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Seção

Clínica Médica - Passado,


Presente e Futuro
Coordenador: Antonio Carlos Lopes

1 Passado, Presente e Futuro 2


2 • Tratado de Clínica Médica

maior de médicos.vlmicos e especialistas. é que conduz 1\ com-


CAPíTULO 1 - preensão da i rnportância de conj Ligar esforços. delegando fi
clínica médica a missão de integrar os diversos segmentos.

Passado, Presente HISTÓRIA DA MEDICINA UNIVERSAL


Primórdios da Medicina

e Futuro Os primeiros indícios de patologias c doenças de que se têm


notícia provêm do estudo de rÓl>~ei~animais que datam da
Pré-história. A observação desses fósseis permite concluir
Antonio Carlos Lopes que fraturas e inflamações ósseas eram comuns entre répteis ce
e dinossauros. Os estudosde conformação óssea(descalcificação, '::
fraturas, supcrcrcscimcnto) levam a crer que essas patolo- ~
gias poderiam scrctcitos secundários de outras doenças gerai . ~
INTRODUÇÃO Existem, ainda hoje, muitas dúvidas c inúmeras perguntas ~
Contar a evolução da Cluuca Médica é contar a própria História sem respostas para as doenças da época pré-histórica. Múmias
da Medicina. desde sua, mais remotas origens até os dias de cgjpcias apresentam curactcrfxt icas de problemas de coluna.
hoje. E111 uma linha do tempo, podem-se xituur personagenscomo apesar do mesmo tipo de disfunção não ser encontrado em
l lipócratcs. O~ barbeiros da Idade Média ou os abnegadosmédicos ossos do período neolítico. Ossos que datum do período pré-
do interior do país. Em cada um deles estão as origens do clí- colombiano, encontrados na América do Norte, sugerem o sofri-
nico médico, cujo papel vc perde no tempo e no espaço depois mcnto de ),ílili~ entre os americanos nativos. Paleoparologistas
de se consolidarem a~ especialidades. relacionam infecções dentárias a indícios de artrite encontrados
O aumcuto da população c o maior acesso à assistência cm esqueletos pré-históricos. As múmias do início da civilização
médic« cuntribuírarn decrvivamcruc paraessequadro. Isso porque egípcia rnanifcstum indício!) de arteriosclerose, pneumonia e
os profisxionui» passaram a atender a maior número de pa- infecções urinária».
cientes e, C()1I10 conscqücnciu, o tempo de consulta foi reduzido. Supõe-se que a estimativa de vida 110 início da era pré-his-
O crescimento dos centros urbanos também ajudou na perda tórica era de 30 ou -10anos. As primeiras formas de cura c de
de fatores imprescindíveis na relação médico-paciente: medicina primitiva experimentadas pelo homem assemelham-
conhecimento familiar. histórico das pessoas da família, há- se ao comporuuncnto animal. isto é, instintivo: O uso da saliva
hitos (e vícios) dos pacientes. Como resultado. as rclaçõex e da imersão do machucado ou da ferida em água, a variação
tornaram-se muito impessoais. Ao mesmo tempo. multiplica- de tcmpcraturn (como uma compressa primitiva), a aplicação de
rum-se os recursos tecnológicos que permitem o diagnóstico lama e de vegetais na região infectada. Pinturas rupestres encon-
das docnça-. colocando em segundo plano a anarnncsc, o exame tradas na Espanha representam animais, como O mamute, com
físico c o próprio clínico geral. manchas 110 corpo. o que pode significar indicação de órgãos
Não sediscutem os benefícios e os avançostrazidos pelo dcxcn- internos. Na mesma região, uma pintura de corpo feminino
volvimcnto tecnológico. mas. como qualquer medicamento. tem mostra o alojamento do feto no útero da mulher. levando a
nítidos efeitos colatcruis, Diminui o interesse tios médicos pela crer que o homem do Paleolítico teria conhecimentos anatô-
semiótica. tem cuvto bastanteelevadoe resultadosfalsos-positivos. micos rudimentares.
que acarretam várias investigações adicionais. Ainda. deteriora Entretanto, a cura. em suas primeiras manifestações co-
a relação médico-paciente, A introdução prematura da tecno- nhecidas, csrã intimamente ligada ii noção de religião e curan-
logia na formação médica prejudica a formação dos cxtudan- dcirisrno. Datada do período paleolítico, urna pintura na caverna
tesoque deixam de aprender a usar a. mãos c o estetoscópio de Trais Frêres, na França, mostra figura em posição de dança,
como instrumentos diagnósncos. com indicações de indumentária como máscara. Considera-se
A incoerência. despercebida por muitos. tE que o cllnico é essa a primeira representação de um xarnã, mestre curandei-
11111 profissional que pode resolver entre 60 e SO'h· tios ca~o~ ro. A magia c O ritual eram, então, parte de uma cultura cura-
sem necessidade de encaminhar o paciente a um especialista. tiva pautada na intuição.
Além disso. ele também pode efetuar um pré-diagnóstico muito No período neolítico (I OQO-7000 a.Ci). houve mudança nos
mais criterioso que o leigo para escolher a especialidade mais luihitos de comportamento humano que acarretaria enormes
adequada a cuda situação. transformações em sua capacidade de sobrevivência. Durante
Por isso. engana-se quem entende a tecnologia COntO o único esse período. o homem deixa de ser nômadc para se lixar em
pilar da medicina contemporânea. A ela deve ser ussociuda determinadas regiões com melhores condições merereológicas
uma visão humanista do paciente, considerando-o como ser c topográficas. Da atividadc de colcta, ele passa para a cultura
humano integral. suas emoções, suas dores, ou seus simples agrícola. O desenvolvimento de ferramentas faz do homem
desconfortos. permitindo diaglH)sticlIs que as máquinas. por um artesão.
sua natural insensibilidade, são incapazes de fazer. Também é É incerto se essa evolução das técnicas de cultivo e aperfei-
certo que a relação pessoal e a confiança estabelecida inter- çoamento manual resultou em descobertas de uso de ervas medi-
ferem favoravelmente na recuperação do paciente. cinais. mas a conjunção entre magia, religião e curandeirismo,
Assim. se na:. última, décadas a medicina experimentou, enquanto práticas indissociudas. é típica tias comunidades
como em nenhuma outra época, um ritmo acelerado de novas primitivas.
aquixiçôc», em termos de conhecimentos c equipamentos. a O curandeiro (ou x.uuã. ou bruxo - a designação varia de
perspectiva de compre c ndcr de fato o paciente C. com isso, cultura para cultura) era também responsável por proteger a
alcançar a cura de seus males, acabou por se perder no distan- comunidade do mau tempo, assegurar a colheita, prevenir e
ciamento provocado pela exagerada írugmcmação da profis- prever catástrofes naturais. Rcnumcscências de sa credulidade
são. Ess« problcmárica. destacada por um número cada vez ainda subsistem nas pr(ltit.:as de vudu e bruxaria.
Clínica Médica - Passado, Presente e Futuro 3

O templo de adoraçào a a hu crrg rdo nu Hahrlôrua. rransfor-


meu-se cm uma das pnmeirav 1.!'L:ol,l'de mcd rc Ina de que se tem
Essa mistura de r, hglolll 1l.lgla e CICI1Ua tOI () pilar das cul-
noucia. I:. t.unbém lia Bahtlol1l.1 que aparece urna das primeiras
turas pré colombran,r-, d,l \ 1111:rica" ;" CI\ rhzaçõe-, usteca. maia
repre ..eruuçõc-, da scrpenu vomo vunbolo da medicina, na dupla
c Inca Ne~'a' ,1\ II 1.1\1' \" papéi» de mugo. médico e chefe cabcçu oluhcu UOdcuv Ing"h/lda
n:hglll'o C,t.I\.1I1 c ouu IlIC lundrdov Entre 0' povo-, pré-
(h conhccuncnros de anatorrua dessa CI\ ihzação parecem ter
1:(11(11111'11;1110' ,'1'.1P \.1111 [ucrn vubrncua o doente a cxrados sulo escav-o-; mas 'c sabe que 0' rnevopotârnicos considera...am
menta" de transe c linha I' xíer de comumcação com 0' c-pintos. II flgado corno o órgão que contrulav •• tudo () metabolismo do
O...deusev eram LOI1 derado-, rcvponváv CI' pelo aparect- corpo Modelo-, de argila de ligado amrnal toram encontrados na
rneruo ou cura de ccrt.« l tcrnudadcv () UMId,1m.lgl.1 dev ra-se região da Babilôrua II,i lambem rcglStro, de plantas. mine-
à crença de que (I cncam ncnro cra 11muwtrumcnto de donu-
rais e outros composto- mgftnll'l" uuhzado nos tratamentos de
nação uuhzudo entre Inll 'c ,1\ illl ..çoc~ Inimiga ... O ...povos patolog ...v. Ruuar-, rcltglos\I' e cvtudo-, a trológieos regiam
prc-colomluanos dcunh 1 o conhecimento da apl icação de
os tr.uumcnto-, Prauc av crrurgrca-, parel:em ter sido comuns e
mumcra ...pl,lIlI.I', c 111111,I' mcdrcinaiv Sua concepção reli-
m-rrumcnu» ruduncntarcv de mcrsão súo mencionados no código
glo,,,. pOICIIl Wpl:II11,I\,I 'pc'o do conhecimento Científico e de l lumurab:
0' lcv ,1\:1.1 c rcr ,'III UIIl I undo ordenado por forças <obrcna-
tururv O...,1'leC:l' acrcdu ivurn que a humanidade havia 'IUO
prcccdnla por uma raça de ,!cll''':' glgal1te, Rs,.:, deuses tcnarn
se sacrificado em bcuc!u lO da preverv :u,iio do sol, O sangue A crença dos hebreu, de que as doenças eram castigo divino
era tido corno aluncnto d,l ",Ir.:la vol.u e vacn 11l'1()~ e oferendas parece ter sido herdada do comuto com o), povo), mesopotârnicos.
ao deu), '01 eram comun-, ucccvsano-, <cguudo a crença ustcca. O rsolumeruo do inul\ IUUOdoente c outras prâticas de higiene
Na tcocrac "I I1MI" .1fi\ lira do médico cru representada pelos Ide cunho rnágicu-rc hgrovo}, lal\ C0ll10 regras de sepultamento,
liemencs.grupo de hdcrc '.:ligioMI\ que adquiriam seus conhe- de prcpuraçao do, ahmcntos c dc praticas sexuais. podem ter
crrncnto-, .1 pariu dl' 'II e luçao csrrcua com o, deuses. Os orrgcrn babrtonica. ;\ rclrgrão hebraica. porém, considerava
/1I'l'i1/('('I'(}\ IOrllJ.l\,II1lIlJl l':I\1:I de Ç/(I(IIÇvocial menor c eram
Jcova umco e <obcrano dcuv. o responsável pelo aparecimento
rcsponsaver-, pelo trana 1(1 drreto no trato com o-, doentes.
c pela erradicação da, enfermidade ...
Eram de sua revponvabi Jadc a' tareia, de ,.Ingna. lura de Lpluem"" (como a, de lepra) e \uh\lanl't:h curatJva~ (como
lo:nua ....abO:ltura d\.' Il1l le, e Iratamenlo u~ Ir.llura' oleo~. bálsamo~ c narl'ótIC(h) ,ao menllonadas na Bíblia. mas
Acredita· ...c. no <.'111.11'qll" II de\ap:trecllllentll do ImpériO e~~a.'referênl'las levam a c.;rerque (Ie..p.:dftlUI.!lécnll'a~ e substân-
mala tenha rela~.1I1ll'l1I proltkraç:io dI.!alguma cpHJemia. CIa...m,:ull.a\ hebr:lIl'''' ,ora m.lI' r, ...trllo que o do, mesopo-
prma\t'lmelltc dl' khrl 1Il,lrl'la que.J\ prüt"a, rcligio!>a e tümlco, c cglpcw, i\ unll'il pr.ltll.lltnllgl'l ii que li Blblia fa;
magll.1 nao UIIl'1'1.! II II .til ':1r .IdIl.II' relerenl'la e a ua llr((II1I.I';lO
I.nlre I" .1,1,', I'" "I pel de lural1delrO obedecta a uma i'v!:u, quc ,I Blblla. os Talmude," (..:o!c.,:üc,>
de lradiçôe~ JudaIca.,
linhagem hl'rl'd I1.111.1 () Im.1 lil\orável da regIão em que a ":'l'I'IW, cntre (" ..élUlos II c VI d.C ) guardam inúmeras infor-
1:1\tll/,lçaO 'c uc,ell\ 01\ e' 'ropICIOUo cultivo de dl\ er,a, planta~ l11açi>e,de pratIca' meulco-higlêlllcas r \~a,e~crituras são re·
1111:dll.llla" O.. UlIltlul ..t lure, europeu, do ,éntlo XVI che· 'lIltauo ue ,cculo<, dc crrâncl:t do povo JUucu c apresentam
garam a cat.llogar I: aprop' Ir ·..e ,k 1I1I1I1K'J'OS prmluH" e mélOdo.. Influêncla de dl\'er\o, povo, l'OIll quem tI\l.!ram conlatO, Os tal·
natural' uttlJ/ado~ pelo "tel ..... qlh.' comhlnal'am procedI' ll1udista~ ac.:rediw\.111lna ll.!OI'iugrl.!!!aU.Iu,orrênl'la das doen-
mento!>nlllilJ\ e l iClllllll '.. I ntrl' .....,uh"[lI1"ias por cle~ uti- ças elll ra/ão do d.:,cqutllhl'lo do, quatro /lIIl11ore~ do corpo:
liLada~e,ta\ am llall'(Ítit:ll dr"g," dl' InduçúlI ablll'liva. mmerals fleuma. sangue, hlk amarcla c hilc negra. Da mesma maneira,
c cogumclo, "ll1a~'I"("", 'i"l' IIHIII/I.lm;l ahlcll1ações e Iranse~. dunlllle (l pcriodo L:mlJul.!1.!\llverUmsob o controle de Alexandria,
Da me"nil I1WJ1l'lra.m. 1111::1, culll\:t\':tm certas pl<lntas medi' no ...ót:ulo IV a,C . u, Juuelll> assimilaram o~ conhecimentos
cin:ll~ que lillJo",I\alll proftllldos erclto~ p.,íquicos, O pciole (cuJo grcg(l~ de a lI:1tOll1la c n"ologta,
com pOllenle atI' IIe li mc" a Iina) c a folha dc l'Ol'a li nham L1tili·
za"iiu abrang"lltc na l'ltllUl I 111c.;a. ;..Iã()'c pode uel>."r de mencionar
também a c\ollllda rede Illíblit.:<Idc IIhtal .."tie, \anilárin,. dc
.< depÓSito de It\O ~ Ik llrl I<lçaode ügLlapnta\el na' princip<lIs L'ma ~érit::de papir(l~ eglpLlo" que U.ltalll do, sél'ulos XIV. XV
~ cldatles a~{e(,.f." \, pfllll Ir~l~c(")ld'-!lnlH' (t.l~ \arlola e sírilis).
e Xv I a.C. é a mais antiga dlKulllental;ao relaCionada à medicina
re_Qistrada\ n<.'......._ \III;. 10. 1)I't)\a\ellllellte loram IraLidas da
~ -
::: Europa pelo ...UlIllul,I.ll Il" c'panhm,
eglpcla I,nlre C'MIdOlum,'ntat,ao cnl'ontram·sc tratados sobre
t.:Ircula".jo \angull1ea I.!1"lIllogla ~ardlaca. menções a hérnias
'" e .1con'equC:llcla\ de Ic~.1Ol'erebral no !>btema motor.
\h!dllllla e rdlgliio. cntretanto, eram atllda pouco ul~~oclada,
\ rcgl.11Ia".III~.1 d.1 \)e, 'utânlla 1il'11encra\ilda entre n, nll~ () lllltO grcgo ao ucu, Ilcrmcs Tmmeglqos é de origem eglpcla
Tigre e Lulratc' l ma J 'llalllrc, contnhlllçõc, Uall\ Ih/açào e relallona-,c a alqullnta Thoth. como cra chamado entre o~
mesopotamlla fOI .1 cn.h, pelo PO\'O\uméno. dc um s"tema eglpclO.,. tena leg.ado à humanldaue 4~ 11\ro~ sagrado!. (6 dele~
de e~çnta (cuneIforme que ,e tku por volta ue JOOO a C. !>obre medlcma). l'onhe<.:id\h como a Lolc.,ao Hermética. que
A maior cl\tll/a\i1ll d.! gl:llI ue ..eJl\o)\eu ,e n.. lldaue da l'onteriam os ...cgreuos d~' lod.1 ii ,..hedon.1
BabtlôllIa e ,t'u apllg<.'1I IIIr,'u lia 1I1f""1 ia Ilanlllrabl ( 1728- As dl\ Inuaue, CglpCI.I' eram relal'lollada ...a a~pectos de saúde
1686 a C I, ,u.l0 ,tldll'l Ic k" " \CU lIIalOr legado escnto. e doença R.i cra (l d,'u, \01. o lllillOf cntre todos os deuses:
Inulllera, t.lhua\ 1iL' ,Irgtl Ic.....e penudo l'hegaram presef\'ad:ts hi,," dcu"l ua cura. 11.llhor, proletora da., parturientes; Keket
atI! nO"I" di.", I1llllla, d, I,'" l'(llll regl~lros de l'unhel'imento, asscgu 1':.1\ a a kllJ Itdaue
de but ..nll.1 l' loologl,1 O cmhal',II11amento e li mumiticação foram as técnicas mais
Um do, 1ll.11'1I1lJlOrliIlIIC'"deu ...c\ da Bahili\nin cm ha, lido hl.!mdc~ellvolvldas pelos cgípcios, Na mumlticação. órgãos in·
c.;011l0,enhor da ...agua, , allce\tral eó,mlco dos físil'(J~, Seu ternos (fígado. pulmõe ....eSlômago c inlc.,tino~) eram cXIirpados
filho Marduk e ~eu neto Nabu, do:usc\ tia L:lênt.:ia(in<.:lllindo·...e e acondicionados em va~u, elllallwdos t.:tl11lligura, divinas (para
aí a medicllla). eram a~ m.11Simportante' dl\ Indadc), babi lônicas. que funcionassclll por toda a elCJ'llItladc) Ch t\rgão\ cranianos
4 • Tratado de Clínica Médica

eram retirados pelas narinas, com pequenos ganchos. As cai- c básico, do qual provinham a terra c o ar. Seus estudos abrangeram
xas craniana e abdominal eram lavadas e revestidas de espe- áreas do conhecimento corno matemática, geometria. astronomia
ciarias conservantes. O corpo era. então, mergulhado durante c navegação. Outros filósofos sucederam Tales: Anaximandro,
70 dias em uma solução de argila, sais de carbono. sulfato e Anaxímenes e Heráclito. Deriva das teorias desses filósofos a
cloro. Depois de lavado. o cadáver era envolvido em longas concepção de que são quatro os elementos (terra. água, fogo
faixas de linho. O embalsamamento era um processo simpli- c ar) que compõem a matéria de todas as coisas. A teoria dos
ficado de rnurni ficação, uti lizado entre castas sociais mais baixas. quatro humores do corpo é conseqüência dessa concepção.
O povo comum era simplesmente enterrado em areia, À parte seus estudos matemáticos. Pitágoras (cerca de
Apesar desse desenvolvimento das técnicas de embalsama- 530 a.Ci), que viveu na cidade italiana de Crotona. seguia rígida
mento, () conhecimento anatômico manteve-se arraigado 11 dieta alimentar e espiritual, baseando-se na teoria do equilí-
concepção teológica de correspondência com a configuração brio e harmonia dos quatro elementos. Também em Croiona viveu
cósmica. rclucionando o funcionamento corporal 1\ estrutura Alcmeão (século V a.C.), cujo livro Corcening Nature é tido corno
astronómica do universo c geográfica do império (a circulação precursor da literatura médica grega. Sua maior contribuição,
sungülneu, por exemplo. era comparada ao curso dos rios). a partir de observação empírica e dissecações, foi estabelecer
Por meio do exame de múmias exumadas tem-se conheci- relações entre o cérebro c os órgãos sensitivos.
mento dc inúmeras enfermidades que acometiam os egípcios. Importantes centros de medicina floresceram também na
tais como contaminação por água e comida infectadas. parasi- região italiana da Sicília. onde SI.! destacaram Empédocles (c.493-
tismos. malária, catarata. artrite. gota. hérnia, pedras no rim c.433 a.C.) c Anaxágoras (c.500-c.428 a.c.). No século seguinte.
e doenças cpidêrnicas (corno varíola e peste). Demócrito esboçou lima teoria atómica da matéria. Segundo
A Iarmacopéia egípcia era vasta e a forma de ministrar as suas conclusões. animais e substâncias inanimadas teriam origem
diferentes drogas era variada: pílulas. bolos. supositórios. banhos. em colisões e combinações de átomos.
pomadas. cremes, gargarejos. defumação.
Rituais e cerimônias de cura com uso de amuletos c orna- Palavras de Hipócrates
mentos religiosos eram lrcqücrues, ratificando a união entre O maior filósofo-cientista da área médica, porém, viveu na
concepções teológicas e intuição científica. Ilha de Coso na Ásia Menor. Os estudos de Hipócrates foram
Os conhecimentos de diagnóstico e do próprio metabolismo reunidos na grande biblioteca de Alexandria, no século IV a.C;
eram muito rudimentares. Acreditava-se. por exemplo, que a levando a crer que a compilação colorou textos ele diversos
mulher poderia engravidar a partir de urna fecundação pela professores c praticantes da medicina da escola de Coso A hipótcse
vagina ou pela boca. Métodos contraceptivos eram pouco eficazes de que a obra de Hipócrates tenha sido escrita por mais de
(talvez porque a fecundidade fosse vista com bons olhos) e uma pessoa é aceita hoje cm dia.
consistiam cm introduzir na vagina folhas de acácia ou um À época em que viveu Hipócrates, prevalecia entre os gregos
composto que combinava esterco, mel e sal carbônico. Os físicos a teoria dos quatro IIIIII/ores do corpo. Para eles, quando os quatro
egípcios eram os conhecedores dos papiros sagrados c forma- elementos do corpo (sangue. fleuma. bilc amarela e bile negra)
vam uma classe de privilegiados, os únicos com acesso aos se achavam em harmonia. o organismo estava saudável. Os co-
segredos do deus Thoth. nhecimentos a respeito do funcionamento cerebral, no entanto,
haviam avançado significativamente em relação às concepções
Asclépios e Grécia Antiga dos físicos mcsopotâmicos. O StaTlIS do praticante ele medicina
havia crescido em decorrência da valorização grega do estado
A mitologia grega era urna das mais ricas entre as civilizações saudável do corpo e da mente e muitos deles possuíam espécies
antigas e apresentava respostas às mais diferentes patologias de consultórios (remanescentes dos templos de Esculápio) e
e enfermidades sofridas pela humanidade (da mesma forma, os recebiam pelos serviços desempenhados. Criou-se uma tradi-
deuses eram responsáveis pela eclosão de guerras e seu apazi- ção hereditária de homens dedicados à medicina. Apesar do
guamento. invocados por ocasião das colheitas e das discus- surgimento de escolas como as de Cos e Cnidos, não havia
sões a respeito da P(JIj.\). .
formação oficial para um físico ou praticante de medicina.
Apolo e seu filho Asclépios (a quem foram erigidos diversos Nascido por volta de 460 a.C. e morto cm torno de 370
templos na Grécia - em Atenas, Rodes. Delos, Lcbera. Creta. a.C .. na Tcssália. foi em Cos que Hipócrates lecionou, prati-
entre outras cidades - durante os séculos IV. V e VI a.C.) foram cou ii medicina e escreveu seu Corpus llippocraticum, Essa
os prineipais deuses relacionados 1\ medicina. Nos templos de coletâneu. reunida posteriormente na grande biblioteca ele
Asclépios (Esculápio. cm versão latina) ocorriamcerimônias Alexandria, compõe-se de 72 livros e 59 tratados sobre diversos
de tratamento a doentes. em que o paciente era submetido a temas. A classificação em ternas c especialidades é difícil, já que
banhos e oferendas dedicadas a Asclépios. Os "doutores". trajados não havia especializações médicas como as que se conhecem
como o deus. comandavam as cerimônias. que usualmente hoje. Apesar disso. algumas categorias gerais podem ser enurne-
duravam toda a noite. De manhã. o doente deveria estar curado. radas: anatomia. fisiologia, patologia geral, terapia, diagnós-
Mclampo e Anfiarau alcançaram popularidade quase à mesma tico. prognóstico, cirurgia, obstetrícia e ginecologia, doenças
altura. Orfeu, um dos deuses do Olimpo. tinha o poder de curar . mentais e ética.
a alma por meio da música e da poesia, Outros deuses do Olimpo. Os princípios fundamentais das condutas de Hipócrates eram:
como a esposa de Zeus. Hera, também desempenhavam papéis observação e estudo do paciente antes da doença (partir do
na esfera da saúde. O centauro Quíron. lendário mestre de caso específico antes de classificar), exame e descrição deta-
Melampo e Asclépios, promovia curas com encantamento. lhados dos sintomas, auxílio ao trabalho curativo da natureza
cirurgias e administração de drogas. (induzir 11reação natural do organismo).
 transição entre o período mitológico e a época de Hipócrates
(meados do século V a.Cü. quando e estabelece definitivamente Grécia pós-Hipócrates
uma abordagem racional da medicina, foi marcada pela ação dos
filósofos-cicruistas, que procuravam explicações racionais para Os anos que se seguiram 11escola hipocrática viram O surgi-
os fenômenos da natureza. Tales de Mileto (640-546 a.C.), o mento de físicos que ficaram conhecidos como dogrnatistas,
primeiro filósofo-cientista. considerava a água o elemento primai seguidores das teorias platônicas, A base da filosofia de Platão
Clínica Medica - Passado, Presente e Futuro - 5

(429'1-347 lI.C,). contemporâneo de Hipócnues, pnori/ava a hipocrãticos. Galcno acreditava nu obscrvaçúo empírica e rcali-
dedução lógica cm lugar d" observação empírica. conceito que i'OU inúmeros estudos de anatomia (descrição das ramificações
substituiu durante séculos e foi apropriado pela vivão cristã do sistema nervoso. estrutura da espinha dorsal. ligações IllUSCU-
durante li Idade Média. (h dogrnatlstas convideruvum-sc dis- lares e ós~cas), farmacologia (a partir de vegetais e minerais de
;..: cípulos de I lipõcrates, apesar de tcrcm scu-, cxtudr», lIlai~ corno diversas regiões do império) e prevenção de doenças, Trabnlhou
~ lontc de pesquisa que C01l10 um guia de conduta prática. no tratamento de gladiadores romanos e transformou-se cm um
ot;, Entre os dogrnaustas estavam Praxãgoras de COl>.um dos (,XpC'r1 cm fraturas e lesões. o que o levou a rculizar avanços na
~ primeiros físico), a sugeru ti separação entre urtérias e veias. área cirúrgica, desenvolvendo novos tipos de facas, serras. te-
;2 c Dlocles de Cari-tos. que escreveu estudos clínicos sobre droga» soun•., e hi..turis. Tratou pessoalmentedo imperador Marco Aurélio.
terapêuticas. embriologia pneumologia c gastrologia. Com (J vcgumdo as recomendações estabelecidas por Hipócrates (aju-
apoio do imperador Alex.mdrc. o Grande. Aristóteles, (3H4- dando o corpo por meio de métodos indutivos). O conjunto de
322 a,C.). Iilho de fj..ico e discipulo de Platão. promox cu estudos estudos de Galcno foi acurado de forma absoluta durante os
empírico), de animais e seres humanos, Entre \ua., concluvões séculos que se seguiram até que. no século XVI, o anatomista
estão curso detalhado da rreira. descoberta da existência da Vcsalius revolucionaria o conhecimento da anatomia humana.
artéria aorta (por ele nomeada) e dedução de que o feto não com conseqüências em todas as áreas da medicina,
respira dentro do útero. Seus detalhados estudos anatômicox
colocaram-no como () fundador da anatomia comparativa. Ainda
assim, Aristóteles aceitou Inúmeras hipóteses equivocadas de
MEDICINA NA IDADE MtDIA
seu tempo. como a teoria dos humores. a noção de que os sonhos A história da Idade Média é a história da ascensão e queda
teriam a força de previsões e a idéia de que o centro da inte- do pensamento cristão e suas doutrinas cm diversos campos do
ligência estava no coração. conhecimento humano. O~ primeiro séculos da era cristã vi-
Outras doutrinas seguiram-se a partir dos séculos III e IV a.c.. ram a idéia de enfermidade ser associada ao pecado e a noção
durante li hegemonia do império de Alexandre. o Grande. como de cura equivaler ao estado de graça. Os milagres de Cristo.
ernpiricismo. metodismo. pneurnatismo c cclcticisrno. imortalizados nos evangelhos. o elevaram à condição de único
salvador. J\ prática da caridade foi sendo disseminada e. a
partir do século IV d.C, (com a legalização do cristianismo
Roma pelo imperador Constantino), uma série de hospitais filan-
O domínio romano sobre crritório grego estabelece-se defi- trópicos. nos moldes dos hospitais militares romanos, foi
nitivamente a partir de I-Ih a.C. Apesar do domínio territorial. cunstruída em cidades como Ccsárcu. capital da Capadócia,
os romanos assimilaram .1 herança cultural grega. O culto a Edessa e Belém (este. considerado () primeiro hospital pú-
Esculápio (o grego Asclépros). introduzido cm 295 a.C,; rapi- blico da Europa).
damcnte se difundiu em IOdo o império. Asclcpíadcs de Bitínia O monasticismo, implantado no Ocidente por São Benedito,
(12()'1-70 a.c.) foi () físico romano de maior prestígio em sua foi uma das instituições da Igreja que teve grande influência
época. Seus ensinamentos divergiam da...concepções de Hipócrates sobre as práticas médicas. Os monges retiravarn-sc do conví-
c ele abandonou defi nith umcruc a teoria dos quatro IIIIII/(//,(!.~, \ io vocial, reunidos em grupos. para levar uma vida de ascetismo
retornando teoria atôruica da ruatériu orgânica. Seus ruétodos
à e reflexão espiritual. Além de desempenharem papel funda-
de cura eram divcrvos e Incluíam dieta .. alimentares. drogas. mentai na perpetuação dos documentos da Antigüidadc, co-
massagem e música. piando antigos manuscritos. os bcnedit inox fundaram as primeiras
Nilo havia regulumenração específica para a atividade de organizações médicas da Idade Média, apesar de não terem
ff~i(,;oc qualquer pessoa poderia se autoproclarnar um prati- feito descobertas na área. certos de que a cura poderia ser
cante da medicina: cntrcuuuo. a maioria dos n'lcos de Roma alcançada por meio da intervenção divina,
era de origem grega e egípcia e muitas famflia\ ricas mantinham Em suas caminhadas. os cirurgiões-barbeiros (que exerciam
físlt;os C0l110 escravos, pa a atendi mentes exclu ..i\ o... Os ba- ativ idadev di\Cfsas COlHO cxtração de dentes, corte de cabelos e
talhões militares do impcrio também tinham o privilégio de pequenas intervenções cirúrgicas) pediam abrigo nos mostci-
ter físico), em seus rcguucnros. Trabalhos de parto eram nor- ros, Ne.~"as ocasiões. os monges beneditinos mostruvarn um
malmente feitos ror vitiv S c mulheres de meia-idade. pouco de sua arte médica aos visitantes. que uprovcituvarn
J\ rcgulamcrunçào da atl\ idade médica foi implementada ao pura acumular algum conhecimento.
longo dm primeiros séculos da era cristã, O prestígio do fí- Os caminhos cicntfficos sofreram UIII período de estagnação
sico Ioi POIII:I) a pouco uurneruando. Durante o reinado de durante a Idade Média. com () Crescente interesse por magia
Augusto (século I d.C"), que tC\'C seu reumatismo curado. o-, e fé cm detrimento da observação empírica da natureza, No
rrsico~ foram isentos de Impostos. O reinado de Vespa ..iuno mosteiro de Monte Cavsino. na Itlília, fundado por São Benedi to,
(ÕY-7Y d.Cv) liberou-os do serviço militar, Sob Alexandre (2:22- o estudo de medicina 1m proibido,
235 d,C.). a atividade fOI regulalllentada e unHI espécie de Durante l) reinado de Carlolo Magno (estabeleeido no tinal
academia, () C01/1!gi1l1ll ,'I"('IIi(/ll"i. ,uper\'i~i(lna"a os curso\ do ~éculo VIII) também pouco se avançou em matéria de novas
preparatório~ para prote"orcs e ffsicos. Entretanto. não há descobertas médic;as. mas a necessidade de legitimação pe-
notfcias de que hospitaIS !exceto hospitais de campanha) te- rallle ,I Igreja Romana le\ou o imperador a dar continuidade
nham sido constrUidos. à prc),ervação do legado intelectual greco-rol11l1llo, A prática
A cngenharia rolllana permitiu a criaçilo de excelente rede médica continuava a se basear em concepções religiosas de
de aqueulltos que lornecl..m água potável para O'> banho~ e cura. apoiada em rituais tle exorcismo. amuletos, óleos sa-
la"atóri()~ [Ilíblicos e um ~Istema de drenagem de e:.goto para grados. relíquias. ervas Illedicinab e arlefalOS supersticiosos.
o rio Tibre, A distância entre DeliS l: o hnmelll comum foi acentuada na
Dois encidopedistas reuniram ao;informações fundamentais ligura intermedi;ldora do padrc, do monge e uo pontífice.
sobre as práticas médicas romanas no primeiro século: Comélio Os primeiros santos a serem associados diretamentc ~ mi-
Celso. em seu De Medicillll c Caio Plínio. cm HiSloria Na/lira/is. vidade curativa foram os gêmeos Cosme e Damião. Nascidos
O físico grego Galeno (I :21)·200d.C. l. enlretanto. foi o pensa- no ~éculo 111.durante o reinado de Diocleciano. logo ganha-
dor mais influente da eivilifação romana. Adepto dos preceitos ram projeção e fama em razão de sua ded icação à cura sem
6 • Tratado de Clínica Médica

cohrunçu de tuvu-; Seu II! la!!rc mai-, notúrio foi UIIl prodígio declinuva. Do século XI cm diante. o movimento das Cruzudas

- cirúrgico: tCI vub-tuuid« COIl1'UCC~'(). a perna gangrenada


de um ,acri,t;Io romano Pl la perna de um escravo negro morro.
Durante o, prunciros inco ,Jt:ulo~ da era cri,tã. a, mva-
ac arrctou a Iundação de urdcu-, de cuvuleiros que viujavnru
com ii imcnção de restabelecer () prcdominio da Igreja nas
terras <agrudas. Em I09lJ. é fundada a Ordem dos Cavaleiros
süe' hárbara,. a 1)I:orr\:nll.1 dc p.:'te~ e I) de-prezo da Igreja do Hovpitul de São João de Jcruxalém. No século seguinte.
pela aplit:açao du conhccuucnto herdado da Anugüidade rcvul- <urgrram a, Ordens dos Templários c de Lázaro (dedicada 1\
tuu cm progrcsvivo rq!rL"O .1 pratica, nrcuicu-, da medicina. cura de leprosos), de Santo Espírito c do, Cavaleiros Tcutôn ices.
O domínio árabe da Europa. que ocorreu durante cvve período I:\\a!. companhius fundaram uma série de hospitais em todo
e durou até II véculo XIII lüi de extrema importâncru para a \l corninerue. N()~ séculos XII e XIII. a supervisão de diversos
preservação da herança uuelcctuul hclcnívticu. embora tenha hCl'pit:ti~ cm Ioda a Europa rui delegada. pela Igreja. aos go-
promovido pouco .. avanço-, na prática clínica. vcrnov Illl':ti~ c tI' );!uilda\ de fblco~. Nessa época. surgem
grundcs hospituis corno o IlôICI-DiclI. em Paris, Santo Espí-
rito. cm Roma. S:10 Tomav c São Bartolomeu, na Inglaterra.
Presença Árabe Além de reabrir di\ersa\ rota, de comércio entre Oriente
ce.
~
I)()i~Jillhofu\ til' origem .irube. Avicena c Averróis. admira- e Ocidente. a\ Cruzadas acarretaram resultados adversos ii saúde ~
dorc-. de Arivtorclc-. uvcrnm grande influência no Ocidente pública na Europa. 0, cavaleiro, que rctornnvnm aos seus lugares ~
durante a Idade Media. A\ iccna (980-10371 trabalhou como de origem Ira/iam com elc-, mais do que novas informações, ~
médico cm diversu-, COrlC\ da Pérsia. Escreveu sobre \ário~ traziam também inúmeras enfermidades. O número de casos
campos tio cnnhcc imcruo corno merufisica. lógica. 1I10:-.0Ila. de lepra - I.!de outras doenças dermatológicas na época con-
teologia e avtrunomiu, ma, foi na ãrca médica que, com seu fundidas com essa enfermidade - aumcntou sign iIicativamente.
Cânone. dei \OU a herança mais profícua ao Ocidcrue. O, estudos Há notícias. também. do aparecimento de surtos de varíola.
de Avicena. trudu/ido« para o latim no século XII. trunsfor- rifo e peste bubónica. culminando na grande devastação da
marurn-se no principal IIatado médico uvado na, incipientes peste negra. em meados do século XIV. que acometeu quase
univervidudes da Europa wcrrói« (1126-1 19M)tr..bulhou 11:1' um quarto da população européia.
cones da cidade espanhol" de Córdoba e UOMarrocov. l-ui per- O advento da peste negra foi visto ainda como um castigo
seguido pelos judeus, cm razão de sua, conccpçôcs pantcístav. divino. mcnt alidadc que ~ómudaria com li revolução intelecrual
e pelos católicos. por re lu lar a idéia de imortalidade da alma. du Renascença. O culto a diverso>. santos ligados ii cura de
Na mesma época cm que \ iveram A\ icena e Averróis. a pri- CI1lcrmidudc-, cvpccfflca-, prol iIcrou (Su rua EIizabeth, prote-
rncira "universidade" de medicina do Ocidente. 11\rc do con- tora do, lavarcntov. São Roco, que SI.! dedicou ii cura de pes-
trole clerical. prosperou CI1 Salerno. cidade próvima a Nápolc», rilcnros e Santa Tereza de ,'vila. protctoru contra enfermidades
no -ul da luiliu. Durante II -éculo X. essa "uni\ersidadc" era Ião cardíat:a,. são algunl> exemplos),
t:oIH:ciIU:lda que li' fí,ictl de Salerno eram procurado~ inclu-
,ivc pela corl.: fralll'c\a l 11 m:lnU'Crilo do ,ét:ulo XI. enCOll-
tl'udo nll regii'io. upre,cnt.1 ~5 tratado, sohre matéria, eomo a DO SlCUIO XV AO XVIII
Ilcorrêl1l;i;1 de fl.!hre, até l I'llírhio, nCllHlp,icllI6gicth. como
cpilepsi:t I.) p,icos.:' No, .ulo ,eguime. Rogériul!. imperador
Renascimento da Arte
do Rei Illl tias I)uas S II.:Ilia' prolhlU.1 pratie:1 l11édlca'CI11cxame~ t\ parti r do ,éculo XV. (l pcnsamento oçidelltall>of'reu signi Ii-
prepnralúrio\ de lornlill,. II medica. 1'111 I:U-I. o imperador t:;I(J\ ii inflcxiio de relOrtlO ils çonccpç(ícs grcco-romanas. Di-
Frl.!derico II determInou .. obn~aç:'I() de IOdm o, a\pirante\ a \er,a, cidade, italianas. principalmcntc no norte. aleançnram
l11édic.:oc,tudarem IlÍ!!Il'a l\ll J ano'. medicina c cirurgia por c,tahilldadc\ econômica c social. O surgimcllIo da máquina
.5anos e UII1 paímlo til' PI tll:;1 11lI:dlCllti.: I alio ,oh Ilrientllçftll de lipo' mt')vci, dc Guttenhcrg apres\ou a disl>eminação do
de UIIl ris ico I.! X pl.!nente l'llnhl'cimento e 111 touo I) contincntc c os cswdm dc llip6erates
Tamhém em Salcrno I C'CnlO. no século XIII. li pocma 11Ir;IInlradlllltlos t; retomado, pela maioria das novas univcr-
R('~iJII(!1/ S(lIli/wi,\ Sedeml /1111111. que prcscrl.!\·c regras de dieta "d.ldc, dc mediçinll. na II;íli;1. Físicos dc toda a curopa forunl
e higielll.!. Alélll tia import ncia pnípria tlc sua e!>cola. Salcrno :tpl IIHor:1I ,.:u~ .:studo, CI1l tl!tritt'lrio italiano.
foi o cpkenlro dc )ln.'l>ar ,ão da, uni\'crsiuades dc Bolonha. "icolau I cllnicCI1()( 1..J2X-152..\I. pIores"" na' universidades
P:ídull I.! N:ípnlc,. na Ilalr, . :-'Iontpellicr. na Franç ... Em toda' de Padua. Bolonha c Ferrara. lradu/iu o, alori,mo, de Ilipót:rales
essa:. lllliver~ldadl.!'. 0' tr Ihalho, lIIais freqüente\ \c deram c 0' tC'l(tn~de Galeno. Thollla~ Linacre (1-I60'!-1524) cumpri li
Il:t~t~,lIica' cil lírgi~·:". d~ IIllputação. sallg,rallll!llto I! t:xtração pupel ~elllelhanlt: na Inglaterra. lcndo e,tutlado primeiro em
dl.'lIt:iri:l. "Illda dl' !111m.. Udlllll':lItar elll virtude dI'" )lOUl'O' Pádua e depois retomado a O\l'md. tradu/indo para I) inglês
;lV:1I1ÇO'na arca da allalo lIIa. I;i qlll: a dissecação do corpo di\er~ostratadns de Galer1l1.O \uíço J'hcophastflll> !3omhaslus,
hUIll;lIlOainda I.!rapllll hld \Ii no \éculo XIV (l exerc.:ícHl foi ou Paracelso (1493-1.50.11). adquiriu rcpentina rama na cura
J'clOlll:ldo. t-.londi no dc I III i. da Uni vcr:-.idadl.! dc Bolonha. de moléstias. depois de su<1formação em FeiTura e aUloproelal1lou-
1'1,::11
il.lHlillúnlcm, C'llIdll' .lIlatôlllicos ii partir dc rorpu, humanu, 'I.! fiai tia !cl/'Il/l/('(/logill. ape~ar de continuar aplicando métodos
e publicou ()e\tudo ,\II(1t1I11I11;U. IIlai, sohrc técnIca, ue di"ecaç,io li!!;rd()~ ii ;rstl'lllo);!ia e :1magia. por meio do reçeituário e lItili-
que proprial11l.!nte 'nbre ~'lnJlllI':t' an:llôll1ica:.. /:tç;io de Illincrab, Paracdso acreditava que o corpo humano
Em ratão da rigida e~tr UlUJ'asm.:ial do :'I,tcma feudall.!u era uma c'pécie de málJuina químic:t.
ropell. a maioria da pupul.lçfw não linha accs:-.o ao, ,ef\ içu, Jean l'eJ'llel ( 1497-15MXIrealil.llu seus estudos excl usivumente
dc~~e~primeiro, e,pccial"l'" COIll t'llflllilÇãolllédÍf.:a.qllc 'CJ'\ Iam na h,III\'a c trabalhou t:OIllOIhÍl:o para ii família real. Seu tra-
;1\ cortes ou <10\ chefes da hier:.trquia rcligio,a. O gro"o da lado Um(/ lvledid/l(/ Ul/iI'C'n(/1 pl.!la prinK'ira vez "presenta li
população continua\a a 'c tratar t:om curandeiro, e cirurgiões- divisão Cnlf'C fisiologia. p:tllllogia c terapêulica. Dedicou-se também
barbeiro;.. ao e~tudo da gOllorréia e da ...ífil i~. docn",as que prol ireraram ii
A partir do ano 1000. a lradição das guildas começou a :.e época da~ grandes n'l\ egaçõC!~. Em Verona. () f'rsi<.:oGirol:1I110
formar. atingindo lamhém.1 classe de físicos e cirurgiôcs. agru- Fr'H.:astor procurou c~clarccer a!. diferenças entre as duas mo-
pados por al'inidadc. A Igrej:t comcça\'a a perder o controle léstias e chegou a elaborar lima tcoria sohrt: () Clllllágio dessas
,ohre a maioria dos int:ipientcs hospitai, e a prática monástica doenças \'cnéreas cm sell COll/agillll(·. de 1546,
(/{nica Médica - Passado, Presente e Futuro 7

Tumbéru lia França a ürca da cirurgia clínica tomou grande doença ... eram decorrentes de dcsequilibrio do ... humores. Se-
impuls» durante a Renascença. Arnbroisc Pare, barbeiro nu gundo van Helmont. febres eram causada» pela invasão de agentes
interior do país. chegou a Paris para trabalhar 110 l lótcl-Dreu. externos. Chegou. ainda. a intuir que o Iuncionamcnto do corpo
Alistou-se no exército e. nos carnpus de batalhn. aprimorou u era regulado por fermento' (algo C:01110enzimas). Deixou de
uuturnento de feridas. abundonundo li técnica de cuutcri/ação lado pniuca-, como \angria\ e purgações, usando 'UbSlnl1(;ia~
ii ferro c apl icação de <Íkc, fervente. Em 1561. escreveu Uma como () mercúrio em ~eu~ tratamento s.
Cirurgia Universal e o gUia Dez Livros d« Cirurgia. em que O holandês Franciscus S) lviu-, (1614-1 (72) também reI.
apresenta novos projetos de artcfatos cirúrgicox. avanços significativo, cm rclaçáo .10 conhecimento químico
Nos .. éculos X V e X\ I. o controle sobre a lepra eslava do corpo. composto. segundo ele. de ácido), c bases que se
estabelecido de forma ~ati~fatúria. ma\ <"
c:a'o, de siri lis. neutralizavam. O trubulho pcdugõgrco de Sylvius cm Leiden
gonorreia. difteria e varíola ainda prol iícruvam. Cavas de banhos re ...ultou 11<1 revalorização do estudo da prática clínica. A uni-
públicos tiveram de ser tcchadu-, para frear o alastramento versidudc fundada na cidade. em 1636. é a primeira escola de
dessas enfermidades. clinicu médica de que se tem notícia.
Durante o.. primordiuv do Rcnnvcimcnto. ()~conhecimentos O atomismo tomou novo irnpul-,o durante esse século. depois
de anatomia conunuavam 11) cvtágro alcançado por Galcno (110 de ficar esquecido uo longo da ldude Média. Robert Boyle
século II). CUJO' estudos lorum realizados a partir da dis'o.!calião ( 1627- J(91) conclu iu que, CI11 rcrupcnuura constante, o volume
de primatas e outro' animai'. A úb\ec::u,ão de corpo ...humunos de um gás varia illVCr~al1lCI1ICii pressão. Desenvolveu ainda
roi abandonada de'lk li' 11.!1ll(l1l' do unpcrio alexandrino. estudos relacionados 1'1 respiração e à composição do sangue.
As novas técnica-, de I 111 prc"rlo e reprodução levaram a novas Seu trabalho clínico. porém. uindu estava preso 11~idéias de
tentativas de rcprcscntaçao lo corpo. A gruv ura crn madeiru subs- Gulcno e Purucelso,
rituía. assim, ()~ antigll\ ru.muxcritos e iluminura), medicvaiv. O trabalho de cicru ista, como (ia Ii leu Gal ilei ( 1564-1642)
Diversas tcnuuivus de rcprcsentaçõev anatômica-, em gravura e lxaac Ne« ton ( 16-12-17'27I mudaria de forma absoluta a maneira
foram ro.!ita~.na /\ lcmanha. durante o século XV. 111<1' loi Leonardo de examinar fenômenos naturais. Uma corrente de pensamento
da Vinci (1452-15Il». crn l lorcnça. «IIC aungru o mais perfeito chamada iatrufivica. tri buttiria das descobertas de Ga Iileu,
desenho do corpo c de dl\o.!r\o, lÍrgão~ humanos. Seus dese- acrcdiruva na medicina como um conjunto de relações medi-
nhos c anotações. entretanto. não chcgarurn a ser publicados. rncnv. Giovanni AlI'011'0 Borelli (16011-1679), Giorgio Baglivi
O italiano Michclaugclo Huonaroti (1475-156.J.) e o alemão t 1661)-1707) e Saruorio Samorio ( 1561-1(36). que se dedicou
Albrccht Dürcr (1471-152X). uvsirn como Leonardo. também ao e-tudo da fisiologia do metubolivmo, foram os mais impor-
trabnlharam a partir tia dis-ccação de corpos humano), (práticu iames iatrofívicuv.
ainda clnndcvrin.n, porém movidos pelo enriquecimento quI.!
esxu pesquisa puderia tru/cr para ii estética de seu trabalho
como pinrorc-, c escultores. () eleito de realidade alcançado
o icroscópio Mostra o futuro
pela arte rcnusccnu-ra reacendeu o interesse dos físicos pelo A cmbriulogiu fui um dos campo), com maiores progrcv-o-
estudo da unatonuu. durante o século X V II. Em 1677. o holandês Anthony van
(h rruhulhuv de: Andreus Vesalius 0514-1564) foram O~ Lccuwcnhock identificou. por meio de um microscópio. O que
primeirov a scr puhlrc:ado, na época cm que f'omm rC:lli/ados. hoje se sabe ser () cspcrnuuo/óidc. A partir dessa descoberta.
,cml" amplalllcnle conhelldos por seu, contcmporâneo),. Scu dilas e()fTcnte~ di\tinla~ t(llnaram corpo. A teoria da pré-formação
tratado De 111111/(//11 Corpw 1\ Fabrica ( 1543) é uma das rnaiore~ julg<lva quo.!um micruindivíduo pronto (prescnte no esperma
reali/aç<ie~ médiC::h de I ,do, \), h!lllpO\. ou no 111'(/) ~e de.:~ellvolvia dentro do corpo da mulher até atingir
a~eid(l o.!111 Bluxela'. ti família de nobres. Vesalills fel. seu, () eSl(lgio ue Il:lscimelllu. Segundo a teoria da cpigênese. o feiO
primo.!irn' l.!'IlJdn, 11.1lJllIh ',idade de Paris. completando-os em 'c originava de uma substância que se descnvolvia passando
P:\dua. no norte da Italia. onde rapidamente se tr..m,formou CIl1 UIII por diver:-os estágios até Htingir a maturidudc.
dos lIlelhore~ prorc),s()r~~ úe anatomia e c:irurgia. Alglln~ all()~ William IJarvey (1578-1657) foi um dos seguidore~ da epig.ê-
dCI)\)i\. cm ,ua obra rnáxinw. Ve~alius dc),c:rc\ ia C:OI1ldetalhc!> nc,o.!. A maior l:ontriblliçno de Harvey. no enwnlO, foi a provll
ii l!slrutura do!'. ,i SICma, mll~cul"r. nervo,o c C:lrculatório. de de que () sangue circulava pelo corpo cm um sistema fechadu.
~ intcrnos. () tratado abordava cada pane cm ~ua
;..: ossos c órgão'> E,tudando em Pádua. depois da rormaç:1o em Camhridge, Ilarvey
,c individualidade e ~uas rdações dc funcionamento integrado, dcdic:ulI-,e ao estudo de Vesalius. Dc volta a Londres, foi admitido
~ [)i:-;c.:U1C"~1.!ainl1a hujc ii autoria do!'. de~enhth que ,,;olllpunh:un 1111 London College or Physicians e lrabalhou nu corte de
;:" a ohra. lIIa\ a rique/a de detalhes e a clare7a do leXlo \ c..aliano. Carlos L Em 1628. publicou suas descoberta~ cm ExerC;/{I/;O
:;; sua, dcs(,;obcrtas e seu cuidado na apre"enta<;ilo da~ n\)\'a~ idéias. AII(/(()m;Cll c/e MO/II Cordi.1el S(/II~II;lIi~ iII Alli/l/a/;/JIIs (sobre
'" inclusive apontando erro, enconlnldo, na ohra dc Galen\l. re- () 1110\ ill1o.!llllldo corac;ão e do sangue cm animai,). Trahalhando
volucionaram a história da anatomia. ii partir da di."ecaçãn de animaio;. lIarvcy concluiu que o
Caso similar ao de Ve,,,lius ocorre no eampo da hotânica coração funcionava como uma bomba quo.!propulsi(1nava sanguc
com a publicação, em 154:! de f)e /-{;s/o/,;a S/;/IJilllll, do I,collhard pela artéria aorta e recebia-o de voha pcla veia cava. Intuiu.
Fuch!. (1501-1566). que lral.ia descrição c iluslrac;iio dctalhada também. a existência de va,o), muito po.!quenos (capilares). Foi
de plantas e erva, mediClnaÍl>. o italiano Marcello Malpighi ( 16:!X-16<J4)quem corroborou a
hipótese de Harvey. por mci() de anülises microscópicas.
O incipientc de),envol vimelllo de doi~ inMrumenlOs de an:í1ise
Século XVII dínica. () teflnômetro e u lllicro~c<Ípit1, transformou a prática
Durante o ,éculo XVII urna 11\1\'atendência no pensamclllo médica durallte o século XVII. O pfllllCll<1 UM) si,temático
médico. a iatroqulll1ic:a. Ihll'e,c.:u ii partir das c:onccp<;ões ue de medições de lemperatura cm paCICl1tCSloi feito pelo ho-
Paracel,o. Scu, prallc:anle, ac:reditavam na un ião entre alqlli 111 ia, landês Hcrmann Boerhaave (1668-1738). Os f'fsicos da época.
química e pr;íllca medlc:a . .Iall Bati,t:! \'an I lelmolll ( 1577-1644) porém. não esWV<lmcOl1vcl1C.:idosdo.!MI:I ulilidade e. apella~
foi () iatroquímico mais de't<lcado do ,éculo. Reali/ou estudos no século X IX. Karl Augu\t WUI1t1crlich (1815- J 877) chegou
rererentes 1'1 composição da urina o.!clIl1duiu que o ar era composto à conclu~ã() definiliva de que:l febre é UI11 ~intoma. e nfio lima
de muitos gases. DI\l!f~u:1 da conccpçiio de Galeno de que as doença. Os termômelros do século XVII eram ainda muito
8 • Tratado de (IInica Médica

rudimentares e o instrumento como se conhece hoje tomou Século IVIII


forma apenas na segunda metade do século XIX. COI11 os
aperfeiçoamentos de Airk in e Allbutt. Um dos teóricos mais destacados da passagem do século XVII
O microscópio teve precursores na Antigüidade, na Idade pana o XV III foi Georg Ernst Stahl ( 1660-1742). que rejeitou
Média (quando apareceram os primeiros óculos de grau) e na a concepção cartesiana do corpo humano C0ll10 uma máquina.
Renascença (os aparelhos de observação celeste de Galileu). Friedrich Hoffmann (1660-1742) desenvolveu estudos de fisio-
O holandês Anthony van Lccuwenhock aprimorou o funcio- logia muscular. segundo os quais as fibras musculares se dis-
numcnto de seus microscópios. atingindo aumentos de até 270 tendiam e contraíam em resposta a uma propriedade chamada
vezes. O italiano Malphiui. além das profícuas descobertas IÔIllIS. As idéias de Stahl e Hoffmann foram bem recebidas
no campo da embriologia I,) do sistema circulatório. ao estu- entre os povo. de língua inglesa. principalmente na famosa
dar íl estrutura do tecido pulmonar desenvolveu novas récni- Universidade de Edimburgo. a mais destacada escola de língua
cus de preparo do material n ser examinado ao microscópio. inglesa do século XVIII. o começo do século. os centros de
ovos avanços cm relação aos conhecimentos unutômicos estudo italianos haviam perdido a projeção de que desfrutavam
e fisiológicos foram real izados por Thomas Wharton (1614- de-de a baixa Idade Média. Hermann Boerhaave (1668-1738).
1673). que descartou a ideia de que o cérebro fosse UJlHI glân- lccionando em Leiden. transformou fi universidade local no
dula produtora de secreção. Distinguiu. também, dois tipos centro de medicina de todo o continente da época.
de glândula (endócrinas e cxõcrinas). O inglês Thomas Willis Gerhard van Swieten (1700-1772). discípulo de Boerhaave,
(1621-1675) publicou, em 1664. De Anatome Cerebri, importante trabalhou para a imperatriz Maria Thereza, em Viena e reformulou
tratado a respeito do sistema nervoso e tia anatomia cerebral em a universidade vienense para os moldes da escola de Leidcn,
que se descreve um circuuo de artérias na base cerebral. AI- A Universidade de Viena viveu seu ápice em meados do século.
gumus idéias erróneas ainda subsistiam em seu estudo. como Um de seus alunos mais brilhantes. Leopold Auenbrugger (1722-
a de que o cérebro seriu rcsponsãvcl pelos movimentos do 1809). criou novo método de exame de enfermidades torácicas
coração. dos pulmões, estômago c intestinos. li partir de seu lnventum Nov/l1TI (publicado em 1761).
As novas hipóteses e descobertas demoraram II despertar o Durante o século XVIII. estabeleceu-se um sistema de nornen-
interesse dos médicos. O inglês Thomas Sydeham (1624-1689). cluiuru cicnufica que persiste até nossos dias. O sueco Carl
um dos maiores clínicos do século. encarava como pouco úteis von Linné, ou Linnaeus (1707-1778). criou um padrão de dois
o uso do microscópio e as idéius de Harvey a respeito da cir- nomes cm latim para designar as espécies animais e vegetais.
culação sangüinca. O. uíço Albrecht von Hnller (1708-1777), da Universidade de
Poucas novidade- no tocante à terapêutica surgiram du- Gõuingen, seguiu os pus sos de Lil1l1l1eUSna especulação botânica
rante o século XVII. ~ parte o uso disseminado da cinchona e aperfeiçoou algumas das classificações do colega sueco. No
(planta de origem peruana da qual. posteriormente. se extrai- campo tio sistema nervo o. Haller concluiu que as fibras mus-
ria () quinino) no tratamento da malária. culares estavam sujeitas a um efeito de irritabilidade. e as
As universidades continuavam a ser os centros de estudo fibras nervosas, ao efeito de sensitividade. Elaborou também
da medicina. apesar da proliferação de escolas c sociedades ti correlação entre o córtex cerebral e nervos periféricos.
de prática médica. a França. em universidades como as de Os estudos de fi iologia da respiração tornaram novo im-
Paris, Montpellier e Toulouve. existiam três espécies de gradua- pulso COIl1 as descobertas de Karl Wilhclrn Scheele (1742-1786)
ção: bacharelado. licenciatura e doutorado. As demais nações c Joseph Pricstlcy (1733-1 R04), responsáveis pelo isolamento
européias seguiam mais ou menos o mesmo padrão. Escolas do oxigênio e com as revisões de Antoine Laurent Lavoi ier
como Accuderniu dei Cimento. em Florença. Accademia dei (1734-1794). que concluiu que ti respiração era necessária para
Lincei. em Ruma e Royal Society (na quul lecionararn Lceu- o processo de oxidação dos tecidos vivos.
wcnhoek e Malpighi]. em Londres. eram as mais destacadas
cm novas descoberta: prãucas. a Inglaterra existia também
o College of Physicians. de função mais acadêmica. normativa Época de Avanços
e reguladora.
Duas classes distintas de cirurgiões começavam a se definir, Um dos maiores físicos do século XVIII é considerado o respon-
apesar de as técnicas de anestesia e esterilização ainda não sável pelo sepultamento definitivo das teorias dos humores
serem conhecidas. Os cirurgrõcs-barbeiros aplicavam métodos corporais. Giovanni Bauista Morgagni (1682-1771 ).Iecionando
como sangrias. praticavam extruçõcs dentárias e cuidavam de em Pádua, desenvolveu estudos de anatomia ligados a parolo-
feridas e. muitas vezes, levavam urna vida nôrnade. Cirurgiões gius (I partir de autópsias. Morgugni identificou e descreveu
"verdadeiros" evitavam identificar-se com os barbeiros e rea- mais de 500 casos de patologias em seu De Sedibus et Causis
lizavam intcrvcnçõc: plãsticas. exrração de tumores e sutura Morborum. de 1761. dentre os quais, cirrose hepática. tubcr-
de feridas, culo e renal. lesões sililíticus do cérebro e solidificação pneu-
A prática dentária era desempenhada sem regulamentação. mónica. Um dos seus eguidores. o francês François Xavier
na rnnioriu da' VC/.cS pelos cirurgiões-barbeiros. Em 1699. porém. Bichar (1771-1802). estudou mais de 600 cudávcres, dando
o rei Luís X IV da França estabeleceu regras de formação para continuidade à classificação das patologias.
cirurgiões dentistas (2 anos de estudos. seguidos de exame Os estudos de anatomia. na Inglaterra. desenvolvidos pe-
aplicado pelo Colégio de Cirurgiões). los irmãos Humer.Ievararn à fundação da Great Windmill Street
Pouco se avançou também nu campo dos distúrbios men- School of Anatomy. Graças a seus vastos conhecimentos de
tais. A classificação mais elaborada foi a de Felix Plaucr obstetrícia. William Hunter (1718-1783) foi responsável tam- 00

(1536-1614). que identificou quatro variações de insanidade: bérn pelo pano de vários membros da família real, John Hunter ~
imbeciíitos. constematio (estados febris e caratônicos). alienatio (1728-1793) é considerado o fundador da cirurgia experimental '"...
(demência. alcoolisutu. amor. ciúme. melancoliu, possessão c pioneiro da anatomia comparativa. a França, Foi fundada ~
pelo dcrnônio) e defutigm!» (insônia. causada por força' so- em 1731. a Sociedade Real de Cirurgiões e. alguns anos depois, ~
brenaturais). Um dos tratamentos mais comuns era a trans- os barbeiros foram proibidos de exercer práticas cirúrgicas.
fusão de sangue de unimais (Ireqücntcmcntc de cordeiros) Jean Louis Petii (1674-1760). inventor do torniquete. foi um
para o corpo do doente. dos cirurgiões franceses mais destacados do século.
Clínica Medica - Passado. Presente e Futuro 9

Entre II' ilh:l11fIC~.LOIl I Hcivter ( 163R-1758) pubhcou um da chrucn médica moderna. em sua disscrtuçâo inaugural
UII'primein» livrox ilu ...trad IS ...obre práticas cinirglc<ls,o \/.11('111<1 comparou método .. de Hipócrutcs COIIIos de seu professor.
C;,,/',tI da Cirurgi«. (;111 I II li, Françoi- Xavier Bichar \cu método pala obter a ausrulurção
'III campo <.los distúrbios meruai-, a Revoluçüo Francesa mediatu, cm 1819. lançou mão tia observação de crianças
operou uma radical mudanç.r 110 trauunento do-, mtcrnov, Philippe brincando num jardim e ..olreu limitações. como a vergonha
Pincl ( 17q5-1 826). considerado fundador da psiquiatria. esta- de colocar a orelha vobre o peito de uma jovem, o que certa-
beleceu uma reformulação das condiçõe ...de Internação 110 asilo mente não estava em sintoma com a tendência que se Iniciava.
de Bicêire. perto de Pan que propunha a obxerv ação direta do paciente. Entretanto. o
Uma das rnaiorcx de .c oberta- relacionadas às doenças e~lcIOSCOPI()acabou por trazer benefícios ao .. diagnõsrícos.
endêmica .... a vucma com ii varíola. estava reservada para o insuspcuaveis até pelo próprio Lacnncc.
final do ...éculo X V III. con IS estudos dc Edward Jcnncr ( 1749- François Xav ier Bichai (1771-1 !l(2) igualmente deixou
1112'\). ma ...li hisronu de u pleno desenvolvimento percorre importante legado: O Tratado das Membranas (1801) e Pes-
iodo li ,éculo XIX, quisa» Psirologu:« \ sohr: ti VltI(/ l' (/ Morte, escrito no uno de
xuu morte, II\():!. ao ... '"~ ;lnm Um exemplo desses médicos
cm fase de trun ...ição e portanto. envolvidos pelas recrias abxtratav
SÉCULOIII do véculo anterior. Bichai identificou as diferente, mcmbra-
na" na verdade. tecidos do corpo humano c 'Ul1', lunçôcs.
Its Grandes Descob tas rendo ~ido I' primeiro a preconizar a relevância dus estudos
Lmboru .....pnme iru...(k'L'adns do século X IX tenham Sido uma 1 i,ioI6gicos.
continuação \ munl dos dcscnvolv imentos médicos do ...eculo Outro famoso médico francês do infclo do século XLX foi Jean
anterior. é. até mesmo gnll,as ii eles. que dors grande ...,"'anço, Nicolas Corvisart (1755-11\21 l. médico de Napoleão Bonaparte.
pudem ver uporuudos: a ane ...tesia e a descoberta dos micror- Professor c cardiologivta. um de 'cus notáveis feitos foi traduzir
gunivmos COIllOcausa das doenças. 0<; concertos de doença. para o francês () livro do médico austríaco Auenbrugger, escrito
métodos e tratamentos foram radicalmente alterados. em latim em 1761. O conteúdo do livro dissertava sobre a
A racionalidade norteou todos os campos de conhecimento percussão e a uulivação da .. sensações auditivas para auxiliar
no século XIX e não ...eni' diferente para o dcvcnvolvrmento da no diagnóvnco de doenças do tórax Esses estudos inspiraram
medicina <1\) longo I.h:,,~·1" lodo. Vi nculada como ...ernpre esteve l.aenncc na concepção do esreroscõpio.
ao desenvolvimento ceou mico. vocial e político. a medicina
do século XIX permeou a... uofundas mudança ...provocadas pela o;ngnõsUco 8 Prc\lonçao
Revolução 1:1 a IIl' C....iI (171\'1) - em e...pecial no que "-' retere ao Em meados do séculu XI"-. (I pcnvumeuto do médico vienense
cnvino medico L' pe 1;1 R -voluçâo lnduviriul O acumulo de
Jose!' Skoda -que juntamente corn Kali Rokuanvky se dedicou
capital' propiciou às grande ...potências ocidcnun o investi ;1 ti ifusão da pniricu da "U'{ 1I1t,1,:l0 apllllla\ a para lima maneira
mcnto em expedições com \ "Ia., a coloni/açào de terra cstrutegiu de agir c pen ...ar que "c tornaria uma das caractcnsuca-, lIo,
fundamental para forçnr ii ... btên\.la de mercado para I)S novos médicos daí cm diante. Pcsl>illlista~ cm relação à terapêutica,
produu inúu~lriali/.ad(" I:: ~'1I1 uma de ......
a...cxpediçôe ...que Skoda e ~cus cuntel1lporãnc(l~ se dedicai iam mUllo mai~ 110
(,harle Robert O,uwin IIXOI) IXX:!) tcm wa ... primeiras in dlaglH; ...tko e ii prevençãu. cm detrimento da terapêutica. que
lUiçôes a respeito oa I:volllçào da, e~pécies. Xavcgando pdo all' cntüo contava com fórmulas ncm sempre contiávcb.
Pacífico a bordo 00 flMS UellR/e por 5 ano!>.úc:.embarclJu na\ Era nagrante o de~em'oh imenw <.lumcdici na anatomoclínica..
ilha!>Galúpago ...cm I X15 c w cmreleve com os bicos dos tentilh(lcs. ma\ descobertas ocorrida~ em outras árcas da Ciência seguiram
que tinham formalos dlfercntes. parecendo a Darwin que essa ampliando o leque de estudos que se incorporariam, paulati-
dlfercnça ...e relaclona\a • 1m o tipo dc alimc!nlO e\IMente em namente, à prat ica mcdl{ a. Funçõe~ elementares do corpo
cada háhital do arqulpélag " Em 1859. publica\a A Origell/ das humano são analisada .. pela física. os 11IIl1lores.conceito de
F\pél'Íl'.I' por II/eio da S, ('çiio Na/llra/. Era 1I1i11' um golpe
Hipócrale ......ãll deSCritos pcluquíllllca. Rudolph Virchow de~crc\c
desfcrldo contra o .Iii titu~ ~Inte podei da IgrcJ.1 \obre as des- li unidade I.'clulal".c a bacteriologia. com Pastellr e um oatalhão
I.'ohcrta\ médicas c I.'II:nt Ica ... dtO Illl'dICO' ,kpois dek, ,urgia para. mais ullla ve/, rcvoluclOnar
\ construçi!o das ltiblll... a cunseqUente expan ..ãu da.\ lldades. II hisll;fliI da mediCina
~ o uumenltl populaL'iollal I.!II1 amoito ;lÍnda maior. a IlIll'rde
Rudlllph Vlrch()\\ (1821 19(2). mediCO c profeswr alemão
ôí;. pcndi:n~'lil entll·coIllUllid.hk, c lIaçôe' provocaram altcraç'oe\ do Charite Hospital. ampliou as tl:mia~ de Bll'hat. demons-
~'I na pr.ítll.'<Imédica, l'aciclIll S que csti1\am. a panlr de en!<lo. na
trando ljue cada tccidn c lornllldo por um 111'0 específico de
; pll\lçáll de operürios slIjCItOSa condiçüe .. ad\ ersas d\! trabulho. cclula. Em I R."iR. pUbli,ou ('('II/(llIr·Pa/n/ngie. elerOllando (l
cUJus patrúe ... Cl1lll:tanto. se prcocupa\'am com ,"a salíde para c()nceilO 11111111.\ ('('1111/11' d//lla (toda célula nasce de uma célula).
garantir a dlclencla. eram Ci"o~ ue\aliadnres para (I., medicm. ~endo capaI de demoll'.trar o nascimento tias célulil' durante
Libertos da Igreja e dl' ...eus dogma ... 0\ médiCOS podiam Ol.'reSClmenlll du nrganl'lIlll ou no constante pf()ces~(l dc re-
comentar abertamente hlpotescs e teorias. Contudo. toma-se novação celular. Fel maIs: relacionou alterações das célula ..
difícil para muitos uos Illcdicos nascido~ no século anterior ils doença".
reformular teorias e ...impl '..menle aderir ao estudo clínico dos
dOl!l1lese 11di ssecaçall dl l'adáveres.
'a primeira melade til ,eeulo XIX, a\'anços em IislIllogia. S ,s Diminutos e Perigosos
p:lIologla c qUlmiea allld 11ãose reOeliam na prátil.'a médica, Por muito tempo. o SUIÇOLouis Pasteur ( I X22-1 !l95) trabalhou
Boa purte da jloj)uhlção na. rel.'orria aos Illddicu\, wgcstlOnada como químil.'o e fui 11(1e)(er~·u.:I(loe 'lia profissão que descobriu
pcl'" lIaca ,o\ das s<lngri,)~e outro ...método\ par<l"'c comoater fi assimclria d,,., cri'liIls, Em I Xli4. rc\pondeu ao apc!lu de in
:h doença c conter as epidemia, duslriai ...do \'Inh!) c ccrvqelro ... que se \ Iam ias voltus com prc
A medicma antiga. l'O '..ullada por maIS dc do .... mil ano.,. JUI/,("" call',adlls pela diliculdadc em conservai ~cus protlulUS.
mnda prC\aleL'ia L'omo rcllll!llI.:ia para muilOs médicos no iníL'io Eh: partiu para a imc ...tigação do procl's,O quinllc(l da l'crlllell-
do sticulo XIX Em IHO·I.I'"r exemplo. René The6phile Laennel.' til~'ilO.idcl1t1l1cando a~ Ic\·cdura~. Com ii ajuda do I1Ilcroscópio
(1774-11\16). li 11lVL' 11101 do c'teLO'Cllpin e um dos pioneiro, tamhél11 clcscobnu que a al'idilicaçllo do vinho relaclon<lva-se
10 • Tratado de Clínica Médica

a outros microrganismos. que. por sua vez. não eram gerado. O trabalho árduo dos bacteriologistas. a possibilidade de se
pela bebida. mas estavam no ar: os micróbios. Pasteur sugeriu fabricar as vacinas c estratégias de controle do contügio deram
que para evitar a contuminaçâo. as bebidas deveriam ser sub- à humanidade a vitória sobre <IS grandes epidemias.
metidas à icmpcrmura de 60°C. matando os micróbios, pro-
cesso que se conhece até hoje como o de pustcurizução.
A flt'hrim·. doença da pimcntu-ncgru. e IIjlticlle/'ie. diarréia
legado da Varíola
do bicho-da-veda. a~~(lla\am a criação des~es animais na re- Edward Jenner foi aprendiz de cirurgião aos 13 IUIOS e, depois,
gião do Languedoc. Pnvteur foi chamado pelos scricultorcs. clínico geral. rendo vido um do, melhores alunos de John l luntcr
identificou C)~ germes cauvudorcs das doenças c elencou me- (1728-1793). no Hospital SI. George. Os séculos XVII e XVIII
didus profllãticas. entre clus higienizar as folhas da umorciru. foram marcados pelo desespero diante das epidemias de vu-
ãrvorc cuja fruta é ti alimento hâsico dos bichos-da-seda. Ou rfola. A inoculaçâo de pus de doentes cm pessoas sãs j:í era
mevma forma. pa~~aria a uconvclhnr aos cirurgiõc» que cstcri- conhecida c tornara-se a única esperança dos ainda não III.!OIllC-
li~a~).em \eu). instrumenrov. sejn imergindo-os em rccipicmc ridos pela doença. embora os riscos fossem evidentes. Essa '"
com temperatura superior a 100°C. seja por meio da ebulição. prática leria se tornado a primeira récnicu médica de massa. ~
O esquecimento dentro de um armário. no laborutõrio. de apesar de. nesse caso. o objetivo ser atenuar a gravidade da 't
uma cultura de buciéria-, da cólera das galinhas acabou por doença e não exatamentc preveni-Ia. se Jcnncr não tivesse dado !S
provocar mais uma de. coberta de Pasteur, Dentro do armário. um passo à frente e dcscobcno uma técnica mais eficaz e menos ~
a cultura de bactérias enfraqueceu c um de seus colaborado- perigo a.
res. Émile Roux (1853-1933). decidiu testá-Ia. injetando as Por 20 anos. Jenncr observou a doença c suas vítirnas. atentando
bactérias nas galinhas. Em seguida. injeiou bactérias novas: em para um fato bastante conhecido dos fazendeiros e trabalhadores
ambos os casos. as galinhas sobreviveram. Pasteur e seu co- rurais: as pessoas que tinham adoecido da varíola bovina - deno-
laborador concluíram que as bactérias mais fracas possuem minada vacina - não adoeciam de varíola humana, mesmo em
uma virulência atenuada. imunizando os animais contra as meio às epidemias. Em 1776. o médico retirou uma porção de
bactérias novas c. portanto. mais perigosas. Em 1881. Pasteur pus de um dos ferimentos de Sarah Nelmes, filha de fazendeiro
combateu o antraz - doença que acometia o gado bovino e acometida pela vacina. ou varíola bovina c infectou um menino
ovino - por meio de vacinas. Quando Pasteur utilizou o lermo de 8 anos de idade. Trê. meses depois. infectou o garoto com
vacina. estava homenageando o médico inglês Edward Jenner pus de varíola humana. sem que nenhum distúrbio de saúde
( 17-49-1823). Ele descobriu que a inocu lação de pus de pu- ocorresse ao menino. As inoculações eram realizadas através
cientes acorncridos pela vacina - a varíola do gado bovino - de pequenas ranhura na pele.
em pessoas sadias, as imunizava contra n varíola humana. Tomando- e médico rurnl, ergueu seu "Templo da Vacina".
O fato que dcfinirivarncntc eternizou () químico suíço foi um local para atender às pessoas pobres. A uccitação do método
ter obtido SUCC~S() ao vacinar um homem mordido por cão raivoso. ainda não :.C gcncrulizarn, umro que, ao apresentar sua tese à
cm 1885. Seu trabalho constituiu-se CIII inocular II paciente Royal Society of Medicine. em que detalhou minuciosamente
COIII cxrrarov da medula cvpinhal de cão infectado. 0\ procev-o-, da vacina. viu-a rejeitada.
Ü verdade que outros .• mtcx dc Pasteur. jlí haviam idcmi- Ao~ poucos. a~ dificuldades iniciais l'orum sendo vencidas:
IIc;ldo 0:- rnicrõbiov, mas coube :.r ele ti turefu de universalizar cm 1800.6 mil pessoas foram vacinadas. Jenncr obteve reconhe-
a existência dc"e\ -cre-, nucrovcõpicos e de comprovar a possi- cimento oficial e verbas para coruinuar seu trnbulho: chegou
bilidade do conrãgio. faro que. do mesmo modo. médicos de a Oxford e acabou por se tornar membro honorário da arre-
cpocu-, anteriores já h:1\rum intuído. principulmcnrc em Iun- pendida Royal Society of Medicine.
ção da:- grandes cpidenuuv, Em I S40. j:i não eram só os nobres li serem vuci nados. pois
Dctcmor do Prêmio obcl cm 1905. o médico alemão Robert o governo brirànico passou a realizar a vacinação gratuita contra
Koch (I X-42-1910) confirmou a suposição de alguns médicos varíola. tornando-a compulsória em 1853, falo que já ocorria
do início do século: os seres unicelulares têm suas caracterís- em outros lugares como Bavária. Suécia e Prússia. Alé o fin:ll
ticas próprias. produzcm ,uas próprias loxinas c provocam do século. a \'aein:lção contra a varfola se inlensificaria. :linda
doenças delerminadas. Chegou à. ua leoriu eSludando o bacilo que houvessem vozes conlrárias rcunidas cm associações e
do anlraz - que Ca~imir Oavaine (1812-1882) identificara - pai:. que opiavam pela vacina apenas quando uma epidemia
lingindo-os de coranles com cores vivas c observando-os em se inslalava. A vacinação em massa pcrdurou. crradieando a
laborat6rio. varíola cm 1977.
Pasleur e Koch provaram a existência do contágio. A partir
deles. a bacleriologia l>ede~clwolvc rapidamenlc com a idcn-
lificação dc inúmeros microrganismos. Os l1Iédic()s alemiie;:ssiio
A luta Contra a Dor
os quc mais se de\lacam nc:,sa empreitada. Em 1879. o derma- Vinho. aguardcnlc_ ópio ou misleriosas planlas. Fci'.-sc de ludo,
lologiMa Albcn ei:-loeridentifica o gonococo e. Annauer Hansen. l}()longo dos séculos. p~lraque (I homcm livessc a dor minorada
o baci lo da lepra. Em 1880. quando Pasleur descobria o estrep- na~ intervenções cirúrgica~. Ncnhum desscs mélodos pareceu
IlICOCII c II e~lafiloc()c(). Karl JtI~eph Eberlh idenli ficou o bacilo MlficicnlemcllIc efic.u ou :.egul'o. Em I X44, nos ESlados Unidos,
do lifo e Alph()nse l.;Iveran. (I parasita da malÍlria. No mesmo uma demollslraçi\o privad:l do g:ls hilariallle, (lU óxido nilroso,
uno cm que Koch idenlitrcou I) bacilo dll luberculose. 1882. promelia diversão. O denli~la Honree Wells eslava lá e ntcnlOu
Friedrich Locmcr de~cobrru o~ bacilo~ de morl1lo e. cm 1883. para () falO de as pel>~()a~loCIIUlchucarem duranle () tempo dc
Loc fllc r e Edwin Kleb ...idenli ficaram o baci lu da difteria. Koch efeilo do gás e lião ~Clllirel1l dor. Passoll li IIsar a subsl(\ncia
conlinulI loeu Irabalhcl inee\snnle para. em I XX4. idenlilicar II para alívio da dor 110 Iratamento dcnl.írio.
bacilo da cólera. cm Berlim: no mc~m() ano. Albert Fr:ínkcl Well. fCI demonslração pública num hospilal. mas falhou e
descobriu o bacilo da pneumonia. Sucessivamcnle. foram dc!>isliu da empreilad:l c da odonlologia. No enlanlO, scu sócio.
idenlilicado~ os bacilo~ do téwno. o coli. os micróbios da febre William Monon. e inleressou por experimenlar () éler com()
de Malta e da meningite. () baeilo da gripe - respons:ível por alie tésico em caso de cirurgia. Fez experiên\:Ías primeiro em
seis epidemias durante o ,éculo XIX - e. em 1894. o germe cães. depoi em voluntários e. por fim. em Ig46, o éler foi uli-
da pesle bubónica. lizado com sucesso numa intervcnçiio cirúrgica 110 pescoço de
Clínica Médica - Passado, Presente e Futuro • 11

uma jovem. O químico e geólogo Charles Jackson, que fora sadores do século anterior encontra eco c reconhecimento ao
consultado por Morton antes da famosa operação. entra numa longo do século XX.
briga judicial reivindicando ser ele o autor do método. Não sem Os irmãos Lumiêre faziam fi primeira demonstração do cine-
motivo: Morton escondem a f()rlllula do éter e pretendia ganhar marógraf'o cm Paris, quando Wilhclm Roerugcn (1845-1923)
muito dinheiro. O que não ocorreu. já que o éter não era tão descobriu, em 1895. os raios X. Por acaso. um quadro de
desconhecido dos médicos europeus e norte-americanos. platinociancto de bário estava recostado na estante do labora-
O clorofeírmio também passou a ser utilizado para fins anes- tório de Roeutgcn, Ele reparou que () quadro se tornava !'Iuo-
tésicos e teve grande aceitação.A minha Vitória, por exemplo, rescenic quando ele fazia passar uma corrente elérrica de alta
deu à luz o príncipe Leopoldo. em 1853, anestesiada por cloro- tensão num tubo quase vazio. Os raios. chamados rapidamente
fõrmio. administrado pelo ginecologista John Snow (1813-1858). de "X". tinham .1 propriedade de atravessar estruturas metáli-
Paralelamente ao uso dessas substâncias. engenhosos aparelhos cas. A descoberta traria conseqüências durante todo o século
foram desenvolvidos paraauxiliar naadministração do anestésico. seguinte.
O éter e o clorofórmio teriam sucesso maior se não provocassem A princfpio. eles serviram apenas para diagnosticar lesões
lesões hepáticas e síncope....O aperfeiçoamento dos anestésicos do esqueleto. uma vez que () cálcio dos ossos é impermeável
aconteceria décadas depois. à suu uçâo: mas logo auxiliaram no diagnóstico da tubérculo-
A anestesia e os métodos de assepsia, que se desenvolve- se, pelo reconheci mcnro das cavernas pulmonares provocadas
ram a partir dos conceitos de Pasteur. determinaram avanços pela doença.
significativos nas práticas cirúrgicas. Em especial. a asscpsia A revolução radiográfica roi sentida durante toda a primeira
fez diminuir consideravelmente o número de óbitos no pós- metade do século XX. A aceitação dos raios X foi irrestrita,
operatório. C0l110 nunca antes acontecera com uma invenção ou nova teoria
no campo da medicina.
Uma Doença, um Médico la virada do século, os raios X despertavam mais interesse
No começo do século XIX. pacientes c companheiros de pro- do que a bacteriologia. a tal ponto que muitos hospitais e médicos
fissão suspeitavam de qualquer médico que estabelecesse uma tinham a instalação da máquina de raios X como prioridade,
CI11 detrimento da montagem de laboratórios com microscópios
especialidade, tratando de um único órgão ou grupo de doenças.
Esse preconceito foi gerado pela atuução itinerante de leigos c reagentes químicos. É mais fácil acreditar naquilo que pode
que se davam ao trabalho de arrancar dentes ou tratar de lima ser visto.
doença específica. normalmente lima doença venérea. com Muitos médicos e seus assisrcnrcs sofreram as conseqüên-
remédios e métodos discutíveis. latnrcs cicntificos. sociais e cias do desconhecimento dos riscos da exposição constante à
econôrnicos foram convincentes o bastante para mudar esse rudioatividade e tampouco protegeriam seus pacientes. As pri-
meiras décadas do século XX trouxeram aperfeiçoamentos aos
quadro.
raios X. com delimitação das voltagens e umperagem, do com-
As informações científicas cresciam tanto - em patologia.
por exemplo - c as novas técnicas surgiam com tal magnitude primento de onda e da duração da exposição. bem como II
que se tornuru impossível para um médico abranger LOdosos surgimento de materiais apropriados para proteção dos médi-
scrorcs tia medicina. A descoberta de novos aparelhos para cos c ele seus assistentes.
nuxilinr nos diagnõsucos. principalmente, impôs a necessidade Os recursos cinematográficos permitiram aos médicos acom-
de. cada vez mais, se buscar a espcciulização, corno no caso da panharem o trajeio de substâncias i njetadas no paciente, propi-
urologia e luringolog!a. Além disso. o ponto de partida para ciando a observação do tempo que o órgãos levam para executar
diagnóst ico e tratamento passou a ser os órgãos do corpo. suas funções. Os médicos passaram a ter, a partir dos raios X,
estudados in {oco nos dissccamcntos de cudrivcrcs, na evo- Limaidéia irnagética do corpo humano. A eseanografia e a res-
lução das doenças acompanhadas detalhadamente pelos mé- sonância magnética nuclear viriam bem depois, em 1971 c a
dicos c. j:í no final do século, por meio dos novos aparelhos.
ecografia, em 1980. .
Surgiram. assim. urologistas. oftalmologistas e otorrinos. Em 18YS. o rádio é descoberto por Pierre Curie (1859-1906)
O Iluminismo c os escrito de Jean Jacques Rousseau inspira- e Marie Curie (1867-1934) e. daí cm diante, outros minerais
ram mais cuidados COI11 us crianças. dando impulso ao surgi- radioativos passam.a ser identificados. O rádio trouxe o início
x rncnto da pediatria. O estudo científico da sífi Iis determinou o da cura para o câncer. por rneio de terapia associada nos raios X.
~ desenvolvirnemo da dermatologia e do aparecimento do der- No entanto, foi principalmente depois da SegundaGuerra Mundial,
";' matologistu. /\ neurologia foi uma das ultimas especialidades com os efeitos das bombas nucleares sobre os sobreviventes.
~ u emergir, caminhando lado a lado com a psiquiatria. no Japão. que se pôde avaliar o poder de destruição dessesele-
J.. mentos. bem corno foi possível descobrir seus benefícios.
'"
stCUlO IX
Entre o Divã e os Psicofármacos
Era das Máquinas As imagens dos sonhos são asresponsáveis por uma nova vertente
O século XX inicia-se tendo os raios X como o prenúncio de !1O tratamento dos males elahumanidade. O psiquiatra Sigmund
uma era forjada pelas imagens. tanto no mundo das artes, com Freud (I X56-1939) inaugura o século XX publicando, em 1900.
o cinema. como na medicina. que teria ao longo do século a 1\ Interpretação dos Sonhos: surgia a pslcunãlise. A exploração
contribuição de exames sofisticados como tomografias do inconsciente e um método para fuzê-lo.justamente a psica-
computadorizadas e ecografias, A invenção do microscópio nálise, teve seu auge na década de 1950. nos Estados Unidos.
eletrônico fez a genética avançar. além de possibilitar a desco- não sem antes os primeiros discípulos de Freud romperem com
berta dos vírus. Sigrnund Freud cria a psicanálise c revolucio- suas teorias) Difundindo-se em todo o mundo ocidental, a
na o tratamento da loucura. Com 0$ meios de comunicação de psicanálise vai trazer ii tonu, nas últimas décadas do século XX.
massa, particularmente na segunda metade desse século. IOda o conceito de doença psicossomática.
li humanidade acompanhou. estarrecida. os desenvolvimento Já foi provado que distúrbios mentais podem eclodir nos
científicos e tecnológicos que pareceram não conhecer obs- órgãos do corpo, estando intimamente relacionados a sintomas
táculos. Cada esforço empreendido pelos médicos e pcsqui- COmo palpitação. enxaqueca e outros. Cogita-se, também, a
12 • Tratado de (IInica Médica

relação entre estudo mental c gênc~e do câncer, Por outro lado. animais infectados, pois os vfrus eram muito pequenos para
j,í se suhc que h:~i)es 110 corpo fí,ico podem acarretar repor- ser observados com ()~ recursos do), microscópios existentes,
cu~~iies mentais. Contudo, os bacteriologistas sabiam, desde as décadas antcrio-
Um passo i mportantc na relação médico-paciente é a idéia. rcs. que a~ bactéria' não eram os únicos agentes patológicos.
trazida com a medicina pvicossomúticu. de que o homem deve Os avanços da biofísica. da bioqu ímicu c da imunologia.
ser tratado cm sua totalidade. sem a distinção entre corpo c sornados à invenção do microscópio elctrônico, tornaram possíveis
mente. Para Michael Hulint (1l>96-1970). a premissa "0 mé- não só a identificação dos vírus, mas igualmente O estudo da
dico é um medicamento" é fundamental. insistindo que mesmo genética e da mutação deles. seu crescimento dentro das célu-
alheia à vontade do clínico. a sua simples presença ao lado do las e o comportamento do sistema imunológico. além da ação
paciente com perturbações mentais ou orgânicas o primeiroé dos anticorpos. Também foi possível saber que o corpo hu-
requisito para a cura. Tal premissa pode explicar o porquê de, mano rejeita outros elementos incompatíveis, aprimorando as
na:-pesquisas. detectarem eficiência dos plucebos similar à dos transfusões de sanguee trazendo novos parâmetros paraos trans-
remédios. plantes de órgãos.
Também foi a punir de Freud que se começou a pensar com Concornitamcmcntc aos estudos dos vírus, os cientistas bus-
mais in!-.ist(:nt:Íana IOLi(;Ura corno doença. embora outros expoen- cavam fórmulas para combatê-los. Pela sua extrema utilidade,
tes, COl1l0 Ph iIippe PiIII.!I ( 1745-1826).já houvessem se esforçado a descoberta da penicilina - que propiciou a fabricação em
nesse sentido. Em IlJ:l5. o' clctrochoqucs. ou terapia da clctro- alta escala dos nntibióricos - é um dos maiores trunfos desse
convulsão, cram uulizndos em pacientes csquizofrênicos, com século. Como se sabe. as descobertas na medicina c na ciência
algum sucesso.embora extremamente traumáticos. Atualmente. passam por processos de aperfeiçoamento ao longo de anos.
os psiquiatras preferem administrar psicofármacos. cujo uso Não roi diferente com os antibióticos,
indiscriminado. entretanto. é o cerne das divergências entre A bula mágica. ou injcção de arsênico para combater a
psiqu iat r<JS e psicanal istax ou psicólogos. sífilis. proposta por Paul Ehrlich (1854-1915), em 1909, servia
Ausiolüicos, hipnóticos, aruidepressivos. tranqüilizantes e de inspiração e estímulo para os químicos, na corrida pela
sais de lítio surgiram a partir da Segunda Guerra. A gênese fabricação de substâncias capazes de curar, movimento cujo
do psicofármacos aeontece em 1952. em Paris, por meio da entusiasmo se assemelha ao ocorrido na busca pela identifi-
observação dos efeitos psicotrópicos da cloroprornazina. A cação dos micróbios, décadas antes, As experiências em la-
descoberta. em ritmo acelerado. de novas drogas praticarneme boratório e a administração das substâncias cm pacientes não
anuncia o fi m da i rucrnação. Pacientesque em outros momentos trouxeram resultados eficientes.
da história da medicina estariam confinados em hospícios podem. 1\ utilidade das sulfonarnidas no combate ~IS bactérias foi
atualmcnrc. ter uma vida normal, controlada por medicamentos. anunciada por Charles Hcidclbcrgcr c W. A . Jacobs, em 1917.
A experiência adquirida por intermédio da clínica com os Um mês antes de Hitler dominar a Alemanha, cm 1933, Gerhard
pacientes que sofrem de distúrbios mentais c o estudo dos efeitos Domagk (1895-196-1) estabeleceu, em definitivo, que os micror-
dos psicofármucos i-obre o cérebro conferem maior importância ganismos invasores poderiam ser atacados no sangue por meio
às ncurociências, cujos adeptos vêem o comportamento humano de substâncias químicas: roi detentor do Prêmio Nobel de 1939.
como rcsultanrc de proccsvosquímicos. O tnatcriallstno químico O australiano Howard Walter Florey (I R9R-1968) retornou os
\cr,i um dos legados desse século para o futuro. trabalhos do professor Alcxandcr Flcrning (1881-1955) - ao
estudar o germe estafilococo ele observou, acidentalmente, que
o bolor era capazde destruí-lo; denominou essebolor de penicilina
Herança Genética tescovay. Ele acreditava que essa substância poderia ser usada
Johan Gregor Mendel (I R12-1884) já havia lançado. no século para atacar outros germes. Assim nasceram os antibióticos,
XIX. as noções de hereditariedade. utilizadas mais tarde por cm 1940. responsáveis por salvar inúmeras vidas.
Thomas l lunt Morgan (I R66-llJ45) para estabelecer a lei cro- O desafio não tem fim, as pesquisas não se esgotam. A tarefa
mossômica tia hereditariedade. Sobreveio mais urna revolução. constante é a de encontrar novas substâncias, pois os agentes
em especial .1 partir de 11)53. quando Jim Watson e Franci: agressores desenvolvem resistências, pouco 11 pouco, às drogas ~
Crick descobriram ,) constituição básica dos genes: a hélice j(l existentes. Além disso, o uso dos untibióticos está limitado por j
dupla da moléculu de DNA - ácido desoxirribonucléico. ONA sua toxicidade. que provoca alergias em pacientes sensíveis ...
c uma base de açücur 1'01 uuun UI11 nuclcotídco. rcsponxávcl Um .uraso tia furmacolog!«, de pelo menos mil anos, foi ~
pela transmissão genética. recuperado nos últimos 50 anos. 0:0; labor.uónos para clabo .. ~
A, pesquisas cm torno dos males congêniios já vinham rur f(Írmula~ ou sintctizur medicamentos, que antes eram ati-
ucontcccndo desde a década de 19-10. impulsionadas pela vidudes pertencentes aos hospitais ou, quando IIIUiLO,a uma
invenção. cm I93lJ. do microscópio clctrônico, Em 1959. idcn- pequena empresa familiar. transformaram-se eru imensas uni-
tificou-sc a síndrome de Down. Tornou-se possível detectar dades da indústria farmacêutica. Até 1950, o clínico prescre-
anomalias genéticas nos toros: hoje cm dia. há estudos para via um modo de vida adequadoe regime aiirncntar. Paraprescrever
se injetar material genérico nas células defeituosas. ainda dentro o remédio. elaborava poções que mesclavam produtos sintéticos
do útero da mãe, corrigindo o processo de deforrnação. e naturais: as dúvidas sobre a eficácia da mistura eram dirimidas
A noção de risco genético é uma realidade a partir desses por manuais de posologia.
estudos, os quais incluíram detalhada pesquisa das doenças Da estreptomicina, poderosa substância contra a tuberculose
que acompanharam várius gerações das famílias da realeza descoberta em 1944. até os beta-bloqueadores e transformadores
inglesa. ao longo dos séculos. A exploração do interior do da ungiotensina para controlar a hipertensão, desenvolvidos na
corpo humano acontecia paralelamente a uma corrida pela última década, a farmacopéia vem cumprindo a missão de aliviar,
conquista do espaço exterior: a chegada do homem ?r Lua. controlar c curar as doenças. A cxpect·ativa cle vicia aumcntou
algo em torno de 20 anos. nas últimas três décadas, graças ao
de~env()lvimenlO dos fármacos. Por outro lado. assim como
Estranhos Invasores e seus Inimigos nov"s des<.:obertassuscitam novos questionamentos, novas
Durante os primeiros 30 anos do século XX. as \'iroses eram doenças, como li AIOS, constituem eterno desal'io para cien-
estudadas :Jpcn<1Spor meio de scus efeitos patogênicos nos tistas e médicos.
Clínica Médica - Passado, Presente e Futuro • 13

o estado de alerta t! permanente. Se o controle da, cpidernias como di/ia. Do mesmo modo. o padre Manuel da Nóbrcga, em
sofrer negligência de homens públicos irrcspcnsávcis. podem-Mo! correspondência de lO de agosto de 15~9. atribuiu a melhora
ameaçar as populações. no estado geral de seuv homens aos alimentos aqui disponíveis
e ao, favores do clima. nno 1[10 quente no verão. nem tão trlo
no inverno. rcparav a o missionário da Companhia de Jesus.
Século .IU Com tantos furores favoráveis. os portugueses logo verificnriarn
No início do século XXI. novos desafios surgem e alguns deles que (l~ hubitamcs do Bravil ao tempo do descobrimento padeciam
representam, no 1l101l1enlO,motivo de polémica: a clonagem de poucas doenças e rara ...encerravam maior gruvidndc. No levan-
para lins terapêutico" a utilização de células-tronco como uma tamento dessas patologias. estão relacionados bouba. bócio
perspectiva importante para a cura de várias doenças e a bio- cndêmico, parasitoses e dermatoses. doenças do sistema respi-
logia molecular. com sua notável interface com a genética e ratório. disenterias c algumas febres de causa indeterminada.
a~ terapêuticas clínica e gênica. Em alguns anos. o código ge- No entanto. grande parte dos problemas, na real idade. era
nético certamente substituirá a cédula de identidade de cada causada por envenenamentos. terimentos de guerra ou distúr-
11m de nós, bio, alimentares.
A tecnologia, tornando o homem transparente. representa Embora a medicina dos povos indígenas tivesse carátcr
grande coadjuvante nu diagnóstico de inúmeras enfermidades. mágico. construído sobre causas sobrenaturais c as doença
Todavia. deve-se frisar que a vivência. apesar de todo o progresso fossem concebidas como castigo dos deuses. a terapêutica
da medicina. torna ainda mais importante a relação médico- pautava-se basicamente no empirismo e nas experimentações
paciente e o exame clínico. havendo necessidade da boa for- CUIll elementos do meio. O naturalista do século XIX, von
mação clínica para que o progresso seja utilizado criticamente. Martius, costumava afirmar: "u maia ISsua farmácia". De fato,
A história mostra que nada substitui a prel>ença do médico ao a flora nativa proporcionava grande fonte de matérias-primas
lado do doente e que ele resolve 70lfl- dos casos apenas com para a elaboração dos remédios. que eram misturados COm
o exame clínico, a um custo muito baixo. Além disso. a tecnologia substâncias orgânicas como sangue. urina, partes de animais
avançada exige experts e a probabilidade de resultados falsos e animais inteiros. ossos. cabelos, além de substâncias minerais.
exigirá astúcia e raciocínio para compensar esses vieses pro- Sangrias c escariflcações. procedimentos comuns às culturas
vocados pelo progresso tecnológico. ocidentaiv da época. além de massagens e fricções. também
Dentro desse escopo. a, infecções hospitalares. mesmo com eram bastante aplicadas por aqueles povos.
todos os recursos e conhecimentos disponíveis. continuam a Quem detinha todos os conhecimentos c segredos dessa
ameaçar os pucicntcs internados. A saúde pública é deficitária medicina. aquele dotado da autoridade máxima para tratar os
em muitos dos países pobres e a falta de higiene ainda avvola doentes. era o pajé. cujos poderes de cura herdava de sucessivas
os grandes bolsões de miséria do planeta. gerações. Temido e respeitado pelos demais. era também consi-
Em especial na prática médica. a idéia de que toda essa derado personalidade de grande sabedoria. urna espécie de
evolução facilitou o trabalho do clínico é falsa. Os remédios, conselheiro ou ...acerdote da tribo, a quem cabia. muitas vc/cx,
mesmo com todas as garuntias legais e científicas. apresentam a palavra final <obre decisões mais importantes. Durante o
seus revezes. Os exame, laboratoriaiv e de equipamentos. tratamento, a pessoa doente era isolada dos outros membros
importantes auxiliares no diagnóstico, são realizados em grandes da aldeia e ficava em uma rnaloca, sem receber visitas. aos
quantidades. porém nem tod()~ os laboratórios eferivamcntc cuidados apenas do pajé c de alguma índia ido~a e experiente
contam com profissionai« preparados para a tarefa de manusear na, práticas de cura, até que se recuperasse, Separar o doente do
dados tiio irnprcscmdívcis. Fatores como estes exigem do médico, convívio com os sãos ajudava. mesmo que de modo intuitivo,
como em IOdas as épocav, algo além do simples conhecimento a e\ itar contágios e o alastramento de doenças pela tribo.
do corpo humano. A eficiência do clínico continua relacionada Na sessão de cura. o pajé falia as vezes de feiticeiro, dançando
;1 suu experiência, ao bum senso. ii dedicação e. acuna de tudo, ritualisticamcntc e agitando urna rnaraca em torno da rede do
ao seu desejo de curar. enfermo. enquanto gesticulava e proferia palavras mágicas.
Excelo IS ...O. seu procedimento não se distinguia tão radical-
mente do de qualquer profissional médico: a anumncsc era
HISTÓRIA DA MEDICINA BRASIlEIRA UIIl extenso rol de perguntas sobre como se scnt iu o doente,

Três Séculos de Bra~iI () que havia comido ou bebido, onde tinha estado e. enfim, °
que poderia ter feito para adoecer, Em seguida. examinava
Medicinas Indfgena, Jesuítica e Negra detidamente seu corpo todo. Von Martius asseverou que O pajé
checava o ritmo circulatório do paciente apalpando li artéria
A idéia de UIllO terra paradisíaca. dotada de natureza altamente tempera I.
benéfica à saúde. não constava propriamente da ..expectativas dos
primeiros navegadores, antes obcecados por achar ouro e riquezas
nos novos territórios. Apesar disso. nos primei rol>tempos da Epidemias
conquista purtugucva, todas as cartas que descreviam as terras Logo que se iniciou a colonização. o quadro reduzido de pato-
brasileiras não deixavam de repisar os mesmos elogios ao clima logl"!> dav populações indígenus começo" a se modificar ra-
salutar e ameno e. sobretudo. 11 boa condição física dos índios. pidamente. Como ainda eram primárias as noções sobre a
Eram unânimes em classificá-los como homens rcli7e~, que propagação de certos males pela via dos contutos, os processos
dispensava III vestimenta, adoeciam muito pouco ou recupe- de contágio avançaram sem qualquer controle. Os brancos.
ravam-se rapidamente. e depois os negros, introdu/iram a maioria do que se convencionou
Esse era o tom da carta de Pero Vaz de Caminha. que não chamar de doenças tropicais. Desse modo. antes do descobri-
deixava de enaltecer os "bons ares. frescos e temperados" do mento, não estavam presentes no território problemas como
lugar recém-descoberto e também do testemunho do padre José malária, tifo ou febre amarela. A varíola. por exemplo. foi tra-
de Anchieta que, escrevendo para Coimbra em 1554, chegava lida da África nas primeiras naus negrciras e teve como pri nclpais
a aconselhar os irmãos jesu ítas adoentados a cruzarem O oceano \ üimas. no Brasil. os indtgcnas. Mais tarde. a doença foi tema
e virem passar uns tempos onde "a terra é boa. e ficarei, sãos". da primeira obra de literatura médica brasileira. Tratado Único
14 Tratado de Clínica Médica

das Bexigas e Sarampo. de Simão Pinheiro Morão, O livro foi Os jesuítas. com todas as objcções que faziam às práticas
publicado cm 1683. em Lisboa. sob o pseudónimo de Romão mágicas da medicina indígena. compreenderam perfeitamente
Rosia Reinhipo. anagrama do verdadeiro nome do autor. a importância terapêutica das plantas medicinais brasileiras e
Ao que se sabe. a primeira epidemia de varíola ocorreu por foram seus principais divulgadores. Também a tradição oral,
volta de 1560. matando milhares de índios e. .ué o século XIX. que naturalmente fundia informações de colonizadores, índios
centenas de milhares cm lodos os povoamentos, de norte a sul. e negros escravos. leve UIll papel nessa incorporação. Nos séculos
Na lngkuerra, o primeiro programa de vacinação foi iniciado seguintes. as famosas expedições científicas, empreendidas por
em I ROO. cerca de duas décadas após o dcscnvol v imcnro da pesquisadores europeus pelo interior do país, resultaram em
vacina por Edward Jenner. No Braxil, em 1701\. () cirurgião- rclau», botânicos c antropológicos de grande valor documental.
mOI'Francisco Mendes Ribeiro j,í dava os primeiros passos na Naquele momento inaugural. porém, ,IS missões catequizadoras
vacinação unrivariólicu, IlO Rio de Janeiro. Contudo. somente toram a~ que mais avançaram nesse sentido, isto é. souberam
dcpoi-. que vários PO\o' indígcnus j,í haviam sido divirnudos considerar a importância das ervas curativas. mesmo que, por
e os <urtos pcriódicov de "bexiga" atingiam IOdas as parcelas outru lado. agissem firmcmcmc no sentido de combater o poder ee
da populução é que. com grande dificuldade e resistências. se do pajé. por convidcrá-lo herético. Foi assi111 que osjesuítas pene- :::
propô» um programa mais abrungente de vacinação 11O p..í:.. trararn em alguns de seus segredos e aprenderam que espécies 't
A população rcsivtia à vacina c a falta de empenho das auto- COl1l0 a copaíba. a pariparoba ou a mnçarunduba eram boas no ~
ridadcs comprometia o alcance da medida. Enquanto isso... I rato da~ulceraçõesou ícrirncnros.jurubcba, quinciras c maracujá. ~
varíola seguiu malando. Os cronistas da época relatam até casos contra a febre: o caju e (l ananás. como diuréticos a ipecacuanha
de colonizadores que, COIll ti propósito de acabar com os índios. e () guaraná. como purgativos e contra disenterias.
provocavam o conuigio. deixando roupas c utensílios de pes-
soas doentes nas aldeias. Ja os jesuítas percorriam as tribos
em socorro dos doentes. mas, para salvá-los, tudo o que podiam Barbeiros, Cirurgiões, Boticários
fazer eram sangrias e curativos nas feridas. Três décadasapôs o desembarque da frota de Cabral, começaram
Varíola. sarampo,febre amarela, li 1'0, malária, sffilis. disenteria a chegar. acompanhando os colonizadores das nascentes capi-
e diversas outras doenças cndêrnicas de africanos c europeus tanias hereditárias. os primeiros praticantes da arte médica
foram introduzidas no território. provocando epidemias que atra- no território. Eram gente simples. judeus ou cristãos-novos de
vessavam os séculos. Em São Paulo, nos idos de 156 I. uma origem ibérica. que em seus países exerciam a profissão como
doença relacionada. ao que parece, a alguma virose e que trazia barbeiros. cirurgiões-barbeiros, boticários e aprendizes. sobre-
complicações pulmonares (uma gripe") alastrou-se, extinguindo vivendo a duras penas com os serviços que prestavam entre
pr.u icamente iodos os índios do nascente povoado. Nos pri- uma localidade e outra. Chegando aqui, além dos instrumentos
melros tempos. ii imprecisão do diagnósuco de certas epide- para sangrar. lancetar c serrar. pouco puderam aproveitar de
mias levava a que se confundisse o sarampo com a varíola ou suas "caixas de botica", pois os remédios acabavam se estra-
a escarlatina. Entretanto, já no século XVIII. os registres de gando. ou durante a longa excursão pelo mar. ou pouco tempo
época não deixavam dúvida qU<l111O li claxsificaçâo do sarumpo depois. Asvim, não coube altcrnuriva a esse grupo de pruri-
corno a epidemia que se mauilcsrava no Marunhâo e no Pará, cantes da medicina senão fazer uso dal>plantas nativas para
t\ doença apareceu. pela prunciru vez no Brasi I. no final de desenvolver novas drogas aqui mesmo. Parasobreviver, a maioria
16!\:'i. em Pernambuco e persistiu cm surtos periódicos por empregava-se nos engenhos de açúcar, enquanto outros, uma
dcv anos. a~~ill1como na Bahia. <lté 1602. conforme descreveu minoria mais bem formada.conseguiam carta de "licença" para
padre Antônio Vieira. Já a febre amarela. acredita-se que tenha o exercício da medicina. concedida pelo primeiro governador-
surgido primeiro nasAntilhas e no golfo do México e se propa- geral, Tomé de Sousa e obtinham melhores rendimentos e con-
gado com a passagem de Cristóvão Colombo pela América,
dições de trabalho.

Companhia de Jesus
Medicina dos Escravos
Além de sediar o trabalho de conversão dos índios ao cristia-
nismo e ao ensino da língua portuguesa. o colégio dos irmãos Ao cruzar o oceano em embarcações insalubres e superlotadas.
jesuítas passou a assumir. paulatinamente. funções de atendi- muitos africanos retirados de suas terras, quando conseguiam
mento médico c hospitalar, não só aos índios. mas a todos os chegar vivos ao Brasil. desembarcavam fracos e doentes. Entre
habitantes dos povoamentos iniciais. fossem eles escravos. as patologias que traziam de seu continente, estavam diversas
colonos ou o governador-geral da capitania. Durante o tempo verrni noses. o tracorna e o "banzo", espécie ele loucura nos-
em que estiveram aqui - ou seja, desde que chegaram como tálgica que. supõe-se. poderia estar relacionada à doença do
integrantes da comitiva do primeiro governador-geral, Tomé de sono: esta apenas não se propagou pela ausência do transmissor,
Sousa. em 15-+9. ,1Ié serem expulsos. em 1759, pelo marquês a mosca tsé-t:>é.
de Pombal -. os padres jesuítas foram físicos, cirurgiões- Aqui. os maus-tratos recebidos no cativeiro minaram o que
barbeiros. enfermeiros e boticários. Acreditavam que os cui- lhes restava das resistências naturnis, trazendo novas doenças
dados da alma envolviam também atenções com () físieo e não a esses homens. como o raquitismo. o beribéri, o escorbuto e a
~e negavam a atender ninguém, tuberculose. Quando necessitavam de algumn assistência. os
Mais cuuos que ()~coloni/udorcs, muitos havinm estudado escravos naturalmente procuravam os médicos de sua cultura,
medicina CI11 Portugal e aqu: faziam panos, entre outros .ucn- os feiticeiros. que vieram juntos nos navios negreiros.
dirncntos: ouuov aprendiam aqui, pruricnndo e observando o!> Como a medicina indígena. aspráticas dos feiticeiros africanos
mais experientes. Na'- C(/rllls Al'lIlsu.\', colec;ão de correspoll- dos primeiros Icmpos da c~cravidão tinham caráter mágico,
dências jesuítica~ do períouo de 1550 a I :'i6~. l'icou o registro reJ'crenciadas na~ divinuade\ das nações representadas, C0ll10
pormcnori7ado de toda a ati. Idade dos padres no Brasi I. inclu- a do cullO nagô. com \CUS deuscs bons e deuses maus. Na
sive ue ~ua~ prática~ médica~. De suas püginas. dcstacalll-~e clientela dos curadores africanos achavam-se os próprios es-
o~ n(}me~ de Jo~é ue Anchieta, Jofio Gon'falves e Gregório cravos e. pas~adocerto tempo, contingentes da população branca,
Serriio como os mais empenhados nas artes de "barbear, curar que iam ao:. pais-de-santo. nos terreiros, em busca de alívio
feridas. !>angrar'·. para os mais diversos males. inclusive os de ordem subjeliva
Clínica Médica - Passado, Presente e Futuro - 15

- desilusões amorosas e desaferos. O feiticeiro-curador ouvia primeira academia militar do país. Dentre as medidas imediatas
as queixas e, com base na descrição dos sintomas, apontava do príncipe-regente também está a criação das escolas médico-
soluções, encomendava "trabalhos". cirúrgicas da Bahia (18/211808) e do Rio de Janeiro (5/511808).
No século XVII. " medicina negra. originada principal- Ambas nasceram de modo precário, com aulas ministradas
mente entre os povos do Congo e de Angola, foi condenada improvisadamente nas instalações do Hospital Real Militar
pela medicina ibérica, proibido o seu exercício pela lei colonial
e o feiticeiro classificado como charlatão. Nem por isso dei-
xou de influenciar as práticas populares de cura, com apelos
de Salvador e do Rio de Janeiro, e pouco evoluíram até que
fossem transformadas em academias e. posteriormente, em
faculdades, conforme reforma do ensino definida por lei de 1832.
-
para rezas e fórmulas mágicas. associadas a remédios 11base O currículo da época estabelecia que o curso médico teria 6 anos
de raízes e ervas. de duração e que os doutorados viajariam à Europa a cada 4
anos, à custa da Coroa, para atualizar seus conhecimentos e
Presença Holandesa expandir o acervo das bibliotecas das instituições de ensino.
Porém. mesmo após a reforma, a situação continuava precá-
A única cxceção no cenário colonial é creditada a Pernambuco ria. Eram poucos os professores, as aulas eram essencialmen-
durante o domínio holandês (1610-1654). em especial sob o te teóricas e não havia instrumental cirúrgico. As poucas aulas
governo do príncipe João Maurício de Nassau (1637-1644). práticas eram ministradas nas Santas Casas de Misericórdia,
um amante das ciências. Nesses 7 anos, a região permaneceu onde era frequente O atrito entre alunos e os integrantes da
livre das interferências da Inquisição e assegurou liberdade de irmandade. Por conseqüência. a prática era ainda mais limi-
culto a católicos, protestantes c judeus. Na mesma época surgiram tada que na Europa. A observação e a patologia restringiam-se
os primeiros estudos sisrcmauzndos sobre medicina indígena, à sintomatologia e as doenças ainda eram atribuídas a altera-
ginecologia, obstetrícia e pediatria no Brasil. Além disso. Nassau ções alimentares, excessos sexuais ou situações emotivas.
construiu hospitais e orfanatos, ampliou a lavoura açucareira Embora não tenha havido ruptura oficial, a proclamação da
e implantou as fazendas de gado. Para completar, a Companhia Independência, em 1822, provocou em lodo o Brasil uma grande
das Índias Ocidentais respondia por todas as despesas refe- lusofobia. Com isso, os estudantes brasileiros, que antes procura-
rentes aos órgãos nssistcnciais de saúde pública. vam a Universidade de Coimbra, passam a buscar formação
Embora nada disso desse ao povo do Recife melhores con- cultural e cientffica na França, país que já influenciava dire-
dições que as veri ficadas em outras partes da colônia, esse ramenre ii literatura, os costumes, o vestuário e toda a vida
conjunto de fatores transformou a vila em pequeno oásis que social do Ocidente. Nessa mesma época, a influência gaulesa
atraía gente de toda a Europa. inclusive médicos e outros pro- também estava presente nas escolas nacionais de medicina.
fissionais bem instruídos, quase LOdosjudeus, provenientes de Elas eram regidas por estatutos inspirados no modelo da
várias universidades européias que, na época, representavam a Universidade de Paris. os estudantes usavam livros franceses.
mais moderna visão da ciência. Entre os que se destacaram faziam estágios em Paris e mantinham-se atualizadox por meio
estão os médicos Abraão Mercado, judeu e o holandês Willen de revistas especializadas que chegavam da França.
Pies, que adorou o nome latino de Gullielmus Piso. Ele é o No entanto, isso não significava evolução para um estágio
autor do célebre História Naturalis Brasiliae. trabalho em quatro mais científico. As aulas mantinham-se essencialmente teóricas,
volumes publicado na Holanda, em 1648. havia poucos professores e os recursos eram escassos. Natu-
No entanto, com a volta do príncipe à Holanda. cm 1644, desa- ralmente, eram poucos os conhecimentos aqui produzidos e
parece o sopro de modernidade e a vila entra em decadência. foi apenas na segunda metade do século que se começaram a
Os profissionais de grande projeção cientffica. trazidos por elaborar compêndios e outras publicações nacionais. Entre os
Nassau. também fazem u caminho de volta fI Europa. Em 1654, mais importantes desses primeiros tempos estão os relaros de
os portugueses retomam o poder e li vi la se reenquadra no viagem apresentados pelos naturalistas viajantes, como Saint-
contexto da colonização ibérica. Hilaire, Spix e Martius, que descreviam a medicina praticada
no Brasil. enfocando patologia e terapêutica. Na mesma cate-
Influências Européias goria enquadra-se o trabalho dos tropicalistas da Bahia, grupo
formado em 1865 e inicialmente composto de Jon Paterson,
Pautada pelos COstumes. li prática médica dos países de tradi- Oro Wucherer e Silva Lima, os precursores da medicina tro-
ção ibérica no início do século XIX não diferia muito daquela pical brasileira.
x
,;, de três séculos antes. indo pouco além das amputações e das Uma nova tentativa de reforma acontece em 1879, ano em
~ sangrias, cornurnente aplicadas na tentativa de curar toda a que é introduzida a livre frequência às aulas, abolido o juramento
;:!; sorte de febres e várias outras doenças. A evoluçãodos conhe- religioso e permitido o ingresso de mulheres no curso médico.
~ cimentos anatôrnicos e cirúrgicos era lenta e os princípios cien .. A medida é uma resposta direta aos conflitos resultantes do rí-
ee uficos ainda não estavam consolidados. O físico. ou o médico, gido policiamento acadêmico e das pesadas penalidades pre-
não desfrutava de boa reputação na época, em razão de pequena vistas - na época. estudantes não podiam andar em grupos
profundidade do conhecimento difundido. deficiências do ensino pelas ruas, cinco faltas não justificadas resultavam em repro-
e origens hebraicas da maioria dos profissionais. Muitos dos que vação e injúrias contra professores ou direrores eram punidas
viviam no Brasil preferiam apelar para a medicina popular. .com cadeia. O estopim dessa reforma foi aceso em 1871, quando
que misturava preceitos indígenas e africanos. Extremamente os estudantes se revoltaram Contra a instituição de exames es-
precária, essa medicina oficial perdurou ainda na primeira metade critos como prova eliminatória.
do século. convivendo desconfortavelrnente com todo tipo de No entanto. o decreto de 1879 também proporcionou os resul-
curandeirismo, até que os acontecimentos políticos começaram tados esperados c deu origem a outros problemas. como o esva-
a mudar as mentalidades e o rumo da história. ziamento das salas de aula, as reprovações em massa e sua
Fugindo de Napoleão Bonaparte, a família real portuguesa contestação, Nos primeiros anos da nova década acontece uma
e seu séquito, formado por cerca de 15 mil pessoas, desembar- série de discussões visando ii terceira reformulação do ensi-
caram no Brasil em janeiro de 1808. Imediatamente, D. João VI no, a última da monarquia, efetivada em 1884 pelo Visconde
transforma a colônia em sede da monarquia lusitana e introduz de Sabóia. A revisão incorpora as medidas de 1879 e institui
diversas mudanças na sociedade brasileira, instituindo o Banco um novo regime de produção acadêmica, que passa a alavancar
do Brasil, a primeira biblioteca pública. o primeiro jornal, a o desenvolvimento do ensino e da prática médica do país.
16 • Tratado de Clínica Médica

Avanços Científicos o europeu logo apresentou todos os ...inroma-, da febre ama- '"
rela em sua forma mais violenta. enquanto o sertanejo dcscn- :!;
A Revolução industrial. a..~transformações sociais e a efcrvescerue volveu apenas a forma branda. Mesmo assun, o meio médico 't
pesquisa científica são fato, que marcam () final do século XIX da cpoca ainda não descartava totalmente a hipótese de con- .~
na Europa. esse contexto mclucm-ve as decisivas descoberta- t~igio ~1ai, uma VC/. l.utz c Ribas trabalharam com voluntários ~
de Louis Pasteur e Robert Koch, que dão grande impulso 11 ualianov recém-chegados ao Bruxil, que passaram dez dias em
medicina. A partir dai a, inovações clínicas, cirúrgicas e diug- um rsolamentu, usando lençóis sujos de sangue. excreções e
névtica-, pa~..um a caminhar em ritmo acelerado, Toduviu, c~sa, -ecrcçõc-, do\ doentes de febre amarela. Obviamente, nenhum
mudanças ve refletem multo lcnuuncnrc no Hrnxi I. onde () cc- do, Irê, contraiu a doença e finalmente foi aceita a teoria de
nlírio é definido rela recente proclarnução tia Rcpúhlica (I XX<.J). que a febre amarela era transmitida pela picada do Stigontya
Não era de se cvtrunhur o 11\ unço da ...doenças nesses tempos. [avriata, Es-,c foi () Iaro que serviu de ponto de partida ao
A...condiçõcx xanitriria-, do rai ...eram insutisfatórias. os princfpio» trabalho de Cruz no Rio de Janeiro,
da higiclH: e da dcsinfccçao. pregados por Pasteur. ai Ilda não Além de Ribas e Lutz. Sflo Paulo contava também com Vital
lIa\ iam xido hcm a"ll11ilado, por rodos, o número de médico- Bra,1I ( IX65-1 "50). chefe do Insl iuno Sorutcrüpico da Fazenda
era restrito e a cnnccnrraçào urbana, sem a infra-estrutura habi- Butantã. na época em que se produz iam ;,(H'OS e vacinas para
tucional nccc ...sâriu. lucilituva os conuigios - quando a família combater a pe ..te bubónica na cidade de Santos. Pesquisando
real chegou ao Brasil. em 1808. estima-se que o país tinha ..\ cobras vcncnosu- nativas. ele dcsuutoriza todos os irara-
cerca de quatro milhões de habitantes. Em 1900, regivtruvam-se rncnto- contra picadu- usado, e desenvolve os primeiros soros
17.5 milhões. contra o veneno de cobras brasileiras - até então o mundo só
Logo nos primeiros ano, da República (1899-1900). uma conhecia o., 'orO\ contra o veneno das cubras indianas.
epidemia de peste bubônica assolou Rio de Janeiro. Suntos e
São Paulo. Nas duas primeiras cidades. li febre amarela j,í era
A Presença do Médico
uma cndcrnia que causava terror aos estrangeiros. em especial
aos tripulantes dos navios. que se recusavam a aportar nessas O ... médicos formados a partir da segunda metade do século
terras, trazendo implicações cconôrnicas. Era inevitável que XIX no Brasil. nesses tempos, foram os primeiros a ter a titulação
as atenções ~e voltassem para o cunt role das doença, epidêmicas de doutor em medicina. Apesar de o ensino já considerar al-
e cndêrnicav, Dentre a\ medidas romadus csni a criação do gumas das diferentes especialidades. em decorrência do grande
Concelho de Saúde. que Implementou o Serviço Sanitário volume de conhecimentos já acumulados, os novos médicos
Terrestre, o SeI" iço de Higiene da União e a Dirctoria Geral não tinham opção e acabavam atendendo desde os indivíduos
de Saúde Pública. mais jovens até u ...mui .. velhos. concentrando as funções de
Quem deu () pasvo inicrul para reverter ()quadro foi Oswaldo clínico. cirurgião e parteiro. do mesmo modo que seus arucces-
Cruz (IX7:!-IIJI7). médico paulista que entrou na Faculdade <ores. N()~ primeiro, anos do .. éculo XX, esse médico csrã
de Xlcdicina do Rio de Janeiro aos 14 anos de idade c con- presente 11:1\grandes cidades. onde lentamente começam a surgir
cluiu em ..j ano, o curso que, oficinlmcrnc. demandava I::! \1:- ()...cvpccialixruv. No entanto, no interior ainda predomina a Ii-
mestres. Ao, 23 anos ek rOIl'~tudar baderiologia. ,míde pública !!ura daquelc médic(l que entende de ludo um pouco e que
e lécnica, de pc'quI'a\ no hhlillll0 Pasleur. e11lPari:,. bn IX<.JlJ. via,,1 lJuilômelJ'()~ rara \el' seu, pacie11les.
foi indicado para chefiar o In,1 ilLlIOSor()ter:ípico do Rio de Tanto nas grande~ ciuade~ cllmo no inlerior. e$se tipo de
Janeiro. em l\1:lI1guinho\. que seria inaugurado el1\ I<.JOO.A atcntlllllenw propiciava llI:uur cont.l(u entre o doenle e o pro-
frente do no\o in'liluln. O,waldo Cruz (;o1l1ant!ou a produC;ão n"lOnal. que, cm boa parte dos ca~os.j;Í conhecia o histórico
do, MIro, l' \ acina, eonlra I pe~le buhôuicu, considerado, o, medico c pe,~(lal de cada paciente. E~se prévio conhecimento,
111ai,elica/e, pcla~ aUlClndade\ cielllífic.:a~ "ranc.:c~a, e alemã ... de suma impol'lância em uma época a qual eram eSC~ISSOS os
Em 1903. a"umiu a Dm:lOria Geral dc Saúde Pllblic.:apara enfrentar recur~oÍ> diagnólotic.:os. também dava ao m~dico um papel de
a \'aríola c a febre amarcla 110 Rio de Janeiro. Sua ac;ãu sanil<í- con::.elheiro da família. quase de confes~or. em certos casos.
ria conlra o IllCl'quilO e a lIl,tilUição da vacina antivariólica O domínio das especialidadcs.lentamentc. coloetl cm segundo
obrigatúria encunlr.Jm árdua rcsi,tência da população. da im- plano a figura desse médico abnegado. Nos últimos 40 ou 50
pren~a e do parlamento. ma~ saem vitoriosas da revolta. ano~. a medicina pralicada no Brasil obteve significativos ganhos
No inicio do século. também se destaca Carlos Justiniano de qualidade. sobretudo no que se refere ao Iratamento clfni-
Ribeiro da, Chaga, (1879-1934). Em 1909, ele publicou um coo iI' técnicas lerarêulicas, aos equipamento:, e aos produtos
trabalho descrevendo uma nova tripanossomíase humana. Ele farmacêutico, utili7ados. como os anlibiólicos. Não há como
identilicou o Trypollosomo cru::.i.parasita causador do mal de desc()n~iderar o!> avanços dl! qualidade dessa medicina. em
Chagas. doença que incidia preocupanlemenle desde o norte e~p<!cialidades como transplanlc~ de fígado. de medula e em di-
da Argentina até o ~ul uo, Estado, Unidos. Carlos Chllga~ 1:lfllhém \er,a, Cirurgia" equiparáveis ao que t! realiLado nos grandes
alua no combale iI gripe e'panhola (I YIS) e ocupa () lugar de centro, mundIal.,. 'a' cirurgias cardíacas, us avanços não ces-
Oswaldo Cru7 no In..tituto Mangulnhos desde (1 morte des\I: saram. desde o primeiro lransplante de coração realizado por
,anitarista alé 1934. Zerbini. em maio de 1968.
Anles que O~\\altlll Crul cQ1nbate,se as docIH;as 11(1 Rio de Por oulro lado. o ponlll fraco da nossa medidna são os pro-
Janeiro. Adolfo LUII (IX55 1(40)c Emílio Ribas (ll{ú2-llJ25) blema, relaCIOnado, à não-eXlensiio do atcndimenlo ii grandes
haviam ~c cmpenhatlo ellll'(1I11prO\ar que II febre IImarela cr;1 parcclas da população. De falO. não SI: ohteve equivalência
tranl>11lilida pela picadtl dI: um m()'quito. A tcoria de nOrte- entre a qualidade alcançada e a quanlidade de pessoas assis-
amcricano~. dc~ellv()lvida cm Cuba por volia de J 900. ainda lida pur e,~a medicina. Vi,lo soh outrn tÍptic,l. é uma medicina
n:10 era plenamcnte accita. Para provar qlfe a tese dos pesqui- que consolidou roco~ de de,cllVolvi1l1elllll I.:mCl'ntro ...corno São
,adorc.\ tio), EUA estava correia. ambos se deixaram ricar pelo Paulo. Rio de Janeiro. Curiliba, mas qlle Illanlevc desguarnecido
mosquilo c conlraíram uma forma branda da doença. Consi- (\ interim do p::lÍs.
derada P()UCO eonvincente. a experiência foi repelida, lendo MOli\'l) de pre()cupação é a formução dos médicos. que no~
C0111() voluntário um imigrante italiano e 11111 sertanejo. pica- último, anos ..6 decaiu em qualidade. comprollletendo. por
do~ por l1lo~quitos traúdo, do inlerior do estado de São Paulo. exemplo. as relações de contianç'" médico-pariellte. As escolas
Clínica Médica - Passado, Presente e Futuro - 17

de medicina se muluplicaram mais do que o país tinha condi- que 0' médico, exercessem plenamente a clínica e a falta de
ÇÕC\ de comportar. pa ...sande a funcionar até mesmo 'cm pro- alllalt/ação causava a estagnação dos conteúdos apreendidos
fe,,()re~ bem formados. Com o passar dos anos. a postura do durante a graduação. Os mais velhos acomodavam-se nessa cn
médico turnbérn mudou e qualidades COI1W abnegação e o qua ...c- srtuução. perdiam qualificação e 11<1\ ia pouco cstíruulo pro-
rn
.(")
sacerdócio dos médicos de antigamente 1'01;1111 suprimidas por fisxionul para o, mais jovens. ».
obra da chamada mcrcantilização da medicina. 1~laé decorrência O
Essa situação perdurou por década v, atI! que se deflagrasse
do fato de a medicina ter ficado dispcndiosn. I'a~endo C0111 que um período de revalorização do clínico. No limai da década de
entre () médico e o paciente ~urgisse a figura do seguro saúde. 19RO.quando nada sinaliznva para lima mudança. surge li pro-
Pelas "uas n.:gra'. () IIH;dico já não recebe mais pagamento do posta de org.mização dos clínico ...em urna entidade própria,
paciente. max, indirctumcnre. do convênio: este. além de con- Pode-se dizer que a clínica médica nacional renasceu em 16
trolar a cobr.rnça das consultas. determina de quais serviços de março de 1989. com a fundação da Sociedade Brasileira de
auxiliare, ...e pode di...por. cerceando seu poder de escolha. Clínica vlédicu pelo clínico e professor Antonio Carlos Lopes.
;\ ,1ll:ICÚ;IUC: pav-ou ii congregar o, clínico ...e a conceder título
Doenças e Tratamentos de cvpccruhviu cm clínica médica. além de desenvolver ações
COIllO a real Ilação de congressos, simpóvio ....cursos de reciclagem
Durante décadav. todo ...os dias, os hospitni-, 'e preparavam para c a publicação de boletins c cadernos científicos.
operar um ou dois pacientes com úlccru. Os tratamentos evo- Naquela época. os clínicos dirigiam-se aos eventos de car-
luíram. conhcccu-xe melhor a doença e. hoje, o tratamento do diologia. pneumologin, entre outros e sentiam-se como estra-
problema com medicamentos vubstituiu o, IlIéwdos operató- nhos, Não encontravam as mesmas pl.!ssoas periodicamente,
rios, 1!1l1 outros caso ....corno nas anginas, 011 enfarto do miocárdio. não t inhurn comuuicaçâo. não se conheciam. Após a fundação
os recursos cirúrgico-, de rcv a...cularização significaram indiscutível
tia Sociedade Hrasilcira de Clínica Médica. que encontrou respaldo
avanço sobre () tratamento com remédios e a técnicu da diálise.
na comunidade médica e na sociedade como um todo. diminuíram
que "substitui" a função renal enquanto se aguarda pelo trans-
os perigo, que pairavam de extinção da clínica médica. COIll o
plante. reprc ...cutou a ...ulvação para muito ...cnfermov, Doença,
retorno da figuru do clínico à linha de frente dos trararnentos.
de dcvtnquc, como a hepatite. foram controtudav, e a paraliviu
() atendimento começou a se humanizar e os gastos com medicina
e a varíola praticamente desapareceram. graças ils vacinas.
no país loram minorados. em virtude da diminuição dos pe-
Se por um ludo muito-, males foram super.ulos. h;í de taro
uma "dinâmica da doença". que trill novos problemas ;1 cena didos de exames. "O clínico tem capacidade de resolver 80%
para serem desafiados pela medicina, 1\ /\lI)S parece ser hoje do ...caso...que chegam aos consultoriov e. como não se vincula
o exemplo mais alurmaruc. seguida das doenças do coração, a uma especialidade. pode se voltar muito mais ao aspecto
Alterando-se o quadro de doenças. mudou-se tambérn o foco humanista do tratamento. ~I relação médico paciente". Ainda.
do atendimento 110\ hospitais: cresceram os acidentes urbanos "tcst~s UCressonância magnética e tolllogralias mostram o homem
(cavo-, para trallmatologla) c a criminalidade. que gerou uma por dentro. mas não revelam sua, condiçf)e\ xocioculturais.
x "medicina de guerra" na-, enfermarias. voltada ao atendimento não c-clurcccm sua relação com o-, lanuhnrc ....Os exames podem
~ de ferido ...e baleado s. estar normnrv e. ainda assim. o indivíduo estar doente".
V;' :-Ja..."ilha-, de evcelênc ra" da medicina bra ...ilcira. a maioria \nte ...da lundação da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
~ do, truuuncmo-, vc equipara cm avanço ao que pode ver rca... foram pouca" e mal-sucedidas as tentativas de resgatar a clínica
ir li/ado no ...pai-c ...desenvolvidos. Já no que se refere 11pcsquiva médrca do plano secundário a que fora confinada e as raras
e ao dcscnvolv irnento de novas técnica, e mcdicurncntuv. o cnududcx que tentaram incorporar o...cliruco-, cm seus qua-
desempenho aqui permanece aquém do cvpcrado, Ul1Iaexceção dros obtiveram resultados desalentadores. Naquele momento,
é o captoprit, medicamento muito utili/ado no controle da a procura pela especialidade superava em muito a opção pela
hipertensiio. cuja, ha ...es p:tra seu dcsenvolvimento fornlll os clínica médica, pois os estudantes csruvam fortemenle impres-
médicos Maurício Rocha c Silva c Sérgio Ferrcira. E~te último. sionadQs pelo, aspl.!ctos tecnol6gicos da prolissão, Além disso,
11 prop6sito. consta da relação tI{)~ "deI. l1laiore~ l11édico~brasi- 11 I'ormaçiio dc UI11 clínico. normal mentI.! mail> cara e exigindo
leiros dI) sl!ntlo XX". ploll1o\'itla pl.!lu l?el'is/lI Métli('l/ HC- mais tempo dI.!cSllldo. levava muito!> métlicos a buscarem, nas
FMUS/~ em de/emhru de 1998. São eles: O,waldn Cru/. Carlos espccialidades. um encaminhamcnto rápido e direto à profissão.
Chaga,. Rocha Lim.!. Gaspar Viannn. Rocha Silva. Adolfo Lutl. " ......
im. quando ...urgiu a idéia da Socicdadc Brasileira de Clínica
Euryclide\ Zerbini. Adib Jatene. h'o Pitanguy e Sérgio Ferreira 1\1éúit:a. a prucura pela clínica médica entre os recém-formados
(participaram da vot:!ção médicos de 52 escola' méúica ....47 ainda cla pcquen<l e o, argumentos contrários à slla criação.
entida,b dI.!e\pecialidatles. 22 Conselho\ Regionai\ dc Mcdicina. entre 0' mais conformados. predominavam.
:!O ;a,sot:iaçiies médiea~ estaduais. do Conselho I:ederal de Me- A rcinserção do clínico no sistema dc atendimcnto de \aúde.
dicin:l. d:l Associação Médica Bra~ileira I.!da Federação N:l- além das vUI'Ilagens quanto à humanil.ação das prálicas médi-
cional de Médicos), ca~. tornou-sI.! uma nece~~idade uo próprio Illere~ldo de lraba-
lho. O pai!. não dispõe de especialistas em número suficiente
para atender toda a população e há docnças quc ainda não
Sociedade BraSileira de Clínica Médica formaram tantos especialislas quanto seria necessário para um
Por muito tcmpo. ()\ dínic:us pouco puderam fa/er ...enão assistir amplo atcndimcnto. Por excmplo. não c.\i~lcm pneumologistas
il progrc\\i\a úc\\alori/ação da sua área úe :ltuação t: lamentar para atendcr ()s asmálicos do Bra~il inleiro.
quI.! tamhém na, e'cola, a clínica perdia prestígio entre os Ilojc. o c:'pcci<llista clínico lem à sua disposição muito mais
formarlllo\. (':lda \'CI mar-..isolados nos ~eus po,tos de trabalho fonte, dc Inlurmação sobre as outras áreas que no passado.
c !>CI1l qualqucr organilação que os ajuda~,c a enfrentar seus pOIS 'c de,cn\'oh eu efelivo intercãmhio entre 0\ ... egmenlos
problema\. não di'punham dos meio, pana rc\ erlcr a tcndênt: ia médico" Es-..arelação entre a especialid<lde e a clínica médica
à "supere,peciali/ação" úa medicina. e a t:Ol1'cqlicntc pl!rda sc t:Onlirma no apoio dado pclo cspecialbta it campanha de
dos espaços da mais abr:lI1gcntc d<ls cspecialidadc\. a clínica valol'ilação do clínico.
médicn. No~ hospitais e postos dc s:uíde públit:a, c também nas Antes de 1989, quando não havia t(tulo de el>pecialista em
clínicas part iculare ....()cu no tempo reservado às t:oll,ultas impedia çlínica médica. nem pôs-graduação, a residência médi ea nessa
18 • Tratado de (({nICa Médica

arc.1 reunia (lIIUlIIIl"I Illll\ aIUIIII\, O que 'c ub,cr\ a hoje oE li111
a prcll,a ter (I 'cu Reconhecemos que o ensino tem de melho-
tcndencia no vcnndo In\CI'lI, com .1 procura pda clínica mé- rar c que 1.11101 conseguir que :1\ cvcolav médica... formem 0\
dica aumentando COIIIIIIU,IIlICIIIC Iambém entre ii população IIldl\ Iduo, adequadamente
Já 'c percebe mudançu tk compnrtarncnto. com a, pc"oa\
prctcnndo \C dirigir prunciro ali cl ínico geral. C\ irando ida, BIBLIOGRAFIA
e \ Inda, ao, duercntc-, cvpccralista». Rcavsumindo a liderança B" \I \\ " l'OIU1R,R Itd.) <-I,m".,III1"./'·I""lhI'oJ /I""''''11/rJ"",
~'G 1t000kfe. 1991 Z \,~
entre a' c'pcclalldadc" a clínica médrca vem cvolumdo em
1\111I 1\ 1 IaS ~ 1WI 'ultthtoJtf' "'wIJ lI"u", ,.,/I",.,,,, /)"'0'" ('~: C~
cunculllll:incla com a mcdrcma. E"c 10110 não escapou à in- I '-mrt). 1991
duvtrra tarmacêuuca, que p.I"OU a levar a\ nov idade, em me- M \(,\1 R. I " 'lIul<'" <'J IInI.. ,.... ~". ',~l \I.u.c! OcU..CI. IW!.
drcaçõcv primeiro a, m.IU' .lo cliuico. Com bave de lorm.rção \I('(,RI·\\. R I ' ,".,....' ... '{ IInlHoII,,,,,,,, '"" y."L \1<0...... Ilon. I'II\S.
I·" I K I 1),__,...,,, " ,.,." Ik... ~_ h"'" Iffft. ""'/"'''''(\, ","j ",tUfa. UI'( ~J.Jn, " ...
ma" completa. p.."a a ver II 111.11\ upto .1 111\ evugur .1 \ ahd.ulc 'rd ,'",'.L \\ 11r) I'J'I~
de um 1111\ II 1I1edll.lI11l'lIl11 c ele merece ver ..dlll.ldo ou 11:10 1'1111'(; \1 \I<'\I...._ ...... I~I ln {(IRSI I' \\ ""DIIN(j I' IaS, I ,~(",.....", ..tI
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•1\ ,111\,,1\.vem dCI\;11 de a1'"111,II tI' plllhlcllla' que verão cn- \m RI\I \ J ( Th, ",.,ltiltrJ ""1" ../ ""/,, "" I ,,"~c)"
lIurul~ SWlt, IW! t
helll.ldm. ale que ,~' ,lk,llI~C uma medicina mai-, humana c \\\In)'J ,1111'iiI' I' 11.11(1(1(I , \( 01,1( ("'''.1, IIrr (}!/,m/Ci""/..,II"'tllt/llrJ. W J
Ihh"J IhhOfJ I nl"·NI). 191\/ ' ",I ;;..
que piutcju ctcuv.uncmc ,I pupuluçao. De novsa parte. evtamuv
Wfll\ 111(.( 11.. h"hIfM't"rft) uI ""'"" III: t'()I~SI,I'.. WHNI)UNO. P (t,h ~
buvcnndo revguurr IIclfruco, conccicntizur a populuçâo de que '"/""'''''''''' "',,'''ri .n ,'" 11,11., ../ ~I 'f'"''
1/11///11<',11, III' I Onrl,lIl' Ouu<ffl)
deve ver ele I) pruuerro a ver convulrado c que toda família "1<nllh,.I,,~1 r :!'JJ)
Seção
Pesquisa Clínica
Coordenador' Sérgio Paulo Bydlowski

2 Aspectos Históricos e Perspectivas da Pesquisa Clínica. . . . . . . . . . .. 20


3 Abordagem Pedagógica da Pesquisa Cltnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 27
4 Métodos Qualitativos na Pesquisa Clínica 31
5 Métodos Quantitativos na Pesquisa Clínica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 41
6 Epidemiologia em Medicina. . . . . . . . . . . . . . . . . • . . • . . . • . • . . . . . . .. 46
7 Medicina com B3se em Evidências ........•.................... 59
8 Instrumentos na Pesquisa Clfnica ......••.•.....•.............. 64
9 Bancos de Tecidos para Pesquisa Cltnica •. . . • . . • . . . . . . . . . • . . . . .. 68
10 Brobanco de DNA .................•..•..•...•................ 72
r Organização de Sorotecas ...................•............•.. 77
12 Desenvolvimento Cllnico de Fármacos. . . . . . .. .. . . . . . . . . . . .. 79
13 Desenho de Estudos Clfnicos para a Pesquisa de Imunobiológicos . .. 112
14 Organização dos Registros Hospitalares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 119
15 Execução da Pesquisa Clínica , 124
16 Bioética 131
17 Regulamentação da Pesquisa em Seres Humanos ...•........... 138
18 Divulgação de Trabalhos Clentfficos. 155
19 Pesquisa Cientifica na Internet ..•..•.•••••••... . . . . . . • . . . . . .. 157
20 • Tratado de Clínica Médica

Diferentemente da medicina ortodoxa. que classifica de forma


CAPíTULO 2 específica as categorias das doenças e minimiza as diferenças
individuais. os empíricos procuram as diferenças individuais
do paciente, escolhendo di Ierentes modalidades terapêuticas.

Aspectos Históricos e De fato. há certa inadcquação do arsenal farmacêutico da me-


dicina ortodoxa no sentido da grande quantidade de doenças
que permanecem sem cura ou tratamento cfctivo. Mais ainda,
o uso de químicos sintéticos freqücnrerneme resulta em efei-

Perspectivas da tos adversos: resistência a antibióticos, contaminantes em vacinas,


depressão do sistema imunológico e da medula óssea por
quimioterãpicos, doenças cardíacas por anriinflamatórios,
Mesmo assim. em certo aspecto, II dominância da medicina

Pesquisa Clínica ortodoxa enfraqueceu a medicina empírica, por não demonstrar 00


suficientemente, pelo método cientffico, as suas potencialidades. ~
Como opção à terapêutica com drogas, surgiu a medicina t
alternativa. holfstica, que valoriza alimentos frescos, estirnu- ~
Sérgio Paulo Bydlowski lações dirigidas às sensações corporais como magnetos, cura t
Cynthia Rachid Bydlowski por Reiki. meridianos e fluxos de energia, auras, forças vi-
tais. cinesiologia,iridiologia. análise do pulso. J:: um tipo de
Adriana de Aguiar Debes medicina sem nenhum entendimento real dos procedimen-
tos que utiliza. não havendo nenhuma comprovação cientí-
Luciana Morganti Ferreira Maselli fica ou veri ficaçâo ex peri mental.
Quanto à inserção da medicina no conhecimento científi-
co. existem alguns autores que pretendem reduzir a medicina
INTRODUçAo 1\ biologia. Jean-Paul Gaudilliére define a biornedicina como a
A filosoflu do pensamento científico ensina a questionar o co- conjunção de três tendências pós-guerra: a molecularização
nhccimento científico aceito e, então. estabelecer novo conhe- das ciências da vida, o aparecimento da modelagem e a ex-
cimento por meio da prática do método cicnrfflco. "O progresso perimcrualizaçãoda clínica. Essas tendências teriam transformado
é uma série de negações". definiu Hegel. enquanto Duclaux o laboratório de biologia em um "local para a descoberta, a
afirmou que "é porque a ciência csrã certa de nada que está manipulação e o controle das causas dos processos patológi-
sempre avançando". cos". Se isso for aceito como verdade. se é real que o labora-
Demonstrar o fato por método experimental. Investigar por tório de biologia suplantou o laboratório de patologia como o
observação meticulosa, pensamento racional. Pode-se até in- ponto focal da mediei na, então é razoável concluir que final-
cluir O raciocínio dedutivo teleológico. apesar dessa forma de mente foi realizado o programa para reduzir a medicina a uma
análise niio ser aceita hoje em dia. Essas foram as ferramen- forma de biologia.
tas na evolução da pesquisa clínica. Segundo Ken Dill. então presidente da US Biophysical Society,
Termos C0l110 tratament a com base em evidências, estudo biomedicina "é fi tendência que emergiu na última metade do
duplo cego. ensaios clínicos randomizados ou ('011 Irolados com século XX para, com sucesso. reduzir os problemas de doença
placebo se tornaram característicos de trabalhos desenvolvidos a problemas de ciência molecular: ident ificar as moléculas rele-
por pesquisadores clínicos, em contraposição a momentos históricos vantes, purificá-Ias, determinar suas estruturas tridimensionais
em que a medicina se baseava em considerações hipotéticas, num grau de resolução atôrnico e. então, criar drogas que se
conjecturais ou derivadas de hábitos. ligam a elas. átomo por átomo". Obviamente, essas opiniões
A história da medicina lida com dois pontos de vista opostos têm sido contestadas, classificadas como reducionisrno ingênuo.
em relação à natureza da doença. A medicinei racional. descrita Alan Schechier acusou-o de contlitar biologia e medicina em
por alguns como medicina ortodoxa, focaliza a elucidação c um híbrido mal definido. a biomedicina, que existe, mas não
a explicação científica do porquê uma pessoa fica ou está doente. cm uma definição tão simplista.
A medicina empírica. ao contrário. coloca O seu foco primário Particularmente, não acreditamos que a medicina tenha sido
na observação e no aumento da rcação do organismo a uma reduzida à biologia. Apesar desses conceitos filosóficos e da
certa doença. acreditando que o conhecimento científico seja complexa interação entre a biologia e a medicina, ainda não
inadequado para entender completamente o processo da doença. se conseguiu sub tituir o mecanismo patológico da doença por
Os racionalistas tiveram papel claramente dominante no mundo um mecanismo biológico.
ocidental. vendo a vida como uma série complexa de reações
bioquímicas. Alterações resultantes de deficiências nutricionais.
alterações genéticas. exposições tóxicas, invasões microbianas.
ANTIGUIDADE
são consideradas causas primárias das doenças, fazendo com As explicações mágicas sobre o mundo sempre dominaram a
que a terapêutica consista no uso de agentes químicos (drogas) mente ela maioria das pessoas e as civilizações. De acordo
que combaterão manifestações específicas da doença por visar com vários antropologistas e historiadores. a origem da reli-
a uma ou mais vias bioquírnicus alteradas pelo processo. gião e da medicina é a magia. Para o homem primitivo, a mágica
Já os empíricos vêem a doença primariamente como urna movimentava o poder espiritual para auxiliar 00 ferir o indivíduo.
quebra da força vital que normalmente assegura o bem-estar A magia, relacionada à cura, buscava (ou' busca, em várias
do indivíduo. c a terapêutica pretende fazer com que o corpo civilizações o,u crenças) controlar os demónios ou forças que
reganhe sua harmonia, tratando não necessariamente a doença causam doenças.
observada. mas sim a essência mais profunda do indivíduo. Usam Em certo aspecto, a magia pode ser considerada como ante-
produtos naturais e outros que facilitam essa rcação. Baseiam- cessora da ciência médica moderna, que também procura controlar
se em anos de experiência e visam trazer o benefício de traba- determinadas forças que obviamente, não são mais, encara-
lhar com. em vez de contra. a resposta do corpo. das como sobrenaturais.
Pesquisa Clínica • 21

o homem emergiu na história como pertencente a um es- no bem-estar dos indivíduos. Com isso, a astronomia. no que
tado altamente civilizado no Egito. cerca de 70 séculos atrás. era possível. era muito estudada. Os signos do zodíaco corres-
e assim surgiu a primeira figura de um médico. Irnhotep. Se- pondiam a 12 constelações. Astrologia e oráculos eram utili-
gundo o historiador britânico Brcasted "na sabedoria sacer- zados e se espalharam pelas nações da Antigüidade, inclusive
dotal. namágica. naformulação de provérbios sábios. na medicina por Grécia e Roma.
e na arquitetura, essa figura rernarcãvel do reino de Zoser dei- A terceira contribuição é o famoso Código de Hamurábi
xou uma reputação tão notável que seu nome nunca foi esque- (cerca de 2000 a.C.), um conjunto legal, civil e religioso, muito
cido e. 2.500 anosapóssua morte, tornou-se um Deusda Medicina. relacionado com li profissão médica.
no qual os gregos, que () chamavam lmouthes. reconheceram A medicina hebraica recebeu as influências egípcias e
. eu próprio Esculápio". babilônicas. com grande ênfase na higiene. Os rnandarnemos
A experiência lhes trouxe muito da sabedoria que se defi- da Torah são concernentes a profilaxia e supressão das epide-
niu como empírica. O papiro de Ebers, encontrado pelo arqueó- mias. supressão das doenças venéreas e, portanto, da prosti-
logo alemão Georg Moritz Ebers, descreve medidas terapêuticas tuição. cuidados com a pele, banhos, alimentos, cuidados com
e o papiro de Smith. escrito há aproximadamente 4.000 anos C a moradia e com as roupas. regulação das atividades de traba-
descoberto pelo arqueólogo inglês Edwin Smith. contém a lho. da vida sexual. Enfim, usou-se uma série de regras de modo
primeira menção escrita sobre o sistema nervoso e sua parti- a disciplinar o povo.
cipação em doenças. Aparentemente, os médicos egípcios pra- Muitos desses mandamentos. como descanso no Shabat,
ticavam trepanações cm pacientes com epilepsia e algumas circuncisão. leis concernentes 11 alimentação (proibição do
doenças psiquiátricas. Eles sabiam a relação de algumas en- consumo de sangue e de certos animais, como porco, moluscos,
fermidades com o sistema nervoso central e, acreditando que etc.), medidas referentes à menstruação, às gestantes e ao parto,
tais afecções resultavam da açâo maléfica de maus espírito. aos cuidados com ti gonorréia. ao isolamento de leprosos, são
que entravam no crânio. realizavam trcpanaçõcs para que os surpreendentemente racionais e atuais,
espíritosescapassem.lntercssantemcnte, os incas do Peru também Ao passo que. na época do homem primitivo e nas grandes
praticavam craniotornias. aplicavam próteses douradas para civilizações do Egito e da Babilônia, o médico era urna evolu-
octuir as trepanações e usavam embalsamamento para con- ção do sacerdote. na Grécia a medicina tinha uma outra ori-
servar algumas pessoas após a morte. gem além da religião: ti filosofia.
Os registres mostram que os egípcios empregavam i natações. Os primórdios da medicina científica podem ser encontrados
emplusios. eméticos. purgativos. enemas, diuréticos I! até mesmo entre o grupo de filósofos conhecidos corno fisiologistas jônicos.
sangrarnentos como processos terapêuticos. Possuíam rica lur- Nâo contribuíram muito para a medicina propriamente dita,
rnacopéia com base em produtos animais. vegetais e mine- mas paraseu espírito, o que residia no crescente poder de observa-
rais. Conheciam o LISO de ópio. sais de cobre. cicuta e utilizavam ção. na resistência ti generalizações c a especulações a priori.
secreçõese parte de animais como remédios. Saliva. urina, bile, Nos tempos gregos praticava-se. na região jônica, () que hoje
fezes. várias partesdo corpo. secase em pó. vermes. inseres, ser- se denomina experimentação. São dessa escola Anaxímenes I!
pentes. eram ingredientes importantes Da farmacopéia. Essas Herãclito (provavelmente um médico). Este último influenciou
práticas se espalharam a outras regiões na Antigüidade e fo- Hipócrates que. em certo aspecto. tentou aplicar ua doutrina
ram prcvalcntcs na Idade Média. Uma coisa curiosa é que com ao corpo humano. Sua famosa expressão ponta rhei -jodas as
a descoberta das múmias. apareceu a crença de que o pó da coisas fluem - expressa o fluxo incessante no qual ele acre-
múmia era muito eficiente para a cura de várias doenças. ditava e que se sabe existir em toda matéria.
A cirurgia não era altamente desenvolvida. mas a faca e o Pitágoras. outro filósofo/médico importante. foi fundador
cautério eram muito utilizados; a cirurgia oftálmica era pra- da escola em Crõton. Um membro dessa escola. seu foi discí-
ticada por especialistas. pulo Alkmaéon, que viveu no século V a.C.. distinguiu-se em
A medicina egípcia atingiu alto grau de desenvolvimento no anatomia e fisiologia. Reconheceu pela primeira vez o cére-
campo da higiene. A limpeza das residências, das cidades e bro como órgão da mente, Dissecou nervos cuidadosamente.
daspessoasera reguladapor leis. Os sacerdotesdavamos exemplos os quais seguiu aré O cérebro. Descreveu os nervos ópticos.
por meio de freqUentes abluçõcs. raspagens do corpo inteiro fez. observações corretas sobre a visão e chegou à conclusão
e limpezas de roupas. de que li encéfalo é o órgão central das sensações. Deduziu
~ De grande imponância também na história da medicina foi qUI! os sabores são discernidos pela língua. Refutou o ponto
; a civilização da Mesopotâmia. praticamente contemporânea à de vista corrente. que afirmava que o esperma vinha da medula
~ egípcia. Algumas contribuições interessantes podem ser refe- espinal. Sugeriu que a definição de saúde fosse a manurenção
il ridas em relação à medicina babilônica. do equilfbrio.
As primeiras observações registradas de unatornia têm co- Dessaescola o nome de maior influência foi o de Empédocles
nexão com a arte da adivinhação: o estudo do futuro pela in- de Agrigento: médico, fisiologista, professor de religião, político
terpretaçãode certossinais, incluindo aquelesobtidos da inspeçâo e poeta (além de mágico). Raciocinou que as sensações ão
do sacrifício de animais. culto que se espalhou entre os etruscos levadas ao cérebro por meio de vias específicas. Introduziu a
e. mais tarde. entre grego:. I! romanos. De todos os órgãos. o teoria dos quatro elementos - fogo, ar. terra e água - dos quais
flgado. por seu tarnanho, posição e riqueza de sangue, foi o que o corpo é feito cm quantidades variáveis. A saúde dependia
mais imprcss ionou. sendo considerado o local da vida e da do equilíbrio dessas substâncias primitivas e a doença era seu
alma. Entre os babilônios. a palavra fígado era usada em hinos distúrbio. Por séculos essa teoria dominou a medicina.
e composições como nós usamosa palavra coração. Essa posição Anuxágoras, qUI! viveu em Atenas no século V a.C.• deduziu
importante do fígado não foi alterada por muitos séculos e, na que o pão se converte, em nosso corpo. em osso, carne, san-
fisiologia galênica. esse órgão compartilhava, com o coração c gue. etc. Concluiu que a digestão liberta do trigo elementos
o cérebro. o triplo controle dos espíritos: natural, animal e vi- que o organismo utiliza para gerar os próprios materiais.
tal. Assim. já antes de 3000 a.C; ele foi muito estudado entre Merecidamente. a fundação da medicina grega está asso-
os babilônios. inclusive vesícula e duros biliares. ciada ao nome de Hipócrates (cerca de 460-370 a.C.). da ilha
Outra contribuição dos babilônicos, se não à medicina. a de Cós. o pai da Medicina. Os escritos de Hipócrates influen-
ela devida, refere-se à SUpOSI'a influência dos corpos celestes ciaram a evolução da ciência e da arte médica. apesar de não
22 • Tratado de Clínica Médica

ser fácil determinar, de seus escritos numerosos. quais real- nervos motores e sensitivos, descreveu I) tecido nervoso. as
mente são frutos de seu trabalho. pois relativamente pouco se meninges, os vcntrfculos c () plexo coróide. A nomenclatura
sabe sobre sua vida. Em todos os seus escritos encontra-se atual do xistema nervoso conscrvu muito das denominações
sua atitude enaltecendo a vida. expressa melhor do que nunca criadas por Hcróphllos. que chegou a escrever um tratado de
na frase: "Onde há amor pela humanidade huvcrá amor pela anatomia e outro sobre os olhos. além de um manual para parteiras.
profissão". Isso é bem exemplificado nasqualificações apontadas no qual descreve ti unatomia do útero. Divergindo das opi-
por Hipócrates para o estudo da medicina: "Para adquirir niões então prevalecentes. Heróphilos sabia que as artérias e
um conhecimento competente da medicina deve-se possuir a~ veias. as quais ele foi o primeiro ii distinguir. conduziam
os seguintes atributos: disposição natural. instrução. disposi- sangue. Eraststratos. que se seguiu a Heróphilos, é considera-
ção ao estudo. aprcndlzado desdecedo. amor ao trabalho. lazer". do o criador da Fisiologia. Uma de suas grandes descoberta.
Hipócrates. o criador da medicina objetiva, sabia.como Alkmaéon, foi. ~CI11 dúvida, as veias lo! artérias são Iigudus por vasos ex-
eu contemporâneo. que a sede da mente é o encéfalo. no qual tremamente pequenos. anunciando II descoberta dos capilare
ve sente e pensa: as perturbações mentais que cnracterizam as por Malpighi. feita quase 2.000 unos depois. ee
enfermidades psiquiátricas eram também situadas por ele no Galeno de Pérgamo (cerca de 129-204 d.C.). grego que viveu ~
encéfalo. Ademais. Hipócrates escreveu sobre a icterícia. as em Roma. médico do imperador Marco Aurélio, estudou cm '~
hemorróidas e o parto. ldcmificou febre malárica. diarréia. várias escolas. inclusive cm Alexandria. De fato. na anato- '",
-e
disenteria. melancolia, mania e edema pulmonar com incrível mia. I'ni um discípulo dos alexandrinos. Os ensinos de Hipócrates ~
acurácia clínica. Descreveu li importância da limpeza. De seus forUJ11dominantes até surgir Galcno que. por sua vez. dominou
e tudos em animais. descreveuos efeitos da rransecção da medula o pensamento médico por 15 séculos. Galcno estudou exaus-
espinal em níveis diferentes. Dava ênfase a inspecção cliuicu. tivamente o pulso. escrevendo 16 livros a esse respeito. Essas
observação e documcnrução. Empirismo. experiência. colcrar obras marcaram profundamente toda a medicina da Idade Mé-
tatos. evidenciar os sentidos e evirar especulações fi lost'lf'icas dia. Somente na Renascença ele começou a ser questionado.
são característlcas que distinguem ti medicina hipocnhica. Uma Sua osteologia foi admirável. Seu trabalho como fisiologista
das contribuições mais importantes de Hipócrates foi reco- foi ainda mais importante. Foi o primeiro 11 fazer experimen-
nhecer que as doenças são somente parte dos processos da 1O~ cm grande escala. estudando particularmente os movimentos
natureza.pois não há nelas nadade divino ou sagrado. O juramento do coração. ação das válvula s e as forças pulsátcis das artérias.
de Hipócrates, cornprornivvo assumido até há pouco tempo por Reconheceu a existência de doi tipos de sangue - venoso e
forrnnndos em medicina. é composto de duas partes: a primeira arterial - e que as artérias se anastomosarn ÇUI11 as veias e que
contém um contrato entre mestre e aprendiz e a segunda. os elas mutuamente recebem sangue lima da outra pOI' meio de
deveres do médico para com a sociedade. certos vasos invisíveis e extremamente pequenos, como jt\ havia
Arbtótelel> (3l}4-322 a.C}, definido por Dante como:o mestre sido colocado pelos alexandrinos. Galcno descobriu os prin-
daqueles que sabem". influenciou a humanidade por mais de cípios gerais da mecânica respiratória. inclusive a função do
dois séculos. Construiu um império intelectual no qual ainda é diafragma e sua inervação pelr», nervos frênicos. Descreveu 7
mestre em lógica. metafísica. retórica. psicologia. ética, po- dos 12 paresde nervos cranianos. assimcomo numerososmúsculos
esia. política e hi tôria natural. Criador de ciências como anatomia csquclcrlcos c () cristalino ocular. Acertou quando afirmou que
comparativa. zoologia sistemática, embriologia, teratologia. há nervos que se originam do sistema nervoso central e se li-
botânica e fisiologia. Aristõtclcs inventou a meteorologia e a gam aos músculos, cuja ativação provoca movimentos. A elas-
biologia e. dentro desta. a zoologia e o estudo dos comportu- vificação galênica do temperamento das pessoas. acatada até
rneruos. Seu livro ilistária dos A IIimais constitui verdadeiro algumas dezenas de anos arras. atribuía a cada um de nós um
tratado de observação do comportamento de numerosas cs- temperamento Iigado aos quatro humores (líquidos) do orga-
pécics. criando II etologia. Ele descobriu que os mamfferos e nismo: o sangüfneo (fogoso. agitado. extrovertido) dependia
aves dormem e sonham. É notável como descreve etapas do da predominância do humor sangüfnco: o colérico. agrcs ivo,
pano. Essa foi a primeira descrição de um parto: discorre arn- era ditado pela predominância do humor correspondente à bile
plumentc sobre Ç0l110 <eccionar o cordão umbilical e por que amarela tchole, em grego); o melancólico uristc). pelo humor
se deve fazê-lo. Não conhecia a anatomia humana. pois a dis- =
correspondente à bife negra (melaniksa = negro + chole bile.
secção era proibida. Para Aristóteles. a matéria fundamental em grego) e o flegmático (calmo. introvertido). pelo humor
também se constituía de ar. terra. água e fogo. É curioso que. correspondente ao muco (/leMIII{/ = serenidade. em grego).
C\1l11 esse erro, ele identificou corretarnente os estados da ma-
téria (gases. sólidos. líquidos e plasma). não os seus consti-
tuintcs, A despeito de alguns erros científicos graves que cometeu,
IDADE MÉDIA
Aristóteles foi um dos maiores vultos da ciência, principal- A doutrina grega do:> quatro humores coloria IOda as con-
mente por ter criado a lógica. primeiro instrumento teórico cepções de doenças na Idade Média; a saúde dependia de sua
com potencialidade para criar o conhecimento cmbasado no harmonia. Os quatro temperamentos - sangüíneo. colérico.
raciocínio bem articulado. melancólico c flegmático - correspondiam à prevalência de -
A primeira grande escola médica da Antiguidade fui ti de ses humores. A doença era usualmente decorrente de altera-
Alexandria. Em 300 a.C .. 1I1~1lI da famosa biblioteca. já pos- ÇÔCl- na composição desses humores. e as indicações para o
uía Ulll renomudo museu, grandes laboratórios e clínicas. Pela tratamento estavam de acordo com essa doutrina. Deveriam
primeira ver; o estudo da estrutura do corpo humano atingiu ser evacuados. alternados. esfriados. aquecidos. purgados ou
seu pleno desenvolvimento graças à permissão. dada pelos reforçados. O sangrarnemo era a primeira ação tomada para a
Ptolomcus. para realizar dissecção humana. Assim. durante o cura da maior parte das docnçav.
período alexandrino da civilização grega. diversos cientistas No século XI. entre os árubcs. II medicina evoluiu. O mé-
realizaramobservaçõese experiênciasc()m. eresvivos. Heróphilos. dico mais famoso. conhecido como o Príncipe. rival de Galeno.
criador da Anatomia, no século III a.C.. pesquisava na biblio- foi o persa Abu Ali al-Husayn ibn Abdalleh ibn Sinu. Nascido
teca de Alexandria e era médico do rei Ptolomeu l. do EgilO onde hoje é o Ul.bequistão. mail> conheddu pelo seu nome
alexandrino: dissecando várias espécie animais. inclusive a espanhol. Avicena. ele .e tornou um dOI>maiores nomes da
humana. elowbeleceu a di fen::nça entre tendõe e nervos e entre hi~t6rin da medicina. Viveu entre 980 c 1037 c escreveu muitos
Pesquisa Clínica • 23

livros, algum, compondo urnu verdadeira "bíblia" médica. tal deve-se interpretá-los e curar as enfermidades. Paracelsus.
adorada por um longo período. Saladin Salasyh-achin foi outro em contradição com a medicina gulênica. largamente deri-
médico lnmoso no século X III. Contemporâneo de Salasyh- vada do reino vegetal. olhava a química como base do conheci-
achin, lbn-nu- ufis publicou um livro em que descrevia a mento médico. Assim, lutou contra o dogmatismo vigente e
conexão vascular entre os pulmões e o coração, embora não estimulou enormemente o estudo prático de química. Paracelsus
tivesse vislumbrado sua função. Os árabes introduziram vários é () Lutero da medicina, a encarnação do espírito da revolta.
tratamentos derivados do reino vegetal e muitos minerais, O francês Ambroise Paré (1510-1590), li grande cirurgião
como mercúrio. ferro e antimônio. da época, desenvolveu várias técnicas cirúrgica para o trata-
Um grande acontecimento do final da Idade Média foi a mento de lesões traurnáticas.
criação das universidades. A primeira surgiu na Itália, cm Bologna. No século XVI. o médico belga Andreas Vesalius (1514-1564)
em 1119: no ano seguinte criou-se, em Monpéllicr, França. a fel. desaparecer o velho método de ensinar anatomia. Ele rea-
segundae, em poucos anos, várias outras universidades foram li/ou suas próprias dissecações e preparações e, quando hou-
instituídas (Pãdova. Paris, Oxford. Cambridge. Salamanca. Praga, ve escassezde cadáveres humanos. empregou cachorros, porcos
Viena. Hcidclbcrg. Pisa). A'I>universidades se tornaram impor- ou gatos. Seu modo ordenado e sistemático de estudo fez com
tantos centros da medicina na Idade Média e Renascença e que. pela primeira vez na história. a anatomia humana pudes-
Hipócrates foi "renascida". A pesquisa clínica permaneceu mais se ser apresentada de modo a explicar a estrutura do corpo
de critivu, assemelhando-se aos aiuais protocolos de história humano. Publicou. em 1543. o primeiro tratado moderno dc
natural e paiogênese de doença. anatomia (De NLIIl/uJli Corporis Fabrica Libri Septem, isto é.
Em 1348.Gentile da Foligno. de Pádova, descreveuasprimeiras Sete Livros sobre a Estrutura do Corpo Humano). em que colocou
pedrasda vesícula.Banolornmco Montagnana, em 1470,descreveu todo o conheci monto de anatomia da época, descrevendo
a hérnia estrangulada. numerosas descobertas originais. Descreveu o reflexo pupilar.
previu teoricamente a existência de inervação recíproca e estudou
DESENVOlVIMENTO DA MEDICINA MODERNA - EM embriologia.
o fim do século XVI. Galileo Galilei (1564-1642) inventou
DIREÇAO AO S~CUlOIX o termôrnctro e, com isso, proporcionou meios de se medir a
No final da Idade Média c início da Moderna urge a Renas- temperatura do corpo, principalmente em pacientes febris.
cença. lessa fase, Leonardo da Vinci (1453-1519) roi o ana- lbn-un- afis. como já mencionado. descreveu. no século
tomista mais importante: criou mais de 750 desenhosde anutornia. XIIl. as conexões vasculares entre o pulmões e o coração,
Também foi um fisiologista exímio. Estudando minuciosamente mas o significado funcional dessas conexões começou a ser
anatomia renal. ele aventou complexa hipótese para explicar desvendado pelo médico espanhol Miguel de Scrvcio (1509-
O transporte de urina dos rins para a bexiga, mesmo que o 1553). que, no século XVI. investigou cxpcrimcntulmcntc ()
indivíduo ficasse muito tempo de cabeça para baixo. Além percurso do sangue dCSSlIregião do organismo. Muuco Rcaldo
disso, descreveu os mecanismos da fonação e as f'un9ões da Colombo ( 1516-1559) voltou u estudar el>''':terna e descobriu
laringe. das pregas vocais c do tórax na vocalização. E famo- que o sangue saia do coração, passava pelos pulmões (onde se
so, também. um desenho seu que descreve a posição do feto /IIi.\/III·C/I·{/ com ar) e retornava ao coração.
humano no interior do útero materno. Sua avançada intuição Logo depois, o médico inglês William Harvey (1578-1657)
científicu transpareceu em sua afirmação de que os fenômenos estendeu os estudos de Colombo e descreveu de forma com-
dos seres vivos devem ser estudados como fenômenos físicos. plera a circulação sangüfnea. A sequência de procedimentos
O que prenunciou um principio cientffico primordial de Gali leo: por ele realizados constitui um verdadeiro modelo de expc-
"deve-se medir o que é possível medir e tornar mensurável rimcntação. Harvey, que estudara medicina cm Pãdova, Irã-
tudo quanto ainda não se consegue medir". o trabalho de Da lia. tornou-se médico da corte inglesa. tal era o prestígio que
Vinci identifica-se a aplicação da lógica aristotélica, Ele acei- desfrutava. Harvey concluiu qUI! a atividudc do coração con-
rou c utilizou o método analítico regressus demonstrativus. que sistia na coruração de suas fibras que expeliam o sangue dos
consiste em duas etapas, A primeira é a derivação de um fato ventrículos. Em seguida, estudou li ação das artérias e mos-
racional por pensamento dedutivo e a segunda consiste em trou que seu período de diástole correspondia ao da sístole
demonstrar o fato por método experimental. cardíaca c qUI! o pulso arterial seguia a força. a freqüência
~ No final da Idade Média surgiu. nu Suíça. o médico que c o ritll10 do ventrículo e que, de fato, dependia dele. ou
~ inventou a terapêutica medicamentosa experimental (origem seja. a pulsação das artérias era decorrente do impulso do
;; da farmacologia). Philippus Aureolus Thcophrastus Bombastus sangue do seu interior. Descreveu os movimentos dos átrios
~ von Hohcnhci r11. mais simplesmente Paracclsus. De acordo com e dos ventrículos. Mo irou O caminho do sangue indo do lado
ee
alguns historiadore . ele talvez tenha assumido esse nome para direito do coração ao esquerdo. Explicou a ação das válvu-
indicar suasuperioridade em relação ti Aurelius Cornelius Celsus. las venosas. Todas essas descrições encontram-se no livro
famosomédico romano que viveu aproximadamente entre 25 a.C. De Motu Cordis, no qual. c demonstra conclusivamente que
e 50 d.C. De fato. sua elevada auto-estima pode ser obser- o sangue se move em um círculo.
vada em sua frase "Vinde. pois, e ouvi '", ou por sua auto- Em 1590. houve a invenção do microscópio pelo holandês
avaliação "( ...) Não sou eu quem louvo a mim: é a natureza Zaccharias Janssen e seu filho Hans. Em meados do século
que me louva". Paracelsus de cobriu que a ingestão de cânfora XVII, o holandês Anron Van Leeunwenhoek (1632-1723)
produzia convulsões e, quando ingerida por doentes mentai descreveu pela primeira vez o músculo estriado voluntário, a
podia promover ,I melhora da doença. Reconheceu três subs- estrutura do cristalino. os eritrócitos e espermatozóide.
tâncias básicas: enxofre, mercúrio e sal. Fez importantes desco- Robert Hooke (1635-1703) publicou, em J665, um livro,
bertasem química: zinco, vários compostos de mercúrio. culomel. Micrographla, descrevendo a unidade estrutural do sere.
e advogava o uso de preparações de ferro e antirnônio. Intro- vivos. que denominou célula (diminutivo latino de cela. porque
duziu a ti nruru de ópio =labdanum ou /OU(/(//1I1I11 - com a qual lhe pareceram pequena, cavidades vazias). Em seguida. um
efetuou curas milagrosas. Seu maior feito. entretanto. foi des- médico holandês, Jan Swammerdarn (1637-1680) aperfeiçoou
cobrir que os fenômenos biológico ão de natureza química a observação microscópica, com a qual descreveunumerosossere
(e. não de natureza física, como considerava Da Vinci) e como vivos de pequenas dimensões, c pela primeira vez realizou
24 • Tratado de C/lnica Médica

microdissccçõcs no microscópio. O italiano Marcello Malpighi Também no século XVIII houve a primeira sentença legal
(1628-1694). também médico de formação. inventou as técni- de que os médicos devem obter consentimento informado dos
C~ de cortar fatias muito Ilnus de blocos de materiais biolõ- pacientes antes de um procedimento. Uma corte inglesa deli- ~
gicos e tingi-Ias com corantes, o que lhe permitiu descrever
pela primeira vez os tecidos corno associações e pccíficas de
berou que "realmente é razoável que um paciente deva ser
informado sobre o que está para ser feito a ele ...".
..
~
'"
células. Malpighi. que descobriu a circulação capilar e o sen- Foi o francês René Théophile Hyacinthe Laennec (1781- ~
lido desanguedas arteríolas paraasvênulas, foi também o primeiro 1826) quem estabeleceu as fundações da medicina clínica mo- x
embriologista a descreverahistologia dosembriões.Outro indivíduo derna. Antes de Laennec, o exame do paciente era feito
importante à época foi Marco Aurélio Severino (1580-1656). fundamentalmente pela visão. suplementado pelo tato, como,
professor de anatomia e de cirurgia em Nápoles. que publi- por exemplo. a estimativa da temperatura da pele ou caracte-
cou. em 1645. o primeiro tratado de anatomia comparada. rísricas do pulso. A invenção da percussão por Josef Leopolâ
Thomas Sydenham (1624-1689) lançou a propo. ição fun- Aueubrugger (1722-1809) havia melhorado o processode exame.
damentai de que "IOda doença pode ser descrita como urna mais ['oi a descoberta da auscultação por Laennec e a publi-
hivtória natural". A", primeiras transfusões de sangue bem cação de seu trabalho De l'ousculuuion Médiclle, em 1819.
documentadas cm seres humanos foram feitas em 1667 por que marcou a nova cm no estudo da medicina. Corn o estetoscópio
Richard Lowcr e Edmund King. em Londres. Saber detalha- iniciou-se a era do diagnóstico físico. revolucionando a pato-
damente us modificações anatómicas que ocorrem na doença logia clínicu do coração, pulmões e abdome. Em certo aspec-
é importante para o diagnóstico e traturnento. O homem que lO, a invenção foi fortuita. Examinando um" senhora idosa e
criou essaciência foi Giovanni Battista Morgagni (1682-1771). gorda. e sentindo-se. por cortesia. incapaz de colocar o ouvi-
discípulo de Antonio Maria Valsava, por sua vez. aluno de do sobre seu peito. ele se lembrou de princípios da acústica:
Malpighi. Descreveu afecções do pericárdio. doenças das valvas " ...enrolei uma folha de papel em uma espécie de cilindro e
e ulceração. ruptura, dilatação e hipertrofia da aorta. coloquei uma extremidade dele na região do coração e a ou-
No século XVIll um famoso cirurgião escocês. John Hunter tra, no meu ouvido".
(1728-1793). fundador da patologia experimental e cirúrgica. A mediei na experimental atingiu seu ápice em meados
revolucionou a cirurgia ao inventar instrumentos e técnicas do século XIX com o fisiologista francês Claude Bernard
de abordagem muito originais (as então utilizadas haviam ido (1813-1878) professor em Paris, aluno de François Magendie
criadas na época de Galeno): descreveu choque. flebite. pirernia (1783-1855), principal artífice da moderna farmacologia.
e acbudos importantes em inflamações e feridas por armas de Bernard. que mais do que qualquer um apreciava a impor-
fogo. Antoine Lavoisier ( 1743-1794) demonstrou que os animais tância do experimento na medicina prática, dizia: "quando
necessitam de oxigénio do ar para se manterem vivos. Joseph- se entra no lnboratério devem-se deixar as teorias no roupeiro".
Louis Lagrange (1736-1813), nascido cm Turim e banzado Para ele o médico experimental era o médico do futuro. Deu
como Giuscppc Lodovico Lagrange, importante físico c mate- urna das mais fantásticas contribuiçôcs do século XIX à me-
mático aventou. então. a correta hipótese de que a fixação do dicina cienrffica: a descoberta das secreções internas dos ór-
oxigênio pelo sangue se dá nos pulmões e que a oxigenação gãos. Criou a cndocrinologia ao descobrir que o fígado produz
ocorre em todo organismo. glicose, Em 1847, identificou a gliccgeuõlise e sugeriu a
Em 1790. o reverendo inglês Stephen Hales (1677-1761). existência da neoglicogênese, Descobriu a existência de nervos
ao introduzir um tubo em uma artéria de um cavalo e observar (mais tarde identificados como simpáticos) que controlam o,
que o sangue saía em alta velocidade. descobriu que o sangue calibre das arteríolas. Desenvolveu o conceito de milieu intérieur
arterial circula sob pressão, a pressão arterial. (meio interno) que, 00 século XX. levaria Cannon a enunciar
Entre as grandes realizações científicas no século XVIII o princípio da horneostasia.
destaca-se a descoberta da cletricidade nos tecidos animais. Um dos maiores nomes da ciência em todos os tempos foi
Luigi Galvani (1737-1798). médico e professor de anatomia. O do naturalista inglês Charles Robert Darwin (1809-1882).
verificou acidentalmente que palas dissecadas de rãs sofriam Pesquisou sobre geologia. zoologla.fisiologia, embriologia e
fortes convulsões quando ocorriam relâmpagos durante uma outros campos científicos. Teórico da scleção natural, revolu-
tempestade. Os estudos de Galvani resultaram na criação da cionou a biologia ao escrever 011the Origin ofSpecles by Means
clcrrofisiologia cuja imporrância em fisiologia e medicina é imensa. of Natural Setectton. or lhe Preservation o! Favoured Roces
A imunologiu nasceuantes mesmo da descoberta dos micror- iII lhe SIJ'uf./gle[or Li/e ou. mais simplesmente, The Origin o!
ganismos. quando o médico britânico Edward Jenncr (1749- Spe('/I'.I'. pu bl icado em 1859. e The Descent of Mali, cm 1871.
1823). di. cípulo de John Hunter, introduziu a vacinação cm Apçsur de nada ter feito em termos de medicina, suas idéia
larga escala. Jenner produziu a primeira vacina contra a varíola e conceitos evolutivos modelaram a pesquisa médica. princi-
c sabia que pessoas que viveram em locais próximos à cria- palmente no século XX. com a incorporação do conhecimento
ção de vacas não contraíam varíola em época de epidemia. molecular à medicina.
o ano de 1796, inoculou em urna criança de 8 anos material Uma das grandes descobertas do século XIX, as leis bá-
extraído de uma pústula de urna jovem que contraíra varíola sicas ela genética. foi realizada pelo padre austríaco Gregor
de vaca. Dois meses mais tarde, inoculou uma criança com Mendel (1822-1884), que asrevelou fazendo longas experiências
material extraído da pústula ele urna pessoa com varíola e ve- de 'cruzamento de ervilhas. Sua descoberta foi esquecida até
rificou que não se produzia a doença. O termo vacina (nome que o holandês Hugo de Vrie: (1848-1935), que levantou a
relacionado com vacca, vaca em latim) foi cunhado por Pasteur. hipótese da existência dos genes. aos quais denominava
em homenagem ..... no mérito e aos imensos serviço presta- pangenes, a ressuscitou.
dos por um dos maiores homens elaInglaterra. o senhor Jenner". Dois professores de medicina descobriram corno combater
Samuel Hahnernann (1755-1843). alemão. criou a homeo- o que depois se mostraria originar-se da invasão do organismo
patia. por muitos contestada até hoje, com base no famoso por bactérias, as infecções: Listcr e Scmmclwcis. A essaépoca,
conceito de similia similibus curantur (semelhante cura seme- meados do século XIX. 30% das parturientes morriam com
lhante). Xavier Bichar (1771-180 I) criou a disciplina de hi rologia. febre cuja causa era desconhecida. lgnaz Philipp Semrnelweiss
por meio do livro Anatomie Génerale Appliquée à la Physiologie (1818-1865). médico húngaro do Hospital de Viena, realizou
et à la Médedne. o ensaio clínico preventivo mail> sofisticado daquele século,
Pesquisa Clínica I 25

estabelecendo a importância de lavar as mãos para evitar espinal. O canadense William Oslcr (I R49-1919) escreveu o
espalhar a infecção. Conseguiu reduzir a cerca de 6% essa livro The Principies and Practice o] Medicine, publicado pela
alta mortalidade. simplesmente obrigando seus assistentes e primeira vez em I R92. uma obra excepcionalmente popular
estudantes a lavarem as mãos com água e fenol antes e após e influente.
qualquer procedimento. Apesar disso, Sernrnelweis foi puni-
do com a não renovação de seu COntrato em Viena. tal era a
oposiçãodos colegas a essasmedidas higiênicas. o que o obrigou
sleUlOU
a retornar à Hungria. onde conseguiu impor suas regras com Os avanços espetaculares na medicina ao longo do século XX
enorme sucesso. Joseph Lister (1827-1912). do Hospital da nunca teriam acontecido, obviamente. sem o progresso durante
Universidadede Londres. cirurgião inglês, conseguiu, ao contrário, os séculos precedentes. Cada cientista possibllita o despon-
impor medidas extremas de anti-sepsia nas enfermarias e nas tarnento de outro cientista. A contribuição ao desenvolvimento
salasde cirurgias, resultando em extensa redução da mortali- médico desse século roi enorme, a sim como a quantidade
dade pós-cirúrgica, tal como ocorrera em Viena com as medi- de pesquisadores. Desse modo. existem várias omissões im-
das impostas por Sernmelwcis. Lisrer também descreveu e perdoáveis. mas é impossível incluir todas neste capítulo.
aperfeiçoou a técnica da asscpsia e desenvolveu suturas ab- Emil von Behring (1854-1917). ganhador do Primeiro Prêmio
sorvíveis c o tubo de drenagem. Nobel. descobriu a antitoxina diftérica. estabelecendo o papel
Esseseventos, juntamente com o primeiro uso bem docu- da imunização passiva. lIya II itch Meichnikoff (1845-1916).
mentado do éter sulfúrico como anestésico na cirurgia. feito ucraniano. descobriu a importância da fagocitose e a imuni-
pelosamericanos William Thomas Green Morton e John Collins dade celular. e Paul Ehrl ich (1854-1915). o sistema comple-
Wren, foram essenciais para o desenvolvimento da moderna mento. enfatizando, respectivamente. a importância dos
cirurgia. componentes celulares e humorais da defesa do hospedeiro.
Rudolf Ludwig Karl Virchow (1821-1902) transformou a Ambos dividiram o Prêmio Nobel de 1908.
anatomia patológica. iniciada por Morgagni no século XVII. Um cientista que não pode ser esquecido é Santiago de Ramón
em patologia celular. que se tornou uma disciplina-chave na y Cajal (1852-1934). o pai da neuroanatomia moderna. Médico
medicinacm razãode seuextenso e sistemático trabalho. Virchow espanholque.após ter sido cirurgião-militar no interior da Espanha,
e tabeleceu os princfpios que regem as lesões celulares como em fins do século XlX, tomou-se, no século XX. um dos maiores
basedas lesões macroscópicas vistas durante as nccropsias e histologistas dos todos os tempos. Cajal provou que os neurônios
que caracterizam muitas enfermidades. Descreveu o processo são células individualizadas que se articulam por intermédio
inflamatório com suas fases. cunhou o termo trombose, des- de formaçõesdiferenciadas dasextremidades terminais de axônios,
creveu a embolia e descobriu que omnis cellula e cellula (toda dendrites e corpos celulares de ncurônios subsequentes, for-
célula urge de outra célula). Político e antropólogo. teve seus mações que denominou botões terminais. É extraordinário que
erro: opôs-se à lavagem de mãos defendida por Semrnelweis. Cajal tenha vi ualizado adequadamente os botões terminais.
teve restrições à teoria bacteriológica defendida por Pasteur e embora nunca os lenham visto, pois eles são visíveis apenas
Koch e suspeitou da teoria da evolução de Darwin. com microscópio eletrônico.
A microbiologia nasceu no século XIX por meio dos estudos Archibald Edward Garrod (1857-1936). inglês. o pai da gené-
do francês Louis Pasteur ( 1822-(895). que descobriu as bases tica química. conceituou a base dos erros inatos do metabolismo
da fermentação causada por germes. as quais formam a base e desenvolveu o conceito de individualidade bioquímica.
microbiológica dasdoenças infecciosas. Em 1857, Pasteurenviou Sigrnund Freud (1856-1939) nasceu em Freiberg. aiualmente
à Sociedade Cientffica de Lille o trabalho Mémoire sur la Repiihlica Tcheca. Apesar de questionado por muitos até hoje,
Fermentation Appelé Lactique e, no mesmo ano. à Academia alterou radicalmente as fronteiras e restrições da psiquiatria
de Ciências em Paris, o estudo ooie fermentação alcoâlica, com a psicanálise. Propôs as idéias terapêuticas de livre associa-
nos quais concluiu que II "deduplicação do açúcar em álcool ção, o conceito de transferência e a interpretação dos sonhos.
e ácido carbônico se correlacionava com um fenômeno de vida". Escreveu ensaios sobre a cxualidade. Estabeleceu conceitos
Uma nova era surgia. Pasteur descobriu que algumas doenças sobre a estrutura de desenvolvimento psicológico em seu livro
são provocada por bactérias; depois. sistematizou a vacinação O Ego e o Id.
e usou soros para tratamento de certas infecções e intoxicações. Willem Einthoven (1860-1927). nascido em Java. uma
Pasteur obteve. em 1880, uma cultura do micróbio causador das ilha. da Indonésia, então parte das Índias Orientais Ho-
da cólera que, com o decorrer do tempo. se tornava menos landesas. inventou a clerrocardiografia, O alemão Theodor
virulento. Depois de criar a vacina contra carbúnculo, inven- Boveri (1862.1915) estabeleceu a importância dos cromos-
tou a vacina e o soro contra a raiva. Descobriu o papel do somos ao reconhecer que "os caracteres de que se ocupam
Streptococcus pyogenes Da septicemia puerperal. Sua famosa os experimentos mendclianos são verdadeiramente relaciona-
frase "O acaso favorece apenas a mente preparada" surgiu de dos com cromossomos específicos". O austríaco Karl
um trabalho bri lhante. em 1844. sobre a capacidade de cristais Landstei ner (1868-1943). dentre outras descobertas, des-
de tartarato polarizarem a luz. no qual a sorte teve importância, creveu os grupos sangüíneos.
O trabalho de Pasteur foi complementado por Robert Koch . O americano Walter Bradford Cannon (1871-1945), moder-
(1843-1910), que criou avanços técnico geniais na bacterio- nizando o conceito de meio interno de Bernard, criou o conceito
logia. Foi o primeiro a usar âgar e o ágar-sangue como meio de homeostase. pelo qual () organismo mantém e regula um
de cultura: introduziu a placa de Petri (inventada juntamente ambiente interno esuivet. O inglês Henry Dale (1875-1968)
com um seu assistente,Julius Richard Petri). Identificou a causa descobriu o primeiro neurotransrnissor. a acetilcolina, tendo
da tuberculose e cultivou o bacilo. Isolou o vibrio cholerae e sido também figura essencial à descoberta da histamina.
~ inúmeras bactérias. como a do anrraz. Oswald Theodor Avery (1877-1955) mostrou que o DNA
; O prussiano Albert Christian Theodor Billroth (1829-1894) podia causar transformações genéticas entre cepas de deter-
":'
.. criou novas intervenções no trato gastrointestinal. a ressecção minadas bactérias. O outro grande passo da genética ocorreu
~ total ou parcial de csõfugo. estômago e pâncreas. em 1953, quando se descobriu a estrutura do ácido desoxirribo-
:iJ O francês Jean-Martin Charcot (1825-1893) deu acurácia nucléico (DNA), iniciando lima das mais rápidas e inren as
ao diagnóstico de afecções obscuras do cérebro e da medula séries de descobertas de roda a biologia. A descoberta do código
26 • Tratado de Clínica Médica

genético, sugerida inicialmente por dois Hsicos. Erwin monto dos riscos pelo paciente e inclui um requerimento para
Schrôdingcr (18R7-1961). da Áustria. c pelo russo-americano comitês independentes de ética em pesquisa. A decisão de que
George Garnow ( 1904-196X). e conduzida pelo americano James as pessoas somente devem ser incluídas na pe quisa clínica
Dcwcy Watxon (1928). pelo inglês Francis Harry Comprou se derem seu consentimento livre e informado é um princípio
Crick (1916-2004). pelo neozelandês Mauricc Hugh Frederick inquestionável da ética em pesquisa.
Wilkin» (1916-2004) e pela cristalógrafa inglesa Rosalind A pesquisa clínica passa a ser orientada ao paciente. Há
Franklin (1920-1958) resultou em uma explosão de conheci- avanços na organização e no financiamento da pesquisa clíni-
mentos que certamente conduziu à descoberta da gênese de toda ca. assim como no desenvolvimento de uma forte convicção
a estrutura cios organismos vivos, razão pela qual somos como moral. Discute-se a relação do benefício da pesquisa para o
e o que somos e pela qual evoluíram os seres vivos. paciente l'erSIIS ri aquisição de conhecimento.
O alemão Ouo Heinrich Warburg (I ~8:1-1970) foi o bio- Distingue-se. mais do que nunca, estratégias de tratamento
químico mais original e produtivo do século XX. Responsá- com base em evidências daquelas derivadas de considerações
vel por mais de 60 dc-cobenus significativas em pesquisa básica. hipotéticas, conjecturais e habituais. 00

é mais conhecido por ter demonstrado como as células utili- O crédito para o desenvolvimento dos ensaios clfnicos :::
Iam o oxigénio e pela identificação da citocrorno oxidase. modernos é, algumas vezes. atribuído li Harry Gold, médico ~
A descoberta da insulina por Frederick Grant Banting (1891- do ew York's Cornell School of Medicine. Os termos teste v..e
1941).juntamente com Charles Herbert Best (1899-1978). então ce/(o c teste duplo cego apareceram pela primeira vez nas publi- oe
X
aluno de pós-graduação. em 1921. no Canadá, segu lu-se à cações de Gold.
de coberta de vários horrnônios. O alemão Hans Krcbs (1900- Outros citam como relato mais antigo sobre o teste cego
1981) descobriu o ciclo do ácido cítrico. que leva seu nome. COI11 simulação (.vl/lllll). o inquérito de uma comissão real francesa,
e o ciclo da ureia. Outro alemão. Ernst August Frcdcrick Ruska cm 1780. para a avaliação das curas miraculosas do Dr. Franz
(1906-1988). inventou o microscópio elctrônico. Mesmer pelo uso de magnetismo animal. O inquérito foi diri-
A descoberta das propriedades bactericidas do fungo gido por Benjamin Franklin. então embaixador na França.
Penicilliumnatatum em 1921\.pelo escocêsSir A lcxander Flerning c nessa comissão estava presente também Antoine Lavoisier.
(1881-1955) c a cxtrução da penicilina pelo australiano Howurel A comissão não quis analisar as curas, optando por validar a
Florey (1898-1968) foram avanços espctaculares que expan- existência do magnetismo animal per se: "O magnetismo animal
dirurn n indústria farmacêutica com o desenvolvimento de an- pode existir sem ser útil, mas não pode ser útil se não exis-
iibiéricos. agentes antivirais c nova vacinas. rir". Assim. a comissão capitaneada por Franklin estabele-
Willem Johan Kolff. holandês. desenvolveu vários dispo- ceu uma nova estratégia pura atestar a validade da efctividade
sitivo protético e também o aparelho de diálise renal. O francês terapêutica: o ensaio cl ínico controlado com placebo (jã
Jean Baptiste Gabriel Joachim Daussettornou mais compreensível conhecido anteriormente) e o teste cego. Magnetizaram indi-
o isierna imunológico pela descoberta do complexo de hisro- víduos sem seu conhecimento e Iizeram pessoas pensar que
compatibilidade principal (MHC. major histocompatibitltv foram magnetizadas quando não o foram. A comissão con-
complex), A americana Rosalynn Su srnan Yalow desenvol- cluiu que não havia magnetismo animal. atribuindo os efei-
veu o radioimunoensalo.juntamerue com Solomon BcrsOI1.O tos do mesmerismo il imaginação dos indivíduos. Mais tarde.
americano Anhur Kornberg descobriu várias enzimas. inclu- o inglês James Braid (1795-1860) percebeu que o sujeito da
sive a D A polirnerasc. Os americanos Walter Gilbcrt e Rayrnond rnesrnerização estava num estado hipersugestionável e cunhou
Darnadian desenvolveram. respectivamente, o seqüenciamento o termo hipnose no processo.
de DNA e a ressonância magnética nuclear. Uma etapa final para a criação de um método moderno de
Nesse século. as escolas de medicina ficaram bem estru- verificação do benefício de um tratamento em particular veio
turadas e estabelecidas. A importância da pe quisa clínica do esrmiclsra R. A. Fisher, que insistia que somente indivíduos
como componente do ensino médico foi reconhecida em 1925 colocados rundomícarnenre ou no grupo tratado ou no grupo-
por Abraham Flexner. educador médico: ..... a pesquisa não controle (placcbo) permitiriam comparações estatísticas entre
pode ser mais divorciada da educação médica do que a edu- doís grupos. Arualrncntc. ensaios clínicos randornizados. con-
cação médica ser divorciada da pesquisa". trolados com placebo e duplos cegos. são considerados o padrão-
A pesquisa clínica. pela existência de eventos trágicos como ouro para a avaliação de novas drogas farmacêuticas, novos
o nazismo. formalizou o campo tia bioética. Apó o julgamento dispositivo médicos e protocolos de tratamento.
de 23 médicos acusadosde experiências brutais em sereshumanos, Como a comissão de Franklin relatou: "a arte de concluir
um código de I O pontos foi definido pelos juízes americanos pela experiência e observação consiste em avaliar as probabi-
que presidiam o tribunal militar. Desse modo. os experimen- lidades. em estimar se elas são suficientemente grandes ou
tOSnazistas acarretaram o surgimento do Código dc Nuremberg. numerosas para constituir uma prova... O sucessodos charlatõcs.
em 1947, documento fundacional da ética da pesquisa mé- bruxos e alquimistas e de todos aqueles que abusam da credu-
dica e da experimentação em eres humanos. que pretende lidade pública baseia-se nos erros desse tipo de cálculo."
proteger o sujeito humano de pesquisa. assegurando o con-
sentimento voluntário e antecipando que o resultado da pcs-
quisa precisa justificá-Ia. Apesar de sempre citado. o Código
PERSPECTIVISDI 'ES'IISI clIIICI
de Nuremberg pareceu ter pouca influência naquele tempo e Estamos no período mais produtivo da pesquisa médica, em
por mais de 25 anos não foi universalmente aceito pelos pes- toda sua história. Um fator determinante ao progresso da me-
quisadores médicos. dicina pela pesquisa clínica foi o investimento governamental
A história do consentimento informado não é nova. Em 1898. na pesquisa biomédica. Um outro investimento crescente é o
o Dr. Albert Neisser foi multado pela Corte Real Disciplinadora privado, da indústria farmacêutica. O sucesso dependerá. sub -
da Prússia por não procurar obter o consentimento dos pa- rancialmente. da parceria entre universidade. governo e in-
cientes para seus estudos experimentais relativos à vacinação dústria. De fato. as relações entre instituições acadêmicas e
contra a sífilis. companhias privadas estão se estreitando.
A declaração de Helsinque. de 1964. adorada pela A sem- Assim, é vital a correção dos problemas de interface. Novos
bléia Médica Mundial. lida com a importância do conheci- aspectos éticos. legais e oeiais são os desafios do futuro.
Pesquisa (/Inica • 27

. ", líllillltlS unos a pesquisa clínica se tornou um grande HEDtGER. E.: GOto. H l!ll' ether frulll I,,~c <Irum, ...nll etbcr from can labeled -r-or
ncgécio. principalmente os ensaios ctínicos de drogas. a pon- ~~,lh,·,H'" li III. \ I().I. r. 21.1.1·2248. 1935.
Kr-."n:-:O. 1'.: CAMBROSIO. \. [)(xo, biomedicine eraail lbe""'""ful n:duclinflof ralholog)
to de arnbav denominações quase se tornarem sinônimas. As 10\ h,,,I(1~y'/ 1''''I'''ll1r1 ia 8iulogy mlll iII"lil'inf'. \ .11.1'.357·371. 2()().1.
indústrias farmacêuticas c de biotecnologla engajaram invés- KIOUS. (I ~1. Thc Nurernberg Coée: ii, h;'IOI) anil ,mrhl'~I"M)\ I',II/In J. 8itJl!tl,.. I'•
tigadores clínicos de universidades no negócio da pesquisa .I. r. 1·19. 2001
LHJERER. S. E. Chi1d~n;h gU"lC~rig. h""l1'icIlII1<:r'I"ll\c AfI 1111111 I/es .. v. 10. p, 1·16.
clínica. o que levou esses invesrigudorcs a estarem cada vez 2003.
mais 1I~~ociados n conflitos dc interesses reais. A palavra-chave MARtNO JR . R (;ONi',ALEZ·PORTlU.O. M. I'I'CCOII(tUe'lperuvian neurosurgeons:a
atual é proteção ou resguardo, São alguns exemplos recentes: 'lU;]) "ftIlCII.I1,<1prc-eolumbsan trcphlruuion nnd lhe 3rl or medicine in ancicnt Peru

proreção do paciente '·I'I'.W.\ promoção do investigador em termos NrllTl"'''Ii(·(\·. \'.47. p. \140-950. 2000.
~IARTIN. \\'. J l'n)~,'C"ivc medicine. Etp. MoI. I'arlwl.. I. 7K. I' 218·!2O. 2005.
financcirov ou de carreira: definição sobre a protcção do cm- '_;A'n IA'I. O. (j : WEATII ERA LL. D. J. Acsdemic frecdom m chmcal re-carch, N. ""/11.
brião versus (I uso de células embrionárias: prorcção da con- J. ,\Irt/.. \ •• \.17. p. 1368·1371. 2002.
fidencialidade dos dados genéticos do pucicnrc I·C'/'.\·II.\· o OSLI:K. w. rh,.l:.lII/l11l1J1l oJMo<lrm .IIrd'C'lIIr. NrlV Havcn. Y31e Unllusily. 1921.
cqücnciamento gênico. SCIIECI tTER. A. No ~tCd'ClRC :.. " b,ol~) .oremore thun biomcd,elRc. NallI". Y. ~Ol.
p. 41.1.1''''1').
Existem questões fundurnentui-, ..obre a~ relações entre hos- SOMER\'It.U:. M A A 1'I"lmOtlcm m()(Ultale: tlte (lhlC\ of ~>c~rchrtI3.ionsbips. Nat.
pitais de en ..ino, departamentos clínico, das universidades c Rev.""'R 1)"'111:.v. 1. p. 3t6-320. 2002.
a indüstri«. que nfciam a comunidade de pesquisadores na me- SI KAL S.!>.M. U. 1 hc chrnatc for lhe culuvanon of chn,,·.1 re~ellreh. N. &1:/. J. Mtd., v.
262. p. HOs.g10. 1960.
dicina. As universidades e hospitais de ensino. segundo Somervillc, SWALI!Y. J. 1'.: ~OX. R. C. RClIIclIIbcrillg lhe "c.~d<n Yca,," ur p:llicnl.OfÍenled clinical
devem decidir cm que extensão querem se tornar comercializadas r."",;1Ich. P""I"rt1\tI iII 8i,,11I8),111111 Ml'tliânr. \ • .17. p. 4R7·S().I. 2QO.1.
e devem monitorar os efeitos que essa comercial izução terá cm TIMO·IARIt\. C. W,lúria dJ experimentação cm medicina. ln: CAMPANA. A. 0./11\""
suas pesquisas na confiança do público nessas pesquisas e na li~III,11l C'i,'nrlji,." 1111Áml Médica. São Paulo: Mannlc. 200!. CUI). I. p, 3.27.
TIIE NURE~IBERG eODE. 8T. ;IIttl. J.. v, 313. p. t448. 199(1.
liberdade acadêmica. WF.Lt.S.I·. C.: eRowE. T. Leonardo da Vinci ,1\" I'3r:W'~1I1for modem c1111ieaJresearcb.
O hospital deve possuir um controle adequado de mecanis- J. 7''''''''''''. Cnrdiovas«. SIIn:. \'.127. p. 929·9~.l.1(~.
mos para a rcali/ação de pesquisa clínica. Existem numerosos \\'ORLO ~tEOIC ,\LASSOCIATtOIo:. IIum:01lF.\I~rlllICnl~l1oo. Codeof crhicsoftbe World
exemplos de falh:L"sérias de suporte institucional. A"im. os contratos MClI,c.d A'''lo.iJliCln. 1),,( 11"",illll IIJ 111''';114,. 8r. MrJ. J.. Y. 2. p, 177. l%t.
devem ser aunlisados criteriosamente pelo, administradores e
advogados do hospital e da universidade. Devem-se examinar
todos os aspectos dos contrato com a indústria, bem como pre-
venir as relações entre seus pesquisadores c a indústria que pos- CAPiTUlO 3
am vir ii ser questionadas, O contrato ideal deve estabelecer
mecanismos de protcção da liberdade acadêmicu e da segurança
dos pacientes e os direitos dos investidores industriais.
O princípio de liberdade acadêmica na pesquisa clínica deverá
ser sempre respeitado. A, instituições devem proteger o direito
c o dever de seus pesquisadores em publicar os resultados de
Abordagem Pedagógica
suas pe ..quisas. A nenhum financiador. inclusive a iudúvtria.
pode ser permitido que se coloque de modo II prejudicar e es
direitos e deveres. os quais devem ser preservados.
da Pesquisa Clínica
Outra definição que deverá ocorrer em futuro próximo é
qual disciplina fará o papel de integrador na medicina e na Joaquim Edson Vieira
pesquisa médica. Anteriormente. a fisiologia possuía função
intcgrncionista. tinha papel central na ligação do cientista básico Mariano Janiszewski
com o investigador cl{nico, entre a bancada do laboratório e
o leilo hospitalar. Hoje em dia. muito~ ti~illlo~ista!> acreditam ,.... () dese/JI'olvimelllo do 1I0S,,'0 do de pC!lIsa-
III II11
que é uma dísciplina quase linda. poi~ acredita-se que tenha lI/ellfOSé, 111111/ certo selltido,
sido suplanlada pela di I'('iplil/(I /'educiol/is/a da biologia mole-
1111/(/ fllga (/0 milagre."
cul:tr. Outros. el1lrelant(). eSlão igualmente convcncidos de que.
x ALBERT EINSTEtN
"" com a IIlilil.açiio de nova:. técnicas. a \'elh:.l fisiologia simplt:s-
~ mente hU110U nova~ formas. conlO a biologin celular. esse as-
~ peCIO.com li qual concordamos plcnamente. a fisiologia nunca ..o II/étodo experimelltal é o método ciellt(fico qlle
::; esteve tão viva: são só outros nomes dados a ela. De qualquer proclulI/o (/ liberdade do espírito e do pel/samellto.
oe modo. h~í necessidade de ulna disciplina COIU função inlegr41- Ele 1/(;0 ... admite LImaalltoridade cient(fica pessoal.
cioni!>ta. mas ainda não c>.tá claro qual disciplina poderr. de- O método ciell/ífico não é objeto de orgulho e jac-
sempenhar c:.se papel.
tância: (10 ('o/ltrdrio, o experimentador faz um ato de
BIBLIOGRAFIA hllmildade {lO /legar U liLI/aridade pessoal ...
ASSOCtATlON OFA \tFRICAN ~1t:DICALCOLLEGES TASK FORCE ON CUNICAt. . (' .\·lIhllll'le(/ {/lIlOridade dos homens ti da experiêl1cia
RE.'iEARCII ~(KX)(1999). Wa,hinElon. \'01. I.p. 3. . e ii das leis da natureza."
DIt.L K A SU(n8Ihcnlll~ hiol1lcd,c'll<: 1'OOt.>. ,\'alll"'. \'. 4()(). p. .1(),)·~IO. IY'),).
FLEXNFR.A . .II,t/" "I EJII,,"ill/l:" com[1<Jratil'e Jlud....NclYYori: lhe Mx ~t,lI.n. 1'.125. CLAUDE BERNARD
FOX. R. C E.\(1<'I1nICnl rcnlou': fony·fiw }t>3rSas. ranlCipll1l1llb-.cl'\crof r~ucnl-orienll'(j
chnical rc-C3lt'b. PtrllN'C'I. 8iol. 11/,<1•• \. 19. r 20(l·22C,. t'.l'/6
FREDRleKSO~. D. S OlOmcdic31 rcsc3rth IR lhe 19MO\. N. I.JI~/. J. ,lkJ.. \'. 3().1. INTRODUÇlo
p.509·517. 1981
GAUDILLlERI:. J. ". 1111'"'" III 111II1IIfrlu-lllr.Lo fremct. 1'11111':"'/'"' rt lo ProdUC'I;OIl A pcrgunta mnis comum em uma con~ulta de saúde é aquela
II" Slm,lr. II" 1'1111111 f 1'145 I 96S}. P~ns: l:l DécOtl\cnc. 2002. quc procura comparar os efeitos de um tratalllento com outro.
GREEN. S. A. '1II<!1j(1~1II'ollnodc'l11 c"nical ~scan:1L C/IR. Onho".. \'.'105. fl. J 11·11\1.!002.
GREINtR. T.: GOU). II.. CAnEL. M.: lRAvELL. J.: BAXST. II.: RtNZU:R. S. A
Embora a medicina ~e desenvolva pcla observação clínica cui-
lllClhOOfOI lhe c\'aluallon of lhe eITecls or drug< 00 cardlilC 1\l1lnln p:,"<nl' "ilh dado~a c COllsta"tt:. os muitos fatores envolvidos decorrentes
:1O~in:,011 eITort. Am. J. MM .. \'.9. p. t4:1·t55. 1950 dos pacicntcs ou da propostas utilí7:ldas terminam por sofrcl'
28 • Tratado de Clínica Médica

classificações. Estas, por sua vez, são a base da experiência do persuadir e discutir. São essas habilidades que fecham o ciclo
profissional em saúde e dos estudos clínicos. da literatura, de certa forma "onipresente" durante a produção
Os estudos clínicos podem ser considerados observações sobre científica, a investigação clínica ou experimental.
como um medicamento ou tratamento "funciona" no paciente. Dessa forma, os fatos originados das codificações e lei-
Com esses estudos, profissionais de saúde podem encontrar novos turas constituem enunciados. No entanto, nenhum destes é
ou melhores meios para promover li saúde, prevenir ou diag- emitido sem referência a-documentos existentes que formam
nosticar condições de risco ii saúde e tratar ou controlar doen- a literatura científica. Nesse aspecto, os fatos são construídos
ças. No entanto. urna nova pergunta pode surgir: quais as evidências a partir das investigações, que são determinadas por quatro
de que uma proposta terapêutica é melhor que outra'? tipos principais de trocas entre os investigadores (Tabela 3.2).
Sob essa pergunta. a moderna prática médica encontra uma Interessante notar, novamente, que o processo misterioso de
intensa e apaixonada discussão envolvendo dois métodos de pensamento utilizado pelos pesquisadores não parece ser muito
estudos clínicos muito utilizados: ensaios controlados e aleato- di ferente dos meios postos em operação para fazer face aos
rixados. ou rundornizados, c estudos observacionais com gru- acontecimentos do cotidiano, ou seja, idéias e processos de 00

pos-controle não randornizados. nos quais à escolha de um pensamentos individuais resultam de condicionantes sociais ~
grupo para o tratamento proposto é deliberada. É interessante materiais ou coletivos ou estão sob eles. Assim é possível afirmar ~
notar uma hierarquia entre esses estudos ou seus resultados: que o julgamento sobre carreiras e indivíduos pode influen- ~
estudos rundornizados podem conferir maior êxito, enquanto ciar na apreciação das suas hipóteses de investigação. ~
opiniões de especialistas ou relatos de casos se associam às A atividade do cientista é, portanto, dirigida não para a
menores evidências. Os estudos de observação com grupos- "realidade" de um fato, mas para operações realizadas sobre
controle situam-se entre esses dois parâmetros (Tabela 3.1). enunciados relativos ao fato, incluindo eventuais interpretações
Embora se corra o risco de não promover o final dessa dis- socialmente condicionadas. Os pesquisadores esforçam-se por
cussão, provavelmente a melhor forma de considerar os dois fazer do fato um dado, necessariamente como registro. Esses
principais modelos de estudos e seus resultados seja conferir registras fornecem um meio de criar ordem e assim aumentar
importância a ambos, que assumem papéis complementares e a quantidade de informação.
não exclusivos. Estudos observacionais, por exemplo, têm es- O que essa informação gerada tem de útil é que permite a
paço em situações nas quais ensaios randornizados poderiam criação de uma nova informação. Nesse ponto, a atividade
sofrer imposições éticas'. científica assume um ciclo notável e com similar económico:
Mas qual é a lição que se pode aprender nesse vigoroso os fatores predecessores alimentam os seguintes que completam
e interessante debate sobre a melhor ou mais segura evidên- o ciclo. A formação de um ciclo sem fim pode ser encarada
cia de êxito clínico? Sugerimos como primeira leitura pe- como responsável pelo êxito da ciência. Ou seja, os enuncia-
dagógica estudar a produção dos fatos científicos na área dos científicos adquirem valor de troca que permitem sua con-
médica ou biológica. a partir das observações de um etnógrafo', versão cm novo reconhecimento e financiamento, acelerando
Sem querer desestimular a continuidade da leitura, a etnografia o ciclo de credibilidade (Fig. 3.1).
está para as ciências humanas assim como a anatomia para Mas. muito além de testes. dados e enunciados, a investi-
a medicina: é descritiva. gação produz habilidades. Os membros de uma equipe que
adquirem essas habilidades podem exercê-Ias em outros lo-
ETNOGRAfiA DA CllNCIA cais. em outras investigações. Ainda assim, a habilidade será
Quem fala de ciência são os próprios cientistas. Ainda que um meio para se chegar à finalidade última da investigação:
pareça óbvio. essa afirmação pode ser II origem das opiniões o enunciado traduzido como artigo científico.
muitas vezes irreconciliáveis, mesmo entre os próprios cien- Descrito, então, um modelo de ambiente de produção em
tistas. Para um curto exercício considere a frase (factual) de ciência, uma nova lição pode ser considerada. Sugerimos como
um economista: "somente empresários podem dizer o que são segunda leitura pedagôgica observar ii educação e suas estratégias
e o que querem da sociedade", principalmente em tempos de de aprendizado, uma vez que o ambiente descrito parece pro-
direitos de consumidores. . duzir um bem possivelmente maior que alguns enunciados: ha-
A produção dos fatos científicos passa por um princípio bilidades ou ainda mais considerável, pessoas com habilidades.
simples que dá sentido à atividade de um laboratório de inves-
tigação: a literatura, ou seja, artigos oriundos de fora do labo- APRENDIZ DE fEITICEIRO
ratório (em outros laboratórios") e aqueles produzidos no
laboratório. Esses últimos resultam da própria rotina de inves- Na história do êxito do ser humano, a aquisição de habilidades
tigação que ocupa seus ati vistas: codificar, marcar, ler e escre- se inicia muito cedo, já no processo de obtenção de proteção
ver. Pode parecer óbvio. mas esses princípios são a base sólida, e calorias de seus pais. É interessante notar como essa obviedade
profunda, do alvo final da atividade de investigação: saber escrever, pode ser rica: progenitores são os únicos interessados em oferecer

TABELA 3.2 - Produção dos fatos de unia investigação


TABELA 3.1 - Graus de evidência de acordo com o desenho
do estudo MOMENTOS MODALIDADES DETROCAS
GRAUS DESENHODO ESTUDO Discussão sobre fatos conhecidos (referências)
pertinentes ao estudo
Estudo clinico controlado randomizado 2 Direcionamentos ou modos de executar
It-l Estudo clínico controlado não randomízado procedimentos e testes do estudo'
It-2 Estudo de coorte ou caso-controle, preferencialmente 3 • Discussõesteóricas de reduzida aplicabilidade
com dados obtidos em mais de um centro de tratamento ao estudo, mas gestando possíveis
It-3 Relatos de casos ou série de casos, com ou sem a investigações futuras
intervenção proposta 4 Discussões sobre outros pesquisadores, do
III Opinião de especialistas com base em estudos fisiológicos mesmo assunto ou área, notadamente sobre
ou modelos animais. Comitês de especialistas credibilidade .
Pesquisa (IInica • 29

Leitura Assim. o processo de aprendizado parece envolver, de início,


um condicionante de igualdade. por exemplo, entre crianças
Reconhecimento ~ da mesma idade. ou seja. crianças querem ser iguais a outras
crianças e não iguais a adultos. Esse comportamento, embo-
ra não se possa garantir que se perpetue. pode influenciar
outras formal> de aprendizado. fazendo com que urna pessoa
Dinheiro se veja rnai-, confortável entre outras que conhece ou que
compartilham suas "leituras" do mundo. O vínculo que pro-
curamos fazer com cs: e provável comportamento evolutivo
e de adaptação ti sociedade visa enfllti~.ar que o processo de
aprendi/agem. cm qualquer área. passa pela imitação.
Figura 3.1 - Ciclo da produção cientifica: a informação gerada
de dados permite a criação de uma nova informação pela gera-
ção de argumentos, descritos como artigos. Nesseponto a ativi- Estratégias de Aprendizado
dade científica assume um ciclo notável de similar económico: os
fatores predecessoresalimentam os seguintes que completam o Dev-a forma. se o aprendizado pode ser alcançado pela ex-
ciclo. Osenunciados científicos adquirem valor de troca que per- po ..ição de atitudes e modelos, ainda assim. ao longo dos
mitem sua conversão em novo reconhecimento e financiamento, anos 1980 a 2000. os esforços de educadores foram dirigi-
acelerandoo ciclo de credibilidade. Adaptado de Latour eWoolgar2 dos para o que se considera aprendizado definitivo, no sen-
x tido de dominar Ulll tema. inclusive para futuras revisões ou
,;,
a- educação continuada. Para alcançar esses resultados, o tempo
li( os itens anteriores. o entanto, quaisquer outras i n formações e os recursos para instrução devem ser avaliados. Mais cla-
~ ou "bens" não devem necessariamente provir dos pais, mas ramente. meta ou objetivos ou nível de aprendizado devem
;:;; de qualquer parte do ambiente em que vivem. se possível da ser os mesmos para os aprendizes. O que deve ser permitido
melhor fome. Somos equipados com esse mecanismo de procura, variar é o tempo para atingir esse nível.
para obter o melhor para nós mesmos. Segundo Blumberg et al., as dimensões mais valiosas e
Assim .. e podemos assumir que o processo de aprendi- consideradas pilares na medicina - resolução de problemas.
zado é observar e obter o melhor. um debate inicial pode conhecimento (médico e além deste) e habilidades c1ínicas-.
ser abordado. O que pode er melhor: "bens ou genes" têm seu espaço garantido de maneira inigualável e de forma
(mais bem entendido no original cm inglês: nut ure versus intensa durante o período de treinamento clínico". Internato e
"UI't/II'I')''? Talvez O melhor exemplo para interpretar esse residência médica são conhecidos períodos de treinamento clí-
debate. de modo muito prático. a experiência desenvolvi- nico sob supervisão. porém. mesmo ao estudante de medicina.
da por um profcvsor de psicologia nus anos de 1930. na cm seu primeiro ano de faculdade. ~ possívct c proveitoso ob-
Univcrxidade de Indiana. nos Estados Unidos. servar () atendimento médico aos pacientes como UI11 método
cstirnulnnte para uma aquisição melhor ou mais crítica de co-
Donald dos Macacos nhccimcmos e de habilidades. além das clfnicns, de relacio-
Em 19:\I. a f:lmília do professor Kellog ganhou uma "irmãxinha" namento imerpcssoal'.
para o pequeno Donald. na época. com 10 meses de vida: a Durunrc o, período), de atendimento sob supervisão (interna-
chimpanzé Gua com sete meses e meio de idade (o que a apro- to) ou aprendizado em serviço (residência médica). quatro prin-
ximava do desenvolvimento de Donald. pois os chimpanzés cfpios ewatégico~ para o aprendizado podem ser contemplados:
se desenvolvem mais rapidamente em sua infância).
Desde o primeiro instante, Gua foi tratada corno UII1 bebê • Atividade : oportunidade de observar, entender I.! aprender
humano. Ela não foi acorrentada ou enjaulada. Recebeu roupas um tópico ou adquirir uma habilidade, seja pelo fazer
c sapatos de bebê. treinamento para usar "piniquinho" e para sob upcrvisão. seja pelo ensinar corno supervisor.
escovar os dentes. a mesma comida de Donald e foi subme- • Conhecimento: o entendimento de um processo de desen-
tida aos mesmos horários de alimentação e banho. Ambos se volvimento de doenças ou de promoção da saúde, que
divertiam corno irmãozinhos e toda vez que um chorava, recebia reforça a execução de uma atividadc e a eventual crítica
o consolo do outro com tapinhas ou abraços. do proce o.
Abreviando a descrição desse experimento em psicolo- • Propôsito: esclarecer o motivo. as razões ou os objetivos
gia. ele terminou quando Donald tinha 19 meses, com uma da atividade. bem como da necessidade do conhecimento,
clara liderança de Gua nos jogos promovidos pelos "pais". aumenta o interesse de quem se envolve no processo. ins-
Os Kellog tentaram treinar um chimpanzé para parecer um trutor e instruído. porque torna mais abrangente li janela
humano. ma) terminaram por treinar um humano para pare- de oportunidades de entendimento que se abre para os envol-
cer um chimpanzé. uma ve« que Donald vinha repetindo alguns vidos. talvez até mesmo à pessoa não módica participante.
gestos de Gua com mais Ircqüência que o contrário. No entanto, • Responsabilidade: reforça o papel do estudante, da pes-
essa conclusão não carrega nenhum demérito. pelo centrá- sonoda instituição e da sociedade e o conceito da importância
rio. dei-cortina uma da~ íntcrprerações pum C) desenvolvimento do processo de aprendizado em serviço e de pertencimento
da espécie humana entre tantas concorrentes. O homem. assim a essa sociedade que valida o aprendizado.
como Donald demonstrou, tem uma imensa capacidade de
imltaçã» do que vê entre seus pares ou competidores. O que O treinamento clínico. portanto. em nodo se distancia e deve
garante seu dcvcnvolvirncnto. possivctmcnrc sua evolução. entender. enquanto suporte teórico. a noção cstnbelccida por David
são as nOV;I\ informações do amb iente e sua própria capa- Ausubel de que o faior isoladamente mais importante que influ-
cidade de interpretação da importância destas. bem como even- cncia o aprendizado ~ aquilo que o aprendiz j:í sabe, isto é. o
tuais tentativa, distinta» (e moderadas) oferecidas pelo grupo aprendizado mais significativo ocorre quando urna nova infor-
que o acompanha. Bens e genes se completam melhor do que mação se conecta com um conceito relevante j~ existente ou conhecido
competem. Para registro: Donald creseeu bem e graduou-se pelo aprendiz. Virgínia Schall, de forma bastante elegante. dis-
em medicina pela Harvard Medical Schoo!'. cute esses aspecto enfatizando a necessidade de popularizar a
30 • Tratado de Clínica Médica

ciência e seu processo de construção do conhecimento cicntífi- Ao descrever as atividadcs de um cientista. ele considera
coo pois considera os avanços dele decorrentes c sua repercussão importante que haja inclinação para procurar ti verdade das
como tecnologia". A ciência pude "desencantar" o mundo. cm- coisas tl111profundamente quanto for possível e de modo que
bora ainda haja espaço para se afirmar que "a verdade da ciência a jornada pareça razoável e provável a outros que a aceitem.
é a verdade para quem quer a verdade da ciência". Esse brilhante texto. no entanto. pode ser lido na história da
O método científico pode. portanto. explicar o mundo a educação em pesquisa: na qual os requerimentos formais a
sua maneira. Na área da saúde, ele encontra aceitação por co- respeito da proteção de seres humanos estavam contidos na
incidir notavelmente com a atividade de um grupo social le- noção de que um pesquisador deveria estar adequadamente
galmente constituído: os médicos. Pelo fato desse agrupamento qualificado de acordo com os padrões apropriados (grifo do
social atuar em estreita correlação com todos os outros. os autor). Para tanto. orientações e declarações foram publicadas,
médicos podem tentar definir necessidades sociais que não as porém sem especificar como adquirir o s(a(IIS de "adequada-
suas próprias. Seus estudos podem revelar-lhes uma identida- mente qualificado".
de com grupos sociais e. "0 assumirem esse papel. podem Declarações COl1l0 a de Nurembcrg (1947) e de Helsinque O<

pretender ser os interlocutores de demandas de grupos pouco (1964) sugerem que as pessoas qualificadas. clínica ou cien- ~
orgunizados. Desse modo. poderão não estar comunicando rei- tificarncntc. também tenham qualificação para garantir que ~
vindicações lcgüimas dos outros grupos sociais com os quais os participantes de pesquisas estejam protegidos do ponto de ~
interagem. O resultado, no limite dessa intcração. é que a vista ético (Tabela 3.3). Estudantes. prcsumivclmcntc, aprcn- '('
organizaçâo social. em seu sentido mais amplo de sociedade x
dcm tu is qualificações de maneira informal observando seus
civil. pode ser retardada ou mesmo não ocorrer". professores ou tutores. Essa postura não parece II melhor for-
Finalmente. descritos um modelo de ambiente de produção mação, nem a garantia do seguimento de preceitos éticos. As
em ciência e suas estratégias de aprendizado para produzir pessoas respostas para isso devem ser o treinamento e II educação em
com habilidades. sugiro como terceira leitura pedagógica questionar bioética de todos os que se envolvem com pesquisa, princi-
o envolvimento da ciência com a sociedade pela aceitação da palmente pesquisa clínica. mesmo que se abordem temas de
bioetica. cujas conclusões decorrem de interpretações sociais. difícil mensuração como a certeza de proteção à pessoa",
Dois temas recentes nesse debate da ética cm pesquisa se con-
CONSElHOS AO JOVEM CIENTISTA centram no termo de consentimento dado pelo participante da
Em seu livro intitulado Advice to a YOIIl/gScicntist, Sir Peter pesquisa e na continuidade do tratamento investigado após
Brian Medawar, detentor do premio Nobel de medicina de 1960 término do protocolo de pesquisa.
pelodescobrimento de que () sistema imunolõgico do feto aprende A necessidade do termo de consentimento baseia-se nos
a distinguir () que é próprio cio que não o é (self - nonself), princípios éticos de respeito ti pessoa e da dignidade do ser
justifica seus motivos para tal redução como oriundos de sua humano, Formalizá-lo significa respeitar a autonomia das pes-
intensa e constante inrerução com estudantes e cientistas. de soas. ou seja. a capacidade de considerar opções. fazer esco-
variadas idades'. lhas I! agir sem nenhuma influência indesejada. O participante
deve ser informado a respeito da natureza da pesquisa em que
pode participar, entender completamente essa informação prestada,
TABELA 3.3 - Marcos históricos da proteção aos seres tomar sua decisão voluntariamente e sem ônus de qualquer natureza,
humanos em pesquisas (adaptado de Rosembaum') para si ou para o projeto, e declarar por escrito que deseja participar.
ANO DE A apresentação de um termo de consentimento informado con-
DECLARAÇÃO PUBLICAÇÃO DESCRIÇÃO diz com o Código de Ética Médica (CEM), Capítulo IV - Direitos
1947 Código de condutas em
Humanos, no qual é vedado ao médico:
Código de
Nuremberg pesquisa - originadas após
julgamento de mêdicos e [Art. 461 Efetuar qualquer procedimento médico sem o escla-
pesquisadores associados recimento c o consentimento prévios do paciente ou de seu
ao nazismo resporisãvel legal. salvo ':111 iminente perigo de vida,
Declaraç~o de 1964 Associaç~o Médica Mundial, O consentimento informado. da Resolução nQ 196. de 10
Helsinque com última redaçác em de outubro de 1996. do Conselho Nacional 'de Saúde, prevê
2000 que o paciente deve ser informado. ouvido e, só então, prestar
Texto Belmont 1979 Publlcação americana o seu conscmimcnto. É interessante observar ainda que"o con-
(National Cornrnisston for sentimento esclarecido do paciente apresenta-se como a me-
the Protection of Human
dida mais eficaz no que se refere ao gerenciamento de riscos
Subjects of Biomedical and
Behavioral Research)que de conduta. A prévia informação ao paciente sobre os riscos a
Identifica principios como que irá se submeter consiste não apenas cm direito fundamen-
respeito à pessoa, tai dele como também em importante instrumento de preven-
beneficência e justiça ção de questionamentos judiciais"'~ É essencial lembrar que
Requerimentos para 1989 Documento do Nationál 9 encontro entre o médico e o paciente é uma das mais com-
estagiários Institutes of Health (NtH) plexas formas de relacionamento social, provavelmente de-
obrigando treinamento em corrente do encontro de duas subculturas eventualmente muito
condução responsável de
pesquisa financiada por distintas. Médicos e pacientes falam de forma diferente sobre
esse6rgao o corpo e seus problemas. o que pode acarretar a perda de
informações importantes ou o desvio de [nterpremções".
Requerimentos para 2000 Documento do NIH
pesquisa com solicitando treinamento em A continuidade do tratamento investigado após o término
seres humanos bloética incluindo do protocolo de pesquisa deve ser entendida como responsa-
monltoraçáo da pesquisa, hilidudc dos pcsquisadorc e não deve ser comprometida. No
conflitos de interesse e entanto. a natureza desse tratamento ainda é controversa. A
penalidades civis e declurução de Helsinque (revisão de 2000) determina que todo
financeiras
paciente que participa de um estudo clínico eleve ter assegu-
Pesquisa Clínica • 31

rado o acc,," alh melhores lIléwdll~ pronlauco. dla!!nó'lico CONSIDERAÇOES fiNAIS


c terapêutico ulenuficudov no estudo, Porém, cv-e Ic\IO não
,\ pc'qui'a clínica requer UIII",ohda ha\C bioéticu como forma
nccevvanumente ,I"C!!UI.I rcspunsnhilid ..dcv vobrc a' pessoas
de euconuur o r\'!'paldu da -ocredadc.tamo para ),eu~pesquisadores
ou grupn' Cl1lhldcl.ldn, controle ou fi comunidade da qual os
CUIIIOpaI':! o reconhecimento de 'cu, rcsultudos. Estes. por
volumãrk» tenham "do convidados".
'lia \'C/. podem gerar tecnologia em saúde com retornos social.
Muiu», cstudov clüiicos têm apresentado Mo!U' formulários de
económico c humano pela educação que tem como basc u atividade
consentimento com textos esclarecendo os po\:.í\l.!i, riscos, c
supervisionada, com propósito claros. e que é dirigida pela
benefício!' durante o estudo. Nada declaram. porém sobre ()
rcsponsubi Iidade. Por fim. a formação I!Iica e responsável do"
que pode ocorrer após o final do estudo. A di'cu"ãll com panici-
profi ssionaiv de saúde e pcsquivadorc-, garante que os rcsul-
pentes ou com sun comunidade de origem deve :.cr conxiderada.
lados muis udcquadov da iO\c'ligaçãu cicntfficu promovam
ainda qUI!outro qucvtiou.uncmo po:.~aresuhur ÔC"" evposição
igualdade de uportunidudcv ;1 -ocicdadc. a qual financia mo-
de motivo-: tlC\ c-ve C\ 11M prometer evento- que podem in-
rai c ccunouucumcnte e":I all\ id.ulc.
flucnciar IldC'CJClpara participar (arnccipação de um "premio").
Sob UIII pnnlu de \ 1,la éIICO. a' medidas PO'\(\ ci-, ao final de REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS
um c,ludll. \III IIIC, 1110 a auvênci« dC~la:.. devem ver clarumcn- 1IA10!lN. ~ "ho.h, 'n .... I" IJ,.., rh" kk 1""""" ,'1o.kn. c o/lIIJ •. 111:2~~·2~(,.
te di,cuIIIJ.I' 1/1111'\ do estudo ser iniciado. !fllH
lntercvvantc notar que a mesma Re,nluçlio n" 11)6. de lO I,AI'(JIII(. II" \\(X1LC.\R, S {\"I,,,lr /.,/.,,,,,,,,,,. "/.,,,1"1,11111/1\ I,,,,,, "/I,,,,i.
de outubro de 1996. do Conselho ucionul de Saúde. prevê: /1,os. 1(1,.tI<' J'IO~II'\I R,lum..- Oum.ola. 19'17
.1. IIAf(I(IS..I, 1(. III1'.vurtuf< \"""'1'111111 "h, ,/,,1,1,(11 1111" ""II11r lI'III'IIIr.l'flll, New
V{)O'~: 'luuclwtouc. I'.I'I~
.11/.3./11) !!.lfanlirqllc as pcsqllba" CIIIcomunidndcs. vernpre
que pl"'Í\cl. traduvir-sc-âo cm bencfíciov cujos efeitos
J IlJ.llMIlI',IW,I' .. C'Oltl'.G" R'" '.C .Slllll\"'\I,I~L.Al1aly,bofacodc01ic
I'".hl<-III' CII""lIlIlc, c,I"~ ",,-.10..1\1uJ..'III' T,,,<iIIA IIfll IlrJ, I, (,. 11. 2. 96-10 I. 199-1.
continuem a 'c Ia/cr sentir apé ua conclusão. \'IFIR,\, J 1:.: "UNr·~.\I P T_ \I \RTlV;. \I A. Dtrc"IIOS ,lude"1 respoose 10
• 111.3./1) gurantir o retorno dos benefício obtidos por meio (3r1)' 1"'"""1 ,~'''I:I<I ,,~ q.a""""""'K. UrJ. EJu('.. \.37. n, 2. p. 119-125.1003.

ôa' pc-qui-a-, para as pessoas e as comunidades onde I> "'010\1.1 .. V s.:,~",-eedu..-:moo_ popd:Inzauooof..ciencein lhe biomedical area;
", role 1MI"" fUlUreof íCleO<.--e :md o( ~"'I~. \lrno tna. Or"'a/I/I> CI1I:' 1.95.
Ioram rcalizadav. ,urrl I. r. 71 77. 2OCKl.
7 \ II IRo\. J. L Definição de ~'id.de, .........
" rara I> c,,,il1nlllédicl>. RI": BIIlJ
Em convonúnci.i com ..:~~cs dois 1":111:1'. embora 1I:i1l rela- /.,10... 11,.,1. I 27." 2. r 151·115. ~.H
cionado. há lO :1110' um clamor foi rcgivrrudo: A/I,II"n: t /('(/11 ~ ~II I)0\"·\R.I' n,",/, ii"uru I,,,~. ~" '., , c" '''I~ 1I11,1c1l(".~,IPcr,etl'.1979
"p yuur art! (Ka) Dickervin), que pode ser cnrcndrdo como 9 ROSI:NIlAI ~I. J R. EoItI<"'III\~ r<-ar.hel' Ilhl" .11111III,' 1"llI"cllun of human
".. " .. ,,\'1\ 1',0111,,1"""\, ('III (',m II.. J. '"1'1,1 • 1''' fi I ~ 1M, 20fl.1.
"Scnh()rc\ 1>C't1ui,adUlé'. cxponhllm scu" ml!lIldu' c ôaôo ..... '.
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cu "ali ,obre élica da pc'qui1>a clínica. </1~lhc) '" I lIlIlI ,\. <, <III I VbnF.IJ)J
FIO"lmcnlc. pode l>cr\ alio~o recuper:.r a hi,llÍna dI) .íciôu 11 110100'. R I)JI.rr r J'r.k'tl«. T1trt..,m" I \.I~ n ~~~(I. 1', 1499. 1993.
:u:clí"alicíllco cm ,>uanotá\'el indicaçàu CUIIHI:mllagrcgalllc IJ ~1l11:111 K. K I .. SCHElDT. <;.11"1,") ,.r1lN ,f." Ihl.'mlol~lc dí",n\~; dí\CQ\CI).
plaquelário. O parágrafo prelende re\er. dc lorma pllore<;- d~lcI"I,")Cnl.• nddlll'\:IKl1br,1flbd..llII( C'" '/"'Il!n I "'1.n l.p.4)2·449.199-I.
ca c con~ider3ndo o rcgi:>lro escrito da lileralura médica. a
importância relaliva que clínicos. inve~ligatlorc;, ou não. podem
enconlrar l'1ll ôe,criçüc, dc caso!> l'01110 origem. virtuais de
en~aio, dínic(h definilivos. Esse medicamento. no início do
CAPiTULO 4
,éclllu XX. "c\Jllntliu" dadas as suas propriedades anlipirélica.
unalgé ...ica c allliinflamalória. Ainda a,,~im. em 1891. BinL
já h:1\ ia nUlado lIIaior '''Ilgralw::nll) de IIIUCll\a, CIII pacicll-
IC' wmandll c"e medicamento: cm 1943. Karl Linl.. puhli-
cou nula, '"bre c"n alÍ\ idade IIl11icnagulalllc.lmrém furalll
Métodos Qualitativos
~ con"idcradJ' erellO' cul:'lcrllis c. elll 11)46. nll\ 0' relalo"
~ de ~cu, ch:lln, rcuu/lIHJu ;, pfUII'Utnblna hUI"" telto, pur
;:. Goven. CIII 11)4)\. ,eu u'o CIlI11I1IralalllClI1ll ôc doença ...
::: \a,cularc\ 1111pmJlo'lll por Gih~llll. Finalmenle. Cra\'en .
na Pesquisa Clínica
.I:" no início do' :tnu, de ItJ50. publicou nlgun~ arligo~ enl UI11

ob~cum pcrilídÍl'1l do ~li:.sissipi relawndo a prolcção I:on- M,ircia Faria We tphal


tra infarlo du lIIiocárdio pelo uso cio ácido acclil,alicílico
em série~ dc 400 e. depois. de 800 cm scus pacientcs. ain-
da a",im sem repercus ão. provavelmente por cau~a da regiona- INTRODUçlo
lidade do periódico ou da sua simplicidadc ou do dc~cuido A lileralura c as COI1SI3Iaçõe"feita, a partir da vivéncia prática
de seu~ dado,. C(lm :1\ ançolo lia de~CllbCrla dc 'cu, mcca- lêm condu.liôo pe ...qui!.adorc~ a \crilicar quc. para ti equacio-
nbnllh de açãll ,obre a ,illlc,e dc prnlaglantlina' por Vane namento dc prohlema, dc ,,,,idc. de 'IIJClhh individuais ou de
(prcnllo ~()hcl dc 11)1'12,. duranlc a dél:ada de 11)60. c no- cnlelividadc,. cm qualqucr :.çãll dc Jlmmoç:io. prevenção. Irala-
\0' c'ludu, dur<lnlc (I' "no, de 1970. c,~a \ub\lãncia pôdc melllO. planejamenlll nu :J\'aliaçãn dI) c'lado de /omíde. é ne-
Jlcançarll 1//11111 de cfic:kl.1 cOlllprov:lda na Icrap,:ulica prccncc ce~slírill ohlcr 1I.ldu, dc,cnll\o, dc nalurc/a ()bJcIÍ\a c quanliluliva
tio IlIlarlll 1I11millclírdi" CIIII1 li c:.ludll ISIS-::!. puhlic.IÇãll c levur CIIICUllla a 'lIbJCIÍ\ idade do, ,uleill,....
de 11)1(1(1' Scn.1 pll,sívcl c()n~iderllr que li pr:ilica da lI1edl- DiICIll vlÍrill1>auwrc, ~quc. 'c lIãll \C cOII,idcr:II'CIII pcr-
cina 'c hcnellci:lfla ao valorinlr II rel:110 dc I XI) I (lU () ÔC ccpt,:õcs, clln hecimcnlCl"_ reprc'Clllaçile'. \ alnre~. aIiltldciI c
1946 (lU 0\ C'IUÔ(l~ dc CravcII 1I0~ tlllO~ de 19S0. CIII ,cuJo crcnçus tia população. do, pfl)fi"i()ll:li~ c do, fUllcioniÍrios que
pr6prio~ lempo,'! O que potlc ler fallado para lanto'! panidpalll das açõc\. alt!m dc lodo!>0' cnvolvido, 110cuidado.
32 • Tratado de Clínica Médica

no problema ou programa. poder-se-à ter êxito nas açõe . mas Patton? afirma que os inquéritos qualitativos cultivam o que
há grande probabilidade de que algo falhe no equacionamento há de mais importante na relação entre os homens - a capacida-
do problema c também na sua solução. de de aprender com o outros -. à medida que enfatizam a COIll-
Até hoje. a maioria dos médicos. seja no tratamento das doenças. preensão e II interpretação do significados de lima experiência
seja nas áreas de clínica elou cirúrgica. seja na produção cientí- por aqueles que a vivem. possibilitando o confronto destes com
llcn. se preocupa em fazer uma avaliação objetiva do estado de os conhecimentos científicos e. supostamente. com a reconstru-
snúdc do cI ientc, guardando a necessáriadistância durante O processo ção desses conhecimentos cienuficos a part ir dos dados ernpfricos.
de comunicação. para manter a neutralidade cienufica, que é essencial Hngueuc! chama a atenção para o fato de que a ciência
para diagnóstico e prognõsiico precisos. bem como para truta- moderna. com seus quatro séculos de desenvolvimento. foi res-
mente adequado à~ nccesxidades biológicas desse cliente. ponsável pelo progresso material atingido pelas sociedades
O uso comhinado da, abordagens qualitativa e subjcriva avançadas de hoje. Apesar disso não foi capaz de exterminar
como Iorrnu de ampliação do escopo de análise pode ser con- us desigualdades sociuis e os sofrimentos humanos dela decor-
siderado não cieruffico. poi requer que () médico-pesquisa- rentes. Segundo .1 autora. a ciência está presa à contradição
dor ,ç uprox i111e do sujeito de estudo, pcnctrnndo na subjetividade de ser uma produção do homem, de sua grandeza e de suas
deste e das relações envolvidas no problema e na sua causa- misérias". O advento da metodologia qualitativa também não dará
lidadc. Exige que ele tente captar a dinâmica e profundidade das conta dessa grande tarefa. mas ajudará a tornarem mais claras
suas relações com outros indivíduos ou com o contexto em as causalidades social c psicológicu do processo saúde-doença
que vive. interferindo na manutenção da neutralidade cienrí- e permitirá a reconstrução do paradigma biologicistu. que orienta
fica perante o fenômeno estudado e o sujeito em tratamento. o tratamento a partir de uma ciência descontextualizada.
Entretanto. e 'se ·ujeito. inserido em uma família e em uma socie- Um dos motivos pelos quais terá dificuldade de realizar essa
dade. tem suas condições de saúde, determinadas não sõ por tarefa será o fato de esse tipo de metodologia não ser infor-
suas condições biológicas, mas também pelas condições psi- mado ernpre por um mesmo referencial teõrico e de alguns
colõgicas e sociais que favorecem que a doença se inicie e tipos, mesmo utilizando a abordagem qualitativa, fazerem uma
permaneça ou progrida. como chama atenção Minaycr'. interpretação conservadora da causalidade dos problemas.
Diante desse desafio. ainda para manter a neutralidade, a comu- A característica comum do referencial orientador da metodo-
nidade científica das áreas psicológica. social e etnográfica aju- logia qualitativa é utilizar uma perspectiva geral diferente do
dam aos médicos clínicos ou aos dedicados iicirurgia a transformar positivismo e do estruturalismo. uma vez que teve suas ori-
o fatos psicológicos. sociais e culturais em indicadores objeti- gen na visão de sociedade de Weber. citado por Minayo", com
vos. variiiveis isoladas cuja ocorrência e relação com o fato biológico base na convicção de que os aspectos subjetivos da ação so-
possa. cr mensurada e apreendida a partir de tratamento exclu- cial ão essenciais na configuraçâo dessa mesma sociedade. Para
sivamente estatístico. No geral. o que acontece é a permanência reconhecê-lo. será necessária a utilização de um processo dedutivo
de insatisfação a partir dos resultado obtidos, que continuam com foco no significado e na interpretação que as pessoas dão
não permitindo a compreensão de todos os IIsPCCtOSdo processo para os eventos em vez de aprcsentri-lo da perspectiva do pes-
saúde-doença. as contradições que permeiam a sua vida e. por- quisador. O caminho. bem como as técnicas e instrumentos
tamo. não ajudam a estabelecer uma prescrição mais adequada para percorrê-lo. serão muitas vezes diversos, mais ou menos
às necessidades globais dos sujchos que procuram assistência. questionadores da realidade do indivíduo e de seu contexto.
Com o p.."ar do tempo. os métodos de pesquisa qualita- No contexto clínico. os métodos qualitativos colaborarão para
tivos se aprimoraram. passando a garantir. em meio à subje- o entendimento de como os usuários constroem o significado de
tividade rclacionada'à prôpria natureza do método, validade sua doenças. exames. medicamentos e outras prescrições. da
c fidedignidade. Seus procedimentos. apesar de abertos, têm relação com seu modo de vida e com o seu contexto. seus recur-
se submetido a controles nesses aspectos. deslocando a críti- sos e seus padrões culturais. Serão utilizados para o entendimen-
ca da questão da subjetividade e cientificidadc para a fina- to dos problemas individuais. como o seguimento das prescrições.
lidade a que se destinam. Isso possibilita enfocar os aspectos e também para os problemas coletivos. Podem ajudar na integração
psicológico, social c cultural como um mundo de significa- dos profissionais de saúde e destes com os clientes para O maior
dos passível de investigação. sucesso do atendimento e da resolução dos problemas.
Nesse sentido. a busca de técnicas e instrumento em cada Em ambientes cujas pessoas se encontram internadas, os
uma das formas de abordagem. que abarque todas as dimensões resultados do estudos poderão mudar completamente o sen-
da avaliação de problemas c programas de saúde. permite con- tido c a rotina dos atendimentos e das relações, uma vez que
cluir que ambas as abordagens são necessárias e nenhuma delas se valorizará a subjetividade dos envolvidos no atendimento
é suficiente para a compreensão completa da realidade".
e. portanto. deslocando-o no sentido de se centrar no cliente e
Este capítulo apresenta as bases da metodologia qualitati-
não na doença ou no interesse dos funcionários.
va de pesquisa. sua aplicação iiclínica médica e à pesquisa na
Várias pesquisai têm. ido desenvolvidas sob a rubrica do ~ ....
área de clínica. enfatizando vantagens. limitações e uso com-
seguimento da prescrição e. na maior parte delas. o que se bus- ~
binado de metodologias.
cam são motivos para culpar a "vitima", O cliente. cujo compor... ~
jamcnro. o não seguimento da prescrição. por exemplo, foi analisado ~
CONCEITO DE .nOoOlOGIA QUAliTATIVA DE por meio de técnicas de pesquisa padronizadas. Os métodos
PESQUISA E USOS liA clIIIICA MlolCA csuuísticos utilizados para investigar os seguimento da prescri-
Segundo Ricc e Euis. a metodologia qualitativa é aquela que ção. exame de sangue muito precisos. por exemplo, prescindem
objetivn a compreensão de processos complexos e variados de da utilização de métodos e técnicas capazes de realizar um pro-
consrrução e manutenção de ignificados pelos sujeitos sociais. ces o interpretativo das causas do não seguimento da prescrição.
utilizando paro isso desenho dedutivos de estudo, de orientação Essa afirmação de Karp', em um estudo de depressão. é exemplar
interpretativa. Tem também por objetivo apreender a natureza para mostrar o que o métodos qual iiativos mudam no enfoque
contextualizada da experiência e da ação, para gerar análises de pesquisa clínica: "Não estou principalmente interessado em
detalhadas. profundas c integrada (no sentido de relacionar os . explicar o que causa depressão ou como posso curar as pessoas
eventos individuais e suas interpretações particulares com outras acometidas por esse mal. mesmo porque não acredito que al-
sobre O amplo sistema de signilicados e os padrões vigentes). guém possa responder a essa questão. Ao contrário. estou inte-
Pesquisa Clínica • 33

ressado em como indivíduos com depressão entendem o senti- Entretanto. todas têm longa tradição com distintas ênfases.
do inerente da sua situação de vida ambígua. Estou interessado Cada teoria será mais útil em um aspecto.
em saber como a depressão evolui no tempo. o que as pessoas Se o objetivo for desvendar as condições de vida interfe-
pensam sobre o'> seus médicos e as medicações e como eles rindo no processo saúde e doença em uma coletividade, a mais
lidam com a farnüias e 0\ amigos". Um profissional que en- indicada poderá ser a pesquisa de ação, Se Outra investigação
caminhou ua pesquisa dcssu forma interpretará os significa- objetivar produzir e explicar evidências de ações de promo-
do de forma a transformar :I ação que desenvolveu até aquele ção da saúde. poderão ser mais relevantes complementos de
dia com e a partir da vivâo do, sujeitos que atende. estudos clfnicos realizados em ambulatórios ou hospitais. por
Uma experiência anterior urilizando a pesquisa qualitativa exemplo. O campo continua aberto a novos insigtus.
em um hospital infantil. para avaliar uma estratégia de trabalho ovos entendimentos podem ser obtidos com a aplicação
de grupo. com mãc-, de criança, a,míÍt icus. mostrou que o en- de novas teorias, metodologias e técnicas de obtenção de dados.
volvimcnto dclus na discuwão de como Iidur com II doença A seguir, serão descrita-, a~ metodologias qualitativas dentro
das crianças c com o ambiente em que elas vivem amplia muito dos referenciais teóricos em que foram concebidas. sempre apre-
o seguimento da prescrição. uma vez que essa prescrição é sentando exemplos de sua aplicação ii pesquisa clínica.
decidida em conjunto. a partir dos significados c do contexto
que a clientela atribui li doença c à MIII cnusulidadc".
O sociólogo americano Kcsslcr". recuperando a história do
Etnografia
tratamento das doenças mentais. afirmou. em um artigo recen- Os métodos etnográficos foram utilizados pela primeira vez
x temente publicado. que "nos últimos anos se reafirmou que por Harold Garfinkel. em 1940. quando empreendia um es-
~ os condicionantes biológicos e sociais são igualmente impor- tudo sobre jurados. Ao descobrir a existência de termos como
v: tantes no controle da doenças. Durante esse processo a riva .. etnobotânica. etnofisiologia e ctnofísica ele entendeu que "etno"
'"~ lidade entre psicólogos e psiquiatras foi tirada da história". se referia ii forma como um membro de uma comunidade,
.;,
ee Segundo ele. a medicina da alma passou a contar essencial- baseando-se em conhecimentos de senso comum, desenvol-
mente com esta e outras áreas do conhecimento. ve esses conhecimentos sobre seu mundo circundante. Essa
No controle dessas mesmas doenças e de outras não transmis- é a maneira peculiar de buscar, dissecar, sentir e ver certa
síveis têm sido demonstrado .. por pesquisas. os efeitos cola- realidade. Não significa somente ver. mas "ver-relatando",
terais deletérios do uso prolongado de muitos medicamentos. porque a fala é uma pane constituinte do mesmo ambiente sobre
Para controlar a depressão e o esiresse outras prescrições o qual se fala. Esse autor e seus colaboradores tiveram muita
medicamentosas devem ser feitas com base no entendimento dificuldade em descrever e interpretar. do ponto de vista do ou-
do significados que o cliente atribui II seus sintomas e sua tro. o conhecimentos c prthica-,do, grupos",
causalidade. Essa mudança ainda não aconteceu. pois não têm aquele momento. cmomcrodologin significava mais um
ido inctufdas nos protocolo, de pevquisas a~ análises dos eventos objcto de pesquisa do que um aparato científico. Contudo. com
de vida dos indivtduo-, os estudos desenvolvidos não ~Ó por Gurfinkel. mux sob sua
Finalmente. em 2{)()4.woodc', rcprescmando u l lculth Deve- influência. em meados da década de 1950. II etnografia adqui-
lopment Agency (IlDA) da Inglaterra. preocupada em reduzir riu vida própria. consistência c visibilidade dentro da socio-
as desigualdades em saúde. assumiu II tarefa de sisternatizur as logia e principalmente na antropologia. Foi se estruturando
evidência, de imervcnçõc-, considerudas efetivas em saúde, Tentou como lima metodologia que pretende apreender ou compreender
inicialmente responder ii, questões colocadas por Cochranc'" a concepção de mundo e cultura por intermédio dos integran-
em relação ti clínica médica: "Quando se pode dizer que uma tes de um grupo cultural. segundo o que eles mesmos definem
intervenção teve rcsulrudos positivos? As intervenções provo- corno tal. Apóia-se em extensas práticas de campo pura conhecer
cam algum problema ao resolverem outro'! Qual a melhor ma- o grupo cultural de seu interesse.
neira de verificar se a intervenção funcionou 011 produziu algum Muitos estudos etnográficos foram realizados no Brasil na
outro efeito negativo'! Quanto custou a intervenção'!" década de 1950 com apoio de cientistas sociais de outros países.
O trabalho realizado identificou muitos estudos que produ- Esses foram estudos muito detalhados de comunidades rurais ou
ziram evidências: estudos randomizados e de observação. bem grupos indígenas que demoraram muito tempo para serem fina-
como muitos estudos qualitativos e pesquisas de ação. lizados e. apesar da importância dos dados que publicaram, nunca
Verificou-se que as pesquisas qualitativas foram de grande foram utilizados para reorientar a prática, social ou de outra natureza.
importância na produção dessas evidências c que o uso combi- Hoje. consiste em um corpo de conhecimento que inclui
nado de metodologias foi muito valioso para a determinação das técnicas de pesqui a. teoria etnográfica e centenas de descri-
evidências e (t compreensão do seu significado. As metodologias ções culturais. O método procura construir um conhecimento
qualitativas de pesquisa contribuíram na identificação de evidências sistemático da per pecriva daqueles que aprenderam convi-
e elas podem produzir ainda mais se outros estudos forem rea- vendo em uma sociedade e parti lhando da cultura hegemônica.
lizado . utilizando. de forma combinada. várias metodologias". Atkinson e Hammersley, citados por Riee e Ezzi5• conceituam
Neste capítulo pretende-se aproximar os leitores dos rné- etnografia como uma forma de pesquisa social orientada por
todos e técnica, de pcvquiva utili/adus para analisar práticas vârios princlpios gerais, A seguir serão sumarizados os prin-
individuai, c colctiv as de ação. principnlmcnrc as que podem cípios mencionados pelo, autores para a análise etnográfica:
ser urilizada-, cm pcsquiva- clínicus apresentando nova abor-
dagem de investigação nevsu ãreu. • Forte dirccionarncnto para explorar a natureza de um
determinado fenômeno sociul/culturul.
FUNDAMENTOS TEORICOS E • Tendência para trabalhar priorituriamcnrc com dados não
estruturados.
METODOLOGIAS QUALITATIVAS • Envolve pequeno número de pessoas na análise, podendo
Como já foi dito. muitas teorias que informam as metodologias restringir-se ao estudo de um único caso.
qualitativas têm pontos semelhantes. A maior similitude se • Realiza análises que envolvem explicitas interpretações
refere ao fato de que todas são amplamente consistentes com dos significados e funções das lições humanas, relacio-
II ênfase na compreensão dos significados e da interpretação. nada!' a eventos considerados prioritãrios,
34 • Tratado de Clínica Médica

• O conceito desse autor foi adorado como orientador dos empíricos qualitativos que a utilizam como guia orientador .
trabalhos mais recentes da área da etnografia que deslo- A fenomenologia européia, que teve sua origem nos pressu-
cou seus estudos dos agrupamentos rurais e étnicos para postos filosóficos de Husserl, Schurz e Heidegger, entre ou-
os problemas das grandes metrópoles e suas conseqüên- tros. cunhou O conceito de mundo da vida',
cias para a qualidade de vida da população. Becker" traduz a proposta da fenomenologia de forma simples
e clara: "Os fenomenologistas estudam situações do mundo atual,
Os métodos emográficos ajudam a conhecer profundamente do ponto de vista da pessoa que vive a experiência".
as pessoas e as suas necessidades, identificando diversidades Contrastando com a ênfase dada à cultura, carucierfstica dos
culturais que interferem no comportamento em relação ao pro- estudos etnográficos, a fenomenologia enfatiza a construção
cesso saúde e doença. Nesse sentido. favorecem o encontro de individual do mundo da vida ou O significado que resulta da
caminhos pelos quais as pessoas possam ser mais apropriada- mediação simbólica que o indivíduo cria a partir das expe-
mente ajudadas. A etnografia é mais importante em sociedades riências que vive no mundo real. O mundo da vida de cada
mulriculturais como a brasileira, na qual. para se conviver, é indivíduo é diferente e a ação dos indivíduos pode ser enten-
necessário lidar com as diversidades. dida situando-o dentro do mundo da vida do aror, Essa propo- :=:;
Um C'ISO. estudado por Rice e Ezzi'. revelou, por meio da sição filosófica tem muitas implicações nas pesquisas sobre .:..
~
abordagem etnográfica. a causa do sofrimento de uma mulher as uções humanas. Isso significa que. caso se queira entender v,
que eles estavam tratando. Esta informou estar mal por ter per- porque as pessoas fazem ou não alguma coisa, é preciso en- ~
dido sua alma no hospital durante uma operação cesariana. tender qual o significado que elas atribuem às ações. x
Esse pesquisador pediu sua reinternação para possibilitar a O conceito fenomenológico de intencionalidade foi um dos
ela a realização de um ritual religioso, que permitisse trazer primeiros a influenciar o desenvolvimento das metodologias
sua alma de volta. A mulher curou-se depois por causa disto. qualitativas. valorizando o exame do significado c das inter-
Caso (l médico não tivesse essa abertura e não respeitasse as pretações que as pessoas dão às suas açõcs. Utilizando a feno-
crenças das pessoas que atende. ele IlUIH.:apoderia ter salvo menologia, portanto. o investigador tenta compreender a natureza
essa cliente. Vários autores chamam atenção para importân- do ser e ver as coisas do ponto de vista das outras pessoas,
cia dos estudos etnográficos: Rice 1'10/.", Schmol!", Suvage ", descrevendo-a, compreendendo-a e interpretando-a. Consti-
Hoje. antropólogos ligados à área de saúde. considerando tui uma reflexão cm torno da natureza das experiências vitais
li importância dos estudos etnográfico .. mas percebendo sua dos indivíduos. Pode ser um referencial muito importante para
dificuldade de aplicação em razão do longo tempo que um ser utilizado em pesquisas ctínicns, em que o seguimento da
estudo desse tipo exige e da SU<l complexidade, buscaram com prescrição seja um do. temas escolhido para ser pesquisado.
m cientistas sociais uma forma alternativa. Propuseram. então. O estudo de caso. mesclando dados quantitativos de estudos
a simplificação dos métodos etnográficos. transformando-os populacionais ou estudos randomizados e dados qualitativos de
cm uma metodologia denominada estimativa rápida. entrevistas em profundidade da observação de grupos focais como
A estimativa rápida também tem sido descrita em lingua- técnica qualitativa de colera de dados em profundidade, tem sido
gem simples como a arte e a ciência de descrever 11111 grupu uti lizado pelos pesquisadores que O escolheram como referencial
étnico ou cultural e sua cultura, A descrição pode ser de um para orientar seus processos de pesquisa quali-quantitativos,
pequeno grupo tribal que vive cm um território distante ou de
11mgrupo dc omprcsãrios parceiros, por exemplo. da Funda-
ção Zerbini. O único ponto de dificuldade em relação ao tra- Interacionismo Simbólico
balho nos dois grupos é a tentativa de entender uma outra forma A escola da intcrução simbólica se reporta, em origem, a clás-
de vida do ponto de vista do "outro". sicos da sociologia do fim do século XIX. tais como Charles
C;l';O se tenha notícia de que um problema de saúde está ocorrendo H. Cooley (1864-1929), W. I.Thomas (1863-1947) e George
cm determinado território. - um bairro. um município ou uma Herbert Mead (1863-1931), embora o termo interacionismo
comunidade espccffica étnica. religiosa ou educacional -, será simbólico tenha sido cunhado por Herbert Blurner em 1937.
possível lazer lima estimativa rápida: diagnósticos epidemioló- Os pontos COmuns dos três envolvem as concepções de socie-
gico, demográfico c social/cultural. incluindo aspectos geogrã- dade como um processo, do indivíduo e da sociedade, como
ficos. históricos. políticos. socioeconômicos e populacionais':'. estritamente relacionado e do aspecto subjerivo do comporta-
Esses estudos. chamados de estimativa rápida. utilizam múlti- mento humano como parte necessária no processo de forma-
plos meios para realizar a investigação. para garantir a validade ção e manutenção dinâmica do sei! e do grupo social).
dos dados: entrevistas scmi-estruturadas ou não-estruturadas,
Herbert Blurncr, citado por Hagueue". foi o filósofo que
observação, grupos focais. Enfim, exigem () uso combinado
conseguiu apresentar com clareza os pressupostos básicos da
de técnicas de colem de dados que permitam que a prática da
abordagem interacionista. Ele sintetizou os pontos básicos dessa
vida cotidiana seja interpretada pelos ateres",
filosofia em três premissas:
Conforme já mencionado, II metodologia qualitativa foi cunhada
ii partir da crença de que os ateres sociais alocam sentidos aos
I. Os seres humanos agem com base no significado que
objetos circundantes pelo processo de iuterução uns com os outros
e consigo mesmos, passando a interpretar o seu mundo signi- atribuem às coisas e às situações. Entendem-se como
ficativo, o qual inclui o processo saúde-doença. Ao final do "coí a." todos os objetos ffsicos, outros seres humanos,
estudo um relatório é apresentado com a interpretação de como categorias 'de seres humanos (amigos ou inimigos), ins-
o processo saúde e doença ocorre na comunidade c quais tituições. idéias, valores. atividades como "outras situações",
condicionantes socioeconôrnicos. sociais e políticos podem estar que o indivíduo encontra na sua vida cotidiana.
interferindo no desencadeamento e qual sua manutenção. 2. O sentido dessas coisas é derivado, ou oriundo. da interu-
Mais adiante serão descritas características e formas de sclccionar ção social que alguém estabelece com seus companheiros.
amostras para trabalhar com métodos qualitativos de pesquisa. 3. Esses sentidos são manipulados e modificados por um
processo interpretativo usado pela pessoa ao tratar as
coisas que ela encontra.
Fenomenologia
A teoria fenomenológica tem mais influência nos estudos qua- Da mesma forma que a etnografia e a fenomenologia. o
litativos do que pode parecer pelo pequeno número de estudos interacionismo simbólico aloca uma importância fundamental
Pesquisa Clínica • 35

ao sentido que a" coisas têm para o comportamento humano. MÉTODOS QUAliTATIVOS DE PESQUISA
Entretanto. diferencia-se das outra, ubordagcns quando con-
ccbe que o 'cu venrido emerge 00 processo de intcração entre Estudo de Caso ti)
m
:1, PC"II:I'. cm \c/ de percebê-lo CUl!10 algo rclaciunado à ..(")
O c-tudo de ca-,o bu-ca retratar a rculidadc de forma completa >.
cultura Ou intrinvccn ao ver, corno expressão do, elementos o
e profunda, bem como revelar a muh iplicirladc de dimensões
constituintes da pviquc, da mente ou da organil.aç:10 slmbõlica. N
prcvcnicv cm lima variedade de fontes de intormação.
Blumer, ciuulu por Hagucue", identifica os seis pontos IlIab
E~l-cmétodo convistc C III relacionnr II mil silllac;ilo reul tomada
importaurc-, da imc,tigaçiio cicntfficu. que ~iíll indi~pl.!lIsávci, :1
no <cu contcvio e. a partir da anãlisc. "cri ficar COIIIO xe ItlllnifI.!SI:II11
ciência ctuplric« e merecem <cr conhecido- cm '1111 integridade: c evoluem o- tcnômcno- pelos quais o pe:--qllislItlorse iutcrcssa'.
'i,bet e \\'all, citado, por Ludkc c André", curucrcrizum
I. 1'11\ 1('.\ \(;11 c' 11\11 dc'
li \(ill prévl« ou ('.\(/11('11111do 1111"/(1,,
o c-rudo de C;I'U cm três favcs. 1\ primeira lusc iS churuudu de
('/II/,íriln \1111"\(1111". Representa um pré-rcquivito inc-
ubcnu IIU cvploratóriu, a xcgunda é lIIai:-. xlstcmáricu cm ter-
\ iuivc], j:i IIIICé C",I \ i,ii\) que orientar:i a fmmlllaç:io
11111' de culeta de dadov. c a terceira é a da nnálisc dos dados
de prohlcmav, a escolha do-, tipo, de dado, c a idcrui-
c da clahoração do rclarôrio,
ficação da' premi"a' que carucrcri/am (I mundo cm estudo,
A fa\Ccvplorutéria coloca-secomo fundamentalpara adefinição
2. E/allOrarcill tk: C/II('.\II;('.\do 1I11111do etuplrico (' cunvcrsõ«
mais preciva do objeto de estudo. É o momento de especificar
da» (//1('\11;('.\ C'III problemas. Es~cl- ~ão ti, pa.,s(l~ que cu-
o, pontos críticos. de estabelecer contares iniciais para a en-
racrcrivam propriamente o ato de invcstignçâo. pois s50
tradu cm campo. de localizar 0$ inforrnnutcs c as fontes de
as qucviõcs formuladas e os problemas rcprcscrundos
dados ncccssõrios para o estudo. Geralmente, a escolha do caso,
por elas que norteiam o desenrolar da pesquisa.
individual ou coletivo. é intencional no sentido descrito no item
3. Determinuçãu elos dados II serem culeuulos e meios
sobre a e colha da amostra em pesquisa qualitativa.
que serão milizados para fazê-los. Obviamente, é ° Para a colem de dados em estudos de caso costumam-se uti-
problema que define o tipo de dados a serem colctados
lizar vário procedimentos. Os mais comuns são observação,
e que os meios usados dependem da natureza dos dados.
análise de documento. entrevista e história de vida",
--loDeterminaçãodas relações entre os dados. Pode-se chegar
O estudo de caso é a metodologia mais utilizada em pesquisa
a isso por meio de um processo de reflexão acurada sobre
clínica p:Jra compreender o seguimento das prescrições, quando
a~ conexões cxivtentcs entre os vário tipos de dados.
h~i i ntcrcv-c nesse tipo de análise. Quase sempre o trabalho de
pelos procedimentos estatísticos mecânicos C0l110 a análise
pesquisa utilizando c.. a metodologia segue ou é complementar
de fatoro ou por um esquema de corre lução.
a cstudo-, ti II a 111 Íl:Jlh os.
5. 1IIII'r/lrC'/{/('I;o do« I"t'.\/lIUIIIIIS. tlnc,~a fal-c final que o
pC~lIni,adnr extrapola o âmbito cios resultado). cmplrico:
propriamente dil<h e l-Cdebruça sobre o rctcrcncial tcõ- Estimativa Rápida
rico ou sobre :1'"concepções que transcendem (I âmbito I~ uma vimplificução do método cuiogrüfico qlll': roi uduptadu
dH' rcvuluuk», cmpírico-, propriamente ui"" c 'c debruça para ,ef\ ir ao' intcrcvvc ...imcdintos dI)' IOlIlatlOI''':sde decisão
vobrc o rctcrcncurl teórico ou xohrc cunccpçõc-, que que acredll.lIll (11Ieo contcxto ,cja importanle delcrminanle
lran,cendelll (l :'lInhllo dc um c'lUdo. nlcntalldo para o do, problema, de 'alidc. Es,a coructer(l.tiea demnrea suas
falU de que. 'c o refercncial teílricll for fal,o 1111 não c"ractcr('t ica, ccnt rai,: alta prohahi Iidade dos resultados
COlllllW\atlo. 'U,I' intcrprcwçile, tamhélll I) l-cr:i(l. ,crCI11 IItili/adll': tcmpo limitado para SUII execuçiio: uso
fi, UMI til' ('0/1('('110\. eh conceito, ..:io fUlld:llm:ntab para de indic;tdllre' rclcvante~ c confiáveis, escolhidos segundo
() alll da in\'c,tigação e devem ser detinido:-- a partir da Ol-illtcre"cl- doI, tomadores de decisão; é influenciada pelo
colm:ação de probfell1a:-.. Sãll clcl- que guiarão a busca COl1tC>.tllc ccn:írio polhico em quc sc tOlllllm decisões: iS
de dad!". a tcnlati\ a de relaeillllar os cUllceiws. assim lilil par~1 re'p()ndcr pcrguntas de pesquisa oricnladas para
conlll a interprctação dOl- rC'lIltado:--. avaliar intcr\'cnçõcs. e uso dc estratégias variadas sem com-
prometer () rc~ultado e a validade dos dados"'.
o intcracioni,mll ..,imb(ílico. cujos rund:lI11cnlO' Illetodo- O plancj:ullento dc uma pesquisa de e1>lilllativa rápida ini-
lógico~ foralll de,crit()~ antc:riormente. é () cstudll científico cia·,c pela dcfinição do problema da pesquísn, análise dos
~ da \'ida humana em grupo c da conduta humana. O~ procedi- difcrcntc, n"pcctos a serem pcsqui. ados. contexto cm que o
~ nlento, concrClo~. que têm sido ulili7:ldos ncs:\:l abordagcl11. problema ocorre c como conhecê-lo. comprcendê-Io, analisá-lo,
;:'; têm como h:I'e' a c\ploração c a in:-.peçãn. \ eri ficantlo-,..: alopo:.sí\'ci relaçõclo com () problcma que está
~ ", fn~,()dul()l!ia, ue pe~qui:,a rnai~ utilil:.tt.la~ para lklr conta scndo anali ...ado. Feito o plano, é ncccssário verilicar a via-
~ dc~,a propu,l:' lênl ,ido o C' tuúo li\.! c;a~u ..:a PC'<lui'a par- bilidade dc ~U:l execução c a possibilidade de cnvolvimento dos
ticipante. cCllllhinando dilercnte~ técnicas de cnlela uc da- re pon,:hci ... pclo proccs~o dc tomada de decisão.
do, - a Clh,er\'aç:io direta ou participantc. a clltrevisla. (l O pnhimll pa"o para daborar () plano dc UIll cSludo de
uso da hi ...uiria de vida. a :Ináli~e documental de cartas. c,till1:ltivlI r:ípida. dep()i:. de definido I) prohlema, o eonlexlo
di(lrio" dm:umclltl" pLÍblicu~. grup()~ focais c 1111 trol- -. que e n, objct h'o, do eSllldo. scrá ident if"icaçi!o, caraeteriznçiío e
'erãu de,cri"" adiantc. 'clcçãll dc fllnte:-- de informação".
Utililtlluln·,c c"a' técnica~. :-.cleciollada' dc acordo COIll Podc-,c cncontrar informação prccxistenle enl documcntos,
() problema ou ca,u a 'cr c,tudado. II re~qui~adur tcnta de- d:ldo, de CCIl'()\ e nutra .. fontc,. Ilavcndo dados qllc preciscm
terminar lJu~',it:nificado ..,imbólico te III 11:-- inl-trulllcnlOl- que 'er colctadu,. é nCl'c"loário ~clccionar a anl<)slra do ponto dc
o' t:ruPII' IItili/am. l)' t:C'lOlo c a, pala"ra~ para o, grllp,,:, \ i,ta da mctudolllgia llualitath a. conformc:--c descrcverá a seguir.
,ociai, c como c,tc, intcragcm un' COIII 11' IIUtflll-. O ilwcl-- O, in"rumcnto ...para colcta de dado:--, em razão da carac-
ligadur c'pera con"ruir (I que () participante vê cunHl !'ua tcrí,tica ctnográfica dC,loCtipo de cstudo. dever»o ser o rOlci-
rcalidadc ~ncial. O enfoque princil>al é de:--cohrir nCl"a~ ICO- ro de cntrc\'i t;t. ~cmi-cstruturadu ou aberto, I) diário de campo
rias. conccilll:--. hip<ÍtI!M!:-'t! proplll-içilcs. a partir dOl- dados c li rotciro ue obl-cr\'ação.
e não du~ prclo,upo~IO~ de outras invt!stiga~·ties e de OUlros O tipo dc an:ílisc. a ser fcito no final. dcvc fllzer parte do
marcos telíricol- cxi"cntcl'. plano e será do tipo ctnográfieo. dcscrevcndo o conlCXIO, os
36 • Tratado de Clínica Medica

padrões culturais da população. o valores e as relações entre Em tais situações. as pessoas e os grupos envolvidos nos pro-
os diversos grupos da população. orientados pelos padrões blemas têm papel ativo no equacionamento, no acompanha-
culturais e valores. mento e na avaliação das ações desencadeadas em razão dos
Obtidos e analisados os dados, encerra-se o ciclo da pes- problemas. conjuntamente com os pesquisadores.
quisa com a comunicação dos resultados aos que os solici- Os pesquisadores também podem ter papel ativo dentro de
taram para tomarem decisões. No caso da pesquiso clínica. uma estratégia denominada de intervenção social, pois. muitas
os dados podem orientar ações coletivas relacionadas. por vezes, as propostas iniciais são elaboradas por pequeno número
exemplo. ao controle das doenças crônicas e seus fatores ou de agentes externos. mas, da interação entre análise dos problemas
cond ições de risco. sociais e estratégicos para enfrenrâ-los. suas aplicações e acom-
panliamentos de desempenho. surge tllII/lOVO conhecimento",
Sua abordagem prevê o uso combinado de técnicas qualitativas
Pesquisa de Campo como Aplicação da c quantitativas. As mais usadas são entrevistas em profundi-
Metodologia de Estimativa Rápida dade. grupo focal. histórias de vida e observação participante. ee
George", por exemplo. empregou vários métodos qualitati- ::
Os termos irubulho e pesquisa de campo eram usados por an-
vos em um projeto PAR sobre o significado da sexualidade entre ~
tmpólogol>para se contraporem aos trabalhos que utilizavam o
mulheres de nível socioeconômico baixo. em Bombaim. O projeto ~
método comparativo dos "antropólogos de gabinete", bem como
inicialmentecomeçou com uma discussão utilizando grupos focais. ~
por sociólogos americanos que reagiam à crescente influência
Entreramo. verificou que as mulheres tinham grande conheci-
da teoria funcionalisui. na sociologia, que sofreu vertiginoso
mento e experiência para oferecer, mas era difícil de conhecê-
cresci mente no pcrfodo compreendido entre as décadas de 1930
los e interpretá-los li partir de uma discussão em grupo. A história
e 1950. 1\1'. duas áreas, antropologia e sociologia. fizeram uso
de vida foi a etapa seguinte. Por meio desse método, o pesqui-
de técnicas semelhantes na abordagem do real. especialmente
sador foi capaz.de eleger muitas experiências dolorosas da vida
no valoralocado à participaçãodo pesquisador no local pesquisado
das mulheres, tais como trauma social da infertilidade e vio-
e à necessidade de ver o mundo pelos olhos dos pesquisados.
lência doméstica. Depois da história de vida, foram feitas en-
Segundo Polir e Hungler", !I pesquisa de campo é li apli-
trevistas em profundidade,das quais participaramalgumas mulheres
cação da estimativa rápida da busca li descrição e ti explo-
ração defenômenos, em cenários naturais ... É realizada em que esclareceram suas narrativas e permitiram discutir suas
locais de convívio social. como hospitais. clínicas, entre outros. experiências pessoais de sua vida sexual. Grupos de discussão
O propósito do pesquisador tio campo é o de se aproximar seguiram as histórias de vida que permitiram às mulheres tro-
dos sujeitos do estudo de modo a compreender um problema car experiências. George concluiu que foi fácil para o pesqui-
ou situação. Os dados são descritos conforme o relato dos sador levantar alguns assuntos mais subjetivos a respeito de
entrevistados e a observação do pesquisador. que busca o sexualidade nos grupos focais que se seguiram às histórias de
sentido das observações. A metodologia segue os mesmos vida. pois as mulheres estavam mais relaxadas para falar, uma
passos da estimativa rápida. vez.que sabiam tias experiências das outras e de que elas haviam
falado sobre isso. A experiência des e pesquisador comprova que.
nesse tipo de metodologia. os pesquisadores têm papel ativo,
Pesquisa de Ação Participante especialmente para estimular a inreração inicial.
A pesquisa participante. corno movimento que antecedeu ii Um pesquisador clínico que queira buscar nova forma de
pesquisa ução. surgiu da angústia de alguns pesquisadores que atuar com seus clientes, pode. pela pesquisa de ação partici-
iniciaram um processo de questionamento sobre a finalidade pante. elaborar essa nova estratégia com seus clientes, produ-
do conhecimento que produziam. sobre os usos e beneficiário zindo conjuntamente esse conhecimento a partir de uma nova
desse conhecimento. Surgiu da necessidade de incorporar os percepção que reúne o que os dois grupos pensam, formando
pesquisados corno sujeitos de um trabalho comum de geração novo conhecimento e nova forma de atuar. Nesse sentido, Arai2J
de conhecimente. em que pesquisadores e pesquisados conhecem. reinterpretou a concepção de Thiollenr" sobre a organização
agem em busca da transformação das condições produtoras de da pesquisa. dividindo o processo nas seguintes fases:
problemas. Assim. é uma metodologia alternativa para um siste-
ma de produção de conhecimento. também alternativo. 1. A fase exploratória. na qual se definem o campo da
A descrição exala do significado da pesquisa de ação parti- pesquisa, O~ ateres sociais envolvidos, suas expecta-
cipante (PAR) não é Iãcil estabelecer. Reasori" aponta pelo tivas. os problemas prioritários e eventuais ações,
menos cinco grupo que fazem PAR de diferentes formas. Aqui 2. O tema da pesquisa, que é a designação do problema
será de crua II pesquisa de ação participante concebida por prát ice a ser abordado.
Thiollenr": "uma metodologia de pesqui a social orientada em 3. A colocação dos problemas. que consiste em definir
função da resolução ele problemas ou de objetivos de trans- uma problemática. isto é. um campo teórico e práti-
formação ou. ainda. um método ou estratégia de pesquisa que co em que se pretende resolvê-los.
agrega vários métodos ou técnicas de pesquisa social, com os 4. O lugar da teoria. no qual se geram idéias, hipóteses ou
quais se estabelece uma estrutura coletiva. participativa e aiiva direrrizes para orientar a pesquisa e sua imerpretação.
ent nível da captação de informações". 5. Hipóteses corno suposição formulada pelo pesquisador,
A pesquisa de ação participante aplica-se a projetes que são. a respeito de possíveis soluções a um problema colocado
ao mesmo tempo. irnervenção c avaliação. Nesse caso, a meto- na pesquisa no nível observacional.
dologia viabiliza II operacionalização dos resultados dos pro- 6. Seminário em que os membros da equipe de pesqui-
cessos de resolução de problemas e tomada de decisão durante sadores e membros significativos se reúnem para exa-
o projeto. considerando-se situações de relacionamento entre minar. discutir e tomar decisões acerca do processo
variãvcis conhecidas (objetivos do projeto. ações dos pesqui- de investigação.
sadores) e variáveis desconhecidas (contextos histórico e social). 7. Campo de ob ervação, amostragem e representatividade
A pe 'quisa de ação participante exige um acordo inicial de qualitativa. É o momento em que se define o campo a
realização de trabalho conjunto de pesquisa sobre o tema e co- ser observado, o tamanho e os critérios para seleção
lhido pelos sujeitos da pesquisa e o pesquisador. da amostra para a pesquisa.
Pesquisa Clínica • 37

x 8. Colcta de dados cm que se urilivum cntrev istus cole- acordo com os objetivos da pesquisa. ão há respostas ver-
,;,
e- tiva-, ou indiv iduais. técnicas documentais e técnicas dadeiras ou falsas. mal> apenas diferentes do que é cientifi-
~
., de grupo . camente correto.
'"
":'
or.
9. Aprendi/agem em que se estiiuula um processode apren- Podcm ser entrevistas abertas com roteiro. ideais para
oe dizado dos participantes pela restituição da informação. abordagem cm profundidade. com pessoas, por exemplo. que são
rorl1la~ de di cussão e processos de negociação. acometidas por doenças infecciosas ou crônico-dcgcnerntivas.
10. Saber formal dos pesquisadores e saber informal da O roteiro tem a característica de ser Ilcxívcl, permitindo ao cn-
população, que têm como objetivo a melhoria da comu- trevistador promover adaptações no descnvol ver da entrevista
nicação entre esses dois univcrvos, de acordo com as necessidades ou dificuldades do entrevistado
II. Plano de ução no qual se elabora uma forma de ação ao responder ao questionamento. Diante desse roteiro. () entrevis-
plancjuda que deve l-er deliberada. rculivada e uva- tador não pode xer passivo e distante. mas arivamcntc envolvido
linda pelo grupo técnico c populução ou clientela de com o cutrevivmdo. sendo capaz de ouvir ativarncntc e encorajar
um pevquivador clínico. o respondente a falar sobre o assunto. objeto da pesquisa.
12. Divlllgaçfio externa. tornemo no qual a informação Quanto 11 sua aplicação à pesquisa clínica tem-se o exemplo
adquirida pode ser retomada aos grupos implicados". de Dai)' 1'1 (/1.1• que se utilizou de entrevivras cm profundidade
para estudar o uso do ccocardiografia no diagnóstico de nor-
Segundo Arul". pode-se prever que essas fases. algumas malidadc cardíaca. O autor queria compreender o processo
vezes. ocorrem ao mesmo tempo e não seguem necessaria- soei u1 (inrcração médico-paciente). no qual é tomada de deci-
mente uma ordem preestabelecida, são sobre o uso desse método diugnôsrico. A entrevista em
profundidade roi tcita tanto com o cliente como com o car-
TlcNICAS QUALITATIVAS DE PESQUISA diologisia. Iocatizando o contexto em que a decisão é tomada
c o motivo c os sentimentos do primeiro ao aceitar a indica-
Não faz rnuiu», anos. a~ técnicas quulitativus de pesquisa reapa- ção e o, motivos do segundo para indicar.
receram entre li' técnica, de colcta de dado, de pe quisas sócio- Para Thi()lIcnt~l. a seleção das pessoas a serem entrevistadas
lógicas. com posvibilidadcs dc aplicação a outros campos. entre imcnvivarncntc não obedece a regras mecânicas. Essa seleção
eles. a pesquisa clínica na área de saúde. Diz-se reaparecimento $UPÕC a disponibilidade do entrevistado e resulta de uma ava-
porque. do começo do século ao início dos uno-, 1950. e"a~ técnicas liação da relevância ou da representatividade social e não esta-
forum utilizadas por ..ociõlogos como W. I.Thomav (11163-1947) rística da pe soas. Essa avaliação. de acordo com O autor,
e F. Znaniccki (1882-1958) e também por antropólogos como fica a critério da "intuição" do pcxqulsador,
Franz Boas (1858-1942)~·. Eles consideravam as técnicas quali- O número de entrevistas depende de quantas forem neces-
tativas de pesquisa um instrumento fundamental de suas disci- sárias para esclarecer o problema em estudo, Quando o pes-
plinas. O grande desenvolvimento das técnicas estatísticas. em quisador começar a receber muitas respostas repetitivas e que
fins dos anos 19-10.relegou. em seguida. para a penumbra essas não csclurcccm mai~ a situação em estudo, então, o número
técnicas que pareciam demasiadamente ligadas à influência da ele sujclto-, da amovtra pode ser considerado adequado.
psique individual e. portanto. da subjetividade. Em toda a entrevista esclarece-se o objetivo da pesquisa.
POUCO:lpouco se percebeu que valorc-, e emoções pcrma- garume-se o anonimato e a confidencialidade das informações.
neciam escondidos nos próprios dado, c~tatr,tic()'. já qUI! a pretendendo-se evitar possíveis danos morais para a imagem
maneira de pesquisar era totalmente definida pelo pcsqui ..ador, do sujeito pcs quisado. As informações podem ser gravadas
que transpunha para o, dados sua própria percepção e seus com o consentimento dos sujeitos da pesquisa ou anotadas em
preconccitov. Segundo Queiroz" "perdiam sua uuréol a de pum um diário de campo durante ou upõs u entrevista.
objctividadc. patenteando-se dotados de vieses anteriores ao A unálise d()~ dados obtidos por essa técnica segue os padrões
momento da colora. escondidos na formulação do problema e estabelecidos pum a pesquisa qualitativa, conforme se explicirará
do questionário: ocultos. pareciam inexistentes". mais adiante.
O desenvolvimento tecnológico, colocando à disposição do
cientista novos meios de captar o real como agravndor, reavivou
novamente o relato oral por meio de cntrcvisras em profundi- Grupos Focais
dade, história oral e outras. "As fitas pareciam agora um meio É uma técnica de pesquisa qualitativa, que tem como base uma
milagroso de conservar à narr u ção li vivucidadc de que o sim- entrevista em grupo. focalizada em um problema relacionado
pies registro no papel as despojava. lima ver que a voz do a um grupo de estudo específico. Esta não consiste na simples
entrevistado. sua .. cnionaçõcs. suas pausas. seus vai-c-vens alternância entre perguntas de um pesquisador e respostas dos
no que contava. conxritufam outros tantos dados preciosos para informantes. Diz respeito a uma essão grupal de pessoas que
os cstudos cOlllprecn~i\'o~ e contexlUalizado~":', representam m. sujeitos do estudo e a quem cabe diSCutir vMios
Nesta parte do texto!>e falará dessas técnicas que. isolada- aspectos dc um tópico específico relacionado ao problema
mente ou conjugadas com outras. são utilizadas nos cstudos rm:al izado. Os grupo são constitufdos por cerca de 6 a 15
qualiwtivos. p.essoa~ escolhidas por reprcsentarem pelo menos um traço
t;OlIIUIl1 importante para o estudo proposto. Apóia-se no fato
Entrevistas em Profundidade de quc a intcração grupal. em função dos temas apresentados,
produz rcsultados e aproximações do problema. que incorpo-
É uma das princirni~ técnicas de trabalho das ciência:- humanas ram uma dimell\ão do processo cognitivo, só possível de ser
c representa um dos in!>lrumentos básicos dc colela de dado:> obtido em tal situuçã021•
dentro da perspectiva da pc:.qui a qualitmiva. Éum instntll1cnto paniculanneme apropriado quando oobjetivo
Seu objctivo ~ coletar inrormaçõe não ohserváveis dirc- do investigador é verificar de que modo os ~ujeitos ;avaliam uma
lamente. il-to é. eventos pa sados. o ignificado do atendi- experiência. por exemplo. de tratamento clínico: uma idéia. como,
mento. das prescrições e da própria doença. da pessoa, tentando de adoção de outros procedimentos de controle da doença; como
atingir a sua subjetividade, os limites e os conflitos relacio- definem um problema e como sua~ opiniões, scntimentos e
nados 11experiência com :t doença e o tf:ltamento. sempre de significados encontram-se as~ociados 11 dctcrminados fenôme-
38 • Tratado de (I/nica Médica

nos, por exemplo, aos percalços de uma vida com a doença dados da forma menos estruturada possível. não supondo o uso
crônica. Em síntese. irara-se de desenvolver um processo. com de nenhum roteiro para direcionar ti observação. e seu sucesso
procedimentos que visam à compreensão das experiências dos pesa quaseque inteiramente sobre os ombros do observador. que
participantes do grupo. do seu próprio ponto de vista2lo• pode produzir uma infinidade de vieses na sua observação.
A sua aplicação prática rem urna séric de pré-requisitos: Os pontos crüicos dessa técnica estão principalmente na
necessita de um plancjamcnto apropriado incluindo definição relação observador-observado e na ameaça constante de
do problema da pesquisa, esquema conceituai a partir do qual obl iteração da percepção do pri mei ro em conseqüência do seu
os dados serão analisados, definição clara dos objctivos e da envolvimento na situação pesquisada, envolvimento este ine-
composição da amostra. rente à própria técnica. que lhe confere natureza participante
Grande parte do êxito dos grupos focais depende da qua- distinta de outras técnicas. O segundo problema está na im-
lidade das questões que. por sua vez. resultam do processo de possibilidade de generalização de resultados. como acontece
planejarnento bem feito. no qual se inclui a clara definição do também com as outras técnicas de pesquisa qualitativas, cujo
problema a . er investigado e dos objetivos. resultados valem para o contexto estudado e para nenhum outro
A escolha dos participantes, a partir da problemática em mais. a não ser no sentido de fornecer pistas para a formulação ~
estudo, assim como a definição de critérios amostrais não de hipóteses para estudos quantitativos. O terceiro problema. ~
:
probubilfsticos. são procedimentos importantes dessa técni- que pode ser também urna fortaleza, é o rato de ser uma réc- IA
ca. A amostra uiifizada para os grupos focais geralmente é nica que busca mais os sentidos do que a aparência das ações ~
pequena e sua sclcção é lógica em relação ao objcio de estu- humanas. não pode ter a abrangência de outras técnicas. x
do. por exemplo. se a literatura traz evidências de que exis- Hoje em dia. tem-se procurado usar a técnica da ob erva-
tem diferenças de percepção entre homens e mulheres. entre ção, a partir de um roteiro que ajuda a focalizar os ponto obre
representantes de diferentes condições socioeconõmicas e entre os quais deverá se concentrar. Esse tipo de observação deno-
portadores de diabetes. é necessário fazer pelo menos 8 gru- mina-se "observação estruturada". que pode ser participante
pos focais. 2 com 10 li 15 representantes de cada segmento da ou não participante.
população com cuda uma dessas caructcrfsricas. O estudo de Maisano (citado por Rice e Ezzis) é um exem-
Durante as sessões de grupo. além da preocupação com o plo de como se pode utilizar a observação em pesquisa clínica.
moderador e os participantes. devem-se gravar as discussões Esse investigador utilizou a observação para analisar as condi-
para que eslus possam ser ouvidas várias veze • codificadas ções da maternidades favorecedoras do aleitamento materno.
quanto ao conteúdo e analisadas criticamente. Os participan- Observou a organização das salas de parto e dos berçários de
te:-.devem ser informados e dar seu consentimento quanto às maternidades americanas. Seu foco era o ambiente físico, as
gravações das sessões", normas hospitalares e o cumprimento delas pelos funcionários
As informações gravadas devem ser transcritas para serem da maternidade e veri ficar concretamente como todas essascon-
analisadas a partir do esquema conceituai escolhido para dições eram cumpridas. íavorecendo ou não o aleitamento matemo.
orientar ii pesquisa, seguindo o. padrões de análise de pes- Vários roteiros foram preparados, a observação foi realizada e
quisas qualitativas. pontos foram atribuídos às condições. Ao final, a conclusão sobre
se a maternidade favorecia O aleitamenro matemo ou não, foi
Observação Panicípante obtida, pelo pontos que cada uma conseguiu da aplicação desses
1\ técnica da observação participunte tem sido considerada por roteiros de observação e da soma de pontos obtida. A observa-
alguns como originada da antropologia, a partir dos estudos e ção estruturada, como as outras técnicas, tem vantagens e des-
experiências de campo de Malinowski (citado por Hagueue e vantagens. sendo a principal vantagem a de produzir dados
por outrosj'', como iniciado pela Escola Sociológica de Chicago. objetivos e a principal desvantagem a de perder a possibilidade
na década de 1920. de penetrar na subjetividade das relações dos sujeitos envol-
Florence Kluckhohn foi a primeira a descrever a observação vidos nas ações observadas, tornando-se rnai difícil a busca
participante como uma técnica de pesquisa. Segundo a antropó- do sentido dessas mesmas ações para o grupo estudado.
loga. a observação participante é "um compartilhar conscien- Análise Documental
te c sistemárico. conforme as circunstâncias o permitam, na
arividadcs de vida e. eventualmente. nos interesses e afetos É uma técnica de cólera de dados bastante valiosa, pois visa tanto
de um grupo de pessoas" (citado por Haguetie)'. à complementação das informações obtidas por outros fontes,
Tendo em vista discutir o papel da observação participante como 11descoberta de novos aspectos do problema e rudado",
na pesquisa clínica. é importante ter como referência o estu- Ela serve para identilicar os objetivos e as estratégias utilizados
do eleSchwartz e Schwartz", realizado em um hospital de doentes em um tratumento. por exemplo, identificar problemas e ações
mentais. cm 1951. Dentro do contexto do estudo, a observação priorizadas e para compreender a dimensão contextuai do ponto
participante foi definida como: de vista dos grupos em estudo: isto é, as barreira culturais e
económicas para o seguimento da prescrição. por exemplo.
Um processono qual li prescn ..a do observador, l1U11H1 situu- Geralmente, o material de interesse da pesquisa é separado.
ção social. é mantida para fins de investigação cientifica. O resumido. quando necessário, e analisado do ponto de vista dos
observador e~l(t cm rclução face li face com os observados. e.
participando com eles cm seu ambiente natural de vida. co-
objetivo e do refereneialte6rico do estudo. Estes são protocolos
lera dudr»•. Logo. o observador é parle do contexto observa-
de tratamento. relatórios de arividades. materiaisproduzidos durante
do. nu qual ele ao rnevmo tempo modifica e é modificado. O a atividadc (vrdeos, cartilhas. folhetos e fotos). jornais de grande
papel do observador participante pode ser tanto formal como circulação. com matérias referentes ao protocolo. ao problema
informal. encoberto ou revelado: o observador pode dispen- de saúde ou outro relacionado. Vários Iipos de-metodologias serão
sar muito ou pouco tempo na pesquisa: (l papel do observa- especificados como forma de análise desses dados.
dor participante pode ser parte integral da estrutura social ou
simplesmente periférica com relação li ela (1'. 19). Histórias de Vida
Em termos de pesquisa clínica, é dentro das instituições hos- Segundo Queiroz", a história de vida se define como "0 relato
pitalares e nos ambulatórios que a observação participante pode de um narrador sobre sua existência através do tempo. ten-
ser utilizada como instrumento de coleta de dados. A observação tando reconstituir os acontecimentos que vivcnciou e trans-
de uma profissional em um desses locais permite a captação de mitir a experiência que adquiriu".
Pesquisa Clínica • 39

o pesquisador escolhe II tema da pesquisa, formula as A amostragem em pesquisa qualitativa é intencionat'",


questões que deseja e. clarecer, propõe os problemas e esco- O objetivo é descrever o processo envolvido em um fenômeno
lhe aqueles cuja história de vida seja capaz de desvendar. mais do que a sua distribuição. f\ amostragem poderá identifi-
A partir disso. o relato da história de vida passa ao comando car casos que po. sibilitnm a compreensão mais ampla possí-
do informante. Representa uma narrativa linear e individual dos vel de todos os aspectos do fenômeno sob análise. Embora ii
acontecimentos que o sujeito considera significativos. Deve seleção de umostra em pesquisa qualitativa não utilize crité-
se ater à narrativa de fatos que o informante cfctivamente rios csuuístico« para o seu cálculo e sclcção, não significa que
presenciou. experimentou ou. de alguma forma, conheceu. não haja regras para sua escolha. A amostra em pesquisa qua-
podendo asvim certifica isso. É o narrador quem determina o litativa pode ser sclccionadu ii partir de critérios de intencio-
que é relevante ou não narrar: ele é que detém o fio condutor, nalidade. que conduzem à escolha a sujeitos ou grupos de sujeitos
diferentemente da entrevista em profundidade em que () entre- (infunnuntcs-chavc), representando segmentos da população de
vistador orienta para os objcuvos da pesquisa. Nada do que estudo com caructcríst lcus que pc 1'111 itum () aprofundamento
relata pode ser considerado supérfluo, pois tudo se encadeia para do exume de significados, interpretações. processos e teorias.
compor ou explicar sua existência. Pode ser difíc.:il fa7er o () nutro tipo de 11//10.\'/1'11 /('//1 base teârica. Os casos são sele-
infonnantc c.:oncluir. pois h:i sempre mais e mais detalhes, mais cionados de acordo com as teorias que fundamentam as anã-
e mais reflexões que a mcméria vai resgatando. Como li pesquisa liscs, Incluem-se nos estudos os casos que permitem comprovar
clínica muita vezes c~tá relacionada :1 rnonitorução de trata- as tcorius encontradas na literatura.
mento e de suas interferências na vida das pessoas, a história A amostra por conveniência é a forma menos desejável para
de vida pode ter uma contribuição muito importante. pcrmi- a pesquisa qualitativa e deve ser evitada o máximo possível.
tindo conhecer a percepção dos sujeitos submetidos a um trata- Um exemplo de amostra por conveniência é, por exemplo, a
rncnto, oferecendo dados de como este interferiu em sua vida. escolha do ho pital mais próximo para que o pesquisador en-
tanto positiva como negativamente. A percepção sobre a ação centre casos de pessoas que tiveram derrame cerebral, por exemplo,
dos sujeitos envolvidos no tratamento. médicos, enfermeiros para seu estudo. Esse tipo de escolha não é bom porque o pes-
técnicos de laboratório e Outros também é fundamental para quisador corre o risco de perder dados importantes que com-
ajudar mais especificamente a avaliar o tratamento. põe a diversidade do problema na região de estudo. Se na periferia
O essencial é que a hisróriu de vida quase sempre não dá conta da mesma cidade houver outro hospital que atende a uma cli-
sozinha de definir a problemática da pesquisa c permitir com- entcla de baixo nível socioeconôrnico. com outro tipo de expe-
preender fatores e condições relacionados ao controle ou à cura. riência, esta scrã excluída da amostra e do estudo e a compreensão
mas tem papcl muiro importante na compreensão da dinâmica dos casos de derrame na comunidade será apenas parcial.
cio tratamento. Novamente. histórias de vida de sujeitos de Apesar de não ser possível excluir ri amosrrngcm por con-
camadas socinis difercntcv, ou de diferentes etnias (HI culturas. vcniência em pesquisa qualitativa. a umostragcm intencional
II respeito de um mesmo momento ou acontecimento são. por e a teórica. cnircramo. são formas ll1ai~ rigorosus de escolha
exemplo, preciosas como fonte de dados e controle. da amostra dos estudos, H.i ainda a possibilidade de mili/nr
Por meio dela delineiam-se as relações dc:o.sesujeito com os amostragem voluntâria, cm que as pessoas se autodcsignnm
membros de seu grupo, de sua profissão, de sua camada social para participar do estudo, sistemática que pode gerar () risco
c de ~ua sociedade glohal. que cube ao pesquisador desvendar. de excluir pessoas que negam a doença ou ignoram seu es-
O interesse do pesquisador ao utilizar essa técnica é captar as tado de saúde. por exemplo. Por último. há ainda a amostra-
informações que ultrapassem o universo do indivíduo, portun- gem por triangulação, que combina a abordagem por conveniência
10. os fatos da vida desse indivíduo que se inserem na vida da com a técnica de "bola de neve". isto a indicação de Outros
é.

colctividadc a que de pertence. O relato em si. porém. contém ca os a partir do ca o mail> fácil e mais próximo. atingindo. por
o que u informante considerou por bem oferecer para dar uma designação. uma amostra de todos os casos que interessam
idéia de como foi sua vida e do que ele mesmo é. Avanços e para o estudo. em determinado território.
recuos marcam as histórias de vida e o bom pesquisador não Outra questão importante em pesquisa qualitativa é saber o
interfere para restabelecer cronologias, pois sabe que também que é correto em termos de tamanho da amostra. A resposta já
es as variaçôes no tempo podem constituir indícios de algo que foi apontada quando se fala em entrevistas cm profundidade e é
x pcnnitirá a formulação de inferências: na coleta de história de bastante simples: quando o pesquisador se sentir satisfeito com
cá vida. a interferência do pesquisador é. de preferência. mínima. os dados que tiver obtido, considerando que as respostas cobrem
~ O crédito a respeito do que foi narrado não será testado todas as dimensões que ele deseja estudar. então pode-se dizer
;:'. pela credibilidade do narrador, mas pelo cotejo de' seu relato que n :1I110Str:1está adequada em termos numéricos.
:;: C0l11 dado oriundos de outras fontes, que mostrará sua con- A determinação da amostra é um dos critérios para garantir
ee
vcrgência ou não. a validade dos dados obtidos de pesquisas qualitativas. Outro
O material recolhido. da me. ma forma que os obtidos por critério para analisar um problema de pesquisa. quando se utilizam
outras técnicas. deve ser transcrito. se a história de vida tiver rnülriplos métodos qualitativos, é a triangulação",
sido gravada. e analisado utilizando-se a anãlisc de conteúdo A triangulação das informações consiste na comparação dos
ou outras técnicas. cmclhantes. as quais j:1 foram descritas. .<.ladosobtidos de diferentes informantes. cm situações variadas
e em IHUIlICntoSdiferentes. na busca de abrangência maior na
AMOSTRAGEM EM PESQUISA QUALITATIVA E descrição. explicação e compreensão do problema cm estudo".
Essa metodologia é fundamental pura verificar a propriedade
VAlIDAÇlo DOS DADOS OBTIDOS da~ interpretações decorrentes de observações da realidade feitas
O objetivo da amostragem cm pe quisa qualitativa é fundamen- li partir de distintos ângulos. Pu~~ibilita a discussão inrcrntiva e
talmente diferente da pc quisa quantitativa - pesquisas popula- intcrsubjctiva dos dados, Dessa fonna..a combinação de múltiplas
cionais. estudos epidemiológicos ou caso-controle. O propósito fontes de dados e a interlocução entre os diferentes resultados
do cálculo e das estratégias de sclcção da amo. tra nesse tipo de obtidos garunrc maior validade dos dados, ou seja. que os pro-
técnicas é o de garantir a representatividade da amostra e a bleinas e limitações de um método na obtenção de informação
probabilidade de confiança nos resultados para que possam ser possam scr cornpensado: pelos resultados obtidos pelo uso de
generalizados para a população de estudo. outros métodos. A triangulação das informações, por conse-
40 • Tratado de Clínica Médica

guinte. consiste na checagern dos dados obtidos por diferentes Discurso do Sujeito Coletlvo
informantes. em situações variadas e em momentos diferen-
tes. na busca dc abrangência maior na descrição. explicação Lefêvre e Lcfevre'" apresentam o discurso do sujeito coletivo
c compreensão do problema em estudo" 17.1~. (OSC) como um método de anrilisc de representações sociais.
visando à organização dos dados qualitativos. ou melhor,
Apesar desses cuidados é imponanrc salientar. concordando
discursivos. De acordo com os autores. quatro figuras meto-
COIII Minnyn '. que todo objcto social, no caso. () aspecto socio-
dológicas são definidas com vistas a tornar clara uma dada
psicolõglcos envolvido nus pesquisas clínicas. é inatingível.
dele sá se tem conhecimento aproximado, Tudo que se constrói
representação social. São elas: ancoragem: conceitos e reori-
uso pressupostos que dão sustentação ao discurso: idéia cen-
com todo rigor e cuidado é inconcluso I' superável, e a rea-
Irai: expressa por um conjunto de entrevistados. que caracteriza
lidade infinitamente mais rica. mais dinãmica e mais complexa
do que qualquer discurso sobre ela (p, 249). uma representação social daquele conjunto de pessoas: expressões-
chave: caracterizam cada uma tias representações sociais
categorizadas. representadas por sentenças transcritas fielmente
ANAliSE DE M(TODOS QUAliTATIVOS de partes significativas dolodepoimentos e. finalmente. a cons-
DE PESQUISA cllNICA trução do discurso do sujeito coletivo, realizada a partir de
definições de categorias. que torna os depoimentos equiva-
A UII:íli~e dos dados qualitativos deve começar no início do
lentes e sistemarizados em um só discurso-sintese.
estudo. Deve ser parle do desenho da pesquisa. parte da revi-
Essas técnicas têm sido muito discutidas por comunicadores,
são da literatura. parte do referencial teórico, parte da coletu
etnólogos e sociólogos e bastante utilizadas para ti complemen-
de dados. parte do ordenamento dos dados. clasvificaçâo c leitura
tação de dados quantitativos. dando conta de explicar outras in-
e parte da redução do relatório, Dessa perspectiva. o primeiro fluências que interferem nas açõcs,
passo nu análise de dado. da pesquisa qualitativa é a revisão
da literatura seguida do desenvolvimento do marco teórico
e do desenho do estudo com o delineamento da metodolo-
CONSIDERAÇOES FINAIS
gia. Todas e~~a~ deci. ões têm implicações significativas so- Com o objcrivo de apresentar 010 métodos qualitativos e sua
bre a forma li partir da qual a análise dos dados será realizada. aplicação ii pesquisa clfnica. foi feita uma apresentação dos
A intenção de desenvolver teoria indutiva. ou dedutivamente. método qualitativos de pesquisa desde a discussão de sua
é uma decisão que afeta toda a anãlisc de dados. A maioria cicntificidadc e das contribuições que podem oferecer para
da' pesquisas qualitativas envolve urna combinação de racio- essa área de estudo da saúde.
cínios indutivos e dedutivos que fazem parte do processo de Dada a complexidade dos problemas que se vivencia nesse
teorização. Uma nova abordagem teórica dedutiva dos dados momento do mundo e da sociedade global. esses métodos po-
pode ser comparada indurivarncntc com a teoria escolhida como dem ajudar a compreender e interpretar as diferentes respostas
referencial teórico do estudo. dadas pelos clientes das várias clínicas às prescrições que lhes
A unãlise é feita quase sempre em várias CUlpas. sendo a são feitas pelos médicos. Pode colaborar também e, principal-
primeira a ideruificação de unidades de analise ou temas a serem mente, no controle das condições que predispõem os sujeitos a
buscados nos dados obtidos. Feito isso. os pcsquisadore co- terem problemas difíceis de evitar como as doenças crônicas
IIlI.!Ç:Ull a faleI' perguntas em relação a e~sa~ unidades. Podem-se lIã~)transmissíveis e as transmissíveis que ainda não são passí-
chamar e'~a!> unidades de análise de problema. a serem com- veis de prevenção por vacinas.
preendidos pelos dados. A unãlise deve começar. segundo as Os profissionais da saúde e o pesquisadores das áreas clínicas
indicações de Krueger", relembrando o, objctivos do estudo. està~ .começando a se interessar por esses métodos e alguns
O princípio da análise é que o problema orienta a direção. se utilizam deles como modo legítimo de compreender as questões
As rcspovta: às perguntas são encontradas por diversos tipos do ponto de vista do pesquisado.
de avnliuções: análise de conteúdo das rcspo tas. análise temática Os profissionais de saúde estão começando a trabalhar em
das inlunuaçõcs. discurso do sujeito coletivo e outras. equipes multidisciplinarcs, das quais fazem parte sociólogos
e psicólogos. que têm formação e experiência nesse tipo de
método. O uso combinado de métodos quantitativos e quali-
Análise de Conteúdo tativos tem produzido explicações mais aceitáveis para os pro-
Geralmente. utiliza-se a análise de conteúdo da forma proposta blemas que os profissionais de saúde têm enfrentado'.
por Bardirr" ou outras técnicas muito utilizadus hoje em dia Há situaçõc cm que os métodos qualitativos não devem ser
cm Saúde Pública: uma delas é ()"discurso do sujeito colctivo" incluídos. como momentos em que se neces ira de abordagem
para análise do material produzido lO. epidemiológica para definição da situação de uma doença em
Para Bardin", a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas determinado momento, em determinado território ou mesmo
de análise do processo de ccrnunicução. que permite o estudo de quando se necessita de algum estudo ca o-controle.
motivações. atitudes. valores. crenças c tendências. É uma Diante dessa realidade desejamos que os leitores tenham ti-
metodologia voltada a lima hermenêutica controlada, com base rado proveito das informações que foi possível lhes transmitir
I.! que possam fazer uso delas não indiscriminadamente, mas
na inferência e na dedução. Um esforço de interpretação que
oscila entre o rigor da objetividade e a fecundidade dil subje- raciocinando com os instrumentais para analisar a serventia do
tividade. Exige definição clara do objcto de estudo e dos cri- liso de métodos qualitativo isoladamente ou de forma combi-
térios para verificação do texto. nada para avaliar ações ou encontrar novos caminhos para pro- ~
Na prática. a análise de conteúdo passa pelos seguintes passos: mover a saúde, prevenir doenças e tratar as pessoas mais vulneráveis ~
(I) se os dado tiverem sido gravados. dcv cm ser transcritos; (2)
da responsabilidade da área clínica. v.
'"
00

as transcriçõe-, ou os relatos escritos devem . cr divididos em REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS x


segmentos. representando conteúdos ou temas que a pesquisa I. FURTADO.O.; REY.F. L G. (ocg,.,. Por uma Cp/s/ellloloR/a dn SlibJtlÍI'Ídad~: 11m
pretende desvendar: (3) esses segmentos devem ser codificados debat« (11/" II teori« socio·hútt$rim e II teoria das TI'pre.lclllllç,HS Sociais. 5:10Paulo:
rcprcscnuuulo dados do problema ou áreas de conteúdo; (4) os Cu,•• 10P,icólngo. 2002. 105p.
diferentes segmentos ou áreas de conteúdo são analisados c 2. IIAGUETfE. T. M. F. M~/oJologias Qualumil'lH 11(1 Socioiogia. 2. ed. Petrõpolis:

VOIC._. 1990. 163".


discutidos a partir da teoria existente. Esiu é resumidamente 3. MIN;\YO. M. C. S. O DfSOjiOtio Conhrrimento: P'lllulsll qU(llIul/;"(J ~m SOlide.
uma forma de analisar os dados qualitativos. São Paulo'Rio de Janeiro: IluClleclAIlRASCO. 1992.
Pesquisa Clínica • 41

~. 11000 . M. O ~I ai lntremn»rA/'l"l)Ilcltrs la (1111t1''''''''r QIII"'ltUilll'r E> Itlmr,·.


111111 Como esse processo de geração de conhccimcruo médico
l.onJon ltalel> o..'\ek'l'nlCnl/\j:cIIC)'. 2(lOJ. Avnilnblc m: hllp:l/ww",.had.nh<.uk/.
é cíclico. tem-se de opiar por um inicio I!. portanto. começar-
S. RICI'~ li L. EZZI. O QlloIIIIII"'( IIrlrllrrh Mrtlwc/s: (J /t,'allll file",. 5. ed. Mel·
"'mm<' O,fon:ll:nll",II,. 2IWI-I 29~1'. se-ã pela interação rnédico-pacieruc da prática clínica. A Fi-
b. I)Am)~.M Q Q"alllUlllr Ew,/lIlIIí()l'Mfll",c/". tOl1uoII/BclCrty HiIIs:Sage.1987. gura 5.1 ilustra todo O ciclo.
7. KARl'. O SrnJ-tng ,ljSaJntw d,pl't'>S;OII. disconnection and tlt e m..aning fi!IIIl1f.~'. Optando. então, pelo início na prática clínica observa-se que o
<'\I' Yorl. O,rord Unl\<1'il). 1996.
8. WESTPHAL M. F.Pin1iripoçãoFt>pulare PoliticasPúblicusMllniripo/s dr SlIIíilr:
médico. por meio de um processo de pesquisa erniolõgica, colhe
llruwdtCUlilu \lll~ Gramft Paulista.São Paolo.I992. 3JOp. T=(Lh"" Dotência) um conjunto de dados do paciente. os quais devem ser organi-
- Faculdade de Saúde Pública da Uni""r;:idadc de São Paulo. zados e interpretados li luz do conhecimento existente.Os dados
9. EDWARD. J.: FARlo\.. R. O equilíbrio do cérebro e da alma. Rr,';rlll l'fja. n. 1882. organizados geram, dessa torma. informação ao médico que. a
p. 1I~12~ Dez 100-1
10. COCHRANE.A. L EfjtnitYNU "",I fjJicim,:,': ''''''/0/11 fl'jI"(ltfH,StN,/,({/IIII~mrr<. partir delas e das evidências disponíveis nas ba es de conheci-
tondon: BriIL'" Medial Joom.1 Nuffirld I'rovincilllllo'pilal, Tru-t. 1989 (rtl'"nl mcnto médico. toma a decisão mais adequada possível. Essa
wilh i1O'l~ripl 3IId ""'IU~I) ,. etapa do ciclo envolve lodo o processo de tornada de decisão
II. RICE. P.L <131.lh: manio!!"'" ~u<.c 1111 hnon~ WO(llen.J",mhll o{Nrl'rodllcrll'r
mll/lnfiml Pf11Iw1~I. I. 13. n .!. p, 77·<)2. 1995.
individual do médico. incluindo diugnóstico, proposta tcrnpêu-
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Sas.,·1992. gentes e das evidências disponíveis. podendo gerar informa-
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17. SACARDO. G.A. Pmrid,.....tlr".\"hj<-lil'itltlllr ""'" I'/llll/lll/""I, ['1111',\,)0,\",11,,111111 conhecimento da área.
São Pauto. ~001. 16(Ip. T= (o.'''lor••101~ Fllculdr'llc d" S",1d;: Pública ii;, l.Inhcr· Complementarmente. dados gerados pela pesquisa experi-
si~ade (Ic São Paulo.
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Arle~ Médica" 1995. nismo das doenças. quase sempre iII vivo, com animais de
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Y.S. (cd'.l. 1I1111./1ioo!aI Q""",tl/llr lIC'mlrrl,. Thllu'ond Oal.: SQ~". I99J. dos a fim de que possam gerar algum tipo de informação. Essa
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IIn pr.,q"i.rtI .\IIdlll fOlllt"'/""""«I • ....n .. :.Icd .. 1996. por sua vez. acrescer ou mudar o conhecimento da área.
22. GEORGE. A. MClhodotOj:K'al I\WClo lo til< cthno~raphic Iludy 01'scxuality: ""'1"""""'' ' Todo () conhecimento médico. expresso. em grande parle. em
rrom rlomba)'. ln: KONING. K.. ~IARTIN. ~1. (cd<.). I'lIrtll'il'lII"", IItlflJfrh ln relações c associações entre variáveis explicativas e certos efeitos
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11m I'ftlj"o "",,,,;rlp/IISIIIItI';"rl no Puuh,. 2002. 167p. Oi,,,·rI"~11., (Mc'lm<k.) a~ quais podem assumir a forma tradicional de livros-textos c
Faculdade de Saúde Pdhlk. d., lIn".r-ld.llk ,!e S~" PauIII, periódicos especializado ou alguma forma de armazenamento
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p.271.286. 1987. clcrrônico. Dessa base de conhecimento é possível gerar-se, por
25. ~IORGI\N, D. L. NH '" (;"N/fIIII QtllIl"II,II','II,·""tn1,. 2.l·d.lkwrly IliII<: Sage. 1997. métodos de análise relativamente complexos como as técnicas
26. KRUEGER. R. A,I-iH'1t1 (jllH/I'. II WIII',II'III/lltitlr/t'flll'l,li",1 '·"'flln·lt. ~.<..t.l\'c'W""1) estatísticas de meta-análise, evidências clínica, as quais assumem
P.rL· S.~c.199~. papel cada vez mais preponderante na prática médica arual. Além
27. SCIIWAR17_ M. 5.: SC'IIII'ARTZ. C. G. Pt'llbkll1' in participam obscn'alion./lntrricaJl
JllllfflI,l'if 51.'1111"11\'.I. 60.II•.'~)·J54.1955. disso. a partir dessas ba es de conhecimento. realizam-se pes-
28. Mr:.NDF.~.R. C"lodr.1SI/IIII,iI"I.11111 Hras]! e os I'nt(,(S$IJ$ Partictpativos: os casos quisas de natureza essencialmente teórica. cujos resultados também
c/r J.nc/wf t Morrltl. São 1'''010. 1000. 216 p. Tese (Doulorado 1 ~ Fxuldnde de podem acrescer ou modilicar o conhecimento médico.
&Il<k PúbhC1l da Un;'·cn.ldud,· ue Suo PaulO.
29. I)AROh • L A"dlÍ5t dt Cmll""do. Lisboa: Pcrsona. 1995.
30. LF.FEVRE.. F.: LEFEvRE. A. ~1. C. Noms AIJllfflnXf'u MflfH""lÍgÍt'(,., MI 1',·.rIfIl;J(1 LIDANDO COM A INCERTEZA
QlIlIlllil/llll São Paulo: F:l.··uldll(!ede Sa,ide Ptíhlic:, dn Univcn.id:ldc de Slio Puulo. 1999.
A variabilidadc hUml)llalorna. por ve7es. muito difTcil o processo
de geração de conhecimento médico.
De panicular importância no contexto doconhecimenlo médico
CAPiTULO 5 é o problem:I das incerlezm. no proce so diagnóstico.
Assim. scnio disculidos bn:vcmcllte no próximo tópico os
problemas gerados pela incerteza no diagnóstico médico.

Métodos Quantitativos
na Pesquisa Clínica
Eduardo Massad 1 0_

..~ oINTIODUçlo
x
conhccintcnto médico nfio difere dos dctnais rarnos da ciência '''CIUI'"dINcI.
-----------1 ,~~. I
fP"tf'!'IOI09tt.t
~ conlcmporflOca. Cresce por aposição de evidências e. por "C"I!!..
~ é pontuado por revoluções Kuhnianas eln que vclho~ paradign13s Figura 5.1 - Processo de construçiio do conhecimento médico.
Qt'J são subtalnenlc substituídos por novos. Adaptado de van BemOlei et aI.. 1977
42 • Tratado de Clínica Médica

DIAGNOSTICOMtDICO sintomas s. Equivale, também uo valor preditivo positivo de


um teste diagnõ tico.
o Dlcianârio Médico Dorland define diagnó tico (ou melhor.
A abordagem bayesiana rem tido ampla aplicação em pro-
diagnose) como a arte de distinguir uma doença de outra e,
ces os diagnósticos. inclusive na construção de sistemas espe-
ainda. a determinação da causa de uma doença.
cialistas. c, por ser bem conhecida c amplamente discutida
Para o Ox/onl Medical Companion. diagnose é o processo de
em vários livros-textos. deixar-se-ri ao leitor interessado a tarefa
identificação de uma doença ou outras circunstâncias respon-
de se aprofundar consultando UIII desses textos.
sáveis pelas queixas de um paciente, ou seja, de sua doença.
Na verdade, :I complexidade do processo diagnóstico deriva
da extraordinária variedade de modos de apresentação das en-
Teoria das Evidências de Dempster-Schaffer
tidades produtoras de sintomas e essa complexidade é umplific ..da Com muita frequência a incerteza resulta de uma combina-
pelo impacto do paciente sobre sua expressão. ção de falta de evidências. limitações inerentes a regras
O diagnõsrico médico baseia-se em observações clínicas e pode heurísticas e limitações do conhecimento humano. A teoria
se beneficiar (hoje de modo preocupantcmente crescente) de téc- das evidências de Dernpster-Schaffcr considera um conjunto e:
IIICm, auxiliares. como laboratório clínico. irnagenologia, etc.
Pode-se definir o processo diagnóstico tal como Sackett:
de proposições e atribui a cada urna delas um intervalo f crença,
plausibilidade I que contenha certo grau subjetivo de crença V.
..
2
"um conjunto de técnicas que rotula o paciente e classifica no evento. A medida de crença, denotada b! (do inglês, belief). ~
sua doença, identifica o prognóstico provável e define o me- varia de O (sem evidências) li I (certeza). Seu complemento x
lhor tratamento disponível. Do ponto de vista da lógica quan- é chamado de plausibilidade c é denotado por p l . Assim,
titativa. o diagnóstico é um processo de redução de incertezas". para II proposição a:
O ato do diagnóstico clínico é, portanto, um processo de
classificução. isto é, um esforço para se reconhecer a classe à p/ (a) = I - bl nl)
qual determinado paciente pertence.
Várias tentativas têm sido feitas para se identificarem os caminhos cm que "a significa lião li. A plausibilidade também varia
cognitivo que resultam em diagnóstico médico: reconhecimento de O II I e reflete como a evidência de lião (p) se relaciona
de padrões c estratégia de arborização. de exaustão ou hipo- à possibilidade de crença em p. A postura de Dernpster-Schaffer
térico-deduriva. Esta última tem sido considerada como a mais ao proporem sua teoria é a de que a medida da incerteza
apropriada para o processo diagnóstico por ser econõmica (é pode ser inferida pela distinção entre falta de certeza e igno-
mais rãpida) e ter maior ucuráciu, A estratégia hipotético-dedu- rância. As funções de crença permitem usar o conhecimento
tiva. aparentemente. é a adotuda por clínicos mais experientes. para atribuir valores de probabilidades a eventos na ausência
13111suma. o processo diagnóstico pode ser descrito como de valores cxaros para essas probabilidades. A teoria de Dernpster-
a combinução de um ou mais dos seguintes fatores: aborda- Schaffcr baseia-se na idéia de se obter graus de crença para
gem de reconhecimento de padrões pelo clínico experiente, determinada questão a partir de probabilidades subjetivas de
métodos de múltiplas ramificações do residente e de exaustão questões relacionadas e no uso de uma regra de combinação
do aprendiz. e a técnica aparentemente mais usada, aborda- dos graus de crença quando estes baseiam-se em itens inde-
gem hiporérico-deduriva. pendentes de evidência.
Suponha-se um domínio diagnóstico H. contendo alguma
Técnicas Quantitativas para hipótese diugnõstica de que um certo paciente tenha ou tuber-
Tratamento das Incertezas culose (T) ou pneumonia (P) ou gripe (G). Tem-se, então, de
associar as medidas de crença com conjuntos de hipóteses do
Váias siio as ferramentas quantitativas disponíveis para o trata-
domínio N. As evidências não precisam dar suporte a hipóteses
mento das incertezas. Neste capítulo. II dlscussüo será limitada
individuais de modo exclusivo. Assim, por exemplo, a pre-
a abordagens consideradas clássicas. u saber, a análise bayesiana
sença de febre fundamentaria as três hipótese anteriores. simul-
c a teoria das evidências de Dernpstcr-Schaffer, uma técnica
taneamente. Por outro lado. evidências a favor de alguma das
alternativa, a de lógica FuZ7.y. e. finalmente. a meta-análise.
hipóteses podem afetar a crença nas outras.
A etapa eguínic consiste na definiçâo de uma função de
Abordauem Bavesiana densidade de probabilidades. d, para todos os subconjuntos
A ubordagcm bayesiana baseia-se em probabi lidades a priori, do conjunto H. em que d (h,) representa a crença atribuída a
probabilidades incondicionais atribuídas a um evento na ausência cada h de H (nesse caso. L ri (" ) = I). Se H tem n elementos.
de conhecimento ou informação que justifique sua ocorrência existe~ 211 subconjuntos de H. 'Como muitos dos subconjun-
ou ausência, e nas probabilidades a posteriori, probabilida- tos nunca ocorrem. é possível lidar-se com os subconjuntos
des condicionais de um evento dado alguma evidência. A notação rcmunecentes. A plausibilidade de H é dada por:
usual para fi probabilidadea priori p (evento] c para a probabili-
dade (/ posterior é p (evento/evidência). Assim. por exemplo, a
é

1)/ (II) = I - L d (h)


probahilidadc li priori de urna pessoa ter certa doença é o número , na qual osh, são os conjuntos de hipóteses que tenham al-
de pessoas com a doença dividido pelo número de pessoas no guma crença d'e·suporte. Sempre que se inicia um diagnósti-
domínio de interesse. A probubilidadc (/ posteriori de uma
co. é comum que não se tenha nenhuma informação sobre qualquer
pessoa ter a doença d. dado que tem o conjunto de siruomas
hipótese e. então. p/ (H) = J.
s, é estabelecida pela fórmula a seguir. também conhecida como
Suponha-se a primeira evidência de que aquele paciente
equação ou teorema de Bayes.
tenha tosse. o que dá suporte às hipóteses de tubereulose e
)_X_;P:....:..( d...c...) pneumonia.vao nível de IT. PI =0.8. Se essa for a única
{J (d/s]
I = I'..;_(,_rld...;..
:...
hipótese, então, df T, PI = 0.8 e ti] IG 1= 0,2 para dar conta
P (s)
da distribuição de crenças remanescente, isto é. todas as
Portanto. a probabilidade li posteriori dada pela equação outras crenças em H. Em seguida, amplia-se o espaço de
de Bayes é o número de pessoas que tem tanto li doença li e pesquisa e se obtém a informação de que o paciente tem
os sintomas s dividido pelo número total de pessoas que tem os também ccfuléia. o que fundamenta as hipóteses de pneu-
Pesquisa Clinica • 43

monia c gripe. ao nivel de / P. G 1= 0.6. Assim. d/ H 1 = 0,4. ças distintas e a presença de outra' doença» cm um me mo
Essas duu-, "crcnça-,' podem. dessa forma. ser combinadas indivíduo pode alterar completamente () padrão sintomático
pela regra de Dcmpvtcr: esperado para qualquer uma dela'. E"es efeitos costumam ser
gcradorcv de muitas incertezas e imprecisões, afctnndo a in-
_, ,. dlX)d:(I') rcrprcinçõc-, do, exumes e o diagnóvtico. Tem-se ainda, que as
d, (Z) =
I - r, ,.llX)d~ (>') doenças :.iill quase sempre descritas com a ulilil.ação de ter-
mos lingüfsticos. que são intrinsecamente vagos, c que mui-
dr nunlo '1"(,: urs são a' variáveis quuliuuivus cru mcdiciua. o que apresenta
/ti, (I: PJ = 0.81 r.ta.t»: GJ = 0.6/ = Id,/I'I = O.../8f d ificuldudcs na ut iIil.ação de método, quruu iuuivos,
Em medicina. a incerteza não 'c Ic'tringc apenas a varia-
E como não hti nenhum conjunto X ri I' que seja vazio. o çõc, ntcarõria-; lc"a :írea podem- ...e agrupar as incertezas
denominador ua regra de Dernp-tcr igual a I. Pode-se. por
é em dU:I\ cl:l"e': vurlnbitidudc. originada da heterogeneidade
conveguintc. atribuir à crença de que () paciente tenha pneu- da população ou de exrocusticidudc: c ignorância parcial, que
munia n valor de O.-IX. rc-ultn de erro-, :.i,tcm:íticos UC medida (imprecisão) ou do
desconhecimento de parte do processo con idcrado (subjeti-
vidade), l'nrtunto. \ ariabilidade e Ignorância devem ser trata-
lógica Fuzzy da~ com métodos diferentes c upropriudos. No caso da
A teoria de lógica [uz:» foi apresentada cm 11)6·1 por LOI fi 1\. variabilidade. a teoria de probabilidades (esnufstlcu) IS,cm geral,
Zadch. professor no Departamento de Engcnhnria Elétricu c o método mais indicado. porém. ela não consegue, na maioria
Ciências da Computação da Universidade da Culifórnia. cm das VC7e~.abordar o problema da ignorância e da subjetivida-
Berkeley, quando ele trabalhava CUIII problemas de classifica- de, E,te~ últimos podem ser tratados. entre outros métodos,
ções U..:conjunto, que não possuíam fronteira' bem definidas. com a unálisc buycsiuna e com a teoria de IÓgicajilZZY·
O termo 111;:;:Y .. ignifica nebuloso. difu: o e se refere ao fato A teoria de hígica jil;:;:y tem sido desenvolvida para lidar
de. em muitos caso-; não ve conhecerem completamente os sis- com o conceito de verdade parcial. ou seja, com valores de verdade
lemas que se e,t:í analisando. Existem inúmcra-, :.illlações em entre li completamente verdadeiro e o completamente falso da
que a relação de pertinência não é bem definida c. ncsvcs ca- lógica booleana. Não é necessário muito esforço para se perce-
sos. não se sabe dizer com cxatidão . e o elemento pertence ou ber que poucos são os casos no cotidiano real em que se tem
não a um dado conjunto. 1\ intenção de Zadch foi flexibilizar total certeza sobre a. coisas e o. Iaros, e que faz parte da ali-
a pertinência de clcmerun-, ao\ conjuntos crinndo a idí!ia de vidadc humana tomar decisões considerando a verdade parcial
grau de pcrriuêncln. Dc"a forma. 11melemento poderia per- existente. Nc~:.e sentido, dificilmente IoCpode considerar um
tencer parciulmcmc li 11111 dado conjunto. Essa 'lia idéia foi indivíduo complctamcmc doente (:llgUllHI\ rUI1,i)cs, ou a maioria
publicudu CI111')65. vendo e-sc artigo scminul o marco do dclnx. pcnnancccm perfeitas): da rncvrna forma. poucas vezes
na ...cimcmo da tcoriajil::\. Essu extensão da função caractc- pode-se considerá-lo complcrarncmc saudável. em p.uticular quando
r(,tica da Itígica cl:h,ica para () intervalo 10.11 originou os mora cm grandes centro' como São Paulo. onde se ..:stá quase
conjunu» jil::y c po:.,ihililllll. entre outras coisnv. a utilivn- sempre rc friado. gripado. estressado ou mal alimentado.
ção de \'ari:ívei, lingUí~tic:ls. permitindo a exploração do coo Con-iderundo o que foi exposto anteriormente, vê-se que
nhccimcnrn humano no dcvcnvolvimcntu de muüo-, sistemas. a lógicajil:;:y pode ser uma ferramenta extremamente útil na
Dada, :1' caractcrf~1 ica, da teoria da I(,gica ./i,:;:y. loão ClopC- abordagem dc problemas em biomedicina. De fato. a aplicação
rada .. loua' cnnrl1lelo contrihuiçiles para () dcscnvol vi mento de de!>sa teoria na área métlica lem demOI1Mr:IUOgr.lnde capacidade
modelo, em ~rea' el1l que lo! necess;írio lidar COIll a imprccisão. para aprimorare de,cll\'oh'cr t:lIlto equifJal11clllo~quanlo modelos
como ti engenharia c a qufmica. c com a subjclividadc c (' desco· nas mais diver:.a:. atividade. bOlipitalares e de pesquisa.
nlll:dl1lcllto.C(ll1m a biologia. a mcdicina, a epidcmiologia, a ecologia.
a CWI1Ol1lia,a p,ic()logia. as ciências sociais c a saúde pública, Meta-análise
cntre outra'. ):' ..a teoria tem demonstrado grande capacidade Três revoluções conceituai e tecnol6gica~ deverão mudar o
de :Iplicação. ajudando csses prolissionais a produzi r modelos pensamento e a prática médica do sí!culo que se de conina.
mais condilente)o -=om !.uas necessitlades e realidades. Dentre elas. {/ medicilla com base ell/ el'itlêllcias (MBE). de-
~ A id":iauc grJu., de pcninência da lógicajit;:;:y IXJssibili1aagmpar !inida como "O uso consciente. explfcilll c juuieioso das me-
~ o elemcnto ...de maneira diferente da aplicada na lógica chíssi- lhores evidência~ disponí\'ci ". car.lcteri/a-Ioe por imponanle
~ ca. oque pemlite reinterpretar antigos conceito .elaborJdos segundo mudança de paradigma. Na prática. repre!>enla a integr:lção entre
~ essa lógica. O, conceito, de ~aúde e uocnça. por exemplo, são a experiência clínica inui\ idual do pmfi~:.iunal médico com a
oe \'islO~pda cOl11unid:llh:mt!dica como OpostOIo.ou seja. a doença experiência colctiva de pesquisas c1ínica~. disponibilil.ada pelos
é a au,êllcia uc ,aúdc e \ icc-\'ersa. Assim, a existência de snúdc aluais recurso~ de acesso ti informação. 1\ ênfaloe na experio!ncia
c doença em um l11e,mo indivíduo consiste em situação contr:l- intlividu:l1 c o pcso tI:I opinião tio c.\pecialislll ISdilu(da pela in·
ditória. li el1lanto. na abordagemjil:::y os conccilO:> de doença f'uITllaç:illrC~lImida dc grande número de e~lUdos sislemáticos.
e ~aúde ~ão ante~ complementare do que conlradil6rios. Scnuo ()s chamado, l'II.WI;O.\· díll;CO,f o ((!(lwri;:/lt!o.ç, quc caracterizam
a~~im. um no\'o conceito de doença e s;uíde pode :.er c:.tahdcl.:i- a mlldança de paradigma repre~enlatla pelu MBE.
do. pouendo provocar tran,for1l1açõe, el1l oulras con~truções Embora não 'e rClolrinja~ :máliloc UCcll,aio~ cl(l1icos. a MBE
conceituai, da medicina. como a no\ologia. por exemplo. lem cllmo princip:ll i,Nnlmclllo 1I11/('/(I·(//uíl;lt'.ohjelo desle caprtulo.
TahCl cm nenhum outro campo da biociência a necessidade de 1\ 111el:l·:rll:íli,eé definida como ahordagcm quantitativa para
c trutur:t~ l11atem~tica' c computacionais. quc po~sibilitel1llidar a cumhin:lçãll ,i,tel11~tica de rCloultado' dc vário:. estudos prévios.
com a, impr..:cbõe, e inceneLa~ de forma mais crílica c rea- com u ohjcli\'u de :.illlcti/':lr urna cllnclll',ão única e final sobre
li~l:I. ~cja tão e\'idcnte quanto na medicina. O diagnó ...tico de os divcl'l-o, c'lUdll'. Ap6:':I identifie:lção dos eSlUdos de inleresse,
doença' cn\ohe \':írios níveis de impreci~ão c incerlel.ll. Uma da análi~e dos crilério~ de inclusão e exclusão d(l' Ioujeilos.os dados
línica doença pode ~e manifestar tle forma totalmcnte diferente ~ã(1cOlnbinado!oopor técnicas eSlatístieas. gcrando um eSlimador
em variado pacientcs. c com diverso. grau, de gf'llvidado.:.Além quanlilativo do ((/111(111110 do (:((!;fII e Il!stando a h01l1ogeneidade
disso. um tínico ~intom3 podo: :.er indicativu dc várias doeu- no cl>til11ador do tamanho do dcilo,
44 • Tratado de (/(nica Médica

do sexo feminino. estudado por 19 grupos diferentes de pes-


TABELA5.1 - Resultadosde 19 estudos para a avaliaçãodo
número de casosde câncerde pulmão em fumantes passivos quisadores em 1991. resumidos na Tabela 5.1.
Corno se observa na Tabela 5.1. alguns estudos apontam
RISCORELATIVO
para uma ussociação significante entre exposição passiva ao
NÚMERO ESTIMADO (INTERVALO
REFE.RtNOA DE CASOS DE CONFIANÇA95%) fumo e câncer de pulmão. enquanto outros resultam sem re-
sultado estatisticamente significante. O valor do risco rela-
Akiba. Kato, Blot (19B6) 94 1.52 (0.88 - 2,63)
Brownson er aI. (1987) 19 1.52 (0,39 - 5,99)
tivo resumido. entretanto. aponta para um risco de desenvolver
Buffler er aI. (1984) 41 0.81 (0,34 - 1,90) câncer de pulmão em mulheres fumantes passivas 42% maior
Chan er aI. (1979) 84 0,75 (0,43 - 1,30) que os controles. resultado este. significante ao nível de 5%.
Correa et aI. (1983) 22 2.07 (0,82 - 5,25)
Gao et aI. (1978) 246 1.19 (0,82 - 1,73) Métodos Estatísticos em Meta-análise
Garfinkel, Auerbach, 134 1,31 (0,87 - 1,98)
Do ponto de vista estatístico. a meta-análise consiste em um
Joubert (1985)
conjunto de técnicas para analisar lima série de estudos sobre
Geng. liang, Zhang (1988) 54 2.16 (1,08 - 4,29)
ti mesmo objeto. para a estimativa de uma medida sumarizada
Humble. Samet, 20 2,34 (0.81 - 6,75)
do tamanho do efeito. da variância do estimador sumarizado do
Pathak (1987)
Inoue, Hirayama (1988) 22 2,55 (0,74 - 8.78)
tamanho do efeito e do intervalo de confiança. O objetivo seguinte
Kabat. Wynder (1984) 24 0.79 (0,25 - 2,45) é derivar uma cstaustica sumarizndn que possa ser usada em
Koo et aI. (1987) 86 1,55 (0,90 - 2,67) um teste de hipóteses. Finalmente. deve-se testar a hipótese
lam et aI. (1987) 199 1,65 (1.16 - 2,35) de que os efeitos são homogéneos.
lam (1985) 60 2,01 (1,09 - 3,71) Existem basicamente quatro métodos estatísticos para a
lee, Charnberlain, 32 1,03 (0.41 - 2.55) surnarização dos dados: de Mantel-Hacnszel, de Peto, da variância
Alderson (1986) geral e de DerSimonian-Laird. Os três primeiros consideram
Pershagen, Hrubec, 67 1,28 (0.76 - 2.15) um modelo de efeito fixo. ao passo que o quarto pressupõe um
Svensson (1987) modelo de efeito aleatório.
Svensson, Pershagen, 34 1,26 (0.57 - 2,82) Os modelos de efeito lixo consideram que a inferência é con- ~
Klomineck (1988) dicional ao estudo já realizado, enquanto os modelos de efeito ~
Trichopoulos. Kalandidi, 62 2,13 (1.19 - 3.83) aleatório consideram os estudos como amostras aleatórias de &;..
c,
Sparros (1983) alguma população hipotética de estudo. A diferença básica entre ~
Wu er aI. (1985) 28 1,41 (0,54 - 3,67) essas duas classes de modelos é que os modelos de efeitos x
Adaptado de Petitti', fonte originai EPA·USA aleatórios são apropriados se a pergunta que se pretende res-
ponder é se o tratamento. ou furor de ri coo terá algum efeito.
Por outro lado. se a pergunta for. e o tratamento teve algum
Veju-se um exemplo ilustrativo. efeito /lOS estudos já realizados, então os modelos de efeito
Até 1988. o uso de untiugreguntcs plaquetários para prevenir fixo são mais apropriados. Já se demonstrou, entretanto, que
o derrame cerebral cm pacientes com isquemias transitóri- os dois tipos de abordagem só dão resultados diferentes se os
a~ era controverso, Até aquele ano, vários ensaios clínicos resultados dos estudos originais não forem homogêneos. Além
controlado!' sobre o uso de antiagregantes plaquetários em disso, outra diferença importante é que os modelos de efeito
pacientes com doenças cerebrovasculares haviam sido rea- aleatório tendem a ser mais conservadores. no sentido de gerarem
lizados. Entretanto. esses estudos eram de qualidade vari- intervalos de confiança maiores, com menor chance de resul-
ável e alguns resultados eram contraditórios. Meta-análise tados estatisticamente significantes.
sobre esses estudos realizada pelo Antiplatelet Trialist's Outra decisão importamo é sobre o tipo de medida de efeito
Collaborauon dcmon: irou redução altamente significativa que se deseja analisar. Nos ensaios clínicos aleatórios e nos
de 220/" no risco relativo de acidente vascular cerebral. infarto estudos de coorte. o efeito do tratamento pode ser estimado pela
do miocárdio c morte de pacientes com doença cerebrovascular diferença nus taxas di! adoecimento entre os tratados (expostos)
cm pacientes trutudns com antiagregantes plaquerãrios. e controles (não expostos). pela razão das densidades de inci-
Portanto. graças ~ mctn-unãlisc realizada. os anriagregantcs dênciu, pela razüo das incidências cumulativas, ou como a razão
plaquctãrios são ugorn indicados e prescritos a pacientes dos produtos cruzados (odds ratio).
com isquemia transitória. Agora será examinada com um pouco mais de detalhes uma
Uma dus grandes vantugens da meta-análise é sua capa- das principais técnicas estatísticas utilizadas na meta-análise.
cidade de resumir c condensar os resultados de vários es- o método de Mantel-Haenszel (o leitor interessado pode procurar
tudos em um único indicador de efeito. Seu uso é mais útil mais detalhes sobre esta e as outras técnicas no livro de Petitti,
quando os estudos prévios são muito pequenos para gera- referido mais adiante). Antes. porém. será relembrada a tabela
rem conclusão vrilidu. Sua utilização tem sido majoritari- 2 x 2 que organiza os dados de experimentos populacionais
amente aplicada a ensaios clínicos aleatórios. embora possa para quantificar o efeito de alguma supo ta causa (Tabela 5.2).
ser. e tem sido. usada para estudos não aleatórios e estudos
não experimentais.
A técnica da mela-análise consiste em quatro etapas. Na
TABELA 5.2 - Dadosde experimentos popula~ionaispara
primeira. ()).estudos candidatos li meta-análise são identificados. quantificar o efeito de alguma suposta causa.
Na segunda. os critérios de eligibilidade dos sujeitos e dos
estudos ~50definidos. A terceira etapa consiste na sumarização EXPOSTOS' NÃO EXPOSTOS" TOTAL
dos dados, Por fim. os dados surnarizados são analisados cs- Doentes a, bl g,
tnristicnmcntc. Este capítulo diz respeito justamente a essas Nilo doentes c, a, h,
técnicas estatísticas da quarta fase da meta-análise. Será apre- Total el f, n,
sentado um exemplo de aplicução da meta-análise para sumarizar
o risco relativo para câncer de pulmão de fumantes passivos ..
•ou tratado
ou não tratado
Pesquisa CI/nica • 45

Método de Mantel·Haenszel TABELA 5.3 - Estudo de casos-ccntrcte para avalia~ão de risco


Essc método bem conhecido de análise c proposto cm 1959. de câncer de pulmão em fumantes passivos
tn
pressupõe efeito fixo c pode ser usado quando a medida de EXPOSTOS NÃO EXPOSTOS TOTAIS m
.('l
efeito uma razão. tipicamente odds ratios. As equações para
é
Estudo 1 >.
o cálculo da odds m/;II sumnrizada são II~ seguintes: O
Casos 90 44 134 N
1:., (peso i x OR) Controles 245 157 402
OR.,J, = Totais 335 201 536
.r, pe.WJ, OR 1,31 IC 95% (0,85 - 2,02)
em que. da Tabela 5.2: Estudo 2
{(I xeI ) Casos 115 84 199
OR =-'--' Controles 152 183 335
, (lr , x c ,) Totais 267 267 534
OR 1,65 tC 95% (1,14 - 2,39)
c

peso, = Assim, a variância da OR do estudo I é:


=: 536
em que ---=0,050
II,
44 x 245
"(Ir = ---
, [b»:c] e do estudo 2 é:
534
O intervalo de confiança 95% (IC 95%) é calculado como: ---=0,042
84 x 152
IC 95% = expllll{ORmh):t Vl'ar(OR.,.JJ
o segundo passo do método é o cálculo dos pesos de cada
A variância da odds ratio sumarizado pelo método de Mantel- estudo:
Haenszcl, "(Ir (OR / pode ser calculada de acordo com a técnica
I
de Robins, Grccnland e Breslow: peso , =--

LP) LG ) (DI) var .


var (OR ) =
.,h ( --2LR 1 + ( 2 x rR x rs + 2LS
1 Para O estudo o peso calculado é:

Em que: _I _ = 20.00
-t
0.050
a, x d, X (a, + c;)
'"~ f= c para o estudo 2:
'"ee
I
G = {a x d x lb x c l + [b,x c x ta x dil] -- = 23,81
t , I I " , ,
0.042
,,1.•
, A seguir, calcula-se o produto das OR originais de cada
",xc',(b, + ",) estudo pelo seu respectivo peso:
11= -'-----
Estudo I = 20.00 x 1.31 = 26.20
Estudo 2 = 23.81 x 1.65 = 39.29
A soma dos pesos resulta Cm 43.81 e a somu dos produtos
cm 65.49. Portanto. a OR sumarizada. calculudn pela relação
e. fina IIIICl1tC. da soma dos produtos pela soma dos pesos. é:
OR = 65,49 = 1.49
1'1 X ri 43.81
s=-- ",lo

",
Será observado um exemplo de aplic a ção do método de
A variância da OR..~. calculada pelo método de Robius,
Greenland and Brcslow, é igual a 0,019. Por fim, pode-se calcular
Mantel-Hacn zel para a sumarização do risco relativo de doi o estimador do intervalo de confiança para a OR h' o qual resulta
dos estudos apresentados na Tabela 5.1. Esse exemplo foi retirado cm 1,14 - 1.95. Portanto. a meta-análise para '~s dois estudos
do livro de Pctitti e foram considerados os estudos de Garfinkel, resulta em risco significante de desenvolvimento de câncer
Aucrbach e Joubcn de 1985 (Estudo I) e de Lam et al .. de 1987 de pulmão em ~umantes passivos.
(Estudo 2). Os dados podem ser visualizados na Tabela 5.3.
Como se observa na Tabela 5.3. tratam-se de dois estudos REFER~NCIA BIBLlOGRAFICA
de tamanho amostral muito semelhante, mas com resultados I. PETITTI.D. B. Mcm-annlysis, DmslIln Ana/ys,s.nnd CtII/.rJfrrth"'lIe.f-f tll/a/)'s;s.Oxford
conflitarucs. Aplicar-se-a. então. o método dc Mamcl-Hacnszcl Univcrsity, t99·I. .
para se estimar uma odds ratio surnariznda dos dois estudo
c seu respectivo intervalo de confinnçn. BIBLlOGRA~IA COMPLEMENTAR
O primeiro passo do método consiste em estimar a variância DE DOMIlAt~ r.: I.EAPER. 1'. D,: STANtLAI\O. J. et al. COlllpl'I~","hlcd clillgnosis ()r
da. OR de cada estudo: M~IIi(',,1Iournol, v, t.". 376·,'80. 1972.
acure IIhdolllin:lt p:lin.IJri/iJiI
~IASSAD. E,: BURATIt:\t. M. N.: ORTIlGA. N. R. S. rUlly dccision IIIl1king for lhe
dcsign of a (Onlrot 'II':IIC&Y for mcaeles vaccination in 55n t'auto ,IaIC, ln: IlOlIIE.
I'a r = -___:","--- II.: OlA. E.: MASSAD. E.: HAEFKE. C. (eds.). C""'I'''III/;IIII11I/II/('/ligt'lIce: methods
, (b,xt) 11/111
"I'Jllictl/;olls. 1999. CanadalSwiltrrtand: ICSC Acndcmic. p. 564·570.
46 • Tratado de Clínica Médica

MASSAD. Ii.: MARIN. II. I'" A/.h\ I>DO. R. S. teds.]. o Prontuário Eletrõnico do Po· adesão a condutas preventivas c ao uso de serviços de saúde.
rrmlr'l(I MS;'·IPllri". JII(onllO{u<'r CI1llhn:UfOOIIOMidiro. Organização Panameric:lm
d.1 Snwc. 2()O~.
E~pecífi('aspopulações são aquelas com características identifi-
~lA"SAD. E: MI!NIQES. R À .. SILVEIRA. P O P led\.). MpWt!flí QII(lIIIIIOIII"" ('m cãv eis. como <IS ussociadai .. a determinados estados e evento
MrJII "'0. S,\(. 1'.,,10: Manole 1003. relacionados à saúde. O trecho final da definição torna explíci-
RCXliA, \ ~. H,IIml Ntlf' II 1/0",,, I'" "ru,", wuJ lfI(l( hlnfl. Lolldonlllcrhn: Spnnger- to, o~ objctivos da cpidcrmologra. ou seja, a aplicação desses
\«13J;. 1992.
RCX'H\. \ ~. MASSA!). h .• PI'IU·tRA JR A "'r 8,,,rn /"'''' ft,~~.1 llril/llllfl,r, to
estudos na prevenção e no controle dov problemas de saúde'.
qUJlllI.m tlHIlIIUIIIIH. Inndunllkrhn ~rnnf«·\ma,.:!O().I Em süuese. a epidemiologia pode ver fundamentada em dois
SHORTUFFf_F H. WII·.IlI·.RIIOII>. {i PI' RRI, \l LT.L E.. FACA '. L. M. (eds.). pressupostos: primeiro. a doença humana não ocorre aleatoria-
"rJu ollnJ"fflllllll \ '1H1I/"llrr "/~"" auon» '" ".:"llft (,,"' untl 1)I{lm~dirm<,(I,<,ullh mente: segundo, li doença humana tem fatores causais, prog-
mftonlltllll II. I undun Sprin~cr 1990
STRUCHI'IER. C J .IIAII ()R,\N. MI: .. ORl \ET. R C: .\iASSAO. E. Epidemiologia. nóstico .. e preventivo). que podem ser identificados por meio de
N.,i",,~.Ii"N)(jn e IHU'tIllJUt.1ln' VERAS.1l PoOBARRETO. M. L:ALMEJOA investigações sisternãticas de diferentes populações ou subgrupos
Fil 110. \ . O/\RATA.R. B. ("'l'.). E.p,tltmwlogiu: contextos r plurolidadr de populações em diferentes pontos no tempo e/ou no espaço'.
11"1ff"~II(,"·j. R,o de Janerro: F"l<:IUI. 1998 P 13·18.
Como sugere a deli nição apresentada. o raciocínio epidemio- ee
lógico segue lima determinada progressão. que (cm início com ~
suvpcitus de uma possível influência de um faror particular na '.:
ocorrência da doença. Tal ..uspcita pode surgir a partir da ob- ~
CAPiTUlO 6 scrvação clínlca, de pcsquisa« de luboratôrio ou mesmo de 'I"
x
especulações teóricas que levam ii elaboração de uma hipóte-
se cspccffica, O teste dessa hipâtese é cfctuudo mediante es-

Epidemiologia tudos cpidcmlulógicos que incluem 11111 grupo apropriado de


comparaçã», A colctu ..i~tcnuít icu de dados e fi análise corres-
pondentc abrangem a determinação da existência ou não de
associação cstatfsticu. isto é. se a probabilidade de desenvol-

em Medicina ver determinada doença na prc ença da exposição a determi-


nado furor é di ferente da probabilidade correspondente em sua
ausência. Em seguida. é necessário avaliar a validade das possfveis
associaçõc-, cstaifsricas ob ..ervadas, excluindo o acaso, o erro
Eliseu Alves Waldman "i<;temático IHI colem ou interpretação do .. dados (viés) ou o
efeito dc outras variãvei .. que podem ser responsáveis pela
associação obscrvad n, efeito conhecido como furor de confu-
CI.CEITDS ão. Finalmente. () julgamento foca IIla a existência de uma
associação de causa e efeito levando-se em consideração cri-
Epidemiologia cl (nica pode ver entendida como o estudo epide- tério). de validação de associação CUU!)ul. entre eles: força da
miológico desenvolvido no âmbito da clínica. geralmente por associação. consistência dos resultados obtidos, efeito dose-
clínicos, tomando pacientes corno sujeitos do estudo ou ain- resposta. plausibitidadc biológica. entre outros'.
da. a uplicução de conceito, quantitativo usados por epidemiolo-
gbta' no estudo de doenças em populações. na rotina da medicina IISTêllCD
clínica para II tomada de decisão em casos individuais. Pode
também ser entendida C0l110 o uso dos princípios e métodos Algun» autores apontam como origem da epidemiologia a
da epidemiologia aos problemas da mediei na clínicu. A caracre- antiga cultura grega. cabendo possivelmente a Hipócrates, no
ríMicaessencial da cpidcmlulogia cllnica é n dlrcção da inferência: século V a. C .. em sua obra Are.l. Mares e Lugares. a primazia
na epidemiologia eltís~iclI busca-se identificar as causas e as de reconhecer a relação entre doença c ambiente, incluindo
medidas de risco da doença ou do evento adverso à saúde. os efeitos do clima e do estilo de vida",
enquanto li cpidcruiologiu clínlcu usa us informações da epi- Jn na era moderna. merece destaque John Graunt que, no sé-
demiologja clãssicu com a finalidade de ajudar na tomada de culo XVII. roi () primeiro a quantificar os padrões da natalidade,
deci ..ão 1111 turcfu de identificar casos de doença'. mortalidade c ocorrência de doenças, identificando algumas
As principais ãrcas de interesse da epidemiologia clínica caracierfst icus imponanres nesses eventos, como a existência
abrangem eriologia. diugnóstico. prognóstico, tratamento. pre- de diferenças segundo O gênero e a distribuição urbano-rural:
venção, analise de ri~co~ e benefícios de proeedimcntos diag- a elevada mortal idade infantil: 3!. variações sazonais. São também
nó~tic()\ e terapêul icos '. atribuídas a esse inglês as prirneiru~ estimativas dc população
e a elanoração dc uma tábua de monalidade. Tais trabalhos con-
ferem-Ihc o mérilO de ter l-ido o fundador da biocstatCstica e
.Efl.IÇAI. PII.ClpIIS E.hl.IS um dOloprecursorcl> da epidemiolog.ia '.
Exi tcm vária .. dcliniçõc ...dc cpidcmiologiu. Uma delas. bcm Posteriormente, cm meado .. do ,éculo XIX. lem-se Willian
eonci!.a c abrangente, delimitu a cpidemiologia como "o eSlUdo FaTr. que iniciou n coleta c a análi ..c ..i\lcmática das estatCsticas
da di\trihuiçiin e delerminante ...do e\tado e de eventos relacio- de monalidude 11<1 Inglaterru e Par~ de Gale!.. Graças <I essa ini-
nados ti t;aúde em e~pecílica\ populaçõc e a aplicação desses ciativa Farr é considerado ()p'lI da c'tatr~Lica vital e da vigilância
estudo ...na prevenção e no controle dos problemas de saúde"'. cm aúde plíblicu ou vigilância epidcmiológica6.1•
A p<lnir dos cOll1ponente~ dessa definição podemos iden- Outro destnque entre os pioneiros da epidemiologia foi o
tificar tooo, ()~princípios c métodos da epidemiologia. O esrudo ane~te~iologista inglê~ John Snow. contemporâneo de William
inclui vigilância. observução, teste de hipóleses. pesquisa anal ític<l Farr. Sua contribuição está sintetizada no ensaio Sobre a Maneira
e experimenlo~. A dislribui('tio diz respeito à análise scgundo de 7i·ol/Sllli.win da Cólera. publicado em 1855. no qual apre-
caracterr~lieas do tempo. espaço c classes de pcssoas areta- sentu memorável cstudo a respeito de dua~ epidemias de eólera
das. Os dC'/('rlllill(III/(!S abrungem IOdos ()~ fatores físicos. bio- ocorridas em Londres. respectivamente. cm I849 e 1854.A pl'incipal
lógicos. l>ociais. cuhurai~ e compul'lamentlli~ que influenciam a cOlltribuição de Snow 1'0i a sistemmi/ução da metodologiu
saúde. E.I·I(/(lfI,\' (' ('vel,,(I~ TI'I(/r;oll(/(Ios (I smíde inclucm doen- epidemiológica. que as~im permaneccu. COIl1 pequenas modi-
ça~. causas de óbilCl. comporlOmcnto como o uso do tubaco. ficaçõcs, até mcados do ~éculo XXI•M•
Pesquisa Clínica • 47

No final do século XIX. vários países da Europa e os Es- Na iturodução do projeto é necessária a apresentação de uma
tados Unidos iniciaram li aplicação do método epidemiológico breve revisão sobre o tema. apontando o que há de novo e sa-
na investigação da ocorrência de doenças na comunidade. Nessa lientando pontos em relação aos quais não exista consenso na
época. a maioria dos investigadores focalizou Sl.!lIS estudos literatura. discutindo a plausibilidade biológica das hipóteses
nas doenças infecciosas agudas. Já no século XX, a aplicação da explicativas e, quando necessário. incluindo urna tabela crono-
epidemiologia estendeu-se para as moléstias não infecciosas. lógica dessas publicações. Finalizando a introdução. deve-se
Um exemplo é o trabalho coordenado por Joseph Goldberger, apontar o porquê da relevãncia da investigação proposta. assim
pesquisador do Serviço de Saúde Pública Norte-americano. Em como os resultados esperados do estudo e quais tipos de questões
1915, Goldberger estabeleceu a etiologia carencial da pelagra. poderão ser resolvidos c como influenciarão decisões na clínica
aplicando o raciocínio epidemiológico. expandindo os limites ou em saúde pública".
da epidemiologia para além das doenças infectocontugiosas'. A definição da questão a ser pesquisada ou pergunta a ser
O entanto. é a partir do final da Segunda Guerra Mundial respondida pela investigação delimita o objetivo da pesquisa,
que se assiste ao intenso desenvolvimento da metodologia devendo ser. tanto quanto possível. específica.
epidemiológica com a ampla incorporação da csrarfstica. propi- A definição da estratégia ou tipo de estudo a ser adorado
ciada. em boa parte, pelo aparecimento dos computadores. A aplicação pela pesquisa proposta constitui um dos pontos mais impor-
da epidemiologia passa a cobrir um amplo espectro de agravos tantes na elaboração do protocolo de pesquisa, motivo pelo
à saúde. Osestudos de Doll c l lill":". estabelecendo associação qual será dedicado um item inteiro deste capítulo para li apre-
entre o tabagismo c () câncer de pulmão e os estudos de doenças sentação desse assunto.
cardiovasculares desenvolvidas na população da cidade de Um aspecto importante c que. de certa forma. define o tipo
Framingham (Estados Unidos), são dois exemplos da aplicação de estudo é a e colha da unidade de estudo, Quando se opt.a
do método epidemiológico em doenças crônicas, Hoje, ii epide- cm tornar como unidade 11111 agregado de individues, têm-se
miologia constitui importante instrumento para ii pesquisa na área os denominados estudos ecológicos ou de correlação, enquanto
ela saúde. seja no campo da clínica ou no da saúde pública". nos demais delineamentos ii unidade de estudo é o indivíduo').
A epidemiologia tem aperfeiçoado nas últimas décadas, de J\ identificação da população de estudo é outro tópico
forma significativa. eu arsenal metodológico. Tal fato deve-se, indispensável na elaboração do protocolo. Nesse ponto deve-
de um lado. à melhor compreensão do processo saúde/doença, se definir de forma clara qual universo dá origem à popula-
que permitiu urna visão mais clara dos múltiplos fatores que interagem ção de estudo e explicitar detalhadamente os procedimentos
na sua determinação e. de outro. ao desenvolvimento de novas de amostragem utilizados IHI seleção dos indivíduos incluí-
técnicas esruusücas aplicadas à epidemiologia e também ;1 utili- dos na investigação. assim como para a elaboração da esti-
zação. cada vez mais ampla. dos computadores pessoais e à cri- mativa do tamanho da amostra, que nos estudos analíticos.
ação de novos programas tsoftwares), tornando acessívci a um deve equivaler ao número mluimo necessário para se obser-
número cada vez maior de pesquisadores a aplicação de análises var de forma consistente a diferença entre us grupos estuda-
estatísticas de dados obtidos em investigações epidemiológicas. dos, ao passo que. nos estudos descritivos, deve abranger o
Acompanhando essa evolução li epidemiologia passa a ser número mínimo necessário para produzir estatísticas descri-
compreendida também COmO um processo contínuo de acumulo tivas (média. proporções. etc.) com precisão adequada. Ain-
de conhecimentos com () objetivo de prover um acervo de evi- da nesse item. dependendo do tipo de estudo escolhido, deverão
dências indiretas, cada vez mais consistentes. de associação ser apresentados as definições de caso e de controle e os
entre saúde e fatores prorctorcs ou doença e fatores de risco. critérios de inclusão e de exclusão".
COJ11 essa finalidade. dispõe-se de um conjunto de delinea- Dois itens importantes a serem incluldos no projeto de
mentos ou estratégias para o desenvolvimento de estudos pesquisa são a identificação dasfantes de dados e II descri-
epidemiológicos. variando conforme os objetivos estabeleci- ção dos procedimentos para Sl/(I coleta (entrevista. exames
dos. que pode ser tanto a identificação de uma possível asso- clínicos c de laboratório, compilação de registres). formas
ciação tipo exposição-efeito. como a avaliação da eficacia/ de mensuração das variáveis de exposição e dos instrumen-
efetividade de urna intervenção com a finalidade de prevenir tos utilizados com tal l'inalidade (questionários, formulári-
um determinado efeito. O de. envolvimento de um projeto de os. cic.). O~ manuais de codificação das variáveis e os destinados
pesquisa pressupõe a observação de algumas etapas que serão II padronizar procedimentos utilizados nas atividades de campo,
~ apresentadas a scgu ir. assim como o Termo de Consentimento. devem ser apresen-
C>
'1 tacos como anexos do projeto".
z nAPAS PARA DESENVOLVIMENTO DE Concluída essa fase. o próximo passo será a definição das
J;
ee
PROJnO DE PESQUISA variáveis, ou seja, quais características do sujeito de estudo
Na elaboração de um projeto de pesquisa epidemiológica deve-se serão analisadas, descrevendo como serão medidas e cate-
seguir uma sequência que não é rígida. mas que apresenta itens gorizadas. Nos estudos analíticos têm-se basicamente dois tipos
obrigatórios. Hulley et 01.". num texto que focaliza essa questão, de variáveis: as de exposição 011 preditoras 011 independentes
apresentam de maneira interessante cada uma das partes desse e as de desfecho ou dependentes. Tomando como exemplo um
processo, apontando a necessidade de explicitar a composição cxtudn que pretende verificar a a. sociação de algumas expo-
da pesquisa. observando os seguintes itens: (1) apresentação da sições C0l110 tabagismo, hipertensão arterial, diabetes e níveis
relevância do tema: (2) definição da questão ti ser pesquisada; (3) elevados de colesterol no sangue com doença coronariana; as
opção pelo desenho ou tipo de estudo; (4) definição da popu- primeiras são as variáveis preditora ou independentes e a doença
lação de estudo; (5) definição das variáveis de estudo: (6) pia- coronariana é a variável de desfecho ou dependente".
no para o manejo e a análise dos dados. Finalmente. deve-se explicitar qual é o plano para o ma-
A organização formal desses itens compõe o protocolo da nejo e análise dos dados. Para estudos analíticos observacionais
pesquisa, que nada mais é do que os passos li serem seguidos e experimentais essa fase sempre inclui o componente teste
pelo pc quisador no desenvolvimento da investigação, dimi- de hipótese. o que pressupõe a prévia especificação da princi-
nuindo a probabilidade de falhas que poderão comprometer a pal hipótese. Por exemplo, o estado nutricional está associa-
validade interna e externa dos resultados do estudo. A seguir do com a gravidade do sarampo. Estudos descritivos. por sua
se procurará detalhar os itens citados. vez. não requerem hipótese. pois seu objerivo é principalmente
48 • Tratado de (IInica Médica

estudar COmOas variáveis se distribuem e não como elas es- No exemplo a seguir se expressa a incidência por 1.000 pes-
tão associadasentre si. Deve-se descrever detalhadamente como soas. mas li escolha dessa base é completamente arbitrária.
os dados serão analisados estatisticamente, assim corno jus- Poderiam ter sido utilizadas 10.000 ou 100.000 pessoas.
tificar os métodos propostos e apontar como serão controla-
Número de casos novos
das as variáveis de confusão. É recomendável iniciar a análise
de uma doença em lima
com modelos mais simples antes da utilização dos mais sofis-
população durante um
ticados e complexos. Deve-se iniciar analisando os dados brutos
período especi ficado
(não ajustados) que são os verdadeiros e, em seguida. os ajus- Taxa de incidência/l.OOO = x 1.000
tados quc permitem comparações":". Número de indivíduos
Concluído O protocolo do estudo, deve-se preocupar com sob risco (expostos)
a maneira pela qual ele será co nduzido e com a qualidade de desenvolver a
de seus rcsulurdos, salientando que os estudos são úteis à me- doença durante um
dida que permitem inferências válidas, isto é. que se possa período especificado
conhecer em que grau as conclusões do pesquisador descre-
vem corrctumcrue o que ocorreu na amostra estudada (vali- Quando se mensura O risco, pode-se focalizar qualquer grupo
dade interna), e permitam generalizações daquilo que foi da população, como um determinado grupo etário, homens ou
verificado no estudo para o universo externo à amostra es- mulheres, um grupo profissional, ou ainda um grupo exposto
tudada (validade externo), a determinado agente encontrado no ambiente.
O objetivo do pesquisador. portanto. é definir todos esses O denominador utilizado no cálculo da incidência representa
componentes de um protocolo de estudo, de tal furma que o número de pessoas sob risco de desenvolver a doença, por-
garantam sua validade interna e externa e que, além disso, o tanto, qualquer pessoa incluída no denominador deve apresen-
desenvolvimento da pesquisa seja rápido. de baixo custo e tar condições potenciais de estar no numerador. Dois pontos
simples de opcracionaliznr, são importantes para que a incidência seja urna medida de ris-
co: a necessidade de que esteja especificado o período de tem-
po: e que todos os indivíduos incluídos no numerador tenham
MEDIDAS DE OCORRlNCIA DE DOENÇAS sido acompanhados por todo o período especificado. O período
Para se estudar o comportamento das doenças ou eventos de tempo é arbitrário, podendo ser uma semana, um mês, um
adversos ii saúde é necessário medir sua ocorrência e os des- ano. cinco anos c assim por diante. O importante é que ele seja
fechos que dela podem advir: a cura, a cronicidade, a inca- claramente especificado para o cálculo da incidência e que to-
pacidadee () óbito. Podem-se utilizar várias fontes de informação dos os indivíduos incluídos no cálculo necessariamente tenham
para mensurar a ocorrência desses eventos, tais como pron- sido observados por todo o período (Fig. 6. I). A incidência assim
tuários médicos, de ambulatórios e de hospitais; no entanto, calculada é denominada incidência cumutativo", A incidência
como frequentemente O curso da doença se inicia em 1110- cumulativa é uma proporção que expressa uma estimativa do
rnento arucrior assistência médica, outra opção seria a obtenção
à risco de desenvolvimento de lima doença ou de um evento adverso
dessas informações do próprio paciente por meio da aplica- à saúdenuma população, durante um intervalo de tempo determi-
ção de questionários ou entrevistas. As fontes de dados uti- nado. A incidência cumulativa é também denominada propor-
lizadas influenciarão, sobremaneira,astaxas que serãocalculadas ('c70 de incidência. incidência acumulada ou taxa de ataque,
para expressar a medida de freqüência da doença objeto do sendo esta última uma proporção que expressa o risco de
estudo. Por exemplo, registres hospitalares não incluirão pa- adoecimento em grupos populacionais específicos, cm situa-
cientes atendidos exclusivamente em consultórios médicos. ções 'como a de surtos epidêmicos de doenças infecciosas".
Por isso, quando se analisam taxas de ocorrência de doen- Com alguma frequência os indivíduos expostos não Sãose-
ças, é indispensável identificar as fontes das quais as infor- guidos durante todo o tempo especificado. Isso ocorre por várias
mações foram obtidas e o tipo de registro utilizado, antes de razões, inclusive por perda no seguimento, ou seja, por outro
se compararem as taxas obtidas em estudos diferentes e/ou motivo que não seja o evento de interesse. Nesse caso calcu-
por autores diferentes em distintas populações". la-se a taxa de incidência ou densidade de incidência, toman-
A ocorrência de doenças pode ser medida por meio de do como numerador o número de casos do evento de interesse
taxas e proporções; as primeiras indicam quão rápida é a e como denominador a soma dos intervalos de tempo em que
ocorrência da doença, enquanto as proporções apontam qual cada UI11 dos indivíduos estiveram sob risco e livres da doença
é a Iração da população afetada. . (Fig. 6.2). Essa medida de incidência é quase sempre expressa
por pessoas/tempo, não sendo, portanto, uma proporção como
InCidência a incidência cumulativa e sim, uma razão que expressa li velo-
Incidência de uma doença é definida como o número de casos cidade média com que ocorre o evento de interesse".
novos de uma doença ou evento adverso ii saúde ocorridos Finalizando. vale comentar que embora na maioria das si-
durante um período especificado numa população sob. risco tuações seja necessário expressar a incidência especificando
ti denominador, isto é, estimando o risco, algumas vezes a apre-
de desenvolver a doença ou evento de interesse. Os casos
novos. ou incidentes. são aqueles ocorridos entre indivíduos sentação do número de casos incidentes pode ser suficiente-
que não eram doente no início do período de observação e, mente informativa".
portanto. corriam risco de adoecer. A incidência é uma medida
dinâmica. pois expressa a mudança no estado da saúde, portanto.
PrevalênCia
é uma medida de risco", Prevatência pode ser definida como o número de pessoasafetadas
Vale lembrar que as definições de caso são vulneráveis a por certa doença numa população em determinado ponto no
erros de classificação. influenciando a validade das estimativas tempo, dividido pelo número de pessoas dessa população
de frequência de doenças. e a magnitude dos erros de classi- no mesmo intervalo de tempo; por conseguinte, inclui casosnovos
ficação é condicionada pela sensibil idade e especi ficidade dos da doença, ou seja, ocorridos no período do estudo e também
procedimentos diagnósticos. assim corno pela prevalência da casosjá existentes. A prevalência é uma medida de rnorbidade,
doença na população estudada. mas diferentemente da incidência, não mede o risco e sim a
Pesquisa Clínica • 49

magnitude de determinada doença numa comunidade em deter- doença cardiovascular. no Brasil. em 2002. Nesse caso, utili-
minado pomo ou período no tempo. logo. expressa quantos estão za-se como numerador o número de óbitos por doença cardio-
ou não doentes numa população e não quando ficaram doentes. vascular e como denominador o total de óbitos ocorridos no
Brasil em 2002. Esse indicador deve ser entendido como a
úmero de casos conhecidos da doença proporção de óbitos ocorridos no Brasil em 2002 que tiveram
Prevalência = x 10"
como causa as doenças cardiovasculares.
úmero de pessoas da população num
período espcci ficado
letalidade
Pode-seusar o termo prevalência de duas formas: prevalên-
Outra medida de freqüênciade morbimortulidade muito utili-
ela num 1'01/(0 expressa o total de casosde uma doença existente
zada é a letalidade. Ela mede a probabilidade de um indivíduo,
em determinado ponto no tempo: prevalência 111//1/ períodoexpressa
atingido por uma doença, morrer em função dessamesmadoença.
o total de pessoasque apresentaram a doença de interesse em
A letalidade expressa o prognóstico e o grau de gravidade de
determinado momento do período especi ficado, abrangendocasos
lima determinada doença.
já existentes, casos novos. ou mesmo casos de cura ou de morte
durante o período. O importante é que IOdos os indivíduos in- Número de óbitos por
cluídos no numerador tenham apresentado a doença em algum determinada causa
momento do período especificado. Taxa de letalidade = x 100
Número de doentes
pela mesma causa
Taxas de Mortalidade
Dispõe-se de algumas formas diferentes de expressar as taxas
CONCEITO DE RISCO E DE CAUSA
de mortalidade. A primeira delas é a taxa anual de mortalidade
por todasascausa'. Vale salientar que. em virtude das mudanças Risco podeserdefinido como ti probabiIidadedeocorrer um particular
de composição das populações no decorrer do tempo. utiliza-se evento como, por exemplo, câncer de bexiga entre indivíduos
geralmente a população para o meio do ano como uma aproxi- expostos a anilinas em ambiente de trabalho. Por sua vez.fator
mação do número de expostos e, portanto. do numerador. de risco é urna variável para a qual o risco é diferente conforme
Muitas vezespodc-: e estar interessado cm conhecer as taxas o tutor esteja ou não presente. Os fatores de risco podem ser
anuaisde mortalidade por IOdasascausas,segundo o sexo. o gru- características individuais como sexo, idade ou exposição a um
poetárioou outros atributos da população. Nessecaso haverátaxas risco ambiental, como estarinternadonumaenfermariacom número
anuaisdemortalidadeespecificaspor sexo, por grupo etário e a . 'im elevado de pacientes: ou ainda lima intervenção. como a admi-
por diante. Pode-setambém estar interessado no cálculo de taxas nistração de um quimioprofilãrlco previamente a uma cirurgia".
anuaisde mortalidade por causasespecíficas de morte. por exem- Alguns autores estabelecem uma diferença entre [atares
plo. taxa anual de mortalidade por câncer de pulmão. de risco e marcadores de risco. Os primeiros seriam aqueles
cujos efeitos podem ser prevenidos. Os últimos seriam atri-
Número t01a1de óbitos numa butos cujos efeitos não seriam passíveis de controle. A iden-
população definida em rificação de fatores de risco é um passo obrigatório para a
determinado período prevenção primária (antes, portanto, da ocorrência da doen-
Taxa de mortalidade = ------=------ x 100.000
ça): por exemplo, sedentarismo. obesidade, hipertensão ar-
por todas as causas População total para o
terial são fatores de riso para a doença coronariana; já o
ponto médio do período
reconhecimento dos marcadores de risco teria importância
Corno as taxas de martalldade não deixam de ser flI.WS de para a prevenção secundária. uma vez que se trata de atribu-
incidência. nessecaso vale também () mesmo princípio de que tos cujos efeitos sobre li saúde não são passíveis de qualquer
qualquerindivíduo representadono denominador deve ter a mesma ação preventiva, por exemplo, idade ou herança de caracte-
probabilidade de estar no numerador. Por sua vez. o período de rísticas Iami liares. Por sua vez, grupo de risco pode ser definido
tempotambém deve ser especificado. podendo ser um ano, cinco como um grupo populacional exposto a um dado Iator de
anos ou mais: da mesma forma. podem-se apresentar essas risco ou identificado por um marcador de risco".
taxas por 1.000. por 10.000 ou por 100.000 habitantes. Tanto
o período de tempo (,:01110 as bases populacionais utilizada são
arbitrários. mas devem ser necessariamente especi ficados.
Outro ponto a ser considerado é o de que as taxas de mor- x
talidade nãopermitemcomparações entreperíodose regiões distintas,
x
poissãoinfluenciadaspelacaracterísticadacomposiçãodemográfica
x
daspopulações,principalmenteascomposiçõesetárias.Porexemplo,
ao se compararem as taxas de mortalidade do Brasil com as da x
Suécia. pode-se chegar a conclusões erradas se não se levarem x
em consideraçãoessasdiferenças. A forma correta de se compa- x
raremastaxasde mortalidade em diferentes momentos num mesmo x
local ou em diferentes locais é por meio do LISO de métodos de
1~mês 12· mês
padronização ou ajuste. que eliminam ou atenuam a influência
dasdiferenças de idade ou de outra variável de intere ·se.tornan- Incidência cumulativa ou
do possíveisascomparações. Essesmétodos de ajuste não serão proporção de incidência:
~ apresentadosnessetexto por fugirem a seus objctivos, no entan- 7/12 ou 0,58 casospor ano
~ to, podem ser encontrados cm textos especializados".
V
N
Uma outra forma de medir a mortalidade é o cálculo da Figura 6,1 - Representaçãográfica do cálculo da incidência cumu-
:;;;mortalidade proporcional, que não é urna taxa e sim propor- lativa, o qual pressupõe que a população sob risco tenha sido
Q() ção. É O caso. por exemplo, da mortalidade proporcional por seguida por todo o período. x = Infcio da doença
50 • Tratado de Clínica Médica

909192 9394959697989900 Tempo sob risco Y entre os expostos c mio expostos pode ser apresentado pela
(anos) tabela de contingência (2 x 2) ii seguir (Tabela 6.1).
C"I A 6 A interpretação dos valores encontrados no cálculo do RR
O B 6 é feita da seguinte maneira:
.< x
u-
Ul
e 11
o 9,5 • Quando o RR apresenta um valor igual a / tem-se a ausência
cn
de associação.
E 5
x • Quando o RR é menor do que I a associação sugere que
Total de anos sob risco 37,S anos o fator estudado teria uma ação pro/e/ora.
• Quando o RR é maior do que I a associação sugere que
Figura 6.2 - Representação gráfica do cálculo da densidade de o fator estudado seria um [ator de risco.
incidência. - = =
Tempo de seguimento; x início da doença; • Quanto mais o RR se afastar de I, independentemente
=
densidade de incidência 2/37,5 ou 0,053 casos por pessoas/ano da dircção, maior será ti força da associação entre expo-
sição e o efeito estudado.

o conceito de causa é uma das questões centrais da Epide- Risco Atribuível


miologia. mas também uma das mais complexas. localizan-
do-se no campo da filosofia da Ciência. tema que não é objeto Muitas vezes, pergunta-se qual parcela dos casos de uma doença
de discussão deste texto. No entanto. simplificando a ques- é atribuível a certa exposição. Pode-se responder a essa questão
tão, pode-se dizer que a Epidemiologia entende a causa como por meio de outra medida de associação, o risco atributvel,
uma muítlpticidade de condições propícias que. reunidas em Em tal situação há a mensuração da quantidade ou propor-
configurações determinadas, aumentam a probabilidade de ção da incidência da doença ou do risco da doença que pode
ocorrência (risco) de determinado acontecimento. O que a ser atribuível a uma exposição específica. Enquanto o risco
epidemiologia busca. portanto, é identificar aquelas 1I11;I/i- relativo é importante para estabelecer associações entre ex-
plus condições e estabelecer suas relações (ou associações) posição e desfecho, o risco atribuivel é importante na prá-
com a ocorrência de um dado fenômeno. Fala-se em asso- tica clínica e em saúde pública por fornecer informação a
ciação causal quando a presença de determinado elemento respeito do impacto de uma determinada intervenção, res-
ou característica é condição para O desencadeamento ou para pondendo a questão relativa à parcela do risco (incidência)
a evolução de uma doença. Nesse caso, tal elemento ou ca- de uma doença que pode ser prevenida caso seja capaz de
racterística é considerado [atar de risco para a ocorrência eliminar determinada exposição".
ou evolução daquela doença. Com fundamento no conceito de muliicausalidade das doenças,
Normalmente. é possível identificar diversos fatores de risco pode-se aceitar que todas as pessoas apresentam algum risco
para uma mesma doença. o que pressupõe a existência de uma de desenvolver uma doença ou evento adverso à saúde inde-
rede defatores causais. A força de cada fatoro como determinante pendentemente da exposição a um específico fator em estudo.
do agravo. pode ser variável. A ocorrência de configurações detenni- Portanto. o risco total para a ocorrência de uma doença é a
I/adas desses fatores resulta no que Rothman I~ denominou causa soma desse risco comum a todas as pessoas acrescido do risco
suficiente para que a doença ocorra. A inevitabilidade da doença em decorrência da exposição em estudo; logo o risco atribuivel
dependeria. então, da atuação conjunta daqueles fatores. Por outro à exposição é igual à diferença entre os risco /lOS expostos
lado. a presença constante de um determinado furor nas várias (II) e o risco IIOS não expostos «(NU)'
causas suficientes dá. a esse fatoro o status de causa necessário.
A mensuração do risco pelo cálculo da incidência e a compa- Risco atribuível (RA) = III - LNI\

ração dos riscos (incidências) entre indivíduos expostos e não Caso se queira saber qual é li proporção do risco atribuível
expostos a determinado fator são procedimentos indispensáveis entre (IS expostos, pode-se expressar o risco atribuível me-
11identificação dos fatores de risco e. portanto, da rede da diante o seguinte cálculo:
causalidade dos eventos adversos iI saúde.
Uma das principais contribuições da pesquisa epidemiológica
é a identificação éefatores de risco a agravos à saúde, requisito Risco atribuível "nos expostos (RAE) = x 100
indispensável para a elaboração de estratégias com o objetivo
de implementar medidas de prevenção e/ou controle.
JABELA 6.1 - Esquemade uma tabela 2 x 2 para o cAlculo da
MEDIDAS DE ISSOCIAÇlo Incidência e do risco relativo
A incidência de uma doença ou de um evento adverso à saúde
DOENÇA
numa população expressa a magnitude do risco de determina-
do desfecho num grupo de pessoas expostas ao fator em es- EXPOSIÇÃO SIM NÃO 'TOTAL INCIDtNCIA
tudo. Entretanto. como o seu cálculo não leva em conta o risco Sim a b a+b a/a+b
desse mesmo evento entre pessoas não expostas ao fator de Não c d c-d dc+d
interesse, a incidência expressa, na realidade, o risco absolu- Total a+c b+d t a+dt
to. não indicando se a exposição a esse fator está associada ou
não à ocorrência do evemo de interesse. Somente o risco rela- a Proporção de atingidos
tivo (RR) que se obtém a partir do cálculo da razão dos riscos
Incidência nos expostos = -- = entre os expostos na
a+b população'
absolutos da ocorrência do evento entre expostos e não expos-
c Proporçâó de atingidos
tos eofator de interesse expressa a medida dessa associação": Incidência nOj não expostos = -- = entre os não expostos
c+d na população
Risco Relativo a
O RI? ou razão de incidências expressa uma comparação entre o a +b
risco de adoecer entre grupos expostos C não expostos a um RR= Incidência nos expostoslincidência nos não expostos = --c-
deterrninadojsror em estudo. O cálculo das incidências da doença C+d
Pesquisa Clínica I 51

NlI prãiicu clfnica o médico frcqücmcmcme c\tá interessa- A incidência entre o exposto pode ser entendida como a
do em explicar au., seuv pacientes em qual proporção eles re- probabilidade de indivíduos expostos a determinado fator
du/irão o risco de apresentarem determinada doença CllSO cessem apresentarem o desfecho de interesse.
determinada exposição. por exemplo. em qual proporção es- Por exemplo. na Tabela 6.1. tem-se que o risco entre os ex-
tarão redu/indo eu risco de apresentarem um câncer de pulmão postos é a probabilidade dos expostos apresentarem O desfecho
caso deixem de fumar. Por sua vez, em saúde pública. quase de interesse:
semprese precisa saber que proporção da incidência da doença
na população total (exposta e não exposta) pode ser atribuí- Risco 011 probabilidade dos expostos
vel a uma exposição específica ou, em outra" palavras, qU31 uprevenuircm o desfecho = .....!!.._
a+c
seráo impacto de um programa de prevenção na comunidade.
Nessecaso fula-se cm ri.IC(Iatributvel ua população, que pode Por sua vez, Odds (ou chances) é a razão de duas proba-
ser calculado da seguinte maneira: bilidades complementares.
Por exemplo. na Figura 6.2, rem- e que:
Ir - I '"
Risco airibufvcl na população = x 100 .....!L
I a +b a
Odds ser exposta entre os casos = --c-- = c
"
Em que: ã"+C
Ip= Incidência napopulação: INE = Incidência nos nãoexpostos. ou seja, é li probabilidade de ser exposto entre os casos divi-
did a pela probabilidade de não ser exposto entre os casos.

OddsRalio b
b+d b
Em estudos caso-controle. a rigor, não se conhece o número Odds ser I'x{J()S/(/ entre o controles = --- =-
de indivíduos quecompõem os gl'llpo.l·de expostos e não expostos. d d
não sendo disponfvcl. por con eguintc. o denominador com o b+d
qual se pode calcular dircrarncntc a incidência (ou o risco). isto é, a probabilidade de ser exposto entre os controles divi-
Dessa Iormu, não é possfvel também o cãlculo direto do RR. dida pela probabilidade de não ser exposto entre os controles.
Em decorrência divso. a mensuração da ossociação é feira in- A OR é definida em estudos ripo caso-controle como aro-
dircuuncntc pelo cálculo da Odds Ratio (OR), que é uma es- zão entre fi Odds dos casos terem sido Pfl){H/IJ.I' c a Oe/tis do
rimativn do RR. felizmente. para doenças raras. como é o caso contrates lerem sido expostas.
da maioria das doenças estudadas. a OR apresenta um valor Logo. o cillculo da OR é feito da sC):l.lIinlerOl'll1U:
muito próximo ao RR.
li
Na Tabela 6.2 estão apresentados os dados necessário para
obtenção da OR numa tabela de contingência (2 x 2): OR =_c_= ud
b bc
d
TAlELA6.2 - Esquemade uma tabela 2 x 2 pari o c"culo da
odds ntio OR=~
bc
EXPOSIÇÃO CASOS CONTROLES TOTAL
Sim a b a+b Vale notar que, se a exposição ao[ator em estudo for maior
Não d c+d entre os casos do que entre os controles. fi OR excederá a I,
Total a+c b+d a+b+c+d indicando associação entre a exposição aofatore O efeito (doença).
ou seja, que o [atar em estudo é utnfotor de risco, Inversamen-
te. se a exposição for menor entre os casos do que entre os
Portanto rem-se que: controles, a OR será menor do que I, indicando que o Iator em
estudo é um fator proreror,
x a
Proporção de e\IXNOb entre os CU~O~'" --
00
a+c
..
~
...
r.
ProporçUClde C\JX"IO' entre o~ controles = --
b
Interpr'taçA. lias MedidaslIeIssecllça. ObUdas
.;.. As associações medidas por meio do cálculo do RR e da OR
00 b+d
obtidos. respectivamente.em estudosde coorte e de coso-controle.
Como serã visto mais à frente, quando se calcula o RR nos com o objetivo de medir associações causais. podem ser in-
estudos de COlme tem-se a proporção de expostos na popula- terpretadas como resultantes de:
ção que desenvolvem a doença (incidência nos expostos) e a
proporção de não expostos na população que desenvolvem a • Acaso: decorrem de variações aleatórias. Essapossibilidade
doença {incidência nos não expostos). Nos estudos tipo caso- pode ser avaliada por testesestatístico.• como, por exemplo,
controle tem-se algo diferente. ou seja. a proporção de expos- o qui quadrado.
tOSentre os ClISOSe a proporção dr expostos entre 0\ controles • Viés (bias em inglês): constituem erros sistemáticos.
(Tabela 6.2); logo. em conseqüência de não se dispor do nú- Os principais vieses resultante de e tudos epidemiolõ-
mero de espouo« e mio expostos na população, ou veja. do' gicos são os de seleção e de informação.
denominadores.não é posvível calcular dirctumente u incidên- • F(/((Irde coujusão: ocorre quando dois fatores ou exposiçõe
da c. portanto. O risco. esse caso. se utiliza uma outra me- estão associados entre si. e o efeito de um confunde ou
didade tI.\·\·(J(·it/('f70.
a r.llào de Odds (OR) que em váriascondições distorce o efeito do outro.
pode ser aceita como uma boa estimativa do RR. • verdade: quando 3 associação causu-cfcito observada
Para se entender o que vem a ser OR é necessário primei- é verdadeira. t recomendável que .W! aceite essa explicação
ro distinguir odds (ou chances) de probabllidade. .\·(I/I/e/I/equando for posslvel exclu! r as demais.
52 • Tratado de Clínica Médica

TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOlÓGICOS que o desfecho cm estudo possa ser mensurável. caso contrário,
os resultados da pesquisa serão de difícil interpretação.
Uma vez delimitada a questão a er pesquisada, o próximo Nos estudos descritivos, os dados são reunidos, organizados
passo é definir a estratégia a ser seguida. Para tanto existem e apresentado na forma de gráficos. tabelas COI11 taxas, médias e
duas opções: desenvolver um estudo observacional ou expe- distribuição segundo atributos da pessoa. do tempo e do espa-
rimento I. Na primeira delas, não hlí intervenção do investiga- ço. com O objetivo de iderni ficar possíveis grupos e exposições
dor em (arores que participam ou podem participar do processo de risco e com fundamento nessasinformações, formular hipó-
que leva à doença dc interesse ou que altere seu prognóstico. teses,massem analisar associações ou efetuar inferências causais.
Nos estudos experimentais, o pesquisador controla fatores se- Pode-se dividir esse tipo de estudo em dois grupos maiores.
lecionados que podem ser de importância nesse processo (ver Em um deles a UI/idadede estudo é o individuo, abrangendo os
Fig. 6.1). Tanto os estudos observacionais como os experi- relatos de casos e de séries de casos, vigilãncia 11 estudos de
mentais examinam as relações entre doençasou eventos adversos corte transversal. No outro grupo, a unidadede estudo são agregados
à saúde e vários fatores que podem ter importância na sua populacionais; neste último caso, têm-se os estudos ecológicos
ocorrência ou em seu prognõsuco":". 011 de correlação",
Quando existe um grupo de comparação. o estudo será
anulitico. permitindo a identificação de associações exposi- Estudos de Caso e de Séries de Casos
cão-desfecho. por exemplo. entre uma intervenção e a pro-
tcção contra uma doença. E (I caso de ensaios cl ínicos controlados Os estudos de CClSO consistem em relatos detalhados de um
para o estudo da eficácia de determinada vacina?". ou ainda. caso ou de um grupo de casos elaborados por um ou mais
o estudo observacional da associação entre lima exposição c investigadores, focalizando caracrerfsticas pouco freqüentes
um determinado desfecho. Nesse caso podem-se citar como de urna doençajá conhecida ou buscando descrever uma moléstia
exemplos os estudos de coort e e de caso-contrate para ana- possivelmente desconhecida. Quase sempre, esses estudos
lisar a associação entre tabagismo e câncer dc pulmão":". visam a chamar a atenção de outros pesquisadores que te-
Não existindo o grllpo de compuraç ão e, portanto, quan- nham efetuado observações semelhantes, criando condições
do não houver o objeiivo de analisar as ociação entre ex- para formulações de hipâteses", Constituem praticamente o
posição e desfecho. o estudo será descritivo visando, único meio de descrever eventos clínicos raros. Um exemplo
principalmente. à elaboração de hipóteses explicativas a serem °
é relato ele um caso de adenoma benigno hepatocelular, um
testadas posteriormente pelos estudos analíticos. Os estudos tumor raro, numa mulher que usava contraceptivos orais", estudo
descritivos são desenvolvidos, com frequência. na forma de tipo caso-controle feito posteriormente confirmou uma as-
estudo de caso ou de uma série de casos", sociação entre o uso prolongado de contraceptivos orais e
A seguir serão apresentados. de forma sintética. os princi- esse tipo raro de tumor".
pais desenhos de estudos epidemiológicos (Fig. 6.3). Estudos de séries de casos são publicações de relatos deta-
lhados de um agregado de casos num único artigo. Muitas
vezes o motivo de uma publicação com essas características
Estudos Descritivos é a descrição da ocorrência de vários casos similares num curto
Os estudos descritivo» apresentam papel relevante na pes- pcríodo de tempo expressando uma epidemia. Um exemplo
quisa médica. constituindo a primeira etapa da aplicação do muito conhecido desse tipo de estudo descrit.ivo é o registro
método epidemiológico com vistas à compreensão do com- de um cluster de casos apresentando a mesma síndrome veri-
portamento de um agravo à saúde numa população. Nessa ficado entre homens homossexuaisem Los Angeles, entre ourubro
fase é possível responder a questões relativas a quem, quan- de 1980 e maio de 198118, que alertou os serviços de saúde para
do e onde. ou cm outros termos, é nessa etapa que se descre- o início da epidemia deAIDS nos Estados Unidos. Em nosso
vem os caracteres epidemiológicos das doenças relativos à meio pode-se citar o exemplo da descrição de uma série de
pessoa. ao tempo e ao lugar". casos com características muito semelhantes à sfndrorne de
Os caracteres epidemiológicos relativos às pessoas refe- Waterhouse-Fridcrichsen, atingindo crianças menores de 10
rem-se. especialmente. a gênero, idade. escolaridade, nfvcl anos. residentes em várias localidades dos Estados de São Paulo
socioeconôrn ico, em ia, ocupação. situação conjugal. Por exem- e do Paraná que, posteriormente, delimitou uma nova entida-
plo. o risco para trornboernbolisrno aumenta exponencialmente de nosológica, a febre purpúrica brasileira". Em geral, o re-
com ii idade2~.a etnia afcta o risco para leiornioma de úte- gistro de séries de casos. em especial quando configuram uma
ro". Outras estratificações podem ser criadas segundo ca- epidemia, geram preocupação e estudos complementares,
racterísticas como usuário e não usuário de serv iços de saúde, contribuindo frcqüentemente para a produção de conhecimen-
pessoas que vivem em domicílios com ou sem acesso a ser- to sobre novas doenças ou doenças já conhecidas, mas que se
viços de abastecimento de água. etc. Qualquer variável rele- apresentam com o comportamento modificado".
vante pode ser analisada, observados critérios que delimitem
perfeitamente uma categoria da outra. Vigilância
Ao se descreverem os caracteres epidemiológicos relati-
vos ao tempo, focaliza-se O padrão do comportamento das ~ vigilância epidemiológica ou em saúde pública (vigilância
doenças, cm amplos períodos, pelo levantamento de séries com ambos os qualificativos tem o mesmo significado) deve
históricas com objetivo de caracterizar tendências, variações ser entendida como uma aplicação da epidemiologia em servi-
regulares como, por exemplo. as variações cíclicas e sazonais ços de saúde pública e não um tipo de estudo. No entanto, por
e as variações irregulares que caracterizam as epidemias. Por analisar sistematicamente informações a respeito de cspecfficas
sua vez. a descrição dos caracteres epidemiológicos relativos doenças. uti liza amplamente a epidern iologia descritiva e quase
ao lugar preocupa-se com aspectos da distribuição urbano- sempre gera novos conhecimentos a respeito do comportamento
rural. diferenças do comportamento das doenças em distin- de doenças, e esseconhecimento produzido tem mostrado ampla
tas regiões do globo ou mesmo com diferenciais existentes aplicação tanto em saúde pública como na clínica. Em rermos
no interior de uma mesma comunidade". conceituais a vigi lância pode ser definida como "a observação
Outro aspecto importante é li perfeita definição de caso, que contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças
deverá ser suficientemente clara e específica de maneira a permitir mediante a coleta sistemática, consolidação c avaliação de in-
Pesquisa Clínica • 53

formes de morbidade e mortalidade, assim como de outros remissão e de exacerbação e também quando abrangem pa-
dados relevantes e a regular disseminação dessa informa- cientes em tratamento, Nessas circunstâncias, a classificação
ções a todos que nece iram conhecê-Ia'?", Sua caracterís- dos casos dependerá dos objetivos da pesquisa. que deverá
tica mais importante é a ampla disseminação da informação estabelecer critérios específicos para cada situação com o objetivo
analisada com recomendações visando ao controle de doen- de estabelecer definições de caso mais adequadas".
ças". O uso da vigilância nos últimos 50 anos tem acurnu-
~ lado um amplo acervo de contribuições ao campo da saúde
~ pública. um exemplo. é a produção do conhecimento rela-
Estudos Ecológicos ou de Correlação
;!i tivo a AIOS desde o início da epidemia. identificando ten- Os estudos ecológicos focalizam possíveis associações en-
:h dências. grupos e fatores de risco]', tre exposições e desfechos em populações e não em indiví-
00
duos, ou seja, a unidade de estudo são agregados populacionais
Estudos de Corte Transversal ou de Prevalência que vivem numa área geográfica definida como países, re-
Os estudos de corte transversal. também conhecidos como giões, cidades, distritos. As variáveis analisadas nesse tipo
estudos de prevolência, são freqüentemcnte uri Iizados para de estudo são medidas sumarizando características indivi-
de crcvcr as condições de saúde de populações. por meio de duais dentro de um grupo e apresentadas por meio de valo-
inquéritos nacionais, regionais ou locais. Como tipo de es- res médios. por exemplo. taxas de uma dada doença. consumo
tudo são semelhantes aos Censos Demográficos decenais, ofe- médio de gorduras, proporção de fumantes, renda média em
recendo informações que refletem as condições em determinado populações, Podem-se também utilizar medidas ambientais como,
ponto no tempo, É uma metodologia ainda insuficientemente por exemplo. intensidade de poluição ambiental, tempo mé-
utilizada na área da saúde em nosso paí . Os instrumentos de dio de insolação diária. Outras variáveis. com Ireqüência uti-
medida de exposição nos estudos seccionais podem ser, por lizadas em estudos desse tipo. são medidas globais que
exemplo, registres, preenchimento de que. tionários. exames representam caracterfsticas de um grupo e que não são
físico e clínico. testes de laboratório, reprodutfveis individualmente, por exemplo, tipos ou mode-
Nos estudos seccionais ou de corte transversal, cuja uni- los de políticas de saúde, de regulamentação ou lei", Um exemplo
dade de estudo é o indivíduo. tem-se a mensuração da situa- seria o impacto da legislação de trânsito brasileira nas taxas
ção de uma amostra de indivíduos em relação a determinada de mortalidade por acidente causado por veículo II motor.
exposição c efeito em um único ponto no tempo ou no de- Os estudos ecolâgicos analisam dados globais de popula-
correr de um curto intervalo de tempo. Esses estudos. quando ções, comparando a frequência de doença entre diferentes
efetuados em população bem definida. permitem a obtenção grupos populacionais durante o mesmo pcrfodo de tempo ou
de medidas de prevalência. por isso, são também conhecidos II mesma população em diferentes momentos, Essex estudos
por e tudos de prevalência". são geralmente descritivos. ou seja, desenvolvidos com vis-
O fato de men urar exposição e efeito num único momento tas à elaboração de hipóteses, mas podem também testar hi·
é uma das desvantagens apresentadas por e se tipo de estudo, pôteses. ainda que. nesse caso. a interpretação deva ser feita
pois torna difícil a identificação da seqüência temporal desses com cuidado em virtude da denominada falácia ecológica, que
eventos. ou seja. se a exposição precede o aparecimento da consiste em considerar lima associação verificada entre variáveis
doença ou se apre ença da doença altera o grau de exposição analisadas no nível de um agregado populacional como ver-
a determinado fatoro o entanto, para fatores que permanecem dadeira para o nível individual, quando na realidade ela não
inalterados no tempo, tais como: sexo, raça e grupo sangüíneo. expressa a associação existente no nível individuaJ2s,32.
os estudos seccionais podem oferecer evidência válida de uma Um exemplo de estudo ecológico é a verificação de taxas
associação estatística, permitindo, portanto, testar hipôteses", mais baixas de cárie dentária em população servida por água
Quando o objerivo da pesquisa é 11 identificação de aspectos
relativos à etiologia, os estudos seccionais são particularmente
indicados para inve tigação de doenças de início lento e de
evolução longa. nos quais o diagnóstico, em geral, é feito num
estágio mais avançado da doença",
Entre as vantagens dos e tudos de cone transversal, tem-se:

• São quase sempre desenvolvidos com base em amostras


representativas da população, não abrangendo apenas pa-
cientes que buscam atendimento em serviços de assis-
tência médica. permitindo estudos que visam a testar
hipóteses e. por conseguinte. a elaboração de inferências
causais mais fortes.
• Seu custo é geralmente mais baixo se comparado a outros
tipos de estudos, em virtude de seu desenvolvimento em
curto espaço de tempo,
• São úteis para esrudos de critivos relativos ao espectro
Estudo d_Krltlvo
(série d. casos)
I Estudo d~ritiYO I
clínico da doença e para inquéritos de prevalência.
Ensaio
Quanto às limitações dos estudos seccionais. tem-se: dinico n30
aleatório
controlado
• A dificuldade. já apontada. de e identificar a sequência
Eo... lo
temporal da exposição de imeres e em relação ao efeito. dinko
• A maior dificuldade de identificação de doenças de curta aleatÓt'io
(onttolado
duração caso se compare com aquelas de longa duração,

Recomenda-se também cuidado na análise de estudos Figura 6.3 - Algoritmo de opções de tipos de estudo nos quais a
seccionais
que incluem doenças que apresentem períodos de unidade de observação é o Individuo
54 • Tratado de Clínica Médica

de abastecimento com níveis mais elevados de concentração de como um conjunto de critérios padronizados que permitem
flúor, permitindo [I elaboração de hipóresedequeo flúor diminuiria estabelecer quem deve ser c lassi ficado COI!IO apresentando ii
o risco da cárie dentária, Nesse caso. dispõe-se de dados rela- condição de interes e paro a invesí igação. A definição de ClISO
tivos ii um Iaror de exposição, a concentração de flúor nu água inclui critérios clínicos. laboratoriais e epidemiológicos, po-
de abastecimento, e a um efeito, a taxa de cárie dentária. ambos dendo delimitar também caracterfsticas epidemiológicas relativas
referentes a toda a população: no entanto. esse estudo não dã a tempo. espaço e pessoa.
a frequência individual da ex posição e do efeito. fato que impede Estudos de Coorte. O termo coorte vem do latim cohorte.
de efetuar inferências para o indivíduo. que significa uma de dez divisões de uma legião de soldados
Os estudos ecológicos são apropriados quando o nível da do antigo Império Romano. cujos membros por analogia com-
inferência de interesse é a população como. por exemplo. partilhariam uma experiência comum, Essa analogia deve-se
analisar a associação entre disponibilidade de alimentos e de- ao fato dos estudos de coorte consistirem no acompanhamento
terminados eventos adversos 11saúde: desigualdades sócio- de um grupo de indivíduos a partir de uma exposição na dire-
cconômicus c saúde, modificações da legislação e saúde; ou ção de um ou mais desfechos",
O<
ainda. quando desejamos analisar a associação entre determi- Os estudos de coorte são estudos longitudinais em que o ~
nadas exposições, cuja variabilidade é pequena e eventos ad- investigador limita-se a observar e analisar a relação existente 'i!
versos à saúde, como é o caso de ingestão média de sal na entre 11 presença de fatores de risco ou cnracrcrtsrlcas e o ~
população e taxas de hipertensão e ingestão média de gor- desenvolvimento de enfermidades. em grupos da população. ~
dura pela popu lação e câ ncer de mama 12. é. portanto, um tipo de estudo observacional. no qual a unidade
de estudo é o individuo",
Estudos Analíticos Nos delineamentos mais simples. fi coorte é formada ini-
Os estudos alialíricos caracterizam-se por incluir um grupo cialmente por um ou mais grupos de pessoas sadias ou que não
comparação. permitindo a análise de associações entre determi- apresentam O desfecho de interesse. que serão classificadas
nadas exposições e desfechos, assim como testar hipóteses cm subgrupos segundo a exposição ou não a umfalOr de risco,
elaboradas. geralmente. durante estudos descritivos. Os estudos ou seja. a um tutor potencialmente associado à ocorrência de
cnaliticas visam a estabelecer inferências a respeito de asso- urna doença ou de um evento adverso à saúde (Fig. 6.4). A
ciações entre duas ou mui, variáveis, podendo investigar tais finalidade dos estudos de coorte é a de averiguar se a ineidên-
associações por meio de duas abordagens: a observacional e cia da doença difere entre o subgrupo de expostos a um deter-
a «xperimenrat", minado furor de risco se comparado com o subgrupo não exposto,
em outros termos, busca-se identificar se essa exposição está
Estudos Observacionais associada ao desfecho de interesse. os delineamentos mais
complexos a coortc pode ser formada por diversos grupos com
Os estudos observacionais são assim denominados uma vez diferentes graus de intensidade e duração da exposição, e as
que o pesquisador lião intervém. apenas analisa, com funda- taxas de incidência podem ser calculadas segundo essas dife-
mento no método epidemiológico. os dados de u 111 experimento rentes categorias de cxposiçã03l.3J•
natural. Eles abrangem basicamente três tipos de delineamentos: Os estudos de coonc iniciam-se por um corte transversal,
os estudos de cone transversal. já apresentados anteriormen- quando todos os componentes da coorte são submetidos a exames
te, os estudos de coorte e os de caso-controle, que em síntese clínicos. laboratoriais e pela aplicação de questionário; a seguir,
têm por objetivo verificar se o risco de desenvolver uma doença são acompanhados por determinado período de tempo com
ou evento adverso à saúde é maior entre os expostos do que periódicas mensurações das variáveis de interesse ao estudo,
entre os não expostos ao Iator de interesse ao estudo. isto é. com o objetivo de medir a ou as exposições e identificar
As características básicas dos estudos de coorte e de caso- a ocorrência do desfecho".
controle silo os seguintes: Entre as caracterfsticas mais importantes dos estudos de
• Os estudos de coorte iniciam-se COI11 indivíduos que não coorte tem-se:
apresentam o desfecho de interesse. Após segui-los por
algum tempo. analisa-se a existência ou não de possí- • São os únicos estudos que testam hipóteses etiológicas
veis associações do tipo exposição-efeito por meio da produzindo medidas de incidência e. portanto, medidas
comparação da ocorrência da doença ou evento ad- dircias de associação, ou seja. RR.
verso 1\ saúde entre expostos e lião expostos ao possí- • Permitem aferir a contribuição individual ou combi-
vel [ator de risco, nada de mais de um [ator de risco associado com de-
• Os estudos tipo caso-controle iniciam-se a partir da iden- terminada doença,
tificação de casos da doença de interesse e sclcção dos • São geralmente prospectivos 0/./ concorrentes, no entanto,
controles adequados, invesrigando-se retrospectivamente em situações e peciais, quando se dispõe de registros
a freqüência de exposições entre C(lSOS e os controles.
confiáveis relativos à exposição pregressa ao início do
seguimento, pode também apresentar caráter retrospec-
Tendo em vista que o objetivo dos estudos observacionais
tivo ou I/tio COI/COrrente, é a coorte histórica.
é a quantificação das associações entre exposição e efeito,
torna-se indispensável definir de forma bem precisa o que se • O estudos de coorte partem de grupos de pessoas
entende por exposição (provável [ator de risco) e por efeito sadias que naturalmente se distribuem em subgrupos de
(doença), expostos e não expostos ao [ator de risco em estudo. Tais
A definição de exposição deve ser elaborada levando em grupos. após certo período de tempo. dividir-se-ão em outro
conta a dose e/ou duração da exposição ao provável farol' de subgrupos de atingidos e não atingidos pelo efeito
risco ou diferentes maneiras de associação entre a exposição (doença ou evento adverso à saúde) que se supõe estar
e o efeito, A exposição também pode ser entendida por caracte- associado ao [ator de risco objeto do estudo,
rísticas do indivíduo como, por exemplo, sexo, idade. tipo • O grupo estudado deverá ser o mais hornogêneo possível
sangüíneo, etc. Por sua vez. a definição do efeito, ou seja. a ao maior número de variáveis, que não sejam aquelas
definição de C(lSOé igualmente indispensável e pode ser entendida sob estudo, denominadas variáveis independentes,
Pesquisa Clínica - 55

Por decorrência das características anteriormente apontadas. Coorte retrospectiva


as associações obtidas porestudos de coorte. em geral. são mais 1995 2005 2017
consistentes do que aquelas que resuItam de estudos tipo caso-
controle, EMC!>.como se verá mais à frente. são mais adequados
para situações em que se defronta com problemas em que é Incidência
indispensável a identificação imediata da possível etiologia. nos
Os estudos de coo r/e apresentam vantagens em relação aos expostos
estudos de caso-controle. entre elas: (I) permitem O cálculo
direto das taxas de incidência e da medida de associação, o
RR; (2) por serem estudos de longo prazo são geralmente mais
bem planejados do que os estudos de caso-controle: (3) de- Incidência
pendendo da forma como são planejados. podem evidenciar nos
associações de um fato r de risco com lima ou mais doenças: não expostos
(4) menor probabilidade de conclusões falsas ou incxaras, por
serem menos vulncrãvcis a vieses. Por outro lado. apresen-
tam também desvantagem,como: (I) custo elevado e longa du-
ração;(2) modificações na composição do grupo selccionado 2005 (oorte prospectiva 2017
em decorrência de perdas por diferentes motivos: (3) dificul-
dade em manter a uniformidade do trabalho. Estudo longitudinal
Estudos Tipo Caso-controle. Os estudos tlpo caso-controle
partem de um grupo de indivíduos acometidos pela doença de
Figura 6.4 - Apresentação esquemática de estudos de coorte
interesse,os casos, comparando-os com outro grupo de indiví-
duos que devem ser em tudo semelhantes IIOS casos, diferindo
somente por não apresentarem a referida doença. são os COI/· devendo buscar a máxima semelhança entre casos e controles, à
troles (Fig. 6.5). Identificados o casos e selecionadosos controles. exccção do fato de os controles não apresentarem a doença
o investigador estuda retrospectivamente a história dos casos objeto do estudo. o entanto, essatarefa é diffcil. pois até irmãos
e controles, com vil-tas a identificar a presença ou ausência de gêmeos são submetidos a diferentes exposições ambientais. Além
exposição a determinado [ator que pode ser importante para o das características já referidas. devem-se observar os seguintes
desenvolvimento da doença em estudo". critérios na sclcção dos controles: (I) ()~ cont roles devem ser
Os estudos tipo caso-controle caracterizam-se, à seme- representativos da população sob risco de se tornarem casos.
lhança dos estudos de coorte, por serem observacionais, ou ou seja. de apresentarem a doença de interesse ao estudo: (2)
seja. não há intervenção por parte do i nvestigador c li unidade ser ou não exposto uo possível fator de risco investigado não
de estudo é o indivíduo. A mensuração da exposição é cfctu- pode ser critério de seleção dos controles.
ada por meio de entrevistas. questionários padronizados. in- Ao sclccionar os controles o pesquisador deve estar atento
formações de parentes/vizinhos ou por meio da pesquisa de a posvívois vieses: poderia ser cilada como exemplo um estudo
marcadores biológicos. Os procedimentos devem ser rigoro- sobre fatores de risco para infano do miocárdio, no qual os
samente iguais para casos e controle . sendo recomendável casos são selecionados numa enfermaria de um grande hospital
que os entrevistadores não conheçam o status caso-controle universitário. Nesse caso se forem selecionados como controles,
com o objetivo de se evitar vie e de informação". pacientes que não apresentam infarto do miocárdio entre os
O~ estudos tipo caso-controle estão particularmente indi- atendidos na unidade de pronto-socorro. do mesmo hospital.
cados a doenças raras e de longo período de latência. ou ain- é possfvel que se tenham vieses, lima vec que, pelas caracte-
da, em situações como as encontradas em surtos cpidêmicos rísticas do hospital, sua enfermaria recebe pacientes de todo
ou diante de agravos desconhecidos. em que é indispensável o Estado. enquanto O pronto-socorro recebe predominantemente
li identificação urgente da etiologia da doença com vistas a pacientes residentes na cidade em que ele se localiza".
uma Imediata ação de controle. Mais recentemente, os estu- Uma alternativa gara se evitar possíveis vieses determinados
dos caso-controle passaram a ser utilizados na avaliação de pela scleção dos controles entre pacientes hospitalizados seria
~ eficácialefetividade de vaci nasJ5.16• selecionã-los entre indivíduos que vivam na vizinhança dos
~ os estudos tipo caso-controle a classificução de um doente casos. ou ainda. parentes. colegas de trabalho ou de escola.
~ como caso pressupõe uma perfeita definição das caracterís- ou pes oas que mantenham alguma relação de proximidade
:;; ricas dessegrupo. que deve levar cm consideração vários as- com os casos. Esses cuidados são indispensãveis para garantir
00
pectos. entre eles: (I) critério diagnóstico: (2) aspectos e a maior comparabilidade interna entre casos e controles e,
variedades clínicas: (3) csradiamento da doença. Além dis- por conseguinte. uma estimativa mais consistente do risco I•.
so, devem-se sclccionar de preferência casos ocorridos re- Os estudos tipo caso-controle apresentam, porém, algumas
centemente e num intervalo definido de tempo, ou seja. de di Ilculdadcs. entre as quais o fato de que, nesse tipo de estudo
casos incidentes e não de casos existentes num determinado as informações são obtidas retrospectivamente: portanto. elas
momento. mas diagnosticados no passado. ou seja. de casos dependem da fidedignidade do recordatério, que pode gerar
prevalentes. isso porque, os critérios diagnósticos podem variar vieses de memória. tanto entre os casos como entre os contro-
com o tempo. Devemos também levar em conta o fato dos les. podendo esse viés apresentar-se ou não com a mesma in-
casos prevalentes geralmente diferirem dos casos inciden- tensidade entre ambos. isto é, podem-se ter vieses diferenciais
tes por apresentarem formas menos graves da doença O que e não diferenciais entre casos e controles. Por exemplo, uma
lhes permitiu sobreviver por mais tempo. O!> casos podem mãe de uma criança acometida de malformação congênita será
ser selcclonados. incluindo todos os atendidos por um ou capaz de descrever com maior riqueza de detalhes e maior
mais serviços médicos ou todos os doentes encontrados na precisão as intercorrências verificadas durante a gravidez, se
população geral. ou ainda, uma amostra deles". compartida com a descrição, desses mesmos eventos. quando
A seleçâo do grupo controle constitui UI11 do pontos mais relatadospor uma mãede uma criança normal. Esseé um exemplo
importantes no delineamento dos estudos tipo caso-com role. de viés diferencial. a respeito do qual se íulurã mais à frente.
56 • Tratado de Clínica Médica

dade, Para tanto. necessita-se desenvol ver estudos que ava-


liem esses procedimentos. Os ensaios clínicos aleatórios
controlados são considerados o tipo ideal de estudo para avaliar
Chance de ser tanto a eficácia/efetividade corno os efeitos colaterais des-
exposto entre sas intervenções". A eficácia de um instrumento ou inter-
os casos venção expressa em qual extensão ele atinge seus objetivos.
quando aplicado em condições ideais de pesquisa. ao passo
que a efctividade expressa em qual extensão ele atinge seus
objctivos, quando aplicado em condições de campo, em que
nem todos os parâmetros podem ser fixados'.
A epidemiologia experimental abrange os chamados estudos
de intervenção que apresentam como característica principal
Chance de ser o fato de o pcsqu isador controlar as condições do experimento.
exposto entre Abordando esse tipo de esrudo de forma mais geral, podem-
os controles e dividi-los em dois grupos, os que não incluem um grupo de
comparação e os que os incluem. No primeiro caso teremos
os estudos de caso e de série de casos. que como já salientado
anteriormente. silo estudos descritivos. Na segunda alternativa.
têm-se os ensaios cltnicos controlados; nessesestudos quando
Figura 6.5 - Apresentação esquemática de estudos de caso-
controle o pesquisador utiliza a técnica de alocação aleatória para for-
mar o grupo submetido à intervenção e o grupo de compara- ~
ção, têm-se os ensaios cltnicos aleatârios controlados. ~
Outro problema é o viés de seleção tanto de caSO.I' corno de Os ensaios clinicos aleatôrios controlados podem ser uti- '"
controles, que pode ser atenuado se os casos forem sclccio- lizados para vários objetivos, como avaliar novos medicamentos. ~
nados em uma única área e observando critérios bem padro- vacinas e novos tipos de tratamento, incluindo nova tecno I0- x
nizados para sua inclusão no grupo". gias para assistência médica, avaliação de programas de ras-
Diferentemente tios estudos de coorte. os do tipo caso-controle rrearnenro (screening) e de diagnóstico precoce ou novas forma
não permitem o cálculo direro da associação cm conseqüên- de oferecer serviços de saúde!".
da da forma pela qual é eferuada a sclcção tanto dos casos De acordo com o exemplo da Figura 6.6, esse tipo de es-
como dos controles. Nessedelineamento não é permitido conhecer tudo se inicia pela seleção aleatória da população de estudo.
o número dos indivíduos expostos e não expostos ao possível dividindo-a em indivíduos submetidos ao novo tratamento
fator de risco: assim. não dispondo do denominadores dos cuja eficãcia/eferividade se quer testar e indivíduos subme-
grupos de expostos e de não expostos. não se pode calcular tido ao tratamento disponível no mercado. Após a seleção,
diretarnente a incidência entre os expostos e não expostos e foram seguido os dois grupos para verificar se O novo tra-
por decorrência o RR. que é a medida de associação adotada turnemo e. tá associado com a melhor evolução, pois a hipó-
nos estudos de coorte. Dessa forma. não sendo possível obter tese que está sendo testada é a de que o novo tratamento é
us incidências, a ossocloção será estimada pelo cálculo da ORo melhor que o atual. Podem-se comparar dois ou mais grupos
que pode ser aceito como um estimador do RR. sempre que recebendo diferentes terapias, mas qualquer que seja a op-
satisfizer dois pressupostos: (I) os controles devem ser repre- ção. ela deverá seguir princípios éticos. Os critérios de se-
sentativo da população que deu origem aos casos: (2) a doença leção dos que irão ou não ser incluídos na pesquisa deverão
objeto do estudo deve ser rara". ser explicitados com grande precisão. não poderão existir
Os estudosde caso-controle apresentam vantagens,entre elas: critério subjeiivos por parte do pesquisador para decidir quem
( I) fácil execução: (2) baixo custo e curta duração; (3) são par- participará do ensaio. de forma que esses estudos possam
ticularrnente indicado para doenças raras; (4) evita a perda no ser replicados por outros investigadores. da mesma maneira
seguimento de casos: (5) pode analisar vários prediiores simul- que um experimento de Iaboratório".
taneamente. Por outro lado, entre as desvantagens desse tipo Nesse delineamento, os grupos devem ser hornogêneos, sob
de estudo tem-se: (I) dificuldade de sclcção dos controles: aspectostais como sexo, idade, nível socioeconômico. Seo método
(2) as informações obtidas freqücntcrncnrc ão incompletas: de seleção do grupo que receberá o fator que se supõe protetor
(3) presença de vieses de informação, eleseleção e de fatores de não apresentar vieses e se o grupo de indivíduos estudados for
confusão: (4) impossibilidade de cálculo direto da incidência suficientemente grande para permitir a identificação de dife-
entre expostos e mio expostos e. portanto, do RR. renças na ocorrência da doença no grupo exposto e não exposto
à intervenção estudada. nesse caso. Se for possível encontrar
Estudos Experimentais uma relação de causa-efeito. ela terá signíflcado".
Os ensaios clínico tipo duplo cego, são aqueles em que O
O estudo de intervenção é um estudo prospectivo que objetiva indivíduos envolvido na pesquisa, tanto os pesquisadores e
avaliar a eficácia de um instrumento de intervenção e. para auxiliares dc pesquisa. de um lado. corno os sujeitos da pesquisa,
tanto. seleciona dois grupos. um deles submetido à interven- do outro. não sabem qual o grupo de pacientes que está sendo
ção objeto do estudo e o outro não. Em seguida. os grupos são submetido à intervenção. cuja eficácia/efetividade e tá sen-
acompanhados comparando-se a incidência do evento de in- do testada. Esse tipo de delineamento de estudo constitui a
teresse em ambos: espera-se que a incidência seja menor no melhor opção para se evitar vieses. Por exemplo. um novo
grupo selecionado para receber o furor protcror. medicamento que esteja sendo comparado a outro já em uso
Um dos objetivos da saúde pública e da clínica é modi- no mercado 'deve ser "mascarado" de tal forma que tanto o
ficar ti história natural das doenças, seja prevenindo ou re- grupo de pesquisadores e auxiliares como os pacientes en-
tardando a morte ou a incapacidade e melhorando a saúde volvidos no ensaio clínico. não tenham condições de iden-
dos pacientes ou da população. logo, o desafio é encontrar tificar quem está tomando o novo medicamento ou aquele já
a melhor medida preventiva ou terapêutica com essa finali- disponível no mercado".
Pesquisa (IInica - 57

INFERINCIA EM ESTUDOS EPIDEMIOUlGICOS


»:" Melhorou
Novotratamento Critérios de Validação Causal

:
. .
População de .
estudo
/
Seleçao
Sem
melhora
A concepção de causa enunciada anteriormente implica numa
relação probabilística entre o'fawres de risco e os agravos à
saúde aos quais estão associados, Por sua vez. as análises das
aleatória associações causais são efetuadas com a aplicação de técnicas
/Melhorou estatísticas: estas, porém. não bastam para que se tome uma
Tratamento decisão a respeito da associação verificada pelo estudo ser ou
atual ~ Sem não causal, O epidemiologista não deve desenvolver sua análise
melhora só com fundamento nessas técnicas estai íst icas, mas também
x levando em coma outros fatores relacionados ao evento consi-
.o
~ Figura 6.6 - Esquema de um ensaio clínico aleatório derado e o conhecimento epidemiológico j5 acumulado.
A vaiidação de associações causais constitui assunto complexo,
no entanto. vários autores propõem os seguintes critérios para
Entre os diferentes delineamentos de pesquisa se aceita ti validação de hipóteses de associação causal:
que os ensaios clinicos controlados sejam aqueles que per-
• Força da associação: quanto maior a associação entre
mitem evidências mais con fiáveis cm estudos cpidem iológico .
determinado fator e um efeito, verificada por meio do
Essa característica deve-se ao fato de o. participantes serem
cálculo do RR ou da OR, maior erá a probabilidade dessa
seleeionados alcatoriumcntc para nos grupos submetidos e
associarão ser de causa e efeito,
não submetidos 11 intervenção, cuja eficáciaJefetividade es-
• Sequência cronolôgicu: n exposição ao provável [ator
teja sendo estudada. Essa técnica de sclcção minimizaria vieses
de risco deve anteceder o aparecimento da doença.
no método de alocação nos diferentes grupos de estudo e
• Efetto dose-resposta: quanto maior a intensidade ou
controlaria [ateres de confusão, inclusive os não conheci- frcqüência de exposição ao provávelfatorde risco, haverá
dos. e que podem afetar o risco de apresentarem a doença. uma variação concomitante na ocorrência da doença.
Vale salientar que esse tipo de controle que não é possível • Significância estatística: a associação deve ser estatis-
ser aplicado nos estudos observacionais, Essa característica ticamente significante. em outros termos. é necessário
dos estudosde intervenção é mais importante quando se estudam um elevado grau de certe/a de que essa associação não
efeitos de pequena e média intensidades. o entanto. cabe a se deve ao acaso.
ressalva de que a técnica de alocação aleatória dos partici- • Consistência da associação: a demonstração da associação
pantes do estudo não assegura que o tratamento será igual deverá repetir-se em diferentes estudo efeiuados em
nos diferentes grupos estudado . tornando indispen ávcl que distintas populações c momentos, empregando-se dife-
a análise do, resultados do estudo inclua estatísticas descri- rentes métodos.
tivas das características dos indivíduos que formam cada um • Especificidade da associação: quanto mais específica
dos grupos estudados!". for a relação entre ura fator e uma determinada doença
Os ensaios clínicos de medicamentos e vacinas. em geral. mais provável será tratar-se de uma associação causal.
incluem quatro fases: • Reversão da intensidade da associação: a associação
entre o efeito c a exposição ao provável [atar de risco
• Fase I: Iocaliza especialmente a segurança elo produto e perde sua força nu medida em que aumenta o período de
não
eficâciurcfet ividudc.
fi
interrupção da exposição.
• Fase1/: quase sempre são estudos-piloto incluindo um número • Coerência cientifica: os novos conhecimentos devem ser
pequeno de pacientes voltados li obter informações da eficácia coerentes com paradigmas científicos consagrados. ou
e segurança do produto. com acompanhamento cuida- seja,já validados por pesquisas anteriores. Qualquer in-
doso elecada paciente: quando se trata de vacina, a preo- congruência entre ambos indica que um deles está incorrere,
cupação é a análise preliminar da imunogenicidade. ou a associação identificada pelo estudo ou os paradigmas
• Fase III: após a nova droga ou vacina ter demonstrado cientfficos consagrados.
relativa cficãcia c segurança é necessário compará-Ia
em larga escala com medicamentos de uso consagrado em Viés
ensaios clínicos controlados envolvendo número sufi-
ciente de pacientes. Para alguns autores. o termo ensaio 'o decorrer do texto foram feitas várias referências a respeito
clínico seria sinônirno de ensaios de [ase III. da possibilidade de ocorrência de vieses c suas conseqüências
• Fase IV: corresponde à vigilância pós-comercialização em diferentes tipos de estudos epidemiológicos. A seguir serão
que tem como objcuvo identificar efeitos colaterais raros, feitas algumas considerações complementares. com ênfase a
não identificados nas fases anteríores+". aspectos conceituais. Deve-se entender por viés qualquer erro
'sistemático no delineamento, condução ou análise de um estudo
Esse delineamento deve obrigatoriamente pressupor uma que resulte numa estimativa equivocada do efeito da exposição
análise prévia dos aspectos ético envolvidos no projeto de no risco da doença', Por sua vez. em linguagem estatística viés
pesquisa. devendo ser aplicado. emente quando exista para o é quando a média dos valores das medidas de associação obtidas
fatorem estudo forte evidência de um efeitoprotetor. Os princípios de um infinito número de estudos não é o verdadeiro valor",
éticos a serem observados cm estudos de intervenção fundamen- Em estudos cpidcmiolégicos podem-se encontrar basica-
tam-se em alguns documentos consagrados internacionalmente, mente dois tipos de vieses: os de seleção e os de informação,
destacando-se a Declaração de Helsinque. de 1964, devendo Entendem-se como vieses de seleção aqueles que ocorrem quando
em nosso país obedecer às Direrrizes e Normas Regulamen- a forma pela qual casos c controles ou expostos e não expos-
radoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, Resolução tOSsão selecionados é tal que uma aparente associação é observada,
n~ 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, mesmo quando. na realidade, exposição c doença não estão
58 • Tratado de (/lnica Médica

associados; nesse caso. a aparente associação é decorrente de comparação de forma aleatória; (2) pareamemo de casos e con-
um erro sistemática de seleção. Uma forma de viés de sele- troles pelas variávci que sabidamente são fatores de risco para
ção que ocorre com alguma frequência em estudos epidemio- o desfecho de interesse. A outra é quando se desenvolve a
lógicos diz respeito à existência de diferenças existentes entre análise; nessa fase. pode-se utilizar a técnica de estratificação
o grupo de indivíduos que aceitam participar de um e tudo pelas variáveis que sesupõem estarem confundindo a as ociação
cm relação àqueles que se negam a participar. Por exemplo. encontrada, ou mediante a comparação do RR ou da OR bruta
se ao estudar a associação entre uma exposição e uma doença com o ajustado por técnicas de análise multivariadaê.
c a taxa de adesão ao estudo for maior entre doentes que fo- Um fator de confusão pode explicar completamente ou apenas
ram expostos do que entre os não expostos, serápossível observar pane da associação observada entre lima dada exposição e um
uma aparente associação. Quase sempre. pessoasque não aderem desfecho. por exemplo. e num estudo u OR bruta é igual a
à participação em estudos diferem das que aderem em muitas 4.5 e o ajustado é 2.5. tem-se que parte da associação não é
características demográficas. sociocconôrnicas. culturais e de decorrente do Iator de confu ão estudado. Com alguma fre-
estilo de vida ou me mo em suas condições clínicas. Esse tipo qüência 11 variável de confusão pode representar um conjunto oe
de viés apoma ii importância de se buscar o máximo de infor- de variáveis/características. Quando se fala. por exemplo, em ~
mações disponíveis que possam caracterizar aqueles que não status socioeconôrnico, essa variável pode incluir educação. ~
aderiram uo estudo. com a finalidade de se determinar de que condições habitacionais e acesso a serviços; outro exemplo ~
forma diferem os indivíduos que participam e aqueles que se seria estilo de vida. que pode abranger hábitos alimentares. ~
negam II participar de determinado estudo I". aiividade física e consumo habitual de álcool c tabaco".
O viés de seleçãa pode ocorrer também em conseqüência dos
critérios de inclusão ou de exclusão adorados num estudo que REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS
induza a um erro sistemático na seleção dos componentes de I. LAST. J. M. A 11I1'/ill/l{"')' ()f épidtm,oIOR).4. ed. Ncw 'Vork: Oxford UnivcrsilY.
um ou mais grupos de estudo numa pesquisa. A cxistênciu 2001. p. 196.
2. KR,\MbR. M. S. ClilliclII HpiJ.miologyanll Biosuutstic: a primer for clinicai
de vieses de sclcção pode influir tantO na validade interna ou illl·""I/IIIO,. <l/uldecision-maker. Bcrlin: Sprínger- Verlag, 1988. p. 286.
externa de um estudo. devendo merecer especial atenção do J. ~IEN:-IEKENS. C. Ii.: BURING. J. E. Epidemi%g)' iII Medicine. Boston: Linle,
pesquisador durante o plancjamento do estudo. Brown and Company, 1987. p. 383.
4. NÁJERA. E. USOS y perspectivas de ta epidemiologia en lo investigncion. tn:
O outro tipo de viés é o viés de informação, que ocorre
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SAlUD. usos y J'cl'.vpecllva.1 de /0
quando li forma eleobter informação sobre os sujeitos da pesquisa Epidemiologia: dOl'IIIIWII(JSde seminârio, \Vlllhinglon: OPS. 1984. p. I09·129. (Ol~
é imprecisa de modo que informações relativas à exposição - Publication PNSP. 84·47.)
c/ou doença são incorreras. Portanto. tem-se como conse- 5. ROSEN. G. UIIII' I/I.,//II-iada SoMe Público. SAo l':I.ulo: UNhSPlHucilCCI ABRASCO.
19<)~.(l.96-97.
qüência um erro de classificação. Entre os vieses de ideni i-
(>. AI.MEIDA AlIIO. N. Ulllll breve hi~lória ~ cplllcmiologin. ln: ALMEIDA FI·
licação da exposição mais freqüentes têm-se os de recordação 1.110. .: ROUQUAVROl-. M. Z. I;jl/delllioilogio e $a,lde. 2. cd. Rio de Janeiro:
ou de memória e o do entrevistador. ao passo que os mais Mc~hi. 2003. p. 1·16.
comuns relacionados à identificação do desfecho são os do 7. t.ANGMUIR. A. D. \ViIIilln Fnrr: founder of modem cooceprs of surveillance. lnt.
J. é"ltI./II .• v.• n. 5. p. 13·18, 1976.
ob ervador e o do entrevistado.
R. SKOW. J. Sobre a maneira de transmissão da cólera. São Paulo: liucileclABRASCO.
Os vieses de informação podem ser divididos em diferenciais 1990.
e não diferenciais. Nos vieses diferenciais as medidas de asso- 9. DOLl. R.: HILl.A. B.lungcancerand olhercauscsofdeath in relaiion to smoking.
ciação podem ser distorcidas em qualquer direção, ou seja. 1Ir.Med. L.• v. 2. p. 1071·1781, 1956.

superestimando ou subestimando o RR ou a ORo Por sua vez, lO. DOLl. R.: HILL. A. B. Monalily in relauon 10 smoltinl: 10 yCAI'S observatlnn oF
Brilish c!oeU)N. 8r. Meti.l .. v. 1.1>. 1399·1410. 196-1.
nos vie cs não diferenciais o erro de classificação tende a di- II. HUt.t.f:V. S. B.: CUMMINOS. S. R.; I3ROWNER. W. S.: GRADV. D.: IiBARST.
luir a força da associação. ou seja. quando ele ocorre. é me- N.: NEWMAN. T. B.IHUnealldo (I f'/'s(/tliw cuntco: //nllJllbordogl'1ll '1IIdr.m/ológICII.
nos provável que consigamos identificar uma associação. mesmo Trad, M. S. Duncan (A. R. Peres. 2. cd. POrlOAlegre: Anmcd. 2003.
quando ela existe". 12. SZKLO. M.: NIIITO. P. J. é"ldellli%IlY: beyo/ldlhe basics. Gailhersburg: Aspen,
2000. p. 495.
13. GRIMI.:S. D. A.: SOIUlTZ. K. F. An overvicw of clinical researeh: lhe lay of lhe
Fator de Confusão land. Lancet, v. 359. p. 57·61. 2002.
14. GOROIS. I.. EpidentÍfJlogy.Philadelphia: W,U. Saunders, 2000 ..
Muitas vezes em um estudo epidemiológico encontra-se uma 15. COSTA. A. J. 1..: KALE. P. L Medidas de freqüência de doenças. ln: MEDRONNO.
associação que é verdadeira, pois não é fruto do acaso ou de R. A. cr III. E/Jidunio/agia.São Paulo: Athcneu, 2002. p. 15-31.
16. LAURENTI. R.: MELLO JORGE. M. N. P.: LEBRÃO. M. L; GOTUEB. S. L. és·
um erro sistemático, isto é. de um viés; mas quando se analisa /(""/;I'II.! d, Sl"i/I,. São l'lIulo: PedaGógica c Univcrshária. 1987. p. 13J.142.
melhor a característica dessa associação. verifica-se que ela 17. ALMEIDA FtlHO. N.: ROUQUAVROl. M, Z. lntroduçõo a Epidemiologia Mo·
não é causal. esse caso a associação pode refletir o efeito de derna. Salvador: Apce Produtos do ConhccimclIlo/A B RASCO. 1990. p. 223.
um fator de confu ão. 18. ROTHMAN. K.J.Modem Epidemi%g)'. BOSIOI1: Lítue, BrownnndCompany.t986.
19. MUNOZ. A.; TOWSEND. T. R. Design and nnalyticnl issues in sludies ofinfecliou~
Para uma variável exercer o papel de fator de confusão ela discascs. ln: WENZEl., R. Ptr\YlJlion and eOll/rol of Nosocomiof InftCli()ftS.Baltimore:
deverá ter as cguintes características: (I) estar associada à Williams and Wilkins, t 993. p 958·971.
exposição em estudo. sem ser conseqüência dela: (2) estar 20. MUUIOllAND. K. CIalo Randomised lrial of'Hncmophitus inJhlCOlIItIype-b~lJIJIus
associada ao desfecho (associação causal ou não) indepen- protcin conjugatc for prevenuoe of pneumonia and mcnlngltis in gambian infallls.
tancet, v. 349. p. It91-tI97.1997.
denternente da exposição em estudo. Por exemplo, ao se es-
21. GRIMIlS. D. A.: SCHULTZ. K. F.l>c5çripllv. ,ludics: whOllhey can and canDO!do.
tudar a associação entre cafeína e câncer de pulmão. verifica-se Lann«, v. 359. p. 145·149.2002.
a existência de uma associação. ou seja. o RR ou a OR é maior 22. ANDERSON JR .. F. A.: WHEElER. H. B.: GOLDBERG. R. J. ctal.A populalíon·
do que 1. Nesse caso a associação pode estar sendo confun- ha.<cd perspective oflhe hospilal incidena: andcasc-fatality rates of deep veín lhrombosis
and pulrnonary embclism, Thc Worsccster DVT W Siudy,Are". lntem: Meti. Y. 151.
dida pelo verdadeiro fator de risco, o tabagismo. Veja-se, o
p. 933·938. 1991. .
tabagismo eSlá associado ao câncer de pulmão (é um fator de 23. ~IARSHALl. L. M.; SPIEGElMAN. D.: BARBIERI, R. L. el ai. Varialion in lhe
risco conhecido) e também está associado ao hábito de tomar incidenceof uterine leiomyona among prcmenopausal womcn by age nnd roce. ObsUl.
café. porém não é conseqüência dele. Gynecol.. v. 90. p. 967·973. 1997.
24. WAlDMAN. E. A.: ROSA T. E. Vigilância em SOI/d, l',íllli(;II, sno I'aulo: Faculdade
Existem algumas maneiras de controlar os fatores de confusão. de Saúde Público da USP. 1998. p. 91·131: 211·223.
Umu delas é na fase de delineamento do estudo: (I) conduzir um 25. FLETCliER. R. II.: PLBTCIIER. S. W.: WAGNER.!!. II. IlfJldcmi%gia C/{nica:
experimento de modo a selecionar o grupo de estudo e o de rltmellloS e~.fcllcla/.f.3. cd. Pano Alegre: Anc. M~dicus. 1996. p. 281.
Pesquisa Clínica • 59

26. SCIlt.'KI '. J R IkfXl,"ccllul ... adenoma: relalllllt.'Jup 'o I1ralcon'racepllVc"! JAMA. valor prcditivo positivo e negativo e razões de verossimilhança
I. 2\6.(' ~W. 1976 positiva e negativa), estudos de prognóstico e estudos sobre tera-
27. ROOKS. J II OR'. II. \\ .. ISIIi\K. K. G. c, .1. Eplllcnllolog) of hepatoccllular
.Idcnoma ,he rule (lf "1'111contraceptivo use, JAMA. I. 242. P (H4·648. 1979. pêutica. nos quais novos tratamentos para uma determinada doença
28. CEI\TI'RS I·OR OISEASE CONTROL AND PREVE:-<Tl0S Pneumocystispneu- são testados de forma científica.
monta, LO\ An~clc,.MMIV/(. I'. 30. p. 250·252.1981. Ao se pensar em medicina com base cm evidências, não se
29. IJKAZILlAI\ PURI'URIC I·EVEK STUDY GROUP. Brazihan purpurie fever: epidemie pode esquecer que a medicina, além de ciência, é também arte.
of purpuru lulminnn, associated with antecedem purulent conjunctiviris, 1,(1I1(·i!I. v. É preciso basear-se no conhecimento científico sempre que
2. p. 757·761. 1987
30. LANGMUIR.A. D. Thc surveillance 01'communicabte di,":o..c, Ilr oo,i'.'31 lmpormnces. ele estiver disponível e for de boa fonte e ucoplar a experiên-
Neli' t)'gl. J. M,d .• I 168. n. ~. p. 182·192. 1963. cia individual adquirida C0111 os anos'.
31. KALlCH\'IA '1.A. O. ~í.~iIIÍJlntlEpidem;ológi<'11 c/II ilitlJ' rnll/"''''\'ll"llI\ulr;co c/" O diagnóstico é uma das principais partes da medicina e se
conef;w, f pniliw\ Ol,,,,naç~o (Mestrado) - Foculd:IIl.; de ~kdo.:inad.lllnllcn.i·
baseia fundamentalmente no histórico clínico (anarnnese) e
dade de Sjo l'3ulo. I'l9~
32. MORGENSTfR'. II l.'", uI' ",ologic nnaly'" 10 cp,dcnllc.lug) r<"".r"h. 11m.J. no exame clínico. Anamnese e exame clfnico são ferramentas
PIIIII,f IItll/lh. I 72. r I H.I·I '16. 1982. que podem ser interpretadas do mesmo modo que testes diagnós-
33. GRIMES. O.A. SC'l1l I r/~K I· CclllCl,"'udic'. IIIl11ching",,""rd, <lOt,'OrtlC'.ÚJlU'~/. ticos (exames radiográficos ou laboratoriais). Um dos objeti-
1'. ~~9. p, ~J 1 ~~. ~(I()2
3J. MAUS:>iER.JS. KR \~II R. S H,.ic/~III;,,1"8Y:<III ;/l/",dw'/II1/1 teu. Philadclphia:
vos atuais da medicina com base em evidências é verificar a
W.13.Snunder-, 19K5. p. 1·"61 sensibilidade. a especificidade. os valores preditivos positivo
3S. DIC'KI1R. R. C. o.:\lgOlng \ludlt, in thc ficld.In: GREEG.~'" B. Ftrld t'pidtmioloKY. e negativo dados da anarnnese e do exame clínico". Por exem-
2. cd, Ncw yl)r~: Ox'ord Umvcrsiiy, 2002. plo, um dado trcqücntcmcntc ensinado aos nossos alunos nas
36. RODRIGUllS. L. C.: SMITH. P. G. Use 01' thc casc-conrrot approach in vaccinc
evnluation: cfficacy and adverse effecrs. Epidemiol.Rev. .. v. 21. n. I. p. 56·12. 1999. escolas médicas do Brasil é perguntar no paciente com sus-
37. GRIMES. D. A.: SCHULíL. K. F. Casc-comrot studics: rcscarch in reverse. LnIlUI. peita de csquistosscmose se ele nadou em "lagoa de coceira".
v. 359. p. 341·)45. 2002. Um epidemiologista brasileiro já respondeu essa pergunta e
38. ESCOSTEGUY. C. C blUdo, de lntervcnçüo. ln: ~II!DR();\1I0. R. A er 31.
F.p;de/ll;olo<~III. S:lo Paulo: Athcneu. 2002. p. 151·160.
mostrou que mesmo que o doente responda positivamente que
39. NIELS. 1\. S.: SPIELBERG. S. P. Pnnciplc-, vf therapeuuc». lo' GOOD~IAN: nadou em lagoa de coceira. o valor preditivo positivo dessa
GII~\1AN·S. /I't Ph4lrmllCIIlotllfll BlIfÍflljllltrll/,,'"/ÍI'f. Nc" Y()r~' ~IcGr:l" Hill. informação é muito baixo. entre outro motivos porque o paciente
1996. p. ü102. não sabe distinguir quais são as lagoas de coceira e quais não
são'. Recente linha de artigos publicados em revistas como o
Journal o] lhe American Medica! Association rem se concen-
trado nessa linha ele pesquisa. Por exemplo, a razão de veros-
CAPiTULO 1 similhança positiva (RVP) para a pergunta "você fuma há mais
de 40 anos?" multiplica por 8.3 o risco de () paciente apre-
sentar doença pu lrnonur obstrui iV<1crôn ica li lili ndo compa-

Medicina com
rado àqueles que nunca rumaram'. E~sa informação. quando
acompanhada da presença de sibiles (RYP = 7.3). da altura
máxima da laringe de 4cm (RVP = 2.8) e de idade acima de
45 anos (RYP = 1.3), pode se estabelecer ou se afastar um

Base em Evidências diagnóstico de doença pulmonar obstrutiva erôniea somente


com esses dados de anarnnese e de exame. A RVP para esses
quatro fatores somados é de 220 e a razão de verossimilhança
negativa (RVN) de 0,13. Por outro lado, há que se considerar
I abela M. Bensefior as limitações do exame clínico. por exemplo, em pacientes
com anemia que apresentam valores de hemoglobina interme-
diários. embora seja mais fácil acertar o diagnóstico do pa-
INTRODUçAo ciente sem anemia e do paciente com anemia grave"
o vocábulo evidence em inglês pode ser traduzido C0l110 evidência Recentemente. foi constituído o Clinical Assessment of the
no semido de prova. ou seja, no caso da medicina COI11 base em evi- Reliabilitv o] lhe Esamination Group (eARE) com médicos
dências seria urna medicina fundamentada em estudos que pro- de centros de vários países com claro objetivo de quantificar
~ vame comprovam a utilidade da informação no cuidado ao paciente. os achudos de anarnnese e exame clínico de forma científica.
~ O nome medicina com base em evidência acabou se consagrando Esse estudo da doença pulmonar obstrutiva crônica confirmou
~ em parte como sinônimo de epidemiologia clfnica. a capacidade de se usar a Internet para recrutar pesquisadores
~ A definição de medicina com base em evidências adorada e realizar estudos multicêntricos de validação de dados clínicos.
DO por David Sackett, um dos grandes teóricos do assunto. é "o O uso da Internet permitiu que. rapidamente. se alcançasse o
uso cxplíciro e judicioso da melhor evidência disponível para número necessário de pacientes para o estudo".
se tomar urna decisão que envolva pacientes", Em lermos mais Outro aspecto da medicina com base em evidências são os
gerais. a medicina com base em evidências significa integrar a estudos sobre fatores prognósticos, já que C~S<I é uma das primeiras
expertise clínica individual com a melhor evidência clínica ex- respostas que o paciente fará ao médico: quanto tempo eu tenho?
terna obtida após revisão sistemática e exaustiva da literatura Achados do exame clínico podem ser importantes fatores
sobre o lema: (1) por expertise individual deve-se entender o prognósticos. Estudo mostrou recentemente que, em pacientes
grau de conhecimento e de julgamento que o profissional de com insuficiência cardíaca congestiva. o achado de estase jugular
saúde adquire ao longo da sua prática clínica. o que se traduz c de presença de terceira bulha se associam de forma indepen-
na prática diária como maior efetividade e eficiência no fazer dente com fatores de pior prognóstico na evolução da insufi-
o diugnõstlco aliada ao respeito necessário aos direitos indi- ciência como a deterioração progressiva da função cardíaca".
viduais do paciente ao se tomar uma decisão clínica; (2) por É importante lembrar que a valorização da anarnnesc c do
melhor evidência clínica disponível podem-se incluir os re- exame clínico não tem como objetivo reduzir custo. ou limitar
sullnclos de pesquisas científicas clínicas cenlradas no paciente a solicil3çiío de exames invasivos. mas lIi111de valoril.ar obser-
realizadas com metodologia adequada voltada (l confecção de vações e proct::dimentos simples que aumcntam li capacidade
um diagnóstico corretO (acurácia, sensibilidade. especificidade. de resolução do médico.
60 • Tratado de Clínica Médica

A medicina com base cm evidências foi importante na uma redução de custos já que os recursos passam a ser utili-
valorização dos ensaios clínicos como referência para li opção zados de urna forma mais crítica, mas isso é muitas vezes uma
terapêutica. Começando com o estudo da tuberculose no pós- conseqüência e não um objetivo dessa prática. Outro ponto é
guerra, os ensaios-clínicos' tornaram-se li base para o pa- que, muitas vezes, a prática da medicina com base em evidên-
drão científico para análise crítica dos resultados de um cias em uma tentativa de se maximizar a qualidade de vida,
determinado tipo de tratamento, no início comparando com origina um aumento dos gastos".
um placebo e, atualrncrue. sendo cada vez mais Ireqüentes Por que o súbito interesse pela medicina com base em evi-
na comparação de um novo tipo de tratamento ao tratamento dências?
habitual já uulizado (é antiético usar um placebo quando já Porque a prática diária leva à busca de informações sobre
existe um tratamento disponível para uma determinada doença). diagnóstico, tratamento e prognóstico o tempo todo e os méto-
Algumas áreas da medicina, como a cardiologia, rapidamente dos convencionais (livros) nem sempre estão suficientemente
incorporaram os grandes ensaios clínicos a sua rotina e houve atualizados para dar essa informação. À medida que os profis-
grande progresso no tratamento da hipertensão arterial sistêrnica, sionais se tornam mais experientes como conseqüência da prá-
do infarto agudo do miocárdio e de outras síndromes coronárias. tica clínica diária, esquecem os muitos conhecimentos que tinham
Estudos como (l SOLVO, HOPE, 1$1$ 11, ISIS IV e muitos ou não têm tempo para atualização em novas técnicas, proce-
outros passaram a ser nomes de rotina no nosso dia assim dimentos e tipos de tratamento. O tempo face a cada paciente
como seus resultados". é curto e as dúvidas sempre muitas. Desse modo é importante
O que a medicina com base em evidências não é'! Muitos que se crie uma estrutura de atualização contínua de rápida execução.
críticos dizem que ela não passa de um livro de receitas que Para aplicação da medicina com base em evidências é pre-
se é obrigado a seguir sem nenhuma crítica. Em nenhum mo- ciso transformar as dúvidas do dia-a-dia em perguntas a serem
mento a experiência pessoal podc ser esquecida. Da rotina do respondidas. Em seguida, buscar, na literatura, a informação
dia-a-dia de cada um, surgem as grandes perguntas. Na década necessária para responder a sua pergunta. Depois disso, anexar
de 1950, um médico de farn ília americano percebeu que os seus novas informações às práticas de rotina, testando-as em rela-
pacientes que tomavam aspirina tinham mais petéquias. Não ção a sua eficácia e sua efetividade.
havia, nessa época, nenhuma evidência de que a aspirina fosse A medicina com base em evidências também apresenta limi-
um antiagreganre plaquetário. Esse médico escreveu uma car- tações que são próprias da ciência seja ela básica ou aplicada:
ta a urna revista de circulação restrita e deixou exposta sua a falta em termos quantitativos de informação coerente e con-
dúvida. Anos mais tarde, descobriu-se a ação antiagregante sistente de boa qualidade, as dificuldades em aplicar as evi-
plaquetária da aspirina. Portanto, praticar a medicina com base dências no cuidado de nossos pacientes (cada caso é um caso)
em evidências é sair buscando dúvidas e tentando resolvê-Ias e as dificuldades relacionadas à prática de uma medicina de alta
e não aceitar somente o que já cstá escrito. qualidade. Entre as dificuldades específicas da medicina com base
Outro ponto importante a ser discutido são os guidelines em evidências estão a necessidade do profissional ter que aprender
ou consensos. Consensos. se não forem escritos de forma correta, novas habilidades (fazer a pesquisa utilizando O MEDLTNE,
realmente são livros de receita e, às vezes, com a receita er- a lnternct) e aprender a julgar criticamente as evidências. a
rada. Novamente entramos no aspecto crítico: muitos consen- falta de tempo para realizar a busca da informação e ti falta de
sos podem exprimir opiniões pessoais de um grupo e não as infra-estrutura em muitos locais de trabalho que dificultam a
evidências científicas. O conflito de interesse, muitas vezes, busca da informação.
entre os redarores e participantes de um consenso, por um
lado, e o financiador, de outro, não fica evidenciado. Por
isso, deve-se valorizar consensos de grandes instituições e
ClASSIFICAÇIO DAS EVID~NCIAS
órgãos públicos e colocar em segundo plano consensos fei- É importante, para quem quer praticar a medicina com base
tos por sociedades específicas ou de especialidades que ten- em evidências, conhecer o modo como as evidências são clas-
dem sempre a recomendar o produto do patrocinador. Sempre sificadas e por que essa classi ficação surgiu.
se deve também verificar no consenso onde estão as referên- Os estudos mostram que o conhecimento que não foi gerado
cias daquilo que é dito e, na dúvida, lê-Ias com cuidado. Muitas por pesquisas científicas tende a favorecer as respostas posi-
vezes pode haver lima má interpretação das informações. tivas ao tratamento e o próprio médico tende a se lembrar mais
Até pouco tempo atrás, a maior parte dos consensos para dos resultados que dão resultados positivos em relação a seus
tratamento de enxaquecas dizia que a primeira escolha no tra- pacientes. Há muitos ensaios clínicos nos quais pacientes que
tamento da crise aguda deveria ser a administração de analgé- foram aderentes ao tratamento, mesmo estando no grupo-placebo,
sicos associados a rnetoclopramida e, se não houvesse melhora, evoluíram para desfechos mais favoráveis incluindo melhor
utilizar medicamentos específicos como os triptanos. Esse tipo sobrevida":' •. Como, de uma maneira geral, o médico associa
de estratégia era chamado de estratégia em passos (slepsyJ·'I. uma melhor aderência ao tratamento a melhores desfechos
Em 2000, um ensaio clínico publicado mostrou que a melhor clínicos, freqüenternente, acaba se concluindo que pacientes
maneira de se tratar a crise aguda era um pouco diferente. Em aderentes receberam o melhor tratamento, mesmo que o tra-
primeiro lugar, era fundamental classificar a intensidade das tamento nem funcione".
crises que os pacientes apresentavam usando algumas perguntas Além disso, há uma tendência de que sintomas pouco fre- ~
simples. Os pacientes com crises leves realmente se beneficiavam qüentes, valores elevados de pressão arterial ou alterações de ~
do tratamento com analgésico mais metocloprarnida. Entre- exames laboratoriais tendam a voltar a valores mais próximos .$:l.
V.
tanto. nos pacientes com crises moderadas a intensas, o trata- do norma), fenômeno que recebe o nome de regressão à mé- ~
mento com analgésico e metocloprarnida era, na maioria das dia e que será discutido em detalhes no capítulo de ensaios x
vezes, ineficaz e atrasava o tratamento com medicamentos es- clínicos. O fenômeno de regressão à média pode ser interpre-
pecíficos. Por isso, nesses pacientes com crises de forte in- tado erroneamente como uma melhora clínica associada a um
rcnsidade, era melhor começar pelo tratamento especffico". tratamento recém-iniciado.
Outra crítica à medicina com base em evidências é a de Corno a experiência clínica nunca é cega, ou seja, sempre se
que seu único objctivo seria O de diminuir custos. A prática sabe quem toma o medicamento c quem não toma, o desejo dos
de uma medicina com base em evidências pode até levar a pacientes de melhorar e do médico, de que o paciente melhore
Pesquisa Clínica - 61

~
~ TABELA 7.1 - Níveis de evidência para terapêutica
\';'
~ SE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE ALTA SE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE ALTA
r;- QUALIDADE/META-ANÁLISE ESTÁ DISPON(VEl QUALIDADE/META-ANÁLISE NÃO ESTÁ DISPON(VEl
'"
00
Tratamento traz benefícios clínicos importantes Ensaios clínicos randomizados com erro alfa < 0,05 e erro beta < 0,20: nlvel I
Resultadosdos estudos são homogêneos: nível 1+
Resultadosdos estudos são heterogêneos: nível 1-
Tratamento traz benefícios clínicos duvidosos Ensaios clínicos randomizados com erro alfa> 0,05 e erro beta> 0.20: nível II
Resultadosdos estudos são homogéneos: nível 11+
Resultadosdos estudos são heterogêneos: nível II-
Coortes prospectivas: nível III
Coortes históricas: nível IV
Séries de casos: nível V

(efeito placebo), torna possível uma superestimativa dos efei- Nos estudos observacionais, O potencial de vieses é muito
tosquandoos resultados são positivos. Esseefeito também pode maior, sendo classificados atrás dos ensaios clínicos.
ser conseqüência de uma superestirnação na gravidade dos di- Uma meta-análise fornece uma estimativa de ponto que fica
agnósticos, o que sugere maior efeito da terapêutica. dentro de um intervalo de confiança, geralmente a 95%, de-
Por todos esses motivos. tornou-se necessário criar uma finido como os limites em que 95% dos valores do efeito real
metodologiaadequadapara análise dasevidências que são princi- do tratamento estarão distribuídos. Também é possível calcular
palmenteos ensaiosclínicos randornizados, controlados e cegos. o intervalo de confiança para o número necessário para trata-
estudospadrão-ouro para restar novos esquemas de terapêutica. mento (NNT).
Principalmente quando se lida com alguns tipos de tratumcnto
com grande risco de efeitos colaterais, é importante que os INTERPRETAÇÃO DO GRAU DE EVIDlNCIA
resultados sejam provenientes de estudos de boa metodologia
para que se analise o conjunto dos riscos e dos benefícios.
RELACIONADO A CADA TIPO DE ESTUDO
A classificação mais utilizada dos níveis de evidência é a Os níveis de evidência não devem ser interpretados de for-
listada na Tabela 7. I e no Quadro 7.1. ma rígida: por exemplo. só as mela-análises elevem ser va-
Essaclassificação proposta por Cook et ai., foi simplificada, lorizadas. Muito pelo contrário. Frequentemente não haverá
incluindo-se também os estudos de caso-controle e é frequente- uma meta-análise disponível para a pergunta que foi feita.
mente utilizada para classificação da qualidade da evidência E, muitas vezes, meta-análises de vários pequenos estudos
das informações disponfveis". podem apresentar resultados contraditórios quando compa-
Com basenaclassi ficação do nível de evidências, Cook et ai. radasao resultado de um grande ensaio clínico. Estudo comparou
classificaram os graus de recomendação de um determinado 79 meta-análises com grandes ensaios clínicos realizados pos-
tipo de tratamento, procedimento ou conduta preventiva em teriormente e mostrou discrepância em 14 (17,7%) casos,
três níveis: A. B e C (Quadro 7.2). quando se usou o modelo fixo e 8 (10, 1%) casos, quando se
usou o modelo randôrnico na metodologia da mera-análise.
Portanto, embora tenha havido grande concordância. um certo
fORÇA DA EVIDlNCIA grau de discordância sempre ocorre".
Os ensaios clínicos randornizados e controlados são o padrão- Em relação aos estudos observacionais. é importante ressal-
ouroparaavaliaçãode uma intervenção, sendosuperiores a outros tar que eles trazem informações muito importantes que, muitas
desenhosde estudos e somente sobrepujados por revisões sis- vezes. são o ponto de partida para um ensaio clínico. É impor-
temáticas ou meta-análises de vários ensaios clínicos. A força tante lembrar, entretanto, que a população que participa de um
daevidência vinda de uma meta-análise ou revisão sistemática, estudo de coorte apresenta um certo viés em relação à popula-
entretanto, vai depender da consistência dos resultados entre ção geral que é o de ser composta por pessoas mais preocupa-
os vários ensaios clínicos. Quando diferentes ensaios cltnicos, das com sua própria saúdee com um estilo de vida mais saudável.
que compõem uma revisão sistemática. apresentam resulta- Os dados vindos de estudosde coorte, especificamente do Nurses'
dos diferentes, isso é chamado de heterogeneidade. Essas di- Health Study, sugeriam quea reposição hormonal pudesse ser
ferençasgeralmentesãoexplicadas por diferenças nas populações benéfica. Posterior ensaio clínico sobre o assunto (Womcu's
em que foram realizados os estudos, diferenças no modo como Health Initiative) mostrou que a reposição hormonal aumen-
a intervenção foi realizada, no modo como os estudos foram
tava o risco de doença cardiovascular c até de câncer de mama
conduzidos ou simplesmente pelo efeito do acaso. Para veri-
invasivo". Por isso, deve-se ter muito cuidado na extrapolação
ficar se há ou não heterogeneidade, em toda a meta-análise se
dos resultados de um estudo observacional, mas eles são fonte
aplicaum testedehomogeneidade,descrito em detalhesno capítulo
relevante de informações e muito do que se sabe hoje sobre
sobre meta-análises. Estudos com muita heterogeneidade ge-
ram resultados mais fracos. A heterogeneidade é considerada
importante quando há uma grande.di ferença na redução do ris- QUADRO 7.1 - Classificação simplificada dos níveis de evidência
co relativo entre os vários estudos (na prática, quando a diferença
entre os dois estudos com resultados mais discordantes é supe- • Nível J: revisões sistemáticas ou meta-análises
rior a 20%, por exemplo, um estudo com 50% e outro com 20% • Nível II: ensaios clínicos com alfa < 0,05 e beta < 0,20
de reduçãodo risco relativo), ou quando as fronteiras dos inter- • Nível /1/: e~saios clínicos com alfa> 0,05 e beta> 0,20
• Nível IV: estudos de coorte
valos de confiança dos dois estudos com resultados mais dis-
• Nlvel \1.' estudos de caso-controle
cordantessãomaioresque 5% (a diferençaentre os limites inferiores
• Nlvel VI: séries de casos
dos intervalos de confiança é 5%, ou seja, o limite inferior é de
• N/vel VII: opiniões de especialistas
30%, no primeiro estudo, e de 25%, no segundo estudo)".
62 • Tratado de Cllnica Médica

QUADRO 7_2 - Graus de recomendação em terapêutica bom ter um bom dicionário de inglês. Muitas vezes, quando
se erra a grafia da palavra. o MEDLlNE não encontra nenhu-
• Grau A: quando as recomendações provêm de evidências nível I ma referência.
• Grau B: quando as recomendações provêm de evidências nível II A Tabela 7.2 resume alguns dos principais problemas que
• Grau C: quando as recomendações provêm de níveis de surgem ao se consultar o M EDUNE com as soluções propostas.
evidência III-VII
O MEDLlNE permite, ainda, limitar a busca a lima deter-
minada língua. ou a um período específico. Muitas vetes, quando
se deseja levantar um assunto no MEDLlNE. é bom pesquisar
fatores de risco para doença cardiovascular, por exemplo.
dados dos últimos cinco anos. Depois de selecionar os artigos
veio da coorte de Framinghum". Estudo de 2000 comparou
que mais interessam, é possível cruzar as bibliografias e bus-
estudos observacionais e ensaios clínicos com o objet ivo de
car artigos mais antigos de grande importância. Normalmen-
avaliar se os estudos observacionais mostravam repostas ao
te, esses artigos são encontrados muitas vezes ao se cruzar
tratamento sempre mais Favoráveis que quando se fazia um
as referências dos artigos mais recentes. Quando se encon- 00
ensaio clínico sobre o mesmo assunto. A conclusão mostrou
tra um artigo interessante no MEDLlNE pode-se clicar no ~
que há poucas evidências de que Os estudos observacionais
canto superior direito do nome do artigo em related articles, ~
feitos li partir de 19R4 exibam diferenças exageradas diante
links, Aparecerão artigos relacionados ao que foi escolhido. ::t>
dos resultados de ensaios clfnicos feitos li posteriori", ce
Estudos de caso-controle são muito sujeitos a vieses. mas ><
são a forma mais si rnples e barata de se estudar doenças
lIMITAÇOES DO MEDlINE
raras que não se ajustem a um estudo de coorte. Exemplo Algumas das limitações já foram discutidas C0l110 problemas
disso é a associação de uso materno de dict ilcsti lbestrol e na codificação das palavras-chave do artigo. Outro problema é
câncer de vagina em meninas demonstrada em estudos de que só estão acessíveis via MEDLlNE artigos a partir de 1966.
caso-controle com poucas paciernes". Outro estudo tam- Artigos anteriores a essa data s6 estão disponíveis diretamente
bém publicado em 2000 comparou ensaios clínicos e csiu- nas bibliotecas. Dependendo da revista em que foi publicado ()
tios observa ci ona i s sobre o mesmo assu nro pa ra vcri ficar artigo, há um tempo maior no processo de indexação e na hora
se havia uma supcrcstimauva dos resultados em estudos de de se fazer o seu levantamento, não será possível encontrá-lo.
COOrLee de caso-controle em relação aos ensaios clínicos.
As conclusões são: quando bem delineados. tanto um estu- OUTROS BANCOS DE DADOS
do de cuso-corurole quanto um estudo de coorte não supe- Existem outros bancos de dados disponíveis além do MEDUNE
restimam de forma sistemática os efeitos do tratamento". listados no Quadro 7-3. Alguns desses sites são de livre acesso
A conclusão desses dois últimos estudos questiona a cons- corno o MEDLlNE e Outros não. Se houver dúvidas sobre o
trução de uma hierarquia rfgida de qualidade das evidências acesso a esses bancos de dados. deve-se procurar uma biblio-
e valoriza O uso de uma boa metodologia no desenho do estudo teca e pedir ajuda. Algumas bibliotecas assinam os direitos de
seja ele qual for. usar alguns sites pagos, como o OVID. Uma excelente fonte
O importante de toda essa discussão é estimular o leitor a de dados brasileiros com todas as revistas brasileiras de des-
fazer uma leitura crítica dos artigos que serão lidos, lembrando taque pode ser acessada na base Scielo com acesso gratuito a
que, às vezes, é mais i mponanrc valorizar li metodologia cor- todo o conteúdo (http://www.scielo.br).
reta do estudo que está sendo lido que a categoria em relação
ao nível de evidência a que ele pertence. E lembrar que muitas
elasconclusões extrapoladas a partir de estudos observacionais OUTRAS FONTES
envolvem interesses económicos e de mercado. entre outros, Para acessar guidelines (consensos) sobre uma determinada
C0l110 no caso da reposição hormonal. doença, há um site de consulta (Illlp://www_aan_com/publicl
practiceguidelines/headache_gl.htrn) com mais de 700 con-
BUSCA DAS EVIDlNClAS sensos disponíveis para consulta.
Algumas revistas são abertas ou parcialmente abertas. O
Em 1928. Bertrand Russell escreveu " ... que as nossas crenças British Medical JOLU:'W[ é totalmente aberto (htlp://www.bmj.
são muito menos COI11bases em evidências do que aqueles
que nelas acreditam supõem...". Embora asevidências não sejam
os únicos instrumentos de que o médico dispõe para cuidar de QUADRO 7.3 - Bancos de dados disponíveis além do MEDLlNE
seus pacientes, elas ajudam em muito na tornada de decisões
• AIDSLlNE: cobre artigos sobre AIOSe HtV a partir da década de
clfnicas que não podem nem devem se basearsomente em intuição 1980
ou experiência. Por isso, é extremamente importante que LOdo • Allied and Alternative Medicine: cobre artigos sobre medicina
profissional de saúde saiba conseguir a melhor evidência na alternativa
sua busca da literatura. aplicando-a a sua prática clínica". • American Medical Association Journals: contém todos os
Existem vários bancos de dados disponíveis para a procura de arquivos do (lAMA. Journal of American Medical Association)
boa literatura cientifica. O mais utilizado e conhecido de rodos além das revistas de especialidades desde 1982
é o MEDLlNE (MedicalLiterature Analysis and RetrievalSyslem). • ASSIA: banco de dados sobre ciências sociais nas áreas de
disponível gratuitamente em alguns lugares como a US National
psicologia, sociologia, política e economia desde 1987
• Cancer: CDcom artigos sobre câncer desde 1984
Libmry of Medicine (hup://www.ncbi.nlm.nih.govlPubMedPubMed)
• ClNAHL: banco de dados sobre enfermagem, educação em
e a BioMedNel (hllp://www.biomednet.com). No MEDLlNE, os saúde, terapêutica ocupacional, serviço social na saúde e
artigos podem ser selecionados por palavras, por exemplo, pala- outros desde 1983
vras que estão citadas no título ou no corpo do artigo ou pelo • Cochrane Library: The Cochrane Control/ed Trials Register
nome dos autores ou nome de revistas. O MEDLJNE contém (CCTR),Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR),
mais de 10 milhões de referências, mas é necessário aprender a Database of Abstracts of Reviews of Effectiveness (DARE)
atualizados a cada três meses
tirar a informação de forma precisa e completa.
• Current Contents Search: indexa artigos de revistas que foram
Um dos problemas de usar O MEDLlNE é que são necessários ou serão publicados
alguns conhecimentos da língua inglesa. Por isso, é sempre
Pesquisa Clínica - 63

TABELA 7.2 - Problemas mais freqüentes a~ consultar o MEDUNE e possiveis soluções


PROBLEMA SOLUÇÕES
Você está tentando encontrar um artigo Para selecionar o artigo, use palavras do título, nome do autor ou a revista em que
conhecido (você sabe o título) foi publicado

Você deseja responder a uma pergunta Faça como no exemplo anterior, comece com uma seleção ampla e vá restringindo até
especifica chegar a um número menor de artigos. Depois cheque os resumos e veja o que
realmente interessa

Você deseja conseguir informações gerais sobre Cruze o nome da droga, no caso carvedilol, e depois side effects (em português, efeito
um tópico definido (por exemplo, efeitos colateral). Surgem 198 artigos. Você quer os efeitos colaterais em pacientes com
colaterais da utilização do carvedilol) insuficiência cardíaca. Acrescente heart fai/ure. Aparecem 101 artigos

Suapesquisa trouxe artigos de pouca Você deve restringir mais a sua pesquisa usando palavras mais específicas. No exemplo do
relevãncia hipotireoidismo, acrescentando clinical trial a pesquisa ficou resumida a 30 artigos
. .
Você conseguiu poucos artigos Dessa vez, você pode ter restringido demais a pesquisa ou usado termos inadequados.
Você quer pesquisar a associação entre diabetes e transtornos psiquiátricos. Use os
termos diabetes psychiatric disturbs. Não houve nenhuma referência. Troque para
diabetes depression (a maior parte da falta de aderência ocorre nos pacientes
deprimidos). Você encontrará 757 artigos

Você não sabe que palavras usar para começar Use um artigo que você já tenha lido sobre o tema como ponto de partida ou use um
a busca dicionário português-inglês

Você quer artigos em uma determinada Usando as palavras diabetes diet aparecem 14.727 referências. Restrinja associando
subárea. Por exemplo, nutrição no diabético. review. Aparecem 2.436 referências. Restrinja ao tipo de alteração na dieta que você
Você prefere uma revisão sobre o tema quer estudar (gorduras). Restrinja associando lipid. Cai para 630. Restrinja a um tipo de
gordura (HDL-cholesterol). Sobram 71 artigos. Não esqueça que, ao restringir demais,
você pode estar perdendo algum artigo importante

Você não conseguiu nada no MEDLlNE Quem faz a indexação dos artigos no MEOLlNE são bibliotecários. As palavras-chave pelas
quais o artigo é classificado são escolhidas pelos autores ou editores. Isso pode
dificultar muito a sua pesquisa

com). O Tire New England Journal of Medicine libera livre- 4. STRAUS. S. E.: MCALI$TER. F.A.: $ACKETT. 0.1..: DECKS. J. J. ronhcCARE-
GROUP. Tbc accuracy of paticnt hislOry, whcczlug, and luringcal mcasuremcm« in
mente (via Internet) artigos publicados há mais de seis meses dingllosing obsrrucrive airway disense. lAMA, v. 2R3. p. 1853-1857,2000.
(hllp://www.nejm.org). O The Lancei libera somente alguns 5. WURAI'A. F. K.: IlUlSARA, M. K.; BOATIN, B. A. Evaluatlon 01" conjuncuval
artigos disponíveis no site hup.z/thelancet.com. pallor in lhe dlagnosls of anaemia. I. '/'fYI/). Med. N)'g.. v. 89. p. 33-36, 1986.
Um outro tipo de fonte atualmente existente são as revistas 6. CARF~ Disl)()n(\·el em: hllp://wwlV.careSlUdy.colll. .
7. DRAZI'IER. M. H.: EDUARDO RAME, J.: STEVENSON. L. W.; DRIES. D. L.
que selecionam várias outras revistas em busca de artigos rele- Pl"OlJIIOSlicimponance of elevatcd jugular venous pressure and n Ihird heart sound
vantes, fazendo uma seleção dos mais interessantes e de maior in palicm, with heart failure, Neli' EIlJi. J. Med.• v. 345. p. 574-581, 2001.
interesse para o público geral. Um exemplo dessas revistas é o S. KEAVNEY. n.: MCKENZIE, C.: PARISH. S.: PALMER, A.: CLARK, S.;
YOUNGMf\N. L.: DELEPINE.M.; LATHROP. M.; PETO, R.; COLLINS. R. Large-
ACP"Jollmal Club, urna publicação do Arnerican College of
scalc test of hypotbesised associations bctwecn lhe angiotcnsin-convcrting-enzyme
Physicians que seleciona entre 50 revistas de alto impacto (muito in.<crlionldelclion polymorphism and myocardial infarction in about 5000 cases and
lidas) artigos sobre diagnóstico, prognóstico, terapêutica, etiologia, 6OOOconuoI5. lntcrnaticnal Studies 01' lnfarct Survival (ISISl Ccllabormors.Lcncer.
qualidade dos serviços, análise de decisão e farmacoeconomia, v. 355. n, 9202. p. 434-442. Feb. 2000.
9. SACKETT. D. L. Evidence-based medicine. Seminar« ;11 Per;/latology, v. I, p. 3-5.
temas de grande relevância para o profissional da área da saú- 1997.
de. Uma outra revista, a Evidence-Based Medicine, tem estru- 10. SILIlERSTEIN, S. D.~ROSENBERG, J. Multipeciality conscnsus on diagnosis and
tura semelhante, mas ainda abrange temas sobre Cirurgia, treatment of headache. Neurolog», v. 54, p. 1553, 2000.
~ Obstetrícia, Pediatria e Psiquiatria, sendo editada pelo British II. MCCRORY. D. C.: MATCHAR, D. B.; GRAY, R. N.; ROSENBERG, J. H.:
SILBERSTEIN, S. D. Evidence-based guidelines for rnigraine headache: ove rview
~ Medical Journal Publication Group em conjunto com McMaster of program deseription and methodology. 2000. Disponível em: hup://www.aan.coml
;::; University (Canadá) e o Centre for Evidence-Based Medicine public/procliccguideline.vhcadachc_gl.lilm.
:;:; at Universiry of Oxford no Reino Unido. 12. CA~iPBELL. J. K.: PENZIEN", D. B.; WALL. E. M. Evidence-based guidelines for
migrai oe beadache: behavioral anel physical treatmcnrs. 2000. Disponível em: hllp:1
00 Para quem quiser se manter fiel aos livros, é interessante esco ..
l\Vw\V.aan.comlpubliclpracliccguidelilleslheadachc_gl.hl,n.
Iher títulos com atualização no mínimo anual. São opções dispo- 13. LlI'TON. R. B.: STEWART. W. F.: STONE. A. M.; LAINEZ. M. J.; SAWYER, J. P.
níveis o Clinical Evidence publicado pelo grupo do British Medical Disability in Strategies of Care Study group. Stratificd care vs SICpcare strategies
Joumal (hnp://www.bmipg.com/index.html). O livro do American for migraine: lhe Disability in Strarcgics of C:u;e (D!Sq Study: a randomized trinl.
Collegeof Physicians (hrtp://www.acponline).oEvidetl.cCl-Based lAMA. v. 284, n. 20. p. 2599-605. Nov. 2000.
0/1 Call (http://cebm.jr2.ox.ac.uk/eboc/eboc.htrnl), desenvolvido . 14. CORONARY DRUG PROJECT RESEARCH GROUP. lnfluence of adherence
lrC31fllCnland response af cholcstcrol 011 morrnlity in lhe cOI"O,,:.r)'drug project, N.
por um grupo de ex-alunos da Oxford University, Scientific American Ellgl. 1_ Mnl .. v. 303. p. 1038-1041. 1980.
Medicinee a versão via Internet do Harrison 'sPrincipies cfMedicine. IS. HOR\VITZ. R. 1.: VISCOLI. C. M.: BERKMAN, L. CIai. Treatmem adherence and
risk of dealh aüer myocardlal infurction. Lancat, v. 336,.p. 542-545, 1990.
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RICHARDSON. W. S. Evidenee-based Medicine: wluu is ii and whai iS11'1it. 8Ml, 3055-3I1S. 1992.
p. 312, n. 11-72.1996. 17. GUAYA11·. G.I·I.: SACKE·rr. D. L.; SINCLAIR. J. C.: HAYWARD, R.: COOK, D.
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for Schistosoma mansoni infection. Am. J. Trop. Med. Hyg.• v. 48, n. 6. p. 742-747, IS. CAPPELLERI. J. C. urge trials vs mcta-analysis of small trials: how do Iheir rcsults
Jun. 1993. compare'! lAMA. v. 276, p. 1332-1338, 1996.
64 • Tratado de Clínica Médica

19. WR('I ING GROUP FOR THE WOMEN'S HEALTH INITIATIVE INVESTIGATORS.
Ri,~, and benefirs of estrogen plus proge'lin in henlrhy postmenopausal \VOI11CO:
PIANEJAMENTO
principa! results from lhe WC)m~n', Hcahh lnitiative randomized controlled Irial.
J/IMA. \'.288. p. J21-33l2002. Determinação da Pergunta
20. STOKES III. J.: KANNEL, W Il.: WOLF. P. A.: D' AGOSTINO. R. B.: CUI'PLE$, A observação de dados médicos (si nais, sintomas, lestes labora-
L. A. Blood prcssure "' u rixk fuctor for cardiovascular discasc. Thc Framingham
Siudy - 30 yca~ of follow."p. Hypenension, v. 13. suppl, 5. p. IU·IIS. May 1989. toriais e imagens) leva o médico a interpretá-los para poder
21. OENSON. K.: IIARTL. A. A comparison of obscrvationnl siudics nnd randomized dispensar o adequado cuidado ao paciente. Na qualidade de
comrollcd lfiar.. ,ve'" Eng!. .I. ,);11<".. v. 342, p. 1878·1886, 2Q(X). pesquisador, a observação desses dados o instiga a levantar
n Slli\l~P. G. B.: COLE. P.ldenliDc(,lion 01' ris~ fXlors for diethylsrilbcstrol-associared hipóteses sobre as possíveis causas de urna doença, o diagnóstico
etcar ccll adcnocarcinoma of lhe vaginn: simllariue. 10endomctrial cancero Am. J.
Epidemiol., v. 134. n. II. p. 131(>·1324, Dec. 1991. mais provável. qual () melhor tratamento, que parâmetros clínicos
23. CO:'\C/\TO. J.: SHAII, N.: HORWITZ. R. I. Randomized, contrnllcd rrial-; estão associados a um melhor prognóstico, que parâmetros estão
obscrvational studics arul lhe hrerarchy 01' research design-; New EI/III. J. Mell.. v, associados a melhor sobrevida do paciente ou como uma doença
3~1. p. 1887-1892. 2(K)().
24. GREENHALG, T. 110\\ 10 read a papcr - lhe MEDUNE database. IJMJ. v. 315. p.
pode ser evitada. Encontrar respostas para essas questões pode
IRO·ISJ.1997.
levar a mudanças na forma de diagnosticar, tratar ou adorar
condutas que melhorem a qualidade de vida dos indivíduos.
BIBLIOGRAFIA BAslCA Essas questões geralmente podem ser respondidas por uma
SACKl3rr. 1). L.: STRAUS. S. E.: RICIIARDSON. W. S.: ROSENBERG. W.: HAYNES. pesquisa ou ensaio clínico.
Il. R. (cds.). Evidencr-BasetlMetliclII~. Ho« 10praciice and 1('IIehEBM. Edinburgh:
Churchill Livingstonc, 20tlO,
Assim, a indagação de uma pesquisa clínica deve ser em-
basada em uma hipótese. O efeito a ser observado e a expo-
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR sição a supostos fatores de risco devem estar claros na pergunta. 00
CHANG. W. C.: IIARRINGTON. R. A.: SIMOOl\S. M. 1_; CALlFF, R. M.; LINCOI'F, A. Por exemplo, na pergunta: "Fumar causa câncer de pulmão?", ~
M.: AI~MSTRO,'l(G. P. w. Does eptifibatide coníer a greater bencfit 10 patiemx with
un'lahle "ngllla than with non-ST segmcm elevation myocardial inf'arction? tnsighis notamos a presença de uma variável de efeito. o câncer de pul- 't
Iro", lhe PURSUlT Trial, Eus: lteart J.. v. 2:1. n. 14. p. 1102·1111. Jul. 2002. mão, e uma variável de exposição. nesse caso, o hábito de fumar. ~
LAMY. A.: YUSUF, $.; POGUI. l .• GAFNI. A. ('()'I implications 01' lhe use of rumip ril iII As definições das variáveis citadas na pergunta devem constar ~
high-risk pàlicnl' hasedun lhe Heart Outcomes Prevention Evalumlon (HOPE) srody, do Protocolo de Pesquisa.
Circulouon, v. 107, n, 7, p. 9(,()·96S. Feb. 2003.
PARKER. A. B.: YUSUF. S.: NAYLOR. C. O. The relcvance of subgroup-spccific trcnuncot
effecr-: lhe Studics 01' Lefl VCllIricular Dysfunction (SOLVO) revisltcd. Am. Heart Revisão da literatura
J.. v 14-1.n. 6. p. ')41·947. Dec. 2002.
STRI1I'rOMYClN 11'1TUIlERCULOSIS TRIAL COMMITI'l!E. Streptomycin treatrncnt É necessário fazer uma revisão da literatura com as palavras-
"r pulmonary tuberculosis. Br. Meti. J.. v. 2. p. 769·782. chave relacionadas ao assunto principal do estudo, buscando
por trabalhos cienuficos publicados em revistas indexadas. Assim,
o pesquisador terá acesso ao conhecimento gerado por outros
CAPíTULO 8 pesquisadores em estudos relacionados ao que pretende realizar.
Uma importante base de dados bibliográfica na área da saúde
é o MEDLI E (hl1p://www.ncbi.nlm.nih.gov). disponível ~ara
acesso público através da Internet.

