetivo por CO2
Determinar a massa corporal, altura, área de
superfície corporal (ASC), o índice de massa cor- Figura 3.2 Funcionamento da calorimetria indireta. Saben-
do-se qual a porcentagem de oxigênio (O2) no ar inspirado e
pórea (IMC), a circunferência abdominal e a espes-
sabendo que este é substituido por gás carbônico (CO2) nos
sura do tecido adiposo abdominal de 10 voluntá- pulmões, basta analisar o ar expirado e comparar com o ins-
rios. pirado. O metabolismo está diretamente relacionado com o
consumo de O2.
Materiais
Fita métrica tura do indivíduo em centímetros (cm) e M a massa corporal
Balança medida em quilogramas (kg).
Adipômetro
Papel e caneta Deve-se calcular o IMC de todos os volun-
Calculadora tários através da fórmula abaixo.

Procedimentos
Cinco homens e cinco mulheres deverão se Sendo: M, a massa corporal em quilogramas (kg) e h, a altura
ℎ×𝑀 em metros (m).
voluntariar 𝐴𝑆𝐶 =
A massa dos dez3600
indivíduos será medida
com auxílio de uma balança corporal Deve-se realizar a medida do tecido adipo-
A altura será aferida utilizando-se a fita so e da circunferência abdominal de cada voluntá-
métrica rio
Deve-se realizar o cálculo da ASC através Após a coleta dos dados deve-se tabulá-los
da fórmula abaixo em planilha (abaixo), observar e discutir os resul-
tados.
𝑀
𝐼𝑀𝐶 =
ℎ² Discussão
Sendo: ASC, área de superfície corporal medida em m², h a al- • Como o sexo, idade, massa, área de super-
fície corporal, índice de massa corporea,
porcentagem de gordura corporal e circun-
CUIDADO ferência abdominal podem influenciar no
metabolismo?
Uso eletivo de • O uso de medicamentos nos tratamentos
de uma determinada enfermidade pode ser
afetado pelo metabolismo? Imagine dois in-
divíduos um com 8 anos e 1,5 m e outro com
25 anos e 1,8 m, ambos com a mesma mas-
sa, 60 Kg. Estes indivíduos deverão receber
LUVAS TOUCA MÁSCARA ÓCULOS
a mesma quantidade de uma determinada
22
Antropometria e Metabolismo
diminui sua eficácia.
Através de uma absorção intestinal, a droga
chega primeiramente ao fígado (metabolismo de
primeira passagem ou pré-sistêmico) que é capaz
de extrair e metabolizar com muita eficiência sua
quantidade. Em outras palavras, o metabolismo de
IMC IMC IMC IMC IMC IMC um indivíduo afeta diretamente na capacidade de
<18,5 18,6 - 24,9 25,0 - 29,9 30,0 - 34,9 35,0 - 39,9 >40,0 degradar as drogas sendo necessária a correção da
Abaixo do Levemente Obesidade Obesidade Obesidade dose do medicamente de acordo com o estilo de
Peso Ideal acima do vida do indivíduo.
peso grau I grau II grau III
peso
Além do mais ainda existe a influência da com-
Figura 3.3 Classificação do índice de massa corporal (IMC) de posição química do medicamento que, por vezes,
acordo com a Organização Mundial de Saúde
pode fazer com que sua excreção seja mais rápida
(também afetada pelo metabolismo). A essas duas
droga? Discuta observando a classificação condições (e outras) damos o nome de farmaco-
do IMC simplificado (figura 2.5) cinética.
• O exercício físico é uma atividade estres-
sante? Desenvolva um raciocínio com base Bibliografia
na síndrome da adaptação geral. BRUNETTO, B.C.; GUEDES, D.P.; BRUNETTO, A.F. Taxa metabó-
• O que é bioimpedância? Como se aplica lica em universitários: comparação entre valores medidos
e preditos. Revista de Nutrição, v.23, n.3, p.369-377, 2010.
nessa prática?
GARGIA, E.A.C. Biofísica. São Paulo: Sarvier, 2002.
HALL, J.E. Guyton & Hall - Tratado de fisiologia médica, 12 Ed,
Interdisciplinaridade Rio de Janeiro: Elsevier, 2011
WHO, Energy and protein requirements: Report of a joint
Farmacologia FAO/WHO/UNU expert consultation. WHO Technical Re-
A ação de um fármaco está estritamente rela- port Series, N.724. Geneva. 1985.
cionada com a sua concentração no líquido inters- WHO, Physical status: The use and interpretation of anthro-
ticial do tecido-alvo, logo, é de se imaginar que em pomtry. WHO Technical Report Series, N. 854, Geneva,
1995.
indivíduos com maior metabolismo a inativação
ou excreção das drogas sejam mais rápidas o que

Tecido
Idade Massa Altura ASC IMC Circunferência
# Nome Sexo Adiposo
(anos) (kg) (m) (m²) (kg/m²) Abdominal (cm)
(%)

10

23
Almanaque de Fisiologia

CRUZADAS
1. Principais fontes de energia para o corpo humano.
2. A síntese de proteína a partir de aminoácidos é considerada uma reação de _______________.

fisiologia
3. Podem sofrer beta-oxidação e são consideradas a terceira fonte de energia do organismo.
4. Produção de glicose a partir de substratos não glicídicos.
5. Durante a digestão de um determinado alimento é quebrado em moléculas menores.
Esta é uma reação de ___________.

PALAVRAS
em

6. Termo utilizado para expressar a concentração de glicose no sangue.


7. No estado catabólico do organismo esta substância se degrada formando corpos
cetônicos.
8. Hormônio que induz o anabolismo go glicogênio.
9. Nucleotídeo que possui adenina e ribose (açúcar) como estrutura para uma cadeia de
três fosfatos.
10. Hormônio que induz o catabolismo de glicogênio.

24
Atividade de Membrana

Introdução característica desse tipo de organela é o compo-


Para o entendimento de toda a base fisiológica nente estrutural, geralmente, proteínas polipeptí-
dos seres vivos é necessário um bom entendimen- dicas.
to da funcionalidade e estrutura celular. A célula As organelas membranosas, como o próprio
é uma unidade básica composta de moléculas or- nome já informa têm como principal componente
gânicas e inorgânicas que dão origem à vida, se- a membrana que é formada pelas macromoléculas
jam estas unicelulares ou pluricelulares. Apesar de carboidratos, proteínas e lipídios (semelhante ao
existirem inúmeros tipos de células, aqui faremos que já se conhece da membrana plasmática).
referência apenas aos tipos eucariontes, que, por
sua vez se diferenciam das procariontes devido à Membrana plasmática
quantidade de membrana em seu interior. É a parte mais externa do citoplasma e separa
Devido a grande quantidade de membrana a o meio intracelular do extracelular. Tem cerca de
célula eucarionte possui um núcleo individualiza- 7 a 10 nm de espessura. Tem a função primordial
do, muitas vezes citado como principal diferença de manter a homeostasia celular, posto que é ca-
quando comparadas às procariontes. No entanto, paz de permitir a passagem seletiva de nutrientes
ambos os tipos celulares possuem a membrana (permeabilidade seletiva, extremamente impor-
plasmática (envoltório celular), material genético tante na fisiologia).
(RNA ou DNA) e ribossomos. Em eletromicrografias (imagens geradas a par-
Durante a evolução, sugere-se que as células tir de microscópios eletrônicos), a membrana é
eucariontes cresceram excessivamente o que ori- composta de três camadas duas linhas escuras se-
ginou a internalização de parte da membrana ge- paradas por uma linha clara (trilaminar), embora
rando estruturas mais complexas como as orga- saiba que, quimicamente, seja composta por ape-
nelas (estruturas subcelulares) que conhecemos, nas duas camadas de fosfolipídios (figura 4.2).
inclusive o próprio núcleo, à esta teoria foi dado o Na camada externa de fosfolipídios existem im-
nome de autogenia. Existem vários tipos de orga- pregnadas várias moléculas de glicoproteínas (gli-
nelas classificadas em membranosas ou não, ou de cocálix), geralmente com função de identificação e
acordo com sua função. Algumas destas organelas interação intercelular.
são mostradas em maiores detalhes na figura 4.1. Os lipídeos formadores da membrana são mo-
léculas grandes com uma extremidade hidrofílica
Tipos de organelas e uma hidrofóbica (lipofílica), por isso são chama-
As organelas membranosas são as mais nume- das de anfipáticas.
rosas dentro de uma célula eucarionte, dentre elas Imersas nestas camadas lipídicas encontramos
temos as mitocôndrias, lisossomos, peroxissomos, proteínas constituindo um modelo didático de
retículos endoplasmáticos, complexo de Golgi, mosaico fluido, ou seja, estas proteínas não estão
dentre outras. fixadas em locais específicos, elas são móveis. Este
Já as organelas não membranosas temos os ri- modelo serve para as demais membranas presen-
bossomos, centríolos e citoesqueleto. A principal tes na célula, como por exemplo nas mitocôndrias,
25
Almanaque de Fisiologia

Núcleo
Centro de controle de todas as a�vidades celulares;
Presença de cromossomos (que contém grande parte do
genoma); Formato variável (dependente do �po celular);
Corados com hematoxilina (corante alcalino); Possuem
como estruturas o envoltório nuclear (carioteca), croma�-
na, nucléolo, matriz nuclear e nucleoplasma.

Centríolo Re�culo Endoplasmá�co Liso


Organelas formadas por unidade formadora de microtúbu- Formato de túbulos anastomosados; membrana do REL é
los que estruturam o citoesqueleto; Têm a função de con�nua com o RER; Funções variadas dependendo da
produção de microtúbulos; São importantes para o célula, como por exemplo, produção de esteróides,
formato da célula (citoesqueleto) e na divisão celular, na oxidação e me�lação (ina�vação de substâncias no
formação dos fusos mitó�cos. �gado), síntese de fosfolipídios, dentre outras.

Complexo de Golgi
Lisossomos
Conjunto de vesículas achatadas e empilhadas com as
porções periféricas dilatadas; Localização geralmente Vesículas delimitadas por membranas e seu conteúdo
próxima ao RER e ao núcleo; Possui uma parte convexa possuem enzimas; Diâmetro 0,05 a 0,5 um; Função de
chamada de cis (próxima ao núcleo) e uma parte concava digestão celular; As principais enzimas dos lisossomos são
chamada de trans; Principal função é formação de fosfatase ácida, ribonuclease, desorribonuclease, protea-
membranas, ou seja, formação de vesículas que vão se, sulfatase, lipase e betaglicuronidase.
englobar proteínas, e outras substâncias, por exemplo,
lisossomos e peroxissomos.

Mitocôndria
Re�culo Endoplasmá�co Rugoso
Organelas esféricas ou alongadas; Medem de 0,5 a 1,0 um
Cisternas saculares de membrana con�nuada do núcleo; de largura até 10 um de comprimento; Distribuição
Possui polirribossomos aderidos; Abundância em células variada nas células, porém tendem a se acumular onde há
secretoras; Função de tradução de mRNA, montagem de a necessidade de energia (dependendo do �po celular);
proteínas com mul�plas cadeias polipep�dicas, glicosila- São formadas por duas membranas (interna e externa); A
ção inicial das glicoproteínas. principal função das mitocôndrias é a produção de
moléculas orgânicas capazes de armazenar energia, como
a adenosina trifosfato (ATP).

Ribossomo
Peroxissomos
Pequenas par�culas compostas de quatro �pos de RNA
Organelas esféricas, limitadas por membrana, com ribossômicos (rRNA) e cerca de 80 proteínas diferentes;
diâmetro de 0,5 a 1,2 um; Funções enzimá�cas como Cons�tuidos de duas subunidades de tamanhos diferen-
betaoxidação de ácidos graxos, síntese de ácidos biliares e tes; Chamados de polirribossomos quando ligados a uma
de colesterol. molécula de mRNA; Função de codificação de proteínas
(uma das etapas de tradução do mRNA).

Figura 4.1 Ilustração de uma célula eucarionte hipotética e os detalhes de algumas de suas organelas.

26
Atividade de Membrana
complexo de Golgi, carioteca, entre outros. para o hipertônico. Os transportes ativos, geral-
A cabeça hidrofóbica dos lipídios (ou também mente se dão contra o gradiente de concentração
chamada de apolar), fica voltada para fora da pró- (do meio hipotônico para o hipertônico).
pria membrana, enquanto que a parte hidrofílica Quando ocorre o transporte de apenas uma
(polar) fica para o interior. substância, damos o nome de uniporte, enquanto
As proteínas da membrana plasmática são clas- que se estiverem envolvidas duas ou mais subs-
sificadas em dois tipos, as integrais (intrínsecas) tâncias no mesmo sentido chamamos de simporte
ou periféricas (extrínsecas), de acordo com sua (co-transporte) ou, caso sejam em sentidos opos-
facilidade de serem extraídas da membrana. Com tos chamamos de antiporte (contraporte) (figura
isso sugere-se que as proteínas integrais sejam em 1.3).
sua maioria hidrofóbicas enquanto que as periféri-
cas hidrossolúveis (figura 4.2). Transporte através da membrana
As proteínas integrais são macromoléculas que plasmática
podem ser re-divididas em simples (de uma pas- A homeostase celular em sua grande maioria é
sagem somente) ou de múltiplas passagens. Boa mantido pela sua propriedade semipermeável. As
parte destes tipos de proteínas tem a funcionalida- substâncias lipofílicas (apolares) podem se difun-
de de permitir a passagem de substâncias polares dir através da membrana, no entanto, substâncias
(transporte transmembrânicos). A essas proteínas grandes como a glicose, ou com polaridade, como
damos o nome de canais ou permeases. o caso dos íons (Na+, Cl-, HCO3-, dentre outros) não
Os transportes através da membrana plasmáti- permeiam a célula.
ca podem ser de dois tipos passivos (sem consumo É interessante saber que a água (H2O) apesar
energético) ou ativos (com consumo energético). de não elétrons sobrando ou faltando, possui uma
Os transportes ativos podem ser redistribuídos em polaridade, devido a distribuição das cargas, por
primários (com consumo de moléculas orgânicas) isso é chamada como dipolo. Logo, também não
ou secundários (ativados por elementos inorgâni- permeia a membrana com facilidade, é necessá-
cos, como por exemplo o sódio) (mapa conceitual rio um poro de água, denominado de aquaporina
4.1). (AQP).
Os transportes passivos ocorrem por conta de As proteínas que fazem esta passagem podem
um gradiente de concentração, ou seja, no caso dos ser chamadas de canais iónicos ou proteínas carre-
solutos, sempre do meio mais concentrado (hiper- adoras no caso de efetuarem suas funções contra o
tônico) para o menos concentrado (hipotônico). gradiente de concentração.
No caso dos solventes se dá do meio hipotônico Na difusão simples ocorre a passagem de subs-

Figura 4.2 Membrana plasmática e sua dupla camada fosfolitídica além de algumas proteínas integrais e periféricas que forma
canais ou estruturas de identificação celular (glicoproteínas) de manutenção do formato e transpote intracelular (citoesqueleto).