Instrumentos na Tipos de Desenho Relevantes


para Pesquisa Cltnlca
Pesquisa Clínica Uma vez que os objetivos estejam definidos, o próximo passo
é definir o desenho do estudo, que está intimamente ligado à
pergunta que se deseja responder. Os desenhos de estudo que
têm relevância na pesquisa clfnica são os estudos analíticos,
Kelsy Catherina Nema Areco com hipóteses definidas:

Otávio José Eulálio Pereira • Observacionais: cone transversal, caso-controle, coorte .


• Experimentais: ensaios clínicos.
Milton Daniel Urrutia Salinas A epidemiologia fornece a metodologia para o planejamento
Paulo Bandiera Paiva desses estudos analíticos e também para a análise e interpre-
tação dos resultados obtidos. Ao escolher o estudo que mais
Meide Silva Anção se adapta a sua pergunta, é importante que o pesquisador conheça
as limitações inerentes ao desenho. Outras limitações tam-
Daniel Sigulem bém devem ser consideradas como, por exemplo, a ética e O
custo do projeto.
DEFINIÇAO
"Pesquisa clínica, ensaio clínico ou estudo clínico são os vários
Corte Transversal
termos utilizados para designar um processo de investigação científica Um estudo de corte transversal baseia-se em uma amostra aleatória
envolvendo seres humanos. Corno resultado desse processo. os representativa de uma população. Nos estudos de corte trans-
assim chamados pesquisadores clínicos (investigadores clínicos) versal. cada indivíduo é avaliado quanto ao fator de exposição
poderão obter novo conhecimento científico sobre os medica- e à doença em determinado momento.
mentos. procedimentos ou métodos de abordagem de problemas Esse eswdp serve para estimar prevalências e encontrar fatores
que afctarn a saúde do ser humano". de acordo com a Sociedade associados a um determinado evento (morte, doença, cura, etc.).
Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC). Como a doença e os prováveis fatores associados estão sendo
Portanto. a pesquisa clínica é um processo cujo objcrivo é gerar observados em um mesmo momento, não é possível estabele-
conhecimento na área da saúde, a partir da observação e da in- cer uma relação causal entre eles. Assim, não podemos nos re-
terpretação de dados sobre os indivíduos (sujeitos da pesquisa). ferir a "fatores ele risco", e sim a "fatores associados".
Pesquisa Clínica • 65

~ o e tudo de cone transversal pode ser descritivo ou analí- pender questões específicas sobre novas terapêuticas. vacinas
~ rico. Embora fi relevância para a pesquisa clínica seja pequena. ou formas de usar tratamentos conhecidos. Ensaios clínicos são
;.', o cones transversais descritivos podem ser um bom modelo para usados para determinar se novas drogas ou tratamentos são seguros
:; se quantificar a ocorrência de uma doença e conhecer as situações e eficazes, ou seja, podem oferecer melhorias MI saúde c no
00 em que ela ocorre. É um estudo analítico quando hA lima hipótese bem-estar dos indivíduos.
de a sociação entre a exposição (carnctcrísticas) C u doença (evento). Os ensaios clínicos são divididos em quatro fusos: li fase I
A única situação em que se pode falar de causa é quando o furor te ta a cgurunça, envolvendo um número pequeno de sujeito
de exposição não sofre influência do tempo. Diversos exemplos de pesquisa; a fase II testa a tolerância e a diferença de inten-
serão encorurados entre aqueles fatores presentes desde o nasci- sidade da intervenção cm diferentes indivíduos; a fase III testa
mento. como tipo sangülnco e sexo (masculino. feminino). o efeito da terapia nos desfechos clfnicos: e a IV estima inci-
É o primeiro tipo de estudo com relevância para a pesquisa dência de efeitos colaterais graves e avalia outros usos tera-
clínica. exigindo poucos recursos financeiros e pode ser rea- pêutico . A quantidade de participantes aumenta à medida que
lizado mais rapidamente do que os estudos de caso-controle o estudo muda de fase.
ou coorte.
Recrutamento
Caso-controle Uma vez definido o desenho do estudo. () próximo passo é
É um tipo de estudo analítico (tt!111uma hipótese) observacional definir o número de indivíduos necessários para responder 1\
(sem intervenção) e retrospectivo. Dois grupos de indivíduos questão do estudo. onde encontrar os participantes. quais deles
são selecionados: um grupo de pacientes ("casos") e outro sem são elegíveis para o estudo e li alocução destes em grupos.
a doença ("comroles"). Para cada um dos sujeitos verificamos A formação dos grupos do estudo requer a definição de al-
se houve ou não ii exposição (furor de risco). Espera-se encontrar guns parâmetros: critérios de inclusão e de exclusão, os quais
uma freqüência maior de exposição entre os indivíduos doentes devem descrever minuciosamente as características dos indiví-
que entre os não doentes. A exposição é sempre um dado retros- duo. que poderão participar do estudo e os que não poderão.
pectivo (pode ser informado ou recuperado de prontuários) e. por- O cálculo do tamanho da amostra e as técnicas de amo tra-
tanto. sujeito a vieses de memória e registro. Esse ripo de desenho
é gcm ão contribuições da estatística nessa fase.
é bastante usado para O estudo de doenças raras.
Consentimento livre e Esclarecido
Coone Os sujeitos da pesquisa devem receber toda 11 informação sobre
É um tipo de estudo analítico obscrvacional Iongirudinal, que pode sua participação no estudo por escrito em um documento cha-
er prospectivo ou retrospectivo (embora especialistas conser- mado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nesse
vadores prefiram mencionar apenas ali coones prospectivas). documento, devem ficar claros os propósitos do estudo. os
Serve para estudar a relação cau 'ai entre um fator e uma procedimentos a serem realizados •. seus descoufortos e riscos.
doença. Com amostra de tamanho adequado e tempo de se- a garantias de confidencialidade e de e c1arecimentos cons-
guimento suficiente, é possível se verificar as doenças causa- tante . É importante que o indivíduo tenha a clareza de que
das por um faror de risco. sua participação é voluntária e que. a qualquer momento. possa
Esse modelo é adequado para estudos de incidência (novos retirar o seu consentimento sem penalidades ou prejuízo ou
casos em um determinado período) e análise de sobrevida. perda de qualquer benefício que possa ter adquirido durante
Graças ao alto cUStOe ao longo período. é inadequado para o o tratamento. Ao tomar a decisão de participar do estudo. os su-
estudo de doenças de longa latência. jeitos de pe quisa devem assinar esse documento autorizando
Em estudos de incidência. dois grupo. de indivíduos são a utilização de seus dados.
selecionado : um grupo de expostos e outro de não expostos.
O indivíduos são acompanhados por um período preestabelecido Planelamento da AqUiSição de Dados
(tempo suficiente para que o desfecho ocorra). Ao final do período.
Tornados os devidos cuidados metodológicos e éticos das etapas
os indivíduos são classificados quanto ao desfecho (doente e
<Interiores. O próximo passo é cuidar para que a aquisição de
não doente). Espera-se encontrar uma incidência maior de doença
dados possibilite sua análise.
entre os indivíduos expostos que entre os não expostos. iden-
Segundo Shortliffeê, "ainda que a experiência no atendimento
tificando assim um "Fator de risco".
de indivíduos forneça aos médicos habilidades especiais e melhore
Se as medidas iniciais. o acompanhamento e o diagnóstico
o julgamento continuamente. é somente pela análise formal de
final ocorreram no passado. trata-se de uma coorrc retrospectiva.
dados colerados de um grande número de pacientes que os
Esse tipo de estudo somente é possível se forem disponíveis dados
pesquisadores podem desenvolvere validar novos conhecimentos
adequados sobre fatores de risco e diagnóstico dos indivíduos da
coone. Como os estudos prospccrivos, coortcs retrospectivas podem clínicos de aplicação geral. Assim, outro uso de dados médicos
estabelecer relações causais e estabelecer se a exposição prece- é o apoio à pesquisa clínica através da agregação e análise estatfstica
de a doença. sendo muito menos dispcndio os e mais -rápidos. de observações reunidas de populações de pacientes",
As desvantagens silo que nesse estudo o investigador não tem Para que se possam reunir a observaçõe dos sujeitos da pes-
controle sobre a natureza e a qualidade das medidas realizadas quisa. é necessário que essas observações sejam coletadas de
da expo ição e também não randomizou os pacientes. Os dados lima me ma forma.
existentes podem não incluir informações importantes ou estas Segundo Silva. "os bancos de dados (BD) são estruturas
podem e rar incompletas. imprecisas ou medidas de maneira que organizadas de dados que proporcionam formas .ágeis de recupe-
não respondam à pergunta da pesquisa'. ração de informações". Note que, em nenhum momento. com-
puiadore foram mencionados.
Para o pesquisador, banco de dados é o conjunto de todas as
Ensaio CUnlco informações organizadas sobre todos os sujeitos da pesquisa.
Um ensaio clínico é um estudo analítico experimental (com De acordo com a complexidade da pesquisa clínica, a aquisi-
intervenção) envolvendo seres humanos. desenhado para res- ção de dados pode gerar necessidades que variam desde a
66 • Tratado de Clínica Médica

utilização de forrnulãrlos em papel (questionários). uso de Exemplos:


planilhas clctrônicas ou gcrenciadores de bancos de dados.
cxiração de dados de prontuários eletrônicos ou outra fon- • Categóricas nominais (ctassificação]: sexo. raça, grupo
tes de dados sccundârias. sangüíneo.
No caso de pesquisas COm questionários estruturados como • Categôricas ordinais tctasstjtcação): pressão sangüfnea
instrumento de coleta de dados. a participação de uma equipe (baixa, normal. alta).
multidisciplinar composta por assistentes sociais e profissio- • Numéricas discretas [contagem}: número de acidentes,
nais das áreas de informática e estatística na elaboração desse número de filhos.
questionário pode melhorar a qualidade da informação cole- • Numéricas continuas (mensuração): peso em quilogra-
tada e diminuir os esforços na etapa de execução da pesquisa. mas. altura em centímetros. idade em anos.
Algumas pesquisas uuliznm os dados das "fontes de dados
ecundárias", que são bases de dados que não foram criadas Variáveis do tipo escore são de natureza ordinal. Há casos
a partir de dados colerados, mas sim a partir da combinação em que se comportam como variáveis numéricas discretas, mas 00

de fontes de dados primárias (originalmente coleradas). Por esse é um lema da estatística. :::
exemplo, no Brasil existem cinco sistemas de informação em Nota: A principal classificação das variáveis é categórica ou ~
saúde gcrenciados pelo Ministério (.I<, Saúde: Sistema de ln- numérica. .:.
formações sobre Mortalidade (SIM). Sistema de Informações Esse conceito de nível de medida da variável é muito im- '"
~
sobre ascidos Vivos (S INA$C). Sistema de Informações sobre ponume para a escolha dos testes esiausticos que irão ajudar
Agravos de orificação (SI A '). Sistema de Informações a responder a pergunta da pesquisa.
Ambularoriais (SIA/SUS), Sistema de Informações Hospita-
lares (SIH/SUS). Essas bases de dado ão de extrema utilidade
para as finalidades para as quais foram desenvolvidas, vigi lância
Dicionário de Dados
epidcmiológica. geração de estatísticas vitais. administração de Propõe-se a urilizução de um documento para registrar o
serviços e outras. atributos de todas as variáveis que serão coletadas e das que
Essas fontes primárias podem não se prestar para responder erão analisadas. A esse instrumento denomina-se dicionário
:1 pergunta da pesquisa. mas combinadas com outras bases de de dados. sugerindo-se que faça pane do protocolo de pesqui-
dados ou I11CSI11(1 com dados colctndos pelo pesquisador, são a. No dicionário de dados definem-i e:
imponamcv fontes de dados. Seu uso, no entanto. exige a utilização
de ferramentas que estruturem e combinem esses dados para • Nome da variável: sugere-se que o nome da variável te-
que o pesquisador possa utilizá-los. nha. no máximo. oito caracteres contendo apenas letras,
lndcpendentemcnte da fonte de dados, o pesquisador deve números e =: iunderscore).
pensar em quais informações deseja registrar a respeito dos • Descrição da variável: a descrição da variável é um texto
indivíduos do estudo. ou seja, no conjunto de variáveis que farão com até 60 caracteres que deve descrever o dado coletado.
parte do banco de dados da sua pesquisa, Assim, sexo pode ser • Yalores esperados para a variável: devem ser especifi-
uma variável do estudo. Se sexo é ii variável. sexo masculino cados os valores possíveis para a variável. podendo ser
é o dado. A cólera dc dados estruturada deve prever os valores urna lista de códigos ou um intervalo de valores.
esperado. para cada urna das variáveis. Para a variável sexo são • Câdigo para informação ausente: muitas vezes não será
esperado, apenas doi, valores: masculino ou feminino. Costu- possível colerar urn determinado dado. Se esse dado (ou
ma-se atribuir cõdigos que representem e ses valores mesmo variável) for um texto. o faro de estar em branco registra
que a colcra veja feita em papel; por exemplo. (I) masculi- a ausência de informação. Para dados numéricos suge-
no. (2) feminino. Quando a codificação é feita pelo próprio rimos que se utilize um código diferente e distante do
pesquisador sugerimos que ela seja explicitada já no qucs- conjunto de valores válidos, pois o fato de estarem branco
rionário (ou formulário em papel ou eletrõnico). Para dados pode ser traduzido por alguns programas de banco de
já coletados, é necessário que () pesquisador conheça ti for- dados como zero.
ma de coleta e a codificação dos valores esperados para cada • Nivel de medida da variável: categórica nominal, categórica
uma das variáveis que irá utilizar, para não cometer erro na ordinal. numérica discreta ou numérica contínua.
análise e interpretação dos dados Ipor exemplo. idade em
anos, meses OLl dias: sexo: (I) masculino e (2) feminino ou Note que as variáveis do tipo data não podem ser usadas
(I) feminino c (2) masculino]. para análise estatística, mas podem ser usadas para cálculo e
Se o pesquisador utilizar estatística. com ou sem o uso de há' necessidade de registrá-Ias.
progrumus computacionais ou pacotes estatísticos. é impor- O dicionário de dados pode ser criado em forma de tabela
tante conhecer com que tipo de dados a estai lstica trabalha. em um processador de textos. Com base nesse documento,
para planejar a coleta adequada dos dados. pesquisadores, processadores de dados. digitadores. e tatísti-
Para que possam ser analisados e tatisticumerne é neces- cos e outros profissionais envolvidos na execução da pesquisa
sário que os dados sejam coletados em algumas das formas a poderão estabelecer urna linguagem comum no que diz respeito
seguir: As variáveis da pesquisa.

• Classificação. Exemplo de Dicionário de Dados


• Contagem.
• Mensuração. Ao transcrevermos o dados do papel para o computador, é neces-
sário criar uma variável de identificação do registro. Essa variável
Uma variável pode ser numérica ou categórica. Variáveis deverá identificar um registro (conjunto de informações sobre
numéricas obtidas por contagem recebem O nome de variá- um único indivíduo) corno único e deverá ser a mesma para o
vei. numéricas discretas. enquanto as obtidas por mensura- registro em papel e para o registro "no computador" (no banco
ção são numéricas contínuas. Variáveis obtidas por classificação de dados). Sugere-se que o pesquisador crie um código para
podem ser categóricas norninai ou categóricas ordinais. indicar ausência de informação. pois essa 6 uma situação que
Pesquisa Clínica • 67

pode ocorrer no momento da coleta imissing values). Alerta-se Especificamente a coleta de dados requer que haja dados sobre
que o valor zero não é uma boa opção pararepresentar ausên- as condições clínicas (diagnóstico, estadiarnento da doença)
cia de informação. Sugere-se a utilização de número forma- e demográficas do sujeito de pesquisa. O protocolo de pes-
do apenas pelo algarismo nove, distante do conjunto de valores quisa deve ser elaborado. submetido e aprovado por um Co-
esperados para a variável. Por exemplo, se a variável idade mitê de Ética em Pesquisa antes da execução e as regras
em anos for armazenada em formato numérico, um valor de estabelecidas nesse protocolo devem ser seguidas rigidamente.
999 é facilmente reconhecido corno sendo um marcador de Além de cumprir sua função legal, o protocolo permite ava-
ausência de informação. Pacotes estatísticos permitam que liar a viabilidade do estudo do ponto de vista étlco, econô-
o pesquisador defina o código para informação ausente para mico. operacional e temporal.
cada uma das variáveis no momento da análise, Assim, assegu- O protocolo de pesquisa obedece ii regras internacionais
ramos que indivíduos com informação ausente não participam descritas em um documento denominado "Boas Práticas Clí-
da análise de uma variável. Isso porque um indivíduo pode contribuir nicas". No Brasil. existe uma Resolução Nacional de nQ 196/
com uma informação, mas não contribuir com outra. 96, publicada pelo Conselho Nacional de Saúde, que está
Atenção especial deve ser dada às questões de múltipla escolha. vinculado ao Ministério da Saúde. As "Boas Práticas Clíni-
Se uma questão pode ter mais de uma resposta, sugere-se que cas" foram formalizadas pela primeira vez na 18i Assembléia
Médica Mundial Helsinque. Finlândia, em junho de 1964, tendo
cada possível resposta transforme-se em uma variável do tipo
sido revisadas em diversas ocasiões.
sim ou não, presente ou ausente.
Com as variáveis modeladas dessa forma, tem-se um do-
cumento único que poderá ser consultado por outros profissio- OEcuÇIO II PESQIISA
nais na etapa de execução da pesquisa clínica (Tabela 8.1). O protocolo de pesquisa contém todo o plano que será seguido
na execução da pesquisa clínica. É importante.segui-lo à risca
Planejamento da Análise Estatística e, caso haja qualquer mudança significativa de procedimento
(deixar de coletar sangue para teste de fator Rh e passar a
o plano de análise estatística está intimamente ligado ao desenho coletá-lo para extração de DNA, por exemplo), esta deve ser
do estudo, no nível de medida das variáveis independentes e incluída no protocolo. O novo documento deve ser submetido
da(s) variável(eis) dependenteís). É aconselhável escrever o plano outra vez à aprovação pelo comitê de ética.
em conjunto com um estatístico. Entre as técnicas estatísticas Os dados gerados no estudo devem passar por uma verifi-
utilizadas em pesquisa clínica estão: regressão logística. regressão cação e validação ao serem armazenados de modo a garantir
linear múltipla. análise de "sobrevida", análise de variância. sua integridade e sua consistência na base de dados. As variá-
etc. Para medidas de associação utilizamos: odds ratio, razão veis devem ser conferidas para que não existam dados incon-
de prevalência, risco relativo, qui quadrado, etc. sistentes (um sujeito com 200 anos - provavelmente erro de
digitação. um homem gestante). Os registres inconsistentes devem
ser conferidos contra a fonte original e corrigidos.
Protocolo de Pesquisa Outro aspecto importante durante a execução de um estudo
Um protocolo de pesquisa é um documento que deve ter II clínico é a vigilância dos resultados parciais. Em estudos de
descrição completa da pesquisa. detalhando seus objetivos e longa duração. em que há seguimento dos pacientes, fases
IIS metodologias empregadas para colem e análise de dados. de análise parcial se alternam com fases de coleta de dados.

TAULA 8.1 - Dicionário de dados de um estudo fletldo


NOMEDA VALORES INTERVALO DE CÓDIGOPARA. NlvELOEMEDIDA
VARIÁVELDESCRIÇÃO TIPO TAMANHO CODIFICADOSVALORESVÁUDOS INFORMAÇÃOAUSENTE DAVARIÁVEL·
10 Identificaçào do N 3 1 a 100·
indivíduo no
estudo
x Dt_entr Data de entrada O 1/112004a
00
no estudo 1/412004
'"
";'
...N Nome Nome T 60
r-
.;, Idade tdade em anos N 3 1 a 80 999 Numérica continua
oe
Sexo Sexo N 1 "mascullno" 9 Categórica nominal
2 "feminino"
Hemog Hemoglobina N 2.1·· 8 a 18 999 Numérica continua
em gldL :
Urtic Tipo de urticária N 1 "flsica" 9 Categórica nominal
2 "idiopática"
ouraçao ouraçao da N 1 "curta" Categórica ordinal
urticária 2 "média"
3 "longa"
Num_eve Número de N 2 1 a 10 99 Numérlca discreta
vezes que
apresentou •
urticária
O= data; N = numérico para armazenamento; T = texto
• Nãoé preciso definir o nível de medida para variáveis que não serão usadas na análise estatistica
•• 2.1 = dois digitos para a parte inteira e um dígito para a parte decimal
68 • Tratado de Clínica Médica

A \ rgilância desses resultados parciais permite a detecção precoce Os congressos normalmente a\ aliam os trabalhos antes de
de problemas. Impedindo que eles se propaguem (fatores de- aceitá-los. A avaliação se dá por meio de resumos enviados aos
letério, inesperados para os sujeitos de pesquisa, erros meto- organizadores do congresso. Os pôstercs devem ter as dirnen-
dológico«. erros humanos sistemâticos. erc.). sõcs estipuladas no regulamento do congresso, uma vez que o
espaço disponível é limitado. Os pôsteres serão vistos por outros
participantes do congresso, possibi Iirando a interação com outros
DIVUlGAÇIO DOS RESUltADOS DA PESQUISA indivíduos trabalhando em áreas ou metodologias semelhan-
tes 1Isdo pesquisado.
Comunidade leiga
A comunidade leiga. por financiar a pesquisa por intermédio
do, impostos. tem o direito de se beneficiar e de saber o que AGRADECIMENTO
esta sendo produzido. Ela tem acevso aos avanços da ciência Agradecemos ao Prof. Dr. Clév is de Araújo Peres por suas
por meio de revistas de divulgação científica (Superinteressante. inúmeras contribuições e ensinamentos de bioesiatí rica, fun-
Scientifi« American), cobertura jornalíst ica e outro meios de damentais para a elaboração deste texto.
comumcação de massa.
A descrição do seu trabalho deve ser feita cm linguagem REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS
adequada ao público-alvo. Leitores de revistas de divulgação t. StLVA. E. M. K. Principaiv lip<" de 1"'''I"i, ••chm •• ln. ATALLAH. A. N.: CASo
cicnufieu podem estar mais familiarizados com termos técnicos rRO.A. A. (eds.). ,\1edicillll ll",rmlll 1'111 IMt!~1l( iat, ftmdamelllo, da peS(I"i.Ç(,ctimco
Su" Paulo: Lemos. 1998.p. 29·J7.
que O~ leitores de um jornal ou os telespectadores de um pro- 2. S~tORTt.IFFE. 12.11.;BARNETf. G.O. Medical data: their ncquisition, storagcand
grama de TV. mas. mesmo assim, deve-se tomar cuidado, pois II,e. ln: SIlORTUFFE. E. H. er al.Met!il'(,lllI[ortluIII(.: II>",/lIl1er (lpplica/ions '"

mesmo ~~:.e:. não conhecem a fundo o vocabulário. 1/I'II1,hIII" ","Ibiomedicine. Ne\\ York: Sprinllcr· Vcrln~. 2001.
1. COflflA '1'" n lmprensa I'elll aí. Si" <ti M\t:"orill de IInpn:n;o da UNLFESP. Dispo-
Cobertura jornalística pode ver umu maneira interessante nóvd cm: hnp:l/www.unifesp.br/oomuRlcacnola .. ·implpul>hcas.btm.Acesso em: I~
de 'e divulgar seus dado, para pessoas leigas. no entanto. mur/200.!.
ela exige alguns cuidados. Há diferenças entre as priorida-
dcs do jornalista e do pesquisador: "0 que parece ser hora
imprópria para o pesqui ...ador já passou da hora para o jor-
nalistu". A\ respostas devem ser clara .., objciivas e em lin-
gUôI!!CIlI para leigos. Respostas cu rias correm menos risco
CAPíTUlO 9
de incorrcções. Deve-se oferecer material escrito, gráficos e
íotogrufius que possam complementar as informações. Reco-
monda-se ser colaborar ivo. pois um bom relacionamento com
a imprcnva pode ser proveitoso'. Bancos de Tecidos para
Comunidade Científica
t\ div ulgnção de resultados no meio científico se d<1princi-
palmente por meio de congressos e publicações em revistas
Pesquisa Clínica
espcciuli/udas.
Radovan Borojevic
Publicação de Artigos Hamilton da Silva Junior
Pura que um trabalho seja publicado em uma revista cicntffica, Sandra P. Hurtado
norrnnhncnte, exige-se a sua avaliação por revisores do corpo
editorial da revista que irão avaliar a qunlidude do trabalho,
se ~ relevante e se obedece a todas as ex igências do ponto de INTRODUçlo
\ i,ta ético e científico. Os revisore ...costumam ser especial is-
t.J\ nos assuntos que irão revisar, o tratamento terapêutico estâ sempre fundamentado nas infor-
Além das características científicas. deve-se levar em mações retrospectivas que surgem e se concretizam por meio
conta também as exigências de formatação de cada revis- da pesquisa clínica de casos precedentes. Por ourro lado. o co-
ta: a qualidade dus imagens a serem enviadas. quando houver, nhecimento da ciência básica, que geralmente trabalha com modelos
o tamanho das margens, tamanho das fontes, espaçamento animais ou situações experimentais de maneira prospectiva, é
c alinhamento. Outro parâmetro de f'ormatnção que COStu- necessário para a compreensão de mecanismos de patogenia,
ma variar entre as revistas é o formato em que devem estar de resi tência e/ou cura da doença, assim como de processos de
anotadas as referências. Embora esses parâmetros não irn- reparo e regeneração. O conjunto desses conhecimentos per-
peçam a publicação do trabalho, eles podem Fazer com que mitirá o diagnóstico, a previsão da evolução da doença e a de-
o trabalho seja devolvido para que isso seja corrigido, o finição da conduta médica e de terapêut ica de cada um dos pacientes.
que pode levar a um aumento do intervalo entre a conclu- A clínica terapêutica nem sempre possui ferramentas que
,ão do trabalho e sua publicação. lhe sejam definitivas para analisar cm profundidade deter-
minada situação e fornecer informações necessárias para a
ciência biornédica. Dois fatores adicionais tornam a obten-
Apresentação em Congressos ção de um conjunto de informações biomédica ainda mais
Outra maneira dc se divulgar um trabalho cientffico é expô-lo complexa: (I) a necessidade de acompanhar a evolução de
em congressos. A exposição do trabalho em congressos pode doenças ao longo do tempo; (2) necessidade de compilar O
se dar de duas maneiras: caso o trabalho seja de grande rele- número suficiente de casos para distinguir os princípios gerais
vância. ele pode ser selecionado para ser apresentado em ses ão das particularidades inerentes a cada caso estudado, A evo-
oral ao público ou exposto como um pôstcr. lução de uma doença, a resposta a uma terapêutica, a avalia-
Pesquisa Clínica 8 69

ção de riscos de um tratamento agressivo diante da gravida- ciado à cartilagem e aos tendões). a pele. as córneas. os teci-
de do estado do paciente ou ao prognóstico sombrio de um dos fetais. células reprodutivas (sêmen. ovócítos) e células-
estado patológico estudam-se. geralmente, ao longo de meses. tronco, dentre outros.
anos e. no caso de doenças hereditárias. abrangem mais de I a doação de órgãos, é importante que ii amostra seja removida
uma geração. Por outro lado. os avanços da ciência são cada do doador e implantada no receptor no menor tempo possível.
vez mais rápidos. 1\ capacidade de análise de um enorme para evitar a dererloração do tecido vivo. Entretanto, em alguns
número de moléculas. de células. de populações humanas. casos. é possível retirar e armazenar tecidos e células. Isso
de parâmetros ambientais c de organismos parógenos bene- permite realizar uma melhor avaliação evidenciando a pre-
ficia- e enormemente de avanços de métodos anal íticos e da sença de agentes infecciosos, assim como criar um pool de
informática. Por outro lado. a análise estrutural do corpo humano tecidos para poder selecicnar os mais compatíveis com o orga-
por métodos não invasivos e técnicas que permitem atual- nismo recebedor.
mente obter um grande número de informações extemporâneas A egunda finalidade pode visar ao uso científico, bene-
sobre o funcionamento e a fisiologia do organismo humano ficiando-se do bio-armazenamento. Os tecidos doados po-
providenciam um conjunto de informações que não eram dem ser processados de tal forma que as suas características
acessíveis há alguns anos. Por isso. é necessária a ímeração sejam preservadas para sua posterior análise e estudo. As-
entre a pesquisa clínica e a pesquisa básica. pois assim é realizado sim será possível desenvolver um banco de material bioló-
um aprimoramento na evol ução dos procedimentos terapêuticos. gico acoplado com um banco de dados que permita avaliar
É mister poder acoplar a longa e ampla experiência clínica novas possibilidades dc tratamento ou identificar as causas
com os métodos biomédicos poderosos que hoje surgem em de diversas doenças em um futuro próximo. No entonto, quando
uma velocidade impressionante. A implantação de bancos os tecidos são preservados com finalidades de pesquisa e tra-
de tecidos ou. em sentido mais amplo. de bancos de material tamento de doenças, a utilidade desse material depende da
biológico é uma tentativa de disponibilizar o material colhi- qualidade e da acessibilidade das amostras dos tecidos e a
do durante amplas atividades e e tudos clínicos para as aná- extensão da informação que armazenada com ele; por exemplo.
é

lises científicas, atuais ou futuras. gerando. assim. o conjunto dados pessoais (raça, perfil genético, atividades profissio-
integrado de informações biomédicas. É compreensível afir- nais. hábitos) e clínicos (doenças). O objetivo especffico de
mar que o valor dessas coleções é direramente proporcional um banco de tecidos é, portanto, armazenar c disponibilizar
ii quantidade e à qualidade de informações clínicas c cicn- dados c amostras. Para otirnizar essa função muitos organis-
tfficas compi ladas. mos nacionais e internacionais procuram criar redes de co-
O Projeto Genoma Humano' é um ótimo exemplo prático de leções bem documentadas. usando protocolos padronizudos.
como ocorre a evolução cientffica. A partir do momento no qual Atualrnente, já ex istem diversos banco), de tecidos especia-
foi aceito que as informações fundamentais de um indivíduo lizados no mundo. É o caso do banco de válvulas cardíacas"
estavam no ácido dcsox irribonucléico (O 'A). surgiram os mo- ossos':', pele", rumores retirados cm cirurgias". tecidos Il1US-
delos estruturais. métodos de seqüenciamento e manipulação culoesqueléticos", dentes", próstata". cérebru'".
que drenaram a atenção dos i nvesiigadores até os dias de hoje.
A evolução técnica continua. mas com os equipamentos ca-
puzes de revelar as seqüências de O A dos dias de hoje. já
ASPECTOS TlcIICOS
se pode estudar a informação genética de qualquer organis- A evolução técnica está diretamente relacionada com fi capa-
mo desejado em um espaço de tempo relativamente curto. cidade de análise ou com a verdade científica do momento em
A descrição de doenças causadas por anomalias genorípicas cstá questão. Não seria possível diagnosticar hisrologicamcnte um
dirctamcruc relacionada com a capacidade dc trabalhar com as câncer antes da descoberta das características bioquímicas
informações genéticas. Subseqüentemente. veio o interesse na celulares. corantes específicos e reações imunocitcquímicas.
padronização dos eventos clinicamente rnonitorados. Den- Da mesma forma, o desenvolvimento da citometria de fluxo
tre estes. estão os oncogcncs, participantes urivos nas diver- foi fundamental para a fcnoripagcrn das subpopulações ce-
sas manifestações cancerosas. No entanto, as informações lulares envolvidas em anomalias hcmatolõgicas.
genéticas que foram descritas. não têm todas as respostas para Muitos são os riscos de equívocos relacionados às análises
os problemas estudados. Muitas questões ainda são obscuras de resultados gerados a partir de material biológico estocado
c demandam maior compreensão. seja por procedimentos que em coleções. Diversos fatores podem afetar a confiabilidade
não existem num determinado período em determinado esta- de um estudo clínico fundamentado em um dado experirnen-
belecimento ou porque ainda não se possuem ferramentas dis- tal. Essa di ficuldade de interpretação se dá pela desatenção aos
poníveis para esclarecê-Ias. aspectos técnicos que envolvem os procedimentos experimentais
aplicados aos objeros de estudo. E necessária UIllU atenção Cl>-
pecial . obre o tratamento que é dado num material biológico
I IIE l UM BAICO DE TECIDOS estocado desde a captação até a execução do estudo cxpcri-
O bancos de tecidos se dividem em dois grupos, seguindo ii sua mental. passando pelos procedimentos de conservação, principal-
finalidade. não mutuamente excludente s. Uma parte destina-se mente quando os processos envolvem mais de um manipulador.
essencialmente para o transplante ou complementação de Essa precaução é justificada pelas inúmeras variáveis envol-
proce sos de reparo de tecidos e órgãos. A doação de órgãos vidas em uma manifestação clínica. Além disso, é preciso uma
recebe bastante atenção. pois durante os últimos anos foram aplicação crítica rarnbérn na escolha da técnica que auxiliará
e continuam sendo desenvolvidas diversas tecnologias para nas conclusões científicas. pois essa escolha determinará os
x realizar transplantes de coração, fígado. rins, pulmões e outros. requisitos para os processos que serão aplicados a uma deter-
ob
~ No entanto. algumas iniciativas carecem de maior divu lgação, minada fonte de estudo,
bem como o fato de que os tecidos também podem . cr doa- A amostra que pode ser armazenada em um banco de icei-
~ dos. Os tecidos são considerados hisiologicarnente como "con- dos não se limita somente a tecidos corno pele. córneas e ossos.
~ juntos celulares que desempenham funções especializadas", Também podem er armazenadas pequenas biópsias retiradas
por exemplo. tecidos cardiovasculares (artérias. veias. vál vu- de tumores ou de qualquer órgão cm que seja necessário rea-
las cardíacas). os ossos c O tecido musculocsqueléüco (asso- lizar um diagnóstico. Uma parte da biópsia pode ser congela-
70 • Tratado de Clínica Médica

da para reul izar estudos bioqu ím icos e moleculares. enquanto ção cctópica. Sendo assim, todas as amostras devem ser acom-
ii outra pode ser utilizada para realizar estudos histológicos. panhadas dos respectivos prontuários e descrição de prOtOCO-
Tecidos e células também podem ser preservados de maneira los de manipulação laboratorial.
adequada para. posteriormente. estabelecer culturas de célu- Hoje em dia e com as condições atuais em que a pesquisa
las iII vitro que permitam realizar estudos luncicnuis. e desenvolve no Brasil. é bastante difícil criar um banco de
Considerando os tradicionais blocos parali nadoscorno exemplo tecidos que abrigue todos os tipos de tecidos que possam ser
inicial. podem-se descrever possibilidades dc contaminações armazenados. Esse é o motivo da existência de bancos espe-
com ácidos nucléicos alogênicos e até xenogênicos. devido à ciulizudos para cada tecido. Seria praticamente impossível
rotina laboratorial que uma equipe eventualmente possa estar contar com equipes capacitada. e especializadas que pudes-
seguindo. Contaminações dessa natureza podem afetar futuras sem processar Ioda a informação derivada da análise dos tecidos
análisescomo presençade frugmenros cromossõmicos masculinos preservados e armazenados em um único local. A opção da
em tecidos femininos. levando a más interpretações de qui me- criação de bancos de tecidos especializados é importante e
rismos celulares", Uma avaliação com base nessa contamina- requer a formação de profissionais na área da saúde que possam 00
ção pode acabur indicando tratamento para um mal auto-imune. contribuir com os estudos que devem ser realizados, geran- :::
quando na verdade não há relação real. Existe também a pos- do resultados reproduzíveis c rápidos que ajudem no diag- ~
sihilidade de se perderem informações patológicas irnporran- nõsrico e no tratamento cios pacientes. ~
tcs no proce so de fixação de tecidos para parafinização. em De qualquer forma a base fundamental de um banco de ~
decorrência da ação dos solventes utilizados na rotina normal. tecidos é II possibilidade de ter informações que possam ser
Sendo assim. um procedimento experimcrual posterior não de- comparáveis entre si. No momento da criação de um banco de
tectaria epüopo essenciais de afecções bem caracterizadas. tecidos com finalidades de pe quisa e diagnóstico. os dados
podendo até lhe dar um stOIUS de doença rara. armazenados serão úteis para correlacionar os dados entre
Outro tutor importante pura uma boa interpretação é. sem- pacientes em nível individual ou entre grupos de pacientes
pre que possível. trubalhur com UI11 controle normal de uma em nível colerivo. Essa comparação permitiria criar parâme-
situação patológica ti ver estudada. Ou seja, para o estudo de tros que ajudariam a redefinir as causas de uma determinada
uma biópsia tumoral. a existência de um fragmento semelhante doença e inclusive estudar a relação entre a doença e o trata-
de tecido normal seria essencial para futuras explorações em mento que é indicado para o paciente. oferecendo opções te-
procedimentos de biologia molecular em geral. permitindo iden- rapêuticas alternativas às que costumam ser utilizadas.
tificar os urtefatos ou as modificações moleculares devidas Para a estruturação de um banco de tecidos inicialmente
ao processo de preservação da amostra. Estes envolvem devem ser considerados fatores como a adequação de um local
genoripagern. rcação cm cadeia de po lirneruse com retro- que permita o armazenamento de material em grandes contêineres
transcrição (RT-PCR, retrotranscriptase-polymerase cliain de nitrogênio líquido. um local isolado para realizar procedi-
reacüon) e reução em cadeia de polirnerase (PCR. jJo{Y/IIerase mentos histológicos e bioquímicos e uma área restrita para
chain re(/('I;IIII). que objetivam descrever mutações caracte- realizar as técnicas de biologia molecular onde a preservação
rísticas e outras anomalias genéticas, hibridações e diversos do D A ou RNA isolados das amostras seja garantida. Ao
outros. Contudo, mesmo com uma cólera cientificamente cor- mesmo tempo. deve existir uma equipe que processe todos os
reta. os indicadores moleculares devem ser protegidos de ma- dados obtidos a partir das anãli es realizadas e possa emitir
neiraadequada.pois sno componentessensíveisa partir do momento um parecer que ajude na prática médica. A informação gerada
em que um tecido vivo ~ dado como morto. Isto é. se o obje- pela equipe técnica deve também ser útil para a equipe que rea-
tivo principal é anui isur alterações nos componentes genét i- liza as respectivas pesquisas. É importante ressaltar que toda a
cos de urna dada amostra. é preci o decidir sobre a forma de informação derivada dos estudos histológicos e moleculares
estocugcm: ou por um congelamento a temperaturas muito provenientes da análise de tecidos contribui também com a
baixas (gelo seco ou nitrogênio líquido) ou mesmo pela ex- novas tecnologias relacionadas com a engenharia tecidual.
tração seleriva dos objeros de estudo (DNA, RNA' ou pro- Além de todas as possibilidades que um processo de arma-
teínas), seguido de uma análise qualitativa antes de seguir zenagem e o acondicionamento de um material biológico pode
com os processos experimentais. gerar, também existem questões auxiliares que devem ser levadas
Além das cirudas. II:. caracterfsticas técnicas concernidas em conta. A pesquisa clínica tem um viés acadêmico que
t:111 um processo definido devem ser de conhecimento cio re- concerne a formação de alunos de nível superior, em resi-
querente c do executor. Em uma análise em hibridização iII dência médica ou mesmo em graduação universitária. Uma
sit« por fluorescência (FISH.j7l1orescell/;n situ hybr;d;zal;oll)", colcção de casos clínicos geralmente fornece uma base forte
por exemplo. é essencial levar em conta as sobreposições ce- para O treinamento e o desenvolvimento dos profissionais li-
lulares na amostra em estudo, para assegurar a localização gados à saúde. já que permite constante renovação e arualiza-
subcelular elo substrato. Por isso. a imagem nuclear lOtai e ção do conhecimento cientffico.
uma contagem dos núcleos. além elas imagens combinadas. Na Europa, onde já foram estabelecido bancos de tecidos
sãorequisitos necessários que reforçam (I clarificação das imagens para o estudo do câncer. as amostras de tecido doadas são
c. conseqüentemente. a conliabi lidade do resultado. A des- mantidas em universidades. hospitais universitários e centros
truição tecidual na captação das amostras é um furor de con- de pesquisa para câncer. Assim. criou-se a necessidade da
taminação relevante e que também merece atenção especial. existência de uma base de dados on-line com informações
A presença de partículas virais de hepatites em biópsias de obtidas nesses locais. para faciluar a troca de informação
tecido epidérmico pode ser simplesmente resultado da pre- entre os vários países que participarem ou associarem-se aos
sença do tecido sangüíneo e não reflete uma posoível infec- bancos. Em ritmo acelerado. pode-se acompunhar a criação
de outros bancos de tecidos on-tine": como uma ferramenta
que ajude na resolução rápida do diagnóstico de alguns tipos
• Ácido rlbonudéico: estrutura molecular que representa um código genético
de câncer". Essas bases de dados proporcionam imagens de
contido no DNA para originar uma determinada proteína. micro copia eletrônica, histologia e alguns dados do doador
•• Técnica utilizada para localizar uma determinada seqüêncía gêníca com a como sexo, idade, estado e diagnóstico histológico. evolução
hibridizaçào de uma sonda devidamente identificada com um traçador. e resposta ao tratamento.
Pesquisa Clínica • 71

Finalmente, a inreração contínua entre os grupos de pes- pois o paciente reserva. de forma voluntária, informações que
quisa básica e clínica é importante. Uma vez realizado o con- a equipe dc pesquisa pode considerar úteis.
taro entre os grupos, o grupo médico e o grupo de pesquisa O direito de privacidade. que parece óbvio, é importante
devem esmbclecer uma rotina que assegure que a' amostras na medida cm que, havendo alguma descoberta importante em
coletudas se mantenham dentro dos mesmos parâmetros de alguma das amostras de um paciente específico. essa infor-
qualidade, Isso é mais fúcil no caso dos procedimentos expe- mação não seja utilizada COntra ele por entidades alheias à
rimentais que nos procedimentos clínicos. Os procedimentos pesquisa como. por exemplo. companhias de seguros. No entanto.
de armazenamento e congelamento. os histológicos e os rela- o direito de privacidade também inclui O direito do doador ao
cionados com bioquímica e biologia molecular. normalmente seu próprio material armazenado no banco de tecidos e a qualquer
utilizados C0l110 1'01ina em vários laboratórios. devem ser cons- informação obtida a partir dele.
tantemente arualizados e/ou renovados de tal forma que se- Existem casos em que tecidos armazenados não possuem
jam padronizados para a manipulação de tecidos nos diferentes registro de dados sobre o doador. Segundo a legislação européia,
locais onde a coleta do material é realizada. o ideal seria que fosse localizado o doador para assinar O termo
de conscnt imento que permitisse que O tecido armazenado fosse
utilizado em pesquisa. Se ele não for encontrado ou já tiver
'IESTDES ITlCAS E LEGAIS falecido. a decisão sobre o uso do tecido recairá na Comissão
Um do grandes problemas que enfrenta a criação de bancos encarregada da legislação dos bancos de tecidos.
de tecidos é o fato de que o seu valor agregado depende das Os tecidos doados podem ser classificados cm função da
informações obtidas tanto do patologista e da equipe de pcs- designação de um código que permita a identificação plena,
quisa quanto do paciente, esbarrando nos direitos que esses parcial ou o anonimato dos pacientes. dependendo da decisão
últimos têm com respeito 11reserva das informações que ele que o paciente tomar. O banco de tecidos é responsável, então,
possa proporcionar à equipe de pesquisa. pela correta identificação e armazenamento das amostras codi-
Um dos primeiros requisitos encontrados no Código de ficadas. Essa identificação deve permitir um rápido aceso ao
Nuremberg (1947) é que o paciente ou doador deve autorizar material estocado e a identificação do doador se ele assim o
voluntariamente sua participação em determinado projeto de decidiu. A identificação plena do doador será realizada unica-
pesquisa. Esse requisito é. até hoje, imprescindível, mas ainda mente se a descoberta for relevante para seu próprio tratamento
não há concordância entre os termos de consentimento dos e/ou possa contribuir com a sua qualidade de vida. mesmo
diferentes países. Em alguns casos. a legislaçâo regional uccita que ele já tivesse decidido permanecer anônimo, No entanto.
que o paciente assine um termo de consentimento "gerai". ou essa possibilidade deve ser contemplada no termo de consen-
eja. ele autoriza que o tecido doado possa ser utilizado cm rimemo. Foi ern umu situuçã« COIIIO ii descrita que se descobriu
qualquer tipo de pesquisa, não sendo necessária sua autoriza- que a expressão do c-kit ~ um fator-chavc no diagnóstico e no
ção cada vez que algum procedimento for realizado. lo caso tratamento de tumores do estrema gastroiutesrinal'".
da Suécia. por exemplo. para cada procedimento de pesquisa. o Brasil. a legislação contempla a criação de bancos de
o doador deve assinar um termo de consentimento separado. ossos. tecido muscular esquelético, sangue e hernocornponemes
Ainda não existe uma legislação específica que regule os di- ou hernoderivados, córneas e Outros. Es a legislação, assim como
reiio e deveres dos bancos de tecido , com cxccçâo de al- de outros países. obriga os grupos clínicos ou de pesquisa pri-
guns paí es como Islândia e Suécia":". meiramente a submeter o estudo ao Comitê de Ética da insti-
Os pacientes normalmente devem assinar um termo de tuição à qual estão vinculados. A Agência Nacional de Vigi lância
consentimento, no qual concordam com a doação c são in- Sanitária regula. na Portaria nQ 211, de 24 de março de 2003".
formados da utilizução do tecido para diagnõsrico e em es- o. bancos de tecidos e/ou células e delineia algumas das carac-
tudos de pesquisa pura u obtenção de informações que sejam terísticas que eles devem ter. Em outras portarias do Ministério
úteis para o próprio trutumento ou para melhorar o dito Ira- do Trabalho. regulamentam-se a captação e o armazenamento
tarnento no futuro. Toda a informação referente 11pesquisa de córneas. tecidos ósteo-fáscio-condro-ligarncntosos e rnus-
que será realizada deve ser explicada com clareza parti o culoesqueléticos, res aliando a importância da divulgação da
doador. incluindo obrigações e responsabilidades, antes que doação de órgãos e- tecidos na população. que deve ser pro-
ele decida ou não participar. movida pelas mesmas equipes de captação. A legislação bra-
A possibilidade de oferecer algum tipo de retribuição é sileira contempla, dentro da doação de órgãos ou tecidos, a
contemplada nas normas de alguns países. o Canadá, por possibilidade de que eles sejam u ados para pesquisa, mas
exemplo, o incentivo não deve ser muito grande. porque seria esse não é o fim prioritário. Toda a regulamentação é bastante
uma forma de induzir as pessoas. deixando de lado a auto- clara no referente ao transplante de tecidos, mas não a sua
rização voluntária. No caso de populações cativas (pessoas utilização em pesquisa. Cabe por tanto. ao comitê de Ética em
presas ou em instituições mentais), não devem ser feitas ofertas Pesquisa da instituição responsável, avaliar as condições c os
que possam indevidamente melhorar ua situação ou influenciur parâmetros que serão contemplados nas pesquisas propostas.
eu relacionamento com outras pessoas. Todo e qualquer tipo
de incentivo deve estar claramente definido no termo de con- S/TE INDICADO
sentimento. hl1p:/I",,"w.o5<.'fC.r:lIinSlilullon/good_praclict!>_c.hlm (N~lural Sclences and I'.ngincering
Research Couocit of Canada).
Os pacientes doadores têm direito à autonomia e à privaci-
dade. Isso quer dizer que no momento da doação eles têm direito REFERÊNCIAS BIBLlOGRAFICAS
a negar- e a doar, limitar o tipo de estudos experimentais que a l. HIII/IIIII Cml/lllrrmjrcl !lIfl/l'llltltitm. Di-ponfve] cm: hl1p:llw",w.ornl.gov!sciJ
equipe de pesquisa quer realizar ou. inclusive depois da doa- Icch""oul\:l!"/ltuman_Gcnol11c/home.shlml. Acessoem: 27IFebn004.
2. RAANANI. E. (I ai. Establishmcnt 01' fi hcan valve hornograf] bank using cxisting
ção, determinar que () tecido doado eja utilizado unicamente racililtc<. TrÜIl.f/J!lI/III'rtIC .. v. 35. n. 2. p. 63~-6J5. 2003.
para diagnóstico c não para pesquisa e posterior armazena- J. LENZ. J. II. 01 ai. Reconsrrucnon 01' lhe frontat calranan conunuity in II child using
mento em um banco ele tecidos. O paciente pode negar-se a a frecze-prescrvcd aUlOgenou, bone graft, J. Crallloma.r"'olo~. Su'll .. v. J I. II. 3. p.
154·158.200J.
fornecer informações pessoais que. de alguma forma. sejam
4. VASTEL.I.. CIai. Effecl of differclll .Icrilitnlioll prun··"illg 111(lhoch cl11lhe IIlcehalllcnl
importantes para a equipe de pesquisadores. O direito de pri- propenies of 1""'11Inc:.nccllc>u\ bone allogmO, llillllllllmllh. \. 25. n. II. p. 2105·
vacidade é exercido paralelamente com o direito da autonomia, 2110.20!)4.
72 • Tratado de Clínica Médica

5. CHARO. R A Slln and bane, PO'1-I11011Cmrnurkets in human ussuc, Nm'{I Li'k'


Rr' . ,. U•. II. 2. p. oI21-1S0. 2m2
DEFINIÇIO E FINALIDADES DE UM BIOBANeO DE DNA
6. KNO>'. K.. KERR. o J "''''hl"hlng a natioual uv-uc bank for surglcally harvcsted Um biobanco de DNA pode ser definido como uma coleção de
Cal",cr"',"C. 8r. J .\II~ _.91. n. 2. p. 134·136.200-1. amostras de DNA genôrnico estãvcl, juntamente com o banco
7 BRACH DH. PREVI·R.I \I et aI. A moclel farlhcorganllalion or a regional bank
for mu-cul .. ,ldcIJIII\'uc' ln h.ly. (1IIr. Ort!oni. Mo!:. v, ~b. n. 2. p. 193·200.2003. de dados que essas amostras originam. O biobanco de DNA
Õ. '1ASSIF. A ( ti JI Sll'UI:lUrah/Juon af;l human Icclh bank, Pesq. Odontol. Bra».. permite aos pesquisadores realizarem vários estudos, incluindo
, 17. 'UI'pl I. p. 10·14. 21_1\ os genéticos. por longo período de tempo. com repercussões
9 RH>DICK. A C ti JI Ihnlln~ or f""h·fto/cn pro,lale rissue: methods, ,.. hd3lion
na área de saúde.
nOOuse BJU 1111.' 91. n, 4. p. 315· 323. dlscu,,,on 313.324. 2003
lO. HlItE1TE. (' M. Braln hJnllll~ ln lhe UIlI,,:d Slalc>. J. '1"''''1,"",01.Exp. Nell"'/ .. O pesquisadores do campo da genética médica vêm se
".62. n 7. p 115·72:.200.\ empenhando para implantar biobancos de D A, cuja finalida-
II NEI.SO:-l.l L Microchllncn"l1. mcidcnl:llb)prooucl ofp~nancyor:lC1iwpani<:i[lil11l de seria a de estocar amostras de DNA de doadores voluntários
rn humnn bcahh? rr,'II(/. M"I IItd..v. 8. n I. p. 109·113. 2001.
12 ADAM. D. Onhnc IUI110llrbanl •• 111\to offer rcad\ route 10 Ii",uc,. Nutur.e. v.416. ou pacientes com algum tipo de doença genética. Esse biobanco
n. 6880. p, 4M. 2002. . de DNA passaria a ser um repositório de informações genéti-
11. ~IURI)IIY.I). D.: RAVIXA. R. HrJIn banking for ncurodcgcuernnve discasc-, Curr. cas que poderia oferecer um sem-número de oportunidades para
0,1111Nrllml .. v. 16. n. 4. p ,IW·463.2001.
vária, atividadcs, tais corno para o acessoao estudo da prevalência ee
14. OOS'I ERliUIS. J. W ·COl-BcRGH. J. W: VAN VF.F.;>;.E. B. TUIlI"''' banh: wcll-
guarded In:a,ure, ln lhe .nlerc,1 nf IMllen". N",. Ii.. ·.ClIIU'n. v. ~. II. l. p. 73·77. de determinados genes (ou variantes) na população, para a sim- ~
200~. plificação na procura de marcadores moleculares, para maior 't
15. TEOI)OROVIC.I. el aI. HlIIll.II.I."uc rescnrch: tORTe' rcclJlI1l11cooalion, on us pracucal refinamento nas estratégias para a prevenção de doenças, para ~
consequenccs. E"r J ('''/II·rl'. v 39. u. 16. p, 2256·2263. 2003.
(l estudo das várias associações entre polimorfismos genéticos ~
16. MIETTINHN. M: MAll!)l. M.: LASO'l'A. J. I'nll.ology and di:l~oo,lic critcria of
~:l\Irninlc,IiIl,,1'""IIIJIIIIII''''' (GIS1\1. II rcview, "-II" J. (.'(I/1('I'f. '.38. suppl. 5. p. c o risco de doença (fornecendo um poder estatístico impor-
S3tJ·S51.2OU2. tante), para a melhoria na obtenção dos dados necessários para
17 HE.'\RIQI'I'S. C. AgênCia '1aclCIl101de Vigilância Sanuéna.Ponaria n" 211. 24 mar. a busca de evidências, na qual serão tomadas algumas decisões
2(1!}.1.D"llOnr'clcnr O\.hllll" hllp:llwww.3nvis ...gov.br/an visnlegis/pon"ri"sl
211_0J,hlln. Ace"" cm: 20/1·<v./2004. legais. como nos C:hOS forenses.
Segundo a American Society of Human Genetics (ASHG),
um banco de D A é urna estrutura que armazena DNA para
anãlises futuras. A British Clinical Gcnetícs Society definiu
CAPiTUlO 10 que o propósito de um baneo de DNA é prover material para
as futuras requisições de famílias afetadas por distúrbios gené-
ticos sérios e que requerem análise de DNA para o propósito
de confirmação de diagnóstico molecularmente. de diagnõ tico

Biobanco de DNA pré-sintomático e nu detecção de portadores de doenças gené-


ticas. A National Bioethics Advisory Cornmission dos Estados
Unidos definiu um banco de DNA como uma estrutura que
armazena DNA extraído. linhagens celulares transformadas,
Sérgio Paulo Bydlowski sangue ou outro tecido ou materiais biológicos congelados.
para futuras análises de DNA. A mesma Comissão definiu um
Estela Maria Novak banco de dados de DNA como um repositório de informação
genética obtido da anülisc de DNA, às vezes referido como perfis
Adriana de Aguiar Debes de DNA. A informação genética é usualmente armazenada em
forma cornputudorizada com identificadores individuais.
Está havendo expansão importante na cólera de amostras de
INTRODUÇlo DNA humano e annazcnarnento de dados, atividade que tem im-
Nas últimas décadas. os avanços cienuficos nas inúmeras áreas portância estratégica para a pesquisa genética, cuidados clí-
nusquais a biologia molecularestã envolvida. incluindo a genética. nicos e tratamentos futuros.
produziram uma oportunidade sem precedentes para a utiliza- Essesbancos podem ser organizados e mantidos por entidades
ção de material genético cm estudos que se estendem por vários públicas. como o Banco Nacional de DNA de Pacientes com
campos do conhecimento. cnvol vendo os genese o ácido desoxir- Câncer de Mama da Fundação Oswaldo Cruz (FTOCRUZ), ou
ribcnucléico (D A) para melhorar a saúde pública de inúme- por empresas privadas, como o Banco Nacional de DNA para
ras maneiras. O diagnóstico molecular já é utilizado na prática Distúrbios do Sistema Nervoso Central. organizado naArgentina
clínica. A medicina forense é uma realidade. Várias futuras aplica- pela empresa Gcnsct, Um exemplo da importância dessesbancos
çõcs importantescsião surgindo. Um exemplo é a farmacogenôrnica. de DNA foi recentemente demonstrado no Ceruer for Disease
que setornou powlvcl apóso conhecimento da seqüência genômica Control and Prevention, em Atlanta. nos Estados Unidos. quando
humana: a farmacogcnôrnicu promete fornecer tratamernos es- o fornecimento de amostras de D A para o National Birth
pecíficos de acordo com I) perfil genético do indivíduo. redu- Defects Prevention Study permitiu identificar certos fatores de
zindo. as~im. efeito, adversos. com potencial redução de alta_<; risco em recém-na~cidos.
taxas de morhidade. '-em conl:lr a provável dimi nuição das des- Uma importantíssima organil.ação de dados é o Intemational
pesas médica,. Por outro ludo. a biologia molecular também ucleolide SequcnceDataba~c~(I SD). composto pelo GeneBank.
pode ser u~ada contra () indivíduo. como para limitaçõcs do pelo European Molecular Biology Laboratory (EMBL) Bank
ace,~o a apólice, de l>eguro ou ao emprego. levantando sérios e pclo DNA Data Bank of Japun (DDBJ). O GeneBank, ame-
problemas de ordens ética. legal e social. ricano e público. é um banco de dados de seqüências de DNA e
A pe'>4uisa clínica depende fundamenlalmente da possi- proteínas de mais de 14().OOO diferentes organismos. construído
bilidade dos pesqui,adores em Irabalhar com significantes e distribuído. pelo ational Center for Biotechnology Informaúon
quantidades de muteriais biológicos humanos. incluindo es- (NCBI). uma divisão da National Library of Medicine (NLM),
pécimes de sangue. DNA. órg~()s e tecidos que estejam arqui- localizado no e.:ampusd<l U. S. National Institutes of Health
vados. Dessa forma. () arma%.cnarnenlo de D IA e de dados (NTH) em Bcthesda. Cerca de 26% das seqUênciasdo GeneBank
está recebendo atenção crescenle como resultado da explosão são de origem humana. A EMBL Nuclcotidc Sequence Database
de pesquisa genéticll. é mantida e localií'ada no Europcul1Bioinformatics Tnstitute(EBI),
Pesquisa Clínica • 73

peno de Cambridge. Esses órgãos incorporam, organizam e (DNA ou RNA) e o método de análise. Por exemplo, que o
distribuem scqüências de todas a fontes públicas existen- DNA humano é recuperável de qualquer espécime contendo
tes. O~ dados são trocados diariamente entre essas agências. células nucleadas; 106 células produzem cerca de 5 a I O~g de
de modo a atingir uma ótima sincronização. O Reino Unido DNA, quantidade muito adequada para utilização em inúmeras
est~ criando um biobanco que pretende ser o maior do mun- técnicas de biologia molecular. incluindo amplificação por reação
do. O projeto envolve a colera de amostra de DNA de meio em cadeia de polimerase (PCR, polymerase chain reactionr.
milhão de indivíduos entre 45 e 69 anos. Serão averiguados lima das mais utilizadas. Outro exemplo: enquanto o DNA é
desde detalhes do tipo de vida até o histórico médico do indi- relativamente estável. o R A é muito lãbil, Assim. a investi-
víduo, com o intuito de se criar uma base de dados de tama- gação do RNA requer processamento rápido e remoção de
nho e conteúdo sem precedentes. ribonucleases contaminantes. como as liberadas de neutrófilos
Com essas várias atribuições. os bancos de D A podem se cm amostras de sangue periférico.
diversificar cm vários tipos. como, por exemplo, bancos de As amostras devem ser manipuladas e armazenadas cuidado-
pesquisa, incluindo as epidemiológicas. bancos de diagnóstico samente. usando-se procedimentos e protocolos já validados
ou banco de dados. Os bancos de pesquisa são formados por em estudos pilotos. Por manipulação entenda-se O processo
DNA obtidos de indivíduos ou de membros de urna família ou de coleta, o iran porte, se necessário, e o processamento ini-
de populações em que se observa o domínio de determinada ciai antes do armazenamento. Este pode afetar a qualidade das
característica genética. Os bancos de diagnóstico são obtidos amostras e determinar se sua futura utilização será possível. O
a partir do DNA de pacientes com determinada doença e de sucesso dos métodos moleculares uulizudos no laboratório
seus familiares, em geral. para fLOS diagnósticos ou mesmo baseia-se grandemente na qualidade do ácido nueléico puri-
de aconselhamento genético. como detecção de portadores. ficado. Essa qualidade é dirctamcntc relacionada ao modo
estabelecimento de prognósticos. etc. De modo geral, os depo- como o espécime é armazenado e transportado após a coleta.
sitantes concordam em manter o material estocado até que A Figura 10.1 mostra, de forma esquemática, as diversas
seja possível se obter alguma informação a partir dele. Uma etapas que devem ser cuidadosamente observadas em um esquema
nova forma de colera de DNA tem sido urilizada pela indústria de estudo que envolva o armazenamento de ácidos nucleicos.
farmacêutica e pesquisadores Iigados à úrea de estudo. Os par-
ticipantes de ensaios clínicos de novas drogas têm sido convi- QUESTOES lnCAS
dados para doarem amostras de sangue, que constituirão grandes
bancos de DNA para estudos de farmacogenômica. O. cuidados com a construção de um biobanco de DNA começam
Nos bancos de dados de DNA pode-se obter a identificação com o esclarecimento prévio dos indivíduos sobre os proce-
de um indivíduo por comparação com um padrão (impressões di mentes de coleia e o arrnuzcnumcmo da amostra em um banco
genéticas) armazenado. Assim. os bancos de dados são muito de DNA.
utilizados nos cenários forenses. Inúmeros casos de crimes foram As quesiôe: éticas jlí I"ClI'ill11 muito mail, polêmicas do que
elucidados dessa maneira. Esse procedimento também é útil no são atualmcmc. As informações oriundas do material genético
caso de indivíduos desaparecidos, como o que ocorreu cm A lagoas depositado no biobanco de DNA são semelhantes às informa-
em 1998. em que trinta e duas ossadas foram encontradas em ções médicas: logo. o sigilo das informações individuais é
um cemitério clandestino: essas ossadas puderam ser identificadas considcrudo um direito fundamental. A privacidade e a con-
após a comparação do DNA obtido dos restos mortais encon- fiabilidade das informações genôrnicas, bem como O acesso a
trados nesse cemitério COI11 o DNA de parentes de desapareci- elas e o consentimento em relação a seu uso envolvem tópicos
dos armazenados cm um Banco de Dados de DNA de Pessoas de liberdades civis e o direito de propriedade do doadores às
Desaparecidas. Ainda sob o aspecto forense. não ão raros casos suas amostras e informações. As amostras de DNA desses
eJ11que, após a morte de um indivíduo, ocorram açõesjudiciais biobancos não podem ser comercializadas. Regulamentações
de paternidade promovidas por supostos herdeiro .. Nesses casos, estabelecidas por Comitês de Bioética para a proteção dos
a utilização do material genético do indivíduo falecido deposi- indivíduos analisados tornam-se necessárias, levando-se em
tado em um biobanco de D A antes de sua morte. ou de seus conta as questões éticas envolvida na utilização desses banco.
familiares, pode evitar transtornos na divisão de e pólios. A irnplcmemaçâo de mecanismos de segurança que assegurem
Portanto, são inúmeros os exemplos sobre os uso. poten- a con fidcncialídade e a conservação a longo prazo da informação
ciais de um biobanco de O A. genética é condição absoluta. Esses mecanismos devem ser
implementados antes que a amostragem seja feita, incluindo
padronização de códigos, busca de amostras, etc.
o QUEARMAZENAR EM UM BIOBANCO DE DNA As principais questões éticas referentes a obtenção. análise
A resposta a essa questão dependerá do desenho do estudo ou e armazenamento de DNA, para virtualmente qualquer finali-
da sua final idade. Como em qualquer banco. os biornarcadores
potenciais de interesse precisam ser definidos antes da coleta
de dados. Desse modo. as coletas apropriadas e protocolos de Desenho de estudo
processamento podem ser desenhados. Por exemplo. os proce-
dimentos serão diferente se o objetivo for armazenar somente +
O A. ou também ácido rebonucléico (RNA) ou células vivas. Consentimento informado
Vários tatores devem ser considerados na escolha de espéci-
mes apropriados para estudos. incluindo a conveniência da +
Coleta de amostra_______ .
coleia e armazcnarneruo. a quantidade e qualidade do DNA e
II possibilidade de realizar futuras análises. Vários cuidados
+ ArJ11aienamento em
devem ser tomados em relação a preparação. preservação e processame10 da~ biobanco de DNA
armazenamento de amostras biológicas coletadas. Os ácidos
nucléico não são cxccção. Análise
Para se determinar a manipulação apropriada de amostras
coletadas para testes moleculares. deve-se conhecer o analiro Figura 10.1 - Esquema de estudo e suas etapas
74 • Tratado de Clínica Médica

dade. dizem respeito à privacidade. É preciso garantir Outros Outro aspecto que deve ser abordado são as eventuais neces-
princípios básicos no que se refere ao biobanco de DNA: sidades de intercâmbio de amostras ou dados com outros centros;
individualidade. confidencialidade. liberdade de escolho. auto- nessescasos.deve- e ressaltar que o uso por terceiros. de material
nomia. uso e propriedade dos dados e do material armazenado. estocado em banco. para pesquisa ou não, deve ser subordinado
O respeito u esses princípios, já desde o momento de obtenção aos interesses do depositante. A responsabilidade de resguardar
da amostra. pode evitar futuros conflitos. esse interesse é do banco que enviou o material; é preferível
A declaração imcrnacional sobre dados genéticos humanos. que as amostras sejam enviadas de forma anônirna ou com
emitida pela Unesco. objciivu assegurar o respeito à dignidade consentimento por escrito dos depositantes, Essescuidados ão
humana e ii proreção dos direitos humanos e liberdades fun- neces ários, uma vez que o D A é propriedade do depositante
damentais 11(1 coletu. processamento, uso e armazenamento de e nâo do banco, que é apenas seu fiel depositário. O indivíduo.
dados genéticos e proteôrnicos humanos e de amostras bioló- do qual a amostra foi retirada, tem o direho de manter controle
gicas. estabelecendo que esses atos devem estar consistentes sobre ela e eus usos, exceto nos casos de doações anônima .
com a lei internacional de direitos humanos. Estabelece que O depositantetem liberdade de retirar seu consemimentoa qualquer ao
dados genéticos humanos apenas podem ser coleiado . proces- momento. O ca O de menores de idade, sugere-se que tenham ~
sados. usados e armazenados com o propósito de diagnóstico ace 50 à amostra após atingirem a maioridade, sendo informados ~
e cuidados da saúde, incluindo screening e testes preditivos. do contexto do conseruimeruo, podendo. assim, ratificar ou não ~
de pesquisas médica e científica. incluindo epidemiológica e o consentimento fornecido pelos responsáveis. ~
antropológica. de medicina forense e ações cíveis ou criminais Uma questão importante é o período pelo qual uma amos-
ou outras legais. ou de outro propósito consistente com a tra deveria ser armazenada após os testes serem realizados,
Declaração Universal sobre o Genoma Humano e Direitos A lgurnas amostras não devem ser descartadas. pois claramen-
Humanos e as leis internacionais de direitos humanos. te são fontes potenciais de informações para os familiares ou
Quando o O 'A é utilizado em situações em que pode haver para outras pesquisas. Em outros casos, a situação não é tão
incriminação ou ab olvição judicial de um indivíduo, a polêmica clara. Poder-se-ia imaginar que qualquer material seria ar-
ética se amplia ainda mais. Em países como os Estados Uni- mazenado em um banco de 01 A para sempre. Entretanto, o
dos. desde a década de 1990. todos os criminosos condenados custo na armazenagem dessas amostras faz com que alguns
por crimes hediondo. são obrigados a fornecer material gené- biobancos. principalmente particulares, mantenham a guarda
tico para um banco de dados de O A para que, em caso de d~IS amostras por não mais do que alguns anos. Um termo de
reincidência do crime. o culpado possa ser identificado com consentimento bem elaborado poderá evitar o estabelecimen-
mais facilidade, No Bravil. atualmerue, o benefício dos ban- to de impasses entre instituições que analisam e armazenam
cos de dudos não chega ii sociedade. pois segundo a legisla- DNA e informações e as deei õe a erem tomadas pelos
ção brusilcira cm vigor. o réu lião é obrigado a oferecer provas depositantes. É dessa maneira que a vasta coleção de espé-
contra ele mesmo. O artigo 14. inciso 3. letra g do PactoI ntcrnacio- cimes em bancos de DNA tem sido obtida.
nal sobre Direitos Civis c Políticos estabelece a garantia da Deve-se lembrar que o armazenamento per se não é um pro-
não-obrigação da pessoa acusada de "depor contra si mesma. cedimento que traz benefícios efetivos para o próprio paciente.
nem de seconfessar culpada". Jáexistem vários estudos, porém, Logo, os biobancos somente se justificam se utilizados para
inclusive por parte do governo. que pretendem conduzir à criação fins de pesquisa, que na área da saúde pode ser rapidamente
de biobancos de DNA de criminosos condenados no Brasil. transposta para as atividades diagnõsticas e terapêuticas. resul-
Quanto à liberação dos resultados que farão pane do banco tando em benefícios para a sociedade.
de dados. os biobancos devem acordar, previamente com o depo- Para que tipos de estudos as amostras armazenadas podem
sitante. detalhes sobre a sua liberação para terceiros, inclusive ser utilizadas? No seu lermo de consentimento. de 1996. a ASHG
seus familiares. Segundo o Comrnince on D A Technology distingue entre estudos prospectivos c retrospectivos: "os estudos
americano. a liberação dos dados só deve ocorrer com o con- de pesquisa retrospectivos utilizam amostras obtidas previamente
sentimentopor escrito do depositante c apenasparafins de interesse coletadas para um propósito que foi diferente daquele do projeto
médico. devendo haver garantias quanto ao sigilo dos dado. O atual: O~ estudos de pesquisa prospectivos são aqueles nos quais
depositante deve ser informado previamente sobre a posição da a colei a de novas amostras é parte do desenho do estudo".
instituição ante a essas situações. No caso de bancos de diag- Há vdrios tipos de coleções que podem ser armazenados
nóstico. os resultados das análises devem ser informados para em um biobanco. Nas coleções anônirnas. os materiais bioló-
os profissionais de saúde c nunca direiamerue para o paciente. gicos são originalmente colctados sem identificadores e é im-
A quebra de sigilo para familiare só deve ocorrer com a possível ligá-los às suas fomes. Nas coleções anonimizadas, os
autorizuçâo do depositante, ainda que a disposição de contar materiais biológicos são originalmente identificados. mas to-
ou não para os membros da famllia deva ser discutida antes dos os identificadores são irreversivelmente retirados, sendo
da realização do teste. As revelações das informações obtidas também impossível relacioná-los às suas origens. Nas coleções
para indivíduo audãveis com risco potencial de desenvolver identificáveis, o material biológico não é identificado para o
doenças. ou para familiares de um depositante afetado, devem propósito de pesquisa, entretanro, pode ser relacionado às suas
ser acompanhadas por profissionais aptos a realizar aconse- origens pelo uso de um código. Nas coleções identificada, os
lhamento genético. Nas situações em que é possível ocorrer a identificadores, como nome ou número do paciente. são vin-
identificação de portadores. deve-se alertar o depositante sobre culados ao material biológico.
essa possibilidade c perguntar se ele deseja ou não ser infor- Torna-se quase impossível prever todos os usos que serão
mado dos resultados. A decisão deve ser individual. mesmo possíveis para uma mesma amostra de DNA. Coleções antigas
nos casos em que o armazenamento é feito simultaneamente podem ser con ideradas como abandonadas (a não ser quando
por diversos membros de uma família. Nesse caso. pode-se especificado) c, portanto, utilizáveis para novas pesquisas.
seguir a determinação de vários comitês internacionais, como Um termo de consentimento geral para todas as pesquisas
o Corumiuee on Assessing Genctic Risks of the lnstitute of genéticas futuras não especificadas é inapropriado se as amos-
Medicine. dos Estados Unidos. ou o Summary Staternent on tras silo identificáveis. segundo a ASHG. O uso de amostras de
Ethical Issue in Medical Genetics. da Organização Mundial forma identificada apenasé justificável serelacionado aosobjetivos
da Saúde. e não informar a descoberta à família. originais de sua aqui ição. A reurilização de amostras não an-
Pesquisa Clínica - 7S

tigas para outras pesquisas requer a obtenção de novo conscn- baixo custo e oferece uma fonte para estudos de outros com-
rimemo informado, o que nem sempre é possível (por exemplo. postos que não o DNA. Dentre as desvantagens, é uma coleta
pacientescujo endereço é desconhecido ou que morreram). Nesse invasiva, para enviar para outro local exige requerimento es-
caso.asamostras, paraseremutilizadas, nãopodemser identificadas, pecial, sendo nâo-rcnovãvcl. O sangue é quase sempre cole-
lima situação que pode limitar o seu valor. Outra possibilidade radousando-seácido etilenodiaminotetracético (EDTA). O sangue
é demonstrar ao Comitê Institucional de Ética que os procedi- rotaI direro fornece cerca de 100a 400J.l.gDNAfI Oml, e a camada
mentos para a confidencialidade são fortes o suficiente para os leucocirária aproximadamente 200Ilg/mL. Há alto rendimento,
padrõesde "risco mínimo". Em pesquisas não-anônimas ou não- com produção de grandes quantidades de DNA genômieo de
anonimizadas, além do termo de consentimento informando ti alta quantidade. Tubos de polipropileno, em vez de vidro. devem
respeito da pesquisa. é necessário um termo para o depósito ela ser utilizados para armazenar sangue congelado ou tampão
amostra. Também é necessário estabelecer previamente () que leucocitário. O anticoagulante utilizado é importante. A heparina
deveser feito no caso em que seja encontrada alguma alteração inibe a reação de amplificação (PCR). por ter efeito inibitório
genética significativa na amostra do depositante. direio na D A polirnerase. Entretanto. o tempo durante o qual
Como visto. quando um dado genético humano é coletado as amostras são armazenadas na presença de heparina também
para propósito científico ou médico, a informação fornecida no tem importância: quanto maior o tempo. menor a possibilidade
momento do consentimento deve indicar que a pessoa tem o de se obter resultados na PCR. Assim. apesar de a heparina
direito de decidir se quer ou não ser informada dos resultados. não ser um critério para a rejeição da amostra, pois o labora-
Isto. porém. não se aplica li pesquisa com dados anônirnos ou tório pode tomar medidas para reverter seu efeito inibitório.
anonirnizados. O uso de DNA armazenado em bancos não ne- seu uso é desencorajado. EDTA é o anticoagulante indicado.
cessita de autorização do depositante. desde que seja mantido Similarmente, o grupo heme também é um potente inibidor da
o anonimato.Assim. para preservar o anonimato, a idcruificação PCR, embora existam protocolos de remoção de hemoglobina;
do depositante na amostra de DNA é destruído, o que. por portanto, evitar a hernélise do sangue coletado é adequado.
outro lado. pode inviabilizar a continuidade da pesquisa. caso As células bucais podem ser obtidas, para isolamento de DNA,
seja necessário localizar o depositante. pela utilização de escovas especiais e swabs, para esfoliar as
Dessa forma, amostras armazenadas anonimamente podem células bucais. ou lavagemda boca.Ainda que haja poucosestudos
ser utilizadas para outros propósitos que a intenção original. sistemáticos que comparem os vários métodos paracoletar células
Nas anonimizadas. as técnicas de torná-Ias anônimas devem bucais cm termos de rendimento de DNA, um crescente con-
ser padronizadas. de modo a assegurar sua efetividade. senso sugere que o uso de lavagem bucal acarreta maior ren-
dimento e D A de maior qualidade (excluindo a contaminação
bacteriana), que outros métodos de colcta, O uso de álcool etílico
COLETADAS AMOSTRAS na lavagem bucal tem sido proposto como meio ideal de co-
o DNA pode ser extraído de quase todos os tecidos c fluidos lera para prevenir o crescimento bacteriano em swabs, dado o
corporais.O sangueé usualmente o material biológico dc escolha. fato que possui propriedades bacteriostáticas, Alternativamente.
pois costuma estar disponível em estudos clínicos e epide- foi proposto O uso de escovasespeciais, seguido por expectoração
miológicos. Além disso, protocolos de cxtração de DNA bem do fluido que é coleiado como manchas em cartões Guthrie,
estabelecidos e com bom rendimento estão disponíveis. O DNA é colerado de células bucais numa média de SOllg. Assim,
As amostras de DN/\ são quase sempre extraídas de sangue milhares de genoupagens podem ser feitas de um espécime bucal.
total preservado.como manchas de sangue seco, de sangue total As células bucais têm como vantagens serem obtidas por uma
recém-coletado, de linfócitos imortalizados extraídos do san- coleia fácil e não-invasiva e ser fácil o envio da amostra por
gue total ou linfócitos separados por gradientes. de células do correio. Como desvantagens. há produção pequena de DNA;
epitélio bucal. de material incluído em blocos de parafina, uti- por isso, quase nunca é usado para amplificação de todo genoma.
lizados na análise anatomopatológica, de células e de tecidos A produção de DNA é altamente variável e deve-se ter cuidado
em cultura. Instruções detalhadas devem ser fornecidas por com a contaminação bacteriana. O rendimento de DNA dimi-
protocolos escritos. qualquer que seja ii técnica de coleta. nui com O tempo de armazenamento,para uma quantidademediana
Coletasem condições assépticas também são essenciais. Amos- de pelo menos 32pg, se guardados por até 5 dias, que declina a
trasdediferentes grupos de estudos, incluindo controles, devem 211lgaos30 dias. Taxasde sucessoda reação de PCR sãosuperiores
ser coletudus e tratadas do mesmo modo. particularmente se a 94% e DNA de alto peso molecular é encontrado em prati-
o estudo se estender por um longo período. camente todas as amostras.
As manchas sangüíneas em cartões Guthrie tratados com
compostos bactericidas e inibidores de nucleases são fonte ARMAlENAMENTO E
estável e barata de DNA, útil para estudos de associação por
genoripagern de polimorfismos e estudos para determinação
PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS
das freqüências gênicas em uma população. As vantagens são O armazenamento do D A em pelo menos dois locais distintos
pequenotamanho da amostra, facilidades de coleta e de enviar é importante para evitar perdas acidentais. O biobanco deve
a amostra (inclusive por correio), armazenamento estável e manter um manual de procedimentos. Essa prática não visa
de baixo custo. O rendimento de DNA é de 12 a 42ng/llL em apenas a assegurar o controle de qualidade. mas também pode
adultose 43 a 7RnghtL em recém-nascidos. Uma mancha média ser útil na abordagem de conflitos éticos. As amostras devem ser
tem 50 a 75ng/~tl de sangue. A genotipagern, em geral, requer guardadas em local seguro e codificadas. Um sistema de geren-
10ng DN/\/genótipo e. com a tecnologia corrente. 2.Sng por ciarnento do inventório deve ser criado. O número de pessoas
SNP; assim, centenas de características genotípicas podem ser com acesso à identidade do depositante deve Ser restrito ao
analisadasem uma única mancha sangüínca. Corno desvanta- mínimo. Deve haver regulamentos internos quanto ao uso de
gens. o baixo rendimento de DNA pode não ser conveniente amostras por terceiros. Os termos de consentimento informado
para todas as amplificações de cjadas, os amplicons obtidos para diagnóstico c pesquisa devem ser mantidos em arquivos
são os menores e não são fontes renováveis. até a destruição da amostra. O American College of Medical
As amostrasprovenientes de sangue lotai podem ser o sangue Genetics recomenda alguns pontos que devem ser especificados
total direto (sangue coagulado ou anticoagulado) e a camada no registro das amostras. incluindo a duração do armazenamento
leucocitária. Como vantagens. é um armazenamento de relativo e a possibilidade de utilização da amostra para pesquisa anô-
76 • Tratado de Clínica Médica

nima, dentre outros. os termos de consentimento pode constar Quanto ao RNA, fluidos em geral. incluindo sangue, devem
a opção sobre o tempo de armazenamento da amostra. conheci- ser colocados em gclo imediatamente após a coleta. ORNA
mento dos resultados. etc. deve ser extraído ou pelo menos deve haver lise dos eritrócitos,
Alguns bons procedimentos para o ótirno armazenamento de cm cerca de I h. As rrações celulares podem ser armazenadas
sangue e outras amostras biológicas foram relatados. Os cuida- a -20 ou -80°C por, pelo menos, I ano. Já o armazenamento
dos com a degradaçãoda amostra são muito importantes. O DNA de tecido sólido deve ser feito a -80°C, quando o RNA estará
é componente estável nas amostras biológicas, incluindo san- estável por, pelo menos, 2 anos. Quanto ao RNA extraído, seu
gue, células esfoliadas e outros tecidos. A estabilidade do DNA armazenamento corno precipitado em etanol, a -80°C, torna-o
permite que sangue coagulado. de cartões de Guthrie. seja reti- estável indefinidamente.
rado e analisado de fluidos secos. ou até. por exemplo. de sangue
seco em roupas, como é Ireqüememerue O caso de investigações
51TES INDICADOS
hllp:llwww.ddbj.nij.oc.jp (DNA Da", Bunk 01'Japan).
forenses. Em contraste, o R A é particularmente sensível à hllp:llwww.~bi.ac.uklcrnbl (EMIlL Noclcorfdc Sequence Database).
degradação por RNasc, que são abundantes e ubiqüistas. A fonte http://www. ncbi,nlm.nih.gov (Gcnêun k).
mais comum de RNasc é a pele. Por conseguinte, luvas devem
serusadassempre.A integridadedo RNA é asseguradapelo manuseio BIBLIOGRAFIA
das amostras, de modo a tornar o processo livre de RNase, pro- ACMO STATEMENT. Statemeot on siorage and use 01' genetic marerials.American College
01' Medical Geneucs Sr0132e 01'Geneucs Materiais Commiuec.Ar», J. /iI/III. Genet..
tefnas muito estáveis que funcionam sem co-farorcs; pode-se. v. 57. p. 1499·1500. 1995~
incl us ive. adicionar inibidores da RNaseà amostra. Sempredevem AMERICAN SOCIETY OF HUMAN GENETICS.,\d H()(:Commiue on DNA Technology,
serutilizados tubosplásticosestéreise hidrofóbicos, que nãotenham DNA banking nnd DNA analysis: poinrs 10 consider, Am. J. HI/m. Genet., v. 42.j).
781.783,1988
sido manipulados por mãos sem luvas e que, preferencialmente, AMERICAN SOCIETY or HUMAN GENETlCS. Starcmcnr on informcd CODSCOl for
lenham sido tratados de modo li eliminar R ase. geneiic rcscarch. Am. J. HI/III. Gtnf/.. v, 59. p. 471-474. 1996.
Os processos de crioprcservação têm papel fundamental a A\NAS. G. J. Privacy rules for D:-:A dntaoonk s. JAMA. 1'. 270, p. 2346·2350, 1993.
desempenhar no desenvolvimento de procedimentos de arma- BRASIL. Lei n. 8974. 5 jan, 1995. Normas para o uso de técnicas de engenharia genética
e liberação no meio umbicntc de organismos genericamente modificados. Diâri«
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biomedical research: Technical, socialand eihical issues. EI/r. J, Hum. Genet.. v. II,
O DNA é urna rnacrornolécula relativamente estável c Sua ,uppl. 2. v. S8·SI0. 2003.
extração do sangue é possível mesmo quando o sangue é arma- GODARD. a. SCHMIDTKE, J.: CASStMAN. J. J.: AYME, S. Dml1srornge and DNA
I.cnada à temperatura ambiente ou refrigerado (2 a SOC)por banking for biornedical research: informed conscnr confidentlalhy, quality issues,
ownership, rcturn of'benefits. A professional perspective. EIII: J. NIIIII. Genet .. v. II.
até R dias; o rendimento. em relação à obtenção do DNA. suppl, 2. p. 5&8·S 122. 20()J.
reduz-se com armazenamentos por tempo superior. O sangue GOLD. R. L.: LEBEL. R. R.: MEARNS. E. A.; OWORKlN. R. H.: HADRO, 1'.: BURNS.
não deve ser armazenado congelado. a não ser quando não J. K. Model consent forms for DNA linkage analyviv and storage. A/II. ./. Med. Genet.,
1'.47. p, t224-1224. 1993.
haja opção. É preferível o congelamento do tampão de leucócitos CiOIVIMA. A. H.: roX. K. M. The EUROI'A triat: design, basclinc dcmography and lhe
em vez do sangue total. O armazenamento do sangue à tem- status 01' lhe substudics. Cardiovasc. OrugsTher.. v. 15. p. t 69· J 79, 200 I.
peratura ambiente deve ser considerado apenas quando o DNA HANAOKi\. '1'.: TAKAI. O.: TAKAHASHI. K.: TSUGANE. S. Chip ligating human gcoomíc
DNA serves as ssorage material and template for polymerase chain reaction. BiO/edll,ol.
for extraído cm até 24h após a coleta. Para outros fluidos 1,1'11•• v. 25. p, 509·512. 200l
que não sangue e medula óssea. o armazenamento à tempe- IIANNtNG. v. L.: CLAYTON. E. W.: EDWARDS. K. M. \Vbose DNA is ir anywny?
ratura ambiente por mais de Ih não é recomendável. Alise Relationships between families and rcscarchcrs. Am. J. /iI/III. Genet., v. 47. p. 257-
260. 199:1.
de eritrócitos. que ocorre quando amostras de sangue total HARI'ER, P. S. Research sample» Irom [amilics wirh gcuerie diseases: a proposcd code of
são congeladas e descongeladas. libera O grupurnento herne, conduct. BMJ. v. 306. p. 1391·t394. 199~.
conhecido inibidor da amplificação por PCR. Desse modo. o HOLLAND. N. T.; SMlTH . .\I1.T.:ESKENAZI, B.: tlASTAKt, M. Biologic-alsrunplccolleclion
and processing for molecular epidcmiological siudies. MII/. Res.,v. 543. p. 217·234,
ideal é que o sangue seja processado. isolando-se as células 2003.
mononucleares. Esses espécimes são estáveis por, pelo me- GENERAL CONFERENCE OF UNESCO. lntcrnational dcclaration 00 human genetic
nos, I ano a -20°C e por muito mais tempo a -70°C. datu, ln: 32'" Scssion, Oct, 2003.
JOl.Y. Y.: KNOPPERS. B. M.: NGUYEN. M. T. Srored tissue samples: rhrough lhe
Após li exrração. o DNA isolado pode ser armazenado a 4°C coníidentiality mazc, Phnrmecogmomics I., v, 5. p. 2·5. 2005.
por até seis meses. a -20°C por até um ano, a -80°C por vários JUNG. M.: KLOTZEK. 5.: LE\VANDO\VSKJ. M.: FLEISCHHACKER. M.: JUNG, K. ce
anos. apesar de o armazenamento de ácidos nucléicos por anos Changes in conccmrauon 01'ONA in serum andplasma during srorngeofblood samples. ~
C/i/J. Chem., v. 49, p. 10'28·1029,2003. '"
poder aíetar sua integridade. Deve-se lembrar que as técnicas KNOPPERS. B. 1'.1.: LARERGE. C. DNA ,ampling aud informed consent. CMAJ. v. 140. ..
de purificação de D A, em certos aspectos, são imperfeitas. p. 1023·1028. 1989. v,
A maioria dos contaminantes, incluindo as nucleases, é remo- MCE\VEN. J. E.: REILLY. p, R.A rcvicw cf state Icg.I~lnlionou DNA forensic data banking. ~
vida, mas obviamente. mesmo a presença de quantidades ín-
Am. J. Hum. Genet., v. 54. p. 941·958. t994. X
MCEWEN. J. E.: REJI.l.Y. P. R. Storcd GUlhric card- a, DNA "banks", AfII . .I. Hum. Ge/JtI.,
fimas de nucleascs pode ler efeito deletério na qualidade do \'.55. p. 196·200. 1994.
DNA. O lampão Tris-EDTA ou o etanol é O solvente de escolha MEDtCAL RESEARCH COUNCIL. II'I/Ium 1isSIICand Biological Samplesfor Use in
Rfulfrcll: Opera/ioJlalalld [,!rkal GI/íde/i/Ju. London: M RC, 200 I.
para a lIrmazcnagem ue DNA por longos períodos, pois, dentre MESLlN. E. C.: QUAID, K. A. Erhical issues in lhe colleclion. sloragc, and research use
oulrlls vantagens, protege contra a ação das nucleases, con- of human biological materiais. J. Lab. Clin. Med .. v. 144. p. 229-234. 2004.
servando as amostras. se armazenadas a -80°C. por incontáveis NATIONAL BIO~"'HICS ADVISORY COMMISSION (NHAC). ReJea/~frIJlvolviJl[lNUIIJUl'
8iolollical Mmerials: e/frical issllesa"d polir)' /:lIidallu. Rockvillc, 1999.
ano!>.O DNA está protegido da ação das nucleases em tempe- NEDERHAND. R. J.: OROOG. $.; KLUFT. C.; SIMOONS. M. L.: DEMAAT. M. P. M.
rlllUra~"bajxo de O°C; na~soluções que descongelam, porém, as Logislic$ and quality control 1'0"DNA s>lmpling in la'lle mulricenlcl' studill.l../. TI'rumb.
nucleases podem agir, mesmo na presença de EDTA. Portamo, l1"elllo.,' .. \'. L p. 987·991. 2003.
REILLY. P. R. DNA banking. Am. J. IIlIm. G'·/Jt/ .. \. 51. p. 1169-1170. 1992.
é aconselhável evitar ciclos repetidos de congelamento/descon- ROSS. L. F. Disclosing miS3uriburcd palcrnily. 8iolhit-s. v. 10. p. I t4· I30. 1996.
gelamenlo. o que pode ser evitado aliquotando-se as amostras. SCHECK, B. DNA d:lfa b:mking:a c:lUlionllry mlc. Am. J. Hum. Gmer .• v. 54, p. 93t·933,
.lá () arrnazenarncrtlo de tecido sólido à temperatura ambiente 1994 .
STEINHERG. K. K.: S;\NDERLlN. K. C.: OU, C. Y.: tIANNON. W. H.: MCQUfLLAN,
ou refrigerado, para posterior extração do DNA, não é recomen- G. M.: SAMPSpN. E. J. DNA banking in cpidcrniologic sludies. Epidemiol.Rev..
dado. No primeiro caso, li amostra é viável por 5min no máximo v. 1'./.p. 156·162. t997.
e no segundo. por no máximo 1h, pela presença maciça de endo- STEINBÜRG. K.: BECKM.J.: NICKERSON. D.; GARCIA·CLOSAS. M.: GALLAGHER.
M.; CAGG .."NA. M. el aI. DNA bankiog for cpidcmiologic Sludics: 3 revic\Vof currelll
nucleases. O armazenamento nessas condições é ideal para a
pracliccs. Epidemiolog)'.". 13. p. 246·254. 2002.
degradação do DNA. Já a -20°C a amostra é viável por, pelo WINICKOFF. D. E.: WINICKorF. R. N. TI1C charilablc IruSI as a modet for gcnomic
menos, duas semanas e a -80°C por. pelo menos. dois anos. biobaoks. N. E/Jg/. J. Meti .. V. 349. p. 1180·11 M. 2003.
Pesquisa Clínica • 77

da Occuputional Sufety and Health Adminivtraticn. do National


CAPíTUlO 11 lnstitutcs 01' Hcalth ou do Ministério da Saúde do Brasil.
Deve haver ob ervância estrita aos protocolo v. Os procedi-
mentos devem obedecer aos planos de controle de qualidade
e de garantia de qualidade. refletidos pelos padrões das boas

Organização de Sorotecas práticas de laboratório. Erros laboruroriais acontecem e podem


ser evitados desde que sejam implementadas medidas de qualidade.
Considere-se o que ocorre em bancos de sangue. por exemplo.
Nos Estados Unido. a taxa de erro em restes sorolõgicos é de
Sérgio Paulo Bydlowski 0.05%, que pode ser resultado de erros humanos ou prove-
Nanci Alve Salle nientes do teste utilizado, A conseqüência de um erro nos testes
sorolõgicos para banco de sangue (uma bolsa infectada) depende
Dalton de Alencar Fischer Chamone não somente da taxa de erro do laboratório. mas também da
prevalência do agente na população de doadores. A procura
de doadores de baixo ri coo a sim como doadores de repetição.
INTRODUçAO contribui para diminuir O erro laboratorial. ()~btados Unidos.
a maioria dos cavos de rran missüo de um agente infeccioso
Pode-se eomparur ti -oroieca li uma biblioteca cm que as amostras
por transfusão sangüfnea é causada por mureriul proveniente
são caratogadas e armazenadas de modo a facilitar sua loca- de doadores. que provavelmente estavam nujunelu imunolõgica,
lização.
e não por erro laboratorial. No entanto. muitas veles isso é de
Corno em todas as áreas. novos conheci mentes e apreciação
diffci I comprovação.
da ferramentas biológicas e bioquímicas cm constante descn-
Deve-se lembrar que são importantes os cuidado de segu-
volvirncnto devem ser incorporados aos desenhos c procedi-
rança quando se manipulam materiai biológicos e o soro não é
mentes c. tudados. Assim. determinados euidados devem ser
exceção, Os tecidos humanos são potencialmente infeccioso
tornados desde a coleta até ti preparação. preservação e arma-
e testes detalhados para certos perfis parogênico não são feito.
zenamento de soros.
de modo geral. a menos que sejam parte do estudo. como HIV.
O biomarcador de interesse deve ser avaliado em um estudo-
hepatite. ou outra doença tran missível.
piloto para se conhecer suas características em relação ti todas
as etapas do processo, da cólera ao armazenamento do soro.
Por exemplo. em um estudo do biomarcador ele câncer ova- COUTA
riano OVX I. vãrios parâmetros. incluindo separação imc-
Pura li colctu dc urnostrus. além da, cxigênciu» rclutivus ao
diaia do soro. temperatura e tempo de arrnazcnumenro antes
convem i rncnio p<h.in formação. vário-, proccd imeul o~ c dera-
do processamento. afetaram os nfvcis desse marcador: mov-
trou-se que a~ amostra- deveriam ser colcradav cm tubos con- lhes devem ser observados. A In·.truCille~devem ~er claras.
tendo EDTA e não heparina, que o soro deveria ser separado incluindo tempo da cólera. informaçõc-, sobre IJ necessidade
imediatamente c que as amostras deveriam ver urrna/enadas a de jejum. volumes requerido. número de alíquotas. caracte-
4°C. Sem e"c, restes preliminares. que determinaram as vá- rfsticas dos tubos e recipientes que devem ser usados e, até
ria características desde a coleta até o armazenamento. a análise mesmo. tamanho da agulha para venopunção. As instruções
desse biomarcador estaria. obviamente. comprometida. são reforçadas pelo fornecimento de protocolos escritos.
Vário!>cuidados devem ser observados para que o protocolo O jejum prévio de 12h é neces ãrio para várias determina-
de estudo tenha o desenho adequado. A concentração do bio- ções. como ghcernia ou trigliceridemia.
marcador pode exibir um ciclo, variando de minuto a minuto É importante a estabilidade das amostras de soro. que é
~u a cada hora. Como exemplo, têm-se a variações hormonais. influenciada por vários fatores. Antes de se iniciar a realiza-
As vezes. cóleras múltiplas são necessárias para se estabelecer ção de um teste é fundamental observar ...e este permite a uti-
a verdadeiras oscilações metabólicas ou para determinar as lização de umosrras congeladas. poís pode ocorrer desvio nos
potenciai relações causais. Por exemplo. nívcl-, de mercúrio resultados. nu dependência de se trabalhar com amostras frescas
em rnulherev ames e durante a gravidez podem ser mais infor- ou congeladas, O tubo apropriado deve ser usado para cada >::
mativov sobre a cxpovição do embrião ao mercúrio do que tipo de material que e deseja guardar: tubo seco para a obten- ~
amostra, cotciada-, da' mães somente apõs o pano. Um outro ção de soro ou com anticoagulante para a obtenção de plasma. ":'
exemplo: o efeito da doença pré-clínicu nos nfvcis de biomarca- O tubo deve e rar identificado de forma adequada, assim ~
doresé um u_"unto em aberto. especialmente para aqueles medidos como as alfquotas obtidas durante a separação do material. ~
durante pequeno perfodo antes do desencadeamento da doença. com material que não se desprenda do tubo na dependência
Se a amostra for colctada durante o período de desencadeamento da temperatura.
da doença. mas antes das manifestações clínica. M chance de O anticoagulante utilizado é outro furor a ser considerado.
que alguns parâmetros biológicos medidos possam ser resultado Enquanto certos anticoagulantes são melhores ou até neces-
dadocnçaper se. e não um valor preditivo des a doença. Amo Iras sários para um propô ito analítico. outros podem ser contra-
coletadas bem antes do desencadeamento da doença poderiam er indicados. Por exemplo. a cólera de sangue total em qualquer
mais informativa e mais bem associadas com a causa da doença. tipo de anticoagulante pode causar redução da produção de
O. seguinte itens devem ser levados em convideração para a ciiocina in vitro. com conseqüente elevação. artificial, de suas
organiznçâo da sua sorotcca: treinamento de pcsvoal, cólera. concentrações.
arma/cnamcnto e vrstcmav de registro. Sangue coletado em tubos. contendo anticoagulante. deve
ser misturado por inversão por vária, vezes. vem li formação
de espuma. t: comum que. upõ a coleta de sangue. tubos coletados
TREINA.ENTI DE PESSOAL com anticougularues sejam deixados cm temperatura ambiente
O pessoal cnvolv ido deve ser (reinado no manuseio de amostra por flt6 30 a 90min ante da centrirugução. As IllTIostrosdevem
biológic.:a~.Existem vários regulamentos e guias para o ma nu cio ser ccntrifugadas por 10min por no mlnimo 1.5008. O soro,
de tecido~ humuno~ e nuidos corporais na pesqui a. como os após ser obtido. deve ser colocado em outro tubo identificado
78 • Tratado de (linica Médica

em 2h apõs a colora e a -80°C em até 4h após a coleta. Em pcrutura apropriada. Esta depende do biomarcador de interesse.
algumas determinações. o ideal é que os tubos sejam coloca- O soro (e também o plasma) contém grande número de moléculas
("I dos no escuro para não influenciar a~ concentrações. como é solúveis e muitas requerem temperatura muito baixa (-80°C)
O o caso da bilirrubina. para permanecerem intacta ....Por exemplo. se o biomarcador
1« A estabilidade do biomurcador também é importante. pois for muito láhil. como as citocinas. e a!'>amostras não forem
t.r
LLl muitos são l(lbe" e ncccsxitarn de agentes cstabilizantes para anali ...adas imcdiatumcntc. devem ver congeladas a -80°C. e
C/)
sua preservação. Por exemplo. os ácidos etilenodiaminotetra- proccs ..os de congelamento/descongelamento repetidos devem
cérico c ascórbico vão agentes e...tabilizadores para o folato ser evitados. O mesmo seaplica a antioxidantes (ácidos ascórbico
no sangue e devem <er adicionados rapidamente após a coleta e úrico. n-rocoferol) e outro!'>compostos. como folato e vita-
de sangue para assegurar a qualidade da análise. Outro exem- mina B IZ' Já outras molécula....como imunoglobulinas plasmáticas,
plo é o ácido rnetafosférico ou a glutationa reduzida, usado!'> são mais estáveis, podendo permanecer em temperatura am-
para preservar o ricido uscórbico. biente por alguns dias.
O tempo entre a colcta de sangue e a obtenção do soro Deve-se sempre. na plani lha de armazenamento. anotar cada 00

também pode ser fundamental. dependendo do biomarcador. ve» que a amostra for descongelada. Deve-se manter a segurança ~
Por exemplo. para análise de citocinus. as células devem ser de armazenamento. monirorando a temperatura dos equipa- ';:
imcdiutumerue separadas do ~01'C) após a coleta de sangue, pois mentes por meio de aparelhos aferidos e por alarmes sonoros. ~
a demora nesse procedimento pode aferar os resultados. tomar cuidados estritos no processo de descongelamento da ~
A degradação cn/ i111111 ica rode afctar muitos biomarcadorcs amostra e assegurnr que não ocorra contaminação das amos-
bioquímicos. I\~ proteínas são sensíveis à degradação por tras quando forem descongeladas.
protcascs. cspccinlmcntc se a integridade celular tiver sido
comprometida 110 proccvso, As proteína, podem ser preserva-
d a , por adição de inibidores de protcnscs à amostra. como SISTEMA DE REGISTRO DA SOROTEeA
aprotinina, pcpstatina ou lcupcptinu, imediatamente após a colcta. O arquivo das amostras de soro é o principal documento na ro-
Quanto mais rapidamente as amostrassão processadas.melhor tina de laboratório ou pesquisa. Dessa forma, a sua organização
será a qualidade dos componentes de interesse que serão ex- facilita o acesso e a confiabilidadc do processo. É importante
traídos.A amoxtru original pode ser dividida cm diversas alíquotas. que exista 11111 registro de fácil acesso para que a soroteca possa
apropriadav para propósirov diferentes. o que pode significar realmente ser utilizuda de modo adequado e eficiente. O re-
adição de diferentes substâncias ou diferentes condições de gi:.tro pode ser feito de forma manual por meio de planilhas.
urma/enamemo. ma~ o desenvolvimento dc programa, eletrônicos de geren-
ciumento de dado!'>para controle do armazenamento permite
ARMAZENAMENTO a automação e torna o processo de registro mais ágil e seguro.
preven indo o erro da operação.
O armazenamento adequado de soro (ou plasma), obtido dos O programa para O controle de dados da soroicca deve conter
doadores de sangue e de rotina de laboratórios, é de suma informações como identificações da amostra e da alíquota,
importância. inclusive para a revisão dos resultados finais. quant idade de alfquotas. número de vezes que a amostra ou
no rasrrcamcnto crn proce ...sos como a doação de sangue e alíquora Foi descongelada, nome do responsável pelo arrnaze-
na posterior uuliznção puru novas análises ou pesquisa. Mai uarnento. data e hora da inclusão da amostra na soroteca, local
especificamente no cavo de bancos de sangue no Brasil. a de armazenamento nnfreeZl'r, data e hora de eventuais descon-
RDC n" 15.1 dc 14/0(J/04, do Ministério da Saúde. determina gelamcntos/rccongclamcnros. tipo de material biológico e DOme
que se ":1<;11 II voroiccu de todas as amostras de doadores de do investigador principal.
sangue triadus e que sejam armazenadas por um período mí- O programa clctrônico pode t'aci lmcntc gerar relatórios
nimo de seis meses paraaveriguaçãodo resultado obtido. Portanto. específicos que disponibilizar o encontro de uma amostra ou
o armazenamentodeve ser feito de maneira adequadapara garantir que mostrem detalhes COIIIO. por exemplo, quantas vezes deter-
a qualidade do material. pois a amostra de soro ou plasma minada amostra roi descongelada e por quem.
passa a ser um documento do laboratório. Código de barras permite a identidade preci a da amostra,
São materiais necessário', no armazenamento de soros numa inclu indo suas carucrcrfst icas e até in formações epidemioló-
soroteca: etiquetas para identificação das amostras e caixas gicas. Fundamentais informações relacionadas à manipulação
pnípria ...para temperatura- baixas: criotubos ou rnicroplacas de amostras com ênfase na formação de um banco de soros
para armazenar as amostra'; caixas adequadas para armaze- podem ser encontrada!'> nos sites da International Society for
namento dos criotubos ou microplacus: caixas ou gavetas com Biological and Envirornental Rcpositories e do National ln tirutes
capacidade paraarma/enar a caixas dos criorubos ou microplacas. of Health.
Freezer com ,"tema de registro de temperatura e um isterna
de alarmes ópuco e auditivo. bem como câmara fria com sis- 51TES INDICADOS
tema de registro de temperatura e também com um sistema de hllp://\\ \\" l\bcr.ofl! (lnternauonal Socltl~ for Blotogic:.t "00 En\ Ifonmenlal Repositories
alarrncv óptico e auditivo são ideais, Todos os materiais devem ISIIER,.
\cr te\tados quanto à re,i\tência à baixa temperatura. hIlJl:/I\\\\ \\.nlcbs.mh.l!o\'/odh,blOIJnuJlIhomc.hlmt tNallonal ln,titule o( Heahh. Heahh
and Safel~ ~Ianuat. ch~plcr 1,
A temperatura de urma/enamento está relacionada com o
hul'://w\\ ".nih·~a\lodIoNd"ill"cx.hlml (N3UonatlnslIlUle a( Heahh Office o( Research
tempo que a amostra deve \er conservada. com o agente biológico Ser\'iccs. 01\1'1(10 o( SJlCly'.
pesquil>udo e o que ~er:í dctectado. De modo geral. a tempe- hllp:l/www.o\ha.~o\ «()ccup:JlIonnt Safely nOOHe:lIlhAdOlinhlrllUOI1 Regutauons "29 CFR,
ratura deve ._cr inrerior a -20°C. 1'arl l'IIU.IO.lU"I.
A tel11reratura pode aretar a estabi Iidl1deda amostra de dUôlS
maneiras: durante o tempo entre a eoleta da amostra e seu BIBLIOGRAFIA
processamento e durantc o arlllal.enamento a curto ou longo URAStt.Resolução - ROC n t53.14 IUII. 2()1).1.I)clCnlUna o Regulamenlo Técnico p-1ru
~ procCdllflCIIIO\ hCtllOlerápICO\. Incluindu a coleln. o procesS3ll1enlO,
a Icsmgem. o
prazo. Por conseguinte. () (;()nlrole de temperatura entre a coleta annalcnnmcnlO. o IruJI'Jl<lrtc. o COI1II'ole de qualidade c o u,o hlll1111110
de sangue.
e o processamento nual da al1lOstraé essencial. Idealmente. o c ,",u' compol1cnles. obudo, dll ,angue venoso. do cardilo umbitical. da )ltncenla c da
soro devc ser separado logo após li coleta e colocado em tem- medula Ó"Cil. /)iII,.,,, (~/idll/ di' UllltiO. Brasília. 2()04.
Pesquisa Clínica • 79

BUSCH, MP •. WATA:\A8E. K K SMITII, J W.: IIF.RMANSF)\, li W,: TIIOMSON. O objetivo amplo do processo de desenvolvlmenro clínico
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IIIarticr <el'tcoing 01 blood donors.
de um novo fármaco é dcscobnr ve existe uma faixa de dose e
For lhe RCIrQ\IN, Fpt.kmool"l' Donor Sludy. TrIIll.r!usiQlI,1'.40. p. 585·589. 200().
COMSTOC'K, G M.. "OIIt..l.'S. E P .IIOFI'MAN. S, C.: XU. M. W.: HELZISOUER. K. um esquema para os quai ...se pos..a demonstrar que o fármaco
J, SIDb,IÍly 01 a~OIbt.: oICod. QRlIcno.ds. retinol, and locophcrols 10 plasma stored é si multaneamente seguro e eficaz, e se a relação risco-benefício
aI ·70'<: for J)~ c."azt«r I:pld~mlliJ.IJlOlllarkersPrev: I.~. p. 505·507. 1995, (incluindo o custo de tratamento) é aceitável. Também precisam
II1,NRIKSEN. o. M .• PEDERSE.'. \I. M.: NORGAARD. 1.: BLOM. ~1,: BLOlO. L.:
BLAARJERG. O .• ULDAlJ._A Mílllmally processed fresh frozen hum ao reference ser definidos os pacientes que serão beneficiados com o uso
5Cra prcp;u1lllon.IOIu'8- md appIicauon 10 imernm i<llwlexterna] (Idalll)' ll"urnnc:c. do fármaco e as uas indicações e pecíficas.
SC/lnd.J Clm ÚIb. IInal" 64. p. 293·308,2004, Para sau fazer esse objetivo amplo é. em geral. necessário
HOGOALL, E. V: IIOGOAlJ._ C K • KJAER. S, K,: XU. f',: YLJ. Y.: RAST. R (' tI al.
OVX 1radioimmdJlOll~"') 1'C.... lh are dependem on lhe mcthod of sample coüecnon um programa organizado de ensaiosclfnicos, cada um deles
and Slorngc. CIIII. Ch".... I 45. p. 692·694. 19')9, com objctivo claros e bem dcrerminados. Isso deve ser esta-
HOl.LM'D.N T..SMrTll." T .1:..'iKlNAkI. 8 .. BASTAKI, M, UI()lo~IC~I ...
,onplct~lIlffiion belecido em um plano clínico. ou em uma série de planos, com
nndpro;;cI"n~ for rnolceut.., CptdronKlloj:lCDI ,'udle" MII'III, /((1,. I. S~3. p. 211. pontos de decisão e flexibilidade adequados para permitir
2.11.2OO3
tlOllSI:.. R V C)loI.IOC rnta,umn<'nllcehnlljUC\ fOfa,-\C."ins hypcrsen,ilívlI), Toricol~\. modlficuçõcs conforme 0\ conhccimemos se acumularem,
I 15 • P ~1·~II. 20tll O processo de descuvolvimcnto clínico pode ser entendido
IIUNThR. I) J ~~':lll'~ ln ~ "",O(btoIOS~1 murkcrs in cIUICCrCIM«II1KIIot» como ti criuçâo dc UIII grande banco de dado sobre o fármaco
cohor! lIudlrl In'TO'IIOI 0, P. BOFFETl'A, P.:SIIUKIlR, I), li.O : ROTIIMAN.
N , ITU t..A. 8 .• PEARCF \ (edv.) A,I"lirm/,m ti! lIillllJtll'k"fI III (',.. rer que permita obter respostas que levem 00 uso racional do novo
I.plllt"'""'~\ L)oo: IARC Sc:ll!nUrlC Publicalion,. 1997, p, J9·4(J, rncdicamento.
K~RKAY. J • COBUR:-I. C ~I .. MCIiVOY. O I:.lTccI lIr ,cxliulII nscorharc CCllccmrallOO Para a indústria farmacêutica. hoje. o grande desalio adv611'1
!ln lhe Slatolhl) o( wnplcs for delcnnlnauon Df ",rum Iolntc lcvel« /1111J. C/m
PuI/tQI.. I. 68. p. -'81-184. 1911 da explosiva expansão do conhecimento científico e dos avanços
MINISTÉRIO DA SAÚDE 00 8RASIL J)'ll'In~tt Gerou IHJfIl o l'rabllJ/IIJ fm COnltn· na tecnologia que proporcionaram crescente número de ino-
roo t_ ."rumal BH>lIk(,CO. Moni>l~riod2 S3Ilde do 81l1<il,20().j. Oi'punCvd cm: vações marcantes na terapêutica clínica nos últimos 50 anos,
hnp:II .... ~ SJUde~ bdb" o. quais coruinuam a exigir. cada vez mais. a busca da ino-
vação por parte dcs a indú iria. ou seja, de novos avanços
com mais rápida disponibilidade desses novos agentes às popu-
lações de pacientes. A necessidade da rápida comprovação dos
CAPiTULO 12 reais benefícios da nova terapêutica em relação aos riscos e
eu CU:>IO - sempre mais elevados - induz 11realização de maior
número e mais soflsricados ensaio .. cHnicos na etapa do de-

Desenvolvimento Clínico scnvolvimcnto clínieo.


Pode-se definir o que M! emende por en..aio clfnlco como
"qualquer forma de experimento planejado envolvendo pacientes
e projetado pura elucidar ti mui .. adequado tratamento para

de Fármacos futures pacientes com urna dada condição médica'". /\ prin-


cipal caracterfsticu. talvez u de maior importância, do ensaio
cllnico é uquclu de que. com base no resultado obtido em uma
pequena amostra de pacientes. infere-se acerca de como O tra-
Mareio Falei tamento deverá er conduzido na população de pacientes com
a duda condição médica que urilizará esse tratamento no fu-
turo, Obviamente. os ensaio realizados em animais não se
PIPElII EIUlI cllIICI .1 enquadram nessa definição e aqueles feitos em voluntários
III'IÇAI nWI.TICI sadios estão dentro de um limite impreciso. uma vez que pro-
porcionurn somente evidência indiretas dos efeitos de fármacos
Introduçio nos pacientes.

Toda pesquisa deve er motivada por uma curiosidade e esta


gera uma questão. O ensaio clínico é o instrumento pelo
HIst6rlco
qual se busca responder a essa questão quando estão en- A tentativa de estabelecer uma avaliação quanto ao uso de
volvidos indivíduo e moléstias. Sua realização ocorre em procedimentos terapêuticos vem de longa data, Em 1753, Lind!
indivíduos doentes, partindo-se do pressuposto de que o re- talvez renha realizado o ensaio que antecipou li metodologia
sultado do ensaio lroro benefícios paro o paciente ou uma classe atualmente empregada ao planejar um ensaio comparativo para
de pacientes ou servirá para aumentar uma massa de conhe- avaliar tratamentos para o e corbuto, Louis', cm 1834, pro-
cimentos científicos que beneficiará toda li humanidade. pôs 0<' Iundarncntos para a utilização do método numérico para
Todo O trabalho de criação e desenvolvimento de um novo uces ar o valor das terapêuticas. Estabeleceu também concei-
medicamentoque busca provar que a relação risco-beneãcio da tolo como o de se realizar uma correta observação dos resul-
introdução do novo agente na terapêutica clínica para uma elas- tadosdos pacientes: de seconhecerde modo adequadoo progresso
e de pacientes é vantajosa em relação 11terapêutica j:i existellle. natuml dos paciemes não tnuado : de seestabelecer uma detinição
O proces '0 de inovação teropêutiea pum u criação de Uni 110VO precisa da moléstia a ser estudadu antel>do tralamento e de se
medicamento por pane da indústria farmacêlll ica divide-se em estabelecer observação cuidado~o do.. alleraçõcs na inlenção
Irê principais fa~e~denominadll~ el'tádi(l~ do dc:;cnvolvimenlo: do tratamento.
(I) pesquisa bá.,ica: (2) pre-deloenvolvill1cnlO: (3) desenvol- Sutlon} é lembrudo como aquele que. pela primeira vez,
vimento. No clIIádio de de..envolvimcllIo do novo medicmllel1lo. usou o plucebo em um en'llio c1rnico ao estudar porladores de
a etapa do dc'cnvolvimento clínICO é a de maior importância: febre reumática. tratundo-o1>com água de menla para poder
é a que rcquer maior inve"timento e também a de maior ri~co uvaliar ti evuluçào natural da molé1>lia.
I1nunceiro. o qual aumenta de modo desl)roporcionul com a Em 1915. Greenwood e Yule1 sugeriram que para haver grllpos
evolução do proce5!>o. É. portanto. a parte crhica do desen- comparáveis em tratamenlo nos ensaios clínicos deveria se
volvimento de um fármaco até sua inlroduç1ío efeliva na tera- utilizur ulguma forma randômica de ulocação de pacienles aos
pêutica clínica. IIUlumentos.
80 • Tratado de (IInica Médica

A Ferguson et a'. se deve a realização do primeiro estudo como suporte para registro dos produto no país. Essas normas
do tipo cego (simples cego). Ele ministrou. a um grupo de estabeleciam. eH1geral, que a FDA aceitaria os dados de estu-
pacientes. vacina contra o resfriado e ao outro, solução salina dos realizados no exterior se eles fossem bem desenhados,
sem que os pacientes soubessem o que estavam recebendo" bem conduzidos por pesquisadores qualificados e realizados
Em 1948 realizou-se aquele que é tido como o primeiro de acordo com os princípios éticos, sendo o principal requisito
ensaio clínico com grupo controle'. adequadamente randomizado a aderência ao padrões enunciados na Declaração de Helsin-
para avaliação de um fármaco: o da eficácia da e trcptomicina que versão 1975.
no tratamento da tuberculose pulmonar. Nesse ensaio avaliou- Em 23 de setembro de 1976 foi publicada a Lei nfl 6.360
se, por meio de alocação randômica, pacientes que receberam e, em 5 de janeiro de 1977. o Decreto n2 79.094, que a regu-
estreptornicina mais repouso no leito versus pacientes que re- lamentou e que dispõe sobre a realização de ensaios clínicos
ceberiam como terapêutica apenas o repouso no leito. A avaliação no Brasil.
das radiografias de tórax foi realizada por dois radiologistas Em 4 de março de 1977. coordenado por E. Carlini. patro-
independentes e por um clínico, os quais não tinham conhe- cinado pelo Ministério da Saúde. pela Associação Fundo de
cimento da avaliação feita pelos outros e tampouco do tra- Incentivo à Psicofarmacologia e pela Organização Pan-arne-
tamento administrado. Esse cn ·aio. pela sua organização e ricana da Saúde c organizado pela Escola Paulista de Medi-
condução, é considerado o pioneiro dos modernos ensaios cina e Sociedade Paulista para O De envolvimento da Medicina.
clínicos para avaliação de fármacos. realizou-se importante debate sobre "Pré-requisito para ava-
O primeiro ensaio controlado randornizado, duplo cego usando liação clínica de novas drogas", com a participação de farma-
placebo foi realizado em 1950 para avaliar se o uso de anti-hista- cologistas clínicos dos Estados Unidos, consultores da FDA.
mínicos no tratamento e prevenção do resfriado comum era Associação Médica Brasileira e Mundial. ABMAlF e Cen-
eficaz .. O resultado demonstrou a inexistência de benefício no trai de Medicamentos. O objetivo era dar suporte para que
uso dos anu-hisramínlcos'. nossas autoridades dedicas em maior atenção à realização
Após o desastre da talidornida no início da década de 1960, de ensaios clínicos no país".
as autoridades de saúde internacionais. em específico as ingle- A preocupação com a defasagem existente entre a evolução
sas e none-americanas, aumentaram as exigências para regis- das técnicas. os novos conhecimentos sobre medicamentos e
tro e autorização de comercialização de novos medicamentos. o avanço da terapêutica com relação ao preparo de profissio-
Em decorrência da Emenda Kefauver-Harris do Congresso Ame- nais de saúde aptos para estimular a prescrição racional de
ricano (Drug Amendments of 1962) tornou-se obrigatória a medicamentos c de uma terapêutica clínica alicerçada em bases
aprovação governamental prévia para li corncrciatização de um científicas adequada levou o governo brasileiro, por intermé-
novo fármaco e se estabeleceram novos requisitos para que a dio do M mistério da Educação e Cultura, da Secretaria de Ensino
comprovação da eficácia e a segurança fossem analisadas e apro- Superior, do Ministério da Saúde c do Ministério da Previdên-
vadas antes da liberação final do medicamento para venda", cia e Assistência Social, a realizarem importante seminário
A nova regulamentação estabelecia que. para obter a auto- sobre Farmacologia Clínica em Brastlía, em março de 1981,
rização de comercializar um novo fármaco. o patrocinador, a com o objetivo de levar até u comunidade acadêmica a análise ~
empresa solicitante. deveria apresemar e conduzir ensaios clínicos e o debate sobre a oportunidade de inclusão da Farmacologia fj
controlados c adequados, Clínica nos currfculos das profissões de saúde, de criar com ...
;;,:
A partir de 1969. a Food and Drug Adminisrration (FDA). os hospitais universitário as condições necessárias de Cen- ~
agência regulatória dos Estados Unidos, tornou obrigatória a rros de Farmacologia Clínica para estudo e pesquisa do uso x
realização de ensaios clínicos controlados comparativos contra de medicamentos, criação de laboratórios de farrnacocinética
placebo c rundornizados para demonstrar a eficácia e a segu- e realizar pesquisas farmacoclínicas com conotações com a
rança dos Iãrmacos antes de serem aprovados para comercialização'. indústria farmacêutica privada visando à realização de ensaios
No período compreendido entre 1960 e 1980. houveram o para registro de novos medicamentos".
desenvolvimento e II aprovação dc 1.498 novas moléculas dando Em 1988. o Conselho Nacional de Saúde aprovou, por meio
origem a inúmeros novos medicamentes". As empresas farma- da Resolução nQ O I de 13 de junho de 1988, as Normas de Pes-
cêuticas internacionais. pres ionadas pela competitividade e quisa em Saúde, cujo objctivo foi normalizar a pesquisa na área
buscando inclusão mais rápida de novos produtos nos mercados de saúde em relação às práticas em evolução no período. Em
mundiais. iniciaram ensaios clfnicos rnulticêntricos cm seus quinze capüulos. as normas relacionam os aspectos éticos da pesquisa
paíse» c incentivaram que ensaios pré-registro locai. e de pós- em seres humanos, estabelecem a noção de risco, a respon abi-
marketing, dentro dos preceitos estabelecidos pela FDA, fos- lidadc da instituição cm que a pe quisa é realizada, abordam e
sem conduzidos fora dos Estados Unido e Europa. definem o consentimento pés-informação, estabelecem critério
No Brasil criou-se a Associação Brasileira de Médicos Asses- para credenciamento de instituição de pesquisa e exigem !I apro-
sores de Indústria Farmacêutica (ABMAIF) em 1971, a qual se vação do protocolos para pesquisa pelo comitê de ética da ins-
constituiu em centro irradiador de conhecimentos e debates tituição. Estabelecem as regras para pesquisa em menores de idade
sobre pesquisa clínica. e de incentivo de atividade com nossa c em grupos de indivíduos sem condições de consentir. conscien-
universidade visando a incrementar a realização no país de en- temente. sua participação em ensaios clfnicos. Também regulam
saios terapêuticos dentro dos padrões aceitos internacionalmente. ;1 pesquisa farmacológica em humanos e estabelecem o estudos
Sob o título t'O ensaio terapêutico: problemas e sugestões". pré-clínicos necessários para garantir, de modo razoável, a segu-
José Natal Sartoreto publicou uma série de artigos em A Fo- rança do emprego do medicamento em seres humanos.
lha Médica. sobre H importância das amostras aleatórias, ci- Em 1993. as normas estabelecidas até aquela data pela FDA,
ências clínicas versus estatística, mensuração dos efeitos das lastreadus cm normas e procedimentos estabelecidos pelas in-
drogas, fases dos estudos clínicos. o protocolo do ensaio te- dústrias farmacêuticas de pesquisas, formaram um conjunto
rapêui ico, [estes de significância proporcionando conhecimentos de padrões. n~oclelose roteiros que se constituíram nas regulações
bã icos sobre pontos fundamentais que deveriam ser observa- e diretivas que constituem a denominada "Boas Práticas CH-
dos na realização de ensaios clínicos"!'. nicas" tGood Clinical Practicei. Nesse ano, e as normas de
Em abril de 1975, a FDA promulgou resolução aceitando "Boas Práticas Clínicas" foram reconhecidas e aceita pela
dados de ensaios clínicos realizados fora dos Estados Unidos Organização Mundial da Saúde.
Pesquisa Clínica 8 81

A criação da tmcrnuuonat Conference on Harmonization Estádio de Pré-desenvolvimento


por parte de autoridades governamentais da União Européia.
Japão I.! E~tado~ Unidos procurou e procura estabelecer pa- Nessa fase. a biologia. a partir do conhecimento advindo da
drões. oricntuçõc» c resoluções que. implcrncntudas por es- Academia ou de Centro de Pesquisas da Indústria, desenvolve
ses países. permitiriam a accitução mútua dos informes métodos (a maioria iII I'i/ro) para sclcção de moléculas candi-
rcgulatórios para registro por parte dos países purricipantes. datas e desenvolve modelos que mimetizem a patologia da
no que concerne aos dado clínicos de ensaios conduzidos moléstia no homem a partir dos mecanismos postulados. Os
nestes. Outros países como Canadá. Austrália e Paíscs Nór- químicos procuram integrar o emcndimcmo das relações e tru-
dico, c a Organização Mundial da Saúde participam tum- rurais dos compostos com a arividndc biológica, desenhando
bém do grupo e aceitaram as" ormus de Boa Prática Clínica" e süuctiznndo novas moléculas. Do trabalho conjunto de sín-
(GCP. Guldcline for Good Cllnical Practice) estabelecidas tese e sclcção nos modelos desenvolvidos separam-se as mo-
pela Conferência tripartite. A:. boa .. práticas clínica, propostas léculas puru futura avaliação cIínica.já se levando em con ideração
para a Comunidade Européia foram adotudus pelo. estados aquelas que melhor atendem às via de administração de eja-
membro, em 2001 e. em maio dcs ..e ano. foi instituídu por da. biodisponibilidade. cinética de tran. formação e estabili-
TireEnropean ClilliclIl Trials Oirective (2001/20EC). dade farmacêutica. Ao término dessa fase. deve estar disponível
As GCP ~ãllUIl1 padrão de qualidade ético lo! cicnufico para o conhecimento sobre identificação química. estado patentário.
desenhar, realizar. anotar e relatar c-rudes que envolvam a par- método de síntese para produção do fármaco e cxcqüibilidade
ticipnçâo de seres humanos. A aderência a esse padrão fornece de sua produção em escala, métodos anatüicos. estabilida-
li garantia pública de que os direitos. a segurança e () bem-estar de do fármaco, seu polirnorfismo e a possibilidade de aten-
dos participantes do estudo estão protegidos conforme os prin- der às necessidades de uso pela via de administração desejada.
cípios contidos na Declaração de Helsinque e ..uas modifica- Ação biológicu com sua potência iII vitro, seletividade de
çõe e que. ponanro. os dados do estudo clínico ..:lo confiãvcis II'. ução, potencial mutagênico, tolerabilidadc e cinética em uma
o Brasil, como conseqüência do crevcimcnto dos debates espécie animal. metabolismo iII vitro e atividade no modelo
envolvendo a Bioéiica e as pesquisas cm 'ere, humanov. o Conselho animal de doença c métodos analíticos para determinação
Nacional de Saúde. apõ-, abrangente trabalho de vuas cornis- plasmática completam a lista de dados necessários.
sões, estabeleceu a Resolução n' 196. de IOde outubro de 1996.
aprovando a' dirctrizes e normas regulamcntudorus de pesquisa
envolvendo vereshumanos 11. Como diz em seu preâmbulo. essa
Estádio de Desenvolvimento
resolução incorpora, sob a ética do indivíduo c das colerivi- Após nova análise de merendo c estudo da viabilidade finan-
dudcs, os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, ceira, decide-se pela cominuuçãn ou não do projeto, Essa rase
nâo-malcficência. beneficência e justiça. entre outros. e visa a envolve diversas subfnscs no processo de desenvolvimento que
assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunida- visa II transformar o princípio ativo no mcdrcamcmo que será
de científica. aos sujeitos da pesqui-,a e ao Estado. A resolução futuramente comercializado e que compreende a fase de desen-
abrange cm seus capítulos os aspecto ético, da pesquisa en- volvimento farmacêutico. incluindo a)o pesquisa relativas à
volvendo veres humano ... () consentimento livre e cvclarccido. matéria-prima c ao produto acabado, de desenvolvimento pré-
os ri cos e benefícios e sua análise na rcalivação dos projetes clínico e a fase de de envolvimento clfnico.
de pesqui ..a. cria os Comitês de Ética em Pesquiva (CEP). bem
como institui :1 Comi-são Nacional de (:tica cm Pesquisa do
Ministério da Saúde (CO:--lEP/MS), Por meio da Resolução n!? Desenvolvimento Farmacêutico
251 de 7 de agosto de 1997. o Conselho acional de Saúde" O desenvolvimento farmacêutico compreende vãrios períodos,
aprovou a~ normas de pesquisa envol vendo seres humanos para tais como: pré-formulação, formulação e preparo final do
li árcu temática de pesquisa com novos fármacos. mcdicamcn- medicamento para ensaio clfnieo. que prossegue com o scale III'
tos, vacinas c restes diagnósticos. de produção para preparo dos lotes comerciais do produto para
comercíulização.
Desenvolvimento de Novos fármacos O fármaco ruivo é transformado em medicamento pela asso-
x o moderno processo de pcsqui ..a e de. envolvimento de novo .. ciação a outras substâncias conhecidas como excipientes. A
~ fármacos c sun transformação em medicamentos incorpora tre!\ sclcção dos cxcipienres deve estar de acordo com as necessi-
":' principais e~tádil)\: ( I ) pesquisa básica: (2) pré-dexenv olvimcnto: dades de uso. conforme a via de administração e fazendo com
"~ (3) descuvolvimcnto. que o medicamento mantenha as mesmas características do
~ fármaco aiivo.
Estádio do Pesquisa Básica Na fase de pré-formulação. o emprego ele modema rccnologla
com a administração de espectrometria de massa. rcsvonância
Fundarncntalrucnte incorpora IOdas as arividudes básicas de nuclear magnética e exame com Infravermelho permite esta-
pesquisa cm química. biologia e medicina resultando cm melhor belecer li cxrua estrutura química do fármaco. Criam-se os métodos
entendimento da patologia das doenças, o que abre caminhos analfticos capazc de detectar os componentes principais. os
para o desenvolvimento de novos fármacos. Esvc tipo de pcs- compostos inrcrmedidrios da sírnc e. de degradação. de impu-
qui a se desenvolve no âmbito da Academia ou institutos de relas. os sol ventes e os resíduos catalüicos. Com o emprego de
pesquisa médica e em boa parte é suponudo pela indústria técnicas cromatogrãficus específica se rem a segurança de que
farmacêutica cm seus países. a qual ga~ta cerca de 10 a 20% 'c meça apenas o fármaco e se excluam as impureza. Esses
de seu di. péndi() anual cm pc,qui~a c dc~envolvimento com en aios todos permjtem chegar a uma matéria-prima com elevado
tai~ atividadc,'~. A grande indú tria farmacêutica de pe~quisa. grau de pureza e estabelecer o limite de impureza aceito.
de mudo geral. inve~te anualmente cm torno dI! 15 a 18% de A estabilidade químiea do fármaco !>intetizado é tcstada
seu falllrull1cnlObruto na pesquisa e dl!~envolvimerllO dc novos em uma série de condições diferente~ de armazenagem e por
(~nnaco~lll. A segunda fase. entendida como de pré-desenvol- períodos de tempo diversos. Os tcstes visam a medir II resis-
vimento. bcm C0l110 a terccira de desenvolvimento. sào reali- tência ou a influência sobre o fármaco das principllis condi-
zadas totalmente pela e dentro da indústri:l farmacêutica. ções de degradac,:~() qufmica. a hidrólise. a oxidac,:iIo. a fotólise
82 • Tratado de Clínica Médica

c a catãlivc. O, rcstcv são rcuhzndos a temperaturas variando Toxicologia Pré-clínica


de 40 ti 70"C. umidade de até 90lH-. exposição 1I1u.lnatural e
Conforme Zbinden: "Quanto mais sabemos sobre as similaridades
N artificial c em soluções de diversos pH. Estabelecem-se as
da estrutura e função do organismos superiores em nível mo-
prupt iedade\ fivicoquímicas. tai~ C0l110 solubilidade em água.
lecular, mais ficamo. convencidos de que os mecanismo. da
sulvcutcs orgânico s. dissolução em meio, de pll variados.
toxicidade química são. em grande escala, idênticos nos animais
A maioria dos fármacos aprcscntn rnais de um centro quiral. e no homem':". Justifica-se. punamo, que os estudosde toxicologia
Estudos são conduzidos no sentido de isolar-se o enanriôrnero animal precedam o emprego do fármaco pela primeira vez no ser
que apresenta maior atividadc em vez de se trabalhar com a humano, pois os efeitos causados por uma droga cm animai ão
substância racêmica. usuulmcrue os mesmos provocados no hornern.
Estudam-se a\ caractcrfvticas físicas dos fármaco, sólidos, O., estudos de toxicidade vão realizados em animais para
tais corno ponto de fuvão. dixtribuição e tamanho de panícula, identificar possíveis perigos. a partir dos quais pode ser feita
ou cri,tab e suas variaçõev polirnérficus. lurorcs de grande por extrapolação uma avaliação do risco e da probabilidade
unportâncin lia fabricação dos medicamentos finaiv. de que. sob reais circunstâncias de uso. o fármaco cause dano !
O cvtudo da compatibilidade dos cxcipicntcs com o fármaco ao ser humano. Os en aios toxicológico. devem levar em con- ~
at" o e II adaptação deles aov regulamentos sanitários dos diver- sidcração, também. o ri co assumido pelos pacientes que ell- ::
'0' paf\c!. garantem o bom desenvolvimento das formulações tão tomando doses terapêuticas. o risco de superdosagem, ~
medicumcntosav. intencional ou acidental. ou o erro de dosagem. Uma das fun- ),
a fa,e de formulação determinam-se. conforme o tipo dações h(lsicas que hoje começa a ser contestada quando da
de forma: solução. semi-sólida. sólida. injerável, de liberação rcaltvução dos lestes em animais é aquela de que se pressupõe
nipida ou prolongada, para uso com nplicador cspecffico. ou que. aumentando a dose e prolongando !1 duração da exposi-
não. o, limite, de variação do medicamento formulado e sua ção. de algum modo se mclhoru tanto a sensibilidade como a
estabilidade no tempo e em diversas condições de luz, tem- previsibilidade dos lestes. Assim sendo. um teste de seis meses
pcratura e umidade. Os testes de cvtahilidade ,ilo realizados com doses mais elevadas daria um maior nível de confiança
em difcrcrucs tipos de embalagem para verificar qual delas que um teste de um mês COmdo es mais baixas",
awcgura maior proieção. O programa dc estudos toxicológico precede e progride
Durante a fusede formulação (I e'llídio de maior importância paralelamente ao programa clínico. Estudos de dose única em
é a produção do lote comercial. A evolução e a otimização de volunnirios, sadios (estudos de Fase I) requerem menor suporte
uma íormulnção são condu/idas em pequenos lotes. geralmente de dados de toxicologia animal que aqueles de doses múltiplas
urili/ando gramas a poucos quilos de material. A passagem em indivíduos doentes.
para produção cm maior escala. como lotes de 200 a 500kg de As autoridades sanitárias somente nccitam estudos de toxi-
material. sem que as características da formulação experimental cologia animal que sejam rcullzados de acordo com os proce-
vejam alteradas. é tarefa complexa e de custo elevado. Em dimentos das GLP.
geral. essa transformação é realizada uvando lotes do tama- O:. estudos de toxicidade tipicamente gerados antes da
nho intermediário. rcalivnção do primeiro ensaio em seres humanos são":
• Farmacologia pré-clínica de segurança: aqui e estudam
Desenvolvimento Pré-cllnlco as possívci ações sobre os sistemas nervo o central,
cardiovascular, gastrointesrinal e respiratõrio.
Agora M: evrud.. a rovicologlu pré-clfnica (de envolvimento
• Fanuacocinética: são realizados estudos preliminares sobre
IOxil'ol6gico) e a, ativ idadev farrnacodinâmica .. do fármaco. absorção. distribuição, metabolismo e excreção. ou seja,
conhecido, corno e..tudos de farmacologia primária sobre o sobre li biodistribuiçãc do fármaco no organismo, o que
flírmuco,e visam a conhecer o seu modo de ação. a comparação o organ i. mo faz com o fármaco.
de !.II;Iutividude com fármacos padrões, etc, por meio de ensaios • Toxicidade aguda: é rcnlizudo em duas espécies animais,
experimentais iII ,'i,·o. iII vitro e em modelos aceitos pela comu- por duav vias de udrninistração (uma é usualmente a intra-
nidade científica e autoridades !.anitilrias. Os estudos de farma- venosa. pura a segurar li exposição sistémica. e a outra
cologia de segurança. também conhecidos como estudos de 6 II via clínica proposta). Procura-se estabelecer uma
farmacotogiasecundária. buscam conhecer o perfil farmacológico uvaliação da dose máxima (MRD) que pode ser repetida
geral do fármaco. O principal objetivo desces ensaios é o de co- e possivelmente da irritação local.
nhecer li' cfcirov do f:írmaco sobre os sistemas fisiológicos do • Toxicidade de doses repetidas: são usados animais roe-
orgnnivmo e complementar o~ estudos de toxicidade. dores e não roedores. A duração dos testes depende
i\ FJ)A. na década de 1970. publicou urna série de normal> da duração da exposição clínica. ma recomenda-se
e resoluções que convritufrum a regulamentação legal das deno- realizar dois estudos de 14 dias antes de passar para
minadas Boa). Práticas de Laboratório (GLP, Good Laboratory o estudo de dose única no homem. Os estudos devem
P,./tc/iI·e). As regulamentações que constituem li GLP estabe- ser feitos usando a via clínica proposta.
lecem padrões para a construção e a adequação dos locais em • Taslcolog!« reprodutivo: na Europa e no Japão usual-
que os testes são reatizados. áreas administrativas. cuidados mente são exigido e tudos de desenvolvimento embrio-
com pessoal. procedimentos operacionais. manutenção e uri- nário/fetal em duas espécie ... se forem incluídas mulheres
lr7ação de equipameruov, \ ulidação de método. .opcraçõcs de em idade reprodutiva. ão são exigidos nos Estados Unidos
re-rc-. protocolos. arquÍ\o, de dado!' e SUI1 coleta. relatórios para algun ensaios iniciais.
padroni/tld()~.bem como ae;.,ançõc:.em caso de de!.cumprimento • Mlllagenicidade:empregum-se testes i/1 vitrocom o objetivo
do c,t:lluído. Um a~pecl() importante das norma~ oS a obriga- de conhecer o poder mutagênico e a capacidade de produ-
çãtl d~le,_btência de uma unidade de garantia de qualidade zir lesão cromos ômica do fármacolS.29•
,eparada. O conceito e~tabclecido pela FOA para a garantia
de qualrdade é a de que para os en~aios pré-cHnicos. mesmo
suportado!. cm protocolo, detalhados. COI11 procedimentos
FarmacolOgia Pré-cltnlca de Seuurança
operacion<tisbt!mescritos c cstabelecido~. não se asseguravam O objetivo dos estudos de farmacologin pré-clrnica de segurança
a integridade e a quulidade dCll>resultados dos eSludos11• é e~tnbelecer se novos fármacos 01>resenlUmefeitos colaterais
Pesquisa Clínica • 83

que poderiam impedir ou limitar seu uso tcrupêuuco. Ele, também Efeitos no Sistema Renal
fornecem uma indicação da~ margens potenciai» de segurança.
Servem como triagem inicial dos efeitos da .uividudc do f:ínnaco A influência du fánnaco ocorre sobre a diurcsc de ratos com
sobre 0\ ,i'lema\ Ihi()lógicos de maior relevância para a manu- sobrecarga de sal nvaliando-ve l" parâmetro volume urinário.
tenção ela vida c para a detecção de quaisquer efeitos adver- osmolaridadc, densidade. pH balanço Iluido/elcrréliros. pro-
sos, Assim, de início se estudam as atividudes relacionadas reinas. citologia urinária e determinação da uréiu c creatinina
ao sistema nervoso central e uutonômico. bem como sistemas no sangue c proteínas plavmârica-,",
cardiovascular e revpiratõrio. Algumas veles são incluídos nessa
fase inicial estudo sobre ()~vistcrnas renal c gastrointe: tinal. Estudos de farmacocinéUca Animai
Recomenda-seque II' evtudos furmacolõgicos de segurança
sejam rcnlizado-, cm animniv, iII !'iI·o. A\ açõc-, inc'pcrada~ ou O~ estudos de biodispcnibilidade c Iarmucocinéticn do fánnaco
inexplicudav podem ,cr a\ aliadas.1>c Ilece,~(lri(). n() -cguimcnto t!1II animais são de tundamcntul importância para a racional inter-
dc estudos sobre mecunivmov de açilo iII l'iI'll ou ln vitro. pretação e cxtrapolução do!'>dados da toxicologia animal para
Tai-,estudos convisrcm quase sempre CIIIse estudar os efeitos o ser humano.
farmacoléglcos cvidcruc-, cm unimais conscientes. O fármaco As autoridade» Mlllil(lria\ orientam para a realização de estudo
deveser pesquisado ell1 Ullla variedade de doses cm cnrnundongos cm animais que apresentem padrões de rnctabolização do fármaco
ou raio. c cm uma espécie superior 1:111110 cries ou primatas. A qualiuuivnmcntc ximilnr ao dos humanos. Estudos iII vitro do
do e mais elevada deve ser pelo f1ICI1(».30 a 40 vezes superior I11ClaboliSl1111 usando tecido hepático humano e unlmul em cstãdios
à do c Iarmacologicumcutc utiva ou à dose clfnica prevista. c a iniciais permitem verificar a\ difcrença, entre as espécies quanto
via de administrução deve ser a II1C~l1la"ia clinicumcnte pre- uo mctabolismo em ra~e!'>muito precoces do desenvolvimento
tendida e ou a via intravenosa. do r;írmaco. Embora estudos iII vitro sejam necessários para
o entendimento íntimo de detalhes dos processos biológicos e
bioquímicos e forncçum umu boa idéia sobre o mecanismo de
Efeitos Cardiovasculares e Respiratórios ação e o metabolismo dov Iãrmacos. eles não podem substi-
o fárnlaco deve cr pesquisado iruruvcnovumcmc nu pela via ruir 0' estudos in 1'11'0. uma vez que a iiuação do organismo
clinicamente pretendida em anillHli~ CIlI1\CiCnle~. como cães. é muito complexa c segundo Wade J. Adams": (I) o fármaco
A do cv devem -cr titulaua\ para dlim até que ocorram efeitos deve, atravessar a barreira do rccidov para chegar ao local de
limitantes da dove OIJ alé que tenha sido obtida uma ampla sua ação: (2) substantiva fração do fármaco pode ligar-se n
separação da UI)\Cfannacological11clllc ativa. As medições devem cornponcnte-, do sangue no ~i\lem:l vavcular, dos quais pode ser
incluir a Ireqüência cnrdfaca. a pressão arterial c o clcrrocar- liberado cm diferentes vclocidndcv; (3) 1I1"nn:ICO pode ser meta-
diograrna (ECG). Também deve ser inclufda alguma medida bolizado para subvtâncin uiivu IIU mauva. ou a rnctnbólitos
d3 função rC'pirJllíria. reutivos em uma ).érie de lecidu': (4) o I.írm:lco pouc ~er lli~-
Iribuído para lecidu, IluC cxcrçam ,ua ação e lambém para
Efeitos no Sistema Respiratório oulros lecidn, jUl110 COIl1l>CU~melabólilo\ c. poderá ser len-
I:uncnle elimin3do ou agregar-se a macromoléculas: (5) o fármaco
Os C ludo:. do~ cfcil(}, UII t'tírllmCII ~ubrc II ~i'lema rC~pirJIÓrio c/ou ~ells Illclabólitos podcm ~ereliminados do corpo por excreção.
devem incluir ,ua açãll 'ohrc parfllllelrm broncopulmon:lres. E!>!>l!s ralorc!> juslificam plenamenle a realização de eSludos
lais corno frelJilêncra re~piraIÓritl. II1cdida de função respira- de biotlisposição do f:írmaco. Devem ~er e~labelecidos cm fases
lória a\'3liando \ulumc l11inuto de fluxo lidai c ~alurac;ão de: prccoces do dcsenvolvimcnto e com muilo critério. pois en-
oxigénio da hCl11oglubina. cI11pregando-:.e 1t!!>Ie:!'> bem e~I:lbc- ,"oh'cm a particip3ção de lécnica!> radioi olópicas e u o c sacrifíeio
Iccidos e validado ... de grande númt!ro de animai:. por I!Mudu.
Nessa ra~e. é imporlanlC produl.iros mélOdos analflicos para
Efeitos no Sistema Nervoso Central identificação e qUllntiticução do fármaco c l'CUS IllclabólilOS
pnra que se po~~am reulizur Ul>eSludo~ de dislribuição e farma-
Avaliam-sc os efeilo!'> do f:lrl11l1CIlsohre II cUlllporlamento dos coclnélica do prllllulll IC~le.
animais de cxperiência. CIII gcral ClllllI111dongu,. no quc dil
Os C~llIdl""de ah),orção. dislribuição. Illclabolismo e excreção,
x respciw ta influência na ali\ Idade 111010l'a.COlllpOrtulllcnlo. :1I:l\ia.
reulizadol> nCl>).afa'l! inicial do de~el1volvilllenlo pré-clrnico.
i; coordcnaçãu. rC'I)I)\la a rellcxol> ),cnslll'iai~ c IllOlorc~ e lell1- devem ser tle~enhado<; p:lra conhecer o índicc c a eXlensão de
::? peralUra cuqxlral. CII1di\ cr':I~ CUlwcl1lraçl;es do r:írl11aco. São
ahsorção e sua qll:lntificaçiio c dur:lção da cxpo ição sistémica
~ inclufdo' I:1ll1hél11lc'tc...dc contr:1ç:1o pcla injc,ão de acclilcolin3
ao fármaco.
~ e de inlcraç:io com agcnlcs c()nvlllsivo~. O \!!>Iudo do cfeito
do mrmaco !'>obrco lempo de ~onll imlu/idll pur barbilúricos. O meio lllai~ dirclu dc 'c c'lUdar a absorção de fármacos iII
além de forncccr indicaçã() do lipo de ação sobre o sislem3 I'Ím c:! comparar o, !'>Cll\ní\'ci .. dc concenlração angiiínca c na
nervoso. permile a\'ali:lr a atividade do fármaco no met:lbo- urina. quando pos~ível. 3p<) "ua administração pela via de escolha
lismo hepálico. par:! scu uso tcrapêutico (cm gCr:!1 :I via oral) c a oblida pelo
Os efeilos !>obre o ,i'lcma aUlllnumiçu ~ão a\'ali3dos pcla v'o do fármaco via inlm\eno.:I. resultando a denominada bio-
observação de alleraçile, na salivação. t:rmanho da" pupilas. dhponibilidaue sislêmica. Ela quantifica a velocidade e a e.'{-
ereção pcniana e colura\'iio das orelhas. len,ã() de ah,orção do f(lrmaco que minge a circulação.
O..e\llIdos de ólh,orção c c.,crcção cm animais são mais acum-
damenle rcalizados com o emprego de fármaco marcado com
Efeitos no Sistema Gastrointestinal radioisólOpOS. o que permilc () C\lUdo do f(lrm:lco inlaclo. seus
o...cfeito~ do r;!rlll:lCII-IC,ICdevem ~cr cSlllbclecidos em cn, aio. metabólitos. na urina. na' fC/e!>. no ~angue e em outros excrclas.
reali/ado, em raios ou C:lfllUllt.lul1g(IS e algumas \'CLe cm Esse lipo dc c~llIdo proporcion:1 informaçãu subn: ii vdoeida-
coelho, vi~:lIldo II I!studar a influência do preparado sobrc de c cXlcnsão da ab).orção. as rOias e a eXlcnsão pela qual o
motilid:ldc inle~linal c Irnn~il(l apÓ). a admillistrução oral de f:írlllacn e Sl!lIS I11cl:lblÍlilO~ silo excrelado\.
carvão ou vcrmelho fenol. Ensaill~ CI1l animais anestcsiados A dislribuição do fármaco c 'CU\ mClahólilos silo estudados
servem para medir ~ecl'\!çiio g(lslrica .. ecrcção biliar e pH g(lslrico. por mcio de Icsles e:.pecrlic()~ com rclaçüu a l>ua ligação com
84 • Tratado de Clínica Médica

proteínas do sangue. Os testes de ultrafiltraçâo e de equilíbrio TABELA 12.1 - Duração dos estudos de toxicidade com doses
dialítico. proporcionam conhecimento sobre a capacidade de repetidas para apoio aos ensaios de fases I. II e lJ1
Iigaçâo nessas proteínas".
Para se estudar a distribuição tecidual dos fármacos o mé- DURAÇÃO DOS DURAÇÃO MINIMA DOS ESTUDOS DE
todo mais usado IS o da auto-radiografia de corpo total". Essa ENSAtOS CLiNtCOS TOXlCtDADE COM DOSES REPETIDAS
técnica rem vantagens sobre as técnicas habituais de análise de ROEDORES NAo-ROEDORES
concentração de radioatividade em tecidos retirados e ho- Dose única 2 - 4 semanas 2 semanas
mogeneizados antes da análise total da sua radioatividade, uma Até 2 semanas 2 - 4 semanas 2 semanas
vez que a auto-radiografia permite o estudo de tecidos e fluidos Até 1 mês 1 mês 1 mês
que ordinariamente não possam ser retirados e fornece dados Até 5 meses 3 meses 3 meses
sobre o gradiente de concentração dentro dos tecidos. Isso é de Até 6 meses 6 meses 6 meses
particular relevância para a avaliação toxicológica de fármacos. > 6 meses 6 meses 6 - 9 meses
uma vez que concentrações particularmente elevadas em deter-
minados tecidos podem levar a reações tóxicas localizadas.
importante é lembrar que os fármacos excretados na urina e uva. Se, entretanto, houver a possibilidade de que II irritabilidade
na bile () são, em geral. não ligados. livres; conseqüentemente. local Ou a toxicidade em órgão-alvo limitem a dose, ou se for
concentrações elevadas de fármaco ou metabólitos livres são prevista tolerância à dosagem repetida, será mais útil um es-
encontradas na urina e bile quando comparadas as concentrações tudo com uma dose lixa. O objetivo desse tipo de estudo é
plasmáticas. Quando a ligação proteica às proteínas do plas- determinar um perfil de efeitos tóxicos, inclusive a toxicidade
ma ou de tecidos é forte. podem ser encontradas elevadas con- a um órgão-alvo. c avaliar os parâmetros cinéucos, isto é, ~
cernrações de fármaco nos rins e baixa concentração na urina. determinar a evidência de absorção medindo o tempo (TmL) ~
Os estudos de auto-radiografia são, nesse caso. de inestimá- para ser atingida a concentração plasmãtica máxima (C"'d) e .:.
vel valor para esclarecer o fenômeno. fornecer uma indicação da exposição pela área sob a curva de ~
concentração plasma/tempo (AUC), a meia-vida de elimina- x
Estudos de Dose Única ção plasmática (T"2) e a concentração plasmática mínima (C",ro,)
após dose única e repetidas. As determinações cinéticas ob-
Os estudos de toxicidade de dose única pertencem a duas cate- viamente dependem de que um método de análise do fármaco
gorias: preliminares e definitivos. Os preliminares são reali- no sangue ou plasma esteja disponível".
zados para fornecer uma estimativa da dosagem máxima não
letal (M LD) para uso nos estudos definitivos. Estes são rea-
lizados para avaliar os efeitos que podem resultar da exposi-
Estudos De1ínitlvos de
ção aguda a MNLD e prever os efeitos da superdosagem no Toxicidade com Doses Repetidas
homem. Nesses estudos quase sempre os animais são sacrifi- o objctivo desses estudos é caracterizar qualquer toxicidade a
cados após 48h de recebidas as doses em estudo e seus órgãos um órgão-alvo identificada em estudos anteriores, determinar
são estudados do ponto de vista anatomopaiológico. quaisquer novos órgãos-alvo não constatados nos estudos
Os estudos de dose única são realizados em duas espécies, anteriores e checar se a cinética determinada nos estudos an-
usualmente o rato e o camundongo, por duas vias de adrninis- teriores se alterou. Frequentemerue, em seguida ao período
(ração. cm geral a intravenosa para assegurar a exposição sistêmica de administração, um certo número de animais é mantido sem
e a via clínica proposta. Se a via proposta for a intravenosa. a droga para que se po sa observar a recuperação de quaisquer
em geral é aceitável uma única via26. alterações tóxicas. Esse período de recuperação é usualmente
de I semana para os estudos de 14 dias e I mês, e de 2 sema-
nas para os estudos de 3 ou mais meses.
Estudos com Doses Repetidas Os animais quase sempre recebem a droga uma vez por dia
Os estudos de toxicidade com doses repetidas devem ser rea- durante o período de administração. A dosagem baixa é um
lizados em um roedor, tipicamente o rato, e em um não-roedor, pequeno múltiplo da dose clínica estimada (com frequência,
tipicamente o cão Bcagle. Quanto mais longa a duração da menor que cinco vezes), baseando-se, quando possível, em
exposição humana. mais longa deve ser a duração dos estudos dados cinéticos comparativos. A dosagem alta pode ser a MRD.
de toxicidade. a dose máxima não tóxica ou minimamente tóxica, a máxima
Mostra-se na Tabela 12.1 II relação entre a duração ele admi- dose praticável (com base nas propriedades físico-químicas
nistração do fármaco ,lOS indivíduos submetidos aos ensaios da dose, mas cornurnente não menor que 100 vezes a dose
clínicos nas várias fases do desenvolvimento clínico e a duração clínica pretendida), a dose que provoca uma Cmdx ou AUC pelo
cios ensaios animais em roedores e não-roedores. conforme menos 100 vezes à do homem após uma dose clínica, ou a
estabelecido em normatizações elaboradas pelo Harmonised dose com a qual esses parâmetros se tornam claramente não
Tripartite Guideline for Good Clinical Practice (ICH). lineares. A dose intermediária é, em geral, a média geométrica
As doses para os estudos com doses repetidas costumam ter das dosagens baixa e alta.
base em estudos preliminares com doses progressivas. A via de A seleção de grupos adequados de controle para comparação
administração deve ser similar à utilizada clinicamente. com os animais tratados com a droga é, portanto, vital, assim corno
a avaliação das várias medidas antes da administração".

Estudo com Dose Máxima Repetida


Testes de Genotoxicldade
Um estudo COI11 dose máxima (MRD) será efetuado para cada
espécie e para cada via de administração a ser usada nos subse- Os testes de genotoxicidade estudam os efeitos potencialmente
qüerues estudos de toxicidade com doses repetidas. É comum lesivos sobre o material genético (DNA), os quais podem ocorrer
realizar esse teste com doses crescentes. administrando-se doses diretarnente peja indução de alterações transmissíveis perma-
progressivamente maiores ao mesmo grupo de animais a cada nentes (mutações) na essência ou na estrutura do DNA dentro
três ou quatro dias. até que ocorra uma toxicidade significa- das células. Essa lesão do DNA pode ocorrer em três níveis.
Pesquisa Clínica - 85

As mutações genéticas (pontuais) são alterações na seqüênciu oncogênicos causa lesão do DNA ou dos crornossomos. Nor-
de nucleoudeos em um ou vários segmentos de codi ficação malmente são requeridos estudos vitalícios em animais, a longo
(pares basais! dentro de um gene. prazo, para demonstrar a realização desse potencial e também
As mutações crornossõmicas são reconhecidas como alte- para detectar agentes que causam ncoplasias por meio de um
rações morfológicas na estrutura bruta dos crornossomos, isto mecanismo epigenético (ísto é. não-genotõxico). Essesagentes
é, são aberrações estruturais que podem ser detectadas mi- epigenéricos podem agir por meio de diverso mecanismos,
croscopicamente. Os compostos que causam lesão crornossô- inclusive imunossuprcssão. lesão tecidual crônica, ativaçâo
mica são chamado de clasrógcnos. repetida dc receptor c perturbação da homcostasin hormonal.
As mutações genõmica. são alterações do número de cro- aumentando. desse modo. a renovação celular. o que eleva as
mossemos em um gcnoma, sendo também chamadas de aber- chances de desenvolvimento dc urna neoplasia.
rações numéricas. Em razão de seu tamanho e duração e dos custos correspon-
Muitos produtos químicos possuem propriedades muiagê- dentes envolvido .. os estudos de oncogenicidade são usualmente
nicas que representam um perigo potencial para futuras gera- realizados próximo do final do desenvolvimento de um produto
ções.jã que as mutações nascélulas germinativas dos organismos farmacêutico. quando a eficácia clínica já foi estabelecida e a
com reprodução sexuadapodem ser transmitidas paraos descen- maioria dos estudos de toxicidade já está termlnada".
dentes.Além disso. li relação entre as alterações rnutagênicas O rato será. com frequência, II espécie de preferência para o
noDNA e a carcinogênese é fortemente apoiada pelas evidências estudo padrão de oncogenicidade. porque há uma base subja-
disponfveis originadas de pesquisa na biologia molecular do cente de dados mais ampla que com o camundongo. As espécies
câncer, e pela existência de genes do câncer (oncogenes) e escolhidas. porém. devem er as mais apropriadas, com base
de genes supressores de tumor. em considerações como farmacologia, toxicidade das doses
Na indústria farmacêutica. é comum 11 realização de triagem repetidas. rnctaboli mo e toxicocinética,
dagenotoxicidade em uma fase inicial do programa de desen- A via de administração deve ser. em geral, similar à usada
volvimento de uma droga. Isso se dá particularmente em rela- clinicamente". A administração oral é a via de exposição mais
ção ao uso de ensaios iII vitro, Se os problemas referentes ao amplamente usada. com o material de teste misturado na dieta,
potencial de genotoxicidade puderem ser identificados pre- dado com a água de beber ou administrado por gavagern. Cada
cocemente. usando testes de gcnotoxicidade bacteriana. por via tem suas vantagens e desvantagens.
exemplo. poderá ser possível projetar uma droga útil desprovida A outra via importante usada para os preparados farma-
de propriedades genotõxicas. Os teste in vitro requerem pe- cêuticos é a inalação. com o u. o de um sistema de exposição
quenasquantidadesdo composto e geram resultados com rapidez. de "apenasa cabeça". A admini. tração parcnreral, embora técnica-
o que os torna particularmente úteis para esses estudos". mente possível. é quase sempre evitada por causa dos efeitos
Uma bateria de três testes. como referida no Quadro 12.1. irritantes locais que podem ocorrer com injcçõc« repctid us.
serã suficiente para triar a maioria dos novos fármacos. Em cm particular por via subcutânea. A udministraçü« tópica é uma
~ circun tâncias especiais. entretanto. serão ncccssãrios testes opção para materiais com pretendida administração na pelc.
'"
:7 adicionais de genoroxicidadc. isto é. (I) no testar compostos Tem havido. e continua a haver. um considerável debate
~ anribacterianos. situação em que testes de mutação com base sobre a scleção do nível de dose alta para os estudos de
...:2
bacteriana terão limitado valor: (2) quando compostos "estru- oncogcnicidade. A Conferência Internacional sobre Harmo-
turalmente alarmantes" deram resultados negativos em uma nização produziu diretrizes intituladas "Seleção elaDose para
bateria padrão: (3) no tratar compostos que não são absorvidos Estudos de Carcinogenicidade em Produtos Farrnacôuticos?".
paraa circulação sistêrnica. caso em que uma bateria de testes esse documento são sugeridas as cinco alternativas seguintes
iII vitra deve ser suflcientc: (4) ao testar compostos que são para a determinação da dose-tere:
totalmente novos em uma classe estrutural única e estão em
umaelas c terapêuticaque normalmente seria testadaem ensaios • Dose máxima tolerada.
• Saturação da absorção (isto é. o aumento da dose não
crônicos de oncogenicidade em roedores: (5) para compreender
aumenta a exposição sistêrnica).
o mecanismode ação dos compostos carcinogênicos que foram
• A máxima dose exeqüfvel (por exemplo, 5% na dieta).
negativos na bateria padrão. mas que ainda não têm um claro
• Efeitos Iarmacodinâmicos limitante (por exemplo, uma
mecanismo não-genotóxico de carcinogenicidade. Antes de
dose que eda os animais).
quaisquerestudoscm humanos. devem ser providenciados dois
• Utilizar um mínimo de dose 25 vezes maior no roedor,
testesseparado: in ..itro para mutação e lesão crornossômica.
da relação AUC. com a AVC encontrada quando a droga
Toda li bateria de te tes devc ser completada antes do início
é usada clinicamente no homem.
dos ensaios de Fase 112~.
Tipicamente. ão usados tamanhos de grupos com 50 animais
Estudos de Oncogenlcidade de cada exo para cada um dos níveis de dose. É usado, com
frequência. um grupo controle com O dobro do tamanho, quase
Os estudos de oncogenicidade examinam a capacidade de um sempre dividido em dois grupos com o mesmo tamanho. Isso
materialprovocaralterações neoplásicasem um ou vários tecidos. porque a informação do controle concorrente é o fator mais
Os estudo. de genotoxicidade a Curto prazo fornecem bom importante na análisc esratfstica necessária para confirmar a
indicadordo potencial oncogênico, já que li maioria dos agentes presença de um efeito oncogênico.
A divisão do grupo controle fornece informações sobre as
variações de incidência do tumor que ocorram naturalmente.
QUADRO 12.1 - Bateria de testes harmonizados leH Serão necessários animais adicionais para fornecer infor-
• Um teste para mutação de genes em bactérias mações farrnacocinéticas. em especial nos estudos com ca-
• Um teste ln vitro com avaliação citogenétlca do dano mundongos.
cromossõmlco,com células de mamlfero ou um ensaio ln vivo Os estudo de carcinogenicidade são usualmente realizados
em linfoma TK de camundongo durante 24 mesesem ratos e durante 18 mesesem camundongos.
• Um teste in vivo para lesão cromossõmica, usando células A incidência de neoplasias é comparada entre os grupos
hematopoiéticas de roedor
de teste e controle para fins de significância esrausiica e para
86 • Tratado de Clínica Médica

detectar se há uma tendência, isto é, uma incidência crescente Na avaliação dos estudos de toxicidade reprodutiva, devem
com doses mais elevadas. Essa comparação é feita por tecido, ser levados em consideração os pontos a seguir.
de modo que IOdas as neoplasias no fígado. por exemplo. são
comparadas entre os grupos. Também é feita a comparação do Efeitos Antifertilidade no Macho. O raro macho tem
número total de animais com tumores únicos c múltiplos para grande reserva de espermatozóides, por isso diflcil detectar
é

ver se existe um aumento não cspccíflco na carga tumoral. efeitos antifertilldade usando a gravidez como desfecho. Se
Assim como silo comparadas as incidências simples. é levado forem observados efeitos amlfertilldadc, pode ser útil medir
em consideração o momento em que os tumores foram detectados. os vários parâmetros do esperma (serninologia) para ajudar a
IS~(l porque um composto poderia não alterar a incidência global caracterizar os efeitos.
de um ripo particular de tumor. mas poderia provocar seu
desenvolvimento em animais muito mais jovens. causando sua Efeitos Antifertilidade na Fêmea. Eles são eviden-
morte mais precoce:". tes ao exame dos seguintes parâmetros:

• Número de fêmeas que não ficam grávidas.


Toxicologia Reprodutiva • Rompimento do ciclo csrrõgcno.
A dcrcnuinaçâo dos efeitos de um novo produto farmacêutico • Incidência nurncrunda de perdas pré-implantação (número
sobre a reprodução deve levar em conta que a reprodução dos de corpos lúteos/nümero de implantes no útero).
mamíferos é um processo complexo e cíclico envolvendo • Incidência aumentada de perdas pós-implantação (número
diversos estádios. cada um deles complicado por si mesmo. de implantes no útero/número de fetos vivos).
Os estádios incluem:
Teratogênese. A avaliação leva cm consideração:
• Gamctogênese.
• Fertilização. • Quaisquer anormalidades relais não observadas previa-
• lmpluntação. mente ou que apenas ocorrem raramente.
• Embriogêncse: crescimento fetal. • Um uumcruo significativo de defeitos que ocorrem espon-
• Pano. runeamemc. em especial, sem qualquer toxicidade ma-
• Adaptação pós-natal. terna significativa.
• Desenvolvimento e envelhecimento.
Efeitos Pós-natais. A avaliação leva cm consideração:
Os estudos de IOX icologia rcproduriva devem objctivar a ava-
liução sobre os efeitos reprodutivos c sobre o desenvolvimento.
• Sobrevivência pós-natal da mãe e da prole.
• A sobrevivência pós-natal da prole pode ser influenciada
Efeitos Reprodutivos Gerais por anormalidades subjacentes, por exemplo, do sistema
cardiovascular, ou como resultado de lactação fraca da mãe.
Os estudospara os efeitos reprodutivos gerais examinam a possi-
• A função dos sentidos vitais deve ser avaliada na prole,
bilidade de que agentes possam afetar a fertilidade. musculina
por exemplo. visão. audição. cquilíbrio. etc.
ou Icrninina. por meios farmacológicos ou bioquünlcos espe-
• Os efeitos sobre o comportamento na prole podem ser
cfficos. ou pela toxicidade .1 diversos tipos de células, inclu-
avaliados por testes de locomoção, hábitos, aprendiza-
sive gamcras e suas células de apoio, Alguns agentes podem
gcm c memória.
alterar o delicado cquilfbrio hormonal necessário para que o.
processos reprodutivos dos marníferos mantenham seu pro-
cessocíclico. Outros, lreqüentemente potentes agentes farmaco- Testes de Irritação e Sensibilização
lógicos. podem resultar em perda do estímulo reprodutor. por
Os preparados medicamentosos tópicos são aplicados por dias
exemplo. perda da libido. disfunção sexual, etc.
ou mesmo semanas. e os cosméticos por toda a vida. Por isso
Outros agentes. por exemplo. as drogns citotóxicus. visam
é importante o conhecimento da toxicidade cutânea para se
aos órgãos reprodutores cm decorrência de sua capacidade de
ter uma avaliação do risco global. A toxicidade cutânea ou a
afetar as células de divilo;io r(lpida e po sivclrnenre induzir
lesão cutânea localizada pode ser considerada como um evento
danos uo matcrinl genérico.
primário conforme o composto seja irritante ou corrosivo, ou
como um evento secundário irnunologicamente mediado se
Efeitos sobre Desenvolvimento causar uma resposta retardada de hipersensibilidade.
A segunda área de exame. e a mais emotiva, são os efeitos Os dados obtidos a partir dos lestesde irritação e sensibilização
sobre o desenvolvimento. em que os agente: podem induzir podem ser usados para a avaliação cio risco. desse modo pos-
anormalidades na prole em desenvolvimento. As dificuldades sibilitando precauções a erem recomendadas para uma ma-
para projetar estudos que detectem esses tipos de agentes, em nipulação segura do fármaco.
geral referidos COl1l0tcnuõgcnos, são que a resposta intcrespécies
é quuve sempre variável e as anormalidades induzidas invaria- Irritação
vclmcnte também ocorrem de forma espontânea. Outro faror
de confusão é que algumas anormal idades podem se rnani Icsta r Pele
apenasno pós-natal, em conseqüência de um aumento de tamanho
ou anormalidades funcionais da prole. por exemplo, defeitos A dermatitc primária irritante de contai o resulta do citotoxicidade
cardiovasculares c de componamcmo-':". dircra provocada ao primeiro conrato. A lesão celular é caracte-
A lérn dos estudos anteriores. precisam ser realizados diversos rizada por dois eventos mucroscoplcamente visíveis, uma ver-
eSIlIc10sexaminando a Iarmacocinética do material em teste. para melhidão da pele (critcma) e o acúmulo de líquido (edema).
demonstrar se a droga atravessa a placenta, se é excretada no Observandoou medindo eSS~L~ alterações,pode-seestimar aextensão
leite c se a gravidei. areia sua absorção. distribuição, metabo- da lesão cutânea ocorrida. O teste de exposição única mais
lismo ou excreção. amplamente utilizado se baseia no Teste do Coelho de Druize".
Pesquisa Clínica • 87

Olho do V.S. Ucpartamem 01 Health. Education and IVellare.


nos Estudos Unido. tem suas normas seguidas e aceitas. ou
A~ re~p()'ta!>tõxicav no olho podem ser resultado de exposição Vl
adaptadas por vários outros serviços de saúde em IOdo c mundo.
ocular tópica dircta de drogas. de instifução dircru no olho e m
também de produtos dermatológicos que os pucicntcs deixam Conforme publicudo no V.S. Code tJI Federal Ueglllaliolls .("')

cair de forma acidental nos olhos. Alé rcccnrcmcurc, o leste dc 1975. num sentido prático. o. ensaios cllnicos foram di- >,
O
do Olho de Coelho de Draizc" tem servido como () principal vididos em três fases principais. O~ensaios de fase I são os N
protocolo para avaliação do potencial de irritação de subxiân- estudos iniciais de farmacologia humana e de efeitos gerais
cias aplicadas topicamcntc. de uma droga. realizados em um limitado número de pacien-
tes ou voluntários. 110 sentido de determinar a toxicidade da
Sensibilização substância p:lra o homem. a funuucocinética. a via preferida
de udminivrraçãu c o~ limites de segurança posolôgica. Os
A interação de um produto químico (hapteno) com a~ proteí- enllail)\ de f:l'c II cobrem os ensaios iniciais de avaliuçâo de
na, epidérmica, (transportadoras) pode resultar em UIll com-
cticáda c vcgurançn num limitado número de pacientes. Os
plexo haptcuo-tranvponador capuz de provocar a :Itivaç:io do
e~IIl(I(), de ra,e II I são ensaios planejados de modo Iorrnal e
tecido linróide associado pele (sensibilização) e a dissenti-
à
conrrolndo .. no sentido de prover evidência com relução à
nnção de linfílCilll' T amígcno-e pccfficos (induçã«). Um encontro
elide ia. segurança e esquemas p()ll()lógico~ udcquudos em
subscqücntc com o' rncsrnov produtos quünicos ou com produtos
grupos upropriudos de pacientes ".
químicos reagente cruzados pode resultur no surgimcmo de
urna rcuçâo inflnmarôrin caractcrfxticn na pele. A condição Em setembro de 1977. a rDI\ passou a udotur nova divi-
clínica é citada como dcrmaiitc alérgica de comuto e se caracteriza são de fases dos ensaios clínicos. dividindo-os em quatro
poreritcmu. edema. ",..siculaçâo c prurido, Por isso a sensibilização fases. No Brasil. pela Resolução Normativa n2 01178 da
alérgica de conta to é classificada como resposta imunológica, Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da
mediada pelas células. aos produtos químicos que entram em Saúde, ell~:1 divisão foi aceita e é a seguinte:
conrato c penetram na pele.
O teste de Maximização desenvolvido por Magnussum e • FaseI: grupo reduzido de vohmrãrios, em condições normais
Kligman" é o mais amplamente usado c utiliza tanto lima fa e dc saúde: estudo da farmacodinãmica. farmacocinética.
inrmdérmica como uma fase tópica de scnsibi Iizaçiio. em conjunto biodispunibilidade (formas por via oral comuns ou de
com n sjmulaçâo não específica do Si!>ICIIHIimunulógicu por liberação retardada), reações tõxicas, via ..de administração,
meio da injcçâo do Adjuvante Completo de Frcurul (IICI\). povologia.
• FII.H' II: grupo reduzido de pacientes: trntumcnto breve.
Númerode Animais e Custos com estudo do efeito terapêutico. indicações, posologin
e rbcos de udministruçãc,
Os estudos de toxicidade são C:H(I~. No ca~o de um produto
• p(/,W III: maior número de paclentc,: rrnuuucntos mais
desenvolvido p:lr:l terapêutica oral crónica. ~ii() usados cerca
prol(lngadu~ (conforme I) cavo). Segurança, cflcãcla e
de -1.000 ratov. 1.300 cnmundongov. I 00 coelhos, 50 cobaias
utilidnde da droga. Dose mínima eficaz Estudos compu-
c 160 cãc-, num 1111a I aproximado de 5.000 animais. Se 1'0-
1':11 i \'(I". de preferência com três grupos: com a substância
~ rem iucluklo-, o' few, c :1' ninhadas dos estudos de toxicidade
; rcprodutiva. o total aumenta consideruvelmcme. 1\ triagem
nu\ :1.com uma substância de referência c com placcbo.
• Ft/\(' /I~'grande número de pacientes. Comprovação clfnica
~ farmac:ológica para droga' usa indiscutivclmcnre a maior
J; porcentagem de animais. de indicação c do es definida ... Estudos comparativos,
00 Os custos financeiros também são considcníveis. Para ':0111- estatisticamente signi ficativos".
pletar o programa toxicolôgico. um produto para inalaç:io custaria
ruais de 5,000.000 de libras e. com o plancjumcnto mais expedito. Essa resolução foi revogada e, portanto, voltou-se a se orientar
levaria cinco anos para ser completado". pelos preceitos hoje aceitos internacionalmente. a saber:
Grande debate ético de-envolve-se em todo o mundo objeti-
vando diminuir o vofrirncnto e o uso indevido dc animais • PU,,,"I: estudos de farrnacologlu clfnica em pequeno
para estudo, pré-clínicov. i\, sim pergunta-se: todo esse es- número de voluntários sadios (ou às vezes pacientes)
quema de tellte, é ncccvvário? A maioria dos toxicologi las paru estabelecer rolcrabilidade, segurança. farmacocinérica
concorda que. 'e for Ic' atla em consideração a IiSla de estu- e Iarmucodinâmica do fármaco quando possível; ou seja,
dos exigidoll para apro\'ação reguladora. h:1muita redundãncia. verilicaç:io de efeitos biológicos. ou raramente efeito
Deve lIcr(IUclltionada a utilidade: de e:lItudos com dusell repctida~ ter:lpêul icos.
por maill de um mê". Estatistic:lmellle. ()~ c~tudos de • Fase 1/: freqlicntcmentc di"idida em lia e IIb. 1\ lia
oncogcnicidade são muito inscnsíveis. c as espécies e cepall compreende estudo de farmacologia cHni.:a em pa-
utilizadas devem ser ellcolhida com cuidado. como é suge- cicntes COm a tloença alvo cm pequeno número para
rido por Scales e Andrews\s. Sempre que possível o cmprc- estabelecer farmacodinãmica e cirl(!tica e duse-efeito,
go de teste, iII l'ilfo em subst ituição aos testes hoje rea,1izados resposta prelirnin:lr de eficáci:1 e !>egurança do fármaco.
é ObjCIOde inúlllera~ pe~lfllis:a!> tanto no meio acadarnico A IIb engloba ensaios envolvendo maior Illímcro de pa-
como na intlú'lria. cicnte~ para c~tahclecer de modo formal resposta dose-
efeito e expandir conhecimento relativo :1 segurança
Desenvolvimento Clínico e elic:ícin do f:írmaco.
• /'(1\('/11: en~aios lerapêuticos formai~ (conlrolados, run-
Fases do Desenvolvimento Clínico dumi/:ldoll) em grande número de paciente!> para eSlabe-
No ~entitlo tle ordenar o!. procedinh.:nlO~ de te'te, cJ(nicu, lecer cticúciu e cgurança cm amo\tr:a rcpre~entativa de
eom n()va~ 'lIb,tâneia<;. a, aUloridades sanill1ria~ de nlguIIll população. comparação com droga, já exi~tenles,
países elaboram legi<;lação específica que serve como guia • FWI! IV: clIlUdol>dc pó:.-regilltro em populaçiio-ulvo com
para o estudo de f:1rmaco. no homem, Por ser a mais org:a- critério dc inclu:.ão mais amplo para aumentar o conheci-
niz:ldac com melhorell recurllos a FOI){I(Il1dDl'IIg IIdmillislraliulI mento na prátic:1 clínica 11,
88 • Tratado de Clínica Médica

Em geral. as fases eledesenvolvimento clínico evoluem em nudies'; que buscam demonstrar o benefício terapêutico de
scqüência. No entanto, muitas vezes algumas rases podem se um novo medicamento. e estes em geral são o centro de toda
imbricar. O clãssico exemplo é aquele de que o~ estudos de atenção durante a fase de desenvolvimento clínico. Entreran-
fases I e II em crianças somente podem ser i nic iados depois to, e esses ensaios são de muita importância para o atendi-
de estabelecidas na fase III a eficácia e a segurança no adulto. mento das ex igências regulatórias, aqueles ensaios que buscam
Os novos requisitos oriundos do avanço do conhecimento responder de modo muito claro a perguntacomo seráessefármaco
e da tecnologia disponível e exigências legais têm inlluenciado mais bem utilizado, são aqueles ensaios que proporcionarão
o curso e o custo do desenvolvimento clínico. Assim, nas dé- de modo muito objetivo a definição sobre que tipo de paciemc
cadas de 1960 e 1970 o tempo médio gasto no desenvolvi- u ufruirã o maior benefício com o novo medicamento. São esses
mento clínico era de 2.7 anos e com cerca de 30 ensaios clínicos estudos que proporcionarão aos médicos prescritore infor-
era fornccidu a autorização para comercialização. Atualrnente mação suficient.e e acurada para que possam empregar o novo
se gasta cerca de 7 anos e são necessários 60 ou mais ensaios medicamento de forma mais adequada nos seus doentes.
para se conseguir a liberação. O risco também aumentou. Pes- O processo de desenvolvimento clínico pode ser entendido
quivadorcs ela Universidade de Georgetown estimaram que 10 como a criação de um grande banco de dados sobre o fármaco
;130% em média de todos os ensaios clínicos falham em apontar que permita obter respostas que levem ao uso racional do novo
informações úteis que possam contribuir com u aprovação do medicamento. Perguntas como: O fármaco é seguro e eficaz?
produto". Qual n melhor via de administração? O fármaco é cfctivo para
O elevado CUSIO de desenvolvimento de um fármaco até todos os pacientes ou somente para um subgrupo específico
sua aceitação pela classe médica e o arsenal de informações e de pacientes? Como o fármaco secompara com outros fármacos
tecnologia disponíveis fazem dos ensaios realizados na ra~e I ou formas de tratamento. quanto à eficácia e à segurança? Quais
um importante divisor e um estúdio crítico de decisão quanto os eventos adversos mais comuns associadosao uso do fármaco?
a se continuar ou não o processo de pesquisa. Estima-se que Quais os eventos mais graves? Alguma subpopulação de pa-
70% das novas moléculas líderes estudadas têm seu desen- cientes está sob risco maior de eventos adversos? Qual a menor
volvimento interrompido na fase I do dcsenvolvirncnto cl(- dose inicial que pode ser prescrita? Qual a dose mais elevada
nico. Em média até o Iinal da fase I cerca de I() li 15% do que é tolerada? O fármaco pode ser administrado com ali-
custo total do desenvolv intento foi realizado. Assim é fácil mentos ou outros fármacos?
entender por que o, ensaios da fase I adquirem tanta impor- Essa lista de questões. contudo. fica longe de atender todas
tância como ponto decisório. as necessidadesno desenvolvimento clínico de um medicamento.
Os principais objeiivo-, que devem ser alcançados no dcscn- Ela exige constante modificação tendo em vista resultados e
volvimcruo clfnico de um novo fármaco são: (I) estabelecer conhecimentos novos alcançados com relação II população em
() real bcncffcio terapêutico: (2) definir como melhor uti li- tratamento. novas terapêuticas e curso natural da doença.
zar O fármaco.
Quando se busca estabelecer o real benefício terapêutico do
i'árnl<lco.procura-se mostrar a ua segurança para o uso. demons-
Ensaio Clínico
trar sua eficácia no tratamento de uma condição médica espe- Um estudo clínico é definido pelo ICH como sendo qualquer
ci fica c evidenciar a existência de melhor razão risco-benefício investigação em seres humanos com o objctivo de descobrir ou
da terapêutica com O fúrmaco quando comparado aos trata- verificar os efeitos clínicos, farmacológicos e/ou farmaco-
mentos existentes, caso eles existam. dinâmicos de produtos invcstigacionais. c/ou de estudara absorção,
Entende-se por definir como melhor utilizar o fármaco o o metabolismo e a excreção desses produtos com o objetivo
estabelecimento de suas indicações. ou seja. encontrar aquela de determinar sua segurança e/ou eficãcia",
população de pacientes que aproveitará ao máximo dos bene- No desenvolvimento clínico de um medicamento diferentes
fícios da nova terapêutica. qual a dose ótima de exposição ao tipos de ensaios são dirigidos a diversos propósitos, tais como:
fármaco para se obter o máximo de eficácia com o mínimo de avaliação de segurança, estudo da farmacocinética, avaliação
reações adversas. Procura-se uma forma de administração que de eficácia. estudo do mecanismo de ação. estudos de novas
seja prática e de fãcil utilização: busca-se caracterizar os efeitos formas. novas vias de administração. estudo e avaliação de
do fármaco na fisiologia dos pacientes c sua disposição no orga- uso nu população em geral.
nismo permitindo ao terapeuta () melhor e mais racional uso do Esses ensaios podem ser classificados em":
fárrnaco no l'CII paciente da clínica diária. Como se comporta o
fármaco em diferentes grupos de idade. peso dos pacientes. sexo. • Exploratôrios: ensaios iniciais realizados para investigar
estado da função renal ou hepática. Quais são as tornes de varia- uma nova idéia.
bilidade que interferem mi ação do fãrmaco. ti importância dos • Conjinnatârios: estudos desenhados para confirmar resul-
alimentos quando utilizados de modo concomitante. ou com outros tados dos ensaios exploratórios.
medicamentos. ou de algumas condiçõc ...especificas que pos- • Explanatârios: desenhados para estudar modo de ação
sam interferir com a adesão do paciente ao novo tratamento. ou entender melhor um determinado ponto ou caracte-
É fundamental examinar a possibi lidade de desenvolvimento rística do medicamento.
de tolerância. ou seja. que os pacientes possam e tornar menos
responsivos ao uso do fármaco quando no liSO prolongado e O racional e o esquemados ensaiosconürmarõrlos quase empre
tentar desenvolver estratégias que possam diminuir tal ocor- se apóiam em um trabalho clínico anterior realizado em uma série
rência. Para certos tipos de fármaco é muito importante ex- de estudos exploratórios. Como todos os ensaios clínicos, es e
plorar o potencial de que a própria moléstia po .sa criar uma estudosexploratóriosdevemterobjc:ivosclarose precisos.Entretanto.
resistência ao medicamento como que se passacm relação aos em contraste com os ensaios confirmatõrios. seus objetivos nem
antibióticos, aos antivirais, e drogas utilizadas no tratamento sempre levam a testes simples de hipóteses predefinidas. Além
do câncer e também se desenvolvem estratégias em que tal do mais. os ensaios exploratórios algumas vezes requerem que
fenômeno possa ser reduzido ou evitado. seja definida uma abordagem mais flexfvel, de modo que pos-
É reconhecida pelas autoridades regulaiórias e pela indús- SHm ser feitas alterações em resposta aos resultados acumulados.
tria farmacêutica a importância dos grandes estudos (pivota! Suaanáliscpoderequereraexploraçãodedados:podemserrealizados
Pesquisa Cllnic« • 89

testesde hipóteses. mas u escolha das bipõicses pode ser depen- clfn ica conhecida. e quando existente. se é possível adequá-los
dentedo dados, Essesensaios nHOpodem ser a base da prova em termos de tempo. custos e pessoalpara a realização do ensaio.
formal de eficácia. embora eles possam contribuir para o con- Após e tabelecimento do objerivos, no desenrolar de um
junto total de evidências relevantes. projeto de ensaio clínico. várias preocupaçõesdevem ser aclaradas
Qualquer ensaio individual pode apresentar tanto aspectos e rcsol vidas. tais como: quando empregar técnicas de mascara-
confirmat6rios como exploratórios. Na maioria dos eosaios con- mente - cegueira: qual desenho de estudo utilizar: como evitar
firmatõrios. por exemplo, os dados também estão sujeitos a vieses dc desvios; qual tipo de voluntário a ser escolhido,
análisesexploratórias que servem como base para a explicação sadio. paciente portador da moléstia em estudo, em estado
ou apoio de seus achados e para sugestão de Outras hipóteses grave. ou não: como estabelecer os controles que serão em-
para futuras pesquisas. pregados: qual o tamanho adequado da amostra populacional
Um ensaio confirmatório é aquele adequadamente contro- do ensaio; quais os processos de randomização: quais pontos
lado, no qual as hipóteses são definidas com antecedência e a considerar no recrutamento dos indivíduos participantes
avaliadas. Como regro. os ensaios conflrmatõrios são neces- da pesquisa: que métodos usar para incentivar, melhorar e
sáriospura fornecer evidências concretas de eficácia ou segu- controlar a aderência dos indivíduos no ensaio clínico. Pi-
rança. Nesse tipo de en...aios. a hipótese-chave de interesse nalmenre, estudam-se os pontos mais relevantes do projeto de
parte dlretumcntc do objctivo primário do ensaio. é sempre ensaio clfnico, as considerações éticas e legais envolvidas.
predefinida. e é a hipótese subseqüentemente testada quando
o ensaio é completado.
Em um ensaio confirmatório é igualmente importante es-
Vieses e Fator de Confusão
timar com a devida precisão o tamanho dos efeitos atribuíveis Um viés representa um erro sistemático introduzido no en-
ao tratamento de interesse e relacionar esses efeitos ao seu saio clfuico que distorce os dados obtidos. Um viés pode ser
significado clínico. também uma opinião favorável ou negativa por interpretação
A intenção é que os ensaios confirrnatórios forneçam evi- exagerada de uma questão ou fato sem que se tenham dados
dências concretas apoiando o que se pretende. para suportar aquela conclusão ou ponto de vista. Em esta-
A evidência concreta em apoio do que se pretende exige tística o signi ficado de viés é diferente quando relacionado
que os resultados dos ensaios confirmutórios demonstrem que a um ensaio clínico. Viés é a tendência de uma amostra não
o produto de pesquisa em teste proporciona benefícios clí- ser representativa ele todos os pacientes ou dados obtidos no
nicos. Os ensaiosconfirmarórios devem, portanto, ser suficien- ensaio clínico.
tespara responderclarae definitivamenteacadaquestãoclfnica-chavc Na realização cio ensaio clínico, atenção deve ser dada para
relevanteparaos objcrivos de eficácia e segurança. Além disso. eliminar a maioria ou todo» ()~vieses. N() caso dos estudos caso
é importante que li base de generalização para a pretendida controle (tipo retrospectivo). a presença de viés é inerente.
populaçãode pacientessejacompreendida e explicada; isso pode Quando ele não puder ser eliminado é importante defini-lo de
influenciar também o número c o tipo (por exemplo. especia- modo que seja considerado na conclusão do ensaio. Na redu-
lista ou clínico geral) dos centros e/ou ensaios necessários. ção dos vieses. () protocolo deve ser discutido com quem está
Os resultadosdos ensaios devem ser consistentes. Em algumas familiarizado e conhece as maiores fontes de viés; para tanto,
circunstâncias pode ser suficiente o peso da evidencia de um a participação do estatfstico é de reaI importância.
único ensaio confirmatório". Ensaios randomizados reduzem em muito a probabilidade de
ocorrência de vieses. Sackeu" descreve as principais fontes
de vieses:
ObJetivo do Estudo
Análise detalhada do propósi to do ensaio permi te estabelecer • Referências da literatura: ao se estudar a literatura na
os objctivos do estudo clínico. O que são os objetivos? São área. Por exemplo. o autor restringe as referências so-
declarações concisas de questões maiores ou menores às quais mente àquelas que referenciem suas conclusões; publi-
o ensaio será desenhado para responder. caçõcs feitas sobre assuntos da moda. mas ainda sem
Em todas as áreas do conhecimento. fazer a pergunta cor- dados robusto» para se chegar a uma conclusão.
reta é talvez a parte mais importante da pesquisa. uma vez • Seteção: ao se especificar e selecionar a amostra de
que a colocação do problema é que permite determinar o tipo pacientes deve-se levar em Contaviés decorrente da escolha
dedesenhode ensaio a ser usado. Os objctivos devem ser claros. inadequada do tamanho da amostra, ou por acesso ao
completosc expressos de modo conciso. Os objeiivos do ensaio diagnóstico ou também o viés decorrente do índice de
devem conter uma palavra que estabeleça o contexto do es- admissão. ou seja. se a frequência de hospitalização di fere
tudo, como: estabelecer, comparar, avaliar e determinar. O em- para grupos com a doença, ou a relação entre exposição e
pregodapalavra provar. por exemplo, não é correto, pois implica doenças pode ser distorcida em estudos realizados somente
em que os resultados já são reconhecidos. O objetivo deve em hospitais, não representando, por conseguinte, a real
estabelecer o nome de lodos os medicamentos avaliados, es- população de doentes.
pecificar doses, regime de dosagem. doença avaliada, tipo • Execução: ao se executar o experimento podem ocorrer
de paciente, propósitos gerais e específicos e os parâmetros vieses por contaminação quando inadvertidamente in-
que serão mensurados. divíduos de um grupo-controle recebem o tratamento
Recomenda-se o estudo de um ou dois objerivos rnaiore . experimental, assim, a diferença no resultado entre os
uma vez que tentar responder muitas questões num único pacientes dos dois grupos pode ser sistematicamente
ensaio criará sérios problemas metodológicos e estatísticos reduzida.
e reduzirá a possibilidade de êxito do ensaio. • De retirada: quando pacientes que são removidos de um
Freqücntcrncntc um ensaio clínico apresenta objetivos pri- ensaio cm andamento podem diferir sistematicamente
mário e secundário. O~ quais devem ser bem identificado. e daqueles que permanecem.
Idealmente não mais que um ou dois de cada. • De aderência: a eficácia pode ser alterada pelo descum-
Outro ponto importante a considerar é a verificação da com- primento das recomendações terapêuticas por parte dos
patibilidade entre os objetivos do ensaio com a metodologia pacientes. Em geral. pacientes com angina grave tendem
90 • Tratado de Clínica Médica

a abandonar os exercícios quando comparado aos de menor dos pacientes ante aos tratamentos. à avaliação dos desfechos.
gravidade. à manipulação dos abandonos. li exclusão de dados da análi e.
• De mensuração da exposição e resuhados: ocorre por defeito e assim por diante. O objctivo essencial é prevenir a identifi-
na calibração de instrumentos de medidas. cação dos tratamentos até que tenham passado todas as opor-
• D« análise dos dados ou por postergar vícios de significãncia: tunidades de influência.
quando os resultados são alterados por se estabelecer Os ensaios em que se empregam técnicas de cegueira po-
valores para nfveis de decisão alfa e beta após conheci- dem ser:
mento dos dados. A remoção de dados ele pacientes que
sãn julgados estarem fora dos limites esperados ou de • Simples cego: o paciente não conhece o tratamento que
ordenação que possam ser estatisticamente justificados está recebendo, mas o ensaísta e o pesquisador conhecem.
induz a viés (exclusão de outliersi. O contrário também pode ocorrer. porém é muito raro.
• Duplo cego: nem o paciente nem o pesquisador conhe-
Variáveis de confusâo podem ocorrer cm diferentes condi- cem o tratamento que está sendo ministrado. No en-
ções no ensaio ctínico - são aquelas variáveis que afetarn as saio duplo cego total todo o esforço deve ser dirigido
condições ou a moléstia do paciente e que estão associadas com para que todos que de alguma maneira interagem com
o truturnento que é avaliado. Costuma ocorrer quando dois fa- o paciente não conheçam o tratamento ministrado. No
tores ou processos estão associados e O efeito de um é confun- ensaio duplo cego geralmente a relação médico-paciente
dido ou distorcido pelo efeito do outro. Tal pode ocorrer por é. em parte, afeiada. Nesses ensaios os tratamentos são
viés de scleção. por acaso ou porque os fatores estão associa- pré-embalados de acordo com um esquema aceitável
dos na natureza. O tabagismo quase sempre acompanha um de randomização, e o suprimento de medicamentos em
maior hábito de ingerir bebidas alcoólicas. Em estudo corre- uso no ensaio aos centros de pesquisa é etiquetado apenas
lacionando tabagismo e câncer de pulmão corre-se o risco de com o número do paciente e o período de tratamento.
também se chegar à conclusão de que o hábito de ingerir bebidas de maneira que ninguém envolvido na realização do
alcoólicas pode levar ao câncer de pulmão. ensaio está ciente do tratamento específico alocado a
É importante na elaboração do projeto do ensaio clínico cada paciente em particular. nem mesmo eom uma le-
minimizar de modo antecipado a influência de viés nos rcsul- tra de código.
rados. Por exemplo, paraevitar viés de seleção quando seestudam • Cego-combinado: quando diversos esquemas de cegueira
pacientes com di fcrentes graus de gravidade de lima moléstia são u ados no mesmo ensaio, ou seja, parte do ensaio é
recomenda-se a randomização com estrari Iicução da amostra. aberta. outra parle simples-cega. outra duplo cego con-
Durante o ensaio c na anâlisc dos resultados. uma boa precau- forme determinado 110 protocolo de pesquisa.
ção paraeliminar vieses de interpretação é fazer li análise compa- • Triplo cego-completo: nesse caso os esforços são esta-
rativa dos pacientes que abundonaram o ensaio com aqueles belecidos para que todos que de algum modo interagem
que continuaram o tratamento. Essaatitude pode evitar a existência dirctamentc com o paciente ou pesquisador sejam man-
de viés de terapêutica, por exemplo, um dos medicamentos ter tidos cegos no ensaio. Esse modelo é muito pouco usado.
sabor pior que outro e ser a causa de abandono. Mais raramente se realizam ensaios totalmente cegos em
Os vieses podem ser reduzidos também no estádio de esque- que todos que interagem diretamcntc com o paciente,
matização. pela especificação dos procedimentos no protocolo pesquisador e equipe desconhecem os tratamentos minis-
visando a minimizar irregularidades na condução do ensaio. trados. Significa manterem cegos também patologistas,
que poderiam prejudicar uma análise satisfatória. incluindo o radiologistas, etc.".
tipo de tratamento para os vários tipos de violações do proto-
colo. interrupções e valores perdidos. O protocolo deve levar Manter o rnascaramcnto é muitas vezes desafiador, se não
em conta maneiras tanto para reduzir a freqüência desses impossível. por razões éticas ou de dados laboratoriais utiliza-
problemas como também para manipular os problemas que dos. Um modo de contornar esseproblema é o uso de dois pesquisa-
ocorram na análise dos dados. dores. Um deles entrevista, examina e segueo paciente. O segundo
avalia os exames de laboratório. Este, então, decide mudanças
de posologia e toma Outras medidas necessárias.
Técnicas para Evitar Desvios Em outras situações o tipo de terapêutica em comparação
As técnica, de maior importância para reduzir ou evitar vieses não permite ou a mesma freqüência de dose, ou não é possível
em ensaios clínicos compreendem o esquema cego e a randorni- o uso de uma só concentração dos medicamentos, ou a mesma
zação. Essastécnicas devem fazer parte da maioria dos ensaios via de administração. O método de múltiplo placebo ou o que
clínicos controlados que serão incluídos cm uma aplicação de é mais comum duplo-placebo é então recomendado. Cada pa-
registro paracomercialização perante as autoridades regulatõrias. ciente recebe duas embalagens dos produtos diversos A ou B
ou seus respectivos placebos.
O ensaio duplo cego, quando bem conduzido, é aquele que
Cegueira/Mascaramento permite a mais poderosa interpretação dos dados obtidos. Assim.
No ensaio clínico O mascaramcnto é utilizado para reduzir os é de enorme importância checar-se a validade do rnascaramento,
desvios que ocorrem com relação ao tratamento e para evitar antes, durante e após o ensaio estar finalizado. Durante o ensaio
o efeito placebo que geralmente acontece nos ensaios abertos, o monitor ou outro indivíduo sclccionado deve avaliar se o
não mascarados, não cegos. Nesse tipo de ensaio - aberto - mascaramcnto está sendo mantido, por exemplo, entrevistando
tanto o paciente como () pesquisador conhecem o medicamento todos os indivíduos que tenham abandonado o ensaio questio-
que está sendo usado no ensaio. nando de modo especffico esse ponto. Ao término do ensaio
A conduta cega ou mascaramento pretende limitar a ocor- poder-sé-ia Inquirir os pacientes para que tentem adivinhar
rência de influências conscientes ou inconscientes na condução qual tratamento recebeu.
e interpretação de um ensaio clínico a partir da influência que o Paciente ou pesquisador pode. de modo inadvertido ou deli-
conhecimento do tratamento pode exercer sobre o recrutamento berado, romper a cegueira do ensaio. Tal pode ocorrer por: (I)
e alocaçãodos pacientes.seu subsequenteatcndimemo, às atitudes reações adversas; (2) eficácia: (3) falta de eficácia; (4) alterações
Pesquisa Clfnica - 91

em exames de laboratório. A conseqüência resultante da que- observação. de modo que cudu um deles tenha igual chance
bra da cegueira é a introdução de vieses nos dados obtidos. de ser incluído em quaisquer dos grupos cm estudo, sem tenden-
Quando provocados pelos pacientes. eles são facilmente notados. ciosidade. A randomização proporciona a formação de grupos
Ao conrrãrio. quando introduzidos pelo pesquisador. não é de tratamento nos quais a, distribuições dos fatores prognós-
tarefa fácil avaliar-se de modo objeiivo as conseqüências, ticos. conhecidos e desconhecidos são similares. Em combi-
Podem surgir dificuldades para se atingir o carãicr duplo cego nação com o mascaramcnro duplo cego, a randomização ajuda
ideal: os tratamentos podem ser de natureza completamente a evitar possfveis desvios na seleção e alocação dos pacien-
diferente. por exemplo, ci rurgia e tratamento medicamentoso; tc~ a partir da previsibilidade das atribuições de tratamento.
duas drogas podem ter diferentes torrnu laçõcs c, embora elas O processo de randomização minimiza as diferenças dos
possam ser tornadas indisringulvcis pelo uso de cápsulas, 11 fatores relevantes entre os grupos estudados nos delineamen-
mudança dn formulação pode também alterar as propriedades tos paralelos.
Iarmacocinéiicns c/ou Iarrnacodinârnicas e. em conseqüência, O esquema de randomização de um ensaio clínico docu-
requerer que seja estabelecida a bioequivalência da formula- menta a alocação aleatória dos tratamentos aos pacientes. Na
ções: o padrão diário de administração dos dois tratamentos situação mais simples. ela é uma lista sequencial de tratamentos
pode diferir. Uma maneira de conseguir as condições duplo- (ou sequências de tratamento em um ensaio cruzado) ou cédigos
cegas nessas circunstâncias é usar ou uma técnica de duplo correspondentes ao número do paciente. A logística ele algum,
placebo ou outra a de duplo engano double dununy, Essa técnica ensaios, C 0111 O aqueles com uma Iase de triagem. pode tornar
pode algumas vezes forçar um esquema de administração as coisas mais complicadas, porém a atribuição pré-plunejada
suficientemente incornurn para influenciar adversamente a única cio tratamento, ou da seqüêncin de trntumento, ao pa-
motivação e aderência dos pacientes. Dificuldades éticas também ciente. deve ser clara. Esquemas diferentes de ensaio exigirão
podem interferir em seu uso quando, por exemplo, este envol vc procedimentos diferentes para a geração dos esquemas de rando-
procedimentos operativos de engano ou si rnulado, dI/111m)'. Não mização, O esquema de randomizaçâo deve ser reprodutível
obstante. devem ser envidados os máximos esforços rara superar (se houver necessidade). Entretamo. somente o procedimento
essas dificuldades. de uma rundomiznção simples pode não ser suficiente para
O ensaio duplo cego é (l padrão-ouro dos ensaios clínicos, eliminar as diversidades entre grupos. Se os dados nos valo-
no entanto. existem ocaviões cm que o ensaio aberto ou simples rei: basais dos grupos em estudo forem muito diversos, sérios
cego é aceito. tais como: problemas de interpretação acontecerão ao final do ensaio.
em especial se a característica afetada tiver influência no resultado
• Ensaio-piloto. anterior a um ensaio maior, definitivo. e não for igualmente distribuída entre o., grupos.
• Estudos que envolvam situações com risco de vida ou Embora a randomização sem restrição ..cja urna aborda-
pacientes em coma. gem aceitável. algumas vantagens podem ver obtidas rando-
• ensaio de compaixão. mizando-se os pacientes cm blocos. )l>,o ajuda a aumentar ti
• Estudos de fase I de limites de dose cm pacientes. comparabilidade dos grupos de tratamento. particularmente
• Ensaios de corninuação a longo prazo de um ensaio duplo quando as características do paciente podem mudar ao longo
cego de fase II ou III. do tempo, em resultado. por exemplo. de alterações da 1'01(-
• Ensaios em que. por razões éticas. o desenbo duplo cego rica de recrutamento. Ela também fornece melhor garantia de
não é indicado. que os grupos de tratamento terão tamanho quase igual. Nos
ensaios cruzados. ela fornece os meios para se obter esque-
Se não for viável um ensaio duplo cego. deve-se levar cm mas balanceados e com maior eficiência e. portanto. de inter-
consideração a opção simples cego. Em alguns casos. somente pretação mais fácil. Deve-se tornar cuidado para escolher os
um ensaio aberto é prática e eticamente possível. Os ensaies tamanhos dos blocos suficientemente pequenos para limitar um
simples cegos e ubenos fornecem flexibilidade adicional, mas possível desequilíbrio. mas grandes o bastante para evitar a
é particularmcruc importante que o conhecimento do pes- previsibilidade até o final da seqüência em um bloco. Em geral.
quisador do tratamento a seguir não influa na decisão de ad- os pe quisadore e outros membros relevantes da equipe não
mitir o paciente; essa deci ..ão deve preceder o conhecimento devem ter ciência do tamanho do bloco.
do tratamento randomizado. Para esses casos recomenda-se o Outra maneira de' minimizar riscos de grupos diversos, com
.< usode um método de randornização centralizado, como a randomi- relação a variáveis importantes que possam influenciar o resul-
.;,
'"
.
/ação por telefone, para administrar a alocação do tratamento tado do estudo. é usar a técnica de estratificação".
'Q
randomizado. Além disso. as avaliações clínicas devem ser De maneira mais geral, a estratificação por importantes fatores
;!,
'7 feitas por lima equipe médica que não esteja envolvida 110 prognósticos medidos no momento basal (por exemplo. gra-
::l tratamento dos pacientes e que permaneça sem conhecimento vidadc da doença, idade. sexo. ctc.) pode. algumas vezes. ser
do tratamento. Nos ensaios simples cego e abertos deve ser valiosa rara promover urna alocação balanceada dentro dos
feito o máximo esforço rara minimizar as diversas fontes estratos: isso apresenta maior potencial de benefício em ensaio.
conhecidas de desvios. e as vnriáveis primárias devem ser tão pequenos. Raramente é necessário o uso de mais de dois ou
objetivas quanto possfve!". três Iarorcs de cstrari ficação, sendo menos bcm-sucedido na
obtenção do equilíbrio e logisticamemc trabalhoso quando se
utiliza número maior de fatores.
Randomlzação Outras técnicas conhecidas como a de minimização? podem
A randomizução é uma técnica usada para garantir que os testes ser de utilidade em alguns tipos de ensaios especificamente na-
de significfint.:ia csraustica sejam empregados de modo válido. queles em que os pacientes entram no estudo lentamente ou
A randomiração introduz um elemento deliberado de proba- em grupos. Esse esquema permite construir grupos similares
bilidade na atribuição dos tratamentos aos pacientes em um em vários fatores e não limitados a alguns. Nesse caso, após o
ensaio clínico. estudo de um grupo inicial de pacientes COI11 tamanho deli-
O melhor modo de se estudar os efeitos de uma intervenção nido, os próximo, pacientes randornizadov no ensaio silo alo-
clínica terapêutica sem interferência de outros efeitos ou fatores cados cm grupos em que a diferença total dos outros grupos
é alocar os pacientes ao acaso nos grupos de tratamento ou de é minimizada.
92 • Tratado de Clínica Médica

o uso de um procedimento dinâmico de alocação pode ajudar A maior parte dos desenhos de ensaio clínico comumenre
a obter o equilíbno cm di\ crsos furores de e trarificução simul- utilizados. envolvendo dois grupo de pacientes. emprega ou
tanearnente, desde que o restante dos procedi mentes do en- o de enho em paralelo ou o desenho tipo cruzado.
-uio 1}lI"U ver ajuvtado para acomodar uma abordagem desse
ripo. eh tnrore.. em que a randornização foi estratificada de-
vem ver lcv adov cm consideração para mais tarde na anál ise.
Ensaio Paralelo
O~ detalhes da randorniz ..ação que facilitam a previsibilidade o esquema rnaiv comum dc ensaio ctrnico para ensaios do tipo
(por exemplo. tamanho do bloco) não devem constar do pro- conflrmarõrio é o csqucmu cm grupo-, purulclos. no qual os
recolo do ensaio. O próprio esquema de rundomizuçâo deve pucicme .. .,ao rundomizadt», puru um ou mail. bruços, cada braço
ser preenchido com ..egurança pelo patrocinador ou por uma sClldo uloeado u um diferente rrutumcnto. O desenho em para-
parte independente. dc uma maneira n ser uwcgurado que o lelo é ti mu" cornumcnte urilivndo no desenvolvimento clínico
cnrãtcr cego 'er.1 adequadamente mnnikío durante o en ..uio. de furmncov, uma \Cl que esse modelo resiste a problemas que
() uccv-o ao esquema de randomivnção durante o envaio deve ocorrem durante a realizaçâo do ensaio como visitas perdidas
lcvur em cnn"deraçall .:a powibllidudc de que, cm uma emer- ou retardadas .. perda de alguma informação. No de enho em ~
),:~ncia. CI curãter cego necesviturá ser quebrado para algum paralelo o paciente uma \el randomlzudo é dirigido para um ~
pucicnte. O proccdunento (I ..cr 'cgll ido. ti documentação dos dois grupo .. de tratamento e de modo geral recebe O me. mo Jo

neee,~(tria. a~...m como o tratamento subscqücnte e a avalia- medicamento até o final do cnvuio, O~ tratamentos para os ~
,ão do pucicntc. devem estar descritos no protocolo. grupos sãodiferente, ou plucebo ou 11111 dos doi~ mcdicamcntov "
Em ensaios muhicêntricos os procedimentos de rundomizaçâo ou Iormu de medicamento em estudo, Nesse modelo é possfvcl
devem ser organizados centralmente. É recomendável ter urna série de variações. ta ... corno: uso das doses alternadas.
um esquema de randornização separado pura cada centro. csculonudus.
i!\IOé. estratificar por centro ou alocar diversos bloco .. com- Numu segunda fase. subgrupos também paralelos podem
plctos a cada centro, ver origi nado» dos dois grupos paralelos. A inclusão de placebo
pode ver feita antes do início da randomização ou durante 3
fa..e intermediária,
Delineamento do Ensaio
Quand« 'e avalia o tipo de delineamento n seguir no preparo
de uma pcsquivn chnica e ..e leva em consideração o período
Ensaio Cruzado
de tempo, O!\ensaios podem ser classificados como prospectivas. O ensaio tipo cruzado, muito usado no dc-cnvolvlmcnro clínico
no, quuis ti:. intervenções e as ob ervações se realizam a par- de fármllcos na década de 1980. em cspeclul nu Europa. é um
tir (li! determinado momento parei diante, e rctrospcct ivo, quando ripo de delincumcnto cm que cndn paciente recebe ambos os
a, observações são obtida, a partir do momento para o rato rnuarncmos a serem compartido, no ensulo,
pavvado buscando saber quai-, intervenções acnrrcurrnm o ocor- o esquema cru/ado, cada pacicrue é randomizado para uma
rência conhecida ou uma combinação de urubus. Os modc- veqüêncin de dois ou mal .. tratamento, e. conseqüentemente,
lo~ rctrovpcctiv os, por ..u." limita õe .. e dcvvuntugcns, 'üo cadu paciente age como sendo seu próprio controle para a
úte" nJ geraçãll de hip<\te,e, que poderão tlU IIÜO !ocrconfir- comparaçõc .. de tratamento. E.. a manobra simples é atraentc
mllda' IX"mel() de en,al'" pro,pectl\O'>. ti dc'envolvilllcnto pnrnelramente porque redu7 o número de paeientes e. eom
dllllt:U de 110\0' medicamento,. (l modelo li utilizar é, sem- frcquência. o número de a\'aliaçõc .. necel>~:irias pura se obter
pre lJue !Xl"'\ el. I) pro'pectivo. um podcr e pecífico. às \ ele .. numa aeentuadu umplitude. o
O delineamento pode ..er desenvolvido li partir do grupo e~quema mais simples dc 2x2. cada pueiente rcccbe cada um
de padentc e,tudado. Al>si111 podem-l>e ter en~aios envolvendo dos dois tratamentos em dispo\içüo randomizoeJa, cm dob
um único grupo de pacielltes que podem ser do tipo aberto períodos l>uces!>ivosde trnlOrncnw. '1u:I\CI>empre separados por
ou ,imples cego e em que todos os indivíduos são Il'tlt.ados um período em tratamento de laW1l!clIIlI'lI\holll (Tabela 12.2).
com o mesmo fármaco. Podem ser úteis para eSludar rcn· O~ e.,quema~ crul.ados uprel>enwlll dl\crsos problemas que
çõe~ ad\er as e tolerabilidadc usando- e crilérios que per- podem In\ulidar seu" resulwdo,. A principal dificuldade diz
mitem alterar a do,c do fármaeo para menor ou maior ou re'pclto ao tran porte de efeito. iMOé. a influência residual
ll1e,mo po~,>ibllitand(l a troca de fl1rmaco. o cntanto. o grupo do~ tratamento no períodos de tratamento subseqüentes. que
que InicIou o e,tudo que era homogéneo IHIll,forma-se em 'e procura contornar com a incJu ão do período sem trata-
um grulX' hetcrogéneo de indivíduo,> cada um trotado com mcnto entre as duas fases do enc;aio. Ponanto. quando O cs-
do,c, dl\cr\a\. quema cruz.ado é usado. é importante e\ itar o transporte. Isto
O delineamento a partir de doi!> grupoll de pacientes pode é mais bem realizado pelo uso l>cleti\o c cuidadoso do esquema
com ba.,e no adequado conhecimcntn tunto dn doença eomo dll
!ocrdividido cm do" tij)<": estlldo~ l>eccionai!>c longiludinais.
NI)~ cn"lio,> ~ecclonai!> um grupo de indivfduos é submetido nClva medicação. A doença cm estudo deve scr cróniea e est~-
vel. Os efcitos relevantes dn I11cdicllI;t10devem se desenvol-
ii d()i~ (lU mab tratamentos e ao final o resultado entre cada
ver tOlolmente dentro do per(odo de trululllentO. Os períodos
grupo de tratamentO é comparado. No ensuio longitudinol
de 1I'1II1IUlfl de\em ~cr ,>uficielltclllCl1le I()ngo~ para a completa
cada grupo dc mdi\ íduo' é comparado eontra 'eu c"udo iniciul
no ~entido de 'c a\aliarcm a, altel'llçOc, ocorrida, cm cada
grupo. Em gerJI '" en,aio' ,cccionais NaO dc curto pcrfodo de
TABELA 1:2.2 - Esquema de ensaIo cruzado com dois grupos
()b~ervõlliã().qu ....c 'cmpr.: 10 a 16 ,emun:" e 1), lC)nsitudinai~ d. trlt.mento A e I e período de lavagem. Este modelo • o
UMld()~ pur pcrindch mJ" lon8()~. maIs uYdo nos estudos de bioequivalincil
No dc'envoh Imcntll cllnlco de um fármaco a maior parte
do, en~lIi(), de elK.iclu c ~egurunçil e fases I c lia ão do GRUPOS PEIÚODOSE TRATAMENTOS
tipo ~ccci(lnul de curta duração. Já nus fasc~ II e III avan- A------ WQ------B
çHdul>.clIMlio, do tIpO longitudinal são utilizados bem como II B------ WO A
em Cllrt()~ en~aiolo epidemiológicos de fase IV. WO. wDshoUI
Pesquisa (/lnica • 93

revervrbilidadc do efeito da droga. O falo de que cvsav condi- Quando existe ncccs ..idade de submeter 1). pacientes a mais
çõcs têm probabilidade de ocorrer deve ser estabelecido antes de dois tratamentos. os procedimentos tornum-se mais com-
do ensaio, por meio de informações e dado, prévios. plexos. Assirn, admita-se um ensaio cruzado que envolva três
IO~ ensaios cruzados existem problema' adicionais que diversos tratamentos - A. B e C - no mesmo paciente. O efeito
necessitam de atenção cuidadosa. O ruais nouivcl deles é a da ordenação dos tratamentos só poderá ser cl imi nado se seis
complicação de análise c interpretação decorrente da perda grupos de pacientes forem utilizados, a saber: ABC. BAC, BCA,
de pacientes. O tempo maior que o paciente é mant ido no ensaio CBA. CAB. ACB. de modo que lodos os grupos recebem os
quando comparado ao desenho paralelo é motivo para aumento três tipos de tratamento e que a ordem deles não afere o resul-
na taxa de abandono. tado final por grupos.
O potencial para transporte também causa dificuldades para Um procedimento técnico. entretanto. permite que. com
a vinculação ao tratamento apropriado do, eventos adversos número mínimo de grupos. se possa assegurar que a ordem
que ocorrem nos períodos mais avançados. O esquema cruzado dos tratamentos não aferará os resultados do ensaio. Esse
deve. em geral. ser restrito a situações em que se espera que procedimento. retirado da matemática c denominado de qua-
seja pequena a perda de pacientes do ensaio. drado latino, pode ser usado para qualquer número de trata-
O modelo cruzado é de grande valia nos en,ai()~ de bioequiva- mcntos. se bem que na prática é problemático seu uso com
lência, pois envolve voluntários cornumentc ~adil)~ e obser- mais de cinco tipos de tratamento.
vades por curto período de tempo. Nessa aplicação em particular, Quando 1>C distribuem entre linhas e colunas as possibilida-
em volunrãrios sadios. é muito improvável que ocorram os des de tratamento entre pacientes. deve-se escolher ti que melhor
efeitos transporte sobre a variável farmacocinérica relevante.
se adapta li necessidade da pesquisa. Assim, usando apenas três
grupos, ABC. BCA e CAB. se conseguirá garantir que todos os
se o tempo de I1'(lS!lOlIf entre dois períodos for suficientemente
pacientes receberão todos os três tratamentos. que cada trata-
longo e maior do ci nco meias vidas do produto estudado. Ainda
mento apareça uma vez em primeiro. em segundo e em terceiro
é fundamental, entretanto. checar essa suposição durante a análise
lugares na ordem de tratamento e que cada tratamento siga o
com base nos dados obtidos, demonstrando. por exemplo, que
OUITO tratamento uma vez. como exemplifica a Tabela 12.3.
não é detectada droga no início de cada período.
tos livros de c tatísuca, variados exemplo de quadrados
A variabilidade dos resultados obtidos nesse tipo de estudo
latinos podem ser encontrados, provendo-se para que ejarn
é menor do que a que oeorre no desenho paralelo. bem como atendidas as neccs idades de cada tipo de ensaio. A maior crítica
por sua maior sensibilidade para detectar diferenças entre que se faz a tal tipo de procedimento é que. por meio dele. o
grupos de tratamento, o ensaio cruzado requer menor númc- pacientes ficam muito tempo relidos no ensaio, aumentando
ro de pacientes do que o ensaio paralelo para detectar o mesmo as perdas de casuística e os riscos para O~ pacientes.
efeito, 110 entanto. esse ripo de ensaio sofre os efeitos de pa-
cientes que abandonam o ensaio ou quando dados são perdi-
dos. Para se "pi icur o desenho cruzado () estudo deve cnvol ver Ensaio SeqUencial
somente pacientes com doença cstabili/udu durante os dois Variação do ensaio paralelo. o ensaio scqücnciul é uma forma
períodos de tratamento e dados de linha de base (inlciuis de útil de se lidar com moléstias com esporádica disponibilidade
cada período de tratamento) devem se apresentar em condi- de pacientes. Pode ser usado como forma de ensaio exploratório.
ções similares. Ademais, não deve ser possfvcl ocorrer efeito em geral na fase 11 do desenvolvimento clínico. Muitas vezes.
re idual após cada tratamento. inclusive psicológico. Enfim. pacientes com determinada condição patológica lião encontra-
as manifestações da doença devem regredir aos mesmos dados dos somente de modo esporádico, em períodos de meses ou
iniciais e o efeito do tratamento deve deixar de existir. uma anos. impedindo uma previsão do número de pacientes neces-
vez que o tratamento seja interrompido. Como a detecção sário para inferir a significância estausuca do resultado. Uma
do efeito residual é difícil de ser realizada, este é um motivo manobra esrarfsrica, mais que uma técnica de ensaio. é um
para que esse modelo não seja mais utilizado. procedimento de ensaio terapêutico no quul os resultados são
A~ principais condições mórbidas. nas quais o ensaio cruzado analisados conforme se tornam disponíveis, c não ao final do
pode ser empregado para avaliação da eficãcia e segurança de ensaio. como nos experimentos comuns.
um novo mcdlcumcnto, são: enxaqueca. epilepsia. narcolepsia, Uma das formas mais freqüentes de ensaio scqüencial é
~ glaucoma. diarréia crônica, dor crónica. cefaléia crônicu ou aquela lia qual 'c compara determinado medicamento com
;;. tenvionul. angina. insônia e espondilitc anquilovumc. outro ou com o placebo. Cada paciente que entra no ensaio
~ Mesmo nessas condições mórbidas dependendo da resposta é alocado num ou noutro tratamento. Cada paciente é pareado
:;; do paciente c retorno às condições iniciai, do~ parâmetros em com outro de modo arbitrário. mesmo que não tenham ca-
00 avaliação, os ensaios clínicos podem falhar c ~1segunda parte ractcrísticas idênticas. Como critério de respostas clfnicas,
ensaio cruzado pode ficar invalidada. adora-se aquele obtido em determinado tratamento, Por exemplo.
Um tipo bem conhecido de delineamento de ensaio cruzado. A em comparação a outro B. As respostas podem ser: A melhor
em que os pacientes devem ser tratados com mais dc duas
formas de tratamento, é aquele que envolve o quadrado latino.
Esse desenho cruzado completo permite que cada grupo de TABELA 12.3 -'Esquema usado em ensaío cruzado em
pacientes receba cada tratamento de modo randômico. A téc- procedímento quadrado latino para três tipos de tratamentos
nica do quadrado latino assegura que cada alternativa de tra- diversos (A, B e C). Neste exemplo, com apenas três grupos de
lamento veja igualmente distribuída entre os pacientes e que tratamento ABC,BCA,CBA,elimina-se o efeíto ordenac;ãoe se
cada rratamcnto siga outro tratamento apenas uma vez. E a mínimiza o número de pacientes no estudo
técnica utilizada quando se tem necessidade de comparar vários PACIENTES PERloDOS
ETRATAMENTOS
tratamentos di tcrcntcs nos mesmos pacientes.
o ensaio cruzado que compara doi, rratumcmos ()~ pa- 1 A--WO---B---WO--C
cientes cm cada grupo são retirados de um tratamento A c 2 B--WO---C---WO---A
3 C--WO---A---WO---B
alocados sob trutamcruo B previamente dado aos pacientes
do outro grupo. = washout
WO
94 • Tratado de (IInica Médica

que B. A igual a B e A pior que B. Os resultados de cada par deração a necessidade de procedirncruov formais para cobrir
de pacientes são lançadov num gráfico de análise seqüencial a interrupção precoce por motivos de segurança.
como exposto na Figura 12.1. Nesse gráfico. os resultados dos
pares de pacientes estudados são alocados a partir do ponto 00 Esquemas fato riais
da carta gráfica. Se o tratamento A é melhor que o B preenche- O desenho fatoriul pode ser considerado quando for possível
se o quadrado acima do quadrado em preto (00). Se B é melhor ministrar u, tratamentos conjuntamente sem modificações (ou
que A preenche-se o quadrado ti direita de 00. Se A é igual a B seja. um não interfere no outro ou potencializa a toxicidade ~
não se faz registro. O ensaio termina quando se tem a confir- do outro). Conforme Byar e Piuntadosi.....os ensaios envolvendo ;:
mação de signi ficância cstausiica quanto à comparação do' a terapêutica do câncer são adequados para esse tipo de ensaio. ""
traramcntus segundo os limites estuusricos pré-estabelecidos. Em urn esquema Iatorial. dois ou mais tratamentos são avalia- ~
Esse tipo de ensaio também 6 útil em estudos de produtos
tópicos. nos quais se povva. utilizando O mesmo paciente. fazer
dos simultaneamente por meio do uso de várias combinações x
de tratamento. O exemplo mais simples é o esquema fatorial
a aplicação de cada tipo de tratamento em partes diferentes
2x2. no qual os pacientes são aleatoriamente alocados a uma
do corpo. por exemplo. f~írmacoA nu braço direito e fármaco B
de quatro possíveis combinações de dois tratamentos, diga-se
no braço esquerdo. A maior vantagem desse procedimento é
A e B. Elas são: apenas A: apenas B: tanto A como B; nem A
que o orientador da pesquisa sabe quando deve parar o ensaio.
nem B. Em muitos casos este esquema é usado com o propô-
Com isso. o resultadopode serobtido mais rapidamentee assegurar
siro cspccffico de examinar a inicração de A e B.
que não mais pacientes que o estritamente necessário sejam
Outro importante uso do esquema fatorial é estabelecer as
submetidos ti pesquisa.
características de dose-resposta do uso simultâneo de dois
Essasvantagens não significam que se deva sempre utilizar
tratamentos C e D. por exemplo. especialmente quando a eficácia
() ensaio scqücncial. pois, quando as diferenças entre os trata-
de cada monotcrupiu foi estabelecida em urna determinada do e,
mentesnão são muito pronunciadas, perde-seem muito a precisão
estatfstica em se detectar a rcal diferença entre os tratamentos. em ensaios anteriores. É sclccionado um número, m, de dosesde
Ele também não é indicado quando a resposta do paciente ao C. usualmente incluindo uma dose zero (placebo). e um número
tratamento se fal após um longo período de tempo. Algumas similar. n. de doses de D. O esquema completo consiste, en-
características importantes devem ser levadas em conta quando tão, em grupos de tratamento 111 x n. cada um recebendo uma
se planeja um ensaio scqücncial. tais como: o ensaio deve ter diferente combinação de doses de C e D. A estimativa resul-
pacientes cujo resultado sobre o tratamento possa ser rapida- tanto da faixa de resposta pode. assim. ser usada para auxiliar
mente avaliado, o delineamento do ensaio deve ser imples. o a identificação de uma combinação apropriada de dose de C
desfecho a ser aval iado deve ser único e claro. Essas caracie- e D para uso clínico.
rísricas por l>i..ó limitam muito o uso dessemodelo. Esse modelo Em alguns cavos. o esquema 2x2 pode ser usado para fazer
também é de mais difícil organização e tem seu orçamento LISO eficiente dos pacientes do ensaio clínico. pela avaliação

menos controlável. ES~I! upo de ensaio não permite que os daeficácia dos dois tratamentoscom O mesmo número de pacientes
resultados de cnvaio v, usando o mesmo protocolo e realizado que seria necessário para avaliar a eficácia de qualquer um
em outros centros. sejam analisados de modo conjunto. deles sozinho. Esta cstratégiu comprovou ser particularmente
Finalmente. deve-se também lembrar que, num ensaio valiosa em ensaios com mortalidade muito alta. A eficiência
sequencial. quando este é dado por encerrado. nem todos os e validade desta abordagem dependem da inexistência de in-
indicadores atingiram um csutdio de elucidação uficicnte. teração entre ()~ tratamentos A e B. de modo que os efeitos de
perdendo-se. por conscgu intc, mui ta informação úti I. A e B sobre as variáveis primárias de eficácia seguem um modelo
aditivo e, portanto. o efeito de A é virtualmente idêntico, quer
Ensaio Seqüenclal de Grupos seja adicional ou não aos efeitos de B. Como no ensaio cru-
zado, deve ser estabelecida antes do ensaio, por meio de infor-
Nesse tipo de dellncarucuto IIIll grupo de pacientes entra no mações e dados prévios, a evidência de que esta condição tem
ensaio. Uma análise interina dos resultados é realizada e se estes
probabilidade de ocorrer.
são sign i fiem ivos cstut iSl icarnenrc o ensaio 6 i nterrornpido.
Caso contrário. um outro grupo de pacientes é incluído seguindo
(l mesmo tipo de randomizução como empregado para o grupo

origina). Os esquemas <cqücnclais de grupo são li ados para


facilitar a conduta da nruilivc intermediária. Embora os esquemas rtatamento
seqüenciai: de grupo não sejam os únicos tipos aceitáveis de A melhor Não ... ste diferença
entre A e B
esquema que permitem análise interrnediâria. eles são os mais 30
cornumcnie aplicados, porque é mais prático acessar os rcsul-
iados de pacientes agrupado, a intervalos periódicos durante 25
o ensaio do que em uma base contínua conforme os dados de
cada paciente ficam disponíveis. O métodos estatí ricos devem 20
ser amplamente especificados antes da disponibilidade das
informaçôcs sobre os resultados do tratamento e a designação 15
30
do tratamento ao paciente. Podc ser usado um Comitê Inde-
pendente de Monitoração dos Dados para revisão ou realização 10
25
da análise imcrmediâriu do, dados que chegam de UIIl e quema
seqücncial de grupo. Apesar de o esquema ter sido mais am- 20
plarncnte c com maior sucesso usado em ensaios grandes. ii IS Tratamento
O 8 melhor
longo prazo, de mortalidade ou grandes desfechos não fatais, seu
O
Ul>O está aumentando em outras circunstâncias. Em particular,
6 rato reconhecido que II segurança deve ser rnonitorada cm
Figura 12.1 - Modelo de carta gráfica utilizada para avaliar resul-
todos os ensaios e por ivso deve sempre ser levada em consi- tados em ensaios seqüenciais
Pesquisa Clínica • 95

Ensaios Multicêntrlcos Se for constatada a heterogeneidade dos efeitos do trata-


mento. isso deverá ser interpretado com cuidado. devendo
Os ensaios multicêntricos são realizados por dois motivos
ser realizadas vigorosas tentativas pura encontrar uma ex-
principais. Em primeiro lugar. um ensaio muhicêrurico é urna
plicaçâo em termos de outros aspectos do controle do ensaio
maneira aceita de avaliar com mais eficiência uma nova medi-
ou das curucterísticas 00 paciente. Essa explicação usual-
cação;em algumas circunstâncias ele pode repre. curar o único
mente sugerirá análise c interpretação posteriores apropria-
modo prático de prover número de paciente. suficiente para
das, :I ausência de uma explicação. a heterogeneidade do
satisfazer o objetivo do ensaio dentro de um razoável períodc
efeito do tratamento conforme evidenciada, por exemplo, por
de tempo. Os ensaios rnulticêruricos dessa natureza podem.
acentuadas imerações quantitativas, implica em que podem
em princípio. ser realizados cm qualquer estádio do desen-
volvimento clínico. Eles podem ter diversos centros com um ser necessárias estimativas alternativas do efeito do tratamento.
grande número de pacientes por centro ou, no caso de uma com a atribuição de diferentes pesos para os centros. com o
doença rara. ter um grande número de centros com poucos objetivo de confirmar O vigor das estimativas do efeito do tra-
pacientes por centro. tamento. É ainda mais importante compreender a basede qual-
Em segundo lugar. um ensaio pode ser esquematizado como quer heterogeneidade caracterizada por acentuadas intcrações
multicêntrico (e multipesquisador) para fornecer uma melhor qualitativas e, a deficiência para se encontrar uma explicação
basepara a ubseqücnrc generalização de seus achados. Isso pode tornar necessário realizar outros ensaios clínicos antes
decorre da possibi Iidade de recrutamento de paciente. de uma °
que efeito do tratamento possa ser previsto com confiunçu.
população mais ampla e da administração de medicação em
urnagama maior de condições clínicas. desse modo apre cn- Insaios para Mostrar Superioridade,
~ tandourna situação experimental mais típica de seu futuro uso. Iquivalência ou Não-Inferioridade
S;: Nessecaso. o envolvimento de diversos pesquisadores também
~ dá o potencial para uma maior variação de julgamentos clínicos Cientificamente. a eficácia é mais convincentemente estabelecida
~ referentes ao valor da medicação. Este seria um ensaio confir- pela demonstração dc superioridade do fármaco teste sobre o
00 matório nas última fases de desenvolvimento da droga. e placebo, em um ensaio controlado com placebo, mostrando supe-
provavelmente envolveria um grande número de pesquisadores rioridade do fármaco teste sobre um tratamento ativo de con-
e centros. Ele poderia algumas vezes ser realizado em diversos trole. ou demonstrando uma relação dose-resposta. Esse tipo
países diferentes a fim de tornar mais fácil a generalização de ensaio é citado como um ensaio ôcsuoerioridade. Em doenças
dos resultado para várias populações. graves, quando existe um tratamento terapêutico que por meio
Se um ensaio rnulticêntrico precisar ser significativamente de ensaio(s) de superioridade já demonstrou ser eficaz. um
interpretado e extrapolado. então 1:1 maneira como o protocolo ensaio controlado com placcbo pode ser considerado antiético.
é implementado deve ser clara e similar em todos os centros. Nesse caso, deve-se considerar o uso cientificamente válido
Além do mais. o tamanho usual da amostra e os cálculos de de um tratamento at ivo como controle. A conveniência de um
poder estatístico dependem da pressuposição de que as dife- controle com plaecbo versus um controle ativo deve ser levada
renças entre os tratamentos comparados nos centros não so- em consideração em uma base de en aio por ensaio.
fremdesvioscom relação à estimativa quanto à mesmaquantidade Hoje. as agências regulatórias para avaliação de produtos
de pacientes. Os procedimentos devem ser padronizados tão medicinais aceitam considerar os aspectos relativos aos en-
completamentequantopossível.A variaçãodos critérios deavaliação saios de superioridade, equivalência e de não-inferioridade na
e dos esquemasempregado. pode. er reduzida com encontros avaliação da eficácia de um novo fármaco. Ou seja, os tipos de
dos pesquisadores. pelo treinamento do pessoal antes 00 en- ensaios citados são aqueles desenhados para comparar um novo
saio, e pela cuidadosa monitoração durante o ensaio. Um bom produto com uma referência ativo no lugar de um placebo.
projeto deve. em geral. visar à obtenção da mesma distribui- O objcrivo pode ser então demonstrar a superioridade do
ção de pacientes aos trutarncnros dentro de cada centro. Os novo produto ou u equivalência do novo produto, ou sua não
ensaiosque evitam variações excessivas do número de pacientes in ferioridade.
por centro e os ensaios que evitam muitos pequenos centros Um ensaio de superioridade é desenhado para detectar uma
apresentamvantagensse posteriormente for considerado neces- diferença entre os.lratamentos, ou seja, a hipótese estatística
sário levar em consideração a heterogeneidade do efeito do a ser rejeitada é aquela de que não há diferença entre os trata-
tratamento de um centro para outro. porque eles reduzem as mentos. O grau de significância estatística - o valor de p -
diferençasentre estimativas di feremcmente ponderadas do efeito indica a probabilidade que a diferença observada ocorreu por
do tratamento. A deficiência dessas precauções, combinada ac.1SO uma vez que se assumiu que não existia diferença. Quanto
com dúvidas sobre a homogeneidade dos resultados pode, cm menor essa probabilidade mais improvável assumir-se que
casosgraves, reduzir o valor de um ensaio multicêntrico a um realmente não existem diferenças entre os tratamentos. em
grau tal que ele não pode ser considerado como fornecendo geral p menor ou igual II 0.05.
uma evidência convincente para as alegações do patrocinador. Uma vel demonstrado que essa diferença existe, é necessário
O modelo estatístico a ser adorado para estimativa e reste dos estabelecer se o efeito estabelecido como estatisticamente signi-
efeitos do tratamento deve sempre ser descrito no protocolo. ficativo é clinicamente relevante, o que pode ser feito pela
Se forem encontrados efeitos positivos do tratamento em um 'diferença observada entre as médias para dados de distribui-
ensaiocom um número apreciável de pacientes por centro. deverá ção normal e a seguir que existe uma extensa gama de valores
em geral ser feita uma exploração da heterogeneidade dos efei- da verdadeira diferença que são plausíveis de acordo com os
tos do tratamento entre os centros. já que isso pode afetar a resultados de ensaio. ou seja, o intervalo de confiança.
generalização das conclusões. Uma heterogeneidade acen- Em alguns caso . um produto de pesquisa é comparado com
tuada pode ser ident i ficada pela apresentação gráfica dos re- um tratamento de referência sem o objetivo de se demonstrar
sultados dos centros individuais ou por métodos analíticos, superioridade. Este tipo de ensaio é dividido em duas grandes
como um teste de signi ficância da interação do tratamento por categorias segundo seuobjetivo: um é um ensaio de equivalência
centro.Ao usaresseteste de significância estatística, é importante e o outro é um ensaio de não-inferioridade.
reconhecerque isso geralmente tem pouco poder cm um ensaio Os ensaios de bioequivalência caem na primeira categoria.
programado para detectar o principal efeito do tratamento. Em algumas situações. os ensaios de equivalência são reali-
96 • Tratado de Clínica Médica

~ zados também por outros mot ivos reguladores como demons- critério. de admissão. não aderência, interrupções, perdas do
:;;: trar a equivalência clínica de um produto genérico a um pro- seguimento. extravio de dado. e outros desviosdo protocolo, assim
l, duro comercializado quando o composto não é absorvido e. como minimizar seu impacto sobre as análises subsequentes,
:;:; portanto. não está presente na corrente sangüínea. Os fármacos ati vos de comparação devem ser escolhidos Com
<r. O ensaio de equivalência é desenhado para confirmar a cuidado. Um exemplo de fármaco ativo de comparação seria
ausência de diferença significativa entre os tratamentos. Em uma terapêutica amplamente usada, cuja cficãcia na indica-
geral são analisados pelo cálculo e exame do intervalo de con- ção relevantejá tenha sido claramente estabelecida c quanti ficada
fiança. A margem de equivalência clínica é escolhida pela de- em cnsuiots) de superioridade bem programados e bem docu-
finição de qual a maior diferença clínica aceitável na prática mentados e os quais se pode com confiança esperar que apre-
(d), Para que os dois tratamentos sejam declarados equivalen- sentem eficácia similar no ensaio com controle ati 1'0 previsto.
tes (J intervalo de confiança hicaudal deve estar totalmente Para obter isso. o novo ensaio deve apresentar os mesmos as-
dentro do intervalo -d a +d, os ensaios de bioequivalência pectos importantes no esquema (variáveis primárias. do e da
admite-se que os resultado, das médias dos valores dos pa- droga ativa de comparação, critérios de elegibilidade, etc.) que '"
râmetros Iarrnacocinéricos devam estar próximos e dentro os ensaios de superioridade anteriormente realizados e nos ::
do intervalo -d +d com uma probabilidade de 90%. Nos ensaios quais a droga ativa de comparação demonstrou eficácia clini- ~
de cquivulêncin clínica utilizados para substituir o te te de camerue relevante, levando em conta os progressos na prática ~
biocquivulência ou no teste de bioequivalência para produ- médica ou estatística relevantes para o novo ensaio. ~
tOI>de margem terapêutica estreita. por exemplo, a carbarna- É vital que o protocolo de um ensaio programado para de-
zepina, a probabilidade estabelecida é de 95% para o intervalo rnonstrar equivulênciu ou não-inferioridade contenha urna clara
de confiança bicaudal. declaração de que essa é sua intenção ex plícira. Deve ser espe-
Nos estudos de fase 111.os ensaios de não-inferioridade cificada lima margem de equivalência no protocolo; essa margem
têm sido utilizados com maior freqüência que o de equiva- é a maior diferença que pode ser considerada como clinica-
lência. I os ensaios de não-inferioridade deseja-se dcmonsirnr mente aceitável. e deve ser menor que as diferenças observadas
que () novo tratamento não é menos eficaz que o tratamento nos ensaios de uperioridade da droga ativa de comparação.
existente padrão. Nesse caso também o emprego do intervalo Para o ensaio de equivalência com controle ativo, são necessá-
de confiança é meio de realizar-se II ~1I1t11ise e exame dos dados. rias tanto a margem de equivalência superior como a inferior,
Em geral usa-se o intervalo de confiança bicaudal a 95% de enquanto somente a margem inferior é necessária no ensaio
probahi Iidade. de não-inferioridade com controle ativo. A escolha das mar-
Um de" pontos que envolvem muita discussão é o estabe- gens de equivalência deve ser justificada clinicamente.
lecimento de escolha da diferença máxima aceitável entre os A análise estatística em geral se baseia no uso de intervalos
tratamentos d. uma vez que será sempre possível encontrar um de confiança. Nos ensaios de equivalência devem ser usados
valor d que leve à conclusão eleequivalência ou não-inferiori- intervalos bilurerais de confiança. A equivalência é deduzida
dade entre os tratamentos. Desse modo. a escolha dessa dife- quando todo o intervalo de confiança cai dentro das margens de
rença deve ser realizada no plancjarnento do ensaio bem como equivalência. Operacionalmente, isto é equivalente ao método
o índice de probabilidade de cobertura do intervalo de confi- de usar dois testes bilaterais simultâneos para testar a hipótese
ança em geral 95%. Para os estudos de biocquivalência as nula (composta) de que a diferença de tratamento está fora das
margens de equivalência versus a hipótese alternativa (com-
autoridade' sanitárias estabeleceram como padrão 90%.
posta) de que a diferença do tratamento está dentro das margens.
Multo' ensaios com controle ativo são programados para
Como as duas hipóteses nulas estão separadas, o erro tipo 1 é
mostrar que a eficácia do produto sob pesquisa não é pior que
apropriadamente controlado. Nos ensaios de não-inferioridade
li do produto ativo de comparação e. portanto. caem na segunda
deve ser usado um intervalo bilateral. A abordagem do intervalo
categoria. Outra possibilidade é um ensaio no qual dosesmúltiplas
de confiança tem um teste de hipótese bilateral de contrapartida
da droga cm investigação são comparadas com a dose reco-
para testar a hipótese nula de que a diferença de tratamento
mendada ou doses múltiplas de uma droga padrão. O propó-
(produto cm pesquisa menos controle) é igual à margem infe-
sito deste esquema é simultaneamente mostrar uma relação
rior de equivalência versus a alternativa de que a diferença de
dose-resposta do produto cm pesquisa e comparar o produto
truuuncnto ISmaior que a margem inferior de equivalência. A
cm investigação com o controle ativo.
escolha do erro tipo I deve ser uma consideração em separado
Os ensaios de equivalência com controle utivo ou os ensaios
do uso de um procedimento unilateral ou bilateral. Os cálcu-
de não-inferioridade também podem incorporar UIIl placcbo, desse los do tamanho da amostra devem se basear nesses métodos".
modo perseguindo metas múltiplas em um ensaio: eles podem. ,É inadequada a conclusão de equivalência ou não-inferio-
por exemplo, estabelecer a superioridade sobre o placebo e. ridade com base na ob. ervação do resultado de um teste não
desse modo. validar o esquema do ensaio e simultaneamente significativo da hipótese nula em que não exista diferença entre
avaliar o grau de similaridade de eficácia e segurança com o
o produto em pesquisa e o produto ativo de comparação.
produto ativo de comparação. Há dificuldades bem conhecidas
I-Iá também aspectos especiais na escolha dos conjuntos
associadas ao uso dos en aios de equivalência (ou de não-infe-
de análise. Os pacientes que interromperam ou abandonaram
rioridade) com controle ativo que não incorporam um placebo o grupo de tratamento ou O grupo de comparação tenderão a
ou não usam doses múltiplas da nova droga. Elas estão relacio- apresentar uma ausência de resposta e. portanto, os resultados
nadas com a ausência implícita de qualquer medida de vali- da utilização do conjunto completo de análise podem ser des-
dade interna (em contra. te com os ensaios de superioridade). viados no sentido de demonstrar equivalência.
tornando por isso necessária a validação externa, O ensaio de Alguns pontos devem ser levados em consideração na ava-
equivalência (ou de não-inferioridade) é por natureza não liação de um estudo de equivalência conforme Jones et 01.46:
conservador. por isso muitas falhas no esquema ou na condu-
ção 00 ensaio tenderão ti desviar o resultados no sentido de uma • O tamanho da amostra do ensaio deve se basear na hi-
conclusão de equivalência. Por essesmotivos, as características pótese nula de não-equivalência e uma hipótese alterna-
do esquema desses ensaios devem receber atenção especial. e tiva de equivalência.
sua condução precisa de cuidado especial. É especial mente im- • As conclusões devem ser analisadas com base em um
portante. por exemplo. minimizar a incidência de violações dos intervalo de confiança apropriado, usando os critérios
Pesquisa Clínica I 97

preestabelecidos de equivalência que foram utilizados de lima dose inicial de tratamento mai apropriada; a identi-
no cálculo do tamanho da amostra. ficação das condições ótimas para ajustes individuais da dose;
• Deve-se analisar os resultados por meio dos dois mé- a determinação de uma dose máxima acima da qual é impro-
todos de avaliação: "intenção de tratamento e de con- vável que ocorra um benefício terapêutico adicional. Esses
formidade com O protocolo". objetivos devem ser alcançados com o estudo dos dados colorados
• Certificar. quando possível, que o estudo foi realizado com o uso de diversas doses sob pesquisa. inclusive um placebo
com todo o rigor metodológico e de seguimento e que o (dose zero) quando apropriado. Para esse fim, é importante a
delineamento do ensaio levou em consideração as ca- aplicação de procedimentos para estimar a relação entre dose
racterísticas de importância dos ensaios comparativos e resposta, inclusive a construção de intervalos de confiança e
realizados com o fármaco padrão de comparação. evi- o LISO dc métodos gráficos, como o uso de testes estatísticos.
denciam-se os resultados de eficácia clínica. Os testes de hipótese que são usados devem ser ajustados à
• Comparar os re. ultados de eficácia alcançados no ensaio disposição natural das doses ou a questões particulares refe-
de equivalência com os resultados obtidos pelo fármaco remes à forma da curva dose-resposta. Os detalhes dos proce-
padrão. dimentos estatísticos planejados devem ser apresentados no
protocolo. Nesse desenho o grupo de pacientes inicia com uma
Delineamentos Que Procuram dose limiar de arividade e. a seguir. doses mais elevadas são
testadas de modo a se obter uma relação dose-resposta. Esse
Contornar Problemas Éticos tipo de ensaio não deve ser confundido com ensaios nos quais
são empregadas ritulàções de dose. Esse desenho dose-res-
Esquemas: Abandono por Cautela, Tratamento posta uti Iiza grupos paralelos. sendo grupo I submetido à
de Preservação e Ensaios Dose·resposta dose A. o grupo II a dose IOA e o grupo III a dose 50A• Isso
não ocorre quando se titula a dose. No entanto, é possível
Embora o estudo randomizado. controlado com placebo. seja ut iIizar os dois modelos conjuntos dose-resposta com titulação,
considerado o padrão-ouro dos ensaios (;1 (nicos c essencial pelas Esse modelo, dependendo da patologia estudada, pode não
autoridades regulatôrias internacionais para provar a eficácia mostrar resultado. É o caso dos fármacos para tratamento da
de medicamentos, o fato de existir ulgurn tipo de terapêutica depressão, para os quais não se consegue est.abelecer um padrão
medicamentosa para várias doenças tem feito com que o emprego dose-resposta".
do placebo encontre. por razões éticas. oposição em vários Outro modelo que visa impedir a rejeição ética quanto ao uso
Comitês Institucionais de Ética em Pesquisa. Alguns mode- do placebo é o esquema de adição add 011, idealizado para
los de delineamento de pesquisa têm sido sugeridos na ten- situações nas quais os pacientes não possam ter outras medica-
tativa de minimizar esse tipo de oposição. apesar de se reconhecer ções retiradas. Nesse caso. o, medicamentos C 111 LISO concomiumtc
que sérios problemas de interpretação de resultados possam devem ser rigorosamente controlados quanto à dose c ii ade-
ocorrer na ausência do estudo controlado contra placebo, são dos pacientes nos tratamentos no ensaio".
Entre os modelos bastante utilizados se incluem aqueles deli- Os grupos sob tratamento teste ou placebo recebem um
neamentos onde se pretende proteger os pacientes que irão receber tratamento já aceito e utilizado como terapêutica de base. Esse
placcbo mediante a utilização de cláusulas de abandono ou retirada modelo não apresenta bons resultados em estudos com anti-
do ensaio. ou empregando-se tratamento de preservação ou proteção, depressivos.
Como exemplo é possível citar os ensaios com fármacos aruian- Os modelos de delineamento apresentados se aplicam nas várias
ginosos em que se permite que grupos de pacientes anginosos fases do desenvol vimento clínico, o qual não termina com a aprovação
ejam submetidos a tratamento com placebo, desde que possam para comercialização por parte da autoridade regulatõria.
receber. quando necessário, tratamento para crise anginosa com
nitroglicerina ou outro nitrato de ação rápida. esse caso, o
consumo desse produto é mensurado como parâmetro secun- Estudos de fase IV
dário de re ultado. No estudo de fármacos em pacientes com Uma grande quantidade de ensaios continua a se realizar com
dor que devem receber o tratamento com fármaco teste ou placebo, o medicamento após sua introdução na prática clínica, sendo
o u O de analgésico conhecido corno eficaz é autorizudo para conhecidos como éSllIdos de fase IV. Os ensaios de fase IV
)$ debelar as crises dolorosas. Nesse caso também. II consumo de não se restringem somente aos estudos de Iarmacoepidemiologia
; analgésico torna-se 11m parâmetro de mensuração de efeito. e ti Iarmacovigjtância. Variados propôsitos levam à realização
~ o desenho abandono por cautela se evita manter no ensaio de ensaios clínicos na fase IV. como os que buscam responder
~ indivíduos com piora do quadro ou que não respondam ao questões surgidas durante as fases anteriores. Incluem ensaios
tratamento. pertençam eles ao grupo placebo ou ao grupo do comparativos com outros fármacos. influência sobre a qua-
fármaco teste. esse desenho os pac ientes são submetidos a lidade de vida, farrnacoeconomia e estudos sobre o mccan iSI11()
avaliações periódicas mais freqüentes. A avaliação é sempre de ação, Ensaios para estudos de interação medicamentosa, novas
realizada em relação ao momento do ensaio designado como indicações terapêuticas. avaliação em populações específicas
basal para início de tratamento. Se o paciente sofre piora quanto (crianças. asmáticos. etc.) não expostos anteriormente tam-
aos parâmetros de avaliação, é de imediato retirado do en aio bém são frcqüentemente realizados nessa fase.
e o tratamento rido como fracasso terapêutico. O mesmo é Os delineamentos apresentados e que são utilizados em
válido para aqueles pacientes que, após algumas avaliações estudos de fases I, II e III principalmente o são, também, em
(número delas baseado cm rfgidos critérios). não apresentem muitos ensaios confirmat6rios ou explorat6rios de fase TV, pós-
melhora. Todos os que são retirados do ensaio passam a receber comercialização.
tratamento ahernatívo", Na fase IV, grande realce é dado às atividades de farmacovi-
Um desenho altcmativo que procura evitar o emprego do gi lância e aos estudos de farmacocpidcmiologia. Dessa maneira,
placcbo é o conhecido ensaio tipo dose-resposta. Os ensaios os desenhos de estudos podem ser classificados na epidemiologia
dose-resposta podem servir para diversos objetivos. entre os em estudos descritivos. individuais e analíticos.
quais apresentam particular importância os seguintes: a pes- Os estudos descritivos individuais silo muito utilizados em
quisa da forma e locação da curva dose-resposta: ii estimativa sistemas de furmacovigilância instituídos por autoridades regu-
98 • Tratado de Clínica Médica

larórius. SI!IH.JO os mais conhecidos () Yellow Card no Reino a condição mórbida sob tratamento". O placebo em si deve ser
Unido e o formulário 1639 nos Estudos Unidos. essessistemas diferenciado do que se denomina "efeito placebo". que. segundo
são relatadas suspeitas de reaçõcs adverses pela comunidade o mesmo Shapiro", se define como: "OS efeitos psicológico,
médica. ou outros profissionais de saúde. dircrarnerue as empresas fisiológico e psicofisiológico de LIma medicação, ou procedi-
produtoras do medicamento ou para a autoridade regufatória. mento terapêutico. ministrado com intenção terapêutica. o qual
A vantagemdessesistema é permitir reconhecimento mais precoce é independente. ou só minimamente relacionado ao efeito far-
de problemas com () uso do fármaco na prática clínica que não macológico da medicação ou aos eteitos específicos do pro-
puderam ser detectados durante a fase de ensaios pré-registro cedlmcnro. e que opera através de mecanismos psicológicos".
por suas limitações em número de pacientes expostos e pelos Denomina-se "placebo puro" ou "inutivo" uma substância
controles empregados. Permite também o reconhecimento de administrada que não apresenta efeito concebido, de ordem
inrerações eom outros medicamentos. fisiológica ou farmacológica. parao paciente. O "placebo impuro"
Embora a colora de relatos de suspeita de reação adversa ao ou "ativo" é aquela substância com efeito fisiológico ou farma-
fármaco seja tecnicamente uma forma de estudo no seu conceito cológico potencial. embora não se relacione com a doença em
básico. a o"gallizução de bancos de dados contendo tais relatos tratamento (por exemplo. uso da vitamina B 12 em pequena dose
permite a monitoração de sinais de ocorrência de eventos adver- em casos que não são de anemia perniciosa).
sos raros quando do uso massivo do medicamento na população. Tendo em vista a utilidade do uso de placebos em ensaios
Apesar de o sistema de colora de relatos de eventos adversos clínicos, vários estudos foram realizados no sentido de melhor
apresentar limitações. urna vez que depende do médico detectar avaliar seu signi ficado. Assim. é conhecido que a terapêutica
a toxicidade em ti m fármacoe relacioná-laa ele, ou nãoseradequado com placcbo pode produzir efeitos em quase todos os tipos de
para detectar reações adversas que ocorram em índices elevado. doenças. Beechcr", em um estudo envolvendo 1.082 pacientes
na população de modo normal. o sistema é de grande valor na com vãrius condições mórbidas. concluiu que 35% deles obti-
geração de hipóteses para estudos complementares mais conclu- nham nlívio com uso de placebos. Assim, em síndromes dolo-
sivos, Muitas vezes, no entanto. é possível obter-se com essesis- rosos. tosse. alterações do humor. angina pectoris, cefaléias,
tem" um grupo razoáveldecasosbem documentadosque permitem enjôo de movimento, ansiedade e tensão, resfriados, status
às autoridades sanirãrias tomarem medidas adequadas que vão osmathicum, hipertensão arterial. depressão mental e várias
desde a inclusão de advertências ou contra-indicações cm bulas outras molési ias.encontra-se um número considerável de pacientes
até a retirada do produto do mercado. que são aliviados somente com a medicação placebo.
Nos estudo- descritivos do tipo individual. além dos relatos A teoria mais aceita que tenta explicar o mecanismo do efeito
de eventos adversos. são comuns e úteis a coleia c a publicação placebopreconiza queseuefenc é decorrentedo fenômeno induzido
de um ou mais casos do uso do fármaco em determinado tipo de por sugestão. Num enfoque psicounalüico, o efeito placebo está
paciente. constituindo-se em estudos de casos ou série de casos. relacionado ao conceito de trunsfcrência: o paciente transfere as
Os estudos denominados analíticos podem ser observacionais emoções. originulmcntc dirigidas para certos objetos, em dire-
quando não há intervenção do pesquisador e incluem os estudos
ção a novos, tais corno pílulas. injeções, máquinas, ECO, etc.
de coortes e os de casos-controle, ou experimentais (de intcr-
Qualquer que seja o mecanismo envolvido, dois requisitos para
venção) e que constituem os ensaios clínicos.
fi existência do efeito placebo são absolutamente necessários:
Os estudosde coortes são de seguimento. A coone é um grupo
qUI! é exposto ao fármaco. por exemplo. e . eguido até um ponto
• O processo da doença. por si só. ou os sintomas que ela
no tempo quando seus membros são avaliado buscando-se ve-
produz devem ser capazes de variar, em intensidade. com
rificar diferenças na frcqüência de UI11 ()U mais desfechos clíni-
o tempo.
cus cm comparação a um grupo controle não exposto. São estudos
• Deve haver um relacionamento "médico-paciente" aluai
prospcctivos embora também possam ser retrospectivos.
ou implícito.
Estudos de caso-controle são sempre estudos retrospectivos.
Os casos apresentam a doença e os controles não. e se procura
Quando se analisam os estudos sobre a natureza do efeito
no passado a presença ou ausência cio fator de exposição. por
placcbo, verifica-se que os pacientes não respondem de um
exemplo. um especifico Iárrnaco. Cada caso deve ser pareado
único modo li ação dos placebos. Alguns mostram resposta
a um ou mais controle quanto li fatores específicos de confusão,
positiva. ou seja. eles melhoram com o uso do placebo; outros
como. idade. caractcrfsticas clínicas. local de origem. mesmo.
parecem ser neutros ou não afetados pelo placebo, e um ter-
assim. nesses estudos as informações ohridus ,[io COI11Ull1ente
ceiro grupo pode revelar um efeito placebo negativo. isto é,
incompleta' e podem. gerar vieses de lembrança.
há deterioração em sua condição mórbida ou ocorrência de
Os estudos analíticos experimentais ou de intervenção envol-
Outros sintomas disfuncionais. Neste último caso, em que o pa-
vem grande populações. Em geral. o estudo epidemiológico
cientes respondem negativamente, é utilizada a denominação
experimental emprega protocolos com delineamento prospectivo.
de efeito nocebo, em vez de efeito placcbo.
Estudos de campo em geral empregados em en aios de
Todos os pacientes que respondem de modo positivo ou
grande escala com medicamentos ou vacinas para preven-
negativo ao emprego de placebo são denominados placebo-
ção ou controle de doenças usam técnicas observacionais.
mas são considerados experimentais. Ou tipo intervenção.
reatares. Em estudo bem concebido, Lasagna et al.$Oconse-
guiram evidenciar que é impossível para o pesquisador ou
urna vez que promovem a seleção ativa das pessoas que irão
ensaiador determinar. por observação ou exame clínico, se um
ser expostas ou não ao tratamento.
paciente será ou não "placebo-reator", Também não existe base
São dcnorninadcs estudos de intervenção cm comunidade
para afirmar que um paciente reator hoje continuará a sê-lo
aqueles ensaios de campo que implicam o estudo de toda uma
amanhã. c vice-versa. Com isso, realça-se O faro de que o efeito
comunidade a ser exposta comparada ii outra comunidade não
placcbo, dependendo de uma série de circunstâncias, da omação
exposta, comunidades de controle.
e interações de muitas variáveis, por urna simples mudança
na ordem destas possa fornecer uma resposta alterada.
Efeito Placebo O uso de medicação placebo nos ensaios clínicos tornou-se
Segundo Shapiro", "placcbo é qualquer procedimento tera- quase rotina. O placebo é útil em ensaios cllnicos porque seu
pêutico que não tem. objetivamenre. atividade espectflca para efeito pode ser notado em quase todos os esquemas terapêu-
Pesquisa Clínica • 99

ricos. Em alguma, ocaviõcs. 5CU emprego num grupo con- controle por placcbo. por medicamento aiivo. grupo de não
trole não é tão nccc ....:irio. uma vez que não vc demonstra tratamento. ou grupos com doses diferente do mesmo fármaco
um real beneficio nev-e procedimento. Outrav \ c/cs, 'cu emprego em estudo. somente cuidados usuais fisiotcrâpicos ou dietéticos.
é evitado por moi i \I)... éticu». quando colocar cm risco a vida grupos histéricos de comparação envolvendo o próprio pu-
do paciente ou permitir progressão d a molévtia, ou ainda quando ciente em ausência de terapêutica. a mesma terapêutica ou
signilicar maior <ofrimcruo ao p.. ciente. Uma evidência, no outru diversa e grupos de controle históricos empregando outros
entanto. é declarada: a introdução do emprego de grupos- pacientes com a" mesmas curacrcrtsricn ... dcmogrãficas c de
controle usando placebo permitiu avaliação mais perfeita tanto moléstia-alvo CI1l nu: ência de terapêutica. com a mesma tcra-
da real eficácia de um medicamento quanto de seus potcn- rêut icn CHI outrn diversa.
ciais efcitov colatcrai v. Conforme o delineamento de estudo empregado. pode-se
As principai ra/õc ...para inclusã« de grupo-placcbo nos lançar mão de maiv de um grupo-controle. estudos com múl-
ensaio ...clínico ão: tiplos grupos-controle, Tais e iudos são rnai comuns em pacientes
com moléxtia-nlvo. xubmetidos a cirurgius. ou em moléstias com
• Contrular II'" .....pccrov p~icol()gic.:l)'"cnvolv idll'" na rcali- tcrapêuticu reconhecida. mas em que o efeito placebo é ele-
1:I<;ãlldo cn v,1Í1l clínico. vado. ou cm csrudo-, rctrospccrivos de fa\e IV.
• EviHlr que rcnçõcs adver ...a~ scjum atribuída, ao medi-
cumcuto quando em realidade são resultado» de alterações
e~pont[lIlc:" da moléstia. Adesão ao Tratamento
• Pcnnitir iutcrprctação mais Iidedigua dos resultados c Urna das preocupações dos envolvidos no desenvolvimento
com maior poder estatístico para conclusão quanto 1'1 eficácia clínico de f~rlllacos durante a realização do ensaio elfnico é
do novo tratamento. garantir a aderência do paciente ou voluntário ao tratamento.
O termo cm inglês comp/iance. aderência ou adesão, é enten-
Para o emprego do placebo nos ensaios clínicos algumas dido e usado nos ensaios clínicos para descrever a aderência do
condições devem <cr respeitadas. tais como: paciente ou voluntário em tomar seus medicamentos e seguir
as orientações médicas conforme prescrito.
• Inexistência de tratamento para a molé tia-alvo. Para se estabelecer a eficácia e segurança de um fármaco
• O tratumcmo padrão não é eficaz ou não teve vua eficácia ob as variadas condições dos ensaios. os participantes, pacientes
comprovada. ou volunuirios sadios devem usar o fármaco como recomenda-
• O trauunento padrão não é apropriado para II particular do. pois um resultado negativo com relação 110 f~rrllaeo submc-
tipo de ensaio. tido ao cnsuio pode ser imputado tanto a falha do paciente quanto
• O efeito placebo tem xido relatado como relativamente a do pcsquis.ulurcru cumprir o cvtudo do protocolu, C)\I un f(ll'lllac.:o.
clicai no truuuncnto daquela moléstia cm particular, V;írias são IlS r;lI<le, que acarretam falha de udcsão de
• A molé tia é leve c a ausência de rratumcnto não tem paciente ... tiO trutnmcnto c entre ela ...cvrão a' rcluciouadas ;1:'
importância médica. condições de moléstia estudada. corno quando o tratamento
• O placcbo é ministrado em adição a rrarumcnto de ba-,c pode indu/ir mais de conforto que a própria moléstia. o que
que nâo é suficiente para tratar li pacicutc, é muito bem percebido em e tudo com pacientes hipenensos
• O procev-o mórhido evolui por cxaccrbaçôcv c remissões leves. ou depressão leve. Existem também a condições pró-
cspontâncav. prias relativas dos paciente como e quccimcntos, falta de
• Quando o protocolo estabelece cl:íu ulas de escape. confiança no tratamento ou no ensaí ta. doença mental. As relativas
• O placcbo é usado como tratamento concomitante para aos fármacos. como mau sabor. comprimido muito grande, tipo
auxiliar na avaliação do resultado. de embalagem, rcnçõcs adversas.
Existem razões de ordem clínica ou da prática médica que
Controles no Ensaio Clínico também interferem na aderência do participante do ensaio,
ClIIllO número dc comprimidos que devam ser ingeridos, nú-
Entende-se corno controle em ensaio clínico aquele grupo de mero de vezes que se tornou por dia outros medicamentos conco-
pacientes que recebe o tratamento usado para comparação com mituntcs. tipo de dosagem e de regime terapêutico difícil e
o fármaco tcvtc. O propósito do controle é reduzir vãrios fa- complexo para ser seguido: ou en aio de longa duração.
tores e vicse-, que povsam innuendar o rc\ulwdo do cn aio. Muit:" velCS o pr6prio pesquisador pode ser a razão da
É reconhecido que a I)orcentagem de re)\uhad", po~ilivos cn- fraca adesão. como o fato dc deixar o pacientc esperando em
contrado~ em en,aio, clínicos não c()ntrol~ldo ...e abertos é bem demasia. por faltar 1'1 consulta ou por relação intcrpessoal falha.
maior que a ob ...enada com o meslno medicamcnlo . ubll1eli-
do a en~aio~ clínicu" conlrolados. dupla cegos randomizados
para :IIl1C~macondição de moléstia. O mesmo é v:'tlido quando TABELA 12.4 - Percentual de ensaios c1lnicos relatando
se empregam conlroles hislórieos, como bem evidenciaram resultados positivos quanto à eficácia em ensaios não
Sacks /.'((// Sl..l~.Uma érie de publicações comparando índiccs . controlados versus controlados
de po~itividade encOlllrados cm ensaios não cOlllroladlls "crSIIS
COnlrolado~evidencia. em difercrlle" árca~ da tCr:IIl\!Ulil.'alai~ cumo NÃO CONTROLADOS
psiqui:llria. reum:llulogia. pediatria c elldol.'rinologia. quc o ... AUTORES CO~OLAOOS (%) (%) OBSERVAÇÃO
result:ldo ...oblido ...em cn ...aios c1lnico)\ niio controladch apre- Sacks ec ai." 79 20 Controle histórico
sentavam maior quantidade de re:-.uhado, pn,ilivo, indicando Sacks ec alY B4 11 Controle histórico
efidl.'ia do tratalllenIU que cm relaçãu ao!> cn~aio, I.'ontrola- Fouldsll B3 2S Psiquiátrico
do~. corno é po"hcl ()b,crvar na Tabela 12.-1. Gllck c Margolis" 60 3B Esquizofrenia
Quando ,e fala em grupo-controle cm Jlesqui~a clínica está Wechsler ec al.n 57 29 Depress30
se incluindo controle por placebo. por medicamento ;uivo. ou Smith et al.u 5B 33 Depress30
Vlamontesll 95 6 Alcoolismo
mesmo. gnlpo.,·controle hiMóricos. Os principais tipo~ de grupos-
Slnclalrll 89 50 Pediatria
controle usados m:ti~ amiúde cm ensaios clínicos inclucm grupos-
100 • Tratado de Clínica Médica

No sentido de minimizar o problema relativo a pouca ou alvo. Por esse motivo, nessesensaios é, em geral, útil reduzir o
falha aderência de pacientes nos ensaios medidas para avaliar máximo possível as restrições nos critérios de inclusão e ex-
a aderência do paciente e outras para melhorar li adesão são clusão na população-alvo, ao mesmo tempo mantendo sufi-
utilizadas. ciente homogeneidade para permitir uma estimativa precisa
Os 11161Odo~ utilizados para avaliar a adesão dos pacientes dos efeitos do tratamento. Não se pode esperar que um único
podem ser divididos em direios e indiretos. O método mais ensaio clínico individual seja totalmente representativo dos
direto é aquele de observar o paciente ingerir o medicamento. futuros usuários. por causa das possíveis influências da loca-
Infelizmente, só alguns tipos de ensaios permitem o uso deste lização geográfica. do tempo em que foi realizado. das práti-
método. O usode marcadores biológicos tipo riboflavina, quinina, cas médicas do(s) pesquisadoríes) em particular e das clínicas,
brometo de sódio fenol vermelho, produtos esses que podem e assim por diante. A influência desses fatores, entretanto, deve
ser detectados na urina ou no sangue e coleiados durante a ser sempre que possível reduzida e subseqüentemente discu-
visita comum ou na residência do paciente. Um marcador deve tida durante a interpretação dos resultados do ensaio.
ser usado sem que o paciente tenha conheci mento. Ele deve ser
inerte. não sofrer influência dos alimentos ou outros medica-
rnenros e ser possível de determinar nos fluidos biológicos e
Tamanho da Amostra
o mais importante não tóxico. O número de pacientes em um ensaio clínico deve sempre ::;
Outro método direto empregado para atestar a aderência é ser bastante grande para fornecer resposta confiável às questões ~
a determinação de níveis sangüíneos do medicamento em uso. apresentadas. Esse número é. em geral. determinado pelo ob-
Esse método é passível de restrição quando o fármaco apre- jetivo primário do ensaio. Se o tamanho da amostra for deter-
senta meia-vida longa superior a 24h ou meia-vicia curta. Nesses minado por alguma Outra base, isso deverá ser esclarecido e
casos. a medida realizada quando da visita clíuica que não é justificado. Por exemplo. um ensaio com o tamanho baseando-
confiável pode ser contornada com a colem de surpresa em se na. questões ou exigências de segurança ou em objetivos
visitas de um membro da equipe de pesquisa ~Iresidência do secundários importantes pode necessitar de números maio-
paciente para colera das amostras sem aviso prévio. res de pacientes que um ensaio com o tamanho baseando-se
Vários métodos indircios também são utilizados. Os mais na questão primária de eficácia.
frequentes são: Ao empregar o método usual de determinação do tamanho
apropriado da amostra, deverão ser especi ficados os seguintes
• Paciente ser questionado se aderirá ou não ao tratamento itens: uma variável primária, a csrausuca do teste, a hipótese
antes de sua inclusão. nula. a hipótese alternativa estudando adequadamente a dife-
• Contagem tio fármaco fornecido e utilizado pelo paciente rença de tratamento a ser detectada ou rejeitada na dose e na
nas visitas regulares ii clínica. O uso de frascos com população de pacientes selecionada, a probabilidade de rejei-
marcação clctrônica indicando a remoção dos compri- ção errónea da hipótese nula (o erro tipo I), e a probabilidade de
midos ~ uma maneira mais sofisticada de controle indi- erroneamente deixar de rejeitar a hipótese nula (o erro tipo II),
reto, Outra variante desse tipo de frasco é aquele que assim como a abordagem para tratar das interrupções do trata-
alerta ao paciente para a tomada da medicação. mento e das violações do protocolo". O método pelo qual é
calculado o tamanho da amostra deve constar do protocolo,
o emprego do questionamento direto feito pelo pesquisador junto com as estimativas de quaisquer quantidades usadas nos
ao pacientedurante as visitas clínicas tipo "você estátendo alguma cáleulos (tais como d i ferenças. valores méd ios, taxas de resposta,
dificuldade cm lembrar ou tomar seu medicamento conforme taxas de eventos. diferença a ser detectada). Também deve ser
lhe prescrevi" e o uso de diários do paciente em que ele é ins- dada a base dessas estimativas. É importante investigar a sensi-
tado a relatar por escrito sempre que tomar a medicação, são bilidade da estimativa do tamanho da amostra a diversos des-
outras formas indireias de avaliar a adesão do paciente. vios dessassuposições e isso pode ser facilitado pelo fornecimento
Os métodos paraestimular li adesãodo paciente variam e vão de uma gUI11H de tamanhos de amostras para uma razoável gama
desde o medicamento ser ministrado direramenre por algum de desvios das suposições. Nos ensaios conflrrnatôrios. as su-
membro da equipe dc pesquisa ao paciente. até outras que posições normalmente devem se basear em dados publicados
são parte do "bom senso" como: perguntas ao paciente com ou nos resultados de ensaios prévios. A diferença de tratamen-
relação ao motivo pelo qual não está aderindo de modo ade- to a ser detectada pode se basear em um julgamento referente
quado ao tratamento, ensinar o paciente com relação a sua ao efeito mínimo que tem relevância clínica no controle de
doença realçando a importância da aderência ao tratamento para pacientes ou em urn julgamento referente ao efeito antecipa-
impedir sua evolução. escrever instruções, utilizar embalagens do do novo tratamento, em que este for maior. Convencional-
especiais que reduzam o risco de contusão, manter sempre a mente. 11 probabilidade de erro tipo I é de 5% ou menos, ou
visita clínica com o mesmo médico. estimular técnicas que me- conforme ditada por quaisquer ajustes tornados necessár.ios
lhorem o relacionamento médico paciente, aumentando o grau por considerações de multiplicidade; a escolha precisa pode
de cumplicidade do paciente com o resultado do tratamento. ser influenciada pela plausibilidade prévia da hipótese em teste
e o desejado impacto dos resultados. A probabilidade de erro
tipo II é convencionalmente estabelecida em 10 a 20%; é do
POPulação do Ensaio interesse do patrocinador manter esse número tão baixo quanto
Nas fases iniciais de desenvolvimento do fármaco, a escolha possível. especialmente no caso de en aios cuja repetição é
dos participantes de um ensaio clínico pode ser fortemente difícil ou impossível. Em alguns casos podem ser aceitáveis
influenciada pelo desejo de se maximizar a oportunidade de ou até mesmo preferíveis valores alternativos para os níveis
observar efeitos clfnicos específicos de interesse e, conseqüen- convencionais de erro tipos 1 e 11.
temente. eles podem se originar de um subgrupo muito pe- Os cálculos do tamanho da amostra devem se referir ao
queno da população total de pacientes para ii qual o fármaco número de pacientes necessário para fi análise primária. Se
poderá eventualmente ser indicado. Entretanto, na ocasião em esse for o "conjunto de análise completo". as estimativas do
que os ensaios confirmatórios forem realizados, os pacientes tamanho do efeito podem precisar ser reduzidas em comparação
dos ensaios deverão refletir mais proximamente a população- com o grupo "por protocolo", a fim de permitir a diluição do
Pesquisa Clínica - 101

efeito tio tratamento originário da inclusão dos dados dos pa- O desfecho clfnico primário de uma doença é a medida
cientes que interromperam o tratamento ou cuja aderência foi direra da morbidade ou mortalidade da doença. Por exemplo.
ruim.As suposições sobre a variabilidade também podem precisar reti nopaiia d iabética, mortal idade por septicemia, tamanho do
ser revisadas". tumor na doença cancerosa enquanto O desfecho substituto
a tamanho da amostra de um ensaio de equivalência ou de da moléstia é uma medida capaz de predizer o desfecho pri-
um ensaio de não-inferioridade norrnalmente deve se basear mário de uma doença é por intermédio dele pode-se medir
no objctivo de obtenção de um intervalo de confiança para também indiretamente a eficácia da intervenção sobre a mo-
a diferença de tratamento mostrando que os tratamentos no léstia. Por exemplo, carga virai e contagem de CD4 na A TDS,
máximo diferem por uma diferença clinicamente aceitável. hemoglobina glicosilada no diabetes ou medida da pressão
Quando o poder de um ensaio de equivalência é avaliado em arterial na doença cardiovascular por hipertensão arterial sistêrnica.
uma diferença real de zero, então o tamanho da amostra Quando se empregam, no desenvolvimento clínico de um
necessária para obter esse poder estará subestimado se a diferença fármaco, desfechos substitutos como objetivo de um ensaio
real não for zero. Quando o poder de um ensaio de não-in- deve-se estar seguros que este preencha alguns requisitos como:
ferioridade é avaliado à diferença de zero. então o tamanho ser perceptível (detectável) e quantificável em todos os pa-
da amostra necessária para obter esse poder estará subestima- cientes. estar ligado, correlacionado diretarnente (causa) ao
do se o efeito do produto sendo pesquisado for inferior ao do desfecho primário da doença; consistente com a patogênese
controle ativo. A escolha de uma diferença "clinicamente da moléstia, consistente com o mecanismo de ação do fármaco,
aceitável" precisa de justificativa com respeito a seu significa- biologicamente plausível e válido. Enfim, ele não deve ser
do para os futuros pacientes, podendo ser menor que a dife- aceito isoladamente como prova de eficácia".
rença "clinicamente relevante" anteriormente citada, no contexto Assim, de modo geral, lodos os desenvolvimentos clínicos
de ensaios de superioridade programados para estabelecer que rastreados na utilização de desfechos substitutos em seus obje-
existe uma diferença". tivos ou avaliação de resultados devem ser posteriormente va-
a tamanho exato da amostra em um ensaio sequencial de grupo lidados com ensaios usando desfechos primários de doença em
não pode ser fixado antecipadamente porque depende da ocor- seu objctivo.
rência de uma oportunidade cm combinação com a diretriz de
interrupção escolhida e a verdadeira diferença de tratamento. O
esquema da diretriz de interrupção deve levar em consideração
Recrutamento
u conseqüente distribuição do tamanho da amostra, usualmente Planejar e estabelecer a estratégia de recrutamento de pacien-
incorporada nos tamanhos de amostras esperados e máximos. tes para um ensaio clínico deve ser parte integrante do dese-
Quando os índices de eventos são mais baixos que o previsto nho do estudo. Cuidadoso monitoramento do processo de
ou a variabilidade é maior que o esperado, estão disponíveis recrutamento durante o ensaio é essencial. Atraso no recruta-
métodos para reavaliação do tamanho da amostra sem violar mento dos pacientes tem impacto nos custos e em sobrecarga
os dados ou fazer comparações de tratarnentos'", de trabalho durante o ensaio, Recrutamento prolongado inter-
fere no moral dos participantes do ensaio e possivelmente pode
alterar os resultados do estudo. Fraco recrutamento de partici-
Ajuste no Tamanho da Amostra pantes no ensaio pode resultar em interrupção antecipada .do
Nos ensaios a longo prazo quase sempre haverá oportunidade estudo com perda total do mesmo ou reduzindo o número de
para checar as suposições que sustentam o esquema origi nal participantes e por conseqüência a força das conclusões. Um
e os cálculos do tamanho da amostra. Isto pode ser particular- dos fatores principais para um fraco recrutamento é a utilização
mente importante se as especificações do ensaio tiverem sido de pesqu isadores com pouca ex periênci a em rea Iização de ensaios
feitas com base em informações preliminares e/ou duvidosas. clínicos. O bom gerenciarnento dos objetivos de recrutamento
Uma checagern intermediária realizada nos dados não dcsvcn- e planos de contingência para ações corretivas devem fazer
dados pode revelar que as diferenças de resposta global, as parte do planejamento e execução do ensaio.
taxas de eventos ou a experiência de sobrevida não estão conforme As características socioeconôrnicas e as atitudes dos pa-
previsto. Pode então ser calculado UI1l tamanho de amostra cientes e pesquisadores clínicos também podem afetar a par-
revisto, usando-se suposições apropriadamente modificadas, ticipação dos pacientes durante todo o evoluir do ensaío'",
devendo isso ser justificado e documentado em uma emenda
ao protocolo e no relatório do estudo clínico. Devem ser expli-
cados os passos dados para preservar o caráter cego e as con-
Medicação de Estudos Clínicos
seqüências, se houver, para o erro tipo I e a amplitude dos A medicação destinada ao estudo clínico é diferenciada não
intervalos de confiança. A necessidade potencial de rc-cst irnativa quanto ao produto, pois este deve ser idêntico ao comercializado,
do tamanho da amostra deve ser, sempre que possível, conside- mas quanto à embalagem secundária que é diferente, bem como
rada no protocolo". a quantidade de medicamento acondicionada - esta varia de
acordo com o desenho do estudo. o qual define os períodos
de tratamento a que o paciente será submetido. Outra diferença
Desfechos importante é quanto à identificação. Uma medicação para estudo
a uso do desfecho substituto ou desfecho biológico rem sido clínico recebe um rótulo especial. diferente do comercial, em
muito empregado no desenvolvimento clínico em substituição que estão contidas geralmente as seguintes informações:
ao resultado ou desfecho clínico. Desfecho substituto é enren-
dido no ensaio clínico como "uma medida de laboratório clíni- • Identificação do protocolo.
co ou sintoma ou sinal usado como substituto de um desfecho • Princípio ativo e dosagem (em estudos abertos).
clinicamente significativo que diretarncntc avalie como um • Quantidade.
paciente se sente, desempenha ou sobrevive". • Lote/validade.
a emprego de desfechos substitutos em desenvolvimento • Instruções de uso.
clínico visa a reduzir custos. tornar mais rápido O processo de • Condições de armazenamento.
desenvolvimento de uma nova medicação. • Nome do investigador.
102 • Tratado de Clínica Médica

• Iniciais do paciente. O período para esse tipo de monitoraçâo usualmente começa


• Número do paciente. com a sclcção dos locais do ensaio e termina com a cólera e
• Laboratório fabricante. limpeza dos dados elo último paciente.
O outro tipo de monuoração do ensaio (análise interme-
No rótulo também devem estar contidas as seguintes frases: diária) envol vc o acréxci 1110 dos resultados do tratamento compa-
somente para 11.1'0 em eSIII(/oclínico e mantenhafora do alcanre rativo. A análise intermediária requer O acesso aberto (isto é.
das crlunças, com quebra do código) 1\ designação da medicação do grupo
É i 111port ante enfatizar o rigor do controle dessa medicação. de tratamento (real prescrição do tratamento ou identificação
Rssecontrole deve contemplar todas as etapas. desde a retirada da prescrição cio grupo) e uma informação resumida sobre o
da medicação do estoque do patrocinador. entrega no centro de grupo de tratamento comparativo. Para isso é necessário que
estudo,dispensaçãoao paciente. retorno ao investigador c retirada o protocolo (ou emendas adequadas antes de uma primeira
pelo patrocinador para posterior destruição por incineração. análise) contenha planos estatísticos para a análise interme-
diária a fim de prevenir certos tipos de desvios",

Coleta e Processamento de Dados do Ensaio


Mudanças dos Critérios de Inclusão e Exclusão
A colctu dos dados e sua transferência do pesquisador para o
patrocinador podem ser realizadas por diversos meios. inclu- Os critérios de inclusão e exclusão devem permanecer cons-
sive fichas de papel para registro de caso.sistemas de moniroração tantes. conforme especificado no protocolo, durante o período
a distância. sistemas de computação médica e transferência de recrutamento dos pacientes. M udanças podem ocasional-
eletrôuicu. Qualquer que seja o instrumento usado na cólera mente ser apropriadas. como em ensaios a longo prazo, nos
cios dados. 11 forma e o conteúdo das informações coletadas quais O aumento do conhecimento médico, seja de fora do
devem estar em plena concordância com o protocolo. devendo ensaio ou das análises intermediárias, pode sugerir mudança
ser estabelecidas antes da realização do ensaio clínico. Ele deve dos critérios de admissão. As mudanças também podem resultar
enfocar os dados necessários para implementar a análise pla- da descoberta pela equipe de monitoração de que estão ocor-
nejada. inclusive a informação de contexto (como a regulação rendo violações regulares dos critérios de admissão, ou que
dos tempos de avaliação em relação à administração) neces- as taxas muito baixas de recrutamento são devidas a critérios
sária para confirmar a aderência ao protocolo ou identificar demasiadamente restritivos. As mudanças podem ser feitas sem
desvios importantes. Os valoresperdidos devem er disti ngu Ivcis que haja quebra do caráter cego, e devem sempre ser descritas
UU V(I/(I/' zero ou da caractrristica ausente, por urna emenda ao protocolo que deve cobrir quaisquer con- ~
O processo de colcra dos dados por meio da finalização seqüências estatísticas, como ajustes do tamanho da amostra ~
do banco de dados deve ser realizado de acordo com o GCP. II partir de diferentes índices de eventos, ou modificação da '"
Espcci ricamente. são necessários processos oportunos e análise planejada, como a estratificação da análise de acordo ~
confiáveis de registro dos dado e reti ficação dos erros c omissões com os critérios de inclusão/exclusão modificados. x
a fim de assegurar o fornecimento de um banco de dados de
qualidade e a consecução dos objetivos do ensaio por meio Emendas ao Protocolo
da implementação da análise plancjada. Mesmo depois da aprovação interna do protocolo. de acordo
com as autoridades regularórias e após assinatura deste pelos
Monitoração do Ensaio e Análise Intermediária investigadores. ele pode sofrer alterações. Neste caso. será feita
Lima emenda ao protocolo, de acordo com os Procedimentos
A condução cuidadosa de um ensaio clínico de acordo com o Operacionais Padrão adorados pelas instituições de pesquisa
protocolo tem grande impacto sobre II credibilidade dos resul-
ou empresa.
tados. A monitoração cuidadosa pode assegurar que as difi-
Elaborada a emenda, esta quase sempre segue o mesmo
culdades serão comunicadas precocemente e que sua ocorrência processo de revisão do protocolo. Emendas de menor impor-
ou recorrência será minimizada.
tância. que não aferem de modo significativo a condução, segu-
Há dois tipos distintos de moniroração, que, em geral. ca-
rança e desenho doestudo, nem reduzam o valor cientffico do
racterizam os ensaios clínicos confirmatórios patrocinados
protocolo, não serão rc-subrnetidas a urna aprovação formal,
pela indústria farmacêutica. Um tipo de monitoração diz res-
nem conduzirão a uma alteração no consentimento livre e
peito à supervisão da qualidade do ensaio. ao passo que o outro esclarecido. Essasemendas serão enviadas ao Comitê de Ética
tipo envolve a quebra do caráter cego para fazer comparações em Pesquisa apenas para nori ficação.
de tratamento (isto é. análise intermediária). Ambos os tipos Emendas de maior importância, que afctarn de modo signi-
de rnoniroração ele ensaios envolvem O acesso li diferentes ti-
ficativo a condução ou segurança do estudo, do ponto de vista
pos de dados e informações do ensaio e. por isso, são aplica-
do paciente. serão submetidas à aprovação do Comitê de Ética
dos princípio, diferentes para o comrole do potencial estatfsrico
em Pesquisa e o investigador assegurará que a emenda será
e dos desvios operacionais. submetida e aprovada num período de tempo apropriado.
Com o propósito de supervisionar a qua Iidade do ensaio, as Todas as emendas. tanto as de menor quanto as de maior im-
checagcns envolvidas na monitoração do ensaio podem incluir
portância, devem ser aprovadas pelo patrocinador e investigador.
se o protocolo está sendo seguido. a aceitabilidade dos dados
que estão sendo obtidos. o sucesso dos alvos planejados de
acréscimo. a conveniência das pressuposições do esquema. o
Análise Intermediária e Interrupç.ão Precoce
sucesso da manutenção dos pacientes nos ensaios. etc. Esse tipo Uma análise intermediária é qualquer análise que pretenda
de moniroração não requer o acesso a informações sobre os comparar o~ braços do tratamento com respeito à eficácia e à
efeitos do tratamento comparativo, nem a violação do carárer segurança em qualquer momento antes do término formal do
duplo cego dos dados e. portanto. não tem impacto sobre o erro ensaio. Como número, métodos e conseqüências dessas com-
tipo I. A moniroração de um ensaio para esse fim é respon- parações ateram li interpretação do ensaio. todas as análises
sabilidade do patrocinador e pode ser realizada pelo patrocina- intermediárias devem ser cuidadosamente planejadas com
dor ou por um grupo independente sclecionado pelo patrocinador. antecedência e descritas no protocolo.
Pesquisa Clínica • 103

Circunstâncias especiais podem ditar a necessidade de uma operacionais padrões cscrito-, e que são mantidas minutas das
análise intermediária que não tenha sido definida no início do reuniões de tornada de decisão. inclusive registres dos resul-
en aio. Nessescasos. deve ver completada uma emenda ao pro- tado intermediários. Uma análise intermediária. que não seja
roeolo descrevcndo a unállve intermediária. antes de ser permi- adequadamente planejada (com ou sem aI, conseqüências de
tido o acesso aberto aos dados de comparação do tratamento. interrupção precoce do ensaio). pode invalidar os resultados
Quando uma análise intermediária é plancjada com a inten- de um ensaio e possivelmente enfraquecer a confiança nasconclu-
ção de se decidir se o ensaio deve ser terminado ou não. reco- sões obtidas. Por esse motivo devem ser evitadas essas aná-
menda-seo li o de um delineamento de grupo sequencial que lises. Se for realizada uma unálisc intermediária não planejada.
empregue esquemas de monitoração estatf rica como dire- o relatório do estudo clínico deverá explicar por que isso foi
trizes. O objetivo dessa análise intermediária é parar O en- necessário. cm que grau o caráter cego foi quebrado. provi-
aio precocementese a superioridade do tratamento em estudo denciar uma avaliação da magnitude potencial do desvio in-
estiver claramente estabelecida quando a demonstração de re- troduzido. e o impacto sobre a interpretação dos resultados",
levante diferença de tratamento for muito improvável. ou se
forem evidentes efeuos adversos inaceitáveis. Em geral. os
limites para monitoração da eficácia requerem mais evidên-
Comitê de Ética em Pesquisa
cias para seencerrar precocemente um ensaio (isto é, eles são Os Comitês de t:tica cm Pesquisa (CEi» são colcgiados inter-
mais conservadores) que os limites para monitoração da se- disciplinares e independcnrcs, de carãtcr consultivo, deliberativo
gurança. Quando o delineamento do ensaio e o objerivo do e educativo. criados para defender os interesses dos sujeitos
ensaio envolvem múltiplr», desfechos, então esse aspecto de da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir
multiplicidade deve uimbém ser levado em conta", no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. O CEP
O protocolo deve descrever o esquema das análises interme- deve ser composto de. no mínimo, sete membros envolvendo área
diárias, ou pelo menos as considerações que governarão sua de ciências da saúde, exatas, sociais c humanas. Desses sete
geração.Outros detalhes podem ser apresentadosem emenda ao membros, podem existir, no máximo, 50% da mesma catego-
protocolo antesdo momento da primeira análise intermediária. ria profissional e um dos integrantes deve ser um represen-
Os efeitos potenciais da interrupção precoce sobre a analise tante da sociedade (leigo),
de outras variãveis importamos também devem ser considerados, O CE? tem como atribuições:
Esse material deve -cr c-crito ou aprovado pelo Comitê de Moni-
roração dos Dados. quando o ensaio tiver um. Os desvios do • Rcvivar todos os protocolos de pesquisa submetidos para
procedimento planejudo sempre carregam o potencial de inva- análise.
lidação dos resultados do ensaio. O~ procedimentos selecio- • Emitir parecer convubstunciudu no prazo de 30 dias.
nadosdevemsempreassegurar quee~tácontrolada a probabilidade • Acompanhar o desenvolvimento do projeto por meio dos
global de erro tipo I. relatórios nnuaiv.
A execução de uma amilisc intermediária deve sempre ser • Comunicar iodos os eventos adversos a Comissão Na-
umprocessocompletamenteconfidencial, visto queestãopotencial- cional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde
mente envolvidos dados e resultados não desvendados. Toda (CONEP/MS).
a equipe envolvida na condução do ensaio deve permanecer
semconhecimento dos rcsultudos dessas análises, em razão o investigador do estudo é o responsável pelo encaminha-
mento do protocolo, possíveis emendas e Termo de Consen-
da possibilidade de que suas atitudes no ensaio sejam medi-
timento Livre c Esclnrecido ao CEP para análise.
ficadas e possam causar alterações das características dos
O CO EP/MS estabelece os seguintes documentos como
pacientes a serem recrutados, ou desvios nas comparações
obrigatórios, sem os quais o protocolo de pesquisa não poderá
de tratamentos. Esse princípio pode ser aplicado a toda a
ser aceito pelos CEP para apreciação. Eles são:
equipe do pesquisador C;I equipe empregada pelo patrocina-
dor, execro as pessoas direuuncnre envolvidas na execução da
análise intermediáriu. • Folha de rosto.
• Projeto de ensaio clínico em português.
A maioria dos ensaios clínicos desenvolvidos para apoiar
• Antecedentes e jusrificativu pura realização do ensaio.
a conclusão sobre a eficácia e segurança de um produto de
Registro no país de origem. em caso de fármacos e dispo-
pesquisadeve proceder à LOI:IIconclusão do planejado tama-
siiivos para a saúde, já comercializados em outros países.
nho inicial da amostra: esses ensaios somente devem ser in-
• Descrição de material e métodos. casuística. resultado
terrompidos precocemente por motivos éticos Oll se seu poder
esperados e bibliografia.
estatístico não for mal' aceitável. • Análise crítica de riscos e benefícios para o sujeito da
Para muitosdosensaiosclínicos de novos produtos de pesquisa. pesquisa.
especialmente aqueles com grande significado na saúde pú-
• Duração.
blica. a responsabilidade da rnonitoraçâo das comparações dos • Responsabilidade do pesquisador. da instituição. do
resultados de eficácia e/ou segurança devem ser designados patrocinador.
paraum grupo externo independente, freqüeruementc chamado • Critérios para suspender ou encerrar o ensaio.
de Comitê lndepcndcnte de Monitoraçâo de Dados (IDMC). • Local de realização das várias etapa.
umaJuntade Monitoração de Dados e Segurança ou um Comitê • Infra-estrutura neccs ária para realização do ensaio e
de Monitoração de Dados, cujas responsahilidades devem ser concordância da instituição.
claramente definidas. • Orçamento financeiro detalhado e remuneração do pes-
Quando um patrocinador assume o papel de rnonitoração quisador.
das comparações de eficácia ou segurança. e por esse motivo • Propriedade das informuçôcs advindas dos resultados do
~ temacessoàs informações comparativas desvendadas, deve-se ensaio.
~ tomar particular cuidado em proteger a integridade do ensaio • Caractcrfsticas da pcpulação em estudo, justificativa de
~ c controlar e limitar apropriadamente a divulgação de infor- uso de grupos vulneráveis.
~ mações. O patrocinador deve assegurar c documentar que o • Número de sujeitos da pesquisa, no ensaio local e global
~ comitê interno de rnonituração concordou com os procedi mentes (ensaio !TIU It icônt rico).
104 • Tratado de Clínica Médica

• Descrição de métodos que aferem os sujeitos da pesquisa, Comitê Independente de Monitoração de Dados
• Fonte, de material. cólera cspccffica.
Um Comitê Independente de Monitoração de Dados (lDMC)
• Planos de recrutamento. critérios de inclusão c exclusão.
pode ser estabelecido pelo patrocinador para avaliar a intervalos
Termo de consentimento livre e esclarecido.
o progresso de um ensaio clínico. os dados de segurança e ~~
• Currículo do pesquisador principal e dos demais pelo- vuriávcis críticas de eficáciu, e para recomendar ao pairocr-
quisadorcs,
nador se deve continuar, modificur ou encerrar o ensaio. O
• Pesquisas conduzidas do exterior ou com cooperação
IDMC deve ter procedimentos operacionais escritos e manter
cst rangeira:
rcgistros de todas as suas reuniões, inclusive os resultados
- Compromissos e vantagens pum os sujeitos da pesquisa.
intcrmcdiãrios: eles devem estar disponíveis para revisão quando
- Compromissos e vantagens para () país.
o ensaio for completado. A independência do lDMC tem a
- Identificação do pcsquivador c instituição nacional'
intenção de controlar a divulgação de informações compara-
co-rcsponsáveis (folha de rosto).
tivav importantes e proteger a integridade do ensaio clínico
- Documento de aprovação por Comitê de Ética no pais
de um impacto adverso resultante de acesso a informações do ~
de origem ou justificativu.
ensaio. O IDMC é uma entidade separada de uma Junta ~
- Resposta à necc sidade de trcinamcnto de pessoal no
Institucional de Revisão ou de um Comitê Ético em Pesquisa, '"
Brasil.
c sua composição deve incluir cientistas experientes cm en- ~
• Pesquisas com novos fármacos. vacinas e lestes diag- saio clínico c com conhecimento nas disciplinas apropriadas. ;.
nósiicos:
incl usive est ai ística'".
- Fase atual do desenvolvimento do produto e demons-
tração de cumprimento de fases anteriores.
- Suhstância jarmacolágicu: registro no país de origem. Avaliação de Segurança e Tolerabllldade
- Informação pré-clínica: brochura do pesquisador, A avaliação da segurança c da tolerabilidadc constitui um im-
- Informação clínica de fases anteriores. portante elemento em todos os ensaios clínicos. Nas fases
- Justificativa para Ul.O de placcbo ou período de lI'aS/UIIII. iniciuis do desenvolvimento clínico, ou seja. nas fases I e II
- Acesso ao medicamento. se comprovada SU:l supe- essa avaliação tem natureza principalmente exploratória, sendo
rioridade. scn: ívcl apenas para as expressões evidentes de toxicidade.
- Declaração do pesquisador de que concorda e seguirá ao passo que nas fases mais avançadas o estabelecimento do
(I protocolo (folha de rosto). perfil de segurança e tolerabilidade de um fármaco pode ser
Justificativa de inclusão de sujeitos sadios. caracterizado mais arnplurncnre em amostras maiores ele pa-
- Formas de recrutamento. cientes. Os ensaios cuntrolados de fase avançada. fase III,
representam irnporrante meio de exploração de quaisquer novos
Consentimento Livre e Esclarecido efeitos adversos. de maneira imparcial. mesmo que a esse respeito
em geral falte poder a esses ensaios.
o Consentimento Livre e Esclarecido é a confirmação volun- Certos cn aios podem ser programados com o propósito de
tária da disposição do paciente cm participar de um estudo clínico. estabelecer alegações específicas sobre a superioridade ou equi-
Segundo as normas requeridas pelo ICII. GCP e Resolução valência com referência à segurança e à tolerabilidade, em com-
196 vão documentos obrigatórios em todo cvtudo clínico. os paração com outro fármaco ou outra dose do fármaco em pesquisa.
quai-, devem ser obtidos pelo investigador antes da entrada do t~l>as alegações específicas devem ser apoiadas por urna evi-
paciente no estudo e <emente após o paciente ter sido infor- dência relevante dos ensaios confirmatõrios similar à neces-
mado ...obre o, objetivos til) estudo. benefícios potenciais. sária para as correspondentes alegações de efieácia.
riscos c inconvenientes. Uma descrição de tratamentos alter- Em qualquer ensaio clínico, os métodos e medidas escolhidos
nativos deve estar disponível. assim corno explicação sobre pum avaliar a segurança e a tolcrabilidade de lima droga depen-
os direitos e responsabilidades do paciente segundo ii Declaração derão de um certo número de tutores, inclusive o conhecimen-
de Helsinque". to dos efeitos adversos dos fármacos intimamente relacionados,
São itens obrigatórios no Termo de Consentimento Livre c as informações de-ensaios não clínicos e clínicos iniciais e possíveis
Esclarecido: conseqüências dali propriedades farl11acodinâmicas/farmacociné-
tica~ de um fármaco e. em particular. o modo de administra-
• Menção de que o estudo envolve urna pesquisa. ção. o tipo de pacientes a serem estudados e a du~ação d.o
• Objctivo- do estudo. ensaio. Os exames de laboratório concernentes à bioquími-
• Tratamento. ca clínica e à hernarologia, os sinais vitais e os eventos clí-
• Procedimentos necessários durante o estudo. nicos adversos (doenças. sinais e sintomas) usualmente formam
• Direitos e responsabilidades do paciente. o núcleo principal dos dados de segurança e tolerabilidade.
• Aspecto ...experimentais do estudo. É. cm particular. importante registrar a ocorrência de even-
• Benefícios potenciais, riscos c inconvenientes. lOS adversos graves c as dcsconunuaçõcs do tratamento por
• Descrição de tratamentos alternativos. causa de eventos adversos.
• Despesas com o estudo. No decorrer dos estudos clínicos. a maior preocupação dos
• Informação de que a participação do paciente é volun- pesquisadores é em relação à segurança dos medicamentos e
tária e ele pode sair do estudo ti qualquer momento, quanto ao acompanhamento adequado de eventos adversos. Um
• Confidencialidade das informações obtidas, no decorrer evento adverso pode ser classificado como sério ou não sério.
do estudo. Define-se Evento Adverso em Pesquisa Clínica como qualquer
• Número aproximado de pacientes no estudo. evento que ocorra em uma das seguintes situações:
• Duração da participação do paciente.
• Informação de quem contatar para obter maiores infor- • Enquanto um paciente estiver participando de um esrudo
mações ou em casos de emergência. clínico.
• Espaço designado para as assinaturas e datas (do paciente • Dentro de um período estabelecido. subseqüente à última
t: da pessoa que aplicou o termo ao paciente). administração da medicação.
Pesquisa Clinica • 105

Esses eventos adversos podem incluir: Todo o esforço deve ser realizado pelo invcstigador no sentido
de obter a maior quantidade posvívcl de dados clínicos, labo-
• Sinais e sintornas clinicamentesignificantes. ratoriais e dtagnósucos pana completa elucidação do evento e
• Anormalidade, laboratoriais. para que possa estabelecer adequada relação de causa-efeito
• Alterações em resultados de exames físicos. entre o evento adverso e ots) medicamento(s) em ensaio.
• Hiperscnsibi lidade. Além do mais. recomenda-se que. eja usada uma metodo-
• Dependência e iruerações medicamentosas. logia consistente para a coleta dos dados e a avaliação ao longo
• Sinais e sintomas de descontinuação do medicamento. de todo um ensaio clínico. a fim de se facilitar a combinação
• Superdosagern ou U\O abusivo do medicamento. dos dados de diferentes ensaios. É particularmente importante
o uso de um dicionário de e\ cnios adversos comuns. Esse
Um Evento Adverso Sério é definido como um evento inde- dicionário tem uma estrutura que oferece a possibilidade de
sejável que ocorra com qualquer dose que: resumir os dados sobre eventos adversos em três diferentes
níveis: classe sistema-órgão, termo preferido ou termo incluído.
• Resulte cm morte. O termo preferido é o nível <obre o qual os eventos adversos
• Coloque em risco a vida do paciente. são usualmente resumidos. e os termos preferidos pertencentes
• Resulte em hovpitulivução ou prolongnmento da hospi- à me 'ma classe sisicmu-õrgüo podem então ser reunidos na
talização. apresentação descri t iva dos dados.
• Resulte em incapacidade permanente ou significativa.
• Resulte em anomalias congênitas ou malformação ao Protocolo do Ensaio CUnlco
nascimento. O protocolo cio ensaio clínico é o documento em que estão des-
critos o plano de trabalho e todos os requisitos básicos para a
Eventosmédicos importantes podem não resultar em morte,
adequadacondução do estudo. Conforme a definição estabelecida
colocarem risco a vida do paciente ou requerer hospitalização. na Resol ução n~ 196 do Conselho Nacional de Saúde, proto-
maspodem ser considerados eventos adversos sérios quando. colo de pesquisa é o documento que contempla a descrição da
combasenojulgamento médico adequado, possamcomprometer pesquisa em seus aspectos fundamentais. informações relativas
o indivíduo e requerer Intervenção clínica ou cirúrgica para
ao sujeito da pesquisa. à qualificação dos pesquisadores e a
evitar a ocorrência de um dos eventos anteriores. Iodas as instâncias rcspousãvcis.
É indispensável que e\se\ eventos sejam documentados em
Um protocolo de estudo clínico deve incluir os tópicos a
prontuário, médicos. fichus clínicas e fonnulârios específicos.
cguir conforme estabelecido no' IClI '. Entretanto. as infor-
Na conclusão do estudo clínico. c\ses relatos são descritos no
mações específicas dos centro .. podem -cr fornecidas em uma
relatório final do estudo. página separada no protocolo. ou estabelecidas em um acordo
O investigador é rcsponsãvcl cm relatar o evento ao patro- à parte. Algumas das informações Ii~tadal> a seguir podem
cinador do estudo e ao Comitê de Ética. O patrocinador deve estar contidas em outros documentos referidos no protocolo,
avisar à~ autoridade, rcgulatórias - 110 caso do Brasil a Agên- tais como a Brochura do Investigador.
cia acionalde Vigilância Sanitária (ANVISA) e. em São Paulo.
a Agência Estadual de Vigilância Sanitária. No caso de estu- • Informações gerais:
doslnvesügaüonal ew Drug (IND), a FOA deve ser comunicada. - O título. o número de identificação do protocolo e a data.
Cadaórgão possui seu pra/o estabelecido para realização dessa Qualquer emenda também deve conter o número da
notificação, que em média fica em torno de cinco dias úteis. emenda e a data.
Para eventos classificados como não sérios. são enviados - O nome e o endereço do patrocinador e monitor (caso
relatórios trimestrais a essas agências. seja outro que não o patrocinador).
Nos ensaios duplos cegos, medidas adequadas para a não - Nome e titulo da pessoa autorizada a assinar o proto-
quebra da cegueira são instituídas, sempre em conformidade colo c sua(s) crncndats) para o patrocinador.
II acordo previamente concertado COmas agências rcgulatórias. - Nome. título. endereço c número de telefone do mé-
Todos os evento, ocorridos durante n realização da pc qui- dico qualificado do patrocinador (ou dentista quando
sa são devidamente rcgil>trados cm um sistema de cadastro e apropriado) para o estudo.
~ controle de cvcniov advervos. - Nome e título dos invc ..rigadores responsáveis pela
~ Esses relato' ,Uo ucornpunhudos: condução do estudo e o endereço e o número de tele-
fone do centro.
• Enquanto o paciente cstá recebendo um fármaco teste - Nome. título. endereço e número de telefone do médico
ou qualquer medicamento comparativo ou placcbo espe- capacitado (011 dentista. se aplicável), que é respon-
cificado pelo protocolo. sávcl por todas as decisões médicas (ou odontológicas)
• Até a última \ i..ita de follow-up requerida pelo protocolo. relacionadas ao centro-estudo (caso seja outro que não
ou após 30 dias da última administração do fármaco em O investigador).
estudo (o que ocorrer por último). - Nome e endereço dos laboratórios clínicos e outros
departamentos médico e/ou técnicos e/ou instituições
As informações mínimas requeridas para se fazer um relato envolvidos no estudo.
de evento adverso sério l>ão: • Informações complementares:
- Nome e descrição do produto sob investigação.
• Descrição do ('Iento: informações sobre o início. duração. - Um resumo dos achados dos estudos pré-clínicos que
tratarncmo e resolução do evento serão úteis. porém se tenham significância clínica potencial e dos estudos
essasinformações não c~tivcrern prontamente disponíveis. clínicos que são relevantes 11pesquisa.
não se deve cspcrnr para submeter o relato. - Resumo dos riscos e beneffcios potenciais conhecidos
• Nome do fármaco. <LOS participantes. caso haja.
• Identificação do paciente: iniciais e número de rando- - Descrição c justi Ilcariva para a via de administração,
mização. dose, esquema posológico e duração do tratamento.
106 • Tratado de Clínica Médica

- Uma declaração de que O estudo será conduzido con- -Procedimentos para monitoramento da aderência dos
forme o protocolo. a GCP e as cxigêncius regulatôrias participantes.
apl icáveis. • Avaliação de eficácia:
- Descrição da população ri ser estudada. - Especificação dos parâmetros de eficácia.
- Referências à literatura e a dados relevantes ao estu- - Métodos e momentos pura avaliação. anotação e anã-
do e que forneçam informações complementares ao li. c dos parâmetros de eficácia.
estudo. • Avaliação de segurança:
• Objcrivos e propostas do estudo: - Especificação dos parâmetros de egurança.
- Uma descrição detalhada dos objctivos e a proposta - Os métodos e o momento para avaliação. anotação e
do estudo. análise dos parâmetros de segurança.
• Desenho do estudo: - Procedimentos para emitir relatórios de e para registro e
- Uma declaração específica dOl\ objctivos primários e noti ficações de eventosadversose doenças intercorrentcs.
secundários. caso haja. a serem determinados durante - O tipo e a duração do acompanhamento dos partici-
o estudo. pantes após 01> eventos adversos.
- Uma descrição do tipo/desenho do estudo a ser conduzido • Estarfsticas:
(por exemplo. duplo cego, controlado com placebo. dese- - Uma descrição do métodos estatfsticos a serememprega-
nho paralelo) e um diagrama esquemático do desenho. dos. incluindo os momentos para as análises interinas.
dos procedimentos e dos estádios do estudo. - O número de participantes que se planeja recrutar. Em
- Uma descrição das medidas para minimizar/evitar o estudos multicênrricos. o número de participantes recru-
desvio (bias) incluem: tados projetados para cada centro deve ser especificado.
• Randornizaçâo. A razão para escolha do tamanho da amostra, incluindo
• Esquema cego. reflexões sobre (ou cálculos) da potência do estudo c
- Uma descrição do tratamento incluindo a posologia e just i ficução clínica.
I) esquema posolôgico de um produto ob investiga- - O índice de significância utilizado.
ção. Além disso, inclui também uma descrição da - Critérios para término do estudo.
apresentação, embalagem e rotulagem do produto sob - Procedimentos para contabilidade dos dados que estão
investigação. faltando. dados não utilizados e espúrios.
- 1\ duração esperada da participação do indivíduo no - Procedimentos para relato de qualquer de vio do plano
estudo e uma descrição da seqüência e da duração de estatístico original (qualquer de vio do plano estatístico
todo. os períodos de estudo. incluindo acompanha- original deve ser descrito e justificado no protocolo
mento. caso haja. e/ou no relatório final, corno for adequado).
- Uma descrição das "regras de interrupção" 011 "critérios - A sctcção dos participante a serem incluídos na anã-
de descontinuação" para cada participante, partes do Iise (por exemplo. todos os participantes randomizados,
estudo e estudo inteiro. todos que receberam a posologia, todos os eleitos e todos
- Procedimentos de contabilidade para o produto sob in- os avaliados).
vcsrigação. incluindo o placebo c o controle. caso haja. • Acesso direto aos documentos e dados originais
- Manutenção dos códigos de randomização do trata- - O patrocinador deve certificar-se de que está assentado
mento de estudo c procedimentos para abertura dos no protocolo ou em outro acordo por escrito que o
código .. investigador/instituição permitirá monitoria, auditoria.
- A identificação dos dados a serem anotados direra- revisão pelo Comitê de ~tica em Pesquisa e inspeção
mente nas fichas clinicas (isto é. não há anotação prévia rcgulatória relativos ao estudo, fornecendo acesso direro
dos dados por escrito ou eletronicamente). e que serão aos documentos/dados originais.
considerados como dados originais. • Controle de qualidade e procedimentos para garantia da
• Sclcção e retirada dos participantes: llu.alidade.
- Critérios de inclusão de participantes. .I::tlca:
- Critérios de exclu ão de part icipantcs. - Descrição das considerações éticas relativas ao estudo.
- Critérios de retirada de participantes (i. to é. encerrar • Proce sarnento de dados e manutenção das anotações.
o tratamento com O produto sob invc uigação/truta- • Financiamento e seguro:
mentol e procedimentos especificando: - O financiamento e o seguro. caso não estejam estabe-
• Quando e corno retirar participantes do estudo/do lecidos em um acordo ii parte.
tratamento com o produto sob investigação. • Polftic a da publicação:
• O tipo c os momentos de cólera dos dados para reti- - Pol ft ica da publ icação, se não estiver estabelecida em
rada de participantes. um acordo à pane.
• Se e C0l110 os participantes serão repostos.
• O acompanhamento dos participantes retirados do es-
tudo/do tratamento com o produto sob investigação.
-Brochura do ,Investigador
• Tratamento dos participantes: A Brochura do Investigador é uma compilação dos dados clínicos
- O tratamento a ser administrado. incluindo o nome e pré-clínicos sobre o produto sob investigação que são rele-
de todos os produtos. a dose. o e querna posológico. vantes ao estudo do produto cm humanos. Seu propósito é
via/modo de administração e o período de tratamento. fornecer aos investigadores e outros envolvidos no estudo
incluindo o período de acompanhamento para os indi- informações. que facilitem seu entendimento da base racional
víduos de cada tratamento com O produto sob invcsi i- e sua aderência às características principais do protocolo, tais
gação/grupo de tratamento do estudo/grupo do estudo. como dose, freqüência/inrervalo da dose, métodos de adrni-
- Medicação/tratamento permitidos (incluindo medica- nistração e procedimentos para rnonitoração da segurança.
mento eleemergência) e não permitidos antesc/ou durante A Brochura do Investigador também fornece meios de garan-
o estudo. tir a conduta clínica dos participantes do estudo durante sua
Pesquisa Clínica • 107

realização. As informações devem ser apresentadas de forma • Resolução II!! 196/96: define termos e atribuições: as-
concisa. simples. objetiva. balanceada c não-promocional para pectos éticos. consentimento livre e esclarecido, riscos
que um médico, ou ill\ cstigador potencial, possa crncndê-las e benefícios. protocolo de pesquisa clínica. estabelece
e fazer ~lIa própria avaliação da relação risco-hcneflcio e da os CEP e estabelece a CONEP/MS'".
conveniência do estudo proposto. Por essa razão. uma pes- • Resolução II P 251/97. de 7 de l//{II.\·IO: aprova normas de
soa clinicamente capacitada deve participar na edição da Bro- pesquisa envolvendo seres humanos para fi área lemática
chura do Investigador. ma" o M!U conteúdo deve ser aprovado de novos fármacos. medicamentos e lestes diagnósticos.
pelas disciplinas que geraram os dados descritos. definindo as atribuições pertinentes 11Secretaria de Vigi-
Tipo e quantidade de informações disponíveis variam con- lância Suniuiriu do Ministério da Saúde".
forme o estádio de desenvolvimento do produto sob investi- • Portaria "u911/98, de 12 til' novembro: estabeleceii relação
gação.Se o produto sob in vcstigação .iii est i ver comercial izado de documentos necessários ii instituição de pedidos de
e ua Iarrnacologia for amplamente cntcudida pelos médicos. autorização para rcali/ação de Pesquisa Clínica com
não será necessária lima Brochura do Investigador extensa. Fãrrnacos. Medicamentos. Vacinas e Testes Diagnósticos
Até onde seja permitido pela), autoridades rcgulatõrias. umu Novos?',
brochura básica com informações do produto, bula ou rótulo • Resolução "II 292/99. de 8 de julho: regulamenta Pes-
pode ser IInHI alternativa adequada. pois inclui informações quisas envolvendo Seres Humanos para li área temática
atuaiv, comprccnsfvcls e detalhadas sobre todos os aspectos especial "Pesquisas coordenadas do exterior ou com par-
d()~produto" sob investigação que podem ter importância para ticipação estrangeira e pcsquisa-, que envolvam remessa
O investigador. Se um produto comercializado está sendo es- de material biológico para o exterior?".
tudado para um novo lI~O (isto é. nova indicação), deve ser É importante lembrar que atualmente as atribuições da
elaborada lima Brochura do Investigador especifica para esse Secretaria de VigilfilH:ia Sanitária do Ministério da Saúde são
novo uso, A Brochura elo Investigador deve ser revisada pelo exercidas pela ANVISA.
menos anualmente e também conforme a necessidade expressa
cm procedimentos por escrito do patrocinador, Podem ser
necessárias revisões mais l'reqücntcs. dependendo do estãdlo ele Participantes de um Estudo Clinico
desenvolvimento c da geração de 110Vru. informações relevantes. A seguir, será dada breve descrição da [unção dos participan-
Entretanto. de acordo com as Boas Práticas Clfnicus, as novas tes considerados indispensáveis na condução de um estudo
informações relevantes podem ser tão importantes que devem ser clínico.
comunicadas uos investigadores e possivelmente ao Comitê de
Ética de Pesquisa e/ou à!. autoridades rcgulatórias antes que
sejam incluídas cm uma Brochura do Investigador revisada. Investigador Principal
Em todos os estudos é absolutamente mdrvpcnsávcl ti IigunI
do investigador. Isto porque ele é o responvãvcl dírcio por todas
Ficha Clínica as questões clínicas envolvidas no estudo. ou seja, o investi-
~ A Ficha Clínica é um documento claborndc pelo Patrocina- gador principal é o responsável absoluto pela realização de
~ dor com base no Protocolo do Estudo. Nela são reaisrradas todos os procedimentos exigidos pelo protocolo. Para desem-
~ todasas informações de cada paciente, necessárias para cole- penhar tal papel é importante que o investigador principal tenha
:=!
.;., ta de dados c povterior an(Jlisc do estudo. Todas essas infor- o conhecimento pleno do protocolo ele pesquisa e seja espe-
.. maçõescolctndas devem refletir cxatameruc aquelas comidas cialista na área estudada,
no prontuúrio ou qualquer outro documento fonte do paciente. Assim, 11 experiência de um investigador cm estudos clínicos,
corno qucstionãrlo ou exame laboratorial. seu desempenho profissional, sua conduta ética. o conhecimento
Dentre as informações recolhidas pela ficha clínica estão profundo dentro da área de arunçüo. bem como uma ampla
os eventos adversos para os quais são destinadas páginas cs- visão sobre a real importância cicni lflca e social das questões
pecfficas. que envolvam cada estudo serão, certamente, os requisitos
A Ficha pode ser preenchida e corrigida pelo investigador, necessários de sua qualificação.
co-invcstigador, O~ dados devem ser registrados de maneira De maneira resumida são referidas. a seguir. a atribuições
clara e objeriva. para que sejam gerados resultados estatísti- básicas do investigador:
cos confiáveis e. posteriormente, seja possível redigir um bom
trabalho cientílico. • Previsão da origem dos pacientes no local em que será
realizada li pesquisa.
• Obtenção da documentação necessária para o início. para
Legislação o desenvolvimento e para o encerramento da pesquisa.
A~ lei~ que regulamentam a prárica da Pesquisa Clínica no Estabelecimento de métodos de recrutamento de pacientes
Brasil são as seguintes: a fim de garantir que não haja pacientes violadores do
• Lei n!! 6.360/76. de 23 de setembro: isenta O registro
prorocolo incluídos no estudo. assim como garantir também
de medicamentos a serem importados para fins de Ul>O que não permaneça no estudo paciente que em algum
experi menta I"~. momento da pesquisa tenha violado O protocolo.
• Decreto II!! 79.094177, de 5 de janeiro: define a Secre- • Garantir que todos os dados obtidos durante a.pesquisa
taria de Vigilância Sanitária como órgão competente pura são Fidedignos.
autorizar o uso experimental de medicamentos no pafs·'. • Garantir que nenhuma informação relativa ao estudo será
• Resolução II t' 102/96, de 7 de novembro, do CO/l.l'I'IIJO acessfvel a qualquer indivíduo que não esteja devida-
Narionul de SmíddMS: aprova o plano de trabalho de- mente credenciado e autorizado pelo patrocinador.
corrente da Resolução 11$1 196/96. prevendo. especifica- • Providenciar que se comunique ao serviço de arquivo
mente.a elaboração das Normas e Diretrizes das seteáreas geral. que se inclua no prontuário do paciente toda e
temáticas especiais. dentre elas a de pesquisa com novos qualquer intercorrência durante o período no qual o paciente
fármacos. medicamentos, vacinas e lestes diagnósticos. estiver fazendo parte do estudo, É importante salientar
108 • Tratado de (I/nica Médica

que eventuais rcações adversas relacionadas ao fármaco O monitor é uma ponte entre o patrocinador e o investigador.
podem acarretar a interrupção do estudo, daí a necessidade podendo trabalhar exclusivamente para o patrocinador. de forma
de rigor na coleta e transmissão de dados. autónoma ou ainda pertencer a uma empresa especializada em
• São responsáveispelo relato de eventos adversos sérios que desenvolver estudos clínicos por contrato (CRO).
venham ocorrer durante o estudo, e que sejam comunicados É de responsabilidade do monitor garantir que as fichas
imediatamente ao patrocinador, ao CEP e autoridades. clínicas estejam devidamente preenchidas, e que estejam
A maioria das empresas requer que essa notificação seja inteiramente de acordo com o documento fonte. Deve coo
feita dentro de um prazo de 24h. A comunicação pode nhecer dctalhadameme o estudo, pois dúvida durante a con-
ser por telefone ou por fax, utilizando um formulário dução deverão ser sanadas por ele.
apropriado. Dessa maneira, o monitor deve ser capaz de detectar qual-
• Manter um controle rigoroso sobre todos os códigos ran- quer falhas e corrigi-Ias prontamente.
dômicos ou lista de randornização, atravésda qual sedefine
qual será o tratamento para cada indivíduo incluído.
• Fornecer ao patroci nador O controle de entrega e devolução
Auxiliares de Pesquisa
Em um estudo pode ainda existir. desde que o patrocinador e
.....
.:..
dos fármacos ao paciente. tão logo se encerre o estudo.
o investigador decidam sobre sua necessidade. a presença de
~
profissionais que possam desempenhar funções diversas, tais
v.'"
Tendo em vista os numerosos procedimentos requeridos 'I'
como: x
pelos protocolos durante o andamento da pesquisa, o investi-
gador principal pode optar pela formação de urna equipe de
• Serviços gerais.
apoio para auxiliá-lo na realização de algumas das atividades
• Serviço de assistência social.
requeridas pelo projeto.
• Serviço de apoio à saüde mental.

Co-investigador (Investigador Secundário) Além desses profissionais também pode haver, dependendo
Cabe ao investigador a decisão sobre qual ou quais serão os da estrutura da instituição participante. enfermeiros e farma-
cc-investigadores que terão responsabilidades equivalentes 11 cêuticos para desempenho de funções específicas dentro da
do investigador principal. podendo também responder por equipe de apoio formada pelo investigador principal.
qualquer problema que possa vir a ocorrer no ensaio.
A seguir serão citados alguns procedimentos que pelo critério Equipe de Apoio
do investigador. previamente acordado com O patrocinador.
É fundamental que essa equipe esteja treinada para o trabalho
poderão ser realizados pelo cc-investigador:
em um estudo clínico. Todos devem estar cientes que uma
• Triagem do paciente. pesquisa clínica não pode ser entendida apenas como um
• Alocação do tratamento ao paciente conforme de enho atendimento arnbulatorial. A rotina de um ambulatório embora
do estudo. criterio a contém exigências burocráticas e documentais menos
• Informar ao paciente sobre os riscos, os bcncffcios e os rigorosas quando comparada à de um estudo clínico. Assim, se
possíveis eventos adversos do medicamento cm pesquisa, cada um dos profissionais envolvidos não conhecer as condi-
bem como todos os detalhes pertinentes do tratamento ções necessárias para a implantação e desenvolvimento de um
que lhe será administrado. estudo dentro das Boas Práticas Clínicas. não será possível bom
• Obtenção do Ter 111o de Consentimento Livre e Esclarecido desempenho de um centro de estudo. Daí a importância de um
pelo paciente. por meio do qual o paciente candidata-se treinamento prévio de todos aqueles que, de certa forma. par-
voluntariamente ao estudo. ticiparão do estudo nos itens relevantes do protocolo.
• Seguimento do paciente ao longo do estudo. A fim de garantir" integridade do estudo, o investigador
• Controle de dispensação e devolução do fármaco de estudo. pri ncipal deve supervisionar diretarnente toda a equipe de apoio
durante todo o estudo.
Coordenador de Estudo
A fim de auxiliar o investigador em todas as suas atribuições CONDUçlo DE ESTUDO ClllIlCI
administrativas relativas ao estudo. surge a figura do Coorde-
nador de estudo que deve ser um profissional da instituição Seleção do Investigador (Pré-estudo]
na qual será realizada a pesquisa. dá-se preferência a profis-
O Investigador é a pe soa responsável pela coordenação e rea-
sionais ligados à área de saúde.
lização da pesquisa e pela integridade e bem-estar dos sujeitos
O Coordenador deve ter conhecimento do protocolo de pesquisa
da pesquisa. A idenrificação de investigadores e centros de es-
e das normas éticas a serem seguidas na realização de um estudo
tudo com alta qualidade garante aderência ao protocolo, in-
clínico. para assim promover a implantação de sistemas de
clusão em tempo adequado de pacientes no estudo, e correto
controle e gerenciarneruo que assegurem a qualidade do estudo
e preciso preenchimento das fichas clínicas.
bem como o controle de toda documentação exigida para im-
Durante o processo de eleção de um investigador para o
plementação, condução e encerramento de um estudo clínico.
estudo. alguns itens importantes devem ser verificados. Entre
O Coordenador deve também trabalhar em conjunto com O
eles podem-se citar:
Monitor do estudo a fim de facilitar o desenvolvimento da
pesquisa.
• Qualificações do investigador pela educação, com relação
à prática médica, via e tudo de curriculum vitae.
Monitor do Estudo • Se o investigador foi treinado e possui experiência em
Os estudos clínicos são rnonitorados com bastante critério. a fim Pesquisa Clínica.
de se ter certeza de que todos os dados da pesquisa estão sendo • Publicações científicas.
adequadamente compilados e o bem-estar e segurança dos • Conhecimento da área terapêutica e requerimentos para
pacientes estão sendo preservados. os procedimentos do estudo.
Pesquisa Clínica - 109

• Compreensão do, requerimentos rcgularórios. • Contrato assinado entre o Patrocinador e Investigador.


• Altos padrões ético, e integridade profissional. • Carta de aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa
• Se o investigador pos..ui tempo di. ponível para se dedicar da instituição.
ao estudo, • Curriculum vuae do lnvevugudor e Subinvesugadores.
• Se o iO\csug.rdor d"ptlC de recurso, adequados inclusive • Valorev normal" do, parâmetruv laboratoriais a serem
equipe. analivadov.
• Certificado da Sociedade Bra ..rleiru de Patologia Clínica
o Centro pude ser pubhco ou pnv ado. devendo ver legalizado aicvrandu a qualidade do Laboratório.
junto ao Mlnl\tcrto da Saúde c babrluado para a realização de • Ceruficado de Anahvc do Iurmuco em estudo.
lnvcstigaçõe« crcnnhca« 0, local .. ma" IItili/ados pnra rca- • Aprovação pela A VISA (quando lor o cuvo),
Ji/nçiío de um estudo c1I01CO';10 hovpitaiv. clínicas e urubu-
latõrio« insutucíonatv
A,,~im CUIlWa velcçào de um mvcstigador. a sclcção de LI 111 Monltoração do ESIUdo
centro deve levar cm conta algum. ircnv fundamentais. C0l!10 A~ vbita~ de monuoruçüo têm diferentes objcrivos, mas, en-
O~ espaços destinados par .. ()\ arquivos c ucondicionumcnto rrc outro v, permitir que 0\ estudos vejam conduzidos apro-
da medicação sob in\c'lI!!ação. número potencial de pacientes priadamente. auxiliando na rápida obtenção de dados, garantir
que poderão participar do c-tudo. possu ir um Com itê de Ét ica a qualidade do, dado, obtidos. resolução de problemas de
em Pesquisa credenciado na CO EP/MS. controle de arqui- forma precoce. etc.
vos e condições de manutenção da confidencialidade tios pa- O contato com o centro de estudo pode ser feito por meio
cientes. instalações fí~ica, adequadas para conforto e recepção de telefonemas. cartas. computador e fax ou através de visitas
dos pacientes e realizaçâo dos exames pertinentes. condições propriamente ditas.
de laboratório clínico e outras aiividades di agnósticas ou de Quando um centro de estudo é vi itado, o monitor é respon-
tratamento complementar que sejam importantes para a rea- sável por avaliar os seguinte aspectos:
lização do ensaio clínico e pecífico.
essa scleção é realizuda uma vixita de pré-estudo, que é • do estudo. incluindo aderência ao protocolo e
SW(lIS
um encontro com o potencial investigador. em sua Instituição adequada velcção/incluvão de pacientes.
c com sua equipe. Esva \ ivita tem como objerivo verificar se • Correio preenchimento de ficha clínicas e verificação
todos os requisito-, necevvario...pura a condução do estudo es- dos documentos-fome.
tão comernplados • Obtenção do Termo de Concenumcmn U\fC c Esclarecido.
Deve-se ressaltar que uma \ "lia de pré-estudo é sempre • Obediência IH rt'.f:II/IIII1I·IIIIl\ (ln di' I I'XII/,(III ça: relatos
requerida. E\\e tiJXI de \ "113 ...emente não é requerido se (I de cv entes adv ervo ..
centro foi \ ivuudo dentro do, úhimll'" 1:2 mese» por um pro- • Arrnazenamemu e contubrlidadc do I,írlllacu.
Ih,ional de pc-qurva climca da crnpre ..a ou autoridade vani- • Re\ ivâo da equipe c condiçõc-, do centro.
tária para lin, de crcdcnc iamcnto. • Identificação de irregulandadcv,
Revisão de (Ichado\ de monuoriu .. anteriores.
Submissão do Protocolo e Termo de
Consentimento livre e Esclarecido à AgênCia A prirncira \ i-ua de monuoria deverá ocorrer tão logo seja
Nacional de Vigilância Sanitária e à Comissão possível. prcfcrencralmerue avvim que o, primeiros pacientes
Iorem selecionadov, a fim de evuar a inclusão de pucicntes vio-
Nacional de lUca em Pesquisa ledores de protocolo, Por C.,"l \ i'lIa o monitor pode determinar
Uma vec que o fármaco cm estudo não tenha sitio aprovado se o centro compreendeu adequadamente Iodas as exigências
pelo Ministério da Saúde. ou seja. não tenha registro no país. para Inclusão no protocolo. além dc permitir a identificação
ali no caso de fármaco' registrados em que o estudo preten- e resolução precoce de qualquer problema potencial.
dido será realizado para nova indicação ou nova forma farma- A freqüência de moniroração c outros contatos com o centro
cêutica. após o parecer favorável do CEPo o Patrocinador deverá de estudo depende de fatores como a natureza, complexidade
submeter um dossiê para solicitar aprovação pela ANVISA. e duração do e tudo. aderência do centro ao protocolo, dire-
A lista de documentos neces ários consta na Resolução nº 911 (,2 trizes regulatõrias e princípios das Boas Práticas Clínicas.

Abertura do Centro de Estudo Encerramento do Estudo


Antes da sclcção de pacientev em um c-tudo clínico, todos os A visita de encerramento do estudo (Studv Close OUI) é uma visita
aspecto, do protocolo ...ão di ..cuiidos com o Investigador e sua de monitoração final. condu/ida para discutir 0\ procedirnen-
equipe, Em cvtudov mulucêntrico v, uma reunião de Investiga- to~ de encerramento do centro com o 111\ cvtigador e sua equipe.
dores deve ser rl!ah/adil De vc ver realizada avsim que o último paciente tiver cornplc-
Dc acordo com a, norma, do ICII. um centro e..t~ pronto lUdo o cl>llIdo. É rcqucrida para todo\ li' c\lUdo\. dcsde que o
para iniciar () c...tudu quando todo .. o .. documento, cssenciai!> centro tenha ,clctlOnado paclI!ntc(\). di'penMldo o fármaco
regulat6ri()\ c dl!\lda ...apm\ açõc, forem oht ido,. dc c,CUd()ou mantenha cm ~eu., arqul\ ()\ qualqucr medicamento
O.. doculllenltl' e"cn~ 1<,,' ,iio ou material do e\tudo que nfio foram rctornados.
Durante uma \ I\lIa de encc:rramenlll. o lIIonitor devc rca-
• Brochura do In\ e'tlg.ldllr: documcnto que contém infor- li/ur a, ,egulnte' .1I1\ldadc\'
rmlçõc\ cientihc,I\ relevante, ,obre () produto.
• Protoclllo a"lnildo c emcnda .. C'C for o casn) compro- • Revbarc cnlctar a.. llcha\ (,limca,. incluindo li conlubi-
v(lIldo (I leitura c cntendlmento dcles. lidade da' ficha .. não u..ada\ para ~crem destruídas.
• Protoculo 1'1:\ "adu c ap«nado pelo CEP tia Instituiçuo. • Fa/er lima cunl:lbilidadc final do!> mediellrncnlOs utili-
• Termo dc Con,entllllelllo Livre e E~clarccidl) revisado e 7.adolt e não utili/ado~.
aprovado pelo CEP da Im.tilUiçiio, • Certilicar-~e de quc o Inve~tigador possui todos os docu-
• Ficha Clínica. mento!> nece~ltário~ devidamente arquivados e assegurar
110 • Tratado de Clínica Médica

a aderência às Boas Práticas Clínicas e regulamentações • Procedimentos de cegueira. random ii'.ação ou de aplicação
de segurança. de testes falho ..
• Lembrar o investigador de uas obrigações após o término • Baixa adesão dos participantes aos tratamentos.
do estudo. quanto à resolução de dúvidas c qucstionnmentos • Elevadas taxas de abandono e tempo de recrutamento e
e manutenção dc arquivos. inclusão muito prolongados.
• orificação ao Comitê de Ética em Pesquisa do encerra-
mento do estudo. Ensaios clínicos podem resultar cm insucesso em razão de
• Retomo das Fichas Clínicas não usadas. fatores que são controlãveis ou de tutores que são apenas mini-
mamente controláveis. Dentre os fatores controláveis incluem-se
Um relatório deve ser preenchido para cada visita de encer-
os decorrentes de falhas no planejumento. ou no delineamento
ramento realizada.
do ensaio.
Entre (IS fatores minimamente controláveis podem-se citar
Encerramento Prematuro do Centro aqueles relacionados às variãvci: operacionais e aqueles atri- '"
huídos a erros de execução. ~
Em algumas circunstâncias. um estudo clínico pode terminar
Os principais problemas que costumam ocorrer no planeia- ~
ames mesmo ele se completar a pesquisa. Os motivos mais
menio de de envolvi mente dos ensaios clfnicos relacionam-se a: IA
cornun-, pura se terminar um estudo prernaturumcnte são: ~
X
• O centro falhou no recrutarncruo de um número adequado • Questão (I .1'1''' respondida: ou seja. erro no estabeleci-
de pacientes. mento correto de hipóteses a serem testadas. Os ensaios
• O centro niio estava preparado para as visitas de moni- clínicos como já vistos são classificados em ensaios para
roração. por cI iversas vezes. demonstração de superioridade e naqueles para demons-
• Excessivas violações de protocolo. tração de equivalência ou não inferioridade. Em qualquer
• Fichas Clínicas de má qualidade. com muitos erros. que seja o tipo de ensaio só existem dois resultados pos-
inconsistências ou omissões. síveis entre <I hipótese teste em relação à hipótese nula
• Falta de aderência aos padrões regulatórios e as Boas ser rejeitada ou não. As causas potenciais que podem acarretar
Práticas de Pesquisa Clínica. resultados falsos-positivos (erro tipo I). quando se con-
• Fraudes. clui pela análise dos dados que existe uma diferença es-
O encerramento precoce de um estudo é uma medida extre- tatística significativa entre os grupos de tratamento, mas
ma e deve ser tornada somente depois de se fazer às conside- na realidade o fármaco teste não é melhor, mais eficaz
rações cuidadosamente. A equipe do projeto deve pri rneirurnentc que o grupo controle. em geral reside em se selccionar
tentar corrigir a situação por meio de discussões e corres- grupos de tratamento com composição de indivíduos não
pondências com o investigador, documentando cada etapa equivalentes. Vieses inrroduzidos nos procedimentos ou
do processo. antes da tomada da decisão final. medidas em estudo produzidas pelo pessoal ou pacientes
envolvidos no ensaio se as medidas de cegueira não ão
mantidas de maneira adequada também podem gerar re-
Análise Estatistlca e Relatório finai sultados tal os-positivos. o caso de erro que levam a
Após as fichas clínicas serem recolhidas. o banco de dados criado. resultados fal os-negativos (erro tipo H). quando não se
contendo todas as informações obtidas no estudo. é complementado. consegue detectar diferenças estatísticas significativas entre
com os dados finais do estudo entrados nesse banco. e análise os grupos ele tratamento. mas realmente a nova terapêu-
final desses dados resultará cm um relatório estatístico. tica é melhor. mais eficaz (ou não) que a terapêutica-
Um relatório final descrevendo os resultados do estudo clínico controle. as causas potenciais em geral são: numero
é então escrito e enviado ao CEP para análise e aprovação. inadequado de pacientes, muito pequeno, para detectar
servindo de base para a publicação de artigos científicos. criação uma diferença real entre os grupos tratados. Outra cau-
dc material promocional pelo iuarketing da ernprc a. assim sa é a escolha ele pacientes com alta variabilidade nas
como informativo às agências regulatôria quanto à segurança características de dose-resposta impedindo detectar uma
e eficácia do produto. diferença real entre os grupos e uma terceira cau a decorrente
da variabilidade de medidas por falhas na utilização de pro-
COISIDERAÇOES filAIS cedimentos adequados c condições controladas para reali-
zar tais medições.
O desenvolvimento de um novo fármaco é tarefa de longo prazo • lndicaçãn-alvo: a doença escolhida para o e. tudo não é
e muito risco. A correta realização do desenvolvimento clíni- aqucln na qual o fármaco pode apresentar um benefício
co. de maneira racional evitando superposição de estudos e étimo por erros de avaliação dos dados clínicos anterio-
cuidado o plancjarneruo dos ensaios clínicos, aumenta a pro- res em que se atribuiu importância exagerada a indica-
dutividade e torna disponível de modo mais rápido O novo ções que seriam secundárias,
trauuncnto aos pacientes dele necessitados. É importante. pois.
• População-alvo: a população específica de pacientes pode
analisarem-se os fatores e erros mais comuns que levam ao
não ser a que melhor responda ao tratamento ou porque
insucesso do ensaio clínico.
se sclccionou pacientes com a moléstia em estádio muito
Peck'''. ao estudar os ensaios clínicos submetidos para registro
leve ou muito grave.
de produtos na FDA. relata fi. principais causas que levam os
ensaios ao insuccvso e lista os seguintes motivos: • Centros de pesquisa: os pesquisadores podem não ser
os melhores qualificados, ou interessados na realização
• E. colha inadequada da população a ser estudada ou erro do estudo. ou o centro não possui recursos para recrutar
na dose do fármaco. os pacientes dentro da velocidade adequada.
• Estudo com força de teste que não permite conclusões. • Delineamento do ensaio:
• Perfodos de observação muito curtos ou muito longos - Suposição ou suposições que lasirearam o racional
que não permitem demonstrar o efeito do fármaco. para realização do ensaio não foram adequadamente
Pesquisa Clínica 8 111

interpretadas. Assim, assumir que uma terapêutica três sistemas principais que vejulgam importantes para a criação
relativamente pouco mais eficaz que o placcbo possa desse tipo de indústria no Bra ..i). quais sejam: sistema de lucro,
servir como fármaco controle excluindo o usodo controle sistema legal c sistema educacional como os já existentes naqueles
placebo. Esse problema pode ocorrer no desenvolvi- puísc» com industria farmacêutica inovadora de destaque.
mento de produtos como ant ideprcs slvo: ou suprcssorcx O sistema de lucro envolve desde preços adequados para
de apetite induzido por constrangimentos éticos. os medicamentos que retribuam os gastos com pesquisa e desen-
- Cegueira: o rompimento inadvertido da cegueira du- volvimento. incentivos fiscais racionais, estabilidade de moeda,
rante a realização do ensaio pode gerar importante viés taxas de juros. capital de risco etc. Muitos desses pontos le-
que interfere direramcnrc no resultado final do ensaio. vantados ou não estão presentes no B rns i I de hoje ou sc
- Randnrnizaçâo: pode influenciar O resultado do en- encontram em estado incipiente de implantação.
saio um tipo de randornização que não produza gru- O sistema legal compreende medidas sanitãrias exigentes
posequivalentesde pacientes quanto a sua caracterfsticns. acompanhadas de intensa fiscalização. regras estáveis e claras
ou estádio de moi é tia no período basal. de modo a orientar aqueles que queiram correr os riscos ine-
- Critérios de inclusão/exclusão: podem geral' por suu rentes de desenvolver um novo medicamento no pais. Nesse item
concepção inadequada falhos na sclcção da população- apesar de ainda se ressentir de grande falta de estabilidade
uivo. introduzir fatore' de confusão ou viés ou inter- legal e de burocracia excessiva. muito já M! fez. Talvez um dos
ferir na vclucidade de inclusão de pacientes. marcos mais importantes nessesentido tenha sido a elaboração
- Doses: o estudo inadequado dos intervalos corretos de pelo Conselho Nacional de Saúdeda resolução 196, a i rnplantação
doses pode induzir a escolha errônea do delineamento da ANVI$A e a nova legislação de produtos genéricos decor-
do ensaio ou por induzir falha terapêutica ou aumentar rente da introdução no Brasil da nova lei de patente a partir
a toxicidade assim interferindo diretarnente no resul- de 1996. Esta fornece a segurança de que será possfvel ter,
tado do estudo. por meio do respeito II propriedade intelectual, o direito de se
- Análise dov dados: quando se emprega o tipo de análise buscar obter o retorno do investimento nas arividades de pes-
por intenção de tratar para reduzir fontes de vieses a quisa e dcscnvolvirnemo.
pouca adesão do paciente ao tratamento em geral origina O sistema educacional deve criar condições para que indi-
insucessos do estudo clínico. víduos com formação adequada em pesquisa e de. envolvimento
- Medida de desfechos: em gemi a utilização de de fechos tecnológico estejam disponíveis no mercado para atender às
biológicos substitutos pode não ser adequada para subs- necessidades das indústrias. Alo universidades devem ser ade-
tituir os desfechos clínicos ou por que tais marcadores quadas do ponto de vistu material e de respeito às bO:ISpráticas
são incompletos quanto a refletir a evolução da moléstia de laboratório e clínica a fornecer condições para que pesqui-
ou outras vezes a relação entre o de fecho substituto e a sadores criativo). colaborem dircramcntc 110 desenvolvimento
medida de desfechoclínico nãoapresentaevidencia dircra tecnológico do país. ou seja. transformem os conhecimentos
de relação. Outras influências envolvendo tempo de me- advindes da pesquisa básica em produtos geradores de bem-
dições semcorrelação com o tempo de efeito terapêutico estar. saúde e riqueza para a sociedade brasileira. Também
podem levar II ralha" no resultado do ensaio. nessa área apesar de muito se ler realizado qU,1I110ao preparo
- Força dos restescsuufstico»: muitas vezes o número de de indivíduos capacitados, quase nada se fez do ponto de vista
pacientes restados não é uficicnte para evidenciar Ulll legal para criar condições de maior inter-relacionarncnto uni-
efeito estut isticumente significativo. Do mesmo modo versidade-empresa.
O emprego de testesou técnicas analíticas inapropriadas
podem levar a conclusões erróneas.
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com o tratamento leste. 12 ~j\ RTORETIO. J O cnsuio ternpeunco: problemas e sugcstõe». O Prolocolo de
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Pode-seentender que o desenvolvimento de uma industria tt»udos III/IIU1II0S.ri rmhio, parti il//1'IHlllçàQ d~ flOla, droIlIJ., elll palus rlllMUII'
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15. SEMINÁRIO !Wbl'l' Famul('ololllll C/(I/im. Srw.ilIX MECJSecrelaria de Ensino SUperior.
pelos invcSlil11cnt()~nece~sários e pelo risco envolvido neces- 198 I. (Série cllderno, de clêncil" da MIÚdc. 5.)
itum alguns fatores báskos para que possam se desenvolver. 16. leH - HAR~10NISEDTRIPARrrrE C UIDELI:\E. Topie I~. Guidcline for Good
Seria possível citar que esses fatores se encontram dentro de Chnicnl Pmclice hMCi\ Slalu~ :l> of JUllc t996
112 • Tratado de (IInica Médica

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v !tI I·R.
17 ICH - H \RMO:-;ISEDTRIPARTn EGUIDELlNE. (S3M :"iole forToucoLinelic,:
Thc A"",,,mcI11 01' Sysrcmic Exposure in Toxicity Studie-,
CAPiTULO 13
1S. ICH HAR~10NISED TRIPARTlTE GUIDELlNE. 152M GUldJIlCC on S!,<,"ltiC
Aspect» of Regulatory Genoioucny Te'I s.

Desenho de Estudos
29. ICH -IIARMONISEDTRIPARTITH GUIDEI.INE. Topic S28 doeun"'DI Slandard
Bauery 01' Gcnolo~ocot~ Tc'l,
30. lCH HAR~I()NISED fRIPARllTE GUIDELI>lE. (SIM Guidehoe .... lhe Nl'Cd
ror C3ICIn<,!!cnicllyStudiel (O( Phllrl11nCeUlicnh
li ICII IIAR\10NISEDTRIPARTlTE GUIDELlNE. (S5M ""1~lion orTo\Í<'il) to
Rrp",d'l<'lIlll1 Inr Mrd'CII1lI1 Products.
Il ICII II \RMONISElnRIPARTITEGUIDEUNb. ($5B)To.(kll) IQ ~1a1êFcnilil).
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Sun\c: lunu.lOcrtulo",uc, ",ilh non·inrcl'Íorily IC'lillg 1113<11\(~llIItrl~kcJ Irinh. SIm",
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donocallr.ah Runoom07cd ver,u, hisH)l'ÍcloIconlroh. ""h.
III/an. 11,.,1.. \' 14.1. metodologias se impõc para avaliação cICnicae produção desses
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1'15H obvilllnenle. a segurança do pacicl1Ie.
5.1. 01 ICK. II S.. MARGOIIS. R A 'Iudy (),.lhe Hlnucnec or c\penmcnlal de\lpn 011 Para se ler urna noção do potencial da áreH de produlos
clonlcal "UlcOtn~ III dru~ rc'carch AIII.. 1. 1'.,."1'/01111')'.
\. 118. p. 1()g7·1U96. 1962
biotccnológicos. SOtllCI1lC no, Estados Unidos, em 1990, o IOlal
~5 III tlISII,R. II .. (jRO~SI:R. l, II.: OREtlNBLA'n'. M. RI!~rch c\3.lu3ung
unudcprc\.",nl mcclocuuun' 1m hu\potaliz"d II1cnlal p3ueOls: 3 SU....,,) of pubh,hed de vendas desses produtos foi de aproximadull1~ntc US$ 2 bi-
r(port' duno)!. a ti"c-ycar penod. J. N"T. Melll. /)r.... I. 141. p. ~JI·1J9. 196:'. IhÕe~. Em 1994. as vendas alcançaram a murca dc US$ 5.1
Pesquisa Clínica • 113

bilhões e. um uno após. esse mercado cresceu para cerca de de produção. caracterização e nas especificações do fármaco
50%, atingindo venda, no valor de USS 7.7 bilhões. Conside- e do medicamento formulado. preservando o produto, as pessoas
randoo mercado farmacêutico global nessepaí,. nesseperíodo envolvidas no processo e o ambiente.
deanálise. que atingia cifras superiores a USS 85 bilhões. esse Uma sala de produção de imunobiológicos deve ser uma área
crescimento é surpreendente. Para o ano de 2004. são estima- classificada cuja concepção deve se adequar 3S Boas Práticas de
das vendas na ordem de US$ 16 bilhões. Essa expectativa ul- Fabricação. Com o advento da tecnologia do DNA recombinante
trapassao crescimento do setor farmacêutico no país. e o uso de células para produção ele imunobiolõgicos, normas
No Brasil. não sedispõe de dados precisos da comercialização rígidas ele manipulação visando assegurar a qualidade do produ-
deprodutosbiotecnológicos, porém é possível inferir que grande to e evitar a contaminação ambiental de orgunisrnos utilizados
parte dos produtos comercializados no país é importada. uma durante o processo são requeridas. Cuidados especiais devem
vel que o número c a capacidade técnica das empresas que ser observados no caso de manipulação de organismos genetica-
atuam no soror ainda ~ão incipientes. o cntantu. cabe revsal- mente modificados (OGM) durante o processo, Es es cuidados
tar que a exivtência de cupacitação técnica c científica. boje. exigem fluxo adequadode pessoas.de material e. principalmente,
existente nas universidades e centros de pesquisa. abre pers- de ar. evitando que um contaminante entre ou saia do ambiente.
pectivas de que. por meio de inve timerno na produção de Um projeto adequadodeve observar princfpios bã icos de uma
imunobiológicos de maior valor agregado e aliado ii política sala classificada. principalmente no que se refere à restrição de
de auto-suficiência na sua produção. possamo>. introduzir proli fcração microbiana. alta resistência a impactos. csiabi Iida-
inovações nesse segmento em médio prazo. de física. resistências a agentes de limpeza, MlIlitil.ução e corro-
Grandenúmeroelosprodutos imunobiológicos atua na indução são.entreoutros. O pessoalque trabalhana área deveserdevidamente
darespostaimune do paciente agindo ora na prevenção de docn- treinado para manipulação em sala limpa e obedecer às condi-
ças. ora no tratamento daquelas cuja resposta imune encontra-se ções de OGM. ob ervando as normas vigentes de biossegurança.
comprometida. Com o advento da terapêutica gênlca e o poten- A área de fermentação e cultura de células deve ser de elas-
cial uso de células-tronco. uma nova fronteira abre-se a pesqui- sificução mínima M5.5 de acordo com a padronização interna-
sadorese empresas. levando-os a constantes qucsuonamcnros cional (classe 10.000) e a área de purificação e envase do
científicos.tecnológicos e. sobretudo. éticos sobre o uso de novo irnunobiológico deve ser uma áreaclassificada M3,5 (classe 1(0).
produtosem sereshumanos. Isso requer constantes avanços na A fim de possibilitar o conforto de pessoas envolvidas no pro-
análise de protocolos de fabricação e de estudos clínicos rara- cesso. que passam longos períodos na sala de produção, a área
menteabordadoscm livros didáticos para iniciantes na matéria. deve ser climatizada a 20°C com umidade compreendida entre
Dentreos avanço»recentesna fabricação de irnunobiológicos, 50 e 10%. Todo o ar deve ser filtrado através de liItros H EPA
sejadeorigem biológica ou biotecnológica, estão inseridas novas (que eliminam 99.95% de partículas de diâmetro de O.5pm) antes
vacinas com base em ubunidadcs purificada, (proteínas c de entrar na sala e rodo o sistema de exaustão deve passarpor um
pepudcos), vacinas virai, recombinantcs, vacinas de células processo de filrração similar ames de ser lançado ao exterior.
iransfectadasou híbridas e. com grande potencial de comercia- A sala de produção deve ser mantida sob pressão COntro-
lização. vacinas de ácidos desoxirribonucléico (DNA) c ribo- lada. protegida do exterior por vestiários e antccârnaras. O ar
nucléico (RNA) recombinarues que induzem :I síntese de um nesses ambientes pode ter uma elas ificação de 10.000 parrí-
antígenodesejado. citocinas recombinantes. anticorpos mono-
culas de 0.5Jlm por pé cúbico e que devem ser mantida sob
clonais, proteína, c pepudeos recornbinantes ou de origem sin-
pressão positiva em relação ao exterior. Deve-se, assim. criar
tética,proteínasde lusão e vacinasconjugadas.terapêuticascelulares
barreiras de pressão e de limpeza entre a sala limpa "biocon-
e terapêuticas gênicav e. mais recentemente em desenvolvimento.
tarninada" e o meio externo. O conjunto de salas deve ser
o polémico UM) de células-tronco como agente terapêutico.
construído a partir de divisórias e forros especiais para salas
É notório que a introdução desses produio-, no mercado
limpas. com revestimento de chapa de aço galvanizado pinta-
requer um exaustivo estudo clínico. As BO<I\ Práticas em Pes-
do. oferecendo superfícies lisas e não porosas. Todos os cantos
quisa Clínica são um padrão de qualidade científica e ética.
internos devem ser arredondados pela aplicação de perfis es-
fundamentadascm princípios internacionais que orientam para
peciais de alumínio de modo a facilitar a limpeza. A vedação
desenho,condução. registro e relato de eventos que envolvem
do componentes permite manter assalas nas pressõesde projeto.
a participaçãodesereshumanos. Nessecontexto. as Boas Práticas
incluem a documentação de estudos pré-clínicos. o protocolo
O fluxo unidirecional deve ser realizado a partir de caixas ter-
do ensaio clínico. a garantia da qualidade do produto que será minais com filtros HEPA embutidas no forro da sala.
estudadocm oh endo as boas práticas de fabricação visando Para assegurar as condições de limpeza e de pressão. bem
asseguraro bcm-estard()~indivíduos participantes dessesestudos. corno manter condições climáticas adequadas para o conforto
Visando cobrir uma lacuna da literatura médica. sem ter a do pessoal, devem ser instalados sistemas de tratamento de ar
pretensãode fa/er uma abordagem exaustiva do tema. neste com unidade de condicionamento especialmente projetada para
capítulo serão descritos os principais conceitos relacionados aplicação em salas limpas de biossegurança, O equipamento
11obtenção de produtos imunobiológicos usando Boas Práti- deve possuir revestimento interno de alumínio e cantos inier-
casde Fabricação (GMP. Good Manufacturing Pme/ices) e o IIOS arredondados, de modo a minimizar os riscos de coruami-

desenhoe a preparação de um ensaio clínico envolvendo es- nação e facilitar a limpeza. A pressão negativa é mantida pelo
sesprodutos. com ênfase nos principais desafios que o pes- sistema de exaustão. equipado com tiltro~ HEPA a fim de reter
quisador dessa fa.,c;inante área ir:i enfrentar. a biocontarninação e liberar ao meio ambiente um ar livre de
qualquer contaminante proveniente da manipulação de imune-
PIINCIPAIS QUESTOES ENVOLVENDO PRODUÇIO biológicos. principalmente quando envolver OGM no processo.
A fim de assegurar a vazão de ar. devem ser instalados sensores
DEFÁIMACOS DE ORISEM BIOU)SICA E de pressãoaluando sobre um alternador de frequência, independen-
BIOTECNOlOSICA PARA ENSAIOS cllNICOS temente da saturação dos filtros. Os ventiladores de exaustão
A origem biológica de vários fármacos e, mais recentemente. a e de insuflarncnto devem ser intertravados a fim de não perder
introduçãode processos biotecnológicos para obtenção de irnu- a pressão negativa em caso de falha de exaustão.
nobiológicos por meio de engenharia genética introduz uma No Brasil. para fins de manipulação de OGM. todo proto-
série de processos liue requerem cuidados especiais na etapa colo, pessoal envolvido, infra-estrutura e condições de mani-
114 • Tratado de Clínica Médica

pulução de microrganismos devem ver previamente aprova- Um método biológico válido para quantificar ti atividade
dos pelo Comitê Técnico acionul de Bio. segurança (CT '8io). biológica de um produto deve ser definido pelo fabricante com
As especificuçõcs de produto. bem como o processo de ob- base em critérios conhecidos ou em novos métodos devida-
tenção. devem ser previamente autorizados pela Agência Na- mente validados. Exemplos desses procedimentos incluem:
cional de Vigilància Sanitária (ANVlSA). responsável pelo
registro do medicamento a ser comercializado. • Testesbiolâgicos baseados em ensaios animais: determinam
A." especi ficaçõcs são definidas. de acordo com o ICII. como a resposta biológica do organismo mediante o produto.
uma lista de teste.". referências e procedimentos unalíricos • Testes biológicos baseados em cultura de células: deter-
e critérios de uprovução que apresentam limites numéri- minam a respostabioquímica ou fisiológica em nível celular.
cos. Iaixav de potência ou couccntração ou outros critérios • Ensaios bioquhuicos: determinam a atividade biológica
para os testes descritos, A, cspeci ficações são selccionadas como reações enzi maricas e/ou respostas biológicas indu-
para confirmar a qualidade do irnunobiológico e do medica- zidus por inierações imunológicas,
mento formulado a fim deestabeleceruma caracterização completa
assegurando sua utilização e eficáciu clínica. Uma diferença essencial quando se trata de produtos de
A seguir. serão abordados ()~ critérios mais relevantes origem biológica ou biotecnológica refere-se à definição de po-
que devem ser considerados para espcci ficação de imune- tência, Diferente de medicamentos clássicos de origem sinté-
biológicos. de origem biológica ou biotecnológica. É im- rica. quando II determinação da pureza. normalmente, é expressa
portante. alicntur que as metodologias aplicadas paraespecificar em uma escala métrica por unidade farmacêutica (~lga mg),
as caractcrisricas de imunobiológico estão em constante de- com cxccção de antibióticos e horrnônio . no caso de irnunobio-
senvolvimento e devem ser adotadas desde que demonstrada lógicos determina-se um efeito biológico em vista de uma ativi-
li superioridade em relação 11 metodologia 11 ser substituída. dade celular iII vitro ou atividade em animais C0l110 no caso de
vacina. hormônios ou cirocinas. Na avaliação de doses para
estudos pré-clínicos e clínicos. normalmente a variação é loga-
PRINCIPAIS CONSIDERAÇOES
rítmica e a potência. expressa em unidades de potência,
NA DEFINIÇIO DAS ESPECIFICAÇOES A potência é uma medida quantitativa da arividade bioló-
gica com base no atributo do produto que csiã relacionado
Caractorlzação a propriedades biológicas relevantes. diferente do valor ro-
A caracterização de produtos biológicos e biotecnológicos in- tulado de medicamentos convencionais. quando normalmente
clui determinação da, propriedades físic(l-químicll~ c utividade a quantidade é expressa em massa por unidade farmacêutica e
biológica compurudus com um padrão apropriado usado como refere-seli uma medida Ifsico-qufrnica do conteúdode uma protefna,
referência. propriedades imunoquímicas. pureza e determinação ror exemplo. Nem sempre é necessário mimetizar a atividade
de impurezas. Esses teste, são realizados por meio de técnicas biológica em um estudo clínico. A correlação entre a resposta
apropriadaspreviamentevalidadas.Os critérios de aprovaçãodevem clínica esperada e a atividade observada no ensaio biológico
ser estabelecidos e justificados com base em lotes usados em deve ser estabelecida em estudos clínicos e de farrnacodinâmica.
estudos pré-clínicos e clínicos. dados usados em lotes utilizados Os resultados de um ensaio biológieo devem ser expres-
cm processos para demonstração da consistência do processo. sos em unidades de urlvidades "calibrados" contra padrões
de referência nacionais ou internacionais. quando disponí-
veis e apropriado' para o ensaio utilizado. Quando esse padrão
Caracterização Físico-química
de referência não estiver disponível. padrões secundários podem
Um programa de caracterização inclui a determinação da com- ser estabelecidos e o padrão de qualidade da substância em
posição, propriedades físicas e a estrutura primária do produto análise pode se basear nesse material.
desejado, Um exemplo que pode ser i lustrado refere-se 1\ estrutura
do DNA rccornbinaruc que pude existir em três formas. caso O
Propriedades Imunoquímicas
processo de purificação não seja suficientemente adequado:
forma linear. circular aberta e superespiralada. A forma su- Quando. por exemplo. um anticorpo for o produto desejado.
percspiraladu é a forma que possui maior atividadc e deve estar suas propriedades imunológicas devem ser completamente
presente em quantidades superiores a 95% em relação às demais caracterizadas. Ensaios de ligação de anticorpos a anugenos
i. oformus. Essa caracterização pode ser obtida por meio de gel puri ficados e a regiões específicas de antígcnos devem ser rea-
de cletroforese, Um furor importante relere-se à heterogeneidade lizados. quando facrívcl. para determinar a afinidade, a avidez
que pode ser produ/ida durante o processo de obtenção e/ou e a imunorreatividadc (incluindo reatividade cruzada).
estocagcm do produto. Uma vez que a heterogeneidade desses Para alguns irnunobiolôgicos, a molécula e tudada deve
produtos define sua qualidade. o grau e o perfil dessa hetero- ser analisada usando procedimentos irnunoquímicos como
geneidade devem ser caracterizados para assegurar a reprodutibi- ELISA ou Western-Blot empregando anticorpos que reco-
lidade lote a lote. Esses testes devem ser comparados com nhecem diferentes epüopos da molécula de proteína, Pro-
padrões de referência cuja eficácia e segurança sejam compro- priedades irnunoquírnicas de uma dada proteína devem servir
vadas. Sempre que houver modi ficação de processo. essasca- para estabelecer SuH identidade. homogeneidade ou pureza,
ractcnsrlcas devem er asseguradas. ou mesmo quunrificâ-la.

Atividade Biológica Pureza, Impurezas e Contaminantes


A determinação da atividade biolõgica constitui uma etapa tão Pureza.A determinação da pureza absoluta e relativa apresenta
essencial quanto a caracterização físico-química a fim de esta- consideráveis desafios unulúicos e os resultados são método-
belecer 11mperfil completo de caracterização do produto, A dependentes. A pureza relativa dc um produto biológico normal-
utividade biológica descreve a habilidade específica ou capa- mente expressa em relação à uiividade específica (unidade
é

cidade de um produto de atingir um efeito biológico previa- de atividade biológica por miligrama de produto) que é dire-
mente definido. lamente dependente do método utilizado, A fim de caracteri-
Pesquisa Clinica - 115

/ar o 111ai~amplamente posvívcl urn imunobiológico, uma com- de descobrir ou verificar o comportamento turmacolõgico elou
binação de métodos se fal necessária. Quando variantes do furrnacodinâmico de 11111 produto sob invcstigução c/ou identi-
produto desejado são formadas durante o processo de fabri- ficar qualquer reaçâo advcrs« de UIl1 produto sob investigação VI
m
cação e/ou durante a estucagem e apresentam ruividadc bio- é/OU estudar vua ah'llrção. dbtrihuiç:il), mctabolixmo e excreção ..("')
lógica cornparávcl ao produto dc. cjado, ela são consideradas com Il objctivo de verificar ~ua segurança e cficãcia'". Entre- »,
O
produtos relacionados e não impurezas. tanto. no Brasil. Ircqücntcmcntc o termo ensaio clínico é uti- IV
Impurezas. Complementando o~ estudos de determina- lizado de forma mail> geral. :-.igniticando qualquer pesquisa
ção de pureza de um dudo imunobiológico. que pode cr com- envolvendo seres humanos.
posto de produto desejado e múliiplo« produto .. relacionados.
x o Iabricantc deve determinar a' impurezuv que podem existir
~ no medicamento. E,te~ podem ver de cvtrutura conhecida. par-
Protocolo de Pesquisa
:z cialrncnte caractcrizuda ou desconhecida. Quando quamida- o protocolo de pesquisa. conforme descrito no ICH. con iste
~ des adequadas de impureza- podem ser gcrada ...c~,a!>substâncias em diversos itens:
~ devem ser caractcrizadn-, o mais extensivamente possível.
Dentre as impurezas que podem ser encontradas nos processos • Informação gcrat.
de obtenção de produtos bi()lógico~ e biotecnológicos pode-se • lnformução técnica e dados preliminares.
diferenciar: • Objct ivos do estudo.
geradas durante () processo: vâo originadas
II IlIIp'"·I!:(I.\"
• Desenho do ensaio clínico.
• Populução do estudo e critérios de inclusão c exclusão.
a partir das etapas de processo como, porexemplo. -ubstraros
• Tratamento a ser administrado.
celulares (proteínas de células hospedeiras. 01'11\ de célula
• Critérios e parâmetros de eficácia.
hospedeira). cultura de células (indutores. untibiéricos
• Critérios c parâmetros de segurança.
ou componcnte-, do mciu de cultura). ou durante a etapa
• Métodos cstuusticos.
de puri ficaçâo.
• Acesso a dados/docurncntos-fontc e prontuários médicos.
II flIIJlII11':.mrelnciotuu!« v/III produt»: são ~uh,t:incia~ geradas
durante I) prece......
o ou duruutc a estocagcm que não têm
• Controle de qualidade.
• Aspectos éticos.
atividade biol{,gica cOlllpar:ívcl ao produto dc-cjado (por
• Métodos de manejo e arquivamentos dos dados.
exemplo. prccurvore v, produtos de dcgraduçâo).
• Financiamento e seguros.
Contaminantes. Couuuuinantc-, :.ão subxtância ...introduzi- • Política de publicação.
das no procc-so que não ,fiO desejadas que façam parte do pro- • Suplementos e anexos,
duto final COIllU subvtância» quimicu-, ou bioquünicas (por
exemplo. enzima v, cutulivadorcs. inibidores da formação de Este capítulo traz inforrnaçõcv com evpccial cnfoquc nos
espuma) ou conuuninunte microbiológico. itens em ncgriro. e os itens restante, são devemos nas dirctri-
Uma série de recomendações acerca da caracterização de zcs publicadas pelo ICII. disponíveis em diversos endereços
diferentes produtos de origem biológica e/ou biotecnológica. LIa Inrernet C0l110 hlll'://WW"', fda.gov/cber/publicarions.htm.
bem C0l110 a~ principal ...caracterizações desses produtos. podem Informações Técnicas e Dados Preliminares. Este
ser obtidas cm endereço ...ctetrônicos cxpcciulizudus (http:// item do Protocolo de Pesquisa deve conter as seguintes infor-
www.Ida.gov ou www.ich.org). mações:

Nome e descrição do produto em investigação.


ASPECTOS EPIDEMIOlOGICOS DO ENSAIO ClINICO a Resumo dos resultados dos ensaios experimentais pré-
A rcdação do protocolo de pesquisa é uma das primeiras etapas clínicos. principalmente resultados de eficácia e toxicidade
e consiste na prep:lraçi1\l e 110 plaucjamcmo do ensaio clínico. derivados de modelos animais.
O protocolo de pcsquisu corresponde ao plano escrito do estu- • Descrição da aplicação clínicu potencial e relevância da
do a ser realizado. Ne'~e plnno de estudo, deve estar assinalado droga em investigação.
de forma clara c objctivu qual será o modelo ou tlesign de pesquisa • Descrição dos potenciais riscos e toxicidades esperadas
a ser utilizado, Embora a c colha do modelo do estudo seja para seres humanos.
uma questão complexa. ela ~erá fortemente influenciada pela J:I Descrição da rota de administração. dose. intervalos, período
questão de pc~qllba (res(,flrd, (jlles/;O/l). ou seja, pelo objeti- de tratamenlO.
\0 do cstudo. A o.:scolha adequ:ld:l do modelo de eSllIdo dimi- • O comproll1is\o. por e!>crilO,de que o cn!>aio cm que tão
nuirá a po~sibilidadc dc que. ao tinal do estudo. o pcsquisador segue toda' as norma~ e regulamentos aplie:h'eis para
chegue a conclusões equi\'oc:loas em função do acaso ou d.\ pe:-.quisa em !>ereshumanos. tanto nacionail, quanto inter-
chance (mm/olllam,,) e oe err()~ ~btell1,ític():-.ou \'ieses (sys/el/lfl/ic nacionaÍ:, (Declaraçi1o de Hell>inque. ICH. GCP. etc.).
error ou biIlJ)u. • Descrição da:, caractcrflo.tica., da população do ensaio.
• Referência» relevante ...de literatura para o estudo.
Definição de Ensaio Clínico
Objetivos do Estudo. Esse item do Protocolo de Pes-
o!> c tudo~ de intenenção podem :.er controlado» ou não con- quisa tleve nortear todo desenho do cnsaio e deve ser ampla-
trol3dm. No"-estudo, controlados de inter"cnção. a designação mcnte discutido dentro da equipe envolvida'no ensaio clínico
ou a alocação do indivíduo para o:, difcrcntcs grupo~ do.:inter- e deve conter II 111 a descrição detalhnda do objetivo e dos resul-
venção pode ~o.:rakatória ou não alc::atória (randol1liLada). A tados esperados.
definição de ensaio clínico da Intcrnational Conference of Desenho do Ensaio Clínico. Essc é um dos principais
Harrnonization 01' Technical Requirements for Registration itens do Pmto<.:olo de Pesquisa do Ensaio Clfnico e deve ser
or Phannaceuticals for HUl11anUse (ICH) - Good C1inical Practice detalhadamente plancjado.1\ qualidade dos dndos derivados do
(GCP): CQ/I.w/idll/ed l{uit/a/lL'c de 1996 rcfere-se a "qualquer ensaio dfnico tlt!pende da cunsistl:ncia e da qualidade do dese-
investigação cientílica quc envolva seres hlllllanl)~ com (lobjcti\'o nho de»se en~ai(). Diversos f:ínnacos que solicitaram aprova-
116 I: Tratado de Clinica Médica

ção de agências regulatória ...são rejeitados devido a falhas de Critérios e Parâmetros de Segurança. O projeto deve
desenho. E~~e nem do protocolo de Pesquisa deve conter as conter especi ficução e detalharncnto dos parâmetros de seguran-
C'I seguinte ... inforrnaçõcs. ça .1 serem utilizados: uma descrição detalhada dos períodos de
avaliação. registro c análise dos dados relacionados a segurança
• Descrição detalhada do!'. desfechos prirnãrios e secun- do produto. procedimentos que serão utilizados na produção dos
dários c ...pcrados tprimarv (//1(1secundary endpoiuts I. relatório, periódicos sobre eventos adversos qUL:ocorram duran-
• De ...crição detalhada do tipo de ensaio em questão (por te o ensaio clínico. e descrição do tipo e do tempo de acompa-
exemplo. fase 1. fusc II. duplo cego. randornizudo. con- nhamento dos indivíduos envolvidos no ensaio clínico,
trolado. paralc lo. ctc.).
Diagrama csquenuitico do desenho do ensaio, 'cus pro-
ccdimcnrox, etapas, etc. Classificação dos Ensaios C 'ricos
• Descrição das medidas a serem utilizadas com o objctivo Os ensaios clínicos controlados randomivados (ECCR) podem
de vc reduzir vieses (bias), detalhando métodos de rundo- ser classificados em virtude de \:Írio~ aspectos.
mizuçãu. controle s. etc.
• De ...criçâo detalhada do esquema de tratamento, com Tipo de Organização
detalhe ...da ...do ...ex. intervalos. embalagem. criqucras, etc.
referente ...ao fármaco em estudo. o ECCR pode ser realizado em um sü local ou simultaneamente
Descrição do período de acompanhamento dos indiví- vários centros de pesquisa. sendo então chamado de ECCR
1;:111

duo ...cnvolvulov no ensaio. intervalos das consulta, etc. multicêntrico de intervenção,


I)cs..:riçao de regra ...de exclusão de um indivíduo do ensaio
c. ainda. dos critérios a serem utilizado ...para suspensão Tipo de Intervenção
de parte ou de todo ensaio clínico.
O ECCR pode ser profilático ou terapêutico, Os ensaios terapêu-
Método, de cstocagem e manejo da droga cm estudo.
ticos são aqueles voltados para intervenções curativas, enquanto
com descrição clara das responsabilidades e da técnica
os prol'iláricos são aqueles cuja intervenção visa prevenir o
de registro dos estoques,
desenvolv irneruo de doença. Os ensaios de vacinas ou de si-
• Descrição da técnica de rundomização e de situuçõcs
iuaçõcs cm que indivíduos assinromãticos com alto risco de
específicas cm que () estudo pode ser aberto (no cavo de
desenvolver uma doença são submetidos a uma intervenção
cvuulox duplos cegos).
são exemplos de ensaios clínicos profiláticos.
'Iél'nicas de registro dos dados e fichas a serem utilizadas.

População do Estudo e Critérios de Inclusão e Tipo de Conhecimento sobre a


Exclusão. E...... e item do protocolo de pesquisa descreve como Intervenção a Ser Realizada
'crá a população a ser sclecionada para o ensaio clfnico. dcs- No ECCR aberto ou não cego tunblindedv o indivíduo da pesquisa
crcvendo critérios que serão uulizados para sclccionar ou e o pesquisador que administra a intervenção conhecem a in-
excluir pacientes antes do início da participação desse indi- tervcnção que ..:stá sendo administrada, ECCR cego (single-
v (duo no projeto de pesquisa. Aspectos COIllO idade. prcscn- blinded) ocorre quando. cm um ensaio clínico. O indivíduo da
"ii de outra, patologias associadas. uso de outros tratamentos
pesquisa não sabe se está recebendo a intervenção-reste ou a
deve ."':1' con ...iderudo. prlncipulmcntc a...perto ... que possam intervenção-controle, No ECCR duplo cego (doubte-bíindedr
interferir nu qualidade ou na cunvixtêncra du, re...uliados do o tratamento-teste e o tratamento-controle são designados c
ensaio clínico. No desenvolvimento de fármacos imuno- etiquetados por meio de códigos de forma que o indivíduo do
biológicos, aspectos relacionados ao sistema imune (idade. estudo e os membros da equipe clínica (em especial. aqueles
uso de r:1rma(;OI> imunossuprcssorcs. presença de doenças auto- responsáveis pc la adrni nistração do tratamento e pela coleta de
imunes. alergia." etc.) del'L:111receber uma atenção especial dados) não sabem qual indivíduo da pesquisa está recebendo o
na fase de planejarncnto do ensaio. Esse item deve descrever: tratamento-reste ou o tratamento-controle. O ECCR triplo cego
ttripl e-hlinded) é um ECCR duplo cego no QU<l1 a análise de
Critérios de exclusão. dados rcalo-ada para o monitoramento do tratamento é apre-
Critérios de inclusão. sentada ao grupo responsável pelo monitoramcnro do tratamento
• Critérios de rcurada de um determinado paciente 'após do estudo de 1'0 1'111 a que a identificação do grupo que recebeu
sua inclusão inicral (por exemplo. exclusão de pacien- traramcuto não seja feita4.5,
tes pouco aderente, ou que não compareceram às con-
sultas. etc.).
Importância da Randomização o do
Tratamento a Ser Administrado. Esse item do protocolo MascaramonlO em Ensaio Clínico
de pesquisa deve dc-crcvcr (l esquema de tratamento a ser utili/udo O método de designação ou alocação do individuo de pes-
com 0(/» imunohiologicosts ) cm investigação. incluindo nome. quisa para a intervenção-teste ou intervenção-controle é um
vias de administração, técnicas de diluição. técnica ...de estocagem. aspecto crucial do desenvolvimento e dn elaboração do pro-
doses, intervalos. etc, Tal11h~111 devem descrever quais medica- rocolo de um ensaio clínico. A randomi/ução é considerada o
ções não rclnc ionudas diretamcntc ao produto em investigação melhor método de alocação c começou a ser utilizada em um
poderiio ser utilizadas e em que situações clínicas (por exem- estudo ~obre o uso de estreptomicina para o lratamento de
plo. si 11LO 1l1:IS C0ll10 febre c náuseas serão tratauo~ caso Qeor- tuberculose pulmonar há mais de 50 anos". A randomização
ramo (;om LJUI.! l11..:dieall1l:!llIos.quais as doses, el"c,). tem três grandes vantagens: (I) elimina (I viés (bi(/s) de se-
Critérios e Parãmetros de Eficácia. O Protocolo de Icção (para os tratamentos). que é ()pnnclpal vlé~ de um ensaio
Pe~qlll~a ue\C de,crcvcr quais parâmetros serão ui ili/,adas para clínico; (2) faci Iita o mascaramenLOdo tipo de tratamento uti Iizado:
conlirmar a eficiênCia do imunobiológico em estudo. com des- (3) permite a utilização de técnicas estatíMicas para compa-
crição domctodo c periodicidade da avaliação de cliciência e rar os resultado~ entre grupos. ul1la VCL que essas técnicas
técnictl~ dc regi\tro e arquivamento desse;, di.ldos. somente são válidas LI pal'lir de pl'essuroslos alcançados com
Pesquisa Clínica • 117

técnicas de randomização. Além disso. a alocação


li utilizaç.io de usado em doenças que não respondem ao tratamento, C0l110
atcmõr!ado, indivíduos pelos grupo- de estudo diminui a pos- no caso de processos oncológicos ou infecções por patógcnos
sibilidade do viés de confusão (confunde o resultado) pela rnultirrcsistcntcs ao tratamento disponível.
distribuição de dctcrrn inantcs conhecidas e desconhecidas de
forma semelhante entre grupos de intervenção e controle". Fase II (Estudo Terapêutico Piloto)
No entanto.é importante lembrar que a randomização somente
Utiliza um número (n) pequeno de pacientes para os quais o
elimina a influência das variáveis de confusão presentes no
momentoda randornização, não sendo capaz de eliminar aquelas novo medicamento possa ser benéfico ( I(lO a 200 pacientes).
Tem corno objctivos avaliar a segurançaem curto prazo. demons-
surgidasdurante o seguimento tfollaw-up) de pesquisa do in-
trar a aiividade (eficácia) e, se possível, estabelecer a relação
divíduo. Por esse motivo. em um ECCR. o mascaramento é
dose-revposia do princípio ativo em pacientes com a enfermi-
tão i mportantc quanto a rundomização. uma vez que ele pro-
dade. Normalmente. mas não sempre, é um ensaio clínico con-
tegerá () ECCR das variáveis de confusão (ou que possam
trolado com designação ou alocação randômica, duplo cego.
confundir) surgida, durante o seguimento. O rnascararnento
Na fase II, o investigador deve privilegiar o conceito de menor
também é útil para evitar possíveis cc-intervenções. Em um
dose efeiiva tlowest effective dose) ao invés da maior dose
estudo não cego OLl não mascarado. o investigador poderá
tolerável (highest tolerable dose). uma vez que, nessa fase. a
oferecer uma atenção maior ou sugerir medidas extras de
amostragem é pequena e o poder do teste não é adequado para
cuidadospara os participantes do grupo sob intervenção ativa. detectar efeitos adversos incomuns que podem ser, no entanto,
Essaco-intervenção pode vir a ser a causa da diferença na potencialmente graves.
variável desfecho observada entre os grupos'.
Fase III (Estudo Terapêutico Ampliado)
Tipos de Ensaio Clínico
Usualmente é o estádio final da avaliação da droga em humanos.
Váriassão as fasesde pesquisa durante o desenvolvimento de
Avalia o risco-benefício (eficácia e segurança), a curto e longo
um novo produto imunobiológico. Os ensaios clínicos são nor-
prazos. em um grande e variado grupo de pacientes. Estabelece
malmenteprecedidos dos chamados estudos pré-clínicos. rea-
os valores terapêuticos absoluto e relativo do medicamento, bem
lizados em animais. Após a droga ter sido testada em animais.
COIllO tipo e perfil das reações adversas mais frequentes. As con-
seguindouma série de procedimentos padrões. e ter <ido apro-
dições devem ser as mais próximas possíveis das condições de
vadapara testesem humanos, ela segue para a fase de ensaios
uso normal. Usualmente, é um ensaio clínico controlado randorni-
clínicos. O ensaio clínico é descrito por estádios e dividido em
zado e duplo cego. Uma vez que essa fase esteja completada, a
três rasesprincipais.
indústria pode solicitar permissão para comercializar o produto.
Deve ser notado que os ensaios de fase III não costumam
FaseI ter tamanho amostral suficientemente grande para detectar a
São os primeiros estudos envolvendo seres humanos com nova presença de efeitos adversos incornuns. Por esse motivo. é
substância.Essesestudos não são controlados. randomizados necessário o acompanhamento ou seguimento de grande número
ou cegos. A fase I é planejada com o objeiivo principal de se de pacientes usando o fármaco ou tratamento com o objctivo de
observar efeitos tóxico, causados pela nova droga e, geral- avaliar o surgimento de novas e/ou sérias reações adversas e/ou
mente,envolvendo cerca de 20 a 40 pacientes. O desenho do confirmação das já conhecidas, além de avaliar possfvcis usos
ensaiode fasc Iutiliza o novo imunobiológico em um peque- terapêuticos adicionais. Esse processo é chamado de "estudo
no número de volunuírios saudáveis (geralmente de três a :.eis de Iarmacovigilância" ou "vigi lância pós-comercialização"
pucicntespor grupo) com o objctivo de avaliar preliminarmente tpostmarketing surveillance) ou ainda "estudo ele fase IV".
a segurançac esrabelcccr o perfil farmacocinético, A dose da Uma vez que na definição de ensaio clínico também estão
droga II ser testada é. então. aumentada gradativamerue para lncluídas. além de novos medicamentos, novas aplicações para
cada novo grupo proposto, após a avaliação dos eventos ad- medicamentos já conhecidos, nem todos os ensaios avaliando
versos c ações da droga cm teste. No caso de Iármacos para Iármacos ou tratamentos começam obrigatoriamente na fase I
untamento de câncer, a rase I. classlcamcnrc, envolve paciente, antes de scgu ir para :1 fase II ou III.
com lormas avançadas de tumores. Na avaliação do perfil
farrnucocinéricu, são estudadas, as modificações que o sistema Características do Ensaio Clínico
bíolõgico produ I no princípio ativo (área <ob <I curva ou rela- Em 1967.Schwanz c Lellouch definiram dois modelos de ensaios
ção quantitatlva entre tempo c concentração). Quando possível. terapêuticos: ensaios clínicos com abordagem explanatória e
procura-se. também. estabelecer o perfil farmacodinârnicc do ensaios clínicos com abordagem pragmática". Na abordagem
novo produto avaliando as modificações que () princípio arivo cxplanatóriu, o ensaio clínico avaliaria a eficácia de um trata-
produz no sistema biológico como o cálculo da margem de mento. ou seja. ti resposta ao trotamento em condições próx i-
segurança,indicador farrnacodinâmico que cxpresva a dite- mas àl> ideaiv, com rígidos critérios de inclusão e exclusão no
rcnça entre a dose tóxica e a dose cfctiva. O desenho de como estudo, tamanho amostral e tempo de seguimento (follow-up)
II faser será implantada pode ser extremamente variável e de- menores c utilizando como variáveis o desfecho do estudo e
pendedo tipo de imunobiológico a ver militado. Ensaios ini- variáveis biológicas (por exemplo, tamanho tumoral). No cn-
ciais envolvendo células. anticorpos monoclonais ou vírus saio explanatório. a intervenção-teste e a intervenção-controle
recornbinantesterão formatos diferentes c O~ dados prelimina- seriam absolutamente idênticas CXCCLO pela i ntervenção ii ser
resserão fundamentais na definição do desenho. O objetivo é testada. indicando que o foco do ensaio seria o resultado da
maximizar a~ chances de se detectar um efeito adverso intervenção-teste. Essesestudos teriam uma amostra mais ho-
minimizando os riscos para os pacientes, É importante ressal- mogênca de pacientes e maior vai idade interna, Por outro lado.
tar que, no caso de vacinas e produtos imunoterapêuticos. o o ensaio pragmático seria um estudo com o objetivo de avaliar
equilíbrio toxicidade/atividadc é de grande relevância, pois para umaintervençãonascondiçõesmais semelhantesdarotina possíveis,
umavacina destinada à prevenção de uma doença na infância. aproximando-semais de umaavaliaçãodeefetividade. com critérios
porexemplo.o critério segurançadeve prevalecer sobre o critério de inclusão e exclusão mais flexfveis, tamanho amostral e tem-
toxicidade,diferente do estudo do uso de um imunoterapêutico po de seguimento mais longos, e avaliando variáveis de deste-
118 • Tratado de Clínica Médica

cho muls prátic a~ como. por exemplo. a sobrevida do paciente ASPECTOS OPERACIONAIS DO ENSAIO cllNICO
COIll di nce r .10111\ é, de redução do tamanho do tumor. o ensaio
prngnultico. puderia haver diferença, entre a intervenção-te te Um ensaio clínico tem três componentes principais: O financiador
e a intcrvcnção-comrole. uma \c/ que o objctivo desse ripo de ou sponsor (indústria. órgão de fomento. órgão regulador. erc.),
nbordagetu metodológica seria aferir qual é a intervenção com o supervisor (responsãv el pela auditoria uxtcrnu do ensaio clfnico)
melhor nplicubilid ude clínic u, Es,e, estudos teriam uma amos- e o Centro (.~ile) de Ensaios Clínicos 011 Centro de Pe quisa
tra de pacientes mais hctcrogênca, porém maior possibilidade Clínica (Hovpital Univcrvitãrio ou não).
de reprodutibilidade externa. Na unrilisc dos dados desses cv- O Centro dc Pesquisa Clínica. que é ()local onde o estudo
rudos, <cria privilegiada a intenção de trutumento iintem to Irem). scrã desenvolvido. tem responsabilidades e urribuiçõe espe-
mai-, que o tratamento efet 1\ amentc rcali/ado. cfflcus em um ensaio clínico (Quadro 13.1).
Segundo a tese de Schwartz e Lellouch. haveria um claro Dentro da inlra-cstrutura logística. é de fundamental impor-
prcdomfnio. na literatura. de cn'tllU, com abordagem explanatôria rância que um Centro de Ensaios Clíuicos tenha total integração
e i"ll vignificaria que a maror parte dos cnsulos terapêutico ... com O programa de atendimento local e regional da doença
rcahtadw. até então ha\ la "do inadequadamente formulada que ele se propõe estudar. Deve ainda posvuir forte estrurura de
por responder mais questõc-, científica, que questões clínicas. pesquisa em epidemiologia clínica e biocstnustica. além de
Ta" c/ (l furo de ,1~agêncru-, rcgulatórias de novos medic a- um sivrerna continuo de controle de qualidude. O Centro de
Envaios Clínicos deve. ainda. ter estrutura para diagnóstico
menu», exigirem. principalmente. evidências de que um novo
rJlrmucn ou rrarumeruo não cause danos e seja eficaz. o que e traturncnto (eletivo c de urgência) da doença em estudo.
pude ser demonstrado com ensaio, de abordagem cxplanarória, estrutura pura trarurneruo supcrv ivronadn. comprovada capa-
explique o fato de a maior parte dos ensaios tcrapêuucos de- cidade de captar pacientes e concordância du direção do hos-
vcnvolvidos privilegiar a abordagem cxplanatória. pitnl ou instiuu» para desenvolver o projeto. É importante que
I ão parece ser possfvel. nes ..e momento, estabelecer a supe- o luborutúrio de análises clínica, utili/ado tenha certificação c
rioridade de uma abordagem sobre a outra. Ta" e/ veja mais controle externo de qualidade (PALM. PELC e CAP).
ru/oãvel concluir que as nbordngcn-, cxplanatõnn e pragmática A evtrutura de recursos humanos de um Centro de Ensaio,
sejam complementares e. u"lm como o desenho geral do estudo.
Clínico, deve incluir:
devam ver utili7ada~ para responder diferentes questões e aspec- • Coordenador do Centro de [:.n,aIO\ Clínicos.
to, da pesquisa. A tuberculose. por exemplo. cujo tratamento • Coordenador de estudo,
de comprovadu eficácia não se reflete na cfciividade do con-
trulc da doença. W" c/ pudesse ler novos tratamentos testa-
• Enfermeiros.
• Visitadores (supervisorc-, de tr.uumcnto).
do, rncdrante ensaios clínicos com uma uborduuern mais • Furmucêut icos.
pragmática que explanatõria. ~
• Gerente de dados.
• Médicos.
Modelos lDes/gns) de Ensaios Cllnlcos
O~ modelos mais comuns de ensaios clfnico-, ,ão 0' modelos: Todo-, devem ter treinamento em Boas Práticas Clínicas
paralelo, CIYIHfII'U e falOria!. (Gep. Good Clinical Practlcei e em ética em pe qui a (HPPER.
1111111(111 purtipam protection educai ionfor researctú', O co-

Modelo Paralelo ordenador do Centro deve ter treinamento e pecífico dos as-
poeto- metodológicos de ensaios clínico ...(epidemiologia clínica
I~ Il modelo ma ....comum. Compara doi, ou mai~ grupos de in- e bioeSlatística). bem como cm Adminilotração de Centro de
di\'idu')\ trawdo, ...eparadamente. pur~m de forma-concorrellle.
Pe ..q.uisa Clínica. O coordcnador dc e~tudo (sll/d)' ('nordi/lolflr)
corno parte do me'l11o e!>llIdo. A principal preocupação do prccl~a c!otar apto a oferecer lreinamento contínuo em boas
inve,tigador dcve loer a de garantir que os grupos são consti-
pr~tica~ clínicas e deve haver uni dgido c contínuo sistema
luído, de forma não enviesada. A inferência é feita com ba~e
de controle de qualidade das tllividadcs. Oferecer treinamento
na comparação entre pacielllcs.
udcquado e contínuo em ética médica. boa~ práticas clfni-
cu'. de~cnho c condução de pe\quisa clínica (cpidemiolooia
Modelo Crossover cJ(nicH e bioe~tatí~tica) ao time de pesquisa clínica é de f~n-
EINlio c11l1l\:0em que doi, ou mai.. traWI11Cnhl~ ,ão administr.IIJus
...eqUcnciall11cllle e de: form .. alternada para o., pacientes. A in-
QUADRO 13.1 - Responsabilidades e atribuições de um centro
ferência pnl11:iria é feita a partir da comparuçãu com o próprio
de ensaios clínicos
paclcntc UI) Il1\é, da comparaçilo entre pacientes.
• Responsabilidades
- Infra-estrutura fisico-operacíonal adequada
Modelo Fatorial Guarda da documentaçAo
- Infra·estrutura loglstica adequada
Ensni(l (.;1(nico em quc dois ou mail>tralal"enlo~ são administrado, - Recursos humanos qualificados e sob treinamento continuo
simultulleumcnte para os pacienlc~ de forma ti responder dua' • Atribuições
difcrentcs (juc!.tÕes de pesquisa em ullllínico grupo de partici- - Acordo de confidencialidade com o financiador
pante,. A~sim. ao testar o, imuI1nbiol6gicos A e B. um grupo - Ativldades em concordância com regulamentação local (Brasil:
resolução 196/96) e com a International Conference of
u,aní o produto A. outro grupo (I produto S. outro u~artí a Harmonization (ICH) e Food and Drug Administration (FDA)
comhin ..ção AS e o controlc nilo u,ar~ compo~to algul11. E~~e - Capacidade e experiência no manuseio de termo de
modelo é contra-indicado quando (" trulllmenlO~ não podelll consentimento livre e esclarecido (TClE), efeitos adversos,
,er udmini~trados simultaneamentc e tem como limitação a documento-fonte, prontuário hospitalar, pront\lário de
pesquisa e monitor externo
po~,ibi lidade de interaçflo cntre 0' tratal11ento~ e os desfecho'i.
- Siste!"'a rígido e continuo de controle de qualidade (QA,
O dc,envolvirnento de imunobiológicos freqUentemente en- quahty assurance)
vu"c o uso dc mcdicaçõe, adjuvantes ou esquemas com mais - Capacidade de desenvolver trabalho em equipe
de Ulll f:írmaco. Esse modelo permite que mais de uma opção Capacidade de armazenar dados e documentos por até cinco
anos após o fim do estudo
\eja tc\tada em cada ensaio clínico"·lo.
Pesquisa Clínica - 119

damcntal importância para que () estudo lenha credibilidade. ração referente aos arcnduncruov propriamente ditos, na fun-
Um falo a ser sempre lembrado é que cxcclcrucs médicos. ção arquivo: colctnr e divulgar Informações (clínicas c udrni-
enfermeiros c farmacêuticos não ~ão necessariamente exce- nistrarivas) provenientes dos registres de atendimento, lia função
lentes investigadores CIII UI11 cu-aio clfnico, dcnorninudu (',I III I istira , que compreende a claborucão de es-
Por ser UI11 tipo de pesquisa que expõe o'" participantes ao 1lI11.HÍ('tlS hosphatare«.
risco de lesões ou danos, o centro de pesquisa responsável pela O primeiro departamento de registres médicos que continha
condução de um ensaie clfnico deve aplicar e seguir os prin- um arquivo completo de documentos clínicos organizados e
cípios éticos I:!o controle de qualidade (monitoração e treina- catalogados é identificado como ()do Hospital Geral de Massa-
mento) com o mesmo rigor qUI;!o fal com o-, principios cienuficos. chuscus. inaugurado em 1821. nos Estudos Unidos. Em 1987.
o hoxpual começou a arquivar dados clínicos e organizou ()
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS primeiro SAME COIllO conhecemos hoje'.
CUMMINUS. S. R.: (j~AIlY.Il" IILlI.E\. S. n. !:X:"g,"npnc'pcn'llCnl:dilllcal Na mesma época. em 1880. William Mayo formou, jun-
Iria" I ln: IIUI.I.f:Y. S. 11..CLMMINGS. SR. OROWNER. IV S. GRAOY. O: to a um grupo de colegas. a Clínica Mayo, em Minnesota,
ImARST. \1.: XI.:\VMAX. T l3 D".I/XlliIlX Clinuaí Rrtl.l<tllTh. ~ cd.Pfuladelphia. também nos Estados Unidos, adorando o modelo do pron-
Lippmcou W,lIiao' 30d W"~io,. 2001. p. 1·13·155.
2, GRIMES.D. A : SC! Il:LZ. K, E Ao ovcrv'C" of chnical rl.'<carch:tbe 13)of lhe tuário centralizado no paciente e orientado de forma cro-
lnnd, 'J1te luncet,» 359, n 5. p. 57·bl. 2002. nológica. que facilitava a consulta aos dados clínicos ao
3. IIYPERLlN K. "hup://w" w.ich.org", Disponível cm hllp:JI\\ \\ w.lch.or~.Acesso cm: longo do tempo.
IWDcc.l2003 No Brasil. o primeiro SAME organizado da forma como
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York: Oxford Universuy, 199b é concebido hoje foi criado em 1943. no Hos pi tal das CH-
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1995. "Subdivisão de Arquivo Médico e Estatística", subordina-
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ínvestigation. 11MJ. \ 2. P 769·782. 19-18
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F.: ELBOURNE. D , GOTZSCIlE. P. c.. LA"G. T. The rev j'cJ CO"SORT com os moldes americanos. e previa a centralização das in-
suucmeut for reporting randomized trial«. explanauon and elaboranon. AIlIWI,f formações em um serviço único de arquivo, ao invés da pul-
of tnternul M<,,/icll/l'. \, 11-1. o, 8, p. 663·69-1. 2001. verização dos rcgisiros médicos nas diversas clínicas de
8. ESC'OST~GUY. C. C bludo, de intervenção. lo: \IEDRO"HO. R E/)ld<mi"llI~i".
Silo Paulo: Athcneu, 1002, p. I' 1·160. atendimento aos pacientes. Esse é um conceito muito im-
9. L,\UPACIS. A.: SACKETf. D L" ROBERTS. R. S. An a-scssmen; of dinicall~ portante: o arquivo deve ser centralizado porque os registres
uscful rneasures 01 lhe conscqucnces ot trcarmcnt. Vfll' I.ng. 1. Med.. \ .•118. p. 1728· médicos. que pertencem ao paciente e estão sob a guarda da
1733. 19M~. Instituição. não podem permanecer restritos a algum setor
10. SIMON. R, M,: STl!II\H~R(;. S. M.: HA.'vIlLlON. \1.: HIWESHEI\. \.: KHI.I:II-,
S.:K\VAK,L.W.:MACKALl. (' l.: 5CIILO.\ol. J.: TOP.A.llA\. S L:l3ERZOFSKY. específico, Eles devem ser acessíveis a todas as pessoas
Chnical de"gn, for early climcal developmeni 01'therapeuuc câncer \3CC'ne.. J. C/III. envolvidas COIll o tratamento do paciente (principal objcti-
Onco': v. 19, p. 184~·185·1 21K11 \() dos hospitais). seja qual for () sctor de atendimento. rcx-
pcirados os nívcis de acesso. A disponibilidade dos registres
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR para continuidade da assistência prestada é () principal ob-
GUYA'rf, O. ll.: SAC'KET'f, 1).1..: COOK. D. J U>cr,'gUldc lo lhe IIlcd'CJIIIICr:IlUrc.ti. jeiivo da manutenção de registros médicos, Outras iniciati-
llow 10 U'C1111ameie ubout rhcrapy or prevennon, ll. \\ hal \\ erc lhe relulh and \1111
Ihey hclp me '11 cunnc J'(lr 10) 1',IIICOI'! JI\:II/I. \ 271. II I p. 51J·b.l. I')')~ "as Ireqüentemeure presentes nos hospitais. como ensino e
pesquisa, também são contcmpladns COI11 esse conceito, afinal,
o ensino técnico e a produção cieruffica interessa a todos.
Regras de acesso serão discut idas adiante.
CAPiTULO 14 A abordagem do asvunto "organização de rcgistros" passa
invariavelmente pelo conceito de prontuário médico, Prontuário
\ cm do latim promptuarium', que significa "lugar onde se guardam
ou depositam as coisa, de que se pode necessitar ii qualquer

Organização dos instante". Do ponto de vista das instituições elesaúde, existem


algumas definições de prontuário médico, IOdas muito sorne-
lhantcx. A adorada neste texto é a do Conselho Federal de
Medicina. datada de 10 de julho de 2002:

Registras Hospitalares "documento único COI1" II liu.lll de UI1I conjunlo de informações,


~inlli, c illlagcn~ rcgblrada~. geradas a parlirdc faLOs,aconleci-
IllCnIO~c ~iluuçõcs sobn: li ~:,lÍdc tio pllt.:icnlc c a m,~istênciaII
cle preslada. de l'anitel' legal. sigiloso e ci~III(1'jco.que !lossi.
x
Edia Filomena Di Tullio Lopes biliw a cOl11unicaç:io,'ntrc membros d.. equipc lllulLiprol'issiolllll
c a conlinuidade da assistência pn:sl<\da ao indivíduo"",
~
: ORGANIZAÇAO DOS REGISTROS HOSPITAlARES - Esse é o conceito mais atual e olkial que se tem utilizado
em hospitab e il1~tituiçõc\ dc saúde de maneira geral.
~ SERViÇO DE ARQUIVO M~DICO DO HOSPITAl
00 !\Ola-se que ao termo "documenlo" !o.cgue a qualif'icação
A organização dos regiMros ho'pitalarc~ é. na maior parlc das "conjunto de informações. sinais e imagens registradas", Não
instituições de saúde. uma atribuição dos serviços de arquivo existe 11 e~peciticaçãn do tipo de registro (papel, filme, eletrô-
médico, cuja~ denominações mais comuns são: Serviço dI:!Ar- nico ou outros). Com" prcsença cada VC7, mais intensa da
lJuivoMédico c Estatística (SAME). Serviço do Prollwário do mídia eletrônica. o~ registros de saúde têm sido constituí-
Pacienle (SPP) e Serviço de Informações em Saúde (SIS). :-Iesle do~. em muitas instituições, por l1leio!>eletrônicos, seja de forma
texto, será utilizada a sigla SAME para designação dos servi- total ou parcial, tanto em relação ~IS informaçõcs coletadas c
ços de registro e informações de saúde. registradas pelos profissionais de salídc. como até mesmo à
. Esse setor po~sui a tarefa de: colher dados cadastrab da~ geração de imagens de exallle~ sub~idiário~. Esse assunto não
pessoas que procuram ()\ ...erviços - denominados, aqui. pa- é o objetivo principal del>le texto, porém é importanle citar
cientes dentro de sua função de regislro: mall(er a documen- que Iodas as regras "plicáveis ao prontuário médico cm papel
120 • Tratado de Clínica Médica

devem ser aplicãvcis. em Igual teor. para o prontuário em meio QUADRO 14.1 - Demonstrativo das fórmulas de cálculo de
clctrônico üornt ou parcial). ou qualquer outro meio de regis- alguns indicadores hospitalares de uso freqüente para medida
troo EN'C conceito deve evrar Implícito em qualquer aborda- de avaliação de desempenho de hospitais
gem rclncionadu u registros médicos.
N' pacientes-dia:Unidadede medidaque representaa assistência
elida paciente atendido no hospital deve ler um número prestada a um paciente internado durante um dia hospitalar
único de identificação. denominado número de prontuário ou N' leitos-dia: Unidadede medidaque representaa disponibilidade
número de registro hospitalar. o qual é individual e constante de um leito hospitalarde lnterneçãc por um dia hospitalar
ao longo de I()d;1 sua vida. independentemente do número de
vezes que o paciente freqüentar a instituição. A multiplicidade N' pacientes-dia
Taxade ocupação hospitalar (%): di' d' x 100
de registres provoca problemas de rasrrenbilidade du documentação. N' e ertos- la
bem como perda do histórico de pavvagcns do paciente pela
instituição. levandoà quebra de todo o ciclo de geraçãoe utilização Taxade mortalidade N' óbitos intra·operatórios
intra-operatória (%): N' de cirurgias x 100
do ,i srcma de informações hospitalares.
Cada \CI mais o SAME são vistos como "centrais de in-
Taxade rotatividade N° de desligamentos x 100
formações ". responsáveis pela cólera de dados, processamento
de RecursosHumanos(%): Nt funcion6nos contratados
e geração de informações para os sistemas de gestão das ins-
tituiçõe« de vaúdc e para a produção do conhecimento médico Taxade . N' de cirurgias suspensas x 100
científico. Procurando cnfocar a pesquisa cllnicu. serão abor- cirurgias suspensas(%)' N' de cirurgias
dados os aspectos em que o SAME tem papel fundamental no
desenvolvimento de pesquisas das lnstltuiçôcs.

fUNÇÃO ESTITlsnCI DO SERViÇO Estatísticas de Morbidade Hospitalar:


DEIRQUIVO MlolCO E ESTITlsTICI ArquiVO Mosolúglco
() arquivo nu índice nosolõgico refere-se à colet a sistemática
A elaboração e a divulgação de relatórios csratfsticos também
de informações sobre alodoença, que evriveram prevalente
são atribuições dos serviços encarregado, de organizar regis-
1111 atendimento aos pacientes do hospital. Sua função princi-
t ro-, de saúde.
pal é reunir grupos de prontuário, de pacientes que tenham sido
São doi, os tipos básicos de estatfsticas produzidas pelo
tratados de uma mel>111a doença'.
SAME: (h indicadores hospitalares c asestatísticas de morbidade
Neste momento. chega-se ao centro <lndiscussão proposta
hovpitular,
neste capitulo. Como o SAME do hospital contribui no desen-
volvimento da pe quisa clínica'! Certamente a constituição do
Indicadores Hospitalares arquivo nosológico é o principal serviço u ser oferecido e agrega
valor de forma muito evidente ao SAM E quando realizado
Referem-se aOlo índices que demonstram o desempenho da
com qualidade. tornando as informações disponfveis aos pes-
I nstituição. de acordo com diversos aspectos: produção e pro-
quisadores que delas serão u uários.
dutividade de serviços. urilização de invtalnçõcs. condições
Tradicionalmente. os hospitais dedicados a atividades aca-
de infra-estrutura, udrninistraçüo de recurvo- humanos. indi-
dêrnicas e de pe. quisa investem nesseserviço de forma imensa.
cadorcv financeiros. indicadores dc de empenho clínico e OUlrOS.
porém a maioria dos hospitais conta com alguma estrutura de
Como exemplo. podemos citar as taxas de ocupação hospita-
coleta de informaçõe sobre as doenças que motivaram o aten-
lar. de mortalidade intra-operatôria. de cirurgias suspensas,
dimento de seus pacientes. nem que seja para prestar contas
de rotatividade de recursos humanos e muita, outras. No Quadro
às fontes pagadoras. públicas e privadas.
14.1. ~ã()descritos os conceitos e a fõrmulas de cálculo dos
O arquivo nosolégico deve uicndcr ~s seguintes exigências:
indicadores hospitalares exemplificados anteriormente, cons-
tantes das definições dadas pela Associação Paulista de Me- • Compreender um sistema de codificação de diagnésri-
dicina Programa de Controle de Qualidade do Atendimento COl> que atenda aos sistemas internacionalmente acei-
Médico-hospitalar (CQH)'. A definições de "paciente-dia" e tos. A Classificação Estatísticu Internacional de Doenças
"leito-dia" foram extraídas da Portaria nO312. de 2 de maio de c Problemas Relacionados ti Saúde. conhecida como
2()()2. do M inistério da Saúde. CID. é a recomendada. A revi ..ão atual é a 101. motivo
A moderna adrninistraçüo hospitalur tem sido focada na pelo qual é chamada de CI O-I O. Essa é uma publica-
convtituiçâo e na utilização de indicadorev hospitalares. exis- ção da Organização Mundial da Saúde. utilizada em
rindo diverso' programa, de avaliação de serviços de saú- grande parle do globo terrestre. o que confere grande
de que uri lizum esse, importantes instrumentos C0l110 legitimidade ao sistema. A conversão da doenças des-
balizadores. realizando benchmarking" com outras inst iruiçõcs critas em códigos é importante para a estruturação do
aderentes. sistema de coleta de dados. pois são constituídos gru-
Esse assunto não será abordado. pois, além ele muito com- pos de doenças da mesma natureza, eliminando-se a
plexo. implicaria desvio do foco que se pretende dar. voltado dificuldude de lidar com o grande número de sinôni-
à utilização de informações centralizadas no SAME para pesquisa mos, uma vez que LIma doença sempre é classificada
clínica. no mesmo código. A CID-lO proporciona padroniza-
ção das informações sobre 0\ diagnõsticos,
• Funcionários treinados para ti clavsificação de doenças.
o benchmark"'9 ~ umprocessosístemátic:o
e contínuode medidae compa- supervisionados por médico com formação em adminis-
raç30das praticasde umaorganizaç30
comoutraslideres,paraquesejam tração hospitalar c/ou saúde pública.
obtidasInformaçOesquepossamaJudá·la
a melhoraro seuniveldedesempe-
• Acessibilidade às informações geradas por parte dos
nho.Programas espe<ificos
deavaliação
dedesempenho dehospitais, como
o ControledeQualidadedo AtendimentoMédico·hospitalar (CQH),pro- pesquisadores. de forma rãpida e precisa. O mais ade-
movidopelaASSOCtaçAo PaulistadeMedicina,e octrosutilizamessatécnica. quado é a unlização de bancos de dados em meio
Verhup:/fwww.apm.org.br/cqh. eletrônico.
Pesquisa (/{nica • 121

Organização do índice Nosológico de ensino e pesquisa. é muito comum os médicos necessita-


rem de aicstados oficiais da Instituição. descritivos sobre quantas
Essa é uma tarefa básica que consiste em algumas etapa s: e quais ci rurgias o, profissionais pari ici param. para fins de
comprovação lias Sociedades de Especialidades. com a fina-
• Illc(/li:(/('âo dois) diagnásticots] do paciente 1/0 documento lidade de obtenção de títulos de especialistas. Outrossim, esse
de registro de informações do paciente: prontuário de tipo de infonuação é de extrema importância do ponto de vista
alta 011 Iichu de utcndirncruo arnbuluroriul. descrito pelo gcrcncial. 11111" ve/. que cabe à direroria do hospital conhecer
médico-ussistcntc. A qualidade do índice nosológico os tipos de tratamentos praticados na instituição que repre-
depende dircmrncntc da qualidade de preenchimento sentam. informação essa que norteia O pluncjumcnto das ati-
dos prontuãrlos por parle dos profissionais de saúde. vidudes e a avaliação dos resultados obtidos. Portanto, o índice
particularmente os médicos. pois ..ão eles quem centra- de procedimentos cirúrgicos é fundamental.
lizam as responsabilidades de definição do(~) diagnõsticoís). A clasvificação de procedimentos cirúrgicos é 11111is complexa
indicação do traramemo e alta do paciente. <lo ponto de vista prático. São inúmeras as clnssificações de
• Escolha do dia/.:I/ólticoprincipal: aquele que motivou o procedimentos existentes. porém não existe uma usada am-
atendimento. Existem regras para ajudar os funcionários plamente por vãrios países. como no caso da CID>. As várias
ri escolherem o diagné tico principal. quando este não estiver nações adotum modelos que se adaptam ti seus sistemas de
claramente definido pelas anotações dos médicos. Essa saúde. uma vez que esse tipo de classificação é muito utilizado
capacidade deve ser desenvolvida junto ao treinamento para gcrcnciurncnto dos sistemas e serviços de saúde, pois, de
de codificação dos diagnósticos. alguma forma. facilitam a análise dos recursos dispendidos no
• Codificação do dlagnástico principal e dos secundários. atendimento médico. No Brasil, utiliza-se muito a Tabela do
quando existirem. mediante (I CID-lO. Recomenda-se a Sistema Único de Saúde (SUS) ou a da Associação Médica
utilização de quatro dígitos - uma letra e dois números, Brasileira. Ambas são tabelas de remuneração e não classifi-
que indicam a categoria do diagnóstico, e um quarto cações estatística: porém. por facilidade. seus códigos são
número. que indica a sua subcategoria'. Para efeito de utilizados com finalidade c1assificatória e estatística.
inclusão na ficha de diagnósticos. utilizam-se três dígi- As instituições têm a liberdade de criar uma tabela pró-
tOS- até o nível de categoria. pria de classificação estatística de procedimentos que aten-
• Inclusão dos diagnósticos em ficha de registro de diag- da às necessidades gerenciais. assisrenciais e de pesquisa. A
nósticos. ou inclusão em banco de dado. clctrônicos. Esses utilização das tabelas do SUS e da Associação Médica Bra-
métodos devem ter a capacidade de localizar os pron- sileira apóia-se na redução de processos. pois são duas tabe-
llIários. cujos pacientes receberam aquele determinado las amplamente uritizadas para que os serviços dc saúde
diagnóstico. apresentem suas contas para as fontes pugadorn« (públicas c
privadas). Portanto. a maioria dos serviços já 1':1:1. essa clus-
Na Tabela 14.1. descreve-se um modelo bâsico de ficha de sificnção no momento do faturnmcmo. Existem recursos de
Indice nosolégico. para ilustração, O modelo pode ser extrapolado informática que podem auxiliar a conversão automática de
para ficha clerrônica. vendo o. campo componentes da ficha procedimentos ctassiricados COm finalidade financeira para
variáveis de acordo com a capacidade técnica dos sistemas de tabelas de elas ificação estatística.
coletade dados. Quanto maior o número de informações constantes A grande dificuldade na utilização das classificações de
da ficha (chamudav vuriáveis'[. maior a facilidade para os procedimentos refere-se a freqücntc incorporação, na prática
pesquisadores em vclecionar os casos de interesse, clínica. de novas técnicas de tratamento que surgem quase
Outras variáveis que podem er intcrcvsantcs são: número de diariamente. em virtude da rápida incorporação de tecnologia
dias de internação. tipo de tratamento (clínico ou cirúrgico). dingnôsrica e terapêutica. fruto das pesquisas clfnicas, 'IS-
exames rculizudos (em especial anarornoparolõgicos ou micro- sunto ao qual é dedicado este capítulo. As clussificaçõcs de
biológicos para confinnação do diagnóstico). nome do médico procedimento estão sempre correndo o risco de tornarem-se
responsável. nome do cirurgião (quando aplicável). etc. dcsuiualizadas. Por esse motivo. é freqüente surgirem difi-
Para procedimentos cirúrgicos. pode ser introduzida uma culdades na classificação precisa de alguns procedimentos
x ficha de índice de cirurgias. nos mesmos moldes. em que a para composição dó índice nosológico. Nesses casos, recor-
~VI chave de entrada seria o procedimento cirúrgico ao qual o pa- re-se à classificação por similaridade.
; ciente roi submetido. Outra pos ibilidade é um índice nosolõgico
~ único que contemple essa variável. Em hospitais com carãicr Utilização de Ferramentas Eletrônicas
VI
oe
Os bancos de dados clerrônicos permitem maior flexibilidade
para o pesquisador quando da consulta aos dados. Por exem-
• Para detalhamento da classifícação. podem ser consultadas as observações plo. pode-se levantar os casos submetidos a determinado 1'1'0-
Iniciais(notas) dos volumes 1 e 2 da ClO'. ccdimcnto cirúrgico relacionados a um diagnóstico específico.
Esse tipo de relatório envolve relacionamento de dados que,
se proce. sacos manualmente. podem demandar muito tempo.
TABELA 14.1 - Modelo de ficha de Indice nosol6glco a ser ao passo que. se consultados eletronicamente. podem ser caracte-
utilizado em hospitais. em papel rixados como uma operação imples. Certamente, o processa-
CÓDIGOCID: OESClIIÇÃO: mcnro clctrônico de dados mostra-se muito mais adequado do
pomo de vista das pos ibilidades de levantamentos e consultas.
N' PRONTUÂRIO SUlu,rEGORIA IDADE suo DArA CONDIÇÃO
DA SA(DA DESA(DA'

A Classificaç~o Internacionat de Procedimentos em Medicina (CtPM) é


publicada pela Organização Mundial da Saúde desde 1978 (com revisões).
porém não apresentou grande impacto na classificaç~o estatistlca de prece-
• A = alta; O = óbito; T = transferéncia dimentos no Brasil.
122 • Tratado de Clínica Médica

Idealmente. deve-se buscar um sistema de informações Aplicabilidade do índice Nosológico


hospitalares que trabalhe com lima mesma base de dados
inst itucionul para as funções mais comuns: cadastro. movimentação
o índice nosológico deve ser feito, obrigatoriamente. para
os pacientes internados. Existe um dispositivo legal - Por-
ele pacientes (internação. passagens de ambulatório. serviços de
taria n!! 22i do Ministério da Saúde", que determina que
apoio diagnóstico c terapêutico. pronto-atendimento). regi tI'O
todas as instituições de saúde com regime de internação
de diagnóst icos e procedimentos. emissão de conta e faturarnento.
(públicas e privadas). devem emitir a Comunicação de in-
citando apenas os mais utilizados. Com uma base única. as
ternação Hospitalar (CI H). boletim mensal que tem a fina-
possibilidades são ampliadas. principalmente porque é poso ível
lidade de informar ao Ministério da Saúde todos os pacientes
aplicar-se regras de consistência na inclusão de dados. Por que deixaram () hospital no mês de referência. Dentre as
exemplo, rejeitar a tentativa de registrar um diagnóstico de diversas variáveis constantes do boletim. o diagnóstico de
pano cm homem. ou prostatcctornia em mulher. apenas cxcm- alta e o tipo de trummenro realizado (chamado de procedi-
plificando. Os bancos de dados improvisados. em compu- mento realizado') fazem parte desse boletim. Visto o cará-
iadorcs pessoais, estão mais ujciios a erros humanos c mau ter obrigatório, a constituição de um arquivo nosológico
uso das informações. bem organizado e pronto para ser amplamente utilizado só
O prontuário clcirônico é a ferramenta que melhor otirniza depende da vontade dos gestores da Instituição.
() lI~O cletrônico dos dados para a pesquisa clínica. Para os atendimentos chamados de ambularoriais ou ex-
ternos. como aqueles prestados pelo pronto-atendimento ou
Prontuário Eletrônico pronto-socorro, ou pelo ambulatório de especialidades do
hospital, a organização do arquivo nosológico é facultativa
o prontuário eletrônico pode ser definido como "um regis-
à capacidade de trabalho do $AME. Do ponto de vista da
tro eletrônico que reside cm um sistema especificamente pro- gestão. :J unãlise desses dados é. indubitavelmente, um ins-
jetado para apoiar os usuários. fornecendo acesso a um completo trumento que confere qualidade ao planejarnento e à avalia-
conjunto de dados corretos. alertas, sistemas de apoio /\ de- ção dos serviços: portanto. é recomendado.
cisão e outros recursos. como links para bases de conheci- Para os atendimentos arnbularoriais. devem ser tomados
mento rnédicn'". todos os cuidados necessários ne e processo, pois os pa-
O prontuário clctrõnico não pode ser confundido com a cientes em seguimento com diagnóstico já firmado podem
digitalinção do prontuário em papel. Enquanto o prontuário ser, equivocadamente, tabulados como casos novos. O que
clctrônico é constituído pela sistematização e integração de confere falsas taxas de incidência e prevalência de doenças,
diversas fontes de dados sobre o pacientes. a digitalização Portanto. os índices nosológicos devem ser crlentados à entrada
do prontuário em papel fornece a imagem do papel copiada de casos confirmados das patologias apenas uma vez, sem
digitalmente. acessfvcl pelo computador por meio de um pro- que sejam repetidos os rcgistros referentes aos mesmos pa-
grama de leitura de imagens. sem que haja qualquer preces- cientes já registrados em eventos umbulatoriais repelidos.
sarnento dessas informações. Também devem ser permitidas entradas de diagnósticos em
O prontuário clctrônico implica n.. estruturação c na inte- diversos momentos, uma vez os eventos se sucedem ao lon-
gração de sistemas COIllO cadastro eh: pacientes. nvaliaçõcs go do tempo e só ão definitivamente encerrados por oca-
médicas e rnultiprofissiouuis, captura nutonuuica de dados sião tio óbito do paciente.
fisiológicov vindos de monitores, prescrições. dispensa de .lá foi discutido como o conhecimento do perfil de rnorbidade
mcdicamcntov, lahoraiôrio clfnico. exames de diagnóstico do hospital deve ser encarado como irnportunríssima ferra-
por imagem e outros. Essa integração permite que os profis- menta gerencial, que fornece subsídios na tomada de decisão.
sionais possam estar com todos os dados em tempo real, Para atendimento dessa demanda, O SAME produ? relató-
permitindo que a tornada de decisão seja apoiada de forma rios com informações sobre diagnósticos de forma agregada,
precisa e com maior rapidez. apresentando o diagnósticos que mais ocorrem no período
Do ponto de vista da pesquisa clínica, o prontuário eletrônico considerado (mensal ou trimestralmente, de acordo com a ne-
facilita a consulta aos dados do paciente, que estão inclusos de cessidade da administração do hospital). Em geral. agrupam-se
forma estruturada. permitindo maior rapidez c precisão na consulta os diagnósticos de acordo com os capítulos de classificação da
dos dados. lnformações inclusas em forma de texto livre podem CID (doenças infecciosas e parasitárias, neoplasias, doenças
ser consultadas pela pesquisa de palavras-chave. do sistema circulatório. etc.). O nível de detalharneruo dos relatórios
O acesso aos dado» deve seguir as mesmas regras defini- deve ser uma escolha baseada na utilização dessa informa-
das pura o acesso ao prontuário cm papel. utilizando-se ler- ção. Relatórios muito detalhados podem ser diffceis de anali-
rnrncntas próprias de controle. sar, assim como os muito concisos. O ideal é chegar-se em um
nível de agrupamentos diagnósticos, que são urna subdivisão
dos capítulo da CID'.
Operacionalização do fndice Nosológico
o arquivo ncsológico deve ser arualizado diariamente. sendo REGRAS DE ACESSO As
<eu preenchimento uma das etapas da rotina de trabalho do
INfORMAÇOES DOS PACIENTES
$AME. Índice desatualizado é inútil.
Do ponto de vista operacional. os funcionários do SAM E Cabe aos SAM E a guarda das informações cios pacientes, com
só devem dar por encerrado O prece sarnento do promuãrio no regras de acesso bem definidas e que atendam aos dispositivos
scror de estatística após a inclusão dos dados do prontuário legais vigentes no país, incluindo Códigos Civil e Penal, bem
no índice nosológico, corno Códigos de Ética dos conselhos profissionais.
Em utilização de prontuário eletrônico. o registro do diagnós- O SAME tem a responsabilidade de manter as informações
do paciente restritas, permitindo que apenas aqueles que neccs-
tico de saída deve ser uma etapa obrigatória do processo de
alta do paciente. O próprio sistema pode ser projetado para a
busca de códigos de clussificação de diagnósticos e procedi-
mentos a partir de tabela" indu as no sistema. • Para efeito de CIH, é utilizada a tabela de procedimentos do SUS.
Pesquisa (IInica • 123

sitern acossá-Ias para ),ati~ra/er os interesses do paciente pos- profissionais possam. 011 devam. quebrar () sigilo. O que se pre-
sam fazê-lo. O~ demais \6 podem conhecer os detalhes da saúde rende é deixar claro que :1 disponihilidndc de dados e infor-
do paciente cavo ele permita. mações clínicas deve ser regida de forma responsável e
O acesso 11\ informações pode ser feito de forma individua- transpurcnre. Para dcralhamcnto desse assunto. ISinteressante
linda ou agregada. O primeiro C3\0 refere-se ao prontuário do consultar os purecerev cmitido-, pelos conselhos regionais de
paciente. entendido aqui de forma ampla. incluindo cadastro. medicina. que dh ulgnm em ~eUl>vil (',I' matérias revisadas e
resultados de exames e qualquer Outra informação inserida com análise jurídtca a rcvpciio.
no banco de dndov. que permita o conhecimento de alguma 'o âmbito de atuação dos SAME. o ~igil() sempre deve ser
situação específica a seu respeito. São infunnacõcs particula- observado. dcv endo estar descritas as regrus de ucesso, de acordo
res, ou seja, podem submeter o paciente a constrangimentos com a lcgislaçâo vigente. para atendimento li solicitações de
e o conhecimento por parte de indivíduos não envolvidos di- cópia, de prontuário .. convulta a prornuârios por parte de médicos
rctnmcntc com a a"i,tcncia ou uurorizados por ele ou pelos e profissionais aruamcs na lnstituição, profissionais auditores
responsáveis legai~ não deve ser permitido. da fontes pagadoras C pesquisadores.
O acesso à~ informaçõc-, de forma agregada é controlado
pela administraçâo do hospital. poi-, se refere a relatórios que Acesso às Informações dos
não individualizam os pacientes. especificamente relatórios Pacientes para Pesquisadores
estatísticos, portanto não submetem paciente a constrangi-
mentos, porém podem expor a Instituição à exploração de si- As pesquisas realizada cm instituições ele saúde devem ser
tuações não desejáveis. Excrnplicando, o perfil de morbidade aprovadas por um Comitê de Ética em Pesquisa, que analisa
hospitalar, ou seja. a listagem das doenças que motivaram a o projeto c julga se a pesquisa está aprovada para ser conduzida
internação do pacientes cm um determinado período. sem iden- na instituição. ou rcdircciona o projeto para que atenda às
tificação dos pacientes. mas sim das doenças. Esse tipo de exigências emanadas para a SU<lrealização.
informação não expõe nenhum indivíduo. porém cabe à alta Cabe ao SAME exigir comprovação de que a pesquisa te-
administração definir os níveis de acesso a esse relatório e o nha lido parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da
SAME tem a obrigação de respeitar essas regras. Instituição para tornar disponíveis os dados do Índice nosológico
e os prontuários dos pacientes inclusos nas pesquisas, Uma
cópia do parecer do Comitê deve ser exigida e ficar arquivada
Dispositivos Legais Que Regulamentam o no SAME para dirimir quaisquer dúvidas a respeito da con-
Acesso às Informações dos Pacientes sulta ao material arquivado.
Esse processo é urna exigência legal. O Conselho Nacional
Desde os mais rcmoros tempos. existe a preocupação com a
de Saúde aprovou a Resolução n9 196/96". que regulamenta as
manutenção do sigilo da, informações clínicas dos pacientes.
pesquisas envolvendo veres humanos, E,1a c~tá fundumentada
Apenas para ilu-rrar, o Iamovo "Juramento de Hipõcrares'"
cm documento, inrcrnacionaiv COIllO o Ccídigo de Nurcrnberg
compromete todo' Ih médicos a manterem o sigilo das in-
(19.t7). a Declaração do, Direiu» do llorncm ( 1948), a Declaração
formações:
de Helsinque (196.t e l>ua~versões posteriores de 1975, 1983
"Eu juro .... c 1981). o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
...Àquilo que no cvcrcicio CHI fura do cverefcio d« prufi~,ãll c (ONU. 1966. aprovado pelo Congresso Nacional Brasileiro em
no convívio da vocicd.uíc, cu tiver vi-to ou ouvido. (tUI!não 1992).as Proposue, de Dirctrizcs ÉticasIntcrnacionals para Pesquisas
seja precivo div ulgnr, cu convcrvarci huciramcmc vccrcro ..:· Bioruédicns Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e
Apesar de simbõlic». n juramento c: um convite a todos aqueles 1993) c as Dircrrizcs lmcmncionais parti Revisão Ética de Estu-
que praticam a medicina para que reflitam sobre o quanto a dos Epidcmiológicos (CIOMS. 1991). Todas as leis brasilei-
manutenção do ~iSilo ral parte da boa prática profissional. ras correlatas também serviram de base para li composição
O Código de Ética Médica" d bastante enfático nesse as- dessa resolução (Constituição da República Fcdcmtiva do Brasil,
pecto, Logo nu preâmbulo. ç evidente que ele se aplica a io- Código de Direitos do Consumidor. Código Civil e Código
dos o~ médicos, independentemente da luução ou cargo que Penal. Estatuto da Criança c do Adolescente, Lei Orgânica da
Saúde nQ 8.080 c muitas outras).
ocupem. assim como à, organivuçõcs de prestação de servi-
Dentrc os princípios da eticidade das pesquisas, lima das
ços médicos.
ex igência: da Resolução. constante no item" 1.3, refere-se ao
O sigilo é abordado cm diversos anigos. destucando-se o
artigo II. do, princípio-, fundamentais: "O médico deve man- consentimento do sujeito da pesquisa cm fazer parte dela,
ter sigilo quanto :I~ informações confidenciai. de que tiver A pc-qui-a cm qualquer área do conhecimento. envolvendo seres
conhecimento no desempenho dc suas funções. O mesmo. e humanos dcvcrã observar av scguimcs exigências:
aplica ao trabalho cm empresas. execro nos casos cm que seu - Contar COIl1 o Con-enrimcnto Li\ re c E..clarecldo do sujeito
silêncio prejudique ou ponhn cm risco a saúde do trabalhador da pesquisa c/ou seu rcprcscnramc legal:
ou da comunidade". O capitulo IX do referido código dedica- - Prever procedimento-, que a..vegurcm a confldcnciulidade e
se ao segredo médico (artigo, 102 a 10X). :I privacidadc.n protcção da imagem e II não cvtignuuizução.
Não cxisic a pretensão dc e~got:lr-l>c. ncste tcxto. o a. sun- garanlindo a não ulilil3liJO d;" informaçõc« cm prejuízo das
to, poi~ cxiMem dh er,u, a'pecw, da ~oci..:dade c das obriga- J1C"oa, c/ou da, comunldadc,. inclu,ivc cm tcrmos dc uuto-
cSlima. de prc,tfgio c/ou econômico - financeiro.
çõc~Icgab dI!pruli~,i()nai, qu..:dc\ cm 'CrClb'erv;ldo~. Por excmplo.
li informação par:! 0' órgão, otici:!is da. doença dc notilicação O itcm IV refer..:-\c ao Conllentimento Livre e Esclarecido,
compulsória não ~ó permite. como obriga aos prolissioll:lis exigindo-se:
quebrarem o ~igilo. vi~ando protegcr a ltaúdc da população.
Da mcsma forma. outra, ,ituaçõe' também ralelll com que os IV. t. - garantia do ~igilo quc as ..egurc a privacidade cios sujei-
tn, qUl11l10ao' dado .. confidcllciai~ envolvido~ na pesquisa.
O item IV.3.c prevê casos em que o Consentimento Livre e
• Juramento de Hipó<rates. extraído do site do Conselho Regional de Medicina Esclarecido não foi obtido dos pacientes envolvidos na pesqui-
do Estado de São Paulo: htlp:llwvNl.cremesp,org.br. sa: ·•...nos casos em quc seja impossível registrar o consenl'Ímen-
124 • Tratado de Clínica Médica

to Iivre e esclarecido, tal fato deve ser devidamente documenta- sólidas em pesquisas com seres humanos'. Entretanto, a maior
do, com explicação das causas da impossibilidade, e parecer do influência desse resultados na prática médica também implica
Comitê de Ética em Pesquisa", Portanto, se a pesquisa utilizar riscos e responsabilidades. já que pesquisas mal conduzidas
dados presente, em prontuãrios e que caracterizem estudo retros- podem induzir comportamentos e atitudes equivocadas. se não
pectivo de material arquivado sem que os pacientes tenham sido forem reconhecidas as limitações do estudo. Por esse motivo.
informados, o pesquisador deverá solicitar ao Comitê de Ética a proposição de ensaios clínicos deve ser acompanhada de um
°
em Pesquisa que Consentimento Livre e Esclarecido seja dis- planejamcnro minucioso e de uma condução cuidadosa, evi-
pensado. Caberá ao Comitê avaliar se esse procedi mente é ético. tando-se II introdução de vieses capazes de comprometer o
de acordo com os objetivos e o desenvolvimento da pesquisa. nível de evidência alcançado.
O presente capftulo pretende sugerir estratégias para prevenção.
identificação e correção das fontes de erro que ocorrem mais
CONSIDERAÇOES FINAIS freqüentemcnte na fase de execução da pesquisa clínica. Para
Os sistemas de informação de saúde têm sido foco de estudos atingir esse objetivo. torna-se necessário analisar não apenas II
e investimentos, uma vez que existe o consenso entre os gestores fase de condução do estudo, na qual os vieses cfetivamenteocorrem.
de vário .. nfvcis sobre a necessidade de apri meramente cons- mas também etapas anteriores. como planejamento e implemen-
tante da qualidade da s Informações geradas, tanto do ponto tação. em que podem ser tomadas medidas preventivas e ulte-
de vista clínico quanto administrativo. riores. C0l110 rnonitoração e conclusão da pesquisa, nas quais
A utilização de dados e informações geradas por meio do cabe avaliar e. evenrualmcruc. aprimorar li qualidade obtida.
atendimento médico sempre deve ser incentivada, respeitados Durante todo o capítulo. dois protocolos fictícios apresen-
os princípios éticos e científicos pen inentes, tados a seguir serão repetidamente citados como exemplos dos
A qualidade dos registres é fruto de um conjunto que envolve assuntos tratados:
todas as etapas do atendimento prestado, Os registres devem. • Projeto A: o objetivo desse projeto é saber se o antibió-
sobretudo. refletir a assistência. Bons registres. em geral, estão tico X. recentemente sintetizado. é mais eficaz que as
relacionados à boa assistência. drogas atualmentc usadas no combate à infecção por bac-
térias Oram-negativas em pacientes com pancreaiite
REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS
aguda internados em uma unidade de terapia intensiva
I !:.\('()t.\ rtc:MCA DE SAÚDEJOAQUtM Vb'lÃI\CIO- HJNDAÇÃO OSWAt.DO
(UTI). O estudo será duplo cego, randornizado, no qual
("1([,1 r,UIIl d, Apmil 'III Rfll'uro. de Soúd« Rro de Janeiro: Fiocru/. 1999.
2 \1·\S5AI).I.:.. MARI"..II F.AZEVEOO:'<ETO. I( S.flal. O Pron,uÓr;Ql:.lm(irrictJ pacientes receberão a droga X ou o antibiótico usado
ti" /},\1('"'' "a tUlwi"dfl. tnjonnaçõo e ConhtclmmJu Midiro. São Paulo: OPASf nessa UTI para esse tipo de infecção. As variáveis a serem
OMS. 2003. cap. I. medidas erão mortalidade, tempo de internação em UTI
3. MASSAD. E.: MARIN. II. I'.: AZEVEDO NETO. R. S. et al. O Prontuári» EI.,roflU·1'/
e efeitos colaterais.
ti" I'clCltlllr na A.rsi\lillria. lnionnoção e Conhecimem« MMico. São Palito: OPASI
OMS. 2003. cap, 3. • Projeto B: o objctivo desse projeto é saber como vivem
4. ASSOCIAÇÃO P3uhMI ele McdiciM. Programo dr Cunlmlr dr Qlllllldlll/e do idosos portadores de doença reumatóide. Por meio de res-
Altndimrnlo MMim'!/(lIprralar - CQII. O"ponhet em "',."'. apm.ofl! br/cqh. postas a um questionário padronizado, será mensurada a
5. BRASIL. Conselho Federat de Medicina. Rcsoluç40 t638/02. O"ponhcl cm' qualidade de vida e a independência desses pacientes para
www.eremesp.eom br,
6 BRASIL Minhlérlll dI! Saú~c.Gabinetedo Mi""II'O. Ponana n 221. de 24 muro
realizar atividades cotidianas. Como grupo-controle, serão
1')99. DI'põe \(.hrc ,I cllmlllllcllção de illlcrn:lçõc, hospualare s. D,ár'" ()ficlalda entrevistados idosos que não tenham doença reumaréide.
1""7,,. BrJ,n, •. t'lW. Sc.;3" I. p. 15.
7. ()I(G,\ \llAÇAO \1LJNI>IAL OA SAÚDh. Cltm!ji('{lçoo Estatlsuca lntemactona! de
1)",tlftO r P",blrmalll<l<l<w""dos" Salltle 10' Rn-isÕIJ. São !':lulo: EOliSP. 1993. PREVENÇAo DE VltS NO
K flRMIL. Co"",Ihu FaJcr.ll de Mc,hcI04. Resotução n. 1.246.08 JM. 19&8.Código
de ~Iica Médlcu 1)"ponÍ\cl em www.crcmcsp.org.br,
PLANUAMENTO DA PESQUISA
9. llRAStL. Con\Clho N.scionaJ de Saúde - CNS. Rcsotução n, 196. tO OUI. t996. 1\ prevenção é li única maneira eficaz de se evitar o erro. Por
essa razão, a boa execução do estudo depende. em grande parte.
da capacidade de o pesquisador antever as dificuldades que
podem ocorrer e instituir medidas preventivas eficientes, já
CAPíTULO 15 na fase de elaboração do projeto.
Nesse tópico serão enfocados alguns cuidados que, se incor-
porados no planejarneruo da pesquisa, podem evitar falhas
freqüenterncnte observadas nos estudos elfnicos. Serão anali-

Execução da sadas a definição da dúvida, a escolha elas variáveis de res-


posta, a definição da população ele estudo, a estimativa do
tamanho da amostra e a randornização dos pacientes.

Pesquisa Clínica Definição da Dúvida


O planejameruo de uma pesquisa depende de qual questão fun-
Heraldo Possolo de Souza damernal o investigador pretende responder. A definição clara
e prévia da dúvida principal favorece em muito a elaboração
Paulo Celso Bosco Ma arollo de um projeto apropriado. Na prática, o pesquisador geralmente
gostaria de responder a várias questões inter-relacionadas.
INTRODUçAo Entretanto, é importante que o projeto seja concebido tendo
em mente uma questão principal.
Outros capítulos desta scção analisaram aspectos éticos, legais A questão principal deve ser aquela na qual o investigador
e metodológicos que contribufram para o aprimoramento pro- está mais interessado. Ainda que possam ex istir questões sccun-
gressivo tia investigação clínica. Com o emprego adequado dárias. o projeto deve ser orientado no sentido de conseguir
dessas ferramentas, tornou-se possível obter evidências cicntfficas responder adequadamente a questão principal. Como será visto
Pesquisa Clinica - 125

adiante. essa opção irá influenciar fortemente a escolha das aconteça scqücncialmente. de maneira que ii sua participação
variáveis de resposta e o cálculo do tamanho da amostra. cm cada fase só seja iniciada após a conclusão da anterior.
Tomando como exemplo o Projeto A. o objctiv o de comparar Assim. a análise de elegibilidade e a decisão do paciente dc
a eficácia de dois tratamentos aruimicrobianos em pacientes com participar da pesquisa devem ser sempre anteriores à realização
pancrcntitc aguda pode admitir várias questões, como a aná- da randcmizução,
lise da sobrevida. o~ custos hospitalares, () risco dc complica-
çõcspulmonares. II hcmodinâmica sistêmica e os efeitos colaterais.
entre outras. Dentre essas, é necessário definir qual questão
Cálculo do Tamanho da Amostra
particulur ~crá urilizada para orientar a concepção do estudo. Toda vel que se conclui uma pesquisa. enfrenta-se o risco de
"erro", no sentido de que os resultados obtidos sejam positivos
ou negativos. não traduzirem a "verdade" que se procura escla-
Escolha das Variáveis de Resposta reccr. Já que CSl\C ri co não é totalmente evitado mesmo cm
Umerro comum em pesquisa clínica. que muitas vczc compro- estudos bem conduzidos. torna-se necessário, pelo menos, es-
mete a qualidade do trabalho como um todo. é a coleta de um timar essa fonte de erro no planejamcnto do trabalho. Depen-
número excessivo de dados. a ânsia de evitar que qualquer dendo da magnitude do erro estimado, será possível ponderar
detalhe seja perdido. o pesquisador opta por medi r o maior nú- pela conveniência de prosseguir. modificar ou até mesmo de-
mero possível de variáveis. além de coletar o maior número sistir da pesquisa. Infelizmente. essa apreciação de exeqüibilidade
posslvel de amostras. Um dos problemas dessa abordagem é o costuma ser negligenciada pelos investigadores.
consumo de tempo e recursos, além da perda do foco na pes- A confrontação dos resultados obtidos com a "verdade"
quisa: os pesquisadores encarregados da colora c da análise permite quatro combinações possíveis:
dos dados acabam perdendo a motivação e o banco de dados
• Os resultados são "positivos", ou seja, foi encontrada
com as informações coletadas torna-se monstruoso. impossi-
uma diferença significante, e traduzem a "verdade".
bilitando um controle de qualidade eficaz. Outro problema
• Os resultados são "negativos". ou seja, não foi encon-
metodológico diz respeito à multiplicação do númcro de tes-
trada diferença significante, e traduzem a "verdade".
tes estatístico necessários para analisar todas as variáveis
• Os resultados são "positivos", mas não traduzem a
incluídas. Como cada comparação encerra uma probabilidade
"verdade",
de erro (ver adiante tópico sobre cálculo do tamanho da amostra),
• O!. resultados são "negativos". mas não traduzem a
a realização de múltiplos testes aumenta a chance de, apenas
"verdade".
devido ao acaso. serem encontrados efeitos csnuisricamerue
significantes. A realização de medidas repetidas. ao longo do Percebe-se que não existe erro nas duas primeiras combi-
tempo, também aumenta a complexidade da análise esrausti- nações. Na terceira, o erro . ccundário ao resultado falso-po-
cal. Em resumo. deve-se refletir sobre os bcneffcios c incon- sitivo é chamado de tipo I ou alfa. Na quarta possluilidudc, o
venientes de acrescentar variáveis c aumentar o número de erro secundário ao resultado falso-negativo da pesquisa é cha-
amostras. Redundâncias intencionai podem facilitar u inter- mado de tipo II ou beta '.
pretação dos achados. mas. seguramente. o excesso pode ser A identificação dos erros de tipos I c II seria simples se
prejudicial. 130m senso é sempre a melhor regra. ti\'é~~cmo\ certeza da verdade. Entretanto. a realização da
Valc lembrar que. como princípio. uma variável deve ser pesquixa eMá justificada apenas. e cxntamcntc, em situações
sempre sclecionada para responder a questão principal do c. tudo. de dúvida. E...sa limitação não impede a estirnuriva das proba-
Se, no Projeto A. a que tão principal é a sobrevida. :1 ocorrên- bilidadcs de erro. No erro de tipo I, essa probabilidade cor-
cia de morte deve merecer destaque. A anál isc do tempo de in- responde ao nível de ignificância. ou seja, 11chance de ser
temação c da ocorrência de efeitos colaterais pode c deve ser encontrada uma di ferença significante devido apenas ao acaso.
realizada. mas com o cuidado de não afastar o investigador de Em outras palavras. quando optamos por um nfvel de signi ficância
sua questão pri nci pa I. de 5%. uccirarnos esse risco de resultado falso-positivo. Habi-
tunlmcntc. os pesquisadores estão bem fumüiurizados com essa
probabilidade. utilizada como um limite arbitrário para interpre-
Definição da POPulação de Estudo tação esuuística dos achados. Já o erro de tipo II ou beta, que
~ Os critérios de seleção de paciente definem a população para indica a probabilidade de encontrar um resultado falso-negati-
~ a qual as conclu ões do estudo poderão ser estendidas. Ca o vo. é pouco valorizado, embora seja comum,
~ os critérios dc inclusão sejam muito restritos. os resultados não Revisões de ensaios clínicos com resultados "negativos"
~ poderão ser generalizados. Adicionalmente. maior sclcrividade publicados entre as décadas de 1960 c 1990 revelam que a
00 pode dificultar o recrutamento de pacierues. comprometendo grande maioria apre. cmava um número insuficiente de pacientes
a exeqüibilidade do estudo. Por outro lado. critérios excessi- para observar diferenças moderadas ou mesmo grandes':". Na
vamente libcrnis podcm permitir a participação de pacientes tcntutiva de corrigir esse e outros problemas, o Journal (~r
fite
que, por carnctcrfsticas particulares, porém especialmente American Medica! Association (JAMA) udotou urna série de
relevantes. venham a causar um desequilfbrio entre os grupos. recomendações para análise de ensaios clínicos submetidos à
Deve-se. ainda. levar em conta O risco de incluir pacientes publicação nessa conceituada revista, que incluem II descri-
nos quais a comparação não eja eticamente justificável à luz ção detalhada de como O tamanho da amostra foi calculado'".
de conhecimentos já disponíveis. Em nosso meio, a reprodução dessa exigência nu avalia-
Nu etapa de selcção, uma fonte importante de erro pode ção dc projetes de pesquisa é Ireqücntcmcntc interpretada
surgir se a decisão de incluir o paciente for influenciada por como um precio i mo. Na verdade. além de facilitar a futu-
etapas que dcveri ..m ser ulteriores. como a randornização e o ra publicação do trabalho em revistas imemaclonais, o cálculo
tratamento. Sc o médico tiver alguma previsão do tipo de trata- criterio o do tamanho da amostra pode evitar vários inconve-
mento que um paciente específico irá reccbcr. poderá, ainda nientes prático» c éticos. Amostras insuficientes expõem os
que inconscientemente. ser mais ou menos liberal na aceitação pacientes a um risco injustificável. mcsmo que seja mínimo,
do caso. procurando beneficiar seu doente. Para evitar essc viés, já que nesses casos os resultados freqUcnt.cmente são incon-
deve-se garantir quc o fluxo de pacientes pelas etapas da pesquisa clusivos. Por outro lado, amostras excessivas expõem um número
126 • Tratado de (IInica Médica

desnecessário de indivíduos 110 risco. aumcnturn o custo da probabilidade ii intervenção em estudo. Nos ensaios clínicos.
pesquisa c prolongam o tempo de conclusão do trabalho. a técnica utilizada para a alocação dos pacientes nos grupos-
O cálculo do tamanho da amostra depende da definição, controle e de intervenção é a randomização".
pelo pesquisador, da probabilidade aceitável dos erros dos A característica fundamental da randomização é a imprevisi-
tipos I e II c do tamanho da diferença que se pretende de- bilidade. Por essa razão. é fundamental que o processo utilize
monstrar entre o grupos de estudo. Em pesquisa clínica. o métodos realmente aleatórios. Equivocadamente, alguns pes-
nível de significância geralmente utilizado é de 5%. Já a pro- quisadores acreditam que a alocação de pacientes por meio
babilidade de erro de tipo II é habitualmente fixada em 20%. de métodos sistemáticos seja equivalente à randomização. São
Por exemplo, no Projeto A, se soubéssemos. pela revisão da exemplos de ocorrência sistemáticas a data de nascimento. o
literatura. que a mortalidade com o esquema anrirnicrobiano número de registro hospitalar. a data de internação ou, ainda.
atual era de aproximadamente 30% e quiséssemos demons- i! distribuição alternada. a realidade. os métodos sistemáticos
trar. 1:0111 nível de significância de 5%, uma redução de apc- diferem da rundomiznção por diver as razões. A data de nasci-
n'l\ I % na taxa de mortal idade. graças ao efeito do novo mento, por exemplo, não é uma questão apenas de chance, já
tratamento. ncccvsitarfamos de mais de 25.000 pacientes em que pode ser escolhido dependendo do tipo de parto. Assim.
cada grupo para conseguir manter o erro de tipo II dentro do é possfvcl que os nascimentos se concentrem em alguns dias
limite de 20%. Caso se optasse por demonstrar uma diferença da semanaem populações com maior acessoà cesariana.Caracte-
de IOIit. o tamanho estimado da amostra cairia para 230 pu- rísticas como data de internação podem ser influenciadas por
cientes em cada grupo. ore-se que. mesmo na segunda alter- características sociocccnôrnicas, Adicionalmente, o emprego
nativa. trata-se de uma pesquisa que dilicilmente poderia ser de métodos sistemáticos impede a realização de estudos cegos,
conduzida em um único serviço, necessitando, para SlW como o previsto no Projeto A.
viabilização. da proposiçãode um estudo multicênuico. É tentador. Graças à imprevisibilidade. a randomizaçâo simples evita
parao pesquisador.optar pela dcmonsuação dediferenças maiores. diferenças clínicas e demográficas que poderiam ocorrer entre
de forma a limitar a estimativa do tamanho da amostra. a os grupos caso O médico ou o paciente pudesse escolher, in-
realidade. o ideal é que essa definição leve em consideração a fluenciar ou conhecer o tratamento que seria utilizado':", Se
menor diferença que tenha relevância clínica ou, então. algu- bem conduzida, a randomização simples faz com que cada
ma informação que justifique uma expectativa preliminar cm paciente tenha uma chance igual de receber cada um dos tra-
rclnção ao resultado do novo tratamento (ver. adiante. tópico tamentos. No caso de amostras com mais de 200 pacientes, ii
sobre "estudo-piloto"). teoria da probabilidade assegura que a randomização simples
O exerclcio real izado no úIt i 1110 parãgra 1'0 permite csclarc- é capaz de gerar grupo realmente semelhantes, ou seja. cons-
cuncntos adicionais sobre o significudo do erro de tipo II (beta). ruutdos por pacicrucs que não difiram de qualquer forma is-
São cornuns estudos que encontraram diferenças estatistica- temát icu 10. Em estudos com amostras menores, fi chance
mente significantes analisando proporções semelhantes às ex- probabilística não fornece garantia de que os grupos não difiram
postas. porém em populações muito menores que a calculada. cm relação a todas as suas características. conhecidas ou não.
o que não é surpreendente. A limitação da chance de falso- Nesses casos, torna-se importante veri ficar se essa semelhança
negativo (erro do tipo II) em até 20% significa que se optou por foi alcançada, pelo menos. no tocante a características que,
uma chance complementar de 80% de alcançar significância na avaliação dos pesquisadores. sejam capazes de influenciar
estatística nos resultados. dado que li diferença realmente exista os resultados. Isso é realizado por meio da análise compara-
entre o grupos. I 50 significa que, se a mortalidade real entre tiva entre os grupos.
pacientes submetidos aos dois tratamentos for igual à estimada. Uma alternativa que pode ser empregada nos estudos com
80% do estudos realizados comparando dois grupos de 230 pequenas amostras, para evitar a ocorrência de desequilíbrio
pacientes devem atingir o nível de significância estatística entre os grupos em relação a algumas caracterfsticas relevan-
escolhido. Habitualmente, essa proporção é referida como o tes. é realizar uma randornização estratificada 10. A forma mais
poder do teste (poder = I - bcru)". Se no exemplo <Interior comum de estratificação é a randomização em bloeos. No exemplo
fossem utilizados 100 pacientes cm cada grupo. o poder seria A. poderíamos utilizar a classificação de Ranson" para separar
de 50%, no caso da redução de 10% na mortalidade. ou seja. os pacientes em três csinnos distintos (A. B e C) com gravi-
se a diferença realmente existisse, haveria chances iguais de dade progressivamente maior da pancrearite, evitando que pa-
alcançar ou não siguificância estatística, como em um lança- cientes mais graves pudessem ficar concentrados em um do
mento de moeda para obtenção de "cara ou coroa". Essa pro- grupos, apesar da randornização. Nesse caso, por exemplo. ti
babilidade poderia parecer até razoável. se a pretensão do estratificação poderia ser realizada por meio de randornização
pesquisador fosse II de divulgar apenas os achados "pos itivos", em blocos no interior de cada estrato, utilizando blocos de
Entretanto. caso se pretenda que os resultados do estudo se- tamanho dois c uma razão de alocação de um para um3•IO• Isso
jam sempre valorizados. sejam eles "positivos" ou "negati- significa que, em cada par de pacientes de um mesmo estrato
vos". entende-sepor que essepoder fica muito aquémdo aceitável. (bloco de tamanho dois). a alocação seria feira de tal forma
que um indivíduo recebesse um tratamento em questão e o
outro paciente. o segundo tratamento (razão um para um).
Randomízação A forma de estratificação apresentada anteriormente in-
O Projeto A fornece um exemplo de um "ensaio clínico". Essa troduz mudanças importantes no processo de alocação dos
denominação corresponde ao lermo cm inglês clinical trial pacientes. Como os pare são constituídos à medida que os
e define um tipo específico de experimento?". Um ensaio pacientes são admitidos na UTI. quando o segundo paciente
clinico é um estudo prospcct ivo em seres hu manos compa- do estrato A é incluído. a alocação do primeiro do mesmo
rando o valor de urna intervenção cm um grupo de pacientes estrato já ocorreu. Assim, enquanto o primeiro paciente de
contra um grupo-controle. Para realizar a comparação. é desejável cada estrato (A. B ou C) é efetivarnente rundomizado, o se-
que esses dois grupos sejam semelhantes cm relação a todas gundo é automaticamente alocado no tratamento anumicrobiano
as suas característícas. com cxceção da intervenção a ser contrário, completando o par. Percebe-se que o pareamento.
inve .rigada. Isso permite que as diferenças de resultado en- ao mesmo tempo que evita um desequilíbrio de gravidade entre
contradas entre os grupos possam ser atribuídas com grande os grupos. abre a possibilidade de um viés de seleção, já que
Pesquisa (Jfnica • 127

torna conhecido o tratamento a ser empregado no próximo de números cqüiprovávcis. o acesso :l c~~a informação deve
paciente. O médico. prevendo o tratamento que o paciente iní ser rigorosamente vetado ao investigador principal, bem como
receber. pode influenciar um potencial participante sob seus aos respon ãvcis pela sclcção. recrutamento c alocação ele
cuidados cm relação lIO conscnrirncnto para inclusão na pes- pacientes. administração do tratamento. colem de dados e análise
quisa. Pura dificultar a previsão do tratamento, podem ser das amo tras. A alternativa é delegur a uma pessoa sem outros
utilizados blocos de iamanhn quatro 011 maiores. envolvimentos com a pesquisa. como uma secretária, II tarefa
No exemplo citado. 11 estnuificução limitou-se 11gravidade de "cegar" a ordem de distribuição cm envelopes sei lidos e
da doença pancrcãrica. Supondo-se que l-C resolvesse reulizar numerados scqüencialmerue. cujo conteúdo só será conheci-
o parcnmcnto si multânco de outras características demográficas, do no momento da adrninistraçâo da medicação. Ainda as-
corno sexo c idade, caso se deseja: se acrescentar apenas o sim. como se trata de estudo duplo cego. a revelação só pode
fntor "sexo", os três ntvci-, do furor "grnvidadc'' deveriam ser ocorrer para o farmacêutico responsável pelo preparo e envio
multiplicados pelos dois níveb do furor "sexo". resultando em das medicaçõe .. já que o conteúdo deve permanecer oculto
seisestratos distintos.nu seja, três estratos masculinos de gravidade para os demais envolvidos. até a conclusão de todas as etapas
A, B ou C somados a outros três e~trlltOl>femininos. SI.!udicio- do estudo. O de re peito a c e princípio introduz a possibili-
nãssemos também apenas dois níveis do faror "idade". o re- dade de viés em cada uma das etapas citadas.
sultado seriam 12 estratos distintos. Percebe-se que o número A delegação da tarefa de condução das fases de sclcção,
de estratos aumenta rapidamente 11medida que mais fatores alocação e tratamento clínico a indivíduos ou equipes distintos
são incluídos. Assim. a divi ão da amostra prevista cm múl- também pode ser uma forma de evitar o viés de seleção, ao
tiplas categorias pode fazer com quc alguns estrato: tenham dificultar que a participação em cada fase seja influenciada
representação extremamente escassa. impedindo a análise cs- por acesso a informações que deveriam ser confidenciais ou
tatística, Por essa razão. recomenda-se que. em pequenas amostras. ulteriores. Imagine-se que tenha sido realizada, por exemplo,
a estratificação seja limitada apena ao fatores mais relevan- uma randomização estratificada e que o responsável pela se-
tes, minimizando o número de estrato s. leção tenha conhecimento da alocação do próximo paciente.
Existem vários métodos para geração de seqüências aleatórias. É evidente que. nessa circunstância, a análise de elegibilida-
Os mais aceitos baseiam-se no emprego de tabelas de núrnc- de e :I decisão do paciente de participar da pesquisa, que de-
ros eqüiprováveis. Assim. é fundamental que o pesquisador de- veriam ser obrigatoriamente anteriores à randomização, poderiam
fina no projeto qual alternativa será utilizada. É intere san te ser distorcidas. Por essa razão, recomenda-se que a análise de
citar que. atualrnente. o JAMA exige que o ensaios clínicos elegibilidade e o recrutamento dos pacientes sejam conduzidos
submetidos a publicação detalhem o método de randornização por pessoas em envolvimento com o processo de randomização
empregado" c. desde 1991_o British Medical Joumal não publica ou com a realização dos procedimentos clínicos.
ensaios clínicos com randomização considerada imprópria".
Implementação da Pesquisa
fONTES DE VIÉS NA CONDUÇÃO DA PESQUISA Uma reunião inicial com todos os membros participantes da
pesquisa é de grande utilidade paro o seu bom desenvolvimen-
No tópico anterior, foi ressaltada a importância do plnncja-
to. Embora a visüo global da pesquisa só seja alcançada pelo(s)
mento da pesquisa. Apesar de .. cs cuidados. é possível que
pcsquisadortes) prlncipalü«). é de suma importância que todos
folhas do projeto original tornem-se aparentes apenas na prá-
os membros cnvol vidos estejam II par dos objciivos e dos méto-
tica. exigindo correções. Adicionalmente. a transição para a
dos a serem empregados na colora e na análise dos dados. No
fase de execução apre enra ri cos de que um bom planeja-
Projeto A descrito. por exemplo, é importante que o indivíduo
menro inicial seja subvertido de forma acidental ou intencio-
responsável pela análise dos pacientes na UTI conheça os ob-
nal. Entre os múltiplos falhos acidentais. podem-se citar erros
de medida e dosagem. 15 as falhas inrencionai podem ser con- jctivos gerais do projeto (embora. pela natureza da pesquisa.
sideradas um risco inerente da atividade humana que. na pes- ele(a) não possa saber qual grupo - controle ou droga X - estará
quisa clínica. é multiplicado em decorrência do número de sendo testado). No Projeto B. os pesquisadores encarregados
de aplicar os interrogatórios aos pacientes deverão estar cien-
personagens envolvidos.
te, da razão pela qU1lIesses questionários serão preenchidos.
A pesquisa clínica já é bastante complexa quando se ana-
Quanto mais esclarecidos sobre os objetivos e resultados do
lisam ape nas aspectos relativos aos pesquisadores e aos pa-
cientes. Além desses, entretanto. é quase empre obrigatório projeto. mais motivado estarão os profissionais participantes
e quanto mais motivados os profissionais envolvidos no pro-
que muitas outras pessoas participem do estudo. por meio do
jeto. melhor a qualidade dos dados obtidos. A conclusão do
cuidado aos pacientes. da coleta de dados. da realização das
anãllscs e de outras tarefas relacionadas direta ou indireta- trabalhe" será con truída com base ncs cs dados,
mente ~ pesquisa. Muitos profissionais são submetidos li uma
carga adicional de trabalho, frcqücntcmcnrc retribuída apenas padronização dos Procedlmenlos Clínicos
com uma menção impessoal de agradecimento nu publicação O início desse proces o é a confecção de urn "Manual de
dos resultados. É preciso que o pcsquisudor principal saiba Procedimento. ". Esse manual é lima versão estendida e mais
motivar todos 01> envolvidos. demonstrando a relevância da completa da seção "Material e Métodos" do projeto. Inclui
condução adequada do estudo. não s6 a descrição dos métodos a serem aplicados. mas.
tumbérn. detalhes mais e pccfficos. Em nosso Projeto A, o
manual traria. por exemplo. a descrição detalhada do mo-
Distribuição de Tareias mento em que seriam coleiados OS exames de controle (quantas
O pesquisador clínico não pode, habitualmente. assumir todas horas após a adrnis ão na UTl ?). a maneira correta de se
as tarefas envolvidas na condução da pesquisa. por várias razões diluir a droga X usada ne cs pacientes. o tempo de infu-
práticas e teóricas. No Projeto A. por exemplo. é necessário esta- são des e novo antibiótico. Esses detalhes práticos rara-
belecer urna seqüência aleatória de distribuição de pacientes mente são descrito na metodologia do projeto, mas são de
nos dois grupos de tratamento. Caso eja utilizada a opção enorme importância para que os dados coletados sejam
habitual de definição prévia da sequência por meio de tabela uniformes e comparáveis.
128 • Tratado de (/(nica Médica

o Manual. por si só. não é suficiente. A equipe deve estar Esses ajustes podem ocorrer nu logfstica e no irclnamento dos
segura IIU momento de aplicar os procedimentos clínicos. As- métodos. Voltando ao Projeto B. o pesquisador encarregado
imo um treinamento formal pode ser útil na padronização das dus entrevistas poderd perceber. durante o estudo-piloto. que o
condutas, Em nos o Projeto B. um treinamento será necessário tempo necessãrio paru se reallzar ti entrevista é muito longo. o
para que todos os pesquisadores encarregados das entrevistas que incomoda o idoso. tornando li colcra de dados menos efi-
as façam de maneira cfetiva e hornogênea. Se um entrevistador CEl7.. Assim. após essa análise inicial. esse problema poderá ser
fal. as perguntas de maneira diferente para grupos diferentes de corrigido. alterando-se o questionário ou II maneira de se rea-
pacientes. ou se não sabe como esclarecer as dúvidas dos en- lizar ti entrevista (dividindo-a em duas sessões, por exemplo).
trevistados. o estudo pode estar prejudicado. esse caso es- Após o término da análi e dos dados do estudo-piloto e
pcdfico. até sessões nas quais é feita a teatralização (Ivle-playiIlR) feitas as corrcçõcs ncce sãrias. está na hora de começar O trabalho
podem ser uma estratégia útil no treinamento dos entrevistadores. propriamente dito.
Exemplo mais crüicos da importância do treinamento dos
procedimentos clínicos ocorrem nos projetes em que são Recrutamento de Participantes
comparadas medidas Icitas por vários examinadores diferen-
O recrutamento de pacientes envolve aspectos éticos e práticos. ,
tcs. ê o caso. por exemplo. de medidas de pressão arterial, ava-
~ necessário garantir que a decisão de participar seja tomada
liação da composição corporal mediante medidas de dobras
pelos pacientes com total autonomia. Inicialmente, o projeto
cutâneas, etc. Nesses casos, o treinamento dos pe quisado-
deve ser explicado em detalhes C. apenas IlpÓS o esclarecimento
res encarregados das medidas é fundamental para que haja
das dúvidas. deve ser solicitada II assinatura dos termos de
padronização dos dados.
consenti mente livre e esclarecido. Se o estudo for conduzido em
um hospital público. é mais provável que" população tome-se
Estudo-piloto vulnerável a coações. se acreditar que a negativa de participar
da pe. quisa possa prejudicar seu tratamento. Assim, é necessário
Mesmo projetes cuidadosamente planejado podem aprescnmr
ressaltar que li eventual recusa não tem qualquer implicação
falhas quando colocados em prática. Asvirn. muita. Ve7C~.é no acesso ao tratamento. A veracidade dessa afirmação pode
útil a realização de um estudo-piloto. utilizando um número ser demonstrada no Projeto A. por exemplo. se os pacientes
menor de casos. em que falhas possam ser identi ficadas e corrigidas ou familiares puderem manife rar ua decisão apenas após a
mais facilmente. internação na UTL
O objetivo do estudo-piloto é guiar O desenvolvimento do Além de respeitar um direito básico dos sujeitos da pesquisa.
protocolo, de maneira a produzir melhores respostas a um menor o recrutamento de pacientes adequadamente esclarecidos c
custo de tempo e dinheiro. Nesse piloto. devem ser verificada . motivados favorece li aderência dos participantes, o que, em
por exemplo. dificuldades no recrutamento dos pacientes ou e tudos com previ ão de observação a longo prazo, pode ser
na aplicação das metodologias escolhidas para o e tudo. Além um faror importante para evitar a perda de dados.
disso. esse estudo preliminar oferecerá informações valiosas
para se determinar o número de participantes de cada grupo
do estudo. de maneira que o resultado possa ser estaristica-
Coleta de Dados
mente válido. Com relação aos projetes apresentados no início A execução da pesquisa gera uma série de informações clínicas
do capüulo. no Projeto A. um estudo-piloto seria útil para se e laboratorial que devem ser armazenadas à medida que ocor-
deterrni nar (I número de pacientes internados com pancrcatite rem. Falhas na cólera de dado introduzem limitações graves para
nessa UTI. bem como sua distribuição: idade. sexo. raça. Por ulterior análise e interpretação dos resultados. No Projeto A. por
exemplo. nCS~lI UTI. foram lnternudos somente dois pacien- exemplo. a utilização do adjcrivo "prospectivo" impõe que todos
tes pus~ivcis de serem arrolados no estudo no período de dois o participantes devam ser diretarnente observado a partir de
meses. duração do piloto. Com esse mimem reduzido de pacien- um pomo determinado no tempo. obedecendo li uma si temática
tes (aproximadamente 12 por ano). o protocolo seria inviável, predefinida. Isso não significa que todo devam iniciar sua par-
sendo necessário agregar outras unidades para participar da ticipação na mesma data, o que raramente acontece. mas a partir
pcsquiva. Por outro lado. lIC 20 pacientes foram incluídos no de um evento bem definido, como um tratamemo cirúrgico ou
estudo-piloto em doi meses. uma análise dos dados prelimi- medicamentoso. Casó ocorra falha na colem de dados clínico ,
nures obtidos poderá facilitar a determinação mais precisa do a ulilil.llçaodedados retrospectivos. obtidos de prontuários e outras
número final de participantes. fontes de informação. descaracteriza o ensaio clínico. já que :I
Outra contribuição importante do estudo-piloto é a avaliação observação do paciente deixa de obedecer ao planejamento,
da adequação das metodologias a serem utilizadas. Muitas vezes A seguir. serão aprescntudos alguns cuidados para evitar
os métodos planejados. quando colocados em prática, não falhas na coleta de dados clínicos e laboratoriai . A entrada
produzem os resultados esperados. Voltando aos projeros- dos dados em formulários deve ser muito bem planejada. para
exemplos: no Projeto B. O questionário obre a qualidade de que II recuperação dessas informações pelos programas que serão
vida dos idosos com artrite reumatóide pode ser muito com- usados para fazer a anãlise esunlsuca ocorra sem problemas.
plexo para li população que vai re pendê-lo. As pergunta podem Deve-se levar em conta que. muitas vezes, esses dados serão
ser confusas, sujeitas à dupla interpretação. com linguagem ina- dighados por pessoas não necessariamente ligadas diretamente
dequada. Embora questionários desse tipo sejam sempre vali- à pesquisa, como secretária ou escriturárias. Assim. os formu-
dados em trabalhos ameriores para determinada língua e país, lários de entrada dos dados devem ser simples. de maneira a
esse tipo de problema pode acontecer ao se aplicar o quesrio- se evitar erros em sua transposição para o computador.
nário II populações específicas (regiões geográficas. faixa etária). Os formulários devem ser auto-exptlcarlvos. claramente for-
O(s) pe quisador(es) principal(is) deverá(ão). então. solucio- matados e facilmente lcgfveis. evitando rcbuscarnentos este-
nar o problema. adaptando ou utilizando outro questíonãrio. ricos que não contribuam para o trubalho e possam confundir
Nesse caso. o estudo-piloto identificou o problema ante que o responsável pela digitação dos dados. Não esquecer também
fossem gastos recursos e tempo; é exaiamerue essa a ua função. a identificação. em cada pãgina. dos dados que serão encaminhados
O estudo-piloto também serve para que a equipe encarregada para a digitação. Erros na identificação dos formulários po-
da pesqui a faça ajustes finos na utilização da metodologias. dem ser curnstrõficos para o projeto.
Pesquisa (/lnica • 129

Erros nessa etapa do projcto são mais comuns quando o quais o descnvolvimcruo do projeto é analisado e dúvidas, pro-
dados são colctadox em campo e entregue" para digitação no blernas e novas e~tratégia, ~ão discutidos. Para que essas reu-
computador. É o C:I\O do Projeto O. Formulários com a~ en- niõcs ejam mail, cferivas, é importante que todos purticipem
trevistas renli/ndav com 0\ ido,o, com artrite reumatóide se- e conheçam antecipadamente a pauta a l-er discutida. Nessas
rão entregues i\ secretária para a digitação. Se os formulário reuniões, O~ panicipamcs também podem receber o retorno do
não forem devidamente clarov, permitirão que o cntrcv istador seu trabalho: 0\ dados tabulados. como esses dados se com-
faça muita' nncmçõcv mnnuvcrirav na página. ou. 'e não vie- param ao, de outros cvtudov, sua congruência com O restante
rem devidamente identificado'>. ° digirador podem cometer erros do projeto. Além di "o. cwc« dados parciais podem indicar a
no passar esses dndo~ para o computador. dificultando o diag- pre. ença de erro .. na colem de dado .. c essas reuniões da equipe
nóstico e sua correção. ão um bom momento para di~cutir II fonte desses erros.
O auxllio de espcciali-tuv na área de informãtica pode facilitar Por último. deve ser lembrado O papel do investigador principal.
li criação dc formulãriov c rminav que diminuam :1 probabilidade lão se pode exigir que ele cheque todos os resultados de maneira
de erros. O uso de equipamento. digitai para a cotem de dados sistcmãrica. porém isso pode não ser necessário se ele souber
evitaria erros de digitaçâo, porém esses equipamentos ainda delegar responsabilidades aos seus colaboradores. É preciso
são muito caros e de difícil obtenção. que o investigador principal exerça. sobre o grupo, autoridade
O passo importante para !.c prcvrar atenção é a rotulagem moral c intelectual. deixando claro aos demais membros da
inadequada da amostras. Pode parecer primário. mas e se erro equipe que eles são apoiados (e vigiados). Essa autoridade
é bastante comum. A falta de ídcruificação inutiliza uma grande pode er sentida favoravelmente por todo O grupo, o que é um
quantidade de dados coletados em pesquisas clínicas. O pior fator de motivação para realizar um trabalho melhor.
ocorre quando uma amo tra de anguc ou um eletrocardio-
grama é identificado com o nome de outro paciente. o que
toma impossível a correção ou a de coberta do erro ulterior.
Análise dos Dados
Algumas regras podem ser adoradas para se evitar essa falha: A análise dos dados coleiados é um passo tão importante quanto
o trabalho de campo. É ne e momento que os dados vão tomar
• Etiquetas impre sas impedem erros de leitura que podem forma. transformar-se em gráficos e tabelas, de maneira que
ocorrer em etiquetas escritas à mão. sua mensagem seja acessível e receba uma forma matemáti-
• Identificar os tubos antes de se colocar neles o material ca. possibilitando um tratamento estatístico. E. novamente, é ne-
colerado. O mesmo vale quando é transferido material de cessário que o pc qui ador esteja muito atento para evitar que
um recipiente para outro (por exemplo. soro apõ erros comprometam eu trabalho nes. a fase final.
ccntrifugaçâo do sangue total). f\ análi e estatística propriamente dita. crã abordada em
• Sempre conferir o procedimento. mesmo lendo em \lOZ outro capitulo deste Ih ro. Vale lembrar que é sempre interes-
alta a identificação do, tubo, onde é feita a cólera. sante que o pesquisador faça tabulações periódicas dos seus
• É imercvsante que a, arnovtra-, vejam colhida, em dupli- dado. para poder. em tempo hábil, corrigir erros que prova-
cara, uma nmostra CO' iada ao ob-crvador e outra mantida vclmcntc aconteçam na sua colcra de dados.
cm condições de ser analisada o povteriori, se ncccssãrio.

Um aspecto particular cm relação;1 rotulagem da, amovrras


MO.ITOBIÇAO DOS BESUlTlDOS
ocorre nu condução de e,tudo' duplo, cegos.já que, ne~!\cmétodo. Um aspecto extremamente imponamc e muitas vezes ncglicen-
é necessário evitar que o obvervudor povsu identificar a origem ciado dos estudos clínicos é o controle du quulldadc e da
do murerinl. A~~irn. é Ih!ce,,:írio adorar um procedimento de conslstênci« dos dados obtidos. É um trubalho repetitivo, sem
"ccgagern" da!>nmowrn-; ante, que ela, cheguem ao pesquisa- nenhum ghunour. relegado ao porão da pesquisa em curso,
dor parti ti nndlisc. Es,e pode ser um novo fator de erro. mas. caso não abordado scriumcmc, pode acarretar o frucasso
As amostras VlIOchegar ao observador contendo apenas de todo o esforço dn equipe",
urna identificação fictfcia (mimem. letra. código. iniciais). Serão abordados alguns do erros muis comuns detectados
O pesquisador encarregado da colem deverá ser o responsável na pesquisa clínica. sugerindo-se algumas soluções. Os Pro-
pela idcmificação. anotando cm um livro (o qual ~Ó serú reve- jetos A e B serão sempre tomados como exemplos.
~ lado ao final do projeto) o paciente de onde c originou a amostra.
~ com todos os dadov relevante, e a identificação que foi dada
~ 11 amostra.
Dados Perdidos
~ Uma cstrniégiu de controle de qualidade do processo é a A perda de dado)! pode ser desastrosa se aferar uma pareci"
introdução de umovtrav repetida, com identificações fictícias. grande da'> medidas efciuada ou, mesmo sendo proporcio-
O pesquisador rCl>polh~\cl pelo proccwo de "ccgagcm" devem nalmente pequena, trouxer a possibilidade de introduzir um
mandar ao observador uma arno-ara repetida de um paciente. viés importante na pesquisa, No Projeto A. suponha-se que.
porém com identificac;õc, diferente,. O c'perado é que a~ apõ-, !>ci\ Ille,e~. 25 paciente:. forulll tratudos com o untibió-
amOMra<;produ/am () me,mo re'>ultado. Ca<;oe,<;e, re~ultado!. tico X e " mortalidade nClo,e grupo foi de 24% (6 pncientes),
sejam muito diferente,. algo de errado e<;tad ocorrendo no comparado com a mortalidnde de 12% (3 pacientes) no outro
proccs o de an:1li,c de amo\tra,. Outra c,tratégia de controle grupo. O problemn é que dois pncientes do grupo-controle ti-
de qual idade é mandar :10 ob,ervador um 1'001 de :lmOl>tral>. veram :,eu:. d:ldo~ perdido, e não forurn inclufdos no estudo.
com idcnti lic:lç.io fictíci:l. I ()\amente. o re<.ultudo deverá c!>wr Coincidentemente. e~~e~ dois pacientes morreram. A morta-
dentro de UIllU fuixa aceit:Í\el de erro. lidade no grupo-controle pu!>~arian !ocrde 20% cm vez de 12%,
Esses procedimento~ ~implel> introdu/cm. no processo de o que mudaria completamente n~ conclusões do estudo. Ncs-
coleta e análise dOl>dadoll. elemelllo, de controle de qualidade ~e caso. a perda de somente 4% dos dados (2 pacientes em
que tornam Ol> dado~ mail> fidedigno~. 50) foi catastrófica par:! o elotudo C0l110 um todo.
Estnttl!gias para prevenção de perda~ de dados clfnicos devem A perda de dado muita:. vezes é inevitável. principalmente
ser implementadas durante toda a duração do estudo. Por isso. em estudos com grande número de pacientes, com seguimen-
é sempre interessante a realização de reuniõe regulares. nas tos muito longos (por exemplo. seguimento élmbulatorial de
130 • Tratado de Clinica Médica

paciente, por vãrios anos) ou em situnçõcv nas quais a coleta idosos com artrite reumatóide. inventa vãrias entrevistas com
de dado é leita ..ob muita pressão. Um exemplo desse último o objetivo de aumentar sua própria renda. em detrimento da
caso pode ser encontrado nos protocolos testados em atendi- honestidade da pesquisa,
mento Ií parada cardiorrcvpirarõria. Muitas vezes. a dosa- Esse eventos sâo dcvasrrosos para CI projeto e II melhor
gem da medicação adrninivtradn 0:10 era anotada corretamcruc. maneira de C\ lIá-ln, é evtar sempre atento 11cólera de dados:
em virtude dn prcvvão do momento c da urgência em prover
o paciente com o, cuidadov ncccvvãrio«, e os dados exutox do • Escolher bem o, cotaboradores envolvidos na cólera c
na análi ...c do ...dado ..
protocolo de atendimento ao pnciemc acahavarn sendo perdi-
do,> lnfetizmcruc. não c'(I\te uma rcgrn infalível para se evi- • Desenvolver uma relação e ...reira com ewes colabora-
dorev, envolvendo ..o' no projeto. f:lIcndo-o~ entirem-se
tar a perda dc dado-, A UOlCO maneira de lidar com o assunto
também rc-ponvãvc« pela pc-quiva.
é rever o projeto c tornar toda., :1\ precauções parti evitar ao
máximo que e"e problema ocorra. Caso veja identiticada uma • Discutir com a equipe o av-unto "ética em pesqui a". Di -
CU~~ÕC1> sobre ti tema podem. por exemplo. Iazer pane das
fonte ,i,temállca de perda de dudov, medidas adequadas de-
reuniões ordintlria~ da equipe.
vent ver tlim ada, para chrmntl-Ia.
Mai-, imponunte é o pesquisador estar sempre atento 11pos-
Dados Imprecisos sibilidude de fruude e nunca ...e acreditar imune li esse problema.
Quando houver düvidav. dcvcrã exigir o exame da fonte pri-
Um problema mm' complexo pura se identificar são os dados mária dos dado ....de maneira a rerirur qualquer u peita sobre
imprecisos. J\ colete de dadov, muitas vezes. está a cargo de sua pesqu isn.
uma equipe de profiwronu«. com diferentes graus de habili-
dade para a tarefa. .,,,m. é esperada uma diferença na qua- Mudanças no Protocolo
lidade do-, dado, colcradov por diferentes pesquisadores. porém
esse de ...vio entre diferente ...avaliadores não pode ser ignificante Mudança, no protocolo inicial são sempre dolorosas para o
a ponto de comprometer a qualidade total dos dado. Medidas projeto. mas, muitas vezes. são inevitáveis. Podem ocorrer
mudança, mínirnas na metodologia. na maneira de coletar os
equivocadas realizadas por um único avaliador podem com-
dados. que vão melhorar o projeto inicial. Mudanças mais
prometer todo o trabalho de colem de dados de uma pc quisa.
profunda v, porém ... ão bem mail. complicadas e muitas vezes
cavo o pcsquixador principal não identifique o erro. A dificul-
obrigam que () projeto ,eja totalmente reformulado.
dade maior vem cio lato de que. se o erro ocorre sistematicamente
c c coerente pi'r 1('•• 1 'lia Identificação torna-se muito difícil. 'o Projeto B. por exemplo. uma da pergunta feitas
an1>idc)\c) com artrite reumatóide era sobre a dificuldade
um cvcmplo típlCII ~ II d.1 medida das dobras cutâneas para a
em whir c-eadas, Apõs sei .. meses de coleta de dados e
a\-ali:lI;ão amropometrieu Embora preciso. esse método está
60 crurcv i,ta~. obscrv ou-se que essa pergunta não discri-
MIJCIIOa uma grande vnnabilidade. caso o avaliador não cs-
rejn muito bem tremado. Erro, sistemáticos na medida da, minava idol>ll' que convegulam subir doi degraus daque-
dobrus cutünca-, de um único avaliador. não idcnrificndos a le' que podiam subir. vem es forço. doi andares. A maneira
de corrigIr esse erro sena:
tempo. podem im alld.lr UIll.1grande quantidade dc dados obtidos
de forma correta • Rcluzcr todas a, cntrcv istas feitas. com um alto custo
Outro cvcmplo de Imprecisão dos dados ocorre quando a de tempo e dinheiro.
coleta é fC:lladiferentemente entre os grupos Ii:~ladl)s. No Projeto • A partir daquele momento do projeto. adicionar uma
B. o, pc,qul\.ldurc' que cmrevistarn os pacientes sobre ti sua pergunta quantitativa a esse item do questionário e ta-
quahdade de \ Ida vabcm quai deles têm doença reumatóide bular esses pacientes separudumente,
c podem influcncrur a re ...po ta desse paciernes uo questionã-
rio. Por exemplo. podem dar mai ...ênfuse à~ perguntas sobre Acredita-se que os pesquisadores responsáveis pelo Projeto
disabilidadcs IIltllora~ ao aplicar o que~tionúrio a esses I>a- B optaram pela segunda opção. mas nem sempre é Iilo fácil
ciel1le~ do que ao aplicá-lo ao grupo-conlrole. realiLar essas mudanças.
A melhor maneira de evitar esses erro:. l>istemáticos é O Por exemplo. no exemplo A. observou-se que a droga X
treinamcnto e a vigilância constanle. Os pesquisadores en- causova elevação de tron~al1linlll>e!., porém essa não era uma
\'olvido~ na coleta de dado~ devcm. unte,> do início da pes- variável medida de de o inkio. A opção foi reiniciar um novo
qui~a ou durante o estudo-piloto. ,cr muito bem treinados e grupo. no qual foram medidas as en,dmas hepáticas desse
ensaiado,. Além di "0_ de\em ~er ~ubmetido~ a constante vi- paciente. Houve a necel>~idade de se aumentar o tempo da
pel>quisa_ a um cu~to alto.
gilância do pe~qui ..ador principal ou outro pc qui:.adores a
I ão existem regra .. para se optar pela mudança do proto-
quem c~'a tarcfa de \ igilâncla for dele~ada.
colo. porém há nece,>. idade ,empre de I>ecomunicar a todos
Dados fraudulentos o., envo" ido no projeto. inclushe ru. agências financiadoras
e ru. comi!.l>õc de ética da inMilUição.
É preci,u que o pe ...qui ...ador rc,pon~~vel pelll pesquisa clínica
tenha em mente que ninguém e't~ ICItalmellte imune a receber C•• SIIEUçIEI filAIS
dado, fraudulenlO~ , ti Projc:w A. por exemplo. os exames
laborJltll'ltli, de um paciente ndmitido 110 estudo n/lo fornm A execução do pe quisa clínica. como qualquer outra atividade
coletadn, pofljue o rc ....dentc encarregado do Cll~() e~queceu humana. depende do de!>envol\llllento de habilidade adqui-
de pedi-lu,. Com medo da rcpreen~ãll que vai receber. o re- ridas teoricamente. ma' aperfeiçoada .. llpena' na prática. A imo
!>idente rc,clhc lIl\cntar (h rc'ultado~ de~,e' exames e anexa o real adeMramento pora Q clllboraçno de projetos é adquirido
e~...e ...dado ...fraudulento, no pronlU:trio do paciente. Embora apenlls COm a vivência acumulada nu eonouçl1o dtls pesqui as.
não tcnha ,ido um erro ....'tem:tticoe não tenhu havido a intenção Entretanto. puro que elllle de:.envolvilllento eja alcançado, são
do re!>idente em fraudur ti protocolo. o dado usado nu pesquisa necel>~~rial> lima vi,ão crrtica do estudo. ti identificação de
foi fraudulento. falhas e a incorporução de oluçôel>. Tonto quanto a bagagem
m exemplo mai, pnl\'!\vel pode acontecer no Projeto B. de conhccimento. o pendor para O desempenho de sas ativi-
Uma pesqui!.adora. remunerada por entrevista feita com os dades curucteril.u o verdudeiro pClIqui:.ador.
Pesquisa (IIníca • 131

REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS beu o nome de Código de , urcmberg. lcmbrauça alm!. dos


I II\RIIOI'ltK:MIIII R.J \no.....,~~.:mr....fr.aJJ";r\"m'mtnJ..lk.n"nr\klo.·o.r crime, que vc comereram (frcqücutcmcnrc vob o dislurcc de
tu",1 ~uldd,n(, 11111.\ 111.r '\.I.I16.!tm PC''Iui':1 cientifica) no. campos de conccmrução lIa/i~ta'. Mas
1 MAITIII·WS.J ,,~ \lnl·" D G.('\\11'11111 \I) . ROY\TO\.I' AnJI>", não é apena-, cm situações-limite. como a que se citou. que
or ,m.,IIIICJ'UIClllcnl' rn nk'J,,,~1r<'<Jr.h flIf) \ IUO. r 110 115. IIMI
1 IRI·IM,,:-:.)". rn \I \II Ro;.T c . S\lITII JR. II. IWHIII·K.K K lh.:
obverv amo-, infrações él icas na pesquisa 0.:111 seres humanos -
IlIIlklflOI>l:C
"rh(IJ.Ih( I)rc IIcm .... JnJ-omrk '11r lnIh...k"~1I iu.. 1""CII"..I.li.." a começar pelo» experimentos que, crnboru lião configurem
or lhe1.,,,,klOII/C""lOlrullrd In,1;'Uf\'C) elf 11 -nc~JII\CU 1I1.,h N. 1,,~I J .IIr". ufruntas contra a vida. a dignidade c a integridade das pessoas,
«t». I'. 11'10 1)'1I. 11J7M. niill uprcscuuun Iundumentuçâo cicm ífica que os justifique,
4. ~IOIII:R. D.:DULUlRG.C.!> . W"'LL~.G. A. SIJl"I"·~I,,m\cr.,."111'''' 'ii e, :md vendo, no nunimo, fl'lleis e motivados com trcqüência t50 somente
their Icpon,o~,n rJnJ"In"rd comrolled Im"- J.\.II.\. v, ~71. 1'.111.11.1.IWI.
5. IlI.GG.C.: CIIO. \1. Er\ST\\,()OD. 5.: 1I0RTON.R : ~1()1I1,lt1).: OI.KI~.I: pela buvca de nomricdadc dos pcsquisadorcv, O princlpi« de
!'maN. K: I(lN~IE.D. SCHl LZ. 1\. F.: SI~IEl. D.: 5TROl:I'.D.1·.llIIrrÓ1 "'~ tlltlO/lIIIII;II • embora tenha sido proposto conjuntamente com
IhrqUJlil).,rIrJ'llf1mg of rJnJ...mi/..-dronlml"'''In~I,.1111." ('O"SORT'1.,I..",COl .,\ da beneficência. nâo maleficência e justiça. por Beauchump
1\111.\ 171,. r (>17·619.1'1%
6 I\'I'R~\ C.II ,\ ""GI". " . m:'l."'A~AROS.-\. P. 11.: GI.,\SS.1(. M : Gl.lnlA x, e Children no\ ~,I:ldos Unidos, muito mais para fins pragmá-
I': LA\'TI. J c .MI.)I.R.II s . \I lnI.J. ~I.:\\'I~I{F.R.~1.A.: vouxc, R_ K. tico, (protcção do profissional de saúde e do u uãrio de ua
A",(tlum ,\/rJtc ,,/ .\\hJt ItIII,m \ttUrual ojSI!-/C-: (I x"i", lor author« ,mJ cduor». 9. ateuçõcv. CIII processos judiciais por "mulprnctlce=Y, tem um
rJ 1'hllaJdrhlJ1.II'I"O~III1 \I ,Iham,and \\ílkio<.199M.
1. L~C()SlI.(iI)". (' (' TII,,"(" merodolégico« e ~,llli'lic()\ ~III cn.'a,o, c1inoro<
conteúdo relevante de hurnani mo. consolidando o respeito, j;í
cunlruIJd,,, ,~"",,,nIlJd'h,1"1 11'11>. CII"lilll .. v, n. p, I.W·I~!. 19')9. plantado por lmrnanucl Kant. à singularidade da pessoa.
8. FRlhl)~I,\K.1~I: 11IKIlI,I(Ci. C. D.: Ob\II:'·S.I>.I.. rlll"llIIlIfllWll ofCllmcul
'MII/.I. .l" cd, NC\I Y",~;SI',,,,~cr.Vcrlag. I<l'lS.
9. 1\I:r."AN.1). (i.: 111\NO. J ~1. T'C.IIIIICIII :.11.,<::11;""iII controllcd 1';31,:.. h\ ASPECTOS HISTÓRICOS
IOlIIh'II"'c/ /1.11/. \ "~. f' 11m. 11)1)1). •
Sem a pretensão dc esgotar a discussão acerca dos aspectos his-
10.SCIfULZ.1\. r:GRIMI·$.I) \ GC""'ali"II"r ull"":",,,,, \C~ucnc(,rn r,lf1&;'mi-.N
trinlv d,.ln,c.ll<~th.",.., '''''''1. \ '59." 515·~19. 21101 rõrico« relativa :1 ética cm pe quisa clínica, faz-se necessário
II. RANSO~. J II. KIII\I\I).I\ \1; RO~E .. 1l r..ux I\.S O. F"G.I\. PE\CER. rcs aliar alguns dos marcos da trajctória da humanidade nesse
F.C. Pro~n"'II("ro' JnJ lho:mie "r uper:uÍ\cI1IJI\J~c" .....
nl 'o ....ute I'3no.-rnli,i, campo. Para Diego Gracia'. a história da investigação clínica
5u"!. Glnrwl. ()I>>lrr. \ I W. r. 6'I.~1. 11)1~. di, ide-ve cm Irê\ Iases. cada qual correspondendo a uma dife-
11.HUUEY. S li..Cl \I\II\G!>. S. R. l"'rlcmcol,n~tho:'lu.!} rrcIN,nF. qu>lil}
COI1lrol:lndrfllll"~""",..,,, ln lH,i~nm~ C/mil'" R()f"" h. ~. <\) I'h,LlJ.:lrhu rente caracterfstic« dll~ a-pectos éticos que gozavam de relevância
Url'ÍIIC'Ou. \\ ,Il,o' .1JIJ \I ,11o
..m'. ~OO I. na ocaviâo. i\ primeira fa. e inicia-se na mais remota antigüidade
ou. ao menos. na!>origens da medicina ocidental e segue até o
início do ,éculo pa~\ado (1900): a ~egunda cSlende-se dessa
dala :tlé 19-17 e a Icrccira pm~scgue alé ti 111l1Hlidade.
CAPiTULO 16 O primeiro po.:rfllducorresponde ao que compreende a inves-
tigação cHnica como fonuila. casual 011m:idclllal. scndo eli-
camenle accit:ívcl quandu aClllllecia CIII Illcio a atll~ d(nicl)~
que tinham como principal objelivCl 11 diagmhlico (lU o traia-

Bioética menlo dos pacientes e não o acúmulo na produção do conheci-


IllcnlO dcntílico. A ill\·c!.tigação !.em car:Íler clínico somente
poderia ~er fcit:t em :tnimais. cadán:res e conden:tdo~ 1'1 morte.
que j:l Cr:lm con,idcmdo . em certa medida. cadávcres. Isso
Marco Segre não qucr di/cr que o médico hipocr:ilico não expcrimentava:
Elma Lourdes Campos Pavone Zoboli ao conlrário. ti falia cm cada ato clínico :lOlc:.lar novos produtos
rannacnlcígico, e no\·:t~ técniC:I~ cinírgicas. uli liulIldo. portanto,
~elll>paciente, cOlllinu:tmelltc como sujcilOl> de pe~quisa. Porém.
INTRODUÇÃO exp<.:rimenla\'a com o objetivo prim~ril) do.:eSlllheleccr um
Sempre insistilllo~ 1:111 qUI: a índole e a c!>~':n<.:iadu 'cr humanu diagmhlico ou IratardclCrminada cundiçi1ll. 011seja. Mia inlel1l;ão
cSlão al1les do.:IOda codificação. era dirctamcnte diagn6~lica ou lerapClllictl e apenas indireta-
A~,illl. II rcspcilo e a comp:tix:'io pdo no"n ,ell1clhanle c!>lão menle c\pcrimental. i\ élica cm pesquislI. ncsse período. cu-
cm nó~.conul c~tã(). larnbém. o (xlio e a invcja. Seja qu:tl for no,~a ractcri/a\'a-~c pela bcneficência ao paciente e se regia pelo
crell,a (e cllllllra). ;lIribuall1o, e),:,o.:,!>':lIIill1cnlU' a D<.:u, (uu ao princípio do duplo cfcilo ou do volunlário indircto.
dinlx) 1111. \illlplc,mcnIC. :1 nó, me~mo, - ele, <.:\i'l<.:m. Ne ,:t fa\e. dUr:lntc um breve período da medicinll alcxandrina.
O rc'pcilO c:a cumpai\:'io por outr:l pc'\na a<hém. I:Irnocm. lJuando !>.:p.:rmitiu a experimentaçãO dircta (vivissccção) com
de UIII pra~mali,m() IIlilitário. no ":llIillo quc li que \ ulncra l)Odc 'cre, humanu,. fOr:lm est:tbelecidos crilérius ético!' que devc-
~er vulner:ldn. II <llIe'cria dC'lnllho p:lra IOdo !!rup~1 hllmano- riam \er nh,en·ados. Assim. os expcrinlcnlO~ apen:l' pode-
fUlOc,se que ab\olut:lI11eIlIC não deprccia () ~cu \entido. riam \er rcali/ados cm criminosos condenadol> c a invcstigação
i\s~illl M! fui cun,truindo. pelo' éculos. a ética de ClflOS. de\ cria \cr c~~cncial para o progresso cient(tieo. :llélll dc se
COlllpnrlamenlU em !!rcgo. qlle foi a\~ull1indll CllntllaçÜe~ difc- palitar. IIU princípio utilitarista, queo benefíciu potencial a muitos
rentes. cmtempo\ c locali/tlçiics geográfica, di\'ersa~. Fal:lIlIlls. jU~lilicaria ti dano II uns poucos. Essc lipo de experimento sus-
nestc capílUlo. tia fundamcntação étic:t :ttual. cm quc ti rcspcilO. dl<lu !l0lcmica c dividiu II cOlllunidade ciclllífica da época na
a cOll1prccllsfiu e a compaixão peln outro - mOl'lllCnle nu quc di~cu"fin accrca dos limites da cxperimenwç:'io com seres hu-
dig:1 rc'p<.:ilO a 'lI:t \'ida e dignidade - são rllndamo.:nl;li~. ntan",. COI1lum grupo defendcndo que todo ato com seres hu-
É :w,im que illlrodll/imos este discurso. o da "élica em mano' de\ cria ~cr. cm ~i mC~II1O.cl ínico e \omente por :Icidenle
pcsquha". <Iuando. da, no~!.a~ :tçôes ou tlmi!.sÕcs. pOl>sal11re- cxperimental. e outro alcgando que. ell1 itu:tçõe~ excepeio-
ullar dalHl\ para tcrceiro,. nai~ ou cxtraordinárias. como no ca~o do, condenados 1'1 morte.
Silo n{llório\ e numcro,m os exemplos de situações cm que 'eri:t po"í\ cl la como objeli\"o primário a experimcntação.
fi \'ida humana fui !!ravclllente vulnerada ou extinta a pretexto De,~a forma. propunha-se como direlril élica n:l cxperimen-
de se desvcndarcm II(lV()~caminhos para a ci~ncia (cuja evo- tação:t proporcional idade cntre o dano produ lido auma pessoa
luçuo virin hcneficiar a hlllll:lnidatlc). Nfin é por acaso que a e o beneficio gcrado. não obrigatoriamentc ao próprio sujcito,
pioneira codificaçfio élica pós-Segunda Guerra Mundial rece- ma~ ft ~ocicdade.
..
132 • Tratado de Clínica Médica

Durante o século XIX. o grande número de experimentos meruo sela o fim da te e de que a auto-regulação da comunidade
que se realizava trouxe à lona o conflito entre o desejo de científica seria suficiente para evitar os abusos nu experimen-
investigar dos profissionais e o re peito ii vontade do puciente. ração clínica. deixando patente a necessidadede se explicitarem
Ficou famoso o episódio ocorrido por volta de 1820, quando princfpios e direrrizes de conduta e de tição cm regulamentações.
o médico militar William Beaumont estudou, durante cerca Esse é o ponto ou marco inicial dos princlpios e códigos que
de três anos, a Iiviologin g~'-Irica. utilizando-se de um soldado assegurarn. atualmeme, os direitos dos sujei lOSde pesquiso.
que tinha um ferimento abdominal. Dando-lhe vários upos de lnvrala-se. então, o terceiro perfodo da trajctõna histórica
alimentos. p6de observar u' diferenças que ocorriam na Iun- da ética em pes qui a envolvendo seres humanos, marcado pela
ç50 digestiva e nu secreção gástrica. Em 1833. escreveu o livro ética da respon abilidade e caracterizado pela centralidade dos
Experimeuts and observations 011 the gostric juice and the documentos internacionais e locais que estabelecem diretivas
fJltisi(//ogy ti! digestion, que é lido como um dos marcos da éticas com vistas à proieção do sujeito de pesquisa.
hiSlória da érica do cnvnio clínico. Nc~..a obra. o bcneffcio Em junho de 1964. II 18' Assembléia da Associação Médica
direto ao sujeito persistiu como o critério ético básico: entre- Mundial promulgou a Declaração de Helsinque, contendo
tanto. fui introduzida a noção do consentimento volumârio. recomendações para a condução de experimentos usando seres
Beaumont afirmava que. para experimentar sobre os seres humano. Essedocumento foi revi ado em 1975 (Tóquio, Japão). I
humanos. era nece sãrio o con entimento voluntãrio dos su- 1983 (Veneza. Itália). 1989 (Hong Kong), 1996(Sornerset Oeste. ;
jeitos. porém não considerava a po sibilidade de sua retirada República da África do Sul) e 2000 (Edimburgo, Escócia), :
durante a pesquisa. sendo conhecido o fato que, cansado de mantendo. entretanto. o nome da cidade onde foi lançado'
fazer-se de "cobaia". o soldado fugia do insistente médico. (Helsinque, Finlândia). Sua última revisão foi cercada de muita
Trinta e dois anosdepoisda obra de Beaumont, Claude Bernard. polêmica. poi há grupos de pesquisadores. patrocinadores e
fisiologista francês. publicou o livro lntroduction c) l'étude de eticistas que defendem o uso do placebo como braço-padrão
la médecine expérimentale. que constitui outro marco impor- dos ensaios clínicos, mesmo quando há um tratamento conhe-
tante na história da ética em pesquisa. Admitindo a experimen- cido. A disputa acirrou-se porque muitos advogam que o critério
tação com seres humanos fora da terapêutica ou diagnóstico, para definir e e uso deveria ser a disponibilidade do trata-
afirmava que asexperiências que prejudicavam estavam proibidas. mento no paí anfitrião da pesquisa. É claro que isso redun-
as que não causavam danos estavam permitidas e as que pode- daria. desastrosamente.em um duplo padrão ético, com critérios
riam produzir benefícios estavam recomendadas. Regia-se pelos distimos para os países ricos, onde há bons sistemas de saúde,
princípios de beneficência e não maleficência e sequer men- e pobre. o que permitiria à indústria farmacêutica realizar.
cionavu ()conscntimcnto voluntdrio ou ajusta scleçãoda amostra. no último .• a pesquisas que seriam proibidas nos primeiros.
aprovando o uso de condenados 11 morte, sem o conhecimento Es a questão do u o do placebo na pesquisa com seres humanos
destes. quando os experimentos não causavam danos e eram será mais bem di curida mais adiante, neste capítulo.
úleÍl> para ti medicina. A Organização Mundial da Saúde.junto com Conselho para
Na medida em que a\ noções de probabilidade e de conheci- Organizações Internacionais de Ciências Médicas (C.IOMS),
mento provável ganharam força. foi-se modificando a lógica em 1981. elaborou o documento "Diretrizes Internaclonnis
da investigação eicntfflca que pUl>SOU (I desenhar-se segundo Propostas para a Pesquisa Biomédica em Seres Humanos",
us normas da e~talrl-lica descritiva e amostral. Inicia-se. dcs- que sofreu revisões em 1993 e 2003. Em 1991, essasentidades
'li forma. a fnvc que Gracia' chama de pertodo do experl- lançarurn as direirizes éticas para as pesquisas epidemiológicas.
1/1('1110 moderno (1900 a 1947). cuja tese era que lodo Não obstante essas iniciativas internacionais, os abusos na
procedimento introduzido no domínio da clínica deveria antes experimentação continuaram u ocorrer; Em 1966, Henry Beecher
ser validado c, portamo. ii experimentação em seres humanos publicou. no Neli' England Journal {)f Medicine, um artigo
teria que ser possfvcl per se e não somente por ocidente. como sobre ética e pe quisa clímca. no qual denunciava cerca de 50
ocorria até então. Em outra .. palavras. passava a vigorar a investigações que infringiam as diretrizes éticas. com não
idéia de que. sem uma pesquisabem acompanhadae com desenho olicitação do conscnrimento dos sujeitos, predominância dos
metodologicamente adequado. não e poderia afirmar que algo ri cos sobre os beneffcios, utilização de sujeitos vulneráveis
era. de fato, diugnó-rico ou terapêutico. e emprego de grupo-placebo em agravos que contavam com
as três primeiras décadasdo século XX. era grande o número tratamento efetivo.
de invcsrignçõcs clínica utilizando eres humanos como su- No inicio da década de 1970. nos Estados Unidos, três
jeitos de pesquisa. O abusos também mio eram raros. provo- escândalos tornaram conta da mídia. Um deles foi o estudo
cando quesrlonamenros acerca da consciência dos profi sionais Tukcsgce, que se estendeu entre as décadas de 1930 e 1970,
c dando lugar II uma série de denúncias públicas e protestos com o objetivo de comparar a saúde e a longevidade de dois
sobre a anurquia e a falta de observância de critérios éticos IIU grupos de sujeitos. um com sífilis e outro sem. Foram incluídos
execução da!. pesquisas. Levantou-se. assim. ti necessidade de cerca de 400 jovens negros e o grupo de sujei lOScom stfllis.
uma novo abordagem para a élica na pe. quisa com seres huma- Além de não receber tratamento como previa, o projeto teve
nos. lima VCl que o beneficio direio ao paciente não constituía impedida qualquer forma de acesso ao rratnmcnto efetivo.
muis u único e fundamental critério. É quando entra em cena a Outro dos e cândalos denunciados foi do Jewish Chronic Hos-
autonomia corno uma das principais balizas, a ponto de se con- pital. no Brooklyn. Nova York. Nessa pesquisa, realizada
Siderarem eticamente justificãveis os experimentos que impu- na década de 1960. bem o consenrimerno dos sujeitos. injc-
SCSM!m risco 11 vida dos !>ujeitos.ocsoeque feitos com consentimento taram-se células cancerosas em 22 pacientes idosos a fim dc
volunrãrio destes. Dessa forma. não é de c estranhar que as investigar e a diminuição no capacidade de rejeição às cé-
pesquisas realizadas sem o conhecimento e o consentimento lulas cancerosas nas pessoascom câncer estava ligada à própria
voluntário dus participantes eram ~IS (Iue geravam os maiores doença ou ii debilidade em geral. O terceiro caso lambém
escând[llo~. Além di),),o. c..se cenário propiciou a aparição de ocorreu em Nova York. na década de 1950, na Willowbrook
novos abu~o!-.como o!- da época nazista. State School, um orfanalo para crianças com retardo men-
As experiências de envolvidas nos campo de concentração . tal. Visando encontrar uma vacina para a hepalile A, um
acabaram por determinar. em reação. a elaboração do C6digo grupo de médicos. deliberadamente, inJectava parte dtls crian-
de Nuremberg. em 1947. Composlo de dez ilens, esse docu- ças recém-ingressadas.
Pesquisa Clínica • 133

Essa~ trê~ dcnúnctas foram deciviva .. para determinar a pro- lização. Esse aspecto ganhu pcvo especial nas pesquisas co-
mulgação da lei que insutuiu. nos Eqado<; Unidos. a Naiional ordenadas ou patrocinada .. por outro .. paí..cs e rcalizndas aqui
Commission for the Protection of Human Subjccts of Biorncdical e também nas que envolvem comunidades cspecfficas. como
and Behavioral Rcscarch. com o-, objcrivos de identificar (IS as populações indrgclltl\.
princípio .. éticov b:hico, que deveriam ernbasar a' investiga-
ções envolvendo vcrev humano' c determinar dircrrizes de ação Adequação Metodológica
para awcgurar a uphcação prática tlc',e .. princípios. Depois
de quatro ano, de trabalho, e dclibcraçõcv (1974 a 1978). a, Em que pesem a... polêmicuv quanto à competência de um
conclusões foram publicada .. no Relatõrio Belmoni. que é um CEP pura a\uliar II mcrodologia, e"" é que ..tão fundamental
documento marco da ética em pevquiva com seres humanos, na aprccinção ética de IIIll projeto de pesquisa e tem de ser
O Brasil. em 1985. o ~Iin"téri() da Saúde traduziu a, dire- feita. principalmente. no sentido de verificar quais os riscos
trizes da CIO~IS e. em 19M!!. o Conselho 'acional de Saúde que os procedimentos rnerodolõglcos ii serem seguidos im-
(CNS) editou a Resolução CI S n" I.de 13 de junho de 198R. o põem uo-, sujciio» dc pcsquisu. Além disso, estudos que ca-
primeiro documento oficial brasileiro a estabelecer diretrizes para reçam de urna fundamentação cicntfficn sólida e atualizada,
regulamentar a pc 'qui~a cm saúde. Sete unos maiv tarde. o CNS bem como o' que são metodologicamente inadequados, ex-
promoveu a revisão des ..a resolução. criando um grupo execu- põem sujeitos a riscos c/ou desconfortos para nenhum retor-
no e. quando publicados, ~eu~ resultados. se utilizados, podem
tivo de trabalho integrado por repreventames de diversos serores
causar danos maiores n pacientes e profissionais de saúde.
da sociedade civil. incluindo pesquisadores. sujeitos de pesqui-
Todo projeto deve estar fundamentado cm experimentação
sa, empresários e profissionais. n50 só da saúde. como advoga-
prévia c O' que tratam dc novos medicamentos ou procedi-
dos, teólogos. engenheiros biomédicos. entre outro . Apó amplo
mento devem ter bem descritos as fases anteriores e os resul-
processo democrático de consulta a todos os interessados. o grupo
tados em modelos animais e de simulação em laboratório.
elaborou a Resolução CNS/MS n!! 196196. que atualmente regu-
Quando e tratar de pe quisa coordenadas no exterior, o
la a pesquisa envolvendo erc humanos cm nosso país~.
pesquisador brasileiro deve participar do desenho do estudo,
A Resolução CNS/MS nl! 196/96 estabelece um sistema
sendo necessário prever a transferência de tecnologia para a
interligado de Comitê). de Ética em Pesquisa (CEP). que fica realização de projetas futuros, de forma independente.
nas instituições pe quisadora .. locai, e uma Cornis ão lacio- las pesquisas em que estiver prevista a colera de material
nal de Ética em Pcsqui ..a (CO lEP). que se localiza no Ministé- biológico. este deve cr utilizado exclusivamente para as fina-
rio da Saúde como uma da, c()mi"üe~ assessoras do C S. lidades da pe: quisa. Em caso de se prever armazenamento para
Essa rede é a re).poll\:hcl ~Ia rev i,ãu da eticidade dos pro- estudos futuros, o fato deveni constar no termo de consentimento
jeros de pesquisa com -crc-, humanuv nu puív, tendo por base livre e esclarecido. cr autora/ado pelo <ujcuo e seu uso em pcs-
os princípios cxprcwov na Resolução C S/MS n" 196/96 e 'lIa~ quisas estam condicionado ;1 aprovação de,ta). por um CEPo
complcmcntnrcs: Resolução CNS/M. n'' 240/96. que define. para
efeitos de representação no, CEPo quem pode ser considerado
usuãrio de serviço de suüde: Rcvoluçãu C S/MS nV 251197
Competência da Equipe Investigadora
que truta de pesquiva-, com f~rlllacll:'. medieumemov, vacinas 0, pesquisadores envolvidos no projeto devem gozar de idonei-
e tCMc~diugnó,ticu:.: Re'llluçãu C S/MS nO 292/99. que se dade e estar preparado para investigar na ãrea 11 qual se re-
refere nos projeto' com participaçâo mi coordenação cstran- fere a pesquisa. A instituiçâo cm que ltcrn desenvolvido o projeto
gcím: ResoluçãoCNS/MS n" )03/(X) que di~(Xicsobre as pesquisas deve ter recursos e condições para garantir ti segurança e a
na ãrcn de reprodução humuna: e II Resolução lIQ 304/00 que assistência. em ca o de ncce sidadc. dos sujeitos de pesquisa.
trata da urilizução de populações illdígellult COl1l0 sujeitos. Também devem ser levadas em conta as condições de segu-
Os princípios éticu, ou diretri/es que nOl1eiulllessl!~ dOCUIllI!Il- rança para a protcçüo da equipe pe~quistldora quanto lIOS ris-
tos incluem: o resfll!iw /It'lm /JI'.UII(/S CIIII/O seres (/lIIt)I/tJllUlS, ou cos químicos. físicos e biológicos.
seja,reconhece-se ).ua:IlIWllolllinpara tomar suas próprias decisões
c agir segundo estas: (/ I/{i" II/(/f(:ficêllcia (' a bellejicêl/(:in que Seleção Eqültatlva dos Sujeitos
determinam o dever de não cau<;ar dano!'. minimi7.ar os riscos
~ e maximi7.aros bcnef(cio, c ajll.\liço que. na ética em pesquisa. Esse talvez seja o princípio mais diffcil de !te concretizar. pois é
; significa buscar o equiHbrio entre ri!>co, I! benefícios e entre comum que. si.,tematicamente, algun\ <'cjam os sujeitos e outros
~ quem é sujeito da pe'qui,a e quem dela )oe beneficia. os beneficindo~. Por exemplo. o paciente," do~ hospitais univer-
... sitários dos países pobres. freqUentementc. são sujeitos de
~ pesqui:.as para o de:.ell\ olvimento de novo~ medicamentos que.
ASPECTOStncos A SEREM CONSIDERADOS NA provavelmente. não IxxJer.io udquirir quando lançado, no mercado.
APRECIAÇIO DE UMA PESQUISA
A cticidade de um projeto de pe.,qui ..a de\ e ...er apreciada ante!> Equilíbrio Risco-beneficio
de ~eu início e o' ::t\pecto, que ..erão aprê~entado, e~tão cx- A Rel>oluçào CNS/MS nO 196/96 define como ri~co:1 possibi-
pressos nos capitulo III da Re~olução CNS/MS ng 196/96. re- lidade de dano" qlle nrel:ll11 li' dimen,üc' f(~ica. psrquica. mo-
comendando- e. portanto. \lia leitura como complementação raI. intelectual. ,ocial. cllltural nu el-piritual do ser humano. em
ao que di clltiremo, aqui. qualquer fasc de uma pe!>quisa ou dcla decorrente (item 11.8).
O~ benefkio!> advindOl>das pc~qui~lI~devellll>er sempre pro-
porcionais. ou loupcriorc~. aos risco). impostos .IOS sujeitos de
Relevância Social pesquisa. Em outra~ pal:lvr:J~, devc-).e buscar a maximização dos
A pesquisa deve !>erde importãncia para onde erá real iza- benefícios c o minimi7.oçllO dos riscos. Esse cquilfbrio risco-be-
da, ou seja. deve tratar dc questão relcvante para a realidade nefício torna-se urna questão delicada nas pesquisas sem previ-
da saúde local. Assim. quanto menor a utilidade ou relev5n- sào de benefícios diretos para os ~ujeitos. Deve-se lembrar que
cia social da investigação. mai difícil será justificar sua rea- a scgumnça e o bcnelTeioou não maleficio :10 ~lIjeitodevem prevalecer
134 • Tratado de (linica Médica

sobre () interesse da ciênci .. e da sociedade. pois h:1preço .. corno Consentimento livre e Esclarecido
u ultraje à dignidade e à liberdade humanas. que não podem ser
pagos cm nome du ciência. O ser humano não pode ser reduzido O verdadeiro lastro ético do consentimento livre e esclarecido
a um mero meio de realização de pesquisas. está no seu processo de informação e esclarecimento ao sujeito
Nos ca~Ol>de franca upcrioridade do procedimento ou droga e não no evento da assinatura do termo. que é documento legal e
em teste ou de ocorrência de riscos inesperados ou de eventos dá conta apenas dos aspectos legab da questão. Na obtenção
adversos graves, () projeto deve ser suspenso e o CEP notificado. do consentimento. todos devem ser tratados com respeito, como
titulares de dignidade. como sujeitos uuiõnomos e aqueles com
EQüipolência Terapêutica ou Diagnõstíca reduzida cnpacidudc c competência para consentir devem ser
prutcgidos (protcção dos vulneráveis).
A Resolução C S/MS nº 196/96 é clara ou determina que ° Uma condição básica para o consentimento é a informa-
novo medicamento ou procedimento em teste deve oferecer. ção. que deve ser transmitida em linguagem clara, acessível e
no mínimo. um bcncfício igual ao melhor recurso comprova- adequada ao padrão etário. social. psicológico, cultural e de
do. podendo o placcbo ser utilizado quando não há tratarncn- entendimento do sujeito de pesquisa. Deve-se incluir e assegu-
to disponível. Esse fato deve ser justificado no projeto. rar informação em quantidade e qualidade suficiente para que
o sujeito possa decidir. de maneira esclarecida. sobre sua par-
Compensação por Danos ticipação, Ass i 111. deve constar no lermo de consenti mente
ARe. olução CNS/MS n2 196/96 define como dano O agravo livre c csclurccido li justificativa e os objctivos da pesqui-
imediato ou tardio. ao indivíduo ou 11coletividadc. com nexo sa. procedimentos. desconfortos. riscos. beneffcios, alter-
causal comprovado. direto ou indircto. decorrente de e. tudo nativas de tratamento. condições de seguimento e assistência
científico (item 11.9). devendo os danos previsíveis er evita- e o responsável pela pesquisa c assistência, incluindo for-
dos (item 111.1 c). ma .. de comarâ-lo em caso de necessidade por parte do sujei-
O sujeito de pesquisa deve ser compensado. indenizado por 10. Se no transcurso da pesquisa forem necessários novos
eventuais danos decorrentes du pesquisa. sendo isso uma da~ procedimento. o consentimento deve ser renovado a partir da
responsabilidades do pesquisador e do patrocinador do proje- exposição da nova situação c dos novos fatos.
to. Em hipótese algumu. o sujeito pode abrir mão desse direi- O processo e O termo de consentimento livre e esclarecido
to (III isentar de rcsponsabilidude () pesquisador. a instituição também devem assegurar a liberdade do sujeito para participar
ou (I patrocinador. ou retirar-se a qualquer momento e deixar claros os procedi.
mente que garantam sua privacidade e a confidencialidade
Veracidade com que os dados obtidos serão tratado _Deve-se, ainda. pro-
porcionar ao sujeito de pesquisa oportunidade de pedir escla-
1\ publicação dos resultados. além de ser cercada pela honcs- recimentos adicionais e tempo para tomar sua decisão de integrar
tidadc dos fatos e dos resultados. deve ocorrer sejam estes ou não a pesquisa.
favoráveis ou não. os projeto. de pesquisa coordenados do exterior, como os
multicêntricos patrocinados por indústrias farmacêuticas. o
Conflito de Interesses termo de con emimeruo livre e esclarecido deve ser elabo-
Embora não ~eja li única possibilidade geradora de conflito de rado pelo pesqui ador brasileiro responsável pelo projeto. não
interesses. 11111 poniu que deve ser avaliado com especial atcn- podendo ser uma mera tradução.
ção por sua importânciu é II remuneração do pesquisador por Se por alguma questão metodológica. por exemplo. pesqui-
sujeito que conclui sua participação na pesquisa. Parece claro sas observacionais ou que utilizam amostras anônimas de
que esse procedimento pode interferir na garantia de liberdade biobancos, não for possfvel obter o consentimento dos sujeito.
do sujeito para se retirar da pesquisa quando assim o deseje. o pesquisador deverá justificar tal situação no projeto paro
apreciação do CEPo Entretanto. é bom lembrar que. primeiro.
essa é situação de cxccção e não de regra e. segundo. que o
publicação de Resultados impedimento para opte r O consentimento (/ priori não significa
Como já dissemos. os resultados devem ser sempre publicados. que este não possa ser pedido depois. como nas pesquisas
sejam positivos ou negativos. O pesquisador brasileiro. no caso observacionais. incluindo os dados somente daqueles que con-
de pesquisas coordenadas do exterior, deve ter assegurado seu cordaram com li participação.
direito de publicução. O retorno dos resultados da pesquisa Antes da elaboração de um termo de consentimento livre e
também deve ser garantido ao sujeito. à comunidade ou ao esclarecido. recomenda-se aos pesquisadores a leitura cuida-
grupo no qual foi realizada a pesquisa. dosa do capítulo IV da Resolução CNS/MS nQ 196/96. que con-
A publicação deve er feita de forma a evitar a estlgrnauzação tém as exigências pura a sua confecção c obtenção.
c a discriminação de grupos ou comunidades. além de preservar
O anonimato da identidade dos sujeitos.
~roteção aos Vulneráveis
As pesquisas devem ser realizadas. preferentemente, com sujeitos
Continuidade de Assistência capazes de consentir, Quando for indispensável o envolvimento
Deve-se garantir o retorno do re ultados c dos bcncflcio par" de pessoas com capacidade de auto-escolha comprometida.
(lsujeito e/ou comunidade. bem como se assegurar a conti- seja por idade (crianças ou idosos). perturbação ou doença
nuidade de assistência e acesso a nova drogu ou truturnento mental. relações de autoridade (empregados, alunos, milita-
quando o sujeito estiver se beneficiando francamente. Os projeto res) e dependência (internos em orfanatos. asilos. presídios).
que prevêem a realização de scrernings diagnósticos devem dentre outros. é necessário justificar a necessidade do uso des es
prever tratamento ou acompanhamento. conforme a situação. sujeitos C. nesse caso. a pesquisa. obrigatoriamente, deverá
Os benefícios oferecidos não podem er indutores da partici- trazer bcneffcios direros aos sujeitos ou grupos envolvidos.
pação. pois a liberdade de consentimento do sujeito deve ser É bom lembrar que a incompetência para consentir não signi-
empre preservada. ficn que os sujeitos não devam ser informados segundo sua
Pesquisa Clínica • 13S

capacidade de entendimento. o cavo de criança'. a depender A mesma revolução determina que toda In'tiluição que realiza
de ~U3 capacidade de compreender a informação. expressar pc quisa lenha um CEPo que deve incluir homenv e mulheres.
eu conscnumcmo c 0<' bencflcios c malefícios decorrentes ser mulriprofissionul. sem que mais da rnetudc de seus mem-
de sua participação ou não na pesquisa, sua recu a deve ser bro» pcrteuçu a uma única profissão e incluir profisslonais de
levada em conta. ainda que os pais ou responsáveis tenham fora lia árca da saúde (advogados. teólogo». filósofos. sociõ-
eon eruido seu envolvimento. logos. untropólogos, cic.). Deve também incorporar membros
externos 11instituição e representantes dos sujeitos de pesquisa,
os usuários dos serviços.
Confidencialidade A CONEP é uma instância colegiadu, de natureza consul-
Todos os envolvido- na execução da pesquisa ficam obrigado tiva, dclibcnuivu. normativa. educativa, independente, 11qual
iiob ervação da confidencialidade dos dados obtidos. desde o cabe. ulém da uutorização de funcionamento e da coordenação
pesquisador até 0\ que executam procedimentos administra- do, CEPo II rcvixão de projeto, da .. área .. ternáticas especiais.
tivos. A pre ..crvação da confidencialidade e do !>igilo. 11,"c/c'. como definido no item VIIJA da Resolução CNS/MS nll 196/
não será relativa somente ao' dados e informações. ma' pode 9(1(gcnétlca humana. reprodução humana. equipamentos. insumos
englobar outro, avpccrov, como a accitnção ou nu() de part ici- e dispusitivr» para a saúde nOVOl>ou nilo registrados no país:
par, pois. por exemplo. se a pesquisa é dlrigida uos portadores novos procedimentos ainda não consagrudov nn litcratura. po-
de um agravo em especial. ao revelar U~ que participam. se pulações indígenas e projetes que envolvam aspectos de
estarã também revelando o diagnõ rico da pesvoa. Ainda. cm biovscgurunça, dentre outros).
algumas comunidades. :1 recusa ou a accitução cm participar Para melhor compreensão do funcionamento do sistema CEPI
pode ser mal vivra pelos integrantes. expondo os sujcitov de CO EP recomenda-se a leitura dos capüulos VII e VllI da
pesquisa a riscos de segurança. Resolução CNS/MS n2 196/96.

Compensação por Gastos AIGUIIAS QUESTOES pOlllIlCAS


A Resolução C S/MS n<) 196/96 profbe o pagamento do ,u-
USO do Placebo
jeitos de pesquisa. mas prevê que estes sejam revvurcidr», pela,
despesa .. c eventual- perdas de rendimento que tiverem. E.. :I a uso do plnccbo. em en aios que visam ii aferição da eflcãcia
compensação por gastos não deve ser de lul muntu que induza de nova .. drt)ga~. vem sendo questionado há décadas e. final-
u pnrticipnção da~ pessoas na pesquisa. EIII UIII paí~ C(1I110 o mente. foi proscrito na Declaração de Helsinque 2000.
Bmsil. i~,o é um problema. pois para muitos pucicutc» de nossos Torna-se di ffci Iaceitar, em tempo-, utuuiv, que M! deva recorrer
hospil3i, univershãrio». oferecer conduçílu e ulimcntnção já a uma substância inerte - sob o disfarce de ela poder ter açüo
pode ser indutor da participação. Esse IISpCCIO ~crlÍ conside- terapêutica - para comprovar a atuaçâo de nova droga.
rado mni~ adiante. Salvo. e alé isso é que rionãvel. quando não haja qual-
quer instrumental terapêutico com relação a uma determi-
nada doença. já não é concebível que se deixe de usar. como
COIITls DE niCA EM PESQUISA termo de comparação. outra ub tância, de eficácia já compro-
Os comitê, de ética são mencionados, pela primeira velo na vada. Há diverso matize de aceitação. ou não. dos ensaios
revisão de 1975 da Declaração de Hclxinquc. ao determi- clínico. com placcbo. que analisaremo a seguir.
nar que os projctu-, de pesquisa devem ser revistos por um a que se pretende. inicialmente. é encaminhar uma discussão
conccitual l-obre a matéria.
comitê independentemente do pesquisador ou do financiador.
Sua função é assegurar que a pesquisa envolvendo seres A ministração do placebo é basicamente um engodo. ainda
humanos ocorra segundo os mais rclcvunrcs padrões éri- quando conscnudo pelo sujeito de pcvquiva que. dentro de um
cos. ão é meramente uma entidade udminixrrativu que emite ensaio. sabe que poderá estar tornando uma substâncin inerte.
uma chancela para li início de protocolos de pesquisa. Tem Tem-se cm conta. na ideologia da ministrnção do plncebo.
o dever e a obrigação de acompanhar o desenvolvimento do que a ilusão de estar sendo tratado poderá cfcrivnmcnrc me-
projeto. pol~ é veu co-rcspcnsãvcl no tocante uos aspectos lhorar o quadro clínico de uma doença. É bem conhecida a
x ético e. quando necessário. deve lançar mão de rua autori- proporção de efeito pluccbo em torno de 35tK. divulgada. arn-
~ dade para proteger o bcm-c tar do!>~ujeilol> de pe quisa. Em plurncntc, por Bucher. em 1955. Entretanto. esiudo-, flIclU-anulític~
! outras pala'fal>. o foco primário dos comitês é zelar pelos de pesqubas clínica~ com braço-conlrole placebo dcmon~tram
~ direitos e pelo bem-eqar dos sujeitos de pesquisa. concen- pOllC:1cv illCncitl de efeitos c1ínicol> signi lic!lliv()~'.
::à lrando-se no consentimento livre e esclarecido e no equilí- Ocorrc que o mecanismo pelo qual el>~e"engodo" con~lrói
brio de risco e benefícios. Além disso. cm projetos coordenados efeilos similares aos da lomada de uma drogu ainda 6 empírico.
do exterior. o CEP lem de se preocupar. também. com a pro- ·.rodos sahemos que os aspeclo psíquicos de um sujeilo. tão
leção do pesqui~ador brasileiro. integrados. insepadvcis c indelimitáveis du vidn de forma ampla
Na apreciaçiío étic:l de um projeto. os membros de um (aspeclo~ somálicos. lisiol6gicos. etc.) têm papel primacial
comilê devem evitar o~ extremos "tudo é certo para o bem na rclnçllo Mlúdc-docnça. As imoab,olutamcnle. não surpreende
da ciência" ou "tudo é errado ou elic:lIllente inadequado e que o pltlcebo. em algun~ ca~Ol>.de~en'oh:1 efeitos similares
preci a ser parado". ao~ du droga cuja eficácia 1>epretende anali'lIr.
A Re~olução Ü S/~tS n" 196/96. em ~eu ilem 11.14. deli- O que. enlrelalllO. ~c ligunt insuportlÍ\el é que. jlÍ no século
ne o CEP como um colegiado interdisciplinar e independen- XX I. quandu no lado do funcionamcnlo do, órgãos se tcm a
le. com 1I111111/r publico. de caráter consultivo. deliberat ivo e perccpção d()~ IIlccani~lI1o' 3fctivo, (dc,envolvil1lenlo da psi-
educativo. criado para defender os interes~e~ do, sujeilol> d:t cologia c da psic:lniÍlil-C) que propiciam delermilllldos efeitos.
pesquisa em !tua integridade e dignidade e para conlribuir nu ainda recorra IIIos fi 11mmecanismo que ub~olulalllenlc desco-
desenvolvimcnlO da pCl>quisa denlro de padrüe~ ético~. nhecemos - o efeilo plllcebo.
136 • Tratado de (Unica Médica

Figura-se intolerãvel, em plena vigência da valorização que o ernbasamento está na idéia de que a retribuição finan-
se atribui ao "princípio da autonomia" de que decorre o consen- ceira é decisivamente corruprora. predispondo pessoas a co-
limemo livre e esclarecido a ser outorgado por toda pessoa locarem em risco a própria saúde. endo, portanto. a "pobreza".
submetida a qualquer forma de tratamento ou engajada cm já de partida. um forte faror de vulncrubilidade, também um
qualquer tipo de pesquisa. a ministração de substância fisio- "determinante" de exposição do próprio corpo a risco. seja na
logicamente inerte. ainda que O sujeito saiba que esturã cor- sujeição a pesqui as, COmo na "venda" de órgãos.
rendo o risco de tomá-Ia. Todos esses qucsriouumcnros são É bastante provável que eSM\ "corrupção" ocorra confor-
absolutamente preliminare 11análise da relação risco-bene- me já roi ob: ervado em muitas sociedades. cnractcrizando
fício. que. já no terreno das açõcs práticas. também se PI'CSlCl uma situação muito mais candernc.ulndu mais em países como
a veemente objeção da utilização de placebos. o nosso. onde II miséria e (I murginulidadc social atingem
Quer-se ainda comentar a uulizaçâo de placcbos cm ensaios níveis incompatfvci-, com nO~M)~conceitos de cqüidade e de
clínico obre portadores de ahernções cornportarncruuis. Charles justiça. Assim. nliús. bem demonstram autores corno Berlinguer
Weijer· conduz um bem elaborado estudo sobre () uso de placcbos c Garrafa. quando. corno no caso da venda de órgãos, O "co-
em ensaio para traramento da esquizofrenia. Desfila argurnen- mércio" poderá beneficiar cmpresãrios que intermediarem as
tOSa favor e contra os cnsaiov randõmicos. controlados com uso a legudns "doações ".
de placebo. po icionando-se. ao final de seu trabalho. enfatica- Todos esses aspectos reforçam lima posição paternalista do
mente, contra o u o desse recurso no estudos cornportarncruai: . Estudo. que. tendo a saúde do seu cidadão corno um dever, não
Se tomarmo como srmbolo a esquizofrenia. na qual sequer deveria favorecer que esse mesmo cidadão a ponha cm risco.
os mecanismos etiopatogênicos do transtorno são plenamente conhe- Entretanto. há um outro enfoque: é absolutamente ilusório
cidos. ressai que a avaliação da personalidade do doente teria pretender-se que uma pessoa participe de uma pesquisa por
importância fundamental. pura solidariedade. sem que ela nada receba em troca, ainda
Sempre defendemos o conceito de que "doença" é critério que na esfera meramente subjetiva. Até o amor, a amizade,
estatístico. e que a pessoa que recebe cuidado deve. antes de sustentam-se cm uma reciprocidade. o que é também uma troca.
tudo. ser percebida e "sentida" para então. se for o caso, ser Claro que há diferença entre compaixão (paixão compartilha-
medicada no sentido de atingir uma qualidade de vida melhor. da) e retribuição financeira. Mas pode-se dizer que também
A medicação com base em um rótulo (ou em urna Classifi- h~ diferença em quem pratica um gesto altruísticc por pura
cação Inrcrnacional de Doenças) já é. a nosso ver. rnnnifcstadamente identificação com o próximo. ou com a expectativa de uma
ant iética. E II que dizer da "não-mcdícação". a pretexto de se retribuição (mesmo após o tim da vida) ou, ainda, desejando,
comparã-lu COI11 II medicação. cujo conhecimento do mecanismo em última análise. atenuar um sentimento de culpa. A busca
de intervenção já ~ dúbio e discuuvcl? NOSS<l resposta no Ul-O de de notoriedade. o "pagamento de uma promessa" e até UIllO
placcbo. junramcnrc com Charles Weijer. é um sonoro "do. posição polüica podem servir de motivação para que alguém
A convergência de posturas paradoxais. mencionadas na se exponha a ri co em pesqui as.
reflexão anterior. evidcnciu a insensatez, sob I) ponto de vista Sabemos que o interes e em realizar pesquisas em seres
cienufico. do uso do pluccbo. mormente na pesquisa de cflcácia humano. é sustentado por empresa podero as. como as far-
de drogas em distúrbios comportamentais. Como confrontar rnacêuticas. interes adas. por exemplo. na primazia no lança-
medicação e não medicação (uso do pluccbo) cm pesquisas mento de uma nova droga (para conquistar o merendo) ou na
rclucionudus com a esquizofrenia. quando tanto de uma como descoberta de urna característica genética ainda não eviden-
de outr.r 1>0 desconhece a intimidade do efeito terapêutico? ciada (com relação à qual requererá patente) ou na adoção de
Poder-sc-ã argüir que o efeito do plucebo. de índole psico- urna nova técnica de reprodução humana.
lógica. por menos conhecido que seja seu mecanismo especl- Toda a norrnatização ética dos últimos anos embasa-se mi
fico de ução. empre foi observado. não se podendo desprezar autonomia do "sujeito" de pc. quisa - a própria palavra sujeito
sua utilidade em estudos experimentais com drogas. Também foi introduzida para caracterizar. assim corno em lima oração
se poderá considerar que as assim chamadas práticas de "medi- gramatical. a posição de "carro-chefe" (autônomn) da pessoa
cina alternativa". como era inclusive a situação da homeopatia que se engaja no experimento; traia-se do respeito ao ser huma-
(atualrnente reconhecida como especialidade médica). propi- 110, contrariamente a ua utilização seja para o que for, sobe-
ciam efeito rerapêuuco. não obstante seja discutível O seu ranamente exposto na Declaração Universal dos Direitos do
mecanismo de ação. Homem. e consagrada sucessivamente na Declaração de Hel-
Não há como negar esse aspecto, embora o empirismo sinque e nas suas revisões.
dessa justificativa. ainda mais em pesquisa científica, sur- Nesse contexto. nossa posição é intransigente quanto às
preenda-nos. Se acrescentarmos o fato de um experimento cautelas que se devem tomar paro a preservação da autonomia
placebo-controlado. "0 sujeito sabe que pode estar tomando do sujeito de pe quisa. Nesse sentido. o Brasil tem posição
uma substância inerte", vê-se a falta de precisão do compreensão bastante avançada. exercendo. por intermédio dos CEP e da
até mesmo do efeito psicológico. tornando rústica ti aceita- CONEP. rnonitoração rigorosa atineme aos projetes de expe-
ção do emprego do placebo. rimentos em seres humanos.
. Se. por um Indo, defendemos firmemente toda forma de
garunrin da autonomia e de protcção li integridude dos "sujei-
Pagamenlo do SuJeito de Pesquisa lOS", por outro ludo questionamos •.1 proibição categórica de
A po tura de não e dar retribuição flnanccira a um "sujeito de remuneração às pessoas que se engajam em um experimento.
pc quisa" pode er seriamente questionada. Já vimos o quanto podem ser diversas às motivações da-
Defendem. os que a banem. 00010 a presença de uma conotação queles que se prestam a participar de pesquisas. Assim. a pre-
solidária na adesão voluntária de uma pessoa II uma pesquisa, tensão. principulmente no que se refere lIOS voluntários sadio.
mormente e dela não for esperado um benefício para a pró- de ser o engajnmerno motivado exclusivamente por questões
pria pessoa. .olidãrius c humanitãrias, é UIllU ubstração. Pretexta-se que a
A própria Re olução CNS/M n2 196/96 carrega es c veto. remuneração do sujeito o torna mais vulnerável, cerceando o
É um posicionamento fundamentado em rellcxão semelhante seu poder de decisão quanto a sua purticipação - como se a
à que proíbe a venda de órgãos a partir de doadores vivos. vulnerabilidade do mais carente sõ existisse para a sua atuação
Pesquisa Clínica • 137

em projetes de pesquisa. não passando pelas precariedades Pagamento de Salário


alimentar. educacional. de moradia, de trabalho. de atenções
de saúde, etc. Parte do pressuposto de que. para ser sujeito de uma pesquisa,
Aliás, o fato de uma sociedade como (I nossa ainda não ter requer-se pouca habilidade. mas exigem-se tempo. esforço e pro-
condições de oferecer a todos os seus componentes. com eqüidade, cedimentos desconfonãveis ou indesejáveis. Participar de uma
as condições para uma aceitável qualidade de vida, absolu- pesquisa como sujeito equivale a outras formas de ocupações
tamente não justifica que, por sentimentos de culpa, queira- mais gerais que não necessitam de habilidades especiais e trei-
mos privar igualitariomeute o pobre e o rico de obterem alguns namcnto. mas implicam em algum risco e envolvem pouco tra-
proventos pelos serviços que irão prestar à comunidade. balho. Assim, os sujeitos receberiam um pagamento por hora com
Mistura-se. na postura radical contra a remuneração do sujeito. base no que recebem os trabalhadores nessa condição, ou seja,
a insegurança que ainda temos com relação ii condução da empregos que exigem pouco preparo, mas são essenciais.
pesquisa que. indubitavelmente, requer precauções com o próprio Como vantagens. a autora aponta a limitação na indução à
respeito à OIlIOI/O/l';{/ do sujeito. participução. a padronização do pagamento e o fato de as pes-
Soa até paradoxal que. em uma pesquisa clínica. na qual soas serem pagas igualmente pela mesma tarefa.
existem freqüentcrncrue grandes vantagens financeiras para Por outro lado. entre as desvantagens, destaca que os paga-
OS patrocinadores c também para os pesquisadores. se desejem mentos baixos limitariam a participação. enquanto os altos a
excluir dessas vantagens justamente os sujeitos de pesquisa. induziriam. Além disso, ao vigorar esse modelo, poderiam se
O moralismo. definitivamente. não se casa COIll a ético e dela atrair mais as pessoas com baixa renda e se estabeleceria uma
difere porque se fundamenta em premissas í'reqüentemente relação de trabulho.
superficiais e que não resistem a uma análise mais profunda.
Apresentaremos aqui as formas de remuneração do sujeito
da pesquisa, propostavem artigo publicado. em 200 I. no Oncology
Ressarcimento com ou sem
ursing Forum. por Jeanne Margueriie Sears", Reembolso de Perdas Salariais
Prevê o reembolso de despesas dos sujeitos com transporte,
Modelo de Mercado refeições c outras. podendo- e ou não repor eventuais perdas
salariais.
É regulado pela oferta e demanda. com o pagamento sendo
De acordo com a autora, essa forma de pagamento limitaria
ajustado pela aruccipação da dificuldade em recrutar os sujeitos
a indução 11 participação, reduziria O incentivo para a omissão
e admitindo-se o LISO de incentivos para completar o estudo.
de informações e não imporia sacrif'ícios aos sujeitos.
De acordo com li autora. esse modelo teria como vantagens
Entretanto, dificultaria o recrutamento, atribuiria reembolsos
a facilitação do recrutamento, a possibilidade de os sujeitos distintos devidos à. diferenças salariais ou de despesas. o que
lerem uma retribuição por pane da sociedade por sua contri-
poderia configurar quebra cio princípio da justiça, enquanto
buição e a maximização da autonomia na medida em que valoriza
revpeito 11 igualdade encorajaria o recrutamento de pessoas
as opções dos sujeitos.
com rendas menores.
Como desvantagens. a autora assinala uma possível indução
à participação. à inexistência de padronização de pagamento
e à possibilidade de OÍ> sujeitos dissimularem condiçõc que Doação pelo Bem da Sociedade
os excluiriam da pesquisa.
Baseia-se no atrruísmo que motiva a doação de órgãos. sangue
e tecidos, Parte do pressuposto de que o interesse, por si mes-
Modelo da Divisão Justa mo. não é o único motor da humanidade.
O sujeito recebe um percentual da importância paga ao pcsqui- Dentre as vantagens, a autora menciona ti não indução à
sador, participação, menor omissão de informações, o estímulo do
Segundo a autora, as vantagens desse modelo seriam. além senso de comunidade e o altruísmo.
da retribuição ao sujeito pela contribuição 11 sociedade. o Como desvantagem. cita a dificuldade para o recrutamento
)( fato de ele ser visto como pane da equipe e haver facilida- e a possibilidade de exploração por lucros.
; de para calcular o pagamento e para recrutar, A ética em pesquisa tem um respeitável destaque na bioética.
":> Por outro lado. as desvantagens incluiriam o fato de essa Esta - que tem C0l110 proposta a reflexão e a discussão sobre
~ forma de remuneração poder ser aplicada somente em pes- os valores aiinemes à vida e à saúde do ser humano - dedica
;;; quisas com pagamento per capita. a possibilidade de indução muita menção à prática de experimentos sobre o homem, mor-
da participação e a permanência do sujeito no estudo. a ine- mente quando não se oferece um benefício para a própria pessoa
xistência de padronização de pagamento e li possibilidade de e que se possa pôr t:!111 risco a sua integridade.
os sujeitos poderem dissimular condições que U~ excluiriam Cada VCI. 111!I is, a comunidade se conscicntiza de que a "uti-
da pesquisa. lização" de seres humanos para pesquisas deve ser rnonitorada
rigorosamente para que não se infrinjam seus fundamentos éticos.

Recompensa Proporcional ao Risco REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


O pagamento é proporcional ao risco envolvido na pesquisa. I. GRACtA. o nwtltim ('/fllirO. Sanra Fé de Bogotâ: Et Buho, 1998.
Os que defendem essa forma de pagamento alegam que a 2. FREtTAS. C 8 O.: HOSSNE. W. S. Pesquisa com sere, humanos. ln: COSTA. S.
sociedade oferece remunerações adicionais aos trabalhado- l. F.. GARRAI·A. V.. OSELKA. G. (coords.)./mdafljo II RIO/lica. Bruma: Conse-
res expostos a riscos ocupacionais e que com a pesquisa não tho FccJcmt de Medicin a, t998. p, t93-20·t
3. HRÓBJi\RTSSO~. A.: G0TZSCHE. P. Is lhe ptac:cbcJpowerless? N. Eng/. J. Med..
deveria ser di ferente. \".344. n. 2t. p. t594·t602. 2001.
De acordo com a autora, tacilitar-sc-ia o recrutamento dos 4. WEtJER, C. ptaccoo-conlrollcd Irial, III ,chllophreniu: are ihey ethical? Are rhey
sujeitos, que seriam adequadamente compensados pelo risco. nccessary? Sd,i:tJ/,It",,"a Researrh, 1'. 35. p. 2Il·2t9. 1999.
Um ponto contra seria a inexistência da padronização de 5. SEARS. J. M. The paymcnt of rcscarch subjcct: ethical concerns. ONF. v. 28. n. 4.
pagamento. 1'.657.611:1.200l.
138 • Tratado de Clínica Médica

à cticidadc. porém. divergiam frontalmente: enquanto a expe-

N
CAPiTUlO 11 riência de Pasteur \ i..ava a um benefício direto aos sujeitos da

.
O
~
pcsquiva (truui-Iov, prcvcnindo-lhcv () sofrimento e a morte).
a de eivver não tralla nenhum bem à pessoa a ela submetida .
U"
UJ
cn Regulamentação da ao contrário. irnpóv-Ihc maior sofrimento e pode. até. ter
contribuído para lhe abrev iar a \ ida.
Prisioneiros foram submetido- ... compulsoriamente. a expe-
riências científicas durante a Segunda Guerra Mundial. exorbitando

Pesquisa em Seres todos os limitcx étie()~. Por ".,0...


cu .. executores foram conde-
nados como criminosos de guerra e a, atrocidades que comete-
mm nc,~a, pcsqulsus, rcah/ada .. nov campov de concentração
alemães. toram ela-si Iicada, como cri rncs contra a humanidade.

Humanos NlvEIS DE CONTROLEDOS UMITES lTICOS OA


PESQUISA EM SERESHUMUOS
Daniel Romero Mufioz Es'-.c e outros fatos mostraram a necessidade de se instituir
um controle éticodas pesqutsas para evitar que nelas as PCSSOu\
INTRODUçlo fossem usadas simplesmente como cobaias. Deve-se, entre-
tanto. estar atento puru () perigo do rigor excessivo. o qual
Realizar uma experiência científica implica em produ/ir modi- pode a..fí\llí-Iu,. impedindo o avanço do conhecimento cien-
1flieo. Como deve ser exercido. então. esse controle?
ficação no estado ou na, condições de um ser vivo. ou de urna
coisa, para observar ti 'cu resultado. Se o propósito tE .. aber o A tendência é que us pesquisas cm seres humanos tenham
que acontecerá. isto é. qual u resultudo da modificação produ- vários 1IÍ1'ei.\ de controle dos seus limites éticos, os quais, sendo
lida. então. por l1lui~bem comroluda que seja a pcsqui ..a. sem- exercidos dentro de critérios bem estipulados, não represen-
pre haverá o n-co de ocorrerem fatos inesperados. que podem tarão qualquer perigo de bloqueio para o avanço ético do
l.JU,:1I dano-. ao objeto ou à pcwoa a chi submetida.
conhecimento.
Preocupado com", problema .. éticos da experimentação O primeiro nível é a própria consciência do pesquisador. ele
cm -.cre, humanos. Claude Bernard. considerado o Pai da Biologia deve expresvar uma postura moral adequada. principalmente
Experimental, levantava a seguinte questão. ao escrever ..cu norteando-se por pnncíprr», éticos elevados e exigindo que eles
liv ro lntroductian ti I'éllldl' de la medicine evperimentale. bá sejam rcspcuados por todos os envolvidos na pesquisa; os
mai .. de um <écul»: "( ... ) temo .. o direito de f:l/er cxpcrimen- princfpio .. íundumcntars são os quatro referenciais básicos da
ração c \ 1\'1 xvccção no homem'?" bioética: beneficência. não maleficência. autonomia e justiça.
A pesquisa em seres humano-, em contrapartida. pode produzir Tratando-se de pesquiva clínica. o médico-pesquisador deve
conhecimento .. que pcrmuam acalmar os males, curar doenças colocar o sujeito de pesquisa como seu paciente. lembrando-se
e aumentar a Inngevitl..de. Pode também colaborar para a melhoria que. nessa circun ...rância, "o alvo de toda atenção do médico é
da qualidade de vida, Tanret lembra que um paciente. ao tomar a saúde do ser humano. em benefício da qual deverá agir com o
um medicamento pcl .. primeira ver, está se submetendo a uma müximo de zulo c o melhor de sua capacidade profissional'".
experiência. pois não xe pode vabcr, de antemão, se aprcscn- O nfvcl seguinte é representado pela instituiçãa de pesquisa
tará ou não rcação colntcrul. Por isso. ele afirma que "aceitar na qual o pesquisador ou o grupo de pesquisadores desenvolvem
a Medicina é aceitar o seu curãicr experimentai"], seu trabalho: silo geralmente laborutôrios. hospitais ou instituições
McCance. quu-c um século dcpoi-, ( 1951 l, contestou ~Iquestão de ensino superior: eles também elevem ser responsáveis pelo
levantada pelo p(// da IJ;o/lIlIia H'f/('ril/l('1I1l11 afirmando: ..... padrão ético das pesquisas ali desenvolvidas.
li prof .....ão médica tem rcsponsabi lidade não apenas com a A comunidade cientifica é um patamar importante nesse controle:
cura ou a prevenção du doença. mas também com o avanço do as bancas examinadoras umversitãrius. as comissões cierníficas
conhccimcntu do qual ambos dependem. Essa rcsponsabiti- de congressos e outros eventos, os conselhos editoriais de periódicos
dade pode vomcnrc se desenvolver com li investigação e :1 e outros corpo' de especialista ....devem exercer seu papel não
cxpcrimcmação'", apenas no que tange ti qualidade cicntfflcu, mas também à ética
O próprio Claude Bernard j:í re..pondia. no livro supracitado. dos trabalhos que examinam, Ne",c mcsmo nível, incluem-se
a sua própria pergunta no' ..eguil1te~ termoo;: "Médico, fa/em também a~ .1·ocil't1l1de\de Jlf'()fl!>!>I()/llIi!>. tais como as socieda-
experimenlaçõc, tentpeultc:1~ diariamente em ..cus paciente:, des de e'pecialidatle, médica~ e as associaçõcs de medicina.
e cirurgii)e'. \ 1\ I"l·cçoe'. Experiência. então. pode ser real i- A cOI/IIIl/id(ule em que se reali/a a pesquisa é um estádio
/ada no homem. 111,'" dl'lIlm de (///1' li/lllll' \ '!" . fundamental de controle e ~ua anui!ncia. livre e devidamente
A' e\llCliêncla'CM!Cuwd .., por I'a'teure 'ei:,~rexempliticalll c:.clarecida. sendo uma ..eg.urança pura o pesquisador como
hem a que'tfio dn, limite' Pu:-tcur foi o primeiro a injetar cm prevenção a eventuais dcm<lnda., jurídicas. Por isso. nesse ni-
,ere, humano, () \ lru, atenuado da raiva. na lentativa de tratar \'el devcm ,er inclurdu,>. alem de um r(>pre~l'lIIallle dos slljei-
e~..e terrívcl mal. embora não tives~e como pre\'er o .. eventuais 1M de pe~lflliÇ{/. outras peS\oa .. representativas da sociedade.
efeito... eolalera ... de "a inoculação. nem se ela teria o efeito AqUI ,e encontra também a I'Il1ilâl/cillll()~·eTllallle"'al. Esta deve
terapêutico desejado: mUI(()S pllcienle, camponeses russos ,cr c,ercidu para coibir o), C'CC\\O!>. mm, não deve se restrin-
mordido~ por lobo!. ral\'O\o" n[lo tiveram a doença e ele I'oi gir apena~ a i~i>o:~ ~utl obrigação investir na edueação do futuro
considcr ..d() 81'11(1';1111dal/III/ul/lidade. Neisser injetou gonococos pesqui~ador. incentivando !lua melhor formação Filosófica e
em uma lIIeninll em la..e finai de escrot'ulo,e c conseguiu. assim. ética. ISlo significa não só muni-lo do instrumental científico
demonsll'llr que e\\c micróbiO é o agente eliológico da blenorragia; para rcalilur pesquisa. mas dotá-lo também do "aparelhamento"
por e~su experiência foi julgado c condenado como criminoso. errtico que lhe permita desenvoher () discernimento e a cons-
Ambos Olo experimentos foram imporlant.es para a humanidade ciência moral, que () capacitará a adotar e defender posturas
pelo valor das de!.cnberta' do /)o1lIU de visla cienlífico. Quanto éticas con,entftnens com 0' uh()s valores que manuseará,
PesquIsa Clínica • 139

IEGUlAMENTAÇlo DA PESQUISA EM 10 O pevqurvudur deve estar preparado para suspender os pro-


ccdrmcntov experimentais em qualquer csrãgío, se ele tiver
SElES HUMANOS motivo, razoãveis para acreditar que a conunuação do expe-
Como deve ser feira, então. a pesquisa em sere, humano, para nmcruo provavelmente eausarã dano. invalidev ou morte pum
ser convidcrndu lícita e éuca? os participantes.
Na prática, o que marca de modo nftido esses limites entre o
moral e o imoral. o Ifc:ilO e o ilícito são os critérios e normas
Declaração Universal dos Direitos do Homem
da pell/II;\{/ l'III.\l'/'I'S humanos. que podem ser diretrizes inrer-
nacionars, de carãicr geral ou regras específicas corno a legis- Em 1948 foi claboruda a Declaração Universal dos Direitos do
lação de um pafs. Ilomem. cujov princípios nortearam os regulamentos posierio-
rcv, lC''_C documento. o artigo 27 (ver Anexos) garante a todo
Dlretrizes Internacionais para ser humano o direito de participar do progresso científico. DOS
Pesquisa em Seres Humanos seguintes termos: "Todo homem tem o direito de participar
livremente da vida cultural da comunidade. de fruir das artes e
A\ principar-, dirctnvcs tntcrnacronarv para a pesquiva cm seres de participar do progresso cientifico e de seus beneficias".
humanos ,ãl) I) Ç(xhgo de Nurernbcrg. a Declaração Universal O Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Polüicos.
do, Direito» do Homem (urt. 7). a Declaração de Helsinque e proclamado em 1966. pela Assembléia Geral das Nações Unldas,
a, Dlretri/cs lrucruacionuis para pesquisas biornédicas envol- pura dar força legal e moral à Declaração Universal dos Direi-
vendo seres humanos. tos do Homem, no seu artigo 7 dirige-se cspeciflcumcntc à pes-
quisa científica em seres humanos nosseguintes termos: "Ninguém
Código de Nuremberg
serã submetido a tortura ou ii tratamento ou punição cruel.
Os graves fato, rclucionados à pesquisa em seres humanos. desumana e ou degradante. Em particular. ninguém será subme-
ocorridos durante li Segunda Guerra Mundial. desencadearam tido. sem ..eu livrc consentimento. a experiências médicas ou
3<; primeira, tcntati\a~ de regulamentação da pesquisa em seres científica .... b•
humanos. Surgiu. então. o Código de urernberg. em 1947.
que tendo 'Ido elaborado para proteger a imcgridadc dos su-
JCItO' dc pcvqurva. cnfau/a li necessidade do seu ('()II sentimento Declaração de Helsinque
voluntário, para dar licitude à pesquisa, São transcritos. a seguir,
A Declaração de Helsinque. veio ii IU7 cm 1964. tornando-se o
seus dCI artigos'.
documento básico. do qual emanurum wdu, a.. norma .. relativas
Tnbunal Internacional de Nuremberg 1947 à pesquiva em seres humanos desde cnt"o. Ela loi promulgada
I. O con-emimcnu: volunuirio do ser humano é absolutamente pela 18~ Avscmhléin Médicn Mundial reunida em Helsinque,
c\\cnclJI 1,,0 vigniflcu que ,IS pessoas que verão vuhmeridas Finlândio. em 1964. e corrigida pela .. Asscmblciu ... Médicas
no experimento devem ser legalmente capazesde dar conscn-
Mundiais de Tóquio (1975), de Veneta (1983). de Hong Kong
umenro: C:"J' pt:~~()a~devem exercer o livre direito de e'CH'
lha semqualquer intervenção de elemento, dc torça. fraude.
(1989). de Somerset Oeste (1996) e de Edimburgo (2000).
mentira. coação. a'lúcia ou OlUfU forma dc rc'trt".lo JXl'tc- O texto da Declaração adorada em Edimburgo. E cõcia,
rior: devem ter conhecunentu ,uficlcnlc do "\\UIIIIIcm c'tudu em outubro de 2000. é o seguinte":
para tomarem uma decivao. Ii'tc úlnrnn a-pccto exige quc sejam A. Introdução
cxplicado-, j, pt:"nJ' a nuturczn. a duraçüo c II propõsuo do t. A Avsocração Médica Mundial desenvolveu a Declaração de
expcnmcnto: ()\ metodr» segundo os quarv ,crá condu/ido: as
Helsinque como uma declaração de princfpio .. éticos para
incon\ cmcnctav c o, n,,;()~ esperados: o, efeitos sobre a saúde
fornecer oncntaçõcs aos médicos c outro, participantes cm
ou I! pc,,, ... do parucipantc. que eventualmente possam ocor-
[l..:~t)ub:1\c1ílllca, envolvendo seres humanov, Pc\tlui,u elfnicn
rcr, CIl1 ruzuo de sua participação no experimento. O dever e a
envolvendo seres humanos inclui pcsquivn com m:uerial hu-
responsabilidade de garantir a qualidade do conxcntimentc re-
1110noidemificãvel ou dados idcl1liliclhel\
pousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um cxperi-
mente ou se compromete nele. São deveres c respcnvabílidadec 2. I~dever do médico promover e ~lIlv[lJ;uurdJr a ,aúde de seus
pes,oai~ quc não podem ..er delegado' li outrclllllllpUnCll1cntc. pucicrucv. O conhecimento e a cllll,cif!ncIJ do médico estão
2. O cxpcrimenlu de\c ,er tal que prodU/II rc,ult.tdo' vantajo. direcionodo, para o cumprimcnto dc~~e dever.
se" puru 1\ 'Ilt:lcdade. I.)ue não po"am ,cr bu,cados por ou- :l. i\ Dcclar,lt;üo de Genebra da As~ociação M~dica Mundial
11'11\ mélndll' d~ c,tudo. ma., nào podcm ~er Icuu' de manelfU comprometc ° médiCO com as seguinles palavras: "A Saúde do
ca'u('lIca ou dc,ncc.:c'\4ria01ente. mcu pacicnte ~rá minha primeira consideração". c o Código
3 O c'pt:rtlllcnto dc\c ..e bascar em rcsultado, de e'pcnmen· de Ética Médica internacional declara (Iue: "O médico dcve
taçJo I:IIIUllilll,lI' c nu conhecimenln do evoluç,10 du docnça agir 'OIllClltc no inleresse do pacictllc iii) pm~er CUidado,
ou I)utro~ problcl1Iu\ em cMudo: de~sa IllnllClm. 0\ re~ult;t- médicos que talvez possam cnfraqucccr us condlçõc' men",1
dn, já c.:ollltecitltl\ Jusllficam a condiçiio (lo clIperimento. e física do pacienle".
4. O cxperimento tlevc hcr condu,idu de l11audra ti evitar todo 4. A evolução llIédica ba,cia-,e na pesquisa que ~c fundumcnw.
'(lfrirncnlU \)dtlnos desnccc.ssário~. quer f'ísicos. quer materiais. CIlI partc. 1111 experimentação cnvolvclluo ,eres humanos.
5. uu de\ e ,cr cunduzido qualquc:r experimento quando cxi,lircm 5. Em pc,qui,u clínica com ,ere~ hU01unos. cOl1siderações rc-
m/õc' para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez laeltlnada' [10 bCI1I-cslar do' ,erc' humanos devem preva-
pennanenle: cxccto.lalve/. quando o propriomédicn 1)C\(julsador lecer 'ohre o, intere~~es da ciência e da ,ociedade.
..e ,uhmclcr 30 experimento. (l. O ()hJctlv() prtncipal da pesquisa clinlcl! clivai vendo seres
6. O grau dc ri...:()accitávcl deve '>CrIimu:ldo pela illlpllrtfinct3 dn humano~ é melhorar ~ procedimemo\ pro(jlruico~. diagnót,ticos
problema que (l pC'l.)ul\ador ~c: pmplie a rC'lllycr. c terapêulicos e entender II etiologia c a p(llogêne~e da doen-
7. Devcm ,cr tomado, cUldudO\ C'pt:CI;l1\ p.lru prolegcr o panl- ça. Até me~mo o~ melhore~ mélodo, pmtilátic()~. diagnósti-
Clp..ntc du c\pcrimcntn dc quall.)ucr pO"lbi Iidade de d..no. co .. c tcrapêuticos eomprovlldo\ dc\·em tcr. continuamente.
111\;lhdc/ (lU murte. mc~mo quc remota. ,ua eficáCia. eficiência. aces~ibllidJde e qual idade teMadas
S. O CXpCrill1C1l1ll deve ,cr cunduzido apena, por pessoas eien- por meio de pc~qui~a,.
til1cul1lcnle qUllhficada~. 7. Na prálicn cHnicu atual e na pe,qul,a clínica, II Il1uioriu do~
9. O pllrticlpal1tc do experimento deve ter a liberdade de se I''':lirar proccdimento, profilátieos. diagnõ'tlcn, c tel'lIpêlltieos en-
no decorrer do experimenlo. volve ri,c(), c encargo,.
140 • Tratado de Clínica Médica

8. A pesquisa clfuica é limitada por padrões éricos que promo- 20. Os sujeitos devem ser votuntãrios e puriiclpuntcs informa-
vem o respeito U lodos os seres humanos e protegem Sua saúde dos do projeto de pesquisa.
e direitos, Algumas populações de pesquisa são vulneráveis e 21. O direito do paciente de resguardar sua integridade deve sempre
necessitam de proteção especial. As necessidades paniculares ser respeitado. Toda prccuução deve ser tornada para respei-
dos desassistidos econômica e clinicarncmc devem ser reconhc- tar a privacidade do sujeito. (I confidencialidade das informa-
cidas. É preciso atenção especial também para os que não podem çõcs e paru minimizar o impacto do estudo na integridade
recusar o conscnrirncnto por eles mesmos. paro os que po- ffsic~1e mental, bem como na personalidade do paciente.
dern estar sujei lOSII fornecer o con entimento sob coação. para 22. Em qualquer pesquisa envolvendo seres humanos. cada pa-
os que não se bcncficiurâo pessoalmente da pesquisa e ãquc- ciente em potencial deve estar adequadamente informado quanto
les pura o, quais II pesquisa é associada com precauções. a objetivos. métodos, fontes de financiamento, quaisquer pos-
-r 9. Os pesquisadores da pesquisa devem estar conscientes das síveis conflitos de interesse. aflições institucionais do peso
....... exigências élicas. legai" e reguhuõri .., sobre II pesquisa em quisador, benefícios antecipados e riscos em potencial do estudo
.;.. c qualquer desconforto a que possa estar vinculado. O sujeho
00 ser humano em seus próprios parses. bem eomo exigências
internacionais cabíveis. Nenhuma exigência ética. legal e deverá ser informado da liberdade de se abster de participnr
do estudo ou de retirar seu consentimento para sua partici-
regulmõria local deve poder reduzir ou eliminar quaisquer das 't'"
prorcçõcs dos scrcv humanos publicadas nesta Declaração. pação em qualquer 1110men10.sem rcrallação. Após assegu- ...
B. Princípios básicos para toda pesquisa clínica rar-se de que o sujeito entendeu lodo II informação. o médico •
10. ~ dever do médico, na pesquisa clínica. proteger ti vida. a deverá. emão. obter seu conscniimento informado espontâ-
saúde, a privacidade e a dignidade do ser humano. neo, prctcrencialmcnre por escrito. Se o consentimento não
II. A pesquisa clínica envolvendo seres humanos deve estar em puder ser Oblido por escrito. o conscmimento não-escrito deve
conformidade com os princfpios cicnuücos geralmente aceitos ser formalmente documentado e testemunhado,
c deve se basear no conhecimento minucioso da literatura 23. Ao obter o consenumento informado. o investigador deverá
cientifica, cm 01111"11 tome de informação relevamc c cm cxpc- dar especial atenção àqueles pacientes que apresentam rela-
rimcnração taborurorial e, quando apropriado. experimenta- ção de dependência com o médico ou possam consentir na
ção nnirnal. real ização do estudo sob coação. Nesses casos, o consentimento
12. Cuidados apropriados devem ser tomados na conduta da pesquisa informado deverã ser obüdo por investigador bem-informa-
que possa afetar o ambiente c (I bcm-estar de animais usados do. não envolvido com a pesquisa e que seja totalmente inde-
para pesquisa deve ser respeitado. pendente desse relacionamento.
13. O desenho e fi reali7uçiic) de cada procedimento experimen- 24. Para sujeitos de pesquisa que forem legalmente incompeten-
tal envolvendo veres humanos devem ser clararncnte discu- tes, incapazes física ou mentalmente de dar o conscruimcnto
Iido, no protocolo cxpcrímental. Esse protocolo deve ser ou menores legalmente incomperemes. o investigador deve-
vubrnctido 11análive. com comentários. orientações. e quan- rá obter o conseruirnemo informado do representante legal-
do apropriado. 11aprovação de um comitê de ética médica mente autorizado. de acordo com a legislação apropriada.
especialmente indicado. que deve ser independente do pes- Esses grupos não devem ser inclufdos em pesquisas, a menos
quisador e do patrocinador do estudo ou qualquer outro tipo que sejam necessárias para promover a saúde da população
de influência indevida. Esse comitê de ética independente representada e não podem. em seu lugar. ser realizadas em
deve estar de acordo com as regulações e leis do país no qual indivíduos legalmente competentes,
a pesquisa clínica será conduzida. 25. Quando um sujeito considerado legatmcmc incompetente, como
14. O comitê tem o direito de rnonitorar estudos cm andamento.
uma criança menor. é capo I. de aprovar decisões sobre a par-
ticipação no estudo. o pesquisador deve obter essa aprova-
O pesquisador tem a obrigação de fornecer informações de
moniroração ao comitê, em particular, qualquer evento ado
ção. além do consemimemo. do representante legalmente
verso sério. O pesquisador deve também submeter ao comi- autorizado.
26. Pesquisas com indivíduos, dos quais não é possível obter
lê, para revisão. informações sobre financiamento, patrocinador.
consentimento. incluindo consentimento por procuração ou
afiliações instuuclonais. outros conflitos de irueresses em
superior. deverão ser realizadas apenas se a condição ftsico-
potencial e incentivos nos sujei lOS. mental que impede a obtenção do consentimento informado
15. As pesquisas clfrucas envolvendo seres humanos somente
for uma caractertstica necessária para a população da pesquisa.
deverão ser conduvidas por indivíduos cientificamente qua- As razões específicas para envolver sujeitos de pesquisa com
lificados e sob a supervisão de um médico cornpeteme. A urna condição que os tome incapazes de fornecer o conscn-
responsabilidade pelo paciente deverá sempre ser designada timcnro informado devem estar declaradas no protocolo
a individuo medicamente qualificado c nunca a critério do experimental, para consideração e aprovação do Comltê de
próprio paciel1le. mc~mo que eSle tenha dado seu consenti· Ética. O prolocolo deve declarar que o eonsenllmenlo para
menlo para lill. permanecer oa pesquisa deve ser oblido. o mais rápido possí·
16. Todo projelo de pesquisa clínica envolvendo seres humanos deve vel, do indivíduo ou represenlanle legalmenle aUlorizado.
~cr precediuo pela avaliação cuidadosa dos posslveis riscos 27. Ambos. aUlores c editores. Iam obrigações éticas. Na publi-
e cncnrgos para o paciente e OUITOS. ISlo não impede II parli· cação de resultados de pesquisa. o pesquisador é obrigado li
cipação de volunlários saudáveis cm pesquisa clínica. O dese- preservar a precisão dos resulLados. Resultados negativos. bem
nho de todos os eSludos deve eSlar publicamenle disponfvel. C0l110 posilivos. devem ser publicados ou. caso contrário. devem
17. Os pesquisadores devem se abloler de e envolver em estudos eSlnr disponfveis para publicação. As fomes de financiamento,
clínicos com seres hurnunos. a menos que eSlejam confian· :1fi Iiaçõcs inslÍtucionais e quaisquer connitos de interesse devem
les dc que os ri~c(), foram avaliados adequadamenle e po· ser declarados na publicação. Relalórios do experimento que
dem ser gcrenciados de modo satisfatório. O, pcsquisudores não eSlejam -de acordo com os prinefpios presentes nesta
uevcm inlerromper qualquer pesquisa se a relaçll0 risco/bene- Declaração não devem ser aceitos para publicação.
fício IOrnar·se desfavorável ou se nao houver provas conclu- C. Princípios adicionais para pesquisa clínica combinada a cui·
~i"a, de rcsullados po~itivos c benéficos. dados médicos
18. As pesquisa" clínica, Io:nvolvendo seres humanos deverão ser 28. O pesquisador pode associar pesquisa clínio.;aa cuidados médicos
conduzidas apen[l~ loe n importância dos objelivos exceder apenas até o ponlo em que a pesquisa é jusli ficada por seu
Oloriscos e encargo, inerenles ao pacienle. ISIOé de impor- valor profilálico. diagnóslico e Icrapêulic() CUlpmeneiaL Quando
lância e,peeinl quando os seres humanos são volunlários sau- a pesquisa clínica é combinada a cuidados médicos. aplicam·
dáveis. se padrões adicionais para proleção dos pllcienles Que são
19. A pesquisa clínica é justificada apenas se há probabilidade sujei lOS de pesqui~u.
falOável de que as populações nas quais a pe quisa é reali- 29. Bcncrrcios. riscos. encargos e eficácia de um novo método
zada se beneficiarão de seus resullados. dl!vcm ser tel>tado~comparalivamenle com os melhores ll1é-
Pesquisa Clínica • 141

todos aluai, profilãucos. diugnésticos c tcrupêuticos exis- • Diret ri; 3: obrigações do pesquisador a respeito do
rentes. hlO não exclui o uso de pluccbo ou de não-trata- consentimento pós-informação.
mento crn estudov cm que não exist.uu métodos profiláricos. • Diretri; 4: indução tI participação.
diagnõstico» ou terupêuucov comprovados. • Diretri; 5: pesquisa envolvendo crianças.
30. Na conclusão do evtudo, todo paciente colocado no estudo
• Diretri: 6: pesquisa envolvendo pessoas com distúrbios
deve ter o acesso avscgurado 30S melhores métodos profi-
mentais ou compcrtumentais.
Iãricos. diugnõstico-, c terapêuticos comprovados. identifi-
cados pelo estudo.
• Diretri; 7: pesquisa envolvendo prisioneiros.
31. O médico deve informar dctalhadamcmc ao paciente quais
• Diret ri: 8: pesquisa envolvendo indivíduos de comuni-
aspectos do tratamento estão relacionados à pcsqu isa. A recusa dades subdesenvolvidas.
x • Diretri: 9: consentimento pós-informação em estudo
oô do paciente. cm parncipar do estudo, nunca deve interferir
'"": com a relação médico-paciente. epidern iológicos.
32. No traramcrno de um pacicmc. quando métodos profiláricos. • Diretri; 10: distribuição equânime de ônus e benefícios.
'"
M
r- diagnósticos c tcrupêurico-, comprovados não existirem ou • Diretri: II: seleção de gestantes e nurrizes como parti-
,.
oA
forem ineficazes. o médico. com ()consentimento informado cipantes de pesquisas.
do paciente. dcverã ser livre para utilizar medidas profilüricas •. • Diretriz 12: salvaguardas 11confidencialidade.
diagnosticas c tcrupêoticns nào comprovadas ou inovadoras. • Diretriz. I J: direito dos participanrcs II compensação.
se. em seujulgumcnro. eMa, oferecerem li esperança de salvar
• Diret rit. 14: const ituição e rcsponsabi lidadcs de COI11 i-
a vida. restabelecer a saúde e aliviar o sofrimento. Quando
possível. essas medidas devem ser objcro de pesquisa, pro- lês de revisão ética.
gramada para aval iar sua segurança ou eficácia. Em todos • Diret ri: 15: obrigações dos países hospedeiro e patro-
os casos, as novas informações devem ser registradas e. cinador.
quando apropriado. publicadas. A~ outrus direrrizes rele-
vantes dessa Declaração devem ser seguidas,
o texto completo dessas dirctrizcs encontra-se no Anexo I.

Nota de Esclarecimento sobre o P"rágrafll 29 da Declaração de


Helsinque do Conselho du A~~ociuçào Médica Mundial. cm Outubro limites da Pesquisa em
de 2001. a Revpcuo do uso do Plnccbo na' Pevquisns: Seres Humanos no Brasil
"A Associação Médica Mundial e~tá preocupada com o pa-
rágrafo 29 da Declaração de Helsinque. revisada em outu-
Lei Penal
bro de 2000 (Edimburgo). que gerou interpretaçõesdivergentes A experiência de Ncisscr anteriormente referida também seria
c confusão. Ela reafirma sua posição de que se devem 10- considerada Ulll aro criminoso no Bruvil"
mar cuidados extremo, no uso de pesquisas com placebo O Código Penal Brasileiro. em seu urugo Ln. deixa claro
e que. em geral. essa metodologia somente pode ser utili- que "expor a vida ou a saúdede outrem a perlgu direto c iminente"
zada na inexistência de terapia. Coruudo. pe-quisas que utilizam
é crime e implica em pena de detenção de três me. es a um
placebo podem ser eticamente aceitáveis. mesmo se a te-
rapiaestiver dispouívcl. sob a, seguinte»circunvrâucias: ano. se o fato não constitui crime mais grave".
• Quando por sériav razões metodológicas e científicas o Assim. a experimentação em sereshumanos. no Brasil, também
seu u,,) for neccwãrio para determinar a eficácia uu a pode tornar o pesquisador criminoso, dependendo das condi-
segurança de um método profltãrlco. diagnóstico ou ções em que for feita. Nota-se que não é neces ário que tenha
terapêuuco; ou havido dano ao sujeito da pesquisa; o fato de apenas expor a
• Quando um méiodo profilãtico. diagnóstico ou terapêutico vida ou a saúde de outra pessoa a perigo direro e iminente já
estiver sendo pesquisado por uma condição irrelevante configura o crime. Portanto, qualquer experiência que impli-
e os pacientes que receberem o placebo não forem su- que em colocar a saúde ou a vida do sujeito de pesquisa nesse
jeitos ii qualquer risco adicional de dano sério ou irre- tipo de risco poderá ser considerada como criminosa.
versfvel, Vê-se, dessa forma, que () pesquisador vive perigosamente
Todas as outras disposições da Declaração de Helsinque entre as duas condições: ser considerado benfeitor da huma-
devem ser seguidas. em especial a ncccssidndc ele uma apro- nidade ou criminosa. O limite entre elas pode ser muito tênue.
priada revivâo ética e cicnt inca."
Pesquisa em Cadáver
Diretrizes ~ticas Internacionais para Pesquisas
A Lei n!?8.50 I. de 30 de novembro de 1992, permite a utili-
Biomédicas Envolvendo Seres Humanos zação de cadáver para ensino e pesquisa 10.
Elaboradascm 1982 pelo Conselho para Organizações Inter- Nos termos dessa lei. o cadáver não reclamado com as
nacionaisde Ciências Médicas (CIOMS). em colaboração com autoridades públicas. no prazo de trinta dias. poderá ser destinado
a Organização Mundial da Saúde (OMS). o objetivo dessas às escolas de medicina. para fins de ensino e de pesquisa de
diretrizes foi mostrar como o princípios éticos fundamentais. carátcr cientffico. Esse diploma legal visava. em sua origem.
que devem reger as pesquisas biomédicas em seres humanos. a disciplinar a disponibilivação de cadáveres para estudos de
podem ser aplicados em países em desenvolvimento. respei- anatomia nas faculdades de medicina. tendo sido ampliada
tandocultura. situação socioeconômica. legislação e disposi- para incluir li possibilidade de utilizã-Ics para outros estudos,
ções executivas e administrativa locais", inclusive pesquisas científicas. Por isso. em seu artigo terceiro.
Revisadasem 1993. no vcntido de reafirmar a proreção dos afirma que será destinado para estudo:
direitos e do bcm-estar dos sujeitos de pesquisa e de indi-
• O corpo de pessoa falecida sem qualquer documentação
víduosou grupos vulneráveis. o texto consiste cm uma decla-
(desconhecido).
ração de princlpios éticos. um preâmbulo e 15 diretrizes.
• O cadáver identificado. sobre o qual inexisiern informa-
abordandoos seguintes tópicos:
ções relativas a endereçosde parentesou responsáveislegais•
• Diretriz I: consentimento pós-informação individual. e, nessecaso. a autoridade competente fl1rápublicar. nos
• Diretriz 2: informações essenciais para os possíveis principais jornais elacidade. a tftulo de utilidade pública •
participantes da pesquisa. pelo menos dez dias, li notfcia do falecimento.
142 • Tratado de (lfnica Médica

É importante frisar que se a morte resultar de causa não- Art. 123 - Realizar pesqu isa cm ser humano. sem que este te-
natural. o corpo serã. obrigatoriamente. submetido à necropsia nhu dado consentimento por escrito. após devidamente esclare-
no órgão competente, isto é, no Instituto Médico-legal. c se cido sobre a natureza e conseqüência da pesquisa.
houver indício de que a morte tenha resultado de ação cri mi- Parágrafo único - ColSOo paciente não tenha condições de dar
nosa. não poderá ser encaminhado para fins de estudo. seu livre consentimento. II pesquisa somente poderá se realizada,
cm seu próprio benefício. após expressa autorização de seu
Saliente-se também que, pura fins de reconhecimento. a responsável legal.
autoridade ou instituição responsável manterá. sobre o falecido: An. 124 - Usar experimentalmente qualquer tipo de terapêutica
os dados relativos às características gerais. a identificação, as ainda não liberada para uso no paf~. sem ti devida autorização
fOLOS do corpo, a ficha dariloscópica. o resultado da necropsia, dos órgão. competentes c ~CIl1 consentimento do paciente ou de
se efetuada, e outros dados c documentos julgados pertinentes. seu responsável legal. devidamente informados da situação e
A qualquer tempo. os familiares ou representantes legais terão das possíveis conseqüências.
acesso a esses elementos. Art. 125 - Promover pesquisa médica na comunidade sem o
Cumpridas essas exigências o cadáver poderá ser liberado conhecimento dessa cnlcrividade e sem que o objerivo seja a
para rins de estudo. protcção da saúde pública. respeitadas as características locais.
Art .126 - Obter vantagens pessoais, ter qualquer interesse co-
mercial ou renunciar à sua independência profissional em rela-
Lei de Biossegurança <,:ão a financiadores de pesquisa médica da qual participe.
A lei que regulamentou o uso das técnicas de engenharia genética Art. 127- Realizar pesquisa médica em ser humano sem submeter
e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente o protocolo a aprovação e acompnnhnmcnto de comissão isenta
modificados (OGM). além de criar a Comissão Técnica a- de qualquer dependência em relação ao pesquisador.
Art. 121\- Realizar pesquisa médica em voluntãrios. sadios ou
cional de Biosscgurança (Lei nll 8.974/95). estabeleceu nor- não. que lenham direta ou indirctamcntc dependência ou subor-
mas pura as pesquisas que utilizam algumas dessas técnicas". dinação relativamente ao pesquisador.
Em seu artigo segundo. ela reza que: Art. 129 - ExeclIl<lrnu participar de pesquisa médica em que
Arividudc« e projetes. inclusive ()~ de ensino. pesquisa cienríri- haja necessidade de suspender ou deixar de usar terapêutica
cu, desenvolvimento tecnológico e de produção industrial que consagradu c, com i~,o. prejudicar o paciente.
envolvam OOM no territõrio brasileiro, ficam restritos ao ãmbi- An. 130 - Realizar experiências com novos tratamentos clínicos
to de entidades de direito público ou privado. que serão tidas ou cirúrgicos em paciente com afecção incurável ou terminal
como responsáveis pela obediência aos preceitos desta Lei e de vem que haja esperança razoável de utilidade para ele, não lhe
xuu regulamentação. bem como pelos eventuais efeitos ou con- impondo sofrimentos adicionais.
seqüênci ... advindas de seu descumprimento.
Resoluções do Conselho Nacional de Saúde
Em seu artigo oitavo. regulamenta que:
No Brasil. compete ao Conselho Nacional de Saúde, órgão do
É vedado. nas arividadcs rclaciunadas ~ OOM: Ministério da Saúde atuar na formulação da estratégia e no
I - qualquer manipulação genética de organismos vivos ou o controle ela execução da Política Nacional de Saúde.
manejo iII vitro de DNA/RNA natural ou recornbinante. reali- Resolução nll 196/96. Até 1996 não havia uma lei abran-
zados em desacordo com as normas previstas nesta Lei; gerire, vúlida para todas as pesquisas em seres humanos e para
II - a manipuluçãu genéricu de células germinais humanas:
todos os profissional que a elas se dedicavam.
III - ii intervenção em material genético humano iII viva, execro
para (I tratamento de defeito» genéticos, respeitando-se princfpios Em novembro de se ano foi promulgada a Resolução
éticos. tai, corno o princípio de autonomia e o principio de nO 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (ver Anexos).
beneficência. e com a aprovação prévia da CTNBio; passando, então, a regulamentar as pesquisas em sere hu-
IV - li produção. armazenamento ou manipulação de embriões manos no Brasil. Ela criou a Comissão Nacional de Ética em
humanosdestinados a servir como material biológico disponíve! ... Pesquisa do Ministério da Saúde (CONEP/MS) e obrigou to-
das as instituições que se dedicam à pesquisa no país a terem
Código de Ética Médica um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) ou a submeterem seus
projetes de pesquisa a um CEP de outra instituição".
No Brasil, O Conselho Federal de Medicina, criado em 1957,
Desse modo. todo projeto de pesquisa deve ser aprovado
elaborou normas cricas a serem seguidas pelos médicos para
pelo CEP da instituição em que será desenvolvido, o qual deverá
a pesquisa em seres humanos. através de suas resoluções e do
ser composto de profissionais de diferentes áreas, como, por
Código de Ética Médica (CEM).
exemplo. médicos. psicólogos, juristas, teólogos, sociólogos,
Em 1975. ti Resolução n2 671. do Conselho Federal de
filósofos, bioeticistas e por um representante dos usuários.
Medicina. adorou a Declaração de Helsinque C0l110 guia a ser
Os projetes de pesquisa em algumas áreas, denominadas
seguido pela classe médica em matéria referente ii pesquisa temáticas especiais (genética humana. reprodução humana.
c1fnica. Além disso, essa resolução traz uma série de reco-
populações indígenas. etc.) serão apreciados pela CONEP após
mendações sobre a conduta a ser adorada pelo médico em relação
a aprovação do CEPo
ii pesquisa clínica medicamentosa (ver Anexos)".
Essa Resolução foi considerada pela Organização Pano
O Código de Deontologia Médica. de 1984.impunha também
americana de Saúde (OPAS) como uma das mais avançadas
que":
cm termos de ética em pesquisa. tendo sido recomendada como
É vcdudo IIU médico no exercício de sua profissão: parâmetro para os demais países latino-americanos".
Reuliznr pcsquisu cm anima nobili, sem estar devidamente Resoluções Complementares. A Resolução nº 196/96
lIutori~.adC)
c sem o necessãrio acompanhamento de Comissão foi complementada pelas seguintes normas (ver Anexos)":
de ÉticlI.
• Resolução nO240/97, que define o termo "usuários" para
O arual Código de Ética Médica", promulgado em 1988. efeito de participação nos Comitês de Ética em Pesquisa
assim se manifesta em relação à pesquisa médica: das instituiçõe e dá outras providências".
É vedado ao médico: • Resolução nº 251197. que regulamenta a área temática
Art. 122- Participarde quutquer tipo de cxpcriência no ser humano de pesquisa com novos fármacos. medicamentos, vacinas
com fins bélicos. polüicos. rncials ou cugênicos. e testes diagnõsucos".
Pesquisa Clínica • 143

• Re olução n' 292/99. que trata da área temática de pcs- Anel. I


quisas coordenadas do exterior ou com participação es-
trangeira e pesquisas que envolvam remessa de material Diretrizes Éticas Internacionais para a Pesquisa
biológico para o exterior!". Biomédica Envolvendo Seres Humanos
• Resolução nIl301/00, que propõe a manutenção inalterada Elaborado pelo Conselho para Orgnnizuções dc Ciências
do Item 11.3 da Declaração de Helsi nque. ii Assembléia Médica, (CIOMS) em colaboração com II Organização
Geral da Associação Médica Mundial. a realizar-se em Mundial do Saúde (OMS) Genebra - 1993
outubro de 2000 em Edimburgo". Oirelrlz I: Ccnscntimenro pós-informação individual.
• Resolução nO 304/00. que aprova as norrnns para pcs- Para ioda a pesquisa biomédicu envolvendo seres humanos. o
quisas envolvendo seres humanos na área tcmãricn es- pesquisador dcvcrâ obter um consentimento informado do possível
pecial referente a Povos Indtgcnus". sujeito a ser pesquisado ou. no cuso de um indivíduo que não seja
capai de dar um consemimcmo informado. um consentimento por
Desse modo. a Rcsolução n" 196/96 e suns complementares delegação de um representante adequadamente autorizado.
(ver Anexos) Mio. utualmente. a pedra angular da rcgulurnen- Dlretrlz 2: Informações essenciais paro os pos ívcis particípantes
tação da pcsquiva cm sercv humanos no Brasil. da pesquixa.
Antes de solicitar o consentimento mdividuul para pnrticipnr
C.IIIIEIIÇIEI flllll cm uma pesquisa, o pesquisador deverá pos~ihilil:lr no individuo
as seguintes informações. em linguagem que ele ou ela seja capaz
Para concluir, a terceira pergunta formulada no início deste de compreender:
trabalho - como fazer pesquisa iII anima nobili de modo ético'!
-conslitui-se. hoje. em um dos principais desafios para o homem • Que cada indivíduo é convidado para participar como sujeito
de ciência. A re posta a essa questão exige cnfoquc multidis- em uma pesquisa. c os objerivos c métodos de pesquisa.
• A duração esperada da participação dos sujeitos.
ciplinar, o que acarreta dificuldades ao pesquisador que se
• O~ beneficies que possam racionalmente ser esperados como
defronta com o tema pela primeira vez. principalmente o da resultados para o ujeito ou para outros como resultado da
área de saúde: porém. é fundamental que ele esteja familiari- pesquisa.
zado com a rcgulameruação da pesqui a. No Brasil. a Reso- • Qualquer ri. co ou desconfono previstos para o sujeito. asso-
lução na 196/96 e suas complementares sintetizam, de modo ciados a sua participação na pesquisa.
admirável, os parâmetros que norteiam o assunto, constituiu- • Qualquer procedimento ou tratamento alternativo que poderia
do-se em referencial seguro para todos os que se dedicam à ser Ião vantajoso para o sujeito quanto o procedimento ou
pesquiso em seres humanos. tratamento que esrã sendo restado.
• A extensão na qual II confidcnciulidude dos duelos, nos quais
REFER~NClAS BIBLIOGRÁFICAS () sujeito é idcnuficado. scrã muruidu.
I. BEECIIER. II. K. Expcrilll(n.3110n ln man, J. Am. Mrd. A,\/I(., v. 169, I). 461·78. • A cxtcnsüo du rcsponvabilidade do pesquisador. se alguma.
Mly 1959. cm prover serviços médicos ao sujeito.
1. RODRIGULS. A Ç. ""'lJ10, ,"niCO> em pe»O;l' hum~na,. ii folho MMim. v. 7(l. • Quc terapia ser:! posta à disposição. de forma gratuita. para
... 2. p. 17J.17b, I.." 1972 tipo~ especfficos de danos relacionados 1'1 pesquisa.
J. MCCA'I(C'E.R A 1'r.Icllcc olc\pcnmcnul McdK'1Ie I'rrH /I/lI.ltll'.Mftf.,Y.44. • Quc o sujeito. sua família ou dependcntes serão compensa-
P I 9 19-1, \IM 19S1 do, por incapacidades ou morte resultantes de tais danos. e
4 CRI:.\lhSl' C'(Id'~/I 01,i",o ~Itdl(o, Tr.r,o.Ú'fItlll f,"'rr ti/III. nlfI'/ltII , D,·
vem dm Mld"", , P",""'" "Ao Paulo C'RHIF_"1'.2001 107p. quc o indivíduo está livre para recusar em participar e livre
S. CÓDIGO DE NURI-"BI·RCi 1947 ln SGRECCIA. E. M"'''1II1 d.. 8111~"I'/I.S50 para abandonar a pesquisa em qualqucr momento sem qualquer
Polulo 1..0)011. 1996 penalidade ou perda de benefícios os quais ele ou ela te-
6. DECI.ARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS IIUMA OS. ln: I'ESSINI. L.: nham direito.
BARCIIIFOl\'TAINl:. C. P.l'roblrma. aluau dr Hi,1II1C8.S50 Paulo: Loyoln. 2()()2.
1. DECLARAÇÃO DE HELSINQUE. ln: PESSINI. L.: BARCHIFONTAINE, C. P. Diretriz 3: Obrigações do pesquisador a respeito do cousenri-
ProbIrllWJAluoiJ Ilr Oio"il·/J. São Paulo: Loyola, 2002. mcmo põs-lnfcrrnnção.
8. DIRETRIZES ~ICAS 1I\'TERNA(lONAIS PARA I'E.~QUISAS 1l10MÉDICAS O pesquisador rem o dever de:
E.'llVOLVENDO SERES HU;\IANOS. CIOMSIOMS. 1993. O/ofl/fII. v. 3. p. 95·
136. 1995. • Transmitir 00 possível sujeito todas as informações neces-
9. CÓDIGO PEl\AL BRASILEIRO. CÓDIGO DE PROCESSO I'E."AI .. CONSTITUI· ~ária~ para um adequado consentimento informado.
çÃO FEDERAL Rt\lSla dos Tribunais. Silo Paulo.2002 IOJ9p. • Propiciar ao possível sujeito plena oportunidade e encora-
~ 10. ARAÚJO. L 1.. S "mjira(oo da ulili~tio d, sere»hIlJfHIn"" anuna!» 'fIIIJI'squi. jamento para fazer perguntas.
'" 1M rw<tí{ItvJ.frr,," IJfIf!uNlom,nIOJ' fI~,il(lj da "'01111'/1Do,><:noc;lIo(Me'lnKlo)
"'! _ Unl\d\1Ibdc fcd<ral AUmll,.n<ellJnlvCt'lKbdc ffilcl1ll de AI8goo s, 1999. 1-I7p. • Excluir a possibilidade de engano injustificado, influência
;1; 11 BRASIL t..,1 n K 91J. S,an 1995. Lei de BlOSsqUl1Inça. ln:i.lorIJo Orasildra. indev ida e intimidação.
~ 1995 • Solicitar O consentimento apenas quando o possível sujeilo
00 12. BRASil COl\ShI.lIO FEDERAL DE MEDICINA. Rtso1uriNs IlOmlmll'lu. BrnsOia: tenha conhecimento adequado dos faros relevantes c das con-
CF~I, 199-1 Wp. sequências de sua participação, bem como renha lido opor-
13. CONSELIIO FEDERAL DI:.MEDICINA. Côdig» Bros,lrim dr I)rllll/(llo~it, Médi· tunidndc suficicntc para considerar se quer participar.
cu. Rio deJlUlCll\). CHI. 198-1. 23p. • Como regra geral. obter de cada possfvcl sujeho um doeu-
14 CONSIlUIO FEDERAL DE MEDICINA. Códi~Qd_ f:.1II·(, MMim. Bnhllill: CFM,
19811.2Op.
mente ussinado como evidência do ccnsentimcnto informado
15. BRASIL ~lInl"tno dl S3ude Con<elho Naclonnl de Sa,lde Re,uluçno n. I96/96, e renovar o conscntimcnto infonnndo de cada sujeilo se houver
10001. 1996 aheraçõe~ na, condiçõcs ou proccdimenlos da pesquisa.
16. HOSSNE. \\ ~ t\ qulJmen'ólÇão de PC"lui"" ~""' ,('t' hUIII,o"''' (,HIIII i",lru' Dirclrlz 4: Induç:lO à participação.
mcn.o de coouok _.aI ln t-ORTES. P. A. C.: zonol I. f I (' (l Rlllltlrll r
SolÍllt P.bllI U S10 l'lIulo Lo)"'~.2003.
Oloparticipantc:. podcrJo !ter pagos pcla inconvcniêncio e pelo
17. BRASil \lIn'<I<no cb <W<k ('on",lho NlIClonQI de Saudc. Rc\OIuç1o n.240197. lempo gtl~IOe de\'em ser reembolsados pela!>dcspesas decorrenles
5 lua. 1991 da sua panicipação na pesquisa: eles podem reccber. igualmenle.
18. IlRASII_ ~lIn,'.mo cb au« Con;clho NlICiooul de Sa~de. Rc\Olli\~ n.251/97. scrviços médicos gratuito". Entrctanto. os pagamentos não de-
5 ISO. 1997 vem ser tão grandes ou os serviços médicos Ião abrangcntcs a
19. BRASIL. ~lIn".tflO cb S.lU« Con><:lho Nacion:,I,1c Snúde. Rc'oluçào n.292/99. ponto induzircm os po ~íveis sujeitos a con~elllirelll participar
8 Jul. 1999. na pesquisa contra o seu melhor julgamenlo ("indução cxcessi-
20. 8RASIL. 11-1 "",./no di SaU«. ('on><:lho Nacional de Snúdc. R""olução 11.301/00.
de 16 de IIIDn;lltio: 2000 va"). Todo, o~ pagamentos. reembolsos e serviços médicos pro-
21. BRASIL. Mini'h'rio cb Saúde. Conselho acional de Soúde. Rc.olução n.304/OO. piciados aOS sujeitos da pesquisa devem ser aprovados por um
9 ago. 2000. Comilé de ~Iica em Pcsqui. a.
144 • Tratado de Clínica Médica

Diretriz 5: Pesquisa envolvendo criança. pesquisador para garantir e respeitar a privacidade dos sujeitos
Antes de iniciar a pesquisa envolvendo crianças. o pesquisador da pesquisa e para manter a confidencialidade dos dados são
deve estar seguro que: adequados.
• As crianças não devem ser envolvidas cm pesquisas que Dlretriz 10: Distribuição equânime de ônus e benefícios.
possam ser desenvolvidas igualmente cm adultos. Indivíduos ou comunidades convidados para serem sujeitos de
• Objcrivo da pesquisa deve ser o de gerar conhecimentos lima pesquisa devem ser sclccionados. de tal maneira que riscos
relevantes para a saúde das crianças. e benefícios da pesquisa sejam eqüitativamente distribuídos. Justi-
• Os pais ou representantes legais devem dar um consenti- ficativa especial deve ser dada quando forem convidados indivíduos
mento por procuração. vulneráveis e. se eles forem selecionados. os meios de proteger os
• O consentimento de cada criança deve ser obtido na medida seus direitos e bem-estar devem ser particular e estritamente aplicados.
da sua capacidade.
• A recusa da criança cm participar na pesquisa deve sempre Dlretriz II: Sclcção de gestantes e nutrizes como participantes
ser respeitada. a menos que. de acordo com o protocolo de de pesquisas.
pesquisa. II terapia que II criança receberá não tenha qual- Gestantes ou nutrizes não devem ser, sob quaisquer circuns-
quer alternativn medicamente aceitável. tâncias. sujeitos de pesquisa não-clínica. a menos que a pesquisa
• () risco apresentado pelas intervenções que não beneficiem não acarrete risco maior que o mínimo ao feto ou bebe em alei-
iudividualmentc a criança. sujeito da pesquisa seja baixo c tamento e o objctivo da pesquisa seja gerar novos conhecimentos
proporcional com a importância do conhecimento a ser obtido; Como regra geral. gestantes e nuirizes lião devem ser sujeitos de
e n~ intervenções que propiciarão benefícios terapêuticos quaisquer pesquisas clínicas. excero aquelas plancjadas para pro-
devem ser, pelo menos tão vantajosas para a criança sujeito teger ou melhorar a saúde da gestante. nurrizes. feto ou bebe em
da pesquisa. quanto qualquer outra alternativa disponível. aleitamento. e que outras mulheres que não estão grávidas ou
Direlriz 6: Pesquisa envolvendo pessoas com distúrbio mentais amamentando não seriam participantes adequadas.
ou comportamentais. Dlretriz 12: Salvaguardas 11confidencialidade.
Antes de iniciar uma pesquisa envolvendo pessoal'. que por O pesquisador deve estabelecer salvaguardas seguras para a
motivo de distúrbios mentais ou comportamentais. não são ca- confidencialidade dos dados de pesquisa. Os indivíduos partici-
pazes de dar consentimento informado adequadamente. o pes- pantes devem ser informados dos limites da habilidade do peso
quisador deve estar seguro que: quisador em salvaguardar a confidencialidade e das possíveis
• r:,sas pcssons não serão sujeitos de pesquisas que poderiam conseqüências da quebra de confidencialidade.
M.'rreuhzudas cm pessoas com plena capacidade mental.
• Objet ivo da pesquisa é gerar conhecimentos relevantes para Dlretrlz 13: Direito dos participantes 11compensação.
..' necessidades de saúde peculiares a pessoas com distúrbios Os sujeitos da pesquisa, que sofrerem danos frsicos resultantes
mcmais ou comportamentais. de sua participação. terão direito usslstêncin finauceira ou outra de
à

• Conscmimcnto de cada indivíduo deverá ser obtido na me- manei rn ti compensá-los. cqüitatlvnmcme, de quaisquer deficiências
dida de sua capacidade e a recusa de participação de um ou incapacidades ternporãrlas ou permanentes. Em caso de morte,
indivíduo em pesquisa não-clínica será sempre respeitada. seus dependentes terão direito ii compensação material. Ao direito
• No caso de indivíduos incompetentes. o consentimento infor- ii compensação não caberá renúncia.
mado será obtido com o responsável legal ou outra pessoa Diretrrz 14: Constituição e responsabilidades de comitês de re-
devidamente uutorizuda. visão ética.
• Grau de risco associado às intervenções que não beneficiem Todas as propostas para realizar pesquisas envolvendo seres
o indivíduo pesquisado deve ser baixo e proporcional à im- humanos devem ser submetidas à revisão e 11aprovação de um ou
portáncia do cunhecimcnto a ser gerado; c as intervenções mais comitês independentes de revisões ética e cientílica. O peso
que possivelmente propiciem benefícios terapêuticos devem quisador deve obter e sa aprovação de sua proposta para realizar
ser. no mínimo. 1.<10 vantajosas ao indivíduo pesquisado. quanto a pesquisa antes de iniciar a sua execução.
qualquer outra alreruativa.
Diretriz 7: Pesquisa envolvendo prisioneiros. Dlretriz 15: Obrigações dos países hospedeiro e patrocinador.
O~ prisioneiros com doenças graves ou em risco de doença A pesquisa patrocinada externamente acarreta duas obrigações
grave não devem ser arbitrariamente impedido de ter acesso a éticas:
drogas experimentais. vacinas ou outros agentes que demonstrem • Uma agência externa de patroctnio deve submeter o protocolo
possível benefício preventivo ou terapêutico. de pesquisa para revisões ética e clentffica de acordo com
Dirclriz8: Pc-quisa envolvendo indivíduos de comunidades suh- os padrões do país dessa mesma agência, e os padrões éticos
desenvolvidas, aplicados devem ser os mesmos (I serem aplicados no caso
Antes de iniciar li pesquisa cm indivíduos de comunidades de pesquisa realizada nesse país.
subdesenvolvidas. seja em países desenvolvidos ou cm desenvol- • Após as aprovações ética e cientfficn no país da agência
vimento. o pesquisador deve estar seguro que: patrocinadora. a. autoridades competentes do país anfitrião,
incluindo o comitê nacional ou local de revisão ética, ou
• As pessoas da comunidade subdesenvolvida não serão oro seu equivalente. devem satisfazer suas próprias exigências
dinariumente envolvidas na pesquisa que pos a ser realiza- com relação à pesquisa proposta.
da. de forma adequada, em comunidades desenvolvidas.
• A pesquisa é uma resposta às necessidades de saúde e às
prioridades da comunidade na qual será realizada. Inelo II
• Todos os esforços serão tomados no sentido de assegurar o Resolução CFM Na 671/75
imperativo ético de que o consentimento individual dos sujeitos
será informado: e os projetos para a pesquisa foram revisados O Conselho Federal de Medicina. usando da atribuição que lhe
e aprovados por um comitê de ética que tenha entre os seus confere II Lei nQ 3.268. de 30 de setembro de .1957, regulamen-
membros ou consultores pessoas que tenham Iarnillaridadc tada pelo Decreto ng 44.045. de 19 de julho de' 1958, e atendendo
com os costumes c tradições da comunidade. ao que ficou decidido na Sessão Plenária realizada no dia 18 de
Direlriz 9: Consentimento põs-infonnaçâo em estudos epide- julho de 1975."e
miológicos. CONSIDERANDO a necessidade de estabelecer normas de
Em v(trios tipos de pesquisas epidemiológicas o consentimento orientação a serem seguidas pela classe medica referentes à peso
informado individual é impraticável ou desaconselhável. Nesses quisa clínica:
casos. o comitê de ética deve discriminar se é eticamente aceitável CONSIDERANDO a necessidade de definir a pesquisa com-
realizar sem o consentimento informado individual e se os planos do hinada com o cuidado profissional:
Pesquisa Clínica • 145

~ CO SIDERANDO a necessidade IIc definir a pc-qui-a clínica (organi/ação e atribuições do Conselho Nacional de Saúde). Decreto
~ de fins não-terapêuricos: 11° 9tUDO. de IS/O 1/90 (cólera por estrangeires de dados e mate-
; CO:"lSIDERA DO que deve ser dada maior importância ao riais cicnuflcos no Brasil). Lei nQ 8,489. de 18111192 e Decreto
~ direitode alguém em concordar ou recusar a participação em qualquer nU879. de 22/()7/9~ (dispõem sobre rcrirudn de tecidos. órgãos e
~ pesquisa: outras partes do corpo humano com fin~ humanitários e científicos),
CO SIDERANDO que deve haver perfeita compreensão das Lei nV 8.S01. de 30111192 (uufizaçâo de cadáver). Lei nQ 8.974,
conseqüências da participação nessa pesquisa: de 05/01/95 (uso das técnicas de engenharia gcnéticu e liberação
CONSIDlmANDO que deve haver perfeita comunicação e no meio ambiente de organismos geneticamente modi ficados), Lei
entendimento entre li pesquisador e o alvo du pesquisa: n9 9.279. de 14/05/96 (regula direitos e obrigações relativos ti
CONSIDERANDO que o legítimo lntcrcs-,c do pesquisador propriedade industrial) e outras.
não deve. de forma alguma. pôr em perigo ti vida tio indivíduo Esta Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das cole-
submetido ii pesquisa. tÍ\ idades. (I), quatro referenciais básicos da bioérica: autonomia.
não-maleficência. beneficência e justiça. entre outros. e visa a
RESOLVE: a"egurar o, direitos e deveres que dizem respeito ti comunidade
I. Considerar a "Declaração de Helsinque" adorada pela Asso- cicnuficu. aos sujeitos da pesquisa e ao Estudo.
ciação Médica Mundial. anexa a essa Resolução. como guia O canitcr contextuai das considerações aqui desenvolvidas implica
:I ser seguido pela ela se médica em rnatéria referente à em revisões periódicas desta Resolução. conforme necessidades
pesquisa clínica. nas áreas rccnocicnuflcn c ética.
2. Considcrnr que os medicamentos sob pesquisa clínica só Ressalta-se. ainda, que cada área temática de inveMigação e cada
devem ser usados quando: modalidade de pesquisa. além de respeitar os prlncípios emanados
a) A pllrticipac;ão consciente c consentida do doente ou deste texto. deve cumprir com as exigências scroriais c regula-
do seu representante tenha vido expressamente obtida. mentações específicas.
b) O médico e'lI.:ja certo do veu dial!n(l~t ico e de prefe-
rência haju consultado um colega.
II. TERMOS E DEFINiÇÕES
E),t:J Resolução adora no seu âmbito as seguintes definições:
c) O~ método, exivtcntcs para li trauuncnto do cavo não
renham dado resultado sarivfatõrio. 11.1. l'cSCIUiMl- cI:1S!>C de auvidades cujo objetívo é desenvolver
3. A pesquisa clínica deve ser rcalivadu COIII mcdicamcntov ou contribuir para o conhecimento gcncralizãvel. O conhecimento
cuja fonte seja de comprovada confiança c reputação. le- gcncrulivãvel consiste cm teorias. relações ou princípios ou no
vando em convidcração informações referente), a: acúmulo de informações sobre as quais se baseiam. que possam
:1) Experimentação animal. ser corrohorados por métodos cicnuficos aceitos de observação e
h) Pcsquisn- clínicas já realizadas. inferência.
c) Doses recomendadas. 11.2. Pesquisa envolvendo seres humunos - pesquisa que,
d) Contra-indicações. individual ou colctivamcnte. envolva o ser humnno. de forma dircra
e) Po~s(vei~ efeito, colarcruis. ou indircta, em sua totalidade ou partes dele. incluindo n manejo
f) Segurança e uti Iidade do medicamento cm tacc aos da- de informações ou materiais.
do, cxivtcmes. 11.3. Protocolo de pesquisa - documento contemplando a
descrição da pe quisa em seus aspectos fundamentais. informações
Rio de Janeiro. III de julho de 197:1. relativa .. ao sujeito da pesquisa, ii qualificação dos pesquisadores
Murillo BUjlOS 8(,/('11;0" - Presidente e a ioda-, a, instâncias rcsponsãvcis.
José LII;:; Guimarães Santos - Secretário Geral liA. Pesquisador responsável - pessoa responsável pela
Publicada no DO de 01.09.75 - Seção I - Parte II coordenação e renlização da pesquisa e pela integridade e bem-
estar dos sujeitos da pesquisa.
Anexo III 11.5. Instituição de pesquisa - organi/ução. públicn ou pri-
vada. leghimamcnte constituída e habiliurdu. nu qual silo realizadas
Resolução N° 196, de 10 de outubro de 1996 investigações cicntfficas.
11.6. Promotor - indivíduo ou instituição. responsável pela
O Plenário do Conselho Nacional elcSaúde. em sua Quinquagésima promoção da pesquisa.
Nona Reunião Ordinririn. rcalivndn nu, dius 09 e lO de outubro 11.7. Patrocinador - pessoa física ou jurídica que apóia Iinan-
de 1996. 00 tI~O de ~ua, competências regimentais e niribuiçõcs ceiramente (I pesquisa.
conferidas pela Lei n' S.OSO. de 19 de setembro de 1990. e pela lU!. Risco da pesquisa - po sibilidade de danos ti dimensão
Lei n' 8.142. dc 28 de dezembro de 1990. RESOLVE: fí),ica. pvíquica. 1110r:ll.intelectual, social. cultural ou espiritual do
Aprovar as seguintes dirctrizcs c norma, rcguhuncutudoras de ser humano. em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente.
pesquisas envolvendo sere, humanos: 11.9_ Dnno associado ou decorrente da pesquisa - agravo
imediato ou tardio. ao individuo ou ii coletividade, com nexo causal
I. PREÂMBULO comprovado. dircro ou indireto. decorrente do estudo científico.
A presente Resolução fundamenta-se nos principais documentos 11.10. Sujcito da pesquisa - é o (a) participante pesquisado (a).
íntemacionnis que emanaram declarações e direrrizes sobre pes- individual ou colerivamente. de carãter voluntário. vedada qualquer
qui,a, que envolvem seres humanos: Código de Nurcmhcrg (1947), forma de remuneração.
Declaração dos Direitos do Homem (1948). Declaração de Hel- 11.11. Consentimcnto livre e esclarecido - unuêncin do sujeito
sinque (I \164 e suas versões posteriores ele 1975. 1983 e 1989). da pesquisa e/ou de seu representante legal. livre de vícios (simulação.
Acordo lntcrnuciunnl vohre Direitos Civis e Políticcs (ONU. 1966. fraude ou erro). dependência, subordinação ou intimidação. apé
aprovado pelo Congresso ucionul Brasileiro em 11)1)2). Propostas explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa.
de Dirctrives ~tica' lntcruacionais para Pc,qllbn~ Hiomédicas seus objerivos. métodos. benefícios previstos. potenciais riscos e
Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 c 1993) e Dirc- O incómodo que esta possa acarretar. fonl1ulada em um termo de con-
trizesInternacionais para Re\ i~o Écica de Estudo~ Epidel1liol6gico~ l>enCimcnlO.:tutori/ando l>uaparticipação voluntária na pesquisa.
(CIOMS. 1991). Cumpre às dispo~içôe~ da COIl\liwição da Re- 11.12. Indcniulção - cobertura material. em reparação a dano
pública Federativa do Brasil de 1988 c da Icgislação bra. ileira imediato ou tardio. cau~ado pela pe~quisa ao scr humano a ela
correlata:Código de Direitos do Consumidor. Código Civil e Código ~ubl11ctida.
Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Orgânica da Saúde 11.13. Ressarcimcnto - cobertura. el11cOl11pcnsnção.exclusiva
nV 8.080. de 19/09/90 (dispõe sobre I1S condições de atenção à de despesas decorrences da participação do ~ujeito n:l pesquisa.
saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspon- 11.14. Comitês de Étíca cm Pesquisu (CEJl) - colegindos inter-
dentes). Lei n" 11.142.de 28/12/90 (panicipação dn comunidade na disciplinares e independentes. com "múl1us público". de caráteres
gestão do Si~tclIlIIÚnicu de Saúd.:). Decreto ne 99.438. de 07/08/90 consultivo, deliberativo e educativo. criados para defender os interesses
146 • Tratado de Clínica Médica

dos sujcito-, da pesquisa cm vua integridade e dignidade e para investigação possa trazer benefícios diretos aos vulneráveis.
fi
contribuir no dc-cnvolvímcmo da pesquisa dentro de padrões éticos. Nesses casos. o direito dos indivíduos ou grupos que queiram
11.15.Vulncrnhilidllde - refere-se a estado de pessoas ou grupos participar da pesquisa deve ser assegurado. desde que seja
que. por quaisquer razões ou motivos. tenham a sua capacidade garantida a protcção à sua vulnerabilidade e incapacidade
de autodeterminação reduzida. sobretudo. no que se refere ao con- legalmente defluída.
sentimento livre e esclarecido. I) Respeitar sempre os valores culturais. sociais. morais. religio-
11.16. Incapacidade - refere-se ao povsivcl sujeito da pcsqui a ,o~ e éticos. bem como os hábitos e costumes quando as
que não renha capacidade civil para dar o seu consentimento livre pesquisa» envolverem comunidades.
e esclarecido. devendo ser nssisrido ou repre cniado. de acordo mj Garantir que us pesquisas em comunidades. sempre que
com a Icgi~laçã() hravilcira vigente. possfvcl, traduzir-se-ão em benefícios cujos efeitos conti-
nuem a se fazer sentir após sua conclusão. O projeto deve
III.ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS analisar as necessidades de cada um dos membros da coo
A~ pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exi- munidade e analisar Il~ diferenças presentes entre eles.
gências éticas e cientificas fundamentais. explicitando como scrá l,,~egurado o respeito a elas.
111.1. A eticidadc da pesquisa implica em: n) Garantir () retorno dos benefícios obtidos por meio de pes-
a) Consenrirncnto livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a quba~ para a~pessoas I.! a~comunidades em que elas forem
protcção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes realizada». Quando. no interesse da comunidade. houver
(1IIIII/I/()/IIill). Nesse scruido. II pesquisa envolvendo seres benefício real em incentivar ou estimular mudanças de costumes
humanos deverã sempre trattl-Io~ em suu dignidade, respeitá- ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir.
los em SlHI uutonomiu e defendê-los cm sua vulnerabilidade. sempre que possível, disposições pum comunicar tal bene-
h) Ponderação entre ri~ços e benefícios. tanto atuais como fício às pessoas e/ou comunidades.
potcnci.us, individuais ou coletivos (belleficêllcia), com- ti) Comunicar às autoridades sunitárins os resultados da pes-
prometendo-se com o máximo de benefícios e () mínimo de quisa. sempre que estes puderem contribuir para a melhoria
danos c riscos, das condições de . aúde dn culctividade. preservando, porém.
c) Garantia de quc danos previsíveis serão evitados tnão- a imagem e asscgurundo que os sujeitos da pesquisa não
muleficência). sejam csrigmmizados ou percam a auto-estima.
d) Relevância social da pesquisa COlO vantagens significati- p) Assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes
vas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus do projeto. seja em termos de retorno social. acesso aos pro-
para os sujeito, vulneráveis. o que garante a igual conside- cedimentos. produtos ou agentes da pesquisa.
rnção dos inrcrcvvcv envolvidos. não perdendo o sentido de q) Assegurar aos sujeitos da pcsqui a as condições de acom-
sua destinação võcio-humauitãriu (justiça e eqiiidade}. panhamento. tratamento ou de orientação. conforme o caso.
nas pesquisas de rastrcamcnto: demonstrar a preponderância
111.2. Todo proccduncnto de qualquer natureza envolvendo o
de beneficios sobre riscos e cUStO.
ser humano. cuja aceitação não esteja ainda consagrada na lite- r) Assegurar a inexistência de conflito de interesses entre o pes-
ratura cicmífica. scrá considerado como pesquisa c. portanto. deverá quisador c os sujeitos da pesquisa ou patrocinador do projeto.
obedecer ti, dirctrizcs da presente Resolução. O~ proccdimcmos s) Comprovar. nas pesquisas conduzidas do exterior ou com
referidos incluem. entre outros. o~de natureza instrumental. ambiental. cooperação estrangeira. os compromissos e as vantagens, para
nutricional. educacional. sociológica. cconôrnica. Iísica. psíquica os sujeitos das pesquisas e para o Brasil. decorrentes de sua
ou biológica. sejam eles farmacológicos. clínicos ou cirúrgicos e realização. Em raís casos devem ser identificados o pcsquí-
de finalidade preventiva. diagnóstica ou terapêutica. sador c ti instituição nacionais co-responsãveis pela pesquisa.
111.3_ A pesquisa em qualquer :írea do conhecimento. envol- O protocolo deverá observar as exigências da Declaração de
vendo seres humanos deverá observar as seguintes exigências: Helsinque e incluir documento de aprovação. no país de ori-
a) Ser adcquadn U()~ princípios científicos que u justifiquem c gem, entre os apresentados para avaliação do Comitê de Ética
com po-xihilidudc» concretas de responder a incertezas. em Pesquisa da instituição brasileira, que exigirá o cumpri-
h) Estar fundmucruudu na experimentação prévia reulizndu cm mento de seus próprios referenciais éticos. Os estudos patro-
lnborutõrios, animais ou em outros fatos científicos. cinados do exterior também devem responder às necessidades
c) Ser rcalizuda somente quando o conhecimento que se pre- de treinamento de pessoal no Brasil. para que o país possa
tende ohter não possa ser obtido por outro meio. desenvolver projetes similares de forma independente.
d) Prevalecer sempre as probabilidades dos benefícios espe- I) Uriliznr (Imaterial biológico e os dados obtidos na pesquisa
rados sobre os riscos previsíveis. cxcluxivumcntc pura a finalidade prevista no seu protocolo.
e) Obedecer à metodologia adequada. Se houver necessidade II) Levarem conta, lias pesquisas realizadas em mulheres em idade
de distribuição alcat6ria do, sujeitos da pesquisa em grupos fértil ou grávidas. a avaliação de riscos e bcncffcios e as even-
experimentais c de controle. assegurar que. (I priori. não tuais interferências sobre fertilidade. gravidez, embrião ou o
seja povsfvc] estabelecer a~ vantagens de um procedimento feto. trabalho de pano. puerpério. lactação e recém-nascido.
-obrc outro por meio de revisão de literatura. métodos obser- \') Considerar que as pesquisas em mulheres grávidas devem
vacionais ou métodos que não envolvam seres humanos. ser precedidas de pesquisas em mulheres fora do período
f) Ter plenamente justificada, quando for o caso. a 1IIiiização gcsracionul. execro quando li gravidez for O objetivo fun-
de placebo, em lermos de não-maleficência c de necessidade damentai da pesquisa,
metodológica. x) Propiciar. nOSestudos rnulticêntricos, a participação dos
g) Contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito pesquisadores que desenvolverão a pesquisa na elaboração
da pc qui a e/ou 'cu representante legal. do dellncamcmo geral do projeto.
h) Contar com o, recursos humanos e materiais necessários . z) Descontinuar o estudo somente após análise das razões da
que garantam li bcm-estar do sujeito da pesquisa. devendo descontinuidade pelo CEP que a aprovou.
ainda haver adequação entre a competência do pesquisador IV. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
e o projeto proposto,
i) Prever procedimentos que assegurem a confidencial idade O respeito devido dignidade humana exige que toda pesquisa se
à

e a privacidade. a proteção da imagem e a não-cstigrnatização. processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos.
garantindo a não utilização das informações cm prejuízo indivíduos ou grupos que por si c/ou por seus representantes le-
das pessoas e/ou das comunidades, inclusive cm termos de gais manifestem II sua anuência ii participação na pesquisa.
auto-estima, de prestígio e/ou econ6mico-financeiro. IV.I. Exige-se que o esclarecimento dos sujeitos se faça cm
j) Ser desenvolvida pn.:rerenciall1lcntc em indivíduos com
linguagem <lce~sível c que inclua necessariamente os seguintes
autonomia plenll. Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem aspectos:
ser sujeito~ dc pcsquisa quando a informação desejada possa n) .Iustilicativa. objetivos e procedimentos que serão utilizado
ser obtida por sujeitos com plena autonomia. a menos que na pesquisa.
Pesquisa Clínica • 147

b) Desconfortos e riscos possíveis e benefícios esperados; mente explicitado ejustificado pelo pesquisador e subme-
c) Métodos alternativos existentes. tido ao Comitê de Ética cm Pesquisa. Os dados obtidos a
d) Forma de acompanhamento e assistência. assim como seus partir dos sujeitos da pesquisa não poderão ser usados para
responsáveis. outros fins que os não previstos no protocolo e/ou no consen-
e) Garantia de esclarecimentos. antes e durante o curso da pes- timento.
quisa. sobre metodologia. informundo a possibilidade de in-
clusão cm grupo controle ou placcbo. V. RISCOS E BENEFlclOS
I) Liberdade do sujeito ~e recusar a participar ou retirar seu Considera-se que toda pesquisa abrangendo seres humanos en-
consentimento. em qualquer fase da pesquisa. sem penalização volve risco. O dano eventual podem ser imediato ou tardio. compro-
alguma e sem prejuízo no seu cuidado. metendo o indivíduo ou a coletividade.
g) Garantia do vigilo que assegure II privacidade dos sujeitos V.1. Não obstante os riscos potenciais. os pesquisas envolvendo
quanto aos dado, confidenciais envolvidos nu pesquisa. seres humanos serão admb~íveb quando:
b) Formas de rcssarcimcmo das despesas decorrentes da par- II) Oferecerem elevada possibilidade de gerar conhecimento
ticipação na pesquisa. para entender. prevenir ou aliviar um problema que afere o
I) Formas de indcnização diante de eventuais danos decorren- bem-estar dos sujeitos da pesquisa e de outros indivíduos.
te da pesquisa. b) O risco se jusrifique pela importância do benefício esperado.
IV.2. O termo de conscntimcuto livre e esclarecido obedecerá c) O benefício seja maior, ou no mínimo igual. II outras alter-
aos seguintes requisitos: nativas j:í estabelecidas para II prevenção, o diagnóstico e
a) Ser elaborado pelo pesquisador rcsponsãvcl. expressando o tratamento.
o cumprimento de cada urna das exigências anteriores. V.2. As pesquisas sem benefício direto ao indivíduo devem
b) Ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que refe- prever condições de serem bem suportadas pelos sujeitos da pes-
renda a investigação. quisa. considerando sua situação física, psicológica. social e
c) Ser assinado ou identi ficado por impressão dactiloscópica, educacional.
por todos e cada um dos sujeitos da pesquisa ou por seus V_3_ O pesquisador responsável é obrigado a suspender a pes-
representantes legais. quisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano à saúde do
d) Ser elaborado em duas vias. sendo urna retida pelo sujeito sujeito participante da pesquisa. conseqüente a ela, não previsto
da pesquisa ou por seu representante legal e uma arquivada no termo de consentimento. Do mesmo modo. tão logo constatada
pelo pesquisador. a superioridade de um método em estudo sobre outro, o projeto
1V.3. Nos casos em que haja qualquer restrição à liberdade ou ao deverá ser suspenso. oferecendo-se a todos os sujeitos os benefícios
e clarecirnento necessário para o adequado consentimento. deve-se do melhor regime.
ainda observar: V.4. O Comitê de Ética em Pesqui a da instituição deverá ser
a) Em pesquisas envolv endo crianças e adolescentes. portadores
informado de todos os efeitos adversos ou fatos relevantes que
de perturbação ou doença mental e sujeitos em situação de alterem o curso normal do estudo.
sub tancial diminuição cm suas capacidades de consenti- V.S. Pesquisador, patrocinador e in~tillliçii() devem assumir a
mento. deverá haver [ustlficação clara da escolha dos sujeitos responsabilidade de dar assistência integral às complicações e ;\O~
da pesquisa. especificada no protocolo. aprovada pelo Comitê danos decorrentes do. riscos previstos.
de Ética em Pesquiva. lo! cumprir as exigências do consen- V.6. Os sujeitos da pesquisa que vierem II sofrer qualquer tipo
timento livre e esclarecido. pelos reprcscnrantcs legais dos de dano previsto ou não no termo de consentimento c resultante de
referido' ..ujeito ... sem Ml\pen~iio do direito de informação sua participação. além do direito 11usslsrêncin integral, tem direito
do indivíduo. no limite de ~ua cupacidude. 11indcnização.
b) A liberdade do consentimento deverá ser paniculurrncmc V.7. Jamaiv podem ser exigido do sujeito da pesquisa, sob qualquer
garantida parn aqueles sujeito» que. embora adultos e capazes. argumento. renúncia ao direito 11 lndenização por dano, O formu-
estejam Cl\pO~tOSa condicionamentos específicos ou à in- lário do consentimento livre e esclarecido não deve COnter ne-
fluência de autoridade. cm especial estudantes. militares, nhum" ressalva que afaste essa responsabilidade ou que implique
empregados. presidiários. internos cm centros de readaptação, ao sujeito da pesquisa abrir mão de seus direitos legais, incluindo'
casas-abrigo. asilos. associações religiosas e semelhantes. o direito de procurar obter indenização por danos eventuais.
assegurando-lhes a inteira liberdade de participar ou não VI. PROTOCOLODE PESQUISA
da pesquisa. sem quaisquer represálias.
c) Nos casos em que seja impossível registrar o consentimento O protocolo a ser submetido 11 revisão ética somente poderá ser
livree esclarecido. tal fato deve ser devidamente documentado, apreciado se estiver instruído com os seguintesdocumentos, em
com explicação das causas da impossibilidade, e parecer do português:
Comitê de Etica em Pesquisa. VI_l. Folha de rosto: título do projeto. nome, número da carteira
d) As pesquisasem pessoas com o diagnóstico de morte encefálica de identidade. CPF. telefone e endereço para correspondência do
só podem ser realizadas desde que estejam preenchidas as pesquisador responsável e do patrocinador, nome e assinaturas
seguintes condições: dos dirigentes da instituição elou organização.
• Documento comprobatório da morte cncefãlica (ates- VI.2_ Descrição da pesquisa. compreendendo os seguintes itens:
tado de óbito). a) Descrição dos propósitos e das hipóteses a serem testadas.
• Consentimento explícito dos familiares e/ou do responsável b) Antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesqui-
legal. ou manifestação prévia da vontade da pessoa. sa. Se o propósito for testar um novo produto ou disposi-
• Respeito total à dignidade do ser humano sem mutila- tivo para a saúde. de procedência estrangeira ou não. deverá
ção ou violação do corpo. ser indicada a iruação atuul de registro com as agências
• Sem õnus económico financeiro adicional li famüia. rcgulntõrias do país de origem.
• Sem prejuf/o para outros pacientes aguardando interna- c) Descrição detalhada c ordenada do projeto de pesquisa (material
ção ou tratamento. c métodos, cnvulstica. resultados esperados e bibliografia).
• Po~~ibilidadede ubter conhecimento cicmffico relevante. d) Anãlise crítica de rlscos e bcncflcios ..
novo e que não possa ser obtido de Outra maneira. c) Duração total da pesquisa. a punir da aprovação.
e) Em comunidades culturalmente diferenciadas, inclusive r) Explicitação das rcsponsnbilidndcs do pcsquisudor, da ins-
indlgcnas. deve-se contar com a anuência antecipada da co- tituição. do promotor e do patrocinador,
munidadc por intermédio dos seus próprios Iídcrcs, não se g) Explicitação de critérios para suspender ou encerrar a pes-
dispensando. porém. esforços no sentido de obtenção do quisa.
consentimento individual. h) Local da pesquisa: detalhar as instalações dos serviços. centros,
I) Quando o mérito da pesquisa depender de alguma restri- comunidades e instituições nas quais se processarão as várias
ção de informações aos sujeitos. ral fato deve ser devida- etapas da pesquisa.
148 • Tratado de Clínica Médica

i) Demonstrativo da existência
de infra-estrutura necessária deverá incluir a participação de profissionais da área de saúde.
lIO desenvolvimento da pesquisa e para atender eventuais das ciências exalas. soei ui, e humanas, incluindo, por exemplo.
problemas dela resultantes. com ti concordância documen- juristas. teólogos. sociólogos. filõsofos, bioeiicistas e, pelo menos,
tadn da instituição. um membro da sociedade representando os usuários da instituição.
j) Orçamente financeiro detalhado da pesqui a: recursos, fontes Poderá variar nu sua composição. dependendo das especificidades
c destinação. bem como forma e valor da remuneração do da instituição e das linhas de pesquisa a serem analisadas.
pcsqu isudor, VII.S. Terá scmpre caráter multi e transdisciplinar, não devendo
I) Explicitnçãcde acordo preexistente quanto à propriedade haver mais que metade de seus membros pertencentes à mesma
das in formações geradas. demonstrando a inexistência de categoria profissional, participando pessoas dos dois sexos. Poderá
qualquer cláusula restritiva quanto à divulgação pública dos ainda contar com consultores 0(/ hoc, pcssoav pertencentes ou não
resultados. a menos que se trate de caso de obtenção de à instituição. COI11 li finalidade de fornecer subsídios técnicos.
pmenreamcruo: nesse caso. os resultados devem se tornar VIL6. o caso de pesquisas em grupos vulneráveis. comuni-
públicos. tão logo se encerre a etapa de parcnteurneruo. dades e colerividadcs, dcverrl ser convidado Ulll representante, como
m) Declaração de que o, resultados da pesquisa. erão torna- membro (1(/ "0(' do CEPo para participar da análise do projeto
do~ púhlico-, sejam eles favoráveis ou não. e...pecífico.
n) Declaração sobre uso e destinação do material e/ou dados VIL7. Nas pesquisas em população indígena deverá partici-
colcrados. par um consultor familiarizado com os costumes c tradições da
comunidade.
VJ.3. lnformaçõcs relativas no sujeito da pesquisa: VII.S. Os membros do CEP deverão se isentar de tornadn de
a) Descrever a~ características da população a estudar: tama- decisão. quando dirctarncnte envolvidos na pesquisa em análise.
nho. faixa etária. sexo. cor (classificação do IBGE), estado
VII.9. Mandato e escolha dos membros - A composição de
geral de saúde. classes c grupos sociais. etc, Expor as razões cada CEP deverá ser definida a critério da instituição, sendo pelo
para a utitizução de grupos vulneráveis. menos metade dos membros com experiência cm pesquisa eleita
b) Descrever os métodos que aferem diretamentc os sujeitos pelos seus pares. A escolha da coordenação de cada Comitê deverá
da pesquisa, ser rei tu pelos membros que compõem o colegiado, durante a primeira
c) Identificar as fontes de materiul de pe quisa. tais como es- reunião de trabalho. Serã de três anos a duração do mandato, sendo
pécimcs, rcgisrros e dados II serem obtidos de seres humanos. permitida recondução.
Indicar se esse material será obtido cspccificameme para VIL 10. Remuneração - Os membros do CEP não poderão
(IS propósitos da pesquisa ou se será usado para outros fins. ser remunerados no desempenho dessa tarefa, sendo rccomcndãvcl,
d) Descrever os planos para o recruuunento de indivíduos e porém. que sejam dispensados nos horários de trabalhe do Co-
(l~ procedimentos a serem seguidos. Fornecer critérios de mitê da. outras obrigações nos instituições às quais prestam
inclusão c exclusão. serviço. podendo receber ressarcimento de despesas eferuada
e) Apresentar formulário ou termo de consentimento. especí- com transporte. hospedagem c alimentação.
fico para a pesquisa. para a apreciação do Comitê de Ética VII. I I.Arquivo - O CEP deverá manter em arquivo o projeto.
em Pesquisa, incluindo informações sobre as circunstâncias o protocolo e os relatórios correspondentes. por 5 (cinco) anos
sob as quais o conscntimcruo será obtido. quem tratará de após o encerramento do estudo.
obtê-lo c a 11iiiureza da informação a ser fornecida aos sujeitos VII.12. Liberdade de trabalho - Os membros dos CEP deverão
da pesquisa. ter total independência na tomada das decisões no exercfcio das
f) Descrever qualquer risco. avaliando sua possibilidade e suas funções, mantendo. sob carãter confidencial. as informações
gravidade, recebidas. Desse modo. não podem sofrer qualquer tipo de pressão
g) Devcrever as medidas para prorcção ou minimização de por parte de superiores hierárquicos ou pelos interessados cm
qualquer risco eventual. Quando apropriado. descrever as determinada pesquisa; devem isentar-se de envolvimento finan-
medidas para assegurar os necessários cuidados à saúde. ceiro e não devem estar submetidos a conflito de interesse.
no caso de danos aos indivfduos. Descrever também os pro- VII.D. Atrihuições do CEP:
cedimentos para monitoramemo da colem de dados para a) Revisar todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres
prover a scgurançu dos indivíduos. incluindo (IS medidas humanos. inclusive os multicêntricos. cabendo-lhe a res-
de prorcçâo li confidencialidade. ponsabi I idade primária pelas decisões sobre a ética da pes- .,
h) Apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos quisa li ser desenvolvida na instituição, de modo a garantir VI
da pesquisa. A importância referente não poderá ser de tal monta c resguardar a integridade e os direitos dos voluntários par- ~
que povva interferir na autonomia da decisão do indivíduo ticipantes nas. referidas pesquisas, '"
ou responsável de participar ou não da pesquisa. b) Emitir parecer consubstanciado por escrito, no prazo máximo ~
de 30 (trinta) dias. identificando com clareza o ensaio. doeu- x
VIA. Qualificação dos pesquisadores: Curriculum vitae do mentes estudados e data de revisão. A revisão de cada pro-
pesquisador responsável e dos demais participantes. tocolo culminará com seu enquadramento em uma das seguintes
VI.S. Termo de compromisso cio pesquisador responsável e da categorias:
instituição de cumprir os termos desta Resolução. • Aprovado,
• com pcndêncin: quando o Comitê considera o pro-
VII. COMIT~ DE ~TlCA EM PESQUISA iocolo como aceitável. entretanto, identifica determina-
Toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá er submetida 11 dos problemas no protocolo. no formulário do consentimento
apreciação de 11m Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). ou em ambos, e recomenda uma revisão cspccffica ou so-
licita modificação ou informação relevante. que deverá
VILL As instituições. nas quais se realizem pe quisas cnvol-
ser atendida em 60 (sessenta) dias pelos pesquisadores.
\ cndo seres humanos. deverão constituir um ou mais de um CEP,
• Retirado: quando. transcorrido o prazo, () protocolo per-
conforme suas necessidades. manece pendente.
VII.2. Na impossibilidade de se constituir CEPo li instituição ou
• Ião aprovado.
o pesquisador responsável deverá submeter o projeto à apreciação • Aprovado e encaminhado. com o devido parecer, para
do CEP de outra instituição. preferencialmente dentre O. indicados apreciação pela Comissão acional de Ética em Pesquisa
pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CO EP/MS). (CO EP/MS). nos casos previstos no capítulo VIII.
VIU. Organização - A organização e a criação do CEP será item 4.c.
da competência tia instituição. respeitadas as normas desta Reso- c) Manter a guarda confidencial de todos os dados obtidos lia
lução. a~silll como (I provimento de condições adequadas para o execução de sua tarefa e arquivamento do protocolo com-
seu funcionamento. pleto. que ficará à disposição das autoridades sanitãrius.
V 11.4. Composíção - O CEP deverá ser constituído por colegiado d) Acompanhar o desenvolvimento dos projeios por meio de
com número não inferior a 7 (sete) membros. Sua constituição relatórios anuais dos pesquisadores.
Pesquisa Clínica • 149

e) Desempenhar papel consultivo e educativo. fomentando a 7. Projcio-, que envolvam aspectos de biosscgurança,
reflexão cm rorno da ética na ciência. H. Pcvquisas coordenadas do exterior ou com participação
f) Receber dos sujeito-, da pesquisa. Oll de qualquer outra par- cstrangciru e pc-quisas que envolvam remessa de material
le. dcnüuciav de abusos ou nouficução sobre falos adver- °
biológico para exterior.
sos que powam alterar o curso normal do estudo. decidindo 9. Projetes que. a critério do CEPodevidamente justificado,
pelacominuidadc. modificação ou suspensão da pesquisa. sejam julgados merecedores de unãlise pela CONEP.
devendo. vc nccesvdrio. adequar I) rcnuo de conscmimcruo. d) Prover normas específicas no campo da ética em pesquisa,
Consldcra-sc corno :1I11il!licnli pesquisa descontinuada sem inclusive nas áreas temáticas especiais, bem C0ll10 reco-
juuiflcativn aceita pelo CEI' que II aprovou. mendações para aplicação delas.
g) Requerer in,lauraçiio de sind icâuci a ti dircção da invtituição c) Funcionar como instância final de recurso. a partir de in-
em caso de denúncias de irrcguluridudc- de natureza ética rorlllaçlic~ fornecidas sistematicamente, em caráter ex-officio
nas pcsquiso« e. havendo comprovação. comunicar :1 Co- ou a partir dc denúncias ou de solicitação de parles interes-
mi são Nacional de Élica em Pesquisa (CO~F.P) c. no quc ~adll~. devendo manifestar-se em pra/o não superior a 60
couber. a outras insrâncias. (scvscutu) diu,.
h) Manter comunicação regular e permanente com a CO;-.lEP. f) kcvcr rcspcnvabilidadcs. proibir ou interromper pesquisas.
dcfiuitiva 011 temporariamente. podendo requisitar preto-
VlI.I". Atuação do CEP: colos para revisão éuca, inclusive os já aprovados pelo CEPo
a) A revisão ética de toda e qualquer proposta de pesquisa g) Constituir um sistema de informação e acompnnhnmcnro
cnvolv endo veres humanos não poderá ser dissociada da dos aspectos éticos das pesquisa' envolvendo seres humanos
sun análise clcnufica, Pesquisa que não se faça acompanhar cm IOdoo território nacional. mantendo ntualizudos os bancos
do respectivo protocolo não deve ser nnalisadn pelo Comitê. de dados.
b) Cada CEI' dcvcrã clabornr suas normas de funcionamento, h) Informar c assessorar o MS. o C S e outrus instâncias do
comendo mctodologiu de trnhalho. a exemplo de: elaboração SUS. bem como do governo e da sociedade. sobre questões
da' ata-: plancjumcnto anual de ~ua' atividades: periodicidade érica« relauvas à pesquisa em eres humanos.
de reuniões: número mínimo de prc-cntc-, para início das i) Divulgar esta e outras normas relativas à ética em pesquisa
reuniões: pra/os para em is ão 1.11: parecere': critérios para envolvendo crcs humanos.
solicitação de consultas de experts na área cm que se dese- j) A CO EP. junrarneruc com outros seiores do Ministério
jam informações técnicas: modelo dc tornada de decisão, etc. da Saúde. csrabclcccrã normas e critérios para o credencia-
VIII. COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA mcnro de Centros de Pesquisa. Esse crcdcnclamcnto de-
A Comi são lacional de Élica em Pesquisa (COI EP) é lima instância verá ver proposto pclos serores do Ministério da Saúde.
colegiada. de naturezas consultiva, deliberativa, normativa, educativa de acordo com suas necessidades. e aprovado pelo Con-
c indcpendcruc, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde. selho Nacional dc Saúde.
O Mini~tério elH Saúde adorará as medidas necessárias para o I) Estabelecer suas próprias normas dc íunciunumcntn,
funcionarncmo pleno da Comissão e de sua Secretaria Executiva. VII 1.5. A CONEP submetera ali CNS p:lra sua dclibcruçâo:
a} Propostas de normas gerais a serem aplicadas à~ pesquisas
VIII.I. C(l1Ilposi~ãn - A CO, EP ted composição multi e envolvendo seres humanos. inclusive moditicnçõc» dcsra norma.
transdiciplinar, com pessoa» de ambos os sexos c deverá ser com- b) Plano de trabalho anual.
PO,l3por 13 (treze) mcrnhrov titularcv e seus respectivos suplente .. c) Relatório anual de suas atividudcs, incluindo sumário do
sendo5 (cinco) deles pcrvonatidades destacadav IlO campo da ética CEP csrabelecidos e dos projetes analisados.
na pc quisa e na saúde c 8 (oiro) per'onalidades com deslacada
:lluação nos campo, teológico. jurídico e I)utro~. a~~egurand()-~e IX. OPERACIONALIZAÇÃO
que pelo meno~ um ~eja da :ire.:!de gel>lãnda salíde. O, membro IX. I. Todo e qualquer projelo dc pesquisa envolvendo eres hu-
~criíosclecionados. a panir de lisla~ indicalivas clahoradas pclas mano~ de"er:i obedecer às recomendaçõcs desta Resolução e dos
instituições que p()~,uem CEP registrado~ mi CONEP . .: 7 (;.cte) docull1ellto~ endo!-sados em seu preiimbu lo. A responsabilidade do
serãoescolhidos pclo Conselho acional dc Saúdc c (Í (seis) serão pesqui~ador é indcleg;\vel. indeclinávcl c compreende os aspectos
dclinidos rOl' soneio. Poderá conlar lall1h~1l1(;0111 C(ln~ullores e élicos e legais.
membros ati Iwc. as\egurada :1 represelll:lçiio dos llsu(trios. IX.2. Ao p..:squisador cabe:
VIII.2. Cuda CEP poder:! indicar duas pcrsollolicllldes. (1) Aprescnlar o prolocolo. devidamcnle inwuido ao CEP, aguar-
VIII.3. O mandato do~ membros da CONEP ~crá de qualro dundo o pronunciamento desle. anles de inieiar a pesquisa;
anoscom renovação ahernada a cada dois ;,nos. de setc ou scis de h) Desenvolver o·projclo conforme delineado.
seus membro;.. c) Elaborar e apre:.cnlar os relalório!> parciais e final.
VIII.4. Atribuições da COl'iEP - Compelc à CO EP Oexa- ti) Aprc~cnlar dados solicitados pelo CEPoa qualqucr momemo.
me dos aspeclo~ élicos da pesquisa envolvendo scrc, humanos. c) Manter 0.:01 arquivo. sob ~ua guarda. por 5 anos. o dados
bem COl1l0 adequaçiio e 3lUaliaç'do das normas alincnle~. A CO EP da pe;.quisa. conlcndo fichas individuai. c lodo,>os demais
consullar:ia ~ociedade !.empre que julgar necessário. cabendo-lhe. documcntos ro.:comcndado~ pelo CEPo
entre Olllrn~.a, seguinle alribuições: O Encaminhar os resultados para publicação. com os dcvidos
n) IlSlil11ulnra criação de CEI" institucionais e de atllra ins- créditos aos pesquisadores associado\ c ao pe~soallécnico
lnncia~. participanlc do projeto.
b) Regiwar o~ CEI> in~lilueionliis c dc ou Iras inslãncias. g) Justifiear. perante o CEP, interrupçiío do projelo ou a nrlo
c} f\provar. no pra/o de ÓO dias, c ilcolllpllnhar U~ protocolos publicaçiío dos resullados.
de pe~<tuba 0.:111 :írca~ tC111áli(;uso.:spcciab Uli;.como: IX.3. O Comilê de Ética em Pesquisa instilUcional deverá estar
I. Genélica humana. regislrado nll CONEP/MS.
2. Reprodução humana. IX.4. Umn vcz aprovado o projelO. o CEI' passa a ser co-res-
3. Farm:ico". medicamenlOs. vacinas c to.:'te~dHlgnõ'lico, pon~:ívcl 110 que 'e refere aos aspecto~ ético!>da pesquisa.
no\os (rases I. II e III) ou não regblrado\ 110 paí, (:Iillda IX.S. COlhider;Jm-:.e aulorizado~ para execução. os proje-
que fase IV). ou quando a pesquisa for rcfcrenlc a ~cu lOSaprovado~ pelo CEPoexceto 0\ que \e enquadrarem nas áreas
uso com modalidades, illdicaçÕc~. dOl>o.:~ ou via~ de lellláliea' e'po.:ciai,. o~ quui:.. apó\ aprovação pclo CEP
admini lração diferenles daquelas eSlabelccida.". incluindo inSlitucionnl deverão ~cr enviado~ II CONEP/MS. que dará o
\eu emprego em combinações. devido encaminhamcnto.
... Equipamcntos. insumos e disposilivos para a !':lúde novos. IX.6. Pc~quisas com novos medicamcnlOs. vacinas. tCS1CS
ou não regislrados no país. diagnósticos. equipamenlOS e dispo!>itivo~ para a smldc deverilo
5. OVO\ pmccdill1cntos ainda lião con;.agr.ldos na lileratura; ser encaminhados do CEP à CONEP/MS c dCSlll.após pareccr, II
ti. Populll,õcs indígcnas. Secretaria de Vigilâneia Sanitária.
150 • Tratado de Clínica Médica

IX.7. As agênciasde fomento à pesquisae o corpo editorial das Refere-se às pesquisas com essestipos de produtos cm faseI,
revistas científicas deverãoexigir documentaçãocomprobatória ele II ou III. ou não registrados no país. ainda que fase IV quando 11
aprovação do projeto pelo CEP e/ou CONEP. quando for o caso. pesquisa for referente ao seu uso com modalidades. indicações.
IX.S. Os CEI' institucionais deverão encaminhar trimestral- doses ou vias de administração diferentes daquelas estabelecidas
mente ii CONEPIMS li relaçãodos projetes de pesquisa analisados. quando da autorização do registro, incluindo seu emprego em
aprovados e concluídos. bem como dos projetes CIII andamento e, combinações. bem como os estudos de biodisponibilidade e ou
imediatamente. aqueles suspensos. biocquivalênciu.
X. DISPOSIÇOES TRANSITÓRIAS Ficam incorporados. passando a fazer pane da presente Reso-
lução os termos a seguir referidos que constam da Resolução do
X.I. O Grupo Executivo de Trabalho (GEl"). constituído pela Re-
Grupo Mercado Comum (GMC n2 129/96).
solução CN$ nQ 170/95. assumirã as atribuições da CONEP até
li sua constituição, responsabilizando-se por: a) Fase I
a) Tomar as medidas necessárias ao processo de criação da É o primeiro estudo em seres humanos em pequenos grupos
CONEP/MS. de pessoasvoluntárias. em geral sadiasde um novo princípio ativo,
h) Estabelecer normas para registro dos crw institucionais. ou nova formulação pesquisadogeralmenteem pessoasvoluntárias.
Essaspesquisas se propõem estabelecer uma evolução preliminar
X.2. O GET terá 180 dias para finalizar as suas tarefas.
da segurança c do perfil farrnucocinérico c quando possível. um
X.3. Os CEP das instituições devem proceder. no prazo de 90
perfil Iarrnacodinârnico.
(noventa) dias. ao lcvuuramcruo c análise, se for o caso. dos pro-
jctos de pesquisa em seres humanos já em andamento. devendo b) Fn.seII (Estudo Terapêutico-piloto)
encaminhar li CO EP/MS. a relação deles. Os objerivos do Estudo Terapêutico-piloto visam 11 demonstrar
X4. Fica revogada a Resolução n9 01188. a atividadc e estabelecera segurançaa cuno prazodo princfpio ativo.
Adib IJ . Jotene - Presidente do Conselho Nacional de Saúde em pacientes afetados por determinada enfermidade ou condição
Homologo II Resolução CNS nU 196.de I()de outubro de 1996. patológica. A:::.pe quisas realizam-seem número limitado (pequeno)
nos termos do Decreto de Delegação de Competência de 12 de de pessoase frequentemente são seguidas de um estudo de adrnini -
novembro de 1991. tração. Deve ser possível. também. estabelecer-seasrelações dose-
IIdib D. Jatene - Ministro de Estado da Saúde resposta,com o objcrivo deobter sólidosantecedentesparaa descrição
de estudos terapêuticos ampliados (Fase 1lI).
Anexo IV c) Fase III
Resolução NQ251/97, de 05/08/97 - DOU 23/09/97 Estudos realizados em grandes e variados grupos de pacientes.
com o objetivo de determinar:
o Plenário do Canseiho Nacional de Saúde cm sua Décima Quinta
Reunião Extraordi nãria. realizada no diu 05 de agosto de 1997, no • resultado do risco-benefício II curto e longo prazos das
usodesuascompetênciase atribuições conferidas pela Lei na 8.080. formulações do prindpio ativo.
de 19de setembro de 1990. c pela Lei n9 8.142, de 28 de dezern- • de maneira global (geral) o valor terapêutico relativo.
bro de 1990. resolve:
Aprovar a~ seguintes 1101'111(/.1' de pesquiso envolvendo seres Exploram-se. nessa fase, o tipo e o perfil das reaçõcs adver-
humanos para a área temática de pesquisa com novos fármacos. sas mais frcqüentes, assim como características especiais do me-
dicamento e/ou especialidade medicinal, por exemplo. interaçõcs
medicamentos, vacinas e testes diagnõsricos:
clinicamente relevantes,principais fatores rnodificatõríos do efeito,
I. PREAMBULO tais como idade. etc.
1.1. A presenteResolução incorpora todas as disposições contidas
na Resolução n" 196/'0)6 do Con elho Nacional de Saúde. sobre d) Fase IV
Direirizes e J orma» Rcgulamcntadoras de Pesquisa Envolvendo São pesquisas rcalizudus depois de comercializado o produto
SeresHumanos.da qual estaé parte complementar da áreatemática c/ou especialidade mediei nal, Essaspesquisassãoexecutadascom
específicade pesquisa com novosfármacos. medicamentos.vacinas base nas caractcrfsticas com que foi autorizado O medicamentoelou
e testes diagnósticos. especialidade medicinal. Quase sempre são estudos de vigilância
1.2. Reporta-seainda à Rcsol ução do Grupo Mercado Comum pós-comercialização, para estabelecer o valor terapêutico, o surgi-
mento de novas reações adversase/ou confirmação da frequência
(GMC) nQ 129/96.da qual () Brusi I é signatário. que dispõe acerca
de surgimento das já conhecidas, e as estratégias de tratamento.
de regulamento técnico sobre II verificação de boas prática de
Nas pesquisas de fase IV devem-se seguir as mesmas normas
pesquisa clínica.
éticas e de pesquisas de fases anteriores.
1.3. Deverão ser obedecidas as normas. resoluções e regula-
rncruações cruunadn» da SVS/MS. Subordinando- e à sua aurori-
Depois que um medicamentoe/ou especialidademedicinal tenha
sidocorncrcíalizado. aspesquisasclínicas desenvolvidasparaexplorar
7.açiio para execução e subseqüente acompanhamento e controle.
li desenvolvimento técnico dos projetes de pesquisa de Farmaco-
novas i ndicaçõcs. novos métodos de administração ou novascom-
binações (associações) etc. são consideradas como pesquisa de
logia Clínica (Fases I. lI.m e IV de produtos não registrados 110
novo medicamento e/ou especialidade medicinal.
pats) e de Biodisponihilidade e de Bioequivalência. Os projetes
de pesquisanessaáreadevem obedecer o disposto na Lei na6.360 e) Farmacocinérica
(23 de setembro de 1976). regulamentada pelo Decreto n'' 79.094 Em geral. são as modificações que um sistemabiológico produz
(5 de janeiro de 1977). em um princípio ativo. Operativamente, é o estudo da cinética
1.4. IZm qualquer ensaio clínico e particularmente nos conflitos (relação quantitativa entre a variável independente do tempo e a
eleimeresscs envolvidos napesquisacom novosprodutos,a dignidade variável dependente concentração) dos processos de absorção,
e o bcm-estar do sujeito incluído na pesquisadevemprevalecersobre distribuição e biotransformação e excreção dos medicamentos
outros interesses,sejameconômicos, da ciência ou elacomunidade. (princípios aiivos e/ou seu metaboliros),
1.5. É fundamental que toda pesquisa na área temática deva
f) Farmacodinâmica
estar alicerçada em normas e conhecimentos cientificamente
consagrados em experiências laboratoriais, iII vitro e conheci- São todas as modificações que um princípio ativo produz em
rneruo da literatura pertinente. um sistema biológico.
1.6. ~ necessário que a investigação de novos produtos seja Do ponto de vista prático, é o estudo dos efeitos bioquímicos
justificada e que estes efcrivamentc acarretem avanços significa- e lisiológico. dos medicamentos e seus mecanismos de ação.
tivos cm relação aos jd existentes. g) Margem de segurança
II. TERMOS E DEFINiÇÕES Indicador farmacodinârnico que expressa a diferença entre :I
11.1. Pesquisas com novos fármaco. medicamentos. vacinas ou dose tóxica (por exemplo. DL 50) e a dose cfciiva (por exemplo.
testes diagnóstico. DE 50).
Pesquisa Clínica - 151

h) Margem terapêutica f) Os estudos de toxicidade deverão ser realizados pelo me-


É a relação entre a dose máxima tolerada. Ou também tóxica. nos cm 3 espécies animais. de ambos O~ sexos. das quais
e a dose terapêutica (dose tóxicn/dosc terapêutica). Em farmaco- uma deverá estar relacionada com a recomendada para o
logia clínica se emprega como equivalente de índice terapêutico. UM)terapêutico proposto I! a outra deverã ser uma via que
a-segure a absorção do f:írmuc().
III. RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR 1:) '0 estudo da toxicidade subagudn e ti doses repetidas e da
111.1.Reafirmar-se a rcspon-ubllidade indclegávcl e imruusferlvcl toxicidade crônicn. a via de adnunivrração deverá estar rela-
do pesquisador nos termo, da Re~uluç:io n" 11)6/96. Da mesma cionada com a proposta de emprego terapêutico: a duração
forma. reafirmam-se IOt(;" a, respouvabilidadcv prc\ i,la, na referida do experimento deverá ser de. nu mírumo. 24 semanas.
Re oluçâo. cm particular a garantia de condições para o atendi- h) 1\a f;J\c pré-clínica. o~ estudos da toxicidade deverão abranger
mento do; sujeitov da pcsquisu. também a an~li~e dos eleitos sobre fertilidade. cmbriotoxi-
111.2.O pcsquivador responsável deverá: cidade. atividadc mutugênica. potencial oncogênico (carcino-
a) Apresentar ao Comitê de Élica em Pcsqui: a (CEP) o projeto gênico) e ainda outros estudos, de acordo com a natureza
de pc-quisa completo. nos termos da Resolução n" 196/96 do fármaco e da proposta terapêutica.
e desta Revolução. i) Conforme a importânci a do projeto.rendo em vista a prcmência
b) Manter cm arquivo. respeitando a confidencialidade c o ~igilo de tempo. e na ausência de outros método rerapêuticos, O
a~fichas correspondentes a cada sujeito inclufdo na pcsquisn, CEP poderá aprovar projerns sem cumprimento de todas as
por 5 anos, após o término da pcsquivu. fuse~da farmacologia clínicn: nesse C:I'O. devcrã haver também
c) Apresentar rclauíriu dctulhudo sempre que ,nlicit:ld~ ou uprovação da CO F.P e du SVS/MS.
estabelecido pelo CEPo pela Comissão Nacional de Ética j) Informação quanto ii ~ilUaçil()das pesquisas e do registro
em Pesquiva (CO HP) 1111 pela Sccrcturin de Vigilância do produ 10 110 país de origctu.
Snnuãria -(SVS/MS). k) Apresentação da~ informações clínicas detalhadas obtidas
d) Comunicar ao CEI' a ocorrência de efeitos colaterais e/ou durante as fa,e~ prévias. rclacionudas a segurança, farmaco-
de reações advcrsus não esperadas. dinâmica. cflcãcia. dose-resposta. observadas em estudos
e) Comunicar também propostas de eventuais modificações no ser humano. ~cja volunuirios sadios ou pacientes. Se possível,
no projeto e/ou justificativa de interrupção. aguardando a cada ensaio deve. er resumido individualmente, com descricão
apreciação do CEPoexecro em caso urgente para salvaguardar de obietivos, desenho, método. resultados (segurança e eficácia)
ri protcção dos sujeitos de pe quisa. devendo. então. ser c conclusões. Quando o número de estudos for grande. resumir
comunicndo o CEI' (/ posteriori. na primeira oportunidade. cm grupos por fase para facilitar a discussão dos resultados
f) Colocar ii disposição. do CEPo da COt\cP e da SVS/MS c de suas implicações.
Ioda informação dcvidumcnic requerida. I) Jusrificariva para o 11'0 de placcbo e C\ cntual suspensão de
g) Proceder ii arulli-,e comínu« dI" rcvultndov. ii medida que tratamento (woshmu).
prossegue :1 pcsquisn. COIII O objcrivo de detectar () mais m) Assegurar. por parte do p.urocmador nu. na ,ua inexistência.
cedo pcvvívcl bcneffcio-, e UIII trutautcnto <obre outro ou por pane da invtuuição. pcvqur-ador ou prurnotor. acesso
para evitar efeitos adversos cm sujcito« de pesquisa. ao medicamento em teste. ca-,o vc comprove sua superio-
h) Apre....entar rcl:1l6riu~periódico- dentro de pmLOSestipulados ridade cm relação ao truramcmo convencional.
pelo CEPohavendo, no mínimo. relatórios semestral e final,
n) Em csiudo-, rnulticêntricos o pesquisador deve, na medida
i) Dar acewo ao, resu ltados de exames e de tratamento ao
do posvívc]. participar do delineamento do projeto antes de
médico do paciente e/ou ao próprio paciente sempre que
ser iniciado. caso não seja possfvel, deve declarar que con-
solicitado c ou indicado,
corda com o delineamento já elaborado e que o seguirá.
j) Recomendar que a mesma pessoa não seja sujeito de pesquisa
II) O pesquisador deve receber do patrocinador todos os dados
em novo projelO antes ele decorrido 11mano de 'lia parI ici-
pação cm pc~qui~a anlcrinr, ti IllelHh que po"a haver bene- referentcs ao fármllco.
fício din.:to ao ,ujeito da pesquisll. I» O linanciamento não deve e~tar vinculado a pagamenlO per
(,(I{)i/(/ do, ~ujcitos cretivalllcnle recrutados.

IV. PROTOCOLO DE PESQUISA q) O prolOcolo deVI!~er a<':olllpallhudodo lermo de con~enli-


VJ.I. O prolocolo de\c conler lodos os it.:n~ro.:ferido~no Cap. VI da IIlCnIO:quando se tratar de slljeitos cuj:I capacidade de au-
Resolução nV 196/96 c ainda inrol'lllaçOc~ farmacológicas bási- todeterminação não seja plena. Illélll do con~t!ntimenlO do
cas adequ ..d:l~ ti fa\e do projcto. ell1 cUlllprimenlo da Resolu- re~pon~á"ellegal. dcvc ser Icvada em conta a manifestação
ção GMC nq 129/96 - Mercosul - int:luindo: do próprio sujeito. ainda que com capacidade reduzida (por
exemplo. idoso) ou não desenvolvida (por exemplo. criança).
a) Espccilicação e fundamenlação de rase de pesquisa clínica na r} P.:sqllisa t!1Il pacientc~ psiquiálricos: o consenlimento. sempre
qual se rcal i/ará o c'ludu. démonstrando qUé fi"é~ am.:- quc c~clarecido. avaliado por profissional psiquialra e que
riorc' já foram cumprida~. não ~.:ja pc~quisador cnvolvido no projelo.
b) Descrição da ~ub:.tància farmacológica ou produlo em im'c:,-
ligação. incluindo a fórmula química C/OII e~lrlllllra em 11111 No ca'o de droga!>com aç:io psicofarmncológica. dcve ser feila
bre\'e sumário da, propricdade, fí,ic:h. química' c f~lrIna- análbc quanto ao~ ri~co\ cvcntllab de 'c cri:lr dependência.
cêulica~ rele\ .Inle'. INCLUSÃO NA PESQUISA DE SUJEITOS SADIOS
c) Quai quer ,elllclh~IIU';:I~cMrulurai, com Olllro, compo ·tos
a) JU!>lificara nece~,idade de ~ua inclu,ão no projelo de pes-
conhecido, dcvcm 'er lamhém mencionada,.
quisa. analisar crilicamenle o' ri~co\ cnvolvidos.
d) Apre~entJção delalhada da informação pré-clínica neces-
b) Dc~cre\er u" forlllas de recrutamento_ não devendo haver
sária para jU'lifical' a fa~e du projeto. comendo relato dos situação de dependência.
eSludo.. experimentais maleriab c métodos_ animais ulili- c) lU ca~o dc drogas eom ação p~icofarmacológica, analisar
'-ados.lc'lc~ laborawriais. dado~ referentes a farmacocinética criticamente os riscos de se criar depend':ncia.
e 10~icologi3. no ca~o dc drogas. medicamentos ou vacinas.
Osl'C\ultado' pré-clínicos devcm sl!racompanhados de disclIs- V. ATRIBUIÇOES DO CEP
~50quanlo ~rclcváncil1dos uch(ldo~cm conexão com os efeitos O CEi> a"lIInirá com o pcsquisador ri co-rc,ponsabilidade pela
tcrapêutico' e..perado~ e possívei~ efcilll' indc~cjadl)s em prescrvação de eticamenle Cl)rrelil~ 110 prujclo e no de~envolvi-
humanos. mento da pesquisa. cahendo-Ihe:
c) O~dado~ refercnle' ~ IOX icologia pl'é-clfnÍ<.:aclllnprecndem
o eSludo da toxicidade aglldll. slIhngudn a clo~e~repetidas ~l) Emitir parecer consllh~lallcltldl) aprcciando o cmbaS3l11cnto.
c toxicidade crónica (dl)~cs rcpelidas). h) Aprovar :I ju~tiliclllivn d(\ uso de plaeeho e \I'(/sftOIlI.
152 • Tratado de Clínica Médica

c) Solicitar ao pesquisador principal os relatórios parciais e VI.2. A Secretaria de Vigilância Sanitária/MS exercerá suas
tinal. estabelecendo os prazos (no mínimo um relatório se- atribuições nos termos da Resolução n9 196/96. com destaque
mestral) de acordo como as caracterfsricas da pesquisa. Cópias para a seguintes atividadcs:
dos relatórios devem ser enviadas ~ SVS/MS. a) Comunicar, por escrito à CONEP. os eventuais indícios de
d) No caso em que. para o recrutamento de sujeitos da pesquisa. infraçõesde natureza ética que sejam observados ou detecta-
se utilizem avisos em meios de comunicação. estes deverão dos durante a execução do. projetes de pesquisa abrangidos
ser autorizados pelo CEPo Não se deverá indicar. de forma pela presente Resolução.
implícita ou explícita. que o produto em investigação é eficaz b) Prestar, quando solicitado ou julgado pertinente. as infor-
e/ou seguro ou que é equivalente ou melhor que ourros produtos mações necessárias para o pleno exercício das atribuições
ex istentes. da CONEP.
e) Convocar sujeitos da pesquisa para acompanhamento e c) Nos CII~()S de pesquisas envolvendo situações para as quais
avaliação. não há tratamento consagrado ("uso humanitário" ou "por
f) Requerer à direção da instituição a i nstalação de sindicância. compaixão") poderá vir a ser autorizada a liberação do produto.
a suspensão ou interrupção da pesquisa. comunicando o em carãier de emergência, desde que tenha havido aprovação
raIO 11 CO EP e à VS/MS. pelo CEPo ratificada pela CO EP e pela SVSIMS.
g) Qualquer indício de fraude ou infringência ética de qualquer d) Normatizar seus procedimentos operacionais internos. visando
natureza deve levar o CEP a solicitar LI instalação de Co- ao efetivo controle sanitário dos produtos objeto de pesquisa
missão de Sindicância e comunicar à COI EP. SVSfMS e clínica.
demais órgão!. (direção da instituição, conselhos Regionais
Carlos César S. de Albuquerque - Presidente do Conselho
pertinentes). os resultados.
Homologo a Resolução CNS nO 251, de 7 de agosto de 1997.
h) Comunicar à CONEP e à SVS/MS a ocorrência de eventos nos termos da Delegação de Competência de 12 de novembro de
adversos graves. 1991.
i) Comunicar ii instituição a ocorrência ou existência de Carlos César S. de Albuquerque - Ministro de Estado da Saúde
problemas de responsabilidade administrativa que possam
interferir com a ética da pesquisa: cm seguida dar ciência
à CONEP e 1l SVS/MS. e. se for o CUSO. aos Conselhos Anexo V
Regionais, Resolução N2 240, de 5 de junho de 1997
V.2. Fica delegado ao CEI' a aprovação cio ponto de vista de O Plenário do Conselho Nacional de Saúde em sua Sexngésima
éticn. dos projetes de pesquisa com novos fármacos, medicamentos Sexta Reunião Ordinária. realizada nos dias 4 e 5 de junho de
e restes diagnósticos, devendo. porém. ser encaminhados à CONEP e 1997. no uso dc suas competências regimentais e atribuições conferidas
i'J $VS/MS: pela Lei nU lW80. de 19 de setembro de 1990. e pela Lei n9 8.142. de
a) Cópia do parecer consubstanciado de aprovação, com folha
28 de dezembro de 1990, c considerando a necessidade de defi-
nição do termo usuários para efeito de participação nos Comitês
de rosto preenchida.
de ÉticlI em Pesquisa das instituições, conforme determina a Resolução
b) Parecer sobre os relatórios parciais e final ela pcsquii a.
C S n~ 196/96, item VII.4. Resolve que:
c) Outros documento, que. eventualmente. o próprio CEPo a
CONEP ou II SVS considerem necessários. a) Aplica-se ao termo "usuúrios" uma interpretação ampla,
contemplando coletividades múltiplas. que se beneficiam
V.3.Em pesquisas que ubrungcm pacientes submetidos a situações do trabalho desenvolvido pela Instituição.
de cmergêncin ou de urgência. caberá ao CEI' aprovar previamente b) Representantes de usuários são pessoas capazes de expressar
ns condições ou limites em que se dará o consentimento livre e pontos de vista e interesses de indivíduos c/ou grupos sujeitos
esclarecido. devendo o pesqu isador comunicar oportunamente ao de pesquisas de determinada instituição e que sejam repre-
sujeito da pesquisa sua participação no projeto. sentativos de interesses colciivos c públicos diversos.
V.4. Avaliar se estão sendo assegurada todas a medidas adequa- c) Em instituições de referência para públicos ou patologias
das. nos casos de seres humanos cuja capacidade de autodetermi- específicas, representantes de usuários devem. necessaria-
nação seja ou esteja reduzida ou limitada mente, pertencer à população-alvo da unidade ou a grupo
organizado que defenda seus direitos.
VI. OPERACIONALlZAÇAo d) I os locais em que existam fóruns ou conselhos de entidades

V 1.1. A CO EP exercerá suas atribuições nos termos da Resolução rcprcscntati vos-de usuários e/ou portadores de patologias e
n" 196/96. com destaque para as seguimos atividades: deficiências, cabe a essas i nstãncias indicar os represen-
tantes de usuários nos Comitês de Ética.
a) Organizar. com base nos dados fornecidos pelos CEP (parecer e) A indicação de nomes de representantes de usuários para
consubstanciado de aprovação. folha de rosto devidamente os Comitês de Ética em Pesquisa deve ser informada ao
preenchida. relatórios parciais c final. ctc.). o sistema de Conselho Municipal correspondente. Carlos César S. de
informação e acompanhamento (item VIII. 9. g, da Reso- Albuquerque - Presidente do Conselho Nacional de Saúde.
lução n9 196/96).
Homologo li Resolução C S n2 240, de 5 de junho de 1997,
b) Organizar visterna de avaliação e acompanhamento das nos termos do Decreto de Delegação de Competência de 12 de
arividades do CEPo Tal sistema. que deverá também servir
novembro de 1991.
para o intercâmbio de informações e para a troca de expe- Carlos César S. de Albuquerqlle- Ministro de Estado da Saúde
riências entre os CEPo será disciplinado por normas espc-
cíficas da CONEP. tendo, entretanto. a característica de atuação
interpares, isto é. realizado por membros dos diverso CEPo Anexo VI
com relatório à CONEP.
Resolução NR 292, de 8 de julho de 1999
c) Comunicar às autoridades competentes. em particular à
Secretaria de Vigilância Sanitrlriu/Mâ, para as medidas cu- o Plenário do Conselho acional de Saúde em sua Octogésima
hívcis. os cnsov de infração ética apurados na execução dos Oitava Reunião Ordinária. realizada nos dias 7 e 8 dejulho de 1999.
projetes de pesquisa, no uso de sua competências regimentais e atribuições conferidas
(I) Prestar as informações nccessárins aos órgãos do Ministério pela Lei n2 8.080. de 19 de setembro de 1990. e pela Lei nR 8.142.
da Saúde, em panicular à Secretaria de Vigilância Sanitária. de 28 de dezembro de 1990. c CONSIDERANDO a necessidade de
para O pleno exercício das uas respectivas atribuições, no que regulamentação complementar da Resolução CNS nR 196/96
se refere às pesquisas abrangidas pela presente Resolução. (Direrrizes e ermas Rcgulamcmadoras de Pesquisas Envolvendo
Pesquisa Clínica • 1S3

Seres Humanns). atribuição da CONEP conforme item VIIIA.d da \111.6. Parecer do pesquisador sobre o protocolo. ca o tenha
me ma Resolução. no que diz respeito ;1 área tcmãtica especial sido impossfvcl a sua participação no dchncamcmo do projeto.
pesquisas coordenada» tio exterior 011 com participoçã» estrangeira VIII. Dentro das atribuições prcvista-, no item VII1.4.c.8 da
e pesquisasque envolvam remessa de material biológico para o Resolução nC 196/96. cabe à CONEP. ;lpÓ!.a aprovação do CEP
exterior (item VII1.4.e.8). RESOLVE aprovar a seguinte norma: institucional. apreciar as pesquisas enquadrada .. nessa drca tcmãtica,
ainda que simultaneamente enquadradas em outras.
I.llclinição - S~Oconsideradas pesquisas coordenadas do exterior VIII.I. Os casos omissos, referentes nos aspectos éticos da
ou com participação estrangeira. as que envolvem. na sua promoção pesquisa. serão resolvidos pela Comissão Nacional de Ética em
e/ou execução: Pesquisa,
a) A colaboração de pessoas físicas ou jurídica estrangeiras. JO.\·é Serra - Presidente do Conselho acional de Saúde
sejam públicas ou privadas. Homologo II Resolução C S n9 292. de 8 de julho dc 1999.
b) O envio c/ou recebimento de marcriais biológico oriundos nos termos do Decreto de Delegação de Competência de 12 de
do ser humano. novembro de 1991.
c) O envio c/ou recebimento de dados c informnções coletadas José Serra - Ministro de Estado da Saúde
para agregação nos resultados da pesquisa,
d) O~ estudos mulricênrricos internacionais. Anexo VII
1.1. Rcspeirudas :" condições anteriores. não se incluem nessa Regulamentação da Resolução CNS N" 292/99
área rcmãticn:
sobre pesquisas com cooperação estrangeira
II) Pesquisas unulrncntc rcnlizadns no paf~por pesquisador estran-
(aprovada no CNS em 8/8/2002)
geiro que pertença 110 corpo técnico UI! entidade nacional.
b) Pcsquisns dcscnvolvidns por multinacional com sede no país. A Resolução CNS n2 292199 define a área tcmãrica específica de
pesquisas com cooperação estrangeira. Segundo o item VIII dessa
II. Em todas a~ pesquisn» devc-ve: Resolução, projeto abrangidos pela ãrea, conforme definições,
11.1.Comprovar a participação brasileira c identificar o pesqui- devem ter aprovação da CONEP. além daquela do CEPo
sador e instituição nacionais co-responvãvciv, A CONEP. com a experiência já acumulada (6 anos), julga
0.2. Explicitar a~ responsubilidades. o .. direito .. e obrigações. cabível propor delegação de competência aos Comitês de Ética
mediante acordo entre as partes envolvida ... em Pesquisa (CEP). para análise linal de parte dos projetes dessa
m. A presente Resolução incorpora toda~ :l'di,po~içõc~ contidas :lrea temática.
na Resolução n2 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sobre Dessa forma c dadas as caractcrrsticas c complexidades en-
Direrrizcs e Normas Rcgulamentadoras de Pesquisas Envolvendo volvidas na questão, a CONEP estabeleceu que:
Seres Humanos, da qual esta é parte complementar da área tcnuitica
espccffica. I. Deverão continuar dependentes dn nprovnção pela CONEP
1I1.!. Resoluções do CNS referentes a outras árt.:as temáticas ()~ projeros de cooperação cstruugeiru que cnvolvnm:
sirnulumcumcntc contempladas na pesquisa. deverão ser cumpri- ..) Fases I (UIII) c II (dois).
dn\. no que couber, b) Grupo comparativo de sujeitos de pcsqulsn mantidos,
IV. Os ônus e bcncffcios advindes do processo de investigação durante qualquer período. ent regime de uso exclusivo de
e dos rcvultndox da pcsqui ..a devem ser distribuídos de forma justa placcbo e ou mesmo scm iratnmcmo específico. incluindo
entren~partes envolvida'. e devem estar explicitados no protocolo. período de \1"051101/(.
V.O pesquisador e a instituição nacionais devem estar atemos c) Armazenamento ou formação de banco de material bio-
àç norma' e drvpo ..içõe .. Icg:li.. <obre rcrncvsa ele material para o lógico.
exterior e ib que protegem a propriedade industrial c/ou transfe- d) 1\ledicamel1lOS para HlV/AIDS.
rência tecnológico (Lei o" 9.279 de 14f05196 que regula direitos 2. Poderá er delegada ao CEI' competência para a aprovação
e obrigações relativo, Upropriedade industrinl. Decreto nU 2.553/98 linal dos demais projetos dessa área temática, desde que:
que a regulamenta e Lei n" 9.610/98 sobre direito autoral). expli- ..) O CEI' manifeste essa opção, solicitando formalmente
citando. quando couber, os acordos estabelecidos. ulérn das normas à CO 'EP a delegação de competência para aprovação
~ legais vigentes sobre remessu de material binl6gico para I) exterior. final dos projetes.
~ VI. Durante O decurso da pesquisa os pturncinndorcs e pcs- b) O CEI' seja avaliado dentro de Programa de Avaliação
:; quisadores devem comunicar 1I0S Cornitês de Étiea cm Pesquisa proposto pela CONEP. considcrundo-sc necessário, pelo
~ (CEP). informações relevantes de interesse público. indcpcndcn- mcno-, O cumprimento da primeira fase do programa.
;:i temente dos relatório, periódicos previstos. compreendendo:
VII. Na elaboração do protocolo deve-se zelar de modo especial • Análi~e dos qucsiionãrlos recebidos sobre organiza-
pela apresentação dos seguintes itens: ção e funcionamento do CEPo
vn.1. Documento de aprovação emitido por Comitê de Ética em • Análise dos dados de acompanhamento do CEP dis-
Pc quisa 011 equivalente de instituição do país de origem. que puníveis na CONEP. incluindo relatórios c perfil de
promoverá ou que também executará o projeto. projetes recebidos no ano anterior com o índice
VIJ.2. Quando não estiver previsto o desenvolvimento do projeto de consistência entre os parecere ...do CEP e da CONEP.
no paí~ de origem, a justificativa deve ser colocada no protocolo c) O CEP ex ija a "presentação do protocolo completo. con-
para apreciação do CEP tia instituição brasilciru. forme itens especfficos da Resolução nO 196/96 c suas
VI1.3. Dctnlholllento dos recursos linanceiros envolvidos: fontes complementares. para efctiva Ilpreciaçào.
(sc intcrnacional e e~tl'angcira c sc h{l contrapartida nacional! 3. A CONE!' pl)tlcr~ solicitar ao CEPo a qualquer momento e
institucional). forl11ac valor de remuneração do pesquisador e a ~ell critério, I) projeto completo para exame.
outros recursos humanos. gastos com infra-estrutura e impacto 4. A delcgaçüo cm pauta tem car:íter cxperimcl1lal. podendo
na rotina do ~erviço de saúde da instituição onde :.e rcali.la.rá. ser revista pela CO EP.
Dc\'c-se evitar. na mcdida do possível. quc o aportc dc rccursos Brasília. 7 dc agosto de 1002
financciroscrie situaçõcs de discriminação entre proli~l>ionais c/Oll William Sa(/(I HosJlle - Comi!>.ão acional de Ética em Pes-
entrc usuários. uma VC.lque esses recursos podem conduzir a quisa/Coordenador
benelTcio~ cxtr:tordinários para os panicipantc.s e sujeitos da pc.~uisa.
VII.~. Declaração do promotor ou patrocinador. quando houver. Anexo VIII
de comproll1h~o cm cumprir os tcrmos das resoluções do CNS Resolução N2 301, de 16 de março de 2000
relotivas ii ética 11:1 pesquisa que envolve seres humanos.
VII.S. Dcclarac;üo do uso do material biológico e dos dados e O Plenário do Conselho Nacional de Saúde. em sua Nonagésima
informações COIClUt!OS exclusivamente para os lins previstos no Quinta Rcuniüo Ordinária, realizada nos dias IS e 16 de março
protocolo. de todo~ tlS que Inanipularão o material. de 2000. no uso de suas competências regimentais c atribuições
154 • Trata do de Clínica Médica

con feridas pela Lei n" 11.080. de 19 de setembro de 1990. c pela nus c suas complementares. Em especial. deve-se atender tam-
Lei n~ 8.1-12. de 28 de dezembro de 1990. considerando, bém 11Resolução CNS nO292/99 sobre pesquisa com cooperação
• A responsabilidade do CNS na protcção da integridade dos estrangeira, alémde outrasrcsoluçõe ..do CNS sobreética em pe qULI;3
sujeitos de pesquisa. tendo constituído a Comissão Nacional os Decretos n2 R6.715 de 10/12/81 e nV 96.830. de 15/1/90 que
de Ética cm Pesquisa - CONEP. regulamentam (l visto temporário para estrangci ros.
• A~ Diretrizes e Normas Rcgulamcnrudoras de Pesquisas II. TERMOS E DEFINIÇOES
Envolvendo Seres IllIIIHUIO~. Resoluções C S n"'196/96. Esta resolução adora no seu âmbito as seguintes definições:
25 I/87 e 292/99.
• A discussão de propostas de modificação da Declaração de I. Povos Indígenas - povos COI" organizações e identidades
Helsinque. pautada para fi Assembléia Geral da Associução próprias. cm virtude da consciência de sua continuidade
Médica Mundial. realivada cm oUlUbrol2000em Edimburgo. histórica como sociedades pré-colombianas.
• A representaçãoda Associação Médica Brusilciru lia referida 2. índio - quem se considera pertencente li uma comunidade
Assembléia. indígena c é por ela reconhecido como membro.
3. índios Isolados - indivíduos ou grupos que evitam ou lião
RESOLVE: estar em contare com a sociedade envolvente.
1. Quese mantenhainalterado o Item 11.3da referida Declaração
de I lclsi nque: "Em qualquer estudo médico, a todos os pa- III. ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO POVOS INDIGENAS :
cientes,incluindo àquele do grupo controle. e houver.deverá As pesqui as envolvendo povos indígcrue,devem obedecertambém :
ser assegurado o melhor tratamento diagnõ ..rico ou tera- aos referenciais da bioética, consldcrando-sc as peculiaridades:
pêutico comprovado". de cada povo c/ou comunidade. .
2. Manifestar-se contrariamente ii, alteraçõespropostas. sobre- I. Os benefícios e vantagens resultantes do desenvolvimento
tudo a referente ao uso de placcbo diante da existência de de pesquisa devem atender às necessidades de indivíduos
métodos diagnósricos e terapêuticos comprovados. ou grupos-alvo do estudo. ou das sociedades afins e/ou da
3. lnstar à AssociaçãoMedica Brasileira que esteposicionamento sociedade nacional, levando-seem consideraçãoa promoção
sejaremetido com ti prestezanecessária :lOS organizadoresda e manutenção do bcm-estar. a conservação e proteção da
Assembléia Geral da Associação Médica Mundial. diversidade biológica. cultural. li saúdeindividual e colctiva
José Serra - Presidente do Conselho Nacional de Saúde e li comribuição ao desenvolvimento do conhecimento e
Homologo a Resolução CNS 11° ;lO I. de 16 de março de 20()O. tecnologia prõprios.
termos do Decreto de Delegaçãode Competência de 12de no-
II()~ 2. Qualquer pesquisa envolvendo a pessoa do índio ou a sua
vembro de 1991. comunidade deve:
José Serra Ministre de Estado da Saúde 2.1. Respeitar a visão de mundo. costumes. atitudes esté-
ticas, crenças religiosas. organização social. filosofias
Ane.oll peculiares. diferenças lingüísticas e estrutura política.
2.2. Nilo admitir explorações física, mental, psicológica ou
Resolução Nª 304, de 9 de agosto de 2000 intelectual e social dos indígenas.
2.3. Não admitir situações que coloquem em risco II inte-
o Plenário do Conselho acional de Saúde. em sua Centésima
gridade e o bem-estar físico. mental e social.
Reunião Ordinãria, realizada nos dias 9 e IOde agosto de 2000.
no uso de suascompetências regimentais e atribuições conf'eridas 2.4. Ter a concordância da comunidade uivo da pesquisa
pela Lei n" R.080.de 19de setembro de 1990.e pela Lei n" R.142. que pode ser obtida por intermédio d!ISrespectivas orga-
de 28 de dezembro de 1990. e considerando: nizações indígenas ou conselhos locais, sem prejuízo do
consentimento individual. que em comum acordo com
• A necessidadede regulamentação complementar da Reso- asreferidas comunidades designarãoo intcrrncdiürio para
lução CNS nl! 196/96(Direrrizes e Normas Rcgulnrncnradoras o contato entre pesquisador e a comunidade. Em pes-
de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos). atribuição da quisas na área de saúde deverá ser comunicado O Con-
CONEP conforme item V111.4.dda mesma Resolução. no selho Distrital.
que diz respeito à área temática especial "populações indí- 2.5. Garantir igualdade de consideração dos interesses
genas" (item VII1.4.c.6). envolvidos. levando-se em COI1Il1 a vulnerabilidade do
RESOLVE: grupo em questão.
• Aprovar as seguintes orrnas para Pesquisas Envolyendo 3. Recomenda-se, preferencialmente. a não realização de pcs-
Sere Humano), - Área de Povos Indígenas. quisas em comunidades de índios isolados. Em casoscspe-
ciais. devem ser apresentadasjustificativas detalhadas.
I. PREÂMBULO 4. Scrã considerado eticamente inaceitável o patenteameruo
A presenteresolução procura afirmar o respeito devido aosdireitos por outrem de produtos químicos c material biológico de
dos POv()~indígellilN no que se refere ao desenvolvimento teórico qualquer natureza. obiidos a partir de pesquisas com povos
c prãrico de pesquisa em seres humanos que envolvam a vida. os indígenas.
territórios. a~ culturas e os recursos naturais dos povos indíge- 5. A formaçãode bancosde DNA. de linhagens de células ou de
nas do Brasil. Reconhece uinda o direito de participação dos quaisquer outros materiais biológicos relacionadosaospovos
índios nas decisões que os aterem. indígenas,não admitida sema expressaconcordância daco-
é

Essasnormasincorporam asdiretrizcs já previstaslia Resolução munidade envolvida, sem ii apresentação detalhada da pro-
n2 196/91\.do Conselho Nacional de Saúde. e fundamenta-se nos posta no protocolo de pesquisal1 ser submetido ao Comitê de
principais doeumentes internacionais sobre direitos humanos da Ética em Pesquisa(CEP) e à Comissão Nacional de Ética em
O U. cm pHI'! icular a Convenção nV 169 sobre Povos Indígenas Pesquisa(CONEP). e a formal aprovaçãodo CEP e daCONEP.
c Tribai .. em PaísesIndependentes e Resolução sobre ti Açâo da 6. A não observância a qualquer um cios itens acima deverá
Organização Internacional do Trabalho (OIT) Concernente aos ser comunicada ao CEP institucional e 11CO EP do Con-
Povos Indígenas e Tribais. de 1989,da Constituição da República sclho acional de Saúde. para as providências cabíveis.
Federativado Brasil (Título VIII. Capítulo VIII Dos índios) e de toda
a legislação nacional de amparo e respeito aos direitos dos povos IV. PROTOCOLO DA PESQUISA
indígenas enquanto sujeitos individuais e colerivos de pesquisa. O protocolo a .er submetido à avaliação ética deverá atender ao
1\.. pesquisasenvolvendo comunidades ou indivíduos indrgcnas item VI da Resolução n2 196/96. acrescentando-se:
devem corresponder e atender às exigências ética~ c cientfficas in- J. Compromisso de obtenção da anuência das comunidades
dicadas na Resolução C S n9 196/96 que contém as diretrizes e envolvidas tal como previsto no item III. § 2 desta norma.
normas rcgulamcntadoras de pesquisas envolvendo seres hurna- descrevendo-se o processo de obtenção da anuência.
Pesquisa Clínica • 155

2. Descrição do procesvo de obtenção c de registro do Termo uma hipótese poderosamente original e relevante é demons-
de Convcnumcmo Li\ re e Esclarecido (TeLE). asscguruda trada. está-se diante de algo por que "ale a pena correr todos
a adequação à\ peculiaridades culturai-, c lingllí'liea, dos os riscos, já que é esva a mais autêntica aventura da Ciência.
CO\ oh u.JO\. Algo imperdoável. no cnrruuo. pelo desperdício do esforço
c das verbas de pesquisa mnlbaratndas. Ó não publicar um trabalho
V. PROTEÇÃO
consistente pOI' displicência. por falta de disciplina de pensar.
I. A rcali/:lljão da 1)C~quisapoderá a qualquer tempo ser suspensa. analisar e escrever. Em nosso meio. é comum fi demora em
obedecido o dispovro no item 111.3.1.da Resolução n" 196/96. escrever os trabal hos já prontos. o deixar para amanhã. os dias
desde que: se trunxfonnurctn em meses e anos. O simples adiamento de
1.1.Seja <olicnadu a \lia interrupção pela comunidade indígena
uma publicação já é um fator de risco para sua eventual divul-
em estudo.
1.2. A pc-quica cm desenvolvimento venha a gerar ccnflitos gação. dada a quantidade e a velocidade da informação, do
c/ou qualquer ripo de mal-estar dentro da comunidade. ritmo em que os avanços científicos acontecem na arualidade.
1.3. Ilaja \ iolação nas formas de organi/ação e <obrevivência Talvez. ainda. por deficiência já do ensino fundamental, os alunos
da comunidade indígena. rclacíonadas pnncipalmcnrc à cooperem menos na tarefa de redigir o trabalho cientffico, Com
vida dos -ujcitos. aos recurso- humanov, ao, recursos Ircqüência. :1 distância entre a bancada de trabalho. ti mesa de
firogcnéricos. ao conhecimento dns propriedades do solo. reuniões em que se plancja e executa o trabalho e o teclado do
do ~lIb~()I().da rauna e flora. à~ trudiçõcs orai, c a todas computador. onde ele é registrado, é mais difkil de ser percor-
:1\ cvprcssõc« :1rlística~ daqucln comunidade. rida. Acredita-se que esse seja um obstãculo relevante, ainda
não mensurado. à produção da ciência nacional. A solução para
VI. ATRIBUiÇÕES DA CONEP
isso é colocar li rcdação dos artigos na rotina de trabalho do
I. Dentro d.l\ atribuiçôcs previstas no item V 1I1.-I.c.6 da Resolução dia-a-dia. Dessa forma, a distância bancada-teclado fica mais
C '5 n" 196196. cabe à CONEP. após a aprovação do CEP ins- curta e a natural resistência ao ato de escrever se quebra. Sen-
titucional. apreciar as pesquisas enquadradnv nessa área
tar-se. diariamente, para escrever trabalhos e. assim. criar um
rcmãrica, ainda que simultaneamente enquadradas em outra.
2. Parecer da Comissão Iruersetorial de Saúde do índio (CISI), hábito. é a maneira de construir o que o pesquisador deve ser
quando nccevsâria consultoriu. poderá ser volicitado pela ante, de tudo: um autor em sua faina diária.
CONEP. A divulgação de um trabalho cientílico enquadra-se nos
3. O~ca~n, UIIlI',O'referentes aos aspectos ético~ da pesqui- seguinte, formatos: dissertação ou tese. resumo de trabalho a
sa. serão rc,ol\ ido, pela Comissão Nacional de Étiea cm ser apresentado em reunião ou congrcsvo. carta ao editor,
Pc'q\li~a. comunicação curta, artigo completo. De lormn genérica. o trabalho
cicntífico é esquematizado em introdução. material e métodos.
Serra Presidcnrc do Conselho Nuclonal de Saúde
J(I.\(I
llomologo a Resulução C 'S nV 304. de I() de ngo-ro de 2000. resultados. discussão e rcfcrôncias. Mesmo um resumo de apre-
nos termo, do Decreto de Delegação de Competência de 12 de sentação em congresso deve seguir esse roteiro geral, embora.
novembro de 1991. nesse caso. loe di pensem as referências.
José Serra - Ministro de Estado da Saúde Ao iniciar-se a redução de um trabalho cientílico. uma boa
:.ugcl>tào é organizar previamente um fluxograma, a seqüência
lõgica de tópicos a serem abordados em cada scção do artigo.
Dessa maneira. os assuntos ficam conectados e o texto flui
CAPíTULO 18 COI11 naturalidade. sem mudanças bruscas de curso que obri-
guem interrupções do pensamento.

Divulgação de SEÇÕES DO TRABAlHO CIENTIFICO


Na Introdução. () planejarnento deve contemplar três aspectos
principais: (I) a apresentação do tema em que se insere a

~Trabalhos Científicos
'"":
investigação: (2) a justificativa para a realização do trabalho;
(3) o objctivo da investigação. Da Introdução o leitor deve
sair COI11 ba. e de informação suficiente para compreender o
contexto da pesquisa. o que se pretendeu fazer e estar conven-
'"
N

~ Raul Cavalcante Maranhão


00
cido da relevância da proposição de trabalho. A Introdução
pode ser concluída, embora não obrigatoriamente, com uma
frase breve nnrccipnndo, de muncira genérica, a que resultado
INTRODUÇÃO o trabnlho chegou. para despertar a curiosidade e reforçar a
relevância do trubalho.
Um trabalho científico s6 deve ser considerado concluído com É importante. na Introdução, a delimitação do seu conteúdo.
êxito quando publicado cm periódico indexado. Às vezes. um lsso é particularmente relevante no tangente ao conteúdo de
trabalho não é publicado porque simplesmente não chegou li informação sobre o campo da pesquisa. Por exemplo, se o tra-
bom termo. seja por má condução. mau planejarncmo. finun- balho se refere à avaliação do uso de um determinado fármaco
ciumento deficiente ou outras circunstâncias, À~ vezes, uma para o tratamento de uma dada doença. não faz sentido uma
idéia original. um trabalho bem planejado c executado. esbarra longa con idcração sobre aspectos epidemiológicos da doença,
na própria nature/a. que se furta em premiar o evforço. enquanto há pouco destaque aos trabalhos anteriores em que
É importante notar que as idéias mais oll~ada, e originais são o f,írmaco foi usado no tratamento da doença. Essa focalização
freqücntcmcnte as mais distanciadas do conhccimcmo presente. equivocada do barkground da pesquisa talvez seja um dos
Dessa forma. ao originnrcm um trabalho científico. a probabi- problemas mais frcqüentcs dc redução na Introdução.
lidade de não vc chegar a um resultado satisfatório. aceitável A scção Material e Métodos deve contcrnplar quatro as-
para publicaçilo. Ó teoricamente maior. Em compensação. se PC(;IOS principais: (I) deixar clara li estratégia de cxperirnen-
156 • Tratado de Clínica Médica

ração: (2) em. e tratando de pesquisa clínica. caracterizar muito seção Resultados: não deveria estar na seção Discussão. No
bem os pacientes que participaram da investigação. o critério entanto. é típica da seção Discussão a seguinte frase: "O fato
pelo qual foram selecionados ou excluídos para o estudo e os de ter ocorrido aumento de glicemia em pacientes com diabetes
dados clínicos relevantes pura II interpretação dos resultados: pode ser atribuído à resistência li ação da insulina que ocorre
(3) descrição do procedimentos laboratoriais. de forma sufi- na doença". Essa é uma afirmação de cunho interpretativo. total-
cientemente clara e detalhada para que possam ser reproduzi- mente dentro do escopo da seção Discussão. Nesse outro exemplo:
dos de maneira fiel por qualquer outro pesquisador ou grupo de "O aumento na concentração de glicose nos participantes, nesse
pc...quisa. conduzindo a resultados idênticos aos obtidos no trabalho estudo. também foi observado por Fulano et a!.. e Sicrano et aI....
descrito - é obrigatório indicar a procedência dos diversos faz-se o cotejo dos resultados do trabalho com os da literatura.
itens de material e equiparuemos utilizados no trabalho. o fabri- o que também é urna função upicu da discussão.
cante." cidade e o país onde está situado. de modo a permitir Além das eventuais intromissões de material de resultados
a aquisição do material e outros elementos -: (4) por lim. deve em discussão. outro ponto importante e que exige atenção e
indicar procedimentos de cálculo c a abordagem estatística discernimento é imiscuir material da Introdução na Discus-
utiliznda na análise dos dados. são. É importante lembrar. sempre, que ti Discussão deve estar
A seção Resultados deve estar voltada, exclusivamente. a centrada nos dados do próprio trabalho. enquanto. na Intro-
transmitir os resultado do trabalho, sem conduzir o ponto de dução. o autor preocupa-se com o terna do trabalho e o que o
vista do próprio autor. de forma a permitir que o leitor faça levou a realizá-lo.
sua própria interpretação dc resultados. Os resultados são A scção Referências também merece atenção redobrada.
expressos. de preferência. em forma de tabelas ou figuru . na reprodução exala da citação c em cada detalhe de formatação.
Estas devem ser tão auto-explicativas que prescindam mesmo Um erro comum nessa seção consiste cm citar um artigo de
da leitura do texto da scção Resultados. Assim. o leitor. ape- revisão ao invés do artigo específico que contém a informa-
nas ao exame das tabelas e das figuras. pode apreender o sig- ção original. a chamada referência cruzada. Citações de revi-
nificado dos resultados obtidos da pesquisa. A seção Resultados sões devem ser orientadas a um plano geral, de tomada de
deve pertencer apenas aos resultados do trabalho. mantendo- conhecimento e atualização de um determinado assunto. Dei-
se fora dela interpretações. comentários ou citações de outros xar de citar um artigo original, em que foi feita a descoberta ou
trabalhos da llteratura, execro quando indispensável; ainda assim. a observação específica mencionada é. antes de tudo. desconsidemr
is. o é restrito ao mínimo. O texto dessa seção deve ser. por- um autor ou um grupo de pesquisadores e desvesti-los da sua
tanto. muito objctivo. Se os te ultados estão expressos em tabelas contribuição. A propriedade e exatidão de cada referência de-
ou figuras. não é necessário repetir os números no texto. mas vem ser verificadas.
sim () "resultado" que elas contêm.
Por exemplo. "na Tabela I. verificamos que a concentração
sérica de glicose dos pacientes com diabetes foi maior que a COISIDIRIÇOIS FIIIIS
dos indivíduos sadios". Não é necessário mencionar os valores Escrito de um trabalho científico. é necessário revê-lo ainda.
de concentração de glicose obtidos no. diabéticos c nos seus buscando uperfeiçour o equil Ibrio interno de cada uma de suas
controles. que constam da Tabela I. Tampouco é necessária a scçõcs e li integração do conjunto. Ao endereçar a conclusão
menção da análise estatística ..... a concentração de glicose é de um manuscrito, deixa-se para trás uma pergunta comum:
significutivamcntc maior ..", já que está subentendido que toda por onde começá-lo? Talvez uma boa sugestão seja começar
alirnwç;io desse tipo contém a confirmação estatística. Pode-se. pela seção Material e Métodos. seguindo-se a elabornção de
no entanto. ir um pouco além no texto: "Na Tabela I. verifi- tabelas e figuras e o texto de Resultados. COIll isso, o autor
camos que a concemração sérica de glicose dos pacientes com est:irá bem à vontade com seus experimentos e seus dados.
diabetes foi 10% maior que li dos indivíduos sadios". E o resultado mais bem posicionado pura interpretá-los e fazê-los interagir
da análise estatística pode vir no fim da frase. entre parênteses: com n literatura. o que irá acontecer nu Discussão: ou situá-
... pacientes com diabetes foi 10% maior que a dos indivíduos los na sua temática e justificar a realização do trabalho e sua
sadios (p < 0,005). A informação do tipo "10% maior" é algo relevância. o que será feito na Introdução. Outra sugestão é de,
que dificilmente pode ser colocado em tabelas ou figuras. e o ao longo da execução do trabalho, ler e colecionar, sistematica-
texto da seção Resultados é muito apropriado para explicitar mente. artigos. capítulos de livros e outros materiais relacio-
esse tipo de informação. nados ao tema. procurando anotar trechos, lições e maneiras
A seção Discussão pode começar com uma frase que resu- de dizer.
ma. de forma muito breve. o que há de mais essencial entre os A presteza com que se deve providenciar a publicação de
resultados da pesquisa. Isso. porém. não é obrigatório. aju- um trabalho concluído não deve ser confundida com abreviar
dando apenas a criar lima ligação com a scção anterior. a de experimentos ou encurtar demonstrações. A procura da solidez
Resultados. c a focnlizar a Discussão. já no seu início, no que dos resultados e de experiências adicionais que proporcionem
é mais importante. um melhor ernbasarnento do trabalho deve nortear a estratégia.
A Discussão deve contemplar quatro aspectos principais: Fragmentar um trabalho maior em dois ou três menores. visando
(I) explicar e interpretar os resultados; (2) cotejar os resultados aumentar o currículo é ilusório, pois uma publicação impor-
do trabalho com os da literatura: (3) procurar O significado tánte tem mais prestígio. Quando há resultados atraentes para
maior dos resultado .. com apoio em dados da literatura. Especular empreendê-Ia. trata-se de uma oportunidade ímpar que não
com os resultados. criar hipóteses. embora procurando sempre. pode ser desperdiçada.
de maneira crítica. limitar-se ao raio de ação dos resultados:
(4) conter as Conclusões. nas quais. 110 parãgrafo final da Dis- BIBLIOGRAFIA
cus .•io. de maneira sucinta. são colocados os principais resul- tNTERNATIONAL COMMIITEE QF MEDtCAL JOURNAL EDtTORS. Unirorm
tados do trabalho com o seu signi ficado ou relevância. requi~men" for I1Illnu<cripb .ubmillcd 10 blomcdlcnl journals. JIIMA. Y. 217. P.
927-93-1. 1997.
Um erro comum em Discussão é fazer "reiteração de resul- IVERSO . C. Ammt'on Mi'Jirnl AJ,(}('lati<1IIMalllwl ~lStyle: (I /illiJ~for aUlhon anJ
tados". ~JiltJrs.9. ed, 8altimort: Willi.m~DndWilkjll~. 1998.
Por exemplo. "nos pacientes com diabetes houve aumento ZEtGER. M. ú"ntioll oflVri'''8 B/o"'t'tIIcI,1RrmllY'I,I'''/III'W. 2.cd. Ncw YOfk:McGr.lw.
nos valores de glicose plasmática ..... Isso é uma frase típica da tlilt.200>.
Pesquisa Clínica • 157

A Internet é uma rede mundial sem um computador cen-


CAPíTUlO 19 tral. provedora de diversos serviços. Na mídia. os mais co-
mentados são o World Wide Web. o correio clctrôn ico (e-mail)
e o FTP. Entretanto. ela é composta de vários outros serviços,
como: grupo. de discussão. listas de correio, Tclnet, Finger,

Pesquisa Científica Gopher, WIIAIS. P2P. Chat e outros.


Cada serviço pode ser acessado por um programa especí-
fico diferente. porém o uso do. navegadores (/J/mvsers) é suficiente

na Internet para acossar os serviços mais utilizados e mais eficientes em


uma pesquisa,
A~ di, crsidndev cultural e lingüístic» são características
da Imcrncr. podendo haver choq ues entre culturas e crença .
Alexandre Campo Moraes Amato O inglê\ é o idromn predominante, embora não seja oficial,
Toda pesquisa que se preze deve constar em outras língua e
"Quem lião sabe o que procura. considerar c"u, diferenças.
mio sabe interpretar () que acha". Com toda' a~ ..uns virtudes, ti lrncrnet iumbém é cheia de
armadilha). sendo necessário conhecê-Ias pum cvltã-Ins. Mesmo
Ct.AUDF. BERNARD
pessoas com baixa renda e sem ligação com Universidades
INTERNET são capazes de publicar informações. que sem II grande rede
nunca teriam sido divulgadas. lsso tem seu lado bom e ruim.
Em 1969.no auge da Guerra Fria. foi criada ii lntcrnet. Original- Todas as pessoas ão livres para publicar textos sobre os te-
mente. intertigava laboratórios de pesquisa e se chamava mas que bem entenderem. independentemente de serem ou
ARPANet (Advanccd Research Projccts Agcncy). Era uma não peritas no assunto. A característica de mutação constante
rede do Depanamemo de Defesa Norte-americano com o ob- pode levar 11desarualização. o que chega a ser um paradoxo:
jetivo de não ser centralizada e sobreviver a um bombardeio. me mo sendo extremamente fácil divulgar na rede. faz-se neces-
Quando foi u ada em universidades e laboratôrios. passou a sário lembrar que não é preci o fazer nada para que suas páginas
ser chamada de Internet e disseminou-se pelo mundo. fiquem eternamente publicadas. levando 11dcsatualização, Tal
A Internet é o agrupamento de outras 40 mil redes no mundo. facilidade abre espaço para trabalhos excelentes e outros péssimos,
conversando por um protocolo único. O TCP/lP (Transmission o que obriga o leitor a uma postura crüica e atenta pura evitar
Control Protoccl/Intcrnct Prorocol). Por duas décadas. ficou essa cilada.
restrim aos u\()~ acadêrn ico e cient ífico. Em 19R7, foi Iibc- O excesso de links nas páginas pode levar 11 dispersão do
rodo seu uso comcrcinl nos Estados Unidos e. em 1995. no leitor, que foge da proposta inicial e percorre assuntos não
Brasil. A explosão da Internet ocorreu em 1992. nos Estados relacionados 11pe. quisa atual, Sabendo-se que a maioria dos
Unido. quando surgiram inúmeros provedores de UCeSM)para internaurav não percorre além das 10 primeiras chamadas nos
ou uãrio doméstico. mecanisrnox de busca, muitos comerciantes pagam para que sua
O correio clerrômco (e-mail) é um do" recursos mais anti- informação scjn escalada antes de outras, de modo que nem
gos da rede. Permite que qualquer usuário com um endereço sempre os primeiros achados ão os melhores e os mais lide-
cm ICuma carta eletrônica para qualquer outro usuário. em qualquer dignov, Esve fato exige. mais uma velo permanente alerta do
pane do mundo. Em função de suas diversas vantagens. como usuário pum vcpnrar o joio do trigo.
velocidade. facilidade de envio e outra. foi amplamente aceito lão há um caullogo centralizado com todas as páginas da
na çociedade, O endereço do correio eletrônico segue a se- Internet: portanto. com sua diversidade e I'ápidu modificação.
gumte forrnnmção: 110medousuário@nomedocomputfldor.com.br. a pesqui a não é IUO simples. Existem mecanismos de buscas
Antes do stmboto de arroba fica o nome ou apcl ido cio usuário (automatizados). diretórios da Internet (dependem ela inter-
e depois II empresa ou organização. o tipo du instituição e o venção humana). metasearch engines (engloba vários meca-
pafs. Em inglês. pronuncia-se O símbolo da urrob .. como "at" nismo!' de busca c diretórios da Internet) e outros como mailing
e rgmflca "em". de modo que o endereço de e-mall significa: lists, newsgroups ou FTP search, Todos são atualizados, mas
LI uãrio tal cm tal computador. não 11 velocidade da rede.
A \Vorld Wide Web. a Internet como a rnídia divulga. foi Como exemplo do cre cimento em progressão geométrica
criada em 1991. na Suíça. Foi concebida como uma maneira da informação publicada. convém lembrar que a National Library
imple de divulgar documentos científicos e interligar com- of Medicine estima que o volume de informação publicado na
putadores. A criação do ~10aic. programa destinado a possi- área médica duplique a cada 4 anos.
bilitaro acesso em ambiente gráfico. permitiu que novos usuários
utili/ossem II rede, cm vista da dificuldade anterior de se aprender DEfiNINDO A QUESTIO
os comandos em linguagem de computador e n limitação de É essencial a especificação da questão que se deseja investi-
exibir somente textos. O segredo do sucesso da World Wide gar. O início é a escolha do tema e. a seguir. os objetivos a
Web é o hipertexto cm que textos e imagens são interligados serem alcançados. O aprofundamento da questão é necessário
por meio de palavrav-chav e. Os endereços na Web ,ão pare- para uma pesquisa mais abrangente.
cidos com http://ww w,nomcdaempresa.com.br (Fig. 19.1). O É preciso traçar uma estratégia de localização de artigos,
"http:/r significa Hipertext Transfer Prorocol, enquanto "\V"'W" delinindo critérios de exclusão e inclusão.
6 \Vorld Wide Web e indica que o endereço pertence 11Web. Como a literatura é. ti cada dia. mais abundante e o tempo
não sendo. porém. obrigatório: o ".com" indica er um ende- escasso. deve-se limitar o número de artigos a serem procura-
reço comercial e o ".br" indica a procedência brasileira. dos. evitando perder os fundamentais. Pura localizar 0(5) anigo( )
Atualmente. a Internet distanciou-se de seu objetivo pri- fundamcmalüs) 11 pesquisa, deve-se definir o que o torna fun-
mário e pas-ou a ver um meio de comunicação para todos. É damentai e. ti partir disso. selccionar puluvrns-chuvc ncccssãri-
caplll de nos libertar das limitações espaço-tempo, de modo as para sua pesquisa em bancos de resumos informatlzadcs,
que podemos visitar o Museu do Louvre c. segundos depois, A probabilidade de achar itens relevantes dentre os artigos
estar lendo o jornal local. que realmente o são (sensibilidade) e a capacidade de exclusão
158 • Tratado de Clínica Médica

É indicado para o~ iniciantes no assunto, já que, com o


~Asclépios - Microsoft Internet Expio aumento exponencial de informação. somos todos leigos na
grande maioria dos temas. Indicado também para pesquisa
Edit,:,t F,:,',/otito::: de assuntos gerais. já que assuntos cspcclficos habitualmen-
Atqul"/O Exibu Ferram
te não são abordados. ou são mal classificados em vista da
necessidade de conhecimento do responsável.
....
-'I ~ ~
/)
~
O MECANISMOS DE BUSCA
Os mecanismos de busca são instrumentos que nos permitem

End .,.0 I~http://www.asclepios.com.brl encontrou. na Internet. páginas que contenham a sequência de


caracteres (palavras ou não) que indicamos. São programas
que percorrem periodicamente todas as páginas de que têm
conhecimento, procurando novos links, indexando novas pã-
ginas em um grande banco de dados e criando um "índice
remissivo" para elas. Quando perguntado pelo usuário que busca
uma pesquisa. o programa procura, em seu banco de dados,
Figura 19,1 - Exemplo de endereço na Web
informações que sejam condizentes e retorna com uma pá-
de artigos verdadeiramente irrelevantes (especificidade) devem gina informando os links encontrados (Fig. 19.3).
ser balanceadas, de modo II limitar o número de artigos iden- O mecanismo Google (www.google.com.br) é atualmente
tificados, com o cuidado de não perder artigos essenciais iipesquisa. o mais utilizado. pois possui a capacidade de ordenar o resul-
Se a pesquisa fornecer muitos resultados não relevantes. tado por signi Ilcância da página.
provavelmente é preciso alimentar a especificidade de sua questão.
É importante lembrar que o programa procura a forma dos
ao conrrário. se produzir poucos resultados. é preciso aumen- termos, e não seu conceito, o que exclui palavras com erros
tar a sensibilidade, ortográficos e sinônimos. Baseado no sentido das palavras, foi
Aumenta-se a especificidade. limitando a questão. usan- criado urn mccunismo de busca. o Oingo. adquirido pelo Google,
do termos mais cspccfficos. pesquisando somente no assunto capaz de procurar palavras COIll sem idos semelhantes, e tam-
e palavras-chave cm vez de em todo o texto ou resumo. usando bém sistemas de pesquisas "baseadas em humanos", no qual
o operador lógico AI D. limitando a questão ao idioma, ao você faz II pergunta e obtém a resposta de um suposto especia-
tipo de publicação (rc,·ic,,·.estudos randornizudos, ctc.), ao país lista (hllp://www.guru.col11. hllp://www.sabido.com.br, hnp:1I
www.why.corn.br), Atualmenre. o Google retorna uma página
e ao ano de publicação.
com sugestões de correções gráficas para a pesquisa solicitada.
Aumenta-se a ensibilidadc, ampliando a questão. procurando
Os mecani mos de busca possuem um banco de dados extre-
por mail> termos, com combinações diferentes de termos.
mamente maior do que os diretórios de pesquisas e, por isso.
pc quisendo tanto no assunto como no texto ou. resumo. usando
o operador lógico ORo servindo-se da função NEAR para pro- são indicados para pesquisar assuntos muito específicos. O~
curar itens na mesma frase. usando wildcards C", S,?) para substituir dados são mais recentes do que os dos diretórios além de serem
porções variáveis nos termos c procurar por artigos antigos. extremamente rápidos. Para assuntos gerais, no entanto, po-
Para evitar a dispersão e obter bons resultados, é preciso dem causar confusâo c não resolver li questão, por retornarem
formular a pergunta antes de fazê-ln ao mecanismo de busca. um excesso de liuks.
separar suas palavras-chaves, encontrar sinônimos e somente O conteúdo de multimídiu é mais dificilmente indexável,
depois criar a interrogação. SI:! faltar imaginação, recorra fi já existindo, entretanto, tentativas nesse sentido.
Sempre há, nessas páginas, urna caixa de texto para se fazer
regra utilizada pelos jornalistas, respondendo às seguintes
a pesquisa. A sintaxe da questão varia de um mecanismo de
perguntas: O quê? Onde'! Quando? Como? Por quê? Para quê?
busca para outro, mas mantém algumas coisas em comum.
A pesquisa é cmbasadu cm operadores lógicos; sem eles só
DlRETÓRIO DA INTERNET seria possível fazer a pesquisa com uma palavra-chave sim-
Os diretórios, classificações temáticas do conteúdo da Internet, pies. Existem operadores booleanos e não booleanos. Alguns
dependem da intervenção humana para seu funcionamento. Podem mecanismos substituem. implicitamente. os espaços entre os
não ser completos: seu conteúdo, porém. é consistente e, como termos da nossa pergunta por operadores (como o operado-
seu teor depende do conhecimento de quem classificou o as- res AND ou OR). O que muitos internautas não sabem é que
sunto, apresenta classificações subjetivas e. às vezes. arbitrá- tais operadores não são sempre os mesmos e variam de me-
rias. o que pode prejudicar a pesquisa tio assunto desejado. canismo para mecanismo.
Com freqiiência. indicam menos sites do que os mecanis-
mos de busca, poi: os maiores dirctórios da Internet abran-
gem apenas um milésimo do número de páginas. comparado __ ... fM( ...

ao número de página, dos mecanismos de busca.


Seu método de pesquisa consiste na definição do tema e. em
seguida. na procura dentro dos diretórios disponíveis (Fig. 19.2),
que funcionam como um grande sumário. Há. às vezes, a in-
corporação de um mecanismo de busca. uma pesquisa que procura

.
por palavras específicas. ou seja "palavras-chave", nas pági-
nas. para complementar o conteúdo insuficiente. Normalmente
terceirizudo, tem C0ll10 objetivo suprir a pequena quantidade
de páginas indexadas. procurando em outras páginas que não
- ........
..~-_ . Jae:::.",_
,==--
~
::'-.....
_;t~ __
estão no diretório.
Em alguns serviços patrocinados, nos primeiros achados Figura 19.2 - Exemplos de diretórios da Internet. O Yahoo (http://
há a predominância de páginas comerciais, o que prejudica a www.yahoo.com.br). de projeção mundial, com sua versão bra-
consulta, se o pesquisador se deixar enganar. sileira e o Cadê? (http://www.cade.com.br) brasileiro
Pesquisa Cllniea - 159

G og!~-
_
,_., . -
~ ®... e®
Figura 19.4 - Exemplo gráfico de como funcionam os operado-
Vl
m
.('")
>,
O
N

,_
,__....f ..
e:::..l:::.__ res booleanos. A área preenchida em verde corresponde à pes-
O.............. O............. quisa efetuada com o respectivo operador
t,.. ........ _ ... __ ...........

Figura 19.3 _ Exemplos de mecanismos de busca. O Google (http:// São apenas "tradutores" da sintaxe da pergunta para vários
www.google.com).extremamente rápido e abrangente, e o Altavista mecanismos de busca e organl/adorcs das respostas (Fig. 19.5).
(http://www.altavista.com).mais antigo, porém igualmente útil Na teoria parecem muito bons. mas sua sintaxe de funcio-
namenro é muito complexa. não dispondo de alguns cornan-
Operadores n50 lmoleanns: dos muito útciv para maior especificidade da pesquisa. por se
limitarem 1\ capacidade da sintaxe do pior mecanismo que utilizam.
• Operador +: resposta deve necessariamente conter esse A tC':lIologia implicada nos metasearchev inferior li dos
é

termo. mecanismos de busca e o objctivo não é a quantidade de res-


• Operador -: resposta deve nece sariamcnrc /1110 conter postas. e sim a qualidade: portanto. apesar de parecerem muito
esse termo: bons. seus resultados nem sempre são pertinentes.
• ': caracicrc universal para encontrar variantes de pala- Sua técnica de utilização é muito parecida com a dos
vras (por exemplo. auto" procura por automóvel. auto- mecanismos de busca.
mãtico. ctc.). Preenche a parte variável do termo. Tecnologia ainda em de envolvimento. Tem utilidade, aiual-
• .. ": procurar expressões ou mais de uma palavra juntas. mente. apcna-, cm pc quisas imples. mas com um futuro pro-
considerando o espaço entre elas como curactere. missor.
Operadores booleano» (Fig. 19...1): Existem programas de metapesquisa que funcionam em seu
• AND: pedido de pãgtnas que contenham simultaneamente próprio computador. tendo alguma. vantagens sobre o sites. Um
as palnvrus. deles é o Copcrnic (Fig. 19.6). que pode ser "baixado" (downloadt
• Ol?: pedido de páginas que contenham pelo menos uma cm http://w\V\V.copernic.col11/prouuct~frec/ c possui a caracte-
elas palavras. rfstica de memorizar sua pesquisa e periodicamente atualizã-Ia,
• AN/) N07:' pedido de páginas que contenham II primeira retirando a. páginas não cncomradas. além de xcr fácil de usar.
palavra e não contenham a palavra <cguintc. Existem outro-, corno. por exemplo. o Webfcrrct em hltp:/I
• NEAH: pede que dilas palnvrus surjam perto uma da outra. w\Vw.zdncl.com/ferretlindex.html. São extremamente Ilexfveis
e úteis, suprindo n defeito de cada mecanismo de busca.
O operador /)()O/NIlIO A D é equivalente ao operador não
booleano "+" e o operador OT é cquiv alente ao operador BIBLIOTECA REGIONAl DE MEDICINA
h_". Os operadores lógico, têm a vantagem de poderem ser
A Bihliotccu Regional de Medicina (BIREME) coordena o sis-
integrados em cxprcwõcv com parênteses (pura definir () agru-
tema de informação na área de Saúde no Brastl e po ui um
pamentoe a prioridade da' sequências de camctcrcv). Por exemplo.
acervo enorme de artigo. cujas fotocópias podem ser pedidas.
medicina AND (hi,tcíria OR ética).
O seu acesso é gratuito. embora o pedido de fotocópias não o
Sabendo tudo isvo. é necessário adaptá-lo ii xintaxe do
seja. É uma pesquisa mais especializada. com melhores resul-
mecanismo de busca que se deseja utilizar. Para i).).o. deve-se
tados. por ser dedicada à área da saúde. A B IREM E é apenas
ler a "Ajuda" do site,
Lima interface para a pesqui a em várias bases de dados,
Para encontrarmos páginas com o conceito que estamos
Após digitar seu endereço no navegador: hllp://www.bireme.br.
pesqui ando. é necessário procurar 11mconjunto de palavras
sclccionc "pesquisa _em base de dados". A part ir da], o usuá-
que só existiriam em um site com esse conceito. ou por vários
rio pode escolher entre LlLACS (Literatura Latino-America-
x sinónimos.
~ Exemplo: cão AND gato A 'D peixe. Para procurar pági- na e do Caribe em Ciências da Saúde), AdSaúde. MEDLINE
:7 nas referente). a animeis. (Medical Literature Analysis and Retrieval Systenú, PAHO e
~ Prefira os substantivos aos verbos e adjerivos por defini-
outros. Discutiremos agora o MEDLlNE. que existe desde 1962.
~ rem melhor o conceito que se procura e por não haver decli- Selecionc-o.
nações. pelo menos cm português. É importante lembrar que Aparecerá um formulário de pesquisas. Selecione o modo
nem rodos os mecanismos aceitam acentos. avançado. por permitir um maior refinamento na pesquisa.
Na análise dos resultado •. quando em quantidade insufi- Existem !I~ seguinte» Ierramenias:
ciente, deve-se formular uma nova pergunto mais geral (OR) • IJ(/.I(' de d(/{/(J,V: especifica uma determinada época para
ou mudar de mecanismo de busca. Quando em número ex- a pesquisa,
cessivo. deve-se pcvquivar por algo mais especifico (AND. • Pesquisar: palavras a erem pesquisudus.
NOT). Com rcspovrn-, não pertinentes. deve-se pensar nos • Campo: tipo de pesquisa (descritor de assunto. limites de
vários sentidos da' pnlav ra, hornõgrafus e reformular a per- assunto. autor. palavras do titulo. idioma. país. revista e
gunta com siuônimo». outros).
• flldice: Ii,tas de palavras que ve relacionam somente ao
MErASEAReH ENSINES campo iI esquerda.
Os Metaseorch Engines são mecanismov de busca que enviam • Operadores: ORoAND c AND NOT para refinar a pesquisa.
simultaneamente a mesma pesquisa para vários outros meca- Preencha os campos c tccle em pesquisar, Aparecerá o resultado
nismos de busca e processam os rc ultados de modo que links da pcsquisu. Então. podem-se ler o resumos c pedir fotocó-
repetidos sejam suprimidos. Por pesquisarem em vários lugares, pias paru os urtigos selecionado .• que podem ser enviados tanto
freqUentemente (mus nem sempre) retornam mais respostas. pelo correio convencional quanto pelo clctrônico,
160 • Tratado de Clínica Médica

Pode ser solicitada cópia, via e-mail, fax ou correios, dos Outra recomendação fundamental para quem pesquisa nas bases
anigos encontrados na BIREME. por meio do sistema SCAD de dados é certi ficar-se de que as palavras digitadas no campo de
- Serviço Cooperativo de Acesso a Documentos (http:// pesquisa estão correiameme indexadas. ou seja, garantir que o
scad.bvs.br). O SCAD é um serviço pago e estã disponível termo seja uma palavra-chave. Isso é possfvcl através dos Descritores
somente para usuários, bibliotecas ou centros registrados. com em Ciências da Saúde (Decs), disponível no http://decs.bvs.brl.
código e senha de acesso. Novos usuários ou instituições devem
preencher um formulário de registro (..http://ww\V.bireme.br/ MUlTlMIOIA
bvs/Pzpcada.htrn" hllp://www.bireme.br/bvslP/pcada.htm) para Com o advento do Dataêhow, as aulas e apresentações podem
ter acesso ao Serviço SCAD. Será cobrada uma taxa de inscri- ser muito mais imerauvas. Para utilizar todos os recursos multimídia
ção no valor de R$20,OO. Os pedidos de fotocópias de docu- presentes no equipamento, o leitor pode precisar procurar vídeos,
mentos podem ser registrados no SCAD a partir do resultado imagens ou sons na Internet.
de pesquisa nas bases de dados bibliográficas disponíveis na Existem alguns mecanismos de busca dedicados à pesquisa
BVS/BIREME (Medline, LILACS, erc.), ou a partir do menu multirnídia. O Altavista (http://www.altavista.com/image/default)
principal do próprio sistema SCAD (opção "novo pedido"). é um deles. A pesquisa é feita da mesma maneira que a pesquisa
Também podem ser pesquisados no PubMed da própria com palavras. O sistema procura por imagens ligadas !I essas
Nationul Library of Medicine (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ palavras e retorna imagens mcnore (ícones) para serem escoo
PubMed/), com a vantagem de UIlI bOI11mecanismo de busca lhidas, O Google (http://w\Vw.google.com) também possui um
e a desvantagem de não possibititur o pedido de cópias. O site sistema semelhante de procura de imagens.
Asclépios (http://w\Vw.a~clepi()s.com.br) possui um sistema Atualmente existe a tecnologia P2P (Peer to Peer), muito
de buscas no PubMed. que apresenta os links diretos para os promissora: são programas que permitem que qualquer tipo
artigos completos. quando houver. de arquivo seja procurado nos computadores de outras pes-
soas. Quanto mais pes oas aderirem a essa tecnologia, mais
CDCHRANElIBRARY informação será distribuída. É uma tecnologia e um assunto
muito delicados, pois graças à sua simplicidade e capacidade,
As dúvidas atuais podem ser sanadas nas fontes de medicina
os usuários distribuem desde músicas até filmes completos.
com base em evidências. Uma boa fonte é a Cochrane Library
Quando essa tecnologia for bem utilizada, art igos, vídeos, aulas.
(hup://www.centrocochranedobrasil.com.br).que mapeia os ensaios
imagens, sons e outros poderão ser lidos, durante sua elabo-
clíniccs existentes sobre cada conduta c as soma, quando
ração. antes de serem publicados. de modo que a tllo esperada
adequado. valendo-se da metodologia das meranãl iscs, É con- publicação e 111 tempo real serã realidade. Arquivos mulrimfdia
siderada a melhor biblioteca virtual para a tornuda de deci- e programas de distribuição liberada, e pertinentes para pesquisa.
sõcs nos cuidados ii saúde. A Cochranc Librury é um banco serão distribuídos facilmcmc. Antes da publicação definitiva
de informações publicudo c atualizado periodicamente. de artigos, haverá diS(;USSÕCl> sobre o assunto, que serão publicadas
Para termos acesso às infcrmnçõcs. disponibilizadas gratui- juntamente com o documento. Existem vários programas: http://
lamente para :1América Latina e Caribc. devemos efetuar o cadastro: www.kazaa.com: hrtp://w\Vw.emule-projeet.net/ e http://
no sise hup:II\V",w.birel11e.br/cochrane/. clique em "registro de www.limewire.com. B preciso lembrar-se sempre da impor-
usuários". no canto esquerdo da tela. Deslize a barra de rolagem tânciu do respeito aos direitos autorais, garantidos por lei.
e clique em "para usuários do Brasil", localizado no item "re- Também é possível, por meio de programas de comunica-
gistro dc usuários individuais". Preencha o formulário e a se- ção instantânea. a troca de informações, dados e arquivos. Pro-
nha desejada. Receberá um e-mail, dentro de 24h. com seu código gramas como o lCQ, em www.mirabilis.com, são capazes de
de usuário. que será utilizado para acessar o sistema. nos direcionar a pessoas com o mesmo interesse, permitindo
Para pesquisar nesse sistema é necessário definir a ques- a troca de mensagens. por exemplo. em http://web.icq.eom/
tão. Os itens-chave determinam critérios para selcção dos estudos whitepages/, Existem outros. como o MSN Mes enger (hnp:/!
da revisão sistemática e são fundamentais para :1 elaboração da messenger.msn.com) ou O ComVC (hnp.r/www.uol.corn.br).
pergunta da pesquisa: são eles: situação clínica (problema). Atualmente. O Orkut (http://www.orkul.com). considerado
intervenção. grupo-controle c desfecho cl ínico. É possível utilizar um "serviço de rede ocial". é utilizado para encontros com
a busca livre. refinar ii pe ..quisa. pesquisa avançada ou bu ca amigos c comunidades. É possível, por meio dele, localizar
por tópico. É possível utilizar os operadores booleanos. comunidndcs Ou pessoas com interesses semelhantes aos seus.
Ao clicar em sumario. na barra de navegação situada ho- are profissionalmente, sendo possível a troca de experiências.
rivontulmentc na parte superior da página, é possível ver o
surnãrio do documento que está sendo mostrado. possibili-
tando uma navegação mais rápida. Os itens nos sumários são l<.
os mesmos para todas as revisões sistemáticas da Cochrane.

metacrawler
...- -=-"I~':"
c: ~ ~~_.- ~_
....... '652' gfidN
~ u.u(" '"' ".A.htll.... M.
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• P.,e"'ln 0___

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,. ..:..
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Figura 19.5 - Metacrawler (http://www.metacrawler.com). exemplo
de um site de metasearch Figura 19.6 - Copemic, exemplo de um programa de metasearch
Pesquisa Clin;ca 161

pAGINA NÃO ENCONTRADA


Quando a página não for encontrada (,/0-1 errorletn» -!O-!J. deve Art:#X'iO Edtar EXIbir Favoritos Ferramentas Ajuda
haver uma cauva: a página foi retirada ou mm ida. houve con-
eesüonamento na Internet ou problema na
/:<
manutenção do ser-
, • )*~J
vidor, Para resolver ivso, procure por pagina' com o mesmo
título. na esperança de ela ter sido apenas movida de servidor. End~ 'f' t) http://www.ascleplos.com.brfmodules.php7nllme-Webj.lnks
Procure a p.igin:1 inicial do si/e. encurtando () caminho da pá- I 'Resultado dll enquete .:.Intectof0õTill
gm a. e a pnn ii de lu. ache a que procura (Fig. 19.7).
Pamcncul1urllcaminlHl.porexemplo: http://www.a\Clcpios.colTl.br/ Figura 19.7 - Endereço completo da página
modulev.php'tnume '" Weh l.inks. deixe apenas o endereço de seu
Superior (CAPES). instituições pública, de ensino superior
'>Cf\ idor http://www .axclcpios.com br e procure por linl» nessa
cstadu.n-, e municipais com pós-graduação avaliada pela CAPES
página. c lI1,titUIÇOéSprivadas de ensino superior com pelo menos um
Se não funcionar. convém aguardar uns dia, e tentar no-
doutorado com avaliação trienal cinco ou superior pela CAPES
vamente. Par .. ivvo, crie um Bookrn urk tl-uvoritos) no seu e outrav IINIlIlI,'ÕCSque aderiram ao Portal na categoria "pagantes".
navegador e visite-a depois. com acesso restrito ii, colcçõcs contratadas)
PORTAIS 1'\0 PubMed Central (hllp:l/www.publ11edcéntral.nih.gov).
dcsenvol vido pelo National lnstiune-, of l íen Ith (N III), desen-
Com a diílcu ldade utua1do, médicos de se manterem utualizados, volvido pelo Nntionnl Centcr for Biotcchnology lnformation
muitas foram as iniciativa, para se tentar facilitar suas pesquisa. (NCBI) na National Library 01' Medicine (NLM). E possfvel
()~ portais sao Si/I'S que abrigam uma grande quantidade de fazer pesquisa em muitas revistas. obtendo o artigo completo,
mtormuções em um único lugar, O Dircctory 01' Open Access Journals (htlp://www.doaj.org/)
Alguns portui-, vc devtavam em razão da qualidade e 4uan- possui mais de 1.700 revistas, sendo possível fazer uma busca
tidade de inform:lI;ilc\. Wn10 o portal inxtitucionnl puhlico do no conteúdo de mais de 400 delas.
Ministério da Saúde (hllp://\\ \\ w.saude.gov.br). com Informa- O endereço hllp://high\\ ire.stanford.edu/ possui mais de 850
ções epidcrmologrca-, atuulizadav: e outro, manudo-, pela 101- rcv i,ta~. vendo o acesso a algumas delas gratuito.
ciativa privada. como o A<clepios (hllp://www.a\Cleplo v,com.br), O Projeto I)lretn/e\ (hllp://w,,'w.projewdiretri/es.org.br/).
com centenas UC //111...1, Ih ros online e guidetinev. pU"UI iam- da Associuçâo Médica Brasileira e Conselho f-ederal de 'V1e-
bém um sistema de pesquisa no PubMed; o BibhuMetl (hllp:/ dicina. possui dezenas de guldelino» dispostas cm ordem al-
/www.biblicmed.corn.br). com vários livros na üucgra: e o fabética c por vocicdade que elaboruu.
Conncctlvlcd (http://wI\ \\ .connccuncd.com.br). O l3ibliomed No si/e http://w\\ w. teses.usp.brz possfvcl pesquisar a, teses
é

forneceacesso pago ao MDConsult (http://www.mdconsult.com) na Biblioteca Digital de Teses e Divscrtuçoc-,


também COIII ucesso pago ao conteúdo integral de livros in- Outro si/i' de pesquisa é o http://WWW.lIll·lJ..lilpe.c.:llm. que
teruacinna i." possibilita a procura de informação no MEDI 1\II.. A Il)SLI:-.JE.
Imcrnacronalrncmc. o \IDConsult é uma importunnvsrma fonte Druglnfo c: Medical Irnages. Requer um cadastro gratuito.
de inforrnaçócs. com acev-o a dezenas de rév"ta\ c ) I livros- Outro, endereço- vão: http://igm.nlm.nih.gov/: hllp:/I
texto. I:. uma fome paga, porém é powívcl til/ér uma m-enção www.infotricvc.corrv; http://www.pdr.neú:http:J/ww\\..rncdfetch.com/:
para teste, Inclui li\ ro-, como o Nohle: "('\1/1001. o) Primarv Care hllp://\\ ww.kfinder.corn/: hllp:/lwww.papercha...c.com/.OMedFelch
Medicine.ter.:etr.l edição. Goldmau: Ceci/ Tcxtboo]: o} vtcdicine, é um ,i 'te milque <cmanalmcnte pesquisa no PubMed artigos novos
22" edição. Townwnd: Sabision Testbook ll(SI/lge/'\. 17' edição sobre a"untos pre-definidos e Os envia ao uxuano.
c outros, O MedScape (hllp://www.medscapc.comltem acesso No viu: l lcalth on Net Foundation (http://www.hon.chlMedHunú)
gratuitoe permuc a pesquisa dentro das divcrsa-, subespecialidades. podem sei cncomrados diversos artigox médicos. São páginas
REVISTAS E LIVROS M~DICOS DE ACESSO GRATUITO que precisaram comprovar que seguem alglllls princípios éticos,
Vilriasrev"ta' já oferecem acesso gratuito irucgral na Internet. No VERACIDADE DAS INFORMAÇOES
sitc d:1 Scienulrc 1;,letronit: Library Online SCIELO (http://
Qualquer um pode escrever qualquer coisa e publica-Ia na Intcrnet,
\I \\ \Ullc!O,hrl 111.1" de 150 revista' dl\ponibtlllam ,eu cun-
levando li flC'4uisador a muitas informaçõe\ errada!> e desa-
teúdo integral () I'ree Medic.:al Journal, (hllp://www. llIali/ada\, Dc\emo~ estar sempre alemo, ao problema. Os artigos
freemt:dic.:aljournab.l'ol1l) It~ta mai- (.!é I 300 re\ I,ta'. englo- ue rc\ "tas médica~ \ irluais ainda passam pelo crivo de seus
bandore\ "Ia, em portuguc, (htlp://w\\ \"Jl\.'<!l1lcull:ill,ollntal,.(;ol1v cdt(ore\. tendo Ulll:! m<!lhor confiabilidade. porém também re-
hun/port.htrnl,I-,m"Igun,ca.<,()~.
a edição ma" 1\.'I.'éntc
Jik\tiÍ di,poní\cI: querem uma an.ill\e crítica do lcitor.
em outro.,. apena' ediçõc~ anteriores e~tão di'poni\cis. Seguindo Para dlagnost icar isso. deve-se tcr cm mente algumas per-
o~~moconccilo. (I ,Ii/e Frec Books for DuetO!' Omp:l/www.lb4tI.(;OI1l) gUIlLa\.
pcnnltc () ac.:e\\o a mais de 650 livros oll/ille.
() POl1alPcri6diw, CAPES (http://www.pcriodicos.capcs.gov.br) Quem e\creveu () si/e'! Trata-se de péS'llll 011 instituiçào
ofcrece ace\so a téxtos c.;ol1lpleto~ele artigos de l1l<lisde 9.444 qualiticuda?
re"I\tas IlItcllw,ionai" nacionai~ e e\trangei ..." c a mais de O endereço do si/e diz alguma cOisa?
90 ha,c' de dados eom re,\UIllOSde documen Ln, em todas as Está datado" Atualizado'!
área, do l:onht.!cilllento. (ndui ttlrnhl!m uma \eleçfío de im- A informação é autêntica?
portante., fonte, de Infolmação acadi:I1lIc.:.. c.:OInace',u gratuito A p.ígina é de confiança como fonte de informaçâo?
na Internet O u'o do Portal é Ih re c gratuito pMa m usu;írios -\pre\enta alguma tendência'?
da, 1I1\lItuiçôe, participanle,. O:. uwárw, auwri/ado, são pro- Pnde ,er uma ironia. sátira ou fraude?
fe~,ore, permanente.,. It:mp(lrário, c \ i,"ante\. estudallte~ de Se IlllU\Cr dúvida ... alguém pode sami Ias?
graduação. pós-graduação e exten<;ão. bem como funcionário!. Como responder a e",a\ pergunta' 'I I.eve em con\ideraçâo
permanel1le~ e temponírios vinculados oficialmente à~ insti- al> infnrmaçôe, dispollÍ\cis no próprto II/I'.
tuições participantes tlu Portal (inslituiçõe~ I'edcrais de ensi- O domfnio diz Sé é um .1i/e comercial (,COI11), educacional
nnsuperior, instituições de pesquisa com pós-graduação avaliada (.edu .. hr), govl!rnllmemal ( gov .. Illil). I~ IIl1la p(tgina pessoal?
pela Cool'dcl1nçilo de Apérfeiçoamento de Pessoal de Nível Endcrcço~ como g(.'od/ies.l'olll ou (lO/,COIII indil:am que pode
162 • Tratado de Clínica Médica

ser uma página pessoal. Pode haver também um nome pessoal Quando pesquisando em periódicos. fique atento à qualidade
no endereço, após "_" ou "users", do periódico em que foi publicado o artigo. idoneidade do editor
Procure por um nome e e-mail (normalmente no final da e do corpo editorial, exigências do periódico para aceitar a pu-
página). São fornecidas as credenciais e qualificações do autor'> blicação de artigos e credenciais tanto do autor quanto da insti-
Não se esqueça de procurar nas páginas anteriores, retirando tuição responsável.
passo a passo os elementos após ii barra no endereço do site. Artigos verdadeiros não têm excesso de coerência, e, portanto,
encurtando o caminho da página, como já foi demonstrado. nem sempre estão de acordo com a literatura e teoria, Artigos com
Procure por data e uhirna atualização. normalmente no final resultados extremamente espetaculares devem levantar dúvidas.
da página. A data é apropriada para a pesquisa? Lembre-se de Em qualquer tipo de publicação é fundamental que se jul-
que estatísticas e fatos sem data não são melhores do que in- gue com profundidade e senso crítico. Essequestionário é apenas
formação anOnima. um roteiro para nortear esse julgamento e não tem a intenção
Como saber se a informação citada é autêntica? Cheque se de ser completo, apenas de amparar o leitor em sua pesquisa.
o domínio corresponde uo que ele se diz ser. A maioria das
in tituições e companhias possui seu próprio domínio. É muito
fácil copiar uma página, por exemplo. de um jornal, alterar
CONSIDERAÇÕES fiNAIS
algumas informações e colocá-lu de volta na lnterner. Se pos- A evolução das ciências em suas diversas áreas é cada vez
sível, procure o original impresso no caso de revistas, jornais mais rápida. sendo necessário um esforço sobre-humano para
e outras publicações. Na Web. os padrões para referência acompanhá-Ia. Para isso precisamos de uma maneira fácil de
bibliográfica não são seguidos. e corno você vai utilizar na atingir a informação necessária. E o uso da tecnologia para
sua pesquisa os melhores padrões. prefira ignorar informa- atingir esse objetivo é importante, não podendo. entretanto,
ções sem fonte ou sem data. ser uma barreira ao crescimento científico. Encare a Internet
Qual é o propósito da página? Informar. explicar. persuadir, não como inimiga, mas como lima ferramenta muito poderosa. e
promover, vender, distribuir ou atrair? Procure quem informa lembre-se: Navegar é preciso.
sobre essa página, onde ela é citada. o que acham de sua inte-
gridade e confiabilidade. Para isso, utilize um mecanismo de GLOSSÁRIO DE INFORMArlCA
buscae coloque nacaixa de texto: link: www.endereçodosite.com.br
(Altavista c Googlc), 404 error: erro referente 11 ausênciada página procurada.
Quem patrocina a página? Podem ter interferido no seu con- Adobe Photoshop: programa de edição de imagensmuito populare
poderoso. Podeser encontrado em http://www.adobe.com/producls/
(elido? Não mostraram algum ponto de vista em favor de outro?
photoshop/mui n.html.
Pomos de vistas divergentes também são mencionados? Não se
Altavista: hltp://www.altavisla.colll. Mecanismo debuscamuito amplo.
esqueça de sua própria tendência. você mesmo não está sendo ARPANet: Advanced Research Projccts Agency. Redeexperimental
muito duro aojulgar a informação? Suas esperançaspodem modificar criada em 1969. Nela foram testadas as teorias e os softwares nos
seu julgamento? quais a I nternct se apóia. Precursorada lnternet.
Lembre-se do tom da página. É irônico? Humorístico? Banco de dados: um conjunto de informações relacionadasentresi.
Exagerado? Argumentos não comprovados? Fotos e desenhos referentes a um mesmoassunto e organizadasde maneira útil, como
improváveis? Existem muitas páginas irônieas quase perfei- propósito de servir de baseparaque o usuário recupereinformações.
tas, na Internet, e deve-se tomar cuidado com elas. tire conclusõese torne decisões.
Pergunte ao próprio autor da página via e-mail. Consulte Bl R ":JVIE: BibliotecaRegionaldeMedicina.Seusite na Internetpermite
urna publicação impressa. Mas nunca subestime a capacidade li pesquisa e solicitação de cópias de documentos. É uma interface

de imaginação das pessoasao fazerem um site. Use o bom senso. para pesquisaem várias basesde dados.
O conteúdo. após tudo isso, também deve ser avaliado. Devem B;){)kll/al'k: ferramenta presentena maioria dos browsers aruais e que
ser procurados erros sistemáticos, como erro de aferição de um servecomo um bloco virtual de anotações.Nele. o usuário guardaos
instrumento de medida ou variável; erros aleatórios. decor- endereçosque mais lhe interessampara poder acessá-Iosdepois.
rentes de amostras não significativas. viciadas ou não repre- Browsers: navegador.Programa utilizado para visualizar as páginas
sentativas. bem como erros nas premissas sobre as relações da World Wide Web (w\>'/II').Muitos delesjá são bem populares,cm
especial o Microsoft Internet Explorer e o NetscapeNavigator. Há
teóricas entre as variáveis estudadas, relacionando motivos
aindu o IBM Mosaié. o Houava e outros. Neles estãoos comandosc
errados para os fenômenos estudados.
as ferramentasque auxiliarão a acessar os sites elarede,com todasua
Leia a introdução e o resumo e deli na: Qual o objctivo e funcionalidade. e guardá-tos para acessofuturo. Ver Navegadores.
hipótese? Qual () enfoque? Em medicina. defina se é estudo Culxa eletexto: Local em uma página onde podeser digitado o texto
de risco, diagnésrico, prognóstico. tratamento ou prevenção. .(uu pergunta).Tem diversasutilidades e a principal é pa sar informa-
Qual fator cm estudo? Qual teoria explica a questão da pes- ções para o si/e. informações corno qual pesquisadeve ser feita, por
quisa e apóia os resultados? exemplo. Assemelha-seII um retângulo ondeo cursor pisca(Fig. 19.8).
Com material e método: Qual li população estudada? Houve Chut: sistemade troca de mensagensem tempo real. no qual os usuá-
vícios de scleção da amostra? Vícios de aferição das variáveis? rios conversamem grupos. Existem páginase programasde Chat, em
Houve aleatoriedade? É expressiva de uma população ao todo? protocolos diferentes. mas no final com o mesmo objetivo de unir
Qual a técnica e tática adoradas? Concorda com elas? diversas pessoasem uma conversade grupo. que pode ser via texto
Possui resultados? Os resultados foram estatisticamente sig- ou mais modernamente, via som e vídeo.
nificativos. de modo que a probabilidade de um erro inerente Copernic: programa queauxilia pesquisas na Internet. Podeseracha-
ao método é remota? Os achados têm relevância? Os resulta- do em hllP://Ww\V.copel'llic.com/products/frcc/.
dos são aplicáveis a um Contexto externo. podendo ser genera- Data Show: projetor multirnídia. Aparelhoqueprojeta,cm telade maior
ou menor dimensão, o monitor do computador. de modo que uma
lizados para uma população?
platéia possaassistirà projeção. Facilita a projeção deaulasmulrimídia.
Leia o conteúdo inteiro e compare suas próprias conclu-
Dtgttallzur: ato ele transformar uma imagem. som ou vídeo em
sões COIll as dos autores. Elas são concordantes?
dados lidos pelo computador. Normalmente um aparelho chamado
scanner rem essa função. transformando imagens em arquivos ele
Pesquise Google Busca Dirata computador.
Diretdrto da Internet: serviço na Internet, no qual diversossites são
Figura 19.8 - Caixa de texto listados em categorias.
Pesquisa Clínica • 163

Domínio: é CI endereço de uma empresa ou entidade na Internet. Por digilai,. ~:lIéliIC. tibra~ õpricas. cabo. etc. Com um i minúsculo. internet
exemplo: ww w.umaro.com.br, Esse endereço e~l:l regi'lradu e -omcmc dcvigna uma rede de redes. apenas. e não especificamente a lnternet,
e sacmprc-n pude utilizá-lo. Todos os compuradorcs na Internet pov-ucm ISI)l'I: meio de ligação entre compumdorc v, Normalmente conecta
um número Ir. que é;1 -ua identificação. e convivtc em qu.uru grllpm um computador à Internei. por um provedor. cm alta velocidade.
de número' menores do que 256 separados por ponto (pur exemplo, Liuks: ligação de um item cm um documento hipertexto ti outros
216.136.147.215). Por nãu ser prál ico, fui cri:ldu 11111 "vuuulriu". onde documento». E"c tink pode levar u um texto, lima imagem, um som.
cada domínio remete o visimntc paru o respectivo 11'.de modo que um vídeo. CHilra p:ígina 1111 mesmo outro pnuucolo. por meio do seu
não é necessürio vuber o número I P de umn pági lia ou computador, endereço na Rede. COI11II expansão da lntcrnct remos serviços cada
apenas seu domínio. Também pode se rcferir uo nUI1IC~ direita do ve« mui .. vurlados. Um browsrr utual é cwcncial para que novos re-
símbolo de arroba nUIl1endereço dc e-mail, ou alé ii terminação do cursos sejam apresentados (10 intcrnautu. Em essência. um link liga
endereço. que podc indicar o soror de atividadc do site. como .com uma páginu ii IIUII';I.Nonnulmcruc aparecem ..ublinhado no Browser.
(comerciai) .. mil [millrar) .. edu (educacionat) .. org (organização sem Listas dc correio: grupo de discussão em que as mensagens são dis-
fins luerali\u,) .. 1\ üelcvisão): ou local, como .br (Brasil) .. de (Ale- tribuída-, \ ia correio eletrônico. O mesmo que Li 13 de Discussão.
manha). .Ir (França) .. e, (Espanha), .pt (Portugal) o:ourrov, Termina- Lbl3 de awmantes quc se correspondem por correio cletrõnico. Quando
çõe~eomo.com.br (Illr comercial brasileiro). ou sõ.br (educacional UIl1dlh ;1"in:lIlle, escreve uma carta para um determinado endereço
brasileiro). 1:II11bém,.:iu powívcis. clcrrõnico todo- o' outros a recebem, o quc pcrrnnc que se constitu-
Dowllloatl: aio de trazer da Internet qualquer inforruação, CII11I11 um :1111 grupo» do: di,cu~(ào através de correio clctrônic«, Exivrem gru-
programa. imagem. '0111 ou qualquer arquivo e gravar nll computador, pos dc discussõo sobre virtualmente quutquer a"unlll que se possa
/1-",l/iI: electronic mail ou correio clctrõuico. Um dI)' vcrvlços mais iuuiginar. Ver M"ilill/i List.
utilizudo« nu Internet. Permile n transfcrêuclu» de mcnvugcn« a lun- MlIilillg lists: cm português. grupo de dlscussão. As mensagens são
gas distâncias cm CIHW, pcrlodos de tempo, Mcnsngcn .. podem conter distribufdnx via correio eletrônico. l.isru de l1~Simllllc'que M: correspondem
anexos (auarhnmu), como imagens. vídeos. Mm ... ICXIO~.progra- por correio clcirõníco. Quando um dos ussinamcs escreve uma carta
mas c outro ... para um determinado endereço eletrônico, todos os outros a recebem,
Ferramentu: qualquer ,~n iço na Internet ou programa capaz de o que permite que ve constituam grupos de discussão por meio de
ser útil, correio elctrõnico. Existem grupos de discussão sobre virtualmente
Finger: progr:una para obter informações sobre um determinado endereço qualquer :1"111111> que se possa imaginar. Ver Listas de Correio.
eletrõnico na lrucrnet. O endereço eletrõnico de uma pessoa é indi- ;\Iccanismo de buscas: serviço em que uma pcrgunla é pesquisada
c~ldoeele relorna inf"mlac;àClrelali\"a a ela. :tp{)!, ler inquiridulI cllmpulador cm um imCI1\lI banco de dado e uma página com diverso~ lillk,f cor-
onde C~ .. a pc"n:1 lem a sua caixa de correio. É 11111 ~i~lcm:1 com ba,c rC'lxmdcl1Ic, ii pe<qui~a feila relorna. Excmplo ..: hup://w\Vw.google.com.
em Unix. pdn (IU:l1é pu,~ívcl descobrir U!lome. II lilt inl:l VC/. enl II"e 11IIp://www.allavisla.com.
o uMI~rio recebeu mcn~agcm. além dc vr.rio~ uUln" ilens. i\lct:JPCS(II.IÍSII: pesqllis:1 cm diver~(). mcc.lIli'll1l>' de hll~cas eom UI11
FOII/es: jogo cmnpleln de lllatri/.es de carnClere, cnlllll !eIras, núme- rc~ultadu final único. Exislcnle IIU Wurl!! \Vide \V(!h e cm (lflJgnllnas
ros e sinai •. ~cndo o conjulllll de caraCICrC~. cum caracleríslicas lipo- <!~pecial i/ado,. CIIIlIll Cl Cnpernic.
gráficas em COlllllm c IIIiIilatins no ClllllpUl:ldor. /\!Ie/asellfe" cl/gil/l'S: serviços de I11CI:IPC\lIUl".I.
Formatução: é o :110de aplicar a um texlO. figura ou labela. recursos Mosa;c: inlcrf:lce gráfica qlle alua COI11Uintcrfacc para II FrP. Gopher.
gráficos e diagr.llllaçõc,. para tlc'lat:á-lo. Ncws. \VAIS e Web. Foi criado pelo National Center for Supcrcomputing
flr': File Tron ..fcr I'rnlocol ou Prolocolo de Transferência de Arqui-
Applicalion~ ( 'CSA). dos EUA. e é distribuído gr3tuilamente.
vos. Ferr3menl:l qUe!permile Iransferir arqui\o~ I.! programa. de uma
;\lultíl1lidia: combinação de imagens gr:íficas. áudio e animação. Utilizada
máquina renmla para a ~ua c vice-versa na Inlernel. É o principal
em apre'cnlaçõc .. com O intuitO de facilitar o aprendiz.ado. Define
prolocolo de Ir:m,fcrência dc .mlllivos u,auo na Inlernel. nu cnlãu
lamb':m 0' nu\ o, l'ompuladores com eSS:I\ capacidades. o (Iue anli-
um programa (Iue u~a e~~c prolocolo.
gamente nã() Cr3 possívcl.
FTI' seare": fcrramenl:1 que permile a procllra do: "HIU"'" em diva-
Na\'clladore!>: progr:llna ulili/adn para vi~uali/nr (1" página, da World
>tIScompuladure, (IUCcJi~ponibiliznm o ~crviç() FI P.
Wiclc Wcb. Muito. deles já são bem poplllore~, cm e,pccinl o Microsoft
GooR/e: ExcelenlO: IIlccani ..mo de busca - hllp://w\\ w,g,.ugle.cnlll.
Explorer e o Nel,cape Navigator. 11(\ ainda o 113MMosaic, o
IIIICI'tlIo!I
Gcw"er: meio de nnvegllç~Cl tllravés ele IllCIIIIS.Fenlmcnt:t muilo usa-
IloUava e uUlro,. clc~ CMãoos com lindos e ii, ferrumenlas que auxiliarão
dacom a função de 1'X::tli/:tr e rccupcl':lI' al'quivm 11:1 Inlernel. O nome
a acessar O" lile\ da rede. com IOda slla l'ulIcíullalidadc. c guardá-los
"gop"er" é pro\cnienlc do llla"COlC da Univcr~idadc de Minnc,ota.
para acesso fUluro. Vcr broll'sers.
local onde o projeto roi de,en\lllvido. Uma e..pécic de precur.or do
Newsgrtlllp.f: um grupo de lIell'S (nolícia~). um fórum ou grupo de
,,"1V. No Br:I\il. e\i, ..:rn \Cn idores Gophcrcomo: gopher:/luspif.if.usp.brl discussão. S:io grupos dc discussões que ulilizam sofTware leitor de
~ ou gophcr:/lgupher.rnp.br/.
nl'll',\ c \Crviuure~. No Brasil. os servidores mais famosos são o
; Grupos de díscus~iio: fc)run~ globais ondc pessoas com inleresscs
nC\\'~.ogl()b().c()m.br c o news.uol.com.br. Para accs.~ti-Ios. você precisa
~ em comum Iroe:lln inf()rmaçiic!~. uebalem idéia, e fil/em pergulll:b
dc um programa leilor de lIell'Scomo o Inlerncl News da Microsofl
~ umn~~ç 01111':1". Tlldo por meio dc mensagens que ~ã() dblribuid:t, ao~
(lU () \VinVN.
~ u\uáriO\pelu c'4ucm:t de Mllilill.t: U;,I (Li'la de CUlTCill~)"" Nt'II'\'W"JIII'"
Olllille: referenle à informação ou serviço di,ponível na Inlernel ou
Hil)crtcxto: m:lIlcira de ace~~ar dados rclacionado, em um banco de
dndo~. A.. inlerface. mab COlllllns são linha, dc comandCl. o~ 1I1cnu, (IUlrn ~crviç(l de rede.
de opçõc~ c o, rccur~os dc apol1wr c c1icnr. cm vel de lima estrulura
Operadores booleollo.ç: rcfcrc-sc ti um si~lemn lógico dcsenvolvido
linear. o hipcrlcxlO é uma <:lId..:iade iuformaçik, ~el1l ~elIU~ncill. Ii- pelo 111:1lcmálicu. Gl'ol'ge Illlo/e (1815-64), Na bu,eu "00/1'01/(/, UlI1
gnd<isde nHlnCIr:1crialiva. L6gica parccidn a uma PC'lIui~a de sinô- operador "A D" enlrc dUlls puluvras (por cxemplo. "I1HIÇã AND pêra")
nimos num dicionário ou num índice rcmi~,ivo. cm que significados signilica que alguém C,I(t 11 proeur:l d.: documcnto~ (Iue contêm as
remelem a oUlro.... ignificadCl~. duas pahIHa'. Um operador "OR" cnlre dua~ palavras (por exemplo,
110me Poge: página iniciai ue qualquer endereço elelrônico com linh, "pêra OR maçã") :.ignifica que se procuram documenlos que conte-
para OUlro' 'Cf\ Idure .. da Inlernet ou ainda para clIlrada" de OUlras nham ullla dc"a, palavras.
página~ de hlpertO:\IO no próprio servidor. Ver Página Inicial. P1P: reer 10 Pccr Prolocol ou protocolo ponto a ponto. ova lecnologia
Internuula~: neologi ..mo para () usuário da Inlernel. Tr3n milc a idéia n;1 InlernO:I que cngloba vários prolocolos capa/o.:~ de compartilhar
de que o u..uáno n:l\ega no mar de informaçôe, conlid:" nela. arquivo, enlre compuladores cmlempo real. não nccc"ltando de servidores
Internet: é um;l rcde de rede, intcrligada~ alravé~ do pmloclllo TCPII!'. pr6prio~. Graç:l' :. ~ua imensa capacid;tde. é J){)\\f\el eompartilbar
A InterneI (com I maiúsculo)': a imensa rede de rede .. 'Iue 'c c~lcndc gral1d\!~ arllUÍ\ 0\ rapidamente.
por lodo o plancw o:pralicamenle todos ()~ Jlaí,c~. 0, mci,)\ de liga- 1'6gl1ll1 i"icial: p:lgina inicial dc quallluer endereço elelr6nico com
çiio dos cornpuladore .. deç~a rede silo variados, indu dc ..dc r:íuio. li- Iillks. para OUlro' ~crvidore~ tia Internei I)U !linda par:1 enlradas de
nhas Iclcfônic:I\. Inlegr:lled Scrvices Digital NClwurt.. (ISD;>.I). linhus oulras página, do.:hiperleXI() no próprio servidor. Ver 1I0l11e rage.
164 • Tratado de Clínica Médica

Páginas: o mesmo que site, Um endereço dentro da lmernet. que WHAIS: Wide Area Information Scrv Ice. Programa de pesquisa de
permite acossar arquivo" e documento, mantido, no computador servidor informação na Internet.
de uma determinada empresa. pessoa. institurção. Ex isiem sites com WBdcards: cornparãvel ao Joker (coringu) do baralho. São caracteres
upcnas um documento: o mais comum. porém. principalmente no que subvritucm qualquer outro; por exemplo. em uma pesquisa por
<.:a~\)de empresas e insrltuiçõcs. é que tenha dezenas ou centenas dc "Julian?" o ponto de interrogução suhvritu] qualquer caracrere nu-
documentos. O site da Geocities. por exemplo. no endereço hllp:/! 'lucia posição da palavra. Portanto. essa pesquisa procuraria por Juliana.
www.gcocirics.com. permite que qualquer um publique sua página Juliano, Juliano c também qualquer outra combinação (Juliann, Julianp,
na Internet. crc.). O"·" asterisco substitui partes de palavra: por exemplo, "autos"
Palavra-chave: palavra usada nos mccnnismos de busca. direrórios pesquisaria por uurornóvel. automático. aurodldara, auiojsgf etc.
da lntcrnct ou base de dados: traz em vi o significado de um assunto. IVorld Wil/e lVeb: cm português. tcia de alcance mundial. Serviço
c. por meio dela. é possível local izar ev-c a""UI1l0. que oferece acesso. através de links. o um espaço rnuhimfdia da Internet.
t'eer to peer: protocolo ponto a ponto. , ova tecnologia na Internet Rcvponsãvel direro pela popularivaçâo da Rede. Possibilita uma na-
que engloba vário" protocolo, capa/e, de compartilhar arquivo, eu- vcgação mais fácil pela Internet. A base da Web é o hipertexto. isto
tre computadores em tempo real. não neccsvirando de scrv idores. Em é. urna maneira de conectar mídias, como texto, sons. vídeos e ima-
razão de vua imensa capacidade. é possível compartilhar grandes arquivos gcnv gráfica". Por meio dessas conexões. podemos navegar pelos
rupidumcmc. Vo:r P2P. avvuntos de nosso interesse. I nrerfuce grãfica para a Internet. cons-
Plug-in: sof) ...are que não funciono sozinho. dependendo de outro titufdn por servidores que permitem o acesso a dezenas de milhares
pnru operar. aumeruando ou modificnndo Mia funcionalidade. de p(\gina~. muitas das quais contêm gráficos. fotografias combina-
t'owerl'oint: programa de apresentação da Microsoft. É cupaz de criar lIus com texto e mesmo som e vídeo. Inicialmente. as páginas da
aulas cm dinpovirivos ou pura uso cm Dnrashow. Web só continham texto: :1 partir de 1993. com o browser Mosaic,
Protocolo: pana a comunicação entre computadores são usados pro- foi intrnduzida a interface gráfica para H Wcb, Arualmcnte permi-
rocolo« de comunicação. que são conjuntos de regra!'. Espcci ficam tem o comércio elctrônico e o envio de dados pessoais pela Web
qual 11 tipo de cabos e conectores que devem ser usados. a forma de com segurança, além de diversos outro" serviços.
aces-o ao meio de transmissão. o tipo I! furmatos dos sinais que cir-
culum nos meios de rrancrnivsão. 0' códigos envolvidos c os proce- BIBLIOGRAFIA
dimento, ncccssãriov ao estabelecimento de uma comunicação. São
ALTAVISTA. Allal~S/n.DIsponível em: hllp:II ...... alt31 "ta.com. Acesso: 2SlAbrJ2003.
regras do, formatos de mensagens entre doi, computadores. que pre- APPLlI!D SI!~IANTICS.loppll~d Semamlcs. IIIL·. Disponfvel cm: hllp:II .... w.oingo.com.
cisam ver vcguidu-, para que possa haver troca de mensagens. englo- Ace-so: 2S/AbrJ2003.
bllndu u comrole de fluxo, a detecção ou corrcção de erros e os parâmetros ARlf~<; SYSTEMS. Mies SysremsClIrpOrlllif/II <~Knmolrdl1t flllder®. Disponível em:
Urit .• de dado». bits de parada. paridade). hllp:J/\\ ww.kfinder.com, Acesso: 25/Abr./2003.
Provedor de acesso: cmprcva que loruccc. <':01110 serviço. O acesso CI1NTRO LATlNO·AMERtCANO E DO CMILlE DE INFORMAÇÃO EM CIEI'iCIAS
I)A SAÚDE.IJVS - HIIlIle /JlIKt. Dlspcnivcl cm: http://www.bireme.br. AcC;lO em:
à lrucruet para seus assinuntcs. Atualmcnrc existem provedores pagos 25/AhrJ2003.
e gratuitos. CNBT NET\VORKS. DOII'II/0ru/.ClIl/I. DIsponível cm: hllp://www.download.com.Acesso
Rede: conjunto de computadores que e~lào fisicamente conectados e CoI: 25/ Abr.f.!OO3.
"conversam' entre si por meio de um protocolo ou vários. São capa- CNET NI1TWORKS. 1I01/l( ('afie - ZDNr/. DIsponível cm: hllp://www.zdnet.com.Aces>o
I.e~ de dividir tarefas C multiplicar produrividndc. cm: 25/Abr.l.!OOJ.
Scanner: aparelho utilizado para digit:llitar imagens. Semelhante a COI'ERNIC TECHNOLOGIES. Copem« Sof"! 0" 10uafrll.jind. and mtlfI(Ige ínfonlllllll)ll.
Oi'Jlullh'ci em: hup://www.copcmic.com. Acesso: 251AbrJ2003.
uma copiadora.
018. R. P. E.. ATALLA H. A. N. Cochrnne hbntry. Diagn. Tratamento, v. 10.n. I.p. 31·
Shareware: programa, que vão gratuitos por um período. ap6~ o qual :\.l.2oo5.
,~O rclativumcute ba rato~ para 'c comprar. Alguns possuem algumas ELSEvl ER /liIlMe,INrl Reuarrh TOO/l.Disponivel cm; hllp:J/rc~carch.bmn.com. Acesso
funC;tlc, limitada,. outros funcionam COIllO o original pago. cm. 2~/ Abr.nem.
Sítc: um cndereçu dentro da Intcrnel que permite acessar arquivo, c FUNOA( AO 1318 UarECA NACIONAL. PUlII/l/(,'n B,bllo/uaNaciol/al. Disponí\-e.1em:
hlll.://www.hn.hr. Acesso cm: 25/Allr./200J_
liClcllment()~ mantidos no computador servidor de urna determinada
{i()OGLE. G,"'glr Disponível cm: hllp://www.googlc.com. Acesso: 25/Abr.12003.
cmprc,a. pessoa, instituiçào. Existem .\';/('.1 ~()nt apenas um documen- GURU IVORl.DWIDE. Garl/Wc/mlll,.Di.ponívcl cm: hllp:llwww.guru.COIl1. Acesso: 25/
to; I) mai, comum. ]lol·ém. principalmente no caso de empresas c Ahr.l2001
instituições. é que tenha dezenaS ou cenlenas de documentos. O sil/' liEAI.TH ON TIIE NET FOUNDATION. Hea/I'/IIIIIIIe NCIPOImdalioll.Disponível em:
da Geucities. por exemplo. no endereço http://www.geocities.com. hup:/llI'lVw.hon.ch. Acesso: 25/ Abr J2003.
permite que qualquer um publique ~ua página na Intemet. Ver página. IIEAI:rHG/\"fE DATA CORPo IVf/COIII' /O IInlllllC/II,· 1)/1111Corpo Disponível em: hllp~
III ww.hcalthgat~.com. Ace<so cm; 25/AllrJ2001
Sof/w(lre: é um programa de c()lIlputndor. Um conjunto de instruçties
INFOSI'ACE. MnaCrtm'ln®. Oi,ponhcl em hupJI" wW.mclacrnwler.com. Acesso: 25/
16glca, cm linguagem de computador. que permite ao computador AIlrJ2003.
realizar ~cu func:ionamcnto. INFarRIEVE. III/III"'''' Online. Di'Jloohc:l cm: hup:/I .. ww.infolrie\"t:.com. A~<lO: 25/
TCrlJ I': Tran,mi,~ion Control ProlOcolll nternet PrOlocol. Pro- AbrJ200l
tocolo ullli/ado na comunicação entre computadort:s dc redes di- I:->TELLlSEEK. IlIIdlisuk ThrN," Slfllldartl iII 1111,11'/1(,11(. I);,ponf\-cl em: hllp:1/
rcro.:llte,. u IP garante o endereçamenlo do, computadores na Internet .... w.lnlclh,.ek.COIO. Aresso em: 25/Abr.l2oo3.
c cada um pos~ui um número. Como o TePII P foi desenvolvido I.IMI! \VIRE LLC. Ume\I"lreThe "'''fi
Sn{l"'.IIitlllttl fi/,·SII'lrillg A/)/Jlica/ion.Disponí·
vel em: bup://www.limclVire.com.Ace.so: 2~/Abr.12003
a partir de fundos público, do governo americano. ele não per- IlüUQUAYROL. M. Z.: ALMEIDA FILHO. N. Epidflllilllogia & SoMe.S50 pnulo: MEDSI.
Icnce a urna emprcsa específica e podc ser utilizado por qualquer 2001.
computador p:lra () compartilhamenlo de inrormações com outro SAlIII)O BRASIL. Sabido.Disponível: hllp:J/www.snhido.com.br.Acesso:25/Abr.I2003.
C:OIllj1uIHdM. Slli\RMAN NETWORKS. Kaza(/Media Drsklop. Disponível em: hllp://www.kazaa.com
Tclncl: proto<:olo ou ferramenta utili/ada para e~tabelccer comu- Aces"l: 25/AbrJ2003.
nIcação <.:()moutras máquinas cm outro~ lugares. Quando é esta- TIIOMSON IIEALTHCARE.I'DR.llrt n,t uatl" ill/lllm/tli"r /(l'Ollhcarefor Medical
lIIu/ /)mg /llf!lrmQlian. Disponível cm hllp://www.pdr.net. Acesso: 25/AbrJ2003.
bcleclda a conexão via Telnct. você e~t:1 vinualmcntc no computador U'I;IVERSIDADE DE SÃO PAULO. 8ibliOle~aD'RI/alde Teus e DislfnaçtJes. Disponf· ,
remoto. ou ,cja. o controle do computador é passndo ao Outro com- \"d cm: hllp://" \\ y..lesc(.u~p.br.Ace~\():2.5IAbrJ2003. ~
putador. Permitc urna conexão pura e simple" entre dll:l' máquinas. WE HELP VOU INTERNET. """.,,·/ly.com.br.Oi5poní\1:1 cm: hllp:lI"ww.wby.com.br. i.
~cm intcrface grMica. onde um computador funciona corno se fosse Ac."o: 25/Abr.I2003.
um termll1al remoto do segundo. O computador que "trabalha" é o YAHOO' 00 BRASIL INTERNET. Cmle. Di'ponhcl cm hup://www.cade.com.br.Aces·
,(I; 251Abr.l2003.
scgundo. enquanto o primeiro apcnH~ vbu:lli/a no écran (monitor)
YAlIOO' 00 BRASIL INTERNET Ya!tllfl! /I,.,,~i/.Di'poní.el cm: hllp://www.yahoo.com.br.
os resultados e envia os caracteres digitados (comandos) no seu te- i\ces.,o: 25/Abr.l2003.
clado ao segundo. Y!\HOO!. Yaltoo! Ceoeilies. Disponh'cl cm: hup://www.geocities.com. Acesso: 25/AbrJ
Web:em por1Uguê~~igl1ifica teia c é a abreviatura para World Wide Web. 2()()3.
Seção
Saúde no Trabalho
e Meio Ambiente
Coordenadora: Lys Ester Rocha

20 Introdução 166
21 Instituições da Área de Saúde no Trabalho e Meio Ambiente
e suas Relações com os Clínicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 169
22 Questões de Ética Médica e Bioética .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 196
23 O Clínico e as Intoxicações Ocupacionais e Ambientais 202
24 Biomarcadores Moleculares 210
2S Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. . . . . . . . . .. 216
26 Doenças Ocupacionais Respiratórias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 234
27 Saúde Mental e Trabalho 248
28 Doenças Otorrinolaringológicas Relacionadas ao Trabalho 258
29 Dermatoses Ocupacionais 271
166 • Tratado de (/lnica Médica

!\ adoção desse modelo ampliou a atunção do médico do


CAPiTULO 20 trabalho. incorporando o trabalho de sclcção dos candidato
ao trabalho nas ernpre as por meio dos exames de admissão.
Além disso. a saúde ocupacional incorpora ti avaliação dos Ira-
balhadores expostos/não expostos ti agentes patogênicos e as

Introdução repercussões na saúde. Os médicos do trabalho passaram a


utilizar li epidemiologia", que repre enta o estudo das distribuições
c dos determinantes dos estados de saúde nas populações humanas.
para caracterizar as condições de saúde dos trabalhadores e a
Lys Ester Rocha higiene industrial' para antecipar e reconhecer situações poten-
cialmente perigosas. bem como aplicar medidas de controle
antes que agressões sérias li aüde do trabalhador fossem ob-
EVOLUçAO DOS CONCEITOS EM SAODE NO scrvudus, A uruação dos médicos passou a incluir o controle
TRABALHO E MEIO AMBIENTE dos riscos dos ambientes de trabalho.
o conceito de Saúde da Organização Mundial da Saúde refere-. e Ampliando o conceito de saúde ocupacional. Laurcll e Noricga"
a um completo estado de bcm-estares ffsico. mental e social e afirmam que a doença não representa um fenômeno biológico
não apenas a ausência de doenças. A saúdc compreende um individual e sim umn construção social, propondo a atuação do
estado de equilíbrio entre o ser humano c seus ambientes fi- médico na saúde do trabalhador. Nesse campo, o trabalhador
sico. emocional e social. compatível com a arividadc funcio- é visto C0l110 sujeito do processo. com direito a informação e
nai da pessoa. As relações saúde no trabalho e meio ambiente participação na melhoria das situações de trabalho'.
são complexas e se concretizam de maneira particular em cada A saúde do trabalhador inclui a intervenção nas situações
caso clínico atendido pelos médicos. de trabalho como atividadc multidisciplinar, incorporando a
Tendo em vista a relação entre saúde e trabalho. Dejours' ergonomia na avaliação do ambiente do trabalho. A ergonomia
analisa a contribuição de três elementos: o primeiro. a fisio- compreende o conjunto de conhecimentos científicos relativos
logia. que demonstra estar o organismo humano em um esta- ao homem e neces ários para a concepção de ferramentas,
do dinâmico, sendo importante observar a variabilidade. ou máquina, e dispositivos que po sam er utilizados com o máximo
seja. que o c!\tado de saúde é o do movimento. que se deve dei- de conforto. segurança e eficãcia",
xar ()~ movimentos do corro livres no trabalho. não Olo fixando A adoção do "olhar" da saúde do trabalhador implica que
de maneira rígida: I) segundo. II psicossomãtica. que observa o médico avalie as repercu sões biopsicossociais do trabalhe
a), relações entre corpo e mente. dcmonstrundo que cada pes-
na saúde. construa as histórias individuais e inclua a análise
SOl' tem sua hisréria, seu passado. suas experiências, MIU fa-
da qualidade de vida dos trabalhadores como objero de sua
atuação. Há o reconhecimento de que os fatores de risco do
mília. e também que ter stuldc sign ifica ter desejo/esperança:
trabalho incluem aspectos do posto. equipamento. ambiente.
() terceiro, n psicopatologia do trnbnlho. que uponta o trabalho
organização e fatores psicossociais do trabalho.
como um elemento fundamental para a saúde. sendo a orga-
!\ evolução da tecnologia industrial. com novos procc .
nização do trabalho o aspecto de maior impacto no funciona-
sos produtivos. equipamentos e produtos qufrnicos. gerou a
rucuto psíquico.
necessidade de ampliar a atuação da medicina do trabalho
Historicamente. a relação entre saúde e trabalho foi difun- para intervir nos problemas de saúde relacionados também
dida de forma estruturada por intermédio de Bernadino ao meio am bierue.
Rnrnuzzini", que cm 1700 publicou o livro DI!Morbis Anificum Saúde ambiental é o campo do conhecimento que relaciona
Diatrihu (As doenças dos trabalhadores). propondo a inclu- as condições físicas. químicas. biológicas, sociais e psicológicas
são na unurnnesc da pergunta sobre a profissão dos pacientes. do ambiente à saúde da populaçõe . Esse conceito incorpora
o século XVIII. li Revolução Industrial modificou as relaçõc duas dimensões principais: reconhecimento e controle dos fatores
de trabalho e se iniciou a produção nas fábricas. Os operários ambientais que potencialmente possam cau ar efeitos adver-
trabalhavam de 16 u 18h por dia, incluindo a atividade de crianças sos à saúde das pessoas e a promoção da saúde, que contem-
e mulheres. Os acidentes c óbitos eram frcqücntcs e a falta de pia a qualidade de-vida. envolvendo os espaços e estilo de
higiene aumentava a incidência das doenças infecciosas. vida snudãvcis".
(h primeiros serviços de medicina nas fábricas foram criados
na Inglaterra em 1830. com as seguintes características: eram
serviços dirigido por médicos da confiança do dono da fábrica. EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES E DOENOAS
com atendimento aos trabalhadores e farnil iares, pois não ex isiiarn DO TRABALHO NO BRASIL
serviços de assi nência à saúde. A atuação da medicina do trabalho A definição do acidente do trabalho e doença do trabalho no
nesse período era centrada no doente. Brasil é feita pelo Ministério da Previdência Social e repre-
As transformações no processo de produção são constanics senta uma construção social, relacionada com o conhecimento
no mundo do trabalho. alterando as repercussões na saúde dos científico existente, com a características do processo de
trabalhadores. Co ta e Mendes] analisam O papel da Organização produção e de acordo com a capacidade de reivindicação dos
Internacional do Trabalho na regulamentação das condições trabalhndorcs!",
do trabalho. caracterizando os objetivos da Saúde Ocupacional, No Brasil. o Sistema de Seguro de Acidente de Trabalho
definidos em t 950. como a promoção e manutenção do mais tem o monopôlio Estatal. por meio do Instituto Nacional de
alto grau de bcm-estares físico. mental e social dos trabalhado- Seguro Social. com taxação das empresas de acordo com a
res em todas as ocupações: a prevenção. entre os trabalhadores. probabilidude de ocorrer acidente de trabalho para aquela
de desvios de saúde causados pelas condições de trabalho: a utividade económica.
protcçâo dos trabalhadores. cm seus empregos. dos riscos resul- A atual L~i de Acidente do Trabalho" em vigor é a n2 8.213
tantes dos fatores adversos li saúde. colocação e manutenção de 24/07/1991. que inclui o acidente rfpico. de trajeto e a doença
do trabalhador adaptadas à~aptidões fisiolõgicas c psicológicas: do trabalho. Os acidentados do trabalho têm estabilidade de
em suma: a adaptação do trabalho ao homem c de cada homem I ano quando tiverem ufustamcmo do trabalho superior a IS
(I sua aiividade. dias em decorrência de acidente.
85·7241-598-X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 167

o urtigo 139. da Lei IIv lí.213. define o acidente do trubalho doença ..: distúrbios comportumeruaiv e doenças psicossonui-
C0l110(l que ocorre pelo exercício do rrabalho a serviço da tie,I\: hipcrtenvâo arterial: doença, ivquêmica« do coração; doenças
empresa. ou ainda pelo cxcrcíclo do trabalho dos. cgurado re piratõrins crónicas n:10cspccffica..(bronquite crônica, cnflscma,
especiais. provocando lcvão corporal ou perturbação funcional asma brônquica): doenças do aparelho locomotor (lombalgias.
que cause a morte. ~I perda ou redução da capacidade para o artralgia dos ombros e pescoço cic.): câncer e utopia (derrnatite,
trabalho permanente ou temporária, rinite. a ma brõnquica crc.),
O artigo 141 define a!. vituaçõcs que se equiparam ao aci- A principal fonte de informações sobre acidentes de trabalho
dente do trabalho: no Brasil a Comunicação dos Acidentes do Trabalho (CAT),
é

procc sada pela Previdência Social para lins de benefícios aos


I - o acidente ligado ao trabalho que. embora não te-
nha sido a cauva única. haja contribuído diretamente rrabalhadorc .. acidentados. Não se conhece a real dimensão do
para a morte do segurado. para a perda ou redução problema dos acidentes do trabalho. pois esses dados incluem
de sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão apenas os irabalhndorc: inseridos na força de trabalho formal.
que exija atenção médica para a sua recuperação: Caso se analise n série histórica dos registres de acidentes
I( - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário
do trabalho no Brasil nu Previdência Social de 1970 até 2000,
do trabalho em conseqüência de: a) alO de agressão. 'crá percebida a redução dos ucidcmcs tfpicos. acompanhada
sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou com- do aumento do tempo de incapacidade dos acidentados e da leta-
panheiro de trabalho: b) ofcnsu rr~ica intencional. in- lidade (Tabela 20.1).
clusive de terceiro. por motivo de disputa relacionada A proporção dos acidentes notlficados em relação ao número
com o trabalho: c) ato de imprudência. de negligência de trabalhadores segurados identifica uma queda vertiginosa
ou de imperícia de tercei roo ou de companheiro de na incidência dos acidentes do trabalho no país. Em 1970,
trabalho: d) ato de pessoa privada do uso da razão: ocorriam 167 acidentes para cada grupo de 1.000 trabalhadores;
e) desabamento. inundação. incêndio e outros casos em 1980, essa relação reduziu-se a 78 por 1.000; em 1990, a
fortuitos decorrentes de força maior: 30 por 1.000 c cm 2.000 para 16 por 1.000.
III- a doença proveniente de contaminação acidental do AS explicações para a queda dos acidentes de trabalho regis-
empregado no exercício de sua atividade: trados são várias: subnotificação dos acidentes. em especial
IV - o acidente ~ofridu. ainda que fora do local e horário dos acidentes leves. as variações cíclicas da economia brasileira
de trabalho: no período. a rcrccirização corn diminuição do trabalhadores
a) na execução de ordem ou na rcaliznção de crvi- registrado: nas ruividadcs mais perigosas e o crescimento do
ços ..ob a autoridade da empresa: b) na prestação scror terciário da economia ".
espontânea de qualquer serviço ii empresa para lhe A subnotificaçâo do, acidentes lcvc-, pode estar relacionada
evitar prejuí/o ou proporcionar proveito: c) cm viagem ;IS alterações da Icgi~laçã{l que, cm 1976. cvtnbcleceu o paga-
a serviço da empre ..a. inclusive para estudo. quando mento do .. primeiros 15 dia' de atnvtamcnto pelo empregador,
financiada por cvra, dentro de seus planos para me- com a prerrogativa de crnisxâo da CAT apenas pela empresa
lhor capacitação d:1mão-de-obra, independentemente até 1991 e o dcscrcdcnciarncnto dos hospitais pela Previdência
do meio de locomoção uti Iizado. inclusive vefculo de Social. sem que o conjunto dos hospitais da rede pública pudesse
propriedade do segurado: d) no percurso da residência assumir esse atendimento".
para o local de trabalho ou deste para aquela. qual- A mudanças no processo de produção fazem com que a auto-
quer que seju o meio de locomoção. inclusive veículo mação diminua o número de trabalhadores na área industrial e
de propriedade do -egu rado. ocorra a transferência para O scror informal de etapas da produ-
ção que condicionam maior risco ao trabalhador. A rerceirização,
No artigo 1<10são caracterizadas as doenças do trabalho como tendência geral, parcela e transfere para empresas menores
incluindo a doença proflssionat. entendida como a produzida as etapas de produção, cujas tarefas são mais insalubres, monó-
ou desencadeada pelo exercício de trabalho peculiar li deter- tonas e perigosas I.'. O trabalhador informal est:í excluído das
minada ntividnde e " doença do trabalho, entendida como a e~tatísticas da Prcvidênciu Social.
adquirida 011 devcncadeada cm função de condiçõc-, especiais O <ctur terciário rem crescido nus últimas décadas e caracte-
cm que () rrnhalho é rcnll/ado e com ele se relaciona dircta- riva-: e pela prestação de scrviçov, incluindo os trabalhadores
mente. desde que constamo no Anexo II do Regulamento da ex postos li menor risco de acidente do trubalho, Além disso, no
Previdênciu Social. aprovado pelo Decreto nll 3.041! de 6 de Brasil esse seror c constitufdo por uma população da classe média
maio de 1999. (Anexo nprcvcmndo no Cap, 2 sobre a, lnsri- urbana. que teve maior acesso à educação formal e adquiriu
tuições na área de Saúde e Trabulho.) maior consciência crítica dos seus direito, cm relação 1\ saúde".
O artigo 1<10define que não serão considcrudav como doença No Brasil. em 2000. os ramos de atividadc cconôrnica com
do trabalho a doença dcgcncrariva. :1 inerente a grupo etário. a maior [reqüência de acidentes foram: 50 acidentes por grupo
que não produ/a incapucidadc laborativa, a doença cndêrnica de 1.000 trabalhadores do coque. petróleo. álcool: 49.3. outros
adquirida por segurados habitantes da região em que se desen-
volva. salvo comprovação de que resultou de exposição ou
contare direto determinado pela natureza do trabalho.
TABELA 20.1 - Acidentes do trabalho e doenças profissionais
A relação de doenças do rrabalho tem aumentado progres- registrados pela Previdência Social no Brasil de 1970 a 2000
sival11cntc.A Organi7ação Mundial da Saúde detine como doellças
re/(lciol/(ldas (/() traba/ho. aquelal> que podem ~er cau~adas. AODENTES ACIDENTES TOTAL
agravadas, antecipada~ ou cxac..:rbadas pt!las expol>içlie!> no ANO TlptCOS DE TRAlETO DOENÇAS ACtDENTES MORTES
local dc trabalho e podem prejudicar a capacid:lde do trabalho. 1970 1.199.672 14.502 5.937 1.220.111 2.232
As caractcrísticas IlC..,oai, e outros fatores ambientai c sociocul- 1980 1.404.531 55.967 3.713 1.464.211 4.824
luraisusualmente agem comu fatores de risco nas doença~ relacio- 1990 633.965 56.490 5.218 695.673 5.355
nadas ao trabalholl. São docnças cOllluns. cuja incidência ou 2000 287.500 37.362 19.134 343.996 3.094
prevalência é mais elevada, cxc..:ssiva, em relac;iio ii população Adaptado de Boletim Estatlstlco de Acidentes do Trabalho do Ministério da
em geral. ou n outros grupos prolission<lis. São exemplos dessas Previdência Social"
168 • Tratado de Clínica Médica
85- 7241-598·X

de produção arcaicas e empresas de tecnologia de ponta, resultando


TABELA 20.2 - Distribuição por regiões dos acidentes do
trabalho e doenças profissionais registrados pela Previdência em persistência de doenças relacionadas a agentes específicos
Socialno Brasil em 2000 reconhecidos há muito tempo, como a sílica ou o ruído, e ao
mesmo tempo. com doenças associadas às novas tecnologias,
TOTALDE ACIDENTES ACIDENTES DOENÇASDO tais como os distúrbios osteornusculares relacionados ao tra-
REGIÃO ACIDENTES TlplCOS DETRAJETO TRABALHO
balho, as reaçõcs de estresse e os distúrbios cardiovasculares.
Brasil 343.996 287.500 37.362 19.134
Norte 9.417 7.779 1.155 483
Nordeste 26.601 20.974 3.407 2.220 RElAÇOES ENTRE SAÚDE NO TRABAlHO EMEIO AMBIEm
Sudeste 206.275 172.443 22.141 11.691 As relações entre saúde no trabalho e meio ambiente envolvem
Sul 84.426 72.327 8.078 4.021 conflitos e interesses de diversos ateres sociais: trabalhadores,
Centro-Oeste 17.277 13.977 2.581 719
sindicatos. empresários, moradores e profissionais da saúde e
Adaptado de Anuârio Estat/stico da Previd~ncia Social- 2002" segurança. Para que sejam estabelecidas medidas de preven-
ção de uma doença em relação às condições de trabalho e/ou
meio ambiente, é necessário que a sociedade reconheça o papel
veículos: 40,2, montadoras e autopeças; 38,5, saneamento básico;
do trabalho e/ou da empresa na causatidadc".
37.8. indústria de madeira; 35,3, metalúrgica básica; 33,6, produtos
Em revisão da construção histórica do conhecimento da
de metais: 32.5. sucata metálica e 32.3. indústria de papel'".
patologia relacionada ao trabalho. desde a Antigüidade até nossos
A taxa dos acidentes de trajeto vem proporcionalmente aumen-
dias. Mendes e Waissman" mostram que o reconhecimento da
tando. passando de 3,8% dos acidentes registrados, em 1980,
relação trabalho e saúde está associado aos desenvolvimentos
para 10.2%, em 2000. Os acidentes de trânsito envolvem os
cconômico e tecnológico ele cada período e também às rela-
acidentes de trajeto e também os trabalhadores do soror de
çõc: sociais em cada fase da história.
transporte (motoristas de ônibus c caminhão. vendedores e
Analisando as relações entre saúde no trabalho e ambien-
lIIoto/m)'s) com elevada letalidade.
te. Câmara e Galvão9 descrevem que os modelos de desenvol-
Analisando as estatísticas da Previdência Social para o Brasil vimentos econõrnico e social têm sido responsabilizados pela
no ano 2000'~. observou-se que os registres se concentram
má distribuição de renda e. como. conseqüência, pelo aumento
nas regiões Sudeste e Sul (Tabela 20.2) e o baixo registro de
das áreas de pobreza. A globalização da economia e seus reflexos
acidentes leves - Simples Assistência Médica (Tabela 20.3).
na disputa pelos mercados e os constantes períodos de crise
Ao ludo da redução do número total de acidentes percebeu- econômica por que passam os países fazem com que li produ-
se o aumento da letalidade (relação óbitos/acidentes). O número
tividade seja conseguida LI qualquer custo. diminuindo O inves-
de acidentes fatais permite avaliar o risco potencial de acidentes timento na proieção ambiental e comprometendo a saúde das
graves em determinada população trabalhadora. A letalidade pessoas e trabalhadores.
mostra tendência crescente, em 1970 foi de 1,83 por 1.000 Os riscos dos ambientes do trabalho não ti carn restritos às
acidentes registrados; em 1980 foi de 3,29 por 1.000 acidentes: empresas. atingindo a população pela poluição do ar, dos so-
em 1990 foi de 7,72 por 1.000 acidentes e em 2000 foi de X.22 los. dos alimentos e no consumo de resíduos dos produtos.
por 1.000 acidentes registrados. evidenciando a importância das relações entre saúde no Ira-
De acordo com os dados do Ministério do Trabalho de 2000"', balho e meio ambiente. Embora o processo produtivo possa
os ramos de urividadc econômicu com maiores taxas de letalidade atinzir lodos os indivíduos da sociedade, grupos específicos
foram: serviços domésticos, com 23,2 óbitos por 1.000acidentes - co-mo os trabalhadores e os consumidores de determinados
registrados; transporte terrestre, com 21,9; transporte aquaviário, produtos - apresentam uma dupla (trabalho e ambiente) ou
com 17,I: atacadistas e intermediários, com 16.6: varejo de tripla (trabalho. ambiente e consumo) exposição aos mesmos
veículos e combustível. com 14; extrativo mineral. com 13.9; agentes. Isso pode ser exemplificado por meio do caso dos
pecuária, com 13,2: construção. com 12,8: imóveis. com 11.8; agrotóxicos, que são amplamente usados para o controle de
carga e descarga. com I 1.3 e lavanderias e outros serviços. pragas na agricultura e nu pecuãria".
com 11,1. Nas últimas décadas aumentou a tendência das empresas
O perfil epidemiológico das doenças do trabalho depende multinacionais de transferirem processos de maior risco am-
do diagnóstico dos médicos, que devem suspeitar da relação bientai ou para a saúde dos trabalhadores para os países sub-
COI11 li trabalho. Os programas de saúde dos trabalhadores. desenvolvidos. pois nos países-sede as regulamentações são
aliados no movimento sindical. influenciaram no aumento das maiores, com legislações definidas e rígidas contando com a
doenças do trabalho registradas no perfodo". participação do movimento social organizado!'.
Analisando as doenças do trabalho notificadas atualmente No Brasil. em 2001, de acordo com a Pesquisa Nacional
no Brasil constata-se um perfil heterogêneo de patologias, corres- por Amostra de Domicílios'" (PNAD), o númeroele pessoas de
pondente às diferentes situações de trabalho que incluem formas 10 anos ou mais de idade ocupadas na semana de referência

TABELA 20.3 - Acidentes do trabalho liquidados na PrevidênciaSocial no Brasil no ano'de 2000. por conseqüência
ASSISTtNCIA INCAPACIDADE
REGIÃO TOTAL DE ACIDENTES M~DICA MENOS DE 15 DIAS MAIS DE 15 DIAS PERMANENTE ÓBITOS
Brasil 376.240 53.795 160.955 143.397 14.999' 3.094
Norte 9.779 1.205 3.504 6 4.367 469 234
Nordeste 27.375 4.281 8.603 12.083 1.967 441
Sudeste 230.374 36.546 106.450 76.501 9.397 1.480
Sul 90.394 10.472 35.927 41.173 2.227 595
Centro- Oeste 18.318 1.291 6.471 9.273 939 344
Adaptado de Anuário Estatístico da Previdéncia Soeiill - 200215
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 169

foi de 75.458.1 72: deste total. upcnax 34.490.500 (45.7%) 6. LAURbLL.A, c.: NORII,GA.~I l'n« CI",J .. '·n~/"I'''''· ,"JIC,/, r",INllho, /)(s·
~(I\lr O!,NII(in. S,lo 1'01110:Hucuec, la)~,)
eram contribuintcv do ""II1UlIl de Previdência. mostrando o 1. 0000;\1:. I CI el. /111111"'/1/"1/,' 1("1>.,11,,, ti 111101,I,,, IftlrulhtwlIfts ~/a SOI;,I,.550
crescimento do trabalho 'em registro e sem garantias para 1'.1110: Huchcc,II)~(I.
o trabalhadorcv. 0\ dado .. indicam que a informulização é 8. \\'IS;\tR. A. I'..r Uelll'" ,I.. 1",1>.,11111: f,flI"."' •• ' - II",>JII' Téouc«:Silo l':1ulo:
significativa na agricultura. na construção civil. no comércio FDT·Obor~. 19$7.
9. CÃ~'IARA.V. ~I.: (iAI.Vt\(). I 1\ C A rJI"I~'J d" lr.rbJlhonumaperspectiva
e na prestação de sef' içov. ambienral.In: MENDES.R.c"r~.).I·,l/tll"~""I,,Tn,I>c,Ih.. ! ",J.Slol':Iulo:Athéneu.
Nessa PNAD. destaca-se também o número de mulheres 200J. r. 1657-161'),
em atividade: 30.710.723. da quais 13.861.053 (45.1 %) eram 10.ROCIIA.L. E. R.T'II"-'"IIllI'il, a ""'" /),,,,.\'u ,/.. T",hellhllll(' 8ro$i/: II A'uorão dos
T",/NIII",tI"f'c·\.Sã.. Paulo, IC)89O"...,rIJ'ila'(.\k'lr..J." - Fxuldadede~lcdicina.
contribuintes do Instituto de Previdência. É crescente a par- lIni, e....idade de Siiu 1'0.,,111.
ticipação da mão-de-obra fernin ina na População Econorni- II BRASil .. 1.<. II, R2n de 2~ de julho de 19'11 \I.."Ic!no da l'mid<ncia Social.
eamerue Ativa (PEA). É importante c observar as repercussões D"JIllc ,obre II 1'1,"11'de Iklldlch" da I'rel ,d~n.la Sexlal e di OUlra, pro, ldência s,
I)()U ~5171')(. SC(O" I.
na saúde específicas do preces-o de adoecimento relaciona- I~. ,,"ORIO III,AI.1'11OIWANIZATlON,Idclllt(i<JIII,nand control of work-relarcd
dos ao sexo'", dl\Ca,e, li,,,".il'lll UC'/IIJII Sml I. Genel'a. n. 71J. p. 17.1985.
As relações entre vaúdc no trabalho c meio ambiente não D W( NS('II HI.IIO. V. Vunnç')c'c ICl1d~lIda, lia I1l()(bnnonahdndc dos Imbolhado-
se restringem ti avaliação do, acidentes e docnçav do Iraba- !'C'. III MONI'I!II(O. 1:. A. 1'<'11111,\I' ,v1ll'II' Mll/fllll' Smíllt 1111Brasil: a I;-"olll(ão
II.. /'m.' r dr 1/1/',\ 1)1/('11('((1. 2. cd,S~() I'uulu:IIIICIlL".NUI'l:NSlUSP. 2000. p. 289·330,
lho. Dias" indica que. para 'c entender e intervir na saúde IJ BRASil.. Mill"li!rio [!t' 'l'n.blllho C 1i1l1(1rc~O,IIII/'I'IIIII",.,/r IIrld.IfI"rdr 7'0/",11",:
dos trabalhadores no momento alUaI. é necessário combinar 1111/" tII/III'I" til' /(,fr"'~IIIII1I1"1IIi12(/I)(), DI'piHllvelcm: hil(1:1lwww.nlle.gov.bl..Acesso
em malnl2()().1.
abordagens e enfoquev distintos. considerando o processo de
IS. BRASil.. I\,will'ill "luII,llcu de IIcldcl1lC< do Ir:rh:dho: AEAT2000. MillislMo do
reestruturação produtiva na glubalizaçãn da economia. as mu- 7""/,,,1I1IJr ""'//1'1'11"' Mi"/",""/,, ti" P""'/tfh,t'i",, A"il/hlda Social. Instituto N(I·
danças urbanas. as transformaçêcs orgunizaclonais do rraba- ';III,,,/,/'· S"III"" 0511.-1111.""'1"'1'.111,/1'Trrllllllllllll f Iliftrrlllll(iJestia PI'I'"idellciaSaciai
- /)ATAPRf;I( B,'a,lIia: MTE. MI'AS. 2002.
lho, os fatores de risco industriais e umbicntais e o). aspectos
1(•. Bl'SCIIINEU.1.J, T. I', CJlitlr",illlllgillllllJ /)')('II\,'U Profissionais Registrado: 110
da saúde psicolfsica do trabalhador. 8",.;11111 /) ....1111"I/r 80, São Paulo, 1993. 139(1.Dissertação (Mestrado) - Facutdade
As caracteristica-, bãsica-. do campo da saúde no trabalho. de SaúdePública da UIHlcr,idndc São P:tulo.
segundo Dias!'. incluem: 17 SILVA.E. S : ROCIIA.L, E.: D~LlA.A. Salud. uabajo y medioambiente: nn estúdio
de Ca'(h de lo, e-fuerzo» de unacomumdad para reducir la coruaminacién ambien-
• A busca da comprecnvão da, relações (de nexo) entre 1;11. ln MO:'l'TEIRO. ~I.:BALCAZAR.F.. NEWBROUGH. J. R.(org.). Modelos de
PS;('I,ltltitt ÜHIIIIIIII,trlal>clraIII Prortl«llÍt, dt la Saludv Pm mciôn de Enlmnttlotles
irabnlho. saúde e docnçn UU' trabalhadores. para fins de (ln lar Iminem. Wa,han!!lon' ~OOI. \ I. p. 127-1~6.
promoção. prevenção c a"i'lência. incluindo diagnús- IS ~ltNOt!>. R.. \\AISSMt\1\N.\\. ",pectosh"lóoCO> dapalologiado trnbalho, ln:
rico. tratamento c reabililaçãll. MI:..\DE.S. R (oq:.), 1~l/tllo~IIlJ.. l'ro""/lI'" ~ ed Slo Paulo: AI~ncu.:!OO3. p. 3-45.
19. IIR \ II. I-undJçj()IRG~ 1'''"1"'11' \tJmmal i"'( 1,.,,,,,,,, ti, 1)ollllflllO'. Br.hil e
• A ênfa,e na Ilccc"idadc/po"ibi lidade de mud:1IIça'l do~ Gt:lnd." I(,·pilc,· I'NAD. ~I~II
pmce~,(" de Irabalhu condic;iles e lImbientc!> de Iraba- 10, \II:5SI:'IG.K Compn'cndcr o Ir:ltulhoda, mul""(~, I'J:I o IrJo,fomlnr.8"".1111
lho - em dircç:lo à humani/aç~o do Imbalho. 7....II.,l/u .. S,nd,call:unllr<tn J'I'ur la .\.:Imc.1101 Sr. uflle LJ..ooa DI:I'P CIO("~.
::UOO.19Jp.
• O exercício de alxmlago.:n, illlcrdisciplinares c intcr-\clt)riailo
11 DtAS.E. C. OrJ:anlla~odaalcnç;íol '2u.k 00 lt:Itulho,ln' H:.RRtIRAJR.. M.
que levem à \upCraçfío de comprecnsão e iIlIcrvcnção 5olid.. 110T,""""Io: r,mar &iSltOS poro " ProJimllllal 9'" Cuida da Sntídt das
c~HlnquCl>e fra!!lIIelllada~ na que~lã() e a mlluança:. lias Trabalhatlo,..r. Sã" l''Julo: Roca.2000.r· 3-28.
condiçõe\ e ambienles ue Irabalho para torná-los mais
saud{lvei,.
• A parlicipação do~ Irabalhadorcs cnquanto senhores de
sua vida e sua l-aúdc. cap:1~.esde contribuir para o melhor CAPíTULO 21
conhccimenlO da rclação saúde-trabalho, efeitos negalivos
do lrabalho ~ohre 'uas cllnuiçi'íes de saúde-doença e in- I
tervir politicalllcnle na transformação dessa realidade.
• A alticulação cllm a, qucMüc~ ambientais, no cntcndimento
dr.:que na origem dr.: grande parcela dos problema am-
bienlai, - degradaç:)o da vida e meio ambiente - eSlão
Instituições da Area de
o~ l1Ie'l11m prnce."o, de trabalho gerndorcs de doenças
para ()~ Irabalhadure\.
A~ repercu,~õc\ u~" u()cnç~ls e acidenles do Irabalho têm
Saúde no Trabalho e Meio
dilllen~(ICl> \ubjo.:li\'a, c "relam o indivíduo. sua fal1lflia e os
colega, de trabalho. Cabe ao prolissional de saúde da área
clínica atcnção especial na elabornção do diagnóstico e trata-
Ambiente e suas Relações
mento das pessoa~ c Irabalhadores que apre enlCI1l sinais e
sintomas que possam estar relacionados ao trabalho ou ao meio
ambiente.
com os Clínicos
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS José Wilson R. Almeida
I. DEJOI:RS.C'
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SaM, PU""ClI. s;;.,PJuh>.,!~,n 5. p. :I-I1·JJ9. 1')91.
INTRODUÇAo
4,lIL1F.NFELO.AM .IIUF'IrTl O.D f' IlIlllldlllillll"'lfilidl'llll"III~\ h'd ;\c" A pr:ílica da mcdicina do Imhalho 0.:. cm sem ido mais geral, o
York:O.\rord Ln"(NI~. I'ISO
5. ACGIHIndll,lrialh)~t<n" I"'linal,on'cl1l'" rUllcliulIIIl1d nrgllni'Jlil1l1. II", 11,,1 campo da Salídc do Trahalhador. estilo regularnlcllle discipli-
f/)'g. IInt)(·.J.. n.20. p. J2N. I')W nad(l~ por l'egl'U~ e~pccíi'icilÍ\. formuli:rudas em leis, decrctos,
170 • Tratado de Clínica Médica

portarias. normas. resoluções, etc .. desarticuladas, muitas delas • A Recomendação nQ 112, de 1959. que deliniu os objeti-
competindo entre si e pouco estáveis, de forma não muito diferente vos e as funções dos Serviços Médico de Empresa'".
do que ocorre com outras atividadcs em nosso país. Regendo-as. • A Convenção nV 155 de 1981. preceituando a elaboração
em princípio. estão a Constituição Federal I de 1988. principal- de uma política nacional de segurança e saúde dos tra-
mente no seu artigo 7P• item XXII e a Consolidação das Leis do balhadores e meio ambiente de trabalho, mediante con-
Trabalho (CLT). cujo Titulo II. Capítulo V, dispõe sobre Segurança sulta às organizações mais representativas de empregadores
e Medicina do Trabalho". Já na regulamentação complemen- e de trabalhadores?".
tar e fiscalizaçâo estão envolvidos os Ministérios do Trabalho e • A Convenção n!l 161. de 1985, determinando aos países
Emprego (MTE). da Saúde (MS) e da Previdência Social (MPS). membros "formular, aplicar e reexaminar periodicamente
Além disso, o exercício dessa atividade está sob vigilância do uma política nacional coerente sobre Serviços de Saúde
Poder Judiciário. na figura do Ministério Público e é comparti- no Trabalho"8.
Ihado. em muitas situações. com as Entidades Representativas
tanto dos Empregadores quanto dos Trabalhadores (Sindicatos No Brasil. apesar de serem relatados movimentos sociais,
e Associações de Classe). proposições c mesmo disposições legais nos primórdios do
Considerando que o atendimento de trabalhadores está na século XX. foi em 1919 que de fato surgiu a primeira lei pro-
rotina de qualquer médico em território nacional. todos devem. mulgada para disciplinar o acidente do trabalho, ainda que
em certa medida. ter noções básicas sobre aquelas regras. até com fins de indenizução", /\ tftulo de crítica, cabe dizer que
para atender determinação do próprio Conselho Federal de nas leis brasileiras sempre houve, e persiste até hoje, essa linha
Medicina que. por meio da Resolução nR 1.488/98. instituiu de conduta "reparatéria' traduzida pelo vigente adicional de
como obrigatórios para todo médico alguns procedimentos insalubridade e outros mecanismos de compensação financeira
básicos relacionados com a saúde do trabalhador'. O próprio como forma de reparar o risco e o possível dano à saúde.
Código de Ética Médica. nos seus artigos 11. 12, 13. 14. 40 Após um período de pouca ação efetiva coube ao recém-
e 41 deline alguns princípios de conduta que incluem a saúde criado Ministério do Trabalho, sob o governo Vargas, assumir a
do trabalhador'. competência de regulamentar e fiscalizar a atenção à saúde no
Como se verá adiante. O atendimento de um trabalhador que trabalho. tendo como referência a CLT de 1943. Seguiram-se
resulte na confirmação ou mesmo presunção de um agravo ii outros períodos com muitos eventos e personagens históricos
suúde decorrente de sua arividadc laboral, poderã desdobrar-se importantes antecedendo e permeando os anos de 196011970,
em diferentes direções: encaminhamento previdenciário. proce- época da edição. pelo MTE. da Lei n2 6.51411977 e da Por-
dimento médico-legal ou simplesmente nção ou intervenção taria n2 3.21411978. com complementos posteriores e rela-
técnica cm seu ambiente de trabalho. cionadas com O Título II, Capítulo V da CL"f'J-II•
O objcrivo deste texto é. então. oferecer lIOS médicos não Nessa portaria, foram dispostas as denominadas Normas
especializados na área da saúde do trabalhador (aos quais se Regulamentadoras (NR) e, posteriormente, as Normas Regula-
chamara. por conveniência didática. de médicos assistentes), mentadoras Rurais (NRR), que disciplinam toda a atividade
da forma mais simples possível e na medida exara, as fontes dos Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho
e os conhecimentos em legislação que os possam auxiliar na (SESMT). nas empresas. estabelecimentos c locais de traba-
lida diária com pacientes trabalhadores. lho, desde sua configuração profissional, dimensionamento.
/\ preocupação universal com a relação entre homem, sua funcionamento, direitos e deveres, estendendo-os aos traba-
saúde c I) trabalho data de séculos e essa abordagem histórica lhadores e empregadores".
est:í presente nos textos que nos precedem. Contudo, o uso de São normas que visam, em sua essência, à identificação. à
leis específicas, efetivarnente direcionadas para regulação correção e ao controle dos riscos à saúde em ambientes ocupa-
do binômio homem/trabalho, deu-se entre os séculos xvm e cionais (descritos em outra parte deste capítulo) e ao controle
XIX, período que se reconhece como de estabelecimento da médico da saúde do trabalhador em suas múltiplas dimensões",
revolução industrial. Desde 1802, quando o Parlamento Britâ- Como roi afirmado no princípio do texto. três Ministérios de
nico editou a primeira lei de protcção aos trabalhadores, muitas Governo regulamentam as muitas regras que condicionam as
leis se sucederam. com maiores ou menores abrangências es- atividades na área da-sande do trabalhador. incorporando- c
pacial e geográfica. sempre restritas li sociedades que já esta- nesse grupo o Poder Judiciário e as Entidade de Classe.
vam imersas no processo de industrialização tanto no velho Serão feitos, a seguir, os comentários sobre aquelas que.
(Europa) como no novo mundo (Estados Unidos). compreen- nu opinião dos autores, devam ser alvo de interesse.
dendo a discussão e a apropriação de ações isoladas, pontuais,
com alcance e intensidades variáveis e limitadas",
Esse ritmo estendeu-se pela segunda década do século XX, MINISTIRIO DO TRABALHO E EMPRESO
quando o desejo de universalização e harmonização de leis que
de fato regulassem ii relação entre homem e trabalho ganhou O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) é responsável,
uma forte aliada com o nascimento da Organização Internacio- por intermédio do Departamento de Segurança e Saúde no Tra-
nal do Trabalho (OIT). em 1919. Criada e mantida por países balho (DSST) e das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT).
a ela filiados. essa entidade passou a ser o foro privilegiado pela formulação de diretrizes, regulação, controle e pela fisca-
naquele campo. muito embora se deva à Comissão Conjunta lização dos programas e açõcs relacionadas com a Segurança
OIT/OMS (Organização Mundial da Saúde), em 1950. a defi- e Saúde do Trabalhador', Seus maiores instrumentos são as
nição dos objctivos da Saúde Ocupacional'. A OIT envolve-se Normas Regulamentadoras previamente citadas. Dentre elas,
em todos os aspectos e conteúdos da categoria trabalho, citando- três merecem a atenção do médico assistente ii NR-7, a NR-9
se entre outros o normativos. os técnicos e os educativos. Tem e a NR-15, cujo conhecimento, particularmente da primeira,
emitido. desde sua criação. uma série de orientações batizadas de facilita em muito seu trabalho'",
Recomendações e Convenções que balizaram a postura dos pafses A NR-9. também conhecida como Programa de Prevenção
membros em relação ao assunto", Entre elas, três devem ser dos Riscos Ambientais (PPRA), preceitua identificação, ava-
lembradas por sua relevância histórica: liação qualitativa e quantitativa. medidas corretivas e de controle
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 171

para todas as situações de ri co à saúde. presentes no ambiente II seremdispensado ao trabalhador a).~i\tido pelo seu colega.
de trabalho. Embora muito ligado com a prática do engenheiro de É bom inxistir que a concomitância do urcndimcmo. sob a égide
segurança do trabalho. é um programa bãsico que também orienta do código de ética ou de Icis maiores. sempre gera a co-res-
e fornece os elementos essenciais para as ações do médico do ponsubi Iidade profissional.
trabalho.
Na NR-15 (atividades e operações insalubres) estão des-
critos. em forma de anexos. muito. dos agentes e condições
MINISIIRIO DA SAODE
de irabathc e os scu-, respectivos limites de tolerância. isto é. Por força da Constituinte de 1988 c das regulamentares Leis
aqueles limites acima dos quais. num raciocínio simplisr«. Ih nlU 8.080/90 e 8.142/90 e Portarias nlU 3.120/98 e 3.908/98,
agentes podem provocar dano ao organismo humano. o Ministério da Saúde (MS) recebeu a incumbência de coordc-
A NR-7. mais conhecida como Programa de Controle Médico nur, por intermédio do Sistema Único dc Saúde (SUS), a política
em Saúde Ocupacional (PCMSO). csiã diretamente relacio- de saúde do trabalhador. desenvolvendo ações de vigilâncias
nada com a prática do médico do trabalho e constitui-se cm epidemiológica c snnitãrin, em níveis nacional, estadual e
programa mínimo de açõe a ser obrigatoriamente cumpri- municipal. Na atualidadc. essas nçõc (Programa de Saúde do
do. sempre articulado com o PPRA. com o qual o profisxio- Trabalhador - PST) e, tão dispersas e desarticuladas entre os
nal "cuida" em todos os sentidos da saúde do trabalhador. Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST) de
desde sua admissão até o desligamento da empresa. Ele tem natureza municipal. os Centro Estaduais de Referência em
como principal ferramenta. ne e percurso. os exames mé- Saúde do Trabalhador (CEREST) e mesmo o Serviços correlates
dicos: admissional. periódico. para mudança de função. de vinculados aos Hospitais Univer itãrios. Entre as suas muitas
retomo ao trabalho apó afastamento por doença e o demis ional. atribuições. destacam-se as relacionadas com o atendimento
Todo devem sempre er concluído com a emissão do Ates- e assistência direia e especffica a todos os lrabalhadores, bem
tado de Saúde Ocupacional (ASO). em dua vias, obedecendo como a inspeção, vigilância e intervenção em ambientes e
nos padrões determinado pela norma. ficando uma cópia com proces os de trabalho considerados nocivos à saúde, compreen-
O trabalhador. dendo toda. as suas etapas: extração, produção, armazena-
Esses exames médicos devem guiar-se pela prãrica conven- mento. rran porte. distribuição e manuseio":".
cionai. integrando as açõcs de promoção. prorcção. assistência A adoção de novas políticas paraa área.ora em curso no governo,
e recuperação da saúde do trabalhador. ficando cada vec mais visa a reorganizar estruturalmente e orimizar esse modelo,
evidente o esforço para privilegiar. dentro de concepções con- priorizando sua integração e o atendimento ao trabalhador em
rcmporãneus da relação entre saúde. doença e trabalho. os pro- redes de atenção primária. vinculada a creres de rcmgunrda
ccdirneruos mais associados à promoção. Além dis. o. podem com complexidade crescente. viabilizando um processo de refe-
exigir outras investignçõc . cspccfficns. determinadas por con- rência e contra-referência. com a dcnominaçilo de Rede Nucionul
dições pnrticularcs da MlIíde do rrabalhudor ou pelo tipo ou de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST)'''.
condições adversas do trabalho cxecuiudo". Além do relacionamento com esse :.i tema o médico as-
Entremeando esse espectro de atividudcs, vale reforçar a sistente. em cenas ocorrências com imemação hospitalar está
previamente mencionada importância do "olhar" ampliado para obrigado a especificar ti uspelra de origem ocupacional pura
o binômio saúde c trnbalho pela perspectiva de sua dctcrmi- a doença ou acidente nos campos apropriados da Autorizução
noção social. Com lsso tcm-xc criado. cada vez mai . a demanda de Internação Hospitalar (AIH). para subsidiar o banco de
pura o envolvimento de diferente :írea do conhecimento. dados - Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH/SUS)I'.
tornando imprescindível c coerente que o médico do trabalho
compartilhe sua prática com uma equipe rnultidi ciplinar":".
A atenção médica destina-se não ~6 aos trabalhadore "sau-
dáveis", mas aos considerados "portadores de necessidades es-
.INISIIRIO DA PIEllallCIA SOCIAl
peciais", portadores de doenças crônico-dcgenernrivas com O Instituto Nacional de Seguro Social (I 5S) é responsável
determinadas lirnitnçôcs.no idoso. ao menor. à mulher. ao depen- pelo plano de custeio e bcneffcios pecuniários aos trabalha-
dente químico e outras categorias especiais de trabalhadores. dores. disciplinado 'nas Lei n~ 8.212/1991 e 8.213/199111•18
sempre levando em conta as peculiaridades de cada lima delas. e no Decreto ni 3.~8/1999tt. Contudo. de todos os in criros
Nessa norma encontram-se dispostos alguns parâmetros que. no Regime Geral da Previdência Social (34 milhões de traba-
no limite dos conhecimentos e recurso atuais. permitem a iden- lhadores). apenas algumas categorias de egurados. um t01a1
tificação da exposição. o controle e a monitoração de agentes de de 23 milhões ou 64%. têm rodas a:. modalidades de cober-
ri coocm diferente' componentes. estruturas ou funções do or- tura e. entre elas. o Seguro Acidente do Trabalho (SAT).!O.
ganismo humano (xangue. urina. ar expirado. aparelho auditivo. Os trabalhadores com direito no SAT estão explicitados no
funções hepática, pulmonar. CIC.)IO. Decreto nll 3.048/99 e devem ser do conhecimento médico
Muito embora responsãvel por essas modalidades de cxn- pnrn () adequado encaminhamento institucionul quando:
mes, não cabe no médico do trabalho "a. si rir" regularmente
• Acidentados ou acometidos por doenças resultantes do
o trabalhador. Isto é. o acompanhamento de determinados agravos
trabalho (incluídas no Anexo II do mesmo decreto).
será tarefa do médico asvisrcnte. no eu con ultório. no con-
vênio de nssistênciu médica ou mesmo em crviços universi- Nesses casos. o bcneffcio (que substitui o salário) é cha-
tários c públicos em geral. I :'0 ocorre. por exemplo. com os mado de aoxílio-docnça acidcnrário, quando houver neces-
diabéticos. portudorc de cardiopatias. hipertensão arterial. depen- sidade de di pen. a do trabalho e é concedido apenas a partir
dentes químiccs e Outro. Nesse contexto. é máximo a neces- do 16i dia do afastamento e enquanto perdurar essa neces-
sidade de urna estreita parceria entre aqueles doi. profissionais. sidadc. Ao receber esse benefTcio. o trabalhador adquire estabili-
É por intermédio de uma comunicação. por via adequada e dade no emprego por u III período de 12 meses. que s6 serão
re penando os preceitos éticos e profissionais. que o médico contados a partir de seu retorno ao trabalho. O pagamento
do trabalho adquire ciência da ocorrência. das limitações, dos primei ros 15 dias do afastamento é de responsabilidade
do impedimentos ao trabalho e. maio que is. o. dos cuidados do empregador,
8s·n4t·S98·X
172 • Tratado de Clínica Médica

• Reabilitados com perda parcial e definitiva da capaci- para os médicos em geral, essa relação projeta-se como instru-
dade. não lhes permitindo retornar integralmente à ati- mento de valor permanente e inestimável pum consulta e de-
vidade que exerciam quando do acidente ou aquisição finição de condutas (Tabelas 21.4 a 21.17).
da doença. mas recuperados para o trabalho tendo em
conta as limitações residuais.
- Nesses casos, o beneflcio é o auxílio-acidente. de carãter PODERJUDICIARIO
permanente (indenização). com iníclo do pagamento o Ministério Público, conforme lhe conferiu a Constituinte
só após a alta para o trabalho. de 1988. tem poderes e instrumentos para a abertura de inves-
• Incapacitados com perda total e definitiva das condições tigações e até de intervenção em ambiente e situações in-
para o exercício do trabalho. dividuais e colctivas de risco à saúde no trabalho. Isso inclui a
- O benefício é a aposentaria por invalidez. incorporação institucional dos movimentos de valorização da
A concessão desses benefícios sempre fica subordinada à qualidade de vida e. particularmente. a preocupação com o
decisão da Perícia Médica do Instituto que. além de estabele- comprometimento do meio ambiente em geral. a partir dos
cer o nexo técnico (doença/trabalho) e a incapacidade do tra- processos industriuls. Estão sob marcação. como responsáveis
balhador pode. se julgar necessário. determinar uma vistoria e co-responsãveis, todos os envolvidos nesses processos, desde
no ambiente de trabalho com finalidade de punir os responsá- a exiração ou síntese de matérias-primas até o consumo do
veis por negligenciar situações de ri co à saúde. produto final. Amplia-se o espectro do dano ii saúde para além
Mai uma vez. a parceria do médico assistente é funda- do ambiente de trabalho. absorvendo (I comunidade próxima
mentai para sugerir ao médico do trabalho e/ou ii empresa. e. via ecossistema, II sociedade em geral!':".
dentro dos preceitos éticos profissionai: . a possível relação O Judiciário, nas suas distintas instâncias trabalhista, cível
da ocorrência verificada no atendimento ao trabalhador e o e penal. pode estar envolvido em ações tanto de iniciativa do
trabalhador ou de sua coletividade como dos empregadores. Essas
trabalho executado e. se necessário. o afastamento da ativi-
dade para tratamento e recuperação. Na ausência dessa pro-
açõcs podem reclamar o cumprimento das leis trabalhistas vi-
gentes ou a reparação e/ou punição por danos à saúde e, nesses
vidências por ambos. cabe ao médico assistente. a partir de
casos. pela responsabilização cível (indenização) e, às vezes,
suas convicções. o encaminhamento institucional do traba-
pela criminal, envolvendo pessoas físicas e/ou jurídicas".
lhador, utilizando um documento apropriado, a Comunica-
~';1()do Acidente do Trabalho (CAT) disponível eletronicamente
no endereço do Darnprcv, na Internet. Nesse documento. o E.nD.DES DE ClASSE
médico deve rcsponsabtlizar-se pelo preenchimento apena A entidades representativas de classes. particularmente os
do campo cspccíüco para a caracterização técnica do aten- sindicatos dos trabalhadores. já tiveram envolvimentos mais
dimento. denominado Laudo de Exame Médico (LEM). consistentes em passado recente. com importante contribuição
É necessário lembrar que a emissão da CAT deve ocorrer em tanto no âmbito da configuração legal quanto na outra extre-
todas as circunstâncias em que se presuma a relação do agravo midade. fiscalizando a aplicação das leis. No presente, as razões
com o trabalho. independentemente da necessidade ou não conjunturais, prevalecendo as de ordem econôrnica, têm com-
de afastamento deste":":". prometido sua participação mais efetiva, revelando. em cer-
E 111 todas essas situações. o relatório do médico assistente. tos momentos. um pragmatismo pontual. Mesmo assim. sua
dentro dos princípios éticos. é peça fundamental para o posicio- co-participação nas ações que dizem respeito à saúde do tra-
namento do médico perito do INSS que. em última instância. balhador é preceito constitucional. na definição de políticas e
darã o parecer definitivo sobre o episódio. Ademais, o estabe- na gestão dos Serviços Públicos. bem como no acesso às infor-
lecimento desse nexo causal com a atividude labcrutiva pode mações sobre condições de risco e de intervenção nos amo
ser o passo inicial para se desencadear uma ação de vigilância bientes de trabalho".
e mesmo a notificação institucional do evento para fins de Muito embora a manutenção de prontuários e registres claros
controle epidemiológico. e completos, assim corno a identificação do profissional, se-
Além do típico acidente do trabalho. o trabalhador pode sofrer jam procedimentos obrigatórios e inerentes ii atividade do médico.
uma ocorrência no trajeto de sua casa para o trabalho e vice- alerta-se que essa prática as ume relevância no atendimento
versa. Esse evento. não incomum. denominado acidente de ao trabalhador. porque será uma fonte de informação epide-
trajeto, está previsto em lei dando-lhe todas as garanrias quando miológica. um documento de prova em ações administrativo-
devidamente configurado. o que. por vezes. não ocorre por des- periciais do INSS ou judiciais quando trabalhistas. cíveis ou
conhecimento do médico assistente e até do trabalhador"}. penais.
A propósito do Decreto n2 3.048/99. já mencionado. é in- Finalizando. é sempre bom recordar que as leis são escritas
teressante destacar. no seu Anexo II (Tabela 21.1). II relação pelo homem. suscetível c vulnerável às tendências temporais.
do agentes patogênicos causadores de doenças no trabalho e espaciais e sociais. tecnológicas. quiçã políticas e econômicas.
a relação de doenças que compõem. segundo conceitos' e cri- deixando, muitas vezes, de refletir o pensamento universal.
térios preestabelecidos'", o grande conteúdo da patologia do Daí. 11 obrigação de considerá-Ias dinâmicas e flexfveis. Assim
trabalho. Estas se encontram dispostas em duas listas distintas. é que se vive. no presente. um momento todo especial. no qual
sempre abertas a novas inclusões. chamadas, respectivamente. se observam. progressivamente. a conscientizaçâo coletiva para
de Listas A e B (Tabelas 21.2 e 21.3). Na A são listados os o exercício pleno da cidadania e a conjunção de políticas públicas
diversos agentes e fatores de risco presentes no trabalho e as favoráveis, em curso. norteando açõe em todas as direções,
respectivas doenças que podem se relacionar com cada um de- abrangendo o melo ambiente. ar incluindo o do trabalho.
les. Na lista B. inversamente, estão identificadas as doenças. Nesse contexto e COm a Constituição de 1988. a paro r da
eguindo a sequência da lO· revisão da Classificação Interna- qual O campo da saúde do trabalhador evoluiu muito em qua-
cional de Doenças (CID-lO) e o agentes e fatores de risco lidade. podem-se esperar ainda o aprimoramento, a integra-
corre pondentes. que podem e tar relacionados com cada urna ção e ii harmoniznçllo das leis em benefício de todos os
delas. Tanto para O médico do trabalho como. e principalmente. participantes do processo.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 173

TABELA 21.1 - Regulamento da Previdência Social: Anexo II do Decreto nO 3.048, de 06 de maio de 1999. Agentes patogênicos
causadores de doenças profissionais ou do trabalho, conforme previsto no artigo 20 da lei n~ 8.213, de 1991

AGENTESPATOG~NICOS TRABALHOSQUE CONT~M O RISCO


Qulmicos
I. Arsênio e seus compostos arsenicais 1. Metalurgia de minérios arsenicais e indústria eletrónica
2. Extração do arsénio e preparação de seus compostos
3. Fabricação, preparação e emprego de tintas, lacas (gás arsina), inseticidas, parasiticidas e
raticidas
4. Processos industriais em que haja desprendimento de hidrogénio arseniado
5. Preparação e conservação de peles e plumas (empalhamento de animais) e conservação da
madeira
6. Agentes na produção de vidro, ligas de chumbo, medicamentos e semicondutores
II. Asbesto ou amianto 1. Extração de rochas amiantiferas. furação, corte, desmonte, trituração, peneiramento e
manipulação
2. Despejos do material proveniente da extreção, trituração
3. Mistura, cardagem. fiação e tecelagem de amianto
4. Fabricação de guarnições para freios, materiais isolantes e produtos de fibrocimento
5. Qualquer colocação ou demolição de produtos de amianto que produza partículas
atmosféricas de amianto
III. Benzeno ou seus homólogos tóxicos Fabricação e emprego do benzeno, seus homólogos ou seus derivados aminados e nitrosos:
1. Instalações petroquímicas em que se produz benzeno
2. Indústria química ou de laboratório
3. Produção de cola sintétíca
4. Usuários de cola sintética na fabricação de calçados, artigos de couro ou borracha e móveis
5. Produção de tintas
6. Impressores (especialmente na fotogravura)
7. Pintura a pistola
8. Soldagem
IV. Berílio e seus compostos tóxicos 1. Extração, trituração e tratamento de berílio
2. Fabricação e fundição de ligas e compostos
3. Utilização na indústria aeroespacial e manufatura de instrumentos de precisão e ordenadores;
ferramentas cortantes que não produzam faiscas para a indústria petrolifera
4. Fabricação de tubos fluorescentes, de ampolas de raios X. de eletrodos de aspiradores. catodos
de queimadores e moderadores de reatores nucleares
5. Fabricação de cadinhos, vidros especiais e de porcelana para isolantes térmicos
V. Bromo Fabricação e emprego do bromo e do ácido brómico
VI. Cádmio ou seus compostos 1. Extração, tratamento, preparação e fundição de ligas metálicas
2. Fabricação de compostos de cádmio para soldagem
3. Soldagem
4. Utilização em revestimentos metálicos (galvanização), como pigmentos e estabilizadores em
plásticos, nos acumuladores de níquel-cádmio e soldagem de prata
VII. Carbonetos metálicos de tungsténio Produção de carbonetos sintetizados (mistura, pulverização, modelado, aquecimento em
sintetizados forno, ajuste, pulverização de precisão), na fabricação de ferramentas e de componentes para
máquinas e no afiamento das ferramentas. Trabalhadores localizados nas proximidades e
dentro da mesma oficina
VIII. Chumbo ou seus compostos tóxicos 1. Extração de minérios, metalurgia e refinação do chumbo
2. Fabricação de acumuladores e baterias (placas)
3. Fabricação e emprego de chumbo-tetraetila e chumbo-tetrametila
4. Fabricaçlio e aplicação de tintas, esmaltes e vernizés à base de compostos de chumbo
5. Fundição e laminação de chumbo, de bronze, etc.
6. Fabricação ou manipulação de ligas e compostos de chumbo
7. Fabricação de objetos e artefatos de chumbo, inclusive munições
8. Vulcanização da borracha pelo litargirio ou outros compostos de chumbo
9. Soldagem
10. Indústria de impressão
11. Fabricação de vidro, cristal e esmalte vitrificado
12. Sucata, ferro-velho
13. Fabricação de pérolas artificiais
14. Olaria
15. Fabricação de fósforos
IX. Cloro Fabricação e emprego de cloro e ácido clorídrico
X. Cromo ou seus compostos tóxicos 1. Fabricação de ácido crómico, de cromatos e bicromatos e ligas de ferrocromo
2. Cromagem eletrolftica de metais (galvanoplastia)
3. Curtição e outros trabalhos com couro
4. Pintura a pistola com pigmentos de compostos de cromo, polimento de móveis
5. Manipulação de ácido crõmico. de cromatos e bicromatos
6. Soldagem de aço inoxidável
7. Fabricação de cimento e trabalhos da construção civil
8. Impressão e técnica fotográfica
XI. Flúor ou seus compostos tóxicos 1. Fabricação e emprego de flúor e de ácido fluorídrico
2. Siderurgia (como fundentes)
(Continlla)
174 Tratado de Clinica Médica

TABELA 21.1 - Regulamento da Previdência Social: Anexo II do Decreto n' 3.048, de 06 de maio de 1999. Agentes patogênicos
causadores de doenças profissionais ou do trabalho, conforme previsto no artigo 20, da Lei nR 8.213, de 1991 (Continuação)

AGENTESPATOGtNICOS TRABALHOSQUE CONT~M O RISCO

3. Fabricação de ladrilhos. telhas. cerâmica. cimento. vidro, esmalte. fibra de vidro. fertilizantes
fosfatados; produção de gasolina (como catalisador alquilante)
4. Soldagem elétrica
5. Galvanoplastia
6. Calefação de superfícies
7. Sistema de combustível para foguetes
XII. Fósforo ou seus compostos tóxicos 1. Extração e preparação do fósforo branco e de seus compostos
2. Fabricação e aplicaçãc de produtos fosforados e organofosforados (sínteses orgânicas,
fertilizantes, praquicldas)
3. Fabricação de projéteis incendiários, explosivos e gases asfixiantes à base de fósforo branco
4. Fabricação de ligas de bronze
5. Borrifadores. trabalhadores agrícolas e responsáveis pelo armazenamento, transporte e
distribuição dos praguicidas organofosforados
XIII. Hidrocarbonetos allfélticos ou Sintese química (metilação), refrigerante, agente especial para extrações
aromáticos (seus derivados Solvente (azeites, graxas, ceras, acetato de celulose), desengordurante, removedor de pinturas
halogenados tóxicos)· Solvente (lacas), agente de extração
• Cloreto de metila Sintese química, extintores de incêndio
• Cloreto de metileno Síntese químíca, anestésico local (refrigeração)
• Clorofórmio Síntese química, solvente (resinas, borracha, asfalto, pinturas), desengraxante
• Tetracloreto de carbono Agente desengraxante para limpeza de metais e limpeza a seco
• Cloreto de ettla Solvente
1.1 - Dicloroetano Solvente
1.1.1 - Tricloroetano Desengraxante, agente de limpeza a seco e de extração, sinteses químicas
1.1.2 - Tricloroetano Desengraxante, agente de limpeza a seco e de extração. sinteses quimicas
Tetraeloroetano Intermediário na fabricação de cloreto de polivinila
Tricloroetileno Inseticida em fumigação (cereais), sínteses químicas
Tetracloroetlleno Sínteses químicas, agente especial de extração
Cloreto de vinila Inseticida em fumigação (solos), extintor de incêndios, solvente (celulóide, graxas, azeite, ceras)
- Brometo de metila Sínteses químicas. solvente
- Brometo de etila Sínteses químicas. solvente
1 2 - Dibromoetano
- Cloro benzeno
- Diclorobenzeno
XIV. Iodo Fabricação e emprego do iodo
XV. Manganês e seus compostos 1 Extração, tratamento e trituração de plrolusita (dióxido de manganés)
tõxicos 2 Fabricação de ligas e compostos do manganês
3 Siderurgia
4 Fabricação de pilhas secas e acumuladores
5 Preparação de permanganato de potassio e fabricação de corantes
6. Fabricação de vidros especiais e cerâmica
7. Soldagem com eletrodos contendo manganês
8. Fabricação de tintas e fertilizantes
9. Curtimento de couro
XVI. Mercurio e seus compostos tóxicos 1. Extraçâo e fabricação do mineral de mercúrio e de seus compostos
2. Fabricação de espoletas com fulminato de mercúrio
3. Fabricação de tintas
4. Fabricação de solda
S. Fabricação de aparelhos: barómetros, manómetros, termómetros, interruptores, lâmpadas,
válvulas eletrônkas, ampolas de raios X, retificadores
6. Amalgamação de zinco para fabricação de eletrodos, pilhas e acumuladores
7. Douração e estanhagem de espelhos
8. Empalhamento de animais com sais de mercúrio
9. Recuperação de mercúrio por destilação de resíduos industriais
10. Tratamento a quente de amálgamas de ouro e prata para recuperação desses metais
11. Secretagem de pêlos, crinas e plumas e feltragem à base de compostos de mercúrio
12. Fungicida no tratamento de sementes e brilhos vegetais e na proteção da madeira
XVII. Substáncias asfixiantes
1. Monoxido de carbono Produção e distribuição de gás obtido de combusnvers sólidos (gaseificação do carvão), mecânica
de motores, principalmente movidos à gasolina, em recintos semifechados; soldagem acetilênica
e a arco; caldeiras, indústria química; siderurgia, fundiçao, mineração de subsolo; uso de
explosivos; controle de inCêndios; controle de tráfego, construçào de túneis; cervejarias
2. Cianeto de hídroqêmo ou seus Operações de fumigação de inseticldas, slntese de produtos químicos orgânicos;
derivados tóxicos eletrogalvanoplastia; extração de ouro e prata, produção de aço e de plásticos (especialmente o
acrilonitrilo·estireno); siderurgía (fornos de coque)
3. Sulfeto de hidrogénio Estações de tratamento de águas residuais; mineração; metalurgia; trabalhos em Silos;
(ácido sulfidrico) processamento de açúcar da beterraba; curtumes e matadouros; produção de viscose e celofane;
Indústria química (produção de ácido sulfúrico, sais de bário); construção de túneis; perfuração
de poços petrolíferos e gás; carbonização do carvão a baixa temperatura; litografia e
fotogravura
XVIII. Siliea livre (óxido de srllclo - SiO ) 1. Extração de minérios (trabalhos no subsolo e a céu aberto)
I 2. Decapagem, limpeza de metais, foscamento de vidros com latos de areia e outras atividades em
que se usa areia como abrasivo
3. Fabricação de material refratário para fornos, chaminés e cadlnhos, recuperação de residuos

8.5-7241-.598·X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 175
K5·7241 5~X·X

TABELA 21.1 - Regulamento da Previdência Social: Anexo II do Decreto nO3.048, de 06 de maio de 1999. Agentes patogênicos
causadores de doenças profissionais ou do trabalho, conforme previsto no artigo 20 da Lei ng 8.213, de 1991 (Continuação)
AGENTES
PATOG~NICOS TRABALHOS
QUECONT~MO RISCO
4, Fabricação de mós, rebolos. saponáceos. pós e pastas para polimento de metais
5, Moagem e manipulação de sllica na indústria de vidros e porcelanas
6. Trabalho em pedreiras
7, Trabalho em construção de túneis
8. Desbastes e polimento de pedras
XIX.Sulfeto de carbono ou dissulfeto 1. Fabricação de sulfeto de carbono
de carbono 2. Indústria de viscose, raiom (seda artificial)
3. Fabricação e emprego de solventes. inseticidas, parasiticidas e herbicidas
4, Fabricaçào de vernizes. resinas, sais de amoníaco. tetracloreto de carbono. têxteis. tubos
eletrônicos a vácuo, gorduras
5, Limpeza a seco; galvanização; fumigação de grãos
6. Processamento de azeite. enxofre. bromo, cera. graxas e iodo
XX.Akatrão. breu. betume. hulha Processos e operações. industriais ou não, em que sejam utilizados alcatrão, breu, betume. hulha
mineral. parafina e produtos ou mineral. parafina e produtos ou resíduos dessas substancias
residuos dessas substâncias.
causadores de epiteliomas primitivos
da pele
Fisicos
XXI.Ruído e afecção auditiva Mineração, construção de túneis, exploração de pedreiras (detonação, perfuração); engenharia
pesada (fundição de ferro, prensa de forja); trabalho com máquinas que funcionam com potentes
motores a combustão; utilização de máquinas têxteis; testes de reatores de aviões
XXII.Vibrações(afecções dos músculos. Indústria metalúrgica. construção naval e automobilística; mineração; agricultura (motosserras);
tendões, ossos. articulações. vasos instrumentos pneumáticos; ferramentas vibratórias, elétricas e manuais; condução de caminhões e
sangúíneos periféricos ou dos ónibus
nervos periféricos)
XXIII.Ar comprimido 1. Trabalhos em caixões ou câmaras pneumáticas e em tubulões pneumáticos
2. Operações com uso de escafandro
3, Operações de mergulho
4, Trabalho com ar comprimido em túneis pressurizados
XXIV.Radiações ionizantes I. Extração de minerais radioativos (tratamento. purificação. Isolamento e preparo para
distrlbuiçâo), como o urânio
2. Operação com reatores nucleares ou com fontes de nêutrons ou de outras radiações
corpusculares
3, Trabalhos executados com exposições a raios X. rádio e substâncias radioativas para fins
industriais. terapêuticos e diagnósticos
4, Fabricação e manipulação de produtos quimicos e farmacêuticos radioativos (urânio, radônio,
mesotório, tório X, céSIO137 e outros)
5, Fabricação e aplicação de produtos luminescentes radiferos
6, Pesquisas e estudos dos raios X e substâncias radioativas em laboratórios.
Biológicos
XXV.Microrganismos e parasitas Agricultura; pecuária; silvicultura; caça (inclusive a caça com armadilhas); veterinária; curtume
infecciososvivos e seus produtos Construção; escavação de terra; esgoto; canal de irrigação; mlneraçêo
tóxicos Manipulação e embalagem de carne e pescado
1, Mycobacterium; vírus hospedados Manipulação de aves confinadas e pássaros
por artrópodes; cocciclióides: Trabalho com pêlo. pele ou IA
fungos; histoplasma; leptospira; Veterinária
riquétsia; bacilo (carbúnculo. Hospital; laboratórios e outros ambientes envolvidos no tratamento de doenças transmlssivels
tétano); ancilóstomo; Trabalhos em condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas; ginásios; piscinas; etc.)
tripanossoma; pasteurela
2. Ancilóstomo; histoplasma;
cocciclióides;leptospira; bacilo;
sepse
3, Mycobaclerium; brucellas;
estreptococo (erisipela); fungo;
riquétsia; pasteurela
4, Fungos; bactérias; mixovirus
(doença de Newcastle)
5, Bacilo(carbúnculo) e pasteurela
6. Bactérias; micobacteria; brucela;
fungos; leptospira; virus; mixovirus;
riquétsia; pasteurela
7, Micobacteria, virus; outros
organismos responsáveis por
doenças transmissiveis
8. Fungos (micose cutánea)
PoeIrasorgãn/cas
XXVI.Algodão. linho. cânhamo. sisai Trabalhadores nas diversas operações com poeiras provenientes desses produtos
XXVII.
Agentes físicos, químicos ou Trabalhadores mais expostos: agricolas; da construção civil em geral; da indústria quimlca; de
biológicos, que afetam a pele, eletrogalvanoplastia; de tinturaria; da Indústria de plásticos reforçados com fibra de vidro;
não considerados em outras da pintura; dos serviços de engenharia {óleo de corte ou lubrificante}; dos serviços de saúde
rubricas (medicamentos, anestésicos locais, desinfetantes); do tratamento de gado; dos açougues
176 • Tratado de Clínica Médica

TABEL.A 21.2 - Lista A: agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e
de outras doenças relacionadas com o trabalho

AGENTESETIOLÓGICOSOU
FATORESDE RISCODE DOENÇASCAUSALMENTERELACIONADASCOM OS RESPECTIVOS
AGENTESOU FATORESDE RISCO
NATUREZAOCUPAClONAL (DENOMINADAS E CODIFICADASSEGUNDOA CID-lO)
I. Arsénio e seus 1. Angiossarcoma do fígado (C22.3)
compostos arsenicais 2. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão «(34.-)
3. Outras neoplasias malignas da pele «(44.-)
4. Poli neuropatia decorrente de outros agentes tóxicos (GS2.2)
5. Encefalopatia tóxica aguda (G92.1)
6. Blefarite (H01.0)
7. Conjuntivite (H 1O)
8. Queratite e queratoconjuntivite (HI6)
9. Arritmias cardiacas (149.-)
10. Rinite crónica (131.0)
11. Ulceração ou necrose do septo nasal (J34.0)
12. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crônica (J68.4)
13. Estomatite ulcerativa crônica (K12.1)
14. Gastroenterite e colites tóxicas (K52.-)
1S. Hipertens~o portal (K76.6)
16. Dermatite de contato por irritantes (L24.-)
17. Outras formas de hiperplqmemação pela melanina: "Melanodermia" (L81A)
18 Leucodermia, não classificada em outra parte (inclui "Vitiligo Ocupacional") (L81.S)
19. Ceratose palmar e plantar adquirida (L85.1)
20. Efeitos tóxicos agudos (T57.0)
II. Asbesto ou amianto 1. Neoplasia maligna do estômago «(16.')
2. Neoplasia maligna da laringe (02.·)
3. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (04.·)
4. Mesotelioma da pleura (C45.0)
S. Mesotelioma do peritônio «(45.1)
6. Mesotelioma do pericárdio «(45.2)
7. Placas epicárdicas ou pericárdicas (134.8)
8. Asbestose (J60.·)
9. Derrame pleural (J90.·)
10. Placas pleurais (J92.·)
III. Benzeno e seus t. Leucemias (C91·(95.·)
homólogos tóxicos 2. Sindromes mielodisplásicas (046.·)
3. Anemia aplástica em decorrência de outros agentes externos (061.2)
4. Hipoplasia medular (D61.9)
5. Púrpura e outras manifestações hemorrágicas (069.·)
6. Agranulocitose (neutropenia tóxica) (D70)
7. Outros transtornos especificados dos glóbulos brancos: leucocitose, reação leucemóide (072.8)
8. Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença física (F06.·)
(tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos)
9. Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença, lesão e de disfunção de
personalidade (F07.·) (tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos)
10. Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado (F09.·) (tolueno e outros solventes
aromáticos neurotóxicos)
11. Episódios depressivos (F32.·) (tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos)
12. Neurastenia (inclui "sindrome de fadiga") (F48.0) (tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos)
13. Encefalopatia tóxica crônica (G92.2)
14. Hipoacusia ototóxica (H91.0) (tolueno e xileno)
1S. Dermatite de contato por irritantes (L24.·)
16. Efeitos tóxicos agudos (TS2.1 e TS2.2)
IV. Berilio e seus 1. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão «(34.-)
compostos tóxicos 2. Conjuntivite (Hl0)
3. Beriliose (J63.2)
4. Bronquite e pneumonite decorrentes de produtos quimicos, gases, fumaças e vapores ("bronquite
quimica aguda") (J68.0)
5. Edema pulmonar agudo por causa de produtos quimicos, gases, fumaças e vapores ("edema pulmonar
químico") (J68.1)
6. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J68.4)
7. Dermatite de contato por irritantes (L24.-)
8. Efeitos tóxicos agudos (T56.7)
V. Bromo ("angina 1. Faringite aguda
aguda·, • dor de 2. Laringotraquelte aguda (J04.2)
garganta") (J02.9) 3. Faringite crónica (J31.2)
4. Sinusite crónica (132.-)
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente 177

TABELA 21.2 - Lista A: agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e
de outras doenças relacionadas com o trabalho (Continuação)

AGENTESETIOLÓGICOSOU
FATORES
DE RISCODE DOENÇASCAUSALMENTERELACIONADASCOM OS RESPECTIVOS
AGENTESOU FATORESDE RISCO
NATUREZAOCUPACIONAL (DENOMINADAS E CODIFICADASSEGUNDOA CID-lO)
5. Laringotraqueíte crónica (J37.1)
6. Bronquite e pneumonite conseqüentes a produtos qulmicos, gases, fumaças e vapores ("bronquite
quimica aguda") (J68.0)
7. Edema pulmonar agudo em razão de produtos químicos, gases, fumaças e vapores ("edema pulmonar
quimico") (J68.1)
8. Sindrome de disfunção reativa das vias aéreas (SORVA/RADS)(J6S.3)
9. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J6S.4)
10. Estomatite ulcerativa crónica (K12.1)
11. Dermatite de conta to por irritantes (L24.-)
12. Efeitos tóxicos agudos (T57.S.)

VI. Cádmio ou seus 1. Neoplasia maligna dos brónquios e do polmão (C34.-)


compostos 2. Transtornos do nervo olfatório (inclui "anosmia") (G52.0)
3. Bronquite e pneumonite decorrentes de produtos químicos, gases, fumaças e vapores ("bronquite
qufmica aguda") (J6S.0)
4. Edema pulmonar agudo por causa de produtos químicos, gases, fumaças e vapores ("edema pulmonar
químico") (J6S.1)
5. Sindrome de disfunção reativa das vias aéreas (SORVAlRADS)(J68.3)
6. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crõnico difuso ou fibrose pulmonar crõnica (J6S.4)
7. Enfisema intersticial (J9S.2)
8. Alterações pós-eruptivas da cor dos tecidos duros dos dentes (K03.7)
9. Gastroenterite e colites tóxicas (K52.-)
10. Osteomalacia do adulto induzida por drogas (MS3.5)
1,. Nefropatia tubulointersticial induzida por metais pesados (NI4.3)
12. Efeitos tóxicos agudos (T56.3)

VII. Carbonetos metálicos ,. Outras rinites alérgicas (J30.3)


de tungsténio 2. Asma (J45.-)
sinterizados 3. Pneumoconiose em decorrência de outras poeiras inorgânicas especificadas (J63.8)

VIII. Chumbo ou seus t. Outras anemias em razão de transtornos enzimáticos (055.S)


compostos tóxicos 2. Anemia sideroblástica secundária a toxinas (064.2)
3. Hlpotireoidismo decorrente de substâncias exógenas (E03.-)
4. Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença física (F06.-)
5. Polineuropatia em conseqüência de outros agentes tóxicos (G52.2)
6. Encefalopatia tóxica aguda (G92.1)
7. Encefalopatia tóxica crõnica (G92.2)
8. Hipertensão arterial (110.-)
9. Arritmias cardiacas (149.-)
10. "Cólica do chumbo" (K59.8)
1,. Gota induzida pelo chumbo (Ml0.l)
12. Nefropatia tubulointersticial induzida por metais pesados (N14.3)
13. Insuficiência renal crônica (Nl7)
14. Infertilidade masculina (N46)
15. Efeitos tóxicos agudos (T56.0)

IX. Cloro 1. Rinite crónica (J31.0)


2. Outras doenças pulmonares obstrutivas crõnicas (inclui "asma obstrutiva", "bronquite crónica",
"bronquite obstrutiva crónica") (J44.-)·
3. Bronquite e pneumonite conseqüentes a produtos qufmicos, gases, fumaças e vapores ("bronquite
química aguda ") (J68.0)
4. Edema pulmonar agudo por causa de produtos qufmícos, gases, fumaças e vapores ("edema pulmonar
químico") (J68.1)
5. Síndrome de disfunção reativa das vias aéreas (SORVA/RADS)(J6S.3)
6. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crõnico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J6S.4)
7. Efeitos tóxicos agudos (T59.4)

X. Cromo ou seus 1. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (C34.-)


compostos tóxicos 2. Outras rinites alérgicas (J30.3)
3. Rinite crónica (J31.0)
4. Ulceração ou necrose do septo nasal (J34.0)
5. Asma (J45.-)
6. "Dermatoses papulopustulosas e suas complicações infecciosas" (LOS.9)
7. Oermatite alérgica de contato (L23.-)
8. Dermatite de contato por irritantes (L24.-)
9. Úlcera crónica da pele, não classificada em outra parte (L9S.4)
10. Efeitos tóxicos agudos (T56.2)
(Continua)
178 Tratado de Clínica M~dica

TABELA 21.2 - Lista A: agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e
de outras doen~as relacionadas com o trabalho (Continuação)

AGENTESETIOLOGICOSOU
FATORESDE RISCODE DOENÇASCAUSALMENTERELACIONADASCOM OS RESPECTIVOS
AGENTESOU FATORESDE RISCO
NATUREZAOCUPACIONAL (DENOMINADAS E CODIFICADASSEGUNDOA CID·10)
XI Fluor ou seus 1 Con)untlv te (Hl0J
compostos téxicos 2. Rimte crónica (BtO)
3 Bronquite e pneumonlte decorrentes de produtos químiCOS.gases. fumaças e vapores ("bronquite
quimica aguda·) (Jsa O)
4 Edema pulmonar agudo por causa de produtos químkos, gases. fumaças e vapores ("edema pulmonar
químico") (J68 1)
5. Bronquiolite obliterante crónica. enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J684)
6. Eroseio dentaria (K03 2)
7 Oermatite de contato por irritantes (L24 .)
8 Fluorose do esqueleto (M85 1)
9 Intoxicação aguda (T59.5)

XII Fósforo ou seus 1 Polineuropatia decorrente de outros agentes tóxícos (G52.2)


compostos tóxicos 2. Arritmias cardlacas (149.·) (agrotóxicos organofosforados e carbamatos)
3 Oermatite alérgica de contato (l23.·)
4 Oermatite de contato por irritantes (l24.·)
5. osrecmetaoa do adulto induzida por drogas (M83.S)
6 Osteonecrose (M87 -). osteonecrose decorrente de drogas (M87.1); outras osteonecroses secundárias
(M87.3)
7 Intoxicação aguda (TS7 1) (intoxicação aguda por agrotóxicos organofosforados: T60.0)

XIII. Hidrocarbonetos 1 Angiossarcoma do figado (Q2.3)


ahíáncos ou 2 Neoplasia maligna do pãncreas '(25.·)
aromáticos (seus 3. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (04.-)
derivados halogenados 4. Púrpura e outras manifestações hemorragicas (069.')
tóxicos) 5 Hlpotlreoidísmo conseqüente às substancias exógenas (E03 .)
6. Outras porfirias (E80 2)
7. Dellríum. nào sobreposto à demência, como descrita (F05.0) (brometo de metila)
8. Outros transtornos mentais decorrentes de tesão e disfunç~o cerebrais e de doença física (F06.·)
9. Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença. lesáo e de disfunção de
personalidade (F07.·)
10. Transtorno mental orgãnico ou sintomático nao espeCificado (F09 .)
11. Eplsodios depressivos (F32.·)
12. Neurastenia (inClui "síndrome de fadiga·) (F48.0)
13. Outras formas especificadas de tremor (G25 2)
14. Transtorno extrapiramidal do movimento nc)o específrcado (G2S.9)
15. Transtornos do nervo trigêmeo (GSO )
16. Polineuropatia em decorrência de outros agentes tóxicos (G52.2) (n hexano)
17. Encefalopatia tóxica aguda (G92 1)
18 Encefalopatia tóxica crónica (G92.2)
19 Conjuntivite (Hl0)
20 Neurite óptica (H46)
21 Oistúrbios visuais subjetivos (HS3
22 Outras vertigens periféricas (H81 3)
23 tabmnute (H83.0)
24 Hipoacusia ototóxica (H91.0)
25. Parada cardíaca (146·)
26. Arritmias cardiacas (149.·)
27. Slndrome de Raynaud (173O) (cloreto de vlnlla)
28 Acrocianose e acroparestesia (1738) (cloreto de vmila)
29 Bronquite e pneumonite decorrentes de produtos qulmtcos. gases. fumaças e vapores ("bronqUite
química aguda·) (J68 O)
30. Edema pulmonar agudo em razlio de produtos químicos, gases. fumaças e vapores ("edema pulmonar
qurrnico") (J68.1)
31 Smdrorne de disfunção reativa das vias aereas (SORVAlRAOS)(J68 3)
32. Bronquiolite obliterante crónica. enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J68.4)
33 Ooença tóxica do fígado (K71 doença tóxica do fígado. com necrose hepc)tica (K71.1); doença tóxica
do figado com hepatite aguda' K71 2); doença tOxica do fígado com hepatite crónica persistente
(K71.3); doença tóxica do figado com outros transtornos hepáticos (K71 8)
34 Hipertensão portal (K76.6) (cloreto de vinila)
35. "Dermatoses papulopustulosas e suas complicaçóes ,"fecciosas· (L089)
36. Oermatíte de contato por irritantes (l24.·)
37 ·Cloracne" (L70.8)
38 Outras formas de hiperpigmentação pela melanina: "melanodermia" (L81.4)
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 179

TABELA 21.2 - Lista A: agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e
de outras doenças relacionadas com o trabalho (Continuação)

AGENTESETIOLÓGICOSOU
FATORES
DE RISCODE DOENÇASCAUSALMENTERELACIONADASCOM OS RESPECTIVOS
AGENTESOU FATORESDE RISCO
NATUREZAOCUPACIONAL (DENOMINADAS E CODIFICADASSEGUNDOA CID-lO)
39. Outros transtornos especificados de pigmentação: "porfiria cutânea tardia" (L81.8)
40. Geladura (frostbite) superficial: eritema pérnio (133) (anestésicos clorados locais)
41. Geladura (frostbite) com necrose de tecidos (T34) (anestésicos clorados locais)
42. Osteólise (M89.S) (de falanges distais de quirodáctilos) (cloreto de vinila)
43. Síndrome nefrítica aguda (NOO.-)
44. Insuficiência renal aguda (N 17)
45. Efeitos tóxicos agudos (T53.-)

XIV. Iodo 1. Conjuntivite (H 1O)


2. Faringite aguda ("angina aguda", "dor de garganta") (J02.9)
3. Laringotraqueíte aguda (J04.2)
4. Sinusite crónica (J32.-)
5. Bronquite e pneumonite decorrentes de produtos químicos, gases, fumaças e vapores (" bronquite
química aguda")
6. Edema pulmonar agudo por causa de produtos químicos, gases, fumaças e vapores ("edema pulmonar
químico") (J68.1)
7. Síndrome de disfunção reativa das vias aéreas (SDRVA/RADS)(J68.3)
8. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J68.4)
9. Dermatite alérgica de contato (L23.-)
10. Efeitos tóxicos agudos (T57.8)

XV. Manganês e seus 1. Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais (F02.8)
compostos tóxicos 2. Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença física (F06.-)
3. Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença, lesão e de disfunção de
personalidade (F07.-)
4. Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado (F09.-)
5. Episódios depressivos (F32.-)
6. Neurastenia (inclui "síndrome de fadiga") (F48.0)
7. Parkisonismo secundário (G21.2)
8. Inflamação coriorretiniana (H30)
9. Bronquite e pneumonite decorrentes de produtos químicos, gases, fumaças e vapores ("bronquite
química aguda") (J68.0)
10. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J68.4)
11. Efeitos tóxicos agudos (T57.2)

XVI. Mercúrio e seus 1. Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença flsica (F06.-)
compostos tóxicos 2. Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença. lesão e de disfunção de
personalidade (F07.-)
3. Transtorno mental orgãnico ou sintomático não especificado (F09.-)
4. Episódios depressivos (F32.-)
5. Neurastenia (inclui "síndrome de fadiga") (F48.0)
6. Ataxia cerebelosa (Gl1.1)
7. Outras formas especificadas de tremor (G25.2)
8. Transtorno extrapiramidal do movimento não especificado (G25.9)
9. Encefalopatia tóxica aguda (G92.1)
10. Encefalopatia tóxica crónica (G92.2)
11. Arritmias cardíacas (149.-)
12. Gengivite crónica (K05.1)
13. Estomatite ulcerativa crónica (K12.1)
14. Dermatite alérgica de conta to (L23.-)
15. Doença glomerular crónica (N03.-)
16 Nefropatia tubulointersticial induzida por metais pesados (N14.3)
17. Efeitos tóxicos agudos (T57.1)
XVII. Substâncias asfixiantes: 1. Demência em outras doenças específic.asclassificadas em outros locais (F02.8)
monóxido de carbono, 2. Transtornos do nervo olfatório (inclui "anosmia") (G52.0) (H2S)
cianeto de hidrogénio 3. Encefalopatia tóxica crônica (G92.2) (seqüela)
ou seus derivados 4. Conjuntivite (H1O) (H2S)
tóxicos, sulfeto de 5. Queratite e queratoconjuntivite (H16)
hidrogênio (ácido 6. Angina pectoris (120.-) (CO)
sulfídrico) 7. Infarto agudo do miocárdio (121.-) (CO)
8. Parada cardíaca (146.-) (CO)
9. Arritmias cardíacas (149.-) (CO)
10. Bronquite e pneumonite devida a produtos químicos, gases, fumaças e vapores ("bronquite qulmica
aguda") (HCN)
11. Edema pulmonar agudo decorrente de produtos químicos, gases, fumaças e vapores ("edema pulmonar
quimico") (J68.1) (HCN)
(Continua)
180 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 21.2 - Lista A: agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e
de outras doenças relacionadas com o trabalho (Continuação)

AGENTESETIOLÓGICOSOU
FATORESDE RISCODE DOENÇASCAUSALMENTERELACIONADASCOM OS RESPECTIVOS
AGENTESOU FATORESDE RISCO
NATUREZAOCUPAClONAL (DENOMINADAS E CODIFICADASSEGUNDOA ClD·10)
12. Síndrome de disfunção reativa das vias aéreas (SDRVAlRADS)(J68.3) (HCN)
13. Bronquiolite obliterante crónica, enfisema crónico difuso ou fibrose pulmonar crónica (J68.4) (HCN; H2S)
14. Efeitos tóxicos agudos (T57.3; T58; T59.6)

XVIII. Sílica livre 1. Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão ((34,·)


2. Cor pulmonale (127.9)
3. Outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas (inclui "asma obstrutiva", "bronquite crônica",
"bronquite obstrutiva crónica") (J44.·)
4. Silicose (J62.8)
5. Pneumoconiose associada com tuberculose ("silicotuberculose") (J63.8)
6. Síndrome de Caplan (J99.1; MOS.3)

XIX. Sulíeto de carbono ou 1. Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais (F02.8)
dissulfeto de carbono 2. Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença física (F06.-)
3. Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença, tesão e de disfunção de
personalidade (F07.-)
4. Transtorno mental orqànko ou sintomático não especificado (F09.-)
5. Episódios depressivos (F32.-)
6. Neurastenia (inclui "slndrome de fadiga·) (F48.0)
7. Polineurcpaua decorrente de outros agentes tóxicos (GS2.2)
8. Encefalopatia tóxica crónica (G92.2)
9. Neurite óptica (H46)
10. Angina pectorls (120,-)
11. Infarto agudo do miocárdio (121.-)
12. Ateroesclerose (170.-) e doença ateroesclerótica do coração (125.1)
13. Efeitos tóxicos agudos (T52.8)

XX. Alcatrão, breu, betume, 1. Neoplasia maligna dos brônquios e do putmào (04.-)
hulha mineral, parafina 2. Outras neoplasias malignas da pele (C44.-)
e produtos ou residuos 3. Neoplasia maligna da bexiga (C67.-)
dessas substâncias, 4. Dermatite alérgica de contato (L23.-)
causadores de 5. Outras formas de hiperpigmentação pela melanina: ·Melanodermia· (L81.4)
epiteliomas primitivos
da pele
XXI. Ruído e afecção 1. Perda da audição provocada pelo ruido (H83.3)
auditiva 2. Outras percepções auditivas anormais: alteração temporária do limiar auditivo, comprometimento da
discriminaçào auditiva e hiperacusia (H93.2)
3. Hipertensão arterial (110.-)
4. Ruptura traumática do tímpano (pelo ruído) (509.2)
XXII. Vibrações (afecções t. Síndrome de Raynaud (173.0)
dos músculos, tendões, 2. Acrocianose e acroparestesia (173.8)
ossos. articulações, 3. Outros transtornos articulares não classificados em outra parte: dor articular (M2S.5)
vasos sangülneos 4. Sindrome cervicobraquial (MS3.1)
periféricos ou dos S. Fibromatose da fáscia palmar: "Contratura ou moléstia de Dupuytren" (M72.0)
nervos periféricos) 6. Lesões do ombro (M7S.-): capsulite adesiva do ombro (ombro congelado, períartrite do ombro) (M75.0);
síndrome do manguito rotatório ou sindrome do supra-espinhoso (M75.1); tendinite bicipital (M75.2);
tendinite calcificanté do ombro (M7S.~); bursite do ombro (M75.5); outras lesões do ombro (M75.8);
lesões do ombro não especificadas (M7S.9)
7. Outras entesopatias (M77.-): epicondllite medial (M77.0); epicondlllte lateral ("cotovelo de tenista");
mialgia (M79.1)
8. Outros transtornos especificados dos tecidos moles (M79.8)
9. Osteonecrose (M87.-): osteonecrose decorrente de drogas (M87.1); outras osteonecroses secundárias
(M87.3)
10. Doença de Kienbõck do adulto (osteocondrose do adulto do semílunar do carpo) (M93.1) e outras
osteocondropatias especificadas (M93.8)
XXIII. Ar comprimido 1. Otite média não supurativa (H65.9)
2. Perfuração da membrana do tlmpano (H72 ou 509,2)
3. Labirintite (H83.0)
4. Otalgía e secreção auditiva (H92.-)
5. Outros transtornos especificados do ouvido (H93,8)
6. Osteonecrose no "mal dos caixões" (M90.3)
7. Otite barotraumática (T70.0)
8. Sinusite barotraumática (T70.1)
9, "Mal dos caixões" (doença da descompressão) (T70.4)
10. Sindrome decorrente de deslocamento de ar de uma explosão (T70.8)

85-7241-598-X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 181

TABELA 21,2 - Lista A: agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional relacionados com a etiologia de doenças profissionais e
de outras doenças relacionadas com o trabalho (Continuação)

AGENTESETIOLÓGICOSOU
FATORES
DE RISCODE DOENÇASCAUSALMENTERELACIONADASCOM OS RESPECTIVOS
AGENTESOU FATORESDE RISCO
NATUREZAOCUPACIONAL (DENOMINADAS E CODIFICADASSEGUNDOA 00,10)
XXIV Radiações Ionizantes 1 Neoplasla mahgna da cavidade nasal e dos seios paranasals (OO·OI .)
2 Neoplasla mahgna dos brônquios e do pulmão (C34.•)
3 Neoplasia maligna dos ossos e canilagens aniculares dos membros (inclui ·sarcoma éssee")
4 OutrelS neoplasias malignas da pele (C44.·)
5 Leucemias {C91 (95.·)
6 Slndromes mlelodisplasicas (D46.·)
7 Anemia aplástlca em conseqüência de outros agentes externos (D61 2)
8 Hipoplasia medular (D61.9)
9 Pürpura e outras manlfesta~ões hemorrágicas (D69.·)
10 Agranulocitose (neutropenia tõxica) (D70)
11. Outros transtornos especificados dos glóbulos brancos: leucocitose, reação leucemóide (072.8)
12. Polineuropatia induzida pela radiação (G62.8)
13. Blefarite (H01.0)
14. Conjuntivite (H 10)
IS. Oueratite e queratoconiuntivue (HI6)
16. Catarata (H28)
17. Pneumonlte por radia~ão (J70.0 e 170.1)
18. Gastroenterite e colites tóxicas (KS2.·).
19. Radiodermatite (LS8.·): radiodermatite aguda (lS8.0); radiodermatite crónica (LSB.l); radiodermatite
não especificada (lS8.9); afecções da pele e do tecido conjuntivo relacionadas com a radiação não
especificadas (lS9.9)
20. Osteonecrose (M87.·): osteonecrose em razão de drogas (M87.1); outras osteonecroses secundárias (M87.3)
21 Infertilidade masculina (N46)
22 Efeitos agudos (não especificados) da radiação (T66)
XXV. Microrganismos e I Tuberculose (A1S·AI9.·)
parasitas infecciosos 2 Carbünculo (A22.·)
vivos e seus produtos 3 Brucelose (A23.·)
tóxicos (exposição 4 teptespuese (A27 .)
ocupacional ao agente S Tétanc (A35·)
elou transmissor da 6 Psitacose, ornitose, doença dos tratadores de aves (A70.·)
doença, em profissões 7 Dengue (Ago -)
elou condições de 8 Febre amarela (A9S.·)
trabalho especificadas) 9 Hepatites ViraiS (BI5·BI9·)
lO Doença pelo Virus da Imunodeficiencia Humana (HIV) (B20·B24.•)
II Dermatofnose (B35 .) e outras micoses superficiais (836.·)
12 Paracoccidioidomicose (blastomicose sul·americana, blastomlcose brasileira, doença de Lutz) (841.-)
13. Malaria (B50·BS4 .)
14 leishmaniose cutánea (B5S.I) ou Leishmamose cutaneomucosa (B55.2)
15 Pneumonne por hrpersensrbihdade a poeira orgànica (J67,·)· putmêo do granJelro (ou putmão do
fazendeiro) (167.0); bagaçose (J671); pulmão dos criadores de p6ssaros (167 2); suberose (J67,3); pulmllo
dos trabalhadores de malte (J67A); pulmão dos que trabalham com cogumelos (J67.5); doença
pulmonar decorrente de sistemas de ar condicionado e de umldificaçAo do ar (J67.7); pncumonltes de
hipersensibilidade conseqüentes a outras poeiras orgânicas (J67,8); pncumonlte de hipersensibilidade
em razão de poeira orgãnica não especificada (alveolite alérgica extrlnsecll SOE; pncumonlte de
hipersensibilidade SOE (J67.0)
16, ·Dermatoses papulopustulosas e suas complicações Infecciosas· (l08,9)
XXVI, AlgodJo, linho, 1. Outras riMes alérgicas (BO.3)
cânhamo, sisai 2. Outras doenças pulmonares obstrutivas crOnicas (inclUI "asma obstruuva", "bronqulte crónica",
"bronquue obstrutiva crõnlca") (J44.·)
1 Asma (J45 )
4. Bissinose (166.0)
XXVII AgenteS flslCos, 1 ·Dermatoses papulopustulosas e suas comphcações infeCCIosas· (L089)
qulmicos ou biológicos, 2 Dermaute a!t!rglca de conta to (L23.·)
que afetam a pele, 3 Dermatite de contato por irritantes (124 .)
nJo considerados em 4 Urticária alérgica (lSO O)
outras rubricas 5 ·Urllcc!na ffsica· (em decorrência de calor e friO) (LSO2)
6 Urticária de conta to (LSO6)
7. Queimadura solar (lSS)
8 Outras alterações agudas da pele conseqüentes a radiaçc'lo ultravioleta (l56.·): dermatite por
fotocontato (dermaute de berloques) (LS6 2); unlcána solar (LS6.3), outras alterações agudas
especificadas da pele decorrentes de radiação uhravioleta (l56.B); outras alterações agudas da pele por
causa da radiaçc'lo ultravioleta, sem outra especificação (L56 9)
9, Alterações da pele por causa da exposição u6nica a radiação não ionizante (l57.·): ceratose actlnica
(l57 O); outras alterações: dermatite solar, "pele de Iazenderro", ·pele de marinheiro" (l57.B)
10. "Cloracne" (l70.8)
11. ·Elaioconlose· ou "dermatite folicular· (l72 8)
12. Outras formas de hiperpíqmentaçâc pela mela nina ·melanodermia· (l8IA)
13. leucodermia, não clauificada em outra pane (inclui ·vitiligo ccupacicnal") (lBI.S)
14. Ulcera crõnica da pele, não classificada em outra pane (l98.4)
15. Geladura (Frostb,te) superficial: eritema pérnlo (T33) (frio)
16. Geladura (Frostbite) com neuose de tecidos (T34) (frio)
182 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 21.3 - Lista B: doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho (grupo I da CID-lO)
DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPAOONAL
I. Tuberculose (AI5-AI9.-) Exposiçilo ocupadonal ao Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch) ou Mycobacterium bovis. em
atlvidades em laboratórios de biologia e atividades realizadas por pessoal de saúde. que propiciam
contato direto com produtos contaminados ou com doentes. cujos' exames bacteriológicos silo positivos
(Z57.8) (Quadro XXV)
Hipersuscetibllidade do trabalhador exposto a poeiras de sUica (silicotuberculose) (J65.-)

II. Carbúnculo (A22.-) Zoonose causada pela exposição ocupacional ao Bacillus anthracis, em atividades 'suscetlveis de colocar os
trabalhadores em conta to direto com animais infectados ou com cadáveres dessesanimais; trabalhos
artesanais ou industriais com pêlos. pele, couro ou IA (Z57.8) (Quadro XXV)

III. Brucelose (A23.-) Zoonose causada pela exposição ocupacional a Brucel/a melitensis. B. abortus, B. suis, B. canis, etc., em
atlvidades em abatedouros. frigorlficos, manipulação de produtos de carne; ordenha e fabricaçilo de
latlclnios e atlvldades assemelhadas (Z57.8) (Quadro XXV) .

IV. Leptospirose (A27.-) Exposiçilo ocupacional a Leptospira icterohaemorrhagiae (e outras espécies), em trabalhos expondo ao
contato direto com águas sujas, ou efetuado em loca Is suscetlveis de serem sujos por dejetos de animais
portadores de germes; trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, galerias, esgotos em locais
subterrâneos; trabalhos em cursos d'água; trabalhos de drenagem; contato com roedores; trabalhos com
animais domésticos e com gado; preparaçilo de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios etc.
(Z57.8) (Quadro XXV) •

V. Tétano (A35.-) Exposiçilo ao Clostridium tetani, em circunstAncias de acidentes do trabalho na agricultura, na construção
civil. na indústria ou em acidentes de trajeto (Z57.8) (Quadro XXV)

VI. Psltacose, ornitose, Zoonoses causadas pela expcslção ocupacional a Chlamydia psittaci ou Chlamydia pneumoniae. em
doença dos tratadores trabalhos em criadouros de aves ou pássaros. atividades de Veterinária, em zoológicos e em laboratórios
de aves (A70.-) biológicos, etc. (Z57.8) (Quadro XXV)

VII. Dengue (dengue clássica) Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypt,) transmissor do arbovlrus da dengue, principalmente
(A90.-) em atlvldades em zonas endémicas, em trabalhos de saúde pública e em trabalhos de laboratórios de
pesquisa. entre outros (Z57.8) (Qujldro XXV) •
VIII. Febre amarela (A95.-) Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegyptl), transmissor do arbovlrus da febre amarela,
principalmente em atividades em zonas endémicas, em trabalhos de saúde pública, e em trabalhos de
laboratórios de pesquisa, entre outros (Z57.8) (Quadro XXV)

IX. Hepatites virais (815-819.-) Exposição ocupacional ao vlrus da hepatite A (HAV); vírus da hepatite 8 (H8V); vírus da hepatite C (HCV);
vlrus da hepatite D (HDV); vírus'da hepatite E (HEV), em trabalhos envolvendo manipulação,
acondicionamento ou emprego de sangue humano ou de seus derivados; trabalho com ·águas usadas· e
esgotos; trabalhos em contato com materiais provenientes de doentes ou objetos contaminados por eles.
(Z57.8) (Quadro XXV)

X. Doença pelo vírus da •


Exposição ocupacional ao vlrus da imunodeficiência humana (HIV), principalmente em trabalhadores da
imunodeficiéncia humana saúde, em decorrência de acidentes pérfuro-cortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado,
(HIV) (820-824.-) e na manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados e contato com
materiais provenientes de pacientes infectados (ZS7.8) (Quadro XXV)

XI. Dermatofitose (835.-) e Exposição ocupacional a fungos do género Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton, em trabalhos em
outras micoses condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, ginásios, piscinas) e outras sttuações especificas de
superficiais (836.-) éxposiçilo ocupacional (Z57.8) (Quadro)(XV)

XII. Candidlase (B37.-) Exposição ocupacional a 'Candida albicans•.Candida glabrata. etc.• em trabalhos que requerem longas
imersões das mães em água e irritação mecânica das mãos, tais como trabalhadores de limpeza,
lavadeiras, cozinheiras, entre outros (Z57.8) (Quadro XXV)

XIII. Paracoccidioidomicose Exposição ocupacional ao Paracoccidioides brasiliensis, principalmente em trabalhos agrlcolas ou florestais e
(blastomicose em zonas endémicas (Z57.8) (Quadro XXV)
sul-americana.
blastomicose brasileira.
doença de Lutz) (841.-)

XIV. Malária (850-854.-) Exposição ocupacional ao Plasmodium ma/ariae; Plasmodium vivax; Plasmodium fa/ciparum ou outros
protozoários, especialmente em atividades de mineração, construção de barragens ou rodovias, em
extração de petróleo e outras atividades que obrigam a entrada dos trabalhadores em'zcnas endémicas
(Z57.8) (Quadro XXV)

XV. Leishmaniose cutânea Exposição ocupacional a Leishmania braziliensis, principalmente em trabalhos agrlcolas ou florestais e em
(855.1) ou leishmaniose zonas endémicas e outras situações especificas de exposição ocupacional (Z57.8) (Quadro XXV)
cutaneomucosa (855.2)

85·7241-598·X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 183

~ TABELA 21.4 - Neoplaslas (tumores) relacionados com o trabalho (grupo II da (10-10)

;!, DOENÇAS AGENTESETIOlÓGICOS OU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAl


'7
~ I. Neoplasla maligna do Asbesto ou amianto (X49.-; Z57.2) (Quadro II)
estõmago (CI6.-)

II. Anglossarcoma do frgado 1. Arsênio e seus compostos arsenlcais (X48.-; X49.-; Z57.5) (Quadro I)
(C22.3) 2. Cloreto de vinila (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)

III. Neoplasia maligna do 1. Cloreto de vinila (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)


pâncreas (C25.-) 2. Eplcloridrina (X49.-; Z57.5)
3. Hidrocarbonetos aliWitos e aromáticos na industria do petróleo (X46.-; Z57.5)

IV. Neoplasia maligna da 1. Radiações ionizantes (W88.-; Z57_1) (Quadro XXIV)


cavidade nasal e dos 2. Niquei e seus compostos (X49.-; Z57.5)
seios paranasais 3. Poeiras de madeira e outras poeiras orgánicas da indústria do mobiliário (X49.-; ZS7.2)
(C30-C31.-) 4. Poeiras da indústria do couro (X49.-; Z57.2)
5. Poeiras orgãnicas (na indústria têxtil e em padarias) (X49.-; Z57.2)
6. Indústria do petróleo (X46.-; Z57.5)

V. Neoplasia maligna da Asbesto ou amianto (Z57.2) (Quadro II)


laringe «(32.-)

VI. Neoplasia maligna dos 1. Arsênio e seus compostos arsenicais (X48.-; X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
brônquios e do pulmão 2. Asbesto ou amianto (X49.-; ZS7.2) (Quadro II)
«(34.-) 3. Berilio (X49.-; Z57.5) (Quadro IV)
4. Cádmio ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
5. Cromo e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro X)
6. Cloreto de vinila (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
7. Cloro meti I éteres (X49.-; Z57.5) (Quadro XIII)
8. Sílica-livre (Z57.2) (Quadro XVIII)
9. Alcatrão. breu. betume. hulha minerai. parafina e produtos de reslduos dessas substâncias (X49.-;
Z57.5) (Quadro XX)
10. Radiações ionizantes (W88.-; Z57 1) (Quadro XXIV)
11. Emissões de fornos de coque (X49.-; Z57.5)
12. Niquei e seus compostos (X49.-; Z57.5)
13. Acrílonnnla (X49.-; ZS7.5)
14. Indústria do alumlnio (fundições) (X49.-; Z57.5)
15. Neblinas de óleos minerais (Óleo de corte) (X49.-; Z57.5)
16. Fundições de metais (X49.-; Z57.5)

VII. Neoplasia maligna dos Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
ossose cartilagens
articulares dos membros
(inclui ·sarcoma ésseo")
(C40.-)

VIII. Outras neoplaslas 1. Arsênio e seus compostos arsenicais (X49.-; ZS7.4 e Z57.5) (Quadro I)
malignas da pele (C44.-) 2. Atcatrão, breu. betume. hulha minerai, parafina e produtos de reslduos dessas substancias causadores
de epiteliomas da pele (X49.-; Z57.5) (Quadro XX)
3. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
4. Radiações ultravioletas (W89; Z57.1)

IX. Mesotelioma (C45.-): Asbesto ou amianto (X49.-; Z57.2) (Quadro II)


mesotelloma da pleura
(C45.0).mesotelloma do
perltõnlo (C45.1) e
mesotclioma do
pericárdio (C45.2)

X. Neoplasla maligna da 1. Alcatrão,breu. betume. hulha mineral, parafina e produtos de resíduos dessas substancias (X49.-; Z57.5
bexiga (C67.-) (Quadro XX)
2. Aminas aromáticas e seus derivados (beta-naftitamlna, 2-cloroanilina, benzldina, c-totuldlna, 4-cloro-
ortotoluldína (X49.-; Z57.5)
3. Emissões de fornos de coque (X49 -; Z57.5)

XI. Leucemias (C91-C95.-) 1. Benzeno (X46.-; ZS7.5) (Quadro III)


2. Radiações ionizantes (W88.-; ZS7 1) (Quadro XXIV)
3. Óxido de etileno (X49.-; Z57.5)
4. Agentes antinecplasicos (X49.-; Z57.S)
5. Campos eletromagnéucos (W90.-; Z57.5)
6. AgrotÓxicos clorados (Clordane e Heptaclor) (X48.-; Z57.4)
184 • Tratado de Clínica Médica
~~. 7241·5lJX·X

TABELA 21.5 - Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos


C""l DOENÇAS
relacionadas com o trabalho (grupo III da CI0·10)

AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL


------
I. Sfndromes I. Benzeno (X46.·; Z57.5) (Quadro III)
mielodisplâsicas (046.·) 2. Radiações ionizantes (W88.·; Z57.1) (Quadro XXIV)
II. Outras anemias Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.·; Z57.5) (Quadro VIII)
decorrentes de
transtornos enzimáticos
(055.8)
III. Anemia hemolftica I. Derivados nitrados e aminados do benzeno (X46.·; Z57.5)
adquirida (059.2)
IV. Aplástica decorrente de 1. Benzeno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
outros agentes externos 2. Radiações ionizantes (W88.·) (Quadro XXIV)
(061.2)
V. Anemia aplástica não I. Benzeno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
especificada, anemia 2. Radiações ionizantes (W88.·; Z57.1) (Quadro XXIV)
hipoplástica SOE,
hipoplasia medular
(061.9)
VI. Anemia sideroblástica Chumbo ou seus compostos tóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro VIII)
secundária a toxinas
(inclui "anemia
hipocrómica, microcítica,
com reticulocitose")
(064.2)
VII. Púrpura e outras 1. Benzeno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
manifestações 2. Cloreto de vinila (X46.-) (Quadro XIII)
hemorrágicas (069.-) 3. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
VIII. Agranulocitose 1. Benzeno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
(neutropenia tóxica) 2. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
(070) 3. Derivados do fenol, pentadorofenol, hidroxibenzonitrilo (X49.·; XZ57.5)
IX. Outros transtornos I. Benzeno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
especificados dos 2. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
glóbulos brancos:
leucocitose, reação
leucemóide (072.8)
X. Meta-hemoglobinemia Aminas aromáticas e seus derivados (X49.·; Z57.5)
(074.-)

TABELA 21.6 - Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas relacionadas com o trabalho (grupo IV da CI0·10)
DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPAClONAL
I. Hlpotlreoidismo I. Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.·; Z57.5) (Quadro VIII)
decorren te de substâncias 2. Hidrocarbonetos halogenados (clorobenzeno e seus derivados) (X46.·; Z57.5) (Quadro XIII)
ex6genas (E03.·) 3. Tiuracil (X49.·; Z57.5)
4. Tiocinatos (X49.·; Z57.5)
5. Tiuréla (X49.·; Z57.5)
II. Outras porfirlas (E.80.2) Clorobenzeno e seus derivados (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)

TABELA 21.7 - Transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho (grupo V da CI0·10)

DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL


I. Demência em outras 1. Manganês (X49.·; Z57.5) (Quadro XV)
doenças especificas 2. Substâncias asfixiantes: CO, H,S etc. (seqüela) (X47.·; Z57.5) (Quadro XVII)
classificadas em outros 3. Sulfeto de carbono (X49.·; Z57.5) (Quadro XIX)
locais (F02.8)
II. Delirium, não 1. Brometo de metila (X46.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
sobreposto à demência, 2. Sulfeto de carbono (X49.·; Z57.5) (Quadro XIX)
como descrita (F05.0)
III. Outros transtornos 1. Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos (X46.·; Z57.5) (Quadro III)
mentais decorrentes 2. Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.·; Z57.5) (Quadro VIII)
de lesão e disfunção 3. Tricloroetileno. tetracloroetileno. tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxkos
cerebrais e de doença (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
física (F06.·): 4. Brometo de meti la (X46.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
transtorno cognitivo 5. Manganês e seus compostos tóxicos (X49.·; Z57.5) (Quadro XV)
leve (F06.7) (redaçào 6. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
dada pelo Decreto 7. Sulfeto de carbono (X49.·; Z57.5) (Quadro XIX)
n' 3.265, de 29111/99) 8. Outros solventes orgánicos neurotóxicos (X46.-; X49.-; Z57.5)
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 185

TABELA 21.7 - Transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho (grupo V da (10-10) (Continuação)

DOENÇAS AGENTESETIOlÓGICOS OU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPAClONAl

IV. Transtornos de 1. Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos (X46.·; Z57.5) (Quadro III)
personalidade e de 2. Tricloroetileno, tetracloroetileno,
tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos
comportamento (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
decorrentes de doença, 3. Brometo de metila (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
lesão e de disfunção 4. Manganês e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XV)
de personalidade 5. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
(F07.-): transtorno 6. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
orgânico de 7. Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-; Z57.5)
personalidade (F07.0);
outros transtornos de
personalidade e de
comportamento
decorrentes do doença,
lesão ou disfunção
cerebral (F07.8)

V. Transtorno mental 1. Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
orgânico ou 2. Tricloroetileno, Tetracloroetileno, Tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos
sintomático nêo (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
especificado (F09.-) 3. Brometo de meti la (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
4. Manganes e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XV)
5. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
6. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
7. Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-; Z57.5)

VI. Transtornos mentais e 1. Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego: condições dificeis de trabalho (Z56.5)
comportamentais 2. Circunstância relativa às condiçôes de trabalho (Y96)
decorrentes do uso do
álcool: alcoolismo
crónico (relacionado
com o trabalho)
(Fl0.2)

VII. Episódios depressivos 1. Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
(m.-) 2. Tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos
(X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
3. Brometo de meti la (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
4. Manganês e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XV)
5. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
6. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
7. Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-; Z57.5)

VIII. Reaçôesao estresse t. Outras dificuldades fisicas e mentais relacionadas com o trabalho: reação após acidente do trabalho
grave e transtornos de grave ou catastrófico, ou após assalto no trabalho (Z56.6)
adaptação (F43.-): 2. Circunstância relativa às condições de trabalho (Y96)
estado de estresse
pós-traumático (F43.I)

IX. Neurastenia (inclui 1. Tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
"síndrome de fadiga") 2. Tricloroetileno. tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados (X46.-; Z57.5)
(F48.0) (Quadro XIII)
3. Brometo de metila (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
4. Manganês e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XV)
5. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
6. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
7. Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-; Z57.5)

X. Outros transtornos 1. Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego (Z56.-): desemprego (Z56.0); mudança de
neuróticos emprego (Z56.1); ameaça de perda de emprego (Z56.2); ritmo de trabalho penoso (Z56.3); desacordo
especificados (inclui com patrão e colegas dê trabalho (condições dificeis de trabalho) (Z56.5); outras dificuldades físicas
"neurose profissional") e mentais relacionadas com o trabalho ·(Z56.6)
(F48.8)

XI. Transtorno do ciclo 1. Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego: má adaptação à organização do horário
vigllia-sono em razêo de trabalho (trabalho em turnos ou trabalho noturno) (Z56.6)
de fatores 2. Circunstância relativa às condições de trabalho (Y96)
não orgânicos (F51.2)
XII. Sensaçãode estar t. Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
acabado ("sindrome 2. Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho (Z56.6)
de bum-out".
"sindrome do
esgotamento

85-7241-5()~·X
186 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 21.8 - Doenças do sistema nervoso relacionadas com o trabalho (grupo VI da CID-10)
C"'\ DOENÇAS AGENTESETIOlÓGICOSOU FATORESOERISCODE NATUREZAOCUPACIONAl
O Ataxia cerebelosa (Gll.l) Mercúrio e seuscompostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
1<
Ü' II. Parkisonismo secundário decorrente Manganês e seuscompostos tóxicos (X49.-; ZS7.5) (Quadro XV)
u.l
V,) de outros agentes externos (G21.2)
III. Outras formas especificadas de 1. Brometo de metila (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
tremor (G25.2) 2. Tetracloroetano (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
3. Mercúrio e seuscompostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
4. Outros solventes orgânicos neurotóxicos (X46.-; X49.-; Z57.5)
IV. Transtorno extrapiramidal do 1. Mercúrio e seuscompostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
movimento não especificado (G25.9) 2. Cloreto de metileno (diclorometano) e outros solventes halogenados neurotóxicos
(X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
V. Distúrbios do ciclo vigilia-sono (G47.2) Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego: má adaptação à organização
do horário de trabalho (trabalho em turnos ou trabalho noturno) (Z56.6)
VI. Transtornos do nervo trlgêmeo (G50.-) 1. Tricloroetileno e outros solventes halogenados neurotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
VII. Transtornos do nervo olfatório (G52.0) 1. Cádmio ou seuscompostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
(inclui "anosmia") 2. Sulfeto de hidrogênio (X49.-; Z57.5) (Quadro XVII)
VIII. Transtornos do plexo braquial (sindrome Posiçõesforçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
da sarda do tórax, síndrome do
desfiladeiro torácico) (G54.0)
IX. Mononeuropatias dos membros superiores Posiçõesforçadas e gestos repetitivos (ZS7.8)
(G56.-): sindrome do túnel do carpo
(G56.0); outras lesões do nervo mediano:
síndrome do pronador redondo
(G56.1); síndrome do canal de Guyon (G56.2);
lesão do nervo cubital (ulnar): síndrome do
túnel cubital (G56.2); lesão do nervo radial
(G56.3); outras mononeuropatias dos
membros superiores: compressão do nervo
supra-escapular (G56.8)
X. Mononeuropatlas do membro inferior Posiçõesforçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(G57.-): lesão do nervo popliteo lateral
(GS7.3)
XI. Polineuropatia decorrente de outros 1. Arsênio e seuscompostos arsenlcais (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
agentes tóxicos (G62.2) 2. Chumbo e seuscompostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
3. Fósforo (X48.-; X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XII)
4. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
5. N-hexano (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII).
6. Metil-n-butil cetona (MBK) (X46.-; Z57.5)
XII. Polineuropatia induzida pela radiação Radiaçõesionizantes (X88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
(G62.8)
XIII. Encefalopatia tóxica aguda (G92.1) 1. Arsênio e seuscompostos arsenicais (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
2. Chumbo e seuscompostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
3. Hidrocarbonetos alifáticos ou aromáticos (seus derivados halogenados neurotóxicos)
(X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
4. Mercúrio e seusderivados tóxicos (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XVI)
XIV. Encefalopatia tóxica crónica (G92.2) 1. Tolueno e xileno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
2. Chumbo e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
3. Solventes orgânicos halogenados neurotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
4. Mercúrio e seuscompostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XVI).
5. Substânciasasfixiantes: CO, H}Setc. (seqüela) (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)
6. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)

TABELA 21_9 - Doenças do olho e anexos relacionadas com o trabalho (grupo VII da CID-10)
DOENÇAS AGENTESETIOlÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAl
I. Blefarite (HO1.0) 1. Arsênio e seuscompostos arsenicais (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
2. Radiaçõesionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
3. Cimento (X49.-; Z57.2)
II. Conjuntivite (H1O) 1. Arsénio e seuscompostos arsenicais (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
2. Berilio e seuscompostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro IV)
3. Flúor e seus compostos tóxicos (X49.-) (Quadro XI)
4. Iodo (X49.-; Z57.5) (Quadro XIV)
5. Cloreto de etila (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 187

x ------------------------------------------------------------------------------------------------
~ TABELA 21.9 - Doenças do olho e anexos relacionadas com o trabalho (grupo VII da CID-10) (Continuação)
~ AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESOE RISCOOE NATUREZAOCUPACIONAL
~ DOENÇAS
....;.. 6. Tetracloreto de carbono (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
00
7. Outros solventes halogenados tóxicos (X46.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
8. Ácido sulfídrico (sulfeto de hidrogénio) (X49.·; Z57.S) (Quadro XVII)
9. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
10. Radiações ultravioletas (W89; ZS7.1)
11. Acrilatos (X49.-; Z57.5)
12. Cimento (X49.·; Z57.2)
13. Enzimas de origem animal, vegetal ou bacteriana (X44.-; Z57.2)
14. Furfural e álcool furfurflico (X45.-; Z57.5)
IS. Isocianatos orgânicos (X49.-; Z57.5)
16. Selénio e seus compostos (X49.-; Z57.5)
III. Queratite e queratoconjuntivite (HI6) 1. Arsénio e seus compostos arsenicals (X49.-; ZS7.4 e ZS7.5) (Quadro I)
2. Ácido sulfídrlco (sulfeto de hidrogénio) (X49.-; Z57.5) (Quadro XVII)
3. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
4. Radiações infravermelhas (W90.·; Z57.1)
5. Radiações ultravioletas (W89.-; ZS7.1)
IV. Catarata (H28) 1. Radiações ionizantes (W88.·; Z57.1) (Quadro XXIV)
2_ Radiações infravermelhas (W90.-; ZS7.1)
V. Inflamação coriorretiniana (H30) Manganes e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XV)
VI. Neurite óptica (H46) 1. Brometo de metila (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
2. Cloreto de metileno (diclorometano) e outros solventes clorados neurotóxicos (X46.-; Z57.5)
(Quadro XIII)
3. Tetracloreto de carbono (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
4. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
5. Metanol (X45.-; Z57.5)
VII. Distúrbios visuais subjetivos (H53.') 1. Brometo de meti la (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
2. Cloreto de metileno e outros solventes clorados neurotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)

TABELA 21.10 - Doenças do ouvido relacionadas com o trabalho (grupo VIII da CID-10)

DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCOOE NATUREZAOCUPACIONAL


I. Otite média não supurativa (H65.9) t. "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
2. Pressão atmosférica inferior à pressão padrão (W94.-; Z57.8)
II Perfuraçao da membrana do tímpano t. "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
(H72 ou 509.2) 2. Pressào atmosférica inferior à pressão padrão (W94.-; Z57.8)
III. Outras vertigens periféricas (H81.3) Cloreto de metileno e outros solventes halogenados tóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
IV. Labirlntite (H83.0) 1. Brometo de metila (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
2. "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
V. Efeitos do ruído sobre o ouvido Exposição ocupacional ao ruldo (Z57.0; W42.-) (Quadro XXI)
interno/perda da audição provocada
pelo ruído e trauma acústico (H83.3)
VI. Hipoacusia ototóxica (H91.0) 1. Homólogos do benzeno otoneurotóxicos (tolueno e xileno) (X46.·; Z57.5) (Quadro III)
2. Solventes orqãmcos otoneurotóxicos (X46.-; Z57.8) (Quadro XIII)

VII. Otalgla e secreção auditiva (H92.-): "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
otalgia (H92.0), otorréia (H92.1) ou
otorragia (H92.2)
VIII. Outras percepções auditivas anormais: Exposição ocupacional ao ruído (Z57.0; X42.-) (Quadro XXI)
alteração temporária do limiar
auditivo, comprometimento da
discriminação auditiva e hiperacusia
(H93.2)
IX. Outros transtornos especificados do 1. Brometo de meti la (X46:-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
ouvido (H93.8) 2. "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
X. Otite barotraumática (T70.0) 1. "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
2. Alterações na pressão atmosférica ou na pressão da água no ambiente (W94.-; Z57.8)
XI. Sinusite barotraumática (T70.1) I. "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
2. Alterações na pressão atmosférica ou na pressão da água no ambiente (W94.-)
XII. "Mal dos caixões" (doença de 1. "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
descompressão) (T70.4) 2. Alterações na pressão atmosférica ou na pressão da água no ambiente (W94.-; Z57.8)
XIII. Síndrome decorrente do deslocamento I. •Ar comprimido' (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)
de ar de uma explosão (T70.8) 2. Alterações na pressão atmosférica ou na pressão da água no ambiente (W94.-; Z57.8)
188 • Tratado de Clínica Médica

TABELA21.11 - Doenças do sistema circulatório relacionadas com o trabalho (grupo IX da CID-10)

DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL


I. Hipertensão arterial (110.-) 1. Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
2. Exposição ocupacional ao ruído (Z57.0; X42.·) (Quadro XXI)
3. Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego (Z56.·)

II. Angina pectoris (120.-) 1. Monóxido de carbono (X47.·; Z57.5) (Quadro XVII)
2. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
3. Nitroglicerina e outros ésteres do ácido nitrico (X49.-; Z57.5)
4. Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego (Z56.-)

III. Infarto agudo do miocárdio (121.-) 1. Monóxido de carbono (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)
2. Sulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
3. Nitroglicerina e outros ésteres do ácido nítrico (X49.-; Z57.5)
4. Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego (Z56.-)

IV. Cor pulmonale SOEou doença Complicação evolutiva das pneumoconioses graves, principalmente silicose (Z57.2)
cardiopulmonar crónica (127.9) (Quadro XVIII)

V. Placas epicárdicas ou pericárdicas (134.8) Asbesto ou amianto (W83.·; Z57.2) (Quadro II)

VI. Parada cardiaca (146.-) 1. Derivados halogenados dos hidrocarbonetos alifáticos (X46.-) (Quadro XIII)
2. Monóxido de carbono (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)
3. Outros agentes potencialmente causadores de arritmia cardiaca (Z57.5)

VII. Arritmias cardiacas (149.-) 1. Arsenio e seus compostos arsenicais (X49.-; Z57.5) (Quadro I)
2. Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
3. Derivados halogenados dos hidrocarbonetos alifáticos (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
4. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XVI)
5. Monóxido de carbono (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)
6. Agrotóxicos organofosforados e carbamatos (X48; Z57.4) (Quadros XII e XXVII)
7. Exposição ocupacional a cobalto (X49.-; Z57.5)
8. Nitroglicerina e outros ésteres do ácido nítrico (X49.-; Z57.5)
9. Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego (Z56.-)

VIII. Ateroesclerose (170.-) e doença 5ulfeto de carbono (X49.-; Z57.5) (Quadro XIX)
ateroesc!erótica do coração (125.1)
IX. Síndrome de Raynaud (173.0) 1. Cloreto de vinila (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
2. Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
3. Trabalho em baixas temperaturas (frio) (W93.-; Z57.6)

X. Acrocianose e acroparestesia (173.8) 1. Cloreto de vinila (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)


2. Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
3. Trabalho em baixas temperaturas (frio) (W93.-; Z57.6) ee
--------------------------------------------------~----------~--~--~------------------------
~
... I~

------------------------------------------------------------------------------------------------
TABELA21.12 - Doenças do sistema respiratório relacionadas com o trabalho (grupo X da ClD-10)
~
o:
X
DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL

I. Faringite aguda, não 1. 8romo (X49.-; Z57.5) (Quadro V)


especificada (" angina 2. Iodo (X49.-; Z57.5) (Quadro XIV)
aguda", "dor de
garganta") (J02.9)
II. Laringotraqueite 1. Bromo (X49.-; Z57.5) (Quadro V)
aguda (J04.2) 2. Iodo (X49.-; Z57.5) (Quadro XIV)

III. Outras rinites alérgicas 1. Carbonetos metálicos de tungstênio sinterizados (X49.-; Z57.2 e Z57.5) (Quadro VII)
(J30.3) 2. Cromo e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro X)
3. Poeiras de algodão, linho, cânhamo ou sisai (Z57.2) (Quadro XXVI)
4. Acrilatos (X49.-; Z57.5)
5. Aldeído fórmico e seus'polímeros (X49.-;.Z57.5)
6. Aminas aromáticas e seus derivados (X49.-; Z57.5)
7. Anidrido ftálico (X49.-; Z57.5)
8. Azodicarbonamida (X49.-; Z57.5)
9. Carbetos de metais duros: cobalto e titânio (Z57.2)
10. Enzimas de origem animal, vegetal ou bacteriano (X44.-; Z57.3)
11. Furfural e álcool furfurílico (X45.-; Z57.5)
12. Isocianatos orgânicos (X49.·; Z57.5)
13. Niquei e seus compostos (X49.-; Z57.5)
14. Pentóxido de vanádio (X49.-; Z57.5)
15. Produtos da pirólise de plásticos, cloreto de vinil a, teflon (X49.-; Z57.5)
Saúde no Trabalho e MeIo Ambiente • 189

TABELA 21.12 - Ooen~as do sistema respiratório relacionadas com o trabalho (grupo X da CI0·10) (Continuação)

DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOS
OU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPAOONAl
16, Sulfitos, bissulfitos e persulfatos (X49.-; Z57.5)
17, Medicamentos: macrólldos; ranetidina; penicilina e seus sais;cefalosporonas (X44 -, 257.3)
18, Proteinas animais em aerossóis(Z57.3)
19, Outras substancias de origem vegetal (cereais. farinhas. serragem, etc.) (257 2)
20, Outras substâncias qulmicas sensibilizantes da pele e das vias respiratorias (X49.-; 257 2) (Quadro XXVII)
IV. RlOltecrOnica(J31,O) 1. ArsOnlco e seus compcstos arsemcais (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
2. Cloro gasoso (X47.-; Z57.5) (Quadro IX)
3. Cromo e seuscompostos tÓXICOS (X49.·) (Quadro X)
4, Gásde flúor e fluoreto de h,drogento (X47 -; Z57.5) (Quadro XI)
5. Amónia (X47 -; Z57.5)
6. Anldrodo sulfuroso (X49 ,Z57.5)
7 Cimento (Z57 2)
8, Fenol e homologos (X46 -: Z57,5)
9 Névoas de ~cidos minerais (X47 " Z57.5)
10 Niquei e seuscompostos (X49 , Z57 5)
11 Sel~nlo e seuscompostos (X49 " 257.5)
V, Faringite crOnica Bromo (X49 ,Z57 5) (Quadro V)
(J31,2)
VI. SinusitecrOnica (J32.-) 1 8romo (X49 '. Z57 5) (Quadro V)
2 lodo (X49 • Z57.5) (Quadro XIV)
VII. ukeraçãc ou necrose 1 ArsêniO e seuscompostos arsenoc IS(X49 ', Z57 4 e Z57 5) (Quadro I)
do septo nasal (J34,0) 2 C~dmlo ou seuscompostos (X49 Z57 5) (Quadro VI)
3 Cromo e seuscompostos tÓXICOS (X49.·, Z57 5) (Quadro X)
4 Soluções e aeoreuóls de ~cido cl,]nfdroco e seusderivados (X47.-; Z57,5) (Quadro XVII)
VIII. Perfuração do septo 1. ArsênIO e seuscompostos arsentcais (X49 .• Z57 4 e Z57.5) (Quadro I)
nasal (134.S) 2. Cromo e seuscompostos tóxicos (X49 ,Z57 5) (Quadro X)
IX Laringotraquelte 1. Bromo (X49.-; Z57 5) (Quadro V)
crónica (137.1)
X Outras doenças 1. Cloro gasoso (X47.•• ZS75) (Quadro IX)
pulmonares obstrutivas 2. ExposJçlloocupacJonal à poe",] de sillca livre (Z57 2·) (Quadro XVIII)
«õmcas (incluem: 3. Exposiçãoocupacional a poeiras de algod",o, linho, cânhamo ou sisai (Z57,2) (Quadro XXVI)
"asma obsuuuva", 4. Amónia (X49.-; Z57 5)
"bronquite crômca", S. Anidrido sulfuroso (X49.-, Z57.5)
"bronqUIte asmauu-, 6. Névoas e aerossóis de ácidos minerais (XII7.-; Z57.5)
"bronquIte obstrutIVa 7_ Exposição ocupacional a poeiras de carvão minerai (Z57,2)
crõno<a")044 .)
XI Asma (J45-) Mesma lista das substâncias sensibilizantes produtoras de rlnlte alérgica (X49 -; Z57 2. Z57 4 e Z57 5)
XII Pneumoconlosedos 1. Exposição ocupacional a poeiras de carvão minerai (Z57,2)
trabalhadores do 2. Exposição ocupacional a poeiras de sílica livre (Z57.2) (Ouadro XVIII)
carvão (J60,·)
XIII Pneumoconlosedevida Exposição ocupadonal a poeiras de asbesto ou amianto (Z57.2) (Quadro II)
ao asbesto(asbestose)
e a outras flbrB\
mIneraIs(J61 )
XIV PneumoconlosedeVIda Exposiçllo ocupacional a poeiras de sílica livre (Z57.2) (Quadro XVIII)
• poe"a de slllca
li !Icose)(J628)
XV Benhose(J63 2) Exposlçao ocupacional a poeiras de berílio e seuscompostos tóxicos (Z57 2) (Quadro IV)
XVI Slderose(J634) Exposlç/lo ocupacional a poeiras de ferro (Z57.2)
XVII Estanhose(J63 5) Exposiç30ocupacional a poeiras de estanho (Z57.2)
XVIII Pneumoconiose 1, txposlcão ocupadonal a poeiras de carboneto de tungsténio (257 2) (Quadro VII)
deconente ii cutras 2, Exposlçao ocupaclonal a poeiras de carbetos de metais duros (cobalto, tlt.1nlo, etc.) a57 2)
poeiras lOorg4nlclls 3, ExposlçAoocupacional à rocha fosfática rZS72)
especificadas(J63.8) 4, ExposlçAOocupaclonal a poeiras de atumma (AJ203) ("doença de Shaver") (Z57 2)
XIX, Pneumoconloseassociado Exposlçllo ocupacional a poeiras de sihca livre (257.2) (Quadro XVIII)
com tuberculose("slllco
tuberculose") (J65. )
XX. Doençasdas vias aéreas Exposlç30ocupaclonal a poeiras de aI90d~0. linho, cãnhamo. sisai (ZS7.2) (Quadro XXVI)
devidas 11 poeiras org<\
nicas(J66,-); blsslnose
(J66.0),devidas ii outras
poeiras org3nicas
especificadas(J66.B)
(Continua)
190 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 21.12 - Doenças do sistema respiratório relacionadas com o trabalho (grupo X da (10-10) (Continuação)

DOENÇAS AGENTESETIOlÓGICOS OU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL


O
,< XXI. Pneumonite por hipersensibilidade ii poeira
org3nica (J67.-): pulmão do granjeiro (ou
1. Exposição ocupacional a poeiras contendo microrganismos e parasitas
infecciosos vivos e seus produtos tóxicos (Z57.2) (Quadro XXV)
Ü'
tLl pulmlio do fazendeiro) (J67.0); bagaçose 2. Exposição ocupacional a outras poeiras orgânicas (Z57.2)
<Zl (J67.1); pulmão dos criadores de pássaros
(J67.2); suberose (J67.3); pulmão dos
trabalhadores de malte (J67.4); pulmão dos
que trabalham com cogumelos (J67_5);
doença pulmonar decorrente de sistemas
de ar condicionado e de umidificação do ar
(J67.7); pneumonites de hipersensibilidade
em razão de outras poeiras orqânicas
(J67.8); pneumonlte de hipersensibilidade por
causa de poeira orgânica não especificada
(alveolite alérgica extrínseca SOE; pneumonite
de hipersensibilidade SOE(J67.0)
XXII. Bronquite e pneumonite em conseqüéncia de 1. Berílio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro IV)
produtos químicos, gases, fumaças e vapores 2. Bromo (X49.-; Z57_5) (Quadro V)
("bronquite química aguda") (J68.0) 3. Cádmio ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
4. Gás cloro (X47.-; Z57.5) (Quadro IX)
5. Flúor ou seus compostos tóxicos (X47.-; Z57.5) (Quadro XI)
6. Solventes halogenados irritantes respiratórios (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
7. lodo (X49.-; Z57.5) (Quadro XIV)
8. Manganês e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XV)
9. Cianeto de hidrogénio (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)

XXIII. Edema pulmonar agudo decorrente de 1. Berílio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro IV)
produtos químicos, gases, fumaças e vapores 2. Bromo (X49.-; Z57.5) (Quadro V)
(edema pulmonar químico) (J68.1) 3. Cádmio ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
4. Gás cloro (X47.-; Z57.5) (Quadro IX)
5. Flúor e seus compostos (X47.-; Z57.5) (Quadro XI)
6. Solventes halogenados irritantes respiratórios (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
7. lodo (X49.-; Z57.5) (Quadro XIV)
8. Cianeto de hidrogénio (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)

XXIV. Síndrome de disfunção reativa das vias aéreas 1. Bromo (X49.-; Z57.5) (Quadro V)
(SDRVAlRADS)(J68.3) 2. Cádmio ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
3. Gás cloro (X47.-; Z57.5) (Quadro IX)
4. Solventes halogenados irritantes respiratórios (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
5. lodo (X49.-; Z57.5) (Quadro XIV)
6. Cianeto de hidrogénio (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)
7. Amónia (X49.-; Z57.5)
XXV. Afecções respiratórias crónicas devidas à 1. Arsénico e seus compostos arsenicais (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
inalação de gases, fumos, vapores e 2. Berilio e seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro IV)
substancias químicas: bronquiolite obliterante 3. Bromo (X49.-; Z57.5) (Quadro V)
crónica, enfisema crónico difuso, fibrose 4. Cádmio ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
pulmonar crOnica (J68.4) 5. Gás Cloro (X47.-; Z57.5) (Quadro IX)
6. Flúor e seus compostos (X47.-; Z57.5) (Quadro XI)
7. Solventes halogenados irritantes respiratórios (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
8. Iodo (X49.-; Z57.5) (Quadro XIV)
9. Manganés e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XV)
10. Cianeto de hidrogénio (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)
11. Ácido sulffdrico (sulíeto de hidrogénio) (X47.-; Z57.5) (Quadro XVII)
12. Carbetos de metais duros (X49.-; Z57.5)
13_ Amõnia (X49.-; Z57.5)
14. Anidrido sulfuroso (X49.-; Z57.5)
15. N~voas e aerossóis de ácidos minerais (X47.-; Z57.5)
16. Acrilatos (X49.-; Z57.5)
17. Selênio e seus compostos (X49.-; Z57.5)

XXVI. Pneumonite por radiação (manifestação Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
aguda) (J70.0) e fibrose pulmonar
conseqüente à radiação (manifestação
crónica) (J70.1)
XXVII. Derrame pleural (J90.-) Exposição ocupacíonal a poeiras de asbesto ou amianto (Z57.2) (Quadro II)
XXVIII. Placas pleura is (J92_-) Exposição ocupacional a poeiras de asbesto ou amianto (Z57.2) (Quadro II)

XXIX. Enfisema intersticial (J98.2) Cádmio ou seus compostos (X49_-; Z57.5) (Quadro VI)

XXX. Transtornos respiratórios em outras doenças 1. Exposição ocupacional a poeiras de carvão mineral (Z57.2)
sistémicas do tecido conjuntivo classificadas 2. Exposição ocupacional a poeiras de silica livre (Z57.2) (Quadro XVIII)
em outra parte (M05.3): "síndrome de
Caplan° (J99.1)

85-7241-598-X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente I 191

TABELA 21.13 - Doenças do sistema digestivo relacionadas com o trabalho (grupo XI da (10-10)

DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL


Erosão dentária (K03.2) 1. Névoas de fluoretos ou seus compostos tóxicos (X47.-; Z57.5) (Quadro XI)
2. Exposição ocupacional a outras névoas ácidas (X47.-; Z57.5)

II. Alterações pós-eruptivas da cor dos tecidos duros 1. Névoas de cádmio ou seus compostos (X47.-; Z57.5) (Quadro VI)
dos dentes (K03.7) 2. Exposição ocupacional a metais: cobre, niquei, prata (X47.-; Z57.5)

III. Gengivite crónica (KOS.l) Mercurio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XVI)

IV. Estomatite ulcerativa crónica (K12.1) 1. Arsênio e seus compostos arsenicais (X49.-; Z57.5) (Quadro I)
2. Bromo (X49.-; Z57.5) (Quadro XII)
3. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XVI)
V. Gastroenterite e colite tóxicas (K52.-) 1. Arsênio e seus compostos arsenicais (X49.-; Z57.5) (Quadro I)
2. Cádmio ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
3. Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
VI. Outros transtornos funcionais do intestino Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
(·sindrome dolorosa abdominal paroxística apirética.
com estado suboclusivo - "cólica do chumbo") (K59.8)

VII. Doença tóxica do fígado (K71.·): doença tóxica do 1. Cloreto de vinila, clorobenzeno, tetracloreto de carbono, clorofórmio e
ligado com necrose hepática (K71.1); doença outros solventes halogenados hepatotóxicos (X46.- e X48.-; Z57.4 e
tóxica do figado com hepatite aguda (K71.2); Z57.5) (Quadro XIII)
doença tóxica do figado com hepatite crõnica 2. Hexaclorobenzeno (HCB) (X48.-; Z57.4 e Z57.5)
persistente (K71.3); doença tóxica do figado 3. Bifenilas policloradas (PCB) (X49.-; Z57.4 e Z57.5)
com outros transtornos hepáticos (K71.8) 4. Tetraclorodibenzodioxina (TCoO) (X49.-)

VIII. Hipertensão portal (K76.6) 1. Arsenio e seus compostos arsenicais (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
2. Cloreto de vinila (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
3. Tório (X49.-; Z57.5)

TABELA 21.14 - Doenças da pele e do tecido subcutâneo relacionadas com o trabalho (grupo XII da CID-lO)

DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPAClONAL


Outras infecções locais da pele e do tecido 1. Cromo e seus compostos tóxicos (Z57.5) (Quadro X)
subcutâneo: "dermatoses papulopustulosas 2. Hidrocarbonetos alifáticos ou aromáticos (seus derivados tóxicos) (Z57.5)
e suas complicações infecciosas" (L08.9) (Quadro XIII)
3. Microrganismos e parasitas infecciosos vivos e seus produtos tóxicos (Z57.5)
(Quadro XXV)
4. Outros agentes químicos ou biológicos que afetem a pele, não considerados em
outras rubricas (Z57.5) (Quadro XXVII)
II. Oermatite alérgica de contato em decorrência 1. Cromo e seus compostos tóxicos (Z57.5) (Quadro X)
de metais (L23.0) 2. Mercúrio e seus compostos tóxicos (Z57.5) (Quadro XVI)

III. Oermatite alérgica de contato por causa de Adesivos, em exposlção ocupaclonal (Z57.5) (Quadro XXVII)
adesivos (L23.1)
IV. Oermatite alérgica de contato em razão de Fabricaçllo/manipulação de cosméticos (Z57.5) (Quadro XXVII)
cosméticos (tabdcaçãormanlpulação) (L23.2)

V. Oermatite alérgica de contato decorrente de Drogas em exposição ocupacional (Z57.5) (Quadro XXVII)
drogas em conta to com a pele (L23.3)
VI. Oermatite alérgica de conta to por causa de Corantes em exposição ocupacional (Z57.5) (Quadro XXVII)
corantes (L23.4)

VII. Oermatite alérgica de cantata em decorrência 1. Cromo e seus compostos tóxicos (Z57.5) (Quadro X)
de outros produtos químicos (L23.5) 2. Fósforo ou seus produtos tóxicos (Z57.5) (Quadro XII)
3. Iodo (Z57.5) (Quadro XIV)
4. Alcatrão, breu, betume, hulha mineral, parafina ou resfduos dessas substâncias
(Z57.8) (Quadro XX)
5. Borracha (Z57.8) (Quadro XXVII)
6. Inseticidas (Z57.5) (Quadro XXVII)
7. Plásticos (Z57.8) (Quadro XXVII)

VIII. Oermatite alérgica de contato em Fabricação/manipulação de alimentos (Z57.5) (Quadro XXVII)


conseqüência de alimentos em contato com
a pele (fabricação/manipulação) (l23.6)

IX. Oermatite alérgica de conta to por causa de Manipulaçào de plantas em exposição ocupacional (Z57.8) (Quadro XXVII)
plantas (não inclui plantas usadas como
alimentos) (L23.7)
(Contínua)
192 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 21.14 - Doenças da pele e do tecido subcutâneo relacionadas com o trabalho (grupo XII da CID-lO) (Continuação)
C"'l DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL
X. Dermatite alérgica de conta to por causa de Agentes químicos. não especificados anteriormente. em exposiçao ocupacional
outros agentes (causa externa especificada) (Z57.5) (Quadro XXVII)
(L23.8)

XI. Oermatite de conta to por irritantes em razão Detergentes em exposição ocupacional (Z57.S) (Quadro XXVII)
de detergentes (l24.0)

XII. Oermatite de contato por irritantes Óleos e gorduras em exposição ocupacional {Z57.5} (Quadro XXVII)
decorrente de óleos e gorduras (L24.1)

XIII. Dermatite de contato por irritantes em 1. 8enzeno (X46.-; Z57.5) (Quadro III)
decorrência de solventes: cetonas. cldoexano, 2. Hidrocarbonetos aromáticos ou alifátlcos ou seus derivados halogenados
compostos do cloro. ésteres, glicol. tóxicos (Z57.5) (Quadro XIII)
hidrocarbonetos (L24 2)

XIV. Oermatite de cootato por irritantes por causa Cosméticos em exposição ocupaclonal (Z57.5) (Quadro XXVII)
de cosméticos (L24.3)

XV. Oermatite de contare por irritantes em razão Drogas em exposição ocupaclonal (Z57.5) (Quadro XXVII)
de drogas em contato com a pele (L24.4) 1. Arsénio e seus compostos arsenicais (Z57.5) (Quadro I)

XVI. Oermatite de contare por irritantes por 2. Berílio e seus compostos tóxicos (Z57.5) (Quadro IV)
causa de outros produtos qulmicos: arsénio. 3. Bromo (Z57.5) (Quadro V)
berflio. bromo. cromo. cimento. flúor. fósforo. 4. Cromo e seus compostos tóxicos (Z57.5) (Quadro X)
inseticidas {L24.5} 5. Flúor ou seus compostos tóxicos (Z57.5) (Quadro XI)
6. Fósforo (Z57.5) (Quadro XII)

XVII. Dermatite de conta to por irritantes em Alimentos em exposição ocupacional (Z57.8) (Quadro XXVII)
decorrência de alimentos em contato com a
pele (L24.6)

XVIII. Oermatite de contato por Irritantes por causa Plantas em exposição ocupacional (Z57.8) (Quadro XXVII)
de plantas. exceto alimentos (L24.7)

XIX. Dermatlte de contato por irritantes em Agentes qulmicos. não especificados anteriormente. em exposição ocupacional
conseqüência de outros agentes: corantes (Z57.5) (Quadro XXVII)
(L24.8)

XX. Urticária alérgica (L50.0) Agrotóxicos e outros produtos quimicos (X48.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XXVII)

XXI. Urticária decorrente de calor e frio (L50.2) Exposiçilo ocupacional a calor e frio (W92.-; W93.-; Z57.6) (Quadro XXVII)

XXII. Urticária de contato (L50.6) Exposição ocupacional a agentes químicos, fisicos e biológicos que afetam a pele
(X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XXVII)

XXIII. Queimadura solar {L55} Exposiçào ocupacional a radiações actinicas (X32.·; Z57.1) (Quadro XXVII)

XXIV. Outras alterações agudas da pele decorrentes Radiação ultravioleta (W89.·; Z57.1) (Quadro XXVII)
da radiação ultravioleta (L56. o): dermatite por
fotocontato (dermatite de berloque) (L56.2);
urticária solar (L56.3); outras alterações
agudas especificadas da pele em razão de
radlação ultravioleta (l56.8); outras alterações
agudas da pele por causa da radiação
ultravioleta. sem outra especificação (L56.9)

XXV. Alterações da pele por causa da exposição Radiações não ionizantes (W89.·; X32.·; Z57.1) (Quadro XXVII)
crõnica à radiação não ionizante (L57.-):
ceratose actinica (l57.0); outras alterações:
dermatite solar. "pele de fazendeiro", "pele
de marinheiro" (l57.8)

XXVI. Radiodermatite (L58.-): radiodermatite aguda Radiações ionizantes (W88.-; Z57.1) (Quadro XXIV)
(l58.0); radiodermatite crõnica {l58.1l;
radiodermatite. não especificada (l58.9);
afecções da pele e do tecido conjuntivo
relacionadas com a radiação. não
especificadas (L59.9)

XXVII. Outras formas de acne: "cloracne" (L70.8) 1. Derivados halogenados dos hidrocarbonetos aromáticos. monoclorobenzeno.
monobromobenzeno. hexaclorobenzeno (X46.; Z57.5) (Quadro XIII)
2. Derivados do fenol. pentaclorofenol e do hldrobenzonitrllo (X49.-; Z57.4 e
Z57.5) (Quadro XXVII)
3. Policloretos de bifenila (PCB) (X49.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XXVII)
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 193

TABELA 21.14 - Doenças da pele e do tecido subcutâneo relacionadas com o trabalho (grupo XII da CID·10) (Continuação)

DOENÇAS AGENTESenOLÓGICOS OU FATORESOE RISCOOE NATUREZAOCUPACIONAl


XXVIII, Outras formas de cistos follculares da pele e Óleos e gorduras de origem mineral ou sintéticos (X49.·; Z57.5) (Quadro XXVII)
do tecido subcutâneo: "elaioconlcse" ou
"dermatite Iolicular" (L72.S)

XXIX. Outras formas de hlperplqmentação pela 1. Arsênio e seus compostos arsenicais (X49.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
melanlna: ·melanodermia" (LS1.4) 2. Clorobenzeno e dlclorobenzeno (X46.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XIII)
3. Alcatrão. breu. betume, hulha mineral, parafina, creosoto, piche. coaltar ou
reslduos dessas substàncias (Z57.8) (Quadro XX)
4. Antraceno e dibenzoantraceno (Z57.5) (Quadro XX)
5. Bismuto (X44.·; Z57.5) (Quadro XXVII)
6. Citostáticos (X44.·; Z57.5) (Quadro XXVII). Compostos mtroqenados: ácido
nítrico, dinltrofenol (X49.·; Z57.5) (Quadro XXVII).
7. Naftóis adicionados a corantes (X49,·; Z57.5) (Quadro XXVII)
8. Óleos de corte (Z57.5) (Quadro XXVII)
9. Parafenilenodiamina e seus derivados (X49.-; Z57.5) (Quadro XXVII)
10. Poeira de determinadas madeiras (Z57.3) (Quadro XXVII)
11. Quinino e seus derivados (Z57.5) (Quadro XXVII)
12. Sais de ouro (X44.·; Z57.5) (Quadro XXVII)
13. Saisde prata (Seqüelasde dermatlte crõnica de contato) (X44,·; Z57.5) (Quadro XXVII)
XXX. Leucodermla, nãc classificada em outra parte 1. Arsenio e seus compostos (X49.·; Z57.4 e Z57.5) (Quadro I)
(inclui "vitiligo ocupacional") (lSI ,5) 2. Hidroquinona e ésteres derivados (X49.-; Z57.5) (Quadro XXVII)
3. Monomet,l éter de hrdroqumona (MBEH) (X49.-; Z57.5) (Quadro XXVII)
4. Para·aminofenol (X49.·; Z57.5) (Quadro XXVII)
S. Para·butilfenol (X49.·; Z57.5) (Quadro XXVII)
6. Para-cresol (X49.·; Z57.5) (Quadro XXVII)
7. Catecol e pirocatecol (X49.-; Z57.5) (Quadro XXVII)
8. Clorofenol (X46.-; Z57.4 e Z57.5) (Quadro XXVII)

XXXI. Outros transtornos especificados da Derivados halogenados dos hidrocarbonetos aromáticos: monoclorobenzeno,
pigmentação: "porfirla cutânea tardia" monobromobenzeno, hexaclorobenzeno (X46.·; Z57.4 e Z57,5) (Quadro XIII)
(LS1.8)

XXXII. Ceratose palmar e plantar adquirida (LS5.1) Arsénio e seus compostos arsenicals (X49.-; Z57,4 e Z57.5) (Quadro I)
XXXIII. Úlcera crõnica da pele. não classificada em 1. Cromo e seus compostos tóxicos (Z57,5) (Quadro X)
outra parte (L98.4) 2. Enzimas de origem animal. vegetal ou bacteriana (Z57.S) (Quadro XXVII)
XXXIV. Geladura (frostbtte) superficial (T33): eritema 1. Cloreto de etila (anestésico local) (W93,-; Z57,6) (Quadro XIII)
pérnio 2, Frio (X31.-; W93.·; Z57.6) (Quadro XXVII)
XXXV Geladura (frosrblCe) com necrose de tecidos 1. Cloreto de etila (anestésico local) (W93.-; Z57,6) (Quadro XIII)
(T34) 2, Frio (X31.-; W93.-; Z57,6) (Quadro XXVII)

TABELA 21.15 - Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, relacionadas com o trabalho (grupo III da CID·10)

DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPAOONAl

I. Artrite reumatóide associada 1. Exposição ocupacional a poeiras de carvão mineral (Z57.2)


à pneumoconlose dos trabalhadores do 2. Exposição ocupacional a poeiras de sllica livre (Z57.2) (Quadro XVIII)
carvão (J60.-): ·slndrome de Caplen"
(MOS.3)
II. Gota Induzida pelo chumbo (MIO, 1) Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.·; 257.5) (Quadro VIII)
III. Outras artroses (M 19.-) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
IV, Outros transtornos articulares não 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57,S)
classificadosem outra parte: dor articular 2, Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
(M25,5)
(Continua)
194 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 21.15 - Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, relacionadas com o trabalho (grupo III da CID-10)
(Continuação)

DOENÇAS AGENTESETIOlÓGICOS OU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAl


V. Síndrome cervicobraquíal (M53 1) 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (257.8)
2. Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)

VI. Dorsalgía (M54.-): cervicalgía (M54.2); 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
ciática (M54.3); lumbago com ciática 2. Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
(M54.4) 3. Condições difíceis de trabalho (Z56.5)

VII. Sinovites e tenossinovites (M65.-): dedo 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
em gatilho (M65.3); tenossínovite do 2. Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
estilóide radial (de Quervain) (M65.4); 3. Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
outras sinovites e tenossinovites (M65.8);
sinovites e tenossinovítes não
especificadas (M65.9)
VIII. Transtornos dos tecidos moles relacionados 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
com o uso, o uso excessivo e a pressão, de 2. Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
origem ocupacíonal (M70.-): sinovite 3. Condições diflceis de trabalho (Z56.5)
crepitante crónica da mão e do punho
(M70.0); bursite da mão (M70.1); bursíte
do olécrano (M70.2); outras bursites do
cotovelo (M70.3); outras bursites
pré-rotulianas (M70.4); outras bursites do
joelho (M70.5); outros transtornos dos
tecidos moles relacionados com o uso, o
uso excessivo e a pressão (M70.8);
transtorno não especificado dos tecidos
moles, relacionados com o uso, o uso
excessivo e a pressão (M70.9)

IX. Fibromatose da fáscia palmar: "contratura 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
ou moléstia de Dupuytren" (MnO) 2. Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)

X. lesões do ombro (M75.-): capsulite adesiva 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
do ombro (ombro congelado, periartrite do 2. Ritmo de trabalho penoso (Z56)
ombro) (M75.0); síndrome do manguito 3. Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
rotatório ou síndrome do supra-espinhoso
(M75.1); tendinite bicipital (M75.2);
tendinite calcificante do ombro (M75.3);
bursite do ombro (M75.5); outras lesões
do ombro (M75.8); lesões do ombro não
especificadas (M75.9)

XI. Outras entenopatias (M77.-): epicondilite 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
medial (M77.0); epicondilite lateral 2. Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
("cotovelo de tenista"); mialgia (M79.1)

XII. Outros transtornos especificados dos 1. Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
tecidos moles (M79.8) 2. Vibrações localizadas (W43.-; 257.7) (Quadro XXII)
XIII. Osteomalacia do adulto induzida por 1. Cádmio ou seus compostos (X49.-) (Quadro VI)
drogas (M83.5) 2. Fósforo e seus compostos (sesquissulfeto de fósforo) (X49.-; Z57.5) (Quadro XII)

XIV. Fluorose do esqueleto (M85.1) Flúor e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XI)

XV. Osteonecrose (M87.-): osteonecrose 1. Fósforo e seus compostos (sesquissulfeto de fósforo) (X49.-; Z57.5) (Quadro XII)
decorrente de drogas (M87.1); outras 2. Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII)
osteonecroses secundárias (M87.3) 3. Radiações ionizantes (Z57.1) (Quadro XXIV)

XVI. Osteólise (M89.5) (de falanges distais de Cloreto de vinila (X49.-; Z57.5) (Quadro XIII)
qui rodácti los)

XVII. Osteonécrose no "mal dos caixões" (M90.3) "Ar comprimido" (W94.-; Z57.8) (Quadro XXIII)

XVIII. Doença de Kienbõck do adulto Vibrações localizadas (W43.-; 257.7) (Quadro XXII)
(osteocondrose do adulto do
semilunar do carpo) (M93.1) e outras
osteocondropatias especificadas (M93.8)

85-7241-598-X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 195

x
~ _T_A_B_E_LA
__2_1_.1_6_-
__0_o_e_nç_a_s_d_o_s_is_t_e_m_a_g_e_n_it_u_fi_na_'f_io
__fe_l_ac_io_n_a_d_a_s_c_om
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~ DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL
,..
~ I. Síndrome nefrítica aguda (NOO.-) Hidrocarbonetos allfáticos halogenados nefrotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
II. Doençaglomerular crónica (N03.-) Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro XVI)
III. Nefropatia tubulointersticial induzida 1. Cádmio ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VI)
por metais pesados (N14.3) 2. Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
3. Mercúrio e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.4 e ZS7.5) (Quadro XVI)
IV. Insuficiência renal aguda (N17) Hidrocarbonetos alifáticos halogenados nefrotóxicos (X46.-; Z57.5) (Quadro XIII)
V. Insuficiência renal crónica (N18) Chumbo ou seus compostos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
VI. Cistite aguda (N30.0) Aminas aromáticas e seus derivados (X49.-; Z57.5)
VII. Infertilidade masculina (N46) 1. Chumbo ou seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5) (Quadro VIII)
2. Radiações ionizantes (W88.-: Z57.1) (Quadro XXIV)
3. Chlordecone (X48.-; Z57.4)
4. Oibromocloropropano (DBCP)(X48.-; Z57.4 e Z57.5)
5. Calor (trabalho em temperaturas elevadas) (Z57.6)

TABELA 21.17 - Traumatismos. envenenamentos e algumas outras conseqüências de causas externas relacionados com ° trabalho
(grupo XIX da CIO-10)
DOENÇAS AGENTESETIOLÓGICOSOU FATORESDE RISCODE NATUREZAOCUPACIONAL
I. Efeitos tóxicos de solventes orgânicos (T52.-): álcoois Exposiçao ocupacional a agentes tóxicos em outras indústrias (Z57.5)
(T51.8)e cetonas (T52.4); benzeno. tolueno e xileno
(T52.1e T52.2); derivados halogenados dos
hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos (T53):
tetracloreto de carbono (T53.0); clorofórmio (T53.1);
tricloroetlleno (T53.2); tetracloroetileno (T53.3);
dicloroetano (T53.4): clorofluorcarbonos (T53.5); outros
derivados halogenados de hidrocarbonetos alifáticos
(T53.6);outros derivados halogenados de
hidrocarbonetos aromáticos (T53.7); derivados
halogenados de hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos.
não especificados (T53.9); sulfeto de carbono (T65.4)
II. Efeito tóxico de substancias corrosivas (T54): fenol e Exposição ocupacional a agentes tóxicos em outras indústrias (Z57.S)
homólogos do fenol (T54.0); flúor e seus compostos
(T65.8):selênlo e seuscompostos (T56.8); outros
compostos orgânicos corrosivos (T54.1); ácidos
corrosivose substâncias ácidas similares (T54.2); álcalis
cáusticose substâncias alcalinas similares (T54.3); efeito
tóxico de substância corrosiva. não especificada (T54.9)
III. Efeito tóxico de metais (T56): arsênico e seus compostos Exposição ocupacional a agentes tóxicos em outras indústrias (Z57.S)
(T57.0);cádmio e seus compostos (T56.3); chumbo e
seuscompostos (156.0); cromo e seus compostos (T56.2);
manganês e seus compostos (TS7.2); mercúrio e seus
compostos (T56.1); outros metais (T56.8); metal nào
especificado (T56.9)
IV. Asfixiantes químicos (T57-59): monóxido de carbono Exposiçào ocupacional a agentes tóxicos em outras indústrias (Z57.5)
(T58);ácido cianídrico e cianetos (157.3); sulfeto de
hidrogênio (T59.6); aminas aromáticas e seus derivados
(T65.3)
V. Praguicidas(pesticidas. "aqrotóxicos") (T60): Exposição ocupaclonal a agentes tóxicos na Agricultura (Z57.4)
organofosforados e carbamatos (T60.0); halogenados
(T60.1);outros praguicidas (T60.2)
VI. Efeitos da pressão do ar e da pressão da água (T70): Exposição ocupacional a pressões atmosféricas anormais (W94.-; Z57.8)
barotrauma otítico (T70.0); barotrauma sinusal (T70.1);
doença descompressíva("mal dos caixões") (T70.3);
outros efeitos da pressão do ar e da água (T70.8)
Notas:
1. A doençaprofissional ou do trabalho será caracterizadaquando diagnosticada a Intoxicaçao ou atccção, se verifica que o empregado exerceatividade
queo expõeao respectivoagente patogénico. mediante nexo de causaa ser estabelecido conforme o disposto nos Manuais de ProcedimentosMédico-
periciaisem DoençasProfissionaisou do Trabalho. levando-seem consideraçaoa correleçêo entre a doença e a atividade exercida pelo segurado
2. O Instituto Nacionaldo SeguroSocial adorará as providências necessáriaspara ediç30 dos Manuais de ProcedimentosMédico-periciaisem DoençasPro-
fissionaisou do Trabalho. para aplicação a partir de l' de setembro de 1999
196 • Tratado de Clínica Médica

115-7241-59M·X
Alguns textos legais e outros aSSLlIllO~de interesse podem
ser encontrados nos seguintes endereços clcirônicos: CAPíTUlO 22
• Ministério da Previdência e Assistência Social: hllp://
www. prcvíocnciasociut.gov.br. /
• Ministério da Saúde: hllp://www.saude.gov.br.
• Ministério do Trabalho e Emprego: hup.z/www.trabalho.
gov. br/T cmas/SegS iiLI!.
Questões de Etica
• Associação Nacional de Medicina do T/"{/b(/IIIO: hllp://
W\V\V. anamt.org.br.