27
Almanaque de Fisiologia
tâncias através da membrana plas-
mática sem que haja uma proteína
para mediar (atravessam a dupla
camada de fosfolipios). As principais
substâncias que realizam esse tipo
de transporte são os gases como o
oxigênio (O2), o dióxido de carbono
(CO2) ou monóxido de carbono (CO).
Na difusão facilitada o processo
é mediado por uma proteína, como
já foi dito, geralmente, tratam-se de
substâncias polares (como os íons ou
Mapa conceitual 1.1 Tipos de transportes através da membrana plasmática. Entende-se
a própria água) ou grandes como no por transportes passivos os tipos que se dão a favor de um gradiente de concentração e os
caso da glicose, frutose, lactose. ativos são contra o gradiente de concentração, logo necessitam a mobilização de algum
Os termos citados acima são le- tipo de energia, seja esta por meio de moléculas orgânicas como por exemplo a adenosina
trifosfato (ATP) ou guanosina trifosfato (GTP), ou ainda devido à força eletroquímica de
vados em consideração quando a íons como por exemplo o sódio (Na+) ou potássio (K+).
substância que fará a passagem da
membrana é um soluto. Para os solutos o termo
utilizado é osmose.
Todos esses processos acontecem sem que haja
o gasto energético para a célula, logo são chama-
dos de passivos. No caso das substâncias onde é
necessário o investimento energético para a célula
são chamados de ativos. Embora, nem sempre este
investimento energético seja na forma de uma mo-
bilização de moléculas orgânicas como a adenosi-
na trifosfato (ATP) ou guanosina trifosfato (GTP). Figura 4.3 Tipos de transportes através da membrana de acor-
Aos transportes ativos que utilizam moléculas do com o sentido do movimento das substâncias. Entende-se
orgânicas damos o nome de primários, e, aqueles por uniporte a movimentação de uma substância (A) através da
membrana, independente do seu sentido para o meio intracelular
que utilizam somente a força de íons (decorrentes ou para o extracelular; Antiporte é o transporte de duas ou mais
do gradiente de concentração) damos o nome de substâncias (B e C) no qual se apresentam em sentidos opostos;
secundários. Simporte é o transporte de duas ou mais substâncias (D e E) no
O principal íon utilizado nos transportes ativos mesmo sentido, seja para fora ou para dentro da célula.
secundários para dentro da célula é o sódio (Na ), +

enquanto que para a saída de substâncias, o potás- As mitocôndrias são as organelas responsáveis
sio (K ).
+ pela produção de energia nas células. Estas orga-
O principal exemplo que temos para os trans- nelas possuem duas membranas (uma interna e
portes ativos secundários é a bomba de sódio/gli- uma externa), entre ambas existe um espaço in-
cose, no qual para carregar a glicose para dentro termembranoso e mais internamente a matriz. A
das células é necessário a mobilização (entrada) membrana interna é pregueada formando superfí-
de sódio, por exemplo nas células intestinais ou cies planas denominadas de cristas.
tubulares proximais dos rins. Algumas células po- No entanto a função mitocondrial não se res-
dem transportar glicose para seu interior através tringe somente à produção de energia (ATP), mas
de difusão facilitada (mais comum). também geram calor e participam na síntese de al-
De qualquer forma essas proteínas que trans- guns lipídios e proteínas (em especial as utilizadas
portam glicose são chamadas de Glucose transpor- como enzimas no processo de respiração celular).
ter (GLUT), que são dependentes do tecido anali-
sado e/ou de sua localização no genoma mamífero, Ribossomos
daí a grande variedade de GLUTs (tabela 4.1). Os ribossomos são pequenas organelas não
membranosas compostas por duas subunidades
Mitocôndrias que se mantêm como partículas individualizadas
até que seja iniciado o processo de síntese de pro-
teína. As duas subunidades têm porte e constitui-
ção diferentes; a maior tem tamanho de 60S, e a
menor, de 40S.
Cada subunidade é composta de proteínas e
RNA ribossomal (rRNA), e juntas funcionam como
28
Atividade de Membrana
uma plataforma que fornece não apenas Tabela 4.1 Tipos de transportadores de glicose (GLUT), sua localização no ge-
noma humano, presença nos tecidos e dependência de insulina para ativação e
uma superfície sobre a qual ocorre a sín- transporte para o interior da célula
tese proteica, mas também um catalisa-
dor que facilita a síntese de proteínas. Tipo
Endereço
Tecido
Dependencia
Genômico de insulina

Retículo endoplasmático Eritrócitos, rins, cérebro, placenta


O reticulo endoplasmático é um com- GLUT-1 1p35 e em pequenas quantidades no Não
tecido adiposo e muscular
plexo composto por duas organelas, o
retículo endoplasmático rugoso (RER) e GLUT-2 3q26
Hepatócitos e células beta-pan-
Não
o liso (REL). Cada uma possui suas estru- creáticas
turas e funções bem definidas. O retículo Multiplos tecidos, em especial no
endoplasmático rugoso recebe este nome GLUT-3 12p13 Não
cérebro, placenta e rins
por apresentar em suas membranas po-
liribossomos aderidos, possuem formato GLUT-4 17p13
Músculos esqueléticos e cardíaco
Sim
de sacos sobrepostos e se comunicam in- e tecido adiposo
timamente com o interior do núcleo atra- Intestino delgado, rins, testículos
vés de poros (a formação da membrana GLUT-5 1 Não
e eritrócitos
do RER é basicamente uma extensão da
membrana nuclear). A principal função GLUT-6 ? Cérebro e leucócitos Não
do RER é a tradução de proteínas (trans-
formação de RNA mensageiro para prote- Retículo endoplasmático dos
ína). O retículo endoplasmático liso é uma GLUT-7 ? Não
hepatócitos
organela de está em comunicação com o
Entende-se por endereço genômico o posicionamento do gene dos transporta-
RER (como um prolongamento) e tem um dores de glicose (GLUT), sendo o primeiro número o cromossomo, p o braço
formato de dedos. Não apresentam ribos- curto do cromossomo, q o braço longo e os números subsequentes a distância
somos aderidos, por isso o nome liso. As para o centrômero.
principais funções dos REL são síntese de
carboidratos e lipídeos. tão do material.

Complexo de Golgi Peroxissomos


O complexo de Golgi é uma organela composta Os peroxissomos são organelas vesiculares, re-
por um conjunto organizado e orientado de vesí- vestidas por membrana e com enzimas oxidativas
culas, túbulos e cisternas achatadas, limitados por no seu interior. Dentre as principais enzimas te-
uma membrana. mos: urato oxidase, D-aminoácido oxidase e cata-
Essas organelas possuem duas faces, uma de lase. Essas organelas tem como função a produção
entrada, também chamada de face cis, voltada para de radicais livres (que realizam a destruição de vá-
o núcleo e uma face trans voltada para a membra- rias substâncias), proteção da célula ao degradar
na celular. o peróxido de hidrogênio (muito nocivo à célula)
A principal função desta organela é empaco- pela catalase e desintoxicação de algumas toxinas
tamento de macromoléculas produzidas no RER. e no alongamento de alguns ácidos graxos durante
Dificilmente uma proteína é capaz de atravessar a síntese lipídica.
a membrana plasmática, logo, é necessário empa-
cotar essa proteína com uma membrana que será Centríolos
absorvida pela membrana da célula, expulsando a Os centríolos são organelas não membranosas
proteína para fora. compostas basicamente de um composto proteico
que forma os microtúbulos. Estas organelas são
Lisossomos importantes para a formação do citoesqueleto (dá
A atividade digestória da célula em sua grande a forma da célula), no posicionamento das subes-
maioria é responsabilidade dos lisossomos, que truturas (organelas) celulares, além de ser funda-
são organelas vesiculares (membranosas) com um mental para a divisão celular por formar o fuso
interior repleto de enzimas hidrolíticas. Ao reali- mitótico que vai posicionar e distribuir o conteúdo
zar a fagocitose as células processam o conteúdo da célula mãe para as filhas.
através da fusão das membranas do fagossomo
com o lisossomo, dando origem a um composto
fagolisossomo, possibilitando assim a ativação das
enzimas e consequentemente realizando a diges-
29
Almanaque de Fisiologia
Procedimentos
CUIDADO 1. Preparar soluções aquosas de cloreto de sódio
nas concentrações 0,6; 0,9 e 4,0%. Para prepa-
Uso obrigatório de
ração das soluções pesar 0,3 g de NaCl (solução
1 – hipotônica); 0,45 g de NaCl (solução 2 – iso-
tônica) e 2,0 g de NaCl (solução 3 – hipertôni-
ca). Cada quantidade deve ser adicionada em
50 mL de água destilada e agitar até completa
LUVAS TOUCA MÁSCARA dissolução.
2. Coletar sangue de um voluntário, utilizando um
tubo com EDTA (etilenodiaminotetracético).
Lembre-se que cada tubo de coleta tem um vo-
lume adequado de sangue (apresentado no ró-
tulo do tubo).
3. Aliquotar e diluir o sangue na proporção 1:200
em cada uma das três soluções preparadas na
Risco biológico Risco Perfurocortante etapa 1, para isso utilize os tubos de ensaio.
4. Homogeneizar (agitar) lentamente cada sus-
penção durante 20 segundos.
Objetivo 5. Colocar uma gota de cada suspenção sobre uma
Avaliar o comportamento da célula frente à vá- lâmina e cobrir com uma lamínula.
rias concentrações do meio extracelular 6. Esperar um minuto e examinar ao microscópio
com aumento de 400x.
Material 7. Observar a morfologia das hemácias.
• Três tubos de ensaio de 5 mL
• Rack para suporte de tubos de ensaio Discussão
• Três béqueres de 50 mL • Descreva as morfologias das células em
• Água destilada cada uma das soluções.
• Cloreto de sódio • Qual o papel da membrana plasmática nes-
• Balança de precisão te processo?
• Sangue (material para ccoleta de sangue • Supondo que as células sejam colocadas em
utilizando EDTA) um tubo contendo apenas água destilada. O
• Três pipetas de Pasteur que aconteceria?
• Lâminas e lamínulas
• Microscópio

30
Atividade de Membrana

CRUZADAS
1. Principais fontes de energia para o corpo humano.
2. A síntese de proteína a partir de aminoácidos é considerada uma reação de _______________.

fisiologia
3. Podem sofrer beta-oxidação e são consideradas a terceira fonte de energia do organismo.
4. Produção de glicose a partir de substratos não glicídicos.
5. Durante a digestão de um determinado alimento é quebrado em moléculas menores.
Esta é uma reação de ___________.

PALAVRAS
em

6. Termo utilizado para expressar a concentração de glicose no sangue.


7. No estado catabólico do organismo esta substância se degrada formando corpos
cetônicos.
8. Hormônio que induz o anabolismo go glicogênio.
9. Nucleotídeo que possui adenina e ribose (açúcar) como estrutura para uma cadeia de
três fosfatos.
10. Hormônio que induz o catabolismo de glicogênio.

31
Fisiologia Muscular

Introdução origem na especificação de suas células (fibras)


Os músculos fazem parte e, por vezes são fun- que são capazes de encurtar. Para que estas te-
damentais para o desempenho, de vários sistemas nham habilidade contrátil é necessário um conjun-
orgânicos, dentre estes suas funções podem ser to de proteínas com tal característica, as principais
resumidas à propulsão do corpo (locomoção), mo- proteínas são actina e miosina.
vimentação do conteúdo do órgão, como no caso Histologicamente, o tecido muscular pode ser
do alimento no interior do sistema gastrintestinal, classificado como estriado e liso, lembrando que
ou do sangue no cardiovascular, excreção de subs- existem dois tipos de tecidos musculares estria-
tâncias do interior de algumas glândulas e outras dos; o cardíaco e o esquelético.
formas de movimentações. Nos músculos estriados as proteínas contráteis
Esta funcionalidade do tecido muscular tem estão organizadas (alinhadas) formando uma uni-

A Titina Filamento �ino (Actina, Tropomiosina, Troponina)


Sarcômero
Filamento grosso (Miosina)
B
Músculo relaxado
Linha M
Linha Z

Linha Z

Músculo em contração

Banda H
Banda I Banda A Banda I

- Diminuição da banda H
- Diminuição da banda I
- Banda A inalterada
- Aproximação das linhas Z

Figura 3.1. Esquema gráfico do sarcômero e seus zoneamentos (A) e dos eventos que ocorrem durante um músculo relaxado e em
contração (B). Pode-se observar que o filamento fino é composto pelas proteínas actina, tropomiosina e troponina, enquanto que
o filamento grosso é basicamente composto por vários dímeros de miosina. Todas essas proteínas se ligam às linhas Z diretamente
(filamento fino) ou através de uma proteínas denominada titina (filamento grosso).
33
Almanaque de Fisiologia
dade denominada sarcômero. O sarcômero forma las que apresentam um real encurtamento do
bandas escuras e claras, denominadas de banda A músculo (como um todo), denominada contração
e I, respectivamente. Cada unidade é delimitada isotônica e aquela onde por mais que as fibras se
por duas linhas Z consecutivas (presentes no cen- contraiam, aparentemente não existe mudança no
tro da banda I); ao centro da banda A existe uma comprimento do músculo (contração isométrica).
banda mais clara chamada de banda H. A consti- Nas contrações isométricas a carga (ou “peso”)
tuição destas bandas é apresentada na figura 5.1. imposta ao músculo é maior ou igual à força de
Durante a contração muscular ocorre o encur- contração o que inevitavelmente faz com que o
tamento das bandas I, ou seja, aproximação de músculo apesar de se contrair não encurta a dis-
duas linhas Z consecutivas, ou ainda a diminuição tância entre as extremidades, ou seja, o compri-
ou desaparecimento das bandas H. Observe que a mento do músculo não se altera (figura 3.2.A).
banda A não tem alterações (fig. 5.1.B). Qualquer contração que gere força e movimen-
No tocante à fisiologia dos tecidos musculares te uma carga é denominada de contração isotônica.
é importante relembrar que as fibras musculares Existem dois tipos de contrações isotônicas, as ex-
estriadas esqueléticas são as únicas acionadas cêntricas, na qual o músculo está em alongamento
voluntariamente, embora, alterações no meio tônico (tensão do músculo é menor que o peso da
intercelular possa despolarizar (ativar) involun- carga) ou concêntricas, na qual a tensão muscular
tariamente, geralmente através de espasmos ou é superior à carga, fazendo com que o músculo en-
câimbras. curte seu comprimento (figura 3.2.B).
Entende-se espasmos como contrações invo-
luntárias, leves e de curta duração. Logo, câimbras Etapas da excitação e contração mus-
são contrações involuntárias, duradouras, inten- cular
sas e dolorosas. De maneira simplificada podemos dizer que
Considerando os músculos esqueléticos po- a contração muscular esquelética é resumida em
demos observar dois tipos de contrações; aque- três etapas: o potencial de ação, o aumento do
Ca++ intracelular e a contração propriamente dita.
De forma detalhada podemos descrever sete
etapas (figura 3.4):
A 1. A chegada do potencial de ação no terminal
Contração Isotônica
Diminuição do comprimento muscular
do axônio (telodêndro) dos neurônios mo-
Tensão muscular excede a resistência tores;
(peso)
2. Ao serem despolarizados, os telodêndros
permitem a entrada de Ca++ que por sua
vez será o cofator para liberação dos neuro-
transmissores (acetilcolina – ACh) na jun-
ção neuromuscular;
3. A ligação entre a ACh com os receptores
nicotínicos na fibra muscular promovem
a despolarização desta. Este potencial de
B ação é conduzido através do sarcolema
Contração Isométrica (membrana plasmática) do músculo e con-
Sem redução do comprimento muscular
Resistência (peso) excede a tensão sequentemente a despolarização dos túbu-
muscular los T (transversos); Os receptores nicotíni-
cos são canais ionotrópicos, logo ao serem
ativados permitem a passagem de íons, que
neste caso é o influxo de sódio (Na+)e eflu-
xo de potássio (K+). No entanto, o efluxo de
potássio é bem menor devido ao gradiente
de concentração menor, o que despolariza a
fibra muscular;
4. A despolarização da membrana da fibra
Figura 3.2. Tipo de contrações. Em A é apresentada a contra- muscular é repassada para as invaginações
ção isotônica do bíceps braquial, onde a resistência da carga que existem (túbulos T). Nos túbulos T exis-
(peso) é excedida pela tensão muscular, o que provoca o en-
curtamento do musculo; Em B a carga excede a tensão muscu-
tem proteínas receptoras de dihidropiridi-
lar fazendo com que o músculo não tenha capacidade de en- na (DHP) sensíveis à voltagem.
curtar os sarcômeros, deixando-os no comprimento original, 5. Com a alteração da voltagem da membrana
em outras palavras não encurtando o músculo como um todo. os receptores DHP são ativados mudando
34
Fisiologia Muscular
lo). Esta enzima recebe o nome de SERCA
(do inglês, sarco/endoplasmic reticulum
Diminuição do
comprimento do A Ca++-ATPase). Consequentemente a con-
músculo TRIC centração deste íon no sarcoplasma dimi-
N
nui, diminuindo o número de frações C (da
Ê
NC CA troponina) ligadas.
RI
CO