• Centro Brasileiro de Pesquisa em Segurunça. Saúde e


Médica e Bioética
Meio Ambiente de Trabalho: Illlp://www.rundacentro.gov.br.
• Empresa de Tecnologia e 11Ij(I/'I//{/('fJeS da Previdência Vera Lucia Zaher
Social: hllp://www.dalaprev.gov.brlscrvieos/servicos.
• imprensa Nacional. Diária Oficial da União (DOU): hllp://
www.in.gov.br, SAOOE NO TRABALHO E lnCA MlolCA
• Conselho Federa! de Medicina: www.portalmcdico.org.br, Ao longo dos anos, cm especial dos últimos cinqüenta, o con-
• O,/:ll/li::.llrc;ollllemaC"Íollal do Trabalho: hllp://www.ilo.org. ceito e a concepção de saúde vêm sofrendo uma série de trans-
formações. em particular pela modificação das sociedades, do
pensamento dos homens e pelos avanços tecnológicos. É essa
REFERÊNCIAS BIBLlOGRAFICAS
mesmasociedadeque dila asnormas,asregrase as leis que orientam
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OIC","'," Illmhalhador. /)OU, Ilm,fli". 06 mar, 1999. integração da vida como um lodo, no planeta, nas relações entre
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Ik,,,III\.;,, ('1'\1 II" 1.246. UMjm. 198M.DOU. Ornsflia. 26jJn. 19S~. dendo a esfera da rnulticausalidadc muito além do corpo, unindo
,~. MENDES. K."",uJ,";.1" ~ lIIed,cilla du II·ahalh".ln: MENDES. R (u'l.), .1I~,J"mll os aspectos sociais. do trabalho e do indivíduo e propiciando maior
ti" {mimI/III r 1>11("<'/1 I'/'II/i.\.<i",,,,i,f.St10 Paulo: Survicr, 1980. I'. 3-43. vinculação entre intcrdisciplinaridade e multiprofissicnafismo,
(I. MARA:'\O, V, 1\ A Or~"niJ:I~~o IlIlérlHlciollll1do Trabalho e tI> OOffiI3' internacio-
IIUI\ Ju IrJb;)lho. ln: \l1I:IRA, S.I. (coord.), MI'(/idll(l Básicn do rmIN/llm. ('urnihJ: ESle capüulo visa ti abordar alguns conceitos da bioérica e
GI'OC\l\. t'.l9~. v, 11,p..'3-42. da ética médica em saúde no trabalho e meio ambiente. Nesse
7. lLO IIIItTlUllúmol ú,bnllr CQIl\l'lIlirms and UI'COIIIIUl.'lIllatiml,'" IY/9-/9t''II. 2. cd. sentido, I!SSCS lemas serão discutidos na sequência, procurando
Geneva. 1982. (l. 345-3(11. relacionar saúde no trabalho, ética. responsabilidade dos mé-
8. BRASIL. ~II'\IST~RIO DO TRABALHO E E~'IPREGO.(MTE). CI/III'~"f')r.\ II.. dicos, algumas resoluções e, por fim, anamnese ocupacional
OIT. Bra,ma: ~IET/SIT. 2002. 62p.
como instrumento necessário e imprescindível para o atendi-
9. ~IENDI:S. R. Aspecto« hísrõrícos d'l p31010gi3 do trabalho. ln: MENDES. R. (org.).
PI1/"I"~lud... Trobtllho. Rio do:Janeiro: Atheneu, 1995. p. 3·31. mento de trabalhadores.
tu BRrISIL SEGLRA~ÇA E MEDIClSA DO TRAflALHO. Lei 651~. 22 dez. 1977. lniciulrnente, será de grande valia apresentar alguns concei-
Pundn3n 3~ 14. ~ jun. 1978. 51. ed. São Paulo: Alias. 2003. tos de saúde, de ética e da sua inter-relação com O trabalho.
11. CA\IPOS. J. L. Doo CAMPOS. A. B. D. Resl'"",allilidml .. 1'''"111,ci.iif/lcitl,.lIItiritl lndcpcndcnternente do segmento, teórico e/ou prático, no qual
d" Troh.llh.. 5. ~.J ampl. São Paulo: LTr. 1996.
12. (,AULO. A. F.: CURY. R.: FERREIA JR .. M. Gcs130" g<,,!ncj:l de J>lOgr:lIl1J\ pre-
o médico venha li atuar, geralmente seus objetivos estão cana-
\colh'\), de 'Júde nas empresas. ln:FERREIRA JR .. ;\I. (org.), SllIitlr 1/tI TrtllN/llw: lizados para assistir seu paciente, tentando conduzi-lo à cha-
('"'4\ 8áJ/ctl$para I) Projiniolllll '11J~C/litftl tlll .'ímit/,.tllll .,,,,h<I/lIIIII,,,,,,. S~ l':Iulo: mada "Saúde" (do latim. salllle) como conservação da vida.
Ro..-a. 2(lOO. p. 67-79 Se for aceita como verdade que a premissa maior do medi-
13. DIAS. E. C. OrganllJção da atenção 11saüdc 110 ltabalho, ln: ~ERR('IR" JR .. ;\1. cina é a promoção da" saúde, é preciso buscar suas diversas de-
("'~.1 S<"itf( IW Tr,,"'//lIO: 7"'"11 IJti,irlls IN'ftllI PmJi\.\,,,,,,,, '1/1r Gilda da Salid~
,I", 1JllIH,lluIlIr"·.,,. Sj() Paulo: Roca, 201)0. p. .l·2l!. finições e conceitos, a fim de que se possa Fazerlima inferência,
1.1. IIRASII .. ~IINISTERIO DA SALIDF..Lei SOSU.II) ><:1, (1)<)().I)i,fl'-'"'ohr. J'con· também na saúde dos homens. Minayo' comenta: "A saúde
di"i'~II.:~p••ra J prumoçâo. prorcção. recuperação di.'! "uidc ... nrgu,,,/a~do C' o enquanto questão humana c existencial é uma problemática
runcioll:llncnlo do ... 'I."'n'I\'U\ corrcxpoudcnrcs e tJ~ HUlr;." prO\ Id~nclJ_, SI'õ1!t1iha. compartilhada indistintamente por todos os segmentos sociais.
1990.
IS. BRASIL. MI:\ISTÉRIO DA SAÚDE. Penaria n' 312()/1~~g .• k 01 jul 1998.Apro·
As condições de vida e de trabalho. porém, qualificam de forma
va a lo,lru\'ào Normal;". de Visil:1nciu CIII Saúde do Trabalhador 0'1 SL'S. ara,niJ: diferenciada a maneira pela qual as classes c seus segmentos
DOU. I~ jul, 1998. pensam. sentem e agem a respeito dela. ( ...) a saúde e a doença
16. BRASIL. MI:\ISTÉRIO DA SAÚDE. 1'01'lllri1lII' I67W2002. 18 <fi. 2(}()1.Cria envolvem uma complexa inleração entre os aspectos físicos,
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psicológicos, sociais e ambientais da condição humana e de atri-
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sobre o pr.. nchimenl(, d< Allwril:rç:10 .le IIIle"'"çilo II""pi I,dar - AI 1-1."III c.~os de uma relação que perpassa o corpo individual e social, confron-
4U3urut.'ornp:lli\tl \~omC'au\!" (o).h.:rnn'i lo: Cll111doença\ c adllt:nh","" rcl:adnn;ulos ao lando com as lurbulências UO l>er humano como ser lotai".
lrabalh<, Br.,J1I~. 2001 Já na Constituição Federal (1988). elll seus artigos 196 a 200,
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lê-se: "Saúde é direito de todos e dever do Estado. garantido
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recuperat,:fí()".
dl/Hflllm 1~/It'I" Snú\tI\ ti.. Smir"'. Ilr,,,n;~: Mini,l~rio d,1 Soúdc. 2001.
21. C'\MI'OS. J. L. O. O ~ho"lc!no I>uhhco e o lIIeio ambiclIIe: re~poo,obilid:tde chil P()r oUlro lado, na Lei Org.inica de Saúde nQ 8.080/90 em
c <nllnoJI do cmprtpndor r pn'JX"IO'. CifHl. v. 101. n. 9. p. 10-24. 1987. seu artigo 3Q, a saúde é conlemplada como a que "tem como
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 197

determinantcv c condicionantcv. entre outrov: nlimcruaçâo, Vário, forum os liló:.orol> que discuiirurn ii ética. entre eles
moradia. snncarncnto. meio ambiente, trabalho. renda. educa- Pintão. Arivtétclcs, SOIlI() Agostinno. São Tomás de Aquino.
ção. trunxpcrtc. lazer c o acesso ao, bens e vcrviçov c..sen- Bossucr. Splnovn, Kant. Schopenhauer. entre outros'. Atuul-
ciais. o~ nfveb de saúde da população expressam :I, organi/açõe .. mente. a ética e~tá sendo incorporada como conceito teórico e
social e econôrnica do pafv". filosófico tia, reflexões da bioética. na interface com as questões
Dcjours' fal algumav considerações afirmando que a saúde da aúde e dos indivíduos mil>diversas sociedades. Assim. não
não é algo externo. ela é mutável o tempo todo. não c$lá\ cl, "é se pretende discut ir a conccituação e elaborar exercícios fi 10-
uma sucessão de cornprornivsov com a realidade. que se mu- sõficos sobre ética. mas sim propiciar uma reflexão sobre esse
dam. se reconquistam. 'I: redefinem. que se perdem c que e saber na relação entre saúde no trabalho e meio ambiente.
ganham onde o papel ativo de cada indivíduo é fundamental
(...) A saúde para cada homem. mulher ou criança é ter meios
de traçar um caminho pcvsoal e original. cm dircção ao bem-
QDESTOES lnCAS E IIOlTICAS PABA BEFlUlO
estar físico. p..Iquico c xociul". Define. ainda. bem-estar físico J\ bioérica é um novo campo do saber que propicia uma apro-
como "a liberdudc de regular :I!'.variações que aparecem no ximação teõrica reflexiva de movimentos do pen amemo humano
estado do organismo". por bcm-estar psíquico. "a liberdade ante questões conflirivn .. da' sociedades. Surge com as diver-
que é deixada uo desejo de cada um na organização de sua sas situaçôcs novas ou de diferentes e inusitado modos de se
vida' c. por bcm-estar soclal, "u liberdade de se agir individual apresentarem em relação ao ser humano e às suas aiividades no
e coletivnrncnrc sobre II organi/.açiio do trabalho. ou seja. sobre mundo. Diz respeito ii vida e essa ampla relação com a natu-
o conteúdo do trabalho. a divisão de tarefas. a divisão do reza e o homem. O termo cunhado por Potter", em 1971, nos
homens e as relações que mantêm entre si". Estados Unidos. é utilizado como um marco de início das reflexões
Com relação à categoria trabalho existem várias defini- sobre a bioética. embora inicialmente o propósito fosse um
ções sobre o trabalho dos pontos de vista sociológico e an- alerta sobre os rumos do planeta. Outros momentos impor-
tropológico. a importância ou desgaste dele sobre a saúde. o tanres vão endo sinalizados durante o século XX, em espe-
seu futuro num mundo globalizado em que há cada vez menos cial as atrocidades ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial
emprego para uma população em constante crescimenro e e as demais guerras no mundo, o avanço tecnológico e sua
com tecnologia muito desenvolvida que substitui rapidamente revolução de conceitos e prática: além disso. surgem os conflitos
a força de trabalho. morais perante grande revolução dos valores do homem con-
O trabalho. como ath Idade irnprcvcindível ao homem. será rernporânco e do comportamento em relação às pesquisas
aqui tratado pelo cnfoque da ~aúde. Saúde c. ta que não cpara com sere humanos. Na década de 1970. ampliam-se muito as
O corpo físico do pvíquico. que por ,ua ve« é composto. em di cussõcs sobre a bioética. principulmcntc com o rclatõrio
sua es ência. de uma ,énc de momcmov. vivências. rotinas e Belmont. de 1978 e com o livro The Principies of Bioethics.
cuidados, c cm que () trabalho evcrcc lima Iunção. quase obri- de Beauchauu) e Childresv. de 1979. A partir dc~,e~ marcos
gatória. na manutenção de"a <aüdc. cv-c enfoquc. n proteção históricos. a bioérica toma impul o e ..e cstabltlza como uma
e a promoção da saúde, como entidades promotora, da saúde. área de saber aberta para divcuwão e reflexão de assuntos que
erão as linha, condutorav que nortearão esse pensamento. Se. envolvam a vid .. em comunidade.
para Berlinguer', a prevenção e'tlÍ ligada ii modificação dos Os livros de Durand9• Diniz e Guilhem'", Lolas!', Pessini
componamcutos. Dia~·. ao falar a respeito do mundo do traba- e Barchiforuaine ". além de Scgre e Cohen", entre outros au-
lho,afirmará que O mundo é um só. que os trabalhadores existem tores do Brasil e do mundo. enfatizam a necessidade cada vez
neste mundo. uunsfcrmando e sendo trunsformudos. que o modo maior de. e ampliar as discussões obre os assuntos conflitivos
de viverestá determinado histórica e socialmente e que o desalio que ão considerados neste capftulo como dúvidas e situa-
de cada um. profissionais envolvidos com essa questão. e~t;\ ções da . aúdc no trabalho c ambiente.
cm se buscar () trabalho. a suüde e II doença no conjunto do. Cabe ressaltar que. para Cohen e Fcrrnz", o sujeito ftim
indivíduos c da colerlvidadc. é "aquele indivíduo que pode reconhecer os conflitos que
A ética sendo. COlHO uma de Mias dcl'iniçõcx, n ciência da representam o significado de estar no mundo. e é li resolução
moral, que procura determinar II finalidade da vida humana c deste, que o pcrmirirã uutodercrminar-se".
os meios de atingi· Ia. acompanha o~ grupos sociaiv de-de a Scgrc". ao falar de ética nu medicina. comenta que quando
Antigüidadc'. ascida com Sócrutes. com umu concepção se investiga um fenômeno e as circunstâncias. por exemplo,
intclectunllvta. cm (Iue \C tcnla Illo,trur II bem e o lIIal e.:qu~ em que se realiza o encontro do médico com seu paciente.
"ninguém é mau \'oluntariarnente··. a ética foi tra/id .. à di",- c,tá !>cndo fcita ul1lll/ll/l(llIlIIenfll('f;O e oferecendo bases para
cussão para 0\ demal., filó,ofos. loendo aceita por algun,. re- um código de ética. isto é. o conhecimento das pessoas pro-
jeilllda por outro:.. picia elementos paro se confeccionar os c6digos -:I ética aplicada.
Outro~ aulorc:. como Burn~: e Andery et uC afirmam que a codificada. E é nesse encontro que surgem as compreensões
ética ~urgiu com 0\ \ofista,>. que "introdul.iram a noção de tle um tleterminado fenômeno e tudo a ele relacionado: "Quando
que era po~ Ívcl di'cutir o valor dos argumentos e o valor da.~ penso em ética não estou pensando em código, mas no que
próprias coi,;l\ (... ) e uma renexão sobre a linguagem repre- vem antes dele. naquilo que cada pessoa considera adequado
sentando.dc\.'kI forma. uma lrJmição enlre a reflexão cosmológica ou não para determinada circunstância. Penso no exercício de
e uma filo ..ofia centr<lda no homem". renexão permanentemente ligado à área de humanidades. em
Emm o~~ofhta' que a'~lI1alavam não haver verdades ab!Ooluta~ quc ~e bu!'.ca c!'.tabelecer hierarquia de valores. lembrando que
ou padrõc .. eterno, de direito e justiça. Para Burns6• "sendo a antes. em todos os tempos, ,empre cxi<;tiu o peno amento das
percepção do, ~cntido' a fonte e.:xclusiva do conhecimento. só pessoa~ c depois as leis".
pode haver v~rdadel>particul;lrc\. v~lidas par:1 um certo tempo Ho:.~ne'·. aI) falar sobre a ética e a rcspon abilidade, co-
e um certo lug:lr". E'~lIalirmllliva relativi ln dos sofista. foi menta: "o cxcrc(cio da étic:l. não r:lro. pode criar desconforto.
radicalmente conte\tadu por Sócrates. pois ele "defendia que an~iedade. 'angústia' - :lngú\lia esta. porém, mobilizadora de
havia vulorc!'. e virtude!'. permanentes e que precisavam ser no~sas capacidades racionai!> e emocionais. vale di7-cr mobili-
conhecidos para screm !.cguidos cm defesa do bem de todo I.adora das c:lpacidades e evolução do ser humano (... ) sem
e não ue algllll~"'. liberdade. não existe reflexão ética. A liberdade tem como
85·7241·59M·X
198 • Tratado de Clínica Médica

contraponto li responsabilidade. Liberdade para ter responsa- profissional. o segredo médico. os atestados e os boletins rné- ~
bilidade e responsabilidade para ter liberdade. Outras condi- dicos. ~I perícia médica. a pesquisa médica, a publicidade e tra- ~
ções indispcnsãvcis: não-preconceito, não-coação. humildade balhos cicntfficos. além do primeiro (principios fundamentais) :
no respeito <lOS valores de outrem e a grandeza de espírito e o último (disposições gerais). Todos os capítulos tentam abarcar ~
para mudar pontos de vista pessoais". os diferentes pontos de \ istas dos diversos assuntos. Entre. x
o mundo atual e no mundo do trabalho várias situações tanto. há uma infinidade de outras indagaçôes para novas si-
invocam a reflexão hioética sobre a saúde dos trabalhadores. tuações que surgem, cotidianamente. no movimento dinâmico
e complexo que é li evolução da sociedade e a dos homens.
NORMAS. REGRAS E LEIS NA SOCIEDADE Os médicos buscam os órgãos que regulamentam as leis pura
orieruaçõcs e conselhos. Em última instância, os onze capítulos
CONTEMPORANEA em que está sendo proposto o que "é vedado ao médico" nada
As regras da sociedade propiciam aos cidudãos. em muitos mais são do que circunstâncias que falam das caracterfsticas
momentos. um conforto, uma ucomodução ao não questiona- pcs oais do médicos. seus mecanismos de pensar o mundo e
mento. A~ leis são, geralmente. obedecidas e não são que - as relações. a influência do psíquico nos aios e nas diferenças
tionudns. Quando isso acontece pode estar permeado pelo com os demais colegas. Alo diferenças do pensar. ricas, cria-
medo do indivíduo cm ser infrator de regras sociais. Essas tivas, lmpares são permeadas pelo grupo social que necessita
normas seriam conhecidas mais para saber o que é proibido. urrnbérn de uma padronização ou, quem sabe, de alguma,
tolhido pelo grupo. do que pelo comportamento natural que orientações para as dúvidas que entremeiam constantemente
cada indivíduo teria. no confronto com vuus próprias per- os indivíduos. Os indivíduos não mantêm o mesmo modo de!
cepções. Entretanto. as regras existem; são os códigos de pensar sempre. apesar de manterem um certo eixo de compor-
uma população. de um grupo social. de um país. de uma maioria tamento. Há momentos de dúvidas, de desconhecimento do
que opta por dit ar normas. Queiroz" a~define como "a expressão assunto. de não ter se deparado COIII a questão previamente e.
da ordenação de preceito ... que. por serem oriundas da verdade assim. as regras podem orientá-los. Esta é apenas uma forma
retirada das ncccssldadev sociais. destinam-se a evitar que as de pensar, Outra visão pode ser empregada quando as regra~
soluções estejam à mercê tias múltiplas e transitórias con- ..ão impostas emente de fora e devem ser cumpridas sem uma
veniências dos componentes de Lima comunidade". reflexão a respeito do que está sendo proposto, sem optar pelo
Hossne " afirma que "leis foram c coruinuudarnenrc são o quc se acredita ser o correto para si.
Ieuas, cm todos os paísc«, desde que o mundo é mundo, para As normas e as regras. os códigos e as leis. a ética e a bioética.
regular as arividadcs do homem: contudo. pouca preocupa- a sociedade e os homens. o encontro de dua pessoas tornam a
ção tem havido no sentido de definir o homem. ao menos no convivência humana complexa e dinâmica e estãosemprevohados
para a evolução do cornponurnenro e do pensamento de uma
sentido profundo".
sociedade.
Quando O profission a1 da ~aúde envolvido é o médico, as
A ética nas relações saúde no trabalho e meio ambiente
regulamentações da profissão são marcos que preci arn ver
envolvendo trabalhadores. empregadores, profissionais da saúde.
avaliados e utilizados como balizadores de um grupo profiv-
previdência e diversas instâncias distintas da sociedade torna a
sional, mas não como regras estritas que não podem ser ques-
discussão mais acirrada. pois implica em diversas e feras do
tionadas. Alguns <IIIIOI"eS comentam sobre o Código de Ética
saber com visões particulares e distintas,
Médica.entreelesMaruüon'" quediz. "os regulamentos.osCõdigos
de ÉLica. têm muis Ou menos significado idêntico ao famoso
juramento hipocrático. Este é dividido em três partes: ética RESPONSABILIDADE PROFISSIONAl DOS MlDICOS NAS
cm relação aos outros médicos. a relação médico-paciente e o RELAÇOES SAODE NO TRABAlHO E MEIO IIBIEITE
médico relacionado à sociedade", Esse tipo de relação prc-
A relação dos médicos com saúde no trabalho e meio ambien-
sente entre o médico e o paciente também se estende para os
te tem algumas peculiaridades próprias dessa área.
outros profissionai-, da ..aüde, balizam o exercício prof .sional
Na prática do médico há várias inserções profissionais indo
dos enfermeiros. do, fonoaudiólogos. dos psicólogos. assistentes além da prevenção, do diagnóstico e do tratamento. Na rela-
sociais entre outro, profissionais (como o engenheiros de se- ção saúde 110 trabalho c meio ambiente o médico acaba por se
gurança, Ol> técnicus de vcgurança). que estão intimamente rcsponsabi lizar e aluar em outras fremes tendo maior contare
vinculados (.:0111 'aúde no trabalho e meio ambiente. com o processode produção dasempresasàsquais estávinculado.
ParaOsclka'", "O" Códigos de Ética Médica adoradosno Brasil Estuda. entre outros. o campo de trabalho, a organização do
caracterizam-se por representar uma mescla de código de moral trabalho e participa de conhecimentos diferentes e complcmcruares
(amplia e define a doutrina hipocrãric a) com código adminis- à saúde como o modo de produção. a relação saúde e trabalho.
trativo" e que a sociedade deveria participar em sua elaboração os riscos profissionais. os vínculos ernprcgauclos. os direitos
contando com a purticip u ção do maior número de médicos e e deveres dos trubul hudores-pacicntcs, Precisa estar atento para
entidades orgunizadus povsfvel. não se restringindo a poucos discriminar os cuidados que deve dispensar à saúde dos traba-
profivvionui». lhadores c auxiliar na rotina operacional dos encargos buro-
O" código). sâo ditados pela experiência já \ ivida pelos crãt icos necessários ao processo.
membros de uma sociedade. ão surgem do nada. mal>sim de Exige-se do médico grande coerência profissional. conhe-
situações que já ocorreram e que propiciaram dúvida. polêrni- cimento técnico atualizado e comportamento ético. urna vez
ca, conflitos de opiniões. Falam das diferenças de pensar das que as questões que podem surgir do vínculo trabalho/saúde
pessoas. mas constatam a existência de caractcrfsticas comuns geram. em muitos momentos. grandes conflitos de partes dis-
ao grupo. que precisam ser preservadas. tintas como os empregadores e os trab ulhudores. É usual, em
O Código de ~ticu Médica Brasileiro!' pode ser citado para muitas ocasiões. que as questões da influência do trabalho
ilustrar essa idéia. São quatorze capítulos que regem sobre a sobre a saúde do trabalhador deixem de ser o foco principal
rcvponsubi lidude profissional, os direitos humanos e dos rné- c sejam substituídas por interesses entre as partes. Por outro
dicos. a relação com pacientes e familiares, ii doação e trans- lado. é sabido historicamente que a saúde sempre fica relegada
plante de órgãos. as relações entre médicos, a remuneração fi um segundo plano nas sociedades modernas, de economia
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 199

capitalista. cuja produção exija diversos sacrifícios do corpo a várias leituras diferentes sobre o mesmo fato. além da diver-
humano e até desrespeito 11vida!:.1J. sidade usual entre profissionais de uma mesma área que po-
Ao lado dae; rclaçõc ...da, diversas empre as com a saúde de dem preconizar condutas diferente. quer periciais, quer sob
seus trabalhadores há outras considerações a ercrn lembradas. a óptica trabalhista. Cabe ao médico ser isento de conceitos
A saúde da população também está vinculada com a saúde dos de foro ínt imo tentando aproximar-se das evidências que existem
trabalhadores das empresa- e a empresas estão em estreita re- do complexo e imbricado relacionamento existente entre saú-
lação corn II população de uma cena localidade. Há uma intcrligação de IlO trabalho e meio ambiente.
sistêmicu entre as utividndcs de uma empresa e da população Os médicos devem orientar o pacicnte-trubalhudor, escla-
como u águu. u lixo industrial, os rcslduo» da produção, o con- recer (.hívida~ e oferecer todos os exumes. Qunndo h(l ncccs-
trole de ar. entre outro», Cabe também ao médico estar atemo ti sidadc de tomar conduta administrativas compauvcis com o
essas questões e participar dao; transformações da empresa com quadro clínico apresentado. fornecer informações técnicas para
a equipe muhiprofisvional na atenção à saúde dos trubulhudorcs. nfastumcnto do trabalhador de eu ambiente de trabalho. O mé-
DOl>ccmpromisvo-, profissionais dos médicos que atendem dico deve. dentro do maior rigor ético e de ,igilo profissional,
o trabalhador podcm-ve citar o segredo profission«! e a priva- transmitir a informação. não fornecendo diagnósticos ou dados
cidade. o, ate'tadn ... médicos. bem como a responsabilidade privativos do trabalhador. Quando i~,() não for possível. será
profissional. ncccssãrio. obrigatoriamente. ter o convcnrimcnro do paciente.
MI1I10I.!'.cm xeu artigo Responsabilidade Médica: 111//(/ visão Nem sempre esses cuidados éticos estão ocorrendo quando se
É/ica. comenta <obre a), responsabilidades do profissional e fala de saúde do trabalhador.
do paciente: "O profisvional da área da saúde tem responsa- O segredo profissional é uma condição sine (fila non na
bilidade para consigo mesmo, para com o paciente e para com área da saúde. com raríssimas cxccçõcs, embora. no campo
terceiros (para com a sociedade. para com a profissão e até da saúde. do trabalho e do meio ambiente seja de difícil ma-
para com o próprio meio ambiente)". nutenção. Como há várias pessoas envolvidas na emissão de
Para que o médico possa exercer a sua profissão. dentro documentos médico-legais. como os membros de um depar-
das normas ditada' pela sociedade. é preciso conhecer a com- tamento de recursos humanos. além de funcionários de agên-
plexidade do ser humano e a possibilidade de execução des- cias previdenciária . muitas vcze a privacidade da saúde do
ses princípios de liberdade e autonomia. Segre", afirmará: "A trabalhador não ocorre como deveria".
existênciu da capacidade de autogoverno c!>tá tão profunda- Paralelamente a toda e S3 que iões. M grande respon-
mente nrrnigndu no que significa um ser humano. que constitui sabilidade médica c dos demais profissionais da aúde para
um direito moral que gera em outras pessoas () dever de rcs- com o trabalhador, É preciso cuidar da ...aúdc dos trabalha-
peito. Es~e direito M': expressa como o princlplo de autono- dores, evitar os danos e o~ agravov :1 vaúdc no ambiente de
mia. i~1OI!. uma dinâmica nas relações entre !IS pessoas. que trabalho e nrcnr com ti:. cnnscqüênciu-, dev-e conhecimento.
permite a cada uma o exercício de autogoverno. tanto quanto Hoje. o medico responde pela saúde de um trabalhador que
o permitam a.. circunstâncias". esteja sob sua responsabilidade. À parte e:"a questão, há também
O médico c os demais profissionais da saúde e~t:1o sujeitos a algumas resoluções da comunidade médica que orientam sobre
alguma .....ituações que apresentam complexa, qucvtõcs rela- os cuidados ncccssãrio ... direitos e deveres dos médicos para
cionada .. ao mundo do trabalho. E..barram cm at i\ idade .. tão com o trahalhador.
intimamente irnbncadas com a privacidade do mundo do tra-
balhador em seuv questionamentos relacionado .. à sua saúde SOBREA RES01Uçl0 CREMESP N2 16/96
e às necessidades das empresas, do ...dcpurtamentos adminis-
trativos (por exemplo. recursos humanos. departamento pes-
DE 02/0111996 OU DO CONSElHO FEDERAL
soal) que, nessas situuções. é preciso um esforço grande para DE MEDICINA N2 1.488/98
ser mantida a privacidnde do rmbalhador e do trabalho do médico A resolução (apresentada no final deste Capítulo), promulgada
ou dos profissionais da saúde. A inclusão desses sciores dentro pelo Crcmcsp, cuja aplicação. no mérito. foi estendida para
dos preceitos do respeito ao outro fica sendo de responsabi- todo o Brasil. conforme Resolução do CFM. de II de fevereiro
lidade de cada profissional num exercício constante que traz de I99!l. visou a caracterizar a posição do médico que dá aten-
ao médico uma necessidade de maior cuidado cm relação ao ções de saúde aos trabalhadores. seja ele ou não médico do
eu paciente-trabalhador. Lurie ". ~cCunney27. Rischitclli " trabalho. nesse complexo contexto em que interagem o pro-
discorrem longamente sobre a necessidade de um rigor ético fissionul de saúde. o trabalhador. o "patrão" (tanto o empre-
quanto à privacidade da saúde do trabalhador. sário "privado" como o próprio Estado), a Justiça e o ambiente
A relação médico-paciente em aúde no trabalho e meio de trabalho (incluindo a natureza do próprio trabalho). Procurou
ambiente tem diversas faces ne sa área de atuação. Além de ser sempre proteger a relação de parceria entre o profissional de
uma relação de extrema confiança e de busca de auxílio para um saúde c o usuário. Não podendo. obviamente. deixar de lado
sofrimento. uma doença ou uma dúvida diagnéstica. pode também os aspectos inerentes à Justiça, quis "irnparcializar" tanto quanto
ser desenvolvida com o trabalhador para o cstabclccimcmo possível a figura do perito-médico, cujo compromisso de lealdade,
de nexo causal entre o trabalho exercido e a doença apresentada diferentemente do médico do trabalho, é COIl1 Justiça, conde-
ou mesmo a prevenção desta. Pode ser um encontro pericial nando toda "cumplicidade" entre 111/1 e 011/1'0 pura fins forenses.
em que o médico apresenta um outro cnfoque de questionamenro A resolução é compo ta de 15 artigos divididos em quatro
buscando conhecer o:. uvpcctns mab normativos que auxi- grupos. sobre rcspon abilidadcs c devere .. dos médicos. Os
liarão O direito. quer do paciente. quer do sistema prcvidcnciãrio, grupo» contemplam os médicos. em geral. 0\ médicosde empresa.
quer da emprcl>a. São ,ituaçõe~ slIb jlldice e o vínculo que l>C os médico~ do trabalho e o perito-médico. todo ...vinculados à
estabelece fogc da relação usual. Ao perito cabe faL.er uma saúde do trabalhador. endo:
ponte entre a medicina e o direito. com atribuições específi-
ca que orientariio e auxiliarão no benefícios (ou não) do • Do médico. independentemente de !>lIae~pecialidade. no
trabalhador. A imparcialidade deve preponderar e a avaliação atendimento ao trabalhador - do III ao 4° artigos.
pericial deve ,er o mail. fiel possível ao dado!. encontrados. • Du médico de empresa, independentemente de sua es-
Entretanto. ~ eumum haver posicionamento pessoais que levam pecialidade - 52 e 62 artigos (re~ponsllbilidades).
200 • Tratado de Clínica Médica

• Do Médico do Trabalho - art. T" (co-rcxponsâvel c soli- cionul, Arualrnente. a utilização de screenmgs em aúde ocu-
dãnn ao cmprcgador í, pucional rcm sido prática de alguma ...empresa ...para o reco-
• Ou peruo-mcdrco judrcral. a"i,tente técnico. previdenciãrio nheci 111e 1110 de doenças ocupacionuis I' '.1.Apesar de necessário,.
e sccuruãrio do li ao 14° unigo-. trazem algumas questões sobre () rcvpcito ao paciente e vua
autonomia quando essa avaliação vai além da ocupacional e
busca conhecer particularidades dn snúdc pessoal do traba-
IMPORTANCIA DA ANAMNESE OCUPACIONAl PARA lhador, confundindo O limite do cuidado da saúde do trabalhador
ATENDIMENTO cllNICO e da suiidc do sujeito que trabalha,
Outru-, autores como Mendes I< e UlgUl1Scomitês de saúde
A anarnncsc é li converva que ocorre entre o profissional da
umbrcntul tumbérn descrevem diferente, uvpccros que devem
saúde. mais precisamente. aqui. o médico c seu paciente (cliente
ver abordados na invesngação dlagn(ht ica. passando por des-
ou usuário da saúde). Serve para conhecer e regi ..trar alguns
criçâo da função. aspectos do ambiente [(,ico. trabalhos e ris-
uspecu» da vida do pucleme-trabulhador/usuãrio da saúde c de
co, em ocupações anteriores da atual, compreensão do trabalbador
'11.1 qucivu quando procura (l profissional. Amplamente utili/ada
...obre o seu trabalho e questões da organização do trabalho
entre 0' profivvionai» da vaúdc. ti \i,temmi7açilo desse diálogo.
E...ses autores preconizam a sistcmauznçüo do pcn amemo clínico
all ..do li outras etapa' de uma convulta. serve como um comuto
aliado a uma visita à empresa e ao ambiente de trabalho real
entre duas pes-cas de forma a se criar um raciocínlo clínico
para que se avalie o pO!>1O de trabalho nu interface da empresa,
vobre o paciente. sobre sua queixa e o moi ivo da busca a esse
Não se deve esquecer de qucvriomu 0' empregos arueriorcs,
pruhvvronul. Apesar de a história clínica ser padronizada. a
os riscos passados c cvcntums acidentes que possam ter ocor-
forma corno ela é conduzida pelo médico influenciará não só
rido. Todos esses elementos auxiliam nu boa confecção de uma
no dragnévuco como também no sucesso do tratamento III.
unarnncsc ocupacionul,
j\ anarnncse ocupacional é a ampliação da unumnese usual
Atualmente, na sociedade moderna do .. éculo XXL, a anamnese
do, profivvrcnai-, da saúde. Visa a conhecer melhor a situação do
ocupacional vai muito além de perguntas sobre o trabalho e
trabalho. envolvendo a, condiçõc .. do ambremc de trabalho e os fI'COS aos quais o paciente e,tá exposto. É necessário per-
a org:Ulllação do trabalho daquele pacicnrc-trubathador na tent311V3 guntar sobre a complexa imbricação da dinâmica da organi-
de e-mbelecer mais precisamente o dmgn<Í\lIc(l entre a saúde do zação do trabalho como a) relações hierárquicas, O ritmo de
Indl\ kíuo. () 'cu trabalho e o meio ambiente. Obrigatória em trabalho. a.. exigência de produuvidade. o não ditO do traba-
tml:... a, entrevistas pelos profivvionuis d:! vaüde. ii anarnncsc lho. etc. Essas questões ma ... atum., que surgem na saúde do
ocupacionul nãu rem sido adequadamente IItiJi/ada e difundida
trabalhador superam a correlnçüo do nexo direto entre a fun-
nu urcu da vaudc. Acabou sendo urili zndn pelos profissionais ção exercida e o agente ao qual o trabalhador estava exposto.
da vaudc ocupacional. crn especial pelo médico do trabalho e Pensa-se II saúde do trabalhudor não apenas como uma relação
() 'cu não uso dificulta a precisão clínicu. dcixundo um espaço causal dircia. mas relação du sociedade e o seu ambiente fí·
lacunar do diagnóstico. necessário e fundumcrual. sico, gcogrãfico, social, cconôrnico, polftico. O trabalhador dessa
Sivternarizada para avaliar 0' risco, ocupacionai-, aos quais novu era prcci ...a ser olhado corno um ser auvo. co-partícipe
os paciente .. estão exposto s. segue ulgun-, parâmetro- que aux iliam de MIiI vaúde e sujeito a riscos i nvisfveis ocasionado pela orga-
() profissional nessa invcvugaçáo. nizuçâo do trabalho. Assim. pode-se afirmar que a anamnesc
l livtoricamcntc. o pnrnerro profivsrona] a preconizar a in- ocupacional precisa estar afinada. cada vez mais. com as neces-
cluvao do trabalho na entrev "ta médicu IUI IJ médico italiano sidade .. da sociedade. sendo dinâmica e atualizada à medida
Iklnill dino Rurnazvini que. em 17(){). cm um tratado sobre as que as rclaçõcv do trabalho a solicitem.
ducuça-, cauvadas pelo trabalho. pcrgunmvn aos pacienres-tra-
hnlhudurcs sobre o seu t raba Iho. como c lcs trabalhavam. de
que l'ortnu. () que manipulavam e Ul11U série de questionarnen- RESOlUçlo Nst 16/96 DO CONSElHO REGIONAL
lOS que o levavam a construir UIII racioctnio sobre a ligação
entre trabalho e saúde.
DE MEDICINA DO ESTADO DE slo PAULO
Levye Wegman'l re, ..altam n illlpOl'tAl1ciade se prevenir dc
maneira efica7. lembrando que não se deve reconhecer apenas
Versa sobre Normas Específicas para Médicos
a hi"ória clínica do., ..inlOm:" upresentud() ... mas também Que Atendam ao Trabalhador
<IS que apre,entam outru, "1l1U11lt1' não característicos. bcm o Conselho Regional de Medicina do E. tado de São Paulo.
como u, trabalhadore, a"lnltlnHítico\ quc podem estar ex- no uso da~ atribuições que lhe conferem a Lei n!! 3.268. dc
PU'IIl' ao, ri,co .. ocupaCIOnóll\ Afirmam que o diagnóstico 30 de setembro de 1957. regulamentada pelo Decreto nR 44.045.
correIO. aliado ao tratamento adcquado de um trabalhador de 19 dcjulho de 1958 e.
pOr!udorde uma doença do trabalho. é e:,~encial para maximi/.ar C(//I.lidl'r(//ldo o estabelecido nas ('Ol'\st itu ições Federal c
oportunidades de promoção à "aúde e proteção do trabalha- l~stadul1l, hem como no C6digo de Ética Médica:
dor. Supõe-se que esse correto diagnóstico oeupacional ~eja COl/sidera/ldo que o trabalho é um meio de prover a sub-
provido .,e fon:m obtida~ informações de diversas fontes. ão ,i,tênci'l c li dignidade humana. nau deve geral' ll1al-estar_doenças
ba~1lI ~Ol11enlea hbtória correta c abrungcntc do pacicntc. é e 1110rte,:
preciso tamhém conhecer a empresa. reali!.ar testes e exu- COlllider(//ulo que a saúde e a capaddude de trabalho são
me' lahoratoriais e. em muitu~ ,ituaçõe~. a biomonitoração dIfCIl<l\ sociais e enciais. i.,to é. Inalienáveis. indivisíveis e
do trabalhador é ncce~~árHl (embora haja muita contro\ér"a de Interes~e comum:
'obre e\\e tipo de l:ontrolc 'ubre () trabalhador). Sugerem. Cumideralldo que o médico é um do., responsáveis pela
além do conhccimento da lunção exercida. o conhecimento pre,crvação c promoção da ,aúdc.
de I "~Ih ao, qual\ o trabalhador está exposto. o conheci- COllsideral1do a nece'isidade de nurmalllur os critérios para
mcnto da epidemiologia d()~ ~intoma~ entre outros trabalha- o estabelecimento dos nexo~ de cau,alidade do trabalho com
dore., de Ille~ma função ou da me!>ma empresa, sem serem os transtornos da saúde;
c'quecldll' (l1\ riscos não relacionados ao trabalho, como () COlIsidera/l(/o a necessidudc dc IlUrlllllti"ur a atividade do
fUlllo c /wbl)l(!.1 que podem contribuir para a doença ocupa- médicos que atendem tiO trabalhndor;
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente I 201

Considerando hnnlmcnte o decidido na Scsvâo Plenária minhamcntos, sohcitaçôcs e outro' documentos - dos
realizada em C>2de Julho de 19%. riscos existentes no ambiente de trabalho. bem como
dos outros informes técnicos de que dispuser.
ResQ(I'(!: Parágrafo 4g - Proceder à emissão de CAT. (no caso da
Artigo I~- Todo médico. independentemente da especialidade CI;f) ou outro documento comprovante do evento
ou do v Ir".:u11I com seu empregador, seja ele estatal ou privado. infortunístico, sempre que houver acidente ou mo-
é rcsponsãvcl pela promoção. prevenção e recuperação da léstia causada pelo trabalho. Essa emissão deve ser
saúde colcriva c individual. feita mesmo na suspeita de doença com nexo etiológico
Artigo 2" - Todo médico. ao atender seu paciente. deve avaliar com o trabalho. Deve ser fornecida. no ato, cópia dessa
IIpossibilidade de que a causa de determinada doença. alteração documentação. ao trabalhador.
clínica ou laboratorial possa estar relacionada ao trabalho. Parágrafo 52 - Relatar ao empregador. formalmente os
investigundo-a clínica e laboratoriulmente e. caso neces- riscos existentes no trabalho. fornecendo cópia, no
sário. verificando o ambiente de trabalho. mo. ii ClPA ou outra comissão de saúde. e a sindicatos
Artigo 30 - Ao' médicos que atendem ao trabalhador. indepen- ou repre. entontes constituídos aos trabalhadores.
dentemente de sua especialidade ou local em que atucm, Parágrafo 60 - oiificar o órgão público competente, por
cabe: meio de documentos apropriados. quando houver
Parágrufo ln - Tratar o trabalhador. elaborar seu prontuá- suspeita ou comprovação de trunvtomos da saúde
rio médico c fazer todos os encaminhamentos devidos. ambuivcis ao trabalho. bem como recomendar ao
Parágrafo 22 - Fornecer atestados de pareceres para o empregador para que assim proceda. independente-
afastamentos do trabalho sempre que necessário. consi- mente da necessidade de afastamento do trabalho.
derando que o afastamento para repouso. para acesso a Artigo 6!! - São deveres dos médicos de empresa, indepen-
terapias ou para se afastar de determinados agentes dentemente de sua especialidade, que atendem o traba-
agressivos é parle do tratamento. lhador (além do previsto nos artigos anteriores):
Parágrafo 32 - Fornecer laudos. pareceres e outros enca- a - aluar com a empresa para eliminar ou atenuar a noci-
minhamentos. ernpre que necessário, para benefício do vidade dos processos de produção e organização do
paciente e dentro dos preceitos éticos. quanto aos dado trabalho, sempre que haja ri co de agressão à saúde.
de diagnó rico, prognóstico e tempo previsto de trata- b - promover O acesso ao trabalho de portadoresde afecções
mento. Quando requerido pelo paciente. deve o médico e deficiências para o trabalho, desde que este não as
por à sua disposição tudo o que se refira ao seu atendi- agrave ou ponha em risco sua vida.
mento (cópia dos exames e prontuário médico). c - considerar a gestação como um momento privi legiado
Artigu 4~ - Para (I estabelecimento cio nexo de causalidade da vida, opondo-se a qualquer aIO divcriminatório im-
com os rrnnvrornos de saúde. deve o médico considerar: peditivo do acesso ou permanência da gcsuunc no
Parágrafo Únicn-A lém do exame cunico (fí'\ico e mental) trabalho. preservando-a, e ao feto. de possfveis agra-
c os exame, complementares. quando necessário : vos ou riscos decorrente), de suas funções, tarefas e
a - a hisrôrio clínica e ocupacionul. virtualmente de- condições ambientais.
cisiva em qualquer diagnóstico c/ou invcstlgação Artigo 7" - Aos médicos do trabalho (como tal reconhecidos
de nexo causal. por Lei). especialmente àqueles que atuern na empresa
b - o estudo do po to de trabalho. corno contratados. assessores ou con utrorcs em saúde
c - o estudo da organização do trabalho. do trabalhador. cabe, além do anteriormente descrito:
d - os dados epidemiológicos. Parágrafo Iv - Co-responsabi lizar-se, com os outros rné-
e - a literatura atualizada. dicos que atucm na empresa e que estejam sob sua
f - II ocorrência de quadro clínico nu subclfnico em supervisão, por todos os procedi mciuos que cnvol varn
a saúde do trabalhador, espccialmcnrc com relação à
trabalhador exposto a condições agressivas.
nção colei iva de promoção e protcção ~ sua saúde.
g - (I identificação de riscos n~icos. quüuicos. bio-
Pnrãgrnfo 2~- Responder solldariamcnrc com o emprega-
lógico,. mecânicos. estrcssuutc« e outros.
duro no caso de agravos à saúde desses trabalhadores.
h-o, depoimento- e a experiência do, irabnlhadore«.
Artigo !lu - São atribuições c deveres do Perito-médico de
i-o, conhecimentos e a). prática, de outra, divcipli-
invtituiçõcs providcnciãrias e scguradorus:
nn, e de <cu-, profissionais. sejam ou não da área ~I - avaliar a (lnjcapacidadc de trabalho do segurado.
da saüdc. por meio do exame clínico. analisando documentos,
Artigo 5" - Ao!>médicos que trabalham cm empresas. inde- provas e laudos referentes ao caso.
pendentemente de sua especialidade cabe: b - subsidiar tecnicamente a decisão para a concessão
Parágrafo 12 - Atuar visando essencialmente à promoção de benefícios.
da saúde e prevenção da doença. conhecendo, para c - comunicar O resultado do exame médico-pericial ao
isso. os processos produtivos e ambientes de trabalho periciundo, com a necessária identificação do perito
da empresa. médico (CRM. nome e matrícula).
Parágrafo 2ft - Avaliar o trabalhador e estabelecer sua d - orientar o pcriciando para tratamento. quando even-
condição de saúde para determinadas funções e/ou arn- tualmente não o estiver fazendo.
bicntev, procurando ajustar o trabalho ao trabalhador. Artigo 92 - Perito-médico Judicial é aquele designado pela
Deve o médico indicar Sua alocação para trabalho autoridade judicial ou policial. assistindo-a naquilo que
compauvci- com sua situação de saúde. orientando-o. II Lei determina.
se nccesvãrio. no referido processo de adaptação. Artigo 10° - Assistente Técnico é O médico que assiste as
Parágrafo 3" - Dar conhecimento aos empresários. tra- partes em liugio.
balhadores. comissões de saúde. Comissão Interna Artigo II - Em uções judiciais. o prontuário médico, exames
de Prevenção de Acidentes (CIPA). representante sin- complementares ou outros documentos s6 podem ser libe-
dicai- por meio de esclarecimentos. cópias de cnca- rados por autorização expressa do próprio assistido.
202 • Tratado de Clínica Médica

Mtigo 12 - São atribuições e deveres do perito-médico c ~ ZAHER. \. L E li PfI>{il";;" t .... r \I,J,CII. Má/t", '}II /"'/1/111111: ""''' 1I11kK/lo
".brrw"_ülfldiçi~,tkTr""'.,,,,, SXoI';aulc•• 1CJ95" 127 l)i"c""çdo(Mc.trado)
a~l>i~tel1lestécnicos: - F... uldack de ~k:d""1Q dllcu'mld.l.k de Slo 1'~uICl
li - cxamínarclinicamcmc o trabalhador e solicitar O~ exames 11 '1.\HER_ V. L DcJ 11".,,\';,, \I,J. " ....' f "rtlr", l'fI'IIHII'II"/. qlllllll/llll .•MId,,·o.
complementares neccsvãrios. Estes devem ser soli- Rrli/um " seu Tokntn ~ ~1o. I'J')'J P ~7! 'Ic", cl>oot"rudol I'aculdack de
citados com cruéno. e vua ncgarividudc. ror ~i só, \Icd,cma da l nl\c",ld,de de., I I'.ul e.
~4 \IUNOZ. O.R.:I\I.\lI:IO.\. ~I lt«ron ....l>lhcbdc Med". UIl1U ",loétlclI. 8,ohtrll.
não é dercrminuntc da incxistênciu de molcsrla. \ ~. n ~. p. 1~1·ISO. I'J'H
h -o perito-medico c asvistcntcs técnicos devem fazer-se :!5 ~I:GRE. M P,"'ptth':l' cm ~" .. II(. C 0"''''''. '. lü, I' 1 ICI, 1')1)().
acompanhar, 'c posvívcl. pelo próprio trabalhador !b, 1 URIE. S G. Eth."oal ",km"",. 'M prorc-""oulr"ll ... IR ''''I "p.III"nal medicine.
que esrã sendo objero da pcrícin, rara melhor co- ~ .M" .lIrJ.. ' lS. Il 10. IW~
27 MCCL=--=--E, R J t>n"«" ,n. ,onli.knU.hl) ,n '..' u",,""lUllI1cdit~1 pratice.A ..
nhecimcnto 00 vcu nmhicntc c de SIIl1 função, ao vi~- f'lIIf PhwrldJI. \ H II ~, 111%
toriar o local de rrabulho. 2M. KISCHITeUI. O (j T1Ic "onrhltnh.hl) II( mnI... llnh~"llIIKIf1 IR the .. orLplo.:c
c -c<;tabelcccr () nCAI!causal. convldcrundo o exposto J. OmlJl. I:.ml",,, 111,,1 , 11 n ~. I'I'I~
2~. SEGRE. M.; 'loAIII R. \' I ~II" C rc'pnn...lh,lIcI.,.k li.., "".Ii'\lulUl) que CUIJ.ua
anteriormente sobre nexo. tllI ~lIlIdcde trab.1Ih.Illurc\ lo H RREIRA IR .•M (1"1 , SIIIIJr"" Trabalho: TEtnUJ
Artigo IJ - Deve o perito-médico Judicial lorncccr cópia IM,/m,' I"lfll " Pnifillllllll'/l/lIf CIIIII" til' .\/Illtlr ti", 'r"II<,lIl(lllorrs.São Pnulo
de todo, 0' docurncntov disponfv CIl>para que os assis- Rtx.-d. 20()(). p 110 I I I
lentes rccnico-, elaborem seus pareceres, Em caso da '" Nl xes. \I PT. "ARTlN\. M A H"tclnadin'lD ln: Ill,NSb, ORoI. M.;ATTA.
J A.. \I"RTI'IS. ~I ,\ \III1I11'''~1QC/III'''' Solo I'ilul,,: Sarvier, 2002. p, 11-19
necessidade do perito-médico judicial vistoriar li cm- 'I I F\'Y. 8 S. \\1(i\l \ \ I) II (),;curah"n.1I Il.:~lth rccoll",zlOg and prevcntlng
presa, (tanto 0' locuis de trabalho como os documentos .. ()(~·reblcd d,...:a\C and ,nlul')4 ed 8111t1lnc>rcI 'I'pme'llt WiUiams and \Vil~," ..
sob sua guarda). ele deverá informar oficialmente o fato. 2OIXI. p. 9<H!2.
11. RASKIN. C. !)rua and akoholl~tlng ln tbe "orlplocc. moral, etbical anel Iq;ll
com a dcvida antecedência, aos assistentes-técnicos das issucs. 81111. ,\''' r., ' .es. n 2. ICJ93.
partes (ano. mês, dia e hora dcsva perícia). n. ROSENSTOC'K. I: CULLIEN. M. R. Routllll! urine Ic,tlng ror evidence or dru~
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'), OLRANO.G.lntrodllfUDCu,,1118'Mllra' }II>1I.ria.mnct,II" c' """'""'''111,. Loyola. ao dia-a-dia do médico. o que não é ~implc~ à primcira vista.
2001 pob o~ agente químico, con'Iitucm um problcma relativa-
lU OINIZ. O.. GtlLHHI. O. V qll,; BII",',ro São Pauln IJ,,,,,lIen"·.2CKI2. mente complexo; mas, na \crdadc, é pcrfcitamente possfveL
II LOLAS. F. 8.oillro· " Qftr I. C,.mll" fo;.. S30 Paulo I (l}"I.,. 200 I
I~, PI~I\l.L:BARCHIH)Nl"~~.C I' FlllwJa",~m,,,,IclHI',,II'" 'il"PJuICl. P~ulu,. j(1 que os conceito~ gerai\ de clfnica m,;dicll se aplicam Iam-
19'16. bém li e:.~e~agenlc, c. com uma brc\c abordagem das carne-
I I, SIoOK".M l:>Clinl".1I de ,",":1"" e 'u. rd,l\nu ,"11111~lIe~. dCIIIlIuluglUe d,ecolog' •. tcrí~ticas dos agcntcs químico, c ,uas formu, dc intcração com
III:SECiRE. M .. r011l \, (" H""rllm ~nCl1'11111,,:m)lISI'. 1i}C)Sp.23·29. o~ seres vivo., e algun\ c\cmplo' de efeiwl>. podc-se explicitar
14 COIiFJI., C; f"RRAI. I (' I)lIcllu, humano, Oll ~IICil rdllç(\~s. ti", ln: SI;GRI,.
essa tarefa.
'1 , ("Ot~F.N. (" 8" ...,,," 'i~n l'oIulo. I:OL:SI'. IWS. p•. 17·S(),
" sr (iRE \f PORlOde \hl. II, 1""", h'O<'lIel. J lira" NI'/'m/.• v, I. II. 20. p, 7.9, Podc-se conccituar lII(flx;nu;cio como ()procc~.,o de aJteração
I'J'I~ mórbida do orguni\lno cllu:>ado por ~ub'Iãnciu, cndógenalo ou
16 1I0SS\1:.. \\ S f\-<qu'''' tn'"h.'Odo \('1\" humano, Ml'lllrlllII IIfll,flla (C"'I,"11111 exógcna~ (xcnobiólicu\) c caractcri/odn por dcscquilíbrio fisio-
~I dt \labc,IU'. r..)( 1\1'1'
11 Ql.ElROLJ \ S R,fttltln w/Jrrf.'"lJ \lNlflJ RK.drJ.,IlC''''. \lEC. 1985. p. 9,(>1\. lógico decorrcnle de altcraçõcs bioqufmicas. Esse proces~o
I b HOS NE. \\ C; 1,,1, U""IIO ." \I,J.", Slo P.ulo M,"km •• 1985. p. )·I()1 pode ser evidcnciado por um quadro cJ(nic() (silluis c sintomas)
19. MARANON. G 1,.", .. ",,) I" a 1 cd \lacJnd 71,·7~,. 1915 p. 1-l0. e/ou dados labonlloriail.'
2U.OSELKA. G O cód'gu dr tI... mcd .. a ln. SI'GRI. \1 . COII EI\. C IJioltim. São É importantc fmor quc a simples prescnça de uma sub~-
POdul,,:EOl'SP. 1CJ9~ I' " li!
21 CO\SEI.HOrEOFR \l 01 \II OICINA C,lJí~IItlrftíl'l.AfItlIf{/R,.fol"r;ü"CFM tância química no organbmo. mc.,mtl em concenlrações rela-
n /U6IAA BIõI'O,. C"I\I IqX~ tivamentc elevadas (inclusive aCima dos chamados "limites
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 203
85·7W·59&·X

biológicos"). não caracteriza uma intoxicação. a. sim como o E. S3 e. pccificidadc traz a necessidade de se caracterizar
inverso também é verdadeiro. pois a não detecção de uma muito bem as substâncias químicas a que estão expostos os
substância no organismo não elimina a possibilidade de estar trabalhadores e consumidores e. muitas vezes, é necessário
presente um quadro causado por agente químico que já foi que o médico peça o auxílio de outros profissionais, como
eliminado. engenheiros. químicos ou farmacêuticos.
Também é comum a descrição de inúmero. efeitos bioquímicos
oucelularespara concentrações consideradas baixas de uma dada
substância. 1\ caracterização de uma intoxicação é eminen- Interação: local ou Slstêmlca
temente clinicn e estárelacionada ao desequilíbrios bioquímicos A~ substâncias que não são absorvidas, mas não são inertes.
e fisiológicos, e não à simples dosagem da substância química no podem interagir no local elocontare. normalmente pele e mucosas.
organismo: logo. intoxicação pressupõe a ocorrência dc pro- Podem ter efeito irritante, por exemplo e, dependendo da con-
cesso patológico. ou seja. uma alteração do funcionamento centração. causar graves lesões e morte.
normal (fisiologia) com ou sem repercussão clínica (doença). A interação sistêrnica pressupõe a absorção através da pele,
mucosas. via respiratória ou gastrointesrinal e efeito nas células
do organismo.
CONCEITOS BASICOS EM TOXICOLOGIA Em muitos casos, as substâncias provocam ação no local
de contato e internamente após a absorção.
Dosee Efeito A intcração sistêrnica é a mais importante na toxicologia.
Um conceito fundamental na toxicologia é que quanto maior a As substâncias, após serem absorvidas, sofrem distribuição
dose,maior o efeito. Sea interação entre uma substância química por meio do sangue para os diferentes tecidos do organismo"
e o organismo não segue essa regra. a interação deve se dar As sub tâncias nos tecidos podem ligar-se a locais críticos,
em outro âmbito, como, por exemplo. no campo da alergia. em geral enzimas e. por alterações bioquímicas, produzir os
Ainda dentro desseconceito. o tempo de exposição também seusefeitos biológicos'. Podem sofrer reaçõesquímicas (biotrans-
é fundamental. pois quanto maior o tempo que o organismo formação) e os produtos formados (metabõlitos) ser também
tem contato com a substância, maior será o efeito. Assim. o distribuídos pelos tecidos do organismo, produzindo efeitos (me-
efeito é o produto da dose e do tempo em que se mantém a tabólitos ativos) ou não (metabólitos inativos)".
exposição a essa dose (E = d x t). É essencial destacar que, para várias substâncias químicas,
Há uma variante para os efeitos chamados de "tudo ou nada". o efeito tóxico característico não é decorrente da própria subs-
como o carcinogênico. por exemplo, em que. em vez de E de tância e sim de um ou mais rnerabóliros ativos formados na
efeito, tem-sea probabilidade de efeito (pE) relacionada à dose sua biotransformação.
=
e ao tempo (pE d x t). Pode-se ilustrar esse fato lembrando As molécula. do organismo que foram modificadas por ligação
quequanto maior o número de cigarros fumados (dose) e quanto com a substância ou um de seus rnctubólitos sofrem processos
maior número de anos como fumante (tempo). maior a proba- de reparo que geram produtos de degradação das moléculas
bilidade (chance. risco, probabilidade) de se adquirir câncer (proteínas e ácidos nucléicos).
de pulmão, mas não se pode afirmar que o indivíduo vai tê-lo. A excreção pode ser da própria substância química, de seus
O fenômeno lembra muito os efeitos estocásticos (ou probabi- mcrubólitos. ou ainda dos produtos de degradação que foram
lísticos) das radiações ionizantes. objcto de reparação.
Os efeitos adversos sobre o organismo são inicialmente
Caracterfstlcas das Substâncias Químicas bioquímicos. ainda sem repercussão clínica e quase sempre
em Toxicologia reversíveis com facilidade, sendo essa fase denominada de pré-
Sempreque alguém per9unta qual O efeito de uma determinada clínica. Se as doses e/ou tempo de exposição silo mnlorcs, pode
substância. indaga-se: E solúvel ou insolúvel? Qual a concen- haver repercussão no funcionamento normal do organismo. com
tração?Está misturada com quê? Se for metal, qual a valência? o surgimento de sintomas e sinais, designando-ti como fase
Ou, ainda, esrã na forma metálica. iônica ou orgânica? clínica. Somente se caracteriza intoxicação quando O indivíduo
A especificidade do efeito é a mais norávcl característica das acometido estlÍ nu fase pré-clínica ou clínica.
substânciasquímicas. A simples mudança de valência de um Apenas se fala cm tratamento quando o indivíduo está in-
metaltransforma o cromo trivalente pouco tóxico no agressivo toxicado. mas, como se pode perceber, a instalação do quadro
(ecancerígeno)cromo hcxavalcmc. O chumbo inorgânico causa clínico é o final de urn longo processo que poele sofrer inter-
O clássico saturuismo, ma~ a forma metálica não ISabsorvível. venção cm qualquer uma das suas fases; por isso, as práticas
enquantoossaisdependemda sua solubi lidado em água. variando de toxicologia devem ser essencialmente preventivas. visto
desdeo insolúvel (c sem risco algum). como o sulfcio de chumbo. que um ambiente pode ser controlado.
até o cloreto de chumbo. altamente hidrossolúvel e. portanto.
com alto risco no manuseio. E há ainda os compostos organo-
metálicos de chumbo que causam um quadro de intoxicação
Características dos Eleitos Sistêmlcos
tãodiferentedo inorgânico, que não é denominado de saturnismo. Quando a intoxicação é aguda. cm geral é muito clara a relação
No caso dos hidrocarbonetos alifáticos. a simples mudança entre a absorção de uma substância e o quadro clínico sistêmico.
de posição dos átomos pode mudar totalmente o seu efeito. o caso de efeitos ti longo prazo. essa relação é, com fre-
comoo n-hexano(presenteem cola desapateiro) que é neurotóxico qüência. pouco evidente, pois as repercussões podem aparecer
periférico, ao passoque os seus isôrncros com cadeia ramificada após meses ou anos do período de absorção. O comum para a
(como o 2-metil-pentano) ou cíclicos (como O cicloexano) não maioria das substâncias químicas é o aparecimento do quadro
possuemesse cfei to. clínico lia vigência da exposição e não após a cessação desta"
Pequenasdiferenças de pouca significação química podem As substâncias cancerígenas (e/ou mutagênicas), cujas
também mudar totalmente o efeito. O benzeno é um hidrocarbo- probabilidades de efeito não são proporcionais à dose e ao
netoaromático cancerígeno e um mielotóxico potente. enquanto tempo são as principais cxccçõcs, pois os seus efeitos podem
O tolueno não tem essas características. aparecer muitos anos após a cessação da exposição.
204 • Tratado de Clínica Médica

Também existem exceções quando li substância dispara um quadro de intoxicação. pois mesmo elevado ainda pode não
mecanismo imune. como no caso da silicose por toxicidade existir dano neuronal acima do horizonte cltnico, ou ainda,
macrofágica da sílica livre cristalina ou do quadro progres- pode não existir exposição atualrnentc, contudo, pode existir
sivo de deterioração do sistema nervoso central (SNC) causado dano estabelecido de exposição elevada no passado. Trata-se
pelo manganês que, provavelmente. dispara um mecanismo dc erro comum afastar a 1'0. sibilidade dc intoxicação por
auto-imune que, não obstante se inicia durante a exposição, mercúrio metálico em indivíduos com quadro clínico clássico,
evolui mesmo após o afastamento da substância. mas afastados da exposição há anos, simplesmente porque a
Para 11 grande maioria das substâncias vale a premissa de que concentração dc mercúrio na urina é normal. O inverso tam-
(/efeito é proporcional li dose c ao tempo de exposição e existem bém é verdadeiro. ou seja. dc se firmar um diagnóstico sim-
dois mecan ismos básicos de ação: por acúmulo do substância plesrnerue por haver um mercúrio elevado durante li exposição,
ou por acâmulo de lesões e o quadro aparece na vigência da É evidente que este último caso exige providências enérgicas
exposição ou pOUCIhdias ou semanas após a cessação desta. do ponto de vista da corrcção da causa da exposição exces-
O acumulo da substância no organismo causa um distúr- siva, mas o diagnóstico é eminentemente clínico e não pode
bio. como inibições cnzimãticas que prejudicam urna ou mais ser feito por meio da dosagem.
vias metabólicas. Como exemplo pode-se citar a intoxicação Algumas dosagens não têm significado algum do ponto de
ocupacional por chumbo inorgânico. que inibe as enzimas da vista prático. como a de manganês 110 sangue ou urina, por
síntese do hcmc e o acumulo dc substratos dessa via provoca exemplo. que não tem relação ncm com a exposição nem com
uma série de aheraçõcs. além da própria anemia. Corno o chumbo a clínicu.
tem dificuldade de ser excretado. a absorção desse metal além Isso traz a necessidade do médico, perante um caso de uma
de determinado nível vai levando a um acúmulo e, quanto maior possível intoxicação, verificar qual o significado da dosagem
a sua concentração, maior a inibição enzimática e pior o qua- toxicológica antes de pedi-Ia ou mesmo levá-Ia em conta quando
dro clínico, quc guarda estreita relação com a concentração o paciente já a traz.
de chumbo no sangue.
O afastamento da exposição à substância química resulta
em melhora lenta, ma progressiva e, se não houver sequelas,
INTlllcaçaES P.I CaSES EVaPIRES
há cura completa da intoxicação.
.Já no caso do ucümulo de lesões. a substância pode ter uma
Gases e Vapores Irrilanles
excreção rnu itu rápida. porém a lesão permanece e q uando a Os gases c vapores irritantes são constituídos de ácidos ou bases
SOIlIH dessas lesões passa de determinado nível, o quadro clí- fortes, ou ainda substâncias oxidantes. que atacam as mem-
nico começa a eclodir. Um exemplo é a intoxicação ocupa- branas mucosas e normalmente só têm efeitos locais. Como
cional por inseticidas organofosforados ou carbarnaros. que exemplos podem-se citar os ácidos clorídrico, fluorídrico, bro-
silo inibidores da acerilcolinesterase que, à medida que o in- mídrico. nítrico: bases como a amônia e os halogênios como
divlduo vai se expondo no seu trabalho, a dose absorvida no dia o flúor. o cloro c O bromo. O chamado gás lacrimogêneo (cloroa-
inibc uma parcela da arividade da enzima no sistema nervoso, cctofcnona) estã nc sa categoria e assim como os contaminantes
que leva várias semanaspara recuperar a atividadc por rcssíntcsc dos grandes centros urbanos ozona e peroxiacerilnitraio (PA ).
da proteína. O próprio inseticida é biotransformudo e excretado Em pequenas concentrações causam desconforto com ardor
no mesmo dia. mas existe um acúmulo da inibição cnzirnãtlca, ocular, rinirc. rinorréia, traqueíte e bronquite com tosse,dispnéia,
que ao atingir determinado nível. acarreta nparccimcnro do desconforto respiratório e sensação de opressão torãcicn. Em
quadro clínico que, se não for fatal. reverte após a recupera- altas conccntruções podem levar rapidamente à morte por edema
ção da atividade enzimática. agudo de pulmão. O edema pulmonar ~ inflamatório (não
Parao dano do S C causadopelo mercúrio metálico o modelo hcmodinârnico).
proposto é semelhante. O metal provoca a morte de ncurôn ios Como essas substâncias são muito irritantes, existe uma
em algumas áreas do cérebro e a soma das lesões ao longo tendência natural de fuga do local de exposição mesmo na
dos anos de exposição excessiva resulra em quadro clínico. presença de baixas concentrações no ar, mas em condições de
que progride enquanto está exposto. mas que estaciona após acidentes industriais. como o rompimento de tanques ou tubu-
o afastamento da exposição. porém o grau de dano atingido lações dos produtos, pode haver morte rápida dos atingidos.
permanece corno seqüela. Há algumas substâncias que podem provocar efeito tardio
(horas após a exposição): o dióxido de nitrogênio (N02) é um
exemplo clássico. O fosgênio (COCI.), um gás clorado incolor
Significado das Dosagens em Toxicologia e inodoro. é OUlTOagente que pode causar grave edema agudo
Muitas substâncias podem ser dosadas em material biológico. de pulmão cerca de 12h após a exposição. Esse gás é formado
como sangue, urina. fezes. ar exalado. etc .. no entanto. o signi- por degradação térmica (aquecimento, chama direta ou faísca
ficado médico dos resultados obtidos é muito variável de elétrica) de solventes clorados, muito usados na indústria e
substância para substância e ainda do próprio material bioló- cm locais próximos à soldagem. É imperccptfvcl, pouco solú-
gico em quc foi dosado. vel em água. atinge o trato respiratório inferior em que é decom-
A maioria das dosagens não tem significado dircto em cltnica posto em ácido clorídrico. responsãvel pela ação irritante.
médica. com poucas exccções. C0l110 li dosagem de chumbo O tratamento do edema agudo de pulmão por irritantes pri-
no sangue para o diagnóstico c controle do tratamento do satur- mários é li base de corticostcrôides potentes e oxigenoterapia.
nismo. ou ainda a atividade da acetilcolincstcrasc na intoxicação Como a maioria desses produtos químicos não possui in-
por insericidas organofosforados e curbamatos. teração sistêrnica não existe dosagem válida em toxicologia
Em geral. a dosagem tem relação com a exposição aluai e para eles. A exceção mais importnnte é o flúor, tanto em for-
pode avaliar o risco do aparecimento de uma intoxicação, se ma gasosa (F2). quanto na forma de ácido fluorídrico (HF).
é que já não esteja presente. mas não confirma ou afasta um que além de irritante forte têm relevante interação sistêrnica
diagnóstico. (causando fluorose - doença incapacitante que leva a cal-
A dosagem dc mcrcúrio urinário pode avaliar a exposi- cificações de ligamentos) e pode ser rnonitorado pela dosa-
ção atual ao mercúrio merãlico. mas não tem relação com o gem de fluoreto urinário.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 205

Gases Asnxlantes Químicos revertida com o clássico tratamento com azul de metileno
endovenoso. se necessário. Atualmcnte é preferível utilizar-se
As subsrância- dcsve grupo têm irueração sivtêmicu com o or- de métodos mais simples com substâncias que podem ler o
gunismo e uxvim agem cm baixas conccntraçõc-. O exemplo mesmo efeito C0l110 o caso da hidroxicolabalamina EV que
mais cl:ís~ic() é () monóxido de carbono (CO). que é gerado pode retira,' o cianeto da cadeia rcspinuéria formando a
pela combustão incompleta de cornbustfvcis C0l110 a gasolina. cianocobulam ina.
Por possuir ução sistêmica. é mortal mesmo cm concentrações EII1 exposições a longo prazo os efeitos crõnicos podem
relarivumcmc baixns, e COIIIO é incolor e inodoro. nã(l pode ser aparecer corno uma síndrome caracterizada por fadiga, dispnéia
percebido. (~ muis leve que o ar. o que explica II orientação dos a graudcs esforços e ccfaléia. Também há a hipótese que esse
bombeiros de manter-se abaixado em caso de incêndio. pois o tipo de exposição pode resultar em hipoiiroidismo crônico.
CO é lima da, mniorcs causas de óbito nesse ripo de ocorrência. Esse fato é comprovado em animais de experimentação. Tal vez
OCO ligu-vc COI11 a hemoglobina. pois evsu molécula tem esse efeito esteja ligado ao riocianato (SCN ). mctabôlito do CW.
uma afinidade 240 \ClC!>maior pelo CO do que pelo O,. blo-
queando. assim, o transporte deste último para O~ tecidos. Forma
um complexo CO-hemoglobina. a carboxi-hemoglobinu (HbCO) INTOIICAÇOES POR SOLVENTES
que é bem mais estável que a oxi-hernogtobina que resulta em
hipóxia por déficit de transporte de oxigénio aos tecidos. O Solventes OrgâniCOS
quadro clínico é proporcional à percentagem de HbCO·. Com
10% desse complexo no sangue há sonolência e dispnéia a Solventes são substâncias orgânicas. líquidas e voláteis, que
grandes esforços. a 20% dispnéia a médios esforços, a 30% pertencem a diversos grupos químicos. Em geral. pertencem
cefaléia intensa, irritabilidade, alterações visuais e de julga- a diferentes funções da química orgânica como: cetonas, ésteres,
mento, a 40 a 50% confusão mental, náusea. vómitos, perda de álcooi . éteres. hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, deri-
consciência em caso de esforço. Pode parecer que o indivíduo vados halogenados. nitro-arnino-compostos, glicôis, entre outras.
está embriagado. c a 60 a 70Ck. convul ões. coma c morte. Como olvcnies. propriamente ditos, são utilizados para extrair,
O diagnóstico dessa intoxicação pode ser confirmado por meio deslocar. aplicar. tratar. dissolver outras substâncias, sem reagir
da dosagem do complexo HbCO circulando no sangue, mas deve- com elas. São moléculas quase sempre apoiares ou pouco polares
se lembrar que a meia-vida deste é de cerca de 2h. a sim do agens e voláteis.
A principal via de absorção dos solventes orgânicos é a
feitas ulgurnas horas após a chegada em serviço de urgência
não têm valor prático. O tratamento consiste principalmente respiratõria. Alguns também podem ser absorvidos pela via
cutânea. rnus do ponto de vista quanrirativo a via pulmonar é
em ndrninistrnr O, cm alta concentração rapidumcnrc (reverte
ii mais importamc.
mais r~pid() a lig:lção do CO com a hemoglobina).
Os solventes orgânicos atingem o alvéolo e podem ntrnvcssar
O gãs cianfdrico (HC ). também conhecido como cianeto de
a barreira alvcolocapilar rapidamente por meio de difusão simples,
hidrogênio. é uma da, subsrâncius mail> pcrigosu« ao homem
lendo cm vista a natureza lipídica desta. O transporte 6 feito
e aos animais. sendo clavvicamcntc usada para matar conde-
pelo vnngue a rodos os tecidos, nos quais peneira também por
nados na~ câmara' de gá~·. difusão simples. São distribuídos muito rapidamente por todo
x
r}, Sai, voltivcis de cianeto (por exemplo. KC,. aC ) são o organismo. O tecido adiposo e o sistema nervoso central (SNC)
'"~ perigoso» também por \ ia oral. pois reagem com o HCI do ~ã() locais de alta concentração de solventes em conseqüência
~ estômago gera lido HCN que é absorvido instantaneamente para dos seus alto). teores de gordura. o acúmulo é proporcional a
~ o sangue através tia própria parede gá'trica. Age na cadeia lipofili» do composto.
respinuória. uma ver que o íon cianeto liga- ..e com o Fe'- do Os solventes são biotransforrnados principalmente no fí-
cirocromo bloqueando O uso de O, no. tecidos (respiração celular) gado. mal> também há ação bioquímica pulmonar, renal c cm
e li formação de ATP nas células. Os ctciros agudos aparecem outros tecidos. Muitas vezes as reaçõcs de biotransforrnação
após segundos ou minutos da absorção. Em doses muito baixas são chamadas de dctoxificação ou desintoxicação, no entanto,
pode causar discreta cefaléia. tonturas e náuseus. Em doses isso não é correto. visto que muitos efeitos deletérios de sol-
maiores acarreta. além da intensificação dos sintomas ante- ventes (ou mesmo outros grupos de substância com interesse
riores. rcspirução rápida e superficial. sensação de opressão toxicológico) são causado pelo metabõlito e não pela subs-
rorãcica. perturbação da visão. arritmias. O paciente fica in- tância original".
tensamente vermelho. poi-, como o O, do sangue arterial não O si-rema cirocromo P-450 é o principal responsável pelas
é usado pelos rccidov, o sangue venoso retorna t50 oxigenado reações oxidativas sofrida pelos solventes. Também há outras
quanto o arterial. Podem ocorrer coma e COI1\ ui ÕC.,. Pode ocorrer enzimas envolv idas como esrerases. amidases, glicuroniltruns-
morte nessa fnsc. Em doses elevadas. pode haver morte cru ferase c a gluuu iona-Svrran ferase.
poucos miuutos". Cada solvente tem características particulares em relação
A base do tratnmcnto é aumentar a oferta de Fc"" livre no à proporção que sofre biotransformação, Cerca de 90 u 95%
sangue, deslocando. portanto. o íon cianeto do citocromo para do álcool elOiço ~üo biolransformados em úcido IlCélico e os
esse novo local. pcmlilindo assim" respiração celulare li l'onnaç50 dcmais lêm excreção ;lIlIolllro por ar exaludo e urina; ao passo
de ATP. Cla~sicamente' ~e usa solução aquo~a de nitrito de que apruximauamcnte 85% do benzeno !>ãobiotransl'ormados
sódio (NaNO, - O.5g em 15mL) endo\eno~a. E~:-a :-olução cm vário~ compol>toll. entre eles. fenol. catecol, hidroquinona
provoca ti foriu:tção de meta-hemoglobina (HbFe"'). a qual e ácido Irtm.Hran'l11ucônico. que ão excretndos na urina, sendo
não tran:-porta llxigênio. mas libera o citocromo do cianeto. os 15% remanescente eliminados pelo ar cxalado. Existem
Em ca~{)~lI1uito urgcnte~. pode-~c ainda ministrar nitrito dc ~olvente~ como o tetracloroetileno (ou percloroetileno). em
all1ila (~lIb~lância orgânica volátil). que também ,e produz 11 que Ol11enle 3% do conteúdo absorvido são transformados
meta-hemoglobina. O CI pode ser removido do corpo. rapi- el11ácido tricloroacético, enquantO 97% são eliminados pela
damenle. com uma solução aquosa de tio sulfato de sódio. via respi ratória sem modi ficação.
que é inócua c reage com o cianelo formando tioci:lIlalo (SCN-), Para as dosagens das substâncias. pode-se ut ilizar a do próprio
fon que é excrewdo na urina. A meta-heglobinemia pode ser solvente no sangue. na urina (depende da hiurossolubilidade)
206 • Tratado de Clínica Médica

ou no ar exulado. O "bafõmetro" usado para dosagem alcoó- Há evolução para cura após 18 a 24 meses de afastamento do
lica de motoristas é um exemplo. O mais comum é a dosagem trabalho. mas deve ser feita fisioterapia durante esse período.
de um produto da biotransformação do solvente. A amostra biológica
deve ser colerada logo após a exposição, sob pena de se obte- Solventes Clorados
rem resultados falsos-negativos. Algumas horas após cessada a
exposição as dosagens não tem mais validade prática. Os solventes cloradas formam um grupo grande de substân-
Em qualquer caso, as dosagens mostrando que as substân- cias. muito usadas tanto em indústrias quanto em laborató-
cias ou os rnetabõlitos estão acima dos limites considerados rios. Podem-se citar corno exemplos desse grupo, o clorofórmio,
normais não revelam diagnóstico de intoxicação. significam o tricloroetileno. o tetrucloroetileno, o tetracloroetano e o
diclorometano.
apenas que está havendo exposição excessiva. A intoxicação
São extremamente hepatoróxicos e a lesão, inicialmente, é
por um solvente é caracterizada pela presença de danos de-
tectados por meios clínicos ou laboratoriais. percebida apenas pcla elevação das transaminases no sangue.
Os efeitos agudos em exposições elevadas são iguais para Discreta no início e aumentando à medida que o indivíduo
continua exposto, a lesão pode evoluir até csteatose e fibrose
todos os solventes e aparecem durante a exposição, desapare-
hepática. No começo, não há aumento de gama-glutamiltransferase
cendo. paulatinamente, nas horas subseqüentcs à da cessação
(GGT) nem de bilirrubinas, mas com o agravamento da hepa-
da exposição. De modo geral, o principal efeito é a depressão do
tite tóxica elas podem aparecer.
SNC. Variam muito conforme a dose. e vão desde uma leve
No rim podem aparecer lesões tubulares. mas são em geral
diminuição de reflexos e vigília, com baixas doses, até o coma
pouco importantes se comparadas COIll o quadro hepático, muito
e parada cardiorrespiratõria, em doses extremamente elevadas,
mais marcante. Há ainda referências sobre neurotoxicidade
em geral dentro de espaços confinados com grande evapora-
de alguns clorados, especialmente para pares cranianos. O cloro-
ção de solventes.
fórmio e O tricloroetileno são ainda suspeitos de serem carci-
Comumente, os indivíduos submetido à exposição exces-
nogênicos para o fígado".
siva sofrem de cefaleia. sonolência, fadiga. Doses mais eleva-
Não existe tratamento específico. Deve-se basicamente
das podem provocar tonturas. náuseas c perda do autocontrole
afastar o indivíduo da exposição. Comumente, há regressão
e ainda confusão mental, desorientação. diminuição da coor-
total de casos leves e moderados. Casos graves podem dei-
denação motora e queixas de paresresias em doses mais altas,
xar sequelas hepáticas.
como pode ocorrer nos "cheiradorcs" de cola.
Existem dosagens biológicas para vários solventes clorados.
Se submetidos a testes psiconcurolõgicos, os expostos ainda
As exposições a tricloroctileno e tetracloroerano podem ser
sob esses efeitos agudos (minutos ou até poucas horas após
monitoradas por meio dos rriclorocornpostos totais na urina,
cessação da exposição) demonstram atraso do tempo de rea- e o tctracloroetileno pelo ácido tricloroacético urinário. Em
ção, diminuição da memória, incoordenação motora e redução
todos os casos o indicador elevado não tem relação com a
na velocidade de percepção. Em exposições elevadas repetidas
intoxicação e desaparece rapidamente após a cessação desta.
ao longo do tempo podem causar dano cerebral caracterizado É útil para a monitoração biológica de trabalhadores expos-
pela permanência dessas alterações. mas de forma leve",
tos. mas o clorofórmio e o tetracloreto de carbono não têm
Não há tratamento específico para esse quadro agudo. sendo
indicadores biológicos.
a retirada da exposição a conduta essencial. Em casos muito
graves. pode ser necessário o uso de ventilação forçada de
urgência. Se houver contaminação cutânea, deve-se submeter Hidrocarbonetos Aromáticos
o paciente a um banho com sabonete e troea da roupa banhada Os hidrocarbonetos aromáticos constituem um capítulo muito
de solvente. Esses efeitos são rapidamente reversíveis". importante da toxicologia ambiental c ocupacional. O benzeno
Enquanto os efeitos agudos comuns são característicos de atualrnente é usado quase que exclusivamente na indústria
doses relativamente elevadas, os crónicos (ou a longo prazo) petroquímica como matéria-prima. No passado era usado como
são específicos. e podem. eventualmente, ser causados por solvente. e. assim. fazia parte da formulação de colas, tíner,
concentrações muito baixas, dependendo do agente. tintas, vernizes, etc. Nos últimos dez anos não tem sido en-
O tipo de efeito varia com cada solvente cm particular. Em contrado nesses tipos de produtos no Brasil.
muitos casos. a mudança da posição de um carbono na molé- É absorvido através da pele íntegra e dos pulmões. Cerca
cula da substância muda completamente o efeito. de 60% são biotransforrnados em vários metabélitos corno fenol,
Como exemplo pode-se citar o n-hexano, constituinte da ácido fenil-mecaptúrico, ácido trons-transmucônieo, hidroqui-
benzina (e da cola de sapateiro) que é biotransformado em vários nona, carecol. benzoquinona, etc.
metabõlitos, corno garna-valerolactona, 2-hexanol. 5-hidróxi- É um miclotéxico potente. podendo causar hipoplasia ou
2-hexanona e 2,5-hexanodiona, entre outros? Este último displasia de medula que. dependendo da gravidade. pode levar
metabólito causa uma neuropatia sensitivomotora, especialmente ou não ti alterações de hernograrna. Provoca. também, aplasia
em membros inferiores após alguns meses de exposição excessiva medular diretamente ou como evolução de hipo/displasias crô-
e contínua. nicas, sendo esse efeito característico de exposição a doses
O quadro clínico varia de paresresia c diminuição de força elevadas (acima de dezenas de ppmr':".
nas extremidades dos membros inferiores até anestesia "em É cancerígeno 'para o homem, causando leucemias e linfomas.
bota" e paralisia com o pé caído. A eletroneurorniografla mostra Existe risco dessas doenças mesmo com exposições em nível
potenciais de fibrilação nos acometidos, e na biopsia observa-se de I ppm de benzeno, e por isso essa substância foi banida de
degeneração axônica''. uso como solvente em quase todo o mundo. Quanto maior a
Na Itfllill, perante um enorme número de casos graves entre exposição. maior a probabilidade da ocorrência de câncer.
artesãos que usavam cola benzina (com n-hexano) em trabalho Deve-se ressaltar que qualquer desses efeitos pode apare-
por conta própria em casa, e, portanto, sem controle arnbien- cer, inclusive após cessada a exposição.
tat. O governo proibiu o uso desse solvente em colas, obri- O tratamento é transplante de medula em caso de aplasia,
gando os fabricantes a substituírem-no pelo cicloexano que é e tratamento específico para o tipo de leucemia ou linfoma de
muito menos neurotóxico. que o paciente for acometido.
85·7241·598·X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 207
85·724t·5911·X

Os trabalhadores exposto (em pctroquírnicas principalmente) Por outro lado. a excreção de um metal pesado é muito
devem ser mantidos em ní\ eis muito baixos de exposição (infe- lenta. possuindo elevada meia-vida biológica. Essa meia-vida
riores a Ipprn) e devem ter o ácido transmucônico urinário (um é diferente em cada tecido. sendo maior em tecidos em que há
metabólico do benzeno) dosado periodicamente. Esse metabólico grande afinidade. os exemplos citados anteriormente, a meia-
õ iem relação com a exposição e não faz diagnóstico de efeitos vida do chumbo no o so compacto é de 20 ano • e a do cádmio
desse agente mas se. elevado. mostra uma nccesvidade urgente no rim é por volta de 15 anos.
de melhorias no ambiente de trabalho. A via de excreção mais importante é a urinária. porém há
O ar da. grandes cid ade' é poluído com pequenas qunnridadcs alguma eliminação por fe/e,. sudorese e descamação cutânea,
de benzeno proveniente da queima da gasollna. Tipicamente as e ainda. pelo crescimento de fânero,.
concentrações são da ordem de algullla~ partes por bilhão e
devem cr rcsponsáveiv por ulgun-, Calo!):' de leucemia por ano
na popu lação. Chumbo InorgâniCO
O tolueno é um dos \oh cnrc-, muis u~ud(l" tamo puro quanto A fonte principal de chumbo é o sulfcio de chumbo (PbS),
em misturas. em tíncr. tiruuv, vernizes. gráficas. colas. etc. É conhecido desde ti Antigüidudc como gulcnu, Esse minério é
absorvido pelos pulmões (a absorção por via cutânea é despre- extraído c refinado a chumbo metálico. Os principais usos são:
zível), biotransforrnado em vãrios mctabólitos. sendo o prin- na fabricação C reforma de acumuladores elétricos (baterias);
cipal o ácido hipúrico. que tem excreção urinária. pode ser em pigmentos usados em tintas. plásticos. e revestimentos de
dosado. mas não tem relação com O~ efeitos. Apesar de estru- pisos, azulejos e ccrãrnicus: lia fabricação de vidros e cristais;
turalmente ser parecido com o benzeno. não é carcinogênico'". na funilaria de automóveis: e 1111 solda de circuitos eletrônicos.
O tolueno é considerado um hepato e nefrotóxico discreto, Normalmente a exposição ocupacional se dá a poeiras de sais
muito menos que o), solventes clorados. Também é neurotóxico, e óxidos e/ou fumos provenientes da fusão a alta temperatura do
principalmente ao VIII par. podendo levar a alterações oro- metal. A exposição ambiental mais comum é pela água e/ou
vestibulares. A exposição concomitante a tolueno e ruído (muito
alimentos contaminados.
comum em vários ramos industriais) agrava a perda auditiva
O chumbo é sempre absorvido por via respiratória ou di-
que haveri .. upcnu .. pelo ruído".
gestiva como íon chumbo livre e difusível (Pb"), Após a entrada
O xileno tem caractcrística-, e uso muito semelhantes aos
do tolueno. porém é menos volátil e não tem a otoroxicidade na corrente sangüfnea. a maior pane do íons livres liga-se a
hernácias ou proteínas plasmática ... ficando menos de I % do
deste.
chumbo total do sangue. ainda como forma livre e difusível.
À medida que o sangue circula. na passagem por tecidos com
INTOIICAÇOES POR METAIS PESADOS baixo teor do metal. h:1 urna difusão da Iração livre no sangue
Os melais podem apre ...curar-se em três forma químicas dife- para os tecidos. Com e sa migração. uma porção ligada a hemácias
rentes: metálica. iônicu e orgânica. Cada forma tem caracte- c! proteínus é liberada. mantendo assim um equilíbrio dinâmi-
ri\lica~ fí~ico·(lufmica, e também efeito. tóxicos muito diferentes co. Nos tecidos. o chumbo liga-se. também. a macrornoléculas
entre si para um mesmo metal. E!.'e fato exige muita atenção por (principalmente protctnav).
parte do cllnico na interpretação da história de ex posição. Quando () chumbo atinge o equilíbrio. a maior parte do
As forma-, inorgânica, (metálicas c iõnicas) <ão as mais melai (90%) estú depositada nos O sos compactos e dentes,
clássicas em toxicologia. ormalmente as formas metálicas tecido pelo qual possui maior afinidade. O remanescente é
não são nbsorvida- e não oferecem perigo (execro o mercúrio distribuído nos tecidos moles (rim, fígado. músculos, etc.),
metálico). A oxidação da' formas metálicas em óxidos ou sais ossos trnbeculados, e, ainda. uma pequena parte permanece
solúveis em água é que propiciam a absorção e. por conse- no próprio sangue.
guinte. a intoxicação. Em um indivíduo intoxicado por chumbo, o afastamento da
Compostos insolúveis de metal (sulfeio de chumbo. por exemplo) exposição levará a uma diminuição da quantidade do melai
não oferecem toxicidade alguma. as. im corno o chumbo metá- nos tecidos. mas esta será desigual. dependendo das diferentes
lico, que não é absorvido sisternicamcntc ncm quando fica no afinidades do metal pelos mesmos. No caso do osso compacto,
corpo em Forma de projétil de arma de fogo. exceto quando a meia-vida biológica (T'I,) chega a cerca de 20 anos. Nos
fica alojado nas sinôvias em grandes articulações e sofre ataques
demais tecidos, há uma eliminação mais rápida, e a meia-vida
químico e biológico (oxidação) e assim pode ser absorvido.
pode variar de emanas a meses.
As formas orgânicas (compostos organomcrãllcos) são
Do ponto de vista toxicológico. o chumbo depositado no
normalmente voláteis e lipossolúvcis. e. por essas propriedades,
são absorvidas pelas via, cutânea. re piratória e digestiva. osso compacto é Ião lentamente liberado. o que na prática é
Também. em razão da lipossolubilidadc. os seus efeitos geral- inócuo. Pode ocorrer liberação acelerada desse chumbo ósseo em
mente são diferentes dos mesmos rnctuis em formas inorgânicas. condições patológicas. nas quais sejam eliminadas grandes
isto é. metálica e iónica. quantidade de cálcio do tecido e qucléuco, como em caso de
tumores de paratircõidc e acidose mctabõlica. essas condições,
um indivíduo que trabalhou com chumbo no pas ado. mas está
Características Toxicológicas Gerais afastado há vários anos da exposição. pode apre cnrar um
dos Metais Pesados quadro clínico de intoxicação pelo metal novamente.
De maneira gemi. o comportamento dos mctui« pesados é de Os principais efeitos metabólico, do chumbo inorgânico
acúmulo no organismo, São lentamente absorvidos. acarretando são na via metabólica da sfntcsc do hernc, em que há inibição
aumento gradativo da concentração do elemento nos tecidos. COIllU- de várias enzimas. e. em conscqüêncla. diminuição da forma-
mente. o metais se ligam a molécula, de vários tecidos. por ção dessa molécula e de seus derivados. como hemoglobina.
exemplo. os grupos sulfidrilav (S-I-i) de proteínas. Muitos deles mioglobi na c citocrornos. Também htI aumento da circulação de
têm grande afinidade por um tecido específico, no qual po- substratos ou intermcdiârius dcssu via metabólica por causa
dem se depositar. Corno exemplo . pode-se citar a afinidade de sua não utilização, corno O ácido aminolevulínico (ALA),
do chumbo inorgânico pelo tecido õsvco compacto e do cádmio coproporfirinas e protoporfirinas. /\s análises dessas substân-
pelo córtex renal. cias são usadas corno indicadores da ação do chumbo no or-
208 • Tratado de Clínica Médica

ganismo. Além desses efeitos metabólicos. o chumbo pode fase. pode também aparecer uma palidez cutânea, 11~() acorn-
causar outros. como uma vasoconstrição aneriolar, panhada por palidez de muco a de igual intensidade (disso.
As manifestações clínicas da intoxicação pelo chumbo ão ciação cutaneomucosa). apesar da anemia que, geralmente.
observadas em uma série de órgãos c sistemas. especialmente acompanha O quadro.
neurológicas, gastrointestinais, renais e hcmatolõgicas. Ainda Também é clássico o sinal chamado de orla azul ou gengival
são pouco claros todos os mecanismos cnvol vides: alguns efeitos de Burton. Trata-se de uma linha azul escura, quase negra,
seriam causados pelo íon chumbo diretamente, outros por que pode aparecer na borda entre a gengiva c os dentes. Essa
alterações metabólicas (como anemia por inibição da síntese linha azul é constituída de sulfero de chumbo, e esse sal é
do herne, por exemplo). formado pela precipitação do chumbo circulante nos capila-
A intoxicação pelo chumbo inorgânico é também denominada res, e difundido no tecido extracelular, com o sul feto produ-
de sarurnisrno. Essa doença é conhecida desde a Aruigüidade, zido pelo metabolismo de microrganismos presentes nas placas
quando era comum na mineração da galena (minério de chumbo) bacterianas. Esse sinal é considerado erroneamente corno
e na metalurgia do metal. Quase sempre, divide-se a intoxicação parognornônico de saturni mo. pois além de poder ser for-
em dois tipos: intoxicação subaguda e intoxicação crônica, mado nas intox lcaçõcs por outros metais (por exemplo, rner-
cúria), pode não aparecer em intoxicações graves por chumbo.
se o paciente tiver uma boa higiene bucal. Também as hemácias
Intoxicação Subaguda apresentam o ponteado basõfllo corno característica do satur-
nismo crônico.
Quando hâ absorção de grandes quantidades de chumbo em Na evolução da intoxicação por chumbo, é importante frisar
curto espaço de tempo. cm geral por condições de trabalho que além de um quadro com pobreza de sinais, os sintomas
ruins. É usualmente chamado de saturnismo agudo. mas seria vão se instalando insidiosamente. e o próprio doente não os
melhor a denominação de saturnismo subagudo. tendo em vista considera como tal. atribuindo o seu quadro a envelhecimento
que um quadro agudo evolui em poucas horas. ou no máximo ou cansaço por trabalho em demasia. Como não se considera
em dias. ao passo que esse quadro evolui em algumas semanas doente. pois ainda pode trabalhar, a exposição ocupacional ao
de exposição. chumbo continua. e o trabalhador poderá procurar um médico
Em geral, o indivíduo aparece em pronto-socorro. com um quando houver um agravamento do seu estado de saúde, e em
episódio de cólica intensa (chamada cólica satúrnica). podendo geral. essa procura de atendimento ocorrerá quando as cólicas
algumas vezes ser confundida com "abdome agudo". tendo em forcm muito fortes ou a Iraqueza o impedir até de se locomover
vista a intensidade da dor abdominal. Também apresenta palidez normalmente.
intensa e oligúrill ou mesmo anüria, vôrnitos e desidratação. O~indicadores de exposição e tão altos nesta fase. A plum-
A histôria de trabalho com chumbo há algumas semanas bcmla csui quase sempre acima de 60llgl100g, e o ALA-U é
praticamente faz o diagnóstico, que pode ser confirmado por superior II IOmg/g creatinina. Há uma correlação entre a gra-
dosagcru de PbS ou ALA·U, que estarão elevadas. vidade do quadro clínico e o indicadores biológicos, e à medida
O iratamemo é feito com hidratação parenteral com soro que o paciente continua exposto. existe uma elevação das con-
fisiológico. e quando o paciente estiver bem hidratado. per- centrações destes. podendo a plurnbernia chegar a níveis de
sistindo a oligüria ou anúria, deve-se provocar diurese hipcnônica 120 a 140}.l.g/lOOge o ALA-U a 100 a 250mg/g creatinina, em
com o uso de manitol a 5%. EV. lento. Recomenda-se ministrar alguns casos.
2L de oro fisiológico antes de cada dose do manitol. Quando Se o indivíduo continuar a trabalhar com exposição ao metal.
a diuresc normaliza. pode-se interromper o tratamento diurético. o seu quadro tenderá a se agravar, podendo ocorrer crises de
dores abdominais em cólicas tão fortes capazes de levar o
acometido ao pronto-socorro, como nas intoxicações subagudas.
Intoxicação Crãnica A vasoconstrição arteriolar, além de provocar a palidez cutânea,
também afeta os rins, podendo, acarretar alterações de função
A grande maioria dos casos de saturnismo é a de evolução
renal. Estas são "silenciosas" e podem ser detectadas por dirni-
crônica. após mesesou anos de exposição ao chumbo inorgânico. nuição do clearance de creaiinina, mas cm alguns pacientes
A intoxicação ubaguda vista anteriormente é muito rara. sendo pode aparecer hipertensão arterial sistêmica, por baixo fluxo
suturnisrno quase sinônimo de doença crônica. renal. Inicialmente. a alteração é apenas funcional, cedendo
A moléstia possui várias fases, evoluindo de acordo com o após o tratamento, porém. a alteração renal pode se transformar
maior acúmulo de chumbo no organismo do trabalhador. em lesão definitiva se a situação de intoxicação perdurar por
Alterações Subclínicas Iniciais. Esta fa e é caracte- muitos anos.
rizada por achados de exames especíticos. especialmente a Há. ainda. oligosperrnia e diminuição da motilitidade de
eletroneurorniografia, que mostra diminuição da velocidade espermatozóides em homens intoxicado em níveis de plumbemia
de condução motora, ainda sem repercussão clínica. Também. acima de 40llg/l OOge nas mulheres grávidas há parto prema-
testes neuropsicológicos de avaliação de desempenho mostram turo e aumento de aborto espontâneos com níveis superiores
uma performance diminuída nesses grupos de trabalhadores, a 30}.l.gIlOOglJ.
revelando assim alterações funcionais discretas no cérebro", . Seqüelas do Saturnismo Crõnico. Insuficiência renal,
Quadro Clínico. No início, o trabalhador exposto vai. parcial ou total, pode acometer os indivíduos que tiveram mais
lentamente, acumulando chumbo em seus tecidos. e aos poucos de cinco anos de exposição intensa. Se o tempo de exposição
começa apresentar alguns sintomas C0l110 fraqueza. cansaço for menor que este, ern geral. não é observada a sequela renal,
fáci I. sonolência. irritabi lidadc, nervosismo, epigastralgia e por mais grave que seja a intoxicação. Quanto maior o tempo
empachameruo põs-prandial. de exposição, maior a chance do aparecimento dessa sequela.
Com o passar do tempo os sintomas leves do quadro inicial Outra scqücla é a paralisia motora. que aringe principal-
vão se agravando. especialmente li irritabilidade e a fraqueza. mente os membros superiores. dando o quadro de "punho caído"
e aparecendo outros como dores abdominais em cólica. inicial- clássico do saturnismo, Essa sequela atualmerue é rara, pois
mente em episódios esparsos, que vão aumentando em Ire- é conseqüência de casos graves e prolongados de intoxicação
qüência e intensidade. constipação e impotência sexual. essa pelo chumbo.
85-724t·598·X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 209

o tratumcntu eClII,i,te principalmente cm ara,tar o trnbalhador pores de Ilg" podem resultar em grave lesão pulmonar aguda
da exposição aClchumbo. O nfasramento propicia a excreção do tipo pncumonitc química com edema agudo não hcrnodi-
natural do chumbo. e a melhora gradativn do quadro clínico. nãmico. com altu mortalidade.
O ncompunharncnro é feito pelas dosagens dos indicadores. bio- Em exposições u longo prazo alguns trabalhadores podem
lógicos.como a plumbemia e oALA-U. Há ainda a terapia quelante. apresentar queixas de fraqueza e forrnigamcmos difusos em mem-
que deve ser feita com o etileno-diami no-tetru-acerato-dissõdico- bros inferiores e superiores, podendo ser expressão de neuropa-
cálcico (EDTANa,Ca). ou o ácido dimcrcaprossuccínico (DMSA) tia periférica. Quase sempre essas alterações estão presentes
que scqücstrarn õ chumbo dos tecidos e excretam pela urina. durante a impregnação por mercúrio, mas desaparecem, grada-
É importante Irisar que a intoxicação pelo chumbo inorgânico tivarnentc, após o afastamento do trabalhador da exposição e
assume cnracterfsticus muito diferentes em crianças pequenas. dificilmente permanecem por mais de seis meses. Podem ocorrer,
especialmente nav menores de três anos. cm que al>alrcraçõe ainda. lesões tubulares renais com proteinúria (em geral de baixo
neurológicas centrai, que podem variar de uma cnccfalopatia peso molecular) e. excepcionalmente. diminuição de clearance
leve até a convulsõev são o que domina o quadro. íveis de de creatinina. mas estas são mais freqüenies com mercúrio iônico
plurnbcmia considcmdos pouco perigosos para adultos são (em forma de suis ou óxido )'~.
muito pcrigovov para crianças e concentrações de cerca de O hidrargirismo pode provocar lesões de SNC que inicial-
15 li 2SJ.lg/l OOgde sangue já podem levar a alterações de com- mente se traduzem por alterações como: perda de memória
portamento. baixa do rendimento escolar c até do desenvolvi- recente, da capacidade de concentração, da atenção, da habi-
mento neuropsicomotor, Acima de 25~lgllOOg a~ alterações lidade mecânica, da coordenação motora c mudanças de com-
do SNC já sãu bem significativas e níveis maiores de 60 podem portamento. Quando só há essas alterações e de forma leve, o
desencadear convulsões":",
quadro pode ser chamado de micrornercurialisrno. Se o indi-
víduo continuar exposto, pode haver agravamento dessas alte-
Mercúrio Metálico rações e o aparecimento de tremores de movimento do tipo
parkinsoniano. podendo, ainda, aparecer quadros psiquiá-
Será tratado apenas do mercúrio (Hg) metálico ou elementar.
tricos. com depressão e paranóia. muito variáveis entre os pa-
tendo em vista a sua importância em toxicologia ocupacional.
cientes e. em geral, irreversíveis. O tremor anteriormente citado,
Além dessa forma. há ainda as formas de mercúrio iônico (sais
de início nos membros superiores, pode variar de leve (grau I)
e óxidos) e os mercuriais orgânicos (como o metilmercúrio).
a intenso ou generalizado (grau V). Podem ocorrer alterações
Cada uma eles"," formas tem características fí~icoqurlllicas c
toxicclôgicus diferente ...cntrc : i. O rnctilmcrcürio teve grande na letra do doente. levando a uma alteração de escrita chamada
importância na história da toxicologia ambiental. pois lia década de e crua mercurial ou micrografia. pois a letra fica pequena e
x de 1950. o efluente de uma fábrica COI11 alto teor dessa subs- tremida".
~ tânciu contaminou o~ frutos do mar da baía de Minamata no Para O diagnóstico de hidrargirisrno deve-se levar cm conta
"i Japão, provocando uma doença nos habitante' do local. Essa a história da exposição ocupacional e () quadro clínico. Na
~ moléstia era caracterizada por perda de audição c visão (pro- avaliação do quadro clínico, pode-se recorrer ao auxílio de
~ gressiva, da periferia para o centro. como no glaucoma). grave te. rcs neuropsicológicos que avaliem as alterações descritas
neuropatia periférica scnsitivomotora e ainda era altamente anteriormente. desde que aplicados por profissionais habili-
tcratogênicn c. como nenhuma dessas caractcrfvrica-, existe na tados. Esses testes devem ser interpretados 11luz do quadro
intoxicação por mercúrio metálico ou iônico. foi chamada de clínico e da história ocupacional. Como auxüio diagnóstico,
doença de Minamaiu". ainda. pode-se utilizar o teste de escrita, para detectar tremores
O mercúrio metálico é usado na fabricação de instrurnen- leves, especialmente quando comparada com a letra do pa-
lOS de precisão, como termómetro •. barômctros, cxfigmomanô- ciente antes ou no início da exposição ao metal.
metros. crc.: na produção de lâmpadas fluorescentes e de vapor J\ exposição deve ser considerada com cuidado, se possfvel
de mercúrio e como matéria-prima na indústria químlca. para inspccionundo o local de trabalho. vcrificnndo () histórico ele
fabricaçüo de compostos mcrcuriais. resultados de exame de mercúrio urinário e () tempo de cxpo-
No Brasil. ainda há a mividade de garimpo de ouro que leva ição total do indivíduo.
a uma grande contaminação dos garimpeiros e do ambiente. A doença não progride nem melhora. ficando o paciente
O mercúrio metálico é um líquido cxircmamcme volátil. cvtacionado no grau de alteração que possuía ao ser afastado.
Pode ser nbvcrvido tanto pela via rcspirutéria. quanto através ão há tratamento específico para os intox icados cronicamente
elapele Integra, sendo u único metal nb-orvido em forma metálica. por mercúrio metálico.
A maior parte do mercúrio elementar absorvido é excretada
pela urina e a dosagem de fig nesse meio biológico é usada como
indicador de exposição excessiva ao metal em suu forma metá- Manganõs
lica. O valor de referência da normalidade é de IOJ.lg/g crea-
tinina, e () limite de tolerância biológico é 35J.lg/g creurinina, O mOllgollê.\·tambélll tem grande importância em toxicologia,
mas é um indicador de exposição excessiva somente: assim. A exposição a grandes concentrações de poeiras e de fumos
mesmo que esteja elevado. não diagnostica intoxicação e mesmo desse metal (emanados de aquecimento) pode resultar em quadro
normal não afasta o quadro em expostos 110 pussudo. de imunodefieiência na árvore respiratória que Ireqüenrernente
As altcmções do S C são as mais importantes do hidrurgirisrno. lev a 11pneumonia. denominada de pneumonia rnangânica.
mas também podem ser encontradas outras, Em exposições a A exposição por meses ou anos leva cerca de 5% dos expostos
baixas concentrações. não há sintomas gerais. execro gOMO (os hipcrsuscetfveis) a um quadro de SNC grave e evolutivo,
metãlico na boca c. eventualmente. algumas parcstcvius difusas. me mo com afastamento da exposição. Este se inicia com
Em exposiçõe, a elcvadav concentruções. a grande impregnação ahcraçõcs de marcha. no começo ebriosa com quedas sem tonturas,
pelo mercúrio pode causar queixas digestivas. pcriodonriie . rcrropulsão e propulsão. Evolui para marcha em passo de bailarina
cstomaritc grave com perda de dentes e infecções bacterianas e simultaneamente há alterações de humor com crises de choro e
secundárias nus gengivas. Eventualmente. pode haver diarréia. riso alternadas. Também podem aparecer pesadelos, aros com-
Acidentes com inalação aguda de altas concentrações de va- pulsivos e alucinações.
210 • Tratado de Clínica Médica

Na evolução hã uma melhora do quadro psiquiátrico e piora No homem. os mecanismos envolvidos nessa proliferação
do quadro neurológico. e em cinco anos aproximadamente celular ainda se encontram ob extensa investigação e os esru-
desapareceo primeiro e se instala uma paralisia cspãsiica global. dos prospectivas são pouco viáveis. uma vez que o processo
A dosagem de manganês não é útil nem parn a avaliação da entre a mutação e o estabelecimento do câncer é lento. levando
exposição excessiva e nem para o diagnóstico da moléstia. anosou até décadas para se estabelecer, Assim sendo, é dejustificável
Durante a instalação da mol é tia 1111um aumento transitório do interessea buscade biornarcadores de danos no DNA que possam
ácido homovanflico na urina. mas que se normallzn em semanas. ser preditivos do risco de câncer. Alguns desses biomarcadores
mesmo com o progresso da moléstia". são utilizados na avaliação de populações humanas. tanto in
O tratamento. que ncm sempre tem bons resultados.é ministrar vim quantocm modelo experimentais in vitro. Entre eles destacam-
i.-Dopa em altas doses. se te. te de quebras únicas no DNA (reste do Corneta ou SCGE.
single reli gel electrophoresis assay), abcrruçõcs crornossõrni-
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de câncer. urna VCI. que a maior pane dos agentes com com-
IS. \VORLD llEALTII ORGANI/.ATION. INTERNACIONAL PROGRAME ON provada ação carcinogênica é indutora dessas mutações'. Por
CIII:.~IICAL CRITERIA In/l'l:/lO//' Mtfl'ul)'. Gcneva, 1991. 16Sp. outro lado. as quebras cromossõmicas e os rearranjos cromos-
16. SIQUEIRA. ;\1. E. P. B. AlollUfelll tio,(l'it/III1/)IIIII1'OIl(/l('t)Urillllrill I''/11Ad,·I/I,.,I"" sômicos, resultantes dessas quebras. que são observados em
Dtsnm",as~Plau",dllnl ('tNJtll Iml"', da IilfHJ,if(1n OCC'IHlriWIfI/ {UI Mmlj(fllf''l.\. SAn
Paulo: 1984. Tese (DouIOrodo) - Faculdade de Ciências Parmacêuticas. linfócito de sangue periférico de populações expostas, são fre-
qUentemente também detectados em células canccrosus.
Nas últimas duas décadas acompanhou-se o rápido dcsenvol-
virncnro de técnicas que possibilitaram o melhor conheci-
CAPíTULO 24 mento de mecanismos envolvidos na carcinogênese. Entretanto.
ainda se esrã longe do pleno conhecimento desses eventos,
mas com esperança nos avanços advindes do mapeamento do
genorna humano. a assim chamada era "pós-genêrnica", no esta-

Biomarcadores belecimento da etiologia, diagnóstico e tratamento do câncer.


Apesar do progresso. a maior parte dos pacientes com câncer
tem sobrevido abaixo de cinco anos, mesmo em pu(ses mais

Moleculares descuvol vides".

BIOMARCADORES MOLECULARES: DE EIPOSIÇlo,


DE EFEITO E DE SUSCETIBllIDADE
Gilka 1. Fígaro Gattás A identificação de carcinógenos químicos. bem como a detecção
precoce de seu efeito no homem. constitui ainda hoje. apesar
de tantos avanços. um grande desafio. Urna das mais premis-
INTRODUçlo
soras ãreas de pesquisa. a epidemiologia molecular. que leve
O câncer é uma doença complexa, naqual células com ultcraçõcs seu conceito introduzido em 1982 por Pcrcra e Weinstein'.
na expressão de seus genes modificam suas funções. cres- tem sido incorporada cm nosso meio c visa a identificar bio-
cem de forma desordenada c ao final invadem outros tecidos. marcadores que possam detectar sinais precoces c específicos
A imporrâncin relativa de Iarores genéricos e umbienruis na de exposição ou mesmo dc doença cm populações de risco'.
etiologia do câncer varia de tumor para tumor. de indivíduo A urilização de biomarcadores na identificação de popula-
para indivíduo c para um mesmo individue}. no decorrer de toda ções de risco para o câncer é uma área relativamente nova e
a sua vida. Muiuçõcs sucessivas cm genes que aceleram a promissora. com potencial para acarretar grandes mudanças
divisão celular ou inibem a mone cclular altcram (l equilf· nos conhccimcntos humanos e conccitos em saúde pública.
brio quc existc entrc o fenótipo da célulonormal e o da célu- Embonl os biomarcodorc moleculares tenham sido divididos
la tumor::!1. Entretanto. esse acúmulo de mutações parece não em biomarcadorcs de exposição. de cfeito e de suscetibilidade,
scr totalmente ao acaso e sim dcpendente de mUlações em qualquer tcntativa de sistematizar uma classificação dos bio-
genes que favorecem e~ a "hipermutabilidade" celularl.2. marcadores molecularcs scrá ineviwvclmente simplificada e
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 211

estará longe de representar as intcraçõcs c sobreposições que a contaminação de nflotoxinas. principalmente na alimenta-
se estabelecem entre eles. ção. bem como a vacinação contra HBV.
Os biomnrcadores têm vido c.ucgorizados em três tipos prin- Outro biomurcador de exposição. também considerado por
cipais. Os biornarcudorcs de exposiçâo corrcspondern iiexpressão alguns autores como biomnrcador de efeito precoce, inclui a
de um agente ambiental ou de scuv rncrnbõlitov no meio interno detecção de quebra' no O A. Divcr-os testes citogcnéticos
dos indivfduov, O, de suvcciibilidadc indicam indivíduos mais podem ser aplicado, para esse fim. como rrocns entre cromãtidcs
ou menos propcnsov a desenvolver câncer quando expostos a irmã), (SCE .. sister chromatid e.rcllllll~(!).teMe do Cometa também
substânciascunccrlgcuuv. 0, biornarcadorcs de efeito precoce conhecido C0l110 teste de célula única cm eletroforese em gel
ou de resposta indicam altcraçõcv prcxcmcs cm rumores: ~ão dc ugarovc (SCGE. single rell Kel electrophoresis), teste do
tardios e permitem avaliar o prognõ rico da doença. micronúclco (M ) c o teste de aberrações cromossômicas (CA).
Embora esses testes sejam bastante informativos na avaliação
Blomarcadores de Exposição e de Eleito de rnutagcnicidadc de produtos iII vitro, os estudos populacionais
têm mostrado resultudos variãvcis. decorremos de diversos fatores:
Uma peça fundamental na compreensão dos biomarcadorcs de instabilidade dos danos no O A em decorrência da manipu-
exposição 6 a documentação da exposição. Muitas informações lação e transporte dus amostras. tipo dc célula analisada para
s50 perdidas !lOS estudos cpidcmiolõgicos. principalmente em identificar o dano (lintõchos versus lcucõcitos polimorfonu-
relação ao tipo de exposição. intensidade. período da vida. além oleares). condições de saúde além de hábitos e ocupação que
da dificuldade de avaliação conjunta de diferentes agente. caracterizam a variabilidade individual.
Tradicionalmente essas informações são adquiridas por meio As alterações na forma ou no número modal de cromos-
de questionários. arquivos médicos das empresas ou dados de somos podem ser identificadas em microscópio óptico a partir
monitoração humana. Raramente. informações sobre biornar- de linfócitos humanos cultivados in vitro, Os testes de rnuta-
cadores de exposição constam nos prontuários médicos. genicidade visam a identificar aumento na incidência de
Apesar de amplamente investigado. o mecanismo pelo qual mutações em populações de risco, comparado com grupos-
os agentes químicos e seus metabólitos causam mutações no controle. As mutações podem ser classificadas em "gênicas"
material genético ainda não foi totalmente esclarecido. A afinidade ou "de ponto". quando envolvem uma ou mais bases púricas ou
entre substâncias química, e rnacrornoléculas celulares. como pirimídicas do nucleotídeo e "mutações crornossôrnicas",
DNA. RNA e proteínas. dá-se pela formação de ligações cova- quando envolvem modificações na estrutura e/ou no número
lentes. também denominados de "uduros". Se não ocorrer o de crornossomos.
processo natural de remoção de!\~c!,.adutos. por meio de um Entre as substâncias consideradas mutagênicas existem al-
sistema dinâmico de reparo, eles podem gerar mutações, trans- gumas capazes de alterar a estrutura dos cromossornos, sendo
formaçõevcelulares ou me-mo câncer". Embora um instrumento por isso denominadas clnstogênicav, da raiz grega klastos, que
valioso na idcnti ficação de indivíduos exposto .. é fundamental . ignifica "quebra' ou "fragmento". E:.,a~ aheruçõcs morfológicas
ressaltar que. em geral. o nível de adutov no DNA reflete a podem ser visualizadas pela unãlisc citogcnética de cromossomos
exposição passada recente c não ~I maiv remota. metafásicos (Fig. 24.1). a partir de linfócitos de sangue peri-
Alguns exemplos de biumarcadorcs de exposição incluem férico. sendo cxsc reste considerado um indicador extrema-
a pesquisa de metabélirov quünico-, ou uduio-, de DNA ou de mente scnsfvcl de mutações. tanto iII vivo, quanto i/l vitro).
proicfuus em lfquido-, orgânicos que. além de serem detectados Pesquisas epidemiológicas recentes confirmaram maior
por técnicas de alta venvihilidndc e cvpccificidadc, permitem incidência de câncer em indivíduos que apresentaram, cerca
determinar conccruruçõcv irucrnas de cxpovição ao agente":". de 15 anos antes do aparecimento da doença, aumento na
Um grande número de adutos foi identificado. incluindo os frequência de ubcrraçõcs croruossômicas em linfócitos, indi-
formados pelos hidrocurboneros policfclicos aromáticos (HPA). cando haver efeito muragênico semelhante no tecido-alvo",
as arninas uromãticas e os compostos nitrosos. A identificação Todavia. os autores não conseguiram estabelecer a contribui-
de adutos de DNA ou de proteína específicos parece estar também ção efetivu de diferentes hábitos de vida ou mesmo do tipo de
associada a determinada, doenças":", ocupação nu aumento da freqüênciu de aberrações cromos-
Um exemplo dessa nvvociaçâo foi verificado no câncer de sômicas e do conseqüente aparecimento de câncer".
fígado. Existe evidência suficiente para associação de vírus da Exposições ocupacionais, ingestão de álcool, tabagismo e dieta
hepatite B (H BV) e comurninaçâo por aflotoxinas. como fatores parecem influir na incidência de aberrações cromossôrnicas",
de risco no câncer de fígado. A pesquisa de aduros de DNA O consumo crônico de bebidas alcoólicas tem sido relacionado
(AFB'- '-guanina) na urina. em um período anterior ao desen- a diferentes tipos de câncer e com o aumento. estatisticamente
volvimento do câncer. comprovou o valor prcditivo desse teste significante. na freqüência de linfócitos com aberrações cro-
em populnçõcs humanav de risco, Como resultado". progra- mossômicas numéricas e estruturais". Isso ocorre mesmo após
mas de prevenção foram desenvolvidos com intuito de reduzir longos pcrfodos de abstinência sugerindo uma ação do álcool

Figura 24.1 - Representações de metáfases


de linfócitos de sangue periférico, coradas
r
com Giemsa, mostrando quebras cromossõ-
mim (.) e figura multirradial (-) resul-
tante de quebras e rearranjos cromossõmicos
(A) e cromossomo dicêntrico (.) (8)

85·7241·598·X
212 • Tratado de Clínica Médica

na capacidade de reparo celular e Das funções oxidativas da


célula". Dessa forma, os testes citogenéticos, quando aplica-
dos em populações ocupacionalrnente expostas, devem levar
em consideração os hábitos de consumo que muitas vezes po-
dem surgir como fatores de confusão na avaliação dos dados.
Outro teste, que vem sendo utilizado na monitoração bio-
lógica de populações humanas expostas a agentes rnutagênicos
e carcinogênicos, é o do micronúcleo. Os micronúcleos (MN)
são identificados em células interfásicas e se apresentam na
forma de corpúsculos citoplasmáticos, de tamanho não superior
a um terço do núcleo principal. Correspondem a fragmentos
acêntricos resultantes de deleções crornossôrnicas ou cromos-
somos inteiros que se atrasam durante a anáfase da divisão
celular. O teste do MN é considerado por vários autores como
um teste auxiliar, rápido e econômico na análise de aberra-
ções cromossôrn icas".
Somente células em divisão podem expressar MN e a freqüên-
cia deste depende da cinética celular e do tecido em estudo.
Dentre os tipos celulares utilizados para o teste do MN in-
cluem-se os linfócitos de sangue periférico, cultivados in vitro
e tratados com citocalasina-B (Fig. 24.2), células epiteliais
da mucosa oral (Fig. 24.3), mucosa vaginal (Fig. 24.3), entre
outros. A análise de células epiteliais é um método não inva-
ivo que permite coletas sucessivas, além do estudo direto das Figura 24.3 - Micronúcleos identificados em células de escamação
células da camada ba ai que sofreram mutação, em média, 20 da mucosa oral (A) e da mucosa vaginal (B), em lâminas prepa-
dias após a exposição. O teste do MN tem sido utilizado na radas a partir de células fixadas em solução de ácido acético!
rnoniroração de populações ocupacionalrnente expostas'!", além metanol (1:3), após coloração diferencial com Fuelgen!Fast-green
da rnonitoração de populações de risco para o câncer":".
Mais recentemente, o teste do Cometa (single cel! gel do processo de metabolização no organismo, podem provocar
electrophoresis assay ou comer assay) tem sido incorporado na efeitos biológicos diretos ou indiretos que podem acarretar o
avaliação de populações ocupacionalmente expostasê':". Esse aparecimento de diversos tipos de doenças".
te te avalia lesões no DNA de células individualizadas que são Os carcinógenos químicos, na sua maioria, não são capazes
passíveis de reparo". Nesse teste, células individualizadas em de induzir ao dano genético, a menos que sofram ativação
uma lâmina de vidro com gel de agarose são primeiramente metabólica gerando produtos eletrofílicos, com afinidade pela
lisadas e depois expostas a uma corrente de eletroforese, pro- molécula de DNA. Variações interindividuais na herança de
vocando a migração do DNA para o pólo positivo (ânodo). Como genes envolvidos no metabolismo de xenobióticos resultam
ocorreu a lise das membranas (celular e nuclear) e das histonas, em variabilidade individual aos efeitos mutagênicos e carci-
o DNA se expande no espaço formado no gel e, caso tenham ocor- nogênicos de drogas ou agentes químicos presentes no meio
rido quebras, as alças de DNA se movimentam formando um ambiente':".
halo ou cometa. Essa imagem na forma de cometa é visualizada
em microscópio de fluorescência e os cometas são classificados
de acordo com o tamanho da cauda e a intensidade de fluores-
cência (Fig. 24.4). A análise pode ser feita visualmente ou por
programas específicos de análise de imagem.

Biomarcadores Moleculares de Suscetibilidade


O homem está exposto a mais de 70.000 compostos químicos
diferentes incluindo drogas, aditivos alimentares, herbicidas,
pesticidas e agentes industriais". Esses compostos, dependendo

Figura 24.4 - Linfócitos de sangue periférico após serem sub-


metidos a uma corrente de eletroforese, corados com brometo
de etídeo e analisados em microscópio de fluorescência (tes-
Figura 24.2 - Linfócitos binucleados de sangue periférico cul- te do Cometa). (A) Cometa classificado como classe zero (ausên-
tivados in vitro e tratados com citocalasina-B, apresentando cia de dano). (B) Cometa classe 3, com expressiva indução de
micronúcleo no citoplasma de uma das células dano no DNA
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 213

A rnerabolização de xenobióticos é feita por enzimas, por agentes que rapidamente alquilam diferentes locais nucleofí-
meio do processo oxidativo mediado ou enzimas de fase I e licos de proteínas, RNA e DNA. Além disso, a CYP2El é
enzimas de conjugação ou de fase II. Muitos compostos são induzida pela ingestão de álcool, sendo a segunda via de
convertidos a metabólitos eletrofílicos pelas enzimas oxidativas metabolização do álcool depois da enzima álcool desidroge-
da fase I, que são principalmente enzimas da superfamília do nase. A presença do polimorfismo Pstl, existente na região
citocromo P-450 (CYP). Dessa forma, pela introdução de um reguladora do gene da CYP2El, está associada a aumento nos
ou mais grupamentos hidroxila no substrato, um pró-carcinógeno níveis de expressão do gene dez vezes maior do que a expres-
pode se tornar um carcinógeno, como o benzopireno, que é são do gene selvagem e está associada a câncer de cabeça e
convertido em epóxido de benzopireno. Portanto, as reações pescoço+". Por outro lado, o aumento no nível de atividade
da fase Itambém podem transformar produtos não tóxicos em da enzima CYP2El, que quase sempre é baixo, ocorre prin-
produtos potencialmente tóxicos". cipalmente na presença do álcool" e parece potencializar os
Por outro lado, as reações de fase IIenvolvem a conjugação efeitos genotóxicos de várias nitrosaminas".
com um substrato endógeno (glutationa, sulfato, glicose, acetato) Quanto ao polimorfismo das GST, parece existir em torno
por meio das glutationa-S-transferases (GST), UDP-glucoro- de 20 isoformas de GST expressas no homem, embora as mais
niltransferases e N-acetiltransferases (NAT), que agem como estudadas sejam as GSTM I (neutralizam HPA), GSTPl e GSTTI.
enzimas inativadoras dos produtos resultantes da fase I, tor- De fato, verificou-se que a redução na atividade das GST altera
nando os metabólitos hidrofílicos e, portanto, passíveis de a detoxificação dos HPA e tem sido associada ao aumento do
excreção":", O resultado da conjugação é a formação de meta- risco de câncer de pulmão ". Em estudo de meta-análise que
bólitos inativos que são facilmente excretados na urina ou pela combinou dados de 12 estudos caso-controle, a deleção de
bile, nas fezes. Quando isso não ocorre, os metabólitos ativos GSTM I foi associada a um aumento de 40% no risco de cân-
podem se ligar covalentemente a macromoléculas celulares cer de pulmão": Também foi observado o efeito modificador
corno DNA, RNA e proteína, formando adutos que, se não das mutações GSTM I e NAT2 sobre a associação entre as-
reparados, podem gerar mutações, transformações celulares besto e mesoteliorna".
ou mesmo câncer", Após a extração do DNA, a identificação Os polimorfismos de genes de metabolização de xenobióticos
dos diferentes polimorfismos genéticos é possível pela técni- são comuns e étnico-dependentes. Em relação ao CYP2El, a
ca de reação em cadeia de polimerase (PCR, polymerase chain freqüência do mutante c2/c2, bem como de heterozigotos, é
reaction), seguida de tratamento com enzimas de restrição es- bastante rara, compreendendo cerca de 4% nos indivíduos brancos
pecíficas. Os diferentes genótipos são classificados de acordo e 20% em japoneses'?": Quanto à distribuição do genótipo
com o peso molecular dos fragmentos gerados, após serem nulo para GSTMl e GSTTl, as prevalências oscilam entre 47
submetidos a uma corrente de eletroforese (Fig. 24.5). e 58% para deleção GSTM I e de 13 a 25% para GSTTl nulo'".
No homem, diversas enzimas envolvidas na metabolização Em avaliação realizada em nosso laboratório com 233 caucasóides,
de xenobióticos são polimórficas, influindo na suscetibilidade 87 mulatos e 137 negros, a mais baixa frequência de GSTM I
individual ao câncer". Existem aproximadamente 50 enzimas nulo foi observada entre o grupo representado por negros (32,8%),
CYP, sendo algumas delas importantes na ativação de pró- a mais alta pelos caucasóides (55,4%) ao passo que os mulatos
carcinógenos como a CYPIA I, que ativa hidrocarbonetos apresentaram frequências intermediárias (41,4%). Nesse mesmo
policíclicos aromáticos (HPA) presentes na fumaça do cigarro, grupo a freqüência de GSTTl foi mais alta para os negros
na poluição atmosférica, na dieta e que estão associados ao (26,3%) depois para os indivíduos de cor branca (22,3%) e
câncer de pulmão; as CYP I A2, que ativam aminas aromáticas pardos (17,2% - Gattás et aI.42). Essas frequências são seme-
presentes em corantes e na indústria de cosméticos, associadas lhantes às observadas em populações de portugueses" ou mesmo
ao câncer de bexiga; CYP2A6, que ativa a aflotoxina B 1 e em diferentes grupos no Brasil40.44.45.
nitrosaminas presentes na dieta, associados a tumores hepá-
ticos e esofágicos; a CYP2EI ativa nitrosaminas e alguns
ASPECTOS ÉTICOS NA GENÉTICA MOlECULAR
carcinógenos de baixo peso molecular, além de desempenhar
papel fundamental no metabolismo da NNK '(4- (N-metil-nitro- E SAÚDE-NO TRABALHO E AMBIENTE
samina)-I-(3-piridi I)-I-butanona), resultando na formação de Além da exposição ambiental a agentes físicos, químicos e bio-
lógicos, muitas vezes o trabalhador tem de enfrentar também
a discriminação como um fator de risco. É mundialmente aceita
2 3 4 5
a seleção de funcionários de forma prospectiva, com base em
SUflS experiências profissionais anteriores ou grau de instrução.
Entretanto, com o crescente acúmulo de informações sobre o
genoma humano e identificação de genes potencialmente dele-
480pb
térios, tem sido proposta a inclusão de informações genéticas
no processo seletivo, atitude esta já aceita em cerca de 7% das
empresas americanas na seleção de seus trabalhadores".
De alguma forma a discriminação "genética" no trabalho ocorre
215pb quando os mais fortes ou mesmo os potencialmente mais saudá-
veis são selecionados. Com o acesso às informações genéticas,
Figura 24.5 - Produto de amplificação (PCR)conjunta dos genes correm paralelas pelo menos duas expectativas: de um lado, a
GSTMl(215pb) e GSTIl (480pb) e do gene CYP1Al (312pb) uti- esperança de cura ou mesmo de medidas precoces de prevenção
lizadocomo controle positivo da reação. A presença de polimorfismo
da doença e, de outro, o medo de ser portador saudável de alte-
dos genes GSTMl e GSTIl foi avaliada em gel de agarose (2%)
corado com brometo de etídeo. Os indivíduos 1 e 5 possuem os rações genéticas, vivendo com risco, mas não com a certeza de,
genes GSTMl e GSTIl (genótipo GSTMl +/+ e GSTIl +/+ ), o in- um dia a doença se manifestar", É importante salientar que o
divíduo 3 não apresenta os dois genes (genótipo GSTMl nulo -l- screening genético de doenças rnonogênicas, como Huntington
e GSTTlnulo -/-) e os indivíduos 2 e 4 possuem apenas um dos e Alzheimer, com sérias repercussões na saúde do indivíduo e na
genes estudados (GSTM1 nulo e GSTIl +/+ e GSTIl nulo e GSTM1 sua capacidade de trabalho, não garante a manifestação da doen-
+/+ nos indivíduos 2 e 4, respectivamente) ça no futuro, pois depende também da expressividade e pene-
214 • Tratado de Clínica Médica
85·724t·598·X
trância do gene identificado. Isso significa carregar a angústia de Ihor terapêutica ao comparar os resultados com parâmetros
um diagnóstico e talvez nunca vir a ter a doença. clássicos e bcm estabelecidos. como recorrência da doença
Por intermédio das técnicas de biologia molecular. ante- ou taxa de sobrevivência dos afeiados. Entretanto, em geral,
riormente mencionadas e com a util izaçüo dos biornarcadores são pesquisas de longa duração e. no caso do câncer, muitas
de exposição e de efeito é possível identificar indivíduos sus- vezes de difícil estabelecimento da relação entre o tipo de
cetíveis fi determinadas doenças e, ainda, avaliar o grau de exposição e O tipo de tumor.
exposição a agentes exógenos. cm especial nu população O estabelecimento de medidas preventivas. principalmente
ocupacionalmcnte exposta". As mudunçus grudativas nos no ambiente: ocupacional. dependerá do uso de marcadores
conceitos de diagnóstico. prevenção c trutumcnto de doen- capazes de identificar eventos biológicos que se estabelecem
ças crónicas. principalmente. deverão se ref'lctir de forma precocemente ou nos estágios inicias da doença. Nesse racioeínio.
significativa na relação saúde no trabalho e ambiente. O médico os biornarcadorcs que constituem parte da doença seriam mais
do trabalho deverá ampliar sua área de utuação na busca de relevantes do que aqueles que indicam um risco para a doença.
identificação de danos não perceptívei. ao indivíduo (diagnóstico como os marcadores de suscctibilidade",
prcditivo). bem como na busca de compreensão dos meca- Um exemplo que pode ser citado diz respeito à exposição
nismos de interação entre genes e exposições ambientais e ao benzeno. Ele e tá presente em diferentes indústrias: rnanu-
seus efeitos não só na saúde do trabalhador como também futura de calçados, de artcfntos de borracha e plásticos, na fa-
nos seus descendentes. bricação de explosivos. de cstircno e de fcnõis, na fabricação
A discussão dos benefícios e potenciais riscos da aplicação de produtos farmacêuticos, de cosméticos e tintas e também
de metodologias de biologia molecular em saúde e trabalho. nos combustíveis fósseis, siderurgia, refinação de petróleo e
tanto para o indivíduo como para a comunidade. é sempre fonte petroquímicas. Desde 1897 o benzeno é considerado um agente
de preocupações e conflüos éticos"'K <o.A utilização dessa mielotóxico, provocando anemias aplásica e hipoplásica, bem
informação na prática da medicina do trabalho suscita ques- como leucemias. em especial, a mielõide aguda".
rionarnemos ainda sem re posta. Discussões com a comuni- Uma pequena parcela de indivíduos está exposta ao benzeno
dade civil sobre a legalidade ou não do screening genético no ambiente ocupacional. mas a população como um todo está
nos trabalhadores, visando a uma maior protcção no futuro diariamente expo ta ao produto. que é considerado um conta-
para os indivíduos portadores de genes desfavoráveis, sobre o minante ambiental. A sim endo. a grande preocupação é iden-
tipo de ocupação que será selecionada para um trabalhador tificar se os níveis atuais de exposição ao benzeno são inofensivos
qUI.: uprescntur constituiçüo genética "favorável" ii exposição. fi saúde humana. Para tanto. é necessário o estudo de um grande
ou mesmo sobre a inclusão ou não desses testes no exame número de indivíduos para o estabelecimento do efeito com
pré-udmissiouul, são urgentes. Essa preocupação foi contem- segurança ou a introdução de biornarcadorcs que auxiliem a
plada com o Projeto Genoma Humano. que destinou 3 a 5% de identificação do dano. precocemente.
sua verba total para discussões éticas criando um grupo deno- O estudo citogenérico de trabalhadores expostos ao benzeno
minado ELSI (ethicot.legoí. and social issucs research), composto revelou uumcnto significante na frequência de aberrações cro-
de profissionais de diferente áreas. além de representantes da mossômica estruturais e numéricas. aumento este que foi depen-
comunidade civil. com o objetivo de discutir principalmente os dente da dose e do tempo de exposição":". Em uma pesquisa
problemas relacionado à segregação e ao determinismo genético prospectiva. 31 trabalhadorc expostos ao benzeno e seus con-
thII P://II'11'II'. orln.gov/hqmis/elsi/elsi.h 11111). trole), foram acompanhados ao longo de 30 anos. Os <tutore
Finulmcmc. não e pode esquecer que as informações quanto verificaram que a frequência de aberrações crornossômica
aos marcadores genéticos de suscetibilidade. ou seja. de poli- estruturais se manteve, mesmo após esse período e II ex-
morfismos nos genes de metabolização de xcnobióticos, podem postos morreram entre um e 20 anos após a análise citoge-
ter efeito devastador na capacidade de indivíduos em conse- nética, Entre eles, os cinco indivíduos que apresentaram as
guir ou manter seus empregos, bem como, num futuro próximo, maiores taxas de aberrações crornossôrnicas foram a óbito por
de obterem seguro saúde. As informações obtidas quanto ao câncer". Esses resultados sugerem o valor preditivo das abcr-
pertil de suscetibilidade individual podem sugerir que indivíduos rações cromossôrnicas no risco de neopluslas, fato este que
menos suscetíveis ao câncer. por exemplo. poderiam "suportar" foi recentemente confirmado em um estudo com um número
níveis superiores de exposição comprometendo. inclusive. o maior de indivíduos".
rigor no controle de segurança do ambiente de trabalho. Serão O efeito genotõxico da exposição ao benzeno também pode ser
necessários programas de esclarecimento envolvendo empre- medido pela presença de adutos de DNA (8-hydroxydeoxy-
gados e empregadores para que os benefícios oriundos do guanosine) na urina de indivíduos expostos. A detecção desses
mapeamento genético sejam utilizados tendo como prioridade adutos parece ser maior em decorrência do tempo de exposição
;1 saúde do homem e a promoção do bcm-estar du sociedade. ocupacional ao benzeno e também está associada com a pre-
sença de micronúcleos em linfócitos de sangue periférico".
o clINICO E OS BIOMARCADORES MOLECULARES: Ainda em relação à exposição no benzeno, foi observa-
da suscctibilidade individual quanto ao desenvolvimento ou
EIEMPlO DO BENZENO não de doenças hcrnatotõgicas ou. mesmo. leucemias. A toxi-
O maior objetivo das pesquisas em epidemiologia molecular cidade do benzeno é mediada por seu metabolismo que gera
é gerar informações específicas e fidedignas sobre a etiologia e diferentes metabõlitos rõxicos". Os indivíduos com poli-
os mecanismos de evolução de diversas doençus, inclusive o morfismos nos genes de merabolização do benzeno (CYP2EI)
câncer. viabilizando. assim. o estabelecimento de medidas eficazes ou de dctoxificação deste ( QO I) nprcscntam ri co aumentado
de prevenção. A po sibilidade de substituição de indicadores de de desenvolver leucemia", Os polimorfismos dos genes CYPI A I
incidência da doença como a taxa de mortalidade por biornar- e GSrr I parecem estar associados também com ii redução no
cadorcs é um grande desafio atual, com profundos reflexos na tempo gestacional em mulheres que ficaram expostas a bai-
saúde pública e na prática clfnica". xas concenrrações de benzeno?'. Esses dados sugerem existir
As pesquisas clínicas propiciam O acúmulo de informações diferenças individuais de suscct ibilidade ao benzeno que
importantes quanto ao desenvolvimento das doenças e a me- podem modificar os efeitos da exposição. Estudos futuros.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente I 215

envolvendo grupos de indivíduos menos resistenies ;10 efeitos 12. PASTOR. S.: CREliS. A.: PARRON. T. CI 31. Bicmomtonng of four Europcan
do benzeno. poderão evidenciar os possíveis danos ainda não popul'II01b OttUp,nion31ly exposed 10pesticides: use o( rn,«onude, as biolllartcrs.
.IIUIQ~tllt'IU. v, 18. p. 2~c)'25&. 2003.
bem associados com a cxposlção". 23. GArrÁS. G 1_ F.: LOI'GA11'O HLIiO. A.: MAEOA. M Y.S et ai. tdcntifoeaç!o
Concluindo. a utilização de biomurcadores gcnérico« poderá de nt,cronúdro, (;\1:-:) CIIIctlul., de colo ulerlno de.'pacIente, a"lntOIll~tica': cor-
representar.em um futuro bastante próximo. um instrumento relação doo. rnc!11.ldo-de P3p3nicot30lI c Fudgcn I'a't·&~n A I ;l/ha MMlra. v. 104.
II. 3. p. 57·59. 1992
valioso na avaliação da saúde humana. O uso de metodologias 24. CARVALIIO. M. [I.: RAMIREZ. A.: GArrAs. G I. I,. rt II. COlTrla~do entre u
mais atunis como os microarrays de DNA. obtido ti partir do C\ olllç!o clímca e a frequência de micronécleos em c~lul., de paciente, portadores
RNA (cDNA). permitirá melhor compreensão dos genes que de carcinoma-, ol:li, c da orofannge. ReI'. JlsS{)(. M(d. I/rar .• v. 48. n. 4. p, 317·322.
2002.
sãoativados ou "desligados" logo após exposição gcnoréxica
25. MOLLER. I'.: KNUDSEN. L. E.: LOI'T. S. ct 31. Tbe comet l»>3y as a (3pid test in
específica e qual a relação desse efeito cm termos de danos biomomtoring occupational exposure to ONI\.damag,ng 'gcnlS and effect of
no DNA. Es e conhecimento permitirá estabelecer também confoundlngf3ttOrs. Cancer Epidemio]. Biomarkrrs' Prn:. V. 9. n. 10. p, 1005-1015.
a contribuição de outros fatores como dieta. hãbiios de con- 2000.
26. GOMES. 1..: KATO. M.:GATIÁS. G. I. F.et :11. DNA smglc S1r:andbreab in nasal
sumo. idade. etc. aos danos genéticos observados. A partici- mueousrell •• aOOleu~OC)lOSof cIl3fCO"Iworkcrsln BnII'l. EIPI'i1Oll. MoItnllar M.log .•
pação conjunta de médicos e demais proflssionais da área v. 39. suppl, 33. p. 29. 2002.
biológica serã imprescindível para esse novo aprendizado da 27. ÓsnJNG. O.: IOIIANSON, K. J. Micruclectrophon!t,c ,tud)' 0((3di3Iion·iOOuced
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216 • Tratado de Clínica Médica

50 GAlTÁS. G J. F: SIÃiRE. M.: W(JNSCII.FILIIO. V.Genética, biologia molccutar Apesar de os primeiros relatos desse agravo da saúde remon-
r .111<'3... , rcl",Or' U'lIbalho r ,,,údc. Cir"ô" e Swídl' Ct,/eIÚ'(' (IIBH/ISCOI. v, 7.
p. 159·167. ~102.
tarem II 1700. quando Bcrnardino Rumu/zini, o Pai da Medi-
51. \IILLER. A \1: BARTSCII. II.: UOFI'1;1'-A. 1'. ct al. (cds.). Biomarkers in cancer cina do Trabalho. descreveu fi doença dos escribas. foi na segunda
lR'''rtll(,n. /ilRC Ser,,,II/ir Pllblíl'OliollS. Lyon, n. 154. p. 1·12.2001. metade do século XX que esse grupo de moléstias passou a
5!. AKSOY. ~llkmaIOlO\K'lI)'lIIIdcardnogenicil)'o(bcnzenc. Enviror: Hrallh"~rsl"'cr.. ser encarado como grave problema de saúde do trabalhador.
v, 82. p. 193·197. 19 9.
53. CARERE.A-:ANTOCCIA. A.: CI~IINI. D. ct al. Genctíc effects of'petrokum fileis: na medida em que se avolumaram os relatos de casos e as
II.AR3I)''SlSo(~ Ioss and hyperploidy in peripheral lympboc)1esor ~3-o1inc suas repercussões no mundo do trabalho. Diferentes denomi-
suúoo 3l1cnebnb. E"l'IIoo. ,1101.Jfula.~m. \'. 32. n, 2. p, IJO.138. 1998. nações foram sendo usadas. como occupational cervicobrachial
5~. ZIlA:"\G. L:ROTHMA:"\. ".: W ANG. Y. ei al, Benzene inereases nn('UpJoidyin lhe disorders no Japão. cunutlative trauma disorders nos EUA.
lympl1oc) tes or exposed workers: a comparisoo of data 0013111<'(1 b)' Ouore~(ncc 10
SIlU h) bndll~llon 10 inrerphase and metaphase eells. Em·iron. Moi. AflllOJ:'''' v, 3.1. repetitive strain injuries na Austrália: cstu última adorada no
n. ~. p. 2(l()·268. 1999. Brasil e traduzida para lesões por esforços repetitivos (LER).
55. SMI rlt. ~1.T.: ROTII~IAl'll.:"\. Biomarkers in lhe I1lOkaIlarcpllbniologyofben/tll(. O nome lesões por esforços repetitivos mostrou-se inade-
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5(, I·OR:"'I. A. Beazene-mdueed ehrOOlOM>IIlC aberrarlons: a (ollow·up .Iudr. /-.",·Irofl. quado porque o termo lesão tem o significado de um dano
lI.allh Ptr.pUl .. v. IOJ. suWt. 6. p, 1309·1312. t996. bioquünico. celular ou tecidual que em grande parle dos casos
57. :"\ILSSON. R. I.: NOROLlNDER. R. G.: r AGESSON. C. el nl. GcnnloxH.' ~rrl'CI'ln não pode ser demonstrado, upesar da referência do paciente
"orll'f\ C\po.-.cd 10 101' Ir,,,,I, of benzene from 8,,,0Iil1,·./IIII. J. III/I ",.tI..\. lO. n. ao desconforto. ti dor ou ti perturbação Ifsica e funcional. Da
1. p 317'.124.1996.
58. S YOER. R. O-=i(\\ of lhe tovicology of benzene. J 7iJllrIII l:m·!nIll.I/'·"'lh. mesma forma. os esforços repetitivos não constituem a única
v, 61. p. 339.]~6. 2000. causa desse prejuízo 11saúde, fazendo com que essa nornen-
5'). RarIlMAN. N.: SMtTH. M T.: HAYES. R. R. ri .1. Ikn/cnc po"llIunJ. Q rl\l claiura passasse a ser bustunte criticada.
r""tll< for hcnwotopal malignancy. is assocjaied with lhe '00 I (,()9(' ->T IIIul"lion No entanto. no início de 1990, a sigla LER já estava sendo
Jnd r.lp;.! r...."IiomlG\cn:tioouf chl,or/o\uone. Cttn".,R"., 57. n. I~. p, 28)9·28-12.
1991 urilizada amplamente no Brasil. constando de documentos
60. WANG. X.. CHEN. D.: NIU. T. "I ai. Generic ,u"'cJllihitily 10 "".m.... oo ,hooencd
snlalion; e,iden« or gene""", ironmem interacrion, 11m.J. ep;,lm",'/ . v, 152. n. 8.
elaborados por profissionais de saúde e pelos sindicatos e asso-
ciações das principais categorias de trabalhadores acometidos
p. 693-700. 2000.
pela moléstia. Em 1992. a Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo publicou a orrna Técnica sobre Lesão por Esforços
Reperitivos. oficializando a denominação no sistema de snüdc.
CAPiTULO 25 Em 1998. na Norma Técnica para a Avaliação de Incapaci-
dades. o INSS propõe o termo DORT. tradução livre da expressão
na língua inglesa work related musculoskeletal disorders que
vem endo udorada nos trabalho científicos e nos textos médicos

Distúrbios mais atuais sobre o tema. ba eando- e na definição de doenças


relacionadas no trabalho da Organização Mundial dc Saüde".
O Ministério da Saúde do Brasil. dircção nacional do Sis-
tema Único de Saúde (SUS) que, segundo a Lei Orgânica da

Osteomusculares Saúde, tem entre sua responsabilidades a de elaborar e revisar


periodicamente ii lista das doenças originadas no processo de
trabalho. adora a terminologia LERlDORT para designar o grupo

Relacionados ao de doenças do aparelho locomotor relacionadas ao trabalho.


aí incluindo as doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo, bem como as doença do isterna nervoso, seguindo
a taxonomia proposta pela lO' revisão da Classificação In-

Trabalho ternacional de Doença - (CID-lO)'. o Quadro 25.1 encon-


tram-se as doenças que compõem O grupo LER/DORT listadas
pela Direção acional do SUS na Portaria MS nO 1.339/99 e
Rodolpho Repullo Jr. no Decreto nO 3.048/99. que regulamenta o artigo 20 da Lei
Orgânica da Previdência Social. A lista de todas as doenças
Gisele Mussi relacionadas ao trabalho arrola outras doenças do aparelho
locomotor que não se incluem nesse grupo.

INTRODUçlo EPIDEMIOLOGIA
Queixa de problemas no aparelho locomotor relacionadas ao Existe na literatura grande número de trabalhos cientfficos sobre
trabalho, em diferentes estágios de gravidade, são cada vez ii ocorrência de LER/DORT. permitindo concluir tratar-se de
mai frcqücntcs nos serviços de saúde. No Brasil e em vários um sério problema de saúde pública, que acarreta incapacidade
outros países. css as alterações vêm demonstrando rápido au- física para o trabalho. permanente ou temporária, de curta ou
mento de incidência e se apresentam como o principal agravo longa duração. como também ocasiona perdas econômicas
do processo saúde-doença no trabalho':". relevantes. No entanto, há grandes limitações no tratamento
Os distúrbios osreomuscularcs relacionados ao trabalho dos dados, principulmcnrc cm virtude da falta de sua padro-
(LER/DORT) constituem um conjunto de perturbações do nização. assim corno da evidente subnotificação. Neste último
aparelho locomotor. principalmente da coluna vertebral c dos aspecto. cm especial quando os dados primários provêm de
membros superiores, com causa multifatorial, decorrentes da sistemas de compensação e indeniznçâo, a subnotificação é
inadequação dos aspectos sociais. organizacionais e rrsico~ extremamente elevada. Morsc 111 (/1.1' realizaram um estudo
do Irabalho c de ua intcração com os aspectos sociais. cultu- em Connecticut (EUA) c estimaram quc os casos existenles
rais e comportamentais do estilo de vida do lrabalhador tlU da de LER/DORT superavam os dado. oficiais do sistema de
trabalhadora c de sua características individuai. compensação nu proporção de I I: I .
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente - 217

transportes rodoviário e aéreo, embaladores. operadores de linha


QUADRO 25.1 - lista de doenças e códigos (CI0·10) que
compõem o grupo lER/OORT, segundo o Ministério da Saúde de montagem clcrrônica. caixas de bnncov e de supcrmcrca-
do, vão algumas categorias profissionais acometidas pela doença cn
G 54.0: transtornos do plexo braquial (síndrome da salda do .fZ2
tórax, síndrome do desfiladeiro torácico)
e citadas na literatura mais rcccmc':':":" !9.
~,
G 56.-: mononeuropatias dos membros superiores O
G 56.0: slndrome do túnel do carpo
G 56.1: outras lesões do nervo mediano: slndrome do pronador
Incidência e Prevalência da Doença
redondo os EUA. segundo o National Research Council'', urna amostra
G 56.2: slndrome do canal de Guyon nacional das notificações de agravos relacionados ao trabalho
G 56.2: lesão do nervo ulnar: síndrome do túnel cubital ocorridos 110 setor privado. abrangendo 165.000 estabeleci-
G 56.8: outras mononeuropatias dos membros superiores:
mentes e cerca de 75% da força de trabalho total do país, estimada
compressão do nervo supre-escapular
em 135 milhõc» de pessoas no ano 2000. denominada AIIIIII(/I
G 57.-: mononeuropatias do membro inferior
Survey 0/01'(,111'(//;011(// lnjury (//1(11II1It'S.fes. mostra os se-
G 57.3: lesão do nervo poplíteo lateral
M 53. 7: slndrome cervicobraquial guintes resultados".
M 54.-: dorsalgia A estimativa de ocorrência de doenças relacionadas ao trabalho
M 54.2: cervícalgia cresceu de 105.600. em 1982 para 514.700. cm 1992, baixando
M 54.3: ciática para 392.000. em 1998. Nesse total. o subirem doenças asso-
M 54.4: lumbago com ciática ciadas com o "trauma repetitivo" foi estimado em 22.600 casos
M 65.-: sínovites e tenossinovites em 1982. crescendo para 332.100, em 1992 e baixando para
M 65.3: dedo em gatilho 253.300, em 1998.Os eventos relacionados ao "trauma repetitivo"
M 65.4: tenossinovite do estilóide radial (de De Quervain) cresceram. portanto, de 21 para 65% de todas as doenças rela-
M 65.8: outras sinovites e tenossinovites cionadas ao trabalho notificadas pelas empresas nesse período
M 65.9: sinovites e tenossinovites não especificadas de 17anos. Nesse grupo, no entanto, encontram-se perda auditiva
M 70.-: transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso, induzida por ruído; sinovites, tenossinovites e bursites; fenômeno
o uso excessivo e a pressão de origem ocupacional de Raynaud e outras condições decorrentes dos movimentos
M 70.0: sinovite crepitante da mão e do punho repetitivo _ vibração e pressão. Assim definido, esse grupo
M 70.1: bursite da mão inclui as perdas auditivas. mas deixa de incluir as lombalgias
M 70.2: bursite do olecrano
ou a dor IllUSCU lar por esforço.
M 70.3: outras bursites do cotovelo
o mesmo estudo. ao analisar-se a ocorrência de casos de
M 70.4: outras bursites pré-rotulianas
"trauma repetitivo" por tipo de empresa. cm 1997, verifica-se
M 70.5: outras bursites do joelho
que 72% provêm da munuf'aturn. I017(' d()~ serviços e õ% do
M 70.8: outros transtornos dos tecidos moles relacionados com o
uso, o uso excessivo e a pressão mercado varejista. Ao serem analisados os coeficientes de in-
M 70.9: transtorno não especificado dos tecidos moles, cidência por "trauma repetitivo". o seior de munuf'aturu tem
relacionados com o uso, o uso excessivo e a pressão mais de três vezes o coeficiente de incidência do total dos
M 72.0: fibroma tose da Iásda palmar: contratura ou moléstia de serores da economia. ou seja, 106 contra 32 casos a cada
Dupuytren 10.000 trabalhadores empregados.
M 75.-: lesões do ombro Em outra parte desse estudo. já por grupos de doenças, entre
M 75.0: capsulite adesiva do ombro (ombro congelado, os casos que podem ser enquadrados como distúrbios osteo-
periartrite do ombro)
musculares. a manufatura é responsável por 22% dos casos de
M 75.1: síndrome do manguito rotador ou síndrome do supra-
lesõe por causa de esforços. síndrome do túnel do carpo e ten-
espinhoso
M 75.2: tendinite bicipital
dinites. ao passo que o setor de serviços responde por 26%
M 75.3: tendinite calcificante do ombro dos casos. Entre as categorias de distúrbios ostcomusculares,
M 75.5: burslte do ombro a mais COl11l1m,porém também menos cspcculcn. é a lesão
M 75.8: outras lesões do ombro por esforços quc mostra incidência de 92.5/1.000, apresen-
M 75.9: lesões do ombro, não especificadas tando o setor de; transporte o maior cocficlcmc. com 191/1.000.
M 77.-: outras entesopatias css a cstntfstica. os sciorc da construção, mineração, agri-
M 77.0: eplcondilite medial cultura c vendas por atacado apresentam coeficientes maiores
M 77.I: eplcondlllte lateral (cotovelo de tenista) que o coeficiente geral.
M 79.-: outros transtornos especificados dos tecidos moles, não Tanaka e/ al, III realizaram uma comparação dos dados ob-
classificados em outra parte (inclui mialgia) tidos pelo ational Health lnterview Survcy em 1988.nos EUA,
com pessoas que responderam ao questionário por eles chibo-
rado e esrimuram, por meio de análise estnifstica. que entre os
Categorias de Trabalhadores trabalhadores norte-americanos naquele ano OCOITCnllll520.000
casos de LER/DORT cm mãos, punhos e cotovelos.
Na literatura cicnufica internacional há citações de centenas Na Austrália. informações colhidas COmmédicos, em estudo
de categorias de trubalhadores que são vítimas de LER/DORT. realizado entre abri I de 1998 e março de 2000. revelam que
Mineiros, pedreiros. faxineiros de hospitais. processadores de de todos os 4.734 agravos à aúde relacionados ao trabalho
carne bovina. de frango c de peixe. trabalhadores cm arma- que foram por eles atendidos, 46% ão doenças do aparelho
zéns de sccov e molhados c cm matadouros. montadores de locomotor! .
caminhões. asscnradorcv de piso, fubricantcs de esqui. opera- Na Grã-Breranha. dos 43.764 ca os de doenças ocupacionais
dores de terrninais de computador. cirurgiôes-dentistus e téc- relatados por médicos do trabalho em quatro anos de funcio-
nicos de higiene bucal. carpinteiros. condutores de ônibus. namento de um programa de vigilância. entre 1996 e 1999,
trabalhadores domévricos. operários de estamparias dc metal 49% tratavam-se de doenças ostcornuscularcs. Doenças de pele
e da indústria de plá,ticol. e borrachas. fislotcrapcutas. traba- c doenças mentais foram responsáveis. cada uma. por 20%
Ihndorcs em cuidados de enfermagem, em escritório. na in- dos CaSOS.problemas respiratórios por 8% e perda auditiva
dústria de vestuário e na construção civil. em correios e em por 5% do total".
85-7241·598·X
218 • Tratado de Clínica Médica

Ainda nesse país, um programa de vigilância ostcornuscular pelo Ambulatório do Sindicato dos Trabalhadores nas Indús-
ocupacional em que participaram médicos reumatologistas. trias Químicas. Plásticas e de Cosméticos de São Paulo, 86,72%
entre 1997 e 2000, teve 8.070 casos notificados, com 8.442 são mulheres. As mesmas autoras encontraram dados semelhantes
diagnósticos'. Distúrbios dos membros superiores foram res- em pesquisa realizada com trabalhadores do setor bancário de
ponsáveis por 66% do total de casos, sendo mãos, punhos São Paulo. em estudo realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas
e braços as principais sedes dos distúrbios. Alterações da em Saúde da Mulher em Relações de Gênero da Universidade
coluna lombar e tronco (13%), coluna cervical (12%) e ombros Federal de São Paulo e em levantamentos realizados em cen-
(11%) também foram notificadas: 82% das notificações de tros de referência cm saúde do trabalhador.
distúrbios ostcornusculures estavam relacionados com es- Tanaka et (11.30 realizaram análise de regressão logística múltipla
forço repetitivo. de dados do ano de 1988 originados do sistema de informação
No Brasil, no Registro de Comunicações de Acidentes (e norte-americano e verificaram associação significante entre o
Doenças) do Trabalho dos trabalhadores filiados ao Regime sexo feminino e a ocorrência de LER/DORT nos membros
Geral da Previdência Social (RGPS), nos anos de 1999 a 2001, superiores. Frcdriksson et al.35 realizaram estudo prospectivo
o grupo LER/DORT constitui o principal agravo notificado'". de 24 anos na região de Estocolmo (Suécia) e verificaram
Entre os 200 códigos da CID-lO com maior incidência no ano, que, entre as mulheres, os fatores psicossociais estão associa-
o grupo LERlDORT respondeu por 22,80% dos casos de doenças dos com os distúrbios de pescoço e ombro e, entre os homens,
do trabalho notificadas em 1999,29,64% em 2000 e 33,82% os fatores físicos estão mais fortemente associados com essas
em 200 I. sendo "sinovite e tenossinovite não especificadas" o perturbações da saúde.
diagnóstico com maior número de noti ficações. A Tabela 25.1 Há vários estudos que buscam a associação entre níveis
mostra as 20 principais doenças do aparelho locomotor noti- hormonais e menor tolerância à dor e a ocorrência de distúr-
ficadas nesses três anos, segundo o número de casos. bios musculocsqueléticos em trabalhadoras, porém sem evi-
Em estudo realizado entre os 565 pacientes atendidos em dências conclusivasê=". Dessa forma, pelos conhecimentos
1996 no Ambulatório de Doenças Profissionais do Hospital das utuuis, as explicações para esta distribuição de LER/DORT
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal são II divisão sexual do trabalho em todas as suas dimensões
de Minas Gerais, Reis et (11.3) verificaram que 64% apresen- e a maior inserção das mulheres nas atividades com maior
tavam quadro suspeito ou confirmado de LERlDORT. risco para o desenvolvimento dessas doenças, fato este que
reforça a necessidade de incluir-se a categoria sexo nos es-
tudos sobre O adoecimento no trabalho.
ETlOPATOGENIA
Fatores Individuais Idade
Em recente e extensa revisão da literatura internacional, Occhipinti
Gênero
('I al" estudaram o envelhecimento e as alterações osteomus-
No Brasil, em vários estudos, é significante a maior incidência culares em coluna vertebral e membros superiores. Concluíra
de LERIDORT nas mulheres. Reis et (11.33, ao considerarem que há forte evidência da influência da idade na determinação
apenas o grupo dessas perturbações entre os pacientes do do aumento progressivo da ocorrência de espondiloartropatia
Ambulatório de Doenças Profissionais em Belo Horizonte-MG. com sinais radiolõgicos claros. o que não acontece com os
encontraram a razão mulher/homem de 4,47: I. Oliveira et (/1." distúrbios osteomusculares do membro superior, nos quais a
verificaram que entre os pacientes com LER/DORT atendidos idade parece não ter importância.

TABELA 25.1 - Relaçãodas vinte doençasdo trabalho do aparelho locomotor mais notificadas à PrevidênciaSocial e número
de notificações de 1999 a 2001 no Brasil
CÓDIGOCID-lO DIAGNÓSTICO .. 1999 2000 2001
M 65.9 Sinovite e tenossinovite não especificadas 1.890 1.531 1.223
M 65.8
G 56.0
M 65.4
Outras sinovites e tenossinovites
Slndrome do túnel do carpo
Tenossinovite estilóide radial (de Quervain)
. . 1.334
408
?
1.275
487
212
1.149
568
314
M 75.2 Tendinite bicipital 61 219 293
M 75.4 Slndrome de colisão do ombro 51 130 211
M 79.1 Mialgia 120 187 209
M 53.1 Slndrome cervicobraquial 193 173 174
M 70.8 Outros transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso, o uso excessivo e a pressão 80 t48 172
M 54.5 Dor lombar baixa 132 174 161
M 77.1 Epicondilite lateral lt9 144 161
M 54.2 Cervicalgia 144 126 153
M 70.9 Transtornos não especificados dos tecidos moles relacionados com o uso, o uso excessivoe a pressão 141 171 132
M 65.2 Tendinite calcificada 34 98 120
M 54.8 Outras dorsalgias 6 117 107
M 75.5 Bursite do ombro 107 78 93
M 75.3 Tendinite calcificante do ombro r 78 86
~ 77.~ Entesopatia não especificada 34 61 77
M 75.8 Outras lesões do ombro 47 58 65
M 75.1 Slndrome do manguito rotador 81 44 58
Total das 20 doenças mais registradas e porcentagem em relação ao número total de doenças do trabalho registradas 4.982 5.511 5.526
(21.1%) (28,1 %) (31.6%)
Total de doenças do trabalho registradas 23.903 19.605 17.470
Adaptado de Ministério da Previdência Social. Ministério do Trabalho e Emprego»

85-7241-598-X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 219

~ o estudo desenvolvido por Reis et (/{y, em Belo Horizonte, zado pelo aumento da atividade muscular no pescoço. prova-
~
":'
a idade teve significância cstatfstica fraca entre os pacientes velmente pela maior demanda visual durante o seu U50$O.
~ acometidos por LER/DORT (p = 0,08). Os autores encontra- As demandas mentais durante o uso de computador aumen-
~ ram diagnóstico mais estabelecido desse grupo de afecções tam a atividadc muscular não só do pescoço. mas também dos
entre as pe soas abaixo de 40 anos e indefinição quanto ao ombros e membros superiores.
diagnóstico em pacientes acima de40 anos. Infere-se que. após A postura de costas redondas. ou seja. O trabalho sobre escri-
os 40 anos. as doenças degenerativas estão mais presentes, vaninha, mesa ou bancada, com os dois membros superiores
fazendocom que o diagnóstico diferencial fique mais difícil. apoiados sobre ela e o pescoço fletido para a visualização do
Alguns trabalhadores mais idosos permanecem maior tempo ponto de operação (montagem. i nspeção, escrita, desenho, etc.)
afastadosdo trabalho em virtude de LER/DORT, porém outros, aumenta muito o peso da cabeça e. dessa forma, sobrecarrega
aocontrário. ficam menos tempo afastados que os mais jovens. a musculatura do pescoço e as articulações intervertebrais,
O dadosdo Bureau of Labor Srarisrics dos EUA S mostram que favorecendo a ocorrência de distúrbios nessa região.
noscasosde síndrome do túnel do carpo, tcndinircs do membro Na literatura internacional, as área de manufatura, proces-
superior e lombalgias. digitadoras com idade entre 35 e 44 samento de carne, corte de madeira. demais indústrias pesa-
anos permanecem afastadas do trabalho cm um período 50% das e serviços de rrunsportc possuem os maiores coeficientes
superior àquelas que possuem entre 55 c 64 anos. O mesmo de incidência de LER/DOR'!' acometendo os membros supe-
ocorrecom recepcionistas. categoria cm que os mais novos ficam riores, em dcco rr êucia pri nci palmcnrc da grande exposição dos
cinco vezesmais tempo afastadosque os mais idosos. Já com fun- trabalhadores aos fatores de repetição. força e vibração. Muitas
cionários contãbeis ocorre o inverso. com dez vezes mais tempo vezes, nesses estudos, é impossível separar o papel desempe-
de afastamento para os mais velhos que para os mais novos. nhado pela vibração localizada no uso de ferramentas manuais,
dos movimentos repetitivos, forças de preensão e impulsão,
índice de Massa Corporal e Outros Fatores posturas inadequadas e outras cargas físicas na ocorrência
dos distúrbios osteomusculares em membros superiores". Tra-
Individuais balho em ambientes frios também está associado com au-
O índice de massa corporal. junto com a idade. sexo e condi- mento de casos de LER/DORT em membros superiores e em
ção física geral, incluindo a presença de outras doenças, tra- coluna lombar".
lamentosclín icos e cirurgias realizacns representam o conjunto Fatores psicossociais do trabalho têm forte associação com
de fatores individuais que podem contribuir para a suscctibi- LER/DORT em membros superiores, particularmente o alto
lidado ti LER/DORT c a incapacidade dela decorrente". nível de cstrcssc c a alta demanda no trabalho. Os fatores de
Váriostrabalhosapontam ii existência de associaçãoestatística risco psicos ociais têm maior associação cstatísrica com os dis-
entreo aumentodo Indico de massacorporal c a vulnerabilidade túrbios osrcomuscularesde membro superiores quando os fatores
do indivíduo para esse grupo de distürbíos":":". O hábito de de risco físicos do trabalho são elevados do que quando estes
fumartambém csrã associadoao desenvolvimento de LER/DORT são baixos. demonstrando intcração potcncializadora entre elesIV.
em coluna lombur'":".
FISIOPATOlOGIA
Fatores Psicossociaís, Organizacionais
e Fisjcos do Trabalho Mecanismo da Dor no Aparelho Locomotor
Pesquisasepidemiológicas c revisões de literatura científica têm Os músculos, o periõsteo, as facetas articulares, as intersecções
sido utilizadas para avaliar a significância de vários fatores de tendíneas e 0$ ligamentos possuem grande número de nocicepto-
risco no trabalho na associação com LER/DORT,,·x."'-Jx.As lorn- res. Em caso de lesãodessasestruturas, os sinais dos nociceprores
balgias estão fortes e consistentemente associadas com levan- são transmitidos pelo nervo periférico até a medula espinhal,
tamentode cargas pesadas. flexão e rotação repetidas do tronco na qual pode ser feira conexão com neurónios motores, origi-
C vibraçõesdc corpo iruciro. Evidência mais moderada dc asso- nando os espasmos musculares induzidos pela dor. A informação
ciaçãode risco foi idcnrificadu com trabalho físico pesado. Os dos nociccptores é transmitida até o cérebro que, por sua vez,
maioresriscos para lesão cm coluna lombar ocorrem quando o retorna o estímulo pelas vias descendentes da medula espinhal,
pesoé erguido de baixas alturas, quando a distância ela carga regulando a sensibilidade dos ncurônios nociccptivos.
do corpo (momento) é grande e quando a rotação do tronco é Assim. as lesões podem induzir mudanças na sensibilidade
combinadacom a flexão. Mais de 60% dos casos de lornbalgia dolorosa, fazendo com que os tecidos se tornem hiperálgicos.
estãoassociadoscom carregamento de muterial. Há evidências Pequenos estímulos da pele ou pequenas pressões dos tecidos
de que alguns fatores psicossociais, como falta de satisfação, produzem grande sensaçãodolorosa, o que é denominado alodfnia.
monotonia. ritmo intenso. controle limitado do trabalho, alta Lesões dos nervos periféricos provocam alterações. corno dor
demanda,faltadesuportesocial e relaçõesinterpessoaisno trabalho, ou perda de sensação, referida como adormecimento ou fermi-
como também a autopercepção do trabalhador de sua capaci- gamenio nos segmentos por eles inervados.
dadeestãoassociadoscom distúrbios da coluna lombar4.s-,n. Há
tambémevidências de que a exposição a estressores psicosso- Vertebra e Disco Intervertebral
ciais resulta cm maior arividadc muscular do tronco indepen-
dentementeda carga biomecânica. favorecendo a ocorrência de O disco inrerverrebrnl consiste em duas porções teciduais distintas,
distúrbios da coluna vertebral. que são o núcleo pulposo e o anel libroso, c relaciona-se com as
Existe fortc evidência dc que as posturas csrãticas consti- hordas cartilnginosns e os corpos vertebrais adjacentes das
tuemum fator de risco para distúrbios do pescoço e ombros". vértebras superior e inferior, os quais compõem urna unidade
Distúrbios cm pescoço têm sido relatados como O problema os- funcional complexa quando sofrem carga no trabalho.
teomuscular rnai Ircqücnte entre trabalhadores de escritório. Além dessasestruturas, as articulações interfacetãrias, os liga-
tanto pelo uso prolongado de telefone. COI1)() pelo uso de mcnros anterior e posterior c os arcos das vértebras (arcos neurais)
computadores ou máquinas de escrever e calcular. O uso do constituem elementos fundamentais na compreensão dos meca-
fIIOI/Se, mais do que o uso do teclado, rem sido rcsponsahili- nismos de lesão da coluna vertebral.
220 • Tratado de Clinica Médica

Cada uma dessas estruturas e tecidos possui um limite de


Forçasbiomecânicas
carga que. quando ultrupassado, gera uma lesão decorrente (internas e externas)
de falha do material que a compõe. A resistência de cada um dos
tecidos da coluna vertebral é dependente do tipo de carga exercida
sobre ela. Na Tabela 25.2 são apresentadas as principais lesões Microfratura da borda da
cartilagem articular
conseqüentes das forças exercidas sobre a coluna vertebral.
O disco intervertebral sofre três tipos de carga no trabalho:
compressão. torção e cisalhamento, este podendo ser anterior, Tecido cicatricial
posterior ou lateral. Sob pressão ou carga duradoura. a água
do núcleo pulposo é forçada a sair, resultando em perda de
líquido significativa, diminuição da altura do disco e em insta-
bilidade. Essas alterações desaparecem após um período de
repouso em posição deitada. principalmente no indivíduo jovem.
Com o aumento da idade, o disco intervertebral sofre duas
principais alterações: a perda de água por diminuição das glico-
proteínas que constituem o núcleo pulposo e o desarranjo da
arquitctura anular do anel fibroso, por acumulo de colágeno Diminuição da capacidade
de carga e de trabalho
tipo II. Essas alterações resultam em diminuição da altura do
disco. abaulamento do disco, sem ruptura do anel fibroso, o que
é denominado protrusão discai. e a saída do núcleo pulposo Figura 25.1- Seqüência dos eventos no trauma da coluna lombar
através de fissura ou ruptura do anel fibroso. a hérnia de disco.
A contribuição individual das cargas sobre o disco interverte-
COI11a coluna vertebral já possuem importantes alterações discais.
bral para essas alterações degenerativas é difícil de ser estabelecida.
Esse mecanismo explica também a ocorrência de hérnias ou
principalmente porque a elevação da idade pressupõe também protrusões discais sem história de evento traumático súbito, mas
o aumento do tempo de exposição ao efeito cumulativo das sim decorrentes de períodos prolongado de exposição a es-
cargas. A resposta biológica ao esforço da coluna vertebral e a forços excessivos. constituindo-se em doenças relacionadas
sua contribuição às lesões têm sido demonstradas em modelos ao trabalho, em vez de acidentes do trabalho.
de laboratório e em animais. mas a extensão do mecanismo
para o ser humano ainda está para ser estabelecida.
Marras" propõe um mecanismo de explicação da relaçâo do Tendões e Ligamentos
processo degenerativo do disco intervertebral com o trabalho
Tendões ligam músculos ii ossos e ligamentos ligam ossos entre
que consiste na seguinte sequência de eventos (Fig. 25.1): a
si. Ambos são compostos de tecido eonjuniivo denso organi-
carga biomecânica causada por forças internas ao corpo, decor-
zado em fibrilas de colãgeno, agrupados em fibras e fascículos
rentes da ação da musculatura do tronco, e de forças externas
envoltos por urna fina camada de teeido conjuntivo denomi-
por causa do peso erguido ou sustentado, ocasiona pressões na
nada endotendão ou endoligamento.
borda da cartilagem articular, a qual serve corno um sistema
de transporte para a chegada dos nutrientes às fibras do disco. O movimento repetitivo ou o sobreesforço do tendão, como
Se a carga exceder o limite de tolerância da borda da cartila- também a sua compressão ou torção, causam lesões teciduais
gem articular. ocorrem microfraturas, as quais são indolores. crônicas, com alterações inflamatórias, edema, desorganização
pois essa região possui poucos nociceptores. Tecido cicatricial do colágeno e fibrose.
é sobreposto à microfratura e. cm razão de sua densidade e O exercício controlado em duração e repetição pode fazer
espessura. interfere com a chegada de nutrientes às fibras discais com que haja aumento da secção transversal e da força do
e enfraquece a estrutura do disco. Esse processo representa o tendão. As alterações degenerativas do tendão ou ligamento
início do trauma cumulativo no disco intervertebral. que ace- decorrentes de sobrecarga são em razão de mierorrupturas
lera o processo de degeneração discai que causa as alterações transversais ou longitudinais das fibras. Em seguida, ocorrem
já citadas. atividades de reparo das lesões, com proliferação de fibro-
As alterações em disco intervertebral. decorrentes da idade blastos, angiogênese e produção de matriz colágena, mas de
e do trabalho. são semelhantes. No indivíduo que está subme- forma desorganizada. acompanhada por aumento da secção
tido a esforços com fi coluna vertebral. porém. essas alterações transversal. porém, com diminuição da resistência e firmeza.
ocorrerão de forma mais precoce, como se verifica cotidiana- Os distúrbios dos tendões são classificados de acordo com
mente na clínica. em que trabalhadores jovens expostos a esforços sua anatomia e tecidos circunvizinhos":
• Tendinite é o termo mais comum para descrever dor no
local do tendão, acompanhada por aumento de volume,
TABELA 25.2 - Principais lesões da coluna vertebral em calor e eritcma. No entanto. alguns distúrbios tendíneos
decorrência de cargas exercidas
não apresentam células inflamatórias agudas no exame
CARGA SEDE E TIPO DE lESÃO histológico, apesar de haver rupturas das fibras, desorgani-
Compressão Microfratura da borda cartilaginosa da zação do colágeno, hiperplasia vascular e proliferação
vértebra de fibroblnstos. Há propostas de que esse tipo de lesão,
Cisalhamento Arco vertebral sem alterações inflamatórias. renhaa denominação de
Fratura da articuleção interfacetária tendinoso, .
Flexão Ligamento posterior • Tenossinovite é a inflamação da bainha tendínea ou peri-
Extensllo Arco vertebral tendão. É mais comum nos punho e mãos por causa da
Porção anterior do anel fibroso presença das bainhas tendíneas. Histologicarnente, a tenos-
Compressllo mais flexão Porção posterior do anel fibroso
sinovite é caracterizada por edema, com células infla-
Corpo vertebral
matórias e vascularização do pcritcndão.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 221

• Tcnovvinovitc cstcnosante (ou tcnovnginuc) ocorre quando comprcvvâo ou csrirarncrno de nervo, periféricos pela hiper-
I)devlizumcnt« do tendão é restringido pelo 'cu engrossa- trofia rnuvculur,
111C III o ou da bainha tendínea. como no caso da doença "Hipótese Cinderela" do Recrutamento da Uni-
de De Qucrvain ou do dedo cm gatilho. ltistologicarncrnc. dade Motora. Em razão da ocorrência de distúrbios osieomus-
a bainha tcndínca ou o nódulo mostram metaplavia fibro- cularcv em atividndcs com carga estática bastante inferior
cartilaginosa com aumento de condrócitov e matriz de ao limite de tolerância de esforço. foi proposta a hipõtc e da
gl icovam inogt icanov, unidade motora preferencial. De acordo com essa hipótese.
• Pcritcndinitc é a inflamação do peritcndão cm área cm as corurações isométricas de baixo nível deflagram um pa-
que não exi te bainha tcndínca. como no dorso do punho. drão de recrutamento estereotipado de determinada unida-
Histologicamente. o tecido areolar do pcrirendâo c~tá des motoras - as unidades "Cindcrcla" - que estão sempre
infiltrado com edema. aumento de volume. hipcrvas- ativas. mesmo em situações em que a carga total muscular é
cularidade e célula, infhunatõrius. podendo o processo muito pequena. No caso de comraçõc serem mantida du-
estender-se pura () múvculo ndjaccntc. rante um longo pcrtodo de tempo. o resultado erã um nú-
• Tendinoso ocorre quando existem nltcraçõcs degenera- mero de fibrns musculares mctabolicarncme sobrecarregadas
tivas no tendão. sem evidência de células inflamatórias. susccrívcis b perda da homcosiasc de cálcio e subsequente
Os uc.:hadoshislUlógic.:(ls são rupturas parciais. desorien- urivação de processos de destruição autogênicos. causando
tnçiio das lihra~ cohlgcnus. hipcrplasiu de fibroblasto . miulgiu e outros distúrbios ostcomusculares.
ncovasculurizuçâo. necrose local e glicosaminoglicano Mecanismo de Lesão pela Restauração da Perfusão.
entre as fibrilus rcndfncus. Ocorre na epicondilite lateral. É bastante conhecido o fato de que o dano recidual e a necrose
sucedem qualquer condição isquêrnica que persista por mais
que alguns minutos, Entretanto. a restauração do fluxo san-
Músculos güínco para uma área anteriormente privada de oxigênio pode
Por ser excelente máquina de trabalho. o músculo tem proprie- também causar dano tccidual. Isso se deve a um processo
dades de auto-reparo e mecanismos de adaptação que permi- bioquímico complexo. rnuiro parecido com uma resposta infla-
tem a manutenção de sua estrutura e a sua remodelação ao matória. que se inicia tão logo o Fluxo sangUíneo seja resta-
longo do tempo. I a ausência de forças excessivas . o mú culo belecido. A célula que contribui de forma mais proeminente
não sofre lesão. pois a fadiga provoca perda de capacidade de para 3 le. ão tccidunl é o neutrófilo. o qual produz produtos
contração ante' quc ocorra :1 levão. A, fibras musculare re- óxidos tóxicos. como hipocloritos, com a finalidade de elimi-
cuperarn-scda fadiga em rmnuro-, a hornv, A levão de múxculo nar microrgauisrnos invasores e combater infecções. Quando
esqueléticos ocorre mvanavclmcnrc como rcculrado de forças um vaso bloqueado reabre. parece que o mecanismo de res-
externas quc excedem 0\ hmue-, de iotcrüncia do, tecido, passivos po ta é deflagrado mesmo vem a presença de microrgunismos.
e das estruturas comrãteiv, É pos Ivel que a restauração da pcríusão tenha um papel importante
Enquanto a\ fibr.I\ em fadiga cvtão cm repouso para re- no grupo LERlDORT. Por exemplo. tarefa, que causam blo-
cuperação. pode haver recrutamento inapropriado de outras queios intermitentes de fluxo sangüfneo, O qual é novamente
fibras que podem. por sua vc/. -ofrcr sobrecarga e vir a ser restabelecido. podem ser responsáveis por uma resposta in-
lesadas. às vezes de forma definitiva. Contrastando com ~Ifadiga flamatõria em tecidos moles.
muscular. a lesão da libra pode levar xemunu» ou meses para Resposta ao Choque Térmico. Prcteínas do choque
a recuperação ou resultar cm completa redução ou perda de térmico. também conhecidas como proreínas chaperone, são pro-
função, duzidas pelas células em respo ta ao cstresse CIIUado pelo calor,
A lesão da fibra muscular é sempre acompanhada por pro- venenos e sinais emitidos pelo nervos ou hormônios, Expondo-
cessos celulares necrótico-, e inn:II11llt6f'i()~.edema. evidência se as células ao estrcsse - pelo calor, oxigénio. como OCOO'(;) nas
mlcroscópicu de ruptura da estrutura contrlÍtil e pcrdn dc pro- re postas inflarnatérias ou por condições isquêmicas - veri-
tefnose enzimas através da membrunn celular rompida", As pessoas fica- e um aumento du produção de chapcroncs num esforço
cxpcrlrncntum sinromus de fadiga. como desconforto e inca- da célula para proteger suas protctnas vitais. Esse processo iS
pacidade de trubulho quando chegam próximo til! veu limite controlado por uma outra prorcínu-rncstrc denominada fmor
de rcsistênci«, ()qual é indiv iduul. As menores e mai, lenta, libra_, de choque térmico. que estimula os genes para codiflcur pro-
musculnrcs vão maiv rcvivicntc-, ii fadiga que 0\ flhrav mniv teína, chapcrones e produ/l-lns cm maior quantidade durante
rllpidn~.A~ libra, lenta' vão rnaic solichadn-, parti trahalho, de o cstrcs-c, Entretanto. em determinado nível crülco, as pro-
menor forç;l. lIla~ repctiti\()\ e de re btência. l>cndo al'omai, teínas chapcrone!. tornam-se danosas pnra a célula. Isso ocorre
vulnerávci, ii eontração até o limite de le\ão mu,cular. ,elido porque. como elas protegem outras protefnu:.. us envolvem e
a~~ill1mai, facilmente le'lonada~. evitam que cla~ desenvolvam ua!>funções apropriadas. Assim.
Forde ('( (/1. <I. em re\ i,ão da litcratura maL recente. dc\crc- célula\ ,adias produzcm aho nfvel de chaperones por breves
vem 0\ po~,f\ei, fen(,meno~ que ocorrem no músculo e na períodos. mel>mo que a condição de estresse persista.
célula mu\cular que podem levar :10 desen\ olvimento do É agora conhecido O fmo de que cenas proteínas chaperones
distúrbio~ o\leomu\culare,; podem !>eliga e regular os fatores de choque térmico. promo-
Desbalanceamento Muscular Induzido pela Pos- vendo. assim. uma retroalimentação autolimitadora em que
tura. A manutençãu de pO!.luras est~ticas provoca desbalan- a ehaperones reulizam o cone de ua própria produção. Um
ceamcnlO llIu~cular. ,endo algun!> mú~culos sobreutili.wdo!> outro regulador que corta ti produção de chaperone. recente-
e, outro'. ~uhutili/ad(),. O grupo ~obreutilil.ado evolui para a mente del>coberlo. é a protefna ligante de choque térmico I. a
hil)Cnrolia. enquanlll () muro grupo ~e tOrn3 fraco por causa qual ~e liga tanto iI~chuperolle~ como ao fator de choque témlico
da falta de U~lI. E,~:t combinação produz. uma condição que se e previne a produção de mai, chaperones, No entanto. como
pcrpcllw e mantém a pO,lUra an()rmal c () dc:.balanceamento as células envelhecem. tanto natural como prematuramcntc por
Illu~clllar. il qllal. pnr ,ua vel.. reful'(,a e hipertrofia os mú:,cu- caUl>ada expo~i~'ão a falOrCl>extemo~ 3d\ ersos. a resposta ao
los sobrccarregudo, e enfruqllecc ainda mais os Il1IÍl-culos ubuti- choque térmico n1l0 funciona de forma udequada, quando ironi-
lizados. A carga estátiell no~ músculos sobrcutilizado produz camente ocorre a Illnior ncce5sidnde de que scja o mais efi-
redução da circulação perifériclI c mialgia. Pode também ocorrcr ciente po!>sível.
85·7241·59M·X
222 • Tratado de (/(nica Médica

Parece ruzoãvel posrulur que u exposição permanente a longa duração. A respovra biológica são edema do cndoneuro,
csiressores no trabalho pode romper a resposta ao choque térmico dcvmiclinizaçâo. inflamação. degeneração axonnl e fibrose'.
e resultar em níveis parogênicos permanente de produção de O grau de degeneração nxonal é diretameruc dependente da
chaperones. o que por suu ve« acarreta morte celular focal. pressão nplicada em um padrão do e-resposta.
Até que ponto os estrcssores no trabalho produ/em c e nível A exposição 11 vibração localizada em razão do uso de
de cstressc celular é ainda desconhecido. ferramentas manuais pode provocar lesão permanente de nervos O<
Dano Mitocondrlallnduzldo pelo Estresse. As mito- periféricos. ~
côndrias são as única, organclas que possuem seu próprio DNA. .....
distinto do DNA nuclear. Na produção de ATP. o tran porte
Raízes Nervosas v.~
mitocondrial do elétron não é perfeito. Mesmo sob condiçõc
ideai . alguns eléironv \Ditam da cadeia transportadora e interagem Embora muito bem protegida de trauma externos. as raíze
x
com o oxigénio para produ/ir radicais supcróxidos. Com a nervosas são pouco protcgidav por tecido conjuntivo. o que as
disfunção mitocondrinl. a perda de clétrons aumenta signi- torna bastante vulncrtlvcix ri compressões oriunda de alterações
ficantcmente, criando um cfrculo vicioso, no qual a cadeia de da coluna vertebral. como hérnias ou proirusõcs discais. estenose
elétrons perde cada "e/ llIai~ elétrons. A pro imidadc do DNA c outros problemas de origem degcncrutivu e constitucional.
muocondrial ao nu (l de supcrõxidos e radicais hidroxilas. A compressão ou cvtirnulução direin das raízes nervosas
como também a faliu de proteçilo e mecunismos de reparo. re- libera citocinus c neurotrnnsmissores que estimulam a trans-
sultam em oportunldndcx para mutações mediada por radicais missão de estímulos dolorosos.
livres e dclcçõcv, Além disso, estudos recentes mostram que
a mitocôndrias. cujo» DNA foram lesados. proliferam à custa
das orgunelas sadias. A~~im. ocorre acúmulo de mitocõndria QUADRO clIIIICO
danificadas em células. em particular na permanentes. como Cada distúrbio do grupo LER/DORT tem um quadro clínico
as células nervosa" e mu culares. diferente em virtude da localização anatômica e das estrutu-
Fatores e condições que causam disfunção mitocoodrial p0- ra. e funçõc acometidas. Serão. dessa forma, analisados de
dem afetar gravcmerue o metabolismo celular e. por fim. OS ní- acordo com o critério anatomofuncional. iniciando-se pelas
veis de energia do organismo e a vidu. Déficits pequeno. como neuroparius compressivas. eguindo-se pelos distúrbios
I% da função do DNA mitocondrial. podem causar fraqueza grave, osteomusculnrcs da coluna vertebral. do membro superior e
fadiga e dificuldadc-, cognitivas. Fi~iologi"tas do esporte verifi- do membro inferior.
caram que e fo,,()~ fi ícos prolongados - como corridas de longa Na Comunicação dos Acidentes do Trabalho da Previdência
distância e mleta), envolvidos em esportes de resistência - infli- Social (CAT) há um campo de precnchimento obrigat6rio para
gem graves danos ii,mitocôndrias das células musculares cnvol- a colocação do código alfanumérico da 10· revisão da Classi-
vidas.Há evidêncin« de que o exercício prolongado podeenvelbecer ficação Internacional de Doenças (CID-lO). Por esse motivo.
artificialmente a rnitocôndrias das células musculares a ponto a denominações da~ doenças erão ernpre acompanhadas por
de elas pararem de funcionar adequadamente. e se código.
Muita~ ocupações requerem que os trabalhadores se e for-
cem continuamente. não no. nívei requeridos pelo corredo-
res fundista . mas é possível que. :1 longo termo. pequenos Slndrome do Deslllallalre Torácico
nfveix de esforço usando ° mesmo grupo mu cular por um É a compressão do feixe neurovascular, constituído pelo plexo
período cstendidc de tempo possam provocar danos mitocondriai braquial. veia e artéria subclávias, na sua passagem pela re-
além dos esperudov pelo envelhecimento fi iol6gico. gião cervical, em razão de alterações na via anatômica formada
A~ fibru~ musculares também são danificada." pelo trabalho pela primeira costela. a clavícula e os músculos escalenos anterior
com ferramentas manuais vibratõrias. A expo ição 11vibração e médio.
durante contrnçõcs musculares voluntárias persistentes ou inter- A rnulorlu das rnunifestações é decorrente da compressão do
mítentes acarretam redução dn velocidade do impulso nervoso plexo braquial. com quadro de dor intermitente, irradiada para
nos eletromiogramas e a redução do força mu cular, cm decor- C) membro superior e rclncionnda aos movimentos. Pode haver
rência. ao menos em parte, da redução da velocidade do im- hipocstcsiu (dormência e sensação de frio) no terrltõrio do nervo
pulso nervo-o nos alfu-ncurônios motores. ulnar. diminuição da força de preensão da mão e diminuição
Schlcifcr et (II ..... apresentam a teoria da hipcrvcruilação por
da cstercognosia. Nos caso mais avançado. pode ocorrer atrofia
cuusu 1I0 csircssc do trabalho como processo que aumenta o dos mü-culo intrin ecos,
rlsco de LER/DORT. A hipcrvcntilnçiio excede a demanda A compres ão vascular pode provocar edema e alterações
metabólica por O c leva a umu queda do C01 arterial. o que
da cor do membro superior e claudicação.
produz um aumen;o do pll do sangue. ou seja. alcalo e respi-
ratória. Essa ruptura no equilfbrio ãcido-bãsico deflagra uma
cadeia de reaçõe fi iolõgicas que possui implicações adver- SI.drlma III Tiaallll Caril
sas ao mú cu lo. incluindo tensão mu cu lar aumentada. espas- É a síndrome cau ada pela compre ão do nervo mediano no
mo muscular. resposta aumentada às carecolamina . isquemia canal do carpo. Há queixas sensitivas. como hipoestesia (formi-
muscular e hipõxia. A hipcrventilação também é caracteriza- gamento. amortecimento) no territ6rio do nervo mediano, dor e
da por uma mudança do padrilo respimt6rio diafragmático para parestesia em todo o membro uperior. principalmente à noite
o torácico. o qual impõe umu curga biomec5nica na região do (bmquialgia paresté!tica natuma). No Quadro 25.2 estão resumi-
pc.coço c ombro por caU'la do recrutamento dos músculos dus as funçõcs dOl>nervOl>mediano.ulnarc radial. Há freqüentes
estcrnoclcidomast6ideo. escaleno e trapézio no ~upone à res- queixas lIe imldiaçilo da dor por toda a extensllo do membro superior
piração tor:1cica. até o ombro. Ilá piom da hipocstcsia e da parestesia com o frio.

Nervos Periféricos Slndroma dI 'ronadlr .adlndl


O mccani mo prim~rio de lesão mecllnica do nervo periférico É a ~rndrome cousada pela compresslío do nervo mediano em
é por compressão regionul ou por estiramento. de curta ou suu passagem pelo terço proximal do antebraço entre a cabeça
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 223

QUADRO 25.2 - Principais funções sensoriais e motoras dos diada para ombro e toda a extensão do membro superior. Podem
nervos mediano, radial e ulnar ocorrer hipocstcsias (adormecimento, formigamento ou sen-
sação de frio) e parcsresias.
Nervo mediano
!-lá pacientesque apresentamdéficit motor no membro superior,
• Sensibilidade para a face ventral dos dedos polegar, índice,
médio e porção lateral do dedo anular queixando-se de que não têm força e que deixam cair objctos
• Motricidade dos músculos flexor radial do carpo, flexor do da mão. Podem também apresentar queixas de tontura.
polegar, flexor superficial dos dedos, porção lateral do flexor
profundo dos dedos e palmar longo
Cervlcalula
• Motricidade dos músculos oponente do polegar, cabeça
superficial do flexor curto do polegar, abdutor curto do É a dor cspomãnca que acomete a musculatura da regiUoposterior
polegar e lumbricais do Indice e do dedo médio do pescoço c a região escapular, sem que haja comprometi-
Nervo radial mento dos discos intervertebrais cervicais. A dor piora com
• Sensibilidade para a região da tabaqueira anat6mica e face os movi mcnros e COI11 períodos de maior tensão, Pode haver
dorsal dos dedos polegar, índice, médio e porção lateral do ronturns e purcsicsias.
dedo anular até a articulação interfalangica distal
• Motricidade dos músculos extensor ulnar do carpo, extensor
dos dedos, extensor do índice, extensor do dedo minlmo,
Ciática, lomboclatalgia [lumbago com Ciática)
extensor radial curto e longo do carpo, abdutor longo do e lombalgla IDor lombar Baixa)
polegar, extensor curto e longo do polegar
A lcmbociatulgiu é a dor na região lombar com irradiação para
Nervo ulnar um ou urubus os membros inferiores, podendo avançar até a
• Sensibilidade para o dedo minimo e metade medial do dedo perna 011 () pé. nos casos mais graves. A lombalgia é a dor na
anular
região lombar sem irradiação. Se houver apenas a irradiação
• Motricidade dos músculos flexor ulnar do carpo, porçêo medial
do flexor profundo dos dedos da dor. sem dor na região lombar, denomina-se o quadro como
• Motricidade dos músculos adutor do polegar, cabeça profunda
ciática ou ciatalgia.
do flexor curto do polegar, interósseos palmares e dorsais, A dor é o principal sintoma e freqüentemente o único a ser
lumbricais dos dedos anular e mínimo e músculos da encontrado neste distúrbio osteomuscular, Pode ocorrer hi-
eminência hipotenar poestcsia. parestesia ou hiperestesia na região que sofre a
irradiação da dor.
Quando a lombalgia ou a Iornbociatalgia persistem por três
urncral e a cabeça ulnnr do músculo pronudor redondo. Ilá dor meses 011 mais. podendo ou não ocorrer episódios de melhora
no antebraço aos esforços. com hipoesrcsin no território do e piora da dor. denomina-se o quadro de lombalgia ou lorn-
nervo mediano, dimiuuiçâo da força de preensão I! de pinça, bociatalgia crônica.
com déllci: do~ nulsculos inervados pelo nervo mediano. Pode
haver Illrol'i1l dn região icnnr. Dedo em Gatilho
~ uma tenosxinovite e teno ante por causa do espessamento da
Síndrome do Canal de Guvon bainha sinovial do tendão ou tendões flcxorcs profundos dos
~ asfndrornecausadarela compressão do nervo ulnar no punho, dedos e flexor do polegar. O e pcs amemo sinovial dificulta
nu lia passagem pelo Canal de Guyon. o qual é dclimitndo o deslizamento do tendão pelo interior da bainha, podendo
pelo hãrnulo do osso humaro e pelo osso pisiforme. Há queixa estar agravado por derrame sinovial, dificultando a extensão
de hipoestcsiu na polpa medial dos dedos anular e mínimo e do dedo após a sua flexão, O tendões mais freqUentemente
nos casos mui), avançados. atrofia na musculaturn intrlnscca acometidos são os tlexores do polegar e os ílexores profundos
inervada por esse nervo. dos dedos médio e anular.

Sindrome do Túnel Cubital Tenossinovite Estilóide Radial


É a síndrome causada pela compressão do nervo ulnar no túnel IDoença de De Quervain)
cubital. entre O epicôndilo medial e o processo olecraneano É uma tcnossinovite estenosantc causada pela constrição da
(goteira cpitrõcleo-olecraneana), ou entre a cabeça umeral e a bainha sinovial comum dos tendões abdutor longo e extensor
cabeça ulnar do músculo flexor ulnar do carpo. A cabeça curto do polegar. os quais estão localizados na tabaqueira
umcral dessemúsculo insere-se no epicôndilo medial e a cabe- anarôrnica. Há dor na região acometida que pode estar irradiada
ça ulnar no olecrano e margem posterior da ulna. para toda II extensão do membro superior. até o ombro.
H~ queixa de dor na região medial do cotovelo, diminuição
da força de flexão do punho. fraqueza nas mãos. hipoestesia
no território do nervo u Inar.
Tenosslnovltes do Extensor Radiai do Carpo, do
Extensor dos Dedos, do Flexor Radiai do Carpo.
Compressão do Nervo Supra-escapular Outras Slnovltes e Tenosslnovltes. Slnovlte e
É a sfndromecausadapela compre sãodo nervo supra-cscapular
Tenosslnovlte não Especificadas
soba fáscia que recobre a chanfradura do proce ......
o coracóide. Vários outros tendões e bainhas sinoviais do punho e mão
Há dor na região escapular e diminuição da força dos músculos podem estar acometidos. Os tendões [lcxores do punho e dos
supra e intra-espinhal. '50 há alterações sensitivas. dedos estão envoltos por bainhas sinoviais, o mesmo acontecendo
com os tendões extensores que. ao chegarem ao punho. também
são envoltos por bainhas sinoviais. sendo o líquido sinovial
Slndrome Cervicobraquial de grande importância para a sua nutrição e lubrificação. Os
É uma raquialgia da região ccrvicobraquial que pode apre- tendões extensor radial do carpo. extensor dos dedos e flexor
sentar-secom dor na nuca, na porção superior do músculo radial do carpo süo os mais freqüentemcntc acometidos por
trapézio, mais comumente referida como dor em peso e irra- distúrbios relacionados ao trabalho.
224 • Tratado de Clínica Médica

o paciente queixa-se de dor em todo o segmento acometido Tanto a síndrome do manguito rotador como a síndrome
ou no trajeto do tendão, sensação de peso e diminuição de força. do impacto fazem com que o paciente refira dor na região
Pode haver outros sinais de inflamação nos trajctos dos tendões ântcro-superior do ombro. a qual pode se estender até a me-
e as dores aumentam com a movimentação. tade proximal do braço. A dor pode piorar 11noite e com os
movimentos do ombro. queixando-se o paciente de crepitação
Bursltes da Mão e do Olecrano. OUlras Bursltes à movimentação.
do COlovelo. Pré-rolullanas a do Joelho
Bursite é a inflamação das bolsas sinoviais que se localizam
TendlnUe Blclpllal
entre os tendões ou entre estes e proeminêncius ósseas, com É a inflamação do tendão da cabeça longa do bíceps no sulco
a finalidade de protegê-los e reduzir o atrito entre eles. Apre- intertubercular do úmero. podendo estar associada com bursires
sentam diversas localizações e há referência à dor difusa ou do ombro e com a tendinite do supra-espinhal e com a síndrome
localizada. a qual pode ser exacerbada pelo movimento. de impacto. Existe dor na projeção da cabeça longa do bíceps.
na face anterior do ombro. a qual piora aos movimentos.
Outros TranSlornos dos Tecidos Moles
Relacionados com o Uso. o Uso Excessivo a a Tendlnlle Calclllcanla do Ombro
Pressão: TranSlorno não Especificado dos Decorre da calcificação dos tendões do manguito rotador do
Tecidos Moles Relacionado com o Uso. ombro. em razão de tendinites e bursites primárias. Há dor
o Uso Excessivo e a Pressão súbita e de grande intensidade, muitas vezes impedindo total-
mente a movimentação da articulação.
Outros transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso.
o uso excessivo e a pres ão podem ser diagnosticados, como
as sinovites e os cistos sinoviais. As sinovites correspondem Bursile do Ombro
à inflamação do tecido sinovial que recobre as articulações. No ombro encontram-se as bolsas sinoviais subacromial, subdcl-
Os cistos sinoviais são o resultado da degeneração mixóide tóidea. subtendfnea do músculo infrn-espinhal, subtendínea
do tecido sinovial, podendo aparecer em tendões e articulações. do músculo subescapular e subtendínea do músculo redondo
consistindo em tumorações císticas e circunscritas, localizados maior. As duas primeiras são as mais Ireqüentemente acome-
preferencialmente no dorso do punho. tidas nos esforços do trabalho. Existe dor intermitente, em
especial 11noite e 11movimentação do ombro.
Flbromalose da Fáscla Palmar
(Doença de DUPuVlranl Eplcondlllles Mediai e laleral
É caracterizada pelo espessamento e rctração da fãsciu palrnur, A inserção do tendão no osso é denominada entese. As epicon-
formando cordões fibrosos e retração dos dedos, com incapa- dilires são entcsopatias ou tcndinoses decorrentes dos dis-
cidade funcional da mão acometida. O paciente inicialmente túrbios dessas estruturas. A epicondilite lateral é cerca de
queixa-se da presença de nódulos na face palmar com sub- sete vezes mais frequente que a mediai'. Essas afecções são
seqüenre transformação do mesmos cm cordões com rctrução caracterizadas por dor no local, que piora com os movimen-
dos dedos. Pode cr bi ou unilateral. nesse caso acometendo tos, muitas vezes com queixa de inchaço, principalmente na
preferencialmente a mão dominante. localização medial.

Cap$ullle Adesiva do Ombro Mlalula


(Perlarlrlte do Ombrol Vários músculos da região escapular e dos membros superio-
O ombro é a articulação com maior mobilidade no corpo humano res podem apresentar dor em decorrência dos esforços do tra-
e por isso é freqüente sede de lesões decorrentes de esforços balho. principalmente pela sobrecarga funcional estática. As
no trabalho. A capsulite adesiva é resultante de agravamento mialgias podem ocorrer isoladamente, mas quase sempre es-
e complicações de tendinites ou bursites do ombro, apresen- tão associadas com os quadros de tenossinovites ou tendinites.
tando-se com dor e limitação grave de movimentos, sendo, Há dor espontânea na região muscular afetada, a qual piora
em razão disso, também conhecida como "ombro congelado". com os movimentos e à palpação.

Slndrome do ManuuUo ROlador (Slndrome DIISNeSTICOS CllNICO E OC'PICIONll


do Supra-esplnhalJ. Slndrome de Colisão No grupo LERIOORT. os principais procedimentos diagnós-
do Ombro (Slndrome do Impaclo) ticos consistem na anarnnese ocupacional, exame físico geral,
ortopédico e neurológico c vistoria do posto de trabalho. quando
O manguito rotador é composto dos músculos subescapular. possível. Oll relatório detalhado do ambiente. condição e ati-
supra-espinhal. infra-espinhal e redondo menor, que se fun- vidades de trabalho para o estabelecimento do nexo causal da
dem em forma de coi Ia c abraçam cerca de dois terços ela doença com o trabalho. Os exumes complementares serão pouco
cabeça do úmero, firmemente aderidos à cápsula articular importantes na definição diagnõstica c. na grande maioria das
glenoumeral. vezes, serão utilizados para descartar diagnósticos diferenciais
A forma mais comum. mas não única de lesão do manguito e não para confirmação da hipótese.
rotador é o seu impacto. geralmente do tendão supra-espinhal,
com a porção ântero-inferior do acrôrnio. o ligamento côraco-
acrornial e a articulação acrornioclavicular na elevação do
Anamnese Ocupaclonal
ombro. Entre o manguito rotador e o acrômio está a bolsa Além dos dados pessoais, nos quais devem constar nome.
sinovial subacromial que também é envolvida no choque. idade. data e local de nascimento. devem ser obtidos os dados
Saúdeno Trabalho e Meio Ambiente • 225

da vida proli~~i\)nal do trabalhador: empregos e funções an- numa sequência lõgicu. de forma ritmada. hnrmônica e ele-
teriorcv. ri~co~ profivvron.iis a que c-teve CXpOSIU.proteção gante. com participação ativa do paciente. pois ele fornccerã
individual c colcuva urilr/udn. exame, ndmivvionaiv. perió- não ),6 dado) paru o diugnévtico. mas elementos fundamentai
dicos. de retorno ao trabalho. de mudança de função e demi - para o estabelecimento da confiança do trabalhador ou traba-
sionais. afastamcrnov do trubulho e bcncffcios do scguro s ocinl. lhadora no profissional. início perfeito para um bom relacio-
acidentes e doença, do trabalho untcriorcs. Posteriormente, namcnto médico-paciente.
os dados sobre II arual ou última função ou. então. aquela ati- Ap6!1 a realização do' exames Ilsicov geral e especial deve ser
vidadc de que o rrnbalhador suspcitn ter sido a caus a do di túrbio voltada para o segmento corporal acometido na seguinte scqüência:
de saúde que e'tá aprcscntnndo. inspeção estática. in pcção dinâmica. palpação óssea e de par-
{\ ormn Técnica de (\valinçRo de Incapacidade para fins de tes moles. exame neurológico e restes e manobras especiais.
Bencflcios Prcvidcnciãriov do INSS" relaciona a<;informações
a serem obtidus na unamncsc ocupucional: Coluna Cervical
• Amhient« e tralmllto: percepção do trabalhador quanto Inspeção Estática. Bu ca- e a presença de assimetrias do
a temperatura. ruído. pociruv. ilurninamcnto. radiação e pescoço. malformações. deformidades que podem er redutíveis
outras cargas Ilsicas. químicas e blolõgtcas existentes. ou irredutíveis. alrcraçõc da pele e dos cabelos e cicatrizes
• Equipamentos: qualidade dos cquipamcruor e ferramentas. cirúrgica ou não. Devem er examinadas as regiõe anterior,
munutcnçãc dos mesmos. ncccs idade de emprego de laterais e posterior do pescoço. estcrnoclcidornastõidea e a
força decorrente da inadcquução do equipamento. de vio fo sa supraclaviculur.
x posturais impostos pelo uso do equipamento. necessidade Inspeção Dinãmica. Deve ser verificada a amplitude
.;, de cada um dos movimentos do pescoço e coluna cervical,
de repetição da atividude por falha do equipamento.
'"") • Mobtltário: qualidade e manutenção. acolchoamento de levando-se em conta que eventuais limitações podem ser decor-
assentos. encostos e apoio". freqUência de repo ição, adap- rentes de bloqueios anrãlgicos. Na flexo-extensão do pesco-
tação do posto de trabalho à introdução de novos pro- °
ço <6. arco normal de movimento, desde o queixo encostado
cessos. desvios posturais impo ...tos pela inadcquaçâo do no peito até a fronte e o nariz alinharem-se no plano horizon-
mobiliário. apoios para os membros. tal. é de 130°. devendo ser registrada a limitação. se houver.
• OrglJlli:.t/('tiodo trabalhn: ritmo. pausars, trabalho em turnos Na rotação do pescoço. para li direita e para a esquerda. o
e noturno. hierarquia. horav-cvtra v, csnmulo à produção. arco normal de movimento é de 80° e, na inclinação lateral,
rouniv idade dc mão-de-obra. compovição da mão-de-obra de 45°. Essa. angulaçõc serão mais bem avaliadas se o pa-
quanto a sexo e idade. relacionamento inrcrpcssoal. ciente segurar uma espátula ou lápis ou régua entre os dentes,
enquanto realiza os movimentos.
Muita atenção deve ser dada à caractcrivação da) queixas Palpação. Deverão ser palpados o músculo esternoclei-
de dor e de incapacidade funcional. A dor é a queixa mail> domastóideo e li gliindula rircõidc, ti qual pode estar aumen-
freqüente nos casos de LER/DO RT e deve ser muito bem caracte- tada ou possuir cistos ou iumoraçõcs. Um do. principai
rizada pela sua localização inicial. evolutiva c ntual. pela duração. diagnósticos diferenciais com o grupo LER/DORT silo as al-
pelo tipo. isrc é. em pontada. facada. agulhada. cm peso. em terações de funcionamento da tireóide. O múseulo esterno-
queímação ou outra caracterização. pela irradiação. fatores de clcidomastõidco deve ser palpado em busca de pontos-gatilho
melhora ou piora e por vinais ou ...intomas que apareceram ou pontos dolorosos cm toda II sua extensão, com especial
concomitantemente. É frequente a dor ver o único ...interna da atenção 1'1 sua origem nu fucc anterior do pescoço.
LERlDORT e a ausência de outros vlruomns 011 sinai não pode II face posterior do pescoço devem ser palpados os mús-
nunca vir a dcscaracrcrizã-ln. j(l que muitas outro, doença. culos trapézios e IIS protuberâncias occipitais. em busca de
também suo caracterizudas upcnas pela dor e nem por isso pontos dolorosos. Du protuberância occipitnl, 1\ palpação se-
deixam de ser diugnosticadus e tratadas. gue utruvés do ligamento du nucu aré o processo espinhoso de
A relação do surgimento do quadro clínico com a) tarefas de C7. o mail> proeminente da coluna cervical.
trabalho deve ser também investigada, para a caracterização Na face posterior do pescoço. podem ser pulpados os pro-
do nexo CIIII~1I1 do divuirhi« com o trabalho. procedimento que cessos espinhosos de C2 e C7. em buvca de pontos dolorosos.
será mal .. aprofundado em parte cspccfflca deste texto. Os demais processos espinhosos encontram-se locnllzados mais
(\ incapacidade íuncional deve ser PCMIUi\ada principal- profundamente.
mente quanto à suu locutização inicial. suu evolução. segmento. Exame Neurológico. Para cada nível de afecção nu co-
corporais ucometido-. uuvidudc-, prejudicada). alterações scn- luna cervical existe uma distribuição en iriva, um teste mo-
soriais c motora, e períodos e motivos de ufustamcnros do tor e um exame de reflexos a ser realizado. o quais estão
trabalho e de outra, mi\ idadcv. C()1I1t) estudo e lazer, descritos '6 na Tabela 25.3.
Além desses itcnv, outro, também devem ser inclufdos na
anamnesc. principalmente ligado, aos aspectos psicossociais Testes e Manobras Especiais
profissionai«, taiv como ':Il"faç~o no trabalho. po..sibilidade de • MOllobra ele Spllr/illg: com o paeiente em nexüo lateral
carreira ou evoluçuo proli"innal. pre"ôes de chelia ou de colegas. do pescoço. pres iona-M!o topo da cabeça. sendo a manobra
competição. controle ,obrc a tnrefa. <;uporle ,ocial e autoper- po itiva quando o paciente referir aumento dos sintomas
cepção sobre li cupacidllde para () exerdeio da atividade. no membro superior do lado pesquisado.
• Tesle de Ads(JI/: a permeabilidade da artéria subclávia,
que pode estar comprimida na síndrome do desfiladeiro
Exame Flslco torácico. é teltwda palpando-se o pulso radial e abduzindo
Para diagnóstico de distúrbios osteomu. clllare, é necessária c rodando externamente o mcmbro superior do paciente.
II realizaçãode exames ffsicos geral. ortopédico e neurológico. Em seguida. o paciente prende a respiração e move a
os quais não devem ser substituídos pelo exame complementar. cabeça em dircção ao membro examinado. A compressão
dispendioso c. muita~ vel.es. inva~ivo e inconclusivo. por mais da artéria ser~ sinali7ada pela diminuição ou desapare-
bem realizado que seja. O exame frl>ieodeve ser sempre feito cimento do pulso.
226 • Tratado de C/{nica Médica
85·7241·598·X

TABELA25.3 - Avalla<io neurológica da coluna cervical promove dcxlocamcnto e cvtiramcnto do nervo ciático.
(baseando-se na padronlza<lo da classlfica<lo neurológica da formado por rui/c' ncrvovav de L5. 5 I c 52. quando a
American Splnallnjury Assoelatlon e da International Medical flexão do quadril c<;tá cntre 350 e 70°. Com o paciente
Society of Paraplegia) cm posição supina. clcv a-se o membro in ferior pelo
tornozelo. com o joelho c tendido. até que o paciente
MOTOR-
NlvEl MÚSCUlO-CHAVE REFLEXOS SENSIBlUDADE retira dor. Em seguida. retoma-se 11 posição em que a
dor desaparece c realiza-se a dorsiflexão do tornozelo,
(5 Flexores do cotovelo Bíceps Face lateral do braço provocando o reaparecimento da dor. quando então o teste
(6 Extensores do punho Braquiorradial Polegar é interpretado como po itivo.
a Extensor do cotovelo Trlceps Dedo médio
• Teste de estiramento do nervo [emo ral: com o paciente em
(8 Flexor profundo do
decúbito ventral. rcahza-sc a Ilcxão do joelho. O apareci-
dedo médio Dedo minimo
TI Adutor do dedo Face medial do mento dc dor na região lombar ou nádega indica com-
médio cotovelo pressão de ra(Lc!. L2-L3. Pode também ocorrer dor na
COXII. devendo. ncxxc CU\o. ver verificado se o distúrbio
não é decorrente do evrirnmcnto do músculo quadríceps.
Coluna Lombar
Ombro
Inspeção E.stática.Devem ser inspccionadas a faces anterior,
laterais e posterior da coluna lombar, com o paciente em po ição Inspeção Estática. Com o paciente sentado na mesa de
ere ta. Procurnr-se-ü por manchas. cicatrizes cirúrgicas. prin- exames Ou cm banco sem encosto. desnudo da cintura para
cipalmente na região posterior mediana baixa ou de traumas. cima. o examinador analisa as faces anterior, lateral e poste-
O alinhamento da coluna nos planos frontal e sagital deve ser rior dos ombros. Devem ser buscadas cicatrizes cirúrgicas.
verificado. em busca de alterações como aumento da cifose principalmente na face anterior. ou traumáticas. Também
torácica. da lordose lombar ou escoliose. deformidades. assimetrias. alterações do trofismo e dos relevos
Inspeção Dinâmica. 1\ amplitude normal da Ilexâo na musculares. principalmente Da região escapular. Devem ser pes-
coluna lombar varia" c.Je40 II 6()o. a extensão de 20 a 350. a quisadas depressões ou tumoraçõe: que indiquem desinserções
inclinação lateral de IS a 2()0 c a rotação de 3 a 18°. Todos musculares ou rupturas de tendões,
c"e~ movimento, deverão ser pesquisados individualmente Inspeção Dinâmica. A partir da posição anatômica, com
e combinadov, como a flcxã« lateral combinada com a Ilcxão c os braços ao lado do rérax. a amplitude normal dos movimentos
c,ta cornbmadn com a rotuçãn. do ombro é de 90° para a abdução. 1800 para u elevação. 750
O rcvtc de chober (modificudo) deve ser realizado delirni- para II ndução, 18()0 para a flexão. 60 paro a extensão e 750 para
rando-vc um c-paço IOcm aci ma c Sem abaixo do procesvo a rotação externa. Nu rotação interna. até alcançar com o dorso
cspiuhoso de L5 (localilluJo pouco abaixo do plano da, cri tas da mão. II nlvel de T7 na coluna torãcica'", Devem ser compa-
ilíacav) e vcrificundo a flexão mrixima da coluna. O aumento rado» () movimento pa~~I\'o e o ativo, bem como os dois ombros.
inferior a 6cm no espaço delimitado indica limitação vcrda- Palpação. Devem er palpadas em busca de dor, edema
deira dos rnov imenios da coluna lombar. ou movimentação. a~ uniculações csrernoclavicular e acrômio-
Palpação. Colocando-vc o examinador por trás do paciente. clavicular. nesta pcsqui 'ando-se o inal da tecla, indicativo de
com a visão na altura das cristas iHacus, deve palpá-Ias e apoiar luxação. Também deve ser palpada a clavícula. em busca de defor-
as pontas dos dedo sobre elas. buscando verificar di ferença de midade indicativa de fratura antiaa ou recente consolidada
nível que indique uma báscula de bacia. As cristas ilíacas cons- ou não. A palpação da projeção do manguito rotador e do deltóide
tituem importante referência anatômicu, pois estão localizada deve ser feira pesquisando-se pontos dolorosos, espessamentos
na região que corresponde uo espaço discai L~-L5. ou aumentos de volume. Em seguida. deve-se realizar a pal-
A musculatura paravcricbrul lombar deve ser palpada em pação associada com a movimentação do ombro, verificando
toda a sua extensão para II identificação de corurutura muscular II presença de crepitação. indicativa de inílamação crônica de
ou pontos dolorovos. Devem também ser palpado). o quadrante bolsas slnoviuix c tendões.
süpcro-extemo da região glútea e a lucc posterior das eminências
rrocuméricnv, importnntcs pontos-gntllho ou dolorosos. Testes e Manobras Especiais
Exame Neurológico. O paciente deve caminhar sobre
a ponta dos pé\. testando a musculatura da panrurrilha. cuja • Teste do lmpacto de Neer: com o ombro em extensão e
fraque/a ou perda da força indica ahcração do neurônio rotação neutra. eleva-se passivamente c de maneira rá-
motor inferior em 5 l-52. Posteriormente. caminhar obre pida o membro superior. no plano da escãpula, reprodu-
os calcanhares. te rando a musculatura dorsiflcxora do ror- zindo-sc o impacto da face ântero-inferior do acrômio com
nozelos. inervadas por raízes nervo as dc L~-L5. Déficit a bolsa sinovial e o manguito rotador, evidenciando-se a
motores de flexão ou extensão dos quadris indicam altera- dor característica. Pode também ocorrer a reação rápida do
ções em L2-L3 e cm L4-L5. respectivamente. Déficits na paciente. que busca evitar a reprodução do impacto.
exien ão e flexão dos joelhos indicam alreraçõe em L3- bloqueando o movimento.
L~ e L5- I. revpectivarncntc. • Teste de Jobe: teste do tendão do supra-espinhal reali-
Altcraçõcv da sensibilidade na face medial do tornozelo e pé zado pela elevação ariva do membro superior com o ombro
indicam alteração 110 nível neurológico L~. na face anterior em extensão c rotação interna. contra resistência. O teste
do pé. de L5 e na face lmcrnl do tornozelo c pé. de 5 I. Ore- é povitivo quando "C verifica dor. diminuição da força
nexo patclar diminuído ou abolido indica ultcruções no nível ou incnpacidade de realização do movimento.
IA e o reflexo aquilcu, em 5 I. • Teste do btceps: tcvtc da cabeça longa do bíceps reali-
zudu pclu Ilcxão niivn do membro superior estendido e
cm rotação externa. contra resistência. O paciente refere
Testes e Manobras Especiais dor nn face anterior do ombro. na região do sulco inter-
citado de forma
• Teste dt· e/('l'(u;I;O do II/ell/IJI'Oillfnior: tllbcrClIlal'. independclltementc da presença de impotên-
cquivoc:ldu como teste ou sinal dc Lascgue. esse teste cia funcional.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 227

Cotovelo mudo de teste de Tinel. poi este foi descrito pura a


avaliação da recuperação de um nervo e não para o
Inspeção Estática. Deveser realizada observando-se as re- diagnóstico de compressão de nervos periféricos. Szabo
giões anterior, lateral. posterior c medial. cm busca de aumentos etal" referem que as sensibilidades dos testes de Phalen
de volume. que podem indicar proccvsos reumáticos ou infla- e da percussão do nervo variam de 25 a 75% e a espe-
matõrios ugudos ou crõnico-, e alterações angulares. Nas epi- cificidade entre 70 e 90t'f. dependendo da forma como
conditiics luteral c medial, podem ser observados edemas nas os testes são executados.
respectiva' rcgiõc-;
Inspeção Dinâmica. verifica-se limitação ou outra alteração
nos movlrneruo-, de flexão. extensão, supinação e pronaçâo do Mãos e Dedos
cotovelo. A amplitude nUl1l1:I1da f1exão'l\ é de 140°. da extcn ão Inspeção Estática. Devem ver pesquisadas as faces ven-
de zero grau. da pronnçâo de 7S" e da vupinução, de !lOo. tral (anterior) e dorsal (posterior) da mão e dos dedos, com-
Palpação. a face lutcral, pnlpa-vco cpicôndilo e a dor parando-se as duas mãos. cm busca de cicatrizes traumáticas
referida nesse local e~ltí relacionada à cpicondillte lateral. Nu ou cirúrgicas. calosidades e tumorações. Na região ventral,
face anterior, pnlpa-sc II tendão do breei", mediulmerue a ele deve ser verificada :1 ausência de alterações trõficas da emi-
o pulso tia artéria braquial c mcdiulmcmc a ele, o nervo mediano. nência tcnar, da eminência hipoicnar e da saliência digital palmar,
que pode se cncuntrur dolorido nesse local por causa da com- que circundam o oco da mão. em que estão localizadas as pregas
pressão na síndrome do pronudor redondo. Na tucc medial. cutâneas palmares. que devem estar distribuídas em UM". Deve
palpa-se o epicôndilo. que pode l'e encontrar dolorido Clll vir- ser verificada II presença de pontos ou cordões fibrosos, o que
tude de cpicondilitc medial. e o nervo ulnar, pode ocorrer na moléstia de Dupuytren. São também pesquisadas
deformidades dos dedos, em martelo. em botoeira ou em pescoço
Testes e Manobras Especiais de cisne, que são decorrentes de lesões dos aparelhos exten-
• Teste da epicondilite lateral: com o cotovelo pronado c sores dos dedos .
em flexão de ~)O0.o paciente realiza a extensão do punho Inspeção Dinâmica. O polegar, por possuir a articulação
contra resistência. reprodu/indo a dor no cpicôndilo lateral. uupézio-mcracârpica em sela, possui grande amplitude e varie-
• Teste da epicondilite medial: com o cotovelo flctido em dade de movimentos. os quais estão descritos no Quadro 25.3 .
90° e cm supinação. solicita-se ao paciente que faça a I\~ articulações metacarpofalângicas dos demais dedos
flexão do punho contra revistência. reprodu/indo a dor possuem amplitude articular de 30° na extensão, 100° na flexão,
no epicôndilo medial. 200 na ..dução e 30° na abdução <ti. As articulações interfalân-
gicas proximais possuem amplitude de 100 a 110° na flexão e
de zero grau na cxten,ão.l\\ aniculaçõev interfalângicas distais
Punho pov-ucm amplitude de l)O' na Ilexão e de ISO na extensão.
Inspeção Estática. O exame do punho deve ver feito com o Devem ser pcvquisadov bloqueio ou auvência de movimentos.
cotovelo do paciente apoiado sobre uma mesa c o examinador corno unubém diminuições, de força.
à sua frente. Devem ser comparados 0\ doi, punhos buscando-se Palpação. Mantendo-se o~dedos em hiperexiensão, po-
cicairi/es cirúrgica, e traumática ... deformidades e au rnentos dem ser palpados os tendões extensores dos dedos e o abdutor
de volume. corno CI'to'. principalmente na face posterior, longo do polegar e. na região ventral. com li mão em repouso,
Inspeção Dinâmica. A amplitude dos movimentos do podem ser palpados os tendões üexores dos dedos e as emi-
punho" é de 70 a 80° para a flexão. 60 a 70° para a extensão. nencias tonar c hipotcnnr,
o desvio ulnar ou udução. de -t5° e o desvio radial ou abdução. de
15°. Devem ser tcstado-, o, movimentos passivos e, em seguida. Exames Complementares
os movimentos aiivos.
Palpação. Devem ser pesquisadas a textura das tumorações, O diagnóstico dos distúrbios do aparelho locomotor, relacio-
nados ao trabalho. é eminentemente clínico e baseia-se nas
deformidades e pontos dolorosos. o punho. combinando-se
unamncscs clínica e ocupacional. exame físico e análise das
a palpação com a inspcção dinâmica. devem ser pesquisadas
condições de trabalho. Os exames complementares pouco con-
as crepitações de movimentos como a extensão e flexão do
tribuirão para a elucidação diagnõsrica,
punho. a extensão e flexão de dedos. tanto na movimentação
ativa, como na passiva. o que indica a presença de tendinite
ou tenossinovite crônicav, Exames laboratoriais
Poderão ser realizado hemograma completo. provas de ativi-
Testes e Manobras Especiais dadc reumática e dosagem de ácido úrico para o afastamento de
algumas doenças reumática ... que podem apresentar quadro
• Teste til' Fill~I'I\1I'iIl: urilivado para o diagnóstico da
clínico semelhante ao do grupo LER/DORT. Também a dosa-
rcnnsvinovitc de De Qucrvain. pede-se ao paciente que
gem de TSH. T3 e T-t pode ser importante para o diagnóstico
mantenha () polegar adu/ido c fletido na palma, sob os
diferencial com distúrbios da tireóide. que podem se manifes-
dcmai-, dedo-, da mão, Realiza-se () desvio ulnar do punho,
t~r por dores osteornusculares.
considernndo-vc () reste positivo quando é produzida dor
na região do processo cstiléidc do rãdio.
• Tesu: til' P/r(/II'II: utilizado para o diagnóstico du sfndrome QUADRO25.3 - Denominação e amplitude dos movimentos
do túnel do carpo. nuuucndo-vc o punho em flexão máxima, do polegar
por um minuto. Se (I paciente referir Iormigumcnto ou
Articulação trapézio·metacárpica Articulaçãometacarpofalângica
dormência na região inervada pelo nervo mediano, con- Flexao: 20' Flexao: 50°
~idcra-~e () te~te pmitivo. Extensao: 2~ Extensão: 0°
• Pe/'cllssão do III'/'I'{/: perCUle-\C o nervo no local em que Adução: 50·
se suspeita que haja c.:olllpre~~iio. 1\ rcl'en:nc.:ia do pa- Abdução: 20· Articulação interfalângica
cientc a um chuque de~agrad:ível quc se irradia distallllcllte Rotação interna: 40· Flexão: 90·
contlrnHI a compre~~ã(l. E~~e te,te é impropriamcnte eha- Rotação externa: 20· Extensão: 15°
228 • Tratado de Clínica Médica

Exames de Imagem Nelo Causal


Raios X. Tem a vumagcm de ser um exume acessfvcl e rela- Nas doenças relacionadas com o trubalho, o nexo com o trabalho
tivamente barato. o entanto. fornece informaçõe limitadas deve se basear em parâmetros que auxiliam o estabelecimento
sobre partes moles. corno tendões e ligamento • sendo também °
da relação etiolégica. No caso do grupo LER/DORT. diagnóstico
muito pouco sensível para o diagnóstico de distúrbios iniciais. cl (nico deve ser comparado com os gestos. posturas e esforços
Tem seu uso preconizado nos casos de lornbalgia resistentes realizados no trabalho em busca da evidência de carga fun-
ao tratamento. para a identificação de alterações da estrutura cionai estática ou dinâmica para o estabelecimento cio nexo.
da coluna vertebral. Vários trabalhos relacionam as tarefas e atividades que estão
Ultra-sonografia. É muito usada para o diagnóstico de associadas com o desenvolvimento de LERlDORTs.7.11.15.2S .•'.50."..II.
LER/DORT. porém o grande número de falsos-positivos e fal- as quais estão relacionadas a seguir.
sos-negativos frusrra as expectativas iniciais. constituindo- e
em exame pouco sensível c pouco específico. Tem a vanta-
Síndrome do Desfiladeiro Torácico
gem de ser relativamente ucessível. ter capacidade multi planar
e não usar radiação ionizante para a ua realização. Porém. é Trabalho em posição forçada ou rcpet ida com elevação do
aluuncnre dependente do conhecimento e experiência do médico membros superiores acima da altura dos ombros empregando
ultra-sonografista e a evidenciação de alterações osteomusculare força. flexão ou hiperextensão. compressão sobre a fossa su-
exige alta resolutividade do equipamento. Pode ser usada. mas praclavicular ou desta contra algum objeio e flexão lateral do
sempre correlacionada com a clínica. não podendo nunca se pescoço. Por exemplo. fazer trabalho manual sob veículos.
constituir em fator decisivo na confirmação ou exclusão do trocar lâmpadas. pintar paredes. lavar vidraças. apoiar telefone
diagnóstico de LERIDORT. entre o ombro e a cabeça.
Tomografia Computadorizada. É um bom exame para
vi uaíização de detalhes ósseos e anatomia complexa. permi-
tindo contraste com tecidos moles. No entanto. tem a desvan-
Síndrome do Túnel do Carpo
tagem de ser um exame caro e pouco acessível. Usa radiação Flexão e extensão repetidas do punho, principalmente se asso-
ionizante e está limitada a cortes axiais da região a ser exa- ciadas com força ou vibração. compressão mecânica da palma
minada. Bastante ensível e específico para diagnóstico de das mãos. uso de força na base das mãos e vibrações. Por exemplo,
distúrbios dos discos intervertebrais é o exame de e colha para digitar. cuidados odontológicos. fazer montagens industriais,
esse grupo de afecções. empacotar. processar carne. operar ferramentas manuais vibra-
Ressonância Nuclear Magnética. Apresenta boa reso- rõrias, corno parafusadciras e furndeiras.
lução espacial e capacidade mulriplunar, não usando radiação
ionizante para II sua realização. No entanto, é um exame caro
e com acesso difícil. sendo contra-indicado a claustrofóbicos e Síndrome do Pronador Redondo
portadores de artcfatos metálicos no corpo. Pode ser usado para Supinação e pronação repetidas e repetição do esforço manual
diagnóstico de lesões de ligamentos. tendões e bolsas sinoviais, com antebraço em pronação. Por exemplo. carregar pesos. apertar
com boa especificidade e sensibilidade. principalmente cm parafu os.
punho. cotovelo e ombro.
Cintilografia. É um exame caro e de difícil acesso. forne-
cendo informações fisiológicas. Não é específico e apresenta Síndrome do Canal de Guyon
baixa resolução espacial. dependendo fundamentalmente do Flexão e extensão repetida de punhos e mãos. contusões con-
uporie sangüfneo e da resposta osteoblãstica da região a ser tfnuas, impactos intermitentes ou compressão mecânica na base
examinada. Não é indicado para o diagnóstico de LER/DORT. das mãos (região hiporenar ou borda ulnar) e vibrações. Por
exemplo. carimbar. andar de bicicleta.
Eletroneuromiografia
É um teste invasivo que mede li resposta muscular 11 estimula- Síndrome do Túnel Cubital
ção nervosa, ou seja. [I atividudc elétricu das fibras mu cularcs. Movimentos repetitivos do cotovelo. flexão extrema do co-
Para a sua realização. é necessária a inserção de umn agulha- tovelo com o ombro abduzido. flexão repetida de cotovelo
clctrodo no músculo. através da pele. Em seguida, solicita-se associada com sua extensão contra resistência, apoio de co-
ao paciente que realize movimentos com o segmento exami- tovelo em superffcies duras, vibrações localizadas. Por exemplo.
nado e li utividade elétrica é mostrada num o ciloscópio. São apoiar cotovelo em mesas. carregar pesos sobre II cabeça ou
necessários vários elctrodos para realizar um exume com precisão. ombros. segurando-o com O membro superior elevado e em
o que o torna muito doloroso. sendo freqUente os pacientes que flexão do cotovelo.
já o realizaram se negarem a repeti-lo. É utilizado. principal-
mente para o diagnóstico complementar da síndrome do túnel
do carpo. mas também para aux iIiar o diagnôst ico de outras com- -Compressão do Nervo Supra-escapular
pressões de nervos periféricos e de raízes nervosa .. Há grande Compressão direta sobre o nervo supra-escapular. exigência
número de falso -positivos e falsos-negativos. não podendo de elevação de objetos pesados acima da altura do ombro. Por
constituir-se em único critério de confirmação ou exclui ão exemplo, carregamento de peso em sacolas ao ludo do corpo,
diugnéstica. Muitas pessoas com achados eletrodiagné ricos apoiudas em rirus sobre os ombros.
sugestivos de neuropatia do mediano não têm sintomas e não
se encontram em risco apreciável de desenvolvimento de sin-
Síndrome Cervicobraquial e Cervicalgia
tomas compauvcis com essa doença. No entanto. pela falta de
uma evidência maior para o diagnóstico da síndrome do túnel Contratura estática ou imobilização por tempo prolongado de
do carpo (padrão-ouro). a eletroneuromiografia provê uma segmentos corporais corno cabeça. pescoço ou ombros, tensão
evidência objetiva de compressão do nervo mediano!'. crónica. esforços excessivos com O pe coço e a cintura escapular.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 229

elevação du' membros superiores acima do, ombros empre- Síndromes do Manguito Rotador (Síndrome
gando força. tarcfa\ com alta demanda visual c vibrações de
corpo inteiro. Por exemplo. trabalho manual sobre escrivani-
do Supra-espinhal) e de Colisão do Ombro
nha... mesas nu bancadav, trabalho:'> com microcomputadores. (Síndrome do Impacto)
Ul>O prolongado de rclcfoncv. trabnlho-, que exigem atenção. Movimentos repetidos de braço e ombro. elevação do membro
carregamento de pc-o <obre a cabeça. operação de trmorcs e upcrior acima do altura do ombro. principalmente se asso-
empilhadcirns. ciado 110 u-o dc força por tempo prolongado. estender os membros
superiores para pegar objcros. Por exemplo, trocar marcha de
Ciática, Lombociatalgia (Lumbago veículo com câmbio mecânico c duro. operar comandos locnli-
com Ciática) e Lombalgia (Dor Lombar Baixa) I.adol>acima do ombros, limpeza de pisos, paredes c vidraças,
realizar manutenção mecânica de veículos e máquinas.
Trabalho permanente em pé. com pouca ou nenhuma dcam-
bulução. trabalho pcrmancmc sentado. pOllição de trabalho
inclinada para frente. inclinada para ()~ lado-; com torção do Tendinite Bicipital
tronco ou com a cabeça inclinada para I rente. braço, exe- Manutenção do cotovelo supinado e fletido. Por exemplo. carregar
cutando turcfas acima ou na altura do .. ombro-. esforços de pesos.
empurrar, puxar. levantar. abaixar. transportar e arremessar
pesos, principulmcntc quando na ausência de ulçus. desloca-
mento horizontal do centro de gravidade no transporte de
Epicondilites Medial e Lateral
cargas. realização de força muscular com o corpo inclinado Movimentos com esforços estáticos e preensão prolongada de
para frente ou com o tronco torcido. sentado ou parado em objetos. principalmente com o punho estabilizado em extensão
pé, alcançar objetos distantes com manu eio de peso. traba- com o braço também estendido e nas prono-supinações repe-
lho com vibração de corpo inteiro. Por exemplo. operação de tida com utilização de força. Por exemplo, uso prolongado
máquinas. alimentação de prensas hidráulica, com chapas de martelo. apertar parafu o . desencapar fios, tricotar, ope-
metálicas. cuidados de enfermagem. trabalho, de cvcrirôrio rar morovccrrnv.
e recepção. operação de tratores e empilhadeiras. :.aída e entrada
repetida cm veículos. DIAGNÓSTICO DIfERENCIAL
A 10' revisão da Classificação Internacional de Doenças (CTO-
Dedo em Gatilho 10) tr:ll. 80 inclusões no Capítulo XIII- Doenças do sistema
osicomusculur e do tecido conjuntivo, I11UitHSOHSquais pos-
Compressão palmar de cabo de ferramenta. alça de balde ou
sucm sinais c sintomas semelhantes ;)0 do grupo LI\R/DORT.
outro objcto asvociada à realização dc força com flexão dos
Dessa forma. desde a unurnncsc alé o exume complementar,
dedos. Por exemplo. carregar balde s, apertar alicate e tesoura ..
cm especial quando o quadro acomete v~ria~ regiões do membro
<upcrior. ou ambos os membros superiores. ou os membros su-
Tenossinovite Estilóide Radial pcriorcs c a coluna vertebral. ou membro superior c inferior,
(Doença de De Quervain) o ruciocínlo visando ao diagnõ tico difercncial deve estar sempre
presente nos procedi menios diagnósticos. Algumas dessas doen-
Movimcntov repetido, do polegar. pinça de polegar a sociada
ças. no entanto. pela vua frcqüência e pela similaridade de
com flexão, extensão. rotação ou desvio ulnar repetido do carpo.
quadro clínico, devem ser sempre consideradas como diag-
principalmente 'c awociado com força. polegar mantido ele-
nósticos difcrcnciais principais:
vado e/ou ..bdu/ido durante ativid ades e uso prolongado de te-
souros. Por exemplo, torcer roupas. apertar botão com o polegar.
usar fcrrnmcntas retas. como chaves de fenda. flbromlalula
É uma síndrome doloro a crônica que afcra o sexo fcminino
Tenossinovites do Extensor Radial do Carpo na proporção de nove para um e manifesta-se por meio de dor
e do Extensor dos Dedos em vãrias regiões do corpo. com ensibilidadc doloro a em deter-
minados pontos (tender poillls). além de alieraçõe do ono,
Movimentos rcpcridos de mão e dedos. principalmente com rigidez muscular e fadiga crónica. l-Iá muitos pacientes que
extensão do punho. flxação amigravitacional de punhos em ex- possuem uma doença do grupo LER/DORT muito bem deli-
tensão. forç u, \ ibração c cvtrcsse mecânico dos tendões. Por nida e fibromialgia. o que dificulta sobremaneira o diagnós-
exemplo. digitnC;ãll. operação do 1/1011\('. tico di [crcncial. mas que de forma alguma pode descaracterizar
a doença do apnrclho locomotor rclacicnadu com o trabalho.
Tenossinovite do Flexor Radial do Carpo
Contraçüo csuiticu de dedos mantida por tempo prolongado Síndrome Mlofascial
ou associadu COIll esforço, movirncntov repetitivos de flexão Caracteriznda por dor regional c pela presença de um ou mais
dos dedosc du mão. Por exemplo, operação de ferrarncmav mo- pontos dolorosos obre uma massa muscular tensa que. quando
nuuis,opcrnçüo de microcomputadores. proccsvamento de carne, t
pressionada. desencadeia ou agrava a dor referida. uma doença
operação de mctocicletas. bastante Ircqücntc. c da me ma forma que a Iibromialgia. pode
e lar a:. ociada com uma doença o reornuscular relacionada com
Fibromatose da Fáscia Palmar o trabalho.
(Doença de Dupuytren)
Compressão palmar repetida com trabalho pesado. associada Outras Doenças
ou não COIl1 vibrações. Por exemplo. operação de martelos e Gota. diabetes rneliro. di túrbio da tire6ide. distrofia simpático-
perfuradores pncurnãricos. reflexa. tumores ósseos e de partes moles, síndrome da costela
85·724t·598·X
230 • Tratado de Clínica Médica

cervical. artrite reurnarõide. lúpus eriternaroso. mixedema, han- neurotransmissores específicos nus sinapses. excitando-as ou
scnínse. nrtropatlas infecciosas e outras doenças reumáticas e inibindo-as e desencadeando respostas tonificantes ou sedativas.
metabólicas devem ser consideradas no diagnóstico diferencial
COI11 LER/DORT, podendo também estar com estas associadas
ou serem agravadas pelos fatores físicos e psicossociais do
Fisioterapia
trabalho. O tratamento fisioterápico tem bons resultados no rratarnento
de LER/DORT. principalmente nos casos cm que ocorre pre-
juízo da função do membro ou da região acometida. A preso
TRATAMJNTO crição do tipo de tratamento fisioterápico e ti sua duração devem
Por constituir-se num grupo de distúrbios com múltiplas causas. ser definidos pelo médico fisiutra COIll acompanhamento do
de ordem psicossocial e física. que se apresenta com várias for- médico assistente.
mas clínicas. o tratamento de afecções do grupo LER/DORT
deve levar em conta essa gama de variãveis e. mi medida do Práticas Corporais
possível. envolver uma equipe multiprofissional e uma abor-
Práticas COlHO o Lia" GOIIJ.l e o Tai-Chi-Chuan, entre outras.
dagem interdisciplinar. Quanto mais precoce o diagnóstico e possuem bons resultados no tratamento e prevenção das LER!
o início do tratamento, rnaiorc serão as possibilidades de êxito. DORT constituindo-se. junto com II ucupuntura, em importantes
alternativas ou complementos à abordagem ulopãnca. Exercícios
Afastamento das Condições de Risco e Nolificação de relaxamento. alongamento c fortalecimento muscular, indi-
vidual ou preferentemente cm grupos. são importantes coadju-
Esta é a primeira medida a ser instituída. Tão logo seja feito vantes do tratamento,
o diagnóstico e caracterizado o nexo com o trabalho. medidas
devem ser instituídas para o afastamcmo do trabalhador ou
trabalhadora das condições que determinaram o problema de Terapia Psicológica
saúde. seja com a mudança da atividade. seja com o afasta- O enfoque terapêutico dos sentimentos e emoções dos pacientes
mento do trabalho. Quando li doença relacion ada ao trabalho com LER/DORT com a perspectiva de qualidade de vida e de
for de notificnçâo compulsória. esta deve ser encaminhada à trabalho deve ser avaliado pelo profissional responsável pelo Ira-
uutoridndc snninirin e deve ser instituído o adequado manejo tarncruo. Grupos de pacientes em que sejam informados as-
previdenciãrio do caso. COIll emissão da Comunicação de Acidente pecto cau ais do distúrbio. tanto físicos como psicossociais,
do Trabalho do INSS ou encaminhamento para o órgão de seguro as influências da doença nas relaçõe domésticas, 110 círculo
social respectivo ou oriemação do paciente sobre como fazê-lo. de amizades e no trabalho. a sua fisiopatologia, os direitos do
paciente. o tratamento c o retomo 11atividade têm sido forma-
dos. principalmente em serviços públicos de saúde do traba-
Terapia Medicamentosa lhador, com resultados promissores.
Os umiinflanuuõrios não hormonais são a primeira opção nos
casos iniciais e nas recidivas. Inibem os sistemas enzimáticos Tratamento Cirúrgico
envolvidos no processo inflamatório e na sensibilização noci-
ccpriva do sistema nervoso central. resultando em efeito anal- Algumas formas clínicas de LERlDORT podem necessitar de
gésico e untiinflurnutério. Devem ser usados com cautela e intervenção cirúrgica,caso o tratamento clínico não tenha resultado
por l'IHIIJ!> períodos dc tempo. controlando os seus efeitos satisfatório. No entanto, a indicação de cirurgia deve ser muito
colaterais. raruo no sistema digestivo. como suas eventuais bem feita. pois do contrário poderá ser gerado um comprorne-
lições hcputoróxicas e nefrotóxicas. timento ainda maior da sintomatologia e da função do seg-
Os untidepressivos tricíclicos podem ser utilizados como mento corporal acometido.
auxiliares do tratamento, iniciando-se com dose de 25mg por A prática clínica tem mostrado que. quando se sobrepõem
dia, ao deitar. e ajustando o medicamento de acordo com ti vários fatores na gênese do distúrbio ou a sua locallzação é
sensibilidade da pessoa. São analgésicos de u ção central e múltipla, a indicação cirúrgica deve ser sempre vista com muita
promovem aumento da serotonina e da adrenalina. cautela. Bons resultados são verificados. por exemplo. nos casos
Os inibidores selerivos da captação da serotonina no nfvel isolados de síndrome do túnel do carpo refratãrios ao trata-
,I
do córtex cerebral. como Iluoxcrina e a sertrulina. podem menro medicamentoso, principalmente quando unilaterais e
cm alguns comprometimentos tendíneos e nervosos decorrentes
ser utilizados com dose inicial de 20mg por dia, isoladamente
de compressão ou anomalias anatôrnicas,
ou em associação com os antidepressivos tricíclicos.

Acupuntura Retorno ao Trabalho


Após realizar os diagnósticos clínico e ocupacionul, relacio-
Tem bons resultados no tratamento de LER/DORT, tanto nos nando as condições de trabalho com o ndoccimento e fazer o
estágios iniciais. como nos crônicos. Na atualidade, esse tipo tratamento, o retorno ao trabalho é parte fundamental do manejo
de tratamento é também disponibilizado em serviços públicos e clínico de um CIlSO de LER/DORT. O paciente deve receber
suplementares de saúde. A acupuntura atua segundo três meca- orientação sobre os direitos civis, trabalhistas e previdenciários
nismos: energético. humoral e neural"",O mecanismo energé- envolvidos com a sua doença. O Serviço Médico da Empresa
tico corresponde às clássicas concepções da Medicina Tradicional ou lnsrituição deve ser informado sobre o problema de saúde
Chinesa de Zang Fu (órgãos e vísceras) e canais de energia. do empregado e as sugestões de modificações no ambiente e
O mecanismo humoral con istc na produção de hormônios, na organização do trabalho devem ser encaminhadas. O pa-
geralmente ncuro-hormônios, ncurotransrnissores e horrnônios ciente deve retornar para avaliação médica após um curto período
que s50 sccretados no sangue por ação da acupuntura. O meca- de trabalho para que sejam analisadas as condições em que se
nismo neural ocorre pela estimulação de terminações nervosas encontru e. se for o caso. novas intervenções devem ser implemen-
livres e encapsuladas e de receptore articulares que se encon- tadas. Se for verificado necessário. o CIlSO deve ser acompa-
tram mais concentrados no pontos de acupuntura, liberando nhado por um perfodo mais longo de tempo.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 231

PREVENÇIO de trabalho. E"a norma estabelece que compete uo emprega-


dor reati/ar a análi!>c ergonômica do trabalho para uvaliur a
Um programa de prevenção de LERIDORT inicia-se pela
adequação entre a nature/a da tarefa c Il~ cnrnctcrfsricas psicofi-
identificuçâu do, componentes do trabalho que tenham alguma
slolõgica-, do, trnbulhadores.
relação com a' mani fcsraçõc-, clínica v, O conteúdo de. te pro-
0)\ estudos dali situações de trabalho que M! utilizam ela
grnmu deve ser estruturado levando-se em consideração':
an~lillc ergonômica da utividudc tem CUIllO objcrivu compreender
• I\. avnliuçãu dl)~ fatores de risco por meio da inspcção do:> tudo que () trubalhndor faz para rcnliznr () scu uubnlho. A nnrilisc
locuis de trubulho e entrevistas com 1I~ trabalhadores para crgonômicu evidencia que as tarefas silo rculizadus de divcr-
o reconhecimento de vituações de trabalho que demandem ~all formas durante u jornada de trabalho e que o trubulhudor
uma avaliação crgonômica, ésubmetido também ih variaçõc» internal> do seu organismo,
• I\. idcruiflcação doloproblemas ou poloS(\eis agravos lisaúde como o ciclo de vigüia- ..ono. os efeito, do envelhecimento,
decorrentes da cxposlção a e e Iatores de ri COo à. variações perante sua hivtõria prcgrcssa. sua personalidade,
• Uma proposição de medida a crcm tornada .. para a eli- sua forma de ~e comportar mediante os imprevistos c outros;
minação ou controle do, fatores de ri-co e para a protcção assim. os Iatores de risco devem ser avaliados no contexto
-r
da saúde dos trabalhadores . orgunizacional em que o trabalhador eMá inserido'.
'"
r- • A urilizução do recurso de vigilância em 'aúde e de As diferente!' ati\ idades do homem constituem os compo-
;2 fiscalização do trabalho. para veri ficar o cumprimento. nente. da carga de trabalho. Diversos fatores influenciam as
pelo empregador. de seus deveres em relação à identifi- relações entre o homem e a sua tarefa. modificando a carga de
cação. avaliação e documentação dos fatore de risco trabalho, alguns desses fatores constituem-se no campo de ação
existentes no processo de trabalho e à adoção de medi- da ergoncmia?':
das de correção do controle ambiental e de proteção da
• As características materiais do trabalho: as fontes de
saúde do trabalhador.
informação. o peso dos instrumentos, a dimensão dos
Para se prevenir a ocorrência de LERIDORT deve-se recorrer po tos de trabalho,
à ergonomia. pois apesar dessa disciplina não e tar direcionada • O meio ambiente físico: ruído. iluminação, vibrações.
exclusivamente à prevenção de es di rúrbio . ela é uma fer- ambiente térmico.
ramenta fundamental para se estudar as diversas situações de • A duração. os horário e as pausas de trabalho.
trabalho que podem gerar agravos à saúde dos trabalhadore . • O modelo de aprendizagem. as ordens dadas.
A ergonomia é definida como "0 conjunto de conhecimentos • Outros fatores importontes: :ex o, idade. estado de saúde,
cienuflcos relativos ao homem e necessários 11concepção de experiência adquirida. relacionamento com colegas c chefes.
instrumentos, m~quina~ c dispositivos que possnm ser utili- Todos 01> elementos que compõem uma situução de trabalho
zados com o milximn de conforto. egurança e cflciêncin'?", não devem ver analisados separadamente. pois interferem.
Um dos princlpni« objctivos da ergonomia é a melhoria da. interagem un-, com outros,
condições (II: trabalho visando ao confono e ti saüdc do tra-
bnlhadores. E~~e~uspecros compreendem a~ forma-, de M: evitar Biomecânica e Ergonomia
os riscos de ucidemev c de doenças awociada ...com o traba-
lho. as~im como a, torma-, de se minirmzar a, fonte, gerado- J\ postura e o mov imento de uma pes ou ~ilo determinados
ras de fudiga ligada, diretamente ao rncraboli ...mo do corpo pelo posto de trnbulho e pela tarefa. Por i~~o devem ser con-
humano. ti força muscular. à~ aniculaçõc ...ou me-mo à, exi- siderndo» no conjunto do, fatores estudados durante uma análise
gências eognitivu, do trabalho "'. crgonômicn do trabalho.
O ponto centrul nu estudo ergonômico é a :.n:íIi'e da situn- O conforto é um elemento fundamcmnl na qualidade de
ção de truhalhn que compreende vários Iatorcv como o' obje- "ida no trabalho e el>tá diretarnente rclncionndo com a efi-
tivos a cumprir. os meios técnicos. a organivação do trabalho, ciência e qualidade. Umu postura se torna dcsconfortãvcl quand«
IlS regras e punições. :t~ relações humanas. a~ normas quanti-
ocorre lima compressão de partes do corpo contra um objero,
tarivas. qualiuuivas e de segurança, o espaço de trabalho e o uma cornração prolongada dos músculos que mantém deter-
contrato de trabalho". minada posição e quando há redução da circulação sungüínea
A ergonomia propõe :1 realização da an:íli ...c crgonôrnica (compressão de panes do corpo e coruração permanente dos
múvculo ...povturaiv),
do trabalho com ba,c na a\aliação da atividade real do traba-
lhador (comparada à~atÍ\ idade prescritas pela emprelta) elwol- Di\'cr~o~ mú~culo ... ligamentos c aniculaçõcs do corpo siio
vendo II obscrvação !>btcmática do tr:lbalho. o e~tudo do com- acionado, durante a reali7ação de uma pOsllInt ou UIll movi-
portumento e :1 an:tIi ...e do di cllr:.o do, trabalhadore .... a~~im mento. O, mú~culo~ ão rc ponsáveis pela força necessária
COl1l0 rnediçiic~ do ambiente e do pOMOde trabalho"'.
para que o corpo adote uma po tura ou reulil.e llnl movimento,
Dcslaca-'c que (/fi,'idade em ergonomia significa a maneim Olt ligamenlU' de,empenham função auxiliar, enquanto as ar-
pela qUIII() homem colocn 'eu corpo. sua per. onalidnde e. uas liculnçile, po,sihilitam o deslocamento de partes elo corpo em
compelêncíus elll contribuição para realilar um trabalho·l• Por relação às outras. POl-lurns e movimentos inadequados produ-
outro ludo. r(lre/(/iS U objcti\'o a ~er atingido pcla, cmprCl>al>.com zom tensõcs mecânicu~ nos mú culos.ligamentos c (lrticulações,
os meios delerllli nado!> anteriormente"'. resultando em dore!>em várias regiõcs do ~istemu osteomuscular.
A análise da tarefa compreende a in\'e tigaçiio ~obre o~re~ul- O~ prindpiOl> Illab illll>onante~ da Biomecânica pum II Er-
tados do trabalho (relmi\'o\ à produtividade). o' método!> de gonomia ,ão"':
trabalho (podcm er prc,crito ou impo to ) c totlOl>o fatorel> • R('srrill~lr a dllraçeio do es/orço III11~CII/O" cOlllfllllO: uma
com os quab li trabalhador ,e envohe durante a reali/ação de po~tura prolongada ou de movimentolo repetitivos gera
seu trabalho (m:íquina.~. ferramentas. materiai ... cquipamentos. uma ten~ão contínua de cenos mú~culo» do corpo. ocasio-
colegas. documcnto~. informações e ambiente dc trabalho)hl. nando uma fadiga mu cular localizada. com conseqUente
A Portaria nq 3.753. de 23 de no\'embro de 1990. que deu desconforto e queda de desempenho. Quanto maior o esforço
nova redução à Norma Regulamenladora n9 17 - Ergonomia. muscular. menor crá o tempo que se irá suportar; a maioria
regulamenta v:írios aspecto relacionados com as condiçõe das pcloSoasnão consegue mantero esforço muscular máximo
232 • Tratado de (/(nlca Médica
85· 72.1I·S98·X
além de algun egundos. Com 50% do esforço muscular Recomendações bãsicas pura o trabalho na posição sentada
máximo. o tempo suponãvet é em tomo de 2min. ou em pé"""":
• Prevenir a exaustão muscular: na exaustão muscular há
uma demora de vário minutos para a recuperação dos • Posição sentada:
tecido . sendo necessários 30min para a recuperação de - Deve-se evitar a permanência por longos períodos na
90% de um músculo exausto: a recuperação completa posição sentada. pois muitas atividades demandam exi-
pode demorar vária, hora . gências visuais. mantendo-se, para tal. inclinação da
• POII.\"(l.f curtas e[requentes: recomenda-se instituir pausas
cabeça e tronco. acarretando tensões nn região do pescoço
curtas e freqUente di tribuídas ao longo da jornada de e coo tas. ocasionando dores nessas regiões.
trabalho para a redução da fadiga muscular. Estas são mais - As tarefas que exigem um longo período sentado devem
indicadas do que as pausas longas no final da tarefa ou ser alternadas com outras que pcrrniuim ficar em pé.
da jornada de trabalho. As pausas curtas podem ser ins- - Deve- e ajustar a altura do assento e a posição do en-
tituídas dentro do próprio ciclo de trabalho. costo da cadeira de acordo com as características antro-
• Alternar posturas e movimentos: os movimentos repetitivos pométricas.
e as posturas prolongadas são fatigantes: após algum tempo - Deve-se cvitur a manipulação de objetos fora da zona
podem produzir lesões nos músculos e articulações. por de alcance dos braços. pois isso exige esforço da re-
isso a irnpcrtâncin de e alternar posturas ou tarefas. gião do tronco.
• As articuluçôes devem ocupar IIIIUJ posição neutra: nesta - Recomenda-se o uso de apoio pura os pés para faci-
posição os músculos e ligamentos que se estendem entre litar a mudunçn de postura e reduzir H fadiga.
as articulações são tensionados no mínimo. Quando ;IS - As tarefas que exigem UIII acompanhamento visual
articulações estão na posição neutra. os músculos con- contínuo (lei III1'11, lnspcção de qualidade e outros) devem
seguem liberar a força máxima. Exemplos de pos turas ser realizadas em uma superfície de trabalho inclinada
em que as articulações não estão em posição neutra: bruços e próxima ao trabalhador (aproximar o objeto dos olhos).
elevados, cabeça abaixada. tronco inclinado. - Para tarefa que exigem O uso de força deve-se reduzir
• Conservar pesos prõximos ao corpo: quanto mais o pesos a altura da superfície de trabalho,
estiverem afastados. mais os braço. serão tcnsionados e - Deve existir um e paço adequado embaixo da mesa
o corpo penderá para a frente. sendo as articulações rnai (ou bancada) para possibilitar postura adequada e movi-
exigidas. aurncntundo as tensões sobre elas e seus res- mentação do. membros inferiores.
pectivos músculos. - A altura ideal para realizar a atividades sobre uma
• Evitar torções do tronco: nas torções do tronco os discos mesa é quando e trabalha com o cotovelos baixos e
intervertebrais são tensionados e as articulações c mús- com o braço dobrados em ângulos retos.
culos existentes nas duas partes da coluna vertebral são - A altura mínima das mesas ou bancadas para atividade
submetidos a cargas assimétricus. o que é prejudicial.
de montagem e que necessitam de espaço suficiente,
• Evitar movimentos bruscos qu« pmdl/:lllII picos de ten- contendo. em média. 4cm de superfície, é de 68cm
seio:levantamentos rápido de peso podem produzir dores
para os homens e 65cm para as mulheres.
intensas nas costas: o levantamento deve ser feito de forma
- A altura das me as recomendada para trabalhos em
gradual. sendo nccessãrio prcnquccer ti musculatura antes
de rcnliznr urna elevada força. . escritórios é de 74 a 78cm, pois possibilitam melhor
• Evitar curvar-se para frente: quando isso ocorre, há con- adaptação individual dos trabalhadores, desde que haja
truções dos músculos e ligamentos das costas, para a ma-
disponibilidade de cadeiras com alturas reguláveis c
nutenção desta postura: normalmente surgem dores na apoio para os pé .
parte inferior do tronco. • Posição em pé:
• Evitar inclinar (I cabeça: na inclinação superior a 30°, - A posição em pé é melhor quando o trabalho demanda
para frente. ocorre Utll tcnxionumcnto dos músculos do a utilização de maior força física ou movimento com
pescoço para manter essa postura surgindo, assim, dores deslocamento do corpo.
na região da nuca e dos ombros. Dessa forma, a cabeça deve - As tarefas que exigem um longo período em pé devem
ser mantida o mais próximo possível da postura vertical. ser intercaladas com tarefas que possam er realizadas
na posição sentada.
Durante a execução do trabalho. geralmente o indivíduo
- Deve-se permitir que o trabalhadores po sam entar
mantém uma po tum base, seja em pé. sentado ou alternando.
durante ns pausas natural do trabalho (tempo de e -
Qualquer que eja a po ição. as tarefas demandam a movi-
peru do ciclo da máquina. e peru de clientes. etc.).
mentação da articulações dos membros superiores e inferio-
res. com maior ou menor frcqüência. - Recomenda-se que se projetem postos de trabalho que
É importante salientar que o corpo humano necessita da permitam alternância de posturas.
realização de movirneruos. de alternância de posturas. por isso, - As alturas das mesas e bancadas de trabalho devem
mesmo que o trabalho seja realizado em uma posição fixa. estar de acordo com ~IS medidas antropométricas da
deve-se proporcionar meios para que a pessoa possa variar a população trabalhadora. Não sendo isso possível.
postura periodicamente durante a jornada de trabalho. devem-se tornar como base as pessoas mais altas. porque
Comparando-se a posturas sentada e em pé. a primeira é se pode aumentar a altura do piso por meio artificiais
melhor. pois o corpo (ou partes do corpo) fica apoiado em (estrados. pisos falsos. ctc.). O ideal é que as mesas
diversas superfícies como. piso. assento. enco to. braços da e bancadas sejam de alturas reguláveis.
cadeira. mesa. Essa postura possibilita boa estabilidade do corpo - Em trabalhos essencialmente manuais, de forma geral,
e boa coordenação dos movimentos. desde que o desenho do as alturas recomendadas para as bancadas em relação
a ento seja adequado. ao trabalhador nu posição em pé são 5 a 10cm abaixo
A posição em pé representa a posição de maior dispêndio do nível de seus cotovelos, ficando, dessa forma. a
de energia e de maior sobrecarga para as diversas e truturas altura média de 95 li IOOcm para os homens e de 88
envolvidas para manter essa postura. II 93cm para as mulheres.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 233

Medidas Gerais de Prevenção diversos sciores para a identificação de fatores de ri co que


possam desencadear problemas ostcomusculares. Outras em-
As medidas gerais de prevenção para os disnirbios osteomuscularcs presas possuem em sua infra-estrutura um etor de ergonomia
podem ser explicitada da cguinte forma7.5~,67:
que também desenvolve estudos e participa de novos projetos
• Acletll/lI(iiodo mohitiârio dos equipamentos e instrumentos de concepção de scrorc ou postes de trabalho. As empresas
de trabalha:dcv em ser projcrados ou reestruturados visando que não contam com um scior próprio. contratam ergonornistas
a diminuir a imensidade do), esforços aplicados. assim para II realização de esrudo-, crgonômicos.
como. corrigir as postura dcsfavorávei v, valorizando a Independentemente da escolha da .. medida de controle, o
alternância postural. sucesso de um programa de prevenção de LER/DORT depen-
• Dimensionomento do pOSIO de trabalho: o posto deve derá do envolvimento e compromisso dos dirigente. profis-
er projetado de forma a proporcionar liberdade e con- sionais da saúde e rrubulhadorcs de uma empresa visando à
forto ao trabalhador: devem-se avaliar a-, exigências a melhoria da qunlidudc de vida no trabalho.
que está ubmetido o trabalhador (vi unis. articulares,
circulatória. antropométricas) e a exigências relacio- REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS
nadas à tarefa, ao material e ti organização da empresa. I. CIIERRV.N. M.: MI;VERJ.I): CIIL:N V.flal.l1l<: reported incldenceof work-
• Adeqllllçtjo das condições (/1/I/)i('IIl/1i.l: as condições rd"ll'clllIu,rllh)\~clclnldl..ea~ln lheUK:MOSS1997·2000. Occup. Mtel .. London.
v. 51. n 7. p, 450·455. ()cl. 200 1.
ambientais de iluminação. temperatura e ruído devem 2. DIUSCOI.L. T.R.:III\NDRIF..A i,SIII'I'Cillnnceorwork·relnled üisorders in Australia
ser compatíveis com (I tarefa: o local de trabalho com 1l,lng fcncral11lllclilloner 1111111.Ali". N. 7. J. 1',,',. IIn,I,". v. 26. 11.4, p. 346-351.
ruído, mal iluminado e com desconforto térmico de- 2(l()2.
sencadeia contratura mu ..cular dcsncccs: ária e também J. III;LFI~NSTElN.M.: FELDMAN. D. Thc pcrvasiveness of lhe illncsssufferedby
""f~m ,cc~iIII; CUlllpcn'OIIOIl
rordisabling IIrmpain, JOEM, v. 42. n, 2. p. 171·175.
insatisfação: os confortos térmico. visual e acúsrico fa- Fcb.2000.
vorecem a adoção de gestos de ação. observação e co- .I. KEVSERLl:\G.w. M. Workplaccrhk raclorsand occupational musculoskeletal
municação e a reali/ação da arividade com menores di<Ol'der,P~n 2: Q re\'lc" or biomcxhanicaland psychophysical research on risk
desgastes físico c mental. raelor>a,,<oei.ledwllh uppcre~lremilydisorders, AlHAJ. v. 61.n. I. p, 231·243,
Mar·Apc.2000.
• Orgonizaçãodo trabalho e[mores psicossociais: e truturar 5. MADELEtNE.1'.: LU1'iDAGER. 8.: VOIGT.M. et al. The effects or neck-shoulder
meios para permitir que o trabalhador possa agir indivi- J»Inde,clopmcnlOIUCMOC}-f1IOIOr inlcractionsamong female workers in lhepoullry
duai e coletivamcntc ..obre o conteúdo do trabalho (atender anel fish Indu5lrleS:a prosp«IJ\'CSluc!y.lm: Arrh. Occup. Environ. Health, v. 76.
à necessidade de responder aos desafio e cxprc sar a n t. p 39-19.Feb, 2003.
6. MA."':t.L: GERR.F.\\'orI,·rel<lled upper~mjty musculoskeletal disorders.Primo
criatividade). a divisão da, tarefa, (conteúdo. normas de CIJh. v, n II. ~. p, 8J5-86l. 0«. 2000.
produção. modo operatório). a divivâo do" trabalhadores 1. ML'ItSTtRlOI1\SAt:OEOOBRAStLREPRESE.'\TAÇÃONOBRASILOAOI'ASI
e a~ relações que mantêm entre vi: O~tS.~ do M;tmU o.<k'Om,,-\CUbre do IecldoCOt1Junu\o retllClonadasao
!r.Ib.lho. ln; D«"ftD 1U1Dn0lltJdin oo Trabolho. 1I0lluol d~ I'roudllnfllfll-' paraus
- Propiciar Cl aumento da participação real do trabalha-
dores nos preces-o» de decisão na empresa.
Stm('os d~ SaMd~. Br2SI1oa: M • 2001 C""
1 ,P ~:!5-l 2. (~orma. e manuai-
lá'ftlCO'. It ~ I.
- Viabi li/ar () enriquecimento da~ tarefas. eliminando- e . NATtOXAl RESEARCH COl:NaLJ,t_"lo*'~101 Duordrrsond Iht lI~rlt,/(lm
ns alividades monõtouns e repetitivas. assim como a ,,,,,·b«LGnJupPU~X1mrullN. Wblull~' NauonalAcadcmy Press.2OOt.5t2p.
9. PElLIEUX. S.: FOUQCET. B. LASFARGUES.G. S)ndromedu nctf utnalre lU
horas extras, coudeet m>Ud1C pro(e.slOMClk AlUI)'( de> paramelt" <acloprores)ionnel~ tI
- Favorecer I) desenvolvimento de uma relação de con- ph)siq~ Aml. Rn>JopI II/ti Pllu .. 1 oU." ~. P 21l.220. May 2001.
fillnça entre Irllhalhad()re~ C demais integrantes do grupo, 10. ROCHA.L E.: FERREIRAJR,. M OI,lutbto\ OSlcomuullre~relacionadosao
incluIndo-lIe superiores hierárquicos. ~ho. ln: FERREIRA JR..~L s-k ltO TrobuJ1In.SIo Paulo: R_ 2CXXl. p.286·319.
- Proporcionar cundÍl;ões llue destaquem a substituição II. YASSt.A. Wo<L·,dated ml...cukhleletal dl\Ofdm. C,'" Oplll. RJ"umlflol .. v. t2.
n. 2. p. 11~-tJO.2000.
da Clllllpctiçiio pcla cooperação. 12.WORLDHEALTIIORGANIZATION(WlIO), IdtllrrjiC'a,iOflonl COII'rollifll'OIL·
- Estipular a niio exigência de produtividade e não "lal ••1 DÜ"'JI'L Gtl'oe\';t, t985 P. 1·1 cra,hrucal repor! ~ 7t~).
irnposiçl1o do ritmo de trubalho: a duração da jornada 13.MORSE.T.: D1LLON.C.. WARREN.N. ('I It CaJlCurc"cclp4ure C\limalionor
deve ser compatível com (I ritlllo,do eorpo. unrepocl<d \\o,L-rdaledmu>culu.Lektaldl~de" III Connecllcul.Am. J. IlId. Mtll ..
v.39. n. 6. p. 636-6H. Junc2001
- InMitllir pausa~ para descanso; as pausas são impor- I~.GOLOSHEYDER.D.:NORDIN.M ..\\EL\CR.S Seul MUlCUllI\kelelAl,ymptom
tantes a lim de ~e evitar a sobrecarga museuloesque- sUl'\'ey alllongm3.\OClI<ndcrsAm. J. IIId M,d. \. J2, II 5. p. 38J..396. Noy.1002.
lética e a fadiga mental. 15.NORDANDER.C.: HANSSO:-.G A. RYLANDER.L CI ai. Muscularrest and
rn,qucnc)'3S EMG me3SUW. or ph)SlCaI ClIposUre: lhe Impxl of "o,t I.sks Ind
- Levar em cun~ideração as repercussões sobre a saúde individual ,eblcd raclon Er(ollomlcs. '. 43. n t t. P t904-t9t9. Nov. 2000.
dos trabalhadores. em todo o sistema de avaliação de 16,SANTOS~lL1tO.S. B.:Bl\RRETO.S M. Au,Kbde ocuplClOllal e pm'lllncia de
desempenho para efeito de remuneração e vamagens . dorO>lcomu..cular cmCIN'IIõt.·dcnIlSIUde &10 lIonzo.ue. MIIW <ilnu. 8mil;
de qualquer e~pécie. coolribuiçdoaodebale>Ob", '" dl.\11I1b1OS cx_u~ubrts rebtlOUdosao ~.
lho. Cml. SUI/llt Publica. 1 17.n t. p I t·t93. JIUI-Fe't 2001.
Como medidas complementares ao programa de preven- 17. BORGES1.. B. S P. Epltl1fldlllft' 1),"'IIfU o.-u{llKIOMI Rtl«lOIIOJo ao Trabolho
,1M ('1''I,'n,,,,"> 1/11Indu una da CUIIJINlftJo C"II di Cunll".,·l\lI'i1ll4. Cunu~
ção de LERlDORT podem ser citado o programas de trei- Unhe"idJdc rcderJIdo PoinmJ. 2000 59r
namento para o trabalhadores sobre técnica para levantamento 18.CtlM',\RRO I\RVAE7~P E. GUI;RRERO.J Coft(lId.-s deInbajo Y saluc!en
e manutenção de cargas. orientação po'aural. ginásticalaborativa. conduclOf'c' deuna cmprc~de".n;potIC J'Úbloro UtNno en BocoeJ. IX:. Rn. SaIIMl
exercício de rela;\amento e alongamento mu. cular. que Publirtr. y 1. n. 2. r 171.187.Jul 200t
Iti. IIANNIlR7. II .. 1OCII~I;N.I IIn'plllh/llllln, I"""" rcnule homc:·hclpct'$ in
bbjetivam a redução do impacto'da carga de trabalho. me- Ocnll1l1r~. 19SI.I997.AIII J 11111Mill. 1 41. n I. p 1·10.Jan.2002.
lhorando. de S3 forma. a capacidade do istema o~teol11uscular 20. OLllSKIl. I). M : ANI)P.RSSON. (l 8 J: t.AVt~Nl)rR.S A. el II. AJsociolion
do trabalhadore 10. hcl"wl rcCII\'Cry OUICOIIIC' ror"or~·retaledlowaeL dl\OroenInd penonal.ramily
É importante ~ destacar que cada c;ituação de trabalho deman- nnd\\or~ rlltIOI'~. 511111t. Y. 25. n lO.!'. (251)·126S. Ocl.2000.
21. l'EREí'..G. M. Er~on()mlcs ln lheNbhcrandpla'licSlnduJlnes.Orcup. Med.. v. 14.
dará medidas de controle e,pccílica~ para evitar o aparecimento n. 4.1).KI!)·m.OcI·I)cc.1999.
ou a progrel> ão do), diMúrbio), Ol>teomu cularc:.. 22. CIlOMII!. J. H.:ROIJI;RI'SON.v. J.: UL:Sr.M. O. Work·relalcdmusculoskclcI31
Uma medida que tem ~ido desenvolvida por nlguma\ empresas di.ordcNln Ilh)'\lcnllhcrup"": rrclalc~. ~\crlly. n,ksandrc.ponscs.Phys. Ther..
é a instituição de um comitê ou gnlpo de ergonomin. que é v. 80.n. 4. p. 336-35I. Apr.2000.
23. I~AUI'I.ER.A. J.: I't::Ul!RSTElN.M.: IIUANG.G. D. JobSlrCSS. uppcreXlreoúly
composto de profissionais provenientes de . etores como Ser- pain3ndruncllonnlllmitnllon.in .y"'IMom3I1ccompulcrusers.Am. J. IlId. Med.,
viço Médico. Gerência e Produção. cuja mi~~üo é estudar os v. 38.n. S. p. 507·515. Nov.2000.
234 • Tratado de (I/nica Médica

2·1. OANI-.. D.: Fl:LhkSTI:IN, ~1.:IIUANG, G. D. cr uI. Me ..;ure propef1ic.ora ",Ir· 55. INSTITUTO NACIONAl. DO SEGURO SOCIAL lJI.I/I1rh/0.'OSII'OIlIlI1C"ltlrrs
repon IIldC\ of cl);onomlc cxposures lor use in un office wor~ cnl l111Clmcnl.J. OrCllp. Rtlttdllllltr/m 1111 J'mlx,lIon - DORT:Nonno Técnsro elt """lFaçillllll' 11II'II/HldtlnJr
Emiro«. ",,,I,,' 4J, n, I. I', 13·81. Jau. 2002. {H"tI Fins tlr /l1'lItjTcrn$I'm-/árnoónos. BrunIa: MPAS. 1998, 30p.
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CapariáoJt J~ Tro(J(Jlhn~ ém'dlt~dm.·"'o elllrt Scn'idQrrs P';bllcos da Ârra dr enlre o trato respiratório e o ambiente externo.
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reações em qualquer nível do trato respimlório, agudas ou crônicas,
Ih.t nu)' ,ncr(~sc lhen<~of ,)mploms or musculoskelcl.1 disorder orm., _k aod c·ausada. tanlO por inalações de gases quanlO rumos, vapores,
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Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 235

ormulmcntc. partículas entre 10 e 6~m ficam retidas na região É importante ressaltar que o termo não fihrogênico ou inerte
nasal. panículav entre 5 e 3~m depos itam-: e preferencialmente é relativo. uma vez que mesmo a dcpovição de aerossóis assim
na árvore traqucobrõnquica e partfculas inferiores a 3~111 depo- considerados cau a discreta reação inflarnatõri« local. às vezes
suam-se. de preferência. na região alveolar. Os mecanismos de acompanhada de fibrosc. como o óxido de ferro. É pos ..ível que
depo ...içâo da\ partículas no trato respiratório vão semelhantes a presença de fibrose em casos de uem,~ói, comumcntc não libro-
nos mccani-rnov físicos que regem deposição'. gênicos reflita algumas situações particulnrcs (exclusivas ou
O trato respiratório responde à deposição de partfculus de concomitantes): a quantidade de particuladov deposiradn é grande:
forma ntiva. O~doi» mecanismos principais de dcfesn são () sis- exposições em locais confinndos com alta conccntrnção de par-
tema mucociliar c (). macrôfagos alvcolarcv. I~ncccssãrio que ticu lados c rcnção orgânica individual CXCCl>"va.
esses mecanismo ...estejam íntegros c ativo s para uma adequada As expressões bisrolõgicns do vistcmn revpiratório unte a ngrcs-
rc posta ante a inalação de panícula s, EIc~ atuum de forma sõcs de ugcnres externos inaláveis são cornumente manifestas na
independente e complementar, uma \el' que iêm locni-, de alllação formu de":
distintos.
A cxpoviçâo contínua e excessiva a agcnrc-, amhicntai ...resulta • Dano alveolar di/mo: causado por viroses. mdiação, drogas.
cm aumento da demanda aos mecanismos prutcrorcv do\ pul- doenças do colãgcno. oxigênio c outros gases rõxicos.
mõe . localizadov tanto na, \ ia, aérea-, como na regiâo alveolar. • t'neumnnin iutersticia! descamativa: Embora po sa ocorrer
O principal mccarusmo dc dcfc a da' \ ia, aércn-, é o trans- idiopmicurucntc. é também conseqüente à exposição a
porte rnucociliar. ao pavvo que o macrõfago alveolar repre- drogas. usbcsu» stlica. talco. cobalto e tungstênio, ulurnínio
senta a maior barreira do .. alvéolo) perante agentes tóxicos e uma variedade de sllicutos.
que ali são dcpovitados. auxiliado por linfõcitos. polimorfonuclea- • Pneumonia intersticial por célula» gigantes: poeira de
res e eosinófilov, Particulado depositados cm rcgiõc« de epitélio mcrais duros.
ciliado são eliminados em horas. enquanto na região alveolar • Proteinose alveolar: como decorrência da inalação de
a eliminação é lenta. da ordem de meses. grandes quantidades de finas panículas de sílica cristalina.
Os gases penetram Iivrc mente no trato rcvpiratõrio. A toxi- • Doenças pulmonares ocupaciouais por hipersensibilidade:
cidade de um gá~ depende de sua, caractcrísricas de olubi- uma -.érie de agentes extrínsecos. na forma de gases, vapores,
lidadc nos lfquido-, orgânicos e membrana v, concentração e fumov mcrãlicos e fumo de plástico ou finos particulados
condições nmbicmniv, Gasev hidrossolúvcis, como o cloro. cos- orgânicos. pode ser inalada e provocar doenças por hiper-
tumam cnusnr ~in((lmll\ de irritação de via .. aércns superiores. senvibilidade por causa de seu teor de substâncias químicas
Outros, de buixu solubilidudc. podem exercer ~U:Iação tóxica de baixo e alto pe o molecular. anngeno protéicos e outras
mais pcrifcrlcumcme. como os óxidos de nitrogénio ( Ox). vubstância«, gerando casos de fH1I1lI ocupacional (por
Exi~tl.lum limitadl) mimero de respostas pelas quais O pulmão exempl», ivocianatns}, pneumonite por hipervensihilidadr
pode reagir nCh ugente, agressores. dependendo das carucrc- (por exemplo. putmão defazendeiro) e[ebre por i/lll/(Içfio
r(sticas de\tes. Gll\es e fumos tendem II comprometer prefe- de[untos meuilicos e de polímeros (por exemplo .. soldo-
rencialmente a~ vill~ aérea,. Dependendo do perfi I de ex posição Rel/l de ferro 81111'{1I1i:ado.aquecimento de teflon),
(toxicidade. tempo c concentração) e da solubilidade do gás. • /)(/1'/lÇ'1Igranulomatosa intersticial difusa por exposição
o espaço» uéreo\ di\wi\ podem também xer acometidos. pro- an bl'rf/io; o berílio cau a rcaçõe tcciduais imilare II
movcnd(l rel11udclulllento C\trulllral do parênquima pulmonar. da loarcoido. e.
podendo re\ultar cm enfi\cma c/ou fibro\e (por e>.emplo. NOx).
Particulodo, prm ocam alteraçõcs inn:llnatória~ nCltadurnente no
territ6rio de troca, gu\o,a ... contudo. podem também :1I':Oll1etcr ASPECTOS GERAIS DAS DOENÇAS
3\ viu, aérell" de lIlaiorcalibrc. Es a prcdileção deve·~e ao fato OCUPACIONAIS RESPIRATORIAS
de (Iue (l' I1Icc:lIli~mo\ de remoção do material particulado das As difercntes classificações da doença~ ocupacionab respi-
via~ oéreas são extremamente eficientes c mais rápidos do que ratórias (DOR) podem embasar-sc na reação tecidual. no~ tipos
o clC(lrmlCC alveolar de partículas das e~truturas de troca gasosa. de agentes envolvidos ou no quadro cHnico. O Quadro 26.1
Para fin~ didáticos. O~ particulados dividem-se em2: apre~l;!nta uma c1assif~cação clínica que fornece uma visiio ampla
• N(;(I fillmgê/licns: tidos como atóxico. ou pouco tóxicos. da gama de patologias ocupacionais do trato respiratório. Nota-
como o cst:lnho. ferro. carbono puro. titãnio. Produzem se que todas as regiõcs do trato respiratório podem ser afetadas
apcn:u. ;lcúmulo no interior dos rnacrófago e poucos fibro- por agentc!. ocupacionai . Este capítulo abordará apenas a
bl:l~to\ ~ão recnllados no local cm quc o~ macrófagos e~tão doenças que afetam predominantemente a~ via~ aéreas intra-
aderidos a uma fina rede de fibra. de reticulina. torácica!>. o parênquima pulmonar e a pleura.
• Fibmt:éllicos: como sílica. asbesto. poeira~ gcr:ldas na O lermo pncumoconio, e rcferc-~c 11\docnça~ cau~tldas pela
mineração ~ubterrãnea de carvão no I3rn\il. Cau~am in- inalação de aeross6is ólidos e à con\cqUente rcnçilo tecidual do
ten\" rcação inOamatória à custa de recnllllmento de eélula~ parênquima pulmonar. Como as pneul11oconi()~e, Nãode conhe-
de defe~a. acarretando deposiçiio de col~geno em forma cimento cl:íssico e ~cus método:> dingnóMico!> I-ão. em geral.
focal (nodular) ou difu a (intersticial). Com frcqOCncia. sill1plc~ c ohjctivos. tem-se a falsa irnprc ..~n()de que silo as mais
a~ dua\ forma, de deposição de coltígello siio cncolltra- 1)I~evalentes. Em tlreas industriali7ada\. ti prevah:ncia de asma
da, num me~mo paciente. dependendo da rcgiiio pulmo- ocupacional tem sido maior do que :.\ pneull1oeonioses'.
nar anali~ada. Em geral. o local da rençilo inicial é a O diugnó\ticu de Ullla DOR é ~elllpre feito por meio da inte-
região peribronquiolar. causando pigmentução c fibrose gração entre ~intoma~ c \inai~ cH.lIco\. hi,tória ocupacional
que l>ãodi~tinta da~ Icsõc pro\Ocada, pelo fUlllo. por e exames complell1enltlre~ funcionai, c/ou de imagem e/ou
exemplo '. Poeira, de \íIica. de mineração de carvão c unatomopatológicol- e. ocasionalmente. Inborawriai
silicato~ CUf\am qua,e emprc com dcpo\ição focal de
colágeno na forma de nódulo. prc\crv:lIldo jrea~ de pa-
rênquima pulmonar normal de permeio. ao pallllO que o
Hlslórla Ocupaclonal
asbesto e outra ....fibras cau am depo,ição difu~" de co- A história ocupncionnl é de fundamcntal importância para o
lágello no inter'ltkio pulmonar. levantamento de hipóteses diagn6sticus. exploração cHnica e
236 • Tratado de (IInica Médica
ss- 7241·S98·X
QUADRO 26.1 - Classificação cllnica das doenças ocupacionais Questionários de Sintomas Respiratórios
respiratórias' Questionários são normalmente utilizados em avaliação de grupos.
Doenças agudas porém. eles podem ser utilizados em avaliações individuais.
• Trato respiratório alto como instrumento complementar de anamncsc. A principal van-
- Irritaç:lolinflamaçâo das cavidades nasais e seios da face. tagem do questionário (a padronização de informações e a
faringe e laringe. por Inalação de gases ou particulados pos: ibilidade de gradação de sintomas. Para ser um instru-
irritantes elou tóxicos mcnto útil ele deve obedecer a princípios de validade e con-
- Rinlte fiabilidade (repetibilidade)". Na prática. dois questionãrios são
• Trato respiratório baixo utilizados: o questionário de bronquite crônica britânico do
- Asma ocupacional (incluindo bissinose e síndrome de Medical Research Council e o questionário de sintomas res-
dlsfunçâo reatlva das vias aéreas) piratórios da American Thoracic Society, Este último pode
• Doenças do parênquima pulmonar ser completado pelo próprio entrevistado. Ambos investigam
- Pneumonites por hipersensibilidade tosse. catarro. dispnéia. sibilância e tabagismo".
- Pneumonites tóxicas
• Doenças pleura is Imauem
- Derrame pleural
As pneumoconioses são diagnosticadas por meio de histórias
Doenças cr6nicas ocupacional e clínica. tempo de latência apropriado e alterações
• Trato respiratório alto de imagem compatíveis. Raramente se utilizam métodos diag-
- Úlcera de septo nasal nósticos invasivos para a sua exploração. O método de referên-
• Trato respiratório baixo cia para a análise de radiografias convencionais de tórax é a
- Bronquite crónica ocupacional Classificação Radiológica da Organização Internacional do Tra-
- Enfisema pulmonar balho (OlT), cuja última versão é a versão revisada 20008• Ela
- Límitação crónica ao fluxo aéreo permite que as radiografias sejam interpretadas e codificadas de
• Doenças do parênquima pulmonar uma forma padroniz..ada. pela utilização de radiografias-padrão
- Silicose comparativas c folhas de registro apropriadas. As alterações ra-
- Asbestose diológicas são re umidas com informações sobre a identiticação
- Pneumoconlose dos trabalhadores de carvão do paciente e da radiografia. qualidade da chapa, alterações de
- Outras pneumoconioses (incluindo reações granulomatosas) parênquima pulmonar. alterações de pleura e símbolos. que de-
• Doenças pleurals notam alterações associada ou não às pneumoconíoses. A peri-
- Fibrose pleural (em placas ou difusa) odicidade das radiografias é ditada pela legislação trabalhista", É
• Carcinomas do trato respiratório necessário que o profissional que interpreta os exames tenha trei-
- Adenocarcinoma dos seios da face namento espectfico e adequado para fazê-lo, uma vez que um
- Carcinoma broncogênlco diagnóstico de doença pulmonar ocupacional acompanha-se de
- Mesotelioma procedimentose conseqüênciaslegaisque afetarn a vidado portador.
Atualmente.a tomografiacomputadorizadade alta resolução(TCAR)
tem sido utilizada com maior constância na investigação de Ca-
sos suspeitos. A TCAR é superior à radiologia convencional na
estabelecimento do nexo causal. Entende-se por nexo causal detecção de lesões plcuropulmonares causadas pela exposição
li relação de causa e efeito. História ocupacional é o detalha-
ao asbesto. porém. até o momento. não é superior ~ radiografia
rnento das aiividades profissionais do paciente. produtos pre- nas pneumoconioses que cursam com opacidades nodulares,como
:1 silicose. por exemplo", Os exames devem ser feitos em de-
sentes na sua função e também no ambiente que o cerca. processo
cübito ventral. para eliminar o efeito gravitacional nas regiões
produtivo. ritmo de trabalho. carga horária. riscos percebidos.
periodicidade de manuseio de substâncias suspeitas. As rela- basais posteriores. 10~11de início das alterações flbrõtlcas cau-
ções temporais entre a exposição suspeita e o quadro clínico sadas pelo nsbcsto. O custo das TCAR ainda é proibitivo para a
sua indicação como exume de controle médico periódico.
são de relevante importância para o estabelecimento do nexo
causal. como na suspeita de USlIIll ocupacional ou mesmo de
doenças de largo período de indução (latência) como as Provas funcionais
pneurnoconioses, Atividades fora do ambiente de trabalho. como As provas de função pulmonar são indispensáveis na investlgação
hobbies, também devem ser relacionadas. Não há "aprendizado das DOR que afetam vias aéreas, assim como no estabeleci-
formal" em história ocupacional - é necessário ter presente mento de incapacidade em pacientes com pneumoconiose. Em
que a simples indagação de "profissão" ensinada nas escolas contraste com a asma ocupacional, as provas funcionais não
médicas como parte da anamnese é insuficiente e pouco infor- têm aplicação no diagnóstico das pneumoconioses,
mativa em relação a exposições de risco respiratório. Portan- . A espirometriaé a forma de avaliação funcional mais corri-
to, a curiosidade do profissional que investiga um caso suspeito. queira. É um exame rápido, de fácil execução e baixo custo.
o estudo e as vivências práticas são ingredientes básicos para No âmbito ocupacional, as principais indicações são:
se obter dados de boa qualidade. Com frcqüência. é necessário
que O local de trabalho seja visitado para correto entendimento • Avaliação de trabalhadores sintomáticos respiratórios.
da exposição. • Avaliação de disfunção e de incapacidadê respiratória.
Os exames complementares são indispensãvcis parno diagnós- • Seguimento longitudinal de trabalhadores expostos II riscos
tico das DOR. Como regra geral. as doenças que afetam vias respiratórios.
aéreas são preferencialmente investigadascom provas funcionais. Sua utilidade cm avaliações individuais (clínicas) de traba-
ao passo que as doenças de parênquima pulmonar e pleura lhadores que procuram menção médica por queixas respirató-
são investigadas. de preferência. com métodos de imagem. rias é semelhante à da prática clínica rotineira. A padronização
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 237

do cspirorncrria. no' itcn-, referentes II equipamentos. técnica O diagnôstico de urna DOR ncccssitn ser acompanhado de
e técnicos. controle de qualidade e interpretação. deve obcde- incapacidade para a mrcfn ou da ncccvvidadc de mudança
ccr aos critérics do I Consenso Hrnsilciro vohre Espiromctria". de função. para que o irnbalhndor faça juv ao benefício prcvidcn-
o âmbito ocupacionul. o "eleito do trnbalhador adio" é ciário. Entretanto. o diagnõstico de DOR. mesmo sem dis-
clammcntc prc'elllc cm certos sciorc-, econômico,'!·". Traia-se funçâo. é vuficicnte para que o rrubulhador ajuíze uma ação
de um fenômeno dc -ctcçüo. que concentra trabnlhadorev com por dano, fí,ico, na justiça comum.
aptidõesfi~ic:1\nece,~:íria' para o desempenho de certav funções.
como por exemplo. mineração de subsolo. Em geral. traba-
lhadores com funç:io pulmonar alterada ou com queixas respi-
rarõrias tendem a não permanecer em funções de alia demanda DOENÇAS DAS VIAS AlHElS
física. Portamo. é comum (l encontro de espirornetrias normal
em grupos expostos a riscos respirntõrios importante . Uma forma Asma Ocupacional
de análise de dados que permite que esse efeito seja "anulado"
é pelo componamcruo longitudinal dos Indicc ..cspirornétricos,
Definição
contudo, não há dados conclusivos publicado, sobre o declínio A definição mais citada de asma ocupacional é a obstrução reversível
anual longuudinnl do VEF. conxidcrados como "esperados". ao fluxo aéreo c/ou hiper-responslvidade brônquica em decor-
Em a~maocupucional. a~ curvas scriadav de pico de fluxo rência de causase condições atribuíveis a urn determinado ambiente
expiratório sâo um méwdo priil ico de estabelecimento do nexo de trabalho c não a estímulos externos". Em asma ocupacio-
cal/sal entre o trabalho e o, silllonHls.A histõriu clínica dctu- nal. porém. nora-se O desencadeamento de crises por estírnulos
lhada permite que o médico programe um registro de medidas incspccíflcos.tai como exercícios físicos, infecções e outros",
adequado. Em situações cru que a exposição causa sintomas Trabalhadores com asma preexistente podem ter o quadro
imediatos. os registro podem ser de curta duração. cerca de urna agravado por irritantes no ambiente de trabalho, assim como
a duas semanas com medições feitas em horário próximos (a desenvolver ensibilização a determinados agentes. Essa pri-
cada 2h). sem período de afastamento. Sintomas predomi-
meira condição pode não ser considerada como asma ocupa-
naruerneruenoiurnos exigem maior duração da curva (trê» a
cional. e sim como asma agravada pelas condições de trabalho";
cinco semanas), incluindo período de n(a'lamcnlo. que também
mas. do ponto de \ iSI:Iprático, deve ser investigada, orientada
será orientado pela história clfnica.
Algumas siiuaçõe-, cxigesn maior ,olhlicaçiio da cxploruçâo e encaminhada da mesma forma que a asma ocupacional.
'0 ambulatório de Doenças Ocupuclonais Respirnt6rias da
da função pulmonar. prlncipalmcnrc a avaliação da divfunção
e incapacidade re pirutõria conseqüentes a urna DOR. para fin.. Fundaccmro/Sf', a asma ocupaclonul roi responsável por 62%
de compensação prev idenciária c reparações cí\ eis, O estudo da de todos os casos de DOR dillgnO~lic ..dos no período de 1984
difu ão de monõxido de carbono (CO) e a avaliação da capa- a 199~. 111 regi~lro conjunto de c ..~u, de ..'ma ocupacional
cidade de exercício destacam- c pela ua capacidade de melhor diagnosticudos cm cinco centros de referência cm pneumologia
avaliar as queixas de dispnéia. nem sempre expressas por altera- ocupacional na Cidade de Silo Paulo. no ano de 1995, perrni-
çõe espirornétricas. Es es métodos normalmente estão dispo- riu calcular uma incidência mínima de caso de 17/1.000.000
nívei em serviços de referência cm pncurnologia. de trabalhadore COIll cartciru registrada". Estima-se que a
proporção de asma atribuível uo trabalho é de 5 a 10% e fa-
zcndo com que ti prevalência de nsrna ocupacional ou asma
Conduta em Pacientes com agravada pela~ condiçõe~ de lrahalho nn população geral de
Doença Ocupaclonal Respiratória adullo!' joven~ ,eja de 0.2 II 0,5%'1.
As PllcullIoconio,c, ,iio duença~ de nCllificaçào compubória
110 Sislema . nico de S:tlíde. Além dis1>o.o diagn6~tico de umu
DOR impliea em nOliticação tllravé~ de Comunicaçào dos Mecanismos e Agentes Causadores
Aeidenlc~ do Truballw (CAT). que é um documenlo do Mi- de Asma Ocupacional
nisléno da Previdência c Assislência Social. A CAT pode ser
emilida pela cmpre1>:l,pelo ~il1dicalO ou por qualqucr profis- A 3Sm3 ocupacional pode Icr sua palOgêne~e cm mecanismos
sional de l>aúdecn\'olvidu no pmceSl>Ode inve ligação do casO. imunogênicol. c não imunogênicos. O primeiro rclaciona-se com
Com e~~edoculTlenlu, o lrahalhador afelado ~erá submelido a a "asma ocupacional com lalênciu". uo pasloo que o segundo é
uma perícia médica pelo INSS pMa avaliação do lIt'xn COI/sal conhecido como "a,ma ocupacionnl M:llIlatênciu". Os mecanismos
e iIlCOpllc·it!tlde.crilériu~ ulilizado!> no julgamento de direilo imune:; são mediado~ por IgE. normalmenle exemplificados por
n beneficio previdellciário. A illl·tI/mcit/(/(!t, di ferencia-se da cxpo ições a agenlcs dc alio IlC\O m()lccular. corno amfgerlos
disfilllçt/(I. de acordo cllm a~ definições a !>eguir": biol6gico . c lambém agenle!> de baixo pe'o molecular. como
• Di:.filll('llo: é a reduçào da funç:1o do ~i..lema rc~piraI6rio. loailode platina que atuam como hapleno\. COlolumam causar
,elido habilllalmellle avalillda por IC~lel>de funçiio pul- reaçõe~ do lipo imedialo ou bifá~ical> (imediala e lardia). En-
monar cm rcpou~o c exercício e por que'aionários de Irelanto. para uma érie de agenlclo. como llIelai e i ociun310s,
avaliaçiio de ,inloma'. nOladamenle ti dbpnéia. É larefa não e demonslram IgE espedticos. sendo provável a partici-
primariamenle médica. pação de linfócilo T na palogcnesc da asma. A asma ocupa-
• IlIc(1p(lridade: é o efeilo global da di<;(unçiio na vida do cionaJ não imunogênica é causada por exposiçiio a irritantes,
pacienle. exprcs!>:Jpela irnpos~ibilidade de realizar adc- que agem direl3menle na mucosa brônquica. como em exposi-
quadamellle uma tarefa no Irabalho ou na vida diári ... çõe a névoas ácidru . amônia c oUlras c. normalmenle, depen-
em r:l7ÜOde dil-funçiio. A incapacidade não é relacionada dem da concenlração do irrilanle e do lempo de exposição.
upcnll~ a condições médicas. ma' envolve (alores mais AlualmeJ1le. há cerca de 250 ageJ1lcssensibili7..3nlCSdcscritos19•
cOl1lplexo~ llIi~ COIHU: idade. sexo. anlropomclria. cdu- H:i uma lend':ncia a aumenlO gradalivo de agentes. uma vcz
caçào. cUlldiçiio p~ic()16gica. 1>ociocconômica e lipo de que Olo procelo\os produlivos e~lüo cm COn~lallle reformulação,
requerimenlo energético do ocupação. con"liwindo-se com a incorpornçào de novas ~lIbslãncias qufmicas ao mercado.
numa :lIribuiçüu médico-adminislraliva. Expol>içõe a irrilanlc. primários são wmbém causa de asma
238 • Tratado de Clíníca Médica

histórias clínica e ocupacional. Em . iruações que caracteris-


TABELA 26.1 - Agentes comumente causadores de asma
ocupadonal ticamente causam sintomas imediatos. os registres podem ser
de curta duração com medida criadas a cada hora ou II cada
AGENTES EXEMPLOS DE OCUPAÇÃO dua horas. Os dados são colocados em gráficos c analisados
De alto ptio molecular vi. uatmcnte". Quando os sintomas são noturnos c recorren-
Alérgenos animais Trabalhadores de biotérios
tes. é necessário que os registres sejam prolongados. incluindo
Tratadores de animais
período de afastamento de. no mínimo. uma semana. A Fi-
Alérgenos,de peixes Trabalhadores em Indústria de pesca
gura 26.1 mostra Utll exemplo de curva.
Cereais Padeiros
Os testes de provocação brônquicn (PS) têm hoje um lugar de
Trabalhadores de carga e descarga de cereais destaque na investigação de asma brônquica. O mesmo ocorre
Látex Trabalhadores de indústria de borracha em asma ocupacional. podendo ser efetuados com agentes
Profissionais de saúde inespecfficos, como histarnina, rnetacolina ou carbacol, ou espe-
Enzimas Trabalhadores na produção de material de cíficos. com agentes suspeitos. A PS inespecífica tem duas uti-
limpeza lidades em asma ocupacional: na confirmação do diagnóstico de
Trabalhadores em indústria farmacéutica asma. embora haja descrições de asma ocupacional sem hiper-
De bailio ~so molecular
rcatividadc brônquica (HRS). e na evolução do paciente após o
afasta mento da exposição. Uma diminuição progressiva da HRB
Isocianatos Pintores e envernizadores (setores
automotivos. indústria de móveis.
no correr dos meses, associada II melhora sintomática, são indí-
impressão em plásticos. adesivos) cios de regressão clínica e, ocasionalmente, de cura da asma. Os
Produçãc de espumas lestes de PB específicos são de difícil padronização, uma vez
Produ~ão de plásticos moldados que envolvem o controle de uma série de variáveis e devem ser
Anidridos Trabalhadores em indústria de plásticos realizados em ambiente hospitalar, com rápido acesso a medidas
Resinas epóxi de ressuscitação. Dependendo do agente suspeito é possível rea-
Metais Trabalhadores em refinarias lizar-se PS específica pelo método de Pepys" em ambulatório.
Soldadores Os testes cutâneos e sorolõgicos podem ser utilizados de
Glutaraldeldo Profissionais de saúde forma anãloga. Ambos podem ser inespecíficos corno o teste
Poelras de madeira Trabalhadores em serrarias de puntura (prick lesl) com alérgenos ambientais ou a dosagem
Indústria de móveis sérica de IgE total. Por meio deles classifica-se o paciente como
Cloramina Trabalhadores em limpeza atõpico ou não. O que auxilia na exploração, juntamente com
dados clínicos e ocupacionais, Testes de RAST para a identifi-
cação de IgE sérica cspccíflca para alguns agentes ocupacionais
ocupacional e da síndrome de disfunção reativa de vias aé- selecionados são disponíveis comercialmente. Os testes espe-
reas. A Tabela 26.1 apresenta relação resumida de agentes co- cífícos. cutâneos e sorológicos, indicam que houve sensibilização
mumente envolvidos em asma ocupacional. a determinado agente, mas não são indicadores definitivos da ~
etiologia da asma ocupacional. ~
'"
Clínica e Exploração Diagnóstica Tratamento e Prevenção ~ee
O diagnóstico de asma ocupacional é feito por uma Iríade:<l: O diagnóstico de asma ocupacional e o seu correto equacio- x
namcnto podem oferecer cura ao paciente. O sintomas de asma
• Histõriu clínica compatível com asma.
devem ser tratados de forma convencional. porém a principal
• Exposição a agentes suspeitos.
• Evidência de obstrução reversível associada II exposição medida é o correto manejo ocupacional. Em geral. a asma
ocupacional. ocupacional significa uma impossibilidade do paciente se expor
ao agente causador, o que normalmente implica em afasta-
O primeiro passo para a caracterização de asma ocupacio- mento da função específica e/ou do ambiente que gerou os
nal é o diagnóstico da asma brõnquica. sintomas. Se houver possibilidade de realocação do paciente
A relação entre a exposição e os sintomas deve ser carac-
terizada. O broncoespasrno pode ser imediato. ao final da jor-
nada dc trabalho. ou noturno. Pode haver uma combinação de PfE diário (Umin)
sintomas imediatos c tardios e estes guardam relação direta
com o mecanismo parogênicoenvolvido. O questionamento sobre
600 .
sintomas durante os finais de semana. férias e fora da jornada
de trabalho é de grande auxílio. O perfodo de recuperações
500 r-
r
--
funcional e clínica também guarda relação com o mecanismo 400
patogénico envolvido.
300
Após o diagnóstico de asma e histórias clínica e ocupacional
comparíveis com asma ocupacional. é necessário o cstabele-
200
cimento do ne.xo causal. O estabelecimento do nexo não im-
plica na descoberta do agente envolvido. Ocasionalmente, a 100
história ocupacional é indicativa do agente. porém. na maior
parte dos casos. a exposição é composta de diferentes subs- o
râncias. fazendo com que se obtenha. num primeiro momen- 10 20 30
to. uma relação de produtos suspeitos. • Dias
O melhor método de estabelecimento do nexo cal/sal. quando
o paciente 'C encontra no trabalho. é a realização de medidas Figura 26.1 - Curva de pico de fluxo expiratório (PFE) em larni-
criadas de pico de fluxo expiratõrio (curva de pico de fluxo) nador (indústria naval) exposto ~ resina poliéster e tinta
com um medidor do pico de fluxo explratõrio (peakflow meter). polluretânica. (Azul) perfodo de afastamento; (verde) período
A orientação para a realização da curva depende de dados das de trabalho; (rosa) sábado e domingo
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 239

para sciorcs da empresa ivcntos do agente causador, :,,, \ C/C~ respiratório associados envolvem exposição a fragmento
é possível cvitar-ve um afastamento do trabalho. tnfclizmemc. de resíduos vegetais, grãos. agentes biológicos como fungo.
essa situação é rara. além do que. sendo o mecanismo da asma bactérias. vírus. cndoiox inas, fragmentos de pele. penas. pêlos
ocupacional imunológico. passa a ser dose-independente, o de pequenos animais. rc-Iduos de agrotõxicos, gase tóxicos
que significa que mínima!' expo ições ao agente podem manter provenientes de processos de armazenamento de grãos ou vegetais
os sintomas. e. até mesmo. poeiras minerais ". A~ reuçõcs do sistema respi-
Estudos recentes demonstram que a maior parte dos casos ratório envolvem amplo espectro de sintomas/doenças de vias
de asma ocupacionnl permanece sintomática após uma correta aéreas. doenças intcrst iciais pulmonares e inIccçõcs respira-
conduta. O prognóstico de asma ocupacional relaciona-se ao tórias. Excelente revisão sobre o lema. publicada pela Amcrican
tempo de inlcio dos sintomas. função pulmonar na ocasião Thoracic Society. pode ser consultada n.
do díugnõstico e hipcr-rcat ividadc brônquica. O~ dados atuais
demonstram que quanto maior a duração dos sintomas. quanto Bronquite Crônica e Limitação Crônica
mais alterada a função pulmonar c quanto mais acentuada a
HRB. pior o prognõsrico". As conseqüência- clínicas. sociais ao Fluxo Aéreo
e económicas da asma ocupacional são dranuit icas para o pa- A bronquite crónica (BC) e a limitação crónica ao fluxo aéreo
ciente". havendo descrições de morte na literatura". (LCFA) silo duas entidades distinta». podendo ou não eMar rela-
clonadas". A principal causa de :1I11ha~é. sem dúvida. o taba-
Exposição a Irritantes: Síndrome da DIsfunção gismo. que agride tanto grandes vias aéreas. preferencialmente
acometidas na BC. como as pequenas vias aéreas. de prefe-
Reatlva de Vias Aéreas e Exposição Crônica a rência acometidas na LCFA.
Irritantes Primários Indivíduos expostos a poeiras rninerais uprcseruarn alterações
Em 1985. Brooks. Weiss e Bernstein" descreveram os efeito anatornopntolôgicas ao nível de pequenas vias aéreas, que são
de exposiçõc .. acidentais agudas à inalação de ga-cs. vapores ou supostamente características e morfologicamente distintas das
fumos. enhum deles apresentava arucccdcnrcv de problema alterações provocadas pelo tabagismo I. Ilá uma associação
respiratériov. Todos desenvolveram HRB. medida por intcr- significnriva entre alterações estruturuis c função pulmonar,
médio de PI} com mcracolina. e internas respinuórios persis- na presença dessas lesões. A associação causal entre exposição
tentes por pcrfodos de meses a anos após o evento inicial. Os a poeiras e bronquite crónica é bem comprovada",
agentes envolvidos eram irritanies de vias aéreas e. diferen- Apenas h(t pouco tempo aceitou-se a LerA como causal-
temente da a,nw ocupncional COIll latência. foi proposto um mente associada a exposições ocupncionai-, a poeiras minerais.
mecani mo não lmuuológico, denominando a entidade como A revisão de Bccklnkc" aborda a evolução dee,tlldo~ epidemio-
slndrome de d;4;1II('(711reativa de vias aéreas (SDRVA). lógicos que levaram às conclusões dcfiniuvav. A exposição a
Outra situação de observação freqücntc é II exposição de poeiras orgânica, também acarreta aumento de prevalência
uabalhadores a irriturucs respiratórios priuulrk» em baixas de BC e LCFA. O exemplo clássico é a expovição a poeiras de
concentrações. de forma habitual. Exposições a irritantes primãrios algodão".
podem ser desencadeantes de asma. por meio de inflarnação
persistente de \'ia~ aéreas. HRB e maior facilidade para pene- Enfisema
tração de aruígcnov ".
O enfiscma pulmonar foi relacionado com exposição a poeiras
de mineração de carvão '~, sílica", exposições maciças a protea-
Exposição a Poeiras Orgânicas e Vias Aéreas ses de Bacillus .\/lb/ilis·1e como conseqüência a retraçõcs fibróticas
Exposição a Poeiras de Algodão de outras pncumoconioscs com fibrose maciça progressiva.
As evidências de cnfiscrna associado a fumos de cádmio são
A exposição ocupacional a poeiras de algodão associa-se a um controversa'. porém h:l estudos clínico .. c de monnlidadc, rcsu-
aumento na prevalência de sintomas respiratórios e diferentes rnidos por emcry". claramente a favor de lima relação causal
acometimentos do sistema respiratório. Classicamente. a bi. sinosc estabelecida.
é a doença mais conhecida, tendo como principais manifesta-
ções a dispnéia e a oprcsvão torácica. É causada pela inalação
de aerossóis derivado' da manipulação de algodão. jura e visal,
DOENÇAS DO PARINOUIMA PULMONAR E DA PLEURA
noradarnente nas seções de abertura de fardos. penteadeiras e A~ pneumoconio es são definidas pela Organização Interna-
cardadeiras de fiações. Sua importância decorre do grande número cional do Trabalho (OIT) como "doenças pulmonares causadas
de indivíduos potcncralmentc expostos ao risco e das caracte- por ncúrnulo de poeira nos pulmões e reação iissular à pre-
rísticas clínicas descritas originalmente por Schilling 11/ al?', sença dessas poeíras?". São doenças de longo período de latência.
evidenciadas por sintomas predominantes no retorno ao Ira- com treqüência ident ificadas upõs cessada a ex posição causadora.
balho após um afastamento de final de semana ou férias. São irreversfvcis, cxceção feita li r;lros CaSos de pneullloconiose
A plllogênese da bi~sinose é ainuH questão de debate. Diversos por acúl11ulo de poeiras com mlnimo potcncial tóxico. como
cSlUdossugerem tanto a participação de componentes da planla '''. a estanose (estanho) e a baritose (bário).
como de cndotoxinas bactcri:lnas contaminanlesJ', Há uma nítida 'uma visão de saúde pública. são exemplos gritallles de falhas
relaçüodo~e-re:.po la expre~~a pelas taxa~ de prevalência diferen- na prc\ enção de exposições quase 'empre controláveis. Acarretam
tesde ncordocom a operação industrial envolvida. e alguns e~tudo pe~ado ônu~ económico e ocial ao indivIduo afelado e ao pafs.
associam o tabagismo como fator de ri,co para o desenvolvi- uma \e7 que boa parte dos caso~ receberá benefícios previden-
mento da bis inose. ci:1rio~. além de necessilar de aSl'istência médica adequada. c
tornam () portador suscetível a Oulr:l~ moléstias.
As pnellllloconiose são diagnostÍl'au:tl> por hi~tórias ocupa-
Outras Poeiras Orgânicas
cional e clfnic3. tempo de lalência <lpropriado c alterações de
Expo~ições fi poeirAS orgftnicas abrangcm enorme número de imagem compntíveis. Quase nunca ~c Lltili/:tlll métodos diag-
utividodes na agricultura. agroindústrin c indlístria. Os riscos nósticos invasivos na sua exploração. O mélodo de referência
240 • Tratado de (/(nica Médica

para a análise de radiografias convencionais de tórax é a Clas- / .. -......... ..


sificaçãu Radiológica da orr', conforme já abordado. / .... •

.. ":.J'"
~

'
ro~ /'

Silicose
Definição
É uma doença de origem tipicamente ocupacional causada
pela inalação de particulados contendo sílica livre cristali-
na. Há relatos e porádicos de silico e em habitantes de co-
munidade de regiões desérticas ou com altas concentrações
de sílica cristalina no solo').

Exposição Ocupacional
No Brasil. a silicose é a pneumoconiose de maior prevalência.
em razão de ubiqüidade da exposição à sílica". A relação das
aiividades de risco é vasta:
• Indústria extrativa mineral: mineração subterrânea e de Figura 26.2 - Corte de Gough de pulmão de trabalhador de
superfície. incluindo garimpo. mina poli metálica, mostrando nódulos silicóticos e gânglios hilares
• Beneficiamento de minerais: cone de pedras: briragcm: pigmentados e aumentados (Cedido pelo Dr. K. Honma, Ookkyo
moagem: lapidação. Medical School, Japão.)
• indústria de transformação: cerâmica: fundições que
utilizam areia no processo: vidro: abra ivo : cone e poli-
na sua periferia (Fig. 26.3). Com a progressão da doença. os
mento de granito: cosméticos: produto de limpeza abra-
nódulos tendem a coalescer, formando áreas fibróticas acelulares
sivos: indústria naval (jatcarnento de areia).
que. eventualmente. transformam-se em grandes massas de
• Construção civil: perfuração de rocha. polimento de
colãgeno conhecidas como fibrose maciça progressiva (FMP).
concreto. cone de pedras. perfuração de poços.
que se expressam pela presença de grandes opacidades a raios X.
• Agricultura: colheita com máquinas. O risco de formação de nódulos silicéticos clãssícos está
• Atividades mistas: protéricos; cavadores de poços; artistas
relacionado a poeiras respiráveis que contenham mais de 7,5%
plásticos: [ateadores de areia cm pequenas empresas.
de quartzo na fração respirável. É necessário lembrar. porém.
O número estimado de trubalhadorcs potencialmente expostos que ti presença de outros minerais pode aumentar ou diminuir
lipoeiras contendo sílicu 110 Brasil é superior a seis milhões. a toxicidade da sílica.
sendo cerca de quatro milhões na construção civil. 500.000 em Há três formas de silicose: a crónica. a acelerada e (I aguda,
mineração e garimpo e acima de dois milhões em indústrias com di ferentes expressões radiológicas e histopatolôgicas",
de transformação de minerais, metalurgia, indústria química. de
borracha. cerâmicas e vidros"). Dentre os trabalhadores com
carteira registrada, cerca de l.gOO.OOOtêm frequência de expo-
Silicose Crônica
sição acima de 30(/1> de sua jornada de trabalho". Também conhecida como forma nodular simples, é a mais comum
e ocorre após longo tempo do início da expo ição, normalmente
após 15 a 20 anos. Radiologicamente é caracrerizadn pela pre-
Patogenia e Patologia
sença de pequenos nódulos (inferiores a l crn de diâmetro). que
O estímulo para O desencadeamento dos fenômenos inflama- predominam nos terços superiores dos pulmões. Os pacientes
tórios que resultam em deposição de colãgeno inicia-se na costumam ser ussintomáticos nas fases leves e moderadas. A dis-
intcrnção entre os mncrófagos alveolares e as partículas de pnéia aos esforços é o principal sintoma e o exume ffsico, nu
sílica cristalina. Estas possuem propriedades de superfície que maioria das vezes. não mostra alterações significativas no upa-
alteram II permeubi Iidade de membranas de organela citoplas- relho rcspiretõrio". Esse tipo de silicose pode ser exemplifica-
máticas e de parede celular. por meio de reações de oxirredução do com os casos observado na indústria cerâmica no Brasil"9.lO.
quc acabam por produzir a liberação de mediadores de infla-
mação. morte dos fagõcitos e recrutamento celular para as áreas
de deposição. Quanto mais recente a formação de cristais de
sílica. maior o potencial reativo de sua superfície. como o
jateamento de areia e a perfuração de rochas. Portanto. ativi-
dades que geram cristais "frescos" têm potencial de risco maior
que outras atividades em que a sílica cristalina utilizada não
sofra processo de quebra.
À macroscopia notam-se e palpam- e nódulos duros na super-
fície e no interior do parênquima. Se a silicose é avançada. o
pulmões estão enrijecidos, com espessamento pleural princi-
palmente nas regiões apicais, A Figura 26.2 mostra um corte
de pulmão com silicose leve. tratado com técnica de Gough.
O achado hi tolõgico característico da silicose é o nódulo silicõ-
rico. que se inicia na região peribronquiolur. apresentando-se Figura 26.3 - Nódulos silicóticos. Notar o padrão de disposição
como área de deposição concêntrica elecolãgeno denso, associada concêntrica de colágeno e tecido pulmonar normal de permeio
11presença de cristais birrefringcnrcs no nódulo. notadamente (Cedido pelo Dr. K. Honma, Ookkyo Medical School, Japão.)
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 241

Silicose Acelerada ou Subaguda rornétricas que guardam paralelismo com as alterações radio-
lógicas. O padrão obstrutivo é o mais comum nas fases ini-
Caracteriza-se por apresentar alterações radiolégicas mais pre- ciais". Nas formas complicadas. como nas grandes opacidades
coces, normalmente após cinco a dez anos do início da exposição. ou fibrose pulmonar maciça. há tendência a predomínio do
Histologicarncnte encontram-se nódulos silicõricos. semelhantes padrão restritivo ou misto. que pode ainda estar associado 11
aos da forma crônica. porém em estágios mais iniciais de desen- diminuição da capacidade de difusão e hipoxemia, assim como
volvimento. com componente inllamatório intersticial intenso nas formas ugudas da doença". Deve-se ai nda considerar 11
e descamação celular imru-alvcolar'". Os sintomas respirató- participação de outros fatores, como o tabagismo e presença
rios costumam ser precoces. Há maior potencial de evolução de doenças concomitantes. como O cnfiserna, quando se avalia
parti formas complicadas da doença. como a formação de COIl- a disfunção pulmonar em silicóticos.
glomerudos e de FMP. É o caso da silicose observada em ca-
vadores de poços":".
Tratamento e Prevenção
Silicose Aguda
Não há tratamento para a silicose no momento, Os sintomas
Forma rara da doença. associada a exposições maciças à sílica e as complicações devem ser tratados de forma convencional.
livre, por períodos que variam de poucos meses até cinco anos. A lavagem pulmonar total pode estar indicada como medida
Histologicamente, nota-se proteinosc alveolar associada a infiltrado emergencial em casos de silicose aguda ou acelerada, na ten-
inflamatório intersticial. O padrão radiolôgico é distinto das tativa de remover células, mediadores inflamatórios, particulados
outras formas, notando-se infiltrações alveolares difusas, pro- e debris intra-alveolares. O transplante pulmonar é uma ten-
gressivas, às vezes acompanhadas por nodulações mal definidas, tativa possível em casos de insuficiência respiratória grave.
Notam-se dispnéia. tosse seca e intenso comprometimento do No entanto, como já referido, a silicose é uma doença pre-
estado geral. Ao exame físico auscultam-se crepitações difusas". venível. Cada caso de silicose diagnosticado reflete total falha
A exposição à sílica/silicose predispõe o organismo a uma no reconhecimento e controle do risco de exposição, o que
série de co-rnorbidades pulmonares e extrapulmonares, nota- não é admissível na grande maioria das situações.
damente a tuberculose pulmonar. O enfiscma, a limitação crônica
ao fluxo aéreo, as doenças auto-imune e o carcinoma bronco-
gênico têm nexo causal estabelecido com exposição à sílica. Doenças Associadas ao Asbesto
A associação com a tuberculose é uma temida complicação.
uma vez que normalmente implica em rápida progressão da Introdução
fibrose pulmonar. O risco relativo de se adquirir tuberculose
é aumentado tanto em silicóticos. quanto em expostos não A asbestose é a pneurnoconiosc a. sociada à exposição ao asbesto.
silicõticos". Nestes últimos. demonstrou-se relação dose-resposta também conhecido como amianto. Além da usbestosc, pode
na associação". Após a introdução de rifarnpicina no esquema ainda causar O câncer de pulmão. as alterações pleurais be-
de traramcruo da tuberculose. os resultados de tratamento em nignas e o mesorelioma de serosas, principalmente de pleura.
silicotubcrculose são superponíveis no tratamento da tuber- A importância do tema justifica-se por ser um agente reconhe-
culose isolada. cidamente cancerígeno. associado a um tipo raro de câncer
que é o mesotelioma de pleura, além de ser um fator de risco
independente para o carcinoma broncogênlco. Asbesto é uma
Clínica e Exploração Diagnóstica
família de silicatos hidratados em forma fibrosa. Define-se
o principal sintoma associado ii silicose é a dispnéia no es- fibra como um particulado cuja relação comprimento/diâmetro
forços, que normalmente aparece após as lesões radiológicas seja de 3: I ou mais. Do ponto de vista mineralógico. as fibras
instaladas. Fazem exceção os portadores de silicose fuman- de asbesto dividem-se em erpentinas (crisotila) e anfibólios
tes, que podem apresentar sintomas mais precoces. associa- (crocidolita. amoslta, tremolita. antofilita, actinolita). A crisorila
dos ao comprometimento de vias aérea causado pela irucração responde por prnricamerne toda a produção mundial na atua-
entre esses dois agentes agressores. a sim como casos de ilicose Iidade. Os an fibólios' comerciais (crocidol ira e amosita) já não
acelerada e aguda, quando os sintomas são precoces e podem são mais minerados pela restrição de seu uso industrial, entretanto,
se acompanhar de astenia. emagrecimento e tosse. A progres- se desconhecem depô itos de eri otila que não tenham contami-
são, independentemente de exposição. é conseqüente à toxicidade nação por anfibólios. notadamerue a tremolita, mesmo que em
da sílica cristalina. fagocitada e liberada pela destruição do mínimos percentuais. O Brasil é um dos cinco grandes produ-
macrófago alveolar. perpetuando o ciclo evolutivo da doença. tores mundiais de crisotila. A exploração se dá em mineração
Formas avançadas de silicose podem ser acornpunhudas de de superfície no estado de Goiás. Todos os tipos de asbesto
sintomas de cor pulmonale. insuficiência respiratória e morte. associam-se à asbcstose e ao carcinoma broncogênico, mas o
A associação com tuberculose orna sintomas que poderiam mcsotcliorna é predominantemente associado ii exposição aos
ser atribuíveis à própria silicose. o que. com freqüência. retarda unfibõlios. Isso provavelmente decorre do fato de que as fibras
o diagnóstico dessa complicação. dê crisorila têm menor biopersi rênciu no pulmão. Ao conrrãrio,
O diagnóstico da silicose baseia-se na radiografia de tó- as fibras de anfibélios são persistentes. As propriedades físico-
rax, em conjunto com histõrias clínica e ocupacional c um químicas de superfície relacionadas à presença de determinados
pcrícdo de latência coerentes. Os raios X evidenciam opaci- iontes como o ferro desencadeiam a produção.de radicais livres
dades nodulares, que normalmente se iniciam nos campos su- e espécie' rcativas de oxigênio. levando ao processo de iniciação
periores e progridem para todos os campos. Com frequência carcinogênica por lesão molecular do DNA.
notam-se gânglios hilares e mediastinais com cálcio. coalescên-
cia de nódulos. grandes opacidades e distorções das estruturas Exposições Ocupacional e Ambiental
intratorácicas.
Não existem padrões de disfunção típicos em si licose. A forma O Brasil é produtor e consumidor de asbesto. Cerca de 80%
nodular simples geralmente é acompanhada de alterações espi- da produção brasileira são consumidos no mercado interno.
85-7241-598·X
242 • Tratado de CI/nica Médica

0\ processe» de trabalho nos quais () asbesto é ti principal com (I formação de derrame pleural, que não apresenta caractc-
matériu-pri ma vâo: rísticus bioquímicas c histológicas patognomônicas. O cspcs-
sarnento pleural difuso aferando ()S dois folhetos pleurais pode
• Mineração.
ser conseqüente ao derrame pleural ou a um intenso processo
• Produtos de cimento-amianto (caixas d'água e telhas).
inflamatório subplcural.
• Materiais de Iricção (materiais de freios).
Fibras de asbesto são fugocitadas pelo), macréfagos. total
• Gaxetas c outros materiais de vedação.
ou parcialmente. Essa imerução faz com que se gerem radicais
• Produtos têxteis (tecidos resistentes ao fogo).
livres e espécies reaiivas de oxigênio, que são o fenômeno ini-
• Processos de isolamento térmico industrial. como em
ciai para o processo fibrótico. Possivelmente essa via comparta
tubulações. vasos e fornos.
passos com danos ao material genético de células no microarn-
Calcula-se em torno de 20.000 trabalhadores brasileiro ... bienrc bronquíolo-alveolar. Fibras de asbesto, na tentativa de
ocupacionalmente CXP()),IO~na indúxtria cxtrativa c de trans- serem Iagocitadas pelos macrõfagos, ficam recobertas por debris
formação do a-bcsto. Além destes, há um grande contingente celulares c mntcrial proteinãceo formando os chamados "cor-
de trnbalhudurc-, que rnarupularn produtos de asbesto na in- pos de asbesto" ou "corpos ferruginosos". que têm aparência
dúvrria de construção civi I (número desconhecido) na instala- característica à rnicroveopia óptica. A Iibrosc resultante é similar
çao de coberturas. caixas d'tiguu c demolições e de manutenção cm localização li tibrose idiopática pulmonar. diferenciando-se
de veículos (cerca til! 225.00(}). expostos dirctu ou inadvertida- pela presença de corpos de asbesto c/ou fibras não recobertas
mente, () qUI! limita u controle ocupacional apenas a pequena associadas li übrosc". Com a progressão da doença há forma-
parcela do, expostos. inv iabi lixando o "uso controlado "". ção de áreas de faveolurncnto (Figs. 26.4 e 26.5).
Não há dado), objcrivo-, sobre a exposição ambiental ao asbesto O mesotclioma pleural é um tumor normalmente limitado 11
no Brasil. Presume-se que haja possibilidade de exposição caixa torácica, apresentando três variantes histológicas: o epitelial.
relevante cm aterros contendo li libra. como em antigas área, o sarcornatoso e o misto. Com freqüência necessita ser dife-
industriais. 'ão há indícios de que moradores de residências que renciado do adenocarcinorna metastático por meio de lestes
contenham produtos de cimento-amianto, como teres e caixas imuno-hisroquímicos e microscopia eletrônica, Normalmente.
d' água. renham risco de adquirir doenças relacionadas ao asbesto. cresce encarcerando pulmão. mcdiastino e coração. Pode ocorrer
A prática de isolamento rérrnico na construção civil com .1J1my também no pericárdio c no peritônio.
de asbesto. muito pouco utilizada no Brasil. é uma das grandes O carcinoma broncogênico nssociado ao asbesto não guarda
C,lu,a~ da ocorrência dc mcsoteliomas c outras doenças em diferenças cm relação ao~ casos não expostos. Há intenso
populações madvenidamcnrc expostas cm paíves da Europa c sincrgismo entre exposição ao asbesto c tabagismo no risco
na América do ortc. rela: ivo de se dcscnvol ver a doença.
É necesvário lembrar que h(l possibilidade de contamina-
ção de depévitos de talco por asbesto do tipo unfibólio. por
posvufrcm origem geológica sirnilar. O talco é largamente em-
Clínica e Exploração Diagnóstica
pregado em divcrsuv atividadcs industriuis. assim C0l110 na área Doença Pleural Benigna. As placas pleurais parietais isoladas
médica c co ...mciica. No Brasil. já se identificou contaminação são a rnanitcstação mais comum das doenças associadas ao
num grande veio de laico cm Minas Gerais. c em depósitos de asbesto, Normalmente não causam sintomas, têm pouca re-
pcdru-sabâo. no rnevmo Estado, com a ocorrência de doenças percussão funcional. sendo quase sempre achados radiológicos.
associadas ao U!>bC'IO. Quando as placas são extensas. assim como quando há espes-
samento pleural difuso, acompanham-se de redução dos vo-
lumes pulmonares. O derrame pleural pelo asbesto pode ser
Patogenia e Patologia um evento assintomático. Quando lIt! manifesta clinicamente,
A exposição crónica ao asbesto pode causar fibrose pulmonar os sintomas mais cornun são: dor pleurüica, tosse, dispnéia
de tipo difuso (asbcstosc), doença pleural em placas hialina- da e febre. Em geral, placas precedem a asbcstose e têm período de
pleura parietal. diafragma e rnediustino. derrames plcurais, lniência superior a 20 anos. Localizam-se nas partes médias
espessamento comprometendo os dois folhetos plcurais (espev-
vumento pleural difuvo), atclcctasias redondas. carcinoma
broncogênico e mcvotcliornu de pleura c outras serosas.
A, caructcrfvticav ffsicu...do asbesto são primordiais cm relação
ao espectro de doenças associadas. Hbras com menos de O.2511m
de diâmetro e mais de 811111de comprimento são mais perigo-
sas, por possuírem caructerfsticas aerodinâmicas que permitem
deposição profunda. além de serem mecanicamente mai difí-
ceis de remover. Fibras de crisotila quase sempre são clivadas
longitudinalmente pela quebra das pontes de magnésio entre as
fibrilas e. ponamo, removíveis com mai~ facilidade. Fibras curtas
(abaixo de 511m de comprimento) são também removidas com
maior facilidade. Fibra~ 1{)l1gu:.de anflhólio, ~ào muito pcrsi~-
tente~ no tecido pulmunar. Pl)rtanIO. a distribuição de tipos de
rihra), em análi,c\ mineralógiclls de pul mão não reflete li hi~-
tória d..: c.\po,içiio ocupacionnl devidamente. uma vez quc há
rcmoção prefcrencial dc alguns tipos de libras.
A~ fibras podcm mIgrar da região subpleural para a pleura Figura 26.4 - Corte de Gough de pulmão de trabalhador de
pariet:tI atra\él. do .,i!>tema linJ'dtico. no qual cau~am innama- fundição exposto ao asbesto. Notar o espessamento da pleura
ção. depn~ição de colágeno c libf'()se, formando as placas pleurai!> visceral e o intenso faveolamento do parênquima pulmonar
hialina,>. A inflamação pleural pode acarretar I'eaçôes exsudativas. (Cedido pelo Dr. K. Honma, Dokkyo Medical School, Japão.)
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 243

de tórax mostram dificuldade em se discernir alterações paren-


quirnatosas, Nesses casos, a TCAR é um melhor método de
avaliação por produzir imagens em corte transversal.
A alterações funcionais características são de uma insu-
Iiciência respiratória restritiva. mas caso se considere que cerca
de dois terços do trabalhadores brasileiros são fumantes ou
ex-fumantes. podem ser detectados defeitos mistos ou obstrutivos
puros pelo efeito combinado das ex posições. Nas fases mode-
radas e avançadas du doença pode-se encontrar também uma
baixa na capacidade de difusão de monõxldo de carbono (DLCO).
Apesar de os critérios anatomopatnlógicos de diagnóstico
da asbcstosc estarem bem definidos. a realização de biópsia
Figura 26.5 - Fibrose intersticial. Notar o padrão de espessamento pulmonar não é indispensável e obrlgatõrlu. Embora nenhum
dos septos alveolares, associados à infiltração de células infla- sinal clínico ou radiológico. incluindo imagens de TeAR, seja
matórias e deposição de colágeno. Na luz alveolar visualiza-se específico dc asbesto c. alterações radiológicas caracterfsti-
um corpo de asbesto (Cedido pelo Dr. K. Honma, Ookkyo Medical cus associadas à história ocupacional compatfvcl, autorizam
School, Japão.) o diagnóstico de asbestose. mesmo sem alterações funcionuis'".
Em casos duvidoso - história ocupacional e/ou alterações
e inferiores do tórax. em geral bilaterais. São visualizadas na radiológicas pouco características - a biópsia de pulmão es-
radiografia simples de diversas formas. na dependência de sua tará indicada. notadarneme quando o paciente pode ter bene-
localização. A apresentação mais comum é a de uma linha fícios quanto ao diagnóstico diferencia!".
pleural densa, que corre no sentido craniocaudal. Placas fron- Câncer de Pulmão. Todos os tipos de asbesto associam-se
tais pouco densas podem não ser reconhecidas à radiografia a aumento de prevalência de câncer de pulmão em grupos
convencional. Para reconher placas pleurais. TCAR é superior ocupacionalmente expostos, porém há algumas considerações
à radiografia simples. por visualizar os recessos posteriores e importantes:
paravertebrais de forma nítida e não depender tanto da den- • Provavelmente exista associação mais forte entre expo-
sidade do espessamento para sua visualização, além de dis- sição a anfibólios e câncer do que à crisorila".
tinguir casos de presença de gordura extrapleural simulando • O risco de câncer varia de acordo com O ramo de ativi-
placas pleura is. dade. sendo. por exemplo. maior no ramo têxtil do que
A relação dose-resposta para ocorrência de placas é mais na mineração'".
fraca que .1 relação para a ocorrência de usbcsrosc. Quanto
mnis prolongada e mais intensa a exposição ao asbesto. maior O período de latência para o câncer de pulmão associado
o risco de ocorrência de placas. mas mesmo exposições leves no asbesto geralmente é superior a 30 anos. porém aceite CI)lII
e de curta duração podem promover Cl seu apareci mcnro, Fa- 15 anos de lutência'". Os tipos celulares de câncer de pulmão
miliares de trabalhudores expostos a asbesto estão sob risco associado li exposição ao asbesto seguem distribuição seme-
de desenvolver placa» plcurais cm função de cunuuninução lhante à da população geral. O tipo histológico e a localiza-
dorniciliar". ção nnarômica nos pulmões não têm qualquer valor na decisão
Ocnsionnlrncmc. II pleura visceral espessada scqücstra parte de atribuição do câncer à exposição ao usbesro'".
do pulmão subjacente, cuusundo imagens pscudotumoruls, Estirnu-se que o risco relativo para câncer de pulmão pra-
geralmente basais posteriores ou paraveriebruis. com carucie- ricamente dobre para expostos a asbesto com exposição cumu-
rísricas de imagem distinras que permitem o diagnóstico de lativa de 25 anos/fibra. níveis em que asbestose é dificilmente
uma ateleciasia redonda. A TCAR mostra-se extremamente detectável'", Em recente revisão. Becklake" demonstra não
útil na distinção desse processo de urna massa tumoral". Caracte- haver necessidade de asbestose para explicar o índice elevado
risticamente. visualiza-se uma massa justa-pleural associada de casos em populações expostas.
a espessamento pleural com vasos curvos em sua direção, Pode Mesotelioma. Os mesoteliornas malignos afetarn pleura,
haver parênquima pulmonar de permeio na imagem. peritônio e pericárdio. Aparentemente, a ocorrência de rneso-
Asbestose. Caracteriza-se clinicamente por dispnéia de teliorna de peritônio está relacionada a doses muito elevadas
esforços. esteriores crepitantes nas bases e, ocasionalmente, ba- de exposição. Mais de 80% dos casos são relacionados à ex-
queteamenro digital. Em estágios iniciais. pode ser assintomática. posição ocupacional ou ambiental ao asbesto, o que estimula
Em geral, o período de latência da asbcsrose é superior a 20 a realização de minuciosa anamnese ocupacional visando
anos. não sendo necessário que haja exposição continuada. pois estabelecer essa relação. Os casos remanescentes ocorrem em
a doença pode progredir de forma independente. A~ alterações indivíduos sem história ocupacional ou ambiental e com con-
radiológicas podem ser indistinguíveis das alterações da fibrose tagem de fibras em tecidos pulmonares semelhantes à da
idiopática pulmonar (FIP). A, imagens parcnquimarosus, aos população gcral'",
raios X simples de tórax. seguem o padrão de opacidades irrc- Clinicamente. o mcsoiclioma tem curso desfavorãvcl, com
gulares predominantes nas bases, com eventuais imagens de sobrevida de 12 meses inferior a 20%. Normalmente manifesta-se
traves fibrõticas. pinçarncntos de pleura diafragmática c. cm com dor torácica e dispnéia, podendo causar deformidades da
casos mais graves, favcolamcruo subpleural com sinais de re- caixa rorãcica e sintomas causados por encarceramento peri-
dução volumétrica. A presença de ultcruçõcs pleura is. em geral cãrdico. restrição diastólica e insuficiência cardfaca. A latência
ausentes na FIP. é útil no diagnóstico diferenciul'", Atuulruen- é normalmente superior a 30 anos da exposição inicial. Até o
te, a TCAR tem demonstrado ser de grande auxílio em casos momento. nenhuma modalidade de tratamento convencional
iniciai. de usbcstosc, quando as alterações radiológicas sim- - cirurgia. radioterapia e quimioterapia - revelou-se promis-
ples são discretas ()U duvidosas. permitindo avaliar áreas como sora em relação à sobrevida de pacientes rratados.
os recessos costo-diafragmúticos posteriores. nos quais se ori- Em quase todas as séries de mesotelioma publicadas há um
ginam as alterações fibrôiicas da asbestose. Nos casos em que número significativo de casos associados à exposição inadvertida,
as alterações pleurais ão muito exuberantes. os raios X simples domiciliar ou ocupacional indireta (bystollders)64.
244 • Tratado de Clínica Médica

Tratamento e Prevenção Depósitos de poeiras de carvão estimulam a secreção de


proteases. Hã um excesso de casos de cnfiscma pulmonar nesse
Não há tratamento especílico para ii asbesiose. O clínico deve grupo ocupacional.
limitar-se a tratar os sintomas associados. Casos de asbestose
grave com insuficiência respiratória em gemi não são passí-
veis de transplante pulmonar. pelo comprometimento pleural Clínica e Exploração Diagnóstica
freqücntc. o sintoma mais comum é a di pnéia aos esforços que. da mesma
O câncer de pulmão e o mesorclioma devem seguir os pro- forma que na sillco e. aparece tardinrncnte, Sintomas de bronquite
tocolos especfficos de tratamento dessas dO\!llI;US. crónica são comuns em mineiros de carvão, mesmo nos não
ludivíduos e grupos ocupucionalmeutc expostos ao asbesto fumantes. Pacientes que desenvolvem FMI> podem progredir
devem ser muito estimulados a não fumar. por causa do aumento para quadros de insuficiência respiratória c COI' pulmonale.
no risco de câncer. A PTC caracteriza-se radiologicamente pela presença de
A prevenção das doenças associadas ao asbesto ~ limitada opacidade. nodularc dis erninadas, À medida que aumenta a
a situações ocupacionais típicas. nas quais ~ factível o con- deposição de poeiras. as alterações progridem revelando as-
trole de exposição a poeiras. porém. como já discutido, en- pecro nodular difuso. As alterações visíveis aos raios X devem-se
globa apenas pequena parcela dos expostos. Além disso, os basicnmcntc ao acumulo de poeiras - as chamadas "máculas
limites ocupacionais de exposição são estabelecidos em fun- de carvão" -. muito mais do que n um processo fibrótico. Os
ção do risco de a be to e. o que pode ser ineficiente para o nódulos podem aumentar cm tamanho e apresentarem-se radio-
controle de um risco relativo aumentado do carcinoma bronco- logicurnerue como conglomerados. Quando se tornam superiores
gênico. A efetiva prevenção dessas doenças só será obtida com a IOmm são chamados de "grandes opacidades". As grandes opa-
a progressiva e completa substituição do asbesto por mate- cidades costumam aparecer nos campos superiores e médios.
riais menos tóxicos. Mesmo que isso ocorra. como são doen- normalmente são periféricas e crescem de forma centrfpeta,
ças de largo período de latência. serão diagnosticadas no Brasil causando distorções importantes na anatomia das estruturas
por muitas décadas à frente. imrarorãcica . Opacidade. irregulares podem ocorrer em con-
seqüência à PTC. Elas normalmente se associam a outras
entidades. como o enfiserna pulmonar".
Pnoumoconlose dos Trabalhadores do Carvão Funcionalmente, a expressão da PTC nos casos iniciais e
intermediários é pobre. Caso haja associação com o tabagismo.
Definição pode haver alterações mais precoces do tipo obstrutivo. Casos
t\ exposição a poeiras de carvão mineral relaciona-se com li de PTC avançados podem cursar com diminuição de volumes
pneurnoconiose de trabalhadores de carvão (PTC)M, fibrose pulmonares e diminuição da DLCO. FMP pode associar-se
maciça progressiva (FMP)I>b. bronquite crônica'" e cnfiscma com obstrução de vias aéreas cm decorrência de distorção
pulmonar". Essas entidades podem ocorrer de forma isolada brônquica, A exposição a poeiras cm mineração de carvão pode
ou combinada. embora sejam raros os casos de FMP em radio- ser causa de perdas funcionais aceleradas, clinicamente rele-
grafias sem pequenas opacidades. Define-se a PTC como ti vantes. em caso isolados. independentemente da presença de
pncumoconiose cau: ada por inalação de poeiras de carvão. pneumoconiose".
Os casos de PTC são restritos a atividades de mineração de car-
vão. havendo apenas uma descrição de PTC em estivadores bri- Tratamento e Prevenção
tânicos na função de carregadores de carvão mineral cm uuvios,
As atividades de mineração de carvão no Brnsil trazem riscos Não há tratamento para a PTC. Da mesma forma que outras
pneumoconioses. os mineiros e ex-mineiros devem ser trata-
de adoecimento di tintos quando comparados com outros países.
dos sintomaticamente. sem que isso influencie o curso da doença.
pois no desmonte do cxtrato rochoso carbonífero há muitos
Casos avançados são passíveis de transplante pulmonar.
minerais contaminante. incluindo sílica. A prevalência pon-
A melhor medida para o controle dos casos de PTC é a
tuai de pncumoconio c em mineiros ativos é de 5.6%. O risco prevenção da exposição, que se obtém com adequado sistema
de se adquirir pneumoconiose em mina de carvão brasileiras de controle na geração de poeiras nos pontos de origem (pro-
é muito elevado". cedimentos de furação, carregamento e transporte sempre li
úmido). as im como adequada ventilação exaustora nas gale-
Patogenia e Patologia rias e frentes de lavra.

A lesão característica da PTC é a mácula de carvão. que é


uma coleção de macrõfugos repletos de poeira :10 redor de Outras Pneumoconloses
bronquíolos respiratórios. A fibrose resultante ISdiscreta pela Neste item descrevem-se doenças pulmonares menos comuns.
baixa toxicidade do elemento carbono. Certas arividades no mas não menos importantes do ponto de vista flsíopatogênico,
subsolo expõem o mineiro a quantidades grandes de sílica, causadas por inalação de vário tipos de aerossóis particulados
junto com poeiras de carvão, noradamcntc em furadores de cm ambiente de trabalho. São incluídas aqui doenças com clara
frente e de tcto, sendo po sfvcl encontrarem-se nódulos silicõiicos reução dose-respo ta. isto é. cujo aparecimento é dependente
típicos na histologia. É também frcqüenre o encontro de nó- da intensidade e duração da exposição e outras que ocorrem
dulos estclados, caracterfsticos de pneumoconiosc por poei- por mecanismos imunológico dose-independente, como a doença
ras mistas. pulmonar pelo berílio e a pncumopatiu por metais duros.
Em uma minoria de casos" ocorre o aparecimento de massas.
constitufdas de grande acúmulo de poeira c fibrose, que resultam
.
Pneumoconioses por Poeira Mista
em distorção de e truturas intrntorãcicas e associam-se a morta-
lidade precoce por problemas respiratórios. A causa não é bem Por poeira mista entende-se todo o tipo de particulado inalado
conhecida. mas se acredita que esteja ligada à exposição excessiva com teor de sílica livre inferior a 10%. associado à infinidade de
a poeiras. a sociada a fenômeno de auto-imunidade. materiais geológicos. como sitiemos c metais. Apresentam-se
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 245

corno pncumoconioscs de padrões rudiolõgicc-, sobrepostos cução c uso de rebolos especiais. junto com outros elementos
de opacidades regularcv c irrcgulnrev, Curacterivam-ve histo- como o cobalto. níquel, cromo e cobre e em ligas especiais
logicamcmc por nõduk» cvtrclndov c árc:h de fibrose intersticial. em próteses dentárias. por exemplo.
com eventual acometimento pleural. podendo também evoluir Doença pulmonar pelo berílio é entidade relativamente nova
para congtorueruçõcs [ibrúticuv c FM P. São exemplos bem c o primeiro C:l!>O foi descrito há menos de 60 anos. Podem
conhecidos dessu combinação a ontracuvvilirov« cm mi nci- ocorrer dois tipos de acometimento sccundãrios à inalação de
ros de carvão cxpo-to-, <I :1I1<l' teores de SiO,e n vitirnvslderose f'UIIIOl>.
l>ail>ou poeira, de berílio: (I) quadro de irtirnção aguda
em fundidore .. dc ferro, A untigumcntc delltiminada doença de da árvore rraqucobrônquica. podendo resultar em pneumonitc
Shavet: nos trubalhadorcv da fabricação (h! abravivov de alumina. química. com conseqüente hlpéxia e fibrose sccundãria":
a pneumoconiow /11'10 cuulim, a III/('O\(' c a 1'"1.'1111/(1('0";(1.11' por (2) quadro crónico caractcrivado por ucomcrimcntogranulo-
miras também podem 'c enquadrar ncwa ela ..vificação. dcpcn- matoso pulmonar e ...istêmico. vccundãrio a expo ições crô-
dendo do teor de ..íhca no cvpécimc geológico munipuludo. nicas a doses baixas. chamada de doença pulmonar pelo berflio
(DPB). O tempo de latência é. cm média. de 10 a 15 anos,
Pneumoconiose pelo Caulim podendo ocorrer vário~ nnos após o cessar da exposição. Sin-
tomas caracrcrísticos silo dispnéiu progressiva aos esforços, dor
o caulim é um mineral .Irgilo,o composto. cm sua base. de torácica. IOl.SC. fadiga. perda de peso e anrnlgins. podendo
um silicato alurninovo hrdrat.rdn. com varirivci .. teores de Si02 cursar com adenopatias. lesões de pele. hcputocsplcnornegalia
na forma de quartzo. da( vua utilidade na fabricação de por- e baquetearnento digitnl".
celana c outras cerâmicas. J\ pucumoconiose ocorre basicamente A DPB está associada 11ulveolire caracterizada por acumulo
em trabalhadores exposrov na urividadc de extrnção do mineral. de linfócitos e macrõfagos dentro de alvéolos e interstício adjacente,
O caulirn é largamente urili/ado na indústria de papel corno com formação de granulomas não cuscosos, sarcóide-símile,
branqueador. na indústria cerâmica e ainda da borracha. tin- sugerindo mecanismo ctiopatogênico imunológico envolvendo
tas, plásticos. sabonetes c dcntifrfcio e como veículo de inse- reação por hiper ensibilidade de tipo tardio. Eritema nodoso,
ticidas. A exposição ocupocional ocorre nos processos de mineração. envolvimento uveal, de glândulas salivares e do SNC sugerem
trituração e moagem. c nav aplicações anteriormente descri- o diagnóstico de arcoido e. Há especificidade linfocitária de
tas. O quadro radiológico. na maioria dos casos. é ernelhantc rc po ta ao berílio. explicando o caráter crónico da alveolite
no das pncumoconiovcs nodulares. com formação de grandes em alguns casos (o berílio tem meia-vida e eliminação renal ex-
opacidades cm cutcguria-, mais avançadas. tremamente longa. podendo chegar a vários anos) e o carãter
dose-independente para ocorrência de DPB.
Pneumoconiose por Material Abrasivo O padrão radiolõgico é de opacidades rcticulonodulares difusas.
à~ vele, ussociadas com adcnomcgulin hilar. O diagnóstico é
Dois tipo .. principai-, de ubravivov são produzidos e urilizado« feito, cm geral. a partir da radiologia. awociada com hi~t6ria
na maioria du, procc-sov nuluvtriai-, metalúrgico-c a alurnina
de expoviçâo comprovada ao berílio e auxiliada com lavado
ou corindo (AI,O.) c carbcto de ..ilício ou cnrborundo (SiC).
broncoalvcolar que demonstra quadro de alvcotuc linfocüica.
A produção e n;anipul;u;ãu indu"tl i31 dos mesmos pode acar-
A descrição de um caso clfnico brasileiro e revisão da literatura
retar pncumoconiove. O primeiro é produ/ido a partir da fu-
pOUCIll ser encontradas cm De Capitani e/ (//.76.
são de bauxim. lIIinériu contendo coruanunação por l>ílica livre
li alia, tcmpcratur ..,. 2.:W() C. que. 31)()I.rc-Iriamcnro. sofre
processode bruagcrn c moagem liberando poeira com vuriu- Doença por Exposição a Metais Duros
dos percentual .. de cnstobnlita, tridimita. ambas formas de SiO,
altamente IibrogênÍl'a ..'~. . Manifesta-se por pncumopatin de evolução aguda ou subaguda
Na fabricação de carborundo uriliza-vc areia com alto tem
com possibi lidude de desenvolvimento de fibrose li longo prazo,
elesílicn. que é misturada com carvão e sal. fundido' a 2.400oC. por causa da inalação de poeira metálica proveniente de ligas
compostas de iungstênio e outros metais duros como titânio,
A essa temperatura. a sflicu se funde completamente. incor-
porando-se ao matcrial c:lrbonácco. tântalo. ni6bio. \lanádio. associados com cobalto na propriedade
O risco de de,envoh imento dc pneumoconio,e na utili- de ligante.
zação dc rebolos de materiai$ abrasivo, ainda é motivo de O quadro clínico inclui dispnéia aos esforços. tosse seca, dor
controvérsia. em função da concenlrtlção variá\ cl dc ~ílica livre e constrição tOrácica. febre e perda de peso com o progredir
presentc ne~~al>peça" c da ,imuhancidade de expu,içõc!> a da afecçiio. Em gemI. os sintomas urgem após perfodo de "sen-
outros matcriais particulado~ potencialmente fibrogênicm nos ~ibililaçiio" variável de meses a alguns anos. Os raios X ele
locais de trabalho em que ..e utili/:Jm rcbolo .. cm proce ....o de t6rax mostram padrão reticulonodulnr difu~o bilateral. com
abrasão. como em fundiçõc ... metallirgica!> CIII geral. afiação área'\ de "vidro fosco". no in(cio do quadro. A hi. topatologia é
de femlll1enlal>e outro ... A lIIoagem dc ,ucata' de rcboh)l> já de pneumonia intersticial dc~call1ativa com células gigantes".
.
riSCO p:lra pneurnoconlo\c
. . .
utililados c dcsprc/ado, é cnn,iderad:l ocupação de altrs ..imo O lral:unento com conico~teróides na fa!>caguda pode provocar
remb:.ão completa do quadro. O não afastamcnto da cxposiçãt.
C:I demora na introdução da corticotcrapia podem resultar em
:.eqiiela fibr6tica pulmonar. í ilo ~e conhecc ao certo o risco
Doença Pulmonar pelo Berilio relativo de acometimento dos expo ..to\. tendo em vista as
O berflio (Bc) é o mai, Ic\c do~ elcmento' met:\lic()~ :.6lidos caracterfstica~ imunológica!> de mediação. o que explicaria o
equimic:unenle el>tá\'ei.. (NA = 4. PA = 9). Em decorrência de baixo número de ca!>o~relatado\ no mundo e apenas um caso
seu alio ponto de fu\:10 (2.500 C) e elc\ado fndice força-peso descrito no Bra ..il. até o moment01l.
é utiliZ:ldoem liga, aumcntando a dure/a.:1 re,i,tcncia ti con'O~iio.
fadiga. vibração e choCjue. Foi o elemenw bá,jco utilizado em Siderose
lâmpadas fluore,cente\ ulguma~ déc:Jda~ :lIrá~. tendo sido
substiturdo pclo mercúrio para e~c fim. Atualmente é utilizado A siderose tem sido observada cm sua forma pura, "benigna",
na indústria aeroc~pacial. indústria de energia nuclear. fabri- ou seja. não fibrogênica. em 'oldadores de arco elélrico e de
246 • Tratado de CI/nica Médica

oxiucetileno trabalhando com peças de ferro. Os fumos pro- quirnu pulmonar, nítido aumento da trama vasobrônquica por
vocados pela alta temperatura no ponto de solda são compostos espessamento cio interstício axial e. na fase final. intensa pro-
de óxidos de ferro e. quando inalados e depositados. reproduzem fusão das opucidudes. redução volumétrica dos pulmões e aspecto
os raios X de tórax imagens semelhantes às da silicose. A histo- característico de favo de mel".
patologia na exposição ao óxido de ferro puro não mostra fibrose. A demonstração de anticorpos especfflcos aos anrlgcnos por
concordando com achados experimentais que demonstram au- imunodifusão dupla e a imunidade mediada por células nos lin-
sência de reação tccidual fibrórica em animais expostos a óxido fócitos periféricos são as características dos testes imunológicos
de ferro". na PHK•'• Testes cutâneos podem ser empregados para autígenos
A contaminação por poeiras fibrogênicas com conteúdo signi- especfficos. Nas fases agudas da PH podem-se encontrar leu-
ficativo de sílica livre é mais íreqüenternente observada nos cocitose com formas jovens e eosinofilia ocasional. O diagnóstico
ambientes de trabalho dos soldadores e fundidores de ferro. definitivo é invariavelmente feito por biópsia a céu aberto.
favorecendo acometimento que pode ser caracterizado como No tratamento da PH devem-se u. ar corticosteróides para
"pneurnoconicse por poeira mista" ou "silicossiderose". remissão dos sintomas e do proces o inflamatório da fase aguda,
mus O nfastnmemo da exposição é essencial para a redução do
Pneumonite de Hipersensibilidade estímulo untigênico. A introdução de corticoterapia precoce
pode resultar em restituição completa das integridades teci-
A pneumonite de hipersensibilidade (PH) é uma manifestação dual e funcional.
clínica característica de um grupo de doenças pulmonares, resul-
tantes da sen ibilização por exposições recorrentes a inalações
de pnnfculas antigénicas derivadas de material orgânico e de CANCIR OCUPACIONAl DO TRATO RISPIRATORIO
algumas substâncias químicas. tanto em ambiente ocupacional Muitos poluentes ocupacionais são carcinógenos para o pulmão.
quanto em outros. Na Europa e em outros paíse é também Estima-se que de I a 40% dos canceres de pulmão em países
denominada bronquíolo-alveclite alérgica extrín eca, Sua pre- industrializados sejam relacionados a exposições ocupacionais.
valência em nosso meio é praticamente desconhecida. variando na dependência da região estudada e das atívidades
A maioria das ocupações e ambientes de trabalho descritos econômicas locais", Periodicamente, a Intemational Agency
refere-se a criação de animais. processos de transporte. carre- for Research on Cancer (IARC) revisa e publiea a lista de
gumcnto. descarregamento e armazenagem agrfcolu e mani- cuncerígcnos. classificados como definitivamente cancerígenos
pula!;ão de substâncias químicas. para o homem (Grupo 1). provavelmente (Grupo 2A) e possi-
Scu-, aSpI!CIO~ fisiopatolôgicns cuructcrizam-sc pcln resposta velmente (Grupo 213)M;. Uma estimativa conservadora nos EUA,
imunolõgica desencadeada por untfgcnos bucrcrinnos, fúngicos em grupos expostos a uma li ta de cancerígenos do Grupo I
e protéicos de alto peso molecular c de algumas substâncias da IARC. calculou que 9% de todo os cânceres de pulmão
de baixo peso funcionando COIllO huptcnos. IHIS pequenas vias cm homens são decorrentes da ocupação". O longo período
aéreas. Usualmente 5:10 parrículas inferiores a I Oum que atin- de latência entre exposição ocupacional e o carcinoma bron-
gem os bronquíolos terminais. respiratórios lo! alvéolos. A resposta cogênico, assim corno o ef~o confusional com o tabagismo.
tecidual à agressão dependerá do tarnunho da partícula. sua faz com que o estabelecimento do nexo causal se torne difícil.
concentração. potencial antigênico e II rcatividadc imunológica noiadamente quando o agente não é tão conhecido.
individual'", A intcrcorrência com infecções pulmonares ou Os principais agentes cancerígenos para o pulmão são: arsénico.
outras exposições tóxicas pode ugruvur a evolução da doença. asbesto. berílio. câdrnio, cromo hexavalente, sílica cristalina,
Precipitinas séricas estão presentes na maioria dos indivíduos níquel e radônio, gás mostarda, acrilonitrila. Dentre eles, des-
acometidos. principalmente imunoglobulinas G e irnunocom- tacarn-se pela importância a sílica e o asbesto, pelo grande
plexos mediados pela resposta imunológica tipo Arthus!'. número de trabalhadores expostos -,A associação entre a expo-
O diagnóstico da PH baseia-se nos dados obtidos de história sição ao asbesto e o câncer de pulmão e pleura foi discutida
clínica e. fundamentalmente. na história ocupacional, nos achados no item "asbesto", Quanto à as ociação entre sílica e câncer,
radiológicos. na função pulmonar e testes imunológicos, Após saliente-se que o risco está aumentado notadarnente em silicõticos
período variável. necessário para a sensibilização, que pode e II própria IARC admitiu que as evidência são inconsistentes
variar de meses a anos. II queixa clínica habitual é de falta e que poderia haver assoclação entre as diferentes formas de
de ar. chiado. febre. tosse seca, mal-estar geral e fadiga, durante sílica cristalina c câncer".
exposição ao ambiente de trabalho ou ao ambiente em que se
encontra o antígeno em suspensão. Quase sempre. tais episódios
são caracterizados como "estado gripal". ou mesmo tratados
CONSIDIRAÇDIS fiNAIS
como "pneumonia atípica". havendo alguma melhora com o Na presença de sintomas respiratórios e/ou suspeita de DOR,
afastamento da exposição. A exposição continuada provoca a histéria ocupacional detalhada, ramo aluai quanto passada,
crises freqüentes de gravidade crescente, com agravo da sin- é extremamente importante e deve ser particularizada pelo médico
tomatologia e perda de peso. Ocasionalmente, não há sinto- atendente. Em geral. o médico não está familiarizado com a
mas agudos ante a exposição aos antígenos, porém II reação diversidade de processos de trabalho industriais existentes e
recidual é desencadeada de forma insidiosa. resultando em ocupações e funções de trabalho a eles relacionados. Da mesma
conseqüências da fase crónica da doença. forma, li velocidade de inovações tecnológicas e mudanças
Ao exame clínico notam-se estertores crepitantes nas bases nos processos de trabalho dificultam sobremaneira a tentativa
e sibilos em sua fase aguda. Com ii progressão para fi fase crô- de entendimento da exposição real do paciente. A busca de
nica. instala-se um quadro irreversível e progressivo de doença informações adicionais em bibliotecas. bancos de dados espe-
intersticial. caracterizado por hipôxia. hipertensão pulmonar cíficos nu áreu química e toxicologia (Centros de lnformação
e cor pulmonale", Toxicológicas). por exemplo e em tratados de pneumopatias
Nas cri. es agudas pode-se encontrar infiltrado pulmonar ocupacionais ou enciclopédias de processos de trabalho, deve
difu o aos raio X de tórax. Com o avançar das lesões notam-se ser colocada como fazendo parte do atendimento desse tipo
opacidade regulares c irregulares dispersas por todo O parên- de paciente":". A investigação inclui também estreito contato
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 247
S5·12J 1·598·X

com outros profissional da área como engenheiros. químicos. 26. BROOKS. S ~I.: WEISS. M. A.. BERNSTEIN. I L Reacll\e altw:lys dyslunttion
J)ndl'Oml' (RADS): pcn.SlCDI asdun3 S)ndl'OlllC afler hlgh.le\'CllrriIAnl exposures,
técnico em segurança do trabalho. enfermeiro e outros. tor- Cllm. \. S • p. 376-3S4. 19 5.
nando a prática multidisciplinar, Conforme mencionado. a boa 21. KI:.N:\éDY. S M. Acqul~ :U""'2)' ~JI\·ellC» Irom non'immunogenic irrilanl
prática lnvcstigatlvn cm DOR reside em conhecimento clínico. exposere (k",p MttI. \. 1. p. 2 1·300. 1992
curiosidade. interesse e. fundamentalmente, o saber ouvir. qua- 2 . TARtO. S. M. Woô.pl~ rupiRlory Imlanli ~nd :Ulhm~. OI'('U/I. Meti .. v. IS.
p. ~71.484. 2000.
lidodepouco presente na prãtica clínica atual, Finaliznndo. lembre- 29. SCHILLlSG. R. S. f.: BUGHES. J. P. W.: DINOWALL·I:OROYCB. I. ti ai. An
se que um dingnéstico de DOR tem implicações legais. sociais (pulemlologlcoliludy 01 byssillOSISamong Lanc"hlrc coucn workm. llr/I. J. lnâ.
e cconômicns. Em nlguma« ocasiões II inve~tigação clínica pode Mtd.. v 12. p 217· 221. 1955.
resultar em sanções profiss ionais ou Ilté perda de emprego do )0 MORGAN. W. K C: VESTERLUNO. l.: BURREL. R. el ai. IJysslnosls: some
"n~M,,<,n:d queil~ AIII. Rn~ Rtspir Dis. \. 126. p. 354·351. 1982.
paciente. Rccomcndu-ve sempre discutir nbcrtamcntc o questão 31. RYLANOER. R.: IlAGLlNO. P.: LUNOHOLM. M. EndOloAlm ln couon dU11and
com o il1ve~tigudo.pois se entende que é uma decisão que extrapolo re\ptr.aIOf)' luncuoa d«rtmtllllmOClg ClOlIOtl,,'orl.c~ in an experimental cardroom,
um :110 médico. Am Rn Rt$p" Ou \ 131. p. 209·213. 1985.
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248 • Tratado de (/{nica Médica

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em que as doenças estão estabilizadas e os sofrimentos compen-
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72. GARTNER. ti Ellolo~y o( corundum <m<'llc(. lua,. "",h. lnd. IIv!:. O«up. M,J.. caso individuai ou coletivas, Essas defesas são essencialmente
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incon cientes, mas intencionais e. pelo menos em parte. apren-
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75 NE\\'~IAK 1_ S,; KREISS. K.: KING J~ T. E. tI:aI. PathoJot!lc.nd imll1unoJogic noção limite que constitui uma espécie de horizonte, de ponto
.herJlion, in c;Jr1y ,Iale' of Ilcl) Iloumdtlie~ rc-n3ftlIlUI_ o( d'\a'o< <kOn,uOll dc fuga. de ideal. jamais verdadeiramente atingido, mas colo-
.nJ n3lur.1 hi'I'ory. AIII. R,." Rtlp,r. /)'$.. \. 139. p. 1~79·1486. 1989. cado por uma necessidade lógica.
76 01· CAPITANI. Ir. M • ALTf\lANI. AMA.: KAVAKAMA. J. I el .1. 8(nllo'o<
pulm,on.r re .,,,k, da Iole.~lur. c .tI~IO dr "no J ,." .. "",1.\ li. p. 11~.1~2.
De acordo com Dcjours', excluindo-se IIS imoxicuções e :I~
11)1)$ doençav pnnl,it:\ria~. existe uma relução entro o que se possa IIn
77. PARKE •W.R NI)IIr,hr"lI""iI. (~"IC.nnllrocnb and J'ClNmt1C'ClntO<J\.ln· D<Y'.{>IJIN""" cabeça das pessoas e o funcionamento de seus corpos. Quando
ÚlftX D".."I", } rd O\fl~d BUllcNonh·lIr,ncnunn. 1994. p 25}·2~. ~e tem lima doença. eSla tem momemos de evolução. de crises.
7g 01: CAPITA 'I. I:. ~I , SAI DIVA. P II 1'1_ PERLlRA. \I C. lIard metal \UNc-ult
que ocorrem juslUmentc quundo se passa nlgo no plallo psrqui·
pnçumopllhy: " ,0'< repIO'1 ln VIII "TER'IATlO~AL CO;\~ERI!NCE ON
OCCUI'ATION,\L LUNO OISEASf:S. 1992.l'r.>fl. P"l('trJ'II'J. C;CIIC'\';L ILO, 1993. COo A fahu dc desejo e de esperançn umeaçu II mellte e o corpo.
\.III,p.1026-1031 P:lra Glinu'. n questuo da reluçlio corpo-mente tem apre-
79 OVAI'OUREN MOVA. ti o.xn( .. p.oO,,,o •• ,, cau\adll\ ror pG('IõI) III. 'cnlndo as eguinte~ suluções ao longo da história: 1\ posição
1'n..'UOlOC.'lIn,O"<'SmeI6Ioca" ln: MENDES. R. (cd ) .11nf'101tO d.. rruba{lto .. {),>t"fOJ
dualisla-ontológica. quc acredilll na existência de duas lns-
{'"ljiulIJllols S~o Pulllo: S.r\ler. Il)l\O p. 217·1~6
SO MI:.RCIIAI\'T. J A. AcneulluMlI c'pi)'U"" lo OIJ.nlC du,,, S,,,rt "I Arr Rn"lrl"" lância!. dislinllls. que se comunicnm via glândula pineal: o
(J, CIII'. ,II.J .\,2, p. ~09·"25, 1987. monismo ontológico espiritualisla ou Illcntnlistfl, que ignora
MI \\'I:NZEI .. 1'. J.: ""'ANU!:I •• O; GRAY. R Immlll.>Il_~..,nl \ludie, 'n pillCOh (I rcnlidade orgânica. só hllvendo li mente: o monismo ontológico
"íth f;am,tr'.lung. J. """'11\. \. 4K. p. 21J-229. 1971. mrllerialistn. que acredilll IIn exislência upenas du IIllltérill, sendo
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n..",u. \. lO. r 1'11·201 1915 u punir da complexifieaçüo cllda VCI. mllior dos ugregndos
83 UNGER.O :SCANWN.G. T..~l;\K.J, N,ctIll.ArUoIvpcaI~lo)h)JICNft"IJ\.I) dc matéria que surgem (IS funções lIlentuis superiores.
Jlft<UIIIlIII'" R,,,J/ol ('{/II Nmtl.Am. \. II. P JJ9-3J6. 1973 Morin' apresema umu solução originul pum esse "fosso ontoló-
84. HNK. J lIyprNR.\lII\'ly Jlft<IItnClIIlI' III: MI:RCIIAI\'T. J. A. (rel). l);-ru(;ar{onll{ gico. lógico. epislemológieo cntre o cérebro e o espfrito" (01'.
IItSplI'!lIl1n l>muJtf WJ,hinalon. 011115· tOSIl. 19S6 p. "SI·SOO.
C;I•• p. 68). que mllnlém condenudo. quer i\ disjunç1io, qucr 11
H5. VINEIS.I'.: SIMONATTO. L, I'roponOOOO(hl11Jondbbddo:Jc~.n nuIc:> multint
fromo«up':lI.on: 3 'Y'ICllIlllic 3pproxh,Álllo. En./ron..l/tul,h. \'.46. p. 6·15,1991. redução (do c pírilo no cérebro) ou ti subordinaçiío (do cérebro
SIl. II>'TERN/\TlONAL AGENCY FOR RESEAROI ON C.\NCER Monogr.aphs on lhe ao espírilo). Para Morin. o cérebro é um conceito biológico
cvaluOI,OIlof=;"OI«"'" ris"" 10hu_la: o.rllll1 E,w__ ",Ca~tn/'r que de igna um órgão biológico e o espírito é um conceito psí·
"'1',,/,,(1('"
III flU"'<l1ll cU ",IARC Mo~rupIu. L)OI1: IARC 2000. v. 1·77. quico que designa um conjunlO de atividndes que incluem ídéias,
87 STEESLASD. K.: l.OOMIS. D.: SHV, C. ti aI. Re\icw or orcup~lion31 lung
=,~ru.. Am. J, InJ "',J. \'.29. p. ~1J-l90. 1996. linguagem c até consciência. Segundo ele. o corpo e o esprrito
88. Il\TI:RNATlONAL AGENCV FOR RESEAROI O~ C"-'\CER. SilICl. \()ITIC",~ são ao mesmo tempo idênticos (equivulemes) c diferenles (dis·
coai du,1 and plra.aranold libnls. ln: "'m{ua/IIM of CU"i"l~tlir Ri>ü to IIMlnaM. tintos). Essa conlradição - identidade do não-idêntico - leva
L)l'll: IARC 1997.IMon01!Mlph 68,. à circularidude paradoxal entre as noções de cérebro e espí-
89, MESOES. R Iro) PllloI~iu JiI TrabaJ~. 2. rel S:io Paulo- AtIocll<'U.2003. \ I
e II.
rito. Para lidar com essa contradição. Morin propõe que se
90. STEIJ"\It\S. J. M.led.). "'"0dlJ{Hooia olOmlpa'lOII01 Hta/th DlW Solt,y. J. ro. cnfrente a unidualidade complexa. que impliça: na ímpossi-
Genr", ILO. 1998.. bilidade de eliminar e na irredulibilidade de cada um dos dois
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente - 249

lermos. sua unidade invepurãvcl. sua insuficiência recíproca. pode ser concebido como a experiência subjctiva intermediária
ua necessidade mútua. vua relação circular e a insupcrabilidade entre doença mental dcscompcnvada e o conforto (ou bcm-estar)
da comrudlção cvtabclccidu pela sua unidade. psíquico. Seria o espaço de luta que cobre o campo localizado
Dentro dessa pcrvpccuva, fica claro que o ser humano deve entre o bcm-estar e a doença mental ou loucura. ESI:I. por sua
ser abordado como um 1000. de forma holística. para que se vez, se rnanifcvra por vmturnns tni., como delírio. depres ão.
consiga alguma crel 1\ idade. Faz mais sentido falar de corpo- fobia. inibiçâo. excirução. etc.
mente do que de corpo 't'rlllf mente. A não-caracrcriznçêo do papel do trabalho como agravante
ou dcsencudcante de rrnnvtomos mentais e do comportamento
relacionado), no trnbalho ocasionn prejuízr», não ~ó ~ qualidade
Papel do Trabalho na Saúde Menlal e à eficácia do tratnmcuto. como aos direi 10' legais do traba-
De acordo com Dejourv não há ncutrahdadc do trabalho. pois lhador, que deixa de usufruir Ol> bcncffcios prcvidcnciãrios aos
ou ele é operador da vaúdc ou da doença. O trabalho ocupa quais eventualmente renha direito.
lugar importante na construção da saúde mental. A identidade A reversão desse quadro requer. cm primeiro lugar, que os
é O nó central da saúde e ela se constrói no campo do amor e profisvionniv de saúde atentem para a necessidade de maior
no campo do trabalho. 1"0 porque a identidade nunca depende compreensão da xitunção de trabalho em que o paciente está
exclusivamente da própria pc <oa, ela sempre pnssn pelo olhar envolvido. uvuliando não só as condições do ambiente do Ira-
do outro. No ca o do trabalho. a identidade e~ló relacionada ao bulho. mus também a~ curacterísricu-, da organização do traba-
reconhecimento no trubalho e às relações intcrpcsvcuis no trabalho. lho. Em segundo lugar. aponta-se como um dos desafios do
O encontro entre o trabalhador e a vituaçâo de trabalho pode Sistema Único de Saúde (SUS) a tarefa de reverter a centra-
propiciar as condições para a auto-realização ou levar ao sofri- lização e li fragmentação institucional das uções de saúde, em
mente patológico em sua-, rnai diversas Iormas. Trata-i e de especial na árcu de saúde mental e trabalho.
uma relação dialética em que o trabalho afera a pessoa e o
trabalhador cria uma realidade de trabalho a cada momento.
Uma segunda questão a considerar é a pos ibilidade de o
EPIDEMIOLOGIA
trabulho provocar doença, rncntaiv, Para Dejourv'. apenas a A baixa prevalência dos tran tornos mentais e do compor-
"síndrome subjctiva põs-iruumãticu' poderia encontrar sua ramento relacionado ao trabalho resulta das dificuldades ine-
explicação no trabalho. Ele afirma que a!>doenças mentais rentes ao reconhecimento da intcr-relação saúde e trabalho
descompensadas ou não ,iio acompnnhndas dn síndrnmc da de- por pane dos profissionais dos serviços de saúde. dos sindi-
ficiência (ahcrnçõcs nn concentração. na resistência ~ tensão calU\ e dos próprios trabalhadores. Para estes, perante i me mos
e nos desempenhos intelectual, cognili\ ° e produtivo). quc e l>CU~colegas de trabalho. rorna-ve maiv fácil a aceitação de
acaba se traduzindo em queda na produção. sendo esta imc- urna doença orgânica fí,ica. fazendo com que a procura por
diataruentc detectada por cnh':nll' de rendimento e punida com atendimento médico ocorra quando cxivtam quadros fbicos
a excluxão do trabalhador Dcporv de estabelecida a desordem associados.
toma-se impos:'Í\cl determinar II parte desempenhada pelo Entre os segurados da Prev idência Social. as "doenças mentais"
Irnbnlho entre outros lntorcv. ocupam o segundo lugar entre a~ causas de auxílio-doença e
Aubcrt" uprescnta uma comprccnvâo contrária 11de Dejours, o segundo e terceiro lugares entre as causas de incapacidade
Ela acredita na cxisrêncin dc neuro-os profissionais por ela permanente e invalidei".
dcfinidus como "( ...) um csurdo de del>organização persislenle d:l Na Grâ-Brctanha, dos 43.76-1 casos de doenças ocupacionais
personalidade. com c()n~eqllenle illsllllaçiiu de uma patologia. relatados por médicol> do trnbalho em qunLro anos de funciona-
vinculada a uma silll:l(;uo Pllllhsional ou organizacional deler- mento de um programa de vigilância. entre 1996 e 1999.20%
minada" (01'. cit.. p. K6). Quando essa neurose não remelC eram de doençns mentai!>. Os principais diagnóslicos foram
parlicularmelllc a um conllilo infantil. ela propõe o conceilo ansiedade e depressão (com 4.788 casos) e e~lre ~e relacio-
de neurose profi~!>i()nalaluul que ~eria "( ... ) uma af"et.:çilopsi- nado ao trabalho (com 3.336 casos)I!.
cogénica per~bh.:nlc na qual o~ l>inlomas são a expressão sim- No Brasil. a Previdência Social incluiu o. lranslornos mcntais
bólica de um connilll p,íquico no qual o desenvolvimenlo eSlú e do comportamcnlO que podem eSlar relacionados ao traba-
ligado a uma situnçiio tlrgnni/acional ou profissional deter- lho no Anexo II do Regulamento da Previdência Social. apro-
minadn" (01'. cit.. p.87). Qunndo a situação profissional ou vado pelo Decrelo nO3.048 de 06 dc mnio de 1999. que define
organizacional é uma oca\ião cm que um connilo anlerior se as doenças profissionail> e do Irnbnlho.
10ma novamente aluai e é revivido. eln propõe ° conceilo de As eSlatíslicns dc Acidentes do Trabnlho apre entadas pela
p iconeurose proli,~ionnl. Previdência Social" mOl>tram n imponâncin da inclusão do
Wisner' de~cre\'e n e\i'lênci .. de umn "síndrome neurórica" Iranslornos menuli, e do componnmcnto ne,sc decrelo. pois.
pondernndo que o Irabalho. por si só. não pode criar uma ver- em 1999. nenhum código relacionndo nos a,pecIOl> menlnis
dadeir:t neuro,c. U Cnlanlo. de~de que :I no,ologia oficial foi incluído enlre ()~ 200 principai~ motÍ\o~ de acidente regi~-
considera n e\i~lI!nCla de neuro e illlncionais e rem ivas. II trados no Brasill>cgundo a IO· rcvi~ilo da Cln, ...ificaçào Inter-
di cu~<;ãopcrmnnece abcnn. Pnrn Seligmann-Silvn'. as situa- nacional de Doença:. (CID-lO). Em 2000. apareceram os
çõcs de Irnbalho podem aluar de~encndeando crbes mentais seguinles diagnóslico,: F 430 - reação ngudn ao eSlresse. com
agudas. neurólica' e p\lcútica'i. Qunnto à, ~índroll1es neuró- 86 casos - e F 431 - e:.I:ldo de cslresse pÓ"'-Ir:tllrnólico, com 138
lica ela aponla: ~índromc\ dn fndign crÍlnica. do c,gotnmenlo casos - (Tabela 27.1).
profis ionnl. pó'-traumállca,. depre"i\'n, c pnranóides c. denlrc
as aheraçf)C~da pcf!>onalidnde c lr:tn~tOnlO' p~ico~,om~ticos. as
srnclrome~ da in:.cn~ibilidade c a~ normopalia,. Em l>UIll:1.a
flSIOPATOlOGIA E ETIOPATOGENIA
queslão de o lrabalho poder ou não c:ltI'ar doença mentais Denlre Ol> modelol> de explicaçiio da~ relaçi)e~ enlre saúde menlal
comporta rc'posla:. diferenles e permanece controverstl. e Irabalho podem-l>c definir dua~ principail> correnles: a psico-
Segundo Glina et ((I.v•() e!>peclroda illlcr-rclação s:llíde mcnlal parologia do truhalho- denominada dcpoil> de psicodinâmica
e trabalho abrange do mal-estar ao quadro psiquiúlrico. incluindo do Irahalho e os e:.ludo~ que lralam da relaçiio entre eSlresse
o sofrimenlo menlal. Para Dejouf!> et ((I. w. o sofrimcnlo l11enlal e lrublllhol".
250 • Tratado de Cllnica Médica

canismos purogênicos (que podem ser cognitivos. afetlvos, de


TABELA27.1 - Acidentes do trabalho registrados com códigos
relacionados aos transtornos mentais. no ano de 2000. no conduta ou fisiológicos) e que, em certas condições de inten-
Brasil e regi6es sidade. freqüência ou duração. podem provocar a aparição de
precursores de enfermidades. São exemplos de mecanismos
OD-10 QUANTIDADE DE ACIDENTES00 TRABALHO REGISTRADOS cognitivos: diminuição de concentração e criatividade; meca-
TOTAL MOTIVO nismos afetivos: ansiedade ou angústia. depressão, alienação,
DOENÇA DO fadiga mental, apatia e hipocondria; mecanismos de condu/a:
nnco TRAJETO TRABALHO consumo excessivo de álcool, fumo ou outras drogas; meca-
nismos fisiológicos: reações neuroendócrinas e do sistema
F430 - Reáção aguda ao estresse
imunitário.
Brasil 344 229 29 86
1
Entre os sinais e sintomas de estressc observam-se ansiedade
Norte 5 4
Sudeste 168 102 25 41 (geral até ataques de pânico). medo. preocupação, irritabili-
Sul 164 117 3 44 dade, instabilidade, depressão,angústia: baixa auto-estima, apatia,
hlpocondria, alienação, diminuição da concentração e criatividade,
F431- Estado de estresse p6s·traumático esquecimento, modificações do comportamento com chorar sem
Brasil 138 119 11 8 razão aparente, agir impulsiva ê'agressivamcnre, ranger os dentes,
Sudeste 96 81 8 7
aumentar o fumo e o consumo de drogas em geral, perder o
Sul 33 33 apetite ou comer demais, não conseguir relaxar; elevação da
Adaptado de DATAPREVICAT - Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho- transpiraçãoe dos batimentos cardíacos. tremores, tiques nervosos.
2000')
secura da boca e garganta, cansaço fácil, insônia, diarréia,
indigestão, cefaléia, cervicalgia ou lombalgia, dificuldades para
A psicodinârnica do trabalho enfatiza a centralidade do tra- respirar, tonturas, perda de interesse pelo sexo, frigidez sexual,
balho na vida dos trabalhadores, analisando os aspectos dessa impotência, azia, dor no peito, alteração na qualidade do sono
atividade que podem favorecer a saúde ou a doença. Ao anali- e maior suscetibilidade a doenças.
sar a inter-relaçãoentre saúde mental e trabalho, Dejours' acentua Entre os fatores que intervêm nas reações de estresse estão
o papel da organização do trabalho no que tange aos efeitos a situação de vida pessoal, o suporte social (possibilidade de
negativos ou positivos que aquela possa exercer sobre o funcio- discussão da situação com colegas, supervisores, família), o
namento psíquico. à vida mental do trabalhador. Esse autor tipo de personalidade (pessoas com forte auto-estima, flexíveis
conceitua organização do trabalho como a divisão das tarefas e extrovertidas estão mais bem equipadas para lidar com si-
e a divisão dos homens. A divisão das tarefas engloba o con- tuações estressantes) e habilidades para solucionar problemas
teúdo das tarefas. o modo operatório e tudo que é prescrito pela e lidar com o estresse.
organização do trabalho. A divisão dos homens compreende a
forma pela qual as pessoas são divididas em uma empresa e as
relações humanas que aí se estabelecem.
EIIGIRCIIS DOIRIBILIO
Na psicodinârnica do trabalho. as vivências coletivas das Wisner" aponta para os três aspectos do trabalho: tisico, cognitivo
situações de trabalho determinam o surgimento de verdadeiras e psíquico. Cada um deles pode determinar uma sobrecarga ou
estratégias defensivas produzidas e vivenciadas coletivamente sofrimento. O autor afirma que o componente cognitivo abrange
e que. em muitos casos, chegam a caracterizar uma tradição da dificuldades perceptivas, conteúdo cognitivo da própria tarefa,
profissão.A ideologia defensiva caracteriza-se por ser uma defesa questões de identificação e reconhecimento, o processamento
suscitada pela vivência. partilhada pelos trabalhadores. dos de informações. a tomada de decisões, a memória de curto e
perigos, riscos. sofrimentos e adoecimentos no trabalho. longoprazose exigênciasde rapidez no trabalhomental.·Adimensão
A segunda corrente de análise dedicada à inrer-relação saúde psíquica pode er definida em termos de níveis ~e confluo no
mental e trabalho é a que privilegia a relação entre estresse e tra- seio da representação consciente ou inconsciente dq~ F.elaçees
balho. Tal abordagem apresenta alto grau de complexidade, a entre ti pessoa (ego) e a situação (a organização do trabalho).
começar por uma ampla variação do conceito de estresse. A. exigências físicas do trabalho manifestam-se por meio
Destacam-se. nesse campo. os autores escandinavos":", que de: trabalho muscular estático e dinâmico, ritmo de trabalho,
definem estresse como um dcsequlHbrio entre as demandas custos energéticos. posturas inadequadas e esforço ffsico, força
do trabalho e a capacidade de resposta dos trabalhadores. e repetitividade.
No âmbito dessa vertente. observo-se o preocupação com As exigências cognitivas do trabalho exprimem-se em si-
a determinação dos fatores potencialmente estressantes em uma tuações em que o trabalho é monótono e é necessária a manu-
situação de trabalho. Kara ek e Theorell" propõem um mo- tenção da vigilância, ou quando existe excessiva quantidade
delo com abordagem tridimensional, contemplando os seguintes de trabalho a ser executado por unidade de tempo, há limitações
aspectos: "exigência/controle" (demand/control}: "tensão/ impostas de tempo, é necessária vigilância permanente em alto
aprendizagem" (strainllearning) e suporte social. A situação nível, de tomada de decisões, ligada a grandes responsabilidades
saudável de trabalho seria a que permitisse o desenvolvimento e quando existem limitações de contatos pessoais, dificuldade
do indivíduo, alternando exigências e períodos de repouso com na' compreensão das demandas dos clientes.
o controle do trabalhador sobre o processo de trabalho. As Ainda que as atividades de carga predominantemente cognitiva
características de personalidade mediariam os fatores de estresse existam há muito tempo (telefonistas. contadores, professores)
do ambiente e os sintomas, seu número cresce rapidamente, em particular por causa .~~
Leví" destaca que "a relação causal entre a exposição a informatização'.
fatores de esrresse no trabalho e as morbidades psicossomá- As exigências psíquicas estão relacionadas ao subemprego
tica e psiquiátrica compõem-se de muitos elementos comple- das atividades psíquicas. fantasmãticas e psicomotoras ocasio-
xos, relacionados entre si de forma não linear e condicionados nando a retenção da energia pulsional. Resultam da confron-
por múltiplas influências. que atuarn no trabalho e fora dele, tação do desejo do trabalhador com a injunção do empregador
com freqüência, por perfodo prolongado" (op. cit., p. 76). Se- contida na organização do trabalho. Wisner? ressalta que o as-
gundo Levi", as reações individuais envolvem diversos me- pecto psíquico da tarefa está às vezes escondido, podendo ex-
85-724t-598-X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente - 251

plicar. em algumas suuaçõcs. a grande rotatividade dos traba- • No levantamento da histõria ocupacional. procurar com-
lhadores e as fa,cs de agre ....i\ idade. preender C0l110 o trabalhador vê a sua rrajerérin profis-
É importante diferenciar o conceito de exigência do de carga sional e as repercussões na saúde.
de trabalho. Lavillc" carucicrivn carga de trabalho como uma • Ao detalhar a situação atual de trabalho. atentar também
medida 4U.1I1titatiV<1ou qualitativa do nível de atividade (merual, para: a comunicação e O~ relacionamentos inrcrpcssoai
scn õrio-motriz. fi,iohíl:!ica. etc.) do operador. necessária à (com colegas. chefias e clientes). o conhecimento do pro-
realização de um trabnlho dado. Ela": divtintn das exigências da cesso de trabalho. O controle sobre o trabalho. a natureza
tarefa (quantidade e qualidade cio trabalho) C das limitações e o conteúdo das tarefas. conflitos de papel. o reconhe-
impostas aos trnbalhadorcs (constrangirncmos). cimento social. responsabilidade no trabalho (seja por
Para Lepku c Cuny'", a carga de trabalho não pode ser deduzida outra .. pessoa ou mmcriais). consequência, dos erros.
dirctumcnte da~ cxigência, do truhalho, Existem vúrias formas • Ao abordar as condições de trabalho idcnri ficar cada uma.
de responder os mcsma« cxigêncin-; v:íri()~ métodos de trabalho qualificar. apontar as fontes. tipo e tempo de exposição:
possíveis, :IOS quais não corresponde necessariamente a mesma ao calor ou ao frio. à \ ibração, à umidade, à iluminação
carga. A n()~'ãode carga scrá sempre relativa li intcrução entre inadequada. à~ radiações ionizamcs e não ionizantes, ao
o sujeito I! as cxigênciu« de um meio dctcrmiuudo. ruído. ris substâncias química e ao. agentes biológicos
Em IOdas as situaçoc, na' <Junto;existir uma defasagem entre entre outras. Perguntar sobre as condições de higiene e
as exigências de truhulho e as competências e habilidades dos de ventilação.
trabalhadores poderão ocorrer sub ou sobrecargas. que podem • Observar as características do posto de trabalho: 1110bi-
ser classi ficadas como: Ii:írio. equipamentos. instrumentos, materiais, etc.
• Sobrecarga qunntitotiva: é necessário fazer-se muito (além • Com relação à organização do trabalho, abordar: horá-
das posslbilidades do trabalhador). rio de trabalho. turno. (fixo. alternado, noturno), esca-
• Subcarga quantitativa; é necessário fazer-se pouco (aquém las. pausas. horas extra. ritmo de trabalho, pagamentos
das possibi I idades do trabalhador). de prêmios associados à produção. políticas de pessoal
• Sobrecarga qualiuuiva: o trabalho é muito diffcil, apre- exi. temes na empresa. sistema de avaliação, plano de
sentando grande cornplcx idade. carreira. quantidade de trabalho versus número de tra-
• Subcarga quatiuniva: o trabalho é muito fácil. resultando balhadorcs. tipo de vínculo, treinamento recebido.
em monotonia e falta de dcsafiov, • Buscar ti compreensão sobre as exigências físicas (esforços
físicos. movimcnrov repetitivos e posturas adoradas),
As exigências do trabalho associada» ao, transtornos mentais
mcntuis (nívci-; de vigilância. atenção concentrada, me-
e do comportamento compreendem tanto aspectos do ambiente
mória imediata. de curto e longo pra/os. quantidade de
quanto da organização 00 trabalho e variam de acordo com
informações a proccwar. tomada de decisões. crc.) e
o quadro clínico observado.
psicoufctivas (elementos aretÍ\l)~ c relacionais) que o
O ln tiiure 01' Occupational Hcalth de llclsinki" desenvolveu
trubalho coloca. bem como II pcssibilidadcs de utilização
um roteiro de obvcrvação do trabalho para identificação do!'
das aptidões c potcnciulidndcx.
fatores de estresse no trabalho: re~l'!.vnsabilidades pela: cgurança
(risco de ncidemes). por outras pessoa-, e por valores materiais • Na descrição da situação ntual de trabalho. além de uma
(equipamento ou matéria-prima): trabalhos soliuirios: coniuros detalhada e acurada descrição das arividades do traba-
com pessoas com problema. e que necessitam de apoio: Ihador, Ó imporramc localizar os momentos cxaios em que
repetirividade: ritmo "forçado" (imposto por máquina ou orga- este começa a perceber mudanças em bi e problemas que difi-
nização do trabalho): demandas de atenção combinando com cultam a sua atunção no trabalho c fora dele.
baixo nível de estímulo: demandas de discriminação precisa (por • Abordar também as percepções do trabalhador sobre os
exemplo. visão): "pressa" (vária máquinas. alta velocidade riscos ocupacionuis.
do trabalho. pressão do tempo): demandas por decisões com- • Considerar a existência de riscos combinados e sirnul-
plexas: mudanças no processo de trabalho e outros fatores tâneos nas situações de trabalho. com seus siucrgisrnos
(. ubsiâncias químicas. trabalho noturno. relações humanas). e outras possíveis imcraçõcs.
• Além da queixa principal rrazida pelo paciente. pode-se
perguntar sobre a presença de sintomas como fadiga. tensão
DIAGNÓSTICO cllNICO museu lar. distúrbios do ono e irritabilidade.
Segundo Jardim e Glinan não é. imples estabelecer relações de • Verificar a existência de consumo de drogas.
determinação entre o trabalho e :15 doenças ou transtornos mentais.
É fundamental que a história ocupacional seja fidedigna.
Trata-sr. então. de um prcccwo diagnósuco que se dã em diversos
porém. nem sempre o trabalhador e lembra com exatidão de
níveis, mas que ncccsvariarncnte passa pela clínica. pois apenas
datas ou outros fatos importantes relativos a empregos ante-
ne se nível se pode estabelecer um vínculo entre uma teoria
a respeito do p~íquie(l ou uma classificnção n respeito dos trans- riores. Pode-se pedir que ele traga suas carteira de trabalho
tomos mentais e 1), cfcuo-, do trabalho ou. mais especificamente, no dia da consulta médica. com a finalidade de utilizá-Ias como
da organi/ação do trabalho. roteiro de entrevista obre o histórico ocupacional.
Conforme Jardim c Glina ". na unnmnesc livre, que j.í é . A pessoa quase cmprc rem consciência de que o traba-
urna entrevista que hu,ca a fnrmulaçilo de lima hip6tese oiag- lho a está afeiando. Ao pensar retrospectivamente sobre o
seu trabalho, orielltado pela anamnese del>envolvida por equipe
n6stica. deve-se atentar para algun~ pClnlO~es~enciais parn a
delecção da rel:lI.ilo com o trabalho: ou profi sional de ~aúde mental do trabalbador. O paciente
v<lielaborando o vivido e compreendendo de que forma ndoeceu.
• Perguntar selllpre pelu trahalho dn pacicllte. De acordo com Jardim e Glinal!. o nexo com O trabalho
• Explnrnr ()S rclaeionamcntos IlO trabalho e fora dele. não é simples. pois o processo de adoecer é especrtico pnra
• Considerar a~ história\ clínica c ncupacionllis em corre- cada indivíduo e envolve sua história de vida e de trabalho.
lação 0,;01'11
a hbtória oc vida. S6 o estudo detalhado de cuda caso pode oferecer uma visão
• Obter il1rorl1lac;õe~ ~obrc as condi~ões de vida (família. da articulação dos diversos quadros clínicos. em seu desen-
convívio atual, moradia. alimcntação. trajeto). volvimento e dinâmica. com a vida laboral. Depende de des-
252 • Tratado de (IInica Médica

crição do contexto organizacional. do próprio trabalho e da nadas ao Trabalho. Essa lista caracteriza-se por ter uma dupla
situação de trabalho. salientando os fatores problemáticos no entrada, em cuja primeira coluna se encontram os diagnõsti-
trabalho que poderiam potencializar os transtornos mentais c cos das doenças e. na segunda. estão os agentes etiológicos
do comportamento conforme a vivência do trabalhador. É rele- ou fatores de risco de natureza ocupacional conhecidos como
vante mostrar. de forma processual. como todos estes e ou- relacionados a cada categoria. Faz parte dessa lista um con-
tros "ingredientes" vão se articulando até a eclosão do quadro junto de doze categorias diagnósticas de transtornos mentais.
clínico. que pode se manifestar de forma insidiosa e gradariva Em relação à Classificação Internacional das Doenças (CID).
ou por meio de uma crise. podem ser utilizados os itens Y ou Z. que incluem fatores re-
A emi são da Comunicação dos Acidentes do Trabalho (CAT) lacionados ao trabalho associados aos transtornos mentais e do
deve ocorrer quando. no diagnóstico, foi evidenciado que a comportamento: problemas relacionados ao emprego e ao
situação de trabalho teve papel como desencadeante ou agra- desemprego - condições difíceis de trabalho (código: Z56.5) ou
vante do adoecimento. É recomendável que a CAT venha acom- "circunstância rclntlvn às condições de trabalho" (código: Y96).
panhada de relatório que deixe claro o processo dc adoecer e Jardim e Glinu22 e o Ministério da Saúde" descrevem cada
o nexo com O trabalho. um desses transtornos.
Fernandes"analisa estudos":" que adoram o modelo epide-
milógico para a compreensão das relações entre saúde mental e
trabalho. destacando que a ocorrência da doença mental/psí-
Demência Relacionada ao Trabalho IF02.81
quica pode ser avaliada por sintomas psicológicos. udotando-se É uma síndrome. geralmente crônica c progressiva, decorrente
escalas c inventários como O sel] report questionnaire e o gene- de uma patologia cnccfálica. de carátcr adquirido. na qual se
mi health questionnaire, verificam diversas deficiências das funções corticais superiores:
O sel] report questionnaire (SRQ) é um instrumento auto- memória. pensamento. compreensão, cálculo, capacidade de
aplicado que adota uma escala bimodal (sim/não) para avaliação aprender, linguagem e julgamento. A lucidez da consciência
de distúrbios psicoernocionais. Na sua versão integral pos ui não está afetada e as deficiências cognitivas são acompanha-
24 itens. sendo 20 para screening de rnorbidade não psicótica das, e ocasionalmente precedidas, por deterioração do con-
e quatro para sintomas psicóticos. Os estudo dc validação trole emocional, da conduta social ou da motivação.
anteriormente desenvolvidos udotararn o escore de corte (ponto Um declínio das capacidades cognitivas é essencial para
sete na escala). A versão do instrumento cm português adora os o diagnóstico de demência. As interferências no desempe-
20 ircn de distúrbios não psicéticos (SRQ-20). Mari1g aplicou nho de papéis sociais dentro da família, no trabalho e em
o SRQ-20 para avaliar li prevalência de distúrbios psiquiátricos outras esferas da vida de relação não devem ser utilizadas
menores em atenção primária il saúde na cidade de São Paulo. como única diretriz ou critério diagnóstico. Entretanto, podem
O general health qucstionnaire (GHQ-12) foi elaborado servir como indicadores da investigação do diagnóstico de
visando à idcntificação de distúrbios psiquiátricos não psicõticos demência e, uma vez feito o diagnóstico, podem ser indicador
em serviços de atenção primária e estudos comunitários e é útil da gravidade do quadro.
indicado, por Goldbcrg", para uso em estudos transversais ou A demência pode estar as ociada a inúmeras doenças que
como screening na primeira etapa dos estudos de desenho atingem primária ou securidariarnenre o cérebro, como epi-
em dois estágios. A adaptação do instrumento (GHQ-12) para lepsia, degeneração hepatolenticular, hipotireoidismo adqui-
o português. contendo quatro graus para avaliação dos sin- rido. lúpus critcrnatoso sistêrnico. tripanossomíase e intoxicações.
tomas, foi realizada por Mari" e utilizada por Fernandes.", Pode ocorrer ainda nas doenças conseqüentes de infecção pelo
para trabalhadores. vírus da imunodeficiência humana (HIV, human immunode-
Segundo Fernandes", os resultados utilizando metodologias [iciency virus), de Huntington e de Parkinson, na ocorrência
quantitativas cm estudos em empresas, ajudam no rastreamento de múltiplos infartos e outras doenças vascularés cerebrais
(scrcellil/g) dos principais problemas na esfera do trabalho e na isquêrnicas. e nas contusões cerebrais repetidas, COIllO as so-
esfera da saúde mental no contexto cspccíflco. Entretanto, deve- fridas pelos boxeadores.
se posteriormente aprofundar a análise dos problemas identifi- As demências decorrentes de drogas e toxinas (incluindo
cados em áreas específicas da empresa (dependendo da exposição) a demência em razão do alcoolismo crônico) correspondem a
ou em segmento de trabalhadores (por exemplo, sexo, idade. 10 a 20% dos casos de demência em geral. Os traumatismo
tempo de empresa, trabalho noturno). Entre as vantagens des- cranianos respondem por I a 5%, Não se dispõem dc dado
ses instrumentos estão: rápida aplicação, permitir um primeiro que indiquem quais as porcentagens relacionadas ao trabalho
diagnó rico da situação. identificar. na organização, os locais e à ocupação.
cm que as características do trabalho e o ambiente da organi- O estabelecimento da relação do diagnóstico de síndrome
zação estejam afetando mais diretamente a saúde mental dos demencial com O trabalho é feito a partir da existência de evidên-
trabalhadores. As desvantagens são: impossibilidade de apre- cias, da história, exame físico ou achados laboratoriais, de
ensão das categorias analíticas centrais (processo de trabalho e que a perturbação é conseqüência direta ou indireta de uma
saúde mental nas suas múltiplas dimensões), não incorporação situação de trabalho. Quadros de demência têm sido encon-
das questões inerentes à subjetividade (dinâmicas intersubjetivas trados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes
c inrerativas dos contextos de trabalho), carãter inespecffico do substâncias químicas tóxicas: solventes orgânicos (clorofórmio,
adoecimento mental e suas manifestações. tricloroetileno, éter, gasolina); substâncias asfixiantes (monóxido
Tratando-se dos transtornos mentais relacionados ao tra- de carbono, outrus): sulfcto de carbono; metais pesados
balho. em diversos casos chega-se II mais de um diagnóstico. (manganês. mercúrio, chumbo e arsênico); derivados organo-
É comum o trabalhador não ter o diagnóstico no período em metálicos (chumbo tetruetilu e organoesinnhosos).
que está trabalhando. mas buscar o serviço de saúde apenas após
a demissão. Esses trabalhadores, em geral. são demitidos. pois
não conseguem cumprir as exigências do trabalho. Dlllllum Relacionado ao Trabalho IF05.01
De acordo com o Ministério da Saúde". o Decreto nll 3.048/99 Delirium é uma síndrome caracterizada por rebaixamento do
de 06 de maio de 1999. apresenta. nu Lista B do Regulamento da nível de consciência. com distúrbio da orientação (no tempo e
Prcvidência. a nova Lista de Doenças Profissionais e Relacio- no espaço) c da atenção (hipovigilânciu c hipotenacidade).
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 253

associados ao compromcrirncnto global da, funções cognitivas, tóxicos: munganês e seus COmpOl>IOl> ióxico«: mercúrio c seus
Podem ocorrer ahcruçõc-, do humor (irritabilidade). das vivências COlllpOSlUS tóxicos: sulfcio de carbono: tolueno e outros solventes
perceptivas (ilu~ilc~c/ou alucinações, cvpccialmeruc visuais). do arurnãrlcos ncurotõxicos: tricloroctilcno. tcrracloroctilcno. triclo-
pensamcmo (ideação dchramc). do comportamento (reações rocrano e outro- solvcnics orgânicos halogenados ncurctéxicos:
de medo e agitação pvicomotorn). Em geral. o paciente apre COla e outros solventes orgânicos ncurotõxicos,
inversão caracrcrfvnca do rumo vigtlia-sono. com sonolência
diurna e agilação noiumu. Pode "ir acompanhado de: sintomas Transtorno OrgâniCO de Personalidade
neurológico, como tremor, nvtcrixc. m-ragmo. incoordenação
motora e incontinência urinâna. Comumcnrc. o delirium tem
Relacionado ao Trabalho (fOlO)
início súbito (CIl1ItOr:I'ou dla~). CUN) breve c Ilutuame e melhora É conceituado como a uhcração da personalidade e do com-
rápida assim que o rawr cauvador cja identificado e corrigido. portamento que aparece como um tranvtorno concomituntc ou
Para I) diagnó'lil.:o de delirium, () aspecto fundamental é o residual de uma doença. lcvão ou drvfunção cerebral. Carne-
rebaixamento do nível da consciêncin. iMOé. redução da ela- tcriza-: c por ahcmçâo <ignificmivn do componamcnto em relação
reza da consciênciu em relação ao ambiente. com diminuição às caractcrfsticas pré-mõrbida do paciente. particularmente no
da capacidade de dirccionar. foculizar, manter ou deslocar a que se refere ii expressão da~ emoções. necessidade e impulsos.
atenção. Além disvo, :" uhcr:lç('lC'ma cognição. tais C0ll10déficit A~ funções cognitivas podem estar comprometidas de modo
de memória. dcsoricnmção. perturbação de linguagem ou dcscn- parricular ou mesmo exclusivo nas áreas de planejamento e an-
volvimcnio de uma perturbação da percepção não são explicadas tecipaçâo. acurretando conseqüências pessoais e sociais como
por demência preexistente. estabelecida ou em evolução. O na chamada "síndrome do lobo frontal", que pode ocorrer não
delirium. porém. pode ocorrer no curso de uma demência. evoluir apenas associada aos lobos Iromais. mas também em lesões
para demência, para recuperação com piela ou para a morte. de outras áreas cerebrais circunscritas,
apresentandoníveis de gravidade variando de formas leves a Além de uma hi tória bem definida ou outra evidência de
muito graves. doença ou disfunção cerebral. um diagnôstico definitivo requer
Cerca de 15a 25% dos pacientes em alas de medicina interna a presença de dois ou mail>dos seguintes aspectos: (I) capaci-
e 30% dos pacientes em ala cirúrgica" de tratamento imen- dade consistentemente reduzida de perseverar em atividades
sivo c unidades cardíaca .. apre entarn delirium por intoxica- com fins determinados. especialmente aquelas envolvendo
çãocom substâncias. devendo o médico \ cri ficar a droga específica períodos de tempo mais prolongados e gratificação postergada:
envolvida. ti ocorrência de abu o ou abstinência de substãn- (2) comportamento emocional alterado. caracterizado por
ela, fazendo o diagnéstico diferencial com o delirium em ratão labilidadc emocional. alegria vuperflcial e motivada (euforia.
de outras eriologiav. jocosidade inadequada) e mudança fácil para irritabilidade ou
O csrabclccimcruo da relação do estado de dcllrium com O explosões r:ípida<;de raiva e agre"i\ Idade. nu apatia: (3) cxprcvsão
trabalho é feito a partir da exi tência de c\ idências, da hixtérin, de nece. sidadcs e lmpulsov vem convidcrar a<;convcqüência-,
exame Iísico ou achado, laboratoriaiv. de que a perturbação é ou convenções sociais (por exemplo. roubo. propostas sexuais
con...cqüência dircra ou mdircta de uma ,iIU:lção de trabalho.
inadequadas, comer vera/mente ou mostrar descaso pela hi-
Quadro, de delirium iiun vido euconrmdos entre 0<;efeitos da
giene pessoal): (4) perturbações cognitivas na forma de descon-
exposição ocupaclonal à.. scguinte-, ~ub,lância, química» rõxicas:
fiança ou ideução purunóidc e/oll preocupação excessiva com
solventes orgânico, (clorofônuio. rricloroetileno. éter, gaso-
um lema único, uvunlmcntc nbstraro (por exemplo: religião,
lina); substâncin« nvlixiantcv: ,ulfelo de carbono: melai, pc: ados
certo e errndo): (5) aheração marcal1le da veloeidnde e fluxo
(manganê~. II1crcúrio.chumbo e ar,ênico): derivado" organome-
da produção de linguagem eom aspeclos lais como circunslnn-
tálicos (chumbo IClraclil:! e orgunOe'lanll0'o~): e nos lruumas
ci:llidade. prolixidade. visco~idade e hipergrafia: (6) Compol'-
crunioencef(llico:. (TCE).
lamenlO scxuul allerudo (diminuição da libido ou mudançH da
preferência ,exual).
Transtorno Cognitivo Leve Relacionado Quadros de lr:11I'IOrno orgânico de personalidade têm sido
80 Trabalho lF6.7J encol1lmllo.~elllre o~ efeilo~ da expo içüo ocupacionnl às seguinles
Caracleriz:l-se por ulleruçilc~ da mem6ria. da ()rienlação e da subo lflncias qurmica.\ lóxicas: bromelo de melila: chumbo ou seus
capacidade de aprendi/ado. hem como por reduç50 da capa- composlos lóxicos: manganês e seus composlos lóxicos; mercúrio
cidade de concemroção em l:lrefa<; por períodos prolongados. e seus compo~lo ...lóxicos: sulfelo de carbono: lolueno e oulros
O pacienle ~e queixa de if1len~a l>cn\ação de fadiga menlal ao SOIVCIIIC'!'arolllálicos neurolóxicol>: lricloroelileno.telntcloroeli-
exeCUlarlarefa~ inleleclua" e um aprendi/ado novo é percebido ICIIO,lrieloroewno e oulros solvenle!> orgânicos halogenados
subjelivamcnle como dlflcll. :unda que objeli\amenle con~iga neurnI6xicu'. oUlros solvenles orgânicos neurOlóxicos.
reali7á-lo bem. E..,c, 'Inloma' podem manifcslar-!-e prece-
dendo. acompanhando ou ,ucedendo quudro, \ ariado<; de in- Transtorno Mental Orgânico ou Sintomático Não
fecçõc:.(inclll,i\'e por III V) ou de dl\lúrhi()\ fi,ico~. IUtllOcerebrai ... Especificado Relacionado ao Trabalho (F09.-)
quanto Sblêlllico,. ,em que haja e\'ldêncla' direta, de comprome-
limenlo cerebral. o diagnóslico de lranQOrnO mental orgunico 011 silllomálieo não
O principal a'pecln dI) diagnó'lico é um declínio no dc~cm- e~pecificado compreende uma série de lranSlornOR menlais
penha cognilivo. que inclui queixa' de compromelimenlo da agrupado .. por lerem cm comum uma doençu ccrebrul de etiologia
mcmória. diliculdade, de uprcndi/ado ou de conccnlr:lção. TeMcs demon!>lrável. uma Ic:.ão cerebral ou OUlroduno quc Icva u uma
psicológico~ podem ~cr úlei~ pam definir com mai, precis:io e di~função que pode ser primária. como 11:1\ doenças. lesões ou
quantilicar a dcliciêllcia. O diagnÕ'lico diferencial enlre essa danos que :tfelam direl:l e ~Ielivamenle Océrebro: ou sccund,íria.
doença e a ~ílldrome J)<.h-encefulhicu ou a !>fndrome pós-lraumá- C0l110 nas doença siSlémic:ll>que compro melem o cérebro como

lica pode ser feito parlindo-~e da hblória clínica e de lrabalho. mais um dos múhiplos órgãos en"ol"ido~. Essa cmegoria diag-
Quadro~ de lran~lorno cognilivo leve lêm sido enconlrados nóslicll inclui :l p icose orgânica e a plticose sinlomálica.
entreos efeÍlo~da eXJX"iç50 ocupacional às seguinles subslâncias O diagnóslico de lranSlorno menwl orgânico ou sintomático
qufmicas lóxic:L': brometo de meti la: chumbo ou seus composlOs n50 especilicado relacionado ao lrubalho é feilo com base nos
254 • Tratado de Clínica Médica

segu intcs critérios: evidência de doença. lesão ou disfunção cerebral pelo álcool: transtorno psicótico induzido pelo álcool; outros
ou de uma doença física sistêrnica, sabida mente associada a transtornos relacionados ao ãlcool: transtorno do humor in-
uma das síndromes relacionadas: relação temporal (semanas duzido pelo álcool: transtorno de ansiedade induzido pelo álcool:
ou poucos meses) entre o desenvolvimento da doença subjacente disfunção sexual induzida pelo álcool; transtorno do sono induzido
e o início da síndromc mental: recuperação do transtorno mental pclo álcool.
seguindo-se à remoção ou melhora da causa presumida sub- O trabalho está entre os fatores psicossociuis de risco capazes
jacente: ausência de evidência que sugirn urna causo não rela- de influenciar no desenvolvimento da dependência do álcool e
clonada ao trabalho para a , índrome. suas manifestações. O consumo coletivo de bebidas alcoólicas
Quadros de transtorno mental orgânico ou sintomático têm associado a situações de trnbalho tem aspecto de prãtica defensiva.
sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às sendo também um meio de garantir pertencirncnto ao grupo
seguintes substâncias qufmicas tóxicas: brometo de mctila; chumbo e. portanto. uma forma de viabilizar o próprio trabalho. em
ou seus compo tos tóxicos: mnnganês e seus compostos tóxi- virtude também do efeitos farmacológico), próprios do ál-
cos: mercúrio e eu compo. tos tóxicos: sulfeto de carbono: 1:001: calmante. euforizante. estimulante. rclaxnmc, indutor do
tolueno e outro solventes aromáticos neurotôxicos: tricloroetileno, sono. anestésico c anti-séptico. Entretanto, essas situações não
tctrucloroetileno. tricloroetano e outros solventes orgânicos halo- são suficientes para caracterizar o uso pmolôglco de'bebidas
genados neurotéxicos. outros solventes orgânicos ncurotôxicos. alcoólicas. - -
Uma freqüência maior de casos (individuais) de alcoolismo
AlclolIsmo CrOnico Rllaclonado tem sido observada em determinadas ocupações, em especial
aquelas que se caracterizam por ser socialmente desprestigiadas
ao Trabalho 1f10.2) e mesmo determinantes de certa rejeição, como as que impli-
Alcoolismo é um modo crónico e continuado dc usar bebidas cam contato com cadáveres. lixo ou dejeros em geral, apreen-
alcoólicas caracterizado pelo descontrole periódico da ingestão são e sacrifício de cães; atividades em que a tensão é constante
de bebidas alcoólicas ou por um padrão de consumo de álcool e elevada como nas situações de trabalho perigoso (transpor-
com episódios frequentes de intoxicação e preocupação com o tes coletivos. estabelecimentos bancários), de grande delis idade
álcool e o seu uso, apesar de as conseqüências adversas desse de atividade mental (repartições públicas. estabelecimentos
comportamento pana a vida e saúde do usuário. Segundo a bancários e comerciais). de trabalho 111011610110. que gera tédio.
Organização Mundial da Saúde (OMS) a sindrome de depen- trabalhos em que a pes oa trabalha em isolamento do convívio
dência do álcool é um dos problemas relacionados ao trabalho. humano (vigias): situações de trabalho que envolvem afasta-
A Arnerican Society 01' Addiction Medicine. em 1990. conside- mento prolongado do lar (viagens frequentes, plataformas
rou o alcootismo como uma doença crónica primária. que tem marítimas. zonas de mineração).
seu desenvolvimento e manifestações influenciados por fatores
genéticos. p icossociuis e ambientais, quase sempre progressiva Epls6dlO DIPresslvo Rllaclonado
e fatal. A perturbação do controle de ingestão de álcool carac-
v.
teriza-se por ser contínua ou periódica e por distorções do pen- 80 Trabllllo If 32.·) ~
x
samento. panicularmcnte a negação. isto é. O bebedor ulcuélntru Os episl1díns depressivos carãêterizam-se por humor triste. perda
tcnde a não reconhecer que faz u o abusivo do álcool. do imcrcssc e prazer nas nrividades cotidianas. sendo comum
" sfndrornc de dependência do álcool é marcada por três sensação dc fudiga aumentada. O paciente pode se queixar de
ou mnis das seguintes manifestações. que devem ocorrer conjun- dificuldade de se concentrar. apresentar baixa auto-estima e
tamcntc por. pelo meno . um rnê ou por períodos inferiores autoconfiança, desesperança e idéius de culpa e inutilidade;
a um mês de modo persi tente no tempo: visões desoladas e pessimistas do futuro. idéias ou IIIOS sui-
cidas. O sono está frequentemente perturbado, lm geral por
• Forte desejo ou compulsão de consumir álcool em situa-
insônia terminal. O paciente se queixa de diminuição do ape-
ções de fone ten 50 presente ou gerada pelo trabalho.
tite quase sempre com perda de peso sensível. Sintomas de
• Comprometimento da capacidade de controlar o compor-
ansiedade são muito comuns. A angústia tende n ser tlpica-
tamento de uso da ubstãncia em termos de seu início.
mente mais intensa pela manhã que à tarde. As alterações da
término ou níveis. evidenciado pelo uso da substância
psicomotricidade podem variar da lcntificação à ugitação, Pode
em quantidades maiores. ou por período mais longo que
haver lentificação do pensamento.
o pretendido. ou por desejo persistente ou esforços infru-
O diagnóstico de episâdio depressivo requer a presença
uferos para reduzir ou controlar o seu uso.
de pelo menos cinco dos internas ti seguir. por um período de
• Estado fisiológico de abstinência quando o uso do álcool
pelo menos duas semanas. endo pelo menos um dos sintomas
é reduzido ou interrompido.
de humor triste ou diminuição do interesse ou prazer: humor
• Evidência de tolerâncin aos efeitos da substância de forma
triste: marcante perda de interesse ou prazer em utividades
que há neces idade de quantidades crescentes da subs-
que normalmente são agrndãvels: diminuição ou aumento do
tância para obter o efeito desejado.
apetite com perda ou ganho de peso (5% ou mais do peso corporal,
• Preocupação com o u: o da substância. manifestada pela
no último mês): insônia ou hipersonia: ugitaçiio ou retardo
redução ou abandono dc importantes prazeres ou inte-
psicomotor: fadiga ou perda da energia; sentimentos de deses-
resses alternativos por causa de seu uso ou pelo gasto de
perança ou culpa excessiva ou inadequada: diminuição da
grande quantidade de tempo em utividudcs necessárias
capacidade de pensar e de se concentrar ou indecisão; pensa-
para obter. consumir ou recuperar-se dos efeitos da ingestão
mentos recorrentes de morte (sem ser apcnns medo de morrer),
da sub rância.
ideação suicida recorrente sem plano espccffico ou tentativa
• U o persistente da substância. a despeito das evidências
de suicídio ou plano espccffico de suicídio.
das suas conseqüências nocivas e da consciência do indi-
Os episâdios depressivos devem ser classificados nas mo-
víduo a respeito do problema.
dalidades: leve.moderada. gruve com ou sem sintomas psicóticos.
O alcoolismo crónico está associado ao desenvolvimento A relação dos episódios depressivos com o trabalho pode ser
de outros transtornos mentais. a saber: delirium (delirium tremensi; sutil. As decepções sucessivas em situações de trabalho frustrantes,
demência induzida pelo álcool: transtorno amnéstico induzido as perdas acumuladas ao longo dos anos de trabalho, as exi-
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 255
85·7W·598·X

gências excessivas de desempenho cada vez maior no trabalho ':1I11entOs. percepções ou memórias vívidas. e/ou pesadelos,
gerado pelo excesso de competição. implicando em ameaça e/ou agir ou sentir como se o evento truumático estivesse acon-
permanente de perda do lugar que o trabalhador ocupa na hie- tecendo de novo (incluindo a sensação de reviver a experiên-
rarquia da empresa. perda eferiva do lugar que ocupa. do posto cia. ilusões, alucinações) e episõdios dissociutivos dej1ashback.
de trabalho no caso de demissão podem determinar depressões inclusive aqueles que ocorrem ao despertar ou quando intoxi-
mais ou menos graves, mais ou menos protraídas. cado. e/ou angústia quando da exposição li indícios internos
A situação de desemprego prolongado tem sido muito associada ou externos que lembram ou simbolizam um aspecto do evento
ao dcscnvolvimcmo de cpivõdios depressivos em vários estudos, traumático. e/ou reação fisiclôgicu exacerbada a indícios in-
em difcrcmcs pafvcs. ternos 011 externos que simbolizem ou lembrem um aspecto
Estudos comparativo, controlados mostraram prevalências do evento traumático; atitude de evitação persistente de circuns-
maiores de depressão em digiiadores. operadores de computa- tâncias semelhantes ou associadas ao evento estressor (ausente
dores. datilõgrafai • advogados. educadores especiais e consultores. untes do trauma) indicada por esforços para evitar pensamen-
Wisncr" observou que existe uma taxa, cm particular, elevada tos. scruimernos ou conversas associadas ao trauma; esforços
de absenteísmo ligada principalmente a uma síndrome depressiva para evitar atlvidadev.tugares. ou pessoas que tragam lembranças
nas situações em que o contare corn o público é essencial. do trauma: incapacidade de relembrar, parcial ou completa-
Episâdios depressivo» também estão associados à expo- mente, alguns aspectos importantes do período de exposição
slção ocupacional ~s seguintes substâncias químicas tóxi- ao estrcssor: interesse ou participação significativamente dimi-
cas: brometo de mcrilu: chumbo ou seus compostos tóxicos; nuída em atividadcs importantes: sentimentos de distancia-
mangunês e seus compostos rõxicos: mercúrio e seus com- mento ou estranhamento dos outros: distanciamento afetivo
postos tóxicos; sulfero de carbono: tolueno e outros solventes (por exemplo. incapacidade de ter sentimentos amorosos); sen-
aromáticos ncuroróxicos: tricloroct i lcno. terracloroetileno. timento de futuro curto (por exemplo. não espera mais ter uma
tricloroctano e outros solventes orgânicos halogenado neuro- carreira. casurncnto. filhos, urna expectativa de vida normal);
tóxicos; e outros solventes orgânicos ncuroróxicos. A sinto- sintomas pcrvisrcnics de estado de alerta exacerbado; dificul-
matologia depressiva nesses casos geralmente não constitui dade para adormecer ou permanecer dormindo; irritabi lidade ou
o quadro primário. c tando quase sempre associada aos trans- expio õcs de raiva: ui ficuldudc de concentração: hipervigilância;
tornos mentais orgânicos induzido. por essas substâncias, resposta de susto exagerada.
como demência. delirium, transtorno cognitivo /1'1'1'. traIlSTO/'110 Glina et (I1.v descrevem esses transtornos em cobradores,
orgãnicode personntidaâe ou transtorno mental orgânico 011 motoristas e bancários. O risco de desenvolvimento do trans-
sintomático não I'Ipl'cifinul1l conforme descritos no itens tomo de estresse pás-traumático rclacinnado (/0 trabalho pa-
pertinente anteriormente. rece estar ligado a trabalhos perigosos. que envolvem respon-
sabilidade por vidas humanas. com ri-co de grandes acidentes
Transtorno de Estresse Pós-traumático como o trabalho nos sistemas de tranvportc lerroviário. metro-
viário. aéreo e o trabalho dos bombeiros.
Relacionado ao Trabalho lF43.1J Os fatores relacionados lIO trabalho que determinam o transtomo
o transtorno de estresse pás-traunuitico caracteriza-se e()J11O de estresse pás-traumático podem ser classificados, segundo a
resposta tardia e/ou protraída a evento ou situação cstrcssantc CID-lO. corno "outras dificuldades fí~iea~ e mentais relaciona-
(decuna ou longa duração) de natureza excepcionalmente amea- das com o trabalho: rcação após acidente do trabalho grave
çadora ou catastrófica. a qual reconhecidamente causaria ex- ou catastrófico, ou após ussulto no trabalho" (código Z56.6); ou
trema angústia em qualquer pessoa, como os desastres naturais "circunstância relativa à~condições de trabalho" (código Y96).
ou produzidos pelo homem. acidentes graves. testemunhar a
morte violenta de outra pessoa. ser vftirnu de tortura. assalto. Síndrome de Fadiga Relacionada ao Trabalho
estupro ou outro crime. A pessoa experimentou. testemunhou
ou foi confrontada comum evento 011 eventos que implicaram [Incluída em Neurastenia) lF48.OJ
morte ou ameaça de morte ou de lesão grave. ou ameaça da A característica mais marcante da slndrome dejadiga relacio-
integridade física do paciente ou de outros. nada ao trabalho é a presença de fadiga constante, resultante
Fatores predisponentes. tais corno traços de personalidade da fadiga acumulada ao longo de meses ou unos em situações
ou história prévia de doença neurótica podem baixar o limiar de trabalho em que não há oportunidade de obter descanso
para o desenvolvimento da síndrome ou agravar seu curso. necessário e suficiente. Essa categoria deve incluir a chamada
mas não são necessários nem suficientes para explicar sua "Síndrome ela fadiga industriai". considerada C0l110 decorrente
ocorrência. da monotonia do trabalho repetitivo dos trabalhadores indu -
O início do quadro segue o trauma com período de latência triais, e a "síndrome da fadiga patológica". associada ao tra-
que pode variar de poucas <emanas a meses (raramente ex- balho em serviços.
cede seis meses). O curso é Ilutuamc. mas a recuperação A fadiga é referida pelo paciente como sendo constante
pode ser esperada na maioria dos casos. Em pequena pro- ("acordar cansado"). simultaneamente mental e física. caracte-
porção dos paciente), a condição pode evoluir cronicamente por rizando uma fadiga geral. Outras manifestações importantes
muitos anos, transformando-se em alteração permanente da são a má qualidade do sono (dificuldade de aprofundar o sono.
personalidade. despertares freqücntcs durante a noite, especificamente a in-
O diagnõstico de transtorno de estresse pôs-traumático sônia inieiaI- di ficuldade para adormecer: "a cabeça não consegue
relacionado (I() trabalho pode ser feito em pacientes que apre- dcstigur"): a irritabilidade ("falta de paciência") e o desânimo.
sentem quadros de início em período de até seis meses após Outros sintwlla,', que podem fazer parte da síndrome são do-
evento ou pcrfodo de estresse trau mát ico carateri zados por even to res de cabeça. dore .. musculares (em geral nos músculos mais
ou situação estressante (de Curta ou longa duração) ao qual o uti Iizndos no trabalho). perda do apetite e mal-estar geral. Trata-
paciente foi exposto, de natureza excepcionalmente ameaça- se quase sempre de um quadro crônico resultante da fadiga
dora ou catastrófica. em urna situação de trabalho ou relacio- acumulada ao longo de meses ou anos.
nada ao trabalho do paciente; rememorações ou revivescências O diagn6 rico de slndrotne defadiga relacionada ao trabalho
persistentes e recorrentes do evento csrrcssor em imagens, pcn- depende da anamnesc e da hist6ria ocupacionais. Cabe per-
256 • Tratado de Clínica Médica

guniar a duração da jornada de trabalho. as condições de tra- evolução crónica que tendem a se definir como um padrão
balho incluindo as pausas para de can o. o ritmo de trabalho. de comportamento.
o processo de trabalho. a pressão no trabalho e as condições Os fatore .. relacionados ao trabalho que determinam neuro-
de vida e habltacionals. visando a avaliar as características do se profissional, como anteriormente conceituada. podem ser
descanso e lazer, classificndos, segundo a CI D-I O. como "problemas relacio-
Os critérios seguintes auxiliam a concluir O diagnóstico: nados com o emprego e o desemprego": desemprego (Z56.0):
queixas persistentes e nngu: tiarucs de fadiga aumentada apôs mudança de emprego (Z56.1): ameaça de desemprego (Z56.2):
esforço mentol ou de fraqueza c exaustão corporal após esforço ritmo de trabalho penoso (Z56.3); desacordo com o patrão e
rr~ico mínimo. Pelo menos dols dos eguinie sinroruns: sen- colegas de trabalho (condições diflccis de trabalho) (Z56.5);
saçãode dores musculares: tonturas: cefuléias tensionais: pcrtur- outras dificuldades físicas c mcnrai relacionadas com o tra-
buçõcs do sono: incapacidade de relaxar: irritabilidade: dispepsia. balho (256.6).
O paciente é incapaz de se recuperar dos sintomas por meio
do de canso. relaxamento ou entretenimento. A duração do Transtorno do Cicio Sono-vigília
trunsrorno é de pelo menos três meses.
O diagnóstico diferencial da síndrome de fadiga relacio-
Relacionado ao Trabalho lF51.2)
nada ao trabalho deve ser feito entre síndrome de fadiga põs- Os transtornos do ciclo sOIlÕiigflia em decorrência defatores
virai (G93.9): síndrome põs-encefalüica (F07.1): índrome lião orgânicos são definidos como perda de sincronia entre o
pôs-concussional (F07.2): tran uornos do humor (F30-F39): ciclo sono-vigília do indivíduo e o ciclo sono-vigília social-
transtorno do pânico (F41.0): transtorno de ansiedade gene- mente estabelecido como normal. resultando em queixa de insônia
ralizada (F41.1). O diagnóstico diferencial depende quase ou de. onolência exce iva, Esses transtornos podem ser psico-
exclusivamente da anamnese. gênicos ou de origem orgânica presumida, dependendo da
contribuição relativa de fatores psicológicos, psicossociais ou
Neurose Profissional (Incluída em Outros orgânicos.
O transtorno do ciclo sono-vigüia relacionado ao trabalho
Transtornos Neuróticos Especificados) IF48.8) pode estar associado ao trabalho em turnos, que representa
O grupo OLUroStranstornos neurâticos especificados inclui trans- uma forma de organização do trabalho, na qual equipes de
tornos mistos de comportamento, crenças e emoções que têm trabalhadores se revezam para garantir a realização de uma
:.lssociação estreitacom determinadacultura. As chamadasneuroses mesma arividadc num e quema de horários que diferem sen-
profissionais podem ser ela ificadas nessegrupo de transtor- sivclmcntc da jornada de trabalho "normal" da média da popu-
nos. pois não dispõem de critérios diagnósticos estabelecidos lação. No trabalho em turnos, os trabalhadores exercem suas
na classtflcação e os sintomas apresentados são incspccífi- atividudes modificando seus horários de trabalho durante a se-
cos: cansaço. desinteresse. irritabilidade. alterações do sono mana (turnos alternados) ou permanecem em horários fixos
(insônia ou sonolência excc siva), etc. Muitas vezes. é II inibi- (manhã. tarde ou noite).
ção para o trabalho que surge como primeiro sintoma. indi- Os processos de trabalho mais associados 11ocorrência desse
cando a presença de uma neurose profissional: li pessoa que transtorno ~üo: sistemas de transporte de massa (em especial.
antes trabalhava bem disposta e com dedicação não consegue aéreo. ferrovi:1rio e mctroviãrio), trabalhadores da saúde (cm
mais trabalhar: sente-se cansada. mas não consegue explicar particular. de enfermagem e médicos). indústria pesada (meta-
os motivos cxarov, lurgia). policia e serviços que implicam em trabalho em tur-
A anarnncsc e o exame físico não revelam determinantes nos contínuos (24h por dia. todos os dias da semana).
somáticos pura o quadro. O diagnóstico é estabelecido pela Para o sereshumano. o ambiente social circundante e a hora
história de trabalho e análise da situação de trabalho atual, do relógio são os sincronizadores do ciclo sono-vigflia mais im-
Por exemplo. na neurose de excelência. os valores pessoais portante )lo Os distúrbios de sono são os transtornos mais Ire-
carncrcrizados pelo alto nível de exigência são determinantes qücme dos trabalhadores em turnos. Outros distúrbios que
que se articulam com a cultura organizacional em que a "exce- podem estar presentes são os gastrointestinais (dores de estô-
lência" é imperativa. mago e diarréia) e os psicossociais (dificuldades afeuvase sexuais.
A categoria neuro e profis ional é definida por Aubert" como problemas conjugai e familiares. dificuldades de participar
"uma afecção psicõgena persistente. na qual os sintoma são da vida comunitária com a Iamília, os vizinhos e os amigos).
expressão simbólica de um conflito psíquico cujo desenvolvi- O trabalhador não consegue de cansar adequadamenteno horário
mento se encontra vinculado a urna determinada situação disponível para dormir c participar do vida soclat em geral.
orgunizacional ou profissional". A neurose profissional apre- O transtorno do ciclo sono-vigilia relacionado ao trabalho
senta três formas clínicas: caracteriza-se e pecialmente pelas queixas de fadiga, irrita-
bilidade. sonolência diurna. tendência a cochilar durnnte o horário
• Neurose profissionat atual: neurose traumática. rcativu
de trabalho (diminuição dos níveis de atenção, ou seja, da vlgilân-
II um trauma atual.
cia e da tenacidade). O diagnóstico de transtorno do ciclo SOl/O-
• Psiconeurose profissionat: quando uma dada situação de
vigllia relacionado lIO trabalho implica no preenchimento dos
trabalho funciona como desencadeante. rcarivando CC)II-
seguintes critérios: trabalha r em sistema de turnos; o ciclo
Iliros infantis que permaneciam no inconsciente.
sono-vigflia do paciente é diferente do padrão da sociedade
• Neurose de excelência: desenvolvida a partir de certas
cm que vive: insônia durante o principal perfodo de sono e
situações organizacionais que conduzem ti processos de
hipersonin durante o perrodo de vigília quase todos os dias
esrnfn. pessoas que investem intensamente l\CUS esforços
por. pelo menos. um mês ou de modo recorrente por períodos
e ideais em determinada atividude.
mais curto de tempo: a quantidade. a qualidade e a regulação
A categoria neurose profissional serve paru classi ficar os insatisfatérias do sono causam angústia marcante ou interfe-
quadros psiquiátricos relacionados ao trabalho em que chamam rem com o funcionamento social ou ocupacional. Não há fator
ii atenção os aspectos subjeiivos e as características pessoais orgânico causal identificado. tal como condição neurológica
aliadas às condições organizacionais do trabalho como deter- ou outra condição médica. transtorno de uso de substância
minantes do sofrimento p íquico. Geralmente são quadros de psicoativa ou de um medicamento.
Saúde no Trabalho e MeIO Ambiente • 257

O, tatore-, relacionado', ao trabalho podem ser clasvificu- Em geral. 1I~ falllre, relacionadov UI) rr.ibnlhu cvtão mail>
dos, segundo a CID- lO. como "problcruav relacionados com fortemente relacionado, ao transrorno que m fatore, biográ-
O emprego c de-emprego: mã adaptação 11organização do ho- fico, ou pe"oai\. 0\ furores no trabalho prcdr-poncmes pura
rário de trabalho ürabalho cm turno- ou noturno)" (Z56.6): c a vfndrorne mais importantes são: papel conflirante. perda de
"clrcunstância rclanva ;'j, condições de trabalho" (Y96), controle ou uutonomiu e ausência de suporte social.

Slndrome de Esgotamento Profissional PREVENÇAo


[Bulnou,] [Z13.OJ A prevenção visando 11saúde mental 110 trabalho tem sido
A s(,,(/ruIIII:'de esgotamento profissionaí é um tipo de resposta incorporada upeuns recentemente pelas empresas por causa
prolongada u cstrev-orev emocionais c interpcssoais crõnico-, da' modificações do processo produtivo que têm gerado uma
00 trabalho, Tem sido descrita como resultante da \ ivência demanda crcvccnte cm termos dc exigência .. mcnrui . a imcn-
profissional cm 11111 contexto de rclnçõcv sociai-, complexas. vificaçâo do processo de trabalho e ti udoção de mudanças
envolvcndo a rcprcscnmção que a pes oa tem de vi e do, outro .., tecnoI6~ica, acumpanhadas de insegurança quanto i\ manuten-
O trabalhador que ante' era muito envolvido afcrivurncnte com ção do emprego.
o eu clicmev. com 0' vcu-, p:ícícntcs ou com o trabalho em O progrnmn dc prevenção pode gerar maior dinamismo.
i. dcsga: ra-se e cm um dado momento desiste. perde a energia Ilcxibilidudc e Inovação nas orgcnizaçõcs. fazendo uso de
ou "queima completamente", O trabalhador perde () vcntido purcnciulidudes dos trabalhadores por meio da possibilidade
de sua relação com o trabalho. desintercssn-sc e qualquer esforço de participação.
lhe parece inútil. A primeira etapa nu construção de um programa de pre-
Segundo Mavlach ", a sindrome de esgotamento profissio- vcnção" consiste na elaboração de um diagnóstico da situa-
nal é composta de trê, elementos centrai .: exuuvtão emocional ção: uma egunda etapa compõe-se de desenhar e implementar
(senti mentes de desgaste emocional e esvaziamento aferivo): a imervenção. É preciso avaliar continuamente o que está sendo
despersonaliLUção (reação negativa. insensibilidade ou afas- realizado para erem feitas as corrcçõcs necessárias ao longo
tamento excewivo do público que deveria receber o, '\en iço, da intervenção. Um programa de prevenção deve ser visto
ou cuidado, do paciente): diminuição do cnvnlv rmcnro pcs- como um processo contínuo. em que a melhoria em alguns
soai no rrnbulhn (scnrimcnro de diminuição de competência e aspectos pode gerar "novas" açõe .
Levi" dcvtaca que a atividades de prevenção do estresse
de sucesso no trabalho).
dcv cm basear-se cm um conceito amplo de St!T humano e seu
Deve-se diferenciar o bumout, que seriu lI111a re'IX),ta :10 cv-
ambiente. i:.to é. numa abordagem equitativa e integral do.
nesse luborul crônico. de outras Iorrnus de respll~ta ao estrcssc, uspccro-, rr,ico. mental. social e econômico: em 11mcritério
A b(ndrmne de hurnout envolve atitudes e conduta, lIegativllS
erolágir», ou scjn. IIU con idcraçâo da complexa dinâmica
com reluç!lll nn' uvuãriov, clientes. 11orgnnl/aç!lo e uo traba-
representada pclo<;açõcs recíprocas entre o individuo c o ambiente:
lho, sendo urnn experiência subjctiva que ncurrctu prejuízos
em um critério cibernético, isto é. nu vigilância e avaliação
prtllico,>e cmocionaiv para o trabalhador c a orgnnizaçêo. O
contínua e em bases interdisciplinares dos efeitos das modi-
quadrotradicional de e,>t~\C não e 11\ 01",: tab atiiude-, e condu las. ficações do ambiente sobre o trabalhador: em um critério
sendo um c'gotamento pewoal. que interfere lia \ ida do indi- democrâtiro ou participativo. isto é. que permita ao trabalha-
vlduo, IIIa_\não de modo direro na vua relação com o trabalho. dor a máxima influência possível obre sua própria situaçllo
O diagnõvrico de víndrornc de esgotamento profi-, ional (grifo» do autor).
implica cm hi,t6ria de trabalho caractcrtsrica com grande Existem dila .. abordagen para a prevenção do esrresse no
envolvimento subjctivo com O trabalho. função. profissão ou trabalho: aquela cujo foco é o indivíduo e aquela cujo foco
cmprccndimcmo a~~umido que, muitas VCl.c~. ganha o cará- 50 os estre'l\ore ... Com relação ao gerenciomento do eMresse
ter de mi~~i1I). é preci~o enl\inar os tmbalhadore!> a reconhcccr Ol\,intnmlls c
Geralmente e,tiio pre~entcs sillt()lIllI~ ine~pedlicos como a:. fonte~ de e~tre,~e.
ill\ônia. fadiga. irritabilidade. tristeza. desintcresse. apatia. Algllma:. açõel\ para reduçiío do e,trc"c individual foram
nngú,tiu.trelllore,. Inqllletução. Cllrtlctcri/.nndo síndrome deprcs- c1c\Crito<;por ({oehu e Glina": tentar ter conlrole \Obre os ~tre M>n!S
,i\':t elou an\lo,a. Pode e,tar a"ociada li 'u\cetibil idade au- (mudança de cnrgo. empre~o ou setor. planejamento da vida e do
mcnt:tda para dt>Cnça, fi\lca,. u,o de :ílcllul ou outr:l~ drogUl> tr:lbalhu. e,tabclecilllento de prioridadc\). mudança de atitudes
p:lra obtenç:iu de al(\ io do~ ,intorna' c ao ,uiddio. e crença' l>ohrc I) estrCl\sor e si me~mo (evitar ercnça" constru-
t\ ,índrome ..ret .. prinCipalmente profi"iunai" da :írea de tora ..de c~tre'se. tcrexpcctutivas legítima.\, rcal(~tica executáveis.
~crviço, ou "culdadore,,". quando em contato direto com o.. ~er ndaptável e nexrvel). mudar a.-. rel>pollla, ao~ clltrc,~ores
~ usuário'>. como o' trahalhadore da educação. da ,aúde. poli- (melhorar a comunicução. ser afirlllmivo. aprender n exprelosar
; ciai . as~i. tente~ 'ocial~. agente penitenciários. prufe ~ores cntimentol\. divertir-se, tcr hobbies) e u~nr os recursos dispo-
;; entre outro'. níveis (conversar com llmigos pessons de confiança).
~ Ultimamente. têm ..ido dc crilO aumento:. de preval~ncia Com rclnçilo nos exercício físicos. um programa pode produzir
00 de síndrome de e'gotamento proli bional em trabalhadores ahcraçõc~ fisiológicas desej:lveis a longo prazo. Os exercícios
proveniente, de ambiente' de trabalho que pa~!i.am por trnn,,- fí,ico' tra/cm bencfícios clínicos durante O ~eLJdesempenho,
formaçõc\ Clrgani/acionni~ como: dispenl>a~ tempor:lrin do logo apó, ou n longo prazo. Durante o' exercícios. os trigli-
trabalho. diminuição da "cmana dc trabalho sem reposição de ceddeo'. liberndos n:J corrente angUínea durante a respo ta
ubslituto~. en'(ugamento (tl()WIISi:illg). a chamada n:Cl>truturnção de c'trc"e declinam 14>.
produtÍ\'a. O ri,co da lmlrolllt!de eJ!:t/((III1t'IIf11prrifi\\imwl é O con,ul1lo alimentar devc er eMruturado Icvando cm conta
maior para UxJ(h aquele .. que vivcm n allleaço de mudança .. qualidade, qunntidade. adequação e harmonia dos nutrientes.
compub6nn, na Jornada de trabalho e declínio ,ignificatÍ\o A<; refeiçõe<; devem oferccer componcnte" dos vário grupos
na situação cconômlca. Todo os ratorc$ de in. egurnnçn ocial alimentnres: energético (cnrboidrntos e gordura ). construtor
e econômica aumentam o ril>code c gotamento proti\~ional em (protcína~) c regulador (fibras vegetuis. vitaminas c minerais)
todos os grupo' et:írio~. e á~un.
258 • Tratado de Clínica Médica

A., empresas têm udorudo alguns aspectos da prevenção 23. HiRNANI)I.!S. S. R I' O Il'IIbalho..... prcK"'IOIIll" dt m(lt\lÚll<a' e'lUdo 00 C8\tlenl
S.IIador·OnhIJ ln GLI,'A. O M R ROCIIA L I' (I)t~,1 SIIIIIIe MMII,I 1111 rfll'
cm nível individual por meio dos programas de promoção da 1/tI/hll;l)eMI}I()I ~ SoI",·«1 S...., f>4Ulo.\ KlCIPA 2IXIO P 2'7-2SJ
saúde: combale do tubagisrno, oferta de exercício fTsicos.diversas 2~. OORGI:S. I .. II. T"'nllI/mo! Mtn,ou I/rIlMrJ m'ft Trul>ulhoJllft. ti.. ",M UrllC(J
técrucas de relaxamento. orientação alimentar e coruroles de S"I""I'11II'(I S~OPaulo. 1990 o.,5a1.1Çio I \1~rIIclo) F... ullbdt de Medoe:.... do
saúde. A adoção de apenasessas medidas não é suficiente em um U mversidude de SQo Paulo.
25. 1'I'I"l'A, A. l/osf,I",I: f)tlT ~ M..", CtNIIUO/klll S.lo Paulll t!UCllec. 1990.
programa de vaúdc mental: é necessário acoplar ações visando 26. FERNANI)ES. S. R P. 7'robu11t0'nformatr~(/ t /)ol,u,b"" PJrcINlfIOrimu,u:Es:tuJo
à modificação das situações de trabalho. S,·ttl"'UlI "/II TrP.• Empresas II. PI'O<'.sfánt,n," ti, f)1It111l.'" SuII'l1(/0,·8o Sah,.
As ações nas ituaçõe de trabalho baseiam- e no diagnõs- dor, 1992. Dlsscl'lllçnoIMc>lmdo)- Fxuldade de Mt:(hc.na da Unl\cl:!idade FedctaI
dll lI"hill.
rico do.. fatores geradores de alterações na saúde mental. Na 27. ROCItA. 1.. 1':.1-.',""1",\1' O"I'IlIIrillllfl/ til< Pmf/"I1/11f1i, 01, PIII/.·t.'''''W,1fI ti. Dodos:
avaliação da situação do trabalho é irnportante considerar a CIIIIIII('Il"v di' /l"'IIII/,,, f R..ptrnU"~tf na VlIIIIt Smldt I/m 1\111,111101 rlt SiSltlll41.
duração e a força de cada agente do local de trabalho. Todos SB" Pllulo, 1'196. Teve (dotllomllol- Unl\et\idndc de SJo I'utllo.
28 MARI. J. MI""r Psvchunn« MlI,bltllll /I' I'hrtt Prlmm'\' Mfllit'al Core CIi,,;cs i.
os fatores não têm o mesmo . ignificado parti o conjunto de IIIr ('11111.\<111 ",,,,ia. 1.•<1ndon. 1986 'The,i' ID<xtur ui Ilhilo,ophyl- Inslitulc or
trabalhadores. ma inrcrvcnçâo deve <cmprcestabelecer medidas I).)chlllll)' lIr IInl\."'I)' ur l..ondon
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podendo incluir melhorias do pluncjarnento c conteúdo do " MINISTP'RIO IlA SAl!DI! DO BRASIL /)(w""(/j Rr"u,onlJl/osao TrolJalho: Ma_
trabalho. estabelecimento de metas de produção realistas, melhor Il" 1)III,."djm~,,'m 110ft(o, S'''';\III dr SOI/(I". 01>""0 I'cdtllll. 2001. (Normas e
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CAPíTULO 28
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I").h""""Jl Jn.l ph)'Kllogal linkage-. ln KARASF.K. R A .• TII.,ORELL T muilo mais numerosas do que se imagina. A população traba-
IIrullhl Ilár!. '~Yorl.. 83\/1. 8001.-. 19941 (I 3l·llI\
1\1. !.AVIII.E. A F.fl.'on",,/la S50 ~lIlo; EPU. 1976 lhadorn eSláexpOMOdiulumamente a diversos agenles agressores
20. t.J,PI.AT. J • CU'l:Y. X Plirr""Rill 1M T"";;'I'" FIl/I"''''') /" m, u> \llIclnd P.lil" (f(~ico~. qu(micos. biológicos). copules de produzir rinites.
d<!IR,o l'In ~inllsiles. faringiles. laringile!>. lumore!>. perdas auditivas.
11. 1:.1.0.A \ut'JmC'1IlofPnchrcSI",n Faflllf$(/IIIII,k Ilcl'''l~1 'n'"IU"'I>(o...upal.tna1 vcslihuloplllia~ e muitos outrOS problemas de grande preva-
Ilnhh. 19M> .IOp.
n. J,\RDI\I. R. GU!'A. D. M. R. O dlnsnósu~otJo., Il'lIn,"lmO\ menlll .........1.1'100..• lência. sobre os quais o fUlor ocupaciollal tem ~ido negligenciado.
dtx lO lIllhalho ln GU:-'A. D. ~, R.. ROCHA. L. h. 10ft' I Suutl .. Mlntlll nll fi simples pergu nlU "qual é a sua ocupação'r já faz descortinar
Trul>ullt., fH1Jllim ~ St<Iurt~J. Silo Paulo. VKlCIPA :!OOO P 17·52 ull1novo horizonte 110 diagnóMico eliológico de inúmeras enfer-
Saude no Trabalho e Meio Ambiente • 259
85-72J 1·5')X-X

midades. inclusive de OU\ idos. nariz e garg:lIlla_ A preocupa- Epidemiologia


ção com a e"i,tênCla de agentes agressorev no ambiente de Estima-se que milhões, de pessoas. cm todo o mundo, sejam
trabalho. :I"im como de inadequaçõcv na urganll.lç,ill do ira- ponadorc-, de perda auditiva relacionada ao trabalho. algu-
bolho. como geradores de fatores de rivco. abre multa, pnvvi- ma' ccmcnav de milhares só no Brusil.
bihdndcv de diagnó\lIco. tratamento e. pnncrpalmcmc. prevenção
Embora faltem mais estudos cpidcmiolôgicos nnclonuis,
de muit:" ufecçõcv, pode-se notar que II doença mostra alguma diversidade de apre-
Dcstucu-vc, cada WI mais. a necessidade de 'c incorporar scntuçõc». CIII1':lIão da grande vuriubilidudc dos agentes cau-
II nnmnneve clínica uma cuidadosu unamnc c ocupucional. Por ~ais c da difercmc suscetibilidadc individual dos trabalhndores.
Ialtu dcwn preocupação. no nosso meio. a literatura nacional Enquanto o agentes causais (ruído intenso. produtos quími-
é carente de e\tudu\ epidemiológicos em otorrinolaringolo- cos. vibrações) apresentam-se em diferente formatos e ní-
gia ocupacionul e os poucos programas preventivos existen- veis de concentração ou intensidade. eles ainda interagem com
tes baseiam-se em cstarísticns estrangeiras. que nem, empre estres-orev psicossociais e organizacionai . que atuam como
refletem a realidade brasileira. Assim. nunca e, abc "e a $US- variado- ItII"r~:. contextuais exógenos. Por outro lado. dife-
cetibilidadc do trabalhador brasileiro se equivale II daqueles rente- falUre, endógeno ou individuais (estados mórbido .condição
dos p.lí~e~ de origem dll~ dados pesuu isadnv. Como também fí,ica ou pvicolõgica. teor de mclanina no organismo. idade)
não se pode vabcr 'c a ngrcssivldaznr do, agentes cuusais ci- tornam 0\ trabalhadores mais ou menos suscetíveis aos agcn-
tados na litcrruura (madeiras. couros. silicatov. radiações sola- rcs ugrewore v, O, limites de tolerância estabelecidos pela
res) é a mesma dos aqui encontrados. legblação preventiva (85dB IA] para 8h de jornada) deixam
~ ncccssãrio que as doenças otorrinoluringolégica venham de ser seguro- unte tais variabilidades e suscctibilidades.
a ser mais estududuv, 110 Brasil. pelo enfoque ocupacional.
Que seja determinada. cm dado csuulsticos. a magnitude dos
problemas. Que vejam estabelecidas diretrize de atendimen- fislopatogenla e Sintomas
to, com cólera organi zada de dados e obtenção de documentação O ruídos muito inten os. de impacto. tendem a produzir lesões
informarizada. que disponibilizem pronta" informações clíni- nas estruturav do ârgãoespiral (de Corri), por sua ação mecâ-
cas e ocupacionaiv c que produzam relatórios com formatação nica. com conscqücmc processo degenerativo. Já os ruídos con-
unífcrmizada. Que vc padronizem a condutas, com base em tínuos e prolongadov originam alterações coclcarcs e neurais,
conhecimento récnico-cientffico c dados epidemiológicos aqui predominantemente por exaustão metabólica.
dcsenvolvidov, Ar.célulav cilindas externas do 6rgilo espiral. com grande ati-
Este capüulo pretende abordar alguma, docnçav oiorrinolarin- vidadc mecânica e pouco pnucgidns pcla~ célula, de sustentação,
golõgicas rclacionadav ao trabalho. sobre a, quai-, j:í <c dispõe degeneram-se primeiro c em maior quantidade. Com o avanço
de alguma informação. sob o enfoquc predominarucmcnrc epide- da lesão. deterioram-se. depois, tiS células cilindas internas e
miológico e preventivo. Pretende. ai nda. devpcrtar o interesse com elus us libras nervosas, sempre cm menor extensão. Em
para que outras área, vejam também dcscnvolv idas. fases rnuis adiantadas degeneram-se também as células de
sustentação. despovoando e colubando todo o órgão espiral.
Como con. cqüência dessa le ões, urgem diver as altera-
PERDASAUDITIVAS RELACIONADAS AO TRABALHO ções: perda da sensação auditiva. detectada pelo exame audiomé-
A perda auditiva de origem ocupacionul tem vua ocorrência trico. mas nem sempre percebida pelo portador: a dificuldade
registrada desde a pré-históri«. mas seu intercvve é de gran- para reconhecer sons complexos (como os da faia). em coo-
de atualidadc. principulrncntc por ter uma ti:" umiore« diçõc« ambientai dcvfavcrãveis à escura (ruído de fundo, fala
prevalências dentre a, doenças proli~~i()IHli, ou do trnhalho. competitiva, re\erberação das paredes. sinai, com emissão
O rufdo intcn~o é. ~em dúvida. () agenle cllusalmail> freqUente dcfcituo~a, ctc.): o recrutamento. que se renete na intolerfincia II
o univl.!r~lIll1lelltedi~lribll(d() parti a~ pcrtla~ audiliva~ ocu- ~on~ intcn~o~. também pass(vel de comprovação uudiológlcu:
pacionais. purém. algllll~ produtos llufmico'. \'ibrtlçik~. ca- acúfeno\ ou lUl11bido:..que acomctcm boa parte do!>porladores
lore mdiaçlics têm ,iuo apontado~ como outro, fatore, cUl11uns. da PAIR: a dificuldade para localizar fonte:. ~onoras; e outros
A cornbinoç:io de :Igentcs concausab tem :;ido tão u'u,,1. que . intOm3~ lião :Iuditivos. como tonturas. irritabilidade. insônia,
n consagrada cxprc!o,l.ão perda al/dilil'lI i1l(1,,:.it/(I p~/o ruído distúrbio~ psico omáticos. etc.
(PAIR) tendê a \cr loublotituída por OUtr:b c,prc~~õc.!l>.como. A perda auditiva relaciona-se com a destruiçilo menor ou
porcxcmplo. dillll'/I\i(l de origeml1C/lI)(/(imwl. Além do mai:.. maior de ~etore~ do órgão espira!. Por con:.eguinte, elu é sem-
(I participação de fatore, extra-ocup:leional\, princip:llmcntc.! pre dn tipo <'en,lSrio-neura!. Como a maior concentrução das
prc"ão 'o nora clc\ada (mú. ica. c"portc'. luer) tem contri- le'õe\ localiNI-<;e na espiral basal da c6clea. li doençu com-
bufdo cumu falUr a"ociado. compromctcndo :1 eltc:kia do~ promete primciru e predominantemente (11\ freqUências altns,
progr:lIll:I\prc\enti\o' d"., c.!mprcsa~c.!gerando ~itllaçõcs sociai~ com um enlalhe inicial em lorno de 4.000 ou 6.00011z e. só
de diffcil cuntrulc. CIIIfu!>c:.IImi:. avançadas. o cnlalhc audiométrico se alarga, cm
É importalltc dc\tacar que o volume de atcnção e invt:Mi- dil'cção lI~frcqilências médias e baixas. Por isso. os traçados
lIIentodC\linado\ a uma doença incurável. :lp:lrentelTlcntc lICIII audiomélrico" da PAIR têm sempre um formato caracterfstico,
gravidade e de di\creta ,intommologia, decorre dos relevantes de cntalhe na~ freqUências altas. similar bilateralmente, em-
problem:b p.,ico,:>ociail>gerado. em seus portadores. comprome- bor:1 :,ejam comuns a:. as imeLrias nos agudos. OULrn car:lcterística
tendo ~ua~ relaçõe, familiares. sociais e no trabalho. importante da doença é que. cessada a expo ição ao ruído, a
Além da dnença profi"ionaL gerada pela expo ição conti- pcrda auditiva deixa de progredir.
nuada :1 agente' otoagre~,ores do "mbiente do trabalho. o:> A ocorrência de outros 3gentes de interação de"e ser consi-
trablllhadore\ podem ter ~U3audição redu7.ida por exposição derada. l>cmpre quc l>eavaliam os critérios de io alubridade.
súbita u ruído de altís,ima intensidade (o Ir(l//II/(/ aClíslico). O estado fí"ico ou p~íquico do indivfduo pode tomá-lo tem-
por Ir(/I/ll/llli,I/l/os m('câ"icos da cabeça c pcscoço e pelo porariamente mai~ ,u,cclível ao ruído: certo. e tados mórbidos
I)(/rol/,(/"I/I(/.l>itualfõe~distinlas, IOda enquadrada~ como aci- (como diabcte~. hipotireoidismo. infecções). can aço. estresse
dente du Irabalho. e até meltlllO problemas familiares. sociais e financeiros. A ex-
260 • Tratado de (IInica Médica

posição simultânea a ruído intenso e vibrações. tão freqUente "SRT') e a imitunciomctria (timpanogramas, complacência
em algumas arividadcs profissionais. pode ter. também. um estática e limiares dos reflexos estapcdianos). Eventualmente.
efeito interativo na pcrdu uuditiva. realizam-se outros testes objctivos, como a audiometria de
Há um certo número de medicamentos e produtos químicos potenciais evocados do tronco encefálico (BERA) c o exume
que. por si ~6. podem lesar as estruturas da orelha interna. das emissões otoacústicus (EOA). Exames otoncurolõgicos.
sejam cocleurcs ou vestibulares. seja temporária ou pcrmunen- de laboratório e de imagem são frcqücntcmcnte utilizados.
temente. Entre os medicamentos destacam-se os antibióticos
nminogticosfdeos. os suliciluto , alguns diuréticus. oncore-
rápicos. quinino e antimaláricos. Hoje em dia. existe evidên-
Critérios de Avaliação das Perdas Audlllvas
cia de! propriedades ototóxicas de vários produtos químicos Durante muitas décadas buscou-se um critério ideal para avaliar
industriais: [untos metálicos (chumbo. mercúrio. rnanganês. as perdas auditivas ocupacionais e o grau dos prejuízos dela
cobalto .: irsênico, outros). gases asfixiantes (mon6xido de carbono. decorrentes. com resultados conflitantes uns com os outros e
nitrato de butila, tetracloreto de carbono. outros) e solventes oro com a realidade auditiva de seus portadores,
gãnicos (tolueno. xileno. esiireno. n-hexano. tetracloroctilcno. Hoje, os critérios recomendados são os da Portaria nQ 19
dissulfero de carbono, outros). do Mini.tério do Trabalho'. de 09/0411998. Os exames únicos
(referenciais. admissl:';,h; ...-;-basais) são classificados-em três
categorias: dentro dos limites aceitáveis (todos os limiares tonais
Diagnóstico iguai ou melhores que 25dB NA). sugestivos de perda audi-
o diagnóstico dos problemas causados pelas exposições a agentes tiva induzida pelo ruído (traçados audiométricos com o for-
otoagressores do ambiente do trabalho é feito. de rotina. a partir mato camcrcrístico) e I/tio sugestivos de perda auditiva induzido
de uma anarnnese clfnico-ocupacional. seguida de exame otorrino- pelo ruído (traçados audiométricos anômalos ou sugestivos de
laringológico básico. com destaque para a otoscopia. c o pro- outra doença). Quando se dispõe de exames múltiplos (perió-
cedimento de testes audiométricos. dicos ou sequenciais), o exame atual é comparado com o refe-
renciai anterior e podem ocorrer três situações: resultados
tecnicamente estabilizados, quando não houver piora signifi-
Anamnese Clinico-ocupacional cativa entre os exames comparados: sugestivos de desenca-
A entrevista pode ser realizada oralmente ou por meio de ques- deamento de perda auditiva induzida pelo ruldo, quando não
tionários. Devem ser anotados nome. idade e idcmiflcação do havia o problema no exame anterior e passa a haver, quundo
trabalhador. caructertsticus da ocupação. uso de proictores ocorre piora significativa entre os exame comparados; esugestivos
auditivos individuais, história ocupacional na empresa atual e de agravamento de perda auditiva induzida pelo rutdo, quando
1l0~ empregos anteriores. já havia a doença diagnosticada e houve piora signifieativa
Averigua-se se o trabalhador tem alguma dificuldade para dos re ultados entre os exames comparados. Por piora signi-
ouvir ou para entender conversação e em que situações; se é ficativa entende-se o aumento dos limiares tonais médios de
portador de acúfenos ou de recrutamento. Se tem dificulda- 3.000.4.000 e 6.000Hz iguais ou superiores a IOdB; ou de fre-
des para localizar fontes sonoras. se tem tido oralgias, otorréias, qüências isoladas em 15dS ou mais.
--"
tonturas. cefaléius. cervicalgias, insônia ou irritabilidade:
se tem experimentado alguma dificuldade no rclacionamemc Diagnóstico Diferenciai
social. familiar. no rrubnlho ou na interação com os sons
urnbicnrais. Indaga-se. também. se é ou j:i foi portador de alguma Um simples exume audiométrico não é suficiente para se diag-
doença. se fuz ou fez uso de algum medicamento. se foi submetido nosticar a causa da perda auditiva. As perdas auditivas condutívas
a ulguma cirurgia. se tem hábitos de consumo de tabaco. de ou mista." (quando hll uma diferença de IOdB ou mais entre os
bebidas alcoólicas ou de drogas. Devem ser anotados os unte- Iimiarcs por via aérea e os de via óssea) ocorrem em afecções de
orelhas média ou externa. Como a perda auditiva induzida pelo
cedentes mórbidos ou traumáticos e o uso prévio de medica-
ruído é uma cocleopatia, ela é sempre do tipo sensório-neural.
mentos potencialmente oiorõxicos. Deve ser relatado se o
com o entalhe caracterfstico nas frequências altas. Mas há muitas
entrevistado tem farniliarcs com perda auditiva e de que tipo.
outras doenças que- podem gerar traçados audiométricos su-
É muito importante anotar se há exposições a agentes otoagressores
gestivos de perda auditiva induzida pelo ruído. ou seja. do tipo
fora do ambiente de trabalho (música amplificada. armas de
sensório-neural. COI11 entalhes nas freqüências altas: sequelas
fogo. explosivos ou fogos de artifício, acidentes com faíscas
de infecções. traumas mecânicos ou ncüsticos, congénitas 011
elétricas, entre outros),
hcreditllria . metabólicas. hormonais. vasculares. hemáticas.
reumáticas. auto-imunes. tumoruis, neurais, por uso de ototõxicos
Exame Físico e outras. Muitas vezes não se chega II um diagnóstico causal,
Realiza-se UIl1 exame tisico geral e otorrinolnringolôgico básico. mesmo após exaustivas investigações clínica e lnboratorial,
com destaque especial para li inspcção dos meatos acústicos
externos. cujo resultado precisa ser registrado junto ao exame EVOlução e Prognóstico
audiométrico.
A perda auditiva' induzida pelo ruído é irreversível, mas nunca
ultrapassa os 40d8 nas baixas e médias frequências (média
Testes Audiométricos aritmética dos limiares em 500. 1.000 e 2.000Hz) e de 75dB
A audiometria tonat timinar, por vias aérea e óssea. é o exame nas altas (média aritmética dos limiares em 3.000, 4.000 e
consagrado universalmente para a avaliação da perda auditiva 6.000Hz): cessada a exposição, cessa a progressão da perda
ocupacional. Constitui o exame inicial na avaliação clínica e ela não toma o ouvido mais scnsfvel a futuras exposições:
e obrigatório nos procedimentos ocupacionnis de rotina. A estes. a perda maior localiza-se geralmente em torno de 4.000Hz e
acrescentam-se as provas COIII dlapasões. testes de percepção leva muito tempo para se estender além da faixa de 3.000 a
de fala ou Iogoaudiornetria (os índices de reconhecimento de 6.000Hz. Dentro dessa faixa, em condições estáveis de expo-
fala - IRF e os limiares de reconhecimento de fala - LRF ou sição. as perdas costumam atingir O máximo em 15 anos de
85· 724 t ·598·X
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente I 261

exposição. Segundo Glorig '. a perda auditiva atinge sua maior Em 1700. Ramazzini' já descrevia que os pintores de mos-
intensidade dos cinco ao, sete ano de exposição, reduzindo tradores de relógio se intoxicavam com fósforo. ao longo da
o índice de progressão até os 15 anos. quando tende a se cs- vida. molhando a ponta dos pincéis com a boca. Douradores.
tabilizar, desde que mantidas a~ condições de exposição e na absorvendo emanações de mercúrio. de envolviam "úlceras
ausência de outros lutorcs causais. doloro as na boca. das quais corria continuamente sangue
Não existe tratamento clínico para restaurar a audição perdida. abundante e escuro".
Os aparelhos de amplificação sonora individual são de difí- Schour e Sarnat" publicaram. em 1942. um completo relato
cil adaptação. mas. com OS recentes avanços tecnológico . sobre etiologia. fisiopatologia. agentes causais de manifesta-
tanto da rnicroeletrônica digital. quanto das técnicas de adaptação ções orais das doenças ocupacíonais de diversas categorias
e de treinamento. muitos portadores de perdas auditivas ocupa- profissionais. Relataram que a primeira grande revisão sobre
cionais já têm se beneficiado significativamente do uso de doenças orais ocupacionais foi de Koelsh. em 1922.
aparelhos. Muito, ponadore. da doença podem se beneficiar A cavidade oral é porta da entrada para muitas doenças. Muitas
de apoios psicossociai- que contribuam para melhorar sua qua- substâncias deixam acumulado resíduos químicos. ffsicos e
lidade de vida. atuando no ambiente de trabalho. na família e biológicos nas supcrflcics dos dentes, na mucosa e ao longo
na sociedade. do sulco gengival.
Mesmo assim. CIII face da irreversibilidade do quadro. o A cavidade oral é uma câmara úmida que oferece calor c
melhor procedimento diante do problema ainda é a prevenção. nutrientes capazes de prumovcr o desenvolvimento de infec-
ções bacterianas. Entretanto, a rica irrigação sangüínea e os
mecanismos de defesa presentes nn saliva estabelecem uma
Condutas barreira. que precisa ser vencida para que as doenças lá se
Diante de um trabalhador com uma perda auditiva sugestiva de desenvolvam. Má higiene bucal. cáries e gengivites facilitam a
perda auditiva induzida pelo rufdo. com histórico de exposi- penetração e a maior exposição ao agente lesivo. O consumo
ção a agentes otoagressorcs. descartadas :IS possibilidades de de tabaco e bebidas alcoólicas também contribui para isso.
outros agentes causais. algumas posturas devem ser tomadas: Há. ainda. outros agentes agressores que provocam afecções
orais. independentemente da via de absorção .
• Estabelecer (ou n:io) o /lC'XO causal entre a exposição ao
agente agressor e a perda auditiva.
• Estabelecer (ou não) a existência de algum tipo de inca- Principais Manifestações Bucais
pacidade luborutiva, mesmo que parcial. originada da de Origem Ocupaclonal
perda auditiva. É preciso definir se a perda auditiva gerou
alguma limitação de desempenho ou alguma restrição Esmalte e Dentina
de participação na colctividadc. As alterações de esmalte e dentina. além de provocar trans-
Notificação do problema às instituições oficiais indicadas tornos estéticos e psíquicos. por má aparência (acarretando
pela norma legal. constrangimentos, inibições e rctração social). abrem portas
Eucaminhamentn a especialistas para diagnóstico. acon- para penetração de agentes agrcssorc na polpa dentária (pro-
selhamento de risco clfnico ou reabilitação auditiva e vocando sensação de dor. calor ou frio) ou pulpites. que podem
social. resultar até na perda total do dente.
Reabilitação profissional para o voltar a exercer eficien- Muitas vezes essas alterações estão associadas à falta de
temente suas arividades ou para troca de função laboral. cuidados COIll a higiene bucal, na presença dos agentes lesivos.
quando não mail> puder exercer suas ações laborarivas Abrasões. Podem ser localizadas, em gemi nas faces oclusais,
habituaiv. principalmente dos incisivos, por apreensão de objetos metá-
.,1" Inclusão em Programa e/e Prevenção da Perda Auditiva. lico (pregos c tachinhas, para carpinteiros e sapateiros; alfi-
.... um conjunto de medidas permanentes que a empresa adora netes para as costureiras: apitos para guardas de trânsito e
~ sempre que houver fatores de risco auditivo: mensuração juízes esportivos: sopradores de vidro c músicos, pelas boqueirus
dos ufvcis de rufdo e doses de exposição: levantamento metálicas).
audiométrico (adrnissionnl, periódicos e dcmissional) Podem ser generalizadas. por poeira. cimento. areia e sílica,
sempre que () nlvcl de ruído ambiental atingir ou ultra- na construção civil. em ceramistas. jatcadorcs e moleiros, por
passar 80dR (1\) (11;1'('1de are7o): uso de medidas de proteção depósito de farinha.
individual (t!qlli{JillIIC!lItus dI' protC!('/10 i/lllil'it!l/al) e cotetiva Erosões. 1\ ação de vapores c névoas de ácidos fortes
(medidas de engenharia para atenuar os nfveis de expo- (crómico. tartárico. nítrico. clorídrico. sulfúrico) e de fluoretos
sição e medidas administrativas. para minimizar o tempo acomete mail. a face labial dos doentes. por desmineralização
de exposição): programas de educação continuada dos do esmalte e da dcntina. 1\ exposição ocorre na fabricação de
trabalhadores (e familiares): mouitoração periódica do fertilizantes e na produção de alumínio.
andamento de todas as etapas do programa. Essas medi- Pigmentações. Muitas vezes o esmalte dentário se im-
das necessitam de adaptações, quando houver outro agentes pregna de poeiras. névoa e fumo metálicos, mudando sua
causais presentes. coloração para:
• Marrom: derivados do ferro. níquel. manganês.
DOENÇASOCUPACIONAIS DA CAVIDADE ORAL Amarelo-omarronzado: iodo e bromo.
Amarelo no colo dos dentes: cádmio (soldas. baterias,
As doenças da cavidade oral constituem. hoje. um importante
douradores) .
problema de saúde pública. Pela expansão das atividadcs de
verde: cobre, ferro. vanãdio e níquel.
risco. cm função dos avanços tecnológicos. os trabalhadores
Preto 01/ cinza: prata.
passaram a se expor maÍ!. intensa e diretamcnte aos aerodisper-
sóides industriais e ambientais. condição determinante ao Cáries. Pela concentração de açúcares ou farináceos, as-
aparecimento de muitas doenças ocupacionais das vias diges- sociada à ação bacteriana e fcrmcutnção. em doceiros, con-
tivas e aéreas superiores. feiteiros e padeiros.
262 • Tratado de Clinica Médica

Gengivas Neoplasias
o epitélio que reveste as gengivas é queratinizado e. pela presença O câncer de boca con. tilUi 2.3% das ncoplasius dos homens
constante de saliva, ele é naturalmente mais resistente às agressões e 0.7% das mulheres. Existem alguns fatores que contribuem
por agentes ocupacionais, Mas, além da deposição direta, eles po- para a ocorrência do câncer de! boca: genéticos. imunológicos
dem ser absorvidos e chegar às gengivas por via sangüíncn. e ambientais e, dentre estes, os ocupacionais.
Em outras oportunidades. a gengivite subclínica já está pre- O consumo de álcool e tabaco contribui muito para essa
sente e as lesões apenas se agravam, ao contato COI11 o agressor. ocorrência. Seu período de latência é prolongado e isso dificulta
Pigmentações. A poeira de carvão se acumula na su- O estabelecimento do nexo causal ocupacional. em decorrência
perfície da gengiva. enquanto os sulfcros de metais pesados da multiplicidade de agentes causais. Têm sido apontados como
são encontrados em partes mais profundas, originando linhas possfveis agentes causais: asbesto. cromo. níquel, carvão de
de pigmentação que têm como furor concausa I a má higiene coque, piches. fuligens, cloreto de vinila, derivados do benzeno.
bucal: do alcatrão e do coque. poeira de couro e de madeira. radiações
ionizantes e solares .
• Linha de Burton: de cor acinzentada. na borda gengival
dos incisivos inferiore . em trabalhadores que absorvem
compostos de chumbo. Discussão
Linha de Gilbert: de! cor marrom-escura. por precipi- As doenças bucais de origem ocupacional têm evolução lenta.
tados de sulfeto de mercúrio (garimpeiros. fabricantes mas são irreversíveis. Muitas vezes resultam em mutilações e
de lâmpadas e de tcrmômcrros). uso de próteses. com significativas repercussões psicossociais
Linha de vailty: esverdeada. por absorção de sais de cobre. e de auto-estima. Ressalte-se, portanto, a importância de sua
Linha de Dugnet: acinzentada. por absorção de sais de prevenção. perfeitamente possível, na maioria dos casos, não
prata. só pela redução da exposição a agentes causais, bem como, e
Linha cinza-avermelhada; por absorção de sais de bismuto. principalmente. pela educação do trabalhador quanto aos cui-
Inflamações. Agente como mercúrio. chumbo. bismuto. dados de higiene bucal.
arsênico, bromo. cromo. nfquel. ouro, prata. formaldefdo, névoas A literatura na área é pobre. em especial a nacional. Há
de fluoretos, ácidos e álcalis fortes podem causar gcngivircs carência de dados epidemiológicos que indiquem incidência,
crônicas. prevalência. custos sociais e econômicos dessas doenças.
Muitas gcngivites que não respondem ao tratamento podem
estar sendo mantidas pela absorção continuada de um desses DISfONIAS DE ORIGEM OCUPACIONAl
elementos. Eventualmente. as gcngivitcs evoluem para ulcera-
ções. hemorragias. periodontites com perdas dentárias e os- A voz natural é o som produzido pela interrupção do fluxo
tcomielitc. A exposição ao benzeno e o hiperbarisrno podem aéreo vindo dos pulmões por movimentos arivos das pregas
gerar hemorragias gengivais. vocais, que são modificadas por controle neuromotor, Ao mesmo
tempo. esse som é modificado pela ressonância de outros
compartimentos da vias aéreas superiores.
Mucosa Oral Qualquer alteração da forma das pregas vocais ou dos
Substâncias corrosivas (ácidos c álcalis fortes) podem provocar compartimentos de ressonância ou distúrbios da função neuro-
irritações c estomatites. com ulcerações e necrose de mucosa motora que controla seus movimentos pode resultar em disfonia
oral. Muitas vezes. a cicatrização forma retraçõcs. Outras subs- ou alteração de voz.
tâncias como mercúrio. chumbo. níquel. cromo, fenol, sais de Uma voz. para ser considerada normal. deve oferecer inte-
zinco ou de cobre podem gerar os mesmos efeitos. O bismuto ligibilidade (ser adequada), ser estética e acusticamente acei-
pode gerar pigmentações azuladas. As neoplasias bucais podem tável (ser agradável) e atender às demandas sociais e profissionais
ser induzidas por derivados de petróleo. asbesto, fibra de vidro, (ser competente). As disfonias constituem alterações da voz
formaldeído e também atingir provadores de bebidas, sopradores por modificações de suas características de normalidade, de
de vidro, soldadores e expostos a radiações. altura, intensidade ou timbre, isoladas ou associadas.
"A voz profissional é a forma de comunicação oral utili-
zada por indivíduos que dela dependem para sua atividadc
lábios ocupacional'".
Substâncias ácidas e corrosivas podem provocar disceratoscs, As disfonias de origem ocupacional constituem as altera-
fissuras c úlceras. As queilites podem ser induzidas por taba- ções da voz, tanto em seu uso intrinsecamente profissional.
co. máscara de borracha. em sopradores de vidro e trabalha- quanto em qualquer uso ocupacional,
dores expostos à radiação solar. Contato com derivados de A importância do estudo das disfonias ocupnciouais é grande
alcatrão e exposição à radiação solar podem contribuir para ii e crescente pela sua prevalência. pelos avanços tecnológicos
ocorrência de neoplasias. Monóxido de carbono e absorção que exigem cada vez mais o uso profissional da voz, pelo grande
de anilina podem tornar os lábios azulados. Os lábios podem impacto económico que tem gerado e pelo envolvimento de uma
ainda sofrer alterações ocupacionais por frio e rr a urna. gnrnn de múltiplos profissionais.
Basicamente, as disfonias podem ser causadas pelo conrato
de agentes irritantes (poeiras, produtos químicos. tabaco. gelados.
Degeneração Óssea
outros). por aiividadc vocal inadequada ou abusiva c pela condição
A mandíbula pode sofrer degenerações por fósforo-necrose da pessoa (alterações orgânicas. funcionais. psicológicas).
(indústrias de fósforos. de material fosforescente. de fogos de Constituem grupos de risco os profissionais que têm na
artifício) e por rádio-necrose. no operadores de aparelhos voz seu principal instrumento de trabalho: professores, locutores,
de raios X e radioterapia. cantores. mores. apresentadores de TV, operadores de teleaten-
O arsênico c o cromo também têm sido eitados como cau- dirncnto, vendedores. leiloeiros, operadores de pregão, tele-
sadores de necrose õs ea. fonistas. pregadores. tribunos, políticos, dubladores, feirantes,
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 263

tradutores e intérpretes, instrutores de modalidades físicas. entre Allamllese clínica: queixa principal. sintomas principais
outros. e associados. início e duração do problema. fatores de
Cada categoria profissional tem demandas e necessidades piora e de melhora.
próprias. com limitações de atividade e repercussões diferen- Histórico pessoal: doenças otorrinolaringolõglcas sis-
res, cm função de disfonia. témicas e p iquiátricas: desenvolvimento da voz e da fala;
A grande maioria de trabalhadores não recebe orientação estado auditivo. cirurgias. Ionoterapias. traumatismos,
ou trcinarnenro cspccffico para atender ti demanda vocal e outra hábitos (lazer, consumo de água. gelados. refrigerantes,
parteutiliza a voz profissionalmente cm condições inadequa- café. alcoólicos. tabaco, medicamentos. uso extra-ocupa-
das para esse exercício. cional da voz).
Histârico familiar: distúrbios de voz c da fala. problemas
hereditários, doenças dos ouvidos. do sistema nervoso
SintomatolOgia central. de vias aéreas.
Os sintomas principais das disfonias são rouquidão, cansaço Histôrico ocupacional: uso da voz na ocupação arual,
vocal.perda da voz (afonia). falhas na voz. astenia. aspereza. ambiente de trabalho (sala. ruído ambiental. climatização,
soprosidade. Variam em grau. duração. modo de instalação, sistemas de amplificação sonora. número de alunos
idadede instalação. relação com a demanda no trabalho. Podem por sala de aula), métodos de trabalhos (duração, intervalos.
sofrer influência de fatores de piora (uso abusivo. infecções hidratação), afastamentos. exercícios de outras atividades,
de vias aérea . alergias rcspiratôrias. ar condicionado. consu- ocupações múltiplas e anteriores. educação vocal rece-
mode gelado. de tabaco. de bebidas alcoólicas, de medicações, bida. bem como grau de satisfação com o trabalho.
estresse.ansiedade) e de fatores de melhora (repouso, terapias, Qnestionârios de risco: podem ser usados corno com-
uso de medicamentos). plemento. estabelecendo índices de proficiência. Alguns
Freqüentcrncntehá sintomas associados: pigarro. tosse. odi- modelos já estão sendo desenvolvidos no Brasil. mas ainda
nofonia,irritações na garganta, ressecarnento na garganta ou na não estão padronizados.
boca. tensões musculoesqueléricas (de cabeça. face. pescoço
ou ombros).
Exame Flslco
Classlllcação Além de uma avaliação física geral. grau de nutrição. aspecto,
Parau abordagem ocupacional, as disfonias podem ser clas- postura. estado mental. deve-se proceder a:
sificadas cm: • Exame otorrinolaringolágico básico (inclusive laringes-
copia indircta).
• Funcionals:
- Primárius (modelo deficiente, hábitos inadequados. Endofibroscopia: flexível, rígida (eventualmente com
falta de conhecimento vocal). estrobo copia).
- Secundárias (inadaptações anatómicas ou funcionais). Outros: Em situações especiais (periciais. por exemplo).
- Psicogênicas. outros procedimentos podem ser efetuados (elerromiogra-
• Organofunclonais: nódulos. pólipos. edema de Reinke, fia, quirnografia, biópsia, exames de imagens e outros).
úlccra de conrato. granulomas. leucoplasias. Exame fonológico (análise perceptivo-auditiva ou acüs-
Orgãnicas: malformações. laringites. tumores. paralisias. uco-computadorizada): qualidade da voz. extensão e habi-
esclerocdcma. lidade dinâmica. prosódia. tipo respiratório. coordenação
pneumofônica, sustentaçãode vogais. relaçõesconsonantais.
articulação. posturas vocal e corporal. tensões musculoes-
Avaliação qucléticas e aspecto de personalidade ligados ti voz.
A avaliação das disfonias de origem ocupaclonal é multipro- lmpressões do examinador: característica emocional,
fissional.envolve diversos profissionais diretamente compro- consistência e fidedignidade nas repostas.
metidos com o problema (médicos laringologistas, médicos
do trabalho. fonoaudiólogos, professores de canto. outros).
dependendo das circunstâncias e motivos da consulta. Terapias/Condutas
Os métodos e critérios de avaliação devem seguir diretrizes Por ser a multicausalidade muito freqUente nas disfonias ocu-
padronizadas para gerar condutas e relatórios homogéneos e pacionais. a comunidade científica reconhece a necessidade de
que atendam,simultaneamente. às necessidades do paciente/tra- uma normatização de condutas para disfonias ocupacionais,
balhadorc às exigências legais. não apenas para o diagnóstico. mas também para a terapêutica.
O diagnóstico é feito a partir da combinação dos dados de Em face da multiprofissionalidade da abordagem da doença,
anarnncse,exames físicoe instrumental. avaliação vocal e, muitas é ncccssãrio que a qualificação e a competência dos profissionais
vezes,de outros exames subsidiários. atuantes sejam bem definidas. para diagnóstico e tratamento
Antes de tudo. o examinador deve ouvir II voz do paciente. e para atuação em questões trabalhistas, previdenciárias e
Já terá. de início. uma noção de qualidade de sua voz e de seu judiciais.
estado emocional. Se, por um lado, o repouso da voz é necessário na fase aguda
das disfonias, o afastamento do trabalho tende a ser cada vez
Anamnese mais reduzido. O importante é o afastamento do fator de risco,
modificando o ambiente e o processo de trabalho. Nas disfonias
Um modelode anarnnese deve ser padronizado. para propiciar funcionais a fonoterapia é prioritária. acompanhada de edu-
documentaçãoabrangente. eficiente e passível de comparações. cação vocal. Recomenda-se que os trabalhos de readaptação
Deveconter: sejam realizados sem afastamentos. Os resultados têm sido
• Identificação: dados pessoais e profissionais. data, estado mais duradouros. quando li voz é adaptada em pleno exercício
emprcgatfcio atual. profissão. função. origem e motivo profissional, desde que os riscos ambientais passem por urna
do encaminhamento. redução eficaz.
264 • Tratado de C1inica Médica

Para disfonia .. organofuncionais e orgânicas. muitas vezes se Estima-se que circulem. pelas vias aéreas, cerca de 14.000L
impõe tnuarnento clínico ou cinlrgico. mas quase sempre seguido de ar, em 40h trabalhadas. Se for maior li utividadc fí~ica. maior
de Ionorerupin. com afastamentos mínimos necessários. ainda será a veruilação pulmonar e maior será II inalação de
Como medidas preventivas das disfonias ocupacionais re- substâncias indesejáveis.
comendum-se práticas de higiene vocal, hidratação constan- A rinite alérgica representa, hoje. um problema de exten-
te. corrcção de vícios alimentares. afastamento de poluentes são mundial. com tendência a se agruvur cada vez mais. em
e evitar o abuso da voz cxrra-ocupacional. virtude elo progresso industrial. com o surgimento crescente
O ambiente de trabalho deve ser limpo, bem climatizado. de novas substância .. alcrgênicas. o aumento das grande
em ruído de fundo e livre de irritantes (poeira. produtos de concentrações urbunas e da poluição ambiental.
limpeza. bolor. giz).
Quanto uo processo de trabalho. devem ser bem programa-
dos os tempos corridos de uso vocal, intervalos de repouso Definições
vocal. adequação da VOI ;" dimen. ÕC. do ambiente e no nú- Rinite é qualquer processo inflamatório da mucosa nasal. Quando
mero de ouvintes. ela é eosinofllica e mediada pela imunoglobulinu IgE, é chamada
de rinite alérgica, Primeiro. ela é promovida por um meca-
Legislação nismo de sensibilização e depois é dcsencadcuda por conuuos
subsequentes. por meio de uma re~r()~ta imune. Se ela for pro-
Para atender às ex igências da legislação vigente. duas questões
duzida por ulérgcnos do ambiente de trnbnlho ou. mesmo. for
de grande complexidade precisam ser resolvidas: o nexo causa!
preexistente, se seus sintomas forem desencadeados por agente
c a iII capacidade laborativa.
É extremamente difícil c ..tabclecer O nexo cau ai entre a dis- do ambiente do trabalho. ainda que não alergênicos, será carac-
fonia e O exercício do trabalho. A mulricausalidade da~ disfonias tcrízad» como rinite 1IIt!l;"ica ocupurional.
(emocionais, orgânicas. ambientais. sociocconômicav, outras) Cabe lembrar que outros irritantes podem gerar rinites
dificulta muito li comprovação de que a atividadc profissional irriuuivus orupocionais, não alérgicas. como podem desen-
causou ou agravou a disfoniu. Se a ocupação for um, entre outn» cadear reaçõcs alérgicas em trabalhadores previamente atópicos.
fatores. é difícil determinar até que ponto ela predominou. Substâncias irritantes. quando inaladas em grandes concen-
Por outro lado. roruu-sc ncccssiirio comprovar quanto O trações. podem gerar rinites agudas de origem acuparional
nmbicntc nu a condição de trabalho comribufram parti ti ocor- por respostas neurogênicas. as exposições continuadas li
rênciu da disfonia. irritantes poluentes. mesmo que em concentrações mais bnixas,
A incapacidade labornriva será outra questão de difícil ca- podem ocorrer as rinites crõnicus de origem ocupacionul,
racterização. visto que. na maioria das situações (disfonias
funcionais e orgauofuncionais), os pacientes poderão ter sua voz Epidemiologia
readaptada sem afastamento e sem troca de função. Em situa-
ções especiais em que o trabalhador deva se afastar definiti- A rinite alérgica é de grande ocorrência na população e, dentre
vamente dessas funções habituais ou possa voltar ti exercê-Ia . as rinitcs. sua prevalência !.6 é menor que a das virais. Embora
mas com maior esforço. estará curucterlzudu li incapacidade se disponha de fana literatura epidemiológica sobre rinite alér-
laborativa. Nesses CII~OS. () uubalhador rurá jus aos benefícios gica. sabe-se pouco sobre sua ocorrência relacionada ao traba-
previdcnciãrio .. (auxílio-acidente ou aposentadoria por acidente) lho. Ao comrãrio da asma ocupacional, que muitas vezesacomete
c 1'1 cstubilidade rcmporãrla no emprego, os portadores de rinite alérgica. não há muitos estudos dispo-
A carucrcrivação do nexo causal e da incapacidade laborativa níveis sobre esta e sua importância não tem sido muito valori-
deve ser ntexiadn pelo .. profissionais responsáveis pelo ateu- zada. N() entanto, a incidência é grande e rende a ser crescente.
dirncruo do paciente. que devem responder pelas implicações tanto quanto sua imponãncia para a saúde do trabalhador.
de suas ufirmnções, Estima-se que 20% da populaçâo tenham rinite alérgica c.
As normas legais vigentes. relacionadas direta ou indireia- 5%. não alérgica.
mente às disfonias ocupacionais, estão contidas: N" área ocupacional. tanto ela pode ser desencadeada pelas
• as Normas Regularncruadoras do Portaria nq 3.214: NR-I ; condições de trabalho. quanto exacerbada por cla. na . ltua-
1{-7 (PCMSO). R-9 (PPRA), NR-17 (ergonomia)". çõcs cm que seja preexistente.
• o Decreto n9 3.048 (06/05/1999). qUI::regulamenta a Pesquisas em muitos pafses apontam o aumento da rinite
Ld nO S.213 (24/07/1991)1. alérgica em trabalhadores rurais por se submeterem li scnsibi-
lizaçâo crescente a agentes nlcrgênicos. em geral de alto peso
molecular. Outros estudos destacam maior incidência cm traba-
RINITE ALlRGICA OCUPACIONAL lhadores urbanos. pelo aumento dos poluentes ambientais. Alguns
ulérgenos são de ocorrência vazonal , fazendo com que as cri-
Introdução ses de rinite alérgica ocorram predominantemente cm deter-
O traio respiratório é uma das principais portas de entrada de minadas épocns do ano. Outros são de manifestação perene.
substâncias estranhas ao organismo. As fossas nasais consti- com inicrcursos ele agravamento.
tuem o primeiro contare com os agentes inalados e executam
os primeiros mecanismos de dcfc: a: filtração, condicionamcmo
do ar. sensação de odores e de irritantes, São funções impor-
Patogénese
tarues. mas geralmente subestimadas. A rinite nlérgicu rcrn por característica uma inflamação crõnica
Pela sua localização. as fossav na ..ais ficam muito expostas das mucosas nasal e sinusal. por uma rcação alérgica tipo I,
a agcrucs nocivos. sejam eles gases. vapores ou aerodispcr õides mediada pela IgE. A rinite alérgica requer sensibilização prévia
(pocirns. fumos. névoas. neblinas). E ses agentes pOUCtTl ter e ocorre em pessoas naturalmente arõpicas, estimadas em 10
ação desconfortante. irrirante. alergênica ou corrosiva. No a 20% da população. Ao contare com aruígcnos cspecíflco
atendimento dos trabalhadores. muitas veze: fica difícil se- (os alérgenos). que j:1 teriam previamentc sensibilizado o
parar quais são os agentes de natureza ocupacional de quais organismo. os rnastócitos da mucosa se dcgranulam e liberam
não o são. substâncias (hisuunina, hcparina. triptasc, leucotrienos. pros-
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente a 265

taglandinas. citocina-, c outros) que provocarão hipersecreção Os exames laboratoriais não são determinantes para o diag-
glandular (riuorréiu). quimiotuxia (inflarnaçâo) c vasodilatação nóstico final. mas l>ão importuntcs. em situações em que se
(congestão). E~,c tipo de reação predomina com os antígcnos exigem comprovações o aumento de eovinõfllos no muco nasal
de alto peso molecular. e no sangue. o nurucnro da IgE no voro e a pesquisa das IgE
Outro tipo de rcvpovia é a neurogênica. em que o estímulo cspecüicas.
provoca um reflexo que ger .. profusa rinorréia. Os rcsic» cuiâncov trazem grande comribuição. quando se
O~ agente, irritantc-, por vua \ er, provocam uma rcação dispõe de umovtrav dov pos ..fve" agentes causais.
inflamatôria não covmoffhca. com distúrbios do, mecanismos Exames que avaliam a rcsivrêncin nO"11 ao fluxo aéreo
de defesa (movimento rnucociliar), lesões celulares dircias e (rinornanometria. rinometria :leúMica.I)(!(I~fl(J1I' nnsal) podem
aumento da resistência ao fluxo aéreo nasal. em r:lIão de con- ser üicis. princlpulmcntc quando ~e fu/em testes de provoca-
gestão e secreção ção nasal.
Urna caracrcrística da nnuc alérgica é que a~ rcaçõc: são Todos e~~c:..exames carecem ainda de padronização e nor-
quallrativa« c acumulariva-, e. por conseguinte. independem da matização. Ainda são ncccssãrio« muitt» estudos para estabe-
concentração dos agcntev no ambiente. No escopo ocupacional, lecer critério, de rc-povras positivas. Essas imprecisões terão
não haverá limites de tolerância para ubsrãncia- potencialmente muita Implicação na\ áreas ocupacional. prcvidcnciãria e pericial.
alérgenas: seu afasrarncmo deverá <cr total. Quanto à!> substância» Para o diagnóstico diferencial. uuxiliam muito os exumes
irritantes. devem ser observados os limites de tolerância pro-
de imagem (radiografias convencionais e tomografias compu-
postos pelas normas oficiais.
radorizadus).
É muito comum a rinite alérgica vir :I..
,-..ociada a outras afecções:
O diagnéstico diferencial deve ser feito entre outras rinites
sinusites, conjuntivires. dermatoses e. principalmente. a a. ma
não ocupacionais (infecciosas. vasomotoras, medicamentosas,
ocupacional: esta. provocada por agentes de alto peso molecu-
metabôlicas. hormonais, atróficas), para estabelecer o nexo
lar, é quase sempre precedida de rinitc alérgica. A prevalên-
cia de rinite ocupacional cm portadores de asma ocupacional causal. o que nem sempre é possível.
é de 76 a 92%. Entretanto. a rinite ocupacional é três vezes mai Para se determinar a relação com o trabalho, é importante
prevalentc que a asma ocupacional. Muitos portadores de rinitc anotar se há melhora com o afastamento. piora com a perma-
ocupacional evoluem para a asma ocupacional. que é uma afecção nência no ambiente de trabalho. períodos e tempos de expo-
de maior gravidade. sição e. se possível. uma listagem de todos os produtos de
contato dircto. O:, teste de provocação nasal seriam determi-
nantes. ma eu u o rotineiro é impraticável. pois requer con-
Clinica dições especiais de egurança. por cau a dos pos Iveis riscos,
O diagnóstico da rinitc deve \cr feiro primeiro pela história em especial aos portadore ...da asma ocupacional,
e exame I'rsico. Dcpoiv, procuram-se identificar ()\ possívei«
agentes causni» e comprovnr. quando pov ..ívc]. sua relação
causal com n dcvcncndcnmcnm ou o agravamento do quadro Agentes Causais e Grupos de Risco
rinüico (nexo ('(/11.\(//).
O quadro clínico é caractcrfl>ticll: evpirrus, rinorréia cris- São incontáveis os agentes cau ai .. listados na literatura:
rallnn, prurido c c{)lIge~tiil1nuxul. Sintonia' gerais, corno mal- • Os acrilatos afctarn os trabalhadores fabricante de têxteis,
estar, cunsuço c irritubilidadc podem estar presentes. Em fases revestimentos. fitrros. resinas. adesivos.
mais uvunçndns podem vurgir unosmiu c agcuslu. Em outras • Amprolina e cloretos estão presentes cm frigorClicos, IIV(-
ocasiões ocorrem disfulI,õe~ tubrlriav, com queixas de rcpcrcu - colas e aviários.
sõcs auriculares. • Anidridos ácidos em plastificaçilo c f;1bricas de poliés-
São fundnmcntnls o hivréricu familiar e o ocupucional. ter. pesticidas. essências.
Quandoos pais ~i1()ulérgicos, é muito grande ti possibilidade • Carbonetos rncrâlicos (de umgstênio. cobalto. titânio) estão
de os lilhos também I) serem. na fabricação c afiação de Icrrnmcntns,
Devem ser unotudas IOdas as curacrcrísticas do trabalho: do • Corantes (azoquinona. amroquinasc) em tinturarias. cabe-
ambiente. dll~ suhstâncins presentes. do processo de trabalho, leireiros. fabricação de alimentos e tecidos.
da presença de nr condicionado. câmaras frias. tabaco. choques
• Cromo e compostos. em galvanoplustias, dccapagells.
térmicos. etc. Alovi~ita., ao~ locai~ de trabalho são fundamentais
soldas. fabricação de liga:. metálicas. cimcnto. rcfratá-
para a caracteri/_a,ãu do ncxo cau\al.
rio~. pigmentos. couro, mordentes.
Além dos sintoma, próprio" da docnça. a Tinite alérgicn pode
• Diisociannto . na fabricação de poliuretano (espumas.
provocar cfeito~ quc dctcrioram a qualidade de vida e a atividade
revel>timento~. vedante:.). têxteis e tinta\.
profissional de lICUportador. como fadiga. dilotúrbiolo das habi-
lidnde~cogniti\ a~. irritação. an~iedadc. deprc~:..ão. dcsatl!nção • Enzimas. cm padaria~. f(tbrica\ de detergentes e produtos
e conMrungimento\ Precl ..am 'er também considerados o farmacéutico~.
ab entclslI10 c a redução de produtividade como con\cqüências • Formaldeído. na prel>ervação de tecidos. embalsama-
da doença. Muito cuidado .,e de\c tOmar com apre crição de I1lcnto~. curlume~. fabricação de re:..ina\. látex, produtos
anti-hi tal1línico~ dc primeira gcração. que dão sonolência. de borracha.
para 11I0tori\ta~. pi luto, e uperadore, de máquina~ pesada~. • GOl1la~ vegetaÍll. em cabeleireiros. gr~licos. fabricação
Ao exame físico. l>ào caractcrístico. a f:icies de relopirador e comércio de ltIpete~ e cnrpete\.
bucal. edema palpebral e prega tranlo\er,al na pele do dorso • Grãos. cm depó:..itol> e comércio de alimentos. estiva,
nasal. À rinol>copia anterior. a mUCOloanallal :Iprc~enta-se túr- zona rural.
gida, pálida e com ~ccre,ã() cri\talina. À rino~opia pmterior. as • fquel c compOMO:'. em extração. fundição, relino, galva-
caudas dos corneto" inferiores podcm apresentar hipcrtrolia e noplaMias.joalheriu~. rabricação de pilhas. baterias, ele-
palidez: é freqüente encontr:tr-~e !>ecrcção e~pc~s:l na rinofaringe. trodos. borracha sintética. mordentes.
A mucosa orofarínge:l apre enta-M! irritada. pela rinorreia posterior • Pentóxido de vanúdio. em catulisadores.lil1lpeza de óleo,
e pela respiração bucal. laboratórios fotográlicos e de colorat(ão.
85-724t·598-X
266 • Tratado de Clínica Médica

• Pirólise de plástico, no fechamento de embalagens. Fatores de Risco


• Poeiras de algodão, linho. cânhamo. sisai, em fabrica-
Alterações preexistentes podem facilitar a instalação das rinites:
ção de óleo vegetal. padarias. carda e fiação de algodão
e cordas. • Desvios de septo nasal, hipertrofias de cometes, pólipos
• Poeira de cimento. na produção de cimento e constru- nasais, estenoses de fossas nasais. arresta de coanas,
ção civil. corpos estranhos, tumores. rinitcs crônicas ou recidivantes.
• Poeira de madeira, em fábricas de móveis, serrarias. • Di túrbios de transporte mucociliar,
carpintarias, marcenarias, construção civil. • Algumas afecções sistêrnicas (alergia, diabetes, endccri-
• Poeiras industriais de mamona e café, nas indústrias de nopatias, colagenoses, imunodeficiências, outras).
óleo de rícino e de café. • Uso de drogas ou medicamentos no nariz.
• Proteínas animais, em fabricação de alimentos, granjas, • Contato com irritantes domésticos (detergentes, inseti-
criadouros, laboratórios, clínicas veterinárias. cidas, tintas, outros).
• Proteínas vegetais, nas fábricas de alimentos, de látex, • Irritantes ambientais (fumaça, tabaco, ar condicionado,
padarias. fazendas. outros).
• Tabaco. na plantação e indústria de fumo. São muito numerosos os agentes causais referenciados na
literatura. Os mais citados são:

Tratamento Curativo • Compostos de cromo, níquel, manganês, antimônio, titânio,


selênio, vanádio e arsénico (indústria, solda, galvanização,
Nos períodos críticos, são usados corticóides ou anti-histamí- conservação de madeira, petroquímica, acumuladores,
nicos, por via sistêrnica, sem ou com vasoconstritores, Lava- pilhas e baterias, outros).
gens nasais com soro fisiológico são necessárias na presença • Compostos de flúor, iodo. bromo, cloro (indústrias química,
de muita secreção e nas inalações de substâncias irritantes ou farmacêutica, plástica, siderúrgica, cerâmica, de fertili-
corrosivas. Nos intercursos, auxiliam o corticóide tópico ou o zantes, outras).
cromoglicato sódico. Nas rinorréias profusas, o brometo de • Cimento, às vezes com formação de rinólitos nasais ou
ipatrópio pode ser indicado, por seu efeito anticolinérgico. sinusais.
A imunoterapia é bastante usada em clínica, mas não tem • Ácidos fórmico, hidroclorfdrico e hidrofluorídrico. fenol,
muito espaço na área ocupacional. arnônia, anidridos (indústrias plásticas. de borracha.
fertilizantes. tintas, corantes. resinas. outros).
• Óxido de enxofre (queima de resíduos, caldeiras, gera-
Tratamento Preventivo dores, fornos. solda).
Todo o empenho deve ser feito para identificar os agentes causais Fumos emanados de fabricação de borracha, plásticos.
e afastá-los do ambiente, eliminando a exposição, até mesmo óleos. solventes orgânicos, névoas ácidas ou alcalinas.
afastando o trabalhador, em última instância. A exposição extra-
ocupacional, principalmente a doméstica, também deve ser Diagnóstico
controlada, tanto a alérgenos,quanto a irritantes. inclusive tabaco,
ar condicionado e poluentes do ar. O diagnóstico é feito por história e exame físico. As rinoscopias
Medidas de proteção coletiva devem ser implantadas. como anterior e posterior mostram as diversas alterações da mucosa
a instalação de sistemas de ventilação ou exaustão. enclausu- (edema. hiperemia. ulcerações)e do muco nasal.A rinoübroscopia
ramento de máquinas e proteiores individuais, como másca- pode ser muito útil e. eventualmente. alguns exames de labora-
ras, luvas, roupas. Medidas administrativas podem alterar o tório podem ajudar a identificar o agente causal. Em decorrência
processo de trabalho, reduzindo a população exposta com ro- da multicausalidade, fica difícil estabelecer um nexo causal entre
dízios, redução do tempo de exposição, do tempo de perma- a doença e a exposição a agentes do ambiente do trabalho.
nência ou de passagem por áreas problemáticas, etc., além de
ensinar noções de higiene ambiental e corporal. Podem con- Tratamento e Prevenção
tribuir positivamente, também, as campanhas de promoção de
O tratamento é preferentemente à base de medicação tópica e
saúde, de controle do consumo tabágico, de higiene corporal
lavagens com soro fisiológico, mas deve, basicamente, pro-
e doméstica.
mover a atenuação da exposição ao agente causal e corrigir os
É obrigatório o exame médico periódico e, muitas vezes, o
fatores predisponentes locais e sistêrnicos.
encaminhamento ao especialista, para confirmar diagnóstico A prevenção se faz com vigilância ambiental, visando ao
e tratamento. controle e à atenuação da exposição aos agentes causais (subs-
tituição, enclausurarnento, isolamento. exaustão); interven-
ção na organização de trabalho (redução dos estressores
RINITES Nlo Al'RGICAS DE ORIGEM OCUPACIONAl ambientais, redução das pessoas expostas e dos tempos de
exposição); prátjcas de higiene corporal c ambiental; exa-
Definição mes médicos periódicos; fornecimento, treinamento e con-
A doença inflamatória das mucosas nasais caracteriza-se por trole do uso de protetores individuais (máscaras, respiradores,
obstrução nasal e rinorréia, eventualmente çorn irritação, prurido filtros, suprimento de ar).
a espirros. Pelo seu alto grau de exposição ambiental e por ter
mecanismos de defesa mais limitados, as fossas nasais cons-
tituem um dos sistemas orgânicos mais vulneráveis II poluentes SINUSITES DE ORIGEM OCUPACIONAl
ambientais.
As rinites podem ser agudas ou crônicas e estas, não sendo alér-
Dellnição
gicas, podem se manifestar como hipertrôficas, atróficas, vaso- As inflamações de mucosa sinusal são chamadas de origem
motoras, poliposas. supurativas, granulomatosas ou ulceradas. ocupacional quando o exercício da atividade laboral de seu
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 267

portador desempenhou um papel contri bUIivo ou adicional em Na fase crônica. os exame de imagem costumam ser muito
cu desenvolvimento. pois a etiologia gcrulmcnie é multicausal. úteis. principulmcntc a tomografia computadorizada. O exa-
Podem ser agudas ou crõnicav. c-tas quando duram mais me radiológico convencional vem tendo seu uso cada dia mais
de quatro semanas. Por vua narurcva, podem er de origem restrito.
alérgica ou provocada, pela avplração de agcruc irritante ou Eventualmente. alguns exames de laboratório podem ser
contaminantes (víruv, bactérias. fungos). Podem ainda atingir úteis. em especial para identificar o agente parõgcno.
cavidades sinusaix i,ol:ld:l' ou grupamcntos delas. A multicausalidade torna muiro difíci I estabelecer um nexo
causal entre a ocupação e a doença.
fisiopatogenla
No início. a mucosa atingida reage aumentando a produção
Tratamento e Prevenção
de muco. com a finulidudc de eliminar prontamente o agente O rrntnrncnto. a cargo de cspcciatisras. recomenda o afastamento
agressor. Em seguida. a atividadc mucociliar fica reduzida. a da exposição ao agente causal. Pode ser clínico ou cirúrgico,
mucosa se cdcmacin c isso contribui para a obstrução dos ó rios local ou sisiêmico. Objetiva principalmente eliminar os agentes
de drenagem natural. Ocorrem então um déficit de uerução da causais. tanto os irritantes. quanto os infecciosos, garantir a
cavidade e uma retenção anormal de muco. que facilitam a aeração sinusal e a remoção de estruturas obstruentes nasais
proliferação dos germes presentes, Com o assédio dos ele- e ostiais.
mentes sangütncu« de defesa, pode instalar-se um quadro A prevenção se faz com vigi lflnciu ambiental. visando ao
supurativo. controle e à atenuação da exposição fiOS agentes causais (substi-
Se o quadro patológico não ror corrigido, o espessamento da tuição. cnclnusuramcnto, isolamento, exaustão); intervenção na
mucosa tende a se tornar definitivo. as im como a obstrução organização de trabalho (redução dos estrcssores ambientais,
ostial e a má acração: o processo. então. torna-se crónico. redução das pessoas expostas e dos tempos de exposição); práticas
de higiene corporal e ambiental; exames médicos periódicos;
Fatores de Risco fornecimento. treinamento e controle do uso de protetores indi-
viduais (máscaras. respiradores. filtros. suprimento de ar).
Tale qual nas rinirc» n50 alérgicas. muita, uhcraçôc: preexistentes
podem facilitar a instulnção da doença sinusal:
PERFURAÇÕES DE SEPTO NASAl
• Desvios de septo nasal. hipertrofias de cornctos, pólipos As perfurações de septo naval de origem ocupacional ocorrem
navaiv, csrenoses de fossas nasais. atrcsin de coanas.
por ação local de acrodi-pcrséidcs irritantes. que provocam
corpo' estranho . tumores. rinitcs crônicas ou rccidivantes.
ulcerações de mUCO~:l nusal c necrove isquêmica da cartila-
• Distúrbios de transporte mucociliar. gem sepial. Elas não covrurnarn acometer o septo ósseo.
• Algumas afecções sisiêmicns (alergia. diabetes. cndocrino-
parias. colagcnoses, imunodcficiêncin v, outras).
• Uso de droga .. ou mcdicarncntov no nariz. Fatores de Risco
• Contam com Irritantes domésricov (detergentes. inseri- As perfurações são provocadas pela ação de agentes irritantes.
cidas. tintas. outros). em alta concentração no ar inspirado, sobre ti mucosa cpral. na
• Irritantes ambientais (fumaça. tabaco. ar condicionado, qual predomina a secreção serosa sobre a secreção mucosa. o que
out ros). a torna naturalmente mais vulnerável ii agressão. Acrescen-
Os agentes causais mais referenciados na literatura são: tem- e uma higiene nusal precária e a provocação de micro-
traumas, para remoção de crostas e a suscctibilidade individual.
• Compostos de cromo, zinco. ntqucl. cádmio. manganês, Muitos agentes ocupacionais têm sido relatados como causais:
selênio c arsênico (indústria. solda. gulvnnização. con-
servação de madeira. outros). • Cromo e derivados (galvanoplasrias, curtume, solda. Ia-
• Compostosde flúor, iodo, bromo, umôuin (industria química. bricução de cimento, soldas. impressão fotográfica. outros).
fnrrnacêuticu.siderúrgica. cerâmica, de terti lizamcs. outras). • Níquel (galvanoplastias, fábrica de baterias, metalurgia).
• Cimento. às veze-, com formação de rinólitos nasais ou • Cádmio (galvanoplastias. fundição de ligas metálicas.
sinusais. solda .. fabricação de acumuladores. outros).
• Sílica (fundição. cerâmica. mineração. pedreiras). • Arsénico e compostos (metalurgia. fabricação de parasiti-
• Fibra de vidro. cidas, de rintus, de material clctrônico. de vidro. de semicon-
• Fumos emanados de fabricação de borracha. plásticos. dutores. conservação de madeira. empalhamento de animais,
óleos. solventes orgânico v. névoas ácidas ou alcalinas. outros).
• Manganês (extração. fabricação de ligas. de pilhas e acumu-
ladores. de corantes, vidros. cerâmica. tintas, fertilizantes.
Diagnóstico soldas. outro ).
É comum que as ~inu\lte' ocupaclonais sejam acompanhadas • Ácido cianídrico e derivados (galvanoplastias, combustão
de rinites. de espumas de poliurcrano).
Os principais sintomas locai), são secreção nasalou pós- • Antimónio. berílio. selênio, vanãdio, sitiemo de alumínio,
nasal. cefaléia frontomalur, odontalgias de arcada superior. outros.
peso ou pressão malar, congestão na. al, hiposmias ou cacosmias. Existem. também. agentes não ocupacionais. que podem
haJitose. pigarro. pressão nos ouvidos. utuar isoladamente ou como concausas (microtraurnas, traumas
Alguns sintomas gerais podem ocorrer. tais como mal-estar. cirúrgicos. aspiração de drogas, infecções. outros).
fadiga. febre.
O exame físico (rinoscopius anterior e posterior, nasofibros-
copia) revela edema c secreção anormal nas mucosas mental
Diagnóstico
e pés-nasal: alguns ponto» faciais (pontos sinusais) podem doer O diagnóstico das perfurações scptais se faz por anarnnese
à compressão. clínico-ocupacional e uma simples rlnoscopia anterior.
268 • Tratado de Clínica MMica

Os intomas iniciai são ardume nasal. rinorréia, às vezes situada na parte alta das cavidade nasni«, A~ altcraçõe torai •
sanguinolenta e formação de crosta . Surgem com um tempo qunlitativas ou permanentes, e tão maiv ligadas a transtorno
muito variável de exposição (de lrê.! meses a três anos). Indolores. dos nervos olfatério ou das vias olfatórial> ccntrals.
as pcrfuraçõe eprais são. quase sempre, assimornãticas. pas-
ando despercebidas e constituem simples achados rinoscõpicos
de rotina. fatores de Risco
Eventualmente se acompanham de quadros rinossinusnis Para as hlposmins dc condução. são futures predisponenres as
ou de episiaxcs. São também relatados períodos de hiposmia. rinosslnuslrc« crônicas, poliposcs, ccrpos estranhos, tumores.
Na. pequenas pcrfuraçõe . podem ocorrer "assovios" ti inspí- dcformidudcs e desvios nasniv. avsim como o lI~O continuado de
ração profunda ou ti emissão de alguns fonemas. o que pode medicação rõpicn nasal. Paro o~ disovmias. em geral. podem
gerar constrangimento e repereus ões psicossociais. Nas grandes ver apontado como fatores causais os distürbios ncurológicos.
perfurações, precedidas de grandes formaçõc de cro las. pode psicolõgicos. hormonal . infecciosos. ncurovegerarivos.tumorais,
ocorrer o desabamento do dor. o na ai cartilaginoso. gerando renais e seqüelas de traumas.
problemas estéticos. Na imen a maioria dos casos. porém. a O, agentes ocupacionais mail>citados. na escassa literatura
perfuração nasal é absolutamente a sintomática e desconhecida divponfvcl, como geradores dc ano, mias. muitas vezes defi-
por eus portadores. nitivas, são:
• Cádmio c compostos (gulvunoplnstias, fundição de ligas
Tratamento e Prevenção mcrãlicas. soldas. fabricação dc acumuladores. outros).
Além da eliminação do agente causal. os portadores de per- • Hidrocarboneto alifáticos (solventes, desengraxadores,
furações septai devem ser encaminhado ao e pccialista para produtos de limpeza. fabricação de eletroeletrônicos, de
avaliação do grau de compromerirnento e possíveis sequelas tinia. vernize . adesivos. petroquímicos).
incapacitantes. Quando muito sintomãtico . pode- e indicar • Sulfeto de hidrogênio (indústrias metalúrgica, química
o uso de próteses oclusivas (rernovívei ). O tratamento cirúrgico e de fertilizantes),
não é muito promi oro em razão do alto índice de recidivas. • Cimento (fabricação e construção civil).
Como a maioria dos caso é a imomãtica. é muito difícil • Ácido sulfúrico. amónia (indústria químicas, de ferti-
e delicada II uvaliação de incapacidade ou deficiências gera- lizames).
dn' pclulI perfurações de septo nasal. Muirav vezc pe. arn mais • Formaldeído (têxteis. embal amadores. madeireiras.
ns sintomas associados (sangrumcntos, distúrbios olfatõrios. fabricação de desinfcramc • corantes. tintas. germicidas.
rinossinusopatias. excesso de crostas, ulteruções estéticas e mõvci ).
os desagradáveis ruídos resplratõrlos UII funatórios). • Dissulfeio de carbono (fabricação. têxteis, solventes. para-
É Iundnmentul a vigilâncin ambicntul. com o controle dn suicidas, vernize . re inas, outros).
exposição. por automatização de proccs: os de produção. • Acrilato» (indústrias têxteis. de rimas),
enclausuramcmo ou i clamemo de setores. exaustão c outros • Radiações ionizantes (extração. fabricação. rcatores.
aniffcios de neutralização do irritante, Devem-se promover Iaboratõrios. indú Iria ).
ngorosu moniroração da concentração do, irritantes no am- • Chumbo. cromo. níquel. zinco. outros.
biente de trabalho e mudanças na organivnção de trabalho do
sctorcv compromctido (redução do número de pes oa ex- Dlaga6stlco
postas c dos tempos de exposição).
Devem ser disponibilizados equipamentos competentes de Em decorrência da ubjerividade das queixas. recomenda-se
protcção individual (máscaras. rcsplrndorcs. aventais. luvas. uma anamnese clfnico-ocupacional padronizada. pelas difl-
óculos) c seu uso deve ser eficazmente controlado. além de culdades de se estabelecer critérios de estadiamcnro, nexo causal
Incilldadcs de higicnlzaçãn pessoal e ambiental. e necessidade de afa tamemo,
Os exame médico peri6dicos silo indispensáveis e os Um exame físico padronizado deve avaliar o estado geral
trabalhadores devem ser suficientemcmc instrufdos sobre higiene das fossas nasais (rino copia e rinotibro copia) e. exames de
pes oal e local. u o de prolclores. causas e efeilos. afastamento imagem por tomografia cornpuradorizada, das cavidades nasais
dc concausa (microlraumn. con. umo labágico. de drogas e e parana.-,ui!l. Na au ência de problemal> locai • procede-se ~
OUlro irrilanle). avaliação neurológica.
Silo pouco di ponívci o exnme dc olfUlomelria e suns
técnicas :Iindu não ão padronizada!>. nem normalizadas. no
IlTEIIÇIES II IlflTI IE IIIIEM ICUPICIONAl no~~o mcio.
Poderão ser muilo úleis o:. informcs cpidemlológicos e. even-
Dellnlções tualmentc. un~li~cs loxicológicas do ambicntc de trnbnlho.
Do ponto de vbta quanlitalivo. l>ãochamadas de hipo,wlias a~
reduçõc1> parciai dn capacidade olfatória e dc (//W.fIIlitIS as in-
capacidades IOlais. que podem ser lemporárias ou permanentes.
Tratamento e Prevençio
Sob o aspecto qualiulivo. fala- c em ac"osia olfauSrill(difi- Não há IrlItamcnlO e pedfico pum tiS uno~ll1lus. Illas em cnsos
culdade parn idenlificnr odore ). alioslllias ( ensaçõcs desu- recente:. pode-.c obler alguma melhora comlralamcntos c1fni-
gradáveis para odore agradáveis) e paroslllias (:.ensação de co, ou cirúrgico. principalmenle em condulivtls. pela remo-
odores fanlasmas). ção do~ ob.láculo :. pas agcm do ar pelu área olfatória.
Devem :.er lambém lembradas as cacoslllias. que ão 'en- No caso de anosmia permanenle. é dil>culível a necessidade
sações de odore desagradávei pelo pr6prio pacienlc (subje- de ufa:.lamenlo do ambienle do lrabulho.
livas) ou por 00 Iras pessoas próximas (objcliv:l!». muilo freqUentes Em algum:t!l siluações ocupacionab. em que u boa olfação é
nas rinos inu opalias. neces~~ria. seja para o desempenho da própria função, seja por
De modo geral. as reduções parciai ou lemporária refletcm impaclos no mecanismos de defcsa. ti incopacidade laborativa
problcmas de condução da correnle aérea alé a área olfatória. I>oderá ser caracterizada.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 269

A vigil:incia ambiental. visando 11redução da exposição epidcrniolégicos para o câncer ocupacional ainda são c cas-
aos agente, cauvuiv, é fundamental para a prevenção de casos sos no Brasil. 0' dados disponíveis. o-,de cabeça c pescoço
novos. A monitornção da concentração de agentes. o emprego não estão entre 0' de maior ocorrência.
de equipamentos de exaustão. isolamento. enclauvurumcnro e O câncer ocupacional é rnaiv freqücntc no homem do que
as modiflcuções na urgani/3ção de trabalho podem contribuir na mulher. inclusive o de cabeça e pc-coço.
para li redução dn c)(po~içilu e do mimcro de pes,oa~ expostas. O~ cânceres de cabeça e pescoço representam 5 II 10% de
O uso competente de equipamentos de prorcção individual (más- rodos (l~ tumores malignos. Quando de origem ocupucional,
coras. filtros. roupns e disponibilidades para higiene pessoal e são apontados como os de maior ocorrência: laringe. cavidade
local podem atenuar ~ignific:lliv:lIl,ente U expovição. oral. pele e nasossinusais. São ctasslficados como grupo II
O exume médicu pcriédlco. com orientação uo trabalhador. da Classificação de Schilling. ou seja. a condição de trabalho
é indbpcn,tivel. Eventu:llmente. procede-se no encaminhamento é considerada faror de ri co em sua etiologia.
no cspcciulistn. pura diagnõstico causal. cventuai .. tratamento, e Outro, fatores de ri co costumam estar presentes. como o
avaliação de grau de ri-co. consumo rabãgico (com fone relação dose-dependente), o uso
abuvivo de bebidas alcoólica (como Iator multiplicador de
CINCER DE CABEÇA E PESCOÇO ri~...o) e hãbuov higiénico precário. inclusive alimentares.
O câllcer tia laringe tem seu pico de ocorrência da quarta à
RELACIONADO AO TRABAlHO sexta Mcadal> da \ ida e é mais prevalcntc no homem. Cin-
qücntn e sete por cento dele ocorrem na região glótica e 35%
Conceito são supragtôticos. ovenia e cinco por cento das neoplasias
O câncer de cabeça c pescoço deve ser considerado relacionado malignas da laringe são carcinoma epidermóide. Associada
ao trabalho quando decorre da exposição a agentes cancerígenos ao consumo dc tabaco e de alcoólicos. a exposição a agentes
do ambiente de trabalho ou de interaçâo deles COIl1 outros fatores cancerígenos do ambiente de trabalho pode gerar a carcino-
de risco. gênese ou promover a interaçâo de outros fatores. Dentre os
Acredita-se que agentes endógenos sejam capa/e de pro- agente: ocupacionai . destacam-se as névoas dos ácidos
vocar mutações das células. Essa ação. por ua vez, co ruma inorgânico forte . níquel. cromo. asbesto.fibras minerais, óleos
ser neutralizada por outros agentes. agora supresvorcv, Quando de corre. radiações ionizantes. hidrocarbonetos aromáticos,
esse equilíbrio é rompido. geralmente por múltiplos fatores, pó de madeira c de cimento, alcatrão, breu de carvão e outros.
a maioria deles ambientai". o tumor se desenvolve. j uma fase 00<'rânrrres de boca, 90 a 951if-,ão carcinomas espinocelu-
inicial, ocorrem mutações irreversíveis no material genérico larc .. Silo de grande ocorrência, no Brasil. principalmente no
das células (inicil/rt;o). Em fase mais adiantada. ocorre ii fase homem. É relevante destacar, como furores não ocupacionais
de promoçã», em que a<;células transformadav se proliferam. de risco, o tabaco. o ãlcool. a m:t higiene oral. algumas viroses
dando origem ao tumor. quc pode. mais tarde. crc-ccr e dis- e incorrcçõcs alimentares. A eles podem se associar os ugcn-
seminar. O período de latência entre a cxpo ..ição a um agente tcs ocupacionais: rudiações ionizantes c nerudilolx:rloóiucs(cromo.
cancerígeno e a evidencia clínica do tumor pode durar de 20 nlqucl. formnldcído. poeira dc cimento e de madeira).
a 50 anos. para o, tumores sólidos. Isso dificulta muito o O carcinoma basocclular predomina entre os cãnceres de
estabclccirncmo do ,,(!W causal entre o câncer c a cxpovição pele. seguido do cspinocelular c do rnclnnornu. A etiologia do
ocupacional a agente cancerígeno. carcinoma buvocclular esrã relacionada à exposição a radia-
ESlim(l-.~cque 60 a 90C'} desses agentes cjarn de origem ções não ionizantes. cspccinlmcntc em trnbalhadores de pele
ambiental e ~ a 25t:( deles. de origem ocupacional. muito clara e que trabalham expostos 11lu/ solnr,
Os fatores umbicntais considerados canccrígcnr» são. CI11 Os cânceres de cavidades nasais e paranasuis são de baixa
geral, produ/idos ou modificados pela atividadc humana. Podem prevalência na população cm geral e a maioria deles acomete
estar presentes no ambiente de trabalho ou estar relacionados os antros maxilares (cerca de 60%). Têm, também, como principais
a hábitos. estilo de vida. higiene. nutrição. rnicrotraurnus e muros. falOres de risco O tabuco e o álcool, quc podcm. 110 ambientc
Em contrapanida. há cerca de 30% de fatore!> causais de dc trabalho. ~e ulIsociar a radiações ionii':lntc~ e IIcrodisper-
origem desconhecida. não ambientais. que podem e. tar rela- sóidc!> (cromo e seus composto . cádmio. névoas dc ácidos
cionados a fatorcs genéticos ou mutações e~pontâneas. fortes. poeiras orgânicas de madeira e dc couro. esporos de
fungo. furmaldeído. solvente. a beSIO. ácido hidrobrômico
Epidemiologia e gás hidrocarbônico).
Apesar da grande \ ariação dos dados el>tal(sticos. acredita-se
que o cfinccr tenha maior prevalência no:, paí)Clo de:.cnvol vi- Diagnóstico e Nexo Causal
do~. cm rtllUO de l11aior exposição a agente~ cancerígenos e.
também, dn maior longcvidadc da população. O diagnóstico do câncer ocupacional otorrinolaringológico é
Nos pllfsclocm dc~cnvolvirnenlo. cntrClanlO. fi tcndencia é n feito por histórico clínico. examc físico c imagem. mas n con-
IncidCnclll tlUIIII.:nUltla.não só pelo aumento progressivo da firmação é sempre anatomopatológica. A unowção do histó-
exposição. COIIIU tlllnhélll pela mcnor atuaçilu e ilwe,tirnento cm rico ocupacional. presente e pregresso. dos hábitos e do histórico
Il1cdidu~preventiva" ma boa parte dOlorntore~ cau,ais po- social e ambielllal é dc marcada imponânciu. O cstadi:Hnenlo
deriu. em tc~c. e~tnr relucionada a alguma ntividatle ou expo- c a prc cnça dc mctá tases serão detcrminantes para prognós-
siçno ocup:lcional. I)ur i\~o. tal pos!>ibilidudc deve \er sempre tico e tratamento.
invcMigada. Aqui também é necessário o de envolvimcnto de diretrizes
As e~l:Ití'licu, internacionais variam muiw. principalmente de atendimcnto padronitado. com coleta de dado!> abrangente.
quando e~tratificada, por tipo histológico. por faixa etária. organi7ada e. sc pos h'el. informatizada. em bencffcio não só
por se)(o. por :ttividade ucupacional. por tcmpo dc exposição do pacicnte. ma lambém da coletividade. para o desenvolvi-
ou por perfodo de latencia. O fatores ambientai~ têm muito menlO de basc. cstatísticas confiáveis.
II ver com a geogralia (hábitos alimentarcl>. clima. grau de de- São muito grandes as dificuldades para se cSlabclcccr um
senvolvimento. medidas preventivas c muitos outros). Os dados nexu c(ll/lal elllre o câncer diaglJoslicado e a ocupação, por
K5·7241·598·X
270 • Tratado de Clínica Médica

vários motivos. O principal deles é o grande período de latência presença de secreção mucocatarral ou exsudaro. O tratamento
entre a exposição e o surgimento da doença. que pode ocorrer é local e predominantemente sintomático.
mesmo após cessada a exposição. Além do mais, a pessoas Asfol7lUIS crõnicas são decorrentes da exposição continuada
se expõem a múltiplos fatores curcinogênicos c fica diITcil aos agentes irritantes c têm evolução gradual, com disfonia
comprovar qual deles foi o agente causal verdadeiro ou prin- flutuante, expectoração rnucocatarral. tosse. pigarro, sensa-
cipal. E. para a maior parte deles. não há como estabelecer ção de constrição doloro a na garganta. dispnéia, cstridores.
limites de segurança para a exposição: basta a simples pre- A mucosa laríngea e edernacia e por veze se cobre de exsudato.
sença. principalmente na fase de iniciação. É grande a varie- Podem ocorrer agudizações e contaminações por agentes in-
dade dos tipos de câncer e ,I suscetibilidade das pessoas varia fecciosos. Alguns casos podem evoluir para estenoses e quadros
muito com seus hábitos e estilos de vida. de asfixia. O tratamento básico visa 11 liberação da via aérea.
É fundamental considerar os grupos de risco de trabalhado- com nebulizações e medicamentos. podendo. eventualmente,
res para desenvolver certas ncoplasias de origem ocupacío- exigir também inrubação ou traqueoromia.
nal. Ele devem merecer uma atenção especial nos exame. A prevenção é feita pelo controle da exposição aos gases
médicos periódicos de rotina. A qualquer sinal suspeito. devem e vapores cáusticos e irritantes. por vigil5ncin ambiental, equi-
ser avaliados por especialistas, pois o diagnóstico precoce é pamentos de proteção coletiva e individual, melhoria das condições
essencial para o êxito do tratamento. de trabalho e exames médicos periódicos. Muitas vezes o espe-
cialista deve ser solicitado.
Prevenção e Controle
O tratamento do câncer ocupacional não é diferente: cirurgia,
Doenças de Pele e Mucosas
radioterapia e quimioterapia. isolada ou associadamente. Nos Várias afecções de pele e mucosas de cabeça e pescoço são
casos considerados curados, ocorrem muitas seqüelas. algumas decorrentes de exposição a agentes físicos, químicos e bioló-
até incapacitantes para o retorno ao trabalho de maneira plena. gicos presentes no ambiente de trabalho.
São frequentes as mut ilaçõcs, estenoses obstrutivas de vias aéreas Algumas dermatites podem ser provocadas por exposi-
ou digestivas. disosmias, rinorréias, disfonias e outro. Mais uma ção da pele a agentes irritantes (plantas. metais e metalõides,
vez. tornam-se indispensáveis os trabalhos preventivos. prin- drogas, cosméticos. solventes. óleos. detergentes. outros).
cipalmente de vigilãnci« e controle ambiental, melhoria das Outras VC7.es,a sensibilização prévia a certos produtos químicos
condições de trabalho e exames médicos periódicos. gera. cm comutos subseqüentes. dermatites de contato (ali-
Vigilância e controle ambientais devem reduzir ao máximo mentos. medicamentos, plantas, cosméticos, corantes, látex.
as possibilidades de exposição aos agentes potencialmente inseticidas. adesivos, alguns metais como cromo, níquel,
cnrcinogênicos. promovendo sistemas de isolamento e cnclausu- mercúrio, outros). A exposição excessiva à luz solar pode
rarnento, de ventilação e exaustão, limpeza do ambiente e higiene provocar critcma solar: fitotóxicos podem gerar queimaduras:
do trabalhador. radiações ionizantes podem gerar radioderruites: dermatofltoses
Para reduzir a exposição, os ambientes suspeitos devem podem ser provocadas pelo contare com certos fungos; as
ser despovoados e os equipamentos de proteção individual de- formas cutaneomucosa da blastomicose e da leishmaniose
vem er disponibilizados e usados com eficiência. podem acometer os trabalhadores agrícolas e florestais. As
Nos exames médicos periódicos, os grupos de risco devem otites externas, tanto bacterianas quanto micôticas. acometem
merecer atenção especial e o diagnóstico de um caso implica nadadores e mergulhadores.
em cuidadosa revisão dos processos e do ambiente de trabalho Os respectivos tratamentos geralmente exigem a atuação de
e atenta monitoração do restante do grupo. especialistas e os cuidados preventivos devem priorizar o controle
Por causa das constantes mutações que ocorrem com a expo- da exposição, equipamentos específicos de proteção e exames
sição. os trabalhadores devem ser periodicamente orientados médicos periódicos.
e informados sobre a doença. suas causas e conseqüência .
Rlnolitíase
OUTRas DOElças OTORRIIOURIISOlOSlcas Os rinólitos podem se formar nas fossas nasais ou nos seios
REUCIOIIDIS COM O TRIBllHO maxilares, por exposição continuada ao pó de cimento. São
laringites e Faringites Ocupaclonais acometidos tanto os trabalhadores da fabricação do cimento,
quanto os da construção civil.
As laringites, as laringotraqueltes e esfaringites ocupocionais O rinólito representa um corpo estranho nu cavidade, ge-
podem ser tanto agudas quanto crónicas. rando retenção de muco. reação inflamatória e rinossinusites
Asfarmas agudas são provocadas pela exposição a agentes purulentas secundárias. A presença do cimento nas cavidades
irritantes em grandes concentrações ou altas temperaturas, em nasossinusais pode ter efeito irritante, alergênico e provocar
forma de gases. vapores ou aerodispersõides (forrnaldefdo, névoas disosmias.
ácidas. fumos metãlicos, compostos anidros, compostos acrílicos,
metalõides, amónia e outros). Nas laringotraqueftes. o quadro
clfnico é de disfonia. tosse e até asfixia, geralmente acompa-
Acidentes de Trabalho
nhada de irritação nos olhos. nariz e faringe. A rápida absorção A face e o pescoço são muito freqüentemente acometidos por
de produto tóxicos pode provocar náuseas. vómitos, febre. agressões súbitas. tanto no trabalho quanto no trajeto, que
cefaléia, taquipnéia e taquicardia. O tratamento visa primor- constituem os acidentes-tipo.
dialmente garantir a permeabilidade das vias aéreas. por meio Os traumatismos de face podem gerar fraturas e concussões
de umidificação do ar. corticosteróides ou adrenalina e. even- de nariz. órbitas. maxilares. zigornãticas e rochedos. Os trau-
tualmente. podem ser necessárias a intubação endotraqueal mas de pescoço podem acarretar seríssirnos problemas de laringe
ou a truqueotomia. Na faringites, predominam odinofagia. ou de coluna cervical. Nas orelhas podem ocorrer os oto-hema-
dor ou ardume na garganta. pigarro com edema. hiperemia e tomas. lacerações de pele rneatal e perfurações timpânicas.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 271

A queimaduras podem atingir cabeça e pc coço e a orelha 1.l00.A V.LIMA.Y J V.COSTA. E. A.: OE LUCA.S R OnlonJune.orOCCup3lional
externa. gerando estenose ou perfurações; podem afetur as OI'I,'n ln 27' CONGRI::SSO INTERNACIO\AI. OC SAUOE NO TRABALHO.
2{)()). Foi cio I,uaçu AlIOu... 2{)()).
mucosa oral. Iaríngca. na ai. laringea. e ofãgica e traqueal, MELLO JR • J F. MIO~. O Rtruk albJia ln. CAMPOS. C A II. COSTA. II. O. O.
gerando, muitas veles. cstenoses cicatriciais de difrcil correção, (C\J ). Tnuod« dt 01OrrutOlann801"11Q. São "-ulo Roc•. 2003. v. 3. p. 68·81.
As mudanças bruscas de pressão atmosférica ambiental podem ~IONTEIRO. E. L C. CAPASSO. R L.anngileSqud;I\(crOOICllIIIC\jlcd(im.ln: CAMPOS.
gerar barotmurnus de orelhas média, externa e interna. seios para- C. A II. COSTA. II O O (cd\.) TrolaJo dt Olllmnoll"I"lIl1lo/lI". SAo Paulo:
Roca. 2003. p. 379·3~
nasais, ápices dentários e pele facial (pelo uso de máscaras). MORATA. T. C.. DUNN. O. E. (cds.) Occr;paIlOllOllltllrinR Um. OrrlflHlIilJll(I/ M,t/iri,,":
Na maioria dessas situações será necessária fi utuução do fiaI( of Ilrt afl rr ...nos. l'Iuladelplul: Ilanlty and Delru •• 1995. cap, 10. !l. (>41·656.
especialistac os dctalharncntos diagnósticos c terapêuticos estarão FRANKS. J R.: STEPIIENSON. M • MERRY. C. (edv.] Prrl't'ntlnllfl('('"I'IlII'}/IolltcllriIl8
101J.a p=I,ral,1IMk NIOSH (Nauocu1ln\lIIUk fOfOocup;1lional Sarcly nnd Hcalth),
nos textos cspccfficos, 1996 p. 96-110. Otsponf,tl em IIlIpJ/';I'''' .....cdc ,o\/nlo,hi96·IIO.hllnl.
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2000. INTRODUçlo
DEU.A OIUSTlNA. T. B A • PF:RF.IRA. M. R. O.: COSTi\. E. A.: SEI.IOMAN.J.: IBANEZ.
R. N.: NUOFLMANN.A A GUIa du ôoe~a\ ocupxional\ ClI()(rlnolulngológiC1lJ. Dcrmatite de contato é a dermatose ocupacionlJl mlJiscomum.
R", Oral Otnmnlllllrinl"l. v 69. n I. \uplJcnca,lc. p 1·24.2001 É car:lcteritada por demlaUte eczematosa nos locais de exposição
ECKLEY. C A • SATAI.OI P. R T. SILVA. MAl.. VOI rro(i,,,onal ln CAMPOS. C. ao agente cau!>ale melhora com a sua remoção. O diagnóstico
A II. COSTA. II O O (cd) Tralado d~ 010"",ola"n801"110 SSo P.ulo. Roca. causal depende da história. do exame físico e de testes de con(llto.
2003. p S3HU
ESTEVES. R C. Manlrc'tl!Ç1k< bu.:all das doc~a< rro(i(\lom" Rn Bral SaM, Orup • Medidas de protcção são imponantcs para prcvenir a dermatose
v.40. n 10. p S6-SR. 1982 ocupacional e a recidiva.
FERREIRAJR • M PiIIR fHnJa auJlInYltndu:,du fHlo ",(do.1HJmItnw ~ '''''Jtn$O Slo
P~ulo: VK. I99S
FERREIRA. L. P.: COSTA. H. O 1'0: AIIIYl:jalandosobrra (/(nkafonoolldlol6g,ra. SSO CONCEITO
Paulo: RocI,. 200 I
OIORl.)AN.C. A utili/açAo prilka da an~hse acúsllca compuladonl3da de \'02 nas alie· A dermato e ocupaciooal (DO) pode ser dclinida como toda
rnÇaes vocais. R,vlrltnet. v. 2. p. 25·28. 2002. alteração de pele, mucosa e anexos direla ou indiretamenle
272 • Tratado de Clínica Médica

causada. condicionada. maruida ou agravada por tudo aquilo


que seja utilizado na auvidadc profissional ou exista no ambiente
M de trabalho'.
O
.<
u- EPIDEMIOLOGIA
I.IJ
(I)
A csürnntivn da prevalência das DO no Brasil diffcil. pois os
é

estudos baseiam-se cm análises realizadas por testes de comuto.


Não existe notificação obrigatória dos casos diagnosticados e
muitos trabalhadores não revelam o diagnóstico pela insegu-
rança na manutenção do emprego e do salário.
As dermatites de contare (De) são as formas mais comuns de
Figura 29.1 - Carcinoma de Bowen em trabalhador que maní-
dermatoses relacionadas ao trabalho. representando 80% das pulou arsenical
DO e estão aumentando pelo conruto com novos produtos+',
O dingnóstico etiológico depende. em especial. da história
ocupacionnl, do exame frl>icoe dos testes de contato. A~ subs- O processo inflamatório na DC se inicia quando o agente
tâncias sensibilizantes variam segundo ii ocupação. A dcrmatite em conta to provoca a perda da integridade da epiderme. Os
alérgica de conta to diminui com o treinamento profissional queratinócitos lesados produzem cirocinas que estimulam
adequado". outros qucrarinócitos e outras células, como as de Langerhans.
Os jovens são os mais acometidos pela DO por sua inex- a DeI os níveis de TNF-a e das imerleucinas IL-6 e IL-2
periência profissional e pela camada córnea ainda não espes- estão aumentados. As citocinas TNF-a, INF-ye a IL-I estimulam
sada. As mãos. em geral. ão as áreas rnai atingidas pela DC a produção da molécula de adesão ICAM-I, que promove a
por manipulação de muitas substância. ex ce 50 de umidade ade fio antígeno-inespccffica entre leucócitos e outras células.
Na DAC. a rcação inflamatória é do tipo imunológico IV,
c/ou atrito.
Com predomínio da imunidade celular e ocorre em três fases:
No sexo masculino. as ubstãncias ensibilizantes mais Ire-
quentes estão nos produtos contidos no cimento e na borracha
• Indução 011 imunização: via aferente dura cerca de cinco
e as lesões predominam em mãos c antebraços. No sexo femi-
dias. O hapteno, substância de baixo peso molecular, penetra
nino. a substância sensibilizante mais comum é o nfquel. quase o cxtruto córneo e une-se II uma proteína formando um
sempre por contato não ocupacional. relacionado ao LISO de conjugado antigênico, que se liga à gticoproteina da mem-
bijuterias e as lesões predominam em mãos e pãlpebrns'". brana plasmática da célula de Langerhans. Essas células
Os profissionais da raça amarela e da negra são mais pro- que apresentam o unugeno para células T CD4 no gânglio
tegidos da açâo degenerativa e neoplãsica dos raios solares que Iinfático regional são reguladas pelas imcrlcucinas IL-6
os da raça branca. Os negros apresentam respostas qucloidcanas e TGF-~. As células THü se diferenciam em células TH I
com maior Ireqüência que os brancos'. de memória ou cfctora pela interleucina IL-12 e circulam
A frugrância está se tomando a substância, cnsibilizame mais no sangue. disseminando a sensibilização.
comum na população geral européia'. A dermatite alérgica de • Elicitução: via eferente dura cerca de 24 a 48h. No indi-
contuto (DAC) por fragrância ocorre também nos profissionais víduo sensibilizado, quando ocorre novo contato antigênico
de saúde e dc beleza que utilizam cremes para realizar suas as células T de memória THO anugeno-especfflcas reco-
arividadcs ocupacionais". nhecem O antrgeno. Os linf6citos TH I liberam citocinas
A derrnarite de coniato irritativa (DCI) é mais comum que que ativam linfócitos T. queratinôcitos e células de Lan-
a DAC na proporção de 4: I J. As dermatoses preexistentes (como gerhuns, secrctando uma série dc linfocinas e as moléculas
dermutite atôpica, psoríase) podem facilitar a penetração de de adesão ICAM-I. IL-I. TN F-a, IL-2, INF-y, que arivam
agentes sensibilizantes. bem como as medicações tópicas (como célula NK e macrõfago .
neornicina, anestésicos) utilizadas para controlar a DCI~·1.~.II). • Resolução: término da reação inflamatória inicia-se cerca
O câncer cutâneo ocupacional é pouco estudado em razão de 48h após õ estímulo nntigênico. Nessa fase ocorre
da dificuldade de se estabelecer o nexo causal pelo longo inibição da reação imunológica pelas interleucinas IL-I O.
período de latência". INF-ye TNF-a. mastõcitos, basõfilos c células T CD8
su prcssoras'".

ETIOPATOGENIA DIAGNOSTICO
As dermatoses ocupacionais podem ser causadas por agentes
químicos (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. antraceno, Diagnósticos Clínico e laboratorial
óleos lubrificnmcs c de corte. ursênico) (Fig. 29.1): físicos (luz. A anamnese ocupacional é fundamental para o diagnóstico
radiações. traumas. pressão. calor, frio) e biológicos (vírus. etiológico. Deve- e pesquisar se o quadro clínico é compatí-
bactérias. fungos. plnntns. animais). vel COm a dermatose: as lesões estão localizadas nas áreas de
Os agentes podcm atingir II pele por contare (conuuames>- contato com o agentes suspeitos? No ambiente de trabalho
localizada, cczcmntosa) ou por via sangüínea (cndotamcs - ocorre cxpo ição a agentes irritantes e/ou alergênicos como,
disseminada. lesões ovais. critcmatovcsiculosn ou urticada ou por exemplo. a utilização de óleos que induzirão à elaioconiose?
purpürica) e ser introduzidos por absorção percutânea, inala- Existe nexo causal entre o início da dermatose e o período de
ção. ingestão. inoculação c/ou injcção. exposição? O ara ramento da atividade melhora e o retorno
Alterações p Iquicas podem induzir li provocação de lesões piora? Há exposição não ocupacional a agentes irritantes e/Oll
lineares. geométricas. dermutites factícias. que também podem alergênicos e os te tes de contare confirmaram o provável agente
ser provocadas visando a obter afastamento do trabalho ou causal alérgico"?
indenizução. As terapêuticas inadequadas podem mascarar o A sensibilização cm geral é progressiva e permanente. O teste
quadro inicial, provocando a dermatite de comuto iatrogênica'. de conrato deve ser realizado para confirmar o diagnõstico
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente e 273

clínico. conhecer a prevalência dos agentes sensibilizantes e


por razôcs médico-lcgaiv'".
O diagnõvtico laboratorial das dcrrnatites eczernatosas de
conrato é real i/ado por tC\te~ de cometo. permitindo diferenciar
a dennatite de contato irritativa da dermatite alérgica de comuto.
O te te' de contare são realizado com a colocação de subs-
tâncias já pedronizadas. preferencialmente no dorso do indivíduo.
com leitura apõ 48 e 96h. A dermatire de comato irritativa
apre cnta teste de contare negativo. ao passo que a dcrmatite de
comato por cnsibilização apre cnta te. te de conrato positivo. Figura 29.3 - Dermatite de contato por irritante primário rela-
No diagnô rico laboratorial. o exame hi topatológico de tivo, querosene
lesão cutânea da dermatite cczernato a de conrato não é espe-
cífico e não a diferencia dos outros tipos de eczema. O exame bilizamc. A cadn nova exposição podem piorar dc intensidade
micolõgico dircio (pesquiva de fungos) muitas \ClC:. é ncccv- e cxrcnvão e surgir muis rupidumcntc a cada rcexposição. As
ário para o diagnôstico diferencial de mico-e vupcrficinl e Icsõelo podem ocorrer em período de tempo variável após conrato
também para pevquivar o vurgimcnto de infecção fúngica pelo COIllu subsrânciu scustbillzantc, sendo uecessãrio um período
uso de corticôidc no rrauuncmo do eczema de conrato. rnínimo de 15 dius. Pude IlI':WTCI' dcrmutltc alérgica de contare
!lp6~ v~rio~ meses ou unos de exposições sucessivas ao agen-
te scnsibili/unrc. A~ lesões cczcnuuosas podem ocorrer como
Dermatites Eczematosas de Contato lesões agudas (cri tema. edema, vesículas e secreção), subagudas
As dermatites cczcmatosas de contare ela, ificam-sc em dcrmaritc (predomínio de secreção e formação de crostas) e crônicas
de contareirritativa (DCI) c dcrmatite alérgica de conrato (DAC). (descamação e tiqueniflcução).
A dermntite de comuto irritativa pode ocorrer por irritante Alo Iotodcrmaroscs ão causadas ou influenciadas pela luz
absoluto ou relativo. O irritunte absoluto leva :10 aparecimento solar com nltcraçõcs inflamatérias (Iotoderrnatires) ou degene-
imediato de levõe-, 11:1\ área, de conuuo (Fig. 21).2). O irritante rat Í\ a\ (clasto c. ncoplasias). As lesões predominam em áreas
relativo indu/ ;1() uparecimentn gradual de lcvõcv. apõ-, vuccv- exposta v, poi .. ncccs iram da luz para er desencadeadas na
sivas expoxiçôev, na, líre:l\ de conrmo (Hg. 21).3). Dependendo presença de agentes forotõxico (sumo de frutas cítricas) ou
de sua conccmrnção. lima 'uh:.tnneia pode ver um Irritante nb- Iotoalérgico (drogas)':",
soluto, quando "tiver cm conccntruçãu ulta, ou pode ver um
irritante relativo. quundo cstlvcr cm conccnrrução baixa. O Dermatites de Contato Não Eczematosas
tempo de exposição prolongudo pode também induzir à irritação
As outras dermatite de contato que apresentam quadros clínicos
absoluta por umu wb:.tâl1cía que habitualmente seria um irri-
diferentes dos eczernas ocorrem mais raramente. Descrevem-se
tante relativo.
dermatite liquenóide de contato. urticária de contare, erupções
Na dcrrnatite de conuuo irritativa. as Ic~ôes ocorrem após
acnei formes de conrato. leucodermia de coruato, erupção pur-
exposiçõcv "Icc\~iva\ :1 suhstâncin irritante e são restritas às
púrica de contato. eritema polimorfo- ímile de contare. erupção
ãreas de commo, A' lesões ucnrrcm por intensidade. freqüên-
pusrulosa de contato. dermatitc de comaro queratõ ica e dermatite
cin e duraçãn da exposição ii suhsrüncln irriumtc. Não exigem
de contare hipercromiante.
~en~ibili/l1çã() prévia ii subsrâncln c, em geral. ocorre a cura
A dermatite liquenóide de coniato corresponde a lesões lique-
npõs ~lI~pCn\:lCldo conuuo com li substãnciu. A dcrmaritc de
nóide que ocorrem nas áreas de contare com substâncias como
comato irriuuivu aprcscutu clinicamente critema, descamação,
reveladores fotográlicos, epõxi-resinev. níquel c cobre.
qucrntosc c Ii"ura~ na\ árclls de conuuo COIII a substância
A urticária de contato é carncrcrivada por Ic. õc urticadas
irritante. Quand(l ocorrc IICOI11Ct imento das mãos. este quase
que ocorrem após períodos de tempo vuriá\ei,. minuto~ ou horas.
sempre é rnai~ inten:.u na mijo dominante e mais freqUente após contato com diversas subl!tância~: alimento!.. plantas. medi-
nas regiõc~ palmare!'. ~endl) dc menor intensidade no dorso. camentos.luvas ou materilli~ de borracha, preservativos. fragrân-
Na deml3tite alérgica de cOnlUtOas lesões ocorrem nas áreas cias e aromatizantes. Pode ocorrer por mecanismo imunológico
de contato com a \ub\tância sensibilizante. em que são mais (mediada por IgE) ou por mecani~mo não imunológico.
inten,a' a\ m:lI1ife,taçôe, clínicas e também a distância das
. A erupção acneifonne de COntatO corresponde a le Oe papu-
áre:u. de conta to. A, Ic\ôe\ podem ~er di. seminadas e surgirem
locritcmatosas e pustuloS:llo que ocorrem na .. áreas de contato
de forma abrupta apó' eontato prévio com a substância sensi- com :-.ub:.tância~ como lIIedicumeIHO\. co~méticolt. derivado
do alcatrão. hidrocarboneto:. clor ..do\ (Fig. 29.4). gra'(as c óleo~
minerais.
A leuctldermia de cOntalO é coracteri/oda por manchas acrô-
micus que ocorrem nus lIreus de contmo com ,ubst[lncias como
derivadol! da borracha e compostol> derivado!. da hidroquinooa.
A erupção purpúriea de conlato corre:.ponde a le õe purpú-
ricas como petéquias que oeorrem na~ áreas de contato com
produto:. da borracha e branqueadores de roupas.
O erítema pol imorfo-Mm ile de COfllUtO6 caracterizado por
manchas eritemlltosas, eritcllllllOpurpl1ricas. vesicobolhosas
com conteúdo sero-hel1lorl'lígico I.) lesões semelhantes a alvo
que ocorrem nas (lreas dl.l conttlto com plantas. madeiras e
InedicalllelltOl!.
Figura 29.2- Dermatite de contato por irritante primário absoluto, A cnlpçüo pllstllltlsa 6 clIl'Hcterí~lIda por pústulas que ocorrem
hipoclorito de sódio puro na:. (lrell!. cm CCllllUlIlcom metais e pomadas.
274 • Tratado de Clinica Médica

Figura 29.4 - Cloracne, por hidro-


carboneto clorado, em metalúrgico
Figura 29.5 - Dermatite de conta to, por irritante primário re-
lativo por detergente, em dona de casa

A derrnatite qucrarósica de conrato corresponde a lesões Os principais riscos são cimento. madeiras e equipamentos
qucratósicas que ocorrem nas regiões palmo-plantares. pelas de protcção individual de borracha (uso comum a praticamente
sucessivas exposições à substância ensibilizantc. todas essas ocupações).
A dermatite de conrato hipercrorniante é caracterizada por O cimento 6 um agtorncrame c um pó muito fino. Na presença
manchas hipercrôrnicas que ocorrem nas áreas de conuuo com de água adquire uma consistência pastosa e, posteriormente, se
cremes, óleos. perfumes. corantes e sabões cm pó'. solidifica ("pega"). Existem dois tipos: natural e artificial; este
último é obtido pela moagem do c1ínquer (calcário + argila +
snORES COM MAIOR FREQU!NCIA gesso). cozido a altas temperaturas. O artificial é classificado
em Portland e aluminoso, este com 50% de alumínio".
DE DERMATOSESRElACIONADAS AO TRABALHO O cimento Portland recebe vários aditivos que lhe dão di ferentes
Dermatose Ocupaclonal no Setor de limpeza propriedades (cloreto e nitrato de cálcio). Na sua composição
bãsica há silicatos e aluminatos de cálcio, óxidos de ferro e magnésio,
Os trabalhadores cm cont.uo com produtos de limpeza são o grupo álcalis e sulfatos. Argamassa é a mistura de cimento com areia
ucupacional com maior chance de desenvolver DC, segundo O e a adição de pedras britadas forma o concreto.
G 111po Brasiloiro de Estudo em Dcrmat ite de Contato". A Ireq üênci a O pó de cimento é muito irritante (higroscópico e abrasivo),
dessa dermatose ocupacional é relativamente baixa pelo nú- mas quando molhado se torna muito alcalino (pH > 12) c mais
mero de indivíduos expostos'. irritante. podendo acarretar de dermatite de contato irritativa
O quadro clínico é, em geral. cczcmaroso nas áreas de contnto. relativa ti absoluta (quando permanece em coruato com a pele
Pode-se iniciar por DCI com sequidão. vermelhidão e descamação por muito tempo. sob pressão, atrito e oclusão), resultando em
lias extremidade .. dos dedos das mãos. A persistência do con- formação de "queimaduras" e "ulcerações" do cimento (Fig. 29.6).
uuo COIll rígua e ..abriu provoca lesões qucraiõ icas fissuradas A composição básica do cimento não é sensibilizante, mas
c c.;()J11 crostas, O prurido causa escoriações que podem provocar como é contaminado por metais muito alergizantes (Cr VI,
iníccçôc» vccundãria«. liqucniflcaçâo e facilitam a penetração Ni, Co), provenientes da técnica de seu preparo, desencadeia
de ulérgcnos, Os medicamentos tópicos utilizados aumentam dermatite alérgica de contato aguda c mais freqüenrcmeme
a chance de sensibllização e de instalação da DAC~.
crônica. hiperqueratótica. Os aditivos do cimento podem ser
As localizações mais comuns são as mãos, podendo ocorrer
irritantes e sensibilizantes (Fig. 29.7).
nos pés dos indivíduos que realizam serviços de limpeza sem
Hã uma grande variedade de madeiras na construção. uti-
botas. As lesões eczernatosas nos pés podem estar associadas
a candidíasc e dermatofiiose. lizadas como estacas. andaimes. portas. janelas. assoa lhos. As
Os sabões e detergentes manipulados por esses profissionais madeiras tropicais ou exóticas c o pinho são os principais ris-
alteram a pele por vãrios mecanismos. Os álcalis induzem à ai- cos para a pele", podendo acarretar DCI, DAC, fotoalergia e
tcração da camada córnea com aumento ela permeabilidade. [ototoxicidade, Os conservantes de madeiras podem causar
Alguns ácido .. graxo« têm efeito irritativo. O manto lipídico
protetor é removido. A capacidade de tampão é alterada. Os
aminoácidos são removido' com alteração da capacidade de
reter água (Fig. 29.5).
Os agentes sensibilizantes dos produtos de limpeza são os
aditivos: aruioxidantes. corantes. branqueadores, perfumes e 85· 724t-598·X
germicidas. os sabões. são as substâncias alcalinas e lanolina
e. nos detergentes, 0$ germicidas. Os testes de contare são reali-
Lados com os agentes em soluções diluídas de I a 2% indicando o
efeito irritativo. O teste de contare positivo confirma o diagnós-
tico. Os detergentes enzimáticos raramente causam DCr ou DAC1.'.

Dermatose Ocupaclonal Figura 29.6 - Dermatite de


no Setor da Construção Civil contato, por irritante primá-
rio absoluto - cimento, na área
Neste ramo industrial são mais de 200 ocupações": pedrei- da bota de pedreiro
ros. eletricistas, carpinteiros. azuleji.tas. eleirici tas. encana-
dores. serralheiros.
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente - 275

A dernuuite alérgica de contato pode ser de encadeada nos


profissionais da saúde por glutaraldeído (bom aoti-séptico para
materiais delicado e em soluções de raios X_muito usadas pelos
dentistas). antirnlcrobiano (formaldcfdo. povidona). resinas
(acrílicas e de epóxi para próteses e cimentos ortopédicos).
luvas de borracha. medicamentos (penicilina. sulfa, paracetamol,
rncrcuriais. Icnotiazinas, anestésicos - procaína) c reveladores
radiológicos, Os medicamento deixaram de er a principal
causa. como no pa ado. para dar lugar aos aditivos da borrn-
cha das luvas. O acrilato cau arn pulpitc (dcrmatite nas pontas
dos dedos) em dentistas que deverão usar luva de nitrila, pois
Figura 29.7 - Dcrmatite alérgica de contato. por cromo do ci- II borracha é atravc ada pelo acrilatos".
mento. em pedreiro A urticária de contato tem tido maior incidência com o
uso de luva pelo proli ionai. e pecialrnentc apõ a epidemia
de hepatite e AIOS. de de a década dc 1980. Estima-se que 5
!oloxlcldode(crcosoto). rlarurne (pcntaclorofcnol) (Fig. 29..1) a 10IJ. dos médicos e enfermeiros são alérgicos ao látex. São
e DAC (mcrcuriuis), rcaçõcs imunológicas do tipo imediata mediada por IgE, sendo
Os equipumcntos de protcção individual dc borracha (luvas o látex o principal alérgeno. O talco das luvas retém o látex e
e botas) dão DCI c pur seus agentes vulcuni/udorcs. dão DAC os alérgicos podem apresentar dermato cs em áreas expostas
(50% dos pedreiros são scnvibilizadov por terem predi-posição e alergia respiratória ou anafilaxia por esse aerodispersóide.
em razão de pele ressecada ou com Dei). Pode haver também Outras causa, ,ão: antibióticos tópicos (neornicina, bacitracina,
urticária de conuuo e anafilaxia pelo látex da borracha natural. penici lina). salici lato. clorprornazina. mostarda nitrogenada.
Outro riscos são os ade ivos e tinta (resina : formólicn. Dentistas. enfermeiros e cirurgiões são os mais afetados.
epõxi. acrílica). terebintina (solvcntcv de tintav). conservantes Dermatoses raras cau adas por agentes químicos são vitiligo
das tintas (antirnicrobianos) que dão também DAG. Como qulmiro. pela hidroquinona. em técnicos de raios X; erupção
irritantes. o 61eosdas máquinas. fibra de \ idro (isolante térmico). acneifonne por ane tésicos halogenados e câncer: por formo I.
solventes e outros produto para limpeza". que ocavionam Ourrav dermatoses comuns são as infecções, embora seja
freqüentes dermatites de cantata irritativav. diffcil evtubclccer o nexo ocupacional. Podem ocorrer infec-
ções bacrcrinnas (cstnfilocõcica. cstrcptocõcicu), fúngicas
(cundidfusc. dcrmntofirosc). virais (herpes simples, verruga),
Dermatose Ocupacional no Setor da Saúde parllsil(lrias (pcdiculosc, cscabiosc). Outras ocorrem mais
rurnmcnrc (tuberculose, hanscnlasc).
Os profissionais da ârea da saúde ão trabalhadores que têm
:l mis ão de promover ou prevenir a saúde!'.
Dcrrnutoscs ocupnclonnis menos comun- ~n(lcuusndas por
agentes rr,ic()l>como traumas e atrito crônico induzindo n que-
O termo profiv ional da área da aúde. em sentido amplo.
"(1I0~('c psorlas«; nuliodermlte e carcinoma em pessoal da
abrange um número muito grande e variado de profivsõc». de
radiologia: i/1I1';//I(/(llImS (UV e rnios infravermelhos): fenô-
médico . dentista». enfermeiro até nutricioni ta". csict ici. 1(1•• tneno de' Ua_l'/I(///(I e 111 profissionais que executam crioterapia".
veterinário c outras' . Em algun paíse repre. cntam o. maiores
grupos ocupacionais. A~ dermatose ocupacionais mais estu-
dada nos trabalhadores da saúde são as relacionados ao cxcr- Dermalose Ocupaclonal
dcio da medicina e odontologia. no Setor de Embelezamento
O:>tipo, de dermaroses c sua incidência variam muito conforme Atuulmenrc. são inúmeras as mividades profisvionnis cm crnbc-
cada proli),\ão e mcvrno na, diferentes especialidades médico- lczamento, um dos seiore que mais cresceu na última década.
odomolõglcas. pois são muito diferentes os tipos de exposi- No Brasil é o segundo setor empresarial cm número de trabalha-
çõe de mdiolcgictas. clínicos. cirurgiões ou laboratoristas!'. dores. Destacam-se salões de beleza com cabeleireiro. bar-
A sim podem-se ter dermatoses não só de origem química, bei ro, manicure e rnaquiador: colocador dc piercing: tatuador;
mas também infecciosa e física. esteticista. também e tudado na área da saúde" e muitas ou-
O grupo maiv vuscetfvel a es (IS dermatoses são os enfer- tras. Os salões de beleza abrigam o maior número de indiví-
meiros e auxiliare .. de enfermagem e. em seguida, 0$ dentis- duos do seior de embelezamento.
t3) e cirurgiõcv". Nos salões de beleza são realizadas vária. funções: cortar.
O rrabalho úmido e algumas dermatoses (dcnnatitc ntépica, lavar. encrespar. alisar. pentear e tingir cabelo : cuidar das
psor(n\e. dividrovc) predispõem ao nparccirncmo de dermatoses unhas (higiene e e malte. colagem de unhas po iiças): rnaquiar:
ocupacionais nesses Irnbalhadorcs. fazer a barba. Ne sas Iunçõe . os trabalhadores entram em
A derlllnlilc de conlUlO nesses profissionais é decnrrente contare com imímcros produto irritante c/ou nlergênicos. Os
de rnnterinisde trnbnlho (Iuvlls. meluis. resinas epóxi e acrllicas) de maiores ri cos são:
e outros qU(lI1icl)~.COIllO ugenles de desinfecçào e higiene e
• Irritantes
mediclllllenlOl>.
- Xampus.
(: l11uiwCOlllum a dermatose ocupacinlllll na tlrea da saúde. - Água oxigenada.
scndo ti mfiu a locnli/açi!o mais freqUente" 11. - Persulfato de amónia.
A (Irl'",(/t;fI' de C'()//((/toirri((lti,'(/ é a principal dermato,e ocu- - Trabalho úmido_
pacionulviMnl1esl>C gnlf>Oe o, [lgentc~mai, fl\.'(IUcllle,<.:10 umidade. - Ar qll~I/te: secadore de cabelo.
snlx1csnnlibncterinnos. luvn<;(suor. talco. pi 1 da luva e ~ub,t:in- - Lm'l/f: uor_ talco. pH das lu\'as_ ub tâncias irritantes
cias irrituntes do produto). ~oluçõcs anli-\éptica~. formaldeído. do malerial do produto_
maleriais dc labonatório. ~olveJ1les. PÓ\ para polimento. É mais • Alérgcno!>
comumentre enferllleiro:. c equipes de centro cinirgico. pelo uso - P-fl'I/i1t'llodi(1/11il/l/: é o principal, pela freqüência de
de muilos lIntilllicl'obiano~ c lavagem freqUente du' mãos". ea~o"l: - tinturas de cabelo. tatuagens de Henna.
276 • Tratado de Clínica Médica
85- 724 t -598·X

Figura 29.8 - Dermatite de contato, por ruquel, em barbeiro

Figura 29.10 - Candldtase em trabalhador do setor gastronõmico


- Metais (Ni e Co}: instrumental (Fig. 29.8). - trabalho úmido
- Glicerií-tiogticolaun ondulução ("permanentes ácidas")
e alisamento de cabelos.
- Persulfato de amôula: ox idante para acelerar o pro- Diversos tipos de dermatoses podem ocorrer nesses indiví-
ces o de descoloração (cabelos louros platinados). duos: derrnatitc ou eczema de contato: irritativa e/ou alérgica.
- Látex e inúmeros "II lconizadores da borracha: luvas". disidrosc, urticária imediata de contare. queimadura, miliária.
- Fragrâncias. cremes com conservantes (formaldeido), fotodermatirc, candidía e e/ou parontquln. Essas dermatoses
esmalte de unhas, prát eses acrílicas para unha: quase sempre se iniciam e permanecem nas mãos por manipu-
cosméticos. lação de muitas substâncias. às vezes com atrito, mas, em gemi,
pelo trabalho úmido (Fig. 29.10).
Clínica A DCI ocorre por vários agentes contidos nos produtos de
padaria ou doçaria: adoçante. cmulsificante. espumante, bruno
Atopia e psoríasc suo fatores prcdisponentes. queudor. fermento. corante e aromatizante. A derruatite por
• Dcrmatite de mãos: é o quadro mais frequente, sendo a alimento moído é folicular ocorrendo. em especial, no dorso
dermarirc de comuto irritativa a mais comum": porém. das mãos de padeiro em conrato com farinha. A "psoríasc"
nas cabeleireiras experientes (profissionais) a derrnutite nos padeiros pode se apresentar fissurada e querat6sica pelo
alérgica de coniato chega a quase 50% dos casos. Já a tf:)UIIlUnas palmas. O eczema disidr6sico pode ocorrer por
dermatitc de COnlUlO irritativa acomete especialmente aju- inalação da farinha. A DC nos padeiros apresenta prurido e
dantes e aprendizes. por terem como função principal o lesões eczcmatosas. podendo ocorrer lesões urticadas durante
trabalho úmido (lavar cabelos). conuuo com a farinha. Es a urticária de conrato podc ocorrer
• Urticária de NilIWIO e anafilaxia: látex de luvas de borracha pelu própria farinha. pelo ácido 6rbico ou por enzimas'. A DCl
e pcrsulfaro de arnônia!', São reações imunológicas do ocorre no cozinheiros pela manipulação de diversos alimentos.
tipo imedluto. mediada por IgE. sendo mais treqüentes os pasto os. os sucos, o trigo e o abacaxi.
• "Ftstuta dl' cabelos dos barbeiros '': granulomas de corpo /\ DAC nos cozinheiros com lesões fissuradas nas extremidades
eMranho por fragmento de cabelo e dc barba. Geralmente dos dedos das mãos quase sempre é provocada por vegetais
acometem o fundo dos espaço. inrerdlgitais das mãos. WI1l0 "lho. cebola, tomate e cenoura. O quadro sugestivo causado

Manifestam-se em barbeiros e cabeleireiros (Fig. 29.9). por cebola. cebolinha e alho é a dermatite eczematosa nas polpas
do polegar, indicador e médio. Os vegetais fotossensiblliznntes
e que podem causar fitofotoderrnatites são aipo, cenoura brim-
Dermatose Dcupacional no Setor Gastronômlco C:I e ulsa. As cascas da laranja e limão podem provocar DAC
No setor gastronómico. estão os profissionais que manipulam e fotodcrmatite. Alface. endívia, tomate e chic6ria podem produzir
alimentos. As categorias desse setor que detêm o maior número dcrmatite vesicular imediata nas mãos (Fig. 29.11).
de casos de dermatoses ocupacionais são padeiro . confeitei- Os aromatizantes alimentares, as especiarias e os aditivos
ros e cozinheiros. Os profissionais do lar, copeiros, emprega- alimentares, incluindo conservantes, aruioxidantes, ceras, resinas
dos em cozinhas e em serviços domésticos podem ser inclufdos e tinturas, podem produzir DAC. Urticária de contare imediata
nesse grupo. pode ocorrer por sensibilidade a peixe cru, marisco. camarão.
queijo e batata erua. Os testes de contaio com alimentos na
pele não lesada podem er negativos. O leste intradérmico de
leitura imediata (prick-test) pode. er positivo. Indivíduos que

Figura 29.9 - "Flstula de cabe-


los dos barbeiros"

Figura 29.11- Dermatite de contato, por aspargos. em plantador


Saúde no Trabalho e Meio Ambiente • 277

uprcscntam f);\C n'I\ mãe" 1lI" dctcrminadov alimentos podem


não rcprodu/rr a dcnnaurc quando e)\ mgcnrcm O cozuncnto
ou fi açao do vuco dlgC'tl\ll pode tnrnar tupoalcrgênicav a\
substância' ulcrgémca-,

Dermatose OCU18CI naí no seter elalúrglco


A maioria d:I\ dcrmautc-, de conuuo que ocorre nn, trabalha-
dores d(l -cror da IIIdli\tna metalúrj,!lla c cau,ad.1 por rrruação
primãna. Divervo-, olco-, e Iluulo-, "',IU UIIII/.lCh" na Indú,tria
mctahirgicu para rcvtnamcnto c lubnficução duranie I! pro-
Figura 29.13 - Dermatrte de contato. por cromo na galvanoplastia.
ccssumcnt« do metal em metalúrgico
A DAC por (í"'O\ de corte ,50 rarOl' J\, /)"C \50 muiv rela-
clonadnva ~uh"âncl.l' uuhrdorav d.1corrovao. agcntcv bacteriov-
táticos. níqucl c cromo du, mcuuv, rC\tC\ de contam UIII1/3ndl! familiar de atopiu (:I'l11a. nnuc alérgica ou dcrmatite utépica).
óleos originai, c 1Í1c1l\ ja dlluidn\ cm voluçüo aquova podem A, le...õcv estão pre ...ente, na face. no pescoço, nas pregas ante-
apresentar resultado ...ncgarivo-, com Il' óleo...criginui« c rc- cubirais e poplücav, A dermautc arõpica quando ocorre no adulto.
sutrados positivos com óleos já utilizadov. b o indica que agentes pela extensão e apresentação clínica, pode oferecer di ficuldade
inibidores de corrosão. agerue-, bucteriostâticos. sais de ní- na diferenciação entre dermarhe eczematosa de coruato.
quel ou cromatos podem ver a, ...ub ...tância cnsibilizantes. O eczema nurnular ocorre em qualquer idade, sendo fre-
Tanto os óleos originai ...como 0\ óleos já utilizados podem qüente nos adultos. Existe tendência à piora sazonal no inverno.
causar irritação primária. vendo indicada a realização de testes As lesões são placas papulove icocrosiosas c exsudativas, arre-
em controles (Fig. :!9.1 :!I. dondadas. disseminadas. com predileção por membros superiores
Na galvanoplavria. durante o ...proccvsos de revestimentos e inferiores. principalmente extremidades.
das superfícies metálicas. 0\ trabalhadores podem apresentar A disidrose ou eczema disidrõsico ocorre nas mãos c pés, com
derrnatite de comuto irrit.niva durante os banhos para desen- vesiculas recorrentes. descamação e formação de crostas, Pode.
gordurar (soda quente ou cal com solvente do tipo gasolina) além de causas ocupacionais ... er desencadeada por infecções
e desengruxur (hidrévid» de ,eXlio) a, peças A dermarite alérgica bacteriana; ... füngica', ou ser idropãtica.
de conraro pode ver de-encadeada durante el\ banhos de ní- A dermatite de cvtavc ou eczema de eviase manifesta-se no
quel e de cromo, que também provocam ulceraçôcs na pele e terço inferior da perna, em geral próx imu no rornovclo. Ocor-
no septo naval (hg 29 I ,) rem eruerna. edema. pápula-, critcm.uovav, lcsõcv vesico-
Com a III1"laçaO de computadores no trabalho da mctalur- sccrciantc ...c hqucmficaçao \ ... le\lIc\ podem ver uvsociadus
gin. ocorrcna menor conrato com Ilurdov \ 1I1111/'IÇãode luva ... a dermante ocre. com hrpcrcromra da pele ufetada do membro
deve ser indicada. com e\c.eção di" rrabalho-, cm que a des- inferior e dcrmmoesclcrovc. por \c/e, com úlcera de csiasc.
trczu manual é muito nece",írr.1 e naquela, condiçõcv em que Sinai ...de e\ta ...e venova.obcsrdadc, artrite. histõrin de fratura de
sun IItilila,ào unplica em n,co, de aculcntcv de trabalho' . membro Inferior. alterações csqucléncas de membro inferior
podem acornpunhar ti eczema de C'I:I\C.
DIAGNOSTICO DIFERENCIAL O Hqucn vunplcv crônico ou neur odermitc ci rcunscrit[l apre-
\cnta le\àn IItluenificadu. crÍlnica.ltX;IIII1I1UII em gerull10 pescoço,
o eliagn6~lie(ldiferenciai da ...dcrmatllc, ec:/emaul\:I\ de c:ontalO região \acra. genital ou membro inl'erior.
deve .~er!'eali/ado cntrc o, dl\cr,,)\ tipO' de ec/cI11:1.
A ch:rmlltitc :llóprea cm ~'eraIII1lCla-\l' na inf.inct:l A maio-
ria elos indivíduo' :Itüpreo' apre,enta antecedente pe\\oal ou TRATAMENTO
;\ identificação e o .•fa\lomento do ugente causal sflo medidas
de fundamental importânCia para () tratumcnto de dermatose
ocupacional. Sem e\\a ...medld:" é diHcil () doente apresentar
melhora de \ua\ m:lIllfe'taçõe, cHnlca ...
O tratamento prccoce podc dlllllnulr o tempo de cvolução
da, IC\lic' to: e\ lIar ,equcl.l\ I)e\c-\c cOIl,iderar qlle equipa-
mcnto ...dc pmtcçflo mdl\ Idu.11.111Il'C\-<X;\\ccllnd:íria ....derm:lto,es
alltn-rndulld.I\ nu lIled,camentn\ IItlll/ado\ pelo doente po-
dem rndullr Irruaç:!!) ou ,en\lb,ll/(IÇ:",O. com pioru da derl11ato~e
., ocupaclonal.
...
rI A.. dermatn,e, ocupacHlnal\ podem cau\ur incapueidllde.
~ nece\\ltando de reauaptaç;ln pmfh\l<lnal com orientações mé-
dica. \tlCaclllnal e p',clltécn,ca "
O Iratamcntu depcndcrá d.1C\lcn\:Jo c Inten\idade dus lesões.
I)ara lomla, IllCalr/.lda ...de dcrmatllc de conta(() irriWtivH é prc-
coni/ado o u...o de pomaua\ de cllrtlcolde\ na, le,ões descamativns
c liquenificada ....Para le ...ôe\ ex\udatl\'''\ devem ser ulilizadas
compre, ...a, com :ij;ua boricada a 2 a 3€h ou compressas COI11
permanganato de pot:b ....o diluído I :40.000. Pura lesões exsLI-
Figura 29.12 - Hipercromla por óleo de corte utilizado por dativas é preconi/ado o u'o de creme de corticóide. Se houver
metalúrgico infecção ~ecundária. de\'e ,cr as\ociado antibiótico tópico.
278 • Tratado de Clínica Médica

As lesões extensas devem ser tratadas com corticóides sis- REFERtNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
têrnicos. de preferência prednisona em doses iniciais de 0.5 a I. ALI. A. S. Dermatoses ocup:xionais. ln: FERREIRA. M. J. SOIitlt no Trabalho. São
I mg/kg/dia. com redução gradual conforme a involução. Os Paulo: ROC3.2000. cap. 8. p. 176-226.
cuidados com a utilização de cortícoterapia sistêrnica devem 2. BOURKE. J.: eOULSON. l.; ENGLlSlt J. Guidclincs Ior care or contect dermotitis.
ser tomados. em especial quanto à hipertensão arterial sistêmica BrilÍJh Jouroul of f)rmllllOlo/1Y. \. 145. p. 877·885. 2()() I.
3. SAMPAIO. S. A.I'.: RIVITTI. E. A..DtrmalaloJ:ia: dermatoses ocupacionais. 2. ed,
e ao diabetes rnelito. No uso crônico, a estrongiloidíasc deve 530 l'lIulo: Artes Médicos. 2000. c:Ip. 95. p. 991·998.
ser tratada antes. 4. SeHAFER. T.: BOULER. E.: RUHOORFER. 5.: WEIGL. L.: WES5NER. O.:
Infecções cutâneas extensas associadas devem ser tratadas FILlPIAK. D.: WICHMANN. H. E.: RING. J. Epidcmiology of conlllCl 311~y in
com antibióticos sistêmicos, com prcdileção por eritromicina adults. Allrrgy. v, 57. n. 2. p. 178.2002.
5. GRUPO BRASILEIRO DE f..5TUDO EM DERMATlTE DE CONTATO (GBEDC):
e ccfulosporinas. DEPARTAMENTO DE ALERGIA: SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMA.
Os nnti-histarnínicos sistémicos podem ser utilizados para TOLOGIA. Estudo mulrlcêntrico p;l11l cllllonç30 de uma balerln'p;ldr30 bruilrllll
alívio do prurido. de reste de conlnlO. Ali. BfIIs. Drrmato! .. \. 75. n. 2.!l. 147·156, 2000.
6. MARKS JR.. J. G.: IlEt. .srro. D. V.: DEllO. V.: FOWLER. J. F.; FRANSWA.Y.A.
F.: MAl BACH. H.I.: TOBY MATUIAS. C. G.: PRA1-r. M. D.; RIETSCHEL. R. L:
PREVENÇlo S.IERETZ. E. F.: STORRS. P. J.: TAYLOR. J. S. Nonh Amerlcun contact cJermaliti.
group palCh.(e~1 re>uhs. 1996·1998. Atrh. Dermatoí .. v. 136, I). 272·273. 2000.
A DO pode gerar desconforto para o trabalhador, incapacidade 7. RIETSCHEL. R. L.: FOWLER.J. F. Fisher'sCoatortDernunitis.5. cd. Philadelphia:
Lippincol \\r,IIi.ms and Wilkin •. 2001. 862p.
para a profissão. mudança de função. diminuição du produção
8. ALI. A. S. Dtrmolasts Ocupacionais.São Paulo: FUNDACENTRO/PUNDUNESP.
e do rendimento do trabalhador e da empresa e aumento dos 1997. 22-1p.
custos médicos e prcvidenciários", Portanto, medidas devem ser 9. UTER. W.:SCHNUeH. A.: GEIER. l.: PFAIILBERG. A.: GEPElLLER. O. IVDK
tomadas para se prevenir o desencadear da DO e das recidivas. sludy groop: inrl)(malion nelwork of depanmenl\ or denn:,I()IIJgy. 0""/1. E.1Iv1f'//tl.
A empresa deve tomar medidas coletivas para a proteção do M,tI.• v. 58. II. 6. p. 392·398. 2001.
10. DUARTE. I.: LAZZARINI. R.: BUENSE. R.: PIRES. M. C. Dcrmatitc de conlalo.
trabalhador. O ambiente deve ser arejado. limpo e ensolarado, com An. 8rds. Drrml1lol .. v. 75. n. 5 p. 529-548. 2000.
lavatórios facilmente disponíveis. Os processos químicos peri- II. RIETSCHEL. R. L: CONDE SALAZAR. L: GOOSSENS. A.: VEIEN, N. K. ln;
gosos devem ser enclausurados. tornando-os automatizados. Alias ofCOtJllJC'1Dermatitis. London: Manin Dunitz, 1999. 325p.
A proteção individual ideal para a pele do trabalhador consiste 12. MARKSJR.,J.G.; ELSNER, P.; DELEO, V. Con/tJc1andOcOIfJl1liOlllllDemllllolO8J
3. ed. SI. Louis: Mosby. 2002. 431 p.
em evitar o contato com agentes irritantes ou sensibilizantes. 13. BELSITO, D. Healrhcare workers.In: KANERVA. L: E1..5NER. P.: WAHLDERGY.
A higiene pessoal deve ser cuidadosa, as áreas contaminadas J. E.: MAIBACH. H.t.llandbooJ.:ofOIY'IIfJl1I;OI,alDtrmalolog)'. Ucldclbcrg: Springcl'
devem ser lavadas imediatamente. hidratadas e massageadas Verlag. 2000. dl3p. I-It. p. 969·973.
com cremes sem perfume. O vestuário deve ser mantido limpo 14. ALCIIORNE. A. O. A: ALCIIORNE. M. M. A. Dermatoses Ocupaclonnls. ln:
OORGE.~. D. R.: ROTUSeUII.D. II. ,\. /IIIwl/:t,çtlo T,rapllll;cl1: 1111111/11/1fJrtllico
e lavado diariamente no local de trabalho. ri, tI/IINU/hlil'o t tralllmrnlO. 21. ed. SAu Paulo: Ancs MUicas. 2003. Seção 3.
A utilização de equipamentos de proteção muitas vezes é p.218·219.
necessária para prevenir a DO e ii recidiva. O uso de luvas
deve ser indicado. bem como de botas, gorro, mãscarn e avcn- BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
tal. Os alérgicos II borracha deverão utilizar luvas de vinila AVNSTORI'. C. Cernem wocl:CIS. ln: KANERVA. L.: ELSNER. P.: WAHLBERO, J. H.:
(os alérgicos ao látex poderão utilizar também a borracha sem MAIBACH. ~I.I. Handboot of O«IIfJl1I;Ollal DrmlOloI08),. lieicJelbcrg: Sprlngcr·
VC113g. 2000. cap, 114. p. 875-877.
látex) ou poliuretano. Para os alérgicos aos acrilatos, as luvas MARKS JR .• J. G.: IIELSITO. O. V.: DElEO. v. A.: FOWLER. J. F.: FRANSWAY, A. r.:
deverão ser de nitrila. MAIBACU. H. I.: MATIIIAS. C. G. T.: NBTHERCarr. J. R.: RIEl·SCIIElL. R. T.
O uso de ernolientcs é indicado: o uso de cremes de barreira 1..: SHERER'ri~. E. F.: STORRS. P. J.: TAYLOR. J. 5. NOtth Amerícan Conlucl
é controverso. Demlulilh pmch le~1 resulu rI)( lhe derectlon or dclayed-type hyperscnsitlvlly 10
lopical ""crgcrn,. J. Am. Acad. DtnnallJl.. v. 38. p. 911·918.1998.
O profissional deve ser orientado claramente e receber. por MARKS JR .. J. G.: OELI!O. v. A. COnlOC'land Occupationa! Dtrmolology: occupauou:
escrito, os nomes comerciais dos produtos e das substâncias (,OI"/IIol/lytuux';altd "'illt C'Of'I/DCt dttmal;I;S. 2. cd. SI.Louis: Mosb)'. 1997. cap. 15,
com as quais não pode entrar em contare'. p.309·350.

85· 7241·598·X


Seção
Princípios de Genética Humana
Coordenador: Paulo A. Otto

30 Princípios de Genética Humana e Médica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 280

31 Aconselhamento Genético e Cálculo de Riscos 311


280 • Tratado de Clínica Médica

cas visíveis, facilmente distinguíveis entre si: as ervilhas eram


CAPiTUlO 30 amarelas ou verdes, lisas ou rugosas, as pluutus eram altas ou
baixas. e assim por diante.
Portanto. nossa primeira visão sobre o gene coincide prova-
velmente com a visão do gene dos gcneticistus pioneiros: o

Princípios de Genética gene é compreendido como um fatoro tmnsrnitido de uma geração


à outra. responsável pela determinação de lima característica
fenotípica. em geral visfvcl, Esse fatores hereditários. os genes.

Humana e Médica estão sempre presentes ao pares: um furor é herdado da mãe


e O outro é sempre herdado do pai. Quando se produzem gamelas,
óvulo ou espermatozóide, de cada par de fatores hereditários,
apenas um estará representado no gamcia produzido.
Paulo A. ouo No entanto, os primeiros geneticistas no começo do sé-
culo XX ainda não tinham a menor noção do que era o gene
Regina Célia Mingroni Netto do ponto de vista frsico ou químico. nem mesmo como ele
poderia funcionar. As primeiras pistas sobre a natureza da
Angela Maria Vianna Morgante função do gene vieram de estudos sobre doenças genéticas
humanas. Um médico. Archibald Garrod. observou que di-
Apre crua-se neste capüulo uma série de conceitos gerais de versas doenças humanas tinham provavelmente herança au-
Genética Humana c Médica que se julgam importantes para tossômicu recessiva, idéia essa reforçada pelo fato de que
o clínico não-especialista urualizar-se, poder aprofundar-se ocorriam com maior freqüência na prole de casais consan-
mediante consulta a material mais especializado e ser capaz. güíneos. Garrod observou que alguns desses defeitos gené-
de acompanhar a literatura recente. Os progressos fantásti- tico pareciam ser defeitos metabólicos, uma observação que
cos da medicina, ocorridos nos últimos tempos. acabaram levou ao termo "erros inatos de metabolismo" que se utiliza
por delimitar drnsricarncntc a área de atuação dos médicos. até hoje para descrever esse grupo de afecções. Os estudos
não só nos países desenvolvidos como também nos centros de Garrod conduziram-no ii suposição de que as doenças
mais industrializados dus países ainda cm desenvolvimento. genéticas poderiam decorrer da ausência ou do funcionamento
COlIJO é o caso das regiões sudeste e sul do Brasil. Em decor- incorrere de enzimas que realizam reações importantes em
rência do crescente com role das condições arnbiernuis C médico- nosso metabolismo.
sanitárias. os profissionais da saúde vêm se confrontando Estudos posteriores realizados na década de 1940 com o
cada vez mais em sua prática diária com defeitos e doenças fungo Neurospora por George Beadle e Edward Tatum per-
com componente genético importante. A recente explosão rnitiram o detalhamento de diversas etapas do metabolismo
dos conhecimentos e avanços técnicos na área da biologia biossintético desse organismo. Os autores estudaram diversas
molecular veio contribuir também para pegar o clínico geral linhagens mutantes de fungos. que podiam ser distintas pelas
desprevenido, uma vez que bases relativamente sólidas de suas diferentes necessidades nutricionais quando cultivadas
genética e de biologia molecular são ministradas aos estu- em laboratório. O cruzamento entre as diversas linhagens de
dantes de medicina apenas recentemente c cm poucas facul- fungos e o estudo dos compostos químicos que se acumula-
dade de bom nível concentradas nas regiões mais desenvolvidas. vam em cada uma das linhagens levaram Beadlc c Tuturn a
Longe de pretender passar aos profissionais da saúde todas propor li hipótese: um gene - uma enzima. Em outras pala-
as informações de pertinência em genética. este capítulo e Q vrns, o papel de um gene seria determinar li síntese de uma
próximo. que compõem o módulo de princípios de genética enzima específlca, que atuuria em uma certa etapa de uma via
humana. se propõem apenas a fornecer-lhes os elementos neces- metabólica.
sários para a leitura de obras mais especializadas e aprofundadas. A hipótese um gene - uma enzima foi um avanço impres-
Ao final da unidade será apresentada urna lista de referências sionante na compreensão da função gênica. Contudo, o retra-
bibliográficas atualizadas e didáticas que permitem o auto- to ainda parecia incompleto: todas as enzimas são proteínas,
estudo aos interessados. mas existem muitos outros tipos de proteínas nas células que
Foram selecionados quatro tópicos dc natureza muito ge- não são obrigatoriamente enzimas. Há proteínas com funções
rai que se consideraram importantes para a formação do médico estruturais, hormônios etc. Seriam essas também codificadas
clínico geral: (I) bases moleculares da genética humana; (2) pelos genes? O avanço dos conhecimentos genéticos e bioquímicos
conceitos gerais de genética bãsicn aplicãvei à genética hu- fez com que O conceito sobre a função do gene se ampliasse
mana c médica: (3) análise de hcrcdograrnas: (4) metodologias para incluir nele protefnas que não eram enzimas. Por exem-
convencional. laboratorial e molecular usada no diagnóstico plo. em 1957. Vernon lngram demonstrou que a anemia faleiforme.
das doenças genéticas. Também foram incluídas noções sobre doença de herança autossôrnica recessiva na espécie humana,
três tópicos específicos importantes: (5) bases cromossôrni- era causada pela ubstituição de um único aminoácido na cadeia
cas das doenças genéticas; (6) erros inatos de metubolismo: (7) beta da hemoglobina.
diagnóstico pré-natal. A generalização de que o papel do gene era codificar uma
Um capítulo à parte desta seção trata do aconselhamento proteína também precisou logo sofrer ajustes. A hemoglobi-
genético e cálculo de riscos. na, por exemplo. é constituída por quatro cadeias polipeptídicas:
duas cadeias do tipo alfa e duas cadeias do-tipo beta. Hoje,
sabe-se que as cadeias alfa e beta das globinas-são codifica-
BASES MOlECUlARES DA GENlnCA HUMANA das por genes ~iferentes. Assim. a descrição do gene fica mais
Todos provavelmente tivemos nosso primeiro coniato escolar apropriada caso se afirme que o seu papel é codificar uma
com a genética resolvendo problemas sobre cruzamentos ren- cadeia polipeptídica.
lizado entre plantas de ervilhas de jardim. nos mesmos mol- A partir de 1940 começaram a aparecer evidências experi-
des dos experimentos realizados por Gregor Mendel. As ervilhas mentais que finalmente mostraram que o gene, sob o ponto de
e tudadas por Mendel apresentavam características fcnotfpi- vista químico. era composto por DNA. o ácido desoxirri-
85·724t·598·X
Principios de Genética Humana • 281

~ bonucléico. Em 1953. Watson e Crick propuseram o clássico potencial energético, denominadas pontes de hidrogênio. Em
~ modelo sobre a estrutura do DNA. () modelo da hélice dupla, virtude do posicionameruodas pontes de hidrogênio e do diâmetro
~ que oferecia, enfim. uma explicação de natureza física para a das bases nitrogcnudus, só são possíveis os pareameruos entre
~ capacidadede autoduplicação do material hereditário. C0ll10 ..dcninu c rimina, bem como entre guanina e citosina. como
~ será visto a seguir. mostra o esquema da Figura 30.2, o qual evidencia também
A década de 1960 se destacou por enormes avanços bio- que as duas cadeias do DNA, complementares em razão des-
químicos: desenvolveram-se os estudos sobre a transcrição ses purcumentos, correm orientadas de maneira antiparalela
do R A e os diferentes tipos de RNA presentes na célula, o uma em relação à outra.
código genético roi dcci lrado ~ compreendeu-se, em grande Como se vê na Figura 30.2, os grupamentos Iosfnto unem-se
parte, o mecanismo da síntese de proteínas. Esses estudos às moléculas de peruose pelos átomos de carbono de posição
destacaram li importância de um outro grupo de moléculas 3' c 5'. Enquanto uma das cadeias corre 110 sentido 3'-5', a
fundamental ao funcionamento da célula: os RNA. ou seja. outra corre no sentido 5'-3'. Em outras palavras. se na extre-
as moléculas de ácido ribonucléico. Os RNA mensageiros. midade de uma da cadeias ocorre um carbono 5' livre, na ca-
os R A transportadores e os RNA ribossômicos são funda- deia complementar estará presente um carbono livre 3'.
mentaisao processo de síntese de proteínas. A cada dia. novas A propriedade de pareamento das ba e nitrogenadas ga-
categorias de moléculas de RNA são descobertas, exibindo rume a capacidade de autoduplicação (também referida como
funções regulnrórias até muito pouco tempo desconhecidas, replicação) praticamente perfeita do DNA, como mostra o
Essasmoléculas uunbérn são transcritas pelos genes. Por- esquema da Figura 30.3. Numa fase anterior 11 duplicação
tanto, com o conhecimento que se tem hoje, a maneira mais propriamente dita da molécula, 5'-lIucleosídeos (pequenas
precisa de descrever o gene seria considerá-lo como um tre- moléculas formadas pela união de urna base niirogenada à
cho da molécula de DNA capaz de transcrever um RNA: esse dcsoxirribosc) existentes na célula c sintetizados previamente
RNA, por sua vez, pode vir a ser traduzido em uma cadeia por ela a partir dc nutrientes, silo ativudos mediante conver-
polipeptídica 011 executar alguma outra função. Existe um são cm â-trifosfo-nucleosfdeos na presençadeATP. No processo
grau considcrãvcl de controvérsia entre os geneticistas se 11(1 de duplicação. a molécula de DNA se abre (à maneira de um
extensãodo que é considerado um gene devem ser incluídos ztper) e as bases expostas de ambas as fitas servem de mol-
os trechos da molécula de DNA que regulam li própria íun- de para a incorporação dos novos 5'-trifosfo-nucleosídeos,
ção do gene, ou seja. as scqüências regulurórins da trans- mediada pela enzima DNA-polimerase. que trata de polimerizar
crição 011 da tradução, sendo muito provável que o conceito estes últimos sob forma de 5'-rnonofosfo-nucleosídeos (ou
de gene ainda venha a sofrer muitas modificações num fu- simplesmente 5'-nucleotídco!-. dado que dois resíduos de fosfato
turo relativamente próximo. são perdidos 110 processo). Em nmbas as cadeias do DNA. o
Atualmente sabe-se que cada Ulll dos nossos 46 cromos- crescimento ela cadeia é orientado no sentido 5'-3': um local
somos é constituído por uma única e longa molécula de DNA específico da DNA poli merase promove a união do grupamcmo
associadaa diversos tipos de proteínas com funções estrutu- fosfato de cada novo 5'-nucleotídeo com o átomo de carbo-
rais e rcgulatõrias. Cada cromossoma representa, então, uma no de posição 3' livre do 5'-nucleotídeo anteriormente in-
sucessãode milhares de trechos de D A COI11 funções cspc- corporado. Os longos trechos de DNA nos cromossomos são
cfflcas. que determinam a transcrição de diversos tipos de replicados em trechos menores que posteriormente são reu-
RNA. alguns dos quais serão traduzidos em cadeias poli- nidos. Convém destacar que as enzimas DNA-polimerases
pcpudicas. A cada um desses trechos pode-se atribuir o nome que catalizam 11 adição de novos nuclcotfdeos no sentido 5'-
de gene. 3' não têm capacidade de iniciar sozinhas uma nova cadeia
Corno nossos cromossomos estão organizados aos pares, de DNA. sendo capazes apenas de alongar uma cadeia pre-
isso significa que cada gene está representado por duas có- existente. com uma extremidade 3' livre. Dessa propriedade
pias, ou seja, dois trechos da molécula de DNA. com posi-
çãocorrespondente nos cromossomos horuôlogos. A cada urna
dessascópias do gene dá-se o nome de alclo. A T
Cada par de cromo: somos humanos contém milhares de
genes.Ainda há dúvidas sobre o número exato de genes que G' C
existemnaespéciehumana. Estimativas que variaram de 35.000
até 100.000 genesjá foram propostas e aguarda-se, com certa
expectativa. qual será o valor correto do número de genes da
nossaespécie. Hoje. os dados disponíveis apontam para as
estimativas menores. entre 35.000 c 40.000 genes.
Nas páginas a seguir. -crã apresentado com mal. detalhes 3.4À
o funcionamentodo gene. ou seja. corno o DNA. que é o material
hereditário. exerce suas funções c regula o funcionamento da 34À
célula coordenando a síntese de moléculas de RNA e de po-
lipeptídeos.
O ácido desoxirribonucléico (DNA) é um polidesoxirri-
bonucleotídeo de estrutura dupla e complementar: a estrutura
dessamolécula consiste numa hélice formada por duas ca-
deiascomplementares:dois filamentos de açúcar (desoxirribosc)
- fosfato, e a cada resíduo de açúcar se prende uma base
nitrogcnada que pode ser purínica [adcnina (A) ou guanina
(G»)ou pirimidínica lcitosina (C) ou tirnina (T)1. como mos-
trado no esquema da Figura 30. J.
As bases presas a um dos filamentos estão pareadas com Figura 30.1 - Representaçãoesquemática da estrutura tridimen-
as bases do outro filamento por meio de ligações de baixo sional do ácido desoxirribonucléico (ONA)
282 • Tratado de (/lnica Médica

O'6f~
H·C·H

0l J
C'Hf
'H 5'

?
"\r ?
.,:~:.
extremidade do
primer
~-_OI_'6_=O
__ ~ ~ H__ ~ o.~~

~ H
H

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I
H'C'H
\V ,C-H
H'C \
-7N.........
H·C. ~C-C,~
II~ \~c'"
\\.VII
~Ç-H
I
r.:-. 0-.1
~/ C-H
I H C--- N-C CU
:J:L,.H- -:.tl, N---C'H I
H-C, /<:1) ® 'N-C"'Y j 0ç?ÍJ'l ~ ,C-H
Io N-W oCV""'
- - - H ç CD
@~ " " Figura 30.3 - Representação esquemática do mecanismo de
autoduplicação do DNA
-o·~=o
o O papel do DNA presente no núcleo é principalmente con-
trolar a síntese das cadeias polipeptfdicas, de modo que a
uma determinada sequência de resíduos de nucleotídeos de
uma das fitas do DNA corresponderá uma determinada se-
Figura 30,2 - Estrutura primária de um segmento do DNA.Na
parte superior do desenho, R'designa a molécula de desoxirribose qüência de resíduos de aminoácidos da cadeia polipeptldica.
e P a de um reslduo de fosfato Numa primeira fase, mostrada esquematicamente na Figu-
ra 30.4. uma das fitas do DNA serve de molde para a síntese
de um RNA denominado RNA mensageiro (RNAm), síntese
resulta que, nas células, o início de síntese de cada um dos essa mediada por uma enzima chamada RNA polimerase e
fragmentos recém-sintetizados (como mostrado na Fig. 30.3) orientada pelo pareamenio obrigatório das bases DNA/RNA.
depende da síntese de pequenas moléculas de RNA (oligor- A molécula do RNAm é semelhante a uma das fitas do DNA
ribonucleotídeos), iniciadores de síntese ou primers, que (ou seja. exatarnente complementar ao segmento de DNA que
fornecem as extremidades 3' livres. Esses pequenos primers serviu de molde para a sua síntese). com a diferença de que
são posteriormente substituídos por trechos de DNA no linal o açúcar de cada resíduo de nucleorídeo é a ribose em vez da
do processo da síntese, que termina com a reunião dos di- desoxirribose e a base nitrogenada uracila substitui II timina.
versos fragmentos recém-si ntetizados. A D-ribose presente no RNA diferencia-se da D-desoxirribose
No parágrafo anterior referiu-se à autoduplicação do DNA presente no DNA por possuir. no carbono de posição 2, um
como sendo um processo praticamente perfeito: a enzima DNA- radical hidroxila (-OH) no lugar de um radical hidrogênio e
polimerase possui um segundo local específico que verifica n uracila é simplesmente a tlmina desmetilada na posição 5
se o resíduo recém-incorporado está pareado de maneira cor- (essas posições são mostradas na Fig. 30.2).
reta, antes de avançar no sentido de acrescentar mais um re- Após ser sinterizado na cromatina do núcleo celular, o
síduo. Esse fato tende a minimizar a probabilidade de erros RNAm migra para o citoplasma da célula, no qual se une
na replicação do DNA, que poderiam resultar em alteração da aos ribossomos, estruturas formadas por R~A ribossômico
seqüência de bases do DNA recém-replicado. Outros meca- (RNAr) e proteínas, em que terá lugar a síntese de cadeias
nismos enzimáticos podem promover o reparo de alterações polipepudicas. As bases do RNAm associado aos ribossornos
da molécula de DNA, quer sejam erros oriundos da replicação estabelecem. então. ligações com as bases de um outro tipo
do DNA ou resultantes de danos diversos adquiridos nas ca- de RNA denominado RNA de transferência oU RNA trans-
deias, por exemplo. como conseqüência de radiações ou agentes portador (RNAt), que estão. por sua vez, associados de maneira
químicos. Esses mecanismos de reparo garantem a estabilida- específica a aminoácidos (Fig. 30.5). As ligações entre esses
de dos genornas em geral. RNA estabelecem-se sempre obedecendo aos pareamentos
Princlpios de Genética Humana - 283

A/U e G/C entre um trio de bases expostas do RNAm (códon) o processo todo, incluindo o molde do RNAm pelo DNA
e um determinado trio de bases do RNAt (aruicódon), indi- e todas :IS demais etapas descri las, pode ser visto na Figura
cado na Figura 30.5 pela seta (I. Como se vê nessa figura, a 30.7. Da inspeção dessa figura fica claro que a cada trio de
estrutura do RNAt resulta do dobramento mais ou menos ao resíduos de nucleotldcos de uma das filas do DNA correspon-
meio de uma única cadeia polirribonucleotidica com cerca de um trio de resíduos de nucleoudeos do RNAm ou códon,
de 70 a 80 re iduos de nuclcotfdcos, com as extremidades um anticõdon do RNAI (este exutamentc igual ao trio de ba-
livres pareando-se da maneira também indicada no esquema. ses do DNA, com a base uracila substituindo a tirnina) e um
Cada RNAttem ii capacidade de ligar-se (na posição indicada determinado resíduo de aminoácido na cadeia polípeptídica.
pela seta b) a um aminoãcido especifico. reação essa mediada Essas equivalências (códon de RNAm no sentido 5'-3' e
por enzimas que não só são capazes de associar cada tipo de resíduo de aminoácido correspondente na cadeia polipeptídica)
RNAt ao seu aminoácido correspondente, como também são são mostradas na Tabela 30.1, que é uma representação do
responsáveis pela ativação energét ica e ligação do aminoácido código genético. Este é, então, o conjunto de regras de cor-
ao respectivo R AI. respondência entre os cõdons do RNAm e os aminoácidos pre-
Estabelecidas as ligações entre os trios de bases do RNAt sentes nas cadeias polipeptfdicas.
(anticódons). carregados cada um com um tipo de aminoácido. Os aminoácidos mostrados na Tabela 30.1 são indicados
com asbases expostas do RNAIl1(cõdons), ocorrerá no ribossomo pelas abreviaturas entre parênteses a seguir: ácido aspãrtico
o encadeamento ordenado dos aminoácidos. com formação (asp), ácido glutâmico (glu), alanina (aia). arginina (arg),
de ligações pcptfdicas entre dois resíduos de aminoácidos usparagina (asn). cisrinu (cys), fenilalanina (phe), glicina (gl)'),
subsequentes (Fig. 30.6). Após a formação de uma ligação gluramina (gln), histidinu (hls), isolcucina (ile),leueina (leu),
peptldica. o ribossomo desliza sobre a molécula de RNAm a lisina (lys), metionina (mct), prolina (pro), serina (ser), treonina
um "passo" de três bases de cada vez. Com o deslocamento (thr), triptofano (trp) c vnlinn (vai).
do ribossomo. um novo trio de bases do RNAm (códon) fica Existe um códon que inicia li tradução de todos os poli-
exposto a interagir com um RNAt recém-chegado. trazendo peptídeos, que é o cõdon correspondente à metionina. Esse
novo arninoãcidoe a ligação peptfdica ocorre novamente. Assim, aminoácido estará presente na primeira posição em todos os
com os deslocamentos sucessivos do ribossomo sobre oRNAm, polipeptídeos sintetizados na célula. mas pode ser retirado no
ocorreo crescimento da cadeia pollpcprídica e finalmente liberação final do processo. Há três eódons que codificam a parada da
da protcfna cm sua estrutura primária (Fig. 30.6). tradução por não corresponderem a aminoácido algum. Seu
papel é o de determinar o fim da tradução.
Com exceção da mcrionina e do triptofano. que são codi-
ONAI I II II I ficados por um único códon. todos os demais aminoácidos
C91i'\tC9 são codificados por pelo menos dois códons. um por trê • muito
por quatro e três por seis, Existem ainda dois trios iniciadores
de leitura (além do correspondente à mctionina. já menciona-
do, o trio GUG correspondente à valina tem função idêntica
em alguns organismos procariontes) e três terminadores. Tudo

--
isso deixa claro que o código genético (que é universal, sendo
,0
I I I I I IINd
praticamente o mesmo em todos os organismos vivos) é dege-
nerado de uma maneira sistcmâtica. o que era de se esperar,
uma vez que o número de aminoácidos (cerca de 20) é muito
n~

~11111Yl1
I
-- menor que o número possível de trios de bases (64).
Com base no apresentado anteriormente fica fácil compreen-
der os possíveis efeitos das mutações sobre o DNA.

I II I

RNAm
~GJDí1CAJGJCAJ
I II II II II
1
II I
+
Figura 30.5 - Representação esquemática de uma molécula de
ácido ribonucléico transportador (RNAt). A seta a indica o local
de pareamento (anticódon) com o códon correspondente com-
Figura 30.4 - Representação esquemática da síntese do ácido plementar do RNAm. A seta b indica a extremidade em que se
ribonucléico mensageiro (RNAm) pelo DNA liga o aminoácido (no caso do anticódon AAA, a fenilalanina)
8S·7241·S98·X
284 • Tratado de Clínica Médica

• Inserções: quando ocorre a introdução de um ou alguns


nucleotídeo na molécula do DNA. Um tipo especial de
inserção é a duplicação, que ocorre quando a porção inserida
RNAm
tem sequência de bases repetida cm outra região do gene
ou do genorna.
As delcções e inserções, se ocorrerem em número de nu-
clcorídcos diferente de três ou de múlriplos de três, têm um
grave efeito na síntese dos polipcptídeus. pois acarretam uma
mudança da matriz de leitura dos códons no ribossorno: a partir
da posição cm que elas ocorrem no DNA, e, conseqüentcntc,
no RNAm. ii leitura de todos os cõdons subsequentes é dcfa-
u,
ada e muitos aminoácidos são substitufdos na cadeia polipetfdica
até que se alcance um c6don de parada. Essas alterações re-
I
t
aa,
I
aa,
cebem a designação de mutações de quadro de leitura ou de
Cadela polipeptfdlca matriz de leitura (frameshiftí: por causa de seus efeitos.
Algumas regiões do DNA, conforme jã explicado, em vez
Figura 30.6 - Mecanismo de síntese das cadeias polipeptidicas de codificarem cadeias polipcprídicas por meio de RNA men-
pelo complexo ribossomofRNAmlRNAt sageiros. são responsáveis pela síntese dos outros tipos de RNA
(transportadores e ribossômicos) e outros tipos de RNA espe-
cializados no transporte de polipeptídios, no processamento e
De um modo geral, as mutações que ocorrem no DNA podem
no amadurecimento de outros ácidos ribonucléicos.
ser classificadas da seguinte forma:
Sabe-se arualmente que nos organismos dotados de núcleo
• Substituições: quando ocorre a troca de uma ou algu- (eucariontes) apenas algumas porções do gene (aqui definido
mas bases nitrogenadas dos nucíeotídeos na molécula de uma maneira simplificada corno uma seqüência de resí-
do DNA. Os efeitos das substituições podem variar de- duos de desoxirribonucleotfdeos) codificam o RNAm final,
pendendo do tipo. Algumas substituições acarretam a maduro. responsável pela síntese das cadeias polipeptídicas.
substituição do aminoácido correspondente na cadeia As porções que permanecem no RNAm maduro, após o seu
polipcptídica. São chamadas de mutações de sentido errado processamento, são chamadas de exons (de expressed regionr).
imissense), Algumas substituições de bases não acarre- Geralmente são essas porções que realmente correspondem a
tam substituição do aminoácido correspondente. já que uma determinada seqüência de resíduos de aminoácidos na
mais de um códon pode corresponder a um mesmo cadeia polipeptídica. As porções restantes são chamadas de
aminoácido. Essas são chamadas de mutações silencio- introns (de il/tragenic regiolls) ou scqüências intercaladas.
sas (si/em). Outras substituições transformam um códon formadas por eqüência que não codificam aminoácidos. O
que corresponde a um aminoácido cm um dos três códons RNAm inicialmente transcrito é uma cópia do gene completo,
comendo todos os exon e introns; antes de passar ao citoplasma,
de parada. causando o término prematuro da tradução
da cadeia polipeptídica. E.. as são chamadas de mura- o RNArné processado (ocorre o Sp/icillg), com os introns sendo
çõcs sem sentido (nonsense), retirados e os cxons adjacentes sendo reunidos. Essa seqüên-
cia de eventos é mostrada esquematicamente na Figura 30.8.
• Deleções: quando ocorre perda de um ou alguns núcleo-
Por exemplo. o gene inteiro responsável pela cadeia beta
tídeos na molécula do DNA.
da hemoglobina A. localizado no cromossomo II, tem cerca
de 1.500 pares de bases (pb), enquanto a cadeia polipeptfdica
da cadeia beta tem 146 resíduos de aminoácidos. Nesse gene,
01, .a, aa,
portanto. são necessários somente 146 x 3 = 438 pares de bases
t

••• I

; : ~~t : ; ; ~--I---~_
I l

DNA
(pb) para codificaros aminoácidos: o restante (cerca de 1.060pb)
corresponde principalmente a introns que são retirados do RNAm
durante o processo de splicing,

CONCEITOS SElAIS OE SENlTICA BAslCA


i
A
i
G
~ r-'j" Rrl~~ APlICAulS À SENhlCA Ia_ANA E _lOICA
Como cada pessoa se origina de um zigoto que recebe um
RNAr complemento simples ou haplóide de cromossomas de cada
genitor. os cromossomos de cada célula estão representados

",
U,
c
A
~ 9:'"
NH,it:===:Ir COOH
por pares de crornossomos ditos homólogos. um lote de ori-
gem materna e outro de origem paterna. Dos 23 pares de cro-
mossemos encontrados no núcleo de uma célula humana diplõidc
qualquer. 22 pares são comuns a indivíduos de ambos os se·
xos e recebem o nome de autossomos. O vigésimo terceiro
par é formado por dois crornossomos X (nesse caso. também
homólogos) nas mulheres e por um par exibindo heteromorfismo
em indivíduos de sexo masculino (um crornossorno X e um
Figura 30.7 - Esquema mostrando as fases da síntese de ca- cromossoma V). Diz-se, portanto, que a mulher tem 23 pares
deias polipeptídicas a partir de genes localizados no DNA.Os de cromossomos hornõlogos (incluindo os dois cromossornos
locas responsáveis pela síntese de RNAre RNAtnão estão neces- X) e os homens 22 pares de cromossornos homólogos e um
sariamente situados no mesmo cromossomo que aloja o gene par de cromossomas hetcrõlogos (um X e um V). Por inter-
estrutural exemplificado médio de um processo de divisão especial denominado rneiose,
Princlpios de Genética Humana • 285

as células da linhagem gcrrniruuivn ongmnm os garnetas TABELA 30.1 - C6dlgo genético: correspondência de trios 5'·3'
masculinos e femininos. cudu um deles (cspcrrnatozôides e de RNAm(c6dons) e reslduos de amlnoAcldosna cadela
óvulos) contendo um lote haplóide de 23 cromossornos. Ao polipeptldica. O asterIsco IndIca códons de parada de leItura
passoque todos os óvulos possuem 22 uurossomos e um cro- ou terminadores
mossomoX. existem dois tipos de espermatozóides. uns con-
tendo o crornossomo X c outros contendo o cromos orno Y. SEGUNDA BASE DO CÓDON
Nomomentoda fecundação. dependendo do cromossomo sexual U C A G
contido no espermatozóide. originar-se-é um zigoto destina- UUU phe UCU ser UAU tyr UGU cys U
do ao sexo masculino ou ao sexo feminino. se o cromossomo
sexual for o Y ou o X_ respectivamente. Como metade dos
espermatozóides carregam O cromossomo X e a outra metade
U
UUC
UUA
phe
leu
UCC
UCA
ser
ser
UAC
UAA
..
tyr
UGA .
UGC cys C
A
UUG leu UCG ser UAG UGG trp G
o Y,espera-se que recém-nascidos de sexo feminino e mas- z ...
culinoocorramem proporções aproximadamente iguais (diz-se o
o CUU leu CCU pro CAU his CGU arg U m
:II
-o n
então que a razão sexual ao nascimento é cerca de um). U
CUC leu CCC pro CAC his CGC arg C m
Noscromossomos. os genes estão localizados em posições C CUA leu CCA pro CAA gln CGA arg A ~
O
especificas que recebem o nome de locos, que são ditos ho- o CUG leu CCG pro CAG gln CGG arg l1li
G >
&AI

mólogosem relação a todos os autossomos e ao par de cro- '"


oe( '"
m

mossemos X em mulheres. Em indivíduos de sexo masculino.


CD
AUU ile ACU thr AAU asn AGU ser U c
oe( O
oscrornossomossexuais X e Y apresentam apenas alguns poucos lO:
;:;:; AUC ile ACU thr AAC asn AGC ser C n
A C>
locosem comum. A maior parte dos genes do Y está ligada à ~ AUA ile ACA thr AAA Iys AGA arg A c
ii: O
determinação genética do sexo do embrião e da fertilidade Do. AUG met ACG thr AAG Iys AGG arg G Z

masculina; fora isso. o crornossomo Y é relativamente pobre


GUU vai GCU ala GAU asp GGU gly U
emgenesque codificam proteínas; portanto. a maioria dos genes
GUC vai GCC ala GAC asp GGC gly C
do cromossomo X ocorre em dose única em machos. G GUA vai GCA ala GAA glu GGA gly A
Os genes localizados em um mesmo loco são ditos alclos ala glu gly
GUG vai GCG GAG GGG G
e todos os alelos de um mesmo gene presentes nos indivíduos
dapopulação originam-se por mutação de alelos preexistentes.
Assim.os alelos resultam de diferenças nas sequências de base
divisão da meiose; e isso será tanto mais provável quanto maior
nucleotfdicas do O A em um gene. Estudos recentes de bio-
for a distância entre os locos que contêm esses genes. Por
logia molecular têm mo trado que o número de alclos alber-
exemplo. considerando-se um indivíduo AB/ab que se cruza
gadosemqualquer locoé geralmente muito grande. o que confere com um ab/ab. se a taxa de recombinação entre esses dois
às populações um alto grau de variabilidade genética. mo -
locos for 5%. significa que () duplo hcterozigoro produzirá
trando, portanto. que a plasticidade evolutiva dos seres huma-
95% dos garnetas contendo os haplôtipos não-recombinames
nose de todos os organi mos de uma maneira geral é enorme.
AB ou ab (47.5% de cada), enquanto 5% de seu gamelas conterão
Normalmente se designam os alclos de um loco usando
os haplótipos recombinantes Ab ou aB (2.5% de cada).
urna mesma letra ou abreviatura para indicar que pertencem O genõtipo do indivíduo pode determinar uma caracterís-
a um mesmo loco e índices para diferenciá-los entre si (por
tica física ou fisiológica qualquer, cornumente referida como
exemplo, a,. aI' a) etc.). Os indivíduos que possuírem num fenótipo. Os alclos que compõem o genótipo interagem de
mesmo loco autossômico duas cópias iguais de um mesmo
várias maneiras. originando os vários fenótipos.
alelo(porexemplo.a,a,) são ditos homozigotos (no caso. quanto Quando o fenótipo correspondente fi um dos homozigotos
ao gene a); quando o loco estiver ocupado por dois alelo
é semelhante ao dos heterozigotos, diz-se que li característica
diferentes (por exemplo. a,a~ ou a~n) o seu portador é dito que se expressou no heterozigoto é II dominante. A que não se
heterozigoto. As constituições genéricas exemplificadas an-
expressa no hctcrozigoto é dita recessiva. Por exemplo. cm
teriormente (a,a,. a,~IJ' a2ul) são denominadas genõripos. Em relação aos grupos sangUíncos do sistcmu ABO, os ulclos A
relação II tocos do X em indivíduos de sexo masculino. os
e B são ambos dominantes em relação ao ulelo 0, que é recessivo.
genétipos corresponderão simplesmente lIOS alclos (por exemplo.
b, b ,b etc.) possíveis e costuma-se referir II esses indiví-
duos
, 2 como
J hcmizigotos
. . rcspccuvamcntc quanto ao. ale Ios
(rcspccri
Gtn! I
b, b1, b, etc.).
, Os estudos de ligação entre genes de locos distintos fez ONA

COIII que se difundisse na literatura especializada um outro


1II'"'ilillllllllllll.ililillilllilllllllllilliliIiIltilUI

f[~:':'
conceitoútil. o de haplótipo. que é usado para definir a cons-
tituição de um conjunto de locos situados num mesmo cro-
• RNAm prim~rio

mossomo(Iocos sintênicos). Assim. caso se tome um indivíduo Rtmoçlo dos


homozigotoc,c, quanto a um primeiro loco e heterozigoto d2d) introns
quantoa um segundo loco no mesmo cromossorno. podemos
dizer que seu genõtipo é c,d/c,d,. em que Cid, e Cid, são os i',
illlillili,illilllliiliiilliiihll,lililiiiiiillllllllliillf RNAm maduro

haplõtipos, cada um em um dos cromossomos homólogos. Se


O indivíduo for hetcrozigoto em relação aos dois locos (por
..~
exemplo.clc, e d,d) seu gcnótipo pode ser tanto c~d/cJd. como
c2d/cA. não se conhecendo. logo. a fase (duplo hcrerozigoto
..
ii
T"duçlo

v
s
"ematracão' ou "em repulsão"; esses dois termos foram cria-
dos originalmente para distinguir-se um hererozigoto AB/ab
de um Ab/aB, em que A e B silo alclos dominantes selvagens Figura 30.8 - MecanIsmo de sintese de cadeias polipeptldicas
e a c b alelos mutantes recessivos). É comum os haplõtipos se nos organismos eucariontes, mostrando como são removidas as
desfazerempor meio da recombinação que ocorre na primeira regiões não-codificadoras (introns) do RNAm
286 • Tratado de Clinica Médica
85-7241-598·X

Assim. indivíduos de grupo sanguíneo "A", que possuem apenas num loco qualquer. de modo que é inreres ante. agora. conhe-
antígenos A recobrindo suas hemácias, podem ter genótipo cer-se o resultado de cruzamentos no caso de polialelia sem
AA ou AO: de maneira semelhante. indivíduos "B" podem ter dominância. Para isso basta e con iderar quatro alclos (a.• a,
genõtipo BB ou BO. mas a indivíduos "O" corresponde ape- a~ e a.) e analisar as situações ainda não incluídas no caso j~
nas o genótipo 00, que indica a ausência dos dois anugenos. analisado d~ dois alelos. Se o ~ruzamento for .a,a,x ap~ a progênie
No entanto. existem situações em que a cada genótipo deverá ser formada, em média. por heterozigotos aia) e u,at em
corresponde um fenótipo distinto: fala-se então de semidominância proporções iguais. No caso de cruzamentos a,a, x aia~ e a,a. x
ou dominância incompleta quando o fenótipo do heterozigoto IV\ espera-se que ocorram nas suus proles quatro tipos dife-
é intermediário em relação aos fenõtipos dos dois tipos de rentes de genótipos com freqüências iguais (25% cada): um
homozigoto , e de codominância quando cada um dos dois homozigoto e três hcrerozlgotos diferentes no primeiro caso
produtos típico dos homozigotos está presente no heterozigoro. e quatro heterozigotos diferentes no segundo caso.
Um exemplo clássico de co-dominância é dado pelo sistema Tratando-se de locos bialélicos ligados no cromossomo X,
de grupos sangülneos MN, no qual os indivíduos homozigotos no caso de cc-dominância existirão três fen6tipos possíveis fe-
MM ou NN apresentam na superfície de suas hemãcias ape- mininos. cada um equivalente II um genótipo diferente (por exemplo,
nas amígencs M ou N, enquanto hererozigoros MN apresen- XOXIl• XUXbe XbXb). e dois masculinos (com ou sem dominância,
tam os dois tipos de antígenos. Es. e também é o caso dos os fenótipos masculinos corresponderão sempre aos genõtipos
alclos A e B. no sistema ABO. em que o indivíduo com o X" e XIo). Nu caso de dominância entre os alclos XO e Xb, exis-
genótipo AB possui os dois tipos de antígenos nas hemácias. tirão dois fenótipos (dominante e recessivo) tanto em fêmeas
A designação herança intermediária é mais apropriada para como em machos. porém correspondendo, respectivamente, aos
características quantitativas. que serão discutidas mais adian- =
genótipos XIJX' X"XIl ou XllXb e XbXb, ou XB e Xb•
te, como tamanho ou pigmentação. em que indivíduos Aa, por A Tabela 30.3 mostra os casamentos possíveis com as fre-
exemplo. apresentam um fen6tipo que é aproximadamente a qüências esperadas dos diversos tipos nas respectivas proles
média dos fenótipos apresentados por AA e aa. cm relação a essas duas situações.
As regras de transmissão das caracterfsticas biológicas deter- No caso de genes do cromossomo X é importante lembrar-se
minadas geneticamente são muito simples se for considerado que. dos dois cromossomo X de uma célula dipl6ide de uma
um loco autossômico com dois alelos. com ou sem dominância. mulher qualquer. apenas um está geneticamente ativo, eom
como mostra a Tabela 30.2. que reúne os resultados dos cruza- todos os seus genes funcionando normalmente; o outro se encontra
mentes que podem ocorrer numa população qualquer. inativado, com apenas uns poucos locos ativos. Essa inativação
É importante considerar que as percentagens esperadas na do crornossorno X em células femininas tem início nas pri-
prole de cada tipo de cruzamento parental correspondem II meiras fases de segmentação do embrião, completando-se entre
probabilidades que somente corresponderão a valores observa- a segunda e a terceira semanas da vida embrionária em huma-
dos em um número de amostragens enorme. Corno os resul- nos (fase em que o blastocisto está se aninhando na mucosa
tados genorípicos na prole independem de resultados que jó uterina. ocasião em que conta com cerca de 1.000 a 2.000
ocorreram, a chance de nascer uma criança aa de um casal de células). Um dos dois cromossornos X da mulher (o de ori-
hetcrozigotos An x An. por exemplo. é sempre um quarto. quaisquer gem materna ou o de origem paterna). ao acaso. sofre um processo
que sejam os gen6tipos dos filhos que já nasceram. No campo de conden ação numa célula que até então apresentava os dois
das anedotas de genética médica, é muito conhecida aquela do cromossomo X com todo os eus locos ativos; todas as células
casal de hererozigotos Au quanto a cor de olho que perguntou descendentes dessa célula. no entanto, terão sempre o mesmo
ao seu médico o que seria preciso fazer para nascer uma crian- X inativado. Esse processo (rrcoria de Lyon") recebe o nome
ça de olhos claros (aa), A resposta que recebeu foi que era muito de lyonização em homenagem à sua descobridora. a cientista
simples. pois bastava que o casal tivesse quatro filhos: três iri- inglesa Mary Lyon. O resultado disso é um fenômeno conhe-
am nascer com olho castanhos e um com olhos azuis. cido como compensação de dose: inativando aleatoriamente
Com o conhecimento que se tem atualmente sobre a varia- um dos cromossomos X nas células femininas. em média a
bilidade molecular que ocorre nos genes: tornaram-se raros quantidade de produto do gene de cada loco do X será a mesma
os casos em que apenas são detectadas duas variedades alélicas tanto em machos como em fêmeas. Outra conseqüência disso
é que. em razão de pequenos desvios naturais da taxa espera-
da de inativação ao acaso (segundo a qual se espera que cerca
TABELA 30.2 - Resultados possíveis em casamentos envolvendo de metade dos X inativados sejam os de origem materna), as
locos autoss6mlcos blaléUcos.com e sem dominância . mulheres apre entarn maior variabilidade que os homens na
expressão fenotfpica dos genes ligados ao X.
GENónPOS NA PROLE Na herança dita quantitativa. o fenótipo do indivíduo dependerá
CASAMENTO (FENÓnpoS FENÓTIPOSNA PROLE
ela interação de diversos pares de genes situados em locos que
PARENTAL SEM DOMINÂNOA) (COM DOMINÂNCIA)
segregam independentemente nos diversos cromossomos. Existem
AAxAA AA 100% O 100% vários modelos de herança quantitativa: no mais comurnenre
AA x Aa AA 50% O 100% citado, II curacterfstica depende da irueração de um número
Aa 50% ralntivumcnte grande de genes distribuídos nos vãrios cromossomos
AA x aa Aa 100% O 100% e cnd o um deles tendo efeito aditivo relativamente pequeno:
num outro modelo. o fenótipo resultaria de lnterações cornple-
Aa x Aa AA 25% O 75%
Aa 25%
xas entre genes de efeito marcante localizados num número restrito
50%
aa
de locos. Existem provavelmente, ainda. sistemus que se comportam
25%
corno híbridos desses dois. albergando :10 mesmo tempo genes
Aa x aa Aa 50% O 50% de pequeno efeito aditivo. localizados em vários locos, ao lado
aa 50% 50% de outros (em quantidade restrita) com efeito mais marcante
aa x aa aa 100% 100% ("genes principais"). Todos os três modelos admitem, ainda, a
o = fen6tipo dominante, correspondente ao gen6tlpo A- = AAou Aa; r = intervenção de fatores ambientais no expressão fenotípica das
fen6tipo recessivo,equivalendo ao gen6tlpo aa características quantitativas. tanto assim que esses modelos
Principios de Genética Humana • 287

comumente são referidos como multifatoriais. resultando da ação TABELA 30.3 - Resultados possíveis em casamentos
conjunto de sistemas poligênicos e de fatores ambientais (enten- envolvendo locos ligados ao X bialélicos. com • sem domlnânda
dendo-se como tal todo. o fatores que não são genéticos). A
intervenção destes últimos em características como o peso e a GEN6TIPOSNA PROLE
altura é óbvia. Vãrios autores ainda se preocuparam em elabo- CASAMENTO (FENÓTIPOS FENÓTIPOSNA PROLE
PARENTAL SEM DOMINÂNCtA) (COM DOMINÂNCIA)
rar índices que meçam a participação relativa de fatores ambientais
c genéticos nu determinação dessas caracterfsticas. Um desses X·X·x X· X'X· 50% Of 50%
índices é a taxa de hcrdabilidadc. que tenta determinar a pro- X· 50% Dm 50%
porção de vuriabilidade fcnotípica de uma característica atri- X·X·50% Of 50%
buível a fatores genéticos. Xl 50% Om 50%
Na verdade. a influência não se limita às características XiX' 25% Df 50%
multifutoriais discutidas acima. Nosso fen6tipo. de uma ma- X·X·25% Om 25%
neira geral. resulta da lntcração entre o gen6tipo e o ambiente. X· 25% rm 25%
Isso é claramente exemplificado no caso da fenilcetonúria: X' 25%
para apresentar ii doença. um indivíduo precisa. além do genótipo
X·X·X X· X'X' 25% Df 25%
recessivo, ingerir fcnilalanina em sua dieta. X·X' 25% rf 25%
A maioria dos conceitos anteriores é dirctamcntc aplicável Xl 25% Om 25%
a características fcnorípícas normais. freqUentes na população. X' 25% rm 25%
Quando essas características são condições patológicas
(defeitos isolados, doenças. síndromes. sequências. associa- X·X·xX' X·X·50% Df 50%
ções ou complexos mal formativos). o primeiro problema que X· 50% rm 50%
tem lugar é que elas são muito raras na população. tipicamente X·X·x X· X·X·50% rf 50%
cada uma delas ocorrendo com freqüências da ordem de 1/10.000 X· 50% rm 50%
ou menos; as exceções são dadas quase sempre por uma ou Df = fen6tipo dominante feminino correspondente ao gen6tipo X·X·= X·X·
outra condição excepcionalmente mais freqücntc em alguns ou XiX": Dm = fen6tipo dominante masculinocorrespondente ao gen6tipo
grupos étnicos. como é o caso da fibrose cística em popula- X"; ri = fen6tipo recessivofeminino. equivalendo ao gen6tipo X"X·; rm =
fen6tipo recessivomasculino correspondente ao gen6tipo X·
ções de extração nórdica, da doença de Tay-Sachs cm judeus
de extração asquenazi e da anemia falciforme entre indiví-
duos de origem africana. Essa raridade é explicada pelo fato (com chance de l/SOO x l/SOO = 1/250.000) nasceram alguns
de que qualquer característica genética só pode ser difundida afetados homozigotos (com um quarto da chance anterior, Otl
na população por mutações, que ocorrem espontaneamente com seja 111.000.000), portadores de quadros gravíssimos de
freqüências insolitamente baixas. ou por meio de portadores atcrocsclcrosc generalizada e acidentes vasculares ocorrendo
do gene mutante. que o transmitem a seus descendentes: como em media já antes da puberdade. De certo modo. é como se a
a característica é patológica. redunda direta ou indiretamente formo grave fosse determinada por mecanismo uutossômico
na diminuição da probabilidade de reprodução de seus porta- recessivo. se considerar-se que os afetados heterozigotos estão
dores. de modo que se não fosse pelas mutações (que são capazes praticamente isentos de selcção natural. uma vez que a doença
de manterem os genes mutantes patológicos apenas em fre- neles se manifesta tardiamente.
qüências muito baixas) os genes patológicos desapareceriam Fora essas cxceçõc . no entanto. não se conhece o fenótipo
totalmente da populações. uma vez que os portadores de alelos correspondente aos homozigotos e a dominância foi definida
normais desses genes possuem uma eficiência reprodutiva maior de modo condicional (vdornínãncía condicionai"), uma vez
que os afetados, então submetidos aos efeitos da seleção na- que os heterozigotos Aa manifestam uma doença e. de casa-
tural. Apenas os genes autossôrnicos alterados que são total- mentos entre pessoas afetadas e normais em média nascem
mente recessivos podem se acumular na população em crianças normais e afetadas em proporções aproximadamente
heterozigotos assintornãticos, que vão se tornando cada vez iguais, o que coincide com o esperado teórico de cruzamen-
mais freqüemes: com isso. acaba ficando provável a forma- tos Aa x aa = 1/2 Aa: 1/2 aa. Entretanto. é provável. como foi
ção de um casal de heterozigotos. Um filho homozigoto recessivo verificado nos casos da acondroplasia e da hipcrcolesterolemia
desses casais (que nasce com probabilidade de 25%) será afetado familial, que o Ienôtipo correspondente aos homozigotos seja
e, portanto. objeto de seleção natural, o que impedirá que o sempre diferente e muito mais grave (provavelmente letal) que
gene continue a aumentar de freqüência na população. o dos heterozigotos .
.Quatro fenômenos importantes observados na herança autos-
Principais Características das sômica dominante de caracteres patológicos são: ocorrência
DoençasCondicionadas por natural de casos decorrentes de mutação nova. penetrãncia incom-
pleta. expressividade variável e antecipação clínica.
Mecanismo Autossõmlco Dominante Pelo fato de ocorrerem na população com freqüência insoli-
Em relação a doenças condicionadas por genes autossômicos tamente baixa (em geral da ordem de 1/10.000 ou menos) quase
dominantes, os afctndos são heterozigotos: apenas em duas sempre os casos de doença autossôrnica dominante são isola-
(das cerca de três mil COI11 esse mecanismo confirmado ou pro- dos, resultando de mutações novas (quando se tiver certeza de
vável) dessas doenças conhece-se o fenótipo dos homozigotos que isso realmente ocorreu. o termo mais adequado para tais
quanto ao alelo que causa a doença. os quais ocorreram por casos é o de esporádicos). Por isso não causam estranheza o fato
causa de circunstâncias excepcionais: na acondroplasia. cujo de uma parte considerável dos casos dessas doenças serem es-
fen6tipo (nanismo) favoreceu a formação de casais de afcta- porãdicos e o fato de, mesmo entre casos familiais, geralmente
dos heterozigotos, e na hipercolesterolemia fumilinl, em que se poder localizar o primeiro afeiado resultante de mutação nova.
afetados hetcrozigotos (tipicamente com história de aciden- Outra característica comum nas características patológicas
tes vasculares na terceira ou quarta décadas de vida) ocorrem autossômicas dominantes é a penetrância incompleta: tipica-
com frequência relativamente alta na população (da ordem de mente uma fração dos heterozigotos quanto a esses genes não
1/500); do casumento ao acaso entre alguns desses heterozigotos apresenta manifestações fenotípicas detectáveis. Quando isso
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288 • Tratado de Clínica Médica

acontece, diz-se que a característica não penetrou. entenden- sem da combinação ao acaso entre os gameias (espermaiozõides
do-se por taxa de penctrância a probabilidade de um genõtipo e óvulos) produzidos por todos os indivíduos da população.
manifestar-se fenotipicamcmc. Em muitas doenças autossômicas Em relação a um loco aurossôrnico qualquer (por exemplo.
dominantes a taxa de penetrância é alta, porém incompleta. o que pode abrigar os alctos A e a). espermatozóides con-
Isso significa, na prática. que apenas uma percentagem dos tendo os alelos A e a ocorrerão nas Ireqüêncius gênicas p e
hetcrozigotos (representada pela taxa de penetrância K) ma- q, respectivamente. o mesmo acontecendo com os óvulos.
nifesta sinais e sintomas característicos da doença ou defeito. Combinando-se esses gumctas ao acaso, verifica-se que a pro-
Por exemplo, no retinoblastoma bilateral, em que o genótipo babilidade de formação de homozigotos AA na geração filial
dos afetados é Rr, a probabilidade de um indivíduo que her- é o produto p x p = p~. da mesma maneira que homozigotos aa
dou o gene mutante apresentar o tumor da retina entre o nas- ocorrerão com probabilidade q x q = q2. Como heterozigotos
cimento e no máximo seis anos de idade (cerca de 80 a 90%) resultarão de fecundações tanto de óvulos A por espermatozóides
depende de haver acontecido um segundo evento mutacional II como de óvulos II por espermatozóides A, eles ocorrerão
inativando o alelo normal r. um gene supressor de tumor, em com probabilidade p x q + q x p = 2pq. Em relação a doen-
pelo menos um dos cerca de um milhão de retinoblastos do ças determinadas. por padrão autossôrnico recessivo, a Ire-
embrião. Nesse caso. a falta de penetrância tem lugar quando qüência de heterozigotos nãc-afetados nu população é 2pq =
não ocorre esse segundo evento mutacional em estágio em- 2% aproximadamente para doenças com incidência ao nas-
brionário, O que acontece com probabi lidade de 10 a 20%. cimento da ordem de q2 = 1/10.000, correspondentes a genes
Outro conceito importante em genética médica é a expres- deletérios com freqüência q = 1% = III 00. Como a chance
sividade. que pode ser definida no caso das doenças autossõmicas de formação casual de um casal de hetcrozigotos é 2pq x
dominantes como o grau de manifestação fenotípica determi- = =
2pq 2% x 2%:: 1/50 x 1150 1/2.500 e como a chance de
nado pelo genótipo heterozigoto. A expressividade é tipica- nascimento de um ufetudo na prole de casal de heterozigotos
mente muito variável na maioria da doenças determinadas é um quarto, chega-se à probabilidade de na população ocorrer
por mecanismo autossômico dominante. I 50 explica porque um homozigoto filho de dois heterozigotos, que é o produto
o diagnóstico clínico de patologias desse grupo é comumente =
1/2.500 x 1/4 1/10.000, que é a própria frequência da doença
difícil. pois alguns afetados apresentam com certa freqüêncin ao nascimento.
sinais e sintomas insuficientes (às vezes ausentes. como no O importante a guardar disso tudo é que basta nascer uma
caso de falta de penetrância de genes com penetrância incom- criança afetada por uma doença recessiva qualquer para se
pleta) parn se fechar um diagnóstico de certeza. Em casos farniliais ficar sabendo que o gene causador do defeito está presente
da doença. no entanto. a ocorrência de afetados típicos parentes em heterozigosc nos genitores. A não ser nos casos em que
próximos de um afetado atípico permite fechar o diagnóstico ocorram casamentos consangüfneos ou em que o alelo recessivo
de certeza neste último. responsável esteja em frequência elevada em certos grupos
O fenômeno da antecipação refere-se à observação. num populacionais. a doença em geral ficará restrita tipicamente II
conjunto de casos familiais da doença. de casos conspicua- apenas uma irmandade, ao contrãrio do qué pode ser obser-
mente mais graves e completos Ilt1S indivíduos mais jovens. vado nos outros mecanismos de herança.
pertencentes às gerações mais recentes. Antigamente explica- Um fenômeno comumente associado a doenças causadas
va-se o fenômeno exclusivamente na base de urna tendenciosidade por esse tipo de mecanismo é a consanguinidade parental. que
de averiguação: entre os aferados pertencentes às gerações mais se encontra aumentada praticamente em todas as doenças
antigas de um heredograrna com casos familiais estão indiví- autossõmicas recessivas conhecidas. Quanto mais raro for o
duos que conseguiram se reproduzir. conseqüentemente me- gene, maior será a taxa de consangü inidade parental: por exemplo,
nos afctudos, enquanto as gerações mais recentes contêm uma no caso da fenilcetonúria (frequência populacional da ordem
amostra aleatória de indivíduos com quadros diversos, em geral de 1/10.000) cerca de 10 a 20% dos casais parentais são pri-
bem mais graves que os apresentados em média pelos indiví- mos em primeiro grau: na aquiropoidia (uma amputação con-
duos das gerações anteriores. Mais recentemente. no entanto, gênita extremamente rara de membros registrada apenas no
descobriu-se um certo número de doenças decorrentes de um Nordeste do Brasil) todos os aferados resultaram de uniões
novo mecanismo de mutação, uma expansão patológica de consangüíneas. No capítulo sobre cálculo de riscos, que po-
sequências altamente repetitivas de trinucleotídeos que flanqueiam derá ser consultado pelos interessados em detalhes de dedução.
ou estão inseridas nos genes correspondentes. Cada vez que será mostrado que. enquanto na prole de casais não-consangüi-
o gene é transmitido, pode ocorrer aumento no número de cópias neos li probabilidade de urna criança qualquer nascer afetada é
dessas seqüências: número esse que, a partir de um determi- ql, essa mesma probabilidade toma o valor literal q2 + pq/16 na
nado limiar. impede o funcionamento do gene ou altera o seu prole de primos em primeiro grau. Caso se divida essa última
produto de modo a desencadear a patologia. Assim, nessas probabilidade por q2 obter-se-é quantas vezes é mais provável
doenças. o fenômeno da antecipação tem bases moleculares. ocorrer um caso da doença na prole de primos do que na de
pois os indivíduos das gerações mais jovens têm quase sem- casais não-aparentados: RR = [q2 + q (l-q)1I6J/q2 = I + (I-q)l
pre expansões maiores do que os das gerações mais antigas. =
16q. Para um valor de q I % essa expressão toma o valor I +
Estão nesse caso a síndrome do X frágil. que é a síndrome de =
99/16 7.1, o que significa, por exemplo, que li chance de ocorrer
retardo mental herdado mais frequente, a distrofia miotônica urna criança afcrnda por fenilcetonúria na prole de primos em
de Steinert e várias doenças neurológicas. como diversos ti- primeiro grau é sete vezes maior que a chance correspondente
pos de ataxias cerebelares e a doença de Huntington. à prole de casais não-consangüíneos.

Principais Caraclerlstlcas das Principais Caraclerisllcas das Doenças


Doenças Condicionadas por Condicionadas por Mecanismo Recessivo
Mecanismo AUlossõmlco Recessivo ligado ao ·Cromossomo X
Numa população em que os cruzamentos ocorrem ao acaso Em relação a doenças determinadas por mecanismo recessivo
em relação ao fen6tipo e ao grau de parentesco entre os in- ligado ao cromossomo X. os afeiados são homens hemizigotos
divíduos, é como se os indivíduos da geração filial resultas- que recebem o gene de mães heterozigotas ou que resultam
Princípios de Genética Humana • 289
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de mutações novas. São descritos raríssimos casos de mulhe- oxidariva e. portanto. a produção de ATP. Tecidos com eleva-
res afctadns. Algumas são homozigotos (nesse caso. todas re- das demandas de ATP ou que são ubmetidos a alterações muito
sultantes de casamentos entre afcrados c mulheres deles rápidas da demanda de ATP seriam os primordialmente afeta-
aparentadas): outras excepcionalmente são heterozigota com dos pelas mutações que alteram o O A mitocondriul.
desvio muito acentuado da inarivação ao acaso de um dos O fenômeno da expressividade variável dos quadros clíni-
cromossomos X. de tal modo que a grande maioria dos cromos- cos é notável nas genealogias em que segregam as mutações
somos X inativados são os que albergam o ulclo normal, o mitocondriais. Geralmente, o-grau de variabilidade dessa expres-
que favorece a manifestação do fenõtipo. sividade é muito maior do que o observado em distúrbios
semelhantes de herança autossõmica dominante. Por exem-
Principais Características das Doenças plo, a surdez hereditária de herança mirocondriat tem um grau
de expressividade clínica variável muito maior do que a surdez
Condicionadas por Mecanismo Dominante de herança autossômica dominante.
ligado ao Cromossomo • Parte da expressividade variável observada nas doenças de
Em relação a doenças determinadas por mecanismo domi- herança rnitocondrial tcrn sido explicada pela ob crvação de. no
nante ligado ao X. a afetadas são quase sempre mulheres mesmo individuo, e às vezes até mesmo dentro de um mesmo
heterozigotas. que em geral. possuem quadros cltnicos bem tecido. poderem ocorrer moléculas de ONA mitocondrial com
mais brandes que os apresentados por homens hcmizigotos sequências ou moléculus normais apenas, coexistindo com molé-
quanto ao gene. Isso ocorre por efeito da lyonizução. pelo culas de DNA mitocondrial mutadas. Esse fenômeno, chamado
fato de que as mulheres são Ulll mosaico quanto a esses genes. de hctcroplasmia. é frequente na herança mitocondriul e explica
possuindo em média apenas esses genes funcionando em metade em parte porque órgãos, tecidos ou mesmo indivíduos da mesma
de suas células - na outra metade estará funcionando o alelo família podem exibir graus da afecção tão distintos.
normal. É comum a ocorrência de fenótipos letais em ma- No entanto, mesmo nas famílias que segregam doenças
chos, muitos desses fenótipos sendo desconhecidos por de- rnitocondrials para as quais a heteroplasrnia é rara ou excep-
terminarem a eliminação do conccpto em fases precoces do cional. ocorre também expressividade variável dos sinais e
desenvolvimento. Em razão disso. observa-se comumente a sintomas. Fatores ambientais. como a história de estresse oxidativo,
transmissão da característica dentro das famílias apenas por o uso de medicamentos e o estilo de vida do indivíduo podem
intermédio de mulheres afetadas. influenciar a gravidade da manifestações. Outro fator tam-
bém capaz de influenciar o quadro clínico seria a variabilida-
Principais Características das de genética presente em diversos Outros locos do genoma nuclear,
cuja função também é codificar produto gênicos que aluam
Doenças Condicionadas por nas mitocôndrias.
Mutações no DNAMltocondrlal
As mitocôndrias s50 as únicas organelas nas células animais Principais Características das Doenças
que contêm ONA próprio. chamado de ONA mitocondrial Condicionadas por Mecanismo Multlfatorlal
(ONArnt). Pode haver centenas ou milhares de mitocôndrias
porcélulas e cada uma pode conter várias moléculas de ONA. No mecanismo conhecido como multifarorial. o fenótipo dos
O ONAmt humano é uma molécula de ONA circular. com indivíduos resulta da ação integrada de genes localizados em
mais de 16.000 pare de bases de comprimento distribuídos vários locos espalhados pelos diversos cromossomos (meca-
em 37 genes mitocondriais que contêm a informação neces- nismo poligênico) e de sua interação com fatores não-genéti-
sária para codificar 13 polipeptídeos. 22 tipos de RNA trans- cos comurncntc referidos como ambientais.
portador e dois tipos de RNA ribossômico. No entanto. uma A maioria dos defeitos e malformações presentes ao nas-
mitocôndria humana é incapaz de funcionar adequadamente cimento é determinada por esse tipo de mecanismo. São exemplos
de maneira independente do genoma nuclear. pois os demais típicos o lábio leporino (com ou sem palato fendido), os de-
polipcpudeos que atuam nas mítocôndrias são codificados por feitos de fechamento de tubo neural (as espinhas bífidas, as
genes localizados nos cromossomos. no núcleo. meningomieloceles e a anencefalias), os diversos tipos de pé
Estudos de grandes genealogias documentaram a clara herança torto congénito. a estenose hipertrófica do piloro e a luxação
materna das doenças causadas por mutações do ONA mito- congênita do quadril. Apenas esses defeitos contribuem com
condrial.Nesse mecanismo de herança. todas as mulheres aforadas um total de afctados ao nascimento de qua e I%. Também são
peladoença podem ter descendentes afetados. Entretanto. homen condicionadas por esse tipo de mecanismo doenças comuns
afetados nunca têm lilhos ou filhas afctados, Isso ocorre por- na população. geralmente nos grupos etários um pouco mais
que as mitocôndrias de um indivíduo são herdadas de sua mãe. avançados. como a úlcera péptica gastroduodenal, a epilep-
ou seja. as mitocõndrias de um individuo resultam da multi- sia, a hipertensão arterial, muitos casos de diabetes melíto do
plicação das mitocôndrias originadas de sua mãe. presentes adulto e os transtornos do humor. Ao contrário dos defeitos
no ovócito por ocasião da fecundação. Em geral, os humanos determinados por mecanismo monogênico. que tipicamente
não herdam o ONA mitocondrial presente nos espermatozóides, são raros na população e possuem risco de repetição elevado
pois as mitocôndrias de origem paterna são destruídas após a quando de ocorrência familial. os defeitos rnultifatoriais são
fecundação. relativamente frequentes na população (taxas da ordem de II
Quando ocorrem mutações no ONA mitondrial das células 1.000 ou mais) e possuem risco de repetição pequeno ou des-
da linhagem germinativo de um indivíduo. pode se instalar prezível (tipicamente da ordem de 5% ou menos).
uma doença de herança mitocondrial na sua descendência. De Outra diferença sutil é o limiar de manife ração. aqui repre-
maneira geral. os sintomas presentes nas doenças de herança sentado por uma carga de alelos deletérios no sistema poligênico,
mitocondrial compreendem nltcrnções de diversos tecidos. sendo como mostrado no esquema da Figura 30.9. que exibe a distri-
as principais: miopatia. alterações neurológicas. atrofia óptica. buição hipotética, numa população. de todo os genótipos pos-
diabetese surdez. Acredita-se que esses sinais e sintomas ocorram síveis quanto uo sistema poligênico associado a um determinado
nas doenças de herança rnitocondrial porque li maioria das defeito mult ifatorial. A freqüência populacional da doença está
mutaçõesjã descritas afera a eficácia do mecanismo de fosforilação indicada pela área escurecida: se essa área corresponder, por
290 • Tratado de Clínica Médica

Condições ambientais adversas ao problema são representados por losangos. As gerações são
denotadas por algarismos romanos (I. II. III. IV etc. da mais
antiga a mais recente) e os indivíduos de cada geração por
algarismos arábicos. Com finalidade apenas de facilitar a lei-
tura do texto. foram inseridos nos símbolos que representam
os diferentes indivíduos os genótipos a eles correspondentes.
É preciso ter sempre presente o fato de que as doenças here-
ditárias, com raras cxceções, ocorrem na população com fre-
qüências insolitamente baixas, em geral da ordem de grandeza
de 1/10.000ou menos. Disso resulta que os afetados por doenças
autossôrnicas dominantes são quase sempre heterozigotos.
Normalldld. No caso de doenças ligadas ao cromossomo X, tanto recessivas
quanto dominantes. as mulheres que transmitem o gene são sempre
Figura 30.9 - Modelo do mecanismo multifatorial
heterozigotas: os poucos casos de mulheres homozigotas quanto
a genes recessivos deletérios ligados ao cromossorno X sur-
giram de casamentos consangüíneos entre heterozigotas e primos
exemplo. a 1/1.000 da área total da função distribuição dos afetados hemizigotos, tendo ambos recebido o gene respon-
gen6tipos, isso significa que a Ireqüência do defeito é 1/1.000. sável pelo defeito de sua avó comum bcterozigota.
Na Figura 30.9 os gen6tipos estão ordenados desde um No caso de doenças autossôrnicas recessivas os afetado
que só contém genes normais (AO) até um formado inteira- são homozigotos com genirores heterczigotos; apesar de a
mente por genes deletérios (a"). em que n é o número total frequência de heterozigotos para esses genes ser relativamen-
de genes do sistema: na realidade o sistema poligênico é formado te alta na população (frequência de 2% no caso de doenças
por pares de genes (A.a: B.b: C.c: etc) localizados cm locos que ocorrem na população na freqüência de l/lO.OOO), para
espalhados pelos diversos cromossornos, mas como os efei- nascer um afetado é preciso que os dois genitores sejam
tos de todos os genes indicados por letras maiúsculas é apro- =
heterozigotos (probabilidade 2% x 2% 4/1 0.000) e que ambos
ximadamente o mesmo (da mesma maneira que os efeitos transmitam o gene deletério para a prole (probabilidade 1/2 x
dos designados por minúsculas), usam-se apenas duas letras: 1/2 = 1/4), o que resulta na frequência populacional de afeta-
assim. o genõripo Alia" designa um indivíduo AABBCC .... dos 4/10.000 x 1/4 = 1110.000); vê-se assim que numa famí-
enquanto o genótipo AOu"indica um indivíduo com genótipo lia qualquer com afetados deve ocorrer somente um casamento
aabbcc ... Para que a doença ou defeito se manifeste é preci- entre dois heterozigotos (os genitores do afetado) e que difi-
so que o indivíduo possua em seu sistema um certo número ci lmcruc ocorrerão hererozigotos fora do ramo da família que
de genes deletérios, além das condições ambientais adver- contém os afetados (que também, pelo raciocínio desenvol-
sas necessárias ao desencadeamento do processo. Para se explicar vido mais anteriormente. ocorrerão em apenas uma irmanda-
os defeitos congênitos, postula-se que a finalidade do siste- de): violações a essas regras sõ são encontradas em casos de
ma poligênico íntegro é permitir o desenvolvimento da es- fnrnílias com casamentos consangüíneos (que tipicamente são
trutura embrionária. protegendo-a adequadamente da intervenção encontrados com maior Ireqüência entre os progenitores de
de fatores ambientais nocivos. Quando o sistema não está afetados, por favorecerem o encontro de duas pessoas hetero-
íntegro c têm lugar esses fatores não-genéticos, instala-se o zigotas quanto a um mesmo gene patológico herdado de um
defeito. que será proporcionalmente mais grave quanto maior ascendente comum delas) ou no caso de algumas doenças
for O lote de genes deletérios acumulados em seu sistema sabidarnente frequentes em alguns grupos populacionais, corno
poligênico. Existem condições rnultifatoriais com limiar de é o caso da anemia falciforme na África equatorial e da fibrose
mani lesração gritantemente diferente nos dois sexos. É o caso. cística entre nórdicos.
por exemplo, da luxação congénita do quadril. em que sete No heredograma da Figura 30.10, J - J é afetado e casado com
oitavos de todos os afetados são de sexo feminino. Como os /-2. Os filhos do casal são cinco (1/-/ a 1/-5), e 1/-2, 1/-4 e 1/-5
meninos estão de alguma maneira protegidos para desenvol- são afetados. 1/-5 (afetado) casou-se com 1/-6 (pertencente a
verem (I defeito, precisam ter em média mais genes deleté- uma irmandade de seis indivíduos, dois dos quais constituem
rios que as meninas, por isso o limiar do defeito neles está um par de gêmeos dizig6ticos (Il-LO e LI-II); nessa irmandade
mais próximo da extremidade direita do gráfico. Isso faz com uma gestação terminou em aborto de sexo não determinado
que o risco de repetição do defeito cm famílias com meni- (provavelmente porque foi muito precoce, cerca de dois meses
nos afetados seja bem maior que o de famílias com meninas
aferadas apenas.

Análise de Heredogramas
Os heredograrnas representados nas Figuras 30.10 a 30.15 são
rípicos dos quatro possíveis mecanismos de herança monogê-
nica: autossõmico dominante (com penetrância completa ou
incompleta). auto. sôrnico recessivo, ligado no X recessivo
ou dominante. Na Figura 30.16. apresenta-se o mecanismo
de herança rnitocondrial. Em todos esses heredogramas. os
símbolos escurecidos representam indivíduos afetados por uma
doença hereditária; a exceção é dada pelos símbolos escure-
cidos de tamanho menor, que indicam insucessos reprodutivos Figura 30.10 - Heredograma 1 (herança autossômica dominante):
(abortos ou óbitos fetais). Os quadrados representam indiví- heredograma tfpico de uma doença. rara na população, deter-
duos de sexo masculino c os círculos indivíduos de sexo fe- minada por mecanismo autossômico dominante com penetrân-
minino: indivíduos com sexo desconhecido ou não pertinente cia completa
Princípios de Genética Humana • 291

heterozigoto o gene A. Esse também será o risco de recorrência


EJ-rB
I 2
da doença na prole dos afetado 11-2. II-.J. 11-5. 111-3e 111-5,
caso eles venham a se casar (como acontece geralmente) com
pessoas normais não-aparentadas. O risco para a prole de todos
os indivíduos normais da genealogia (incluindo o casal já constituído
1-3/1-4) é desprezível. da ordem de grandeza de zero.
O hcrcdograma da Figura 30.11 mostra a segregação de
uma doença autossômlca dominante de penetrância incom-
pleta. pois um dos membros do casal 1-1/1-2 e o indivíduo 11-
5. iodos Ienotipicamente normais. são na verdade heterozigotos
Aa. uma vez que tiveram filhos normais e aferados.
lU O casal 1-3/1-4 e todos os seus filhos são aa, da mesma
/3 4 maneira que um dos membros do casal 1-1/1-2: todos os filhos
normais dos casais 1-1/1-2 e 11-5/11-6. no entanto, podem ser
Figura 30.11- Heredograma 2 (herança autossõmica dominante (UI ou Aa não-penetrantes.
compenetrância incompleta): heredograma típico de uma doença, A configuração genealógica observada poderia também ser
rara na população. determinada por mecanismo autossõmico explicada. II primeira visto. por lima doença de herançu aUlOS-
dominante com penetrância incompleta sômica recessiva, mas diante da raridade das doenças genéti-
cas cm geral na população, é muito pouco provável que a mulher
de idade gesracional). Do casal 1/-5/1/-6 nasceram cinco crian- 11-6 fosse também heterozigota quanto ao gene que está se-
ças, duas das quais (111-3e 111-5)são afctadus. 1\ menina 111-3 grcgundo na família biológica de seu marido 11-5.
é o propósito (ou caso índice): o propósito é o primeiro indiví- No caso de penetrância incompleta com taxa K, o risco
duo estudado da família. geralmente afctado. que motiva o levan- para a prole de afetados ou de portadores do gene fenotipicamente
tamento do hcrcdograma: ernpre é assinalado por uma seta. normais (como é o caso de I-I ou 1-2 e de 11-5) é estimado em
O padrão de tran mis ão da doença nessa família represen- R" = KI2. ou seja. para uma criança nascer afetada é preciso
tada na Figura 30.10 é claramente autossômico dominante. poi que o gcnitor heterozigoto afetado transmita o alei o mutante
existem afctados em todas as gerações e os alcurdos pertencem (probabilidade 1/2) e que o alelo, uma vez transmitido, pene-
aos dois sexos. Fica claro também. como será detalhado mais tre originando a doença (probabilidade K); um valor de K da
adiante, que O~ ulctados são heterozigotox, pois aqueles que se ordem de 80%. O risco reduz-se. portanto. a 1/2 x 80% 40%. =
reproduzírum tiveram crianças normais e nfctndns, Para a prole de filhos normais de afetados esse risco é calou-
O mecanismo de herança ligado ao X é excluído com cer- latiu uplicundo-se a fórmula R·' = K (I-K)//2 (2-K)/, deduzida
teza absoluta pelo fato de ocorrerem duas transmissões da doença em detalhe no capítulo sobre aconselhamento genético. A nor-
de pai afcrado para filho de sexo masculino. A herança auto - malidade de um filho de afetado pode er explicada de duas
sômica recessiva é afastada. pois as mulheres 1·2 e 11-6. nessa maneira: ou ele herdou o alelo normal (probabilidade 1/2)
hipótese. precisariam ser ambas hetcrozlgoras: não sendo ou herdou o alelo patológico que por acaso não penetrou, evento
~ aparentadas biologicamente de seus maridos (homozigotos composto com probabilidade 1/2 x (I-K); as chances desse
~ recessivos na hipótese de herança autossôrnica recessiva), a filho normal ser heterozigoto ou homozigoto estão entre si
~ cha~cedisso ocorrer ~ muito baixa. uma vez que todas as doenças assim como (I-K)/2 está para 1/2 ou (I-K) está para I, de
r:- aqui apresentadas suo raras na população. modo que a chance de ele ser heterozigoro, dado que é nor-
~ Todos os indivíduos representados por símbolos escureci- mal, é P (hei) = (I-K)// (I-K) + J 1= (I-K)/(2-K) e o risco
dos são heterozigotos Aa (em que A é o alelo que determina para a sua prole é finalmente obtido multiplicando-se P (het}
a doença e (/ o seu alclo normal). pois homozigotos AA ocor- por K/2. obtendo-se o valor final mostrado na fórmula para
rem em situações muito excepcionais: por exemplo. na R". No caso de o valor da taxa de penetrância K valer 80%,
acondroplasia. resultantes de casamentos entre dois heterozigotos o valor desse risco é R" = 6.7%.
afeudos: conhecem-se menos de 10 casos de prole afetuda O hercdograma da Figura 30.12. além de ilustrar o meca-
AA desses casamento. c os defeitos ósseos silo gravíssimos. nismo da herança auiossômica recessiva. introduz mais alguns
com a maioria dos afetados falecendo durante os dois ou três símbolos usados nos heredograrna . Assim. a união entre os
primeiros ano .. de vida: em outras doenças a chance do casa- indivíduos 111-5e 1/1-6 indica consangUinidade e está repre-
mento dependeria do encontro casual de dois afctados, cada sentada por uma linha dupla. que substitui n simples usada
um deles ocorrendo numa frequência da ordem de 1/10.000
ou menos. C:I~Ose trate de doença determinada por gene autos-
sôrnico dominante de penetrância completa (indicando que todos
os seus portadores apresentam o fenótipo completo ou incompleto
que caracteriza :I doença), todos os indivíduos da genealogia
representados por símbolos claros são aa.
Em heredogramas como esse, típicos de doença autossô-
mica dominante. é comum a doença aparecer pela primeira
vez num indivíduo que é filho de genitores normais. por efeito III
de mutação nova. o heredograrna que se está analisando. 6 9 10 II 12
por exemplo. o indivíduo I-I tinha genitores normais e é com
probabilidade alta (com certeza caso a pcnctrância seja completa) IV
o primeiro indivíduo portador do gene mutante A na fumílla.
O risco de repetição da doença 1111111:1 criança que tanto o
c:lsal/-I/I-2 como o ca ai 11-5/11-6 venham II ter é estimado Figura 30.12 - Heredograma 3 (herança autossômica recessiva):
em 50% ou meio. pois para a doença se manifestar num in- h~redograma típlcc de uma doença, rara na população, deter-
divíduoqualquer. basta que ele receba de seu progenitor afetado minada por mecanismo autossômico recessivo
292 • Tratado de Clinica Médica
85- 7241-598·X

r-. Bb único alelo patológico b presente em dose única em l-I 011


cm 1-2. Os ascendentes comuns do casal de primos. Seguin-
do e. se raciocínio. 11-2 e 11-3 também são hcterozigoto . casados
cada um deles com um homozigoto normal BB (II-I e 1/-4).
B b Cada um dos irmãos de 1/1-5 (II/-I a) tem. então, chances
iguais (50%) de ser homozigoto IJ/J ou heterozigoto Bb, o
mesmo acontecendo com os irmãos de 111-6 (111-7 a 111-12).

.<B
Bb
BB Bb Finalmente. cada um dos irmãos normais dos afetados (IV-
3. IV-S. 1\1-6 e IV-7) possui chance de ser hcrcrozigoto igual
li (1/2)/ (1/4 + 1/2) = 2/3, uma vez que sendo normal e filho
de hcterozigotos só pode ser hctcrozigoto IJbou homozigoto
/38 com probabilidades que e. tão entre si assim como 1/2:
Bb 1/4 ou 2: I ou 2/3: 1/3. Isso tudo fica claro caso se considere
b
o esquema mostrado na Figura 30.13. que mostra a distri-
buição esperada dos genõtipos 1'0 ívcis na prole de um casal
de hctcrozigotos. excluindo-se a pos ibilidade de a criança
ser bb, urna vez que apresenta o fenótipo dominante: vê- e
Figura 30.13 - Genótipos possiveis na prole normal de um casal imcdiutumerue que em duas das três eventualidades que
de heterozigotos, ficando claro que a probabilidade de uma criança correspondem ao fenótipo /J- fi criança é Bb,
normal ser heterozigota é dois terços O risco de recorrência do defeito ou doença na prole do
casal 111-5/111-6 é obviamente 1/4 ou 25%, pois tanto 111-5
para assinalar os ca amemos entre indivíduos não-aparentados como 1/1-6são heterozigotos 8b e para que uma próxima criança
entre si. O conccpro 11/-10 é um aborto ou óbito fetal de sexo que venham a ter nasça afctada é preciso apenas que cada 11m
feminino. Os indivíduos /II-II e /11-12são gêmeos monozigõticos. deles transmita-lhe o gene b, o que ocorrerá com probabilida-
A linha inclinada sobre os símbolos I-I. 1-2 e IV-2 indica que de R = 1/2 x 1/2 = 1/4 ou 25%. O risco de ocorrência de prole
ele já faleceram. O ponto de interrogação no interior de IV-2 afctada nos casais já constituídos 1-1/1-2.11-1/11-2 e 1/-3/1/-4,
indica que não se sabe se ele era afetudo ou não (por exemplo. rodos do tipo /JB x Bb, é desprezível. da ordem de grandeza
morreu jovem antes da idade média de manifestação dos pri- de zero. Quanto aos indivíduos III-I a 11/-4, 111-7 a 11/-9 e
meiros sinais e sintomas da doença). O número 3 dentro do 1/1-11 e 111-12.cada um dos quais tem chance de heterozigose
símbolo mais à direita da última geração representa três indi- Bb igual a meio ou 50%, o risco de afecção em sua prole de-
víduos normais de sexo masculino (/V-5, IV-6 e IV-7). penderá de o futuro cônjuge (por hipótese não-aparentado)
O mecanismo ligado ao X pode ser afastado por causa da ser também heterozigoto c ele ambos lhe transmitirem o alclo
ocorrência de afetada de sexo feminino (IV-I) filha de geni- b patológico. Para alelos recessivos patológicos que ocorrem
tores normais. A hipótese de herança autossõmica dominante na população com frequências da ordem de I % aproximada-
com penetrância incompleta é uma possibilidade, mas neste mente. como é o caso dos genes do albinismo e da fenilcetonüria,
caso ela fica enfraquecida pela ocorrência do casamento con- a freqüência de afetados ao nascimento é da ordem de 1/10.000,
snngüínco entre 111-5 e /11-6. mas a frequência de heterozigotos fixa-se em cerca de 1/50
Tipicamente. no mecanismo de herança autossômico ou 2%. Isso significa que o risco de prole afetada para cada
recessivo. os aferados costumam concentrar-se numa única um desses indivíduo (11/-1 a 11/-4,111-7 a 11/-9 e III-II e 11/-12)
irmandade. Fortemente indicativo desse mecanismo é a ocor- será R = 1/2 x I/50 x 1/4 = 1/400 ou 0,25%, risco esse de
rência de consanguinidade parental. como aconteceu no hc- ordem de grandeza desprezível. Se um desses indivCduos ca-
redogruma aqui representado (111-5e 111-6são filhos de dois sar-se com um parente, no entanto, o risco será muito maior.
irmãos. portanto. primos em primeiro grau). O genõrlpo dos Suponha-se, por exemplo. que o indivíduo 11/-] venha a se
afetados IV-I e IV-4 é bb, em que b é um alelo recessivo que unir com 111-9. sua prima em primeiro grau. Caela um possui
em hornozigosc determina a doença. Em razão disso, os ge- uma chance li favor de ser hcicrozigoto da ordem de 1/2, de
nitores primos em primeiro grau são arnbo heterozigoros modo que o risco para a sua prole é estimado em R = 1/2 x
Bb e é mais provável. nesse caso, que os genes presentes em 1/2 x 1/4 = 1/16 = 6.25%. Apesar de esse risco ainda ser re-
homozigosc nos dois afetados tenham origem comum num lativamente baixo. ele está aumentado 6.25/0.25 = 25 vezes
em relação ao ri co existente na hipótese de qualquer um dos
cônjuges se casar com uma pessoa não-aparentada. Resta agora
calcular os riscos de prole afetada pura os filhos do casal III-
5/11/-6. O risco para a prole de IV-I ou IV-4 (afetados) é R =
I x I/50 x 1/2 = 1%; para a prole de IV-3. IV-S. IV-6 e IV-7
o risco correspondente é calculado segundo R = 2/3 x I/50 x
{/4= 1/300 ou cerca de 0,3%. Conclui-se. portanto, que o
risco de prole afetada só está aumentado significativamente
(R = 25%) para O casal 111-5/11/-6.
O heredograma da Figura 30.14 ilustro um caso típico de
herança recessiva ligada ao cromo somo X. como é o da distrotia
III
muscular progressiva tipo Duchenne.
O rnecani mo autossôrnico recessivo pode ser afastado
usando-se a mesma argumentação do caso da primeira genealogia.
Figura 30.14 - Heredograma 4 (herança recessiva ligada ao A herança dominante com penetr:incia incompleta não pode
cromossomo X): heredograma típico de uma doença. rara na po- ser afastada. mas é muito pouco provável. pois para se expli-
pulação. determinada por mecanismo recessivo ligado ao cro- car (I configuração da genealogia. baseando-se nesse meca-
mossomo X nismo, seria preciso que os dois hetcrozigotos não-penetrantes
Princípios de Genética Humana • 293

(o em mulhcrc .. (/-1 e 11-6) e que os quatro afetados fossem


homcn : a chance combinada di so vale (/-Kr. (1/21' < 1I1.0(){)
para um valor da taxa de penetrância K = 0.8. Como na hipó-
tese de mecanismo recessivo ligado ao cromossorno X a pro-
babilidade da configuração é um (ou seja, tem de acontecer
exatnmentc o que aconteceu. ou seja. os quatro afctados têm
de ser homens e todos eles aparentados entre si por intermé-
dio da~ duas mulheres hcterozigotas): chega-se ti conclusão
que o mecunivmo recessivo ligado ao X é pelo menos I.noo III

veles mais provável que o autos ômico dominante com pene-


trância incompleta.
Como se nota da análi e do hercdograma. apenas indiví- Figura 30.15 - Heredograma 5 (herança dominante lígada ao
duosde M::<O masculino são afetados, Excepcionalmcrue.mulhercs cromossomo X): heredograma típico de uma doença. rara na
hererozigotas podem apresentar rnanifestaçõev da doença. em população, determinada por mecanismo dominante ligado ao
geral ob forma bem mail> branda que a apre cnrada em mé- cromossomo X
dia pelos homen hernizigoto aferados. como já :.e observou
inúmeras vezes na hemofilia por deficiência do furor VIII ou no crorncsvomo X recebido da mãe). É importante lembrar que,
mais raramente na própria distrofia muvcular de Duchcnnc. embora o ufetndo nfio transmita o alclo deletério a nenhum dos
Evidentemente isso é possível desde que cxivta um desvio sig- filhos homcn-, que tiver. todas as suas filhas serão hcterozigo-
nificativo no processo de lyonização c a mulher tenha inativado tas certas. com ri. co de afecção para a sua futura prole estima-
na maioria de SU<lS célula s o cromossomo X contendo o ulelo do em um quarto ou 25%. O risco de descendência afetada é
normal. A anãlise do heredograrna mostra ainda que todo os nulo paru o ctl!>al/-I/I-2. para os seus filhos II-I a 11-4 e para
afetados são aparentados entre i pelas mulheres I-.J e 11-6. todos o, demais indivíduos de sexo masculino assinalados por
que são hctcrozigota obrigatórias quanto ao gene que produz sfmbolos claro ainda não mencionados (11-9 e 111-5). Quanto
a doença. Outro detalhe interessante notado na genealogi« e ao risco de prole afetada para as mulheres heterozigotas prová-
que não deixa dúvidas quanto 30 mecanivmo de rranvmivvão vci-, II-H. /II-I e /11-3 é estimado em R = 1/2 x 1/4 = 1/8 ou
do traço patológico é O fato de que a mulher 11-6 caxou-vc em 12.5%. uma \e7 que cada uma delas tem probabilidade de ser
duas ocasiões com indivíduos não-aparentados. c de ambos hctcrozigota igual a meio ou 50%.
os casamentos originurnm-se ufciudos. Outra caracterí~tica im- A figura 30.15 ilustra um caso típico de transmissão de
portante, que nno se uplica ao caM' da lIiMwliu muscular de lima doença dominante ligada ao X. mecanismo rclarivarnen-
Duchennee II oulf'tl~ condições letab ligadn~ 1111 cromossomo te raro no conjunto das doença genéticas monogênicas, Como
X, em que os afetudCls lião conseguem reproduzir-se. é que a no modo de transmissão auto sõrnico correspondente, ocor-
proledos afctados é nonnal. Um ponto fundumenuil a se eonvidcrar rem ufetados em todas a gerações. cra-ve que mulheres he-
é que se ocorrer tr(lnsllli:.~ilo de homem ufciudo puru lilho de rcroztgora-, Xo~ afctada têm filho XO e filhas XOXd afciados
sexo mnsculiuu ufctudn, fica excluída a puvvlhilldudc do com probabilidade iguais (25%). enquanto os homens
mecnnismo ligado ali X. tanto dominante COIIIO recessivo. hernizigotos afetados XO não tran mitem o defeito para ne-
Chamnndo-sc ,' () gene que em hcmi/igl"c determina a doença nhum de seus filho. ao pas o que todas a~ suas filhas são
reces..ivn ligada (II) X. vem que () gcnõiipo dos uferudos 11-7. ncccs ariamente heterozigotas XO~ aferadas. Nota- e também
111·2. /11-4 e /11·6 é X'. O c a,al/-I/I-2 e todo, os ~eu:. filhos (II- que a configuração do heredograma poderia acontecer sob hipótese
13/1-5) ~ao hemi/igot(l<, x< (se homens) ou homozigotos XCX(' de doença auto õrnica dominante. Sob e sa hipótese. a pro-
(se I11UIlICrC\).A .. mulheres hcrcrozigoius certas (gcnótipo Xc)('") babilidade de ocorrência de cinco aferados de sexo feminino
são, conforme j~ mencionado, 1-4 c 11-6.A afirmação quanto a e de cinco meninos normais na prole de 11-6. na ordem mos-
esta últinw não deixa dúvidas e no caso de 1·4. apesar de ela ter trada. torna valor (1/2)/0 = 1/1.024: sob hipõtcsc de mecanis-
tido apcnuv um filho aforado. teve, por intermédio de 11-6,três mo ligado ao X dominante: no entanto. evvu ocorrência seria
netos Igualmente acometidos. As demais mulheres que ocor- a única po sfvel (com probabilidade um). A probabilidade
rem na genealogia (11-8. /II-I c /11-3) são hercrozigotas prová- favorecendo esta última hipõte e é. portanto. no caso. cerca
veis, uma ve) que são todas lilhas de heterozigotas certas. cada de 1.000 veze maior que a outra. Inversamente. caso tive se
uma com probabilidade de 50c;r favorecendo a hipótese de sido observado apenas um caso dc transrnis ão do defeito de
herero/igose Todos os homem as.sinalados por símbolos cla- pai para filho ou se pelo menos uma da .. filhas do afetado
ros. sejam parente, cm primeiro grau de afetados ou não. são fosse normal. a hipótese de mecanismo dominante ligado ao
hcmillgotO\ quanto ao gene normal (genõtipo _xC). X seria afastada.
Da mesma maneira que na iiuação anterior. será calculado
cm seguida o nsco de repetição da doença na prole de todos os
indivíduo da genealogia representada na Figura 30.14. Os ris-
co~ de criança nfetada na prole dos ea. ais 1-3/1-.J. 11-5/11-6e
"·6111·10!tão de 25lk ou um quarto. pois nes~as ~ilUações as
genitorJ' ~ão hetcro/igotas e p:lra nascer uma criança nfewdn
é preci,o que herde o cromo~~mo Y do pai (prohabilidade meio)
eocron~mo X com o alelo responsável pela doença da genitora
hetcroligota (também com probabilidade meio). O ril.co final
é obtido multiplicando-se e sas dUal probahilidadc,: R 1/2 x = III

1/2 = lN ou 25lk. O ri co de criança afctada na prole de todo


os afetados. desde que ele não venham a ~c C:l,ar com mulhe-
res aparentadas ou penencentes a famni:u. com ca,os da lI1e~- Figura 30.16 - Heredograma 6 (herança mitocondrial): heredo-
ma doença. é da ordem de grandeza de Lero (ou beja. para nascer grama trpico de uma doença. rara na populaçâo, determinada
um menino afctado cria necessário que ocorrcs\e mutação nova por gene mutante localizado no DNA das mitocôndrias
85·7241·59~-X
294 • Tratado de Clínica Médica

Serão determinados os genótipos de todas as pessoas re- últimos anos, a consulta a bancos de dados comerciais (corno
presentadas no heredograma, sob ti hipótese de herança do- o London Dysmorphology Dotabase e o POSSIIIII) ou de do-
minante ligada ao X, agora bem fundamentada. Todos os mínio público c acesso grátis intemet, como o OMIM (acrônimo
indivíduos representados por símbolos claros são hemizigotos de Ou-Une Mendelian lnheritance in Mml). criado pelo Professor
X'IOU hornozigotas X.JX,I normais, enquanto os hemizigotos McKusick, da Faculdade de Medicina da Universidade Johns
afctndos (símbolos escurecidos) possuem genótipo Xn e as Hopkins em Maryland, nos Estados Unidos.
hererozigotus ufetadas (representadas por círculos negros)
são XIJX".
Os riscos para a prole dos indivíduos 11-/ a 11-4 do casal Diagnóstico Clínico das Doenças Genéticas
1-1//-2 e de todos os indivíduo. normais das proles de /-3//-4, Há geneticistas médicos que se especializaram em dismor-
11-5/11-6 e 11-6111-10 são desprezíveis. da ordem de grandeza fologia clínica e sindromologia Ou adquiriram proficiência
de zero. O risco de doença na prole de 1-3/1-4 (homem Xd x na especialidade trabalhando em serviços gerais de atendi-
mulher XJ)X,I)é de meio ou 50%. pois esse casal pode ter quatro mento a afetados por doenças genéticas. Pelo menos facul-
tipos diferentes de filhos. cada UITI deles com probabilidade dades de medicina dos estados de São Paulo e Rio Grande
de 25%: XIJ, XoI• X"X,I, XIlXJ• O risco para as proles de 11-5/11-6 do Sul e de Brasília já oferecem residência e especializa-
c 11-6/11-10 também é dc meio ou 50%. com a diferença que ção em Genética Médica e Clínica. Em algumas especiali-
agora todas as meninas (que ocorrerão com probabilidade de dades da medicina, o número de doenças e defeitos genéticos
50%) serão hctcrozigotas ufctadus XIJX" ao passo que todos os reconhecidos já é de tal monta que pediatras, ortopedistas,
meninos (que também ocorrerão com probabilidadc de 50%) neurologistas e dermatologistas, entre outros, ao menos nas
serão hcmizigotos X/normais. uma vez que o cruzamento parental boas faculdades dos grandes centros urbanos brasileiros,
é do tipo homem XI1 x mulher XiX". já recebem treinamento na identificação e orientação de um
Nesse mecanismo. exemplificado pelo heredograma mostrado grande número delas, quer durante o curso de graduação,
na Figura 30.16. o defeito é condicionado por gene mutante quer em estágios finais de internato hospitalar e residência
localizado no DNA das mitocôndrias. orgunelus que provêm ou pós-graduação. Nos países desenvolvidos, em que os
do óvulo, sendo, portanto. rransmitidas às crianças de am- problemas de doenças nutricionais, infecciosas e parasitá-
bos os sexos pela mãe. A inspeção do heredograma mostra rias já estão reduzidos a níveis vestigiais, a ênfase no es-
claramente que as crianças (meninos c meninas) dc mulhe- tudo de defeitos congênitos e doenças genéticas norteia os
res aferadas são afetadas da mesma forma, contrariamente cursos de medicina e de outras áreas da saúde de ponta a
ao que acontece com a prole de homens aferados. que é sem- ponta. de modo que todos os especial istas e generalistas
pre normal. A situação é complicada quase sempre pela pe- médicos saem com privilegiada formação na área. sendo
netrância incompleta e expressividade muito variável do gene capazes de lidar pelo menos com as patologias genéticas
que determina a doença ou defeito na prole de mulheres mais comuns cm suas clínicns.
portadoras do DNA mitocondrial mutante, geralmente afe- Os métodos de diagnóstico clínico cm genética não dife-
rada . Desse modo. nem todas as crianças dessas mulheres rem essencial e globalmente dos usados no diagnóstico das
são necessariamente afetadas. como é o caso do indivíduo doenças de Medicina Interna (Clínica Médica Geral), de Clí-
III-IOda genealogia anterior: a distinção importante em relação nica Cirúrgica e das especialidades, mas com freqüência os
à herança aurossôrnica dominante é que não ocorrem crian- geneticistas humanos, médicos c clínicos, no exame físico de
ças afcrndas na prole de homens afcrados. A hcteroplasmia pacientes portadores de defeitos congênitos e de doenças genéticas
(presença de cópias de DNA mutante mitocondrial ao lado utilizam-se. sistematicamente, da pesquisa de pequenos sinais.
de cópias normais, em proporções variadas nos diferentes os quais, apesar de destituídos de importância clínica prática.
indivíduos) contribui para a expressividade do quadro clí- são muitas vezes os responsáveis pelo perfeito enquadramento
nico. que costuma ser muito mais variável do que na heran- dos afetados em uma patologia específica.
ça autossôrnica dominante. Esse tipo de transmissão vem Adquirem especial importância na anamnese dos ca os a
ganhando importância crescente em genética médica desde história familiar e o estudo do heredograrna da família. Algu-
que se descobriu que lima tração considerável dos casos dc mas vezes, a informação contida no heredograma permite es-
surdez não-sindrômica é decorrente de mutações de DNA tabelecer-se com segurança o modo de transmissão do defeito
mirocondrial. Outras doenças e síndromes com manifesta- e assim realizar o aconselhamento genético da família mesmo
ções metabólicas, neurológicas, musculares e visuais tam- na ausência de um diagnóstico definitivo do problema que nela
bém podem ser causadas por mutações no DNA mitocondrial. segrega. Outras vezes, o conhecimento do mecanismo de herança
ajuda a fechar O diagnóstico clínico.
METODOLORIAS CONVENCIONAL, Certas doenças e defeitos comuns na prática da genética
LABORATORIAL E MOLECULAR USADAS NO clínica. como o retardo mental e a surdez. possuem alto grau
de heterogeneidade, pois incluem. além de casos comprova-
DIARNOSTlCO DAS DOENÇAS REN~TICAS darnentc condicionados por vários mecanismos monogênico.
Mesmo hoje em dia. em que a maioria dos laboratórios de (no caso dos dois exemplos, todos os mecanismos possíveis),
genética humana já dispõe de um arsenal formidável de exa- casos ambientais decorrentes de infecções congêniias de ori-
mes citogenéticos, bioquímicos e moleculares para o diagnóstico gem pré-natal, de exposição a drogas. fármacos e agentes fí-
das doenças genéticas. muitas continuam sendo diagnosti- sicos e químicos durante a gravidez, de falta de assistência
cadas por meios clínicos clássicos. A raridade das doenças adequada ao pré-natal, ao parto. ao recém-nascido e à criança
genéticas em geral, aliada ao seu grande número (o número nos primeiros anos de vida. Embora esses problemas todos
de defeitos, doenças. síndromes. complexos e seqüências con- sejam típicos de países pobres, subdesenvolvidos e em desen-
dicionadas por mecanismo monogênico, rnultifatorial ou cro- volvimento, mesmo nos países desenvolvidos esses fatores são
mossôrnico conhecidos atualmente é da ordem dc 10.000) responsáveis ainda por ullla fração considerável dos casos dos
impedem virtualmente que até o especialista em genética médica dois defeitos citados COIllOexemplo. À guisa de comparação.
e clínica adquira experiência clínica prática em todas elas: a freqüência de casos de surdez congênita não-sindrômica no
daí já se ter tornado prática frequente, principalmente nos Brasil decorrentes de causas ambientais chega a 80%, pelo
Princlpios de Genética Humana • 295

menos 1111\:lrea~ rurai ... enquanto nos E"ado, Unido~ a pro- aconvclhamcnro genérico da famüla. umn VCI que li maioria
porção de cn ..os não genéticos do defeito foi estimada em do, defeitos congênitos e doença .. gcnéilca .. é desprovida de
cerca de 401k. Diante de um ca o qualquer. seju de retardo tratamento cspceffico. Treinados para trtuar e curtir doenças.
seja de surdez. devem ser averiguados cu idadovamcnte. por o, médico, têm de. forçosamente. se adaptar II CS~II contin-
meio de uma histõtia bem colhida. rodos o. fatores ambicn- gência do 1I101llel1(1).
lais de risco mencionados anteriormente. O arsenal de métodos laboratorlais de diagnóstico cm ge-
Outra curiosidude interessante típica das doenças genéti- nética humana. médica e clínica é impressionante. tanto em
cas é que casos isolados nas famílias COSlum:lI11ler o diagnó - termos quarniuuivos como qualitativos. Uma parle considerá-
tico estabelecido com cena dificuldade. dado o grau extremo vel de cs exames é dedicada no estudo dos cromossornos:
de variação da expressividade clínicn de muitas dessas docn- estes são Ião importantes que mereceram tratamento num capftulo
ças, em especial ali determinadas por mecanismo auto ômico li parte desta unidade.
dominante, cm que é inclusive comum a existência de porta-
dores aparentemente usvimomãticos (não-penetrantes). A ocor-
rência de outro afcrndo na família. por outro lado. facilita
Testes Tradicionais de laboratório
muito esse diagnõstico. pois 11 vczc o propósito não apre- O). outn» exames de laboratório cornurnentc empregados em
senta UIl1 quadro tfpico ou completo da doença. ma' um pa- genérica \50 teste bioquímicos em geral e moleculares (cxa-
rente próximo deste é portador de quadro típico que não deixa mcs de O A). Tratar-sc-á superficialmente de lestes bioquímicos
dúvidas quanto ao diagnóstico específico da condição. Tarn- no item desta unidade sobre erros inatos de membollsmo. Adian-
bém em casos Iarniliai de doenças autossôrnicas dominante tando o raciocínio lá desenvolvido, os erros inatos de metabo-
de penetrância incompleta é possível. inclusive. a detecção. lismo conhecidos, muitos deles com manifestações clínicas não
pela inspeção da genealogia do afetado. de indivíduos muito específicas associadas a quadros de retardo mental, montam
heterozigoros não-penetrantes, ou seja. indivíduos que apesar a um número tal que se tomou praxe. diante de casos de retardo
de serem normais. possuem o gene mutante e. portamo. Iam- associado a sinais físicos e a sintomas não muito específicos
bém risco alto (de 50%) de transmiti-lo 11prole. como erupções e manifestações dérmicas inespecfficas, cheiro
peculiar do uor e da urina etc., a realização de exames para
Diagnóstico laboratorial triagem de erros inatos de metabolismo. em e pecial os de meta-
boli mo de aminoácidos. carboidratos e mucopolissacárides.
das Doenças Genéticas . as regiões mais desenvolvida. incluindo-se aqui as regiões
Ao contrãrio do que se pode pensar. os exames de laboraté- udcsrc e Sul do Brasil. os hospitais j~ nplicam cm regime de
rio, cm cuja descrição se deterá mais adiante. são usado na rotina alguns restes em recém-nascidos. le\IC:. estes dirigidos
maioria das vezes apenas para se confirmar uma suspciia clínica para parologias que. apesar de raras na população, possuem
ou pura se conseguir separar variantes genéricas de doen- tratamento simples c ultumenre clicai .. inclusive CI11 sua pre-
ças heicrogêncas condicionadas por mecanismos diferentes. venção lOtaI. ve apl icados em fnvc prd-clínica. Por exemplo.
com riscos de recorrência também diferentes e eventual- Iodo o ho~pil:Ji. da rede pública dos Esrados de São Paulo c
mente com prognósticos di rimo . E II não ser em cavos de do Rio Grande do Sul jã fazem de rotina os exames de detecção
diferenciação de variantes SUl is. muita .. doença genética da fenilceronüria e do hipotireoidi mo congênho em recém-nas-
podem ser diagnosticadas seguramente por mciov clínicos cidov. I o, países desenvolvido da Europa Central e do Norte,
apenas. No entanto. é claro que a existência de testes moleculares da América do tone e na Austrália. esses exames são reali-
veio simplificar isso tudo, poi um único teste é capaz de lado~ em quase IOdos os ho pilai . cm alguns casos (como no
estabelecer definitivamente o diagnõstico numa érie de do Estados Unidos) ern relação a um númcro incrivelmente alto
condições de difícil delimitação clínica. como é o ca o da. de defeitos metabólicos hereditários.
sfndrornes do cromos-orno X fr:1gil. de Pradcr- Willi. Angelman, Além desses testes, quase sempre realizado» dircuuncutc em
Wllllams. curdiovclofacial e alguns lipo!. de di·arofin~ muv- fluidos orgânicos como sangue. suor e urina, eSI~ publicado nu
culnres. Todas es~a' observações foram feila~ par mo Irar literatura um SCI11 número de exames mais complicados c sons-
que os exame .. de lahorlltório devem ser noncnuos para e ticadov que exigem cultivo de células. concentradas II partir
verificar uma hipétcve diagnõsticu cspccffica. sugerida por de fluidov orgânico» ou oblida), por biôpvin.
UII1 bom exume ctínico, o que 'e aplica de uma maneira geral Apcvar do grau de sofisticação técnica. da nparclhngcm ncces-
a uma prálic:l médlcu bem exercid:l. ,ária. do alto CUMO do!' exame" e dn dcpendêneia cnda vez
A "50. er cm pouco, ca'ol. cspecífico!. dc docnça .. c dcfei- Illaior da Iccnologhl de ponta dos paísc!. de!>cnvolvidos. tanto
tos mernbólico!t hereditário!>. cm que o tr:lIamenlO interfere 00, no"o, ciellli,ta' C0l110 a nossa iniciarivo privnda fortim cupnzes
praticamente no mccanbmo básico da docnça (como é o cu:.o de <;eadaplOrelll rnpidulI1cnte 11nova <;ilUnção. de modo quc
do uso de dicta, na fenilcctonúria ou na g:llacto~emia ou da muitos de"es exumel> já podem ~er reulilados em sistcma de
reposição de hormônio lircoidiano no hipotireoidi'mo congé- rOlina cm muitos luborat6rios do Bral>il.
nito), o trutamcnlO das doenças hereditárias é. em geral. in-
tomático e na maioria das vezes apenas cosmético ou paliativo. Técnicas Moleculares Aplicadas
Em decorrência diloso. o diagnóstico exalO de "arianles. gené-
licas de uma delerminada doença gemlmenle não lem ainda ao Diagnóstico das Doenças Genéticas
importância n:1escolha do seu lratamento. Exemplo típico de a Di põe-se de um númcro enonne de diferenles e variadas técllicas
situação é o caso extremamente helerogêneo do relardo men- moleculares aplicadas ao diagn6SIico e ao aconselhamento das
tal puro ou sindrômico. em que a avaliação. oricmação e Im- famnias do!) portadores de doenças genética,. A cada dia. novas
tamenlodos paciente .. <,;iorcalilfldos ainda por método, cmpíricos lécnica .. <;ofisticada são criadas. lornando quase impossível
clássicos basicamentc sinlomáticos. em um texto ún ico abranger todas. No entalHo. Iodas elas têm
Ao contr~rio das OUlras especialidades. em que o diagnó - como princfpio algumas técnica básicas de estudo da molé-
tico é elemento indicador da terapêulica espeC(fica a ~er apli- cula de DNA. que serão explicadas a seguir.
cada na melhoria ou cura. infere-se das consideraçõc anleriores A primeira grande inovação quc surgiu no estudo das
que, na área de genélica clínica. a principal aplicação erá o moléculas de DNA foi o aparecimenlo da técnica de SOlllhern
8S·724J·S98·X
296 • Tratado de Clínica Médica

hlotting, desenvolvida pelo pesquisador E. Southern. na década em contare por algumas horas. a uma temperatura que permi-
de 1970. O processo começa com a extração de DNA de um ta a hibridação (reconstrução da hélice dupla) entre o DNA da
tecido. por exemplo. o sangue de um indivíduo; segue-se o sonda e o DNA imobilizado na membrana. Após a hibridação.
corte das moléculas de DNA com as chamadas enzimas de aplicam-se métodos que permitam identificar o fragmento que
re rrição. Estas são enzimas extraídas de diversas espécies hibridou com li sonda. Por exemplo. no caso de se usarem
bacterianas. cada uma delas com a capacidade de cortar as isótopos rudioativos, a membrana é colocada em contato com
moléculas de DNA em seqüências de bases específicas. Isso um filme de raios X. evidenciando-se. assim. a posição dos
significa que uma enzima de restrição deve cortar o DNA fragmentos do DNA da membrana hibridados com a sonda
obtido de um certo indivíduo sempre nas mesmas posições. radioativu (Fig. 30.17).
ainda que o experimento seja repetido várias vezes. Os frag- Se um indivíduo tiver uma mutação gênica. como por exemplo.
mentos do D A genôrnico total de um indivíduo. resultantes uma substituição de uma única base nitrogcnada na região do
da clivagem com uma enzima de restrição. são então separa- DNA correspondente ao gene da bcta-globinn, ele pode ser
dos por meio de elctroforcsc: as amostras do D A clivado um portador da mutação que causa II anemia falciforme (essa
são aplicadas em poços de um gel poroso. mais comumente substituição ocorre cxutamcntc no códon correspondente ao
feito de agarose e submetidas a um C;lIl1pOelétrico. Os frug- aminoácido ácido ghuâmico, que é substituído por um resí-
mentes menores migram com mais facilidade no gel poroso. duo de vuliua nos afctados). Essa subsütuição faz com que o
deslocando- e mais rapidamente do que o fragmentos maio- DNA dos portadores deixe de ser cortado pela enzima de restrição
res. Após a eletroforese. para cada indivíduo corresponderá M.\·I II. Logo. se o DNA ele vários indivíduos for cortado com
uma pista cm que se deslocaram milhare de fragmentos de essa enzima. separado por meio de eletroforese e for realiza-
seu DNA. No entanto. nessa pista não podem ser identifica- do o Soutliern blotting seguido de hibridação com uma sonda
dos quais fragmentos pertencem a um certo cromossomo ou especffica do gene da betaglobina, padrôes diferentes de hibridação
a um gene específico. O gel de agarosc é colocado então em serão observados nos homozigotos normais, nos heterozigotos
contato com uma membrana de náilon. sobre a qual é coloca- e nos homozigotos afetados pela anemia falciforme, confor-
da uma pilha de papel absorvente. O gel está colocado sobre me mostrado na Figura 30.18.
um papel de filtro embebido cm uma solução tampão. Após A técnica de Southern blotting permite que se detectem,
algumas horas. o tampão que embebe o gel de agarosc vai além das alterações de locais de cone das enzimas de restri-
sendo absorvido pela pilha de papel absorvente. carregando ção. outras mutações como as que aumentam o tamanho de
consigo as moléculas de DNA do gel e transferindo-as para a um fragmento de DNA (cau adas por inserções) ou as que
supcrtlcie da membrana de nãllon. A membrana de náilon passa diminuem o tamanho de um fragmento de DNA (causadas por
li conter os fragmentos de DNA que estavam no gel. na mes- deleções), Pode ocorrer até que não haja a hibridação, O que
ma posição e representa. portanto. uma cópia fiel do resulta- diagnostica a deleção completa do fragmento que híbrida com
do da clctroforese. Pura evidenciar nessa membrana um trecho a onda e pecífica.
espccíficu da molécula de DNA. por exemplo. um gene de Uma outra técnica. cuja introdução acarretou uma avalanche
uma doença que se deseja investigar. os fragmentos da mem- de inovações na área da genética molecular. foi a chamada
brana são hibridndos com um segmento espcclflco do DNA. reação em cadeia de polimerase (PCR-Po/ymerase Choin
Esse DNA previamente conhecido e isolado 110 laboratório é Reactioll). desenvolvida na década de 1980. A PCR consiste
chamado de sonda. Para li SOlida evidenciar na membrana os em uma sucessão de reações de replicação de uma molécula
rragl11cl1t()~que lhe são correspondentes, precisa estar marcada: de DNA, realizada em tubo de en aio. Parte-se de urna amos-
os processos mais comurnente utilizados compreendem a tra de DNA-alvo. por exemplo. uma certa amostra do DNA
marcação da sonda com isótopos rudioutivos ou substâncias genômico de um indivíduo. São fornecido os reagentes ne-
quimioluminescentes, Assim, li sonda previamente marcada é cessários à replicação do DNA. que incluem os quatro tipos
desnuturada (a hélice dupla do DNA é separada por calor ou de nucleotídeos na forma trifo fatada, íons c um par de iniciado-
tratamento com solução alcalina). O DNA da membrana tam- res da reação (primers). que são otigonucleotfdeos cujas se-
bém é tratado para sofrer desnaturação e 'ambos são postos qüências de bases são complementares IIs sequências de base
que Ilanqueiam o segmento de DNA que se deseja amplificar
por meio da PCR. A necessidade de um par de iniciadores da
reação decorre de uma peculiaridade do próprio mecanismo
de replicação do DNA iII vivo: as polirneruses que replicam o
D('.IA são incapazes de iniciar a síntese de uma nova cadeia a
partir da cadeia molde: s6 são capazes de alongar uma cadeia
de ácido nucléico preexistente. que lhe fornece uma extremi-
dade com carbono 3' livre na qual serão adicionados os novo
nucleotfdeostrifosfutados. Nu célula viva. os iniciadores (primerú
são adicionados por lima RNA polimerase e constituídos por
ribonucleotfdeos que. depois da replicaçiio. são substituído

- II
por desoxirribonucleoudeos. Na reação da PCR. os primers
são sintetizados urtificialmente c se constituem de curtos sego
mentes de 15 li 30 desoxirribonuclcorfdcos. As sequências de
bases dos prhners são definidas em função de sua cornple-
,
, mcnturldudc com a scqüência de bases que flanqueia o seg-
mento de DNA que se deseja amplificar. Após sucessivos ciclos
Auto-radiografia de desnaturuçãô do DNA (por nquecimento da (11110S1ra). hibridação
mostrando as Sondas de ONA dos primers (com o resfriamento da 111110stra)e extensão dos
faixas marcadas msrc...das em sotuçJo
de hibridaçlo fragmentos pela DNA polimcrase (u uma temperatura de cerca
de n°C). ti nlíquota de DNA inicial é amplificada milhares de
Figura 30.17 - Representaçãodo método de Southern blotting vezes, como mostrado na Figura 30.19.
Princípios de Genética Humana - 291

Nem todo o DNA gcnôrnico é amplificado. mas apenas o Hemoglobina S - Pro - Vai - Glu -
egmenro de DNA compreendido entre o local de hibridação -CCT - GTG - GAG-
de ambos os primers é amplificado. De maneira análoga ao Hemoglobina A - Pro - Glu - Glu -
que ocorre na técnica de Southern blottlng, a PCR permite - CCT- GAG - GAG -
L_Mstlt__j
evidenciar. dentre uma coleção de fragmentos de DNA do genoma
de um indivíduo. apenas um pequeno trecho. As vantagens
des a técnica são inúmeras: pequenas quantidades de DNA
podem ser anali adas e o resultado costuma ser obtido muito
AI':,i_~~
-h ~.~ ',3kbp
SI':,i_~ ,,_.~ __
mais rapidamente do que na técnica de Southern, No entanto, -','kbp
o planejamemo dos primers da PCR requer conhecimento prévio AIIIÍII _
da sequência de bases do D A-alvo que se deseja amplificar.
A PCR, sem dúvida, revolucionou os diagnósticos laboratoriais
com ba e no estudo do D 'A e permitiu avançar muito tam-
I-+---t,l kbp
slIIÍI
1-+-',3kbP
--r I _
bém no que diz respeito ao diagnóstico pré-natal e à identifi- AA AS 55
cação individual. com ênfase em questões forenses.
Se um indivíduo for portador de uma substituição de bases Sonda •••• 1Ii
cm um certo gene que altera o local de corte de uma enzima
de restrição, o produto obtido pela PCR de um segmento desse
Figura 30.18 - Detecção da mutação no gene da anemia falciforme
gene pode ser clivado com a enzima. A análise dos fragmen-
mediante o uso de enzimas de restrição e da técnica de Southern
tos obtidos pode mostrar a presença dessa substituição. De blotting
maneira análoga ao blotting, O tamanho do fragmento ampli-
ficado pode indicar urna deleção ou uma inserção de base .. A
ausência completa de amplificação de um fragmento revela a genornu de outros organismos importantes, como a mosca Droso-
deteção completa da região do gene que está contida entre os [lili/a melanogaster e a bactéria Escherichia coli, modelos em
dois primers. Uma série de outras técnicas. incluindo o pró- estudos genéticos. O Projeto Gcnoma Humano começou oficial-
prio seqüenciarncnro de base.. do D A. tem a PCR como a mente em 1990 com a previ ão de em quinze anos finalizar a
etapa inicial da análise, simplificando muito o estudo de vá- tarefa. Como o Projeto resultou de uma iniciativa financiada
rios genes relacionados :1 doenças. com verba pública . qualquer pe oa pode ter acesso às infor-
A técnica que permite estudar de modo mais direro um deter- mações obtidas. gratuitamente, pela internet (hup://www.ensembl.
minado gene é o scqücnciarncnto do D A. Essa técnica tam- org/genoma/central c http://www.ncbi.nlm. nih.gov/genomel
bém se baseia no mecanivmo de replicação do DNA. Uma centrai). Coordenado inicialmente por James Watson, o Projeto
molécula de DNA que ,erá () alvo do scqücnclamcnto é hibridada Genoma Humano foi concluído sob a direção de Francis Collins.
com um único primer. De modo semelhante ao que ocorre na
peR, uma polirncrusc do D A adiciona trinuclcotídcos
trifosfatados à extremidade 3' livre do primer e realiza o alon-
5'
gamento do segmento. sempre obedecendo às regras de cornplc-
rnentaridndc de bases em relação à cadeia molde. A estratégia.
)'========5'3'
OesnaturaçJo 5'-~----3'
x entretanto, é que parte dos nuclcotfdcos uti Iizndos na rcução
do ONA 3' 5'
; de polimerização é de nuclcoudcos que possuem a pcntosc com
~ a extremidade 3' modificada (nucleorfdeos didesõxi). que blo- Hibridação 5'-5-'-3-'
---3 .....
-5. 53,'
~ queiam a adição de um novo uuclcotfdeo na extremidade 3' após dosprimers 3' -
~ sua incorporação. Assim. as novas cadeias sintetizadas são in- I
Extensã~ das ~ Compl. ao
terrompidas em posições diversas pela adição dos didesoxinu- cadelas ~ primer 2
cleoudeos. Os quatro tipos de didesoxinucleotídeos utilizados Compl.ao ~
na reação de seqüenciamcnto podem ser marcados com subs- primer ; /. ~
tâncias üucrcsccmcs de quatro cores distintas (Fig. 30.20).
As cadeias novas sintetizadas são separadas por eletro-
forese em gel de acrilamidu (no método convencional) ou
em capilar contendo um polímero especial, submetido a um
campo elétrico. A cor dos fragmentos que migram no gel
ou no polímero é analisada por um detector a laser presen-
te no aparelho (um analisador também chamado popular-
mente de seqüenciadcr). quc transforma os sinais em um
gráfico, a partir do qual é deduzida a sequência de cores.
ou seja. das bases da cadeia complementar àquela que foi
utilizada como molde da rcaçâo de seqüenciamcruo. O exem-
pio do resultado do scqücnciamcnto de um trecho da molécu-
la de DNA é mo irado na Figura 30.21.

SIGNifiCADO DO PROJETO GEMO MA HUMAMO


O Projeto Genoma Humano é um programa de pesquisa interna-
cional que foi organizado com o objciivo de scqüenciar comple- •
tamente o genorna humano. ou seja, obter a sequência das cerca
de três bilhões de bases que constituem o lote haplóide de cromos-
somos humanos. E se mesmo con õrcio iniciou paralelamente Figura 30.19 - Esquema mostrando como funciona a técnica
outros projetos semelhantes visando ao seqüenciamento do da peR
298 • Tratado de Clínica Médica
85-7241·598·X


O
,<
u-
IIJ
- ••
••
••••••••••••
A T

dATP
dCTP

-- v-
dGTP
G

••
C C A T T G G

ddATP
ddCTP
ddGTP
A
Molde
C de ONA
do genorna humano. Os achados da Celera foram publicados
na rcv isia Science e os do convórcio público foram publica-
dos na Nature. 'a verdade. nesva ocasião ainda restavam muita..
lacunas a serem preenchida, por ambos os projetes e algumas
seqüênciav. chfícei, de abordar por monvov récnicov, foram
deixada, para mm' tarde Ilojc. cm 1005. podemos afirmar


U)
dTTP ddTTP que o Projeto Genoma Humano esta praticamente concluído.
pOÍ'>muita .. de\\a, lacunas foram preenchida ... Quase toda
a, ..eqüência .. do, crornossomov humanos estão disponíveis
para consulta na inrerner. tacrlítando multo o trabalho dos geneti-

-
cistas. 'o entanto. a conclusão do sequcnciamento ignifica

• • • .0
•• • • • • • ••• 0
que j:í se sabe! quanto, c 'lua" ,ão tudo, u, genes humanos e
quais suas tunçõc-,' A re\pu'ta e não
Após a obtenção da., scqücncras completas dos cromos-

- ••• ••• •• •• ••
--
SOIllOS, elas suo submcridus a diversas anâlises computacionais
que ieutum identificar quantos c quais ..ão os possíveis genes
a elas correspondentes, O rnro de lima sequência corresponder

• •••• • • • • ••
a um possível gene não significa obrigatoriamente que ela
seja reulrncruc UIll gene. ESSll comprovação depende de ou-
tras 11l1iÍli:.e."(;OIl1() a análise dos RNA mensageiros produ-

• • ••• lido\ c do' seul'>produtos proteicos. Nem sempre é possível .


tendo cm 111'10\ a scqüênciu de bases dc um gene, prever exata-
mente qual é suo função. Além disso. há controvérsias sobre
quarv (), melhore, métodos computacionais de se realizar a
bu..ca de gcncv na, sequências conhecidas. Por isso ainda
hoje ninguém consegue informar com exatidão quantos são
os genes humanos 1\\0 Significa que os re uliados do Pro-
Figura 30.20 - Uso de nucleotídeos modificados na técnica do jero Genomn Humano verâo gradauvamerne compreendidos
sequencíamento 3 medida que se aumentarem alo pesquisas sobre o conjunto
de trunvcntos produ lido, nas células (Transcriptoma), sobre
Em I 9911. nos ELA. uma companhia pri vada foi criada por a, protcma-, pi <ldullda, (Protecma) e se aperfeiçoarem as ferra-
J ('rall! Vcntcr com II pianil ambicioso de também scqücnciar menta, computacronais de análise. Muito ainda resta a fazer
todo () genum« humano. mal' rapidamente do que o consórcio para 0\ geneticistas humanos e clfnicos. pois é necessário corre-
da 100cl,lllva púbhcu l~"a empresa. chamada Cclcra, primeiro lacionar as sequências com a origem de milhares de doenças
executou de forma ruprda o scqüenciarnento do genorna da cujos genes rcsponsãveis arnda não foram Identificados. Em
Drosophsla melanogaster, lançando-se em seguida. em 1999, resumo. o rérmino do Projeto do Gcnorna Ilumnno não significa
ao dC~JJj()do genorna humano. A estratégia utilizada pela Cetcra o término de uma anãlivc genética completa do ser humano.
é chamada de \'''fltJ(''"III~ Todo .. os cromossomos foram mas apenas ti disponibilidade de material bruto para o começo
alcatonumcntc qucbradov cm milhões de pedaços de DNA de dcsva unálive aprofundada.
1.000 a IO.OO()pares de buves de comprimento. O~ pedaços

--
leram inveruh» CIl1 vetore- (foram clunados), por exemplo,
cm plasrnídco-, bacrcnanos. c reuurodu/idos em bactérias para
serem multiplicado, c depois scqucnciados. A seqüência bru-
-- ••• •••••••
••• • •• ••
•• • • ····e

--
la, desordenada. foi gerada em cerca de nove meses. Em se-
guida, programas computacionais ordenaram essas ..eqüência ..,
como se resolvesvern um enorme quebra-cabeça .. Entretanto,
.,
iii --- •• •• •• ••
• • • • ••••• • • ••
•••

--- • ••
C;
para que a, peças do quebra-cabeça pudc ..sem ser colocada ..
g • • • • •• •
--
cm posição correia. roi prccivo urihzur 111formações Já dispo-
~ •• C!)
nibilivadu .. graruiramcntc pela imcrauva pública.
•• .@
Jií na iniciativa do Projeto Genorna público. a c tratégia de
ordenar a, peça .. do quebra-cabeça pelos computadores foi
também utilizada, mav a maior parte das sequências já hav ia
__.
~
- ••
sido indiretarnente ordenada antes do seqücnciamento, Em outras
palavras, ov pesquivadorcs Já haviam In\ cstido prev iarnentc
na construção de um mapa rr,ico de cada crornosvomo humano.
Quando foi executado (l vcqücncmmcmo, 01> pesquisadores já
TACGGTAACCTGTCTAAGCATGGCATCGAAATTAAC
tinham uma ideia de onde vinham o, pedaços de DNA conti-
dos em cada um dos clones (nos chamados vetores. como os
plavmfdeov j,í Citado..). poiv c."c., clones já haviam sido mapeados
ante, nos cromo\"omo\ humanos.
Usando diferente., métodos para obter e ordenar as seqUências.
os dois Projcto~ comcmorarum .,imbolicamente a conclusão
do !.eqiienclalllenLU cm Junho de 2()()(). o princípio de 2001,
:t~ reVblll\ clentfflçll' \'( 1('11('(' e N(lt"re publicaram artigos
dcdlcado, li chvufgaçao da., conclusões principais a que tinham
chegado o~ pcsquI\adures, apÓs a análjse desse "rascunho" Figura 30.21- Resultadodo seqüendamento de um trecho de DNA
Princípios de Genética Humana • 299

Com o scqüenciarnento do genoma humano ficou confir- e que posteriormente se integrou em outro local do genoma.
mado que os exons codificadores de partes de cadeias Esses elementos foram se multiplicando no passado evolutivo
polipeptídicas representam de 1,5 a no máximo 3% de todos até atingir as frequências hoje observadas. As UNE são ele-
os cerca de 3.1 x 109 nuclcotídeos do genorna humano. Con- mentos capazes de codificar enzimas que permitem a sua própria
vém lembrar nesse momento que se dá o nome de genoma ao mobilização no genorna e as SINE muito provavelmente uti-
conteúdo total de DNA de um único lote de crornossornos, ou lizaram a maquinaria enzimática das UNE para que pudes-
seja, normalmente o termo se refere ao conteúdo genético haplóide sem ter atingido um número de cópias tão surpreendente. Se
de uma espécie. Se os exons correspondem a 3% do nosso esses elementos foram recrutados na estrutura do genoma para
genorna, O que são os 97% remanescentes? Em média, a ex- desempenhar alguma função é questão profundamente investi-
tensão dos íntrons de um gene é cinco ou seis vezes superior gada e debatida atualmente.
à extensão dos exons. Isso significa que se pode expl icar, talvez. Além disso. ainda resta uma grande Iração do genoma cuja
o papel de cerca de 20% das sequências de DNA presentes do função é totalmente desconhecida. Esse DNA é referido como
nosso genoma. Uma certa [ração do remanescente deve codi- "DNA espaçador", Na verdade, o termo serve apenas para rotular
ficar diversas moléculas de RNA. como RNA transportador. a ignorância sobre o papel de grande fração do DNA presente
RNA ribossômico c outros RNA mais recentemente desce- no nosso genoma,
berros. As ferramentas aluais de estudo dos gcnomas não permitem
ainda prever com precisão quais sequências correspondem
exatarnente a certos tipos de RNA. BASES CROMOSSOMICAS DAS DOENÇAS GENlTICAS
Ainda há muitas sequências a explicar. Além dos gene .. A Citogenét ica estuda a estrutura. a função e a evolução dos
seus íntrons e exons, que ocorrem em cópia única ou poucas cromossomos. A Citogenérica Clínica focaliza especialmente
vezes reiterados no genoma, existem muitas sequências de DNA as alterações cromossômicas, os mecanismos que as originam
que são repetitivas. Alguns dos genes que ocorrem reiteradas e seus efeitos fenotípicos. Seis a sete em cada mil recém-nas-
vezes são genes que codificam as histonas, importantes proteínas cidos têm uma alteração cromossômica. Essas alterações cons-
cromossômicas, e os genes que codificam RNA ribossômico. tituem a causa genética principal de malformações congênitas
Esses genes ocorrem algumas centenas de vezes no gcnoma. e retardo mental, podendo estar relacionadas também com
Outras sequências de DNA repetitivas ocorrem nos telôrneros. esterilidade e infertilidade. Entre os abortamentos espontâ-
isto é, estruturas presentes nas extremidades dos cromosso- neos de primeiro trimestre, 50% têm anormalidades cromos-
mos, e que têm enorme importância nu manutenção de suas sômicas como causa. A comparação entre as frequências das
integridades física e funcional. De maneira análoga. nos anormalidades cromossôrnicas nos abortamentos e ao nasci-
centrômeros de cada crornossorno ocorrem blocos de seqüên- mento mostra o efeito deletério que elas têm sobre () desen-
elas curtas e repetidas milhares de vezes. chamadas de DNA volvimento, chegando a termo apenas pequena fração dos
satélite. Em regiões próximas lIO centrômeros ou em outras concepros aferados.
localidades dos cromossomos há enormes massas desse DNA
altamente repetitivo com pouca atividade transcricional, de-
nominadas genericamente de heterocromatinas. Um outro tipo
Como Estudar Cromossomos Humanos
interessante de DNA repetitivo é o constituído pelas chama- As células somáticas humanas têm 46 crornossomos, 23 her-
das VNTR (Var;able nutnber (~f tandem repeats}. Essas se- dados de cada genitor. Vinte e dois pares cromossôrnicos são
qüências, denominadas de micro ou minissatélites em função semelhantes no homem e na mulher e se denominam autossomos.
do comprimento da sequência repetida, ocorrem na mesma O par de crornossomos sexuais é formado por dois cromosso-
posição nos diferentes indivíduos da população, mas o núme- mos X na mulher e por um cromossomo X e um Y no homem.
ro de repetições da seqüência varia muito de indivíduo a in- Quando uma célula se divide, seus cromossomos progres-
divíduo. COIllOexistem milhares de microssatélites e milhares sivamente aumentam a condensação e encurtam. permitindo
de minissatélites espalhados no genoma humano, podem-se visualizá-los e analisar sua morfologia ao microscópio óptico.
exploraras inúmeras diferenças que se acumulam entre as pessoas Já na célula que não está em divisão, os cromossomos estão
da população. utilizando essas sequências na identificação muito distendidos e, apesar de cada um manter sua integrida-
individual. como acontece nos testes de paternidade, por exemplo. de. não permitem a análise morfológica. Assim, para analisar
No entanto. somando todas as categorias de DNA mencio- cromossornos são necessárias células em divisão, obtidas a
nadas até o morneruo, ainda não se totaliza mais do que urna partir de tecidos vivos.
percentagem mínima do total de nosso genoma. Um dos fatos Os cromossornos são analisados nas fases de metáfase ou
mais surpreendentes sobre o genoma, confirmado na publica- prometáfase da divisão mitótica que dará origem a duas célu-
ção do rascunho da sequência humana, é que cerca de 45% do las com número de crornossornos igual ao da célula-mãe (Fig.
nosso gcnorna é composto por elementos repetitivos dispersos 30.22). O cromossorno, nessas fases, já está duplicado, con-
(em oposição aos elementos repetitivos denominados em tan- sistindo em duas cromátides, unidas pelo centrômero (Fig. 30.23).
dem,já mencionados no parágrafo anterior). Esses elementos Cada cromãtide é formada por uma molécula de DNA asso-
dispersos são divididos em categorias em função de seu tama- ciada a proteínas e esse material é chamado de cromatina.
nho e propriedades: as duas categorias mais frequentes são as . Os exames crornossômicos pós-natais, para diagnóstico de
SINE (ShorllNlerspersed Elemellts) e as UNE (LolIg I Nters- alterações crornossôrnicas constitutivas, são rotineiramente
persed Elements). O tipo mais abundante de SINE. chamada realizados nos linfócitos do sangue periférico, diante da faci-
de sequência Alu, ocorre em um milhão de cópias e o tipo lidade de obtenção do material e da relativa simplicidade da
mais abundante de UNE. chamada LI, acontece cerca de 500.000 técnica de cultivo. Outros tipos de células podem também ser
vezes. O mais surpreendente sobre esses elementos é a sua usados, quando a pesquisa de uma determinada alteração exige
origem:cada cópia se originou de um evento de rcrrotransposição. a extensão da análise, como os fibroblastos obtidos de biópsias
Em outras palavras. a presença dessas seqüências é decorren- de pele. No diagnóstico pré-natal. a análise crornossômica é
teda existência de elementos genéticos móveis no nosso genorna realizada em arnniõcuos Ouem células das vilosidades coriônicas.
que se foram duplicando por meio de uma molécula interme- Para o estudo dos cromossomos dos linfócitos, O sangue é
diária de RNA, que foi retrotranscrira em uma molécula de DNA colhido com um anticoagulante, a heparina, e após a sedimentação
300 • Tratado de Clínica Médica

c. após secagem. as preparações estão prontas para serem sub-


metidas aos diversos métodos de coloração dos cromossomos
que permitem sua análise ao microscópio.
O método de coloração cromossómica rotineiramente uti-
lizado nos exames diagnósticos é o que produz faixas claras
e escuras (bandas) ao longo dos cromossomos, permitindo iden-
tificar todos os pares: as preparações cromossôrnicas são tra-
tadas com uma solução de tripsina e coradas com o corante de
Giemsa - bandamento G (Fig. 30.24). Para li classificação dos
crornossornos levam-se em conta seu tamanho, posição do
centrômero e o padrão das bandas. O conjunto de cromosso-
mos arranjados aos pares é o cariátipo da célula. O termo
cariótipo é utilizado também para designar a constituição
cromossôrnica de um indivíduo. Por exemplo. o cariótipo de
um homem normal é 46, XY e o de uma mulher. 46. XX. Existem
normas que são seguidas internacionalmente para se descre-
verem os cariótipos normais e alterados (ISCN, An IllIematiOlla/
System for HlIlIIllIl Cytogenetics NOlllenclalllre*).
Na análise dos crornossornos deve-se cuidar para que o ní-
vel de distensão dos cromossornos seja o adequado para se ob-
Separação das
cromátides terem pelo menos 550 bandas no lote haplóide. Cromossomos
mais compactados impedem o diagnóstico de muitas alterações
Figura 30.22 - Comportamento dos cromossomos na mitose: estruturais identificáveis pela análise do padrão de bandas G.
no final da divisão são produzidas duas células com o mesmo O poder de resolução da técnica, entretanto, não permite a detecção
número de cromossomos da célula-mãe. A = anáfase; G = gap; de alterações que comprometam menos de cinco milhões de
M = metáfase; P = prófase; S = duplicação dos cromossomos; pares de bases do DNA e alterações maiores podem passar
T = telôfase despercebidas, caso não produzam mudanças no padrão das bandas.
Hoje é possível a detecção de alterações menores, utilizan-
das hernácius, urna alíquota de plasma com os leucócitos cm do a técnica ele hibridação in situ fluorescente (FISH, Pluorescent
suspensão é inoculada no meio de cultivo, que contém a fitoc- 111 Situ Hybridizatioll) na análise crornossômica. Por exemplo,
maglutinina, o agente mitogênico que estimula os linfócitos na pesquisa de uma determinada deleção cromossôrnica, usa-se
a se dividirem. Após cerca de 70h de incubação a 37°C. é um segmento de DNA, a sonda, que contém a sequência de
grande o número de células em divisão. Para se obterem as bases do segmento que se supõe deletado. CÓpias da sonda são
rnetâfascs ou promcrãfascs necessárias à análise, o processo colocadas em contato com as preparações cromossômicas, em
de divisão deve ser interrompido nessas fases. Esse bloqueio condições apropriadas. de modo que ocorra sua ligação (hibridação)
é feito utilizando-se substâncias, como a colchicina, que im- com o segmento exatarnente correspondente (homólogo). As
pedem a formação do fuso mitótico. necessário para 11 sepa- sondas são previamente marcadas comum fluorocromo. Pode-se,
ração das cromátides dos crornossomos e sua migração para assim. veri ficar se o segmento está 011 não presente no cromossomo,
as células-filhas. Após esse passo. as células são separadas do na análise ao microscópio de fluorescência (Fig. 30.25).
meio de cultura por centrifugação e tratadas com uma solu-
Há sondas disponíveis comercialmente que permitem detectar
ção hipotônica, para que os cromossomos se espalhem e, as-
microdeleções cromossôrnicas já descritas em associação a
sim. possam ser claramente vistos, sem estarem emaranhados
quadros clínicos específicos (Fig. 30.26). Outras são homólo-
uns com os outros. O material é. então, lixado com uma so-
gas às porções terminais dos cromossornos, sendo utilizadas
lução de metanol e ácido acético. Pingam-se algumas gotas
para detectar diminutas translocações e deleções situadas nas
da suspensão de células em fixador sobre lâminas de microscopia
extremidades dos crornossomos. As regiões dos centrômeros
de cada cromossomo também são identi ficáveis e, assim, é
possível contar o número de cromossomos de um tipo num
núcleo interfásico. portanto. na célula que não está em divi-
são (Fig. 30.27). Conjuntos de sondas correspondentes a toda
a extensão de um cromossomo - bibliotecas cromossômicas
• r: Satélite
<, - podem ser hibridadas simultaneamente. o que permite, por
Constrição exemplo, identificar segmentos cromossôrnicos adicionais num
secundária cariótipo, cujo padrão de bandas não seja característico.
As técnicas de hibridação in situ tornam-se. progressiva-
mente mais sofisticadas. O uso de fluorocromos de cores diferentes
para marcar as sondas permite analisar vários cromossornos
ao mesmo tempo e até mesmo todos os cromossornos podem
B C
agora ser analisados simultaneamente, associando-se as com-
Figura 30.23 - Os cromossomos metafásicos estão duplicados, binaçõcs de fluorocrornos diversos a sistemas de filtros espe-
formados por duas cromátides unidas no centrômero. De acor- ciais e recursos computacionais (cariotipagem espectral e
do com a posição do centrômero, os cromossomos são classifica- M-FISH). Uma outra técnica, CGH (Comporative Genomic
dos em metacêntricos (A), submetacêntricos (8) e acrocêntricos HybridiZaliôn) evidencia perdas e ganhos de segmentos cro-
(e). Nos braços curtos dos cromossomos acrocêntricos humanos
observam-se constrições secundárias (onde estão situados os genes
que codificam RNAribossõmico) e, em sua extremidade, massas • ISCN(1995): Ao International System for Human Cytogenetic Nomenclature.
de cromatina mais condensada, os satélites Mitelman F (ed); 5. Karger, Basel, 1995.
Principios de Genética Humana • 301

mossôrnicos hibridando, com mctãfascs normais. o DNA obtido mentes podem ser trocados de po ição. perdidos ou duplica-
da amostra que se quer testar (marcado para fluorescer em dos. Essas alterações também podem e originar durante a
vermelho) juntamente COIll o DNJ\ de uma amostra de tecido formação dos gametas ou depois da formação do zigoto,
normal (marcado para Iluorescer em verde). A análise da Em geral. as anormalidades cromossôrnicas não são her-
fluorescência dos cromossomos é feitil por computador: um dadas e surgem em cada geração como mutações novas. Isso
segmento com excel-SO de verde está dcletndo na amostra teste acontece porque na maioria dos casos há perda ou ganho de
e aquele com excesso de vermelho est(l duplicado nela. O estudo crornossomos ou de egrnentos cromo. sõmicos que levam seus
de rumores, que covturnarn apresentar nltcruções cromossô- portadores à morte pré ou pós-natal e aqueles que sobrevivem
micas extremamente cornplcxnx. é espccinlmcntc beneficiado geralmente não as transmitem para a prole. porque são esté-
por essas técnicas, reis ou apresentam quadro clínico muito grave. Nas pessoas
portadoras de alterações e truturais. entretanto. essa altera-
ção está freqüenternente equilibrada. ou . eja. houve mudança
Alterações Cromossômlcas de posição de egmento crornossômicos. sem que ocorres-
Os crornussomos podem ter ti mimem ou a estrutura altera- sem perdas ou ganhos que produzissem efeitos clínicos. Esses
dos. As alterações do mimem dos cromossornox decorrem de indivíduos podem pa ar essas alterações para a geração se-
erros na separação dos cr0ll10SS01ll0S na divisão celular (não- guinte. na forma equilibrada ou não. mas entre eles há uma
disjunção cromossômicn). Esscs erros podem acontecer na parcela que é estéril. por efeito do rearranjo cromossômico
formação dos gall)eta~ (numa rnciose) ou após a união dos ga- na garnctogênese.
metas que formam o zigoro (numa mitose). J\~ nltcraçõc: estru- A Tabela 30.4 mostra as Ircqüências dos diversos tipos de
turais resultam de quebras nos cromosscmos, seguidas de fusão alterações cromossôrnicas entre recém-nascidos.
de extremidades que não estavam contíguas. Assim. os scg-

_,..
, •
Alterações Cromossõmicas Numéricas
Os erros de divisão celular podem resultar cm indivíduos com

/ I( , três ou quatro vezes o número haplóide (n = 23) de cromos-


S0Il10~: o triplóides (3n = 69 cromossornos) e os tetraplóides

,, IV ~ I
=
(4n 92 cromossomos), respectivamente. Ambas as condições
são muito raras e letais. provocando qua e sempre abortamento
ou morte logo após O nascimento. J\ triploidia é. na maioria das
--....... .... ,t I vezes, resultado de dispermia. ou seja, da participação de dois
espermatozóides na Icrtilivaçâo de Ulll óvulo. Pode acontecer

II I ;
também li produção de um gamem diplóide. por uma falha na
divisão meiõrica ou ainda pela fu~à() de um óvulo com um cor-
púsculo polar. A tctraploidia parece resultar principalmente de

"
\
A
DesnaturclÇ30

lLlL 2
••
II
3
U_1l:
4 5

~
...
lLlf
6 7
II II II
8 9 10
..'I
t
11
',.t
12 Sonda de ONA
marcada com
Visualizaç30
ao micros<ópio
.;, de luz UV
00 fluorocromo

J.Lllll ,.. 'I 1&


13 14 15 16 17 18 Figura 30.25 - Na hibridação in situ fluorescente (FISH),a sono
da marcada com um fluorocromo liga-se ao segmento homólogo
no cromossomo metafásico, que assim é evidenciado. No processo,

B
c' II •21• ••22 1 , o DNA da sonda e dos cromossomos é desnaturado (separação
das cadeias da hélice dupla) e posto em contato, oferecendo-se
19 20 x y as condições para que volte à condição de cadeia dupla (rena-
turação). Quando a cadeia dupla é refeita entre o DNA da sonda
Figura 30.24 - Metáfase (A) e cariótipo (B) de uma célula de e o do cromossomo (hibridação), o segmento do cromossomo
homem normal, após bandamento G pode ser visualizado fluorescente ao microscópio de luz UV
302 • Tratado de C/mIca MedICa

da entre rccém-na-cida-, (1/5.()OOI. apesar de conxnuur a :11·


ierução cromovvôrnica IIIdl\ idualrncnte Illa" frequente nu,
aborto, \ cvplicução para a menor letalidade da, alteruçõe-,
do numero de cromovvomo-, 'C\II,li, e\t,1 no f,lIo de que um
do, cromov-ouu» \. 1,1'célula-, 'Ulll.llll·,l' d,l mulher e-ra rnauv11.
num 111~'~'an"nH)de cumpenvaçao de tlo'e:. ou <era. para com-
pcnvat a PIC'l'III,.1 de dOI' cromuvvomov X 11.1'mulhere-, c um
unrcu no homem () I1UIllCroIc )!e:I1C'110cnunov-omu X c multo
1ll,lI01do que no t.:101ll0"01ll1l '\ cm que 'c encontram pnnci-
pulrncntc gene que atuam no dcvenv 01vuncntu e no funciona-
mcnto do, rcsuculov, havendo raros segmentos homõlogos ao
t.:rI1Ill0"1I111l1\. O ,IICI1Clal11el1tode um dm crornovsornov X
11,1' mulherc-, náo atinge. entretanto. todo, o~ gCI1C~, havendo

Figura 30.26 Identificação por FISHde uma microdeleção de aquclc-, que Iuncronam em do-c dupla 0, defeitos produzido-,
um crcmossomo do par 17 em paciente com suspeita diagnósti- pela altcruçüo do numero de: crumovvonu», \. parecem, assrm,
ca de neurofibromalose tipo 1: a sonda, correspondente ao seg- decorrer do tu ncionamcnro alterudu oe,o,c, ,!el1e~.
mento deletado, marcou um uruco cromossomo 17 (fluorescência ·\pe,.1I de ii\ uneupluuha-, plllil'rl'lIl decorrer de erro, 11,1
verde) Nos dots cromossomos 17 tambem se observam os sinais ,cpar ac;üll de ~'mlnO"IlIll(l" tanllll1lellltilm (t-ig. 30.28) como
de uma outra sonda hibridada ao mesmo tempo, que serviu de muoticos (1Iig. JO.29). ela' rc-uluun pnncipulmcnte da não
controle para a sensibilidade do teste (fluorescência vermelha) d"Jun~'fl() ,rol1l0SSÔIlIÍ(;:I lia pri meu a or\ "Jo rneiótica rnater-
na I,,".do~ da OI'igcm do ~'ItIlIlO"1I1ll1l extra presente em criança,
um erro 1111lot1CO.
depois da lormali.lu do IIgoto. acarretando coin ....nd II I me dc J)OWIl, uuhzundn polimorfismos do DNA,
duphcaçao do número tot.ll de cromovvonu». 11111\11.1111que cm l)()I.1, dos C:I'O, u não-disjunção foi materna.
CUIlI m.uor frcl.jilC'lIl"laI" ~'III" de '~'r.ara~ão do, cromo, 7Yir tendo ocorrido na primeira di\ ixão meiótica. Quando o
,OIlW, revuluun cm ahl'''I~ 01" 1'111UIl1raro que perde ou ganha cromo-sorno cvtra c! contribuído pelo pai. a não-disjunção tem
um cromovsomo. produvrndu 'c. rcspccuvamerue, monossorniav ehance-, <emelhamc-, de ler acontecido cm qualquer das duas
ou lrl"IIlI1I,I, (.i' ancuplordrav) l.rro-, mai ...complexos, que di\ .\l)C' mciõuca-, I rn t;l'rl',1 de'V do, C3\1h. ti não-disjunçao
.ltllll'cln lIIal' de UIII pai ou com ganho, de mais de um cromos- é pll'-7ígtltica. ocorrendo, portanto, numa mitose
'IInlll fltltlcm ocorrer, 111.1' '.10 bem mal' raros. Essas altera Arue-, mesmo de ,e ,ahel que .1 t""III11ia 21 era a cauva da
C;I1C'.mcvmo quando ,110.:1.1111 um único par cromossômico ....ão ,índromo: de Dow 11, I.i 'I' dctcct.u 1.1influência da Idade materna
encontrada ... principalmente em abertos. Entre rccém-navci em 'lia iucidêncr« )lara muthercc com menos de 35 ano, de
duv, a... monovsonua-, .lutl1,,6mICa, não aparecem e: .I úruva idade. o nvco de nuvccr li 111a cnançu ufetada pela sfndrome c
trivsomiu de autovsomo-, 111m trcquência vignificaiiva é .1 do cerca de 1/ 1.0()O:é"C Iivcn \:11 plllgre"i\ ameme aumentando.
cromoworno .:! I. que ~·.IU'.I a víndromc de 00\\ n, com uma cm evpecial apü, o, '5 .1111". quando é de 1/400. atingindo 1/
incidênCia dc I 'MOO.I1/1.000 )\, l1utra, dua, tri"ol1lla, CI1I11- J()() ao, 41l .11111'e 1/25, aplÍ' li idade de 45 anos. Esse rbco "
patívcl\ e:om ,I 'lIhre\ IH'1I11,1ate: Olla,Clnll:nto ,ãl1 ,I' do, cru- apllta tam~m .1 outr,l' tn"omras. A idade malerna li partir
l1Hl,'OIllO' I 'c I X, oll\I'l\ada, cm 1110.000 e IIll.llOO na,cldo, do, 35 ano" con'titul·'e. "'\1111. na indicaC;ão ma., frequl!l1h:
\ 1\0\. rc'pCl tl\ anll'ml.: \ Il1:liori" do ... afetado\. cntreWnto, para o diaglll;,ti~'1l prt!-ll.lt.1I de docnça, genéticas
morn: rUI\prlmcrra, '1'111.111.1' de "ida. Alguma:. outra~ lri~~omi"s O mecan"lllll pelo qUill .1 rdade malerna Inllucncia li ocur-
:Iulw,~(lmit:a'. CIIIllII.1dOlrIl1110.,S()I11l)ll. podem ~er encontra- rência de mio ·d"junl,'.lo nao e\la c,darecioo Dllcrentemenh:
das cm na,cldl" \ 1\0', ,e: hcm I.jue muito raramente c. nes,cs do que ocorre na l'allletllg1l1c,c l11usculll1a, em que a mciusc
caso'. foram detc~'tad.l' células normais ao 1:ldo da ...célula~ IS LI 111 prtl!.:es,o t.:ollllllUIla par t II da l11aturldadc \C\ual. na Illulher
trissômica,. caracte:rl/ando UIl1mosaicbmo crtlm(),~ômie(). a meiusc \C rllll"Í,1 plll volla tio terceiro me... de \ id" Intra-
As aneuploídHl' UII' crolll()~'llmOS se\uai, ,;io m.ll' cOlllun .... ulcriníl. )lo I Ilt.:a\lall dOIl(I~c.:il11cnl(),os llvlÍcitos encontram-se
Estima-se quc "·I(lO menllH" e: 1/650 mcnllliJ\ n.....liam l'om no lilllll da prola'e da primcira divi~:1o meiótica, nUl11afa,c
essa., alll'nl,úl", \kSlllll.1 IllIllH)"nmr;1 \. 14 'i.>. 1I' cncontra· cstac.:ionarla II dKtuítello, 'ó retomando a divisão. um a cada
CIcio mcn,tlll.II .• 1P,lItll da puherdade. E,sc "envelhccimel1lo"
do !I\ ulo no dl~·tloteno ,erla () responsável pelo aumento na
IIlc.uênCI<I de nao-dl'Junção cromOS~Úll1lea

Disso I s Unlparentals
A l1ao-dbjun~.1O lfomo"ômica pode c,tilr i1"odada a uma
di"ol1u:I IIl1iparentill. I,to ê. 0' doi, ~'Il1I11Il,,()Jll0Sde um par
,riu hCldado, de UIII lI1e'lIIll genltol. »111 e\clllplo. num feto
ti i"OIIlI~'O ~'1l111do" 1:r1l1l10"1l1110'I 'i l11aterl1th e um paterno.
u p~'rda de UIIIdll' CroIl10"01ll1l' 15. lIue restabelece o núme-
ro nOll11al de I:fllI11Il"OmO, e permite a ,obrevivência. pode
prll\llo:ar ul11adl"lll11lil ul1Iparel1tal 11l.llerna. Outro mecanis-
mo e ii unlall de um gamela que tem dl"Olllla de um cromo,-
"uno ~11I11 outro que tenha nuli"tlmla de,\\! me,mo cromossomo
Pode aconteccr :lInda ii perda de um t.:rt11111l"1l1110 no início do '!
de,cll\ oh i111 eIIlO: u conceplll ,ohe\ 1\ er.1 sc uma não-di<,junc;ãn ...
Figura 30.27 Trissomia do cromossomo 18evidenciada em núcleo ré,taur iII ()pai ,rtlIllU"Ôl11llI1, 111,....ter.lllllla dl"ol11ia uni parental -
interfasico pela hibridaçao de uma sonda do centrômero desse A di~'llrllill IIlliparclll:t1 c dl:lgllo,tlc.lda quando e!>l:ía~...o- ~
cromossomo cladu ,IUIIIquadro t.:lrnico. flor e\elllplll, no caso de lima doença"
Princípios de Genética Humana • 303
8S·7W·598·X

TABELA 30.4 - Freqüências dos diferentes tipos de alterações dissornia uniparerual materna, a falta do produtos dos genes
cromossômlcas por mil nascimentos· paternos nes e trecho do cromossomo cau a a síndrome de
Prader- \Viiii (hipotonia. obesidade. baixa estatura. hipogonadismo.
TIPOSDE ALTERAÇÃO FREQO~NCIA/1.000 comprometimento mental leve a moderado e hiperfagia). Há
Numéricas 3,4 uma forma de diabetes neonatal. muito rara, que é conseqüência
Autossômicas 1,4 de uma dissornia uniparcntal paterna do cromossorno 6; nesse
Cromossomos sexuais 2 caso a doença parece ser causada pelo excesso da atividade
Estruturais 2,6 gênica de lima região marcada para funcionar apenas no cro-
Nao·equJllbradas 0,6 mossomo paterno.
Equilibradas 2 As doenças relacionadas ao imprinting genômico também
Total 6 podem se manifestar quando ocorrem dcleções crornossômi-
• FreqOénciasestimadas a partir dos estudos de séries de recém-nascídcs caso Por exemplo. a maioria dos afetados pela síndrome de Prader-
consecutivos em diferentes países Willi tem perda do segmento do cromossomo 15 paterno sujeito
a imprintiug e que justamente contém os genes que ficam ali vos.
recessiva em uma criança. quando apenas um dos gcnitores é Outros exemplos de síndrome. , cujos mecanismos cau ais
portador da mutação. A presença na criança de duas cópias do estão relacionados com O imprinting gcnômico. são: Angelman
cromossorno com ti mutação proveniente de um dos gcnitores (crornossomo 15). Beckwith- Wiedemann (cromo orno II) e
e nenhum cromossomo do outro genitor torna-a homozigota, Silver-Russell (crornossorno 7).
manifcsmndo a doença.
Outraconseqüêncialcnoupica da dissornia uniparcntul decorre Alterações da Estrutura Cromossümlca
do fenômeno do imprinting genôrníco: alguns genes que pos-
suímos funcionam diferentemente. dependendo da origem paterna O cromossomos podem quebrar-se e o mecanismo de reparo
ou materna. A sim, num dado par desses genes. apenas o materno celular ao atuar para cicatrizá-los pode fazê-lo incorretamente,
ou o paterno está marcado para funcionar. Há indicaçõe de resultando em mudança de posição, perdas e duplicações de
que essa marca cpigcnéricaé estabelecida durante a gametogênese segmentos cromossômicos, Outro mecanismo que pode originar
e. desse modo, uma mulher já transmite seus genes maternos rearranjos cromossômicos é a recombinação "ilícita" entre
e paterno. que ~ão sujeitos a imprinting; com a marca mater- segmentos do genoma que têm scqüências muito semelhan-
na; o homem os transmite com a marca paterna. Se um indi- tes. mas não estão localizadas exatamcntc na mesma posição
víduo tem dissornia uniparental de um crornossomo que tem em crornossomos homólogos. Difere, assim, da recombinação
segmento sujeitos uo imprinting genôrnico, pode apresentar que provoca troca de segmentos exatarnente correspondentes que
um quadro clínico que resulta da falta ou do eXl::eSSQ da ati- ocorre normalmente na meiose e que produz diferentes combi-
vidade de gene ou genes que se localizam nesse segmento cro- nações elegenes paternos e maternos el11UI11 par de CfmnOSSOI11OS.
mossômico. O cromossomo 15 é um dos crornossomos que tem Um rearranjo cromossômico pode não alterar a informação
segmentos sujeitos a imprinting: um desses segmentos tem genes genética. estando equilibrado sem produzir efeitos clínicos.
ativos apenas no cromossorno paterno e, quando a criança tem Quando há perda ou ganho de segmentos. o rearranjo está não-
equilibrado c o portador apresenta um quadro clínico carac-
terizado geralmente por malformaçõe congênitas e retardo mental
W Norm.1 de graus variãveis. E interessante que rearranjos cromossômicos
que se apresentum equilibrados na análise do padrão de ban-
II
xv das G podem estar associados a sinais clínicos. O fato de esses
I
MI
/.-.~~
...\..
M I
,x ,......MII....... , v,

(8)
I
x x
I I
v
I
y (e)

G.m'til
_Anofl".it

Figura 30.28 - Comportamento dos cromossomos na meiose:


formação de células haplóides - os gametas - a partir de uma Figura 30.29 - Não-dtsjunção cromossõmica pós-zlqótica numa
célulagerminativa diplóide (A); formação de gametas aneupl6ides, divisão mitótica no inicio do desenvolvimento, originando um
em razão da não-disjunção dos cromossomos X e Y na primeira individuo com três linhagens celulares: 4S,X/47,XXX/46,XX
(8) e na segunda divisão da meiose masculina (C) (mosaicismo cromossõmico)
304 • Tratado de Clínica Médica

rearranjos serem mais Ireqüenres entre pessoas afetadas do e é de meno. de 5%. quando Opai é portador. Esse risco menor
que na população geral indica que não se trata sempre de simples do que o esperado é em pane explicado pelo abortamento
coincidência. Na verdade, já se demonstrou, em análises mais espontâneo de fetos com trissornia 21. A diferença entre os
refinadas por hibridação iII si/II e do DNA, que as quebras em riscos para homens e mulheres portadores pode decorrer de
rearranjos apnrentcmente equilibrados podem danificar genes, seleção contra os espermatozóides com alterações cromossõ-
levando a um fenótipo alterado. Esse tipo de alteração está micas ou de peculiaridades meiôticas que possam estar favo-
abaixo do poder de resolução da análise crornossôrnica por recendo () tipo de segregação dos cromossornos que origina
bandamcnto. gametas normais.
A Figura 30.30 mostra alguns tipos de alterações estrutu- O falo de li síndrome de Down poder ser causada por uma
rais dos cromossornos humanos. translocução herdada torna a realização do exame cromossô-
As translocações são rearranjos que consistem cm trocas mico dos ufetados ou de seus pais necessãrin, mesmo quando
de segmentos entre cromossomos. Entre as crianças com o diagnóstico pode ser firmado com base nos sinais clínicos.
síndrome de Down, por exemplo. urna frução de aproxima- O que se apresentou sobre as translocaçõcs na síndrome
damente 4% tem uma trissornia 21 por translocação: possu- de Down. aplica-se aos rearranjos estruturais em geral. Quando
em dois cromossomos 21 livres e um terceiro translocado para urna alteração estrutural é detectada numa criança, os geniio-
um outro cromossomo (Fig. 30.31). Essas translocações qua- res devem ter seus crornossornos analisados. Se um dos geni-
se sempre ocorrem na formação de Ulll dos gamelas que ori- tores é portador da alteração cromossôrnica equilibrada, Outras
ginou <I criança e não tendem a repetir na irmandade do afetado. pessoas de sua família também podem ser portadoras, com
Entretanto. Ulll dos genitores pode ser portador da translocação risco aumentado de ter criança com alteração crornossômica.
em estudo equilibrado e, se este for O caso, há risco aumen- Esses possíveis poriudores devem ser identificados e alertados
tado de repetição da síndrome de Down na família. A Figura
sobre essa possibilidade. estando indicado que se submetam
30.32 mostra o que pode acontecer na rnciose de um portador ao exame crornossôrnico. Uma das indicações indiscutíveis
de translocação equilibrada entre os cromos ornas 14 e 21: na
de diagnóstico pré-natal é justamente quando um dos membros
rneiose há normalmente O emparelhamento dos crornossomo:
do ca ai tem uma alteração crornossôrnica equilibrada.
homólogos, assegurando que cada gamem formado receba um
representante de cada par. No portador da iranslocação equi-
librada os crornossomos 21 e 14 seemparelhamcom os homólogos Indicações para Realização
que formam o croll10SS01110 trunslocado (Fig. 30.32, A). Quando de Exame Cromossômico
esse: cromossornos vão para os gamelas, podem fazê-lo em
seisdiferentes combinações (Fig. 30.32. 8). Dois tipos de gamelas As alterações cromossômicas, especialmente dos autossomos.
podem originar crianças normais, com cromOSSOI11O$ normais causam com frequência atraso do desenvolvimento neuropsi-
ou com a translocaçâo equilibrada: os demais gamelas forma- comoior e retardo mental. Estilo também cornurnente associa-
rão zigotos com alterações cromossôrnicas. monossomias e das a malformações congênitas de gravidade variável e retardo
trissornias do crornossomo 14 ou do 21. Dessas alterações. a do crescimento. Um conjunto desses sinais constitui, assim,
única compatível com o desenvolvimento até o nascimento é indicação para o exame cromossôrnico, sempre que não se
a trissomia 21 (Fig. 30.32. C). Assim. teoricamente. o risco tenha um diagnóstico de síndrome não cromossôrnica. Os
de criança com síndrome de Down na prole do portador é de quadrosjá bem caracterizados clinicamente. como a sfndrome
um terço. O risco empírico. entretanto. é bem diferente: quando de Down. mostram a grande variabilidade que os indivíduos
ii mãe é a portadoru da trnnslocnção. o risco é de cerca de 15% afetados por uma mesma alteração cromossôrnica podem

Translocação reciproca
ii-~~~-i i
14 14 14/21
Translocação robertsoniana
21
i'
Perdem-se

Deleção

B
, .) 14
~.
14/21
21
~
21

Figura 30.31 - Os dois cromossomos 21 livrés e um terceiro


translocado para um cromossomo 14, em umacrtança com
síndrome de Down. O esquema mostra como o cromossomo
translocado se formou. Houve no processoa perda de pequenos
segmentos dos dois cromossomos, compreendendo basicamen-
tnversão te genesque produzem RNA ribossômico. Como essesgenesestão
repetidos muitas vezes nos outros cromossomos acrocêntricos,
Figura 30.30 - Alterações cromossômicas estruturais essa perda não traz efeitos clínicos
Princlpios de Genética Humana • 305

8S·7241·S9~·X
I
U
I I
'tU'UI

Figura 30.32 - Um portador de translocação equi-


libradaentre oscromossomos 14 e 21 tem fenótipo
normal,possuindotoda a informação genética desses
I~
--0-
.II
x
Portadora II
til

-
Gamela
1111
cromossomosnecessáriaspara o desenvolvimento Trillomia Individuo
equilibrada 21
normal. Podem formar, entretanto, gametas com normal
ou
alteraçõescromossómicas:na meiose, o emparelha-
mento do cromossomotranslocado com os cromos-
somos14 e 21 normais (A) leva à formação de seis
diferentestipos de gametas (8). Após a fertilização
II
x Trislomla
t4

comgametas normais, os conceptos que se formam


podemter cromossomosnormais, ser portadores da
translocação equilibrada ou possuir monossomia ou Emparelha- Gamelas
X
ccncectos
Monollomia
14
trissomia(C) mente na B C
meiose A

apresentar.Assim um quadro sugestivo de uma alteração cromos- enzimas a. b e c sob controle genético. os quatro níveis seguintes
sómica, mesmo não sendo típico. é indicação para que se mostrados no desenho estão representadas as consequências
realize o exame. bioquímicas do bloqueio da atividade da enzima C, bloqueio
As alterações do, cromossomos sexuais podem trazer qua- es e determinado por um gene C mutante em homozigose.
drosdiversos.em geral decorrentes do desenvolvimento gonadal O efeito dcs: e gene dcfcituo o poderá ser simplesmente a
alterado. A sim. gcnirãíiu com graus diversos de ambiguida- au ência da substância D, caso esta seja obtida exclusivamente
de. arnenorréia primária. esterilidade c atraso no desenvolvi- por essavia metabélica. Isso constitui cxatarnemc o que acontece
mentodos caracteres vcxuais secundários são indicações para no albinismo rirosinase-uegativo tipo I ou OCA-I. curactcri-
o exame. Em meninas. a baixa estatura pode ver a única rnani- zado pela ausência do pigmcruo melânico na pele c Iâncros,
fcsração da síndrome de Turner. que deve ser também uma c corõidc e retina do globo ocular. O defeito decorre de au-
hipótese diagnõstica quando uma recém-nascida tem edema sência total (parcial numa variante chamada OCA-II) de ati-
de dorso de pés ou ve detectou um higroma cístico no feto. vidade da enzima tirosinase. que utiliza a rirosina para obter
A esterilidade. em particular a masculina. pode também precursores da mclaninn. O quadro clínico inclui diminuição
estarassociadaa uma alteração crornossõmica estrutural equi- grave da acuidade visual com nistagrno e ausência de respos-
librada. Entre os casais com abortamento de repetição. a fre- ta normal (pigmeruaçãoj à radiação solar. substituída nos afetados
qüência de alterações equilibradas pode chegar a 10%. por reações inflamatórias e transformações patológicas de
Parao diagnó. rico pré-natal de alteração cromossôrnica são rncraplasia e ncoplusin. Todos esses problemas resultam da
indicações principais: presença de alteração equilibrada em ausência de mclanina (o pigmentação da maioria das estrutu-
um dos gcnitorcs: idade materna avançada, frcqücmcrnerue ras cnccfúlicas, promovida pela ncurornclanina. cuja síntese
acima dos 35 anos: alrcraçôcs felai/> sugestivas de alteração depende de outra enzima, é normal),
cromossõmicn detectadas cm exumes de acompanhamento da Supondo-se, agora, que a substância I) possa ser obtida
gestação;c criança anterior com nltcrnção cromossõmica não- por outras vias, não sucede sua falta, ma' II substância C, só
herdada,apesar do risco relativamente baixo de recorrência. podendo. er mctubolizndn pela enzima (' bloqueada, acurnu-
la-se no organismo. como o que ocorre na ulcaptonüria. Esse
defeito foi corrcturneruc identificndo como um erro inato de
ERROSINATOS DO METABOLISMO mctaboli: mo na publicação original de Archibald Garrod no
São reunidas sob csve nome nurncrosus doenças que resultam início do século XX, como j:l mencionado anteriormente, Nele
debloqueios merabólicov produzidos por defeitos cn/imãticos a ubstância C que se acumula é o ãcido homogentfsico. em
As mutações gênicas. que :.ão ahcruçõcs da seqüência dos núcleo- razão de uma deficiência da enzima oxidase do ácido homo-
tídeos do DNA. podem provocar alterações nas scqüências de gentísico no metabolismo da tirosina. Os sinais da doença incluem
aminoácidosou causar alterações na quantidade das proteínas acidúria homogentísica. ocronosc (pigmentação. por um polímero
produzidas.No casodasenzimas. uma mutação gênica. ocorrendo que se forma naturalmente a partir do ácido homogentísico,
quer nas porções normalmente transcritas do gene e trutural da córnea. cartilagens. tecidos fibrosos. tendões e ligamentos),
quedeterminaa ordem do, aminoácidos na cadeia polipeptídica artrite e. em fases tardias, cardiopatia.
quer cm outras porções ligada« no controle da transcrição do O excesso de C também pode acentuar uma via metabó-
gene,resultarána abolição total ou parcial da urividadc enzimá- lica apenas acessória em condições normais. na tentativa de
tica, fenômeno que se cxtcriorizurã por meio de Ulll bloqueio eliminar o excesso dessa substancia. o esquema da Figura
metabólico c 'lias conseqüências, 30.33. esse desvio está representado pela formação da subs-
A Figura 30,33 representa de maneira csqucrnática lima tância E. O exemplo clássico dessa situação é a feni lcctonúriu,
cadeia metabólica qualquer e as conseqüências possíveis de decorrente de um defeito da cnzlrnn hidroxilase de fcnilnlanina,
umbloqueio cnzimãtico, Na parte superior da figuru cstã repre- que normalmente converte a fcnilalunina proveniente da dieta
sentadaurna via metabólica hipotética A - B - C - D. na qual ou do catabolisrno proteico em tirosina. Como quase toda a
asetapasA·H, B·C e C·I) são mediadas, respectivamente, pelas fenilalanina que penetra no organismo é transformada pri-
306 • Tratado de Clínica Médica

DNA~
,
Gene a

RNAm,
~ Gene b ~ Gene c
I
RNAm. RNAm,
I
~
duzarn metade da quantidade de enzima produzida nos
homozigotos normais, isso não afera significativamente o seu
metabolismo. Em muitos deles é possível, por meio de testes
1 I ! de sobrecarga (semelhantes aos usados em testes de detecção
~ ~ ~ de pré-diabéticos), detectar-se a heterozigosc. Testes desse
Enzima a Enzima b Enzima c tipo são efetivos para a detecção de heterozigotos quanto aos
genes da fcnilceronúria e da doença de Wilson. No caso da
®-I- ®_I_©_I_@ Metabolismo normal
! Aus~ncia de D
fenilcetcnürin. o teste consiste na ingestão de doses elevadas
de Lvfenilalanlna e na medição, a intervalos regulares, dos
@_.:_@-© :~ níveis plasmáticos desse aminoácido, que permanecerão acima
®-®--©©~~ E~ Acúmulo de C dos encontrados em indivíduos normais por várias horas. Na
doença de Wi Ison, caracterizada por uma insuficência de
@@@"""@@",,,,© ~~)( Acúmulo de A e B
transferência do cobre livre (ligado à albumina sérica) para
®-®-@-@ Desvio do metabolismo a apoceruloplasmina (precursor da ceruloplasmina sinteti-
zado pelo fígado) os indivíduos a serem testados recebem
um isótopo radioativo do cobre; são colhidas. a intervalos regu-
Figura 30.33 - Esquema mostrando as principais conseqüências lares. amostras de sangue e separada a fração sérica. A eletro-
metabólicas de um defeito enzimático determinado por genes
Iorese dessas amostras mostra que. em cerca de três horas,
mutantes
a quant idade de cobre radioativo transferido da albumina para
fi ceruloplasmina (localizada na fração das alfa-Z-globulinas)
meiro em tirosina para a partir desse aminoácido ser aproveitada j~ permite distinguir sem dificuldades heterozigotos de indi-
num sem número de passos metabólicos distintos (que in- víduos normais e de afetados.
cluem a síntese das catccolaminas na supra-renal, do hormônio Atualmente, com o desenvolvimento das técnicas de bio-
tireiodiano e do pigmento rnelãnico). cm decorrência do bloqueio logia molecular.já existem métodos de detecção de heterozigotos
da hidroxilase da fenilalanina se acumulam no organismo não só para inúmeros erros inatos de metabolismo como tam-
não só esse aminoácido como também os metabólitos tóxi- bém para várias doenças que não resultam de defeitos enzimáticos
cos obtidos pela via de transaminação, os ácidos fenilpirúvico. e sim de mutações em genes que controlam outros tipos de
fcnilacético e fenil-Iático (substância E). Em casos não-tra- proteínas. como é o caso das hernoglobinopatias.
tados precocemente por dieta pobre em fenilalanina, os afe- Por causa da frequência geralmente muito baixa com que
tados desenvolvem um quadro de retardo mental grave associado ocorrem esses defeitos, é ao mesmo tempo antieconôrnica e
a convulsões e outras manifestações neurológicas e de pouco prática a aplicação de testes na população geral, visan-
hipopigmentação. Todas essas manifestações resultam dos do à detecção de hererozigoros. De uma maneira geral, tem se
níveis elevados de fenilalanina e seus rnetabõlitos por transa- mostrado mais factível aplicarem-se esses testes apenas em
minação, os quais inteferern de maneira negativa nos processos grupos populacionais de risco, em familiares próximos de
de mielinização cerebral. de síntese de seroionina e de for- afetados, principalmente quando se trata de cônjuges consan-
mação de melaniua. güíneos. No Brasil já existem testes padronizados visando,
Quando a via rncrabólica 1\ - B - C - O compreende rea- por exemplo, à detecção de heterozigotos para a doença de
ções reversíveis, o bloqueio dtl enzima C pode resultar em Tay-Sachs, entre judeus de origem européia central (judeus
acumulo, não do substrato c, mas das substâncias A ou B, asquenasi, entre os quais a freqüência de heterozigotos quanto
como se observa na doença de von Gierke (glicogenose hepato- ao gene é da ordem de grandeza de 15%) e de heterozigotos
renal). De fato. nessa condição ocorre uma deficiência da quanto ao gene da anemia falei forme (hemoglobina $) entre
enzima glicose-ô-Iosfatase, responsável pela mobilização da descendentes de africanos. .
glicose fosfatada intracelular para o espaço extracelular. A A detecção de heterozigotos já era possível há algum tempo
conseqüência disso é que a glicose continuamente passada em algumas doenças aplicando-se os seguintes métodos labora-
para o interior das células pela hexoquinasc fica encarce- toriais (entre parênteses são citados alguns exemplos de condi-
rada (em especial. nas células do fígado e do rim) sob sua ções para as quais já 'há possibilidade de testes rotineiros):
forma polimerizada de armazenamento, o glicogênio, Em razão determinação da atividade enzimática ou quantificação de ou-
disso, os aíetados apresentam hepatomcgalia, hipoglicemia tras proteínas (galactose mia, acatalasia, oroticacidüria, hipo-
(assinlomática Ou acompanhada de convulsões). retardo de fosfatasia, hornocistinúria, doença de von Giercke, deficiência
crescimento e atraso da idade óssea, episódios de acidose de glicose-ô-fosfato-desidrogenase, doença de Fabry, distrofia
lácticu grave. xantomas eruptivos, hipercolesterolemia, hiper- muscular progressiva tipo Duchenne. hemofilias A e B. doença
gliceridemia, cetonúria. cetonernia e hipofosfaternia: são com- de Wilson). provas de sobrecarga (doença de Wilson, fenilce-
plicações de instalação mais tardia a gota, nefroparias e o tonúria, hiperlisinernia), cultura celular com medição direta da
desenvolvimento de hepatorna. atividade enzimática (galactosemia, doença de Pompe, acatalasia,
oroticacidüria), cultura celular com pesquisa de metacromasia
(fibrose cística do pâncreas. doença de Gaucher, síndrome de
Detecção de Heterozigotos Chédiak-Higashi) e cultura e clonagem celulares em doenças
Com exceção de uns poucos desses defeitos que possuem ligadas ao X (deficiência de G6PD, síndromes de Lesch-Nyhan
herança autossôrnica dominante ou ligada ao X recessiva ou e de Hunter). Hoje, principalmente nos grandes centros de muitos
dominante, a imensa maioria dos erros inatos de metabolis- países, incluindo-se o Brasil, esses métodos estão sendo gradu-
mo é condicionada por mecanismo autossôrnico recessivo, o almente substituídos por testes moleculares de DNA. Estes já
que faz sentido, uma vez que as enzimas são normalmente são aplicados em condições de rotina no diagnóstico de talassemias,
requeridas em quantidades infinitesimais para exercer sua hiperplasia congênita da supra-renal, fibrose cística, síndrome
atividude caralüica. Em decorrência disso, os indivíduos hetero- do X frágil, hemofilias A e B. doença de Lesch-Nyhan, distrofias
zigotos quanto aos genes que em homozigose determinam os musculares, distrofia rniotônica e anemia falciforme, entre outras
erros inatos de metabolismo são normais, pois mesmo que pro- doenças genéticas.
85·7241·598·X
Princípios de Genética Humana • 307

TRATAMENTO DOS ERROS INATOS DE METABOLISMO rânciu que os ufcrados não conseguem sintetizar) corrige intei-
ramente os problemas metabólicos e impede a virilização posterior,
EDEOUTRAS DOENÇAS HEREDITARIAS
por conduzir a síntese dos esteróides do córtex da supra-renal
Tratamentos dictéricos simples são altamcnre eficientes no tra- aos seus níveis normais; associa-se a essa medida, em meni-
tamento C prevenção de um certo número de erros inatos de nas afetadus que tiveram sua genitálin externa virilizada. a
metabolismo. É o caso, por exemplo. da galaciosemia (defi- sua corrcção cirúrgica. A administração de dosesaltas de cortisol
ciência em galactose-l-fosl'ato-lIridil-transferase), em que os a heterozigotus grávidas que já tiveram uma criança uferuda
afetados não conseguem transformar a galactose proveniente consegue impedir total mente. até o nascimento, o desenvolvi-
dadieta em glicose. Uma dieta com restrição total dos açúcares mento da hipcrplasia da supra-renal c a virilizução da genitália
lactose(dissacarídeo que no intestino delgado é desdobrado cm de meninas.
glicose e galactose) e galactose impede de maneira cspctacu- Outros tratamentos conseguem interferir ao nível da pro-
laro aparecimento dos xinnix da doença. que não tratada pro- teína mutantc não-funcional. Por exemplo. no caso da hemofilia
duz um quadro grave e complicado incompatível com o são aplicadas transfusões ou fornecidos concentrados de fa-
desenvolvimento c ti sobrevivência da criança. Em homozigotos tor V III. A adrn inistração de vitaminas e outros cc-fatores de
quanto ao gene da fcnilccrouúriu clássica. lima dieta pobre ação enzi mática consegue, em cerca de 50% dos aferados pela
em fcnilalanina inst ituída precocemente impede o dcscnvol- hornocistinúria. aumentar satisfatoriamente a atividade catalítica
vimento da doença. A restrição dietética cm fenilalanina não da enzima mutante. Os métodos mail> recentes incluem inter-
é total. pois nesse caso o organismo promoveria intenso Ierência em nível molecular, mas de uma maneira geral estão
catabolismo proiéico para obtenção do aminoácido, essencial ainda em fase experimental, apesar dc jã serem usadosem carátcr
paraa síntese de novas proteína. O tratamento era mantido cmergcncial em algumas patologias. dada a inexistência de
antigamentedo nascimento até o máximo de oito anos de idade. métodos tradicionais que funcionem cferlvamerne. Esses mé-
ocasiãoem que o cérebro humano já está totalmente mielinizado. todos visam a modificar o gcnótipo somático, mediante técni-
A verificação. mail>ou menos recente, de que Ieuilcctunüricos cas que vão do transplante de órgãos (aqui considerada ainda
tratados com a dieta suspensa por volta dos oito anos apre- em fase experimental por causa das inconveniências da rejei-
sentavamdesempenho escolar inferior ao de controles fel. com ção) fi terapia de transferência gênica por meio de verores,
que se tornasse a decisão de manter a dieta por toda a vida do
indivíduo. Isso deixa clara ~,necessidade de um perfeito co-
nhecimcnto da fi~iopatologia da doença para se poder ter u 111
DIAGNÓSTICO PRl-NATAL
tratamentoeficaz. Existem inclusive variantes rara. de fcnil- O diagnóstico pré-natal consiste na aplicação de um conjunto
cctonúriaque não respondem ao tratamento dietético. da mesma de técnicas capazes de veri ficar II saúde c o desenvolvimento
maneiraque seconhecem alguns tipos de hipcrfenilulaninemia do concepto (embrião ou fero) e UI.:neledetectar, quando presentes.
que não necessitam de tratamento. Na doença de Wilson o defeitos e doenças. Alguns métodos permitem a visualização
tratamento associa a uma dieta pobre em cobre (o que é proble- dircra (amnioscopia, Ictoscopla) ou inclireta (ultra-sonografia,
mático,poiso cobre é um micronutrieme presentecm um número raios X) do conccpto e a conseqüente detecção de anomalias
muito grandede alimentos) o uso de agentes qucluntes (pcnici- unatômicas. Outros dependem da obtenção de fragmentos de
lamina), capazesde eliminar eferivarncnte o cobre depositado tecido (biópsia de vilosidades coriônicas), de líquido amniótico
nos tecidos dos afeiados. (amnioccntcsc) ou de allquotas de sangue (cordocentese),
Em alguns defeitos que rcsulmm de respostas anôrnalas a material esse que é colhido para a aplicação direta ou indireta
drogase fúrmacos. como é o caso da anemia hemolítica pro- (após cultivo) de restes bioquímicos (para detecção de erros
duzida por antimaláricos de síntese cm portadores de defi- inatos de metabolismo), moleculares (testes de DNA para a
ciência cm gficose-ô-Iosfuto-desidrogenasc, a suspensão da detecção de genes mutantes) e citogenéricos (estudo dos cromos-
medicaçãoproduz urna remissão do quadro clínico. Esse caso somos e determinação do cariótipo para se confirmar suspeita
e o de outros defeitos mais ou menos afins são estudados pela de aberração cromossômica).
farmacogenética. Além de se deter no estudo de doenças he- A verificação da evolução do ganho ponderai e do aumento
reditárias que modificam o efeito das drogas. favorecendo o da circunferência abdominal e a ausculta fetal já faziam parte
aparecimento de sinais e sintomas colaterais indesejáveis. a de longa data da rotina do acompanhamento pré-natal das
farmacogenética trata tambémde variantes hcrcdirárias deenzimas gestantes: alterações aí detectadas já constituíam evidência
responsáveispela meinboti/ação de drogas e fármacos e da de defeito ou doença no concepto. Atualrnente, mesmo em
re isrência ou suscetibilidadc genética aos efeitos dessassubs- países subdesenvolvidos, já faz parte da rotina obstétrica o
râncias. Algunsdessesdefeitos chegama ser extremamentecomuns acompanhamento elascondições de gestação pela ultra-sono-
napopulação.como é o I::ISodos accriludores lentos da isoniazida, grafia, que já inclui um exame morfofuncional geral do feto.
umadroga usada tradicionalmente no tratamento da tubercu- As demais técnicas referidas no parágrafo anterior aplicam-se
lose.Essesacetiladores lentos ocorrem com freqüência de cerca :I ituaçõcs específicas, em que há risco aumentado de certos
de50%em populaçõeseuropéias c exibem manifestações tóxicas tipos de defeitos ou doenças para o conccpro,
com doses usuais de isoniazida. normalmente inarivada por
um processode acerilação pela enzima acetil-transferase he- Principais Indicações do Exame
pática.A dosagem da atividade dessa enzima permite adequar
a doseterapêutica de isoniazida a acctiladorcs normais (ditos
de DiagnóstiCO Pré-natal
rápidos) e lentos.
Emoutros defeitos ut ilizu-sc Lima terapêutica de subst iiui-
Idade Materna Avançada
ção, comoem casosde hi putircoidismo congênito por deficiência Mães idosa têm chance aumentada de gerar crianças porta-
dehonnônio tircoidinno, que é tratada com a administração ele doras de defeitos cromossôrnicos. em especial as trissornias
tiroxina.Outrosrecursossãodrogas c fármacoscapazesde desviar autossômicas. O efeito está bem demonstrado na síndrome de
oude inibir certas etapas metabólicas. Por exemplo. em casos Down, na qual a probabilidade de um afetado chegar a nascer
dehiperplasia congênitu da supra-renal por deficiência da 11- é muito maior que nas demais trissomias (como as dos cro-
hidroxilase a administração de cortisol (exatamenre a subs- mossemos 13e 18, responsáveisrespectivamente pelas síndromes
308 • Tratado de Clínica Médica

de Patuu e Edwards), cujo efeito é praticurncntc anulado pela número deles. O número de doenças pesquisadas aumenta quando
alta taxa de abortamento espontâneo precoce. De fato. a prin- se considera a possibilidade da aplicação de estudos indiretos
cipal aplicação do diagnóstico pré-natal ainda continua sendo de ligação com marcadores mapeados nas vizinhanças do loco
a idade materna avançada com a finalidade específica de se da doença. De qualquer maneira. existindo o exame, claramente
verificar se o concepto é portador ou não do defeito cromos- está ele indicado nessa situação. talvez a mais importante pela
sômico responsável pela síndrome de Down (em geral. uma grandeza do risco a ela associada.
trissornia simples do cromossomo 21). Quase sempre o exa-
me é indicado para gestantes com 38 anos ou mais, pois esse Portadores de Alteração
grupo de 'mulheres contribui com praticamente metade de to-
dos os casos da síndrome de Down. Se todas essas mulheres se Cromossômica Equilibrada
submetessem a esse exame e optassem pela interrupção da gravidez Numa fração pequena de casais com crianças aforadas por
quando for constatada li rrissomin. a incidência da síndrome de defeitos cromossõrnicos um dos genitores é portador da alteração
Down ao nascimento baixaria de cerca de 1/800 para 1/1.600, cromossómica em estado dito equilibrado. ou seja. sem que
ou seja, a frcqüência de atctados na população seria reduzida redunde em manifestações fcnorlpicas para o seu portador.
à metade da taxa normal de ocorrência. Para se reduzir mais Outros parentes do afetado também podem ser portadores
ainda essa frequência seria necessãrio submeter ao exame, em equilibrados. O tipo de defeito mais comumerue encontrado
condições de rotina, um número muito grande de mulheres, o nesses casos são as trunslocações equilibradas, como as que
que ainda é inviável economicamente. No entanto, mesmo no podem ocorrer entre os braços longos dos crornossornos 21
grupo de mulheres com maior risco. com idade entre 40 e 50 e 14 na síndrome de Down. A verificação empírica das taxas
anos. o risco é por si só baixo. de 4% no máximo; apesar disso. de recorrência nesses casos mostrou que o risco é da ordem
encontra-se cerca de 40 vezes aumentado em relação ao risco de 15 a 20%, quando a mãe é portadora da translocação equi-
de mães jovens. que é da ordem de 111.000. librada e inferior a 5%, quando o portador é o pai. A ordem
de grandeza dessas cifras seguramente indica a aplicação de
Defeitos de Fechamento do Tubo Neural técnicas de diagnóstico pré-natal.
Determinados por mecanismo multifutorial. eles apresentam
um espectro de expressividade clínica que varia da espinha Outras Indicações
bílida oculta ou aberta e dos diversos tipos de meningomielocele A aplicação de técnicas de diagnóstico pré-natal também está
alé defeitos extremamente graves COIllO as encefalocelcs c a indicada cm casos de suspeita de infecção durante a gravidez
anencefalia; estas últimas resultantes de anomalias do desen- capuz de produzir defeitos fetais (como é o caso da rubéola.
volvimento embrionário que comprometem a extremidade cranial s(tilis, citomcgalovirose etc.), no caso de ingestão de drogas
do tubo neural. O risco de repetição desses defeitos na prole com capacidade teratogênica, como a talidomida, em doeu-
de casais que já tiveram uma criança afetada é baixo, da ordem lias maternas de natureza sistêrnica como o diabetes e ainda
de 4%. Corno. no entanto, o defeito pode ser detectado com em casos ele imunização materna, A maioria dos serviços de
segurança por técnicas simples e não-invasivas. como a ultru- diagnóstico pré-natal ainda indica a aplicação do exame em
sonografia. comurnente indica-se o exame para casais que já casos de casais que tiveram crianças portadoras de defeito
tiveram criança afetada. Como na vigência do defeito os ní- cromossômicos: como esses defeitos quase sempre são de natureza
veis de alfa-feio-proteína estão elevados no soro materno e esporádica e o seu risco de repetição é pequeno ou desprezí-
no líquido amniôtico, a dosagem dessa substância (associada vel, em geral da ordem de 1% ou menos, o exame aqui se justi-
à aplicação da técnica da ultra-sonografia) está indicada. No fica para a tranqüilização psicológica que possa trazer aos casais
caso da anencefalia. defeito incompatível com a sobrevivên- nessa situação. Algumas outras situações, no entanto, não jus-
cia do conccpio. com freqüência os casais têm solicitado ii titi ca 111 a aplicação do exame, corno é o caso da consangüinidade
autoridade legal permissão para interrupção da gravidez. que parental. Apesar de o risco de doença autossôrnica recessiva
geralmente é fornecida por meio de um alvará. Dessa maneira. na prole de primos em primeiro grau estar aumentado cerca
além das situações já previstas em lei que permitem a inter- de dez vezes em relação ao risco correspondente para não-
rupção da gravidez no Brasil. vai se abrindo pouco a pouco consangüíneos, o número enorme de doenças possíveis c 11
espaço para aí incluírem as condições de defeitos e mal for- ausência de manifestações detectáveis em condições de rotina
mações muito graves. que diminuem muito a qualidade de vida de muitas delas tornam inviável a aplicação do método, do
ou impedem totalmente a sobrevivência do conccpto. mesmo modo que para a população geral.

Casais com Prole Afetada Principais Técnicas Utilizadas


por Doença Recessiva no Diagnóstico Pré-natal
No caso de doenças autossômicas recessivas os genitores de Muitos serviços de diagnóstico por imagem já se tornaram
afetados são heterozigotos, o que determina o risco alto de repetição proficientes no diagnóstico de defeitos congênitos em exames
(25%) do defeito ou doença numa criança qualquer que venham de rotina durante 9 acompanhamento de gestantes, mas são os
a ler. No caso de doenças ligadas ao X recessivas esse risco serviços de patologia fetal que congregam especialistas na detecção
varia de 17 a 25% nos casos isolados, fixando-se em 25% na desses defeitos. Além da parte relativa ao dian6stico por ima-
situação de casos com recorrência na irmandade ou na família. gem, os serviços de patologia fetal estão aparelhados para a
São conhecidas atualmenre entre 3.000 e 4.000 doenças e de- aplicação das récnicas de que trataremos nesta seção. Nesses
feitos diferentes condicionados por esses tipos de mecanismo, serviços os profissionais prestam esclarecimentos adequados
mas na prática existem testes moleculares que podem ser aplicados aos consulentês sobre todos os aspectos, técnicos, médicos e
em diagnóstico pré-natal cm menos de 10% dessas condições. éticos dos exames. mas é importante que. ao encaminhar suas
A situação ainda é complicada atualrnentc pelo fato de a maioria consulentes para diagnóstico pré-natal, seu médico já lhes escla-
dos laboratórios de biologia molecular capazes de processa- reça de maneira geral em que consiste o método e quais são
rem esses exames erem especializados em apenas um certo suas limitações e riscos associados.
Princípios de Genética Humana • 309

Ultra-sonografia sonografia é usada sistemuticamcntc para monitorar os outros


exames invasivos de diagnóstico pré-natal. como se pode verificar
Trata-se de UIlI método não-invavivo e inócuo que consiste na no e quema da Figura 30.34. em que o transdutor de ultra-
emissão de ondas ultra-sônicas de alta freqüência. cujo refle- sonografia está sempre presente no acompanhamento das téc-
xo (eco) é cuptudo por um transdutor e transfortnudo em imagem nicas de biópsia de vilosidade coriônica rranscervical ou
num monitor, Apesar de depender da pcríciu e preparo do uhru- tranvabdorninal. umniocentese e cordoceruesc. Embora idealmente
souografixta. a aparelhagem COnta com o uuxftio de computa- toda gravidez devesse ser acompanhada pela técnica, consti-
dor capaz de realizar cálculos e medidas em tempo real. tuem indicações de certa maneira formais da ultra-sonografia
Equipamento Doppler a cores acoplado à ultm-sonogrufia permite pré-natal. entre outras. as seguintes:
determinações de fluxo nos vasos do feto. A uüru-sonografia
em duas dimensões roi a primeira utilizada e permite li obten- • Gestações complicadas por vuriuçõc patológicas da
ção de corres tomográficos do concepto com boa resolução. quantidade de Ifquido amniótico. muitas vezes associa-
Atualmcntc está sendo substituída pela ultra-: onografia tridi- das a malformaçôes do conccpro. Assim. o poliidrâmnio
mensional. que possibilita li visualização da imagem em pro- pode indicar a presença de defeitos obsirutivos de tubo
fundidade. inclusive em tempo real. com aparelhagem mais digestivo como a atrcsia do csôfago. enquanto o oligo-
sofisticada. Teoricamente o exame pode ser apl icado com sucesso drârnnio muitas vezes é manifestação de defeitos renais
ti partir da II ~ semana da gestação. uma vez que nessa oca- (síndrome de Potter ou sequência do oligodrâmnio em
sião ti morfologia fetal já c!>tápr •nicarncntc definida e a maio- decorrência de agenesia renal bilateral).
ria (cerca de RO%) das malformações eventualmente presentes • Casais com história de filhos aferados por doença autos-
já podem ser detectadas. A época ideal para a sua aplicação sôrnica recessiva cujos sinais são passíveis de detecção
depende. no entanto. do aparelho ou sistema a ser inve. tigado. pelo exame, como é o caso de várias displasias ósseas
Assim. defeitos de fechamento do tubo neural (espinhas bífidas. (síndrome de Ellis-van Creveld, aplasia de eixo radi-
meningomieloceles e anencefalias) podem ser diugnost icados ai que ocorre na síndrome de Fanconi, forma recessiva
com segurança apenas a partir da 15" semana e til> displasias grave de osteogênese imperfeita) ou os defeitos de vários
esqueléticas. de uma maneira geral. mais tardiamente. a par- órgãos e sistemas que ocorrem na índrome de Meckel-
tir da 18t emana. um exame de rotina rcalizudo num er- Grubcr (microcefalia e defeitos de fechamento cranial
viço de patologia fetal são verificados sistematicamente sinai do tubo neural como a encefalocele occipital, polidadc-
morfológicos indicadores de defeitos crornossômicos. como ti lia, rim policfstlco. onfalocefc); prole de indivíduos
o aumento da translucência nucal. geralmente em razão do adultos aforados por doenças autossômicas dominantes
acumulo de linfa (higrorna cístico incipiente) nessa região e como a acondroplasia c outras formas de displnsia õssca
muito comum nu monossornia X (síndrome de Turner) e nas hereditária.
trissornias autossômicus (sfndrornes de Down. Patau e Edwards). • Antecedentes na família (parentes cm primeiro grau) com
A presença de. se vinal indica a cólera de material do concepto malformações de natureza mulrifatorinl como os defei-
e a realização de estudo cromossômico. Além de ser empre- tos de fechamento de tubo neural já mencionados, fen-
gada no diagnóstico dircro de lima série de defeitos. a ultra- das de lábio ou palato.

8s.72~'-S9H-X

Figura 30.34 - Principais técnicas de


diagnóstico pré-natal, todas monito-
radaspela ultra-sonografia: (A) biópsia
de vilosidades coriônicas por via vagi-
nal transcervical; (8) blópsia de vilosi-
dadescoriônicaspor via transabdominal;
(C)amniocentese; (D) cordocentese ou
punção do cordão umbilical. tr = apa-
relho transdutor
310 • Tratado de Clinica Médica
RS· 7241·59K·X

• Casais com história de filhos ou parentes próximos afe- não haja a necessidade de indicação formal de anestesia local,
tados por microcefalia e outros defeitos de desenvolvi- esta é aplicada com certa Ireqüência para eliminar li dor e o
mento craniano. desconforto produzidos pela punção abdominal. A dosagem
• Antecedentes familiares de hidrocefaliu. principalmente da alfa-feto-proteína, antigamente realizada com frequência
se os afetados forem de sexo masculino e se suspeitar da para O diagnóstico dos defeitos de fechamento do tubo neural,
forma clássica recessiva ligada ao X por estenose con- vem sendo substituída progressivamente pela ultra-sonografia,
gênita do aqueduto de Sylvius. O defeito é pesquisado. pois a capacidade discriminante das apnrelhagens mais mo-
verificando-se a existência ou não de dilutação do siste- dernas é excelente e permite. nus mãos de um profissional
ma ventricular cerebral. urna vez que muitos ufetados experiente. detectar com segurança esses defeitos.
apresentam circunferência crnniana normal ao nascimento. A taxa de conceptos com aberrações cromossômicas (monos-
sornia e outras aneuploidias do cromossomo X. trissornias
Resumiram-se a eguir as principais técnicas invasivas de
autossômicas e casos de mosaicismo) detectadas em material
diagnóstico pré-natal. repre. entadas esquematicamente na Figura
colhido pela técnica da biópsia das vilosidades coriônicas é
30.34. Todos esses procedimentos são rnonitorados pela ultra-
signiflcativamente maior do que a observada usando-se a téc-
sonografiu.
nica da amniocentese. Parte da discrepância pode ser explicada
pela probabilidade de abortamento cm razão de defeitos cro-
Biópsia das Vilosidades Coriônicas mossôrnicos ser maior nas fases iniciais da gravidez, em que
o primeiro método é aplicado.
O exame desse material permite a aplicação de técnicas que
visam o estudo do cariótipo. a verificação do sexo do em-
brião. n aplicação de testes bioquímicos e enzimáticos e a extração Cordocentese
e análise do DNA. Entre a sétima e a II i semana da gravidez A cordoccntese consiste na punção por agulha da veia um-
é possível atingir a margem do côrio frondoso que formará a bilical do feto. proximamente à inserção do cordão na pia.
futura placenta por meio de uma cânula introduzida através centa. Pode ser realizada em qualquer ocasião a partir da
da vagina e do colo do útero. Por meio dela aspira-se o ma- l8l semana da gravidez. No material colhido (de I a 10mL
terial e. com o auxílio de uma lupa esteroscópica, seleciona-se de sangue. dependendo da época da punção e do tipo de exame)
I) material de origem embrionária (vilosidades coriônicas). Nessa
podem er realizado os mais diversos exames, que incluem
época as células das vilosidades dividem-se ativa e esponta- o estudo do cariótipo. a determinação de anticorpos em casos
neamente e é possível obter-se metãfuses para estudo cromos- de suspeita de aloimunizaçâo ou de infecções, testes bioquímicos
sômico dirctumentc 011 após curto período de incubação. Em e moleculares.
algumas situações iiobtenção de material via vaginal trunscervical
é dificultada ou impossibilitada pela ocorrência de vaginite.
anomalias de útero c de canal cervical ou de gravidez múlti- Fetoscopia
pla: opta-se então por atingir a placa coriônica por punção O procedimento. que consiste na inserção de um cateter mu-
transbdominul. que constitui :1 técnica de eleição entre II 11° nido de fibra ópticn na cavidade amniõrica por viu transabdo-
e a 171 semana. ocasião cm que a bolsa arnniórica jlt preen- minal, permite. pela inspeção visual direta do feto, o diagnóstico
cheu totalmente a cavidade uterina. eliminando o espaço vir- de uma série de defeitos externos e de várias afecções congê-
tual livre que permitia o acesso ao cório frondoso sem lesar nitas da pele c anexos. O próprio fetoscópio permite o uso de
as membranas do embrião. Recentemente, essa via estlt sendo acessórios como agulhas com a finalidade de se obterem amostras
usada COIII frcqüência cada vez maior. tendendo li substituir de tecidos fetais. São comumente diagnosticados pela inspeção
lotai mente a via vaginal transcervical. direta proporcionada pelo procedimento defeitos craniofaciais,
de extremidades e até do tegumento; a análise indireta de material
Amniocentese colhido ou biopsiado permite o diagnóstico de defeitos cromos-
sômicos. hcmoglobinopatias, defeitos da coagulação, erros inatos
É a punção transabdominal suprapúbica. por meio de uma longa de metabolismo e um sem número de outras afecções.
agulha conectada a uma seringa. da cavidade amniérica. com O diagnóstico pré-natal oferece a opção de ter filhos para
li finalidade de obtenção do líquido. que às vezes é o próprio casais que evitariam a procriação na ausência do exame por
material ii ser analisado (no caso de dosagem de pigmentos, temerem o aparecimento ou repetição de doença genética em
alfa-feto-proteína e outras substâncias). Geralmente o que se sua prole. Inversamente. no caso de gravidezes não-planeja-
pretende colher são as células que estão suspensas no líquido da de casais em risco. o diagnóstico pré-natal de normali-
por descamação dos epitélios de revestimento externo (fibro- dade do concepto permitirá. na maioria das veres. que a gestação
blastos de pele) ou interno (células originárias dos tratos urinário. seja levada a termo, pois no cômputo geral o resultado do exame
digestivo e respiratório). Como nas outras técnicas que visam afasta a possibilidade do defeito temido.
à obtenção de material de origem fetal. a amniocentese é moni-
torada pela ultra-sonografla. que permite assim li seleção de BIBLIOGRAFIA
regiões em que a cólera do líquido é mais fácil. além de afas- BEIGUELMAN. B. Dilldmka dos Ct"" nas Futnflim ~ II", Itlpulll(6<o•. Ribeir.loPltIlX
Sociedade Bmsileir3'de Gonél' a. 1995.
tar com scgurunça a possibilidades de lesão placentária ou
BEIGUELMAN. U. filf1l1(lcOí/fllilim, S;.'".. II> SIIIIí/I/r"rof f.rlrrorirtlrlos. Riodc Jane-
fetal. O material obtido é concentrado por centrifugação e ro: Guanab:or:o.Koog:ln. 1983.
submetido il CUItUr.1 de células previamente (Is análises citológicas. fUHRMANN. W.: vOGa F. CfII~rl.r/"fil/l,III~IIII('r{"'lIIx.llerlln; SI)ringcrVcrl:og.I98
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ponuguê»: A('(JIutlhummllJ O(l,lIlco. S30 Paulo: I'cdugógica Univen;illlria. 1978.
Como já referido anteriorneme. o exame é realizado II partir GRIFFITIIS. A. J. F.; MILl.ER. J. li.: SlTZUKt. D. T.: LEWONTIN. R. C.: GELBART.
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as demais técnicas de diagnóstico pré-natal. o procedimento JORDE. L !l.: CAREY. J. C.: !lAMSlIAO. M. J.: WlIITE. R. L .11ft/iraiGennics. SI.
Loui,: MO>by. 2003. Vc~ cmponuguê.\: GrnlllmM/diro. Rio de Janeiro: Et5C\1et.
é seguro. praticamente desprovido de riscos e complicações 2()().1.
para a gestante e o concepto. além de poder ser realizado em MCKUSICK. V. A. "'t",Mioll tnheriumr« 111 Mlln (11/,11). Available .1: hnp:lI
consultório. em regime de atendimento ambulatorial. Embora www.ncbi.nlm.nih.govlOmimlscarchornlm.hlrnt.
Principios de Genética Humana • 311

o J T"~R\I"
'1I11 FR, E H""",,, ~1i .... es ''''' y(lfL ~rnn~trVtrIJj!,1000 tico c orientação das doenças genéucav. que já convritucm
I'L'SSlUl\1 R I \1('1'" ~ R ll.\\lu.ARD. II F_THO~IPSO=-. M \\ n.1fflI'11NI & ncsscv lugares, em seu conjunto. a principal cauvn de morbidadc
n.."'V"'.. ', (W, ri I ut 11,.bc ,." I'túbddphu' S.... ndo.'" 111" ,'<f'.a) ern ronu~uê>:
(1<""." II J.. " Jf n.. ''f'''''' .( TIw""",." RIo ti< J_II\' C""",........ ",,'!!.,n. :!CIO:!. e mortalidade no, primeiros e nos último, ano, de vida. Ainda
ano, P C; orro I' A f RCYr-\·PfSSOA. O C"",lIta 1111",<11111' C/II'" 1/.S:.o Paulo: rnaiv. com o desenvolvimeruo vcrtigmovo da .. técnicas de
Ro,. I'I'IM biologia molecular aplicáveis ao diagnõvrico dcsvas docn-
RIMOI~, I) I ('(I'I'()R, J \I ,,\ rRIT/~ R 1_""," '1"'" ","11',,,, '",, o/ "",,/1.. ,,1 çns, o lrucrcsvc por elas aumentou de maneira dcxproporcio-
(i(o,,", I <.I 1... ".1,," ('hur,h,1I L'\ln~,'''''''' 199(,
S<'RI\ I R, r R ,1ll-i\lll)ll, \ I • SI\.W S • VAU I" I) Ihr .1"',"/~,li, /lIII/.III/'"III'';I ..d nada nos lí ltimos dez a \ intc anos. mesmo cm países francamente
011'"'( Nc.. \"tL \I,(i,a .. 11111. 19'J5 subdescnvol vidos.
SlFVI'i'U:-I. \ ( • I) \\ ISO' II (' C (irurrlt' (''''IIIIC'/",~, 1'"I.•d~ll'hi~:L'l'pin~,,". 1~1I1par...c, cm dcxcnvolv irneruo como o I3ra..iI, essn situa-
1971.
STRACII \' 1 lU \I), , I' II""',IN lI,rI(Clllllr(j(",,,, I Nc .. YmL W,k)·1 '''. 1')1)11 ç:l0j~ evi-te. ma' apena-, no grandes centros dov estados mais
\ C"..., em I"",u~u(\ lil'''''" II lIolnlllr" liumanu 1',,,,,.Alc~rc, Artmcd, l1X'2, dcscnvolv ido, cconôrnica c indu trialrnentc. Mesmo assim. em
1111R\t \1' I • \li" \I" M 110" ,III ('h",nuI""'" I '\;... y,,,L Sp",,~rr Vctl.,~. I',)()I ru/ão do~ problema, crónico do ubdcsenv oh irncnto, mui-
\'er"". cm ~,~nlk~ (no' "',,""" lIu""lntll R,l'CorOl<> I'r"o: Soe ,cllade Ilr~,.k,rJ LU' \cn 'çu' de aconselharnento genético \ êern-se. mesmo quando
lIc (ientll,a. I'~I(,
\001-1.1' MUlti \I,,. \ Ci 1I.,n.1n (i, n,,,rl ''''' YorL pnnj:cr\crtJs:. 1'l'I7 \<1'\.10 luc;llt/adn, ncvvcv invejãveis bolsõe .. de progre so. obriga-
cm ponu~u.', V(Xill I. \lOIl"I_\K\. , (, (j,nr"('(I1I1I1II111/11 RIO de Jancsrc do .. a vc ater arnda a evsas etapas de diagnôstico c orientação.
Gu~nJhJI. K'H'!,UII. 11.MI 'e te cupüulo encara-ve isso como expediente de erncrgên-
cia. atcndu-ve de maneira especial ao cálculo de riscos. A parte
de diagnthllcn, clínico e laboratorial específlcos das doenças
genéticas e,uí contida nos exemplos descritos por sistema ou
CAPiTULO 31 aparelho neste tratado. A pane geral ligada a esses procedi-
rnentov c\tá Incluída no outro capítulo desta unidade sobre
genética.

Aconselhamento INOICAÇOES DE ACONSElHAMENTO GENÉTICO


Com pouquí ....irnav cxccçõc . todos 0\ consulcrucs encami-

Genético e Cálculo nhado, para vcrv iço ...de aconselhurncmo genético o fazem
com a fiuulidade de obter infonnnçõcx sobre II existência de
rivco-, gcnér ico- numcnurdos para a "111 prole. Na maioria dos

de Riscos casos. silo eles clI~ai!1normai-, que tivcrum uma (111 mais crianças
ufetndus cujos prohlernuv cnquudrurn-ve numn da, seguintes
curcgorius: retardo mental não-arribulvcl 1:I(11:11nenleII causas,
umhicntaiv: defeito rr,ico lsolado OllnÜII. CIIIII ou 'CIII retardo
Paulo A. Otto mcruul: síndrome. defeito ou doença condrcinnada por mcca-
nismo monogênico (nutovsômico ou ligado no X, recessivo
ou dominante). mecanismo mulufutonal ou nlrcração cromos-
INTRODUÇÃO:o QUE SE ENUNDE sômica. COIII cena Ircqüência \ãn atcndldu' também ca ..ais
convangtlíncov. geralmente vem fdhu' c vem cn\n, de doen-
AQUI PORACONSElHAMENTO GENÉTICO çal> genética, cm :.ua, famíli:,\. o, quuí .. dc ..cjnm ,nfonnnr-se
Apesar do nomc que \ugere de imediato algum tipo de inter- a re~pcilO da c'(Íl>lência de c\cntual' ri,cu\ de doença gené-
\cnção p\icológica. o acon~elhamen(O genético tem por fina- tica, decorrente .. d:l con~angUinidade. cm \ua fUlUra prole.
lidade primária () cálculo dOl>riscol> de repetiçãu de U111a doença Também procuram o~ ser\'içol> de acun'elhulllcntn gcnético
com qualqucr lipo de determinismo genético na prole de um com a linalidade de se informarem ,obre a c\I~léncia de I'i~cos
casal, CJua~e~empre pertencente à famllia ou ao mícleo fami- genético~ aUlllcnl3dos para a sua prole pc"oa .. relativamcnte
liar mab rewito em que ocorreu o afetado. São ainda ativi- idosa!> e indi\'íduos expostos acidental. terapêuticu ou profis-
dades ligada\ de maneira direta ao aconl>elhamento genético ~ion:tlmente a radiações ou a droga .. c fármuco~ com capa-
a trnn\mi\\50 adccluada dc<.Sainfonnação. em linguagem adapHlda cidade mutagênica. Ainda são atendido,. "nalmcnte, pe~soas
ao mcio \ociocconomicoculrural dos consulente ... de modo que adultas ..fctadas ou normais. porém parenle' pr6xima~ de
ela po\,a \er enlendida (da mesma maneira como se explica indh fduo .. portadores de defeito!. supo ..lamcnle gcnélicos ou
como de\ e \er tomado um antibiótico par.! combater um estado heredilário\, c (Iue ~iioencaminhados ao ....cn iço ..com a mcsma
InreCCIO'O), e ° apoHl p"'lcológico que de\e ~er dado 11 famflia finalidade.
no ,cntido de aJud~-la a adotar uma atitude racional a respeito
(da mC\lllll fmmn como ,e explica a um con,ulenle dcwlhes
sobre;1 Ilature/a e u prognchtico dc uma doença. incurável (lU PAPEl DO clINICO GERAL, DO ESPECIALISTA
nno.dingnn\lIc;lda nele ou num filho menor). Nestas duas últimas NIO-GENETICISTA, DO MÉDICO ESPECIALIZADO
ati\ idndc\ (l l11édico de\ c ter IreinamenlO adequado. quer seja EM GENÉTICA Cl(NICA E DO GENETICISTA
um c,pcciull\w ou um generali~la.
Co,tunwl11 \er li\lado\ como elapa, ainda pertinente ... ao
HUMANO Nlo-MÉDICO
acon\clhal11enlO genctico. além da\ li~tada' anteriormente. o EIII ,ituaçõe\ ~illlple!>. como o acon ..elhamcnlo gcnético de
dlugnó\lico da alccçflo ou a \u:, comprovaçã(). Illcdiante a apli- ca\ai\ que lÍ\cram uma criança afetada pela l1índrome dc Down
caçJodc eX:lInc' Clllllplcmcntare, e de laborat6rio quando indi- por trr"Ulllla ,unple, ou uma criança ufetadu por doença
c;ldo~,e a urienwç!1o terapêullca. loC exbtente. Com os progrc. ~o~ aUI<l"ômícu rcce"" a como o albini,mo oculocutãneo ou a
fantásticos da medicina. quc já foram implanlado no~ paíseli fenilcclUnúría. tanto o clínico gcral como o especialista cH-
do primeiro Inll,Hlo, ii realidade é que ()~ diver\()~ e~peci:tlb- nico nilu-geneticbta podem de!>incumbir-l>e perfeitamente do
tas (pediatra, lIellrologi!.l:l. derlll:ttolugi'la etc.) já vêm tcndo acon~clh~ll1Icnttl gcnético do cal>u!. b,M) é extremamente dese-
treinnmento clínico adequado no reconhecimento. diagnós- jável. uma \el que como médico da família ele terá natural-
85·7241-S'l8·X
312 • Tratado de Clínica Médica

mente mais facilidades não só na orientação geral como tam- rio que facilitam muito o diagnóstico diferencial de várias doenças
bém na prestação de auxílio psicológico para ajudar o casal a com mecanismos de transmissão diferentes e à existência de
tomar alguma atitude racional diante da situação. Quando o bancos de dado atualizados sobre essas doenças. de acesso fácil
seu bom senso indicar que ele não está preparado para isso ou pela internet. O melhor desses bancos de dados (OM 1M= Mendelian
ainda simplesmente quando se sentir inseguro ante às com- inheritance iII Mali) é O organizado pelo Professor Victor McKusick.
plexidades da situação. o médico encaminhará o caso para um da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, acessado
serviço de aconselhamento genético ou para um especialista pelo endereço elctrônico http://www.ncbLnlm.nih.gov/Omiml
em genética clínica. com a mesma naturalidade com que en- scarchomim.htrnl. Além de permitir a busca de quase todas as
caminha seus pacientes para parecer ou consulta a um espe- condições patológicas hereditárias conhecidas, esse banco de
cialista em Oncologia. Hcrnatologia etc. dados fornece listas de patologias com vários sinais e sintomas
Os especialistas cm genética clínica são médicos que tive- t!111 comum. introduzidos no sistema pelos usuários. O que faci-
ram treinamento específico no reconhecimento (diagnóstico) lita tremendamente o trabalho de diagnóstico diferencial não só
e na orientação (aconselhamento genético) de doenças com com- para os geneticistas como também para especialistas ou genera-
ponente genético importante. No início. essa proficiência era listas não-geneticistas clínicos.
conseguida exclusivamente às custas de cursos de pós-gra- Carece de fundamento lógico a idéia de que o aconselha-
duação com ênfase nas áreas de genética humana e genética mento genético não possa ser realizado por não-médicos. uma
médica. C0l110 os oferecidos pelas Universidades de São Pau- vez que a arividade em si não envolve diagnóstico por meios
lo (USP). Federal do Paraná e Federal do Rio Grande do Sul. invasivos nem intervenção terapêutica. Tanto assim que no
Mais recentemente, os conhecimentos necessários são conse- Estados Unidos já existe até li figura do especialista em acon-
guidos também por meio de estágios de especialização e re- selhamcnto genético, reconhecida plenamente pela classe médica,
sidência médica. como é o caso dos cursos oferecidos pela da mesma maneira que há muitos anos lá e mais recentemente
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e pela Fa- entre nós já existe a especialidade de psicologia clínica, exercida
culdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de por profissionais não-médicos da área de psicologia. O mais
Campinas. Ainda mais recentemente. li Sociedade Brasileira importante de tudo é que o aconselhador genético tenha um
de Genética Clínica vem outorgando títulos de especialista a bom treinamento em genética humana e esteja arualizado quanto
profissionais da área médica aprovados cm concursos realiza- aos aspectos gerais da patologia em pauta para ser capaz de
dos periodicamente com essa finalidade específica. orientar os afetados e suas famílias com segurança. Esse assunto
Com a melhoria das condições médico-sanitárias que se vem sendo debatido de maneira emocional já há bastante tempo.
observa mesmo em países subdesenvolvidos e em desenvol- com conseqüências injustas para o pessoal não-médico ligado
vimento. por outro lado. mesmo os especialistas não-geneti- à especialidade; de fato. além de haver sido criada por esses
cistas vêm se defrontando cada vez mais com casos de doenças profissionais, por muitos anos ela foi não apenas exercida corno
genéticas. Em futuro relativamente próximo o especialista clínico também desenvolvida por pessoal ligado à área básica de pes-
não-geneticista deverá receber treinamento adequado para lidar quisa. Só mais recentemente é que a atividade de genética médica
com as doenças genéticas de sua área, ficando apto a acompa- e clínica foi reconhecida como importante pela própria classe
nhar pelo menos boa parte dos casos que acontecerem dentro médica, adquirindo .\'/(1//,1.1' de especialidade médica e trazendo
de sua clínica. o que já acontece há algum tempo com espe- como conseqüências situações conflituosas de interesse. O autor
cialistas cm Neurologia, Pediatria e Ortopedia (apenas para deste capítulo, que trabalha em serviços de aconselhamento
citar algumas especialidades) formados em boas faculdades genético desde os anos de internato médico do final do curso
dos grandes centros brasileiros. de medicina (J 968). jamais vivenciou pessoalmente algum
Em geral, as especialidades médicas concentram-se em gru- problema realmente sério ligado a isso. No Departamento de
pos ou subgrupos de doenças cujos denominadores comuns são Biologia/Genética do Instituto de Biociências da USP trabalha
os aparelhos e sistemas (como no caso da otorrinolaringologia, desde 1972 num serviço de aconselhamento genético. no qual
oftalmologia, dermatologia ctc.) ou a idade ou o sexo dos afctados médicos e biólogos convivem em perfeita harmonia. Esse serviço
(pediatria, ginecologia ctc.) ou ainda circunstâncias especiais nunca deixou de contar, em sua equipe de atendimento, com
como a gravidez c a infertilidade (obstetrícia e clínica de repro- médicos altamente trejnados em genética médica, a maioria
dução e infertilidade). Muito raramente as especialidades são dos quais com pós-graduação e doutorado na especialidade, e
agrupadas pelo modo de ação ou transmissão do patógcno: elas- com biólogos. muitos dos quais chegaram a adquirir profi-
sicamcmc, isso ncontccia com as doenças tropicais ou exóti- ciência invejável no lidar com certas patologias, a ponto de
cas. quase sempre de natureza parasitária, e com as doenças serem reconhecidos por especialistas médicos, como é o ca. o
infecciosas; o agrupamento aqui se justificava pelo fato de essas de distrofias musculares. retardo mental e surdez não-sindrômica,
doenças possuírem prevalência populacional elevada e serem áreas nus quais o serviço é considerado centro de excelência.
reconhecíveis com facilidade. pois apresentam uma série de sinais É óbvio que se sabe de abusos ocorridos esporadicamente aqui
e sintomas típicos em comum. A especialidade Genética Clíni- e ali, por exemplo. raros casos de geneticistas não-médicos
ca. que a princípio trata de um grupo heterogêneo de doenças que se arvoram em searas clínicas ou de médicos que prati-
pertencentes a várias especialidades clínicas clássicas, aglutina CIlI11 a especialidade sem nenhum conhecimento técnico do
em si o estudo de condições cujo único ponto de contato é a assunto. simplesmente porque se julgam com direito de fazê-lo
causação C'doenças de origem genética") ou o modo de trans- por serem médicos. No entanto, esses raros casos pouco a pouco
missão ("doenças hereditária. "). quando este ocorre. O fator vão sendo coibidos pela censura interpares e pelo policiamento
complicantc disso é a freqüência. em geral insolitamente bai- das sociedades e órgãos de classe. tanto de médicos como de
xa. com que ocorrem essas doenças ou defeitos. Isso faz com biólogos e de outros profissionais não-médicos da área de saúde.
que mesmo o especialista em Genética Cllnica seja obrigado
constantemente a se envolver com problemas intermináveis e
.
QUANDO. COMO E PARA ONDE ENCAMINHAR
cada vez mais complicados de diagnóstico di ferencial, Nos últimos
tempos esses problemas vêm se minimizando por causa da massa CASOS PASSiVEIS DE ACONSElHAMENTO SENlTICD
crítica já relativamente numerosa de especialistas, à prolifera- Quando desconfiar da participação de fatores genéticos num
ção cm ritmo frenético de exames especializados de laboratõ- caso qualquer para cuja orientação se sentir despreparado ou
85· 724t·59S-X
Princípios de Genética Humana 8 313

~ inseguro. I) médico deverá encaminhar a fum(lia para um ser- tadual de Campinas (Campina, - SP); Serviço de Aconselha-
~ viço de nconsclhnmcruo genético ou para um especialistu cm mento Genético. Departamento de Genética. Instituto de
~ genética clínicu. como já mencionado superficiuhucntc. Como Biociências/Faculdadc de ledicina. Universidade Estadual
~ se costuma fuzer no cncarninharncnto adequado de pacientes Paulista (Botucatu - SP): Setor de Genérica Clfnica, Hospital
~ :Iespecialivtav para parecer ou algum exame especializado. é das Clínicas de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo
desejável que a família receba do vcu médico. antes da consulta (Ribeirão Preto - SP).
com o geneticista. um relatório vobre o caso. incluindo a suspeita
clínica e um sumário dos exames e procedimentos já realiza-
do . Apesar de a situação haver melhorado bastante nos últi- RISCOS DE RECORRINCIA EM SITUAçDES SIMPLES
mos anos. os serviços de genética médica e aconsclhameruo Entendem-se aqui por sirnplc-, :I., vcguintes situações:
genético (principalmente (l\ de natureza mais pública) ainda
• Cavo- de ocorrência isolada (ou seja. sem repetição na
costumam reeeber com certa Ireqüência encaminhamentos
família) de doenças diagnosticadas correta e sabida mente
umãrio- contendo. quando mui 10. apcua- a indicação "xínd-
determinadas por qualquer um dos mecanismos seguin-
rorne genética a esclarecer".
tes: monogênico (recessivo ou dominante, auiossômico
Multo-, serviços de aconselhamento genético, tanto no Brasil
ou ligado ao crornossorno X). mulufatorial e crornossô-
C0l110 no exterior. coruinuum ligado:. a Departamento uni-
mico. Os consulcnrcs que se enquadram nesta e na cate-
vcrsitárk». em geral de Faculdades de Biologia. Biociências,
goria listada a seguir !tãncasais normaiv que tiveram crianças
Biornédicav ou afins. que funcionam independentemente de Fa-
afcradas: indivlduos afcrados: e parentes próximos de
culdades de Medicina ou de Hospitais Universitários. Muitos
afetudos,
serviço de genética clínicu ou médica que funcionam liga.
dos a Faculdades de Medicina e Hospitais Universitários fo- • Casos de ocorrência fumilial (ou seja. com repetição na
fnmílin) de doençasdiagnosticadas correta e sabidamente
ram fundados por espccinlisurs em Genética Humana e Médica
dctcrrni nadas por li Lialqucr u 111 dos mecanismos meneio-
não-médicos ou por médicos que tiveram seu rrcinarnento na
nados no item anterior; ou doenças não diagnosticadas
especialidade apenas por cursos de pôs-graduação em insti-
ou desconhecidas. mas que não deixam dúvidas, por meio
tuições não-médicuv, Tudo i-so .; ex pi icudo pelo fato de quase
de eu padrão de segregação no heredograrna da famí-
toda a pesquivn bá'lea na (ln:11 haver se originado nessas últi-
lia. acerca de seu mecanismo de transmissão.
I11n~instituiçõc v, oricntudu por pcsquisudures profissionais.
• Casos de cusais consangüíneos, geralmente primos sim-
os último tempos. ti vuuuçâo vem se profissionalizando cada
pies em primeiro grau, sem filhos afctndos e qua e cm-
VCl mais (tanto no evtcnor como no Brasi I). de modo que prari-
pre sem parentes próximos aferndos. que procuram
camente todos 0' \en IÇO' não ligados de forma direta a Facul-
orientação quanto à existênciu de rivcov genéticos para
dndes de Medicina ou a ho pilais possuem. em suas equipes.
médicos com treinamento em genética clínica. os quais iruera- a prole. decorrentes apenas da cun'ang,Uinidade.
• Caso ... de pcwouv rcluriv umcntc Ido,a,. que devcjum
gem com os demais prufissionais do serviço. especialista não-
informar- ...c vobre a cxivrência de riscos genéticos de-
médicos em ciiogcnéticu. biologia molecular ou cálculo de
pendentes da idade para a sua prole.
riscos. por exemplo. '(l\ btados Unidos. com frequência cs ..cs
serviços encontram-vc duplicados nas Universidades. encarte- Não serão trtuudus aqui outras situações igualmente sim-
gando-sc o.. diretamcnte ligado, a departamentos médicos de pies. mas que são relativamente raras, como exposição aci-
casos rotineiros ~elll mtcre ......
e de pevquiva básica e de casos dental ou profissional a agentes muragênicos ou teratogênicos
aos quais intcrcssu a cxpcrimcntnçâo c IIn iça c terapêutica. cn- químicos e físicos. Essas e outras situações são tratadas com
quanto os ligados ti departamentos de pesquisa básica em genética algum detalhe em obras padronizadas e livros-texto sobre genética
recebem prioriturnuucntc casos COI11 interesses acadêmico e clínica e médica ou sobre aconselhamento genético como os
científico. listados nas referências bibliogrrificns,
A Sociedade I3rasileira de Genética Clínica disponibiliza
em seu sirc (huJ)://ww\\'.sbgc.org.br/) Iistus de serviços de acon-
sclhamcnro genético e de espccialistus em genérica médica e RISCOS PARA IRMAos DE CASOS ISOLADOS
clínica. Estão listados. a seguir. ulgun-, desses serviç(ls loca· DE DOENÇAS, SINDROMES OU DEFEITOS
lizados no Est;!do de São Paulo e citado~ por Rrunoni'. Na CONDICIONADOS POR MECANISMO MONOGINICO,
maioria desses serviço), a\ eon ...ult;!s sào ll1:lrcllcla~por telefone MULTlfATORIAl OU CROMOSSOMICO
e os consulcnte~ ou pJ'ofi~\i()llai:. que os eSlivt!I'\!1IIenc.:ami·
nh:lndodc\erfio.j:í m:,~a oc;a,ifio. furnel:er informações sumárias Apesar de constituir a situação de compreensão menos intui·
~obrc!O ca,o. incluind(l li :-.u~peita diagn6stica e os exames tiva e mais complicada. é a mail, comum na prátic;l do acon·
olicitad()\ (I"tl é importanle porque já existe um certo grau selhamento genético. Por is~o ~e começará por ela. mostrando.
de e~peclahtaçào dentro de cada l.en·iço). São ele!>: Centro de maneira o mais intuitiva e informal pOl.sível. corno :.fio eMi·
de E tudo, do Genoma lIumano. reunindo os serviços de mado. o~ ri~cos de recorrência na prole de casai~ normais que
aconselhamento genético do Laboratório de Genética Hu· tÍ\eram urna c;riança afetada i\olada.
mana. Unidade de Acon~elhamento Genético e Laboratório
de Genética Molecular Humana (Departamenlo de Biologial
Genélica do In),tituto de Bil)ciência~ da Universidad~ de Sfio
Mecanismo Monogênlco
Pauloem São Paulo - SP); Unidade de Genética Clínic;!. Inst ilUto Ás d()enças ll1onogênicas são dctenninadas por genes que ocorrem
da Criança. Ho'pital de Clínic.:as da Faculdade de Medicina. na população em freqüências qua:.e sempre muito baixas, uma
Uni\'erl>idade de São Paulo (São Paulo - SP); Centro de Ge· vez que em se tratando de doenças, promovem de maneira
nética Médica da Escola I'aulbt:t de Medicina. Universidade direta ou indireta uma diminuição do de. empenho reprodutivo
Fedemlde São Paulo (Sfio Paulo - SP): Dcpanamento de Genética. dos afelados e o conseqUenle bloqueio ou diminuição da trans·
Hospital de Lesões Labiopalawis, Faculdade de Odontologia, missão do gene patológico (em geral referido como mutante,
Univcr~idade de São Palllo (BtluJ'u - SP); Departamento de para contra~tá·lo COI11 () alclo l1ormal). Ch;llllando de s essa
Gcnélictl. Faculdade de Ciêncius Médicas. Universidade Es· diminuição relativa (qlle em genética recebe o nome de coe·
314 • Tratado de Clínica Médica

ficicnte de sclcçâo). a Ireqüência da doença ao nascimento. a rida num dos gumetas que os originaram. Geralmente não existe
cada geração. acaba se fixando numa taxa muito baixa que risco aumentado de repetição da doença na família quando
resulta do equilíbrio entre as forças OpOS1:1Sda introdução de essa situação se configura e a doença tem pcnctrância com-
atelos recém-murado por geração e da sua eliminação por pleta (significando que todo) os hctcrozigoros Aa são afeta-
seleção negativo dos afetados. dos); quando" pcnetrância é incompleta. o risco de repetição
Quando se traia de uma mutação autossôrnica dominante da doença num futuro irmão de afcrado isolado é R = K (1-
que impede o seu portador de se reproduzir. a freqüêneia da K)/2, em que K é o valor da taxa de pcnctrância do gene. Não
doença ao nascimento fixa-se num valor igual a duas vezes a é muito complicado deduzir-se esta última fórmula, pois o
taxa de mutação do gene (2u), ou seja, somente nasce afetada gene presente no afetado e responsável pela doença ou foi
uma criança que recebeu o gene recém-murado no espermato- transmitido por um dos progenitores hctcrozigoto não-pene-
zóide (com probabilidade u) ou no óvulo (com a mesma proba- trante ou originou-se de mutação ocorrida num dos garnetas
bilidade II) que a originaram. Em casos em que a doença apenas que o originaram. Como um heterozigoto normal só pode sê-
diminui o desempenho reprodutivo de seu portador. o que resultará lo por haver recebido um gene (com probabilidade meio) não-
em ter ele. em média. número menor de filhos do que um indivíduo penetrante (com probabilidade I-K) de qualquer um de seus
qualquer. em a mutação. a frcqüência da doença na popula- progenitores também hetcrozigotos normais ou de haver re-
ção fixur-sc-á num valor determinado pelo equiHbrio entre a cchido uma mutação recém-ocorrida no gamera paterno ou no
quantidade de mutações introduzidas por geração na popula- materno que (l originou (probabilidade 211), também não pe-
ção (quantidade que é dada cxatnmcure pela taxa de muiaçâo netranrc (probabilidade I-K). Portanto. P (het.ul] = 2 x P (hel,lIl)!
do gcne. que possui ordem de grandeza irrisória. entre IO·~e 2 x (I-K) + 211 (I-K), do qual se tira que P (het] = 2u (1-
I()'~) e a total de genes eliminados por geração: se o desern- K)/K. Se existe um afetado na prole do casal, isso pode ter
=
penho reprodutivo dos afetados é 'I' 1-.\' em relação ao' não- acomccido de duas maneiras: (I) o pai ou a mãe são heterozigotos
aferados, a chance de eliminação do ufctado é I-II' = s. Ora. não-penetrantes, transmitiram o gene ao filho e o gene pene-
com raríssimas cxceções. os aferados por doenças autos õmicas trou: (2) o pai e a mãe não são heterozigotos mas ocorreu
dominantes são hcterozigotos. De fato. homozigotos só pode- mutação num dos garnetas que originaram o filho e, por fim,
riam surgir. e ocorre se mutação cm ambos o gemeras que o alclo murado penetrou. As probabilidades conjuntas asso-
os originassem a partir de genitores não-afetados ou da união ciadas aos eventos (I) e (2) são respectivamente 2 x 2u (1-
de 11m gamem com o gene patológico produzido por um afetado K)/K x 1/2 x K = 211 (I-K) e II - 211 (I-K)/K]z x 2u x K -
mais um gamem murado produzido pelo parceiro normal. ou 2uK. A probabilidade favorecendo a hipótese de que um dos
ainda de gumcras com o gene deletério produ Lidos por Ul11 gcnitorcs é hererozigoto não-penetrante. dado que tem um Ii-
casal de afcrados: e a probabilidudc OC ocorrência ao acaso de lho ufetado, fica sendo então P (hellfilho afetado) = 2u (1-
cada uma dessas situaçôos é absoluuuncntc dcsprczfvcl. Cada K)/12/1(I-K) + 2/1KI = (I-K). Logo. o risco de que nova criança
vez que 11111desses aforados hctcrozigoros é eliminado por sclcção que o casal venha a ter nasça igualmente afctada reduz-se real-
(na taxa dc um afetudo por N indivíduos da população) está mente ti R = K (I-K)/2, onde (I-K) é a probabilidade de hetc-
ocorrendo eliminação de um gene deletério A. na taxa de um rozigosc para um dos genitores.vueío é a chance de transmissão
gene em relação aos 2N genes da população: disso tudo resulta do alelo patológico e K é a probabilidade deste penetrar, uma
que. se a frcqüência de afctados hctcrozigotos ao nascimento vez transmitido.
é .r = N,jN c se a intensidade relativa de seleção deles é s. a Esse risco é de no máximo 12.5%. valor que corresponde a
taxa de eliminação de genes A por geração é s.ifl. Em equi- uma taxa de penetrância K = 0,5: como essa taxa é na realidade
líhrio (corno acontece com populações relativamente antigas), quase sempre alta, da ordem de 80 a 90% ou mais, o riscode repetição
II = ,rx/2. de modo que a frequência de afctados ao nascimen- tende a ser baixo, 8 a 5%, ou menos. Quando o afetado tem irmãos
to numa população qualquer é x = 2uh, que se reduz ar = 2/1 normais, esses riscos são evidentemente menores. como se cons-
quando .1' = I (indicando que o gene é letal e que nenhum tata da inspeção da Figura 31.1 e da Tabela 31.1, que mostram
ufcrado consegue se reproduzir). O importante disso tudo é riscos aplicáveis na situação em que o aferado isolado faz parte de
que a ordem de grandeza da incidência das doenças autossômicas uma irmandade com II <variando dc zero a seis) irmãos normais.
dominantes e dos genes que as determinam é uma quantidade A situação é similar no ca O de doenças dominantes liga-
lnsolitamcnte baixa. quase da ordem da taxa de mutação do gene. das ao cromossorno X. Comurncnte o quadro clínico de indi-
lsso tudo explica o fato de que, na maioria das vezes, os víduos de sexo masculino afetados (hernizigotos quanto ao
afetatlo, por doenças autossômicus dominantes são casos iso- gene) é muito grave ou me mo letal. ao contrário das mulhe-
ladr» em suas famílias. sendo o resultado de mutação ocor- res hctcrozigoras quanto ao gene. que apresentam, em geral.
quadro clínico brando. quando comparado às manifestações
em homens hemizigotos, Quando o caso é isolado numa fa-
0.12 rnília, mormente quando se tratar de um afetado masculino, é
quase certo que a ocorrência deveu-se a uma mutação recém-
0,1
ocorrida num gameta parental.
0.08 No caso de doenças recessivas ligadas ao crornossorno X.
R
0,06
a frequência do gene na população é também mantida em
taxas muito baixas, próximas ao valor de sua taxa de muta-
0,04 ção. De fato, para sua frcqüência aumentar sistematicamente
0.02 na população seria ncccssãrio que esse gene fosse transmi-
tido dc geração a geração apenas por mulheres heterozigotas
normais, mas a chance de isso acontecer é pequena, porque
0,2 0,4 0,6 0,8
K toda vez que uma mulher hcterozigota tem uma criança. há
uma probabilidade igual a um quarto de que essa criança
Figura 31.1 - Riscosde recorrência (R)de doença autossômica do- seja um menino hemizigoto quanto ao gene deletério, que
minante com peoetrância incompleta em função da taxa de penetrância sofrerá scleção intensa. Como a eliminação do gene dá-se
(K)e do número n (0.....6) de irmãos normais do afetado exclusivamente por meio de indivíduos afetados de sexo mas-
Princfpios de Genética Humana • 315

culino e um terço do .. crornossomos X da população estão


TABELA 31.1 - Riscosde recorrência(R) de doença
em indivíduos de sexo mnsculino (numa população em que autossômica dominante com penetrância incompleta em
fêmeasXX e machos X Y ocorrem em proporções quase iguais). função da taxa de penetrância (K) e do número n (0..... 6) de
é fácil constatar-se que a eliminação de indivíduos alctados. irmãos normais do afetado
SX. corresponde à eliminação de um terço dos genes deleté-
n
rios contidos na população total: é intuitivo. portanto, que
nesse caso 1/ = ~x13 e .r. a freqüência de afetados ao nasci- K O 1 3 4 5 6
mento na população geral. reduz-se a 31//.1', expressão essa 0,00 0,000 0,000 0,000 0.000 0,000 0.000
0.000
que se iguala a 3/1 quando .1' = I (numa doença letal ligada 0,10 0,045 0,045 0,045 0,044 0,044 0,044 0,043
ao X, como é o caso da distrofia muscular dc Duchenne). 0,20 0,080 0,078 0,076 0,074 0,072 0.070 0,068
Ainda nesse caso letal. como a Ircqüência da doença ao 0,30 0,105 0,100 0,094 0,088 0,082 0.076 0,070
nascimentoé 31/e /I é a probabi lidade de ocorrência da mutação 0,40 0,120 0,109 0,098 0,087 0,076 0,066 0,056
no cromossomo X que um menino recebe de SIHI mãe. con- 0,50 0,125 0,107 0,090 0,074 0,060 0,048 0,038
clui-sc que um terço dos casos da doença é o rcsulrado de 0,60 0,120 0,095 0,074 0,056 0,041 0,030 0,022
mutaçãonova: nos dois terços remanescentes o gene mutante 0,70 0,105 0,076 0.054 0,037 0,025 0,017 0,011
é herdado de mães hererozigotus clinicamente normais. No 0,80 0,080 0,052 0,033 0,020 0,013 0,008 0,005
casogemi em que \ é diferente de 11m,a frcqüência da doença 0,90 0,045 0,026 0,015 0,008 0,005 0.003 0,001
~ ao nascimento fixa-se em 3111s.com lima frnção II resultando 1,00 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
~ de mutação nova: a chance de um caso isolado qualquer ser
1, o resultado de mutação nova reduz-se, logo, a 1I1(3111s) = s13:
~ a quantidade complementar (3-s)13 indica a probabilidade Tamb~J11no caso de doenças produzidas por mecanismo
oe> de O casoser herdado. Por exemplo. no caso da distrofia muscu- autossômico recessivo, elas ocorrem na população COlll fre-
lar de Becker ou da hemofilia por deficiência do fator VIII. qüência muito baixa. pois em equilíbrio /I = s.x. em que x,
o coeficiente de seleção dos afetados foi estimado em cerca como nos casos anteriores. é a incidência da doença ao nas-
de 30%. As chances de um caso aparentemente isolado des- cimento. Como cada vez que um indivíduo aa é eliminado
sasdoenças ser o resultado de mutação nova nu haver sido (em relação aos N indivíduos da população) dois genes a são
herdadosão.respectivamente. 10 e 90%. Essasci lras. no entanto. retirados do total de 2N genes da população. a quantidade S.x
aplicam-seformalmente apenas nu situação em que não existe é tanto a taxa de eliminação de indivíduos {/(I como de genes a.
informação alguma sobre os ascendentes diretos do aforado. Uma população na qual ()~ ca-amcmos ocorrem ao acaso
Quando existem essas informações. sabendo-se que não fo- equivale li uma população cujos indiv íduo-, resultam da com-
ramencontrados afcrado .. entre os seus ascendentes dirctos, binação ao acaso entre os garnctas produ/ido, por indivíduos
o gene. na hipótese de haver sido transmitido ao afctado. o de sexos opostos, Assim. se a Ircqüênciu do gene autossômi-
foi exclusivamente por meio de mu lheres heterozigotas. Nesse co A for p e a de seu alelo (/ for q, estas serão cxatamcrue as
caso.aplicam-se as cifra, correspondentes a genes letais, um frcqüências com que ocorrerão espermatozóides e óvulos
terçoc dois terços.Tomando como exemplo outra vez a distrofia produzidos na população. Disso resulta que as probabilidades
muscularprogressiva de Duchcnnc, quando nasce de um casal de se formarem indivíduos AA. Aa e aa são. respectivamente,
umacriança afetada. caso único nu família. o risco de repc- p', 2pq e q', Quando se tratar de um loco do X, os indivíduos
tição numa próxima criança do casal é 213 x 114 = 1/6 ou de sexo masculino ocorrerão exatamcnte nasfreqüências gaméticas
cerca de 17%. Se já existirem na irmandade do afetado n p e q. ao passo que os genótipos femininos AA, Aa e aa ocor-
meninosnormais. a probabilidade favorecendo a hipótese de rerão nas proporções 1/. 2pq e q', tal qual se tratasse de um
mutaçãonova aumenta e o risco de repetição diminui. De fato, autossorno. Voltar-se-ti agora às expressões que descrevem
sea freqüência de afetados na população, no caso da distrofia o equilíbrio entre as forças opostas de mutação e seleção. e
de Duchcnnc, é 311 e dois terços desses casos são herdados que são dadas respectivamente para os casos aurossôrnico
(com probabilidade 1/2 de mães hctcrozigotas). li chance de dominante. ligado ao X recessivo e auiossômico recessivo
uma mulher qualquer da população ser heterozigora é 213 x por II = = =
sxl2. u .u13 e /I SX. No primeiro caso x é igual
311 x 2 = 411. A ocorrência de UI1l afctado e 11 meninos nor- a 2pq: no segundo, a o; c no terceiro. a q', Portanto, essas
mais na prole de uma mulher qualquer pode ncourcccr sob três fórmulas podem ser reescritas como spq - sp, sql3 e sq',
ashipótesesde ser ela hctcrozigotn ou não. Para que o evento Evidentemente essasquantidades todas são da ordem de grandeza
ocorrana primeira hipõtcsc. é preciso que a mulher seja antes
de mais nada hererozigotu (probabilidade 411) e transmita o
alelo recessivo ao afetado (com probabilidade meio) e o alelo TABELA 31.2 - Probabilidades de heterozigose [P(het»)para a
normal a seus n meninos normais com probabilidade (112)". mãe de um afetado isolado por doença recessivaligada ao
Na hipótesealternativa é preciso que ela não seja hererozigota cromossomoX e risco de repetição da doença (R) num próximo
(probabilidade 1-411). que ocorra mutação no gene que ela irmão do afetado, em função do número n de irmãos normais
transmita ao filho que virá a ser afetado (probabilidade II) e que ele já tem
quetransmita o alelo normal ao: n meninos não-afetados (com n P(het) R
probabilidade" = I. uma vez.que ela é hcmozigota normal
sob hipótese). As probabilidades a favor de ser a mulher O 0,667 0.167
hererozigota ou não. dado que tem um filho aferado e n me-
1 o.soo 0.125
ninos normais, estão entre si assim como os produtos 411. 2 0,333 0,083
3 0,200 0,050
=
(112)""= 211 (112}"('(I ./11).11.1 11.4111_ u.;\ probabilidade
4 0,111 0,028
descreia hctcrozigora reduz-se então a P (1/eI) = 2. (112)"1
5 0,059 0,015
f2. (112)"+ II. Esxaexpressão toma o valor dois terços quando
6 0,030 0.008
II=OejácaiparaP(heIJ= =
1/2 quando 11 /.Outrosvalores
7 0,015 0,004
sãomostradosna Tabela 31.2, juntamente com os riscos de re-
8 0.008 0.002
=
petiçãona irmandade do afctado. obtidos de R P (heu.l/«,
316 • Tratado de Clínica Médica

da taxa de mutação. fazendo com que tanto p como q/3 tam- padrão é tão complexa que não se sabe até hoje quantos loco
bém sejam quantidades insolitamente baixas: por isso é a intervêm na determinação de traços fáceis de serem averigua-
chance de um caso qualquer de doença dominante ou recessiva dos. como é o caso do peso e da altura das pessoas. As com-
ligada ao X ser o resultado de mutação nova é sempre muito plicações ligadas a características patológicas multiplicam-se,
alta. Já no caso autossôrnico recessivo os afetados que são pois elas ocorrem com frequência baixa 1111 população e os
eliminados ocorrem na taxa q', que também quase sempre é fatores não-genéticos ligados à sua determinação não são óbvios
uma quantidade insolitamente baixa: mas a frequência do gene como no caso de características normais (por exemplo, O peso.
q é relativamente alta (da ordem de I % para uma taxa de afe- onde a intervenção, na condição de fator ambiental, da quan-
rados da ordem de 1/10.000 = 1% x 1%, de modo que para tidade e qualidade da comida, é clara). Em decorrência de tudo
essa freqüência de ufetados (1/10.000) espera-se que existam isso, de data relativamente distante para cá lança-se mão de
= =
cerca de Lpq 2(/ (I-q) - 2(/ 2% de heterozigotos normais, riscos calculados empiricamente. Por exemplo, para se conhecer
porém. portadores do gene patológico na população. Quando o risco de repetição de casos de lábio leporino em irmandades
na prole de um casal qualquer surge um afetado por doença com um afetado isolado verificou-se simplesmente, do total
recessiva é muito mais provável, portanto, que os genes em de irmãos nascidos após o caso índice. quantos eram portado-
homozigose do afetudo lenham sido transmitidos por hetero- res de defeito igualou similar. Procedendo-se dessa maneira
zigotos do que lenham (um ou ambos) se originado por mutação cm relação a várias condições mulrifatoriais conseguiu-se de-
nova. Isso explica o risco de repetição de 25% que se aplica terminar com precisão esse risco de recorrência, que já se sabia
sempre que ocorre um caso de doença recessiva na prole de ser baixo ou pelo menos não muito alto para muitas condições.
um casal normal. Esses riscos são comumcntc listados em livros-texto. dos quais
foram selecionados os constantes da Tabela 3J .3. Excepcional-
mente esses riscos são superiores a 5%, a rnaiorja concentran-
Mecanismo Multifatorial do-se na faixa de 2 a 4%; as condições listadas com riscos maiores
No chamado mecanismo ruultifatorial () traço fenotípico é que esses geralmente são heterogêneas, incluindo uma propor-
determinado pela ação conjunta e integrada de fatores gené- ção de casos de determinação rnonogênica com riscos bem superio-
ticos c ambientais. Os fatores genéticos estão aqui represen- res às taxas mencionadas arueriormente.
tados não mais por um par de alelos com relação de dominância
ou co-dominância. mas sim por um sistema poligênico, ou
seja, por um conjunto de genes localizados em locos comumente
Doenças Produzidas
independentes um do outro sob o ponto de vista físico (em por Defeitos Cromossômlcos
cromossomos diferentes ou em pontos muito afastados de um No caso de doenças. síndromes e defeitos produzidos por
mesmo cromossorno), mas não do ponto de vista funcional ou aberrações cromossômicas, na maioria das situações os Me-
fisiológico, uma vez que todos eles intervêm na determinação tados são esporádicos (casos isolados em razão de defeitos
da característica. que por causa disso exibirá uma variação cromossôrnicos não presentes nos genitores), não existindo
contínua ou praticamente contínua. Sob o ponto de vista didático acréscimo de risco significativo na irmandade do afeiado.
e para facilitar a compreensão dos modelos, costuma-se tratar Quando o defeito numérico (por exemplo, uma trissomia autos-
os efeitos dos genes de cada loco como iguais ou aproxima- sômica simples, como ti do cromossomo 21 que ocorre na
damente iguais. mas é certo que todo sistema poligênico apre- síndrome de Down ou do cromossomo 18 que ocorre na síndrome
sentará genes com efeito mais forte (r'genes principais"): a de Edwards) está presente apenas na criança afetada, o risco
segregação desses genes em algumas famílias pode indicar de afecção num próximo concepto do casal é da ordem de
superficialmente um padrão de herança autossômico domi- i% se os progenitores (em geral as mães) forem jovens, tornando
nante. A determinação das características dependentes desse valores ligeiramente maiores com o aumento da idade, como
mostra a Tabela 31.4, aplicável a casos esporádicos de síndrome
de Down causados por trissomia simples e outros defeitos
TABELA 31.3 -Incidência ao nascimentoe riscosde recorrência do cromossomo 21.
para parentes em primeiro grau de afetados (filhos. irmãos) de A Tabela 31.4 mostra os riscos de ocorrência c de recor-
alguns defeitos condicionados por mecanismomultifatorial' rência em função da idade materna, notando-se que o risco de
RISCODE recorrência é sempre cerca de I % maior que o de ocorrência
DEFEITO
OU DOENÇA INCID~NCIA
(%) RECORR~NCIA(%) na prole de mulheres pertencentes ao mesmo grupo etário.
Esse achado aparentemente paradoxal tem explicação fácil:
luxação congênita do 0,07 5
ao' se considerar um grupo de genitores que já tiveram uma
quadril
criança com síndrome de Down, é de se esperar que entre eles
Estenose hipertrófica 0,3 4
do piloro haja uma proporção maior de pessoas com algum tipo de
Lábio leporino com ou sem 0,1 4 mosaicisrno minoritário comprometendo ti linhagem germinativa
palato fendido ou com genes que predisponham à não-disjunçãodo cromos-
Palato fendido 0,04 2 somo 21 do que no grupo de pessoas de mesma idade que
Epilepsia 0,5 10 ainda não tiveram nenhum filho afetado. Daí o acréscimo de
Pé torto 0,1 5 risco de I% quando são comparadas as duas taxas.
Anencefalia 0,2 5 O caso anterior constitui o exemplo mais importante de
Espinha blfida 0,3 5 riscos genéticos dependentes da idade. Um aprofundamenro
Retardo mental inespeciflco 1 6 do assunto pode ser encontrado no interessante artigo de Frota-
Estenose aórtica 0,05 2 Pessoal, cuja leitura se recomenda. .
Cornunicação interauricular 0,1 3 No caso de outras trissomias autossômicas como as res-
Coarctação da aorta 0,06 2 ponsáveis pelas síndromes de Edwards e de Patau, os riscos
Comunicação interventricular 0,1 de repetição são de uma ordem de grandeza bem mais modes-
Doença de Hirschsprung ta que os observados no caso da síndrome de Down, isso porque
(megacolo congênito) 0,02 4
as chances de eliminação do concepto são muito altas, fato que
Principios de Genética Humana • 317

TABELA 31.4 - Riscos de ocorrência e de recorrência da Doenças Dominantes ligadas ao X


síndrome de Down na prole de um casal em função da idade No caso de doenças dominantes ligadas ao cromossomo X. a
materna (tabela simplificada de várias fontes)
situação é semelhante ii do item a para doenças com pene-
IDADE MATERNA AO RISCO OE OCORR~NCIA RISCO OE trâneia completa. na :-.illlac;ãu de mulheres afctadas, que terão
NASCERA CRIANÇA DE AFETAOO (%) RECORRÊNCIA (%) em média metade dos filho, ou filhas afetados, No ca o de
Menosde 35 anos 0.1 homens afctados. o risco global para a prole também se fixa
35 - 39 anos 0.5 1.5 cm 501J-. com a diferença de que Ioda, a, filhas serão afeta-
40 - 44 anos 1.5 2.5 das. o que não sucederá CIlI1l nenhum do, filhos. que recebe-
45 - 49 anos 3.5 4.5 rão do pai não o X. mas vim o cromossomo Y. a maioria das
doenças produzidas por e~~e tipo de padrão. o quadro clínico
do, afetados de sexo masculino é gritantemente mais grave
explica li grande discrcpâncin entre a incidência da síndrome que o apresentado pelas mulheres heierozigotas, em que as
de Down (1/500;1 I/I.()O() entre recém-nau», de ambos os ~CXOl» manifestações são tipicamente amenizadas por efeito da
e as da' outras duas condições, de unia ordem de grandeza pelo tyonização. São raras as doenças em que o indivíduo afetado
menos dez ve!.c~ menor. de sexo masculino consegue reproduzlr-vc: muitas dessas
Riscos baixos de rcpct ição coust itucm geralmente a re- condições chegam mexmo a serem letal' (nu vcntido original
gra para casos de defeitos numéricos (uneuploidias). mas em do conceito. que era reservado para descrever apenas condi-
casos em que a criança é portudoru de um defeito croI1l0SSÔ- ções que conduziam li inviabilidade do embrião ou feto). O
mico estrutural essa alteração pode estar presente num dos caso de pcncirância lnccrnplcui é. em geral. mais complicado,
progenitores em estado cqu i I ibrado (ou seja. sem determi- pois cornumcnte os valores da penetrância são diferentes entre
nar efeitos Ienorípiccv dclcrériov) numa certa percentagem homens e mulheres que recebem o gene. POr exemplo, no caso
de casos. quase sempre pequena. Por exemplo. na víndrome da síndrome do cromossomo X frági I. importante causa de
de Down menos de Yk dos eaM)/>devem-se a translocuções retardo mental em crianças de ambos os sexos. uma heterozigota
envolvendo um crornosvomo 21 e um ucrocêntrico qualquer normal. porém portadora da pré-mutação. pode transmitir o
(crOm()SSOIllO~13. 14 e 15 do grllpo O e cromovvomos 21 c gene para um filho ou uma filha. o conjunto de todo os
22 do grupo G). Em cerca de lO a 20% dcsvcs casos a meninos que receberam o gene de tais mulheres. 80% apre-
translocação está prevemo cm estado equilibrado em um dos sentarão retardo. ° mesmo acontecendo com 35% das meni-
gcnitorcs: se a tranvlocaçüo I! entre o 2 I e o 22 ou qualquer nas que caírem na me ma categoria. Chamnndo-se de K =
0.80 e de K, = 0.15 o). valores da pcnctrância cm indivíd~os
cromossomo do grupo D. os riscos empíricos de repetição
de sexo masculino e feminino. rcspccuvamcntc. o risco de
de síndrome de DO\\ n na irmandade de um afctado variam
ocorrência da stndromc na prole de tai, mulhcrcv é R = 1/4 x
de cerca de 5s} (quando o progenitor masculino é portador
da trnnstocação) a ISt'r (quando a rranslocação equilibrada =
K.. + 114 x K, 0.2875 ou cerca de 291ft. Já o risco para li
prole de homens normais. no entanto. para portadores da pré-
está na mãe da criança). Quando se trata da rarí':.ima translo-
mutação é nulo. Quanto a portadores da mutação completa. os
cação 21/21. presente cm c-urdo equilibrado num dos gcnitores,
afctados de l,CXO masculino não se reproduzem pelo fato de
o risco de recorrência é de I OO<;'r.qualquer que scjn () genitor
apresentarem retardo mental quase sempre grave. mas cerca
portador da lran~I()t:a<i;itlcqui [ibruda. Nos !lO (I I)()"h dos casos
de 50% das heterozigotas COm a mutação completa não apre-
remanescentes cm que h:i trunslocação apenas na criunça afetada.
sentam retardo. por efeito de lyonizaçâo, e uma proporção con-
aplicam-se os riscox corrcvponderncs ii situação de trissornia
siderável das nfciadas apresenta retardo mental muito mais
simples. O IlH!:'1ll0 ocorre quando a criança I! portadora de
leve que o apresentado em média pelos uíetudos de sexo masculino.
mosaicisrno cromovsôm ico.
de modo que lima Iração das hcicrovigorus portadoras da murnção
completa consegue se reprodu/ir. Quando o X contendo a
RISCOSPARA A PROLEDE CASOS ISOLADOS mutação completa dessas mulheres é transmitido li um me-
DEDOENÇAS,SINDROMES OU DEFEITOS nino. este será certamente afcrado: quando é uma filha que
o recebe, entretamo. apenas cerca da metade será afetada.
CONDICIONADOSPOR MECANISMO MONOGlNICO, Isso fal. com que o risco de prole afetada dessas mulheres seja
IOlllFATORIAl OU CROMOSSOMICO I x 1/.1 + 1/2 x 1/4 = 318 = 0.375 ou cerca de 38%: é como se
Esses riscos, ao corurtlrio do que sucede COI11()~ anteriormente acura K = I e K, = 0.50 em vez dos valores K = 0.80 e de
vistos. são de uctcuninução trh ial. i, =. 0.15 admitidos pelas taxas de penetrâne(;; no caso de
gennoras portadoras da pré-mutação.

Doenças Autossõmlcas Dominantes


Doenças ProduzIdas por
No Ca!>O de doenças autossôrnicas dominantes com penetrância
completa. como é o caso da acondroplasia. supondo-se (como
Mecanismo Autossõmlco Recessivo
acontece comumcntc) que o afcrado isolado se case com pes- o caso de doenças produzida» por mecanismo autos ôrnico
soa normal não-aparentada (detalhe que ve admitirá também recessivo, () risco de ocorrência da doença na prole de um are-
no tratamento dos outros tipo, de doença), o risco fixa-se em rado qualquer é dcsprc/fvcl. comurncntc da ordem de I% ou
5(j(k. pois ba-ta (I filho receber o ulclo putolõgico de seu gcuiior menos, desde que o afctado não se case com primo em pri-
afetado para também de~envolvcr a doença. Qunndo a pene- meiro grau ou qualquer outro tipo de parente próximo (situa-
trância é incompleta. como é o ea~() do retinobla:.lOma bilateral ção que será discutida no item sobre riscos para;I prole de casais
(valor de K da ordem de 80%). () rbco de ocorrência de criança con angüíneo. ). De fato. como o afetado é homozigoto aa, uma
afetadu na prole de af'i.!tlldo é KI2. poi:-- p;lra isso acontecer é criança deste recebe com ccrteza o gene a. No entanto. como
preciso que o genc seja translIlitido;) prole (com probabilidade para ser afelada e:,sa criança prcci!>a receber também UI11 gene
meio) e penetre (com probabilidade K). No caso do retinoblas- a de seu outro genitor. é preci~o que el>te ~cja heterozigoto
toma bilateral esse risco é KI2 = 0.8012 = 0.40 ou 40%. =
(probabilidade 2,UI - 2'1 2% para UIl1 gene dc freqUência
8S·1W-S98-X
318 • Tratado de Clínica Médica

populacional q = 0,0101/ 1%) e que transmita o gene a fi criança, incluindo-se quase sempre casos de mosaicismo, muito prova-
configurando-se portamo um risco de ordem de grandeza de velmente por efeito de genes causadores de não-disjunção
I % ou menor (para freqüências gênicas menores que 1%). croruossômica segregando nessas famflias.

Doenças Produzidas por RISCOS PARA A PROLEDE IRMlos NORMAIS DE


Mecanismo Recessivo Ligado ao X CASOS ISOLADOS DE DOENÇAS.SINDROMES OU
No caso de doenças recessivas ligadas ao X como a hemofilia DEfEITOS CONDICIONADOS POR MECANISMO
por deficiência do faior VlIl da coagulação ou a distrofia muscular MONOslNICO. MUlTlFATORIAl OU CROMOSSOMICO
progressiva tipo Beckcr. o risco de afecção na prole de um No caso de aconselhamento de pessoas normais parentes pró-
afetado é zero, pois o afctado passará fatalmente () X para ximas de afciados isolados serã considerada apenas II situa-
todas as filhas (que sendo. portanto. hetcrozigoras, serão normais. ção cm que o consulente é irmão ou irmã do paciente,
apesar de carregarem para ii sua futura prole um risco de um
quarto ou 25%) e o Y para todos os filhos. que receberão o X
de suas mães. mulheres normais com probabilidade despre- Mecanismo Autossõmlco Dominante
zível de crem heterozigotas,
Se a doença é produzida por mecanismo autossôrnico domi-
nante de penetrância completa, o risco para a prole de irmã(o)
Doenças Produzidas por normal de afetado é totalmente desprezível, da ordem de gran-
deza da taxa de mutação e. portanto, realmente próximo de zero.
Mecanismo Multilatorial Se a doença no caso isolado é produzida por gene autossôrnico
Como os riscos de doença muhifatorial dependem, obviamente. dominante de penetrãncia incompleta (taxa K), como a proba-
da quantidade de genes deletério não-funcionais no sistema bilidade de hererozigose para os genitores do afetado é I-K, a
poligênico ligado a uma determinada característica. os risco normalidade do irmão pode ser explicada de duas maneiras:
de um parente qualquer de afetado dependem primariamente (I) um dos genitores é heterozigoto não-penetrante, o irmão do
da quantidade de genes compartilhada entre ela e O indivíduo afetado recebeu dele o gene A e este não penetrou, com proba-
afetudo. Por isso os riscos de repetição de defeitos muhifatoriais bilidade conjunta (I-K) x /12 x (I-K) = (I-Kll2, ou recebeu
são de mesma ordem de grandeza para filhos e para irmãos de o alelo normal. com probabilidade conjunta (I-K) x 112 x I =
casos isolados. uma vez que esses pares de indivíduos pos- (I-K)/2: (2) nenhum dos genitores é bererozigoto, tendo, assim,
suem cerca de 50% de seus genes em comum. o afetado sido originado por mutação nova: por isso o irmão é
normal; a probabilidade conjunta relativa a esse evento é K x
I x I = K. Logo. as probabilidades de o irmão normal do afe-
Doenças Decorrentes tudo ser heterozigoto ou não estão entre si assi m como ( I-K/12
de Aberrações Cromossõmlcas =
estã para (I-K)/2 + K (I + K)I2,de modo que a probabili-
Tipicamente as doenças produzidas por defeitos crornossômicos dade do irmão normal do afetado ser heierozigoto é P [het} =
provocam retardo mental grave (corno é o caso de defeitos nu- (I-Kill (I-Kf + (I + K)] = (I-K)11 (2-K+K1)e o risco de
méricos e estruturais não-equilibrados dos autossomos) ou este- afcrado na prole deste último é R = K (I-K)'112 (2-K+KJ)/.
rilidade (corno é a regra nas doença produzidas por aberrações Como pode ser visto na Tabela 31.5 e no gráfico corresponden-
dos cromossomos sexuais). Por isso raramente hã que se consi- te (Fig. 31.2). esses ri cos ão baixos, da ordem de no máximo
derur a situação de risco pura a prole de afetados. Nos poucos 0,04 ou4% para valores de K entre 0.25 c 0.45. Como os valores
casos em que isso aconteceu. verificou-se que o defeito autossô- que K toma na prática são quase sempre altos. da ordem de 80%
mico transmite-se num padrão autossômico dominante. Por exemplo, ou mais. pode-se afirmar que para a maioria das doenças esse risco
verificando-se a prole de mulheres com síndrome de Down que é inferior a I %. como mostram a Figura 31.2 e a Tabela 31.5.
engravidaram. constatou-se que cerca de metade é normal e a
outra metade afetada pela síndrome de Down, com trissomia. Mecanismo DomJoante ligado ao X
No caso de aberrações ligadas aos cromossomos sexuais X e Y,
nos raros casos em que os afetados procriaram verificou-se uma Para doenças com penetrância completa em homens e mu-
freqüência aumentada de prole com defeitos cromossômicos variados, lheres afetadas. esse risco é da ordem de grandeza de zero.
como no caso autossôrnico. Quando a pcncirância é incom-
pleta. corno no caso do retardo mental ligado no sftio frágil
do cromossomo X. requerem-se cálculos moi complicados
do que no caso aurossômico correspondente. Esses cálculos.
no entanto, redundam em riscos rclarivarncmc baixos para li
0,03 prole de irmãs normais. Corno já existem récnicas rotineiras,
R tanto citogcnérlcas quanto moleculares. que permitem detec-
0,02 tar-se com segurança heterozigotus parentes próximas de afe-
tados ponadoras da mutação incompleta, li situação nesses casos
0.01 é resolvida mediante a aplicação de testes laboratoriais.

PoL-------------------~~~ Mecanismo Recessivo ligado ao X


0,2 0,4 0,6 0,8
K No caso de doenças recessivas ligadas ao crornossomo X. o
risco para a prole de irmãos normais (de sexo masculino) do
Figura 31.2 - Variação dos riscos de recorrência (R) de doença ufctado é evidentemente desprezível. quer o afetado tenha re-
autossõmica dominante na prole de um irmão normal de afeta- cebido o gene de uma genitora hetcrozigota ou tenha sido o
do isolado, em função da taxa de penetrãncia K resultado de uma mutação nOV3.A situação é diferente, no entanto.
Principios de Genérica Humana • 319

quando a consulente é uma irmã normal de afetado. Tratando- TABELA 31.5 - Riscos de recorrência (R) de doença
sede um caso isolado, a chance da mãe do aforado ser hctcrozigota autossOmlca dominante com penetrAncla Incompleta (taxa K)
~ de doi~ terços. J\ probabilidade de hcicrozigosc da irmã do na prole de um irmão normal de afetado Isolado. Esses riscos
aíetado reduz-se 11metade dessa taxa. de modo que o risco para correspondem aos mostrados no gráfico da Figura 31.2
a prole desta úlumn é 113 x II~ = 1112. ou seja. cerca de 8%.
K R
0,00 0.000
MecanismoAulossõmlco Recessivo O,tO 0,021
No caso de doença, autovsôrnicas recessivas, finalmente. a 0,20 0,035
ocorrência de ufcrado na prole de homem c mulher normal 0,30 0,041
indica que os deis são hcrcrozigotos. Assim sendo, qualquer D.40 0,039
=
irmão normal de afciado tem uma chance de 21J (111J/( 111 0,50
0,60
0,036
0,027
+ 1/4)de ser hctcrovigoro. uma vez que sendo normal ele não
pode ser (/O como o irmão afetado e as probabilidade favo- 0,70 0,018
0,80 0,009
recendo as hipõtcscs de hcrcrozigosc e hornozigose normal
0,90 0.002
estão entre si assim COIllO dois cst(t para um na prole dc casais
t,OO 0.000
de heterozigotos. Para umu criança desse irmão vir a nascer
afetada é preciso que nilo só ele como o seu cônjuge sejam
hereroztgoios c rranvmitum cuda UII1 o gene li para O filho: o
ção dos riscos de recorrência é também trivial. No caso de
risco final de criança ufetndu desse casal fica sendo R 213= ufcrado por doença autossômica dominante casado com pes-
x 2% x 1/4 = 0.33% cnsu se fixe li trcqüêucia de hctcrozigotos
na população em cerca de 2tíf, que tCIII lugar quando u Ire- soa normal e já com um filho também afetado o risco para
qüência do gene é da ordem dc I(k. Para outros valores de 'I nova criança é lixado em N = KI1, em que K é o valor da
o risco é calculado segundo R = (f13. pcnetráncia do gene, incluindo-se aqui até casos de penetrân-
da completa (K = 100%), quando o risco fica sendo 0,5 ou
501}. O caso correspondente 110 X é semelhante e já foi dis-
MecanismoMullllalorlal cutido em relação 11prole de mulheres portadoras da pré-mutação
ou da mutação completa da síndrome do cromossomo X frá-
Da me ma maneira que filhu, e irmâos de aferados cornpar-
gil: com ou sem crianças ufctadas. O risco para a prole de mulhere
ulharn com c tes 50% de todos os seus genes e isso justifica
o fato de os riscos de recorrência para filhos e irmão), de afc- hcrerozigotas portadoras da pré-mutação é 29%; quando as
mulheres. ão hctcrozigotas portadoras da mutação completa.
tado erem da mesma ordem de grundeva. um sobrinho de
afetada ou não. esse risco eleva-se para 38%. Em casos de
afetado. filho de genitorcs normaiv, que possui 251fl. dos genes
penetrância completa. o risco para n prole de homens ou mulheres
do afeiado em comum. terá risco menor que metade do risco
atribufvel a parentes em primeiro grau de afetados, uma vez afetados, com crianças afctadas ou não. é da ordem de 5090,
como já explicado anteriormente.
que o genitore são norrnaiv.
o caso recessivo. rnmo nutossôrnico como ligado ao X. a
ocorrência de crianças ufcrndns na prole de nfctados é impos-
DoençasProdUZidas por sível ou excepcional, e serão consideradas aqui como farniliais:
DefeitosCromossõmlcos (I) no caso autossômlco, muis de um afctndo na irmandade:
(2) no caso ligudo no X. mais de um filho afetado ou um filho
o nsco de defeito cromovsômico na prole de irmãos normais e pelo menos um colateral masculino, pelo lado materno. ambo
de aferado é geralmente de ordem de grandeza desprezível. afetados. Em ambos os casos. o risco de recorrência na irmandade
Tomando-se como exemplo outra ve/ 11 síndrome de Down, é da ordem de UI11 quarto ou 25%. O risco para a prole de
dado um caso qualquer. :1 probabilidade de ele ser cm decor- irmãs normais desses afetado é um oitavo ou 12.5% no caso
rência de urna trnnslocação é da ordem de 5% ou 1/20. Em no recessivo ligado ao X c desprezível (da ordem de 0,33%) no
máximo 20% 011 um quinto desses cnsos ti rruuslocação estará caso uutossômico.
presente em estado equilibrado num dos progenitores: a chance No caso dominante com pcnctrüncia incompleta, o ris-
de um filho normal de um portador da trunslocnção equilibra- co para ti prole de irmãos normais de af'etados familiais é
da herdã-la é da ordem de 50'} ou meio. E o filho de um portador
de translocaçüo equilibrada erá afetado com probabilidade
não superior n 1St} ou cerca de um sexto. O risco de prole
afetada do irmão ou rrmã normal de nfctudo é obtido, por- 0,08
tanto. muhiplicando-ve toda~ essas cifras. Obtém-se então
=
R = 1/20 x 115 x 112 x 116 1/600, valor esse de ordem de 0,06
grandeza dcsprczfvcl. Como. 110 entanto, por meio de um R
estudo rotineiro dos cromossomos pode-se determinar ea 0,04
iranslocação está prcvcnte ou não nesse parente do nfcrado.
muitos indicam o exame para se evitar a determinação proba- 0,02
bilfsrica do risco por ponderação anterior.

0,2 0,4 0,6 0,8


BISCOS DE RECORR!MCIA PARA A PROU DE K
'AR ENTESDE CASOS FAMllIAIS AFETADOS POR
MECANISMOMONOB!MICO OU MUlTlFATORIAl Figura 31.3 - Riscos de recorrência (R) de doença autossômica
dominante de penetrência incompleta na prole de irmãos nor-
Como nos dois último~ itens que tratuvnm do aconselhamento mais de casos familiais do defeito em função da taxa de pene-
de aforados e de parentes normnis de nfcrndos. a determina- trãncia K
320 • Tratado de CI/nica Médica

R = K (I-K)/12 (2-K)j. De fato, um irmão qualquer de afe- frer alterações em razão da prevalência mais elevada, neles,
tado Iamilinl. situação em que um dos genitores é certamente de casos utribuívei a fatores ambientais.
portador do gene mutante, é normal ou porque recebeu o ulelo Alternativamente. existem métodos que permitem a esti-
normal (probabilidade meio) ou porque recebeu o ..leio mutante mativa teórica dos riscos, com base nas frcqüências relativas
e este não penetrou [probabilidade conjunta (I-K)/2J, donde das diversas causas do defeito (P,) e nos riscos associados a
se conclui que II probabilidade de ele ser hctcrozigoto não- cada uma delas (R,), sendo o risco final ponderado dado por
penetrante é (I-K)/II + (/-K)/ = (/-K)/(2-K). Multiplican- =
R 'LP R.. Exernplificar-se-ã a aplicação do método ao caso
do-se essa expressão por KJ2 obtém-se o risco literal fornecido da surdez. não-xindrôrnica". A freqüência de casos ambientais
mais anteriormente. Os valores de R são geralmente baixos, do defeito foi estimada, para o Brasil e outros países em de-
como mostram o gráfico da Figura 31.3 e a Tabela 31.6. senvolvimento, em 84%. Os outros 16% são casos herediiã-
rios. dos quais 78% são autossômicos recessivos, 19%
autossômicos dominantes e 3% recessivos ligados ao cromos-
RISCOS DE RECORRINCIA somo X. Como os riscos de recorrência do defeito em ir-
EM SITUAÇÕES COMPlEUS mãos de casos isolados são, respectivamente, para esses três
Como exemplo principal de situações complexas em genética mecanismos monogênicos, 1/4 = 25%, K (I-K)/2 = 8% para
será abordado o aconselhamento genético de doenças hetero- um valor médio de penetrância K = 80% e 1/6 = 16,7%, o
gêneus. exemplificando-as com o retardo mental incspecífico risco final toma o valor R = /6% x 78% x 25% + 16% x /9%
c li surdez não-sindrôrnica. Ambas as condições podem ser x 8% + 16% x 3% x 16,7% + 84% x 0% = 0,034 ou cerca de
condicionadas por todos os mecanismos monogênicos conhe- 3%. Outras situações são resolvidas aplicando-se raciocínio
cidos: além disso. uma parte considerável dos casos desses semelhante, mas redundam em fórmulas mais complexas cujos
dois defeitos. principalmente nos países subdesenvolvidos e detalhes serão omitidos aqui e que podem ser consultados no
em desenvolvimento. são decorrentes de furores ambientais trabalho supracitado de Braga et {II:'. A Tabela 31.7, aprovei-
(por exemplo. assistência deficiente à gravidez, ao parto e ao tada desse mesmo trabalho, fornece os riscos de surdez para
recém-nato. desnutrição. infecções maternas durante a gravi- diversas situações de aconselhamento genético, para países
dez etc.), cm desenvolvimento e para países industrializados (nestes ii
Eventualmente o defeito segrega em algumas famílias com freqüência de casos ambientais do defeito é de no máximo 50%:
um padrão típico de herança, o qual permite a inclusão do nos cálculos usados para gerar os riscos da tabela foi usada
caso num dos mecanismos monogênicos possíveis. Nesse caso, uma taxa de 38%, estimada a partir de levantamentos recen-
não há problemas quanto ao aconselhamento genético. A si- tes). A Tabela 31.7 ainda fornece os riscos correspondentes 11
tuação se complica quando o afetado for caso isolado ou o situação em que fatores ambientais podem ser excluídos com
padrão de herança não estiver claro. alta probabilidade.
A primeira sarda é lançar-se mão de riscos empíricos. cujo
uso será ilustrado com casos de retardo mental grave. No
caso desse defeito e na impossibilidade da aplicação de tes- ACONSElHAMENTO GENlTICO DE
tes de laboratório (para se verificar, por exemplo. a possibi- CASAIS DE PRIMOS EM PRIMEIRO GRAU
lidade de tratar-se dc um caso da síndrome do crornossomo O assunto tem sido objeto de exaustivas pesquisas desenvol-
X frági I), ainda hoje são usados classicamente os riscos empírico vidas durante os últimos 60 anos mas mesmo assim permane-
obtidos em um amplo estudo realizado por Rced e Reed", Os ce controverso. no sentido de que não existe consenso quanto
riscos de retardo pura li prole de casais com nenhum, um e à ordem de grandeza dos riscos para a prole desses e de ou-
dois gcnirorcs afciados são, respectivamente. I, II e 40%. É tros casais consangüíneos. Analisando os questionários de-
óbvio que o primeiro valor corresponde à incidência de re- volvidos por 309 aconselhadores genéticos e geneticistas médicos
tardo ao nascimento. na população geral. Os riscos para os nos Estados Unidos, Bennett et al? verificaram que os risco
mesmos tipos de casais, porém já com uma criança afctada. de defeitos físicos e retardo mental comunicados a consulentes
elevam-se para 6, 20 e 42%. Esses riscos são uplicãveis a primos em primeiro grau variaram de 0,5 a 20% e que não
países desenvolvidos. em especial nos Estados Unidos, onde existia consenso quanto aos tipos de defeitos e doenças que
a pesquisa foi realizada na década de 60. Em países subde- neles eram incluídos.
senvolvidos e em desenvolvimento, esses riscos devem so- Uma das maneiras usadas para a determinação desses riscos
baseia-se na comparação das frequências de crianças nascidas
com defeitos na prole de casais de primos e de casais não-con-
TABELA_31,6 - Riscos de recorrência (R) de doença sangüíneos. A Tabela 31.8 reúne, nas colunas A e B. os resul-
autossômlca dominante de penetrância incompleta na prole de
irmãos normais de casos familiais do defeito em função da tados de quatro desses estudos, realizados nos países indicados
taxa de penetrância K. Os riscos correspondem aos mostrados na coluna da esquerda". As diferenças entre as frequências nos
no gráfico da Figura 31.3. dois grupos. mostradas na coluna A-B, variam de um estudo
para outro, como era de se esperar. Apesar de todos esses estudos
K R haverem sido realizados por excelentes grupos de pesquisa-
0,00 0.000 dores, os critérios de inclusão dos defeitos variaram de um
0,10 0,024 estudo para outro'; além do mais, os observadores eram dife-
0,20 0,044 rentes nos quatro estudos. As médias aritméticas dos valores
0,30 0,062 de A. IJ e A-B são mostradas na última linha de cada coluna.
0,40 0,075 Na prole de consangüíneos a probabilidade de formar-se um
0,50 0,083 indivíduo homozigoto AA ou aa é maior que as quantidades
0,60 0,086 esperadas P' ('AA) = 1'2 e P' (aa) = q2 na prole de não-consan-
0,70 0,081 güfneos. c a probabilidade de formar- e um heterozigoto é menor
0,80 0,067 =
que P' (Aa) 2pq; na realidade, elas se reduzem nesse caso a
0,90
1,00
0,041
0.000
P" (AA) = p: + Fpq = pF + pl (1-F). 1''' (Aa) = 2pq-2pqF =
0+ 2pq (I=F} e P" (aa) = c/ + Fpq = qF + q1 (L-F], em que
85· 7241·598·X
Princípios de Genétic« Humana • 321
8S·7241·59K.X

TABELA 31.7 - Riscos de recorrência de surdez não·sindr6mica na prole de casais cuja situação é especificada na coluna da esquerda

SITUAÇÃO FATORESAMBIENTAIS FATORESAMBIENTAIS


NÃO·EXClUloos EXCLUloos (%)
BRASIL (%) PAlsES DESENVOLVIDOS(%)
Casalnormal. não-consangüíneo, 1 criança afetada 3 13 -14 21 - 23
Casalnormal de primos, 1 criança afetada 17 23 - 24 25
Casalnãc-consanqüineo, 1 cônjuge afetado 1 5 9
Casalde primos. 1 cônjuge afetado 9 12 13
Casalnão-consangüíneo, 1 cônjuge afetado. 1 criança afetada 40
Casalde primos. 1 cônjuge afetado. 1 criança afetada 48
Casalnâc-consanqüineo. 2 cônjuges afetados 3 - 10 10 - 14 18
Casalde primos. 2 cônjuges afetados 6 - 20 22 - 29 36

F é a probabilidade de hornozigose por origem COI11UIll (no caso delas lendo sitio incluída em nossa lista. c ainda admitir-se que
de filhos de primos F toma o valor 1116). ou seja. a probabili- todas elas ocorram com frequências insolitamente baixas, da ordem
dade de que o filho de primos receba em dose dupla. portanto de 111.000.000 na população geral. espera-se um total de mais
por meio de seus dois genitores, um mesmo ulelo presente em 500 x 111.000.000 = 1/2.000 = 0,0005 de afetados por doenças
dose única num dos ascendentes comuns do casal de primos (o recessivas na prole de não-consangüíneos c um total de 500 x
avô e a avó que eles partilham pelo fato de serem filho de doi, 63.4/1.000.000 = 0,03 na prole de primos em primeiro grau.
irmãos). Logo, a diferença (A-fi) mostrada na Tabela 31.8 re- lesse caso. o risco de afecção na prole de casais primos em
presenta o valor da soma dos Fpq de todos os genes recessivos primeiro grau tomar-se-ia R (F) = 13%. enquanto R (O) perma-
deletérios, admitindo-se que casos de defeitos não-genéticos neceria com o valor anteriormente determinado (4%). De qual-
ocorram com frequência semelhante nos dois grupos de crian- quer maneira, é certo que esse risco não deve ser inferior a 10%
ças.Acrescentando-se 0.5 a 1% (frcqüência global de doenças c que a reprodução desses casais não deve ser encorajada.
recessivas ao nascimento na população geral) ao valor total da Es. es riscos não diferem dos obtidos aplicando-se um método
última coluna. chega-se a uma estimativa de risco para a prole aproximado proposto por Frota-Pessoa et (/1.8• o qual permite
de primos cm primeiro grau da ordem de II li 9%. também determiná-los para a prole de um casal com grau genérico
Há na literatura vários métodos teóricos para se determi- de consangüinidadc. Admitindo-se que os genes recessivos que
nar O risco de doença na prole de primos. Um desses méto- em homozigose determinam defeitos físicos ocorram IOdos
dos' baseia-se nus Ireqüências com que ocorrem os genes com frequências da ordem de q = I-p = 1% e que a Ireqüên-
determinantes de docnçus recessivas e já havia sido delinea- cia global de doenças recessivas ao nascer seja também dessa
do em linhas gerais em Frota-Pessoa et al ", 0110 e Frota- ordem de grandeza, o risco Rode doenças recessivas na prole
Pessoa" e 0110'°. Mediante consulta n obras gerais compiladas. um casal consangüíneo fica sendo o risco relativo RR = (q' +
artigos especializados e bancos de dados de doenças gené- pqF}/ql = J + pF/q = 1 + 99F expresso em percentagem, em
ticas". foram levantados os dados de 125 afecções razoavel- que F é o coeficiente de endocruzameruo da prole do casal.
mente bem estudadas em populações caucasóides e COIll pouca Quanto ao retardo mental puro, o risco de ocorrência na prole
variação geográfica de freqüência, incluindo retardo mental de não-consangüíneos é da ordem de I%, elevando-se para
(mais de 100 locos) e surdez congênitu (35 locos). perfazen- 4% na prole de primos em primeiro grau: a diferença de 3%
do um total de 258 locos. Esses dados permitiram levantar corresponde a um coeficiente de endocruzamento F = 1116;
ti distribuição das írcqüências de genes recessivos causado- para F = 1/8 e 1/4 a di ferença deve elevar-se para 6 e 12%: para
res de doenças. li qual foi ajustada II famílias de funções gcné- F = 1/32, 1164 e 11128 essa diferença diminui para 1.5. 0.75
ricas, o que possibilitou obter a função densidade do ponto e 0.375%. Portanto. para um F genérico qualquer o acréscimo
médio de cada classe de freqüênciu gênica./; tal que 1:./; = J de risco cm relação 'ao de casais não-aparentados correspon-
e comparar as Ireqüêncius globais de afctudos com coefici- de, em percentagem, a 48F. O risco de retardo mental puro na
ente de endocruznmenro ,.. = ///6. R (F) = Nr.{( [qF + q/ prole de UI11 casal consungüíneo qualquer é. portanto. em
(I-F)/I. e de afetados filhos de não-consangülneoscorn F = percentagem. J + 48F. Admitindo-se também que a freqüên-
O, R (O) = Nr.ffq! I· cia global de doenças recessivas (excluindo-se retardo men-
Os valores nu'm'éricos obtidos foram R (F) = 0,065 = 6.5% tal) é da ordem de I % ao nascimento na população geral, tem-se
e R (O) = 0,005 = 0.5%: cu mo essas cifras se referem apenas que o risco de doença na prole de um casal não-consangüíneo
a doenças produzidas por mecanismo recessivo e pelo menos é RI = 3% caso se considerem apenas defeitos físicos com ou
cerca de 4% dos recém-natos apresentam defeitos físicos ou sem retardo mental e da ordem de R2 = 4% caso se considere
retardo mental. deve-se acrescentar a R (F) o risco referente a
outras doenças ou defeitos não-influenciáveis pela consangüi-
nidade (doenças e defeitos genéticos com outros mecanismos TABELA 31.8 - Freqüências, em porcentagens, de crianças
que não o autossôrnico recessivo ou decorrentes de fatores nascidas com defeitos na prole de primos em primeiro grau (A)
ambientais. não-genéticos). que é da ordem de 0,04 - 0.005 = e na prole de casais não·consangülneos (B)
0,035. Chega-se. assim. aos riscos globais de doença na prole A B A-B
de primos e de não-consangüfncos da ordem de. respectivamente.
R (F) = 0.065 + 0.035 = 0.10 = 10% c R (O) = 0.04 = 4%. O Estados Unidos 16.2 9.8 6.4
banco de dados on-line OMIM (agosto de 2003) eira cerca de França 12.8 3.5 9,3
Jepão 11,7 8,5 3,2
3.000 condições autossôruicas recessivas. mais da metade delas
Suécia 16 4 12
não-confirmadas. Mesmo se for reduzido drasticamente a 500 o
Total 14,2 6,4 7.8
número de doenças realmente recessivas desse lotai. nenhuma
322 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 31.9 - Riscosde doença na prole de casaisconsangüíneos.em porcentagens. em função do coeficiente de endocruzamento F.
admltlndo-se que a freqüência de todos os genes recessivospatogénicos é constante e igual a 0,01*
RISCODEAFECÇÃO RISCOTOTAL RISCOTOTAL
RECESSIVA(%) SEM RETARDOMENTAL INCLUINDO-SERETARDO
CASAMENTOS F =
R. 1+99F PURO(%) ~, 3+99F = MENTAL(%) Rl. 4+147F
Pai-filha, mãe-filho, lrrnãos 1/4 25,8 27,8 40,8
Meio-irmlios, primos duplos em ,. grau, 1/8 13,4 15,4 22,4
tio-sobrinha, tia-sobrinho
Primos em ,. grau, tio-meia sobrinha, 1/16 7,2 9,2 13,2
tia-meio sobrinho .
Primos em 2· grau, meio-primos em ,. grau 1/32 4,1 6,1 8,6
Primos em 3· grau 1/64 2,5 4,5 6,3
Primos em 4' grau 1/128 1,8 3,8 5,2
Primos em 5' grau 1/256 1,4 3,4 4,6

Nlio-consangOlneos O 3 4
• Modificada de Oito et aI.'

também o retardo mental puro. Na prole de consangüíneos REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS


esses dois riscos (considerando-se ou não O retardo mental I. IlRUNONt. D. Es1:odoc desenvolvimcruo dos serviços de genética médica no Brasil.
puro) tomam os valores percentuais R, = (I + 99F) + 2 = 3 IJ'I11.. J. Gmfl .. suppl. 20. p. 11-23. 1997.
+ 99F e R1 = (I + 99F) + 2 + (I + 48F) = 4 + 147F. A Tabela 2. FROTA-PESSOA. O. Riscos genéticos dependentes da idade. ReI'. Bras. Peso. MM.
B/ol .. v. II. p, 77-80. 1978.
31.9 mostra alguns dos valores que RI e Rz tomam, em função 3. REEO. R.W.; REED. S. C. MimaI Rrtardation: a FallJily SI/ldy. Philadelphia: SlIunders.
de F. Nota-se que para valores de F inferiores a JII6 os acrés- 1%5.
cimos de risco são pequenos, sendo de ordem de grandeza 4. BRAGA. M. C. C.: orro. P. A.: FROTA-PESSOA. O. Caleulation of recurrcnce
desprezfvel para valores de F = 1/64 (que correspondem à prole risks for hererogeneous genetie disorders. AlIJer.J. Med. Genet.. v. 95. p. 36·42.
2000.
de primos em terceiro grau) ou menos. 5. BENNETr. R. L: ItUOGtNS. L: SMtTH. C. O.: MOTULSKY.A. Gvlnconsistcncies
Numa sessão de aconselhamento isso é explicado ao casal in gcuetie coun",ling 300 screening for consanguineous couples and their otTspring:
de consulentes consangüíneos numa linguagem adaptada ao thc nccd for practlce guidclincs. Genet. Med .. v. 6. p.286-292. 1999.
seu meio sociocultural, sem necessidade de se entrar em de- 6. OTTO. P. G.: OTTO. P. A.: FROTA-PESSOA. O. Gml!irn Humana e CUnica. São
Paulo: Roca. 1998.
talhes técnicos. Explica-se também que o acréscimo de risco 7. OITO. P.A.: FROTA-PESSOA. O.; VIEIRA-ALHO. J. Risir ofGenttic Diseas«i.
é dado pela existência de mais de 1.000 doenças autossõmicas The OjJ.'I"il/g of First-cousin Marriages. (No prelo).
recessivas conhecidas e que isso inviabiliza, pelo menos por 8. FROTA-PESSOA. O.: OTTO. P. A.: OTTO. P. G. Genhic« Clínica. Rio de Janeiro:
Francisco Alves. 1975.
enquanto. a aplicação de testes moleculares para se verificar, 9. OITO. P. A.; FROTA-PESSOA. O. Estimativas de riesgos ge~ticos. An. AC/ld. C/.
por exemplo, se os cônjuges são portadores heterozigotos de Ex. Fis. Nal.. Buenos Aires. v. 31. p. 271-289, 1979.
um mesmogene patológico. No caso de optarem por uma gravidez. 10. OITO. P. A. Estimativas de riscos de doença genética na prole de primos cm primei.
estarão indicadosapenas os testes e exames aplicáveisem qualquer ro grau. Cio CIIII.. v. 41. p. 471-474. 1989.
II. 'VIElRA FILlIO. J. Riscos de Doença Genética 1/(/ Prole de ConsangQ(neos. São
gravidez. Por exemplo. explica-se que já faz parte da rotina Paulo. 1992. Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências da Universidade de São
obstétrica o acompanhamento da gravidez por meio da ultra- Paulo.
sonografia pré-natal e que por ocasião do exame o concepto 12. FUI·IRMANN. W.; VOGEL. F. Aconsethamento Genélico. São Paulo: Pedagógica
é checado quanto a malformações e defeitos físicos isolados. Univcrsitâria. 1978.
13. MURPHY. E. A.; CHASE. G. A. Principtes ofGenetic COllnstling. Chicago: YCUI
Apesar de muitos defeitos genéticos deixarem de ser detecta- Book, 1975.
dos nesse exame de rotina. um resultado de exame normal 14. STEVENSON. A. C.; DAVtSON. B. C. C. Genetu:COIII/."IiIl/:. Philndelphla: Lippin-
trará II tranquilidade psicológica do casal. COII. 1976. .

8S-724t-598-X
Seção
Farmacologia
Coordenadore : Antonio Cario Zanini e Tania Marcouraki

32 Noções Básicas de Farmacologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . .. 324


33 Biodisponíbilidade e Farmacocmenca .....................•... 332
34 Farmacodinãmica . . . . . . . . . . . . • . • . . • . . • . . • . • . • . . • . . . . . . . . . . .. 349
3S Interações Medicamentosas . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . .. 354
36 Ensaios Farmacológicos Pré-clínicos. . . . • . . . • . . • . . • . . . • . • . . • . .. 359
37 Farmacologia Clínica _. . . . . . . . . . . . • . . . • . . . . . . . . . . . . . .. 362
38 Farmacoeconomla .........•......•.•.......•....•...•...... 370
324 • Tratado de Clínica Medica

Tanto o metlit'{//J11'1I1Ocomo o remédio. receitados pelo médico


CAPíTULO 32 ou recomendados por um parente Ou amigo. carregam fone
influência psicológica que. por si só. pode influir no paciente.
Quase inseparável do medicamento, o estudo dessas influências
psicológicas sobre o paciente foi concentrado sob a denomi-

Noções Básicas de nação de efeito placebo:


• Placebo é qualquer substância ou agente capaz de modi-
ficar de alguma maneira. posiriva ou negativa. a condição

Farmacologia do paciente. isto é. melhorando-a ou piorando-a.


Utiliza-se frcqücntcmcnrc em medicina o termo efeito placebo,
quando surge efeito psicológico. fisiolégico ou psicofisiolõgico
Tania Marcourakis de qualquer medicamento que não decorre de sua atividade
farmacológica e!cuja explicação pode ser "fenômeno induzido
Jayme Antonio Aboim Sertié por mecanismo: de sugestão".
É importante observar que esse termo também se aplica a
Maria Fernanda Carvalho efeitos ocorridos após a administração de medicamentos con-
tendo substâncias Iarrnacologicamcntc utivas, quando o efeito
Antonio Carlos Zanini observado nada tem a ver CUlII a ução desses medicamentos.
Todavia. na segunda metade do século XX, o poder, outrora
concentrado nos magos e feiticeiros. reapareceu com toda força
Seizi Oga e com nova face: o domínio da informação. Em vez de más-
caras. que não mais impressionam os homens modernos, é uti-
lizado () convencimento pela propaganda, manipulação de
INTRODUÇÃO publicações e até mesmo de resultados de pesquisa. PUni se
As drogas. seus mistério» e rituais despontaram sempre como ter idéia da importância da informação como poder, basta saber
sendo de singular importância para o homem. a tal ponto que que a indústria farmacêutica internacional gasta mais com pro-
William Oslcr, no início do século XX. chegou a dizer que "u moção c marketing do que com investimentos em pesquisa
que diferencia ti homem do' animais é u desejo dos primeiros (\Vadt. 2003). Assim. pode-se reconhecer a terceira grande força
de serem medicados". Cerca de 20.000 anos a.C.. por meio de de influência no tratamento de doenças, que é a economia.
figurn desenhada nas Cavernas de Cro-Magnon, na França, j:1 Dessa tríade - efeitos orgânicos, efeitos psicológicos e in-
se tinha notícia comprovada da existência de feiticeiros. fluência da informação - surge afarmacologia, fi fascinante
A ciência evoluiu muito, mas no século XXI ainda permanece matéria que tenta ensinar ao médico O que é melhor para cada
intenso (l vínculo secular que confunde doenças com efeitos de um de seus pacientes:
poções, mugias, remédios, venenos. crenças c poder. Efeitos • Farmacologia é a ciência que e (lida os fármacos sob
biológicos e psicológicos continuam se misturando a cada receita todos os aspectos. isto é. a fonte. a absorção. o destino.
e ainda é frcqücnte que o médico. mesmo sem se aperceber o mecanismo de ação. interações. loCUS efeitos sobre o
disso, ussumu a condição do "feiticeiro". Parte do poder das organismo e fatores que influenciam informação e o acesso
drogas, outrora ligado à magia. foi convertido em poder eco- de pacientes aos medicamentos.
nôrnico c domínio da obtenção. produção e do acesso aos
medicamentos.
Com base em técnicas modernas de pesquisa e observação CONCEITOS ATUAIS E AREAS.DA FARMACOlOGIA
podem-se distinguir: (I) entre efeitos benéfico. e danoso. : (2) Toda e qualquer pesquisa, estudo ou esforço que busque uti-
efeitos comprovados cientificamente de uso popular ou de es- lizar produtos que aliviem sintomas ou curem doenças enqua-
peculação de resultados: (3) entre efeitos orgânicos e! psico- dra- c na farmacologia.
lógicos. A partir desses dados foram se formando os conceitos Afarmacul('/'(/IJiti estuda a aplicação de medicamentos em
atuais de droga. medlcanu-nto. [ármoco. remédio e plureho, organismos doentes ou em organismos sadios. integrando
conhecimentos da patologia à farmacologia.
• Droga é toda subxrânciu capaz de modificar funções
fisiológicas ou estados patológicos. utilizada com ou sem
. É fundamental (mas não indispensãvcl) conhecer a ação
intenção de benefício ao receptor ou como instrumento dos fármacos. assim como os efeitos objetivos e subjetivos
auxiliar em investignção científica. que eles provocam no organismo, sadio ou doente, de modo
• Fármaco é toda substância de estrutura química definida a obter elementos que orientem seu uso: é o objetivo da
empregada para modiflcar ou explorar funções ou alterar [armacodinãmico.
os estados patológicos, para o benefício do organismo Também é importante conhecer «[armacocinâüca. ãrea que
que a recebe. estuda o destino do fármaco no organismo. Usando modelos
• Medicamento. segundo ti Organização Mundial da Saúde. e' cálculos matemáticos, pode-se quantificar a absorção. a
é toda substância ou ussociação de substâncias usada para distribuição e a eliminação de fármacos. dados que permitem
modificar ou explorar funções fisiológicas ou alterar estados estimar. com boa precisão. a quantidade do fármaco no local
patológicos. para o benefício do organismo que a(s) recebe. em que ele deve atuur nos diferentes momentos apó a admi-
• Remédio consagrou-se como termo popular pouco usado nistração. A definição de doses e! intervalos entre doses de-
no meio científico. impreciso e, além de substâncias, plantas pende da Iarmacocinética.
e outros produtos. inclui tratamentos dietéticos. psicológicos. A toxicologia estuda os efeitos danosos dos medicamentos
exercício. etc. A grande diferença é que o remédio é definido e drogas cm geral e está lntirnurnentc ligada à farmacologia.
apenas pela intenção de combater a dor ou a doença. pois os riscos da terapia não podem comprometer ou superar
sem necessidade de comprovação eientílica de eficiên- a expectativa de!benefícios. Com base nos estudos toxicológico.
cia c segurança. também silo estimadas as doses máximas a serem prescritas.
Farmacologia • 325

Outras disciplinas ligadas à farmacologia estudam desen- • A preocupação com a identificação de reações adversas
volvimento. obtenção e produção dos medicamentos: ainda não conhecidas e com o risco causado por reações
graves é rcflctida nos conceitos e definições adorados
• A jiwtl'rllpi(/ estlida () uso de plantas, ext ratos ou deri- pela Organização Mundial da Saúde:farmacovigi{finc;a
vados no tratamento das doenças. é "(I notificação. o registro e a avaliação sistemâtica
• A biodisponíbílidade estuda tudo o que ocorre desde a das reuções adversas aos medicamentos",
escolha da via de administração e do produto Iarrnacêu-
• Sob O ponto de vista de seguimento dos tratamentos, reu-
rico, até li liberação do fármaco no organismo na sua
nindo contribuições ele cada um dos segmentos de saúde
forma ariva. (médicos. enfermeiros. farmacêuticos. pesquisadores, pa-
• Afarll/ococillética estuda os fenômenos ocorridos depois cientes. indústria farmacêutica. agências governamentais)
de o fármaco penetrar no organismo. referentes a distri- [ormacovigilância é "o COllj1l1l1O de métodos e técnicas
buição, metabolismo e excreção. e que compilem estu- que tetu por objetivo a identificação e a avaliação dos
dos aplicados a cada medicamento. envolvendo. inclusive. efeitos do uso. agudo ou crõnico. do tratamento farmacolôgico
complexos modelos matcmãticns. 110 conjunto da população 011 em subgrupos de pacientes
• Afarlllaco[:lIosi(l. termo utilizado desde o infcio do século expostos (/ tratamentos específicos".
XVIII. e~tuda as matérias de origem natural usadas 110
truramcmo de enfermidades; atuulmcntc. abrange, em A homeopatia (homeo: sernelharue: pathos: doença) é um
especial. o estudo das plantas medicinais. ramo paralelo ii farmacologia, com base na teoria criada por
• Afarll/ocologia bioqulmica investiga todos os aspectos Samuel llahncmann de que O "semelluuue combate o seme-
bioquímicos dos Iármacos, incluindo os relativos 11 ab- lhante": procura curar O doente administrando-lhe um agen-
sorção. distribuição e eliminação. te que pode causaro mesmo sintoma de sua moléstia. Hahnemman
• Afarmacotécnica trata da preparação dos medicamentos. propôs o uso de doses infinitamente menores do que as usa-
ou seja. da adição de ingredientes inativos que permitam da~ em terapia com medicamentos, a tal ponto que é quase
a utilização dos fármacos como mcdicurncruos cm pro- impossível dosar o!' princípios ativos presentes. Seus medi-
dutos manufaturados ou industrialivados. camentos são preparados empregando-se técnicas especiais
• A [arnmcologia molecular estuda as atividadcs farma- de diluições sucessivas. intercaladas com agitações vigoro-
cológica .. no nível molecular. baseando-se nas intcraçõcs sas ou "dinamizações".
entre as moléculas dos fármacos e as do sistema biológico. Ainda não se tem comprovação científica indubitável com-
A bi()Io~ia molecular':' bem mais ampla que a farmacologia provando a maior eficácia dos remédios horncopãt icos em relação
molecular. pois. além da bioquímica entre fármacos e seus ao placebo. Todavia. a medicina homcoprii icn rcssaltn o cnfoque
receptores, estuda diversos fenômenos biológicos mo- sobre o paciente e nascondições gerais de untumcnto do paciente;
lecularcs. incluindo, por exemplo, a síntese de substân- médicos homeopata. acrcd i ta 111 11li cficãcia dos remédios homeo-
cias c os aspectos do ecossistema. páticos. Se a concentração do princfpio ativo é tão pequena.
• A elucidação das ações primárias de algun .. tipos de ou inexistente. a ponto de não se acreditar no seu efeito farrna-
fármacos no nível molecular. por sua vez. propiciou o col6gico. também não existem efeitos colaterais, Contudo, embora
aparecimento de outra área. a [armacologiu quântica, não exista prova positiva de ação, é impossível provar cientifi-
cujo objctivo é estudar as propriedades dos elétrons de camente a hipótese contrária, isto é, que os medicamentos homeo-
valência das moléculas implicadas na inrcração tridimen- páticos não agem sobre o organismo.
sional entre o fármaco e seu receptor celular. O termo alopatia, que se contrapõe de certa forma à homeo-
• Af(lml(lc(ll(l~i(/ comparada estuda a caructcrizaçâo das patia, significa medicamentos com efeitos comprovados cien-
respostas individuais de cada espécie animal diante de tificamente, tanto os terapêuticos como os efeitos adversos.
diferentes medicamentos. ou em órgãos isolados de ani- Esse"risco" da ulopatia é explorado pelos adeptosda homeopatia.
mais, que permitem predizer, com relativa precisão, qual que ditem que seus medicamentos são seguros; porém. é difícil
a ação farmacológica que uma substância exercerá quando aceitar ii idéia de remédios tão inteligentes que por si só dife-
aplicada no homem. renciem o efeito benéfico do maléfico, A alopatia é extrema-
• A!ar/llClcologi(/ clínica é o estudo de medicarncruos ad- mente crítica; lisa para tanto metodologia científica rigorosa e
ministrados :10 ser humano, com ii finalidade de avaliar rejeita dados não comprovados. Ela submete ii crítica todos os
eficácia e segurança no tratamento de doenças 011 sintomas. aios. A homeopatia. ao contrário, restringe-sea afirmar suaeficácia.
Fala-se em farmacologia humana quando a~ pesquisas Nem sempre se consegue isolar o princípio ativo de um ex-
sãofeitas em volumários sadios. tanto cm farmacocinética trato ou conjunto de substâncias usadas como medicamento e
como na avaliação preliminar de ausência de toxicidade o seu uso permanece vinculado a um produ/o. A forma como
no homem. esse produto é apresentado intitula-se forma [arniacêutica:
• Farl/l(l('()ecollolllia, lato sensu. é a aplicação da economia
ao estudo dos medicamentos, podendo objetivar aspectos • Forma [armacêutica é a denominação utilizada para des-
diversos,quedependemdo interessedo pesquisador:.soóal, crevcr o conjunto dasprincipais características ITsicase qufmicas
político ou investimento financeiro. do medicamento, relacionadas com li sua aparência e ou-
• Finalmente. dentro da farmacologia. surgem numerosas tros aspectos ligados ii liberação do princípio ativo.
divisões, como o estudo dos autacóides. a ncurofurma-
Na prática. forma farmacêutica é o produto que contém
cologia, a cronofarmacologia. a psicofnrrnacologin. 11 far-
um ou mai .. f:írll1acos convenientemente manufarurados em
macologia do. compostos quirais etc,
processo industrial. durante o qual quase sempre são adiciona-
Farmacovigilâncla é a obtenção e compilação de informa- das outras substâncias.
çãosobre os efeitos do medicamento antes e após seu lança- Classificam-se, em geral, por via de administração, isto é,
mento.Existem dois modos de trabalhar nessaárea: (I) reunindo o caminho pelo qual um medicamento é levado ao organismo
retrospectivamenteinformação epidemiológica sobre reações para exercer o seu efeito. Por exemplo: via oral (drãgcn, cápsula,
adversasou (2) COmcnfoque principal sobre o acompanha- comprimido. xarope. suspensão), via intravenosa (solução, sus-
mento de pacientes: pensão). via retul (supositório), uso tópico (creme. pomada) etc.
326 • Tratado de Clínica Médica

Para criar condições que permitissem obter produtos idên- MEDICAMENTO


ricos. preparados cm tempo c locais diversos. foram se dcscn-
volvendo. principalmcute a partir do inicio do século XVIII. I Fase farmacêutica Viabilidade farmacêutica
texu» c tl1lt:ldo\descrevendo carncrcrfvicas. propriedades e métodos
pum identificá-los. surgindo tratudov chamadosjarllla('0f/é;as:

• é o liVI'() que reúne a<;descrições iéculcas de


/-'(/1'/111/1'01/1;" EFEITO
r:írll1aC\)~c medicamentos. xuu compoviçâo e métodos
de do)oagcllI. Figura 32.1 - Fases desde a admlnlstreção do medicamento até
o seu efeito terapêutico
Muitos p;lbes, ou conjunto de puísex.cditum seus próprios
livros, que servem COl1l0 normas legais para testes de análise. como
'l1/1!Uultes SWII',V Phcmnarnpoeia, The British Pharmacopoeia. desintegração (disponibilização) vai depender li entrada do
Fannacopéi« tuternacionul (editada pela Organização Mundial medicamento na circulação geral. Se a administração for por
da Saúde) c Flln/ll/clI(Jéia Brasileira, uma via diferente da intravenosa. a fase farmacêutica en-
I'lIr Iim. convém observar que nem vcmprc II termo que globa ainda () estudo da liberação do princípio arivo da ror-
melhor 'c atlapllIlls defiruçõcv J corrctumcntc crnprcgndo. Por mutação. a dissolução c o transporte do princfpio utivo pelas
exemplo. (I conceito (ii; tlmKCI é muito amplo: além de todos o. membranas biolõgicns (Quadro 32.1).
I'árnwl:l))o, inclui uunbém outra, numerovas sub tâncias. como Ajauja/'/l/o('odil/(/lIIica relaciona-se com a interação entre
o., tú" icov, O~ alucinógcm», loãll droguv, mas não são fármacolo moléculas do medicamento e receptores farrnacolôgicos cspe-
nem medicamentos. II:í um cc no conscnvo internacional. entre cíficos. sendo dependente, entre outros fatores: (I) de sua
os cicnrisras. cm não utilizar droga como sinónimo de medi- concentração na biofase ou (2) da concorrência com outras
comento, mas essa "regra" é pouco cguida. Em inglês. existem substâncias no nível dos receptores. Outros fenômenos, como
us termos medicine e drug para medicamento. Todavia. os alterações de pH local, que alteram as características de ação
americanos preferem drug para se referir a "medicamento". do medicamento, também podem ser incluídos na fase
gerando daí uma certa confusão de termo .• a prática. como farmacodinâmica.
os termos são usados cm meio de fr:1SC!- completas, cs: a "confui ão" Em caso de infecções microbianas ou infestações, cm vez
purist« não atrapalha nem conferencivtuv, nem ouvintes. Em da ação sobre o organismo. o medicamento deve agir sobre
inglê,. II equivalcruc w fârmar») é plutrnutretuiral vllh.\'WIII·P. bactéria. vírus ou parasita.
O conjunto de propriedades há,i"l' de um medicamento permite
que se tenha um racioctnio farmacotõgico, i~t() é. ao prcscre-
ver ou aualivar ti U~(Jde medicamentos. os profissionais tia saúde
INTERVALO TERAPluTICO
devern Ievar ern consideração Iarmacodinâmica. farmacocinéticn. Para que um medicamento alcance o melhor efeito, ele deve atingir
fatore. que modificam a ação dos medicamentos. inrcraçõcs o local de ação com uma concentração acima da mínima com a
alimentares e medicamentosas. bem como conhecer efeito plnccbo qual se espera que ele alue e abaixo dos níveis tóxicos, Quando
e tecnologia de comparação entre medicamentos (farrnacolo- o medicamento é distribuído por lodo O organismo. sua ativida-
gia elínica) e aber escolher o que é importante nas informa- de pode ser avaliada pelos níveis sangütneos. que devem ser mantidos
çõc, que constam de promoções ou dccisõe ...tomadas nos cfrculos acima da concentração efic«; mlnima (CEM) e abaixo da C(}II·
gl>\ cmameruaiv (farmacocconorniaj. ('('/I[/'{/F;II táxicu nuixlm« (CTM). A CEM é sinônimo de mini-
Modcruamcnte. com a velocidade com que medicamentos mo nível plasmãtico eficaz (NPE): de modo scmelhamc, II CfM
,iiu lanç;ttl(Jloe rctirndux do mercado. com a entrada de novos se confunde com II ('OIlI'('III/'fIÇ(70 nuixima tolerada,
mcdicumcntos. torna-lo": cadn vel mais relevante ter as ha~clo Esse intervalo ideal de níveis sangüíncos denomina-se iII'
de conhecimento que permitam o raciocínio farmacológico. tervulo urrupêutiro, cujo conhecimento fornece 110 médico a
margem de segurança de determinado mcdicnmcmo (Pig. 32.2).
RESPOSTA TERAPlUTlCA A dose prescrita deve proporcionar níveis dentro de seu inrer-
valo rcrapêut iI:li (ULl Janela terapêutica).
O efeito de qualquer medicamento só aparece quando este atinge O intervalo terapêutico varia de substância para subs-
II local do organismo cm que vai precipitar a resposta. Em ou- tância. Por exemplo. II penicilina apresenta amplo interva-
tr;" pala\ ra,,'" moléculas do princípio arivo. para agirem (efeito
lo rcrapêutico. enquanto os digirãlicos. o lüio e os anestésico~
terapêutico ou efeito adverso). têm que atingir seu local de
gerais têm um intervalo terapêutico bastante estreito. Quanto
lIçã(l, que pode -cr um receptor cspccffico 00 organismo (doenças
maiv estreito for, nll1il>cuidadosu terá que ser a administra-
orgâllica,) IHI 11111 plll'llloita (infl.!cçõc' ou infcl.tações).
ção do medicamento: para as :,ublotllncias digitálicas c»~c
I)ara lin, dithítico~. pode-,e dividir o estudo da resposta
intervalo e. tá entre doi~ c cinco: para os ancstésicos g~-
tcrllpêutÍl:a a metlie:lIllcnlO~ em trés fa~es. das quais duas
rais, é menor que dois. Felizmcnte, para II grande llluioria
antccedem »u:! chegada ao loc:d de ação (Fig. 32.1):
dos mcdic:lmcntos. o intervalo terapêutico IS 50 fi 100 vc·
• /'1/,\1' /11I1II(lI'l'tll;C(/, que estuda a liberação do princípio Z~ maior que a tlose efetiva mínima.
ativlI do prlldllto.
• Ft/.\·('!al'l/l{/co('Íllélica. que estuda absorção. distribuição,
mctabolismo e excreção do medicamento. QUADRO 32_1 - Principais fatores que podem modificar o
• /-i/XI! .f1ll'llllll·odi"filllÍt'a. que e~tuda os mecanismos de efeito do medicamento durante as fases farmacêutica e
"çfio do, fármacos. farmacoc.inética

A~ /11.\('.\' /III'11I11CêlltÍC'a c jll/'/I//lCoc:illéticCI compreendem • Tipo de formulação farmacêutica


dc~illtl.!gr..çl1l). tli~~uluç~o. ab!-orç110e di~tribuiç~o (illcluintlo • Motilidade do tubo gastrintestinal
a ligllÇãll :IS proteínas pl:!»lllálica~) c eliminação (bi(ltran~- • Distribuição do fármaco pelo organismo
• Velocidades de biotransformação e excreção
I'orma,iio e excrcçiio). O c~tudo des<;a~ raloe, inicia-se ainda
• Interação com alimentos ou outros medicamentos
com o tipo da forma farmacêutica de apresenwção e da sua
Farmacologia • 327

o r~1IIde I) intervalo terapêutico ver muito :1I11pll).corno Penicilina O'go_ln.


ocorre cum a penicilina. não significa que csra I)o"a ver admi- Concenll.çAo plalm61;c, Conc~nll.ç60 pl'lm4tlc.
nistradu vem I" dcv ido-, cuidado-, poi-, cxivtcm reaçile' que 1111111111111111111
não ~ã() dovc-dcpcmlcntcv, Deve-se ter cuurcla na adminivtra- 1111111111111111111
1111111111111111111
çào da penicilina. já que CMa é um tlm gr:lllde\ indutorev da 1111111111111111111
- - - - -CTM
1111111111111111111
alergia mcdicumcntova (O.()..la 0.2% de incidência); pude acarretar 1111111111111111111 1111111111111111111
edema de glote.qua,e xcmprc fatal para o paciente (Fig. :n.3). 1111111111111111111 1111111111111111111
1111111111111111111 1111111111111111111
CEM - - - - -CEM

MODIFICAÇlo DO EFEITO DE MEDICAMENTOS


Cada indivíduo é único no seu patrimõnio genético e na, con- Tempo Tempo
diçõcs do momento em que recebe a medicação. inftucuciadav
por peso. idade. ambiente. fatore. pvicológico». imunidade ad- Figura 32.3 - Exemplo de gráficos teóricos de intervalo tera-
quirida. doença, etc. Avvim, é impossível prever cxatamcntc pêutico para penicilina e para digitoxina
qual a respost« a cada medicamento. sendo xcmprc ncccsvãrio
O ncompanhamcnt» tia re-posta terapêutica e do aparecimento
de efeito' ndvcrsov (Fig. 32A). O:. ritmos circudianos constituem uma caracterfsticu da grande
Para sistematizar como cada Iator pode alterar a ação de maioria dos organismos vivos. Suas origens. eminentemente
medicamentos. xerão desenvolvidos os seguintes itens: endógenas, têm por função coordenar. de forma hurrnônica,
:IS arividadcs fisiológicas e comportamentais, compatibilizando,
• Fatores ligados ao paciente. desse modo. o equilíbrio do meio interno com as variações
• Fatores ligados ao produto. ambientais externas, propiciando uma adaptação individual e
• lnreraçõe alimentares e medicamentosas. populacional cfctiva,
O ciclo sono-vigília. sono profundo c sono-sonho, os ritmos
Variabilidadade Individual- Curva de Gauss relacionados com o metabolismo. a secreção de corticosterõides,
a pressão arterial e a variação circadiana na absorção e excreção
A expectativa da re posta de cada organismo a qualquer medi- urinárias contribuem tanto para a eficácia ou não da terapia
carncnro. administrado com doses rigorosamente equivalentes medicamentosa, como para a ocorrência de efeitos adversos ou
(cm termos de dose por peso ou dose por área corpórea). é
tõxicos para o paciente.
variável deruro dc ceno-, limites. os quais. cm tcrnu " de população.
Cabe aqui citar alguns exemplos:
são expressos pela Curva de Gauss (Fig. 31.5).
A variação da rcvposta cm função da variação individual. • O paraccramol (accuuuinofcno) aprescnru variuções ':111
ou seja. da posição do paciente na curva de G:IU~:'.é qua,.: ~ua taxa de ubsorçã» cm fllllljão do tempo, sendo esta
imposslvcl de antecipar e a posologia do medicamento rem cerca de cinco vezes maior quando se administra à noite,
que ser "rateada" caso :I C:l'O. em "CI do período matutino.
• A \ ariaçãu ríunica do pH urinário interfere na excreção
Fatoresligados ao Paciente dCl\ ,alicilato~ c das sulfonamidas.
• A conccnrração urinária dc cálcio é máxima durante a
Fatores Farmacogenéticos noite. atingindo o pico à meia-noite; a oximetolona adrni-
A maioria da~ diferença» genéticas na~ rcsposra-, pode ser ex- nivtrada às I Xh reduz esse ritmo. ajudando a diminuir a
plicada por aho:raçile~ na dinâmica de divtribuiçâo c biotrun-- perda desse íon cm paraplégicos.
formação do medicamento. mudando a quantidade (IUCalcança
aregiãCltio, tccidov. É Cl que ocorre. por exemplo, CIl1 pacientes Idade
portadores de ~índrumc de Down (1I1I)ng()li~m(» e divnutonomia
~ familiar. cuja, re'lXl\ta, à atropina c à norndrcnalina e\t:in -cn- 'o, doi, extremos da vida. ti cupucidude de excreção renal e
; slvelmcntc uumcntada«. do, ,btema, cuzhnãricos respon~ávei:. pela biotrunsformu-
., ç:io tio, rucdicumcntus pode estar impcrfciuuncruc dcscnvol-
~ Cronofarmacologia \ ida. como é (I CII~() dos rcccm-nascidos. ou dimiuuídu. como
cm indi\ ídu()~ idll~I)~./\ capacidade de re~p():.l:Ide certos tecidos
A relação dose-efeito depende do ritmo hiológico do organi-« eu' mccnnivuu», homcostãticos também pudem ser diferentes,
mo. É conheci III C mo antigo (Moorc-Edc. 1973) que o organis- Em recém-navcidos, a barreira hcmarocnccfãlica. da mesma
mo modifica periodicamente ,ua fi~iulugia. o que poderá prov ocar mancir:l. e:.t:í pouco dcsclwolvida c a ligacilo dc f:írmacos a
trunsformaçõc\ na ação c na cinética dos II1cdic:ullelllolo. proteína:. do plasma é bastante rcuuzidu. Um outr() cxcmplo

Coo<tnl'ilçio plnmiltCiI
I CTM ~í~ I~;C~ _
CondlçOcl do poc!enlC
Amblenle...............\
-......._ ,/
Fo,mncocin~tlca

/ Eleilo placebo
////// /11//////////11/////////////1//1///1///1///////11/
1//111////1/1/1/1/1/1/Int~rvillo tmpfutico 1///1/11/
////////11/////1/1/1/1/1/11/1/1/111//1111/1/////////1/1/ MEDICAMENTO _. --+ EfEITO

CEM ~/ ~lnl~,.ç.O
FO{mul.çAo medkamenlo~a
AdmininraçAo Inl~,açAo
T~mpo allmenla,

Figura 32.2 - Esquema teórico do intervalo terapêutico. CEM= Figura 32.4 - Fatores que podem modificar a resposta orgânica
concentração eficaz minima; CTM = concentração tóxica máxima a medicamentos
328 • Tratado de Clínica Médica

Efeito médio
Estados Mórbidos
É especialmente importante. nu rotina de consultório. nvcri-
guar as condições do paciente que possam alterar parâmetro
furmacocinéticos. como absorção. biotransformaçâo e excreção
(Fig. 32.6).
Alterações gastrintestinais. como discntcrias subseqüen-
tes a roxinfecções alimentares, provocam grande diminui-
ção da absorção de medicamentos. mas raramente são
consideradas para reajuste de doses ou avaliação dos resul-
tados. Nesse ClISO. a causa mais comum não é erro ou des-
cuido médico: a diarréia é relativamente frequente no Brasil
c o paciente, desconhecendo que da pode interferir no tra-
tamento. não a relata no seu médico.
O estado nutricional reflete o estado geral do paciente. Em
-4 -1 -2 -1 +1
InteMidade do efeito -
particular. pacientes desnutridos apresentam hipoalbumincmia,
Onvi().~dr.o da médio o que tendc ti elevar a gravidade das interações entre medica-
mentes. sobretudo daqueles cuja eliminação envolve conju-
Figura 32.5 - Curva de Gauss: curva de distribuição de resposta da gação protéica, Hemorragias crônicas, comuns em portadores
população a um medicamento. O gráfico tem a forma de um sino, de miomas ou hemorróidas. também tendem a provocar anemia
com a maior parte da população respondendo próximo da média e hipoalburninernia.
A perda da função renal, com diminuição da velocidade
de filtração glomerular e/ou deficiência da função tubular, pode
de toxicidade aumentada em recém-nascidos são medicamentos resultar em níveis elevados do medicamento no sangue, au-
como cloranfenicol (síndrome cinzenta) e hipnoanalgésicos. mentando. de forma acentuada, a probabilidade de reações in-
inativados por conjugacão glícurônica. pois nas primeiras desejáveis. Além disso. pacientes com uremia podem manifestar
semanas de vida a arividade das enzimas microssôrnicas é modificações em relação à conjugação. do fármaco com as
muito reduzida. proteínas plasmáticas (como ocorre com a fenitoína). Por outro
Tudo isso contribui para haver maior suscetibilidade aos lado. a albuminúria em doentes nefróticos pode diminuir a albumina
mcdicarncntos e a terapia com base em dados farrnacocinéticos plasmática a tais níveis que a probabilidade de interações com
obtidos cm adultos jovens pode causar toxicidade inesperada outros princípios farmacologicamente ativos se torna sensi-
em crianças e idosos. velmente aumentada (como se dá com os anticoagulantes orais,
hipoglicemiantc orais e saticilatos).
Sexo Qualquer redução tve função hepática pode, teoricamente,
resultar em níveis sangüíneos elevados, o que eleva li proba-
No homem c na maioria das espécies animais estudadas não se bilidade de reações indesejáveis. No Brasil, onde a esquisros-
comprovam diferenças signlficnivas entre os sexos quanto à resposta somose é doença endêrnica de alta incidência, a alteração da ~
tiOS medicamentos, excetuundo-sc, naturalmente. aquelas asso-
função hepática. muitas vezes pouco valorizada, causa Ire- ~
ciada, :1 gravidez. 11lnctuçâo e ao complexo hormonal diverso. qüentes alterações de efeitos. ~
Sabe-se. entretanto. que as ratas são mais sensíveis que os Alterações endâcrinas, como diabetes e hiper ou hipoti- ~
ratos a vãrios medicamentos. Nessa espécie. as fêmeas dor- reoidismo. devem ser sempre pesquisadas e lembradas no x
mern mais tempo que os machos quando recebem doses equi- momento da prescrição.
valentes de hcxobarbitnl ou pentobarbiral. Demonstrou-se que Além das alterações orgânicas. alguns estados mórbidos
tal difcrcnçn se deve a uma variação na velocidade de podem influir indiretamente no efeito do medicamento. Por
biotrunsformação das drogas nos dois sexos e que ela pode ser exemplo. alcoolismo e ansiedade patológica são causas habi-
invertida pela administração de horrnônios masculinos às fê- tuais de esquecimento da administração do medicamento prescrito.
meas e horrnônios femininos aos machos.
Fatores ligados ao Produto
Peso e Composição Corpóreos
Fatores Ligados à Forma Farmacêutica e à
Os medicamentos costumam ser administrados calculando-se
a dose por quilograma de peso ou por área corpórea em metros Via de Administração
(mg/m"), A formn como se administra um medicamento tem grande influência
No entanto. as doses habitualmente recomendadas em li- sobre sua absorção e. por conseqüência, sobre a resposta tera-
vros ou bulas estimam uma resposta média para indivíduos de pêutica. Soluções são absorvidas rapidamente, ao passo quecépsulas,
estatura e peso médios (em geral. 70kg). Assim. na prática. a comprimidos e drãgcas o são de modo mais lento. sendo esta a
dose inicial de um medicamento já deveria ser reajustada para ordem decrescente de velocidade de absorção.
indivíduos obeso ou muitos magros, pois nesses casos a pro- Quando se deseja lição imediata do fármaco. pode-se uti-
porção entre água e gordura do organismo é diferente. Se II lizar II via intravenosa. Todavia. pelos riscos inerentes ao uso
substância se depositar de preferência no tecido adiposo. o dessa viu. inclusive ti ocorrência de superdosugem (ou overdosei
indivíduo obeso necessita de quantidade maior de medicamento temporária quando a injeção é muito rápida, cm muitos casos
que o magro: o contrário e verifica quando II droga se distri- se deve preferir a via intramuscular ou a oral.
bui preferencialmente no compartimento extracelular, pois no A via intrarrnlscular traz maior confiabilidade de absorção que
indivíduo obeso o volume de água é relativamente menor. a via oral. mas a diferença quanto ao início da ação em geral
A mesma consideração vale para condições patológicas nas não é compensadora em relação ao desconforto do paciente.
quais o conteúdo de água el>tá muito diminuído (desidratação) A par da descoberta de novos medicamentos, o desenvolvi-
ou muito aumentado (edema). mento da farmacotécnica revoluciona a terapêutica medicamentosa,
Farmacologia • 329

facilitando a admini-trnçâo, modificando propriedades UI.!ab ol\'ão


Palologla
c liberação I.!tentando condicionar a .uivação da molécula à
funçlo renal runç30 hep611co
própria docnçu ou ultcrução ('Q!:1li ica, O implante tranvdérmico
de cscopolaminu para vcrtigcn- 011 a aplicaçâo de cnzlma: por
C31Clcrdircuuncnrc cm ob-rruçõc- coronarianas já marcou o
Peso
1 ~ldadC

/1
MEDICAMENTO~ EFEITO
princípio dc~sa nova or icmação furmucêuricu. Adesivos
transdénuicov ou implanic-, 'UhCUI:incII\ podem prover Iibc- Cultur. Sexo
ração lenta c continuada por dia, ou meses de Ir:lIamCI1l0, pH Gon61icol
A intensidade do efeito farmacológico geralmente tem COITel:t- PrOlel"fI pl"m'llt'l
ção com a concentração tio medicamento li\ rc no sangue. servindo
ainda. esse parâmetro. como Indicc do grau de ocupação doe
receptores: l:ti~ níveis plavnuiricov pudem xcr correlacionados Figura 32.6 - Fatores inerentes ao paciente que modificam o
efeito dos medicamentos
com a eficácia cI ínica do medicamento. Por exemplo. a maior
ou menor velocidade de de~illlegruçã() e di-solução das aprcscn-
taçõcs orais constitui falOr limitante da absorção e depende de que favoreçam a forma ionizada do medicamento. Como exemplo.
certas curactcrfsticus frsiclHlllílllica\ do princfpio ntivo. podem-se citar medicamentos que são ãcidos fracos 011 bases
fracas e cuja excreção renal pode ser alterada pelo pH urinário.
x Constantes Físico-químicas Por exemplo. a rcabso r ção tubular da eritromicina (PKA = 8.8)
ob eleva-se nccntuadarucntc pela ulculinivnção da urina provocada
'"~ Algumas constantes físico-químicas próprias do principio ai ivo pela accrazolamidu, numcntnndo, dessa forma. seu efeito.
~ e que não podem ser alreradns caracterizam influência: cspc-
~ cíticas que esse medicamentos podem sofrer diante de situa- Química Farmacêutica e Nanotecnologia
ções do paciente e interações com alimentos ou medicamentos.
particularmente o cocficicmc de partição óleo/água. a solubi- Um dos objetivos da ciência dos medicamentos é conseguir
lidade. o peso molecular e a cunxtantc de dissociaçâo (PKA). separar, manipular e modificar moléculas no próprio local de
Dentre essac con-ramcv. merece comentário especial o PKA. ação desejado ou que se consiga mudar a absorção e a libera-
Quando o pll da solução aqUl)'a de lima substância é igual ao ção de fármacos. Com isso. ii medida que esse processo seja
PKA. o número de moléculas ionizudus é igual ao número de vinculado a alterações patológicas ou agentes invasores. con-
moléculas não ioniznda-, (forma molecular). Conforme se trate seguir-se-iam medicumcmos com maior eficiência e quase
de ácido ou bave,a rcndêncin para ionizar comporta-se de modo atéxicos. A nanorccnologiu molecular (ramo da ciência que
oposto e é cxprc-va pelo valor do PKA: visa à obtenção de ,,:I tecnologia de "manufatura endógena")
começa a trazer profundas modlficuçõc-, ;1 prcparaçãu c ao
• Para ~ droga« d« curti/a ácido, quanto mais baixo o
uso de medicumcmos.
PKA (ácidov mai-, fortes maior é a tendência de ionizaçâo
Dentre o~ mais recentes avanços da química farmacêutica
em meio alcalino.
podem ser ciuulov:
• Para droga« cItO raniter alculino, quanto mail. alto o PKJ\
(bases mai-, Iortcv) menor a tendência de ionizaçâo cm • Mictr/(·.VC'r(/l!orlll(u/as de pollmeros e que s(70carregadas
meio alcalino. de [ármaros: sua preparação induz adesão ao epitélio
mucoso do intestino para melhor absorção. pois o fármaco
Para f~rrnnco~ :ícidll'. a elevação do pll aumenta a forma
é absorvido pelo epitélio da mucoso. Essn técnica pode
ionizada (diminui a forma molecular). portanto. diminui a
ser uriliznda, por exemplo, como nnnocncnpsulamento
absorção. Para lIa,I.!'. a c1l.!v:u,iiodo pi I aumenta a forma molecular,
por inversão de fase para produzir absorção sistémica
logo, fucilitn II nhsorçâo. Em outras palavras. áridos são mais
de inS1I1iIIU em r alU~.
bem absorvidos ('11/melo ácido e. bases. cm meio alcalino, O
• ClIl/jll}i(/tlIJS mnirorpo-druga: ~i111 pruduz idr», para me-
mesmo se dá cm relação à difu ão pela» membranas.
litoral' a sclctividnde dos agentes ciiotóxicos. tentando
A velocidade 1'011/a quat li [áruuu:o .11' II/OI'C' til' 1111/rompar-
liXIII' (\ mcd iCHmcnlCl cm um HIllicorpo dirigido contra
lill/e/llu pllm (llllm. 011tIIllIl'/1I ('(III/ II 11,/(/1CIIillg(' (I ('qllill"rio.
um lItllígcno IUllloral espcc(fico.
r';
depellderlÍ c/II('(ll/n'''1 ro o tia fiml/(I c/ifll fíl'('1 (nâo ioni/ada).
• AC(lJI(/il'iIJI/I//l/l'l/lO ('11/ /iplI.\·.I·O/l/(/.I·: Iipossomas são mi-
Condições que favorecem a fmma ncutra du medicamento
aUlI1cnlJma ab:.ur~·àl)e \ iCI.!-\cr...a.pui, a \clucid:IIJe de ab~orção nú~cltla~ ve~íeulas de uma suspensão aquosa de certos
fo~folipídeoll. Podem preenchê-los medicatnclllos não Ii-
de qualqucr droga é proporcional ii c()ncentra~';io da forma n50
possolúveis ou seqü\:ncia dc ácidos nucléieos. que são
ionit:tda. " influência do pll no efeito d:ll\ droga~ dependerá.
n:tido~ até a ruptura do lip<Moma. 0, liJl(l~~omaslIiiocaptado
a ~im. de que lICUPKA ~eja ácido ou b:hico.
principalmcnte por célula, reticuloendoteliais. sobretu-
Quando h(J di ferença ~ub~tancial dl! pi 1entre o local de ab-
do no rrgado. São tamhém concentrados cm IUmore!>
)(lIÇàoI.!o ~anguc. como aquelc exi,tellle cntrl.! o cMômago e o
malignos c existe a po:.,ibilidadc de lICobter suprimen-
sangue. a vclocidade de absorç50 é acentuadamente alterada.
lO ~elct i\10 de fárm:lco~ de~~a maneira. A anfoterieina.
Porexemplo. o ácido ~alicílico (PKi\ = 3). quando alcanç:1
quando dbponívcl cm formulação lipo~~ômica. é mais bem
oe tômago. apre~enla 99.99':( do total na forma não ioni ...ad::t.
Em contrapanida. ne~~e 1I11.!""0 )I)Çal. uma ba'c COIIIO a anfet:l- IIIlerada quc a forma convencional c menos nefrotóxica.
mina (PKA = 9.8) tcm ~omcnle O.(X)(X)() 15r~ na fon11:1molecular. Doi, lIutros fatorcs tendcm a marcar a contribuição da ciência
Por con\eguinle. quando a I11c,ma quantidade das dua~ dro- p:lr:t seleção e u!>odos l11edicamenlo~: (I) a informática, à medida
gas atingir o cstômago. a "e1ocidade dI.! ab~orção do ácido que tende a tornar a prescrição cada vel mais 'dependente do
frnco ~erá signiftcativamellle lIIaior. Nu intl.!~tino. o pH sc ele- nce~ o a descrições mais eorreta~. preci!>as e extensas do que
\lU a cerca de 5.3 c. IH.:~~emeio. a \'clocidade de absorção da a memória humann: (2) a farmacogenélica. a qual. cm conjunto
nnfctamina sení autncnwda CIII lorno de cem vezes. com a infomlática. poder:í permilir de:.enh(). manufatura e sclcção
Acontece o OpOSIOquanto ii excrcção urinária. isto é. a velo- de medicamentos apropriados allll genólipo c fcnólipo de cada
cidade de excreção dcpl.!nder:í fundamentalmente das condiçôes indivíduo.
330 • Tratado de Clínica Médica

Em outras palavras. a prescrição só seria decidida com auxflio O médico deve instruir o paciente e fazer constar da receita
de informação 'obre as características bioquímicas do paciente. os cuidados especiais com a alimentação. A bula. que tam-
É difícil prever as novidades que o futuro reserva para as bém deve trazer informaçõe sobre interferência da alimenta-
formas farmacêuticas c os sistemas de administração. mas ti ção. é de grande utilidade para orientação complementar do
humanidade deve estar preparada para: (I) .1 combinução dos paciente.
medicamentos atuais com o desenvolvimento da informação Cabe destaque a efeitos /1(/ absorção de medicamentos
e tecnologia de sua administração: (2) terapias cm nível mo- provocados por alguns alimento). comumcutc utilizados:
lecular, especificas ti cada paciente - medicamentos intcli-
• O leite merece cautela especial. pois pode formar quelatos
gentes - que circulam no corpo e ativam o medicamento quando
com medicamentos, dificultnudo. ou mesmo impedindo,
surgem as condições apropriadas.
a sua absorção. É bem conhecida sua interação com
antibióticos retraciclínicos.
Interações Alimentares e Medicamentosas • Atimentos ricos em fibras (! pectina. muito recomenda-
Interações Alimentares dos em dietas, formam complexos insolúveis e diminuem
acentuadamente li absorção de clindamicina, eritromicina
A ingestão concomitante de alimentos com medicamentos pode e digitállcos.
alterar signiflcutivumcntc as absorções gastrintestinuis do ali- • Alimentos de restduo de combustão a/colina (leite, cremes,
mento. do medicamento ou de ambos. geléia, mel, coco, azeitona etc.) alcalinizam a urina, podendo
A interferências entre medicamentos e alimentos progridem diminuir a aiividadc antibaeteriana dos aminoglicosídeos.
ao longo do trato gastriruestinat: são desprezíveis em boca. garganta mas elevando a arividade de fármacos como a quinidina,
e esófago. significativas no es tômago e intensas durante O trânsito • Substâncias ltpossoíúvets. com alto coeficente óleo/água.
no intestino. A intensidade das interações entre medicamentos como barbitúricos, cimctidina, carbamazepina, hidralazina,
c alimentos depende da natureza dos nutrientes. substâncias têm a absorção aumentada pelos alimentos. A propósito.
simples que compõem o alimento. da característica do medi- a ingestão normal das vitaminas lipossolüveis A, De K
camento. do tempo de trânsito nos diferentes segmentos do sempre é feita por intermédio de alimentos lipídicos, como
tubo digestivo. da freqüência de contato com a mucosa intes- leite integral ou manteiga.
tinal c dos mecanismos de absorção intestinal.
Volume. temperatura. viscosidade. pressão osmótica e cará- Além da interferência na absorção, a alimentação pode intervir
ter ácido-básico dos alimento (pH) ou de seus metabõlitos al- 1/(/eliminação de medicamentos, influenciando os níveis san-
rcnun o tempo de esvaziamento gástrico e a solubilidade e. giííneos. para mai. ou para menos, conforme o alimento c o
conseqüentemente, a ubsorção de medicamentos. De forma se- medicamento:
melhante. os medicamentos. alterando a motilidade gastrintcstinal
• Alimentos de resíduos de combustão ácida (enlatados,
(peristaltismo). o pl-I gástrico. II formação de complexos, a queijos. ovo'. frutos do mar. frutas cítricas, pão, bolo,
estrutura funcional das células ciliadas, a arividadc de enzimas macarrão, cereais. maioneses, milho, lentilha, aves erc.)
intestinais e .1 flora bacteriana intestinal alteram u absorção e a acidificam II urina. aumentam a reabsorção tubular de
utilização de nutriente. antibióticos aminoglieosídeos. com elevação da ativldnde
Os alimentos alcançam o intestino em tempos vuriãveis, de
uruibacterianu e dos efeitos adversos.
lICOI'IJocom a natureza do bolo alimentar; estimulam mais nu
• O K/'(/I'efruit (pomelo), ingerido regularmente, pode in-
menos, dependendo da concentração de gorduras da dieta, da
duzir II aumento da biotransformação de outros medica-
secreção da bílis. Os ácidos e sais biliares. em decorrência das
mentos. por ação no citoeromo P-450.
propriedades tensoaiivas (detergentes), formam colóides (miccla),
aumentam a dissolução e favorecem a absorção de medicamentos Tendo em vista a interferência da alimentação 'na relação
e nutrientes: é o que acontece com medicamentos lipossolú- dose-efeito na grande maioria dos medicamentos, antes do início
veis. quando administrados durante uma refeição rica em gorduras. do tratamento, e a intervalos periódicos. é conveniente avaliar
A administração em jejum é a mais comum. pois os medi- o estado nutricional do paciente. decidindo sobre a necessidade
camentos são mais rapidamente absorvidos e apresentam efeito ou não de dieta suplementar, devendo-se ainda alertá-lo para:
mais rápido. Todavia, quando administrados com o estômago • A ingestão de medicamentos, cuja absorção é afetada
vazio. muitos irritam a muco a gástrica e são mais bem tole- por alimentos, deverá ser feita com O estômago vazio.
rados quando ingeridos durante ou logo após as refeições. ou pelo menos Ih antes ou 2h após cada refeição, com
A administração conjunta com alimentos tende a diminuir auxílio de um copo de água,
a absorção. com exceção de fármaco altamente lipossolúveis,
.' Evitar alimentos ácidos. ou alcalinos. ou gordurosos que
cuja absorção pode ser até acelerada pela presença de gordura possam inibir a ação do medicamento.
nos alimentos. São exemplos bem conhecidos de diminuição
• À prescrição. convém consultar livros ou base de da-
da absorção pela alimentação: paraceramol. aspirina (ácido
dos para conhecer influência da alimentação na ab-
accrilsalicilico). indomctacina.capropril. cefalosporinas etc.
sorção dos medicamentos prescritos.
Vitaminas A. D c K c doxiciclina são exemplos de modica-
mentos bem absorvidos quando ..dministrados conjuntamente
com alimentos, Interações Medicamentosas
Atualmenre. dá-se grande importância i\ quantidade total lnterações medicamentosas .110 modificações do efeito de
absorvida c menor valor, na maioria dos casos, i\ velocidade medicamento que ocorrem quando dois ou mais são admi-
de absorção. Por exemplo, se a absorção de um medicamento, nistrados concomitantemente. Pode haver interferência recí-
em 4h. é de 80% em jejum ou. também de 80% após alimen- proea ou alteração apenas na atividade de um deles' (ver capítulo
tação. o fato de se conseguir picos sangüíneos mais altos com lmerações Medicamentosas).
li administração em jejum pode não significar vantagem lera- Com base nas características dos medicamentos é possí-
pêurica. Altas concentrações sangüíncas de curta duração vel. de certa forma, prever algumas interações. As mais freqüentes
raramente são necessária : interessa manter níveis eficazes, são observadas nas pesquisas que antecedem o licenciamento
abaixo dos níveis tóxico. pelo maior tempo possível. do produto. Corno é impossível testar interações com todos
Farmacologia • 331

x os medicamentos comcrcializaduv, a de\Crição de novas irucrações lizado» 011 inurivadus nu e'tilmagu c. M! u csvazinmento gás-
~ vai se ucumulando ali longo do, uno-. com () auxílio da trico for rcturdndn. podem se tornar iucflca/cs. A redução da
funnacoviue ilância. motilidade cau,aúa pela propantclina .uuncnt« a absorção de
~
~ Muitas intcraçõc-, ,ão b('lIéfiC(l~ C até mcvmo nprovciradas digoxinn. por pcnnitir ~ua maior pcnuunêucia nu local de absorção.
00 para melhorar IIefeito do medicamento. por cvcmplo, a irueração Alteração da Distribuição. A maior parte dos medica-
entre imunovsuprcvvorc-. c mihidorc-, do nll.:tahnli'lI1l1. Outra, mcnto-, é tr:m~pl)l tada IlClu 'angue. ligada às mulécul:" protéicas
são nocivas quando podem cauvar rcaçõc-, :uh cr-a-, graves ou contidnv no plavma: a conccmrnção de moléculns livres circulantes
alterar muito o efeito ÚCurn mcdicamcnto. C0ll10 \ ancumicinu de rncdicamcnu» bem pequena. Dentre IIS Jll'Otclnas plasmãticas.
é

c aminogficovídcov, que .rumcutam a tuvicidade renal. UlI1a a principal truuspunadura de mcdicumcntos a albumina. que é

mesma intcr.içâo pode ver benéfica. quando conhecida nntcs Jll)~,tti drill' I(lcai, ligante,.
da adminivtração c c:om.:l:III1CIllCcomrolada ou nlICÍ\ a. 'c so- 1\ modulação da mividade Iarmncolúglcu. entre outros mcca-
brcvicr de furma inevpcrada. nisrm». depende da furm:H;ào e da cvrabilidudc do complexo
Na prática. quavc sempre IICI\ deparamo, com rcaçõcs iII r- albumina-mcdicumcnto. mesmo porque medicamento ligado
vilál'l'is. quando <l paciente realmente necessita dos medica- ii albumina não ~:Iidn circulação c. portanto, lião exerce ução nem
mentos: apesar Ú:I' interaçõc-, e1:l' sâo controlãveiv, pur exemplo, efeito fannacolégicos. No estudo de subnutriçflu, a hipoalbumi-
com corrcção ÚCdo'agen, e monitoraçâo do tratamento. Assim. ncmia aumenta a competitividade entre medicamento e nutriente
a ocorrência de intcraçâo. de modo geral. não é motivo de sus- pelos locais ligantes da albumina. o que resulta lia elevação
pensãoda prescrição. Todavia. devem-se evitar irucruçõcs desneces- da fração livre. furrnacologicumcmc utiva.
sárias, quando houver posvibilidadc de troca de medicamentos Quando dois fármacos de alta fixação protéica são adminis-
sem prejuízo do tratamento. irados ao mesmo tempo. eles competem pelas moléculas de
As interações podem cr classificads quanto ;I gravidade. albumina. tendo como conseqüência o aparecimento de maior
latência e mecanismo de ação. quantidade de moléculas livres no sangue. Isso acarretará
• Gravidade de efeito maior efeito. podendo ser a causa do aparecimento de efei-
- Leves: pequena significância clínica. tos adversos mais acentuados. Como regra geral, os medica-
- Moderadas: podem aparecer efeitos nocivos. alterando mentos mais ácidos deslocam outros menos ácidos ou alcalinos
o estado clínico do paciente. do complexo protéico circulante.
- Graves: quando chegam :I C:lU ar danos permanentes Alteração da Biotransformação e Eliminação.
:10 paciente. Qualquer substância que altere a intensidade de biotransforrnação
• Período de lurência 011 de excreção de uma droga rende a modificar sua meia-vida
- Râpida«: com efeito, imediato ou. pelo mcno .. em biolõgica. alterando também o efeito lurmucotõglco. Os indutores
até 24h. enzimáticos. como barbitúrico, c algun:. unticunvulvivantes, inren-
- Lentas: cum efeitos tardios. di:h ou :'COlana:. após a si ficam o processo de biot rnn-,forlll:t<;:'n de mcdicumcntov lipos-
adminictração. solúveis c. em rarão díwo, aceleram suu excreção renal. 1\0
• Mecanismo de ação contr:lrin. o, inibidores cnzirnâticos, como cimciidinu c clorunlc-
- Farmacéuticu«: que incluem rc.'ac;Õê, por ml!cani:.mo:. nicol, retardam a bíotrunsfonuação e a excreção de muitos
fí:.ico, ou CJuímico'. IIlcump.llihilidade, mcdicamento:.a,. fárm:ll·u~. Iloi ",b~tâllda, 'Iuc interferem na cxcrcção renal de
- F(IfIll(/('IJ('iJlh,cu\: quc comprccndcm alteraçi>e, na outras :.ul"t:'ncia~ por mccanismo compctitivo, no nível da
ab~orçii(). di,tribuic;Jo. biotran~furmac;iio e eliminação secreção tuhular. I~ I) ca~O da cOlllpctiçjj() elltre probcnccida e
d()~ IIlcdic:III1CIIHI\. pcnicilina. Quanlll maior II iOllil.llçi'io das moléculas. II1CIlOr
- F(lfIlIlU·fldi,,(tmÍt'ul. ~er:í a r\!ah~lIr,:'II. por !\e lClrnarem mais IIidrossolúveis.
Finalmentc. deve scr lemhrado quc as illlcrações medica-
É intcress:lIltc rc~,alt:lr quc (l a\ :Inço da ciência no cOllhe-
mcntosas dcpendcm das t·(}ff(liri'j('.\·"(I J!(/dl'IIIl'. iIIcluiIldufC/torl's
cimento da furlllacocinétic;l permitiu e1uciúar mcCanblllOi> dc
[liol/;j;;cI/S (idad.:. c~tadlJ lIIórbido. e~tad() nulriciollal. alterações
induçãoou inibição do citlICnlltlol'-450 e do~ ,i,tcma:. dc trallspone
endúcrin;ls etc.) e flll/lres pe.\·.\/I(li.\·I' .wl'Í/I;.v (hábitos. perso-
(como ti glicoprotcín:1 P). I\tu:1lmentc utili/:lm-,e tratamcn-
nalidade. dependência de drogus, condiçlies financeiras, tra-
to~ns,ociados (com interaçtic, cl>pcdlic:1S) para a otimização
halho Ctc.). .
da terapi:I, aumcnt:llldo l) efcilll do, medicamcntu~ c rl.!dul.indo
custoS, comI) no C:l\ll dCl cetcICon:lIol com cicl()~porina (para Para mais cOlllplcta informação sobre intcrações medica-
trnnsplanltldo,). ~:lquina\ ircOIll ritonavir (tr:llamCnlO da I\IOS). mentosa,. vcr lJ capítulo corre!\polldcnte.
Assim.:>urgiuClconccitlllk JI/('//ic(l/lIt'lIffl\ ('ClI/I/I/IIi:J/(/on'.'(.\/H/lillj; BIBLIOGRAFIA
t/m8s), cmpregallo' para dllllinuir () CU'lO de trat:lll1cnto ca-
(iRAIlAl'E·~MI1I'.I) ('.: ,\RO\SON. J K. 1111,",/(1II,' fi,,./11l1fllltl/lit, CII"i,'" I'
ros, como a intcra,ãu entrc \crap:1Il1il c ciclo'porina. que pcr- I cJrmm OICI"/IId. TrJ4.1 ,) '\,ha r r. I.. V'!Cu, Riu ,I.: Jnndm: Guannh.,rn.Ko0t;,ul.
mitc diminuir muitll a úll':lgcm de dc:lll'lxlrina ,cm alterac;ão 1004 611
do efcito tcr:lJlÍ!util·lI. Ilt\RO~IA:'>.J. (;: 1.I\IIIIRt).L. I,.: (,ILMI\N.A. G. (inn<lltIJIt &. GlhllJIt·,.II,,'
1'lurrmd"o/d~,(I,llJtll"'"111rn,,~I"" I. tO.rd. Nc\\ \"w~: ~kGruw·llill. ~OOI. 1t4Sr.
São numcro,o, c bem d" er,i ficado, 0\ modCl, como dois OGI\. .:"t\ tLt. A. C : C,\RVI\LIlO.MI'. (i"I" /11111111·011" I/~ /,,,rmçntS
ou Illai l1Iedic:llnentu' interagcm pr()\ucandu :t1tcraçiio do~ Ilr'/tI IImnl'lIIl11 Slc,PJul.. AII",,,,·u. 'I)(~,.
~(XI2.
cfeito~ (\cr capCtul,) Inter;I\'(IC' ~Icdic:lltlcnw';I'). cabcndo aqui RA\CI. tt ,). l)'\lt,. \l \l: Rt nl:R. J M I IInI"""I"II'tt. T'.Kt.r. Slha e 1'. J. Voc:ux.
J ,'\I 1(111 ck Jdlk"r.. GUJnJNIJ K.. 'Vult.~(NII.1Ul"
salientar algun' a'peeltl'. SLl(l11~J A. A ~t.oJ,Ii,.\l<, d.. dr,l" "" IIlrJI<.It"CII"". tn: t'AUtO.t. a.: 7..i\NINI. A.
Alteração da Absorção. J\ admini\traçãu ,imult:"lIlca de r e",,,,,I,,m,r. """r"rtt(l",,''',~''Ir""·",Mi, d. SjOlt'kIIlC: IIICX.t999. p. 67·90.
dob ou mai f5rlll:lco, 11IIÚC(ICa,innar formaçãu úe dcri\'ad()~ SIl.Vt,R~lJ\N.\l: tSl)(,('Kt R. M. LI:t:." R. /lotl M",/i";ttr: ,lrr 1"""'rril""1II tfrtll/
não ab~orvívei, pelo trato lltgc,ti\ o e preju(lo da tcrapêutica. IntllH'n ln ,lrr Ilrml "'Ir/,I. Slbnrllrd: S,:onlont Untlcr"ly.t9<>2.3S8p.

Porexcmplo. carvão. caulim. cole\tiralllin3 e libr:tlo. 3d.orvcm ZA:'>INI. A. C:.: h\RltM. I'. 1.. (i : RIIII:IRO. l:.: IOLLi\()OI{. W: I'n,'ntal'(lCcol1oml,,:
,OOnt'rlh'''' t' J'pc' 10\ Hf"l'nlC'lun.IlIo., H"I ;"" IlfU\,lrll'u t/r Clt'"dtH FfII'Im,c{tIll/('(I$,
outros f5rlllaeo . iIIIpedindo l>ua ab,orçiiu. ' ..n. It .1. p. 21~·22J. Se,·!)el 2001.
A alteração úa llIotilidade intc:.tinalt;lmbélll interfere com a 7.ANtNI. A. C'.: OGA. li IIIIII"'UÇ;;" ~ r.um.,."I"gi., tn n"wI",I"l/ill Afllicml". 5. cd. São
absorção: se a ab~orc;ãu de medicamcnto' no c!.l(llIlago for lenta I~,ul,,:Alh~ncu.I\I9J.p. 1·1(1.
ü\Ntl't. A. c.: Ct\RVAI.IIO. ~l. F. Oclilliçik,.1'(lII<C;IO'
c a'llCcII'S
op~,.acio"ais
IIliti·
comparada com a que ocorre no intcstino dclgadCl: alguns medi- lado~ cm raJ'fn~C'O\i~iI5nciJ. H,o";.\It,lln"II,',m l/r (';;,,";11\' FwmllePlltic.,u.v.J7, n. 3.
camentos. como metildigo~ina. pcnicilina. L-dopa. são metabo- p. 2~5·1.17.SCI·()C/. 2001.
332 • Tratado de Clínica Médica

e pinocitove. Qualquer que ~cja () ripo de transporte. é condi-


CAPiTULO 33 ção ncccsvária que II substâncin evtejn dissolvida e em contare
,I
com mernbrunu.
É fundurnentul observar que li estudo de transporte. ubsor-
ção, drvtribuiçâ». biorransformução e excreção de medicamento ..

Biodisponibilidade e de ..cnvolvulo neste capítulo 'e aplica a qualquer substância


ministradu a um orgunismo (medicumcnros. tóxicos ou subs-
tâncl:t\ inath av).

Farmacocinética Transporte Atlvo


o transporte ativo, para ntravcssar a membrana o medicamento
precisa se ligar a uma proteína carregadora. formando com ela
Antonio Carlos Zanini um complexo, Essecomplexo difunde-se livremente para o outro
lado da membrana. no qual o medicamento se desliga e o car-
Seizi Oga regador volta ao ponto de partida para reiniciar o processo.
O transporte arivo caracteriza-se essencialmente pela passagem
Aulus Conrado Ba ile de substâncius contra um gradiente de concentração, ° que exige
um gasto de energia celular, sendo bloqueado por inibidores me-
Jayme Antonio Aboim Sertié tabólicos que interferem na produção de energia. Esse pro-
ces o mostra um alto grau de sclctividadc entre medicamento
e carregador. isto é. O medicamento deve ter estrutura quími-
INTRODUÇÃO E CONCEITOS ca adequada para ser transportado. Moléculas de estrutura química
o efeito farmacológico de um medicamento sõ aparece quando similar competem pelo carregador, limitando-o. O transporte
ele atinge. em conceruraçõe adequada e na forma ativa. o aiivo é essencial para medicamentos cuja estrutura química se
local de ação no órgão no qual se espera que aiue. Para que assemelhe iide substrato naturais. seja na absorção intestinal. na
i....
so aconteça. o princípio arivo pre ente no medicamento preci. a remoção de medicamentos do sistema nervoso central (SNC).
ser liberado c utruvesvar a, membranas biológicas. na excreção biliar de alguns medicamentos. na secreção renal
O estudo do, fCnÔIIICnlh relacionado-, com o transporte de de íon~ orgânicos. seja na receptação neuronal ou extraneuronal,
medicamento, nrravév da' membrana .. biológicas é a ba e para
a comprecnvão dos mccanivmov implicados em sua absorção. Difusão facilitada
distribuiçâo c cvcrcção. r,lra entender esse transporte. é impor-
Distingue-se do processo anterior por se dar a favor do gradiente
tante conhecer vãria-, propriedade" fí,ico-química" do medi-
camento. como solubilidade, grau de ionização. constante de de concentração. em dispêndio de energia. As demais caracte-
dissociação (PKA). cocficicmc de partição óleo/água (Iipofílico rí ticas do transporte ativo. porém. aplicam-se a esse caso.
ou lipofóbico) e tamanho da molécula.
Após a ndministruçã« do medicamento. egucm-s e sua abs or- Pinocitose
ção e di-rribuiçâo. dando inÍl:IUao-, processos de biotransformação É um fenômeno celular semelhante ao da fagocitose, Macromo-
e eluninaçâo. Evidctllelllcntc. c\i,tetll ,ituaçõe, em que não ocorre léculas cm solução podem indu/ir lt invaginação da mcm-
ah,orç:l0. nu mcvmo diMrihlllç50 ou. ainda. o medicamento é brana celular no ponto no 41101 se njusta fi macromoléculu,
eliminado sem ser blotruuvtormado, Em algun.. ca..ov, a elimina- que acabo vendo inteiramente envolvida pela membrana, Forma-
,ilo é tfio nípidit que pode diminuir ou anular o efcito. se. <I\~il11. uma vcstculn pinocitõticn. enquanto 11 mcrnbrunn
A IIiodi,I'(IIIII/IIlIi(/II(/I' cvtudn tudo o que sucede ao medico- celular 'c recompõe,
111C ti to. desde () prcpuro. tipo de forma farmacêutica de apresen-
A pinocitose poderia explicar li passagem pela mucosa
tnção c via de udtllitlistra,ão até u libernçâo do princípio ativo. gavtrimcvnuul de ulérgcnos, toxinas. anticorpos e outras pro-
A [annorarlnétir« estuda o, fenômenos que ocorrem no
ternas. As células intestinais de mamíferos recém-nascidos
organivmo apó~ <I udminivuução do medicamento. abrangeu-
têm a capacidade de absorver proteínas solúveis por pinocitosc,
do abvorção. divtribuiçâo, metabolivmo e excreção. envolvendo.
ma, pouco l-e vabe sobre 1,):' mecanismos dessa absorção em
incluvrvc, complexos mudclo-, matcmáuco- para quantificar
animai!' adulto'.
vária .. carncrcrt-rlcuv própna, do medicamento (pnrâmctros
Iarmucoci nét icos).
(~diHcil vcparur "' C,tUll!l\ da brodivpombilidadc do, cs- Difusão Passiva
iudov fnrmncocinéricov c ele-, devem ver cvtudados conjunta- leMe mccanivmo, a passagem do medicamento pelo membrana
mente. A íarmucocinética c,tuda o pnndpio ativo em sua trajetérir depende principalmente do gradiente de sua concentração entre
pelo orgumvmo; a biudrvpombihdade estuda o produto far- o' doi, meio- sepamdo- peln membrana biológica. As rnoléculas
macêutico. a f:I'C Ianunceuuca do medicamento. a~ intcraçõcs atravcs ..am a membrana e. a 'eguir. difundem-se para o meio
medlcamcnto'a, c alimcntare ... em que !ouaconcentrnçilo é menor: o movimento cessa quando
Para loimplific"r () cuncctlo. ba'ta lembrar que o medica- a concentração da subl-tância permeante se igualar nos dois
mento na prateleira da farm,ícia tem todo!' o. parâmetros lado da membrana. Por ~er nece~~ária a prévi<l dissolução da
farm<lcocinético .. delinido". mas s6 se tomará biodisponível sub~tância na membrana. pode-~e subdividir esse transporte
qU<lndo adminbtrado ao pacicnte. em doi~ ca~os: (a) difusão pela fase aquosa e (b) difusão pela
fase lipídica d<l membrana.
TRANSPORTE DE MEDICAMENTOS PElAS
MEMBRANAS BIOlOSICAS Difusão pela Fase Aquosa
A pa~sagem de mcdicamcnto:. pelas membr'Jna.~ biológicas pode Um medicamento hidrossolúvel podcrá ter suns moléculas ou
se dar por difu:.;io passiva. transporte ativo. difusão facilitada íons transponados passivamente atnlvés dos poros da mcmbr<lna.
Farmacologia • 333

Evidentemente. além da hidros olubilidadc. é necessário que Para urna base orgânica fraca cuja equação de ionização é:
molécula, ou íons do medicamento sejam menores que os poros. 13 + II" ~ BII'
A olubilidade em água e o diâmetro menor que o dos poros (base) (ácidO conjugado)
s50 condiçôcv nccevvária ... porém não são suficientes. A carga
elétrica do' poros. gerada por íons da vizinhança e o cquilí- a equação de Hcndcrson-Hasselbalch terna-se:
brio clétrico lia membrana (equilíbrio de Donnan) também faci- [moléculas] .
litam 011 dificulrnm a passagem de íon« nesse processo. Log = = pll - PKA (base lrucu)
Embora se empregue. de maneira geral. o termo ··íou". deve- I íCln~1
se notar que um íon em solução aquosa se encontra sempre na Um exemplo pode uuxiliar o cnicndimcuro do nssunto. Seja
forma hidratada. Nc,~c caso. o seu tamanho corresponde ao uma mentbrunu biulógica separando ll' meios I c II de 1'1-1 IA
tamanho da parte da molécula em Iorma ioui/ndn acrescido e 7,-1. rcspccrivnmcntc (ver Quadro 33.1). No meio I coloca-
de algumas moléculas da água. i to é. do íon hidratado. se IIl11a ~lIh,tfllleia tipossoluvcl de caráter (acido e de PKA =
3.'1. E,~a ~uh~tflncia. quando dlssotvida.flcarã parte na forma
Difusão pela Fase lipídica mclccular e parte na forma iônica, em proporção que dcpcn-
dcni do pll do meio.
Con idcre-sc uma membrana lipídica ..cparando eh meio, I e II Supondo-se que os Ions hidratados que se formam são muito
(Quadro 33.1). O medicamento lipossolüvcl colocado no meio grandes para atravessarem os poros da membrana e que não
I dissolve-se na fase lipídiea da membrana c se difunde para haja qualquer outro tipo de transporte através desta. somente
o meio II. A velocidade e a extensão do transporte dependem as moléculas irão atravessar a fase lipfdica da membrana.
da diferença de concentração do medicamento entre os dois À rncdidu que us moléculas cheguem ao meio II, permanece-
lados da membrana e da lipo solubilidade do medicamento. rão em forma molecular ou se ionizarão, em proporção que
Quanto maior for sua olubilidade. rnai facilmente se dis- dependerá do pi' desse novo meio. A passagem só cessará
solverá na membrana e se difundirá para o lado adjacente. quando o número de moléculas por unidade de volume for
Ressalte-se. contudo. que apena as moléculas clctricamen- igual em ambos os lados da membrana. Observe-se que, além
te neutras :.ão lipossolüvci e atrave sam a fase lipídica: das moléculas. há 10 íons no meio t. ao passo que no meio II
moléculas polares têm lipossolubilidade muito baixa e íons o número de íons é de 1.0 I O. Note-se que maior quantidade
não apresentam lipossolubilidade. de substância passou para o meio mais básico, no qual se acu-
A lipos solubifidade pode ser medida pelo coeficiente de mulou sob forma de íons.
pnrtiçâo óleo/água. E'loe coeficiente é estabelecido pela dis- Aplicando-se o mesmo raciocínio para substâncias bãsicas,
trlbuiçüo de cerra quantidade do medicamento entre volu- pode-se concluir que elas atravessam a membrana lipídica de modo
mes iguais de uni sotvcntc orgânico não rniscívcl com ãgua a se concentrarem cm meio mais ácido soh a forma de Ions,
(representando óleo) c dc :1gua. Conclusão: medicamentos ácidos fracos !>àomais uhsnrvidos
(l definida pcla relação: quando dissolvidos em meio ácido: medicamentos básicos frucos
Cocflcicntc quantidade di!>soh ida cm óleo são ruais absorvidos em meio alcalino.
de pari içào = . . .
6Ie()/~gua quamidadc di olvida em ~gua
ABSORÇÃO
A maioria do~ rucdicamcntos .: representada por ác:ido~ ou
Quando se injeta um medicamento por via imravnscular, o prin-
bases fraca,.lJlle irão se ionizar quando di "olvida, cm meio
aquoso. O grau de ioni/ução de um medicamento depende de cípio ativo é colocado diretamentc na corrente :.angU(nel1, sendo
inadequado falar-se em absorção. Utiliza-se esse termo apenas
suo constante de divsociaçâo (PKA) c do pH do meio em que
se encontra. Assim. em dois meios com diferentes pH e xepa- quando medicamentos são administrados por outrns vias e passam
rudos por urna membrana lipídica. o mesmo medicamento apre-
por diversas membranas biológicas. obedecendo n princípios
sentodiferentes graus de ionização e, conseqüentemente. diferentes descritos untcriorrncruc. até atingirem a corrente sangüíncu.
conccnrmçõcs de íons. Como apcnu moléculas neutras podem Quando dados por via oral. a absorção depende de vários
atrnve\S~lra barrcir:1 lipídica. quanto maior for a conccntração fatores próprios de cada medicamento (solubilldadc. eoeliciente
de moléculas. mai .. r:ípido será o seu transporte. de partição óleo/:ígua. PKA. tamanho do molécula). fntores
A equação de Ilender on-liassclbalch. para um ccrto medi- ligados:lo trato ga.trintestinal (pH. fomla fannacêutica de apre-
c:unento. est~lbclece a proporção do mcdicamcnto que lica sob sentação. prc~cnça de ;llimcl1los. líquido:. e outros medica-
formaiônica. cm um dctenninado pli. Pela equação de Ilenderson- mcnto~) e fatores próprio da muco~a intc~tinal por ocasião
113s elbalch. tem-\e que: da ministração do medicamento.
Assim. porexcmplo. sais solú"cis de b~rio são t6xicos. podcndo
Iba~el provocar graves arritmi:l~ cardíacas. Entretanto. o sulfato dc bário.
log = pH - PKA
lácido conjugadol por scr in~()hívcl, nilu é ab~orvido e se comporta como ~ub~t;1ncia
farmacologicalllentc inene. Como. além de in!>ohível.é radiopaco.
Nadifusão pa"iva lipídica de um medicamento.uão interessa podc ser ingerido paro servir de contraste em exumes radio-
se ele é um ~cido ou uma b:J!>cc. sim. se est:í na forma iOnica 011 lógicos do aparei ho uigestivo.
na forma moleculnr. O (llcl)ol ctílico. por ser muilO lipos~ohí"el. é faci Imcnte ab or-
No C3\0 de 11m~cido fraco que !oeioni/a conforme a eqllação vido pelas IIIlICU~a,gti~trica e intestinal.
liA P Ir= 1\ Medicamcntos lipo~solúveis que se comportam como ácido
(ácido) (ba,e conjugada) ou base). fruc", ter:io ~ua absorção regulada. cm parte. pclo seu
grau de iOlli/ação. o qual depende do pi I do meio. É el:íssica a
3 forma molecular é con~tilUída do próprio ácido. liA e a experi~lIcia 11:1 qual ~e obstrui o piloro de um gato e se admi-
forma iônica é a ba]>c conju~ada A . A equação IOrna-~c: nistra UIll alcalóidc. cOlno a estricnina. por via oral. A estricnina
é básica: no meio :ícido do estômago. permanece em grande
Ifonsl
Log = pH - PKA (ácido fr:lco) parte sob a forma iônica e não é bem absorvida: o animal pode
1moléculas I passar horas SI.:mapresentar sintomas de intoxicação. Quando
334 • Tratado de Clínica M~dica

QUADRO 33.1 - Influlncla do pH na dissociação de icido fraco de PKA 3,4


Meio I pH 1,4 Meio II pH 7,4

(Ions) (Ions)
log = ---- = pH - PKA = 1,4 - 3,4 =-2 log = = pH - PKA = 7,4 - 3,4 = +4
(moléculas) (moléculas!
(Ions) 1 10'. (Ions) 10.00.0
= lO"': -- = 10' =
(moléculas) 100 10' (moléculas! 10'

se alcaliniza o meio gástrico com bicarbonato de sódio. passa que, por sua vez. está relacionado COm a concentração plasmática.
a predominar a forma molecular do alcalõide. o que resulta cm A medida dos níveis plasmáticos do medicamento, mais fácil
absorção c aparecimento subsequente de convulsões caracte- de . er feita. reflete com relativa precisão a sua concentração
rlsticas da nção da cstricnina no sistema nervoso central. no local de ução. Disto surgiu o conceito de II (vel plasmático
Medicamentos ácidos. corno os barbitúricos, são bem absor- eficaz do medicamento. isto é. a menor concentração no san-
vidos no meio ácido do estômago. cm que estão menos ionizados. gue que seja suficiente para manter, no. locais de ação do princípio
Tendo-se em vista o conceito de absorção. pode-se entender ativo. a concentração adequada para provocar o efeito farma-
por que um medicamento ministrado por via oral geralmente cológico desejado.
é absorvido de forma mais lenta do que quando administrado A determinação dos níveis sangüíneos (ou séricos, ou plas-
pela vias muscular ou subcutânea: nesses casos, o medicamento máticos) tem o inconveniente de incluir li dosagem da fração
tem que atravessar apenas o endotélio da parede capilar para do medicamento ligado a proteínas e. portanto, farmacologicamente
atingir a corrente sangüínea. ao passo que. por via oral, tem inerte. O efeito do medicamento será relativamente maior nos
que atravessar primeiro a mucosa gastrintestinal. indivíduos com menor teor de proteínas sangüíneas.
Os medicamentos injetados no músculo ou no espaço sub-
cutâneo são absorvidos rapidamente. os lipossolúveis pas- fatores Que Determinam a
sando através das membranas celulares c. os hidrossolúvcis,
pelos espaços entre as células endoteliais. Distribuição dos Medicamentos
Os fatores limitantes da absorção por tais vias são a irriga- Inicialmente. deve-se considerar a saída das moléculas do
ção sangüínea do local e II facilidade cm atingir os capilares medicamento do plasma para os espaços extracelulares e, em
por difusão entre as células do tecido. Pode-se. assim. aumentar seguida, a passagem do medicamento do líquido intestinal para
a absorção de um medicamento por essas vias por meio de mas- o líquido intracelular,
sagens ou de aplicações de calor que promovam hiperterrnia Medicamentos que passam através do endotél io capilar, mas
superficial. ou diminuí-Ia. por meio de aplicações de gelo ou não conseguem penetrar nus membranas celulares. flcam confi-
pelo uso conjunto de vasoconstritor. nados ao líquido extracelular. enquanto aqueles que conseguem
A velocidade de absorção do medicamento administrado penetrar nas células distribuem-se pela água total do organismo.
por via intramuscular depende também do solvente usado: em Salienta-se. entretanto. que a saída de medicamentos dos
soluções oleosas. o princípio ativo será absorvido mais lenta- capilares é facilitada pela presença de poros relativamente
mente do que o mesmo em solução aquosa. A lipossolubilidade grandes entre as células do endotélio capilar, o que permite
das moléculas é. obviamente. a mesma em solução aquosa ou a distribuição de molécula e íons grandes, por esses poros.
oleosa. Todavia. a solução oleosa difunde-se pouco nos espaços para os espaços intersticiais. Só não atravessam medicamentos
entre as células. ficando localizada na pequena área do tecido de peso molecular acima de 60.000 ou que estejam ligados
em que foi depositada: dessa forma, entra em contato com poucos a proteínas plusmáticus. .
vasos e a superfície para ab: orção é pequena. A solução aquosa. Muitos medicamentos têm afinidade com locais específicos
ao contrário, difunde-se pelo tecido. colocando o medica- dessas proteínas. às quais se ligam de maneira reversível. após
mento em contato com maior número de vasos. o que aumenta serem absorvidos. Assim, uma parte da substância circula
u superffcic para absorção. ligada a proteínas do plasma e outra parte circula em sua forma
livre. Esse furo é importante. pois apenas a Irução não liguda
é Iarmacologicmncntc ntiva, distribuída e filtrada nos glomérulos.
DISTRIBUIÇIO A fração ligada pode. então. funcionar como 11mdepósito do
Em geral. apenas pequena porção do medicamento ministrado qual mais substância é liberada à medida que vai sendo
realmente exercerá atividadc farmacológica. pois ele precisa atra- metabolizadn ou excretada.
vessar as membranas biológicas e grande parte dele. e distribui Além disso. alguns medicamentos, corno os sulfas, podem
em áreas e órgão nos quais não age ou provoca efeitos sem competir com outros pelos locais de ligação a proteínas. Dessa
utilidade terapêutica. Água. lipídeos, proteínas. órgão e tecidos. forma. na ícterícia do recém-nascido, a administração de sulfas
cada um com características físico-químicas próprias. distribuídos aurnentarã () teor de bilirrubina livre no plasma e, em decorrên-
no organismo ou cercados por "barreiras" funcionam como se cia, haverá maior concentração nos tecidos. A bilirrubina é
fossem armazéns do organismo com diferente capacidade para ncurotóxica e. elevando seu teor no SNC, pode ocorrer uma
acumular medicamentos. mediadores e nutrientes. síndrome grave conhecida como icterfcia nuclear (kernicterus;
Após a absorção. os medicamentos dissolvem-se no sangue Na passagem de medicamentos do líquido. intcrstical para
e são distribuídos para os diversos tecidos. Depois da distribuição. 0$ espaços lntracelulares. a barreira é representada pelas membra-
apenas uma frução do princípio ativo estarã no seu local de ação. nas das células que constituem os tecidos: a distribuição obe-
A maior parte fica distribuída pelo organismo. mantendo-se. dece inteiramente aos princípio estudados nos parágrafos sobre
salvo exceções, um equilíbrio da concentração do medicamento transporte pelas membranas. Medicamentos muito lipossolú-
entre os tecidos e o sangue. veis. como os anestésicos gerais. atravessam com facilidade
A intensidade e a duração do efeito farmacológico dependem os endotélios capilares passando para todos os tecidos, mas
da concentração do princípio ativo nos locais receptores. o íons ou medicamentos muito polares não conseguem atraves-
FarmacologIa • 335

l1 sar por difll~:io lipídica. Dev c-se prev cr que medicamentos de Compartimentos
~ carãrcr ~eiJCI. CI)IIIO 0\ barbiulricos. ficarão mais concentra-
Para poder explicar c Iazcr cálculos de di)otl'ihui'i,10 dos medi-
;; =
do~ nu comp.mimcnto c '\t race Iular (pll 7"") (Iue nu intracclu- camento-, ftlralll idealizado» (nu illlaginudll~) os ('(lIII/U/f'fIIllC/lfOS,
~ lar (pll = 7): mcdicamcntov bãvicov. como a morfina. e~tar~o que nada mai, )onu que autênticos "nnuuzéns" (III "locais de
~ mais concentradu\ IIU meio intracelular. Como conseqüência,
captação' do mcdictuucnto.
:I v:lri:lçilll do rI! em urna das fa\C\ condiciun« a variação da
Corno c:.~e' compartimentos :.nu erindos tcurlcamcnrc, eles
conccmmçãn em nmbav :I, fll\es. Por exemplo. 1)0 efeitos dos
podem ser imaginados agrupados 1111 scpnrudos, II vontade,
barbitúricos nu SNC \erão ucentuadov CIII presença de acidosc
pelos estudiosos. O organismo de unlmuls supcrlores. Jlor sl~a
e ntenuadu~ por nlc:llini/a"ã(l do vanguc. complexidade. compreende numerosos compnrthncntos, os quais
;\ I'XlJfl'lldllde transportr mim f:1I com que algun medi-
podem ser preenchidos UIII n UIII 011 em bloco, nn dependência
camcntox se acumulem cm dcterminadov tecido). O iodo. por
do tipo de medicamento e de sua intcruçãu com li organismo.
exemplo. é tranvponado ativamcntc para a tircéidc e ami na)
Cada companimcnro tem cupacidude próprlu de receber e
simpatorniméticas. para o rntcrior do neurónio adrcnérgico.
armazenar medicamentos com diferente velocidade de entrada
1\lgun, medicamento, ligam-se a componente, cspccíflcos
ou l-afda (Fig. 33.1).
de tecidos. podendo haver uma depusiçã» srletivu, como a~
A!> principais propriedades Ifsico-quünicus de um medica-
tetraciclinav nos 0"0 . Medicamentos como o arsênico dcpo-
mcntoquc interferem na sua distribuição pelo organismo, são:
sitam-sc em célula, ccratinosas (como unhas e cabelos): os
inscticidas clorado). em tecidos adipo o . para citar apcna • Dissolução em água c cm gorduras.
alguns exemplos. • Caracterfsticas moleculares que determinam o modo como
através a membranas orgânicas.
Barreiras Orgânicas O organismo humano apresenta como principal elemento
eomum a á!!ua (50 a 60% do organismo); eomo segundo ele-
Peculiaridades na distribuição de aIgumas substâncias parao sistema mento. estã";, as gorduras (cerca de 20%). Esses componentes
nervoso central c da placenta ao feto levaram cientistas, ainda no
- água c gorduras - estão contidos no sistema cardiovascular,
século XIX. a preconizar a existência de barreiras. sendo até em õrsãos. em tecidos e em células, de tal modo que formam
hoje utilizados os termos barreira hematoencefálica (ou san~.e- milha;es de estruturas e miniestruturas com características
cérebro). barreira hemaroliquõrica e barreira hematoplacentária, próprias. Cada urna delas e os meios que as cercam representam
um compartimento e. por conseguinte. um estudo exalo abrangeria
Barreiras Hematoencefálica e Hematoliquórica milhares de variáveis. cada uma com SUlIS características.
Na prática. para tornar viável o estudo dll distribuição de
o cérebro representa cerca de 2tj} do peso corpóreo e recebe. medicamentos, ii solução lógica udouuln foi ugrupnr estruturas
aproximadamente. 160/.-do débito cardíaco. Os medicamentos com propriedades semelhantes. a fim de reduzir li mimem de
deveriam, então. passar rapidamente do anguc para o espaço variâvci«.
cxtrncelularccn:bral.lX fato. medicamentos lipo,\Olú\ei~ passam Daí surgiu o conceito de compartimento. que um conjunto é

Iacilmerue da corrente vangüínca para o SI'C. porém outros de meios ou de estruturas orgânicas similares. no qual se dis-
mai pelare- n50 pa":II11. ou l) fazem lentamente. tribuem 0\ medicamentes: o agrupamento dessas "scmelhnnças"
V:!ri;l~cvidência« indicam que CS'3 barreira lipídica e't(l loca- é relativamente arbitrúrio, definido pelo pesquisador conforme
lizada na' junçõc- entre a, célula, do endotélio do, capilares as características do medicamento em estudo e o grnu de prc-
cerebrni\.I\n contrârio do que a onrece no, dcmaiv capilarev, a, cisâo de informação que pretende "tingir,
céluln~no, capilarc .. cerebral- cvtâo completamente jucraposta . Por exemplo: pode-se arbitrariamente subdividir o orgnnismo
não havendo espaço entre elas. Is o explica a dificuldade na cm apcnav dois compartimentos _ 11111 de gordura c outro de
passagem de (011\ e moléculas n50 lipovvolúvci» da corrente ãgua _ e estudar quanto de um rncdicnmcntn CSll\ presente cm
sangülncn para 11 tecido nervo ..o. T:li, ~uh,tiincÍ:l~ ,ilpodc.rão cada um de:.~es cumpartimentos, Se nno cxlstlssem membranas
ntnlvessnrII barreira \C hou\"Crum mccam,mo de tran'flOne nll\'o. c barreiras. ii di:.trihuição percentual seria expressa pelalipos-
PlIrtI que IIl11l11cdicamcntol;anhe ace"o ao Hquido ccrebms· solubilidade e pela massa de cada um dclcs, por intcrrnédio
pinal, de'·c ntrn\'C\"':lr:., célula.., epitcliai, do ."le\(I t·or6i~e. o ~Iue do coeficicnte de par\i"ão óleo/6gua, O organismo poderia ser
con,titui a ba\C :ln:ltbmic:l d., ch:lmadl b:lrrelra hem:ltohquónca. representado Mlmari:ll11ente sob a forma de um copo contendo
águ:. e óleo.
Barreira Hematoplacentária O coeficiente de partição óleo/6gua tcm grande valor no
Na placenta. o' v~o, m:ltcrnos form3m lal;o, de sanl;ue nos estudo da farmllcotlin:1micn de medicamentus, cm especinl por
quais c~t:l0 0\ trufobla'to, que contêm o~ \a'o, loangUfneo)
retais. l'ort:1nlll. para um medicamento p:1"ar d:l circulaçüo
materna 110 feto dcver:S atr.l\'cs ..ar a lIIembran:l tmfohl:t tic:l. Comp.IlIrMoIO
CompertlmentO ulf.V&lculftl
O D1cs~nquima e () endotélio dos capil3re, fetni'.
Ncsse l"a\o. também n50 h:i dificuldade em mcdicamcnto!'>
IIpossohlvci, pa"::Ircm do sangue materno p:lr:l () fcto •. r<:ln
placentn. INI explica o cuid:ldo que ..c de"e ter ao :IdmIOI~'
-. O
Inlf.vU(ule,

v,
c.
1("
v,
• 1:1
trtlr ancstésico' gerai, ou hipno:1031l;é ico!> dur.lnte o traba·
1(" c,
1(11·1(.
lho de parto. (Xli, tai, loub\t.incia:. agir.io da mc,rna forma no
feto (Iue. no na'ccr. poder.i c...tar ainda eom o centro rc~piratório
IC". o
deprimido. dificultando o início da re pir:lção pulmonar.
A "harrcir.l··para O' nlCtlic:l.mcntO'inão liflO'~lú\"eis consiste. •
principalmente. em poro~ de diâmetro muito pequeno nos t~ofo. Figura 33.1 - Exemplo de modelo de distribuiçao de um medi-
blastos e vaso fctais e na existência. na placenta. dc enzimas camento em dois compartimentos abertos. O compartimento 3
que poderão biotran formar ecno medicamentos antes que é representado apenas para recolher o medicamento eliminado
atinjam a circulação felal. do compartimento t (espaço receptor)
336 • Tratado de C/(nica Médica

causa da importância da difusão pela fase lipídica de rncm- IIOTIANSFORMAÇDES


branas, mus es a divisão (compartimento água e compartimento
óleo) não tem intcrcvsc prãtico. A biotransfonuução, juntamente com os fenômenos de absor-
ção. distribuição e excreção. participa do importante meca-
Ao modelo indicado pode-se acrescentar mais um comparti-
nismo regulador de nfvcis plasmáticos de medicamentos.
mento. como o tecido udiposo, pussando-se a ter um "modelo
A aceleração da biotrunsfonnação de um medicamento reduz
de trê~ cumpartimentos".
sua concentração no sangue. diminuindo. como con eqüên-
E"e modelo pode ser modificado adicionando-se outras cia. sua ação Iarmucolõgicu. A inibição da biotransformaçâo,
variãvcis (tecido nervoso, tecido adiposo etc.) ou modificando
ao contrário. prolonga o tempo de permanência do medica-
o modo como se consideram 3lI vuriávei citadas (por exemplo.
mento no organismo. conferindo-lhe maior tempo de ação.
os conteúdos intra e cxiravascularcs. em vez de água intra e A velocidade de biotransformação de medicamentos costuma
extracelular). Assim. progressivamente. surgem modelos cada ser alterada por diversos furores. entre os quais outros medica-
VCI. mais complexos.
mcntos. Tais implicações são conhecidas como "interações
medicamentosas". tema de grande relevância em relação a
Redlstrlbulçio pacientes com necessidade de prescrição concomitante de
vários medicamentos.
As propriedades físico-químicas de rnedicumentus interferem
no seu cquilfbrio entre compartimentos. mns outros fatores.
como irrigação sungüínea e barreiras alteram O tempo até que
Importlncla Fisiológica
esse equilíbrio seja alcançado. Conforme o medicamento. às A biotransformação ou metabolismo de medicamentos é a
vezes nem há tempo para que ocorra esse equilíbrio. Por exemplo. altcrnção química que I) medicamento sofre no organismo, em
:1 água plasmática representa cerca de 5% da composição do geral sob ação de enzimas incspccíflcas.
organismo: a intersticial. 16%: a intracelular. 35% e a gordura. As enzimas, nas suas funções catalíticas, exigem a presença
20%: a participação de tecido nervoso nes: e componente "gor- de cc-fatores e. quase sempre, de pequenos íous, como o magnésio.
dura" é baixa. sendo mais baixa quanto maior o tecido adiposo. Os medicamentos combinam-se com as enzimas, da mesma
A irrigaçãa sangliinea diferente interfere na distribuição forma que com os receptores farmacológicos. A interação se
de medicamentos. sendo mais marcante u irrigação dife- faz mediante atração eletrostãtica. ponte de hidrogênio e força
rente do tecido cerebral e da gordura subcutânea. ambos à de van der Waals. O complexo enzima-medicamento permite.
espera de vubstâncias lipo. solúveis. Como o cérebro tem mais em seguida. o aparecimento de produto da reação (chamado
irrigação. a substância lipo olúvel atingirá primeiro es e te- de mewbólito) e recuperação da enzima.
cido e. depois. se redistribuirá para o tecido periférico. Os rnetabõliros formados possuem propriedades diferentes
Tecidos mais nobres. como o sistema nervoso e o coração. dos medicamentos originais e. como regra. atividade farma-
recebem maior Iluxo de sangue. sendo o tecido adiposo mais cológica e potência tóxica são reduzidas. Esse fato, aliás, fez
pobre em vascularização, Então. quando se administra um me- com que a biotransforrnação fosse denominada desintoxicação.
dicamento por via intravenosa. se não houver uma barreira na suposição de que o organismo lançaria mão desse processo
específica. ele será levado inicialmente cm maior quantidade para inativar os tóxicos; contudo, esse termo não se aplica
mais. visto que nem sempre os medicamentos são inativados,
aos tecidos ruais irrigados. nos quais sua concentração tecidual
Durante u biotransforrnnção. os medicamentos podem ser
se equilibra rapidamente com a alta concentração no plasma.
ativudos: é o cuso da codefna, da mctadona e da fenazona, que
Com o tempo. todavia. fi concentração nos tecidos pouco irri-
liberam mcrubóliros ativos no organismo.
gados começa a crescer à custa da retirada do medicamento
No decorrer do processo, us moléculas pouco polares se
pela circulação sangüfncn. Simultanenmente. inicia-se uma queda
convertem em moléculas mais polares. tornando-se mais so-
da concentração nos tecidos mais nobres. que cedem o medicamen-
lúveis em ttgulI. por is o mais fáceis de serem excretadas pelos
to ao sangue. estabelecendo-se uma redistribuição do medica-
rins. Maior polaridade de suas moléculas também propicia ti
mento mI! que seja utiugidu ti equilíbrio em todos os tecidos. conjugação com outras moléculus.
Esse fenômeno é especialmente importante quando se mi- Ademais. no organismo. um medicamento pode ser biotrans-
nistrum substâncias de grande lipossolubilidadc e que são dis- formado por vãrias vias rneurbõlicas. conforme lIS enzimas pre-
rribuídns aos tecidos por difusão passiva lipídica. sentes. Assim, II quantidade e o tipo de metab61itos formados
Por exemplo. após a administração intravenosa de uma única variam sensivelmente de (mimai para uni mal e. em especial.
dose de tiobarbitúrico. este medicamento. que é bastante entre os uni mais de espécies diferentes.
lipossolüvcl. acumuln-se rapidamente no SNC. provocando
depressão e anestesia. À medida que o sangue circula por tecidos
menos vuscularizados. como músculos e gordura. o medica-
Sistemas Enzimáticos
mento pa~~a do plasma pura esses tecidos, diminuindo seu Após sua absorção. os medicamentos podem sofrer biotran -
nível pla~mático. Para manter o equilíbrio. há devolução do formação no sangue. sob ação de e terases, Numerosos é tere
riobarbinirico do SNC para li corrente sangüfnea, reduzindo de origem endógena. como a acetilcclina e exógena, como 3
sua conccmração no encéfalo. O que leva ao fim do estado de procaína, são hidrolisudos, de imediato, por esterases.
anestesia em poucos minutos. A biotransformação ocorre principalmente em õrgãos como
Portamo. o tiobarbitúrico tem rápido início de efeito anes- fígado. rins. pulmões e tecido nervoso. O fígado, em particular.
résico, que também cessa rapidamente em razão de sua tem grande importância pela elevada concemração de enzimas.
redistribuição. com aumento de concentração no tecido adiposo. Testes bioquímicos efetuudos com diversas frações do tecido
Isso sucede antes que o metabolismo e a eliminação do me- hepático. obridas por centrifugações sucessivas, permitem verificar
dicamento tenham aluado significativamente na supres ão do enzimas nos microssomas. nas rnitocôndrias e na' fração solúvel.
efeito anestésico. O estado de torpor. entretanto. mantém-se por
horas. pois quando se inicia a eliminação do medicamento ocorre
Fração Mitocôndrica
o fenômeno inverso. isto é. o tecido adiposo passa a devolver
a substância lentamente à circulação. mantendo-se uma baixa É obtida após centrifugação do homogeneizado do tecido he-
concentração snngüínea. pático durante 20min, II cerca de 9.000 x G. Destaca-se nessa
Farmacologia • 337

fração n monoarnina oxidase (MAO). responsãvel pela degra- Principais Vias Metabólicas
dação oxidativa das aminas. como dopamina, noradrenalina.
Os rncdicumentus são convertidos em mcrabõlitos ativos ou
serotoninu e tiramina. inativos sob açfio de enzimas diferentes. As diversas reações
químicas que os medicamentos sofrem no organismo podem
Fração Microssômica ser agrupadas em quatro tipos principais: oxidação. redução,
hidrólise c conjugação. Na maioria dos casos, as duas primei-
Corresponde aos fragmentos dos retículos endoplasmáticos e ras rcaçõcs representam « fase I do processo e as reações de
é obtida por centrifugação cm torno de IOS.OOOx G, durante conjugação constituem a fase 2.
60min.As enzimas se localizam predominantemente na superfície A oxidaçâo é um dos tipos de reações bioquímicas mais
do retículo endoplasmático liso. Os compostos mctabolizados frcqücntcs. Dentre as enzimas catai isadoras dessas reaçõcs merece
pelo sistema enzimático dos microssornas são. invariavelmente. destaque especial o sistema enzimático dos microssomas. sistema
lipossolúvci». incluindo-se a maioria dos medicamentos que esse que é responsável pela degradação da maioria dos medi-
atuam no sistema nervo o central. camentos Iipossolúvcis, a par de substâncias naturais. tais como
Quanto 11 estrutura molecular das enzimas que constituem hormônios esteróides e bilirrubina:
o sistema. h:1provas de que algumas delas têm núcleo pirrõlico
com o :ítOIllOde ferro 11semelhança de hemoglobina. Omura e • As transformações oxidaiivas catalisadas pelas enzimas
Saro denominaram tal enzima de citocromo P-4S0, porque o micrôssomicas incluem:
)( complexo formado com o monóx ido de carbono apresentava - ll idroxilnção na cadeia alif(ltic:1 011 no núcleo aro-
~ um pico de absorção espectrofotométrlca no comprimento mático.
:! de onda 450nm. Nas reações oxidauvas, o citocromo P-4S0. - Remoção dos grupos rnetil e etll dos átomos de oxi-
génio. nitrogénio ou enxofre.
~ juntamente com outras enzimas, como NADP-citClcromo c
il (P-450) redutasc, NAD-citocromo b5 rcdutasc c citocromo
requer oxigénio molecular além de NADP (nicotinarnida-udenina
"j' - Dcsaminação ou troca de um grupo amina (-NHz) por
um oxigénio.
dinucleotídeo). A NADP-citocromo c (P-450) rcdutase e a - Adição de oxigênio e enxofre ou nitrogênio, além de
'AD-citocromo b~rcdutase têm a função de transportar elé- outros processos.
trens provenientes de NADP e NAD. respectivamente. para • As oxidações catalisadas por enzimas não microssômicas
o citocrorno P--I50. O clétron proveniente de NADP é levado são menos variadas. São exemplos a oxidação das aminas.
álcoois a aldeídos e aldeídos a ácido. Dentre outros
ao citocrorno P-450 pela NADP-citClcrUl1Io {' (P-450) redutase
substratos têm-se adrenalina. riraminn, histnminn, etanol.
eé usado para reduzir o complexo citocromo-substruto. enquanto
O procedente de NAD é transportado, via NAI)-cilOcromo "5 acctaldeído etc.
rcdutase e cirocromo IJ,. e introduzido no citocrorno ferroso. Podem também ocorrer reaçõcs de rcduçõo, por exemplo.
de forma oxigenada. O primeiro elétron, proveniente de NADP. o hidrato de cloral. o clornnfenicol c li sullumidocrisoldinu. O
pode ainda chegar ao ciiocromo P-450 via NAD. citocromo c hidrato de cloral é convertido a tricloroctunol sob ação da
(P-450) rcdutasc e ciiocromo !Js' desidrogcncsc, O clorunfcnicol e a sulfamidocrisoidina sofrem
A mobilização de uma ou duas fontes de elétrons. assim uitrorrcdução c azorredução. respectativamente, pelo sistema
como a participação do ciiocromo b, no transporte de cléiron enzi m(lt ico dos microssornas.
procedente da NAD. como via alternativa. dependem funda- A reação til' hidrólise é responsável pela degradação de
mentalmente da natureza do susbstrato a ser mctnbolizado e numerosos medicamentos que possuem ligação éster ou amida
das formas do citocrorno P-450 atuantes. Em resumo. NADP na sua estrut ura, Medicamentos como procaína, acerilcolina e
e NAD aruarn como doadores de elétrons para reduzir o citocromo ácido acerilsalicílico degradam-se pela hidrólise. É interes-
P-450 que. por sua vez, ir:í ativar o oxigêuio molecular. O sante observar que nem todos os ésteres são hidrolisados no
oxigénio as~illl urivado seria o responsável pela oxidação do organismo. A atropina, por exemplo, embora seja hidrolisada
sub trato. Con. orne-se uma molécula de O, para cada molé- rapidamente nos coelhos, é pouco degradada no homem e em
cula de substrato oxidado. sendo um (lt01110(le oxigénio intro- ratos. As enzimas responsáveis pela hidrólise de ésrcrcs e amida
duzido na molécula de substrato e outro reduzido, formando-se são encontradas no plasma e na Iração solúvel de tecidos. prin-
água. O citocromo P--I50 dos microssomas hepáticos tam- cipalmente do Ilgudo.
bém catalisa alguma, rcaçõcs rcdutivns, como a nitro e a As rraçõcs de conjugação consi tem na combinação de
azorrcdução. Nesses caso . os cléirons são conduzidos aos moléculas pequenas, quase sempre existentes no organismo,
substratos sem a participação da molécula de oxigénio. com os medicamentos ou seus rnetabõlitos. Esse processo em
Estudos realizado . nos últimos 30 anos. com microssumas geral compreende duas fases: a primeira. de síntese do doa-
e com o citocrorno P-..j50 purificado demonstram. claramente. dor de radical e, a segunda, de transferência desse radical do
a existência de múltiplas formas de citocromo P-450. como: doador para () accptor, no caso, o medicamento. Portanto, dois
CYP3A4 (o mais importante). CYP2D6. CYP2C9, CYP2C 19. tipo de enzimas atuam no processo. a sintetase e a transferase,
CYP2EI, CYP2A6 e CYPIA2. respectivamente. na primeira e na segunda fase da reação,
A conjugação glicurônica é a reação mais importante da
fase 2 em vertebrados, tendo-se em vista a variedade de tecidos
Fração Solúvel que a realizam e a quantidade de metabõlitos que se formam.
A fração solúvel (ciiosol) corresponde ao sobrcnudantc da cen- O doador do ácido glicurônico é o ácido uridino-difosfato
trifugação li 105.000 x G. Ela contém numerosas enzimas meta- glicurônico (UDPGA), sintetizado no fígado sob ação de enzimas
bolizadorus de medicamentos. entre outras as cstcrases, que da fração solúvel, a UDP-glicose dcsidrogcnase. a partir da
degradam os éstcrcs (procaína. acetilcolinu ctc.). as umidases UDP-glicose. A síntese UDP-glicose. por sua vez. requer fonte
que hidrolisum a procainamida, as desidrogcnuses que atuam de carboidrato e adenosina trifosfato (ATP). A transferência
na oxidação de ãlcoois e aldeídos e as transfcruscs (glutationa- do ácido glicurônico para o mcdicamento é mediada pela UDP-
trollsferase,uridina-glicose desidrogenase) que catalisam a trans- glicuroniltransferase. em especial do f(gado.
ferência de grupos de um doador a Ulll :teeptor nas reações Compol\tos heterocfclicos, aromáticos ou alif(lticos que pos-
conjugativas. suem grupos hidroxila. carboxila. amino. imino e sulfidrila
338 • Tratado de CIInica Médica

são facilmente conjugados com o ácido glicurônico. Certas minação é a principal reação observada em cobaias, ma-
substâncias. como as aminas aromáticas, são acetiladas no organis- cacos. cães e homens. Cerca de um terço da anfetarnina
mo pelas enzimas situadas na frução solúvel do fígado. O ingerida é excretado inalterado e outro terço é desarninado
doador do grupo acet iI é a acet ilcoenzima A, descoberta du- e oxidado a ácido benzóico.
rante investigações sobre a acerilação da sulfanilamida. • A hidroxilação aromática da curnarina ocorre in vitro
Na conjugação com o ácido sulfúrico ocorre, inicialmente. com o homogeneizado hepático de muitas espécies, entre
o fenômeno conhecido como ativação do sulfato. que consiste as quais homem, gato e coelho, mas não com o homo-
na formação do doador do sulfato, o 3-fosfoadenosina-5- geneizado de ratos c camundongos.
Iosfossulfato (PAPS). pela combinação do radical sulfato com • A conjugação glicurõnica. uma das reações mais frequentes.
a. moléculas ATP. O grupo sulfato é transferido. na presença surge em peixes. répteis e anfíbios, mas não em insetos.
da transferase (sulfoquinase), para os compostos aromáticos ou Entre os mamfferos, o gato manifesta deficiência no meca-
alifãticos que apre. entam grupos hidroxílico ou amínico. As nismo de glicuronilação. O metabolismo da Ienilbutazona
enzimas catalisadoras dessas rcaçõcs são encontradas na Irn- igualmente npresentu grande variação conforme as espécies.
ç:10solúvel do ligado. Por exemplo. sofrem sulfamção: cloranfenicol. A meiu-vida biológica da Ieuilbutuzonn no homem é de
urninas aromãticas, fcnóis. esteróides fcnõlicos ou alcoólicos. 72h e, no coelho. de 3h.
Na biotransformnção por reação de metllação, o doador do
grupo metil, nu rcação de mctilução, é a Svudenosilmerionina, Idade
sintetizada na presença das enzimas da fração solúvel do fí- A atividadc enzimática está quase ausente nos recém-nascidos.
gado. As enzima que catalisam a transferência do grupo metil O desenvolvimento de atividade enzimática se faz após o nasci-
são chamada de N-metiltransferase. Ovmetiltransferase ou S- mento, com velocidade variável segundo as espécies animais.
meriltransferase. conforme a transferência se faça para nitro- Esta é a causa principal da hiperbilirrubinernia em recém-nascidos,
gênio, oxigênio ou enxofre da molécula do medicamento. Essas os quais carecem de glicuroniltransferase e, portanto, são incapazes
transferases são encontradas na fração solúvel do fígado e da ainda de metabolizar medicamentos e bilirrubina por conjuga-
medula adrenal. As catecolaminas como noradrenalina, dopamina ção glicurônica.
e adrenalina. além de outras aminas, como a serotonina e o Experiências feitas em ratos evidenciam que animais ve-
âcidoâ-hidroxiindolacético, são inativadas pela rcação de lhos apresentam atividade enzimática reduzida. Tal fato, ali-
rnctilação. ado à redução da capacidade excretora dos rins, pode, às vezes,
A conjugação com (I glicina se faz ii custa da coenzima A provocar intoxicação pelo acümulo de medicamentos no or-
e da glicina N-acilase. Sofrem esse tipo de conjugação certos ganismo em animais senis.
ácidos arnmãticos. como ácido benzóico. ácido salicílico. ácido
isonicotfnico e outros. Fatores Genéticos
A conjugação com a glutattona se dá com medicamentos
Pesquisas realizadas no homem mo tram que existe urna grande
do tipo hidrocarbonetos aromãticos. huletos orgânicos. fen6is.
variabilidade na capacidade de metabolizar medicamentos de
ésteres e cloretos: podem ser conjugados no lIgado com o tripeptídeo indivíduo pura indivíduo. Às vezes. tais variações se devem aos
glutationa. O, conjugados são excretados pela bílis 011 mela- próprios fatores ambientais. porém. outras, são decorrentes de
bolizados a ácido mercaptúrico e excretados por urina e fatores genéticos. O estudo dos fatores genéticos que alteram
bflis. A transformação dos conjugados com glutationa a ácido a biotransformação e o efeito de medicamentos é denominado
mercapuirico e faz em quatro etapas principais: [armacogenética,
• Conjugação do composto com a glutationa, espontanea- Certas mutações genéticas podem acontecer, tendendo a
mente ou pelas glutariona-Setransfereases citoplasmáticas. aumentar ou diminuir a quantidade de enzimas, ou modificar
• Remoção de ghnamina pela gama-gtutamiltransferase. a estrutura alterando sua atividade. Pacientes com tais altera-
ções respondem de forma inesperada aos medicamentos, sendo
• Remoção de glicina pela cistcinilglicinase.
• Acctilação da ci teína remanescente pela N-acetiltran quase impossível prever o efeito farmacológico, a não ser pelo
controle dos níveis sangUíneos.
ferase.
As características individuais relacionadas com O metabolismo
de medicamentos. contudo. na maioria dos casos são conse-
fatores Que Inlluem na Blotransformação qüências da herança genética.
Numero os fatores do próprio organismo que recebe o medi- Por exemplo. medindo-se as concentrações plasmáticas da
isoniazida em vários indivíduos após administração de mesma
camento. ou dependentes de fatores externos, modificam as
dose c representadas como histograma de freqüência de distri-
condições fi iolõgicas normais e interferem na biotrunsformação.
buição, obtém-se uma curva descontínua ou bimodal. As expe-
aumentando ou diminuindo sua intensidade. Os fatores mais
riências clínicas demonstram que a isoniazida, no homem, sofre
relevantes são descritos a seguir.
conjugação com a acetilcoenzima A para formar acetilisoniazida,
A velocidade dessa acetilação é variável; alguns pacientes con-
Espécie Animal seguem metabolizã-la rapidamente e outros mais lentamente.
A exi tência de diferentes enzimas nas diversas espécies animais formando-se assim. numa população, duas subpopulações
repre enta fator de importância ii ser considerado nos estudos diferentes. que representam dois fen6tipos distintos.
pré-clínicos de novos medicamentos. A hidrólise de atropina em coelhos é outro exemplo da
Pode-se observar acentuada variabilidade de biotrnnsformação variação do tipo descontínuo. Alguns coelhos silo desprovi-
entre variadas espécies animais. Por exemplo: dos da enzima "atropinesterase". produzidaper um gene ou
par de genes. mas ausente na maiorin das espécies mamíferns.
• A nnfetamina pode sofrer dois tipos de degradação: hi- incluindo o homem. Evidentemente. os coelhos portadores
droxilação aromática e subsequente conjugação ou de- dessa enzima silo muito resistentes ii ação da atropinu. A ad-
sarninação da cadeia alifúticu, seguida pela oxidação. ministração de doses crescente da atropinu cm coelhos e o
A hidroxilação é a principal via metabólica em ratos. registro da respectiva freqüência de morte permitem eviden-
mas secundária para as outras espécies, enquanto a desa- ciar uma distribuição tipicamente bimodal,
Farmacologia • 339

Indutores Enzimáticos conforme a intensidade e II local de a,ãll. modificando a fun-


ção normal do organismo.
Certas substâncias. como fenobarbital. inscticida» clorados c São exemplos significativos os inibidores da MAO (monoarnina
hidrocarbonetos policic licr», carciuogêuicos, são capazes de oxidase). os inibidores de enzimas do rcuculo endoplasmático
promover e:-.timulaç:io da atividadc cnzirnárica. aumentando e os inibidores da uldcídc-dcsidrogenasc. Entre os inibidores da
o número de moléculas <I.: enzimas específicas ou suas ativi- ,MAO. têm-se as hidrazidas (iproniazida), aminas (anfctarnina,
dades enzimáticas. pargilina e tranilcipromina) e os agentes simpatornirnéticos
A estimulação da .uividudc. particularmente do sistema (cfcdrinaj.A inibição da MAO acarreta acumulo de seus substratos
enzimático do retículo cndoplásmico do fígado. permite acclc- naturais. entre os quais a dopamina. a noradrenalina e a serotonina
ração da biotransformaçâo de muitos medicamentos. alteran- nos seus locais de uçâo,
do. em conseqüência, a uura,ãll I.! a intensidade de suas açõcs. Agentes inibidores antlcotincsterásicos provocam efeitos
Um dos primeiro-, trubalhos sobre o tcnômcno de indução
semelhantes ao~ que ocorrem com a ~1/\O. com acumulo da
foi realizado pur Richardson 1"1 al. (I r)52). no qual os autores accülcolina por inibíçâo de sua hidrólise em ácido acético e
relatam que o potente agente cnrcinogêuico La-dlmetiluminoa- colina.
zobcnzcno n~u produz hcpatumax quandu \! .ulministrado a ratos Dentre os inibidores de enzimas e:o.táo dicrilaminoctanol
concomitantemente com II 3'"H:lilculantrCllo, /\ intcração desses do ácido difcnilpropilncético (SKF 525-1\). que :IIU:lsobre as
dois agentes foi interpretada cumo decorrente da ação estimu- enzimas inibindo-as por mccunismo não competitivo. mas que
lante do 3-mctikulalllrellu sobre a:. cuziuias dos microssomus por si só não produz efeitos funnacológicos de grande impor-
hepáticos que mctnhuliv.un u JA-dimetilal11inuazobcllzeno. tância, O hcxuhurhitul, na vigência desse inibidor. induz ao
De fato. o :\-ll1clilcol:llllreIlO é UI11 dos indutores mais potentes.
sono cerca de três vezes mais duradouro. O metabolismo iII
A injcção diária de 3-metilcolalltrcno intrapcritoncal cm ratos.
vitro de substâncias como succinato, fumarato e malato tarn-
durante três dias. aumenta IIU III Ini1110 duas veles a concentração
bém é impedido na presença desse inibidor. A hidrólise de
do citocromo P-450 dox microxsoma» hepáticos. O fenobarbital.
procafna iII vitro é retardada pelo SKF-525-A, por mecanismo
por três dias. eleva cerca de três vezes o conteúdo cnzimãrico.
competitivo.
Em animais previamente tratados 1:0111 indutores como feno-
Embora em menor grau. ctionina, puromicina, dactinomlclna,
barbital, fcnilbuiazona c uminopirinu. os efeitos farmacológicos
cloranfcnicol c tctraciclina inibem o sistema enzimático do
de zazolamina e hcxobarbiral são significamcmcntc reduzidos.
retículo endoplasmático. interferindo na síntese proteica.
110 mesmo tempo que seu metabolismo é sensivelmente aumcn-
A aldcüto-dcsidrogcnasc é inibida pelo dissulfeto de te-
udo.A atividade aualgésicu da a'M)ci:u;ãu de propoxifeno, para-
tractiltiuram (dissulfiram) que também inibe a dopamina
cctamol e hidroxizina iII \";"11 é igualmente diminuída quando
bcur-hidroxilnse implicada na :.ínlc!>e de carccolnminns. A
x administrada COIII o fenobarbital.
oó uldcúlo-dcsidrogcnase catalisu a oxidação do aldeído acético.
'" Diversas cxpcriência-, Ichas no homem demonstram u ocor-
'7 proveniente da oxidação do etanol, Sendo cvta a principal via
"T rência de Icnômeno-, semelhantes: por exemplo, diminuiçâo
~ do nível ~:tllgiiíneo de aminopirina. cm pacientes tratados com de degradação do etanol no organismo. a inibição da aldeído-
~ Ienilbutnzoua e aumento da excreção de mctubólitos desmctilados dcsidrogcnasc resulta no acumulo de ácido acético. dcsenvol-
da dipirona em paciente intoxicados por Icnobarbital.A pla- vendo hipotensão acompanhada de sfndrome extremamente
centa de mulheres fumantes hidroxila mais prontamente o agente dcsugradãvel. O dissulfiram. utilizado para combater o alcoo-
Iismo crónico, pode trazer graves conseqüências. pelo acumulo
c3Jcinogcnico 3A-hen7.opirellu. pni~ vfírios hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos. inclusive o bcnzopireno du cigarru. de acetaldeído no organislllo.
são potente~ indulOre~.
Os indutorc:o. enlimálicos lambém elevalll o lIIetabolismo Biotransformação e Aspecto ToxicolÓgico
dos honnônios eSleróidcs e outros constiluintes normais do
organismo. Tal fato sugeriu o uso de indlltores cm IllUit:IS /\ possibilid:ldc de eerros agentes lerupêuticos. quimicamente
cvcntu:llidadcs: trat:llllcnto da s(ndrome de Cushillg. pr~~vcn,ãll inerres. produzirem lesões tcciduais por mcio de seus meta-
de icterícia ':1l1 rCl'ém-na~cid(ls e correçiiu de dcliciência bólitos interlllediórios alt:lll1cnlc reativos foi proposta por I3rodie,
enzimática heredilária. . cm 1967. Lesões s~l'ialll I:ausadas cm conseqUência de liga-
Os indutores podem :.cr líteis ainda 110 Ir:llamcntu dc intoxi- ções covalentes dos metab61itos a macromoléculas teciduais.
cação por in~elicid:t, halogo.:lladlls. tia prevctlção de c.:flllccrpor A propósito. um mecanislllo semelhante havia sido atribuído,
agentes polucllle~ do mcio :lIllhicntc e lia rcgctlcraç'ão hep:ític:l. por ~liller e Miller. cm 1966. à carcillogenicidade de várias
A inlen ificação da síllle,e protéica propicia a regeneração do :.ubstâncias. Assim. ainda qlle a biotr~lIlsformação seja um dos
tecido hepático. imporrantes processos de eliminação de substâncias farma-
Entretanto. u 1I~1I inadcquado desscs indutores pode :Il"ar- cologicamente :lIi,,:!:. no organismo. às vezes é fenômeno que
retar gr:l\'es c()lIlplica'iilC~. Por cxemplo. tratamcnlo de pacientes contribui para cX:lccrbar efeitos colaterais ou tóxicos de di-
com griseofulvina C \'arfarin:l diminui o efeito anticoa!!ulante \'ersos medieamentos.
destaúltima: após sll~pcn~ão da criscofulvina. rc~taur.t-se ~ efeito Alguns medicamento. como codcina. c1orpropamida e
da varfarina. podendo provuc71r hemorracia. ~ifal11picina. tf:lnsformam-se cm composto terapeutieamente
A administr:lção repcl ida de um mcdic:u~lel1lo pode aumentar ath'os: outros. como p:lr:lCCtalllol. fcnilbutazon:t. cloranfenicol
a alividade enzirn:ílica. e'limulando a sua própria biotransfor- e furosemida. convertcm-!>e em ueriv:!dos t6xicos. Essas con-
mação. Dentrc os compu'tos quc assim se cOlllportam têm-se "crsõcs se fazem ~ob ação dc en7jm.1smicrossômicas e os metabólitos
fenilbul:l7ona. harhillíricll' e trallquilizanlcs.I\li:ís, talmec:l- result:lllleS são altamcnte ch:trofilicos. com grande poder de
nismo explica. peln meno, parcialmcnte. o fenômeno de tole- fixaçãolls macromoléculas tcciduab. Experiências realizadas
rância OC:l\ionado pelo U:'CI conlilluado desses medicamentos. cm :lIlimais dc laborat6rio Illo:.tralll eMreita correlação entre
a ligação de mctabólitos e a incidência de necroses hepáticas.
O parneelamol. tidu clltre os an:llgésicos como um dos mais
Inibidores Enzimáticos
scguros em sua aplicação terapêutica normal. pode produzir
Diversilic:ldas :o.ubq:incia~ excrcem :lç50 inibidora de enzim:ls. necrose falai cm doses elevauas. O limiar de sua loxicidade é
alterando o efeito farmacol6gico de outros medi<::llllcntos ou. dependentc de divcrsos fatorcs. entre os quais: (I) depleção
340 • Tratado de Clinica Médica

do cc-substrato endógeno. o 3-fosfatodenosina-5-fosfossulfato. lipossolúveis, depois de sofrerem filtração glomerular, são


porquanto a conjugação sulfãtica. a par da glicurônica, é uma das reabsorvidos por difusão passiva nos túbulos renais. Por meio
significativas vias metabólicas do paracetamol: (2) dcpleção do. rins. portanto. são eliminadas substâncias polares e sufi-
da glurationn. que reage covalenternentccom o mcrabõlito rcntivo cientemente hidrossolüvcis.
do puruccrumol. A secreção tubular contribui igualmente para a elimtnação
A conjugação da glututiona com o meiabõlito tóxico do para- de medicamentos do organismo. Assim. silo excretados as peni-
cetamol é muito mais intensa em animai do que no homem. cilinas, a fenilbutnzona. O ácido snlicllico. [I quinina, sulfas e
Tratamento prévio de r:HOScom fenobarbital. que acelera o compostos de arnônio quaternário que competem entre si, no
desaparecimento de purucctumol do plasma c tecidos. potencia nível tubular. por um mesmo carregador, É o caso, por exemplo,
acentuadamente as necroscs hepáticas. bem como as combi- da excreção do ácido úrico. inibida por pequena quantidade de
naçõe covalentes do medicamento a macromoléculas. Inver- ácido salicflico. Substâncias como o ácido p- (benzilsulfonamida)
samente. o tratamento de animais com um inibidor do citocromo benzóico e as cianinas inibem a secreção tubular de substâncias.
P-450 reduz o grau de fixação proteica e previne a incidência A primeira. de ação mais geral, outrora foi usada para aumentar
de necrose. A falta de correlação entre o nível tecidual do o tempo de ação de penicilinas. retardando sua excreção.
paracetumol e a hepatotoxicidade realmente leva a acreditar que Os medicamentos excretados por filtração glomerular e
() merabélito tóxico seja o responsável pela lesão hepática. Em ca- secreção tubular têm meia-vida biológica curta.
mundongos. a ligação covalente c a necrose hepática silo eviden- A reabsorção tubular também pode interferir na meia-vida
tes somente em doses de paracetarnol que depletarn acima de biológica do medicamento. Tratando-se de substâncias de ca-
85% a glutationa do fígado. ráter ácido ou básico. o pH do meio intratubular passa a exer-
Fenilbutazona. cloranfenicol e furosemida provocam efeitos cer influência no grau de ionização dos elerrõlitos, determinando
tóxicos por mecanismos similares aos descritos. Os radicais sua maior ou menor reabsorção. O aumento do pH intratubular
livres resultantes de sua mctabolização reagem covalenternente reduz a reabsorção de ácidos e eleva a de bases.
com rnacromoléculas teciduais de diversos órgãos. A propósito. fundamentado nesse conhecimento, tem-se
Anemia aplásrica subsequente ao uso prolongado de c1oran- proposto o uso de bicarbonato de sódio no tratamento com-
fenicol com certeza está relacionada com a aruação do metabôlito plementar da intoxicação por fenobarbital. O bicarbonato de
aiivo do medicamento sobre a medula óssea. Tianfcnicol. o sódio teria li função de alcalinizar o líquido imratubular para
anãlogo sintético obtido pela substituição do nitro-grupo de elevar o grau de ionização do barbitúrico. que é um eletrõlito
cloranfcnicol pelo metilsulfonil-grupo. não tem ocasionado fraco. de carãier ácido e, com isso, acelerar a sua excreção.
anemia aplásrica. Experiências laboratoriais mostram que o A determinação da velocidade de excreção de certos medi-
cloranfcnicol combina-se covalenternente com rnicrossomas camentos pelos rins serve como valioso subsídio no diagnóstico
hepáticos doze vezes mais que com o riunfenicol. Os micros- da função renal. Dados quantitativos da função renal podem
somas hepáticos induzidos pelo fenobarbital apresentam li- ser obtidos pelo método de depuração ou clearance, que con-
gação covalente com cloranfcnicol e tianfenicol em intensidade siste em mcdir fi quant idade absoluta de uma substância excretada
10 e 3 vezes maior. respectivamente. pelos rins em Imino relacionando-a com seu nível plasmático.
Glutationa é deplctadu do fígado de animais tratados com Para tal. uti liza-se substância do tipo inulina, excretada exclu-
fenilbutuzonae cloranfenicol. mostrando importante desempenho sivamente por filtração glomerular, sem sofrer reabsorção nem
na inarivação de meiabõlitos. Diferentemente. a furoscmida não secreção tubular.
dcplcra. de modo significante. a glurariona hepática. Lesões
hcpãricus por bromobenzeno c tetracloreto de carbono igual-
UxV
Depuração (mUmin) = ---
mente aparecem por ligação covalente de radicais liberados. P
após biorrnnsformação dos compostos pelo citocrorno P-450.
Em que:
U = concentração da substância-teste por mililitro de urina.
EICREÇlo =
V volume da urina excretada por minuto.
Os medicamentos inalterados ou seus metabõlitos são excretados
=
P concentração da substância-teste por mililitro de plasma.
por diferentes vias. conforme as propriedades físico-químicas. Em indivíduo adulto normal do sexo masculino, a depura-
Medicamentos gasosos. como os anestésicos gerais e, em menor ção de inulina é igual à quantidade filtrada pelo glomérulo-
ou maior grau. os voláteis. como o álcool. são excretados pela aproximadamente 130rnUmin. indicando que 130mL do plasma
via pulmonar. os compostos sulicientemente polares ou hidrossolüveis são filtrados pelo glomérulo por minuto.
são excretados. de modo predominante. pelos rins. Calculando-se fi depuração de um dado medicamento "X",
Encontram-se nas fezes os medicnrncntos administrados por pode- e determinar parcialmente o mecanismo compreendido
via oral e não absorvidos pelo trato gastrintesrinnl ou aqueles na sua excreção renal. Depuração maior que II da Inulinu indica
nb orvidos e eliminados junto com a bílis. que o medicamento sofre secreção tubular além da filtração
Os medicamentos podem ser excretados. ainda. com as secreções glomerular. Depuração menor que a da inulina significa que
externas. como salivar, lacrimal. na ai e sudoríparn, ou pelo leite o medicamento, após ser filtrado. é parcialmente reabsorvido .
matemo. A quantidade eliminada com o leite, em particular. embora . Certos ácidos orgânicos, como o ácido p-amino-hipúrico, são
represente apenas uma pequena parcela do total excretado, even- inteiramente removidos do plasma numa simples passagem pe-
tualmente pode afetar a criança alimentada ao peito. los rin . desde que seu nível plasmático não ultrapasse a capa-
cidade transportadora do carregador. Em indivíduo adulto normal,
do sexo masculino. seu valor é de 650mUmin. Em clínica, usa-
E.ereçio Renal se o p-amino-hipurato de sódio, cuja depuração representa a quan-
A excreção de medicamentos pela urina resulta de três processos tidade do fluxó plasmático através dos rins.
renais: filtração glomerular. secreção tubular e reabsorção tubular. Medicamentos que são rapidamente secrerados pelos túbulos
Najiltraç(io glomerular. apenas os medicamentos combi- renais em forma ativa, como as penicilinas, podem ter meia-
nados com as proteínas ou os de moléculas grandes são reti- vida prolongada com o uso de substâncias que inibam o transporte
dos no compartimento sangüíneo. Medicamentos altamente ativo pelos túbulos renais. como a probenecida. Após a adrni-
Farmacologia • 341

nistração da probcuccida por via oral. a excreção urinárin de Muitas VC7es. o medicamento vofrc conjugação glicurônica
penicilina restringe-se ii fraç:io filtrada pelo glomérulo. permitindo no fígado. antes da excreção biliar. Embora esse conjugado
redução dc atl! quatro vczes u dove habitualmente ministrada. seja mais polar c dificfl de ser absorvido pela mucosa intes-
Como a probenccidu inibe a reabsorção tubular de ácido úrico. tinal. a glicuroniduse da nora bacteriana pude hidrolisá-lo c
em dose- adequadas aumcntu a excreção desse ácido. o quc liberar o medicamento. permitindo sun reabsorção.
torna útil seu emprego no tratamento da gota.
PARAMETROS FARMACOCINtTlCOS
Excreção Biliar Parâmetros [armacocinéticos de rnedicarneruos são indicadores
Medicamcmos e seus mctabõlitos costumam ser excretados numérico. de propriedades de medicamentos decorrentes de
pela bílis. sendo encontrados nas fezes. suas caracrerísticas de absorção. distribuição, biotransformação
A passagem de medicamentos do sangue para a bílis é in- e excreção.
fluenciada por diversos ratore~. A maioria dos medicamentos Dessa forma. II efeito trrapéutico til' cada medicamento é
aniônicos excretados na hílis povsui peso molecular elevado. I';IICII/(/(/O li .W(/ posologia correta, pois apenas se obtém o
Somente os de peso molecular superior a 30(). cm ratos e a efeito desejado de um medicamento quando ele atinge O local
500. no homem. são cxcrctudox cru quantidades significantes. de ação cm concentrações adequadas:
Em ratos. medicamentos de pcso ruolccular inferior a 300 são
• Doses subterapénticas surgem quando a quunt idade admi-
excretados cm menos de 5% da dose adminivtrada. Entretanto.
sub tâncias cutiônicas, mesmo de peso molecular da ordem nistrada ao paciente é insuficiente para que o medica-
mcmo atinja conccntruçõcs eficazes no local desejado.
20. são encontradas na bílis. sem grandes variações nas difc-
Por exemplo. não. e consegue tratar uma infecção quando
rentes espécies uni mais.
o antibiõtico não atinge pelo menos o nível inibidor mínimo
A polaridade da molécula é outro Iaror determinante da
que impeça o desenvolvimento microbiano.
excreção biliar de medicamentos. Na passagem de moléculas
• Superdose (ou superdosagem, ou overdosey acontece quando
para a bílis. parece ser significante não só a presença de gru-
pos polares, mas o equilfbrio de suas propriedades hidrofflica as doses são demasiadamente altas e, ainda que eficazes,
aumentam o risco de reações adversas ou tóxicas.
e lipofílica.
A biotranvínrmaçâo de medicamentos igualmcnrc favorece A informação sobre a posologia recomendada, que faz parte
a excreção biliar. pois aumenta a polaridade das moléculas. da informação de todo medicamento, precisa ser avaliada perante
além de elevar o seu peso molecular. O 3.-1-b<!nlopireno. por as condições própria-, do indivíduo: htihitox, fatores genéticos,
exemplo. rem peso molecular igual a 252 e é uma substância intcraçõcs, automcdicação e outros podem acarretar insufi-
não polar: é prontamente excretado aplÍ' sofrer hidroxilução ciência ou excesso do medicamento no orgunivmo.
e conjugação glicurônicu. Es:>avariabilidade indiv idual e fatore~ inicrcorrcntcs podem
Interessante é que a pavsugcm de medicamentos do sangue alterar o comportamento do medicamento no organismo a tal
para a bílis se faz por mecanismo de transporte ruivo e. cm geral. ponto que uma doxc "recomendada" em bulas pode, eventual-
contra elevado gradiente de concentração. Tal mecanismo é mente. ser insuficiente para alguns pacientes e, para outros,
comprovado por cvidêncins de que: (I) diversos medicamentos excessiva.
competem entre si na secreção biliar. (2) o processo é saturado Conhecendo o paciente. a doença c os principais parâme-
por excesso de subsiânciu» c (3) a secreção de algum, medica- tros farrnacocinéticos do medicamento receitado, médicos e
mentos é reduzida ou abolida por inibidores metabólicos. farmacêuticos, têm melhores condições de decidir sobre a dose
Admite-se que pelo menos três sistemas de carregadores par- mais conveniente. intervalos entre doses, horários de admi-
iicipam do processo, sendo cada sistema responsável pelo transporte nistração. correlação com a alimentação, podendo otirnizar a
de um grupo de compostos. Assim. ácidos orgânicos como monitoração de resultados terapêuticos e efeitos adversos.
bromossulfalefna, penicilina. clororiazida c probenecidu. que
competem ent re si, seriam transportados por um sistema. Esses
íons não interferem na passagem de substâncias n50 iónicas do
Absorção
tipo ouabalna e outros gl icovídcos curdtneos. que seriam iruns- Para rncdicamcntos administrados por via oral é indispensável
portados por outro I>istcnla. O terceiro ~ru(l() \! o de bavcs, entre ao médico COl1hcccr:
:IS quais ~iiocxcruplos II oxi lcnônio. a bcu/omcmmina. a N-lIlcti 1-
• A porcentagem de absorção esperada para o medicamento
nlcoiinamida c a d-tul)()cul'ílrina.
prescrito em jejum e com alimentos (às vezes assina-
Clinicamente. a secreção biliar de bromovsulfulcínu é usada
lundo influência cspccffica de CCrlOS tipos de alimento ).
em prova de função hcpãticu. Em indivíduos normais. a maior
• Algumas carncrerísticas do medicamento: solubilidade.
parte do coruntc administrado intrnvcnosamcntc é excretada
lipossolubilidadc (coeficiente de partição óleo/água).
no duodeno. no intervalo médio de 30min. O aumento desse constante de dissociação (PKA). tamanho da molécula
tempo pode indicar depressão da função hepática. (conforme referido neste capítulo).
A excreção biliar é particularmente relevante para os com-
postos que sofrem ionização no pH do intestino e, por conse- De modo geral. medicamentos lipossolúveis com elevada
guinte. não são reabsorvidos. ab: orçâo tendem a sofrer pouca influência de outros fatores e
~lediC3menlos excretados pela bili: podem ser reabsorvidos os níveis atingido, no sangue são relativamente regulares.
no intestino quando suas molécula-, apresentam elevado coefi- Medicamentos de absorção retardada. mas não diminuída por
ciente de partição 6lcohíglla. A pune ab,or\'ida retorna ao fígado. alimenlOl>. podl!m ou não influcnciar o efeito terapêutico UIS
noqu31podcr.í novamente passar para a hfli, c alcançar o duodeno: ve:l.es. é até vantagem obtcr menor variação dc níveis sangüí-
éocirlo(,lIIem.heprí/ic(I.que retém por maÍ\ tempo as ,ubstâncias neos e ação por lempo prolongado).
no organi\llIo. Outros ratores. como inter:lç()e~ eom medicamentos anti-
IH ciclo entcro-lH:p:ític() eOIll diver~\)s medicamentos. entre ácidos ou que interfiram lia secrc<;ll11gástric:. ou na motilidade
eles os horl1li\ni()~c~tl'Ogêniel)s e proge~togênicos. digitoxin<t, gastrintestinal podem Mo:!' decbivlls para impedir que () medi-
trinitrnlo de pentaeritritol, Illorl'in::t. indometacina c diazepam. camcnto atinja nívei~ tel'apCutico~ ellca~es.
342 • Tratado de Clinica Médica

Medicamentos de baixa taxa de absorção. da ordem apenas Na medicação contra a dor. deseja-se resposta rápida c é
de 20 a 30%. são mais suscetíveis ti variações dos níveis san- essencial que o analgésico atinja rapidamente o pico máximo
gülneos que possam atingir. sendo necessária monitoração de nível sangüíneo.
cuidadosa do efeito terapêutico e de efeitos adversos. Para a maioria dos tratamentos, convém verificar o tempo
em que o medicamento supera o nível plasmático eficaz e perma-
Nível SangUíneo Máximo e nece acima dele (no exemplo da Fig. 33.3. a forma farmacêu-
Início de Ação do Medicamento tica HB" fica ativa entre 2 e IOh). condição que permite espaçar
o intervalo entre doses.
o nivel sangiiineo máximo de um medicamento representa a Pode ser que paro espaçar intervalos entre doses sejam desen-
concentração mais elevada alcançada no sangue depois da ud- volvidas formas farmacêuticas de apresentação, pelas quais o
ministração oral. Na prática, as dosagens do medicamento em medicamento atinja temporariamente níveis acima do nível
geral são feitas no soro (nível Sérico) ou no plasma (nível máximo tolerado. Vejamos. se o medicamento provocar bra-
plasmático). dicardia, como o diltiazem, a forma farmacêutica "A" pode
Em terapêutica, é l'undarncntnl que o pico da concentração
causar efeitos adversos. corno cansaço, até que O medica-
supere a conccntrnção ntiva do medicamento no órgão-alvo:
mento volte a níveis abaixo da concentração máxima tolerada
as Figuras 33.2 e 33.3 ilustram de forma esquemática a importância
e o coração volte a bater mais rápido. Na Figura 33.3. da
des~e parâmetro. pois interessa saber se o medicamento atingiu
forma farmacêutica "A". o nível máximo é atingido em Ih c o
o nivel plasniático efica; (N PE), isto é. a menor concentração
medicamento mantém-se quase 2h em concentração acima de
que deve alcançar no plasma para que atue eficazmente. Interessa
seu nível máximo tolerado.
também saber por quanto tempo permaneceu acima do NPE.
O It'lII/}O de inicio do efeito do medicamento se dá quando
este atinge o NPE. Curva de Nível SangUíneo
Após o início do efeito do medicamento. a absorção con- Quando um medicamento é dado rapidamente por via intravenosa,
tinua até que o medicamento atinja o nível máximo (ou pico ele atinge o nível sangüíneo máximo, sendo progressivamente
de concentração), que não deve ultrapassar o nivel máximo eliminado (Fig. 33.4).
tolerada. pelo risco de rcaçõcs tóxicas. Com a administração oral, existe um aumento progressivo de
O nível máximo atingido está vinculado à forma farma- seu nível sangüíneo, mas ao mesmo tempo já se inicia a elimi-
cêutica de apresentação e outras características do medica- nação. Se depois dessa administração forem coletadas amo -
mento. não :lpenas ao princípio ativo e à dose ministrada. É tras de sangue para determinação do seu nível sangüfnco em
possível controlar li velocidade de liberação do princípio ati- tempo diferente, obter-se-é a curva de nível sangüíneo (pcrlil
vo e sua absorção para produtos diferentes administrados pela sérico ou plasmático) do medicamento (Fig. 33.5).
mesma via. A concentração do medicamento no sangue em um deter-
Por exemplo. quando se dá um medicamento na mesma minado momento é função de várias constantes inerentes ao
dose. em formulações diversas, as curvas de absorção podem princípio ativo e ~ forma farmacêutica de apresentação na qual
ser diferentes. A Figura 33.2 exemplifica um medicamento é ministrado (parâmetros farmacocinéticos): absorção, distri-
em duas formulações com absorção total semelhante. mas uma buição. biotransformação e excreção. O nível sangUíneo re-
delas não atingindo o NPE. A linha traçada no nível de 4[.1g/ flete a dinâmica do medicamento nos diversoscompartimentos
mL representa o nível plasmático mínimo eficaz (NPE). Em- orgânicos; numa primeira fase em que ocorre ascensão do nível
bora a quantidade total absorvida possa ser equivalente para sangüíneo, há predomínio na absorção do medicamento, se-
ambas as formas farmacêuticas, a forma "A" tem ação tera- guindo-se a fase de diminuição do teor sangüíneo. em que
pêutica eficaz. mas o mesmo não ocorre com a forma "B". predominam a distribuição, a biotransforrnação e a excreção.
A Figura 33.3 representa o que poderia haver com O nível Na curva de nível sangüíneo existem três parâmetros consi-
máximo tolerado e o nível plasmático eficaz (NPE) de um me- derados relevantes para o estudo comparativo entre formulações
dicamento ministrado em formas farmacêuticas diferentes. A forma di ferentes que contêm o mesmo princípio ativo: (I) concen-
"A", apesar de eficaz. seria potencialmente tóxica. ao passo tração máxima: (2) tempo em que se dá o pico de concentra-
que a forma "B··. com absorção mais lenta. produziria con- ção (ver item Nível sangüíneo máximo e início de ação do
centrações bem acima do NPE sem atingir níveis tóxicos. medicamento): (3) lrea sob a curva do nível sangüíneo.
É importante observar que o parâmetro "tempo em que ocorre O cálculo da área sob (I curva de nivel sangülneo é o principal
o pico máximo de concentração sungüínca (ou plasmática. ou parâmetro indicador da absorção de um medicamento. Sua deter-
sérlca)" está intimamente relacionado com a taxa de absorção minação, que pode ser feita matematicamente pelo cálculo da
do medicamento e com a forma farmacêutica de apresentação área trapezoidal, expressa-se em quantidade/volume x horas.
com a qual é administrado. Na prática, costuma-se simplificar a denominação, utilizando-se
apenas área sob (/ curva, ou as iniciais ASe, em português
(ou AUe, area under lhe curve, em inglês).
Tal cálculo de área representa, em última análise, a quan-
tidade do medicamento absorvido após a administração de dose
única, isto é, a quantidade de medicamento presente no orga-
nismo durante um intervalo de tempo.
Por exemplo. na Figura 33.3. as formas farmacêuticas "A"
e "B" apresentam área sob curva, para IOh, de 34.2Ilg/mUh:
idêntica para as duas formulações. A análise <ta Figura 33.3
o t 2 3 4 8 lO 12 14 16 20
revela que essas formas farmacêuticas não são bioequivalente .
Tempo (h) sendo preferível a forma "B", pois a forma "A" faz com que
o medicamento atinja nívei tóxicos no organismo.
Figura 33.2 - Exemplo de concentração máxima e nivel plasmático Obtém-se o melhor efeito farmacológico quando o medi-
eficaz (NPE) de um medicamento em diferentes formas farma- camento é absorvido e mantém seu nível acima do NPE e abaixo
cêuticas de apresentação do nível máximo tolerado.
Farmacologia • 343

ligação a Proteínas Plasmáticas Alu (O- 20h)


~g
6
c>---<) A • ]4.4 mr)( h
É preciso cuidado c vigi I:incia com intcraçõcs de mcdicamen- :::;
tos que exibam alto grau de ligação às proteínas plasmáticas. /' Formulaç30 A "---.B.]42~)( h
~ • mL
Mcdicurncntos comuns c aparentemente inofensivos. como o .s +4--~r--------------------------NMT
analgésico ácido :lcctibalicílico, podem deslocar o medica- e
~
menro das protcínav, aumentado 11 nível sungüfnco da forma ~
disponível. õ.
-.;
Mcdicarnemos como a vurfurinu. com 99% de ligação a .2:
z
proteínas. podem ter sua atividade duplicada pelo simples
deslocamento de I'd-. Quando a ligação protéica é pequena, a 0'/,' 3 4 6 8 10 12 14 16 20
Tempo (h)
preocupação com c.. e parâmetro diminui. Um medicamento
com IOo/cde ligação protéica e 90% disponíveis para distri- Figura 33.3 - Exemplo de picos de concentração e curvas de
buição terá sua atividadc pouco alterada se I % for deslocado nível plasmático de um medicamento em diferentes formas far-
das proteína, plusmâticas. macêuticas de apresentação diante de nível plasmático eficaz
(NPE) e nível máximo tolerado (NMD
Volume Aparente de Distribuição
o indicador de diMribuiçiio de maior importância é a distribuição ângulos cm rclução 1\ linha base (ver Fig. 33.4). Em tais condi-
relativa entre o~ volumes intra e extracelulares, habitualmen- ções, costuma-se definir uma t'lz bifásica (meia-vida bifásica)
te denominado 1'111111111' apurentr de disnibuiçã« (Vd). pois o como uma meia-vida inicial com ângulo a, seguindo-se à
sangue é a principal via de entrada c distribuição de medica- sua distribuição e uma meia-vida terminal, mais lenta que a
mentos no organismo e essa distribuição depende das propriedades inicial. que corresponde à eliminação mais lenta do organis-
da própria substância e do organismo. mo. com ângulo 13.
O volumea/}(I/'C'II/C' de distribuição é definido como o volume A obtenção de níveis eficazes do medicamento no sangue
de líquido necessário para conter a quantidade total (Q) do não está unicamente subordinada li meia-vida plasmática, pois
medicamento no corpo. na mesma concentração prc: ente no esta é determinada a partir de uma única administração intravenosa.
plasma (Cp). 011 seja. relaciona a concentração do medica- Formal' farmacêuticas dc Iiberação lenta, por via oral, pellets
mento no organismo com a sua conccnt ração no sangue. subcutâneos ou outras modificações Iarmacoténicas influen-
ciam decisivamente o intervalo entre doses. Assim, embora a
Q mcia-vidu do medicamento seja futor determinante do inter-
VD=-
Cp valo entre as doses, podem-se utilizar intervalos regulares entre
as administrações de medicamentos (de 6/6h ou de 8/8h) ou
o VOIIlII1l: (Ot:llaparente de distribuição de um medicamento horários mais Ilcxívies (três vezes ao dia ou antes das refei-
estima a extensão c vua distribuição pelos compartimentos lí-
ções). de modo que os níveis sanguíneos oscilem dentro do
quidos do organismo e sua captação pelos tecidos. Valor ele- intervalo terapêutico.
vado parn o volume de distribuição implica cm distribuição
ampla. ou extensa captação pelos tecidos, ou ambos. Para alguns
medicamentos. o volume aparente de distribuição é maior que Depuração Plasmática
o volume corpóreo. vendo a concentração do medicamento.
em certos tecidos. superior à plasmática. Por outro lado. va-
o parâmetro depuração plasmática, remoção do medicamen-
to do compartimento central, tem seu valor expresso em uni-
lor pequeno de Vd indica distribuição limitada c pouca cap- dadcs de volume/tempo (por exemplo, mLlmin). indicando a
tação pelos tecidos. excreção do medicamento para fora do organismo ou outras
Atualmentc, COSIIIIl1:1-Secmprc incluir I) Vd na descrição
formas de remoção do sangue, como maior captação por um
dn farmacocinética dc medicamentos. determinado órgão c sua blorransforrnação nesse órgão, como
ocorre com o iodo ou os horrnõnios T, e T. (rriiodotironina e
Meia-vida tetraiodorironinn) cm relação i\ glândula tire6ide c ao ffgndo.
respcct ivamcntc.
Para pre crcver, é indivpcnsâvel tcr noção de quanto tempo o
medicamento permanece arivo no organismo. ° que pode er
entendido como a meia-vida do medicamento. que é o tempo
em que sua concentração no organismo se reduz mciade (50lJc)
à

do seu valor máximo inicial.


ti meia-vida (t'l,) plasmática de um medicamento é o tem-
po em que sua conccmração no plasma diminui 50% do valor
máximo inicial,
Meia-vida biolágica é o tempo cm que ii concentração de
um medicamento no organismo diminui 50% de seu valor máximo
inicial. A tY, biológica é um dos principais parâmetros a scr con-
siderado naprescriçüo de medicamentos. pois dela depende o
1'10 __0,59)
esrabelecimeruo do intervalo entre doses. C0l110 nesse valor estão , o
incluídos diversos compartimentos. ela é mais difícil de ser mcn- 1 ~~~~ ~~~~~

surada c de menor valor prático que a meia-vida plasmática. o 10 ZO ,O <O 50 60 70 10 to 100110 110
Bolo 1.""",.pO< • <1000 (MIn)
Algun~ medicamentos sofrem diferentes processos de dis- Dose
tribuição. hiotransfonuaçâo c excreção, com variação na velo-
cidade de diminuiçâo da. concentrações sangülncas, podendo Figura 33.4 - Curva de nível plasmático após administração de
ser representada. matcrnaticumcntc por retas com diversos um medicamento em dose única por via intravenosa
344 • Tratado de Clínica Médíca

grau de precisão. o provável número de compartimentos pelos


Pico de nível mjximo quais um determinado medicamento transita.
Pico Para simplificar os estudos e o raciocínio de biodisponíbi-
T~mpodo pko eH lidado, costuma-se sclccionar apenas dois ou três companí-
"lVcl mãlimo mentes principais. pois a subdivisão em mais subgrupos dificulta
AJt. sob ~ (UNa de
exponencialmente o cálculo da quantificação dos medicamentos
no organismo.