NT
EX
CÊ Produção de energia dos músculos
Como observado no processo descrito ante-
riormente, o consumo de energia (ATP) pela fibra
Aumento do muscular é muito expressivo. São necessárias vá-
comprimento do
músculo rias moléculas para realizar a contração e várias
para bombear os Ca++ intracelulares para o retícu-
lo sarcoplasmático.
Para a produção de ATP as células (de modo
geral) possuem duas formas: respiração aeróbica
(com uso de oxigênio) e anaeróbica (que embora
Figura 3.3. Tipos de contração muscular isotônica: Concên- seja menos eficiente, não necessita de oxigênio).
trica e Excêntrica. Na contração concêntrica as fibras muscu- Outro detalhe importante é que o ATP não é
lares diminuem seu comprimento, no caso da excêntrica as
acumulado por muito tempo na célula. Logo, as
fibras se alonga, apesar de estarem em contração.
fibras musculares e as nervosas possuem uma for-
sua conformação que faz com que abram-se ma para manter um acúmulo de ATP, a formação
canais de liberação de Ca++ pelos recepto- de fosfato de creatina (creatina-fosfato).
res de rianodina (RyR) no retículo sarco-
plasmático próximo; Acoplamento excitação-contração
6. Os receptores de rianodina ativados permi- Entende-se por acoplamento a sequência de
tem a saída de Ca++ do retículo sarcoplas- eventos pelos quais o potencial de ação do sarcole-
mático o que e inundação do sarcoplasma ma ativa os mecanismos de tensão.
(citoplasma das fibras musculares); Em outras palavras, quando um potencial de
7. O Ca++ (agora livre no sarcoplasma) se liga membrana é acionado (duração de 1 a 2 ms) de-
à fração C da troponina nos filamentos finos sencadeia uma sequencia de eventos (como vistos
fazendo com que ocorra uma alteração da no ítem anterior) para promover a contração do
troponina. Esta alteração afasta a tropo- músculo (que dura em média 100 ms).
miosina (ligada a fração T da troponina)
abrindo o sítio de ligação da miosina (pre-
sente na actina). Em resumo, sem a presen-
ça do Ca++ ligado à troponina a conforma- 1
ção estrutural desta proteína faz com que Ca +
+
Ca++
a tropomiosina “esconda” o sítio de ligação 2
da miosina; Com a abertura do sítio de li-
gação da miosina permite-se que sejam for-
madas as pontes cruzadas (interação entre
miosina-actina). Quando o ATP se liga ao 3 Fenda
Na+ Sináptica
sulco da miosina a afinidade entre miosina
4
e actina é baixa, no entanto, quando ocorre Nm

a hidrólise do ATP (gerando ADP + fosfato K+


inorgânico [Pi]) o ADP ligado aumenta esta
6 Retíc. Sarcoplasm.
afinidade e a energia liberada pela reação
DHP

Ca++
RyR

promove o arrasto das pontes cruzadas. 5 + Calsequestrina


Enquanto o ADP estiver interagindo com Ca++
SERCA
o sulco da miosina a afinidade se mantém
8
Túbulo T

alta o que gera a tensão (observado no rigor 7


mortis); Troponina + Ca++
8. Para ocorrência do relaxamento, o Ca++
volta a se acumular no retículo sarcoplas-
mático devido a ação de uma enzima Ca++ Figura 3.4. Ativação molecular das fibras muscula-
ATPase (presente na membrana do retícu- res esqueléticas
35
Almanaque de Fisiologia
Tipos de fibras esqueléticas cidade de inibir a acetilcolinesterase (enzima que
As fibras de um determinado músculo não são degrada a ACh).
homogêneas, elas possuem diferenças energéti- O sarcolema mantido em estado despolarizado
cas, principalmente devido à sua composição de é incapaz de gerar potenciais de ação, posto que os
organelas. canais de Na+ dependentes de voltagem tornam-
Histologicamente as fibras são classificadas em -se inativados. Além disto, ocorre uma resistência
oxidativas lentas (tipo 1), oxidativas-glicolíticas à ACh nos casos de prolongamento da exposição
rápidas (tipo IIa) e glicolíticas rápidas (tipo IIb). da célula a este neurotransmissor.
Os termos “rápida” e “lentas” estão relaciona- Com isso a fibra muscular torna-se refratária à
dos com a velocidade de resposta (acoplamento), contração por indução nervosa, culminando com
isso está relacionado com a isoforma da miosina e paralisia flácida (bem como no curare) e asfixia.
sua afinidade ao ATP. Consequentemente a acopla- Em ambos os casos apresentados, o tratamento
gem fica mais rápida, em outras palavras torna-se é basicamente reativar a acetilcolinesterase. Para
uma contração mais rápida. Outro fator importan- tanto uma das drogas utilizadas é a pralidoxima.
te relacionado é que nas fibras rápidas existe me- Mas adiante veremos que a ACh também tem
nor quantidade de mitocôndrias o que faz com que outros receptores, como por exemplo os musca-
a fonte energética seja principalmente anaeróbica, rínicos (ver sistema nervoso autônomo), que es-
enquanto que fibras oxidativas (com maior quan- tão presentes nas vísceras. Logo alterações como
tidade de mitocôndrias) tenham menor tempo de apresentadas acima não impactam somente nos
reação, apesar de sofrem menos com fadigamento. músculos esqueléticos, elas também possuem
Por fim, as fibras oxidativas possuem maiores efeitos viscerais, como bradicardia (diminuição da
quantidades de proteínas para aumentar a bio- frequência cardíaca, apresentada no capítulo de
disponibilidade de oxigênio para a fibra. Estas sistema nervoso autônomo).
proteínas são chamadas de mioglobina, que têm a Uma condição desejável durante cirurgias seria
capacidade de acumular (intracelularmente) oito dosagens menores de anestésicos (diminuindo os
moléculas de oxigênio. riscos das cirurgias), por essa razão, muitas vezes
As mioglobinas se assemelham estruturalmen- são utilizados relaxantes musculares que são ca-
te (estrutura proteica primária, secundária e ter- pazes de deprimir os músculos, reduzindo o me-
ciária) à hemoglobina (das hemácias), porém, a tabolismo, e consequentemente as dosagens de
saturação das primeiras é muito mais eficiente. anestésicos, menores complicações, mais rápida
Enquanto que a hemoglobina consegue ser satura- recuperação, porém, os pacientes devem ser colo-
da com 7% de O2 as mioglobinas cados em ventiladores mecânicos (devido a possi-
bilidade de parada respiratória).
Dentre alguns relaxantes musculares temos a
Fisiologia aplicada succinilcolina que é um agonista dos receptores
Alterações séricas e consequentemente inters-
de ACh e que produz um bloqueio despolarizan-
ticiais podem promover alterações das funções
te/dessensibilizante semelhante aos inibidores
dos receptores e canais iônicos presentes nas fi-
da acetilcolinesterase. São uzados também como
bras musculares, isso pode desencadear algumas
agentes não despolarizantes da junção neuromus-
alterações como por exemplo câimbras, espasmos
cular (semelhante ao curare,porém mais potente).
ou mesmo inativação das fibras (atonia).
Alguns microorganismos podem produzir to-
A presença de algumas substâncias também
xinas que afetam a fisiologia muscular, como por
podem interagir com os receptores ou canais alte-
exemplo a bactéria chamada de Clostridium bo-
rando a fisiologia muscular. Um desses exemplos é
tulinum. Estas toxinas (toxina botulínica) blo-
o curare, um veneno mortal utilizados por índios
queiam a liberação de ACh das terminações axô-
sulamericanos nas pontas de suas flechas para
nicas, ou seja, de modo mais específico, estas
abater animais selvagens.
enzimas (toxinas) degradam as proteínas do com-
O curare tem a capacidade de se ligar fortemen-
plexo SNARE (necessárias para a ligação e a fusão
te aos receptores nicotínicos da ACh, porém, sem a
das vesículas de ACh com a membrana plasmática
ativação destes (não permitindo a troca iônica de
do terminal axônio, impedindo a exocitose.
Na+ e K+). Isto evita a despolarização da célula e
consequentemente induz uma atonia muscular. O
animal tem morte por depressão do sistema res-
piratório, onde os movimentos ventilatórios são Objetivo
dependentes de músculos esqueléticos (asfixia). • Comparar a força isométrica máxima da
Os organofosforados são substância presen- mão direita com a mão esquerda
tes em muitos pesticidas e inseticidas. No corpo • Estudar os efeitos de repedidas contrações
dos mamíferos os organofosforados tem a capa- musculares na força dos músculos dos bra-
36
Fisiologia Muscular
ços por fim 1 kg
• Determinar os efeitos de cargas variadas na 4. Preencher a tabela 3.2 com o número máximo
velocidade de contração muscular de contrações para cada carga

Materiais Bibliografia
Cronômetro GARTNER, L.P.; HIATT, J.L. Atlas colorido de histologia, Ed. 6,
Bolas de tênis Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
Esfingmomanômetro
Alteres de pesos diferentes
Fita métrica

Procedimento
Contração isométrica
1. Cada indivíduo deve realizar a prática em duas
etapas (com cada uma das mãos)
2. O indivíduo deverá manter o braço perpendicu-
lar ao corpo e com a primeira mão deverá im-
por uma contração isométrica (com maior ten-
são possível) contra uma bola de tênis (apertar
a bola)
3. A atividade deve ser cronometrada até que o in-
divíduo não suporte mais manter a tetania (ver
quadro 4.1)
4. Com a outra mão o indivíduo deverá realizar o
maior número de contrações possível. Lembre-
-se que com uma mão o indivíduo deve realizar
a tetania e com a outra mão deverá realizar o
maior número de contrações (com tensão má-
xima) possíveis. Enquanto na primeira mão
cronometraremos o tempo de tetania, na se-
gunda contaremos o número de contrações até
o fadigamento
5. Após realizada a primeira etapa do experimen-
to, repetiremos o mesmo experimento utilizan-
do o esfingmomanômetro com pressão cons-
tante de 140 mmHg (constante, ocluindo ou
dificultando o fluxo sanguíneo) no braço que
está executando a atividade
6. Os resultados (tempo ou número de contra-
ções) de ambas as mãos devem ser anotados na
tabela 3.1.

Velocidade de contração
1. Dois indivíduos devem se sentar na mesma
bancada com os cotovelos dos braços dominan-
tes apoiados e mantendo a coluna ereta
2. Um indivíduo deve realizar contrações concên-
tricas do bíceps braquial com cargas crescentes
durante , ou seja, durante 40 segundo deve rea-
lizar o maior número de contrações com altere
de 1kg, seguido de mais 40 segundos com carga
de 3 kg e por fim o mesmo procedimento com
carga de 5 kg; Deve-se contabilizar o número de
movimentos com cada carga
3. O outro indivíduo deve realizar o mesmo pro-
cedimento com as mesmas cargas e tempo, no
entanto, iniciando com 5 kg, seguido de 3 kg e
37
Fisiologia Muscular

CRUZADAS
1 2

3 4 fisiologia
PALAVRAS

em
5 6 7

8 9

10

11

12 13 14

15

16 17

18

19

EclipseCrossword.com

1. Substrato utilizado para armazenar energia para os múscu- 10. Proteína responsável pelo adensamento da banda A no
los esqueléticos sarcômero.
2. Contração do tríceps quando estamos levando um copo à 11. Fibras presentes nos músculos responsáveis pela percep-
boca ção de distensão destes.
3. Receptor de ________________ é um canal específico de cálcio 12. Movimento do bíceps da coxa ao projetar a tíbia para o
presente nos retículos sarcoplasmáticos ativados com a des- posterior.
polarização do sarcolema. 13. Movimento do quadríceps da coxa ao projetar a tíbia para
4. Contração do reto do abdomen no início de um movimento o posterior.
de abdominal. 14. Composto de fosfato utilizado como fonte direta de ener-
5. Tipo de contração do bíceps quando tentamos levantar do gia das fibras musculares.
chão uma carga maior do que suportamos. 15. Monômero de proteínas globular presente em pratica-
6. Nome dado às mitocôndrias presentes nas fibras muscula- mente todas as células (na região paramembrana interna),
res. também responsável pela contração muscular, e em grande
7. Neurotransmissor capaz de despolarizar as fibras muscu- quantidade na banda I do sarcômero.
lares esqueléticas. 16. Proteína, componente do sarcômero, ligante do cálcio du-
8. Íon acumulado no interior do retículo sarcoplasmático e rante a contração muscular.
liberado com a despolarização do sarcolema. 17. Estrutura macroscópica de tecido conjuntivo tenso mo-
9. Contração isotônica do quadríceps quando um jogador de delado que liga as fibras musculares ao periósteo (no osso).
futebol está prestes a chutar uma bola. 18. Unidade funcional básica da fibra muscular.

39
Almanaque de Fisiologia

40
Ações reflexas somáticas

Introdução Quadro -Graduação de reflexos somáticos de acordo com a


classificação de Bickley (2015)
Durante o nossa evolução filogenética temos
mudado e nos adaptado às diversidades do meio Grau Descrição
ambiente, geralmente, para manutenção da vida.
4+ Hiperativos (com clônus)
Em outras palavras, algumas respostas se torna-
ram autônomas (sem que haja a necessidade de Mais vivos que a média, não necessariamente anor-
3+
reflexão pelo indivíduo) para nos tirar de perigos, mal
evitar danos, adaptarmo-nos ao ambiente. 2+ Médios, normais
De acordo com Tortora e Derrickson (2016), o
reflexo é uma sequência de ações automáticas, rá- 1+ Diminuídos, normais leves
pidas e involuntárias que ocorre em resposta a um
0 Ausentes de respostas
determinado estímulo. Legenda: entende-se por clônus oscilações de abalo muscular,
Para o entendimento dos reflexos é necessária ou seja, uma contração vigorosa e involuntária.
a conceituação dos componentes anatomo-fisio-
lógicos que o compõem. Para que o corpo receba
o estímulo é necessário um receptor (específico
para cada tipo de estímulo), a via aferente (neurô-
nio sensitivo que interpela a comunicação entre o
receptor e o sistema nervoso central), centro de
integração (presente gerlamente na medula espi-
nhal e/ou tronco encefálico), via eferente ou efe-
tora (neurônio que induzirá a ativação do órgão
efetor) e o próprio órgão efetor (que poderá ser
um órgão voluntário ou não).
Se considerarmos os órgãos efetores, podemos
classificar dois tipos de reflexo: os viscerais, no
qual os órgãos que promovem as respostas são
autônomos (independem de nossa vontade), como
por exemplo coração (músculo estriado esqueléti-
co) glândulas, intestinos, bexigas e outros (relacio-
nados à presença de músculos lisos); os reflexos
somáticos são aqueles no qual os órgãos respon-
sivos são controlados por nossa córtex cerebral Figura 4.1. Manobra de Jendrassik. O paciente relaxado so-
(estão dependentes de nossa vontade), por exem- brepõe uma palma da mão sobre a outra e com o dedos “em
forma de ganchos” tensiona os braços tentando (forçando)
plo músculos estriados esqueléticos. abrí-los. Deve-se atentar que o paciente não tensione as per-
Os reflexos também podem ser classificados nas (somente os braços).
quanto à cognição do indivíduo, ou seja, natu-
41
Almanaque de Fisiologia
ral (quando você retira a mão de uma superfície Reflexo plantar
quente mesmo sem ter a percepção consciente que Esfregue a ponta de um objeto (alfinete, lápis,
ela de fato está quente) e os reflexos aprendidos chave, etc) ao longo da planta do pé, próximo ao
ou adquiridos (por exemplo o ato de acionar o pe- lado medial. Qual a resposta observada? Como se
dal de freio do carro em situações de emergência). chama o tipo extensor do reflexo plantar? Seu apa-
Os reflexos podem resultar em movimento es- recimento no adulto indica o que?
perados (normais), exarcebados, discretos ou au-
sentes. Para Bickley (2015), podemos graduar a Reflexo corneal
resposta aos reflexos de acordo com o quadro 1. Toque gentilmente a córnea e as escleróticas na
Por sua vez os reflexos somáticos podem ser região medial e lateral com a ponta de um lenço de
classificados de acordo com a profundidade dos papel (aproxime-o pela lateral). Qual o resultado?
estímulos, ou seja, profundos (relacionados aos Houve diferença entre as regiões sensibilizadas?
ligamentos e tendões e ao órgão tendinoso de Gol- Por quê?
gi) ou superficiais (relativos à pele).
O reflexo desencadeado pelo estiramento de Reflexo patelar
um músculo esquelético qualquer é conhecido Percuta o ligamento patelar (logo abaixo da pa-
como reflexo miotático ou de estiramento. tela) com um martelo neurológico de Buck. A pes-
soa deve estar sentada de forma que as pernas ba-
Objetivo lancem livremente. Em seguida pesquise o reflexo
Estudar várias manifestações reflexas (atos ou com a perna em vários graus de flexão e veja em
arcos reflexos) somáticos na espécie humana. que ângulo a resposta é mais efetiva.
Faça a pessoa agarrar fortemente os punhos e
Materiais puxá-los em sentidos opostos (Manobra de Jen-
• Martelos neurológicos de Buck drassik - figura 1), pesquise o reflexo com e sem a
• Gases manobra e observe as respostas.
• Lenço de papel
Reflexo aquileu
Procedimento Com o martelo neurológico faça ligeira percur-

Receptor
(Órgão tendinoso de Golgi) Gânglio Sensitivo
- Presente nas �ibras intrafusais (Formado por corpos celulares
de neurônios sensitivos)

Via Aferente
(Neurônio sensitivo)
2 Medula (SNC)

Órgão efetor
(Músculo estriado esquelético)
3
Via Eferente

4 (Neurônio motor)

Figura 4.2. Ilustração mostrando a sequência do arco reflexo somático monossináptico. No reflexo monossináptico pode ser ob-
servado apenas dois neurônios envolvidos, um na via aferente (sensitiva) e um na via eferente (motor). Não são observados inter-
neurônios (neurônios que fazem a comunicação entre a via aferente e eferente. O processo consiste na despolarização das fibras
intrafusais (aparelho tendinosos de Golgi) e consequentemente do neurônio sensitivo (1) que internaliza no sistema nervoso cen-
tral (SNC) o sinal, passando pelo gânglio sensitivo (2), que é formado por corpos celulares de vários neurônios sensitivos. O sinal
ao adentrar a medula espinhal pelo corno dorsal é repassado ao neurônio motor (3) ainda na substância cinza. Ao se despolarizar
o neurônio envia o sinal (pela via eferente ou efetora) para a placa mioneural (4) e consequentemente despolarizando o músculo,
que por sua vez, se contrai.