OV,l 2 1 4 10 12
T.mpo (h) Compartimentos
Em geral, lIS anãlises comparti mentais farmacocinéticas são
Figura 33.5 - Curva de nivel plasmático de um medicamento desenvolvidas pelo estudo contínuo dos níveis plasmáticos do
após administração de dose única por via oral
medicamento, conhecendo-se a quantidade injetada intraveno-
sarnentc ou apurando-se ii quantidade absorvida.
Sua importância para conhecimento do medicamento é relativa, Se considerarmos apenas dois compartimentos, os fluxos
porque a depuração plasmática está relacionada (influencia) unidirecionais de substâncias "S" através de membrana, do
com a meia- vida plasmática do medicamento, que é o parâmetro compartimento "I" para o compartimento "2" e vice-versa,
descrito no item anterior. são dados. respectivamente, por:
J 12 = knS1
Estadode Equilíbrio lSleadv Slale) =
J~, k21S2
Nesse estado. existe uma relação relativamente constante entre cujos índices indicam os sentidos do fluxo unidirecional.
a entrada e a saída do medicamento do compartimento central para enquanto o coeficiente "k'2" representa a proporcionalidade
o periférico, portanto com manutenção dos níveis plasmáticos do entre a quantidade de substâncias no compartimento" I" e o
medicamento sem variações com relevância clínica (Fig. 33.6). fluxo de ''1'' para "2". ou seja:
É o que se consegue obter. por exemplo, com infusões venosas
contínuas. Na prática. também se considera o estado de equi-
Ifbrio para um medicamento administrado por via oral ou intra-
muscular quando. apesar das variações entre doses. os picos
cm que:
e vale se mantêm relativamente constantes e dentro do inter-
k é o coeficiente de proporcionalidade;
valo terapêutico útil.
S é a quantidade de substância; e
O tempo necessário para que um medicamento atinja o "estado
J é o fluxo de I para 2.
de equilíbrio" é um indicador bastante referido nas mono-
grafias de produtos farmacêuticos. sendo de grande relevância Percebe-se, então, que esses coeficientes exprimem a quan-
na avaliação dos resultados da terapia medicamentosa. tidade fracional de substância transferida através da membrana
para o compartimento adjacente por unidade de tempo. São.
por conseguinte, relacionados com a velocidade de transfe-
ESTUDOS FARMACOCINlTICOS rência do medicamento de um compartimento para outro.
Nos estudos tarmacocinéricos, a movimentação dos medica- Na absorção, teoricamente, considera-se o aumento contínuo
mentos de um compartimento para outro modifica sua con- da concentração do medicamento na corrente sangüínea a partir
centração nesses locais. Tais modificações podem ser descritas do exterior, no qual foi depositado. Concomitantemente, para
por meio de modelos matemáticos, os quais constituem, enfim, a maior parte dos medicamentos,'há distribuição para outros
o principal objetivo dos estudos cinéticos. Essas análises ma- compartimentos do organismo, além de biotransformação c
temáticas expõem a transferência de medicamento entre dife- excreção por órgãos apropriados.
rentes compartimentos orgânicos.
O método primordial para estudo das curvas obtidas é O da Modelo de Compartimento Único
dissociação dessas curvas em equações exponenciais (método
de logaritmos com ajuste interativo pelos mínimos quadrados). Se um medicamento ficasse limitado a um único local de
Tais equações. representadas em gráficos ortogonais lineares- armazenagem. ou se o organismo fosse todo homogêneo. sem
logarítmicos (isto é. "semilog"). mostram-se como segmentos barreiras, ele se comportaria como se fosse um modelo de COI/I'
de retas. Assim. é possível conhecer graficamente, com razoável partimento único,teórico em princípio. no qual se presume que
o medicamento seja absorvido e distribuído, instantânea e
homogeneamente. por todo O organismo.
Aproxima-se desse modelo a introdução rápida de albumina
sérica humana marcada com truçador radioativo (131(, 12S(, "Cr
etc.) por via intravenosa. O traçador mais comum é o mi e o
composto recebe, usualmente, a sigla RIlSIHSA (radioactive
/25·iodille ",,,,,(111
serum albuminy. A dose é conhecida e essa
substância. durante certo tempo em indivíduos normais, não
deixa o compartimento intravascular, Assim;após algum tempo
(em média, cerca de IOmin). é possível saber quanto do inje-
Tempo tado existe e~l I mL de plasma. A divisão do valor da dose
(Múltiplos de tY.~) injetada pelo valor determinado do plasma após l Ornin dá o
volume plasmático do indivíduo:
Figura 33.6 - Níveis plasmáticos após administração repetida de
um medicamento até atingir o estado de equilibrio (steady state) Vp = DICIO
Farmacologia • 345

Em que: cocinética é um orientador da posologia. os estudos começam


a ficar muito complexos e a utilização desses conhecimentos
Vp é o volume plasrnãtico:
não é útil na prática médica.
O é a dose injctada: e
O estudo fannacocinético abrangendo tecidos como ossos,
CIOa quantidade de substância existente em I ml, de plasma
esmalte. dentina. estruturas pouco irrigadas como articulações
no 102 minuto.
e olhos. ou mesmo "compartimentos scrnifcchados". como o
Nesse modelo. podem se encaixar medicamentos confinados liquido cerebrospinal. só poderá ser feito com modelos rnulticom-
no compartimento plasmático. como a heparina. Podem também parti mentais complexos.
ser considerado. medicamentos que se distribuem apenas no Equações diferenciais do tipo geral são montadas para cada
compartimento extracelular. como veeurônio. gentamieina. compartimento:
carbenicilina (por terem baixa lipossolubilidude. não pene-
dP
tram com facilidade na~ célulns e não atravessam nem a bar- - =k
dt 'J
IPI 1- KI' IPI I
reira hemarocnccfãlica. nem :1 barreira placentária).
em que a variação de rudioatividnde no compartimento "i'
Modelo Bicompartimental (isto é. dlli/dt) depende da entrada de troçador no comparti-
mento (k ) e de sua saída (-k ).
o modelo hlcompanimcntal ou de dois compartimentos abertos, 'J I"
OS dados experimentais são comparados com dados calcu-
também teórico. aproxi ma-se mais da realidade e tem implicnçõcs lados por computador e n precisão entre as duas curvas (expe-
~ práticas. Em geral. boas soluções matcmriticas são facilmente rimentai e teórica) dá a idéia do quanto o modelo se aproxima
~ relacionáveis com as noções gerais sobre o destino dos medi- da realidade biológica.
~r- camentos no organismo.
~ Considera-se um dos compartimentos como compartimen- Análises de Modelos
to central. de pequeno volume aparente. no qual a dose co-
nhecida do medicamento é introduzida e instantaneamente
Matemáticos dos Estudos Cinéticos
difundida; o outro, de maior volume aparente, é o comparti- O objetivo dos estudos cinéticos é a análise do modelo mate-
mentoperiférico. Esse dois compartimentos não correspondem mático que tenta descrever as modificações de concentração
obrigatoriamente a em idades unatômicas precisas. São espa- do medicamento cm cada compartimento. Como se verá a se-
ços teórico de distribuição dos medicamentos por vários lí- guir. classificam-se essas modificações como "cinética de or-
quidos e tecidos. nos quais a!>concentrações relativas podem dem zero". havendo ainda "reuções de capacidade limitada",
ser ba iante distintas. O compartimento central pode ser con- nas quais a concentração do medicamento determina o tipo
siderado como a soma do volume plasmático (ou sangüínco) de cinética que predomina em cada instante,
com o líquido extracelular de tecidos altamente perfundido Quando um medicamento administrado por via venosa. ele
é

(coração. pulmões. fígado. rins e glândulas endócrinas). Na entra no compartimento "sangue". que na verdade tem dois com-
prática. a distribuição no compartimento central ocorre em ponentes principais (para fins de estudo de medicamentos): água
tempo mais ou menos curto (alguns minutos) e () equilíbrio e proteínas. Água, que representa cerca de 5% da água corpórea,
entre concentração do medicamento no plasma e nesses teci- pois nela se dissolvem as substâncias administradas; proteí-
dos se e tabelecc rapidamente. mantendo-se constante. nas. porque muitos medicamentos com elas se combinam.
O compartimento periférico é formado de tecidos de menor Nos modelos bicompartimentais abertos, aplica-se o estudo
perfusão. como músculos. pele, glândulas salivares e tecido cinético de primeira ordem. Parte-se do princípio de que o
adiposo. nos quais os medicamentos penetram mais lentamente. medicamento somente entra ou sai do sistema pelo comparti-
A excreção se faz do compartimento central, por meio do mento central e de que entre este compartimento e o perifé-
coeficiente de eliminação "Ke", que também pode ser calcu- rico existe transferência reversível do medicamento, de tal forma
lado (ver Fig. 33.1). que o compartimento periférico funciona como reservatório
O estudo do modelo bicompartimcntal está na dependên- ligado apenas ao central.
ciado conhecimento dos volumes aparentes dos dois companimcn- O tratamento matemático do estudo cinético de primeira
tos, que são derivados das características de fluxo sangüíneo ordem é usado para descrever a saída do medicamento de ambos
(isto é, da irrigação) de cada tecido ou órgão, além da afini- os compartimentos do sistema. Assim. a taxa de remoção do
dadeecapacidade de tran porte do medicamento para tais regiões. medicamento de um cornpurtimcnto é proporcional à sua
A esses fatores assoei ..m-sc as características próprias do me- concentração nesse local: quanto maior for essa concentração,
dicamento (polaridade.Iipossolubilidadc c hidrossolubilidadc. maior quantidade de medicamento e líquido no compartimento.
PKA, ligação nos tecido e proteínas. local e velocidade de A quantidade de medicamento que sai diminui proporcional-
biouansformação etc.). mente com o tempo, conforme reduz sua concentração.

Modelo Tricompartimental e
Compartimentos Múltiplos
No modelo bicompanimcntal consideramos o compartimento
sangUíneoe o extracelular de tecidos ahamente perfundidos como
compartimento único. o entanto. para alguns medicamentos.
as diferenças de concentração no sangue e no espaço extracelu-
lar são significativas a ponto de se tornar necessário considerar
essesvolumcsemseparado. I~'>Odetermina o estudo tricompartimental
aberto. de modelo matemático mais complexo. Figura 33.7 - Exemplo de modelo multicompartimental (com base
Quanto mais detalhes se conhece sobre as propriedades de na distribuição de contraste radiológico [p.amino.hipurato IJII)
um fámaco. maiores são as possibilidades de atentar para em ratos, incluindo uma porcentagem de perda para o tecido he-
compartimentos múltiplos (Fig. 33.7). Contudo. como a farma- pático e um compartimento de retardo entre rins e bexiga)
346 • Tratado de Clínica Médica

Todos os tipos de eliminação irreversível da substância do seu máximo (Tm) e a quantidade de medicamento transferida
compartimento central (biotransformação, secreção e excreção passa a ser constante na unidade de tempo.
renal, eliminação pulmonar, eliminação por glândulas sudo- A análise [armacocinética de modelo bicompanimental é
rfparas, salivares, gástricas etc.) são também associados a uma o método mais simples de administração de medicamento
constante de primeira ordem denominada taxa de eliminação para análise farmacocinética. Corresponde à administração rápida
"Ke". Isso ocorre porque também dependem de processos como de dose única (D) diretarnentc no compartimento central ou
difusão passiva, filtração. fluxo sangüfneo regional, transporte intravascular, Supondo haver disuibuição instantânea do
etc., que possuem as características de cinética de primeira medicamento nesse compartimento. a concentração "CI" alcançada
ordem, ou seja, funcionam abaixo do ponto de saturação dos imediatamente após a administração é igual à dose dividida
processos implicados. pelo volume do compartimento central "VI". Nesse instante.
Dessa forma, em cada instante de tempo (t), a concentração a concentração do medicamento no compartimento periférico
do medicamento no compartimento central "CI" é função de é zero, ou seja:
sua taxa de eliminação "Ke", da taxa de transferência para o
compartimento periférico "kI2", da sua concentração no com- CI (1 • Ot
= D/V 1 e C 2 (I • U,
=O
partimento periférico "C2" e da taxa de transferência "k2, ,. deste Logo após administração do medicamento, ele começa a
para o central. A taxa final de intercâmbio de "C," é dada pela ser transferido para o compartimento periférico, até atingir
soma dos dois processos certa concentração "C2", com tendência ao equilíbrio (stead)'
statev. Vale lembrar que "cquilfbrio' não implica necessária-
dC/dt = Ãk,S, - KeC, + k21C2
mente cm C, = C2: além disso, o volume do compartimento
ou
periférico "V 2" é fator primário de "C2•••
dC/dt = Ã (k'2 + Ke)C, + k21C2
e a taxa final de "C 1., Alinhando-se os pontos relacionados entre "CI" e tempo,
•• em gráfico semilogarítmico, obtém-se a curva com dois com-
dC/dt = ~k21CI + kl2CI
ponentes lineares.
dC/dt = AKeC,
A rápida queda inicial na concentração, chamada de [ase
em que recebem sinal positivo os fluxos que incrementam alfa 011 de distribuição, representa o processo de distribuição
a substância no compartimento considerado e sinal negativo do medicamento do compartimento central para o periférico.
os que reduzem sua concentração. Assim que essa fase se completa, a curva entra na fase beta
Essas duas equações diferenciais lineares de primeira or- ou de eliminação lenta. na qual o desaparecimento do medi-
dem sâo base matemática para o modelo bicompartirncntal. camento do organismo é determinado pela eliminação irre-
Elas podem ser modificadas para vários métodos de adminis- versível do compartimento central. Como se vê, essa curva
tração de medicamentos e resolvidas com o uso das transforma- pode ser decomposta em duas retas associadas, cada uma. às
ções de Laplace para explicar [unções relacionadas entre "CI" respectivas fases da curva.
e "Cl" com o tempo. Projetando-se as retas no gráfico até o ponto de intersecção
O estudo cinético de ordem zero pode ser tido como modi- para t = O. obtêm-se os coeficientes teóricos de nível plas-
ficação particular da cinética de primeira ordem. Nesse estudo, mático, respect i VII mente denominados coeficiente alfa e coe-
a taxa de transferência de medicamento de "C," ou de "C2" ficiente beta. os quais são obviamente dependentes da dose
não depende de sua concentração nos compartimentos. As- total administrada (D), dos volumes dos compartimentos
sim, por exemplo, a quantidade do medicamento transferido "V I'· e "V 2" e das inter-relações físico-químicas de medi-
na unidade de tempo de "CI" para "C2" pode ser invariável após camentos e organismo (ver Fig. 33.4).
determinado tempo. desde que o medicamento em estudo seja Os ângulos formados pelas retas das fases alfa e beta e pelo
continuamente introduzido em velocidade constante no com- eixo das ordenadas não dependem da dose fornecida, mas sim
partimento "CI". Isto ocorre, entre outros casos, como: dos valores dos coeficientes de eliminação "Ke" e dos inter-
câmbios entre os dois compartimentos ··k12"e "k21".Esses ângulos
• Administração intravenosa contínua de vários antibióticos.
definem dois parâmetros. respectivamente, coeficientes alfa
• lnjeção intramuscular ou subcutânea de medicamento na
e beta que são híbridos e dependentes de outros fatores.
forma de depósito, do qual o princípio ativo é liberado
Outras situações aparecem na dependência do tamanho dos
lenta e constantemente.
compartimentos, gerando numerosas equações.
• Após ministração por via oral, sempre que o fator limitante
da velocidade de absorção for o ritmo de dissolução das
partículas do preparado farmacêutico. . 'OSOlOGIA
• Após aplicação cutânea, desde que o medicamento es-
teja em quantidade considerável (o mesmo não se dá em Cinética e Administração dos Medicamentos
vias mucosas como a oral, ocular etc.).
Os medicamentos podem ser ministrados em dose única, em doses
O estudo cinético de capacidade limitada também é conhecido sucessivas a tempos predeterminados, ou em infusão contínua.
como cinética de Michaelis-Menien, aplicada comumente para A escolha de cada forma de administração, na clínica, está estri-
mecanismos envolvidos no transporte específico de medicamento tainente associada às propriedades físico-químicas e fármaco-
(carregadores) e com enzimas metabolizadoras deste. lógicas dos princípios ativos. No estudo farrnacocinérico, O modo
No primeiro caso, enquanto os mecanismos carregadores de administração influi sobremaneira. determinando análises
não forem saturados, o medicamento segue a usual cinética matemáticas peculiares.
de primeira ordem. Quando houver saturação dos carregado- Quando um medicamento é dado por via oral ouintramuscular,
res, a quantidade transferida na unidade de tempo passa a ser leva-se em conta o tempo que ele gasta para alcançar a corrente
constante, como na cinética de ordem zero. Exemplo típico é sangüínea. Por essas vias, o medicamento sofre absorção gradativa
o ácido p-arnino-hipúrico, que até o nível plasmático de apro- e, em particular por via oral, raramente é completa.
ximadamente Img/lOOmL segue cinética de primeira ordem Então, configura-se mais um espaço no estudo bicompar-
em sua passagem para a luz dos túbulos renais. Em concentra- timental, envolvendo o tubo gastrintestinal ou a região intrarnus-
ções plasmáticas superiores. a capacidade de transporte atinge cular, Desses locais é que o medicamento é transferido para
Farmacologia • 347

o compartimento central. A velocidade da transferência está A definição que consta da legislação brasileira é precisa.
relacionada com a constante de absorção. pois define claramente a equivalência entre dois produtos quando
Na infusãointravenosacontínua, eliminam-se os fatores ligados estudados sob 1//11 lI/e.I·IIW desenho experimental, dessa forma
à absorção.pelo fato de o medicamento estarsendocontinuamente não implica cm equivalência ampla e irresirita. Por exemplo,
introduzido no compartimento central. São exemplos de medi- dois produtos podem ser bioequivalerues "em jejum", em vo-
cantemos que assim podem ser usados: nitroprussiato de sódio, luntários sadios. mas não o ser em certas doenças ou após
levalorfano, dopaminu. lidocafna. isoprotercnol. hcparina etc. a Iimentação.
As dosesmúltiplas são úteis quando a administração é feita a Os ensaios clínicos necessários para comprovar a bioequi-
intervalos de tempo regulares. Os intervalos podem ser ajus- valência são dispendiosos e por isso são limitados a algumas
tadospara cada medicamento de acordo COI11 a meia-vida bi- condiçõc . como cm jejum c em voluntários Sadios. Na luta pela
ológica. velocidade de biotransformação. taxa de eliminação extensão da duração de patentes, as indústrias farmacêuticas e o
e disponibilidade nos locais de ação de cada uma. governo utilizam essesensaios de valor limitado com o valor de
Partedos princípio: Iarrnacocinéricos empregados no estudo "equivalência irre trita", deixando de considerar intercorrências
dainfusão contínua é aplicada ao estudo da administração de que interferem na biodisponibilidade das formulações, tais corno:
medicamentoscm doses múltiplas com intervalo con tante. • Misturas racêrnica podem se comportar de modo idêntico
Apóscadadose. li nível plasmático alcança um valor máximo. a substâncias enanriornericarnente puras. aparentando
maiorque o valor médio. Nesse momento, a velocidade com que bioequivalência. embora os efeitos Iarmacológicos possam
O medicamente sai do local de aplicação e penetra no compar- ser d iversos.
timentocentral é igual :1 velocidade da remoção por distribuição • Deveriam ser feitas comparações de biocquivalência após
e eliminação. Durante o restante do intervalo até li próxima dose. alimentação. com dieta comum e dietas ricas em gorduras
o nível plasmático seguediminuindo gradarivamenrc até abaixo (quantidade variável de gordura).
do nível médio, atingindo menor valor no instante em que se • Ocorrem. cpisodlcarncntc, alterações da fonte de matéria-
igualamas taxas de absorção e eliminação. prima. o que implica na possibilidade de diferente isomeria
Obviamente. as concentrações sungüíucas no estado de (com diferente efeito farmacológico).
equilíbrio serão elevadas quando as doses forem maiores ou • Acontecem, periodicamente, alterações do método de pro-
os intervalos de administração forem menores. Pode haver dução.
ncúrnulo do mcdicnrncnto no organismo se O intervalo entre
Por outro lado, a variação de biodisponilidadc para produtos
as dosesfor menor que sua meia-vida de eliminação.
com patentes vencidas é um estímulo il pesquisa farmacorecnica
Quanto maior o intervalo entre as doses de administração
de formas farmacêuticas novas. com beneficio ao paciente.
do medicamento. maior é a variação do seu nível sangüíneo
gerando também novas patentes. Por exemplo. C0ll10 se dá com
em torno de seu valor médio. Pode-se reduzir tal flutuação. a ciclosporinn, o composto origiuní não tem prorcção de patente.
diminuindo simultaneamente as doses e os intervalos de admi- mas uma indústria (Novartis) obteve patente da ciclosporina
nistração, aproximando a situação 11 de infusão contínua, na microcmulsão e outra (Abbou). da ciclosporina dispersão. Outros
qual o estado de equilíbrio é alcançado após algum tempo. exemplos de desenvolvimento farmacotécnico são a insulina
Na prática clínica. COstuma-seadequar o intervalo entre as modificada e a com seleção de isôrneros quirais. Exemplificam
doses,aproximando-oaoda meia-vida s~ll1gLiínea ou de eliminação as alterações de biodisponibilidade:
do medicamento. de tal modo que o medicamento permaneça
todo () tempo dentro do intervalo terapêutico. • Os medicamentos podem ser "embalados" em microgrã-
Certos medicamentos demoram muito tempo para atingir nulos. resistentes à de integração intestinal, aumentando
nível plasmático ideal. como alguns digiiálicos ministrados o tempo de ação e permitindo ingestão a intervalos maiores
(formas farmacêuticas para liberação lenta),
por via oral; a situação pode ser incompatível com a situação
• Medicamentos com absorçãoirregular. como a ciclosporina,
clínica de emergência do indivíduo. Em tais circunstâncias. é
podem sofrer modificação no nível molecular. gerando par-
válida a utilização de Outra via de absorção mais rápida. ou de
tículas minúsculas com maior ab orção (encupsulamemo
dose inicial maior. também denominada sobrecarga inicial
dos medicamentos em microesferas polirnéricas ou pro-
ou dose de ataque.
réicas), Por exemplo, pode-seobter microcrnulsâo com par-
tícula de 60nrn, tornando o produto lipossolúvel e com
Blodlsponlbilldade e Bioequlvalência elevada taxa de absorção; partículas maiores, com 200nm,
A posologia de um medicamento depende diretamcntc: (I) do não tornam o produto apenas hidrossolúvel, com absor-
tempocm que o medicamento permanece no organismo. acima ção diferente em relação ao de partículas menores.
do nível de efeiividude e abaixo do nível tóxico: (2) do tempo • O rnicroencapsularnento da insulina permite que ela seja
cm que as alterações turmacodlnâmicas, corno efeito anrimi- liberada quando aumenta ti glicemia.
crobianoou antiparasitário. persistem no organismo depois que • O isolamento de enantiôrneros ou compostos quitais arivos
O medicamento é eliminado. Portanto. além de saber como possibilita obtenção de maior aiividade e menor intole-
ageo medicamento. é indispensável conhecer alguns parâme- rância que as da mistura original.
tros de biodisponibilidade. início do tempo de ação. ligação Quando se fazem os testes de biocquivalêucia, os resultados
protéica e meia-vida do medicamento. põem à mostra a deficiência dos testes simplistas:
Nos últimos anos. visando estimular a concorrência de pre-
çosdemedicamentos. surgiu e cresceu em importância o con- • A ciclosporinn microemnlsão e a ciclosporina dispersão
ceito de bioequivalência. No Brasil. oficialmente: silo biocquivalcntcs cm jejum. mas a ciclosporina dis-
persão tem absorção diminuída pela alimentação - o
• Bioequívaíência: consiste na demonstração de equiva- suficiente para tornar a mesma posologia ineficaz quando
lência farmacêutica entre produtos apresentados ob a se muda de uma preparação para outra.
mesma forma farmacêutica. contendo idêntica compo- • Matéria-prima contendo misturas e matéria-prima com
sição qualitativa e quantitativa de princípio(s) ativo(s) e diferente composição de isôrneros são bioequivalentes,
que tenham comparável biodisponibilidade, quando es- mas a ação farrnacodinâmica, cm termos de dose/efeito,
tudados sob um mesmo desenho experimental. é muito diferente.
348 • Tratado de Clínica Médica

Alguns governos não eximem o médico da responsabilidade O esquema posológieo deve ser feito a fim de que os níveis
de monitoração do paciente após a prescrição. qualquer que plasmriticos do medicamento, ou sua concentração no local
seja a formulação dispensada. como a agencia reguladora dos de ação. permaneçam no intervalo terapêutico durante o tem-
Estados Unidos (FOA, Food and Drug Adrninistration). Ou- po cm que durar o tratamento. Com a posologia adequada.
tros, como o do Brasil, permitem - até mesmo obrigam - a poucos dias após o início do tratamento. a quantidade dada
substituição pelo "genérico bioequivalente". mas os resulta- torna-se equivalente à quantidade eliminada: quando se atin-
dos têm sido tão irregulares (em função das limitações apon- ge esse estado de equiltbrio entre administração e eliminação.
tadas) que muitos médicos passaram a temer o uso de genéricos. fala-se em steady state do medicamento no organismo.
A bioequivalência de medicamentos vem sendo regulada Condições rígidas de administração de um medicamento.
por novas normas, em todo o mundo, visando à economia dos com base em dados matemáticos de meia-vida biológica (tempo
tratamentos, permitindo. em farmácias, a substituição de pro- necessário para que o nível máximo obtido seja reduzido 11
dutos prescritos "bioequivalentes", que no Brasil são conhe- metade), podem ser ideais para a ciência, mas são inviáveis
cidos como "genéricos". na prática clínica. Como exemplo, se um medicamento tivesse
Estão sendo lançados pela indústria farmacêutica cnantiômeros o intervalo ideal entre doses de 7h l Grnin, imagine-se que a
puros, quando apenas um dos isómeros. dcxtrogiro (O) ou levogiro dificuldade em cumprir uma prescrição se iniciasse no primeiro
(L), é utivo. Segundo Berrnudez e Barragat (2004), a expan- dia, às 8h da manhã. para cinco dias de tratamento, conforme
são crescente leva a crer numa tendência nítida de que a pro- expresso no Quadro 33.2.
dução de medicamentos quirais possa. em breve. representar Na prâtica. utiliza-se maior [lexibilidade de horário e de
uma nova forma de domínio das empresas hegemônicas. dose, procurando manter os níveis sangüíncos no intervalo
impactando definitivamente o mercado dos produtos sob pro- terapêutico (para a maioria dos medicamentos. o intervalo tera-
rcção de patente e inviabilizando a política de crescimento pêutico é bastante amplo). Para o exemplo do Quadro 33.2.
mundial de medicamentos genéricos. livros técnicos. bulas e outras instruções recomendariam esse
Na prática. qualquer que seju a legislação vigente, em qualquer mesmo produto a intervalos de 6 ou 8h. Com isso, obtém-se
país. é arriscada a "troca" irrcstrita de produtos. É indispensável maior complacência, sem comprometer a eticácia do tratamento
que médico ou farmacêutico (em equipe multiprofissional) moni- medicamentoso.
tore os resultados terapêuticos e eventos adversos. Em contrapartida, A adesão do paciente ao tratamento é tão importante que
é seguro o uso de medicamentos sem bioequivalência. mas pres- em tratamentos prolongados com medicamentos de efeito
critus com posologia adequada ao produto e monitorando () duradouro se admitem tratamentos com descanso da medi-
paciente. cação nos fins de semana. É O caso do arniodarona, que pro-
De tudo, sobra o mais importante. que é indispensável conhecer voca depósito reversível de cristais na córnea, ou do uso de
os principais parâmetros da biodisponibilidade, como absorção, neurolépticos em pacientes esquizofrênicos. A eficácia se
início do tempo de ação. ligação protéica e meia-vida do mantém e o tratamento não é prejudicado.
medicamento, metabolismo e excreção. Em conclusão. pode-se dizer que prescrever a posologia
Apesar de toda a tecnologia, resta ainda reconhecer que, correta é lima "ciência de aproximação" que supera a inevi-
além da variabilidade individual do grande número de fatores iãvel variabilidade do efeito dos medicamentos com o racio-
que modifica a ação dos medicamentos. a medicina admite cínio farmacológico, a utilização de parâmetros farrnacocinéticos e:
"acomodações" que facilitam a ingestão de medicamentos pelos
pacientes. Por exemplo. as posologias habituais são em divisões
c com a monitoração do paciente. ~
..
cerras cio dia (6/6h. R/8h, 12112hou uma vez ao dia). mas é fácil BIBLIOGRAFIA ~
ee
entender que os níveis sungüfneos sobem e descem dentro da BENNI'T. L. Z.: MASSOUD. N. Phnrmacokinerics, ln: PhamarcoíogicalBasisfor O"'K X
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eliminado (ou biotransforrnado), que não eleve o nível san- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanirdria. Resolução n.IO de 02 Jan, 2001. Dispõe
sobre implantação de medicamentos genéricos no Brasil c testes de equivnl"nci3
güíneo acima da concentração máxima tolerada e, por outro farmncêutica. de biodisll$Inibilldode e de bioequivalência.
lado. que o medicamento não seja administrado tardiamente, BRASIL. Lei n. 9.787. 10 Fev, 1999. Aliem o Lei n. 6.360. de 23 de seiembro de 1976.
quando o nível sangüínco já se encontra abaixo do nível eficaz l)i,l'ôC sobre n vigilãnci« sannãria, estabelece o medic:nnenlO genérico. dispõe sobre
mínimo. O intervalo entre as doses dependerá da absorção, da o uliliz:lçQo de nomes genéricos em produtos farmacêuticos c dá ou Iras providências.
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Farmacologia • 349

OLIVEIRA m 110. R. ~I I,~.'ç;'" de (;lml""" "'\en rMdn.l\ ln I>I'_ I t '('IA. R .01.1- clorídrico (HCI) do estômago: os agentes quelanres. que po-
\ EIRA-AI 110. J( I """"",I"~lIIll1tt')ln.l" 2 cd RM'ddJlI(lrc, RC\lnlcr. m()·I. p.
~~-I8 dem remover íons de metais pesados do sangue ou dos tecidos
SERTlt J A \ 1,,",/lldo ,/111IIlcrll ,i,,,,1< dn ",,,,,,,,,,,, I/~ ,,,tltI,,,,,rI"III,. da por intermédio de formação de complexos solúveis, facilmente
,)Wtlffli bov«. IUI' J",ntultl~ ;H-\ lte rtip\uhu ~ J,Útel'u..'. t'IU ,olw"úr;oJ tu/ullos
u 111111 eliminados: os anestésicos gerais. como clorofõrmio. éter dicrflico .
• """"11 SJCI1'.0.111,1'175 rc-c IlJoulorndo) - In\UIUIOde Clêncl~' Biomédicas da
l'nl\(r\lll.J~ IIr SJu I",ul(l,
ciclopropano: a maioria dos nnri-sépricos: alguns nntifünglcos
SERTIÉ. J A A. Li\ll/\. I'. F, lliodl\ponibilidade c Iarmscocmétic a, ln: Farmacologia tópicos c os lnscricidas voláteis.
III'/Ira"". 5. cll Slo 1'3u10:Alhcneu.l994. p. 45-6-1. são aqueles cuja
Mcdicumcnros cstrururulmcntc /!,\·fll'C·ífic'O.1
SINOER,S. J.: NICOLSON. G. L. The fluid mosaie modd oflhe wuclure of reli mcmbrancs. ação biológica resulta dircuuncntc da cstnuura química, pois
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se presume que sua açãc prirnãrla decorra da inreração com
e1imill3lion. I.· HARml'\N.J.G.; LI.\-IR1R11.L D,:GILMA~,A G.:GOODMI\N, rcccptore ...furmacolõgicos especfficos. Conseqüentemente, os
L S.: Gll"'A:-. A 71.. PhllmllJrtI/n.~,ra/ III"" l>/n""'I"'''''''
7 l,<1 Ncw y(lr~: [atorcs lmportantes são a forma, o tamanho, a distribuição dos
~tcO_-Hdl
grupo-, tuncionais. a cstcreoqufrnica c a distribuição elerrõnica,
ZANtNI.A C.• PIA7J..A.R Cmnpar:'çl .. de du,O\(lIflIIUI.""',,I« k h"l'"nn.o .llu,é, de
dl\ptNO 1"" I"' "J<Ik,. ul.5nllc3 del"1 krl' II"" 1/,,1., ~.,.n IIVII. r 719- entre outros. Além disso, os grupos funcionais encontram-se
7~2. OuI·'I", 2IW)~ orientados numa direção espacial semelhante. porém, peque-
ZANINI.A (' • ~I RTII:. J \ \, I)(;A, S GJ'''Cljlllc,"nJI at>">rpl,on"r meclocycline nas variaçõe na estrutura química podem provocar alteraçõe
ln h<Jhh) ,"lunll'Cr\ .nu rdlOCOII' willo eureric i,,(c(lIon', Cur« Ther: krJ .. v. J 8. p.
7n.7111.I'm profundas na atividade farmacológica. dando origem a com-
postos com ação análoga, com ação nruagônica ou inmivos. A
maioria dos medicamentos usados em terapêutica é cstruiu-
ralmcnte cspccfficn.
CAPíTULO 34 A especificidade de um medicamento é uma cuructcrísrlcare-
levante, pois ele deve se ligar a proteínas que apresentem um
elevado grau de c..pccificidade para essa molécula, ignorando
a...ourrus moléc;ula~ associadas. Essa especifícidade é determinada

Farmacodinâmica pelo padrão de expressão gênica dos receptores protéicos para os


vários mediadores. Esse aspecto é válido tanto cm relação às
formas isornéricas levogiro (L) ou dextrogiro (D) quanto à
remoção de um aminoácido da cadeia. porque pequena alte-
Cri toforo Scavone rações podem dar origem a uma molécula semelhante. mal!
sem a capacidade de se ligar ao receptor. No cruanro, essa
Tania Marcouraki especificidade é relativa. visto que vtirio, medicamentos pos-
suem inúmeros efeitos colaterais associados. muitav veles. a
inicruçõcs com outros locais não ligad()~ ~ MUI re~Jlo~ta tera-
INTRODUçAo pêuticu. Um exemplo clãs ico são os antidepressivos tricfclicos.
Farmacodinãmicaé o estudo dos efeitos bioquímico, e Iisiol6- os quais. apesar de bloquearem a captura de noradrcnalina e
gicos dos medicamento, e de seus mccanismo-, de ;u;ão, Maior scrotonina. têm afinidade com vários locais de ligação - por
comprccnvãoda, alrcruçõcv molccularcv e hioquímicnv cnvol- exemplo. bloqueio dos receptores de acetilcolina - não asso-
\ida~ nesses mccanisrnov é fruto da evolução e da integração ciados ao efeito terapêutico.
da farmacologia C;01ll área,> da ciência como clcrrofisiologia. Portanto. para explicar o mecanismo de ação dos medica-
genética. bioquímica molecular, imunologia. entre outras. O mentos deve-se não só considerar sua ação molecular nas células
desenvolvimcmo de técnicas mais scnsivcis e sofisticadas de ou em e truturas subcelulares, mas também em um determi-
detecção. caructcri/ação. mapeamento e dosagens de substân- nado tecido. órgão ou aparelho. além da nçüo sobre rodo o or-
cias endõgcnas, li localização e a determinação de seus respec- ganismo. Assim. o mecanismo de ação de um medicamento é
tivos receptores também contribuíram para a evolução do O modo pelo qual ele atua no seu local dc nção para produzir
conhecimento. Esses estudos tornaram-se part icularmentc im- efeitos terapêuticos ou tóxicos.
portantes ao se perceber que os medicamentos e a~ drogas não
criam uma nova função no organismo. Eles podem intensificar, EFEITO BIOlGGICO
diminuir ou. mesmo. abolir funções já cxivtcntcs, :0\ quais. cm
muito~ ca~o~. eMão exacerbadas ou diminuída .. por proccs~os A interação entre medicamento e receptor pode ser reverslvel
palológico, in\wlado'. ou irrel·/!t'sfl'(!I. No primeiro caso, as ligações intermoleculares
O entendimenlo d()~ mec;anismos dc aç;io ou, medicamen- geralmentc são fracas: iônicas, polares (íon-dipolo ou dipolo-
tos vi...a ocline:lr II'" inleraçõcs químicas ou físicas entre o dipolo). ponte de hidrogênio, rransferência de carga. forças
medicamenlO e a célula-alvo e caracterizar a cxtensão e a se- de van der Waals e outr:tS forças hidrofÓbical>. Nas inlernçõcs
qUência do~ eventos para caoa medicamento. rever íveis, quando as ligações medicamento-receptor sfio rom-
pidas. o IllcdicalllcnlO deixêl de agir a~siJll que diminui su<Jcon-
eelllraçã() nos líquidos eXll'Ucclulares, Nas interações irreversíveis,
Modo de Ação dos Medicamentos ocorrem ligações covalentes que promovem efeitos prolonga-
Dependendo do ~eu modo de ação. o~ mcdieamenlOS pOdo;!J11 dos nolo m..:dic;ulll..:nlos. Um excmplo no qual é convcnjente
ser eSlruturalmenlc ille.lfJl'cífiCM ou l'.lpecífic·() \. c~~e lipo de interaçãu é o uso de quimiolerdpicos. Espera-se
Medicamento .. e'aruluralmenle illesp{'cl}icM \ão aqueles que eles formem. com os locais aceptores ou receptores nos
em que a :u;ãu biol6gic'l depende primordi'llmenh! dali pro- parasitol>. complexos irreversíveis, para que exerçam sua ação
priedade, n,ico-química\ c não diretamentc da 'ua c'trulLIra. tóx ica por tempo prolongado.
A,sim. ~ua all\ idade pode resultar de reações químicas com Existem muitas leorias ou modelos que procuram explicar
pequenn\ molécu lu\ ou íuns do organislllo. além de proprie- o efeito biológico corno conseqüência da interaç;io medica-
dades como lipo~!oolubilidade. pKa, poder oxirredutor. tensão mento-receptor. A teoria de Clark e Gaddum (1933) propõe
superfici:11ou flres~ã()o!>mótica, Exemplos de tais medicamentos que a inten~idade do efeito farmacológico é proporcional ti
são os IIntiácidos gáslricos. que agem neutralizando o ácido fração de r..:ccplores ocupadol> c scrti llI:íxima quunuo todos
350 • Tratado de Clínica Médica

os receptores estiverem ocupados. A teoria de Clark. no en- tagonistas cm geral possuem grupos volumosos apoiares que
tanto. apresenta algumas incongruências: (I) ao contrário do ajudam a estabelecer ligação mais firme com os receptores.
que se propõe. certos agonistas jamais produzem a resposta Os agonistas parciais também atuam como antagonistas par-
máxima por mais que suas concentrações sejam aumentadas: ciais, uma vez que. por ocuparem parte dos receptores, impe-
(2) algumas substâncias ligam-se aos receptores. porém, sem dem a ligação dos agonistas fortes.
os ativar; (3) não consegue explicar satisfatoriamente por que Stephenson (1956) modificou a teoria de Clark introduzindo
os antagonistas não causam os mesmos estímulos que os agonistas, o conceito de eficácia, o qual difere da teoria de Ariêns pelo
Ariéns (1954) modificou a teoria de ocupação postulando que, fato de que a eficácia pode ter qualquer valor acima de zero.
para ii produção de um efeito biológico, o medicamento deve Diversos agonistas fortes podem possuir eficácias diferentes e
possuir (/fillidade que possibilite formar o complexo medicamento- terão a necessidade de número diferente de receptores para
receptor e atividade intrinseca, que é a capacidade de dar ori- produzirem O mesmo efeito. Dessa forma. é possível que um
gem ao estímulo. Assim, de acordo com essa teoria, o efeito seria medicamento com eficácia muito elevada desencadeie resposta
proporcional à quantidade de receptores ocupados e da atividade máxima após a ocupação de apenas parte dos receptores, pro-
intrínseca do medicamento (a), que pode variar de O a I, tradu- pondo u existência de receptores de reserva. Por outro lado,
zindo-se na seguinte equação: efeito = a x [medicamento], medicamentos com pequena eficácia não atingem a resposta
Por esse conceito. os medicamentos podem ser classifica- máxima, mesmo ocupando todos os receptores.
dos como agonistas forres 011 plenos e agonistas pa reiais. Os Apesar de atraente. a teoria de ocupação, mesmo com a
agonistas fortes têm afinidade com receptor e urividade in- modificações introduzidas por Ariêns e Stephenson, não con-
trínseca igual a I e atingem O efeito máximo com doses ade- segue explicar satisfatoriamente a razão de os medicamentos
quadas. Projetando-se em gráfico II intensidade do efeito biológico variarem em seu tipo de ação, isto é. por que um atua corno
em função da concentração dos medicamentos, consideram- agonista e outro como antagonista. embora ambos ocupem o
se como tendo atividadc intrínseca igual aqueles cujas curvas mesmo receptor.
são de formatos semelhantes (Fig. 34.1. A). Se. ao contrário. Ariêns e Rodrigues de Miranda, em 1979, propuseram a exis-
as curvas forem de formatos variados (Fig. 34. I. 8), isso sig- tência de dois estados para o receptor não ocupado: - inativado
nifica que as atividades intrínsecas são diferentes. mesmo que (Ri) e ativado (Ra) - e que essas duas formas se encontram
a afinidade se conserve idênt ica. Esses medicamentos não con- em equilíbrio. Os ugonistas fortes mostram alta afinidade com
seguem produzir a resposta máxima por mais que a dose seja a forma urivada, de modo a deslocarem o equilíbrio para a
aumentada. Por tal motivo são chamados de dualistas (segun- forma Ra em concentrações de saturação. No caso de uma
do Ariêns) ou de agonlstas parciais (de acordo com Siephenson) substância com estrutura semelhante, porém com afinidade
e estão associados a uma atividade intrínseca entre O e I. moderada por Ra. haverá um efeito menor, mesmo em con-
Antagonistas são os medicamentos que se ligam firmemente centração de saturação. Este é o caso dos agonistas parciais.
ao receptor, isto é, têm alta afinidade (;0111 ele, mas são destituídos Um medicamento que apresente afinidade igual com os dois
de atividade intrínseca (zero). Esses medicamentos podem estados não altera o equilíbrio e é chamado de antagonista com-
ser utilizados para antagonizar medicamentos de maior arivi- petitivo. Mais ainda, com essa teoria surgem os agonistas i,,-
dade intrínseca. Um agonista pode ser transformado ern nnta- versos, que têm alta afinidade com o estado Ri, proporcionando
gonista mediante modificações estruturais adequadas, tais C0l110 efeitos opostos aos dos agonistas fortes.
o acréscimo ou a retirada de certos grupos químicos. Os an- Quase sempre. os medicamentos de alta potência exibem alta
afinidade com os receptores e, portanto, ocupam uma porção sig-
nificativa destes. até mesmo em baixas concentrações.
2
c
.. E RECEPTORES
5 "'... O receptor é um local associado a mediadores endógenos com
'2e função reguladora fisiológica, sendo as proteínas celulares seus
..,o componentes moleculares mais importantes. Entre elas desta-
2 camos as proicfnas estruturais. como a tubulina: as proteínas
~ implicadas no equilíbrio hidroeletrolítico celular. como a Na,
A K-ATPasc e a Ca-ATPase; enzimas como a acciilcolinesternse
e proteínas reguladoras que são receptores para ligantes endó-
genos, como os horrnônios, os neurotransmissores, os aura-
cóides e os fatores de crescimento.
E.....
. Medicamento A
Os receptores silo parte significativa do sistema de comu-
nicação química utilizado por todos os organismos multicelulares
..
2
c
E
para coordenar a atividade de células e órgãos.
e Quando um ligante interage com um receptor. a resposta
..e

E"".,.
Medicamento B varia dependendo do tipo de receptor ativado. Alguns respon-
o
'O
dem rapidamente "pós a ligação do neurotransmissor ao recep-
o '1E tor, como é o caso dos receptores GABAA dos benzodiazepínicos,
"
.:; l "'_' •

que, uma vez ntivados, permitem a passagem dos íons cloro do


'I E 2' .... ~,
meio exuncclular para O intracelular. Outros receptores dependem
da formação de segundos mensageiros que ativam umu cascata
de eventos no interior das células. Os sinais extracelulares captados
EO.. EO.. são transmitidos ou transcritos por //'{/IISt!IIÇ(;O sináptica. Esse
para o para o
B medicamento A medicamento 8 processo se refere às vias intracelulares pelas quais os dife-
rentes neurotransrnissores. fatores neurotróficos, horrnônios
Figura 34.1 - Exemplos de curvas de medicamentos com atividade circulantes e citocinas produzem alterações intracelulares que,
intrínseca (A) igual e (8) diferente por seu turno, modificam o funcionamento neuronal.
Farmacologia • 351

~ Classificação dos Receptores


'"~ A maioria dos medicamentos interage com proteínas efetoras;
~ no entanto. os efeito. fi iolõgicos de várias substâncias estão
~ associados a uma ação diferencial em diversos receptores que
também variam em relação ii sua locnlização. Assim. os cfci-
tOSda nomdrcnalina ocorrem por imcração dessencurotransmissor
com rcccprorev PI-ndrenérgicos no corução. produzindo urqul-
cardiu: contudo. no mévculo. a imcrução desse ncuroiunsmissor
com rcceprorev P. produl vuvodilmuçâu e. na ~rvOl'e hrônquicu,
broncoôil:ltaç:lo:A maior parte dcs ..c.. achado, foi obtidu com
Ilutili/açào de anãlogos vintéticos que acnham sclccionando
um ripo cvpeeífico de receptor,
A cla""ilicnçJo do, receptores COIII bu-e nal> rCbpo'lU~ furmu- Figura 34.2 - Representaç:lo esquemãttca de ligaç:lo de medi-
cológic:1\ continua a ver uma abordagem vulin:.a c largamente camento ao canal 10nico. O medicamento liga-se diretamente
ao canal, favorecendo sua abertura para a passagem dos fons
empregada, O, cnsniov de imcração medicamento-receptor c (IS
técnicas de hibridi/ação ;1/ S;III permitiram relevantes avanços
no estudodo:. receptores. o que resultou nu estabelecimento de dependente do tipo de proreína G presente. ou seja. cstirnulndoru
outros critérios no quais \e baseia sua classificação. Finalmcn- (Gs), inibidora (Gi/o) e aiivadora do sistema fosfolipase C (Gq),
te, os estudos de biologia molecular permiriram avanços no sen- Além destas, um quarto tipo de protefna G (Gq -Iransducina)
lido de classificar os receptores por meio de urna sequência de tem sido descrito na retina, a sociado à regulação das pro-
aminoácidos e a associação desta à bioquímica possibilita, ain- priedade elérricas do fotorreceptores em conjunção com a
da,uma abordagem que leva em conta as vias de transdução sináptica. rodopsina: uma quinta (Gg - gustiducina) agrega-se à transdução
Todo es es aspectos promoveram uma classificação de do sabor na língua.
receptores muito mais minuciosa. surgindo inúmeros subtipos Na maioria do casos, esse sistema de sinalização com-
de receptores para todos o neurotransmissores principais. preende lrê_ componentes distintos. Em primeiro lugar. o ligante
peptídeos. hormônios. cirocinas e fatores de crescimento. extracelular é detectado especificamente por um receptor de
lmeres ame notar que. cm muitos casos. não existe funda- superfície celular. Por ua vez. o receptor desencadeia a ali-
merunção biológica para essa diferenciação: por exemplo. os vação de uma proteína G localizada sobre a face citoplasmãtica
aspectos fisiolõgico» da dopamina estão associados aos re- da membrana celular. A cguir, a protctnn a nrivadn altera II
ccptorcs da dopamina DI é O!, mas pela biologia molcculur utividudc de um elemento cfcror, geralmente cnzimu ou cnnnl
foram cnracrerivado-, cinco tipos di:'linlOs de receptores da iónico (Fig. 34.3). Se for uma cnzimu. por exemplo. adcnilil
dopamina (D,. 1)•• O,. D, e O,}. cicluvc, ocorre modiflcação da conccnuução de UI1\ segundo
mensageiro. que no caso "cria o AMP cíclico (AMPc).
Inleração Medicamento-receptor A ligação do ngoni: tn ao receptor induz 11 uma nltcração
coufunuucional que fal com que haja troca da Iigaçllo de GDP
Existem \árill' cla"c, de modelo, e'lrulllrailo de protefnas por GTP IIU protefna G. Esta, por xun ve«, retorna a GOP por
receprora-. hidrólbe do GTP (atividadc GTI':1..ica). Aspecto importante é
que o ncurotransmi sor pode Ia/cr contato com seu receptor
de membrana por um período muito curto. mas gerada uma
Receptores lonotrópicos
G~ ligada u GTP. a duração da ativaçüo da adenilil ciclase
Representam essa classe os canais iónicos que. cm milisse- depende mais da longevidade da ligação do GTP ii Gs que da
gundos, emitem sua resposta. Em alguns casos. o local recep- nfinldadc do receptor com o neurotransmissor,
rordo lig:IIIICencontra-se nos segmento . transmernbranas que Como mencionado. a família de proteínas G contém inú-
circundam o canal iónico e modula a abertura do canal por meras subfamílias funcionalmente distintas. cada uma mediando
intermédio da ação. por exemplo. da acetilcol ina, aluando nos um determinado conjunto de receptores para um grupo distinto
receptores nicounicos. Certos canais iónicos são regulados por de efetores. entre eles estão a fosfolipase C (Gq), que hidrolisa
voltagem: outro ão modulados por uma ação direta mediada especificamente um componente fosfolipídico da membrana
pela protefna G por outros intermediários. como os segundos plasmática. denominado fosíaiidilinositol-s.ô-difosfato (PIP2)-
mensageiro (ver adiamc) (Fig. 3-1.2). Em geral. os canais iónicos O PIP, então é cli\'ado. gerando diacilglicerol e inosilol 1,4,5-
são Seleli\ro~ para cálions ou ânions. O. canais selelivos para Irifos(mo (IP,) e a guanilil cicia e. a qual eSI:! associada ao
cálions podem ainda e~ibir especificidade para um delermi- segundo mensageiro GMPc.
nado c:llion. como a'. Ca!- ou K-. ou I>odelll não ser selelivos O IP, é hidro olú\'el e difunde-se no ciloplasma. no qual
e permcávcis o lodos 0<0 cátions. O conais ele flnions com de~t!llcadeia a liber~lção dos e loqlle~ inlrllcclulares de fons
freqUência . ~o permeá"ei .. no (ons CI . ernborn exislnlll 011- e~lcil). O cálcin Uli"" a calmodulina. qlle rcgullI II Illividade de
Iro~ lípo~ de canai, uniúllIco'. Olllras en/ima~. como IIda óxido nílrico sinlnse. enzima implicada
nu produção do óxido nítrico (NO). ESle aliva a gunnilil ciclase
Receptores Acoplados à Proteína G ou a :.olúvel. :Icarretando aUlllelllO no!>nf\'ci~ inlracclulures de GMPc.
ma OIl1ra via a"ociada (lO!>fo,roliprdeus de lIlembrunu é n
Metabotrópicos ligada ii ro~folipa e Az (PLA:). 'c '\0 CO'Clltu. ocorre formação
A prolcfnnG lem funçào fundamenlal no pruce\)\u de lran~dução de ácido uraquidônico e cu!>melllbólilO~ (elcosnnóides). que
de sinal no:>lIilllema\ nCf\OSOl>periférico e ccnlral. Essa~ pro- ~c forllllllll pela lição da cicloxigenu~c c de lipoxigenllse.
Idnns idcnlilicada\ por Gllman 1'1 (II. fonulI :l\sim denominadas Uma carucleríMica iOlerel>~anle de~~e!>receplores ligados
cm rolão da ~ua capacidade de l'e ligar a nucleol(deos gU:lninas: ii prolefna G é que ele apresentam lima e~1rulUr:. baSlanle
lrifo falOde gU(lno~ina CGTP) e difosfalo de guanosinll (GOP). sell1clhanle. com sele segmenlol> que CrUl<lIll li mcmbrana
A prolcfna G liga o receplor a uma via inlracelulur espedlica. plasmática. lendo um grupamenlO carboxílico vollado para o
352 • Tratado de Clínica Médica

de muitos hormônios e neurotransrnissores, como a dopamina


Re<eptor"'-... () e o peptídeo natriurético atrial (ANP), que produzem diurese
c natriuresc pela modulação da atividade da Na,K-ATPase presente
na membrana basolateral das células do segmento ascendente
do túbulo renal, por meio da Iosforilação de uma proteína de-
nominada DARPP-32 (dopamine-reí ated phosphoprotein-
32KDa). pelas proteínas quinases PKA (no caso da dopamina)
ou PKG (no caso do ANP). Uma vez Iosforilada, essa proteí-
na tem a capacidade de inibir proteínas fosfatases, deslocando
A Proteln. G Canaliónico
o equilíbrio entre os processos de Iosfcrilação/desfosforilação
da enzima Na.K-ATPase. À medida que favorece o processo
de fosforilaçâo, a ativação tia via DARPP-32 acarreta dimi-

o nuição da arividade enzimática. que se traduz por menor re-


moção de íons Na' das células tubulares. inibindo o transporte de
Na' do túbulo renal para as células, gerando natriurese e diurese.
Outra proteína quinase importante é a PKC, também ativa-
da pelo diacilglicerol produzido durante a ação da PLC nos
fosfolipídeos de membrana. O diacilglicerol fica preso na mem-
brana e ativa essa proteína quinase por intermédio da ação do
Ca~·. sendo por isso denominada PKC.
SegundosmenSageiros)·
Proteínas quinases e
fosfatases Receptores Intracelulares e Nucleares
/ 1\ Diversos sinais biológicos decorrem de uma ação intracelu-
B Efeitosem outros processosneuronais lar. Tais compostos possuem lipossolubilidade suficiente para
cruzar as membranas biológicas e atuar sobre receptores
Figura 34.3 - (A) Representação esquemática de canal iônico citoplasmáticos (Fig. 34.5). Estão incluídos nessa classe os
acoplado à proteína G. (8) Ativação de canal iônico a partir da receptores de corticosrerõides, mineralocorticóides, esteróides
produção de segundos mensageiros ou ativação de segundos sexuais, vitamina De hormônio tireóideo. Todos esses recep-
mensageiros levando a efeitos em outros processos neuronais tores modulam a transcrição de genes no núcleo por meio da
sua ligação a seqüências específicas ou elementos de resposta
do DNA próximo ao gene, cuja expressão deve ser regulada.
interior da célula e um grupamcnto amino terminal na face Um segundo exemplo desse tipo de receptor é O dos gases NO
externa. Evidências experimentais sugerem que ii terceira alça e monóxido de carbono (CO). que estimulam a guanilil ciclase
intracelular é que estaria associada 11ligação da proteína G c solúvel, que produz GMP cíclico (GMPc).
alguns autores postulam que parte da segunda alça também No sistema periférico, a produção de NO se dá na pré-sinapse
participaria do processo. de alguns terminais neuronais, os quais são conhecidos como
A sinalização dos receptores associados 11proteína G pode, sistema não adrenérgico e não colinérgico (NANC), sendo
portanto. provocar a produção de segundos mensageiros (AMPc. associada à função de neurotransmissor, Por outro lado, nas
GMPc. Cal-). os quais acabam ativando proteínas quinases células endoteliais c no sistema nervoso central, essas subs-
relacionadas com um terceiro mensageiro específico, ou seja. tâncias gasosas parecem atuar como sinalizações intracelulares
PKA no caso do AMPc e PKG no caso do GMPc, envolvidas e intercelulares e estar associadas a uma série de funções ti-
nos processos de fosforilação protéica (Fig. 34.4). Vale des- siológicas relevantes. No entanto, a produção excessiva do NO
tacar que as proteínas quinase fosforilam e as fosfatases pode estar associada aos processos inflamatórios, assim como
dcsfosforilam um substrato. A fosforilação determina uma alte- à resposta de excitotoxicidade a níveis elevados de glutamato,
ração funcional na proteína. O que se traduz por aumento ou os quais ativariam um tipo de receptor Nvmetil-Dvaspartato
redução da sua atividade. Esse processo está associado à ação (NMDA). Este receptor é um canal iônico que permite a entrada
de íons cálcio e ativação da óxido nítrico sintetase (NOS), pro-
porcionando aumento na produção de NO, o qual desencade-
aria uma alteração no processo de produção de espécies reativas
de oxigénio. Esse processo na vigência de estimulação exces-
siva, determina a falência dos mecanismos de equilíbrio celu-
lar, ocasionando morte neuronal,

Enzimas Transmembranas Reguladas por Ligantes


Esta classe de receptores possui atividade enzimática intrínseca.
sendo representada principalmente pelas tirosinns quinases,
ou por uma guunilil ciclase de membrana (particulada para se
diferenciar da solúvel, ou citoplasmática), qu.e exercem seus
efeitos reguladores Iosforilundo proteínas efetoras na super-
fície interna da membrana citoplasmática (Fig. 34.6). A intera-
ção entre o ligante e o receptor que se encontra no domínio
extracelular promove a ativação do domínio intracelular que
Figura 34.4 - Exemplos da cascata de eventos desencadeada fosforila resíduos de tirosina ou a produção de GMPc. Esse
pela ativação de receptores acoplados à proteína G que produz tipo de receptor que envolve a tirosina quinase inclui o local
segundos mensageiros. DAG = diacilglicerol de ligação da insulina e de fatores de crescimento, como fator
Farmacologia • 353

D HOfm6nio esteróide NeurOlrofln~

0/ Membrana celutar oO
.. €i)
I
Rol
G'

SH2~

~
.... ~

ê r
pL

l
AlteraçAo da upress.'lo g6nk.a

/1\
Efoltos cm outros
processos neuronais
i /\*' A\ //1\\
DNA
/
xxxxxxx
Figura 34.6 - Representação esquemática da cascata de even-
~ Figura 34.5 - Representação esquemática de ativação de re- tos associada ii ativação de receptores ligados à tirosina quinase
~ ceptores citoplasmáticos
que inibe a ação do fator de transcrição, como no caso do NF-teB.
de crescimento epidérmico (EGF. epiderme growth factor), Para ser ativado esse fator necessita da ação de uma quinase
fator de cre cimento derivado de plaquetas (PDGF. platelet- (lKK) que fosforila uma proteína inibidora. Essa proteína. uma
derivedgrowthfactor}, fator de crescimento tran: formador J3 vez fosforilada. libera o dímero que vai para o núcleo e modula
(TGFf3.tmnsforming growth factor bela). ao passo que o da guaniIiI a expressão de inúmeras proteínas pró e aruiinflnmatórias.
ciclase se refere ao receptor do pcpudco nutriurético utrial. A administração crónica ou prolongada de medicamentos tem
Ih M:U~ efeitos farmacológicos cada ve« mais ligados a alterações
Receptores de Citocinas plásticas celulares impostas pela criação de UI1l novo padrão de ex-
pressãode diversas proteínas. decorrentes das altcruçõc» induzidns
Os receptores de citocinas se assemelhum busuuuc ii clusse an- nos tarores de transcrição. Assim. os antidepressivos e os aniipsicóticos
terior de receptores ligndr», ii tirosina quinase. No cnunuo.ncsxc necessitam de várias semanas de tratamento paru produ/ir efeitos
caso. a arividade da proteína quinasc n110 é im rínsccn molécula à terapêuticos. o que parece estar vinculado a alterações na expressão
receptora. E~~e tipo de sinalização é mediado por uma rirosina de receptores c outras proteínas induzidas pela sinalização intrace-
quinase da família da Janus-Quinuse (JAK) (Fig. 34.7). Como lular associada pelo menos em pane à PKA e ao CRER
noreceptor anterior. :1p6!> a ligação da citocina ocorre dimerização ln outro exemplo intere sarne foi descrito em estudos
do receptor. com conseqüente ativaçâo da JAK e fosforilaçâo de realizados com exposição crónica à cocaína. A administração
resíduos de rirosina no receptor. Estes se ligam a outro con- aguda de cocaína induz a arivação de FOS que. como dímero
junto de proteínas denominadas TSAT (transdutores de sinais (associado ao JUN). atua no lócus AP-I de vários genes. No
e ativadores de transcrição). Estes, então, são losforilado . entanto. após tratamento crónico. ocorre acumulo de. formas
produzindo dirncrização e subsequente dissociação do com- de FOS modificadas (FRAS). sendo li principal o ô-FOSB.
plexo TSATrrSAT. o qual. cguc para o núcleo. Neste. () dímero Esta forma modiflcada apresenta estabilidade diferente quando
alua como um fator de transcrição regulando n expressão de da dirncrização com JUN. o que prolonga a ação do dímero
genes especfficos. no' lõcus AP-I. Assim. existe alteração no padrão de expressão
gênica final de determinadas células das áreas límbicas, prova-
velmente associada aos processos dc dependência e abuso da
Fosforilação de Proteínas e Controle da cocaína. Estudos com camundongos mutantes. que produzem
Expressão Gênica dos Receptores pelos
Fatores de Transcrição
Comojá apre eruado no item anterior. todos os di fcrcntcs tipos
desinalização aiivam segundos mensageiros ou proteínas quinases.
as quais podem ativar fatores de transcrição. como a proteína
de ligação ao elemento de resposta ao AMPc (CRER ..cyclic
AMP tesponse element binding): o furor nuclear K'B(NF-K'B.
nuclear [actor 1':8) e os genes de resposta imcdintu c-FOS.
JU e FRAS (nmrgcno-, relacionados ao rOS).
Tai fatorcvde rrnn-crição modulam a expressão de inümeros
gene em função da presença específica do elemento de ligação.
Alguns genes exibem elementos de ligaçilo para vários fatores
de transcrição c. portanto, a sinalização proveniente de diversas
viu intracelulare .. determina um padrão final de resposta na
interaçâo de \e\ Iarorcs junto à expressão gênicu,
A estimulação de uma via pode originar nlicrnçõcs na própria Figura 34.7 - Representação esquemática de ativação de receptor
produção do fator de transcrição. ou mesmo de uma proteína de citocinas
354 • Tratado de Clínica Médica

A associação de medicamentos pode ocorrer de diversas


maneiras: (I) com a prática de polifarmácia, que consiste em prescrever
simultaneamente diferentes medicamentos 11 um mesmo pa-
ciente; (2) mediante uso de medicamentos que contenham vários
princípios ativos, isto é, indicação de um Ou mais medica-
mentes de princípios ativos múltiplos: (3) por ingestão de vários
medicamentos por uutornedicação.
Cilmodulina
A polifarrnácia é considerada uma terapêutica personali-
zada ou sob medida, desde que o clínico prescreva somente
o medicamentos necessários para o mal que o paciente possui.

~r~
CRE8~
Reduz-se. assim, o CUStoe se evita o aparecimento de efeitos
adversos de componentes desnecessários. As doses são contro-
ladas de acordo com as condições de cada paciente.
O mesmo não acontece com os medicamentos de princípios
utivos múltiplos, cuja composição é fixa para cada formulação
Figura 34.8 - Representação esquemática da fosforilação do
CREB por diferentes vias de sinalização celular e as doses são padronizadas. Se, de um lado, esse fato confere
comodidade e facilidade de uso. por outro constitui-se numa
desvantagem. por impossibilitar O fracionarnento e o ajuste de
excesso de Õ-FOSB no núcleo accumbens, mostram que ii ati- doses de componentes aiivos. Esse tipo de formulação obriga,
vação prolongada dessa molécula torna OS animais mais hiper- às vezes, o paciente a tomar medicamentos desnecessários,
sensíveis aos medicamentos. Os camundongos eram altamente submetendo-o ao risco de efeitos adversos, além de causar
propensos a recaídas quando os medicamentos eram retirados elevação do CUStOdo tratamento (Tabela 35.1).
e depois oferecidos, demonstrando que as concentrações de Hoje. cerca de 25 II 30% das especialidades farmacêuticas
o-FOSB podem perfeitamente contribuir para o aumento dura- comercializadas no Brasil são associações'.
douro da sensibilidade no sistema de recompensa de seres humanos. A pior forma de associação é a feita por automedicação.
Da mesma forma. os fenômenos de tolerância a medica- muito frequente na prática. No momento difícil por problema
mentes podem ser explicados por eventos que implicam em de saúde. o paciente acaba tomando vários medicamentos por
alterações plásticas induzidas por mediação da PKA e do CREB sugestões. quase sempre. de pessoas leigas no assunto.
na expressão de inúmeras proteínas. como canais iõnicos, re-
ceptores de neurotransmtssorcs, entre outros.
As interações intracelulares podem abrunger múltiplas vias CONCEITOS
atuando sobre um mesmo 1';'1101' de transcrição. ou cada via atuando Interações medicamentosas são ações recíprocas dos componentes
sobre um fator que converge para um mesmo gene (Fig. 34.8). medicamentosos no organismo, que determinam aumento ou
As múltiplas interações podem, no futuro. propiciar estratégias
redução da eficácia terapêutica, bem como aumento ou redu-
para O desenvolvimento de medicamentos mais seletivos e im-
ção de efeitos adversos.
portantes no tratamento de inúmeras doenças do sistema imu-
A imeração medicamentosa é, muitas vezes, benéfica e feita
ne. assim como dos sistemas nervosos periférico e central.
propositadamente para se obter melhor eficácia terapêutica,
BIBLIOGRAFIA Entretanto. há associações prejudiciais ao organismo ou sim-
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inativação por cisão de suas moléculas. É o caso típico de
incompatibilidade química.
É importante lembrar também que podem surgir interações
CAPíTULO 35 entre medicamentos e seus excipienres, assim como entre
medicamentos e solventes orgânicos utilizados em prepara-
ções parenrerais. Por exemplo. o sorbitol aumenta a absorção
de vitamina B 12 pelo trato digestivo'. O mesmo acontece com

Interações Medicamentosas o uso de substância tampão que favorece a absorção de me-


dicamentos de naturezas ácida e básica.
Os solventes orgânicos utilizados nas preparações de injetáveis
podem exercer influência no efeito terapêutico do medicamento,
Seizi Oga potencializando-o ou reduzindo a eficácia e a toxicidade. O
propilenoglicol potencializa nitidamente o efeito antiarrítrnico
de quinidina e procainamida' e o efeito anriinflamatório de
INTRODUçlO fenilbutazona'. Nosso organismo funciona como tubo de en-
O uso concomitante de dois ou mais medicamentos pode promo- saio, cm que se' misturam substâncias de natureza mais vari-
ver aumento ou redução de eficácia terapêutica ou. ainda. ada. tais corno nutrientes. agentes poluentes, metais. Esses
exacerbação de seus efeitos adversos. A associação de me- elementos podem modificar os efeitos de medicamentos. Entre
dicamentos é muitas vetes necessária, dependendo das con- eles. os nutrientes alimentares merecem atenção especial, uma
dições patológicas do paciente. vez que estão sempre presentes no organismo (Tabela 35.2).
Farmacologia • 355

TABELA 35.1 - Polifarmácia e medicamentos de prlnclpios TABELA 35.2 - Exemplos de agentes quimicos ativos
múltiplos
AGENTES PRODUTOS OUAMBIENTE
ASSOCIAÇÃO VANTAGEM DESVANTAGEM Nutrientes Alimentos
Polifarmácia Possibilidadede ajuste Possibilidademaior de Fármacos Medicamentos
individual de doses. erros Etanol Bebidas
Baixocusto Compostosfosforadose c1orados Inseticidas
Medicamentos Comodidadede uso. Impossibilidadede Hidrocarbonetosaromáticos Fuligem,fumaça
deprincipios Simplicidadedo separaros policíclicos
ativos esquemaposológico componentes Solventesorgânicos Medicamentos.produtos
múltiplos e dosespreviamente domissanitários
calculadas Corantes,flavorizantes, Alimentos, medicamentos
estabilizantes
Metais e outros elementosqulmlcos Diversos
Monóxido de carbono e outros gases Ar atmosférico
SIGNIFICANCIA cllNICA Xantlnlcos (cafelna,teoflllna) Bebidaspopulares
O~ resultadov da, lntcruçocs entre mcdlc.uucuros podem se
mnn i festa r intcnvificando o, efeitos terapêuticos, reduzindo a
eficácia terapêutica ou cvaccrbando as reuçõcs adversas c. ate! As i nrcruçõcs modcradns são representadas por ações recí-
mesmo.provocando intoxicação. procas dos medicamentos que causam efeitos nocivos. Tem-
A significância clínica das lntcruçõcs depende de diversos se. como exemplo. li associaçãode atcnolol com anticolinérgicos.
fatores'. entre os quais as doses de mcdicurncntos utilizados Estesúltimos tendem a aumentar a biodisponibilidade do atenolol
concomitantemente. vias utilizadas e a scqüência em que os e conseqüentementeseu efeito anti-hipertensivo. Outro exemplo é
medicamento são mini irados. Na intcração entre um anti- a associação de captopr il com indometacina, inibidor de
reumático. indutor enzimático c um anticoagulante oral, se o cicloxigenase. A indornciacina inibe a síntese de prostaglan-
anti-reumãtico for administrado antes em doses repetidas dinas e reduz o efeito hipotensor do captopril, Essas interações
estimulará a enzimas tio xisterna oxidasc de função mista e são perfeitamente controláveis. mediante aumentO ou redução
aceleraráo processo metabólico do uruicougutarue, com con- de doses dos componentes 011 ampliação dos intervalos de
seqüenteredução de veu efeito: porém. se os doi-, medica- administração.
mentesforem administradov ao mesmo tempo. o arui-rcumático Nas, intcraçõcs graves, os efeitos resultantes são letais ou
poderáaumentar () efeito do amicoagulumc, por mccani: mo de 1;11gravidade que podem provocar danos irrcparãveis ao
competitivo pelas proteína', pluvmáricas e liberução de maior paciente. São combi uaçõc-, que dc\ em -cr evitada': anorexfgcnos
númerode rnoléculav 11\II:'. c inibidore ...da monoamlna oxidnve (pargilinu. trunilcipromina).
O efeito, da intcração dependem ainda do paciente. Um anticoaguluntcs orais (varfurina) e inibidorcv das enzimas do
mesmoripo de intcraçâo pode ter significânciu clínica para cirocromo P-450 (amiodarona. danazol), digoxina e verapamil,
um e não para outro. curbamazepina. eritromicina. anti-histarnfnicos e antifúngicos
A~condições do paciente, cm especial insuficiência cardíaca. do tipo cctoconnzol e irracona/oí (Tabela 35.3).
renalou hepáticac o hábito de fumar silo fatofes importantes para
o agravamentodo, efeitos adversos rcsu lrunics das intcruçôcs.
latência
As inreruçôcs podem ser rápidas ou lentas, conforme o apa-
TIPOS DE INTERAÇIO recimento dos efeitos. São consideradas rápidas aquelas em
Numaassociaçâo de dois medicamentos, cada componente pode que os efeitos são imediatos ou surgem no período de 24h
agir independentemente !.CI11interferir na ação de seu concor- após administração de medicamentos. Essas reações nocivas
rente.O resultadodesse tipo dc lntcrução seráadição ou somação podem ser evitadas com medidas i mediatns. As i merações lentas
deefeitos, ou untagonismo, se os agentes pOSSIl(rem ações con- determinam efeitos tardios. até mesmo scmunas depois da ad-
trári;I~.como um trunquilivante c um estimulante do sistema mini rração de componentes rcativos. Aqui. tratamentos para
nervosocentral. C'''I!. irncrações, conhecendo-se os meca- . ua prevenção. 50 ineficazes.
nismo de nção do, mcdicamcnrus. é possfvcl avaliar previa-
mente O efeito- da avsociação, Entretanto. há muitos casos em
que o resultado dasirueraçõc- é imprevisível. visto que as respostas Mecanismos de Ação
30S medicamentos variam de pessoa para pessoa, conforme a De acordo com o mecanismo de ação, as intcraçõcs são classifi-
sensibilidadee a capacidade individual de metabolizar dife- cadasem físico-químicas. farmncocinéricas e farmacodinâmicas.
rentessubstâncias.
A interaçõe podem ...er clavsificadas segundo três critérios:
Interações Físico-químicas
deintensidade dos efeitos. do tempo de latência e dos rncca-
nismos de ação', Pode haver intcrações entre dois 011 mais medicamentos por
mecanismos puramente físicos ou químicos e conseqüente re-
dução de efeitos. Esses mecanismos lião essenciais para
Intensidade dos Efeitos unragonizar os efeitos exacerbado, de medicamentos ministra-
A~intera~v\. rodem ver Ic\ cs. moderadas e graves. con forme dos em alla~ doses, assim como para prevenir efeitos tóxicos
a intensidade du, CIClhJ\. dc agcntcv não medicamentosos, As inrcrnçõcs ffsieo-quími-
As intcraçõcv lcvc-, 113mpouca importânciu, pois ()).efeitos cas são prejudiciais quando ocorrem entre dois mcdicarnen-
resultantesxâo pcqucnov e quuse impcrccptfvcis. Por exem- tos ativos, ou entre medicumcnros e nutrientes. principalmente
plo. a associaçãode captopril com anl i(lcidn, na qual este re- no trato dige!.tivo. pois ilCHbillll prejudicando ii absorçãode ambos.
duza absorção dc cnptopril'. Contlldo. II redllção cllusada no O mecanismos ffsico-quíl11icos rnait- observados nas inle-
ereitoanti-hipem:n~i\'o não chega ti ler signifiçfim;ia clínica. rações medicamentosas compreendem: (I) rcaçõcs de oxidação
356 • Tratado de Clínica Médica

Vários elementos atuarn no controle da velocidade de esva-


TABELA 35.3 - Exemplos de interações consideradas graves
ziamento gástrico. desde a tensão natural exercida pelos ali-
MEDICAMENTO
1 MEDICAMENTO
2 EFEITO mentos contra a parede gástrica até a interferência de outras
Alopurinol Captopril Hipersensibilidade substâncias por intermédio de receptores específicos situados
Digoxina Furosemida Arritmia cardíaca no intestino. Existem. no duodeno, receptores sensíveis a áci-
Estreptomícína Ácido etacrínico Ototoxicidade dos que. estimulados, retardam o esvaziamento gástrico. Ali-
Propranolol Haloperidol Hlpotensão mentos protéicos ou antiácidos também podem exercer influência
Tranllcipromlna Tirarnina Hipertensão na velocidade da passagem do conteúdo gástrico para o intes-
Varfarina' Ácido acetilsalicílico Hipocoagulabilidade tino, além de alterar o grau de ionização de eletrélitos fracos
presentes no estômago. A interferência. particularmente de an-
tiácidos, no grau de absorção de medicamentos varia de acor-
(por exemplo. inarivação de atropina pelo oxidante permanganato do com li situação e o tipo de antiácido. diante de inúmeras
de potássio) e de redução: a propriedade redutora do ácido as- alterações provocadas.
córbico pode ser útil no tratamento de anemia ferropriva, para O hidróxido de magnésio reduz a absorção de pentobarbital,
manter o ferro no estado ferroso nu luz intestinal: (2) reação por propiciar sua ionização, masacelera a absorçãode sulfadiazina
de precipitação, como entre os derivados tctraciclfnicos e o cálcio na sua forma ácida. As interações entre medicamentos e antiáci-
contido no alimento. por quelação: (3) udsorção de alcalóldcs dos são complexas e muitas ainda imprevisíveis.
na uperffcie do carvão ativado. por mecanismo simplesmente De modo geral, os anricolinérgicos (atropina, propantelina).
físico, <:0111 redução de sua absorção. que retardam o esvaziamento gástrico além de reduzirem as
secreções digestivas e a motilidade gastrintcstinal, tendem a
Interações Farmacocinéticas prejudicar a absorção dos medicamentos ministrados concomi-
tantemente. Ao contrário, a metoclopramida acelera o esvazia-
São interações em que um dos agentes é capaz de modificar mente gástrico e favorecea absorçãoda maioria dos medicamentos.
a absorção. a distribuição. a biotransforrnação ou a excreção Por mecanismos diversos, os hipnalgésicos (morfina e deriva-
de outro agente administrado concomitantemente. dos) diminuem a absorção de muitos medicamentos no intesti-
Com freqüênciu, observam-se ações recíprocas de medica- no. Os hipnanalgésicoselevam o tônus das fibras lisas do intestino,
mcntos. com ahcrução dos parâmetros farmacocinéticos de ambos. acentuadamente nos esfíncteres pilórico e ileocecal e rnode-
O aumento da absorção e da distribuição de um medicamento rarn as secreções digestivas e o peristaltismo intestinal, cau-
sempre resulta em intensificação do efeito, enquanto o aurnen- sando constipação.
10 da biotransformação e da excreção encurta o tempo de sua Medicamentos irritantes como neomicina e colchicina pre-
permanência no organismo e tende a reduzir efeitos. judicam a absorção de substâncias corno, por exemplo, a vita-
Alteração na Absorção. O grau de absorção dos me- mina B 12. provocando lesões da mucosa intestinal por ação direta,
dicamenios é decisivo para se obter o nível desejado de subs- Outros fatores que, com frequência. reduzem a absorção
tância no sangue. A velocidade de absorção está estreitamente de medicamentos são os íons cálcio, cobre, cobalto, zinco,
relacionada com o tempo de latência; quanto mais rápida a ferro e manganês contidos nos alimentos ou nos próprios me-
absorção. menor será a latência. ou seja, o tempo necessário dicamentos. Esses metais formam quelatos com os compo-
para que o medicamento atinja seu nível plasmático efetivo. nentes dos medicamentos do tipo ácido salicílico e tetraciclinas,
A velocidade e a quantidade do medicamento absorvido por impedindo a sua absorção.
via oral são determinadas por análise do perfil plasmático dos Na maioria desses casos, a redução no grau de absorção de
princípios ativos, medicamentos resulta na diminuição de biodisponibilidade e,
Os parâmetros farmacocinéticos mais utilizados para ex- por conseqüência, em prejuízo da terapêutica.
pressar o grau de absorção de sub iâncias são a concentração A absorção de medicamentos é reduzida ainda sob ação de
máxima (C .) alcançada no plasma e o tempo necessário para lima glicoprotefna transmernbrânica, designada como glicopro-
atingir a C"'··\ (T ). Entre os fatores que modificam esses teina P (Pgp). Essa glícoprorefna funeiona como bomba de
m~h m"
parâmetros estão o pl-l gástrico. a velocidade de esvaziamento efluxo, dependente de ATP, na transferência de substâncias c
gástrico. a alteração do tônus da musculatura lisa intestinal, metabólitos endógenos para fora de células'.
presença dc outras substâncias e a formulação farmacêutica. A Pgp exerce importante função na defesa do organismo,
As substâncias ionizáveis (eletrólitos fracos) dependem essen- secretando xenobiõticos e seus metabôlitos em intestino, rins
cialmente do pH do meio para ionização: convém sempre lembrar e ((gado, bem como na proteção do cérebro contra excessivo
que são as moléculas não ionizadas dos medicamentos que atra- acúrnulo de substâncias tóxicas. Ela está presente em altas
vessam, por difusão. as membranas que separam a luz do trato concentrações na mucosa intestinal, nas membranas lurninais
digestivo e o leito capilar. dos túbulos proxirnuis dos rins, na membrana canalicular
As substâncias de natureza ácida, como ácido acetilsalicílico,
barbitúricos c muito dos antiinflamatôrios, iniciam sua absorção
no estômago, cujo pH é baixo, embora quantitativamente a TABBA35 A-Interferência deantiácidos naabsorçãodemedicamentos
maior absorção se faça no intestino, graças à grande extensão ANTIÁCIDOS MEDICAMENTOS ABSORÇÃO
da área de superfície da parede. As substâncias de natureza
À basede alumlnio Clorpromazina Diminui
básica, como alcalóidcs e aminas, são absorvidas no intestino.
Diazepam Aumenta
em que o pH é mais elevado. condição que favorece a cons-
Digoxina Diminui
tituição da forma não ionizada (Tabela 35.4). Diminui
Tetracíclinas
O intestino delgado é o egmenro do trato digestivo de grande
importância na absorção da maioria dos medicamentos. Por Nilo ti basede alumínio Ácido acetilsalicilico Aumenta
Naproxeno Aumenta
isso. li velocidade de esvaziamento gástrico é o estágio limitante
Quinidina Diminui
que explica muitas das interações responsáveis pela queda
Tetraciclinas Diminui
na absorção de medicamentos.
Farmacologia • 357

biliar dos hepatócitos e nos astrócitos associados à barreira binam-se com as lipoprotefnas. As bases fracas podem secombinar
hematoencefálica. também com a alfa-gficoprotcfnn ácida,
Entre os medicamentos transportado pela Pgp estão anri- A albumina é. quantitativamente. a proteína ligante mais
histamínicos (fexofenndina. tcrfcnadina, asternizol). agen- importante e sua redução no plasma pode. er provocada por
tesantineoplásicos (daunorrubicina. vimblustinu. puclitaxel). moléstias como câncer, insuficiência cardíaca. processos infla-
imunossupresvcres(ciclovporiua. mcrolimuv). cardiotõnico gfi- marõrios, doenças hepática ... quei madura. cirurgia. estresse
co ídeo(digO\inn) c cvtcrórdcv (cortivol. dcxamctasona. cstro- ou na gravida. A capacidade fixadora de albumina se reduz
gênio. progc-acromn'. I~nlrel:lnl(). ulgun-, nnti-hivtamínico-, pela modificação de vua cvirutura. que resulta na diminuição
comoloramdinu. dc,loraladlO:I e ceurivina não :;iío tranvportados de afinidade pelo, medicamentos. Por exemplo. o ácido
pela Pgp. ucctil-alicílico. quando 'e fivn li albuminn, promove acctilação
Substâncias que indu/cm ou inibem a Pgp exercem grande de albumina com a formação de nccrilalbumina.
influêncíu na Iarmucocinéucu de mcdicamcnros uunvporiados A intcrução entre doi, mcdicamcnro-, por competição. no
por ela. comprometendo a \lia biudivpunihif idudc. (: intcrcs- nível protéico. ocaviona aumento da Iraçã« livrc de um dos
samc obscrv ar que a, .Iti\ Idade' da Pgp silo alteradas por 11111itns mcdicumcutov ou de ambos. com inrcnsi ficução de suas res-
dos agentesque afctam :1' cnzimns microssômicas. conhecidas pO~la),furmacológicav, A ,ignificãncia clínicn dessasirucruçõcs
como sistema citocrorno )l--150 ou CYP. é evidente, pnniculnrrncntc quando os mcdicumcruos que
Rlfarnpicina. fenobarbital. clotrimuzol. rescrpina c isosafrol interagem po:"SUCI11 nlta fixação. ou seja. se ligam acima de
são conhecidoscomo indutores de Pgp. assim como de CYP3A4. 75 u 80% (Tabela 35.5).
Essesindutores alteram a cinética dos mcdicametnos transpor- Alteração na Biotransformação. A meia-vida bio-
tadospela Pgp e biotrunvformudos pelo CY P:lA4. causando lógica (tY,) costuma ser definida como o tempo necessário
múltiplas interaçõcs: de um lado. reduzindo a absorção do me- para reduzir à metade a atividade inicial de um medicamento
dicamento no trato digestivo e. de outro. acelerando sua após sua absorção e atingir O nível desejável de atividade. Pode
merabolização. A cc-administração de rifampicina (indutor de ser também descrita como o tempo que o organismo leva para
Pgp) e digoxina (substrato de Pgp) resulta em di rninuição da eliminar metade de uma dada dose de medicamento, por dis-
biodisponibilidade da digoxi na", tribuição. metabolismo ou excreção. A meia-vida plasmática
Espironolactona, ciclovporina. quinidina e verapamil ini- de um medicamento representa o tempo neccssário para redu-
bemo transporte de digovinn medindo pela Pgp e. portanto. zir à metade a sua concentração no plasma, a partir de um
aumentamo nível pla ..rnáuco e a toxicidade da digoxina. Se- certo momento.
gundoTanigawaru et ai.. a inrcrfcrênciu de inibidores de Pgp Com o conhecimento da t\l,. pode-se cvrabclcccr. dc forma
nos túbulo~ renais também é importante 1I1CCani'1lI0de inte-
raçãoentre medicamento'.
O~ inibidorev da Pgp podem comprometer a scgurançn de
°
racional. a dose ou o esquema povotõglco de um medicamento.
valor de t' " porém. pode sofrer \ariação na presença de
disfunções hcp:ílica\. rcnarv ou curdfucav, pela:. dificuldades
certosmcdicarncruo... aumentando a ah,nrçiin intcvtinal c rc- na eliminação de mcdicamcmov. O valor de 1\1, de um dado
du/mdo a depuração renal. Contudo. a inibição du Pgp pode medicamento ainda pode ser modificado por influência dc ou-
serútil na terapia untirumor. permitindo maior accvso e per- Iro medicamento por mccnnismos diversos. por exemplo. al-
manênciade agente...anuncophivico-, nas célula~ tumoruis '. teração de processos mcrabõlicos e grau dc fixaçilo protéica.
Alteração na Distribuição. 0, mcdicumcnu», que caem A meia-vida blolõgicu é uma característica inerente ti cada
na, circulaçõcv vangüfncu c linf:ítka ..ilo rapidalllcI1IC dislri- mcdicamcnto c indepcnde de modo c via de admini tr~Ição.
buídosparaO" divcr<.o,comp:lnimel1lo)' do organislllo". O volullle mas :,ofre grandc inlluência do processo melabólico.
aparentcde distribUição (Vd) é o panlmetl'O ulili/ ....do p...ra As inleraçõe~ de medicamenlOI>que implicam cm biOlrans-
descreverCSS:Idbtribuiçãu c é definido como (I volumc de formação são chamadas de ;II/emç(je.\· b;O(Jllflll;cas c compre-
Irquidoorgânicono qual umll1cdicall1CnlOe~l:ídissolvido homo- endem dois mecanismosbásicos. a indução enzimática c a inibição
geneamente.A palavra "aparente" é usada por nfio se tratar de enzimática.
um volume anatomicamentc real. mas apenas hipotético. no A indução do l>istema oxidase de função mista, causada,
qual o medicamento e!>táuniformcmente distribuído. por exemplo. por fenobarbital, aumenta a velocidade de biotrans-
A interação de medicamentos em nívcl de distribuição en- formação do próprio medicamento e de grande número de
trcdoiscomponcnte~ medicamentOsos sc dá. em espccial. por medicamentos lipossolúveis. A função principal desse siste-
mecanismocompcliti\o pclo~ locai:, comuns dc ligação protéica. ma enzimático. conhecido como enzimas microssômicas ou
Asproteínasplasmática, no pll normal do sangue (7,4) estão sistema citocromo P-450 (CYP). é catalisar as reaçõesoxidativas
predominantementena fornw aniônica c por isso representam de compo!>toslipofílicol> por meio de ativação das moléculas de
significativa parcela do contingentc aniônico do plasma. oxig<:nioq•A biotr.Jn~formaçãode cloranfenicol por nitrorredução
Os ácido~~e li\:llll prc\alentemcOlc li :lloumina. cnquanlo
asb3~esfraca, c ~uh..tãncia, não ionii':í\'ei!> lipofílicas com-
T!,BELA 35.6 - Indutores do cltocromo P-4S0
MEDICAMENTO ISOENZIMAS
TABELA35.5 - Deslocamentode um medicamento do local de fenobarbital CYP3A3.CYP3A4
fixaçãoprotéica.na presençade outro medicamento Carbamazepina CYP2CI9.CYP3A3.CYP3A4
Etanol CYP2El
COMBINADAFRAÇÃOLIVRE AUMENTODA
Fenitofna CYP3A3.CYP3A4
MEDICAMENTOS (%) (%) FRAÇÃOLIVRE(%)
Isoniazida CYP3El
A 99 I Noretindrona CYP2C19
AtB 98 2 100 Prednisona CYP2C19
( 20 80 Rifampicina CYPIA2.CYP2CI9,CYP3A3.CYP3A4
(.8 lO 90 12.5
Cyp = isoenzimado citocromoP·450
358 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 35.7 -Inibidores do citocromo P-450' TABELA 35.8 - Competição entre medkarnentos na secreção tubular

MEDICAMENTOS ISOENZIMAS SECREÇÃO OU EFEITO DA


MEDICAMENTOS REABSORÇÃO INTERAÇÃO
Cetoconazol CYP2C19.CYP3A3. CYP3A4
Eritromicina CYP3A3. CYP3A4 Ácido acetilsaliclllco Espironolactona Redução do efeito
Fluoxetina CYP2D6 diurético
Fluvoxamina CYP1A2. CYP2C19 Clorpromazina Antlco{lgulantes orais Hlpoglicemia
Itraconazol CYP3A3.CYP3A4 Penicilina G Probenecida Potencialização
Omeprazol CYP2C19 do efeito
antlmlcrobiano
Paroxetina CYP2DS
Sulfimpirazona Salicilato Redução do efeito
Quinidina CYP2D6 uricosúrico
Troleandromicina CYP3A3. CYP3A4

que atua no efluxo de medicamentos. o PTAO desempenha a


é um dos poucos exemplos da rcação de redução catalisada função de captar substâncias para introduzi-Ias nas células.
pelo CYP. O PTAO está presente na barreira hernatoencefãlica, na mucosa
O CYP é o sistema cnzimãtico de maior importância entre intestinal, em células epiteliais dos rins e outros tecidos. Vários
os implicados nas reações da fase I da biotransformação. Compõe- medicamentos são transportados ativarnenre por PTAO, entre
se basicamente de enzima terminal (citocromo P-450), NADP os quais digoxina, ouabaína, ritonavir, fexofenadina, bromos-
citocromo P-450 redutase e ciiocromo "5' A enzima terminal sulfoftalcína c cnalapril.
representada por diferentes isoenzimas tem alia afinidade por A eritromicina, o cetoconazol, o valspodar, bem como sucos
substratos de natureza lipofílica, enquanto a NADP citocromo de frutas do tipo grapefruit, laranja e maçã, possuem pro-
P-450 redutase é a enzima intermediária, responsável pela priedade inibidora do PTAO", O nível plasmático de fexo-
transferência de elétrons provenientes da fonte geradora, NADP, fenadina pode ser reduzido até 30% sob ação do suco de
para o citocromo P-450. O citocromo b5 acompanha o citocromo grapefruit, O mesmo, porém, não ocorre com relação ao anti-
P-450 e funciona como alternativa na transferência de elétrons histamínico desloraradina ".
da fonte para a enzima terminal. Essas enzimas estão fixas
nos fosfolipfdeos da membrana do retículo endoplasmático.
As diversas isoenzimus tio cirocromo P-450, que são hemo- Interações Farmacodinâmicas
protcfnas. têm alta afinidade pelo monóxido de carbono. O As interações furmacodinârnicas acontecem junto aos receptores
complexo formado, citocrorno P-450-monóxido de carbono, farmacológicos ou independentemente destes.
apresenta um pico de absorvância cspcctrofotornétrica no Medicamentos de Efeitos Opostos. As intcrações
comprimento dc onda 450nm. resultantes do uso concomitante dos medicamentos de efeitos
As isoenzimas variam entre si quanto à especificidade de OpOSIOSsão de fácil detecção e caracterizam um antagonismo
ação e à estrutura de cadeias polipeptfdicas (Tabelas 35.6 e 35.7). mútuo. Éo caso da utilização simultânea de pilocarpina e antico-
A tecnologia de DNA recombinante permite identificar dezenas linérgicos. Às vezes, porém, o segundo medicamento é preso
de genes do citocromo 1'-450, em diferentes espécies animais 10. crito deliberadamente para modificar O efeito colateral de outro
As família de genes 1,2,3 c 4 consistem em citocrornos 1'-450 medicamento. como na associação de barbitúrico com esti-
hepático e extra-hcpãtico envolvidos nas reaçõcs da fase I de mutante central em pacientes obesos. Outro exemplo é o uso
biotransforrnação. As famílias de genes II. 17. 19 e 21 são de um anti-parkinsoniano, benzotropina, com tranqüilizame
compostas de cuocromos P-450 extra-hepáticos especializa- fenotiazínico, na tentativa de reduzir o efeito extrapirarnidal
dos e responsáveis pela biossíntese de hormônios esteróides. do último.
Alteração na Excreção de Medicamentos. Diversos Medicamentos de Efeitos Semelhantes. As interações
mecanismos participam das interações de fármacos no nível entre medicamentos. de ações semelhantes resultam nos efei-
de excreção renal: tos adicionais ou na potencialização de efeitos. Pode haver
também potencialização de sua toxicidade, como ocorre na
• Alteração do pH do líquido intrarubular causada por subs- associação de canamicina com o ácido etacrínico, com a possi-
tâncias que promovem modificação no grau de dissociação bilidade de causar surdez irreversível'. O etanol potencializa
de eletról iros fracos, ocasionando maior ou menor excreção o efeito depressor do sistema nervoso central de tranqüilizantes
renal. Na intoxicação por barbitúrico, por exemplo. a e barbitúricos.
alcalinização do pI-! urinário. pela administração eh: bi- Mecanismos Diversos. Os efeitos de medicamentos podem
carbonato de sód io, acelera a excreção das molécu las ser alterados cm conseqüência da modificação dos níveis de
do roxicantc. eletrólitos causada por substâncias do tipo diuréticos, catárticos
• Competição entre duas substâncias pelas 111eSmaSpro- c-corticosrcrõídes, que depletam o potássio do organismo. A
teínas transportadoras, durante sua secreção tubular; a sensibilização do 'miocárdio aos cardiotônicos é provocada por
probcnccida reduz a secreção tubular de penicilinas por depleção de potássio.
esse mecanismo (Tabela 35,8). Os agentes antimicrobianos, muitas vezes,. são responsáveis
• Interferência de substâncias na função do polipeptídeo pelo aumento do efeito dos anticoagulantes, P?r interferirem
transportador de ânions orgânicos. na produção de vitamina K pelos microrganismos no trato
gastrintestinal. e:
O polipeptideo transportador de ãnions orgânicos (PTAO) é É provado o antagonismo entre cefoxitina e monolactârnicos, ~
um dos transportadores arivos dependentes de ATP. implicados cefalosporinas e penicilinas, perante germes como Pseudomoua. ;
na transferência bidirecional de substâncias endógenas, como Enterobacter. Serraria, tendo em vista a produção de beta- ~
ácidos biliares, pelas membranas'. Em contraste com a Pgp, lactamase por germes induzida pela cefoxitina. ii
Farmacologia • 359

A associação de gcntarnicina 11penicilina. no tratamento Utilizam-se numerosos recurso .. experimentais, dos quais
deendocardite por enierococo. facilita a penetração e ação do o mais comuns serão citado" neste capítulo. A maioria dos
aminoglicosídeo na célula bacteriana. ensaio emprega animais vadios, mas alguns fazem uso de
animais ponndorcs de doenças específicas induzidas experi-
REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS mentalmente. Outros valem-se de órgãos ou tecidos isolados
I OGA.S ,\"ud.l\l .. m<",,~nocnl"'J ln. ()(1,\. S.. IlA~II.I.A C CAR\·AI.IIO. de animais doadores. Muitos ensaios recorrem, ainda, aos
" F GUIIII."'IIIII·ORII ./r lnter« ."'. " •.1'1'(11111",11",,\.2 ed 510 l'aulo:Atheneu, microrganismos para as investigações.
:002 r 30·37
1 'ASAKA. W J.: EIClIllAl \1. I \\ OG \. \ Allllar,hylhllll<' df.:.:" 01 "",'Cn":
III EIT<CI'of propylcnc ~I),'" .nd 1><:0/)1~k,~,,)1011contraculc forre of 1501.11ed
rabl>'llxart. OmllOl'(JJ<' H" , 11. p. 717·n2. 1971).
ENSAIOS FARMACOlOGICOS
3 OSIllRO. T T.: TEIXI!IR.\. c I P. OG \. S. I'ropyknc glycol cnll3llus anti-
,onammllorycffcmol phcn)lbul)IOn~ Grn.I'Jrflflll(/(· .. ".21.1'.131·1>1.1990. Conceito
~ TATRO.D. S. I)rll~ I,lIf'",IUIn\ 1(1(11 SI Lou1\: Fact, und Compan-oes, 1998.
1226p. o termo ensaio farmarotâgico rem um entido bastante amplo.
5. HA.\STE."I. r D.: I hVY. R.II Ruko!l' ~1)coprolcI03nd orgamc anion lr:ln'IX>fllng Qualquer pesquiva na qual os efeitos farmacológicos, em seres
pohJ'Cl'l'.Jc' 10dru~ ..h"lI'pIlOI1;lfId11"10"""00. FOl'l" on H l-receptor Unl)gooh" vivos ou em tccidov deles proveniente, sejam estudados. são
C/mo 011l( 111.,\1.. v. 21. p. ~~7 W6. 2(KII
6. GREI1\LR.ILIICIJI:I.IIAUM. M.. FRrT7~ P,~,I n"'IIIJeufinll',lln:,1 P.gl)l1!f'nll<'In
exemplos de ensaios farmacológicos, eujas principais utili-
,n IIx IOlmellon (Ir digllxilllllld rifampm \ I().I. p.I~7·~3. II)~I). dades são:
7. TAi'lGAWARA. Y. Role llf l'.glycuJ',mclO 10drug 1I"I""ill.,". 1'101''' /)flfg M"nu •
\ 137·I~O.~ooo • Estudar a natureza das arividudcs que os diferentes
8. OLlVEIRA·FlLlIO. R. M. I.ig:l~n" de (;!rnll"''''''ll J11111c(IIIIS. III: DELUCIA. R.: rned icamentos exercem,
OLlVEIRA.FILlIO. R. M. foill'II/(II'"I",~illlll/~II"lflll 2. <do Rio d« Janeiro: Rcvinter, • Quantificar os efeitos causados por essesmedicamentos.
2CJO.1. p. +1-18
9. OGA.S. To~ic(l(,"éuc.1 111'1'11111/11111"'"'" c/r r"IIII1/,,~jtl 2. cd, Soo Pnulo: Atheneu. O termo ensaio biolágico, cni furmacometria, é cornumente
2003. p. 8·25
10.NEI.sOII. DR. KA "A'AKI. 'I.: Wr:XMAN. O J. The 1'·450 \upcrfomily: updaie utilizado parti denominar a medida du quantidade de uma subs-
on ncw "''lU<IICC.lcne 111~1'J',n~.ucc"ion nurnberv, <3rt) In\ '31e namcs 01'enzyme». rância que produz uma determinada atividade biológica. Pode
and oonlCnd.lure O,\;\ Cril. 111111.. v. 12. p. 1·51. 19')3 também ser usado para evidenciar o grau de segurança de uma
II. BANFIELO. ( . e" LN. ~I .. tiUIYI'A . .!I. ti,ap"'nlll jUla h3\ no cffcct on tbe
bi",,\~hIJ"'hl) oe .Jc,IOr:II~hnc. hut rcducev lhe (nu\ IIn. AUe or fc\ulclladillc h)
ubstância para o ser humano, A segurança de uma substância
m.AlUI Alltrt\ ",''''''' Imlllllflll/.. \. Só. p, IU~. 2(.,. pode ser designada como uma medida da sua inocuidade.
Tanto os ensaios farmacológicos quanto os ensaio biológicos
são processos que usam métodos próprio .. com a finalidade de
compreender melhor a, auvidadc .. de droga s, fármacos e
CAPíTULO 36 medicamentos sobre os seres VIV()'.

Tipos de Respostas Biológicas

Ensaios Farmacológicos A!>substâncias podem determinar dois tipos de respostas biolõgi-


cal>: ( I) respostas do tipo IIIdo ou nada; (2) respostas graduais.
As respostas do tipo tudo 011 nada silo caracterizadas ape-

Pré-clínicos
nas pela presença ou ausência de um efeito ou de um ceno
parâmetro analisado. Na resposta do ilpo tudo ou nada não é
pos Ivcl caracterizar a graduação do efeito, Para medi-la, usa-se
o percentual de respostas positivas ou negativas em um grupo
Seizi Oga homogêneo dc animais. Os ensaios que analisam as respostas
do ripo ludo ou nada também são chamados de ensaios quantais.
as respostas graduais existe uma variação gradual da
intensidade do efeito em resposta a um estímulo. Por exem-
INTRODUçlO plo: (I) a resposta gradual da coniração de um órgão iso-
Osensaios farmacológicos. ou ensaios pré-clínico-. ,iío largamente lado sob a ação de um agonisra: (2) n variação da pressão
utilizados em laboratório' no processo de desenvolvimento arterial após o uso de uma medicação que influencie na pres-
de novos medicamentos. Todos eles devem ser previamente são arterial. Os ensaios que analisam as respostas graduais
restados em diversas c..pécicv animais. para determinação de são nomeados ensaios quantittuivos.
eficácia. segurança c tovicidadc. Estudos amplo e criteriosos Às VC/CS. os ensaios são empregados no estudo de mistura
em animais iII ,'il'o e 111vuro permitem uma avaliação inicial de substâncias: o pesquisador não está interessado em medir
quanto ~Idose cfica/, à do-c tóxica e 11dose letal. algo que a potência ou a concentração de uma só substância, mas com a
jamais poderia ser e,tud:IIJo em \cr hUlllano. intenção de verificar a exislência ou não de uma determinada
Es~e~te~les cm anima" lêm ra/oável valor predith'o I>ara substância ne sa mislUra.
o er humano, pois proporcionam uma série de informações
que er"em de base para a pe"qui~a no homem.
as indúSlrias química c farmacêulica, os ensaio;, farma-
Ensaios Quantals
cológicos lambém ~iío aplicado, para () conlrole de qualidade Excmplo de cn~aio qualllnl é ()cSlUdo da re po ta a uma mesma
das matérias-primas nalurai, e da' \emi-sintéliells usadas na dose de CCrto medicamento dada a uma população. Se um
produção do~ med ica IncnlOs. med icalllento for miniMrado na mesma doselkg de peso a 1.000
O cns3io~ fannacol6gico' permitcm ainda investigar o me- raIOS, elH.:ontraremos alguns ralOS apresenlando uma resposta
canismode ação de direrel1tc~ agenle, químicos, tanto a~ pro- mui 10 forte ao medicamento adminislrado. o outro eXlremo,
pricdade~nociva~ quanto () grau de 'cgUl1Inçn dc medicamentos encontremos alguns ratos com uma reaçiío muilo fraca ou, oté
c adilivos alimenlares, insclicida,. produlos de higiene. cos- mesmo, não manifestando nenhuml1 reação ao medicamento
méticos. perfumes. produlOs sancanles elc. ministrado. Entre esses dois extrclIIO~ encontrarcmos os ratos
360 • treuoo de Clinica Médica

que terão respostas de irucnsidadcs intermediárias. Esse fenô- Farmacodinâmica


meno é conhecido. em estatística. como distribuição normal de
determinada característica numa população (curva de Gauss).
° estudo Iarrnacodinârnico de UIlW nova substância é iniciado,
quase sempre. com a análise do efeito terapêutico previsto. O
Com base nesse conhecimeruo, podemos introduzir o conceito
grande avanço tecnológico e cientítico ocorrido nas últimas
de d~)l-e eficaz 50% (DE,o)' a qual corresponde la dose de um
décadas permite a utilização de múltiplos modelos experimentais
mcdicarncmo que causa algum efeito esperado em 50% dos
animais estudados. Pode-se dizer, de outra forma. que a DE de pesquisa para detecção e quantificação desses efeitos farma-
cológicos e toxicológicos.
de Ulll medicamento é aquela que pode induzir determinado
efeito cm 50% dos animais de uma população. É importante. nessa fase. a escolha de animais apropriados.
levando-se em consideração que as respostas a um agente
Dentre os vários métodos para calcular a DE ,o método de
terapêutico varia conforme a espécie animal. sua idade, sexo
Miller e Tauinter, por sua simplicidade. é um do~ mais usados,
etc. Recomenda-se. pois. a realização do ensaio em mais de uma
Utili/n-sc também. para avaliar toxicidade. a dose letal 50%
espécie animal e que o estudo seja feito em grupo de animai
(DL~,). dose de um medicamento que causa certo efeito letal
que não pertença (I família do, roedores. Os estudos têm por
esperado em 50% dos animais estudados.
finalidade estabelecer a relação entre a dose e o efeito espe-
rado. além da intensidade deste.
Ensaios Quantitativos As experiências iII vivo, afora estudarem sinais e sintomas
A principal característica dos ensaios qunnriturivos é a corre- mais Ircqücntcs. permitem definir. quantitativamente. parâmetros
lação linear existente entre as doses e as respostas observadas. Iarrnucolõgicos mais específicos. Citam-se como exemplos
Quanto maior a dose da substância administrada. maior devera as medidas: (I) da pressão arterial em cães, ratos e coelhos; (2)
ser ii resposta observada. do grau de inflamação da pata de ratos; (3) da temperatura
Os ensaios quantitavos são empregados para medir as con- corpórea em coelhos: (4) da at ividude motora espontânea em
centrações de substâncias farmacologicamentc ativa em pre- camundongos.
puraçõcs farmacêuticas ou em tecidos. Como características Na fase inicial de ensaios farrnacolôgicos.utiliza-se um pequeno
principais. esses ensaios: número de ratos ou camundongos. aos quais se administram
diferentes doses do composto. Os animais são então colocados
• Apresentam alta sensibilidade. em observação durante algumas horas ou dias. Muitas vezes. é
• Permitem a quantificação dos componentes de uma mistura ncccssãrio reproduzir um estado patológico humano em ani-
de xubstâncin» quimicamente semelhantes e de potências muis pura estudar melhor os efeitos dos medicamentos.
diferentes. Emboru lião haja total segurança de que o efeito observado
• São. em geral, ma is trabalhosos que os ensaios físico- 11M nnimnis seja o mesmo que ocorrerá no homem, os dados
qufmicos. experimentais pré-clínicos dão boa orientação para os estudos
• Têm pouca precisão cm virtude das variações das res- subscqüerues em seres humanos. Com Ireqüência, centenas
p(l~ta~ biológicas. de substâncias são testadas antes que se encontre um medicamento
Os erros experimentais a que estilo sujeitos esses ensaios potcnciulmcntc ativo e útil.
decorrem da variabilidade inerente a todo fenômeno biológico. Nessa fase de triagem. efetuam-se ensaios não só voltados
Tais erro podem ser minimizados de duas maneiras: (I) pelo à observação do efeito terapêutico esperado. mas também para
aperfeiçoamento das técn icas de observação e medida: (2) au- identificar Outros possíveis efeitos existentes. Após a triagem
rncnrando-sc o número de observações realizadas. inicial. ao serem verificadas propriedades farmacológicas inte-
Nos ensaios, todas us condições experimentais. como es- rcssantcs, principalmente sob o ponto de vista terapêutico, o
pécic animal. peso. idade. sexo, vias de administração etc .. medicamento ser~ submetido a ensaio quantitativo de potên-
devem ser padronizadas. Até mesmo a hora da realização do cia e toxicidade. E interessante estabelecer uma comparação
experimento pode influir no resultado, porque se sabe existir entre a potência do novo agente c a de outro semelhante já
um ritmo natural na maioria das funções de todos os organis- existente e conhecido.
mos vivos. que varia ao longo das 24h do dia (ritmo circadiano). A furmucodinãmica permitirá a elucidação do provável meca-
Todos os ensaios devem ser precedidos de um planejarnento nismo de ução do medicamento, além de revelar efeiros secun-
rigoroso. objctivando reduzir ao mínimo a influência do. fa- dários e interaçôes com outras substâncias.
tore" que possam alterar o~ efeitos esperados. A caracterização do efeito principal costuma ser feita por ensaio
Uma medida frcqücnrcmcruc unulisadu pelos ensaios quanti- quantitativo. ou quantal. com a determinação da dose eficaz 50%.
tativos é a comparação da:. potências relativas de duas amos-
tra, com concentrações diferentes de uma mesma substância. Farmacocinética
Ncssc-, e-tudos utiliza-se o recurso de estabelecer as quantidade o estudo da distribuição de um medicamento nos vários com-
de cada amo tru necessárias para produzir um efeito esperado partimentos e órgãos do organismo constitui importante fase
com a mesma intensidade. Assim, é mais ou menos intuitivo dos ensaios farmacológicos. conhecida como estudo da fármaco-
que uma amostra com concentração menor necessitará de dose cinéticu da substância.
maior para produzir o mesmo efeito esperado. quando. com- Existem várias técnicas para definir a distribuição do me-
parado com uma determinada dose da amostra com concen- dicamento no organismo, empregadas com a finalidade de se
rração maior da substância estudada. conhecer alguns parâmetros muito usados na clínica como:

Ensaios de Novos Medicamentos • Meia-vida plasmática (tY,).


• Volume aparente de distribuição (Vd).
0, novo, medicamentos sempre são estudados cm animai. de • Depuração corpórea (C I ).
laboratório (ensaios pré-clínicos) antes de serem te rados em • Área sob a curva (ASC).
seres humanos (ensaio clfnicos),
0, ensaios farmacológicos pré-clfnicos visam sclccionar subs- A tY2 e a CI indicam a dimensão da eliminação do medi-
tâncias potencialmente úteis e rcjcitnr aquelas potencialmente camento; () Vd mostra sua distribuição no organismo e n ASe
tóxicas ou perigosas. Compreendem as etapas: (I) Iarrnacodi- dá idéia do tempo de permanência do medicamento no orga-
nâmica: (2) Iarrnacoci nét ica; (3) toxicidade. nismo e. portanto, da duração do seu efeito terapêutico.
Farmacologia • 361

Toxicidade o valor desse índice. expre so em porcentagem. representa


o valor da dose que. se acre ccntada ;1 J)E~,. tomado corno
o objeiívo ou, tc~tel>de toxicidade é avaliar primordiulmente a 100. atingirti o valor da dose DL,.
relação existente entre o benefício e o risco do uso do medi- Toxicidade Subaguda. Define-se a toxicidade subaguda
camento. Os restes de toxicidade são cfctuados depois que as de uma subvtânciu como o conjunto dc eleitos adversos que
triagens tenham evidenciado efeitos farmacológicos úteis. aparecem apó~ a exposição repetida e regular ao agente por
Podem-se citar algun~ exemplos famosos de efeitos tóxicos 11111 período aproximado de 12 a 24 semanas.
que ficaram registradll' na história da medicina: No estudo da toxicidade subaguda recomenda-se a análise
de pelo menos trê~ concentrações diferentes, em espécies diversas.
• Em 1937.na Europa. houve intoxicação C morte de centenas Além da observação dos animai, quanto ii sintomatologia e à
de pacientes por diciilcnoglicol. solvente U~:IOO na prepa- letalidade uprcscntnda-, 110 decorrer do período experimental.
ração de sulfunilarnidn. ncousctnnm-vc II obvcrvaçâo do comportamento do animal e li
• Entre 1959 e 1961. ocorreram milharc» de caso-, de mal- rcalizução de exames hernatolõgico. oftalmológico. neuroló-
formaçôc- congênira-, em todo o mundo. em crianças gico. cletrocardiogrâfico e anâtorno-hivroputolôgrco.
nascida-, de mães que tomaram ralidomiôa no início da Tem importância também o acompanhamento das variações
gravidez. do peso corpõrco. con-umo alimcmar. das funções hepáticas
c renais. OOS níveis de clctréliios c dos níveis plasmáticos do
Como conseqüência desse "desastre" COI11 a rnlidornida, a
x partir de 1962 as agências reguladoras de medicamentos foram medicamento. Diferentemente dos estudos de toxicidade aguda.
~ se tornando cada ve/ mais rigososas na exigência dos ensaios o principal objcrivo do estudo de toxicidade subaguda não é
quuntificar :1 mortalidade. mas sim determinar os parâmetros
~ pré-clínicos. No Brasil. como em outros países. exigem-se os
relacionado com intoxicação.
~ seguintes tipos de ensaio»:
Dependendo da gravidade e da extensão das alterações das
'"oe funções biológicas normais. o animal pode sobreviver à ação
• Toxicidade aguda.
• Toxicidade subaguda. tóxica. porém podem ocorrer algun danos irreversíveis. Esses
• Toxicidade crónica. efeitos udvcrsos graves. não diretamentc letais. são tão indese-
• Teratogenia e ernbriotoxicidadc. jáveis quanto a letalidade e. a rigor. devem ser levados em
• Estudo ...cvpcciai v. consideração na avaliação do risco oferecido pela substância.
Os efeitos não letais podem ser rever. Ivcis 011 não, Isso irá
Toxicidade Aguda. A toxicidade aguda dc lima subs- depender do órgão ou do vistcrna comprometido. Dependerá
tâncin é definida C0ll10 :I que ocorre cm curto espaço de tempo também da toxicidade intrinsecn da substância. do tempo de
após sua administração. Em geral é expressa cm dose letal exposição. da quantidade total do medicamento no organismo
50% (DL,o)' . . .. num dado momento, da idade e do estado geral do animal.
As dctcrminnçõex da DL". devem ser feitas utilizando-se, Evidentemente. a reversibilidade será maior em órgãos que se
no mfnimo. trê, cvpécics diferente de animais. e uma não regeneram com rapidez. corno o flgudo. do que em tecidos
poderá pertencer ~ família dos roedores. Cada grupo de ani- que não e regeneram. como o tecido nervoso.
mais recebe uma dovc da substância e é observado por até Toxicidade Crônica. Os ensaios de toxicidade crônica
24h. Testa-se. sempre que possivcl. maiv de uma via de adrni- são rcnlizndos cm período não inferior a 6 meses. com pelo
nistração além da habitualmente empregada. menos duas espécies animais. e uma delas n50 deve pertencer
O medicamento ideal deverá produzir o efeito terapêutico ii fumílin dos roedores. São e tudadas pelo meno três COIl-
útil sem induzir efeito colateral c nunca deverá ser letal. A ccnrruçõcs diferentes da substância.
maioria dos mcdicnmcntov, entretanto, produz muitos efeitos e Alguns animais são sacrificados periodicamente para exames
li dose que promove o aparecimento de um certo cfcito nocivo gerais e histológicos.
é variável conforme li natureza da substância. Portanto, ne- Teratogenia e Embriotoxicidade. Os testes para veri-
nhum composto pode ser considerado totalmente inócuo ou ficação da utividade tcratogênica dos medicamentos tornaram-
seguro. Diante disso. a relação entre risco c bcneffcio de um se uma rotina somente após o incidente com a talidomida, em
medicamento deve ser avaliada COI11 muito critério ames que 1961.O üuo despertou a necessidade de se examinar com cuidado
ele seja lançado como um novo agente terapêutico. os eventuais efeitos causados em feto . Estudam-se os efeitos
A segurança de um medicamento depende do distanciarnemo relacionado não s6 com a malformação. mas também com a
existente entro: a dose que produz o efeito de-ejado c a dose alteração da ernbriotoxicidade dc modo geral. Esses testes, da
que gera os efeito, adversos indesejáveis. Por intermédio dos mesma forma como no. estudos da toxicidade crõnica. exigem
ensaios quantaiv. pode-se estimar o grau de segurança. ou in- um período relativamente longo de observação e podem ser
dice terapêutico do medicamento. Este é igual à relação entre condu/ido, cuncomirunrernente com a fase inicial do estudos
a DL e II DElo' clínicos. O ensaio é útil sobretudo para os mcdicnrncntos que
Le~ando-se Clll con~idcração que o objet ivo da farlllllco!crapia seriio adminbtrados por períodos prolongados.
é idcntificar Ulll medicamento com efeito tcrapêutico útil cm Como nos casos antcriorcs. um" da!>cspécies eSllIdadas não
todos os indivfduos e quc apresente o mínimo ri~c() de c.;:tu~al' deve pertencer ii família dos roedores.
cfeito inde~ej~vel. procura- e expre:.sar a mc.:dida de sua segu- Estudos Especiais. Incluem-se entre os chamados estu-
rnnça relacionando II do~e que cau~c a menor toxicidade com dos espcciai~ :I, in\ c,tigações quanto à potcncialidade para
li dose que produ/a o maior efeito terapêutico. I~so pode ser cau~ar nltcnlção na fecundidade e na capacidade reprodutiva.
cxprcs o pela relação DL/DE.". cm \'el. da relação DL\()/D.E\(l' Ademais. procuram-se identificar os prov~veis potenciais
A expres~ão que tr:ldu/ Illc.:lhor a egurança de um medIca- para carcil/ogel/icic/ade e IIIll1a!:el/icic/ac/e. o potencial para
mento é a chamada I/I(/I'/:C'I/Ic/esegural/ça (MS). que pode ser Cêlu:.ar irrit(l('lies !oclIil e selllibili:'lI('(jC'l. Quando existir asso-
calculada da ~eguinte mancira: ciação de outras substâncias que funcionem como agcntes para
DL, - DE,., facilitar a administração ou a absorção. de\'cr-sc-á avaliar a
MS= x 100 toxicidade desses excipiellles. A interação mútua entre o
medicamento c o cxcipiente também deverá ~er anulisada.
362 • Tratado de (/(nica Médica

BIBLIOGRAFIA em atualização. passou a ser reunida na especialidade éefarma-


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STAFF OF THE DEPT. PHARMACOLOGY DF UNIVERSITV EDINBURG I'IlOrlll(l· O cientistas. a preocupação constante em assegurar que o
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ZANINI. A. C.; OGA. S. (armom/ogi" Aplicaria. 5. ed, São Paulo: Athcncu. 1994. 7J9p.
não se trans forme em constrangimentos, sequelas ou abu os
para o. sujeitos da pesquisa, qualquer que eja a desculpa ou
a argumentação usada.
Vários países e organismos intcrnaclonais têm se preocupado
CAPíTULO 31 com a questão da observância de princípios éticos no desenvol-
vimento das pesquisas. havendo um destaque especial para aquelas
realizadas cm seres humanos. Essas preocupações éticas, não
há como negar. ão exacerbadas pela entrada em jogo de um

Farmacologia Clínica fator adicional muito importante: o financeiro.


Enquanto O~ experimentos de fisiologia, patologia ou mesmo
de farmacologia básica são quase exclusivamente acadêmicos.
portanto sem interesse cconômicos imediatos, a não ser a
Raquel Chueiri de Souza competição por verbas públicas. o mesmo não ocorre em lera-
pêutica medicamentosa. A quase totalidade das pesquisas é
Antonio Carlos Zanini de iniciativa da indústria farmacêutica, por isso com implica-
ção de enormes interesses econômicos,
A lém do mais. boa parte das pesquisas financiadas pela
._TBODUçIO industria farmacêutica é realizada. por convênios, em ambiente
acadêmico. o que aumenta a competição por verbas, acirrando
A avaliação de medicamentos no tratamento de doenças e sintomas as rivalidade e acentuando as divergências polfrico-ideolõgicas.
está sujeita a numerosas influências que causam desvio dos resul- A pesquisa no homem não é livre. pois a integridade do
tados obtidos. como a posologia. o curso normal da doença. o paciente tem que ser resguardada. Por exemplo, ele não pode
efeito placebo c a subjetividade do Investigador, er deixado sem tratamento. com O fim de avaliar a influência
A história da medicina é rica em exemplos do tempo em que do efeito placebo, quando sua doença pode ser medicada. Surgiram
o empirismo predominava na terapêutica humana. Fumigações, preceitos éticos, formalizados pela primeira vez. na Declaração
ventosas, escarificações. purgações, vornitivos, sudoríferos, de Hclsinki. um código de ética aprovado na capital da Finlândia,
sucções etc., que eram muito valorizados na arte de curar pou- em 1964 e que é constantemente revisado. Não e admite mais a
cos séculos atrás. em um passado não muito distamo: O bezoar, existência do empirismo sem o emprego de metodologia científica
formação calculosa encontrada em diversos animais. era con- na obtenção de informações confiáveis em terapêutica. Ao con-
siderado um antídoto universal: a urina acalmava as dores do trário, aiualrnenre é vista como prática antiética a utilização
ventre, era um excelente emético e possuía ação ocitócica; o de terapêuticas sem a devida confirmação experimental.
fumo foi considerado como auxiliar da digestão e antiasmático: Como conseqüência das dificuldades diagnosticas, da restri-
pó de café foi utilizado em queimaduras. ções éticas da investigação no homem, da possibilidade da ocor-
Claude Bernard. há mais de um século, com seus estudos rência de efeitos adversos graves com incidência rara, de divergências
de fisiologia comparada, lançava as base da medicina expe- entre investigadores da evolução cientrlica e da influência da
rimentai, que representou a evolução sobre as imprecisões das manipulação da informação na introdução e retirada de nume-
impressões subjetivas imagister dixit) e sobre os conceitos rosos medicamentos (trade 11/), é muito difícil atingir lima ver-
amicicntfficos: as decisões começaram a er tomadas II partir dade absoluta sobre benefícios e riscos de um medicamento.
de evidências criteriosamente ana Iisadas. Os "tempos modernos" ainda não foram suficientes para se
Em farmacologia, desde a década de 1960. foram se apri- obter a informação indubitável sobre os medicamentos. Em 2004,
morando as técnicas de pesquisa de medicamento no homem. medicamentos aprovados pelo governo americano, pelo gover-
buscando resultados objerivos e toda essa tecnologia, sempre no brasileiro e per outros países como "seguros c eficazes", como
a ccrivastarina e o rofecoxib, foram retirados do mercado pelo
alto risco à saúde dos pacientes.
Ainda vai ser válido por muito tempo um antigo alerta de
N. dos A. - Neste capitulo. com a recomendeção e aquiescência dos editores,
foram utilizadas frases e conceitos redigidos por outros autores como Carva- Carvalho Neto aos iniciantes e aos professores de farmacologia
lho Neto, F.,Contl, L M. Z.• e Faici, M., autores do capitulo de Farma<ologia clínica: "a segurança de nunca afirmar, é o que se espera obter
Clínica em edições do livro Farmacologia Aplicada de Zanini e Oga'. do leitor". Entrctaruo. apesar de ser difícil atingir a verdade
Farmacologia • 363

absoluta em ciência. a farmacologia clínica permite aos pro- avalie múltiplos furores de risco c múltiplas formas de trata-
fissionais da saúde grande segurança na eficiência e prevenção mento pode concluir que não existem diferenças entre os dois
de riscos. no momento da pre. crição de medicamentos. admi- tratamentos. apenas porque um grupo de pacientes apre enta
nistração e monitoração farrnacotcrapêutica de pacientes. maior número dc fatores de ri. co do que o Outro.
Neste capítulo ~ão descritas as bases necessárias à correta Trabalhos bem COIU/II:.ido.1 têm hipótese únicae claramente
interpretação de publicaçõe-, cicnt íficus sobre medicamentos. definida. Quanto mais delimitados Ol> objct ivos. maiorc as pro-
bem como eternemos que permitam avaliar II informação rece- babilidades de se obter bon .. rcs ultados, Ensaios que tentam
bidaem promoçõc- do mercado farmacêutico. Não se pretende comprovar vário« aspectos ao mesmo tempo dificilmente chegamo
ensinar a realizaçâu de cnvaiov clínicos. IlIlIt~ria extremamente a resultados vãlidos.
complexa. ma, se \ i'a prmcipulmentc orientar o profisvional
da aúde - médico, farmacêutico. cnfcnuciro 011 odontólogo
-que busca. na leitura de ensaios clinicotcrnpôuttcov, a orien-
Justificativa da Pesquisa
tação básica da terapêutica rncdicamcntosu. o autor de qualquer pesquisa deve ter umn justificativa quando
inicia l>CU planejamento. /\ razão do trabalho obicrivo pode
ser social (como na maioria das pesquisas acadêmicas) ou
CONCEITOS contribuição para estudo de UIl1 tema; pode ter aplicação imc-
diaia ou tardia ou estar vinculado II lima extensão de observa-
o objetivo da farrnacologin
clfnicu ~ o estudo de medicamentos ção (trabalho que. às ve7CS. se confunde com a promoção de
administradov ao ser humano, com II ílnul idade de avaliar eficácia um medicamento).
e segurança no tratamento de doenças ou sintomas. No Brasil. todas as pesquisas que implicam na participação
Os principais tipos de estudo com medicamentos iII anima de seres humanos ou de órgãos deles retirados, sejam elas finan-
x nobile incluem: ciadas por insituiçõe públicas, fundações ou indústrias farma-

o-
": • Estudos de biodisponibilidtule : como o medicamento se cêutica . necessitam de aprovação das comissões de ética, além
comporta no organismo humano em termos de absor- de sempre terem de apresentar a justificativa da pesquisa que,
ção. distribuição e eliminação. isto é. qual a sua dispo- obviamente, deve estar vinculada nos objetivos do ensaio clínico.
nibilidade quando introduzido no organi mo.
• Estudosclinicoterapêutlcos: qual o valor do uso de medi-
camentos no tratamento de doenças ou sintomas, incluindo
Protocolo de Pesquisa e Ficha Clinlca
benefício . riscos e lnrcraçõcs. Toda pe quisa deve ser cuidadosamente plancjada antes de
• Estudossobre mecanismo de (1('(10: como o medicamento iniciada e a descrição de todos os dado, e procedimentos deve
interage com II organismo. como modi fica os sistemas estar num documento. denominado protocoto. Este, em ver-
orgânicos. dadc. representa a própria metodologia da pesquisa.
• Estudos de [armarovigilânria: qunis II). eventos dcsco-
• Protoro é documento escrito que cita tudo o que o inves-
beno a cu no. médio e longo pra/os com o uso rotineiro
tigador deve considerar durante a realização da pesquisa
de medicamentos.
e na avaliação dos resultados. Deve ser redigido de forma
O ensaios clínicos. sejam estudos de biodisponibilidade. clara. concisa e precisa. Nele estão descritos itens como
sobre mecanismo de ação ou ensaios rerapêut icos e, mesmo, desenho (plancjamcmn) do cnsaio clfnico, critérios de inclusão
ovdado de farmncovigilância. são a base para decisões racionais e exclusão dos pacientes. procedimentos gerais, detalhes
em terapêutica. Iarrnacolôgicos do medicamento em pesquisa, estatística
Assim. é fundamental que todo clínico esteja capacitado a do estudo e como proceder cm eventos adversos.
avaliar criticamente os resultados e as conclusões desses tra-
Em geral. os dados de cada paciente suo registrados em
balhos. Nessa anãlisc, deve-se ter em mente que os resultados
um formulário específico. com base no protocolo, chamado
de ensaios clínicos são estudos populacionais e que. na sua
clínica. são tratados indivlduos c não populações. de ficho cltnica:
• Fichas clinicas são formulários em branco, padroni-
ENSAIOSCl(NICOS zados. que acompanham o protocolo, destinados para
cada paciente. visando ii harmonização dos procedi-
Delimitação dos Objetivos mentes de observação clínica e colora de dados. A ficha
clínica deverá ter local apropriado para lançar infor-
Ao se planejar qualquer pesquisa. é preciso pensar no objetivo mações coleradas do prontu:írio. exames laboratoriais
que se quer alcançar: e outro dados previstos 110 protocolo e que sejam im-
• Obietivo é a definição clara da hipótese de trabalho. portantes para avaliação c anãlisc cstatfstica dos re-
sultados do en aio clínico.
É difícil definir () objciivo. por ser necessariamente conciso
e preciso. Deve-se partir de uma hipõtcsc preliminar c. após Para cada pcsqui a são necessárias tantas fichas clínicas
estudo da literatura. condições de pesquisa c. quando neces- quantos pacientes forem observados.
sãrio. também UI11 ensaio piloto. rever esse objctivo, que pode Habitualmente não se admite como cientificamente cor-
ser modificado c adequado para que. nu prática. possu real- rcro mudar ~Iobservação ou introduzir novos esquemas de
mente ser atingido. posologia 110 decorrer da pcvquisu, Todavia, em caso de al-
Uma vez iniciada a pesquisa, nem objctivo nem métodos teração do protocolo ou da ficha clfnicn após O início do
devem ser modificados. ensaio clfnico. poderá ser Iormulndn urnu emenda ao pro-
Quando um investigador procura responder a muitas per- tocolo. a qual deverá ser aprovada por todas as partes en-
guntas num mesmo ensaio. este fica extremamente complexo volvidas na aprovação anterior do protocolo (patrocinador,
e diffcil, Mesmo num ensaio bem elaborado e executado. pode investigadores. agências reguladoras governamentais. ins-
ser diffcil fi interpretação dos dados. UIIl ensaio clínico que tituições e Comitês de Ética).
364 • Tratado de Clínica Médica

Protocolos de pesquisa clínica com crianças devem prever e ser informado sobre eventos adversos graves. Em estudos
cuidados especiais. com permanente avaliação para a detecção multicênticos, todos os investigadores participantes devem ser
precoce de eventos adversos. para proteger o paciente e a pesquisa. informados sobre rcnçõcs graves ocorridas em qualquer das
instituições. de modo u garantir e resguardar a integridade e
os direitos dos volunrãrios integrantes da pesquisa.
Ética e Responsabilidade Muitos des es CEP também estão registrados pela Comissão
Princípios Básicos da Ética em Pesquisa Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). sediada no Minis-
tério da Saúde (Conselho Nacional de Saúde - CNS). De acordo
Toda e qualquer pesquisa deve estar adequada a princípios cien- com as resoluções. para os ensaios clínicos de fase inicial da
tíficos que a justifiquem e que assegurem aos indivíduos os be- pesquisa de novos medicamentos (fases I li III) é necessária
nefícios resultantes do projeto e com possibilidades concretas também a aprovação dos CEP das instituições em que tal ensaio
de responder a incertezas. sempre tendo em mente que seus será realizado, assim como a aprovação da CONEP. Na verdade,
direitos serão preservados. utilizando-se os referenciais bási- a CONEP foi instituída com o objetivo de criar, treinare cadastrar
cos da bioética: autonomia. não maleficência. beneficência e justiça. os CEP, para que estes consigam, futuramente. funcionar sozinhos.
Deve-se considerar sempre que a medicina é imprecisa: Por enquanto. () papel da CONEP é fundamental, pois centraliza
qualquer médico, ao prescrever um medicamento, sabe: (I) toda li documentação de todas as pesquisas de fases I a III que
cada medicamento exerce no organismo humano. além do efeito são iniciadas no Brasil. sendo ainda uma referência de ética
esperado. outros não necessários ou indesejáveis: (2) cada em pesquisa para os CEP que estão sendo formados e para
medicamento comporta-se diferentemente em cada indivíduo aqueles que já estão estabelecidos há algum tempo, mas ainda
c em cada doença: (3) cada paciente tem uma evolução pró- necessitam de seus pareceres técnico e ético. A Agência Na-
pria que depende também da sua situação naquele momento, cional de Vigilância Sanitária (ANVISA) também participa
ante o médico e ante o tratamento. Se isso acontece com medi- da aprovação de pesquisas com novos medicamentos, após o
camentos bem conhecidos. os riscos de efeitos inesperados parecer do CEP e da CONEP. O rigor convenientemente ado-
são maiores com novos medicamentos. Portanto. em qualquer tudo no Brasil supera o de outros países, inclusive aqueles
pesquisa. os primeiros cuidados no planejarnento visam ~ considerados desenvolvidos.
responsabilidade do pesquisador e à ética. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para
No decorrer de uma pesquisa, para que clu produza resulta- que um paciente ou voluntário sadio participe de um ensaio
dos confiáveis, também devem ser respeitadas as "boas práticas clínico é necessário que receba uma explicação completa e
clínicas" (ou goo" clinical practices= GCP), que foram estruturadas pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos,
em padrões internacionais. As GCP são procedimentos interna- métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo
cionais de qualidade na preparação, no desenvolvimento e na que possa acarretar, redigida em linguagem acessível, clara c
documentação da pesquisa para assegurar que os dados do en- formulada em um termo de consentimento.
saio clínico sejam verdadeiros e os direitos dos pacientes este- Esse consentimento livre e esclarecido é essencial para que
jam sendo preservados. Houve unificação e padronização desses o paciente participe do ensaio; nele também consta a liberdade
procedimentos numa conferência entre União Européia, Japão e de se recusar a participar ou de retirar seu consentimento cm
Estados Unidos, a lntcrnarional Conference on Harmonisation. qualquer fase da pesquisa, sem penalidade alguma e sem pre-
Essa conferência ocorre periodicamente. com o intuito de atua- juízo ao seu cu idado médico. O termo de consentimento é con-
lizar c discutir os conceitos gerados. Desde que as GCP surgi- siderado um dos documentos mais importantes do ensaio clínico.
ram. tornaram-se uma regra na condução de ensaios clínicos em Nos ensaios clínicos que compreendem crianças e jovens
todo o mundo. Nelas. estão explicitadas. por exemplo, como preencher menores de 21 anos. há necessidade da assinatura do repre-
uma ficha clínica. como registrar a medicação utilizada num ensaio sentante legal. Para voluntários analfabetos, além do consen-
clínico, como fazer visitas de monitoração às instituições que timento oral e da impressão dactiloscépíca, é necessária a
estão participando da pesquisa e assim por diante. assinatura de uma testemunha.
No Brasil. o médico investigador é responsável pela coor- Geralmente, é o investigador que faz tal explicação c. no
denação e realização da pesquisa e pela integridade lo! bem- próprio documento, são coletadas as assinaturas do paciente e/ou
estar dos seus sujeitos. Para que uma pesquisa se inicie. ela seu representante legal e do médico investigador. antes de iniciar
precisa respeitar todas as normas e procedimentos contidos qualquer procedimento do ensaio clínico,
nas resoluções vigentes no país (Ministério da Saúde. 1996 e De acordo COm as normas brasileiras (Ministério da Saúde.
1997). Nessas resoluções está descrito. por exemplo. todo o 1996). o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deve
processo de nprovação da pesquisa. Na verdade. trata-se da obedecer aos seguintes requisitos:
avaliação ética da pesquisa como um todo.
A estrutura de controle da ética no Brasil pode ser consi- • Ser elaborado pelo investigador responsável, expres-
derada próxima do ideal. razão pela qual é descrita a seguir. sando o cumprimento de cada uma das exigências dessa
Deve-se atentar, contudo, que na prática há carência de espe- Resolução.
cialistas em ética e a burocracia atrasa o início das pesquisas • Ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que
programadas. As normas vigentes englobam a formação dos referenda li investigação.
Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) nas instituições em que • Ser assinado ou identificado por impressão dactiloscópica
se realizam os ensaios clínicos. Cada CEP compõe-se de um por todos e cada um dos pacientes da pesquisa ou por
grupo multi e transdisciplinar não inferior a sete membros, seus representantes legais.
sendo um deles membro da sociedade, representando os usuários • Ser elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo pa-
da instituição. É dever do CEP revisar todos os protocolos e ciente ou por seu representante legal e urna arquivada
materiais relacionados com ensaios clínicos (por exemplo, Termo pelo investigador.
de Consentimento Livre e Esclarecido, brochura do investi-
gador com os dados do medicamento em pesquisa etc.), acorn- Monitoração. Aceita-se, atualmente, que as pesquisas
panhar a pesquisa por meio de relatórios do médico investigador com medicamentos devem ser monitoradas por pessoal liga-
Farmacologia • 365

do ;10 patrocinador (por exemplo. pessoal qualificado da empresa Toda a metodologia que se utili/a na execução de en aios
patrocinadora da pesquisa). também chamado de monitor de clínicos visa fundamentalmente corrigir a, influências subjetivas
pe quisa clínica. Os monitores garantem toda a qualidade da do médico c :.1' do paciente c evitar que fatores estranhos ao
pe quisa que está ob a responsabilidade do médico investi- experimento modifiqucrn 011 resultados.
gador. auxiliando-o da melhor forma po!'!oorvc!durante l-ua con-
dução, com base nav GCP para que não haja trnudcs. desvios M~TODOS E CASUISTlCA
ou erros graves 110 decorrer c no final da pcxquisa. Além dis-
so, durante as visitas. também será observado l-C o:, direitos Amostragem e Casuística
dos pacientes estão sendo preservados c se a instituição c tá
realmente qualificada para a realização da pesquisa. A amostra é o grande furor diferencial entre a farmacologia
básica c a farmacologia clínica:
Desvios nos Resultados • ..\ experiências de laboratório. o mvcstigador escolhe o
Um ensaio clínico é IIlHa experiência científica. ou seja. é um animal com o qual quer trabalhar, raça, espécie. peso-
procedimento pelo quul se decide examinar uma hipótese por e onde de vai ficar - tudo sarisfa/endo condições ideais
uma sequência hígica de raciocínio. Como em IOda pesquisa. de observação.
há fatores incspecfflcos que influenciam 0\ rexultudov, ensejando • Na clínica. "quem manda" é o paciente: ou seja. o pesqui-
considerações farmacol6gicas e não Iarmncúlog icus, sador tem que adaptar seu planejarnenro às condições
l1 É hoje amplamcruc sabido c comprecnd ido que, ao se admi- dos pacicnrcs que sofrem de uma determinada afec-
~ nistrar um medicamento li um paciente. além de suas proprie- ção. incidência, cm que local podem ser encontrados
;; dades intrínsecas. outros fenômenos podem ocorrer. O modo e. no caso de doentes ambulutorluis. quuis as dificul-
~ como o rcrapcura prescreve, a apre emação farmacotécnica. o dade!' para o acompanhamento.
::J nome do remédio. o número de ministrações di(tria~ podem Em muitn-, casos, antes de decidir o planejarnento defini-
agir psicologicamente sobre o paciente no ..cntido positivo ou tivo. é ncccssririo desenvolver um ensaio piloto. testando o
negativo. A inter-relação médico-paciente. por ~i ~ó. é capai. planejamcntn contra as dificuldades que poderão ser encon-
de desviar. num ou noutro sentido. o), re-uhndos que COITIU- tradas nus condições reais da pesquisa.
mente seriam cvpcradov, O diagnóstico é. em princípio. O primeiro problema com O
o dccurvo de 11m ensaie clínico. esses e Outros fatores qual se depara o investigador. pois todo e qualquer procedi-
pesam de modo rnais ou menos significativo. Ao iniciar unia mento em medicina deve ter como fim o di[lgl1ó~tico. Em en aios
pesquisa. o médico investigador encontra-se na xituução de clínicos. este tem que ser estabelecido cm bases sólidas e
alguém que vai utilizar seus conhecimentos, sua experiência, verdadeiras. Pura tanto. a fim de dirimir alodüvidas e permitir
sua vivência clínica para pesquisar a excelência 011não de um comparações. COIll.:I usões c deduções, é importante qUI!. ante do
novo medicamento. É próprio e natural do ensaio que o inves- início do ensaio. sc conceitue plenamente C0l110será feito o
tigador se sinta como alguém qLH': "ai provar algo novo. que diagnõstico. se fixem critérios para seu reconhecimento e sejam
vai contribuir para a evolução da ciência médica. As. im. é estabelecidas normas para determinação de sua gravidade.
freqücnrc <III\!() invc ..ugador possa. inconscientemente. indu- 'a definição da amostra. devem ser também cuidadosamente
lir a dcsviov na rrucrpretação dos resultado, e na redução do definidos os pacicmcs a ser incluídos ou excluídos da pesqui a.
trabalho cicntffico. pois os resultados podem ser profundamente alterados nessa
a maioria da, \ ezes, o investigador e),lá esperando. incons- fase do plancjamcnto. Por exemplo, a exclusão de pacientes
cientemente. que o medicamento se constitua em algo vantajo- de maior risco c a inclusão de ca os benignos de uma afecção
so, isto é, mais eficaz e/ou mais bem tolerado que outros já aumentam a probabilidade de re ultados positivos para o me-
disponíveis. Assim, podemos considerar, na maioria absotuta dicamcmo em teste. Assim, lixada li finalidade do ensaio,
doscasos,que a "intcnçâo" do investigador é provar que a substfioc.;ia devem-se estabelecer, com antecedência. para manter a amos-
nova é melhor. Ninguém se aventura em algum tipo de busca tragem li mais homogéneo possfvel. que características per-
partindo do princípio de que não vai encontrar nada. É da na- mitirão a inclusão do paciente na pe quisa e quais a que
iurezado homem entregar-se a tarefas que ele conta como posii ivas, determinarão sua prévia exclusão. A cs e conjunto de defini-
boas, diferentes. gratificante' c que a inclinação natural dos çõe: denomina-se critérios de inclusão e ('xcl11S(70.
desvios é sempre no sentido de concluir que o "novo" é melhor O!. critérios de inclusão devem ser bem definidos para evitar
do que o "velho". 1,,0 tende a influenciar positivamente a ava- distorçõcv do resultado final. devendo. portanto. ser obedecido
liação e rcdação do estudo. à risca. Consideram-se aqui os fatore, peso. idade. raça. grau
Em outros casos. alguns investigadores partem da premis a de gravidade da doença. tempo de doença. número de cri e
contrária, tentando provar que algo aceito no meio acadêmico anteriores etc. Leva-se em conta ainda a maior ou menor co-
está errado, ou seja, um de. vio do lado negativo. Em ambos operação do paciente. li fim de assegurar ao investigador, dentro
o ca. os. o investigador pode. inconscicntcruente, induzir a das posvibilidadcs, que ele cumpra suas prescrições ou. sim-
de vios na intcrprcruçân dos resultados. plesrncntc. que retorne para observação.
Por OU11'(1 IlIdo, o paciente submetido a 11mensaio clínico Entre as exclusões, existem as clãssicas, corno pacientes
geralmcnrc cSln cm condições diferentes daquelas encontradas grávidas ou que desejem engravidar, lactantes, pacientes com
na rotina diária de atendimento médico. AI(!m disso. uma série dependência de drogas. crianças ou pacientes com outros quadros
de medidas, diferentemente da rotina diária do hospital ou do clínicos que, por ~i só. ou pelo tratamento extra requerido.
ambulatório. são tomadas para que o paciente siga à risca as possam influenciar a resposta à substância em estudo. Excluem-
ordens dadas no estudo. É muito comum que o~ pacientcs !>c ~c. como regra. pacientes com hepatopatia ... cardiopatias. nefro-
sintam e e m:JnifcMem cumo alguém "mais importante". al- I)atia\ e (lS que apre. entem outra doença capal dc ser agravada
guém diferenCiado. por pertencerem ao grupo de pcsquilla. ESl>a pelo medicamento em observação.
silUação é. na maior parte da vele. positiva c. quando não Nas inclll~ões t: exclusões, devem ser Icvantadas todas as
o é, serve para exclusão do paciente. ao certificar-se o inves- possibi Iidade~ de intcrferência no tratamento c ser considerado
tigador de sua menor colahoração. Em algUlls cns,lios procu- o afastamento de tudo o que possa tornar hetcrogênca li amos-
ra-se até medir o grau dc coopcmção do paciente. tragem dos elementos incluídos nu pcsqui:.a.
366 • Tratado de Clínica Médica

Ao se definir a casuística, pode-se optar por diversas alter- em estudo e, a outra, recebendo o medicamento padrão (ou placebo),
nativas: Em determinado tempo é feito o cruzamento (muitas vezes, após
um período intermediário de "lavagem" com ou sem placebo).
• Definir um certo número de pacientes a ser incluído na Este tipo de comparação. embora inicialmente muito atrarivo,
pesquisa e que apresente mesma condição (ou doença). apresenta uma série de inconvenientes e deve ser analisado com
• Incluir pacientes que tenham mesma condição (ou doença) muito mais cuidado que as comparações entre pacientes, pois
até que seus dados exibam 1111/ determinado resultado,
está mais sujeito a vícios ou enganos de interpretação.
conforme esperado na avaliação estatística prevista na
metodologia da pesquisa.
• Defluir tun período de admissão de pacientes que mani- Mascaramento
festem mesma condição (ou doença) e que possam ser A palavra placebo (do latim placere) significa literalmente
observados durante um certo período. "eu vou lhe agradar". Originalmente, um placebo era a prepa-
ração de uma substância inativa usada para agradar, em vez
Formação dos Grupos de beneficiar quimicamente o paciente. É possível aceitar o
Para que a avaliação de benefícios e riscos de um medica- fato de que tudo o que agrada ao paciente lhe é benéfico.
mento possa ser considerada cientificamente válida, exige-se A regulamentação brasileira da utilização ele placebos na
a comparação do grupo tratado com um grupo-controle. A obser- pesquisa clínica é muito clara e restringe seu uso aos casos
vação simples de pacientes pode ser extremamente elucidativa, cm que não existam tratamentos medicamentosos comprovados.
mas, sempre que possível, se procura comparar tratamentos Ainda que alguns pesquisadores brasileiros pretendarn legiti-
ou o grupo tratado com um grupo-placebo. mar o uso de placebo para a comprovação da eficácia ele novos
Nos ensaios clínicos com medicamentos, quase sempre se medicamentos, o que do ponto de vista científico não é erra-
compara o tratamento em estudo com outro reconhecidamente do, sob a óptica moral não se justifica, jã que não faz sentido
eficaz (medicamento padrão) ou que se sabe ser fármaco- privar alguém de um tratamento que normalmente receberia
logicamente inefetivo (grupo-placebo); são os chamados es- caso não estivesse participando de um projeto de pesquisa.
tudos comparativos. Podemos ainda ter estudos comparativos O efeito placebo, tratado no capítulo Noções Básicas de
entre um grupo tratado e outro que não recebe nenhum trata- Farmacologia, é um fenômeno extremamente essencial nos
mento, nem mesmo placebo, ou ainda, num único grupo, com- estudos de farmacologia clínica; por isso, em muitas circuns-
parar situações diferentes (por exemplo, pré e pós-tratamentos). tâncias o paciente não deve saber se o produto recebido é o
Sendo fundamentalmente uma comparação entre grupos ou medicamento experimental ou a formulação comparativa (me-
situações dentro de um grupo, a primeira preocupação ao se dicamento padrão ou placebo).
analisar um ensaio clínico é como foram formados os grupos, As influências subjetivas a que está sujeito o observador
isto é, como foram feitas a inclusão e a exclusão dos pacien- também são relevantes, portanto é bom que, em determinadas
tes e como esses pacientes foram alocados nos diferentes grupos. situações, ele não saiba que produto está sendo administrado.
Para a formação de grupos comparáveis, existem vários Para que isso seja possível, desenvolveram-se várias técnicas
métodos, porém o mais simples, mais usado e bastante fiel é o de mascaramento:
da amostragem aleatária, E o que chamamos de amostra ran- • Quando o investigador sabe qual o medicamento utiliza-
dornizada ou obtida ao acaso. Com a randornização, permite- do, mas o paciente não, estamos diante de uma técnica de
se que cada paciente tenha a mesma oportunidade de receber mascararnento único (unicamente cego ou single blind).
um ou outro medicamento, ou seja. vir a pertencer a um ou a • Quando nenhum dos dois sabe qual o produto ministrado,
outro grupo. Para a formação desses grupos, faz-se previa- a técnica é denominada duplo mascaramento (estudo duplo-
mente um sorteio ou se lança mão de uma tabela de números cego ou double blindi.
aleatórios ou equiprováveis. A randornização deve ser reali- • Quando nenhum dos dois sabe qual o produto dado, mas
zada imediatamente antes do início do tratamento, pois uma uma terceira pessoa sabe (geralmente quem aplica o
vez incluído o paciente no ensaio, seus dados deverão fazer medicamento), tem-se a técnica chamada de observa-
parte da análise final. dor cego.
Mesmo que a alocação tenha sido aleatória e que não se • Estudos abertos ão aqueles nos quais não são usadas
tenham identificado vícios de amostragem, é conveniente ve- técnicas de mascararnento, ou seja, tanto o investigador
rificar, no início das observações, a existência de diferenças quanto o paciente sabem o medicamento que será admi-
estatisticamente significantes entre os grupos. . nistrado durante todo o estudo.

Tipos de Comparação Deve-se atentar para a exagerada valorização que ultima-


mente tem sido clada a essas técnicas de mascaramento. Em
Após verificar a conveniente formação dos grupos, deve-se certas circunstâncias, é verdade, elas são muito relevantes, ou
voltar a atenção para o esquema do estudo ou o tipo de com- até mesmo imprescindíveis. mas em muitas ocasiões elas po-
paração feita entre os grupos. Basicamente são dois os tipos dem perfeitamente ser dispensadas. Há vezes, inclusive, em
de comparação: que' não é possível usá-las.
Mais importante que as técnicas de mascararnento é o pla-
• Entre pacientes (between patientsv, quando os diferentes
nejamento global do ensaio. Ensaios duplo-cegos mal elabo-
tratamentos são ministrados a variados grupos de pa-
cientes (Tabela 37.1). rados são inúteis, ao passo que ensaios abertos bem planejados
• Interpacientes iwithin patients], também chamada de
comparação ou estudo cruzado tcross ove r). Nesta, os TABELA 37.1 -<Comparação entre pacientes
mesmos pacientes recebem, sucessivamente, os dois (ou
mais) tipos de tratamento (Tabela 37.2). DROGA A DROGA B

No estudo cruzado, com frequência o grupo é randornicarnente Grupo A de pacientes com Grupo B de pacientes com
o medicamento A o medicamento B
dividido, com uma parte começando a receber o medicamento
Farmacologia • 367

avaliar um en ...aio clínico, não é necessário aber aplicar tes-


TABELA 37.2 - Comparação ínterpacientes
tes esuuísticos. mas sim saber imerpretá-los. o que é mais uma
GRUPODE PACIENTES PERloDO 1 PERloDO 2 questão de lógica do que um problema matemático. Com isso
A Medicamento A Medicamento B
em mente. é oportuno comcnuir duas situaçõe, muito comuns
Medicamento A 1,.\ anâlive de ensaios clínicos: (I) igualdades e diferenças;
B Medicamento B
(2) o . entido da significânciu,
Igualdades c diferenças. Usuul, uo se analixar a eficãcia
podem ser muito mais simples e conclusivos. Como regra geral, de UIlI novo tratnmento, é concluir que "não foram encontradas
quanto mais evidentes forem <IS açõcs Iarmucolõgicas do me- diferenças evrausticarncntc significantes ... Essa conclusão não
dicamento e tudado e quanto mais objetivos forem os métodos quer dizer, obrigatoriamente, que os dois tratamentos são iguais
de mensuração do ...resultados. menor será a significância das ou equivalente .. Provar igualdades é muito mai que não encontrar
técnicas de mascaramemo. diferenças.
Sentido da significância. "Diferença estatisticamente
significante" quer dizer que a diferença encontrada é real e
Avaliação dos Efeitos não decorrente do acaso ou de variações ocasionais, Signilicància
Depois de verificada a adequação das compnruçõcv, devem-se estatística não pode ser confundida com relevância clínica.
A':>diferençav. estatisticamente significantes ou não. devem
analisar quai ...o, critérios adorados para avaliar 0\ rcsuhados
ser aprcxcntadav como conclusões e indcpcndcrn da opinião
~ e quais as técnicav de mensuração utilizadas. tanto cm relação
própria does) autortcs), enquanto a relevância clínica apresen-
~ à anãlise da elicácia como à da tolerabilidade. Podem ser
tuda como comentário depende do ponto de vista e da opinião
:; empregados critérios clínicos ou laboratoriais: critérios objetivos
particular de quem e creve e de quem lê.
~ ou subjetivos. O fundamental é que eles sejam bem definidos
:;! antes do início das observações e que não sejam modificados
durante o transcorrer do ensaio. Evidente que quanto mais ob- ESTUDOS DE BIODISPONIBllIDADE
jetivos os crirérios de avaliação de resultado- mais simples Sempre que um medicamento for administrado ao er vivo,
será o plancjamcnto do ensaio. ele crá. em maior ou menor grau, absorvido e. conseqüente-
Coleta e Tabulação de Dados. Um:1 VCI. delinidos a mente, distribuído pelo organismo e depois scrã deste elimi-
formação dOlogrupo" corno foram Ieiras as comparações e nado. Essa disponibilidade depende das variações individuais
quais os métodos de avaliação dos resultados e suas respec- e das vuriuçõcs no tempo num mesmo indivíduo. do medica-
tivas técnicuv de mensuração, devemos verificar como, quando mento em si (do princípio aiivo). da via de administração e da
e onde os dados foram coletados e tabulados. Infelizmente. forma [armncêut iCIIcorno ela é aprcxcntuda. Como forma far-
em um grande número de publicações. essa informação é macêutica entendemos não s6 o tipo de apresentação (com-
negligenciada. porém ela é relevante quando formos analisar primidos, drâgcas, ampolas etc.). mal>também a fórmula completa,
criticamente a validade e ti aplicabilidade das conclusões para incluindo os excipierues e os métodos de fabricação. É bom
a situação específica do tratamento de um indivíduo na clí- lembrar que é. às vezes, uma simples modilicação de um excipiente
nica rotineira. ou. mesmo. da pressão de compressão de um comprimido pode
interferir. c muito. na biodisponibilidade de um produto.
Análise dos Dados Assim. na prática clínica. na anãli e crítica de um medi-
Dado Pepuluclunuis dos Grupos. Como já mencionada. a pri- camento. os primeiros c rudos a serem considerados são os de
meira preocupação ao se analisarem os re. uliados e o signi- biodisponibilidade. Para que tais estudos renham validade,
ficado de um ensaio clínico é O fato de se e. tar sempre diante
deverão ser feitos com fi mesma forma farmacêutica como
de um estudo populacional. Assim, o primeiro passo é caracrc- será industrializudc.
O~ estudos de biodispouibitidadc ncccssãrios para uma
rizar o grupo estudado, da mesma maneira como fazemos na
avaliação criteriosa podem variar muito de acordo com o medi-
clínica. na qual nossa primeira tarefa é identificar o pacien-
camento e/ou com ii finalidade do seu uso, Exi tem diversas
te e obter sua história. Vale a pena lembrar que. na estatís-
rotinas de estudo, porém, quando analisamos. por exemplo,
tica descritiva. dev c-se atentar para ,h medidas de tendência
um medicamento de estreita janela terapêutica, como um
central (média. moda. mediana). que procuram um "símbo- digitálico. devemo: dar maior proteção ao paciente, com maior
lo" para o grupo e para as medidas de dispersão. que procu- variação na obtenção de dados e interação com alimentos.
ram informar o quanto na realidade o' indiv íduo diferem Nos estudos de biodisponibilidade. os ntveis séricos nos
desse "vímboln". dão uma boa orientação ii respeito da absorção do medica-
Tamanho do Grupo. O tamanho do grupo tem uma impor- mento. Deve-se atentar não só para as medidas de tendência
tância muito grande para a validade das conclusões e as com- central (por exemplo, nível sérico médio), mas também para
parações e~tatíMica:o..Ademais, quem analisa um ensaio clínico as medidas de dispersão (por exemplo, desvio padrão). Um
deve atentar para outro dado que não vem claramente especi- desvio padrão muito grande informa que a variação entre
ficado em boa parte das publicações: o tamanho do(s) grupo(s) indivíduos é vasta e isso pode levar o clínico a considerar a
no início e no lim do traramenro ou, em outra palavra . quantos possibitidadc. no tratamento individual. de que um determi-
pacientes foram sclccionados para o tratamento mas não o nado paciente (ou alguns pacientes) possa(m) apresentar ní-
receberam e quantos o iniciaram c não terminaram. veis séricos muito distantes (acima ou abaixo) daquele previsto
Nos cases de interrupção de trammcmo. é significante sa- pela média dos níveis séricos observados.
ber quanto, o li/eram por razões explícitas (recusa em conti- Em tratamentos tópicos também devem ser anal i ados os
nuar o estudo. eventos adversos, deterioração do quadro clínico. resultados de níveis séricos, não tanto por urna questão de efi-
ineficáciado tratamento etc.) e quantos simplesmente não voltaram cácia, mas por segurança, já que frcqücnrcrncnrc ocorre absor-
puraos devidos controles. ção suficiente para provocar efeitos sistêmice» indesejáveis.
Comparaçõcs I~slalíslicas. De maneira geral, o clínico é avesso Ao se nnnlisur o uso racional de medicamentos, deve haver
IIestatística ou aos estatísticos. No entanto, lembramos que, para a prcocupução de caracterizar também II MIU distribuição, Isso
368 • Tratado de Clinica Médica

pode ser feito com a dosagem da substância cm questão nos A fase I busca informações iniciais muito cuidadosas em
vários humores (líquor.líquido amniótico). nas secreções (saliva. indivíduos sadios. no sentido de determinar a tolerabilidade
leite. lágrima crc.) c nos tecidos. Esses estudos de distribuição clínica e a biológica. Tenta-se estabelecer a tolerância aguda
tecidual de medicamentos requerem metodologias mais com- por diversas vias de administração e a relação dose/níveis
plicadas que os estudos para determinação dos níveis sé ricos, sangüfneos/tolerabilidadc. São iniciados os estudos de fármaco-
quase sempre . c utilizando o rastrearnento com marcadores cinética c fnrmacodinâmica. importando fundamentalmente o
rudioarivos e devendo ser feitos apenas de acordo com a real grau de absorção. nfveis sangüfneos, distribuição no organismo.
necessidade do caso considerado. merabolização e excreção. O paciente permanece sob obser-
Algumas vezes, como no uso sisrêrnico de antibióticos, a vação rigorosa, minuciosa e ininterrupta.
análise das concentrações tissulares e a capacidade de atra- A fase I desenvolve- e em número limitado de indivíduos
vessar a barreira hematoliquórica são valiosas para a previsão (12 a 50 voluntários) e sob a responsabilidade de farmacologista
da eficácia do tratamento. Em outros casos. como no uso de clínico suficientemente experimentado, dentro de rigorosos
medicamentos por gestantes ou lactantes. tais estudos são im- padrões éticos de pesquisa. tendo à sua disposição equipa-
portantes para a análise da segurança do tratamento. mentos que permitam acompanhamentos clínico, laboratorial
O estudo da biodisponibilidade deve incluir informação sobre e instrumental. Há necessidade de perfeito conhecimento da
a excreção do medicamento. Para tal análise, são fundamen- farmacologia e da toxicidade do medicamento em animais.
tais os dados de níveis urinários e a dosagem nas fezes. tanto Nafase 1/. iniciam-se pesquisas em pacientes, tendo como
do medicamento original como de seus rnetabólitos. O estudo base os dados obtidos na fase anterior. O número de ensaio
em indivíduos com anormalidades hepáticas ou renais deve é limitado e deve haver um sistema de controle que possibilite
relevar essas análises. pois esse tipo de paciente não é tão a cada investigador saber o que se passa concomitantemente
raro como se poderia supor. A porcentagem da população idosa com outros ensaios em andamento. Dessa forma, procura-se
na comunidade tende a ser progressivamente maior e nessa faixa englobar um pequeno número de investigadores (5 a 10). Os
etária é. em especial. freqüente a disfunção renal. ensaios podem ser não controlados ou. em alguns casos, con-
trolados. cegos ou abertos. mas sempre em pequeno número
de pacientes (50 a 300), de acordo com a afecção estudada.
IECANISMO DEAçAO Buscam-se dados que permitam generalizar conceitos e
Os conhecimentos sobre o mecani mo de ação dos medica- informações. Determinam-se a atividade farmacológica. por
mentos c corno estes interagem com O organismo são consi- comparação da substância em estudo com placebo e o valor
derãvcis tanto para avaliação da eficácia como para a análise terapêutico. pela comparação com substâncias clássicas con-
da segurança do uso de medicamentos. Embora se deva evitar sideradas farrnacologicarnerue ativas. As pesquisas dessa fase
a prescrição concomitante de vários medicamentos, isso nem levam, com relativa segurança. ao conhecimento das possibi-
sempre é possível; nos idosos. cm especial. a poli medicação lidades terapêuticas c do grau provável de efeitos tóxicos ou
é quase uma constante. ecundários,
Os estudos de mecanismo de ação e interações medicamen- Depois das duas primeiras fases, o medicamento será ou
tosas costumam ter elaboração mais complicada e interpreta- não liberado para utilização em estudos mais amplos, neces-
ção mais problemática que os de biodisponibilidade ou que sários à confirmação de indícios ou fatos já detectados.
os ensaios clfnicos. Além disso, comparados com os estudos Os dados obtidos nas fases I e II podem requerer estudos
do mecanismo de ação dos medicamentos. os estudos de far- adicionais no animal, mesmo antes de seu término e a suple-
macologia básica e de bioqufmica costumam ser mais signi- mentação com os estudos da fase III.Tais dados devem satis-
ficarivos do que os estudos em seres humanos. fazer os conhecimentos necessários para definir a duração esperada
Muitos dos medicamentos com largo uso clínico não têm da administração no ser humano, o grupo etário e o estado
ainda seu mecanismo de ação esclarecido e se deve sempre físico das pe soas a que se destina. por exemplo, crianças,
ter em mente que evidências clínicas de eventos adversos ou mulheres na pré-menopausa. grávidas etc. Esses informes muitas
de eficácia. bem documentadas. têm maior valor prático do que vezes não e tão previamente disponíveis.
elaboradas teorias de mecanismos de ação. Por isso. pode-se Afase III. que corresponde aos ensaios clínicos propriamen-
afirmar que para a definição de uso racional de medicamentos te ditos. tem por finalidade determinar a eficácia e o esquema
têm menos importância que os estudos de biodisponibilidade posolôgico ótirno para diagnóstico. tratamento ou profilaxia de
ou os ensaios clínicos. embora sem nunca negar a relevância grupos de indivíduos portadores de uma doença ou condição clínica.
do conhecimento sobre mecanismo de ação, Essa fase já abrange um grande número de pacientes (250 a 5.0(0).
Os fatOS acumulados nas fases anteriores, incluídos aqueles obtidos
em animais, são utilizados no planejarnenro. Os estudos são rea-
AVAlIAÇAO TlRAPIUTlCA DE MEDICAMENTOS: FASES lizados por grupo clínicos separados. seguindo um mesmo pia-
Quando se principia a pesquisa iII anima nobile, ensaios pré- no. dentro das variações possíveis, conforme o caso.
clínicos iII vitro e iII vivo em animais permitem uma avaliação Na fuse III. é indi pensãvel O uso de grupo-controle. bem
inicial quanto à dose eficaz, à dose tóxica e à dose letal, com como a obediência a normas que permitam o tratamento esta-
valor preditivo para o ser humano (ver capítulo sobre Ensaios ustico dos dados obtidos. Um ensaio de fase III ideal deve ser
Farmacológicos Pré-clínicos). randomizado. controlado, duplo-cego, cruzado. multicêntrico,
Os ensaios com novos medicamentos costumam seguir uma multifatorial e multivariável. Isso não significa que um estudo
rotina de conhecimento progressivo da nova substância. de aberto não seja válido ou que uma comparação em grupos
modo a garantir máxima segurança. Assim, cm termos práticos, diferentes careça de crédito.
costumam-se dividir os ensaios clínicos em fases, de I a IV. Vale frisar que não existe uma demarcação nítida entre as
sem que isso signifique que a fase seguinte comece exatamente fases. pois o processo de estudo de um medicamento é con-
ao terminar li fase anterior ou que não se volte a fases ante- tínuo. A passagem de uma fase para outra não depende do
riores para buscar outros dados, mesmo que seja uma volta número de observações ou de casos, mas. seguramente. da
àquelas de estudos em animais, ainda que o estudo já esteja significância e do significado das observações feitas. C0l110
em fases "numericamente mais avançadas". exemplo de concomitância de fases. podemos citar a inclusão
Farmacologia • 369

de pacicrues cm \ CI da inclusão de voluntários sadios, na primeira


TABELA 37.3 - Fasesda pesquisa
fase.O importante é ter em mente que. na fase I. se pretende
definir qunlitarivamcntc a segurança. o potencial útil de ativi- SERES NÚMEROOE
dadc e ti tição farmacológica. Na segunda, estabelece-se o FASeS HUMANOS VOLUNTÁRtOS OBJETlVOS
esquemaposolõgico médio e. na terceira. deterrnina-se a ati- FaseI Voluntários sadios 12 - 50 Farmacocinética
vidade dcfinitivumente. Farmacodinãmica
NaN duns rases iniciais. obtêm-se informações de inesti- Tolerância
Tolerabilidade
mável valor. porém não se pode ainda predizer os resultados
FaseII Pacientes 50 - 300 Atividade
parauso médico generalizado. Na fase III. fixam-se. cm ter-
farmacológica
mosreais, a segurança e a cfetividadc para uso cllnico. além Toxicidade
de se detectarem a~ mail i fcsraçõcs adversas menos comuns FaseIII Pacientes 250 - 5.000 Eficácia
ou as reaçõcs de idiossi ncrasia. Segurança
Costuma-se acrescentar a essastrês fasesclássicas uma quarta FasetV Pacientes Ilimitado Aceitação
fase.a IV. Ap6!>a publicação dos resultados dos ensaios clíni- Eficácia
cosd", fa~e, anteriores cm revistas médicas especializadas. é Tolerabilidade
possíve! rcgi-rrnr o novo medicamento no país de origem e.
assim.aprová-lo para uso clínico. O medicamento já começa a
ser comerciullzudo. sendo possível efctuar UI11 ensaio clínico Para atingir grandes populações é necessário colctur informa-
defaseIV. essa fase. enfatiza-se a aceitação do medicamento ção por meio da notificação espontânea de eventos adversos
pelaclassemédica. bem como sua promoção c divulgação. Os possivelmenterelacionadoscom o usode medicamentose observa-
ensaiosdevem ser multicôntricos e o número de pacientes en- dos em lodo o mundo. Há certa harmonização internacional
volvidosé ilimitado, devendoabranger muitos pacientes c médicos do conteúdo e cor (amarela) do formulário para notificações
deregiõesdi fcrentes. A eficácia e a iolcrabi lidade geral do pro- espontânea . razão pela qual esse procedimento de Iarmacovi-
duto conrinuama ser avaliadas. bem COIllO a indicação pela qual gilância também é conhecido como "Método do Cartão Ama-
seobteveaprovação para uso c1ínieo no país. O número de en- relo". Os E~tad(ll> Unidos começaram com esse sistema em
saiosnessa fase tem crescido. uma vez que para os iniciar não 1961: a Jt.1liacm 1980 e Grã-Bretanha, Dinamarca. Noruega,
senecessitada aprovação de órgão nacional de ética em pes- Canadá. I ova Zelândia e outros países posteriormente. O uso
quisa,masvim ela aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa de [nrmulúrios é um sistema côrnodo, simples. de baixo custo
das instituições em que a pesquisa é realizada. reluti 1'0 e rendimento aceitável. Conseguem-se identificar proble-
A/ase IV tem por escopo estudar os efeitos da nova subs- mas de segurança de medicamentos, invcstigur a causalidade,
tânciacm condições cstri tarnenie pnit icas. Essas pcsqu isas de estabelecer a incidência (apenas a comunicada e não n incidência
campo são denominadas ensaios pré-indurórios ou estudos real) e Facilitar o comunicado sobre riscos e bencfícios.
x de introdução clínica. Visa-se. com isso. i\ obtenção de uma Esse tipo de observação padronizada COIllCÇOU a tomar forma
,o opinião média. em curto prazo e possibilitar a participação em 1968. O Programa de Monitoração de Med icameruos da
: ativa. no julgamento do medicamento. de UI1I número razoá- Organização Mundial da Saúde (OMS), com 10 membros fun-
~ vel de médicos. As pesquisas da fase I V. isoladas. não têm dadores, com sede nos Estados Unidos, organizou encontros
.;. valor, mas ~ão ncccssárinv como complemento às anteriores. regionais e globais entre as agências regulamentadoras dos
:lO O número aproximado de pacientes incluídos em cada fase vários países c entre os pesquisadoresdas universidades e centros
da pesquisa.para"maioria dos novos medicamentos.cstã expresso de investigação. Em 1977, iniciou-se o programa de medica-
naTabela 37.3. mentos essenciais, recomendando o uso daqueles medicamentos
de eficácia e dando importância aos aspectos de segurança do
uso de medicamentos. Em 1978, o Centro de Moniiorução da
fARMACOVIGllANCIA OMS foi transferido para a Suécia, em Uppsal.r, onde funcio-
Os ensaiosclínicos são feitos com controles cspccüicos e em na até hoje, aiualmente com 49 paíscs-rncmbros.
situaçõesdiferente).das habitualmente encontrada' no dia-a-dia Diversos métodos de pesquisa e de informação são usados
daclínica. Por isso. no uso rotineiro de um medicamento, em em farrnacovigilâncla, como estudos observacionais (coorte,
um grande número de pacientes podem ocorrer fatos não casos-controle.estudostransversais, estudosdecasos),monitoração
detectadosnos ensaios clínicos. Para que esses possíveis acon- intensiva dos pacientes e sistemas relacionados com a pres-
tecimento, sejam detectados o mais cedo possível é que são crição. Em certas circunstâncias. pode-se também planejar um
desenvolvidos 0\ programas de farmacovigilância. levantamento epidemiológico prospectivo, no qual o planeja-
A farmacoepidcmiologia. que estuda a distribuição dos rncnto preceda a observação e a ocorrência dos faros.
determinantes dos acontecimentos relacionados com os me-
dicamentos nas populações, é indispensável para a Iarmu- BIBLIOGRAFIA
covigilância, pois é uma área que combina métodos de pesquisa '\SLi\K. S.: NIELS. 11.: VtNJAR. F.: GEORGE. L. lo "Self rrcatmcnt with one of three
self SCICClCd,ultrarnolecular homeopathic medicines for lhe prcvcntion of uppcr
epidemiológicos com princípios de biocstruísrica c farrnaco- respinuory Irael infcctinns in children. A doublc-bünd rnndombcd placebo comrolled
logia clínica. Pode-se determinar a relação causal entre medi- Iria I" Sclf rreannem with one of Ihree ,dr selccred, ulrnuuolccutnr homeopathic
camentoe eventos adversos - caracterizando o CVCl1toC0l110 medicine, l'lI"lhe prevemiun ofllppcrl'C'op,r:lIory In,CI i"fcCli\)", in children.A doubte-
htind ,:ond"llIi/cd plJccho conrrolled Irillt.IJrilllll M.'d. J., Y. 59. p. 447-155. 2005.
umareação adversa própria do medicamento - bem como iden- BAUER. P. \luhll)lc llO"illla,yIrcaln1<nlcOll1pan_, b:L....-d on closed INes. Drug InJormalion
tificar caractcríst icas do, pacientes associados a maior probabi- J.• v, 7. p. CH)·(,SO. 1993.
lidade desscseventos. cm geral. os estudos são retrospectivos. BRAStL. ~II:o.tSTÉRtO DA S/\ÚOb. Resolução C;\S n. t96/96, de tO de Outubro de
tl),)6. ,ohre pcloquo<acnvotvcndo seres humanos. DOU l6ItOl96. t996.
analisandodados de grande:, populaçõe ou utilil.ando estudos
BRASIL. ~IINtST(;I(I() DA SAÚDE. RcsotuçãoCNS n.15 1/97. dc07 de Agoslo de 1997.
de mewnáli\c. <OO,~ pc..qU",3 enl'oll'endo .eres humanos pru:l 3 ~re3 Icmrtlicll de peS(tUiS3com
O mais empregado é o sistema de IIntijiraç(in espOllllÍllea. 00\0' fónllllcn,.tlIcdiclImclllo •. vacinas e le~l"" di3~nó'l ico.. DOU 23/09/97, t997.
pois. mesmo com todo o esforço em pesquisn e diversidade CONTt. L M. Z. En'aius Clfnico,.tn ZANINt.A. C.;OGA. S. (cd.). FllfI/lIlCO/ogiIl11Illiau/lI.
S:l.. I'.III,1; AlhclI~lI. p. 671·680. 1994.
do tipo de observação. há reações adversas que ainda perma- FLETCUER. R. H.; FLETCHEI!. S. W.; WAGNER. E. H. F.pitlnlli/ll/lglll CI(II;'.,,: ,'Iel//{'II'
necemdespercebidas, principalmente as de incidência rara. III' ".,,,,,";ai.<. l'onCl Alegre: Arles Médica<.1996. 28tl',
370 • Tratado de Clínica Médica

LASACiNA.1.. Research rcgulation, and dcvcloprucnt of ncw pharmaceuticals; pa>1. presem o desenvolvimento da especialidade farmacoeconomia está
and futurc.Purt II. 11m. J. ,11,'11.Sei ..v. 263. p. 66·78. 1972. relacionado com a disponibilidade de medicamentos durante
LESERMAN. L: KOCII. G. Revicw of sclf-report dcprcssiun and anxicl)' rneasurcs,Dm/!
IlIforllllllioll J.. v, 27. p. SJ7·S48. 1993.
o século XX e com mudanças que caracterizam fases distintas
f>LUl'CIIIK. R.: PLATMAN. S. R. Threc ahcrnatives 10 lhe dooblc blind. /I!Th. Cm. de comportamento/reação da sociedade em relação à disponi-
I'syclliOll'Y. v. 20. p. 428·432. 1969. bilidade e ao acesso a medicamentos:
RICKLES. K. Placebo therapy. lnt, I'hllnnocop'Jd.iatr)'. v. 3. p. 196·202. 1969.
SHAPIRO. ii. K. Thc placebo effects iII lhe history of medical treatrnent: imptications for • Até o início do século XX havia poucos medicamentos
psychiatry. AIII. J. Psychiatrv, v. 116. p. 298·303. 1959.
eficazes. em geral de fácil acesso a todos os níveis sociais
WORLD MEDICALASSOCIATION. Declaration of Helsinki - Recommendations guiding
physjciallsjn biomedical researchinvolvinghumao subjects. ln IVHO Drllg/llfamUlIÍlHI. da população.
v, 6. p. 1&6·188, 1992. Adopied by the 18Th \Vorld Medic:.1 As,cmoly. Hclsinki, • Na metade do século. nas décadas de 1940 a início de
Finland 1964. Arnended o)' lhe 291h "'orlo Medical AS5cmbl)'. Tokyo. 1975. 351h 1960. aumentou o número de novos medicamentos, mas
\VoeM Medical Asscmbly, Venicc. 1983 and ~I,I "'orld Medical Asscmbly, Hong
ainda havia relativo equilíbrio entre orçamento da saúde
Kong. 1989.
"'ORI.D IIEAI.TH OROANIZATION. Proposcd "'110 Cuiuclincs for Good Clinical e gastos com os tratamentos disponíveis.
I'rocticc (OCI') for Irinls on phnrmaccurical products. IVI/() 1)n<R IlIfor",atioll. v, • Ao final da década de 1960 e início da década de 1970.
6.1)·170·186.1992. nos países em desenvolvimento, a população mais pobre
já não conseguia ter acesso a lodos os medicamentos
disponíveis. Foram iniciadas polfticas governamentais
de racionatteação de uso (medicamentos essenciais e
CAPiTULO 38 Iormulãrios). selecionando medicamentos COmbase em
comparação entre preço e eficiência de tratamentos. Essa
política de "listas de medicamentos essenciais", neces-
sárias para atendimento global da população, tem caráter

Farmacoeconomia restritivo, na medida em que impede acesso aos medica-


mentos que não estão na lista.
• A década de 1980 marcou o direcionamento de governantes
Antonio Carlos Zanini e administradores de saúde a otimizar a aplicação de recursos
com estudos comparativos entre medicamentos com ação
semelhante, precipitando o desenvolvimento científico da
Marcelo Wadt farmacoeconomia COmOciência.
• Nas décadas seguintes. final do século XX e início do
século XXI. a necessidade de maior lucro dos investidores
INTRODUÇlo motivou fusão de empresas e conseqüente concentração dos
Fannacoeconomia, 1(110 sensu, é a aplicação da economia no investimentos em pesquisa e busca de monopólios e oligo-
estudo dos medicamentos. pól ios de tratamentos. O envolvimento da indústria na farma-
A definição da mesma ma léria, stricto sensu, abrange aspectos cocconomia resultou em extraordinário interesse e no
diversos. que dependem do objetivo dos estudos: marcante desenvolvimento dessa área da farmacologia.
• Se o objetivo é o interesse social, a Iarmacoeconomia visa As primeiras listas de medicamentos essenciais podem ser
ii otimização do uso de recursos financeiros sem que haja consideradas como marco inicial da farrnacoeconomia, pois.
prejuízo da qualidade do tratamento com medicamentos'. embora ainda de modo empírico, eram comparados benefícios.
• Se o objetivo é a política nacional de medicamentos, a riscos' e custos de tratamentos. Desde seu início e até hoje
fannacoeconomia deve estudar estratégias e procedimentos ainda são frequentes as decisões de seleção de medicamentos
dos governos quanto aos interesses internos do país por grupos de peritos "por consenso".
(disponibilidade de medicamento, autonomia, gestão de O Brasil foi um dos pioneiros nos estudos de avaliação eco-
saúde e influências sobre a qualidade do atendimento à nôrnica da utilização dc medicamentos. por meio da política
saúde), bem como a avaliação das decisões e procedi- de medicamentos essenciais. Em 1970, um pequeno grupo de
mentos de países ex portadores. sanitaristas. liderados por Mozart de Abreu e Lima e Orlando
• Se o objctivo é o investimento financeiro (que reflete O Ribeiro Gonçalves. iniciou a seleção de alguns medicamentos
interesse dos donos e dos acionistas da indústrias far- para ser distribuída à população de baixo poder aquisitivo.
ruacêuticas), a furmacocconomla é ferramenta auxiliar Esse grupo também estruturou um novo órgão, a Central de
para aumentar o retorno dos investimentos, ou seja, o Medicamentos (CEME). oficializada em 1971. Nos anos que
aumento do lucro. se seguiram. a CEME foi adquirindo maior força até que, em
1977, foi oficializada uma "Relação de Medicamentos Básicos
Interesse social. investimentos financeiros e política são
(RMB)", tornada obrigatória para lodo o sistema previdenciário
áreas interativas, sendo difícil estudar custos de medicamentos
do país". Em 1980. o nome mudou para "Relação Nacional de
atendo-se a uma dessas áreas.
Devem-se ainda considerar aspectos micro e macro da Medicamentos (RENAME)". nome que o país adotou nas dé-
cadas seguintes. Os países andinos, também no início dos anos
farmacoeconornia:
1970, iniciaram sua scleção de medicamentos essenciais. Outros
• A microfarmocoeconomia estuda aspectos econômicos e países da África e Ásia seguiram o exemplo, sendo cada vez
resultados obtidos com o uSO de um medicamento em maior o número de adeptos.
circunstâncias diversas. ou compara poucos medicamentos Em 1976, roi realizada a primeira reunião de-peritos da Orga-
utilizados isoludarnente ou inseridos cm protocolos de nização Mundial da Saúde (OMS) para orientação de condu la
tratamento (focalizando doenças ou sintomas). aos países membros e elaboração de uma "lista modelo" de
• A III(/Cm!lIrIllGCOeCOI/OIII;a analisa aspectos epidemioló- medicamentos essenciais).
gicos. por intermédio de pesquisas ou de "decisões por Na Europa, nos Estados Unidos e em alguns outros países. a
consenso" de grupo de especialistas que avaliam risco/ busca dos tratamentos mais baratos sem prejuízo da qualidade
benefício/custo de equivalentes terapêuticos. seguiu caminhos diferentes: os povos escandinavos (Finlândia.
Farmacologia • 311

Islândia. 'oruega. Dinamarca e Suécia) adoraram :1 Need Clause Custos


(cláu ula de necessidade), segundo a qual esses países não con- Pt09, ..mlS ou procedimentos
cediam licença para comercialivação de novos medicumeruos ~m (uJd~os • $Judt
cujo custo n50 compcnvawc sua utilidade social':': onde exis-
tia grande diversidade e autonomia de instituições. como nos
Estado Unido. foi instituída a politica de [onnulârios, em
tudo semelhante à política de medicamentos essenciais da OMS.
exceto pela abrangência da, decisões.
A diferença entre "medrcarncnto-, csscnciuis" e "formulários"
é que o primeiro .. di/cm rcvpcito ti políticas governamentai ... Figura 38.1 - Esquema de avaliação farmacoecon6mica
nacionaiv ou c'taduai, de vaüde. enquanto os fonnulãrios são
limitado a :lpcn:" uma ou a poucas lnstltuiçõc».
cwc enudo. C;IOc lembrar que os r(lrl11ul(lri(l~ existiam A unrllivc Iarrnncncconôrnicn cnglohn os custos totais de
de de o início do vcculo X X. mas ti nhum buse upcnns em cri- um tratamento. dos quniv () custo de aquisição é npcnas um
tério de comparação, "clI/henef(eio de mcdicumentos. Foi do, ralOrel> conviderudos I1U estudo. Silo também levados em
somente na década dc 197() que 'e iniciou restrição de dispo- conta u' concchos clfnicos de cflcãcia. scgurunçn e quulidudc
nibilidade de medicamentos cficnzcs COIll base nu unülisc de cm proccvvov dc as!.istêncill :,ullitlÍrill. jll11111 mente com alome-
riscos. bcncffcios e CU~W1>. dida, dc custo da economia.
~ A avaliação Iarmacocconômicu, Iumlumcutada cm estudos A furmucocconomiu pode ser dcfinidu C0l110 a "aplicação da
~ científicos bem plnncjudos. foi marcada pela introdução de teoria econômica à Iarmucoterupiu' ou "avaliação econômiea
~ três ferramentas indispensáveis: (I) luinnonitação de nomeu- do medicarneruo'", Contribui para o uso racional do medica-
~ clatura. iniciada nos Estados Unidos já no século XIX e. em mento ao incorporar o custo aos quesitos de segurança, eficácia
ee nível intemacional.Iiderada pela Organização Mundial da Saúde e qualidade das diferentes terapias medicamentosas e a busca
desde a década de 1950. pelo lnternational Nonproprietary pela melhor relação entre custos e resultados. Embora empre-
Nomes(lNN) ou Dénomiuations Communes lnternacionales gando a palavra "fármaco" em sua nomenclatura, apresenta
(DeI): (2) harmonização da ctassificação de medicamentos, ferramentas que podem ser utilizadas igualmente na avaliação
liderada pelos povo escandinavos na década de 1970. como de medicamento . programa de saúde e sistemas administra-
o u o de uma clasvificação anatômica terapêutica química tivos. desde que observadas as devidas características de cada
(AnalOmiC" Therupeutir Chemiru! Ctassifiratian, ATC): (3) har- setor, Penamo. qualquer e tudo que vive 11"orimização de recur-
monização 11'/IT/r/1 til' medida dI' IIW. por meio Do ..c Diária 'o,". inclusive ntividadcs de ge\liio. cvrudos de utilização.
Definida tDefined DlIIl, DII\/I~/'. DOO). conceito também intro- incentivo à produção e até mcvrno a pulltica de genéricos, pode
du/ido pelo, povo-, cvcandrnnvuv. rrunsformar-se cm a\ nliação cconômica de mcdicumemov, pois.
o Brasi]. a\ harmoruvaçõc-, de nomcnclutura e de clawi- sob o ponto de vi tn -ociat. a turmucocconomla tem por objetivu
ficação imcmrnm apcnn-, cm II)X I". !>urgilido posteriormente. reduzir /'1/\/0\ 11'111 lmpticarn« penl« dt' qu(/lidade do traunnento.
em 19 3. a\ Dcnominaçõc-, Comuns Brnsileinrs (DC8). Pela avaliução Inrrnacocconômicn podemos encontrar rcs-
O ano de 1973 marca li iruroduçã« do item "estudos de posta para quevtõcs corno":
utili/JIÇ"lodcmcdicamcntov" (1)1"1/8Utilimttan; 110 Index Ml'llicl/J.
com a corre-pendente evolução dcssu ~reu da Inrmacologia • Qual a melhor opção rcrapêuricu para uma determinada
aplicada. Em 1995. foi fundada II lntcrnuticnul Society for doença. sob o binómio qualidade-custo?
Pharmacoccencmicv and Outcomcs Rcscurch, que foi decisiva • De que forma a qualidade de vida do paciente será afe-
na implementação da farmacocconomin Çl)1I10 especialidade cien- tada por uma opção terapêutica?
tífica da medicina. Observe-r c que o próprio nome da sociedade • Qual será o custo de prolongar a vida de um paciente por
já sugereo vínculo da farrnacocconomin COI11 resultadosda evolução meio de um determinado trutumento? Tal custo é justi-
dos pacientes. ficável sob aspectos clínicos c de qualidade de vida. quando
o final do século XX. cm diversos parses, estudos compu- esses parâmetros são comparados II outras alternativas
rativ de rncdicamcmov, incluindo custes e resultados de trata- terapêuticas?
mento. pa saram a er obrigatórios para o registro de novo • Quais medicamentos compõem as melhores alternativas
medicamento. condição que exige cada ve~ muis investimentos para a claboração dc formulário de uma região, institui-
da indústria farmacêutica nes!.e lipo de pesquisa. ção Oll programa de saúde?
Modern3menle. o dc,en\'olvimcnto da medicina com ba e • Para uma indústria farmacêutica. um novo medica-
em evidênci3s (~I BE). facilitando cstudos de caráter epidemio- mento em fa e de pesquisa será vi:ivel, sob o binômio
lógico. aprimorou comparaçõe~ entre tratamentos e deu maior qualidade-cu~to. para justificar (I continuidade de seu
fundamento parJ dt:ci,õe, de ge!.tão de saúde'. de!.envolvimenltl?

A Figura 38.2 moma o que est:i implicado em uma avalia-


.vlllAçlo FIR.ICOlCOMOMICI ção econômica. O Cl/~IOS reprcsentam os investimentos finan-
ccim-cm saúde. Ele. podem ~erdirt'to,1(facilmente idcntificáveis
Conceitos c atribuívei ...à, açõel> a. ~i~tenci(lb - pessoal. materiais. me-
A aV31i3ç:1ofarnlaCt>ccont"1I11ica.ou a pesquisa cm farmacocco- dicamentos. exames etc.). illdire/(l.1 (não!>e relacionam de forma
nomia. objell\i1 .dcnllficar. mcdir i! comparar os (·I/SIII.\ (rccur:o.m. imediata com a a,:.btência ao paciel1te. eomo nbsenteCsmo,
con~umido' com pmduw' farmad!utieus. serviço, e outro, admini,tr:açii(l eentral. ellergia elétriCII etc.) e inlllllglvels (são
ga\lo~ dircto, e ,nd,reto\ de um trulllll1ellto) e as ('()/ls('qUê"citl,f <;ubjetivo, e dif(ceÍ!. de men~urnr - dor, sorrimento). Os belle-
(econ6mica,. clln,c:I\ e hUll1anf:.tiells) provenientes de sua fícios. por ,uu velo podem !ocrecolló",icos (economia ou beneITcios
utilil3ção. ~ um in,trurnentu que ajuda a scleei\JlI:1r :as OpçÜClo econõmico,) c /1(10 ('c(J/I(}lIIico~ (por exemplo. efeitos na saúde.
mais eficiente, (com boa relaçilll custo/ereito) i! pode ajudar anos de vidu ,uivo:.. qualidade de vida).
na diwibuição do, recur~o, 'ilnitllrios de forma mais justa e Obl-en'e-se que II comprcensflo global dos efeitos sobre ri uti-
equilibrada (Fig. 38.1). li7ação de medicamentos nflo se dá Opelll1Scm nrveis clínicos,
372 • Tratado de Clínica Médica

AVALIAÇÃOCLiNICA ECONOMIA TABELA 38.1 - Tipos de análises farmacoeconômicas


Eficácia/segurança/qualidade Custo
TIPO DE ANAuSE MEDIDA DOS CUSTOS MEDIDA DOS RESULTADOS
<, FARMACOECONOMIA-: Minimizaçao de S Unidade monetária = Efeitos equivalentes
Análise de minimização de custos custos
Análise custo-beneficio Custo-benefício S Unidade monetária $ Unidade monetária
Análise custo-efetividade Custo-efetividade S Unidade monetária o Unidades clinicas
Análise custo-utilidade habituais
Custo-utilidade $ Unidade monetária e Quantidade e qualidade
Figura 38.2 - Avaliação econômica em saúde. Adaptado de de vida (anos de vida
Robinson" saudáveis)

mas também em econôrnicos c sociais. O termo beneficio; se justifica onde as alternativas de programas 011 terapias com-
quando empregado, reflete seu uso pelos especialistas em paradas produzem resultados clínicos equivalentes, como em
economia. gerando. às vezes, alguma confusão para os pro- tomadas de decisões de guias farrnacoterapêuticos":". Quando
fissionais da saúde'. os resultados das intervenções não são os mesmos, não é pos-
sível proceder 11 análise de minimização de custos. Um exemplo
• Em economia, benefícios são conseqüências do uso de
medicamentos mensuráveis financeiramente; por exemplo: da análise de minimização de custos é a análise dos custos da
(I) bons resultados na saúde que permitam manter ou
administração de um mesmo medicamento por diferentes vias
de administração':',
aumentar a produtividade humana individual e coletiva
A Análise Custo-Beneficio faz a relação entre os custos
ou (2) condutas terapêuticas que reduzam a necessidade
associados ao tratamento e os beneficlosfinanceiros gerados
de recursos mais elaborados e mais dispendiosos.
por ele. Todos os custos (investimentos) e benefícios (conse-
• EIII saúde, benefícios são os efeitos dos medicamentos
qüências) das alternativas são mensurados cm termos mone-
sobre condições físicas e psíquicas do paciente: por exemplo:
tários. Exemplos: (I) u relação entre os custos de um tratamento
(I) melhoria da qualidade de vida ou (2) redução da
c a economia de recursos proveniente da diminuição do tempo
morbidade e mortalidade.
de internação dos pacientes: (2) os custos de um programa de
A confusão de objetivos persiste nos danos: vacinação e os recursos produzidos pela diminuição do nú-
mero de faltas ao trabalho ou do número de internações hos-
• EII/ economia, más escolhas de produtos ou opções de pitalares; (3) os custos de um programa de tratamento precoce
tratamento podem resultar em valores financeiros perdidos de doenças diante do tratamento tardio ou de suas complica-
quando a opção escolhida se mostra mais dispendiosa
ções etc.
do que a opção rejeitada. ou quando reações adversas
O problema com esse tipo de análise é a dificuldade de atri-
levam a custos adicionais de tratamento. ou quando o buir valores monetários aos resultados e não permitir comparar
uso irracional de medicamentos gera o esgotamento precoce simultaneamente produtos com mais de uma indicação. Os
de recursos financeiros. benefícios intangíveis, como a expressão subjctiva da sensação
• Em saúde, danos são reaçõe adversas provocadas por medi- de saúde de cada paciente e o valor da vida humana. obvia-
curneruos. com prejuízo do organismo ou da qualidade de mente são muito difíceis de expressar em termos monetários.
vida. Além disso. a avaliação dos benefícios para pessoas que não
desenvol vem uma atividade econôrnica fica prejudicada. Assim.
Técnicas de Pesquisa e tal análise tem sido muitas vezes çriricada por ignorar impor-
Avaliação em Farmacoeconomla tantes benefícios resultantes de programas de saúde c por Se
concentrar nos itens de fácil mensuração. Inicialmente foi a
Para realizar a avaliação farmacoeconômica podem-se utilizar análise mais usada. mas devido à baixa aceitação dos profissionais
diversas metodologias. desde a simples análise de minimização de saúde de atribuir valores monetários à vida humana, atual-
de cus/o. isto é. a escolha da melhor de duas alternativas que mente a análise cu to-efetividnde é mais comum.
tenham efeitos idênticos até as análises mais complexas de A Análise Custo-Efetividade preocupa-se com a relação entre
cII.WO-/)I'"(1Tcio. custo-efetividadc e custo-utilidade (Tabela 38.1). os custos de um tratamento e seus benefícios clínicos (efeti-
I\S técnicas de avaliação seguem os passos mostrados na vidadc) ao paciente. Os resultados são expressos em unidades
Figura 38.3. a qual também salienta que elas podem variar não monetárias. 011 seja. em termos de melhoria da saúde ou
conforme o objetivo e a perspectiva da análise. Dessa forma, o unidades naturais (anos de vida ganhos, vidas salvas. curas
resultado Iarmacoeconôrnico não tem poder decisório sobre clínicas. dias livres de sintomas ou dor, custo/hora do tempo
uma política de medicamentos. mas oferece mais um impor- da enfermagem, custo/milímetro de mercúrio alterado da pressão
tante fator a ser considerado. arterial). Exemplos: relação entre os custos de tratamento com
Os dados para as anãlises Iarmacoeconômicas são encon- diferentes anii-hipertensivos e os respectivos graus de efeti-
trados em ensaios clínicos controlados (estudos randomizados), vidadc em diminuir a pressão arterial dos pacientes; custos de
estudos observacionais, modelos econôrnicos (fontes primárias) diferentes tratamentos quirnioterápicos para o câncer e seus
e estudos retrospectivos (opinião de especialistas clínicos. ava- respectivos graus de efetividade em salvar vidas ou em pro-
liações de uso de medicamentos. que são tidas como fontes longar os anos de vida dos pacientes.
secundárias). Para poder aplicar técnicas da epidemiologia à farrnacoe-
A Análise de Minimitação de Custo é utilizada quando o conomia. isto é, para os trabalhos em farmacoepidemiologia,
resultado de duas ou mais intervenções é igual em suas con- foram harmonizados conceitos teóricos para desenvolver "fer-
sequências clínicas, servindo para comparar somente os inputs ramentas" de comparação entre medicamentos com caracte-
ou custos de cada alternativa. E a forma mais simples de análise. rísticas diferentes. como por exemplo comparação dos riscos/
pois considera somente os custos (geralmente só os diretos), benefícios/custos dos anti-hipertensivos metildopa e captopril.
urna vez que os resultados são iguais. Esta maneira de abordar Para isso, lixa-se o objetivo da avaliação. que pode ser doença.
Farmacologia • 373

sintoma. síndrome ou efeito c se utiliza uma dose média apro- , ObjelivO$ do estudo -,
ximada urilizadn no tratamento diário de pacientes. poden-
do-se comparar dois produtos ou os produtos dentro de uma 1
elas e terapêutica. I An.lli,. do, olt.,"otlv .. I
A Alltílife Cusm-Utilidaae, por intermédio de pesquisas l
prévias sobre qualidade de vida e preferêncius da população. P.nPt<llv. d•• n.ll".
leva em considcrução a comparnção entre os ('11.\111.\ de um · Adm,n,modor: Inte"mdo .m r.'ullodos 1"1011<.110$
(.n.ll". culto·beneflclo)
tratamento e seus beneflcio« 1'11/ flllalidade de vida relacionada à
SOlide (utilidade) 30 paciente. bem como 0\ riscos de reações
· (I,nl<o: In.. ,enado em ",ui todos clol1l(os(.~Io..
(ulto·.fellvldode)

adversas. É o método que adiciona satisfação e preferência do · P6<,.nt.: lnl.,e,,,,do .m ,.,ultodos d. qu.hd.d. de
.,d. (.n611,. cuSlo·utllld.dt)
paciente à análise de custo-efetividade. Exemplo: relação entre J
os custos de diferentes tratamentos para o cãncer c seus respectivos Tipo de .n.Ii,.
índices de qualidade de vida relacionada à saúde para os anos Minimizl(ao de (ustos

de vida que foram salvos: custo de um tratamento para artrite


reumatóide e a qualidade de vida relacionada à saúde que (I
.. Cuno·beneflcio
CUSlo·e'etlvid.de
CUSlo·utllldad•

paciente passou a ter com a redução da dor e melhoria da 1


mobilidade. Na análise Custo-Utilidade calcula-se o quanto custa AnAliso dOI resultados
se obter um "ano de vida saudrivcl" com difcrcnies tratamen-
tos, ou seja. incorporam-xe II quuutidude e li qualidade dos ICOO(luIOOI I
anos de vida que Foram salvos por lIlIl trarurnemo. Os resul-
tados (OllfplltS) são expressos (;()1Il0 o custo pelos anos de vida Figura 38.3 - Etapas de uma evaltação farmacoeconõmica
SOlidáveisou (II/OS de vida (1)11.1'((1(/0.1' por qualidade (quality
adjusted life years. QALY). OS QALY são calculados pelos
anos de vida ganhos multiplicados por um índice de qualida- o conceito de DDD é de diffcil apl icação (por exemplo, produtos
de. A medicina moderna csui preocupada com a melhoria da injerávcis ou pomadas). Utiliza-se, então, uma expectativa de
qualidade e não apenas com a quantidade de vida'o.,2.". uso médio. incluindo perdas, dar propor-se a denominação Dose
Um trotamento que oferece um ano de vida saudável ao paciente Diária de Uso (DDU). A DDD e a DDU convertem dados de
está produzindo um QALY. Um tratamento que oferece dois produtos e posologias diferentes em parâmetros comparáveis.
anos de vida com saúde regular (índice de vaúdc igual a 0.5) Em grande populações. o consumo de medicamentos é ex-
tambémestá produzindo um QALY. Assim. obtem-se uma unidade presso em 000/1.000 tiabitantes/dt«. Em bospirnls. utiliza- e
que agrega quantidade e qualidade de vida :1 um valor comum a 000 por 100 teitos/dia.
(Fig. 38.4). Além dessas medidas tcóricus. é importante também atentar
Percebe-se. então. que a análbe farmacocconômica considera para a pos ibilidadc de sucesso COI11 cada tratamento, isto é,
os fatore econõmicos da utilização dc medicamentos, porém o Número Necessário /}(I/'{/ Trotamento (NNT),que é um indicador
não exclui o resultados clínicos c humanísticos como obietos de eferividadc para os cálculos de custo-efetividade, conside-
importantes da avaliação. O verdadeiro valor de uma inter- rada uma forma eferiva de representar os benefícios clínicos
venção ou política pode ser atingido somente se medidas e de urna intervenção segundo os conceitos da medicina com base
consideradas toda, as dimensões do resultado. Dessa forma. o cm evidências'.
critério cconõmico não pretende exercer um poder definitivo. O NNT representa o número de pacientes submetidos 11mesma
terapia necessário para obter um único desfecho favorável.
Com isso. o custos com truturnento malsucedido (não efi-
Ferramentas Auxiliares caz ou que foi interrompido ou abandonado, por exemplo,
da Avaliação FarmacoeconOmlca por rcaçõcs adversas) silo incluídos lias estimativas de gas-
Emqualquer estudo farmacológico. o primeiro passo é o conhe- tos quando um dctcrrninudo medicamento é escolhido para
cimento da denominação J.ll!lIérica do medicamento e seus tratar grande número de pacicrucs. Por exemplo. no trata-
sinônirnos, pois a mesma substância pode ser conhecida por mento da disrimia durante um mês obtiveram-se, em 2004,
diferentes nomes e grafias, (IS vezes peculiares a cada país. os valores citados na Tabela 38.2.
Por exemplo. a dipirona (Brasil) é sinónimo de metarnizol Nos casos em que a intervenção resulta em maleffcio, o
(Organização Mundial da Saúde). indicador é o Número Necessário para o Maleflcio (NNH),
As comparações entre medicamento ...geralmente são vincu- qUI! representa o número de pacientes tratados por evento adverso

lada a uma mesma indicação terapêutica. A mais aceita. em (I/anll) observado. Éconsiderada uma forma efcriva de representar
todoo mundo. é a Anatomir- Therapeutic Chemica! Classification os risco. de malefício em alguma forma de intervenção'.
(ATC). na qual a primeira letra coincide com a ela) ificação
anatómica do corpo humano c local de ução do medicamento". Análise de Senslbllllldade
i o Brasil. pode ser empregada também lH11<1 variável dessa Observe-se, contudo. que pequenas variações de efetividade podem
classificação". denominada "alfa" (alfa de alfabética). cuja base alterar os resultados. Por isso. deve ser feita uma análise de
é a me ma ela sificação ATC dos povos escandinavos. utili- sensibilidade para vcri ficar a consistência dos resultados, ou
zando as iniciais dos nomes em portuguê (por exemplo, em seja. o quanto eles permanecem estáveis diante de modificações
vezde "B" de blood usa-se a letra "S" de sangue). mas seguindo dos dado de origem.
principalmente critérios terapêuticos. A farrnacoeconorniu permite con truir algoritmos e árvores
Para avaliar o uso de diferentes rnedicarnemo com mesma de decisão complexas. elaborar hipóteses com variáveis aparen-
indicação terapêutica e para fazer controles histéricos de ten- temente precisas. mas a triste realidade é que pequenas diferenças
dências, adora- e a Dose Diúria Definida (DDD). A DOO de na entrada de dados podem levar li resultados contraditórios.
um medicamento é a quantidade desse produto definida por Não é difícil maquiar resultados de estudos Iarmacocconômicos
especialistas como a dose média diãrla recomendada na sua introduzindo apenas discretas alterações nos números da efi-
principal indicação para adultos. Em diversos casos. contudo. cácia (ou sclccionando trabalhos favoráveis).
374 • Tratado de Clínica Médica

Estado

de.aÚd:~

0.5 1
QALY
0.5
'b_
1 QAlV
0.7 AHvio da dor
0.5
1.4 QAlV
• Avaliação da tolerabilidade

O caso.
no tratamento.
• Estudos de Iarrnacoeconômicos.
• Avaliação do impacto no orçamento público, quando for

• Avaliação das taxas de reembolso (países que adoram


tal sistema).
1 ano 2 ano' Tempo 1 anO 2 ano. 1 ano 2 ano.

Figura 38.4 - Anos de Vida Ajustados por Qualidade (QAlY) e


INVESTIMENTOS E POLITICAS GOVERNAMENTAIS
a relação com o tratamento
Medicamentos como Bens de Consumo
Um modelo teórico de análise Iarmacoeconômica por custo- o medicamento. industrializado ou manipulado, é um produto
efeiividade
mostra o modo como pode ser feita: de alta tecnologia. geralmente fruto de pesquisa e avanços
científicos, com a função social de resolver ou melhorar um
• No Hospital Z (Fig. 38.5), pneumonias por Bacterium estado ruim (doença) de alguma pessoa, conduzindo-a para
sp. são tratadas ntualmcnte com Yelhocilina a um custo um estado melhor (saúde). Todavia. a maior parte da produção
total de $ 200 por ciclo de tratamento. A eficácia é de mundial de medicamentos está nas mãos de indústrias de capital
80%. sendo verificada hepatotoxicidade (custo da hepatoto- aberto ou privado. que têm no lucro o seu maior objetivo,
xicidade = $ 2.750) em 5% dos pacientes tratados. Nos Donos ou acionistas vão fazer suas aplicações onde o retor-
20% dos casos em que a Yelhocilina falha. é necessário no for mais promissor. A opção de investimento não é ato de
empregar Supercilinu. antibiótico com 99.9% de eficácia. caridade, mas mera opção em que, por exemplo, são equipa-
mas com um custo de $ 2.500 por ciclo de tratamento. radas fábricas de medicamentos, empresas de informática e
Ainda assim. 0,1 % dos pacientes falece (custo do óbito fábricas de sapatos ou de móveis. Se os diretores de uma
= $ 500) em conseqüência da infecção. Obtém-se o custo indústria farmacêutica não gerarem lucro para os acionistas,
total médio de $ 837.56 por paciente tratado com obviamente serão substituídos. Na prática, o medicamento é
Vethocilina. considerado pelos industriais como uma mercadoria inserida
• Se :t comparação for feita com a Novocilina, que tem na lógica de produção e consumo, como qualquer outro pro-
eficácia de 95%e. portanto, com diminuição dos custos nos duto. Segundo Lisboa et at. 17, o medicamento na condição de
casos de falha. obtém-se o custo total de $ 725,03 para bem de consumo é qualificável segundo a possibilidade de o
a Novocilinu: é preferível utilizar Novocilina (Fig. 38.6). consumidor observar seus atributos de qualidade, antes ou depois
• Mas se eficácia da Novocilina for reduzida em 5%, con- da aquisição, dentre as possibilidades seguintes:
siderando agora a eficácia de 90%, obtém-se o custo
total de $ 850,05 por paciente: a Novocilina passa ser o • Bem de busca: quando a qualidade do bem é verificável
tratamento mais caro (Fig. 38.7). antes da compra (roupas, livros).
• Bem de experiência: quando a qualidade do bem é conhecida
após sua compra (alimentos. programas turísticos).
Avaliação Pré-registro do Medicamento • Bens credenciais: quando o consumidor não é apto a avaliar
Urna quarta avaliação sobre novos medicamentos. adotada em 011 escolher o bem por si só e necessita da ajuda de um
vários países. complementa as três tradicionais "qualidade", profissional qualificado para certificar-lhe a qualidade
"eficácia" e "segurança". É a avaliação Iarrnacoeconômica (serviços advocatícios, serviços médicos).
compreendendo o novo medicamento e aqueles existentes no
Os medicamentos encaixam-se na última categoria. A natureza
mercado para a mesma indicação clfnicu segundo alguns
credencial atribui ao medicamento característica não comum à
parâmetros descritos ti seguir: maioria dos bens de consumo, pois seu consumo depende de
• Levantamento do mercado. escolha exercida por um terceiro personagem que não é nem
• Disponibilidade de outras terapias. o vendedor, nem o comprador do produto; quase sempre é um
• Quantidade de pacientes-alvo do tratamento. médico. Isso é conheéido como assimetria de informação.
• Impacto orçamentário da doença. A finalidade ideal do medicamento, que é a saúde pública.
• Importância do medicamento e se é um caso de medica- acaba por ser aproveitada como instrumento de marketlng, Esse
mento para "bem-estar" ou de uso opcional. valor simbólico em saúde, atribuído ao produto medicamen-
• Preço do tratamento dos concorrentes "tradicionais". to, é aproveitado pelos produtores para valorizar suas marcas
• Preço do medicamento novo em outros países. por meio de estratégias de promoção e convencimento da classe
• Avaliação da relação custo-benefício. médica: agem principalmente com os profissionais de maior
renome. tidos como formadores de opinião.
Outra forma de promoção, a propaganda direta ao público
TABELA38.2 - Exemplode custo diário para obtenção de. na grande mídia de medicamentos de venda livre, também se
êxito no tratamento da distimia. por subclasse terapêutica" configura um caso .de assimetria de informação. Embora não
MtOIA DOO PREÇO P/UM haja a figura do prescritor para exercer a escolha, o consumidor,
SUBCLASSETERAP~UTlCA NNT 2004 (RS) ~XITO (RS) com frequência, não está apto para julgar a real necessidade
Inibidores da 2,9 2,66 7,72 de uso ou validade do produto.
monoamina oxidase (IMAO) A comprovação dessa situação real é que; nas estatísticas
Inibidores da recaptura da década de 1990, investimentos em pesquisa alcançavam
de monoaminas 4,3 2,25 9,69 cerca de 20% do faturamento da empresa, 1\0 pl\SSO que os
Inibidores seletivos da investimentos em promoção atingiam 30%IR.
recaptura de No Brasil, observa-se ainda grande volume de lançamentos
serotonina (lSRS) 4,7 2.89 13.57
comerciais de marcas e apresentações, mas na maioria sem
Diversos (atípicos) 3,9 5.58 21,75
novidades terapêuticas.
Farmacologia • 375

Sem hepatotoxicidade (95%)


"' S200 x 80% x 95% = S152 .J

Com hepatotoxicidade (5%) (S2.750) • - - - - - - - - - - - - - ,


.........
-------------- 1Io. S2.950x 80% x 0,05% = Sl18 .J

Cura (99.9%)
.,,--"':';_";_"':';_---" ~ S2.700 x 20% x 9S% x 99,9% • S512.49J
Figura 38.5 - Exemplo teórico de ár-
vore de decisão, se o antibiótico Óbito (O.t %) (S500) • - - - - - - - - - - - - - - - - J,
~
........
---'--'-'---'-.. Sl.200)( 20% )(95% x 0,1% • SO,6t
velhocilina mostrar eficácia de 80%
a um custo de tratamento de S 200 Cura (99.9%) •~ - - - - - - - - - - - - - - - - J,
(usa-se o cifrão para designar qual- ----'--'--'---- S5.450x 20% )( 5% )(99.9% • S54,40
quer tipo de moeda)
ITotal = S837.56 I Óbito (O,t %) (S500)
S5.950)( 20% x 5% x 0.1% = SO.06
~---------------j
Dentro dos sistcm as de investimento e lucro. vale a pena Obter dados de custo de uma doença. ou seja. o dispêndio
destacar o problema da patente e características espcciuis do monetário que o estado de doença acarreta ao paciente e àqueles
~ mercado de produtos furrn acêuiicos. Para a maiori n dos pro- que o cercam, pode ser qucsrionãvcl corno unãlisc dos custos
~ dutos, a patente protege os resultados oriundos de seus invés- de medicamentos. quando se pressupõem comparações entre
;; timentos em pesquisa. Para u indüstri .. r..nnacêunca, quando tratamentos e resultados obtidos. No entanto, saber qual a ordem
8 o medicamento tem nova indicação a patente pode representar de grandeza monetária. sobre a qual se pretende uma inter-
:2 a posse de monopólio do tratamento. Para garantir esse mono- venção, deve anteceder :IS análises farmacoeconômicas pro-
pólio, é importante saber que. visando ao lucro. medicamentos priamente ditas.
antigos, de grande valor terapêutico e baixo custo, são critica- No custo da doença somam-se os custos diretos, aqueles direta-
dos. às vezes pelo próprio produtor. com a finalidade de con- mente relacion udos com o tratamento e indiretos, quando advêm
centrar esforços nos produtos protegidos por patente em vigor. do estado de doença, mas não do tratamento. No custo do diabetes,
em ação conhecida por frade IIp. por exemplo, são diretos a medicação e testes diagnósticos;
Deve-se também estar atento para o fato de que a indústria indiretos são dias perdidos de trabalho e perda de produtividade.
farmacêutica emprega critérios de farlllacocconornia à procura Outros parâmetros no cãlculo dos custos são as conse-
de elementos nos quai~ possu se amparar para formar o preço de qüências secundárias ii !>:lIíde pelo não tratamento no mo-
um novo produto. buscando maior lucro possível. dentro dos mento correto ou pelo tratamento insuficiente de uma doença.
limites comportados pelo mercado farmacêutico. Para isso. avalia Voltando ao diabetes: o não tratamento acarreta outras doenças
os custos dos concorrentes e. qu ando .. situação permite. utiliz u ou ncccssid ude de intervenções. com acúrnulo de mais cus-
o privilégio do monopólio de tratamento de doenças. Por exem- tos. Esse aspecto é de bastante interesse dos empregadores,
plo, o preço da sildcnafila (víagra") para o tratamento da im- especialmente aqueles que pagam convênios médicos a seus
potência foi lixado várias vezes maior que o preço que teria funcionários e dependentes e percebem que o tratamento ade-
se fosse lançado COIllO ami-hipcrtcnsivo. que foi ti objcrivo quado de um a determinada doença significa medicina pre-
inicial das pesquisas. ventiva de seus agravos.
Em que pese a importância de reconhecer o progresso tecno- UII/(/vez conhecidos os CII.I·(OS, tanto sua percepção como
lógico em medicina trazido pela indüstriu farmacêutica, nunca
as decisões tomadas dependem de quem paga a conta.
pode ser esquecida a estratégia de forçar retiradas de medica-
O uso da vacina contra infhrenza, por exemplo, é reconhe-
mentos de menor preço no mercado. Por exemplo. a substituição
cido pela eficácia em pessoas idosas, porém de menor valia
do antialérgico terfenadinu pel u fenoxifenadina deixa dúvi-
em pessoas jovens ou de meia-idade, pois estes normalmente
das quanto ao seu real valor técnico.
apresentam resposta imunológica satisfatória por si mesmos;
Não se pode nem incriminar nem ignorar o lucro com medi-
no entanto .u escolha da população-alvo pode ser diferente. Para
camentos. A humanidade pode aproveitar o "lado bom" dos in-
o financiador público, o custo gerado no sistema de saúde para
vestimentos, que são os avanços da ciência e os governos devem
tratar idosos com gripes graves, pneumonias derivadas, além
ter a seriedade de não se deixar envolver por inform ..çõcs enga-
da própria letalidade. combinados com carências orçamentá-
nosas motivadas pelo "I udo mau" do desejo de lucro' abusivo.
rias. justific am a vucin a ção na população acima de 60 anos,
justamente a que combina maior efetividade da vacina com maior
Custo da Doença economia na forma de custos de tratamento evitados.
Um termõmerro da ncccs idade de açõcs farmacoeconômicns A mesma vacinação, na óptica de um financiador privado.
é ocusto da doença. A anâlisc do custo da doença consiste em uma empresa por exemplo. pode atingir população-alvo bem
aferir os custos económico . trab ..lhistas e humanos associados distinta da anterior. Um a empresa normalmente se interessa
à doença. em administrar a vacina a toda a força de trabalho, mesmo

,.---------,
,, S600 )( 95% .. S570 .J

Figura 38.6 - Exemplo teórico de ár-


vore de decisão, se o antibiótico no-
vocilina apresentar eficácia de 95%
a um custo de tratamento de S 200
(usa·seo cifrão para designar qual- Óbito (O.t %) (S500)
quer tipo de moeda)
Total .. S725,03
376 • Tratado de Clínica Médica

$600 x 90% = S540


Figura 38.7 - Exemplo teórico de ár-
Cura (99.9%) vore de decisão, se o antibiótico
_,,------- .. 1 S3.100 x 10% x 99.9% = S309.691 novocilina exibir eficácia de 95% a um
custo de tratamento de S 200 (usa-se
Óbito (0,1%) (S500)
o cifrão para designar qualquer tipo
I S3.600 x 10% x 0,1 % = SO.36 1 de moeda)
Total =.5850,05

ciente de que os funcionários silo de faixas etárias nas quais mentes e o modo como a indústria se viu obrigada a fazer para
a vacina não apresenta rcsultado tão vantajosos e que as eventuais manter lucros:
conseqüências clínicas da doença são menores, Nesse caso. o
maior interesse é diminuir o absenteísmo. "A recente paralização de venda do medicamento
'A', ta! CO!lW ocorreu com '8', e 'C', por outros
laboratórios, é conseqüência lógica da política
Gerenciamento da Disponibilidade de de remédios instalada pelo governo
Medicamentos brasileiro há mais de dez a/los.
Aspectos Gerais do Acesso ao Medicamento ...os laboratórios criam associações
medicamentosas ou lançam novos
Várias formas de linanciamento dos tratamentos medicamen- produtos - mesmo que inferiores do ponto de vista
tosos apontam para escolhas farmacoeconôrnicas também di- farmacológico - lentando, com O Comitê
ferenciadas. São basicamente três os modelos de financiamento
Interministerial de Preços (CIP), preços atualizados.
do tratamento disponíveis:
Seio então montadas campanhas publicitárias que
• Os patrocinadores do tratamento medicamentoso (governo. propagam os 'novos remédios', em detrimento dos
empresa ou planos/seguros de saúde) assumem totalmente antigos. Comercialmente, é preferível vender 11/11
o custo dos medicamentos, viabilizando-lhe O acesso.
• Os patrocinadores assumem apenas parcialmente o custo
frasco de 'novacilina', com margem de lucro de 6:1
dos medicamentos, em porcentagem fixa ou variável "con- do que vinte frascos de 'velhocilina " com margem de
forme a necessidade do medicamento", sendo ti restante lucro de 1,2:1."
pago pelo paciente. Tenta-se, com isso. restringir uso ou
receituário de medicamentos aos realmente necessários.
Companhias de Gerenciamentos
• O paciente ou seus familiares compram ti medicamento.
situação na qual o acesso ao tratamento fica totalmente de Medicamentos
dependente das condições financeiras do paciente.
Nos anos 1960, nos Estados Unidos. surgiu um novo ramo de
O Brasil mescla os três modelos, COI11 claro predomínio da atividade dentro do setor farmacêutico, com empresas dedicadas
terceira siiuução. A maioria da população é obrigada a pagar a gerenciar o consumo de medicamentos no mercado privado,
por seus medicamentos e. quando tcm baixa renda. o mais atividade habitualmente referida pela sigla em inglês PBM
provável é conseguir manter tratamento parcial ou tratamento tPharmacy Benefit Managementy; literalmente "Gerenciamento
algum. Para alguns programas como o de vacinação nacional de Bencfício Farmácia", No Brasil, as PBM são uma atividadc
e tratamento da AIOS, o governo oferece assistência reconhe- muito recente. iniciada no final dos anos 1990. Habitualmente,
cida internacionalmcnte. Quanto ao financiamento por em- os clientes de uma PB~ são empresas que oferecem facilidades
presas privadas, embora seja um campo promissor. no momento e/ou co-participação na aquisição de medicamentos a seus
apenas lima frução da população recebe algum benefício de seus funcionários e dependentes. A gestão dessas empresas se depara
empregadores na forma de co-participaçâo cm medicamentos. com a dificuldade de garantir que seu investimento esteja bem
Muito mais comuns são os convênios entre empresas e vare- orientado, que de fato melhora a qualidade da saúde de sua
jistas (farmácias c drogarias), apresentados como benefício população e não está havendo abusos ou mau uso dos recursos.
ofertado aos funcionários, mas limitado ao desconto na folha Como tal controle exige pessoal qualificado e tecnologia própria.
de pagamento dos consumos realizados. Tal modelo oferece contratar uma PBM surge como opção eficiente e econômica
alguma facilidade extra aos funcionários para adquirir medi- em decorrência das facilidades e garantias oferecidas.
camentos, mas não configura grande melhoria em termos de A atuação das PBM permite negociar melhores condições
acesso, pois este continua vinculado à capacidade econôrnica de preços de medicamentos e disponibilizar ampla rede creden-
do próprio funcionário. ciílda de farmácias e drogarias, portanto, favorecer o acesso
Dado o valor social do medicamento, políticas públicas aos medicamentos. No entanto, a maior contribuição de uma
relacionadas com preços dc medicamentos frequentemente são PBM são os relatórios farmacoepidcmiolõgicos, pelos quais
implementadas. Mas, para ser efetivo, o gerenciamento pú- o serviço médico das empresas pode conhecer melhor a neces-
blico (governamental ou por sociedades sem fins lucrativos) sidadc de saúde de sua população c identificar doentes crônicos
deve ser inteligente. O controle de preços, que tem seu valor no ainda nos primeiros estágios da doença, bem como promover
caso de monopólios e oligopólios. possui desvantagens quando o uso racíonaf de medicamentos.
aplicado indevidamente. A situação, ainda arual. é retratada, A ação de uma PBM se inicia com O varejista no momento
por Zanini'", cm um dos primeiros artigos de farrnacoeconomia da venda do medicamento, capturando as informações comer-
publicados no Brasil'. que estudou a análise da influência do ciais da rransação - nome do beneficiário, especificações dos
controle de preços do governo na disponibilidade dos medica- produtos. quantidades e preços - para posterior acerto de contas.
Farmacologia • 377

Dos regi iros de consumo é possível obter uma série de Informações


inforrnnções de carãier Iarmacoepidcrniolôgico e que auxiliam
no entendimento da .. demandas cm saúde da população bene-
Parceria
ficiária!o. Embora sem a mesma validade clfnica de estudos
obtidosdircmmcnrc Ul)~prontuários médicos. a! análises oriundas
do final de uma cadeia de eventos, no ca o o consumo de me- PBM
Autorização
dicamento . atendem ao objctivo de suporte na administração
do benefício. Por exemplo:
• COIISIIIIIOgera! (rlasse« terapêuticas): a demanda demons-
trada por classes terapêuticas indica os principais focos Varejista Busca pelo medicamento
de trnnstorno» e ncccvvidadcs da população. El>~e~rela-
tórios podem ver cvtnuiflcndos por faixas crãrias. sexo.
região ou outros parâmetros que o serviço médico con- Figura 38.8 - Fluxograma modelo de uma empresa de geren-
sidere pertinente, ao gercnciumento do benefício. ciamento de benefícios com medicamentos. Fonte: PBM Funcio-
• ldentiflcnçê« precoce til' tlOI'II("(/'\: muitos medicamentos nai Card
silo cspccfficos para determinada doença o suficiente para
serem indicudores de sua existência. Nesses casos. o serviço
médico da empresa tem a oportunidade de iniciar acompa- o fluxograma da Figura 38.8 resume os diversos rclacio-
nhamento mais próximo e evitar mais danos à saúde. namcruos de uma PB1\'1 com O~ outros fatores do seror Iar-
Beneficiários que apontam início regular de Consumo rnacêut ico.
de solução oftálmica de bctaxol, por exemplo. provavel-
mente estejam acometidos de glaucoma. cujo traramcruo FARMACOECONOMIA E ÉTICA
bem oríeruado evitará mais danos.
• Controle de abusos: algumas elas: cs icrapêut icas ão A escolha entre opções de tratamentos diferentes para uma
associadas a abusos ou efeito .. deletérios potenciais e al- mesma condição clínica fundamenta-se na farrnacoeconcmia,
guns medicamento, apresentam custos altíssimos. Medi- que permite buscar a melhor relação possível entre resultado
camentos para emagrecimento ão bom exemplo dessa em saúde e CUSto.• Como vi to neste capítulo. as referência
condição e. por conscguimc. merecedores de acompa- para a tomada de decisõc baseiam-se no coleiivo, em dados
nhamento mais dedicado. Uma alternativa é impedir o acesso epidemiológicos. no intuito de atender melhor o maior número
ao benefício sem amc-, passar por avaliação do serviço de pacientes.
médico interno da crnprc a. Assim. se evita o uso irra- No entanto, cada paciente rem condições clínicas próprias
cional tanto do medicamento como do. recursos dis- e a melhor escolha para um grupo pode não ver a melhor para
ponibilizados :10 benefício. aquele paciente. Do ponto de \ I\ta ético. é óbvio que IOdo
• Gerenciamento til' doenças (tI;\I'tI.\I' 1/It111(/1:('1/I('1I1):acom- paciente deve receber o melhor e mais cfctivo tratamento. Quando
panhamento proutivo de pacientes previamente cadas- ele não tem acesso ao tratamento por motivos econôrnico-so-
trados ncsscv programas. no, quais quantidades dos ciais, restrito a uma Ibla de medicamentos essenciais. mesmo
medicamente» prcscrito-, ,ão entregue, dircuuucntc ao que seja "0 melhor tratamento disponível". talvez esteja sendo
paciente umcs do c-roque anterior terminar e rcsutrados privado da totalidade de benefício que a medicina lhe pode
clínicos são aferidos. E~~c tipo de programa é uma eficaz oferecer.
ferramenta para ade~ã() do tratamento. contribuindo para Outro aspecto a se considerar é que percepção de quali-
(I melhoria da qualidade do tratamento. dade de vida e tempo de vida são absolutamente pessoais.
Assim sendo, "a melhor escolha" fundumenrudu em dados
O gerenciamcruo de doenças é. sem dúvida. o serviço prestado
epidemiológicos tende u coincidir com II opinião do grupo
por uma PBM com maior impacto clínico. pois além do forne-
que fez a "escolha", mas pode não coincidir com a vontade
cimento regular de medicamentos. costumeiramente são coor-
do paciente. Por exemplo. no tratamento de neoplasias, al-
denadas ações educativas que ajudam os pacientes a entenderem
guns pacientes podem preferir viver mais tempo, sem qua-
e "respeitarem" melhor sua condição de saúde. O serviço médico
lidade de vida. enquanto outros preferem uma boa qualidade
da empresa. por sua ve/, dispõe de oportunidade ímpar de
de vida por pouco tempo.
acompanhar seus pacientes para além do momento da consulta.
Em resumo. pode-se considerar a farmacoeconornia como
provendo-lhes. assim, maior qualidade de vida.
indispensável para fornecer parâmetro para escolhas, mas suas
O mecanismo bávico de opcraçôc: da. PBM é o seguinte:
conclu õcs não podem ser absolutas para cada caso!", A éti-
• A empresa cliente relaciona cus beneficiários e estabe- ca encontra solução apena: na boa relação médico-paciente.
lece critérios de crédito. considerando a situação prática do momento (disponibilidade/
• De posse da pre crição médica. O beneficiário busca os acesso/bcncffcio/tiscos). com nmpla exposição dos dados ao
medicamento' indicados na rede varejista credenciada. paciente ou seu rcsponsév cl. a quem compete a dcci 50 final
• No ato da compra. promove-se uma autorizaçâo ou-tine do tratamento.
que associa informações do beneficiário ~~ dos medica-
mentes e. se nenhum do~ critérios propostos pelo empre- REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS
gador for cxtrapolado.u venda é concluída e ao;informnçõcs I. ZANtNI. i\ C. COULARTE·t'ARIIAT. F. C. L. RIBEIRO. E.: FOLLADOR. W.
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do-se as infcrmaçôe-, clínicas somente aos médicos rcs- 81. Ministério da Prc\ldCnCI3 c Assl<lênm SOCial CcM E. Central de Medicamcn-
ponsüvcis indicado, pelo cliente. lOS. Br:o,íh:t: Impren>o:lOficial 19S0. J~p.
3. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Tbe \('1<"'liol1of c,:>cnll31 dnlg •• \VHOTcchnical
• Continuamente a PBM negocia parcerias com fornece-
Reports Series 6t5. t977. ~Op.
dores. laboratórios e distribuidores. para obter melhores 4. BERGMAN. U.: SJOQVtST. 1'. MCJ\urcltlcnl 01 clrug ulili/olian rn Swcden:
condições de preços. IlIcchodolngicatnnd climcàl imphcauonv, /\cla ~lctl.SUI/II.• v. 683. p. 15·22. t984.
378 • Tratado de (IInica Médica

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anlibiolÍc convcrsion. /,lra,mllcotern{JY. v. 17. n. 2. p. 271-276. 1997. torado) - F:.culdode de Ciências Farmacêuticas d:. Universidade de SAo l':Iulo.
Seção
Doenças Cardiovasculares
Coordenadores: Antonio Carlos Palandri Chagas, Paulo Jorge Moffa
e João Fernando Monteiro Ferreira

39 Aspectos Básicos e Fisiologia 54 Cardiopatias Congênitas no Adulto ..... 581


Cardiovascular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 380
55 Hipertensão Pulmonar. . . . . . . . . . . . . . . .. 595
40 Interpretação de Sinais e Sintomas do 56 Doença Reumática 616
Paciente Cardiopata. . . . . . . . . . . . . . . . . .. 388
57 Cardiopatias Valvares 624
41 Abordagem e Exame Físico do Sistema
Cardiovascular 393 58 Cor Pulmonale 647

42 Epidemiologia das Doenças 59 Cardiopatias e Miocardites 652


Cardiovasculares no Brasil 402 60 Pericardiopatias ... . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 666
43 Eletrocardiografia 408 61 Tumores do Coração 670
44 Princlpios de Eletrofisiologia e Estudo 62 Trauma Cardíaco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 673
Eletrofisiológico 422 63 Manifestações Cardíacas nas Doenças
45 Papel da Ecodopplercardiografia na Sistêmicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 677
Prática Cllnica 428 64 Disfunção Endotelial e Aterosclerose .... 684
46 Medicina Nuclear 436 65 Prevenção e Tratamento
da Doença Aterosclerótica . . . . . . . . . . . .. 688
47 Novos Métodos de Imagem Cardíacos:
Ressonância Magnética e Tomografia 66 Síndromes Coronarianas Agudas. . . . . . .. 693
Computadorizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 463 67 Cardiopatia Isquêmica Crônica 700
48 Cateterismo Cardíaco 470 68 Hipertensão Arterial 712
49 Aplicações do Cateterismo Cardíaco 479 69 Doenças da Aorta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 727
50 Função Miocárdica Normal e Anormal 485 70 Doenças Vasculares das Extremidades -
Arterial, Venosa e Linfática. . . . . . . . . . .. 734
51 Insuficiência Cardíaca 489
71 Impacto do Polimorfismo Genético nas
52 Transplante Cardíaco. . . . . . . . . . . . . . . . .. 502 Doenças Cardiovasculares. . . . . . . . . . . . .. 794
53 Arritmias Cardíacas 513 72 Terapia Gênica 801
380 • Tratado de Clínica Médica

de se entrelaçar em torno das rniofibrilas, fato que por si só


CAPíTUlO 39 facilita a propagação do estimulo. os túbulos T por se origina-
rem da membrana extracelular tornam-se a extensão interna dessa
membrana. Assim, quando um potencial de ação se propaga

Aspectos Básicos e
pela membrana de uma fibra muscular, ele se espalha ao longo
do túbulo T atingindo profundamente O interior da membrana.
O retículo sarcoplasrnático possui como característica principal
a alta concentração de cálcio, que é liberado quando os túbulos T

Fisiologia Cardiovascular são excitados, e se liga fortemente à rroponina C levando à con-


tração muscular". A contração muscular continuará enquanto
os fons cálcio permanecerem em concentração elevada no líquido
sarcoplasrnãtico. A concentração de cálcio permanece levada
Renata Gomes de Araújo apenas no momento imediatamente posterior a um potencial
de ação. Esse fato ocorre pelo bombeamento dos íons cálcio
Antonio Casella Filho novamente para dentro das cavidades vesiculares do retículo.
realizado pela bomba do retículo sarcoplasrnãtico, a SERCA,
localizada na parede do retículo sarcoplasmático, e responsável
INTRODUÇÃO pela concentração iônica baixa de cálcio nas miofibrilus',
Avanços importantes no conhecimento da fisiologia cardio- A unidade contrátil do coração é o sarcôrnero, funcionalmente
vascular ocorreram nos últimos anos. Aos conceitos tradicionais constituído por filamentos das proteínas contrãtcis, sendo os
acrescentaram-se novos conhecimentos da regulação do sistema filamentos finos formados pela proteína comrátil actina e os fila-
cardiovascular. O que permitiu maior entendimento da insta- mentes espessos constituídos por miosina, troponina e tropo-
lação e desenvolvimento das patologias cardiovasculares. miosina. A interação dos filamentos fino e espesso é responsável
O objeiivo deste capítulo é aliar aos conceitos tradicionais pela contração e relaxamento do músculo cardíaco. Tais fila-
as novas teorias para que ao seu término o leitor tenha uma mentos são dispostos de tal forma a deslizarem paralelos uns
visão abrangente da fisiologia cardiovascular. e possa assim aos outros cm um padrão que leva o sarcôrnero a se alongar
cmbasar os próximos capítulos. e encurtar. O encurtamento ocorre de tal forma que as pontes
transversas dos polipeptídeos de miosina alternadamente se
CONSIDERAÇOES MORFOFUNCIONAIS DO CORAÇÃO ligam e desligam dos locais ativos dos polipeptídeos de actina",
As células adjacentes são conectadas de extremidade a extre-
Câmaras Cardíacas midade por uma porção espessa do sarcolema, denominada
O coração humano apresenta quatro cavidades: duas superiores. disco intercalado. um segmento com baixa resistência para a
denominadas átrios e duas inferiores, denominadas ventrículos. propagação da arividade elétrica pela célula, o que permite
O átrio direito comunica-se com o ventrículo direito por meio a característica singular do músculo cardíaco de propagar o
da valva tricúspide. O átrio esquerdo. por sua vez, comunica-se estímulo elétrico por todas as células cardíacas rapidamente'.
com o ventrículo esquerdo por meio da valva bicúspide ou O núcleo apresenta uma posição central dentro da célula do
mitral. A função das valvas cardíacas é garantir que o sangue miocárdio. As mitocôndrias estão situadas próximas às rniofibrilas,
siga uma única direção, sempre dos átrios para os ventrículos. o que permite a fácil transferência das moléculas de ATP (ade-
e dos ventrículos para a aorta ou artérias pulmonares'. nosina trifosfato) cio sítio de produção para o sftio de utilização,
O coração é composto por três tipos principais de músculo: conferindo ao coração maior capacidade oxidativa', O retículo
o atrial, o ventricular e as fibras especializadas (condutoras c sarcoplasrnático está situado próximo ao sarcolema e possui im-
excitatórias). portância fundamental no processo de contração por armazenar
os íons cálcio responsáveis pela contração muscular". A dis-
Músculo Cardíaco posição das fibras cardíacas, a alta capacidade oxidativa e li
maior afinidade ao cálcio permitem que o coração tenha maior
O músculo cardíaco apresenta a característica de ser um sincício
eficiência contrátil em relação ao músculo esquelético".
funcional. o que significa que as células funcionam como se
fossem uma rede de células ligadas por discos intercalares
(gap junction), proporcionando uma rápida propagação do
Determinantes do Desempenho Cardtaco
estímulo para a contração do miocárdio. Essa caractertstica Os determinantes do desempenho cardíaco englobam pré-carga.
permite que o miocárdio se contraia como um todo (mecanismo pós-carga. O estado inotrópico e a freqüência de comração.
de tudo ou nada). Quando urna célula do músculo cardíaco é A inter-relação desses mecanismos determina o desempenho
excitada, o potencial de ação se espalha para todas elas, pas- cardíaco, tendo em vista que alterações no músculo cardíaco
sando de célula a célula. c disseminando-se por todas as (conforme ocorrem durante alterações na pré e pós-carga) pro-
interconexões" duzem uma ativação dependente de comprimento. por inter-
médio de alterações na sensibilidade ao cálcio dos filamentos
Estrutura do Miócito e aumento no estado inotrópico ou na conirat ilidade do miocárdio.
Assim, aumentos no comprimento do músculo proporcionam
O músculo cardíaco. denominado miocárdio. é composto por aumentos suplementares graduais da força do músculo cardíaco",
células musculares estriadas chamadas miócitos. Os miócitos
são compostos por numerosos feixes ou ramos cntrecruzados,
denominados miofibrilas. A miofibrilas possuem cinco com- Pré-carga
ponentes principais: o sarcolerna (membrana celular). túbulos T Outro fator determinante do desempenho cardíaco é a chamada
(para a condução do impulso). retículo sarcoplasmãtico (re- pré-carga ou mecanismo de Frank-Starling, que estabelece a
servatório de cálcio). elementos contráteis e mitocôndrias" relação entre a força de contração e o comprimento da fibra
Os túbulos T são componentes importantes do miócito por muscular em repouso. A pré-carga pode ser definida como a
estarem envolvidos na propagação do estímulo elétrico. Além tensão ou estresse de parede ventricular diastólica final. Esse
Doenças Cardiovasculares • 381

mecanismo determina que o enchimento diastólico ventricular primeiro impulso para a coniração do cora r,; fio, O nó sinoatrial
regule o desempenho sistólico: tal fato ocorre porque quanto está localizndo na junção da veia cava superior com o átrio
maior a quantidade de angue quc chega ao coração. maior direito. O n6 sinoutrial se comunica com as vias iniernodais
será a quantidade de vangue bombeado para a aorta, conside- conduzindo o estfrnulo para o nó utriovcntricular":".
rando-sc os limites fisrolõgicov de cstiramcnto cardíaco", O nó atrioventricular condu/ o impu 1M) gerado no nó inoatrial
o início da conrruçüo cardíaca. a posição relativa do para os ventrículo s. O nó atriovcntricular locnliza- e entre o
filamentos de actina c miovinu determina o número máximo átrio e o ventrículo direito. e tem a função de retardar o impulso
de pontes tranvvcrvav, que podem ver formadas e, portanto. a até os ventrículos. permitindo que os átri()~ se contraiam antes
força mâxima dc encurtamento que pode ser gerada. Se o do ventrículo. E\ ..e retardo ocorre por serem mais delgada as
sarcômcro estiver muito alongado ou cncurtado antes da con- fibras desse nó e também por po ..suírcm estas um menor número
tração, menos pontes tranvvcrvas serão formada'. resultando de junções aberta, nos divcos intercalares. O nó atrioveruri-
em geração subétima de força deslizante, A pré-carga define culur se bifurca formando :tl- fibras de Purkinjc. que por ua
o alongamento aplicado <obre o snrcômcro que determi na a VC/. se ramificam cm dub ramos: o direito e esquerdo. A libras
extensão da sobreposição da nctina-miosinu antes do início de Purkinjc condu/em o impulso até o). vcnrrfculos de maneira
do estado arivo'", rápida permitindo a vincronlvação ventricular, Essa rápida
Os fatores que interferem no retorno venoso são a volcmia e condução permite que rodas as fibras do ventrículo se con-
3 capacitância vcnova: logo esses flltorC$ também terão relação traiam ao l11e~I11Otempo!"!'.
dircta nas altcraçõcv na pré-curgu, Dentre esses mecanismos
~ podem-se destacar :1 bomba muscular, que é de fundamental
~ importância no retorno venoso, pois o trabalho da musculatura
Potencial de Ação
~ esquelética que comprime a, veias luci Iita o seu esvaziamento. O potencial do músculo cardíaco é em platô. Isto ocorre porque,
~ Como aumento da bomba mu: cular tCI11-~C o numcnto do retorno durante a despolarização, se dá a abertura de canais lentos de
sistólico ecom a diminuição da bomba muscular tem-se a dimi- cálcio. além da abertura dos canais rápidos de sódio. O influxo
nuição do retorno sistólico. O movimento respiratório repre- de cálcio inicia-se após o fechamento dos canais de sódio e
senta também um fator de limitação para pré-carga. pois no perdura por 0.2 a 0.3 segundo, Este influxo de cálcio inibe a
ato da re piração a caixa torácica se expande c junto COI1lela abertura dos canais de potássio: portamo a repolarização também
expandem-se tanto os vasos como as veias. ajudando assim é retardada por 0.2 a 0.3 segundo, que é o tempo de duração
no retomo venoso. Outro tutor irnportante é a venoconstrição. do plaiô. Após este tempo. os canais lentos dc cálcio se fecham
estimulada pelo sivrernu nervoso ximpãtico. e a repolarização procede normalmente por meio do efluxo
de íons porâssio!".
O potencial de ação percorre a membrana do miocárdio. pro-
Pós-carga pagando-i e para o interior do músculo através dos uibulov T.
A pós-carga é a tenvão, força ou csircssc exigido ati sarcômcro A despolarização promove a entrada de cálcio na célula (prove-
para gerar a tensão de parede ncccssüri« para abrir ii valva nicruc do retículo sarcoplasmãtico e dos túbulos T). O cálcio
aórtica e ejciar sangue. Os furores que determinam a pós- liga-se à troponina, promovendo exposição do sítio ativo da
carga 30 a resistência vascular peri férica. as carnctcríst icas actina e permitindo o acoplamento com a rniosina, desenca-
físicas da árvore arterial e o volume de sangue contido no dcando a contração, A coruração termina com o bombeamento
sistema vascular ao início da cjeção. A pressão arterial e a de Ionv cãlcio para fora do surcoplasrna (de volru para o líqui-
resistência vascular periférica influenciam de modo impor- do cxrracclular ILl~CI ou interior do rctículo sarcoptnsrnãrtco)".
tante a pós-carga dcrcrminando fi quantidade de sangue cjctado
pelo coração. O aumento nu pós-carga reduz o volume de Acoplamento Excltação-Contração:
ejeção. além da extensão e velocidade da redução da parede
ventricular. Situações que cursem com aumento da pós-car-
o Papel do Cálcio
ga. diminuirão a capacidade ejctora do coração". Durante o potencial de ação. a célula necessita mobilizar O cálcio
(Ca!') do retículo sarcoplasmãtico para o citoplasma, manter
esse (Ca~-) no citoplasma e removê-lo após a contração muscu-
Papel do Cálcio na Contração Muscular lar. A chegada do potencial de ação li membrana ocasiona a
o influxo de cálcio através das membranas dos sarcôrneros abertura do. canais lentos de Ca2' porém a quantidade liberada
desencadeia a irueração troponina-rroporniosina provocando é insuficiente para gerar a comração muscular. sendo necessá-
a conrração. A frequência do surgimento e a intensidade (frc- rio então que quantidades adicionais dc cálcio sejam mobiliza-
qüência de formação de pontes transversas) são moduladas das para dentro da célula". Para que isso ocorra. o cálcio liberado
pela atividadc de vário, ,i,tema~ enzimáticos e pelas condições pelos canais lentos atua como estímulo paro liberação de quan-
da membrana snrcolêmica que governam o fluxo de íon cálcio tidades adicionais de Ca" pelo retículo sarcoplasrnãtico atra-
e 3 cinética do ATP no arcôrnero. demonstrando que a concen- vé dos canai liberadore~ de Ca!·. O cálcio então continuará a
traçào de dlcio c a capacidade oxidativa são fundamentais se difundir até o fechamento do!> cilnais liberadores de Ca2"
para a eficiência da contração mu~cular", Simult:lneamcntc ao fechamento dos canais ocorre a ativação
da bomba do rctículo (SERCA) quc é responsável pela recaptação
do Ca!' para o retículo s:trcoplaslllático,o,l7.
EVENTOSELÉTRICOS DO CORAÇIO A prc~ença da proteína trocadora de Na'fCaz'no ~arcolcma da
fibra cardíaca é a explicação para o nUl11ento da força de con-
Sistemade Condução tração dccorrente do aumento da frcqUência cardíaca. O aumento
A origem e a condução do c't ímlllo elét rico se fazem por meio da freqUênci:1 cardíaca ~e dá pelo aUl11entodc p()tenciais de ação
de células especiali/adal- que compreendem o nó sinoatrial. o desencadeado!> pelo 116sinoatl'ial; esse aUlllenlU na freqUência
nó otrioventricular e o~ ramos esquerdo e direito das libras de de potenciais de ação provoca um acúl1lulo de Na' no citoplasma,
Purkinje. Quem controla a rilll1icidade do miocárdio é o no Para estabilizar a conccntraçüo intcrna desse fon li proteína tro-
sinoutrial. con~iderado o mUI'ca-passo clll'díaco pois dispara O cadora atua retirando a' do citoplasl11a em troca de Ca2', Ocorre,
382 • Tratado de Clínica Médica

portanto, um aumento da quantidade de Cal+ intracelular, o Os átrios repolarizam-se aproximadamente 0, 10 a 0.20 segundo
que promove. como já vimos até aqui, um aumento na força após a onda de despolarização. Entretanto, isto ocorre bem
de contração. Com base nesse conceito foram desenvolvidos no momento em que a onda QRS está sendo registrada no
os digitãlicos que agem inibindo a Na+/K+ATPase promovendo eletrocardiograma. Portanto, a onda de repolarização atrial.
acumulo de Na+ no citoplasma e com conseqüente aumento conhecida como onda T arrial, em geral está totalmente mascarada
da força de contração cardíaca". pela onda QRS. que é muito maior. Por essa razão, raras vezes
se observa uma onda T atrial no elerrocardiograma".
Por outro lado, a onda de repolarização ventricular é a onda T
Características do Eletrocardiograma Normal do eleirocardiograma normal. É comum alguma fibra ventricular
À medida que passam através do coração. as correntes ele- começar a se repolarizar cerca de 0.15 segundo após o início da
tricas disseminam-se pelos tecidos que o circundam e uma onda de despolarização. mas em muitas outras fibras a repola-
pequena proporção dessas correntes também se propaga até rização não ocorre senão 0,30 segundo depois do início da des-
a superfície do corpo. Se eletrodos são colocados sobre a polarização. Assi m sendo. O processo de repolarização estende-se
pele, em lados opostos do coração, potenciais elétricos por por um período razoavelmente longo, em torno de 0,1 5 segundo.
eles gerados podem ser registrados; o registro é conhecido Por essa razão. a onda T no eletrocardiograrna é bem prolongada,
como clcrrocardiograma". mas sua voltagem é consideravelmente menor que a do complexo
O clctrocardiograma normal é composto de uma onda P. um QRS, em parte em razão de sua duração prolongada".
complexo QRS e uma onda T. O complexo QRS é, na reali-
dade, formado por três ondas separadas, a onda Q. a onda R.
a onda S. A onda P é causada por correntes elétricas geradas
CICIO CARDIACO
pela despolarização dos átrios antes da sua contração e o complexo O ciclo cardíaco corresponde aos eventos hemodinâmicos oca-
QRS é ocasionado por correntes geradas pela despolarização sionados pela contração muscular. Três eventos interdependentes,
dos ventrfculos antes da contração. isto é, quando a onda de mas não simultâneos. possibilitam o ciclo cardíaco: a despo-
despolarização se propaga através dos ventrículos. Por conse- larização celular; a contração miocárdica (que constituirá o
guinte, tanto a onda P quanto os componentes do complexo ciclo fisiológico) e o movimento cinético do sangue e das valvas
QRS são ondas de despolarização. A onda T é causada por cardíacas (que compõem o ciclo cardíaco propriamente dito).
correntes geradas. enquanto os ventrículos se recuperam do Todo o ciclo cardíaco consiste em um período de relaxamento,
estado de despolarização. Esse processo ocorre no músculo chamado diástole e durante o qual o coração se enche de sangue.
ventricular aproximadamente de 0.25 a 0,30 segundo depois seguido por período de contração chamado sístole, no qual
da despolarização e é conhecida como onda de repolarizaçâo. ocorre O esvaziamento ventriculur".
Assim. O eletrocardiograma é composto de ondas de despola-
rização e repolarização". partiCipação Atrlal no Ciclo Cardíaco
Durante o processo de "despolarização". o potencial nega-
tivo normal do interior da fibra é perdido e o potencial da O sangue normalmente Hui de forma contínua das grandes
membrana. na verdade. se inverte. isto é, torna-se ligeiramente veias para os átrios; cerca de 75% do sangue flui diretamenre
positivo dentro e negativo fora. dos átrios para os ventrículos, mesmo antes que os átrios se
contraiam. Assim sendo. II contração dos átrios permite que
ocorra o enchimento adicional dos ventrículos com 25% do
Intervalo P-Q ou poR fluxo. Assim. os átrios funcionam como bombas de reforço
que aumentam a eficácia do enchimento ventricular".
O tempo que decorre entre o início da onda P e o início da onda
QRS é o intervalo entre o começo da contração atrial e o da Em geral, a pressão atrial direita aumenta de 4 a 6mmHg
durante a contração atrial, enquanto a pressão esquerda au-
contração ventricular. Este perfodo de tempo denomina-se
menta de 7 a 8mmHg. Quando termina a contração ventricular,
intervalo P-Q. O intervalo P-Q normal oscila em torno de 0.16
segundo. Este intervalo geralmente é denominado também de as valvas A- V se abrem permitindo que esse sangue flua rapi-
intervalo P-R porque a onda Q quase sempre e tá ausente". damente para os ventrículos".

Participação dos Ventriculos no Ciclo Cardíaco


Intervalo Q-T
A participação dos ventrículos durante o cielo cardíaco ini-
A contração ventricular ocorre, essencialmente entre o começo cia-se com O esvaziamento passivo dos átrios.
da onda Q e o final da onda T. Este intervalo de tempo dcno-
mina-se intervalo Q-T. sendo em geral de mais ou menos 0,30
Enchimento dos Ventriculos
segundo".
Durante a sístole ventricular, grande quantidade de sangue e
acumula nos átrios devido ao fechamento da vai va A- V. Em
Relação das Contrações dos Atrlos e Ventrículos conseqüência. tão logo termine a sístole e as pressões sistólicas
com as Ondas do Eletrocardiograma comecem a cair de volta a seus baixos valores diastólicos, as
Antes que possa ocorrer a contração muscular. uma onda de pressões moderadamente aumentadas nos átrios promovem a
despolarização deve se propagar através do múscu lo para iniciar abertura das valvas A- V, permitindo o fluxo rápido de sangue
os processos químicos da contração. A onda P resulta da difu- para os ventrículos. Essa fase é chamada de período de enchi-
são da onda de despolarização através dos átrios, e a onda QRS mento rápido dos ventrículos. Esse período tem. duração cor-
resulta da propagação da onda de despolarização através dos respondente a cerca do primeiro terço da diãstole. Durante o
ventrículos. Portanto. a onda P ocorre imediatamente antes do terço médio da'diãstole, apenas pequena quantidade de sangue
início da contração atrial e a onda QRS ocorre imediatamente flui normalmente para os ventrículos: esse sangue é o que deságua
antes do início da contração ventricular. Os ventrículos perma- das veias para o átrio e daí dirctamente para os ventrículos",
necem contraídos até uns poucos milissegundos após a ocor- Durante o último terço da diãstole, os átrios se contraem e
rência da repolarização. isto é. até depois do fim da onda T. dão o impulso adicional ao influxo de sangue para os venufculo ;
Doenças Cardiovasculares • 383

isso representa cerca de 2St;( do enchimento ventricular durante anterior do septo ventricular, c suprimento direito representado
todo o ciclo. J\ contraçâo vcntriculur isovolumétricu ocorre para pela artéria coronãriu direita. que :.c encarrega da irrigação do
que aumente as presvões no, venirfculos c esses possam vencer átrio e ventrículos direitos. oa porção povterior do septo ventricular.
a pós-carga. O período de cjeçâo permite que ocorra o esvazia- dos nós siuusal c utriovcmricular c da parte posterior e mais
mentO do ventrículo no, 30'1- re. tantcs: logo após ocorre o significativa do septo ventricular!'.
relaxarnerno isovolumérrico do coração. Durante esse período
ocorre o enchimento ou, :ítrio~::.
Anatomia da Circulação Coronariana
Esvaziamento dos Ventrículos durante a Sístole Ramos da Artéria Coronária Direita
Após a sístole atrial os \ cnirfculos estilo em sua capacidade O~ ramos marginais da coronária direita se originam após
máxima de volume c com 'lia maior pressão d ia~l(ílica (pre~~ã() a coronriria direita contornar o anel tricú pide anteriormente
diastólica linal ou PD2). A .. valvas aórtica e pulmonar encon- e atingir a margem direita ou aguda do coração, c são res-
tram-se fechadas. pois a.. pressões diastólicas arteriais são ainda ponsáveis pela irrigução da parede anterior do ventrículo
bem maiores que a prcsvão diasiólicu dos ventrículos. J\ ativação direito. A artJria coronária dircltu pode continuar o seu trajcro
elétrica chcgu ao ventrículo é começa a Iuse de contração muscular, pela parede posterior do vcntrIeu!u esquerdo cm dircção
A pressão inrracuviuiria vohc rapidamente c as valvas A- V e ao sulco intraventricular c a CI'/I.\· ("(1I'I1i.\ dando origem ao
fecham completamente. Por 11111 momento extremamente CUI1O. ramo intraventricular posterior ou descendente posterior emitindo
as cavidades ventriculares se isolam completamente. enquanto mais ramos que terão a função dc irrigar o sulco intraventricular
a contração do músculo ventricular se propaga. Em um certo posterior. Esse padrão ocorre cm 70% dos casos, e nessa si-
ponto a pressão intracavitárin ultrapassa a pressão diastólica tuação é considerado então o padrão predominante de irri-
das grandes artéria, c a~ valvas scmilunarcs (aórtica e pulmo- gação direita. Porém. se a coronária esquerda alcançar o sulco
nar) se abrem". intraventricular e ti crux cordis, sendo essa responsável pela
É necessário 0.02 a 0.03 segundo para que os ventrículos irrigação do septo intraventricular, considera-se padrão de
gerem pressão suficiente para abrir as valvas semilunares contra dominância esquerda. Em cerca dc 58~ dos casos a artéria
a pressão na~ artérias aorta e pulmonar. Durante esse período o coronária direita irrign a nrtérin do nó inusal, irrigando no
fluxo aórtico é nulo e. portanto. nesse período está ocorrendo seu rrajcto o átrio esquerdo e o nõ sínusal".
conrração ventricular. 11l:1~ sem cxvuziamcnro. A tensão dentro
do ventrículo aumenta. <cm ocorrer encurtamento das libras Ramos da Artéria Coronária Esquerda
musculares. E"e período J denominado período de contração
isovolumétrica do \entrícul(l::. A artéria coronária esquerda é calibrova em uma extensão de
Quando a presvâo esquerda se eleva pouco acima de 80mmHg milünctros a poucos centfmctros. a que ve denomina tronco da
(e a pre são ventricular direita a pouco acima de 8mmllg) força coronária esquerda e segue lima direção anterior. bifurcando-
a abertura das valva-, scmiluuarc ... então lmcdiaramcme o san- se para originar a artéria descendente anterior, que ocupa O sulco
gue começa a sair dos vcntrfculos com cerca de 7()(k desse intraventricular anterior. c se dirige para a ponta do ventrículo
esvaziamento ocorrendo durante o primeiro terço do período esquerdo. dando origem aos ramos scptais. que se dirigem ao
de ejeção, enquanto os 30% restantes saem durante os outros dois septo. e aos diagonais. que têm sentido obliquo e se dirigem
terço. Assim. o primeiro terço é chamado de período de ejeção à paredes laterais altas do ventrículo esquerdo, O outro ramo
rápida e dos terços finais formam o período dc cjcção lenta". que se origina ela bifurcação do tronco da coronária esquerda
Ao término da sístole. começa subitamente o relaxamento é a artéria circunflexa. que cm seu rrajcro ao longo do sulco
ventricular. As elevadas pressões nas grandes artérias distendidas atriovemricular emite vários ramos para a parede lateral do
empurram irncdiauuncnte () ~angllc de volta para os ventrículos, ventrículo esquerdo, conhecidos como ramos marginais. Em
o que força () fechamento abrupto das valvas aortn c pulmonar. cerca de 30% dos casos. a artéria coronária esquerda dá ori-
O músculo ventricular continua a relaxar. niio ocorrendo alie- gem :t artéria elo nó sinoarriat".
ração no volume ventricular, Durante esse pcrlodo. a~ prcs-
sões mtravcntricularcs retornam rapidamente a seus valores
dia tólicos. Então. a' valvas A- V se abrem para dar início a
COnlrole do Fluxo Sangüíneo Coronariano
novo ciclo cardraco", o fluxo corouariano é função dircm da pressão de perfusão
coronãriu e relação Inversa com o rônus vascular, A pressão de
perfusão ocorre em razão de diferença entre a pressão sangüí-
CIRCULAÇÃOCORONARIANA nea na raiz ela aorta e a prcsvão do átrio direito e está relacio-
A manutenção da função cardíaca depende do suprimento nada com a pressão arterial sistêmica e pressão distólica linal
adequado de ~anguc. \·i..tu que a geração de energia ocorre quase do ventrículo esqucrdo!·.
que exclusivamcnte cm decorrência de (IX idação de sub tralOs. O fluxo coronariano ocorre principalmente durante a diástole,
As artérias re!\ponsá\·ci .. pclo suprimcnto de sangue para o assim sendo a perfusão coronária depende de sua duração. A
coração são as artéria .. coron:írias. quc constituem os primeiro mcsma pode estar eompromet ida durantc episódios de taquicar-
ramos emergente oa artéria aorta logo aeima uo plano \'a"'ar dia em dccorrência de encurtamento da duração da diástole,
aórtico. O cnchimento oa, artéria .. coronárias ocorrc por inter- ou cm pacicntes com rclaxamcnto tardio. em portadores de
médio de um renuxo de ~anguc que não entra novamcnte no infartos prévios ou anormalidadcs de condução.
coração porque a~~im quc () ~:lI1guc é cjctndo há o fech:ul1cnto O fluxo sangiiíneo coronllriano pode ~er aretado pela csti-
das valvas a6rtica~. encaminhando o sanguc do renuxo para mulação dos ncrvos autónOl11os. quc sc dirigcm ao coração dc
as :lrtórias coron:íria ..:'. ouas maneiras: direta e indirettllllcntc. SlIhM:incias tr:lnsmissoras
O suprimcnto ~angÍlíneo do coração didaticamente pode nervosas, como acetilcolina..: norepincJ'rina. pos!>lIcrnaçiio direln
ser dividido cm ~uprimento sangUíneo csqucrdo. reali7.ado pela sobre o~ vasos coronarianos. Por6m () papel mais importante no
artéria coronária e~queroa e responsávcl pcla irrigação da parcde controlc normal do fluxo sangUíneo coronariano é descmpenhado
fintcro·latcraldo ventrículo c~querdo, .ítrio esquerdo. e da porção pelos efcitos indirelos. A 1111liorativithlde do coração gcra meca-
384 • Tratado de (IInica Médica

nismos reguladores do fluxo sangüfneo local para dilatar os vasos CIRCUlAÇAo


coronarianos, com o fluxo sangüíneo aumentado em proporção
aproximada com as necessidades metabólicas do músculo O funcionamento sincronizado do sistema cardíaco e o sistema
cardíaco, por meio de demanda de O2 aumentada". circulatório são de vital importância para o organismo e alte-
rações em um dos dois sistemas inexoravelmente ocasionará
alterações e disfunções no outro sistema.
REGULAçAoDAATlVIOAOECAROIACA A circulação é dividida em duas circulações: a pulmonar ou
pequena circulação: o sangue sai do ventrículo direito, vai para
Auto-regulação Intrinseca do Coração - os pulmões (onde é oxigenado) e retorna ao átrio esquerdo,
Mecanismo de frank-Starllnu esse sistema trabalha com pressões baixas; a outra circula-
ção é a sisrêrnica ou grande circulação: o sangue sai do ventrículo
/\ regulação intrínseca do coração ocorre em resposta a alterações esquerdo, vai para todo o organismo e retorna ao coração
no volume de sangue que chega ao coração. de acordo com a Lei (átrio direito).
de Frank-Starling. Essa lei rege que sempre que houver um
aumento no retorno venoso haverá um aumento no volume
ejetado. ocasionando aumento no debito cardíaco. Isso ocorre Características da Rede Vascular
devido li maior distensão do músculo cardíaco. o qual irá se Os componentes do sistema circulatório são artérias. veias, ar-
contrair com maior força 20. teríolas. vênulas e capilares. Dentre as funções do sistema venoso
O mecanismo de Frank-Starling age como fator regulador não podemos considerar apenas como um simples condutor
intrínseco do desempenho cardíaco pois o aumento no estira- do sangue para atender a demanda metabólica do organismo.
mento das miofibrilas promoverá maior força de contração do ou sua contribuição para a regulação do equilíbrio ácido-base, ou
coração. Esse mecanismo inclui ajustes subcelularcs cm res- participação nos processos de regulação funcional através de
posta ao estiramento das miofibrilas afetando mecanismos difusão de hormônios, ou mesmo como responsável pela
moleculares e iônicos da contração e alterando o inotropismo termorregulação. mas podemos considerar como característi-
miocárdico. Esse mecanismo de regulação intrínseca do coração. cas principais e fundamentais desse sistema a capacidade de
não funciona de forma simples como ocorre no músculo esque- controlar seu próprio fluxo local na proporção de sua necessi-
lético. no qual o maior estirameruo das fibras musculares pro- dade. a participação no controle da coagulação, da trombólise
movcrã maior força de contração muscular. No músculo cardíaco e na resposta inflamatória e imune, sendo essas últimas fun-
além desse fator espacial. o estirarneruo das miofibrilas pro- ções do endotélio, C0l110 será discutido adíante".
move maior afinidade das rniofibrilas ao Ca'", As alterações As artérias. em geral, têm a função de conduzir o sangue
na cinética do Cu" são os principais componentes responsável c controlar a força necessária de bombeamento do coração de
pelo aumento da força de contração e as alterações físicas forma a permitir perfusão sanguínea adequada e suficiente para
decorrentes das alterações espaciais contribuem para a menor a função celular. As artérias são compostas por três camadas
parte nesse mecanismo", que formam as suas paredes: a externa ou adventícia de tecido
composta por tecido conectivo: ti média formada por fibras
RegUlação Neuro-humoral do Ritmo Cardiaco musculares lisas: e a interna ou íntima formada por tecido
conectivo. e está recoberta internamente por uma capa muito
A regulação neuro-humoral do coração é realizada pelo sistema delgada de células formando o endotélio".
nervoso autónomo. O sistema nervoso autónomo é constituído As veias conduzem o sangue contendo os produtos oriundos
pelos sistemas nervosos simpático e parassimpãtico que inervam do metabolismo celular, e à semelhança das artérias, suas paredes
todo o coração. A norcpinefrina liberada pelas libras do simpático são formadas por três capas, diferenciando das anteriores pela
aumenta a permeabilidade cardíaca ao sódio e ao cálcio. Em menor espessura, principalmente pela diminuição da camada
conseqüência, ocorre aumento na freqüência de despolarização média. Os capilares desempenham papel importante na nutri-
do nó sinoatrial. aumento na velocidade ele condução do estí- ção celular e no transportes de substâncias, moléculas e solutos
mulo, aumento da excitabilidade em todo o coração e aumento do sangue para os tecidos e na remoção dos produtos prove-
na força de contração". nientes do metabolismo celular para eliminação pelo organismo.
Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático Eles são vasos microscópicos situados nos tecidos e servem de
secretum principalmente norepinefrina. razão pela qual são conexão entre as artérias e as veias. As paredes dos capilares são
denominados neurónios adrenérgicos. A estimulação simpá- compostas por uma única camada celular. o endotélio",
tica do cérebro também promove a secreção de epinefrina pelas O volume sangüíneo pode ser considerado como de 7% do
glândulas adrcnais ou supra-renais. A epinefrinu é responsável peso corpóreo, distribuídos da seguinte forma: 9% circulação
pela taquicardia. aumento da pressão arterial, da Ireqüêncin pulmonar. 64% nas veias e vênulas, 7% arteríola e capilares.
respiratória, aumento da secreção do suor. da glicose sangüí- 13% artérias e 7% coração. A maior quantidade de sangue se
nea e da utividade mental, além da constrição dos vasos san- encontra no território venoso. Isto ocorre pois O sistema ve-
gUíneos da pele". noso tem uma menor quantidade de tecido elástico, o que li
O sistema nervoso parassimpático atua inervando princi- torna menos rígida e com lima menor pressão, possibilitando
palmente os nodos SA e AV. A acetilcolina liberada pelas fi- maior capacidade para armazenar o volume sangüíneo.
bras do parassimpático aumenta a permeabilidade cardíaca ao
potássio (hipcrpolarizaçâo). Em conseqüência, ocorre uma di-
minuição da frequência de despolarização dos nodos SA e AV.
Endotélio Vascular
O neurotransmissor secretado pelos neurônios pós-ganglio- O endotélio é uma capa composta por uma só camada celular,
nares do sistema nervoso parassimpático é a acetilcolina, razão que recobre todos os vasos do organismo. desde o coração (deno-
pela qual são denominados colinérgicos, geralmente com efeitos minado endocárdio). as grandes. médias e pequenas artérias,
antagônicos aos neurônios adrenérgicos. Dessa forma. a estimu- bem como toda a rede venosa e os vasos linfáticos.
lação do parassimpãrico do cérebro promove bradicardia, dimi- O conhecimento a respeito das funções do endotélio mudou
nuição da pressão arterial, da freqüência respiratória, relaxamento muito nos últimos anos. principalmente quando Furchgot e
muscular e outros efeitos antagônicos aos da epinefrina. Zawadzki, em 1980, comprovaram ser o endotélio responsável
Doenças Cardiovasculares • 385

pelo controle vascular '", O endotélio c! considerado um órgão Barreira Seletiva


que exerce iruimcrav funções metabólicas, participando ariva-
mente da regulação do tônu. vascular. Essa regulação utiliza A disposição das células endoteliais. as quais estão unidas umas
diferentes mecanismos (metnbôlicos. rniogênicos e ncuroendõ- a!. outras por complexos juncionais. tornam () endotélio uma
crinos). existindo verdadeira inlcração entre tmlu, ele». A célula barreira de difícil permeabilidade. porém. a existência de re-
endotelial é capaz. em rcvpostus a C~líIllUhl' humornis, ncurnis ceptores específicos de membrana permite a pawagcm de algumas
e mecânico de detectar mínima alteração na pre"ão arterial. no molécula pelo endotélio alcançando a camada celular, Por-
fluxo sangüfneo. no balanço oxidativo (equilíbrio entre as força' tanto. o endotélio pode ser considerando uma barreira seletiva".
oxidativas e antioxidarnes). na coagulação. sinal dc inflamação
etivando o sistema imune do organismo. sintetizar e liberar subs- Funções Metabólicas
tâncias vasoativas que modulam tónus. calibre vascular e fluxo
sangüíneo. desempenhando papel fundamental na circulação!". O endotélio. além de controlar o tónus vascular, produz uma
O endotélio tem caructcrfstica peculiar de responder de forma variedade fatore de crescimento e agentes quimiotátieos. sendo
diferente a variaçôe-, no orgunismo, podendo ser considerado componentes importantes do metabolismo lipídico. As célu-
corno agente regulador por controlar alterações anragônlcas. como las endoteliais podem interagir com os quilomfcrons e lipo-
induzir a resposta pró-coagulante ou anticoagulante. além de protcfnas de baixa densidade provocando ou perpetuando n
alterar as respostas vasculares. promovendo a liberação de agentes formação da placa de atcrosclcrosc ".
vasodilmndores ou vavoconstriturcs, ou inibir ou favorecer li
anglogênese". Fluxo Sangüínoo O Prossão Arterial
O endotélio secreta 'tlh~lâlll:ills que controlarn a vasodilatação
e vasoconsirição. Dentre os principais mediadores de vasodi- A pressão sangüínca é a força exercida pelo sangue contra
latação dependente de endotélio. incluem-se principalmente qualquer unidade de ãreu da parede do vaso. Em linhas gerais.
a prosraciclina e o óxido nítrico (NO). A secreção de NO é o a pressão arterial é a pressão que o sangue exerce contra a
mecanismo de primeira ordem na manutenção do tônus vas- parede interna das artérias. sendo também a força que movi-
cular vasodilatador. Um dos principais fatores consrritores do menta o sangue pelo. isicrna circulatório. fluindo de um local
endotélio é a cndoiclina. um peptídeo que é o mais potente de alta pressão para outro de baixa pressão. A pressão mais
easoconstritor conhccido. A prostaglundina-H? e () radicul superó- alta obtida durante a fase de contração do coração é denomi-
xido podem ainda ter importância em condições patológicas nada pressão sistólica e a pressão mais baixa. que ocorre durante
(hipertensão arterial e apõs le,:10 vuvculurj". a din. role ventricular. representa a prcwão diasrõlica.
Vário!>estímulos acarretam a produção de 'O pelo endotélio O fluxo sangüínco é a quantidade de sangue que passa por
normal. como a acetilcolinn, brudicinina. trombina. nuclcorídeo um vaso em Uni determinado período de tempo. O fluxo sangüíneo
de adenosina. hi\lalllina. cndoiclina e :1'. ahcraçõc-, no estresse do no interior dos V:hOS depende dircuuncntc da diferença de pressão
cisalhamento. resultante do aumento do fluxo sanguíneo. entre a, duas extremidade!' do vavo e da resistência a passagem
do fluxo. Essas duas vuriãvcis são grandezas indiretamente
proporcionais. Diante disso, pode-se concluir que, aumenrando
Controle Vasomotor Modulado pelo Endotélio () diferencial de pressão. o fluxo aumenta: aumentando a resis-
No músculo livo vascular. os rncd iudorex podem ligar e :11 ivnr tência. o fluxo diminui.
receptores que promovem rclaxnmcnro ou a constrição do 1\ resistência ao fluxo depende de diversos Outros fatores,
músculo. A musculatura lisu dos vasos ~c dilata ou se contrai. curno o comprimento do vaso. já que quanto mais longo o
e o função do endotélio consixtc IIU controle deste processo. caminho a cr percorrido pelo sangue num tecido, maior será
A regulação da vavodilaração )1<.:10 endotélio inicia-se com a esti- a resistência oferecida ao fluxo. Outro furor importante na
mulação da acctilcnlina ao receptor muscarfnico situado cm determinação da resistência ao fluxo é o diâmetro do vaso.
lima região especifica do endotélio dcnomlnado cuvéola. esti- Vasos de diferentes diâmetros tumbém oferecem diferentes
mulando a liberação do O: este. sendo uma molécula de pe- resistências ao fluxo através dos mesmos. Pequenas variações
quena dimensão e altamente lipossolúvel, difunde-se para a no diâmetro de um vaso proporcionam grandes variações na
musculatura lisa vascular, cvtimulundo li enzima guanilato ciclase resistência ao fluxo e. conseqüentemente, grandes variações
e a produção de guanovina monofosfato cíclico (GMPc). cau- no fluxo, Pode-se concluir então que a resistência oferecida ao
sando aumento do sequestro de cálcio pelo retículo sarco- fluxo sungüíneo através de um vaso é inversamente proporcional
plasmático da célula muscular lisu e redução do influxo de cálcio à variação do diâmetro deste. A viscosidade do sangue desempenha
para dentro da célula por meio dos canai .. de cálcio. Portanto. papel importante na determinação do fluxo sangürnco. O anguc
há diminuição do cálcio intracelular di.,ponível para iniciar a de uma pcs 03 anêmica apresenta menor viscosidade e. con-
contração. A proteína quina.,e dcpendentc (.)0 G~1 Pc. por :.ua vez. seqüentemente. um m:lior fluxo atravél> de seu~ va~os'2.
é ali\'ada.le\ando à dc,fo\forilação da mio,ina de cadeia leve.
com conseqüente v:"Cldi l:ttação II. Controlo do Fluxo SangUíneo
O controk do Iluxo sangUfneo 10l:al pode ser dividido em duas
AçõesAntitrombótica e Anticoagulante fases di. tinta. : controle agudo e a longo prazo.
A célula endotclial produ!. subsliincias anticoagulante e antitrom- A va odilalação ocasionada pela ação de substâncias amando
bÓtica.incluindo a PLGL2. NO. trornbomodulina (um ativador no endotélio é con!>ideracla o mecanismo mais importante para
dn proteína e). ativadores leciduais do plasminogênio (T-PA) e controle local do nuxo sangü ineo. Porém podem-se citar outros
uroquinase. Entret:1nto. em sillJações de lesão v:L~cular.o endotélio ratores atuando para que ocorra o aumento do nuxo sangUíneo,
pode tcrcfeitos pró-trombót icos. As t:Ílocinas e outros mediadores como a hipóxia teciclual e O aumento de sub tâncias do meta-
influmat6rios podem e~timular fi produção e liber:tção de fa- bolismo. O 3umento do metabolismo indu!. à fonnação de substân-
tores pró-tromb6tico~ do endotélio. O inibidorda ativação do plas- I:ias v:lsodilatadoras (g:1s carbônico. hidrogtlnio.lactato, potássio
minogênio wmbém é pr(x1u~ido pelas l:élulH~cndotcliab. podendo e adenosina). A diminuição de oxigênio l<lmbém promove vaso-
induzir a um estado pró-trombót iCll". dilatação (o oxigénio é necessnrio pal'lI II manutenção do tônus
386 • Tratado de (/{nica Médica

vascular). Portanto. sempre que houver aumento do metabo- O controle da pre são pode ser realizado também pelo
lismo ocorrerá vasodilatação, promovendo um aumento ime- receptores de baixa pressão. que são receptores de estira-
diato de fluxo sangüíneo para este tecido. mcnto semelhantes aos barorrcccptorcs recebem e te nome
Outra situação que pode levar a aumento do fluxo sangüínco por estarem localizados em áreas onde a pressão sanguínea
local é a hiperernia reariva, Esta ocorre quando o tecido paSS:I é normalmente baixa (átrios e artérias pulmonares). Atuarn
por um período de fluxo sangüíneo reduzido, levando a aumento paralelamente aos barorreceptorcs, potencializando o con-
de fluxo compensatório posterior. Esse aumento do fluxo san- trole da pressão arterial.
güínco local ocorre por liberação de NO. O aumento repentino Sempre que houver aumento da pressão arterial e estirarnento
do fluxo ocasiona uma deformação no citoesquelcto do vaso, dos átrios, haverá uma vasodilatação reflexa das arteríolas renais.
aumento percebido pelo endotélio, o qual promove a liberação Isto promoverá um aumento na filtração e na diurese, e conse-
de NO com con eqücntc vasodilatação locar". qücntcmcntc. ocorrerá lima diminuição da pre são arterial, reflexo
O sistema nervoso autónomo também atua sobre os vasos denominado reflexo arrial".
sangüíncos alterando o fluxo sangüínco. Esse mecanismo de O, quirniorreceptores são sensíveis à falta de oxígênio (01)
controle do fluxo será abordado adiante. e ao excesso de gás carbónico (CO,) e hidrogênio (W). Estão
locaiizados nas grandes artérias, próximos aos barorreceptores,
Controle da Pressão Arterial São estimulados quando a pressão cai abaixo de 80mmHg.
Sempre que houver diminuição da pressão arterial. ocorrerá
Os mecanismos de controle da pressão arterial podem ser divididos
urna diminuição de fluxo sangüínco para os tecidos, com con-
em dois, a curto e longo prazos:
sequente acúrnulo de CO, e H' no sangue e diminuição das ~
concentrações de O,. Esslis alterações estimulam os quimior- ~
Mecanismos de Regulação a Curto Prazo receptores, que enviam sinal para a área sensorial do centro ;:
Sistema Neural. Através dos barorrcccptorcs ou pressorreceptorcs: vasomotor, indicando que a pressão arterial está diminuída. ~'"
e tcs receptores de pressão do tipo mecânico são encontrado: no A resposta reflexa será uma elevação imediata da pressão ar- x
arco aõrtico e seio caroudeo e quando são distendidos aumen- tcriul, devido à estimulação da área vasoconstritora e inibição
ram a transmissão de impul os nervosos para o sistema nervoso da área vasodilatadora".
central (bulbo). Por se encontrarem muito próximos do coração Mecanismo Renal de Controle da Pressão Arterial.
qualquer variação da pressão logo é percebida". Este é o mecanismo mais importante e pode ser subdividido
O controle neural da pressão arterial é feito através do centro em dois mecanismos: hemodinâmico e hormonal.
vasomotor, localizado no tronco (ponte e bulbo). O centro vaso- Um aumento na pressão aricrial provoca também um aumen-
motor possui três grupos de ncurõnios (áreas): to na pressão hidrostática nos capilares glomerulares do néfron.
Área vasoconstritora. Atua por meio de nervos efercrues Isso promove um aumento nu filtração glomerular, o que aumen-
do simpático, possuindo um tônus contínuo básico de estimu- ta o volume de liltrado e. conscqücnrcmcme, o volume de urina.
lação (ou seja, há um constante estímulo para a manutenção O aumento na diurese faz com que se reduza o volume do com-
do tônus vascular e para a ntividadc cardíaca). Sempre que partimento extracelular. Reduzindo tal compartimento, reduz-se
esta área for estimulada. haverá aumento do débito cardíaco também o volume angüíneo e. conseqüentemente, o débito car-
(devido ao aumento da frcqüência e da força cardíaca) e aumento díaco. Tudo isso ocasiona a redução da pressão arterial".
d:1 rcsivtência peri férica total (RPT) em decorrência de Reduções na pressão arterial fazem com que haja redução
vusoconvrrição. Estes dois fatores (aumento do débito cardía- no fluxo sangüíneo renal e também da filtração glomerular. com
co e da RPT) irão promover um aumento da pressão ancrtal". conseqüente redução no volume de filtrado. I o faz com que
I\rca vasodilatadora. Sempre que esta ãrca for estimulada, células denominadas justaglornerularcs, localizadas na parede
promoverá uma inibição da ãreu vasoconstritora (revertendo de arteríolas aferentes e eferentcs no néfron, liberem maior
os efeitos de uma estimulação simpéiica) c uma estimulação dos quantidade de renina. A renina age numa proteína plasmática
nervos vagos. por onde trafegam fibras efcrentes do parassim- chamada angiotensinogênio transformando-a em angiotensina I.
pátieo. O estímulo parassimpãtico irlÍ promover uma diminuição A angiotensina ] é então transformada ern angiotensina U através
do débito cardíaco (devido à diminuição da freqüência cardíaca). da ação enzima eonv!!rsora de angiotensina (ECA). A angio-
Estes dois fatores (inibição do simpático e estimulação do paras- tcnsina II é um potente va oconsrritor: provoca um aumento
~illlpático) irão promover uma diminuição da pressão arterial". na resistência vascular e, conseqüerucmcnte, aumento na pres ão
Arca sensorial. Recebe constantemente informações dos arterial: além disso. a angiotensina II também faz com que 3
nervos vagos e glossofaríngcos. identificando a cada momcnto 1!lândula adrcnal Iibere maior quantidade do hormônio a1do terona
se hã aumento ou diminuição da pressão arterial, A área sensorial nu circulação. A aldostcrona atua principalmente no túbulo
irá controlar a atividade das outras áreas: se houver aumen- contornado distal do néfron fazendo com que ocorra a maior
to da pressão arterial. a área sensorial enviará sinais inibitó- reabsorção de sal e água. provocando aumento no volume
rios para a área vasoconstritorn C exeitatórios para a área sangüíneo e, conseqüentemente. aumento no débito cardíaco
vnsodilaradora. Se houver diminuição da pressão arterial. o e na pressão arterial".
0pCH.tOirá ocorrer)'. Outro hormônio importante no controle da pressão arterial é
Na parede da artéria aorta, na região denominada crossa, a vasoprcssina, também denominada hormônio ami-diurético (ADH).
e nas artérias carótidas, na região onde as mesmas se bifurcam A angiotensina II vai à hipófise que secreta o AOH, que nos rins
(seios cnrotídcos). há um conjunto de células auto-excitáveis. causa a diminuição da diurese e da excreção de sódio'".
que se excitam e pecialmente com a disren ão dessas grandes O pcptfdeo natriurético atrial (ANP) é um hormônio produzido
e importantes artérias. A cada aumento na pressão hidros tãrica pelos átrio. e liberado em resposta ao estirarnento. Sempre que
no intcrior dessas artérias, maior a distensão na parede das mesmas houver aumento da pressão arterial. os átrios liberam o ANP.
e, conscqücnrcrneme. maior é a excitação dos tais receptores. que irá promover aumento da natriurese (eliminação de sódio
Por isso. estes receptore silo denominados barorreceptores IUI urina). Quando há eliminação de sódio, elimina-se também
(receptores de pressão). Esses barorrcccpiores enviam sinais água. promovendo diminuição do volume do LEC e do volume
nervosos inibitórios ao centro vasomotor, reduzindo a atividade sangüínco. o que irá reduzir o RPT e o débito cardíaco. dimi-
deste e, conseqüentemente. reduzindo a pressão arterial". nuindo assim a pressão arterial".
Doenças Cardiovasculares • 387

~ Regulação a Longo Prazo da Pressão Arterial das doenças cardiovasculares. A geração de angiotcnsina II é
'"~ regulada. tanto pelo sistema renina angiorcnsina circulante,
Osreguladores nervosos da pressão arterial. embora agindo rapi- quanto pelo sistema angiotcnsina tccidual, ambos com a ati-
~ damente e eficientemente para corrigir a~anormalidades agudas vidude uumentada na doença cardiovascular, O aumento da
~ dapressão arterial. perdem a sua capacidade de corurolar a pressão cxprcs ão da ECA rccidual é encontrado nos vasos de pacientes
arterial, após horas ou pouco, dins. pois a maior pane dos hlpcncnsos" e na microvasculatrura da placa atcro clerética,
receptores ncrvovov <eadaptam perdendo a vua rcvponsividadc, sugerindo que o ucümulo da ECA na placa possa contribuir
A regulação a longo pra/o da prcwão arterial M! faz por para :I produção local de augictcnsina 111\. A angiotensina 11
intermédio dos mccnnivmov rcnaiv, utili/and()-~e do <istcmn desencadeia vário'> mecanismos fisiopatolôgicos que estão
renina-angjrucnvinu c do hurmõmo uldovtcrona. intirnarncntc a., ociado à atcrogênesc. inflnmação vascular,
ruptura de placa aterosclerótica e trombose". A angiotensina
ATUAÇIO DO SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA NO pode também aumentar o estresse oxidativo e, desse modo, a
estimulação dc fatores de transcrição nucleares (NF-KB), bem
SISTEMA CARDIOVASCULAR como a atração e crivação monocirãria. através da MCP-I
O sistema rcnlnn-ungiotcnvinu deixou de ver con. iderado corno (mauocyte chemoanracuun p/'()reill-/)~~. as células endoteliais,
um sistema cndõcrino cm função da descoberta de que lodos ii angiotensina II é capaz de induzir disfunção cndotelial e
os componentes desse sistema. particularmente o angiorensi- promover a expressão de moléculas de adesão (molécula de
nogênio, ii renina e as nnglorcnsinas I e II. também são pro- adesão intercelular do tipo I - iCAM-1 e moléculas de adesão
duzidos localmente em vários órgãos C tecidos. Dessa forma. às células vasculares do tipo I - VCAM-I )~. Nas células muscula-
a angiotensina 11passou a ser con idcrada. também, como um res lisas vasculares a angiotensina )) promove proliferação,
peptídeo de ações parácrina e autécrina cm vários locais do upopiose. hipertrofia e estimulação das mctaloproteinases que
organismo. criando-se assim O conceito da existência de vários facilitam a digestão e ruptura da capa fibrosa que envolve o
sistemas renina-angiotensina distribuídos cm diferentes órgãos areroma". A angiotensina II. via receptor AT I, facilita a oxi-
(coração, vasos sangüíneov. medula udrenal, sistema nervoso dação de LDL-colesterol e promove o aumento da expressão
central. CIC.)e possuidores dc açâo complementar ao clássico do receptor da LDL-oxidada. resultando em aumento da infil-
sistema rcnina-angiotcnsina-nldostcrona. Estessistemas renina- tração de LDk-oxidada na parede vascular", Como mecanismo
angiotensina locai-, pO~'UCIll ,ua importância ligada ao fato final, a angiotensina II pode ao aumentar a expressão do PAI-I
de exercerem efeito, dircros <obre mecanismos rcgulatôrios
(plasminogen activator inhibitors. inibidor de ativador de plas-
locais. que contribuem para um grande número de mecanismos minogênio) e promover um estado pré-coagulante. Resumindo.
homcostãticos teciduai-, como () crcvcimcmo celular. modula- pelas múltiplas ações prô-urerogênica-, e prõ-rrombõricas da
ção da função do endotélio. proliferação "a. cular, formação
angiotcnina II. a arivaçâo UI) ",Icma rcniua-ungiotcnsina é
da matriz dos rccidov c controle do processo de apopto: e. par-
capaz de influenciar na gênese oa arcrovclcrovc c das compli-
ticularmeme na fase de dcscnv oh i mcruo embrionário I'''.
caçõcs utcrorrombõticas.
O sistema rcnina-angiotcnvina desempenha papel importante
nomanutenção do equilíbrio do organismo. A enzima convcrsora O desequ ii fbrio do ,i,tema rcnlna-ungiotensina-aldosterona
de angiotcn ina (ECA) participa da gerução da ungiotensina II resulta em dcprcsvão da função cardíaca, pois esse sistema
que alua isternicamente. uma vc« que a renina. produzida no possui nção importante no rcmodclamcmo ventricular ao es-
timulur a deposição de colãgcno nas libras cardíacas. Estudos
aparelho ju tagtomcrular. é lançada no sangue para aí aiuar
sobseu substrato específico. o angiotcnsinogênio. formando experimentais I! ctínicos demonstraram grande prevenção do
a partir de rcações enzinuiucuv o angiotcnsinu I. Em situações rcmodclamcnto ventricular c redução da mortalidade com o
flsiolôgicus. a ECA povvui a~'ão principal de ajudar a manter uso dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina 1.
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388 • Tratado de Clínica Médica

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Interpretação de Sinais
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Doenças Cardiovasculares • 389

por pacientes cardiopatas. quais sejam. dispnéia, edema. dor entrada de ar nos pulmões. Ao nível da membrana alvéolo-capilar.
torácica. síncope e cianose. as trocas gaso as ficam prejudicadas devido a uma diminuição
da área da membrana respiratória. aumento da sua espessura
e desequilíbrio entre ventilação e perfusão, A tendência à hipo-
Dlsp.Ua xcmia. hipercapnia e acido c láctica estimulam o centro respi-
A dispnéia de origem cardíaca resulta. em última análise. do ratório. Por fim. a diminuição do débito cardíaco pode prejudicar
acumulode líquido cxtm' a..cular na uhra-cstruturu da rncmbrunu li pcrfusão e função contrãril dos músculos respiratórios. cola-
alvéolo-capilar pulmonar. Esta delgada membrana 6 composta borando para II dificuldade vcmihuérin. Os resultados de todas
por upcnnstrê~ c..mndnv: a célula endoicli a1. ti interstício c a estas alterações silo diminuição do volume corrente, aumento
célula alveolar, contlgua :1I.lepitélio brônquico, Se por UIl1 lado compcnsutõrlo da freqüência respiratéria e sensação dc dispnéia,
esta lina interface entre o vanguc e o IIr permite 11111(1 cfctlva provocada pela :ui, ução de divcrva .. vius aferentes e cferentes
trOCOde gtl~e~. por outro lado faz-se neccssãrio um sistemu conectando difcrcrucv partcv do ~i,temll vcntilutõrio com o
capaz de impedir (I "cúmulo de lfquido cxtravuvculnr e seu CÓrtex cerebral" I".
extrava ..amemo para o Interior do ntvcoro'. Caractcri-ucamcrue. o paciente com insuficlêncin curdfuca
As força~ que regem o mov imento de Hquido entre o~ di versus nprcscnta di'pnéla quc \C acentua com o esforço ITsieo.ortopnéia
compan imenu» do orgamvmo \iio a~ chamaduv f()n;a~de Starling. e dispnéia paroxística noiurna. A resposru flviolôglcu da cir-
ou seja. pres-õcs hidrovtâuca e osrnõtica", /\ pres!-ilo osmótica é culação pulmonar no esforço Iísico envolve abertura e distensão
a exercida por ,ub'tância~ que não uuuvessum os poros de uma de capilare, . aumento de velocidade do fluxo pulmonar. ocorrendo
membrana semipermeável. A pressão osmótica do plasma e do redução da resistência vascular pulmonar com pouca elevação
interstício deve-se a proteínas que não atravessam os poros das pressões pulmonares'. Dessa forma. consegue-se acomodar
da membrana capilar. A albumina é a responsável por aproxi- o incremento de Iluxo pulmonar (que pode chegar a 4 a 7 vezes o
madamente 80% da pressão osmótica plasmática, também deno- basal sob esforço intenso) sem que haja extravasamento de fluido
minada coloidosmótica ou oncôtica. A pressão osmótica do para o extracelular. Em condições patológicas, como na insufi-
interstício tem como principais determinantes a permeabili- ciência cardíaca. o comprometimento desses mecanismos com-
dade capilar a proteínas e o fluxo linfático. pensatórios provoca elevação da pressão capilar pulmonar
No microambicnte do capilar pulmonar. o valores aproxima- facilitando a formação de edema intersticial/alveolar.
dos das pressõc em condições normais são as seguintes: pressão A ortopnéia resulta de uma sobrecarga volumétrica ao coração
hidrostática capilar pulmonar 7mmHg. pressão oncõrica plas- decorrente de um de locameruo de angue do abdome c mem-
mática28mmHg. pressão hidrostática intersuciat-Smmltg (valor bros inferiores para o compartimento torácico quando o paciente
negativodevido ao efeito da circulação linfática), pressão osmótica assume a posição de decúbito'. A trcpopnéia é uma variante da
intersticial l-tmmf Ig. Desta forma. forma-se um gradiente de onopncia na qual o paciente :1~\UmC preferencialmente um
pressão de aproxlmadamcmc I mmllg no sentido do cnpilar decúbito lutcrnl (gcrnlmcme direito). scndu que n mecanismo
parao imersrfcio. c o eXCCWlde líquido cxtravavcular é recolhido proposto envolveria disiorçõc« cvtruturuiv d()~ grandes VII~I)S
pelo sistema linfrttico'. du base \.11. Acredita-se que a dispnéia paroxtsrlcu uoturuu ocorru
Nascnrdiopatia\ de di, crsasetiologia ... o denominador comum por aumento do volume sangülnco torácico logo após o dccú-
é O aumento de prewão hidro~tátie;l cm :ítrio esquerdo. que se bito, reabsorção lenta de fluido imcrsticinl de regíões depeno
tran mite retrogradamente parti o tcrritério vcnncupi lur pul- dentes. diminuição do suporte adrenérgico da função de vcmrículo
monar. O orgunivmo divpõc de rnccanismnv uduptutivox, como esquerdo e dcprcvsão notumn do centro rcvpirmério durante o
expansâo de vênulav, abertura de capilnrcx e aumento do fluxo sono '. A respiração tipo Chcyoc-Srokcs também pode ocorrer
linfático'. que pode aumentar :ué aproximadamente 20()mL/h como conseqüência do aumento do tempo clrcularõrio e da
cm um adulto de tamanho médio'. Além divso. o uumcnto crónico alteração da vcnvibllidnde do centro rcspiratõrio II variações
de pressão CIIl átrio esquerdo estimula uma hipertrofia do sistema das pressões parciais de oxigénio e gds curbõnlco",
linráticopulmonar. amplificando a sua capacidade de drenagem. O diugnéstico diferencial do edema pulmonar envolve diversas
O esgotamento dolomecanismos de adaptação leva ao acúmulo situações patológicas, c da dispnéia um número ainda maior
de líquido no espaço intersticial e posteriormente edema alveolar. de entidades. Do ponto de vista fisiopatológico, o edema pulmonar
Como mo trado na Figura 40.1. a partir do momento em que pode dividir-se didaticamente em quatro tipos':
tais mecanismo atingem um ponto de exaustão. quanto maior
a pressão de átrio e querdo. maior a velocidade de formação • Desequilíbrio de forças de Starling: aumento de pressão
de edema intersticial!. O edema pulmonar ocorre particular- capilar pulmonar (estenose mitral, disfunção sistólica ou
mente quando apre ão hidrostática capilar pulmonar excede diastólica de ,'entrículo esquerdo), diminuição de pressão
sua pres ão o mótica (aproximadamente 28mmHg)~. oneótiea (hipoalbuminemia), aumento da negatividade do
O ncúmulo cronico dc líquido no espaço extmvascularestimula espaço intersticial (edema de re-expan ão. ou seja. decor-
uma série de ahemçõc estruturais no alvéolo pulmonar que rcnte de rápido alívio de pneumotóraxlJ).
também contribuem pam manifestaçõcs clínicas. Tais altcrações
inclucmespcs, omenlode membrana ba aI. proliferação dc libras
reticulares c cid. tica~. fibrose alveol:lr. hiperlroliu dc camada
médiavascular. libro,e intimaI. podcndo-'c chegar 1111111 estágio
avançado dc arteritc necro~antcs.
O edema intcrMicial/nl\ colar pulmonar provoca uma séric dc
ereÍlo na mecánicn rcspimtória c nn troeu de gll'e, que tlC:aballl
porgeror IIsen a ilo de dl\pnéi:l"'. O cxtrava~nmcntO dc contcúdo
plnsmático pam o inte~trcio e al\ éolo!>diminui a complacência
pulmonar e rctcn<;ão anormal dc ar ocorre pelo fechamento O "-_-;t- .....:::;.,---...-..---.--.--.--,
precocedns viu\ aérea ..dependentcs. oca,ionando hipovent iluçilo O 10 15 20 25 lO lS 40 45 50 55
pormccnni~more~trill\'o. O ingufl:litamento dc vallOSpulmonan:s "'ftJk .1.;'1 Hq~.d. (mmHg)
podediminuiro calibre da<; via aércal>. aumentando Sua n:sis-
tência. Desta forma. um maior trabalho respiratório é requerido Figura 40.1 - Relação entre pressão atrial esquerda e velocidade
para proporcionar uma pre!>são inlrapleural neccssária para li de perda de Hquido para tecidos pulmonaresl
390 • Tratado de Clínica Médica

• Alteração de permeabilidade da membrana alvéolo-capilar Além disso, o edema periférico também pode ser causado,
pulmonar: diversas etiologias que determinam a síndrome através de diferentes mecanismos. por diversas drogas, como
da angústia respiratória aguda":", por exemplo antiinflamatórios não-hormonais, anti-hipertensivos
• Insuficiência de drenagem linfática: pós-transplante de (bloqueadores de canais de cálcio, hidralazina, clonidina, alfa-
pulmão. linfangite nccrosante ou carcinomatosa. rnetildopa), hormônios (corticosteróides). glitazonas, inibidores
• Outros: edema de grande altitude", neurogênicc", rela- da rnonoarninoxidase, ciclosporina e imunoterapia2).2~.
cionado a embolia pulmonar. pré-eclârnpsia/eclârnpsia", Caracteristicamente, o edema de causa cardíaca é depressível,
abuso de heroína", põs-cardioversão elétrica", pós-ci- localiza-se em regiões de extremidades e acentua-se no pe-
rurgia cardíaca]'. pôs-anestesia", ríodo vespertino/notumo. Geralmente um ganho de 3 a 5kg
precede o edema visível.
EDEMA
De forma semelhante ao que ocorre no pulmão. O edema pe- DOR TORAclCA
riférico é resultado do desequilíbrio das forças de Starling!'. O diagnóstico diferencial da dor torácica envolve várias pato-
Didaticameme, pode-se estimar que a pressão do capilar peri- logias de diferentes aparelhos (circulatório, respiratório, digestivo,
férico é de aproximadamente 30mmHg na extremidade arterial rnusculoesquelético), As principais entidades cardiovasculares
(sendo regulada por est1ncter pré-capilar), diminuindo para em que cursam com dor torácica são a insuficiência coronariana,
torno de IOmmHg na extremidade venosa. A pressão oncótica
processos inflamatórios (pericarditc), prolapso de valva mitral,
plasmática é de aproximadamente 28mmHg; as pressões hidros-
dissecção de aorta torácica e tromboembolismo pulmonar.
tática e osmótica do interstício são calculadas em -3 e 8mmHg,
respectivamente, Desta forma, na extremidade arterial forma-se
um gradiente de pressão de 13mmHg no sentido de movimento Consumo de Oxigênio e fluxo Coronarlano
de líquido do intra para o extravascular (pressão de filtração). A dor cardíaca de origem isquêrnica resulta de desequilíbrio
Por outro lado, na extremidade venosa o gradiente desenvolvido entre a oferta e a demanda de oxigênio pelo músculo cardíaco.
é de 7mmHg no sentido do extra para o intravascular (pressão Deve ser ressaltado que o coração é um órgão com uma taxa
de reabsorção)" O excesso de líquido e proteínas é drenado
relativamente alta de gasto energético e funciona quase ex-
pelos vasos linfáticos, cujo fluxo pode se elevar de 10 a 50 clusivamente sob metabolismo aeróbico.
vezes". Estima-se que o aumento do fluxo linfático represente Os principais determinantes do consumo 'de oxigênio pelo
um fator de segurança contra a formação de edema de apro- miocárdio são a tensão desenvolvida na parede rniocãrdica. li
ximadamente 7mmHgZ4• Além disso. a característica marcante freqüência cardíaca e a contratilidade miocárdica. ou seja. seu
do sistema linfático é sua capacidade de transportar proteínas
estado inotrópico!6.17. Pela lei de Laplace, fi tensão na parede
que não são absorvidas pelos capilares sanguíneos. À medida que
é diretamente proporcional ao raio da cavidade e à pressão e
ocorre acumulo de líquido no interstício. aumentando a sua
inversamente proporcional a duas vezes sua espessura".
pressão hidrostática, eleva- e o fluxo linfático com conseqüente
Em situações de maior demanda, o músculo cardíaco pode
"lavagem" de proteínas intersticiais. Reduz-se, assim, a pressão
obter uma maior quantidade de oxigênio recebendo uma oferta
osmótica do interstfcio. o que também representa um fator de
maior em conseqüência de aumento do fluxo coronariano elou
segurança contra edema da ordem de 7mmHg24,
extraindo uma maior fração de oxigênio. Em condições basais,
A fisinpatologia do edema de origem cardíaca envolve não
a extração de oxigênio peJas células miocãrdicas já é alta, da
só aumento da pressão em câmaras cardíacas direitas, trans-
mitida retrogradamente ao território venoso c capilar periférico, ordem de 75 a 80%, de forma que o aumento de fluxo coronariano
como também retenção renal de água e sõdio", via angioten- é essencial para satisfazer uma maior necessidade energética",
O fluxo coronariano, por sua vez, depende da interação entre
sina )[ e norepinefrina em uibulo proximal e aldosteronu e
hormônio antidiurético em túbulo coletor. De fato, II ativação a pressão de perfusão coronariana. a resistência coronariana e
neuro-humoral é a característica fisiopatolõgica marcante da o tempo de diãstole", A maior parte do fluxo coronariano ocorre
insuficiência cardíaca. como um mecanismo adaptativo frente na diástole, particularmente na região subendocárdica, e peque-
à diminuição do débito cardíaco, da perfusão renal e da filtração nas variações da frequência cardíaca produzem alterações signifi-
glomerular. Entende-se, assim, a importância de drogas que cativas no tempo de diãstole.
bloqueiam as vias neuro-humorais no alívio de sintomas e sinais A pressão de perfusão coronariana em indivíduos sem doença
de insuficiência cardíaca. coronariana obstrutiva pode ser calculada pela subtração da
Do ponto de vista mecanísticc. o edema periférico pode pressão diastólica do ventrículo esquerdo (pd2VE) da pressão
ser classificado em quatro grupos": . diastólica da aorta. Elevações da pd, VE e/ou reduções da
pressão diastólica da aorta diminuem ã pressão de perfusão,
• A limemode pressão hidrostática capilar;excessiva retenção Em coronárias sem obstruções, o nível crítico de pressão de
renal de água c sódio (insuficiências renal e cardíaca, perfusão abaixo do qual há comprometimento significativo
excesso de mineralocorticóide), aumento de pressão do fluxo sangüíneo situa-se em torno de 40 a 50mmHg28.JO.
venosa (insuficiência cardíaca, obstrução venosa, falha A resistência coronariana representa O principal mecanismo
de bomba venosa). redução da resistência artcriolar (drogas regulador do fluxo coronariano em condições fisiológicas e é
vasodilatudcras. aquecimento excessivo, alteração do determinada em sua maior parte por arteríolas intramiocãrdicas
sistema nervoso simpático). com menos de 300~tm de diâmetro!'. Na ausência de doença
• Redução da pressão oncâtica plasmática: excesso de perda aterosclerótica significativa, os vasos epicárdicos maiores e
(síndrome nefrótica. queimaduras, feridas), redução de seus principais ramos. ou seja. os vasos de condutância. con-
síntese (desnutrição, insuficiência hepática). tribuem com apenas 5% da resistência vascular coronariana
• Aumento de permeabilidade capilar: reações alérgicas, total. Diversos fatores modulam a resistência coronariana, como
angioedema, toxinas. infecções, queimaduras, isquemia a taxa de metabolismo. substâncias liberadas pelo endotélio, ~
prolongada, deficiência vitamínica. fatores miogênicos e influências neuro-humorais31'33• ~
• Obstrução linfática com aumento de pressão osmótica O aumento de metabolismo miocárdico eleva a conccn- ~
intersticial: neoplasias. filariose, pós-cirurgia. pós-radiação. tração local de adenosina, produto da quebra de ATP. A ade- ~
ulteraçõe congêniras. nosina, por sua vez, é um potente vasodilatador de arteríolas ~
Doenças Cardiovasculares • 391

com menos de IO()~lmde diâmetro. atuundo por meio de esti-


100
mulação de receptores cspccfficus em células musculares li- "ê
sas)'. A hipõxia também pode mediar a rcguluçâo metabólica 'E 80
;:,
do fluxo coronariano ". .so
AI~m disso. o fluxo coronariano sofre um processo de auto- c 60
.~
regulação. que é a propriedade dos vasos sangüfneos respon- :o
c
o 40
derem a variações de pressão transmural com dilatação ou ii
constrição, no sentido de manter relativamente constante o ::: 20
fluxo sangüínco em situações fisiológicas basais'", Nessas ~"
condições. como mostrado na Figura 40.2. variações da pres-
são de perfusão coronariuna dentro tia faixa de aproximadamen- 20 60 100 140 180
Pttss30 de pttfusAo (mmHg)
te 40 a 150mmllg ativam mecanismos reguladores que mantêm
quase consmntc o fluxo cortlnariano~~.1\ auto-regulação é mediada
Figura 40.2 - Fenômeno de auto- regulação do fluxo coronariano.
por mecanismos miogênicos. metabólicos c endoteliais 'I. A curva com símbolos vazios representa o fluxo coronariano basal
sob diferentes pressões de perfusão. Alterações abruptas e sus-
Efeitos da Estenose Coronarlana sobre o tentadas da pressão de perfusão podem alterar o fluxo coronariano
fluKO Coronarlano transitoriamente (curva com símbolos preenchidos), pois meca-
A limitação do fluxo coronariano c a queda de pressão de pcrfusão nismos regulatórios impedem grandes variações do fluxo a des-
peito das variações da pressão de perfusão11
coronariana resultantes de uma estenose dependem de vários
fatores, como o grau de estenose. sua extensão, suas caractcrfs-
ticas geométricas. sua distensibilidade. Particularmente, o grau dica. A redução de oferta de oxigênio, por sua vez, pode dever-
de estenose é o principal determinante da resistência coronariana; se a obstruções coronarianas ateroscleróticas fixas e/ou a fa-
a perda de pressão sanguínea através da estenose é indireramentc tores dinâmicos que provocam espasmos ou vasoconstrições
proporcional à quarta potência do diâmetro lurninal mínimo da transitórias nas artérias coronárias.
estenose. Isso quer dizer que pequenas alterações do diâmetro O tônus coronariano pode se alterar frente a diversos estímulos.
luminal mínimo no interior da estenose resultam cm grandes Pri mcirarncntc, as artérias coronárias são bastante inervadas. Além
perdas da pressão de pcrfusão coronariuna \1. disso. o endotélio sintetiza uma série de substâncias vascativas;
em situações de disfunção cndotclial, o fatores vasoconstritores
predominam sobre os vasodilaradores.
Mecanismos de Dor O conhecimento dos mecanismos envolvidos com isquemia
o mecanismos exau», pelo, quais ocorre a sensação anginosa miocãrdica tem importantcs implicações terapêuticas. Todo o
não são bem conhecidos. Presume-se que o microambicntc trntarncnto clínico atual da insuficiência coronariana cmbasa-sc
isquêmico gere excitação de receptores quimiosscnsitivos e nos princípios ussinulndos. Entende- e. por exemplo, a im-
mecanorrcccptivos , liberando adenosina, brudicinina e ou- portância de manter a freqüência cardíaca em níveis baixos e
tros mediadores que estimulam vias finais sensoriais de li- a pressão arterial controlada como forma de reduzir o consumo
bras aferentes simpáticas e vagais. Tais fibras transmitem de oxigênio e otimizar o tratamento antianginoso. Por outro
informações que são processadas no sistema nervoso central lado, a frequência cardíaca baixa (permitindo maior tempo de
propiciando a sensução de dor":". diástole) e a correção de anemia são fatores que otimizam a
oferta de oxigénio.
Quando uma lesão coronariana obstrutiva fixa limita a oferta
Situações Clínicas Associadas a de oxigénio, provocando isquemia nas situações de demanda
Isquemia Mlocárdlca aumentada, () paciente queixa-se de angina de esforço estável,
Na prática clínic a. a insuficiência coronariana pode dever-se geralmente desencadeada pelo mesmo grau de exercício. Preco-
x no aumento de demanda de oxigénio pelo mlocãrdico e/ou :1 niza-sc, nessas situações, o uso de drogas beta-bloqueadoras. que
~ diminuição de oferta de oxigênio. Como discutido anterior- reduzem o consumo de oxigênio (via diminuição de Ircqüência
~ mente, o organismo dispõe de mecanismos adaptativos com o cardíaca e contrutilidadc rniocãrdicu), além de aumentar o tempo
~ intuitode incrementar o fluxo coronuriuno c II oferta de oxigênio. de diástole favorecendo o fluxo coronariano,
~ A exaustão dessa reserva de fluxo corouariano desequilibrando Em outros casos, o componente dinâmico de vasocspasmo",
a relação entre oferta c demanda de oxigêni« leva à isquemia na presença ou não de placa atcrosclcrõtica. pode ser significativo
miocãrdica e suas conseqüências fisioptuológicas c clínicas. c a angina tem caraotcristicamcntc limiar variável, ou seja, ora
As situações mail- comumcntc relacionadas com aumento a esforços grandes, ora a esforços menores. Nessas situações,
de demanda miocãrdica de oxigênio são o exercício físico e os bloqueadores de canais de cálcio. inibindo vasoconstrição
o esrrcsse cmocional. que provocam uma liberação adrenérgica coronariana, podem ser de maior valor.
que atua sobre os trê determinantes do consumo de oxigénio. Os nitratos também são utilizados com O intuito de alívio
quais sejam, a freqüência cardíaca, a tensão na parede mio- sintomático, atuando tanto na vasodilatação coronariana como
cárdica e a contratilidadc miocãrdica, Outras condições asso- na redução de consumo dc oxigênio, via redução da pré-carga
ciadasa aumento de con. umo de oxigénio são febre. tircotoxicose. e conseqüentemente da tensão na parede miocárdica.
hipoglicernia (todas relacionadas com o aumento de freqüên-
cia cardíaca c/ou liberação adrcnérgica), hipertensão arterial
sistémica e estenose aórtica (estas vias de aumento de pres-
SINCOPE
são cm ventrículo esquerdo). Definida como sübitu perda de consciência e de tônus postural
Em algumas situações. a demundu de oxigénio pode ser corn recuperação cspontâncu, a síncope associa-se geralmente
suficientemente alta para provocar isquemia miocrirdica sem a um comprometimento da pcrfusão cerebral. particularmente no
que haja prejuízo dos mecanismos de oferta de oxigénio. Em tronco cerebral. As funções cerebrais são bastante dependentes
outras condições. a limitação de oferta de oxigénio é o [ater do fluxo sangüínco, de forma que 10 segundos de interrupção
preponderante para o desencadeamento de isquemia miocár- desse fluxo são suflcicntcs para haver síucope".
392 • Tratado de (I/nica Médica

o diagnóstico diferencial de síncope envolve uma gama de Uma situação particular, que merece consideração, refere-se
alterações vascu lares, cardíacas. neurolõgicas/cerebrovascu lares à crise hipoxêmica. Ocorrendo principalmente na tetralogia de
e mernbõlicus":". A maioria dos casos ocorre por alterações Fallot, caracteriza-se por um quadro súbito de intensificação
vasculares. englobando hipotensão ortostãrica e mediada por da cianose, hipcrpnéia, ansiedade. podendo evoluir para convulsão.
reflexo. Hipotensão ortostática pode ocorrer na presença de acidente vascular cerebral e óbito. O mecanismo implicado en-
hipovolerniu e nas situações em que há prejuízo dos mecanismos volve abrupta queda do fluxo pulmonar por flutuações da pressão
necessários para ajustes na vasornotricidade após mudanças parcial de gás carbônicoou pH_ diminuição da resistência vascular
posturais, o que depende de uma adequada atuação dos sistemas periférica. elevação da resistência vascular pulmonar ou aumento
nervoso e hormonal. São as causas mais comuns de hipotensão da obstrução na via de saída de ventrículo direito. Caracteristica-
ortosrática: desidratação, u o de diversas drogas (diuréticos, vaso- mente. o paciente assume a posição agachada para alívio sinto-
dilatadores, outros nnti-hipcrtensivos, antidepressivos), doença mático. Tal posição melhora a saturação de oxigênio por elevar
de Parkinson. outras afecções do sistema nervoso central e a resistência vascular periférica diminuindo o fluxo pela comu-
periférico. diabetes melito. alcoolismo, doenças auto-imunes, nicação direito-esquerda, aumentando o retorno venoso e o
insuficiência adrenal e o próprio envelhecimento":". fluxo pulmonar.
Síncopes reflexo-mediadas. ou seja. ncurocardiogênica. situa-
cional (desencadeada por tosse. micção. defecação) e por hiper- REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS
sensibilidade de seio carotfdeo. são também comuns na prática I. WEST. J. Il.: MATI IIEU·COSTELLO. O. Structure. strcngth, failurc, and remodcling
clínica. Nessas situações, o reflexo pode desencadear síncope of .h~ I'ulmonnry bloed-gas b'1T;e.r.,t,mu. Rl'l~ Physiol.. v, 61.1). 543-572.1999.
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em diversos tipos de cardiopatias congênitas. classificadas . illlmccllular nllids: inlerslilial nuid anel edema. ln: '/loxlbook 01 M~dkal PIr)'siolog),
então cm acianogênicas c cianogênicasJ5. Nestas últimas, a lO. cd. Philtulelphi[l~ w.n. Snunders. 2000. cap. 25. p. 264·278.
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cianose nitidamente piora com O esforço, quando ocorre Lima flrorr DiSta ... : a lt'Xlbook of <:lIrtliol'Qscular m~dicillc. 6. cd. Philodelphi,: \\'.8.
diminuição da resistência vascular sistémica aumentando a Snundcrs. 200 i. ~p. 3, p. 27·44.
comunicação direito-esquerda, havendo também uma maior 26. OPIE. L H. Mecbanisms of cardiac cOnlnlction and relax"lion. ln: BRAUN\VAlD.
extração de oxigênio pelos músculos envolvidos. Além disso, E.; ZIPES. D. P.; UBBY. P. NeMI DisfOSt: (l1t.l1bo<>kof cfm/j(/\'(,scular m,clicint.
6. c>d.Philaddphia: W.O. SlI1l11dcl's.2001. cap. 14. p. 443-478.
prejufzo à oxigenação adequada a nfvel pulmonar pode con- 27. BRAUNWALD. E. 5O·a.nnivcl'snr)' hislolÍcnl3J1icle. Myoca.rdial oxygcnconsumption:
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28. BOUOOUl.A5. tt: LEIER. C. V.Clinical perspective: myocardial perfusion 1)«'$Sure
reduzida. sua detecção é facilitada na vigência de policitemia in lhe age of afterload reduc.ion. ACC C"rrelll Jouma/ RI'I'itw. v. 9. p. 27-31. 2000.
secundária (comum em cardiopatias congênitas cianogênieas) 29. FELICIANO. L.: HENNING. R. J. Coronar)' artery blood now: physiologic and
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Doenças Cardiovasculares a 393

30. CAI\"fY m ..J. M. COWOlf) Jlre>,urC-fUOClicHIIIIIJ.letKI}-'llIle I'I'CS'"I\:-l1lIW rchlliun' É óbvio que se deve utilizar toda a facilidade tecnológica dis-
dunng aurorcgulation in lhe un30<,lhcli/~d dog. Ct« R~.I. I. 6:1. p, 821-836. 1988.
ponfvel. entretanto deve-se sempre lembrar que um exame físico,
31. GA:-IZ. P.; GANZ. W. CorOOU) hlOc,,1 Iluw nnd myocardiat ischcmia. lo:
BRAU:-IWALD. E.: 7.II'ES. () r..URRY. I'. IIc'(Ct1 Dire,,,r: (11(tlh'lIIk /l/ l'IlfIlln· quando realizado por profissionais experientes, é um método
IYlli'ulaflll,'tIiri"f. 6. ccl. Philuddl'hl.l. \\'.!l. Saundcrs. 2001. C31'. 3·1. p. 1()~7-1113. sensível, específico e barato de detecção de doença cardíacn,
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NIILIlI ,,(I,L,hc,~.01'1'11/111;'111. v. 95. p. 5~2-528. 1997.
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mcchani,lII' III lhe coronary microcirrulation, Basu: RC'.I. Canli»! .. v. 88. p. 2-10.
I9'H.
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eoroaary vasodilatation in 1\(,llIled perfuscd guinca plg hcan.Am . J, l'IIy.rll/l .. I. 2CH. da anarnncse. Uma observação cuidadosa.jã ao início do contato,
P. H821-829. 199J. ajuda a compor um quadro geral do paciente. Também é impor-
36. lOlt'(SON. P. C. AulnC\:gulJloonof blood 1101\'.Cirr. Ra_ I. 59. p. 483"195. 19~().
37. BROWN. II. G.: 1l01.S0N. Ii. L.: DODG"-. H. T. Dyn3mlc mechuuisms III hUIII~1I tante estabelecer-se um ambiente de confiança e empatia, em
COOMllll)' 'leitO,;,. Circnlmion. v. 70. p. 917-922. 198~. que o pacícnrc se sinta confortável, sabendo que seus problemas
38. I{)RI:.\IAN. R. D, Mcchilni.rll\ of cardrac pun. Ali/III R.. , PII.u",I., \'.61. p, 143- e temores serão escutados e haverá interesse em resolvê-los,
161.1999
39. ROSEN.S. D.:PAULESU, F;.: FR 1'f'II. C I) ,'1iii. Ccmralnervoo, palhwuys mediatiug
pontos necessários para o bom relacionamento médico-paciente,
angillJ pectorie. /.1111""/. v. ~44. p. 147-150. 199-1. um dos fatores fundamentais para o sucesso terapêutico'.
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~ Philudclphl3: W.B. Saunders, 1001. cap. 27. p.932-940. A anamncsc se inicia com a idcntlflcação do paciente, sua pro-
~ ~2. BENDITT, D. G.: Lt:RlE. K. G.; I'AflIAN. IV. ~1.Chmcal approach 10diagnosis uf cedência. idade, estado civil, religião e profissão. O questiona-
'" syncope.An Overview, Cardiol. Clin .. v. 15. p. 165-176. 1997.
43. Lfc'IIZER. M.; YA:-<G. E. H.: ESTES 111.N. A. CI ai Diagnoeing -yncopc. l'nR I:
mente da queixa aluai, assim como sua duração. é fundamental
Value of bislory. pby,ical examination. nnd clcClttlCardiography. Clillicnl cmcnc)' c deve-se estimular o paciente a dar as informações que a ele
assessment projccl oflhe "1II"ri'Jo College nf Phy>ician.'./I/III. 111/1'111. Mn/ .. v. 12(1. pareçam importantes, mesmo que para nós muitas vezes pare-
p.989-996. 1991 çam irrelevantes, orientando, entretanto, com perguntas pontuais
44. MATIIIAS. (' l.: KIWlER. J R. I),,'ttmll hypmcnsioo' C3U'-C'. tlilllclll Icuunvs.
iOlc.'ligalldn. nnd IIInnll~cmcnl.tlllll/l. ReI: ,111'11.. v. 5U. 317·.136. 1m. sobre o aparecimento e duração dos sintomas. assim como sua
45. IIRICKNI;R. M. ~.: IIILtlS.l. D.: LANGE. R. A. Con~~1II131he:llt disease in udults. descrição. localização e evolução, dados importantes que aju-
Sccontl Qr 1"0 pans, ,v. engl. J. Med.. v. 342. p. ~34-3.j2. ]()(IO. dam a formar um quadro inicial de possibilidades diagnõsricas.
1\ sintomatologia do paciente cardiológico é muito rica, porém,
alguns sintomas são mais [reqüentes. os quais serão descri los

CAPíTULO 41 a seguir.

Quadro dos Principais Sintomas

Abordagem e Exame Os sintomas cardiovasculares de maior incidência e que serão


aqui abordados brevemente são:
• Dor torácica ou precordialgia.

Físico do Sistema •


Dispnéia.
Palpitações.
Tonturas c/ou síncope.
• Tosse.

Cardiovascular • Edema.

Dor Torácica ou Precordialgia


Antonio Casella Filho A dor ou ti sensação de opressãoprecordial estão entre os sintomas
mais íreqüentes na queixa de pacientes cardiológicos, ocasio-
Antonio Carlos Palandri Chagas nando grande ansiedade do paciente. cabendo ao clínico caracre-
rizá-la o melhor possível. pois dor precordial é uma das queixas
mais frequentes em pacientes portadores da doença arterial
INTRODUÇÃO coronariana.
Osavançostecnológicos que envolvem O sistema cardiovascular Assim, é fundamerual que o paciente dc. crcva n localização.
evoluíramde forma quase exponencial nessas últimas décadas a irradiação, o caráter, a duração e as situações desencadeantes
beneficiandosubstancialmente a investigação das doenças car- da prccordialgia. Sabe-se que a isquemia miocãrdica apresenta
díacase aumentando, de maneira inquestionável, a acurãcia um rico espectro de sintomatologia por conta dos diversos tipos
diagnõsrica. Em contrapartida, assiste-seao surgimento de gera- de doença coronariunu 1.:. apesar de dor torácica ser uma de
çõesde médicos que. seduzidos por algumas das facilidades suas principais aprcscntnçõe .. existem outras estruturas torácicas
dosnovosmétodos. preferem se apoiar basicamente nos exames passíveis de provocar sintoma de dor ou desconforto prccordial,
complementaresparaa investigação diagnôsiica, cm detrimento Características da Dor Precordial. Pelo fato de o coração
dousode suashabi Iidades serniotécnicas básicas. Outra conse- ser UI1l órgão localizado na região central da caixa torácica.
qüência é o gradativo dcclfnio da relação médico-paciente, um situações de isquemia miocárdica podem produzir sensação
dospontosangulares da nossa profissão que. além de conseguir de dor ou pressão nos dois hemitóraces. no epigãstrio c no
revelaraspectosmuitas vezes fundamentais para o diagnóstico dorso. Entretanto, a localização mais habitual é a rcrrocstcrnat
cllnico é, definitivamente, () ponto de apoio que a maioria dos com irradiação para O hcrnirórax e região ulnar do membro
pacientesprocura c necessita ter com seu médico. slIperioresqucrdo, atingindo, cllll11uitos casos, também ri região
394 • Tratado de Clínica Médica

subrnandibular, Em episódios de dor muito intensa e no infarto principalmente em pacientes portadores de hérnia de hiato e
agudo do miocárdio (IAM) de parede inferior, o hemitórax. refluxo gastresofágico. sendo muitas vezes difícil diferenciar-
antebraço e braço direitos podem ser acometidos. se uma angina verdadeira de um espasmo esofágico porque
Caso a dor seja restrita a uma área muito pequena, locali- ambos podem ser aliviado pelo uso de vasodilaradores, corno
zada na região perimamilar esquerda, provavelmente não é de a nitroglicerinn'.
origem cardíaca, podendo ser de origem digestiva por distensão O relato de alívio da dor após eructação ou eliminação de
gástrica. Também a dor de localização retroesternal, que se gases diferencia dor torácica por angina verdadeira do comprornc-
exacerba com a deglutição pode ser decorrente de esofagites rimemo de origem gastrointestinal, Quadros de pancreatite aguda
e dores relacionadas a mudanças de decúbito ou mesmo movi- muitas vezes são difíceis de se diferenciar daqueles ocasiona-
mentações do tronco podem ser causadas por processos infla- dos por infunos inferiores, pois ambos provocam dor epigástrica
matórios musculoesqueléticos ou mesmo por hérnia de disco. intensa, porém, em alguns casos de pancreatite a dor abrange
Tipos de Dor Precordial. A dor precordial anginosa clássica também as costas, como um cinto apertado, relatando o paciente
é do tipo opressiva, quase sempre caracterizada como constritiva obter certo alívio com a inclinação do corpo para frente.
ou cornpressiva, como se algo estivesse apertando fortemente Doenças perícârdicas. Os casos de pericardite aguda apre-
o prec6rdio, muitas vezes acompanhada de sudorese, palidez, sentam dor intensa na região retroesternal, com irradiação para
sensação de morte iminente que. em caso de dor muito intensa, as costas e pescoço e duração de várias horas. O que a diferencia
prolongada e sufocante, pode significar IAM4• Em alguns da angina pectoris verdadeira é que a dor de pericarditc não se
pacientes, a sensação dolorosa da angina ou IAM muitas vezes altera com o esforço físico, exacerbando-se com a inspiração
é substituída por uma sensação de dispnéia, quase uma restrição profunda e com a mudança do paciente para decúbito dorsal,
respiratória, o que sempre deve ser levado em conta, princi- encontrando grande alívio quando o paciente assume a posição
palmente em pacientes idosos e diabéticos. genupeiroral serniflexionada no chão, também conhecida corno
Duração. A precordialgia pode decorrer de angina estável posição de prece maometano ou. quando na cama, posiciona o
tórax inclinado para frente apoiando-o com um travesseiro contra
que apresenta dor aos esforços. Dor em repouso geralmente é
as pernas semiflexionadas na conhecida posição de Blechmann.
de angina instável e em caso de persistência por longa dura-
Doenças vasculares aórticas. Os quadros de aneurisma e
ção deve-se pensar em IAM. AIguns pacientes apresentam uma
dissecção de aorta ascendente ocasionam dor torácica com grande
angina variante noturna/matutina conhecida como angina de
semelhança aos quadros anginosos agudos, pois se apresentam
Prinzmetal.
com dor intensa retroesternal, de inicio súbito, com irradiação
Geralmente a dor da angina estável tem curta duração, entre
para pescoço. ombros e região dorsal intercscapular, É de grande
2 e IOmin. e dores abaixo desses Limites normalmente são oca- importância diferenciar entre um quadro de angina pectoris
sionadas por outros fatores corno, por exemplo, hérnia de hiato.
decorrente de aneurisma de aorta, pois as abordagens terapêu-
Acima de IOmin a dor pode ser decorrente de angina ins- ticas são diversas e até mesmo incornpauveis, Assim, enquanto
tável e se a duração for acima de 20min a persistir por horas, a utilização de determinados fármacos vasodilatadores é extre-
pode ser decorrente de quadro de IAM. mamente benéfica nos casos de angina por isquemia miocár-
Intensidade da Dor. Pode-se classificar a intensidade dica, é prejudicial e agravante na dissecção da aorta.
da dor como leve, moderada ou forte. Na dor leve, o paciente Doenças musculoesqueléticas. Miosites ou inflamações cesto-
refere ligeiro desconforto torácico, entretanto, nos quadros de condrais podem ocasionar quadro de dor torácica de grande inten-
dor moderada e forte existem queixas de desconforto variável sidade, que se diferenciam de angina porque a dor se exacerba
com intensidade esforço-dependente; nos quadros de fone in- com a inspiração profunda, tosse, movimentação torácica, além
tensidade dolorosa o paciente evita até mesmo uma pequena de apresentarem sensibilidade à palpação acompanhada muitas
movi rnentação. vezes de edema, principalmente nas regiões articulares costoes-
Causas Precipitantes, Agravantes ou Atenuantes. ternais, como ocorre na sindrome de Tietze.
Normalmente, a angina pectoris do tipo estável é desencadeada Doenças dermatológicas. Os pródromos do herpes zéster,
por esforços que variam desde marcha em locais planos, subir principalmente quando os dermátomos do hemitórax esquerdo
rampas e escadas ou corrida. Trabalhos manuais com os braços são afetados, podem simular a dor do infarto do miocárdio, dife-
elevados sobre a cabeça também podem ser causa desencadeante renciando-se deste pela extrema sensibilidade quando se palpa
de dor. A ocorrência de emoções intensas ou a súbita mudan- II pele. O surgimento das vesículas características do herpes
ça de ambientes com temperatura quente para fria, principalmente fecha o diagnóstico dessa doença.
após refeição constituída de alimentos gordurosos, pode desen- Doenças pulmonares. A hipertensão pulmonar pode oca-
cadear quadro anginoso importante. A prática de tabagismo sionar dor semelhante à angina típica conseqüente ao qua-
e principalmente o uso de drogas, como a cocaína, estão também dro de desequilíbrio da oxigenação tecidual do ventrículo
fortemente relacionados com quadro de angina e/ou IAM. direito (YD) intermitentemente e/ou pela distensão/dilata-
Taquicardia intensa ou taquiarritrnias podem precipitar um ção das artérias pulmonarest.trnpcrtante ressaltar que alguns
quadro de angina por diferenças entre oferta e consumo de casos de tromboembolismo pulmonar (TEP) ocasionam dor
oxigênio nas células miocãrdicas. A angina variante de Prinzrnetal, torácica intensa, podendo a presença de escarro hernoptóico
cujo episódio de dor é no início da manhã, quando o paciente diferenciar esta doença da isquemia miocãrdica.
se levanta, está fortemente associado a condições de distúr-
bios vasculares periféricos. Dispnéia
A atenuação ou desaparecimento da dor anginosa pelo repouso
ou uso de vasodilatadcres de ação rápida indica se tratar de Dispnéia pode ser definida como percepção pelo paciente da
angina do tipo estável. pois naquela do tipo instável existe sensação aguda ou crônica de insuficiência do volume do ar
demora maior no término da sintomatologia. respirado frente às exigências corporais. O paciente sente um ~
desconforto respiratório e tenta minimizá-lo aumentando a j
Diagnóstico Diferencial de Dor Torácica freqüência respiratória com intensidade variável, chegando até ~
Doenças digestivas. Dor relacionada a deglutição e odinofagia à utilização da musculatura acessória, apresentando quadro ~
podem ser ocasionadas por esofagite ou espasmo esofágico de grande angústia. x
Doenças Cardiovasculares • 395

x n anamncsc do paciente com queixa de dispnéia é impor- Palpitações


~ tante o esclarecimento preci o do horário de aparecimento do
~ quadro. concomitância com outros sinais e sintomas. como Palpitação é a percepção desconfortável pelo paciente dos bati-
~ sudoresc, pulidcz .. taquicardia ou bradicardia. precordialgia, mento cardíacos, também descrita como [alhos ou mesmo
oe ruído~ respiratórios anormais. como sibiles. e se o início é episódios de interrupção dos batimentos que, geralmente. é
súbito. lento ou paruxfstico. ão se deve esquecer que pessoas decorrente de contrações ventriculares prematuras denominadas
sedentárias podem apresentar dispnéia ou cansaço súbito aos extra-sfstoles, Importante na anamncsc é determinar o início
esforço em serem portadores de cardiopatia, somente por e a duração do episódio e, principalmente. us caractertsticas
apresentarem faliu de condicionamento físico por sedentarismo. da palpitação. ou seja, se isolada ou em salva, se regular ou
A dispnéia pode ser ocasionada tanto por doenças pulrno- irregular, ve rítmica ou arrümica. assim como investigar pos-
nare primárias como decorrentes de cardiopatias, A dispnéia sível conexão com alimentos. excesso de bebidas alcoólicas,
decorrente de doenças cardiológica ocorre geralmente por tabaco. drogas ilfcitas. fármacos simpatomiméticos ou esti-
in uficiência ventricular esquerda e valvopatia mitral. espe- mutantes adrcnérgicos 10.

cialmenteestenose. que constituem causa importantes de dispnéia A queixa de palpitações rítmicas e lentas pode ser indicativa
por elevarem a pressão no átrio esquerdo e transmiti-Ia retro- de quadro de bloqueio atrioventricular, principalmente se ocorrer
gradamente a toda vasculatura venocapilar pulmonar. ocasio- em indivíduos idosos. À queixa de palpitações com ritmo elevado,
nando transudação de líquido para () intcrvtfcio pelo aumento de início e fim súbito, principalmente cm Jovens. é grande a
da pressão no capilar pulmonar",
possibilidade de se tratar de taquicardia paroxística supruvcn-
tricular (TPSV). principalmente se houver relato de poliüria
Esses pacientes. quando exercem utividadc física ou esforço
durante ou após o episódio". Jli 11 fibrilação arrinl geralmente
maisacentuado. podem desenvolver quadro de dispnéia chamada
não ocasiona sintomatologia muito rica em palpitações.
de dispnéiade esforço. que pode ser classi ficado numa escala de
zero a 4 de incapacidade. o grau zero não há incômodo algum
aos esforços: no grau I. ou dispnéia leve. existe sensação de falta
Tontura e/ou Síncope
de ar aos grandes esforços. como corrida em lugares plano ou Episódios de tonturas e/ou síncope podem estar relacionados
caminhadas em rampa: o grau 2 indica dispnéia moderada ou ao a altcmçôcs de perfusão cerebral, sendo necessário uma anamnese
médios esforços em que ocorre falta de ar ao caminhar em e exame clínico meticulosos, principalmente quanto às con-
lugares planos a pra/os normais. O grau 3. ou dispnéia grave. dições que envolveram o episódio, como o relacionamento com
ocorre em pacientes com grande dificuldade respirutôria mesmo esforços ou mudança de posrura, para a realização de um bom
com o andar cm ritmo mais lento por poucos minutos. No grau 4, diagnóstico diferencial'ê".
ou dispnéia muito grave. também referida corno de pequenos Os episódios de síncope por causa cnrdfuca geralmente se
esforços, o simples ato de se vestir ou se banhar já ocasiona apresentam com início e retorno rápido do nível de consciência.
grande desconforto respiratório". Assim. síncopes de repouso. como as de Stokc-Adams, podem
A evolução da doença de base agrava gradualmente essa ser decorrentes de taqui ou bradiarritrnias. enquanto aquelas
sintomatologia. podendo haver desencadeamento rápido pela que ocorrem no esforço podem ser ou decorrentes de doenças
intercorrêncin de quadros como de infarto do miocárdio. crise coronarianav ou pela obstrução do trato de saída ventricular
hipertcnsiva. embolismo pulmonar e taquiarritmia: arriai ou ocasionado por este no e aórtica grave ou cardiorniopatia hi-
ventrlculares, pertrófica obstnniva.
Os pacíenrcs portadores de insuficiência ventricular esquerda As mudança bruscas de postura costumam ocasionar sin-
também podem apresentar quadro de dispnéia quando se deitam. tomas de tonturas e até síncope nos pacientes que estão em
decorrente do rápido acréscimo ao sistema circulatório. do uso de medicamentos anti-hipertensivos, principalmente diuréúcos
sangue procedente dos membros inferiores. Nos caso muito potentes e beta-bloqueadores, assim como nos portadores de
graves, o paciente ~Ó consegue certo alivio da dispnéia quando caroiomtoparía obstrutiva hipertréfica e estenose aórtica grave.
se senta à beira da cama com as pernas para fora. a fim de dimi- Pacientes com hipcrtonia vagai podem uprescniur síncopes
nuir o retorno venoso. e também melhorar ti expansibilidade vasovagais (III neurocordiogênicas, resultantes de bradicardia
pulmonar. Esta condição é conhecida como dispnéia de decúbito e hipotensão importantes ocasionadas por intensa estimulação
ou onopnéia, quando O paciente não consegue dormir a não vagal, principalmente em situações como emoções fones, paro-
ser com elevação do tronco com traves. ciros, e deve ser diferen- xi. mos de tosse. vestimentas com colarinho apertado e, em
ciada da dispuéia paroxistica noturna. que ocorre somente homens. durante lima micção norurna.
após algumas horas que o paciente e deitou. cujo quadro de
to e com expectoração espumosa. presença de sudorese e Tosse
ocasionalmente cianosc, ocorre em grande parte pela congestão A tosse constitui um ato reflexo brusco decorrente de estímulos
pulmonnrocasionada por reabsorção gradativo do edema teci- irritantes cm determinadas regiões do sistema respiratório. A
dual periférico que foi produzido durante o dia. tosse de origem cardiogênica ocorre principalmente aos esforços
Éimportanteressaltar que alguns casos de dispnéia paroxística físicos e após fi mudança para decúbito dorsal em razão de
noturna podem ser decorrentes de insuficiência cardíaca aguda aumento da congestão pulmonar. Entre as cardiopatias, que
em função de quadro de isquemia miocárdica. como na síndrome cornumcnte produzem tosse, encontram-se as doenças cardíacas
de Prinzrneraf",Aliás. em pacientes ido os e diabéticos, quando respon. ãveis por aumento do ãtrio esquerdo ou dilatação da ar-
apresentam quadro de dispnéia súbita acompanhada ou não de téria pulmonar por comprimirem o nervo laríngeo recorrente e
dor,além de TEP e pneumotórax espontâneo. é necessário pensar muito freqüentemente são também acompanhados de rouquidão.
em i quernia miocãrdica ou IAM.
Uma forma interessante é a dispnéia de decúbito laterat
011 trepopnéia que ocorre quando o paciente se deita. geral-
Edema
mente do lado esquerdo. Isto é decorrente de derrames plcurais O edema de origem cardiogênica é decorrente da infiltração de
ou em casos de aumento da área cardíaca. em que a postura líquido no tecido subcutâneo conseqüente li dificuldade da cir-
lateral assumida leva ao acotovelamento de vasos. como as culação venosa de retorno ocaslonadu por insuficiência cardíaca
veias cavas e pulmonares. direita. Apresenta características de simetria. compressibi lidade,
396 • Tratado de Clínica Médica

iniciando nos membros inferiores no período vespertino e com podem apresentar certas manifestações cutâneas decorrentes
evolução progressiva de acordo com o agravamento do quadro da infiltração e acumulo de lipídeos na derme e nos tendões,
ela insuficiência cardíaca. que espelham similarmente o processo que está ocorrendo na
I~importante ressaltar que existe geralmente uma fase pré- íntima vascular desses pacientes. ocasionando aterosclerose
edema em que. apesar de não serem visíveis os sinais de re- importante. Esses depósitos gordurosos são denominados
tenção, já existe acúrnulo líquido que muitas vezes é referido xantelasmas e xantornas.
pelo paciente como um ganho de peso inexplicável. Também Xantelasmas são depósitos localizados ao redor das pálpe-
é importante notar que nos pacientes acamados por tempo bras e/ou sobre a bolsa da pálpebra inferior de pacientes por-
prolongado, o edema da insuficiência cardíaca congestiva direita tadores de hipercolesterolernia ou naqueles pacientes com níveis
localiza-se na região lornbossacral. normais de triglicérides, porém com níveis baixos de HDLI4.1l.
É importante o reconhecimento de xantelasmas em mulheres
limitações da Anamnese no período pós-menopausa, pois nelas o nível de HDL baixo
é um melhor preditor de mortalidade cardiovascular que os
Nem sempre se consegue obter dos pacientes todas as infor- níveis de LDL e triglicérides".
mações normalmente esperadas para determinada doença. Não Os xantornas, por sua vez. podem ser:
se deve nunca esquecer que se está tratando pacientes e as
doenças são experiências extremamente individuais. Assim, é • Eruptivos: com formato de pequenos nódulos subcutâneos
preciso estar sempre atento ao fato de que a sintomatologia de cerca de I a 4mm de diâmetro. coloração amarelada
de uma doença pode apresentar variações em pessoas de sexo, e predomínio nas coxas, nádegas e face interna dos braços.
idade e culturas diferentes. Os nódulos dos xantomas eruptivos são constituídos majo-
Ao término da anarnnese algumas hipóteses diagnosticas ritariamente por triglicérides, consistentes com os dados
já devem estar definidas e o procedimento do exame físico de que os pacientes com hipertrigliceridemia familiar e
subsequente deve ser realizado com o intuito de checá-Ias. hiperquilomicronemia apresentam essas manifestações
cutâneas 14.17.
• Tuberosos: nódulos amarelados de desenvolvimento lento
EXAME FlslCO com localização preferencial nos cotovelos e calcanhar de
o exame físico completo de um cardiopata deve ser constituído pacientes portadores de hipercolesterolernia e disbetalipo-
de inspcção do paciente, como um todo. seguido de palpação, proteinernia familiares":".
percussão c ausculta da região torácica, em especial na área • Tendinosos: constituindo-se de nódulos firmes de vários
de projcção cardíaca. É muito comum pensar que o exame tamanhos que se acumulam sob a pele que recobre os
físico se resume à ausculta do coração, entretanto, um exa- tendões extensores das mãos, cotovelo e no tendão de
me físico geral bem detalhado pode dar informações valiosas Aquiles. São particularmente comuns nos pacientes por-
para o diagnóstico clínico, apesar da ausculta realmente ser tadores de hipercolesterolemia familiar com história de
parte muito importante. tendinites rcpetidas2o•22.
A prática e o aperfeiçoamento dessas habilidades propor-
cionam ao clinico melhor capacidade diagnóstica sem a neces- Outras alterações observadas na pele, como cianose de mucosas
sidade de utilização de exames complementares muitas vezes e leito ungueal, acompanhadas de dedos com extremidades arre-
invasivos c dispendiosos. dondadas e unhas em formato de vidro de relógio (dedos em
Deve-se ter cm mente que O exame físico do paciente se baqueia de tambor), são geralmente características de cardiopatias
inicia antes mesmo da anamnese, já ao primeiro contato, com a cianóticas devendo ser realizado o diagnóstico diferencial com
observação do seu aspecto geral e da postura com que ele se apre- as pneumopatias. Lesões na face, tipo rash, em formato que
senta. Assim, pacientes com evidente sobrepeso ou aumento da lembra a asa de borboleta, são um forte indicativo de lúpus
circunferência abdominal podem ser portadores de diabetes eritematoso, que geralmente se encontra associada a pericardite
mclito tipo 2 e/ou síndrome metabólica e, portanto, com alta e miocardite, apresentando alta incidência de arritmias e insu-
incidência de coronariopatia, Por outro lado, pacientes magros, ficiência cardíaca, assim como regurgitações das vaJvas mitral
altos, com braços e dedos finos e longos. são característicos e/ou aórtica conseqüentes a vegetações em suas valvas":",
de portadores de síndrome de Marfan, os quais apresentam Outro exemplo interessante de combinação de lesão de pele
grande incidência de doenças da valva aórtica assim como com cardiopatia é a chamada síndrome do leopardo ou síndrome
degeneração mixornatosa da valva mitral. cardiocutãnea Ientiginosa. Esta doença consiste de pequenas
lesões cutâneas marrom-escuras irregulares, as lentigens, espa-
Inspeção lhadas pela face, pescoço e t.ronco dos pacientes, uma doença
genética de caráter autossôrnico dominante na qual coexistem
Cabeça anormalidades de condução elétrica intracardíaca, retardo de
A observação de movimentos rítmicos da cabeça, coincidentes crescimento, surdez e estenose da válvula pulmonar+",
com pulsação carotídea bilateral, pode indicar importante Outra série de sinais físicos está relacionada a dislipidemias,
regurgitação da valva aórtica, sendo este movimento conhe- aterosclerose e doença arterial coronariana. Entre eles pode-
cido como sinal de Musset que pode, nos casos mais graves, se encontrar o arco senil corneano que é um arco ou leve círculo
também se acompanhar de contrações das pupilas em ritmo de cor acinzentada próximo da borda da córnea, presente em
com as sístoles cardíacas. cerca de 50% de pacientes com hipercolesterolernia familiar,
A presença de palidez facial com lábios discretamente arro- com predomínio do sexo masculino. Existe correlação posi-
xeados e certo rubor nos malares indicam, geralmente, pa- tiva entre o tamanho do arco com o nível de LDL (Iipoproteína
cientes portadores de estenose mitral crónica. de baixa intensidade) e desenvolvimento acelerado de doença
arterial coronarlana":".
O achado, no exame físico, de um sulco diagonal do lóbulo
Pele da orelha, tanto uni corno bilateralmente, levanta a suspeita de
Existem muitas cardiopatias que estão associadas a alterações doença arterial coronariana, pois existem estudos indicando
ou a algumas características de pele. Alguns pacientes dislipêmicos que pacientes que apresentam este tipo de sinal estão mais
Doenças Cardiovasculares • 397

associados a processos atcrosclcróticos c a maior incidência de


IAM e morte. A causa desse tipo de lesão ainda é muito discutida.
existindo várias hipóteses. como herança genética e alterações
teciduaislocais por atcrosctcrose de microarteríolas'":" (Fig. 41.1).

Inspeção de Pulsos Venosos e Arteriais


As pulsações vcnosav vâo analisadas melhor pela observação da
veia jugular interna que. entretanto. podem ser influenciadas
por alterações da postura. da respiração e da compressão abdo-
minal. Refletem basicamente a pressão do átrio direito e são
compostos de três movimentos ascendentes ou ondas li. c e v
correspondentes às oscilações da pressão intra-auricular direita Figura 41.1 - Sulco diagonal do lóbulo da orelha
durante o ciclo cardíaco. As pulsações venosas são apreciadas
melhor na face direita do pescoço com o paciente em posição
semi-inclinada de 45° e. por serem reflexos dos movimentos Palpação
cardíacos, as modificações na sua composição refletem altera- A palpação é parte muito importante do exume físico cardiovascular,
ções tanto cstnuurais corno <.I e rit mo cardíaco. Assim, a ausência fazendo parte dos primórdios da medicina. muitas vezes es-
~ da onda a, que geralmente é dorninuntc, pode significar urna quecida ou abordada de forma superficial, e um bom examina-
~ fibrilação atrial ou um mascarumento por ondas c-v muito intensas dor pode extrair informações preciosas com uma palpação
~ em razão de regurgitação du valva tricúspide. cuidadosa. tanto dos pulsos arteriais como do preeórdio. A pul-
~ Por outro lado, ondas a de grande amplitude, também conhe- sação arterial é causada pela passagem intra-arterial do sangue
00 cidas como ondas a em canhão. podem indicar bloqueio arrio-
cjctado pelo ventrículo esquerdo (VE) na sístole e, na realida-
ventricular completo (por serem algumas coniraçõcs arriais
de. representa um somatório de fenômenos resultantes de vo-
contra lima valva trieúspide fechada) ou. em pacientes com
lume e velocidade do sangue cjctndo contra um sistema arterial
ritmo sinusal, estenose tricúspide importante.
com determinada característica de complacência e capacidade.
A partir da visualização da extremidade superior da veia
Por isso, devem-se palpar de forma bilateral e simultânea os
jugular. pode-se inferir a pressão do átrio direito. Habitualmente,
pulsos carotfdcos, braquiais, radiais. fernorais. poplíteos, tibiais
o ângulo esrcrnal de Louis encontra-se a 5cm acima do átrio
direitoe. se sornada a distância entre esse ponto com a extremidade posteriores e pediosos. A si multancidadc é importante porque
superior do pulso venoso, tcr-sc-ã então a pressão do átrio em doenças como dissecção da aorta pode haver diferenças
díreito'UJ. Normalmente. as pulsações venosas são influenciadas nos pulsos. A palpação deve ser cfetuada com uma suave pressão
pelosmovimentos respiratórios e. na inspiração. ocorre diminuição sobre as artérias. principalmente das carôtidas, observando as
da pressão atrial, porém. cm casos de pericarditc constritiva características tanto da parede arterial como da onda de pulso.
e estenose tricüspidc, ocorre o inverso. ou eja, um aumento Como. muitas vezes. o examinador fica em dúvida se o pulso que
paradoxal da pressão venosa. na inspiração. também conhecido está sentindo é do paciente ou o seu próprio. é aconselhável então
como sinal de Kussmaul . Importante ressaltar que esse sinal palpar o pulso do paciente simultaneamente com o seu para
não é observado nos casos de tarnponarneruo cardíaco. observar se haverá ou não coincidência de pulsação.
As elevações da pressão venosa podem indicar insuficiência As caractcrfsticas da onda que se palpa nas carõtidas são
ventricular cardíaca, infarto do VO. pericardite e tarnponarnento. mais parecidas com aquela obtida lia raiz da aorta e os pul-
Algumas manobras podem ser utilizadas para ressaltar as sos mais distantes do coração apresentam retardo da onda em
características do pulso venoso. sendo uma das mais conhe- relação à sístole e. nos indivíduos mais idosos ou portadores
cidas e utilizadus a manobra do reflexo hepatojugular que de aterosclerose, existe Lima alteração da resistência vascular
consiste no au men 10 fugaz da pressão venosa, cm cerca de periférica com lima parede arterial menos complacente, o que
3cm, com uma pressão firme no abdome, próximo da região ocasiona aumento na velocidade da onda do pulso, a qual
hepática por cerca de I() segundos. Aumentos maiores c mais apresenta-se com pico intenso e rápido.
demorados da pressão jugular geralmente são decorrentes Ao se palpar o pulso levam-se cm consideração: freqüência,
de insuficiência cardíaca direita conseqüente li aumento de ritmo. amplitude e velocidade. A frequência cardíaca. em pulsos
pressão capilar pulmonar. execro em casos de infarto do VO por minuto, 1I0S adultos jovens atinge valores médios de 66
em que. apesar desta manobra ser positiva, li pressão capilar para homens e de 74 para mulheres com intervalos máximos
pulmonar é normal". entre 60 e 90 pulsos por minuto. Frcqüências abaixo de 60
Em relação à inspcção de pulsações arteriais, destaca-se a indicam bradicardia que pode ser sinusal ou por bloqueio
importância do aparecimento de pulso arterial na fúreula, que atriovernricular. A bradicardia sinusal, por sua velo pode ser
pode ocorrer nos casos de aneurismas de aorta ascendente ou fisiológica, por vagotonia, ou patológica como nas intoxica-
do arco aórtico. A pulvação arterial que. normalmente é utili- ções por fármacos como os digitâlicos, em decorrência de
zada para inspcção é o pulso carorídco. Observam-se sempre infecções. corno febre tifóide, na hipertensão craniana e nos
a frequência. a amplitude c a ritmicidade da pulsação. Assim. grandes infartos do miocárdio. principalmente os localizados
freqüência rápida e rítmica pode indicar estados hiperdinârnicos. na região posterior. Nas bradicardias por bloqueio atrioven-
como estados ansiosos, anemia intensa, choque. ureotoxicose, tricular o número de pulsações por minuto normalmente é inferior
Taquicardias rítmicas podem ser decorrentes de taquicardia a 40 tendo como características principais não se modificar
ventricularou supra-ventricular e. se arrftrnicas, indicam fibrilação com exercícios. emoções ou mesmo com a administração de
oufluuer atrial com resposta ventricular rápida. Pulso carotídeo atropina. Nesses casos, o pulso radial encontra-se volumoso
de grande amplitude pode ser indicativo de insuficiência valvar c amplo, rceebendo o nome de pulsus magnus e a pulsação
aórtica c o de baixa amplitude ocorre na insuficiência na normalmente ocorre cm intervalos iguais. desenvolvendo um
valva mitral. assim como nas cardiomiopatias e na estenose ritmo regular.
da valva aórtica. As pulsações arteriais são apreciadas melhor As alterações nos intervalos dos pulsos indicam distúrbios
durante a palpação. como a seguir. do ritmo. isto é. arritmias que podem ser decorrentes de várias
398 • Tratado de Clínica Médica

causas. sendo a mais comum aquela encontrada em jovens e sistólica nesse local é normalmente cerca de 20mmHg superior
adolescentes e que acompanha o ritmo do ciclo respiratório, ao dos braços e alterações nesses valores podem ser indicativas
sendo por isto chamada de arritmia respiratâria, não tendo ou de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) e indireta-
qualquer significado patológico. Entretanto. é importante notar mente de doença arterial coronariana ou coarctação da aorta.
que em determinadas doenças. como nas encefalopatias Para a medida da pressão arterial utilizam-se habitualmente
hipertensivas ou na intoxicação por fán11aCOS, como os digitálicos. os métodos de palpação e/ou auscultarõrlo. No método de
é comum ser encontrada uma arritmia sinusal simples. caracte- palpação. utiliza-se O dedo polegar sobre a artéria braquial ou
rizada por períodos de pulsos rápidos e lentos. em entretanto retromaleolar. insuflando-se o manguito posicionado acima
apresentar qualquer relação com o ciclo respiratório. da prega do cotovelo ou do maléolo do tornozelo, até não se
As contrações ventriculares prematuras ou extra-sfstoles sentir mais os pulsos. Considera-se como pressão sistólica o
ocasionam irregularidades no ritmo das pulsações. de acordo valor observado no manômetro na sensação tátil da primeira
como o seu surgimento. podendo ser isoladas. múltiplas em pulsação sangüínea ao se desinsuflar lentamente o manguito.
salva ou em pares. como é comum ocorrer na intoxicação No método auscultatório uriliza-se o estetoscópio sobre as
digitálica. As arritmias arrítmicas, ou seja. os intervalos de artérias braquial e retromaleolar, medindo-se os níveis das pressões
pulso que nâo seguem nenhum ritmo. são completamente irre- arteriais sistólica e diastólica pelo aparecimento e desapare-
gulares. e normalmente representam a fibrilação msfluttcr atrial. cimento dos sons produzidos pelo fluxo sangüíneo, chamados
A amplitude do pulso arterial é decorrente da oscilação que de sons de Korotkof. ao desinflar o manguito.
a massa de sangue cjetuda na sístole ventricular ocasiona na Caso os sons estejam pouco audíveis podem-se utilizar
parede arterial. podendo ser um pulso amplo e volumoso, como manobras que reforçam o fluxo sanguíneo e dilatam os vaso
nas bradicardias e nos pacientes pletóricos. assim como de do antebraço. como por exemplo o abrir e fechar das mãos
pequena amplitude. corno nos casos de estenose aórtica e mitral. pelo paciente por algumas vezes pouco antes da insutlação do
A presença de pulsação arterial com alternância de amplitudes, manguito. Os valores pressóricos considerados normais estão
o chamados pulsos alternantes, é palpada melhor nas arté- estabelecidos nos Consensos Nacional e Internacional de
rias braquiais ou fernorais durante uma pausa respiratória. em Hipertensão Arterial)$·J6.
meio de uma expiração. e indica disfunção ventricular esquerda
importante. Nilo deve ser confundida com o bigeminismo pois,
Palpação do Tórax
ao contrario deste. o pulso alternante é rítmico. Importante
salientar que. em casos de disfunção ventricular discreta. esse A melhor maneira para e palpar o tórax é com O paciente na
tipo de pulso pode ser desencadeado por provas de esforço ou posição sentada, levemente inclinado para frente. Na palpação
manobras de redução do retorno venoso. que serão comentadas do tórax. deve-se estar atento a sensações tãteis decorrentes
mais adiante. de pulsações. frêmiios ou atritos e inicia-se pela palpação da
É de particular interesse um tipo de pulsação arterial, o fúrcula e do espaços junto às articulações esrernoclaviculares
pulso paradoxal, cuja característica principal é a redução das para pesquisa de aneurismas da aorta. Em caso de suspeita de
amplitudes do pico da onda sistólica. melhor observada nas aneurisma. pode-se, com os dedos indicador e polegar, elevar
artérias radiais durante uma inspiração. principalmente se manualmente a cartilagem cricóide, desviando-a para a direita
forçada. Na realidade. o pulso paradoxal é a exacerbação ela do paciente. Isso fará com que se eleve o brônquio fonte esquerdo
queda da pressão arterial sistólica decorrente da diminuição e. em casos de aneurisma de aorta. serão percebidas pulsações.
do volume cjcrado pelo VE e da transmissão da pressão tracionando a traquéia para baixo.
intratorãcica negativa numa inspiração respiratória. Esse tipo Em muitos casos, consegue-se sentir no hernitérax esquerdo.
de pulso é freqüenternente encontrado em casos de tampona- próximo da linha hcrniclavicular logo abaixo do mamilo. uma
mente cardíaco. pulsação chamada de ictus cordis que representa o impulso
Entende-se como velocidade de pulso. não a freqüência das cardíaco contra o gradeado costal; a parte do coração que
pulsações. mas sim a rapidez com que a onda do pulso se expande. bate na parede torácica nem sempre é o ápice do VE, mas
ou seja. quão rápido o dedo é elevado sobre a artéria, sendo sim a parte do coração que estiver mais próxima da super-
clássico o chamado pulso célere saltitante ou de Corrigan no fíeie. podendo ser tanto o VE como. em alguns casos pato-
qual a elevação rápida da onda pulsátil e de seu grande volume lógicos, o VD. O ictus normalmente não dista mais de IDem
causam a sensação tátilna polpa digital sobre a artéria como da linha mesoesternal e. acima des a distância, provavelmente
a de um piparote. sendo característico da insuficiência aórtica trata-se de uma cardiornegalia.
grave e da persistência do canal arterial (PCA).
A medida da tensão ou pressão arterial sangüínca é uma
das mais úteis fontes de informação clínica e a melhor medida
Percussio Torácica
pressõrica é aquela obtida intra-arterialmente, método que. A percussão torácica assume maior importância quando não
entretanto. só é utilizado em pesquisas; na prática diária. utiliza- se consegue visualizar ou palpar os batimentos cardíacos para
se a avaliação indireta de pre são arterial por meio do csfigmo- a determinação da área cardíaca. como nos casos de pericardite
manômetro. Porém. para se obter valores precisos, devem-se levar efusiva. devendo-se percutir toda a região torácica próxima à
em conta alguns fatores. Assim, o manguito a ser utilizado deve área de projeção, cardíaca para sua melhor delimitação.
possuir uma largura de aproximadamente 40% da circunferência
do membro em que a pressão será avaliada. seja nos braços ou
nas pernas. O paciente deverá permanecer cerca de 5min em
lusculta
repouso, sentado ou deitado, antes do procedimento e. além A ausculta é considerada a parle mais nobre do exame físico,
de estar de bexiga vazia. deve ter evitado a ingestão prévia de entretanto, sempre se deve ter em mente que, quando se chega
estimulantes. como a cafeína, ou o uso de tabaco. nesse ponto do exame clínico. toda uma érie de considerações
A pressão arterial deverá ser medida em ambos os braços diagnéstlcas já tenha sido realizada por meio de anamnese,
e com o paciente assumindo as posições sentada. decúbito inspeção. palpação e percussão é que o achados auscultatõrios
dorsal e ortostática, Também deve ser rotineira a averiguação serão, acima de tudo, comprobatórios. A ausculta de sons no
da pressão arterial 110S membros inferiores. pois II pressão sistema cardiovascular significa que os eventos dinâmicos do
Doenças Cardiovasculares • 399

ciclo cardíaco são capazes de criar aherações presxóricas su fi- dice x ifóidc - foco rricúspidc -. li valva aórtica no segundo
cientes paragerar energia vibratõria e produzir os sopros e sons espaço intercostal direito junto ao bordo csrcrnal>- foco aórtico
cardíacosque podem ser ouvidos. utilizando-se estetoscópios. - e a valva pulmonar no segundo espaço intercostal esquerdo
instrumcmos qUI! possuem características de captar, na parede e também ao longo do bordo cstcrnal - foco pulmonar. Esses
rorácica, os vons gerado, pelo ciclo cardíaco, transmitindo-os são os chamados focos básicos clássicos, existindo entretanto
aosouvidos sem alterar muito a faixa de trcqüência":". um foco aártico acessário, localizado na borda esquerda do
esterno. no cruzamento deste com uma linha imaginária que
vai do foco aórtico básico até a ponta do coração.
Bulhas Sopros. Os sopros cardíacos são, na realidade, expressões
DuranteO ciclo cardíaco auvcultum-sc normalmente dois ruí- acústicas dos movimentos vibraiõrios ocasionados por alteração
doschamados de bulhas cardíacas: :I I" bulha (8 I) é coinci- de regime do Iluxo sangüínco que. normalmente. é laminar.
dentecomo o início da sístole vcntriculur e a 2~ bulha (82) Quando ocorre mudança do fluxo sangüíneo laminar. o turbi-
com o início da diãstole. lhonarncnto decorrente produ? vibrações, originando os sons
A BI é constitufda dc vibrações de alta Ireqüência decor- denominados sopros. O fluxo laminar depende basicamente
rentesdo movimento sangüínco pelo fechamento brusco das da viscosidade e velocidade do sangue e da ausência de
valvasmitral e tricúspidc, assim corno da abertura das valvas estreitamento ou irregularidades nos sistemas condutores. vasos
aórticae pulmonar. Em algumas ocasiões. como em casos de e câmaras cardíacas. Por isso, é COmum a ausculta de sopros
bloqueiode ramo direito do feixe de His. consegue-se escutar cardíacos em pessoas anêmicas sem que sejam portadoras de
o som da B I de forma desdobrada: o primeiro componente alterações estruturais nas valvas cardíacas.
vibratório corresponde ao Icchurucnto da valva mitral (:vi I) e Classificam-se os sopros de acordo COm sua localização
o segundocomponente corresponde ao Icchamcrno da valva no ciclo cardíaco, sua intensidade, suas características e sua
tricúspide (T I). duração". Têm-se então os sopros sistõlicos, diastólicos e
A B2 é composta basicamente de dois componerues. normal- contínuos com graduação de intensidade variando de 1 a 6
menteuníssonos,decorrentes do fechuruento da valva aórtica c com sonoridade tipos crescente, decrescente, crescente-de-
(A2) e da valva pulmonar (P2) que, entretanto, desdobram-se crescerue (ou diamante) e I11l1nt ida (ou em platô).
fisiologicamente na inspiração profunda pelo aumento da Sopros Sistólicos. Os sopros sisrõlicos podem apresentar
capacitância do leito vascular pulmonar. fazendo com que o caracrcrfsticas de ejeção, regurgitação ou refluxo. O sopro sistólico
fluxo sangiiíneo para os pulmões. através do maior volume de ejeção origina-se logo após a 8 I com sonoridade de tipo cres-
pulmonar,prolongue-se mais. provocando o atraso do fecha- cendo-decrescendo e termina ames da 82, podendo se distin-
menteda P2. Em ca),o~ patolégicos. doenças que ocasionam guir bem a I ~ e 2~ bulhas. O sopro sistólico de regurgitação
hiperten ãoda artéria pulmonar promovem um desdobramento 01/ refluxo origina-se logo na 8 I e termina ao final da B2.
fixo da P2. encobrindo as duas bulhas com uma sonoridade mantida ou
No espaçode tempo entre 131e [32 ocorre a sístole ventricular em platô. Es a caractcrfstica é decorrente de turbilhonarncnto
e.entre a 82 e a B I a diãstolc ventricular e o intervalo sistólico é sangüínco por gradiente da pressão desde o início da comração
menorque o diastólico. ventricular até o fechamento das valvas aórtica e pulmonar.
Em determinadas circunstâncias. geralmente patológicas. ão se consegue. nessetipo elesopro. distinguir com clareza as
consegue-seouvir uma terceira (83) c quarta (B4) bulhas no duas bulhas. sendo por isso chamados de sopros holossistólicos
inrervalo diastólico. dc refluxo ou regurgitação.
A B3, que gcrulmcrue representa disfunção, ocorre como Sopros Diastólicos. O~ sopros diastólicas podem ser dias-
um ruído mesodiastállco e. junto com as duas outras bulhas, tólicos iniciais. mcsodlastõlicos e diastólico final. Os sopros
produz UI11 ritmo cardíaco de três tempos chamado de fil/no diastôlicos iniciais se caracterizam por iniciar logo no inicio
da B2, com amplitude sonora cm decrescendo, por causa da
degalope. Ocasionalmente podemos encontrar uma B3 fisio-
lógica em indivíduos normais jovens porém, após os 40 anos redução progressiva do volume do fluxo sangütneo, e tendo
urna tonalidade mais aguda. o que confere a esses sopros um
de idade, a sua ocorrência geralmente é patológica".
carátcr aspirativo. Os sopros mesodiastáiicos se caracterizam
A B4, que geralmente representa alteração de complacên-
por serem ele baixa frcqüência com uma tonalidade bem grave,
cia, ocorre corno um ruido pré-sistôlico sendo muito comum
como UI11 rufiar apresentando ocasionalmente um reforço em
nosepisódiosanginosos ou em infano do miocárdio. indican-
seu final, conhecido C0l110 reforço pré-sistól ico. Os sopros dias-
do a necessidadede coruração arriai vigorosa para auxiliar a
tâlicosfinais (III pré-sistôlicos ocorrem na fase tinal da dlãstole
bombaventricular disfuncional'". Desnecessário destacar que
ventricular, quando uma contração atrial mais vigorosa para
inexiste 84 em situações de fibrilação atrial, assim como nas
expulsar o sangue relido. provoca um reforço pré sistólico.
valvopaiias mitral c/ou rricúspidc importantes.
Também em alguns casos de insuficiência aórtica importante,
o refluxo sangüíneo para o ventrículo na fase diastólica é tão
Áreas Topográficas de Ausculta Cardíaca intenso que movimenta o folheto mitral provocando, na fase de
FocosBásicos. 0\ rufdo-,curdíacos sãoouvidos melhor quando conrração arrial. um rurbilhonamento sangüfneo na valva mitral
o pacienteassume a povição em decúbito lateral esquerdo ou deslocada produzindo então um sopro. também conhecido como
sentado, com leve inclinação para frente. de tal forma que o SO;]/'o pré-sistólico de Austin Flint da insuficiência aórtica".
coraçãose aproxime o máximo possível do gradeado co tal. Sopros Sistodiástólicos ou Contínuos. Os sopros sisto-
Comisso,consegue-sedistinguir quatro ãrcas topográficas de diastâlicos 011 contínuos são decorrentes do fluxo sangüíneo
focosde ausculta valvar correspondentes às quatro valvas ininterrupto por meio de conexões entre condutos cardiovas-
cardíacas,ressaltando-se entretanto que na realidade não cor- culares Com pressões ou resistência muito diferentes durante
respondemàs suas projcçõcs anatôrnicas, mas sim aos locais todo Q ciclo cardíaco. em que a amplitude sonora aumenta gra-
da paredetorácica, de maior contato do coração. onde haja dativarnentc durante a sístole ventricular a partirde B I atingindo
melhorescondições de propagação das vibrações dos ruídos seuápice em B2. decrescendoem seguidaatédesaparecerpróximo
cardíacos. de B I. quando reinicia o ciclo. Esses sopros lembram muito
Assim, ii valva mitral é auscultada melhor na ponta do os sons produzido pelas antigas máquinas a vapor e. por isso,
coração- foco mitral -, a valva tricüspidc próximo do apên- eram conhecidos como sopros em ntaquinaria.
400 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 41.1 - Alterações dos sopros CKaslonadas pelas do leito vascular pulmonar. com isto uceniunndo-se os sopros
manobras decorrentes de lesões nas valvas direitas do coração.
Durante a inspiração. a pressão intratorácica normalmente
SOPROS MANOBRAS diminui proporcionando um aumento do retorno venoso 11s
Insuficiência tricúspide Insplraç~o profunda (Rivero-Carvallo -): t câmaras direitas que. pelo mecanismo de Frank-Starling. enviam
Ccmpressão hepatoabdominal: f mais sangue para o leito vascular pulmonar que se encontra
Manobra de Valsalva, fase de apnéia dilatado na inspiração. proporcionando um aumento substancial
forçada: ! do fluxo sangüíneo para o pulmões e, posteriormente, para
Estenose-1ricúspide Inspiração: t as câmaras esquerdas.
Levantar dos membros inferiores: t Durante a expiração ocorre o inverso. ou seja, ocorre um
Insuficiência pulmonar Congênita: apnéla inspiratória forçada: t aumento da pressão intratorãcica impedindo o retorno venoso
Hlpertensâo pulmonar: indiferente às para as câmaras direitas e conseqüente redução de fluxo san-
manobras güínco para o leito pulmonar e para as câmaras esquerdas.
Estenosepulmonar Manobra de Valsalva, fase inicial de As características de mudanças hemodinâmicas do fluxo e
liberação da apnéia: t do volume sangüíneo Iicum exacerbadas com as manobras de
Apnéia inspiratória forçada: t inspiração e expiração forçadas, po sibilitando a diferenciação
Insuficiência mitral Acocoramento: t dos sopros provenientes de vãrias lesões vai vares. Com is o,
Levantar dos membros inferiores: t na apnéia pós-expirutõria forçada aumentam os sopros das valvas
Inspiraç~o profunda (Rivero·Carvallo -): J. esquerdas do coração, como as lesões mitrais e aórticas, e se
Estenosemitral Esforço isométrico: t reduzem os sopros das lesões das valvas direitas.
Esforço dinâmico: t
Manobra de Valsalva, fase tardia de
tlberação da apnéia: t Manobras Abdominais
Insuficiência aórtica Acocoramento: t Também se consegue diferenciar a insuficiência tricúspide da
Apnéia expiratória: t mitral fazendo uma compressão hepatoabdominal, manobra
Esforço isométrico: t que reforça o sopro tricúspide por promover maior aperte
Estenoseaórtica Manobra de Valsalva, fase tardia, sangüíneo às câmaras direitas. sem manobras respiratórias.
liberação da apnéia: t
Manobra de Valsalva, fase de apnéia
forçada: J. Manobra de Valsalva
Esforço isométrico: J. A manobra de Valsulva foi descrita há muito tempo e era utili-
Comunicação Acocoramento: t zada para expulsar pus do ouvido médio nas oures com tímpano
Interventricular Levantar dos membros inferiores: t perfurado. Consiste basicamente de um esforço expiratório contra
Esforço Isométrico: t
a glote fechada por cerca de 10 a 15 segundos após uma in. pi-
Cardiomiopatia Manobra de Valsalva, fase de apnéia ração profunda. Apesar de ser constituída fisiologicamente de
hipertróflca forçada: t quatro fases, clinicamente se distinguem somente duas fase.
Manobra de Valsalva, fase tardia de esforço expiratõrio e liberação da respiração".
liberação da apnéia: J.
Na fase de esforço expiratório, pelo aumento brusco da pressão
1 = acentuação do sopro; ! = redução do sopro intratorãcica, existe um decréscimo importante do aperte do
sangue venoso às câmaras direitas por causa da manutenção da
Importante lembrar a existência de sons não dirctamente pressão intratorácica elevada ocasionando queda da pressão
sistêrnica e taquicardia reflexa.
relacionados com o fluxo sangüíneo, como aqueles provenientes
Na fase de liberação brusca do esforço expiratório ocorre
do atrito dos folhetos pericárdicos que perderam suas caracte-
um aumento importante da pressão arterial com bradicardía
rísticas normais de serem lisos e úmidos. como nos casos de
reflexa, ocasionado pelo grande aperte sangurneo aos pulmões
pericardites agudas ou mesmo após cirurgias cardíacas a céu
e circulação periférica, do sangue retido na fase anterior de
aberto. Diferencia-se o som do atrito pericárdico dos sopros apnéia expiratória forçada.
verdadeiros por não manterem relação com as bulhas cardíacas. Essas mudanças súbitas de fluxo snngüíneo nas câmaras
cardíacas promovem alterações nos sopros cardíacos nor-
MANOBRAS mais e patológicos. Assim. na fase de expiração forçada,
pela diminuição do fluxo sangüíneo. desaparecem ou se
o exame do sistema cardiovascular pode ter sua acurãcia aumenta- atenuam os sopros sistólicos e diastõlicos das estenoscs e
da pela utilização de algumas manobras simples que, por al- insuficiências valvares, principalmente as das câmaras di-
terarem as características hernodinâmicas do ciclo cardíaco, reitas. Por outro lado, amplia-se o sopro sistólico da caro
promovem reforço ou desaparecimento de alguns sons caro diorniopatia hipenrõflca obstrutiva, decorrente da diminuição
díacos, permitindo um diagnóstico mais preciso. Assim. por do volume sanguíneo ao VE.
meio dessas manobras se consegue diferenciar os sopros das Na liberação da apnéia expiratõria forçada, o súbito aumento
diferentes valvas e. entre as mais comuns e passíveis de se- do aperte sangüíneo do sangue venoso represado, reforça o
rem executadas junto ao leito do paciente, sem necessidade desdobramento e a hiperfonese da P2. assim como de todos
de aparelhagem ou fármacos. encontram-se as intervenções os sopros sistólicos e diastõlicos das patologias valvares,
sobre o ciclo respiratório, compressões abdominais e mudan- porém o sopro sistólico da cardiomiopatia hipertrõfica obstrutiva
ças posrurais" (ver Tabela 41.1). atenua-se ou desaparece.

I.nobras Respiratórias Alterações Posturals


Existe uma estreita relação entre as fases do ciclo respiratório A mudança súbita de postura. seja da onostâtica para decúbito.
com o fluxo sangütneo cardíaco pela influência que as pressões ortostãtica para cócoras ou elevação brusca dos membros
intratorãcicas promovem no retorno venoso e na circulação inferiores na posição em decúbito dorsal, promovem um aumento
Doenças Cardiovasculares • 401

brusco do retorno venoso (IScâmaras direitas inicialmente e irradia para a axila esquerda, A lesão valvar geralmente é de
depois às câmaras esquerda- com o sangue proveniente dos origem reumática. existindo caso-, de lesão por endocardite
pulmões, exacerbando-vc IOdo, U!> vopros cardíacos, exceto o infecciosa. Também as doenças que ocasionam insuficiência
sopro sistólico da cardiormoparia hipcnrófica obstrutiva. A rá- c di latação do ventrículo esquerdo (VE) podem causar dilatação
pida reversão dc!>~;" povruras promove um efeito inverso em do anel valvar com insuficiência mitral ..endo importante lembrar
todos os sons dcscriro-, anteriormente. pela redução súbita do que, casos de insuficiência aguda podem ocorrer por disfunção
apone sangülnco venoso i" câmaras direitas. ou ruptura de cordoalhas c/ou mú culo papilares decorrentes de
IAM. A apnéia inspiratória forçada ocasiona a diminuição do sopro
sistólico (Rivcro-Carvallo) c o acocoramemo ou o lcvumar súbito
Outras Manobras de membros inferiores aumenta ~ua imensidade.
Alémde~~Il>manobru-, ruucnormcnte de,criw, podem ser também
utilizadas manobras de esforço i..ométrico c dinâmico. assim como
a utilitaçiio de f(lrlll:lco, vuvodilatadorcs e vasoconstritore
Estenose Mitral
A obstrução do Iluxo sungtlínco pela valva mitral pode ser
decorrente tanto por alterações estruturai na própria valva
CARACTERISTlCASDOS SOPROS DE por doença reumática ou congênita como por doenças que
ALGUMASCARDIOPATIAS obstruem mecanicamente o fluxo pela valva. l-em afetá-Iu
diretumerue. como os grandes mixomas c trombos de átrio
Insuficiência Trlcúsplde esquerdo. A estcno e mitral produz um sopro mesodiastâlico em
ruflar de baixa frcqüência com uma tonalidade bem grave que.
Adisfunção valvar da insuficiência mcüspide geralmente decorre dependendo da contração atrial, também apresenta um reforço
de dilatação do VI) ocavionada por cardiornioparias ou hiper- em seu final conhecido como reforço pré-sistólico. O exercício
tensão pulmonar graves. Outra situação. menos frequentemente físico. o e!>forço isométrico e a fase tardia da liberação da manobra
encontrada. é decorrente de lesão das valvas em casos de endo- de Valsalva reforçam a características desse sopro.
cardite infecciosa. A dilurução e insuficiência do anel valvar
promove um refluxo sangüínco do VD para o ãrrio direito,
provocando um sopro sistôlico de regurgitaçâo localizado no Insuficiência Aórtica
foco tricúspide que pode se irradiar para foco, \ ivinhos, in- A valva aórtica torna-se insuficiente principalmente por lesões
clusive para o foco mitral. CIII1!>cguC-'c diferenciar o sopro de suas valvas ocasionadas por doença reumática. A insuficiência
sistólico de uma invuficiência mitral de uma insuficiência aórtica produz sopro diastôlico d('c'I1!\("('III('aspirativo localizado
tricúspide. posicionando-vc o, pacicntcv com o tórax levemente no foco aõrtico que ve irradia par .. baixo. aumentando de
inclinado para frente na posiçâo venradu e lu/cndo uma ins- intensidade com () esforço isométrico. na apnéia cxpiratória e
piração profunda. O sopro da in-uficiência tricúspide fica muito com o acocoramento ..úbito.
reforçado em rcluçãu ao da invuficiência mitral: e-ra manobra
é conhecida COIllO mannhra de Rivoro-Carvallo",
Estenose Aórtica
Estenose Trlcúsplde A estenose das vulvas aórticas geralmente é de origem reumãtica
havendo entretanto um contingente crescente de lesões valvares
A estenose da iricüspidc oca ..iona ob-rrucân ~ Sll (da do sangue por atcrosclcro e em idosos. Os casos congênitos de estenose
do átrio direito (A D), o que produ/ um sopn» mesodiastálico de geralmente são ocasionados por valva bicúspidc. A dificuldade
baixa frcqüênciu bem audível no foco tricúspidc. que se acentua de passagem sungürnea pela valva produz um sopro sistálico de
à inspiração profunda. O comprometimento valvar geralmente ejeção crcsceute-tlescrescente rude (ou em diamante) audível
decorre de doença, reumáticas. vegetações de endocardite infec- no foco aórtico com irradiação para cima em dircção ao pescoço.
ciosa c projcçõcs tumorais sobre a valva.
Comunicação Interatrlal
Insuficiência Pulmonar A passagem do sangue pela comunicação interatrial (CIA) não
o refluxo sangüínco da insuficiência pulmonar produz sopro produz sopro local, mas sim um sopro sistólico suave na valva
diastólicodecrescente de alta frcqüência audível na área do pulmonar acompanhado de de dobramento COnstante e fixo da
foco pulmonar apôs a P2. que nov casos acompanhados por P2. provocado pelo aumento da quantidade de sangue extra
hipertensão pulmonar é hipcrfonéricu e desdobrada. também que é forçada 11 passur pela "alva pulmonar, ocasionando um
conhecido como sopro dr Graham-Steel. hiperfluxo local.

Estenose Pulmonar Comunicação Interventricular


Caracterizam-se por verem sopros si stõllcos ('III crescendo- Apassagcm de sangue por um orifício no septo interventricular,
decrescendo. apresentando de. dobramento e hipofonesc da 132 tanto de causa congêniia como pôs-infano. produz um sopro
e ocasionalmente iniciando-vc com um estalido. Geralmente sistólico rude locali/ado no mcsocãrdio. que se intensifica com
são decorrentes de cardiopatia' congêniras e, frcqücntcmcruc, o esforço isométrico e se irradia para uma região entre os focos
consegue-se palpar um frêmito ocaslonado pelo sopro sistólico mitral e tricúspidc. Quando é acompanhada de hiperfonese de
no foco pulmonar. P2 indica hipertensão pulmonar.

Insullclêncla Mitrai Cardlomlopatla Hlperlróflca Obstrutiva


o não-fechamento adequado dos folhctov da valva mitral ocasiona A curdlomiopntia hipertrófica obstrutiva produz sopro sistólico
um refluxo do sangue para o átrio esquerdo (AE) produzindo um de ejeção crescente-decrescente ocasionado pela obstrução no
soprosistélico de regurgitação que. a partir do foco mitrul, se trato de saída do VE decorrente de hipertrofia muscular da região
402 • Tratado de Clínica Médica

scpial interventricular associado a um movimento do folheto !5, \lAl:RICIi. P. D. L.: BREATN,\CII. S \1 \lulllple Icnll~IIl'" ,)1IIItom< ar J.
Dtnnlllol.. v. 119. suppl. 33. p. 115. 1\I~l\
anterior da valva mitral. El.!>C sopro pode ser avaliado pela manobra
26. COI'I'L'I. B. D.: TE~II)LI!. l. K Mulllpk Icnll~lne, ,y"dromc (leop3rd s)ndrome
de Valsnlvu e !lua intensidade aumenta na fase de expiração O< p«>l!fC"ivc ranliom)'Op"lhlc Icnll~IIlC)\", J }.Itd Gme«. v, 34. p. 582·586.1991.
forçada. diminuindo na fave tardia da liberação da apnéia. 27 PETER. J.: VIDAURRI, J.; III\LI'O:-'. S. r tl.1 Assocauon between eomW a~",
and M>mc01 lhe ri,~ IUCIOI>for coronar) .l1el) disease. Br. J, Op/llhall1lm.• I 67,
p, 795· 79S. 19S3,
2K. (.'II,UIIILI!SS. L. E.: FUCHS. F. D,; LlN:-I. S. (I 31.111" a"OcialicolI o( ((1(n<11
CONSIDERAÇÕES FINAIS arcus wuh coronury hcart disease and cardio,a\Cul"r di"'." mortnlity ln ihe l.ipod
Re\C3rth Clinics Mortality Follow-up Sludy 11111, J Pu"'/( IIrlllrll" v, 80. p, 1201).
A urilização de ararmo tecnológico de forma intensiva e indis- 120-1. 1990.
tintarncntc para pesquisa diagnõsrica em cardiologia ignifica 2~. WINDER. A. F.: JOLLEYS. J. C.: I)AY, I.. II. CIJI C..rneal arcus, case lillding.n.!
em geral um alio CUSIOe nem sempre um sucesso diagnõstico. definnion of indiv idual clinical "'~ IIIheleTLllygou' rAmlh.l h) perchole .. crolacme
Ctin. Gl'nfl.. \ 5J. p. -197-502. 1998
Além disso. muitas veze .. algum. procedimentos invasivo expõem
30. I'I:TRAKIS. ~ Earlobe <I'C"'" ln "'"""n: evaluauon o( rq>rocIUC1i\'Cfacto", alcohol
0\ pacientes a grande manipulação e. conseqüentemente. a um u-e. and Quetclrl Indc~ "nd I'Clallon 10 .Ihe/melerolle dl..ea<e Am. J. Mtd .. v.99.
risco mui la, vezes dcsncccvvãrio. Assim. nesse breve resumo de I'. ,\5(>'~61. 1995
scmiologia. pretende-se estimular tanto a curiosidade como o .11. KIKKIIA\I.~ . MURRELS.T.: \lELCIII:R,S. 11•• 1.1 DI.gonaJe3tlobecr(N'i
und rlllJI ~.rdIO':bCUI3T disease: n neaol") 'IU~) nr.llrt1r/ J.. \.61. p. 361. 1989.
trcinamcnro continuado das habilidades semiotécnicas. poi ..
'2. COOK, O. J. TI!e cliniClIII"e""lénl o( central \'(I1('U' preSSUI'C.11m. J. Mtd Sd"
(I uperfciçoumcnro proporciona. além de melhor acuráci n diug- v. 299.1),175-178.1990.
IHhtica. ti exercício pleno da verdadeira arte da medicina. 3.' COOK. D, J,; SIMEL D, L.00« Ihi, parlem have uhuormal cemrat \'tnoo, Jlf'I.'"u'c'/
JAMA, 1',275. p. 630-63~. 1996,
3J IlUTMAN. $, M.: EWY, G. A.: KERN. K, B. et al. R.'lill& unlVor provnblc)u,ular
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS \<11(11"di<lcmion (abdominojugular 1.'1) are lhe h'''1 di,criminalor- ln bed,idt-
I, SH,\V.,R. J \ C",li:IC ~U>Cllllllli()n Q ""I ...·fTclIl\c ~1.gn(Nic <kill, Cun: /'m"', C\3111i1lUlillllLlI' patiems with chronic hellll ruilure. Cll'lullll/'III, v. 86. p. 1-529. 1992
CII"/i,,l. \ :!II.P .w1·~U. 199~, 35 IV Drretrizcs Brasileira de Hlpcl1fn'~1I Anenal Arl/. IJml, Cllrdiol .. \.82. >lIpp)
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hllllre'\lun ui "nooC'anhac eh(\( pain" adequne I" evclude c.nlia.: di -ea ",'!AtIIl. .\6 \\ORLO HF.J\L:I'NORGANI7.J\TIO\ InlcnMII(IIl.1SoclClyO(lIypenm.~Gu~
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in h)pcrhp.dJcllliu: Q controllcd slud)'. AIIII. Rh~lIlII. D,f .. 1'.52. (l, 44·48. 19')3 A compreensão das doenças carditlvasculares no Brasil aindo
21. MAl 1.01(". S 13.. LEAL·KHOURJ. 5. (ed~.).Alllllllj/mlrtl /)111;111111/"0' ~rDel'llul/u/(l1Iie
é incumpleta. porém tem sido acrescida. a cada momenlO,
S\lu/lT,,"t. '1cw York: Panhenon. 199-1.
24. S('lIll:VI~K. WI.: MICHELS. V.V.: PIEI'GKi\S. D. Ci. Ncu/O\'3\Cular 11111llil'c,IOlions com novus estudos Iransversais e casos-controle que lralem
o( herilablc connooivc lis,nc di,ordc,,' D I'Cvic"" Slmlr. \'. 25. p. ~89-9OJ. 1994. novos dados sobre a nossa realidade. Se. no passado, somenle
Doenças Cardiovasculares • 403

TABELA 42.1 - Razãoentre mortes por doença 120


cerebrovasculare demais causascardiovascularesno ano de
2002no Brasil,definida por sexo

ESTADO
Amapá
HOMENS
0,767
MULHERES
0,380
100

80
..........
-- "'--- ~
Alagoas
Amazonas
Sergipe
Ceará
Maranhão
0,755
0,726
0,718
0.671
0,664
0,270
0,358
0,323
0.402
0,343
60

40

20
--- -
Espírito Santo 0,664 0,349
Pará 0,636 0,368
Tocantins 0,613 0,182
0,606 0,338 .!?>V .!?>..t .!?>o,'o ....o,~ .!?>o,'" .!?>o,'I. .!?>o,'" ,0,0,'0 'I."'~
,0,0,0, '1.<>",,,,
Piauí
Paraíba 0,599 0,290 Ano
Acre 0,579 0,102
Bahia 0,542 0,287
Santa Catarina 0,538 0,301
Paraná 0,532 0,261
0,519 0,190 Figura 42.2 - Tendências das taxas de mortalidade ajustadas
Rondônia
Roraima 0,517 0,250 por idade por doenças coronarianas, no Brasil, entre 1980e 2002,
Pernambuco 0,516 0,276 na população entre 20 e 79 anos
Rio Grande do Sul 0,510 0,328 Fonte: DATASUS/SVS/Ministério da Saúde, Brasília (DF), 2004. Cálculos do
Rio de Janeiro 0,508 0,263 autor utilizando intervalos decenais e a população censitária de 2000 como
Minas Gerais 0.495 0,248 padrão para ajuste
Mato Grosso 0,476 0,191
Goiás 0.465 0,185
Rio Grande do Norte 0.451 0,293
São Paulo 0,449 0,229 MORTALIDADE
Distrito Federal 0,441 0,266
Mato Grosso do Sul 0,417 0,221 Uma das caractcrfsiicas distintivas da epidemiologia dasdoenças
Fonte: DATASUS/SVS/Ministério da Saúde, Brasília, DF, 2004 cardiovasculares no Brasil é a proporção elevada de óbitos
pela doença cerebrovascular em comparação com as demais
causas de morte por doenças cardiovasculares, C01110 mostrado
osdaclosde mortalidade apresentavam um mínimo de con- na Tabela 42.1, Essa distribuição apresenta nítida distribui-
sistência, hoje já se pode contar com informações do Sis- ção geográfica como proporção maior da doença ccrcbrovascular
temaÚnico de Saúde que contabiliza todas as Autorizações no Norte e Nordeste em comparação C0111 o Sul c Sudeste.
de Internação Hospitalar no país. Recentemente, três estu- A magnitude das taxas de mortalidade coronariana e cerebro-
dosde base populacional. realizados no país, foram publi- vascular já foi mostrada tanto para as capitais C01110 para todo
cados'" e dois outros realizados em Belo Horizonte (:'VIG)" o país. evidenciando que as doenças cardiovasculares mere-
e.em São Paulo (SP);. No presente capítulo. será apresen- cem o devido destaque nas ações de saúde públicat".
tadaa situação brasileira com destaque para a mortalidade A tendência temporal das doenças coronariana e cerebrovas-
comparada,morbidade hospitalar, morbidade referida c fatores cular no país está apresentada nas Figuras 42.1 a 42.3. Uti-
derisco cardiovascular, enfatizando esses novos dados que lizaram-sc para o seu cálculo os eventos ocorridos entre 1980
aindanãoseencontram disseminados na literatura cardiológica e 2002 na faixa etária dos 20 aos 79 anos, com o devido
brasileira. ajuste pela composição etária. Observou-se redução das taxas

350
300 1-
2SO
--....--~
: 200
1-......
~~
"---
~ 150

100
-
50

,0,0,'" ,0,0,'1. ,o,~ ,0,0,'0 ,0,0,0, .,0,'"


.... ....0,0,'1. ,0,0,'" ....
0,0,'0 ,0,0,0, '1.",,,,,,, 'f'''''I.
Ano Ano

Figura 42,1 - Tendências das taxas de mortalidade ajustadas Figura 42,3 - Tendências das taxas de mortalidade ajustadas
poridadepor doenças cardiovasculares, no Brasil, entre 1980 e por idade por doenças cerebrovasculares, no Brasil, entre 1980
2002,na população entre 20 e 79 anos e 2002, na população entre 20 e 79 anos
fonte: DATASUS/SVS/Ministério da Saúde, Brasília (DF), 2004. Cálculos do Fonte: DATASUS/SVS/Mínistério da Saúde, Brasília (DF), 2004. Cálculos do
autor utílizando intervalos decenais e a população censitária de 2000 como autor utilizando intervalos decenais e a população censitária de 2000 como
padrãopara ajuste padrão para ajuste
404 • Tratado de Clínica Médica

No entanto, li queda anual calculada pelo método da regressão


TABELA 42.2 - Redução anual das taxas ajustadas por idade
na população entre 20 e 79 anos, de 1980 a 2002, utilizando-se linear simples apresentada na Tabela 42.2 mostrou que a re-
regressão linear simples dução anual das taxas de mortalidade guardam relação por
sexo, de acordo com cada doença. Entre estas, destaca-se a
HOMENS MULHERES queda mais acentuada da doença cerebrovnscular tanto para
Todasas cardiovasculares -1,30 -1,54 homens como para mulheres.
Coronarianas -1,04 -1,03
Cerebrovasculares -1,51 -1,73 MORBIDADE HOSPITALAR
Fonte:DATASUSISVS/Ministério da Saúde,Brasilia,DF,2004 A morbidade hospitalar pelas doenças cardiovasculares apre-
Cálculosdo autor utilizando intervalosdecenaise a populaçãocensitáriade
2000 como padrão para ajuste sentapadrão semelhanteao descrito em vários países.No cômputo
geral das internações pelo Sistema Único de Saúde no ano de
2003 para todo o território nacional, asdoenças cardiovasculares
de mortalidade nastrês situações, inclu i ndo a doençacoronariana ficam cm segundo lugar entre os homens, depois das doenças
c a ccrcbrovnscular, Esses achados corroboram O já descrito respiratórias e em terceiro, depois das hospitalizações decorrentes
inicialmente nas capitais de regiões metropolitanas e no Es- do parto e complicações da gravidez e das doenças respirató-
tado de São Paulo"!". rias (Tabela 42.3). No entanto, quando se avalia o custo total

TABELA 42.3 - Proporção de internações no Sistema Único de Saúde por Capltulos da 10· revisão da Classificação Internacional de
Doenças, durante o ano de 2003 no Brasil

CAPiTULOCID-lO HOMENS(%) MULHERES(%) TOTAL (%)


XV. Gravidez, parto e puerpério o 37 23
X. Doençasdo sistema respiratório 20 12 15
IX. Doençasdo sistema circulatório 13 9 11
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 12 7 9
XI. Doençasdo sistema digestivo 11 6 8
XIV. Doençasdo sistema geniturinárlo 5 7 7
XIX. Causasexternas 11 3 6
II. Neoplasias (tumores) 5 5 5
V. Transtornos mentais e comportamentais 5 2 3
IV. Doençasendócrinas nutricionais e metabólicas 3 2 3
XIII. Doençasosteomusculares 3 2 2
XVI. Afecções do período perinatal 2 2
VI. Doençasdo sistema nervoso 2 1
XII. Doençasda pele e do tecido subcutâneo 2 1
XVIII. Sintomas e sinais mal definidos 1
XXI. Contatos com serviços de saúde 1
XVII. Malformações congênitas 1
III. Doençasdo sangue 1 1 1
VII. Doençasdo olho e anexos 1 O 1
O
VIII. Doençasdo ouvido e da apófise mastóide
°
Númerode internaçõesnesseperfodo. Homens:4.565.390; mulheres: 7.072.743; total: 11.638.133
O

TABELA 42.4 - Proporção dos gastos por internações no Sistema Único de Saúde por Capítulos da 102 revisão da Classificação
Internacional de Doenças, durante o ano de 2003 no Brasil •

CAPiTULOCID-lO SEXOMASCULINO(%) SEXOFEMININO(%) TOTAL(%)


IX. Doençasdo sistema circulatório 22,10 17,06 19,46
XV. Gravidez, parto e puerpério O 23,87 12,48
X. Doençasdo sistema respiratório 13,06 10,26 11,60
V. Transtornos mentais e comportamentais 10,76 5,63 8,08
XIX. Causasexternas 11,73 4,70 8,06
II. Neoplasias(tumores) 7,29 7,33 7,31
XI. Doençasdo sistema digestivo 7,88 6,18 6,99
I. Doençasinfecciosas e parasitárias .6,65 5,30 S,94
XIV. Doençasdo sistema geniturinário 3,46 5,20 4,37
XIII. Doençasosteomusculares 3,35 2,52 2,91
XVI. Afecções do período perinatal 3,13 2,63 2,87
VI. Doençasdo sistema nervoso 3,29 2,48 2,86
XVII. Malformações congênitas 2,01 1,75 1,87
IV. Doençasendócrinas nutricionais e metabólicas 1,41 1,66 1,54
XII. Doençasda pele e do tecido subcutâneo 1,17 0,71 0,93
XVIII. Sintomas e sinais mal definidos 0,81 0,86 0,84
XXI. Contatos com serviços de saúde 0,65 0,76 0,71
VII. Doençasdo olho e anexos 0,52 0,44 0,48
III. Doençasdo sangue 0,50 0,42 0,46
VIII. Doençasdo ouvido e da apófise mastóide 0,22 0,23 0,23

Valor absoluto de gastosem reais (R~l. Homens:2.797.762.899,24; mulheres:3.063.700.195,97; total: 5.861.463.095,21


Doenças Cardiovasculares • 405

TABELA 42.5 - Proporção de internações no Sistema Único de Saúde no Capítulo IX da 10J revisão da Classificação Internacional de
Doenças- Doenças do Sistema Circulatório, durante o ano de 2003 no Brasil
LISTAOEMORBIDAOEC10-10
---------------------
SEXOMASCULINO (%) SEXOFEMININO (%) TOTAL (%)
Insuficiênciacardiaca 31,1 27,2 29
Outrasdoenças isquêmicas do coração 12,9 9,3 11
Acidentevascular cerebral não especificado 11,1 9,2 10,1
Hipertensãoessencial (primária) 8 11,4 9,8
Veiasvaricosasdas extremidades inferiores 3 13,7 8,7
Hemorragiaintracraniana 5 3,8 4,4
Infarto agudo do miocárdio 5,6 3 4,2
Outrasdoenças hipertensivas 3,6 4,4 4
Transtornosde condução e arritmias cardíacas 3,5 3,4 3,5
Hemorróidas 2,2 2,5 2,4
Fleblte,tromboflebite, embolismo e trombose venosa 1,8 2,5 2,2
Outrasdoenças do coração 1,5 1,6 1,6
Outrasdoenças vasculares periféricas 1,5 1,3 1,4
Outrasdoenças das artérias 1,7 1 1,3
Infarto cerebral 1,4 1,1 1,3
Outrasdoenças cerebrovasculares 1,3 1,2 1,2
Embolismoe trombose arteriais 1,4 0,8 1,1
Doençareumática crónica do coração 0,8 0,9 0,9
Outrasdoenças do sistema circulatório 1,3 0,3 0,8
Embolismopulmonar 0,6 0,6 0,6
Febrereumática aguda 0,3 0,3 0,3
Arteriosclerose 0,3 0,2 0,2

(Tabela42.4), as doenças cardiovasculares assumem a princi- gias ou a procedimentos representam custo maior. A Tabe-
pal posição para ambos os sexos. com quase 20% de rodo o la 42.6 mostra que mais de um quarto dos gastos foram pro-
valor gasto com internação no Sistema Único de Saúde. sen- venientes de internações por outras doenças isquêmicas do
do O principal gasto entre os homens e o segundo entre as coração, entendendo-se por isso como sendo internações
mulheresem razão do impacto das internações obstétricas. motivadas pela doença coronarinna não aguda, ou seja a
A avaliação das internações hospitalares unicamente no angina do peito ou o pós-infurto do miocárdio que neces-
capúulo das doenças cardiovasculares no ano de 2003 pagos sim cirurgia de revascularização miocárdica ou angioplustia.
peloSistema Único de Saúde mostrou que a proporção maior A terceira causa de custo por internação são as decorrentes
de internações foi motivada pela insuficiência cardíaca com de transtorno de condução cujo custo básico é decorrente
quase30% de todas as internações da especialidade. seguido da implantação de marca-passo. O gasto com proccdimcn-
pelasoutras doenças lsquêmicas do coração e pelo acidente tos cirúrgicos explica porque a doença reumática crônica
vascular cerebral ndo especlficado COIIIO isquêmico 01/ do coração. que responde por menos de I % das internações
heniorrâgico (Tubcln 42.5). No entanto. a análise do custo no ano de 2003, gastou o equivalente ii 69'(lelas hospitaliza-
dainternaçãomostra que aquelas situações associadas a cirur- ções pelas doenças cardiovasculares.

TABELA42.6 - Proporção dos gastos por internações no Sistema Único de Saúde no Capitulo IX da 10' revisão da Classificação
Internacional de Doenças - Doenças do Sistema Circulatório, durante o ano de 2003 no Brasil

LISTAOEMORBIDAOECIO-lO SEXO MASCULINO (%) SEXO FEMININO(0/0) TOTAL (%)


Total 100 100 100
Outrasdoenças Isquêmlcas do coração 31.28 21,86 26,97
Insuficiênciacardlaca 16,43 18,37 17,32
Transtornosde condução e arritmias 7,94 8,07 8
Infarto agudo do miocárdio 7,79 5,37 6,68
Doençareumática crónica do coração 4,89 6,65 5,69
Hemorragiaintracranlana 5,44 5,82 5,61
Acidentevascular cerebral não especlflcado 4,96 5,43 5,18
Outrasdoençasdo coração 4,51 4,52 4,51
Velasvaricosasdas extremidades inferiores 1,16 7,42 4,03
Outrasdoençascerebrovasculares 2,64 2,95 2,78
Outras doençasdas artérias 2,61 1,91 2,29
Outrasdoençasvasculares periféricas 2,24 2,13 2,19
Hipertensãoessencial (primária) 1,40 2,49 1,90
Outrasdoençashipertensivas 1,65 2,04 1,83
Embolismoe trombose arteriais 2,00 1,42 1,74
Infarto cerebral 0,83 0,81 0,82
Tromboflebite, embolismo e trombose venosa 0,59 0,99 0,78
Hemorróidas 0,46 0,68 0,56
Arteriosclerose 0,45 0,39 0,42
Embolismopulmonar 0,34 0,50 0,41
Outrasdoençasdo sistema circulatório 0,33 0,14 0,24
Febrereumática aguda 0,05 0,06 0,06
406 • Tratado de (/lnica Médíca

proporção de indivíduos que tiveram diagnóstico e tratamento


TABELA 42.7 - Proporçãode indivíduos que tiveram
diagnóstico e tratamento de alguns problemas de saúde de alguns problemas de saúde relatados pelos participantes como
relatados na PesquisaMundial de Saúde, inquérito de base decorrentes de ação médica. A angina pectoris foi relatada
populacional realizado no Brasil, 2003 por 6,7% dos participantes, enquanto 5.70/.. estavam também
em traramenro (Tabela 42.7). O custo mensal relatado por aqueles
DIAGNÓSTICOE com diagnóstico de angina pectoris foi de R$ 163.00 e o custo
PROBLEMAOE SAÚDE DIAGNÓSTICO(%) TRATAMENTO(%)
de medicamentos para angina representou Uni gasto mensal de
Artrite 1~6 ~3 R$ 65,00 (Tabela 42.X).
Angina pectoris 6.7 5,7
Asma 12,1 11,6
Diabetes ~2 ~8 FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR
Depressão 1~3 1~3
Esquizofrenia 1.7 1,6 Tabagismo
o Instituto Nacional do Câncer realizou em 2002-2003 o
Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e
MORBIDADE REFERIDA Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis,
A Pesquisa Mundial de Saúde foi um inquérito de base popu- cuja publicação se encontra no endereço eletrônico do
Ministério da Saúde'. O objetivo do inquérito foi estimar a
lacional realizado no Brasil no ano de 2003 que relatou vários
aspectos do binômio saúde-doenças", Entre eles, destaca-se a magnitude da exposição C/ comportamentos e[ato res de risco
pum doenças e agravos lião trausmissiveis do acesso a exames
de detecção precoce de câncer de mania e colo do útero
e de agravos selecionados (morbidade referida). Entre estes
TABELA 42.B - Gasto médio domiciliar mensal em saúde e
com medicamentos por presençade problema de saúde
se encontrava a informação sobre tabagismo e sobrepeso.
A metodologia empregada foi uma amostra de indivíduos
GAST05 (RS) de 15 anos ou mais de idade, residentes em capitais escoo
PROBLEMAOE SAÚDE SAÚDE MEDICAMENTOS lhidus (Manaus, Belém. Fortaleza, Natal, João Pessoa, Re·
cife. Aracaju, Vitória, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São
Artrite 165,53 56,52
Angina pectoris 162,97 65,13
Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Campo Gran-
Asma 224,27 47,05 de) e no Distrito Federal. A amostragem foi em dois está-
Diabetes 140,09 68,76 gios de seleção (setores censitários e dornicflios) e todos
Depressão 214,77 61,65 os moradores com 15 anos ou mais, dos domicílios par-
Não tem nenhum 117,77 37,71 ticipantes. foram entrevistados. O total de participantes foi
dessesproblemas de 23.457 correspondente a 90% dos elegíveis.
A Figura 42.4 mostra que o hábito de fumar é mais comum
no sul do país. o que explica em parte uma carga imponame da
mortalidade coronariana maior nessa região, quando comparada
Porto Alegre 25
às demais regiões". A prevalência de fumantes munis no país é
Curitib. 22
21
de aproximadamente 20%. representando uma queda importante
florianópoli s
SAo Paulo 20
em relação a um inquérito anterior - a Pesquisa Nacional de Saúde
Belo Horizonte 20
e Nutrição em 1989 - que mostrava valores sempre mais elevados
Tota I 1
nas cidades onde foi possível comparar com os dados do lnquériro
Rio do Janeiro 18 de 2002-2003. Dessas capitais, Belém e o Rio de Janeiro aprescn-
Vitória 18 taram a queda maior (acima de 40%) na prevalência de taba-
Fortaleza 18 gismo e POrtO Alegre a menor (10%) (Tabela 42.9).
Manaus 18
Braslll. 17 Obesidade
Recife 17
Esse mesmo inquérito mostrou que a frequência de sobrepeso
J030 Pessoa 17
16
(índice de massa corpórea acima de 25kg/m2) atinge 40% da
Belem
Campo Grande 15
população das capitais estudadas, sendo mais frcqüentc nas
Natal 15
cidades do Sul e do Sudeste e menor no Norte e Nordeste.
Aracaju 13
embora nessas cidades. a prevalência também possa ser con-
o 10 15 20 25
siderada elevada (Fig. 42.5).
O aumento da obesidade e do sobrepeso foi bem determinado
Figura 42.4 - Freqüência (em porcentagem) de fumantes requla- na Pesquisa de Orçamento Familiar do Instituto Brasileiro de
res de cigarros na população com 15 anos ou mais, em 15 capi- Geografia e Estatística em 2002. divulgada no final de 2004.
tais brasileiras e no Distrito Federal, no Inquérito Domiciliar do Nesse inquérito foi possível determinar que a freqüência de
Instituto Nacional do Câncer (2002-2003) sobrepeso continua a sua tendência de aumento, principalmente

TABELA 42.9 - Prevalência(em porcentagem) de tabagismo em duas amostras populacionais em capitais brasileiras na Pesquisa
Nacional de Saúdee Nutri~ão (1989) e no Inquérito Domiciliar do Instituto Nacional do Câncer (2002-2003)

BEltM RECIFE RIO OEJANEIRO



SÃO PAULO PORTOALEGRE BRA51uA
1989 31 28 30 30 29,9 25
2002 - 2003 17 18 17 20 26 17
Diferença relativa 45,2 35,7 43,3 33,3 10,3 34,6
Doenças Cardiovasculares • 407

46 14
Rio de Janeiro
Porto Alegre 4
Curiliba 41 12
São Paulo 41
_ 10
Redfe 40
Total
fonaleza
40
9
9
..
!!
'O
8
7,8

.,..
MaMus 9 '"
~ 6
Vitória 3
Jolo Pessoo 37 o 4
Belo Horizonte 37
~mpo Grande 37
Belém 35
Brasllla '4
Nalal 4 ENDEf 1974·75 PNSN 1989 POF 2002·03
AraClju
O 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Figura 42.5 - Freqüência de sobrepeso (Indice de massa corpórea


acima de 25kg/m!) na população entre 15 e 69 anos em 15 capi- Figura 42.7 - Evolução da freqüência, padronizada por faixa
tais brasileiras e no Distrito Federal. Inquérito Domiciliar do Ins- etária, de obesidade na população brasileira em três décadas
tituto Nacional do Câncer, 2002-2003 segundo os dados do Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF)
1974· I975, da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN)
1989 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003
entre os homens (Fig. 42.6). O aumento da obesidade tam-
bém foi maio evidente entre os homens. embora a prevalência
ainda seja mais elevada entre as mulheres (Fig. 42.7). TABELA 42.10 - Razões de prevalência (e intervalo de
A tendência da prevalência de tabagismo c obesidade tam- confiança 95%), em porcentagem, de fatores de risco na
bém foi verificada cm dois estudos patrocinados pelo Centro cidade de São Paulo, com intervalo de 15 anos
de Vigilância Epidemiológica da Sccrcrarla de Estado da 1987 2001 - 2002
Saúde de Saúde em 19X7'!e em 2001-2002' (Tabela 42.10).
O tabagismo medido pela frequência daqueles que ainda estão Tabagismo Homens 41,8 (37,S - 46,2) 25,S (22,7 - 28,2)
Mulheres 30,6 (27,] - 33,4) 19,8 (17,5 - 22,2)
fumando teve redução importante na prevalência tanto para
os homens (-39%) como para as mulheres (-35%). Na faixa Obesidade Homens 6,1 (4 - 8,2) 12,4 (10,5 - 14,4)
etária de 15 a 29 anos, em que há O início do vício tabagfstico. Mulheres 9,3 (7,5 - 11,1) 15 (13 - 17,1)
ti redução foi mais incisiva: -49% para homens e -53% para Tabagismo: consumo diário, independentemente da quantidade
mulheres. Confirmou-se também o aumento da obesidade na Obesidade global: IMe ~ 30kg/m'
cidade com aumento em 100% para homens e 60% para mu-
lheres, No estudo de 2001-2002 foram determinados também
outros fatores. como hipertensão arterial. di lipidcrnia e obe- TABELA 42.11 - Fatores de risco cardiovascular em amostra
sidade abdominal. permitindo calcular a distribuição desses populacional na cidade de São Paulo. em 2001-2002
fatores na população paulisrana (Tabela 42.11).
HOMENS MULHERES TOTAL
Obesidade abdominal 11 28,4 19,7
CONSIDERAÇÕES FINAIS Hipertensêo arterial 30,7 17,9 24,3
Glicemia alterada 8,3 5,3 6,8
As doenças cardiovasculares apresentam impacto importante Colesterol elevado 10,8 5,4 8,1
na mortalidade, rnorbidade e nos custos de internação e de HOL·colesterol baixo 37,4 16,9 27,1
seguimento arnbulatorial. Entre os fatores de risco principais, Trlglicérides > 150mg/dL 23 5,8 14,4
destacam-se o movimento inverso de redução do tabagismo e Tabagismo:consumo diário, independentemente da quantidade; hipertensão
o aumento da obesidade no país. arterial: pressão arterial sistólica~ 140mmHgou pressão arterial diastólica
~ 90mmHg;obesidadeglobal: IMe ~ 30kglm';obes.dadeabdominal:> 102cm
para homens e > 88cmpara mulheres: colesterol total elevado ~ 240m9'dL;
HDl·colesterolbaixo < 40mÇ)fdl;triglicérideselevados ê! 200mgldl;ghcose
alterada2: 110m9'dl;sedentarismo definidopelaresposta:que tipodeat.vidade
407 41 39,2
físicavocê pranca durante seu tempo livrede lazer?

- -
28,6 29.5
'--- - REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

_l8.6_
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408 • Tratado de Clínica Médica

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".61. p. 49·53. 1993. ordi nário atrial e ventricular. Todos esses fenômenos elétricos são
10. LOLlO. C.A.: LOTUFO. I'. A.: LIRA. A. C. ~1. III. Tendência da mortalidade por explorados por eletrodos merãl ices aplicados nas extremidades
doen"" i"lutlllk" d.. l,,",,",n na, CllpU:U'de rcglões mcuopolitnnas do Br.J5iJ. 1979·89. e na parede do tórax e. posteriormente, amplificados e registrados
/1'1/";"'1(IIrm/lrl,.." ,I,' ('imli""'/:i,,. v. M. I>.195·19~.1995.
II. LCTrUI'O.I'. 1\ : UENSHNOR.I. M.: LOLlO. C. A. Tabagismo e mortalidade por
pelo elerrocardiógrafo. que é UI11 galvanômetro sofisticado.
doel1,lI i-quêrmca do cernção: estudo comparativo das capitais de regiões mctropo- O ECG é extremamente útil na prática clínica diária, propi-
I1t:II1:"do Brasil. 1988. Arq"il'llS Hrasiieiros de Cardiologia. Y.M. p. 7·9. 1995. ciando o diagnõstico de arritmias cardíacas, atrasos de condução
12. REGO. R. A. et al, Fatores de risco par" doenças crônicas não tran'11Iis.~í,·ei<:inqué- atriovcntricular e imraventricular, isquemia e infano do miocárdio,
rito domiciliar no ~Iunicipio de São Paulo. SP (Brasil): metodologia e re-uhad,»
preliminares. Rev. Soúdr Pública. v, 2-1. p, 277·2S5. 1()9(l. sobrecarga das diferentes câmaras cardíacas. processos inflama-
tórios (rniocardite e pericardite), efeitos de drogas (especialmente
digitálicos e outras drogas antiarrftmicas), alterações metabólicas
(por exemplo. hiperpotassemia), funcionamento de marca-passos
CAPíTULO 43 e sinais de comprometimento cardíaco por doenças sistêmicas,
No entanto, é oportuno lembrar que um indivíduo com cardiopatia
pode ter registro eletrocardiogrãfico muito próximo do normal
e. em contrapartida. um indivíduo normal pode ler ECG aparen-

Eletrocardiografia temente anormal. Dessa forma. como qualquer outro exame


subsidiário, o ECG deve ser interpretado em conjunto com os
dados da história clínica e exame físico.
Paulo César R. Sanches
Paulo Jorge Moffa SISTEMAS DE DERIVAÇÕES
Para o registro do ECG é necessário que se feche o circuito elé-
Carlos Alberto Pastore trico entre O coração e o eletrocardiógrafo. Para esse fim, colocam-
o clctrocardiogrtunu (ECG) é a representação ;;ró.f/cadas dife- se eletrodcs em diferentes pontos da superfície corpórea,
rençu» de potenciais elétricos gerados no catupo elétrico pro- conectados ao aparelho de registro por tios condutores, Dessa
duzido pelo coração, O ECG revela a corrente elétrica gerada maneira, as derivações do ECG podem ser definidas como pare
pelo movimento de íOIlS através das membranas das células de terminais de polaridade definida e conectadas aos eletrodos
miocãrdicas, registrando, basicamente. dois fenômenos: a des- exploradores. Podem ser divididas em dois tipos principais-
polarização. que é a transmissão do estímulo através do músculo bipolares e unipolares (Fig. 43.2).
cardíaco. e a rcpolarização, que é o retorno do músculo cardíaco Derivações bipolares registram as diferença de potenciais
estimulado ao estado de repouso. clétricos entre dois clcrrodo posicionados em locais diferentes,
Um sistema intrínseco de condução elérrica coordena a se- uma vez que o potencial real de cada eletrodo não é conhecido.
qüêneia de contrações musculares durante o ciclo cardíaco. As derivações bipolares O I. 02 e 03, também denominadas
Uma corrente elérrica ou impulso estimula cada conrração derivações tios membros ou standards, registram as diferenças
rniocárdica. Esse impulso origina-se no nó sinusal (nó SA). de potenciais elétricos no plano frontal. Os eletrodos são colocados
loculizado na parede do ;ílrio direito e. em seguida. é transmitido nos braços e nas pernas, de maneira que O I registra as diferenças
para ambos os átrios, deflagrando a coruração dessas câmaras, de potenciais elétricos entre o braço esquerdo (pólo positivo)
c para o nó atrioventricular (nó AV), localizado no septo atrial. e o braço direito (pólo negativo), 02 entre a perna esquerda (pólo
No nó AV. o irnpu lso sofre um .uraso, sendo, em seguida, trans- positivo) e o braço direito (pólo negativo) e 03 entre a perna
mil ido pelo feixe de !-I is e seus ramos até as fibras de Purkinje esquerda (pólo positivo) e o braço esquerdo (pólo negativo).
no miocárdio ventricular. do endocárdio para o epicárdio, defla- O eletrodo da perna direita é considerado conexão terra (Fig. 43.2).
grande a contração ventricular (Fig. 43.1). No entanto, o ECG Essas derivações foram ideal izadas por Einthoven, com base
cm conveniências de ordem teórica e prática. que as posicionou
de maneira a formar o.s lados de um triângulo eqüilãtero -
Troncodo
feixe de His triângulo de Einrhoven. As conexões elétricas entre essas
derivações fazem com que a diferença de potencial registrada
por 02 seja igual à soma das diferenças dos potenciais elétri-

cos registrados por O I e 03 (D2 = O I + 03), conhecida como
lei de Einthoven (Fig. 43.3).
Derivações unipolares registram as diferenças de poten-
ciais elétricos de uma pequena área sob o eletrodo explorador
Átrio
dlreito-+-+-1+- c lodos os fenômenos elétricos do ciclo cardíaco são analisa-
dos desse ponto. Para a compreensão do funcionamento das
Nó allio-
ventricular derivações unipolares é necessária a definição do terminal central
de Wilso/l. Esse terminal central é formado pelo somatório
Fibras de
Purkinje das voltagens dos eletrodos dos braços esquerdo e direito e da
direito perna esquerda, utilizando-se resistências de 5.0000. Esse ponto
comum (terminal central de Wilson) é ligado ao pólo negativo
do aparelho de registro e o eletrodo explorador é conectado ao
pólo positivo, de maneira que as variações dos potenciais elé-
Ramodireito tricos são registradas apenas pelo eletrodo explorador, ou seja,
uma derivação unipolar. Na realidade, o potencial do terminal
Figura 43.1 - Sistema de condução normal. O impulso elétrico central de Wilson é quase nulo (aproximadamente O,3mV) porque
inicia-se no nó sinusal e, em seguida. é transmitido para o nó representa a média dos potenciais das derivações dos mem-
atrioventricular, feixe de His e seus ramos e fibras de Purkinje' bros, mas permanece relativamente constante durante todo o
Doenças Cardiovasculares • 409

ciclo cardíaco. Dessa forma. a voltagem registrada pela deri- +90°. Considera-se desvio do eixo clétrico médio para a esquerda
vação unipolar é determinada predominantemente pelas alte- quando este se encontra entre -30° e -90n e para a direita quando
raçõesde potencial cléirico no local explorado. se encontra entre +90° e + ISOO. É oportuno lembrar que o
Nas derivações unipolares precordiais (V I a V6) o clcrro- desvio do eixo elétrico médio para li esquerda pode acompanhar
doexplorador. conectado ao pólo positivo do aparelho de rcgis- o envelhecimento. na ausência de qualquer evidência de cardio-
tro. é colocado nos seis pontos clãsslcos da face anterior do patia estrutural. No plano frontal. o eixo clétrico médio dessas
tórax(Fig. 43.2). utilizando o terminal central de Wilson como deflexões reflete o predomínio das câmaras esquerdas. diri-
referencial ou elctrodo indiferente. gindo-se para trá:. (Tabela 43.1).
Nas derivações unipolares amplificadas dos membros, a
diferençareside na modi licação do clctrodo de referência. que REGISTRO DO EUTROCAROIOGRAMA
é desconectado do clctrodo explorador. O potencial de refe- o ECG é registrado num papel quadriculado com linhas hori-
rência é a média dos potenciais elétricos captados por apenas zontais e verticais separadas por intervalos de I mm e linhas
doisdoscletrodos das extremidades. Isto resulta num aumento mais espessas com intervalos de 5mm. As linhas mais finas
devoltagemde cerca de 50% «(I aumentada). Assim. na derivação formam quadrados com I mm de cada lado e as linhas espes-
aVR, o eletrodo explorador é o do braço direito, naderivação aVL sas formam quadrados com 5mm de cada lado ou cinco qua-
éodo braço esquerdo e na derivação IIVF é o da perna direita. drados menores. O tempo é medido pelas linhas horizontais
O ECO convencional de 12derivações pode ser complemen- de forma que. na velocidade de registro habitual de 25mm/s.
tadopor derivações adicionais, como por exemplo. as deriva- =
I quadrado pequeno 0.04 segundo. A voltagem é medida
~ ções precordiais direita, V3R, V4R .... para o diagnóstico de pelas linhas verticais que, na calibração padrão, 10rnm = (I mV).
~ isquemiaou sobrecarga do ventrículo direito. além das deri- O registro pode ser realizado nas clássicas tiras de papel ou
;; vações V7, V8, V9 .... para o diagnóstico de infarto do miocárdio em página (Fig. 43.6).
~ da parede posterior do ventrículo esquerdo (Fig. 43.4).
~ As derivações do ECG registram deflexões positivas (para CONCEITOS BASICOS DE EUTROFISIOLOGIA DA
cimada linha de base) se a onda de despolarização for di rigida
parao pólo positivo destas e dcflcxõcs negativas (para baixo CÉLULA CAROIACA
dalinha de ba 'e) se a onda de dcspolurizução for dirigida para As fibras miocárdicus cm repouso apresentam diferença de
O pólo negativo. Se a onda de dcspolarizaçâo tiver orientação potencial elétrico através da membrana. Se o microeletrodo
médiaperpendicular a uma determinada derivação. registra-se
deflexão bifásica (igualmente positiva e negativa).

SISTEMAS DE EIXOS
A partir do triângulo de Einthovcn. pode-se transportar as li-
nhasdasderivaçõesbipolares para O centro do triângulo (deslocan-
do-as paralelamente à sua dircção primitiva). compondo-se.
assim.um sistema iriaxial. com ângulos de 60° entre seus com-
ponentes(triângulo equilátero). Superpondo-sc este sistema Derivação I Derivação II Derivação III
a outro. constituído pelas três linhas das derivações unipolares

'\t\
dos membros.obtém-se um sistema hexuxial. com ângulos de Ângulo ~
30° entre seuscomponentes. Todas essasderivações pertencem
aoplanofrontal. funcionando como um sistema de eixos em que
se projetam os vetores cardíacos. Todos esseseixos têm ângu-
los determinados c polaridades invariáveis. estabelecidos por de LOU\~',~WI
convenção(Fig. 43.5). :'tC~ . 'IS
,
A projcção de um Vl:LQr no planofrontal dú origem a nutras
seis projcções diferentes. uma sobre cada eixo de derivação. A
Portanto,quando são registradas as seis derivações do plano

o o
.ofi~ .
frontal (DI. D2. 03. aVR. aVL e aVr). apenas se estuda a
projeçãode um mesmo e único fenômeno clétrico. lsto possi-
bilita a determinação da oricntução de um vetor nesse plano.
Paraa localização de um vctor, utiliza-se a circunferência gra-
duada.em que o diâmetro transversal separa dois campos: um
de valores positivos. situado inferiormente (ângulos de O a
+180°). e outro de valores negativos. situado superiormente
:: ..~:
(ângulo de O a -180°) (Fig. 43.5).
o plano horizontal, as derivações precordiais registram Derivação aVR Derivação aVL Derivação aVF
deflexõespositivas.quando o veior cardíaco tem direção anterior
e negativaquando este tem dircção posterior. Da mesma forma Figura 43.2 - (A) Parte superior. Conexõesdos eletrodos para o
quenoplano frontal. a projcção de um vctor no plano horizontal O, E
registro das três derivações bipolares dos membros I, 11e 111.
e P indicam as localizações dos eletrodos nos braços direito e
dáorigema outras seis projcções diferentes, permitindo ii deter-
esquerdo e no pé esquerdo, respectivamente. Parte inferior. Lo-
minaçãoda orientação deste vcror para frente ou para trás. calização dos eletrodos e conexões elétricas para o registro das
derivações unipolares precordiais. Esquerda. Posiçõesdos eletro-
EIXOnlTRICO dos exploradores (V) para as seisderivações precordiais. Direita.
Conexões para formar o terminal central de Wilson para o regis-
Habitualmente,dcterminu-sc () eixo clétrico médio de P. QRS tro de uma derivação (V) precordia12.(8) Localizaçõesdos eletro-
e T no plano frontal e. com menor [reqüência, no plano hori- dose conexõeselétricasparao registro dastrêsderivaçõesunipolares
zomal,No plano frontal, o eixo clétrico médio dessasdcflcxõcs amplificadas aVR, aVL e aVF.As linhas tracejadas indicam as co-
tem orientação praticamente semelhante. variando de _30° a nexões para gerar o potencial do eletrodo referência!
410 • Tratado de Clínica Médica

Superior Posterior

Esquerdo

Figura 43.3 - Vetores das três deriva-


ções bipolares e unipolares arnpli-
ficadas dos membros (à esquerda) e
das seis derivações precordiais unipo-
lares (à direitap
Anterior

de um gulvanôrnetro for implantado no interior da célula o registroclétrico da despolarização da membrana celular é


miocãrdica e o outro pólo for implantado no meio extracelular, denominado potencial de ação transmembrana. Esse potencial
evidencia-se uma diferença de voltagem, uma vez que o interior de ação (Fig. 43.7) começa com a fase ascendente rápida, que
da célula é menos positivo que o exterior. Essa diferença entre corresponde à despolarização da célula. sendo denominada
os lados da membrana celular é denominada potencial de repouso fase O. Com a perda das propriedades dielétricas da membrana
transntentbrana, cujo valoré aproximadamente -90m V (milivolts). celular após ii sua estimulação, há uma modificação abrupta
Ésecundária às diferentes permeabilidades da membrana e con- na permeabilidade da membrana ao Na'. fazendo com que esses
centrações iônicas. A concentração iônica do líquido extracelular íons e. em menor grau, íons Ca2' entrem na célula pelos respectivos
é muito semelhante à do plasma sangüfneo, ou seja. as concen- canais. acarretando a rápida ascensão do potencial intracelu-
trações de cálcio (Ca2.) e sódio (Na") são elevadas e a de potássio lar para aproximadamente +20mV. ou seja, o meio intracelular
(K') é baixa. Inversamente, no meio extracelular. as concentra- torna-se eletricarnente positivo e o meio extracelular negativo.
ções de Cal+ e Na+ são relativamente mais baixas, enquanto a A fase O também é conhecida como tempo de ascensão da
de K' é elevada. curva do potencial de ação transmcmbrunu e sua magnitude
Durante o repouso. todos os pontos do meio extracelular têm reflete a velocidade de condução do estímulo. Assim, um tempo
o mesmo potencial e entre estes não existe nenhuma corrente de ascensão rápido significa rápida velocidade de condução do
elérrica, acontecendo o mesmo entre os diferentes pontos do estímulo na estrutura estudada e, inversamente, um tempo de
meio intracelular. Apesar da existência do potencial de repouso ascensão lento significa condução lenta. O potencial de ação
trunsmernbrana não há nenhuma corrente entre estes em vir- de resposta rápida é observado nas células rniocãrdicas ordi-
tude das propriedades dielétricas da membrana. Contudo, se nárias e fibras de Purkinje. As células marca-passo dos nós
a membrana for estimulada, torna-se permeável aos ânions e SA e AV, exibem potencial de ação de resposta lenta depen-
cátions. sua resistência diminui aproximadamente 50 vezes e, dente dos canais de Cah.
por conseqüência, sua condutância aumenta 200 vezes o valor Após a despolarização celular. o potencial de ação retorna
do repouso. As modificações da membrana permitem o fluxo de gradualmente ao valor do potencial de repouso, caracterizando
Ions Na' c K', que se deslocam na direção da diminuição dos o processo de rcpolarização. Esse processo tem quatro fases:
seus respectivos gradientes eletroquímicos. A célula perde a • Fase I: o potencial de ação diminui rapidamente para
sua condição de polarizada, tornando-se agora despolarizada,
Om V, principalmente em virtude do fechamento dos canais
de Na+.
• Fase 2: platô resultante da entrada de Ca2+ para o interior
da célula e saída de K··.

Superior

E Tórax posterior O
B

Figura 43.4 - (A e B) Derivações precordiais unipolares: \/1 -


quarto espaço intercostal na borda esternal direita; V2 - quarto
espaço intercostal na borda esternal esquerda; V3 - a meia dis-
tância entre V2 e V4; V4 - quinto espaço intercostal na linha
medioclavicular; V5 - linha axilar anterior no mesmo plano ho-
rizontal que V4 ; V6 - na linha medioaxilar no mesmo plano Inferior
horizontal que V4 e V5. Derivações suplementares esquerdas: V7
-linha axilar posterior; V8 - linha escapular posterior; V9 - bor- Figura 43.5 - Ilustração do sistema de referência hexaxial com-
da esquerda da espinha). Derivações suplementares direitas: V3R posto pelas seis derivações do plano frontal. Os eixos das seis
- a meia distância entre V1 e V4R; V4R - quinto espaço intercos- derivações do plano frontal foram reajustados de maneira que os
tal direito na linha medioclavicular; V5R - linha axilar anterior seus centros permaneçam sobrepostos. Esseseixos dividem o plano
direita no mesmo plano horizontal que V4R - V6R - na linha em 12 segmentos. cada um subentendendo 30°. As extremidades
medioaxilar no mesmo plano horizontal que V4R e V5R4 positivas de cada eixo mostram a denominação da derivação'
Doenças Cardiovasculares • 411

TABELA 43.1 _ Causas de desvio do eixo elétrico'

PARA A ESQUERDA PARA A DIREITA PARA FRENTE


Infarto do miocárdio de parede Coração em posição vertical Infarto do miocárdio de parede posterior e lateral
inferior extenso Pneumopatias crônicas e certas deformidades Sobrecarga ventricular direita
Infarto do miocárdio de parede tor ácicas Atraso da condução do ramo direito de leve a
inferior associado a BDAS Embolismo pulmonar moderado
Sindromede Wolff-Parkinson-White Comunicação interatrial (tipo ostium secundum) Hipertrofia ventricular esquerda _ seletiva apical
Enfisemapulmonar Sobrecarga ventricular direita Coração em posição horizontal
Hiperpotassemia Infarto do miocárdio em parede lateral Síndrome de Wolff-Parkinson-White
Angiografia coronária esquerda Sindrome de Wolff-Parkinson-White Distrofla muscular de Duchenne
Marca·passoem veia cardíaca média Dextrocardia
Atrasosfinais de condução à direita Troca de eletrodos dos membros inferiores
Atresia tricúspide Angiografia coronária direita
Comunicaçãointeratrial
(tipo ostium primum)

• Fase 3: retorno do potencial intracelular para o nível de sidade é capaz de obter resposta. Édenominado período refratário
repouso (-90mV). em decorrência da saída de K' para o absoluto, e abrange do início da despolarização até um pouco
meio extracelular. antes da porção final da fase 3 de repolarização, Após esse período
II Fase 4: fase de repouso ou diastólica. o perfil iônico é refratririo absoluto e estendendo-se até o final da fase 3, segue-
recuperado pela saída de Na+ e entrada de K' pela bomba se o período refratário relativo, em que a célula responde de
de Na+/K.+com gasto energético. Nessa fase. também ocorre forma inadequada apenas a estfrnulos mais intensos. A seguir,
saída de Ca2t• durante um curto intervalo de tempo após o período refratário,
a célula é capaz de responder a estímulos de pequena inten-
Nas células que exibem potencial de ação de resposta lenta sidade, denominado período supranormal (Fig. 43.8).
(células do nó SA e nó AV), as diferentes fases da repotarização
não são muito nítidas. A fase 4 dessas células apresenta as-
censão lenta do potencial de ação, chegando próximo a -40mV. nETROCARDlOGRAMA NORMAL
ou seja, próximo lIO potencia/limiar de excitação, Esse fenô- No ECG normal, O primeiro registro identificável é o da onda P,
meno é denominado despolarização diastólica e caracteriza o que representa a despolarização dos átrios. Uma vez que o nó
automatismo celular. As células cardíacas miocárdicas ordiná- sinusal está localizado na junção da veia cava superior com o
rias dos átrios e ventrículos são excitadas quando um estímulo átrio direito, a arivação atrial inicia-se nessa câmara e progride
reduz o potencial transmembranu para um valor próximo ao simultaneamente para a esquerda em direção ao átrio esquerdo
pOlcnciallill1iar de excitação, que gira em torno de -60mV. e para baixo em direção ao nó AV. Esse padrão de ativação é
O somatório de todos os potenciais da rase O das células mio- responsável pelo eixo elétrico da onda P no plano frontal de
cãrdicas arriais resulta no registro da onda P no ECG convcn- aproximadamente +60°. Assim, a onda P é positiva em DI,
cionaI. A fase 2 corresponde ao segmento PR, que sucede a
onda P,e a fase 3 corresponde à onda Ta, ou seja, a repolarização
atrial, que em condições normais não é registrada no ECG con-
vencionaI. Por outro lado, o somatório de todos os potenciais
da fase O das células miocárdicas ventriculares resultam no
registro do complexo QRS no ECG convencional. A fase 2
..~
1; o
corresponde ao segmento S1' e a fase 3 corresponde à onda 1'. E
É oportuno lembrar que no potencial de ação transmcmbrana '"~ .0
~ -50 3 ..
existe um período em que nenhum estímulo de qualquer inten-
e
__::... __ e, --e: ~,~~~r_.
'";r
J_ -- g -100 Vk
----------------------_--------_.
+j-1-l -H+II~- +- R
-'
Tempo (nu)
UI-_---l.J.!l.l'---'-"""_-'-'LILIL._..L!Il"'----'
500
::+- ~ 1 LUI h- -
A

.- 1- --
·Ise<:mento PR Seqmento S
ror -j/1T 'I

."
] P - I I
Voltagem (mV)
IOmm c ImV "--.:,/Ví'\..." -v---- ~+ ~I I
~ u-
VI Linha isoelétrica
I
:--Irntelv.lo PR
"
~j- --r-;---,ISeQmento QT

I "ntervalo QRSI
H-
B -H" Portões de s». Bomba de 'tf Portões.de o' "Hinqed-lid"
~
Ilntervalo_QT
.L Jl ii. sódio' '<Y sódio J"t cálcio
I . J' .
ou ~ Figura 43.7 -; (A e B) Fases de potencial de ação cardíaco rela-
• Intervalo i
Imm T.
·t l~ cionado aos eventos iónicos. Os juntamentos do potencial de
o 0,2 0.4 0.6 0.8 0.045 ação podem ser compreendidos levando-se em consideração cinco
Tempo (s) correntes: corrente rápida interna de Na', corrente lenta interna
de Ca2> e as três correntes externas de K> (lx;-retificadores inter-
Figura 43.6 _ Registro do ECG normal' nos, Ito-transitório externo, IK retificador tardio)S
412 • Tratado de (IInica Médica

a primeira deflexão negativa após uma positiva, onda S. Uma


>.§. +20 segunda deflexão positiva após uma onda S, onda R' (por
\O 1"- exemplo. padrão clássico do bloqueio de ramo direito - RSR').
O ..
C!
..õ -, As de flexões com amplitude superior a 5mm são designadas
'<: ..
E -20 TRC
u- E
por letras maiúsculas e as com amplitude inferior a 5mm por
LLl
ti) -40
s'" PRA \~~z letras minúsculas (por exemplo. onda q do início do complexo
QRS normal em V6).
~c
1\ ~
-60
..
Õ -80
e,
A despolarização ventricular inicia-se pela ativação do lado
esquerdo do septo interventricular, provavelmente em virtude
I--
-100 da curta extensão do ramo esquerdo e pela distribuição em leque
o 50 100 ISO 200 250 300 das suas ramificações desse lado. ativando maior número de
Tempo (ms)
células miocárdicas ordinárias por unidade de tempo. Dessa
forma, a fase inicial da despolarização ventricular está dirigida
Figura 43.8 - Relação entre o potencial de ação transmembrana
da esquerda para a direita no plano frontal e para frente no
de uma fibra e sua excitabilidade; PRA = período refratário ab-
soluto (ausência de resposta); PRR = período refratário relativo plano horizontal. responsabilizando-se pelo registro da onda
(resposta dependente da intensidade do estímulo); PSN = perío- ,. de VI e pela onda q de DI, aVL, V5 e V6 (Fig. 43.10). A
do supra normais; TRC = tempo de recuperação completa seguir, acontece ii despolarização simultânea dos ventrículos
direito c esquerdo, que é dominada pelo ventrículo esquerdo.
pelo fato da massa ventricular dessa câmara ser consideravel-
D2. aVL, aVF e de V3 a V6e negativa cm aVR c, dependendo mente maior que a do ventrículo direito. Assim, o restante da
do eixo clétrico (acima de +30°). cm D3. Habitualmente, tem despolarização dirige-se da direita para a esquerda no plano
duração de 0.06 a 0.09 segundo cm crianças c de 0,08 a O, II frontal e para trás no plano horizontal. Esse padrão de
segundo cm adultos. t\ amplitude varia de 0,25 a 0,30mV (2,5 despolarização acarreta o registro de onda negativa (onda S)
a 3ml11)cm D2 e o eixo elétrico, no plano frontal, varia de -300 profunda em V I e onda amplamente positiva (onda R) em V6
e +90° (Fig. 43.9). (Fig. 43.10). As derivações intermediárias, V2- V5, mostram
O intervalo entre a onda P e a segundo registro identificável aumento relativo de ondas R e diminuição de ondas S em torno
(complexo QRS) é denominado intervalo PR. Esse intervalo da face anterior do tórax da direita para a esquerda. A deri-
mede o tempo necessário para: condução intra-atrial, condu- vação precordial que registra ondas R e S com amplitudes
ção através do nó t\V (com o atraso usual de 0.07 segundo) e semelhantes é denominada ZOIlO de transição (V3 ou V4).
condução pelo feixe de His e seus ramos. A duração mínima
No plano frontal, II morfologia do complexo QRS é extre-
para o intervalo PR cm crianças é de 0,09 segundo e, para
mamente variável e depende da orientação do eixo elétrieo.
adultos. de 0,12 segundo. Varia com a freqüência cardíaca,
Como já foi mencionado, normalmente o eixo elétrico do com-
com a idade e com o tônus autonôrnico. O valor máximo para
plexo QRS varia de -30° a +100°. Quando o eixo elétrico do
adultos é 0.20 segundo. A porção isoelétrica do intervalo PR.
complexo QRS encontra-se além de -30°, caracteriza-se o desvio
oU seja. o segmento PR. corresponde ao tempo de condução
do eixo parti (I esquerda e, em contrapartida, quando se en-
através do nó AV c pelo feixe de His e seus ramos, após o
término da aiivaçâo do átrio esquerdo. Durante esse período, contra além de + I 00°. caracteriza-se o desvio do eixo para a
rambcm ocorre a rcpolnrização atrial (Ta), mas normalmente direita. Denomina-se eixo indeterminado quando as seis deri-
tem amplitude muito baixa para acarretar qualquer registro vações dos membros registram deflexões bifásicas (QR ou RS).
no ECG convencional, com exceção dos casos de pericardite A duração do complexo QRS varia de 0,05 a O, 10 segundo
aguda ou infarto atrial cm que se torna aparente. em crianças e de 0,08 a O, I O segundo em adultos. Da mesma
O segundo registro identilicávelno ECG é o complexo QRS, maneira que para li onda P, a duração do complexo QRS tende
que representa ti despolarização ventricular. Como a massa a aumentar com II diminuição da frequência cardíaca. Também
muscular dos vcntrlculos é maior que a dos átrios, normal- aumenta com O envelhecimento, mesmo sem modificação da
mente o complexo QRS tem amplitude superior ao da onda P. freqüênciu cardfaca, com os incrementos da superfície corpórea
Os padrões do complexo QRS são designados pela composição ou, mais diretarnente, com os aumentos de tamanho do coração
das diferentes ondas. ou seja, a primeira deflexão negativa e atrasos da condução intraventricular. Como já foi mencionado.
é denominada onda Q. a primeira deflexão positiva, onda R, e a morfologia e a amplitude do complexo QRS é extremamente
variável, sendo influenciados por diferentes fatores cardíacos
(doenças infiltratlvas do miocárdio e derrame pericárdico) e
P

V1
(1)
g'-..../ c- V1
(1)
0'-..../ c J_ R
(2)
r 1
.fi .-- liq 1r
r
2 q
. . (1)
V6
V
S •
(1)
V6
t==:::::~~PL===~'~. O,02S-: (2)

~ .. O,03s - - -,[1
======::::;AüEdi Figura 43.10 - Representação esquemática da despolarização
O,09s ventricular por dois vetores seqüenciais representando a ativa-
ção septal (esquerda) e da parede livre do ventrículo esquerdo
Figura 43.9 - Onda de ativação atrial (onda P). O átrio direito é (direita). Ilustra-se a morfologia do complexo QRSgerada a cada
o primeiro a se ativar, vindo a seguir a ativação do átrio esquerdo! estágio da ativação nas derivações} V1 e V6
Doenças Cardiovasculares • 413

extracardlacos (derrame pleural, pneumotórax, enlisema, hipo- PRINCIPAIS ALTERAÇOES DO nETROCARDIOGRAMA


tlrcoidisrno e obesidade).
Após o complexo QRS registra-se nova linha isoelétrica. Sobrecarga de Câmaras
denominada segmento ST, uma vez que não ocorre qualquer
diferença de voltagem expressiva no coração. O ponto de junção É oportuno lembrar que o ECG não é um método de imagem
entre o final do complexo QRS e o início do segmento ST é e, por isso, não é adequado usar termos como hipertrofia e/ou
dilatação de câmaras cardfacas. Obviamente. um método de imagem
denominado ponto J. Na maioria dos casos, não há um limite
como a ccocardiograün é mais adequado para identificar para essas
nítido entre o segmento ST e onda T, ambos representando
alterações, além de ter maior sensibilidade e especificidade.
partes do processo de repolarização ventricular que se inicia
A Figura 43.11 ilustra as principais alterações clctrocardio-
no ponto J e termina na porção final da onda T.
gráficas relacionadas às sobrecargas a/riais, em que o substrato
A onda Trepresenl3 3 repolarização ventricular. Como a repo-
anmômico pode ser II dilatação, a hipertrofia, o aumento do cstressc
larizaçâo Je diferentes porções dos ventrículos direito c esquerdo sob a parede dos ~trios clou alterações da condução interatrial.
acontece de maneira mais betcrogênca que a dcspolarizaçâo, acar-
retando o registro de ondas T mais largas e de menor nmplitude. Sobrecarga Atrial Esquerda
ou seja, usualmente abaixo de 6mm. Tem morfologia arredondada
e assimétrica. sendo a primeira porção mais longa que ti segunda, A sobrecarga utriul csqucrdu (SAE) caractcri/a-se pelo aumento
Habitualmente. a deflexão da onda T rem a mesma dircção que da duração (> 0, II segundo em adultos e > 0,9 segundo cm
O complexo QRS, ou seja. em várias derivações os doi), fenômenos crianças). avaliada preferencialmente em 02. Pode-se idcnti ficar
registramdcflcxõcs positivas. Em indivíduos normais. porém vago- entalhe dessa ondu em O I e 02, tornando-a bffida. Em V I,
tônicos e com bradicardia sinusal. é possível observar () registro evidencia-se onda P bifásica, cm que o componente negativo
de onda T amplas e pontiagudas nas derivações precordiais. terminal é profundo (2: Imm), com aumento da duração (> 0,04
Mede-se o intervalo QT do início do complexo QRS 11porção segundo). Desvio do eixo elétrico da onda P para a esquerda
terminal da onda T. Esse intervalo corresponde 11duração total no plano fron 1<1 I (Fig. 43.12).
da sístole clétrica ventricular, Varia inversamente com a fre-
qUênciacardíaca. ou seja. o intervalo QT aumenta com a dimi- Sobrecarga Atrial Direita
nuição da Ireqüência cardíaca. Para os limites de 45 a 115bpm Onda P pontiaguda. com aumento da amplitude (> 2,5mm) em
(batimentos por minuto). o. limites norrnniv dev-e intervalo D2. 03 e aVF e com duração próxima do normal « 0,11 segundo).
são 0,46 a OJO segundo. Habitualmente. utiliza-se a derivação denominada P pulmonale (Fig. 43.13). Em V I, V2 e V4R, obscr-
com a onda T de maior amplitude e limites nítidos (geralmente vá-se aumento da deflexão positiva inicial (> 1,5mm). Pode haver
V2 C V3). Com O auxilio da fórmula de üuzcu. calcula-se o desvio do eixo elétrico da onda P para a direita 110 plano frontal
intervalo QT corrigido (QTc = K JI~-R). (;:::+~OO). Além disso, existem sinais indirctos da sohrccurgu
Após a onda T, pode-se observar, principalmente nas deri- airial direita (SAD), constitufdas principalmente por alterações
vações prccordiuis V3 e V4. urna deflexão pequena e arredon- do complexo QRS: a) complexo qR na derivação V I c b) dimi-
dada, de baixa frcqüência, denominada onda U. TI.!Il1direção nuição da amplitude do complexo QRS em V I, com evidente
semelhante 11da onda T. sendo positiva nas derivações dos aumento desse complexo em V2 (sinal de Pcãaloza e Tranchcsi),
membros e precordiais e negativa em aVR. A amplitude é pro-
porcionai 11da onda T (5 a 25% desta). Sua gênese é centro- Sobrecarga 8iatrial
versa.mas pode estar relacionada a pós-potenciais do miocárdio Onda P de grande amplitude (> 2,5mm). principalmente à custa
ventricular ou 11repolarização das fibras de Purkinje. ~a primeira porção, e com aumento da duração (> 0, 12 segundo).
As vezes. identificam-se sinais de SAE. com desvio do eixo c16-
trico para a direita (> +80°). Nas derivações precordiais. pode-se
VARIAÇOES DO PADRÃO NORMAL encontrar onda p ampla e pontiaguda em V I e V2 (SAO). al-
Na infância é COI11UIII encontrar-se inversão da onda T nas deri- gumas vezes com pequena fase negativa e onda P cntalhndn e
vações prccordiais direitas (V I e V2, podendo chegar até V4). com duração aumentada em V3. V4 e V5.
Bsscpadrão pode persistir até a idade adulta, caructcrizando a
11crsislDIlc/ado padrão juvenil. Às vezes, a inversão da onda T
podealcançar até 5111111. sem qualquer sinal de cardiopatia. É mais seiA
comum cm mulheres do que em homens e em negros mais do
que cm outros grupos étnicos e sociais. Alguns indivíduos nor- SAE
maisapresentam discreto grau de elevação do segmento ST. prin- 01 AE AE ,
,

-
01
cipalmente nas derivações precordiais. A elevação do segmento , ir- 1'\
STcom concavidade superior, geralmente acompanhada de en-
talhes na porção descendente da onda R, ondas Q profundas e
estreitas nas derivações precordiais esquerdas, ondas T simétri-
-
AE
"CLI:\
,
..,
I- ,
,
- ""
,,

"
case amplas e, evernualmente, invertidas, além de baixa íreqüência
cardíaca.Recebem a denominação de repolarização precoce. Sua
importância re ide no diagnóstico diferencial clctrocardiogrdflco
de alterações relacionadas à isquemia. O padrão SI. S2, S3 pode
Vl AC

I\.
,,
,,

-
IAE
v'lr
1\
\.
/
.. ,,
,,

ser encontrado em adulros jovens e saudáveis e caracteriza-se AE


pelo registro de onda S na, derivações inferiores (O I, 02 e OJ. A B AE

mas a onda S em 02 é maior que em 03) e onda R terminal em


Figura 43.11 - (A) Sobrecarga atrial esquerda (SAE).Onda P e seus
aVR, secundário ao atraso da condução na divisão superior do
componentes: despolarizaçilo dos átrios direito e esquerdo. Segmento
ramo direito. Ainda. em indivíduos normais, também é possível PR = 40m5. Proieção da alça de P e de seus componentes nos três
identificar-se o padrão rSr' em VI. em que o complexo QRS tem planos de registro. (B) Sobrecarga bilateral (SBiA). Onda P e seus
duração inferior a 0.10 segundo, amplitude abaixo de 7mm c, componentes: despolarização dos átrios direito e esquerdo. Segmento
caracteristicamente. a amplitude de r' é inferior II de r ()U S. PR = 40ms. Projeção da alça de P nos três planos de registr05
414 • Tratado de Clínica Médica

02 SAD

.VF
VI
p

/ '\ ,, , 1\
1mm .:0, lmV
- 'ADI
,+_._'
,
VoE
,',
"
,
,
:
,,
"
-
/ \
,, ,,
'.
':
A B
VI V2 V3 V4 vs V6

Figura 43.12 - Sobrecarga atrial esquerda em portador (18 anos


de idade) de estenose mitral pura. A onda P é ampla e entalhada,
medindo 0,11 segundo de duração em 01. A distância entre os
dois ápices é de 0,55 segundo. O desvio de ÂQRS para a direita DI 02 03 aVR aVl aVf
evidencia sobrecarga da câmara ventricular direita. Onda P em 02
com 3mm de amplitude sugere átrio esquerdo do tipo hipertrófico'
r
I I ~
~m ..t:
Sobrecargas Ventriculares
Sobrecarga Ventricular Esquerda
- -
~
• Alterações do complexo QRS. -
- Aumento da voltagem do complexo QRS (critérios
mais comuns: R em V5 ou V6 + S em V I = 35mm, S VI
F~ V2 V3 V4 vs V6
em V I > 20mm. R em V6 > 20mm. R em V6 > R em c
V5, R em DI> 15111111, R cm aVL > 15mm e R em DI
+ S em 03 > 25ml11).
- Atenuação da onda q inicial das derivações precordiais
esquerdas.
- Aumento do tempo de ativação ventricular esquerda.
- Desvio do eixo elétrico do complexo QRS para a esquerda
com sentido anti-horãrio,
• Alterações do segmento ST e onda T.
• Inversão da onda U em derivações precordiais esquerdas.
• Sobrecarga atrial esquerda (Fig. 43.14).