42
Ações reflexas somáticas
ssão sonre o tendão de Aquiles. A pessoa deve es-
tar com os joelhos apoiados sobre uma cadeira de
forma que o pé relaxe livremente. Repita no outro
membro.

Discussão
• O que é reflexo miotático inverso?
• Qual estrutura do músculo esquelético é
responsável pela sensibilização de estira-
mento?
• Por quê testar, em um mesmo paciente, vá-
rios reflexos somáticos, como por exemplo,
reflexo patelar, aquileu, triciptal, dentre ou-
tros?
• Qual o segmento da medula está relaciona-
do com o reflexo cutâneoplantar, bicipital,
tricipital, estilorradial, aquileu e patelar?

Referências
TORTORA, GJ; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fi-
siologia, 14 Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
BICKLEY, L.S. Bates - Propedêutica Médica, 11 Ed., Rio de Ja-
neiro: Guanabara Koogan, 2015.
1

CRUZADAS
2

fisiologia
1. Estrutura anatômica responsável pela
conversão de um estímulo externo (me- PALAVRAS
em
cânico ou químico) em um impulso ner-
3
voso.
2. Tipo de sinapse do arco reflexo de re- 4 5
tirada (superficial), por exemplo tocar
em uma superfície muito quente. Na qual
mais de três neurônios são envolvidos.
3. Após induzirmos o estiramento do bí- 6 7
ceps de um paciente, qual o reflexo (do
antebraço).
4. Tipo de reflexo no qual o receptor está
8
presente na pele (por exemplo: cutaneo-
-abdominal ou cutâneo-plantar).
5. Via na qual o impulso segue da medula
para um músculo estriado esquelético.
6. Reflexo no qual dois neurônios estão
envolvidos; um sensitivo e um motor. Por
exemplo, reflexo patelar.
7. Tipo de reflexo no qual uma fibra in-
trafusal é estirada desencadeando a sen- 9
sibilização (estiramento) de um músculo.
8. Segunda célula sensibilizada no caso
de um reflexo monossináptico.
9. Via que parte do sistema nervoso cen-
tral (medula espinhal) para o órgão efe-
tor.
10. Principal neurotransmissor inibidor 10
da medula espinhal.
11. Órgão de tecido conjuntivo fibroso,
que une a tíbia à patela e que é facilmente
percutido para desencadear um reflexo 11
que resulta na contração do quadríceps.
EclipseCrossword.com

43
Ações reflexas viscerais

Introdução zes este é chamado de sistema de luta e fuga.


Na manutenção da constância do meio interno Já o sistema parassimpático é a configuração do
(homeostase), a participação integrada de vários sistema nervoso própria do momento de digestão,
sistemas orgânicos é evidente. Entretanto dois defecação, diurese, sono, etc...
desses sistemas se destacam: sistema endócrino É interessante observar que ambos ativam os
e sistema nervoso visceral, também chamado de mesmos órgãos de formas, geralmente, aversas.
sistema nervoso autônomo (simpático e parassim- Enquanto que no sistema simpático o coração en-
pático) (HALL, 2011). Este manifesta suas ações tra em taquicardia (aumento da frequência), o pa-
através de uma grande variedade de reflexos en- rassimpático impõe uma diminuição da frequência
volvendo a participação de praticamente todos os (bradicardia).
setores do organismo. São apresentados na figura 5.1 algumas dife-
Entende-se por sistema nervoso autônomo renças orgânicas de cada um destes sistemas. É
simpático (SNA - Simpático) aquelee que prepara possivel observar que em alguns órgão as funções
o organismo para as adversidades. Por várias ve- simpática e parassimpática parecer desempenhar

Figura 5.3. Resumo esquemáti-


co da sensibilização, processa-
Cerebelo Medula Sistema Nervoso mento e tipos de respostas do
Cérebro Espinhal Periférico sistema nervoso central.

}
Nervos Cranianos

Receptores

Músc. Estriado
Esquelético
Centros Motores

}
Cerebrais Inferiores

Nervos Músc. Cardíaco


Cranianos
Músculo Liso
Músc. Estriado Glândulas
Esquelético

LEGENDA

Neurônio Neurônio Axônio Neurônio Neurônio Neurônio


Piramidal Bipolar Mielinizado Motor Motor
Colinérgico Adrenérgico Sensitivo

Neurônio Neurônio Axônio Neurônio


Multipolar Não Mielinizado Cerebral Interneurônio
Pseudounipolar

45
Almanaque de Fisiologia

PARASSIMPÁTICO
Pupilas
Miose

Glândulas Salivares
Salivação (aquosa)

Coração
Bradicardia
(diminuição da
frequência cardíaca)

Brônquios
Broncoconstrição

Estômago
Aumento da secreção
gástrica

Fígado
Glicogênese
(formação de glicogênio
a partir de glicose)

Bexiga
Contração

Órgãos sexuais
Ereção
(feminina e masculina) Gânglios
Parassimpáticos

46
Ações reflexas somáticas

Pupilas
Midriase

SIMPÁTICO
Glândulas Salivares
Gânglios Salivação (mucosa)
Simpáticos

Brônquios
Broncodilatação

Coração
Taquicardia
(aumento da
frequência cardíaca)

Estômago
Inibição da secreção
gástrica

Fígado
Glicogenólise
(quebra de
glicogênio em glicose)

Suprarrenais
Liberação de adrenalina (80%)
e noradrenalina (20%)

Bexiga
Relaxamento

Órgãos sexuais
Ejaculação

47
Almanaque de Fisiologia
as mesmas funções, embora de intensidades dife-
rentes, como é o caso das glândulas salivares. Am- Objetivos
bos os sistemas são capazes de induzir salivação, Estudar várias manifestações reflexas (atos re-
porém, na ativação simpática a saliva tem uma flexos) viscerais na espécie humana.
conscistência mais mucosa, enquanto que na pa-
rassimpática, mais aquosa. Materiais
Alguns órgãos não apresentam ambas as iner- • Lanterna
vações. Como é o caso dos músculos piloeretôres, • Relógio
que fazem a elevação (ereção) dos pelos, do braço • Bacia com água fria
por exemplo. Nessas estruturas somente as fibras • Papel toalha
simpáticas estão presentes.
Anatomicamente são observadas diferenças Procedimento
importantes: as fibras simpáticas emergem do
Reflexo fotomotor
SNC a partir da região tóraco-lombar (na medula),
Solicite que um aluno olhe um ponto iluminado
enquanto que as parassimpáticas emergem da re-
(lanterna ligada). Verifique o centro da íris o diâ-
gião cranio-sacral.
metro da pupila em cada olho. Peça-lhe que cubra
Em outras palavras, as fibras nervosas que par-
os olhos com as mãos durante cerca de 10 segun-
tem da região torácica ou lombar são simpáticas, já
dos, não deixando penetrar luz entre os dedos,
os nervos cranianos e sacrais são parassimpáticas.
nem comprimindo os globos oculares (os olhos
Outra diferença é o tipo de neurotransmissores
devem permanecer abertos como se estivesse
que impõem as modificações orgânicas. Os neuro-
“olhando” o tal “ponto iluminado”). Ordene então
transmissores simpáticos são as chamadas cate-
que ele retire uma das mãoes e, na mesma fração
colaminas (noradrenalina, também chamado de
de segundo, olhe o que acontece com o diâmetro
noraepinefrina e a adrenalina ou epinefrina) e o
da pupila recém descoberta.
do sistema parassimpático acetilcolina (ACh).
Repita o mesmo procedimento observando
A adrenalina (ou epinefrina) é um neurotrans-
agora o outro olho. Com uma lanterna fça incidir
missor simpático, porém, liberado apenas pela
luz em apenas um dos olhos do examinado e, en-
medula das glândulas adrenais (suprarrenais), por
ocasição de sensibilização de noradrenalina (por
via nervosa).
Este neurotransmissor suprarrenal é liberado
na corrente sanguíne (descarga de 80% de adre-
nalina e 20% de noradrenalina). Com isso pode-se
afirmar que a ativação do sistema nervoso simpá-
tico é feita em duas frentes: por via nervosa (pri-
mária) e seguida da liberação de adrenalina (e no-
radrenalina) no sangue.
Isso é considerado como um modo de ativar
órgãos não inervados, como por exemplo o tecido
adiposo (apesar de não ter fibras nervosas diretas
são ativados por via sanguínea. Por isso alguns
pesquisadores comentam que o sistema nervoso
simpático é mais eficiente na ativação (duas vias).
Resumindo, nosso corpo mantem-se sempre
em um tônus simpático e parassimpático, como
em uma balança. Quando um dos sistemas preva-
lece temos uma configuração orgânica para adap- D1
Artéria Radial
tação ao meio. No caso de sermos atacados por um D2
animal, aumenta-se o tônus simpático (resposta
de luta e fuga), no caso nos alimentarmos o sono Figura 5.2. Ilustração esquemática do posicionamento da ar-
prevalece pois oo sistema parassimpático está em téria radial para situar a localização do pulso. Note que o local
tônus aumentado, para ocorrência da digestão. de aferição (D1 e D2) do pulso situa-se proximal a base do
Assim como em uma balança, após um lado polegar. Devem-se utilizar dois digitos para aferição, no en-
tanto, não se recomenda utilização do polegar posto que as
prevalecer, no momento seguinte tende a aumen-
artérias deste dedo são mais calibrosas. Durante a aferição, o
tar para equilibrar. Logo, após uma hiperexcitação dedo mais distal (próximo ao polegar do paciente - D1) deve
simpática segue uma descarga parassimpática e fazer uma leve pressão enquanto que o outro (D2) apenas
vice versa. toca a pele.

48
Ações reflexas somáticas
quanto parte do grupo verifica o diâmetro do olho 3. Intestino delgado
iluminado (reflexo fotomotor direto), parte veri- 4. Vesicula biliar
fica o diâmetro da pupila do olho oposto (reflexo 5. Baço
fotomotor consensual). 6. Músculos estriados esqueléticos
• Durante a ativação simpática observa-se
Reflexo espino-ciliar que “há um aumento do fluxo sanguíneo
Beliscar, com o grau de surpresa possível, a pele para o coração”. Justifique a razão com base
da nuca do aluno examinado e verificar o que suce- nos tipos de receptores adrenérgicos (de
de com os diâmetros das pupilas. catecolaminas).
• O gráfico ao lado mostra a despolarização
Reflexo bradicárdico de uma fibra musculare cardíaca. O que
Dois alunos determinarão simultaneamente a aconteceria com os trechos 1, 2, 3 e 4 du-
frequência cardíaca palpando os pulsos das arté- rante a ativação simpática e parassimpática
rias radiais do voluntário, por 30 segundos. Em desta fibra?
seguida, este deve mergulhar o rosto em uma ba-
cia com água fria, durante 15 segundos. Após isto, Referências
HALL, J.E. Guyton & Hall - Tratado de fisiologia médica, 12 Ed,
aguardar 5 segundos e, da mesma forma anterior-
Rio de Janeiro: Elsevier, 2011
mente descrita, determinar novamente a frequên-
cia do pulso por 30 segundos. Preencher o quadro
a seguir.

Discussão
• O que aconteceu com o diâmetro da pupila
nos vários momentos do experimento? Por
+20
quê?
Voltagem Intracelular (mV)

+10
• O que acontece após a execução do beliscão 0
na nuca do paciente? Justifique. -10 3
2
• O que aconteceu com a frequência cardíaca -20
após o “mergulho” do rosto do paciente em -30
Limiar
uma bacia contendo água fria? Por quê? -40
1 4
• O que acontece durante a ativação simpáti- -50
-60
ca e parassimpática nos órgãos abaixo, jus-
tifique sua resposta.
1. Pâncreas
2. Pêlos do braço

Indivíduo Nome FC antes FC depois


1 01
2
Aferir pulso radial por 30s;
Multiplicar por 2;
3 Anotar em FC antes.

4
5
6
7 02
8 Mergulhar rosto na água por 15s.

9
10
Média
Aferir novamente o pulso
radial por 30s;
03
Multiplicar por 2;
Desvio-Padrão Anotar em FC depois.

49
Almanaque de Fisiologia
1

7 8 9 10

11

12

13

14
CRUZADAS

15

EclipseCrossword.com fisiologia
PALAVRAS
em

1. Neurotransmissor liberado pelo primeiro neurônio da via 8. Via autônoma que apresenta o segundo neurônio efetor
efetora do sistema nervoso autônomo simpático. mais curto (de menor comprimento) que o primeiro.
2. Receptores do sistema nervoso autônomo parassimpático. 9. Receptores adrenérgicos capazes de induzir taquicardia.
3. Durante a ativação parassimpática o pâncreas libera que 10. Efeito de drogas parassimpaticomiméticas nos brôn-
tipo de hormônio? quios.
4. Receptores dos músculos estriados esqueléticos. 11. Reações de um indivíduo sobre forte descarga simpática.
5. Efeito da adrenalina nos receptores beta-2 das arterias 12. Efeito de uma droga parassimpaticolítica no coração.
músculo esqueléticas. 13. A liberação de ________________, pelo pâncreas, pode ser
6. Receptores adrenérgicos com maior grau de afinidade pela resposta a uma droga simpaticomimética.
noradrenalina, em comparação com adrenalina. 14. Neurotransmissor liberado pelo segundo neurônio adre-
7. Única via que inerva autonomamente as glândulas suprar- nérgico sobre os músculos dilatadores da pupila.
renais. 15. Efeito da acetilcolina nas arteriolas cardíacas.