Sobrecarga Ventricular Direita


• Desvio do eixo elétrico do complexo QRS para a direita
(> 90° em adultos e > 110° em crianças). Figura 43.13 - (A) Onda P normal e seus componentes: despola-
• Rotação do eixo elétrico do complexo QRS para a direita rização dos átrios direito e esquerdo. Intervalo PR= 160ms. Pro-
[eção da alça normal de P e de seus componentes nos três planos
em sentido horário.
de registro. (8) Sobrecarga atrlal direita SAO.(C) Onda P pu/mona/e.
• Alterações do complexo QRS em V I. Paciente com 60 anos de idade e portador de cor pu/mona/e
- Onda R ampla (padrões qR, rR e rsR'). crônico. A onda P é pontiaguda em 02 (~mm de altura) e 03,
- Complexos RS (padrões Rs ou Rsr'). sendo de baixa voltagem em 01 (ÂP a +8~O). (D) Traçado de se-
- Complexos rS (rS ou rsr'). brecarga atrial direitá. Atentar para a variação da morfologia
• Aumento da voltagem do complexo QRS (critérios mais na derivação 02: ondas P de 7mm, no quinto e sexto batimentos
comuns: onda R em V I 2: 0.7m V, onda S em V 1 < 0.2m V). e de 3mm, no sétimo, oitavo e nono batimentos. Existe infrades-
rsr em V I > ImV. onda R em VI + onda S em V5 ou V6 nivelamento do segmento PR nas derivações inferiores determi-
> I.05mV. onda R em aVR > O.5mV e onda R em V5 e nado pela repolarização atrial (Ta)S
V6 < O,5mV).
• Complexos RS ou rS em derivações prccordiais esquerdas. • Onda S de pequena amplitude em V I com onda S profunda
• Síndrome SI. 52. S3. em V2, com ondas R amplas em V5 e V6, desvio do
• Alterações da repolarização ventricular em derivações eixo elétrico do complexo QRS para a direita no plano
precordiais direitas (Fig. 43.15). frontal ou morfologia SI, S2, S3.
.• Complexos QRS de alta voltagem em derivações precordiais
Sobrecarga 8iventricular intermediárias, acompanhados de ondas R amplas cm
derivações precordiais esquerdas (Fig. 43.16).
• Ondas R amplas em V5 e V6 com eixo elétrico do complexo
QRS desviado para a direita (2: +90°).
• Ondas R amplas cm V5 e V6 com ondas R amplas ou
Atrasos da Condução Intraventricular (Blol1uelos1
padrão rSr' em V I e V2, especialmente se associadas a A denominação bloqueio de ramo. apesar de amplamente utilizada
sinais de sobrecarga biatrial ou ritmo de fibrilação atrial, na prática clínica, implica em erro comum de interpretação, ~
• Complexo QRS dentro de limites normais associado a uma vez que encerra uma conotação definitiva da interrupção do ~
alterações da repolarização ventricular (depressão do estímulo, quando na realidade o que ocorre é um atraso na ~
segmento ST e onda T negativa), principalmente se o condução. Esse atraso na condução de graus diferentes acarreta ~
ritmo for fibrilação atrial. também diferentes alterações na morfologia e duração do com- )(
Doenças Cardiovasculares - 415

plexo QRS. De acordo com esse raciocínio, torna-se dispensável


acaracterizaçãocomo completo ou iII completo, convenientemente
substituída por gralls leve. moderado 011 avançado,

Bloqueios de Ramo
Bloqueio do Ramo Esquerdo
• Grau avançado:
- Aumento daduraçãodo complexo QRS (2! 0,12 segundo).
- Ondas R alargadas e monofásicas. geralmente apre-
sentando entalhes e empastamentos em O I. V5 e V6
(clássico aspecto em torre).
- Ausência de ondas Q em O I. V5 e V6.
- Complexos QRS polifásicos e de pequena magnitude
(cornprcssos) em 02, D3 e aVE
- Aumento do tempo de arivação ventricular COI11 atraso
dadeflexão intrinsccóide de 0.1Osegundo em V5 e V6.
- Deslocamento do segmento ST e onda T na direção
oposta 11maior deflexão do QRS (fig. 43.17).
• Grau leve a moderado:
- Duração do complexo QRS entre O, LO c 0.12 segundo.
- Aumento da arivação ventricular com atraso do início
da deflexão intrinsecóide de pelo menos 0,06 segundo
em derivações precordiais esquerdas.
- Ausênciade onda Q em derivaçõesprecordiais esquerdas.
- Entalhe da fase ascendente da onda R em derivações V4R Vl V2 V3 V4 V5
precordiais esquerdas (Fig. 43.18).

Bloqueio do Ramo Direito Figura 43.15 - (A) SVD padrão sistólico. A morfologia R pura
com onda T negativa é observada de V1 a V6 (rotação horária
• Grau avançado:
acentuada pela importante SVD). (8) SVD padrão sistólico. Obser-
- Aumento da duração do complexo QRS igualou supe-
var o aspecto QR em V4R e V1 - inversão da ativação septai. A
rior H 0.12 segundo. pressão em ventrículo direito é de 98mmHgS
- As derivações precordiais direitas. principalmente V I.
mostram onda R' alargada e com [reqüência entalhada,
geralmente maior que a onda r inicial (rSR' ou rsR'). - Complexos QRS polifásicos (bi ou trifásico), de pequena
magnitude (compressos) em D2, D3, aVF e V2.
- Aumento do tempo de ativação ventricular com atraso
da deflexão intrinsecóide superior a 0,06 em derivações
_I precordiais direitas.
- Onda S alargada nas derivações DI, V5 e V6.
~- 1 - Onda T com direção oposta à deflexão terminal do
I-
complexo QRS (Fig. 43.19) .
• Grau leve a moderado:
F Y IC:: - Duração do complexo QRS entre 0,08 e 0.12s.
- Diminuição progressiva da onda Sem V2 quando se
comparam di [crentes traçados.
-
- [2 - Empastamento da onda S em V2.
- Registro de padrões rsr' ou rsR' em V2 e posterior-
mente cm V I.
"C - Onda T com direção oposta à deflexão terminal do
-\l3 complexo QRS (Fig. 43.20).

B!oqueios Oivisionais do Ramo Esquerdo


~ I r-
o ramo esquerdo inicia-se próximo ao ponto onde o feixe de His
f-- - emerge do corpo central fibroso e, após curta extensão, abre-se
num leque de fibras na superfície septal ventricular esquerda,
diduticamcntc subdividido em divisões anterior. média (scptal) e
~.yt" posterior (Fig. 43.21). Essasdivisões apresentamgrande variabili-
dade anatômica,o que provoca controvérsias quanto àsexpressões
11 clcrrocardiográficas do atraso de condução nessasestruturas.
Figura 43.14 - Ilustração de sobrecarga ventricular esquerda- Os critérios eletrocardiográficos dos bloqueios divisionais
padrãosistólico (Tipo 3). Observar a ausência de ondas Q em D1 estão resumidos na Tabela 43.2 e os respectivos traçados ele-
e aVLe de V3 e V6s trocardiogrrificos nas Figuras 43.22 a 43.24.
416 • Tratado de Clínica Médica

.-,..,- A isquemia e o infarto do miocárdio acompanham-se de

r- I
I
-t- +I
I
r--r-
r--rI-
alterações do segmento ST, da onda T e do complexo QRS.
A isquemia rniocárdica manifesta-se principalmente por alte-
r-- -
i .1.
f- r-I- 1-- - rações da repolarização ventricular, constituídas por depressão
[6. H...I
r--L I~ Ir-; horizontal ou descendente do segmento sr e inversão da onda T.
,_Lf:.
- ~ Normalmente, () segmento ST é quase isoelétrico, uma vez que
I - Ir
'~

r-
I
I--f-j as células miocárdicas sadias atingem aproximadamente o mesmo
I~ Q I '---'-'- potencial durante o início da repolarização, que corresponde
D1 D2 D3 aVR aVL aVF à fase de platô do potencial de ação ventricular. A isquemia
r- aguda e grave é capaz de diminuir O potencial transmembrana
I

m
1-- .I de repouso e de encurtar a duração do potencial de ação na
r-
r- f- área isquêmica. Isso acarreta um gradiente de voltagem entre
-,- I f- - I- as áreas isquêrnica e normal, criando uma corrente entre as
I
bcil:=
r- 'r ::::: - I
duas regiões, Essa corrente de lesão é registrada no ECG
convencional como desvio do segmento ST.
-- I -
-,
-= Ir--'
Quando a isquemia aguda for transmural, o vetor ST dirige-
1--
1-- f-f
'-'-
i I I
I I""
_!_j_
1--\ 'l...!I' se para as áreas mais externas (epicárdio), acarretando elevações
do segmento ST (Fig. 43.27). Nos estágios iniciais da isquemia,
V4R V1 V2N/2 V3N12 V4N/2 V5N/2 V6N/2 pode-se observar as denominadas alterações hiperagudas, cons-
tituídas por ondas T positivas e amplas sobre a área isquêmica,
Figura 43.16 - Tipo essencial de sobrecarga ventricular direita-
a alça de QRS orientada para trás e para a direita e complexos
rS de V3 a V6s
-rT - V
-r - t\
\
-I- -I!
Bloqueios Divisionais do Ramo Direito -I'-' ~~ :::: 1-=Ifr.. ~
..":.j
-I- ---
o ramo direito surge mais anteriormente no septo membranoso -r ---
distal, como continuação direta da porção penetrante do feixe I I
de His, posicionando-se ao longo da face direita do septo :- ~-
10_
ventricular. Após alcançar o músculo papilar anterior na ponta ;;?- 1
v-
i..-.
do ventrículo direito. ramifica-se também em três divisões: -r-r
anterior. média e inferior. -- r - r- -
Quando uma determinada área do ventrículo direito despo-
+= -I- -

r ~=
lariza-se mais tardiamente que o habitual, sem bloqueio do tronco -J, 1-- -1- 1

:2"
__ ...J
do ramo direito, a parte final da despolarização ventricular a\ F IVI
r. ~~ v
orienta-se mais para a direita que o normal, pelo fato de não ,
existir a oposição das forças do ventrículo esquerdo, Dessa V
forma, pode-se inferir que o bloqueio da divisão superior do I
I
I- I-I- -
ramo direito dá origem a forças anômalas dirigidas para cima -1--1-- I
e para a direita (padrão SI, S2, e S3) (Fig. 43.25) e o bloqueio -f-,-I-- I
I
da divisão inferior do ramo direito dá origem a forças anômalas
dirigidas para baixo e para a direita, muito semelhante ao blo-
:%t:::J::; :;;;1=11'-17::::: I-f-'" ,'--"'7
A
queio da divisão póstero-inferior (BDP!) do ramo esquerdo. Portanto,
"R
no ECG a onda R em 02 tem maior voltagem que cm 03 e
evidencia-se onda S empastada em DI. aVL, V5 e V6.
+
a
Associação de Bloqueios
T
Não é incomum o registro de padrões simultâneos de bloqueios r ' _, 11
intravcntriculares, O mais comum na prática clínica, tendo em 1-_ aVF
vista a sua alta incidência na doença de Chagas e nas doenças
degenerativas, que comprometem o sistema de condução, é a I ~:
associação de BRD com bloqueio divisional ântero-superior
!
(BOAS) (Fig. 43.26). .- I

B
ISQUEMIA E INFARJO DO MIOcAROIO
O ECG é fundamental para o diagnóstico da cardiopatia isquêrnica Figura 43.17 - (A) Bloqueio de ramo esquerdo clássico. O ritmo é
aguda e crônica. As alterações do traçado eletrocardiogrãfico sinusal, com onda P procedendo regularmente a ativação ventricular.
Complexos QRSespessados e alargados com 0,156 segundo de du-
dependem dos seguintes fatores relacionados ao processo ração. Onda R pura (sem onda Q e sem onda S) espessada e enta-
isquêmico: Ihada em D1, aVL, V5 e V6. Complexos do tipo rS em V1 e V2.
• Natureza (reversível ou irreversível, Ou seja, isquemia Segmento STe ondas T opostos aos complexos QRS.A positividade
inicial em Vl depende do predomínio da ativação da parede livre
ou infarro). do ventrículo direito e das porções baixas e direitas do septo. A
• Duração (agudo ou crônico). alça vetorcardiográfica orienta-se para a esquerda, para trás e ds-
• Extensão (transmural ou subendocárdico). cretamente para cima, com rotação horária na sua maior porção e
• Topografia (inferior, posterior, anterior ... ). com retardo evidente na sua porção média. A alça T opõe-se ao do
• Existência de alterações pregressas do ECC (atrasos de QRS. (B) Bloqueio de ramo esquerdo intermitente. Observar a mu-
condução, sobrecarga de câmaras, pré-excitação ... ). dança da morfologia das derivações D3 e aVfS
Doenças Cardiovasculares • 417

VS V6 Figura 43.20 - Diagrama ilustrando as modificações pelo ramo


direito. (A) Complexo QRSnormal. (B) Diminuição da amplitude
Figura 43,18 - Bloqueio de ramo esquerdo de grau leve a mo- da onda S. (C) A diminuição da onda S é acompanhada por
derado,Sobrecarga ventricular esquerda. Complexos QRSde 0,10 enfartamento no ramo ascendenteda onda. (D) Pequenadeflexão
segundo de duraçlio, com entalhe (V5) e espessamento (V6) do r' e de minima duração. (E) Aumento da amplitude e do tempo
ramo ascendente de R. O QTC encurtado e o infradcsnivelamento da deflexão R'. (F) A onda R' apresenta duração acima de 40ms e
sr
desegmento (côncavopara cima) estão relacionados com ação com enfartamento. Bloqueio de ramo direito de grau avançado!
digit~lica,Enfermo de 30 anos, como miocardite subaquda'
parte dos pacientes quedesenvolvemill/(//1O do tniocúníio .\'('111supra-
Quandoa isquemia aguda for snbendocárdirn, o vcror ST di- desnivelamento de ST não revela onda Q no ECG convencional.
rige-separao subcndocárdio e cavidade vemriculur (Fig. 43.27). 1\ topografia da área infartada pode ser estimada pelo co-
de maneiraque as derivações que exploram essa (ln'::I revelam uhecimento das áreasdo miocárdio exploradas pelas diferentes
íntradcsnivclamcruo do segmentoST (Fig. 43.2~). Essas alterações derivações. Uma abordagem didática dessacorrelação encontra-
podemser rrunsitórias. como durante um episódio de angina se na Tabela ..0.3.
ouduranteo teste de e forço. ou mais duradouro. como na ano
sina in tável ou infarto do miocárdio em evolução (Fig. 43.29). Ramo
à inversãoda onda T. sem a associação de alterações do sego
menteST. constitui achado ine pecífico e deveser correlacionado
comos dados clínicos.
As alterações do complexo QRS. frequentemente acompa-
nhadaspor nltcraçõcs da repolarização ventricular, envolvem Fascículo
a redução da amplitude da onda R e o desenvolvimento de ãntero-
ondasQ. em decorrência da perda de forças clétricns da área superior
infartada.A onda Q patológica rem duração igunl 011 superior
a 0.04 segundo c suu profundidade t! igualou superior H UIll
quartoda umplitudc da onda R correspondente,
Do pOIHO de vi,w clctrocnrdiográflco. o, pacientes com
desconfortoprccordial I\quêmico. ou melhor. com ..Indromc
coronarinna aguda podem ou não dcscnvotv er elevação do seg-
mentoST. Grande pane do, pacicmc- que revelam elevação
dc\\c segmento acaba dcscr» olvendo infarta do miocárdia ('0111
ondaQc umapequenaminoria desenvolve iufano do ntiocárdio A Divisão média Divisllo inferior
sem onda Q. Em contrapartida. uquclcv que n110 desenvolvem
elevaçãodo segmento ST são portadores de angina instável ou
infano do miocárdio vem elevação do segmento ST, A maior

Ol~ aVR 1 r- VI r 4

~~~
92 aVl--- V2JJ

Figura 43.21 - (A) Representação esquemática do sistema de


condução atrloventricular, septo membrano (SM) e cúspides di-
reita e posterior da valva aórtica. A origem dos fasdculos do ramo
esquerdo ocorre principalmente na região do SM. Na região distal
do ramo esquerdo, podem-se definir os fasclculosanterior, médio
e posterior. São representados ainda a parte não ramificante do
ramo comum de His (região entre as setasidentificadas por 1,5 e
2mm) e o ramo direito. (B) A divisão ântero-medlat do ramo es-
querdo (m), mais que um verdadeiro fasclculo, é uma rede de
Figura43,19 - Bloqueio do ramo direito. ComplexosQRSespes- delgados filetes, que se origina de ambos os fasdculos anterior
sadose com0,131segundo de duração. Morfologia rsR'em Vl e (a) e posterior (p) do mesmo ramo e sedistribui no subendocárdio
qRS,comondaSespessadae alargada em 01, aVl e V6. Observar do terço médio do septo. Outras vezes,constitui um fino fasdculo
complexosQRScompressosem 02, 03 e aVFe o aspecto polifásico que nasce do tronco do ramo esquerdo, da divisão anterior ou
emV2,O VCGmostra morfologia aberta no plano horizontal e posterior, ou de ambas, ramificando-se com a porção média do
comrotaçãoantl-horarta em toda suaextensão. O atraso final de septoe região parasseptalanterior da cãmaraventricular esquerda.
conduçãoorienta-se para frente, para cima e para direita! RD = ramo direito; RE = ramo esquerdo!
418 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 43.2 - Critérios diagnósticos dos bloqueios divisionais do ramo esquerdos


\O --------------------------------------------------------------------------------------------~
CRITÉRIOSDO ECG BOAS BOPI BOAM :.
O
,< --------------------------------------------------------------------------------------------~
Oura~Ao ~ 120ms S 120ms S 120ms
U" SÁQR5(PF) -4Soe-ll0· +800 e +110· Normal
l.I.l TAV i!: 4Sms R-aVL S-03 R-V2
~
Morfologia em DI e aVL QR rS Normal
Morfologia em 02, 03 e aVF rS (S3 > 52) qR (R3 > R2) Normal
Morfologia"em V2 e V3 Normal Normal qR (R2 > R3)
Amplitude S3 i!: ISmm R3 i!: ISmm R-V2 i!: 15mm
Expressãodo fenômeno elétrico Plano frontal Plano frontal Plano horizontal
Rela~Aotemporal entre as r-03 é mais precoce que r-02 q·03 é mais precoce que q-02 Rotação variável
derivações 02 e 03 (rotação anti-horária) (rctação horária)
Relação temporal entre as RaNUmals tardio que R-V6 5 aVL mais precoce que V6 R-V2 mais precoce que R-V3
derivações aVL e V6N2 e V3 (rotação antl-horãría) (rotação antl·horária ou horária)
aDAM = bloqueio da divisAo ãmerc-medlall, BOAS = bloqueio da divisão ãntero-superior; BOPI= bloqueio da divisão póstero-Inferior; TAV = tempo de
atiVCl(aOventricular

Com ti evolução da doença. as nltcraçõcs hiperaguda da


onda T e o supradesnivclnmcnto do segmento ST. após um
período de várias horas ou dias. começam a regredir, sendo
substituídas pela inver ão da onda T e. em alguns casos. por
ondas Q. Por sua vez. pode regredir após dias ou semanas ou
persistir indefinidamente. Da mesma forma e com ampla varia-
ção. as alterações do complexo QRS podem regredir ou também
persistir indefinidamente. A normalização completa do ECG
pode ocorrer após infartos de pequena extensão e com a melhora
da fração de ejeção ventricular esquerda c da movimentação
regional da parede.

Al TERAÇOES PROVOCADAS POR DROGAS.


DISTORIIOS MElAI Ou CDS E DOS EUTROUTOS
Além das diferentes alterações do cgrnento ST e da onda T que
fazem parte da variação do normal. várias drogas e alterações
mctabõlicas e dos eletr6litos também podem ter o mesmo efeito
e estão resumidas na Tabela 43.4 (Figs. 43.30 e 43.31).
Figura 43.22 - BOAScom ÁQRS a .600 , QRS = 0,10 segundo.
Valores iniciais orientados a +1200 (q, r1). Ondas S profundas em
02, 03, aVF,V2 a V6. Alça orientada para cima, para a esquerda M(TODOS DERIVADOS DO ElElROCARDIOGRAMA
e para trás, com rotação anti-horária nos planos frontal e horizon-
tal. Alça de T arredondada, indicando alteração da repolarização Vetorcardlograma
ventricular. Paciente com 35 anos de idade, portador de estenose
subaórtka! o vctorcardiograrna (VCG) espacial é a figura tridimensional
correspondente aos efeitos elétrieos das forças vetoriais que
se desenvolvem durante a despolarização e a repolarização dos
átrios e ventrículos (ECG espacial). Inicia-se no ponto de origem
01 02 03 aVR aVL aVF Vl V2V3 V4 V6
E (centro elétrico do coração ou ponto de origem aparente das
suas forças elétricas) e. em seguida, descreve uma curva no
espaço, geralmente arredondada e sem variações bruSCIISda
direção. voltando ao ponto ele partida.
Na tela elo vetorcardiógrafo. observam-se os movimentos que
o feixe dos raios catódicos sofre sob li influencia das variações
de potencial da distintas partes da superfície corpórea, durante
U atividudc elétrica cardíaca. As curvas que se inscrevem na leia
podem ser regi tradas por processos habituais e representam
as projeçõcs nos planos ortogonais: frontal, horizontal e sagital,
da figura tridimensional que é o vetorcardiograma espacial
Figura 43.23 - Hemibloqueio posterior e bloqueio completo
(Fig. 43.32). Nesses planos. podem-se observar trê curvas
do ramo direito. Paciente de 38 anos de idade, portador de
cardiomiopatia crónica chagásica. Complexos QRS tipo qR (com ou alças distintas: uma menor. correspondente à despolarização
onda R de 16mm) em 03 e rSR' em V1. QRS= 0,13 segundo Ob- atrial (alça de P): outra de maior magnitude, relacionada à
servar a rotação horária no plano frontal da alça de QRS,sua orien- despolarização ventricular (alça dc QRS) e uma de tamanho
tação para baixo e predominantemente para a direita. Porções intermédio, que corresponde à repolarização ventricular (alça
finais retardadas e dirigidas para frente! de T) (Fig. 43.33).
Doenças Cardiovasculares • 419

Figura 43.24- Bloqueio da divisão ántero-


medial do ramo esquerdo e infarto septal
eanterior. Presençade ondas Q patológicas
de V1 a V5 acompanhadas de ondas R de
grande amplitude de 30mm em V2 e V3.
Observar a baixa amplitude dos comple-
xos QRSno plano frontal devido à per-
pendicularidade do fenômeno elétrico.
Pacientede 56 anos de idade, portador de
coronariopatia (comprometimento da ar-
téria descendente anterior). Alça de QRS
anteriorizada de rotação horária. Ausên-
ciade forçasseptais e alça de repolarização
ventricular orientada posteriormente!
~
00
'"~

A descrição dos aspectos vctorcardiográficos das diferentes

a~~1
cardiopatias foge ao escopo desse livro. mas pode ser encon-
Irada em detalhe na pri rnei ra referência desse capítulo.

Eletrocardiograma de Esforço ou Teste Ergométrico


o ECG de esforço pode ser realizado com esteira monitorada
ou bicicleta crgornétrica. Existem \ ãrios protocolos de esforço
para a realização desse teste. ma-,o m a il> comum é ()protocolo
de Bruce, que aumenta a \ clocidadc e a elevação da e tcira a

IT,:r ,m
cada 3min até atingir a frcqüência cardíaca submáxirna (220
- a idade do paciente) ou desencadear vinromas ou alterações
elctrocardiográfieas de isquemia. Monitorarn-sc. pelo menos
duas derivações do ECG.
Constitui o exame não invasivo mais urilizudo para avaliar V1
pacientes CUIl1 desconforto prccordial sugc-rivo de isquemia
miocãrdica. A base teórica para C~'oC exame é que. durante o Figura 43.26 - Bloqueio do ramo direito associado a bloqueio
exercício, ocorre aumento da demanda de oxigênio para os da divisão ãntero-superior do ramo esquerdo!
músculos esqueléticos que estão em ntividadc c. frente a esse
aumento de demanda. desenvolve-se aumento da frequência
cardíaca c do débito curti (aco. N O~ portadores de doença das Lcs30subcndocárdlcB:
Deplessao do sr

\\ () sr/)

A
~-C sr

02 aVL

~-r--t('

Figura 43.27 - Padrões de corrente de lesão da isquemia aguda.


Com a predominância de isquemia subendocárdica (A), o vetor ST
resultante é dirigido para as camadas internas do ventrículo
comprometido e para a cavidade ventricular. Dessa forma, as de-
rivações sobrejacentes registram depressão do segmento ST.Quando
Figura 43.25 - Bloqueio da divisão superior do ramo direito: a a isquemia envolve a camada ventricular mais externa (8) (lesão
onda 5 em D2 é maior que em D3. Registra-se S empastado em epicárdica ou transmural), o vetor ST é dirigido para fora. As deri-
D1, aVL e V5 e V6. O VCG mostra retardo final orientado para vações sobrejacentes registram elevação do segmento ST.A depres-
trás e para cima! são reciproca do ST pode aparecer nas derivações contralaterals'
420 • Tratado de Clínica Médica

~ t- I I
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Figura 43.28 - (A) Corrente de lesão subendocárdia em crise aguda de insuficiência coronariana. Vetor de lesão orientado a ·150-
(desnivelamento minus de ST em 01 e 02, positivo em aVR e ausente em 03) e para trás (desnivelamento minus de V2 a V5). Forte
crise de angina pectoris. Suspeita clinica de infarto subendocárdio. Não há evidências de necrose miocárdica ao ECG. (8) Mesmo
paciente 40min após - apenas alteração da repolarização ventricular!

Figura 43.29 - Traçados eletrocardiográ·


ficos de V1 a V6 realizados em duas situa-
ções diferentes. (A) Na vigência de dor
precordial e antes da infusão de estrepto-
quinases, observa-se discreto supradesnive-

.-
lamento do segmento STde V3 a V5e ondas
T amplas e pontiagudas de V2 a V6 (alte-
rações hiperagudas). (8) Realizado após a
infusão da estreptoquinase e sem dor. ob-
Pós-estreptoquinase sem dor serva-se a regressão das alterações~

artérias coronárias, o aumento da demanda de oxigênio para Alterações prévias do ECG podem dificultar a interpreta-
o miocárdio não pode se alcançada pelo aumento do fluxo ção do teste de esforço, como por exemplo sobrecarga ventricular
sangüíneo coronariano. Consequentemente, desenvolve-se esquerda, bloqueio do ramo esquerdo, síndrome de WolfT·
isquemia miocãrdica, que por sua vez pode provocar dor torácica Parkinson-White e a utilização crônica de alguns medica-
e alterações características no ECG (Fig. 43.34). mentos (Tllhcla 43.4).
Além da avaliação de pacientes com desconforto precordial
para o cst abelecimento do diagnóstico de doença das artérias Monltoração Ambulalorlal do
coronárias, o teste de esforço também é utilizado para avaliar
o prognóstico e capacidade funcional de pacientes com angina EletrocardlOgrama ou Holler
crônica estável ou após infarto do miocárdio para a detecção A rnonitoração ambulatorial do ECG (HoIter) é um método diag-
de arritmias cardíacas induzidas pelo esforço e/ou isquemia nóstico não invasivo amplamente utilizado para detectar alte-
após procedimentos de revascularização miocárdica.

TABELA 43.3 - Correlaçãoentre a topografia da área infartada -


- -
e as derivações eletrocardiogrâflcas
TOPOGRAFIA DA ÁREA DERIVAÇOES QUE REGISTRAM
lN FARTADA ALTERAÇOES NO ECG
v,F-
Inferior 02,03 e aVF
5eptal V1 eV2
Anterior V3 e V4
Àntero·septal V1· V4
Anterior extenso 01, aVL, Vl· V6
Lateral 01, aVL, VS e V6 -
Lateral alto 01 e aVL ~-1"-- Ir I,.. I-
,.,_
Posterior (freqOentemente
associado a infarto do
Onda R ampla em V1
A '" -
Figura 43.30 - (A) Sinais de
miocárdio inferior ou ação digitálica e morfologia em
lateral) colher do segmento STe T. (B)
Ventrículo direito 5upradesnivelamento do segmento O comprimido do digitálico ao
(freqüentemente 5T em V1 e também em V4R cair no ramo descendente da
- s onda R parará na colher
associado a infarto do lN.-
miocárdio inferior) B or M
Doenças Cardiovasculares • 421

OOf_lfttm;mm=t
01 02 03 aVR aVl aVF

I•••
V1 V2 V3 V4 V5

Figura 43.31 - Ação quinidínica em paciente de 52 anos, apre-


V6

A
sentando dupla lesão mitral. No traçado anterior havia sido re-
gistrado fibrilação atrial que reverteu ao ritmo sinusal após o
uso da quinidina' 1 .~ :A! _iA
IV

d; r
1-' \2
PF:
PS
1l\tT '-\ h- ~'\
iV ~ i- i' k> lt'

~
.,
0 -~'-'Pd
Figura 43.32 - Alça espacial
C3 i\ 3 +-
da ativação ventricular nor- 1- "
'f C
.;..
mal esuasprojeções nos três ~~ -. ~
planos:frontal (PF), horizon- : -: i
tal (PH) e sagital (PS)S
w. ~-----'
.~ ..
JR 1 1-' • It -+
1\4H
.,...
~1L .]1..... IA. J
f-tt -ri- ~V -1 T
1-'-. H- ,
-----_ 'ã IL J V5
;L
, ,,",,, i Jl
=1,
tff~
.'
Figura 43.33 - Projeção -, 2 Y 'Y
horizontal das curvas re- /
presentativasda ativação R=! ,
amai,ativaçãoventricular /
l-, t
(vetores1, 2 e 3) e repola- /
- ~- ~. ~f-F::\
rizaçãoventriculars (AD =
átrio direito; AE = átrio B
~------ I :!
esquerdo)
I-
TABELA43.4-Alterações do ECGprovocadas por drogas, distúrbios
metab61icose dos eletrólitos
c
)-

II -

Hipercalemia Leve a moderada (K+ = 5 - 7mEqlL)


OndasT amplas,pontiagudas e de baseestreita Figura 43.34 - (A) Teste ergométrico com resultado positivo
=
Grave (K' 8 - 11mEqlL) pela presença de infradesnivelamento de 4mm e do tipo hori-
Alargamento do ORS,prolongamento do zontal em D2, V3, aVF, V5 e V6. O ECG pré-exercicio encontra-
segmento PRe desaparecimento da onda se à esquerda. (81) Teste ergométrico positivo em paciente de
P.Nos casosainda mais graves o traçado
do ECGassemelha-sea uma onda senoidal 51 anos de idade na fase de recuperação. (C) Desenvolve arritmia
ventricular tipo flutter ventricular e remissão espontânea!
Hipocalemia Depressão do segmento ST,achatamento
da onda T e onda U positiva e ampla
Hipercalcemia Diminuição do intervalo OT em decorrência rações elérricas episódicas e/ou transitórias (arritmias cardía-
do encurtamento do segmento ST caso isquemia miocãrdica e atrasos da condução atrioventricu-
Hipocalcemia Aumento do intervalo OT devido ao lar) por um período de tempo prolongado. O ECO é registrado
prolongamento do segmento ST.com de forma contínua por 24 a 4Rh por um gravador portátil, conectado
onda T de duração normal
fi duas ou três derivações torácicas. O registro é ulteriormente
Oigitálico(Fig. 43.30) Depressãodo segmento ST,achatamento ou
inversão da onda T, diminulção do intervalo revisto e impresso para análise detalhada das alterações.
OT e aumento da amplitude da onda U
Quinidina(Fig. 43.31) Prolongamento do intervalo OT, devido REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
principalmente ao aumento de duração da I. GRAUER, K. ECG lnterpreuuion.
ondaT,que seencontraachatadaou invertida 2. GOLDBERG. A. L. Clinicul Elmol'/lI'dio/lwJI"Y: lt .,i"'J1llfitd "1'1'((/(,('''.6. ed. SI.
Antidepressivos Aumento do intervalo OTc, alterações do Louis: Mosby, 1999).
triddicos segmento ST e onda T. aumento da 3. MfRV1S, D. M.; GOLDDERGER,A. L. ElellllCardi"grllli".ln: flRAUN\VALO. E.: ZIPES.
duração do complexo ORSe taquicardias D. P.; UDDY, P. (ed.). Trauulo ile MI'd/dllll CfII'd/"V("mlllr. 6. cd. São Paulo: Roca,
supra e ventriculares 2003. p. 87-134.
4. GOLOMAN, L.:AUSIELLO. D, C"til '/)'11111110 de Medidllll/lJlel'llll. Rio deJaneiro:
Lesãodo sistema Ondas T invertidas, profundas e alargadas Elsevicr, 2004.
nervosocentral e com aumento do intervalo OT
(hemorragia intracerebral, tumor) 5. MOFFA. r. L: SANCHES.!'. C. R. 7)'/II/I'III'"i ml'@I'IIIIIiIO!If(//IIIINo/1l",II' l'alológicQ.
S50 Paulo: Roca. 200 I.
422 • Tratado de Clinica Médica

ORIGEM E PROPAGAÇIO DA ATlVIDADE nlTRICA


CAPiTULO 44 NORMAl DO CORAÇlo
O). rnecani ..mos complexos que envolvem a despolarização e
n rcpolarização do miocárdio normal serão descritos de ma-

Princípios de neira ...irnplificuda a seguir. c estão demonstrados lia Figura


~4. I. Tal descrição vil.a csqucrnat i/:tr o comporuuucnto da,
diferentes c mais importantes correntes iônicns, o que ~cr~
importante para a compreensão dos mecanismos básicos d:t~

Eletrofisiologia e urritmiav,
II. arivação normal do coruçilo M! d:í IIU nõ sinusul, estrutura
que possui células com cnpncidude de dcspolnrização cspon-

Estudo Eletrofisiológico tânen. II. nrivnção de-va .. células começa pela entrada gradual
de ódio. E"'e mm imento iônico fal. com que o potencial de
rcPOU'1Ifique menos eletricamcntc negativo (inclinação da fa'e
~ dll potencial de a 50). Quando o potencial atinge um limiar,
Márcio Jansen de Oliveira Figueiredo ocorre a abertura de canais de cálcio. que provocam o rápido
influxo desse ion. levando à dcspolurizução da célula. E~t3
o coração é um órgão complexo que. por meio de tuividndc clé- retorna ao seu estado elétrico basal atl'llv6s da sard:1 de ponissio
trica coordenada. consegue impulsionar o sangue por todo o por canais específicos. Essa cupacidade de início espontâneo
corpo sob situações e condições variada ... Existem mecanismo da despolarização é chamada de automatismo. No caso dos
elétricos que garantem que essa atividade 'c faça ritmicamente. marca-passos natural c c comportamento é normal (chamado.
cm perfeita harmonia entre a contraçâo dos átrios e dos ven- portanto, de automatismo normal).
trículos. em média 80 vezes por minuto. 2-lh por dia. 365 dias A Ireqüência com que as células do marca-passo natural
no ano. até o fim da vida. Infelizmcntc. e se isterna às vezes do nó vinuval se despolarizam depende do potencial diastólico
falha. condição essa conhecida como arritmia. E o curioso é mávimo. do potencial limiar c da inclinação da fase 4 da
notar que os rnecani mos responsáveis pelas arritmias estão despolarização. Esses fatores sofrem influência extrínsecas. corno
juxtamentc relacionado com os que garantem a arividadc elétrica a do sistema nervo o autónomo. Em um coração normal. a Ire-
normal. Conhecer o rnccani mo d:l<;arritmia passa. portanto. por qüência de de polarização do nó sinusal é superior no de Olltra~
saber como é a fisiologia elétrica normal do miocãrdio. células dotada. de capacidades automáticas. Daí ser essa cs-
trutura o marca-passo natural do coração,
II. ativação d:b outras célt,ltl!>do miocãrdio. que normalmente
CANAIS IONICOS E 6AP JUNeT/ONS não PO"UCIll capacidades uutomriticas, 'c inicia pela entrada de
pequena quantidade de cálcio e sódio no meio intracelular.
Duas cstruturav proréicav, 0' canais iônicos c a!> gllJl junctions, ntruvés d:l., K(/I' junctions. Esse movimento iônico [:1/. COIII
têm rido \ua imponância reconhecida na gêne'c ou na manutenção que o potencial de repouso da célula se modifique ligciramcnre.
de divcrvav arriuniav, o que é suficiente para provocar a abertura do~ caunis rápidos
(h canai, iônico e tão localivadov na membrana celular. e de ,ódio. que leva à dcvpolarivuçâo. Uma vez ocorrida u dcv-
,;10 rC'!lnn,á\ci<; por controlar o nU\O de Ions (principalmente polariznção. :I célula permanece nesse estado (fase de platú)
sódio. potá'l-io c cálcio) por meio de sua csmnurn, É o fluxo pelo cquilfhrin de cargas obtido com II saída de pot~).~io e
dc).loc).Ions. c o seu equilíbrio. que geram as diferenças de entrada de cãlcio na célula. Finalmente. COIll a saída de uma
porcnciab, cléiricos responvâvciv pela :llivnção elétrica e con- grande quantidade adicional de poulssio por meio de canais de
trllçi'io do miocárdio. asxirn C()lIIU sua recuperação. Há vúrio» crivação tnrdia. a célula retorna no seu potencial de repouso.
tipos de canais descritos, e cada um tem uma característica de
resposta. MECANISMOS BAslCOS DAS ARRITMIAS CAROIACAS
O papel dessus estruturas em arritmias é bem conhecido.
por verem local de ação da maioria da, drogas aruiarrümicas. De maneira didática. pode-se dividir os mecanismos básicos
I) cntanto. o'>conhecimento' rcccntemente adquiridos. prin- rcspon ..á, eis pela. arrltmias cardíaca .. como sendo decorren·
cipalrnente no campo da genética. demon tram que há pato- te do inicio ou da condução anormal do estímulo elétrico.
logia~ rcl:lcionada, com defeito). na c truturJ protéica dos ca'l:Iil>.
E~loc:,defcito, podem gerar a pcrda ou a redução da função. Anormalidades no Inicio do Impulso
c CI1l uutra, ,ituaçõc!> (mcnos comun).) pode havcr aUlllento Ne)...a categoria. 50 agrupadas anormalidades do 3utomlltbmo
na fun,ilu do canal. Em amba~. pode ser criado Ulll cstlldo e situuçõc, em que a atividade elétrica pode se inil:ÍlIr CUIIIO
clétrico que favorece o aparecimento ou I11lHlutenç:iode arritmias. decorrência do impulso precedcntc (:Itividade dcflngratla).
O~exemplos mais conhecidos des~ns chllllludas c(/"a[ofJfllia.\·
são a ).índromc do QT longo congénito c a :.índromc de Brug:,da.
Recentclllcntc tem ido n..conhccido u papel da ...gap jlll,cl;m,s Automatismo
na elctrtlli,iologia cardíaca. I~"a, c'tnllura". :.ituada), no discos O ,"eeanbmo de automathlllu norrnal fui dc\crito anteriorrm:nte.
intcrcalare,. permitem a pa"agem de íon' de um miócito para alosilll como o fato de que há outra' célula~ no cor.lçiio que po~.
outro. facilitando u condução clélrica pelo coração. O intere sc uem cllrllcterí,tica automática ... Em algumas situações podem
nelo'C~ canai\ tem aumentado com a comprovação de que :1' ,cr ()b~ervada, arritmias decorrentes dOl>mecanismos alltolll~ticos
protc{nu, que o). cOlllpõcm. a conexina).. apre entam pecu- normais. Por exemplo. em uma l.ituaç:io de inibição acentu:ld3
liaridadc:. na :.uu diMribuição e pacial nos :ítrios e ventrículo. da funçiio do nó sinusaJ (e timulaç50 vagai intensa) pode (}Correr
c por uprcloentar uma taxa de renovação rápida. poderin cxplicar um ritmo de escape juncional. A atividade de mllrca-pa~so.
algumas variaçõcs no componamento d:1atividlldc clótric:l em lIbsidi:1rios pode estar aumentada em sitllações de aumento
situaçôes como. por exemplo. isquemi:1 miodrdÍl.:a. da atividade simpática.
Doenças Cardiovasculares • 423

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Figura44.1 - A figura demonstra a seqüência de eventos que resultam na ativação dos miócitos normais. (A) Esquemarepresentando
umacéiulaautomática em repouso. Observar que o interior da célula é életricamente negativo, com maior quantidade de potássio no
meiointracelulare de sódio e cálcio no extracelular. Os canais iónicos da membrana estão fechados. (8) Início da ativação da célula
automática.Observara abertura do canal de sódio, promovendo a entrada do íon na célula. No detalhe, nota-se pequena redução da
negatividadedo meio intracelular. (C) A seqüência do processode despolarização acontece com a abertura dos canais de cálcio, esta-
belecendouma corrente iónica eletricamente positiva para o interior da célula. Com isso, a célula se despolariza (passaa ter o seu
interioreletricamentepositivo), conforme se observa no detalhe. (D) Após a despolarização, ocorre a abertura dos canaisde potássio.
Comasaídadesseíon, o meio intracelular volta ao seuestado elétrico de repouso (repolarização). (E) Estadofinal do processo.(f) Figura
querepresenta,de maneira esquemática, o início do processode despolarização de uma célula não automática. Inicialmente, ocorre
oinfluxode cálcioe sódio por melo de conexões intercelulares, causando uma pequena alteração no potencial de repouso (negativo).
Essasalteraçõespodem ser observadasno detalhe. (G) Essapequena oscilaçãono potencial de repouso promove a abertura dos canais
desódio,o que promove a rápida entrada do íon. Com isso,a célula se despolariza (detalhe). (H) Nessafase, a abertura de canais de
potássioe de cálcioe as correntes iónicas correspondentes fazem com que a polaridade da célula se mantenha (fase de platô)
424 • Tratado de Clínica Médica

Figura 44.1 (Continua·


ção) - (I) Finalmente,com
a abertura de canaisde
potássio,a célula serepo-
lariza, voltando ao seu
estado elétrico de re·
pouso. (1) Estadofinal do
processo

° automatismo anormal ocorre quando uma célula, ou um


grupo de células. apresenta um mecanismo de despolarização
ocorrência desses fenômenos. A redução da freqüência car-
díaca pode. ainda, provocar o aumento da duração do poten-
espontâneaque normalmente não seria esperado. Essasarritmias ciai de ação, Essas características são comuns na taquicardia
se manifestam quando a frequência de dcspolurizução do foco ventricular polimórficu do tipo torsades de pointes, sendoesta
ccrópico ultrapassa a do marca-passo normal (nó sinusal), o exemplo mais citado de arritmia relacionada com a pós-
As características clínicas e eletrofisiológicas das arritmias despolarização precoce.
por automatismo anormal são o início progressivo (warm IIp), Pós-despolarização Tardia. As pós-despolarizaçõestardias
um término gradual (enol down), e a supressão por ritmos mais são oscilações no potencial de membrana que ocorrem apósa
rápidos toverdrive suppression). Essas características podem repolarização de um potencial de ação, sendo induzidas por
ser observadas em traçados clcirocardiográficos (normalmente este. Esse mecanismo pode ocorrer em células cardíacassob
em registres de longa duração). ou durante o estudo cletrofisio- uma grande variedadede condições que cul min am com O aumonto
lógico invasivo. Observa-se. também, que o seu início pode ser do cálcio intracelular. Geralmente, as células que apresentam
facilitado pelo aumento do tônus simpático (atividade física essecomportamento mostram discreta hiperpolarização no final
ou infusão de isoprorerenol). do potencial de ação, seguida de pós-despolarização tardia.
A arritmia clínica mais comum que envolve o automatismo Com a repct ição do fenômeno essaspós-despolarizações podem
anormal é a taquicardia atrial eciópica. Pouco frequente, tem aumentar em amplitude, chegando a um limiar que pode desen-
sua importância dado que o seu carãrcr crônico pode levar ao cadear novo potencial de ação.
aparecimento de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo A situação clínica mais comum relacionada com a pós-des-
(/aqllicardiolllio"lIlia). que pode ser revertido com a elimina- polarização tardia é a intoxicação digitálica. ° digitálico pro-
ção do foco ccrópico (habitualmente por meio de técnicas de move o acumulo de sódio no meio intracelular, o que levaa
ablação por cateter). Recentemente foi observado que focos urna maior liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático.
automáticos originados nas veias pulmonares podem ser um As catecolaminas podem causar pós-despolarizações retardadas,
dos mecanismos eletrofisiológicos envolvidos na fibrilação utrial, possivelmente por aumentarem a corrente de cálcio para dentro
com importantes implicações terapêuticas (possibilidade de dascélulas. Algumas taquicardias arriais e ventriculares associadas
tratamento por meio de técnicas de ablação). a exercício podem ter como mecanismo a pós-despolarização
tardia. Um exemplo dessa situação pode ser a taquicardia ven-
tricular idiopática originada na via de saída do ventrículo direito.
Atividade Deflagrada taquiarritmia ventricular relativamente comum em corações
sem doença estrutural. .
Esse mecanismo. como foi citado anteriormente, tem esse nome Corno a arritmia depende do acumulo intracelular de cálcio,
por ser dependente do (deflagrado pelo) estímulo precedente, o aumento da treqüência de despolarização pode facilitar a in-
e tem relação com o fenômeno de pós-despolarização. dução de arritmias no estudo cletrofisiológico. Outra manobra
Pós-despolarização Precoce. As pós-despolarizações que pode ser utilizada para esse fim é a infusão de fármacos
precoces são causadas por uma alteração na repolarização, que com atividade adrenérgíca, como o isoproierenol.
leva a uma oscilação do potencial de ação logo após a fase de
platô. Se essasoscilações nos potenciais de membrana alcançam Arritmias Causadas por Anormalidades na
um valor limiar, urn novo potencial de ação pode se .iniciar.
l~possível observar esse fenômeno experimentalmente. porém
I;ondução do Estímulo
a demonstração clínica é difícil. Além disso, o mecanismo ele- Durante o ritmo sinusal, o impulso normalmente se extingue
trolisiológico envolvido não está totalmente elucidado. Essas após ter despolarizado todo o tecido cardíaco excitável. Em
caructertsticas luzem com que não se disponha de manobras situações especiais, o impulso elétrico pode persistir, e teci-
facilitadoras no estudo eletrofisiológico para a provocação dessas dos arriais ou ventriculares podem ser excitadas pela mesma
arritmias durante O exame invasivo. Medicamentos que pro- onda de ativação após O término do período refratário. Tal
longam a repolarização, corno o sotalol, podem provocar pós- situação é denominada reentrada.
despolarizações precoces e atividade deflagrada. Outros fatores Existem condições necessárias para que ocorra a reentrada.
C0l110 a hipóxia, elevação na pressão parcial do CO, tecidual A primeira é que existam dois caminhos possíveis para a pro-
e alterações na concentração de catecolaminas, situações que pagação da onda de ativaçâo, unidos proximal e disralmente,
ocorrem na isquemia rniocárdica. também podem facilitar a Em uma situação normal, a condução elétrica por essesdois
Doenças Cardiovasculares • 425

caminho é feita em paralelo. e não ocorre reentrada (no final, MÉTODOS DIAGNÓSTICOS NAS ARRITMIAS CARDIACAS
as ondas de ativação colidem e se extinguem). Portanto. para
que haja reentradacS necessárioque ocorra bloqueio unidirecional Eletrocardiograma de 12 Derivações em Repouso
em lima do.:,~a~\ ia,. É necessário, também. que ocorra lima
condução suficientemente lenta na via que condu I de manei ra O clctrucurdiogrumu de 12 derivações é fundamental na
anterõgrndu, de maneira a permitir que a condução pela via avaliuçâo de pacientes com arritmias cardíacas. O exame é
inicialmente bloqueada se recupere. de grande importância quando obtido durante um episódio de
Com todas essas condições. pode parecer que a reentrada ~cja arritmia. mas pode oferecer dados relevantes mesmo quando
um fenômeno pouco frcqücruc. Ao conuürio: as arritmia\ reentrantes obtido fora da crise.
são as mais comuns na prática clínica, sendo re~pon"Í\ eis pela Em pacientes com raquicardias paroxfsticas, o registro
maioria das taquicurdias paroxísricas ventriculares c supra- do eletrocardiograrna durante a crise pode fornecer o diagnóstico
ventriculares. Pode-se ob. crvar, inicialmente. que corações da arritmia. com implicações terapêuticas e prognõsticas.
e truturalmente normais podem apresentar condições para que Muitos pacientes com quadro de palpitaçõe taquicárdicas
ocorra a reentrada, Pacientes com dupla via de condução nodal não documcntada-, podem ser oricruados para procurar um
sãoum exemplo. A, crises de taquicardia paroxística ncrrnalmcntc serviço médico durante uma crise para que se possa flngrar
ocorremquando ~..c~critérios são satisfeitos (duas vias de condução a arritmia clmicn. El-sa abordagem. que pode ser utilizada
nonõntriovcntricular, uma rápida e uma lenta: bloqueio unidirecionul principalmente nos pouco sintomático)" e obviamente nos
quando é atingido (1 período refratário da via rápidn: condução
que não se suspeita de arritmias que coloquem em risco ti vida,
lenta pela outra via). Pacientes portadores de vias uccssórius
visa esclarecer o diagnóstico de maneira a evitar a realiza-
atrioventriculurcv também apresentam essas cnracrcrfsticas. A~
ção de vririos exumes complementares. A!>l.im. sempre que
taquicardias ventriculares em pacientes que apresentam cicatrizes
um paciente acudir a um serviço médico com queixas de
de infartos do miocárdio prévios podem apresentar arritmias
palpiraçõc-, este deve ser submetido a um cletrocardiograma
reentrantes ao redor da cicatriz. Enfim. são vária a situações
clínicas que têm a reentrada como mecanismo de arritmias. completo. me. mo que a arritmia seja observada em um monitor
Oscircuhos responsáveis pela origem e manutenção de arritmias cardíaco.
por reentrada podem ser anatôrnicos ou funcionais, No pri rnciro O registro clctrocardiográfico de manobras visando à reversão
caso, a taquicardia costuma ser estável, j.í que o circuito é lixo da arritmia pode ser útil. O uso de fármacos amiarrümicos pode
(seja uma cicarri/ de infarto, ou estrutura, annrômica . como o bloquear a condução ntrioventriculnr cm taquicnrdius de origem
oriffclo da válvula tricúspidc no caso do J7111f1!l' atrial comum). utrinl. esclarecendo um diagnóstico que pode ser duvidoso.
Os circuitos funcionai, podem ocorrer M: a ativação elétrica Exi ..tem vãrios critérios P"I'H () dia~n(htico diferencial de
centrípcrapromove a formação de um núcleo não excitável iaquicardias com QRS estreito ()\I alurgado. Com base no
(decorrente do período rcfratário do miocárdio). levando a um diagnóstico obtido. pode-se orientar o paciente para um tru-
movimento circular em torno de uma zona capaz de conduzir tumcnro cspccffico. ou dirigir a propedêutica de maneira mais
o Impul~ elétrico. porém temporariamente inativa. 'esse caso. O dircta para o problema clínico específico.
circuito não tem um limite definido. podendo variar de acordo O clctrocardiograma de repouso pode dar pistas para o
com as condições de excitabilidade do tecido. diugnõsrico mesmo quando obtido fora do quadro agudo.
As caracterí ricas de refrarariedadc do!' circuitos reentrantes Alterações na repolarização ventricular ou sinais de infartos
têm implicações clínicas c tcrapêuticns. Essa~ arritmias nor- prévio), podem sugerir arritmias relacionada, i'I cardiopatia
malmente. ão provocadas por cstimulaçâo programada. na qual isquêrnica. como a taquicardia ventricular ..ustcnrada. Sobre-
um cxrra-estimulo é liberado em intervalos variáveis. O encur- cargas illri"i~ podem indicar a ocorrência de fibrilação atrial
tamento do ciclo de csiiruulação provoca ultcraçôcs na retrata- ou outras rnquinrritrnias arriais paroxística ... A presença de
riedade do tecido, facilitando ii indução de arritmias. De maneira intervalo PR curto e onda Delta em um paciente com história
semelhante. li estimulação pode interromper a taquicardin in- de palpituçõcs sugere a presença de urriunias que utilizam vias
duzida. Drngas anriurrümicas que alteram a rcfrataricdadc (au- ucessórius. De maneira mais importante. a presença de sinais
mentando ou encurtando) podem ser úteis na prevenção de de pré-excitação ventricular em pacientes com sfncope pode
recorrência ou na interrupção de raquicardias já instaladas, indicar a presença de episódios de fibrilação atrial e condu-
o entanto. a característica mais marcante de arritmias ava- ção arriovcntricular acelerada. indicando a necessidade de
liada no e tudo elerrofisiológico invasivo é a capacidade de tratamento adequado.
se acelerar tranvitoriamcntc a taquicardia por meio de técnicas Outra utilidade do cletrocardicgrama em pacientes com
de estimulação unificial (cncarrilharncnto. ou entrainmenú. arritmias é a detecção de efeitos tõxicos de alguns fármacos.
antiurrtunicos ou não. Várias medicações (anriarrftrnicos.
MECANISMOS MISTOS unridcprcvvivov. antibióticos) podem interferir na elerrofi-
slologla cardíaca. Geralmente os seus efeitos tóxicos po-
Algumas arritmias clínicas podem apresentar mais que um dcrn scr detectados 1.:1)111 I) prolongnmcnto do intervalo QT,
mecanismo. Por exemplo. até recentemente o conceito mais que pode ser facilmente determinado no ctetrocardiograma
aceito para o mecanismo da fibrilação atrial cra () de vários dc 12 derivações.
pequenos circuitos de reentrada. Com a obl>ervuçãu da exis- Além das vantagcns citadas. o examc o.! di'ponível e de baixo
tência de foco~ eCl6pico:. com caracteríl>ticas automáticas nas custo. Existem. elllrelal1lo.limitaçõcs para o método. A principal
I'eia) pulmonare ... hoje o conceito é que. em Illuitos casos. é a sua curta duração. que dificulta a sua utilização para a
e~..a arrÍlmia tão comulll Icnha um mccanismo autom<Ítico de detecção de arritmia .. esporádicas e pouco freqüentes. Outras
inrcio. ~endo mantida por reentrada. Da mesma forma. é pos- limitat;õc~ englobam a baixa especi ficidade de algumas altera-
\rvel que a taquicardia ventricular polim6rfica da síndrome do ções (COIIIO alteraçõcl> difusas da repolari/ação \entricular) ou
QT longo ~eja originada por pós-despolarizações precoces. e ri difícil idcmilicação da ativaç1io atrial durante uma tnquiearclin.
mantidas por algum mecanismo reentrante que seja ro.:sultado bso sem ralar. é claro, dc equipamentos de'oculibrados ou com
de dispersOe) na refratariedade do mioc:írdio. problemas técnicos que originel11 :lrtefato~.
426 • Tratado de Clínica Médica

Eletrocardiografia Dinâmica IHolter)


Para contornar a limitação da duração do eletrocardiograma
de repouso foram desenvolvidas. a partir dos trabalhos ini-
ciais do engenheiro Norman Holter e colaboradores, técnicas
para a gravação da arividade elétrica do coração durante a ati-
vidade cotidiana. A evolução técnica foi grande. e hoje os aparelhos
utilizados para esse fim são pequenos e confiáveis. O registro
em fita magnética. que tem o inconveniente principal de estar
sujeito a variações na velocidade de gravação, está sendo pau-
latinamente substituído por aparelhos digitais. Os registres A
são obtidos por meio de derivações torácicas e analisados após
tratamento matcmát ico em programas específicos, sendo en-
tão revisados por um médico responsável. Normalmente, o
laudo contém dados de Ireqüência cardíaca (mínima. média e
máxima. em segmentos horários e nas 24h), a quantificação
de extra-sfstoles e episódios de taquicardia e bradicardia. além
de dados relativos ao comportamento do segmento ST. Os
exemplos de anormalidades encontradas. trechos aleatórios do
registro e traçados incluídos após a correlação com sintomas
ocorridos durante a gravação são impressos para a análise e
arquivamento.
Essa metodologia tem várias vantagens. A primeira, mais B
evidente. é permitir o registro de um tempo mais prolongado. Figura 44.2 - Exemplos de imagens obtidas em um exame de
Isso faz com que o método seja particularmente indicado na Holter. Em (A) observa-se o gráfico da freqüência cardíaca durante
avaliação de sintomas relativamente freqüentes (episódios diários). as 24h de gravação. Nota-se a elevação abrupta da freqüência
Podem-se obter informações precisas sobre o início c o fim de cardiaca pouco depois das 14h, sugerindo episódio de taquicardia
episódios paroxfsticos. o que pode ter implicações diagnósticas paroxística. Essa alteração permaneceu até cerca de 30min após
(Fig. 44.2). Outra vantagem é a possibilidade de correlacionar o a meia-noite, quando houve o retorno à situação basal. Em (8),
é demonstrado um detalhe do eletrocardiograma no início da
sintoma com mudanças no ritmo cardíaco. desde que o diário arritmia. O registro de eletrocardiograma, com três derivações
com o relato de aiividades ou sintomas durante o registro seja bem simultâneas, mostra ritmo sinusal, com um batimento atrial pre-
elaborado. O método pode detectar situações concomitantes e maturo, seguido de inicio de episódio de fibrilação atrial paro-
não suspeitadas (arritmias. alterações isquêmicas do segmento xística. As figuras demonstram a utilidade do exame em dois
ST), que podem ser importantes no manejo clínico do paciente. aspectos: demonstrar o início da taquicardia, que pode ter lmplí-
indicando tratamentos mais adequados para determinadas situa- cações diagnósticas em várias situações, e detectar um episódio
de fibrilaçào atrial durante o ritmo sinusal. Observe que se o
ções ou revelando efeitos indesejáveis do tratamento. paciente fosse examinado no inicio e no fim da gravação, somente,
A utilização do cleirocardiograma dinâmico para li avaliação não seria constatada a arritmia. Tal informação pode ter impor-
da eficácia do tratamento amiarrümico vem declinando. Tal fato tância para orientar o tratamento
se deve a várias razões. principalmente a constatação de que a
eliminação das arritmias no traçado pode não dar informações
sobre o prognóstico. Essa mudança de paradigma teve origem Monitor de Eventos Sintomáticos
após a publicação do estudo CAST, que avaliou essa questão. Se a duração do registro é um fator limitante para a detecção
Além disso, a interpretação da supressão da arritmia deve levar de arritmias em alguns pacientes, foram desenvolvidas técnicas
em conta modificações diárias na ocorrência das mesmas, e a para registros ainda mais longos (dias, semanas ou meses).
sua ocorrência em exames prévios. Assim. se a informação Os aparelhos fazem o registro contínuo, porém só armazenam o
prognóstica é pouco relevante, a avaliação da eficácia do tra- traçado quando acionados, geralmente após a ocorrência de
tarnento pode ser clínica. sintomas. Os traçados então são registrados e analisados para
As limitações do método são semelhantes às descritas para permitir a correlação dos achados com a presença de arritmias
o eletrocardiograma de repouso, exceto pela sua duração. Nor- (Fig. 44.3).
malmente. as derivações utilizadas (2 ou 3) não dão detalhes Os aparelho utilizados para esse fim são geralmente menores
que podem ser observados no registro de 12 derivações. Alguns que os com capacidade para a gravação de 24h, a fim de propor-
aparelhos simulam, mediante fórmulas matemáticas, o registro cionar maior conforto para um uso mais prolongado. O paciente
completo com base nos obtidos pelos elerrodos torácicos. Essas é instruído para retirar o aparelho para ii higiene pessoal. e
simulações devem ser ob ervadas com cuidado. pois alguns deve ser orientado para a troca periódica dos eletrodos,
detalhes podem ser distorcidos (como. por exemplo, (I morfologia A maior utilidade desse exame é a avaliação de sintomas per-
de arritmias ou a presença de pré-excitação ventricular). sistentes. embora pouco freqüenies (semanais. quinzenais) e que
A análise de alterações do segmento ST para o diagnóstico não tiveram a sua causa identificada através de outros métodos.
de isquemia também deve ser avaliada com atenção, devendo- As desvantagens são o custo (uma pessoa utiliza o aparelho
se sempre correlacionar os achados com o quadro clínico. Final- durante vários dias. impossibilitando o seu uso para outros
mente, os artcfaros podem constituir um problema maior com exames nesse período). a pouca disponibilidade quando com-
essa metodologia, pois além da possibilidade de interferência parado com outros exames (como o eletrocardiograma de 12
elétrica no registro, existem falhas mecânicas (variações na derivações ou mesmo o dinâmico) e a necessidade de coope-
velocidade ou deposição de óxido de ferro proveniente da fita ração por parte do paciente, seja no manuseio ou na instala-
magnética) que devem ser cuidadosamente afastadas. ção do aparelho.
Doenças Cardiovasculares 427

Para o cvtudu oa, hl adim ntnuav, ii' tn nll'." mvavivav permucm


o c,tUOII O.I'UIl\ ao do, mi, "IlU ...il c .!lllm cntriculur, Na prática.
u nuuor ullh/.I~':i1)". refere ii unáli-c dcssc último.ju que distúrbios
da IUIlÇ.1Il ,III pnrncrro podem 'l!r inferido .. pelo quadro clínico
c por evumc-, nao 10\a'l\ (I'. Em pacrentcs no .. quai ...se suspeita
de lcxáo 00 vrvtema de condução 1111 ranodal. a, técnicas de e..-
timulação c registro intracardíaco pennucm a avaliação da função
de estruturas nodais e do Ic:i\c de III' A 'lIu,lção clínica mais
Ircqücnre ocorre no, paciente, com dl,turhHh da condução
arriovcnmcutar ou iruruveuutcular nu elerrocardiograrna de
rcpouvo, c cpivódiov de vincupc sem reg"ln> clctrocardiogrãfico
no quadro agudo "Ie\\a xuuaçuo. II rcgixtro de graus avançados
Figura 44.3 - Registro de monitor de eventos sintomáticos, O de bloqucros intra ou intra hixianox indicam a necessidade do
trecho foi selecionado de um exame realizado para a detecçac Implante de um rnurca-passo. Nu exame invasivo. essa infor-
de arritmia paroxlstica que permanecia sem diagnóstico mesmo mação pode ser obtida 1:111 "tua,f>e\ ba ..aiv. com técnicas de
após avaliação cuidadosa, que induiu a realização de três exa- cvumulaçüo ou com II uvo de larmal'o,
mesde Holter. No traçado é demonstrada uma arritmia paroxística Em pacientes com lilqUI,1Irunua ... II exume pode ser Indicado
/. que pode corresponder a uma taquicardia ventricular idiopática.
para variadas situaçõe-, Pacrcnres que vao vc submeter a prece
" O aparelho foi acionado pelo paciente, e permitiu o registro de
três derivações simultâneas dimcntos de ablação com cutcter silo xuhmcudos a um e..tudo
clctrofisiológico uucduuamcntc untes do tratamento, \ ...ando
.,x confirmar o diugnosucn e cvrabclcccr crucno ...para a uvalia-
Recentemente '"r.IIU ti""" "" 100' monuorc-, unplantuvcrv, çào da "fictícia terupeuucu. No entanto . em casos em que não
Estes têm a vumagcm til' per nunr monuoruçocv prolongada' se \ islumbru a nccevvulude de tratamento por meio dessas
(até I ano) c não ncccv-uar d,Il'lIl1pl'raçao do paciente para a técmcus. () estudo 1m il,i\tl pode não ser indicado. podendo-se
vua manutençao. pcrrniundo. uunbém. tl armuzenumento au- avaliar 0\ pacientes chrucamentc ou por meio de outros métodos
tomático de trechos do clcuucardtogruma quando da detecção diagnósticov, Uma 'lIuaç1io comum na clínica "io o' paciente,
d~arritmia, uhuivo ou ucuna de parámetro-, programado .. -':0 com crives de palpituçõcc cm regivtro elctrocardiogr.lüco. em
entanto. 0' cuvto-, do apm clho e o procedimento do implante que ve 'U'pcit,l de uma raquicurdia paro\i,tica supravcnmcular,
(com nsco-, de: 1ll1c:'\<!1I ou ouuav cornplicaçôcv) limitam (l "e,sc~ ca-os. geralmente a invcsuguçao nu o tratameruo clínico
seu uso clínico na utuahd.ulc são fenos sem lançar ma« dos método-, Ill\a'l\n, 'illua .. âo <eme-
Ihante ocorre com algun .. portadore-, •• "'II1I1111l.lIICt", 00: um
eletrocardrogramu vugevnvo de pré-cxcuação ventricular (111-
Estudo aen Ilsl 16 ico Invasivo tcrvalo PR curto c ond .. Delta,
Pacientes com taquicardra-, de QRS largo de ...em -cr subme-
o evrudo elctrofisrológrc« mvavrvo e uma tccmca uul para tidov ao exame para confirmar diagnóstico sugerido pelo eletro-
elucidar u lhagnU'ltl UCIll \ .ma' suuaçocs. tanto em hrad: como
cm raquiarrunnav, ""peitas ou documentadu-, O método
oferece muita, vantaj!cn\ quando comparado com lIll!t\ldll' não
IOvusiv(h. Em primciro lugar. pçl'lllite () rc!!i,tro IlIcal da ,lIi-
\'aç:ioelélrÍl:a, illdu,i\c do feixe dç II i~(i"ig. 4-1.-1).I'"a carach.:-
rí-lica é importantl' i.1 '1m' todos l'()llltel'l:lll(l~ ti limitnção dc
rc:l!i~tru~pedfcll'''' p.lI.1ClICCOllhl'l'illll'llIO,)1ll1'l''(cmplo. de LIma
ond,! P dlllilntl' algumll' "Iqulcanlia" () Il'l'l'lrtl da ativação
do 11I\l' de II" t,llnh,'1l1 ~ importantc para o olagmí,tico de
laljul,lrntnll:l'. e ítll5m de pO~"lhlhtar ,ituar o local do hloqueio
3trtll\l'ntm:ul,lr nu C\tudo de bradlanlllllla ... Inlormação rele-
\ nte para a Indit...I~ao oe ":'"111lllação cllrolala artiliclal em
ca,!), t:,pl!cílicll' r lI1alment..:. a .. téO:llllil" de e'"llllllação, oe
mapeamcntu e ti po"ihiltdadc d" c ..tudo da açao de (armaco,
obre:a clello"'lolo~la l'ardlala o tCHnam um l'x.lme fund:J-
mental cm alj!lln .. '''''0'. pnnl'lpallllellle \i ..andu a terapia,.
mo a ahl,lçan l'om cncrgl.1 til' radlOheqllCllcHl. O Implante
Figura 44.4 - Registro obtido durante o estudo eletrofisiologlCo
de um cardltl\ eNlr/de"'lhnlador .IUtollwtÍl:O. ou olllapeamel1lo invasivo. Observa-se o registro simultãneo do eletrocardiograma
m \l tos ao tratalllento ururgl~o oe .trlllmi.l!>. de 12 derivações periféricas e de dOISeletrodos intracardiacos, a
A de'\ 3ntagcll' 00 mChx!o alh êm da 'lia llatllreLa imru,i\ a. velocidade de 100mmls. O traçado obtido por um dos cateteres,
Emhor:l ptlUCIIfrcquenlc", ii' O:"lllplt,açõc .. englobam a .. le- situado na região do nó atriovcntricular, esta na linha correspon-
ões \a,cular..:, (podendo o~'orrcr trtlIllOO''': \cnn,a ou ane- dente à denominação ADO. Nota ·se o eletrograma da ativação
nal, hematoma .. ou hemorra~t.I" ou l'ardtaca' (perfuraçõc ..,. atrial (deflexao A, registrada simultaneamente à onda P do ele-
Tui.. fato, fatem com qu,' II ,'\ame 'CJ.I rcalifado em centro, trocardiograma de superficie), e dos ventrtculos (deflexão V,
registrada simultaneamente ao complexo QRS do eletrocardio-
lum faCIlidade, lk cirurgia cardl.lca, 0llue rc,tringe ,ua d"
grama). Entre os dois sinais, nota se uma deflexão rápida, de
~cl111naç;i(l. Mc,mn \emlo leall/ado cm 'lIuaçoç, de ~egurança. menor amplitude (H), correspondente ii ativação do feixe de His.
lllm equipamentos de reanlllwç:1I1 d"pOlllvl!Í~ na sala. podem O traçado inferior (denominado RFD)corresponde a seqüência de
"rdc:,cncadead", talluicardia, Illaligll(l~ lIUÇ, em ca~()~ raro~, ativação registrada no anel atrioventflcular, fora da região
n,lI1rC\pllntlam à~ mallllhl a, lIMlll" do feixe de His (observam se as deflexoes A e V, mas n~o a H)
428 • Tratado de Clínica Médica

cardiograma, já que a presença de uma taquicardia ventricular BIBLIOGRAFIA


pode ter importância prognostica em muitas situações clínicas. ANTZELEVtTCH. C.: BRUGADA. P.: BRUGADA, J. et ai. The Brllgada Syndrolll~. New
Nos pacientes que vão ser submetidos ao implante de um car- York: Futura, t999.

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Urna das indicações do estudo cletrofisiológico invasivo que 3 cd, f>hitlldelphin: Llpp,ncoll \Villiam~ & Wilkins, 2002.
está praticamente em desuso é a verificação da eficácia do tra- MOREIRA, D. A. R./lrritmia1 Cardlams: rtinica. ,II0JillÓSlicII e teropéuttca. São l':lUlo:
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pacientes sem sintomas relacionados com arritmias. porém em N. f:lIgl. J. Mrtl .. v. 321. p. 406, t989.
risco de morte curdfucu súbita. vem declinando. Cudu vez mais Vt~CENT. G. M. Long QT syndrome. Cardiol. Cli«.. v. 18, II. 2, p. 309-326. 2000.
são estudadas medidas ruais eficazes que o tratamento clínico \VIT. A. L. Cellular electrcphysiologic rnechanisms of cardiac arrnytlunlns. CII,tI/ol. C/,...
v. S. n. 3. p. 393-409. t990.
para prevenir a ocorrência dessa complicação, pudendo-se
prescindir do uso do método invasivo para a estratificação de
risco cm determinados pacientes.
CAPíTULO 45
TESTEDE INCliNAÇÃO ORTOSTAnCA tnu TESn
Em condições normais, o sistema circulatório é regulado pela
atividade do sistema nervoso autónomo. Em determinadas situa-
ções. como no ortosunisrno prolongado. pessoas suscetíveis
podem ter um reflexo desencadeado por fibras aferentes vagais
que, estimuladas mecanicamente por um estado aumentado
Papel da
dc contratilidade (influenciado peja queda do retorno venoso,
aumento de tônus simpático e conuação ventricular vigorosa
com menor volume). podem gerar uma ação vagai eferente
Ecodopplercardiografia
que resulta cm bradicardia, hipotensão ou uma combinação
dessas duas rcações, Essa é li condição mais frcqücnic para a
ocorrência da chamada síncope neuromediada, condição não
rara na prática clínica.
na Prática Clínica
A exposição ao ortostarisrno, visando demonstrar esse
mecanismo. pode ser conseguida com o teste de inclinação
Jeane Mike Tsutsui
iTilt Test), no qual se procura reproduzir. de maneira basal ou
COlll a scnsibilivação COlll drogas, ti situação que provoca esse
Fábio de Cerqueira Lario
reflexo vagai (Fig. 44.5). Nos pacientes com suspeita clínica Wilson Mathias Jr.
de síncope ncurocardiogênica o diagnóstico correto ajuda na
prescrição de tratamento adequado. O exame é particularmente
útil 11 os pacientes com síncope de origem indeterminada e sem INTRODUÇÃO
cardiopatia estrutural. situação onde o diagnóstico de origem
neurocardiogênica é mais comum. A ccocardiografia é urna modalidade de imagem que permite
a avaliação da anatomia e função cardíacas pelo uso de ultra-
som. As ondas de ultra-som são vibrações mecânicas que induzem
rarefações e compressões alternadas de qualquer meio físico
que atravessam. Os transdutores de ecocardiografia emitem
ondas de ultra-som que se propagam no tórax e diferentes
estruturas cardíacas e são refletidas ao mesmo transdutor.
resultando na formação de imagens. A alta resol ução espacial
e temporal, obtida pelos aparelhos modernos de ecocardiografia,
permite a visibilização das estruturas cardracas em tempo-real
e atualrnente esta é a modalidade de imagem mais empregada
para avaliação do tamanho das cavidades cardíacas, determinação
da função ventricular. avaliação das vulvas, massas intracardíacas
e doenças congénitas. Além disso, o Dopplcr permite a determi-
nação das velocidades de fluxo de sangue c dá inforrnaçõe
sobre a hcmodinâmica cardiovascular, com estimativa de gradien-
Figura 44.5 - Gráfico demonstrando a monltoração da freqüên- tes de pressão, volumes de regurgitação, débito cardtaco e áreas
da cardíaca e da pressão arterial durante exame de tilt test. Ob- de orifícios valvares. Assim, a ecocardiografia clá informa-
serva-se que após cerca de 21min ocorre o aumento gradual da
ções fundamentais para uma completa avaliação do paciente
freqüência cardíaca, e que após o 27° minuto ocorre também a
queda da pressão arterial que, no caso, reproduziu o sintoma com cardiopatia. Em vista de seu baixo custo, ampla disponi-
que a paciente examinada referia (síncope). Esse comportamen- bilidade e ausência de efeitos colaterais, O ecocardiograrna é
to corresponde ao diagnóstico de um tipo vasodepressor da sín- o segundo procedimento diagnóstico mais frequentemente rea-
cope neurocardiogênica lizado após o elctrocurdiograrna'. Neste capüulo, será feita
Doenças CardIovasculares • 429

uma descrição sucinta dos princípios físicos da ultra-sonografia transdutor é mostrado abaixo da linh .. de bavc. ua principal
sendo abordadas as principais utilizações da ecocardiografia limitação se refere ao fato de não poder rcgrvrrar altas veloci-
na prática clínica. dades que uhrapas: am o limite de frequência máxima detectada
pelo Doppler pulsátil. devido a um artefato chamado alia.çillg.
O Dopplcr contínuo não é capaz de localizar o Iluxo, porém
PRINClplOS FlslCOS DO ULTRA-SOM pode ser utillzado para registro de altas velocidades, O Doppler
Os seres humano .. silo capazes de escutar ondas sonoras com contínuo é utilizudo para medir velocidades de fluxo por meio
freqüêncins entre 20 e 20.000 ciclos por segundo (hertz): Ire- de oriffclos restritivos como valvas csrcnõticns ou orifícios val-
qüências superiores a cvva faixa são churnudus de ultra-som. vares rcgurgituutcs. A velocidade de fluxo pelo Doppler deve
O ulira- om para diagnôstico médico urlli/u. geralmente. ser obtida, muntcndo-sc a orientação do feixe do ultrn-sorn o
rransdutore com frequência entre I milhão e 20 milhões de mais paralelo posvívet da dircção do fluxo vangüfnco, O mapea-
hertz. ou entre I e 20 megahertz. mento de fluxo a cores é baseado nm princípio .. do Doppler
A principal pane de um transdutor de ultru-vom é o cristal pulsátil.A» vclocidndcs são mostrada .. na imagem bidimensional
piezoelétrico. que possui a caracrerísticu de mudar sua forma ut iiizando-sc UIIIU esculu de cores na qual o vermelho representa
quandosubmetido a uma corrente elétrica. A aplicação de corrente o fluxo em direçiíll ao tmn dutor e o azul. o fluxo de dircção
elétrica de polaridade alternada, faz com que o transdutor vibre, oposta. O mosaico repre. crua velocidadev acima do limite e
gerando a onda de ulira-: om, Por outro lado. CMe mesmo cristal indica a variabilidade das velocidades da amostru.
é capaz de transformar o sinal mecânico de uma onda de ultra-
som recebido em sinal elétrico. que é então utili/ado para a
formaçilo da imagem ecocardlogrãfica. A onda .. de ultra-sorn IMAGENS E MEDIDAS ECOCABDIOGRAFICAS
atravessam os meios como um feixe. obedecendo ao, princípios As imagens ccocardiogrãficas ão obtidas pela colocação do
rr~ieosde reflexão e rcfração. Quando um feixe de ultra- orn transdutor na" chamada janelas acú ricas, que permitem a
é direcionado ao coração. ele e propaga cm uma linha reta, visibilização do coração sem iruerpo ição do pulmão. As janelas
até encontrar a superfície de contare entre doi, meios com acústicas clãssicas são: paraesrernal. apical, subcostal e supra-
impedância acústica diferentes. como. por cvcmplo. entre o csternal. A~ incidências padronizadas obtidas do coração permitem
angue e o músculo cardíaco. e a uperfície. pane do ulrra- sua avaliação cm três planos ortogonais, o plano longitudinal.
som é refletida voltando ao tran dutor, e pane é rcfratnda. transvcrsul e de quatro câmaras, porém múltipla incidência
continuando cu trajeto em direção a estruturas muis profun- podem ser adquirida" com diferente angulação e rotação do
d.1\. Como a velocidade do ultra-sorn no tecido humano é conhecida trnnsduror, Como [IS imagens obtidos pela ccocardiografln
(1.540m/s), a distância entre a estrutura que gerou o eco e ti bidi mensionul :.:10 tomogrãficus. deve-se tomar o cuidado de
transdutor pode então ser calculada. As imagens cardfncas são avaliar uma mcsmu estrutura cm diferente» incidência», para
formadas II partir do uhra-som refletido pelas diferentes super- evitar erros de interpretação.
f(cie~,ou ecos, c ~ão construídas de forma a mosirnr us distân- Várias medidas do coração podem ver obtida, pela ecocar-
elaspcrcorridns pelo feixe de ultra- om para atingir ti:. diferentes diografia. O~ diâmetro" ,i,tólico e diastõlico e a espessura de
cmuturn~ curdfucnv, Uma \el que o feixe de ulirn-som pode parede do vcntrfculo esquerdo podem ser aferidos no plano
\Cr transmitido rcpcutivamcntc. 0<; movimento' cnnlfncox po- paraesternal longuudinal pela ecocardiografia bidimen ional.
demser dernonstrndo ... ~ medida que os ponto, mudam de posição Estus medidas devem ser obtidas perpendiculnres ao eixo
cm relação ao trunsdutur, em função do tempo. longitudinal do ventrículo e querdo. sempre com auxílio do
Diversas formus de apresentação da imagem ccocardiogrãfica traçado clctrocardiogrãfico na tela do ccocardiõgrafo". A partir
podemser utilizadac o modo unidimensional ou modo M apre- das medidas de espessura do septo interventricular e parede pos-
senta as imagens formada por um único feixe de ultru-som em rcrior, e do diâmetro dinstõlico do vcntrfculo esquerdo. é possível
função do tempo. No modo bidimensional. sinais de múltiplos fazer a estimativa da massu ventricular esquerda, usando fórmulas
feixes de uura-som são combinados para formar urna imagem específicas. c estimar a função ventricular. O:. volumes ventriculares
iomogrãfica em forma de cunha. O modo bidimensional é am- e a fração de cjcçüo são geralmente calculado .. usando algoritmos
plamente utilizado na prática clínica. pois permite uma visão baseados na gcornctriá do vcmrfculo esquerdo. e correlacionam-
globaldas estrutura" cardíacas, porém com uma resolução tem- se bem com as medidas obtida por outras técnicas como a
poral inferior li do modo ~1. angiografia. A frução de ejeção do vcnrrículo esquerdo pode
Para estudo do Iluxo de . angue dentro do coração. é em- ser estimada a partir dos diâmetrol> \entriculares pelo método
pregadaa ecoc'lrdiogra lia Doppler. Os l>inais provenientes das do cubo. nos caso. em que a cavidade \entricular é de tamanho
células sangUfnea, geralmente não apresentam amplitude normal. sem alteração da cOnLTação egmentar ou da geometria
~uficientcpura serem detectados pelo modo M ou bidimensional. vcntricular. Quando es. as condiçõe não e~t:1o presentcs, os
Deacordo com O princfpio Doppler, quando um sinal de ultra- volume~ ventriculares devem ser mensurado!> direwmcnte pela
somISrefletido por um objeto em movimento, ocorre mudança planimetria das ~reas sistólica e djastólica do ventrfculo esqucrdo,
na freqUênciado loinul. Al>,im. o emprego do Doppler embnsa- ut ili/llnclo n ecocardiogralia bidimensional. Um dos métodos uti-
se na mensuração da diferença entre a freqUência emitida pelo lirados para II medida dos volume ventriculares é o método
transdutore:l refletida pela<;hem(ki[L~ cm movimento. conhecido de Simp~()n, no qual os volumes ventriculares são medidos a
como mudança na frequência Doppler. A velocidade do nuxo purtir de illlllgen:. de planos apicais ortogonais (quatro e duas
de snngue pode então ser calculada a partir da mensuração da ci\mnrn~), nus ,!uui, o ventrículo esquerdo é dividido em vários
mudançana freqüência Doppler. As velocidade!. de nuxo podem cilindros de IIltllrll' 'emelhante . sendo o \alor final o ~omatório
..crobcida!.com o Doppler por meio da análiM: das onda!>pulsáteis dos volumes de cada cilindro. E sc método é o mais adequado
e contínuas.O Doppler pulsátil é utili7ado para obtenção de velo- quando cxistelll alterações da contraÇão '>Cgmcntarou altemçiio mI
CIdade em locais específicos das valv:l. cardí3ca:- e va os san- geometria do velltrfculo l!~querdo\.
gúfneos.e é mo trado na tela do aparelho de ecocardiografia Para an~lbc da contrução !.cgmentar. o \entrfculo esquerdo
em forma espectral. O nuxo que se aproxima do transdutor é é dividido cm 17 seglllentos. de acordo com a~ nova~ diretrizes
mo~tr(ldoacima da linha de base. e o nuxo que se afasta do da American Heart A. ociation·. A análbe da cOlltl'Uçilo:.egmcn-
430 • Tratado de Clínica Médica

tar é real i/ada. utilizando-se :I' di fcrenies incidências do ventrículo


esquerdo que permitem uma adequada vislbilização da moti-
lidade de parede de cada um devses segmentos. sendo classi-
ficada em com ração vcgrncntar normal. hipocinesia. acinesia
ou discinevia.
A ccodopptcrcurdiografia permite a avaliação da velocidade
e dtrcção do, fluxo ...de sangue imracardfucos. sendo de grande
aplicação para cstimat» a niio IIwasi\ a de parâmetro ...hcmodinâmi-
co ... E"a, velocidade ......âo convertida ...em gradiente. ele pressão.
aplicando- ...e a equação ele Bernoulli. irnplificada. como segue: Figura 45.1 - Modo M da valva mitral mostrando o típico pa-
drão de valva mitral normal. Os folhetos são finos e apresentam
ampla abertura durante a diástole, formando a onda E da fase
iio = -I x velocidade?
Gradrcmc de pre ...... de enchimento rapido e a onda A da contração atrial

o fluvo voluméincu :lIr:1\6 de um orifício pode ser calculado pode-se observar redução ua vcpuração diustólica elos folhetos
como a área de ...ccçào trnnvverva do orifício, que pode ser medida
c a acentuada redução da mobilidade do folheto posterior. que
a partir da' imagcn-, ccocardiográficas bidimensionais. rnul-
se upresenta fixo. ou com leve movimento anterior durante a
Iipl icado pela velocidade de fluxo obt ida pelo Dnpplcr pu Isáli I.
rase de enchimento rápido. A estenose mitral por calcificação
Tais medidas podem ...cr lcuas em qualquer valva, assim como
dos folhetos é rara e associada principalrneruc li idade, podendo
na aorta avccndcntc ou artéria pulmonar. O cálculo do fluxo
ocorrer também na curdiomicpatiu hipertrófica e hiperparari-
volumétrico pode ser aplicado para csiimmiva do volume sistólico
reoidismo secundário. No modo bidimensional, a calcificação
e débito cardíaco. Pode ver utilivado também para determina-
do anel mi Irai pode ver facilmente identificada no eixo longo
ção do \ olurne regurgitanrc .11 ravés de uma va I va insu ficicnte.
C0l110 uma estrutura brilhante. hipcr-rcfringerue, no sulco arrio-
ou para o cálculo de área valvar pela equação de continuidade.
ventricular. com sombra acústica posterior. que eventualmente
A equação de continuidade embasa-sc no fato de que o fluxo volu-
se estende até a base dos Iotheros da valva mitral, raramente oca-
métrico proximal a uma \ ah a estcnõtica é igual ao fluxo volumé- sionnndo estenose ou insuficiência valvar. ou predispondo à
trico atravé .. do orífício cstenótico. Desde que a área e a velocidade
endocardite (Fig. 45.3).
provimal à e ..renove podem ver medidos, ti obtenção da "elo-
A quantificação da estenose mitral pode ser realizada por meio
cidade nu local de evtcnosc pelo Doppler contínuo permite a
de váriov métodos ccocurdiográficos. O~ mais utilizados na
estimnrivu da área c-rcnõuca.
pnirica clínica vão a plunimetria do orifício valvar mediame
vixibilivaçâo direra no método bidimcn ional, uiilizando-se a
APlICAÇOES cllNICAS DA ECOCARDIOGRAflA janela paracstcrnal. no civo curto. e a medida do tempo de
meia prevsão (pressu n: hnlf-time}, crnbasado no conceito
Valvopatlas de que a l:I\a de declínio da pressão através de um orifício
cstcnót ico é dctermi nada pela área desse ori fício I,fi. O tempo
A ccocardiografiu fOIncce Imagen' com alta resolução temporal
de meia prcsváo é definido C0l110 o intervalo de ICI11pO (cm!
e c...pacial. 'c lido pcl"í\d anahxar a anatomia e movimcmação valvar.
milixscguudu») enuc o gradiente de pressão iransvalvar mitral ~
Mia r.:l:t~·:ioCOIII evuuturav ildjacclltcs. ulérn do estudo dos fluxos
máximo c () puntn IlO qual o gradiente de pressão é a metade .:
ai rm es do Doppler, Nenhum outro método de imagem é capaz de
do máximo, Por meio de estudos comparativos com a deter- ~
oferecer uma avaliação lrucgruda com essa mesma resolução, x
minação invasiva da área valvar mitral pelo método de Gorlin.
A valva mitral roi a primeira estrutura identificada pela eco- 1
dcrcrm inou-sc a r6rnlllla empírica ":
curdiogrufiu. Pela janela paruevtcrnal. no modo M. a movi-
rnemação do folheto anterior da valva mitral normal lembra o
Área valvar 111iI r:II = 220 I T~~
formato da letra M. rcllct indo a~ fases de enchimento rápido
do ventrículo cvquerdo (onda E) e ti fase de eOnlração atrial
São ~inais indirelos da gravidade da eslenose mitral: ellcur-
(ollda A). A movimenlação do folhelO pO~lerior é uma imugem
lamcnto das cordas lendíneas. calcificação dos folhetos, aumento
em e.fpel"" do folheIO all/erior - letra IV- contudo. de menor
do álrio c~querdo e en\olvimento das câmaras direitas (hi·
amplitude (Fig. 45.1). í () eixo cuno, a valva pode ser visihilizada penen!>ão pulmon:lr), Podc-se ainda quanlificq~ a área valvar
como uma C!>lrUlUr:Ielip,óide. o eixo longo. ~cus folhetos
mO\'cm-~c cm direção contrária na diáslole. como duas Illãos
batendo palma .... e formando um plano de coapwção fixo. na
:.í,IOlc. O ...foUlcto, normai, são fino,. cOlllllleno~ de 2mm de
e'rc"ura. <;endoum pouco mais e~pe' ..o.. na~ bon.las de coaplaçào.

Estenose Mitral
A~ princip ...... catl,a, de e,lcno,e mitral adquiriela são li febre
reum:íllca e a calcificaçflo \alvar degenerativa. Entre as causa,
congêniw,. podcm 'cr I:ltadu, a val\'a mitral cm pára-qucdas.
o anel ,upr:1\ uivar milral c (l ('or 'ria/rimlllll. Outras causas são
Figura 45.2 - Imagem paraesternallongitudinal em paciente
a s(ndrlllm: carcinóidc e () mixoma atrial esqucrdo. Na e~leno ..e do sexo feminino de 35 anos, com estenose mitral reumática.
mitral reul1l:ítica. pode-,e ()b~o.:rvar ao modo bidimensional o O átrio esquerdo apresenta-se dilatado. e a valva mitral apre·
cspes,amenlO do, folheIO,. calcificação (hipcr-refringência) senta fusão comissural formando o tlpico aspecto em domo.
c a lípica Illovi l1lenwçãu do .. fui hetos cm decorrência de fusiio e redução da abertura durante a diástole. AE = átrio esquer·
cOl11issural c cncurlamento das cnrdas lendíncas. resultando do; VD = ventrículo direito; VE = ventrlculo esquerdo; VM =
no eanlcterí,tico a~pccto de domo (Fig. 45.2). o modo M. valva mitral
Doenças CardIovasculares 431

Figura 45,3 Imagem paraesternallongitudinal (A) c transver


sal (8) mcstrando calclflcaçao valvar mitrai, acometendo princi-
palmente o anel posterior, como pode ser visualizado no corte
transverso (8, setas), AE " atrio esquerdo, Ao = aorta, VD =
ventrículo direito, VE = ventriculo esquerdo, VM = valva mitrai

mitral, ulllllanoll.ll'qll,I\,IUOCconnnunlade. ou pdlllllellldll


1'/111;111111,11111 I", III arr« (1'1\ \) \ CllIl'.lrtllllgra·
1111/1/('(' Figura 45,4 Imagem bldimensional com mapeamento de flu-
~ h.1c uunhcm 1I1111/.ld.1p.lra :1 ;II a 11.1\.111d.1 proh.thrhd.uíc til' xo em cores demonstrando presença de jato de Insuficiência mitral
~ suec"" du \ahllpl.I'"a por cateter 11,,1.111, lltih/.lIldll ve um que se estende até o teto do atrio esquerdo (A) e curva espectral
: cvcorctc-core C(lIl.lIdIllPI:ílICIl) de \Itlollfll 1"\111111\ p.II.ll'ada do Doppler continuo (8) mostrando fluxo regurgitante se aías-
;:';uma d,l' qu.nrn c.rr.u tcnvucu-, mortológica-, 0.1 \,III,llIIlIr:l1 tando do transdutor (abaixo da linha de base) AD = átrio direito;
~ 3,aliada, mobilidade. cvpcwura UI" folhetos. calciúcaçüo AE = amo esquerdo; VD = ventriculo d reito; VE = ventrículo es-
do folheto amenor e gra\ idade U" dO<:II,aulI"parellHI ,uhl ali ar, querdo; VM = valva mitral
demonvtrou-sc que um c-core total menor que 7 10011:.1.Iha
probabilidade de WCC""
atirlll',1 hlCti'pllIc l'ollf':nlll "'a C,lelll"e aórncu degenerativa,
a C,lklltl'.I\,1C1 vntvnr ocorre lentamente durante ,1110', Ocorre
Insuficiência Mitral Ilh,lnl\'.lIllllllll:lIl1Cnll· "I'I1I11':<ltll.1,tipicamente. apó, a oitava
d.:c,ld,l,k \1,1.1 ','\llll1udo \1. pode vc "h,erl ar .. dmunuição
,\ insuficiênci« valvar mitral pode ver laU~Ju.1 rUI I a""p.llla
d .. ,lhl.'.IIII,1 '1'111111.',1l' ~,lkl"~illi,1I1 (hljwl Il'IlIlIr':nCla) du,
reurndtica. pruliIP'" da vulva mural. endocardite ,111.11,1\410
do anel valvar mitrul ou alrcraçõev gcomctnca-, do ventrículo Illlhl'I." .IIHII~U' '\11 hldlllll'lI\ltllI,tI .. 110
III"l'l I ,I 'l' ,11.'1.'11111
e-querdo. entre lIutr", r"tulu!_!la" :\a \ alv urat ia reumát leu. tlU1I1Cn11l tI,l ~'(o~.:nl':ld.l(k c ledllt;jI(l d" 1110"""1,.. lc dI" 1"lh.:to,
II folheto pcl,tcrtllr l: li\(I e curto. dctcrmmando Ialha de coaptu- (ht' 1<;"iJ, \ c,lcllU'': plll 'ill\a aOllll',1 hll'lI'pllk pode 'l'l
ç!n CIlIn o Iulhelll anrcnor e Jalll de invuficiêncra dirigido t1111~t1d.: tJ.k'CIIC:I,tI 0.1c,lel1u,e dq.!éllll,III\,I,llIlI',':1I1 e,uigltl\
pcNcriurmcnh:,:\o rrulalhll da valva mitral. pode-ve obver- aI al1,.ltI.I\ d.1,1''1:11".1,.1{,Ilcllica,ao d,,, lulh.:lc" dilicult .. a dife-
lar e,pc".IIIl.:nlll c rcdun l.in.:ia IUCl:!cncra,:i" O1I\UII1.III"a) rcnciaçâo do, tolhcro-, aberto .. na '1'1111':.1.'111 razao de ancíato ..
dn, 1.,lhehh c mm 1m 1."11II. po-tenor '1,luh~tI dn Iolhciu .111- prll\c'l:ad'I\ pela cxtenva calcificuçào d." lulhelll\ Ch "1110mn..,
tenor, de 11111 0'" Ir~~ egmcnu« dll 1.. lhero 1""1..:rt III • ou de nev-e úhim» l,I"', -c dcvcnvolvcm tipicamente nu redor do,
tlldn, ..:I.:" cvcmualmcntc com talha de: ~",II'I.I\,1Cl 1.lh,lr e 4<; ,111\ 65,111." de id.ulc 1,111..:'1.11'11"IIIl'IIU... I\an,adu" pode
ruptur« de: ~Clrdualha~ :J."udad.I'", :-;" mudu ~1. pmk ,.: '"' Illl'nllltl',lr no modo \III lcchamcnto excêntric« da valv« e
llb,crlar u d:\"I~,lllIlIl III1CIll.I,:i\1JlI"I..:riul ",lulll.1 lIu' lolllelll\, 1111modo hidimCII\lIlI1,tI. Il\ d(li, lolh':h" n.1 i'IOIc e a abl.'rtura
embora .11.: .!.v, ,:tuuá\cl' de mulh.:rl·' .1"111111111,111(',,, p(l~. CIl1,h'l1lC1d.1 1,1" a, 'Ja .:'tCIIII'C \iI h ,Ir ,lIHtll'a r':UlllalICJ, pode
,am ,cr dlo'gl1u'lic:aJ.I' I."rrunc:alllenle ptlr C"I.! c.'rtICIW, O jalo "C oh'':r\ .11:111111':1110 oa ,:cCl!-!.:nlclll.ltll·do hllrdll d,,, Illlh..:tm.
tle In,ultlÍ.:nc.'la, ntlrlllalmcl1tc tem lIlrc,ãu ul"I\la ao rollle· lu,.ICl C(lIIlI""I,11 .: ah':llura '1'111111.'.1 ti", 101hO:II" 1.'111dOlllo,
101.1"ar que ,nlrc rrlllap''', de' ..a forma. n flrlll.lp'u do Iui helo ;-.!OIJIll':I1I.:, em e't.lgw\ ~1I"IIC;JtI(",lllrna- ..c dlltc:tI.1 cJlleren·
anlcrror uetcmlinara um jalo de lO\Uficlência pO"'lerior c , ice- dação cmlun,ão de cakllkac;ãl> acenlllada d", lulheu". Nc ....c~
leria, A quanUfil:l,ãll ua in,uficiência \ ali ar na prática clínica Ca,o" a Idcnliliea\'àll da cliologla 03 JXI"íld pela ub\er\'ação
é reah/aJa pnnl."lpalmente utili7.ando-,c o D(lflfller c o mapea· de l"ilC' \ahare, .1"nClaÚa, (pur .:\cmplo, III'a" {'Illlll"ural
menlo de tlu\U.:m ore, (Fi!!. 4504 I, A planimclria do maior reumallca da \ a" a mllral I \ quanllllla,ao da c'tcntl\C I ai "'Ir
J3111pdn D"ppll."r ~lllorHI", utlli/ilndu"é tuU,I' a, ,anela, ..tinica poú..: ~r Ii!ila pela ":,lIl11all\'::Idl"lil:rad.C'nle .. tron" .."are ..
Ih,pClnllel , olcrccc um C,lllllall\.1 1'''''''':lr .. do j!r:tll de
In,ultl.'l~n~la \ahol IIIIIr li \ nurlll,IIII.II,.IU petlllalllal1hll do
tlllll' (nu mC,1II1Iplallll dll 1,IIu ,11.- IlIwllc.'ll'lIllal c.'1I1I1 I:tlu·
re, dl' ,urle ,k .!lIl· 1(1' ddll1íntlo In'ullciéllll,l' ""Cll'I ..,
1l111t1..:r,ld.1
l' iIllJlIlII.lllll· tem ,idu j)rtlptl\la e h':lIl .I(ellu na
Jlr.lIll:.1dllm,lc', ,\ 111\1.'".111,k 1111\0 n:I\ \1.'1,1' PUIIlIOI1.III.·'.
delccl.lda pdn Dllppll'r plll'~I" delilll' 111'lIltl'I~·I1I.'I.1IIIllral
Imp0rlanl.:, ()ultlllll':wdll ulilit:ldo pal.1 ,I .11,111,1\',111 dllprau
de in,uticlênlI3': "1""\;IIIal IllI\'doe '" \111/111 c',"c'a (1'11)\),
pela dCIc:rmtnaç;1()UIl nrillCIII rC!,!lIrgllilnl': clt:tl\" \,llm.:,
Inferiore, a ().IC:1lI ucltnem illwlt"êllt:l" IIIllr.11 tJl't:rcl.1 c
Figura 45,S Imagem bid menSlonal no corte aplcal de cinco
,UJl(IIIIfC' .1ll,l51.'11ll ,Idlncm In,ulil.'lcnl'I.1 im!l"rt.llllc",
cJmar as mostrando valva aortica calclft<ada, (om redução de aber-
tura (setas, A) e curva espectral do Doppler continuo (8) mostrando
EstenoseAórtica gradiente transvalvar aórtico de 82mmHg (máXimo) e 51 mmHg
(médio), IndicatiVos de estenose aortlca de grau Importante,
\, pnncip.lI' 1:,111\.1',1l-"'I':lw\e allltlca ',111,1c,dch"e.: ii cal· AD = átriO direito, AE = atrio esquerdo; VD = ventrlculo direito;
clltcaçilo ,.Ihar de~CI1CI.III\'a" a vahopall.1 rC:UIl1.IIIC.1 e.1 1.lh' .. VE = ventrtculo esquerdo
432 • Tratado de Clínica Médica

aõrticos mãxirno e médio. pela equação de Bernoulli modifi- sub ou supravalvar pulmonar. sendo necessária uma cuida-
cada. utilizando-se o Doppler conunuo (Fig. 45.5). Em razão dosa avaliação. incluindo o Doppler pulsátil para determi-
de possível di ficuldade de alinhamento da amostra do Doppler nar o local exaio da obstrução ao fluxo. A insuficiência pulmonar
com o jato aórtico. em alguns casos. a avaliação do fluxo trans- discreta pode ser detectada na maioria das pessoas saudá-
valvar aórtico deve ser tentada cm todas as janelas acústicas veis. lnsuficiência pulmonar importante pode se desenvol-
disponlveis c considerada apenas o maior gradiente pressórico ver após corrcção cirúrgica da tetralogia de Fallot, endocardite.
obtido":". A área valvar aórtica pode ser estimada pela equa- ou carcinõide. Insuficiência pulmonar moderada pode ser se-
ção de continuidade (princípio da continuidade do fluxo). pois cundária à hipertensão pulmonar.
o volume sistólico proximal à valva aórtica deve ser igual ao
volume qUI: passa pelo orifício estenõtico".
Cardiomlopatlas
A ecocardiografia tem importância fundamental para o diagnóstico ,
Insuficiência Aórtica das cardiomiopatias, que são classificadas como dilatada. hiper- :
A degenerução valvar senil tipicamente resulta em insuficiência tr6fica c restritiva. A cardiomiopatia dilatada caracteriza-se por:
aórtica discreta. A doença rcumárica causa retração dos folhetos dilataçâo importante das cavidades cardíacas, espessura de parede :
c um jato central de insuficiência aórtica. Valvas aórticas bicúspides dentro dos limites da normalidade e disfunção sistólica global:
podem exibir insuficiência signi ficativa em razão de prolapso do (Fig. 45.6). A ecocardiografia permite a quantificação do grau
maior folheto. A endocardite também pode provocar insuficiência de comprometimento da função sistólica. importante marcador
aórtica. por meio da destruição dos folhetos. Outras causas de prognóstico em pacientes com insuficiência cardíaca, assim
insuficiência aórtica englobam: síndrome de Marfan (dilatação como a detecção de alterações da contração segmentar, indicativo
ânulo-aórtica. com falha de coaptação central valvar). doença de doença arterial coronariana. A insuficiência mitral é bastante
mixomatosu. dissecção de aorta, sflilis. membrana subaórtica, comum em pacientes com disfunção sistólica e dilatação do
defeito do septo ventricular, entre outras. ventrículo esquerdo (Fig. 45.4). A dilatação secundária do anel
A quantificação da insuficiência aórtica pode ser realizada mitral prejudica a coaptação adequada das cúspides valvares,
pela medida da área do oriflcio regurgitante (insuficiência impor- Sendo geralmente associada ii insuficiência valvar central. Pela
tante quando ~ O.Jcm') e volume regurgirante (insuficiência ecocardiografia bidimensional, a aparência da valva mitral é
importante quando ~ 60mLlbatimento)'8. Uma medida simples normal e o grau de insuficiência mitral geralmente não é im-
e confiãvel e a medida da vena contracto, que é a da menor portante. exceto em casos extremos de disfunção ventricular.
largura do fluxo através do orifício rcgurgitantc. Medidas acima Uma vez que a insuficiência mitral primária também pode levar
II sintomas de insuficiência cardíaca, essa diferenciação é irn-
dc O.Scm apresentam alta sensibilldade para diagnóstico de
insuficiência aórtica importante. enquanto as medidas acima portante para o manuseio do. pacientes, Quando II disfunção
de 0.7cm têm alta especificidade". A demonstração do fluxo ventricular é secundária à insuficiência mitral, a valva mitral
diastólico reverso na aorta abdominal proximal com o Doppler geralmente apresenta anormalidades estruturais que são facilmente
pulsátil é altamente sugestiva de insuficiência aórtica impor- detectadas pela ecocardiografia bidimensional, como discutido
tante (pode também ser observado nos casos de persistência anteriormente. As derivadas de pressão-tempo (dp/dt e dp/dt
do canal arterial )~o. negativa) são índices de avaliação das funções sistólica e diastólica
do ventrículo esquerdo que. respectivamente, refletem li capa-
cidade do ventrículo esquerdo para aumentar ou diminuir o gradiente
Valva Tricúspide de pressão em relação ao átrio esquerdo dentro de um inter-
valo de tempo. A taxa de mudança no gradiente de pressão sistólica
A valva tricúspide normal possui os folhetos septal, anterior entre o ventrículo esquerdo e o átrio esquerdo com o passar do
e posterior. A insuficiência tricúspide discreta.fisio/6gica. está tempo. é determinada pelo intervalo necessário para a velocidade
presente em até 80% dos indivíduos normais. sendo conve- do jato aumentar dc I pura 3m/s. A dp/dt negativa será aferida
nicnte para li estimativa da pressão sistólica arterial pulmo- na porção sistólica ascendente do espectro Doppler e representa
nnr". A estenose tricúspide é incornum em adultos e causada o tempo nece sário para a velocidade diminuir de 3m/s para Im/s.
principalmente pela doença valvar reumática: nesse caso po- Valores normais são considerados maiores que 1.200rnmHg/s.
dem-se observar espessamento e encurtamento dos folhetos. A dp/dt ubaixo de 450mmHgls se correlaciona com o pior prog·
com fusão comissural e abertura cm domo. Pode ser provocada nóstico e valores entre 850mmHgls e 1.200mmHg/s com me-
também por doença cardíaca carcinóide ou doença congêni- lhor prognóstico em pacientes com disfunção ventricular",
ta11.:3. A insuficiência tricúspide pode ser secundária à dilata- A cardiomiopatia hipertr6fica é urna doença hereditária ca-
ção do ancl tricúspide, disfunção sistólica do ventrfculo direito. racterizuda por hipertrofia ventricular em um ventrículo não
ou hipertensão pulmonar. Outras causas são a doença valvar dilatado, na ausência de condições que expliquem a magnitude
reumática e a doença carcinóide sendo esta última rara. com achados da hipertrofia. O aumento da espessura rniocárdica do ventrículo
ecocardiográficos patognomônieos: folhetos da valva tricúspide esquerdo é o achado ecocardiográfico característico da cardio-
espessados, encurtados e imóveis, resultando em estenose ou rniopatia hipertrófica, sendo geralmente assimétrico e com
insuficiência. Podem ser ainda citadas a endocardite e a anomalia distribuição variável (Fig. 45.7). A hipertrofia miocárdica está
de Ebstein (implantação anôrnala da valva tricúspide, em direção associada a graus variados de alterações funcionais, podendo
ao ápice do ventrículo direito). ou não haver obstrução funcional ao fluxo sangüíneo na via
de sufda do ventrículo esquerdo em função do movimento anterior
Valva Pulmonar sistólico da valva mitral (Fig. 45.8). O estudo de fluxo ao Doppler
permite a determinação do gradiente de pressão intraventricular,
A doença valvar pulmonar é normalmente congênita, sendo assim como a uVuli"ção da insuficiência mitral, que é um achado
raramente adquirida. Pelo modo bidimensional. pode-se observar frequente nessa patologia. A ccocardiografia é o principal método
abertura em domo. e pessarnento variãvel dos folhetos. di- utilizado tanto para o diagnóstico da cardiomioparia hipertrõ-
latação põs-estcnõrica da artéria pulmonar e hipertrofia do fica como para o auxilio na determinação do prognóstico e res·
ventrículo direito. Pode er diffcil de distinguir da estenose posta terapêutica. É também de grande importância na avaliação
Doenças Cardiovasculares • 433

de familiares dos pacientes com cardlomiopatia hipertrófica, .. .


possibilitando o diugnóstico de formas mais discreta- dessa
to ;'~ ...
-, - . .' :': K

.. I

patologia. que poderiam passar despercebidas sem a avsociação


com uma história clínica bem definida.
A cardiomiopatia restritiva I! associada a processos infiltnuivos.
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comoa arniloido ...e cardíaca 011 hcrnocromatosc. e caracteriza-


se porespessamentomiocardico, alteração importante da função Figura 45.7 - Imagem bidimensional em corte transverso do
diastólica. bem como por função vistõlicu normal ou discre- ventrículo esquerdo mostrando importante hipertrofia miocár-
tamentediminuída. dica, mais acentuada no septo interventricular em paciente com
cardiomiopatia hipertrófica. Note que, durante a sístoleventricular
(painel à direita), ocorre quase completa obliteração da cavidade
Disfunção Diastólica do Ventrículo Esquerdo ventricular. VD = ventrículo direito; VE ventrículo esquerdo; =
Outro importante ponto" ser enfatizado é que pacientes com SIV = septo interventricular
sintomas de insuficiência cardíaca podem apresentar função
sistólica preservada. sendo portudorcx de insuficiência car- grafia bidimensional. pode fornecer uma estimativa acurada
díacadiastólica. A di.istolc 15uma importante rase do ciclo
da função diastólica. As velocidades do fluxo de enchimento
cardíacoque se inicia com (l fechamento da valva aórtica e
ventricular esquerdo são obtidas com a amostra do Doppler
terminacom o fechamento da valva mitral. 1\ função dlastõlica
pulsátil posicionada entre as pontas das cúspidcs elavalva mitral
normalé clinicamente definida como a habilidade do ventrículo
no corte apical de quatro câmaras, enquanto as velocidades
esquerdo para acomodur UI1l adequado volume de enchimento
do fluxo Ven()sopulmonar geralmente são obtidas com a amostra
a fim de manter o débito cardíaco normal. mantendo baixas
do Dopplcr pu Is;1ti I posicionada a I cm da desembocadura das
pressõesde enchimento, 1\ diãstolc engloba () período de rela-
veias pulmonares (hahitualmcnrc a veia pulmonar superior
xamentoisovolumétrico. que ocorre logo upós o fechamento
esquerda) no ãtrio esquerdo. O fluxo venoso pulmonar pode
da valva aórtica I.: perdura at~ a abertura da valva mitral, o ser obtido pela ccodopplercardiogrufia transtorãcica em apro-
períodode enchimcnio ventricular esquerdo rápido. o perío-
ximadamente 90% cios pacientes". Os índices mais utilizados
dodeenchimento ventricular esquerdo pasvivo. ou diãstasc e.
para o estudo ela função diastólica são: velocidade máxima de
finalmente, o período de contração atrial.
enchimento ventricular esquerdo precoce (onda E). velocida-
A disfunção diaMtÍlica engloba <IS alterações do relaxamento
de de enchimento ventricular esquerdo tardio (onda A). rela-
ventricular (relaxamento ;111\ (l ou energético-dependentealterado)
ção entre a\ velocidade, precoce e tardia (relação ElA), tempo
e da complacência vcmncular (alterações das propriedades de relaxamento isovolumétríco, tempo de dcsncclcração da onda
elásticasdo miocãrdio) e pode ocorrer antes do desenvolvimento
E. velocidades sistõlica e diastólicu do fluxo vcnovo pulmo-
dequalquer outra alteração estruturul. 1\ divfunção diastólica
nar. bem como duração e velocidade da onda A pulmonar. A
pode ser resultante de fatores. como isquemia rniocárdica.
Tabela 45.1 mo tra os valores obtidos pela ecodopplercardio-
hipertrofia miocárdica. redução do iônu-, bctn-adrcnérgico e
grafia cm indivíduos normais e pacientes com disfunção dias-
aumentodo tecido conectivo. Embora as medidas invasivas
tôlica (Figs, 45.9 e ..J5.101.
de pressões e volumes intruventricularcs sejam consideradas
o padrão-ouro pala .(\;tliaçiío da função diastéfica, essa ava-
liação é tecnicamente dificil, tornando-se pouco útil na prá- Avaliação de Tumores e Massas Intracardíacas
tica clínica. A ccodopplcrcnrdiogrufia permite o estudo das
A ecocardiografia é a modalidade de imagem de escolha para o
velocidadesde fluxo de enchimento ventricular esquerdo, assim
diagnóstico de massascardfucas, tais como trombos c tumores.
COIllO das velocidades de fluxo nas veias puhuonares: vários
A formação de trombos intrucardfucos c,,(I associada a várias
estudosna litcrntura têm demonstrado sua ui i Iidndc para ii
patologias. podendo ocorrer em qualquer câmara cardíaca e
avaliaçãoda função eliast6Iic(l2~n. Essa técnica tem a vanta-
Ircqücrucmcntc rcsulta e111fenômenos cmból icos, A aparência
gemdeserrcali/nda de forma relativamente rápida, não invasiva.
de trombos inrracardfucos pode variar bastante, e embora tipi-
combaixocustoc. portanto. também permi le a aval iação seriada
camente eles estejam aderidos no endocárdio. podem apresentar
dos pacientes. Emhorll nenhuma técnica IlHO invasiva possa
ampla movimentação dentro da cavidade. A maioria dos casos
medirdirctarncnrc a fUI1Ç;10 diavtúlica. as velocidades de fluxo
obtidaspelo Dopplcr são usadas para inferir ()~ parâmetros de
perjormance diastólica. Na maioria tios casos. urna cuidado-
saavaliação dos padrões de fluxo transvalvar mitral I! do fluxo
venosopulmonar. combinados com os achados da ccocardio-

Figura 45.8 - Imagem bidimensional (painel à esquerda) no


corte paraesternal longitudinal mostrando importante hiper-
trofia miocárdica, mais acentuada no septo interventricular, e
o movimento anterior sistólico da valva mitral em paciente com
cardiomiopatia hipertrófica. Note que, durante a sístole ven-
Figura45,6 -Imagem bidimensional no corte apical quatro câ- tricular, a porçâo anterior do folheto toca o septo interventricular.
marasmostrando dilatação importante das cavidades cardíacas O painel à direita mostra o movimento anterior sistólico da valva
empacientecomcardiomiopatia dilatada e presença de trombo mitral no modo M. AE = átrio esquerdo; AO = aorta; MAS = mo-
=
noápicedo ventrículo esquerdo. AD átrio direito; AE átrio = vimento anterior sistólico; SIV = septo interventricular; VM =
esquerdo;VD = ventrículo direito; VE = ventriculo esquerdo valva mitral
434 • Tratado de Clínica Médica

atrinl esquerdo geralmente manifesta-se pela pre ença de um


pedículo ligado ao endocárdio. mais cornurnente ao septo inre-
ratrial. e apresenta movimentos de graus variáveis na cavi-
dade. Os rabdorniornas são tumores benignos associados à
esclerose tuberos a. Geralmente esses tumores são múltiplos e
aparecem dentro das cavidades cardíacas (Fig. 45.13)31. Os
fibromas são encontrados em crianças e afctam o ventrículo
esquerdo com mais frequência.
Figura 45.9 - Curva espectral do fluxo de enchimento ventricular
esquerdo normal obtido pelo Doppler pulsátil, no corte apical Doença Arterial Coronariana
quatro câmaras,mostrando a velocidade de enchimento ventricular
;\ doença arterial coronariana é a principal causa de cardiopatia
rápido (E) maior que a velocidade de enchimento ventricular tardio
apósa contração atrial (A), com relação ElA maior que 1. O tempo nas sociedades modernas e apresenta alto grau de rnorbidade
de desaceleração da onda E é normal e mortalidade. Embora a ecocardiografia não permita a visibili-
zação direra das artérias coronárias em todo o seu trajeto. esta
técnica dá informações importantes por meio de estudo da
de trombos arriais ocorre em pacientes com fibrilação atrial, pel!o/,II1(1I/Ce do ventrículo esquerdo. A ecocardiogrufia, rca-
aumento do átrio esquerdo c valvoparias (particularmente a Iizada sob condições de estresse induzido pelo esforço ffsico
estenose mitral). Os trombos localizados no átrio esquerdo 011 por agentes farmacológicos, é um método não invasivo am-
podem ser detectados pela ecocardiografia rransrorãcicu ou plamente urilizndo para diagnóstico e nvuliação prognõstica
rranscsofãgica. porém. a ubordugem esofágica apresenta uma de pacientes com doença arterial coronariana crônica suspeita
maior acurácia para detecção de trombos no apêndice atrial ou conhecida'":". Em pacientes COminfario agudo do miocárdio,
esquerdo. Uma vez que aproximadamente 50% dos trombos a ccocardiografia é amplamente utilizada para O diagnóstico,
estão limirados ao apêndice. a ccocardiografiu transcsofãgicu avaliação funcional, cstratlficação de risco e detecção de com-
é procedimento de escolha pura a uvuliução de pacientes corn plicações. tais como comunicação interventricular, ruptura do
suspeita Ue trombos arriais. com sensibilidade de 90 a 95% e músculo pupilar, pscudoaneurisma. trombo, ruptura da parede
especificidade de 1)5 a I ()()I,p'l.l0 (Fig. 45.11 l. livre do ventrículo esquerdo36-38.
A maioria tios trombos localizados no ventrículo esquerdo Além do exame ecocardiogrãfico, realizado cm condições
ocorre em pacientes com disfunção sistólica (cardiorniopuriu de repouso. a associação das imagens ecocardiogrãflcas com
dilatada. infurtu ugudo tlu miocárdio. aneurisma ventricular). teste de estresse, seja ele lfsico ou Inrmacolõgico, permite a
Os trombos localizados no ápice ventricular são dcrcciados avaliação da reserva com r~tiI do ventrículo esquerdo, bem como
com maior facilidade pela ecocardiografia transtorticicu. Os a detecção de alterações da contenção segmentar indicativas
trombos podem ser laminares e fixos. ou móveis. protraindo-se de obstrução das artérias coronárias. A ecocardiografia sob
para dentro da cavidade ventricular (Fig. 45.12). As caractc- esiresse é uma ferramenta importante para avaliação dos pa-
rfsricas ecocardiogrãficas do trombo podem influir no risco cientes. fornecendo dados não só para o diagnóstico. mastambém
de embolizaçâo. para o prognóstico de pacientes com doença arterial coronariana
O~tumores cardíaco, são achados pouco freqüerues. e podem suspeita ou conhecida.
ser iruracaviuirio-, ou imramuruis. O rnixorna é o tumor cardíaco
mais comum, rcsponsilvc! por 25% dos casos de tumores car-
dfacos. limbora povsa ocorrer em qualquer câmara cardíaca,
Ecocardiografia - Técnicas Especiais
estlÍ local izado no ãtrio esquerdo em 75% dos casos". O mixorna Quando as imagens ecocardiográflcas obtidos pela técnica trans-
torácica são de qualidade inudcquada para análise. ou quando
se quer avaliar estruturas cardíacas local izadas posteriormente,
próximas ao csôfago. pode-se empregar ecocardiografia transe-
sofágica, que lItiliLlI transdutores de ultra-sorn montados na
ponta de uma sonda éndoscópica, introduzida no esôfago c
porção proximal do estômago, fornecendo imagens do coração
com alta resolução. Essa técnica é freqüentcmeruc empregada
paraavaliação de próteses vaivares,pesquisade trombo localizado
no átrio ou apêndice atrial (Fig. 45.12), estudo da aorta, avaliação
do septo interatrial para detecção de comunicação interatrial
Figura 45.10 - Curvaespectral do fluxo de enchimento ventricular
(Fig. 45.14), e em situações onde a realização do exame trans-
esquerdo obtido pelo Doppler pulsátil, no corte apical quatro
torácico não é possível, corno durante cirurgia cardíaca.
câmaras,mostrando a velocidade de enchimento ventricular rápido
(E)menor que a velocidade de enchimento ventricular tardio após Recentes avanços tecnológicos têm expandido a utilização
a contração atrial (A), com relação ElA menor que 1. O tempo de da ccocnrdiogrufia na prática clínica. Novas modalidades de
desaceleraçãoda onda Eestá aumentado. Este padrão de enchi- irnugcm abrangem ainda a ecocardiografia tridimensional e a
mento é representativo de alteração do relaxamento ventricular ccocardiogrufia COIl1 contra te à base de rnicrobolhas. A eco-
esquerdo curd iografia trid imens ional permite a aval iação das imagens

TABELA 45.1 - Parâmetrosde enchimento ventricular esquerdo obtidos pela ecodopplercardiografia


NORMAL ALTERAÇÃODO RELAXAMENTO RESTRITIVO
Relação ElA 1- 2 <1 >2
Tempo de relaxamento isovolumétrico (ms) 70 - 90 > 90 < 70
Tempo de desaceleração (ms) 160 - 240 > 240 < 160
Doenças Cardiovasculares • 435

Figura 45.11 - Imagens obtidas pela ecocardiografla transeso-


fágica mostrando presença de trombo no apêndice atrlal esquerdo
(A)e grande trombo no átrio esquerdo (8). AAE = apêndice atrial Figura 45.14 - Ecocardiograma uansesofágico mostrando o septo
esquerdo; AE = átrio esquerdo; TR = trombo interatrial com comunkação interatrial na regiao da fossa oval e
fluxo turbulento do átrio esquerdo para o átrio direito. AD = átrio
direito; AE = átno esquerdo; (IA = comunicação interatrial
ccoc:mJiugnílie .., CIII Ifê, UIIIICII,iIC' c CIIIICl1IpU-lcal. com U
potencial de lorncccr 1II.lIm dctulh.uuento all.llillllieo ti:" cv-
truiurns <.:anl(;lc:". I:tnhora 'lia real \;Inlilgcm cm relação ;1
ecocardiografin bidimcnvronal não c-rcju csuibclcclua. estudos
recentes tCIII dcuronvrrudo ruuior precivão lia deicrmlnução de
volumesvcmriculurev c 11I:."a \ cmricular cvquerda "'.
~ A ecocardiografia com contraste cmbnvn-vc lia injcçiio intra-
~ venosa de contrusrc ccocardiogrâfico à bavc de microbolhar
~ para mclhorur a qualidade da~ imagens ccocanliogrãficus e
~ permitir o estudo da perfusão miocárdica ....•I• O, agentes de
Figura 45,15 - Ecocardiografia com contraste miocárdico à base
contraste ecocardiognifico con istern em microbolhus de gases
de microbolhas. Imagem bidimensional em corte apicallongitu-
do tamanho das hcmãcias. envoltas por uma dr ula que lhes dinal mostrando a presença de contraste ecoc.ardiográfico na
confere estabilidade. c quando injctadas por \ ia intravenosa cavidade do ventrículo esquerdo e no músculo cardíaco indicando
periférica. atravevvarn a circulação capilar pulmonar causan- perfusão miocárdíca normal no estado basal (A) e presença de
do opacificação da .. C:I\ idade, cardíaca, dircita-, c cvquerdas, defeito de perfusão miocárdica (área escura, setas) no pico do es-
A ccocardiografia com microbolhav rnovtrou-vc cfica/ na me- tresse pela dobutamina (8)
lhorado xinnl Doppler e delineamento do' bordo, cndccãrdicos
cm pacientes COIII cvtuduv tecnicamente di f(cl!Í~. O uso da~
microbolhnv tamhém tev c 'cu beneficio comprovado durante uuno cm repousocomo nu pico dn C'"\!~~C"·". () dcxcnvolvimcnto
fi ecncardmgrufia voh evtrcvve farmacolõgrco 011 com c-forço de ag.l.!ntc~ de conrrustc mal:. e~t;Í\ci~ c II grunde IIVltlH;O nus
rr,ico, por permitir lima melhor detecção da' alter:n ..ilC~ da con- lét.:nicll~ uluu-sunogrãflca« permitiram II u'u di" mlcrobolhus
tratilidade mioc;Írdlca ,cgmcl1tar c global do \ I!111rfculo e-querelo. para (I cvtudu dll perfuvân miocãrdicn (Fig. o.lS.IS), nmpliundo
(l pnpcl da ccocardiografla na :)\'nliaç:in da doença nrtcrial
coronnriuna" ". :"lO\'" pcrvpccrivav da ccocardiogrnfin com
microbolltav cnglob.uu a aplicação tcrupêuticu e como marcador
de rC'I)(I'ta int lnmntõria.

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'1,'11"'" "-,r,,,r.nJ .rl ... r<r<ul.oDe\.." h.lIh>ll mllral \~h ull'l'IO<I).AIII. J. elllltiol ..
Figura 45.13 -Imagem paraesternallongitudinal mostrando \ (,1.1' 1I17.l\!\ I'h'
tumor no interior do ventrículo direito. diagnosticado como 9. Cllf:-. C' (j . \\A 'Ci. Y P. GlIO, 8. L cl.1 Rrll.l>lhl) uf IlIr Doppler I,re,wc
rabdomioma. AE :: átrio esquerdo; AO :: aorta; TU = tumor; half·III'1C",clh ...! r,... ''oC'o'lng crf«I\ of J'C1"cuI3nrou\mllr:lll>3l1,,<,n\'ul\'uloplasIY,
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436 • Tratado de Clínica Médica

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Doenças Cardiovasculares • 437

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miocárdica, No final deste capítulo .. crtí feita lima descrição não necessariamente implica em isquemia miocãrdica.
resumida da I Dirctriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia Das diferentes formas de estresses cardiovasculares, somente
sobre Cardiologia Nuclear. que utuuliza de munciru prãticu e o teste ergornétrico c as provas farmacológicas têm sido utili-
objeiiva os conhecimentos e aplicações de procedimentos de zados na prática. Apesar dessas duas modalidades de csircsscs
investigação diagnósiica, prognóstica c de avaliação terapêu- apresentarem níveis semelhantes de sensibi lidadc e cspcci lici-
tica que empregam esses métodos. dade, o leste crgométrico, em bicicleta ou esteira, costuma
COlHO a medicina nuclear cardiovascular utiliza diversas ser o método de escolha pelo valor diagnóstico c prognóstico
modalidades de estresses, com o objetivo de provocar aumento que agregu em função das informações referentes ii resposta
clínica e clctrncardiográficu ao esforço. As provas farmacoló-
do débito coronariano c, quando existir, heterogeneidade de
gicas são reservadas às situações em que o esforço físico está
fluxo sangülnco miocãrdico serão discutidas. inicialmente. as
contra-indicudo ou não é possível atingir o nível submáximo
diferentes modalidades de cstrcsscs cardiovuscularcs.
de freqüência cardíaca com o exercício. por limitação física ou
outros fatores. corno o uso de drogas cronotrõpicas negativas.
MODALIDADES DE ESTRESSES CARDIOVASCULARES Um caso particular é a presença de bloqueio do ramo esquerdo
do feixe de lIis2, quando a opção preferencial IS pelo cstrcssc
A terminologia csrrcssc cardiovascular. apesar de imprópria, farmacológico (dipiridamol ou adenosina) com o objciivo de
será adorada para designar as diversas modalidades de lestes
evitar os resultados falsos-positivos freqüentemerue observa-
provocativos associados à medicina nuclear cardiovascular,
dos quando a cinrilografla miocãrdicu é realizada associada
em função de jú ser largamente empregada com essa conotação.
ao teste crgométrico.
Os estresses cardiovasculares podem ser util izados para aval iar
a respostada função ventricular pela ventriculografia e angiografin
radioisotôpica. ou mais frcqüentemcntc. as alterações regionais Estresse Físico neste ErgométricoJ
do fluxo coronariano na cinrilografia rniocárdica de pcrfusão. A metodologia de realização do leste ergométrico associado
Diversas formas de e. trcssc cardiovascular podcm ser combi- à cintilografia é essencialmente a mesma da crgomctria conven-
nadasàs técnicas radloisotõpicas. O princípio básico da apli- cional, Existem vários protocolos de testes ergométricos padroni-
caçãodos vários tipos de estresse em conjunto com a~ imagens zados. O protocolo em esteira rolante mais difundido em nosso
com radionuclfdcov de pcrfusão miocárdica consiste em criar meio é o de Bruce (Tabela 46. I). Está preferencialmente in-
uma heterogeneidade de fluxo sangüíneo entre rerrirérios vas- dicado para estabelecimento de diagnóstico e/ou avaliação da
culares irrigado» por artérias coronárias normais c territórios capacidade funcional em indivíduos que possuam algum grau
vascularesirrigados por artérias coronárias com cstcnoscs obs- de condicionamento físico. Outras sugestões de uso cm esteira
trutivas significantes (Fig. 46.1 )'. A heterogeneidade de fluxo rolante: o protocolo de Ellestad (Tabela 46.2) que possui apli-
sangüfneomiocârdico regional pode ser visualizada com agentes cação semelhante ao de Bruce; o protocolo de Naughton (Tabela
46.3) fica reservado a indivíduos com limituçõcs l'ísicas impor-
runres, em especial em idosos. bem como cm pacientes em
evolução recente de infarto agudo do miocárdio não compli-
Artéria coronária cado c cm portadores de insuficiência cardíaca compensada.
Em bicicleta ergornétrica. geralmente o paciente começa com
35 watts, e o trabalho é aumentado a cada 3min. O propósito do
exercício é aumentar a demanda metabólica do coração e testar
a habilidade da circulação da artéria coronária em satisfazer
Imagem essa demanda com aumento do fluxo sangüínco miocárdico.
de Conseqüentemente, a isquemia miocãrdicu é. com Ircqüêncin,
A perfusão provocada pelo exercício físico. Os critérios para a interrupção
Repouso
do exame são: exaustão, hipotensão ou queda de 20mml-lg ou
mais da pressão arterial sistólica, angina de fone intensidade.
arritmias complexas, infradesnivelarneruo do segmento ST maior
ou igual li 3111111, suprndesnivelamento do segmento ST maior ou
igual a I mm cm derivações não relativas a infarto do miocárdio,
etc. Entretanto, vale ressaltar algumas particularidades, quando
realizado em associação à cintilografia:

• O preparo do paciente deve incluir a obtenção prévia de


Figura 46.1 - Representação esquemática do principio das ima- um acesso venoso periférico através do qual scrã admi-
gensde perfusão miocárdica com estresse e repouso. (A) Dois ra-
nistrado O radiofãrmaco no esforço máximo.
mosde uma artéria coronária são esquematicamente mostrados;
o ramo esquerdo é normal e o direito possui urna estenose con-
siderável.(B) imagem da perfusão miocárdica dos territórios supri- TABELA 46.1 - Protocolo de Bruce
dos pelos dois ramos. (C) representação esquemática do fluxo
sangüíneocoronariano nos dois ramos em repouso e durante o TEMPO VELOCIDADE INCUNAÇÃO
estresse.Em repouso, o fluxo sangüíneo miocárdico é semelhan- ESTÁGtO (min) (mph) (%) MET
te nosdois ramos coronarianos. Quando um agente de perfusão 1 3 1,7 10 4,6
miocárdica é injetado em repouso, a captação miocárdica é 2 3 2,5 12 7,0
homogénea (imagem normal), Durante o estresse, o fluxo san- 3 3 3,4 14 10,1
~ gúlneocoronariano aumenta 2 a 2,5 vezes no ramo normal, mas 4 3 4,2 16 12,9
~ nãona mesma extensão do ramo estenosado, resultando assim 5 3 5,0 18 15,1
"'1 numadistribuição heterogénea do fluxo sanguíneo. Essa hete-
6 3 5,5 20 16,9
~ rogeneidade do fluxo sangüíneo pode ser visualizada com 201TI 19,2
7 3 6,0 22
!vi ou99mTc-sestamibi corno uma área com hipocaptação relativa do
ee radiotraçador (defeito perfusional miocàrdico)' MET = equivalenle metabólico (1 MET = 3,5mL.kg.min ' de oxigénio)
438 • Tratado de Clínica Médica

TABELA46.2 - Protocolo de Ellestad ventriculares complexas desencadeadas pelo esforço; avaliação


cardiológica pré-cirurgia vascular: portadores de bloqueio do
\O TEMPO VELOCIDADE INCLINAÇÃO ramo esquerdo: estratificação de risco na evolução recente do in-
O ESTÁGIO (min) (mph) (%) MEl farto do miocárdio: insuficiência cardíaca congestiva; uso de
1<
u-
(.LI
I 3 1,7 10 4,6 fármacos que interfiram na elevação do consumo de oxigênio.
CI) 2 2 3 10 7,4
3 2 4 10 9,6
4 2 5 10 12,0 Fármacos que Induzem Vasodilatação Coronariana
5 2 5 15 13,9 Representados pela adenosina ou pelo dipiridamol, podem ser
6 2 6 15 16,3 usados em associação com a cintilografia de perfusão e/ou
7 2 7 15 18,9 para avaliar a função ventricular. Após a infusão, observa-se
MET= equivalente metab61ico (1 MET= 3,5mL.kg.min-' de oxigénio) vasodilatação coronariana com importante aumento do fluxo
pura as artérias normais. c pequeno ou inexistente aumento nas
artérias com estenose, provocando então. a heterogeneidade
do fluxo miocárdio.
• A interrupção do exercício obedece ,lOS critérios tradicio- A adenosina é um composto heterocíclico de baixo peso
nais. Entretanto, é recomendável a continuação do esforço molecular, constituído por uma base purínica e ribose. É pro-
por no mínimo mais 60 segundos após a administração duzida em pequena quantidade durante metabolismo celular
do radiofármaco, salvo na completa impossibilidade de normal e aumenta expressivamente durante quadros de isquemia
que isso seja feito, passando-se cm seguida à fase de recu- tecidual ou hipóxia. Suas propriedades fisiológicas englobam
peração segundo a metodologia convencional. importante vasodilatação na maioria dos leitos arteriolares, 11
• Quando o radioisõtopo utilizado é o tálio-201, a aquisição cxccção cm arteríolas pré-glomerulares renais, efeito aruiadre-
das imagens precisa ser iniciada antes de ser completado nérgico, inibição vagaI em doses baixas, com elevação da fre-
o período habitual de recuperação. Nesse caso, a moni- qüência cardíaca. e inibição da condução atrioventricular e
to ração dos parâmetros clínicos e eletrocardiográficos sinusal em doses elevadas, podendo desenvolver bloqueio
devem ser continuadas, mesmo com o paciente já posi- atrioventricular e bradicardia sinusaf'. Apresenta meia-vida
cionado na garnu-câmera. biológica muito curta, em torno de 2 segundos". A interação
• No estudo da função ventricular, segue-se também a me- com os receptores AlA da membrana celular, abundantes nas
todologia convencional do teste de esforço, com monitor a- artérias coronárias. resulta em ncümulo de adenosina no meio
ção do elctrocardiograma (ECO). buscando-se complexo extracelular. com conseqüente vasodilatação. A vasodilatação
QRS de grande amplitude (derivação bipolar semelhante coronariana induz à menor resposta hiperêrnica em regiões do
à CM5) e ausência de blindagem da radioatividade por miocárdio supridas por artérias com obstrução luminal. A depender
eletrodos de liga metálica na região precordial. Não há da magnitude da estenose e das limitações na reserva de fluxo
necessidade de se empregar sistemas de múltiplas deri- coronarianu. a adenosina irá produzir heterogeneidade no
vações de rnonitoração e registro, uma vez que a finali- fluxo e em pacientes com doença grave a isquemia verdadeira
dade principal volta-se à avaliação da função sistólica do pode ser resultante também do fenômeno de roubo de fluxo.
ventrfculo esquerdo frente ao exercício. Adicionalmente, atua também nos receptores A I existentes
em regiões proxirnais do nó atrioventricular, levando 11de-
pressão da condução do estímulo, motivo pelo qual tem sido
Provas Farmacológicas utilizada como fármaco de escolha para o tratamento de
Empregadas como alternativa às provas associadas ao estresse taquicardias supraventriculares.
físico, representam aproximadamente de 20 a 30% de todos os Para se conseguir o efeito hiperêrnico, a dose habitual é de
pacientes e 50% dos idosos encaminhados aos laboratórios de 140J.lg.kg.min··, administrada obrigatoriamente em bomba
Cardiologia Nuclear. Em pacientes com impedimento clínico ou de infusão por 6min, sendo a injeção do radiofárrnaco reali-
limitação física à realização de exercício, ou ainda. em situações zada aos 3min. Para que se tenha um estímulo farmacológico
nas quais as avaliações diagnóstica e prognostica encontrem- desejado. é necessãrio.que o paciente esteja pelo menos 24h
se limitadas estão indicadas realizações de estudos de imagens sem o uso de fármacos. bebidas ou alimentos que contenham
associadas às provas farmacológicas. São elas: seqüclas de in- cafeína e de 36 a 48h dos medicamentos que contenham metiI-
suficiência vascular cerebral e patologias musculoesqueléticas xantinas, Os pacientes que tomam dipiridarnol por via oral,
degenerativas ou inflamatórias; insuficiência cardíaca: doença devem interromper por 24h antes do exame, para evitar a po-
pulmonar obstrutiva crõnica: baixa capacidade funcional; outras tencialização dos efeitos adversos. Outras drogas cardiovas-
condições não cardíacas que resultem em inabilidade na rea- culares, geralmente não interferem nos resultados do estímulo
lização de exercício eficaz: hipertensão arterial grave: arritmias farmacológico, portanto, não há necessidade de interrompê-Ias
para esse tipo de exame5.6.
O dipiridamol é uma base pirimidínica, cujo efeito vasodilata-
dor indireto é atribuído ao acúmulo de adenosina no meio inters-
TABELA46.3 - Protocolo de Naughton ticial, por bloqueio do transporte desta para o meio intracelular.
Após interação com receptores de adenosina A na membrana
TEMPO VELOCIDADE INCUNAÇÃO
(min) (mph)
celular, mediada pela proteína O e uma série efe eventos, que
ESTÁGIO (%) MEl
englobam elevação da adeni lciclase, estimulação dos canais de
1 3 2 2,5 3,2 potássio e diminuição da captação de cálcio para o.meio intra-
2 3 2 3,5 3,5 celular, verifica-se a situação final de vasodilatação. Adminis-
3 3 2 4,4 3,7 trado por via intravenosa. na dose convencional de O,56mg.kg
4 3 2 5,4 4,0 no tempo de 4min, é distribuído em 15min, apresentando meia-
5 3 2 6,4 4,3 vida biológica variável (45 a 136min). Além de seu efeito vaso-
6 3 2 7,3 4,5 dilatador, o emprego na prática clínica baseia-se na diminuição
MEl = equivalente metab61ico (1 MEl = 3,5ml.kg.min-' de oxigénio) da agregação plaquetãria, com mecanismo de ação que inclui

)
Doenças Cardiovasculares • 439

II inibição da fosfodicsrcrave. elevação nos níveis de adenosi na QUADRO 46.1 - Contra-indicaçõespara o uso de adenosina e
trifosfato (ATP) c potencialização dos efeitos da avpirina. dipiridamol
O efeito' ndvcr-os ocorrem em até 80Cfl. dos pacientes. e são
Contra-indicações absolutas
dependentes dos efeitos sistêrnicos direios dos fármacos (VllSO-
• Broncoespasmo
dilntação)- cefaléia, tontura. rubor facial, etc. Usualmente são
• Btoqueio atrioventricular de 2' ou 3' grau na ausênciade
decurta duração c revertidos. na sua maioria. com a adminis- marca-passo
traçãode uminofilinn intravenosa. • Hipotensãoarterial (pressãoarterial sistólica menor que
Estácontra-indicadoo usodessesvasodi latadores nos pacientes 90mmHg)
em bront:ocspai>mo.bloqueio atriovcntriculnr de 2" ou maior • Usorecente (menosde 24h) de dipiridamol para os pacientes
grau,e naqueles em LISO de dipiridamol. Estes pacientes são que irão receberadenosina
candidatos a realizar o estrcssc físico ou I) estresse farmacológico Contra-indicações relativas
com dobutumiua. A\ contra-indicações ao uso da adenosina • História de doençapulmonar reativa
e do dipiridamol estão listadas no Quadro 46. I. • Doençado nó sinusal
Se o TI1111 ou ""'"Tc-~estaJllibi for injctudo durante a vasodi- • Bradicardiasinusalacentuada
lataçãomáximae seobservar heterogeneidade de fluxo (estenose
coronarianahernodinaruicamnctc significativa), será observada
tambémheterogeneidade de captação do rudiofãrmaeo permi-
tindo então o diagnóslico da doença coronuriana. A sensibi- indicações (glaucoma de ângulo estreito. miustcnia grave, uropatia
lidadee a especificidade para a detecção de doença coronuriana ou distúrbios gasrrolmcsunais. obstrutivos). Os efeitos adversossão
sãocomparáveis entre a adenosina c o dipiridumol. frequentes. sendo emgeralbem toleradas c decurta duração:cefaleia,
dor prccordial, palpitações, rubor facial, dispnéia, parestcsia,
náuseas. etc. O antagonista empregado é o metoprolol intra-
Fármacos que Promovem a Elevação do
venoso, na dose de 2.5 a 5mg. preconizado na vigência de taqui-
Consumo de Oxigênio card ia pcrvivrcruc ou arritmias com repercussão hcrnodinãmica.
Este grupo de fármacos é que produz e trcsse farmacológico. A arbutamina também eleva o consumo de oxigênio do mio-
Sãoutilizados como alternativos nos pacientes que não podem cárdio. Essa droga é um agonista misto beta I e beta2, com
sesubmeterao teste crgornérrico ou provas de estímulo farma- moderada afinidade por receptores alfa I'. Possui resposta
col6gico. O mais Ircqücnrcmerue utilizado é ii dobutaminu". cronotrópica semelhante à dobutarnina, porém. com menor
queexerce ação nos receptores beta l-udreuérgicos. COIll csri- efeito vasodilatador periférico. Os efeitos adversos mais fre-
mutação inotrõpica c cronotrópica dependente da dose infun- qüenres sií\): tremores, mal-estar. cefaléia, purcsresia arritmias
dida, além de efeitos dircros sobre os bcraz-rcccprorcs. com c hipotensão arterial",
resposta de vasodilatação periférica. Em doses mais elevadas
evidenciam ução alfa l-udrenérgica predominante. COIII con- Estresse Combinado - Adição de Exercício às
seqüerne vasoconstrição periférica e aumento da força contrátil. Provas de Estímulo farmacológico
Em doses baixas a moderadas (5 a 20pg.kg.min I) promove A associação de exercício dinâmico em baixa carga de trabalho
elevaçãosignificativa do débito cardíaco COIII aumento predo- total. como por exemplo, caminhar em esteira rolante até o
minantedo volume sistõlico. Além disso, observam-se pequenas
máximo de dois estágios do protocolo de Bruce. tem evidenciado
modificações na prcsvão arterial média e na [rcqüêncin car- a redução da atividade subdiafragmãtica (hepática) e melhora a
díaca,além de diminuições na pressão e resistências venosa
ratão de atividade de radiação emitida entre órgão-alvo e vísceras
pulmonare sbtGmica. Em doses superiores a 20llg. kg.min' (hackground), com conseqüente melhora na qualidade das
levao aumento importante da frequência cardíaca, COIll con-
i magcns"!". Da mesma forma, observa-sedi m inuição da ocorrência
seqüente elevação do COIl\LlITl() de ox igênio do miocárdio, e intensidade dos efeitos adversos decorrentes da infusão de
Está indicada para o diagnóstico de doença coronariana
dipiridamol ou adenosina, bem como da incidência de bloqueios
obstrutiva em pacientes asrnãticos descornpcnsados, t:()1I1 in-
atrioveruriculurcs".
capacidade de reali/ur esforço físico: presença de hipotensão
arterial(pressão arterial sistólica < 901111111Ig):
bloqueio arrio-
ventricular de grau elevado: pesquisa de músculo viável pela Novos Fármacos
análiseda função sistõlicu: estratificação de risco em fa-c pré- A utilização de antagonistas especíticos dos receptores A III
operatóriade cirurgia vascular e. principalmente. quando há de denominação N-0861. é promissora para II redução de efeitos
lesõessignificativav nas artérias carótidas de ambos os lados: adversos sem comprometer a eficácia da adenosina em relação
modalidade alternativa cm pacientes que tenham ingerido à vasodilatação coronariana. Da mesma maneira, agonisias
substâncias derivadas de cafeína ou de rnctilxantina nas 2411 seletivos dos receptores Al'· (GGS-21680, MRE-0470, CVT-
queprecedemo exame, Sãocontra-i ndicaçõcs: pacientes em uso 3146. ATL-19:1, A LTL-146c), ainda sob estudos. tem eviden-
debeta-bloqueadores: o:. portadores de arritmias complcxus: ciado hipcrcmiu coronariana adequada e menor intensidade
anginainsrávcl ou inlarto do miocárdio recente: hipertensão de efeitos sistêmicos. especialmente dor torãcica e bloqueio
grave ou estágio III: aneurismas 011 dissecção da !lOIÚ: insu- utriovcntricular. Além disso, se efetivumenre não produzirem
ficiênciavascular cerebral sintornãrica: estenose aórtica grave:
broncoespasmo, como esperado, poderâo ler sua aplicação
cardiomiopatia hipcrtrófica na forma obstrutiva: a Iterações no
ampliada de modo importante.
metabolismo de pouiwio.
Inicia-se ii ndministrução venosa da solução (250mg de
dobutarnina diluída em 250mL de solução fisiológica), por CINTlLOGRAFIA DE PERFUslo MIOcARDICA -
bombade infusão, na dose de 5 ou I Oug.kg.min • por 3min.
PRINClplOS, INDICAÇÕES E RESULTADOS CLINICOS
A cada 3min acrescenta-se I Oug.kg.min I até o máximo de
40]lg.kg.min I. Em pacientes que não apresentam elevação da Princípios
freqUêncincardíacu até pelo menos 85~ do limite teórico
estimadoparaa idade e sem evidências de isquemia, associação Na atualidade. os métodos ele imagem POdCll1 avaliar a doença
comaíropinaintravenosa é recomendada na ausência das contra- coronariana por diferentes características unatôrnicas e funcio-
440 • Tratado de Clínica Médica

nais. Pode-se avaliar desde a anatomia dos vasos coronários rica de tálio-20 I em condição de estresse máximo, quando o
até o tipo de impacto funcional que a doença obstrutiva da circulação tálio-20 I se concentrará no miocárdio cm proporção ao fluxo
coronariana pode produzir. Pode-se detectar uma obstrução de coronariano que se estabelece em regime de cstresse, Essas
um determinado vaso ccronariano identificando o déficit de imagens, adquiridas seqüencialrnente à administração do com-
perfusão que essa mesma redução do lúmen arterial provoca posto, representam o fluxo sangüínco pelas artérias coronárias
em determinado território vascular do miocárdio. A definição (fase de estresse). Uma segunda série de imagens é obtida 4h
crua c simples da palavra perfusão é a passagem livre de um após, pois se registra a distribuição do composto em repouso
fluido por um tecido ou órgão. Portanto, por meio de análise da e após redistribuição do tálio-201 no tempo (fase de redistri-
perfusão miocárdica podem-se obter informações que permi- buição). Essa fase de redistribuição representa a viabilidade
tem diagnosticar uma obstrução crítica da artéria coronária. das células miocárdicas, pois células viáveis (sem infarro prévio)
O estudo da perfusão rniocárdica através da cintilografia supridas por vasos com estenose têm capacidade de reter
segue princípios fisiológicos bem determinados c cspecfficos. tálio-Zí) I em proporção igual às células irrigadas por artérias
Pelo princípio básico que rege Ioda a medicina nuclear. devem- coronárias normais. Portanto. um defeito que aparece em
se empregar isótopos ou radiofármacos que se concentram, determinado território coronariano na fase de estresse, pode
passiva ou arivamentc, 110 miocárdio em proporção ao fluxo implicar baixo fluxo coronariano que ocorre tanto em miocárdio
snngüínco que flui pelas artérias coronárias. Esses compostos normal como em território com infarto prévio do miocárdio (por
não podem intcragir de forma medicamentosa ou interferir nos redução da massa de tecido vascularizado e da massa de células
mecanismos básicos fisiológicos do miocárdio. Igualmente. que podem reter o tálio-20 I). Com as imagens de redistribuição
todo composto administrado não pode per se provocar qualquer é possível distinguir entre as duas situações anteriormente
reação de hipersensibilidade ou tóxica do organismo. Igual- descritas, pois defeitos que desaparecem em repouso traduzem
mente. devem-se selecionar agentes que sejam disponíveis em presença de células viáveis que permitem concentrar maior
larga escala. sejam de fáci I administração no organismo, per- quantidade de tálio-20 I no decorrer do tempo, e, portanto
mitindo que os mesmos sejam detectados pelas câmaras de representam o padrão clássico de isquemia miocárdica. Já os
cintilação, que constituem os equipamentos de geração das defeitos que persistem no tempo implicam em perda de células
imagens cm medicina nuclear. viáveis ou músculo cardíaco, indicando indiretarnente a possi-
No início da década de 1970, procurou-se desenvolver com- bilidade de infarto do miocárdio. Embora essa característica
postos que pudessem representar a distribuição do fluxo san- biológica dinâmica do tálio-201 seja muito interessante, rcque-
giiíneo coronariano. Como apenas existia um isótopo radioativo rendo assim apenas uma injeção intravenosa, algumas das
do elemento potássio (K-43) que não apresentava características propriedades físicas do mesmo têm limitado sua ampla dispo-
físicas apropriadas para administração em seres humanos, foram nibilidade. Um dos fatores é que o mesmo é produzido em
procurados elementos que fossem semelhantes ao potássio (ele- aceleradores de partículas (ciclotronsv, trazendo assim um alto
vada selerividade para musculatura cardíaca) e, ao mesmo tempo, custo de produção e limitada disponibilidade. Possui energia
permitissem obter imagens de qualidade diagnóstica. O elemento relativamente baixa, o que propicia a geração de artefatos de
tálio pertence ao mesmo grupo da tabela periódica do potássio. atenuação por tecidos moles (mama e diafragma). Por possuir
possuindo assim propriedades biológicas semelhantes. e seu meia-vida física relativamente mais longa (aproximadamente
isótopo tálio-201 possui propriedades físicas que permitem 72h), a dose administrada é baixa para limitar a exposição do
detecção adequada pelas cârnaras de cinrilação". Embora seja paciente à radiação ionizante. Com isso, a qualidade das imagens
produzido cm aceleradores lineares. o que eleva o seu custo fica um pouco prejudicada com a utilização de câmaras de
de produção. O tálio-20 I teve crescente aceitação na prática cintilação modernas e tomográficas, contudo sem prejudicar
clínica pelas suas características biológicas e de biodistribuição. fi qualidade da informação diagnostica obtida.
O tálio-20 I, como análogo do potássio, se concentra no miocárdio Para superar as limitações anteriormente descritas do táIi0-201,
cm proporção ao fluxo sangüíneo coronariano, Contudo. sua procurou-se desenvolver outros agentes de perfusão miocárdica.
retenção dentro da fibra rniocárdica é dependente da integridade Um dos agentes mais disponíveis atualrnenre é rneroxi-isobutil-
da bomba de Na" e Kt.uma vez que este composto é transportado isonitrila (sestarnibi) marcada com tecnécio-99m, isótopo que
ativamente através da membrana celular. Um aspecto interessante agrega características físicas muito favoráveis para a geração
desse composto é que uma vez na circulação sangüínea, ele é de imagens de alta qualidade diagnostica". Outros agentes
rapidamente cxuuído pelo miocárdio com uma fração de extração marcados com tecnécio-99m foram seqüencialmente desen-
de primeira passagem da ordem" de 86%. Contudo, uma vez vol vides, tais como o retrofosmin, possuindo características
dentro da célula miocárdica, esse composto se redistribui orga- semelhantes, porém não idênticas, ao sestarnibi. Embora apre-
nicamente no decorrer do tempo. Uma determinada quantidade sentem a vantagem de serem marcados com tecnécio-99m, esses
de tálio-201, que se concentra no interior da célula. é transferida agentes possuem características um pouco distintas em Com-
dinamicamente para o compartimento vascular com conseqüente paração ao tálio-20 I. O mecanismo de concentração obedece
concentração em outros órgãos ou mesmo eliminação biológica igualmente 11distribuição do fluxo sangüíneo coronariano regional,
por órgãos de excreção. Esse processo pode ser registrado por porém com mecanismos de transporte transmernbrana e de
meio dc imagens dinâmicas com curvas de atividade por tempo, retenção celular distintos. Embora o transporte para o interior
onde se verifica que a atividade inicial cai pela metade em apro- da célula miocárdica envolva processo passivo sem gasto
ximudamente 4h. em indivíduos normais e sem doença arterial energético ativo, sua concentração é diretarnente dependente
coronariana (TI/2 biológico = 4h). Em pacientes com obstru- da integridade de membrana e dos processos metabólicos
ção de um vaso coronariano, verifica-se que essa redistribuição oxidativos (relacionada ao potencial elétrico transrnembrana).
orgânica com saída de tálio-20 I do interior da célula é mais Portanto, para que haja concentração no miocárdio.é necessária
lenta, ou a reentrada de tálio-20 I proveniente de outros órgãos a presença de fluxo sangüíneo e integridade metabólica e de
é relativamente maior. Obtendo-se duas séries de imagens com membrana da fil)ra miocárdica. Outra diferença com o tálio-201
apenas urna injeção de tálio-201, pode-se por comparação da é O faro deste agente possuir relativa menor taxa de extração
distribuição deste agente nos diferentes territórios coronarianos. de primeira passagem e por não se redistribuir no decorrer do
determinar a presença de déficits de fluxo entre uma fase (estresse) tempo. Isto obriga à realização de duas injeções venosas: uma
e outra (repouso). Usualmente se administra uma dose diagnós- em condição de estresse e a outra em condição de repouso.
Doenças Cardiovasculares I 441

Além dos radiuüirmacus empregados. UUIfl> aspecto favo- de esforço com a cinccorcnuriogrufia. observou-se uma sensi-
rável t1(J~ exumes de cintilogrufin de pcrfusão miocárdica é li bilidade média de 68% (variando de:n a IOOl"c)e especificidade
flex ibi lidado do emprego de d ivcrsos Iipo!'>de csrrcxse. Com de 770/(' (variando de 17 a 100%)111. Ao comparar com cst udos
o objctivo de vcnvihilivar a prova diagnósrica, é necessário o que fazem uma metanálise com exumev cintilognificos, cm seis
emprego de prova- de esiresse que visam reproduzir condições estudos colorados nos quais se empregou tálio-20 I como agente
quepropiciam o aparecimento da isquemia miocárdica. Pode-se de pcrfusão miocárdica, observou-se uma <ensibilidadc média de
empregaro esforço físico com o leste ergornétrico. ou provas 92% e uma especificidade de R4%1•.ll 2'. Em uma série de três
farmacológicas quando o paciente não tem condições de se estudos de tomografia cornputadorizada com emissão de fóton
submetera um teste de esforço. Essas provas farmacológicas único (SPECT). empregando como agentede perfusão o sesiamibi
podemempregar agentes vasodi lutadores (dipiridamol e ade- marcado com tecnécio-99m. observou-se uma sensibilidade média
nosina)e agente!'>inotrópicos positivos (dobutamina). de 90<» e especificidade" de 93%. Uma da, possíveisexplicações
110 sem idu de justificar uma maior especificidade com o emprego
de scstarnibi é o fato de este fãrrnaco ser marcado com tecnécio-
Aplicações Clínicas 99111. isótopo que pos: ui características física~ mais apropriadas
para uso com câmaras de cintilação, o que acarreta menos ar-
Diagnóstico refuto de atenuação e melhor qualidade de imagem comparati-
vameme àquela obtida com túlio-201. Contudo. a~ curacterfsricas
Grande proporção de indiv íduol>é portadora de doença cardio-
biológicas e de [armacodinâmica tio t:ílio-201 podem em condições
vascular.Aproximadamente um em cada quatro indivíduos pode
cspccíficus compensar a pcrdu de vantagem nas propriedades
serportador de doença cardiovascular". Justi fica-se. portamo.
fí),icas do elemento.
a aplicaçãode testes que permitam diagnosticar a presença de
doençaarterial coronariana. e assim orientar estudoscinecorona-
Excrcfcio realizado por meio de prova ergométrica é uma
riogrãficos apenas em população altamente sclccionada. forma eficaz de se produzir isquemia. quando existe a presença
Muitastécnicasde detecção utilizam modalidades de esircsse. de lesões obstrutivas graves nos vasos coronários, e tem sido a
físicc ou farmacológico. no sentido de promover alterações de forma de cstrcssc preferida por mais de três décadas (Fig. 46.2).
fluxo.clétricas ou funcionais .• iuscntcs em condição de repouso. Contudo, em situações em que o teste pode se mostrar
i! permitemsugerir etiologia obstrutiva vascular para a anorma- ineficaz. como em situações de doenças vascular periférica.
lidade funcional" I". Um dOÍ>primeiros sinais detectados na neurológica, muscular e esquelética. condições rcspiratérias
cascata de alterações decorrentes da isquemia é a heteroge- c pulmonares. hipertensão arterial não controlada, recomenda-
neidadede fluxo, aspecto este detectado principalmente pela se o emprego de agcnrcs de cxircvvc Iarmncolégico, como o
cintilogralla de perfusão miocãrdica. Isto se comprova por meio dipiridamol. ri ndcnosin« e a doburununn. Em 11m trabalho
de modelos experimentais. nos quais alterações precoces de bem conduzido, II ciuulugrufiu de pcrfuvão mioc.irdica mos-
fluxo miocárdico podem constituir um dos sinais mais sensíveis trou sensibilidades de 85 c 90(tÍ>quando empregados dipiridarnol
deobstruçãocoronariana signiflcariva'I'". Considerando-se que c adenosina. respectivamente. c especificidade para detecção
o métodopadrão-ourode detecçãoda doença arterial coronarinna de doença arterial coronuriuna de 89 e 90% para ambos agentes
é o estudocinecoronariogrãfico. a maioria dos estudos promove farmacológicos, respecuvumeme".
umacomparaçãocom o .l/a/IIS anutôrnico da circulação coro-
nariana. Isto não necessariamente reflete lima situação fun-
cionai.apesarda presençade lesão anaiôrnica obstrutiva grave.
Portanto.os dados atuais que retratam a sensibilidade e a espe-
cificidade refletem mais a capacidade do método em demons-
trar a presençade doença obstrutiva. e não necessariamentea sua
capacidadeintrínsecade detectar isquemia miocárdica. A análise
deresultadosdos diferentes método), de imagem é lirnirad u pela
heterogeneidadeda amostra populacional estudada (varlávcl
conformeo grau de prevalência de doença arterial coronnrinnn
na população avaliada)". Urna série de outros furores pode
influenciarno resultado. como caructerfsricas do paciente (variá-
veisrelacionados ao sexo, peso e massa corpórea por artefalO~
de atenuação.ctc.). aderência ao preparo c execução da prova de
cstrcssc, tipo e curactcrfvricu da lesão coronariana. aspectos
técnicos relacionados ao tipo de equipamento empregado. qua-
lificaçãodo médico que interpreta os procedi mentes, bem como
critérios empregados para interpretação.
Apesarde algumas limitações, reconhece-se que os estudos
decardiologia nuclear se revestem de extrema importância
cHnica.permitindo que muitos pacientes assiruomãucos com
fatoresde risco para doença coronnriana ou mesmo com sin-
tomastipo dor torácica à esclarecer (típica ou atípica), vejam Figura 46.2 - Cintilografia de perfusão miocárdica com 99mTc_
avaliadosde forma não invaviva, antes que sejam dirccionados sestamibi. Imagens reconstruídasde acordo com o eixo curto (série
de imagens superior), eixo longo plano vertical (série de ima-
difl!llllllel1te para cvtudo-, cinccoronnriográficos.
gens intermediária) e eixo longo plano horizontal (sériede imagens
Qualquerestudo rcquivitudo pelo clínico ou cardiologistn
inferior). Em cada série de imagens, o conjunto superior repre-
devepossuir UIlI racronal de indicação no sentido de otirnizar senta a fase de esforço e o conjunto inferior a fase de repouso.
ns ínfonnaçõcs dragnóxtica» fornecidas pelo leste. Nota-se defeito de perfusão induzido por esforço na parede
Emuma meta-análise feita por Gianrossi et (/1.. analisando anterior e septal, que não persiste na fase de repouso, caracte-
maisde 150estudosonde se compararam os resultados do ECG rizando isquemia miocárdica naquele território
442 • Tratado de Clínica Médica

A cinrilografia de pcrfusão tem sido aplicada em v:iria:. tudo, LI possibilidade de se obter dados íuncrouuis cm duas
suuaçõc-, clínicas cspcclflcus. principalmente quando o objc- condições distintas. repouso e após cstrcvsc. fornece seguran-
tivo é dingnosticar li presença de doença arterial coronariana. ça diagnósrica maior. com redução da taxa de resultados falsos-
Uma das indicações clínicas do método é na caracterização positivos" ...''. Um estudo inicial mostrou que a taxa de resultados
da dor torácica de origem a esclarecer. A avaliação de pacientes falsos-positivos foi reduzida de 14 para 3% com o acréscimo
com dor torácica aguda a esclarecer embasa-se no princípio de dos dados de: tunçâo conrráril .... Isto pode ser explicado pois
que. na vigência de dor torácica de origem cardíaca. deve ocorrer uma determinada região do miocárdio. que apresenta um dé-
usualmente altcraçâo de fluxo sangüfnco coronariano que. por ficit de pcrfusão porém com contrarilidadc normal, pode re-
sua vez, é responsávelpelo fenômeno isquêrnico, Portanto. devem- presentar Ulll arte fato de atenuação mais do liue um defeito
seempregar radiofãrmacos que possibilitem o registro do padrão verdadeiro causado por um evento isquêrnico cstrcssc-induzido.
perfusional no momento da dor sem que isto acarrete prejuízos O exemplo da Figura 46.3 demonstra a vantagem de seobter dados
ao tratamento ou na condução clínica do paciente. de coruraiilidadc juntamente com informações pcrfusionais.
Cerca de I()()% do percentual do mctoxi-isohutil-ivonitrilu Outra aplicação reconhecida du ciruilografia é na rnonirora-
(scstumihi) marcado. que se concentra no coração, é extraído çfio de pacientes submet ido1>a procedimentos de rcvasculari-
da circulação sangüínca dentro dos primeiros 211lin póv-injcção I.açiio pcrcutânca ou cirúrgica. Seja após uma dilatação por
venosa. Portanto. a imagem, que rock: ser ohiidu até -I a 6h após balão ou mesmo após a introdução de um st ent no vaso
injcção intravenosa, rcflctinl o estado pcrlusional no momento coronariuuo, cxi-tc um período no qual a indicação dos estudos
da injcção do scstarnibi (por exemplo. momento da dor). Contudo. funcionuis fica sujeito a elevada taxa de resultados positivos,
é importante que o marcador seja administrado durante a sinto- principuhncnte entre o primeiro e o terceiro mês pós-dilatação.
rnatologia dolorosa. Trabalhos realizados em outros centros
têm demonstrado que a sensibilidade do método cai a níveis
inacciuivcis quando a injeção do radiofármaco é realizada 12h
após do término da fenomenologia clínica". Em um trabalho
prospectivo, avaliando 45 exames realizados em -13 pacien-
tes q ue deram entrada na un idade de emergência COI11 dor
torácica a esclarecer. Grcgoirc ('( (/1. compararam os resul-
tados da ciru ilogrufia de pcrfusão miocárdica com a injeção
de ""mTc-se~larnibi no momento da dor e entrada no scior de
emergência, com uquclc- obtidos pelo ECG de 12 deriva-
çõcs, considerando-se como método padrão-ouro a cineco
ronariografia realizada dentro de 10 dias do episódio doloroso.
Considerou-se como indicativo de doença arterial coronariana
os val>o:> que apresentassem estenose ~ S()In,. Para m estudos de
cintilogralia. como critério de inclusão obrigatório. consi-
deraram-se válidos apenas os estudos cuja injcção oeorreu no
momento da dor. antes que dr ogus vasodi latadoras ou
cardioproteroras fossem introduzidas, A), imagens cintilográficas
foram obtidas apenas quando ocorreu estabilização clíniea
do quadro. Dos -15 estudos obtidos, 26 foram considerados
positivos ou indicativos de doença arterial e 19 foram inter-
prerados como negativos. Quando cornparadas à angiografia,
das 26 cinrilografias negativas, 25 mostram obstrução nos
vasos coronários (sensibilidade = 9ó%) e dos 19 estudos ne-
gativos, quatro mostraram doença arterial coronariana (es-
pecificidade = 79%). O ECG de 12 derivações mostrou
sensibilidade de apenas 35% e cspcci l'icidade17 de 68%. t\
importância de se desenvolver testes não invasivos que per-
mitam diagnosticar com precisão quadros de angina estável
e instável reside no lute de que um percentual significativo
de pacientcv com dor torácica aguda e procuram serviços de
emergência. são internados sem necessidade c apresentam
estudo einecoronariográfico normal".
Na área di agnóstica. avanços no campo da instrumentação
bem corno no desenvolvimento de programas sofisticados de
análise,têm pennilido que dados funcionais mais precisos possam
ser disponibilizados ao clínico. Um dos aspectos de desenvol-
virnento que trouxe substancial valor incremental é a possibi-
lidade de se obter dado), de função conrrátil. global e regional.
mediante aquisiçilo de imagens tomográficas sincronizadas com Figura 46.3 - Cintilografia de perfusão miocárdica com ""'Tc·
sestamibi. Imagens sincronizadas com eletrocardiograma e com
o ECCi. Com isso pode-se obter uma representação dav irnagcns
reconstrução tridimensional (3D). Em (A) (repouso) observa-se
em ~ístole e dirisrolc, após a soma de vários ciclos cardíacos. contratilidade normal do ventriculo esquerdo, com fração de ejeção
aliando cm um único estudo dados quuliuuivos c quantirari- de 54%. Em (8J,após esforço, nota-se aparecimento de déficit de
vos de perfusão e função. Sabe-se que 11<1 cascata ivquêrnica contratilidade de parede anterior e septal, com queda da fração
existe lima relativa correspondência entre alterações de pcrfusão de ejeção do ventrículo esquerdo para 42,1%. A causadessadete-
I.! alterações de contrnrilidudc regional. embora as alterações rioração funcional ao esforço foi isquemia miocárdica causada
de perfusão usualmente precedam as alterações contrateis, Con- por obstrução de vaso coronariano
Doenças Cardiovasculares • 443

lstoocorre IlI)l' duruntc e"e, primeiros meses ocorre um processo


de adapiaçao cndoiclial. que pode cursar com certo grau de
di-Junçáo do endotélio. Esse distúrbio funcional uvvociado a
certo grau de hipcrplaxia da camada íntima do vuvo pode pro-
duzir disuirbios de perfusâo sem que o, l1Ie'I1IO, rcprcvcrucm
necesvariumcntcperda de rc-ultado do procedimento. Contudo.
rcconhccc-vc que entre 3 c 6 meses, c IIH:l>I1Hl cm períodos
ulteriores. a cintilugrufiu de pcrfusão miociirdicn pode ser um
indicador confitivcl de perda de revultudo ou de progressão da
doença artcriul coronunana. e portanto reforçar ti indicação
de um estudo cmccoronunográfico. Em trabalho relativamente
recente. Miluvetz C/III.. analisando 33 pacientes que receberam
stmt« C foram reavaliados por cinecoronariografia. movtrarnm
3 sensibilidade da cintilografia na detecção de rcc-tcno-cs da
ordem de 9511.especificidade de 731 (. valor de prcdiçà« povitivo
de 88f,. valor de predição ncgativ o de 89(,1-> e acurâcia de 88'>( ".
Na Figura 46...1,ohscrvum-ve (l' achados da ciurilografia de
perfusâo miucárdica rcnlizadn 9 mcsc ...apôs dilatação da ar-
téria coromiria direita; o estudo funcional não apenas detectou
perda parcial do resultado terapêutico. como também mostrou
progressão da doença arterial para outros vasos coronarinuos.
Mesmo upés cirurgia de revascularizaçâo. não é incomurn
o aparecimento de sintomas inespccffico-. que podem ser mais
bemdefinidos e esclarecidos por meio de unálivc por um estudo
funcional. Cavo e\I'1:I e\ idência de e\ ento i'ti uê IIIico pW1110-
Figura 46.4 - Cintilografia de perfusão miocárdica (A e 8)
\ Ido por uma modalidade de estrcssc. juvufica-ve plenamente
mostrando defeito perfusional estresse-induzido nas pare-
ore-estudo anatônuc» do, vavos coronariano-, Uma informação des anterior e inferior. Os mesmos defeitos não estão pre-
única Iornccula pela cinrilografia é na determinação da impor- sentes na fase de repouso (defeitos perfusionais transitórios).
tância funcional que uma determinada lesão anatómica do vaso Em (C) nota-se perda de resultado angiográfico de intervenção
coronariano exerce sob ." perspectivas clínica e prognôsricn. percutãnea prévia realizada na artéria coronária direita. Em
Comli povsihi lidudc de implantação de próteses cndovascularcs (O) observa-se estenose grave da artéria coronária interven-
cada \CI IIIai, eficientes e de indicação de proccdimerur», cinir- tricular anterior, caracterizando, assim, progressão da doença
gico~ minimamente invasivos. ou rnevmo de rcvnsculurização arterial coronariana
por intermédio de fatores de crescimento cnduteliul modela-
dos por terapia genética. torna-Mo: importante caracterizar o
Vário, parâmetros de imagem poder caracterizar um pior ou
grau de rcpcrcuvvâo hcmodinãrnica da cada obvirução corona-
nana, pnncrpalrncmcem vuuaçõcs de C11\ oh irncnto multianerial.
°
melhor indicador prognóstico. Quanto maior defeito e mais
grav e o defeito de perfusão. maior o risco de desenvolver evento
Pode-se aS\lm velccionar II território mail> crítico a ser abor-
coronariunos futuros. Igualmente. quanto mllb grave for o
dado rcmpcuricumcntc: pnncipalrncntc em situações em que os
componente de transitoriedade de um defeito pcrfusional, pior
prcccdimcmo- de rcvavcu larização se revestem de alio ri SC(),
o prognõst ico do paciente '1 ".
Em resumo. a cmulografia de perfusão miocãrdica mostra-se
A capacidade contrãtll com li queda da frução de ejeção do
de CXlrCll10valor diagnóstico, em circun-tâucius únicas que
ventrículo esquerdo (FEVE) é UIII dos fatores de maior poder
permitem ao cardiologista avaliar \) seu paciente vob urna
prognóstico '. ". Embora a análise qualitativa permita estimar
perspectiva peculiar, Contudo. seu valor só é reconhecido quando
as cnpacrdudc-, funcional global e regional do vcruriculo esquerdo,
re-peuados ulgun» a-pcctov básico, rcluciouados ao benefício
a nnãhsc quantitativa permite uma estimativa mais confiável
que o método pode trazer ao paciente. O grupo de pacientes que
dessa particularidade funcional. Atualmente, com um simples
melhor ~e beneficia com a indicação da cintilografia. são aqueles
que aprescnuun UIII .. probabilidade intermediária de doença
utenal coronariana. Aqueles com baixa probabilidade não
necewnam de lima investigação com estudos funcionuis. Por QUADRO 46.2 - Indicações formais para cintilografia de
outro lado. O~ pacientes que já apresentam sinai-, clüucos perfusão miocárdlca
fortemente Indicativos de doença arteriul coronnrinna devem Condições:
serencaminhado~ dirctarncnrc para um exume cinccoronario- • Pacientes assintomâticos e com teste ergo métrico positivo
gr:llico. O Quadro 46,1 movtra as principnis indicações da cin- • Pacientes com angina tipica ou atipica e com teste
tilogrufia de pcrfu\;1n miocãrdicu. ergométrico negativo
• Pacientes com distúrbios de condução ou com alterações
eletrocardiogrMicas de base que dificultam a interpretação do
Estratificação de Risco ECGde esforço
• Pacientes com distúrbio respiratório, com impossibilidade de
Tem-se reconhecido nas últimas décadas o valor da ciniilogra- realizar teste ergométrico eficaz
li.ule perfu\ão mioc:írdica na estraúficação dc ri,co./\ capaCidade • Pacientes recém-submetidos a procedimentos de
do méttldo em predi/cr a taxa de ri~co no desell\ oh Imcnto de revascularizaç30. que apresentem sintomas típicos de isquemia
(\ento\ cardíaco ...rut uro, tem permitido sugcri r ltludanç;I\ na~ • Pacientes assintomáticos, com história familiar importante
Nr3tégl3s de tralalllcnto c ,eguimento ue paeienlc~ eom doença • Pacientes que apresentam qualquer outro fator que
artenal coronarianu, bM) ,e torna caua vel. mais importante à impossibilite a realização de um teste ergométrico eficaz
medida que novas alterllativa~ terapêuticas, como drogas (doença neurológica, deficiência fisica, insuficiência vascular
periférica etc.)
\l~tabihladora' de placHs. estão presentcs c disponíveis.
444 • Tratado de Clínica Médica

estudo de perfusão rniocãrdica pode-se estimar qualitativa e (p < 0,000 I). As mulheres que apresentaram defeito de perfusão
quantitativamente a capacidade funcional contrátil do ventrículo extenso tiveram uma taxa de risco de 7% ao ano, em oposição
esquerdo. e utilizar esses dados para estratificar o risco do a taxa de 2% ao ano para aquelas que apresentaram defeito
paciente em avaliação. perfusional pequeno. e menos de I % ao ano para as mulheres
Outros achados de imagem que possuem certo valor prognós- que não mostram defeito de perfusão à cintilografia. Embora
tico são o aumento da captação pulmonar de l.á1i0-201 e a vários estudos demonstrem o valor prognóstico da cintilografia
dilatação ventricular esquerda transitória. A captação pulmonar de perfusão miocãrdica com o emprego do lá1i0-20 I, ques-
de tálio-20 I na fase de estresse se correlaciona diretamcnte com tiona-se se ow", Tc-sestarnibi ou outros agentes de perfusão
um prognóstico pior'". Embora essa captação seja preferen- mostram o mesmo valor prognóstico. Em um estudo com grande
cialmente visualizada com imagens planas. o mesmo pode ser amostra populacional. Berman et (1/. analisaram os achados
verificado com as imagcn tomográficas. Embora. O sestamibi 1.702 pacientes que se submeteram li avaliação funcional com
mostre. com menor frequência. captação pulmonar significante cintilografia de perfusão miocárdica com 9~mTc-sestamibi. e
(visto que normalmente pode-se observar um certo grau de que foram acompanhados por período de 20 ± 5 meses". Em
captação pulmonar). índices quantitativos têm permitido iden- 1.131 exames que mostraram resultados normais ou equfvo-
tificar e estratificar pacientes com menor e maior risco de cos, observou-se uma taxa de eventos leves de 0,7% ao ano
desenvolver eventos cardíaco futuros". Outro achado que se (cirurgia ou angioplnstia). e graves de apenas 0,2% ao ano
correlaciona com um pior prognóstico é a presença de dilata- (infarto não fatal ou óbito cardiovascular). Nos 571 pacientes
ção ventricular esquerda transitória. Esse achado, na fase de que mostram alterações isquêrnicas nítidas à cintilografia,
estresse, traduz uma dilatação ventricular que ocorre em vir- observou-se uma taxa de 7.5% ao ano de eventos cardíacos
tude de um fenômeno isquêruico grave, como mecanismo de graves e 7,4% de eventos cardíacos leves. Nessa mesma casuística,
compensação e tentativa de manter o volume sistólico em condição mesmo após estratificar os pacientes conforme os resultados
dos testes ergométricos, observou-se que a cintilografia de perfusão
de carga de trabalho aumentada. Alguns trabalhos compro-
rniocárdica modificou de forma significativa a taxa de risco
vam o valor prognóstico desse achado em pacientes com doença
estimado em todos os subgrupos. Mesmo em pacientes sem doença
arterial coronnriana".
arterial coronariana comprovada observa-se valor prognóstico
Numerosos estudos têm demonstrado o poder prognóstico
do método cintilográfico. Hacharnovitch et aI. analisaram 2.200
e de estratificação da ciruilografia de perfusão miocárdica em
pacientes que se submeteram à avaliação funcional com técnica
comparação com os achados clínicos, eletrocardiogrãficos e
de duplo isótopo (perfusão miocárdica com tá1i0-20 I em re-
mesmo de angiografia. Os estudos funcionais refletem de forma pouso e após teste de esforço com injeção de99m Tc-sestamibi)",
mais acurada a repercussão fisiopatológica da doença arterial Os pacientes foram estratificados pelo teste ergométrico em riscos
coronariana no miocárdio. O uso de cintilografia na estratificação baixo, intermediário e alto. Com o uso dos dados da cintilografla,
de risco pode ser observada em pacientes sem doença coronariana mesmo os pacientes previamente classificados COmOde baixo
comprovada. cm pacientes com doença arterial coronariana com- risco foram transferidos para o grupo de alto risco após aná-
provada e após infarto agudo do miocárdio, e mesmo em pacientes lise dos resultados eintilográficos, embora o maior impacto
que são candidatos a cirurgias não cardíacas de grande porte. tenha ocorrido nos pacientes previamente categorizados como
Um elegante estudo que acompanhou prospcctivamcntc de risco intermediário.
pacientes por período médio de 4 anos, mostrou que a gravi- O valor prognóstico da cintilografia de perfusão miocárdica
dade e extensão do defeito de pcrfusão detectado pela cinti- com -Tc-sestamibi também tem sido mostrado em pacientes
lograria tinha poder prognóstico com valor incremental em com angina estável. Em um estudo que avaliou 521 pacientes
comparação ao poder de estratificação obtido com a avalia- que se submeteram a teste de esforço máximo e cintilografia
ção clínicu e ECG de e forço (p < 0,05). O mesmo estudo de perfusão miocãrdica, a taxa de eventos cardíacos foi substan-
mostrou que o acréscimo dos dados de catercrismo não ele- cialmente maior no grupo que mostrou alterações cintilográficas
vou o poder prognóstico global da avaliação". (7%/ano) do que naquele que mostrou padrão de pcrfusão normal
Igualmente testou-se se existe diferença dovalor prognóstico (0,5%/ano) (p < 0,00 I tI. A taxa de sobrevida livre de eventos
do método na avaliação de pacientes do sexo feminino apenas. foi igualmente muito menor no subgrupo que apresentou defeitos
Pancholy et a/o avaliaram 212 mulheres com suspeita diagnóstica perfusionais mais significativos (p < 0,002).
de doença arterial coronariana". Todos as mulheres tinham que O valor prognóstico da cintilografia tem se replicado quando
ser avaliadas por cinccoronariografia dentro de 3 meses da invés- agentes farmacológicos de estresse são empregados em substi-
tigação. elas não podiam apresentar revascularização miocãr- tuição ao teste de esforço. Um estudo realizado por Heller et ai.
dica prévia e infarto agudo do miocárdio prévio. Foram também mostra que o emprego do dipiridamol como agente de estresse
excluídos aqueles pacientes que foram submetidos à cirurgia não parece comprometer o valor prognóstico da cintilografia",
de revascularizaçâo miocárdica, dentro dos primeiros 3 meses Avaliando 512 pacientes com angina estável, os autores mostraram
pós-avaliação com cimilografia de pcrfusão miocárdica com que a taxa de eventos foi muito maior no' grupo de pacientes que
tálio-201. e aqueles pacientes que apresentavam redução da mostrou defeito perfusional à cintilografia com emprego do dipi-
FEVE. Todos os paciente foram seguidos por 40 meses, e ridarnol (8,6%) em comparação ao grupo que não demonstrou
avaliou-se a ocorrência de infarto agudo não fatal e óbito de déficits perfusionais (1,4%).
causa cardíaca. Dentre as múltiplas variáveis analisadas, in- Mesmo após evento isquêmico agudo, seja após angina instável
cluindo-se idade, frcqüência cardíaca atingida ao esforço. extensão ou mesmo após infarto agudo do miocárdio, a ausência de
da doença arterial coronariana à angiografia, presença de defeito defeitos perfusionais significativos permite sugerir uma sobrevida
perfusional transitório. número e severidade dos defeitos tran- livre de eventos cardíacos graves·,,46. Um estudo conduzido
sitórios. a extensão dos defeitos perfusionais foi o indicador por Marnahrian et al. tentou avaliar o poder de estratificação
prognóstico mais potente dentre todos os demais acima des- da cintilografia de perfusão miocãrdica em pacientes avaliados
critos. Mulheres que apresentaram defeito de perfusão envol- entre 3 e 5 dias pós-evento isquêmico agudo". Dos 92 pacientes
vendo mais do que 15% do miocárdio mostraram sobrevida que se submeteram à cintilografia e foram seguidos por perfodo
livre de eventos muito menor do que aquelas que apresenta- de 15 ± 4 meses, 30 (33%) apresentaram eventos cardíacos
ram defeitos perfusionais envolvendo menos de 15% do miocárdio futuros. Dentre os fatores que mais indicaram o aparecimento
Doenças Cardiovasculares • 445

de eventos cardíacos futuros foram o tamanho do defeito QUADRO 46.3 - Indicações para estratificação de risco
perfusional à cintilografiu (p < 0,000 I), a extensão absoluta pré-operatório
de isquemia ao SPECT (p < 0.00000 I) e a FEVE (p < 0.000 I).
Os valores que melhor permitiram discriminar subgrupos de • Dor torácica a esclarecer compatível com angina
alto e baixo riscos furam extensão de defeito isquêrnico 11cin- • História pregressa de infarto agudo do miocárdio
tilcgrafia > 10% e FEVE < 40%: mais de 50'70 dos pacientes • AlteraçAo eletrocardiográfica nâo justificada
que apresentaram isquemia quantificável maior que 10% ti- • Mais de dois fatores cllnlcos de risco intra-operatório
veram eventos cardíacos futuros. • Aterosclerose generalizada
Um outro papel importante da cintilogrufiu de pcrfusão mio- • Diabetes
• Cirurgia vascular de alto risco (aneurismectomia)
cãrdica é na estratificução de risco pré-operatória. Um trabalho
bem conduzido avaliou o poder de cstrarificação da cintilografia
pré-cirurgia vascular clctiva de grande porte. Foram incluídos
380 homens e 187 mulheres candidatos 11cirurgia vascular ele- cardiogrãfica. Com essa técnica podem-se obter imagens de
tiva, e que se submeteram ?I aval iação com cintilografia de per- melhor detalharncnto anatómico, bem como por meio da soma
fusão miocârdica com emprego de t:ílio-20 I e dipiridamol". de múltiplos ciclo cardíncos. obter-se uma representação mais
A taxa de eventos pcrioperutério e de sobrevida livre de eventos realista da situação inotrópica do coração.
foisimilar cm homens c mulheres. Um estudo funcional positivo Contudo. apesar de ambas as técnicas apresentarem caructc-
esteve associado com um incremento do risco de desenvolver rísticas de aquisição e processamento distintos. o tipo de infor-
eventos cardíacos da ordem de 3,9 vezes no sexo mascul ino e mação fornecida é basicamente idêntico.
5,5 vezes no sexo feminino. Uma revisão analisando 11mcon- Uma vez que os dados foram adquiridos. podem-se analisar
junto de cinco trabalhos avaliando o papel da cintilografia de as imagens sob dois parâmetros:
perfusão miocárdica na cst rut iflcação de risco pré-operatória
mostrou que a mesma é bastante sensível c possui um poder • Análise qualitativa: por meio de imagens e seus respectivos
de predição negativa bastante elevada e da ordem de 98%49. padrões.
O Quadro 46.3 ilustra algumas das indicações básicas da cin- • Análise quantitativo: por meio de números e curvas.
tilografia para estratificação de risco.
Display de Dados Qualitativos
AVAlIAÇAo DA FUNÇAo VENTRICULAR -
Os dados podem ser apresentado de forma que imagens planas
PRINCIPIOS, INDICAÇOES E RESULTADOS cllNICOS sejam apre entadas de forma estática (análise anatómica) ou
de forma dinâmica. na forma dc cine. onde se permite avaliar as
Princípios incursões das diferentes paredes ventriculares nas diferentes
Várias condições patolôgicas cardfucas se manifestam clini- fases do ciclo cardíaco. Essas imagens podem ser manipuladas
camente por uma insuficiência cardíaca congcsriva'", Essa in- por meio de suavização. filtragem, aumento de brilho e contraste,
suficiência cardíaca representa uma falência dos ventrículos escolha de diferentes padrões e escalas de cores, etc.
em bombear ou ejctar o sangue de forma satisfatória em cada
ciclo cardíaco. Na maioria das situações isso pode refletir uma
falha da musculatura cardíaca. que pode ser regional (insufi-
Imagens Funcionais
ciência coronariana) 011 difusa (cardiomiopatia). Portanto, é Mediante manipulação mutcmáticn. podem-se construir ima-
importante o emprego de métodos que permitam estimar quan- gens paramétricas ou funcionais que refletirão as alterações
titativameme essa função muscular. funcionais globais e preferencialmente regionais. Embora exista
Os método cintilognílicos permitem avaliar n função contrátil uma variabilidade milito grande de programas que fornecem
deambos os vcntrfculos. seja Cm condição de repouso. ou mesmo essas imagens funcionais, a maioria das companhias fornece
sobcondiçõc de tipos di [crentes de cstrcsse (físico ou farmaco- basicamente a imagem de volume ejetado, imagem representa-
lógico). Duas técnicas básicas de estudo podem ser empregadas: tiva de frução de ejeção regional, imagem de contração paradoxal
e, por fim, a análise de fase e amplitude (Fig. 46.5) .
• Estudos de primeira passagem: compreendem a análise É importante lembrar que essas imagens representam as
da primeira passagem de 11mbolo de material radioativo distribuições regionais de contagens que. indiretarnente, repre-
pelas estruturas vasculares c câmaras cardíacas". sentam a variação de volume, sendo tudo isso demonstrado
• Estudosde equilíbrio: realizados quando ocorre o equi- pela variação na escala de cinza ou cor, sem, contudo forne-
líbrio de um radiofãnnuco de pool sangüínco no compar-
cer valere .
timento intravascularl~.~j.

Cada técnica apre cnta suas vantagens c desvantagens. O cs- Dados Quantitativos
tudode primeira pas agem não obriga necessariamente ao uso
deum agente de distribuição predominantemente intravas cular, A análise quantitativa baseia-se no tratamento estatfstico das
Contudo, faz-se necessário certo rigor além de precisão técnica imagens adquiridas e digitalizadas. Um dos aspectos interes-
para uma perfeita aquisição de imagens e posterior análise. santes do estudo radioisotópico é que ele permite obter uma
A vantagem principal é que esta técnica permite estabelecer estimativa da função global c regional cardíaca. sem se embasar
quantitativamente a função do ventrículo direito e esquerdo sepa- em formulações geométricas. Uma das variáveis mais impor-
radamente. sem que ocorra sobreposição de atividade prove- tantes, calculada pelo método cinrilogrâfico,é a FEVE54• Por
nientede outras estruturas intrarorãcicas, principalmente pela definição, a fração de cjcção é calculada dividindo-se o volu-
seqUênciatemporal CI11 que ocorre o trânsito pelas diferentes me cjcrndo pelo volume diastólico do ventrículo. Para se es-
estruturas vasculares ou não. timar os respectivos volumes diastólico e sistólico, deve-se
Na técnica de cquilfbrio, deve-se empregar o uso de Ulll primeiramente sclccionar os quadros que representam a diãstolc
agentede distribuição prcdomi nantemcnte intravasculnr. bem máxima c a sístole máxima na média de ciclos cardfacos ad-
como registrar a imagens por meio de sincronização cletro- quiridos (Fig. 46.6). Uma ve: sclccionados, devem-se dese-
446 • Tratado de Clinica Médica

Tão importante quanto a lunçâo ,ist(lliclI ti o calculo do ín-


dice de função diastólica$<>J7.Cerca de 4()1!i, dos casos de insu-
ficiênciu cardíaca podem mostrar apenas ultcrução da função
diastélica sem que os mesmos apresentem alteração da Ira-
çâo de cjeção. (; J';íeiI ex plicar como Íl,\1) ocorre, pois em
certas curdiomioparins pode ocorrer um alimento progres-
sivo do volume diastólico final no sentido de compensar perdas
de inotropisrno c reduções do volume sistólico. Em certas
luscs. () aumento do volume diastólico é maior que a queda
do volume sistólico. A FEVE nesses casos pode ser normal,
quando na verdade já ocorre uma série de anormalidades
funcionais. inclusive inoirópicu do ventrfculo. A veruriculografia
permite estimar o grau de comprometimento da complacên-
cia ventricular. estimando o pico ele enchimento ventricular
(f>('akfi/lil/g rate], que ocorre na primeira fase de enchimento
ventricular. Isso pode ser estimado calculando a derivada e
o slope da curva de enchimento ventricular. O:; individuos
normais apresentam valores superiores a 2,5 volumes dinstólico,
por segundo. Entretanto. é muito importunrc que cada labo-
ratório padronize os valores normais. para as diferentes fui-
xas etárias e para umbov os \CXO\.

Indicações Clínicas
Insuficiência Coronariana
C0l110 a maioria dos pacientes com insuficiência coronarinna
apresenta função ventricular normal cm condição de repouso,
recomenda-se que os estudo:" sejam realizados também sob
condição de estresse. Embora possa ser utili/ada dobutarnina
como agente farmacológico de csircssc. a preferência é para
a realização de cstrcssc f'ísico ~'. A avaliação inicia-se com urna
Figura 46.5 - Ventriculografia radioisotópica
imagem basal rcalizadu em condição de rcpou o. na incidência
oblíqua anterior esquerda com melhor separação do ventrículo
nhar regiões de interesse nas imagens digitais, que contornam esquerdo e direito. Após o término dessa imagem. o paciente
em sua totalidade o ventrículo a ser analisado. O computador é posicionado em uma maca crgornétrica. Posicionado scmi-
fornece então o número total de contagens rcprescntudns por inclinado sob uma câmara de ci nti lação. posiciona-se o detector
l!~sa rcgiâo de interesse, as quais irão traduzir a distribuiçâo para que ele permita uma separação adequada dos ventrículos.
de contagens nos eixos x. y e 1.. Como hubituulmcnte se uti- O estudo inicia-se com carga inicial de esforço isotônico de 25w
lizam marcadores de /)()O{ snngüínco. dentre os quais hcrná- e as imagens são adquiridas apenas quando O paciente estabiliza
cias marcadas com tccnécio-O'Jm. o número de contagens total a frequência cardfaca (geralmente no primeiro minuto de exercício
representa o volume de sangue comido naquela estrutura. Portanto. da respectiva carga) e posteriormente se adquirem as imagens
é tundamenral que se dcxcnhc a região de interesse de: forma por período de 2 a 3min. ou com um mínimo de 3 milhões de
bustuntc precisa e inclua apcnav o ventrículo a ser analisado. contagens por carga de exercício. As aquisições são progressivas
A pesar de ex istircm programas automáticos de dei ineamento. até a carga máxima suportável pelo paciente. Recomenda-se
é preciso tomar um cuidado extremo para que não se incluam que se atinja a freqüência cardíaca máxima para que ~e consi-
na ;1I'c<Ido ventrículo outras estruturas. como grandes vasos dere o teste eficaz. Para o diagnóstico de insuficiência coronariana
ou átrios. Isso pode certarnente subestimar o valor da fração (Fig. 46.7) um ou mais dos seguintes achados têm que estar
de ejeção do ventrículo. Caso, por outro lado, se deixe de incluir presentes: queda ou ausência de incremento em cinco pontos
parte do ventrículo. pode-se superestimar o valor calculado
percentuais da Iração de cjcção global. cm cxcrcfcio cm com-
de Iração de cjeção. Outro furor que certamente pode influen-
paração COIll () valor obt ido cm repouso. bem como alteração
ciar nus resultados': a definição de diãstolc máxima e sístole
das coruratihdudcs regional c segmentar. Embora a queda da
máxima. Caso se defina uma imagem que não represente o
ponto de enchimento máximo ventricular, podem-se obter falsos FEVE seja um sinal bastante sensível (sensibilidade = 90ct).
valores de tração de ejeção. Caso o paciente tenha uprcscnrn- sua especificidade é relativamente baixa (60%), pois outros
do número excessivo de arritmias durante a aquisição. isso tipos de cardiomioparias podem igualmente mostrar esse tipo
pode certamente comprometer a confiabilidade do revre para de comportamento". Por essa razão. para uma melhor defi-
a análise quantitativa. Igualmente. II rendimento de marcação nição diagnóstica. deve-se analisar a piora da contnuüidade
baixo pode também levar a resultados menos confidvcis do regional. pois este achado tem um valor específico muito maior.
cálculo da Iração de cjcção. Além de sua utilização para finalidade dingnésrica, reconhece-
QU,1Il1ll ao' valores 1I01'l11ab.existe certa variabilidade quando se o seu valor do ponto de vista prognõstíco'?". Um paciente que
os mcvmov vão comparados entre os diferentes laboratórios. apresenta após um cvenio isquêmico agudo uma Iração de ejeção
l labituulrncntc. considera-se que valores abaixo de 50% devam de :lO(ro ou menos tem uma chance nove vezes maior de desen-
-er considerados anormais". Porém. recomenda-se que cada labo- volver insuficiência cardíaca grave e óbito C0l110 eventos futuros.
rarorio pudronizc seus valores ele normalidade. com seu próprio Igualmente. uma fração de cjeçâo inferior a 40% no pcrfodo
grupo-controle e com utilização de equipamento. técnica I.: pré-alta hospitalar está associada 11 maior taxa de eventos coro-
programas próprios. narianos futuros e óbito. Mesmo após u era trornbolüica. estudos
Doenças CardIovasculares • 447

per lu Studio della Sopravvivenzu


do GI SI· 2 «(ill/IIIIII '((/';(/1111
l!tll""fimo '\//IIl'Iml;m) rnoxtraram qUI!a \ entriculografia radiei-
-otoprca pt'''UI ainda importante valor prognõ-rico conforme
ovalor obudo dc fração de ejeção". A taxa de eventos coronariunos
futuros aumentou de 2% com trações de cjcção acima de ·H)C!,.
para 40'( de taxa de eventos quando a Iração de cjcçüo mosrrou-
seabaixo de 30e;(. Um aspecto que M: reconhece bavtanre bem
éque pacientes com isquemia miocrirdica aguda c rcpcrfundidos
agudamente podem aprevcntar Lima ligeira queda da fração de
ejeção glob a1 cm \ mude do aturdoamcnto que pode ocorrer
ISIIIIIII;II/-:). h"c, pucrcntcs vão aprcvcruar uma melhor .. da
fração de eJeçau progrc"" a mente na !. 2 a -I -emanus -ubsc-
qu.:nte\· . Alj,!un, trabulho-, têm permitido t.nnbcm dcluur o
'I)!nllk ..do da I"agllltudc de elevação do segmento S I nu período
imediato que 'e segue ao infarto agudo do miocdrdro. Observa-
M! uma correlação invervarnente proporcional entre o delta de
elevação do -cgrncnro ST e a magnitude de resposta da FEVE
com estimulo inotrúpico positivo (dobutarnina). Portanto. o
método permite caructcri zar de forma adequada a viabilidade
miocárdica. idcntlficundo áreas de atordoamento e mcvmo de Figura 46.6 - Ventriculografia radiorsotóplca
hibernação miocérdica'":".

Outras Cardiopatias 1'\0 caso de cardiomiopatia .. dilatada, () padrão normalmente


\ ivuulizudo i.!de aumento de ütno, e vcntrfculos, com délicit
A vcnrriculografia pode também ser utilizud« para <1\ aliar funcio- funcional de ambos 0' vcntrículov .• aruralmentc, podem ocorrer
nalmente outros upo-, de cardiopatiav. cxccçõc-, c. dentre ela«. a cardiomiopatia chagásica se destaca.
A primeira indrcução ,ena na determinação da falência ven- Pode (lC:OIIer por veles o envolvimento de câmara .. esquerdas
tricular esquerda cm pacrentc que se apresenta com dispnéia. apcnnv....em que vc perceba compromcrirncnto envolvimento
Quando os achado, ChIlH:Il' não permitern diferenciar entre de câmara ...dircitus?".
ccmprornetimcnto pulmonur c cardíaco, UIIl estudo ventricular A cardiomiopatia hipertrófica se caractcllla bnxicamcntc por
com racliobótopos pode lacilmeruc [aci li rar cssu di Icrcnciação. um ventrículo hipertrofiado. sem dllataçilo. no qual se visua-
Um achado. na vcnu iculografia radioisotópica, de urna câmara liza uma fração de ejcção normal ou aumentada. Nonnalmcnte.
vcntriculnr dircitu dilatada com certo grau de disfunção é forte o que mais pode ver considcrudo C:II.lcteri,tl((I I! (I compro-
indicador de patologia pulmonar associadu'", Urna doença metimento da função dia,tÓliC:J. ou melhor. d.1 complacência
pulmonar obstrutiva crônica grave ou hipertensão pulmonar vcntriculur, Além do pico de enchimento diavtúlico estar redu-
primária podem levar a uma sobrecarga prevvórica do ventrículo / ido. o tempo para o pico de enchi mcnto di:I\tóhco ((/111(' /(I1'(!(1k
direito. podendo causar insuficiência de ventrículo direito. Tem fillillg mIl') e'tol também prolongado em comparuçào com os
também sido relatado que lima fração de ejeção < 35~ do \ cn- \ alore-, uuun.riv.
trículo direito pode ver forte indicador de hipertensão pulmo- o, e'I\o, de cardiomiopatia revtritiva o vcutrículo esquerdo
nar", Porém. é importante valientar que :1 presença de ('01' pude estar normal em dimensão. porém se observa fração de
pulmonale pode curvar COIllcomprometimento de dlllal'l1s di- cjcção redu/ida ou no limite inferior da normalidade. A cavi-
rcltas e rumbém de câmara .. esquerdas. dade ventricular direita pode estar aumentada ou normal e a
1\ ~egllndl1indicação seria na lIvaliilçrlu do efeito de cardio- fração de ejcção do vcntrrculo direilo pode estar normal ou
toxicidade pelo 11M) de ljuill1ioter:ípicos pala tratamcnto de diminuída .".
c5nccr"'. A vcntriculogralia pode ~cr empregada para: Embora (I ecoeardiograma seja () mi.!todo de e~C:lllh:l na
avaliação da, \ah'ulopatias, pois o me~mo permite alem de
elccionar pacil.:l1te' qUI! podem receber droga poten- estabelecer o grau funcional. estimar o gradiente de e~teno~e
Cialmente Cardl(lto~lc:a, e e\'itar que paeicntc .. com ceno valvar, a\allar a anatomia das diferente, \':lh." e da, cavidades
grau de di.!licil fUllclIlnal recebam tai~ droga!>.
• '\C<lmpanhar padellte~ que recebem lai .. droga, no .,cntido
dc monltor:!r (I efeito de cardiotoxicidade.

Paclentc\ que rl.:ccbel1l drogil;' corno dll\urrllhicin:l. droga


csla potencialmentc cilrdiotóx ica. de\ em ,er perind icamentc
monitorados do pOl1tode vista funcional. Entretanto. quando a
dosede doxorrubidna for inferior ~I550mg/m . a prohabi Iidau<!
dedesenvohcrcardiotnxic:idade ~ Illuito pcqucna.l\lgun~ onco-
logi~tase me,mo cardiol(lgi~las toleram uma queda da fração
de cjeção dc ali.! -I5'i ilntc~ de ~ubstillli-Ia por outra droga.
A terceira índu.:,I\·ao ...cna na avaliação IUllclIlI1al de dife-
rente.,carulollllllpall'''' \, cardiomiopatia, pndelll ,cr dh idi-
da\cm dilatada ....hipcrtrlílica~ c re~tritiva~. A \elltllullllgralia
pOOc\cr empregada para:

Quamific:lr () gnlu de c:umprumet i1111.:1110


Iunc:ionill das
câmara~ cardíaca,.
E,tabclec:er o pl'Ogl1llstiw.
Detcrminar o efeiw de drogas. Figura 46.7 -Imagens diagnósticas de insuficiência coronariana
448 • Tratado de Clínica Médica

cardíacas. Entretanto. os métodos funcionais como a ventriculo- Igualmente. pode-se observar evolução assintornãticu dos
grafia radioisoiõpica permite estimar de forma mais acurada () pacientes por anos sem qualquer ocorrência clínica. Freqüen-
real estado funcional dos ventrículos. Isto é muito importante temente. a fração de cjeção em repouso se mostra dentro dos
no caso de insuficiência aórtica. em que a monltoração funcional limites da normalidade. porém a resposta em esforço pode
é fundamental no sentido de determinar o melhor momento estar alterada. Como muitos dos estudos mostram função sistólica
de troca cirúrgica da valva". Apesar da clusslficação clínica ser preservada. muita atenção tem sido depositada na avaliação
bastante úi il , existem viiuaçõcs cm que e ta avaliação subjc- da função diastólica.
tiva falha c. muitas vezes. tem-se a impressão de que o pa- A última indicação é na avaliação funcional de cardiopatias
ciente já se encontra em classe funcional Illda New York Hcart congônitas". Nas cardiopatias congênitus ciunúticas, O método
Association (NYHA), porém a determinação objeriva funcional pode quantificar O grau de shunt direito-esquerdo, bem como
mostra que o mesmo se encontra ainda em classe II. Neste caso. avaliar o grau de repercussão funcional de ambas as câmaras
uma avaliação mais próxima e sequencial do paciente pode deter- ventriculares. No seguimento tardio de corrcçõcs cirúrgicas.
minar qual o momento mais adequado para indicação cirúrgica. como no caso da transposição congénita dos grandes va o . o
Teoricamente, esse momento seria aquele onde começa ocorrer método novamente permite estimar com precisão o estado
um declínio da função ventricular como indicador precoce dc funcional do músculo cardíaco.
perda da reserva funcional muscular frente a esrrcssc físic(). Apesar do ecocardiograma e a ressonância magnética ava-
Portanto. recomenda-se que todos os pacientes sejam monito- liarem de forma adequada li função cardíaca. a ventriculografia
rados seqüencialmerne com ventriculogrufia radioisotôpica de radioisotópica prima por não sofrer influência de vnriaçõe
repouso e em exercício. Uma das crúicas existentes em rela- morfológicas do ventrículo. não ser operador dependente e
ção à metodologia é que. apesar de existirem programas que portunto altamente reprodutível. ao mesmo tempo que pode
calculam de forma precisa a fração de regurgitação, sabe-se ser considerado o método de menor custo dentre todos os demais.
quc não h,í uma forma precisa para se determinar qual ii (ra- Em síntese. quando a informação requerida pelo clinico for essen-
ção de: ejeção efciiva. ou melhor a fração de cjeção descon- cialrnente a determinação funcional contrátil. a ventriculografia
tada da fração de regurgitação que iní se correlacionar melhor talvez seja o método com melhor relação custo/beneffcio.
com o debito cardfaco. Por isso muitas vezes pode-se ter uma
estimativa não tão precisa da reserva muscular. e isso pode
limitar a detcrrninução do melhor momento do tratamento
CINTIlOGRAflA PARA DETECÇÃO DO INfARTO
cirúrgico. Apesar dessa limitação. a cintilografia pode, junta- AGUDO DO MIOCÁRDIO
mente com outras variáveis analisadas, determinar o melhor
momento para modificar o regime de tratamento do paciente.
Princípios
No caso das valvopatias que induzem mais sobrecarga de O LISO de marcadores de lesão isquêrnica aguda elou infarto agudo
pressão que de volume, como na estenose aórtica, observam-se do miocárdio crnbasa-se no princípio de que alterações ultra-
parâmetros e achados distintos. Quando ocorre uma sobrecarga estruturais c moleculares da fibra miocárdica advêm da quebra
de pressão. sem que haja di latação do ventrículo. o equilíbrio abrupta de suprimento sangüíneo. Os primeiros marcadoresde
necrose miocárdica surgiram em meados da década de 1970"1"6.
entre o csircssc da purede c a frução de cjeção é mantido pelas
leil. de Laplace, onde: Um dos primeiros compostos investigados foi o gálio-67. reconhe-
cidamente até então 11mmarcador de processo inflamatórios ~
Pressão intracavitãria x Raio da câmara ativos c ncoplasias, Embora os mecanismos que regulam sua ~
Esrresse da parede = ---------------- captação cm processos isquêrnicos agudos não sejam bem ~
Espessura da parede determinados. ncredira-se que ocorra uma passagem anómala ~
elecomplexo gáIi0-67-proteína plasmática através da membranax
Portanto, o aumento da espessura da parede ventricular utua da fibra miocãrdica lesada pelo insulto isquêrnico. Além disso.
de forma a diminuir a tensão e o cstrcsse da parede. e conscqücn- li presença de células inflamatórias degeneradas no sítio de
temente. seu desgaste e consumo metabólico. Normalmente. necrose miocárdica pode talvez constituir fator que explica a
nessas condições. existe uma relação indircra entre estresse retenção desse composto no interior do miocárdio infartado.
du parede e fração de cjeção; quando não se observa uma Outros marcadores corno o césio-131 e a tetraciclina marcada
hipertrofia adequada.observam-se quedas progressivas da fração com recnécio-vürn foram também propostos como agentesde
de cjcção ". Pacientes com estenose aórtica apresentam accn- infano do miocárdio. porém não tiveram grande aceitação clfnica
tuada hipertrofia do ventrículo esquerdo: pode-se observar um principalmente em virtude de resultados controversos.
ventrículo de tamanho normal e com FEVE normal ou uumcn- O pirofosfato marcado com rccnécio-ssm trouxe outras pers-
rada (mais raramente). De forma pouco frequente, observa-se pectivas na avaliação do infarto agudo do miocárdio". O piro-
deterioração da fração de ejeção ou da função sistólica. po- fosfato é um polifosfuto de cadeia curta, com um átomo de
nEJTI quando esta ocorre. ela é difusa e pode estar associada carbono intcrligundo dois de fósforo (P-C-P). Embora seja um
a sobrecarga volumétrica por outra natureza associada. Não há marcador de metabolismo ósseo. o mesmo permanece por
grandesindicações prognõsticas da ventriculografia radioisotópica, períodos mais prolongados de tempo na circulação sangüfnca,
pois quando os pacientes estão assintornãricos, geralmente o que propicia maior acumule em processos paiolõgicos em
apresentam boa evolução clínica com tratamento conservador. tecidos moles. Uma vez administrado por via intravenosa. este
Usualmente. essespacientes são mais bem acompanhados com composto circula livremente no sangue. sendo extraído c depo-
métodos anatômicos de imagem com o objctivo de avaliar o sitado na matriz inorgânica do osso lentamente e excretado
gradiente de estenose valvar. O apareci mente de sintomas geral- pelos rins. Acredita-se que um dos mecanismos que regulam
mente indica, associadoa outros fatores, um tratamento cinírgico. a concentração de pirofostato-P''Tc no infarto agudo do miocárdio
A hipertensão provoca, semelhante ao observado na estenose seja o aumento desproporcional do transporte de íons pelos canais
aórtica, lima hipertrofia miocãrdica. Frente a aumentos súbitos de cálcio. Como os compostos polifosfatados acompanhamo
e agudosda resistênciaperiférica, pode-seobservar uma transitória caminho traçado pelo íon cálcio. seja incorporando-se na matriz
queda da função ventricular. Porem, à medida que ocorre a hiper- ósseainorgânica. adsorvendo-sc na estrutura do cristal de hidro-
trofia do ventrtculo esquerdo. a mesma possibilita o ventrículo x iapatita. seja depositando-se IHI forma de fosfato de cálcio
superar o aumento da pós-carga e manter a função contráti!. amorfo. sua concentração no infarto agudo do miocárdio estaria
Doenças Cardiovasculares • 449

diretarnerue relacionada ao rransportc de íons cálcio rrausmern- rações eletrocardiográficas de base que impossibilitam a iden-
brana c a quantidade de cálcio depositada na área necrosada. tificação de áreaselctricarncntc inativas. É o exemplo de pacientes
Contudo. paraque haja concentração no tecido com lesão is- que procuram O serviço de emergência com quadros de dor
quêrnica é necessárioque haja um mínimo de circulação sangüínea torácica, porém com bloqueio de ramo esquerdo de base e
paraqueo pirolosfato chegueem quant idades mensuráveis.Acre- curva cnzimárica duvidosa. A cintilografia nessasituação pode
dita-seque este agente esteja concentrado em maior quanti- determinar se houve infarto agudo transrnural. caso o paciente
dadenotecido isquêrnico que delimita a área de necrose. portanto se apresente dentro da janela temporal de maior sensibilidade
superestimando() tamanho real do território infurtudo. Igual- do método que varia entre 2-1a 96h.
mente,alguns trabalhos experimentais mostram que o método Contudo. é importante lembrar que a cinti lografia com piro-
é bastante sensivcl pa ra detecção de infartos transrnurais. possi- I'osfato-'~'"'Tc não é absolutamente cspccíflca para infarto do
bilitando ti detecção de ãrc:... de extensão de infnrto de apenas miocárdio. Pacientes com aneurisma vcntricu lar, ami loidosc
I% da massa ventricular. porém a capacidade de detecção está cardíaca. cardiornioparia dilatada, angina instável, pacientes
diretarnentc relacionada ao revtabelccimcnto do fluxo coronariano submetidos recentemente a cardiovcrsão. pericarditc e mio-
no território comprometido". carditc podem propiciar acumulo de pirofosfato no miocárdio
Outros agentes foram posteriormente i nvcst igados quun to na ausência de necrose miocãrdica". Outro aspecto importante
àsua especificidadcpara detecção do inlurto agudo do miocárdio. é que infartos subcudocârdicos são de difícil detecção, pois na
Como desenvolvimento da técnica eleprodução de anticorpos maioria das vezes demonstram acúmulo difuso e não local do
monoclonais,a seleção de clones mais específicos para cons- pi rofosfato. o que não permite di ferenciar das condições acima
tituintes ela musculatura cardíaca. como a miosina. poderia que limitam a especificidade do método.
teoricamentedetectar lesões agudas do miocárdio com extre- O uso de anticorpos monoclonais marcados com índio-III
maespecificidadee eficiência. Os anticorpos monoclonais podem pode em parte superar pane das limitações apresentadas com
seradministrados na sua forma monofilarnentar (Fub) ou bifi- o uso do pirofosfato. Alguns autores acreditam que o pirofosfato
lamentar(Fab2), pois assim observa-se maior clareamento da superestima li extensão da área nccrosada em comparação com
circulação sangüíncu. e com a obtenção de i magens tardias o padrão de imagem obtido com anticorpo antimiosina. Contudo,
observa-semaior contraste em comparação com ensaios empre- alguns trabalhos mostram que ambos os marcadores são sensíveis
gandoanticorpos írucgros e completos". Contudo. alguns dos paradetecçãoda lesão isquêmica e praticamente estimam a mesma
fatoresque limitam muito sua introdução na prática clínica extensão de área necrosada". Contudo, o custo extremamente
sãoo elevado CIl~tOde produção c a relativa baixa afinidade mais elevado e, portanto. a mais limitada disponibilidade, limitou
dosanticorpos monoclonais obudo-,'", a expansão clínica dos anticorpos monoclonais anrimiosina.
Com as técnicas tornogrãficas de SPECT pode-se obter um
melhor delineamento da. ãreas cnvolv ida, pelo insulto isquêmico,
Indicações Clínicas A utilização conjunta de marcadoresde pcrfusâo miocárdicn como
Atualmcme. com o desenvolvimento de marcadores bioquímicos o tálio-20 I e o pirofosfato possibilitam estimar a ãrcu nccrosada
e molecularesmais scnvívcis e cxpccífico: de dano isquêmico e o território isquêrnico pcriinfarto em risco.
miocárdio agudo.como a, troponinas. ussociudos a métodos de
imagemutilizados rotineiramente nu acornpanharncruoevolutivo
depacientescom víndrorncs isquêrnicus agudas. discute-se a
CINTllOGRAFIA MIOCARDICA PARA PESQUISA DE
realnecessidadeclínica de aplicar métodos que se restrinjam INFLAMAÇiO MIOCARDICA lCINTllOGRAFIA
à detecçãodo infurto agudo do miocárdio. Â~ rroponinas são MIOcARDICA COM GAUO-61)
reconhecidamentemarcadores extremamente sensíveis e ao
O gálio-67 ugc como um análogo do ferro. Uma vez injetado na
mesmotempo cspecfficos de necrose miucárdicu e. progres-
circulação snngüínca na forma de citraro, ele se liga aos sítios
sivamente,vêm substituindo o uso da CKM 13na investigação
livres da transfcrrina, Alguns autores ainda valorizam sua ligação
depacientescom lesão isquêmica aguda". Contudo. o uso desses
aos leucócitos. mascom certeza é um mecanismo de ação de bem
marcadoresnão permite definir a etiologia da necrose mio-
menor valor". O complexo gálio-transferrina circulante seacumula
cárdica induzida.
cm inflamações cm decorrência de alteração do espaço capilar
O diagnósticodo infarto agudo do miocárdio crnbasa-scessen-
e de aumento dos espaços endoteliais sefixando àsproteínas dos
cialmentenuma tríade de achados que consiste em avaliação
tecidos, lactoferrinase siderófilos de baixo pesomolecular.Também
clínicadetalhada,análiseclctrocardiogrãfica e enzimática. Quando
encontramos linfócitos e macrófagos ligados ao complexo.
osachados clínicos. cletrocardiogrãficos e enzimáticos confirmam
apresençae a localização do infarto agudo do miocárdio, não
existepronta necessidadede indicação dos métodos de imagem Aplicações Clínicas
paraconfirmação do diagnóstico. Contudo. quando o paciente
apresenta-se tardiamente no serviço de emergência. fora do pico Miocardite
desensibilidadedosmarcadorescn/imãtico .. ou quando apresenta
alteraçõeselctrocardiogrãficav prévias que dificultam li caracte- M iocardiic é uma doença caracterizada pela presença de infla-
rizaçãode um evento isquêrnico agudo. a cintilografia pode mação focal ou difusa no miocárdio. Pode ser causada por
trazeralgumacontribuição no sentido de confirmar a presença infecção, estadode hipersensibilidade. radiação. venenos,agentes
dedanoisquêmico agudo. Outra indicação da cimilografia mio- físicos e drogas37J1•• A formas clínicas são as rniocardites aguda,
cãrdica com pirofosfuto é na detecção de infarto pós-intervenção subaguda e crônica. Enquanto na Europa e nos Estados Uni-
cirúrgicaou de rcpcrfusão percutânca. Na maioria dos procedi- dos a causa mais comum é a infecção por vírus, no Brasil
mentoscirúrgicos, principalmente associados ti pcricurdiotomia. ex istc, além das viroses, grande incidência da doença de Chagas
observa-se elevaçãodos níveis de CKMB. A cinrilogrufln mio- e da febre reumática.
cárdicacom pirofosfaic marcado com 9'ln'Tc pode diferenciar Essa doença tem um diagnóstico difícil porque Suaapresen-
os pacientescom e sem infano pcriopcrutório com elevada tação clínica varia da forma assintomãrica até os quadros fatais
ucurácia8w.Outra indicação da cinrilogrufia miocárdica é na com insuficiência cardíaca de rápida evolução. Em geral, a insu-
detecção do infarto agudo envolvendo o ventrículo direito". ficiência cardíaca congcstiva (ICC) é a principal manifestação
Pode-seindicar a cintilografiu cardíaca com pirofosfato para da miocarditc, apresentando-se sob ti forma de cardiorniopatia
confirmarinfartos agudos cm pacientes que apresentam alte- dilatada. Pode ser aguda. logo após uma doença virai com grave
450 • Tratado de Clínica Médica

disfunção ventricular, ou lenta e progressiva. com declfnio gradual rniocardite crônica. Bocchi et ai. estudaram no InCor-FMUSP
da função cardíaca":". A disfunção diastólicn ventricular pode pacientes chagásicos pareados com portadores de cardiomiopaua
ainda ser a única manifestação da miocardite. idiopática. em graus variados de ICC. segundo a NYHA, com
A medicina nuclear pode ser útil na avaliação funcional e ressonância magnética. gálio-67 e BEM. O processo inflamatório
prognóstica por meio de vcntriculografia radioisotôpica, que foi diagnosticado pelo gálio-67 em 80% dos casos". Os pacientes
também pode avaliar resultados terapêuticos. Entretanto. esse com atividade inflamatória rniocárdica são os que em maior
teste não diferencia a miocardite de uma cardiornioparia idio- grau deverão ter suas atividade sociais diminuídas pela Ice c
pática. cujo trutamento está praticamente restrito aos utilizado. pior prognóstico.
cm ICC (Quadro 46.4).
A miocardite linfocítica é a mais frcqüente e seu padrão his-
tológico está associado a infecções virais das quais o enterovírus Cardite Reumática
coxsackievírus B é o agente etiológico mais comum. Acredita- A febre reumática é uma doença auto-imune desencadeada por
se que 2 a 5% da população que adquire uma infecção virai cepas reumatogênicas do agente bacteriano Streptococcus em
poderá apresentar algum grau de envolvimento cardíaco. indivíduos suscetíveis. A cardite constitui o componente mais
O gálio-67 por ser um agente marcador de tecido inflamado importante da doença e a febre reumática é ainda considerada
pode ser utilizado para o diagnóstico de atividade inflamatória
ii única causa de doença valvar adquirida. Ela pode ser aguda ou
no miocárdio. Diante da suspeita de miocardite ou cardite de
crônica e ocorre em cerca de 30 a 60% dos pacientes, dependendo
uma forma geral. o gálio-67 pode ser muito útil não só no
da freqüência e intensidade do envolvimento cardíaco durante
diagnóstico mas também no acompanhamento terapêutico.
a fase aguda'".
Vários centros, incluindo o Instituto do Coração da Faculdade
Tem sido identificado um renovado interesse com respeito aos
de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-FMUSP),
fatores epidemiológicos e fisiopatologicos na febre reumática,
utilizam o gálin-67 no diagnóstico c acompanhamento de pacientes
sendo descrito número crescente de casos em países desenvolvidos.
com suspeita de rniocarduc". O'Connell et ai. estudaram 68 pa-
cientes consecutivos com cardiomiopatia dilatada com gálio-67 Por outro lado. a fase aguda da febre reumática continua sendo
e biópsia endorniocárdica (BEM) como padrão-ouro". Dos pa- problema atual de saúde pública em crianças de países subdesen-
cientes que apresentaram BEM positiva. 87% também tiveram volvidos ou em desenvolvi monto. Nesses países, entre os quais
suas cinrilografias com gálio-67 positivas e apenas 14% das BEM o Brasil. reconhece- e uma evolução mais freqüente para a forma
negativas (p < 0.00 I). A incidência de miocarditc e cintilografia grave de curdite, com major incidência de insuficiência cardfaca
com g:ílio-67 negativa foi de apena: 1.8% (1/57). Concluíram congestiva e óbito por doença cardiovascular.
ainda que a cintilografia seriada pode diminuir sensivelmente A doença atualmente é diagnosticada empregando-se os cri-
o número de biópsias em pacientes com miocardirc comprovada. térios de Jones, nos quais a cardite é descrita como a principal
Conclusão semelhante iide Wakafuji et (II. cm estudo de paciente' manifestação". Outro fator a ser considerado é que o diagnóstico
com rniocardite aguda e BEM em que identificaram pacientes em de cardite constitui fator prognóstico dos mais importantes na
atividade inflamatória no miocárdio, eliminando a necessidade fase aguda da febre reumática. Entretanto, testes utilizados
ele biópsias cm série?', Carnargo et aI. do InCor-FM USP estu- na rotina clínica para monitoração de pacientes com febre reu-
daram 44 pacientes entre 10 meses e 15 unos com cardiomiopatia mática em fase aguda mostram baixa sensibilidade na detecção
dilatada. Aliado a BEM foi comprovada sensibilidade de 87% da doença cardíaca. O diagnóstico é baseado usualmente no
c especificidade de 81 %. Nesse trabalho. no qual as crianças critério clínico, na maioria das vezes derivado dos sintomas c
eram submetidas 11 imunossuprcssão. percebeu-se que a maioria sinais de insuficiência cardíaca. Achados laboratoriais. eletro-
das cintilografias negativas correspondia a BEM com atividades cardiográficos e radiográficos são por vezes inespecíficos,
inflamatórius discretas "'. Porém, aquelas com atividadc moderada Dentre os métodos isorõpicos, a cinrilografia com citrato
ou intensa, em que está indicada a irnunossuprcssão. a correlação de gálio-67 tem sido empregada no diagnóstico de processos
entre os exames era muito alta. inflamatórios ou infecciosos em atividade diversos, englobando
processos que se caracterizam pelo comprometimento primário
cardíaco". Contudo. poucos grupos têm investigado O valor
Cardiomiopatia Chagásica desse método em comparação com os métodos de avaliação
A doença de Chagas no Brasil atinge 8 milhões de habitantes utilizados na rotina clínica.
em fase de vida socialmente ativa e portanto merece estudos Trabalho realizado cm nosso meio por Soares et (/1. englo-
especiais com diagnóstico precoce. Embora seja uma doença bou pacientes em fase aguda da febre reumática" Todos os
endémica na América Latina. no Brasil. o percentual com tropismo pacientes selecionados apresentavam cardite por critério clí-
cardíaco é muito alto. nico e febre reumática aguda pelo critério de Jones.
A cardiomiopatia chagãsica apresenta infiltrado inflamatório Trinta e seis pacientes com febre reumática aguda subme-
difuso cm grau. variados c, portanto. se comporta como uma teram-se li cinrilografiu cardíaca com gálio-67 e BEM (fase
I). Nove desses pacientes reportavam como primeiro episódio
e 27 com episódio recorrente. As idades variavam de 4 a 20
QUADRO46.4 - Agentes infecciosos causadores de miocardite anos (10,8 ± 4 anos), sendo 18 do sexo masculino. O diag-
nóstico elínico de .cardite baseou-se nos sintomas e sinais
Bactérias: Brucella, Clostridium, Staphylococcus. Streptococcus, clínicos de insuficiência cardíaca congestiva (dispnéia, palpi-
gono(o(o, Haemophilus, Leglonella, meningococo.
Mycobacteria, Mycoplasma, pneumococo. Salmonella tação, edema, cansaço e sopros). Adicionalmente. todos os
Vírus: Adenovírus, arbovírus, coxsackievlrus, citomeqalcvlrus, pacientes apresentavam sorologia confirmatória para a fase
Echovirus, encefatomlocardíte, Epstein·Barr, hepatite, HIV, aguda englobando hemograma, taxa de hernossedimentação,
influenza, rubéola, varicela proteína Cvreativa e teste de antiestreptolisina O. Raios X de
Fungos: Actynomices, Aspergillus, Candida, Coccidioides, tórax. ECO bas'al e ecocardiograrna foram obtidos em todos
Cryptococcus, Histoplasma, Nocardia os pacientes e a maioria mostrou achados consistentes com
Espiroquetas: Borrelia, Leptospira, Treponema o diagnóstico clínico.
Helmlntos: Echinococcus, Schistosoma, Toxocara
Com o objetivo de realizar avaliação longitudinal, 19 pacientes
Protozoários: Entamoeba, Leishmania, Trypanosoma, Toxoplasma
aleatoriamente foram selecionados para realizar cintilografia
Doenças Cardiovasculares • 451

com gálio-67 de controle cm intervalos de tempo que variaram


TABELA 46.4 - Correlaçãoentre cintilografia cardíacacom
de 3 a 10 meses (média = 4,6 meses) apõs (I evento agudo gálio-67 e biópsia endomiocárdica na fase aguda
(fase II). Critérios clínicos e Iaboratoriais foram utilizados para
caracterizar a ausência de arividade de doença reumática. BEM POStTIVA BEM NEGATIVA TOTAL
A cintilografla com gãlio-ô? era considerada negativa. quando Gálio-67-positivo 25 6 31
nãoera identificado qualquer grau de captação em projeção Gálio·67-negativo O 5 5
cardíaca. O exame era considerado pos it ivo quando era Total 25 11 36
identificada li captação em projeção cardíaca: urilizou-sc critério BEM = biópsiaendorniocárdica
semiquantirativo sendo o grau discreto (+) assim conside-
radoquando ti captação cardíaca era inferior à captação em
costelas,moderado (++), quando a captação cardíaca era maior as fases da doença). Analisando por outra perspectiva esses
que na. costelas e grave (+++). quando a captação cardíaca achados podcrium representar um resultado falso-negativo
era superior ;1 observada no esterno. da análise histol6gica. seja por erro de amostragem ou por
I a fase I do estudo foram obtidos 3 a 4 fragmentos do insuficiência de ubstrato inflamat6rio que permitisse qua-
septointerventricular direito em 30 pacientes e. em seis pa- lificar como carditc ativa.
cientes.as amostras foram obtidas durante o ato operatório. Outro aspecto importante a ser considerado é o achado
Os achados histolõglco-, foram classi Iicados como: de ciruilografia com gálio-ô? positiva na fase crônica da doença
(26,3% dos pacientes), apesar das avaliações clfnica e labo-
• Normal ou reaçãolinfo-histiocítica iucspccfficu = negativo. ratorial se mostrarem negativas. Essesachados poderiam sugerir
• Miocardhe Iinfocítica discreta, caracterizada por infiltrado que exista inflamação de pequeno grau sem haver manifes-
linfocúico focal, miocitólisc COI11 dano rnioc.irdico. tação clínica ou expressão laboratorial. Contudo, a possibi-
• Cardirc reumática utiva. caracterizada pela presença dos lidade de falso-positivo da cintilografia não pode ser
nódulos de Aschoff no miocárdio ou na "alva mitral. completamente excluída. uma vez que interpretações de graus
Classificações 2 ou 3 foram consideradas indicativas de di. crcios de comprometimento são subjctivus e sujeitas a erros
cardirc em atividadc, dc avaliação. Nem sempre o limiar de inflamação tecidual
correlaciona-se com o limiar de detecção de aiividade infla-
A cintilografia com gãlio-ô? foi positiva para processo infla- matória pela cintilogralia com gálio-67. Igualmente, a ex-
matóriocardíacocm utividade em 31 pacientes (86. I o/r). Destes, pansão de pool sangüfneo poderia também levar a falsas
16 aprescmuram escore discreto de cupiuçâo (+). 13escore mo- interpretações da ciruilografia com g:\lio-67.
derado(++) c dois apenas apresentaram escore grave (+++). Em síntese, apesar de existir muito [louca evidência na
Cincopacientes mostrnrum resultado cintilográfico negativo. literatura especializada, os poucos trabalhos rcalizudos em
A BEM foi negativa em II pacientes, e positiva em 25. A nosso meio permitem sugerir a cinrilografin COIllO um ins-
Tabela46.4 mostra a correlação entre a ciruilografia com gálio- trumento diagnésrlco alternativo para confirmar e principal-
67 e a BBM na fase aguda. mente afustur comprornerimento inflamatório cardíaco nas
Concordânciaentre os resultados da cintilografia e da BEM fases aguda e crônica da febre reumática. Do ponto de vista
foi ob ervada em 84.3q.. dos pacientes. É importamo meneio- prático, um dos aspectos mais relevantes é o alto valor de
nar que os casos de discordância entre ambos o~ testes in- predição negativo obtido com a experiência nacional e isso
cluiu apenas casoscom cinrilografia positiva e biópvia negativa. poderia ser de valiu cm situações em que existe incongruên-
Portanto.não foram identificados resultado!' Ialsos-ncgativos cia entre Os achados clínicos e laboratoriais.
como emprego da cintilografla,
Dczcnove pacientes foram examinados novamente em intcr-
Transplante Cardíaco
vales de 3 a 10 meses apôs o evento agudo da febre rcumãticu.
C0l110 já mencionado anteriormente, a ausência de arividadc da O grande problema do transplante cardfuco continua sendo
doença foi determinada por critérios clínicos c laboratoriais. a rejeição aguda. apesar do uso da cicloxporinn ter abranda-
A cintilogrnlincardfaca com gálio-67 foi negativa cm 14pacientes do essa questão de forma signi ficativa. Graças à abordagem
(73.7%) e positiva em cinco (26.30/(». é destes pacientes quatro aiual, o transplante cardíaco oferece menos problemas de
apresentaramgrau discreto de captação cardíaca (+) c apenas rejeição c o paciente pode ser mais bem controlado.
umapresentougrau moderado (++). A BEM foi negativa em 18 A rejeição causa inicialmente uma carditc com infiltrado
pacientes(94.7%) e positiva em apenasum paciente (5.3%). A linfomonocitário, edema e agressão nos miôciios. Esse qua-
Tabela46.5 mostra a correlação entre! cinti lografia e BEM na dro é semelhante à miocardite descrita anteriormente. con-
fasecrônica da lebre reumática. siderando-se que o agente etiológico é a respo ta imunológica
Concordânciaentre a cintilografla c a BEM foi observada do paciente.
em79% dos pacientes. Todos os casos considerados negati- Após o transplante, no primeiro ano, o paciente sofre
vos11cinrilografiu (oram igualmente negativos à BEM. lima série de biópsias endorniocãrdicas independentemente
Os mecanismos de detecção da inf'luruação cardíaca pela de apresentar sintomas de rejeição. l niciulmcruc eram 25
címilogra lia e pela B EM são cIiferentcs, Essa d i [crença, assoe iada biópsias durante o primeiro ano. Com o tempo, aumentou-se
aerrosde amost ragcm rccidual pela BEM. poderia cm parte o intervalo entre as biópsias. Nessa fase, muitas biópsias
explicar os rcsultadns discordantes obtidos com ambos os
métodos.Essa hipõtcsc pode ser sustentada com o seguimento
dospacientes que apresentaram cinrilografia com gálio-67 TABELA 46.5 - Correlaçãoentre cintilografia cardfacacom
positivae BEM negativa na fase aguda ou febre reumática. gálio-67 e biópsia endomiocárdica na fase crónica
Nesses pacientes, foi observado que a cinulografia com gálio- BEM POSITIVA BEM NEGATIVA TOTAL
67 mostrounegativano seguimento, mostrando assim um padrão
deimagemcompletamente diferente da rase aguda e demons- Gálio-67-positivo 1 4 5
trandoregressão da atividade inflamatória, enquanto fatores Gálio-67-negativo O 14 14
histológicospermaneceram inalterados (negativos cm ambas
Total 18 19
452 • Tratado de Clinica Medica

cndorniocurdicus podem ver C"iradas por meio de cintilo-


gra lia nuoc ardica com clira 10 de gál io-ô 7 (Fig. 46.8), con-
íormc ii dcvcriçã» de 'cu mecarusrno de ação na prcvcnça
dc influmuçào cau ..adu pela rejeição aguda.
MCllcghclli ct til rcalizanun um trabalho com 4-6cintilografia ..
nuoc.irdica-, c bl!)P'I,I~ cndomiocardica .. num grupo que foram
submerido-, ao tranvplantc canlíaco " Ambo-, e..tudos eram obndov
no mC'I11".11.1, 4Xh .11"')',III11)l,:'1I de curato de g:ího-67. A cuptação
c.:ardlac,1 1111 d."....
ficada como ncgauva. divcreta. moderada c
unportumc, de .Il'urdo com a conccruraçuo do marcador na,
c.:o,tcla, \, bllll)'>l.I' 1I\('r,1I1I .1 me ...ma grildaçall.lcrc,cel1wndo- Figura 46.9 Mlocardlte em doença de Chagasaguda. Gálio·67
'c ,lInd.1 .1 rejciçâu cm resolução c .1 re a çuo incvpecrfica. A ...
hlllp!'>la,ncgall\.l' nâo Iorum cnc.:unll.lt.la, cm cinulografias com
cuptaçao moderada (prl·l'".1 de pul-,o terupru) nem biópvi a, de na, \c'Ic.:ul:I\ de cvtocagern na', ternunaçoc lIel\osas pré-sinápuca
gruu moderado ou uuporumt« de rejcrçao aguda toram encontrudas c na, célulav da medula udrenal ° que rclllH,a essa teoria (a
reduçúo da cuptaC;'1Il quando. de íunna previu, udministru-se
cm Cll1lllu~'rall.l' ncgall\a, O...pacientev que necevvituram de
pulvotcrupru .II111 1I1I1H.1I1lo grau de c.:aptaçao de glílio-67, corre- rcserpina, dcvrneulumprununa ou antidepressivos tricfclicos
lacionundo 'c com pnK'C"U cm rcxolução (Fig, .16.9). Desde Bloqueadorc-, alia e betu náo Interferem cm sua captação.
então. u InCor· f'ML SP diminuru de torma importunre o nú- A t;aplilçilll da M lHe i pelo museu lo cardíaco se faz por 11111
mero de hiópvias no scuuuncnto de pacientes transplantados. rnccunrvmn neuronal OCulta afinidade (1If'(akt:·1 ou /,,(!up/llke) e
não neuronal de baixa atividade (lIpwk('-2). ° fato do efluxo da
CINTIlOGRAFIA MIOcARDICA PARA ESTUDO MIBG do cornpartimenro n,IO neuronal SCI rápido em relação
ao neuronal. facrlua a avaliação da distribuição autonômica
DA INERVAÇIO SIMPATICA (CINTllOGRAFIA cardíaca. podendo ser uuhzudu corno exame clínico. A MIBG
MIOcARDICA COM MnAIODOBENIllGUANIDINAJ não é mctabolllada pela monoaminoxidase (MAO) nem pela catecol-
As merv ..çõc-, vrmpaucus c para""llpátu ..as do coração regu- orto-rncultranvtcrase (COMT). Sua captação é maior nas árcól\
lam .1 função rniocârdica, trcquêllcla cardiaca e fluxo sangüínco de mervuçao normal c menor na, arca, de dcnervação ana-
miocardico cm rndiv íduo-, nornun-, C portadores de doença cardíaca. tormca ou funcional. Por apresentar a, características descritas.
Entrc e.......I' t1l·st.IC.1Il1 'c u- síndromes isquêmicav, mvuficiên- a MIBG vem sendo utilinda na a\aliaçãlllll l'iI'o do papel tio
~'Iacudl.lc',I, morte '11"11.1C di.rbete«.A mctaiodobcnvrlguamdinu vrvtcma nervuvo vrmpauco curdíaco cm condições fisiolôgi-
(\11 U( i) l UI11.1Il.llllglIda guanitidina. um ful-o ncurotrunsrmssor, ca-, e fj,illpalllhigic,ls. lui imagens reprevcntam a denvidade
captado pclo' ncurônlo ..at.lrcllcrgÍllh:1 -cmelhança da norcpincfrina uo, reveprorev c II rõnu-, ...impauco
(I ig 46.10). rnu-, nã'l parucipa do mctubol ....mo intracelular. \ \IIBC. pode .,cr marcada com iodo-I 23 e iodo-I H para
V,irlll\ an.ílog'h da gUllllltldllhl Imamtc\lados para se obter elcltn dc Imagcn, clnlllográfic.:as. Quando marcada com IIId"
ImagclI' de tUlllorcs 11.1hlllt.lgCIII ncurocctodl!l11ic.:a c um do, III, radllll\titllpo beta c gama cml"llI oe média encrgia, melOl
Olt.'lItOIC"lui .1 i'lIIBC•. 'ItlC Iplc'cnl'l\a l.lptilç5(l1llai~ nipld,l. Vida de IIU"". UCforma lluC II dCl\( administrada deve ~er baixa
b.II\.1 r.IIII.I\'.II'IIl' IlImlo c alt.1 captaç:.Hlpela, células crol1lalin, para não C\pclr Il paclcnte a uma OO\lmctl ia alta e o pacienté dc\c
I IIg" !>c\ l·IIIIc.:OUlJue c"c Inálll~1l era r.lplt.l:lIllellle eaptatlo reccber lod\) Irlll na leu 111.1 dc lIx1clU, para bloquear a tirc6idc
fll'la' IllllllIl.l\'!iC' rll'n '1\.1 "mpútlc.:;" c .Irdiaca~. As inHlgens '.In plar"'lc, c fllloem ,er ",cmiquunliticadas qUlIndn
i\ ,ua hlLali/açaolllllllusc.:ulocurdwc.:o e depcndente dos meea- rl!lacitlnad." ao pul m;to e IIlCdlustlOO,
nbOlo, de rel'ap"'Ij,lo da Illlrepinclrina, Clll11entrada do agentc Quando a \11 BG c marc.:ada ~llm iodo-12J, gama en1l\sur
puro de hal.xa energia, a.. dose, pudem ~cr m(liorc~. meia-vida
de 13h, bloqueia-se também a IlrclÍlde e as cinlilografias são
obtida~ nu forma IOmográllclI (I'ig 46 II) com o objelivo de
\ il\uali/ar a hllldl\trtblllção cllrdiaca e, se necessário, também
quantificar dc forma rclatl\'a.

Aplicações Clínicas
Metaiodobenzilguanidina
na Doença Cardíaca Isquêmica
A, Ilbr ..... \lmflálic ..\ c,tão distribuídas da base até o aplee
do c.:Ofóll"lIlc pcnellam do epicárdio para o endocárdiO para
leio ao, \.1'0'" coronariano,. A, libra .. paras\lmpállc"", são
cm multI) menor númcro l' pClletr.tnl dll cndocárdio para a
,upcrlkll! do cpidroiu.
Quando h,i IOlarlu ,cm onda Q. a dcnervação corrc'ponde
a lona do Inlarll1, cnlJuanto nos c"cnto, com ond:1 Q a área
dcnef\ .Ioa c maior que a UOInl arlO A dencrvaçiio ocorre j1Ilr
nccro,c ti,,, libra', 11"" C".I' tambcm \c .Ilterum lemflorarta·
mente pela I~quemla, Na \ Il.'cnclU dc "qucl1lla. porém. com ~
recuperação da perl u,ãll pode sc vellllcar dcncrvação tran,,-
tória nc~,as área ... 1,,0 ,ignllica que ", miócitos são meno, •
sensiveis .. isqucmla quc ii' libras nervosas. A árca dcncrvadu "
Figura 46.8 - Transplante cardiaco. (A) Gálio-67 positivo: rejei- é hiper ...en,ivcl ti eUlecolamll1as c isso pode explicar o uutnel1lo;
ção aguda. (8) Gálio-67 negativo após terapia de arrilmw, no~ eventos agudos,
Doenças Cardiovasculares • 453

Diabetes Melito
Quando ha prc-cnçu de diubctcs mclito com neuropatia auto-
nõrnica. aumentam a, taxa, de morbidade c mortalidade. O ..
principaisefeitos \ão: hipotensão postural. taquicardia de repouso.
alteração na regulação do fluxo sangüíneo miocárdico. disfunção Norepínefrina
ventricular e isquemia silenciosa. Pacientes com neuropatia
autonômica diabética apresentam maiores alterações na cinri- Figura 46.10 - Norepinefrina e ml-MIBG
lografia com MI BG mesmo na ausência de aterosclerose coro-
nariana. Por outro lado. a melhora no controle da glicernia resulta
em restauração da inervação simpática observada por imagens díaca, corroborando esses dados. Outro marcador de inervação,
com ~lInG. a II hidroxiefcdrina. também mostra maior captação da re-
i\ isquemia vilenciosu é mais comum em pacientes diabéticos gião irrigada pela artéria descendente anterior, El>scl>estudos
CN:1a"(lCi;ld.1 a morte súbitu. Tem ..ido povrulado que pacientes confirmam () importante papel na integridade da regulação do
comdmhctc\ solrcm mtcrrupçâo dovscn ..ore ..aferente ..c eferente .. fluxo <ungüfnco miocãrdico.
da\ libra, cardíaca, nervosas. o que pode le\ nr ti perda da per-
cepção da dur, Nüu furam dcmonstrudus diferença» entre cinti- Considerações Finais
lografia de pcrlusüo miocãrdlca e de MIIlCi em pacicntc-, com
diabetes com mi ..em isqucmiu silenciosa. Auormalidades lia atividade sirnpdticu cardíaca contribuem para
a progressão de ICC c a gênese de arritmia, Também parecem
ter relação com o envelhecimento natural dos indivíduos. O
Insuficiência Cardíaca Congestiva e fato é que (1 sistema nervoso simpático desempenha um im-
Cardiomiopatia portante papel no entendimento da fisiopatologia da insuficiência
Pacientes com insuficiência cardíaca congcstiva têm evidências cardíaca, hipertrofia miocárdica, morte súbita e outras arritmias.
de aumento da ativação do sistema nervoso simpático manifestado Não menos importante é que a MIBG pode ser importante na
avaliação de resultados terapêuticos. Vários são os problemas
pelo elevado nível de norepinefrina circulante. Também mos-
que envolvem sua produção além da meia-vida curta do iodo-
iramevidênciu-, de alteração da função cardíaca virnpáticn. Uma
123, ma, a continuação desses estudo" nos fará compreender
da\ forma, de medir a função nervosa simpática do coração é
os mecanismos li!>iopatoI6gicol> de alguma-, curdiomiopatias.
avaliara capacidade dos nervos terminais cm ca pia r catccoluminav
pelo transportador II"I(/~('-I, Essa avaliação pode ver fI!it:I de forma
nao invasiva com M 11)(;. medindo a rclnção da captaçiio curdíacu VIABILIDADE MIOcARDICA
com II cllpta,:io do mcdinstino (C/M l. I:ssa rclaçno decl inu com
Pacientes COIII invuficiênciu C(lf(lIWI HIfW CIúnica e divluu-
a progressão da ICC. Por i~~I). quanto maior II redução. pior
ção do venrrtculo esquerdo resultam e 111 uma <ubpcpulução
o prognõstico, Além disvo. e~~a~ anormalidade, correlacio-
na qual a rcvnvcularivução pode ..igruücar rmportantc me-
nem-se com .. I·EVb. clusve funcional (NYIIA) e ulieruções
lhora regional ou global na função ventricular. assim corno
hl\topatoll)!pc:".
na melhora do, .. intornus e potencial alteração da história
i\ cinulografra cardíaca com MIBG na ICC mo-rra-se com
alterações difusas. ao contrãrio da doença isquêmica. O grau natural da doença. A fisiopatologia que su ..tenta a reversibilidade
da disfunção miocárdica. hibernação ou atordoamentos múltiplos
de anormalidade da relação C/M mostrou ser um preditor
independente de mortalidade e melhor que a FEVE. volumes que podem coexistir no mesmo paciente. é revertida por
ventriculares e classe funcional. intervenção que restabelece o fluxo sangüfneo para o mús-
culo cardíacou.i.,o,.
Na doença de Chagas há alteração da inervação vimpática e
pode ser observada pela cimilogrufia com MIOG. Pane de pacientes Esses casos, em que o estado do miocárdio é potencialmente
conviderados de forma indeterminada mostraram hlpocapiação reversível, têm em comum a preservação da integridade da
inferior e apical. Quando estudados simultaneamente com mar- membrana celular e vuficicnte preservação da ntividadc metabó-
cadore- de pcrfuvào miocãrdica foram obscrvadov dcfeuo-, de lica que mantém li função celular mesmo na uuvênciu de con-
inervação maiurc-, que II' de pcrfuvão posvibilnando que a tratilidudc do, miécirov vecundáriu à-, i\llUelllia\ de repetição.
dCOc:f\açãu preceda a fi hrove ne,~a doença O prognévuco de pacientes ponadorc-, de cnrdiornioparia
.\ tcrapl.l de ICC com beta-bloqueadores melhora a\ taxa" isquêmicu continua pobre. apc ..ar dos avanços da terupia médica .
de morbidadc e mortalidade. Durante a tcrapiu pude ser obscr- O trunuucnto de c-colha ainda é o trunsplunte cardíaco. porém.
vado pela cinulogratra com MI SG a melhora progressiva do esbarra no número de doadores e na rrcmcndu demanda por
índice C/M. A cintilografia com M IBG mostra melhora na con- intermédio do!> pacientes com insuficiência cnrdfaca crõnica.
centração do marcador ante~ me~mo de melhorar ti rEvE. in- Os portadores de cardiomiopatia dilatada de cau.,a não i..quêmica
dicando com i.,\o valor prognóstico daqueles que irão responder
ao tratamento.
Na ICC causada por ação tóxic~ de quimioterápicos. como a
famíliada antr:lciclina, a alteração da função adrenérgica medida
peln MIBG precede a queda da FEVE. mostrando ..er um 'en~í\'el
Instrumento p:lra monitorar cardiotoxicidade.

Transplante Cardíaco
Tudu\ 0\ p;lclentes :lJlIh tran'plante cardíaco nlO,tr.1I11dencrvaç;io
que pode \er ob\cf\ uda pela MI BG. Permanece atI! 12 Il1C~C~ ap6l\
cirurgia. O pmce\\o de lei nervação parecc começar n:l parede
ântcro-Iatcral do vcntrfculo e~qllt:rdl). Nc\sa la\c. algun~ pa-
cientc, voltam II tcr angina e variabilidade de frcqUência car- Figura 46.11 - Perfusão versus inervação
454 • Tratado de Clínica Médica

seapóiam nos medicamentos.porém, osde causaisquêrnica podem ambas 10J. 11).1. A nprcscntnção clínica predorn innmc pode não ser
serencaminhados para uma terapia de rcvascularização sehouver angina. mas dispnéia, devido ii elevação da pressão diastólica
boas condições clínicas para a intervenção. Considerando que final de ventrículo esquerdo.
não há empecilho para essaconduta, pode-se definir pelo estudo Existem três categorias metodológicas para investigação de
de metabolismo de glicose ('sFDG) e estudo de perfusão mio- viabilidade rniocárdica: pesquisa de função ventricular, ima-
cárdica ('3NH J' 2O'TI,99mTc-sestamibilletrofosmin) se haverá gens de perfusão mioeárdica e imagens de metabolismo mio-
benefício direto na recuperação do paciente. cárdico. Basicamente, as técnicas mais amplamente utilizadas
Várias investigações têm demonstrado maior benefício da são: ecocardiograrna de estresse com dobutarnina, cintilogra-
revascularização sobre o tratamento clínico em pacientes sele- fia de perfusão rniocárdica com tálio-20 I, tecnécio-99m sestamibi,
clonados com disfunção cardíaca, que tiveram angina como tomografia por emissão de pósirrons (PET, positron emission
início dos sintomas. Vários são os trabalhos que demonstram romographyy e ressonância magnética.
resultado nessecspecffico subgrupo, quando revascularizados, A viabilidade miocárdica pode ser detectada por meio daper-
cm detrimento dos que receberamapenasterapia medicamentosa. sistência de perfu ão, atividadc metabólica ou melhora cOnlriÍtil
Como a cirurgia tem sério risco nessetipo de paciente.é importante após estímulos apropriados em segmentos miocãrdicos com
determinar previamente seeste será realmente beneficiado com disfunção, o que não acontece em áreas de fibrose.
o procedimento. Para tal é necessário saber se há músculo viável Essa investigação também é particularmente importante nos
e se sua massa é significativa. Sabe-se que a fração de ejeção pacientes com disfunção ventricular grave onde se faz a triagem
de repouso é um excelente preditor de sobrevida em pacientes de transplante cardíaco versus rcvascularização miocárdica'O'·'OI.
com doença coronariana obstrutiva e que áreas hipoperfundidas
e hipocontráteis podem ser detectadas por alguns métodos. Estudo de Redistribuição com Tálio-201
entre eles, a medicina nuclear em cardiologia.
Para melhor entendimento a respeito de viabilidade miocár- A parede da célula rniocárdica constitui uma membrana semi-
dica é necessário compreender a definição de miocárdio hiber- permeável que permite. seletivamente, a passagem de deter-
nado, que caracteriza disfunção ventricular esquerdaem repouso minadas substâncias para o interior e exterior da célula. Esta
em decorrência de perfusão miocãrdica reduzida. mas sufici- apresenta um mecanismo de bomba Na+-K+ que transporta
ente para manter a viabilidade do tecido. A redução na con- ativarnente Na" para o extra e K+ para o intracelular, A energia
trntilidade miocárdica e da demanda metabõlica basal funciona necessária para esse proces o provém da quebra de moléculas
como mecanismo protctor, capaz de manter viabilidade em um de ATP. O mecanismo de captação rniocirãria do 20lTl ocorre
tecido hipopcrfundidc'?', Há casos em que o fluxo sangüíneo em paralelo com a captação do K·, ou seja, dependente da
basal pode ser normal. porém, isquernias repelidas levam a estado integridade da bomba a- K- presente apenas Cm células vi-
de hibernação. Miocárdio hibernante é caracterizado por urna vas. Os protocolos geralmente utilizados são:
pcrsi tente disfunção ventricular que melhora quando se climi-
na a isquemia. Esse mecanismo crónico. denominado down- Com Estresse (Físico ou Farmacológico)
regulation, que diminui a função contráril. é protetor além de Permite li detecção simultânea de isquemia e viabilidade.Injeta-
produzir redução na demanda de oxigênio, assegurando a so- se o 2°'TI no pico do estresse e a imagens obtidas após 10min.
brevivência dos miócitosI01.lo2.
Defeitos de períusão representam isquemia ou fibrose. Imagens
Diferentes graus de alterações histológicas têm sido ob er- de redistribuição (após 4h) possibilitam diagnosticar músculo
vadesno miocárdio hibernante, variando eleurnadesdiferenciação viável representado pelo preenchimento dos defeitos de perfusão,
(fenótipo fetal) à degeneraçãocelular.A primeira tem sido associada porém, defeitos persistentes após 4h não necessariamenterepre-
a stunning ou atordoamentos repetitivos. enquanto a degenera- sentam fibrose. Nessescasos, reinjeção do traçador e obtenção
ção. com maior extensão de fibrose, tem sido associada a baixo de imagens após 6 a 24h esclarece o diagnóstico (Fig. 46.12).
fluxo coronariano c maior tempo para recuperação após A captação tardia ocorre em razão de exposição contínua da
rcvascularização, Essespadrões histológicos podem sugerir uma membrana do rniócito a níveis de traçador que recircula pela
evolução contínua do primeiro para o segundo que termina cm corrente sangüfnea, em função da elevada meia-vida (aproxi-
formação ele fibrose, se a rcvascularização não for realizada. madarncnrc 73h). Acredita-se que uma concentração suficicruc
Realmente. vários estudos têm demonstrado O valor clínico desse do ~o'TIseja necessária parapermitir vi ualização da redistribuição
diagnóstico precoce na identificação e na revascularização dos em defeitos perfusionais importarues, o que justifica a reinjcçãc
segmentos para minimizar fibrose, rnorbidade e eventos adver- e obtenção de imagens após 24h.
sos,Beanlandsconcluiu queem pacientes.com disfunção acentuada.
a quantidadede fibrose foi um preditor independentenarecuperação Em Repouso
funcional após revascularização'?'.
Nos casos em que há viabilidade no músculo investigado, a As imagens são obtidas em dois períodos: 15min após inje-
revascularização miocárdica (cirúrgica ou percutânea) proporciona ção do traçador e redistribuição após 4 a 6h. Defeitos de perfusão
melhora do desempenhocardíaco. redução de mortalidade. redu- em repouso. que demonstram subseqüente redistribuição, são
ção de sintomas de insuficiência cardíaca e maior tolerância indicativos de viabilidade. A fração de exrração de primeira
ao esforço físicOI01•1CJ.l. Porém, se prolongada, esta hibernação passagem é alta (82%) e não é afetada pela redução de pres-
pode acarretar anormalidades estruturais graves até a perda são de perfusão secundária a lesões epicárdicas. Depois da
irreversível da capacidade contrátil segmentar, captação inicial existe um mecanismo contínuo de troca do tálio
O tempo entre rcvascularização e retorno à normalidade intra e extracelular dando início ao fenômeno da redistribuição.
funcional é variãvcl (horas a meses). diretarnente relacionado Quando há redistribuição positiva para uma área antes hipo-
11duração da hibernação. A melhora da FEVE é diretarnente capianre é sinal de viabilidade mioeárdica'us"0Il.'o8.
proporcional ti massa c ao número de segmentos miocárdicos Estudos demonstraram que o valor prcditivo positivo dacin-
com disfunção. porém, viáveis. tllografia de perfusão rniocãrdica com t{tlio-20 I (associadoa
Cerca de um terço dos pacientes portadores de doença arterial reinjeção e obtenção de imagens após 24h) em relação à melhora
coronariana e disfunção ventricu lar apresenta miocárdio hiber- funcional após rcvascularização do miocárdio é de 80 a 87%
nado. que pode cursar com disfunções sistólica, diastólica ou e o valor preditivo negativo de 82 a 100%.
Doenças Cardiovasculares • 455

Figura 46.12 - (A - Q Rein-


[eção de tállo·20l

A provável explicação para ausência de melhora funcional A célula miocárdica utilil'a o ácido graxa como principal
cm alguns casos. cuja viabilidade fora demonstrada é a pre- substrato energético, quando em jejum. sendo substituído pela
sença de cicatriz fibrótica subendocárdica. porém. mesmo estes glicose upós refeições. Células cronicamente isquêmicas são
casos se beneficiam da revuscularizaçâo em razão lia redução hipóx icas e, portanto. incapazes de realizar metabolismo oxidativo
da disfunção isquêrnica induzida por estresse 011 rcinfario. dos ácidos graxos. dependendo exclusivamente da glicólise
As limitações dessa técnica consistem em baixa qualidade de unaeróbicu para manter viabilidade. Desse modo, miócitos
imagemem pacientes obesos, artcfatos de atenuação que podem hipoperlundidos apresentam maior Iração de extração de gl ieose.
ser interpretados como defeitos de pcrfusão e a pouca capaci- Os traçadores mais usados são 13:-.!H3(perfusão) e 18P-f1uoro_
dadede diferenciar entre viabilidades endoc.irdica e epicãrdica. desox iglicose (FDG) (metabolismo).
O nitrogênio-Lâ-arnõnia possui meia-vida aproximada de
Estudocom Tecnécio99mSestamibi IOmin. As imagens são obtidas simultaneamente com a inje-
ção do traçador e o tempo total de aquisição iS de cerca de
Imagens COI11 substâncias marcadas com ""ruTc não apresentam
20min. Entretanto, no Bravil, aiualmcnrc não se dispõe de ciclotron
redistribuiçãosignl [icativa após injcção intravenosa em repouso.
em hospitais c isso impede a utilivação de rudiolsótopos com
porém, alguns estudos demonstraram resultados semelhantes
mcia-vidu muito curta como é o caso do nitrogênio, Substituímos
noestudo de redistribuição com ~IITIem termos de sensibi lidudc os estudos de pcrfusão com scstarnibi/tctrofosmin marcados
eespecificidade. Acredita-se que C\:';I cmclhança seja decorrente com iccnécio"?" (Fig. 46.13) ou comtálio-201 (Fig. 46.14).
da alta extrnção de '~""Tc-se'tamihi ou ."n'Tc-tctrol·osl11in cm A FI)G marcada com flüor- I8 é transportada ativarnerue
regiões dc baixo rIU,XCI com rruóciro-, viuveis. para (l interior do rniócito onde é fo forilada pela enzima hcxo-
A captação c retenção de~~c~ truçadore-, lião dependentes du qui nUM!. demonstrando metabolismo celular. As imagens são
integridade tanto da membrana celular quanto da função mito- adquiridas após sobrecarga oral e/ou administração intravenosa
condrial. E~sc\ ugcmc- se ligam ii membrana mirocondrial e de insulina regular, com algumas diferenças metodológicas
identificam miocárdio hibernado pois as mitocôndrias não apre- cm pacientes diabéticos.
sentam lesões irrcversfvcis. Com essa técnica. os pacientes que se beneficiam de ro-
A vantagem do uso desses agente consiste nos aspectos vascularização consistem naqueles com pcrfusão e mciabo-
físicos do tecnécio e na realização de gated-SPECT. que de- lismo preservados ou. dissociação entre perfusão e metabolismo
monstra espessamento sistólico e função cardíaca. Defeito (PET misnunch), ou seja, hipoperfusão associado à capta-
de perfusão associado a adequado espessamento miocãrdico ção de glicose normal ou elevada. Quando as imagens de-
sugere viabi Iidade "" 1117. monstram redução concordante de perfusão e captação de
Osestudos são realizados após cstresse c repouso quando se FDG (Fig. 46. 15) signi fica presença de cicatriz fibrótica, ou
desejatambém detectar isqucmias em outras áreas além daquela seja. dano miocárdico irreversível.
cm que se pesquisa viabilidade. Quando o estudo se propõe O protocolo mais utilizado consiste na obtenção de imagem
apenas a verificar \ iabilidade, () protocolo consiste em aqui- ele' perfusão em repouso seguido pela captação de FDG.
siçãode imagens Ih apõ-, injeção de 740MBq de ""'"Tc-sestamibi Lee et (/1.. em esrudo com 137 pacientes portadores de doença
cmjejum e repouso. adquirido de forma sincronizada ao ECG. arterial coronariana e disfunção ventricular. demonstraram taxa
O estudo com duplo isótopo. tálio-20 I de repouso e sesramibi livre de eventos cardíacos não ratais em 17 (±9) meses de 52
sincronizadoao ECG também são utilizados na detecção de via- versus 92* para pacientes com viabilidade miocárdicn de-
bilidadee é um exame que pode ser realizado cm tempo menor, monstrada por PET. tratados com método clfnico e de revas-
Em função das melhores caractcríst icav físicas do tccnéc io- culurização rniocárdica. rcspccrivarncruc'?'. Di Carli et ai.
9910,essas substância- permitem o bcncücio adicional do cs- demonstraram que pequenas áreas de miocárdio viável (supe-
mdo sincronizado que permite a aquisição simultânea da pcrfusão rior II 5%) identificudus pela PET já estratificam pacientes em
c função rniocãrdica. Esse tipo de aquisição melhorou ,igl1i- subgrupo de alto risco de eventos cardíacos em I anoIO~.I06.
nCHtivarnentc:Isensibilidade e a ucurãcia lia detcrminaçâo de Algumas limitações dessa técnica consistem em:
viabiltdadc'". • Cerca de 10% dos pacientes com diabete melito apresen-
tam resultados inconclusivos em função de déficit de cap-
Tomografia por Emissão de Pósítrons tação do radiotraçador.
É considerado exarnc padrão-ouro como método não invasivo • Baixa precisão com imagens obtidas na primeira semana
dedetecção de viabilidade miocárdica pois oferece informações pós-infarto do miocárdio. possivelmente em função de
simultâneas de perfusão e metabolismo miocárdico. resposta inflamarõria existente.
456 • Tratado de Clínica Médica

Estudos demonstraram valor preditix o positivo e valor preditivo


negativo de 48 a 94% c 73 a 96tR. rcspecrívamenrc, para detecção
de miocãrdio viável, além de vcnxibilidadc de 85 a 90% c cSJlI!' ~
cificidadc de 75 li 801h' corno preduor de melhora funcional ~
após rcvasculariznçâo'P':'?':'?" 11\. ;:
Estudos de viabilidade comparativos entre PET c 21)'TISPECT ~
demonstraram concordância de resultados em 80% dos casos. )(
Em relação ao 119l11Tc-sestamibi SPECT. a concordância de
resultados foi de apenas -I2lk em estudo de Arrighi et (/1."4•
Quando comparado ao ecocardiograrna de estresse com
dobutarnina, a PET demonstrou viabilidade em 97% dos seg-
Glicose mentos que apresentaram melhora funcional após infusão de

I~L......
o,
dobutarnina. enquanto apenas 29 a 57% dos segmentos viá-
veis a PET demonstraram melhora com doburaminn ao eco-
HO'I-I~ cardiograma, corno relatado por Sawada I'r (/I."~.
HO 1BF OH

FDG
DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDIOLOGIA SOBRE CARDIOLOGIA NUCLEAR
c A Sociedade Brasileira de Cardiologia
publicou a primeira
dirctriz para o uso de imagens nucleares cardiovasculares Cm
Figura 46.13 - (A - C) Estudo com Sestamibi/tecnécio 2002. Como na maioria das diretrizes. ela seguiu classificação
logo a seguir (Tabelas 46.6 e 46.7).

Figura 46.14 - (A - D) PET mismatch

Figura 46.15 - (A - C) Estudo com FDG

TABELA 46.6 - Bases em evidência

CLASSES DEFtNIÇÕES TABELA 46.7 - Graus de recomendações


Existe um consenso sobre a indicação GRAUS DEFINiÇÕES
lia Existe divergência sobre a lndlcação, mas a maioria
aprova A Grandes ensaios clínicos aleatórios e meta-análises
IIb Existe divergência sobre a lndkaçãc. com divisão de B Estudos clínkos e observacionais bem desenhados
opiniões C Relatos e séries de casos
III Existe um consenso sobre ccntra-indlcação ou não é O Publicações baseadas em consensos e opiniões de
aplicável especialistas
Doenças Cardiovasculares • 457

Anulna Instável e tntarte Agudo do 1'l1iocárdio sem sunranesmvet do Segmento ST


x),
1----------------------------------------------------------------------------------------------------
:r TABELA46.8 - Técnicas radioisotópicas para diagnóstico, estratificação de risco, prognóstico e triagem terapêutica nas slndromes
f.! Isquêmlcas mlocárdicas Instáveis
~~-----------------------------------------------------------
INDICAÇÕES PROCEDIMENTOS NlvEIS DE EVID~NCIAS GRAUSDE RECOMENDAÇÕES
Triagemdo paciente na vigência de dor torácica 'CPM repouso B
aguda e ECGnao diagnóstico
Triagemdo paciente após evento recente de dor 'CPM repouso IIb B
torácica aguda e eCG não diagnóstico 'CPM repouso(estresse lia B
Rotinaem pacientes com IsquemiaJinfarto do 'CPM repouso III O
miocárdio já clinicamente documentado
Localização.avallação da extensão e identificeção •CPM repouso B
do território vascular culpado pelo evento agudo
Estratificaçãode risco nos pacientes com SIMI após 'CPM repcusorestresse lia B
estabilização do quadro clínico e avaliação da
eficácia das medidas terapêuticas empregadas
Avaliaçãodo valor prognóstico após quadro de IAM •CPM repouso/estresse B
Determinação da função do ventrículo esquerdo. Gated-SPECT I B
avaliação conjunta de viabilidade miocárdica Ventriculografia radioisotópica IIb C
'CPM tálio
Identificação do significado hemodinámico de 'CPM repouso/estresse B
estenoses coronárias após coronariografia
• Dá-sepreferência à utilização de gated-SPECT
CPM=cintilografiade perfusão miocárdica; ECG = eletrocardiograma; gated-SPECT= CPMcom os cortes tomográficos e sincronizada com o ECG; IAM= infarto
agudodo miocárdio;SIMI= síndrome isquérnica miocárdica instável

Infarto Agudo do Miocárdio


TABELA46.9 - Técnicas radioisotópicas para diagnóstico de infarto agudo do miocárdio
INDICAÇÕES PROCEDIMENTOS NlvEIS DE EVIDtNCIAS GRAUSDE RECOMENDAÇÕES
Infarto de ventriculo direito Ventriculografia radioisotópica IIb B
"""c-pirofosfato lia B
IAMnãc diagnosticado por exames 'CPM repouso com "''''Tc-sestamibi lia A
convencionais - apresentação precoce
com reperfusão
IAM nãe diagnosticado por exames ""Tc·pirofosfato lia B
convencionais - apresentação tardia
com reperfusão
Diagnósticode rotina 'CPM repouso com ~Tc-sestamibi lia A
• Dá·se prefer~ncia Il utol,zaç40 de galcd·SPECT(CPMcom os cortes tomográfICOSe sincronizada com o eleuccerdlcçrama)
CPM= clntilograflade perfus40 miocárdica; IAM.. Infarto agudo do rmocardio

TABELA46.10 - Técnicas radíolsotópicas para estratificação de risco, prognóstico e avaliação terapêutica após o infarto agudo do
miocárdio
INDIc.Ações PROCEDIMENTOS NlvEIS DE EVID~NCIAS GRAUSDE RECOMENDAÇÕES
Funçãode VEe VD em repouso Gated repouso A
DetecçAoe quantificação de isquemia 'CPM estresse com -rc-sestamibi A
induzida por estresse gated·SPECT lia B
Detecçãode viabilidade miocárdica 'CPM com TI-201 lia B
'CPM repouso com ""'Tc-senamibi IIb B
BMIPP-1123 IIb B
Determinaçãodo tamanho do infarto 'CPM repouso com "'''Tc-sestamibi lia B
Avaliaçãodo miocárdio em risco 'CPM repouso com -Tc·sestamibi lia B
BMIPP-1123 lia B
Avaliaçãodo miocárdio "salvo" """Tc·sestamibi lia B
'CPM repouso com
• Dá-sepreferência à utilização de gated-SPECT
CPM= cintilografiade perfusão miocãrdka: gated·SPECT= CPMcom os cortes tomogrMicos e sincronizada com o eletrocardiograma; VO = ventriculo direito;
VE = ventrículoesquerdo
458 • Tratado de Clinica Médica

Doença Coronariana Crônica

TABELA 46.11 - Técnicas radíoisot6picas para diagnóstico da doença coronariana crónica


INDICAÇÕES PROCEDIMENTOS NlvEIS OE EVID~NCIAS GRAUS OE RECOMENDAÇÕES
Diagnóstico em pacientes sintomáticos e em CPM' (repouso/exerclcio) A
asslntomáticos selecionados
Diagnóstico pela avaliação da função VR (repouso com exercido) IIb A
ventricular (repouso e exercicio)
Detecção de viabilidade miocárdica em CPM' com tálio (exerdcio/red) A
pacientes com disfunção ventricular que serão CPM' com tálio (exercicio/red/reinj) A
submetidos à revascularizaçllo miocárdica FDG A
VR (exercício ou dobutamina) IIb C
Identificação de isquemia em pacientes que CPM' (repouso/exercicio) I B
serão submetidos à angioplastia VR (repouso/exerício) IIb D
Estratificação de risco antes de cirurgias não CPM' (repouso/exercido) B
cardiovasculares, em pacientes com
probabilidade intermediária ou alta para
doença arterial coronariana
Estratificação de risco antes de cirurgias CPM' (repouso/exercício) A
vasculares
Triagem de pacientes assintomáticos com CPM' III A
baixa probabilidade de doença arterial VR III A
coronariana
• Dá-se preferência ii utllização de gared - SPECT(CPM com os cortes tomográficos e sincronizada com o eletrocardiogramal
CPM = cintilografia de perfusAo miocárdica; FOG = fluorodesoxiglicose; NO = resultados não disponíveis em estudos atuais; red = redistribuição: reinj •
reinieção: VR = ventriculografia radioisotópica

TABELA 46.12 - Técnicas radioisotópicas para identificação da gravidade. valor prognóstico e estratificação de risco da doença
coronariana crónica
INDICAÇÕES PROCEDIMENTOS NlvEIS OE EVID~NCIAS GRAUS OE RECOMENDAÇÕES
Avaliaçao da funç~o do ventrlculo esquerdo Ventrículografía radioisotôpica A
Galed-SPECT lia B
ldentlflcação da extensão, localização e CPM' A
grilvidade da isquemia
• Dá-se preferência il utilização de galed-SPECT
CPM = cintilografia de perfusão miocárdica; gilred-SPECT = cinulografia de perfusão mlocárdlcil com os cones tomogrMlcos c sincronizada com O eletrocardloqrama

TABELA 46.13 - Técnicas radiolsot6picas para avaliação da terapêutica na doença coronarlana crónica

INDICAÇÕES PROCEDIMENTOS NlvEIS OE EVID~NCIAS GRAUS OE RECOMENDAçÕeS


Avaliação da terapia medicamentosa:
a) Funçao ventrkutar Ventriculografia radioisotópica lia C
b) Perfusão miocárdica CPM' (repouso/exercicio) I C
Identificação de isquemia em pacientes CPM· (repouso/exercido) B
sintomáticos após revascularizaçào
miocárdica (cirúrgica ou por angioplastla)
Avaliação de pacientes assintomátícos após a CPM' (repouso/exercício) A
revascularização rniocárdica (cirúrgica ou
por angioplastia) com teste de esforço
anormal ou ECG basal alterado
Avaliaçao de rotina em pacientes CPM' (repouso/exercício) III C
asslntomáticos após a revascularização
miocárdica (cirúrgica ou por angioplastia)
• Da-se preferência à realização de gated-SPECT (CPM com os cortes tomográficos e sincronizada com o ECGl
CPM = cintilografia de perfusão miocárdica; ECG = eletrocardiograma
Doenças Cardiovasculares • 459

Cardlomlollatlas

TABELA 46.14 - Técnicas radioisotópicas para diagnóstico, estratiíicação de risco, prognóstico e avaliação terapêutica nas
cardlomlopatias
INDICAÇOES PRoaDIMENTOS NlvEIS OE EVID~NCIAS GRAUSOERECOMENDAÇOES
Determinaçlioda funçlio inicial e seriada Angiocardiografia ou ventriculografia B
do VE e VD nas cardiomiopatias radioisotopica em repouso
dilatada, hipertrófica ou restritiva
Avaliaçlioinicial e seriada da função Angiocardiografia ou ventriculografia A
do VE em pacientes em quimioterapia radioisotópica em repouso
(antraciclinas)
Diferenciaçãoentre cardiomiopatia Angiocardiografia ou ventriculografia Ilb C
isquêmica e dilatada radioisotópica (repousoJestresse)
CPM' (repousoJestresse) lia C
Diagnósticode cardiomiopaua Angiocardiografia ou ventnculoqraüa III C
hipertrófica radioisotópica
CPM III C
Diagnósticode doença arterial CPM III C
coronariana concomitante com
cardiomiopatia hipertrófica
Avaliaçãoda angina na cardiomiopatia CPM· (repousoJestresse) lia B
hipertrófica
• Dá-sepreferênciaà utílizaçao de gated-SPECT(CPMcom os cortes tomográficos e sincronizada com o eletrocardiograma)
CPM "cintilografia de perfusao miocárdka: VO " ventrículo direito; VE = ventriculo esquerdo

Doenças Valvares do Coração

TABELA 46.15 - Técnicas radioisotóplcas para diagnóstico, estratíflcaçâo de risco, prognóstico e seguimento pós-terapêutico nas
valvopatias
INDICAÇOES PROCEDIMENTOS NfvEIS OE EVlDÊNOAS GRAUSOE RECOMENDAÇÕES
Avaliaçlioiniciai e seriada dos volumes do VE. Ventrlculografia radioisotópica em B
VD e fraçllo de eJeç30 repouso
Quanilflcaçaoda regurgitaçlio mitrai e aórtica Ventrlculografia radioisotópica em IIb B
repouso
VentfÍculografia radioisotópica em III C
estresse
D,ag~6sticoe avallação da doença arterial CPM' (repouso/estresse) IIb B
coronarlana concomitante
• Dj-sepreferênciaà utillzaçao de gclted-SPECT(CPMcom os cortes tomográficos e sincronizada com o eletrocardlograma)
CPM • cintllografla de perfus~o m,oc.'lrd,ca;VD = ventrlculo direuo: VE • ventrlculo esquerdo

Cardlopallas Congénitas

TABELA46.16 - Técnicas radioisotópic.as para diagnóstico, estratificação de risco, prognóstico e seguimento pés-terapêutlco nas
cardiopatiascongênitas
lNDICAÇOES PROCEDIMENTOS NfvEIS DE EVID~NCIAS GRAUSOE RECOMENDAÇÕES
Dete«(aOe locallzação de comunicações Angiocardiografia IIb C
Perfusão pulmonar O -+ E IIb C
Quantificaçãoda comunicação E _. O Angiocardiografia radioisotópica IIb C
Avaliaçãoinicial e seriada da função ventricular Ventriculografia radioisotópica B
Diagnclnicodas anomalias de origem coronariana CPM' C
• DA-sepreferênciaà utilizaçlio de gared·SPECT(CPMcom os cortes tomogr.if.cos e sincronizada com o eletrocardiograma)
CPM = cintilografiade perfusão miocârdica; D = direita; E = esquerda
460 • Tratado de Clíntca Médica

Mlocardltes

TABELA46.17 - Técnicas radioisotópicas para diagnóstico, estratificação de risco, prognóstico e avaliação terapêutica nas
miocardites

INDICAÇOES PROCEDIMENTOS NlvElS OE EVID~NCIAS GRAUS OE RECOMENDAÇÕES


Demonstraç.!io do miocárdiO inflamado Citrato de gálio·67 lia B
""Tc-Pirofosfato IIb C
Determinaç30 da íunção inicial e Angiocardiografia ou ventriculografia B
seriada do VE e VD radioisot6pica em repouso
Angiocardiografla ou ventriculografia IIb C
radioisotópica em repouso e exercido

Avaliaçlio terapêutica Citrato de gálio·67 IIb C


Angiocardiografla ou ventriculografia C
radioisot6pica em repouso
VO = ventnculo direito; VE = ventnculo esquerdo

Transplante Cardíaco

TABELA 46.18 - Técnicas radioisotópicas após transplante cardíaco

INDICAÇÕES PROCEDIMENTOS NíVEIS OE EVIDÊNCIAS GRAUS DE RECOMENDAÇÕES


Avaliação da função ventricular Angiocardiografia c
ventriculografia radioisotôpica
Detecção de rejeição aguda Citrato de gálio-67 B
Demonstração de insuficiência coronariana
a) Diagnóstico CPM' (repouso/estresse) lia C
b) Avaliaçào da gravidade CPM' (repouso/estresse) lia C
• üá-se preferência à utilizaçlio de galed·SEPCT(CPMcom cortes tomograficos e sincronizada com o eletrocardiograma)
CPM = cintilografla de perfusao mlocárdica

e.:..
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Doenças Cardiovasculares • 463

da de Larmour de um dado núcleo far:í com que este absorva


CAPiTULO 41 a energia e desvie sua angulação da posição inicial. A energia
absorvida é liberada do núcleo assim que a RF é terminada.
voltando o núcleo à sua angulação de repouso alinhada com
o campo l11 agn~t ico. Essa energia liberada tem umn Ircqüên-

NovosMétodos de Imagem cia específica e pode ser captada por antenas ou bobinas de
IRM e dccodiflcada, gerando a IRM. O núcleo que se utiliza
na IRM convencional é o do hidrogêuio (11'). também referi-

Cardíacos: Ressonância do como próton. uma VCI. que 'cu núcleo s6 contém I próton.
De forma vimpliflcuda. o~ pulsos de radlofrcqüência podem
er orgnni/udov e repetidos de diver as formas e associados a
variações de pequenos campos magnéticos gerados pelos gra-

Magnética e Tomografia dicmc-, (ver a seguir). chamados de seqüências de pulo. Vários


ripo-, de vcqüência de pulso. utilivando variações de RF e
gradientes. permitem fi obtenção de imagens com diferentes
tipos de contraste dos tecidos (sangue branco ou sangue pre-

Computadorizada to. por exemplo). o que gera uma melhor caructcrizuçãn dos
tecidos biológicos. O contraste em ressonância magnética é
dado pclav propriedades de relaxação longitudinal (T I) c trans-
Carlos Eduardo Rochitte vcrsal (T2). e essas são inerentes li cada tecido. As sequências
de pulso podem ser ajustadas para que evidenciem as proprie-
Marcello Zapparoli dades de TI. T2 ou de densidade de prôtonv, A localização
ttidimcnvional do vinal da ressonância magnética é obrida com
Flávio Luiz Rua Ribeiro o uso de trc' outrov pequenos campos magnético . Estes são
chamados grudicntcs c estão arranjados em posiçõe ortogo-
Este capítulo aborda a, nov a~ técnicas de rcvvonância mag-
nais n01- eixo .. X. Y e Z do corpo. A combinação des e gra-
néticac tomograf a computadori/ada recentemente incorporadas
dicntcs permite a localização das coordenada ..de qualquer ponto
11prática cltnicn na avaliação das doença. cardiovavcularcs.
e também a obtenção de cortes oblíquos em qualquer angula-
O objciivo de Me texto é indicar de forma objctiv a a:- indica-
ção. Isso auxilia na obtenção de imagens no eixo verdadeiro
ções das técnicas nas patologias especff'icas. Asshn. as dis-
do coração. que é oblíquo aos eixos ortogonais do corpo hu-
cussões sobre ..\ doenças e suas fisiopatotogias fogem ao
mano. Os cortcv clãvvicos do corução ~:i() o, de eixo curto que
escopo deste capítulo.
visam ~ avnlinção do ventrículo esquerdo (V!:) e do verunculo
direito (VD) e os do eixo longo elo VE (quatro câmaras. o de
BESSONANCIA MAGNlnCA duns cftlllara\ do VE e os de via de surda do VE. que avaliam
A aquisição de imagcn- do coração por ressonância magnéti- VE. VO. câmaras arriais. valvas atrioventriculare e aórtica).
ca apresentou grande desenvolvimento e permite hoje a uva- Outro, cortes específicos ainda podem ser utilizados os de
liação precisa da anatomia. função e caractcrivaçâo tccidual duas câmara .. do VD. "ia de entrada e saída saída do VD. etc.
do miocárdio. O dexenvolv irncnto tccnológic» recente englo- O~ cortes de eixo curto do VE ão obtidos habitualmente com
boudesde iécnicns de srncronivmo com clctrocardiograma (ECG) Bmm de cspe .....ura e 2111mde espaçamento, o que gera uma dis-
e com a rcspirnção, até o surgimento dos gradientes de alta tância entre o centro de cada corte de IOmITI e permite uma
perforlll(llll'l'. que asvociudos a novas técn icas de aqu isição varredura completa do coração com em médiu 8 a 10 cortes.
(seqUência~de pulso). permitiram aquisições de alta qualida- desde o ápice até :1 base do VE.
de e rápida~suficientes para uma imagem apropriada do coração.
Assim, as imagens por ressonância rnngnét ica (I RM) são ca- Principais Técnicas Utilizadas
pazevde contribuir de forma consistente na avaliação diugnéstica em Ressonância Magnética earníaca
e prognóstica de doenças cardiovasculares. além de serem um
poderoso instrumento de pcsquiva clínica e experimental. Anatomia Cardíaca (Seqüências Black Blood):
'este capítulo. serão cnfocados brevemente os aspectos bá,ico~ Visualização das Câmaras Cardíacas
e técnicos da rcsvonâncin magnética cardíaca c. cm seguida.
serão discutida- a~ aplicações clínica, da~ novas tecnologias. Para a avaliação da anatomia cardíaca e de grandes va o . a
seqüêncin mais utilizada é a de spin-eco rápido com duplo
pulso de invcrsão-rccuperaçâo. conhecida como FSE-/)o/lb/e
Prlnclplos Básicos e Técnicas II?, ou somente Doubte-Ik, Esta é baseada em aquisição de/asl
O fenômeno <III ressonância magnética resulta da propriedade spin-echo (FSE) associada a duplo pulso prcpnrutério de inversão.
de certos átomos (núcleos) que, quando submetidos a um campo sendo o primeiro dirccionudo a todo () tecido (lião seletivo) e o
magnético externo. comportam-se como pequenos ímãs ali- segundo dircciunudo somente ~IO corte selecionado (seletivo).
nhando-se ao campo magnético. Esses núcleos giram sobre o Ela tem como característica alta resolução espacial e sangue
prõprioeixo de forma angulada. o que é chamado de precessão. escuro. e por isto é também conhecida por biack blood, permi-
A freqüência desse movimento rotatório ou número de rota- tindo dcflulção precisa dos bordos endocárdicos (entre sangue
ções por segundo (Ircqüência de Larmour) é específicu de cada c miocárdio). Trata-se de uma sequência de aquisição segmentada
núcleo e para cada intcuxidadc de campo magnético. A Ire- que é realizada cm apnéia expiratõria final e sincronizada com
qüência de rotação do n(lcleo do hidrogênio. por cxemplo. o o ECG de forma que os dados são adquirido., lia fase mesotele-
mni~usado na pr'jtica cl(nica, é de 63.86MHz em c:ttnpo magnético diastólica do ciclo cardíaco. momento de mellor movimento
de 1,5 tcsla. isto é. 63.86 milhõel> de rotaçõe!> por ~egundO, do coração durante o ciclo cardíaco. I~~o diminui os efeitos
portonto na faixa de radiofreqUência. A aplicaçi10 de pulsos dos movimentos respiratórios e próprios do coração. Ácrescen-
de energia (pulsos de radiofreqUência. RF) na exata freqUên- tando a e~ta um terceiro pulso de ~(lIuraçãl) pode-se eliminar
464 • Tratado de Clínica Médica

todo o sinal de tecido adiposo (saturação de gordura) da imagem, zação do inlurto pode então ser realizada com excelente reso-
o que pode auxiliar no diagnóstico de algumas patologias. E~tH lução espacial e reprodutibilidade. As imagens são obtidas na
última sequência é conhecida corno Trlple IIt fase rnesotelediastólica do ciclo cardíaco sincronizadas ao ECG
e durante pausa expiraréria.
Cine-ressonância Magnética Essa sequência de pulso causou grande impacto na anãlisc
da viabilidade miocárdica c detecção do infarto rniocãrdico
(Seqüências Dinâmicas Bríght Blood): na prática clínica. Vários trabalhos na literatura tem sugerido
Avaliação da Função Cardíaca esta técnica como o padrão-ouro para a avaliação da viabili-
dade m iocárdica 12.22.
Para avaliação da função cardíaca a sequência mais utilizada
Atualmcruc, esta técnica tem sido uti lizada tanto para detecção
é a de gradiente-eco rápido com aquisição em estado de equilí-
dc necrose miocárdica (infarto agudo) como fibrose rniocárdica
brio, que recebe diferentes nomes de acordo Com o fabrícanre
(in farto crôn ico e outras causas geradoras de fibrose miocár-
do equipamento (Fresta: GE. True-FISP: Siemens, Balanced-
dica. corno curdiomioparias. rniocardites, valvopatias, etc.)".
FFE: Philips), Esta técnica permite obter imagens de várias
(usualmente 20-40) fases do ciclo cardíaco em um único corte
a cada apnéia cxpiratória sempre sincronizada ao ECG. As Aplícações Clínicas da
imagens de Iodas as fases vistas em scqüência permitem a visua- Ressonância Magnética Cardíaca
lização e li avaliação do comportamento do coração durante
A ressonância magnética cardíaca pode 1'01"111,:(;\)1' informações
todo seu ciclo, COmO Ulll filme dinâmico':'. As características
clinicamente úteis em praricumcntc todas as subárcas da cardio-
mais marcantes dessa técnica são sua ótima resolução temporal
togia". As aplicações clínicas abrangem as cardiopatias con-
e delineamento do endocárdio e cpicárdio. Sua imagem também
gênitas, pericardiopatias. tumores. valvopatius, cardicmiopatias
tem como característica o sangue branco. por isso é conhecida
e principalmente a doença arterial coronariana. As técnicas
como bright blood. Ainda na avaliação da função cardíaca pode-
disponíveis vão desde aquelas já estabelecidas, e com indica-
se utilizar a técnica de tagging iniocârdico que consiste em uma
ção definida, na clínica (função ventricular e viabilidade miocárdio
sequência éefast gradient-echo COmlinhas de saturação. marcando
ca), até aquelas de cunho experimental (visualização das artérias
o miocárdio e que se deformam durante a contração cardíaca, per-
coronárias), passando por técnicas consideradas hoje como
miti ndo ii quarni flcação objet iV:I da coniração miocãrdica':".
sólidas alternativas aos métodos estabelecidos (pcrfusão mio-
A~ técnicas de avaliação da função ventricular podem também
cárdica de estrcsse).
ser urilizudas durante a infusão ele dobutamina, nos moldes da
ecocardiografla de estresse com dobutamina, permitindo a
detecção de alteração de contração regional, indicativa de isquemia Avaliação de Cardiopatias Congênitas,
miocárdica e doença arterial coronariana obstrutiva!". Tumores, Pericárdio e Vasos
Este tipo de aplicação está relacionada à análise das alterações
Perfusão Miocárdica por por Ressonância estruturais do coração e dos vasos da base e utiliza técnicas de
Magnética: Detecção de Isquemia Miocárdica gradiente-eco rápido cm estado de equilíbrio (Fiesta-Gê) e
Double IR.
A visualização da perfusão miocãrdica pela ressonância mag-
Entre as indicações clínicas estão as cardiopatias congêni-
nética é avaliada pela primeira passagem do contraste (gadolínio)
tas simples e complexas. as patologias do pericárdio e os tu-
pelas cavidades ventriculares e em seguida pelo miocárdio. A
mores intra e paracardíacos. Todos estes podem ser bem avaliados
técnica utilizada crnbasa-se em uma seqüência híbrida de
com liso de cortes anatôrnicos associados II seqüências dinâ-
gradiente-eco rápido com leitura eco planar ultra-rápida pre-
micas de cinc-rcssonância magnético. Em especial os turno-
cedida por um pulso de saturação do sinal tecidual. Com isso,
res (Fig. 47.1) podem er analisados com seqüências específicas
podem ser obtidas imagens em múltiplos cortes a cada I ou
para caracterização tecidual permitindo, por exemplo, a detecção
2 batimentos cardíacos e repetida em várias fases, durante apro-
de gordura (Triple IR e Fat-sat) ou líquidos (aquisição ponde-
ximadamente Imino seguindo-se assim a passagem do contra. te.
rada CIl1 T2). A avaliação da pcrfusão miocárdica e a detecção
A perfusão miocárdica pode ser realizada em repouso e sob
de fi brosc ou necrose associadas podem aux iIiar na caracte-
csrressc furmacológico com dipiridarnol ou adenosina. o que
rizução tccidual. Por exemplo. os trombos intracavirãrios não
acentua as diferenças de pcrfusão e é considerado um método
apresentam perfusão. diferenciando-os da maioria dos tumo-
adequado pura detecção de isquemia rniocârdicav"!".
res e os fibromas são facilmente identi ficados pela técnica de
detecção de fibrose (realce tardio miocãrdico)":".
Realce Tardio Miocárdico As anomalias dos grandes vasos, congênitas ou não. podem
(Myocardial Delayed Enhancement): ser avaliadas com uso de cortes anaiômicos associados li angio-
grafia contrastada com gadolínio que permite reconstrução,
Avaliação da Viabilidade Miocárdica reformatação e análise tridimensional dos vasos".
A sequência de realce tardio foi desenvolvida para a detecção
e visualização do infarto miocárdico!'. Esta técnica é baseada
em uma sequência de gradiente-eco associada a um pré-pulso
Valvopatias
de inversão-recuperação. Entre 25min após a injcção intrave- A IRM permite lima boa visualização das valvas atrioventriculares
nosa de gadolínio, ocorre uma concentração nas áreas de infarto e sernilunares. A cine-ressonãncia magnética (cine-Rlvl) em estado
ou fibrose quando comparado ao miocárdio normal. O tempo de equilíbrio (Fiesta) permite avaliação da mobilidade. de al-
de inversão (TI). isto é, o tempo entre o pré-pulso de inver- terações morfológicas grosseiras (espessamento e ou calcificações)
são-recuperação c a aquisição de dados. é ajustado para obter e da presença (te jaros turbulentos, indicando estenose ou
sinal próximo ao nulo do miocárdio normal (miocãrdio nor- regurgitação valvar, Podem-se também avaliar os efeitos da maioria
mal escuro). Com isso, áreas infartadas com maior concen- das valvoparias nos câmaras cardíacas COm avnliação da massa,
tração de gadolín io aparecem intensamente brancas, facil mente volumes. geometria c função ventriculares. podendo oferecer
diferenciadas do miocárdio normal ao seu redor. A visual i- dados importantes sobre o rcrnodelamcnto ventricular,
Doenças Cardiovasculares • 465

Asvim como a técnica de Ooppler na ccocardíografia. a


ressonância magnética é capaz de fazer medidas de velocidade
de fluxo. Com a técnica de contraste de fase ou mapa de fluxo
que permite o cálculo da velocidade máxima I: do gradiente
estimado pela equação de Bernoulli modificada. A nvsociução
da técnica de centraste de fase ou mapa de I'IIIXO j) excelente
anatornia obtida pela revsonância magnética pCI mire II mcdidn
precisa dm, volume- circulantes entre a cavidade vcntriculnr e os
VIrsosdurante ()ciclo cardíaco. 1"0 capacita o cálculo dos volumes
regurgitlllltC\.de forma prauca e reprodutível. vendo considerada
esta C0ll10 indicnçao c!a "C I pclav dirctnzcs da liuropcan Society
of Cardiology' . A re\\nnancla magnéuca cardfacn uprevcntu
limitações na a\ ahuç,ro do ap ..relho ,ub\ .." ..r mitral c rricüspide
a,,'1ll C(lInode n"I\"I' pcqucnav como vcgctuçõc-, de endocardite
infecciosa ou de qualquer estrutura que tenha movimento ran-
dômico (flUO repetitivo com o ciclo curdíaco) e com isso esteja
em diferentes posiçõe ...em ciclos cardfacov vuccsxivos. Figura 47.1 - Exemplo de detecção de massa intracardiaca pela
ressonância magnética utilizando a técnica de cine-RM (Fiesta-
Avaliação das Cardiomiopatias GE). Massa em átrio direito comprimindo o septo ínteratríal.
AD = átrio direito; AE = átrio esquerdo; VO = ventrfculo direito,
As cardiornicpatiav mais comumernc avaliada, pela I RM po- VE = ventriculo esquerdo
dem ser basicamente divididas cm hipertrófica. dilatada. restrit iva
e displasia arritmogênicu do VO. A., cardiomiopariuv podem
ser avaliadas pela rewonância magnéuca cardíaca com a vi- rica particulares a cada uma. Na amiloidose, o padrão sugestivo
\uali7ação de \lia' caractcrfsticav pcculiarcv no que vc refere seria de cspcxsarnento miocárdico dos ventrículos e do septo
à função e geometria da .. cavidadcv cardiaca-, e curacreriza- intcrntrial. associado à disfunção ventricular c, mais recentemente.
ção tecidual miocardicu . um padrão de realce tardio difuso e heterogêneo. Padrões mais
Cardiomiopatia Hipertrófica. A rcv-onância rnagné- focais de realce tardio miocárdico podem ser encontrados na
ncn pode ser usudu para avaliar a presença. loculivaçâo e ex- sarcoidosc. Nesta. a região que se apresenta hipcrinrcnsn pode
tensão d;1\hipcru ulia, ventriculares cxqucrda-, UCforma precisa. também ~I.! apresentar afilada e com alterações Iocnis de contra-
1\\0 é posvívcl utilizundo ti cinc-Rxl em estado de equilíbrio ti Iidade. podendo até formar nneurisnue, local i/at!oN. A hcrnocro-
(hc,ta). Ela também tem sido de grande valia na identifica- matoso pelo dcpóvito de ferro no nuocárdro pode uprcxcntar
ção de [orma-, não usuaiv da cardlornioparin hipcrtréfica espessamento du~ paredes dos vcntrfculos a,s(lciuda ou lião ~l
awimétrica" l\lai ... recentemente. urilizando-vc a técnica de di laração do, mesmos c ~ diminuição da intensidade do sinal cm
realce tardio com gadohnio podem-se idcnuficar p..drõc-, de sl.!qiiGnci:a, ponderada, cm contrastes TI c 1'2.
fibrose na parede \ emricular esquerda que cvtariarn rclacio- Em muitov ca\o\. a dú' Ida clfmca csra na diferenciação entre
nado\ a pior prognúvrico. no que 'I.! relere a urrunu.r-, c moue cardiomiopariu re'trili\a (muitas vezes idiopática) e constrição
súbita ncwe-, pacicrucs (llg. -17.2). pcricárdica. No cavo de pcricarditc constrniva, o lI"'O da técnica
Cardiomiopatia Dilatada. A cine Rl\1 cm r:llãu de \lia, de cinc-rcssonância com marcadores miocãrdicos «(aggi/lg)
caractertsucas linica, de alta rcprodui ibilidade e acunicin na pode dcmunstrur locais de aderência (menor deslizamento das
atenção da., lunçôcv ventriculares cxqucrd .. e direua. medida linhas de (l/f{gil/g) c áreas de pericárdio fixo e imóvel (<IS linhas
!ln massa do VI:. e do ... volumes cavhãrios. é um método de de (aggil/g não se deformam). Ainda com técnica de cinc-rcsso-
grande valia desde a uvaliaçãc inicial ii l1lonilOraç1io ua tcra- nância cm tempo real no eixo curto do coração. durante manobra
piade pacicntc ...CIlI1l carulllmiupatia dilatada. Na avaliaç1io inicial. de Valsalva. pode-se observar o movimento paradoxal do septo
ela é c\pccialmentc utll quando há dúvida na etiologia da dis- indicativo de constrição. que pode ou não ter sido evidente nas
funçih miodrdlca e a p<)"ibilidade de cardiomiopatia isquêmica técnicas de cine-ressonância sincroni.t::tdas ao ECO durante
não foi cxcluída ". Utili.l.ando-se técnicas de perfu~ão miocár- pausa respiratória. O movimento paradoxal do ..epto interven-
dica e de delecção de libro\e (realce tardio). é possível deter- tricular é o abaulamento súbito do .,epto intcrvenlricular na
minar a prc\cnça de áreas sugestivas de fibrose ou de déficits protodiá~tole.
perfusionab Indicando a eliologia isquêmica. Por outro lado.
é possível com a mc~ma técnica determinar padrõe\ ~uge~tivos
de etiologia não i..quêmica para a libro,e. Patologia\ como a
doença de Chaga, e a miopericardite aguda virai (cm especial
nos casos em que há elevação de marc:adol'e~ de I1ccrc)l>emio-
cárdica) fonam dl!\Crita\ como tenuo um plldr~() dc l'ibr()~1:
miocárdicnheterogénea. dilu\a. preferencialmentc Illesoc(írdica
c que nilo respeita n...terntório" coronarianos. o que n[lo el':J
detectado por Illltfll\ IIll!todo .. ue imagem.
Cardiomiopatia Restritiva. t\, altcr:açõe\ anatômicas
e funCionai...do cnraçólo cólu,adac; pela .. cardlonllopatia~ re\lrili-
\a, (Fig. 47.3) plldem \er :l\aliada. ...p<)rtécnica, dc cine-RM. O
..chudode aUlllento du, ,urill'" e \eia ca, a IIlferior. acompanhado
Figura 47.2 - Cardiomiopatia hipertrófica pela ressonância mag-
de ventrklll()~ ue uimcn,úe\ c função \i,tólica norll1ai~ com nética cardíaca. À esquerda (A), imagem de cine-RM evidenciando
pericárdio de espCl>,urJ normal. é ba.\tante sugcstivo de altera- importante hipertrofia do septo interventricular. À direita (8),
çãodorelaxamcntovcntricular. Doenças como :tmiloidose. stu'Coidose imagem de realce tardio em eixo curto. As áreas brancas na
e hemocrolll:tlOse,quando ocorre envolvimento miocárdieo po- parede do VE representam áreas de fibrose. VO :::ventrlculo direito;
dem aprcscntar nlterações nas imagen'l de ressonância magné- VE = ventrlculo esquerdo
466 • Tratado de Clínica Médica

Displasia ou Cardiomiopatia Arritmogénica área versu« comprimcmo aduptado do ccocardiograrna ou de ,


Ventricular Direita. A drxplnvin vcutnculnr direita (DA I) urna mancirn mais precava pela regra de Simpson em que ,50 '
ou CAVI» con\i,tc na mfiltraçao fibmgorduresa do miocárdio plunimctrudov o, volumes de todo ...0\ curte' do eixo curto do
vcntriculm direito tl"tlciada .10\ uchudos clínico:> de arritmia \ crurículo do ápice iI base em ,r~lIlle e cm di(t,lOle. Somados
veniricuhu complcv« C:1I11l ongcn: no VD. Inicialmente acredr- c!',e~ \ olumcs dcrcrminnrn-ve "' vnlumes ,i,tól ico e diasrõlico
I:lVII-Neque () principal papel da ressonância magnética. ncv..a do ventrículo. Punindo do mesmo prluclpio, mas com a obtenção
palOl\lgiu. seri«. por suas caracterí,tica~ de poder realizar a caruc- doI, comemos cndocãrdicos e cpicrlrdicos e da ãrcn entre eles,
tcri/,aç:!\l iccidual da gordura. a de identificar ,I' áro.:as infil- -omudn corte li curte. e muhiplicando CSI'-C valor pela densidade
tradas COIl1 técnica, de ,uprc"ão de ....e tecido (Triple IR ou miocúrdicu, obtém-se" mavva vcntriculnr cm grumus tumbém
Fat-Sat). Obscrx ou-se. porém. que na maioria dos, C'hO:. de DAVD com grande reprodutibilidade c bnixu variabilidade.
a in fiItruçâo gorduro-u microscópica c a rcvvonância rnagné-
é A unãti ...e da função segmentar pode visualizar a diminuição
uca "1)Cna' vi~uali/a e....a infiltraçâo em :írea, onde ela é ma" do e pcssumcnto ~iMÓlico da parede do VE durante estresse
procnuncurc. 1'/0 entanto. mcvmo mfiltraçõc» pequena- geram com dobutamina. A \ iabilidade miocãrdica pode ser avaliada
ahcraçõe« de contrmilidadcv rcgwnal c focal. o que pode er durante cstirnulaçâo com baixas doses de dobutarnina cm que
dctccradu prccivamente pela cine-Rõ 1 A"IIll. hoje valorizam- e llO\ -egrnemos disfuncionantes a melhora da contmtilidade significa
mail, 110 dlaglHj'l icn da 1)/\VI) aI, altcraçõc .. da coruração mio- presença de viabilidade-"'-\1. A \ antagcm da ressonância magnética
cãrdica regional ou segmentar. como hipocincsius, ucincsias ou <obre 0<; outros métodov nesse tópico e.,t~ na SLW ótima resolu-
iué 111C" III) uncurisma» na parede li\ re do VD associadas ou ção e"pacial que permite um perfeito delineamento do endocárdio
não a alterações da geometria do mesmo. que as áreas de modi- c do seu cvpcvsumcnto cm todos 0:-' segmentos. Ainda de ma-
ficuçâo tccidual do miocárdio!". O principal diagnóstico dife- ncirn -cmíqunmluuivu. li função segmentar podo ser mensura-
renciai desva patologia é com ti taquicardia de via de saída do da pelo /(/ggillg miocãrdico de forma vlsual serniquantitativa.
VD. o que torna obrigatória a realização do cone de via de, aída ou de forma quant iiativu. pela, medidas das tensões rniocãrdicas
do VI) para visualiznção da vin de ...aida do VD e o de quatro (I/mi/H) com software específico.
câmara ... cm múlriplos plano-, paralclov para cobertura com- A pcrfusão miocãrdica de primeira passagem é visualiza-
plet •• do D c diferenciação entre ••, dila ...parologia«. da pela rcvsonânciu magnética a panir de múltiplos cortes rea-
lil;rdo\ em sequência, dando uma vi ão da passagem do comraue
Avaliação da Doença Arterial Coronariana (gadnlínio) primeiro pelas cavidade, ventriculares e, em se-
guida. pelo miocárdio. Os segmentos que se apresentam
A dllença urtcnal coronariunu talvez cja hoje a doença mais hipoimensos cm relação aos perfundidos durante estresse siio
csrududn e também a mais beneficiada pcla rcvsonância magnética convidcrndov ivquêmicos lsso pode ...er mensurado de forl11t1
cardíaca. ~ p()!>~í"el fazer uma avali"ção funcional completa 'emiqllantitativa obtend()-~c curva ...de intensidade versus l.empo,
do pacienll! portador de duença artcrial eornnariana. incluí- E,sa técnica pode ~er realizada em repml\o ou ~ob estn:s:-.c
da' a ,,\aliação preci,a da .. fUllçôe, global e ..egmentar hiven- farmat:oh'lgico com dipiridul110l ou adcno ...ina. o que acenlua
tricular' 11'. a pre\ença de rcgiõe\ de :lliIamento parietal. a :" dllcrcnça\ de perfu,ão pelo fenômeno de roubo de Ouxo
visuali/aç:ro da pcrfu,ão de primcir:r p:",agcm cm c"re"e c no, C:l'O' cm que haja e<;(eno,e comn:1ria ,ignificmiva. Em com·
repuu,u "c principalmcnte. a avali:u;ãll da \ lilbllrdade IIlIO- paração com :l medicina nuclear e com a ecocardiografia de
cÍlrdica com a técnica de realcc tanlin' , Ainda n() cam- I!·..tre."c. ,I llé:rfu,ão obtida l>ela ressonância magnética ohtém
I)(IC\I"lCnrnental.c p<1"Í\cI.1 \ "uahltu;aud." .Jrtcn;t'L'Oronári~" ". rc,ultado' <.emelhante,>. sendo con~iderada uma boa nltern:ui\'3
() dla):!ntl'tlclI de e,teno,e, cl)fulI.íri:". 110 entanto. nece\\ita u<" exame\ clássicos tradicion3is. V:irio:-.1mbtllho\ dCIl10n~lrar.lln
dc 110\ o' dc,en\llh illlclltu' tecllulógic()\ aguardado, parol Ulll acunícia diagoó,tica !>emdhante aos ()lIlm~ método ...não inva~i\(1\
flllllW 1'111\111111 (ccllcardingrafia e medicina Illlclcur) quando cOll1parlldos com
NII IIlHili,e da função \'entricular. II re\\onância magnélica a cinenngiocoron3riogralill invlI~iva como padrão9•
tcnll1 vllnlllgcm dc produzir imagcn, CUI1l altu' re ...oluçõc~ e!>pacial A visuulinlção precisa do viabilidadl! l11iocárdica pela rC~~!J'
e temporal. I!I1lcort..:~ tonHlgrálicu, c cm cine. que po~)ibilitam I1fincia Illu):!nética tem de.,lIIque CIl1rill.lill dc Mra, earucterr~li·
a mcn~uração d:1fraçãll de cjl!çiio cumgr:rnde ncurácia e repro- ca' dc alta re,olução c'pacial :,,~ocindn ii pos,ibilidade de grande
dutihllidade (l-ig. "'7"',
I"u pude \er Ohlido pelo mét()do da contr:"te entre 0<; tecidos (Fig, 47.5). Partindo-se do principio
de que h:1 a perda da arquitclura celular miocárdic3. com ruplura
d:ll1Icmhrana cdular do mi6cilo. ap<)\ a le..50 irrevcrsí"el cau'atlJ
flClo Illfartel. o gadolíni() que cm condições normais permanece
,omellte no espaço e'ttracelular. pa\\a a ter livre pa ~agcm ao
c\paç() que era ocupado pelas célula, (e:.paço intracelular),
b,u CUlhtllllll aumemo do \olume de di,,, ibuiçiío para o gadolínro
de I ()(k (\ olullle extracelulnr do mi()c~rdio norl11al) para IOOq
(volume extracelular da área infartada). Com isso. o cOlltra\te
permanecc por mui:, tcmpo nl!s\e~ locni., em rclação lb ~rca,
de mioclÍrdio norl11al em que () contrrlí\te ~ Invudo rupidamentc
por falta de e~paço para se di ...ribuir, Ul>ando u t~cnica de realce
tardio Illiocárdico (RTM) ou 1/I\'oC(lrt/illl tle/ayl!t/ el/ltol/celllt'nt
(MDE) cm {Iue o Illlocárdio normal é saturado (scu sinal é
anulado ne~':J seqUência de rc~~onância. apareccndo em preto
na imagem). há condiçõe~ de \ i~uali/ar a~ regiõcs de hiperintcn·
...dade causada pelo acúmulo de contraste com bastante ni·
Figura 47.3 - Cardiomiopatia restritiva pela ressonância mag- tide7 após aproximadamente 20min de wa injcção intnweno\al .
nética cardlaca, Aumento das câmaras atriais com ventrículos de E~,a tt!cnicn foi validada por vállo, e..tudos experimentai~ c
tamanho normal. Observar derrame pleural bilateral. AD = átrio clfnico ... mostrando-se h:J\lunte \cn,{vel e específica pora
direito; AE = átrio esquerdo; DP = derrame pleural; VD = ven- determinaçiio de tamanho c locali/ação do inf:Jrlo. sendo
trlculo direito; VE = ventrículo esquerdo compará\ el ou at6 superior aos dado~ fornccidos pela torno·
Doenças Cardiovasculares • 467

grafia por e 1111 ".1(1 de povurun-, (PI~ I. //(1\1110/1 "/11/1 \10/1


IOlIIogm//lrr)" I I m \ 1,1,11.1,1ÓIlIll.1 rcxoluçüo cvpacial da rev-
sonância lllag'lI:ll~a c PI",j\l:l lambém delCIIIIIII:I1 a evtenvâu
transmural do Inf.trltl, (11m rvvo. pode-se prever o potencial
derecuperação coOlr.11I1de uma determinada região infunada".
Com c~';lléellica foi demonstrado que segrncuros rniocãrdicos.
com mui- de ;'i()'1t de sua área sem viabilidade, têm baixa pro-
babilidadc de recuperação contrátil tanto após a rcvasculari-
zaçâo (miocárdio hibernado) como após o intuno agudo do
miocárdio (miocárdio atordoado).

Tomografia Compuladorizada
A tomografia comput.rdonvada. a""11 corno a rcv-onância mag-
néti :I. tem c\uluiôn no que 1.111 rcxpcito ii imagcnv nao 11)\ ;),,, a,
docorJ,J(), p,lr I.lln~m enfrentar a.. dificuldadc-, da aqu"ição de
Imagcn, cm mm I 111en 111. alguma, modificações c cvoluçõc-
da técmca convcncronal vurgiram com o nbjctivo de obter aqui.
siçoc~ ma" mplda" O UM) de equipamento' de :Iquisiçilo espiral
possibilitou a obtenção de imagens de todo o t61':1\ em uma pausa
respiratória. ou seja, cada corte pasxou a ,cr obtido cm aproxi-
madamente I -egund», 1"1) possibilitou a obtenção de imagens
anatômicav do coração. ma, não li avahuçâo mai ... detalhada
de suas caractenvticav funcionais. o que necesviraria ~Iobten-
ção de imagcnv cm Ir.u;ão de segundo. QUJ,e '1I1luh;lIl1.:amCI1IC.
loi de,cll\uh IÔJ J tomografia por feixe de cletron-, (I-IlCT) na
'IU,IIo, conev nãn 111.11' eram obtido, pcln rnov rrncntaçao medi-
nicado 1I/1l11n' que vuporta I) ilibo de raio X ali redor di' paciente.
mas sim pela 111m II11.:nI,II; .11)do feixe clIlôdieo divp.u.ulo por um
"anMo de clélmn, l ma unagcm complctu do CIlr:U;:'I()pude então
seradquirida em muito mcuov de I segundo (50 a 250 milissc-
gundos). b\ll pU"lhilllllU ,ua aplicaçflo lia dcrcnninação de ev-
core de cálcill coronanano. avaliação da tunção. da perfu ..ão c
naceronariogmüa nào mvaviva dc maneira inicial. Porém a f:BCT
apre-cmaqualidade de Imagem para uplicnçílc e:lrllí ..ca míerior
Jquo.:ludo, moderno, romõgrafo-, de múltiplos dctectorc-, A,- Figura 47.4 - Imagens de cine-RM do coração em eixo curto.
srm. o desenvolv rrncnto dov romõgrafov de nuiluplo-, dctccrorcv Cortes de ápice à base em diástole (A) e em sístole (8). Dessa
forma, é possível a medida precisa dos volumes diastólico e sistólico
ITCD~I) po "bllitou a obtenção de -tOcorte ...(rH)\ cquipamcntov = =
ventriculares, VD ventrículo direito; VE ventrlculo esquerdo
de 16detectores) ou mai, a cada revolução do ,1:111111.1 com qua-
lidade imagem muuo xupenor 11que Cr.Iobtida pelo EBCTc pelos
tom6gnlfo, e'plr..l" vimplcv, A resolução temporal variando de ano) c nem Ião comum naquele, de alto risco (2lf por ano)".
200millwegundo', trcconvtrução parcial) a 80 milissegundos (a A calcificução de artéria, coronária-, (CA(') é um nOHI marcador
reconstrução ,egmcnlaua passou a ser adequada para imagem de risco puru cvcruo- e pode -cr quantificndn de forma rápida
cardra,a embor.. :lInd,1 inferior à da EBCT. Es,a~ carucrcrfvtica-, e não invavivu pela TCt-IDIFig. -t7.6)'··, O escore de i\ga"lon
dil reMO permitiram uma cobertura total do coração com cor- é II índice \IUI!rcprcvcnra a magnuudc ti..presença C a extensão
le, tinJ\ cm 20 segundosou menos com sincronivmn com I:.CG d.1 doença utcrovclcrõtica cororulna 111.11' lItill/adn na prática
cÓllmnqu31idade de imagem. Com i"o. a TCt-m de 161111111:11'
detecrores tornou-se htlJc.1 primeira linha de cquip.nncnn» p,lra
aqui,ição de Imagem c.. nJIIl\ ;hcular. em e'pecloll. para a \ I,ua-
11l,lçaode arteria\ l'urllnánJ\ (angillcllf UllanlllUlllugr ..lia ou
Jn~loj!ratia curlll1.in.1 Pllr tumuglalia dc l111íhiplu, deteclore,
ou an~!I()lon1l)gr:llialle .Incna' coromíria,).
A \cguir. ~crJn e\plorau;l' ;t~ aplicac;õc~ alUai, dCl\<;cmétodo
em ('nrdiologia.

Determinação do Escore de Cálcio


\u\'alíação de um pacicntc cm prc\ençiio primária de doença
3I1trialcoronari:.na. a c;.tf:uilie;lçào de ri"o. c:lkulada IXlrdh eNh
NOre) e emh;hada 110' 1.lImc' de: n,co p ....a doença cUf(ln;íria Figura 47.S - Avaliação da viabilidade miocardica pela técni-
d.1"ldh. i n 'I"C UII.III' IIhJCII\II' de tratamenlo c :1, Illodili- ca do realce tardio miocárdico. As áreas brancas na parede ven-
caÇ~" uo, hahllo, th,' \ Itla. ,,,,,m como a nccc,~idade de a\ a- tricular sao áreas de realce tardio ou não viáveis. Notar a
Ilaç:lo in\;s\l\J IIU n.ill In\."I\':I". Contuuo. pCll1HIIlCCCCllmll capacidade de avaliação da transmuralldade Em (A), área de
um granuc uC'Jliu pledllcr qual paclcnte \ ai dc,el1\ oher lima realce tardio subendocárdico em paredes aplcal e septal do VE.
,Indfllme comnanana aguda. A análi,c dos trndicinnais ratorcs Em (8). área de realce tardio transmural em parede anterior e
de fI\COajuda a \cparur O~ pacicntc~ cm g.rupo,. IllIIS ti laxa de ápice do VE. Notar trombo aderido ao ápice ventricular à direita.
cvenlO~não é rarJ naquele!> ditos dI! bai'H) rÍ\clI (0.5 a l"!t por VE = ventrículo esquerdo
468 • Tratado de Clínica Médica

clínica'". A partir desse escore. vários estudos epidemiológicos Como limitações do método deve-se levar em consideração
foram desenvolvidos para avaliar esse novo índice de risco. a necessidade de uso de contraste iodado c o de radiação
AtI! recentemente. muito se questionava se o escore de cãlcio roniznntc. Características individuais do paciente. como difi-
rcprcvcnturia adição de informação cm relação :lOS fatores de culdade de realizar uma apnéia de aproxlmudamcntc 20 se-
rivco tradicionais. Estudos publicados recentemente mostram gundos e/ou presença de arritmias frcqüentes geram artel'alOs
que a avaliação do escore de cálcio pode acrescentar dados na de imagem que diminuem b..-tantc a acurâcia do método. O
estrutificação de rivco e alterar condutas clínicas principal- elevado grau de calcificuçâo das artérias coronárias também
mente em pacientes ditos como de risco intermediário pelos é um importante furor limitante para a correta interpretação
critérios de Framingham" ", Nesses pacientes. demonstrou-se da estenose coronúriu, contudo. em pacientes com calcifica-
que a presença de escore de cálcio elevado os caracterizava ção significativa (escore de cálcio de Agarston menor que 1.0(0),
corno alto risco necessitando uma avaliação mais agressiva e foram encontrados valores de sensibilidade e especificidade
a adoçâo de medidas preventivas mais contundentes. bastante aceitávei S46-49.
Com base nos dados desses importantes estudos. e em Na avaliação de enxertos vasculares corouarianos, os estudos
informação prévia jlí publicada na dirciriz do American Heart relataram valor predit ivo positivo de 81 t;f c valor preditivo
Asvociation. aceitam-se as seguintes afirmações em relação negar ivo de IJ9(H>'4'.11. Como o). vasos uti lizados para enxerto
ao uso clínico do escore de cálci{)~'" ": normalmente possuem diâmetro maior que o da coronária c
estilo sujeitos a menor movimentação. a aplicação da TeMD
• Escore de cálcio negativo leva a uma baixo probabilidade nesse contexto parece bastante promissora.
de doença arterial coronuriana e de eventos. Na avaliação da permeabilidade de stents intrncoronnrianos
Ausência de CAC é preditivo de baixo risco em um período algumas limitações ainda exivtern em funçüo de arrcfatos de
de 2 a 5 anos, hiperatenuação gerados pelo material do .111.'111. Sabe-se que.
• Escore de cálcio positivo confirma a presença de doença stents com diâmetro ~ 3mm representam grande dificuldade
arterial coronariana. na análise intralurninal. No entanto. a perviedade do stent pode
Valor de escore de cálcio alto significa risco moderado ser definida com relativa segurança, ao passo que estenoses
a alto de eventos em 2 ;1 5 anos. intra-çlelll" constituem ainda um desafio.
A medida da CAC é um prcditor independente de eventos Faz- ..e necessário considerar que a TCM D precisa avançar
e acrescenta valor prognóstico em relação aos furores no sentido de superar algumas limitações. princi pa I111I.:11te 0\
de risco tradicionais de l-raminghum. artclutos de movimentos residuais. Para tanto, o surgimento
• A quantiflcuçfl» da CAC pode alterar ti conduta cllnicu, de novos sistemas de 64 colunas de detectores. em fase inicial de
principalmente cm pacientes de risco intermediário. uso clínico. o uso de beta-bloqueadores prev lamente ao exame
c ~(/lIIry com rotação mui). nlpidu (de 330 a 400 milissegundos)
são promissores para a melhora da acurácia diagnósrica.
Angiotomografla de Artérias Coronárias A TCMD (Fig. 47.7) não deve ser vista. hoje. como um
A TCMD é atualrncnte o método angiográfico não invasivo de substituto da angiografia de coronárias invasiva, mas sim corno
melhor acurácia para a detecção de doença arteria I coronariana um método de estratificação de risco não invasiva. Em subgrupos
obstrutiva. de pacientes com características favoráveis (ritmo regular com
Recentemente. com ii disponibilidade para uso clínico dos frcqüência cardíaca controlada e baixo escore de cálcio) cm
sistema» de 16 detectores. c~t:í sendo possfvel obter bons rcsul- que a indicação cl (nica da angiografia convencional ainda parece
tudov, não 'OI1I1:ntl: IUI' 11ÍlIl1Cro, de segmentos coronarinnos !\er precoce. a TCMI) pode ...er uma alternativa mais definitiva
avalinvcrv. COIllO também na ncurãcia desse método em compu- em relação a outros métodos diagnósticos não invasivos, como
raçno com n cincangiocoronariografia invasiva. Estudos rccen- reste crgométrico. cardiologia nuclear. ccocardiografia com CSU'C\I,C
tl:\ uprescnturam valores de sensibilidade e.: cvpccificidadc em c li própria angiografin convencional que não seria substituída.
torno de 1}2 c 93% variando de acordo com os critérios de mas evitada em muitos casos.
exclusão de segmentos não unalisãvciv. Tomando como base as melhores evidências atualmcnte
disponíveis e a racionalidade clínica. podem-se citar algumas
possíveis indicações da angiotornografia de artérias coronárias:

• Detecção de doença arterial coronariana em pacientes


assintornáricos com múltiplos fatores de risco ou escore
de cálcio positivo e elevado, mas não excessivamente
elevado.
• Detecção de doença arterial coronuriana em pacientes sino
tométicox, de risco baixo ou intermediário (dor atípica.
mulheres jovens) em que outros métodos de investiga-
ção não invasiva foram duvidosos ou inconclusivos.
Excluir doença arterial coronariana em casos de cnrdlo-
miopaiias de etiologia indeterminada.
• Descartar doença arterial coronariana em aval iação pré-
operatória de cirurgias cardíaca .. (cirurgias vai vares e outras)
e não cardíacas (pré-tmnsplante em doença renal crônica,
doença arterial pcrifé: ica),
• Avaliação de enxertos coronarianos arteriais e venosos,
• Avuliução de permeabilidade de SICIII intracorcnnriano,
Figura 47.6 - Avaliação do escore de cálcio pela TeMO. No- • Descartar causas não ateroscleróticas de isquemia mio-
tar importante calcificação na artéria descendente anterior cãrdica, como anomalias de origem e curso das artérias coro-
(circulo verde) nárias. ponte miocárdica. ffstulas ou doença de Kawasak],
Doenças Cardiovasculares • 469

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RndUlloRI'.. v 169. II 1.1" 5') 11.1. 19HM. "'"10>:r"l'h) \I I1h II gl'lnuvrtl<k'o,) j:luco,e in 1'3[len" whh chrnnlc coronary nrtery
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lo.1holil)IIIIhcomr.L\I·cnhllllccd l1Ia~ncuc rc\Ol1:lJlrCIInJ~ln~: compnn\On \I i~1po~ill'un ,cure lI'ilh onlornoallon lrom conlcol1ollal mk fllCI()r, 10 (,IIII1:IIC coromlry hC:lrt
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470 • Tratado de Clínica Médica

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IIr "»1I"3r) ~nrne': euncm and future role u)' IIlulll-tlclcclur 1<)" ('T. RII/IIII/IIXI.
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,Ienl palCnC) u,<n~ 11I·,lice compulcd IOmngraphy. /\11/. J. Clmli"l.. \.. 9~. n. 4. O pr()(;cdil11cntonão deve ser indicado de ro(ina p<lraavalia-
p, ~27-~ 10. :IK).I.
\\',\CKI:I!. C .\I..IIAI!TLhl'. A. W.: I'H.EGIJR. S. cl uI. SUSCCflllhilily-;en,ill\'C l11.gocllc
ção de qualquer tipo de cardiopatia. pois apresenta custos
n."""U/lCC .m~In~dclCClI human rnyoc~rdium supplicd by IISIcnoliccoron3ry :lncry c riscos de compl icaçôes que. apesar de pouco rreqüentcs, não
"ilh('111 3 rool"''' agenl. J. 11m. CIIU. C(//'IIi,,/ .. v. 41. n. 5. p. 834-840. 2003. são desprezíveis e podem ser fatais. Em geral, o cateterismo
cardíaco diagnóstico é recomendado quando é clinicamente
importante definir a presença ou gravidade de uma lesão ~ar-
dfaca suspeita, que não pode ser adequadamente avaliada
por técnicas não invasivas. principalmente se há a possibi-
CAPíTUlO 48 lidade de indicação de tratamento eirúrgieo ou intervencio-
nbta (Quadro 48.1 )1.

Cateterismo Cardíaco
O c<1lcterislllocardíaco pode er ulilizado noeSludodasdoenças
dos grandes vasos. valvopatias. cardiomiopatias c cardiopatias
congênitas; a vasta maioria das indicações se deve à doença
arterial coronariana. TO passado. o calCteT'iSl1loera obrigatório
Leonardo Cogo Beck para lodos os pacientes considerados para cirurgia cardíaca.
Hojc em dia, muitos pacientes com doença cardíaca valvar ou
Pedro A. Lemos congênila podem ser submetidos à correção. baseando-seso-
mente em dados clínicos e em lestes não invasivos. No entan-
Eulógio E. Martinez lO, para guiar o tratamenlo cirúrgico de revascularização
miocárdica ou de intervenção coronariana percutânea. a
3l)giogratia coronariana é. ainda. a única técnica capuz de
INTROouçlO definir a analOmia coronariana eom suliciente precisão. Em
pacientes com Outras formas de cardiopatia (por exemplo,
o catch.:ri),lllo cardíaco é UIl1 prot.:edil11entoinva~ivo que oferc;:(;e cardiollliopatia dilalada. cardiopalia valvar) o catclcriSI1lO
uma an;ílise delalhada da analOlllia c fisiologia cardfacas assim
pode fornecer. além de dado pré-opeI't1l6riÓs. a caracteriza-
C0!l10 do)ovaso!. relacionados. constilllindo-I'e :11éo momenlO
ção hernodin5mie:1 essencial para a idelllizaçuo'de um csque..
cm inMrUll1el1to fundamental plll'll esse tipo de IImílise. apesar
ma dfni(;o apropriado e para uma avaliação prognósli<:a.
ue illlporlante~ avanços em tc~te~ não invasivos. como ecocar-
diogralia. tomografia computlluorizada e ressonância nuclear
magnética. O propósito do cutctcrismo podc ser tanto diagn6sIico
CONTRA-INOICAÇOES E RISCOS
como Icrapêutico (intervencionista). Este capítulo dará maior PraticamenlC não há contra-indicações absolutas à realiza-
ênfase ao aspecto diagnóstico do cateterismo cardíaco. Infor- ção do caleterismo cardíaco. a não ser que o paciente se recuse
Doenças Cardiovasculares • 471

a ser submetido ao procedimento. Existe uma série de con- QUADRO 48.1 -Indicações de cateterismo cardiaco'
ira-indicações rclurivas constituídas por situações em que o
benefício é qucstionãvel ou os riscos uumcnturn ucirna de Doença coronariana
um valor de base de mortalidade de I em I.()O() proccdimen- • Pacientes com doença arterial coronariana conhecida ou
suspeita que são essintométkos ou têm angina estável
tOS,que é o valor em pacientes clinicamente estáveis (Qua-
- Angina estável classesIII e IV (CCS)apesar de tratamento
dro 48.2). O risco de mortalidade chega li aumentar mais de clínico adequado
10vezesem pacientes com grave sintomatologia cardíaca. com - Critérios de alto risco em testes não invasivos,
certos tipos de anatomia coronuriuna. doenças vai vares, dis- independentemente da gravidade da angina
função ventricular ou doença não cardíaca grave (Tabela 48.1). - Pacientes que tenham sido ressuscitadoscom sucessoapós
Mais do que contra-indicações. são condições especiais que. morte cardíaca súbita ou tenham taquicardia ventricular (TV)
além de aumentar o ri. co de mortalidade aumentam o risco de monomórfica sustentada (> 30 segundos) ou TV polimórfica
não sustentada « 30 segundos) de causa desconhecida
complicações cm geral como sangramcntos. piora da função
renal, acidente vascular cerebral (A VC), descompensação car- • Pacientes com dor torácica Inespeclfica
díaca, infarto agudo do miocárdio (IAM). rcaçõcs alérgicas. - Com achados de alto risco em testes não invasivos
entreoutros, e nas quais o preparo. visando compensar ou reverter • 5(ndromes coronarianas instáveis
essassituações. pode diminuir considcruvchucute o risco dessas - Pacientes com angina instável de médio e alto riscos
complicações. É recomendável. portanto. quando permitido. - Pacientes com angina instável de baixo risco inicialmente,
protelar-se o procedimento uté que o paciente esteja nas con- mas que passam a ser de alto risco em testes não invasivos
dições mais adequadas possfveis, Nus situações de emergência. - Suspeita da angina variante de Prinzmetal
requerem-secuidados especiais durante e após o procedi mcnto. - Como terapia primária de reperfusão com angioplastia no
sabendo- e que nessas situações os pacientes estão sob maior infarto agudo do miocárdio (IAM)
risco de complicações. - Pacientes com episódios de isquemia miocárdica
espontâneos ou provocados por minimos esforços durante
recuperação de IAM
COMPLICAÇÕESE MEDIDAS PREVENTIVAS - Antes de terapia definitiva de uma complicação mecânica
de infarto agudo, como regurgitação mitral aguda,
Além do risco de mortalidade, ti rcalizaçâo do catctcrismo cardíaco coagulação intravascular, pseudoaneurisma ou aneurisma
se acompanha de risco de ocorrência de Ave ou IAM em IOr- de ventrlculo esquerdo
node I em 1.000 procedimentos. Outras complicações meno- - Pacientes com instabilidade hemodinámica persistente após
res. como bradi ou taquiarriunius transitórias. sangramentos IAM
OU pscudouneurisma no :.ítio de inserção do cateter, ocorrem - Pacientes de alto risco submetidos à cirurgia não cardfaca
cm menos de I % dos procedimentos e podem ser tratadas com Valvopatias
drogas. cardiovcrsão elétrica. marca-passo provisório ou re- Antes de cirurgias valvares (Inclusive por endocardite infecciosa)
parovascular cirúrgico. usualmente sem seqüclas li longo prazo, ou comissurotomla mitrai por balão em pacientes com
Existem recomendações específicas para I) preparo de pa- - Dor torácica sugestiva de isquemia miocárdica
cientes que apresentam maior risco de cornpl icações quando Outra evidência sugestiva de isquemia miocárdica
submetido a catererismo cardíaco: Dlrnlnulção da função sistólica do ventrículo esquerdo
História de doença arterial coronariana
• Para minimizar o risco de sangramentos. pacientes cm Fatores de risco coronariano (englobando idade).
liSO de anticoagulante oral devem interromper seu LISO Recomenda-se em homens .. 35 anos de idade, em mulheres
na pré-rnenopeusa ;;. 35 anos e com fatores de risco para
por pelo menos 48h antes do procedimento ou até que a doença coronariana e em mulheres após a menopausa
relação internacional normalizada (INR. imemational
normalized ratio) esteja abaixo de 1.8; porém. o caiererismo • Em pacientes com aparentemente (eve a moderada doença
valvar cardlaca, mas com:
de emergência pode ser realizado na vigência de anticoa-
- Angina progressiva (classeII ou mais)
gulaçãc plena ou até me. mo após a administração de
- Evidência objetiva de isquemia
rrombolíricos.
- Dlsfunç30 sistólica de ventrkulo esquerdo
• Pacientes com disfunção renal de base (crearinina maior
- Insuficiência cardiaca congestiva (ICC) importante
que 1.2mg/dl .. ou que apresentem proteinú ria). pacientes (desproporcional disfunção valvar)
desidratados, diabéticos. ou em uso de drogas ncfroró-
xicas apresentam maior risco de deterioração da função • Quando testes não invasivos são inconclusivos ou discrepantes
com os achados clínicos a respeíto da gravidade da valvopatia
renal. (cm torno dc 12 II 30%), sendo recomendado ne 'ses ou da necessidade de cirurgia ou de valvoplastia percutânea
pacientes a pré-hidratação I V com solução sal i na ( I rn LI
kg/h). 6 a 1211antes e continuada por 6 a 1211após o tér- Outros
mino do procedimento. na medida em que o paciente tolere. • Cardiopatias congénitas
Ainda estão sob investigação os usos de acetilcisteína, - Quando testes não invasivos são inconclusivos, insuficientes
ou discrepantes com os achados cllnicos a respeito do
bicarbonato e ácido ascórbico como medidas preventivas, diagnóstico e gravidade da cardiopatia ou da possibilidade
não tendo. até o momento, suficientes evidências para o de cirurgia ou de intervenção percutânea
uso rotineiro des. as medicações, apesar de resultados
• Doença vascular
positivos cm alguns pequenos estudos iniciais.
- Dissecçãoou aneurisma de aorta com doença coronariana
• Pelo risco de ucidose lácrica. pacientes diabéticos cm LISO concomitante suspeita
de metformin deverão suspender I) medicamento 24 a
48h antes do procedimento. mantendo-se n suspensão por • (nsuficiência cardlaca
pelo menos 72h após. até se ter certeza de não ter havido - De inicio recente e causa desconhecida
disfunção renal, Pacientes cm LISO de insulina deverão ter - Suspeita de ser secundária a doença arterial coronariana
adoseda medicação diminuída cm um terço da dose habitual • Transplante cardlaco
no dia do procedimento. c moniiorados de perto. a fim de - Avaliação pré e pós-operatória
se prevenir li ocorrência de hipoglicemia. Se necessário.
472 • Tratado de Clínica Médica

QUADRO 48.2 - Contra-indicações relativas para cateterismo e


• Pacientes com disfunção rniocárdica e/ou doenças car-
angiografias cardiacas díacas vai vares graves, principalmente estenose aórtica.
apresentam risco maior de complicações. como hipo-
Alergia a contraste radiográfico tensão. congestão pulmonar e arritmias. O uso de con-
Procedimentos que provavelmente não irão melhorar a qualidade
traste de baixa osmotaridade. por ter menos efeito
ou o tempo de vida do paciente
cardiodepressor c vasodilatador. pode diminuir 11 inci-
Falta de condições cllnicas (choque, insuficiência respiratória,
desorientação) dência dessas complicações.
Anticoagulação oral (INR > 1,8), coagulopatias ou após terapia
trombolítica
TtCNICAS
Pacientes em vigência de AVC ou com história de AVC recente
(até 1 mês) O catctcrismo cardíaco cm adultos é realizado habitualmente
Insuficiência renal grave ou progressiva ou anúria com o paciente em jejum e consciente. podendo ou não receber
(creatinina > 1,8mg/dL) sedação leve. Em pacientes pediãtricos, os procedimentos
Presença de febre ou de infecção sistêmica ativa diagnosticada geralmente são realizados sob anestesia geral. Em algumas
Hipertensão arterial sistêmica não controlada situações. o paciente necessita estar internado (pacientes cm
Grave distúrbio hidroeletrolltico, principalmente hlpocalemla e maior risco de complicações) e cm outras ele pode ser submetido
hiponatremia
ao proccdimcnro de forma arnbularorial (pacientes de baixo risco
Anemia grave (Hb < 9mg/dL)
para complicações) (Quadro 48.3). sendo liberado no mesmo dia,
Plaquetopenia, com contagem de plaquetas < 50.000/mm)
Intoxicação digitálica
6 a 8h após o término do procedimento. Na maioria dos casos.
não ~ necessária a profilaxia de rotina com antibióticos.
Gravidez
A técnica do cateterismo consiste na introdução, através
Sangramento gastrointestinal ativo
Irritabilidade ventricular descontrolada
de uma artéria ou veia periféricas, sob anestesia local, de cateteres
Insuficiência cardiaca descompensada plásticos longos e com lúmen, conduzidos sob radioscopia até
alcançarem as cavidades cardíacas e os vasos relacionados.
=
AVC acidente vascular cerebral; Hb = hemoglobina; INR = relação interna- Por meio dos cateteres são realizadas medidas pressóricas e
cional normalizada
de fluxos (débito cardíaco), coletas de amostras sanguíneas
e injeçôes de agentes de contraste radiográfico. Durante a injcção
esses pacientes poderão receber solução gliccsada intra- de contra te. este se mistura ao sangue momentaneamente.
venosa.Pacientesem uso de bipogliccmiantes orais deverão ocupando o lúmen das cavidades cardíacas e/ou dos vasos,deli-
suspender a medicação nu manhã do procedimento. neando os seus contornos internos. ao mesmo tempo em que
• Pacientescom história de utopias. rcaçõcs alérgicas ii frutos um feixe de raio X atravessa o paciente e é captado em intcn-
do mar. rcaçõcs prévias à penicilina ou a contrastes radio- sificudor de imagens, que trunsmite a uma cârnera que filma
lógico têm risco aumentado de desenvolver reações alér- e grava as imagens, o que é chamado de angiografia. A capta-
gicas ao contraste iodado durante o catcterismo, que podem ção da imagem é realizada até que o contraste seja esvaziado
variar de de uma simples urticária até a reação anufilática. (desapareça), possibilitando urna análise da dinâmica do san-
essespacientes. as reações podem ser suprimidas com gue através dessas cavidades e dos vasos. A análise das pres-
o uso de contraste não iônico durante O procedimento e sões, dos fluxos e das resistências constitui-se no que sechama
pré-tratnmcnto com glicocorticóides (prcdnisonu 20 li de análise hcmodinârnica.
.Wm!! VO de 6/6h). umi-hlstumfnicos (difenidramiua 25mg Os tipos exuros de testes realizados cm um determinado
VO de 6/6h) c antagon isras H, (por exemplo, ci mct idi na, procedimento dependem da natureza do problema cllnico a
.100mgde 6/6h) iniciados I Ra-24h antes do procedimento. ser avaliado. Em pacientes com doença arterial coronariuna o
Apesar de. sas medidas. alguns pacientes poderão desen- procedimento pode incluir somente vcrnriculograflu e ungio-
volver rcaçõcs anafi lâricas graves. que poderão ser ma- grafia coronariana, enquanto em pacientes com doença valvar
nejadas com o uso de epinefrina intravenosa (IV) ou cardíaca pode ser necessário o estudo hcmodinârnico com-
intrarnuscular (1M). pleto. direito e esquerdo.

TABELA 48.1 - Características dos pacientes que têm risco


ACESSOS VASCULARES
aumentado de mortalidade por cateterismo cardíaco Os acessos para o cateterismo cardíaco podem ser obtidos por
técnica de punção percutânea ou por dissecção e exposição
CARACTERíSTICAS
DO PACIENTE TAXA DE'
(PROCEDIMENTOSDIAGNÓSTICOS) MORTALIDADE(%) direra do vaso. A técnica percutânea consiste na punção, com
agulha. de uma artéria (para careterisrno esquerdo) ou uma
Mortalidade total 0,1
veia (para caieterisrno direito). Após a punção, um fio-guia
Relacionada à idade flexível é inserido no vaso por dentro da agulha. A seguir.
• Pacientes com idade < 1 ano 1,75 retira-se a agulha, mantendo-se o fio-guia. Por sobre o fio-guia
• Pacientes com idade> 60 anos 0,25 é inserida urna bainha (introdutor). Por dentro da bainha serão
Gravidade da doença coronariana inseridos os cateteres. Após o término do procedimento, a bainha
• Uni ou biarterial 0,03 é retirada e realizada hernostasia por compressão local por
• Triarterial 0,16 cerca de 20 a 30111in.
• tesão de tronco de coronária esquerda 0,86 A punção fernoral hoje em dia é a técnica.mais utilizada,
pela facilidade, comodidade c versatilidade, permitindo a utili-
Gravidade de ICC
• ICC classe I ou 11 (NYHA) 0,02
zação de rnatcriuis de diversos calibres. Pacientes corn aneu-
0,12
rismas. tortuosidades ou doença vascular periférica, envolvendo
• ICC classe 111 (NYHA)
• ICC classe IV (NYHA) 0,86 aorta. ilíacas ou artérias íernorais podem apresentar dificuldades
para esse acesso. Outros sítios de menor calibre podem ser
Valvopatias sintomáticas 0,28 u ado. como a artéria braquial. artéria radial ou mais rarnmente
ICC= in5ufidéncia cardíacacongestiva; NYHA = New York Heart Association a artéria e veia axilares. veia jugular e veia subclávia. Podem
Doenças Cardiovasculares • 473

existir algumas limitações na técnica pcrcurânea em pacientes QUADRO 48.3 - Condições prévias ou posteriores ao
em anticoagulação ou algum distúrbio de coagulação, onde a procedimento que indicam a necessidade de internação do
hemostasia por compressão é di lfcil e o risco de sangramenros paciente
é aumentado. Nesses casos, a técnica de incisão c dissecção Procedimentos diagnósticos - fatores após o procedimento
da região antecubiial com exposição dircra da artéria c veia
• Alto risco em virtude da identificação de lesão grave de tronco
hraquiais (técnica de Sanes) pode ser uma alternativa. Nessa de coronária esquerda
técnica. após isolamento e exposição do vaso, os cateteres são • Sintomas isquêmicos instáveis a qualquer tempo após o
introduzidos por meio de uma pequena incisão na parede do procedimento
mesmo.Após o térrn ino do catererismo e retirada dos cateteres, • Grande hematoma ou complicação vascular
é feita hcrnosiasia dircla por meio de sutura da parede do vaso. Procedimentos diagnósticos - fatores antes do procedimento
O tempo de repouso e observação varia em média de óh Infarto do miocárdio recente com isquemia p6s-infarto
paraacessolemorul e de 2 a 3h para acessopelo membro superior. Edema pulmonar com suspeita de ser causado por isquemia
podendoo paciente deambular após este período. miocárdica
Resposta isquêmica acentuada durante teste de estresse não
invasivo
Cateterismo Cardíaco Direito ICCclasse funcional III ou IV da NYHA ou fração de ejeção ,;; 35%
O cateterismo cardíacodireito consiste na medida de pressões nas Estenose aórtica grave com disfunção de ventrkulo esquerdo
Insuficiência aórtica grave com pressão de pulso> 80mmHg
câmarascardíacas direitas, nas veias centrais c na circulação
Hipertensão arterial mal controlada
pulmonar,com eventuais coletas de amostras de sangue para
Inadequação ou impossibilidade de acompanhamento nas 24h
dosagensoximétricas e obtenção de imagens contrastadas nos seguintes ao procedimento em caso de necessidade
referidosterritórios vascularese cardíacos. Esseprocedimento já Debilidade generalizada ou demência
foi utilizado de rotina cm todos os cateterismos cardíacos, sendo, Portadores de doença pulmonar obstrutiva crónica grave
hojeem dia, realizado cm menos de 25% dos procedimentos. Suspeita de hipertensão pulmonar acentuada
porqueacrescenta poucos dados à avaliação dos pacientes com Insuficiência renal (creatinina > 1,8mg/dL)
doençaarterial coronariana. É, no entanto, muito útil quando Necessidade de anticoagulação continua ou tratamento de
se suspeitadedisfunção ventricular direita ou esquerda, doença diátese hemorrágica
valvarcardíaca, doença miopcricárdica ou SIIl/1/IS iruracardíacos. Alto risco para complicações vasculares (por exemplo,
O procedimento é realizado por meio de introdução c pro- obesidade acentuada ou doença vascular periférica grave)
gressãode um cateter, que pode ser ou não guiado por um Procedimentos terapêuticos
balãoele flutuação (cateter de Swan-Ganz, Herman ou scmc- • Todos os procedimentos terapêuticos adultos e pediátricos. No
lharue), e111 uma veia (fcmora l, braquial, jugular inrcrna. entanto, alta precoce em pacientes selecionados submetidos a
intervenção coronariana por acesso radial está sob investigação
subclãvla), conduzido sob fluoroscopia, passando pelas veias
cavas, átrio e ventrículo direitos, até atingir a artéria pulmonar Procedimentos diagnósticos pediátricos
e ramosarteriais pulmonares menores. No trajeto realizam-se • tdade jovem (~ 5 anos de idade)
medidasprcssóricas e colhem-se amostras de sangue para oxi- • Cardiopatia congênita complexa
metria. A comparaçãoda saturação de oxigênio nas veias cavas • Qualquer condição resultando em importante cianose
inferior e superior. nas câmaras cardíacas e artérias pulmona- • A maioria dos casos requerendo uma grande bainha arterial
respermiteacessar a presença ôeshunt da esquerda para direita
ao nívelatrial, ventricular ou de artéria pulmonar. que se manifesta
comoum aumento da saturação de oxigênio (salto oxirnétrico) das por punção transeptal, ou através de forarne oval paten-
no trajeto desses vasos c câmaras. Quando o cateter atinge e te. ou de comunicação interarrial. atingindo-se O átrio es-
oclui um dos ramos arteriais pulmonares menores, ele está na querdo (A E); 011 por meio de comunicação intcr-vcmricular,
posiçãoem cunha da artéria pulmonar (wedge), onde a pres- atingindo-se oVE.
sãomedida reflete a pressão de capilar pulmonar (PCP). que O catctcrisrno direito e esquerdo, além de fornecer aspressões
na grandemaioria das vezes corresponde à pressão atrial es- nas câmaras cardíacas. nos sistemas arterial. venoso e pulmonar
querda.As pressõesapresentam faixas de normalidade (Tabe- bem como os eventuais gradientes pressóricos transvalvares,
la 48.2) que servem para guiar a detecção de anormalidades. permite que sedetermine o valor do débito cardíaco e se calculem
as resistências vasculares sisrêmica e pulmonar bem como as
áreas dos orifícios vai vares.
Cateterismo Cardíaco Esquerdo
o catetcrismo cardíaco esquerdo consiste na medida de pre: -
ANALISE HEMODINAMICA
sões no ventrfculo esquerdo (VE) e na aorta. com eventuais
coletas de amostrasde sangue para dosagens oxirnétricas e ob- As curvas de pressões cardíacas apresentam comportamentos
tençãode imagens contrastadas. e formatos caractcríst ices, havendo padrõesconsiderados normais
O procedimento é mais comumenre realizado por meio (Figs. 48. I c 48.2) e refletem os fenômenos hemodinâmicos
de introduçãoe progressão de um cateter através de uma artéria durante o ciclo cardíaco (Fig. 41\.3). Algumas alterações ou defor-
periférica(fcmoral. braquial. radial ou axilar), retrogradamente midades dessas curvas podem ser indicativas de patologias
(contraO fluxo sangüíneo arterial), guiado por fluoroscopia, específicas, como pericardite constritiva, iamponamento car-
aléatingir a aorta ascendente e cavidade ventricular esquerda. díaca, cardiomiopatias, valvopatias. entre outros.
No trajeio, são medidas as pressões e colhidas amostras de Em um coração normal. as pressões no VE e na aorta são
sangueparaoxirnetria na aorta e VE. Outra técnica, frcqücn- essencialmente iguais durante a sístole, enquanto as pressões
tementeusadaem estudos de cardiopatias congénitas. e que no AE (correspondente à PCP) e no VE são iguais durante a
podeseraplícada como opção, consiste na progressão do cateter diástole (Fig. 41\.3). A presença de gradiente prcssórico entre
atravésdo sistema venoso até as câmaras cardíacas direitas. o VE e aorta na sístole indica obstrução ao nível da valva aórtica
à semelhançacio careterisrno direito. Posteriormente. cfctua- (por exemplo, estenose aõrtica valvar reumática) ou ao nível
sea passagemdo cateter para as câmaras cardíacas csquer- subaórtico (por exemplo, cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva)
474 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 48.2 - Pressões de câmaras cardíacas esquerdas e


direitas normais
\C
O LOCAL PRESSÃO (mmHg)
,<
C,)o AD
~ Média 0-5
cn
Onda "a" 1- 7
Onda "v" 1- 7
VD
Sistólica máxima 17 - 32
Diastólica final 1- 7
AP
Sistólica final 17 - 32
Diastólica final 4 - 13
Média 9 - 19 • 20
PCP média 4 - 12 o
ÁE
Média 4 - 12 Figura 48.2 - Registro da curva de pressão normal de aorta
Onda "a· 4 - 15 ascendente (Ao) simultâneo com o eletrocardiograma. Nota-se,
Onda "v" 4 - 15 bem evidente. a presença da incisura dicrótica (seta), coincidente
com fechamento da valva aórtica durante a diástole inicial. Estão
VE representados: o pico de pressão sistólica de Ao (PS) e a pressão
Sistólica máxima 17 - 32 diastólica mínima de Ao (Pd)
Diastólica final 1 -7
Ao se registra a PCP. Uma onda "v" aumentada na curva de PCP
Média 70 - 90
pode estar presente em pacientes com insuficiência mitral sig-
Sistólica máxima 90 - 130
nificativa. porém também pode estar presente em pacientes
Diastólica 60 - 90
com disfunção ventricular esquerda acentuada. Pacientes com
= =
AE = átrio esquerdo; AO = átrio direito; Ao aorta; VE ventrfculo esquer- insuficiência aórtica acentuada apresentam alargamento da pressão
do; VO = ventrículo direito; PCP= pressão de capilar pulmonar; AP = artéria
pulmonar
de pulso aórtico. com a pressão diastólica aórtica, tendendo a
aproximar-se da pressão diastólica de VE. Na regurgitação
tricúspidc acentuada a curva de pressão arrinl direita assente-
(Fig. 48.4). A presença de gradiente pressórico entre o AE lha-se muito à de ventrículo direito (VD). Na estenose tricúspidc
(ou PCP) e o VE durante a diástolc geralmente indica estenose acentuada existe a presença de gradiente entre átrio direito
mitral. embora também ocorra cm mixomns arriais esquerdos (AD) c VD na diástole.
e em algumas cardiopatias congênitas como o (:(11' triatriatum, Deformidades nas curvas de pressões podem ser sugestivas
A curva de pressão utrial normal é constituída de ondas "(I", de algumas condições, tais como rumponamento cardíaco ou
"c" c "v" (Fig. 48.3). Uma curva similar é observada quando pcricurdite constritiva. Em ambos os casos há equalização das
pressões diastólicas de VE e VD. Contudo, na pericnrdite
constriiiva quase todo enchimento ventricular ocorre rapida-
mente. logo após a abertura das valvas mitral e tricúspidc. Após
essa fase de enchimento rápido não há aumento adicional dos
volumes ventriculares, limitados pela constrição. Essas alterações
levam a um aumento súbito e precoce na pressão diastólica ven-
tricular seguido de um platô mesodiastólico (curva em formato
de raiz quadrada) (Fig. '48.5). Por outro lado, no tarnponarnento
cardíaco costuma haver aumento gradual da pressão diastólica
durante toda a diãstole.
Na disfunção miocárdica ventricular contrátil há uma lenti-
ficação do aumento pressórico na contração isovolurnétrica, bem
como do declínio pressórico no relaxamento isovolurnétrico. Isso
160 leva a encurtamento do período de ejeção ventricular e dá um
VE aspecto triangular à curva pressórica ventricular esquerda .
.M f'I. 140 (\

-, IV IV 20 IV ,
PDf
00 CALCULO DE OlBITO CAROIACO
P
,

.. ,
\
\
6
4
Dentre os método. disponíveis para se medir o débito cardíaco.
dois são amplamente aceitos e utilizados: a técnica de Fick e o
\ 2 I método de tcrmcdiluição. Ambos se embasarn no princípio
,rVJ .rv-J orvJ descrito por Adolph Fick. em que a liberação .ou extração de
uma substância (ou indicador) por um determinado órgão é o
Figura 48.1- Registro da curva de pressão de ventrículo esquerdo produto entre o fluxo sungüíneo para o õrgão c fi diferença de
(VE)simultãneo com o eletrocardiograma em um paciente com concentração artcriovenosa da substância através dele. ~
o coração normal. Note o aspecto ascendente e progressivo da No caso dos pulmões. o oxigênio 6 a substância liberada pelo ~
pressão diastólica de VE e a onda "a" de contração atrial (seta). sangue e o fluxo angüíneo pulmonar pode ser determinado ~
Estão representados: o pico de pressão sistólica de VE (PS) e a pela obtenção da diferença arteriovenosa de oxigénio através ~
pressão diastólica final de VE (POf) dos pulmões e do consumo de oxigênio por minuto. ~
Doenças Cardiovasculares • 475

Método de Flek Figura 48.4 - Esquemagráfico de


um traçadosimultâneodepressões mmH9~
Na ausênciade I"'IIIIS imracardíucos e. considerando o fluxo deventrlculoesquerdo(VE)eaorta 200 G,.d,enle VE
sangüfneo pulmonar igual ao sistêrnico. pode-se obter o débito (Ao)emum pacientecomestenose
cardíacoslsiêrnico pela seguinte fórmula: valvar aórtica. Notar o gradiente
de pressãosistólicoentre VEe Ao. 100 Ao
Débito cardíaco = consumo de 0, O gradiente médio é obtido com
(Um i n) -u"'-i""
Ce-r-cl-lç:"1l:':~a::':rt:':'c:':'ri::'o-=v:':CI~10:::S"'"
(I-t-II.:-· -'0-1 o cálculoda áreada curvaentre a
pressãosistólicade VEe a pressão
A diferença nncriovcnosa de oxigênio através dos pulmões sistólicade Ao
é obtidapela cólera de amostra de sangue da artéria pulmonar
(sanguevenc-e) e das veias pulmonares (sangue arterial). Na
prática.awumc-ve que o conteúdo de oxigénio na aorta ou VE
seja equivalente ao da~ veias pulmonares. Assim tem-l-e que: na artéria pulmonar. registra uma curva de variação térmica
em função do tempo. Essacurva é aplicada a uma equação de
=
• Diferençaaneriovenosa de 0, (mUL) conteúdo arterial rcnnodiluiçâo por programas de computador e fornece o débito
de 0, - conteúdo venoso de-O"
• Conteúdo de 0, (mUL) = hcnioglohinn (g/dL) x 1.34 ° cardíaco.
método de tcrmodiluição é pouco precrvo na presença de
(mL 0l~de he-moglobina) x 10 x suturução de 1, ° insuficiência tricúspide significativa e 1I0~ pacientes com débito
cardíaco muito reduzido « 2.5L1min). A medida cuidadosa
o índicedeconsumo normal de oxigêni« (VOJ gira em torno de débito cardfaco por esse método pode conter erro de 5 a
°
de110a ISOmUminlm1• débito curdfaco é obtido na prática
pelamedidadadiferença artcriovcnosa de oxigênio e de tabelas
10% c. cm geral. tem boa correlação com as determinações
pelo método de Fick.
específicas, a partir da superfície corpórea e da aplicação de
°
fatoresdecorrcção para idadee sexo. valor do débito c! menos
comumenteobtido por meio da medida direra do consumo de CALCULO DE RESISTINCIAS VASCULARES
oxigênio(sacode Douglas ou sistemas polnrogrãficos). Em analogia à lei de Ohrn para circuitos elérricos, a resistência
O métodode Fick é mais preciso cm pacientes com débito hidráulica de um circuito é definida pela razão entre o gradiente
cardíaco baixo. cm que a diferença arteriovenosa de oxlgênio de pressão e o fluxo através do circuito. Assim, tem-se que:
é ampla.Determinações de débito cardíaco por meio dessa
técnicapodem conter erro estimado em Il1é 10%. PAM - PAD
RVS =
DC
Método de Termodllulção
PAP - PAE
o método de rermodiluiçâo é umaaplicaçãocspccíficn do princípio RVP =
de Fíck.introdu/ido por Fegler cm 1954e aplicado à prática clí- DC
nicaapõs 0\ trabalhos de Ganz <:1 ai. em 1971. em que:
Ulililando-~e um cateter de artéria pulmonar (por exemplo, RVS = resistência vascular sistémica (unidade Wood)
Swan-Ganl)com um orifício proximal localizado no AD. in- RVP = resistência vascular pulmonar (unidade Wood)
jeta-scum volume conhecido de solução (geralmente soro fi- PAM = pressão arterial sistêrnica média (mmHg)
siológicoou glico. ado) a uma temperatura estabelecida. Um PAD = pressão de átrio direito média (mmHg)
termistorpresentenaextremidade distal do cateter, posicionada DC = débito cardíaco (Llmin)
PAP = pressão de artéria pulmonar média (mmHg)
PAE = pressão de átrio esquerdo média (mmllg)
A pressão capilar pulmonar média é geralmente utilizada
C0l110cst imnrivn do valor da pressão do átrio esquerdo (PAE).
A medida de débito cardíaco pode ser realizada pela técnica de
Fick ou pelo método de termodiluição, descritos anteriormente.

Figura48.3 - Esquemagráfico de um traçado hemodinâmico


representandoo comportamento das curvas de pressõesrela-
cionadas aoseventosdo cido cardíaco. Estão representadas as Figura 48.5 - Esquemagráfico da porção de um traçado de pres-
pressões emátrio esquerdo(AE),ventrículo esquerdo (VE)e aorta são de ventrlculo esquerdo (VE)na fase de diástole e sua relação
(Ao)esuasrelaçõesentre si e com a abertura e fechamento das com a pressao de átrio esquerdo (AE). Estão representados um
valvasa6rtíca(VAo) e mitral (VMi). Na curva de pressãodo AE traçado de um ventrículo normal (A) e o traçado de um ventrículo
notamosa onda MaM,que representa a fase de contração atrtal, de um paciente com pericardite constritiva (8). Notar o aumento
aonda"c", que representao momento de fechamento da valva exuberante da pressãoatrial esquerda e o aumento súbito e pre-
mitrale iníciodasístoleventricular, e a onda "v", que representa coce na pressãodiastólica de VE seguido de um platô mesote-
afasedeenchimentoatrial durante a sistole ventricular lediastólico (curva em formato de raiz quadrada)
476 • Tratado de (Ilnica Médica

As equações anteriores fornecem resultados em unidades Para as valvas mitral c rricúspidc, O fluxo anterógrado ocorre
de resistência denominadas Wood, que podem ser convertidos na diástole e, portanto. deve-se utilizar o PED na fórmula de
em unidades de resistência métricas (dY/I.s.cm-S) pela multi- Gorlin. O PED se inicia com a abertura ela valva mitral e se
plicação do valor em unidade Wood por 80 (Iator de conversão). estende até o início da sístole. Por outro lado, O fluxo anterégrado
Para efeito de comparação entre indivíduos, as resistências ocorre na sístole para as valvas aórtica e pulmonar e. assim,
vasculares podem ser corrigidas para a superfície corpórea através deve-se utilizar o PES no cálculo da área destas valvas. O PES
tio cálculo da resistência vascular indexada (RVSn, obtida pelo se inicia com a abertura da valva aórtica e se estende até o seu
produto da resistência vascular com a superfície corpórea, como fechamento (incisura dicrótica no traçado de pressão ela aorta).
demonstrado a seguir: Os valores do PED e PES podem ser determinados a partir dos
traçados de pressão obtielos durante o catetcrismo cardíaco
RVS = PAM - PAD direito c esquerdo.
IC = DC
Considera-se o valor da constante C C0l110 1.0 para as valvas
SC DC aórtica. tricúspide e pulmonar e 0.7 para ti valva mitral (pos-
rcrionncnrc modificada por Cohen e Gorlin como 0,85).
PAM - PAI) - PAM - PAD - PAM - PAD x SC
RVSI= ----- Uma fórmula simplificada para o cálculo de área de valvas
IC DC DC curdfacus esrcnóticas foi proposta por Hukki et (li. em 1981.
SC como alternativa à fórmula de Gorlin.

RVSI = RVS x SC AV = DC/..fif


I'

em que: em que:
IC = índice cardíaco (Lzrnin/m") AV = área valvar (cm')
SC = superfície corpórea (rn') DC = débito cardíaco (L/min)
RVS = resistência vascular sistêmica (unidade Wood) Ôp = gradiente de pressão rransvalvar (mmHg)
RVSI = resistência va cular indexada (unidade Wood)
Esta simplificação é possível, uma vez que o produto da
Os valores normais para as resistências vasculares no adulto frequência cardíaca pelo tempo de enchimento (PES ou PED)
estão demonstrados na Tabela 48.3. x constante se aproxima de 1.000 para a maioria dos pacientes
c pode. portanto ser desprezado. No entanto, como o PED e o
PES variam substancialmente com frequências cardracaselevadas
CAlCUlO DA AREI VAlVAR ou reduzidas. Angcl et (II.demonstraram que o valor da área val-
A valva cardíaca normal oferece pouca resistência ao f1UX(). var obtido pela fórmula de Hakki deve ser dividido por 1.35
A medida que se desenvolve II estenose, o ori Ilcio valvar gera quando li freqüência cardíaca estiver abaixo de 75bpm na estenose
resistência progressiva ao fluxo. o que provoca um gradiente de mitral c, quando acima ele 90bpm, na estenose aórtica.
pre são através da valva. Para qualquer tamanho de orifício
cstenõrico. elevações do fluxo geram gradientes de pressão SHUNTS
maiores,
Com ba: e em fórmulas hidráulicas e no princípio descrito Pacientes com cardiopatias congênitas podem apresentar Sl/IIIIIS
anteriormente. desenvolveu-se a fórmula de Gorlin para cálculo cardíacos da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita.
de áreas de orifícios valvares, a partir de parâmetros hemodi- Alguns deles necessitarão ser submetidos à avaliação hernodi-
nâmicos: nârnica para estimativa da localização e do grau de shunt,
A medida do shunt pode ser feita pela análise das variações
DC / (PED ou PES) x FC da saturação de oxigênio nas câmaras cardíacas associada ao
AV = --------- cálculo dos fluxos sangüíneo sisiêmico e pulmonar, ou por
44.3 C ...ft;p meio de angiografias cardíacas. Quando há aumento da satu-
ração de oxigênio no tr:jjeto sangüínco do lado direito do coração,
em quc: um shunt da esquerda para direita está presente. Quando há
AV = área valvar (crrr') queda na saturação de oxigênio no trajeto sanguíneo do lado
DC = débito cardíaco (cm'zmin) esquerdo do coração. um shunt da direita para esquerda está
PED = período de enchimento diastólico por batimento (s/bat) presente. A magnitude de um S/UIIII pode ser obtida pela medida
PES = período de ejeção sistólico por batimento (s/bat) da relação do fluxo pulmonar com o fluxo sistêrnico. Para um
defeito scptal atrial ou ventricular, uma relação maior que 1,5
FC = freqüência cardíaca (bpm)
C = con tante para I é considerada clinicamente significativa e pode ser usada
tip = gradiente de pressão
como parâmetro para indicar a correção do defeito. Na pre-
sença de shunts cardíacos o fluxo sistêrnico pode ser calcula-
do pelo princípio de Fick, utilizando-se as saturações de oxigénio
TABELA 48.3 - Valores normais das resistências vasculares
da aorta c da câmara cardíaca direita pré-shullt (veias cavas,
AD). Para o fluxo pulmonar utilizam-se as saturações de oxi-
UNIDADESWOOD gênio da artéria pulmonar e da câmara cardíaca esquerda pré-
Resistência vascular slstêmlca 14 ± 3 1.130 ± 178 S/UIIII (veias pulmonares. AE).

Resistência vascular 2.130 ± 450


sistémica indexada (xM1) ANGIOGRAFIA CARD(ACA
Resistência vascular pulmonar 0,8 ± 0,3 67 ± 23 Habitualmente. após a avaliação hemodinâmica realizam-se
as angiografius, em que injeções de contraste iodado são rea-
Resistência vascular 123 ± 54
lizadas em diferentes câmaras cardíncas c vasos, dependendo
pulmonar indexada (xM1)
do distúrbio a ser estudado. As angiografias mais freqüeruemente
Doenças Cardiovasculares • 477

utilizadas -ão as do VE. aorta c artéria, coronária s. Angiografias e funcionai, da valva aornca e do septo interventricular. Os
de câmaras cardíacuv direita .. c artéria ...pulmonares são cornu- volumes ventriculares normal ...em adultos são de 72 ± 15mLl
mente utilizudas no estudo das cardiopatia .. congêniias e nas mZ na diástole final e de 20 ± 8mLlmz na slstcle final. A di-
suspeitas de ernbolivmo pulmonar. ferença entre o volume diavtóhco final e o volume sistólico
final é o volume de ejcção vistélico. A multiplicação do vo-
lume de ejeção pela frequência cardíaca resulta no débito cardíaco.
VENTRICULOGRAFIA ESQUERDA A razão UOvolume de ejeção vistôlico pelo volume diastólico
A veruriculografia esquerda é realizada habitualmente com final resulta na fração de ejeção, A fração de ejeção normal
uma injeção de contraste radiográfico dirctamcruc no VE por pela vcruricutografla varia de 0.5 a 0.7 (50 a 70%). As alte-
meio de bomba injetora em um volume de 30 a 40mL a uma rações da mobilidade segmentar da ... paredes do VE, geral-
velocidade de fluxo de I O a 12mU .... fi, imagem radiográfica mente associada .. ~ doença coronariana, podem ser classi ficadas
gerada é gravada dinamicamente, com o contraste delimitan- como hipocincvia (quando há diminuição da mobilidade de
doos contorno, interno, do VE durante toda...a, fa~c, do ciclo 11111 segmento miocárdico durante a conuução ventricular): acinesia
cardíaco. na .,f~tole e nu diãsrolc. Por meio dessas imagens, (quando htí nu ...ência de mobtlidudc de 11m segmento miocárdico
podem-se analisar os volumes vcntncularcs. a Iração de ejc- durante a contraçuo ventricular) e discincsin (quando há lima
ção, a mobilidade global e segmentar das paredes do VE. bem expansão paradoxal de um segmento rniocãrdico durante a
como avaliar a cornpctêucra da vaIVII 111itrai e aspectos anatômicos coruração ventricular) (FIg. 4H.6).

Figura 48.6 - Ventriculografia esquerda em projeção obliqua anterior direita em diferentes pacientes mostra função ventricular
esquerda normal (A - C), com disfunção global acentuada (O - F) e com acinesia da parede anterior (G -I). Notar, na Figura 48.3, C,
a presença de lnfarto prévio com oclusão total da artéria interventricular anterior (descendente anterior), justificando a presença de
déficit contrátil segmentar. FE = fração de ejeção
478 • Tratado de Clínica Médica

AORTOGRAFIA
A aonografia é realizada com uma injeção nipida de um grande
volume de contraste radiológico na aorta. Para ii realização
de aortografiu proximal, 50 a 60mL de contraste são injcta-
dos em 2 li 2.5 segundos. A aortografia proximal permite
acessar a competência da valva aórtica. a anatomia da aorta
proximal e dos grandes vasos da base. além de, ocasional-
mente. permitir a identificação de enxertos nortoccronnriunos
não cateterizados selctivumcrue. A aortografia distal permi-
te acessaranormalidades corno aneurismas. dissecções, trombos
..J c coarctaçõcs. A projeção habitualmente usadapara a aortografia
é a oblíqua anterior esquerda. Na avaliação da valva aórtica.
Figura 48.7 - Ventriculografia esquerda em projeção oblíqua
a intensidade da insuficiência aórtica pode ser avaliada por
anterior direita mostra regurgitação mitral acentuada
metodologia qualitativa em: discreto (I +). quando o con-
traste entra no VE durante a diãstole em pequena quantidade
e clareia a cada batimento: discreta/moderada (2+), quando
A vcmriculogrufia é usualmente rcaliznda na projcção oblíqua o contraste opucifica o VE e não clareia a cada batimento,
anterior direita. O que permite a avaliação das valvas mitral e porém é menos denso que o contraste na aorta: moderado
aórtica. além da análise da mobilidade das paredes anterior. (3+). quando a opacificação do VE tem intensidade seme-
apitai e inferior do VE. bem como a eventual presença de trombo Ihante à da aorta; acentuada (.J+). quando a opacificação do
mural apical. A insuficiência mitral é detectada pelo vazamento VE é maior que a da aorta ou quando o VE se opacifica to-
de contraste para dentro do AE durante a sístole ventricular. talmenie cm um único período diastólico (Fig. 48.8).
Sua intensidade pode ser estimada qualitativamente por um
sistema de gradação como segue:
ANGIOGRAFIA CORONARIANA
• Leve (I +): quando o AE não se opacifica totalmente. A angiografia coronariana é um procedimento real izado durante
desaparecendo o contraste completamente do;\E a cada o catctcrismo cardíaco para a visualização do hímen das artérias
batimento. coronãrius, além de analisar sua origens e rrajetos, É rculi-
• Modal/til/ (2+): quando o AE se opacificu após vários zada por meio de cateter inserido no 6stio das artérias coron.írias
batimentos. mas cm menor intensidade do que o VE. o (direita e esquerda), guiado por Iluoroscopia, com injcção
contraste não desaparecendo totalmente com um único seletiva de contraste radiológico. A injeção de 5 a IOmL de
batimento. contraste radiológico para cada projeção geralmente é feita
• Moderada/acentuada (J +): quando e observa opacificação manualmente. Usualmente realizam-se várias projeções cm
completa do AE, com intensidade semelhante à do VE. diferentes ângulos para cada coronária. o que possibilita análise
• Acentuada (-1+): quando há opacificação completa do AE mais detalhada e precisa de obstruções coronarianas (geral-
no primeiro batimento ventricular. que se intensifica nos mente excêntricas), além de contribuir para solucionar asdi-
batimentos subseqüentes.podendo haver opacificação das ficuldades relacionadas à superposição de vasos em um mesmo
veias pulmonarc (Fig. 48.7). plano (Fig. 48.9).
A detecção de esicnoscs coronarianas, bem como a anãlise
Quando a vcntriculografia esquerda é realizada na projcção detalhada da localização, gravidade e morfologia das lesões
obliqua anterior esquerda. consegue-se a avaliação da mobili- estcnéticas, fazem da angiografia coronariana exame de funda-
dade segmentar das paredes lateral e scpial, bem como da via dc mentai importância para o plancjnmento de cirurgias de revas-
saída de VEeda região subaértica. Na cardiomioparia hipcrtrófica. culnrização miocárdiea ou intervenção coronariana por cateter
essa projeção permite u detecção do movimento anterior sistólico (por exemplo, angioplastia). O grau de obstrução é expresso
do folheto anterior da valva mitral e o abaulamento do septo em percentual de estenose do diâmetro, que é a relação do
interventricular parao interior da cavidade ventricular esquerda, diâmetro do segmento 'mais e tenótico com o do segmento
em especial na região subaórtica. normal adjacente proximal e/ou distal. Uma obstrução maior
que 50% de diâmetro é considerada significativa, uma vez.que
a partir desse grau de obstrução costuma haver diminuição da
reserva de fluxo coronariano (Fig. 48.10). Habitualmente. a
estimativa do grau de estenose é feita por análise visual, m:IS
pode ser feita mediante técnica quantitativa computadorizada.
A anatomia coronariana normal pode ser bastante variável,
mas habitualmente constitui-se cm artéria coronária direita c
artéria coronária esquerda, esta c subdividindo a partir de
um tronco principal em artéria descendente anterior e artéria
circunflexa (Fig. 48·.9). A dominância coronariana pode ser
direita. quando a parede posterior do VE é suprida pela coro-
nária direita (Fig. 48.9); pode ser esquerda quando ela é suo
prida pela coronária esquerda e co-dorninante, ou balanceada,
quando ela é suprida por ambas as coronárias.

CUIDADOS NO POS-PROCEDIMENTO
Figura 48.8 - Aortografia em projeção obliqua anterior esquerda Habitualmente, o procedimento dura cerca de 30 li 40min. mas
mostra insuficiência aórtica acentuada. Ao = aorta; VAo = valva pode prolongar-se por vãrias horas. Ao final do procedimento.
=
aórtica; VE ventriculo esquerdo os cateteres são retirados e é realizada hcmostusia no süio de
Doenças Cardiovasculares • 479

de repouso no leito. Sc o procedimento ror realizado por dis-


secção braquial. a hernostasiu ~ení feita por sutura direta da
artéria. O paciente deverá manter o braço estendido por pelo
menu, Ih e deverá tlcnr em observação por pelo menos 3h.
Depois di ..so. dependendo da condição clínica e dos achados
do exume, poderá receber alta hospitalar ou ficar internado para
observação ou realização de algum procedimento terapêutico
cirúrgico ou intervencionista pcrcurânco, Iloje cm dia, são Ire-
qücnrcs os casos cm que o paciente é submetido à intervenção
pcrcurãnca logo após o catctcrismo diagnóstico.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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ouanormalidades.Notar a importãncia da angiografia em várias cup. 81. p. 2209·2230.
projeçõespara visibilização de todos os aspectos da anatomia PEP1NE. C. L HIl.L. J. A.: L,\MBERT. C. R. /)iIWIII',ir (lnll Therapeutic Cardiac
coronariana e de seusramos: coronariografia esquerda em pro- Catheterizmion. J. ed. Baltimore: William, & WillÍlh. t998.

jeçõesoblfquaanterior direita caudal (A), oblíqua anterior direita


cranlal (8) e oblíqua anterior esquerdacranial {Q; coronariografia
direita em projeção oblíqua anterior esquerda (D), mostrando
umacoronária direita dominante. Os ramos coronarianos são
indicadoscomo: Ca (cateter), CD (coronária direita), CX (circun-
CAPíTULO 49
flexa),DA (descendente anterior), Og (diagonal), DP (descen-
denteposterior),S (septal), MgD (marginal direita), VP (ventricular
posterior),TCE (tronco de coronária esquerda)

acesso. Se o procedimento for rcalizudo por punção Icmoral, o


Aplicações do
introdutor (bainha) \eriÍ retirado e será realizada compressão
dolocal por aproximadamente 15 a 20min ou até que a hemos-
tasia se complete,Após isso.será colocado um curativo compressivo
Cateterismo Cardíaco
queseráretirado somente no dia seguinte. O paciente deve per-
manecerdeitado. mantendo o membro inferior estendido por Leonardo Cogo Beck
umperíodode 5 li 6h. para prevenir sangramcmos, Se o pacien-
terecebeuhcpurina, a retirada do introdutor poderá ser realiza- Pedro A. Lemos
da após reversãocom protamina ou li partir tio momento que O
tempode coagulação ativado ror inferior ii 160 segundos. Vá- Eulógio E. Martinez
riosdispositivos de sclarncnto do l'ít io de punção arterial foram
desenvolvidos.com os quais permite-se um período mais curto
INTRODUÇÃO
O cuicterismo. além dos objctivos diagnósticos, assumiu impor-
tante papel como instrumento terapêutico dentro da cardiologia
moderna. principalmente nas duas últimas décadas,constituindo-
se hoje no que é chamado de Cardiologia Intervencionista. Um
grande número de pacientes que outrora necessitavade tratamento
cirúrgico. hoje possui a alternativa segura c eficaz da cardiologia
intervencionista pcrcurânca no tratamento de cardiopatias is-
quêmicas. valvarc ...c congênitas (Quadro 49.1).

APLICAÇÕES NA DOENÇA CORONARIANA


J\ angioplnsiia coronária pcrcutânca (ACP) constitui uma im-
portante forma de terapia para a doença coronariana e a sua
utilização vem aumentando progressivamente. Muitos pacien-
tes, antes considerados cirúrgicos, são ntualrncnre tratados por
Figura48.10 - Coronariografia direita (projeção oblíqua anterior procedimentos coronários pcrcutâncos, Desde que indicada crite-
esquerda)
comestenoseluminal acentuada em seu terço médio riosamente, a ungioplastiu pode proporcionar menor rnorbidade
480 • Tratado de Clínica Médica

QUADRO49.1 - Procedimentos realízados pela cardiologia maçõesCardiovasculares (CENIC) mais de 27.000 procedimentos
intervencionista dc intervenção coronária. com umu tendência de incremento
progressivo a cada ano. Segundo relatório CENIC-2003, em
Tratamento de estenoses ou oclusões coronarianas mais de 90% dos procedimentos foram utilizados stents.
o Angioplastia coronária com balão

o Implante de stent coronariano


INDICAÇÕES
o Outras técnicas: laser, rotablator, aterectomia direcionada,
braquiterapia intracoronária A indicação básica da ACP é o tratamento de lima ou mais
o Ultra-sorn intracoronariano obstruções coronarianas acessíveis por cateter e tenham COI11-
o Doppler flow-wíre provada repercussão ao fluxo coronariano, gerando isquemia
o Pressure wire rniocãrdica e sendo responsáveis por sfndrornes clínicas que
justifiquem a revascularização miocárdica. A ACP pode ser
Tratamento percutAneo das estenoses valvares utilizada para o tratamento das síndromes coronarianas está-
o Valvoplastias (mitral, aórtica, pulmonar e tricúspide) veis e instáveis, incluindo O infarto agudo do miocárdio. A
Implante de próteses valvares indicação e o momento da realização do procedimento irão
o Implante percutâneo de próteses valvares mitral e aórtica variar conforme o quadro clínico c os riscos relacionados ao
procedimento. A ACP justifica-se nos casos em que a relação
Tratamento de defeitos cardiovasculares congênitos risco-bencffcio seja equivalente ou favorável em relação à cirurgia
o Atriosseptostomia dc rcvasculurização ou ao tratamento clínico isolado.
o Aortoplastia na coarctação de aorta (balão e stent) As indicações de intervenção coronária levam em con-
o Abertura da valva pulmonar atrésica sideração um conjunto de informações que associam as-
o Oclusão percutãnea de persistência de canal arterial pectos angiogrãficos, dados clínicos e resultados de outros
o Oclusão percutânea de comunicação interatrial exames complementares. Como princípio geral para a in-
o Oclusão percutãnea de comunicação interventricular dicação do procedimento há II necessidade de que se evi-
o Angioplastia e implante de stent: em estenoses de artérias e dencie a presença de isquemia miocárdica conseqüente ~
velas pulmonares; na manutenção de persistência de canal lesão a cr tratada.
arterial; nas estenoses de derivações sistémico-pulmonares A utilização da técnica tem se ampliado continuamente.
o Oclusão ou abertura de vasos colaterais sistémico-pulmonares
em decorrência da experiência acumulada. do desenvolvimento
o Embolização de fístulas arteriovenosas
de cateteres, fios condutores e stents de menor perfi I e grande
Tratamento de dissecções e aneurismas de aorta flexibilidade e de progressos relativos li terapia farmacológica
o Implante de stent em aorta adjunta :10 procedimento.
As indicações clássicas são representadas por:
Tratamento da cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva
o Esclerose (cdusão) de artéria coronária septal • Angina limitante persistente a despeito de adequadaterapia
farmacológica.
• Angina não limitante com demonstração de lesão gra-
vemente obstrutiva em vaso que perfundc grande m:JSSl\
intra-hospitalar, menor tempo de hospitalização e custo, dentre
muscular.
outras vantagens em relação à cirurgia. Informações do Depar-
• Angina instável.
tameruo de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde
• lnfarto agudo do miocárdio: em pacientes com contra-
(DJ\TASUS) revelam que no Brasil, a partir do ano 2000, o
indicações para o tratamento com agentes rrombolíticc .
número de intervenções coronarianas percutânca: ultrapassou cm pacientes que não apresentem sinais clínicos c/ou
o número de cirurgias de revascularização do miocárdio e a dife- eletrocardiográficos de rcpcrfusão após a administração
rença vem aumentando progressivamente a cada ano (Fig. 49.1). do trornbolftico e como tratamento inicial para pacien-
No ano de 2003 foram notificados à Central Nacional de lnfor- tes atendidos nas primeiras horas após o início dos sin-
tomas do infurto (angioplastia primária).
• Pacientes com angina já submetidos à cirurgia de revas-
35.000
cularização miocárdica.
30.000 • Pacientes com reesrenose pós-angioplasua por balão ou
com reestenose intra-sttll/t.
:;;25.000
00 v Particularmente em casos cm que existe lesão obstrutiva
;f20.000 ::::::::: r-
Q; em um único vaso, as recomendações gerais para a indicação
_g 15.000 ~ de angioplastiu são:
V
10.000 I--
-: • Lesões com mais de 70% de obstrução de diâmetro em
artérias que irrigam grande ou moderada área miocárdica,
5.000 em indivíduos sintomáticos ou assiutomãticos, com is-
o ~ quemia evidenciada por provas diagnósricas.
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 • Lesões com mais de 70% de obstrução de diâmetro. cm
Perfodo artérias que irrigam pequena área miocárdica, com alta
=
= Cirurgia
Angioplastia
probabilidade de sucesso e baixos índices de complica-
ções. em indivíduos sintomáticos ou assimomãticos, com
- Linear(Cirurgia) isquemia evidenciada por provas diagnosticas.
_ Linear(Angioplastia) • Lesões entre 50 e 70% de obstrução de diâmetro, cm
artérias que irrigam grande ou moderada área miocãrdica,
Figura 49.1 - Número de internações para procedimentos de re- com alta probabilidade de sucessoe baixos índices decom-
vascularizaçãomiocárdica(cirurgia e angioplastia coronariana) no plicações. em indivíduos sintomáticos ou assintomãticos,
Brasil, de 1992 a 2002 com isquemia evidenciada por provas diagnõsticas.
Doenças Cardiovasculares • 481

TlcNICA da' forma, de hcpanna no, caw, em que a uugioplastia eja


rcali/adu cm intervalo de tempo inferior a 8h após a última
Aangi()plaslia rranvlununal corenaria é reali/ada por \ ia femoral.
dove de cnuxupurina vubcutânea
braquial ou radial. IIIIII/,lOdl)-'o.: carctcrcv-guia pré-moldadov,
conduzidos xoh \ 1'.111radlll,cnplca. com II' quaiv 'c catcrcrizam
seletivarncnre 0\ O'IHh da' artéria, coronãnav, c. por meio REESTENOSE PÓS-ANGIOPLASTlA
dos quais. t! injerado contravrc. 'CIIUO então adquiridav irna-
Originalmente. a angiopla'II,1 era rcali/udu cvcluvivamcntc
!ten, angiogdfica, cm \ .irIa' projcçõev para a definição prc-
mediante insuflação de balõcv, com (), quaiv ubunham-se ex-
CI\" da, tc,(ic, ob,lrUli\ ,I'.
prcs...iva-, dilmaçõcs do lúmen artcria I. O mccunivmo de ação do
Atnlvt!\ do cateter-guia nuroduz-ve um tio mctahco delgado
balão (compressão c con cqücntc ruptura da placa c dc estruturas
com cxtrermdade I1c\l\ el. com o qual 'é ultr.lpa"a J lcvão a ser
\ iz inhav) desencadeava rcações da parede arterial repre crua-
tratada. A vegurr, de acordo com a técnica tnuhcional. introduz-
da, por recolhimento ekivtico. cujo início já é ob ervado 10 a
\C cateter-balão rccobnndo II lio II teItíIico. como qual <e procede
l Srnin apll\ a in'lItlaçãll. seguido de fenômenos de desenvol-
:I dil:lIação iniciai da lcvao ohstrutiva, ap<h o que o balão é
\ irncnto lento. rcpre-cmudo-, pela proliferação de material
retirado. seguindo-se o implante do .111.'111 (Fig. 49.2).
mioimimal c pela rcrruçüo cicatriciul. r.,\C\ fenômenos eram
Alternativamente. de acurdo CUIIl caracterf ..ticus da lesão c
responvávci-, por clc"ad()\ Indice-, de rccvrcnose no, primeiros
da anatomia do vaso-alvo. o irnplantc de stent pode ser realizado
logo após a imrodução do fio mcrãlico. vem o passo interrne- 6 me ses apóv a rcalizuçüo de alll,llopla\tia por balao, Além disso.
~ diário representado pela di Illta,fio por balão (1Il'1I1 direro). a ruptura de cstruturav da parede urtcrial, nüo rnrn desencadeava
i. Apó, a libcrnção do \11'111 silo ohlidu' Illlagcn~ allgiognílica~ obsiruçõcs agudas por dissecções e/ou fenômenos rrombéticos.
O~ steuts foram inicialmente urilizudos cm situaçõe-, dc emer-
:; pura anãlisc \ isual e quumiuuivu do rcvultndo hnul (Fig. 49.2),
r' A udminl\lraçãn de a'lminH c de aj,!cnlc untipluquctãrio da gência. quando havia di ecções graves c/ou obstruções após
~ Iamília do, ucnopmdjnicov deve idcalmcmc ser ruiciadu no a angloplnsria por balão. Tal recurso resultou em expressiva
minimo 6h antes 00 procedimento para o clopidogrcl c 72h redução da incidência dc C\'CIlIOSclínicos grave e da neces-
quando da urilização da ticlopidinu. Durante :I intervenção vidadc de Ic\a,cul,lri/ução cirúrgica cm carãier de urgência.
adminivtra-ve hepanna não írucionada anteriormente ~I imro- De infcio, rclutou-w cm 'c "Iill/ur .II1'1I1.\ cm situações elerivas,
dução do lio mcrãhco. procurando-se manter nÍ\ ei-, de tempo cvuivci«. pchl fI'ÇI) teórico de trombove conseqüente à pre-
de cO:lgulação all\ ,Ida (TC,,) de 200 a 300 ,e).!undo~. scnça dc C'lnJllIra Illcl;illl.'a adcridll ~ paredc anerial coronarialla,
Altcmall\amenll'. plllk 'CI 1I,.ld;1 ;1 clltl\aparina. hcparina Tal ril>cojusli lica\ a 1.1 cmpl ego de violcnw\ c,qucm:l\ prevcn-
de b31'(0 pc:,o mulccular. hahllUalrnclllc admllll'lrada por via li\'os que incluíam allliagrcgalltc plaqucláflu. anlicoagulantc
subculânea a I:aoa 12h a l);Illcnlc\ COIl1\lndfllmc, curonariana~ oral. hepnrina c expan\urcs dc pl:I'III<1.II <Iue Ic\ a\ a .I allo~ ín-
1O'13\CI\,Quando lal\ paClcnlc, ""I CIH:amlnh"UII' p;lr;1 calc- dice;, de complicações hClllorrtígic:I\ no lo..ai 0,1 runção ancrial.
Icmmo e anglopla,lIa recumcnda 'c quc 'cJa admllll'lrada oo,c Meoianle ulilitação de alta prcssão para a hb.!raç:io do, _ç1l'III,\.
complemenlar dc enu\apal'in:1 'c a Inlen cnçàu for rcalitaoa dc inicio guiaoa pc)r ullra-'OI11 il1lracoronariano. con:>cguiram-se
entre 8 c 12h :llxh a úlllma dn,e ,ubcul:'nc.1. Quc 'c proccda allu, indl\:c, de "Ice"o angiográfieo com bahí:.sima ocorrência
àhep.1rinizaçãl) hahilual. C;I\O:I inlCf\Cnçãu 'cJa realí/ada mais dc tromhll\c Inlra-\/('III. cmpregando-se c\quema prevcntivo
~ I2hap<ha última do,c 'lIbClllâne:1 e não ,e aomini'lrc qualquer rc'triwa hcparina c moderno' agenlc,> nnllagrcgantes plnque-

Figura 49.2 - SequênCia de imagens mostrando


umaangioplastia coronariana, Este é um paciente
(omangina estável crõnica que apresentava lesão
obstrutiva de 99'- no terço proximal de artérra
descendenteanterior (A), tratada inicialmente com
umapré-dilatação com balào (8). Após balão, nota-
se lesão obstrutiva residual (C), logo em seguida
realizou-seimplante de um stent coronariano (O).
Angiografiafinal mostra ótimo resultado, com res-
tabelecimento pleno do fluxo coronariano em (E)
482 • Tratado de Clínica Médica

táriov, com baixa incidência de complicações hemorrágica, pliado para pacientes idosos e com doença valvar mais extensa.
no local da punção. Os resultados hernodinâmicos imediatos são rotineiramente exce-
A presença do Sf(!1II na parede arterial inibe doi dos rneca- lentes. com resultados a longo pra/o. em pacientes selecionu-
nisrno- que contribuem para a reestcnose pés-angioplastia por dos, similares aos dos pacientes <ubmctidos à comissuroromia
balão; o recolhimento elástico. j(1 identificável logo após a cirúrgica. A indicação crnbasu-sc em parâmetros clínicos e ecocar-
dilutnção e LI retração cicatricial. Por outro lado. os stents deter- diográficos. É mais comurnente indicada em pacientes com estenose
minarn maior estímulo para ti proliferação miointimal. elesorte mitral rcumãtica, nos quais a estenose resulta principalmente
que os índices de rccstcnosc, se bem que inferiores uos obser- da fusão cornissural com cspcxsamcnto associado dos folhetos.
vados apó~ LI ungioplastia por balão. luzem com que haja O ccocardiograrna bidimensional é um excelente método para
ncce ..sidude de novas intervenções em número não desprezível avaliação dos pacientes com estenose mitral grave. Por meio
de pacientes. O risco de recvrcnosc é maior quando a lesão dele. obtém-se um escore, o escore de Block. que avalia o grau
recoberta pelo stent tem uma ou mais das seguintes caracte-
de mobilidade. O espessamento dos folhetos. a inten idade de
rfsticav: lesão longa. localizada em vavo de menor calibre. ostial
acometimento do aparelho subvalvar e a presença de cálcio no
ou loculi/ada em bifurcação coronária. Além disso. há condições
anel e/ou folheto. : auxiliando o clínico a optar por dilatação
clínica .. representadas pelo diabetes (especialmente na forma
pcrcutânca ou cirúrgica. Cada parâmetro recebe um escore de
dependente de insulina) e a insuficiência renal crônica dialítica.
Oa 4. Um escore ~ 8 usualmente está associado com excelente,
que se avsociam ti maiores índices de rccsicnose PÓS-Sf(!1l1.
V(1rio~agentes terapêuticos aruiprolifcrarivos foram eficazes
resultados imediatos e a longo pruzo. enquanto escores> 8 estão
associados com resultados menos bcm-sucedidos. Presençade
na atenuação da proliferação 111ioi nti 111a I pós-implante de stent
trombo atriul esquerdo e regurgitação mitral são contra-indica-
cm diversos modelos experimentais cm animais. No entanto.
os mesmos agentes foram ineficazes em prevenir a reestenose ções.Pacientes com valvas rígida, c espessas.com fibrose subvalvar
quando udminivtrudos a pacientes submetidos a implantes de extensa e calcificação, apresentam resultados menos satisfatórios.
.vrnt». /1., doses utilizadas no, modclov animais eram muito existem mais eleuma técnica de valvoplastia mitral. A valva.
alta, para serem administrada, com segurança aos pacientes. em geral. é acossada aruerogradamcntc por punção transeptal
O desenvolvimento de stents recobertos por polímeros que airial. muito embora haja relato de acesso retrógrado. Um (Inoue)
urma/cnarn c liberam agentes fnrmacológicov possibilitou a ou dols balões são condu/idos até o orifício valvar onde são in-
administração de altas doses de agentes untiproliferativos no vul'lados suces ivarnente até a expansão total do balão. A sepa-
local do implante do stent. Em estudos clínico' e angiográficos. ração e a fratura cornissural do cálcio nodular parecem ser os
analisundo-sc os resultados de steuts farmacológicos libcradores mecanismos responsãveis pela melhora da função valvar. Em
de puclitaxcl e de ruparnicina. dois poderosos agentes antiproli- várias séries. os resultados hcmodinârnicos têm sido bem lavo-
fcrat ivos, observaram-se índices de rccstcnose muito inferiores rrivcis. com redução significativa do gradiente de pressão
aos obtidos com os stents convencionais. em todos os tipos nna- transmitrnl C duplicação da área vai var, aumentando em torno
tôrnicos de lesõescoronariana..e nasdiferentes condições clínicas. de I II 2cl11~.Outra técnica utilizada é o LISO. também por via
inclusive em pacientes diabéticos. transcptal. do comissurótomo merãlico, idealizado por Cribier.
O volume da placa de aieroma é fator predisponente importante cm 1995. que consiste em duas hastes metálica que se abrem
para o descnvolvimeruo de rccstcnove. tanto em angioplastias quando tracionadas, provocando a fratura comis ural: os resul-
por balão. quanto em implante de steuts. Diversas tecnologias tados são similares aos do balão. As complicações com a val\'o-
toram dcscnvolv idas para a remoção de material da placa com temia pcrcutânea são baixas e ocorrem mais freqüeruemenre
o objcrivo de ,e conseguir maior expanvâo do lúmen vascular e de cm pacientes com escore ccocardiogrãfico superior a 8. A com-
sereduzirem ()~índices de recstcnosc(cateteresemissoresde raios plicação mais frequentes são refluxo mitral (3 a 6%). pcrfu-
/1/1('1'. aicrótomos rotacionais. atcrótomos direcionais. cuttlng ração cardíaca (2%) c embolização sistémica (I %).
baloon.ctc.), Frenteaos resultadospoucoeficazes e especialmente
em decorrência dos altos índices de sucesso e do reduzido per-
centual de rccstenose pós-implante de Sf(!III.\· modernos. tais
Valvoplastia Aórtica
técnicas têm sido usadas muito excepcionalmente. Esse procedimento tem um importante papel no tratamento
de adolescentes e adultos jovens com estenose aórtica, porém
um papel muito limitado em adultos e idosos. É realizado pela
APLICAÇÕES EM OUTRAS DOENÇAS
insuflação, atravé da valva cstcnosada, de um ou mais balões
DO SISTEMA CARDIOVASCULAR com diâmetros de 15 a 25ml11e extensão de 3 li 5cm. A relação
entre o diâmetro do balão e o diâmetro do anel valvar aórtico
Intervenções em Adultos não deve exceder 1.2 a 1.3. A inserção do balão pode ser feita
Além da~ intervenções em artérias coronárias. uma série de por via arterial femoral retrógrada (a mais comum) ou por via
outras intervenções pode ser rcnli/uda em pacientes adultos, antcrógrada, através de punção transcpral, guiada por um fio-
destacando-se as intervenções vai vares. inicialmente restrita guia rígido. ancorado no ventrículo esquerdo. O mecanismo
ao tratamento das estenoses, porém mais recentemente am- ele nlfvio da lesão envol ve a fratura de depósitos de cálcio no)
pliadas ao tratamento das insuficiências COI11 implante percutâ- folhetos vai vares. aumentando a flexibilidade dos Iolhcros. e
nco de próteses valvares. Dignas de nota são as intervenções algum grau de distensão do anel valvar e separaçãodas comissuras
cada ve7.mais crescentes em patologias da aorta. destacando- calcificadas ou fundidas. O re uhado imediato inclui umaredução
se o implante percutâneo de M(!/I(.I· (endoprótel>e~ vasculares) moderada no gradiente de pressão tran~valvar e um aumentO
para o tralamcnto de aneuri~mas c di"ccções. da área valvar que raramente ultr<lpa~~aIcm!. Apesar da modesta
mudança na área valvar. uma melhora sintomática precoce é
usualmente vista. Contudo. sérias complicações ocorrem com
Valvoplastla Mitral uma freqüência > 10%e reestenosee deterioração clínica ocorrem
A primeira c()lllis~urotomia mitral percLltânea foi realizada, dentro de 6 a 12 meses na maioritl dos pacientes. Portanto. em
utilizando balllo único. em 1984 por Kenji Inoue, no Japão. adultos com estenose aórtica, a valvoplastia com balão não
técnica que hojc leva o seu n0111e.Inicialmente indicada em substitui a troca valvar cirúrgica. A valvoplnstia pode serconsi-
pacientes jovens. com boa mobil idade vai vaI'. teve seu uso am- clerada IH1S seguintes situações: COmo ponte para cirurgia cm
Doenças Cardiovasculares • 483

pacientes hcmodinarnicamentc instáveis que são de alio risco ValvoplasUa Aórtica


para troca valvar uõnica. melhorando as condições clínicas para
A estenose valvar aórtica re ponde por aproximadamente 3 a
a cirurgia: em pucicntcx com estenose <tónica grave que necessitam
6% de todas as cardiopatias congêniras. A estenose aórtica
serem submetido' a uma cirurgia não cardíaca de urgência e em
pode ser valvar. supravalvar e subvalvar, O primeiro caso de
pacientes com graves co-morbidudcs, como terapia pnliatlva.
valvoplast ia aõrt ica foi realizado por Zuhdi Lubabidi, em 1982.
em um menino de X ano. . a estenose valvar da criança, a
Valvoplastla Trlcúsplde vulvoplastiu est:1 indicada quando o gradiente sistólico entre
o ventrículo esquerdo c a aorta encontra-se acima de 80mmHg.
A valvoplastia tricúvpidc é um procedimento pouco trcqüen- independente dos sintomas, ou nos casos de gradientes maio-
te. A estenose tricúspidc é c-scncialrncruc de origem rcumãrica. res que 5011111111g se houver intornas ou evidência de disfun-
A valvoplastia por balão .11 LI a através da rh'ura c separação ção ventricular. Na csteno e aórtica crítica do nconato a
comi sural. O acesso se faz por via venosa fcmoral. A técnica valvopluvtiu ó uma opção a ser considerada. em virtude da
utiliza duplo balão ou balão de lnouc. O proccdimcmo é similar alia morbionulidadc associada ao tratamento cirúrgico. A
à valvoplastia mitral. la maioria dos cusos. a dilatação leva a valvoplnsria nõrticn é. nonnalrncmc, rcali/adn por via retró-
significante redução do gradiente e significante aumento da grada. insuf'lnndo-vc um balão com uma relação de diâmetro
área valvar. O risco dominante é ocorrência de regurgitação de I: I cornpurudo ao anel valvar, De um modo geral. (li- rcsul-
tricúspidc. A\ indicações de valvoplastia tricúspidc são raras. tado são bons c a vnlvoplasria uõnicu configurn-se como opção
Elas são reservadas para pacientes sintomáticos com estenose terapêutica real ao rratamcnto cirúrgico convencional nos pacientes
irlcüspldc grave pura ou COIll leve regurgitação. pediãtricos. Nos casos que cursam com hipopíusia do anel valvar
c calcificação valvar grave os resultados são pouco efetivos.

Implante de Prótese Valvar Mitral e Aórtica Valvoplastia Mitral


Hoje em diajá existem relatos de casos cm animai, c cm seres A c-rcnosc mitral congénita ocorre em 0.2 a 0.5% dos pacientes
humanos de implante de próteses valvares de fUfln:l pcrcutânea. com defeitos congênirov. Ali informações a respeito do procedi-
Esses procedimentos ainda se encontram em [ave experimental. Il1CnlOainda ,fio C'C:l\\"\. Pequenos estudos mostram resultados
ma prometem. cm um futuro próximo. constituírem-se cm que podem sugerir a valvoplastia pcrcutâncn como um procedi-
alternativas menos invasivas cm relação ;1 cirurgia valvar. meruo altcrnarivo à cirurgia. Em crianças com estenose mitral
de origem rcumãtica a valvoplustiu mitral por cateter-balão
tem apresentado excelentes resultados, A~ principais récnicas
APlICAÇOESEM CARDIOPATIAS CONG~NITAS utilizada' !\iio as de Inoue c do duplo balãu.
Desdeos primeiros procedimentos cardíacos intervencionistas.
a partir de 1953 quando Rubio Alvarez et al, no México. utili-
Valvoplastla Trlcúsplde
zandoum valvétomo. adaptado a uma sonda uretral. dilataram
a..primeiras vulvas pulmonares estenõticas. a~ indicações do A estenose mitral congénita rem como causa-, a sfndrome carci-
cateterisrno imcrvcuciunivta nas cardioputius congênuas não nóide. a fcbre reumática. anonnalldades congênitas e endocardite
param de crescer, seju na dilatação das valvav pulmonares. infecciosa. Ocorre em 0,2 a 0,5% dos pacientes com defeitos
aõnica, mitral c tricüspide. na, amptiaçõcs de defeitos, do septo congênitos. A. técnicas utilizadas têm sido. como na valvoplastia
atrial. nas aoncplnstiu» com ou sem o emprego de prõtc: cs. mitral. a de lnoue e a do duplo balão. Acumulam-se relatos iso-
mais recentemente na ubertura de valvas pulmonares utrésicas: lados dc dilaiaçâo da valva tricúspide. com alta taxas de sucesso
seja nas oclusõcs de defeitos dos septos atriul c ventricular e primário, melhora dos parâmetros clínicos e hemodinâmicos
no fechamento do persistência do canal arterial. C baixas inxns de complicações.

Valvoplastla Pulmonar Aortoplastla na Coarclação de Aorta


A coarctação de aorta representa aprovimadumcmc 6% da. car-
A estenose valvar pulmonar representa cerca de 10% de todas
diopatias congénitas. Caracteriza-se por cstrcitumcmo situado
3\ cardiopatiav congênitav, É uma doença predominantemente
na aorta desccndcme, após a crossu aõnica. classificando-se
pcdiátrica. 111(1\ ~, \c/c, J cncontrada em adultos. em pré-duclal. justaductal e pós-<)uctal. conforme a sua posi-
A indic:lção dc \ahopla\lia pulmonar tem por ha'\c ° gra- ção cm relaçiio ao canal arterial. A abordagcm é :lnerial por via
dientesistólico cl1lre o \ entrículo dircito c o tronco pulll1onar. já retrógrada. Utilizam-se balões cujos diâmctros não devcm es-
quea maior Inlnc dai. criança!. é assinlOmálica. Quando gradien- tar acima de 0,9 a I li relação com o diãmctro de aona dc referência
lesiguaisou acima dc 50mmHg são deleCtadu:. J)orccocardiogrntia (iSIIllO :tónico, BOrla abdominal na ahurn tio diafragma). O me-
ou clllelcriSlllo, e~tá indicada a inlcrvenção. O procedimcnto é canismo de dillltaçiio é o re uhado da ruptuJ"fl e dissceção da
renlil:ldo atntv6 da \cia remoral, posicionando-se um lio-guia camada fntim:l arterial. o que explica a eventual formação de
emum ramo pulmonar. Subrc o lio-guia condu/-lIe um (lU mais aneurismal.. Os s/em.l· são de uso mail> reccnte c vicram para
balõcsdc valvopl:l,tia.coll1uma área combinada de :.ocção tran~\'c..sal ntimi/.ar o~ resultados. atuandocomo l>upone cndoluminal, evitando
emlomo dc 20 a 40(f maiorcs quc o ancl val\"ar. até a altura da o recolhirncnlo clástico e estabiliz3ndo a:, linhas de dissecção.
valvapulmonar c,teno,ada. Nestc ponto. o.. balõc, ,ão in,utla- minimi7:1ndo. dcssa forma. o risco de reestenose e formação de
dos com meio de contraMe líquido a prc ..~õc, de 3 a 5atms. O. ancuri:.ma:. (rig. 49.3). A aonoplastia por balão e tá indicada
melhoresresultados são encontrados no tratamcnto da, C~lenoses na cuarctaçfio nativa da aorta (e!>teno!>esanulares, concêntricas
pulmonaresvalvatCl.com fusão conússural. con~tituilld()-~e. hoje. c lIa~ recoarctaçikll). Indica-~c o procedimcllto na prcsença de
notmtamenlOdc escolha. obtendo-se, na gmnde maioria dos casos, hipertensão artcrial sbtêmica. insuficiência cardfnca ou pela
reduçilosignificatÍ\'ado grãdiente sistólico entre o ventrículo direito existência de estenosc igualou maior que 50% do lúmen do
e o lronco pulmonar. O segmento de longo prazo tcm demons- vaso peja ecocardiografia ou 30rtogralia. Alultllllente tcm sido
trado II manutcnção dos resultados. o tratamento de escolha na... recoarcwções. EUI nconalC)sc lactcntes.
484 • Tratado de Clínica Médica

Figura 49,3 - Paciente portador de coarctação


de aorta com importante repercussão hemodi-
nâmica (A), submetido a aortoplastia com imo
plante de um stent aórtico (B)

ii indicação restringe-se à paliação, em virtude das alias taxas cava inferior (Fig. 49.4). O procedimento pode ser indicado na
de reestenose a curto prazo (até 90%), Em crianças acima de I transposição das grandes artérias com comunicação intcratrial
ano, adolescentes e adultos (cxceto idosos) os resultados têm restritiva. na atresia tricúspide, na atresia pulmonar com septo
se mostrado excelentes, com taxas de sucesso imediato supe- ventricular íntegro. na dupla via de saída de VD com comunica-
riores a !)()l~, incidência de aneurismas entre 1,9 e 4.5% e rees- ção intcratrial e interventricular restritivas, na hipoplasia do coração
icnosc entre 10 e 20"K. Silo fatores predirores de ree tcnose: esquerdo e do coração direito, na estenose grave ou atresia mitral
hipoplasia do istmo aõnico, gradiente residual superior ii 12mmllg c na drenagem anôrnala total de veias pulmonares. Como resul-
e valor da relação diâmetro do istmo/diâmetro da ao na descen- tado. habitualmente nota-se dramática e substantiva melhora da
dente inferior a (),65. A utilização de .\"((!IIIS praticamente elimi- saturação arterial de oxigénio, da acidose metabólica ou do qua-
na a incidência de rccstcnosc: entretanto o seu uso está geralmente dro congestivo, COI1 forme tenha sido a indicação do procedimen-
limitado a udolcsccntes e adultos. to, propiciando melhores condições clfuicas à criança até que
seju institufdo o tratamento definitivo. Um gradiente prcssórico
médio entre os átrios IIICl10r ou igual a 3 pode ser considerado
Atriosseptostomia critério hemodinâmico de cfctividade da atriosseptostornia.
,\ atriosseptostornia teve início em 1962 com Rushkind COI11 o
objerivo de abrir ou ampliar uma comunicação entre as circula-
ções. angüincas direita e esquerda para proporcionar uma maior
Oclusão de Persistência do Canal Arterial
mistura entre as circulações pulmonar e sistémica. com o conse- A persistência do canal arterial ocorre cm 0,01 a 0,08% de todos
qüentc aumento da saturação sangüfnea de oxigênio. Paralela- os nascidos vivos e representa cerca de 6 a II % do total das
mente, O procedimento pode aumentar o fluxo intcrntrial. elevando cardiopatias congênuas. Porstrnann. em 1967, realizou a primei-
o débito c:lldíaco c diminuindo a carga pressórica sobre o leito ra oclusão pcrcutâuca de persistência de canal arterial uiili/ando
vascular pulmonar ou. em alguns casos, sobre o lcuo venoso sistêmico. um plug de Ivalon. É aceito que a persistência do canal arterial
O procedimento é realizado com balão cm crianças com menos clinicarncntc detectável deva ser fechado. É comum programar
de 1 mês ou com um cateter lâmina em situações onde há uma () fechamento na época do diagnóstico, se houver sinais ele cvo-
maior rigidez do septo intcratrial e a eficácia do balão é menor lução clíuica desfavorável: insuficiência cardíaca congcsiiva.
(crianças COm mail- de I mês). Através da via venosa fcruoral o pneumonias de repetição, sinais de hipertensão arterial, déficit
cateter-balão é avançado até o átrio direito. ultrapassando a co- pôndero-cstatural acentuado: caso contrário, posterga-se paraapós
municação interutrial e sendo posicionado lia altura de uma veia 6 a 12 meses de idade, pcrfodo em que pode ocorrer o fechamen-
pulmonar. preferencialmente na veia pulmonar superior esquer- to espontâneo do canal.' São recomendações na atualidadc: pa-
da. onde é insuflado e dclicadamcruc recuado até o exato nível cientes com peso igualou superior a I Okg, com sopro decorrente
da comunicação, onde deve ver rrucionado de forma curta e vi- de canal arterial isolado de até I Ornrn de diâmetro ou associado
gorosa, para que o balão possa lacerar o septo e não atinja a veia aoutras anomalias congénitas que não requeiram tratamemo cirúrgico
ou não sejam canal arterial dependente: pacientes adultos com
canal calcificado após tentativa mal sucedida de ligadura cirúr-
gica. Os critérios de exclusão são: pacientes com peso inferior li
5kg, resistência vascular pulmonar maior que 8 Wood, relação
de resistência pulmonar/sistêmica maior que 0.-1. Habitualmen-
te, os procedimentos de oclusão são realizados sob anestesia geral
Em geral. o acesso é obtido por punção fcrnoral arterial e veno-
sa, introduzindo-se cateteres para medidas pressõricas e oximétricas
de rotina. seguidas de aortografia em posição lateral para deter-
minar o tamanho e a posição do canal. Com base em aspectos
morfológicos e com a finalidade de escolher o dispositivo oclusor,
adora-se a classificação de Krishenko, cm que a presença e os
locais de estreitamento configuram cinco tipos ungiográficos de
duetos. Após as medições iniciais e a escolha do dispositivo
Figura 49.4 - Atriosseptostomia com balão em um paciente oclusor ideal. este é levado pelo sistema carregador específico
portador de transposição de grandes artérias com comunicação e manipulado através do canal. Confirmadas a posição ideal e
interatrial restritiva a estabilidade da prótese, libera-se o oclusor, Alguns disposi-
Doenças Cardiovasculares • 485

tivos oclusores como os de Porsunann e :I dupla umbrella de rnento percutâneo são de Lock et (II. em I <JH8.utilizando uma
Rashkind tiveram sua utilização cada vel mais reduzida até sua umbrella. A partir da! sucederam-se outros relatos e utilização
retirada do mercado: outro, como as molas de Gianturco e as de outras próteses. corno o buuoned device com bons resultados.
molas de liberação controlada permanecem em uso. pela cficá- Mais recentemente a prõrese de Amplatzcr modificada (a partir
cia e baixo custo. mas hrnitadas a canais com menos de 4mm da prõicsc de CIA) foi utilizada com sucesso em algumas séries
de diâmetro. Mais recentemente. a partir de 1998. a prótese publicada . mostrando bons resultados. A prótese e a técnica
oclusora de Arnplatzer surgiu como uma alternativa. amplian- de liberação é semelharue à da CIA. Esses resultados colocam
do o espectro dc indicaçõe para canal moderado. a grandes. O fechamento percutâneo da CIV como lima alternativa segura
com altos índices de suces o. próximos a 100%. com pequeno e eficaz ao tratamento cirúrgico. em ca...o\ <clccionndos.
número de casos de S/lIlIIt re...idual. Com o aperfeiçoamento das
técnicas e materiais. a terapia pcrcutâncn por meio de cateto- BIBLIOGRAFIA
res, torna-se cada VCI rnai ... mrativa, ACC/AIIA TASK FORCI:; RI;POR 1 f\C'CIj\] 1,\ Guukt,l'Ie'\ "'flhe management of paticnts
with vat'lIt.,r he~n 1I,\<'l"'. Jil('('. \. 12. n. 5. p. t~H6·ISS8. t998.
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p, t37·1'18. 2001
A comunicação intcrnrrial (CIA) rc ponde por aproxirnadamen- ))AIM. I>. S.: GROSSMAN. W C;flwmlll") Cardtu« Callr.tu;:atllln. iltlRillgrtll'/II'. ",",
tnterventinu. 6. ed. Balumore: L'ppincoll. 20(1().
te 7 a 11% dc todas us cardiopatias congênitas, O defeito passf- COELIIO. IV. M. C.: LABRl;NIE. A.. SECCIIES. A. 1..: JACOB. J L. II V:.I"lll'h"';,,
velde tratamento percuiâneoé a CIA tipo ostlum secundum, sendo mitral: estudo» rnndorn;l3do,. Rt"I· SM. C"'lNol. f:.III11/11 dr S,l" /'1111/0. v. )2. II, 2.
ii variedade anatômica mais frequente. correspondendo :1 75% p. 327-333. 2002.
dos casos. O primeiro caso relutudo do emprego de uma prótese COSTA. F. A.: KALlTA. L. J.: MAR'fINl:'Z 1·ILltO. ll. M. tniervenções percutâncns cm
cardiopatias congênil.lS. Arq. LlnlJ. CorJIII/.. v. 7M. n. 6. p. 608·617. 2002.
para oclusão de uma CIA foi de King e Mills, em 1974. Após ESTEVES. C. A.: IlRAGA. S. L. N. ASpeclo> técmcos alu:", da valvoplastia mitral. ReI'.
isto, vários dispositivos foram desenvolvidos e aperfeiçoados, Soe. Cardiol.Estadod~ São Paulo. v, 12.n 2. p. 306-31~.2002.
desdea umbrella única de Rashkind. passando pela Sideris.ASDOS, FONTES. V. F.: PEDRA. S. R. F. F.: BRAGA. S. t, N,: PEDRA, C. A. C. Fechamcnro
AngelWings. Starflex e. mais recentemente. as prõteses oclusoras percurâneo da cOlllunícaçio mteratnal R .... Soco Cardiol. Estado di! São POIdo.
v. n, n. 2. p. 293·305.2002.
dos tipos Helex e Amplarzcr, sendo esta última a de maior acei- GOMES. N. L.: ESTEVES. C.: BRAGA. S. L. ::\.: MALOONAOO. M.: MACHADO.
tação atualmcnte e com resultados bastante promissores. Esse L: MEt'\EGUELO. Z. E,oluç~.o lanha da \'ahopla'lia mitra], Rev; Soe. Carâtol:
dispositivo é constituído de dois discos auto-expansíveis unidos EJllldolü St.iIJ "'mIo. \.12. n. 2. p. 315-326.2002
liA 00.-\ O. J.: UMA FlLIIO. M. O: FIGUEIREDO. G L .• CARVALIIO. S. E. M. Tr:l13·
por um eixo central que deve corresponder ao diâmetro estirado mente inlervencionista da coartUÇ30 de aotU Rrv. so«. Cordiol. ÜliJl/O dr São
da elA. A estrutura externa é cornposra de uma rede metálica de Paulo. v. 12. n. 2. p. 281·292. 2002
nitinol, revestida em seu interior por frugmentov de poliéster. PEPINE. C. J.: IIILL. J. A: l.AMBI Rf. C R ''',,~n,"l1r Ilnll n,~rl'/>fllltr Cardiac
cuja função é ampliar a trombogcnicidadc. Está disponível no CO,htttn:orllHl J. cd llatllmOf<: \\,)hJm, A. \\,Il,n,. 1'198.
SANTOS. J. L. A.. GRI:.GUOLO. C . ~ \lIRtS Jl.MOR J 1.. \, RI,S Nt!1(). E. :-'1.1rata-
mercado em diâmetros de -' a -'Omm. A selcção dos pacientes memo pcrcullnco lia pcrll,,~nc,alk) canJI .n(nal Rr. !>t... ConllOl. Ii>wd" Ilr !Hi"
para trotamento pcrcutâneo é feita pela ccocardiografla tran torácica Paulo, \ 12. n 2. p lN 21>0. 2002.
e transcsorãgica. devendo obedecer aos seguintes critérios: co- TOI'OL.l:. J. TUlbocl~ofCordlo"JsrulurM~dlrtnt. Plut..setplul Uppincou-R:o\'clI. 1')98
municação interarrial tipo ostium secundum, cênrrica: diâmetro A cornprehenvrve IC\I.
do defeito entre 4 e 40mm (estirado): S/lIlIIt esquerda-direita:
sobrecarga volumétricu das câmaras cardíacas direitas: distância
2:4mma 5mm das margens do defeito e da .. estruturas coruíguas
(seio coronariano, valvas utriovcntricularcs, veias pulmonares. CAPiTULO 50
veias cavas): bordas firmes com pelo menos 5ml11 cm torno do
defeito; ausência de hipertcnsãu pulmonar fixa. Quanto nos re-
sultados, o tratamento pcrcutânco de CIA tem se mostrado muito
seguro, eficaz e com morbidade mínima, Na experiência com a
prótese de Amplatzcr, a oclusão do defeito sem shunt residual
imediato varia de 81 a 100%, sendo a maior pane cios SIIlIlItS
Função Miocárdica
residuaisconsiderados lriviais, sem repercussão hemodinâmica.
As complicações maiores do procedimento percutâneo são ra-
ras,dentre elas, a embolização da próte~e. maque isquêmico ce-
rebral transitório, taquicardia paroxística supr:wentricular e distúrbios
Normal-e Anormal
da condução atriovemricular.
José Rocha Faria Neto
OclusãoPerculânea de José Knopfholz
Comunicação Interventricular
A comunicação interventricular (CIV). excluindo-se a valva
Antonio Carlos Palandri Chagas
a6nica bicúspide. trata- e do defeito congi:nito de maior ocor-
rência na população geral. loendo rel>pon~ável por cerc" de 20%
do total das cardiopatias congênitalo. rcnetindo uma incidência
INTRODUçAo
de 1,5 a 2.5 por 1.000 nascidos vivos. A indicação de fecha- A compreensão dos mecani!.mos normai ..da contratilidade mjo-
mentodo defeito no primeiro ano dc vida fica restrita aos casos cárdiea. bem como dos mecanbmol> bioqufmicos e celulares
de grandes comunicações. quc cu~al11 com insuficiência car- para a contraçao normal do músculo cardíaco, é fator neces-
dracncongestiva, illfecçõc\ pulmonares repetitivas, hiperten- sário para o estudo do aspecto final de quase todas as síndromes
são anerinl pulmonar e importante déficit pôndero-estatural. cardiológicas: a insuficiência cardíaca. Cada vez mais, a farma-
Caso contrário. recomenda-se o acompanhamento clínico até Cotcrtlpia embasa-se em mecanismos histobioquímicos. o que
os 8 a 10 anos de idade, quando 70% do defeitos terão fechado tOrna necessário o entendimento dos fatores normais e anormais
espontaneamente. O fechamento pode ser reali~ado de forma no funcionamento miocárdico. Mais do que isto, observa-se de
cirúrgicaou de forma percutânea. Os primeiro relatos de fecha- uma forma crescente que mecanismos gênicos c nucleares podem
486 • Tratado de Clínica Médica

nãosó serestudados como também modificados. fato que justifica miosina e delgados em actina), Nos filamentos de miosina são
ainda mais a adequada revisão do capítulo que se segue. encontradas projeções laterais chamadas pontes cruzadas. Elas
A divisão do coração em duas bombas distintas. o coração formam proeminências da superfície dos filamentos em tOOI!
direito, que bombeia sangue para os pulmões. e o esquerdo. que sua extensão, excero nn sua porção mais central. É a inrcração
cjcra sangue para os demais órgãos. tem sido clussicamenrc entre as pontes cruzadas e os filamentos de actina, promovendo
citada pelos fisiologistas. Entretanto, pela sua interligação, os o deslizamento deste para a região central do sarcôrncro. que
dois lados têm repercussões recíprocas. fato que tem sido im- provoca o encurtamento do sarcôrnero e a coruração. Esta teo-
plicado em urna série de alterações sistêmicas quando de um ria dos rniof lamentos deslizantesfoi proposta em 1966 por Gordon.
miocárdio "normal. As câmaras cardíacas, átrio e ventrículo. se Huxley e Julian para os músculos esqueléticos. mas foi tam-
comportam de formas distintas. O primeiro é basicamente um bém prontamente aplicada [Is fibras cardíacas. Quando a fibra
reservatório com função contrátil discreta. e o segundo é a força está em seu comprimento de repouso. inteiramente distendida,
motriz de circulação sangüínea do organi mo. os filamentos de miosiuu ficam completamente superpostos aos
A cada batimento, o ventrículo exerce sua força Contra uma filamentos de acti na. e é neste comprimento que o sarcômcro
resistência. denominada pós-carga. O retorno venoso, por sua é capaz de gerar sua força máxima de coutração.
vez. determina um volume de sangue no início da conrratilidadc, O filamento tino é formado por moléculas de actina. trepo-
o qual é chamado de pré-carga. Essesdois fatores. juntamente miosina e (roponina. A acuna é o csquclero básico do filamento
com a capacidade coruráti I do miocárdio, são os principais deter- delgado, formada por moléculas de aspecto arredondado, que
minantes da função cardíaca. Quando há um distúrbio de algum constituem um longo cordão hei icoidal. A tropomiosina envolve
dessesfatores, surgem mecanismos compensatórios para manter helicoidalmente este filamento, protegendo os sítios de ligação
um débito cardíaco adequado. Alguns desses mecanismos são da actina e impedindo a conexão da mesma com a miosina.
de surgimento imediato, como o ajuste da frequência cardíaca. Situadas ao longo deste filamento, encontram-se as diferentes
do estado contrâti Ic da capacitância venosa: outros, surgem após troponinas. A troponina T repousa sobre a tropornlosina e é res-
algum tempo de descompensação, como a retenção sódica c ponsávcl pelo adequado posicionamento da mesma. A troponina
de fluidos. A longo prazo. ocorre o rernodelamento cardíaco. C, por sua sensibilidade 110 cálcio, é capaz de permitir urna
Todos esses mecanismos. apesar de inicialmente benéficos. torção da tropomiosinn, descortinando os sítios de ligação actina-
contribuem para o surgimento da síndrome de insuficiência miosina. Por outro ludo. a troponina I liga-se ii actina, inibindo
card íaca quando perpetuados I. a miosi naAf'Pase e, conseqüentemente, impedindo o movimento
comnitil, A nçâo da troponina I é revertida na presençade câlcio.
O fi lamento espessotem sido descrito como um feixe poronde
CITOLOGIA E HISTOLOGIA se projetam várias cabeças ou pontes cruzadas. A molécula de
O músculo cardíaco é constituído por células com a. pccto miosina é dividida em mcrorniosina leve ou região da cauda,que
alongado. chamadas cardiomiócitos. Estesapresentam cstriaçõc é o feixe em si. e merorniosina pesada. ou região globular, pro-
transversas, corno o músculo esquelético, mas distinguem-se jeções por meio das quais a cabeça encosta no feixe delgado c
morfologicamente principalmente por suas células serem uni realiza II sua lição enzimática. Esta é detentora de dois süios: o
ou binucleadas, Os cardiorniõciros anastomosam-se irregular- de ligação da aciina e o de quebra de adenosina trifosfato (ATP).
mente, assumindo um aspecto sincicial. Os sincícios atrial e Dentro do sarcôrnero, a linha H representa os segmentosde
ventricular são separadospor um tecido fibroso. onde repousam miosina que não estão sobrepostos 1\ actina. e a linha A denota
as vulvas atrioventriculares. Além das células corurãteis, fibras a extensão completa de um filamento de miosina, parcialmente
do sistema de condução são O meio fisiológico capaz de transmitir recoberto pela acrina.
o impulso elétrico entre os sincícios. Um terceiro tipo de filamento, importante para li estruturado
Externamente. o cardiomiócito é envolto por uma membrana sarcômcro, é formado por tirina, uma molécula bastante volu-
celular. o sarcolcma. O que forma os uibulos T. Anatornicamente, mosa c que parece ter a função de manter a posição centrada
essas estruturas são invaginações da membrana celular que dos filamentos de miosina. Em 1999, Cazorla et 01.2 propuseram
formam () percurso por onde o potencial de ação irá se propagar a possível função da ririna como um sensor de estiramento
parti desencadeara conrração miocárdica. O túbulos T possuem máximo do sarcômcro, desfazendo a imagem da função basica-
conexão anatómica e funcional com o retículo sarcoplasmãtico. mente estrutural que se tinha desta proteína. Em recente es-
constituindo o sistemasarcotubular, Dentre asorganelas no interior tudo, reforçou-se a hipótese de que a titina possui uma função
do citoplasma. destaca-sea grande quantidade de mitocôndrias, moduladora. promovendo a interação actlna-miosina'.
que têm a função de gerarenergia, e o retículo sarcoplasmático, que Quando os tilarnenros de actina estão totahncnte superpostos
é detentor de grande quantidade de cálcio em seu interior, fun- COI11 os de rniosina. a fibra encontra-se totalmente distendida e a
damentai para O mecanismo de coniração. . força de contração é mãxi mil. O funcionamento do músculo car-
A presença de linhas transversais facilmente coráveis e que se díaco é dependente do influxo de tons cálcio para o interior do
repetem em intervalos regulares. chamadas discos intercalares, sarcõmero. O potencial de ação gera a despolarização da célula
também é característica própria do músculo cardíaco. Essesdis- miocãrdica, fi qual permite a abertura dos canais lentos tl'OI1CO de
cos representam complexos juncionais na interface das células coronária esquerdade cálcio. Esta entradade cálcio no meio intrace-
adjacentese apresentampelo menostrês funçõesdistintas: conectam lular desencadeia a saída de cálcio cio interior do retículo sarco-
as células através de desmossomos (impedindo que elas se epa- plasmático para o citoplasma. Este fon liga-se à rroponina C, a
rem sob a atividade contrátil constante do coração), ancoram e qual permite o entorce da rropomiosinn c a conseqüente liberação
conectam os filamentos de actina das células adjacentes e perrni- dos sítios de ligação actinu-rniosina. Com isso, a cabeça da miosina
rem a conexão iônica das células por meio dasjunções tipo gap. é capazde movimentar a actina por meio de estímulos continuados,
Tanto o músculo cardíaco como o músculo esquelético apre- fazendo a mesma deslizar sobre o filamento espesso. Solarac
sentam proteínas de maneira organizada, formando a unidade Rarick descreveram que a ativação de uma ponte cruzada é capaz
funcional do coração. o sarcômero, Os sarcômeros repetem-se de ativar as vizinhas, difundindo o processo de contração'.
em série. separados por uma estrutura chamada disco Z, e for-
mum as miofibrilas, que ocupam 50% do cardiomiõcito. Nos
sarcôrncros,as proteínasencontram-se principalmente sob a forma
PR~-CARGA
de miofilamentos. Esses filamento são chamados de espessos A pré-carga representa a tensão exercida na parede ventricular
ou delgados, conforme sua composição (espessos são ricos em após a coruração curial. Como o átrio é basicamente um rcser-
Doenças Cardiovasculares • 487

vatõrio do sangue coletado do sistema vcnnvu, o csrirnmcnto é denominado vístolc. e o momento de relaxamento é cha-
do arcõmcro ventricular é dependente havicarncmc do reter- mado de diástole.
no venoso. O sangue flui das veias cavas e pulmonares para os átrios.
O grau de dlsrcnsão da fibra é [atur determinunte para o e grande parte (75%) do fluxo vai diretamenrc para os ventrfculos.
desempenho ~bl6lico normal. Esta melhora do desempenho Portanto. a contração atrial é responsável por apenas cerca de
sistólico que ocorre com o grau de estiramcmo da fibra é a base 25% do enchi 111I.!ruo ventricular. A fase de enchimento rápido
do mecanismo de Fruuk-Sturling. A curva de Frunk-Srarling da diãstolc ventricular dura o primeiro terço da mesma e se
também é úril no aprendizado dc uma xituuçâ»: a elevação da curactcriz a pela abertura das vulvas mrlovcntricularcs com
pressão, com acré: cimo de volume, ocorre dc maneira ascendente conseqüente período de enchi mcnto fugal dos ventrículos. No
aiéum ponto limitado. ou seja. a partir de um grau de estirumcruo segundo terço. o fluxo sangüínco é bem menos intenso e no
qualquer acréscimo no enchimento ventricular irá conduvir a terço final é que ocorre li com ração atriul.
uma redução 110 de-empenho sistólico. A elevação <'líbila da pressão intraventricular desencadeada
A relação enchimento diastólico/desempenho vistúlicu foi pelo enchimento dos 6trios faz com que as valvas atriovcntriculares
inicialmente analisada por Ouo Frank. cm 11'195.E~!lIdando fechem ante ...mesmo da abertura das valvas semilunares (aórtica
corações ivolado-, de sapo, Frank ob-crvou que :1 tensão desen- e pulmonar). Inicia-se, portamo, a contração ventricular num
volvida durante :1 com ração elevava-se progrcsvivamente com momcmo no qual não há ejeção e nem regurgitação. Esse período
o aumento da tensão no repouso. até um determinado limite, é denominado contração isovolumétrica. Quando a pressão ven-
além do qual a capacidade conrrátil passava a declinar. Cerca tricular ultrapassa a pressão de resistência (cerca de !lOmmllg
de duas década ...depois, lirncst Starting publicava seus estu- para a câmara esquerda c 8mmHg para a direita) ocorre ti abertura
dos realizados com preparações coração-pulmão de cães. Assim das valvas SCI1l ilunares com ejeção de 70% do volume no terço
comoFrank, Starling descreveu urna elevação no dcsãgüe cardíaco inicial da ~í,!(Ile e 30% nos dois terços tinais. o final da sístole,
com o aumento da pressão arriul, até ser alcançado um valor ocorre uma queda importante da pressão intraventricular e as
mãximo. Inicialmente acreditou-se que :I potencialização da elevada ...prevsões das artérias. distendidas pelo seu volume, fazem
contração ocorreria sirnplc ..mente por uma questão física. i,1O CUlI1 que ocorra um fechamento das vai vas aórtica e pulmonar.
é, uma maior interação dov filnmcnros de ucuna e miovina. Existe um relaxamento ventricular mesmo após e te período,
Hoje admite-se que inten ...i ficação da conrração ocorra lIIai!> momento em que a pressão dentro do ventrículo é constante.
por uma alteração na cinética do cálcio. E,ta alteração pode- Esta é a fa ...e do relaxamento isovolumétrlco,
ria ser uma maior entrada do íOI1 pelo snrcolcma. por uma O volume diastólico ventricular final é de cerca de II Oml..
maior liberação via rctfculo sarcoplnxmãrico ou uma intensi- 1 o final da :.btole restam 40 a 50mL de volume cm um cora-

licaçiio dn afinidade da molécula de tropouina C pelo cálcio. ção normal. Este valor é reduzido significativamente durante
um excrcício físico vigoroso. J\ Iração do volume diastólico
final que é efetivumcnrc ejetado é de/>ignado Irução de cjcção.
PÓS-CARGA que norrnatmcntc é igualou maior que 6()t;}.
A pôs-carga é a sorna de todas as carga, contrn a, quais o
coração deve se contrair durante a sístole. r':. portanto. uma MlocARDIO NA INSUFICllNCIA CARDIACA
pressão de resistência. A pós-carga é constitufda basicamente
de dois componentes: a complacência arterial e a rcsistênciu Independentemente da etiologia, a síndrome clínica da insu-
que determina a prewão arterial, E...ses taiorc-, dependem ha ...i- ficiência cardíaca ocorre após a ativação dos mecanismos fi-
camenre da rcsistênciu vascular peri férica. do \ olume diastólico siológicos de compensação. Nas fase iniciais desta ituação.
final, bem como do volume sangüfnco na ruiz da aorta e da sua a di latação miocárdica compensatória é capaz de manter o estresse
viscosidade. N:I prát icn clínica. a pressão arterial pode ver usada da parcele cm nfveis normais por certo pcríodo. Após certo
como pnrfil11etrtlpara estimar-se a pós-carga. de:.de que não estímulo (sobrecarga de pressão ou de volume), existe reativação
haja estenose aórtica ou alteração da complacência arterial. de falores celulares decrescimcnto, normalmente não pre ente
A pós-carga deterl11in:l um estresse na parede ventricular. no coração adulto. os quais induzcm a grande síntcse de
Define-se como e~tres:.e a tcn fio aplicad:l a uma detcrminada mitocôndrias, fato que caracteri/a li primeira alteração celu-
área De acordo com a Lei de Laplace: lar da insuficiência cnrdíaca. A intcnsa formação de ATP que
se scgue con,titui um eMímulo para expanltão da mal>samioübrilar
Estresse = Prc~\ão x Raio I 2 x E~pe"llra da ParClk levando a aUllletl!O no tamanho das células (hipcrtrofia). Secun-
dário a C~\C' fato\. vcrificam-se inten. as modificações na matriz
E~ta equação enrati7a doi" pont<,... importante'. Primeiro: cxtracclular. que. a prazo mais prolongado, conduzem a remo-
quanto maior a cavidadc vcntricular c. c()n~cqUcntemcnte. ~eu delamento ventricular.
raio. maior ~ed () e~trc~M! na p••rede ventricular. Segundo: Conforme já descrito. a presença de uma fase clínica está-
para uma dcterminnda dilllen:.ão do ventrículo. o c:.tre~~e será \'el numa fase inicial dc síndrome de insuficiência cardíaca é
diretumenle proporeionnl :1 pressão intravcnt ricular. O :Jumento comumente observada pela progressiva mivação dos mecanil>ITIo
no estrcsse dc parede por um desses mccanismos delermina de compensaçfio. A transição dcssa fase para li síndromc clí-
umrnniorconslIlno de oxigênio. A lei de Laplace cxplica, portanto, nica da in~uliciênciíl cürdíaca teve suas ba~e~ moleculares descritas
por que a hipertrolia miocárdica compen a. pelo mcnos tempo- por Colucci\ Após hipertrofia vClltricular ~eguem-se altera-
rariamente, o aumento do cstresse cau. ado pela elevação da çõe:. gênica ...e renolípica. com rcexprcl>são de genes fetais,
pressão ventricular. Já quando ocorrc di latação, o aumento do levando a conscqUenlc alteração na exprcssão e função das
raio determina um alimento do e trcssc dc parcde ainda maior. proteína~ cUlltráteis. A perda de cardiomiócitos que se segue
pode scr rc\ultado de necro e. muitas veze~ por fenômenos
CICLO CARDIACO NORMAL coronariano,. ou de apoptose. a qual está rclacionada à an-
gioten~illa II. cll/ima.\ oxidativas. citocinas inflamat6rias e alivação
O potencial dc açiio dcsencadcndo pel() IHí :.inu:.al inicia um ~impática. Estc é um dos mecanismo~ capazcs de justificar a
impulso no átrio direito. qlle passa mpidamcnte pelos dois melhora dc sobrevida desses pacientc!. com o uso de bcta-
átrios c sofrc um rcwrtlo no nó atrioventricular ... panir de bloqueadores e inibidores do receptor da cn7.ima convcrsora
onde é espalhado pelo feixc de His para os venlrículos. O da angiotcnsina. O papel da redução da frcqUência cardíaca
períodoem que uma cfima!'a se contrai a partir dc. tes cstímulos em pacicnte com insuficiência c:trclíaca tcm ,ido euda vez mais
488 • Tratado de Clínica Médica

citado na literatura" c drogas novas, como a ivabradina, têm mente, a fosfocreatina nessa situação é originada do ATP
buscado cada vez mais um controle da mesma. mitocondrial, demonstrando que o miocárdio hibernado é capaz
A síndrome de insuficiência cardíaca caracteriza-se também de gerar energia. Questiona-se, portanto. se a inibição da função
por grandes alterações no mecanismo energético contráti I. Apôs conrrãtil é um meio ou um fim, ou seja. se a mesma é um me-
grande formação inicial de mitocôndrias, a Mg-AI'Pase reduz canismo de defesa do miocárdio ou um produto real da redução
sua atividade em corações hipocontrátcis, fato que expressa da capacidade funcional do cardiorniócito.
diminuição da resposta d.1Smiofibrilas ao cálcio. Uma das ex- Um mecanismo recentemente implicado na gênese do
plicações possíveisparaeste furo é que o retículo sarcoplasmáuco miocárdio hibernante vem do próprio endotélio. Shah et alo
com função contrátil deprimida tem-se demonstrado incapaz de demonstraram que células endoteliais suo capazes de produ-
realizar adequada recaptação do cálcio citoplasmático. por pro- zir redução reversível da conrratilidadc ele rnióciro, quando
vável reduçãoda bomba do retículo sarcoplasmãtico (SERCA-2), cm meio hipóxico. Sugere-seque o endotélio cm hipóxia produza
cnzi ma que medeia essaatividade. Vários estudosjá demonstra- algum agenteainda desconhecido capazde provocar uma inibição
ram a redução desse mensageiro na insuficiência cardíaca?". trunsirõria da função rniocãrdica".
A depleção de magnésio é também prcvalcnte em pacientes com Por outro lado, tem-se demonstrado que, mesmo após cur-
insuficiência curdfucu. futo que pode aumentar o potencial tos períodos de isquemia. o restabelecimento da função comrãtil
arritmogênico e piorar li contratilidade. Em recente artigo sobre não é imediata, caracterizando o chamado miocárdio atordoado".
o assunto, Ohtsuka et (1/. recomendaram a suplcrnenração desse O estudo desse fato ocorreu principalmente após o advento do
íon em pacientes com suspeita de hipomugnesemia'". tratamento trombolüico no infarto agudo de) miocárdio. Mesmo
O esqueleto de colágeno presente no coração normal sofre sem necrose e com fluxo coronariano restabelecido, visibilizava-
intensas alterações na síndrome da insuficiência cardíaca. A se disfunção contrãtil. Em 1982, Braunwald e Kloner reconhe-
estrutura normal do coração, composta principalmente por colá-
gcno dos ti pos I C III. sofre aIterações de alinhamento levando
à disfunção rniocãrdicu mecânica. Segundo Thomas et al., a
cotão I.CJ11 sido alvo de inúmeros estudos". °
ceram e descreveram essa nova entidade patológica, que desde
tempo de persis-
tência do mesmo não é ai nua definido, mas sabe-seque depende
atividade das mctaloproteinases. que degradam ti matriz ex- do grau ele lesão celular. Entre os mecanismos utilizados para
tracelular, está aumentada nos pacientes com síndrome da insu- explicação dessefenômeno estão a lesão mediada pela reperfusão
ficiência cardíaca. Além de não permitir a adequada função (principalmente por radicais livres). denervação simpãrlca
contrátil dos cnrdiomiócitos remanescentes.essaalteração mecâ- regional. rcperfusão heterogênea, dano à matriz extracelular
nica também é capazde alterar profundamente a função diastólica e alterações no processo de contração mediados pri ncipalrnemc
do coração". pelo metabolismo de cálcio.
Técnicas de ressonância paramagnética foram capazes de
demonstrar direramente a liberação de radicais hiper-reativos,
MIOCÁRDIO COM FUNÇÃO CORONARIANA ANORMAL causadores de lesão por reperfusão. A reversão da isquemia pela
Diante de uma oclusão coronariana ou limitação de fluxo para reox igenação miocárdica resulta na formação de radicais livres
determinada área de miocárdio, o dano ao mesmo pode variar
desde a formação de fibrose. sem função contrátil ou elétrica,
até a ocorrência de áreas que. embora com disfunção mecâni-
(OH-) e O peróxido de hidrogênio (H202). °
dc oxigênio, incluindo O ãnion superóxido (02-)' o radical hidroxila
estudo desses
radicais é amplo e objeto de pesquisa de vários autores, o que
ca, apresentam viubi lidade se novamente perfundidas. demonstra sua imponância":". Os radicais livres de oxigénio
O miocárdio hibernado é o resultado da resposta do coração são altamente reativos e capazes de causar desnaturação de
à diminuição do fluxo coronariano, na ausência de necrose proteínas, peroxidação lipídica e disfunção do retículo sarco-
celular. mas com graus variáveis de disfunção conrrãril". Esse plasmático e do sarcolerna, reduzindo a atividade miocárdica
conceito ernbasa-se no rato de que a perda mecânica do miocárdio contráiil. Mesmo as mitocôndrias, geradoras de radicais livres,
não ocorre na mesma velocidade que a deterioração da viabi- sofrem danos pelos mesmos, reduzindo sua capacidade energética
lidade. fazendo com que áreas por vezes acinéticas possam e, conseqüentemente o potencial contrátil da célula.
ser revasculurizudas. Peja disfunção energética, ocorre redução da receptação de
Com a progressão dos métodos de imagem. tomou-se evidente cálcio pelo reuculo sarccplasrnático, que também é atingido
que a ausência de coruração cm repouso não significa obrigato- diretarnentc pelos radicais livres. Aos radicais livres são tam-
riamente necrose. Beckcr et (1/. demonstraram que o LISO de bém atribuídos os distúrbios no mecanismo de trocas iônicas
estímulos apropriados, tais como potenciação extra-sistólica Na+-Ca2+ e também na inibição da atividade da Na", K+-ATPase,
Oll epinefrina, restauram a conrração". Com a utilização ele que resulta em sobrecarga de Na'. A disfunção de mecanismos
métodos sensíveis. como rnicroesferas radioativas, Gallanghcr de rccapração de cálcio e a deterioração das trocas iônicas parecem
ar (1/. observaram que pequenas restrições ao fluxo endocárdico
- de cerca de 18% - já acarretam redução da contratilidade da
ordem ele 13%. Como classicamente já é conhecido, apenas
°
causar uma sobrecarga de cálcio, fato que tem seu papel na
patogõncsc do miocárdio atordoado. mecanismo pelo qual o
excesso de cálcio leva ii disfunção contrátil permanece indefi-
lesões capazes de restringir mais de 70% do fluxo epicárdico nido, mas sabe-se que a concentração elevada desse íon pode
produzem alterações mecânicas na função cardfaca global". lesar organelas inrracelulares e produzir disfunção mecânica
Fisiopatologicamente, observa-se que a produção de laciato prolongada. Além disso, pode ativar fosfol ipases e enzimas de
pelo miocárdio isquêmico se estabiliza após 60min da redução degradação e mediar a produção de radicais livres de oxigénio.
parcial do fluxo coronariano, podendo, inclusive passara extração. Embora a depressão da resposta simpática pós-isquêrnica
Do ponto de vista metabólico. isto significa o fim das reservas tenha sido implicada na disfunção contrátil, o fenômeno do
aeróbicas. Este fato, entretanto, não se confirma, pois, com o miocárdio atordoado ocorre também em corações isolados,
aumento da demanda miocãrdica a produção de lacrare é reto- portanto, denervados. Atualrnente, acredita-se que essa alte-
mada. Mais marcante ainda foi a demonstração por Pantelly ração tenha papel importante em situações especiais, nasquais
et a/o de que a concentração de creatinofosfoquinase (CPK) a contrarilidade ventricular guarda dependência significativa
se recompõe após 60min de isquemia miocãrdica". Provável- com a inervação simpática.
Doenças Cardiovasculares • 489

A rnatril extracelular. quando lesada depoi .. de múltiplos


episõdios de isqucmin, pode ter seu papel na disfunção contrátil
após oclusão aguda. Entretanto. segundo Bolli. cm um único
CAPiTULO 51
episódiode oclusão coronnriana, desde que revertido. a matriz
extracelular não parece ter grande responvabilidadc sobre o
miocárdio nrordoado":'?
Insuficiência Cardíaca
AlTERAÇOES NA FUNÇÃO DIASTÓLICA
Essa reduçãopode cr crônica, como ocorre cm algumas doenças Abilio Augusto Fragata Filho
infiltrativas c na cardiomiopatia hipcrtróficn concêntrica, ou
aguda,como pode ocorrer na isquemia súbita. A anormalidade
nafunçãodia<,t6Iici\ normalmente é definida como uma altera-
CONCEITO
ção na funçãode rclaxarncmo miocárdico com prevsão pulmonar A insuficiência cardíaca é considerada, nos dias de hoje. uma
elevada (acima de 12mmHg). Segundo Ewy, o melhor parâmetro sfndrome na qual há incapacidade do coração em manter a ade-
paraconhecimento da função dinsrõlic« é o volume do átrio quada pcrfusão tccidual. ou fazê-lo à cuxra de altas pressões de
esquerdorelacionado COI11 a superfície corpórea". enchimento vcruricular.Assim sendo. mesmo na presençade dano
A disfunçãosistólica acarretaalgum grnu de ulrcração funcional miocárdico. os pacientes podem ser ussinuuuãrlcos, desde que o
diastõlica na grande maioria dos casos sintomdticos. Tui rato se débito ainda seja mantido graças" mecanismos de compensação,
deve li aumento da pressão pulmonar que ocorre para manter COIllO se vcrã n seguir. Deve-se ainda estabelecer li diferença entre
O débito cardínco cm corações com comrarilidadc alterada: os conceitos de insuficiência miocárdica e insuficiência circula-
esu elevaçãopode também acarretar em disfunção diastólica. tória. que podem ou não estar associadas. A insuficiência mio-
cárdica, originada por dano à estrutura da libra muscular do
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, ARAI.M.;AI PI·RT.N R .MCI ENNAN.D H ei al AIICrJIIOn',""'rropl;a,m.11C sionada por insuficiência rniocãrdica que levará à insuficiência
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COCIIIIICUOII couphng in cani ue tnchycardia-índuced hean fa,lure: 11~toocls Siudics.
Ore R'l .• " 84. I'..571. 1999. humana paga por esse aumento na sobrevida é o aparecimento
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mente. a insuliciência cardíaca aparece como gravc problcma
11 TIIO\lAS. C v.; COKIlR. M L.: ZELLNEk. J. I ri ~I Incrr3'NI 1ll11lri,
1Ik:1.tloprolcIPa<eaeu"it)' and >elecll\'e uprcgulalion ,n I V In)IX.lldlunl fRHIII)nIlCI\I~ de saúde pública. com incidência e prcvlllênciu crcscentes.
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J \ .. Ct>l1 Caro",I .• ' 7. p. 580 ..5 9. 1986. cm I II 2% a prcvalência dessa síndromc. o que pode signi-
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pcr(''''1II and ".,ltllllclcnína dunns ;"chenlla ln con"'K"" "'~, ,1m. J. Ph."",/•• girando cm IClrno de 2 milhõc~ e C\SCSnúmeros vêm cres-
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I~ PA\'TEU.Y. G. A.: MAtONIi. S. A.: RIIIJN. W S r \I Cl ai Rcgcncr.lllOn of cendo. ao me~mo tempo cm que outras doenças igualmcnte
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19 BOLU. R M..:h.n"m,ofmyocardial"slunnlng" C.rrll/lllwn.' b2. p. 7.IIJCXI. rcprc:>enta correspondem a 1 a 2% do orçamento dcstinado ao
:o EWY.G A D,~,tohc d),funcllon. J. InJur..",d .• \.36. p. 292·191. 100-1 sislemn de ~aúdc c no casos com maior comprometimento
funcional eSle;) chcgam n ser 8 a 30 VC/C' maiores que nos
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FARIANETO, J. R.: CIIAGAS, 1\. C. I'.: DA LUZ. r'. L. MiocárdiO IIIhcnl.ldo: () quc R$ 4,9 bilhüe~ com internações hOl>I>ilalarel>I.)dI.) RS 5.7 bi-
coruickrar como viável para indicar rC":lSCularw'çfio"! H,·,·.SIJ( ('''tllm/. I, ./tll/II til" Ihõcs com atcndimento de ambulatório. sendo 4% dl.)ssaqU;lI\tia.
S40 PIl.lo. " 2. p. 219-226, 2000. relacionados uos custos com insuliciêncil1 cl1rdfnca'.
490 • Tratado de Clínica Médica

Sabe-se que. apesar dos avanços no tratamento dessa con- o ponto de vista de vasoação. que é a augiutcnsina L Esse
dição mórbida. a progressão 6 inexorável e, à medida que a dis- pcpifdeo sofre a ação da cnz ima convcrsora da angiotensina
função rniocãrdica aumenta, eleva-se a mortalidade c O:. gastos (ECi\), transformando-se em angiotcnsina II. que é um potente
com () tratamento. O risco por toda a vida de desenvolver in- vasoconstrilor. A ungiotensina II também é produzida sistemi-
suficiência cardíaca (lifetime), para todas as idades, é de 200/c. camente no coração, pulmões e endotélio vascular, produzindo
sem distinção de sexo masculino ou feminino". intensa vasoconstrição. redistribuindo o fluxo sangüíneo, mas,
i\ imprecisão dos dados brasileiros disponíveis sobre insu- aumentando muito a resistência periférica, o que dificultará
ficiência cardíaca não nos deve permitir abandonar as medidas ainda mais o trabalho do ventrículo esquerdo. Paralelamente,
necessárias para sua prevenção, uma vez que se sabe ser a a angiotensina II estimula a produção de aldosterona pela adrenal,
hipertensão arterial. obesidade, cardiopatia isquêrnica. além que tem, como conseqüência. uma retenção maior de sódio e
da doença de Chagas c as valvopatias reumáticas. pas ívcis de água. levando a aumento da volcmia. aumentando o retorno
prevenção, ou controle, minimizando II progressão da disfun- venoso (pré-carga). Esse aumento da volcmia leva a aumento do
ção ventricular'. volume ventricular. tendendo a aumentar o volume sistólico, pelo
maior csriramcnto da libra miocãrdica (lei de Frunk-Starling),
ETIOPATOGENIA Esse mecanismo. scni cfctivo por algum tempo, até que se lllinja
o Iimite da dihuuçâo ventricular, a partir do qual esse cstiramcmo
i\ insuficiência cardfuca é a via f'inul de quase toda as não se refletirá cm aumento da contração (Iimite da lei de Frank-
cardiopatia s. A falência miocárdica depende de inúmeros fatores Sturling). O crescimento ventricular progressivo vai transformar
que atuarn sobre a fibra muscular do coração, como necrose. a câmara ventricular em uma esfera, não mais um elipsóide de
apoptose, hipertrofia. alterações de uhra-estrurura. do complexo revolução (remodelamento). aumentando o gasto energético
excitação-contração, da captação energética. da capacidade pelo aumento da força tangencial da comração (lei de Laplace)",
de responder aos estímulos neuro-hurnorais. bem como sobre A angiotensina II também causa hipertrofia da fibra rniocárdica,
a matriz extracelular. alterando a concentração c disposição apoprosc, fibrose intersticial. A aldosterona também leva à proli-
de colágeno. Essas alterações somadas acabam por determinar feração de fibroblastos e à deposição de colágeno, além de reduzir
modificações geométricas do coração que tende a perder sua °
a reutilização neuronal de epinefrina. Assim sendo, sistema-
forma elipsóide, adquirindo a forma esférica o que leva à perda renina angiotcnsina-aldosterona vai agravar ainda mais a insu-
de eficiência mecânica da bomba. A essa situação dá-se o ficiência cardíaca instalada!'.
nome de rernodclameruo ventricular".
Endotelina
FISIOPATOlOGIA
Entre outras substâncias, o endotélio produz endorelina, um
Uma vec havido o duno rniocãrdico vai ocorrer uma diminuição pcptídco de 21 aminoácidos. que tem potente ação vaSOCOllS-
no débito cardíaco e esta di mi nuição levará ao dcscncadcamcmo tritoru. Sua produção é estimulada pela angiotensina II. pela
de diversos mecanismos para tentar recuperar a pcrfusão tccidual norepinefrina, pela intcrlcucina-l e pelo sistema arginina-vnso-
comprometida. Inicialmente ocorre disfunção dos reflexos cardio- pressina. Seu potencial mitogênico estimula o crescimento
vasculares. resultando uma at ivação adrcnérgica exacerbada que vascular. colaborando no remodelarnento cardíaco, além de
apresenta como conseqüência. uma vasoconstrição, com aumento aumentar ,1 ativação de fibroblastos. A endotelina plasmática
na resistência periférica. Essa liberação adrenérgica leva à ativação está dirctarncnte correlacionada com a pressão arterial pulmonar
de mecanismos ncuro-humorais diversos que tentam restabelecer e com a resistência vascular pulmonar". Na insuficiência cardíaca.
o débito cardíaco comprometido. sua concentração está aumentada e este aumento é um dos
Serão analisado: os principais mecanismos aqui envolvidos. predirores de mau prognõsríco".
em separado, apenas para tornar didaticamente mais clara a
exposição.
Arginina-Vasopressina
Sistema Nervoso Simpático Concentrações elevadas de norepinefrina e angiotensina II
estimulam a hipófise a produzire liberar a arginina-vasoprcssiua,
A ativação impática rem como efeitos imediatos O aumento da
ncuro-hormônio que causa vasoconstrição, retenção de sódio
contratilidadc miocãrdica, da Ircqüênciu cardíaca e da resistência
c hiponutrcmiu dilucional. Na insuficiência cardfaca, os níveis
periférica. melhorando o débito cardíaco e redistribuindo melhor
de argiuina-vasopres ina estão muito aumentados, particular-
o fluxo sangüfnco. Esse mccun ismo. inicial mente benéfico. tem
mente nos pacientes sintomáticos e nos casos secundários a
alto preço. com aumento do gasto energético da libra cardíaca
infurto do miocãrdico com grande destruição muscular".
e aumento na pós-carga. sobrecarregando ainda mais o ventrículo
esquerdo já comprometido. Como conseqüências tardias têm-
se hipertrofia das fibras rniocãrdicas, e isquemia (aumento do Citocinas Pró-inflamatórias
gasto energético). o que favorece o aparecimento de arritmias,
Na insuficiência cardíaca O nível de citocinas inflarnatórias (Iator
piorando ainda mais as condições desse coração. Com o decorrer
do tempo, ter-se-a diminuição no número e na sensibilidade dos de necrose tumoral alfa e inlerleucina-I beta) está aumentado,
receptores beta l-adrenérgicos do miocárdio. o que produzirá podendo estas substâncias representar importante papel na gênese
uma menor resposta contrãril, além de induzir o aumento de da falência miocárdica. No coração. h,l inflamação e sistémica-
cirocinas pró-inflamatórias. como o furor de necro. e tumoral mente ocorre caquexia. O Iator de necrose tumoral alfa induz
alfa e as intcrlcucinas I e 6. que contribuem para um decrés- n disfunção miocãrdica. associada a apopiose".
cimo maior da contração cardíaca, aumento das câmaras c piora
da insuficiência cardíaca", Peptídeos Natriurétlcos
Três pcprídcos nutriuréiicos foram descritos, o peptfdco nutriu-
Sistema Renina-Anuiotensina-Aldosterona rético atrial (ANP). armazenado principalmente no átrio direito.
A diminuição do débito cardíaco leva à maior liberação de renina sendo liberado e 111 resposta a Ulll aumento de pressão e distensão
pelo aparelho justaglomerular: esta age sobre o substrato de angio- atriul. ocasionando natriurese e vasodilatação. O pcptídeo nutriu-
tensinogênio levando II produção de uma substância inerte sob rético cerebral (BNP) é armazenado. principalmente, no miocárdio
Doenças Cardiovasculares • 491

ventricular. sendo igualmente liberado por aumento de pressão mas. somente quando há importante aumento do baço é que
e disten ão de "a câmara. Também causa natriurc: c c vasodila- se pode demonstrá-lo à palpação do abdome (Fig, 51.1).
ração. O pepudco natriurético C localiza-se principalmente na De acordo com a New York Heart Association (NYHA), a
vasculaiura c 'cu papel ainda não e~tá totalmente esclarecido, insuficiência cardíaca pode ser classificada funcionalmente.
Nos pacientes com insuficiência cardíaca. os níveis desses tomando-se em conta os sintomas em":
peptfdcos e~ttio aumentados. particularmente o BNP. cujo valor
guarda relação com o prognóstico". • Presença de disfunção, sem rcsrriçõcv aos esforços,
• Presença de disfunção associada ti sintomas aos esforços
usuuiv.
QUADROcllNICO • Presença de disfunção axsociada a sintomas aos esforços
A in uficiência cardíaca pode estar presente me. mo em indivíduos mcnorc-, que OÍ> usuais.
as intornãtico ... de ..de que o mccuni mos de cornpenxução já • Presença de disfunção associada a sintomas aos esforços
descritos, cunvigum manter um débito cardíaco ndcqundo. A mínimov ou me mo em repouso.
conseqüência'. hcmodinârnica bãsicns da queda deste débito
sao O aumento na re ..istência periférica (pôs-carga) e no retorno Recentemente. o American College of Canliology, juntamente
venoso (pré-carga). com a American Heart Association fizeram modificações nessa
Clinicamente pode-se dividir a insuficiência cardíaca em classificação. englobando portadores de doenças potencialmente
llOlcrógrada. na qual predominam as manifestações de pós- causadoras de disfunção miocãrdica. a saber":
carga aumentada. com vintornas e inais decorrentes da cxa-
cerbuç1ioudrcnérgica. como cansaço. hipotensão arterial sistêrnica, • Presença de doença cardíaca com potencial evolução para
queda signi flcativa do débito urinário, palidez cutuncomucosa, disfunção (hipertensão arterial sistêmica, insuficiência
pele fria e úmida, coronnriana crônica etc.).
Quando há predomínio do aumento da pré-carga. fala-se em • Presença de disfunção sem sintomas.
insuficiênciacardíaca retrégrada ou congestiva. Há então, aumento • Presença de disfunção as ociada a sintomas.
na pres ão venosa, da pequena circulação (congestão pulmonar) • Presença de di função as ociada a sintomas em repouso
elou da grande circulação (congestão i têmica). EsM! tipo de in- e insuficiência cardíaca refratária.
suficiência cardíaca pode existir com função ,i~t6Iica normal,
car(lcteril(lndo-~e a forma diastólica de disfunção miocãrdica, Essa classi ficução contempla também aqueles pacientes que.
que corresponde a cerca de 30 a 40% dos casos". Na presença mesmo que não apresentem disfunção. apresentam sim doenças
de disfunção sistõlica, tem-se o tipo mais comum, que é a insu- que fatalmente causarão alterações hernodinâmicas no futuro.
ficiência cardíaca COI11 cardiorncgalia e fração de ejeção rebaixada, merecendo atenção especial no que tange 11 terapia.
As manifestações cllnicns da di funções sistólica e diastólica
~osemclhantcs. tornando impossível o seu diagnc'lst iço com base DIAGNOSTICO clINICO
exclu ivamcntc no <iruomas. No exame fí-ico. () desvio da ponta
decoração para n esquerda e para baixo. indicando cardlomegalia.
° diagnõvtico clínlco da in uficiência cardíaca baseia-se nos
dados de hbtóriu e exame fí ico asvociados ti exame comple-
3,\~iadoil presença de terceira bulha. fala a fnvor dc invuflciência
rncntarcx que no auxiliam. não Ó no diagnóstico da síndrome,
cardíeca si\tólica. Por outro lado. a presença de quarta bulha nos
sugere o diagnõvtico de invuficiência cardínca diustélicn. mas também em ua possível etiologia.
No predomínio de manifcvtaçôc .. decorrente .. do aumento da
pressão venosa da pequeno Circulação (congestão pulmonar), fala- Radiografia de Tórax
seem insuficiência cardíaca congestivo esquerda. pois a alteração A presença de aumento da área cardíaca. COI1l ou sem con-
hcmodinllmicadepende de disfunção de uma 011 amba: as câmaras gestão pulmonar (predomínio de vasculaturn venosa nos ãpiccs
esquerdas, Fala-se em insuficiência cardíaca congcstiva direita, pulmonares). d:í indícios de disfunção sistõlica. Além disso.
quandohá predomínio de alterações da pre são venosa da grande a análise das diversas câmaras cardíaca, no\ poderá fornecer
circulação (congestão sistémica), elementos para o diagnóstico etiológico (grande aumento de
São manife rações da insuficiência cardíaca esquerda: di pnéia átrio e querdo. tronco da artéria pulmonar e ventrfculo direito,
de esforço. progressivamente mais incapacitante, onopnéia obri- é altamente sugestivo de estenose mitral. por exemplo).
gatória. di pnéin paroxística noturna e no, rases avançadas, O achado de congestão pulmonar sem cardiomegalia (índice
di pnéia mesmo em repouso. A alterações csreroacüsticas pul- cardiotorãcico < 50%) ou aumento discreto do coração, despro-
monares estarão presentes. com a estertoração inicialmente porcionai ao quadro da circulação venosa pulmonar, é suges-
crepitante e a eguir subcrcpitanrc, estendendo-i e das bases. tivo de insuficiência cardíaca dia tõlica".
até atingir o ápices (como nos casos graves de edema agudo
de pulmão. em que 'c nusculta e stenorução bolhosa em todo o
campo pulmonar). Quaisquer doenças que comprometam o
coração esquerdo podem levar a esse tipo de insuficiência cardíaca,
sendo as muis freqUentes. a hipertensão arterial ~il>têmica. a in- Anterôgrld.
suficiência coronariana crónica e as curdiorniopatias dilatadas.
A insuficiência cardíaca direita tem como causa mais impor- Retrôg,td.
tante n própria invuficiência cardíaca esquerda. porém, doençnv (cong.ltlv.)
primárias dos pulmões que levem ao aumento dn pressão no

I
f.lt" de II
território arterial pulmonar. sobrecarregam o coração direito. Ort~~
Esquerda DtiPMl. ~romtia
podendo levá-lo ii divtunção. São sintoma' de invuflclência
noturN
cardíaca direita: (I edema de membros inferiores, a sensação
[\tIS. lugul., •• S
de dolorimento ou PC\O no hipocôndrio direito e o aumento do
volume ubdominal. O ...,inail> encontrados englobam a estase
jugular n 45°. o edema de membros inferiores. a hepatomegalia
dolorosa e no~ caso!> mais avançados. a ascite, A esplenome-
Olrelll
I~o NOS ptrn.s
{ f volume .bdomln.1
! HtPltomeg'lI' doloros.t
Edema de membros InferiorH
Asc!te

Figura 51.1 - Síntomas e sinais de insuficiência cardfaca


galiadificilmente é detectada ao exame físico. ainda que ocorra.
492 • Tratado de Clínica Médica

Eletrocardiograma 43mg/dL e crcatinina sérica "cima de 2.75mg/dL, apresenta-


vam maior risco de morte intra-hospitalar, devendo ser ava-
Esse exame não oferece elementos para o diagnóstico de insu- liados com maior rigor". Outros exames devem ser olicitados,
ficiência cardíaca. mas sim para um possível diagnóstico quando pertinentes, como por exemplo a dosagem do hormônio
etiológico: um paciente hipertenso. com clínica de insuficiência estimulante da tire6ide (TSH). quando se suspeita de afecções
cardíaca c um cletrocardiograma evidenciando sobrecarga da tireõide com causa ou desencadeador de descompensação da
ventricular esquerda. sugere o diagnóstico de cardiopatia hipcr- insuficiência cardíaca. A dosagem do pcpiídco natriurético B
iensiva como causa dessa disfunção miocárdica; a presença (BNP) tem sido utilizada para a diferenciação entre a dispnéia
de bloqueio do ramo direito associado a bloqueio da divisão de origem cardíaca e a pulmonar, na sala de emergência. Esse
âruero-superior do ramo esquerdo do feixe de His em paciente
pcpudco é produzido na parede ventricular e o aumento da
de zona endêrnica para a doença de Chagas, torna imperiosa
pressão e/ou volume intracavitârios aumentam sua concentração
a associação desta com a insuficiência cardíaca; da mesma no sangue, razão pela qual ele se encontra aumentado na in u·
maneira. um padrão elctrocardiogrãfico de zona clctricumente ficiência cardíaca. Os valores considerados normais estão abaixo
inativa cm parede untcrior extensa.sugere a etiologia isquêrnica. de 50pg/dL. porém isso sofre interferência de idade. sexo. pre-
O achado de fibrilação ntrial ou arritmia ventricular complexa sença de hipertensão arterial. doença pulmonar crônica, entre
é de muita importância no planejamento da abordagem terapêu- outros fatores. Sabe-se que quanto maior o nível desse pcprídco
tica. Por outro lado, um cletrocardiograrna normal exige que no sangue, maior é a gravidade da doença. porém. seus níveis
seja revisto o diagnóstico de insuficiência cardíaca. uma vez marcadores de prognóstico ainda não são conscnsuals+",
que o valor preditivo negativo desse exame excede 90%20.

Eletrocardiografia Dinâmica (Sistema Holter) Avaliação Funcional


A eletrocardiografia dinâmica, utilizada no diagnóstico de arritmias A redução da capacidade funcional na insuficiência cardíaca
cardíacas não constantes, e igualmente ao clctrocardiograrna. associa-se ri pior prognóstico. Os métodos mais usados para
não nos oferece diagnóstico de insuficiência cardíaca. mas sim aferi-Ia são O reste de caminhada de 6rnin e o teste cardiopul-
da possibilidade ctlológic« residir em arritmias. A variabilidade monur, O teste de caminhada de ôrnin consiste em caminhar
R-R (marcador cio cqui lfbrio nutonõmico) csrã diminuída nessa por 6min em um corredor de metragem conhecida, em que o
víndromc c SCu valor como ind icador de mau prognóst ico já foi
paciente estabelece sua velocidade. A quantidade de metros
bem estudado na cardiopatia isquêrnica". percorridos é o resultado do exame. Admite-se que valores
acima de 450m sejam indicativos de melhor prognóstico c
Ecocardlograma pacientes que só conseguem percorrer de 150 a 300m. teriam
prognóstico mais reservado". A crgocspirorncrria, que con-
o ccocurdiograma é exame muito importante para O diagnós- siste em exame crgométrico associado li cspiromctria, analisa o
tico etiológico da insuficiência cardíaca tanto nos pacientes consumo máximo de oxigénio no pico do exercício e esta medida
assintomâticos como nos sintomáticos. além de prover infor- se correlaciona com a capacidade funcional e também com o
mações quanto à evolução. Ele proporciona demonstração do prognóst ico, de tal maneira que medidas abaixo de 10l11Ukglmin
tamanho da cavidades cardíacas, movi rnentação global c/ou rc- são prcditoras de 111t1 evolução, aliado à provável indicação
gional das paredes ventriculares (de grande valia na anãlisc para transplante cardíaco. Medidas superiores a 18mL/kg/min
da cardiopatia isquêrnica com acinesiu ou discincsia de repouso). traduziriam melhor prognóstico. Os valores intermediários
bem como da função do, aparelhos valvares, Podem-se obter evidenciariam graus variados de risco evolutivo".
ai nda índices de função sisrõl ica (sendo O mais usado a Iração
de ejcção. que mede ii porccntugorn de sangue que foi ejetada Cardiologia Nuclear
pelo ventrículo esquerdo) que vão estar rebaixados na insuficiên-
cin cardiaca por cardiopatia dilatada e de função diastólica. A angiografia por substâncias radioisotõpicas fornece dados
quando a Iração de ejcção vai estar normal ou discretamente importantes sobre a função ventricular, sendo uma das formas
diminuída. desproporcional aos sintomas; esses dados vão nos mais cxatas de expressar a fração de ejeção do ventrículo esquerdo.
auxiliar na condução terapêutica desses pacientes. Esse exame. A cintilografia miocárdica é usada para o diagnóstico de isquemia,
todavia. sofre influência da pré e pós-cargas, devendo a avaliação quando se suspeita ser esta a causa de insuficiência cardíaca,
dos resultados de função ser feita ii luz dos demais dados clí- utilizando-se, principalmente o tálio-20 I. em imagens obtidas
nicos: UIll exemplo dessa limitação é a insuficiência mitral em repouso e sob estresse, quer físico, quer farmacológico
gruve, na qual se pode encontrar aumento das câmaras esquerdas, (dobutarnina ou dipiridamol). Outra utilidade desse método é
COI11 fração de cjcção normal. ainda que o volume sistólico na avaliação de viabilidade miocãrdica. na qual se pode deter-
cjcrado na aorta seja diminuído face à quantidade de sangue minar a existência de áreas viáveis em uma região suposta-
que reflui para o átrio esquerdo. O estudo ccocardiogrãfico mente fibrosada. que mereceriam revascularização. Na suspeita
associado ao cstrcsse físico ou farmacológico (dobutarnina) ele inflamação rniocãrdica, como nos casos de miocardite, o
auxilia na demonstração de áreas miocárdicas isquêmicas e mapeamento rudioisorõpico com gálio-67 pode evidenciar os
também na possibilidade de haver áreas de músculo viável focos de inflamação. Os exames nucleares são de reproduii-
entre as regiões pretensamente com fibrose". bilidndc excelente. porém. seu alto cUStO ainda não os toma
rotineiros e nem substituem a ecocardiografia".
Laboratório Clínico Outros métodos, corno o esurdo hemodinâmico e a biópsia
cndomiocãrdica, não têm valor no diagnóstico de insuficiência
A rotina de exames laboratoriais, englobando o hcrnograrnu cardíaca. mas sim no estabelecimento de etiologia".
completo com contagem de plaquetas. gliccmia, uréia e creatinina,
sódio c poirissio séricos e urina são indispensáveis, não para O
diagnóstico de insuficiência cardíaca. mas para afastar possí-
TRATAMENTOS cllNICO E CIRÚRGICO
\ eis etiologias o/ou agravantes. como anemia. insuficiência Nem todas as insuficiências cardíacas são iguais e mais
renal. etc, e também na avaliação progn6stica e acompanha- que nunca, na abordagem terapêutica. há necessidade de
mente terapêutico. Estudos mostraram que pacientes interna- individualizar. As bases do tratamento estão fundamenta-
do. em insuficiência cardíaca descompensada e com pressão das nos princípios de sua fisioputolog ia e assim deve-se
arterial sistólica abaixo de 115mmHg, uréia sérica acima de proceder,
Doenças Cardiovasculares • 493

Será, inicialmente feita a análise da insufiiciência cardíaca


sistólica. que se caracteriza sob o ponto de vista prático. por
cardiomcgatia c redução na fração de ejeção,
Anglotensinoglnio
Renina! !
Cinlnogênio
úlíuelna

TratamentoNão Farmacológico
Anglolenslna I
ECA! __ ----- tECA !
8radlc1nlna
Clnlnase

Anglottnslna II Produlos Inatlvos


Deve-seter em mente II ldcmificação ciiolõgica da insuficiência
cardíaca c se possível. sua corrcção. como por exemplo li re-
vascularização dc áreas isquêmicas. a plastia ou troca valvar. ~
Aldosterona
ele. Outra preocupação é a abordagem das prováveis causas
desencadeantes como a, infecções. cstressc físico e/ou emo-
Figura 51.2 - Mecanismo de ação dos inibidores da enzima con-
cionai, uso abusivo dc sal. bebidas alcoólicas ou exagero na versora de angiotensina (IECA)
ingestão de lfquidos. A orientação dietética deve consistir no
uso de alimentos de f~cil digestão, taxativa. pobre em ódio (em
torno de 4g1dia. nos casos com moderado comprometimento, da ãreu comprometida. os lECA têm demonstrado diminuição
oude 2g/dia nos casos muito graves). Iracionadamente, evitando da morbimonalidnde. sendo o esquema vasodilatador o que apre-
grandes rcplcções gãstricas e desaconselhando-se o ganho de senta mclhor resultado. Seus efeitos colaterais compreende a
pesou. A restrição hídrica deverá ser mais ou menos rigorosa na queda importante da pressão arterial, mais comum 11 primeira
dependência do estado de volemia do paciente. O repouso no administração c cm pacientes mais idosos ou com função sistólica
leito só se justifica nos casos graves e, sempre que possível, o mais comprometida. Esse efeito pode ser minimizado com o
paciente deve ser estimulado a caminhar no plano. desde que início do tratamento sendo realizado com doses pequenas e
não se agravem seus sintoma (autollmitação)". A liberação progressivamente aumentadas, de acordo com a tolerância. Outro
para a atividadc sexual deve ser particularizada, uma vez que efeito adverso que ocorre em cerca de 20% dos casos é a tosse,
uma relação sexual equivale a um gasto energético de 18MET, irritativa, seca c que está relacionada a acúmulo de bradicinina,
o que corresponde a subir uma escada com 18 degraus. Deve-se sendo um efeito próprio de classe; quando isso ocorre, faz-se
lembrar, ainda. que a manutenção da atividade sexual colabora neces ário substituir por antagonistas especfficos da angioten-
na melhoria psicológica. por agir positivamente na auto-estima". sina (ver adiante). A ação sobre a arteríola eferente do glomérulo
Diga-seo mesmo no que se refere ao aspecto laborarivo, devendo renal pode fazer elevar inicialmente o nível de escórias, efeito
ser encarado com bom senso. A vacinação contra a gripe e este geralmente reversível. Na presença de elevações progres-
contra a pneumonia deve ser aconselhada. principa lmcrue nos sivas de uréia e creatinina, os IECA devem ser subst itu (dos pelo
casos graves em qUI! essas infecçõc poderiam agravar muito uso de hidralazina e nitratos (ver adiante). Os IECA são total-
a doença existente. Por fim. a integração pacicnrc-rnédico- mente contra-indicados na gestação. O:. grandes estudos com
familiares é de i mportância fundamental para que o tratamento os IECA mostraram que os bons efeitos desse grupo de fármacos
seja realmente cornpeusndor", são dependentes da dose recebida c portanto. deve-se sempre
que possfveí tentar atingi-Ia (Tabela 5 LI) li )).
TratamentoFarmacológico
Grandes estudos randomizados, controlado por placebo. en-
Inibidores de Receptores de Angiotensina II
volvendo um grande número de pacientes com insuficiência Sabe-se hoje que a angiotensina II tem um istema de geração
cardíaca. foram realizados e devem nortear a nossa conduta tccidual, que indepcnde da ECA. Com esses dados, as pesquisas
terapêutica. sempre lembrando, no entanto, que como qualquer passaram a focalizar esse tipo de ação e seu bloqueio. Vários
outro tratamento farmacológico, ele deve ser individualizado, estudos, no entanio, não conseguiram demonstrar benef(cios
face às características particulares dos pacientes. adicionais com a substituição dos IECA pelos bloqueadores
de receptores de angiotensina Il (BRA). Tentou-se, então. analisar
o somatório dos efeitos do bloqueio da angiotcnsina II, com
Inibidores da Enzima Conversora
a associação dos IECA com BRA, todavia, isto também não
da Angiotensina resultou em novos benefícios na mortalidade e quando em
A angiotcnsina I (inerte) sofre a ação da enzima conversora da associação com O uso de bela-bloqueadores, a evolução era
angíorenslna (ECA). transformando-se em angiotensina Il, pote me desfavorável. Notou- e. todavia, que nos pacientes em que não
\'3soconstritor que estimula a produção de aldosterona pela se poderiam utilizar beta-bloqueadores, o uso concomitante
adrenal. Dessa forma. tem-se um aumento na resistência peri- de IECA e BRA, foi benéfico. Quanto aos efeitos colaterais,
f~ricae maior retenção de sódio e água, além de aumento na não houve diferença entre esses dois fármacos, no que tange
fibrose intersticial. Paralelamente, sob a ação da cininase, a
bradieinina (vasodilatador) é degradada em substâncias iner-
tes.Os inibidores da enzima conver ora de angloicnsina (IECA), Hemodln.!mica J Pr~ e l!ÓS<arlll
vãoproduzir,então, uma vasodilatação. por diminuir a transforma-
çãode angiorcnsina I em angiotcnsina II. permitindo o predo-
mínio da nção da brudicinina e diminuindo a liberação de
Neuro·humor.1 t 8radlclnln.

aldosterona,conscqücmemcntc a retenção de sódio e água. Assim AngioteruiN II


sendo,por açõcs indircras. os IECA reduzem a resistência peri- Alivi~de slm~tiu
férica (pós-carga) c o retomo venoso (pré-carga) (Fig. 51.2). V.uoprHsina
Apresentamainda efeitos ncuro-hurnorai importantes e a dimi- Aldosteron.
nuiçãodo rcmodctamcnro ventricular (Fig. 51.3). Esse grupo de Endolelina
drogasé recomendado a todo paciente com insuficiência car-
dfncaque apresente redução da função sistólica (fração de ejcção Trllfica ~ Remodelamento vtntrkulll e v'Kul.r
<45%), mesmo e principalmente nos assintomãticos, nos quais
os váriosestudos mostraram sua eficácia. Em todos os pacien- Figura 51.3 - Ação dos inibidores da enzima conversora de
tescom infarto agudo do miocárdio com onda Q, independente angiotensina
494 • Tratado de Clínica Medica

li insuficiência renal. porém. a tosse provocada pelo BRA foi Diuréticos


semelhante à do placcbo. justificando-se dessa forma. a subv-
rituição do, IECA por BRA. quando cvsc efeito colateral existir, São os medicamentos de excclênciu nu muurnento dos sintomas
ficando a associaçüo restrita a caso" c peciuis22.ls.J9. congestivos da insuficiência cardíaca, ainda que não haja estudos
que demonstrem impacto na sobrcvidu com o seu uso isolado.
0:- diuréticos de túbulo (riazfdicos) estão indicados nos casos
Digitálicos de leve retenção hídrica. Atuam inibindo a reabsorção de sódio
Os tligitálicos são os fármacos !ln mais tempo utilizados no tra- na porção a ccndentc da alça de Hcnle e principalmente no
tamento da insuficiência cardíacu. O~ primeiro trabalhos sobre túbulo contornado distal. aumentando a excreção urinária de
o uso do extruio de Digimli« I'III'()/II'II(I (dedaleira - planta da sódio cm S a 10%, o que lhes confere lima baixa capacidade
qual foi inicialmente extraída a digitoxina) foram apresentados diuréticn. São geralmente ineficazes quando o clearance de
por Willian Withering em 1785. no tratamento da hidropisiu". crcatinina é inferior a 30rnLlmin. Seu' efeitos colaterais são:
De OUlr.Jpl:1111a semelhante. a Digitalisknuua. se retiram a digoxina h~popotal>~cmia. hipomagncscmia. hipcrcalcemia, hipergliccmia,
e I) lanalll\ídeo C, sendo a primeira a mais utilizada na prática hipcrcolcsterolemia e hipcnrigliccridcmia. todos sem srande
clínica atual e a única submetida a estudos clínicov. Somente na significado clínico. A rcações de hipersensibilidade sã; raras,
década de 1990 foram realizado-, cvtudox bem conduzidos para Na presença de grandes rcrcnçõcv de volume com grande cxa-
avaliar vua eficácia. Suas açõc-, principais englobam a rnodu- ccrhação dos viruomas congcsnvos. faz-se necessário utilizar
lação da utivução neuro-humoral. a redução da atividade sim- os diuréticos que agem predominantemente na alça de Hcnle
páticu c u cstimuluçâo vagal, diminuindo ti frequência cardíaca. (Iuroscmida e burnerarnida). Eles atuarn inibindo a reabsorção
llr., também. aumento na sensibilidade dos reflexos barorre- de vódlo. pouíssío e cloro na porção ascendente da alça de Henle,
ccpiorcs e cardiopulrnonares. Por esses mecanismos. OCO!'l\: com excreção urinária de sódio de I S%, tendo ação rápida, diurese
diminuiçâo do consumo de oxigênio. diferentemente dos demais
volumosa e curto período de atividudc (4 a 6h). A redução do
inorrópico-, povitivos, razão pela qual a digoxina não aumenta conteúdo de sódio na parede artcriolnr leva à vasodilatação. da!
a mortalidade quando em uso crônico. A digoxinu está indicada sua ação na melhora das queixa» congcstivas ocorrer mesmo
na presença de fibrilação atrial com rexpostn ventricular elevada. amcv de 'c iniciar a diurcsc, Os efeitos colaterais mais sisni-
nvvociadu ou não à disfunção sistólica. a presença de ritmo licat~\·o, ,.ão: desidrat~ção. com insuficiência pré-renal. hipo-
vinusal com disfunção sistólica sintomática. também deve ser tensao e hipopotassernia. sendo igualmente raras as rcaçõc, de
utilizada, com efeitos significativos na morbidadc. O estudo DIG. hipcrvcnvibilidade. O uso prolongado de diuréticos de alça pode
publicado cm 1997. que analisou por 37 meses 6.800 pacientes fazer diminuir sua ação diurética: nesses casos. li associação de
com insuficiênciu curdfuca sistólicu, fração de cjeção :;:;-15<7('e diuréiicos de alça com os de túbulo pode scr sinérglcn, por diminuir
fi reabsorção de sódio C III dois srt ios do néfron (Tabela 5 I .2)"5.<6.
graus Iuncionnis de I a IV (NYIII\). randomizados para digoxina
(3.397_ com média culria de 63 a ± II) e placebo (3.403. com
média etária de 63.5 a ± II) associado II tratamento com diuréiicos Antagonistas da Aldosterona
e IECA. lião conseguiu demonstrar impacto na mortalidade global.
mas vim no número de internações por descompensação. bem Sabe-se que a aldosierona estimula a produção de fibroblastos,
corno tendência à diminuição de óhito, por insuficiência cardía- aumentando a fibrose rniocãrdica, contribuindo para o aumento
ca. Mostrou ainda que nívci, séricos de digoxina superiores a da rigidcl. e disfunção muscular, Atua também na retenção de
O.XnglmL foram acompanhados de maior mortalidade, bem como <õdio c água. com perda de potássio e magnésio. aumentando
() nümcro de monc-, foi maior nas mulheres e em pacientes portadores a pré-carga. dificultando progressivamente li função do vemrículo.
de caruiup.uia isquêmica":". O maior benefício foi notado nos Dispõe-se somente da espironolactona. como agente farmaco-
pacientes mais graves. com fração de ejeção < 25<K. cardio- lógico antagonista de aldostcrona (o cplcrcnonc não está ainda
megul ia acentuada e classes funcionais III e IV (NYIII\). A iruox i- disponível em nosso meio). O estudo Randomized Aldactone
cução digitálica esteve presente em 2% dos casos: 70% dos pacientes Evaluation Study (RALES). multicêmrico, randomizado, placcbo-
usava dose convencional de O.25mg/dia, manifestando-se por controlado c duplo-cego, avaliou 1.663 pacientes com insufi-
fenômenos dispépiicos. aheruções neurológicns, como tonturas, ciência cardíaca. Iruçâo de ejcção :;:;35%. grau funcional III
perturbações visuais, xantop~ia. ou arritmias, quer por aumento c IV ( YHA). tratados com digoxina. IECA e diuréticos de
do automatismo elou da condução do e5tímulo. Seu tratamento .tlça: X22 receberam espironolaetona (12.5 a 50mg/dia) c 8-11
cmba\a-~e na l>ul>pen~ãoda medicação_ corre!(ão dos desequilí- com placebo. O estudo foi interrompido pelo Comitê de Ética
brio, detrolítico), (potr.~sio e magnésio txlixos e cálcio alto facilitam e P~!>qui:.acom 24 meses, face aos re:-.ultado\ a favor do grupo
intoxicação). tr.Jtamento da!. arritmia~ \entricularcs com lidocaína e~plronolactona. HOll\'e nesse grupo urna diminuição de 30% na
ou difcnilidantoína na!>do~e~ habituai:>·'_ E~~c:.dados nos mostr..tm mortalidade global. por queda na progrel>~ão da insuficiência
que a digoxina e~tr. indicada aos pacientes com insuficiência cardíaca e da morte l>úbita. I louve todavia 10% de casos de oine-
cardíaca ~int()mática. mesmo em ritmo inu~al (Tabela 51.1y"'. comastia que foi o efeito colateral mais significativo'1. C~mo
se trata mcdicamcnte de retentor de potássio. o nível sérico
dcstl! fon deve ser rnonitorado, principalmcnte IlOS paeientc~
portadores de insuficiência renal crónica.
TABELA 51.1 -Inibidores da enzima conversora de
angiotensina: dose inicial e dose-alvo
Vasodilatadores Diretos
MEDtCAMENTO DOSEINICIAL DOSE-ALVO
Na ill,uticiência cardíaca ocorre aumento na pré e na pós-carga,
Caplopril 6.2Smg13vezes ao dia SOmgl3vezes ao dia
sobrecarregando o trabalho do comção. O Ul>O de vasodilatadore)
Enalapril 2,Smg12vezes ao dia 10mgl2 vezes ao dia
que alUem ne!.sas duas áreas fal. :.entido c foi verificado inicial-
Lisinopril 2.Smgll vez ao dia 10mg/l vez ao dia
mellte com o e. tudo VeHeFT I. no qual <;eanalisou pacientes com
Ramipril l,2Smg12 vezes ao dia Smgl2 vezes ao dia
insuficiência cardíaca em liSO de digitálicos e diuréticos que
Tandolapril 1mg/l vez ao dia 2mg/l vez ao dia
receheram placebo ou a a~sociHÇi1()de hidralalina e nitrato, res-
Benazepril 2.5mg/1 vez ao dia 10mgl1 vez ao dia
pectivamente vasodilatadores artcrial e venoso. com significativo
Fosínopril Smg/l vez ao dia 20mg/1 vez ao dia
impncro l'ohre a morbimortalidadc·,g. Essa associação foi pos-
Perindopríl 2mg/l vez ao dia Bmg/1 vez ao dia
tCrtlll'llll!nle testada em comparayfío com enalnpril, mostrando-
Doenças Cardiovasculares a 495

TABELA 51.2 - Caracterlsticas dos principais dluréticos

DluRtnco DOSE/DIA(mg) INIcIO DA AÇÃO PICODE AÇÃO (h) DURAÇÃODA AÇÃO (h)
Hidrodortiazlda 25 - 100 2h 4-6 6 - 12
Clortalidona 12,5-50 2h 2- 6 24 -72
Indapamida 2,5 - 5 1 - 2h 2 36
FurosemidaIV 20 - indefinida 5min 0,5 2-4
FurosemidaVO 20 - indefinida 30min 1 6-8
BumetamidaIV 0,5 - 2 5min 0,5 - 1 2
BumetamidaVO 0,5 - 2 0,5 - lh 1- 2 4-6
IV = intravenoso;VO = via oral

se inferior em resultados.Assim sendo. hoje em dia.justifica- necessário cuidado adicional no seu manuseio. A piora clíni-
se o emprego da associação de nitrato e hidralazina quando não ca significativa, a bradicardia « 55bpm) e a hipotensão (PAS
for possível a utilização de IECA ou BRA (por exemplo. na < 90mmHg) são situações que nos obrigam a diminuir a dose,
insuficiência renal crônica significativa associada 11insuficiência ou mesmo suspender essa medicação. O estudo CARM EN avaliou
cardlaca). na dose de 25mg de hidralazinn três vezes ao dia e o efeito do carvedilol. comparando-o com o lECA e analisou tam-
mononltrato 20mg igualmente três vezes ao dia, tornando-se bém a associação dos dois. comparada ao uso isolado, demons-
o cuidado de manter um período de 8 a 12h entre a última trando que a utilização simultânea do IECA e do carvedilol
dose diária do nitrato e a primeira dose do dia seguinte. para promoveu melhores resultados'". Outro estudo. MOCHA, analisou
evitar-se o fenômeno de tolerância22J6. Em estudo analisando ti resposta de diversas doses de curvedilol e concluiu que os
1.050pacientes negros com graus funcionais III c IV (NYIIA). melhores resultados eram notados com qualquer dose de carvedilol
notou-se impacto sobre a morbimortnl idade. quando se associou quando comparado ao plucebo e que o benefício foi maior
11terapia plena para insuficiência cardíaca. hidralazina c nitrato'". com 25mg duas vezes ao dia. Em paciente tratado cronica-
mente com bela-bloqueadores, o aparecimento de descompen-
sação não deve ser motivo para a suspensão abrupta desse
Bloqueadores dos Canais de Cálcio medicamento, pois isso poderá ocasionar liberação de catecola-
Nilo há lugar rotineiro para o emprego de bloqueadores dos minas, com taquicardia. arritmias e angina, que agravarão o
canais de cãlcio na insuficiência cardíaca. porém. quando estes quadro; deve-se diminuir a dose em uso. esses casos. quando
se fizerem necessários (cardiopatia hiperiensiva e/ou isquêrnica) houver necessidade de inoirópicos positivos para o tratamento
fi amlodipina pode ser considerada. das crises aguda. de descompensação, a dobutamina não scrã
muito efctivn. devendo ser usadas medicações 1.:01\1 outros
mecanismos de ação, como milrinorna.
Beta-bloqueadores
o aumento da atividade simpática e do nível de carccolaminas Agentes Inotrópicos Positivos Não Digitálicos
circulantes silo fatores agravantes da deterioração miocãrdica.
contribuindo para a piora da insuficiência cardíaca. O bloqueio Todos estes agentes inotrõpícos mostraram pouca ação na
dessa atividadc simpática exacerbada constituiu-se no racional melhora dos. internas, porém, aumentaram a mortalidade quando
parao emprego dos beta-bloqueadores . c eles promoveram mudanças em uso prolongado. Devem ser usados somente em condi-
importantes no prognõsrico dessa síndrome. Três foram os beta- ções agudas de descompensação, por via venosa e pelo menor
bloqueadores aprovados cm estudos bem conduzidos. mostran- tempo possível. A dobutamina estimula os bera-receptores do
do melhora na frução de ejeção. diminuição de mortalidade e coração. aumentando os níveis de adenosina rnonosfaro (AMP)
morbidade,o carved i101(US Carvedi 101,Copern icus e Capricorn). cíclico, elevando o cálcio intracelular e aumentando a força
o metoprolol (succinato) (Merit-HF) e o bisoprolol (CIBIS (1)50. ccnrrári I. Não há, todavia. estudos controlados que eviden-
O carvedilol é um beta-bloqueador não seletivo (beta I e beta2). ciem de forma inequívoca seus efeitos benéficos. mas já se
com fraca atividade alfa-bloqueadora e foi o primeiro a ser uti- demonstrou uumcnio da mortalidade com seu uso. Os inibidore
lizado no tratamento da insuficiência cardíaca, No total. cerca da fosfodicsterasc (milrinona) têm ação pós-receptores, ini-
de 14.000 pacientes foram estudados em grandes estudos. com bindo a enzima responsável pela degradação de AMP cíclico,
fração de cjcção entre 30 e 40%. recebendo IECA, diuréricos, permitindo maior influxo de cálcio e conseqüente aumento
demonstrando redução nas mortes por todas as causas e diminui- do inotropisrno. À semelhança da doburarnina, não houve di-
çâode hospitalizações por insuficíência cardíaca, sendo somente minuição no número de hospitalizações ou eventos cardio-
necessário tratar 13 pacientes para prevenir uma morte/ano. É vasculares com ii utilização desse fármaco, mas sim aumento
importante que o início dessa medicação se dê com o paciente na ocorrência de fibrilação atrial e hipotensão. quando com-
equilibrado em sua volcrnia c estável, com as doses de IECA parada com o uso de diuréticos em altas doses. Em pacientes
etimizadas. As doses devem ser progressivamente aumentadas. que estão utilizando beta-bloqueadores e apresentam descom-
com intervalo de cerca de 2 semanas, lembrando-se sempre pensação da insuficiência cardíaca necessitando de inotrópicos
de iniciar com doses baixas (Tabela 51.3). advertindo-se que posuivos. deve-se dar preferência àqueles fármacos cuja ação
nos primeiros dias pode haver aumento do cansaço e da falta
de ar, situação esta que pode ser minimizada respeitando-se os
esquemas cíiados":". Hoje os bera-bloqueadore se constituem TABELA 51.3 - Beta-bloqueadores
emmedicação indispcnsrivcl a todo paciente que não apresente
FÁRMACO DOSEINtCIAL DOSE-ALVO
contra-indicações (bloqueios atrioventriculares de graus (( e
lll, broncoespasmo. insuficiência arterial periférica grave), que Carvedilol 3,125mg/2 vezes ao dia 25mg/2 vezes ao dia
seencontre cuvolêrnico e estável sob o ponto de vista hemodi- Metoprolol 12,5mg/l vez ao dia 200mg/l vez ao dia
nârnico, qualquer que seja a classe funcional, lembrando-se (succinato)
sempre que os pacientes em grau funcional mais avançado
Bisoprolol 1.25mg/l vez ao dia 10mg/l vez ao dia
podemapresentar mais hipotensão e piora dos sintomas. sendo
496 • Tratado de Clínica Médica

se dê por mecanismo pós-receptor (mílrinona) que parecem ser QUADRO 51.2 - Principais contra-indicaçõespara o
mais eficazes que a dobutaminan.~. Recentemente foi desen- transplante cardíaco
volvido 11mnovo agente inotrópico positivo para uso intrave-
noso. lcvosimendarn. cujo mecanismo é de sensibilização de Alcoolismoou usode drogas ilicitas
Falta de cooperaçãoprópria ou familiar
cálcio, que se mostrou tão eferivo e com menores efeitos cola-
Doençamental crónicasemcontrole adequado
terais que a dobutamina, porém seus resultados 1'I longo prazo cancer tratado comseguimento < 5 anos
necessitam melhor avaliação". Doençasgravessistêmicas
Insuficiênciarenal grave, não dependenteda insuficiênciacardíaca
Resistênciavascularpulmonar> 6 - 8U Wood que não caia a < 4U
Anticoagulantes com vasodilatador
Há poucasevidências de que O uso de anticoagulantes modifique Tromboembolismorecente
ii mortalidade ou a ocorrência de eventos cardiovasculares em Úlcerapéptica ativa
pacientescom insuficiência cardíacaque nãoestejam em fibrilação Insuficiênciahepáticasignificante
atriul. O risco anual de acidente vascular cerebral (AVe) em cs- Co-rnorbidadesde pior prognóstico
tudos ccmrolados de pacientes com insuficiência cardíaca é Quadrosinfecciosos
de I a 2rk e de infarto do miocárdio é de 2 a 5%. No estudo
Stroke Prevention of Atrial Fibrillution Study (SPAF) o risco
anual de AVe era de 10.3% em pacientes com fibrilação atrial A amiodarona está indicada nos casos de fibrilação atrial,
e insuficiência cardíaca instalada c de 17,7% nos casos de re- quer para a reversão ao ritmo sinusal ou profilaxia de novas
centecomeço", Sabe-seque os anticoagulantes diminuem o risco ocorrências, quer para o controle da freqüência cardíaca".
de AVe em pacientes com insuficiência cardíaca e fibrilação
atrial. não havendo evidências quando em ritmo sinusal". Rc- Ressincronização Cardíaca
comenda-se. então o uso de heparinu por via subcutânea em Estima-se que 30% dos pacientes com insuficiência cardíaca
paciente ...com insuficiência cardíaca que estejam acamados, tenham distúrbio da condução intraventricular do estímulo,
com importante insuficiência ventricular direita c grande rc- ocusionando discordância na contração ventricular. O racional
tenção de líquidos. Por outro lado. recomenda-se o uso de da ressincronização cardíaca é o estímulo sincronizado das
anticoagulantes orais em pacientes com fibrilação atrial, prc- cavidades ventriculares de modo a obter sístole mais eficaz.
scnça de trombo em cavidade ventricular visível ao ecocar- A curto prazo, esse procedimento pode proporcionar quedana
diagrama ou ventriculografia, antecedentesde trornboembolismo pressão de enchimento ventricular. minimização do refluxo
e grandes áreas acinéticas". mitral e melhora do débito cardíaco. Vários estudos randomizados
envolvendo pequeno número de pacientes têm demonstrado
Antiarrítmicos melhora dos sintomas e da tolerância ao exercício, todavia sem
grande impacto na mortalidade global'6.s~,5().
A invuficiência cardíaca cursa com arritmias cm cerca de 90%
dos pacientesestudadoscom eletrocardiografia dinâmica. variando
de extra-vistclia polimorfa a taquicardia ventricular sustentada
Tratamento Cirúrgico
ou não.além da fibrilação atrial. Os bera-bloqueadoresmostraram- O tratamento cirúrgico da insuficiência cardíaca deve levar
se efica/cs na diminuição da morte súbita desses pacientes e em conta a abordagem de situações passíveis desse tipo de
devem ser utilizados nestes e em todos os pacientes com essa tratamento. como por exemplo a revascularização miocãrdica,
síndrome. conforme já discutido. Por outro lado a amiodarona, as rcs: ccçõcs de aneurismas ventriculares. as plastias ou trocas
amiarrümico da classe III, é eficiente nas arritmias supraven-
triculares e ventriculares, além da fibrilação atrial, sendo o
amiarrümico com menor efeito inotrõpico negativo. Seu uso QUADRO 51.3 - Preditores de mau prognóstico na
profilãtico cm pacientes com insuficiência cardíaca e taquicardia insuficiência cardíaca
ventricular nãosustentadaassintomãticos não demonstrou alterar Idade> 65 anos
li mortalidade global, mas sim a morte súbita. Não sejustifica, Grau FuncionalIII/IV (NYHA)
assim.seuusoprotilático nessascondições. Seusefeitos colaterais, Cardiomegaliaacentuada
C0l110 hipo ou hipertireoidismo. pneumonite intersticial e depósito Fraçãode ejeção < 30%
em córnea têm pouca importância quando se usam doses baixas Dilataçãoprogressivado ventrlculo esquerdo
de 100 a 200mg/dia'6. Diabetesmelito
Doençapulmonar associada
Anemia (Hb < 11g%)
Creatinina > 2,5mg%
QUADRO 51.1 - Principais indicaçõespara transplante
Fibrilaçãoatrial
cardíacoapós otimização da terapia
Arritmias complexas(TVSe TVNS)
vo.méx < 10mUkg/minatingindo limiar anaeróbico Diminuiçãoacentuadada tolerância ao exercício
Isquemiagrave e limitante semindicaçãode ressonância Sódio plasmático< 130mEq/l
magnéticaou outro procedimento,com disfunçãoventricular Falta de aderênciaao tratamento
Arritmias ventricularesgravese refratárlas (TVS/FV)com Nivelselevadosde BNP
disfunçãoventricular Niveiselevadosde interleucína a 6 e do TNF-alfa
TVSrefratária ou recorrentecom FEVE< 30% Débito cardlacoreduzido
Classefuncional IV persistente Elevaçãode pressõespulmonares
Retençiiohídrica grave, apesardo tratamento clínico e aderência Niveiselevadosde norepinefrina
Classefuncional III ou IV intermitente, principalmentecom Caquexia
hiponatremia ou catecolaminaselevadasou TVNSfreqüentes Múltiplas internaçõeshospitalares
Pacientesemsituaçliohemodinãmica insustentávelapesardemedicação Co-morbidades
FEVE= fraçãodeejeçãodeventrículoesquerdo;fV "fibrilação ventricular; BNP" peptldeo natriurético cerebral;TNf = fator de necrosetumoral;
TVNS"taquicardia
ventricularnãosustentada.
TVS"taquicardia ventricular TVNS"taquicardiaventricularnãosustentada;TVS= taquicardia
ventricular
sustentada sustentada
Doenças Cardiovasculares • 497

15. TAL\VAR. S.: SIEBENHOFER.A.: WILLIAMS. B.: 'G. L.lnOuenceorhypenension.


TABELA 51.4 - Orienta~ão geral da terapia na insuficiência lerl ventricular hyperlrophy. and I.fl ventricular sysrolie dysfunclion on plasma N
cardiaca termmal proBNP. Heart, v. 83. p. 278. 2000.
16. EUROPEAN SOCIETY OF CAROIOLOGY. Tbe 13Skforce on heart failure of lhe
ESTÁGIO TRATAMENTO European Society of Cardiology, Guidelines for lhe diagnosls of lhe 1le3r1 failure,
Ellr. IItà" J., v. 16. p. 741·751. 1995.
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lesão sem sintomas IECA + BB lhe Ncw York Associution, Nom~nrlDlul'I'ntld Crilfrill/or D/aNllo.ris 0/ DiUlIStS O/lhe
Sintomas IECA (BRA) + BB + diuréticos + Hean alld OreM vesse!s. 9. ed. BOSlon: Liule, Brown & Co, 1994. p.235·236.
18. WILLlANS lR" J. F.: I:lRJSTOW. M. R.: FOWI,.ER, M. n.« 01.ACC/AIIA guidclines
espironolactona + digital for lhe evaluation nnd management or lhe 003.11failure: repor! 01'lhe Amcrican College
Insuficiência cardlaca Idem ao anterior + hospitalizaçlio + of Cardiology/ American Heart Association T3Sk Force 011 Practice Guídelines
refratáría inotr6picos IV+ ressincronização (Commiuee 011 Evaluation and Managemem or Hean Failure), J. Am. C(lII. Cordiol"
v. 26. p, J 376·1398. 1995.
cardlaca + Tx
19. CHAKKO. S.: WOSKA, O.: MARTINEZ. H. et aI. Clinical, radiogmphic, and
88; bete-bloqueadores; 8RA = bloqueadores dos receptores de angiotensina; hemodynalllic correlaiions io chroaic congestive hean fnilure: conOicling results
IECA= inibidor da enzima conversora da angiotensina; Tx transplante = mar lead 10 inappropriale care, Am. J. Med.. v. 90. p. 353-359. 1991.
cardiaco 20. RIHAL. C. S.: DAVIS, K. B.: KENNEDY, J. W. et al, Th. utility of clinical,
clcclrocnrdiogr:lphic. and roenlgenogr:lphic variables in predicuon of Ieft ventricular
funcnon. Am. J. Cartllol .. v, 75. p. 220-223. 1995.
21. PONIKO\VSKI, ,~: ANKER. S. D.: CHUA. T. P. CI01.Dcpressed hearlllllevariabilily
valvares, entre outros. Todavia, não existindo essas possibili- as an indcpcndcnt prcdlcror of death in ehronie congcstive heart fa.lun: sccondary
dades e estando o paciente em alto grau funcional com terapia to ischcmic or ldlopathlc cardiomyopathy, Am. J. Cardíol., v. 79, p. 1645-1650. 1997.
>< farmacológica otimizada, pode-se lançar mão de dispositivos 22. SOCIEDADE ORASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretrizes da SOCIedade Brasi-
~ de circulação assistida (balão intra-aórtico, bomba de fluxo con- leira deCardiologia pum o Diagnõstico c Tratamcnro dn Insuficiência Curdfac:a. Artl.
Bras. Cardiol., v. 72. supl.. p. 8·11, 2002.
~ tínuo, ventrículo artificial, coração artificial), geralmente como 23. FONAROW. G. C.: ADAMS. K. E: ABRAHAM, W. T. cl uI. AOHERE Scientiflc
~ ponte para o tratamento radical da insuficiência cardíaca rc- Advisory Committee. Srudy Group, and Investigators. JAMA. v, 293. o. 5, p. 572·
~ fratária, que é o transplante cardíaco. Suas indicações e con- 580.2005.
2-1. TSUTAMOTO T. WADA A, MAEDA K ti aI. Plasma brain natriuretic peptide levei
ua-indicações estão listadas nos Quadros 51.1 e 51.2. Os resultado "' li biochcmical marker or OIOrtoidilyand mortaliry in patients wilh asjmptomaric
nacionai e internacionais têm sido cada vez mais animadores or minimally ~ymplomalic lef] ventricular dysfunclion. Comparison with plasma
nas duas últimas décadas. A sobrevida tem sido de 80, 70 e angrotcnsl» II aOO cndothclon·1. Eur. Heart J.. v. 20, p, 1799·1807. 1999.
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A insuficiência curdíaca é doença progressiva que leva inexora-
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após 2 anos do diagnóstico e de 82% (homens) e 67% ofCardiol~y. Recommendations for Exercise Testing in CIvonic HC3.I1 Failure patiems.
(mulheres), em 6 anos. Os principais preditores de mau EI/r. IIfllrl J..• 22. p. 125·135.2001.
prognóstico estão no Quadro 51.)2'. 30. DEBUSK. R.. ORORY. Y.: GOLOSTEI .1. ti aI. Managemenl of sexual dysfuclion
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",Ih
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498 • Tratado de Clínica Médica

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50. PEREIRA BARI<ETO. A. C. RClahloq""ulklrc,. III: I'ERI"IRA BARRETO. A. C.: Nesse sentido. considerando que o débito cardtaco é o produto
BOCCHI. E. A. (.~"'}.III.\"fi'i'/I"III {'tm/illm. 5uo Paulo:Segmento. 200J. p. 1~3. da l'rcqüência cardíaca pelo volume sistólico. conclui-se que
51. BRISTOIV. ~·t.R.. GlI.IlERT. I:. ~t :ARRAIIAM. W. T. CI uI. Carvcdrlol produces seu papel é decisivo e fundamental na manutenção do débito
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in hc~n railurc '"l1jcch trC:lIC~chr<lllkall~ \\lIh cm vcililnl. III. J. Curdinl.. I'. 81. na-se essencial para () t ratarncruo.
I' 1.11·149.2001, Resposta de Freqüência. Além de corrigir a [reqüência
51. ('J [!.ANO. J. (õ.: ~1('(j()WA~, J. Lcvosirnendan;a newerafor tnodilaradorrherapy
ro< beart failurc' C/II" 01"11.CIIIYI/(II.. v. 17. n, 3. p. 257·265. 2002. cardíaca eUI repouso os marca-passos aiuais têm importante
54 I\TKIAI. FtIlRII.I.Al'ION INVESTIGATORS. The Stroke Prcveruion ln Alrial papel no ajuste da freqüência cardíaca conforme as necessidades
Fibnllallon Invc'II~:nol'\. Prcdictors olthromboembolbm in atrinl fihl'illnlion: t. ('''nicai metabólicas do paciente. Isso é obtido basicamente com os
fenturev of p:IIICnISai risk. AI/n. 1111.'1'11.
Mec/ .. v 11(>,I' 1-5, 1(J1)2.
55. ATRIAI. FlBRII.LATION INVf:.<;TlGATORS R"l (3<1l1h for strnkc antl eíficacy
marca-passos sequenciais Iisiológicos ou mediante sistemas
01' antithrombotic rherapy in atrial fibrilhuion. AIIJI)'I' IIf I'ooled dmu from fivc com biosscnsorcs. Os marca-passos fisiológicos são atrioven-
randomized controllcd lnu)" AnA 1",1'1'11. M.,tl.. I 15.1. p. 1449.1457. 1994. triculares sequenciais capazes de seguir II [rcqüência sinu aI.
56. SINGII. S.:\: FLI;'T('IIER, R. O: JoISIII1I(. S. C. ct 31. For the survival trial of O ajuste da Ireqüência cardíaca, nesse caso, segue o padrão
antinrrhythmrc lhc:rJp)' ln ("·UII~C'II\C h\!:tl't f:,ilurc and asympromaiic vcutricular
anhylhnlla \ /;n~. J. .II.'tI.. \. '33. I). 77·82, 1995. natural. Quando não se pode utilizar a função sinusal (incom-
57. I.I'VY, S.: IlRI:JlIIAI<O r. G.: CAMPBELL, R. W. el ai Atrial librillali,'": currcnt petência cronotrõpicu ou fibrilação atrial permanente) é ne-
kll",vk.lge und recommcndation, for managcmcnt. \Vorking grour on Arrhythmia« cessária 11 urilizução de marca-passos com biossensorcs -
,Ir lhe Eur"l'<'an Society ofCardiotog)'. EII/: NeMI.! .. v, t9. p. 1294·1320. 199M. tuarcu-passos responslvos, Esses aparelhos são dotados de
S8. AIIRAIIM"t. W. T. Rationalc and dcvign of II randunu/cd chnrcal !nat to 3SSC~ lhe
";lfCI)' aud CfJiC3Q of cardiac rc~}nchr()ni/.,:lIion thcrnpy in paucms wirh advnncul biosscnsorcs mecânicos (cristal piezoelét rico, acelcrômctro),
beart taiturc: lhe Muluccnlcr In$)'ncRnndomizcd Clinical Evaluation (~lIRA(,I.El. respiratórics ou de contratilidade cardíaca (Fig. 51.4).
J. Cnrd. I·tril. v. 6. n. 4. p. 369·380, 2000.
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J Mnl .. v. ~4~. p. R7.1·S~O. ~OOI
Ablação do Nó Atrioventricular. Eventualmente a in·
suficiênciu cardíaca pode ser provocada ou potencializada por
freqUência cardíaca anormal e permanenlemente altal. Essa
<.:ondição pode levar a uma di latação progressiva das câmaras
Utilização do Marca-passo cardíacas conhecida como taquicardiomiopatia. É panicular-
mente comum na librilação atrial crônica com freqUência alta

no Tratamento da que não responde a Iratamemo clínico. Nes a situação, li ablação


do n6 aJrioventricular (AV) associada a implante de um mar-
ca-passo cardíaco tem obtido cxcelentes resultados clfnicos~.
Insuficiência Cardíaca Prevenção de Taquiarritmías. t\ prevenção de arritmias
- notadamenle a fibrilação atrial- 6 importante no tratamento
da insu!iciência caruíaca por melhorar o rendimento ventricular
José Cario Pachón Mateos e preservar a conlribuição atrial. Recentemente, diversos trabalhos
têm demonstrado que é possível prevenir episódios de librilaçiio
Juan Carlos Pachón Mateos aJrial cOIll diversos protocolos automálicos de eSlimulação
incluídos em marca-passos definitivos (oveI/lace Oll ol'erdril'c)'-6.
Remy Nelson Albornoz
Enrique lndalécio Pachón Mateos Dessincronização e Ressincronização das
Câmaras Cardíacas
Sempre que existe um relardo anormal na alivação do coração,
INTRODUçAO o rendimenlo cardíaco é comprometido. Esses retardos ou
Com () ilvall<r0 no (ralamento das cardiopatias e conseqUenle bloqueios podem ocorrer em Irês níveis: alrial, AV e vemricular.
:llllnento da longevidade. a insuliciência cardíaca vem dupli- Os marca-passos l11odernos lêm recursos para corrigir os blo-
cando sua prevalência a cada década. A Organização Mundial queios nesscs três níveis contribuindo para o Iratamento dn
ua Saúde (OMS) estima que existam alualmentc cerca dc 90 in~uficiência cardíaca independente de seu efeilo na freqUên-
milhões de casos. N()~ E~lados Unidos. ocorrem aproximada- cia cardíaca (Fig. -51.5).
mente 550.000 e no Brasil cerca de 250.000 casos novos por
ano. Cerca de 35% dos casos podem ser beneliciados pela Ressincronização Atrloventrlcular
correção de um disllírbio elélrico associado. lal como bradi- A eSlimulaçào vcnlricular isolada, sem sincronismo com a ali·
cardia ou bloqueio intravenlricular. vidade 3trial. pode provocar sintomas de palpimções. tonlllt'ilS.
intolerflneia aos esforços, dispnéia, hipotensão arterial e piora
CONTRIBUIÇAO DO MARCA-PASSO NO TRATAMENTO do sinlomas de insuficiência cardíaca. Esse quadro é conheci-
DA INSUFICllNCIA CARD(ACA do como síndrome do l11arca-passo7• Essa condição, oca ion3-
Nessa condição. O marca-passo cardíaco pode contribuir, <11>- da pela falta do sincroni mo AV lisiológico. pode ocorrer na
sociado ao tratamento clínico. corrigindo a freqUência car- ausência ou em presença de condução relrógrada (vemriculoll1rial).
Doenças Cardiovasculares • 499

A prevenção e o tratamento dessa condição são obtidos pelo Oessin(lonizaç~o


uso dos marca-pasvos arriais (na ausência de bloqueio AV - AV AA W
BAV)ou seqüenciai .. J\V (na presença de IlAV). também chama- (Oissocl.çlo AI/) (Bloqueiointeralllal) (OCII/)
dos de marca-pav-o-,fisiológico», Esses rnarcu-passo.• além de Slndromedo Favore<eflbt.laçJo QRS largo
mar(a·passo alllal Favore(eIC
manterlima freqüênciu cardíaca mini ma programada garantem o

Wij/ijI
sincronismo AV. uu se]u, relação AV I: I com intervalo AV nor-
mal, cm repouso e durante o esforço.
A importância do sincronismo AV no tratamento da insufi-
ciência cardfaca tem sido amplamente demonstrada. Na doença
do n6 sinusal. o estudo PASE (Pacernuker Selection Elderly),
comparando o. marca-passos AV fisiológicos com o. marca-
passos ventriculares. mostrou que os primeiros reduzem sig- Figura 51.5 - Esquema representativo das dessincronizações atrio-
nificativamcntc a incidência de insuficiência cardíaca, de ventricular (AV). interatrial (AA) e interventricular NV). A primeira
internações hospitalares, de mortalidade. de evolução para predispõe ii síndrome do marca-passo, a segunda favorece o
fibrilação ntrial e de acidentes vasculares cerebrais". surgimento de fibrilação atrial e a terceira, quando associada ii
Respeitar o sincronismo AV não significa S()n1enIC manter cardiomiopatia dilatada, predispõe ao surgimento da síndrome
a relação AV em I: I. É necessário o ajuste correto do inter- ventricular do marca-passo. Tanto a sindrome do marca-passo
valo AV (Fig. 51.6). como a slndrome ventricular do marca-passo podem provocar
ou agravar a insuficiência cardíaca (1C)14
Tratamento da Insuficiência Cardíaca com
Intervalo Atrioventrlcular Curto Dessincronização do Miocárdio Ventricular
Na insuficiência cardíaca. apôs a coniruçüo airial e. em razão da
A estimulação ventricular com QRS largo, apesar de corrigir a
alra pressão diastólica final do ventrículo esquerdo. existe uma
frcqüência cardíaca. é altamente prejudicial do ponto de vista
tendência ao refluxo mitral diastólico. Isso. além de reduzir a
hcrnodinârnico. O QRS largo. ocasionado por bloqueio completo
pré-carga aumenta a congestão pulmonar. Foi demonstrado.
nessa situação. que a redução do intervalo AV poderia promover do ramo esquerdo (ou de forma semelhante por marca-passo
a contração ventricular antes do refluxo mitral di:t~tólieo, no ventrfculo direito). promove disfunção sistólica, disfunção
aproveitando a pré-cargo máxima afetiva. Além de melhorar diastólica e aumento da regurgitação rnitralll•l1• Esses efeitos
a contração obtém-se a redução do refluxo mhrul mclhoraudo a deletérios. e devem ~ dessincronização do mlocârdto ventricular.
pressão de pulso". llochlcimcr ('I 01. propuseram o implante de Dessa forma. não fosse pelu correção da Ircqüênciu. o marca-
marca-passo AV scqücncial com intervalo AV curto para tra- passo convencional seria definitivumcntc prejudicial na insu-
tamento da insuficiência curdfuca sem brudicardia'" (Fig. 51.7). ficiência curdíucn (Fig. 51.9).
Houve um bom resultado no grupo estudado. porém a melhora
Inicial não se manteve e os achados não foram reproduzido Síndrome do QRSlargo ou Síndrome Ventricular
por outros autores. Atualmente o implante de marca-passo AV
convencionalCOIII intervalo A\' curto não é aceito como tra-
do Marca-passo
tamento da insuficiência cardíaca. Quando ocorre alargamento do QRS num portador de cardio-
rnioparia dilatada. geralmente ocorrem sinais e sintomas de
Ressincronização Interatrlal insuficiência cardíaca ou agravamento de uma insuficiência
cardíaca preexistente. A esse fenômeno denominamos slndrome
A ativação precoce do lílrio esquerdo é tão importante que foi
do QRS largo, quando o alargamento se deve a bloqueio de ramo
projetada pela evolução nuturul criando e preservando o lus-
esquerdo csporuãnco ou stndrome ventrlcutar do marca-passo.
cfculo de Bachrnunn. () qual ativa O átrio esquerdo precoce-
quando se deve à estimulação artificial monofocal do ventrículo
menteno sentido craniocuudal. Quando existe bloqueio desse
(implante de um marca-passo monofocal em ventrículo ou falha
[ascfculo ocorre dificuldade na condução interutrial e retardo na
contração atrial esquerda. Esse fato tende a sobrepor as con- de comando de um eletrodo ventricular num sistema rnultissüio)".
trações do átrio e vemrículo esquerdos. predispondo o paciente
à disfunção hemodinâmica (Fig. 51.8. A) c a iaquiarriunias
atriais com agravamento da insuficiência cardíaca. O trata- IntervaloAVótimo melhora o sln(,onlsmo AV
mento dessa condição é realizado com o implante de marca-
Slnusal Estimulado
passo biatrial" (Fig. 51.8).

SlnulIl Pressão
ê 130 ____ MPsem blossensor aórtica
Q. ___ MP(om blossensor
e 120 Pres"o aulal
II
v
..,
.! 110
elO
100
A -
Sluoles A e V
sincronizadas
pr'-urga
"...oc
t3
90
ao
mblma
efetiv.
~
"- 70 A V A V
60
Donrondo Andando Sentado Correndo O~anllndo
Figura 51.6 - Quando a pressão diastólica final do ventriculo es-
Figura 51.4- Esquema comparando a resposta de freqüência querdo (VE) é elevada, pode ocorrer regurgitação mitral no final
cardlacano individuo normal, no portador de marca-passo sem res- da diástole. Nesse caso, a redução do intervalo atrioventricular (AV)
postade freqüência e no portador de marca-passo com biossensor diminui esse fenômeno, melhorando o rendimento cardíaco
500 • Tratado de Clínica Médica

Figura 51.7- Na tentativa de encurtar o intervalo atrioventri·


cular, Hochleitner et aI. promoveram o alargamento do QRS. Esse Figura 51.9 - Neste exemplo o paciente tem fibrilação atrial com
efeito normalmente é bem tolerado no coração normal, porém QRS estreito. O terceiro batimento marca o inicio de uma estimu-
provoca ou agrava a insuficiência cardlaca na cardiomlopatia di- lação ventricular com marca-passo provisório numa freqOência
latada (síndrome ventricular do marca-passo)'4 semelhante à do ritmo espontâneo. A estimulação artificial pro-
move importante alargamento do QRS e significativa perda de
rendimento cardíaco. evidente pela redução da onda de pulso
Ressincronização Ventricular
A estimulação sirnultânca de regiões miocãrdicas distantes me- por um eletrodo endocãrdico. Implantado de forma convencional
diante implante dc dOI, ou mais eletrodos ventriculares pode c o vcntrículo esquerdo é estimulado por um clctrodo posicionado
restabelecer o sinergisrno conirãtil perdido pelo alargamento do no interior de uma veia cardíaca por meio do seio coronário
QRS. Essa forma de tratamento é conhecida como estimulação (Fig. 51.10). obtendo-se a ressincronização ventricular.
ventricular multissitio.
O estudo multicêntrico Multicenter InSync Randornized
Clinical Evaluarion (MIRACLE). comparando portadores de
Estimulação Ventricular Multissítio insuficiência cardíaca com ventrículo sincronizado (estimu-
Essa estimulação ventricular tem o objetivo de ressincronizar lado com marca-passo biveruricular) com não sincronizado
o miocárdio ventricular. É obtida com marca-passos especiais (marca-passo inibido - bloqueio do ramo esquerdo, espontâ-
tressincronizadorest. que apresentam o circuito ventricular com neo) mostrou que houve redução de uma classe Funcional (NYHA)
duav saidas conectadas a pelo menos dois eletrodos ventriculares em 69% dos casos contra 3-1% e aumento maior que 50m no
implantado, cm área, distantes e estimuladas ao mesmo tempo. leste de caminhada de 6min em 50% dos casos contra 30%,
Os cletrodos podem ser endo ou epicãrdicos, Dependendo dos respectivamente. A duração média do QRS não foi siguiflcn-
ponto-, cvumulados, a estimulação mulrissüio pode ser bivcn- tivamente diferente".
triculur, bifocal direita ou trifocat.

Estimulação Biventrjcular
A estimulação biventricular fui o primeiro tipo de cstimulnção
ventricular multisvítio, xendu utilizndn desde 1994". Nu sua
aplicação Illill' [requente. o vcntrtculo dirclto é estimulado

AO : A/E Onda P eM pielen(a de


~ bloqueio Inleralrial

QRS
comandado
A
Avar.~jo sjmultin~a do AE e VE
A

B
Figura 51.10 - (A e B) Esquema da estimulação multissitio
Figura 51.8 - (A e B) O bloqueio interatrial atrasa a attvação do blventricular. A técnica mais freqüentemente utilizada é a
átrio esquerdo, causando uma coincidênda entre as contrações atrial endocárdica, sendo o eletrodo de ventrlculo esquerdo irnplan-
e ventricular esquerdas, predispondo ao surgimento de fibrilação tado numa veia cardíaca por cateterismo do seio coronário. Os
atrial, Essa disfunção, frequente na sindrome de braditaquicardia, eletrodos atrial e ventricular direitos são implantados conforme
pode ser corrigida com implante de marca-passo biatrial, cujo ele- a técnica de implante endocárdico convencionaI. A direita, ob·
trodo de átrio esquerdo pode ser implantado pelo seio coronário serva-se uma radiografia póstero-anterior de um caso com mar-
por meio de acesso endocárdico, sem toracotomia. AD = átrio direito; ca-passo biventricular. AD, VD e VE = eletrodos atrial direito,
AE = átrio esquerdo; VD = ventriculo direito ventricular direito e ventricular esquerdo, respectivamente
Doenças Cardiovasculares • 501

EstimulaçãoVentricular Direita Bifocal QUADRO 51.4 - Condições que podem impedir a instalação ou
manutenção de estimulação ventricular esquerda adequada,
Muitas vezes. existe impossibilidade ou dificuldade para a por via endocárdica
estimulação do ventrículo esquerdo (Quadro 51.4). Nessas
condições. a esümulnção ventricular bifocal direita tem mos- Dificuldade de acesso ou de estimulaçio do ventrlculo
esquerdo
trado grande utilidade clínica. Diversamente à estimulação • Obstruçâo do seio coronário ou de veia cardíaca
biventriculur - que permite uma ressincronização transversal • Ausência de veia cardfaca ou posição desfavorável
_ 1\ estimulação ventricular bifocal direita proporciona a • Deslocamento de eletrodo
ressincronização longitudinal do coração" (Fig. 51.11). • Altos limiares de estimulação
• Estirnulaçãc frênica
fundamentosda Estimulação Ventricular Necessidade d. sincronizaçio adicionai
• Progressão de insuficiência cardfaca em portador de
BifocalDireita estimulação biventricular regular
No coração muito dilatado com QRS largo. seja por marca-
passo cardíaco ou por bloqueio completo de ramo esquerdo
(BeRE). a estimulação rnonofocal da ponta promove uma Resullados da Estimulação
disclnesia eletrantecãnica ponta-base, O aumento de pressão. Ventricular Direita Bifocal
originado pela contrnção apical. promove o relaxamento passivo A estimulação ventricular direita bifocal foi avaliada no estudo
da região basal. Na estimulação ventricular bifocal direita. a (V ER BS, ventricular Endocardial Rigln Bifocal Slillllt/alioll) 19.
pontac a base do septo interventricular são arivadas, ao mesmo Nesse estudo. o modelo de BCRE foi obtido por estimulação
tempo, reduzindo favoravelmente a discinesia eletromecãnica da
convencional da ponta do ventrículo direito. Os resultados 1110S-
ativação monofocal (Fig. 51.12). Desse modo. pode-se duplicar
iraram que a estimulação ventricular bifocal direita é signifi-
o númerode célula . que ão ativadas antes do aumento da pressão
cativamente superior à estimulação convencional e à estimulação
intravcntricular. O resultado é QRS mais estreito e contração mais
ventricular monofocal septal. em comparações inrrapaciente,
eficaz em decorrência de ressincronização tongitudinal do mio-
cárdio.A grande vantagem desse método é a facilidade de acesso
bem como a utilização de eletrodos convencionais. de baixo Estimulação Ventricular Trifocal
custo, todos colocado com a técnica endocárdica tradicional.
Alguns pacientes apresentam miocárdio muito dilatado de forma
que tanto a estimulação biventricular quanto a bifocal podem ser
insuficientes. Esses casos podem ser rrarados com a estimu-
lação biventricular e bifocal ao mesmo tempo. no mesmo paciente.
Essa forma de estimulação é denominada cstimulacão ventricular
trtfocat", Aprcscma II vantagem de permitir uma rcssincronizução
transversal c longitudinal ao mesmo tempo (Fig. 51.13).

Indicação da Estimulação Ventricular Multlssltlo


A estimulação ventricular multissítio e t:1indicada nos portadores
de insuficiência cardíaca com as seguintes caracterfsticas:

Vislo Antero-pollerior • Cardiorniopatia dilatada com fraçâo de ejeção < 35%.


A • Insuficiência cardíaca NYJ-lA ~ II estabilizada com te-
rapin clínica ótima pelo menos nos dois últimos meses,
• QRS largo por BCRE ou por marca-passo convencional
(;::150 mi lissegundos).

Ois<inesia

~A
B
Figura 51.11 - (A) Representação esquemática da estimulação
A
Marca·passotndoárdko ou BCRE
QRS.200ms
ir
OiAstole
htlmul.(ao blfoUI
QRS s tSOms
multissítioatrioventricular bifocal direita. Um dos grandes obje- Oisclnesia RHslnc:ronll.(lo
tivosdessa estimulação é ativar ao mesmo tempo as regiões dos Apex·Base A~x·Blse
fascículosãntero-superlor e pôstero-inferior do ramo esquerdo
do feixe de His, recuperando o sincronismo do miocárdio ven- Figura 51.12 - (A) Esquema da estimulação monofocal do
tricularesquerdo. (8) Observam-se as derivações 02 e 03, compa- miocárdio dilatado (BeRE ou marca-passo endocárdica conven-
rando-seo QRSlargo da estimulação monofocal e o estreitamento donal). O aumento de pressão decorrente da contração das áreas
subseqOenteda estimulação bifocal direita. FAS= fasdculo ãntero- inicialmente estimuladas promove a distensão das áreas distantes,
superior;FPI= fasdculo pôstero-inferior; RO = porção inicial do ativadas tardiamente (discinesia eletromecânica). (8) Esquema
ramodireito; VO ponta = eletrodo implantado na ponta do ven- de estimulação bifocal direita. A ativação simultânea de áreas
trlculodireito distantes estreita o QRS, reduzindo a discinesia eletromecânica
502 T/atado de Clinica Médica

17 ~'( 110" ""TI O'i,J { \1 UOR"OZ R" I'\UIO' \1 \lWS.J (' 1'\("110\
\1 E. I ('I ai bumulat;50 c:ndúc:irdta tnf ...'al1IOlfaumtnlu.b ,",ull ... ·n.;, <JNl
~d:lClIIIIIomIQPll",dll ..bd.. ln 1\ ICO'GRI ...)I.)D.\ .,OOH)\I>! IIR\SII flM\
ln C\RI)IOl.()(,I\,2W1 T('ffIQlnrrt1/' 1I01\/(i",~,..,\,,,/ .. \.. ,
H"niklTlJ tk (.Iltd~lt, 2uJI
I~ I'\CIIO' ~t\nlJ' J (. P.\CIIO"~IATH>'~ I \1I101l'O/ I( ~ P\ClIII'I
J (. (I:a! \'~1I1n1:1Ibr~:Wi.llrq;lltt-4r'''''ihllll1Uboonmlhc m-.~n","It>h..\<rc~II.II(d
c:lll1io.'<1I)up;olb) ~ f.U1un:""h .. de QRS ma:. , 2"' 9 h I, r ,,(~I 1171, ZlIII

CAPiTUlO 52

Figura 51.13 - Represcnt.lçclO esquemátrca dos quatro eletro-


Transplante Cardíaco
do~ sobre uma radiografia de torax em PA de um portador de
esumutaçêo ventrICular tnfocal Nesse caso. fOIrealizada a ressin- ocdir Antonio Groppo Stolf
crcmzaçeo atrioventrícular, mter e intraventricular AD:: eletrodo
de atno direito. VD base e eletrodo Implantado na região septal INTRODUÇIO
da via de salda do ventrículo direito. VD ponta e eletrodo ímplan
tado na ponta do ventrkvlo direito. VE = eletrodo Implantado ,\ IO'U IICICIl1..llIcarJHI~ a congcsuva (1('(') cm 'cu estado ter-
na parede posterior do ventnculo esquerdo mmal. cxchudu a I.If\l1'}; 13 convencional. rem o transplante cardíaco
corno a opçúo de escolha no 'cu tratamento. Este capítulo \ "3
abordar aspectos próprio, ao tran ...plante cardíaco, em \ário,
() procedimento nau é recomendado quando C\I,tc invufi-
uen- c divcutir pervpecuva ...futura"
ciênciu rcnal gravc.vxpectati. a de \ ida rnterror il Ó mevev poi
IIulI.II,II.III, inlano do miocãrdio hiÍ 1111:1111' de 1111~"~" angr-
n,l III't.l\d, c'I~'nt"c ,11l111~a IIU mural, c.udronuop.uiu hiper- HISTORICO
Ir"h .1 (lU amiloidosc m,"C rdica U IniCIOdo século. ,\Ic\ Carrcl c ( harlc» Gil. lule, uubulhando
na Lnivervidade de Chil"lgll, desenvolveram ~'Il"lillN CXIWIIIlICIllJI,
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS ~lIll1llnhICli\ IIlk l"llId,1I ,I' diferente .. técnic.t pum UIIII"lulIl'l'\C\
\ ,I'llll,lIl" 1.11"nh.lllc 1X"!>II"I\aculminou com o prhnciro Ir,,",-
plOlllll'l',mh,ll'lI hCICIUlllplCII cm anuuar , fe'l necendo elementos
~111 coi' ~tr.)\'('I"I,uIJr I"" ",., .11111011 und unport.uucs. 1.11' como ,11l(1~'lhllll.Jaue de um coraçüo ser reurudo
UC UIII uuimal c tolerar periodo de anlhl:t CUI1l ii possihilldillh: Ik
rc.ldqulIlI 'cu, OJIII11Cnll), de 10rm.I eficiente quando implullludll
cm nutro animal,
a década de 19-W,O\Lr..thalh{",ulll'lenll'la~I\lcllc(ll)cllll~h!l\ ~
Irou veram descrições rmportantc-, de UI\ el ,a' vunantcv lC:l'nic,1\ ~
de trunvplantes canlíaco-, hl:lemlóplllh mlr.ll"rál'ICIl\, rC~\lIlland() ~
-e também o unn-ptamc rm bloc »corução-pulmüo. Scu, .rab"lho\
publicados nu "HIIf:.\IJe nuu 1111111 ranspluntution o/Viml OlgU/II,
nu entanto. 'ú touun couhecldo-, pelo Ocidente cerca de lO 111111\
.lpl;', cm 1962 [:'Ie II1c'I1w autor, ainda. conveguru ,obreI id~
prnhlngalhldi" cnvcrto-, porem cometeu um engano .HI.lIn-
buir a lal,:ncl,1 do, orguo-, tranvplantado-, a lawrc\ l1.!enico\e
'(,ARUU 'A I: B II ,,( v x <1,,1 (JUllel\ uI hlranJeh'"01I,,,,I,,,m," "'
não Imunológicos
('k1."I'1\ p.D:DhUQl(d .. 1Ih, '" ,UI,III',Il'"t,,,,,., cd"l hdu.k"""""·II~'''"~
Ilder!) III'nll~.1.. " , 1.11 I J ).I J \ l1S.11 II' Em 1955. Goldberg, Berman e A~I11,ln deram início <111\
trun-plume-, " ..rdiacos IIrtlltÓplCII' cm ""IC' "'cu, c,'uum tiveram
amua. como destaque especial. a 1ll:lOulen~',loua, VCW\ pulmunare,
conectada, à parcue dn átriO C\(jllcroo, dll1l1l1uinuo dc"c modo
ln t) h:mp<I t)1~rJIÓno, Cllflluuu,lur,1I11 ShUIIl\\.I) c Lowcrqut: .Ipr,:·
'e llI.era111 , em I')()O, n prlmClra 'I:ril: Ue Iran,plalllc~ e,lIdí,l(lI;
nrtulllpll.lI" .I"UCI3do, :, imuno,,"uprc"all com long:1 ~(lhrc:\1\1:1.
cm , ..e,. padrontlando a tccnica dc tr,tn'p"IOle,
bn 23 oe janeiru ue I,)6·t_ o ur J,101es "aro) c SIHIcqulpt
I. 1\:alil:lntl1l, na Uni\c"iuaue UII \I1"i"'JlI.1I pWlIelro Inlll\plunI.
l:lIrdHll'lI l'm um 1".1 leme 1~'rnllll,11 dl.'\ 11111 II 111m dc d(lcnç~
I1lpcrICII\l\,1 O,IU Iralndu CIIIllU n dll.ldllr hlllllÚno disponncl
n;)o llpl'C'Cl1tllU plllrol prupClr.:iullal .1Il rccepllll, na~ pahJ\ ra,
dtl autor, IlptllU-'C pur UII1Ir,lI"pl,1I1Il' ue UII1dlÍmpiln/~ dI
~'r.lI1tjc, pl'lll"l~ilc,() l:1,,-aÇ,ICI tl1ll1'planwun d~IIll~1I)hIflCI(lIlI~1
h1.!1ll ap{l~ rCól4uCl'ImCnlu e r:ipI"a de,llhnlil\'IIII, nl.lnt~nd"
II> plc ...,an ll11.!d"I cm IlImu de 90 a I (}Ol1lmlly por ccrt:.1 dc l)(hmn
O p.el:ICI1IC\CI" a lale ....:r, poIS, 'l'gulldll li plllprlO '"UI1'I:'\I (I
(lI"u~'c10 era Ilc'tJl/rll" dr"Ulu
Doenças Cardiovasculares • 503

No I3ra..il. ti equipe tio Hospital tias Clfnicus tia Faculdade numcnro e integração dl)~ diverso-, :'CIOIC'"ho ..pitalarcs, Sempre
Medicina da Universidade de São Paulo (IIC-FMUSP). che- implica na participação integrada muluprofissional. onde parti-
liada pelo Dr. Zerbini. nu dia 26 de maio de I96!i, real i/ou o cipam: cirurgiões. curdiologivtas. uncstcsistas. iruensivisras,
primeiro tranvplanlc cardíaco da América Latina. Dois outro infcctologistas. imunologistus. patologistas. enfermeiros. psicõ-
pacientes ainda foram operados até que este programa fosse logos. nutricionistu-, e a ~i..rentes sociais.
interrompido. corno ocorreu cm outros grandes centros. O Iator Segundo o último relatório da Unircd 'etwork for Organ
preponderante foi a elevada mortalidade inicial (cm sua maioria Sharing (U 'OS). de maio de 1999. existem hoje em fila de
graça a processo infecciosos c/ou episódios de rejeição). Esse espera no. Estados Unidos cerca de 4.230 pacientes. Ainda
entusiasmo inicial po....ibilirou a realização de cerca de 102 segundo a mesma organização. no ano de 1998 foram realizado
transplantes até O final tio ano de 1968. Durante a década de cerca de 2.340 transplante ...cardíacos nos E tado Unidos.
1970. poucos cerurov mantiveram-se na atividadc do trans- Convém ainda ressaltar que. segundo a UNOS, a cada 16min
plante. porém. a invi ..tência do grupo de Srnntord ofereceu um novo pacicmc IS incluído em alguma lista de espera de órgão
importante .. contribuiçõcv, como por exemplo o desenvolvi- (senda cerca de 67.200 pacientes registrados somente nos Estados
montoda biópsiu cndorniocãrdicu e () controle imunológico. Unidos até maio de 1999) contra uma rcali/ação anual global
Nesse período. eram rculi zudo« ccrcu de 50 transplantes por de trunsplunrcs da ordem de 2.2()() pacientes vomcntc nos Estados
alio sendo a maioria 'oh a rcvponsabilidudc daquele centro. Unidov, Outro tnro que chnmn (I atenção é a escassez de doa-
Em 1976. Borel 1'/ (/1. de-cobriram as propriedades i rnu- dores. No ano de 1998 foram rcil()~ 9.913 doações nos Estados
nossupressoras da ciclo-porinn sendo esta, no cntumo. introduzida Unidos. Esses tutores descritos incentivaram diversos grupos
na prática clínicu do:. rrunsplurnados curdíacos :.ú em 1980. ao que "e chumu de procura de órgão" a distância. O grupo de
Comos avanços na imune ..supressão, ao lado de outras melhorias. Sianford propôs pioneiramente a procura a distância e tal meca-
houve uma queda marcante nos índices de mortalidade. fazendo nismo de captação é utilizado em mui ...de 80% dos casos de
ressurgir o interesse pelo, transplantes. com a rápida multi- trunspluntc cm experiência internacional.
plicação do número de proced imcn tos rnu nd i:11rnen te bem como Em nosso meio. essa realidade é diferente; somente 10%
dos centros transplamadorev. O ú IIi 1110 registro da Iruernational das captações ocorrem a distância c cerca de 15% dentro da
Society for Heart und l.ung Trunsplunuuion (IS II LT) colcrava. mesma comunidade. Os demais casos de captação são reali-
até 2003. rnai...de 6().()()() tran plantes rcalizadov em mais de zados no mesmo centro cirúrgico. E......a última prática ofere-
300 centros e..pulhadov pelo mundo. ce maior conforto. economia c. principalmente, segurança à
equipe médica. Contudo, desde que o tempo máximo de anóxia
não ultrapasse 4 a 6h. a captação e o transporte podem ser
PROGRAMA DE TRANSPLANTE - ASPECTOS GERAIS urilizudo-, com segurança.
Os centros de cirurgia cardíaca têm incorporado o tranvplunte
em suas atÍ\ idade v, contudo. segundo algulI~ autorc-, a ,ua
realização espcrádrca II~(} tem oferecido qualquer contribuição
SElEÇÃO DE DOADORES
técnicu-cicntlfica a mvuturçâo C ii comunidade. O centro inte- 'os primeiro .. transplantes cardíacos. realizados no final dos
ressado em iniciar o seu programa de trunsplunte deve estar anos 1960. o coração doador somente era retirado após estar
alento às peculiaridades inerentes a es~a modalidade cirúrgica. cm assixtolia. monitorudu por clctrocardiograrna (ECG). A
sendo inclusive rcsponsávei-, por um forte impacto no hospital necessidade de oferecer órgão ...em melhores condições de pre-
e nacomunidade. turno do ponto de vista social como cconôrnico. servação con tribu iu para tiifund ir o concei to de morte encefálica,
O sistema de captação de órgüos é um dos fatores moduladores proposto inicialmente o paciente doador como sendo aquele com
na arividade do programa de tran plante, lendo cm vista a ca- morte encctrilicu diagnosticada clinicamente e complementada
rência de doadores viáveis c o crescente número de candidatos por pelo nH!I1OSum método gráfico (clcrrocnccfalograrna,
a receber um órgão. carotidoangiografia. mapeamento cerebral com radioisôtopos,
O crescimento dos programas de trnnsplunrc requer um sistema potencial evocado ou Dopplcr rrunscrunianc) e com o consen-
de captação de órgão eficiente. N\)~ Estudes Unidos são rea- timenro dos Iumiliures,
lizados cerca de 24 trunvplunte» para catla milhâo de habitantes. Trudicionalmcnte os doadores de órgão posxucm idade limite
Em nosso meio. cvvc v.rlor II~O excede a 11111 trunspluntc anual de 55 anos. sorologiu negativa para hepatites e ausência de
para cada milhão de habitantes. 1~~lill1a-'e qlle alé JO% dos história de doenças sistcmicas (hipertensão arterial istêmica
pacicntc~ que ingre~,am na Ii,ta de espera para os lr:ansplantcl> IIII\S I. tliabl!te~ mel ito etc.). Rcccntcmcnte. os criléri os de seleção
cardraco~~ão opcratlo~. fall:ccndo Olo denlab. Um c:,tudo recente dI! doadol'l.l:' têm :,ido expalldidu\ par:a inclu!>ão de doadores
naUniversidatlede!Michigan cm candidtltm ao tran:.plante cardíaco m:li<;idoso~. ,Iqueles çom hi~lC\ria de hipertensão arterial sistê-
COIll tempo prolongado de h,ta de e~pera de órgão mo'arou um mica assim corno aquele, com ,orologia positiva para hepa-
riscoelevado de monalidade apó o transplante. de\'cndo inclusive tite C. Se o doador tiver mai~ de 55 ano~ ou história de HAS.
ser considerado o lempo ell1li~ta de e~pcra como critério de prio- o pacientl! deve ser 'Ivaliado com cinecoronariografia (CATE).
ridade. O número til! paciente~ que morrem aguardando um para exclul>ão de arteriosclerose coron:1ria ob trutiva no cora-
coração varia de 25 a 40Çf em dilcrel1le\ centros internacionais. ção do doador. Com :I expansão des,e~ critérios de doação.
A conscientiLação c a participação ativ:! dos médicos. que acredita-se elevar cm cerca de 25(f- o número global de doadores:
atuam em unidades de cll1ergênd:.a ou de terapi::a intensiva. é o~ critérios para seleção de doadorclo não são totalmente rígi-
de "ital importância par:1 a manulenção de adequaua capta- dos e podem variar éllll'l.l diferentes equipes.
ção de órgão ... Awalmente. por determinação legal. são de Durante a <;eleçiin dos doadoreo; \ão invesligados o seu estado
notilicaçõe~ Clllllpul,õna, todos os caso~ de morte eneef:llic::a. clínico. a radiogralia de IÓI'lIX.o ECG. o ecodopplercardiograma
devendo ~er notilicatla 11Central de Tran~pl:tnte~ da Sl.lcre- (ECO) e.1.l1II!lilllaçõcs especiais. como mencionado anterionneme.
luriu de Saúde do Estauo. o catelerisll10 cardíaco. Doadorcl> com manifestações evidenles
IIlécnica da operação encontra-'e hel11cSlahelecida h;í vário:. de infecçiio :Hivasistêmica, com pre,ença de neoplasias (excluindo-
unos.Todavia. a adoç~o de 11111prugrama de lransplante represelllfl ~e a do sistcma ncrvoso ccnlral) ~ão. em geral. exelufdos.
uma evolução do ~er"iç() de çirurgia cardíaca. umfl vel. que Nos C:ISOStle Irllllll1utismos to r:1cicos graves. o aparecimento
representa lIm:l atividade complex:l. requerendo amplo funcio- de anorl11alidll(lI.l~ tio segmento ST ou na onda T. podem ser
504 • Tratado de Clínica Médica

indicativos de agressão ao miocárdio em função de contusão. SEuçAO DO RECEPTOR


Podem ser utilizadas medidas enzimáticas, porém com julga-
mente criterioso em virtude da elevação nos níveis de crcatino- O transplante curdíuco tem sido reservado aos pacientes porta-
Iosfoquinase (CPK) em função da morte encefálica e necrose dores de curdiomiopatias consideradas terminais - de longe,
iecidual. Muitas vezes. os exames complementares não são as mais comuns são a dilatada e a isquêrnica - cm que o trata-
suficientes para detecção de lesões sendo em, nosso serviço. rncnto clínico ou cirúrgico convencional não se aplica.
a inspeção macroscópica minuciosa rotineira do coração doador A dificuldade naavaliação de perspectiva de vida dos pacientes
como critério de avaliação para a retirada do órgão e início da com cardiomiopatia em fase avançada tem determinado a iden-
operação no receptor. Em alguns ..crviços. a disponibilidade tificação de vários fatores de prognóstico, (ais como:
do ECO torna esse exame quase uma rotina, no sentido de
confirmar a boa função do órgão bem como afastar algumas • Etiotogia: é um importante prediior de sobrevida a etiologia
,1I10malias signi lieat ivas. da disfunção do ventrículo esquerdo. Melhora na função
A presençade hipotensão arterial e o uso de drogas vasoarivas cardíaca (em sido observada em pacientes não isquêrnicos
em altas doses por períodos superiores a 24h constituem furores (por exemplo. miocarditc. curdiorniopauu periparto. car-
de risco lo! são. muitas vezes. responsáveis pelo aparecimento de diorniopatia alcoólica após abstinência) em função do tempo
disfunção no enxerto no pés-operatório. Alguns autores descre- de evolução. Mais ainda. segundo alguns autores. pacientes
vem dois tipos de mecanismo que explicariam essa disfunção. portadores de cardiomíoparla isquêrnicu têm taxas de
Acredita-se tratar de lesão tecidual que ocorre durante e após a mortalidade mais elevadas do que aqueles cuja etiologia
morte cnccfãlica, O primeiro tipo estaria associado dircmmentc oS não isquêrnicu e devem ser priorizados CIU lista para
aosefeitos tóxicos da liberação de catecolaminas endógenas. que transplantes. Em nosso meio. a etiologia chagãsica é a
ocorre durante a hipertensão intracraniana. Essa lesão provocada que apresenta maior mortalidade.
pelas catecolarninas é cálcio-mediada c causaria danos cstrutu- • Fração de ejeção: embora uma Iração de ejeção abaixo
rais aos sarcômeros e às mitocôndrias, sendo ob. ervadas após de 20% na cintilografia represente um preditor de mau
30min de morte cnccfálica e podem ser prevenidas com o uso de prognóstico. essa variável não deve ser analisada isola-
bela-bloqueadores. O segundo tipo ele lesão celular está direta- damente. A disfunção ventricular direita também afeta
mente relacionado uo desarranjo cndócrino na morte eneefálica. de maneira negativa a sobrevida e em alguns estudostem
A rápido redução nos níveis séricos de hormônios tireóideos se mostrado o mais importante prediror de descompensação
(COIllO T3) causa um importante impacto na capacidade funcio- hernodinâmica e morte.
nai do órgão para gerar adenosina trifosfato (ATP) essencial • Capacidade funcional: a capacidade funcional é considc-
:1 vida celular. Há necessidade também do uso de vasoprcssina rada o melhor prediror a curto-médio prazo para morta-
que, além de estabelecer CI11 parte u tônus vascular. controla a Iidade em pacientes tratados com medicamentos. O leste
diurcsc excessiva. Assim. a hi potcnsão pode ser controlada com de cstrcssc metabólico com a determinação do consumode
LISO de terapia hormonal com 1'3 (prática utilizada em vário oxigênio máximo (VO,m:1x.) é uma medida objetivadacapa-
centroscaptadoresnos EstadosUnidos) ou COIll o uso de doparnina cidade funcional lo! tem 'ido de grande valia 1111 deter.
C0l110 droga deescolha até o limite de cerca de 15mglkglmin, uma minação de população de alto risco para ICC. Admite-se
vez que dosesacima dessevalor, por longo período. levam fi de- que um paciente com VO inferior a 14mUkg/min tenha
. l
pleção nos estoquesendógenos de epincfrina do coração doador. sobrevida, em I ano. da ordem de 47%. ao passoque aque-
Outro furor importante relacionado ao paciente doador é a les com VOz superior a 14mUkglmin tenham uma sobre-
questão do peso. A maioria dos autores é de consenso que o vida média em I ano da ordem de 95%.
peso corpóreo do doador não deva ser inferior a 20% do peso • Medidas hemodinâmicas: medidas bemodinâmicas ob-
corpóreo do receptor. embora alguns aceitem o limite de 250/('. tidas durante exercício têm grande valor prognóstico. Outros
Esse cuidado deve. er observado com maior atenção em pa- índices hemodinârnicos são importantes: pressãode enchi-
cientes receptores com elevada resistência pulmonar. pois o mento elevados em ventrículo direito e ventrículo es-
maior porte físico do doador poderá compensar a pós-carga querdo (em geral superior a 27mrnHg), baixa pressão
do ventrículo direito. que se encontrara aumentada. sistólica sangüínea, baixo débito cardíaco e índice caro
Não se poderia deixar de mencionar ii histocomparibilidade díaco, volume sistólico inferior a 4QmL c pressão média
(anrtgcno lcucocirãrio humano. HLA) entre o doador e o rc- em artéria pulmonar superior a 16mrnl-lg. Em relação 11 esta
ccpior, Tal compatibilidade é determinada obrigatoriamente úIt i ma. cabe ressaltar que em paciente com frllção de
entre os grupos sangüíneos ABO e pela obtenção de resultados ejeção de vem rfculo esquerdo igual 20% ou menos c com
negativo de prova cruzada de linfócitos do doador com o • oro pressão média CI11 :tnéria pulmonar de 16mmHg ou menor,
do receptor icross 1II0ICI1). I o entanto. alguns autores afirmam a sobrevida cm I ano cstã ao redor de 83% (contra 38%
que pode haver casos extremos. graves. em que" incompari- daqueles pacientes com pressão média de artéria pul-
bilidade ABO poderia ser aceita, mas isso deve ser evitado ao monar superior a l ômrnl+g).
máximo em função do risco elevado de rejeição hiperaguda • A rritmias: as arritmias são responsáveis por cerca de 50%
com a perda do órgão transplantado. Embora não haja nenhuma das mortes em portadores de ICC com fração de ejeção
ripagem tccidual pré-transplante cardíaco. dados analisados. de ventrículo esquerdo (FEVE) = 20% ou menos. Varia-
retrospectivamente. sugerem que quanto maior a de compati- bilidade na freqüência cardíaca e alteração no segmento
bilidade. melhores serão os resultados. Dessa forma. preconiza- QT (como dispersões) podem ser marcadores úteis para
se o painel linfocitário cm todos os candidatos. no sentido de arritmias ventriculares e morte. Esse dado revela a imo
rastrear anricorpos pré-formados contra os unttgenos do doador. portãncia da utilização dos cardioversores implantáveis.
Em nosso serviço. nos pacientes com atividadc linfocitáriu cada vez mais comuns nos pacientes com indicação para
menor que 1011'1> não se aguarda o resultado da prova cruzada transplante cardíaco.
para início da operação. • Ativação 1111111'0-1101'/11011(/1: a ativação neuro-hormonal em
Rotineiramente. realiza-se sorologia para sífilis. hepatites decorrência da ICC é bem conhecida como marcador da
B e C e outras, doença de Chagas e AIOS. Os resultados da gravidade e preditor de eventos clínicos adversos. Ní-
sorologia para citomcgalovfrus (CMV) e toxopla rnose pos- veis séricos elevados de norepinefrina estão associados
suem valor no seguimento do doente. a maiores taxas de mortalidade na ICC.
Doenças Cardiovasculares • 505

Como se pode observar. vârir» são os prcduorcs de risco na evidência de le. ão cm órgão-alvo. devem \CI' excluídos da indi-
ICCutilizados atuulmentc na rotinu. Todavia. a piora na qualidade cação de tran plante.
de vida.u lirnüução Ilsica (1\ turcfus hubituaiv, () númcro de hos- A presença de doença va ...cular periférica ou doença carotídea
pitalização por episódio de descompensação cardíaca e a do- deva o ri co intra-operatório de acidentes vasculares cerebrais
sagem das medicações empregadas são fatores simples e e. além disso. o uso de conicosrcrôidc na imunossupressão pode
importantes de prognósticos que devem antecipar a indicação acelerar os fatores mcrogênicos com. cus riscos inerentes. As
para transplante. Deve-se, no entanto. considerar a aderência infecções cm atividade. principalmente as bacterianas são contra-
do paciente à orientação médica, pois a falta de colaboração do indicação. uma vez que essa entidade é responsãvel por elevado
paciente por razões diversas pode ser respon âvcl por resul- índices de morbidade e mortalidade no pós-transplante.
tados in atisfatõrios. Quando o embolismo pulmonar não é scgu ido de infano pul-
No entanto. muitos critérios de avaliação têm sofrido modi- monar e o resultado hernodinârnico não demonstra alterações
ficaçõe . ao longo do~ anos. em função da experiência clínica acentuadas na resistência vascular pulmonar, não há necessidade
acumulada. No Quadro 52.1. cncontrarn-vc descritas as prin- de l-e postergar o mm plante. Por outro lado, quando o embolismo
cipais contra-indicações aceitas atualmcmc para o transplan- pulmonar é acompanhado de infnrto pulmonar ou elevação da
te cardíaco. algumas. no entanto. de carãter relativo. to. limitação resistência vascular pulmonar. o pncicnrc deve ser excluído
da idade para transpluntc cardíaco não deve mais ser usado da lista por um pertodo de 3 meses. Essa orientação apóia-se
como furor de exclusão, Sua dlscussâo ainda gera controvér- no alto risco de infecção pulmonar. com cnvitução e formação
sia e alguns trabalhos na literatura referem bons resultados de absccsso, aumentando asvim li morbidudc e mortalidade.
em pacientes acima de 60 unos de idade. Nesse grupo etário Os pacientes com psicopatias. antecedentes de suicídio. estru-
pode-se conseguir boa longcvidude e há benefício importante iuras familiar e social desfavoráveis, com baixa aderência à
da sintomatologia. Pacientes receptores com idade superior a orientação médica podem contra-indicar ou exigir fortemente
60 anos parecem ser mais predispostos a complicações. como a participação ativa de a sistenres sociais e psicólogos desde o
malignidade ou infecção, após o transplante. Porém. outros período inicial de selcção até o eu seguimento pós-operatório.
autores Dão observaram diferenças significativas em relação De forma global. observa-se na Tabela 52.1. segundo dados
ii malignidade e, ao contrário. observam-se menos complica- fornecidos pela ISIiLT (fevereiro de 2003). as principais in-
ções no que se refere à infecção no grupo de pacientes mais dicações para o transplante cnrdíaco na população adulta.
idoso . Atualmcmc. alguns centros desenvolveram uma lista Na experiência do grupo do Instituto do Coração da Faculdade
auemativa. na qual se oferece a possibilidade de transplante de Medicina da Universidade de São Paulo (InCOR-FMUSP).
paropacientes mais idu~()~. urilivando-se corações de doadores com cerca de 330 pacientes transplantados, a etiologia mais fre-
com idade avançada. com doença \'a" ar moderada. com coro- quente é a dilatada idiopática com 44.82%. cguida da isquêmica
nariopatia leves e outras shuaçõcs de alto risco para o sucesso com 2....13€k.a chagásica com 17.87%. as congénitas com 1....07%.
do tran planic. a valvar com ....71 ~ e ns outras com aproximadamente 5% do
A resi tência vascular pulmonar elevada impõe maiore riscos restante do. casos.
à adaptação do enxerto ao novo território va: cular. Constitui- Finalmente. cm decorrência da melhora do tratamento clí-
-e 3 principal responsável pela disfunção do vcrurículo direito nico. expansão gradativa das indicações para o transplante e
nopós-operatório imediato. A explicação desse fenômeno apóia-
se no fato de o venrrfculo direito do coração doador não ser ana-
tomicameme desenvolvido o suficiente para vencer a barreira QUADRO 52.1 - Potenciais contra-indicações para o
imposta pela hipcr-rcsistência pulmonar secundária à ICe. transplante cardíaco
Dessa forma, é consenso que a hipertensão pulmonar grave • Doença concomitante com mau prognóstico (expectativa
é um dos fatores de contra-indicação absoluta ao transplante. menor que 5 anos)
Os pacientes admitidos ao transplante devem ter valores inferiores • Idade acima de 60 anos
a 6 \Vood desde que se observe a regressão da hipertensão pul- • Cardlaca
monarcorn o uso de drogas (infusões de nitroprussiaio de sódio, - Doença inflamatória miocárdlca
o milrinone. ti adenosina. a prosiaciclina e o óxido nítrico). Em - Doença Infiltratlva mlocárdlca
crianças. tCI11'~Cadorado o índice de resistência vascular pul- - Resistência vascular pulmonar elevada (> 6U Wood com
vasodilatadores)
monar pela superfície corpõrca até o limite de 6 a 7 unidade
• Pulmonar
Wood/cm' de superfície corpõrca. - Doença pulmonar obstrutiva crónica
Asdeterrninaçõcs hcmodinârnicas sofrem influência do estado - Embolismo pulmonar recente ou infarto
cUnico do paciente c devem. portanto. ser realizadas após li • Gastrointestinal - Hepática
completa compen ação clínica. A~ avaliações seriadas devem - Úlcera péptlca em atividade
ser reservadas às situações especiais. uma vez que não há - Doença diverticular dos cólons em atividade
diferenças significativas em relação à avaliação inicial. segundo - Doença hepática avançada ou irreverslvel
nossos estudos. Para os pacientes portadores de hipertensão • Doença renal avançada ou irreverslvel
pulmonar acima dos limites anteriormente indicados. deve-se - Creatinina > 2mg/dL ou clearance < SOmUmin
considerar o transplante hcrcrotõpico. .. Diabetes com lesão em 6rglios·alvo
As disfunções avançadas ou irrever íveis de outros órgãos • lnfecção aguda ou crónica mal resolvida
ou sistemas constituem-se de importantes fatore adversos 11 • Neoplasias ou colagenoses sistêmicas (lúpus eritematoso
evolução do paciente. Dessa forma. podem constituir-se em sistémico)
eventuaiscontra-indicações ao transplante. As drogas imunes- • Outras
supressoras não são isentas de efeitos tóxico. tornando-se mais - Doença vascular perltérlca grave ou doença carotldea grave
nocivas àqueles pacientes com depleção na função hepática - Obesidade m6rblda
ourenal. Os pacierues com doença pulmonar obstrutiva crõnica - Osteoporose grave
- Dependência ou abuso de drogas
(OPOC) avançada, doença divcrticular dos cólons ou úlcera
- Condlção psicossocial desfavorável ou Instável
péptica em atividndc. colugcnosc com repercussão. istêrnica.
- Recusa documentada
neoplasin recente. diabetes rnclito insulino-dependente com
506 • Tratado de Clínica Médica

nofosfnto cíclico (At.IPc). no vcnudo de favnrcccr melhor a


TABELA 52.1 - Indicações para transplante
preservação miocárdica. Finall/a·,e.1 retirada do coração com
\O DOENÇA NÚMERO PORC.ENTAGEM a secção subscqücnte da., vciav pulmonares direitas e das artéria ..
O aortu e pulmonar. O coração é então embalado cm saco plásti-
,< C.ardiomiopatía dilatada 27.690 45
co estéril. imerso numa solução cardioplégica gelada. e ran-
u-
~
C.ardiomiopatia isquémica 27.689 45
do pronto para o trunspone.
ti:) Doen~a valvar 2.461 4
Retransplante 1.230 2
Doen~as congénitas
Miscelânea
1.230
1.231
2
2
Receptor
A operação no receptor inicia-se ap6 .. o aval favorável do chefe
de equipe de retirada do coração doador. de\ endo quando possível
dar-se o início o mais breve possIvc]. No transplante cardíaco
dos procedi mentes cirúrgico, alrernativ os. transplarnam-se hoje onorõplco procede-se à circulação cxrracorpõrca da forma con-
paciente, mais graves. A a\si\tência circulatôria mecânica também venciounl, com drcnagen-, individuuiv das veia cavas superior
tem vc aprimorado com sofisricaçõc .. técnicas e atualmente c inferior c pcrtusüo arterial pela aorta asccndcnie. Realiza-se
compreende de de o balão irura-aõrtico (BIA). bombas cen- umn hipotcrrnia moderada a 27°C e a remoção do coração ~
trrfuga!>. até os diferentes modelos de vcntrfculn ou coração rcullzud« pela secção dos ventrículos nos planos arriovcn-
artificial. Com o u o desse procedimento. denominando POIl/(, triculur c vcntrfculo-arterial.
para transplante. objeiiva-sc II munutcnção hernodinâmicu do Na iécnica clássica. deixam-se porções dos ãtrios, cujas
paciente em choque cardiogênico, enquanto vc aguarda um unastomoses iniciam-se no átrio esquerdo em direção ao septo
coração doador, A experiência intcmncional colctava até 2000 lnrcrutrial c ao átrio direito. f-inaliza-se o transplante com as
cerca de 1.000 pacientes submetidos 11:h\i,tência circulatória anasiomoscs da artéria pulmonar e aorta, mas cm situações
mecânica como ponte. e pcciais. pode-se inverter e a ordem no intuito de diminuir
O, melhore, resultados 'ião obtidos com o u-,o do, \ entrículo o tempo de anõxia.
artificiai, e em especial quando aplicados ao suporte ventricular Cabe aqui citar alguma variantes à técnica original. que
esquerdo: segundo muitos relatos da literatura. a curto c lon- vêm sendo cada vez mais utilizadas. O tran plante cardíaco com
go pra/r». li a~!>i~tência mecânica não interfere vignificativa- a técnica da anastornose bicava Ié. segundo vários autorev,
mente 110' rc ..uhados do, transplantes. uma \ ariantc na qual se observam menores volumes atriaic,
melhor função de ambos os átrios, observando-se menor inci-
dência de arritmias e de insuficiência tricüspidc ao estudo com
TlcHICA OPERATÓRIA o uso do ccocardiograrna. Essa técnicn possui, ainda lima va-
A pndroni/uçilo do aIO opcrntórlo no trunspluntc ..ofreu pou- riante. podendo ser uni ou bipulmonar,
ca, modificações técnicas duquclus inicialmente propo tas no O transplante cardíaco hercrotõpico tem sido indicado para
trabalhos originais de Hurdy, Burnard c Shumway, E necesvá- :.ituaçõel> cspcciai em que a rexistência vascular pulmonar tio
ria uma integração entre a' equipe.. cirúrgica" (doador c rc- receptor encontra- e elevada. em condições insarisfurõrias
ccptor) para uma atuação sincrónica no sentido de reduzir a do coração doador ou ainda quando o coração doador é pequeno
unõxia do coração. cm relação ao receptor que se encontra em condição clínica
A opcrnção no receptor somente tem seu início após a expo- crítica. Essa técnica. embora tenha a vantagem de manter o
sição do coração doador e seu exame macroscópico detalhado. coração do receptor no local. o qual continuará funcionando
confirmando sua normalidade quanto ao aspecto geral e à sua mesmo havendo rejeição de enxerto. não apresenta resultados
contratilidnde de forma global. arisfatõrios. quando comparada com a técnica do transplante
ortotõpico. Hoje em dia. a modalidade de transplante hererorõpico
utilizada é aquela em que todas as cavidades de ambos os corações
Doador ~ã() anusromosnda de maneira a obter um fluxo sangüíneo
ApÓ .. li confirmação de morte cnccfálica e assinado o termo cm todas as cavidades dos dois corações.
consensual de doação por parte dos familiares. o paciente é 01> transplantes em portadores de cardiopatias congênlrav
então levado ao centro cirúrgico. requerem amplo conhecimento da anomalia em questão. tendo
Ap6, a roracotomia, vcrificnndo-sc uvpccto smisfarõrio do em vista ti combinação da, récnicas de excisão do coração do
coração. inicia-se a divsecção das vcins cava, superior e inferior. doador c do receptor.
a di secção e a ligadura da veia áligo e a dissecção entre a aorta
e a artéria pulmonar. Apôs csxu dissecção. a equipe abdominal
procede à~ 'ua" di ccçõc c canuluçõcs após infusão de cerca
péS-OPERATÓRIO
de 30.000UI de heparinae fica a pOStOSpara a infusão de soluções Ainda que li técnica operatória do transplante cardíaco não tenha
protcrorus e a retirada simultânea dos órgãos. sofrido grandes alterações desde suas primeiras aplicações.
lnicia-sc então a abertura das pleuras (para melhor drenagem O~ cuidados e as medidas de suporte pós-operatório foram sede
do sangue oriundo do saco pericárdico). inrcrrompc-se a ven- de grandes conquistas que. ao lado da ciclosporina, propicia-
tilação mecânica e secciona-se a veia cava superior junto à rum li melhora dos resultados. A' complicações que ocorrem
origem na veia inominada. Clarnpeia-sc então a veia cava inferior após I) transplante advêm diretn ou indiretamente dos efeitos
junto ao diafragma e. a seguir, procede-se ao pinçamemo da colaterais da imunossuprcsxão ou do próprio ato operatório.
aorta no nível da aorta torácica (descendente). Levanta- e o O período imediato à opcrução é marcado pela hipocontra-
coração e seccionam-se então ali veia, pulmonares esquerda rilidude do miocárdio com carãicr rranvitõrio e secundário às
e inicia-,e a infu'ião de solução cardioplégica após o pinçamento IIltcraçc"\es :,ofrida .. pelo coração tran'iplantado devido à anóxia
da aorta a'cendente. prolongada é 11udaptação hemodinâmica do enxerto ao pa·
A proteção miocárdiea é feita com a infu~ão de <,oluçã<lcar- ciente. EsslI disfunção tem por.íri a dctennina o aumento do volume
dioplégica. cm geral cristalóide. as<;ociadn ao uso de :-nlução ,bIótico de tlll forma que li manutenção do débito cardfaco é
salina no saco pericárdico. ambas a -1°C. Alguns autore~ recen· garantido pclo uumento da freqUência curdíaca. A recupcr~lçào
temente têm propo tO O uso de nitroglicerinu e udeno:.ina mo- do coração dcnervado geralmente ocorre em I semana. O uso
Doenças Cardiovasculares • 507

x de drogas inotrópicav (doparnina. dobutarnina, ivoprcnalina Lesões de Preservação - Entidade Especial


~ e, mai. recentemente. a milrinona) e de drogas vnvodilatadoras
; (nirroprussiruo. nitroglicerina ou prostaglundina) constituem As lesões isquêrnicas podem ser-devidas a um tempo prolongado
::! vatlosos recursos nesve período crítico. A adaptação do ventrículo de isquemia fria. ao transporte do coração doador seguido de
~ esquerdo iuvnrinvclmcruc precede a do direito. Nesse senti- uma reperfusão com danos aos capilares.
do. fica claro que a monitoração do desempenho hernodinâ- A lgun» autores, no entanto. demonstram ser de maior im-
mico e da conuutilidude do enxerto é imprescindível, sendo portância para ii sobrevida aruaria I a idade do doador e não
utilizados respectivamente o cateter de Swan-Ganz e a eco- o tempo de isquemia fria (podendo até ser superior ii 4h).
cardiografia bidi mcnsional seriada. Em nOSl>Oserviço, no entanto, há sempre grande esforço no
As bradiarritmias ocorrem em mais de 50% dos Cll~()~ nesse intuito de submeter o enxerto a um menor tempo possfvel de
período de adaptação e são atribuídas. em sua maioria, ii dis- isquemia fria.
função do nó sinusal: no entanto disuirbios de condução arrio- Outros fatores de dano potencial ao miõcito do coração doador,
ventricular também podem ocorrer. sendo cssus alterações parecem estar relacionados ao mecanismo de morte encefálica
decorrente, do efeito dircto da anõxia sobre o enxerto. do trauma e mesmo secundário ao mecanismo de trauma encefálico, uma
cirúrgico. da' anomalia, da artéria do nó sinusal c. mais tar- vez que nessav situações tem-se notado aumento da necrose
díamenrc. do, cpisõdk» de rejeição. I os casos em que a bra- miocítica. induzida pela maior liberação de catecolami nas endó-
dicardia é mais uccmuuda, impõe-se o emprego de estimulação genas. Faz-se necessário, lembrar ainda que durante a preser-
cardíaca nrtificial tcmporâria e, nos casos persistentes indica- vação do doador. podem ser administradas elevada, doses de
se então o implante de marca-passo definitivo. Em nossa expe- carecolaminas exógenas com os mesmos clcuos deletérios ao
riência cerca de 12,3% dos pacientes operados necessitam de referido mióciro, O padrão morfológico dominante observado
estimulação cardíaca temporária e cerca de 3.5% definitiva. nesse tipo de lesão induzida pelas cutccolaminas se caracte-
A suspen 50 e o manuseio da vcntilaçâo mecânica seguem riza pela lesão nccrõtica focal nos miôcitov com bandas de
os mesmos princípios adorados em outras operações cardíacas. contração e inflamação hlstiocitãrln.
Noentanto. a existência de problemas rcspiratõrios preexistentes Esse tipo de lesão de pre ervação ou reperfusão é observado
pode requerer cuidado .. especiais. os caso de hipertensão precocemente e se aceita hoje que ela pos a comprometer pro-
pulmonar. rem-se avsociado o uso de óxido nítrico com res- fundnmcntc. a curto prazo. a função do enxerto e a sobrevida
posta satisfatória como coadjuvante aox vuvodilatudores. do paciente após o transplante. Além disso, pode contribuir para
O aparecimento de ahcraçõcs renais (como otigúria ou anúria) o desenvolvimento de fibrose rniocãrdica e ser fator na gêne e
altera a evolução natural do paciente submetido ao transplante. da doença va cu lar do enxerto, mediante a le\"o cndoielial.
Geralmente, a disfunção renal é secundária àqucla-, preexistentes
bem como às alterações hcrnodinâmicas inerentes ao pós- Rejeição Celular Aguda
operatório de uma cirurgia cardíaca c silo potencializada com
Os critérios para rejeição ident ificados (I hi6p:.ia cndomiocãrdica
<1 introdução da ciclosporina, cujo efeito ncfrorôxico é bem
aruulmcmc lião baseados na nomenclatura proposta pela ISHLT,
conhecido. Ocasionalmente. a diálise pode ser necessária para
através de um grupo internacional de patologistas convocados
o bom controle metabólico e volumétrico.
COI11 () intuito de desenvolver uma classificação padrão. O
fatores abaixo são considerados:
IlnRAçOES ESPECIAISDOCORAÇIO TRANSPlANTADO
RejeIção Hiperaguda • A natureza. a intensidade e a distribuição do infiltrados
celulares inflamatórios.
Órgãos sólidos, em especial o coração, podem apresentar de • A presença ou não de edema.
rejeição hipcragudn caso o paciente receptor possua anticorpos li A presença ou não de lesão no miócito.
doador-especifico pré- formados. • A presença de hemorragia.
Cirurgias cardíacas prévias. transfusão de sangue ou mes-
mouma grnvidcz prcgrcssa podem causar essa aloimunização A clussiflcução da ISHLT está demonstrada na Tabela 52.2.
humoral. O órgão-alvo desses anticorpos é preferencialmente o Cabe aqui chamar a atenção para as scguinrcx entidades: a
endotéliovascular dos órgãos transplantados. sendo mais comuns clnssificada rejeição em resolução (designadas por um grau
aqueles com HLA classe I e relacionadcs ao sisrcmu ABO. menor do que a biópsia anteriormente realizada) e a elas ifi-
A rejeição hiperaguda é uma forma grave de rejeição e ocorre cada rejeição resolvida (que con isre no grau O da ISHLT. após
imediatamente ou pouca, horas após a rcperfusão do coração um episódio de rejeição documentado em que se pode obser-
doadorc determina a destruição e falência imediata tio enxerto. var. ainda. a presença de cicatrizes ou fibroses sem infiltrado
Essetipo de rejeição atinge diretamentc 0' ,i\temas de cascata inflamatório).
do complemento e coagulaçãorfibnnólisc. No entanto. esse
tipo de rejeição humoral é raro e. a menos que se proceda à Rejeição Crünlca
plasmafércsc COIII rctransplantc ou providencie-se um suporte
mecânico, ocorre o óbito. A sobrevida a longo prazo dos pacientes submetidos ao trans-
plante cardíaco é limitada principalmente pelo aparecimento
Falência Precoce do Enxerto de lesões obstrutivas coronárias. Manifesta-se de maneira
semelhante cm todos os órgãos sólido .. vascularizados sendo
Essaentidade é definida como sendo uma disfunção grave do caracterizada por uma arteriopatia obstrutiva. Ela foi deno-
enxerto, na ausência da rejeição hipcraguda, rejeição aguda minada rejeição crónica ou arerosclerose acelerada. mas dada
celular ou a disfunção ventricular direita. em função da hiper- a etiopatogcnia mulrifatorial. o termo recomendado é doença
tcn'ião pulmonar clcvnda prévia ao rransplaruc. Parece ocor- vascular do enxerto (DVE). Ela possui. característica insidiosa,
rerem cerca de -I u 25% dos pacientes submetidos ao transplante embora uma obstrução abrupta possa simular. quanto à mani-
crtotõprco. Lesões por isquemia causadas por tempo de anõxia festação clínica. um quadro isquêrnico agudo. O principal achado
prolongada. mã preservação. problemas cirúrgicos e ii presença hlstopatolõgico é a presença de estreitamento concêntrico do
de doençacoronária oculta no coração doador podem contribuir lúmen arterial em decorrência de hipcrpla ..ia fibrointimal, na
para o aparecimento dessa complicação. qual as veias são envolvidas com frcqüência muito menor,
508 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 52.2 - Classificação da Internatlonal Society of Heart Esses métodos baseiam-se no comportamento da função mio-
and Lung Transplantatlon cárdica ou na detecção de alterações na ativação do sistema
imune durante a rejeição. Em crianças, especialmente pelas
BILLlNGHAM DESCRIÇÃO BILLlNGHAM dificuldades técnicas do uso em série de biópsias, a rnonitoração
(1981) HISTOPATOLÓGICA (1991) da rejeição tem se apoiado no estudo ecocardiográfico. Em
Sem rejeição Sem infiltrado O nosso serviço foram desenvolvidos protocolos especiais de ava-
Discreta Infiltrado focal sem necrose IA liação ecocardiográfica e de cintilografia com o gálio-67,
Discreta Infiltrado focal com necrose 18 merecendo menção especial este último por sua alta sensibili-
Moderada - focal Infiltrado unifocal com necrose 2 dade e especificidade. Foi possível verificar que pacientes,
Moderada Infiltrado multlfocal com necrose 3A cuja cimilografia era considerada negativa, apresentavam as-
Moderada - grave Infiltrado difuso com necrose 38 pecto normal ou de rejeição discreta ao estudo histopatolõglco
Grave Infiltrado difuso com necrose comparativo. Dessa forma. esse exame tem permitido a redu-
Edema e hemorragia 4 ção considerável das biópsias, empregando-as apenas quando
Rejeiçãoem a cintilografia com gálio-67 é positiva.
resolução
Rejeiçãoresolvida
Outras Entidades: Hipertrolia e fibrose,
Denervação e Calcificação
Pode ser observada a partir do terceiro mês pós-trans- O transplante cardíaco se caracteriza por um súbito aumento
plante e muitos casos são demonstráveis ao cateterismo na carga ventricular uma vez que o novo coração tem que res-
cardíaco por volta de 3 a 5 anos após o transplante. A DVE tabelecer o débito cardíaco e normalizar a resistência perifé-
ocorre em cerca de 35% dos pacientes transplantados após rica, revertendo o acúmulo de fluido intersticial e a congestão
3 anos e em 50% dos pacientes após 5 anos de transplante. pulmonar no receptor. Os doadores são, em geral, indivíduos
Acredita-se atualmente que ela se deva à lesão imunológica jovens com pequeno peso cardíaco, entretanto, o coração trans-
do endotélio, com ruptura da horneostase intirnal. Outros plantado tem que se adaptar ao incremento funcional associado
fatores como a agressão pelo CMV ou isquemia também li essas variantes do novo hospedeiro. Os corações transplantados
têm sido considerados. Dessa lesão, parece haver um es- aumentam de tamanho algumas semanas após o transplante.
tímulo para a produção de citocinas e fatores de crescimento As biópsias miocárdicas têm evidenciado hipertrofia miocítica,
bem como proliferação de macrófagos, o que resultaria no com núcleos grandes e hipercrornãticos e mitocôndrias gigantes.
estreitamento luminal. A Tabela 52.3 mostra alguns fatores Beltrami et aI. sugerem que a evolução do coração transplantado
etiológicos envolvidos na OVE. envolve a expressão do gene implicado na replicação do DNA
A diferença entre a atcrosclerose convencional e a da DVE celular, o que segue fortemente a noção de que a proliferação
tem sido muito estudada e é apresentada na Tabela 52.4. dos miócitos e de células não musculares pode ser um componente
De um modo geral, o tratamento para essa entidade tem de rernodelamento ventricular após o transplante cardíaco.
sido amplamente discutido na literatura. A angioplastia rara- A fibrose miocárdica é um evento conhecido do põs-trans-
mente é indicada. Experiências com o uso de stents coronários, plante. Estudos demonstram que existe um incremento na fibrose
cirurgia convencional de revascularização do miocárdio ou re- cm pacientes com longa sobrevida. Episódios prévios de rejeição
vuscularlzação transmiocárdica com o uso de laser apresen- ou episódios isquêmicos prévios podem levar a fibroses focais.
Iam resultados inferiores. Alguns autores associam a maior fibrose à terapia com ciclosporina
O retransplante tem um pior prognóstico do que o transplante A mais agressiva relacionada a episódios de rejeição.
inicial, segundo vários autores, embora nos Estados Unidos, Outro elemento da fibrose em pacientes com elevada sobrevida
segundo a ISHLT, tenham sido realizados cerca de 890 envolve o pericárdio, sendo essa alteração prevalente nos aloen-
retransplantes até maio de 1999 com uma sobrevida média xertos com elevada longevidade. O pericárdio pode se tornar
em 1 ano em torno de 58,4%. Evidências sugerem que o adesivo no epicárdio, tornando-se espesso a ponto de causar
micofenolato mofetil (MMF) e a rapamicina possam diminuir uma pericardite constritiva grave.
a incidência de complicações. Após o transplante cardíaco, o enxerto permanece denervado
Em nossa casuística, a incidência dessa complicação ocor- e não mais se encontra sob o controle usual dó sistema ner-
reu no primeiro ano de evolução em 13,6% dos pacientes, voso simpático autonôrnico. Artigos mais recentes mostram
aumentando progressivamente até 44,4% no quinto ano e são uma certa evidência fisiológica de uma reinervação, embora
comparáveis à literatura. O ultra-som intracoronário mostra não se possa confirmar com o estudo morfológico. Alguns nervos
incidências muito elevadas de DVE. podem ser observados no coração transplantado embora sejam
Como se pode observar, a rejeição é complicação freqüente significativamente em menor quantidade do que o normal. Os
no transplante cardíaco humano. Ficou claro ainda que suas pequenos vasos dos nós sinusal e atrioventricular podem ser
classificações ernbasam-se em aspectos histopatolõgicos fun- afetados pela DVE. No entanto, o sistema de condução perma-
damentalmente. Assim, a biópsia endomiocárdica do ventrfculo nece na sua maior parte intacto do ponto de vista morfológico,
direito com a técnica proposta por Caves et aI. em 1974, possui,
papel destacado. Esse procedimento tem se comprovado virtual- TABELA 52.3 - Fatores etiológicos envolvidos na doença
mente isento de risco e com baixa morbidade no transplante vascular do enxerto
cardíaco. Em geral. a peridiocidade das biópsias é semanal
no primeiro mês. quinzenal até o terceiro mês, mensal ou bimensal NÃO IMUNOLÓGICOS IMUNOLÓGICOS E MOLECULARES
até o primeiro ano e, a seguir, a cada dois ou três meses nos Idade e sexo Rejeição aguda prévia {humorale
anos subseqUentes ao transplante. celular)
Vários métodos não invasivos têm sido propostos para o Corticoster6ide Antlgenos pré-transplante
diagnóstico da rejeição, como destaca o Quadro 52.2. Contu- Diabetes e hiperlipidemia Adesão de moléculas
do, nenhum deles demonstrou sensibilidade e especificidade Estr6geno Fatores de crescimento e citocinas
Infecção por citomegalovírus Novas drogas
superior a 80 a 90% em relação à biópsia endomiocárdica.
Doenças Cardiovasculares • 509

TABELA 52.4 - Comparação entre doença vascular do enxerto e aterosclerose convencional

ASPECTOS
HISTOPATOLÓGICOS DOENÇAVASCULAR ATEROSCLEROSE
Artériasepicárdicas Envolvidas Preferencialmente envolvidas
ArtériasIntramiocárdias penetrantes Envolvidas N~o envolvidas
Endotélio Em geral intacto, mas pode Pode estar intacto, não se observa
estar hipertrofiado hipertrofia tão óbvia
Prollferaçaomiointimal e estreitamento intimai Sim, concêntrico Sim, excêntrico
Depósitosde colesterol e lipideos na Intima Incomum Comum
Inflamaçaoadventicial Comum Variável
Depósitode cálcio Ausente Freqüentemente presente
Perlodode desenvolvimento Meses Anos
Achadocineangiográfico tlpico Múltiplas estenoses com predominio Variável, em geral proximal (tronco,
nos segmentos distais coronária e ramos proxlmals)

apóso transplante. e há poucas evidências de dano permanente. Infecções


Algunsrelatos afirmam ser da ordem de 50% a chance de dano
cirúrgico pela preservação do tecido ao redor do sistema de Devido ao bloqueio da resposta imune, alguns sinais ou sintomas
condução no receptor. usualmente comuns presentes nos processos infecciosos, podem
estar abolidos. Desse modo, a ação antiinflamat6ria dos
corticóidcs pode inibir uma resposta pirogênica durante um
IMUNOSSUPRESSlo: CONTROlE E MANUTENÇIO processo infeccio o. A despeito dos avanços obtidos, a infecção
Aciclosporina foi introduzida na prática clínica do transplante repre enta a maior causa de rnorbidade e mortalidade, sendo
cardíacoem 1980 e atualmente integra os protocolos de imunes- decorrência direra da imunossupressão. A distribuição da in-
supressão. fazendo exceção aqueles que utilizam novas drogas cidência dos processos infecciosos é semelhante à curva de
aindaem fase da avaliação inicial. corno é o caso da rapamicina rejeição. sendo mais freqücntes e graves nos primeiros 3 meses
e do FK506. A Universidade de Piusburgh apresenta larga ex- após o transplante. uma vez que nesse período a imunossupressão
periência clínica com o uso dessa última droga que, todavia, é mais intensa.
apesar de potente efeito imunossupressor, oferece ai nda, uma Assim. no período imediato ao transplante predominam
série de efeitos adversos signlficativos. as infecções hospiralares relacionadas com as contaminações
Para minimizar os efeitos colaterais indesejáveis dos imu- intra ou perioperatória, sendo geralmente causadas por
nossupressores. os protocolos aluais utilizam 11 associações Staphilococcns ou por germes Gram-(negativo). Em contra-
de ciclosporina, corticóidc c aznt iopri na, denom inado csquc- partida, tardiamente, há predomínio das infecções oportu-
matríplice. A diferença entre os esquemas de irnunossupressão nistas como CMV, Pneumocystis e fungos. Em um estudo do
existentes está na quantidade e no manuseio das drogas utili- Transplamation Rcscarch Darabasc, onde são analisadas somente
zadas. a Tabela 52.5 encontra-se apresentado o protocolo
atual adorado em nossa instituição. destacando-se que com a
introdução do ciclosporina no segundo dia de pós-operatório. QUA.DRO52.2 - Métodos não Invasivos no diagnóstico da rejeição
observaram-se significauvas reduções na incidência de dis-
funçãorenal imediata. Outro cuidado adorado é a sua redução • Detecção de alterações da fisiologia do coração
ou até supressão. na presença de estados oligúria ou no aumento - Exame clínico
- Eletrocardiograma/Eletrofisiologia
da creatinina acima de 2.0. Quando há necessidade de sus- • Voltagem do eletrocardiograma
pender a ciclosporina, tem-se associado a globulina antitirno- • Eeletrocardiograma intramiocárdico
cüica (ATG) na dose de 10mg/kg de peso, por um período • Eletrocardiograma de alta resolução
que pode se estender até 2 semanas. ajustando-se a dose em - Ecocardiograma_
funçãodo número de linfócitos presentes no leucograma. Os • Parâmetros convencionais
• Indices de função diastólica
anticorpos monoclonais contra linfócitos tipo T3 (OKT3) também • Ecocardiografia com drogas vasoativas
podem ser utilizados com benefícios controversos. Recente- - Ressonânciamagnétka
mente,o uso do MMF parece que, além de ser droga promissora • Tempo de relaxamento
para a prevenção e o tratamento da rejeição crõnica no trans- • Dimensões ventriculares
plante cardíaco. também protege O coração contra as lesões - Estudos radioisotópicos
• Tecnécio-99
de reperfusão após a isquemia. • Tálio-201
Durante os períodos de rejeição moderada ou grave, utiliza- • Gálio-67
seo esquema de pulsorcrapia intravenosa com 500mg de metil- • Anticorpos antimiosina marcados
prednisolona durante 3 dias, podendo ainda ser repetida, caso ~ Ativação do sistema imune
não ocorra a sua regressão. Nos casos de diffcil regressão, - Monitoração citoimunológica
utiliza-se lima das drogas linfáticas citadas (ATG ou OKT3) e • Linfócitos ativados
noscasos recorrentes têm-se associado o metotrexato com resul- • Relação T4fT8
tados satisfatórios. Na fase tardia, se não houver disfunção. • Ensaiosde E. Roseta
Outros marcadores imunológicos
aumenta-se apenas a dose de prednisona (Tabela 52.6). • Receptor de interleuclna·2
• Beta2-microglobullna
OUTRASCOMPliCAÇÕES DO TRANSPlANTE CAROIACO • Neopterina
• Receptor de transferrina
Aseguir, serão descritas as complicações mais freqüentemente • Poliamina urinária
observadasno seguimento pós-operatório cios pacientes subrne- • Prolactina sériea
• Fator de necrose tumoral
lidos a transplante cardíaco.
510 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 52.5 - Protocolo de Imunossupressão em transplante cardlaco


PERloDO OPERATORIO METIlPREDNISOLONA PREDNISONA AZATIOPRINA CICLOSPORINAA
Pré-operatório 3mg/kg VO
Intra-operatório SOOmgIV
Imediato
Primeiro e segundo dias 10mg/kg IV 3mglkg VO 1mg/kg VO em 6h
Após o terceiro dia lmg/kg VO e redução de 10mg/semana 3mg/kg VO lmg/kg IV ou
3 a Smg/kg VO
Tardio O,2mg/kg VO 1 a 2mg/kg VO Smg/kg VO
IV = intravenoso; VO = via oral

as infecções graves que necessitam de terapia oral ou intra- estando completamente instalada ao final do primeiro ano após
venosa, observou-se incidência de 0.5 episódio de infecção/ o transplante. Esse aumento crônico da pós-carga imposta ao
paciente com surgimento médio de 8.4 meses em mais de 700 ventrículo esquerdo é um dos responsáveis pelo desenvolvi-
pacientes submetidos u transplantes cardíacos nos Estados mento da hipertrofia miocárdica observada ao exame anato-
Unidos. Verificou-se ainda que 68% dos pacientes não apresen- mopatológico.Ao contrário da hipertensão essencial, não se tem
taram infecções. Vinte e um por cento tiveram um episódio de observado a redução dos níveis tensionais durante o período
infecção e II % deles apresentaram mais de um episódio de in- noturno. Os bloqueadores dos canais de cálcio. os inibidores
fecção nesse período. A exclusão das infecções triviais justifica da enzima conversora de angiorcnsina, os beta-bloqueadores
ii baixa incidência relatada nesse estudo. e os alfa-bloqueadores isolados ou cm associação compõem
Em nossa instituição, analisando-se os primeiros 100 pa- o arsenal terapêutico utilizado no controle dessa complicação.
cientes operados e considerando-se qualquer episódio de infecção,
mostrou-se que cerca de 60% dos pacientes apresentaram pelo
menos um quadro infeccioso no primeiro mês após o trans-
Alterações Gastroinlestinais
plante. caindo para 29% no segundo mês e para 8% no terceiro O trato digestivo pode ser sede de diversas complicações após o
mês de evolução. As bactérias foram os principais agentes etio- transplante cardíaco exacerbados ou não pela imunossuprcssão.
lógicos seguidos dos vírus e fungos enquanto o trato respira- A gastrite e a úlcera péptica podem aparecer ou serem reativadas
tório foi O principal süio de infecção seguidas da pele e mucosas. pelo uso de corticóides ou pelas infecções, em especial o CMY.
A infecções são a primeira causa de óbito no primeiro ano de Tem-se encontrado estreita correlação entre o aparecimento
seguimento após o transplante, sendo responsável por cerca dessas complicações e o uso de pulsoterapia.
de 20 a 30% dos óbitos, segundo dados da ISHLT. As infecções A profilaxia com uso de bloqueadores H, e antiácidos, par-
bacterianas, em particular, as pneumoniais, são as mais comuns. ticularmente nos pacientes de risco, reduzem ã incidência dessas
complicações. As infecções causadas por Candida albicans,
herpes simples e fungos podem acometer o trato digestivo alto
Nefrotoxicidade e Hipertensão Arterial produzindo quadros de disfagia cujo diagnóstico deve ser
A imunossupressão possui uma série de outros efeitos colaterais, confirmado pela endoscopia associada à biópsia da mucosa.
ressaltando-se a nefrotoxicidade e a hipertensão arterial. Ainda A pancreatite aguda ocorre com frequência variável de 2 a 18%
que a flsiopatologia dessas alterações seja controversa c mutil- e. quando grave, apresenta elevada rnorbidade e mortalidade.
fatorial, admite-se que ocorra vasoconstríção da arteríola eferente Faz-se necessário lembrar que a circulação extracorpõrea (CEC)
associada à toxicidade direta da ciclosporina nos túbulos renais. por si só pode ser responsável pelo aparecimento de hipe-
De início, a disfunção é reversível e dose-dependente, tornando- rarni lasernia transitória. sem dor abdominal grave mesmo sem
se mais tarde irreversível. Os mediadores envolvidos englobam clínica de pancrcatite.
as prostaglandinas, a endotelina, bem como a ação direta da ciclos- Com o advento da cirurgia laparoscõpica, a colecistectomia
porina no tônus da musculatura lisa dos vasos. A elevação por este meio tem sido empregada. sempre que possível, nos
progressiva nos níveis de creatinina é observada a partir do portadores de colelitíase precedendo o transplante cardíaco.
sexto mês pós-transplante e associa-se a uma desproporcionada
urernia, hipercalcemia, hiperurecemia e queda na excreção urinária
de sódio. Todos os pacientes em uso de cicloporina apresentam
Neoplasias
algum grau de nefrotoxicidade, podendo-se minimizar o efeito O incremento na incidência de neoplasias na vigência de drogas
indesejável com o uso de doses menores da droga. imunossupressoras tem sido bem documentado. A incidência
A hipertensão arterial tornou-se a complicação mais frequente do aparecimento de tumores no vos varia de I a 16%, chegando
após o advento da ciclosporina podendo acometer até 90% dos a ser cerca de 100 vezes maior do que a população em geral.
pacientes operados. Inicia-se em geral li partir do segundo trimestre O te.mpo médio de aparecimento é de 12 a 18 meses e estima-se,

TABELA 52.6 - Orientação na imunossupressão durante os episódios de rejeição aguda


1. Rejeição discreta persistente Aumento nas doses de corticóide. de azatioprina ou de ciclosporina
2. Rejeição moderada
No primeiro trimestre Sem alteração da função: pulsoterapia com 2mg/kg de prednisona VO e redução de 20mg a cada 3 dias
Qualquer época Com alteração da função: pulsoterapia com 19/kg de metilprednisona IV por 3 dias e posterior redução
3. Rejeição grave Pulsoterapia intravenosa ou ATG/OKT3
IV = intravenoso; VO = via oral
Doenças Cardiovasculares • 511

segundo a ISHLT. ser responsável por cerca de 1.9% dos óbitos cifras subiram para 70 e 50%. respectivamente. Recentemente
apóso primeiro ano de transplante. Ocorre anualmente em cerca (1985 a 1990). os resultados melhoraram ainda mais sendo
de I a 2% dos pacientes. Evva alta incidência de neoplasias nos encontradas sobrevidas de 80 e 70€ff para os mesmos perío-
receptores de õrgãov trunsplantudo-, parece estar associada à dos considerados. Segundo dados da ISHLT (2004). a sobrevida
depressão do sistema imune. da estimulação antigênica pro- em I ano é de cerca de 84%-. de 78,4€ff em 3 anos e de 65.2% em
longada c/ou por ativaçâo oncogênicu viral. Vários tumores 5 anos. AO final de lO unos. a sobrevida média oscila cm ror-
desenvolvem-se em diferentes intervalos durante a sobrevida: 110 de 46€ff. com relato, também de sobrcv ida de 15 anos da
os linfomas não proliferativos ão cm geral o primeiro a ocorrer. ordem de 27.M}. Pode-se amda referir que 89.7% dos pacien-
por volta do terceiro mês de pós-operatório. Carcinomas de tes não exibem lirnitaçõcv após I ano de transplante e 8.5%
células escamosas (38t;}) c linfornas (17%) são as neoplasias dos pacientes, no cnumro. necessitam de a..vistência. Em nosso
mais freqücntcv, O varcoma de Kap()~i também eM:1 associado meio ainda não \e conseguiu reproduzir os mesmos resulta-
à imunossupressão c infecção por vlrus Ebstcin-Barr, mas é
à dos daqueles apresentados pela experiência internacional, sendo,
mais rara cm paciente, <ubmcridos no transplante cardíaco. seguramente, as no sas diferenças socioeconômicas e parti-
Antes de 1980. os rumores de pele eram os mais Ircqücntcs culuridadcs de doador e receptor, o principal fator responsá-
(cm cerca de 40% dos ca\o,». Com os esquemas atuais de irnu- vel. A Direiriz Brasileira de Transplante. realizada no início
nossupressão,e!>tel>deram lugar a tumores linfóides. Recen- de 1999, cm que foram analisados mais de 830 pacientes trans-
temente, em 1995.a Sociedade de Ilematopatologia promoveu plantados, mostrou sobrevida de 70 e 40% no fim de I ano e
discussões durante um scrninãrio que resultaram na expansão 5 anos, respectivamente. O InCor conta atuulrncntc com mais
doespectro de linfoproliferuções pós-transplante. incluindo-se de 300 transpluntcs curdíacos realizados com sobrevida após
neste lesões adicionais. como plasmocirornas, linfomas ricos I ano de 7W'k c após 5 alio' de 60%.
emcélulas Te B e linfornas tipo célula T. A gênese da doença A assistência ventricular ou vcntilatôria, receptores muito
linfoproliferativa é incerta. porém. acredita-se que dependa jovens ou com idade avançada. doadores com idade avançada
de proliferação de linfócitos B (mono ou políclonais). e tempo de anóxia prolongado do coração doador têm sido
Outras neoplasias como os tumores de pele e pulmão tam- apontados como importantes fatores de risco para a mortalidade
bém ocorrem com relativa Ircqüência em receptores cardíacos no primeiro ano após o transplante. As principais causas de
e de õrgãos sólidos. O~ tumores de pele (com cxccção do car- óbito tardiamente são a rejeição (25%). infecção (20%). corona-
cinoma célulnr de MERKEL e o melanoma) têm geralmente riopatia (12%) e neopla ias (6Ck).
evolução mais benigna. ao passo que os tumore pulmonares
ou outros tumores powuem um mau prognóst ico, A frcqüência
de câncer de pele em paciente receptores de órgãos rran plan-
lIMITAÇOES E PERSPECTIVAS fUTURAS
tado é elevada. em torno de 150/;-.A maioria dos rumores de A despeito dos grandes benefício' que o tranvplantc propicia.
pele se desenvolvem entre 2 e 3 meses após o transplante. Os cm termos de melhora de pé rvpecu \ a e qualidade de vida. existem
demais tipos de rumores ocorrem com freqüência semelhante trê!. importantes limitaçõc« que devem ser consideradas:
11da população em geral.
• Contra-indicações médicas.
• Falta de doadores.
Outras Complicações • Efeitos colaterais dolo agente irnunossupressores.
OHonicóides podem piorar a tolerância !l glicose e induzir o
As contra-indicações médicas. psicossociais, relativas ou abso-
aparecimento de diabetes melito. Nos pacientes controlados
lutas, excluem um percentual variável de pacientes. e quando
com dieta ou hipogticctuiantcs orai pode ser necessária a
se opta pelo transplante. eleva-se o rivco do procedimento. No
introdução de insulina. Igualmente. o u o crônico dessa droga
Instituto do Coração, analisando-se pacientes encaminhados para
podecausar ostcoporosc e necrose asséptica da cabeça do fêrnur,
transplante. verificou-se que as contra-indicações médicas e
sendoesta complicação mais freqüente em pacientes com idade
psicossociais foram responsãvcis por cerca de 50% das causas
avançada e mulheres na menopausa. O tratamento engloba a
de exclu ão. refletindo as condições socioeconômicas do país.
redução do corticóide e a suplcmcniação com cálcio e vitami-
A falta de doadores é problema mundial. Estudo da UNOS mostrou.
na D. Outras complicações de menor gravidade. porém com
que 28% dos pacientes candidatos ao transplante morrem ou
desconforto para O paciente são: hipertrico e. tremores. con-
são retirados da lista de espera. Em nossa instituição, após 2
gestão nasal. hiperplasia gengival. convulsões e disfunções
anos de inclusão dos pacientes na lista de espera, pouco mais
sexual e menstrual.
de 40% são transplantados e quase 60% morrem ou ão retirados
da fila de transplante por melhora clínica ou surgimento de contra-
RESULTADOS indicações. Finalmente. a terapia imunossupre sora. pelo cará-
ter inespecílico ou tóxico. gera significativa rnorbimonal idade.
o transplante cardíaco é capaz de modificar a história natural Para os dois primeiros tipos de limitação. no momento só
dos paciente portadores de cardiomiopatia terminal. desde existe alternativa de sclccionar receptores não saii fatórios e
que os princípios bãsicos ora apresentados sejam respeitados. enfrentar o, riscos. A e..ca~,>el de doadores tem levado muitos
A obediência a esses princípio é capaz de melhorar a curva pesquisadores a desenvolver outras estratégias. englobando-se
aciuarial de sobrev ida bem como a qualidade de vida. Vários disposltlvos mecânicos e procedimentos cirúrgicos alternativos
estudos têm demonstrado que pacientes com indicação para convencionais ou não ao transplante cardíaco. Em relação aos
transplante. que não vão operados por qualquer motivo. apre- dispositivos mecânicos de assistência ventricular, ele têm sido
sentam sobrevida média entre 6 meses e I ano. implantados com sucesso como ponte parti o transplante.uuvui
O registro da ISHLT representa li maior experiência multi- sido, além di soo aprovados recentemente para uso terapêutico
cêntricu coletada. cujos rcvultudos demonstram sensível me- definitivo em pacientes não candidatos ao transplante cardíaco.
lhoraliasobrevida li partir de 1982. Nos períodos mais antigos No entanto, as maiores limitações desses dispositivos são: peso e
(1967 a 1979) a sobrevida após I ano era de aproximadamente tamanho excessivos. potencial para trombocrnbolismos. anemia,
50% e após 5 anos de 30%. No período de 1980 a 1984, essas sangramcnto. infecções. falhas mecânicas e alto custo.
512 • Tratado de C/{nica Médica

Ainda cm relação à falta de doadores. arualmente, a única rransplanre renal e que começa a ser usado no transplante car-
alternativa. que já é aplicada em graus variáveis, é a utilização díaco é a rapamicina, Seu sítio de ação é di ferente da ciclospo-
de doadores não ideais. denominados habitualmente doadores rina na etapa seguinte da ativação do sistema imune. Após ligação
marginais. Assim. aceitam-se doadores com idade superior a da IL-2 COIll o seu receptor de alta afinidade na superfície do
45 anos com ou sem coronariografia, sendo ainda relatada a rea- linfócito CD8 (citotóxico). ocorre bloqueio de uma série de eventos
lização de rcvascularização do miocárdio. Têm sido aprovei- que levam a arivação e proliferação desses linfócitos para ata-
lados doadores em uso de catecotaminas em doses elevadas car o órgão transplantado. Por esse mecanismo di ferente de ação,
ou com infecção locatizada, No campo dos doadores marginais. uma perspectiva importante é a a sociação da raparnicina com
vãrios estudos experimentais têm demonstrado a possibilidade a ciclosporina. ambas em baixas doses. Vários outros imunossu-
de sucesso em transplante de órgãos de doadores com o cora- pressores, como mizoribina, brcquimar sódica c dcsoxipergualina,
ção parado. estão cm investigação animal.
Entre as perspectivas futuras, uma que surgiu como extraor- o campo de novos anticorpos monoclonais as possibí lidades
dinariamente promissora foi o uso de corações de animais, são múltiplas. Vários tipos de abordagem foram ou têm sido
processo este denominado xenotransplante. Após alguns estudos. te tado . De todos eles. já existem em uso clínico disponível
procurando modificar o órgão no momento do transplante. o comercialmente dois anticorpos monoclonais contra o receptor
que é particularmente diffcil no coração pelo tempo limitado de IL-2. São anticorpos com a porção fixa ou grande da porção
de anõxia, os esforços se concentraram na criação de animais variável de natureza humana, sendo a parte ativa proveniente
transgênicos. Embora o ideal fosse a utilização de espécie do rato. Dessa maneira. esses anticorpos não têm apresentado
concordante. ou seja. o macaco, existem obstáculos de várias efeitos colaterais e demonstram eficácia tanto no transplante
naturezas que levaram à eleição do porco como doador de es- renal como no cardfuco. retardando o primeiro episódio e a
colha. pela disponibilidade e peso compatível. A barreira incidência de rejeição.
imunológica. no entanto. é maior, pois todos os não primatas Finalmente. perspectiva que tem despertado extraordinário
têm na superfície de suas células moléculas de alfa-galacto e interesse e móbil izado grande esforço é o transplante de célu-
(GAL). e o homem tem naturalmente anticorpos anti-GAL. las, e não de todo o órgão. Vários tipos de células têm sido
es: e tipo de xcnorransplante discordante, a reação arnígeno- utilizados nos estudos experimentais. desde células fetais até
anticorpo desencadeia imediatamente o processo de rejeição células do próprio indivíduo. Estas últimas têm sido preferidas.
humoral hiperaguda mediada pela cascata do complemento. englobando as que tiveram uso clínico em pequeno número
lesão vascular do enxerto e perda imediata do mesmo. Nesse de pacientes. São uti lizadas célu Ias-tronco, indi ferenciadas do
sentido. várias estratégias procurando bloquear a ação dos anti- músculo e quclético (células satélites) ou da medula.
corpos e do complemento são possíveis e têm sido estudadas.
A opção que se considerou mais viável no campo de xcno- BIBLIOGRAFIA
transplante, no entanto. foi fi possibilidade de manipulação IlILLtNGIIMI. M. E.: CARY. N. R. B.; HAMMOND. M. E. CI al. A working formulallon
de vários tipos de genes, sendo li mais frequente li introdução do for lhe slandnnwlIion ar nomcnclalUrc ln lhe diagnosis or bean and lung rejcction;
gene que codifica o Iaior de inibição do complemento humano. ltenrt rejeclion 'lUd} group. J. Hean Tmnsplant, v.9. p. 587-601,19<.10.
visando impedir a rejeição hiperaguda. Mais recentemente foi CASCALHO. M.:LII't.AIT. J. L XCllOIl1In'planlfllion anel olher means of OIlan repla,'tIllCIII.
conseguida a vupressão, em porcos. da enzima que produz a
Natur» RI''' /1/I"IIInn/ .. \. I. p. 1.54.160.2001. t
COSTANZO. M. R.: AUGUSTtNE. S.. BOUROE. R. Cl (,I. Sctec:lion and ireauueu of .:.
GAL. Deve-se lembrar que essa manipulação é sempre par- ClIndidmc\ ror hcan Itnn\pIBnI3Iion. A SllllClllenl for henhh prore •• ionnl, 'rom lhe !
cial. e se con eguir superar a rejeição humoral, é provável Commluee on Hc3tl Failure nnd CardIOC Trnn,plnnlllllon Council on Clinlc~1CMllology. V.
que a rejeição celular seja mais importante que no transplante Arnencron Hcan AS\(X131'on. Cirrlllatillll. v. 92. p. 3593·3612. I99S. ~
COSTANZO·NORDtN. M. R.: COOPERo D.; JESSUI). M. et ai. Henri transplOll13liOll: )<
entre humano. Considerados todos esses problemas do trans- furure oevelopmems. J. Am. ColI. Cardio/.. v. 22. p. 54·63. t993.
plante de coração de porcos. resta um obstáculo maior, que DREYFUS. G.: JEOARA. V.: MtHAILEANU. S.: CARI'ENTlER. A. F. TOlal otlolhopit
é a presença de doenças virais, em particular retroviroses. lIC<II1 lrdn\planl111ion: and IbeSlruldatt IeCbnique.AII/I. Tborac. SII'8 .. v. 52. p. 1·181.1991.
Na vigência de imunossupressão, essas viroses podem ser não EL·BA.'\AYOSY. A.: ARUSOGLU. L.: KIZNER. L.: MICHTEL. M.; TENDERICH. G.;
só um problema para o receptor como um problema de saúde PAE. w. E,; KÔRFER. R. Pretiminaryexperience with lhe Lion Heart lefr '"enloeulM
ussiSl deviee in parients wi!h eed-stage beart failure. Ali/I. Thorac. SII'8.. v. 7S.p. 1469.
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e rnonoclonais contra linfócitos, além de cortieóide e azatioprina, GRAITAN . .\1. T.: MORENO·CABRAL. C. E.: STARNES, V. A. CI ai. Eigln·year resulu
or c)'clO'oporinc rreatcd patiem» wilh cardiac iransplants. J. Thorac. CarrliOloscS"'X..
já utilizado na década anterior. Mais recentemente. foram
'. 99. p. 500·5O'J, 1990.
introduzidos novos fármacos. novos anticorpos monoclonais e HERTZ. M.. TAYLOR, e. TRULOCK. E.: BOUCEK. M.; MOHOSI. P.: EDWARDS,
novas esuaiégias não farmacológicas. Não serão anal isadas estas LA~D KECK. B. The Reg"uyoflSHLT. Nineleel11h Report,J. Hean lung TronspL.
últimas por terem menor impacto na rotina. Dos novos agentes, '.21. p. 950·970.2002.
KIRKllN. J. K.:NAFEL D. C.; KIRKLIN. J. w. el aI. Pulmonary vascular re,isl1Inct ud
O FK506 já está em uso clfnico e é mais potente que a ciclos-
porina, não apresentando alguns efeitos colaterais desta, po-
lhe risk of heart rranplanunion. J. Hean Tmnsplantation, v. 7. p. 331·336, 1m
MANce.;t. D. M.: EIS EN, H.: KUSSMUL. W. er al. Valuc of pcnk exerclse OXlltll
rém há outros importantes inconvenientes como a neurotoxicidade. COI1'umpcion ror 01>lint3t timing or cardiac: Inln'plnnlOlioll ln R1l1bulal0l')' pMl<l1Il
Ele tem um local de ação emelhante ao da ciclosporina, blo- .. ith hean (oilurc. Clrr"llIIloII. v. 83. p. 778. 1991.
queando a ligação do cálcio com a calcineurina, após o reco- MtLLER. L W.; NAFTA!., D. C.: BOURGE. R. C. CI aI. tnre<:liollllflcr hC(lrllmn~pl:,"laIÍM
a mullilo>U!ullOlml ,«>ry. J. Htort L1mgTrollj/,/(II11.v. 13. p. 38t·393. t99-1.
nhecimento antigênico. Esse bloqueio é realizado depois da ligação
MUOGE, G. H .. GOLD5TEtN. 5.: ADDONIZIO. L. J. ti aI. ·l\vc11Iy·rounh Belhcsda
da ciclosporina com a ciclofilina e do PK506 com a proterna conrerencc: cardiac Iran~plnn1.: Task Force recipienl guidclines/priorizalíon. J. i\.a.
ligadora de FK. De qualquer maneira, ambas impedem o pro- ColI. Corrllol .. ". 22. p. 21·31. t993.
ces~o que, começando no citoplasma. levará à transcrição para OLlVARI. M. T.: ANTOLICK. A.: RLNG. W. S. Anerinl hypcnension in hcort 1l1tnsptUl
produção da interleucina-2 (IL-2). Ambos os fármacos, por lerem recipieol5 tre~«:d \I ilh lriplc-drug immunosupprc$sive IhcI"Jpy. ./. Heart TmllJploN.
v. 8. p. 3-1-39. 1989.
mesmo modo de ação. não devem ser associados. O FK506tem PUlholo&} or hean uansplanl3lion. Curr. Top. Par/lo/.• v. 92, 1999.
sido usado em subSlituição à ciclosporina em alguns centrOs ou SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDtOLOGIA. Dirtlriw da S(x:icd:ldc Brn~i1ciladt
na circunstância de rejeição rebelde. Outro agente em uso no Canliol0!1l3 pw1I Tl1IIlsplllme Cnrdroco. Arq. BroJ. Cilrrliol .. v. 73, supl 5, p. I·S7. t999.
Doenças Cardiovasculares • 513

• QII(lIIIO (10 mecanismo: muitas são as origeuv da .. arritmias

CAPiTUlO 53 cardíacav entretanto. a maioria absoluta é originada pelos


seguimos mecanismos:
- Distúrbios do automatismo - aumento ou diminuição.
- Distúrbios do dromotropismo (condução) - pré-excitação

Arritmias Cardíacas (ucclcrução ou vias acessórias de condução) ou blo-


queios (retardo ou interrupção).
- /({'C'II/m(/a (rccxcitação pelo mesmo estímulo entre várias
células).
- Atividade deflagrada (rccxcitação pelo mesmo cstfrnulo
numa única célula).
Fundamento das Arritmias • Quanto ao número de batimentos envolvidos:
- Batimentos i olados ou pareados: extra-ststotcs (barimcn-
to, antecipados) ou batimentos de escape (batimentos
Cardíacas 1:1rd ios).
- Succsvão de três 011 mais batimentos: taquicardia (ritmo
acelerado) ou ri/II/O de escape (ritmo lento).
José Carlos Pachón Mateo
x
SISTEMA DE CONDUÇÃO DO CORAÇÃO
; Enrique Indalécio Pachón Matcos
O coração é um aparelho biológico eletromccânico e o sistema
~ A funçãocardíaca depende essencialmente do volume si~t6Iit:() de condução é o responsável pelo seu controle eletrônico. É
~ e da freqüêncin cardíaca. Esta última é conseqüência do ritmo constituído de um marcador de tempo gerador de sinais (nó
cardíaco. Dessa forma. qualquer anormalidade do ritmo car- sinusal ou marca-passo natural) e de uma rede de distribuição do
díaco (arritmia cardíaca) poderá afciar o débito cardíaco. oca- estímu lo (sisrcmn de condução propriamente dito) (Fig. 53.1).
sionando simomav, fI'CO de víncopc. morte súbita ou ambos,
Do ponto de vista clínico. as arriunius podem ver absoluta-
mente assintomãtlcav ou, por outro lado. ocavionar palpita-
Territórios das Arritmias
ções.tomurus, sfncope e morte súbita. O maior receio é a evolução É muito importante que as arritmias sejam localizadas quanto
para assistolia ou fibrilação ventricular. Além disso. podem aos territórios de origem e de manutenção, Neste sentido. existem
predisporo paciente ii ocorrência de tromhocmhulismo e insu- dois grandes territórios - o supravcntrirulat e o ventricular
ficiência cardíaca. - que diferem quanto ao prognóstico e 110 uutamcnto das arritmias
O estudo das arrirm ias visa essencialmente di ugnost icar as (ver Fig. 53.2).
anormalidade» tio ritmo cardíaco, identificar a origem e promover
ouatamcnro profiláiico ou definitivo. Além disto, grande parte Células do Sistema ÉXcíto-condutor
do' pacientes xob rivco de arritmias causadoras síncope e de Do ponto de vista funcional. a célula mais importante do nó
morte súbita pode ser identificada antes mesmo do primeiro sinusal é conhecida como célula P. É a célula cardíaca de maior
episódio. permitindo li tratamento evsencialmentc preventivo. automatismo constituindo um marca-passo natural. Sua atividade
elétrica é constituída por potenciais de ação do tipo lento. cálcio-
TIPOS DEARRITMIAS CARDfACAS dependente.
Entre () nó sinusal e a parede atrial existe a junção sinontrial,
A~arritmia.. podem ser classificadas conforme diversos critérios: constitufda de células T (de transição) que têm potenciais lentos.
mas estes são de maior amplitude e de melhor capacidade de
• cardiaca: podem ser por aumento da
QII(l/I/O () freqf/{Jllcia esti mulução.
Ireqüência - taquicardia. Ircqüênciu cardíaca > IOObpm- Do n6 sinusal até o n6 atrioventricular existem os feixes
ou por redução «bmdicardio. lrcqüência cardíaca < 60bpm. internodais anterior, médio e posterior, consrhuídos por fa cí-
• QllalllO ao territârio de origem: são supmventricularcs culos de células musculares arriai entremeadas com células
quando sua manutenção depende do território vupravcn-
rricular c ventriculares. quando sua manutenção depende
do territ6rio ventricular: mesmo que o batimento inicial
tenha origem no outro território.
• Qllamo formo de instalação: são chamada, paroslsticas
ã

as arritmias de instalação súbita (mais Ircqücntcmcnte


utilizado para taquicardias) e lião paroxtsticas quando
tem início gradual.
• Q//(III/O () duração:são consideradas sustentadasus arritmias
que permanecem por longo tempo. dependem de intervenção
médica para sua reversão ou provocam colapso hcmodi-
nâmico.Consideram-se liãosustentadas as nrritrnias autoli-
miradas. de curta duração.
• Qllalllo ti duração do QRS: são divididas cvuarritmias com
QRS largo- quando o QRS tem mais de 120 milisscgundos Figura 53.1 - Esquema do sistema éxcito-condutor do coração.
de duração - e arriunias de QRS estreito - quando o QRS A = nó sinusal; B = feixes internodais anterior, médio e poste-
é igualou menor que 120 rnilissegundos. rior; C = nó atrioventricular; D = feixe de His; E = ramo esquerdo
• Q//amo()periodicidade: denominam-se intermitentes quando do feixe de His; F = hemi-ramo êntero-superlor do feixe de His;
aparecem e desaparecem e. pontancamcnte e permanente G = ramo direito do feixe de His; H = hemi-rarno do ramo es-
quando se instalam em definitivo. querdo do feixe de His; I = feixe de Bachmann
514 • Tratado de Clínica Médica

Território supraventricular Na Figura 5:\.3. em A considera-se uma célula hipotética,


... - - - ... com bomba de Na'/K' desligada, sendo iguais as concentrações
, interna c externa de Na" e K·. Nessa condição, não há nenhuma
,, diferença de potencial entre os lados da membrana celular. ou
I

,
I
seja. o potencial de repouso é igual a OmV.
Na Figura 53.3. em B a bomba de Na+ IK+ foi hipoteticamente
acionada. Imediatamente, a atividadc enzimática da membrana
celular inicia a troca de dois íons K' do meio extracelular por
três íons Na+ do meio intracelular. Trata-se de um processo
ativo, com gasto constante de energia capaz de concentrar o
K+dentro da célula c o Na' fora dela. Além disso, esse fenômeno
I começa a criar uma negatividade no interior da célula pois. a
I
cada 2K+ que entram, saem 3Na' ou seja o meio intracelular
......... __ ....... sofre urna perda de cargas po. itivas .
Na Figura 53.3, em C observa-se a célula em repouso após
Território ventricular
u atividade da bomba de Na+/K+. Em conseqüência o K+ foi
Figura 53.2 - As arritmias podem ser originadas e/ou mantidas acumulado no seu interior e o Na+ no seu exterior. Em condições
pelas estruturas dos territórios supraventricular e ventricular. Por de repou: o. a membrana celular é permeável ao potássio c
convenção, considera-se o limite inferior do nó atrioventricular como impermeável ao sódio. Aparentemente, isso ocorre porque o
o ponto de referência para a separação desses dois territórios Na' se hidrata tornando-se maior que os poros da membrana.
Dessa forma, O K+ passa a sair passivamente pela rnembra-
na. movido pelo gradiente de concentração. A cada potássio que
de Purkinje. responsãveis por maior velocidade na passagem sai. o interior perde uma carga positiva. Por sua vez, o exterior
do estímulo do nó sinusal ao nó arriovcruricular, Além destes, ganha a carga positiva. Dessa forma, gradativamente o interior
existe o feixe de Bachrnaun que vai do Ieixc internodal ante- vai se tomando eletricarnente mais negativo em relação ao exterior,
rior uo átrio esquerdo c tem a finalidade de sincronizar a ati- Na Figura 53.3, verifica-se em D que a saída passiva do Kt
vnção dos dois átrios. atinge um ponto de equilíbrio. Apesar do elevado gradiente de
O nó utriovenrricular I! constituldo por células de potencial concentração do K'. quanto mais negativo e torna o interior c
de ação lento, cãlcio-dependente. Es a característica resulta em mais positivo o exterior, a saída desse íon se toma cada vez mais
condução lenta e origina duas propriedades fundamentais do difícil por atração e repulsão elétricas. No ponto de equilíbrio.
sistema éxcito-condutor: a concentração do K' extracelular é igual a 4mEq/L e li do
intrucelulur igual a 140mEq/L. Nesse momento, a diferença
• A permeabilidade arriovcnrricular, que protege O ventrfculo de potencial entre os lados da membrana é igual a 90mV com
contra a estimulação exce. sivamcnte alta durante taquiar- negatividade no interior, constituindo o potencial de repouso.
riunius utriais.
• O retardo atriovcmricular, que promove o sincronismo arrio- Potencial de Ação
ventricular, aumentando o rendimento hernodinâmico.
o potencial de repouso é uma atividade elétrica muito impor-

BJ
O feixe de His. seus ramos e os plexos subcndocãrdicos de tante para horncostasc celular. entretanto. a inversão ou perda
Purkinjc são conxtituídos pelas células de Purkinje, caracteri-
zadas por apresentarem potencial de ação rápido. maior velo- Na' K' Na' K' + .... +
cidade de condução do coração e maiores períodos rcfratários. r·N·ã:·····j(:·······
.. ···········,
: i
1 ~
ELETROFISIOlOGIA CELULAR ! ! K •

É fundamental, para o entendimento das arritmias cardíacas,


uma rcvisâo sintética da atividade elétrica celular- eletrafisiologia
~;~·n·····~~~.~ê:~~,.i~~~,.:~~:.:
..; +20 Bomba de Na'/l('

relulu r. ~o
> -40
i i i! ~o
::::
',!,! ~ i ~ -40
O ••• , \

E -60
-80
ii!! i i i
1 -_6800 1:: i:: i::
Potenciai de Repouso -100 ;;: i -100 : , :
As células vivas, em repouso, apresentam uma diferença de A ABCOD B A 8 C O O

potencial elétrico entre os lados da membrana celular sendo


o interior negativo em relação ao exterior, chamada de poten-
cial de repouso. O potencial de repouso é absolutamente fun-
damentai para a manutenção da vida da célula sendo indispensável
para" atividade enzimática. para a permeabilidade iônica e para
o trabalho celular.
···r····f····f····1
Entendendo a Origem do Potencial de Repouso :' : :
o potencial de repouso é resultante da constante sarda lenta de
potássio da célula. Isso ocorre pelo gradiente de conccmração
de potássio, cujo teor é alto dentro da célula (140mEq/L) e baixo
....I....J.....
A B
l.). I
C O O

no exterior (4I11Eq/L). além da membrana celular em repouso


c Fenómeno passivo o Equillbrlo
eletroqulmico do K'
Potenciai de repouso
permitir a saída passiva do potássio apesar de impedir a entrada
passiva do sódio (permeabilidade seletivai (Fig. 53.3). Figura 53.3 - Origem do potencial de repouso
Doenças Cardiovasculares • 515

momentânea desse potencia) pode gerar sinais elétricos propaga- A despolarização diastólica da célula automática se deve ao
dos capazes de deflagrar e controlar uma atividade tecidual fato de sua membrana celular ser. em repouso, mais permeável
organizada como a conrração muscular. a secreção glandular ao sódio. Quanto maior a permeabilidade ao sódio maior o CIl
ou a condução nervosa. Essa modificação momentânea e pro- autornat isrno. m
..(")
pagada do potencial de repouso é chamada de potencial de »1
ação, que pode ser dos tipos rápido c lento, O
Período Refratário 0'\

Potencial de Ação do Tipo Rápido Trata-se de um intervalo de tempo, logo após a despolarização
O potencial de ação é uma atividadc clétrica cuructcrizudu rela no qual a célula não responde a outro cstfmulo, Nas células
perda de polaridade da membrana. de curta duração c se pro- de potencial rápido é dependente da voltagem. Nas células dc
potencial lento é independente da voltagem. porém depende
paga para toda a célula c todo o miocãrdio (Fig. 53.4).
Na Figura 53.4. cm A c\t;í repre-cnuulo () in(cio do fenômeno do tempo transcorrido põs-dcspolari/ação. As fases O. I. 2 e
mais importante da atividadc clétrica celular. n potencial de :Içiio. a porção inicial da favc 3 compreendem o pertodo refratário
(/"11/(11/11 no qual :1 célula não responde independente da in-
Um e\líl1luloelétrico. mecânicoou químico pode modificara permeá-
bilidade da membrana celular {IUCse torna subit.uncutc permeável tcnvidadc do estímulo. A Ia e 3. principatmcnrc 110 seus dois
aosódio.A entradn dev-e íon .5 muito rápida I.! intensu por ser Iavorecida terços tinai~ compreende °período refratário relativo no qual
pelos gradientes clétrico c químico. ocasionando LIma perda da a célula responde :1 e tfrnulos de grande intensidade (supra-
~ polaridade do potencial de repouso e até uma rtipidu inversão limiares). O período refratário é fundamental pura manter a
~ de polaridade. Nesse momento. a entrada de Na" é subitamente estabilidade tio miocárdio. Quanto menor o período refratário,
~ interrompida. Momentaneamente, o interior da célula torna-se maior a possibilidade de arritmias graves.
~ discretamente positivo. período de polarização invertida.
~ Logo a seguir (Fig. 53.4. B) ocorre um período chamado Período Supernormal
plateau em que o potencial transrnernbrana é nulo. Isto se deve
essencialmente a duas correntes iônicas opostas em equilí- No final do potencial de ação das células rãpidas existe um curto
brio: uma entrada de Ca" e uma saída lenta de! K'. período de maior excitabilidade chamado de período supernormal.
Finalmente. como a célula não consegue retirar rapidamente No miocárdio. os períodos supemormais da maioria das células
o Na' que entrou. a mesma recupera o potencial de repouso ventriculares coincidem com a fase descendente da onda T. Nesse
abrindo canais rápidos de K- que promovem uma saída rripida instante. :I estimulação - por exemplo por meio de LIma extra-
de K', até a recuperação do potencial de repouso (Pig. 53.4. C). sístole precoce! (fenômeno Rff) - pode produzir arritmias muito
Ociclo completo constitui o potencial de ação. que é composto graves. como a fibrilação ventricular. Por e:-sa rfl~1í().este instante
pelas fnsc O ou despolarização. fase I OLl de poluri zução in- do ciclo cardíaco 6 conhecido como periodo 1'I/(,I('/,(;I'el.
vertida. fa~c 2 ou plateuu (rcpolarização lenta). rase 3 011 repu-
Inri7ação r:ípida e finalmente pela fase 4. que é novumcnrc o CONSIDERAÇOES GERAIS NAS ARRITMIAS CAROIACAS
potencial de rcpouvo. Ritmo sínusaí
O potencial de ação é um fenômeno passivo (sem gusto de
energia). que ve propaga por Ioda a mcmbranu celular. pelo o rirmo ,illl"al é caracterizado pela presença de uma onda P
retículo varcoplavmaticu e de uma célula a outra. Tem com- cuja polaridade nas derivações clctrocardiogrãficns é
1111/'111111.

portamento de tudo-ou-nada e surge quando () potencial de deten~linada pela p~~ição anatômica do n6 sinusul - na junção
repouso é redu/ido I.!II1 :W:t 25111V até um nível chamado da vcra cava supcnor com o átrio direito. É um ritmo regular
de potencial limiar (Fig. 53.-1. A a C). Abaixo tio potencial com frcqílência de 60 ti IOObpm em repouso. com uma onda P
limiar, a atividadc celular é localizada c não propugávcl. Os
estímulos são considerados subtimiaras.limiarcs e supralitniares
quando nprcscnram respectivamente energia menor. igualou Na' Na'
superior ii necessária para atingir o potencial limiar.

:''''0''': ~
u.·. _- ttl
..·..
Relação do Potencial de Ação com o Eletrocar-
diograma. O potencial de ação é uma atividadc clétrica medida
entreo extra e o intracelular por meio de microeleirodos colocados
dentro e fora da célula. O eletrocardiograma mostra a atividade
..............
L~
eléirica do miocárdio entre dois pontos localizados no extra- +2~ +2~ Ca" ..
celular. Ambos repre eruam o mesmo fenômeno. As fases O e -20 -20 ~
I de todas :1 célula, cardíaca .. con ritucm o QRS. o plateau
(fa~e2) corresponde :10 segmento ST e a fase J constitui a ~: -80 POlenciallimiar-80
~~~ .l..: .
onda T. A fase -l ocorre durante a diãsrolc clétrica entre dois -tOO' -100';
batimentos (Fig. 53.5). A E B E f
K'
I K' - - - - - -
I
Potencial de Ação do Tipo Lento
Saocnr3cteri/ado\ por favc () lenta. I essas células, a dcspota-
rização ocorre pela entrada UI! cãlciu e nl10 pela entrada de .20
-.ódio.Geruhncnte cvt.i prc-cruc nos tccido-, aUlOm(!tÍl:ns(célul:», O
marca-pasvo) c de condução lenta. tai" COmo O~ nó:- siuusal c -20
atriovcnrricular, O potencial de repouso nessas células é menor. • ~ -40
-60
O plateau também é mal definido e de curta duração. Além -80
-100
disso. o potencial de repou-,o (faSe! 4) apresl.!lIta uma redução c E f G
espontânea até o potl.!nciallimiar - d{'.\·I)(JI(/ri:tI~·tilld;(/stólica
- originando ullIa aUlo-excitaçiío (automatisl1lo) (Fig. 53.6). Figura 53.4 - Potencial de ação do tipo rápido
516 • Tratado de Clínica Médica