50
Ações reflexas somáticas

51
Ausculta cardíaca

Introdução
O coração é um órgão muscular oco que se loca-
liza no mediastino médio, por trás do osso esterno,
discretamente deslocado para a esquerda (figura
6.1). Em uma pessoa adulta, tem aproximadamen-
te o tamanho do punho fechado e pesa cerca de
400 g. É formado por quatro cavidades: duas su-
periores, chamadas de átrios e duas inferiores, os 1 2
ventrículos.
Este órgão tem a função de propelir o sangue
por dentro dos vasos para sua distribuição pelo 3 4
corpo, seja esta a pequena circulação (coração- 5
-pulmões) ou a grande circulação (figura 6.2). Em
média repete os movimentos de propulsão (con-
tração e relaxamento) entre 70 a 80 vezes por mi-
nuto, quando o indivíduo está em repouso.
Histologicamente é composto de três camadas: Figura 6.1. Posição anatômica do coração humano. Ainda na
pericárdio (tecido conjuntivo fibroso, mais exter- imagem podem ser destacados os focos primários de ausculta
no), por vezes sendo chamada de saco pericárdi- cardíaca (1 a 5), onde 1 representa o foco aórtico, 2 o foco
co; uma camada muscular estriada, denominada pulmonar, 3 foco tricuspide, 4, foco mitral e 5 a região deno-
de miocardio e uma camada de tecido conjuntivo minada de ictus cordis. Devido ao posicionamento cardíaco o
foco tricuspide pode passar para o lado esquerdo, tomando a
fibroso mais interna denominada de endocárdio. posição 4 e o foco mitral a posição 5.
Na fisiologia cardiovascular dois tipos celulares
são importantes: os cardiomiócitos (fibras muscu-
lares cardíacas) que se contraem para gerar a força qual, durante a fase de repolarização os canais de
de propulsão do coração e as células condutoras, sódio se abrem mais cedo fazendo com que o íon
com função de gerar potenciais de ação para ativas sódio tenha um influxo para a célula e, consequen-
as primeiras. temente, despolarizando automaticamente (figura
As células condutoras são capazes de se des- 6.3.B).
polarizarem autonomicamente, o que faz com que O coração possui quatro valvas (conjunto de
o órgão independa do sistema nervoso central. válvulas) que funcionam de modo não permitir
Porém, não completamente, pois o órgão recebe que o sangue reflua. O fluxo e o fechamento das
inervações autônomas (simpática e parassimpáti- valvas geral sons fisiológicos chamados de bulhas.
ca) que controlam a frequência de seus ciclos (ba- No entanto, quando estas possuem patologias, o
timentos). que faz com que o sangue reflua ou exerça pressão
Este mecanismo de despolarização das células acima do normal geram sons patológicos chama-
condutoras é chamado de efeito marcapasso, no dos de sopros.

53
Almanaque de Fisiologia

T. Braquiocefálico

V. Cava A. Carótida Comum


V. Cava Superior Esquerda
A. Aorta
Inferior A. Subclávia
Ascendente
Esquerda
Arco da Aorta

Valva
Aórtica

D E
A. Aorta
Átrio Átrio Descendente
Valva Valva
Tricúspide Mitral
Ventrículo Ventrículo

Coronárias

Fígado A. Hepática Comum T. Celíaco

A. Gástrica Esq.

A. Esplênica
A. Mesentérica Superior

A. Suprarrenais

A. Renais

A. Mesentérica Inferior

A. Iliacas Comuns
Figura 6.2. Ilustração representando a grande circulação e os principais vasos.

Ciclo cardíaco Wiggers (figura 6.4).


Entende-se por ciclo cardíaco todos os eventos A duração total do ciclo cardíaco afeta a frequ-
que ocorrem durante uma sequência de contração ência cardíaca. Quanto maior o período do ciclo
e relaxamento do coração. cardíaco meenor será a frequência, em outras pa-
De um modo mais básico pode-se afirmar que o lavras a ativação simpática aumenta a frequência
ciclo cardíaco possui duas fases: diástole, o tempo pois aumenta a velocidade do ciclo cardíaco (dimi-
durante o qual o músculo cardíaco relaxa e a câma- nui sua duração).
ra se enche de sangue, e sístole, período durante Para o perfeito entendimento será necessário
o qual o músculo contrai e expulsa o sangue. No observar os eventos elétricos do coração serão es-
entanto, podemos observar que os átrios e ventrí- tudos no próximo capítulo (Eletrocardiograma).
culos não se contraem ou relaxam todos ao mesmo Mas, para o estudo do ciclo é importante saber,
tempo. Logo, para afirmar que “coração está em também, as propriedades biofísicas de fluidos (es-
sístole ou diástole”, por convenção tomamos por tudados neste capítulo).
base a maior massa muscular, os ventrículos. Primeiramente vamos relembrar as proprie-
Os eventos elétricos e hemodinâmicos-chave dades dos fluidos líquido. Os fluidos líquido não
estão apresentado graficamente no diagrama de alteram seu volume sobre pressão, diferente dos

54
Ausculta cardíaca

A
+20 1
+10 2 Fase 0 - Depolarização (Influxo de Na+ por canais
0 PRR dependentes de voltagem e de Na+ e K+ canais
pelos If)
Voltagem Intracelular (mV) -10
Fase 1 - Repolarização inicial (Inibição dos canais de
-20 PSN Na+ dependentes de voltagem e efluxo de K+)
-30 3 Fase 2 - Platô (Influxo de Ca++ por canais L e efluxo
0 Limiar de K+ em equilíbrio)
-40
PRA Fase 3 - Repolarização tardia (Diminui o influxo de
-50 Ca++ e aumenta o efluxo de K+)
-60 Fase 4 - Diástole elétrica (Efluxo de K+ e influxo de
PRE Ca++ e Na+ em equilíbrio)
-70
-80 4
-90
-100
Figura 6.3. Potenciais de ação dos cariomió-
citos (A) e das células condutoras do coração

B
(B). Pode-se observar que no trecho 4 de B não
ocorre um repouso de membrana, ou seja, já
+20 apresenta uma despolarização (efeito marca-
passo). Entende-se por PRA período refratário
Voltagem Intracelular (mV)

+10
absoluto, PRE período refratário efetivo, PRR
0 período refratário relativo e PSN período su-
-10 3 pernormal.
0
-20
-30
Limiar
-40
-50 4 4
-60

gases, ou seja, quando uma câmara cardíaca está uma redução do fluxo de sangue para o ventrículo
refleta de sangue e entra em contração o seu vo- (enchimento lento), até seu preenchimento com-
lume não se altera até a abertura de sua respec- pleto e, consequentemente, reiniciando o ciclo.
tiva valva (contração isovolumétrica), gerando Como pôde ser observado o ciclo cardíaco pos-
um aumento de pressão no seu interior. Este fato sui seis subfases: contração isovolumétrica, ejeção
pode ser observado na ascendência da pressão do rápida, ejeção lenta, relaxamento isovolumétrico,
ventrículo esquerdo no diagrama de Wiggers (fi- enchimento rápido e enchimento lento.
gura 6.4). Esta fase é denominada no ciclo cardíaco Estes eventos só são passíveis de ocorrer fisio-
como contração isovolumétrica. logicamente devido a presença das valvas atrio-
De modo semelhante quando o ventrículo re- ventriculares e semilunares.
laxa sua pressão interna diminui, no entanto, sem Nos átrios deve-se levar em consideração que
sem alteração do volume (relaxamento isovolu- não existem valvas pré-atriais. Logo, as pressões
métrico). intra-atriais não são tão elevadas quanto as intra-
Quando a valva semilunar aórtica (VML) se -ventriculares.
abre a pressão continua subindo devido a força de Em outras palavras, quando os átrios se con-
contração mas esta reduz progressivamente, fase traem a pressão intra-atrial aumenta (figura 6.4.a)
denominada de ejeção rápida, pois com a pressão e como o sangue flui para o ventrículo, a pressão
alta induz uma saída rápida do sangue. intraventricular também aumenta (reduzindo le-
Após este breve momento a a pressão não se vemente a pressão atrial). No entanto, as valvas
eleva mais fazendo com que a ejeção torne-se mais atrioventriculares se fecham (por ocasião da sís-
lenta (ejeção lenta) até a completa saída de san- tole ventricular) a pressão atrial volta a se elevar
gue. Inicia-se, então, o fase de diástole. (figura 6.4.c) devido aos abalos das VAV no sentido
A entrada do sangue, devido a grande diferença dos átrios (como um “paraquedas” se abrindo no
de pressão entre o átrio e o ventrículo faz com que interior do átrio). O sangue não para de chegar ao
o sangue seja transferido para o ventrículo rapi- átrio, o que induz um aumento leve de sua pressão
damente (enchimento rápido). Com o passar do até a onda v (figura 6.4.v), observado pela abertu-
tempo as pressões vão se igualando e promovendo ra da VAV.
55
Almanaque de Fisiologia

Sístole atrial

Contração Isovol.

Enchimento
Ejeção Rápida

Ejeção Lenta

Isovolumétrico

Ventricular
Enchimento
Ventricular
Relaxamento

Rápido

Lento
120 Abertura
da VSL Pressão
100 Aórtica
80 Fechamento
da VSL
Pressão 60 Pressão
Ventricular
(mmHg) Fechamento Esquerda
40 da VAV
Pressão Atrial Abertura da
20 Esquerda VAV
0
5
4
Fluxo 3
Sanguíneo 2
Aórtico (L/min) 1
0
130
Volume 110
Ventricular 90
(mL) 70
50
B1 B2
B4 B3
Sons Cardíacos
a c
Pulso Venoso v Figura 6.4. Diagrama de Wiggers.
R O diagrama representa apenas um
ciclo cardíaco, levando-se em con-
P T P
Eletrocardiograma sideração o lado esquerdo do co-
Q R ração. Entende-se por VAV, valva
atrioventricular esquerda (mitral);
VSL, valva semilunar aórtica; B1 a
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 (s)
B4, bulhas.

As bulhas são observadas pelos fechamentos com a força com que o coração pode imprimir no
das valvas atrioventriculares e semilunares (B1 sangue para a sua saída dos ventrículos.
e B2, respectivamente). Porém, se observarmos Estes conceitos podem ser bastante úteis para
existem mais duas bulhas (B3 e B4); estas bulhas determinar algumas patologias, por exemplo,
são, respectivamente, o som do sangue reverbe- quando o coração aumenta a pós-carga significa
rando nas paredes do coração ao adentrar os ven- que a resistência para saída do sangue está au-
trículos e o turbilhonamento do sangue ao final do mentada, fato observado nos casos de hipertensão
enchimento ventricular durante a sístole atrial. arterial. Este fato está relacionado com o aumento
Ambas as bulhas B3 e B4 são pouco audíveis em da pressão na aórta.
adultos saudáveis. B3 é ouvida nas crianças sau- A pré-carga se relaciona com o retorno veno-
dáveis, enquanto B4 está mais relacionada aos es- so (volta do sangue para o coração), ou seja. se a
tados de alto débito cardíaco (volume de sangue pré-carga aumenta significa que mais sangue está
propelido do coração por um minuto), em prati- chegando ao coração (figura 6.5).
cantes de exercícios físicos de intensidade.
Estas bulhas são mais bem registras por micro- Objetivo
fones e aparelhos denominados de fonocardiogra- Familiarizar os alunos com a técnica de auscul-
fo, ou seja, dificilmente são observados em auscul- ta das bulhas cardíacas.
tas tradicionais (com estetoscópio).
Materiais
Pré-carga e pós-carga • Estetoscópio
Como já visto anteriormente, não é normal
que um músculo entre em distensão. No coração Procedimento
o mesmo fato ocorre. O aumento do grau de tensão Aplicar a membrana do estetoscópio sobre cada
do músculo cardíaco é chamado de força pré-car- foco de ausculta e observar o número, intensidade
ga, em outras palavras o grau de distensão do co- e altura das bulhas, grande e pequeno silêncios,
ração. Enquanto que a pós-carga está relacionada
56
Ausculta cardíaca
120
120 B 100
A
100 80
II
60
80
I 40
Pressão 60
(mmHg) Débito Sistólico
20

40 0
50 100 150

20 IV
III
0 120 Figura 6.5. Curva de pressão/
50 100 150 C 100
volume. Em A observa-se um
padrão fisiológico de débito sis-
Volume Ventricular (mL)
80
tólico, no entanto, quando o vo-
lume de sangue que é propelido
60 pelo coração aumenta (B) indica
maior pré-carga, ou seja maior
40
retorno venoso. Em C observa-se
20 uma redução do débito cardíaco
(sistólico) devido um aumento
0 da pós-carga, devido ao aumento
50 100 150
da pressão arterial.

frequência e ritmo cardíaco. quais as condições para seu aparecimento?


É patológico (sopro)?
Observações • No caso de um paciente taquicardico é pos-
1. A ausculta será realizada com o auxílio do sivel individualizar as bulhas? No caso de
estetoscópio (ausculta mediata), porém pode tam- negativo o que poderia ser feito para tentar
bém ser realizada com o ouvido aplicado sobre a determinar cada uma?
região precordial (ausculta imediata). • Defina e exemplifique o que são efeitos cro-
2. O aluno deverá respirar tranquilamente, para notrópicos e inotrópicos.
que sejam percebidas as bulhas cardíacas e/ou fa-
zer breves apnéias. Referências
3. Embora existam focos secundários para aus- HALL, J.E. Guyton & Hall - Tratado de fisiologia médica, 12 Ed,
culta, deverão ser avaliados os focos primários (fi- Rio de Janeiro: Elsevier, 2011
gura 6.1):
a. Foco mitral: localizado na sede do ictus cordis,
ou seja, no 4º ou 5º espaços intercostais es-
querdo, entre a linha mamilar e a para-ester-
nal, a cerca de 8 cm da linha mediana anterior.
b. Foco tricúspide: localizado no segmento infe-
rior do esterno, junto à base do apêndice xifói- Quadro 8.1. Intensidade das bulhas 1 e 2 nos vários focos de
de. ausculta cardíaca. Preencha numerando de 1 a 5 cada célula
c. Foco pulmonar: localizado na extremidade es- do quadro, considerando que 1 seja sons de baixa intensidade
ternal do 2º espaço intercostal esquerdo, junto e 5 de alta intensidade.
à borda esternal. Focos cardíacos B1 B2
d. Foco aórtico: localizado na extremidade ester- Aórtico
nal do 2º espaço intercostal direito, junto à
borda esternal. Mitral

Pulmonar
Discussão Tricúspide
• Quantas bulhas são audíveis em cada foco?
• Qual evento está relacionado com cada bu-
lha?
• Preencha o quadro 8.1 com a sua persep-
ção de intensidade das bulhas.
• O que é desdobramento da segunda bulha e
57
Almanaque de Fisiologia

1 2

3 4

9 10

11

1. O ______________ silêncio se apresenta entre a primeira e


a segunda bulha.
12 2. Problema de valva, no qual esta reduz o seu óstio.
CRUZADAS

3. __________________ bulha representa o fechamento das


valvas atrioventriculares.
4. Problema de valva, no qual esta não se fecha correta-
mente, ocasionando o refluxo sanguíneo.

EclipseCrossword.com
fisiologia 5. Foco localizado no 2º espaço intercostal paraesternal
direito.
PALAVRAS
em

6. Som fisiológico de fechamento das valvas.


7. Relaxamento dos ventrículos.
8. Valva atrioventricular direita.
9. Artéria que conduz sangue do ventrículo esquerdo
para praticamente todo o corpo.
10. Som patológico das valvas cardíacas.
11. Movimento pulmonar que pode ocasionar o desdo-
bramento da segunda bulha.
12. Foco que por vezes se apresenta na região do ictus
cordis.

58
Ausculta cardíaca

59
Eletrocardiografia no homem

Introdução rização do nodo sinoatrial, consequentemente, a


O coração tem um sistema nervoso próprio e sístole atrial. A duração da onda P se correlaciona
autônomo, porém, este sistema nervoso pode so- com o tempo de condução, pelos átrios.
frer interferências da função associativa do siste- 2. Intervalo PR: representa o tempo desde
ma nervoso central para adaptação ao meio am- a despolarização do NSA até a despolarização do
biente. Os registros elétricos do coração podem NAV, logo, corresponde ao início da sístole atrial.
ser medidos na superfície da pela, consequente- Precisamos lembrar que a despolarização do NSA
mente, servindo para avaliar o seu bom funciona- acontece antes mesmo da contração atrial, logo,
mento ou não. devemos incluir no intervalo PR toda a onda P.
Os registros na pele podem ser observados pois 3. Complexo QRS: composto pelas ondas Q,
o corpo humano é composto em grande quantida- R e S, devido à quantidade de eventos que ocorrem
de or água e íons, o que o torna altamente condutí- simultaneamente, ou seja, corresponde à despola-
vel à eletricidade. rização do NAV e repolarização do NSA. A duração
Aos registros gráficos da atividade elétrica do complexo QRS se assemelha à da onda P, apesar
do coração damos o nome de eletrocardiograma dos ventrículos serem maiores que os átrios, no
(ECG), que é realizado por um aparelho (eletrocar- entanto, a condução nestes é muito mais rápida.
diógrafo). 4. Onda T: representa a repolarização do
Devemos lembrar que o coração apresenta NAV, consequentemente, relaxamento (diástole)
como estruturas condutoras o nodo sinoatrial ventricular.
(NSA), nodo atrioventricular, feixe de His e fibras 5. Intervalo QT: este intervalo inclui o com-
de Purkinje (figura 9.1). Estas estruturas possuem plexo QRS, o segmento ST e a onda T.
despolarizações automáticas devida a NSA Átrio
abertura prévia dos canais de Na⁺ (efei- 0 0

to de marcapasso). São estas estruturas Bachmann


que promovem a movimentação de íons,
-65 -90
gerando eletricidade, que é reverberada a
pela pele. p
m
AE
No ECG é notado um padrão de ondas 0
NAV
0
Epi

positivas (para cima) e negativas (para


baixo). Ao aprofundarmos os estudos VD VE
sobre esta técnica foram nomeadas algu- -50 -80
mas ondas e intervalos que foram corre-
lacionados com as atividades elétricas do
Purkinje Endo
coração. O padrão fisiológico do ECG pos- 0 0

sui as ondas P, Q, R, S, T e (algumas vezes)


U (figura 9.2).
1. Onda P: representa a despola- -80 -80

61
Almanaque de Fisiologia
Figura 9.2. Representação gráfica dos registos
do eletrocardiograma humano na derivação
RR ST DII (eletrodo negativo no braço direito e posi-
tivo na perna esquerda. Observa-se as ondas P
positivas, derivadas da despolarização do NSA
R (sístole atrial); complexo QRS positivo, deriva-
do da repolarização do NSA e despolarização
P do NAV (diástole atrial e sístole ventricular);
T
onda T positiva, derivada da repolarização do
NAV (diástole ventricular). Observe que no es-
quema não foi acrescentado a onda U, devido
Q S ao seu não aparecimento com frequência. No
entanto, esta onda se apresenta positiva de
baixa amplitude após a onda T. Os intervalos
PQ equivalem ao tempo de sístole atrial; QT o
PQ QT intervalo de sístole ventricular e ST o tempo do
platô eletríco dos ventrículos.

6. Intervalo ST: corresponde ao platô do po- A explicação é simples, cada derivação é capaz
tencial de ação ventricular. de medir de um determinado plano os potenciais
7. Onda U: nem sempre é presente e embora elétricos do coração. Uma forma de entender se-
ainda seja discutida sua correlação com os eventos ria: Você compraria um carro olhando somente um
cardíacos, é sugerido que representa a contração lado dele? As derivações tem função de mostrar os
dos músculos papilares do coração. potenciais de “lados” diferentes do coração.
8. Intervalo RR: é o intervalo do ciclo car- Imagine a derivação DI (quadro 9.1), diferen-
díaco, bastante utilizado para medir a frequência ça de polaridade entre o braço direito e esquer-
cardíaca. Toma-se por base este intervalo por ser do, isso sugere que diferença de potenciais entre
visivelmente o mais fácil de se observar, posto que o lado direito e esquerdo do coração; a derivação
a onda R é a mais alta. DII é capaz de mostrar a diferença entre o braço
direito e a perna esquerda, ou seja, a diferença en-
Polaridade das ondas do ECG tre potenciais da base para o ápice do coração (re-
Para entender a polaridade das ondas precisa- lembre a posição cardíaca, ela vai para a esquerda
mos ter por base o coração funciona como um ve- e para baixo).
tor (já que ele tem sentido de despolarização: pri- As derivações unipolares utilizam somente um
meiro os átrios depois os ventrículos) e que este eletrodo positivo, logo, o centro do corpo é con-
vetor aponta para baixo (ápice do coração para siderado como voltagem negativa, afinal nenhum
baixo), para a esquerda (ápice levemente voltado dos membros está com eletrodo negativo a carga
para a esquerda) e para frente. Lembrando que a se concentra no centro do corpo (no coração). Na
despolarização segue do átrio para os ventrículos, derivação aVR o eletrodo positivo no braço direito
a bioeletricidade cardíaca segue o vetor para bai- mostra a movimentação de cargas do centro para
xo, para a esquerda e levemente para frente. o quadrante superior direito (eletrodo positivo).
Fisicamente, a eletricidade acontece por dife-
rença de polos e sempre do polo negativo para o
positivo. Logo, para registrarmos os eventos elé- 1s
25 mm/s
tricos do coração precisamos criar polos elétricos
sobre a pele para registrar a movimentação de car-
gas.
A colocação dos eletrodos pode ser efetivada
em qualquer região do corpo, embora sejam pa- 1 mV
10 mm/mV
dronizadas algumas posições que dão origem as
derivações cardíacas. 1 mm = 0,1mV

As derivações cardíacas podem ser do tipo bi-


polares (dois eletrodos, um positivo e um negativo
5 mm = 0,5mV
e classificadas em DI, DII e DIII), unipolares (um
eletrodo positivo, denominadas aVR, aVL e aVF)
1 mm = 0,04s
ou precordiais (apenas um eletrodo posicionado
sobre o eixo ou vetor cardíaco, denominadas de V1 5 mm = 0,2s

a V6). Figura 9.3. Padrões do pa-


Mas afinal de contas, por quê esse “monte” de de- pel milimetrado usados no
rivações? ECG, convencionalmente

62
Eletrocardiograma no homem
Quadro 9.1. Localização dos pontos dos eletrodos negativos e positivos nas derivação utilizadas comumentes na eletrocardiografia
no ser humano
Eletrodos
Tipos de derivações Nomenclatura
Negativo Positivo
DI Braço esquerdo Braço direito
Bipolares DII Braço esquerdo Perna esquerda
DIII Braço direito Perna esquerda
aVR - Braço direito
Unipolares aVL - Braço esquerdo
aVF - Perna esquerda
V1 - 4º espaço intercostal direito na linha paraesternal
V2 - 4º espaço intercostal esquerdo na linha paraesternal
V3 - Entre as derivações V2 e V4
Precordiais
V4 - 5º espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular
V5 - 5º espaço intercostal esquerdo na linha axilar anterior
V6 - 5º espaço intercostal na linha axilar média

Nas derivações precordiais (V1 - 6) colocamos cálculos.


o eletrodo positivo quase que “sobre o coração”, Por exemplo, considerando DII, temos que o ve-
logo, mostra a diferença de voltagem do centro do tor elétrico parte do pulso direito e segue para a
coração para o ponto do eletrodo. V1 está posicio- perna esquerda, formando um ângulo de 60o com
nado próximo ao NSA enquanto que V6 está no o solo. Já na derivação DIII é formado um vetor
ápice do coração, logo, são definidas as diferenças elétrico, também, com 60o com o solo, porém no
de potencial entre o centro do coração e o ápice. A sentido braço esquerdo - perna esquerda.
descrição de cada posicionamento é apresentado Cada angulação das derivação bipolares e uni-
no quadro 9.1. polares estão apresentadas na figura 9.4. Sabendo
cada angulação (denominada de rosa-dos-ventos)
Triângulo de Einthoven e sabendo que as ondas são positivas quando a
Willem Einthoven foi um fisiologista que estu- movimentação de cargas (despolarização ou re-
dou a atividade elétrica no corpo humano e, des- polarização) das células seguem o vetor elétrico,
cobriu e descreveu o mecanismo do eletrocardio- podemos calcular a posição do coração. Técnica
grama. denominada de cálculo do vetor elétrico do co-
Para seus estudos Einthoven precisaria man- ração, apresentado na figura 9.5.
ter uma padrão de análise. Ele preconizou que os Observe que no exemplo a seguir o eixo elétrico
eletrodos deveriam ser posicionados nos punhos e do coração aponta para baixo e para esquerda (ob-
tornozelos. Afinal, estes pontos formariam (quan- servar na rosa-dos-ventos). No entanto, não con-
do os braços estão abertos e as pernas juntas) um seguimos saber se o órgão está com o ápice apon-
triangulo equilátero, o que permitiria fazer alguns tando para o anterior ou para o posterior, pois não

a b c
DI
DI
BD BE
- +
+ aVR aVL + aVR aVL
- -
-

aVF DII DIII


DII DIII aVF

PE
+ +

Figura 9.4. Derivações unipolares (aVR, aVL e aVF) e bipolares (DI, DII e DIII) angulações do eletrocardiograma (ECG). Em a é
observado o posicionamento dos eletrodos positivos e negativos. Em b observa-se o triângulo de Einthoven com os sentidos das
direções. Ao se alinharem todos os vetores no mesmo ponto central podemos observar com as angulações cada derivação (c).
63
Almanaque de Fisiologia

DII aVF

DII aVF

Figura 9.4. Etapas para o cálculo do eixo


cardíaco. Onde, 1 pode ser observado as de-
rivação DII e aVF do paciente (como exem- R1= (Azul) + (Vermelho) R2= (Azul) + (Vermelho)
plo); 2, calculamos analisamos a amplitude 3 R1= (+9 mm) + (-3 mm) R2= (+6 mm) + (-3 mm)
R1= +6 mm R2= +3 mm
positiva (azul) e negativa (vermelha) de
cada derivação; 3, calculamos a resultante
-90º
para cada derivação; 4. Projetamos os ve- -120º -60º

tores resultante de cada derivação sobre a


-150º aVL -30º
rosa-dos-ventos (para dar a angulação cor- aVR

reta); 5, realizamos o somatório dos vetores 5


DI
resultantes para determinar o eixo cardía- 4 180º 0º

DII DII
co.A saber, o posicionamento anatômico do
coração dar-se com o eixo estando incluso +150º +30º EC EC
entre -30o e +90o, observado na figura 9.4.c DIII DII aVF aVF
(Pastore et al., 2009). +120º aVF +60º
+90º

foi analisado o plano frontal (através das deriva- logo, facilita identificada em praticamente todas
ções précordiais). as derivações.
Onda S: Onda negativa que se apresenta depois
Características de cada onda do ECG da onda R (maior).
Onda P: Caracterizada por pequena deflexão Complexo QRS: Tem duração entre 0,06 a 0,12
arredondada (positiva em todas as derivações bi- s (assemelha-se à onda P), porém com relação à
polares) com duração entre 0,05 e 0,07s em crian- amplitude não existem critérios bem estabeleci-
ças e 0,07 a 0,10s em adultos. Tem uma amplitude dos. Porém, a Sociedade Brasileira de Cardiologia
máxima normal de 2.5 mm (0,25 mV). No entanto, (Pastore et al., 2016) preconiza que a amplitude,
mais frequentemente, esta onda se situa entre 0,5 nas derivações do plano frontal, deve ter entre 5
e 2 mm. e 20 mm e nas derivações precordiais entre 10 e
Morfologicamente apresenta-se arredondada, 30 mm.
monofásica, apresentando ocasionalmente peque- Segmento ST: Porção do ECG que está entre o
nos entalhes, desde que entre um pico e outro não complexo QRS e a onda T, nivelado em relação à
exista mais de 0,04 s. linha de base determinada pelo segmento PR.
Intervalo PR: Tempo entre a despolarização Onda T: Onda assimétrica de início mais lento e
atrial (inclui-se a onda P) e a despolarização ini- final mais rápido, positiva em quase todas as deri-
cial ventricular. Em outras palavras, é considerado vações, habitualmente com polaridade semelhan-
o tempo de condução pelo NAV. A duração deste te à do QRS e de amplitude equivalente a cerca de
intervalo é de 0,16 s. 10 a 30% do QRS.
Onda Q: Caracterizada pela primeira onda ne- Onda U: Última e menor deflexão do ECG que,
gativa do complexo QRS. Apresenta-se como uma quando presente, inscreve-se logo após a onda T
onda estreita e pouco profunda, com duração me- e antes da P do ciclo seguinte, de igual polarida-
nor que 0,04 s e 2 mm de profundidade. Geralmen- de à T precedente e de amplitude entre 5 a 25%
te não excede 25% do complexo QRS. Pode haver da mesma, na maioria das vezes. Não é visível com
uma onda Q relativamente profunda em DIII em facilidade, no entanto, quando em baixas frequên-
corações horizontalizados e um complexo QS em cias podem ser observadas. Não implica obrigato-
aVL nos corações vertilarizados. riamente em patologias. Na verdade sua presença
Onda R: Esta é a onda de maior amplitude, ainda tem causa incerta. Algumas das causas atri-
64
Eletrocardiograma no homem
buídas ao seu aparecimento são: Repolarização Bibliografia
tardia das fibras de Purkinje, repolarização demo- Pastore, C.A.; Pinho, J.A.; Pinho, C. et al. Diretrizes da Socie-
rada dos músculos papilares, potenciais residuais dade Brasileira de Cardiologia sobre análise e emissão de
laudos eletrocardiográficos. Arq.Bras.Cardiol., v.93, n.3,
tardios do septo cardíaco, entre outros.
Supl.2, 2016.

Frequência cardíaca
Normalmente os ECGs já trazem de forma auto-
mática a frequ|ência cardíaca, no entanto, é impor-
tante saber como esta medida é feita.
Para isso tomamos por base o intervalo entre
duas ondas R consecutivas (intervalo RR). É im-
portante antes de qualquer cálculo seja observado
se não há arritmia, ou seja, se não há muitas va-
riações entre vários intervalos RR. No caso de ma- a
nutenção dos intervalos deve-se proceder com os
cálculos.
Sabes-se que cada “quadradinho” (milímetro)
do papel de ECG dura 0,04 s por padrão (lembran-
do que depende do padrão de calibração do apare-
lho). Com isso, basta multiplicar 0,04 pelo número
de milímetros de intervalo RR para obter o tempo b
de um ciclo cardíaco. Após isso basta dividir 60
(segundos/minuto) pela duração do ciclo cardía-
co.
Tomemos por exemplo um ECG que tenha 23
mm de intervalo RR. Então, 23 x 0,04 = 0,92. Logo,
60/0,92 = 65,2 bpm. c
Algumas formas derivadas destas sequências
de cálculo é: 1500/intervalo RR. Seguindo o exem-
plo, 1500/23 = 65,2 bpm.

Procedimentos
Realizar o ECG completo de cinco voluntários d
(observe todo o procedimento já descrito ante-
riormente).

Discussão
• Qual a frequência cardíaca dos cinco volun-
tários? e
• Descreva qual a angulação dos eixos cardía-
cos dos cinco voluntários.
• Descreva o que é arritmia. Comente três ti-
pos de arritmias.
• O que é flutter atrial? Qual a diferença para Figura 9.5. Algumas patologias apresentadas no ECG
fibrilação atrial?
• O que é fibrilação ventricular?
• Desenhe e comente o que são infra e supra
de ST. Em que derivações devem ser pesqui-
sadas?
• Identifique cada uma das patologias apre-
sentadas na figura 9.5. Comente brevemen-
te sobre cada uma delas.
• Calcule a frequência cardíaca na DII da figu-
ra 9.6 e indique se está normal consideran-
do que o paciente é do sexo masculino, 20
anos, com 1,70m e 75 Kg de massa.

65
Almanaque de Fisiologia

DII

Figura 9.6. Representação eletrocardiográfica (DII) de um paciente masculino de 20 anos de idade, com 1,70m de altura e 75 kg
de massa.

66
67
Pulso arterial na espécie humana

Introdução do de carbono) e os capilares (vasos com menor


O sangue arterial tem a função de nutrir e oxi- calíbre) são responsáveis pela troca de nutrientes
genar todos os tecidos do organismos, além de com os tecidos irrigados.
transportar metabólitos e direcionálos à excreção. Esta afirmação não está completamente correta
Ele flui do coração para os tecidos periféricos, pois pois existem excessões. As artérias que compõem
é impulsionado pela força de contração do ventrí- o tronco pulmonar (partindo do ventrículo direi-
culo esquerdo. Essa ejeção intermitente de sangue to) conduzem sangue venoso. Já a veia pulmonar,
do coração causa um pulso que se desenvolve des- que desemborca no átrio esquerdo conduz o san-
de a aorta proximal conforme o sangue é ejetado gue que foi oxigenado nos pulmões, ou seja, con-
até os demais órgãos. Este pulso é facilmente é de- duzem sangue arterial.
tectado pela palpação das grandes artérias.
Consequentemente, o pulso arterial acompanha Histologia dos vasos sanguíneos
a frequência de contração do coração, em especial Os vasos sanguíneos são compostos de três ca-
devido às fibras elásticas (em abundância nas ar- madas concêntricas, denominadas túnicas: íntima,
térias). Para a espécie humana, de um modo geral,
tem a frequência cardíaca entre 60 e 80 bpm. Lem-
brando que mulheres tendem a ter menor frequ- Túnica Íntima (Endotélio)

ência (devido ao metabolismo) assim como atletas


(devido ao maior débito cardíaco). Em crianças, a
frequência é maior devido ao maior metabolismo Túnica Média
(predominância de
e menor débito cardíaco. músculo liso e �ibras
elásticas)
O pulso pode ser aferido em todas as artérias
superficiais. Porém, em geral, utiliza-se a artéria
radial, femoral ou as carótidas, devido à facilida-
de. Algumas características devem ser observadas:
ritmo e amplitute, considerando-se ritmo como
sendo a regularidade temporal das pulsações e po- Túnica Adventícia
(predominancia de tecido
dem ter duas formas, rítmico e arrítmico e, a am- conjuntivo �ibroso)
plitude denota-se como sendo a intensidade das
pulsações podendo esta ser forte ou fraco.

Tipos de vasos sanguíneos Figura 10.1. Histologia das camadas da parede de uma arté-
Os vasos sanguíneos podem ser divididos de ria do tipo muscular. Na figura apresenta-se as túnicas íntima
forma bem simples e didática em artérias, veias e formada pelo endotélio e seu tecido conjuntivo subjacente
(lâmina basal), a túnica média, composta, principalmente, por
capilares. Fisiologicamente afirma-se que as arté- tecido muscular e tecido conjuntivo elástico e, por fim, túnica
rias carregam sangue arterial (rico em oxigênio), adventícia, composta por tecido conjuntivo fibroso com pre-
as veias conduzem sangue venoso (rico em dióxi- dominância de fibras colágenas.
Pulso arterial na espécie humana
média e adventícia.
A túnica íntima corresponde a uma camada de
células pavimentosas (endotélio) que revestem o
lúmen do vaso e sua quantidade variável de tecido
conjuntivo subendotelial.
A túnica média é composta de células muscu-
lares lisas, organizadas de forma circular em torno
do lúmen e de tecido conjuntivo rico em fibras co-
lágenas e elásticas, cujo conteúdo elásico é muito
pronuciado noas vasos mais calibrosos.
A túnica adventícia é a camada mais externa
da parede vascular consistindo em tecido conjun-
tivo rico em colágeno e que também dispõe de
fibras elásticas. Os vasos de maior calibre, nessa
túnica, são invadidos por várias vasos de menores
calibres que têm a função de nutrir as próprias cé-
lulas daquele vaso. A essas estruturas (vasos me-
nores dentro da túnica adventícia) damos o nome
de vasa vasorum.

Objetivo
Avaliar o ritmo e amplitude do pulso e medir
a frequência cardíaca através do próprio pulso de
voluntários.

Procedimento
Aplique ao longo da artéria radial no terço dis-
tal do rádio as polpas do 2º e 3º quirodáctilos,
exercendo discreta compressão (figura 1).
A secção da artéria tomará configuração elípti-
ca e voltará a condição cilíndrica em cada fase sis-
tólica, com a chegada de onda de pulso gerada em
função da ejeção ventricular.
O choque mecânico (pulso arterial) será trans-
mitido às polpas digitais e assim será percebido
pelo avaliador.

Discussão
1. Ao palpar simultaneamente as artérias radial
e carótida e responda:
a. A frequência é a mesma em ambas? Por quê?
b. O ritmo é o mesmo em ambas? Por quê?
c. A amplitude é a mesma em ambas? Por quê?

69
Almanaque de Fisiologia

70
71
Pressão arterial no homem

Introdução Quando se trata de método indireto existem


A força de ejeção do sangue pelo ventrículo está duas formas de aferir a pressão, a forma palpatória
associada à pressão arterial seja da pressão nas ar- e a auscultatória. Em ambos os casos é feito o uso
térias pulmonares (no caso do ventrículo direito) de um aparelho denominado esfigmomanômetro.
ou na aórta (ventrículo esquerdo). Para aferição por meio palpatório deve-se pros-
Como visto no capítulo passado, essa pressão seguir com o seguinte passo a passo:
é repassada adiante devido à elasticidade dos va- 1. O paciente deve estar relaxado, não pode ter
sos, em especial por conta da túnica média que se tomado nos últimos 30 minutos, ou feito esforço
destende ao chegar do sangue e se contrae como físico;
consequência (função das fibras elásticas e mús- 2. Deve-se observar se o paciente não se encon-
culos lisos). tra com braços ou pernas cruzados;
Logo, a pressão arterial (PA) é resultado de uma 3. Deve-se colocar no braço do paciente o es-
influência direta da resistência vascular períférica figmomanômetro, para tal observar se o diâmetro
(RVP) e do débito cardíaco (DC). Onde, entende- do braço do paciente está de acordo com as reco-
-se por DC o volume do sangue que é propelido do mendações do aparelho. O local de acomodação do
coração por minuto, como visto anteriormente, e, aparelho é dois ou três centímetros acima (pro-
RVP todas as forças que impedem a progressão do ximal) da fossa cubital, lembrando de observar a
sangue pelos vasos, por exemplo, se o vaso tiver indicação da artéria no manguito (braçadeira) do
um calibre menor, por conta de uma contração de aparelho. Não deve-se inflar o aparelho!
suass paredes, um acúmulo de sangue em determi- 4. Deve-se detectar o pulso arterial radial;
nado local do vaso, o atrito com as próprias pare- 5. Inflar o esfigmomanômetro devagar (obser-
des dentre outros fatores. vando o pulso). Ao observar que não há mais pulso
O DC também pode ser matematicamente cal- deve-se continuar inflando até 30 mmHg acima.
culado como sendo a frequência cardíaca (FC) Por exemplo: foi observado que o pulso parou com
multiplicado pelo volume sistólico final (VSF). aproximadamente 110 mmHg, devemos continuar
Logo, teremos a fórmula: inflando até 140 mmHg.
6. Desinflar lentamente o manguito (mais ou
PA = DC x RVP ou ainda, PA = FC x VSF x RVP menos 10 mmHg/s)
7. Observar e registrar o retorno do pulso. Esta
Existem dois métodos práticos para aferição da medida é correspondente à pressão sistólica (má-
PA, invasivo (intra-arterial ou direto) e não inva- xima).
sivo (ou indireto); no método invasivo é utilizado Para a realização da auscultatória, o avaliador
um barômetro intra-arterial que pode ser colo- deve já ter realizado a aferição palpatória (para ter
cado no interior da própria aorta através de um noção da pressão sistólica) e ter esperado no míni-
procedimento cirúrgico (cateterismo). Em outras mo 30 s a 1 min. Deve, então, realizar os mesmos
palavras, este é um método que não pode ser reali- procedimentos anteriormente descritos, no entan-
zado em um ambulatório. to, realizando o insuflamento do manguito até 30
Pressão arterial no homem

Decréscimo
da pressão no
Pressão Arterial (mmHg) es�igmomanômetro Figura 11.1. Diagrama do pulso ar-
terial apresentando os sons de Ko-
120 rotkoff e a pressão arterial. Obser-
Pulso Arterial va-se que o aparecimento dos sons
(de Korortkoff) se dá ao atingir a
igualdade entre a pressão no esfig-
momanômetro e a pressão arterial,
80 correspondendo ao primeiro jato
de sangue (turbulento) que atinge a
parede distal da artéria ocluída pelo
aparelho (pressão sistólica). Quando
este fluxo se torna laminar o som de-
Sons de Korotkoff saparece, registrando-se a pressão
diastólica.


IMPORTANTE te teve sua PA aferida!
Existem apenas duas formas de usar o es�ingmo-
manômetro: método palpatório, onde utiliza-se o Posicionamento do paciente
pulso para determinar a pressão sistólica apenas e Efeito do exercício
o método auscultatório na qual são observados a O posicionamento do paciente pode influenciar
pressão sistólica e diastólica. Não existe método na pressão arterial? A resposta é: SIM! Devemos
visual (observando apenas o movimento do lembrar que a PA é uma equação de débito cardía-
ponteiro do manómetro)!!! co e resistência vascular (apresentado no início do
capítulo). Logo, a dinâmica dos fluidos corporais
podem influenciar diretamente na pressão arte-
mmHg superior à pressão sistólica. rial.
Com o estetostópio posicionado sobre a região A gravidade pode influenciar diretamente no
da artéria radial, no momento do insuflamento, o retorno venoso do paciente, logo, influenciar na
avaliador ausculatará um primeiro som (forte) que dinâmica do sangue.
corresponde à pressão sistólica e conforme a pres-
são no manguito vai sendo liberada o som vai se
Procedimentos
tornando mais abafado até desaparecer (pressão
Para a realização da primeira prática o volun-
diastólica). A estes sons é dado o nome de sons de
tário deverá estar em repouso. O avaliador deverá
Korotkoff (figura 11.1).
aferir a PA do voluntário sentado. Anotar os valo-
É importante observar que não existe método
res da PA sistólica e diastólica e, em sequência ano-
de aferição visual, ou seja, onde o avaliador sem
tar os valores no quadro 11.1. Realizado este pro-
aferir o pulso ou fazer ausculta consiga determinar
cedimento o voluntário deverá fazer dois minutos
a pressão sistólica ou diastólica do paciente. Erro
de exercício físico, como por exemplo polichinelos,
muito comum dos profissionais de saúde sem co-
subir e descer escada ou correr. Ao final do tempo
nhecimentos técnicos adequados.
de exercício deve-se sentar para uma nova aferição
das pressões sistólica e diastólica. Ao final preen-
Fatores que podem influenciar a PA cher o quadro 11.1.
A PA é susceptível à vários fatores, dentre eles o
estilo de vida (codidiano), estresse, idade, circun-
Efeito do posicionamento
ferência abdominal (acúmulo de tecido adiposo
Para essa etapa o voluntário (em repouso por
visceral), medicamentos, dentre outros.
pelo menos 30 minutos) deverá ser submetido à
Frente a toda a variação, a Sociedade Brasilei-
aferição das pressões sistólica e diastólica nas po-
ra de Cardiologia (SBC, 2017) preconizou algumas
sições sentado, deitado, ortostática (em pé) e em
diretrizes para melhor assistência ao paciente.
trendelenburg (deitado e com as pernas suspen-
Antes da realização da aferição alguns parâmetros
sas). Ao final deve-se preencher o quadro 11.2.
são importantes de serem observados: o paciente
estava em repouso antes da aferição? Fez esforço
físico nos últimos cinco minutos? Tem anteceden-
tes com cardiopatias? Tomou café, bebida alcoóli-
ca ou fez uso de cigarro nos últimos 30 minutos?
Qual a idade do paciente?
Outro fator geralmente negligenciado pelos
profissionais de saúde é a posição a qual o pacien-
73
Almanaque de Fisiologia
1 2

CRUZADAS
3 4

6 7

fisiologia
PALAVRAS

em
8

10

1. Aparelho utilizado em ambulatórios para realizar a aus-


culta dos sons durante aferição da pressão arterial.
2. Condição de um determinado paciente que encontra-se
com pressão arterial de 180 x 100 mmHg.
3. Fase do ciclo cardíaco que atinge o maior valor da pres-
são arterial.
4. Fase do ciclo cardíaco em que os sons de Korotkoff não
são mais auscutados.
5. Posição corporal utilizada para que uma pessoa com hi-
potensão retorne a condição normotensa.
6. Sons auscultados durante a aferiação da pressão arterial.
7. Pressão que dar-se inicio após o registro da onda T no
eletrocardiograma.
8. Pressão arterial que apresenta-se no início do complexo
QRS no ECG.
9. Aparelho utilizado em ambulatórios para obstruir fluxo
sanguíneo para aferição da pressão arterial.
EclipseCrossword.com
10.Nome dado a consição em que a pressão de um indiví-
duo diminui após levantar-se do decúbito dorsla.

74
75
Ausculta Pulmonar

Introdução carbono (CO), entre outros. Portanto, precisamos


O aparelho respiratório é composto por órgãos recordar que misturas gasosas têm pressão total
condutores e respiratórios (propriamente ditos). resultante da soma individual de cada gás de acor-
Dentre os órgãos condutores podemos mencionar do com a lei de Dalton.
as fossas oronasais, laringe, faringe, traqueia, brô- A cada pressão individual de um determinado
nquios e bronquíolos (terminais). Por não apre- componente damos o nome de pressão parcial,
sentarem alvéolos, estes órgãos não realizam tro- ou seja, imaginemos que a pressão atmosférica ao
ca gasosa, restringindo a função respiratória. No nível do mar é de 760 mmHg e que a composição
entanto, podem apresentar papel de defesa (devi- seja 79% de nitrogênio, 20% oxigênio e 1% de di-
do aos cílios, muco e macrófagos), umidificação e óxido de carbono.
aquecimento do ar, fonação (cordas vocais), fun-
ção olfatória (epitélio olfatório da cavidade nasal),
dentre outras. Patm 1 - Ao lado temos o esquema
Os órgãos que apresentam função respirató- de um pulmão muito simples,
onde, percebe-se que a
rias são basicamente bronquíolos respiratório pressão atmosférica (Patm) é
(por apresentarem alvéolos aderidos a parede) e maior qua a pressão nos
o próprio pulmão (que contém sacos alveolares). alvéolos (A1 e A2), fazendo
com que o ar movimente-se
Entende-se por função respiratória a troca de dió- A1 A2 da atmosfera para ambos os
xido de carbono (CO2) do corpo por oxigênio (O2) alvéolos (Lei de Henry);
do ambiente, processo denominado de hematose.
Em todo o trato respiratório, em especial na 2 - Observe que nesta primeira condição as pressões no interi-
parte superior (vias condutoras), o ar é limpo de or dos alvéolos A1 e A2 são praticamente iguais, já que o
volume de ambos é semelhante;
impurezas. Desde as fossas nasais que apresentam
os cornetos que são convoluções no qual o ar se 3 - Considere agora que uma
debate e, pela presença do muco se incrustam de força é exercida sobre A2,
sujeiras. nesta condição seu volume é PA1 < PA2
minimizado e como conse-
O muco também está presente em grande quencia, a pressão aumenta
quantidade na traqueia que pelo movimento dos (Lei de Boyle). Logo, vamos
cílios conduzem as impurezas para a região supe- observar que o ar vai se
movimentar de A2 para A1;
rior para serem expelidas pela boca ou deglutida e
digeridas pelo ácido gástrico.
4 - Neste caso, o colapso do alvéolo A2 é iminente, no entanto,
devido a presença do líquido surfactante no seu interior
Biofísica da respiração impede que haja tensão superficial para manutenção do
O ar atmosférico é um fluido gasoso compos- colapso, podendo reabrir.
to por uma mistura de gases, principalmente por
nitrogênio (N2), oxigênio (O2), dióxido de carbo- Figura 12.1. Esquema didático que demonstra as forças e leis
no (CO2), vapor de água, hélio (He), monócito de da física atuando nos movimentos inspiratórios e expirató-
rios.
76
Ausculta pulmonar
Logo, aproximadamente 600,4 mmHg (=79 x internos e abdominais). Estes eventos promovem
760/100) é de responsabilidade do nitrogênio, a movimentação do ar por variação da pressão in-
152 mmHg (=20 x 760/100) de oxigênio e 7,6 trapulmonar.
mmHg (=1 x 760/100) devido ao dióxido de car- Para tanto, apenas o aumento ou diminuição
bono. do volume da caixa torácica não seria tão eficiente
Outra lei bastante evidente na performance para promover a entrada ou saída do ar dos pul-
respiratória é a lei de Henry que afirma que o gás mões, respectivamente. As características do ór-
migra de regiões de pressão parcial mais elevada gão ajudam a incrementar a eficiência.
para regiões de menor pressão. Ou seja, no caso Os pulmões são órgãos com grande quantidade
da inspiração (movimento para entrada de ar nos de fibras elásticas, o que promovem um retorno ao
pulmões) deve-se à diminuição da pressão interna tamanho original (elasticidade) e forçando ainda
dos pulmões. No movimento de expiração exerce- mais o ar a sair além de permitir a complacência
mos um aumento da pressão interna dos pulmões, (alteração do volume).
o que permite ao gás fluir para fora do corpo. Ademais, o órgão precisa ter um suporte anatô-
Mas afinal como alteramos a pressão interna mico para acompanhar o movimento da caixa to-
dos pulmões? rácica, este suporte é feito pela presença das mem-
Este fato é explicado pela lei de Boyle, que des- branas pleurais que interligam a parede interna da
creve a relação entre volume e pressão. Esta rela- caixa torácica e os pulmões.
ção é inversamente proporcional, ou seja, com o
aumento do volume a pressão diminui e vice-ver- Membranas pleurais
sa. Quando os pulmões aumentam de volume sua A pleura é uma membrana de dupla camada
pressão interna diminui, ou quando os pulmões que comunica a superfície do interior da caixa to-
diminuem o volume a pressão interna aumenta. rácica com a parte externa do pulmão. Precisamos
entender que o pulmão não está “colado” à caixa
Movimentos respiratórios torácica! Na verdade, existe um espaço virtual en-
Existem dois movimentos respiratórios: inspi- tre ambos. A este espaço damos o nome de espaço
ração (entrada de ar nos pulmões) e a expiração intrapleural (entre os dois folhetos, membranas).
(saída de ar dos pulmões). Na inspiração ocorre Ao folheto ligado a caixa torácica denominamos
a contração dos músculos inspiratórios do dia- pleura parietal e ao folheto aderido ao pulmão,
fragma. Entende-se por músculos inspiratórios pleura visceral. Este espaço entre ambas é preen-
os intercostais externos, escalenos e esternoclei- chido pelo líquido pleural que mantém a pressão
domastóideo, que ao se contraírem, empurram as no espaço mais negativo que a pressão atmosféri-
costelas para cima ee para fora. Já a contração do ca (pressão subatmosférica).
diafragma impõe a descida deste cerca de 1,5 cm, Quando uma porção de ar adentra o espaço
aumentando o volume da caixa torácica de 60 para intrapleural, por motivo de uma perfuração em
70%. qualquer um dos folhetos gera uma patologia de-
Na expiração ocorre o relaxamento dos mús- nominada pneumotórax. Nesta condição a pressão
culos inspiratórios em concomitância com a con- intrapleural aumenta o que provoca um colapso
tração dos músculos expiratórios (intercostais pulmonar (devido às fibras elásticas que induzem

a b Figura 12.2. Eventos anato-


mo-funcionais dos movimen-
tos inpiratórios de inspiração
(a) e expiração (b). Observa-
-se que com a elevação das
Elevação das Rebaixamento das
costelas e contração do dia-
costelas costelas
fragma ocorre um aumento
Pulmão do volume da caixa torácica
Palv Palv com diminuição da pressão
alveolar (Palv). No movimen-
to de expiração (b) as coste-
Diafragma las são rebaixadas e o dia-
fragma relaxa, diminuindo
o volume da caixa torácica e
consequentemente, aumen-
Relaxamento do
Contração do tando a Palv, excedendo a
diafragma
diafragma pressão atmosférica. Nesse
último caso o ar se movimen-
ta o interior do pulmão para
a atmosfera.
77
Almanaque de Fisiologia
o retorno do volume mínimo da víscera. Conse- Quando a hemoglobina está ligada ao oxigênio
quentemente, o indivíduo não consegue respirar damos o nome de oxiemoglobina (HbO2), quando
de forma eupneica (normal). Este espaço pode ser ligado ao dióxido de carbono, carbamino-hemoglo-
preenchido ainda por sangue (hemotórax) ou por bina (HbCO2) e existem condições que esta proteí-
líquido intersticial (derrame pleural). na se liga ao monóxido de carbono (CO), composto
chamado de caboxiemoglobina (HbCO).
Líquido surfactante A ligação entre Hb e O2 é muito instável, ou seja,
O líquido surfactante é um líquido presente no facilmente desfeita o que facilita a distribuição do
interior dos alvéolos, produzido pelos pneumóci- gás nos tecidos (perfusão). No entanto, a HbCO2 é
tos tipo II (células internas ao alvéolo) com a fun- mais estável, o que dificulta a liberação do CO2 nos
ção de diminuir o trabalho da respiração por pro- tecidos e, por fim a ligação entre CO e a Hb é muito
vocar a diminuição da tensão superficial da água mais estável. Esta última condição é preocupante,
(interação entre as moléculas de água). Este líqui- posto que quando ocorre dificulta a perfusão do
do é uma mistura que contém lipoproteínas como O2 o que pode levar o indivíduo a diminuir a per-
a dipalmitoilfosfatidilcolina. fusão tecidual do O2 e, consequentemente, hipóxia
ou até anóxia, diminuição ou ausência de O2 nos
Hematose tecidos, respectivamente.
Ao atingir o interior dos alvéolos o ar sofre uma
mudança de composição devido ao processo de Espirometria
hematose (troca de gases). O sangue que chega ao A função pulmonar pode ser avaliada através
pulmão proveniente do corpo é rico em dióxido de de um exame denominado de espirometria (pro-
carbono e pobre em oxigênio, diferente do ar nos veniente do latim: spiro, respirar e metrum, me-
alvéolos que é rico em oxigênio e pobre em dióxi- dida) , no qual os volumes do órgão são medidos
do de carbono. Como já discutimos a diferença de através de um aparelho denominado espirômetro.
pressões parciais de gases promove a rápida troca Esse aparelho mede o ar que é movimentado para
(Lei de Henry). o interior ou expelido pelo corpo, durante respira-
No entanto, é importante notar que o ar alveo- ção em repouso ou durante esforço máximo.
lar não é exatamente igual ao ar atmosférico. Isso Os objetivos da espirometria são: detectar pre-
deve-se ao fato de que os pulmões nunca ficam cocemente as disfunções pulmonares restritivas,
completamente vazios, mantendo uma quantida- obstrutivas, diferenciar doença obstrutiva funcio-
de de CO2 que ao se misturar com o ar atmosfé- nal de uma obstrutiva orgânica, evolução clínica de
rico promove um aumento deste gás e diminuição uma pneumopatia, avaliar o risco cirúrgico (pelo
do O2. Este fato é decorrente da condição que o fato do decúbito), direcionar condutas em pacien-
pulmão nunca está completamente vazio, sempre tes cardiopatas e subsidiar a avaliação da saúde
existe uma quantidade de ar (espaço morto fisio- do trabalhador, em especial no controle de riscos
lógico) que mantém altas concentrações de CO2. industriais.
Este espaço morto é importante para regular a Durante o repouso e em uma respiração tran-
quantidade de O2 e CO2 no sangue, posto que o quila o volume de ar é denominado de volume
CO2 tem influência direta no pH sanguíneo e que corrente (VC). Em condições de inspiração forçada
o excesso de O2 pode provocar a formação de ra- máxima o volume de ar se eleva ultrapassando o
dicais livres (espécies reativas de oxigênio – ROS, VC e atingindo o nível de volume de reserva ins-
do inglês, reactive oxygen species). Estes radicais piratório (VRI). Na expiração forçada máxima (ul-
livres podem interagir com as membranas plasmá- trapassando o VC) atinge-se o volume de reserva
ticas e provocar lesões capazes de matar as células. expiratório (VRE).
Por esta razão é importante saber que nunca pode Quando somamos os volumes obtemos avalia-
se oferecer oxigênio puro a um paciente entubado. ções que denominamos de capacidade. Por exem-
plo: somando-se VC ao VRI temos capacidade
Transporte e distribuição dos gases inspiratória; VC e VRE, capacidade expiratória; so-
Diferente do que muitas pessoas pensam os ga- mando-se VRE, VC e VRI temos a capacidade vital;
ses não necessariamente são transportados liga- somando-se a capacidade vital ao volume residual
dos à hemoglobina (proteína presente no interior (VR – ar que não é expelido durante uma expiração
das hemácias). Cerca de 98% do oxigênio e apenas forçada) damos o nome de capacidade pulmonar
23% de dióxido de carbono são transportados li- total.
gados à hemoglobina. 2% do oxigênio e 7% do di-
óxido de carbono são transportados livres no plas- Sons pulmonares
ma e, por fim, os 70% de dióxido de carbono são Outra avaliação do aparelho respiratório é a
transportados na forma de bicarbonato. observação dos sons produzidos durante o movi-
78
Ausculta pulmonar

Inspiratória (CI)
Capacidade
4 Volume de Reserva
Inspiratório (VRI)

Capacidade
Vital (CV)

Pulmonar Total (CPT)


Volume (L)

Capacidade
Expiratória (CE)
Volume
Corrente (VC)

Capacidade
2

Capacidade Residual
Volume de Reserva

Funcional (CRF)
Expiratório (VRE)

1
Volume
Residual (VR)

0
Tempo
Figura 12.4. Diagrama padrão de uma espirometria demonstrando os volumer e capacidades.

mento do ar no interior das vias aéreas. Os sons plo atelectasia (colabamento dos alvéolos de um
pulmonares são resultados das vibrações das vias determinado local), obstrução por corpo estranho,
aéreas transmitidas à pele. pneumotórax ou derrame pleural; ou ainda gene-
Os sons pulmonares fisiológicos podem ser di- ralizada em todo o pulmão, como por exemplo:
vididos em traqueal, brônquico, broncovesicular e broncoespasmos graves, edema da parede torácica
murmúrio vesicular. O som traqueal é detectado e enfisema pulmonar.
na região de projeção da traqueia (cervical e ester- Os sons patológicos podem ser divididos em
nal), tem como característica ser um som tubular, contínuos, descontínuos e de origem pleural. Os
intenso e soproso. O tempo de inspiração é menor sons contínuos se apresentam devido à obstrução
que o tempo de expiração com uma pausa entre nas vias aéreas (geralmente secreções, espasmos
eles. ou corpos estranhos) e podem ser dos subtipos:
O som brônquico se projeta dos brônquios, pró- roncos, sibilos e estridores.
ximo ao esterno. Tem como característica a seme- Os estridores ocorrem nas vias superiores devi-
lhança com o som traqueal, porém menos intenso. do, principalmente por obstrução mecânica, larin-
O tempo de inspiração e expiração se assemelham gite ou edema de glote. São intensos e agudos e po-
com uma pequena pausa entre eles. dem aparecer tanto na inspiração (mais comum)
Já o murmúrio vesicular é detectado nas regi- como na expiração.
ões mais periféricas dos pulmões (distantes das Os roncos e sibilos são semelhantes, diferen-
vias aéreas centrais). São mais fortes nas regiões ciados apenas pelas frequências dos sons (roncos
anterossuperiores, axilares e infra escapulares. sons abaixo de 200 Hz, mais grave, e sibilos acima
Nas anamneses podemos solicitar ao paciente de 400 Hz, mais agudo e musical). São decorrentes
para respirar pela boca, o que torna os murmúrios das vibrações das paredes brônquicas, logo, são
mais audíveis. O som se apresenta suave e o tempo audíveis nas vias aéreas inferiores. Os roncos são
de inspiração é maior que o tempo de expiração, mais comuns durante a expiração, já o sibilo pode
sem pausa entre eles. se apresentar com mesma frequência nas inspira-
O som broncovesicular é intermediário entre o ções e expirações e são muito comuns nas crises
brônquico e o murmúrio vesicular e é observado asmáticas.
entre o primeiro e segundo espaços intercostais e Os sons descontínuos podem ser subdivididos
na região interescapular. Possuem tempo de inspi- em estertores finos ou grossos. Os estertores fi-
ração e expiração igual entre eles sem pausa. nos (crepitações) se apresentam quando ocorre a
abertura súbita das vias aéreas de menor calibre
Alterações dos sons pulmonares devido a diferença de pressões ou por presença de
Os sons pulmonares podem ser afetados devi- líquidos. Estes sons são apresentados entre o meio
do as condições corporais do paciente, como por e o final da inspiração e geralmente são detecta-
exemplo obesidade ou aumento da massa muscu- dos em edemas pulmonares, pneumonia e fibrose
lar. No entanto, condições patológicas podem pro- pulmonar.
vocar modificações dos sons de forma localizada Os estertores grossos ou subcrepitantes ocor-
(em uma única área do pulmão), como por exem- rem durante a abertura e fechamento súbitos das
79
Almanaque de Fisiologia
Lembre-se de que a ausculta é comparativa,
Sons traqueais sempre oservando pontos alternados (da mesma
- Inspiração mais breve que a expiração
- Pausa entre inspiração e expiração
região) em ambos os pulmões.
Para esta prática utilizaremos, no tórax, cinco
pares de pontos na região anterios, sete pares de
ponto na região posterior e três pares nas laterais.
Deve-se proceder ainda com a ausculta dos sons
Sons brônquicos
- Tempo de inspiração e expiração semelhantes traqueais. Em todos os pontos devem ser avaliados
- Pausa entre inspiração e expiração tanto os movimentos de inspiração e de expiração.

Discussão
• É possível detectar diferenças entre os sons
Sons broncovesiculares de inspiração e expiração? Em que pontos?
- Tempo de inspiração e expiração semelhantes • Existem pausas entre os sons de inspiração
- Sem pausa entre inspiração e expiração
e expiração nos vários pontos?
• Comente quais ocasiões podem ser detecta-
dos sopros (sons patológicos).
• No caso de atrito pleural, qual o som altera-
Murmúrios vesiculares do? Inspiração ou expiração?
- Inspiração mais longa que expiração
- Sem pausa entre inspiração e expiração

Figura 12.5. Duração e intensidade dos sons de inspiração


(azul) e expiração (vermelho) de acordo com o tipo.

vias aéreas de maior calibre com presença de lí-


quidos viscosos, logo, se assemelham ao som de
líquido borbulhando e podem ocorrer tanto na
inspiração quanto na expiração em qualquer re-
gião pulmonar. Algumas patologias que podem
apresentar este tipo de som são bronquite crônica,
bronquiectasia e edema pulmonar.

Padrões de respiração
Algumas terminologias são importantes para o
correto estudo e interpretação dos exames respi-
ratórios. Por exemplo: entende-se por hiperven-
tilação como sendo a ventilação alveolar aumen-
tada; hipoventilação é a diminuição da ventilação
alveolar; taquipneia, respiração rápida; bradip-
neia, respiração lenta e dispneia dificuldade de
respirar.

Materiais
Estetoscópio

Procedimentos
Os alunos devem identificar através de palpa-
ção os espaços intercostais. Lembrando que a área
de ausculta se extende por praticamente toda a
caixa torácica além da região traqueal e brônquica.
Após este procedimento deve-se realizar a aus-
culta com o paciente (voluntário) na posição sen-
tada e com respiração tranquila e com respiração
forçada.
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81
Sistema Urinário

Introdução posto de corpusculo glomerular, túbulo contorci-


O sistema renal é um importante e complexo do proximal (TCP), alça néfrica, túbulo contorcido
sistema que, diferente do que muita gente pensa, distal (TCD) e ducto coletor. As funções de cada
não promove apenas a função de “filtrar” o sangue. estrutura do néfron são descritas na tabela 13.1.
Além dessa os rins são responsáveis por funções
endócrinas muito importantes como a produção Filtração glomerular
de hormônios que promovem a maturação de he- A filtração glomerular é o processo que inicia a
mácias (eritropoietina) ou ativação da 25-OH-co- formação da urina. Para entender a filtração é nes-
lecalciferol (para 1,25-(OH)2-colecalciferol) para sário, primeiramente, rever a estrutura histológica
absorção de cálcio nos ossos, controla da pressão do corpúsculo glomerular:
arterial, participa da regulação do equilíbrio áci- 1. Os capilares glomerulares (assim como os
do-básico, excreção de substâncias tóxicas e me- demais) são formados por um endotélio (tecido
tabólicos, promove gliconeogênese, dentre outras. epitelial pavimentoso simple) e lâmina basal;
O sistema urinário é composto de um par de 2. Ao redor do capilar temos a presença de célu-
rins, de ureteres, uma bexiga e uma uretra. Os rins las denominadas podócitos que, semelhante a um
são responsáveis por todas as atividades endócri- polvo possuem pedicelos (projeções citoplasmáti-
nas, bem como funções de filtração, reabsorção e cas).
excreção de substâncias, equilíbrio ácido-básico, Essas (células endoteliais, lâmina basal e podó-
etc. citos) fazem a barreira para controlar a saída de
Tabela 13.1. Estruturas néfricas e suas funções flúidos dos capilares para o interior (espaço de
Estrutura Função Bowman).
Glomérulo Filtração do sangue
Túbulo Contorcido Proxi- Reabsorção de substâncias im-
mal (TCP) portantes para o organismo
Reabsorção de água, sódio e
Alça Néfrica (de Henle) cloreto; Controle da osolarida-
de urinária
Túbulo Contorcido Distal Excreção de substâncias não
(TCD) filtradas
Reabsorção de água e uréia;
Controle da osmolaridade uri-
Ducto Coletor
nária (através de influência en-
dócrina
Os ureteres têm a função de conduzir a urina
formada nos rins até a bexiga. A bexiga armazena
a urina até a sua excreção e a uretra participa da
condução desta para o exterior do corpo.
A unidade funcional dos rins é o néfron, com-
82

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