+20
Figura 53.5 - Correspon-
o dência entre o potencial de
ação (anteriormente) e o
> -20
E -40
QRS (a seguir). Observa-se *
-60
que as ondas do eletrocar-
diograma correspondem
somente aos movimentos
iônicos mais intensos: a en-
trada de sódio forma o QRS
e a saída de potássio cons-
titui a onda T. O plateau
que corresponde ao ST e Figura 53.7 - Esquema representativo das pausas. (A) Pausa sinusal.
a fase 4 são registrados no (B) Pausa com escape juncional (*). (Q Pausa com escape ventricular
nível de OmV (**). Os números referem-se aos intervalos de tempo em rnílísse-
gundos. Por razões didáticas, as ondas T não foram representadas

positiva cm DI. D2. aVF e V6. negativa em nVR e difásica cm Considera-se bradicardia um ritmo regular com freqüência
V I,ou seja. orientada da direita para a esquerda, de cima para menor que 60bpm. Denomina-se bradiarritmia uma bradicardia
baixo e ligeiramente para frente. Além disso, O ritmo sinusal com ritmo irregular ou às condições que apresentam pausas com
mostra um intervalo PR entre 120 c 200 milisscgundos, A respiração, ou sem batimentos de escape.
por meio do reflexo de Hering-Breuer, interfere no ritmo sinusal,
provocando muitas vezes. c principalmente cm jovens e crianças,
LIma (//'1';1111;(/ sinusal fâsica 011 respiratária caracterizada por Extra-sístoles e Taquicardia
aumento cíclico da frequência cardíaca ao final da inspiração. Conforme anteriormente mencionado, as extra-sístoles são bati-
mentos ectópicos adiantados em relação ao ritmo sinusal, ou seja.
Batimentos teténíens o intervalo de tempo entre o batimento sinusal e a extra-sístole
é menor que O ciclo pp básico. Contrariamente aos batimentos
Denominam-se batimentos ectôpicos aqueles que nascem fora de escape, que são originados por automatismo, as extra-sfstoles
do nó xinusal, Podem ser tardios (batimentos de eSC(/IJe) ou mais cornumente são originadas por reentrada. porém, também
precoces (extra-sistolesi. Os batimentos de escape estão atra- podem ser ocasionadas por automatismo ou por atividade deflagrada
sados e as extra-sístolcs estão adiantadas em relação ao ritmo As extra-sístoles normalmente têm um QRS estreito quando
fundamental. O intervalo de acoplamento é ()intervalo de tempo são de origem supravcntricular e largo. quando são de origem
entre O batimento sinusal c o cctópico. Quanto ao local de ventricular (Fig. 53.9). Entretanto, as extra-sfstoles supraven-
origem podem ser arriais. juncionais (nodais atriovcmricula- triculares podem ter QRS alargado em decorrência do fcnô-
res ou hissianos), fascicularcs ou ventriculares. rncno de aherrãncia de condução, Outro aspecto interessante
é que podem ou não interferir no ciclo sinusal dependendo se
Pausas, Batimentos de Escape, capturam ou não O nó sinusal (Fig. 53.10). ~
Eventualmente, após uma extra-sístole, o batimento cctópico ~
Ritmo de Escape e Bradicardia do mesmo foco ou de um foco distinto, pode se repetir com frc- ~
Considera-se pausa um intervalo entre dois batimentos maior qüência alta originando uma taquicardia (Fig. 53.11). Consi- ~
que o intervalo do ritmo fundamental (Fig. 53.7). A pausa pode dera-se taquicardia um ritmo regular com frequência superior )<
terminar com um batimento sinusal (Fig. 53.7. A) ou com um a 100bprn em repouso. Denomina-se taquiarritmia uma
batimento ectõpico, freqücnrerncntc juncional (Fig. 53.7. B)
ou ventricular (Fig. 53.7. C). conhecidos como batimento de
escape.
Eventualmente, após o batimento de escape, se o ritmo sinusal
não se recupera, o batimento de escape pode se repetir regularmente,
constituindo um ritmo de escape que também pode ser juncional A 800 ,
ou ventricular (Fig. 53.8). Caso não haja ritmo de escape, pode B~~t~----------------------
ocorrer uma assistolia normalmente acompanhada de sintomas
graves tais como síncope ou morte súbita (Fig. 53.8, A e 8).

Figura 53.8 - Esquema das pausas sem e com ritmo de escape.


Em (AJ observa-se uma pausa por bloqueio atrioventricular to-
tal sem ritmo de escape. Em (B) a pausa se deve a uma parada
sinusal e também não apresenta ritmo de escape. A pausa, seja
por parada sinusal ou por bloqueio atrioventricular, pode ser
Figura 53.6 - Representação esquemática do potencial de ação interrompida por ritmo de escape juncional (Q ou ventricular
do tipo lento (AJ. Observa-se que a fase Oé mais lenta, o plateau (D). Tipicamente. o ritmo de escape juncional tem freqüência
é mal definido e o potencial de repouso apresenta uma despo- maior que o ventricular pelo fato de ser originado em regiões
larização diastólica que, espontaneamente, atinge o potencial mais altas do sistema éxcito-condutor. Freqüentemente se ob-
de repouso, originando um novo potencial de ação de forma auto- serva certo grau de aquecimento com redução progressiva dos
mática. Dependendo da inclinação da despolarização diastólica, intervalos RR iniciais do ritmo de escape. Por razões didáticas. as
a freqüência de despolarização aumenta (B) ou diminui (C) ondas T não foram representadas
Doenças Cardiovasculares • 517

A A
cn
*" m
-o
>-,
B B O
~
410 410 410 410 410 410

C C

Figura 53.11 - Representação esquemática de três tipos de


Figura53.9 - Representaçãoesquemática das extra-sistoles. Os
taquicardias atrial (A), juncional (B) e ventricular (C). O primeiro
batimentosmarcadoscom asteriscossão extra-slstoles atrial (*),
batimento que inicia a arritmia (" ........ ) pode ou não ser ori-
juncional(H) e ventricular (H .). Observa-seque são batimentos
ginado no mesmo foco dos demais. Por razões didáticas, as
adiantados ouprecocesem relaçãoao ciclobásico.Alémdisso,o QRS
ondas T não foram representadas
dasduasprimeirasé estreito (origem supraventricular)e o QRS da
terceiraé largo(origemventricular). Porrazõesdidáticas,asondas
T nãoforam representadas t\ "r"-c.I'c;/(IÇ(;O ocorre quando uma região do coração é
excitada (despolarizada) antes do que o serin cm condições
taquicardiacom ritmo Irregular. ou os ritmos que apresentam normais. O exemplo mais típico ocorre na junção atrioven-
extra-sístolcs. Tipicamente. a taquicardia ventricular tem QRS tricular, caracterizando as shulromes de pré-excitação. Nessa
largo(Fig. 53.11. C) c a supravcntricular tem QRS estreito condição. os ventrículos são ativndos antes do que o seriam
execro quando apresenta aberrância de condução. pela condução atriovcntricular normal. A condução atrioven-
tricular antecipada (pró-excitação) ocorre por um nó arrio-
Bloqueios e Pré-excitação ventricular acelerado (/Iré-excitação hissiana'[ ou por meio
Os bloqueios ocorrem quando existe interrupção ou retardo de um feixe nnômalo atriovcntricular (pré-excitação ventricular
na passagem do csrírnulo numa dctcnninada área ou estrutura - sindromc de IVoljJ-Parkillsoll-lVhite) (Fig. 53.13).
docoração. Dessa forma pudem ser:
• De primeiro grau quando ex isic condução I: I. porém QRSEstreito e QRSlargo
com retardo.
• De segundo grau quando pelo menos um batimento é o sistema de condução permite que a fave O do potencial de
bloqueado. ução seja distribuída de forma muito rápida para a maioria tla~
• De alto grau quando vdriox batimentos scqücnciuis ão células ventriculares. Dessu forma. a ativação ocorre simulta-
bloqueados. ncamcnrc em vários pontos distantes mediados pelos ramos e
• De terceiro grau qU:1111JO todo» o~ batimentos são blo- fascículos do sistema His-Purkinjc. O resultado é umajllsão
queados. de diversas frentes de ativação ventricular. O QRS normal,
portanto. é um complexo de fusão, Em função dessa agilidade
Além disso. podem ser uni (unterõgrados ou retrógrados) na transmissão do estímulo clétrico, o QRS normal é estreito, ou
ouhidirecionais. sea condução é afctada em uma ou nas duas seja. tem menos de 120 milissegundos de duração. A ativação
direçõcs (Fig. 53.12). Dependendo da local ização. podem ser: simultânea de pontos distantes permite que haja um sincronismo
contrátil entre as parcelesventriculares.
• Sinoatriais. Quando o sistema de condução está comprometido. por
• lntcratriais. exemplo. cm presença debloqueios de mil/o. ou quandoo coração
• Inrra-atriais. é ativado ccropíc.nncntc fora do sistema de condução, como
• Atriovcntricularcs. num ritmo de rnarcu-pusso artificial ou durante uma taquicardia
• De ramo. ventricular. a ntivaçiio do miocárdio parte de um único ponto
• Fascicularcs, tativação mOl/ojncal). Em conseqüência.M grande demora para
.Intravcntrieulares. ativar todas as células cardíacas, No QRS. esse fenômeno se
• Parietais.
• Em feixes unõmalos,
Inlfr~trial

00 ramo
tntra-atrial esquerdo

~---r Hemibloqueio
póstero·infetiot

Figura53.10- Eletrocardiogramamostrando duasextra-sfstoles 00 ta mo


diteÍlo
supraventricularesconduzldas. A primeira (A) ocorreu após in- Hemlbloquelo
Anleto-superior
tervalodeacoplamentode 600 milissegundos, sendo conduzida
aosventriculossemaberrãncia. A segunda (B) ocorreu após in-
tervalodeacoplamento mais curto (440 millssegundos), sendo
conduzidaaosventrículos com bloqueio de ramo direito (aber-
rãnda decondução).Observa-setambém a captura do nó sinusal Figura 53.12 - Esquemados principais bloqueios nos diversos
apósa extra-sístole,gerando uma pausa pós-extra-sistólica niveis do sistema de condução
518 • Tratado de Clínica Médica

Pré·potencial precoce Pr~potencial tardio

Figura 53.13 - Exemplos de pré-excitação. (A) Observa-se PR Figura 53.15 - Esquema representativo da atividade deflagrada
curto (110_milissegundos) e QRS estreito, caracterizando a pré-
excitação hissiana. (8) Observa-se PR curto (110 milissegundos)
e QRS alargado (presença da onda delta) caracterizando a pré- - Reentrada (reexcitação pelo mesmo estímulo entre várias
excitação ventricular células) (Fig. 53.14). Geralmente, a reentrada ocorre
por um .. combinação de bloqueio unidirecional e con-
dução lenta.
traduz em ulargamcntu (QNS I(//:~(}) levando sua duração além
• /uivtdadc deflagrada (rccxcitação pelo mesmo estímulo
dos 120 milissegundos.
numa única célula). É um mecanismo conhecido como
pós-despolarização ou pós-potenciais (Fig. 53.15).
Mecanismos das Arritmias Cardíacas
A maioria das arritmias é originada pelos seguintes mecanismos: '"
VI

--------------------------------------------~ t
• Distúrbios do automatismo:
- Automatismo normal: taquicardia ou bradicardia sinusal
inapropriadas. parassistolia etc. (ver Fig. 53.6).
Diagnóstico e Tratamento
- Auunnatismo anormal: taquicardia ventricular lenta
dos primeiros dias pós-infarto do miocárdio .
das Bradiarritmias
• Distúrbios do dromotropismo (condução):
- Pré-excitação (aceleração - pré-excitação hissiuna c Juan Carlos Pachón Mateos
pré-excitação ventricular),
- Bloqueios (retardo ou interrupção). José Carlos Pachón Mateos
Remy Nelson Albornoz
Enrique Indalécio Pachón Mateos

INTRODUçlo
Existem poucas áreas na medicina nas quais a tecnologia tenha
contribuído de forma tão decisiva quanto no tratamento e prog-
nóstico das bradiarritrnias. Os marca-passos cardíacos atuais
devolvem vida normal para os pacientes, tanto em sua qualidade'
quanto em relação ao tempo de sobrevida.
Em 1883, Gaskell, fisiologista inglês, descobriu que a des-
A
Área de fibrose
B truição da região do nó atriovcntricular provocava claramente
(obsUculo)
uma dissociação entre o ritmo dos átrios e o ritmo dos ventrículos,
estes com uma frequência menor, a que denominou bloqueio
cardlaco, Em 1930, Hyman idealizou um marca-passo com
gerador elétrico manual c publicou trabalhos importantes a
respeito do tratamento elétrico da parada cardíaca, antecipando
li utilidade da estimulação cardíaca artificial quando cessa a
utividade espontânea. Em 1958, Senning realizou o primeiro
implante de marca-passo cardíaco com fonte interna de energia.
Em 1959. Furrnan demonstrou a possibilidade de estimulação
endocárdica por via transvenosa consolidando as bases da
moderna estimulação cardíaca'. Em 1965. Adib Jatene e Dé-
do Kormann no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia cons-
Figura 53.14 - Esquema de diversos tipos de reentrada. (A) Reen- (ruíram e iniciaram a fabricação dos primeiros marca-passos
trada em torno de uma cicatriz, fibrose ou colo de aneurisma, e eletrodos nacionais largamente utilizados em nosso meio c
geralmente responsável por taquicardia ventricular pós-infarto em toda a América do Sul.
do miocárdio; * = ponto de bloqueio unidirecional. (8) Micror-
reentrada na junção Purkinje-músculo comumente causa de ex-
tra-sístoles e taquicardias ventriculares não sustentadas. A = BRADIARRITMIAS
observa-se a condução lenta; B = ponto de bloqueio unidirecional.
(C) A = circuito da reentrada nodal; B = macrorreentrada atrio- Considera-se biadiarritmia uma frequência cardíaca menor que
ventricular, utilizando um feixe anõmalo. (D) A = reentrada do 60bplll. Evidentemente esse conceito é relativo à situação
flutter atrial típico comum; B = exemplo de macroreentrada ramo- metabólica e ~l idade do paciente mesmo porque freqüência
a-ramo com descida do estimulo pelo ramo direito e subida pelo cardíaca de 50bpm ou menos, é normal durante o sono ou em
ramo esquerdo; C = reentrada em veias pulmonares pacientes idosos, assim como uma freqüência de 70bpm é
Doenças Cardiovasculares • 519

~ bradicardicu cm recém-nascidos ou em pacientes com febre. como umiloido-,c. colagcno cs. ou ainda por traumatismo direto
~ Isso demonvtra que o diagnóstico de bradiarrirmia depende do nó vinusal pa ..sível de ocorrer durante cirurgia cardíaca':'.
~ do quadro clínico do paciente", A bradicardia sinusal de origem farmacológicu é de grande impor-
..,. tfinda diagnósrica tendo em vista sua relação com n introgcnia.
'" Eletrocardiograma na Doença do Nó Sinusal. O
Causasde Bradlarritmias achado mail. típico é u bradicardia sinusut persistente acorn-
Dc forma simplificadu. a~ causas dc brudiarriuuins podem ser p.anhad.a .ou mio de paradas sinusais (Fig. 53.17) e bloqueios
agrupadas, conforme critérios anutumofuncionais. cm quatro smoatrtars, Evcntuulrncntc. existe ritmo de escape juncional.
grupos: O eletrocurdiogruma na doença do nó sinusul é apresentado
no Quadro 5:t I.
• Causas auronômicas.
• Doença do nó <inusal. Bloqueios Atrioventriculares
• Bloqucio mrioventricular.
• Bloquciov imruventriculares. Os bloqueiov urrioventriculares podem causar bradicardia. apesar
tia frcqüência vinuval ser normal (nos ca..ov sem doença sinusal
associada) e. quando irrevcrsfvcis, Iroqücntcmcntc necessitam
Causas Autonómicas de. im~)lante de marca-passo. São dividido-, em bloqueios de
pI'l111CIrCJ. segundo c terceiro graus (Fig. 53.18).
Sãorcprescmada- pela sfncopencurocnrdiogênicn c pela vfndrome
do seio carotfdeo. Ne-tas. li hrud iurriunin ocorre por açâo tio ~is- Bloqueio Atrioventricular de Primeiro Grau.
temanervoso nutônorno. mesmo ií ausência de lesões tio sistema Caracteriza-se por condução I: I porém com retardo. O eletro-
éxcito-condutor cardíaco. É necessãrio que a inervação car- cardíogramn mostra o intervalo PR > 200 milissegundos.
díaca eferente paravsirnpãtica esteja íntegra. Localiza-se mais freqüememente no nó utrioventricular sendo
Sincope Neurocardiogênica. Nessa condição ocorre cm geral ocusionudo por processos inflamarõrios. isquêmicos
síncope por bradicardia. assistolia e/ou vasodilatação graves, em ou farmacológicos. geralmente reversíveis",
decorrência de diversos esurnulos, tais sejam dor. emoções. Bloqueio Atrioventricular de Segundo Grau. Nesse
estresse. parada <übira de esforço físico. sangrumcnto. per- tipo existem alguma» ondas P bloqueadas. O tipo 101/ wenckebad.
manência em posição ortostãtica. estimulação si I11p:ítÍI.:a.etc. se caractcrizn por aumento progressivo do intervalo PR até o
Truta-se de um reflexo mediado pelo <;i~telllllncrVOMIIIUI<;nO- surgi rncruo de uma onda P bloqueada seguida tlc encurtamento
moque parece ter sido muito importante na evolução dos uuimuis do próximo intervalo PR. que inicia um novo ciclo de alarga-
superiores, para ~rest:.rv:lI: " vida cm ~~tuaçôc, cxtrcmns de mento do PR e bloqueio. O tipo /I 011 Mohir; /I cnrncrcrlzu-se
ataque e defesa. b 111Ulto lrcqücruc cm jovens, Normalmente pelo aparecimento de P bloqucuda sem alargamento prévio do
é tratadacom orientação ao paciente C uso de beta-bloqueadores. intervalo PR. ou seja, o bloqueio ocorre de forma incxpcruda.
retentores hídricos. depressores do inotropismo. etc. Nos casos Tanto o bloqueio tipo I quanto o tipo II. cm casos extremos
muito gra\cs - stncop« neurocardiogênica maligna - pode conduzem ao tipo 2: I que apresenta ondas P bloqueadas e con-
ser necc ãrio implante de marca-passo bicamcral com pro- duvidas de forma alternada. Quando ocorrem várias ondas P
gramação especffica. em razão de ineficácia farmacológica. bloqueadas consecutivas. o bloqueio é con iderado de alto grau
011 de grau avunçado',
Sindrome do Seio Carotídeo. Ao contrário da sfnco-
pe ncurocardiogênica esta é observada. tipicamente. em ido- Bloqueio Atrioventricular de Terceiro Grau. Ncssa
sos. Doença- degenerativas. principalmente a arteriovclerosc, situação. não existe relação entre as ondas P e o complexos
compromerem a parede das artérias ocasionando endurecimento QRS. O ritmo atriul é usualmente sinusal e o ritmo ventricular
que provoca irritabilidade dos prcssorrcccptorcv, le~~es pa- é originado em foco de escape elajunção (mai .. freqücnrcmcntc
110 bloqueio congêniio) ou cm foco de cscnpe ventricular (gc-
cientes.a compressão ou o cstirurnento das an6ria, toracocervicais
provoca intensa resposta dos prcssorrcccprorcs com bradicur- ral.mel.l.t; n~ bloqueio adquirido). Este líltil1lO rem QRS largo
dia intensa (bradicardia sinusal e/ou bloqueio nodal airiovcn- c trcqüência lenta (30 a 40bpm).
tricularfuncional) e vasodilatnção gcncrulizadu com hipotensão
grave. Essa resposta freqüeruemente ocasiona tonturas e/ou Bloqueios Intraventrlculares
síncope, sendo conhecida como sindrome do seio carotideo
IJiperstllsfl·e/'.Tipicamente. são pacientes idosos referindo esses Aparentemente, com a intenção de garantir a estimulação
sintomas quando rcal il:lln manobra que compri mem ou es- ventricular c otimizar o sincronismo do miocárdio ventricular
tiram 1\ região da' carótidas (Fig. 53.16). a ev~luçãl) nalUral constituiu três ramos (fascículos) prineipai~
no ~Istcma dc condução intraventricular. Es,es ramos funcio-
nam como trc:- eletrodos de marca-pa\so. de forma quc a cSti-
Doença do Nó Sinusal Illulação ventricular persiste pelo terceiro. I1lc~mo tcndo havido
o nó )inll ai é ii estrutura respol1s(tvel pela manutenção do
ritmocardfaco normal. graças i\ ~ua rique/a em células ,) (células --\.-r' ~ •
mllrca·pa~so). :ldocnça do nó sinusal existc Ic~ão do nó sinusal OtrivaçAo 02 - Massagem do seio ca,olldto - T,o~ado
e/oudajunção ~inoatrial e da pareue :ltrial. O cletrocardigrama. contfnuo
nessespacicnte\. freqUentemente apresenta bradicardia inusal,
que é sua manife l:lção mais típica!.). .---------------------.
Bradicardia Sinusal. Pode ser funcional. orgãnica ou
farmacológica. A bradicardia funcional ocorre na!> pessoas
.--------------~~--__.
condicionada, jj\ical11entc para os esportcs. na c~tcno,e :lórtica.
nahipencn ão :lncri:ll não adrenérgica. na \'agotonia primári:I.
etc. A bradicardia l>inu~al de origem orgânica ocurre em rado Pousa de 13.390ms
de degeneração e dcstruição das célula~ P. dc tran,içiio c de
Purkinje.freqiielllcmellle ocasionadas por lIlioc:lrdioe~clerose. Figura 53.16 - Massagem do selo carotídeo em portador de
coronnriopmias.cardiomiopatias. ll1iocardite. doenças inlihrativas. síndrome do seio carotldeo
520 • Tratado de Clínica Médica

QUADRO 53.1 - Eletrocardiograma na doença do n6 sinusal


• Holter 011 eletrocardiografia dinâmica: é de extrema
utilidade. Permite a correlação clínico/eletrocardiogrã-
• Bradicardia sinusal fica que é fundamental para indicar ou contra-indicar
• Bloqueio sinoatrial um marca-passo cardíaco. Éo exame mais indicado quando
• Parada sinusal os sintomas são freqücnrcs.
• Ritmo de escape juncional • Looper: permite o registro contínuo do elerrocnrdiograma.
• Pausa longa pós-extra-slstoles supraventriculares Cruo haja sintoma. o paciente acionao sistema, Atualmcnte
• Fibrilaçlio atrial com baixa freqOência ventricular existem sistemas que podem ser implantados e permitem
• Instabilídade de ritmo põs-cardicversêo a monitoração por período de até 2 unos. trausrnit indo o
• Slndrome braditaquicardia eletrocardiograma de forma não invasiva (telemetria).
Esse exame é utilizado quando os sintomas são raros e
não 1'0r:1111 esclarecidos de outra forma.
o bloqueio dos ourro-, dois. O clctrocardiogrnmu nos informa • Teste ergométrico: permite estudar ti resposta cronotrõplca
se existe bloqueio unifascicular. bifusciculur c. cvcmualmcn- do n6 sinusal que normalmente está reduzida na doença do
te. trifusciculur. n6 sinusnl. assim corno os bloqueios dependentes da
Hemibloqueios. O ramo esquerdo do feixe (11.: His bifurca- freqüência.
SI.!nos henri-ramos ântcro-superior e póstcro-infcrior no plano • Tilt-rest: trata-se de exame não invasivo pura identificar
frontal (em 60% das pessoas pode existir um terceiro herni- sínccpes de origem funcional. O paciente é colocado cm
ramo chamado de fa cículo medial ou médio-sepial que pode decúbito dorsal numa mesa que. posteriormente é inclinada
ser mais ou menos desenvolvido). Caracteristicamente o SÂQRS e estacionada entre 60 e 80°. A frcqüênciu cardíaca. o
aponta para o fascículo bloqueado (acima de -300 no ântero- elctrocardiograrna e a pressão arterial são constantemente
superior - desvio para a esquerda - e maior que + 1200 no registrados. Pacientes com síncope de origem neurocar-
pósrero-inferior - desvio para a direita) (Fig. 53.19). diogênica tendem a apresentar bradicardia, hipotensão,
Os hernibloqueios isolados não necessitam de tratamento tontura .. pré-síncope e mesmo síncope, constituindo tilt
e não são indicativo de marca-passo. Entretanto, seu reco- test positivo.
nhecirncnto é essencial pois podem indicar a presença de um • Estudo eletrofisiolâgico transesofágico: é método de grande
processo evolutivo para bloqueio atriovcntricular completo. utilidade principalmente quando o eletrocardiograma e
o Holtcr não foram conclusivos. Permite estudar o auto-
matismo e a condução sinoatrial, a condução intcratrial,
Investigação das Bradiarrilmias a esrabi lidado clétrica da. paredes atriais c muitos aspectos
da condução atriovcntricular, vcrificundo-sc também Q
Muitas vezes suspeita-se de bradiarritmia porém a mesma não
prc cnça ou não de feixes anômalos '.
I.!stá presente durante a consulta. Para esses casos, existem
• Estudo elelmfisio/nf:ico invasivo: é real izado no laboratório
diversos métodos de inve tigação e os exames complementares
dc carcrcrismo cardíaco com posicionamento de clcrrodos
mais utilizados são os seguintes: temporários no átrio direito. ventrículo direito, região do
feixe de His e seio coronário', Está indicado na suspeita
• Eletrocurdiogrtnnn: é o mais útil. no entanto, seu curto dc lesões ocultas do. istcma His-Purkinjc, de taquicardia 9<
perlodo de observação reduz suu scnsibllidndc. ventricular ou de feixes unôrnalos associados. ou quando '('
se pretende o tratamento intervencionista definitivo. ~

CONCEITOS BAslCOS DE ESTlMULAçlO CARUIAel ix


A estimulação cardíaca é possível com relativa facilidade gruças
à natureza incicial do miocárdio. Este funciona corno uma
única célula. de forma que um único estímulo aplicado cm
qualquer parte do miocárdio se propaga imediatamente, por
condução muscular. Rara todas as células sem a necessidade
de inervação ou de mediadores químicos".

limiar de Estimulação e Estímulos


O limiar de estimulação é a quantidade mínima de energia capaz
de despolarizar o miocárdio. De acordo com II quantidade de
energia igual. inferior ou superior ao limiar. os csumulos podem
ser classificados em limiares. sublimiares c supralimiares.

I'

Figura 53.17 - Trêsexemplos de doença do nó sinusal. (A) Bradi-


cardia sinusal acompanhada de parada sinusal que origina uma
pausade 4.300 milissegundos. (8) Traçadoscontlnuos. Verifica-se
ritmo slnusal com freqOência normal, porém, com pausas iguais
ao dobro do ciclo básico, caracterizando a presença de bloqueio
sinoatrial do segundo grau do tipo II. (C) Síndrome braditaqui-
cardia. Alternância de bradicardia e parada sinusal com perlodos
de fibrilação atrial Figura 53.18 - Esquema dos bloqueios atrioventriculares
Doenças Cardiovasculares • 521

Hemibloqueio
póstero-inferior Estlmulos supralimiares

01ir
,,
\
,
~
,
I

aVF_fé SÁO;S_J\_02
Estrmulcnsubhmiares

o 1.0 2.0
largura de pulso (ms)
Figura 53.19 - Esquema da ativação ventricular pelo ramo es-
querdo no coração normal e nos bloqueios fasciculares do mes- Figura 53.20 - Gráfico de intensidade/duração. Quanto menor
moramo (hemibloqueios). O ramo direito não está representado. a intensidade de um estímulo, maior a duração necessária para
Observa-se que o SÂQRSaponta para o hemi-ramo bloqueado. que ele seja capaz de despolarizar a célula. Essegráfíco divide os
Dessaforma, desvia-se para cima e para a esquerda no hemi- estímulos em três categorias: os localizados acima e à direita da
bloqueio ântero-superior e para baixo e à direita no hemibloqueio curva são os supra limiares; os localizados à esquerda e abaixo
póstero-lnfericr, FAS= fascículo ântero-superior: FPI = fascículo pós- são sublimiares e, finalmente, aqueles que coincidem com a curva
terc-interlor constituem os limiares

~
o-
~ A moderna estimulação artificial do coração fundamenta-se de pólos cm contare com o coração. podem ser rnonopolares,
~ nautilização de estímulos de natureza elérrica, que apre. cntam quando somente um pólo está em contaio com o miocárdio
~ amplitude (normalmente medida em volts) e duração ou largura °
(geralmente pólo negativo), ou bipolares. quando os dois pólos
:lO de pulso (normalmente medida em milissegundos). Quanto estão cm contare com o miocárdio. Quando somente os átrios
maior a duração, menor a amplitude do pulso necessária para ou os ventrículos são estimulados os marca-passos são unicarne-
ser eficaz, até um limite mínimo que é a I'heoIH/S(! (intensidade ruis. Os marca-passos são denominados bicamerais (Fig. 53.22. B)
limiar para estímulo de duração infinita) (Fig. 53.20). quando átrios e ventrículos são estimulados/monitorados pelo
Os estímulos naturais. entre células cardíacas são também mesmo sistema (arualmente já existem marca-passos multicamerais
de naturezaelétrica e constituem °potencial de ução, apresen- conhecidos como ressincronizadoresy: Com relação à posição dos
ltll1do uma largura de pulso (duração do potencial de ação, eletrodos os sistemas podem ser endocárdicos (implantados por
250 li 400 milissegundos) que corresponde aproximadamente via transvenosa) ou cpicárdicos (implantados por toracotomia).
no intervalo QT e uma amplitude (amplitude do potencial de
ação, 110 a 120mV). Os estímulos da estimulação artificial Programabilidade dos Marca·Passos
sãooriginados pelo gerador do marca-passo e possuem uma
A evolução da microeletrônica permitiu o aparecimento dos
amplitude geralmente igual a 3.500 a 5.000mV (3,5 a 5 volts)
marca-passos que apresentam a possibilidade de programação
e uma largura de pulso de 0.4 a I rnilissegundo (Fig. 53.21). não invasiva depois de implantados. Isso se dá em função de
Independentemente dessas características. desde que o cstí-
troca de informações entre programador e o gerador do marca-
mulo seja limiar ou supra-limiar. o resultado será o mcsmo-
passo mediante telemetria ou radiofreqüência. Dentre muitos
a despolarização do miocárdio (Fig. 53.20).
parâmetros programáveis, destacam-se: frequência. energia do
pulo (amplitude e/ou duração do pulso). sensibilidade, período
MARCA·PASSOS CAROIACOS refratário, modo de estimulação, histerese. resposta automática
A utilização de marca-passos cardíacos totalmente implantáveis de frequência etc.".
parao tratamento a longo prazo das bradiarritrnias constitui
umadas mais espetaculares intervenções médicas nos últimos Resposta Automática de Freqüência
30 anos (Fig. 53.22). Os marca-passo convencionais são sis- Alguns marca-passos são equipados com biossensores que per-
lemasque monitoram constantemente o ritmo cardíaco. estimu- mitem detectar continuamente a aiividade física do paciente,
landoínlnterruptarnerue o coração desde que a freqüência cardíaca
espontâneaseja menor que a programada". Basicamente são
constituídos por:
mV Volts
• Fontede energia: a fonte de energia ou bateria dos marca- +20
passos deve alimentar o circuito eletrônico e ao mesmo O 6
tempo deve fornecer a energia de cada pulso durante toda 5
a vida útil do sistema. 4
• Circuito eletrônico: o circuito é componente fundamental 3
do marca-passo sendo responsável por ua funções. Os 300ms
2
circuitos aruais conciliam grande complexidade e diver-
sificação de funções. miniaturização e baixíssirno con- -90
sumo de energia. O 100 200 300 400 o 0,5
• Eleirodos: os geradores dos marca-passos são conectados Estimulação cardíaca Estimulação cardíaca
ao coração por meio de clctrodos, que são filamentos natural (ms) artificial (ms)
condutores revestidos por materiul isolante, biológica-
mente inerte, Figura 53.21 - Esquema representativo da comparação entre a
estimulação cardíaca natural e a artificial. A primeira se proces-
Tiposde Marca·passos sa com pulso de baixa amplitude e grande duração (potencial
Osmarca-passos podem ser temporários (utilizados para o tra- de ação) e a segunda é constituída de pulsos de grande ampli-
tamentode bradiarritmias reversíveis) ou definitivos (para trata- tude e curta duração (pulso do circuito de sarda dos marca-pas-
mentode bradiarritmias irreversíveis). De acordo com O número sos cardíacos). Ambos. normalmente. são supralimiares
522 • Tratado de Clínica Médica

• QI/(II'/(I letra: ideruifica as capacidades de progrumabilidade


c se apresenta telemetria ou resposta de frequência - P
(programável). M (mulriprogramâvcl). R (com resposta
de freqüência). C (telemetria) e O (nenhuma).
• QI/il//a letra: identifica a presença ou não de funções
antitaquicardia - P (pllcil/g). S (.\lllwk). D tpacing + .\·IIOCk)
e O (nenhuma).

Normalmente. o marca-passo ISidentificado pelas três pri-


meiras letras. Os mais geralmente urilizados são os seguintes:
AAI (Fig. 53.23); VVI (foig. 53.24) e DDD também chamado
de marca-passo fisiológico (Fig. 53.25).

Noções de Eletrocardiogralia dos Marca-passos


A c Cardiacos
o clctrocardiogrnma dos marca-passos apresenta uma caracte-
B rística peculiar que é a espículu (uncfuio clérrico originado pelo
estímulo do marca-pás o). Está ausente somente quando o marca-
Figura 53.22 - Esquema representativo dos principais compo- passo está totalmente inibido pelo ritmo próprio do paciente
nentes da estimulaçào cardlaca moderna. (A) Gerador do mar- ou. em condições patológicas. corno na fratura completa de
ca-passo. constituído por uma bateria e um circuito eletrônico clctrodo ou falência total do gerador. Normalmente é uma onda
hermeticamente fechados numa cápsula de titânio. (8) Eletrodo muito estreita e de grande amplitude nos sistemas unipolare .
do marca-passo. constituído por um condutor metálico MP-35N 'os sistemas bipolares freqüeruerncntc a espícula é muito reduzida
Nickel-Alloy e por material isolante. geralmente silicone ou e até mesmo invisível em algumas derivações. Desde que eficaz,
poliuretano. (C) Posição tipica dos eletrodos intracardíacos num a cspfcula é seguida pela despolarização cctópica do miocárdio
marca-passo bicameral. atrioventricular da câmara estimulada (átrio ou ventrículos).

ajuvrundo a freqüência de cstimulução para obter uma propor- Intervalos


cionalidade entre a frequência cardíaca e II demanda metabólica
do momento. Esses sistemas claramente melhoram a capacidade São quatro:
física do paciente. desde que o miocárdio upreseme condições
• Intervalo de pulso: ISo intervalo de tempo (rnilisscgundo)
fuvorãveiv. aproximando os si~tcllla~ artificiai» à fisiologia car-
entre dual> cspículus consccuilvas da mesma câmara.
diovascular normal.
• III/cI'I'fIlo de escape: é o intervalo entre um QRS natural
sentido e a próxima csplcula.
Modos de Estimulação • Largura de pulso: é a duração de um único pulso do
marca-passo. ormalmente é programável.
Em \ bw da grande variedade dos marca-passo cardíacos • Intervalo atrioventricular: somente existe em marca-passos
modernos. fez-se necessária a criação de um código para definir bicamerais. É o intervalo entre a espículas atrial e
o modo de estimulação que está sendo empregado num deter- ventricular do mesmo ciclo.
minado momento. O código atual foi proposto pela North
Amcrican Society of Pacing anel Elcctrnphysiology ( ASPE)
c pelo British Pacing and Elcctrophysiology Group (BPEG).
Batimentos de Fusão e Pseudofusão
sendo constituído por cinco letras: Quando a câmara é despolarizada em parle por estímulo natu-
ral e em parle pelo estímulo do marca-passoocorrem os batimentos
• Primeira 11'Im: rcprcventa a câmara estimulada - A (átrio), defusão. Quando ti c pícula do marca-passo não modifica a mor-
V (ventrículo). O (átrio e vcntrfculo) e O (nenhuma). fologia ele IIIll batimento natural. esse fenômeno é conhecido
• S('gl/lIda letra: identifica a câmara sentida - A. V. Dou corno batimento de pseudofusão (Fig. 53.26).
O (idem).
• Terceira letra: indica a resposta do marca-passo à detecção
de um sinal natural - T (deflagração). I (inibição). D
INDICAÇOES DE MARCA-PASSO CARD(ACO
(deflagração e inibição) e O (sem resposta). IndicaçõeS de Marca-passo Cardiaco Definitivo
Consideram-se indicações para implante de marca-passo cardíaco
ModoAAI
definitivo os seguintes quadros clínicos. desde que irreversíveis
e sirnomãtlcos':
• Síndrome do seio curotfdco hipersensível,
• Síncope neurocardiogênica(forma cardioinibidora maligna).
• Doença do nó inusal.
• Sfndromc brudiraquicardia que não responde a drogas
antiarrftmica .
• 8~lIm~ntO sinus.t ou extr.·slltole atrlal • Fibri lnção atrial com frcqüência ventricular reduzida.
A • int~nI.lo ee pulso (intervalo p6s·pace)
B • intenl.lo após detecçAo (Intervalo pós·sense) • Bloqueio atriovcntricular de terceiro grau.
• Bloqueio atrioventricular de segundo grau tipo I.
Figura 53.23 - Esquemado eletrocardiograma do marca-passo • Bloqueio atrioventricular de segundo grau tipo II.
unicameral atrial (AAI) • Bloqueio atriovcntricular avançado.
Doenças Cardiovasculares • 523

ModoWl • Modo 000


Sem hlft~rMe (A =~~ .I\A.._j /\....__

A -r:tl ., NA N

• Batimento slnusal. ~Xlra-sISlole atrlal ou ventrÍ(ular


A • Intervalo d~ pylso (int~fValo pós·pace)
B B. Intervalo após dtttcçao (Intervalo pós-sense)
Figura 53.25 - Esquema do eletrocardiograma do marca-passo
atrioventricular (DOO). A = estimulação ventricular seguindo uma
Figura 53.24 - Esquema do eletrocardiograma do marca-passo
onda P sinusal; B = estimulação atrial com condvção atrioventri·
unicameral ventricular (WI) cular normal; C = estírnulação atrial e ventricular; O = estimula-
ção ventricular seguindo uma extra-slstole atrial; E = inibição
total do marca-passo por uma extra-sístole ventricular
• Lesão l lis-Purkinjc grave (intervalo II-V> 70 milissc-
gundos).
• Bloqueio de ramo alternante.
Está indicado em procedimentos diagnósticos. ou de forma
São consideradas indicações discut Ivcis: profiláticn lias seguintes condições:

• Paciente com síncopes de repetição e bloqueio bifasciculur, • Controle de emergência de qualquer bradiarrirmia sinto-
sem nenhuma outra causa aparente que justifique OS mática (sinusal ou por bloqueio atrioventrícular);
simomas. • Como profilaxia cm:
• Bloqueio de ramo alternante assintorndtico. - lnfarto agudo do miocárdio com bradiarrirmia ou infarto
• Bloqueio Mobitz II assintornãtico. com QRS estreito. anterior com bloqueio de ramo recente.
• Bloqueio atriuvcntricular congêniro. - Cateterismo cardíaco direito em portador de bloqueio
de rumo esquerdo.
Indicações para Marca-passo Temporário - Grandes cirurgias gerais cm portadores de distúrbios
do sistema excite-condutor do coração",
o marca-passo temporário pode ser transcutânco, esoláglco.
- Testes farmacológicos.
epicãrdico ou transvenosol.6·1.
• Disfunção do marca-passo definitivo em paciente dcpcn-
dente,
Marca-passo Transcutâneo • Pós-operatório de cirurgia cardíaca.
É aplicado com placas adesivas sobre o prccórdio. Utiliza gera- • Simulação de marca-pas o definitivo para escolha do tipo
doresespeciais que produzem pulsos de aha voltagem capazes de marca-passo.
decomandar o coração sem contare direto. Por essa razão. é mal • Procedimentos diagnósticos (estudo elerrofisiolõgico
toleradosem edação sendo reservado ii situações emcrgcnciais. invasivo).
em unidades de terapia inrcm ivn ou durante cirurgias.
Durante o implante de marca-passo definitivo ou temporário
as morfologius da onda P, do QRS e do ST ~ão muito importantes
Marca-passo Esofágico para orientar quanto à posição do elctrodo e qunnto às condições
da junção clctrodo-coração, até permitindo o posicionamento
A grandeproximidade entre o coração e o esôíago permite que um
correto de um clctrodo de marca-passo rcmporãrio, quando
elerrodo intr.l.e~()fágico comande tanto átrios como ventrículos.
não se dispõe de radioscopia (Fig. 53.27 e Tabela 53.1).
desdeque 0\ pulvo» tenham duração e amplitude adequados.
Tomn·sencces ário um gerador de pulsos específlco (cardioe ti-
muledor transcsofãgico)'. A e uimulaçâo atrial transcsofágica é

L<~'~~' , l
facilmente utilizada de forma transitória. para diagnóstico de QRS QRS flMO "'-udof~
bradiou taquiarritmia: .. ou para reversão de taquicardias no pronto-
socorro (ver tópico sobre cardioestimulação transcsofãgica).

Marca-passo Temporário Epicárdico


Épraticamentcutili7ado em toda cirurgia cardíaca. Finos clctrodos
:: 1r-~('-- ::
I
I
I

~~
I
I
I t,
,
,

'- .. ~
IV:
t
,
,
'.. -'
'
.'
I'

~~
I

maleãveis são transfixados no cpicárdio dos ventrículos e/ou átrios 90ms 140ms I t Oms 90ms

sendoconectados a um marca-passo temporário convencional. e 5 esplcula do marca-passo

A estimulação c:! obtida de forma egura e com baixa energia.


Figura 53.26 - Esquema representativo dos fenômenos de fusão
e pseudofusão. No primeiro, o QRS é constituído pela despolarização
Marca-passo Temporário Transvenoso natural e artificial. No segundo, a despolarizeção é totalmente natural,
(Endocárdico) havendo somente a superposição da espfcula do marca- passo. Nesse
caso, no momento da estimulação do marca-passo, a área subjacente
É uma forma extremamente útil e segura para tratamento ime- ao eletrodo já estava despolarizada por vias naturais. ~ importante
diato de bradi c/ou ruquiurritmias. sendo o mais utilizado em observar que o batimento de maior duração é o comandado. O
unidadesde emergência. É colocado por meio de punção venosa complexo de fusão tem duração intermediária. O batimento natural
ou de dissecação. e o de pseudofusão têm duração normal
524 • Tratado de C1inica Médica

TABELA 53.1 - Características eletrocardiográficas endocavitárias durante implante de marca-passo endocárdico temporário

ONDA P' QRS· CORRENTEDE LESÃO(ST)


Veia cava superior Negativa semelhante a AVR Semelhante a AVR Ausente
Átrio direito alto Negativa grande Semelhante a AVR Ausente
Átrio direito médio Isodifásica grande Semelhante a AVR Ausente
Átrio direito baixo Positiva grande Semelhante a VI Ausente
Veia cava inferior Positiva pequena Semelhante a AVF ou D3 Ausente
ventrículo' direito, via de entrada Positiva pequena Muito grande, semelhante a VI Presente, se impactado
Ventriculo direito ponta Positiva pequena Muito grande, semelhante a V3 Presente, se impactado
Ventriculo direito, via de saida Pequena semelhança com AVL Polifásico tipo RSR'S" Presente, se impactado
• É importante realizar o eletrocardiograma completo imediatamente antes do implante, pois os padrões principalmente de AVR;V1, V2 e V6; 02, 03 e AVF;
e AVl podem, por analogia, orientar quanto ao posicionamento do eletrodo endocavitário

SEGUIMENTOCl(NICO DOS PORTADORESDE COMPliCAÇÕES DOS MARCA-PASSOS


MARCA-PASSOS As complicações relativas à estimulação cardíaca artificial podem
Os pacientes portadores de marca-passos definitivos devem ser precoces (que ocorrem nos primeiros 30 dias do implante
ser acompanhados rotineiramente para prevenir disfunções, e frequentemente estão relacionadas com a cirurgia) e tardias.
programar O sistema de estimulação. conforme as necessidades Afortunadamente são bastante raras desde que sejam consi-
clínicas e ajustar o consumo de energia do gerador para se obter derados os cuidados e técnicas pcrtinentesv",
l) máximo de segurança com a maior longevidade possível.
Complicações Precoces
São elas:
Desgaste do Gerador
• Pneumotórax ou hemotórax.
A bateria de um marca-passo é uma fonte limitada de energia c • Sangramento/hematoma da loja do gerador.
apresenta um desgaste progressivo durante a vida útil do sistema.
• Embolismo gasoso.
Os marca-passos apresentam circuitos especiais que detectam • Taquicardia ou fibrilação ventricular.
a queda de tensão da bateria e transmitem diversas informações, • Perfuração atrial ou ventricular.
de forma que o médico pode acompanhar com segurança a dis- • Pericardite.
ponibilidade de energia do sistema. A medida da freqüência • Estimulação frênica/diafragmãtica.
magnética é o parâmetro mais simples e seguro para controlar • Deslocamento do eletrodo.
o desgaste do gerador. Normalmente, os marca-passos redu- • Falha da conexão do gerador.
zem a freqüência de estimulação magnética de 5 a 15ppm vários • Falha de comando e/ou de sensibilidade.
meses antes de seu esgotamento completo. • Infecção.

Avaliação do Comando e Sensibilidade do Complicações Tardias


Marca-passo Ocorrem após 30 dias de implante e atualmente são muito raras:
Quando o marca-passo está inibido pelo ritmo sinusal, o comando
• Falha de comando e/ou de sensibilidade.
pode ser verificado com a aplicação do imã que torna o marca-
• Deslocamento de eletrodo.
passo assincrônico, e portanto competitivo. ou ainda progra-
• Estimulação muscular esquelética.
mando a frequência acima da frequência sinusal. Atualmente,
• Erosão ou pré-erosão.
os programadores permitem a verificação automática do limiar
• Migração do gerador.
de comando. O aumento progressivo do limiar de comando provoca
a falha de comando, cujas causas principais estão enumeradas • Infecção.
• Falha do isolante.
no Quadro 53.2.
• Fratura do eletrodo,
A avaliação da sensibilidade também é feita com programação.
Quando não se consegue detectar li onda P ou R considera-se
existir falha de sensibilidade (Quadro 53.2)
QUADRO 53.2- Causas de falha de comando e/ou de sensibilidade

• Falha eletrônica do gerador


Alto Médio Baixo • Desgaste da bateria do gerador
• Programação inadequada
ÁtriO
direito
-.
v'rV'-- __t\v- r - A1.-1('-
.JI,,-
....J
•.

Fratura do eletrodo
Lesão do isolanté do eletrodo
• Aumento do limiar de estimulação e/ou de sensibilidade

J\ Jfv\
- Inflamação na junção eletrodo/coração

-:
direito ~ ~

Impactado
'Via de salda
- Reação por corpo estranho
- Infarto ou fibrose da região do implante
- Perfuração
- Deslocamento do eletrodo
- Distúrbios hidroeletrolíticos
Via de entrada/ponta
- Drogas antiarritmicas
- Doenças infiltrativas
Figura 53.27 - Principais morfologias do eletrograma intracavi- • Cardiomiopatia grave
tário das câmaras direitas
Doenças Cardiovasculares • 525

eletrõnica, media,", pelo marca-passo. Outra arritmia com pos-


sibilidade de ocorrer cm marca-passos DOO relaciona-se ao
aparecimento espontâneo ou induzido de fibrilação atrial ou
[luuer atrial. Nesses casos. o circuito atrial pode sentir a ele-
Figura 53.28- Falha de sensibilidade de marca-passe ventricular. vada freqüência atrinl e deflagrar uma estimulação ventricular
A terceira espicula cai sobre a onda T induzindo uma taquicardia também com alta frcqüência resultando em comprometimento
ventricular hernodinâmico ou em arritmias mais graves.

Síndrome do Marca-passo
Sem conduçJo venlllculo·atrial
Éuma grave complicação da estimulação cardíaca unicameral ven-
tricular (Fig. 53.29). Ocorre tipicamente em pacientes que apre-
sentam condução vemrículo-atrial provocando contração atrial
quando as valvas atrioventricularcs estão fechada . Isso resulta em
Com conduçAo vcnlllculo·allial refluxo sanguíneo para a circulação pulmonar e sistêmica com
sintomas de hipotensão arterial. palpitações. dispnéia, adinamia.
ele. Esse quadro pode ocorrer 111C~1ll0 na ausência de condução
ventrfculo-atrinl somente por falia de sincronismo atrioventricular,
~ B Onda P retrógrada
... DESfIBRllADORES-CARDIOVERSORES
Figura 53.29 - Esquema do eletrocardiograma
.!. de portador da AUTOMATICOS IMPLANTAVEIS
~ sindrome do marca-passo. Os sintomas decorrem da disfunção
~ hemodinâmica por perda do sincronismo atrioventricular (A) ou Os desfibriladorcs-cardiovcrsorcs automáticos implantáveis
pela ativação retrógrada ventrículo-atrial (8) (DCA[) são próteses implantadas para o tratamento automá-
tico de taquiurritmius graves. Incorporam também um marca-
passo convencional de forma li tratar tanto bradi como taquicardias,
• Falha elerrônicu do circuito. O desflbrllador impluntãvel foi concebido por Mirow ky. na
• Trombose venosa. década de 1960.
• Endocardite.
• Arritmias induzidas ou mediadas pelo mnrcu-pawo. funcionamento do Desflbrllador-cardloversor
• Síndrome do marca-passo.
• Oversensing,
Automático Implantável
Após o implante. o DCAI monitora o ritmo cardíaco, analisando
ArritmiasInduzidasou Mediadas pelo Marca-passo continuamente cada intervalo. Isso permite elas ificã-Ios, dentre
outras. na cguíntes categorias básica:
Arritmias Induzidas
Quandoocorre falha de sensibilidade o marca-passo pode compelir • Bradicardia.
com o ritmo próprio do paciente, ocasionando estimulações em • Ritmo sinusal.
períodovulnerável que podem resultar em taquicardia (Fig. 53.28) • Taquicardia.
ou fibrilação atrial ou ventricular, de acordo com a câmara que • Fibrilação.
estiver sendo estunuluda.
Da mesma forma que um marca-passo convencional o DCA[
estimula, se houver ri co de bradicardia. ou se inibe se existir
Arritmias Mediadas ritmo próprio adequado. Se for detectada uma taquicardia
Estas ocorrem em marca-pás os bicamerais, A mais frequente ventricular o DCA[ poderá tentar revertê-la por estimulação ven-
é a taquicardiapor reentrada eletrãnlra. Geralmente ocorre tricular programada c/ou com cheque de cardioversão sincro-
em razão de uma onda P rctrõgrndn, que é sentida pelo circuito nizada. conforme a programação estabelecida pelo médico.
atrial provocando a dcüngmção no ventrículo. Se a despolarização Finalmente, caso seja detectada urna fibrilação ventricular, o
venrricular origina uma outra onda P retrógrada a situação "c DCAI aplica rapidamente um choque de alta energia para
perpetuacausando uma taquicardia por reentrada atrioventricular desflbrilação (Fig. 53.30).

Figura 53.30 - Registro obtido por tele-


metria da memória de um desfibrilador
r---

~
r-
Ir r +r+r
implantado.A esquerda, observa-se um epi- II ~.
sódiode fibrilaçêo ventricular espontânea i ,
com os registros captados pelo eletrodo
atrial.pelo eletrodo ventricular e por uma J •• r
derivaçãoentre o eletrodo ventricular e a I; ~ ~~ "\
lojado gerador. Os átrios estão em ritmo :!:!
-u
aH/'~;..- i"'\ ,-Q\=
sinusaldurante a fibrilação ventricular. T
1r
O desfibrilador aplica, de forma automá-
tica, uma descarga de 17J entre o ventrículo UI -: AS
17U
vs
direitoe a loja do gerador, obtendo a ime-
diata reversão da fibrilação, abortando o - IllJ ".
~, '"
que seria uma morte súbita ""9
IIU ~
526 • Tratado de Clinica Médica

II.tlt'O~t,,:-,.~t C.: "'AG:-'IoR. (j SooIARO. \I rI "I. Thc chnical .ignoficaoce uf


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IrIl1t)""'If) JII,I pcrmancm pa~~makcr III\<rlll1" C", 11111111>11. v, 58, p. 689, t97~.
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povicionarncnto de etetrodo cndoc311L1no rara 0\3""'1'3"0 cardíaco. Arq. 8,,".
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I 4'1. I'. ~UI. I')X2.
COt)tNt.\1. A. ('"",lo,,', iII" 'h"um.II .......' on....ule '"),,, ....,I•••t ;nf,lIcli'ln: lhe ..rsc IIf I':.«"c,la
IhcH'11Y,t'lin, I'I"IIJI. l'tII'II/~. /./aITII/,I" ",,1.. I t. p, t42. 19M3.
Figura 53.31 -Implante de desfibrilador-cardioversor automá- Gl t OI1'A.S,J, Trnnsvcnou» cnnh ••c I""-In. IcthOll(uc' (", nplionllt clcurodc 11')>lI'"l1in,
tico implantável. Atualmente, a maioria absoluta dos implantes IImt prcvcutiou oi' cvronur) ,inu\ rIJ~C:lIlCnl. CIIIII/III/IIII, v, 42, (l, 701. 1970.
l'ACtlÓN·MI~rEUS. J. C. Marr:.-p3~'OC3rdraco pmli\Ório.III,,'i.\llIlJl'lI.<ildl'll II, ,lltlII:U'
é realizada por via endocárdica 1'".\.5(1 r Arl'i/lII;o (1IE8I<;1MPM. \ 1. p. 2. t991.
"'ALDO. A. L.: WELLS. I. L.: COOPERo r. 11 lcmporary cardiac pacing: OpploUIlOO<
and tcchniques in lhe treatmem of cardrac arrllythmias. Prog. Cardiovasc. Ou..
Implante do Desfibrilador-cardloversor 1.23. p. 451. 1981.
Automático Implantável
'a década passada os DCAI eram implantudox por via epicãrdica
por meio de toracotomia, Atualmcntc, cm vista da grande redução
de volume da próteses e. graça' ao surgimento de clcirodos para
dcsflbrilução endocárdica. são implantados por via endocárdica
Taquicardias Supraventriculares
com técnica muito semelhante ao implante de um marca-passo
convcncionnl (Fig. 5:1.31).
Enrique lndalécio Pachón Marcos
José Carlos Pachón Mateos
Indicações para Implante de
Desllbrllador-cardioversor Automático Implantável
Em vista do grande e rápido avanço da tecnologia nessa área. DEFINIÇAo DE TERMOS
axindicações de DCAl estãoem constante evolução.. o momento, Para melhor compreensão dCSlCcapítulo. seguem as definições
de forma ..intética. con ..idcram-sc :I~ seguintes indicações: de alguns termos que serão utilizados no texto:

• Sobrev ivente de parada cardíaca por taquiarritmia ventricular • Taquicardia: ritmo cardíaco com freqüência maior que
grave (taquicardia ou fibrilação ventriculares). não rela- IOObpm. em repouso.
cionada a causa. reversíveis ou tratáveis (infarto agudo • Supraventricular: território compreendido acima do feixe
do miocárdio. distúrbio hidroeletrolüico, intoxicação. choque de His.
clétrico. trauma eic.). • Taquicardia supraventricular: taquicardia, cuja manu-
• Taquicardia ventricular sustentada. recorrente. mal tolerada. tenção depende do tcrritório supravcntricular,
• Pií,-infano com comprometi mcnro miocãrdico grave (fração • RP e PR: nas taquicurdius com relação RP I: I. esses
de cjcção < 4()(k). taquicardia ventricular não xustcnindn intervalos de tempo são medidos em milisscgundos. res-
e indução rcproduttvcl de tuquicnrdia ventricular sustcn- pccrivamenie do início da onda R até o início da onda P
tada no c tudo clctroflslcléglco invusivo. e do início da onda P até o infcio da onda R subseqüemc,
• Condições de alto risco dependcntev de anomalia ...genéticas, • Derivação esofágica: dcriv ução elcrrocardiogrãfica uni
tai~ sejam a síndrome do QT longo. a síndrome de Brugada. ou bipolar obtida com o pólo explorador ligado a um
a taquicardia ou fibrilação ventriculares catecolaminérgicas. clcrrodo colocado no interior do csôfago, geralmente na
curdiornioparia hipertrófica etc. altura do átrio esquerdo.
• Recentes estudos randomizados têm recomendado o irn- • Ce/{!:. igla de cardioe.Hilllll/a{'(;o trallse.l'ofágica-método
plantc dc um desfibrilador em casos com cardiomiopatia de estudo eletrofisiológico simplificado feito através do
dilatada grave, pós-infarto elo mioc5rdio. com fração ele esôfago, muito úlil na avaJi:tção das taquieardias supraven·
cjcção S 30% independente de arritmias. Essa indicação. triculares. Termo criado pelo autor.
enlrct:lnto. está ob avaliação clínic:l. • A/temâllcia e/étrica: alternância dc amplitude do QRS
numa taquicardia por reentrada alrío\'cmricular (AV) muito
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS encontrada quando ex.istc panicipação de um feixe anômalo.
fl'R\tA '. <; , ROBtNSO:':. G U", or 1I\1r.~arll,,,,, " .....em .•Ler in (UlTcCIIIIII o( I<M~t • /o'{'iM' (/lIôll/a/o: concxão mUllcular anormal entre átrio e
hr..n hlll<l, surr: FII'"IN, v. 9, p. 24~. t95R
2. S \ \ll H~ 1_. \lEI.VtN.M.Sdlt/llIl."'; fllft/IIH urrloHhtlll4ll.Slol'..ulu. f·Ulum. t9S.1
ventrículo fora do si. lema de condução.
PACtlÓN·MATEOS. I. C. E'lUdo ele,rofi"ulógko ,r.III\c\()(.SI<.'(, Rfl"lllll 8""o/ri(il • T(lquic(lrdi{/ paroxístic(/: taquicardia de início e término ~
.t, 111111"·,~I"II r Arri/mla (RE8RAMPA/. v. 2. 11.1. p. 12. t9S9. SlíbilOS. ~
4 Il R\tA;-':, S: tlAYES. D. L. ti PrtluicflllCtlfllim I't'''/IIH. S50 Paulo: FUlUta. 1986 • '!iu/u;m,.dia ;lIcessallle: taquicardia persistenie que não ~
5. ORUFt·S. l.. 5.: FtSCtI. C.: GRIFftN, I. C.: GILI.ETTE. P. c.: Mi\SON. I. W.:
P/\RSONJliE'f. V.(lu;oJclillcs for illlplflll,nlilHI of r:uúi"c pacc",,,kcllo alld :mliaM) Ihnua
responde às 111allObr:l~de revcrlliio 011 q ue retorna I.!spon·~
,kll<c, ('1fI·"III/;'/II. v. 84. II. I. p. 455. 1991. tancal1lcntc logo apó!. a rc"ersiio. t
Doenças Cardiovasculares • 527

~ INTRODUçlo
..
:;: Considerum-sesupraventriculares a) raquicardius cuja manu-
Taquicardlas supraventriculares
Taquicardias da junçao { Taquicardia por reentrada nodal
a'"oventricular Taquicardia por reen1t"da a1tlovenlrlcul ..
~ tenção depende do território supravcmriculnr (estruturas com- (RP < PR) Taqutcardla luncíonal
~ preendida acima do feixe de Iii ..). É fundamental uma nnãlisc
detalhada do clcrrocardiogrnma CECGl em que se devem ob-
ter basicamente a~ 'eguinte:-. informuçõcs:
Taqulcardlas autats Taquleordl' Sln\IUt'
• Identificar a atividndc arrinl. (RP> PR') TaquicardIa a,,,al'
• A relação entre () número de onda, P e de complexos
QRS.
JjJ_ 1 flutler alrlat
FlbrllaçAo 'lrial

• Os intervalos RI' c PR.


• Sempre que possfvel deve-se analisar a morfologia da Figura 53.32 - Tipos de taquicardias supraventriculares. *Quando
onda P nas 12 derivações. Evcnrunlmcnrc. a massagem do a relação atrioventricular é 1: 1. Quando existe comprometimento do
seio caroudeo ou a adenosina iruruvcnosa podem ser úteis nó atrioventricular as taquicardias sinusal, atrial e juncional podem
mostrar relação atrioventricular > 1. Tipicamente no flutter a relação
para mudar a relação P/QRS (indução de bloqueio AV. atrioventricular e 2:1 e na fibrilação atrial e sempre maior que 1
rransirõrio) e. momcntancautcntc, melhorar a visualização
da onda I' além de rnuitus vezes reverter a taquicardia.
correto. a maioria absolutu dos casos. ti taquicardia se apre-
TIPOSDETAQUICARDIAS SUPRAVENTRICUlARES senta regular com QRS estreito (nu ausência de aberrância de
condução ou bloqueio de ramo): [I onda P e o QRS coincidem
Doponto de vista prático. podem ser div ididas em raquicardias OLl estão muito próximos, Não tem umu Ircqüência típica, podendo
juncionais e tuquicardias atriuis. Nas primeiras. há li partici- apresentar entre 130 e 250bpm (comurncntc 170bpm). Eventual-
pação direta do nó AV ou de feixes anôrnalos localizados ao mente. no início da taquicardia. podem ocorrer bloqueios de
nível da junção AV. Geralmente apresentam intervalo PR menor ramo funcionais (aberrãncia de condução) ou até bloqueio 2: I
que o RP. Corururiamente. as taquicardias arriais não dependem no feixe de His, sem interrupção da arritmia. denotando que
da participação dircta do nó AV ou de feixes nnômnlos. sendo a mesma não depende do território ventricular (Figs. 53.35 e
restritas ãs paredes arriais. A permeabilidade do n61\V. entre- Fig. 53.36).
unto, vai determinar a Ircqüência e a regularidade ventricular Morfologia da Onda P'. Corno o átrio c o vcntrfculo
resultante. I em sempre. porém tipicamente. nas taquicardias são aiivado qua e :10 mesmo tempo a partir do nó AV. a onda
sinu ai e atrial o intervalo RP é maior que o PR. Os diversos P durante a taquicardia (P'). cai dentro ou no linal do QRS.
tipo de sas taquicurdias estão resumido .. na Figura 53.32. sendo raramente vixívcl. ormalmentc. o imcrvalo RP' é menor
que 70 milisscgundos. na ausência de antiarrümicos". Diante
de uma taquicardia supravcntricular com QRS estreito, na qual
Taquicardia por Reentrada Nodal não se con cguc ver a onda P. deve- e considerar a reentrada
Estaé a forma maiv comum de taquicardia paroxística supraven- nodal como primeira opção no diagnóstico diferencial.
tricular, ocorrendo em aproximadamente 60% dos casos de
iaquicardias regulares. Nesses pacientes existem pelo menos Implicações Clínicas
duas vias de condução AV. uma lenta c uma rápida. ao nível cio Na ausência de cardiopatia subjacente, a reentrada nodal é
n6 AV (dupla via nodal, Fig. 5:U:I)I. A primeira. conhecida uma taquicardia benigna. Não obstante pode comprometer
como via alfa. tem condução tenra e período rcfrntãrio curto. seriamente :1 qualidade de vidn do paciente. Geralmente as
A segunda. conhecida corno via beta. uprcscma condução rápida crises começam na idade escolar, porém. podem surgir ern
e período refratário longo. A Iormu I,;l)IIIUIl1 de tuqu icurdia por qualquer fase da vida. S110 mais Ircqücntcs entretanto na ado-
reentrada nodal ocorre em razflo de descida do est ímulo pela lescência e no adulto jovem. ÁS crisc-, podem ser quase
via lenta e o retorno pela via rápida. A rotação no sentido assiruomâticas e autolimitadas. em alguns casos, porém em
inverso é responsável pela forma incornum que é muito rara.

Mecanismo de Início da Taquicardia por


Reentrada Nodal
A formamais frcqücntc de início de uma taquicardia por reentrada
nodal é uma cxtra-sfstole supravcmricular (Fig. 5:1.34). De-
pendendo da precocidade. a cxtra-xístole é bloqueada nê! via
de maior período rcfrarârio - via rápida ou beta - e conduzida
pela via de refrararicdade menor via lenta ou alfa. A condu-
ção pela via lenta permite que o estfmulo retorne aos átrios
por meio de condução rcrrõgrudu pela via rápida. Uma vez
no átrio o estímulo pode retornar aos ventrículos novamente
pela via lenta iniciando e sustentando a taquicardia. Figura 53.33 - Esquema do circuito de reentrada da taquicardia
por reentrada nodal. A maior parte do átrio direito e o ventrículo
direito não participam da taquicardia. A direita, está representada
Eletrocardiograma na Reentrada Nodal a região do nó atrioventricular, em detalhe. 1 = nó atrioventricular;
2 = ramo esquerdo do feixe de His; 3 = ramo direito do feixe de
Em ritmo sinu ai o ECG é normal. Pode, entretanto. aprcscnrur His; 4 = valva septal da valva tricúspide; 5 = ventrículo direito;
uma tendência a PR curto (graças 1\ condução rápida pela via 6 = assoalho do átrio direito; A = via lenta; B = via rápida. Na
beta). Durante taquicardia. o ECG lia rccmruda nodal do tipo reentrada nodal tipo comum, a reentrada ocorre de B para A e,
comum é ba ranre rípico e gcruhuomc permite o diagnóstico no tipo incomum, se faz no sentido inverso (de A para B)
528 • Tratado de Clinica Médica

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.~ .~ Figura 53.34 - Traçado de Holter mostrando
o início de uma taquicardia supraventricular
deflagrada por uma extra-sístole supra-
_.... .... -"'- I.A .A . .A. IA fi - "'",.....'~
:A-lA ~ ~ ... ventricular (marcada com a seta). O estudo
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1",.11 ..c""""" 'CII,t dOoi "
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eletrofisiológico realizado posteriormente
confirmou o diagnóstico de reentrada nodal

outros provocam palpitações, tonturas, mal-estar, dor precordial, com exceção do grupo I-B. podem proporcionar um bom controle.
síncopes c mé descompensação ventricular esquerda. Muitas A preferência inicial é para os grupos II (beta-bloqueadores)
vezes somente revertem sob tratamento em unidades de emer- e IV (bloqueadores de cálcio). A quinidina, a disopiramida, O
gência (ver Fig. 53.38). sotalol, a propafenona e a flecainarnida também podem ser
utilizados e geralmente apresentam bons resultados. A amiodarona
Diagnóstico freqücntemerue obtém excelente controle, porém em vista da
Crises de palpitações regulares, freqüentemente sustentadas alta incidência de efeitos colaterais e da necessidade de uso
em paciente sem cardiopatia aparente é o dado mais típico. ininterrupto e prolongado não é uma boa solução.
O diagnóstico geralmente é fácil quando o paciente tem um Tratamento Definitivo. É realizado por meio de ablação
ECG da arritmia. Quando isso não é possível pode se registrar por radiofreqüência rerrnocontrolada por sistema computa-
um episódio espontâneo num exame de Holter ou por meio de dorizado. Dependendo da experiência do serviço, obtém-se
loop-recorder, entretanto, como as crises não são previsíveis, cerca de 100% de sucesso na primeira tentativa sem risco de
essa opção é pouco prática. esse caso, para registrar C iden- bloqueio AV.
tificar a taquicardia. o exame que apresenta a melhor relação
custo-beneficio é a cardioc tirnulação transesofãgica (Fig. 53.37), Taquicardia por Reentrada Atrioventricular
apresentando sensibilidade e especificidade de 82,6'1'0 e 100%, Esse é o segundo tipo mais frcqüente de taquicardia supruvcn-
respectivamente l.', tricular paroxística cm pacientes com coração aparentemente
normal. Sem considerar ofluuer e a fibrilação atrial sua inci-
Tratamento da Taquicardia por Reentrada Nodal dência chega a 30%. O substrato essencial dessa taquicardia
é () feixe unômulo, Trata-se de uma conexão muscular anormal
Tratamento da Crise. A reentrada nodal é uma das taquicardias entre átrio é ventrículo. fora do sistema de condução. Podem ~
que mais re-ponde à massagem dos seios caro: Idcos. O pacien- apresentar condução bidirecional Oll unidirccional AV ou ~
te deve estar calmo e cm decúbito dorsal. Caso não haja rcs- vcntrfculo-urriul (VA). a presença de condução anterõgruda :::
posta. as alternativas farmacológicas mais utilizadas são a -e
~
)(
adenosina (ômg) (Fig. 53.38) ou o vcrapami I (I Omg) intravenosos.
A cardioestimulação transesofágica é altamente eficaz na re- _LLJ !.
.- t-
versão das crises", A cardioversão torácica externa é raramen- I J T II
.L -L 11
te utilizada sendo reservada a casos incomuns com grave
comprometimento hemodinâmico. .
A
A A
I
A
.1 1.111
A A A A A
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IA A A A
I +H ;r-~
AI}!
Tratamento de Manutenção. Nos casos de coração
I-
normal. com episódios muito raros e bem tolerados, o paciente
poderá ser mantido sem medicação sendo orientado a realizar I./ll .1 ln -
manobras vagais ou a procurar um serviço de emergência na , '_'fj\o y.,y
oU
A
'NJ vv vv f.I~ ~I- i"- r
vigência de uma crise. Quando frequentes, as taquicardias devem ~
S mu asa o I
ser prevenidas com o uso regular de aruiarrftmicos. Pelo fato I
de ser arritmia dependente do nó AV quase lodos os antiarrítmicos, 1\k0 ~ .J.r.A. l\IlrL .1I..1J.!l\ II !t\, I
r-
VI" II~ I
I'
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I I , I R R R R
J
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I f-R
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Figur'a 53.36 - Traçados simultâneos mostrando AE (atlvidade


elétrica do átrio esquerdo) e derivações D2 e Vl de superflcie.
Estimulação elétrica do átrio (setas amarelas) seguida da ltbera-
ção de um extra-estimulo (setas vermelhas). O extra-estimulo é
conduzido lentamente aos ventrlculos (usando unia via lenta) e
Reentrad. nodal inicia uma taquicardia por reentrada nodal. A taquicardia sofre
discreta aceleração, ocorrendo inicialmente boquelo de ramo
direito (R laranja) e, em seguida, bloqueio 2:1 no His-Purkinje.
Figura 53.35 - Eletrocardiograma da reversão de uma taquicardia Observa-se que a atividade atrial (A) ocorre simultaneamente à
por reentrada nodal para ritmo sinusal. As setas da esquerda atividade ventricular (R) até que surge o bloqueio. quando a
mostram ondas r em V1 originadas pela onda P (pseudo-r') que relação atrioventricular passa a ser 2:1e a freqüência da taquicardia
desaparecem logo após a reversão da taquicardia se reduz pela metade
Doenças Cardiovasculares • 529

geralmente é vivívcl lima onda delta em ritmo sinusal (pré-


excitação ventricular). A~ raquicnrdias por reentrada. media-
das por esses feixes, são caructcrizudas por macrorreentrada
ortodrômica, na qual o evtünulc desce pelo sistema de condu-
ção normal (QRS estreito) c sobe pelo feixe anómalo. ou por
macrorreentradaantidrômica. na qual (J estímulo circula em
sentidoinver o. descendo pelo feixe anómalo (QRS largo) e Figura 53.38 - Traçado obtido de monitor em pronto-socorro.
subindo pelo nó AV. eMC capítulo. serão abordados somente Observa-se taquicardia por reentrada nodal à esquerda do ele-
osque apresentam condução unicamente vcntrfculo-atrial.também trocardiograma. Após infusão de adenosina, ocorre reversão da
chamado dcfei.res nCIIIIM. pois não mostram nenhuma ma- taquicardia seguida de uma pausa (P) e, em seguida, ritmo sinusal.
A alteração da linha de base se deve à movimentação do paciente
nife tação cm ritmo xinuxül. Exivrcm dois tipos conforme a
em razão de desconforto gerado pela açâo da adenosina
velocidade de condução: feixe:. rápidos c lentos. 01>primeiros
são muito mai Ircqücmc-, na proporção aproximada dc 6: I.
Nes es pacientes. a condução unrcrógrudn (/\V) se faz somente rérn. tipicamente maior que 70 mitis-cgundos'. Contrariamente
pelas vias normai-, e a retrógrada (VA) pelo feixe anómalo ii reentrada nodal. nessa taquicardia não é necessário retardo
(pode existir também condução rcrrógradn por vias normais). AV importante para ser iniciada.
A taquicardia ocorre porque o estímulo ntivu os ventrículos Implicações Cllnicas. Apesar de ser encontrada em
pelas vias norrnai-, e volta aos átrios pelo teixc :1110111;110. qualquer idade. a taquicurdiu por reentrada AV por feixe rá-
pido é mui frcqücnic na infânciu. Tipicamente essa arritmia
Taquicardia por Reentrada Atrioventricular é paroxística tendo início c término súbitos. Nessa taquicardia,
por Feixe Rápido o fator limitante da Ireqüência é o retardo fisiológico do nó AV.
Neste caso. quando o n6 AV tem condução rápida a freqüência
Este é o segundo tipo mais freqücntc de taquicardia supraven- da taquicardia pode ser muito alta e causar importante com-
tricuJarem portadores de coração aparentemente normal. Ocorre prometimento hernodinâmico. A tolerância clínica depende da
aproximadamente em 30% dos casos. Tipicamente têm início Ireqüência durante a taquicardia, das condições mlocárdicas
súbito originado por uma extra-sístole ventricular ou supraven-
e da presença de patologias associadas. tais como valvopatia
tricular (Fig. 53.39).
ou coronariopatia.
Alternância Elétrica do QRS.Trata-se de uma alternância Diagnóstico. A!, considerações diagnõsticas ão muito seme-
deamplitude entre complevos QRS observada pelo menos numa lhantes ã.. da reentrada nodal. A história clínica é bastante
derivação (Fig. 53.40). facilmente vista no ECG. (~originada característica. Crises de palpitações regulares. frcqücmcmente
por ativação repetitiva c muito rãpidu do sistema de condução susteruada-, em paciente sem curdioputia aparente é () dado
normal. Como a Ircqüência da taquicardia por reentrada AV mais típico. É importante afastar a víndromc de pré-excitação
por feixe rápido é gerulrncnte maior que a Ireqüência da reen- ventricular. confirmando-se a ausência de onda delta durante
tradanodal. a altemànriu elétric« é muito típica de~,a taquicardia. o ritmo sinusul. pois durante a taquicardia com QRS estreito
porém é muito mm na reentrada nodal. Dessa forma. a prc. cnça i ..o não é povsfvcl. O diagnõsrico geralmente é fácil quando
de altemõncia elêtrica numa taquicardia com QRS estreito su- o paciente tem um ECG da arritmia. Caso contrário pode se
gere que a reentrada AV por feixe unôrnalo rápido é O meca- registrar um episódio espontâneo num exame de Holter ou
nismo mai provãvel. por meio de loop-recorder. entretanto, como as crises não são
Eletrocardiograma na Reentrada Atrioventricular previsfveis c podem ser muito raras. essa opção é pouco prá-
por Feixe Rápido. Vamos considerar somente os casos com tica. Nesse caso, para registrar e identificar a taquicardia, o
feixes anômalos ocultos, ou seja. que apresentam condução exame que apresenta a melhor relação custo-benefício éa
unicamente no sentido ventrfculo-utrial. Não existindo con- cardioesrimulaçâo trunscsofãgica. apresentando alifssima sensi-
dução antcr6grada pelo feixe. durante (l ritmo sinusal o ECG bilidade e especificidade'.
não mostra onda delta. sendo normal, na ausência de outras A avaliação mais completa dessa arritmia é obt ida pelo Estudo
anormalidades. A taquicardia tiplcnmentc é regular. com QRS Eletroflslológico Invasivo.
esrreuo (na ausência de condução aberrante ou bloqueios de
ramo). A freqüência comumcntc é maior do que IHI reentrada
nodal (140 a 280bpm. média de I X3bpm). razão pela qual
é comum a alternância clétrica do QRS('. A relação P/QRS é
obrigatoriamente I: I. O intervalo RP é menor que o PR po-

Figura 53.39 - (A e 8) Traçados mostrando o iolcio de taquicardias


Figura 53.37 - Traçado de cardioesttrnulação transesofágica em por reentrada atrioventrícular, utilizando um feixe anõmalo rápido.
paciente com queixas de taquicardias e sem registro prévio. Em ambos os traçados, as taquicardias iniciam após uma extra-
observar as grandes esplculas de estimulação (*) seguidas da sístole supraventricular (*), mais vislvel no traçado superior. Nesse
liberação de um extra-estimulo (**). Esse extra-estfmulo é con- caso, a taquicardia se mantém com QRS estreito (sem bloqueio
duzido lentamente aos ventrlculos (seta) por uma via de condu- de ramo), permitindo a visualização da onda P retrógrada (setas).
ç~o lenta, originando uma taquicardia por reentrada nodal (8) A taquicardia se mantém, porém com morfologia de bloqueio
sustentada, imediatamente reconhecida pelo paciente (correia- completo de ramo esquerdo. A onda P nesse caso é de diffcil
ç~oc1fnico-eletrocardiogrâfica) visualização, pois está oculta graças ao QRS alargado
530 • Tratado de Clínica Médica

nmiodarona geralmente obtém excelente controle. porém em


função da alta incidência de efeitos colaterais e à necessidade
de uso ininterrupto e prolongado. não é uma boa solução.
Tratamento definitivo. É realizado mediante ablação por
radiofreqüência terrnocontrolada por computador. Essa possi-
bilidade deve sempre ser esclarecida ao paciente. Dependendo
da experiência do serviço obtêm- e cerca de 100% de sucesso
na primeira tentativa. Somente a ablação do feixe ântero-septal
acarreta risco de bloqueio AV. Todas as outras localizações
podem ser tratadas prat icarncnte sem risco.
Figura 53.40 - Traçado obtido durante taquicardia por reen-
trada atrioventricular em que ocorre o fenómeno de alternância Taquicardia por Reentrada Atrioventricular
elétrica mais evidente na derivação V1 (complexos QRSmaiores por Feixe Lento
[* azull alternando com complexos QRSmenores [* laranial). As
duas derivações sâo simultâneas Contrariando a maioria. alguns raros feixes anómalos AV ocultos
apresentam condução lenta. Essa característica permite o
surgimento de 11mtipo de taquicardia por reentrada AV muito
Tratamento da Taquicardia por Reentrada
peculiar conhecido como taquicardia de Coumel, cujo princi-
Atrioventricular por Feixe Rápido
pal aspecto é o seu caráter incessanieê", A presença de dilas
Tratamento da crise. J\ reentrada AV por feixe rápido geral- vias (feixe anómalo e sistema de condução normal), de COII'
mente reponde ii massagem dos seios carotfdeos. O paciente dução lenta (nó AV e feixe anômalo lento) e de bloqueio
deve estar calmo e em decúbito dorsal. Na vigência de hipo- unidirecioual (feixe anómalo oculto, ou seja, apresenta con-
tensão arterial significativa e/ou estresse emocional, essa ma- dução unicamente retrógrada) preenchem todas as condições
nobra é pouco eficaz. Caso não haja resposta, as alternativas necessárias ii reentrada. O resultado é que essa taquicardia
farmncológicas recomendadas são a adenosina (ôrng). a pro- frcqüentemcntc começa de forma espontânea sem a necessidade
cainamida (IOmglkg) ou a propafenona (I a 2mg/kg). O veraparnil de nenhuma extra-sfstole.
I V ( I Omg) e a cardioestimulação rranscsofãg ica também são Eletrocardiograma na Reentrada Atrioventricular
altamente eficazes na reversão das crises. entretanto. 6 rccornen- por Feixe Lento. Nessa taquicardia, o estímulo desce pelo
dávcl afastar previamente a presençade pré-excitação ventricular sistema de condução normal - originando um QRS estreito-
(rig. 53.-11). A cardiovcrsâo iorãc ica externa é raramente utilizada e sobe por um feixe anómalo lento localizado geralmente na
sendo reservada a casos incomuns com grave comprometimento região póstero-septal. Tipicamente. essa taquicardia tem Ire-
hernodinâmico. qüência relativamente lenta porque na descida O estfrnulo sofre
Tratamento de IlUlIlutCII\'ÜO.Assi 111 corno na reentrada nodal. o retardo do nó AV e nu subida o retardo do feixe anómalo.
nos casos de coração normal, com episódios muito raros e bem Essesdois pontos de retardo também facilitam o começo espon-
tolerados. o paciente poderá ser mantido sem medicação, sendo tâneoda taquicardia. sema necessidadede um batimento ectõpico,
orientado a realizar manobras vagais ou a procurar um serviço Dessa forma, a arritmia retorna espontaneamente, após alguns
de emergência na vigência de uma crise. Quando frequentes. batimentos sinusais. resultandoem arritmia incessante(Fig. 53.42).
as tuquicardius podem ser prevenidas com o u o regular de Contrariamente à taquicardia por reentrada AV com feixe rá-
anriurrftuucos ou podem ser tratadas definitivamente pela pido o intervalo RP é maior que o PR pois, geralmente o re-
ablação por radiofrcqüência. Todos os aru iarrúmicos. ca- tardo pelo feixe anômalo (intervalo RP) é maior que pelo n6
pazes de reduzir ou eliminar as extra-sísroles ventriculares AV (intervalo PR).
ou supruveruriculares. ou com efeito beta-bloqueador poderão Implicações Clínicas da Taquicardia por Reentrada
ser utilizados. As drogas dos grupos IA (quinidina, procaina- Atrioventricular por Feixe Lento. Cornurnente estespa-
mida, disopi rarn ida). I B (rncx i lei i 1111). IC (propafcnona, flecai- cientes têm sintomas de palpitações muito freqüenres desdea
narnida). II (beta-bloqueadores) c III (urniodurona c sotalol) infância ou adolescência. A origem congênira do feixe anômalo
têm se mostrado lítei,. J\~~im como na reentrada nodal. a mantém o substrato da arritmia presente por toda a vida. As crises
frcqücntcmcntc são bcm toleradas. porém o carãrer incessante
da taquicardia provoca sua permanência durante longos períodos
podendo conduzir ao aparecimento de dilatação e insuficiência
cardíacas (tuquicardiomiopatia).

Tratamento da Taquicardia por Reentrada


Atrioventricular por Feixe Lento

Tratamento d a crise. As crises raramente são mal toleradas.


Podem ser tratadas com vcraparnil. propafenona, arniodarona
Figura 53.41 - Reversão de episódio de taquicardia por reen- 011 procainarnida intravenosas.As manobras vagais ou a adenosina
trada atrioventricular atravésda cardioestimulação transesofágica. I V podem revertê-Ias, entretanto, graças ao caráter incessante,
Com apenas dois estímulos (EE) por meio de um eletrodo posi- a arritmia geralmente retorna após alguns batimentos sinusais.
cionado no esófago foi possível Interferir no circuito de reentra-
Tratamento de manutenção. Por apresentar dois pontos de
da, interrompendo a taquicardia e restabelecendo o ritmo sinusal.
condução lenta, a maioria dos aruiarrümicos atua nessaarritmia,
Observar que, após a reversão, o QRSé estreito e o PRé normal,
mostrando que não há pré-excitação anterógrada e, portanto, favorecendo sua reversão ou mesmo sua permanência. De modo
o feixe anómalo é oculto. Ê possível também observar a onda P gemi, os medicamentos que têm mostrado melhor resultado
no STdurante a taquicardia paroxística supraventricular, resul- são os bloqueadore de cálcio (principalmente o diltiazcm),
tando num intervalo RP' de 110 millssegundos (setas) os beta-bloqueadores. o soralol c a amlodarona.
Doenças Cardiovasculares • 531

Figura 53.42 - Traçado de Holter mostrando


uma taquicardia de Coumel. Nesse caso. a
taquicardia inicia após uma extra-slstoíe
supraventricular (*) e se mantém muito lenta
em razão de condução retrógrada extrema-
mente lenta pelo feixe. Observar no traçado
menorcomo a taquicardia reinicia com faci-
lidade e reverte-se. apresentando caráter in-
cessante.Aextra-sístole ventricular que inicia
a taquicardia paroxística supraventricular
é conduzida com aberrância tipo bloqueio
de ramo direito (BRO) •• I I I I I I I I '~u.J ..JJ..LIlUJ.LLll'"1 ' .. 'rll'II"IIII"I"!lilll!

Tratamento deflnltlvo. 1\ ablnção por cateter. utilizando a observe compromctimerno hcmodinãmico cm razão de disfunção
radiofreqUência termocuntroluda por computador é o tratamento ventricular ou freqüência muito elevada, cstn indicada a
deeleição. A uplicaçâ« geralmente é realizada ao nível da inserção cardioversão elétrica externa siucroniznda. semelhante ao que
atrial do feixe anômalo.A cura é obtida praticamente cm todos ocorre I1I1S demais taquicurdias. O tratamento farmacológico
os casos sem complicações c sem lesão do sistema de condução envolve o uso de drogas dos grupos II. IV. III, IA ou lC, nas
AV normal (Fig. 53.43). doses habituais. tanto para () trutumcnto inicial como na manu-
tenção. Os pacientes atendidos em unidades de pronto aten-
dimcnto. quando bem compensados e tolerando a taquicardia.
Taquicardia Atrial poderão ser submetidos à tentativa de reversão por estimulação
As taquicardias arriais vão taquicurdlus supravcntriculares com esofágicu. a qual auxilia no diagnóstico (por meio de deriva-
freqUência atri a1geralmente de 150 a 200bpm. Caracterizam-se ção csofâgica). permitindo a reversão em mais da metade dos
porapresentarcm onda I'. precedendo () QRS. com morfologia caso .. ou a transforma cm outra arritmia. como a fibrilação
diferente da onda p vinuva], Como nas demais taquicardias, os utrial, de mai fácil controle fannncolõgico.
mecanismos envolvidos podem ser a reentrada (mais freqUente). O tratamento definitivo é obtido mediante ablação por radio-
o automatisrno ou a atividade deflagrada. freqUência. Apó o mapeamento do foco de origem, a aplicação
da radiofrcqüência elimina a\ células CI1\'oh idas. interrompendo
definitivamente a taquicardia. A arulcoagulação pode ser neces-
Eletrocardiograma na Taquicardia Atrial sária nos cavo-, em que a arritmia persiste por longos períodos.
o ECG da taquicardia atrial é bastante caractcrfstico, porém
exige a observação de alguns detalhes para fuzer o diugnõs- Taquicardia Sinusal
ticodiferencial com a~ ouirns raqulcardlas vupravcntricularcs.
É importante visuali/ur li onda P e verificar qual a relação A:V. A taquicardia sinusal é uma condição cllnica, caracterizada por
ou seja, quantas onda, P cxi-tcm pura cudu QRS. A característica aumento da freqiiência sinusal, acima dos IOObpm, podendo
principal~ ti suu morfologia diferente da onda P sinusul'", Quando ultrapassar os 200bpm. É muito comum na infância e adoles-
3 Ireqüênciu atrial é muito elevada. poderão ocorrer graus variáveis cência, podendo ser fisiológico cm situações ele cstresse físico
debloqueio AV, 2: I.]: I (Fig. 53.44) Oli tipo Wenckebach. gerando ou emocional, ou quando ocorre mCSmO em repouso. como na
muitas vezes taquicardia. com frcqüênciu ventricular irregular. febre. hipotensão, rireotoxicose, anemia. hipovolemin, insu-
semelhante à fibrilação atrial, Manobras vagais poderão acentuar ficiência cnrdíaca congestivu (ICC). lnfano, sfndromc do pânico.
esses bloqueios, permitindo uma visualização mais clara da ati- etc, O diugnósrico pode ser diffcil quando não se encontram
vidade atrial. Quando li relação A:V é I: I, ri análise dos inter- anormalidades estruturais ou alterações clctrocardiográflcas.
valosRP' e P'R poderá facilitar o diagnóstico. sendo comumcnrc Muitas medicações podem gerar taquicardia sinusal, corno os
o RP·>P·R. porém essa relação podcrã rnudar, caso o paciente hormônios tireoidiunos, uminas simpnricomiméticas, inibidores
apresente bloqueio I\V de primeiro grau (Fig. 53.44, A). do apetite. álcool. cafeína. nicotina c atropina. O início da
taquicardia pode ser gradual (por hipcrautomatismo) ou súbito
(reentrada sinoatrial).
Implicações Clínicas da Taquicardia Atrial
o ,intoma da taquicardia urriul é quase sempre palpitação. Se a
freqüência é muito elevada. ou xe h:í uma cardiopatia subjacente
quecomprometa a função ventricular, poderá ocorrer distúrbio
hemodinâmico e até síncope. A taquicardia atrial é comum nas
cardiopatiasestruturais como a isquêmica, cardiorniopatia dilatada.
põs-operarõrio de cirurgia cardíaca. alterações do potássio sérico,
intoxicação digitãlica. doença pulmonar obstrutiva. cic.

Tratamento da Taquicardia Atrial Figura 53.43 - Caso de taquicardia de Coumel durante trata-
mento definitivo. Após alguns segundos de aplicação de radio-
o tratamento da taquicardia atrial deve ser iniciado retirando-se freqüência. ocorre reversão súbita para ritmo sinusal no momento
as possívei causas envol vidas. corno correção hidroeletrolítica, em que se completa a destruição do feixe anómalo. Após a re-
tratamento respiratório, remoção de substâncias tóxicas (into- versão, reaparece o ritmo sinusal normal mostrando ausência
xicação digitãlica), trntnmcnto de miocardire etc.". Caso se de qualquer lesão na condução atrioventricular
532 • Tratado de Clínica Médica

I
Figura 53.44 - Traçadosmostrando taqui-
cardiasatriais com diferentes grausde blo-
queio atrioventricular. (A) Taquicardia
'\
-{) '" - Il,. "'-"- atrial e bloqueio atrioventricular de pri·
meiro grau. O intervalo RP' toma-se me-
_- I- , I~
nor que o P'R e as ondas P ficam ocultas
no final da onda T. (B) A taquicardia atrial
D1 :- ~ \. \ Lj.- mais rápida é conduzida aos ventrículos
na razão 2:1. (C) São necessáriastrês on-
Vtrl- -'-
Cl
=r- I
das P para gerar cada QRS,mantendo a
freqüência ventricular reduzida. As setas
indicam as ondas P em cada exemplo

Eletrocardiograma na Taquicardia Sinusal Para a taquicardia sinoarrial, o esquema terapêutico inicial é


semelhante. porém os melhores rcsul tados são obt idos mediante
o ECG mostra uma taquicardia regular. cm que a onda P pre- ablação por radiofrcqüência terrnoconrrolada.
cede cada QRS e com morfologia idêntica à sinusal, Normal-
mente. o intervalo PR é mantido. porém. pode ocorrer aumento
do PR e a onda P passa a se ocultar sob a onda T do batimento Fluller Atrial
anterior. Nos pacientes com bloqueio AV de primeiro grau, a
onda P pode coincidir com o QRS anterior. dificultando o diagnós- Definição
tico diferencial com a reentrada nodal ou reentrada I\y. Mano- oflutter atrialé um tipo peculiar de taquicardia atrial. Caracteriza-
bras respiratórias e/ou vagais podem alterar transitoriamente se por [rcqüência atrial muito rápida, comumente 300bpm porém
a frequência sinusal ou a condução AV. permitindo o diagnós- pode variar de 240 ii 430bpm. Tipicamente, a freqüência ven-
tico correto (Fig. 53.45).
tricular é igualou próximo a 150bpm cm razão de condução
AV 2: I. Entretanto, pode ser muito alta quando existe pré-ex-
Implicações Clínicas da Taquicardia Sinusal citação ventricular ou pode ser baixa e irregular quando existe
Os pacientes geralmente se queixam de palpitações paroxfsricas bloqueio AV funcional. farmacológico ou orgânico.
ek»: persistentes. Quando eventuais. podem ser conduzidos
clinicamente. porém quando muito freqüenres, ou permanentes, Incidência
podem levar à raquicardiorniopatia. Episódios mais prolongados
geralmente necessitam de intervenção em unidades de emer- Poucos estudos têm abordado a incidência do./ZU/ter. Estima-se
gência, onde os pacientes são submetidos a infusão intravenosa que a incidência seja de 88 casos por 100.000 habitantes por
de antiarrítmicos para tratamento da taquicardia sinusal ou ano. aumentando com a idade e variando de 5 a 587 por 100.000
reversão mediante estimulação esofágicu Oll até cardioversão habitantes se considerada a população com menos de 50 e mais
externa sincronizada, no ca o da taquicardia sinoatrial. de 80 anos. respectivamente!'.

Tratamento da Taquicardia Sinusal Etiologia


No caso de taquicardia sinusal automática, deve-se inicialmente o [lutter atrial é muito raro em crianças e adultos jovens. Em
identificar a causa e afastar () agente causador. Assim, o trata- 70% dos casos está associado a cardiopatia", principalmcme
mento de ICC. febre. tircopatia. hipovolernia, corrige a taquicardia. hipertensiva (30%) e coronariopatia (30%). É três vezes mais
A suspensãode medicamentos.como os broncodilatadores, vaso- frequente na presença de insuficiência cardíaca e duas vezes
consrritorcs nasais ou oftálmicos. drogas, inibidores do apetite,
mais frequente na pneumopatia obstrutiva crônica, Em 30%
cafeína. álcool e outros estimulantes. também reduz muito os
dos casos, II arritmia oco)Tesem nenhumacardiopatia identificável
sintomas. Na taquicardia sinusal inapropriada.é necessárioo uso
lone atrialfluuer.
de drogasdos grupos II. IV ou até mesmo I II nasdoses habituais".
As condições que geralmente favorecem o aparecimento
Nos casosgraves. pode ser necessária ablação parcial por radio-
do fluuer são as doenças degenerativas, a doença reumática,
freqüência do nó sinusal,
o aumento de câmaras arriais e todas as patologias que favo-
recem o surgimento de fibrilação anial, como a insuficiência
cardíaca, a pneumoparia obstrutiva crônica, a tireotoxicose, 11

~
V~ ,~.,J':-" 1"
'VI
0t' /1} r-...'rv doença do nó sinusal, a pericardite, pós-operatório de cirur-
gia cardíaca com ou sem arrioromla, a comunicação intcratrial,
alcoolismo, etc.
I 'h ~ -
"&:- .1
.V' /'..
IV' "-Ir--" JL ._::::"
A
02 v I
Mecanismo e Tipos de Flutter
, t
A classificação do [lutter atrial é controversa na literatura.
g~-yv -v --~~
v IV
- - Isto porque algumas iaquicardias arriais mais raras ainda têm

1IV
.....
q 'V - -v
j
mecanismo mal delinido. Recentementea Nonh Arnerican Society
01' Pacing and Elcctrophysiology fez urna reclassificação in-
l-i
_J
V IV V
Vl I I
cluindo todos os tipos dentro da categoria das taquicardias
arriais que podem ser focais ou por macrorreensrada":
Figura 53.45 - Taquicardia sinoatrial. Observa-se o intervalo A forma mais típica deflulter (tipo I) ocorre por macrorreen-
R-Rregular, o QRSestreito e precedido de onda Pcom polaridade trada no átrio direito, porém, formas mais raras podem ocorrer
e morfologia idênticas ao ritmo sinusal (ver retângulos) em outras partes ou ser de origem focal.
Doenças Cardiovasculares • 533

A classificação de flutter em /i,1O I e tipo /I (Fig. 53.46).


apesar de antiga, continua ainda como uma das mais difundidas
na literaturu. Embava-vc csscnciahncntc na frcqüência atrial
e nos padrões da reentrada. O tipo Item frcqüência atrial mais
baixa (240 a 320bpm) e cumpre clarumente os critérios eleirofi-
siológicos de reentrada. Já o tipo II tem Ircqüência mais alta
(320 a 430bpm) e não apresenta propriedade .. definidas de
reentrada com substrato estável":
OV
A

Figura 53.46 - Esquema dos átrios vistos pela junção atrioven-


tricular. Flutter atrial tipo I nas formas comum (A) e incomum
• Fluuer tipo I ou tlpicu: a forma rnaiv lrcqücntc uufl"lfel' (8). O movimento circular ocorre paralelo ao anel da valva
atrial é tipicamente uma taquicardia ocavionada por ma- tricúspide. A zona de condução lenta situa-se entre a valva tricús-
crorrecntradn no átrio direito favorecida por barreiras pide e os 6stios da veia cava inferior e seio coronário (istmo atrial
anatômicas naturais. Apresenta uma zona crítica de con- direito). Na forma comum, que é a mais freqüente, o movimento
dução relutivumcruc lema conhecida como istmo atrial circular tem sentido anti-horário. A forma incomum se caracte-
direito loculizudo entre li óstio da veia cava inferior e riza por rotação no sentido horário
õstio do seio coronário de um lado e anel da valva iricúspidc
do outro":". O movi rncnro circular ocorre no sentido (/II/i-
O tipo" se caracteriza por uma Ircqüêucla atrial mais rápida
horário. subindo pelo septo imcratriul, descendo pela (320 a 430bprn) e uma polaridade das ondas F variável, de UII1
parede ântero-latcral do átrio direito e passando pelo istmo caso para outro. dependendo do local de origem.
- essa é a [arma ,'111/111111 do [luurr tipo I. Menos frc- Fisiopatologia e Quadro Clínico. Ofllll/eré uma taqui-
qücmemcntc, o mesmo circuito pode ser percorrido no cardia atrial que interfere na fisiologia cardíaca, comprometendo
sentido horário dando origem :I uma variante de [lutter o ritmo c a função de transporte atrial. Quando prolongado pro-
tipo I conhecida ciuws forma incomum, Apesar do trata- move a remodelação elétrica que reduz a duração do potencial
mento ser o I1lc!tI1lO.eSMISduas formas àcflutter podem de ação e li relraturiedade das células arriais reduzindo a contra-
ser muito bcm diferenciadas pelo ECG e são conhecidas tilidadc c predispondo ao surgimento de fibrilação. Adicional-
por alguns autores cemo fluner istmo-dependente, Vários mente. ocorre também aumento da ecreção do pepudeo atrial
outros tipos deflllller!tão originados por diferentes circuitos natriurético com aumento do Iluxo urinário. Esses fenômenos
de reentrada e ...ão con ...idcradov I/(io dependentes do istmo. favorecem a estasc sanguínea e a formação de trombos. Dessa
• Flutter tipo " 11/1 atipico: ucwc caso, a frequência atrial forma. no fluuer com mai ... de 48h de duração, deve-se fazer
é mai rápida c o sub-rruto não respeita claramente os pre- tratamento anticoagulante. vimilar (ln uulizado no tratamento da li-
ceitos da reentrada graça, à alta freqüência. a circuito brilação atrial. principalmente no, C:I\Ch com cardiopatia associada.
muito pequeno ou à origem automática. Além da~ alteraçõcl> no ritmo atrial ocorre a interferência
no ritmo ventricular, csvcncinlmcmc determinada pela permea-
Flutter Incisional. ;\Iuita\ vezes o flutter pode ser rela- bilidade da junção AV. O resultado pode ser uma freqüência
cionado ti movimento circular de reentrada cm torno de uma alta ou baixa. regular ou irregular. A taquicardia e a irregularidade
cieatriz atriul, geralmente decorrente de uma cirurgia cardía- provocam palpitações e desconforto prccordial, Quando existe
ca. É comum põs-corrcção de cardiopatias congênhus. Nesse pré-excitação poderá ocorrer condução AV I: I e conseqüente
caso. não se enquadra nos critério ...clá"icos dos tipos I e II. comprornetirnento hemodinãmico grave com tonturas, síncopes
e. eventualmente, edema agudo de pulmão. Além disso pode
ocorrer angina. Quando a urriuniu se mantém por tempo prolon-
Eletrocardlograma do nuue: gado, pode ocorrer iusuficiêncin cardfaca e. em casos crônicos,
Ojl1111erapresenta cnracrcrfsricas clctrocardiográficas peculiares pode surgir :1 taqnicardimniopati«,
- olta frcqüência utrial e linha de base ondulada em dente-de- Mortalidade e Morbidade. O prognóstico depende da
.ferra (Fig. 53.47). Essus ondas são conhecidas como ondas F. condição clfnica subjacente e da [rcqüência ventricular resultante .
bastante regulares no tipo I. Tipicamente não apresentam linha O controle da frcqüência ventricular é fundamental.
isoelétricaentre elas. A frequência e o ritmo ventricular dependem Trombose no átrio esquerdo tem sido descrita em O a 21 %
da permeabilidade AV. podendo surgir diferentes padrões: dos casos. O tromboembclismo é a complicação mais temida.
A maioria dos clínicos recomenda que noflutter com mais
de 48h se faça terapia anticoagulante com warfarina antes da
• Cornumente ocorre uma relnção AV 2: I lixa com [reqüência
conversão para ritmo sinusa] ou e faça estudo com ecocar-
atrial de 300 e ventricular de 150bm bastante regu lar.
diograrnn transcsofõgico para afastar trombos intracavitários.
• A relação AV pode ver variável. resultando num ritmo
Freqücntcmcntc. ofluuer é menos tolerado que a fibrilação
ventricular irregular geralmente com freqüência menor
atrial em razão de maior dificuldade no controle da freqüência
que 150bpm.
ventricular, principalmente c forço s,
• Pode ser I:I quando coexiste pré-excitação.
• Pode existir bloqueio AV total. originando uma bradi-
cardia com ritmo de escape rcgulnr.

A análise da atividade atrial permite clasvi Iicá-Io em tipo I

°
ou típico (forma comum c incornurn) e ripo II ou atípico.
tipo I se carnctcriza por arividadc arrial entre 240 e
320bpm, regular. bem dcfinida. originandu uma linha de base
ondulada (deme-dc-scrra) com ondas bífásicas c sem linha Figura 53.47 - Esquema de um registro de flutter na derivação
isoclétrica. porém com predomínio de polaridade negativa em D3. ilustrando que a linha de base no eletrocardiograma do flutter
D2. D3. aVF e positiva cm V I (forma comum) (Fig, 53.4&) ou tipo I tem grande semelhança com dentes-de-serra, tipicamente
predomínio de polaridade positiva em D2, D3 e nVF e nega- caracterizada pelas ondas Fque apresentam subida rápida e descida
tivaem VI (forma incornum). lenta sem evidência de linha isoelétrica entre elas
534 • Tratado de Clínica Médica

Tratamento farmacológico da crise, O[lutter é uma arritmia


geralmente mais difícil de responder à medicação do que a
fibrilação atrial. Diversos tipos de drogas podem ser utilizados
para reversão intravenosa:

• Flccainamida é eficaz somente em 10% dos casos.


• Doferilida é cfcrivu em 70 a 80% dos pacientes.
• lbutilida reverte em média 63% dos casos.
• Dose única oral de propafenona (450 a 600mg) ou flecai-
namida (200 a 300mg) tCII1se mostrado útil na reversão
ua flbrilução atrial, Esuma-se que sejam igualmente üteis
na reversão do [lutter atrial.
Figura 53.48 - Fiutter atrial do tipo comum. As ondas F são ti·
• A amiodarona intravenosa também é eficaz na reversão
picamente negativas em 02,03 e aVF e positivas em V1 (setas).
Nesse caso, a condução atrioventricular está ocorrendo á razão do/lul/er, além de proporcionar melhor controle da Ire-
4:1, resultando em uma frequência ventricular reduzida, perrnl- qüência ventricular.
tindo fácil visualização das ondas F (derivações simultâneas) • Digital raramente reverte cifluuer. Pode entretanto reduzir
a frequência ventricular, melhorar a hcmodinâmica c
favorecer a reversão.
Pode ocasionar angina. hipotensão 011 ICC em razão de • Veraparnil intravenoso reduz a condução AV e propor-
frcqüência ventricular rápida na presença de cardiopatia. ciona a reversão de 25 a 50% dos casos. Raramente ocorre
Tratamento. As linhas gerais do tratamento do flutter [lutter no infarto agudo do miocárdio, porém nesse con-
são similares às da fibrilação atrial e englobam:
texto o vcrnparnil tem melhor resultado revertendo até
X7% dos casos.
• Controle da frequência ventricular.
• A procainarnida. a quinidina e a disopiramida podem
• Reversão dos episódio sustentados.
ser utilizadas. porém, além de pouco eficazes na rever ão
• Prevenção e redução da Ireqüência e duração dos episó-
d ios recorrentes. doj7uI/er podem ter efeito deletério, favorecendo a con-
dução AV I: I. Isso ocorre porque reduzem a frequência
• Prevenção do rrornboembolisrno.
• Redução dos efeitos colaterais da terapia. atrial do fluuer, ao mesmo tempo em que melhoram ii
• Cura da arritmia. condução nodal AV por efeito vagolüico. Dessa forma,
deve-se utilizá-las cm associação com drogas depressores
Tratamcntu não rarmacotõgtco da crise. Se existir insta- da condução nodal. tais como os bera-bloqueadores e os
bilidade hcmodinârnica o tratamento indicado é a cardioversão bloqueadores de cálcio,
clétrica torácicu externa imcdiuru. Recomenda-se entretanto
aplicar sempre pelo menus I(lOJ, se o dcsfibri lador é monofãsico, Prevenção das crises. Após o término do episódio iniclal
e 50" para ti modelo bifãsico. O índice de suces: o é de 95%. e o tratamento da doença ou condição subjacente. o paciente ~
Da mesma forma que cm outras taquicardias supravemriculares. podcrd n50 ncccs itar de nenhum outro tratarnento, al~1I1de ~
() paciente deve crnpre receber medicação ansiolüica antes do evitar o furor precipitante. ~10
Iralalll('nto especifico. O LISO de aruiarríunicos no fluner atrial é semelhante àquele ~
Se o [lu I I{'/' tiver mais de 48h deverá ser iniciado esquema na fibrilaçâo atrial. entretanto, diante da necessidade de um
de aruicoagulação OLl se realizar ecocurdiogramu transesofágic»
tratamento farmacológico permanente com os respectivos risco
para afastar a presença de trombos. semelhante ao que se faz
de efeitos colaterais. entre os quais, de pró-arritmia, é impreterível
na fibrilação atrial.
considerar a ablação por radiofrequência, tendo cm vista a alta
Manobras vagais ou adenosina IV ruramcntc revertem o
fluuer. porém podem reduzir a condução AV, permitindo melhorar taxa de cura e o baixí.ssimo índice de complicações obtidos
a visualização das ondas F e comprovando que não se trata de nessa arritmia.
lima reentrada AV. De forma geral. os anriarrínnicos no tratamento do [lutterl
Ovcrdrive por via esofágica (cardioesrimulação transesofãgica) fibrilação atrial são efetivos durante 6 a 12 meses.
ou rnediame acesso cudocárdico é eficaz em 60 11 80% do. Tratamento definitivo. O tratamento de escolha é a climi-
ca~(lS ou induz fibrilação atrial que. não raramente, reverte de nação somente do circuito de reentrada, mediante ablação por
forma espontânea para ritmo sinusal, radiofreqüência, mantendo-se intacta a condução AV. Todos
Muitos marca-passos modernos apresentam opções de os esforços devem ser feitos nesse sentido. Os benefícios são
overdrive. comandado pelo médico. Se o paciente cOIll.!luller óbvios pois se elimina a arritmia. evitando-se o bloqueio AV
é portador de um marca-passo desse tipo pode se realizar a c o marca-pass o definitivo. permitindo-se ao paciente uma vida
reversão com grande facilidade e grande possibilidade de sucesso normal sem a necessidade de urilizur indefinidamente os
(Fig. 53.-19). umiurrümicos,

Figura 53.49 - Portador de marca-passo


bicameral apresentando episódio de flutter
atrial. Durante a avaliação, o marca-pes-
so foi temporariamente programado para
liberar um trem de pu/sos no átrio direi·
to, revertendo a taquicardia. Durante o
processo, o marca-passo mantém estlmu-
lação ventricular de segurança, retornando
ao modo atrioventricular após a reversão
Doenças Cardiovasculares • 535

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radiofreqüência (RF) em portador de flutter atrial atípico. Após all"h p.ll"'nl'-electrophy,iologicat chara.:lcmll< . ~ologlCnt rç,P'l'''C. (lO>.\1bk
nl<'Cltanisms.:I1Id cffC'C1<of r:ldiofrc«UClIl) ~l>t31lOnCmulOI/lIll.Y. 90. p. t262. 199~.
algunssegundos de aplicação. ocorre lentificação da taquicardia t2. ~tORtLLO.C.A __KLEt'\.C.J.:TIlAKUR.R I> cl~1 \kdLlnl\rnOr"'lIoIlProptÍ3IC"
seguida da reversão para ritmo sinusal ,iII"' Ixh)c":1ll1'3 rok of ,)mp:llhovJ~.ltI>JtJn,c ('mulallllll. v, ')(). p. 873.19<).1.
D. GRA'\ \0·\.1. l RlIll" w., ('1I\'Oll. 1'. II .. \I \ \ SI v, K . \lI:RKAN1·. R.: SMITH_
I'. x.: "" L.,. J . I \1>1 R. t:.: VtOAILLll. II I""el(occ:md predictors of 31ri31
Ablaçãopor /'(/dit~/i't'(fl'jêl/d(/ nn tluucr (/1,.;(//. É o tratamento tluucr in lhé ~~ocr:ll I"'IlUIJIIIlII J 11111.0//1 ("",1",1..\ _16.n.1. p. 2242-2246.2000.
de escolha. Deve ser convidcmda na.... cguintcs condições: 14. LEIER. C. V. \II \( II \M. J. A.: SC:IIAi\L. S.... Prolon~cd atrial conduction. A
1I111)"rprcel"I"".ng r",11V lor lhe devclupmcm or ~lnJI Ilutter, Circuiation. v. 57. 2,
p, !13lló. 1')1~
• I os casos de dilkil controle. t~. SAOUDI. N.. CU~tO. f: \\'ALOO. A.: CHEN. S. .\: tESAKA. Y.: LESII. M.:
• Quando us recidivas ,ão rchuivamcnre Ircqücrucs. SAKSF;NA. S.: SALER"O. J.: SCHOELS. W. A da"ilicJU.lO or atrinl fluncr :11'.1
rc~ul:orntrial "'"hYC:lIllia 3I.,.'OnJing10dCCIWl'hy,il,tllg.,atlllC\;h.ln"III' d,ld tlllI,HlIllÔCll1
• Quando o tr.uamcnro tnrmncolégico é indispensável ou bases. A Suucmcm rrum .Joim E'llCn (1"'"'1' I""""lhc W"'~III): Grocpof Arrhyüunius
prolongado. of lhe Europcan Soei':l) of C'J,dic.lugy IIlIcllhe N'lrIh Amencan Sociely of ('lIcilll!
• Caso cja opção do pucicnte. and Elcclroplly.iolog). l.nr "'"1/ J . v, 22. II. 14. P I tCi2-lt81. 2001.
1(•. Wr.I.I.S .IR .. .I. 1... MACUii\N. \\t.A: JAMt~~.T. N.: IVALOO.A. L C'lI3roclcrizatioll
of (llri;III1I1I1C1·. Sludic, ln IIIJn aher 0llClIIIclI.I ~llI'gcry U'IO~ Ii~cd Guia! electrodes.
Pode ser realizado cm qualquer Iavc. cm ritmo sinusul ou 1/rt'lII"';IJII. v. (lU. II. 1. p. 11M 117.1.1'171).
durante a arritmia. até mesmo durante UI11 evento agudo, to- 1,. KAI.~II\N. J. M.: Ot (il\'. J l.. SAXON. L. A. CI al. Acu'alion and entrainment
mando-se as precauções huhituni-, na prevenção de trombocm- mal'p'lIg denllc' lhe meu'p'" Jnnulu' a, lhe anterior barrier 10 typical atrial Ilutter,
bolismo. Todo, os upov de ./7111/('1' podem ser tratados com a ('/I'I"I..,lrlll. 1'. 'J4. p.. I')M·J06. t9'16.
t ~ ~lIt\1l. O. C .. JAIS. t'.: IIAtSS \Gl.'ERRE..\t. CIal. Thrcc-dimensional mapping of
ablação por radiofrcqüênciu. porém. aqueles dependente» do lhe COnll11011 atnal Iluuer eireuu m llIe nght atrium. Clrcutetlon. \. 96. p. 39Q.1·3912.
istmo apresentam o maior índice de succ-vo (até 9()c.,f de cura t997.
na primeira sessão). O fluttcr tipo II c () inci ..ional devem ser
muito bem estudado, para definir uma e ..tratégiu dc ablação
(Fig. 53.50). tendo cm \ i\ta que neste». o ponto crítico para
a aplicação de rudiofrcqüência varia de Ulll caso para outro.
Prevenção das complicações. A:. -cguintc ..características
Taquiarritmias Ventriculares
estão relacionada .. a maior risco de trombocmbolismo nos
portadoresde flntter: Jo é Carlos Pachón Mateo
• Sexo mavculino. Enrique lndalécio Pachón Mateos
• Hipertensão arterial.
• Cardiopatia cvtrutural. Tasso Júlio Lobo
• Disfunção de ventrículo esquerdo.
As taquiurriunias ventriculares podem ser cxtrn-sfstole • taqui-
• Diabetes. cardias,flul/prou librilaçiio vcntriculures, A taquicardia ventricular
• Acidente isquêrnico prcgrcsso.
é uma sucessão de tr':$ ()U mais hatimentos ventriculares com
freqUência eard(aca muior que a do ciclo básico (ver Figs. 53.54
o fluI/e/' lltrial t:ll1to pode ser causa (taquicardiollliopatia)
c 53.56).
cm conseqUência de cardiomiopatia dilatada.

REFER~NCIASBIBLIOGRÁFICAS EXTRA-sISTOlES VENTRICULARES


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cm TPSV.llt1/. 8ftll (arJ,,,1 \ ~5. ,uppl. I. p. l(~. IY~5
J PACIIÓN·~tATF.OS.J C /,.,.J" Un"'Jil",I()~,wIrnlll"lI!uq,w - C"IIInb:llfti(>
""DwJnómm( frolllrt1tn"'J.J, f"'P'lturJlII\ S''IIrtIl'''II'''''IIlartl ""'''NJ .. ''''''('1;11
("r RaJlIl/,rql/b" III 5lO I'.ul ... t,)<)~ Tc...: (lxlulor:1l101 l.ltutJ..J.: de ~lrdlCln3
Mecanismo
dl Lnl\t/"id.,dc de Sã" ".ul .. As cxtra-~í toles \'cntriculares podem !ler provocadas por mc-
J PACIIÓN·MATEOS.J (' I ,ludo. cklrnlh,ol(l~,ro IrJn'C\()I;i~,,'O. tn; BARRI,lO. canismo de reentrada. atividade denagrada ou por aUlomatismo.
A C P.. SOUSA.,\ G. ~I R .\OCl..!>f' Cllr"""II~"/ 11111111/:11(';"r Rrndaf/rm.
Sic) Paulo: Alhcllcu. IC)<Nr IY~-~11
De forma geral. a reentrada é o mecani'IIIO mais freqUente.
S \lOFfA. P. J.: SANell [5. P C R r-tu.J" cklrolhiul(,~ir" trJII",'ut.ip,~) - ronln- Geralmente é re~pon~óvel pela~ extra-,í,tOle~ originadas por
bIIIçjo ao diogn~,licl) do, IJ.tU"JcJ,~, ln RAMIRI;S. J. A. I'.: OLl\·tIR,\. S. A. subSlralO an:ílomo-hbtopalOlógic() bem definido (fibrose, cica-
,,,',,',i~,,,,
f)(llI)t'ClII/iogr/llllll: IIII(/IUlI < S;;u I'Julu: l(iI~U. 21MI!. p.755. triz. aneurisma. bloqucio dc !'tIIlIO CIC.). A :lIividade deflagrada
6c GREE.'UI~HEDDLr..Il.:0\~SI·-:. \\. \\rtIR. M : A11001.1.1\11.II.: BRl.'GAD\.
P.:\\'B.LE. ...S. II. J. VIIIIICIII QRS .lIc,alKI() ln d~lcrtllinill~ lhe 'lIc ur Il<igin or é mais rrcqíkntemcnte relaciollada a di túrbios eletrolíticos,
a.JTOto QRS \Urr;"~lIl1klllllr III,h)".rJ'J intoxicação medicamcnto~a. s(ndrome do QT longo etc. O
1 GAllAGER. J.I.; SMITII. W. M.: KASr:L J. KFRR.C. R.: COOK. L~:REITER. aLlt()tnnti~mo. tipicamente favorecido pelas catecolaminas. fre-
M. STERB". R.: IIARTr.. M. Tllc u'c or e"'phJ~eul IClleIin Ih~ di.lgn."i, lIr qUentemente é respon~ávcl por extra-sístolelo do comçiio 1101'-
1IIIdwu\ffi.,orrt'dpI'1lClllillg\IIpnllclltr..:ul:Jtl ....h},·ó,nJió,.l'mlllg CIí". Iii".,,,,,,'/\li"I ..
11101 (automatismo nomlal) ou por parte das extr:t-,íMOlcs observadas
v J. r +lO-IS I. 1980.
8 COUMELp.:;\TrUEL.I~; LECI.ERC. J. F Pam.1l1o:011('nIlOfj'Hlclional rcdprocaling na fase aguda do inrano do miocÍ1rdilllJlI distúrbio, clctroJ(licos
Ilk:hyclIIl!J1:Illccll3ni'ln. clínical nnd Ihcmpeuloe IIl1phcó'"0IlS. tn: NARULA. O. S. (automatismo anormal).
536 • Tratado de Clínica Médica

Caracterização Eletrocardlográllca Classificação das Extra-sístoles Ventriculares


Além da precocidade. tipicamente são batimentos aberrantes As extra-sístoles ventriculares podem ser classificadas de acordo
(morfologia. eixo e duração diferentes dos batimentos sinusais) com foco de origem. precocidade. quantidade. captura atrial,
(Quadro 53.3). Além do QRS. a onda T geralmente é alargada e complexidade e classificação de Lown.
têm polaridade Ireqüenternente oposta ao QRS da extra-sístole.
A morfologia das exrra-sístoles depende do local de origem do foco, Foco de Origem
do grau de participação do sistema de condução, da presença de
refratariedade perifocal variável e da presença de batimentos Extra-sfstolcs ventriculares de mesma morfologia e mesmo
de fusão. De modo geral, as exrra-sístoles do ventrículo direito têm intervalo de acoplamento são originadas do mesmo foco
morfologia de bloqueio de ramo esquerdo e aquelas originadas (mcnolocais), enquanto aquelas com morfologia e intervalo
no ventrículo esquerdo têm morfologia de bloqueio de ramo direito. de acoplamento diferentes são originadas de focos diferentes
(multifocais ou poli focais) (Fig. 53.53).

Intervalos de Tempo das Extra-sístoles Precocidade


Podem ser: Podem ser protodiastólicas, mesodiastólicas ou telediastõlicas,
conforme' ocorram no início. no meio ou no final da diãsrolc.
• Intervalo de acoplamento: é o intervalo entre ° batimento As protodiasrõlicas coincidem em maior ou menor grau com
do ritmofundamental (geralmente sinusal] e a extra-sístole. O final da onda T provocando o fenômeno Rrr (R sobre T),
• Pausa pâs-extra-sistállco: é o intervalo entre a extra-sístole (Fig. 53.54). Em razão da precocidade, esta extra-sístole pode
e o próximo batimento do ritmo fundamental (geralmente coincidir com o período vulnerável do ventrículo induzindo
sinusal). Pode se apresentar de três formas diferentes: taquiarriunias de alto risco. como a taquicardia e a fibrilação
- Compensatória: quando o intervalo RR que contém a ventriculares, principalmente quando existe comprometimento
extra-sístole é igual a dois ciclos sinusais. Geralmente da função ventricular ou qualquer outra condição que reduza
ocorre porque a extra-sístole ocupa o sistema de con- o limiar de fibrilação ventricular. As extra-sístoles telediastólicas
dução e bloqueia uma onda P (não interfere no ciclo aparecem tardiamente na diástole. Essa característica pode originar
sinusal), É típica das cxira-sístoles ventriculares. dois fenômenos interessantes:
- Menorqu« compensatôria: quando o intervalo RR que • Podem coincidir com o intervalo PR do próximo ba-
contém a extra-sístole é menor que dois ciclos sinusais. timento sinusal, originando batimentos aberrantes pre-
Nesses casos, geralmente a extra-sístole consegue cedidos por onda P com PR curto que precisam ser
conduzir até os átrios capturando precocemente o nó diferenciados de uma pré-excitação ventricular interrni-
sinusal que reinicia um novo ciclo a partir desse ponto tente (Fig. 53.55).
(interfere adiantando o ciclo sinusal). Ocorre mais • Quando silo ainda um pouco mais tardias podem coincidir
freqüemernenre nas extra-sístoles supraventriculures
com o próximo QRS originando batimentos de fusão (ver
que. obviamente. têm mais facilidade para capturar o Fig. 53.53, A).
nó sinusal.
- Maior qu« couipensatária: quando o intervalo RR que
contém a extru-sfstolc é maior que dois ciclos sinusais. Quantidade
Esta é mais rara. Geralmente a extra-sístole captura o Quando existe uma extra-sístole após cada batimento sinusal,
nó sinusal mediante condução retrógrada e provoca isso é denominado bigeminismo (ver Fig. 53.53, A). Caso as extra-
uma pausa por depressão de seu automatismo (interfere sístoles apareçam após cada dois ou três batimentos sinusais uti-
atrasando o ciclo sinusal). Ocorre mais freqüentemente Iizam-se respectivamente os termos trigeminismo (ver Fig. 53.53, 11)
na doença do nó sinusal. ou quadrigeminismo, Consideram-se extra-ststoles acopladas
- Ausência de pausa compensatória: neste caso. a extra- quando ocorrem duas extra-sístoles ventriculares em seqüência
sístole é precoce O suficiente para permitir que nenhuma (ver Fig. 53.53. C) e quando ocorrem três ou mais extra-sístoles
onda P seja bloqueada. ou seja. consegue se interpolar ventriculares em seqüência considera-se a existência de taqui-
entre duas ondas P consecutivas. cardia ventricular (ver Fig. 53.54) .
• III/erva/o interectápico: é o intervalo entre duas ex-
rra-sfstolcs ventriculares consecutivas.
• Batimentos interectápicos: são os batimentos com- Captura Atrial
preendidos nesse último intervalo (Fig. 53.52). As extra-sístoles ventriculares podem ou não ser conduzidas
para os átrios. dependendo da existência ou não de condução
Eventualmente uma extra-sístole ventricular cai entre dois ventrfculo-atrial (VA) e do momento do ciclo cardíaco em que
batimentos sinusais e o egundo consegue chegar aos ventrículos. ocorrem. A condução VA está naturalmente presente em cerca
Nessc caso, não existe pausa compensatória e a extra-sístole de .70% dos pacientes. podendo ser mediada pelo sistema de
é chamada interpolada. condução normal ou mediante urna via anôrnala.

QUADRO 53.3 - Características eletrocardiográficas das extra-


sistoles ventriculares .
• QRSprematuro
• QRSalargado (>120 milissegundos)
• QRScom morfologia aberrante
• QRSnão precedido por onda P
Figura 53.51 - Traçado mostrando o registro de uma extra-sístole • Onda T alargada geralmente oposta ao QRS
ventricular isolada
Doenças Cardiovasculares • 537

Figura 53.52 - Intervalos de tempo num TT _2_cidpsll=l llc~ II I I I~~l LI_! _I


traçado eletrocardiográfico com extra-sls-
'+-~l I J. I J
!

toles. Neste caso, a pausa pós-extra-sistólica


é compensatória (o intervalo RRque con-
II II
II -r-f±-' 4)
I
i I· Batíme",tos interec óPicol
I
I

'-y..A y ~rr A.--r:r À


tém a extra-sístole é igual ao dobro do
I
i~ ~ :::p. ~ -
intervalo RRprévio, ou seja, a soma do in- 1I;ltervalp Cle P u a ~f-elCtra,slst6ItQl I-
:~
tervalo de acoplamento e da pausa pós-
extra-sístólka é igual a dois intervalos RR)
I

~t ,-1_ acoplamento
1
I
(co p'ensatóriâ") 1-1-1-1-
1- - I-t-
c_ 1-- I t~rvalo_jnterectóplco

Complexidade típica. entretanto. são as pnlpitaçõc s. Frcqücutemente observa-


se um ciclo vicioso no qual os paciente. sintomáticos apresentam
Quanto 11complexidade av extra-sfstoles ventriculares podem graus variáveis de ansiedade que aumenta os níveis de caieco-
ser simples ou complexas. As caracterfct icas de cada categoria laminas, favorecendo o uumcnto da arritmia. Raramente podem
estão relacionadas na Tabela 53.2. provocar tonturas ou pré-síncopes. Eventualmente, casos de
bigcrninismo persistente. pelo fato de bloquear uma em cada
Classificação de Lown duas ondas P originando uma pausa pós-extra-sistólica podem
provocar sintomas de baixo débito cerebral. também com pulso
Apesar de ser incompleta c pas: ível de críticas, muitos autores lento e sinais gerais de bradiarriunia.
utilizam a classificação de Lown para identificar as arritmias Prevalência e Risco. A prevalência das exrra-sístoles
ventriculares (extra-sfstolcs e taquicardia) numa escala de ventriculares varia com o método. a duração da observação
gravidade que se aplica razoavelmente 11cardiopatia isquêmica e o tipo de população estudada. Normalmente tendem a au-
(Tabela 53.3). mentar a incidência com a idade e com o tipo e grau da cardiopatia
subjacente.
Significado Clínico das Extra-sístoles Extra-sístoles ventriculares na ausência de cardiopatia.
Ventriculares Em pcs oas normais. as extra-s! roles ventriculares são muito
raras num eletrocardiograma de rotina. porém ocorrem em até
As enra-ststotcs vcmricularc .. são muito frcqücntcs. mesmo 80% dos exames de Holtcr'", Sua presença varia de 0.35%
na ausência de cardiopatia evidente. Da mesma forma que são em recém-nascido. aparentemente saud:h ei .. até 86% em adultos
absolutamente inócuas numa grande quantidade de cuxos podem com mais de 60 anos"'.
indicar.em outros. um alto risco de morte súbitu. Portanto. além As extra-sistoles til) coração normal geralmente representam
de tratar eventuais sintoma'. o cardiologista deverá aval iar cuida- UI11 problema especial para o clínico. Pacientes. mesmo assin-
dosamente e sas arritmias para identificar o risco potencial e romãtico .. podem ter dificuldades profi sionais pela presença
prevenir as possíveis conseqüências. da arritmia. sendo impedidos de exercer atividades de risco.
Outras vezes. os sintomas são muito freqUentes c o tratamento
Sintomas clínico quesrionâvel e pouco eficaz. Por outro lado. dependendo
é

do local de origem podem ser totalmente curadas mediante


PreqUentementeas cxtrn-sfstolcs ventriculares são assinromâticns ablação por radiofreqüência.
sendo detectadas como irregularidade do pul '0 em exames de Extra-sístoles ventriculares nu fuse crónica do infarto
rotina ou mesmo pelo próprio paciente. A manifestação mais do miocárdio. A presença de extra-stsroles p6s-infarto do mio-
cárdio é fator independente de risco para mortalidade total e
para morte súbita. Existe entretanto. controvérsia relativas a
serem somente as formas complexas das extra-sfstoles (acopladas,
bigerninadas. pclimôrficas ou taquicardia ventricular não
sustentada) relacionadas ao mau prognóstico ou também as
formas simples. Outro aspecto diz respeito ao número de extra-
sístoles por hora. indicador de risco na era trombolítica. Os
trabalhos desenhados melhor para responder essas questões
deixam claro que o número de cxtra-sí toles (entre as quais as
das formas simples). é Iator independente de risco na fase crôniea
do infano do miocárdio",

Figura 53.53 - (A) 1, 2, 3 = extra-sístoles ventriculares teledias-


télkas e bigeminadas. O batimento 3 surgiu tardiamente (após
a onda P),ocorrendo uma fusão. (8) SeqOência de extra-sístoles Figura 53.54 - Extra·sfstoles ventriculares monomórficas pareadas,
monomórficasa cada dois batimentos sinusals: trigeminismo ven- iniciadas com fenômeno RIT (à esquerda), ou na forma de uma
tricular.(C) Extra·sístoles ventriculares de diferentes morfologias salva de trés extre-ststoles (taquicardia ventricular não sustentada),
(polimórficas).O complexo 6 é formado por duas extra-sístoles também iniciada por fenômeno RIT (ao centro), ou como uma
consecutivas(pareadas) extra-slstole ventricular isolada, mesodiastólíca (à direita)
538 • Tratado de Clínica Médica

Figura 53.55 - Traçado mostrando pré-


excitação ventricular intermitente. Deve-
se fazer o diagnóstico diferencial com
extra-sístoles telediastólicas

Extru-sístules ventrtculures lia cardíomiopatia dilatada. Tratamento Farmacológico. Ap6s cuidadosa avali;Ição
Pelos menos 50',} da mortafidadc lia cardiomiopatia dilatada são de risco e das condições miocãrdicas consideram-se as scguirucs
por morte súbita: 75 a XWJ dos casos $1: devem a tnquiarriunins recomendações gerais para o tratamento fnrmacolégico da extra-
vcntricularcx C 20 a 251k> se devem a bradianiuuias. De um sistolia ventricular:
modo geral. quanto maior a Ircqüência c a complexidade das
extra-sfstolc» ventriculares muior o risco de morte súbitu". UIII • As drogas da classe I devem ser evitadas. quando existe
outro aspecto a ser conxidcrado é que a presença muito tre- comprometimento moderado ou acentuado da função
qücnic de cxrra-sístolcs ventriculares piora a função ventricular. ventricular.
A eliruinação da arritmia nesses casos - com tratamento far- • As drogas do grupo IA c 11 sotulol estão centra-indicadas
macológico ou ablação por radiofreqüência - pode melhorar nos caso de QT longo.
a elas e funcional do paciente'. • Ia fase pós-infarro do miocárdio, os beta-bloqueadores
Extra-sístoles ventriculares na hipertrofia ventricular. comprovadamentc reduzem a extra-sistolia ventricular
A presença de hipertrofia ventricular esquerda aumenta a preva- e a mortalidade.
lência de extm-sístoles ventriculares e o risco de morte súbita, • O benefício dos beta-bloqueadores tem sido maior na
mesmo na ausência de hipertensão arterial e de coronariupatia, presença de insuficiência cardíaca.
principalmente se existem sinais de hipertrofia ao ecocardio- • A amiodarona. associada ou não aos beta-bloqueadores.
grama e ao eletrocardiograma", tem mostrado efeito antiarríunico significativo e capacidade
de reduzir a mortalidade lotai nos casosde fração de ejeção
menor que 30%.
Extra-sístoles Ventrículares Induzidas por Exercício
• Os aruiarrümicos dos l,,'TUpOSI e I V aumentam a mortalidade
De Ulll modo geral. a presença de cxrru-sistolcs ventriculares na fase pós-infarto do miocárdio com função ventricular
induzidas por esforço físÍl:o deve chamar ii atenção para coro- cornpromct ida.
nariopmia. hipertrofia rniocãrdica (principalmente a obstrutiva). • Os anrinrrümicos do grupo I podem ser úteis no controle
displasiu arritrnogênica do ventrículo direito. sfudromc do QT dos sintomas causados por cxtra-sístolcs írcqücmcs na
longo. taquicardia ventricular adrenérgico-depcndcntc. além uusência de cardiopatia evidente.
de insuficiência curdínca, E~~a condição é mais diflcil de avaliar
nos casos cm que não h;í cardiopatia aparente. Num grande Ablação por Radiofreqüência. A el iminução dasextra-
estudo com seguimento de 6.1 () I pacientes assl momãticos por ststolcs de forma definitiva e sem o uso crõnico de medicação
23 ano~foi verificado que a ocorrência de cxrru-sfstolcs vcn- IS sem düvid« o tratamento que se gostaria de proporcionar a
tricul ..rc~ Ircqücntcs durante esforço. cm pacientes ussintomã- rodos os pacientes. Esta é a grande proposta da ablação por
ricos. c.:~táaxvociud« a maior risco a longo prazo de mortalidade rudiofreqüênciu. Numa revisão recente de nosso material. foram
cardiovascular. independente de isquemia", verificados cm 68 casos tratados e acompanhados por 47 ± 16
meses que a ablação de cxtra-sísiolcs ventriculares sintomãu-
cus c rcfrarárias ii medicação em ventrículos pouco cornprome-
Tratamento tidos é altamente eficaz. permitindo a cura em 89,3% dos casos,
o tratamento das extra- ístoles ventriculares' é uma das con- naausênciade complicações". Pode,dessaforma, ser considerada
dições mais freqüentes c um desafio para a moderna cardiologia. uma excelente opção terapêutica. Os principais obstáculos são
É fundamental tratar o risco e a sintomatologia embora esta a dificuldade de se reproduzir as extra-sístoles de forma con-
última represente o motivo principal da consulta para a gran- trolada e os frequentes casos de extra-sístoles polifocais, sobre-
de maioria dos pacientes. Quando o risco é baixo ou nulo a tudo quando existe comprometimento miocãrdico grave
extra-sistolia poderá ser acompanhada sem tratamento a não necessariamente suprime o risco da cardiopatia subjacente.
ser que exista sintomatologia não tolerada. Caso contrário. podendo continuar imprescindível a terapia medicamentosa
e/ou o suporte elétrico.
deve se considerar o rraramento farmacológico. ii ablação do
foco de ecropia ou o suporte elétrico.
Suporte Elétrico. Casos raros de extra-sísroles muito
sintomáticas dependentes de bradiarritmia. rebeldes ao trata-
mcmo farmacológico e ablativo podem ser corrigidos com
TABELA 53.2 - Classificação das extra-sístoles ventriculares implante de marca-pai o convencional, bicamcral. O suporte
quanto ao grau de complexidade. As simples necessitam das
trés características, ao passo que são consideradas complexas
se tiverem pelo menos uma das cinco características da coluna TABELA 53.3 - Cla.ssificaçãode Lown para as arritmias ventriculares
da direita
GRAU EXTRA·slsTOLE
SIMPLES(E) COMPLEX.AS(fiOU) o Sem extra-slstoles
Raras« 20th) e FreqOentes (> 20/h) ou t < 30 extra-slstotevh
Monomórficas e Polim6rficas ou 2 > 30 extra-slstoles/h
Mesodiast61icasou Protodiastólicas (comprometem a onda T) ou 3 êxtra-slstoíes polim6rficas
telediast6licas 8igeminadas ou 4A êxtra-slstoles acopladas
(não comprometem Repetitivas (2 ou mais consecutivas) 48 Taquicardia ventricular (?; 3 extra-slstoles seqüenciais)
a onda T) 5 Fenômeno R sobre T
Doenças Cardiovasculares • 539

elétrico de 1I,(1l11al' comum. entretanto. é o implante dc dc ...li-


briladorparatrutumcnto primãrio ou sccundãrio de morte ~úbita
nas patolog]: ... que. além U~ extra-sfstolcs. aprcscnuuu insta-
bilidade eléu ica rniocárdica.

TAQUICARDIAS VENTRICULARES
Considera-se taquicardia ventricular urna sucessão de três ou
mais batimentos ventriculares (originados abaixo do nó arrio-
ventricular) numa Ircqüência maior que IOObpm.

Classlllcação e Tipos de Taquicardias


Ventriculares
A duração da taquicardia vcnrricular pode ser:

• Sustentada: a~ taquicardias \ cntriculurcs ~iil)consideradas


susteruadusquundo rêm duração maior que 30 segundos
011 necessitam intervenção tcrnpêutica imediata para evitar
colapso hcmudinâmico (Fig. 53.56. A). Figura 53.56 - Tipos de taquicardia: (A) Taquicardia ventricular
• N(70 .llIlIel/wt!lI; quando a duração é menor que 30 segundos sustentada, regular. Não é possivel observar a atividade atrial.
(ver Fig. 53.5-1). (8) Taquicardia fascicular sustentada. As ondas P são visíveis (*)
• lncessantc: a taquicardia é considerada incessante quando e estão dissociadas do ritmo ventricular. mostrando que não há
condução retrógrada aos átrios (dissociação atrioventricular) e
recomeça espontaneamente de forma repetitiva. após alguns confirmando o diagnóstico da origem ventricular da taquicardia,
batimento inu ais. geralmente não necessitando de extra- (C) Taquicardia ventricular não paroxística. Observa-se que. a partir
sístoles deflagradorav, De modo geral. a taquicardia inces- do complexo (**), ocorre uma fusão progressiva até a captura
sarne permanece por tempo muito maior que o riuno sinusal completa dos ventrículos pela taquicardia. (D) Tipo especial de
num Holter de 2-1h. taquicardia ventricular polimórfica que apresenta mudança ciclica
da polaridade dos complexos QRS, conhecida como torsades de
A morfologia da taquicardia ventricular pude ver: pointes ou taquicardia helicoidal
• MO/lOlIIfÍlji('(/.\: quando o complexos QRS têl1ll1lorr()logia
constante (Fig. 53.56. A c 13). Mecanismo das raaalcararas Ventriculares
• Palinuirjiras; quando exi te variação da morfologla de As taquicardia-, ventriculares podem ver originadas por me-
um QRS para outro. na mesma dl.!rivaçi1o (rig. 53.56. 0). canismo de reentrada. utividudc deflagrada ou auiomutismo.
A regularidade da taquicardia vcntriculnr podc ser:
Reentrada
• Regulares: quando os irucrvalos RR são iguais (Fig. 53.56.
A reentrada no músculo ventricular. com ou sem a participação
A e B).
do tecido especializado de condução é o mccani mo responsável
• lrregularev: quando os intervalos RR têm durações di-
pela grande maioria das taquicardias vemriculare . O exemplo
fcrcntcs (Fig. 53.56. D).
típico é a taquicardia paroxística da fase crônica do infano do
A forma de início da taquicardia ventricular pode ser: miocárdio. O circuito de reentrada em geral é formado numa
área de cicatrização onde existem cordões de células miocãrdicas
• Parosisticas: quando têm início c término súbitos. (tecido excitável, geralmente de condução lenta e nnisotrõpicn)
• Não paroxlsticas: quando têm i 11 (elo c término gradativos entremeados com matcriul fibroso (tecido niio excitável)
(Fig. 53.56. O. (Fig. 53.57). A origem mais comum é a cicatrila,iio deixada por
• ldiopâtir«: recebe c ......a denominação a taquicardia para 11m infario do miocárdio. porém as miocarditcs. a doença de
a qual não se encontra nenhuma etiologia (também cha- Chagas. os uneurismas. as cardiomiopatiav. a, cicatrizes cirúrgicas,
mada taquirurdia do coração lIur/l/O/). a di~pla,ia c a~ doenças degenerativa, também podem fonná-Ios.
• Fascicular: trata-ve de uma taquicardia originada nos
Iasclculov do sistema His-Purkinje (r~III1()~ direito ou
esquerdo ou nos herni-rarno ) caractcrizudu geralmente
por QRS muis estreito que o da taquicardia parietal
(Fig. 53.56. 13 e ver Fig. 53.61).
• Bidirecional: tipo especial de taquicardia ventricular que
apresenta complexos QRS com polaridades opostas numa
Miocárdio viável
mesma derivação. dc forma alternada. que cm geral se
origina cm portadores de síndrome do QT longo. de taqui-
cardiu ventricular adrenérgico-dependente 011 na iruoxi-
cação digitáhcn. Fibrose
• Tarsades di' pointe ...: trata-se de um tipo especial de taqui-
cardia cnractcrizada por surtos de taquicardia ventricular
polimórfica não <ustcruada. Tipicumcntc. o, complexo:
QRS. a cada -urto. tendem a inverter ti polaridade nu
me ma derivação. originando o nome curucterfstico. É Figura 53.57 - Histopatologia de uma reqião arritmogênica do
uma arritmia grave que Facilmente evolui para fibrilaçâo miocárdio. As trabéculas fibrosas e eletricamente não excitáveis estão
ventricular (Fig. 53.56. IJ). coradas em azul e o miocárdio viável está corado em vermelho
540 • Tratado de (IInica Médica

A~ taquicardias ventriculares originadas por reentrada geral- • rode ocorrer dissociação AV c batimentos de captura c
mente :.ão monomõrflcus purux Isticas e. na forma típica. uma fusão (ver Fig. 53.56. B).
cxtra-sistolc vcntriculur é o agente deflagrador,
Taquicardia polimórfica tem como exemplo mais típico a
Atividade Deflagrada torsades de pointes caracterizada por:

Esse mecanismo origina arritmias por oscilações de voltagem • Surtos de alta freqüência,
do potencial de ação na fase de recuperação. Essas oscilações são • Episódios não sustentados.
conhecidas como pós-potenciais precoces - quando ocorrem nas • Complexos QRS largos. cuja polaridade progressivamente
fases 2 e 3 - e tardios - quando ocorrem na fase 4 (Fig. 53.58). se inverte.
De modo geral, os pós-potenciais precoces são favorecidos por • Geralmente inicia-se por uma seqüência curta-longa-curta
bradicardia. ao passo que os tardios são geralmente induzidos ou por aceleração da frcqüência cardíaca de base (ver
por condições que aumentam II frcqüência cardíaca. Fig. 5:1.56. O).

Automatismo
Tillos tsaecmces de raumcarmas Ventriculares
o uutomarismo é UIl1~1 propriedade normal das células do nó
sinusul. n6 (AV) e sistema His-Purkiujc. Também existe nas Taquicardia Ventricular Pós-infarto do Miocárdio
células miocárdicas de forma quiescente. Quando o n6 sinusal
A etiologia mais frcqücmc da taquicardia ventricular é a coro-
deixa de utuar. marca-passos subsidiários do nó AVe sistcmu
nuriopatiu, principalmente o infarto do miocárdio. Neste sen-
lIis-Purkinje assumem o comando do ritmo cardíaco, consti-
ruindo os ritmos de escape. Não obstante, em determinadas con-
tido, existem três tipos de taquicardias diferentes:
dições podem surgir focos de automatismo anonnaJ que competem
ou superam o marca-passo sinusal. • Nas primeiras 48h pós-infarto.
O automatismo anormal é O mecanismo da taquicardia ven- • Após as 48h iniciais.
tricular monomórfica que ocorre nos primeiros dias pós-infarto • Na fase crônica pós-infarto.
do miocárdio.
Tratamento da Taquicardia Ventricular da Fase
Atividade Atrial durante a Taquicardia Crônica do Infarto do Miocárdio
Trutamcnto da crise. O tratamento imediato da crise de taqui-
A condução VA pode ser mcdiuda pelas vias normais. por um
cardia ventricular monomórfica depende iniclulmcnte de uma
feixe nnôrnulo ou por uma via beta (que, apesar de estar Ire-
rápid« avaliação clfnica para identificur o grau de coruprornc-
qücutcmcntc relacionada a uma dupla via nodal. também pode
timcnro hcmodinâmico. Se li taquicardia estiver sendo maltolerada
cxi-air de forma isolada). Sua análise é muito importante. pois
~Icardiovcrsão torácica externa é imprescindível. SI.: houver
pode indicar com facilidade a origem da taquicardia.
Dcssn forma. pode ex isl ir: tolerância. sem hipotensão ou insuficiência ventricular esquerda
significutivas. pode-se administrar tratamento medicamentoso
• Condução VA I: I: nesse caso. após cada QRS largo da por via intravenosa. Os aspectos principais desse tratamento
taquicardia existe uma onda P retrógrada que. às vezes, são expostos na Tabela 53.4.
é pouco visível em razão de superposição com o QRS Tratamento de manutenção, As taquiarritmias ventriculares
ou. mais frequentemente, com a onda T (relação AV = I) da cardiopatia isquêmica crônica são as principais causadoras
(ver Fig. 53.56, A). de morte súbita nessa condição. Dessa forma, é fundamental
• Bloqueio VA fixo ou variável: nesse caso. a onda P re- °
rever as atuais recomendações para tratamento secundário da
trógrada segue uma relação VA 2: I ou tipo wenckebach morte súbita, no qual a taquiarrirmia ventricular foi compro-
(relação AV < I). vada. conforme os critérios da European Society of Cardiology
• AII~hl('i(1 d" ('(I/Ir1I1('ljo VII: nesse caso, a nt ividade atrial (Tabela 53.5)".
é comandada pelo ri. mo sinusul e se mantém independente
uC)~ vcntrlculos que c.;stão lIUl11a Ireqüência mais elevada Taquicardia Ventricular na Cardiomiopatia Dilatada
(relação AV < I), curacrcrizundo li dissocinção AV (ver
Fig. 53.56. IJ) t\ curdiorniopurla dilatada se caracteriza por grande variedade
de tuqu iarritmius ventriculares tais como exuu-sfstoles monomõr-
o diagnóstico de taquicardia ventricular é muito fácil quando ficas, polimérficus, isoladas. pareadas, raquicardias ventriculares
existe bloqueio VA Undependência da atividade atrial}, pois não sustentadas e sustentadas. Apesar da enorme diversidade
a Ircqüência ventricular é maior que a atrial (relação AV < I). de etiologias da cardiomiopatia dilatada (Quadro 53.4), a gravidade
indicando claramente que a arritmia se origina nos ventrículos. das arritmias nessa condição é mais relacionada ao grau de com-
Entretanto. quando existe condução VA I: I (relação AV = I) prometimento miocárdico que à origem da cardiorniopatia.
o diagnóstico diferencial entre taquicardia ventricular e É na cardiopatia chagásica crônica que se encontra a maior
supraventricular com aberrância torna-se mais difícil, pois, variedade de taquicardias ventriculares da cardiomiopatia dilatada.
estando os dois territórios na mesma frequência, não se tem Além de comprometimento difuso do miocárdio, geralmente
indicação imediata du origem. ocorrem lesões localizadas capazes de constituir áreas de fibrose.
discincsias c aneurismas, o mais típico deles conhecido COlHO
Eletrocardlograma da Taquicardia Ventricular lesão da ponta ou lesão em der/o de IUI'(I na ponta do ventrículo
Taquicardia monomôrflca é a forma mais comum. Caracicri- esquerdo (Fig. 53.59. A). Muitas vezes, o melhor tratamento
/a-sc por: é a retirada cirúrgica da ponta do VE.
Estudo Eletrofisiológico Invasivo na Cardlornio-
• Ritmo regular (frcqüência cardíaca > IOObpm). patia Dilatada. Nos pacientes com suspeita de taquicardia
• QRS largo e cctõplco (QRS ;:::120 rnilisscgundos e desvio ventricular sustcrnada, ou registro de taquicardia ventricular
do SÂQRS). não sustentada, tem sido possível induzir as arritmias em 63%
Doenças Cardiovasculares • 541

Tratamento cirúrgico. Graças à evolução da ablação por


radiofrcqüência c aos destibri ladores-cardioversores automá-
ticos implantáveis (DCAI). tem aplicação muito reduzida nos
Potencial pacientes com cardiornioparla dilatada não isquêmica.
- limiar Ablação por radiofreqüência por meio de cateter. Nos
portadores de taquicardias monomórficas sustentadas. bem
toleradas e reprodutfvcis no estudo cletrofisiolõgico é possível
a
localizar o foco arritmogênico e eliminá-lo com radiofreqüência,
Pós-potencial precoce Pós-potencial tardio
na maioria dos casos. Além disso. quando o foco arritmogênico
não é totalmente eliminado. em geral pode ser modificado.
tomando-se mais re. ponsivo aos medicamentos.
Desflbrtlador-cardtovcrsor implantãvel, É o tratamento
de escolha nos C;ISOS em que não se consegue eliminar ou controlar
a taquicardia com outras alternativas terapêuticas. Sua utilização
tem aumentado cm função da gravidade da taquicardia ventricular
na cardiomioparia dilatada. de sua nltn relação com a morte
B súbita c dos resultados pouco animadores das terapias farma-
Figura 53.58 - Esquema dos pós-potenciais precoces (A) e tar- cológica e cirúrgica (Tabela 53.6).
dios(8), originando, respectivamente, extra-sfstoles ventriculares
muito precoces (protodias1ólicas) e tardias (mesodiastólicas)_ No Taquicardia Ventricular por Reentrada
primeiro caso, ocorre interrupção da onda T pela extra-sístole
(RIT)- Eventualmente em razão de grande precocidade, a ectopia Ramo-a-ramo
pode não ocorrer graças à refratariedade miocárdica. Na parte Esse tipo específico de taquicardia geralmente ocorre em cardio-
superiordo esquema, observa-se que somente os pós-potenciais miopatia dilatada isquêrnica e não isquêrnica. Essa taquicardia
queatingem o potencial limiar originam um novo potencial de é originada por rnacrorrecntrada. uti lizando estruturas normais
ação(e). Os pós-potenciais a e b não atingem o potencial limiar,
do território ventricular. Na sua forma mais típica, o movimento
restringindo-se a uma atividade localizada, sem propagação
de reentrada sobe pelo ramo esquerdo. desce pelo ramo direito
e retorna ao ramo esquerdo através do miocárdio ventricular.
do ca o na nossa experiência. Diversos autores têm mostrado Conseqüentemente. a morfologia da taquicardia é de bloqueio
quenadoença de Chaga" a indução das taquicardias é marcador de ramo esquerdo. porque o miocárdio ventricular é ativado a
de morte súbita e mortalidade total. sendo importante no pla- partir do ramo direito (foig. 53.60).
nejamento rerapêurico" ", Tratamento da Taquicardia por Reentrada Ramo·
Tratamento da Taquicardia Ventricular da Cardio· a-ramo. O tratamento farmacológico não é eficaz e seguro
miopatia Dilatada. As ..im como na cardiomiopatia isquêrnica, nessa arritmia. A ablação por radiofrequência é o tratamento
onatamcnto pode ser realizado com medidas farmacológicas e de eleição. permitindo a cura de todos os ~lSOS. Pode ser necessário
não farmacolégicas. o implante de marca-passo definitivo, que deverá ser do tipo
Tratamento Iarmacotõgtco. Os antiarrümicos dos grupos I multis ítio. tendo-se em conta a presença de cardiomiopatia
(A, B c C) e IV tendem a aumentar a mortalidade independente dilatada grave na grande maioria dos casos.
do efeito antiarrítmico. Somente a amiodarona e alguns beta- Taquicardia Fascicular. É uma taquicardia originada
bloqueadorestêm mostrado valor na prevenção de morte súbita. no sistema His-Purkinje caracterizada por QRS relativamente
Isso também tem sido observado na doença de Chagas". estreito cm decorrência de ativação ventricular muito rápida

TABELA53.4 - Alternativas para o tratamento Imediato da crise de taquicardia ventricular monomórfica pós-Infarto do miocárdio

TAQUICARDIA
VENTRtCULAR
MONOMÓRFICA
Maltolerada
CardioversAotorácica externa imediata, sincronizada (100 a 360J)
OVerdrivecom MP provisório ou definitivo sob proqramação temporária
Bemtolerada

DROGA DOSEIV CUIDADOSE COMPUCAÇÕES


PrO<c1inamida 10 a 15mg/kg =
Hipotensão, QT longo, BAV. DM 17mg/kg
Melhor opçêo na ausência de isquemia
Amiodarona 150mg/lOmin Repetir a cada 15min, DM = 2.2g124h- Hipotensão, bradicardia
Udocaina 0,5 a 0,75mg/kg =
Repetir a cada S/tOmin atê DM 3mg/kg/h. Iniciar infusão continua 1 a 4mg/min.
Cuidado com depressão respiratória e convulsões
Sotalot 1 a I,Smg/kg Hipotensão, QT longo, bradicardia, torsades de polntes
Propafenona,flecainamida, Apesar de serem eficazes na reversão da TPV.essasdrogas devem ser evitadas pelo
disopiramida,quinidina fato de provocarem hipotensão importante, depressão miocárdica significativa e
maior mortalidade nos pacientes com reduzida Iraçâo de ejeção
Ablaçãopor RF Casosde TV bem tolerada, incessante ou rebelde às manobras farmacológicas podem
ser imediatamente tratados com ablação do foco arritmogênlco. A presença da TV
fadllta o mapeamento
MPprovisório Além de útil na reversão por overdrive de casos refratários, pode evitar novas crises
através de técnicas de sobre-esrimu/aç30
BAV= bloqueioatrioventricular; DM = dose máxima; MP= marca-passo;RF = radiofreqOência;TV = taquicardia ventricular
542 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 53.5 - Recomendações para o uso de drogas.


desflbriladores-cardioversores implantáveis. ablação por cateter e
cirurgia na prevenção secundária da morte súbita em pacientes
com infarto do miocárdio pregresso e taquiarritmia ventricular
documentada. conforme a European Society of Cardiology.
Quando a arritmia é grave a ponto de levar a morte súbita. o
tratamento de eleição é o desfibrilador-cardiovers9r implantável
ClasseI +++ Indicaçào totalmente aceita
Classelia' ++ Evidências favorecem a indicação
ClasseIIb + Utilidade/eficácia não totalmente Figura 53.59 - Taquicardias ventriculares paroxísticas. monomór-
estabelecidas ficas, sustentadas, na cardiomiopatia dilatada da fase crônica da
ClasseIII Sem aplicação ou contra-indicada doença de Chagas, registradas no mesmo paciente. (A) Observa-
se a taquicardia tipica dessa doença, originada na ponta do
CONDIÇÃO RECOMENDAÇÃO ventrículo esquerdo. O eixo do QRS está desviado para cima,
para frente e para a direita, contrapondo-se completamente ao
Morte súbita recuperada (TV/FV)
eixo de um QRS normal. Na ausência de infarto apical, o com-
Dcsfibrilador +++
plexo qS em V6 mostra que nenhuma ativação se dirige para a
Beta-bloqueadores ++ ponta. Na realidade, a ativação nasce na ponta e se dirige para
Amiodarona ++ a base. Nesse caso, V6 visualiza somente a "cauda" dos vetores.
Bloqueadores de K' registrando um potencial totalmente negativo. (8) Outra taqui-
Bloqueadores de Ca" cardia. um pouco mais lenta. originada na região fnfero-basal
Bloqueadores de Na' do ventrículo esquerdo
TV monomórfica bem tolerada
Beta-bloqueadores ++
cardiograma de alta resolução é praticamente normal assim
Amiodarona ++
como o ecocardiograrna e LI ressonância magnética. O estudo
Desfibrilador +
Ablação +
eletrofisiológico intracnrdíaco é muito importante porque permite
induzir a taquicardia, estudar sua origem, estudar II cstabili-
Cirurgia +
<!adc elérrica ventricular e afastar Outros tipos de taquicardia.
Bloqueadores de K'
Bloqueadores de Ca H
E fundamental para o tratamento definitivo mediante ablação
Bloqueadores de Na- por rudiofreqüência.
Tratamento. Apesar dc ser uma taquicardia ventricular,
mostra bons resultados ao tratamento com verapamil que pode
ser utilizado para reverter e prevenir as crises.
(Fig. 53.61). Essas características justificam o rato de ser Ire-
As drogas do grupo III (arniodarona c soralol) geralmente
qücnternente diagnosticada erroneamente como taquicardia
são bastante eficientes na prevenção das crises. As drogas do
supraventricular, É também conhecida como taquicardia idiopática
grupo I (inclusive lidocaína), assim como os beta-bloqueadores
do ventriculo esquerdo ou taquirardia ventricular verapamil
geralmente são ineficazes .
.senslve! ou taquicardia de Belhassen,
O tratamento definitivo é realizado com ablação por radio-
Quadro Clínico. Frequentemente, as crises aparecem na freqüêucia que apresenta lima eficácia de cura de 85 a 100%.
terceira década. porém muitas vezes os pacientes referem epi-
sódios desde a adolescência. Na maioria dos casos. não há
cardiopatia a. sociada. Palpitações e tonturas são as formas clí- Displasia Arritmogênica do Ventrículo Direito
nicas mais [reqüentes.
Diagnóstico.Oquadro cI ínico e o padrão elctrocardiogrãfico Definição. Trata-se de uma patologia, caracterizada por al-
geralmente permitem o diagnóstico sem dificuldade. O eletro- terações estruturais do vcmrículo direito (dilatação, hipertro-
fia, aneurismas), associada a taquicardías ventriculares sustentadas
e não sustentadas. É causa freqüente de morte súbita cm algu-
mas regiões (principalmente no sul da ltália)'6. Sua etiologia
QUADRO 53.4 - Principais etiologias da cardiomiopatia dilatada ainda não está bem definida. Aparentemente é uma doença
• Cardiomiopatia isquêmica familiar COIl1 padrão de transmissão auiossômica dominante e
• Cardiomiopatia infecciosa pcnctrância variável. A incidência é desconhecida, porém a
- Virai. doença de Chagas. AIOS, doença de lyme etc. prevalência é aproximadamente I cm 5.000 sendo maior em
• Cardiomiopatia tóxica
- Alcool, antiblásticos, cocalna, acúmulo de arsênico e cobalto,
deficiência de selênio etc.
TABELA 53.6 - Recomendações para o tratamento
• Cardiomiopatia familiar
das taquiarritmias e risco de morte súbita na
• Condições hereditárias cardiomiopatia dilatada
- Hemocromatose, doenças neuromusculares, anemia
sideroblástica etc. TERAPIA RECOMENDAÇÃO
• Cardiomiopatia periparto
Inibidores da enzima conversorade angiotensina +++
• Taquicardiomiopatia Beta-bloqueadores +++
• Cardiomiopatia do lúpus eritematoso sistêmico Desfibrilador (prevenção secundária) +++
• Sarcoidose Desfibrllador (prevenção primária) ++
• Doença ceHaca Bloqueador de aldosterona ++
• Cardiomiopatla auto-imune Amiodarona • ++
• Distúrbios endócrinos Ablação por radiofreqüéncia ++
• Desnutrição Cirurgia +
• Apnéia obstrutiva do sono Drogas grupo I (fração de ejeção S 40)
• Não-compa(taç~o ventricular Adaptado da força-tarefa da European Society 01 Cardiology
Doenças Cardiovasculares • 543

O ecocardiogruma c a cintilogratia mlocãrdica têm se mostrado


bastante útil permitindo detectar dilatação do ventrículo direito
e redução de sua fração de ejeção. Além disto pode identificar
aneurismas em alguns casos.
Da mesmu forma. o cateterismo cardíaco com veruriculografia
direita é altamcmc sensível (fração de ejeçâo do vcnufculo direito
< 50% é preditivo de taquicardia ventricular). Entretanto. o exame
não invasivo mais útil na avaliação estrutural desta patologia
tem sido a ressonância nuclear magnética. É o único exame
que permite identificar a infiltração gordurosa na parede do
ventrículo direito, Um outro exame não invasivo de grande
importância é o clctrocardiogrnma de alta resolução,
aVL \f\..I\}\)\}\_ VS Tratamento. Podem ver urilizudo« 0' untiurríunicos das
cla"c, I. II c III porém. o, mclhorcv resultados têm sido
obtido-, com votnlol.
aVF NVW\fIV6 A ablaçâo por radiofreqüênciu é reservada a caso, rebeldes
;1 terapia farmacológica. O~ casos rclratãrio» a trutumeuto
clínico e à ablação por radiofrcqüência o rrmamcnro de escolha
Figura 53.60 - Taquicardia ventricular por reentrada ramo-a- é o implante de DCAI.
~ ramo em paciente portador de cardiomiopatía dilatada com
~ freqüência de 202bpm, evoluindo com sincopes de repetição e
~ dois episódios de morte súbita recuperada
Síndrome de Brugada
r; A síndrome de Brugada é caracterizada por um padrão eletro-
'"" cardiográfico específico - morfologia de bloqueio de ramo
direito e upradc nivelamento de ST de V I a V3 - intervalo
algumas regiõe . como o sul da Itália. onde é responsável por QT normal e arritmias ventriculares com alto risco de síncopes
mais de l2'K dos casos de morte súbita em adultos jovens. e morte súbita. Os oito primeiro ca os descritos por Brugada e
Anatomia e Histologia. Existe infiltração übrogordurosa Brugada. cm 1992. apresentavam história de morre súbita
e inflamatôria da parede do ventrículo direito (vias de ~nída. recuperada".
pontac/ou região subtricúspide), que favorece o upnrccimcuto Fisiopatologia. A síndrome de Brugada é essencialmente
deaneurismas c de microaneurismas. O comprometimento do uma doença clctrofisiolôgicn. Os conhecimentos munis indi-
ventrículoesquerdo é raro. Cordões de cnrdlomiõcuos isolados cam que é causada por anomalia genérica llI"iginada por uma
por libro~c constituem áreas de condução lcntn c luvorcccrn mutação cio gene SCN5A responsável pela codlficucâo da pl'OtdnH
a reentrada. que constüui ()~ canais de sódio (canulupatiu). Do ponto de
Eletrocardíograma durante o Ritmo Sinusal. De- vista anutômico. II coração é normal.
pendendodo grau de comprornctimento, pode estar pruticamcntc A redução da atividade dos canais de sódlo no camada
normal ou reunir ui, Cf'.O\ vinais da patologia (.:01110: subcpicánlica Iavorccc lima rcpolurização mais rápida nestas
célulav, redu/Indo a duração da falte 2 (p/mel/II) em relação à
• Pode apresentar bradicardia c bloqueio AV de primeiro camada subcndocârdica (Fig. 53.63). Dcs: a forma, logo após
IlrJU. a dcspolarizaçâo surgem áreas repolarizadas ao lado de outras
• Padrão de bloqueio de ramo direito (I3RD) ou QRS alar- ainda despolarizadas. O gradiente elétrico resultante é res-
gado (>110 em VI). ponsável pelas:
• Quando não existe bloqueio de ramo podem ser obser-
vados espessamento c prolongamento da porção final do • Elevação do segmento ST em V I a V3 conhecida como
QRS mais evidente em V I e V2 (onda cpsi lon que cor- ondaJ (Fig. 5:1.64).
respondeà condução lenta na região de infiltrnção fibro-
gordurol>a. ~ também expressão cletrocardiogrãficu do
potenciai, tardio, registrados pelo elctrocardiogruma de
alta resolução - ECGAR).
• Pre cnça dc ondas T invertidas em V2 e V3 sem BRD. após
o 12 anos de idade é bastante sugestiva da patologia.
• Podem existir graus variados de extra-sistolia ventricular
comumcnrc com morfologia de cxtra-sístolcs do ventrículo
direito.

Eletrocardiograma da Taquicardia. As tuquicardias


ventriculares da di. plasia arrirrnogênica do ventrículo direito
tipicamentc apresentam morfologia de bloqueio completo de
rumoesquerdo (Fig. 53.62) com eixo desviado para n direita
(quando originada, na via de saída) ou, menos cornumcntc.
para a e qucrda (quando origi nadas cm região upicul ou pare-
de inferior).
Quadro(Unico. Odlagnõsüco geralmente é feito na terceira Figura 53.61 - Taquicardia fascicular. Observa-se morfologia de
década.t muito raro em crianças. O paciente pode ser totalmente bloqueio completo de ramo direito (BCRD) com eixo desviado
assinlomáticu 011 ter palpiraçõc . síncope ou 11I01'1 I.! súbita. A~ para cima e QRS relativamente estreito (140 milissegundos). Além
arritmia são gcrnlmcmc proporcionais no grau de comprornc- disso. existe disscdeção AV (freqüéncia atrial menor que a ven-
rimentodo miocárdio e. tipicamente são desencadeadas por tricular). Apesar de estar no território ventricular, essa taquicardia
esforço f(sico". foi induzida e revertida por estimulação atrial transesofágica
544 • Tratado de Clínica Médica

Figura 53.62 - Taquicardia ventricular com frequência de 150bpm,


originada por displasia arritmogênica do ventrículo direito com
morfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo e eixo normal

Figura 53.64 - Eletrocardíograma trpico da síndrome de Brugada,


• Pela tendência à inversão da onda T nas mesmas deri- mostrando o padrão sugestivo de bloqueio de ramo direito,
vações IY.IO. elevação do segmento 5T de VI a V3 e tendência a bloqueio
• Pela instabilidade elétrica ventricular com predisposição atrioventricular de primeiro grau (De Ramón Brugada 5enior
a cxtra-sísrolc e taquicardia ventricular polimórfica. Foundation)

Incidência e Prevalência. /\ síndrome de Bruaada


::> é
muno rara cm nosso meio. Entretanto. é muito freqüente em iológico fuvorãvel ti quiuidinu" ". Entretanto, até o momcnro
é

par,e, orientais como a Tailândia. Filipinas e Japão. não existem dados clínicos concreto que permitam recomendar
Diagnóstico. O diagnóstico é definido pela história clíni- a quinidina como uma alternativa segura para a prevenção de
ca c pelo padrão eletrocardiogrãflco, distúrbio de condução morte súbitu nesta patologia.
pelo ramo direito e suprudesnivclarncnto de ST de V I II V3. O isoproterenol tem mostrado propriedade supressora da
Muitos casos, entretanto. apre. cntam ctctrocardiograma normal, arritmia. Sua utilidade tem sido demonstrada cm condições de
sendo a patologia evidenciada somente pelo reste dos bloqueadores extrema gravidade como a (()/'//I('IIW elétrica (Guidaru).
de sódio. Quando surge morfologia de bloqueio de ramo direito Desfibrilador-cardíoversor Automático Implantável. É
e supradesnivclarnerno de ST de V I a V3. considera-se o teste o trarumento indicado para todo portador da Síndrome de Brugada
positivo para o diagnóstico de síndrome de Brugada. cm condição de risco. E tudo controlados comparando drogas
Prognóstico. A síndrome de Brugada é uma doença de e dcsfibri lador serão de extrema importância no próximos anos.
alto risco de morte súbita por taquiarritrnia ventricular, mes- 13m vivta do alto risco dessa índromc, a rundomização entre
mo em pacientes assintomãricos. Estima-se que a probabilida- o DCAI e antiarríunicos é impraricável o que ficou bem demons-
de anual de evento arrítmico potencialmente Iatal seja de 13.7% trado no estudo DEBUT1h• Dcwa fonnn, alé que e obtenham ~
nos paciente, recuperados de morte súbita. 8.8% naqueles com maiores informações de outro ...po ...sfvcis antiarrümicos. o Ira- ~
história de sfncopc e 5% nos casos ussintomãiicos". iamcmo dc pacientes com padrão eletrocardiogrãfico de Brugada ~
Tratamento. /\ ausência de urna origem focal das arritmias (espontâneo ou induzido por teste farrnacológico) e taquiarriunia ~
elimina a possibilidade de tratamento através da ablação por ventricular grave. induzida por estudo cletrofisiolõgico. deve x
rudiofrcqüência. Da mesma forma, a inexistência de altera- ser feito com implante de desfibrilador cardíaco.
ções cstruturnis consistentes. miocárdicus. valvulares. coronárias
c no tecido especializado de condução. tornam impraticável o Síndrome do QT longo
tratamento cirúrgico".
Trata-se de Lima condição caructerizada por prolongamento
Tratamento Farmacológico. lnfclizmcnte. o tratamento
anormal 00 intervalo QT. associada ti ocorrência de taquiarritrnias
fannacológico é ineficaz, Antiarrümicos potentes como a flecai-
ventriculares com alto ri co de morte súbita. usualmente extra-
narnida 011 a procainamida podem agravar a anormalidade
. istolia e taquicardia ventriculares polimórficas. Pode ser conaênita
elctroflviolõgicu causando pró-arritmia":". Paradoxalmente. ..
ou adquirida. "
a única droga clinicamente disponível que mostra efeito clctrofi-
Etiologia e Tipos de Síndrome do QT Longo. Cla~·
sicamcnte, ii forma congênita pode ser muito rara. autossômica
re~essiva. acompanhada de surdez (síndrome de Jervell-Lange
+20 Niclscn) ou. com mais Ircqüência, sem surdez. uutossômica
............. _..._ Endocârdio dominante (síndrome de Romano Ward). Um novo tipo. também
raro. acompanhado de anormalidades musculoesqueléticas e
paralisia muscular periódica por hipoculernia, é conhecido como
--Epldrdlo
síndrome de Andersen. Atualrncnte são conhecidos pelo me-
nos sete tipos diferentes da forma congêniia da síndrome do
Gr.dlenle olél,;CO
-90 IntramiocArdico QT longo. Existem também os portadores da anomalia genética.
que não apresentam nenhuma manifestação clínica espontânea
Figura 53.63 - Esquema dos potenciais de ação transmembrana porém. podem apresentá-Ias diante de cenas condições, como.
na sindrome de Brugada. A recuperação mais rápida da camada por exemplo. o uso de certas drogas. cstresse tisico ou alterações
subepicárdica em relação à subendocárdica causa um gradiente eletrolüicas (Quadro 53.5).
elétrico transmural. A diferença de potencial momentaneamen- Fisiopatologia. Nos diversos tipos de síndrome do QT
te resultante pode ser suficiente para reexcitar as células, cau- longo. seja por aumento na função do canal de sódio (retardo
sando uma reentrada de fase 2 na inutivução dos canais) ou por redução na função dos canais
Doenças Cardiovasculares • 545

competitivos pode ser considerada com cautela. para os por-


QUADRO 53.5 - Causas de slndrome do QT longo
tadores da síndrome do QT longo tipo 3. Estão absolutamente
• Congénita: sindrome de Jervell-Lange Nielsen, slndrome de contra-indicados os medicamentos e as sub tâncias que pro-
RomanoWard, slndrome de Andersen longam a rcpolurizução, tais sejam os bloqueadores dos ca-
• Idiopática nais de potássio. que podem induzir torsadcs de pointcs, mesmo
• Adquirida cm C:lSOS usshuomãricos. Da mesma forma. também devem
• Distúrbiosmetabólicos: hipocalemia, hipomagnesemia, ser evitados os simpuücomiméticos. É recomendável que es-
desnutrlçêograve, dietas com protelna liquida. anorexia grave
ses pacientes sejam portadores de um documento com li lista
• Bradiarritmias
dos medicamentos proibidos:
• Antiarrltmicos: quinidina, procainamida, disopiramida, sotalol,
dofetilida, ibutilida, mibefradil, amiodarona
• Antimicrobianos: eritromicina, azitromicina, claritromlcina, • Tratamento farmacológico: ernbasa-sc no uso de beta-
sulfametoxasol,trimetoprim, cetoconazol, itraconozol, bloqueadores. Estudos retrospectivos têm mostrado bene-
pentamidina, ampicilina, espiramicina, cloroquina fício inquestionável. Numa dessas análises foram avaliados
• Anti-histamlnicos: terfenadina, astemizol 233 pacientes sintomáticos (síncope ou recuperados de
• Psicotrópicos:tioridazina, fenotiazinas. butirofenona, morte súbita) em seguimento de 15 anos. A mortalidade
antidepressivostri ou tetraciclicos. haloperidol, inibidores foi 9% no grupo tratado com beta-bloqueadores ou
seletivosda receptação da serotonina. risperidona
dcncrvado cirurgicamente (retirada do gllnglio estrelado
• Outrascausas:prolapso de valva mitral, infarto ou Isquemia
miocárdicos,lesões intracranianas, infecção por HIV, esquerdo) contra 60% no grupo sem tratamento".
x hipotermla etc. • Outras drogas: foi demonstrado que ti cspironolactona,
:~~------------------------------~
! HIV. vlrus da imunodcficíência humana
potássio por via oral, uma nova droga - nicorandil e me-
xiletina apresentam resultados variáveis não podendo ser
~
....;. recomendados como alternativa terapêutica definitiva .
• Denervação cirúrgica: está indicada essencialmente nos
,. de potássio. ocorre retardo na rcpolarizução celular. que se casos que continuam com síncope, apesar do uso regular
manifesta por aumento do intervalo QT_ Aparentemente. as com dose plena de beta-bloqueadores. ou quando há im-
anormalidades eletrofisiológieas são heterogêncus e se tornam pedimento para a terapia farmacológica (portadores de
muito mais acentuadas diante de algumas condições. cu mo a bronquite asmática, por exemplo).
estimulação autcnômica. estresses físico e mental. alterações • Marca-passo cardíaco: está indicado nos casos com
eletroHticas, nção de determinadas drogas, isquemia etc .. bloqueio AV c sempre que existam arritmias ventriculares
conduzindo II instabilidade elétrica, extra-sistolia, taquicardia dctlugrudas ou agravadas por bradicardia ou pausas. Podem
polimórfica e fibrilação ventricular. ter especial indicação em conjunto com a terapia beta-
Manifestação Clínica e Prognóstico. As arritmias bloqueadora para evitar bradicardia resultante da pró-
da sfndrome do QT longo são tipicamente cxtra-sístoles pria lição farmacológica.
ventriculares polimõrficas. taquicardia ventricular bidirccional,
taquicnrdia ventricular polimórfica (tipicamente a rorsadcs de A estimulação cardíaca numa frequência acima da frequência
pointes) e a fibrilação ventricular, sinusal espontânea pode, reflexamente, inibir a ação simpática.
A sintomatologia comurncnte é resultado do início de um Dessa forma. a sobre-estimulação com marca-passo parece
episódiode torsades de pointes e pode variar desde pré-síncope. ser altamente promissora e está sendo clinicamente avaliada.
convulsão. síncope até morte súbita. Uma histériu familiar de
morte súbita é forte preditor de mortalidade. • Dcsfibrilador-cardioversor implantável: está indicado nos
Em relação ao eletrocardiograrna. quanto maior o intervalo sobreviventes de parada cardíaca (indicação secundária).
QT, maior o risco de morte súbita. Sua indicação primária, entretanto, ainda não est:í definida.
A síndrome do QT longo tipo I geralmente tem as arritmias Além de ter a vantagem de reverter uma eventual arritmia
deflagradas durante esforço físico, notadamentc a natação. Já letal. O dcsfibrilador também engloba os bcncflcios advindes
O tipo 2, mais comumente apresenta arritmias induzidas por da estimulação cardíaca em razão de sua função marca-passo.
estresse mental. causado por exemplo por fortes ruídos. prin-
cipalmente durante descanso ou sono. O tipo 3 tipicamente
apresenta as arritmias em repouso ou durante o sono sem uma
relação clara com uma condição de csrrcsse.
ln .! I
I
I I :v, 11 1 ,
I
I
,- i-. _I.. I ,.J.
Diagnóstico. O diagnóstico da síndrome do QT longo é I J Ui
feito principalmente por história clfnica, hbtória familiar ~ / J. i--o. "'i'- !Jl.

~1
geralmente positiva na forma congênita e pelo clctrocardio- I I 1'-
grama (Fig. 53.65): ~ .~
I
I I

.-
r I
• Estudo eletrojisiolágico intracardiaco: tem indicação
limitada porque. na maioria dos CllSOS. as arritmias da
síndrome do QT longo não são reprodutfveis pelo estudo
eletrofisiolôgico clássico .
• Estlldo genético: ainda não é utilizado rotineiramente.
porém, o diagnóstico e a estratificação de risco da síndrome
do QT longo por meio desses estudos estão sendo definidos. Figura 53.65 - Caso de síndrome do QT longo ti Pc;>1. Observam-
devendoser amplamente utilizados em um futuro próximo". se as ondas T amplas, monofásicas. Esse paciente, com 12 anos de
idade, apresentou dois episódios de parada cardíaca, O intervalo
Tratamento da Síndrome do QT longo Congê- QT medido (620 milissegundos) e o QT corrigido (567 milissegun-
nita. Todos os pacientes (si ntornãticos, assintonuit icos e por- dos) são bastante prolongados. O intervalo QTcorrigido> 500 milis-
tadores silenciosos de genes) devem reduzir acentuadamente segundos é indicador de alto risco. O traçado Inferior mostra o
a atividade física. Os esportes competitivos estão contra-indi- início de crises de taquicardia tipo torsades de polntes e foi obtido
cados. Uma certa liberdade para esportes recreacionais não por ocasião do ingresso na unidade de terapIa Intensiva
546 • Tratado de Clínica Médica

intervalo QT normal. Os paciente" têm hisrérin pregre sa de síncopes


c história familiar de síncopes c morte súbita em 33% dos casos,
Eletrocardiograma. O clctrucurdiogramu em riuno sinusal
A não apresenta nenhuma anormalidade específica. A taquicardia
é polimórfica (Fig. 53.66.11). porém os complexos QRS podem
assumir 11m padrão tipicamente bidlrccional (Fig. 53.66.8)
B (e:.sa mortologia também pode ser observada na síndrome do
Figura 53.66 - Taquicardias ventriculares catecolaminérgicas QT longo). Durante o teste crgornétrico 011infusão de i opro-
polimórfica (A) e bidirecional (8). observa-se a evolução para icrcnol, geralmente é possrvcl reproduzir a taquicardia que
fibrilação ventricular nos dois casos. Publicado por Priori et ai. I xurge quase sempre com frcqüência ..inusal maior que 120bpm.
Etiologia e Fisiopatologia. O estudo familiar mo tra
um padrão dc transmissão monogênica auiossômica dominante.
Tratamento da Síndrome do QT Longo Adquirida. O mapcumcnto genético e o comportamento da taquicardia
'CloSCcnvo, é fundamental a eliminação do furor causal com -ugcrcm que seja provavelmente originada por anomalia do
a retirada de condições precipitante .. e a correção de anorrna- gene que codifica a proteína que constitui os receptores ryanodina.
lidndes mctuhólicas (hipoculcmia. por exemplo). I uma con- Estes receptores regulam a saídu do cálcio do retículo sarco-
dição de cmcrgênciu. outras mcdidns podem ser necessárias. plasmático para o citoplasrnn, permitindo o acoplamento exci-
dependendo da gravidade do quadro: tação-comração, Recentemente. Priori et al. demonstraram
claramente a anomalia genética desses receptores (RyR2) cm
• 'a presença de cxtru-sixtoliu ventricular polimórfica 011 quatro famílias portadoras de taquicardia ventricular polimórfica
de torsade« de pointes. recomenda-se iniciar com injcçãn c.uccc Iam inérgica29•
intravenosa de sulfato de magnésio (2gl2min. repetiu- Quadro Clínico e Avaliação de Risco. Os principais
do-vc, <c necessário. 15min apóv). É ncccssãriu especial dado" são provenientes do estudo dc Lcenhardt e Coumel".
atenção com possível depressão rcspimtôria. Ilá história familiar de síncope ou morte úbita em 33% dos casos
• Recomenda-se aumentar a freqüêncin cardíaca basal. Isto e 0' ~iruomus aparecem cm média aos 7.8 ± 4 anos. A maior
pode ser ohrido com ivoprotcrcnol intravenoso. porém é parte do). óbito ...ocorre I1n segunda década da vida. A avaliação
maiv adequada ii inserção de um marca-passo provisório. de risco é feita essencialmente pelo quadro clínico. pois 3\
aumcnrando-sc a Ircqüênciu cardfucu até que o intervalo taquicurdius não são induzidas por esrimulnção ventricular,
QT corrigido M! torne menor que 0045 segundo. entretanto. o estudo eletrofisiológico invasivo pode mostrar a
• 1\ hipocnlcmia deve ser prontamente corrigida. Entretanto. ausência de outras etiologias e a reprodutibilidade da taquicardia
me .. 11l0 com o potássio extracelular normal pode haver com infusão de isoprotcrcnol.
benefício com uma suplemcntaçâo. 1\ administração de Tratamento. Ex istcm poucos dados para definir uma conduta
potássio intravenoso na dose de O.5mEq/kg (máximo terapêutica segura nessa patologia. entretanto recomenda-se
de 40mEq) pode aumentar a concentração dcss c íon em suspender a .uividadc física e O tratamento ininterrupto com
beta-bloqueadores. Nos casos graves. :J mortalidade é alta mesmo
O.7mEq/L (corrigindo a duração do QT c a~ anormalidades
sob tratamento clínico adequado. sendo necessário o implante
da onda TI. favorecendo () controle da arritmia".
de um DCAI (aproximadamente 30% dos pacientes).
• :--Iaintoxicação por quinidina a alculinização do pia ma
mediante infusâo de bicarbonnro de 'l)diu é bavtante útil.
Tem efeito imediato na rcduçfln da quinidina livre pelo Taquicardia Ventricular do Coração Normal
fato dc promover Mia imcdi.un ligação com as proteínas ~
O aspecto mai interessante desse tipo de arritmia é que. execro ~
pluvmáticas. reduzindo o intervalo QT. É necessário cn-
pelo toco da arritmia. o coração 6 normal sob os pontos de ViSt3
tretunto estar atento ao surgimento de hipocalcmia, que
estrutural. funcional e elcrrcflsiolôgico. Sc considerado que
deverá -cr imediatamente corrigida.
sua manifestação mais C0l11111116 nu forma de extra-sístoles do
• I)roga~ do grupo 18, como mcxilctina e difcnil-hidaruoína.
mesmo foco. observa-se que se trntu de uma arritmia muito
reduzem o intervalo QT. podendo ser útci:. como medida
frequente e de grande relevância clínica pelo grande número
complementar no tratamento imediato de condiçõe críticas.
de consultas cardiológicas. Dessa forma. a denominação mais
udcquada seria taquiarritmia 11t'lIrriCIII(/rdo coraçãonormal.
Taquicardia Ventricular Polimórfica Tipos de Taquiarritmia Ventricular do Coração
Catecolaminérgica Normal. Quanto à duração pode se apresentar na forma de
cxtra-sístoles isoladas. pareadas, taquicardia ventricular não
I:,t:l entidade clínica foi de critu por Cnu mel em 1978. É caracie- sustentada repetitiva (conhecida como taquicardia de Gallavardin)
ri/ada por taquicardia ventricular pol imórfica. induzida por ação e. Ilnalmcnte. em forma mais rara, como tuquicnrdia ventricular
udrcnérgica, em portadores de coração estruturalmente normal e sustentada. todas originadas do mesmo foco (Fig. 53.67).

Figura 53.67 - Traçado de Holter, mostrando a taquiar-


ritmia ventricular do coração normal. No mesmo minuto,
observam-se três formas: extra-sfstoles isoladas, pareadas
e taquicardia ventricular não sustentada. Esse padrão
pode se repetir pelas 24h do Holter. porém frequente-
mente ocorrem longos períodos sem nenhuma arritmia
Doenças Cardiovasculares • 547

Quanto à origem. podem ser do vcntrfculo direito (a mais terapêutico' são treqücmcs. Além disso. mesmo nos casos com
freqüenic) é do ventrículo esquerdo (incornum). excelente re-posta. as arritmias e os sintomas retornam com o
Quadro Clínico. Grande parte do. pacientes é totalmente tempo. apesar do uso correio da medicação.
assintomãtica. sendo a arritmia descoberta em exumes udmis- Ablação por radiofreqüência. Apesar-de questionável. quando
sionais, pré-natais. escolares ou pré-operatórios. Quando sinto- se trata de arritmias. na sua maioria benignas. é o rruturuento
mãticos, a queixa - praticamente constante cm todos os casos de eleição nas seguintes situações:
- é a palpitnção. Em geral. as extra-i ístolcs isoladas são sufi-
cientes para que muitos pacientes tenham sintomatologia al- • Arritmias s intornáticu». mesmo sob uso adequado da
tamente desconfortável e incupucitante. As tonturas são menos 111 cd icução.
freqüentes e a~ víncopcs são raras. • lncficriciu ou intolerância medicamentosa.
Localização do Foco Arritmogênico. A localiznção • Arritmias de alta frequência. e portanto de maior risco.
mais freqücntc é na via de saída do ventrículo direito. geral- mesmo assintornãticas.
mente logo abaixo da valva pulmonar. na face vcptul. Entre- • Taquicardiomioparia induzida por arritmias persistentes.
tanto. o foco pode estar loculizudo em qualquer parle da • Gravidei planejada durante a qual os antiarrürnicos serão
circunferência que compreende a sccçãu trunvvcrval da via de suspensos.
sarda. Essa localização gera a morfologia maio; freqUentc que • Opção do paciente para suspender a medicação.
~de bloqueio completo de ramo esquerdo com eixo desviado
para baixo (rig. 53.68). Outras localizações menos freqüentes Os resultados têm sido altamente promivvorcs. Em nossa
são o ventrfculo esquerdo. principalmente logo abaixo da valva
série de 6g pacientes, obtivemos sucesso imediato em R8,3%
aórtica nos seios coronário e não coronário. Elisa localizução
(53/60 pacicmcs). Quando o foco é à direita. o foco de origem
produz a morfologia de bloqueio completo de ramo direito
pode estar próximo do feixe de His. sendo ncccssãrio que se
com eixo de vindo para baixo e para a direita.
tome cuidado para não comprometê-lo no preces O de ablação.
Mecanismo. O mecanismodessa arritmia ainda é controverso.
Quando é à cvqucrdu. o foco pode estar muito próximo do
Algunscasovtêm cornporuuncmo sugestivu dc rnicrorrccmrada.
Outra \e/e~ levam a crer que se trata de atividudc deflagrada. ósrio da coronária esquerda.
Essnorigem é reforçada pela sensibilidade dessu arritmia ao
vcrapumil.üadcnovina e aos beta-bloqueadores. Não obxrumc. FiUTTER E fllRILAçAO VENTRICULARES
O dado mais significativo é que a origem é foca). de pequena
extensão, podendo ser tora Imcn tc c Iim inada C0111 pcq ucnas lesões O [liuter ventricular é um tipo de taquicardia ventricular muito
de ablação por radiofrcqüência. rápida e extremamente grave. Geralmente tem írcqüênciu acima
Diagnóstico. É fundamental que se ufustcm hipertrofia. a de 220bpm. Em razâo da alta freqüênciu. (I clctrucurdiugrurna
isquemia,cardiomiopiuin dilatada, condições agudas, como a mio- apresenta-se como uma onda siuuusu sem evidência clara de
carditce os disuirbio', eletrolíticos. canalopatias (síndrome do ondas R ou T. O~ complexos QRS são bastante alargados. de mor-
QT longo, síndrome de Brugada c taquicardia ventricular poli- fologia uniforme c a aiividadc atrial dificilmente é visualizada.
mórficacntccolaminérgical bem como a displasia arritmogênicu Normalmente. é uma arritmia observada em condições de grave
do ventrfculo direito. 1'\e~~ecaso. o reste crgométrico, o cecear- comprometimento do miocárdio. com acentuada repercussão
diograrna,o clctrocardiograma de alta resolução e a rcsxonância hcrnodinâmica. devendo er tratada imediatamcruc por meio
magnéticasão exame, decivivos. NlI maioria do!. casos. o elctro- de cardiovcrsâo torácica externa ou interna (Fig. 53.69, A).
cardíograma é tão tfpicu que não é necessário realizar todos A fibrilação ventricular é a arritmia mais temida. Frequente-
(l~ exames para xc concluir o diagnóstico (Fig. 53.6&): mente fatal. é caructeri/ada por uma at ividadc elétrica ventricular

• Teste erj:()/IIr1trico: é um exame indispcnsãvel na avaliação


dessa arritmia pelo fato de permitir afastar a origem ou
o envolvimento isquêrnicos. Freqüentcmcruc ocorre 11111
comportamento padrão com aparecimento da arritmia numa
freqüência sinusal de 70 a 90bpm e desaparecimento com
freqüêncins um pouco mais alias. 100 a 120bpm.
• Ecocardiograma. ressonãncia magnética e ECGAR: ti-
picarnente são normais quando não há outras patologias
3\\ociada,.
• ESfII(/o eletrofisiolágico invasivo: é importanrc para
caracterizar definitivamente a arritmia. localizar o foco
de origem, avaliar li estabilidade clérrica ventricular e o
conseqüente risco envolvido. identificar arritmias asso-
ciadas e, principalmente, permitir o tratamento curativo
mediante ablaçâo por radiofrcqüência. 'esses casos. esse
e tudo em geral só é realizado no momento do trata-
mento definitivo.
Figura 53.68 - Taquicardia ventricular não sustentada, repetitiva,
Tratamento. I a maioria das vc/cv, o objctivo principal
da via de saída do ventrículo direito. Esse é o tipo mais freqüen-
do tratamento é corrigir ou amenizar os sintomus. Pode ser te. A morfologia é semelhante ao bloqueio completo do ramo
~ farmacológico ou mediante ablação por radiofrcqüênciu. esquerdo com eixo normal. A freqüência geralmente é mals alta.
~ Tratamentu farmurClI{,J,ticc,. Pode ser feito com vcrupurnil. Essa paciente estava sob uso de amiodarona. Nesse caso, o foco
~ bera-bloqucndorcs, nntiarrürnicos do grupo I (quinidina. disopi- é subpulmonar, septal, de localização medial, próximo ao feixe
\ ramido.mexiletina. propnfcnona) ou do grupo III (amiodarona. de His. Verifica-se também, nesse caso, a presença de dissocia-
~olalol)porém. a taxa de sucesso é muito variável. Os insucessos ção atrioventricular
548 • Tratado de Clínica Médica

ablação por radiofreqüência, resultados a curto e a longo prazo. ln: CONGRESSO


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interna de desfibrilador automático implantado. O traçado suo 14. MENOOZA. 1.: CAMARDO. J.: MOLEIRO. F.; CASTELLANOS, A.; MEDIN/\.
perlor mostra também um flutter atrlal, que é revertido pelo V.: GOMEZ. J. ri ui.Su,~,inl-d \'tnlriruI3rl:K'hycardia in chronic chugnsle mYO('ulllilil:
mesmochoque que reverte o ventricular. (8) Fibrilação ventricular d.:ctroph)',iologic and pharmacologic chnmclcri>Iics. 11m, J. Curdtol.. v. 57. n. 6-
revertida por choque de desflbrllação interna por meio de p.423.427. 1986.
desfibrilador automático implantado. Osdoistraçados representam 15. 111\1:00./\. II.:CIIIALE. P.A.: BANDIERI.J. O.: LAZZARI, J. O.: ELIZARI.M.
os registros bipolar e unipolar da atividade ventricular V.: ROSENllAUM. M. B. Compal:uh ....amiarrhylhmie cfücacy 01' vcrupamíl, 17·
monochtomcclylajll1atinc. rncxileunc and emiodaronc ln 11[,liClllswith s"vercctll'gasíc
myocarditis: rclaticn Wilh lhe underlying armylhmogcnic II1cchaniSI11S ..1.Am. Col/.
Careliol., v, 7. n. 5. p, 1114-1120. 1986.
muito rápida e descoordenadaque resulta na ausênciade contrução 16. CORRADO. D.: FO!\'TAINE. G.: MARCUS. F. 1.: MCKENNA. W. J.; NAVA.A.:
eficaz e parada circulatória. A inconsciência ocorre cm 10 a 20 THIENE. G.: WICHTER, T. Arrhythmogenic righl ventricular dysplasiaJ
segundos. O elcrrocardiograma mostra um sinal elétrico de alta cardiomyopathy: need for ao inrernational registry _ Study group 00 arrhythmogcnic
right ventricular dysplasiarcardiomyopathy of lhe working groups on myocardial
frequência. totalmente irregular sem ondas R ou T. A fibrilação and pericardial disease and arrbythmias of lhe European society of cardiology and
ventricular mais frequentemente é secundária a um grave com- of rhe scicruiticcouncil on cardicmyopathies 01'the world heart federation. C;rclllalioo,
prometimento miocárdico. A causa mais frcqücnte é o infarto v. tOI. n. II. p. EIOI-I06. 2000.
do miocárdio. lesse quadro. 90% das mortes da fase aguda são 17. HIlENE. O.: NAVI\. A.: CORRA DO. O.: ROSS1. L.; PENNELLI. N. Righl "cntriculllt
cardiomyopathy and suddco death in young pcoplc. N. Engl. J. Meti .. v. 318, n, 3,
causadas por essa arritmia. Sua maior incidência é na primeira p. 129·133. 1988.
hora. Podeocorrer também cm qualquer cardiopnria grave, mesmo 18. YAN. G. X.:ANTZELEVITCH. C. CeUul.r basis for thcclcctrocardiogrnphic J wave,
na ausência de nccro c rniocárdica. A fibrilação ventricular Cirrll/,"i",., v, 93. p. 372·379. 1<)<)6.
19. RRUOADA. J.: IlRUGi\DA. R.: ANTZELEVITCII. C.: TOWOI N, J.: NADEM,\NEE,
primária. sem evidência de cardiopatia aparente. é muito rara.
K.: flRUGADA. P. Long-tcrm foUo",·upofindividunls with lhcclcclmcllnllogra(lhk
Recentemente foram descritas unomalius genéticas que tornam paliem 01' ri~llI bundlc-branch block and ST,scSlllcnl clcvution in l'rccordillllcads
o miocárdio instável clerricarncntc sob ii ação de cutccolaminas VI", V.l. Cirn,llIIliII •• v. 105. n. I, p. 73·78. 2002.
(defeito dos receptores ryanodina) ou durante o sono (síndrome 20. Ti\KAGI. M.: AllfARA. N.: KURlBAYASIIl. S.: Ti\QUCIIl, A.; SIlIMIZU. W.:
KURIT/\. T. Cl al, l.ocalized rigfu vemrículer rnorpholugicalllhllormalili", detened
de Brugada). Nessescasos,é possível ocorrer fibrilação ventricular
bycleciron-beam cempured IO'oogmphy rel~\Cl1l anil)'Ih'l1l)gcnic SUb,U'IIICS ln p:lllcnl!
como primeira arritmia em coração sem anomalia estrutural with lhe llrugada ,yndro,oc. Eur: Heurt J .. \I. 22. n. 12. p. 982·984, 2001.
aparente.Da mesmaforma que no.f1Uf(er, o trutamcnto da fibrilação 21. RERMUI)EZ. E. I'.: OARCIA.ALBEROLA. A.: SANCHEZ J. M.: MUNO? J.J. 1:
ventricular tem que ser a imediata cardiovcrsão torácica externa S.: CHAVARRI. M. V. Spontaneous sustained monomorphic ventricular lachycardla .:.
arler adrninistration 01'ajmaline in 3 paliem with Brugad» syndrome. Padng CII•. ~
ou interna (ver Fig. 53.69, B). Enquanto isso não for possível, é Electrophysio! .. v. 23. n. 3. p, -107-409. 2000. ~
necessárioinstituir as manobrasde ressuscitação cardiopulrnonar, 22. CHINUSHI. M.:r\JZAWA. Y.: OGAWA. Y.:SHlllA. M.;TAKAHASHI, K. Disclepant ~
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Doenças Cardiovasculares • 549

Por outro lado. todos os outros bloqueios do sistema His-Purkinje


tipicamente alargam o QRS além de 120 milissegundos. Na
Diagnóstico Diferencial presença de um bloqueio de ramo permanente uma taquicardia
supraventricular deverá apresentar o mesmo tipo de QRS largo

das Taquicardias com observado durante o ritmo sinusul, Eventualmente. dependendo


da freqüência da taquicardia poderá ocorrer uberrância adi-
cionai modificando amdn mai .. a rnorfologi.r.
QRS Largo Taquicardia com Aberrâncla de Condução
JoséCario Pachón Mateo. Em pacientes com QRS estreito. (I aumento súbito da frequência
cardíaca originadn por ritmo supravcntricular pode ser acorn-
Enrique Indalécio Pachón Marcos panhndo de nlnrgarncmo reversível do QRS. Esse fenômeno é
conhecido como aberrôncia de condução oufell(mU:llo de AS/II/UIII.

INTRODUÇÃO
Mecanismos de Aberrância de Condução
Quando o QRS é estreito. com raras cxccçõcs. a taquicardia é
supravcntricular, porém quando é largo pode ser ventricular De forma simplificada. considera-se que O); principais rneca-
ousupraventricular. O tratamento e o prognóstico das tuquicardias nismos de abcrrância de condução sejam os seguintes:
variamconforme sejam de origem supraventricular ou ventricular,
razão pela qual é muito importante fazer o diagnóstico dife- • Bloqueio de fa..e III.
renciaisempre que possível. Como O QRS normalmente é muito • Captura retrógrada do ramo bloqueado.
mais visível que a onda P. é altamente desejável que se pratique • Bloqueio de fase IV.
odiagnóstico a partir da anãlive do QRS·. Nesse capítulo. será
exposta uma scqüência diagnõvtica adaptada e modi ficada por Bloqueio de Fase III. Logo após conduzirem um estí-
nõs a partir dos trabalho, de Wcllcn-, c Brugada. mulo. os ramos do sistema His-Purkinje, assim como todas
as células cardíacas que apresentam potenciais rãpidos ou
ôdio-dependentes. apresentam Ulll período não excitável
PORQUEFAZERO DIAGNOSTICO DIFERENCIAL DE chamado período refrauirio, que corresponde à fase III do
UMATAQUICARDIA COM QRS LARGO;» potencial de açâo. 0\ adulrov, normalmente essa fase III c.
• a presença de cardiopatia. o diagnóstico de taquicardia conveqüemcmcmc. o período rcfraulrin. ,;10 mais longos no
ventricular significa um pior prognóstico. ramo direito que no esquerdo. Dcvva forma. um estímulo
• A infusão iruravcno-,n de drogav. normalmente IItilil.ada~ supravcntricular precoce por exemplo. uma cxtru-ststolc
no trotamento das tuqutcardiav supruvcmriculurcs, tai~ corno supravcnrricular - poderá ..er condu/ido somente por um dos
adenosina. vcrnparnilou bcra-bloqucadore...pode ocasionar ramos do sistema Hiv-Purkinjc. originando a morfologia de
graves complicnçõcs (choque, isquemia. refraturicdnde etc.) bloqueio completo do ramo que estava rcfratãrio naquele
se realizada em punudorc-, de taquicardia vcntricular. momento (aberrância de condução) (Fig. 53.71). Por ocor-
• A terapia definitiva, cspccialrnentc a não furrnucolõgica rer essa caractcrfst ica em decorrência de refratariedade con-
depende de se loculi/ar o foco de origem da taquicardia. seqüente à fase III e pelo fato de ser dependente de um
• Quanto mais rápido o diagnó,lico c a terapia apropriados. encurtamento súbito do ciclo, é conhecida como oberrãnc!a
melhor o resultado. de fase" I ou taquicardia dependente. E\1>e mecanismo res-
• Quando a arritmia está sendo bem tolerada. geralmente uma ponde pela abcrrânciu somente do primeiro batimento de uma
taquicardia ventricular é confundida com supraventricular, ruquicardia aberrante. 1\ manutenção se deve à captura re-
trógrada. conforme se explicará a seguir.
Captura Retrógrada do Ramo Bloqueado. Quan-
MECANISMOSDAS TAQUICARDIAS DE QRS LARGO do ocorre bloqueio funcional de um ramo do sistema His-Purkinje,
A taquicardia de QRS largo pode ser originada essencialmente em decorrência de um bloqueio de fase III. a condução se faz
porquatro mecanismosbávicos, trê .. de origem supraventricular pelo ramo contralatcral e é essa a razão da morfologia de bloqueio
e um de origem ventricular (rig. 53.70): de ramo (Fig. 53.71 ). Nesse mesmo batimento. a porção distal
du ramo que apresentou o bloqueio funcional é capturada
• Taquicardia vuprav entricular com bloqueio de ramo retrogradamente pela ativaçâo coruralarcral. Essa captura rc-
preexistente. trõgrada cria um novo período rcfratário. Dessa forma. os próximos
• Taquicardia supravcruricular com aberrância de:condução. batimentos da taquicardia também não serão conduzidos
• Taquicardia suprav curricular com condução atriovcmri-
cularcs (AV) por feixe anómalo.
• Taquicardia ventricular,

Taquicardia Supraventrlcular com Bloqueio de


Ramo
o bloqueio de ramo é provocado por putulogia do sistema I-Ii!>-
Purkinjc. que provoca retarde ou bloqueio na condução elé- TSV + btoquelo nv • Reentradapo, Taquicardia
de ,amo aberr~ncla feixe anOmalo ventrkular
trica pelos ramos do sivrcma de condução, Na ausência de A B C O
cardiomcgulia pronunciada. o bloqueio isolado do herni-rarno
ântero-superior esquerdo geralmente não provoca retardo Figura 53.70 - (A - D) Esquema dos principais mecanismos das
suficiente para alargar o QRS. além de 120 milissegundos. taquicardias com QRS largo. TSV= taquicardia supraventricular
550 • Tratado de Clínica Médíca

Batimentos
sinusais
.
I ' Extra·s,stole
CONSIDERAÇÕESMORFOlOGICAS
l' 'l +' atrial

_""__O :::lLlltl1l1I
Potenciai de a(ao
do rImo direito
Ausência de Complexos Tipo RS de Vl a V6
A auvação ventricular por vias normais caracteriza-se por com-
plexos negativo-, em V I e positivos em V6 - padrão supraven-
tricular. Mesmo que V I e V6 fossem monofãsicos, à medida
que a polaridade muda de V I (+) a V6 (.) surgem obrigatoria-
mente complexos intermcdiãrios tipo rS. RS ou Rs até a com-
pleta invcrvão. A uuvênciu desse padrão supraventriculur «

ou seja. :1 auvência de RS ao menos numa derivação de V I a


Figura 53.71 - Esquema da aberrãncta d.e condução or~gina?a V6 - é altamcmc sugcviivn de ecropia (Fig. 53.73). Quando
por bloqueio de fase III. também conhecida como taqukardla- o!. complexo, vão todo, monofãsicos tipo R ou qS é altamente
dependente provável o diugnõstico de taquicardia ventricular. afastando-se
ii presença de feixe anômulo.
umcrogrudumcmc por evve ramo porque este permanece re-
frat:írio cm Talão da repetição da captura retrógrudu, Duração do Intervalo RS
Bloqueio de Fase IV. Também chamado de bradicardia Na ectopia. a menor participação do sistema His-Purkinjc na
dependente, geralmente ocorre cm patologias do sistema de ativação ventricular em relação à aberrância faz com que, de
condução que com frequência evoluem com bradiarritrnias. Em modo geral. o QRS largo da ccropia seja mais largo que o da
cenas condições patológicas. o potencial de repouso das célu- aberrância, principalmentc em sua porção inicial. Dessa for·
las do sistema de condução pode apresentar redução gradativa ma. um intervalo RS > 100 milissegundos é altamente espe-
e proporcional ao período de inatividade ocasionado pela pausa cífico de ectopia.
ou pela bradicardia (Fig. 53.72). Ocorre uma lenta descarga
da membrana celular a ponto da célula não ter polaridade elétrica
suficiente para conduzir o próximo impulso, dando origem ao Aberrância versus Ectopla
bloqueio do ramo envolvido (Fig. 53.72). O grande dilema frente a um QRS largo é o diagnóstico de aber-
rância (supraveruricular) ou de cctopia (ventricular). A morfologia
do QRS nas diver as dcrivaçõc clctrocardiogrãflcas é um dos
Taquicardia Supraventrlcular com QRS largo critérios fundamentais para esse diagnõstico. Nesse sentido,
decorrente de Condução Atrloventrlcular é recomendável dividir as morfologias de QRS largo em lipo
bloqueio de ramo direito e tipo bloqueio de ramo esquerdo.
por Feixe Anõmalo conforme sejam predominantemente positivas ou negativas cm
V I e/ou V2.
Esse tipo de taquicardia depende da existência de pelo menos
um feixe unôrnalo CUI1l capacidade de condução antcrõgradn.
A tuquicnrdia pode ver vupravcnrriculnr exclusiva, como urna QRSlargO tipo Bloqueio Completo do Ramo Direito
tuqurcurdi« utrial. IlU u roentrada A V antidrãmica. na qual os
Quando I) QRS largo tem morfologia de bloqueio de ramo
:itrlll' arivum o, vcmrtculos pelo feixe anômulo e os vcntrfculos direito. Ol- principais aspectos morfológicos, que permitem o
arivarn ()~:ítrio, pclu vistcma de condução normal ou por outro diagnóstico diferencial entre cctopia e abcrrância são discu-
Icixc anômalo. A morfologia do QRS dessa taquicardia é to-
tidos. a seguir. e mostrados na Figura 53.74.
talmente dependente do ponto de inserção do feixe anômalo,
Aberrância Tipo Bloqueio Completo de Ramo
Direito. O bloqueio de ramo direito tipicamente mostra um
complexo polifásico em V I e V2 tipo rW ou rsR '. A caracte-
Taquicardia Ventricular rística mais importante é que o segundo R é maior que o pri-
meiro. Isto e deve ao fato de ser normal a primeira parte do
A taquicardia ventricular constitui exemplo autêntico de taqui- QRS na aberrância tipo bloqueio completo de ramo direito (BCRD)
cardia com QRS largo. A despolarização ectópica dos ventrículos,
e, portanto. con erva o r de V I, que é de baixa amplitude (na
ii partir de um foco localizado em alguma parte do miocárdio
ausência de sobrecarga ventricular direita). Ao mesmo tempo
ventricular. promove uma mivação fora do sistema de condução,
a aberrância tipo BCRD mostra em V6 um complexo tipo qRs
causando QRS largo. A morfologia do QRS depende da área de ou seja predominantemente positivo. Dessa forma, na ausência
origem do foco ecrõpico. podendo ser relativamente estreito. se
de grandes área inaiivas apicais, a tendência é a de que o
a taquicardia surge em algum fascículo ttaquicardiasfascicuíaresv.
QRS largo. originado por abcrrância, seja predominantemen-
te positivo cm V6 (Fig. 53.7-1. A).

alt,mentos
l s'nuuls l Batimento +
tardio ._

t t~irt·
:". 1,,) U I] I..
Figura 53.73 - Diferentes morfologias de complexos RS.Oin-
Figura 53.72 - Aberrância bradicardie-dependente - aberrância tervalo RSdeve ser medido do inicio da onda Raté a parte mais
de fase IV negativa da onda S
Doenças Cardiovasculares • 551

a-r>30rru a-rs3Oms

1c

A
i b :
............
RS> looms B RSS l00ms

Figura 53.74 - Esquema do diagnóstico diferencial entre ectopia Figura 53.76 - Principais aspectos eletrocardiográficos, que
(A) e aberrância (8) em complexo QRS largo tipo bloqueio de permitem o diagnóstico diferencial entre ectopia (A) e aberrância
ramo direito considerando a morfologia (8) em complexos QRStipo bloqueio completo de ramo esquerdo,
nas derivações VI e V2

EctopiaTipo Bloqueio Completo de


ocorre por ativaçào tardia da parede livre do ventrículo cs-
RamoDireito
qucrdo, o empastamento maior da onda S ocorre no braço
Quandoo QRS largo 6 prcdomlnarncmcmc positivo cm V I c V2. ascendente (Fig. 53.76). Dessa forma, voltando-se 11 Figura
~ suspeita-sede eetopiu sempre quc o padrão típico de BCRD 53.76. verifica-se que a onda r (a) rem menos de 30 milissegundos,
~ anteriormentedescrito não esteja presente (Fig. 53.74, B). Dessa o nadir da onda S ocorre com menos de 100 rnilissegundos (b)
1. forma, as morfologius de QRS monofâsico ou tipo qRs ou Rr' e o espessamento da onda S surge tardiamente (c). Ao mesmo
~ (sendoo primeiro R maior quc o segundo) são altamente sugestivas tempo, na aberrância. encontra-se o complexo QRS predomi-
deectopia, principalmente se ao mesmo tempo existir predo- nantemente positivo cm V6. endo do tipo R puro ou apresen-
míniode negatividade em V6 (complexos rS ou qS) (Fig. 53.75). tando umu pequena onda q. tipo 'IR ou seja, denotando que a
maior parte dos vcrorcs e dirigem da base para a ponta, ca-
QRS largo Tipo Bloqueio Completo ractcrizando o padrão típico de BCRE (Fig. 53.77).
de RamoEsquerdo
Nessa condição. o complexo QRS é predominantemente ne- Ectopia Tipo Bloqueio Completo de
gativo em V I e V2. Tipicamente é positiva na aberrãncia. po- Ramo Esquerdo
rém. pode ser posiii. a ou negativa na ectopia. A:. princi pais
características rnorfolõgicas. que permitem o dingnôstico di- A ectopia tipo BCRE aprcscnta-vc tipicamente com o padrão
mostrado na Figura 53.76. A onda r tende :1aumentar (a) atingindo
ferenciaientre cctopia c abcrrância dc um QRS largo tipo bloqueio
completo dc ramo direito (BCRE). sâo mostradas nas Figura
duração normalmente maior que 30 milissegundo . A onda S
53.76 c 53.77. endo descritas em vcqüência. é empastada cm seu braço de ccndcntc (c). Figura 53.76. A o
Conforme se pode ver na Figura 53.76. o QRS largo tipo que.juntamente com a maior duração da onda rcomribui paro que
BCREdeve ser analivado em V I ou V2. tendo-se cm vista três o nadir da onda S seja retardado. causando que a duração rS
parâmetrosprincipal ..: a duração da onda r (a). o intervalo dc (b) seja prolouguda além de 100 milisscgundos. Esses dados
tempoentre O início do QRS e () nudir tia onda S (b) e. final- são típicos de ectopia, porém. a probabilidade é ainda maior
$C. no mesmo tempo. o complexo é tipo QR ou com predomínio
mente,a presença de empastamento nos braços descendente
ou ascendente da onda S (c). negativo tipo Qr em V6 (Fig. 53.77).

Aberrância Tipo Bloqueio Completo de ATlVIDADE ATRIAl


RamoEsquerdo É necessário analisar o cletrocardiograrna detalhadamente à
Quandoo ramo esquerdo cstã bloqueado. seja por processo procura da utividade ;lIrial. Quando a arividade atrial tern fre-
orgânicoou funcional. existe urna tendência à redução da onda qüênciu menor que a ventricular. caracteriza- e a dissociação
r inicial de V I c V2. Nas mesma derivações, a onda S aumen- AV. Com raríssi ma exceçõcs, apre cnça de dissociação AV
taem profundidade c duração. Como a maior parte do retardo indica taquicardia ventricular.

Condições que Sugerem a Presença de


Dissociação Atrloventrlcular
Ondas P Dissociadas
Durante a taquicardia ventricular a condução ventrículo-atrial

r-V V6
pode ocorrer pelas vias normais ou pela coexistência de uma

Vl.V2 V6

AV .f\-Y
Figura 53.75 - Esquema da ectopia tipo bloqueio completo de Figura 53.77 - Principais aspec-
ramo direito (BCRD). Num complexo sinusal, a maior parte da tos morfológicos para o diagnós-

ar ]\_J\
ativaçaonormal dirige-se da base para a ponta, na direção de tico diferencial entre ectopia (A)
V6,sendo portanto negativa em VI e V2 e positiva em V6. Na e aberrância (8) em complexo
ectopiatipo BCRD,a maior parte da ativação ventricular se dirige QRS largo tipo bloqueio com-
paraa base,invertendo o padrão normal da despolarização. A pleto de ramo esquerdo (BCRE)
fuga dos vetores de V6 promove predomínio de negatividade
emV6 e de positividade em VI e V2
552 • Tratado de Clínica Médica

Sintomas
A sintomatologia. duramo a taquicardia. depende da cornbi-
nação de uma série fatores:
• Frcqüência ventricular.
• Presença de cardiopatia.
• Função ventricular.
• Presença de assincronia AV.
• Duração do QRS.
Figura 53.78 - Dissociaçãoatrioventricular. Nessataquicardia
De modo geral, quanto maior a freqüência ventricular. mais
com QRSlargo. pode-se observar a presençada atividade atrial
numa freqüência menor e independente da atividade ventricular. grave a cardiopatia (valvoparia. discinesias etc.), pior função
Issocaracterizaa dissociaçãoatrioventricular e confirma o diagnós- ventricular. maior assincronia AV c mais alargado o QRS. pior
tico de taquicardia ventricular (ectopia) será o quadro clínico resultante. Dessa forma, o diagnóstico
diferencial entre ectopia e aberrância, com base na tolerância
clínica da taquicardia não é seguro.
via beraou feixe anôrnnlo. Quando existe bloqueio ventrículo-
utrial de segundo ou terceiros graus, surgem ondas P dissociadas, Exame Físico
caracterizando a dissociação AV, e con firmando o diagnóstico
de taquicardia ventricular (Fig. 53.78). A visualização de ondas {/ em canhão no pulso venoso jugular,
associado ti grande mutabilidade da primeira bulha, sugere a
presença de dissociação AVe. portanto. de taquicardia ventricular.
Batimentos de Fusão t\ manobra de massagem dos seios carorídeos pode promover
as seguintes respostas:
Na presença de dissociação AV. cvcmualmcnre um batimento
sinusal pode ser conduzido aos ventrículos. participando da • Pode reverter ou lentificar lima taquicardia supraventricular.
ativação ventricular juntamente com a ativação ectópica pro- • Pode induzir um bloqueio AV transitório. reduzindo a
vocando estreitamento do QRS - batlmento de fusão. frequência ventricular e permitindo observar o ritmo
supraventricular subjacente.
• Pode induzir um bloqueio vcntrfculo-atrial transitório,
CONDiÇÕES CLíNICAS demonstrando uma dissociação t\V e. conseqüentemente,
fazendo o diagnóstico de taquicardia ventricular.
Cardiopatia Subjacente • Pode não interferir na taquicardia.

Identificar uma cardiopatia subjacente é fundamental para o DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DO QRS LARGO EM
diagnóstico. É muito importante perguntar ao paciente se teve QUATRO PASSOS
infario do miocárdio e se as palpitações começaram após O
esse evento. Em caso positivo. o diagnóstico de taquicardia ven- O diagnóstico diferencial entre cctopia e aberrância pode ser
tricular é praticamente certo". facilitado pela abordagem sistematizada do eletrocardiograma
por meio de quatro perguntas em scqüência, conforme se poderá
observar na Figura 53.793• Seguindo esses quatro passos, é possível
Idade realizar () diagnóstico eletrocardlogrãfico com sensibilidade de
98% e especificidade de 97%.
Os portadores de taquicardia ventricular geralmente têm idade
mais avançada que os de taquicardia supravcntricular, O diagnós- REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS
tico mais comum em crianças o dc taquicardia supruveutricular
é
I. \VELLENS. H. J.: BAR. F. w.: UE. K. I.The value of lhe elecrrocardiogram in lhe
por feixe anômulo e. em adultos jovens. o de taquicardia por diffcreniial diagnosis of a tachycardia with n widcncd QRS complex. Allt J. Afrd..
v.6·l_ n. I. p. 27·33. 19'1_S.
reentrada nodal. 2. TClWU. P.:YOUNG. P.:MAHMUD. R.: DENKER. S.:JA2AYERt. ~t.:AKIITAR.
M. Ul'Cful clinical criteria for lhe diagno,is or vcntrículnr lachyC3tdia. Am. J Mrd.•
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Cirrutatio», v. ~3. n. 5. p. t6-l9-t659. t991.

Fibrilação Atrial
José Carlos Pachón Mateos
Enrique Indalécio Pachón Mateos
Tasso Júlio Lobo

Taquicardia ventricular DEFINIÇAo


A fibrilação atrial é uma taquiarritmia supraventricular, sendo
Figura 53.79 - Quatro perguntas básicas para o diagnóstico lima das arritmias mais frequentes na prática clínica, É carac-
diferencial das taquicardias com QRSlargo terizada pela perda da caractcrfstica sincicial elétrica das pa-
Doenças Cardiovasculares • 553

redesatriai .. As células passam a responder no limite da ca- atrial sempre existem: um [ator deflagrador: um substrato.
pacidade determinada pelo período rcfratário da, mesmas. o 011 [ator nunucncdor; e um fator modulador (Fig. 53.81).
qual é variável nos div ersos pontos e pode ser muito reduzido
em algumas regiões da parede atrial. A ativação ventricular re- Substrato ou Fator Mantenedor
sultanteé irregular. rápida ou lenta, dependendo da permeabilidade
da junção atriovcntricular (AV). da Fibrilação Atrial
o estudo de l laissuguerredemonstra que os Illlli~ frequentes fatores
FISIOPATOLOGIA deflagradores da fibrilação atrial são consiirufdos por batimentos
arriais prematuros precoces. provenientes das veias pulmonares'.
Ritmo Atrial Com base nessesachados foi iniciada a moderna terapia da fibrilação
Emritmo sinusal, os átrios normais se comportam como se fossem atrial mediante ablação por cateter, eliminando ou isolando os
uma única grande célula. Graças aos discos intercalares - es- deflagradores, com um grande arsenal de opções por meio de
truturas que apresentam baix íssima resistência eletroiônica - ablação por radiofreqüência'". Entretanto. pouco tem sido feito
todas as células se despolarizam c rcpolarizam numa scqüência no sentido de identificar e tratar o substrato da fibrilação atrial.
organizadacomo se tivessem um único citoplasma c uma única A real fisiopatologia dessa arritmia aindu não está bem definida.
membranacelular. Essecomportamento é conhecido corno sinctcio Muitas questões ainda não estão bem esclarecidas, porém a mais
elétrico (Fig. 53.RO. 11). Na fibrilação atrial diversas patolo- intrigante talvez seja: por que pessoas JOI'('II.1' sem nenhuma
gias,barreiras anutôruicas ou interfaces neuromiocrirdicas e os cardiopatia identificável podem apresentar fibrilação cariai?
"i"llO.ule .fibrilação a/ria/ promovem a perda do sincicio elé- Esta e outras questões sugerem a ex isiêncin de um substrato
uico, permitindo que grupos celulares apresentem comporta- cspecffico, além dos deflagradores nas veias pulmonares, o qual
memodivcrso das demais células, até mesmo diferentes perfodos é comum tanto no coração doente como no normal. ou seja, pro-
refratários, fragmentando a despolarização e :1 rcpolnrlzação. vavelmente congénito. Recentes observações têm demonstrado que
Des a forma. Iarorc« deflagradores (geral mente cxtra-sístoles) o substrato da fibrilação atrial parece estar relacionado a áreas
iniciam as despolarizações dos circuitos mail. SlI cetíveis (11;- da musculatura atrial cujos miócitos estão relativamente afasta-
IIhosdejibri/a('(io atrial), os quais serealimenram entre si. perpe- dos ou apresentam menor quantidade de conexinas, Nesse pon-
tuandoo fenômeno da fibrilação atrial (ressonância elétrica), to, o miocárdio perderia parte de sua propriedade sincicial. Essas
regiões são os ninhos de fibrilação atrial e podem ser identi-
Ritmo Ventricular ficadas por meio de mapeamento espectral durante o ritmo si nusal 10.
Diversas evidências sugerem que esses ni nhos podem ser de ori-
A fibrilação atrial pode se manifestar clinicamente corno uma
gcrn congênita ou adquirida. conforme as seguintes condições:
taqui ou lima bradiarritrnia. A chegada desordenada de um ele-
vadonúmero de estímulos ao n6 AV provoca uma estimulação • Degenerativas (doença do nó sinusul).
ventricular irregular detcrmi nada pela propriedade de f It ro do • lnflamatórius (rniocardite).
n6AV.A irregularidade do ritmo ventricular promove a alternância • Isquêmicas (coronariopatia).
de ciclos R-R curtos com ciclos R-R longos predispondo a: • Metabólicas (hipertireoidismo. simpaticotonia).
• Farmacolégicas ou químicas (simpaticomiméticos, álcool,
• Fenômenos de aberrância frcqüência dependente fase III
drogas).
(fenômenode Ashman) e fase I V (bradicardia dependente).
• Mecânicas (distensão e/ou hipertrofia do átrio esquerdo
• Taquicardias por reentrada de His-Purkinje.
por valvoparia. insuficiência cardíaca congestivo - ICC
• Palpitações, pela contração mais tone, quando os vcmrfculos
ou curdlomiopatia).
apresentaram maior tempo de enchimento,
• Ciclos cardíacos sem abertura da valva aórtica (QRS sem
pulso). Fator Deflagrador
• Regurgitação mitral. Geralmente são as extra-sistoles (Ireqüememcnte de veias pul-
• Trombocrnbolismo. monares). a taquicurdia e oflutter a/riais. Num ~trio normal,
A frcqüência ventricular vai depender du capacidade de con- essas arritmias silo estáveis, entretanto. num {ttrio que apresenta
dução,ou seja, da permeabilidade do n6 AV. Quando a con- substrato para a fibrilação, em geral essas arritmias evoluem
duçãoé acelerada - como nas síndromes de pré-excitação -
a freqüência ventricular pode ser rápida a ponto de provocar
síncopeou mesmo morte súbita. Por outro lado, quando exis-
teassociadauma dificuldade na condução AV - como nos blo-
queiosAV - a frcqüência ventricular resultante pode ser lenta
apontode provocar grande pausas e sintomas de bradiarriunia.
Quundoon6AV é normal, geralmente a freqüência da flbrilação
atrial permanece entre 120 e 160bpm. Além da irregularidade
constantedo ritmo ventricular, que provoca ~illlOl1las de pal-
pitações,eventualmente alguns casos apresentam frequência
ventricular constantemente elevada, podendo levar li i nsu fi-
ciência cardíaca (taouicardiomiopatia'i. A Ritmo sinusal B Fibrilação atrial

Origemda fibrilação Atrial Figura 53.80 - Esquema representativo da ativação atrial em


ritmo sinusal (A) e durante fibrilação atrial (8). Em ritmo sinusal,
Teoricamentc.a fibrilação atrial pode ser provocada cm qualquer
os átrios se comportam como se fossem uma única célula (sincicio
coração- até cm coração normal - pois as diversas conexões elétrico). A despolarização segue homogênea como uma única
vasculares,a presença dos anéis vai vares e a interface ncuromio- frente de onda. Inversamente, na fibrilação atrial as células se
cárdicapresente cm todos os átrios determina o atasramcnto comportam independentemente em razão da perda irregular
dascélulas miocãrd icas e a conseqüente formação dos ninhos das conexões entre elas (desaparecimento do sincício elétrico).
di' jibri/crç(ioatrial. os quais constituem a unidade do substrato A captura desordenada do nó atrioventricular provoca a irregu-
dafibrilação arriai. É bem estabelecido que tarnbém na fibrilação laridade típica do ritmo ventricular na fibrilação atrial
554 • Tratado de Clínica Médica

mais ou menos rapidamente para a fibrilação atrial (Fig. 53.81). Fibrilação Atrial Secundária
Quanto maior ti estabilidade elétrica, maior a resistência do
átrio a essas arritmias sem O surgimento de fibrilação atrial. Nesse caso se identifica uma cardiopatia subjacente que poderá
Os deflagradores podem ser climinudos ou isolados por meio ou não ser reversível, determinando ou não a presença do íutor
de ablação por radiofrcqüência, permitindo curar a fibrilação causal da fibrilação atrial. A hipertensão arterial. as valvopatias,
atrial, mesmo que não seja possívcl eliminar O substrato. a cardiopatia isquêmica, a insuficiência cardíaca e a rniocar-
dioesclernse são as condições associadas com mais freqüência.
Também pode ocorrer em condições agudas, em geral rever-
Fator Modulador
sfvcis. como inf'arto agudo do miocárdio, cirurgia cardíaca,
O fator modulador agecomo catalisador, facilitando o surgimento doença pulmonar, hipertireoidismo, pericardite, embolismo pul-
dos fatores deflagradores e da instabi lidado elétrica (Fig. 53.81). monar, pneumonia etc.
Podeser de origem metabólica (esforço físico, febre). autonômica
(hiperestimulação adrcnérgica Ou colinérgica), hormonal (hipeni- Classificação de Acordo com Fatores Temporais
reoidisrno, remodelação hormonal da insuficiência cardíaca),
farmacológica (drogas bela-estimulantes), drogas lícitas (ál- Essa é a classificação mais difundida pelo fato de referir-se ao
cool) ou ilícitas (cocaína) etc. Sua idcmificação é muito im- comportamento clínico da fibrilação atrial, que pode ser paro-
portante porque se pode modificá-lo ou eliminá-lo clinicamente xística, persistente ou permanente.
mediante medicamentos ou hábitos de vida, contribuindo para
o controle da fibrilação atrial. Fibrilação Atrial Paroxística
É a fibrilação atrial que termina espomancamente dentro dos
CLASSIFICAÇÃO primeiros 7 dias de instalação (geralmente nas primeiras 24h).
A fibrilação atrial tcm apresentaçãoclínica heterogênea.surgindo Tem alta prevalência entre 50 e 69 anos e constitui 25 a 62%
na presençaou ausência de cardiopatia. Geralmente é classificada de todos os casos.
conforme se identifique ou não uma cardiopatia subjacente
ou segundo os fatores temporais. Fibrilação Atrial Persistente
Necessita de intervenção do médico para a reversão (química
Classificação Quanto à Presença de Cardiopatia ou clétrica). ou dura mais de 7 dias. Pode ser a primeira forma
Fibrilação Atrial Primária de apresentação ou evolução de episódios recorrentes da for-
ma paroxística.
Quando não se ident i fica nenhuma cardiopatia subjacente e não
há história de hipertensão arterial, isquemia, cardiomiopatia
ou doença reumática. O exame clínico, eletrocardiogrnma. teste
Fibrilação Atrial Permanente
ergométrico e o ecocardiograma fora das crises são normais. Não responde à cardioversão elérrica ou farmacológica ou,
Freqüentemenre os pacientes têm menos de 60 anos de idade. quando isso é possível, recidiva facilmente, ocorrendo somente
Na literatura inglesa, é uadicionalmcntc conhecida como loue curtos intervalos sem fibrilação arrial. É geralmente referida
atrialfibrillation. Estima-se que represente 20 a 30% de todos comfibrilaçâo atrial crõnica. Em torno de 30% dos casosde
os casos de fibrilação atrial, Comparada :lOS outros tipos, tem lone arriai fibritlation evoluem para a forma permanente. A
baixo risco de tromboembolisrno. forma persistente não tratada comumente se torna permanente.

Fibrilação Atrial Recorrente


Fator deflagrador Fator modulador
Foco CondiçAo predisponente Considera-se recorrente a fibri lação atrial parox Istica ou per-
Arritmias de veias Tónus neuroveqetetlvo sistente, que se repete mais de duas vezes.
pulmonares 1- Falores endócrinas
Taquicardia alrial Tensão das paredes
FlUir.' alllal atriais EPIDEMIOlOGIA
A fibrilação atrial é a arritmia cardíaca clinicamente signifi-
cativa mais frequente. Pode chegar a um terço das internações
por distúrbios de ritmo cardíaco!'. Nos Estados Unidos, estima-
Sem substrato Fator mantenedor se que 2.2 milhões de pessoas apresentem atualmente fibrilação
para a FA Substrato
Estabilidade elétrica ele tIO fisiológico I-- atrial paroxística ou persistente e surjam 200.000 a 400.000
atrial
·Ninhos de FA"
novos casos por ano".

Prevalência
1 Estima-se li prevalência de fibrilação atrial em 0,4% da popu-
lação geral, porém ela aumenta nitidamente com a idade", B
II
Taquicardia/Extra·
Fibrilação atrial
slstoles atrlais
rara na infância, exceto nos casos submetidos a cirurgia cardíaca.
Ocorre em menos de I % da população com menos de 60 anos
Figura 53.81 - Esquema dos fatores envolvidos na gênese da
e em mais de 6% acima de 80 anos":". A prevalência é maiornos
fibrilação atrial (FA). Na ausênciade substrato (fator mantenedor),
osfatores deflagradores permanecem autolimitados, não surgindo homens em relação 11S mulheres. A raça branca tem o dobrode
a fibrilação atrial. Quando existe substrato, os mesmos fatores risco de desenvolver arritmia em relação à raça negra. A pre-
deflagradores provocam fibrilação atrial com maior ou menor fa- valência também aumenta com a gravidade das cardiopatias
cilidade, dependendo da suamagnitude. Tanto o fator deflagrador principalmente com o grau de insuficiência cardíaca e comas
como o substrato sofrem efeitos facilitadores ou inibidores do valvopatias. A frequência da tone fibrillation chega até 30%
fator modulador de todos os casos, em alguns estudos",
Doenças Cardiovasculares • 555

Prognóstico atrial persistente. Muitas silo as vantagens de reversão da fibri-


lação atrial:
A monalidadc na fibrilação arriai é aproxirnndarncntc o dobro
da observada na população de mesma idade sem fibrilação";
• Elimina as palpitações pela recuperação do ritmo sinusal.
Depende diretamente do grau da cardiopatia subjacente e do
• Melhora o rendimento hcmodinârnico pela recuperação
risco de trombocmbolismo. I o estudo Framingham. o risco
da arividade mecânica atriul. rcgularizução do ritmo
de acidente vascular cerebral isquêrnico (AVCI) na fibrilação
ventricular c melhora da função mitral.
amai aumentou de I.Si'f ao ano em pacientes entre 50 e 59
• Evita a cardiorniopatia arriai.
anos para 241} por alio na faixa etâria de 80 a 89 anos". Além
• Reduz acentuadamente o risco de tromboernbolismo.
disso. foi verificado que a taxa de AVCI na fibrilação atrial
• Reduz ou elimina o uso de anticoagulantes.
nãovalvular foi cinco vezes a da popu laçüo normal de mesma
idadee 17 veles no caso de fibrilação atrial associada a valvopatia
reumática", Considerando-se os AVCltr;lIl~i tôrios e os episódios Reversão Farmacológica da Fibrilação Atrial
de isquemia cerebral detectados radiologicamente, a taxa de
Deve ser considerada sempre que o paciente estiver tolerando
isquemia cerebrnl ultrapasv .. os 7% 30 ano na fibrilação atrial.
a arritmia sem grande comprometimento hcmodinârnico. É menos
Umem cada seis AVCI ocorre cm pacientes com fibri lação atriaf".
eficaz que a cardiovcrsão clétrica, Os melhores resultados são
obtidos nas crises recentes, com menos de 48h de duração.
CONSEQUlNCIAS cllNICAS DA FIBRilAÇÃO ATRIAl Medidas Gerais. Antes da reversão é absolutamente in-
Na ausência ele pré-excitação. a fibrilação utriul é uma arritmia dispensável realizar a prevenção do tromboembclismo. Além
tipicamente benigna, entretunto. pode comprometer a qualidade disso. é fundumcruul o uso de um unsiolítico de ação imediata
de vida, a condição hcmodinâmica e II risco cardiovascular cm e. caso haja hipertensão arterial ou isquemia coronariana, estas
graus muito variados entre pacientes ou. no mesmo paciente. deverão l-er rapidamente aliviadas. O paciente deverá ser moni-
emdiferentes épocas. De forma simplificada. pode-se considerar torado. pois os medicamentos podem eventualmente provocar
que as principais conseqüências clínicas da fibrilação atrial são: efeitos colaterais como hi porensão. diarréia. bloqueio AV. QT
longo ou pró-arritmia que necessitam medidas imediatas.
• Sintomas. Tratamento Especifico. A reversão poderá ser feita por
• Perda da contribuição arrial no débito cardíaco. medicação IV ou de lI111a forma mais lenta. por via oral. As
• Irregularidade do ritmo ventricular. principais drogas urilizadas em nosso meio na reversão da
• Freqüência cardíaca inapropriada. fibrilação utrial estão mostradas na Tabela 53.7.
• Trombocmbolivmo.
Reversão Elétrica da Fibrilação Atrial
TRATAMENTO (Cardioversão)
o tratamento da fibrilação atrial depende de várias pondera-
ções.como o grau de sintomatologia. () comprometimento hc- De um 1110dogeral utiliza-se a cardiovcrsão elétrica torácica ex-
modinãmico, a presença de cardiopatia de base. a duração da terna como tratamento imediato e de eleição. quando a fibrilação
fibrilação airial, a idade do paciente, a etiologia. a presença arrial provoca sintomatologia muito importante. comprometi-
de fatores removíveis etc. Alguns princípios básicos podem mento hcmodinâmico grave ou angina. De forma clctiva, está
ser considerados: indicada. quando houve insucesso nu reversão farmacológica.
Medidas Gerais. Antes da reversão 6 absolutamente indis-
• A fibrilação "trial deve ser revertida sempre que possível. pensável realizar a prevenção do trombocmbolisrno. A cardio-
• Sehouver comprometimento hernodinâmico grave. a libri- versão sem amicougulação prévia tem uma taxa de 1 a 7% de
lação atrial deve ser imediatamente revertida, sendo a car- trornboernbolismo!'. O procedi mente só deve ser real izado em
dioversão clétrica o trauuucuro de primeira escolha. ambiente com disponihil idudc de recurso!' adequados para
• A fibrilação atrial com mais de 48h não deve ser rever- ressuscitação cardiopulmonar. O paciente deverá estar cm jejum
tida sem prevenção do t romhocrnbolisrno com medidas de pelo menos 4h e ser rnonitorudo quanto a ritmo cardfaco,
cabíveis II cada caso. pressão arterial e oxirnetria. É fundamental ctctuar urna ade-
• Caso hnja ÍlhUCt!),),O na reversão. o tratamento deve almejar quada sedação intravenosa. com drogas de rãplda eliminação
o controle da Ircqüência ventricular. para evitar a percepção dolorosa do choque.
• A cuidadosa identificação clínica. eliminação ou controle Cardioversão. Ap6:. a sedação. deve-se confirmar que o
do fator modulador 011 condição predisponente é essencial dcsfibrilador esteja detectando o QRS adequadamente para
ao sucesso do tratamento da fibrilação utrial. garantir o choque sincronizado COI11 a onda R. De modo geral.
deve aplicar um choque bifãsico com 200J. A eficácia da desfi-
Dessa forma. o tratamento resume-se cm: bri lação é maior quando se posicionam a~ pãs do desfibrilador
na dispo ição ârucro-postcrior c o paciente foi previamente tratado
• Reversão da fibrilaçâo atrial tcontroie do rilmo). com quinidina. Nos pacientes portadores de marca-passo ou
• Controle da freqüência ventricular (contrate de freqüência). desfibrilador. sob nenhuma hipõtcsc uma das pás poderá estar
se não for possível revertê-Ia. aplicada sobre o gerador. Nesses casos, a desfibrilação ântero-
• Prevenção do tromboemholismo que se aplica a LOdos posterior é a mais scgu ra.
os casos.
Controle do Ritmo por Meio de Tratamento
Controle do Ritmo [Reversão da Não Farmacológico
~ee fibrilação AtrlalJ Nessa alternativa, pretende-se obter a cura da fibrilação arriai
e-
":Esseé o trntamcnto natura I'mente desejado e 111 todos os casos. sem a necessidade do uso crónico de antiarrftmicos. Dentre
~ Areversão pode ser farmacológica ou clétrica. Aplica-se tipi- as principais alternativas. podem ser ciladas: ablação por radio-
~ camentena fibrilação atrial aguda ou paroxfsiica C! na fibrilação frequência, marca-passos especiais e cirurgia.
556 • Tratado de Clínica Médica

Ablação por Radiofreqüência. A grande vantagem Por outro lado, o segundo tipo de miocárdio, a que se
desse método é obter a cura da fibrilação atrial por meio de denomina.fibrilar, é semelhante a um maço de fibras neurais,
cateter por via rranscutânea. sem toracotomia. Com essa aborda- É composto por fascículos relativamente independentes, com
gem. pode-se eliminar «fator deflagrador ou modificar o subs- condução heterogênea e fora de fase em ritmo sinusal, Apre-
trato, impedindo o início ou a manutenção da fibrilação atrial. senta alta freqüência com aiivação desorganizada durante li
Eliminação dos fatores deflagradores da fibrilação atrial fibrilação atrial. A FFT dos potenciais desse tecido mostra
mediante ablação por radiofrequência. Os fatores deflagradores um perfil de baixa potência. fragmentado e heterogêneo,
mais comuns para a fibrilação atrial são as extra-sístoles e taqui- sugerindo que representa um maço de fibras distintas. Ape-
cardias deveias pulmonares, as taquicardias arriais e opll/ter sar de ter uma frequência fundamental, apresenta um grande
atrial". número de harmônicas irregulares de grande amplitude e base
Focos de veios pulmonares. É possível a cura em 72% dos alargada. A elevada amplitude relativa desses sinais causa
casos ou até em 84% ou 99% se forem mantidos antiarrítmicos um desvio para a direita na FFT (ver fig. 53.84, ti direi/a).
pós-ablação. realizando-se de um a três procedimentos=". Felizmente, na ausência de doença atrial grave, o miocárdio
Diversas técnicas têm sido desenvolvidas com esse propósito, fibri lar é reservado a pequenas áreas, denominadas ninhos
tais sejam o mapeamento e a ablação do foco de origem dentro de fibrilação atrial '",
das veias pulmonares (Fig. 53.82), o isolamento circunferencial
Origem dos ninhos de fibrilação atrial, As características
e o isolamento segmentar das veias pulmonares. Apesar de pouco
espectrais, a localização, a relação com a inervação, veias e mio-
frequentes as complicações potenciais, como embolismo
cárdio sob tensão sinalizam que o miocárdio fibrilar é formado
sistêmico, estenose de veias pulmonares, efusão pericárdica,
tamponamento cardíaco, fístula atrioesofágica e paralisia frênica, por células soltas ou mal conectadas (ver Fig. 53.85), prova-
tem-se restringido seu uso. Além das veias pulmonares po- velmente relacionadas às seguintes condições:
dem ocorrer arritmias deflagradoras originadas nas veias ca-
vas, no óstio do seio coronário e 110 ligamento de Marshal. • Congénita: entrada da inervação vagal (interpolação das
Todos esses pontos podem ser igualmente tratados por meio fibras)".
de ablação focal por radiofrequência. • Constitucional: redução das conexinas com predomínio
Flutter e taquicardia atrial. Oflutler e a taquicardia arriais de conexões término-terminais (crista terminalisi.
podem ser deflagradores dc fibrilação atrial em até 30% dos • Transição atriovenosa (interpolação de tecidos na inserção
casos. Também as taquicardias por reentrada nodal ou AV podem ela veia pulmonar).
deflagrar a fibrilação atrial em muitos pacientes que apresen- • Estirarnento mecânico do miocárdio atrial (separação das
tam substrato suscetível. Todos esses casos podem ser fácil- células por condições patológicas).
mente tratados por meio de ablação por radiofrequência. • Redução da expressão das conexinas (ICC, envelheci-
Modificação do substrato da fibrilação atrial por meio mento, condições congênitas),
de ablação por radlofreqüência. A análise espectral median- • Patolágica; degeneração isquêmica, inflamatória ou
te transformada rápida de Fourier (FFTJas/ Fourier transfornú infiltrativa com redução das conexões celulares laterais
é o método utilizado atualrnente para identificar o substrato e conexinas.
da fibrilação atrial. Com esse propósito, foram desenvolvidos
um hardware e um software específicos, que trabalham com Comportamento do miocárdio compacto e do miocárdio
um polígrafo de 32 canais, permitindo obter cm tempo real a fibrilar durante a fibrilação atrial. O miocárdio compacto
FFT dos sinais endocãrdicos (Fig. 53.83). Isso nos permitiu e o fibrilar, identificados durante o ritmo sinusal, apresentam
encontrar dois tipos de miocárdio nos portadores de fibrilação comportamento muito diferente após indução da fibrilação atrial.
atrial, sendo o primeiro, o miocárdio compacto, que se com- Apenas o miocárdio fibrilar ninhos de fibrilação atrial apre-
porta como uma única célula e apresenta condução rápida e senta.fibri/açiio real, com baixa amplitude, altíssima frequência
homogénea, com todas as células ativadas em fase. O FFT e atividade elétrica desorganizada (ver Fig. 53.86, C). Enquanto
desse tecido apresenta uma forma bem definida, com frequência isso, o miocárdio compacto apresenta grande amplitude, rela-
fundamental de alta potência e queda rápida e. uniforme de suas tiva regularidade, baixa frequência e atividade elétrica bem
harmônicas. Chama a atenção o fato de que suas treqüências organizada (ver Fig. 53.86, D). Durante a fibrilação atrial, os
tendam a se concentrar à esquerda (Fig. 53.84, à esquerda). ninhos de fibrilação atrial apresentam ativação desorganiza-
Apresenta baixa freqüência e ativação organizada durante a da c de elevada frequência, cujos valores dependem de carac-
fibrilação atrial. terísticas específicas de cada ninho defibrilação atrial. Quanto

TABELA 53;7 - Drogas utilizadas na reversão farmacológica da fibrilação atrial

DROGA VIA DOSE COMPLICAÇÕES


Amiodarona VO Hospitalar: 1,2 a 1.8g/dia até 10g Hipotensão. bradicardia. OT longo. TP (rara), diarréia,
Ambulatorial: 600 - 800mg/dia até 10g constipação, flebite (IV)
IV 5 - 7mg/kg em 30 - 60min; 1,2 - 1,8g/dia IV até 10g
Manutenção = 200 - 400mg/diaNO

Propafenona VO 450 - 600mg Hipotensão, ffutter com condução atrioventricular 1:1


IV 1,5 - 2mg/kg em 10 - 20min*

Ouinidina VO 0,75 - 1,5g divididos em 6 a 12h OT longo, TP, diarréia, glaucoma, hipotensão, prostatismo

Disopiramida VO < 50kg: 100mg/6h ou 200mg/12h OT longol' TP. diarréia, glaucoma, hipotensão, prostatismo
> 50kg: 150mg/6h ou 300mg/12h

Procainamida IV 10mg/kg/l0min* OT longo, TP, diarréia, glaucoma, hipotensão, prostatismo


• Cuidado na utilização em casoscom baixa fração de ejeção. O paciente deve estar monitorado
tV = intravenoso; TP = torsades de pointes; VO = via oral
Doenças Cardiovasculares • 557

Pré-ablação
Vl
m
..()
;J>.
O

Pós-ablação
~~ ~ ~A~ ~A~ __~~A~ ~JL--_

VI

V y
Figura 53.83 - Espectrômetro desenvolvido por Pachón e Pachón,
composto de um amplificador de alta precisão com filtros especifi-
Figura 53.82 - Exemplo de ablação do fator deflagrador de uma cos e um software IBM-PC compatível, para obter as análises espectrais
fibrilação atrial. Nesse caso, a fibrilação atrial estava sendo bi e tridimensionais dos sinais endocárdicos, em tempo real
deflagrada por uma extra-sístole bigeminada persistente, origi-
nada no interior da veia pulmonar superior direita. Nesse local,
foicolocado o cateter de radiofreqOência e realizada a ablação
(VPSD·RFJ, obtendo-se o desaparecimento da extra-sístole dos • Manter o sincronismo AV.
surtosde fibrilação atrial. Os asteriscos indicam as extra-sístoles • Recuperar a tunção mecânica atrial.
de veias pulmonares que se propagam e estimulam os átrios, • Eliminar o risco de trombocmbolismo atrial.
dando origem a extra-sístoles atriais (P'J, fenômeno PfT
A principal técnica cirúrgica com estes propósitos é conhecida
como cirurgia de Cox-Maze' ", cuja evolução atualmente se
maissegmentado o espectro e maior o ninho defibrilação atrial, encontra na terceira geração (CM III). O fundamento dessa
mais elevada e sustentada a freqüência de ativação durante a cirurgia é excluir os fatores deflagradores (isolando as veias
fibrilação arriai. Durante a arritmia o miocárdio compacto com- pulmonares) e inativar o substrato. criando diversas linhas de
porta-secomo espectador passivo, recebendo elevada Frequência bloqueio nas paredes arriais.
de ativação clétrica. vinda de muitos ninho defibrilação atrial, Marca-passo no Controle do Ritmo no Tratamento
que apresentam padrão atÍ\ o/rcssonamc. gerando grande nú- da Fibrilação Atrial. Diversas técnicas de estimulação têm
merodc estfmulos. A In..'qüência de arivação do músculo compacto sido exaustivamente estudadas no controle e prevenção da fibri-
é limitada pelo seu período refratãrio. apresentando rclat iva lação atrial. Tem havido benefício essencialmente com o marca-
regularidadedo ritmo. Todavia. apesar do comportamento passivo. passo fisiológico, com a evtimulação atrial multissítio e com
o músculo compacto contribui para a manutenção da fibri lação técnicas de ovenlrive dinâmico. De modo geral, o marca-passo
atrial, ligando e cnnduvindo estímulos passivamente entre os apresenta melhores resultados quando existe doença do nó sinusal
muitosninho defibriíaçãa atrial. O~ quais multiplicam e devolvem ou bloqueios irncratriuis. A~ pausas. a bradicardia e as grandes
elevado número de cstfrnu los'", oscilações de ciclo resultantes dali pausas põs-extra-sístõlicas
Neste modelo. o ninho dejibrilação atrial é ()gerador at ivo, prcd ispõcm aos surtos de fibrilação atrial, A diástole prolongada,
enquanto o miocárdio compacto se comporta como condutor a dispersão da rcfraturicdadc. a distensão das paredes arriais
passivo. e a redução de reflexos autonómicos são algumas das causas
Tratando a Fibrilação Atrial em Ritmo Sinusal envolvidas. A eliminação dessas irregularidades de ciclo e a
Mediante Ablação por Radiofreqüência dos Ninhos supressão de ectopias por meio de marca-passos têm se mos-
de Fibrilação Atrial. A grande vantagem do conceito dos trado útil na prevenção da fibrilação atrial. Basicamente po-
ninnos de fibrilação (II ria I é permitir a ablação por cateter dem ser consideradas nessa aplicação três diferentes regimes
durante o ritmo sinusal'" (ver Fig. 53.87). Temos observado ele estimulação:
quequanto maior o número de ninho defibrilaçâo atrial, mais
freqüente e mais clinicamente significativa a fibrilação arrial • Estimulação convencional.
espontânea ou induzida. Pacientes que apresentam um número • Estimulação com frcqüência maior que a espontânea
muito reduzido de ninho de fibrilação (/(1';(/1são tipicamente (overpace"),
resistentes à indução da fibrilação atrial pela estimulação ali-ia]. • Estimulação com overpace' dinâmico.
Alémdisso, se induzida, a fibrilação atrialtende a ler duração A estimulação convencional é bastante eficaz na prevenção
curta e reversão espontânea, Esse fenômeno não depende do da fibrilação atrial bradicardia-dependente da doença do nó
isolamentodas veias pulmonares. Ernbasados nessa fisioparologla. sinusal. Entretanto. a tendência atual é utilizar sempre marca-
observa-se que à medida que se reduz o número de ninho de passos com algoritmos de prevenção.
fibri/l/f(io atrial por meio de ablação por radiofrcqüência. torna- , A estimulação com frcqüência alta toverdrive" ou mais
se marsdifícil de indu/i-Ia. chegando a ser impossível quando propriamente overpace") parece redu/ir a recorrência de fibrilação
quase a totalidade dos ninhos foi tratnda. atrial. porém tem o inconveniente de elevar permanentemente
a frcqüência.
Cirurgia no Controle do Ritmo O terceiro modo de estimulação overpace dinãmico tem sido
o mais promissor. Nesse caso. dentro de limites programados, o
Astentativascirúrgicas para curar a fibrilação atrial precederam marca-passo aumenta a freqüência de estimulação sempre que
as técnicas por cateter e foram muito importantes para o enten-
dimento da fisiopatologiu. O~ objctivos da cirurgia são:
• Ao contrário da literatura, que não diferencia os termos, consideramos
• Eliminar a fibrilação atrial. overdrive quando o marca-pesso alua após a arritmia e overpace quando
• Recuperar c manter o ritmo sinusul. atua em ritmo sinusal, antes do inicio da crise.
558 • Tratado de Clínica Médica

Células bem Célula,


Miocárdio Miocárdio
cone<tada,.
condu(Ao
I,otlóp.u e
compacto
'011".
condu(ao
anllOtlópica
I fibrilar
baila
flequêncla d.
.cuon3nc,a
e alta
fleqOênc;, I
de
1 1I
Figura 53.84 - (A - C) Classificação espectral do miocárdio
atrial. O miocárdio compacto apresenta espectro continuo
A B e não segmentado (A). enquanto o fibrilar apresenta o es-
Nervosl~tl1o. pectro tipicamente segmentado (8). Esses comportamen-
.aiOS/Atrjo. tos espectrais tão distintos causam significativa diferença
~tol~ico
Normal (genéllco. molte nas propriedades eletrofisiológicas, sendo o primeiro mui-
celul.r linear. to resistente e o último. muito suscetível à fibrilação atrial.
pelda de
(on6ina.s~ (C) Modelos de ativação de miocárdio compacto e fibrilar
estiramento etc.) com base na análise espectral
Compacto Fibrilar
c (freqüente) (raro/infreqüente)

detecta um ritmo próprio". Depois de certo número de ciclos. Controle da freqUência


se não houver ritmo próprio, ocorre redução automática e cs-
calonnda da Ircqüência de estimulação. conforme progrumudo. No caso dc insucesso ou contra-indicação da reversão da fibrilação
nté que ocorra um novo evento deSCI/se atrial quando o algorümo
atrial, ou quando não foi possfvcl manter o ritmo sinusal, o tra-
de aumento da frcqüência é novamente ucionado. O estudo lamento cmbasado no controle da freqüência é fundamental.
Atriul Dynumic Ovcrdrive Paciug Trial - A (ADOPT A) foi De modo geral. a frcqüênciu ventricular na fibrilação arrial é
um estudo controlado. randomi/ndo C III 41 centro, dos Estados
elevada. vendo necessário reduzir a condução AV. As alterna-
nido v, Canadá e Reino Unido. com o objctivo de avaliar a tiva. clinicamente comprovadas são o tratamento farmacolõ-
eficácia de um algoritmo de overpace atrial dinâmico (DAO. gico e a ablação A \I associada a implante de marca-passo.
dvnamic atrial tJI'('I'(/ril'(') na redução de epi ódios de fibrilação Eventualmente. a Ircqüência média resultante numa fibrilação
atrial. Foi vcrificadu uma redução de 25'* nos episódio. de atrial permanente é lenta. Nesse), ca ..o... o tratamento é feito
fibrilação atrial sintomática. urna redução de 65% das taquiur- somente com implante de murca-passo.
rirmins atri ai .. (taquicardia atr ial e fluuer atriul) c uma
redução de 63<k nas cardioversões. comparado com mar-
Controle Farmacológico da Freqüência
ca-pa so DDDR convencional". Esva propriedade do marca-
passo é muito útil. principalmente nos casos em que há Depende de droga, que atuarn por via oral. reduzindo a COIl·
indicação de marca-passo por doença do nó sinusal e cri- dução e aumentando o período refratário do nó AV tais como
ses dc fibrilação nrrinl. tais como na sfndrome braditn- os bera-bloqueadores. os bloqueadores de cálcio. O otalol, a
quicurdiu. I e,~e ca~(). o marcu-pu so trata a bradicardia arniodarona e o digitálico (Tabela 53.8). O digitálico reduz
e previne 0' cpi,thliul> de taquicardia. a frequência em repouso, porém falha no controle durante e .
forço físico. Dessa forma, funciona melhor quando associado
a beta-bloqueadores ou bloqueadores de cálcio. O controle da
frcqüência deve ser monitorudo em consultas periódicas e por
Miocárdio compacto i conexlnas meio de elctrocurdiogrufiu dinâmica, A Ircqüência cardíaca
média não é suflcicntc pura ajustar o medicação. É importante
ajustá-Ia de forma a obter também o controle adequado dos
seguiruc« parâmetros:

• Controle dos picos de íreqüência aos esforços.


• Número e intensidade de pausas ou períodos de bradiarriunia,
• Competência cronotrópicn.

Geralmente é ncccsvário utilizar uma associação de medica-


mentos de diferentes grupo .. para controle efetivo da Ireqüência,
o que poderá ser mais ou menos agressivo. dependendo da
reserva de condução nodal AV em cada caso.

Figura 53.85 - Origem dos "ninhos de fibrilação atrial" com base Ablação Nodal Atrioventricular
nas características espectrais, localizaçào e relação com nervos,
veias e estlramento do miocárdio. as diferenças entre o miocárdio mais Implante de Marca-passo
compacto e o fibrilar parecem estar estritamente relacionadas à
quantidade de conexinas intercelulares. Quanto menos conexões. Trata-se de uma alternativa em que se provoca um bloqueio
mais segmentado é o espectro. Naturalmente, a grande quanti- definitivo no nível do nó AV associado a implante de marca-
dade de conexinas entre as células está reduzida em regiões. passo cardíaco. O controle da frequência é total e o resultado
nas quais há grande interpolação de fibras nervosas (interface clínico geralmente é excelente. Entretanto. em visto do car:ítcr
neuromiocárdica), Essa caracterfstica. assim como a mistura de definitivo e irreversível da terapia. não cstã indicada como pri-
diferentes células, ocorrida na transição para as veias. pode modi- meiro escolha, Os casos precisam ser muito bem scleciona-
ficar o espectro dos. considerando-se indicações. vantugcns e desvantagens.
Doenças Cardiovasculares • 559

Figura 53.81 - Esquemada ablação por radiofreqüência guiada


Figura 53.86- Osninhos de fibrilação atrlal, Identificados durante por mapeamento espectral durante ritmo sinusal. O cateter de
o ritmosinusalpelo mapeamento espectral, apresentam compor- radiofreqüência, conectado ao espectrõmetro, faz a varredura
tamentomuito diferente comparado com o miocárdio compacto de todo o endocárdio atrial. Todos os pontos que apresentam
durantea fibrilação atrial. Tipicamente, quanto mais segmentado em ritmo sinusal o espectro desviado à direita sofrem ablação
o espectrodurante ritmo sinusal, maior a freqüência de ativaçào com 30W/30s/60·C. Os óstios das veias pulmonares são tratados
apósa indução de fibrilação atrial (FA) somente quando apresentam ninhos de fibrilação atríal (FA)

o marca-pás o ideal a ser implantado pós-ablação do nó ou elétrica de uma crise. com mais de 48h de duração, aumenta
AV deve ter a seguintes propriedades: consideravelrncmc o risco de trombocmboli mo (I a 5%). Logo
após a interrupção da fibrilação atrial observa-se. durante um
• Garantir a freqüência ventricular com total segurança. tempo variável. uma redução muito importante da atividade
• Proporcionar resposta cronorrópicu de Ircqüêucia. mecânica atriul chamada de SIIIIIII;lIg. Esse fenômeno predispõe
• Estimular no modo AV scqücncial nos períodos sem à esiusc e favorece o rromboembolisrno. que pode ocorrer Olé
fibrilnção atrial - reversão automática (/(1 /110(/0. 10 dias após II reversão. Isso explica eventuais episódios rrom-
• Possuir ulgoritun», de esrimulução preventivos para a bocmbólicos. em casos cm que os exume.. pré-cnrdiovcrsão
fibrilnção atrial nos casos com arritmia intermitente. não evidenciavam nenhu 111 trombo uparcnte 'H.IO. Dcssu forma.
• Ressincronização ventricular ou estimulação de segurança. o tratamento preventivo deve cobrir a~ fases pré c pós-reversão
Independentede l-er um marca-passo ventricular ou hicarncral. da fibri lação atrial,
de acordocom nO"':I experiência pessoal. em casoscom cardio-
megalia e principalmente quando existe insuficiência cardíaca. Opções para Tratamento da fibrilação Atrlal de
deve-seimplantar um .i~temalllull;s.I.fr;lI. Pode-se realizar a
estimulação biventricular endocárd ica, ou a cst i mutação
Recente Começo
ventricular direita bifocal. que é muito simples de ser feita e Se a arritmia for mal tolerada. provocar angina ou frequência
tembaixo risco. mesmo cm casos com insuficiência cardíaca cardíaca muito elevada, o tratamento imediato é a cardioversão
gl'llve9.l9.A vantagem da estimulação ventricular multissüio torácica externa. É muito importante aplicar um ansiolftico
pós-ablaçãoé que além de proporcionar uma ressincronização como pré-medicação. Se a fibrilação atrial estiver sendo bem
ventricularfunciona como estimulação de segurança. caso haja tolerada. pode-se realizar a cardioversão farmacológica OLl
disfunçãode um do, clctrodos. Isso é altamente desejável nos elétrica. Nesse caso, quando a frcqüênciu ventricular média é
pacientesmuito dependentes da estimulação urtificiul e quan- relativamente alta. é útil uma medicação inicial intravenosa
do a ablaçãoe o implante de marca-passo são realizado ao para controle da Ircqüência com dilriazem. beta-bloqueadores
mesmotempo. ou digitãlico. Podem-se a sociar duas dessas drogas. Se ocorrer
reversão. o paciente receberá alta e será mantido em ob crvação
clínica. procurando-se identificar a causa e a probabilidade
Prevençãodo Tromboembollsmo de recorrência. além de se eliminar os fatores moduladores.
A complicação mail. grave da fibrilação utrial certamente é o Realiza-se também uma investigação para planejar um trata-
tromboemboli~mo.responsável pela maior parte da mortalidade mento definitivo a longo prazo. caso necessário. A fibrilação
emorbidadedes a arritmia. A reversãoespontânea, farmacológica atrial recente deve sempre ser cardiovertida com drogas ou

TA8fLA 53.8- Principaismedicamentos utilizados no controle da freqüência da fibrilação atrial a longo prazo com as respectivas
doses diáriase os principais efeitos colaterais
DOSE OIÁRtA (m9)
MEOtCAÇÃO EFEITOS COLATERAIS MAIORES
Amiodarona 200 - 600 Depósitocorneano,discromlas.hipo ou hipertireoidismo,neuropatias,interação comwarlarin. pneumopatia
Olgoxina 0.125 - 0.375 tntoxicaç30dlgltálica. BAV. bradicardia
Oiltiazem 120 - 360 Hlpotensão, BAV, IC
Metoprolol 25 - 100 Hlpotensão, BAV, bradicardia, asma.IC
Propranolol 80 - 240 Hipotensão, BAV, bradicardia, asma.IC
Sotalol 240 - 320 Tp,IC, bradicardia, pneumopatia obstrutiva
Verapamll 120 - 360 Hipotensão, BAV, bradicardia, te. interaç30com dlgoxlna
BAV= bloqueio atrioventricular; le = insuficiência cardtaca: TP = torsades de pointes
560 • Tratado de Clínica Médica

TABELA 53.9 - Estratégias para o tratamento da fibrilação atrial *


\O ESTRATÉGIA TRATAMENTO DESCRiÇÃO
O Curto prazo Controle do ritmo Recuperaçâo do ritmo sinusal por cardioversão farmacológica ou elétrica
l<é
u- I. Cardioversão farmacológica Abordagem simples. porém não muito eficaz se a FA tem mais de 48h
Uo:l 2. Cardioversilo elétrica Ê o tratamento padrão; choque mono ou bifásico; requer sedação; eficácia de 70 a 90%
(/')

Longo prazo Controle do ritmo Recuperaçilo do ritmo sinusal na FA paroxlstlca ou persistente


1. Terapia farmacológica Tratamento inicial de pacientes que toleram antiarrltmicos; manutenção
2. Ablação cirúrgica Visa anular o substrato. Segmentação cirúrgica dos átrios com suturas (barreiras) para
eliminar ou reduzir a reentrada; requer circulação extracorpórea; mais utilizada
durante cirurgia cardíaca concomitante
3. Ablação por cateter Visa eliminar ou isolar os focos deflagradores (taquiarritmias de veias pulmonares,
taquicardias atriais. flutter atrial); tem sido empregada também para anular o
substrato (ninhos de FA) através da técnica desenvolvida por Pachãn et ai.
4. Desfibríladores atriais Os atuais têm agregado o desfibrilador ventricular de segurança; devem ser ativados
implantáveis pelo paciente e têm 80% de sucesso; indicado nos casos com FA rara, sintomática,
refratária à medicação. O grande inconveniente é o desconforto dos choques, quando
aplicados sem sedação
5. Marca-passo permanente Terapia ainda sob investigação. Pode suprimir focos, reduzir a dtspersão de
refratariedade e corrigir bloqueio Interatrial (MP blatrial). Alguns modelos podem
realizar overpace ou overdrive com alta freqOência no inicio da FA
Controle de freqüência
1. Farmacológico Drogas para reduzir a condução nodal AV (digoxina, beta-bloqueador, bloqueador de
cálcio). Pode ser mais bem tolerada que o controle do ritmo
2. Ablação nodal AV Ablação do nó AV por cateter através de RF + implante de MP definitivo. Utilizada
quando a freqüência elevada é sintomática e refratária ao tratamento farmacológico
3. Modificaçilo do nó AV Terapia sob investigação. Aplicação de RF no acesso posterior do nó AV. Baixo sucesso,
alta recorrência, alta incidência de BAV
4. Estimulação do nervo vago Terapia sob investigação. Efeito temporário

Prevenção Prevençao aguda FA > 48h -+ heparina ou cumarlnicos pelo menos por 3 - 4 semanas pré-cardioverslio
do trombo- Prevençao crónica FA -+ cumarinicos a não ser < 65 anos, sem fatores de risco adICionais, ou
embolismo contra-indicação; aspirina -+ alternativa em casos de baixo risco
Prevenção cirúrgica Alternativa investigacional para eliminar o apêndice atrial esquerdo ou colocação de
stent-filtro protegendo o sistema nervoso central
• Sempreque possível,deve-serealizar o controle do ritmo revertendo a fíbrilaçao atnal e recuperando o ritmo sinusal. Noscasosem que a fibrílação atrial
é irreversível (permanente), ou quando há contra-Indicaçêo temporária ou defínltiva para revertê-la. deve-se realizar o controle da freqü~ncia aluando
sobre a permeabilidade do nó atríoventricular
BAV = bloqueio atrioventricular; FA = fibrilação atrial; MP = marca-passo
ee

6. S \:\DERS.I'.: MORTO.'i. J. B.: DEE'i. v R. OWIDSON. N. C.; SPAI~KS.I'. B: ';'


..~
'"
:.
clctrrcantcnrc. Recomenda-se. nesse momento. uma anricoa-
\'OHR \. J. K. ('1 :01.lmmcdinte and lung.l~rm fe'uh, ur rJdi(Jrrcqll~"c)' ahl.uiuIIuf ~
gulaçiio inicial com hcpariua IV ou heparina de baixo peso
molecular subcutânea. Numa fibrilação atrial até 48h podemos
f'ulnuUl~1")vcin cclll)')' r"I'CIII'"of 1'.lru\Y'II1~1Jtri.1 Iil>nllJIIUnu,ing ,I r.)cl\llIl'l'l1~"ht
lntrrn. \(,,1 J" I'. :12. p. 202·207. 2()()2 .
realizar a cardioversão química (quinidina VOo propafcnona IV, 7. TAI)'\.II . ORAL. II.: WASMER, K.: CtRl:t.'Sl 111\. R; 1'I,tOSI m" I'.: KNI(jllr.
disopirarnida IV. amiodarona IV. procainarnida IV. ibutilida IV) II. I>Cl ai. l'Illlnonury vcin 1,010l10n:cUlllpamoo of hlpolar ~nd unil)()llIrclcClI'O~ralll\
~I "l<'c~"lul and IInlllcce"rlll ,,,Ii.ll ablauon \lle' 1. Cardiovasc, /J/"('/m/,Jop/"/,,
ou elétrica, Se a Fibrilação atrial tiver mais de 48h de duração, I P. I' n·ll). 2002.
podem ser seguidos dois caminhos: cardioversão rápida pós- 1>. l'Af'I'O;>.I!. C'.: ROSANIO. S.: ORETO. G .. TOCCHI. ~1.:GUGI.IOTTA. E;
ecocardiograma transesofágico negativo para trombos e/ou \ ICEOOMINI. G. (tal. CimllUrcrcnliall"Jdiofrcqutnc) ablauon of'puhnonary vein
v\ciJ~ J 0("- ..naromic approach for curing atrial fibrillation. Circulatio», v. 102,
pseudocontraste: ou cardiovcrsão cletiva após 3 a 4 semanas p. 2619-262S. ~OOO.
de anticoagulução oral com ou sem umiurríunicos, após O que 9. CAZEAL S.. RIITER. P.: I.AZARUS. A.: GRAS. D. er al, Muhisite pacing for
() paciente deverá ser muntido por 6 a 12 semanasanticoagulado. cnd-'Iagc bcan Ff:lilurc: carly cxpcricncc. PACE. pr, 11. I. 19. p. 1748· 1757.1996.
Nesse caso. se não ocorrer reversão ou houver recidiva precoce. 10. PACllmOtATEOS. J. C.: 1'r\CHON·MATF.OS. F.. 1.: PACIION-MATEOS. J. C..
LOBO. T. J.: I'ACIION. M. Z.: VARGAS. R. N.: I'ACIION. D. Q.: LOI'E/.. MooI'.
deverá ser feito o controle da frequência c uma nova cardioversão J.: MTl:1'oiE.A. D. A new trcauncnt for Rlnal fibrillanon ba-edon IIJCClrJl:\O••ly\"
com outro anriarrürnico. além de M! considerar o tratamento não to guide lhe calhelcr RI'.abllllion. L'lIftI/l<U·.·. I. ó. n 6. p. 3<)()·ôOl. 20()4.l:rralull\
farmacológico (ablação focal. ablação AV + MP. MP com algo- 111: Eumpac«, \. 7. n. I. p, Y2·'IJ, 2005.
ritmo para fibrilação atrial etc.) isolado ou associado a drogas. I I. UI/\LY. 1).: LLlI:'I/\NN. ~1. II.: SCIllIMi\CIIER. O. N.. SrElNMAN. R. T.
~H:lSSN"'R. ~I. 1). 1I\)\pi(.lhllllil)llfur arrh) lhnll;l\ ln the UnuedSUIIC': II\IPI,"an~c
A Tabela 53.9 traz um resumo do tratamento da fibrilação atrial. 01 Jln31 fohnllallun [abvrr]. J. 11m. Ctll/. Curtl",/ .. '. Iq. ". 41A. 1992.
11. I·H'Illl!KG. W ~I.: CORNELL. f S: NIGHiINGAI.E. S. O. et ai. Relaliol\\hip
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Doenças Cardiovasculares • 561

17. LE\'Y. S.: ~IAAREK. ~I.:CODIEL P. er al, Characterization or d,lTcrenl 'Ubl<'IS A condução lenta normalmente existente no nó AV bloqueia
oI.Iri.1 fíbrill3lion in general pr.ctice in France: lhe ALFA ,'ud). The ColI'1=< or
FrtnCh C3rdiologi'h. Cirrulalion. I. 99. p. 3028·3035. 1999. a passagem dc c rímulos muito rápidos. Isso explica 01'01110
KRMI:oI.A O: MA"FREDA. J.:HTE. R. B.: Mi\THEWSON. F. A.: CUDDY. T. de 1Vl'llckcbtlch. ou seja. o urgirncnto de bloqueio AV tipo
E. lhe: n.llutal h,,'Of) ef atrial [ibrillation: incideucc, ri,k fnctor•. ,",<1 progno.<i<in Wenckebach entre 130 e 180ppm, cm pessoas normais, quan-
lhe MJnllol\l follo"'·L'p Slud) .1111. J. Md .. v. OR. p. 476·48.1. 1995.
19 \\01 F.I'.A.. OAWIlI'R. T R. TIIO~IASJR •• II. E.: KANNEI.. wn. Epidconiologie
do se faz uma estimulação atrial com lrcqüênci« progressiva.
3\\C,\lIlCnlnf chromc Illriallihrill3lion and ri,~ IIr .mnkc: rhe Frnmingham 'lud~. Essa fisiologia nodal garante a sobrevida no caso de tnquiarritrnia
NturotllN.I. v. 2M. p 97.\.')77. IlJ7N. arrial muito rápida. tal como a fibrilução ou o J71111erarriais.
20. IIART.lt G.. IIAII'H{IN. J 1.. Aln;,1 fibrlllmlon anil thromhocmhohvm; n d<cntlc evitando Ircqüênciu ventricular elevada. Contrariamente, na
or I'f0~rc" 011,Ir<>~eI'rclcnl" ... ,1'111. lnteru, Ml'd., v. 1.11. p. ()KM (l')S. IlJ')I).
21. ARNOI.O. ,\. , •• \11('''. ~I J . \It\ZUREK. R. 1'.: L()()I'. I'. I).: '11{()11~I,\\. R G presença de pré-excitação essas arriunlas ai riais tendem a
ROieofproph)IJ<II" Jnll<i>J~uIJII"n rordirccl curtem cnrdtovcr-lon ln r;aIlCnl~ "'"h promover uma cvrirnulação ventricular muito ráplda. levando
111111 fibnll.uion IIr JlnJI nuuer J AIII. 0,11. ('mrlllll .. v. 19.11, HSI l\55. 19\11. a distúrbio hcmodinâmico grave ou mesmo a fibrilação ventricular
22. HAISS~GLLRRL \I. JAIS. P. SIIAH. O. C.: TA"AII/\SIII. A. II(X·I;\I. M. (foig.53.88).
OCI:\IOU.G.G \RRIGl I'.S .U:~10UROUX.A.: LI;~ll!li\YI:R.I' .•CLl:.\IL\'l \.
J. Spool~~lIh 'n'"Jlk>n IIr aln.1 fibrillauon b)' celllpic ~3" "n~onalln~ ,n I~
pulmonU) IC'", .\ fntL J lI,doo v, 3J9. II. lO. 1'. 6S')·6M. 19')~
2J. IIAISSAGlIFRRF. \1 <1.1 F.k-':Ir<>phpilllugieal ,.,,(1 roilll rOHalhelC( abl.llon or Pré-excitação Hissiana
alrial fillf,IIJI,.on'n'Io.tal r",ol muluple pulmonary I ""III" roer. Cm ulutto»,\ I O I.
Nessa condição. existe arivação antecipada do feixe de His. Pelo
n 12.r 1.I()I)·I~I7.100f1
2~ CIIFN<I ai R""."'mjucnc~ (.,III<I<r:chiai inn "r :udal nhrillalill" illili.,I<<Ih)' pulll1Olla1) falo de ser uípim esta ativação não alarga o QRS. sendo caracte-
X I(,n CCI0Jll'IlCJI\ J (""r/"'''II(' r.1/·r·/l1Ip",I'.,i,,'.• I. 11.11. 2.1" 21~·227. 2000. rizada por QRS normal e PR curto (PR < 1201ll~). Dependendo
<» 25. PACIION. J C.• 1'\('110\. h. 1.: I'AClION . .I. C.: 1.0110. T. l.: 1',\("110;\ .•\1. Z.: da origem. pode ser funcional ou estrutural 011 orgânica,
; VARGAS. R ;\ .• J \'1 L:-'I!. A. O. "Cnrdioncuroablmiou" ncw trcuuucnt ror
.. ncurucard,o~(nlC ')nrl'rc.luncl,on~ll\V block nnd .inul <I)',lulI<Ioonusmg carhcrer
RF'3blallon I:urpp.;rr. I. 7. n. I.p. 1·13. 2(XI5.
M
J: 26.COX.1.L: 801"tAt... J I'.:~CBUESSLER. R. U.~KAl'l!ft K. M.. L;\PPAS. o,
Pré-excitação Hissiana Funcional
'" G. fj,t.)_t\pmtntt wuh lhe mazc proccdure for atrial fibnllauon. A"". Thoroc.
$""(.. \.56. Q.~. r '1.1. 13:dr-cussion 823·824. 1993.
Essa é uma condição observada em diversos estados, nos quais
27. FU:\CK.R.C .. AOA.\lEC. R.: LURJE. L.: CAPUCCI.A.: RITlhR. 1'.: SHEKAN. o metabolismo do coração e, conseqüentemente. do sistema de
D.t1 aI.Alrill O\mlrhing i,beneficial in patiems \\ ilh atrial anta) lhm,.s: fim resuhs condução e<;táaumentado (hipercstimulação simpática, estados
oIlht PROVE Slud) Paâng Clin. l:1ecJntpl,ysilll.. \. 2J. II pl. 2. p. 1891·1 &93. infecciosos e fcbris. intoxicação por sirnpnticomiméticos, tireo-
2COO
~8. CARI.SO\ ti ai The 3I(,aldynaruic overdrive pacing trial. XXII ANNUAL toxicose. bloqueio parassirnpãtico etc.) provocando aumento
SCIL\'l1FIC \lF.ETIi\G OFmE NORTH AMERICAN SOCIETY OF PACING c aceleração das propriedades elerroflsiolõglcas normais do
A'10 (U:CTROPIIYSIOLO(lY. BO.,IUI1. MII,_..chu'Clh. 2fXlI.I'r,'létll(,1 111/1/11"",1 nó AVe sistema l lis-Purkinjc, O eletrocnrdiogramn (ECO) mostra
ScwcI~M(flonll.l{llor"'ror/loAmr";r'(lll Soríf/.I,t/I\u-itlg mlll J-./,,·ltrt{ll,)',iololl),.
2((1I.
PR curto e QRS normal. porém é reversível desde que remo-
29 PACII6s.~1 \TI.OS. J C.: PACIIÓN·MATEOS. !l. I. CI ai. VERIIS Ventricular
cndon.nhlln&hl l>,rO(;11,111111111111011 - IICW pac,"~ mode r(lr Ih~ IrcnllnClI1 01' lhe
ü
vido o fator causal.
btan fl,luft of «\crt <lilalcd cnrdlOlIl)'op3lh)' wilh "ide QRS. 1'11('/: - P""III~(IIIrI
ClUII(a/ Utc(n,,.I,,,,,,t"II". I 9. n. 24. 2001
10. FATKL\.O.•Kl UIAI(.I) 1..: IIIORIJURN.l'. W.: H:NI:I.I:Y. M 1':l'r;"'\C,oph,,~cal Pré-excitação Hissiana Estrutural ou Orgânica
cdloan!lOl!raph} IlCforc .nd dunngd,recl currem c4rdi()\'C"loOllf ,lIrlulllhrillllliulI.
C\~ for ·~In;jl '-lunmn{' ., 3 rncchan"m or Ihromhoclllbt,11c cOlIIl'loculilln~ Nc"c ca\(). e:-:i\tc excilação antccipada do feixe de His em
J lIA C/>ll Carolml. \ 2). p. )07·316. 1994 ra/ão de car:lcted!\lieas anormalmente aceleradas do nó AV
31 BI.J\CK.I \\ .. FATKI", O. SAGAR. K. B tl.,1 F\cIU'"'1I (Ir .1Iri31Ih.ll)IIIOO,b) ou de um bYJI(lÇ\ dc~sa CMrutura. Como a alivllçiio ocorre somente
~~JI C\htx-~rd'()grJph) 00c' nlll prcdudc Clllh"Io\1II "fler e"rtlh"cf\lun
oI.wmi ti~III1~IM'"A ",uh,~cnl<r '-lud). C;,..../,,",>II. I. S9. P 2509·2~ I~. 1994. no feixe de IIb (Iópica). o QRS é e<>lrcilo. 1\ excitaçiio nodal
r:ípida oca,iona PR curto. únic:1 anormalidade observada no
ECO de repouso. A condição clínicll. cnraclcrizlldn por PR
curto e QRS normal (estreito). é conhecidn como sllldroll/e de
ÚJII'II-GalloIlK· Leville.
Síndromes de Pré-excitação Tratamento de Pré-excitação Hissiana
José Cario Pachón Mateo Todo paciente com PR curto deve ser avaliado de forma dirigida
para detecção de existência de sintomas e/ou de riscos. Isso
Enriquelndalécio Pachón Mateos é importante para oricntá-Io. por exemplo. quanto ao uso de medi-
:-Iormalmente.os ventrículos são ativados somCnle por meio do camenIOí.. ane~té ico!>. intervençõc cirúrgicas, atividades de
feixede His, após o retardo atrioventricular (AV) fisiológico. risco pessoal e/ou colctivo elc. Muitas vezcs, O PR cuno es-
Na pré·cxcilação ventricular. os ventrículos são excitados antes conde uma vcrdadeira pré-excilação vcntricular ele risco. O
do que seriam em condições normais. Essa alivação anlccipada fato de não haver sintomas não deve minorar os cuidados nas
podeocorrer no feixc de His (pré-excitaçiío lópic(/ 0/1Itissimw) avaliações diagnó tica e prognóstica.
oufornopor mcio de Ulll fcixe anómalo (pró-excitnção cClópicn Na ausência de distúrbios funcionais, l) HolLer e o teste
ou l'tlllriclIl(lr). crgomélrico são exames que podem ser úlcis. Enlrelanto, o
maior grau de informação antes do eSlUdo invasivo é obtido
pela cardiocstimulação transcsofágicll (Ceie). É um mélodo
IIPlICAÇOES CllNICAS DA PRl-EXCITAÇIO ambulatorial. rápido, de baixo custo, não invasivo e permite
Alémde alleração hemodinâmica. oC~lsiollada pela redução ou (l diagnó'lico diferencial do PR curlO, que pode ser:
~rda do relardo atriO\ enlricular. a pré-exciwção pode dar ori- • PR curto l>cm pré-cxcil3çiio (variante de normalidade).
gem3di\'eNl~ arrilmia ... Em alguns casos. é SOlllenle um adiado • DiMúrbio da condução sinOalrial. inleralri~ll. ~obrecarga
no exame clínico. porém em outros pode ocasionar arritmias atrial esquerda (sinal de Macrul.).
graves, incapaciwmei> e ato! falais. Os portadores de pré-exci- • Condução AV nodal acclcr::tcla.
Inção frcqüclllemente apresentam (Jltlpila(-·r)e.l·com ou sem • Pró-cxcitação vCnlricu lar inap3renle (síndrome de Wol ff-
13quicnrdiascomprovadas. EllIretanlo, um dos graves proble- Parkinson- While).
masassociados a essa condição é a perda da prole('(;o /IodaI AV. • Dupla via nodal pré-excilada.
562 • Tratado de Clíníca Médica

~eixe intra nodal


As localizações mais frequentes são: lateral esquerdo (50%),
Território pósrero-septal (30%), ântero-septal direito (10%) e lateral direito
atrial
( 10%).
"~.~ '1 Manifestação Eletrocardiográfica da Pré-excitação
Ventricular. Durante o ritmo sinusal, o ECG da síndrome
Kent • Kent
Junção AV de Wolff-Parkinson-Whitc, se caracteriza por PR curto, QRS
alargado e presença de onda delta. A melhor forma de entender
Território
as modificações do ECG é comparar o QRS pré-excitado e o
ventricular normal, no mesmo paciente. como em casos de WPW inter-
mitente ou durante ablação (Fig. 53.91).
Figura 53.88 - Esquemada junção atrioventricular com osfeixes Natureza da Manifestação Eletrocardiográfica na
relacionados aos diversos tipos de pré-excitação. A síndrome de Síndrome de Wolff-Parkinson-White. Tipicamente. ii WPW
Lown-Ganong-Levine (pré-excitação hissiana)pode ser originada caracteriza-se por encurtamento cio PR e alargamento do QRS.
pelos feixes atrionodal (James),átrio-hissiano (Brechenmacher), Aparentemente, se existe uma via a mais conduzindo e ati-
intra nodal ou em decorrênciade um nó atrioventricular eletrofisio- vando os ventrículos, poder-se-la esperar que o QRS fosse
logicamenteaceleradoou infantil. A síndrome de Woltf-Parkinson-
mais estreito e não mais alargado. Entretanto, logo após o início
White (pré-excitação ventricular) é ocasionada pelos feixes
atrioventriculares (Kent). As fibras de Mahaim também podem da onda P, enquanto a aiivação normal está sofrendo o retardo
ocasionar pré-excitação ventricular porém geralmente exibem ca- fisiológico no nó AV, o feixe anôrnalo conduz sem retardo c
racterísticasnodais e se inserem no ramo direito ou muito próxi- ativa o miocárdio ventricular precocemente, originando o PR
=
mo dele (feixes atriofasciculares). AV atrioventricular curto. Como essa ativação se faz fora do sistema His-Purkinje
pode ser visto na Figura 53.92.
Raramente pode ocorrer um tipo de peculiar e mais grave
Além disso. permite avaliar a presença ou a suscetibilidade
de reentrada atrioventricular entre dois feixes anõmalos sem
para instabil idade elétrica atrial, que é uma característica agravante
utilizar o sistema de condução normal.
do prognóstico. em todos os casosde pré-excitação. pois favorece
Posição do Feixe Anômalo e Tamanho da Onda
a ocorrência de taquiarritmias arriais com freqüência ventricular
Delta. Se o feixe anômalo é ativado precocemente, a onda delta
elevada.
tende a ser maior. Dessa forma, os feixes localizados à direita,
próximo do nó sinusal freqüenterncntc apresentam ondas delta
Pré-excitação Ventricular largas e amplas (WPW aparente ou manifesto), ao passoque
aqueles localizados na região póstero-lateral esquerda, longe
Na vida fetal, além do sistema de condução normal existem
do nó sinusal, podem apresentar ondas delta muito pequenas,
conexões musculares entre átrios e ventrfculos. À medida que
às vezesquase invisíveis no ECG de superfície (WPW inaparente)
O esqueleto fibroso do coração se forma, essas conexões vão
(Fig. 53.93).
desaparecendo. Eventualmente, alguma pode permanecer até
Taquicardias Mediadas pelo Feixe Anômalo. São
a vida adulta, dando origem à pré-excitação ventricular. Nessa
as taquicardias por reentrada atrioventricular, São originadas
condição. existe pelo menos urna via acessória conectando
por um movimento circular organizado, que compreende vá-
átrios c ventrículos além do nó AV. São conexões musculares
rias estruturas do coração (rnacrorreentrada), sendo também
conhecidas coniofeixes de Kent (Fig. 53.1.l9)responsáveis pela
conhecidas como taquicardias pormovimento circular (TMC).
excitação ventricular cctópica ou pré-excitação ventricular.
Podem descer pelo sistema de condução normal e subir pelo
feixe anómalo (taquicardia ortodrôrnica), ou fazer o movimento
Características dos Feixes Anômalos contrário. subindo pelo sistema de condução normal e des-
cendo pelo fei xe anôrnalo (iaquicardias antidrômicas) (ver Figs.
Os feixes anôrnalos são conexões musculares entre átrios e
ventrículos. Suas localizações e caracrerfsticas.eletrofisiolôgicas 53.94 e 53.95).
podem originar quadros clínicos e eletrocardiográficos muito
di ferentes.
Prevalência. A prevalência de um padrão eletrocardiográfico
de pré-excitação ventricular é de 0,15 <10,25% da população
geral, aumentando 0.5% nos parentes de primeiro grau: A inci-
dência é o dobro no sexo masculino. Em 10 a 15% dos pa-
cientes existe mais de um feixe anômalo. Em 20 a 30% dos
Feixes
casos, os feixes podem desaparecer espontaneamente. Artéria coron~ria anómalos
Tipo de Condução. Podem ter condução somente ante-
regrada ou retrógrada ou bidirecional. Além disso. a condução
pode ser permanente ou intermitente (Tabela 53.10).
Velocidade de Condução. Pelo fato de serem consti-
tuídos de tecido rniocárdico, os feixes anômalos tipicamente Valva mitral' Gordura
apresentam condução rápida. Não obstante. em torno de 15% epicárdica

podem apresentar condução lenta. ou mais raramente, condução


decrernemal seja de forma espontâneaou por ação farmacológica.
Localização. Os feixes anôrnalos podem estar localizados
praticamente ao longo de todas as regiões do esqueleto fibroso
do coração (Fig. 53.90). A localização é uma característica
extremamente importante, pois além de provocar padrões ele-
trocardiográficos muito variados, implica em acesso, risco de Figura 53.89 - Esquema da secção transversa da junção atrio-
complicações e sucesso terapêutico mediante ablação por ventricular mostrando o trajeto de feixes anômalos (feixes de
radiofreqüênciu. Kent) responsáveis pela pré-excitação ventricular
Doenças Cardiovasculares • 563

TABELA53.10 - Classificação dos feixes anómalos quanto à capacidade de condução anter6grada, retrógrada e bidirecional.
Sobrepõe-se a essa característica o caráter permanente ou intermitente da condução
cn
TIPOOE CONDUÇÃO PRÉ-EXCITAÇÃO TAQUICARDIAORTODROMICA TAQUICARDIA
ANTIDROMICA rrl
.(")
Somenteanter6grada Sim Não Sim >,
O
Somente retrógrada Não Sim N~o Q\
8idirecional Sim Sim Sim

Taquicardias Conduzidas pelo Feixe Anômalo. Nessa • Looper: este exame é equivalente a um Holter de longa
situação. a arritmia não depende da presença do feixe anômn- duração. O paciente poderá ser monirorado por várias
lo. porém é conduzida para os ventrfculos com alta trcqüên- semanas, Não é muito utilizado na WPW, porém poderá
cia sem a proteção da perrncabilidade seletivn do nó AV. que, ser útil quando existirem dúvidas quanto à origem dos
em caso de fibrilação ou de outra taquiarritmia atrial. evita sintomas.
que os vcmnculos sejam estimulados COm frequências exces- • Ceie: este é o exame não invasivo que fornece o maior
sivamcntc alta. que poderiam conduzir a colapso circulatório número de informações. Pode desmascarar facilmente uma
e morte súbita. Essa permcabi Iidade selet iva do nó AV é uma \VPW inaparente ou oculto. determina o período rcfru-
propriedade intrínseca do coração. porém é modulada pelo sistema uirio antcrógrado, a freqüência máxima de condução I: I
nervo o autônomo. Toda essa fisiologia. que visa proteger os e a localização do feixe. Além disso. permite avaliar a
ventrfculos. desaparece na presença da pré-excitação ventricular. estabilidade elérrica utrial e induzir e reverter facilmente
ou seja, em presença de uma fibri lação, ou de outra raquiarritrnia as taquicardias por reentrada arriovcntricular típicas da
atrial, poderá ocorrer estimulação ventricular com freqüên- WPW. possibilitando a correlação de arritmia induzida
ciasexcessivamente altas. a ponto de induzir fibri lação ventricular com os sintomas espontâneos. É o exame não inva ivo
e morte sübita. Freqücntcmcnte essa condição permanece latente mais importante para avaliação ele risco. Serve também
durante vários anos. só podendo ser percebida quando ocorre como excelente método de controle pós-ablação.
o primeiro episódio de fibrilução uu'ial (ver Fig. 53.96). • Teste ergométrico: tem grande importância para avaliar
Tipos de WoIH-Parkinson-Whíte. Dependendo da po- arritmia. induzidas pelo esforço e caso a pré-exciração se
sição do feixe anôrnalo. o QRS e a onda delta podem ser pre- mantenha com o aumentO da frequência. O desaparecimento
dominantemente positivos em V I e V2 (WPW lipoA) ou negativos súbito. abaixo da frequência submáxirna, é um importante
(IVPIV li/)o 8) (ver Fig. 53.97). No tipo A. o feixe anómalo sinal de baixo risco. Além disso. pode fornecer dados o
está localizado à esquerda e no tipo B está localizado à direita. respeito da e rabilidade elétrica atrial e ventricular.
ou no septo interventricular. Essa classificação eletrocardio- • Ecocardiograma: é muito importante para mostrar cardio-
gráfica, apesar de muito implificada e incompleta. tem sido patias associadas. como as vutvcpntlus. a cardiomiopatia
tradicionalmente mant ida. hipcrtrófica ou dilatada. a anomalia de Ebstein etc.
A pré-excitação ventricular somente existe na presença de • Estudo eletrofisiolâgic« invasivo: é o exame mais completo
condução anterégrada pelo feixe anômalo. Nesse caso. se H e que dá o maior número de informações. É absolutamente
onda delta resultante é evidente. é denorni nada IVPIV aparente indispensável e decisivo no momento de realizar a ablação
ou manifesta c, se a onda delta é muito pequena (quase invi- e. portanto. o tratamento definitivo. Nessa patologia. é
(l único exame que dá mais informações que a Cete, Atual-
sível), é denominada WPIV inaparente.
Eventualmente. alguns feixes apresentam bloqueio anterógrado mente, pelo fato de ser invasivo, é muito raro que seja
transitório causando WPIV intermitente. que se caracteriza pelo utilizado somente para diagnóstico. Quase sempre é
de aparecimento temporário da onda delta. característica ge- realizado juntamente com o procedimento terapêutico.
ralmente relacionada a baixo risco.
Muitos feixes somente apresentam condução retrógrada. Nes- Diagnóstico Diferencial da Pré-excitação Ventricular
secaso, não existe pré-excitação e a condição denominada WP'"
é
Diversas patologias podem ter manifestação eletrocardiográ-
ocIIIIO. Podem provocar as taquicardias mediadas (somente as do
fica. que se confunde-com a WPW. tais como infarto do miocárdio,
tipo ortodrômicas), porém não provocam as taquicardias con-
bloqueio do fascfculo ântero-rnedial, exua-sístoles ventriculares
duzida . Eventualmente. pode-se observar aumento e diminuição
gradeuvos da onda delta sem alterações do intervalos RR. origi-
nandograus variáveis c progressivos de pré-excitação. Esse Ienô-
menoé chamado de efeito em concertina de 011l1el(Tabela 53.1 I). Anterior

Diagnóstico de Pré-excitação Ventricular


o ECG é exame fundamental para o diagnóstico. O padrão
característico com PR curto, onda delta e alargamento ao QRS
(> 120 milissegundos) associado a alterações ecundárias da laterat lateral
repolarização ventricular é a chave para O diagnóstico de WPW.
Se, além disso, existem sintomas de crises de palpitações
caracteriza-se a WPW. Outros exames básicos e importantes
são o Holler. a Cere, o teste crgornétrico. o ccocardiograrna e
Posterior P6stero-septat Posterior
o estudo eletrofisiol6gico invasivo:
x
Figura 53.90 - Esquema das principais posições dos feixes anó-
• Holter: é de grande importância na WPW porque pode malos. Em vermelho estão representados os feixes entre átrio e
..r'... mostrar intermitência do feixe. correlação de sintomas ventrículo esquerdos e em roxo os feixes entre átrio e ventrfculo
.;.. com arritmias. além de informações a respeito das esta- direitos. Os feixes põstero-septels podem ser esquerdos e direitos .
cc
bilidades elétricas atrial e ventricular. Os ântero-septais se encontram somente à direita
564 • Tratado de Clínica Médica

WPW
I

@
Feixe
Onda anómalo
delta QRS normal

LL.J LlJ ~adelta


pequena
PR QRS PR QRS
RF
02 WPW inaparente WPW manifesto

Figura 53.91 - Comparação entre o QRSpré-excitado (WPW) e Figura 53.93 - Relaçãoentre o tamanho da onda Delta e a posição
o QRSnormal em paciente portador de síndrome de pré-excita- do feixe anómalo. WPW = síndrome de Wolff-Parkinson-White
ção ventricular, no momento em que se realizam a ablação e a
eliminação do feixe. Com pré-excitação, o PRé curto, o QRSé
largo e existe uma onda delta (espessamentoinicial do QRS).Logo arritmias graves e/ou morte súbita, entretanto, três parâmetros
após a ablação, na ausência da condução anómala, o PRe o QRS básicos são determinantes:
se normalizam. Em razão dasalterações do QRS(despolarização)
também existem alterações secundáriasna morfologia da onda T • Estabilidade elétrica atriul.
(repolarização).RF= ablaçãopor radiofreqüência;WPW = síndrome • Capacidade de condução pelo feixe anómalo.
de Wolff-Parkinson-White • Estabilidade clétrica ventricular.

Avaliação de Risco na Síndrome de Wolff-Parkinson-


telediastólicas. bloqueio de ramo esquerdo. retardo na ativação White. Esse é um dos maiores desafios para O cardiologista.
septal etc, Várias alternativas clínicas. exames complementares Refere-senãosomenteà morte súbita. masaqualquer taquiarritrnia
e manobras autonómicas associadasao ECG ou vetorcardiograma que cause comprometimento hernodinâmico grave e riscos pro-
são úteis para o diagnóstico correto. entretanto, li Cete é o fissional. individual ou coletivo. Atualmente, se a pré-excitação
exame de melhor relação custo-benefício na elucidação não é sintomática, a ablação por radiofreqüência é o tratamento
invasiva de casos duvidosos. de eleição em quase todos os casos. Todavia. não raramente.
encontra-se um padrão elctrocardiogrãfico de wrw numjovem
assiruomãtico em exame admissional ou de rotina. A avaliação
Risco de Morte Súbita nos Portadores desses pacientes frcqücntcmentc é mais diffcil que a de urna
de Pré-excitação Ventricular cardiopatia bem definida. É importante considerar que as
condições de estudo do risco não reproduzem necessariamente
Um dos maiores problemas da pré-excitação ventricular é o a condições naturais extremamente diversas e adversas.que
risco de arritmias graves e de morte súbita, principalmente poderão estar sendo vividas pelos pacientes a longo prazo.
durante a fibrilação atrial. De modo geral. o risco é baixo, Por outro lado. dependendo da técnica utilizada e da experiência
aproximadamente 0.39% por ano. Apesar de raro. trata-se de da equipe médica. 11 ablação por radiofreqüência tem risco
um evento dramát ico, pois tipicamente o paciente é saudável extremamente baixo e é curativa na maioria dos casos de WPW.
até :1 ocorrência do mal súbito. Num estudo que avaliou 273 Às vezes. mesmo nos casos de baixo risco. pode ser necessária
casos de morte súbita, cm crianças e adultos jovens, os quais poi o padrão eletrocardiogrãfico de WPW num exame de saúde
possuíam um ECG progresso. observou-se padrão eletrocar- admissional roma-se um estigma e um impedimento definitivo
diogrãfico de WPW 011 Lown-Ganong-Levine em 3.6% uns para muitas oportunidades profissionais. Diante disso, é ruuural
ta o . Em 40%. não houve relato de pródromos antes do evento que cada vez mais haja uma tendência a se indicar tratamento
fatal e 25% dos pacientes eram assintornáticos. Quanto maior intervencionista cm todos os casos de pré-excitação ventricular.
a capacidade de condução do feixe anómalo, maior o risco de As vantagens para o paciente são óbvias:

• Eliminação do risco real ou presumido de WPW (arritmias


mediadas ou conduzidas) .

• WPW
• QRSnórmal ,,- "'" ,
A A : '\
À '. K

AV_\~~~
B
Prê·excitaç30
v v
, , ,
\.'
.
..... "

Figura 53.92 - (A) Esquemada pré-excitação ventricular origi-


TMC rrrrrrrrrhr TMC f\.MM/\M
nada por feixe anómalo localizado à esquerda. Enquanto ocor-
re retardo no nó atrioventricular, o ventrículo começaa serativado Figura 53_94 - Esquema das taquicardias mediadas por feixes
pelo feixe anómalo. Essaativação, entretanto, pelo fato de se anómalos. À esquerda, a taquicardia mais freqüente, conhecida
fazer fora do sistema His-Purkinje, avança com menor velocida- como ortodrómica em razão de descida do estimulo pelasvias
de que a ativação normal. No final, as duas frentes-de-onda normais (QRSestreito), sendo a subida efetuada por condução
fundem-se dando origem ao QRSpré-excitado. (8) Superposição retrógrada pelo feixe anómalo. À direita, o esquema do tipo
dos complexos P-QRSpré-excitado e normal do mesmo paciente mais raro de taquicardia por movimento circular, conhecidacomo
da Figura 53.91, mostrando que a pré-excitação alarga o QRS, antidrómica, na qual o estímulo desce pelo feixe anómalo (QRS
pelo fato de avançar suaporção inicial, mantendo-se o final pra- largo) e sobe pelasvias normais. A = átrio; AV = esqueleto fibroso
ticamente no mesmomomento do QRSnormal. WPW = síndrome atrioventricular; V = ventrículo: TMC = taquicardia por movimento
de Wolff-Parkinson-White circular; K = feixe anómalo (Kent)
Doenças Cardiovasculares • 565

NS

A B o
Figura53.95-Indução de taquicardia ortodrómica em portador
deWP'N por melo de (ete. (A) Osdois complexos iniciais são de
origemsinusal,pré-excitados, WPW tipo A. Os complexos 3 a 6
saooriginadospor (ete, ou seja,estimulação atrial esquerda.(8)
Comoo feixeanómalo,nessepaciente,estáà esquerda,ou seja,no Figura 53.96 - Esquemade fibrilação atrial conduzida pelo feixe
x mesmolado estimulado, existe discreto predomínio da atlvação anômalo. O traçado inferior mostra o eletrocardiograma de um
~ anômalacomaumento da onda delta. Osétimo complexo é oriqi- portador de síndrome de Wolff·Parkinson-White, durante
~ nadopor um extra-estímulo. (C) Em vista da precocidade é blo- fibrilação atrial, resultando em ativação ventricular com alto risco
;ti queadoanterogradamente,no feixe anómalo (desaparecea onda de desenvolver fibrilação ventricular
~ delta),porém,éconduzidocom PRlongo em razãode retardo pelo
., nóatrioventricular.Além disso, mostra morfologia de bloqueio
deramodireito em virtude de bloqueio de fase III nessaestru-
tura.O retardopelo nó atrioventricular permite que o feixe anô- durante a ablação por radiofreqüência, devendo-se contem-
maiobloqueadoserecupere e aceite a condução retrógrada do porizar o procedimento. li não ser que urna condição de risco
estimulo.(O) A partir dessemomento, começa uma taquicardia esteja bem definida.
pormacrorreentrada, subindo pelo feixe anómalo edescendopelo Tamanho da onda delta c risco na WPW. O tamanho da
nóatrioventricular(taquicardia ortodrómica, sem onda delta e onda delta não é determinante de risco na WPW. Depende
comQRSestreito).O segundo complexo da taquicardia também principalmente da posição do [eixe anómalo. em relação ao
apresentamorfologiade bloqueiocompleto de ramo direito decor- nó AVe ao nó sinusal. e cio tempo de condução pelas paredes
rentedeaberrânciapor captura retrógrada pelo ramo esquerdo. arriais e pelo nó AV (ver Fig. 53.93). Ião se pode dizer que
A partirdo terceiro complexo, a taquicardia mostra QRSnormal.
(ete = cardioestimulaçãotransesofágica; EE = extra-estímulo; uma WPW. com grande onda delta. tem risco maior que outra
TPSV = taquicardiaparoxlsticasupraventricular;WPW= síndrome com onda delta inaparcntc.
deWolff·Parklnson·White Feixe u n "maio oculto. É o feixe de Kent que apresenta
somente condução retrógrada (vcntrículo-atrial). Dessa forma.
não apresenta onda delta razão pela qual não se manifesta no
• O ECG se normaliva e deixa de ver um irnpcdimcmo num ECG basalsendo conhecido como "oculto". Apesar de ter menor
examede saúde. risco pelo rato de não permitir UI, taqulcardias conduzidas
• Liberação para todas as arlvldadcs físicas. (fibrilação ntrial com freqUência alta) ISresponsável por 30%
• Liberaçãopara atividudcs profivsionai» de risco pessoal das taquicardius regulares em coração normal (taquicardias
ou colerivo. mediadas por reentrada AV ortodrômica).
Poroutro lado. no paciente ussimornãtico são condições Feixe 1111"111:110 tipo Mahulrn (libras de Mahaim). Esse é
derisco,de prognóstico desfavorâvcl ou de necessidadede trata- um tipo especial de feixe anômalo. Tipicamente se localiza
mentodetinitivo: entre átrio e ventrículo direitos. principalmente na região anterior
e ântcro-Iatcral. Difere do feixe de Keru, porque contém célu-
• Presençade outra cardiopatia.
• História familiar de morte súbita. las de condução lenta iguais às do nó AV. Isso lhe confere
• Presençade instabilidade elétrica atriul c/ou ventricular. capacidade de condução decrerncntal (ver Fig. 53.99). Pelo
• Fibrilação atrial com alta frcqüência (com QRS largo) fato de apresentarem condução lenta. geralmente não provo-
ouausênciadebloqueio do feixe anómalo até a frequência cam o surgimento de onda delta. pois arivam o ramo direito ou
máximano testeergométrico c/ou na Ceie c/ou no estudo o ventrículo rardiamcnte durante o ritmo sinusal. Tipicamen-
eletrofisiolõgico inva ..ivo. te. o QRS é norrnul cm ritmo sinusal. porém, com estimulação
• Períodorefnuário araerõgradodo feixeanômalo $270 rnilis-
segundosdeterminado por Ceie ou estudo invasivo").
• Fibrilaçãoutrialcom RR pré-excitado$ 250 milissegundos' h.
• Suspeitade mais de um feixe anómalo.
• Feixeanôrnalo põstcro-scpral.
• Práticade atividadcs cvportivas (atleta),
• Profissãode alto risco.
• Hipcnircoidismo.
A tendência aiual é indicar o tratamento definitivo por meio
deablaçãopor radiofrcqüência em todos os casos sintomáticos
ounosqueseencontram condições de risco ou de prognóstico Figura 53.97 - Tiposeletrocardiográficos de síndrome de Wolft-
desfavorávelouduvidoso (Fig. 53.98). Deve-setomar um cuidado Parkinson-White, conforme a polaridade da ativação ventricular
especial
comrelaçãoaosfeixes anôrnalos ârucro-scptais e médio- em V1 e V2. Essespadrões podem sofrer grandes modificações
septais.Nestes.existe risco IIIll pouco maior de bloqueio AV se existir bloqueio de ramo subjacente
566 • Tratado de Clínica Médica

TABELA53.11 - Tipos de sindrome de WoIH·Parkinson·White quanto à capacidade de condução do feixe anômalo


\O TAQUICARDIACONDUZIDA TAQUICARDIA RISCODE MORTESÚBITA
O TIPO ONDA DElTA (FA. FLUTTER. TA) MEDIADA (00 OU AD) PORPRÉ.EXCITAÇÃO

c..r Manifesto Ampla Sim Sim (AD/OO) Sim
~
CI)
Inaparente Invisível Sim Sim (AD/OO) Sim
Intermitente Presente/Ausente Sim/Não Sim/Não (AD/OD) Geralmente não existe
Oculto Ausente Não Sim (00) Não
AD = taquiéardia antidrõmica; FA = fihrilação atrial; 00 = taquicardia ortodrõmica; TA = taquicardia atrial

atrial progressiva (HI aumento do tônus vagai, obtém-se o alar- principalmente nos casos em que o feixe anôrnalo tem capa-
gamento do QRS com morfologia característica de bloqueio cidade de condução antcrõgrada. Isso poderia transformar urna
de ramo esquerdo. taquicardia mediada. bem tolerada numa taquicardia conduzida
7C/(/II;cllrd;1I das Ji/J/'{/.\' de M{//IlI;III. As fibras de Mahaim de alto risco (fibrilaçâo atriul pré-excitada). Esse risco também
gcrnlmcntc apresentam condução unicamente antcrõgradu. existe (,;0111 vcrapamil ou adenosina. Dessa forma. é necessário
permitindo somente as uiquicardius que descem pelo feixe e ter disponível o cardioversor transtorãcico, independente da
sobem pelo sistema de condução normal (reentrada atriovcn- técnica de reversão a ser utilizada.
tricular antidrôrnica. QRS largo). Como o feixe está localizado Cirurgia do feixe anômalo. A eliminação do feixe anômalo
na parede anterior do vemrfculo direito. tipicamente essas taqui- mediante cirurgia representou grande avanço da medicina. Foi
cardias têm morfologia de bloqueio completo de ramo esquerdo muito importante para comprovar e estudar melhor a pré-ex,
- BCR E (Fig. 53.100). com as seguintes características: citação e esclarecer, em definitivo, sua fisiopatclogia. Atual-
mente é utilizada somente nos raros casos de impossibilidade
• I3CRE COIII QRS s 150 milissegundos. ou de insucesso na obtenção da cura mediante ablação por
• SÂQRS entre O· e 75". rudiofreqüência ou, eventualmente por oportunidade cirúrgica.
• Freqüência entre 130 e 270bpm. Ablação por radíofreqüêncla. Trata-se de uma técnica
• Complexos tipo rS em V I com r inicial gernlrncntc maior revolucionária no tratamento de WPW. Poucas alternativas
que o r sinusal (fibras arriofascicularcs). terapêuticas na medicina têm um efeito tão marcante de cura
• Transição prccordial tardia (Y4 ou ruais). corno a ablação por radiofrcqüência na WPW. Praticamente
todas as outras modalidades terapêuticas. entre as quais as farrna-
o diagnóstico desta entidade é muito importante porque cológicas, tornaram-se claramente obsoletas com o advento
pode-se chrninur o feixe anômalo. por meio de ablação por
da ablação por rudiofrcqüência.
radiofreqüêuciu. obtendo-se a cura definitiva da arritmia.
Tratamento Não Farmacológico da Síndrome de Aspectos Técnicos da Ablação por Radiofreqüência
Wolff·Parkinson·White. O tratamento não farmacológico na Sindrome de Wolff·Parkinson·White. O procedi,
da WPW pode ser efetuado por marca-passos untitaquicardia. monto, cletuado sob sedação intravenosa e anestesia local dos
cirurgia ou por ablação por radiofreqüência. locais de punção, é absolutamente indolor. Não há necessidade
Marca-passos antltaqulcardla. A menção dessa modalidade de toracotomia e o tempo de internação é de dois dias. São
terapêutica é de valor histórico. Atualmentc não são mais utilizados real izados, na mesma sessão. o estudo eletrofisiológico. o ma-
no tratamento definitivo ele WPW. peamento do feixe anôrnalo e a ablação por radiofreqUência.'
Tratamento das ('/,;SC.\·. Em pronto-socorro, ou na terapia in- O objetivo fundamental é colocar o cateter-eletrodo na inser-
tensiva, a estimulação por marca-passo temporário cndocavitário ção atrial ou ventricular do feixe anômalo, através do qual
ou rranscsofãgico (Cctc) pode ser utilizada para reverter taqui- passa-se uma corrente clétrica alternada, cujo efeito Joule é o
curdias (execro a fibrilação atriul) relacionadas a WPW. Nas responsável pela microcoagulação tecidual, ou seja. pela ablação.
tuquicnrdias por reentrada AV (mediadas pelo feixe unômulo) Todo o procedimento é controlado por computador. que fornece
a possibilidade de reversão é de RS a 90%. similar fi taxa de todas as variáveis na forma de gráficos, em tempo real. Silo
reversão obtida COI11 vcrupamil ou adenosina. É necessário cuidado posicionados quatro ii seis cateteres (átrio dircito.His, ventrículo
especial para não induzir fibrilação utriul, na tcntntiva de reversão. direito, seio coronário e cateter de ablação).

Figura 53.99 - Desenho mostran-


do os dois tipos mais freqüentes
das fibras de Mahaim. AF = fibras
atriofasciculares (se inserem no
ramo direito após longo trajeto);
AV = fibras atrioventriculares; ~
SCN = representação do sistema t
de condução normal "
Figura 53.98 - Diagrama de decisões na .vallaçêo da síndrome :
de Wolff-Parkinson-White (WPW) ~
Doenças Cardiovasculares • 567

DI R VI V Taquícardías Mediadas
Tratamento das Crises
o tratamento mcdicurncntoso é feito quando falham as mano-
bras não farmacológicas de praxe. que compreendem: sedação
com ansiolüico seguida de manobras vagais (massagem dos
seios carotídeos. manobra de Valsalva etc.), cardioversão elé-
trica rranscsofágica ou rorácica externa. quando a taquicardia
é mal tolerada. o caso de insuccs ..o ou impossibilidade das
manobras não fannacolõgicas recomenda-se:

• Vcrapumil (15mg cm h(JI/I~ de 51llg ii cada 3min).


• Adcnovina (6 a 12mg cm bolus de 6mg acuda 3min)
intruvcnosu. A disponibilidade de curdioversão é neces-
~:íria !loi!. 121ftdos pucicntcs podem uprcscnrar fibri lação
ntrial após injcção de adenosina.

Antiurrfunicos de segunda escolha podem ser utilizados por


via IV. desde que não haja hipotensão importante e englobam:

• Procainarnida (I Omg/kg).
• Disopiramida (I a 2mg/kg). ou beta-bloqueadores, como:
- Propranolol (Img/dose repelida a cada 5min até 5mg).
Figura 53.100 - Eletrocardiograma da taquicardia típica mediada - Metoprolol (5mg a cada 2min até 15mg).
pelasfibras de Mahaim. TIpicamente a morfologia é de bloqueio - Esmolol (500mg/kg/min seguidos de 50mg/kg/4mjn
completo de ramo esquerdo com ondas r relativamente amplas em bomba de infusão): ou
em VI a V4 e transição RIS tardia - Amiodarona (300mg/l OOmL- 3 a 5mg/kg - soro fisio-
lógicu/30min seguido de O.5mg/min até um total de Ig).
Indicações da Ablação por Radiofreqüência com
Cateter na Síndrome de Wolff-Parkinson-White. O Tratamento Preventivo a longo Prazo
grande ucewo do tratamento dos feixes nnômnlos mediante
Implica na utilização di:!ria do untiurrümico. por tempo inde-
ablaçãopor radiotrequêncra c a huixi~sima incidência de com-
finido. para prevenir a~ crives, O uruiarrümico ideal deverá
plicaçõcs têm vido rcsponvávcis pelo grande crescimento no
ser, ao mesmo tempo. eficaz e ler baixa incidência de efeito
tratamentointcrvcncionivta de WPW. As indicuçõcs de ablução
colmcrais a longo prazo. Além do deito depressor, no circuito
foramdefinidav pela força-tarefa da Amcrican Ileart Asvocintion.
dc reentrada. deverá ramhérn possuir boa atividade antiectõpica
publicedascm 1995cc-ião \ tl.!ellle~mó o momento' (Quadro 53.6).
com o objcrivo de reduzir as arritmias deflagradoras. As dro-
Desdeessa época. não ocorreram grandes mudanças nas indica-
ga do grupo IC provavelmente loITO a~ de menor relação riscol
ções.tendo havido cm nível mundial uma tendência à indicação
benefício. cndo recomendada:
cadavez mais precoce,
Todasas posições de feixes nnômalos são rotineiramente • Flccainumidu (50mgIl2h, máximo de 150mg cada 12h).
tratadascom MICe\'O.Todavia, os feixes âutcro-septal c médio • Propafcnona (300 a 900Il1g/dia).
septalnecessitamcuidado, adicionais para evitar lesões inadver-
tidasdosistemade condução normal. Essaslocalizações podem
sermuito bemdefinidas na fase pré-ablação por meio de ECO QUADRO 53.6 - Recomendações para ablação de feixes
e Ceie. Dessa forma. pode-se fazer uni planejarucruo prévio anômalos por meio de cateter por radiofreqüência. conforme a
detalhado. essesfeixes. é utilizado rigoroso controle térmico força-tarefa da American Heart Asscclation'
escalonado e compuradori/udo. rendo sido possível curar todos
Classe I
o caso sem nenhuma lesão indcscjãvcl (Fig, 53.10 I).
• Pacientes com taquicardia por reentrada AV sintomática.
Taxade Sucesso e Complicações da Ablação por resistentes ou com intolerância a tratamento farmacológico. ou
Radiofreqüência com Cateter na Síndrome de Wolff- que não desejam tratamento de longo prazo com drogas
Parkinson-White. A taxa de sucesso na ablação do feixes • Pacientes com fibrilação atrial (ou outra taquiarritmia atrial)
anõmalos. conforme registro do Nonh Amcrican Society 01' com rápida resposta ventricular conseqOente à condução
PacingandElecrrophysiology ( rASPE)' de 1998 a 2000. é 9-1lk anómala. quando existe reslstência ou intolerância à
medicação ou quando o paciente não aceita tratamento
com umaincidência geral de complicações não fatais de -Ilk. farmacológico a longo prazo
A taxade mortalidade é menor que I %. Nossa experiência
pessoalcoincide com a\ taxas de sucesso e de complicações Classe II
nãofatais. porém não remos nenhuma mortalidade cm mais • Pacientes com taquicardia por reentrada AV ou FA com rápida
resposta ventricular. identificadas por estudo eletrofisiológico
de2000proccdimcnrov.
de outra arritmia
Tratamento Farmacológico da Sfndrome de Wolff- • Pacientes assintomáticos com pré-excltação ventricular cuja
Parkinson-White.O tratamento fanllllculógieo da WPW visa profissão ou meio de vida. atlvidade. segurança. bem-estar
eliminarossinromav e/ou redu/ir () risco. Os caso!. .\i nromãt i- mental ou segurança pública sejam afetados por arritmias
cosdebaixo risco podem ver mnnt idos cm observação cl ín ica espontâneas ou pela presença de anormalidade
semuatamemoimediato. A questão t.! que. sendo o feixe auômalo eletrocardiográfica
umsubsiraro permanente. o trnramcmo luruurcolúgico somente • Pacientes com FA com freqOéncla ventricular bem controlada
protege. enquanto o, nívci-, plnsmáticos do mcdicnmcnto C$- conduzida por feixe anómalo
• Pacientes com história familiar de morte súbita
tiveremrespeitados, Qualquer redução na biudisponibilidade
dadrogafavorece o retorno do risco e dos sintomas AV = atrioventrkular: FA = fibrllaç30 atrial
568 • Tratado de (linica Médica

maior, portanto, é a ocorrência espontânea de fibrilação atrial


conduzida aos ventrículos com freqüência alta através do feixe
anômalo. Nesses casos, deve-se priorizar o tratamento defini-
Inicio da Rf O~Slparedmento da Taquicardia juncional tivo por meio de ablação por rudiofreqüência. Enquanto se
onda delta térmica
aguarda essa alternativa, podem ser utilizadas drogas. como:
Figura 53.101- Eliminação do feixe anómalo mediante ablação • Flecainamida (50mg/12h. máximo de 150mg cada 12h).
por cateter com aplicação de radiofreqüência (RF). Os comple-
• Propafenona (300 a 900mg/dia).
xos 1 e 2, sinusais, apresentam onda delta, PR curto e QRS alar-
gado (sindrome de Wolff-Parkinson-White). A RF é iniciada no • Amiodarona (400 a 600mg/dia).
primeiro QRS e a onda delta já não existe a partir do terceiro. Os
complexos 3, 4, 5 e 9 são sinusais. Esse caso mostra a ablação de Importante, Os bloqueadores nodais, como os beta-
um feixe ântero-septal. Dentre todos os feixes anómalos, este é bloqueadores. bloqueadores de cálcio e digitãlicos, es-
o pior caso com relação ao risco de bloqueio atrioventricular, tão contra-indicados no tratamento preventivo desses casos,
pois o cateter tem que ser posicionado próximo do nó atrioven- pois o bloqueio do nó AV pode potencializar a condução
tricular e feixe de His. OSQRS de números 6, 7 e 8 são juncionais, anômala durante uma fibrilação atrial.
originados pelo efeito térmico ao nível do nó atrioventricular.
Com controle térmico escalonado rigoroso, controlado por com-
putador, tem sido possível curar todos esses casos sem provocar Taqulcardlas Conduzidas [fibrilação Atrlal]
nenhuma lesão da condução atrioventricular
Qualquer taquiarritrnia atrial pode ser conduzida pelo feixe
anômalo, porém o flutter e a fibrilação arriais são os de maior
Outras opções geralmente utilizadas são: risco pelo potencial de induzir fibrilação ventricular. Todo portador
de feixe anômalo, que apresenta fibrilação ou flutter atriais
• Amiodnrona (200 a 600mg/dia) quase sempre preterida conduzidos pelo feixe (/7lluerlfibrilação atrial pré-excitados),
em razão de seus numerosos e freqüentes efeitos colaterais. ou mesmo alto risco dessas arritmias, deve ser imediatamente
que obrigam à suspensão da droga em 30 a 40% dos tra- considerado para tratamento definitivo com ablação por ra-
tamentos: ou diofreqüência. Enquanto se aguarda esse procedimento ou. nos
• Sotalol (80 a 160mg/dia) que tem o inconveniente de casos em que não é possível realizá-lo. justifica-se o traia-
prolongar o QT e favorecer o aparecimento de torsades mento farmacológico.
des pointes em 4% dos casos.

Outros unüurrümicos. como procainarnida (750 a 1.5OOmgl Tratamento da Crise


dia), ou quinidina (400 a 600mg/dia), ou disopiramida (300 a Se houver importante comprometimento hemodinâmico, deve ser
500mg/dia), podem ser utilizados. realizada a cardioversão torácica externa, o mais rápido pos-
Os bloqueadores de cálcio e o digitálico não são recomendáveis, sível. Caso a arritmia esteja sendo bem tolerada, ti melhor opção
pois não possuem bom efeito aruiarrítmico, seja no circuito reen- é a procainamida (IOmg/kg IVII Omin), Outras opções são a
trante ou nas arritmias deflagradoras. Além disso. têm efeito
amiodarona (3OOmg/l OOmL de soro fisiológico/30min IV), ou ~
desfavorável, caso ocorra fibrilação atrial. a disopirarnida (I a 2mg/kg IV). A propafenona, a flecainnmida ~
Os beta-bloqueadores. apesar de não terem efeitos antiarrítmico
c a dofetilida são boas opções, porém as preparações intravenosas ~
e antiectópico significativos podem ser úteis em associação
dessas drogas estão arualmente sob avaliação da Food and Drug ~
com antiarrúmicos dos grupos IC ou IA, além de proteger o
Administration (FDA). x
paciente contra hiperntividade adrenérgica.
Importante, Os beta-bloqueadores, a digoxina, o veraparnil?
Taquicardia AnUdrümlca e a adenosina estão formalmente contra-indicados, nessa
situação, podendo precipitar colapso hemodinâmico c
Nesse caso. o movimento circular desce pelo feixe anôrnalo
fibri lação ventricular".
e sobe pelo nó AV. O QRS é largo e muito aberrante. sendo
seu início a própria onda delta. Tipicamente, o "elo frágil"
dessa taquicardia é a condução retrógrada pelo nó AV. Antes Tratamento Preventivo a Longo Prazo
de tratá-Ia, é importante fazer o diagnóstico diferencial das
taquicardias de QRS largo. Nessa aplicação. o antiarrítmico deve ter propriedade antifibri-
latõria. antiecrópica para prevenir a deflagração das crises,
deve reduzir a condução e aumentar a refratariedade do feixe
Tratamento das Crises anôrnalo, além de ter um bom efeito preventivo das taquicardias
Se houver hipotensão significativa. o melhor tratamento é a por reentrada AV, geralmente envolvidas na precipitação de
cardioversão. Caso contrário, a melhor opção é a procainamida crises de fibrilação atrial. As drogas mais adequadas na ob-
(IOmg/kg IV). Os bloqueadores nodais. COmO os beta- tenção destes efeitos são a flecainamida" (50mg1l2h, máxi-
bloqueadores. bloqueadores de cálcio, digoxina, ou adenosina, mo de 150mg cada 12h), II propafenona 12 (300 a 900mg/dia)
estão contra-indicados, a menos que se tenha certeza absoluta ou a amiodarona (400 a 600mgldia).
da reentrada AV. Mesmo assim, o uso de adenosina não é
REFER~NCIAS BIBLlOGRAFICAS
recomendável por favorecer a fibrilação atrial,
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Doenças Cardiovasculares • 569

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calhcleubl:mon proctdun.'< - A repon ofllle Amene.n College ofCanliolog~/AOlerican Figura 53.102 - (A) Sistema de Holter com gravador em fita
He3l1A.lsOO:lIÍO!1T~sll'Qrtc IM,l'mcllcc Guldchncs (Commiuee on Clinical lntracardiac magnética. (8) Exemplo da instalação das derivações num sistema
Eleclloph).iolog,c and Catherer Abl.llon I'ro.:edurcs). developed in collaboration de sete eletrodos
wlIll tIoc Nonh Amcncan So.:'Cly ar l'ncing.OO Elecuophysiology. l. 11m.Coi/. Cordio!..
".26. n. 2. p. 555·573. 19<)5
S. SCIIEINMAK. M. M .. IIUANG. S. Thc 1998 1"ASI'E prospcctlvc cmhcrcr 3blalion
Itgislry [In Process Cuation]- /'flrillR C/III. E/mrop"l"io/ .. v. 23. n. 6. p. 1020· HOLTER
1028.2000. Também conhecido como clcrrocardiografia dinâmica ou moni-
9 GULAMHUSEIN. 5.: KO.I'.:CARRUTIlIiRS. S.G.: KLbIN. G.J. Accclcration of
IloeventriclIlilrl'C'lxlIl>cdunng au;nl fibl'illntion iII lhe Wolff.PaJ'kill,on.\Vhilesyoorome toração arnbularorial do ECG - é de extrema utilidade. Além
3ftcr vcrapamil. CirC'll/IIIItI/l. v. 65. n. 2. p. 3~S·354. 1982. do diagnóstico, permite ti correlação clínico/eletrocardiográ-
10. MCGOVEI~N. n.: CARAN. II.: RUSKIN. J. N. Precipiunion of cardiac arrcsr by fica, que é fundamental pum relacionar sintomas a uma arritmia:
'tl'llpllmil inlNlliclII' \VilhWollT.I'lIrkinlon·Whilcsyndrornc.tllIlI.llllem. Meti .. v. I():I. quantificar as arritmias c determinar seu padrão circadiano;
n. 6, p. 791·794. 19X6. considerar e plancjar um tratamento mais ou menos agressi-
II. CHOUTY. F.; COUMEL, P. Oral Ilccainidc fur prophylDXi, of paroxysmul 011'1:11
fibrillalion. AIII. J. Canliol .. v, 62. n. 6. p, 3~D·J71).1988. vo; indicar ou contra-indicar um marca-passo cardíaco; identi-
12. ANTMAN,E.M.; IlEi\MER.A D.;CANTII.I.ON.C'.: M('COWAN. N.:GOLDMAN, ficar disfunções de marca-passos; determinar ajustes na
L; FRIEDMAN. P.L. Long-icrm or:lI Pl'(,pllfcnlll'c Ihcr.lpy ror'uppre.«ioll of rcfractory programação de marca-passos: diagnosticar isquemia silen-
S)mp«>m3Iic au;al fibrlllalion aOO.lIri.1I íluuer .. 1.A",. C"II. C""IiO/,, v, 13. n. I. p. 26-1. ciosa ou sintornãtica c avaliar o prognõsüco. É o exame mais
indicado quando os sintomas são Ireqüentes.
O registro contínuo de 24 ou 48h é realizado com um pe-
queno gravador portãtil. com o uso de fila magnética ou cartão
de memória sólida, instalado no paciente com três, cinco ou
sete eletrodos adesivos (Fig. 53.102).
ExamesComplementares no 100PER OU MONITOR DE EVENTOS SINTOMATlCOS
Estudodas Arritmias Cardíacas Permite o registro conunuo do ECG. numa alça de memória.
por longos períodos de tempo (I ou 2 semanas) (Fig. 53.103).
Caso ocorram sintomas, o paciente aciona um botão regis-
José Carlos Pachón Mateos trando o evento. Recentemente, Pachón e uma equipe de en-
genheiros do Instituto Dante Pazzancsc de Cardiologia
Paulo Jorge Moffa desenvolveram um sistema quc transmite o ECG em tempo real
diretamcntc do paciente para li internet, por meio de rede de
Paulo César R. Sanchez telefonia celular. A vantagem desse sistema é permitir o ar-
mazenamentO contínuo ou intermitente do ECG num prove-
Maria Zélia Cunha Pachón dor, pelo tempo que se fizer necessárioparaesclareceros sintomas.
O médico pode ver o ECG cm tempo real ou armazenado. a
Enrique Indalécio Pachón Mateos qualquer momento, de qualquer parte do mundo. Além desses
sistemas regi tradores de eventos externos existem também os
implantáveis com autonomia para I a 2 anos. O looper é utili-
Atualmente,o clfnico dispõe de urna grande variedade de exames
zado quando os sintomas são raros e não foram esclarecidos
complementares que permitem o diagnóstico das arritmias com
de outra forma. Já os sistemas irnplantãveis são ui ilizados quando
grandeprecisão.A questãoque sempre se impõe é como escolher
os sintomas são muito mais raros (Tabela 53.12).
ocaminhomais curto, ou seja, o menor número de exames para
esclareceruma suspeita, o que significa menor custo e menor
desconfono.O esclarecimento da técnica e as indicações de
TABELA 53.12 - Escolha do método de monitoração
cadaexamesão decisivos para o clínico. ambulatorlal do eletrocardiograma (ECG) em função das
caracteristicas dos sintomas. conforme as diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia
ElETROCARDlOGRAMA
SINTOMA TIPODE REGISTRADOR
Éo maisútil pela facilidade dc realização e rapidez do resul-
tado.É de utilização obrigatõria inicial cm qualquer avaliação Diários Fugazes ou prolongados. Holter
dearritmia.A limitação maior é o curto período de observação incapacitantes ou não
quereduzsuascnsibi lidadc. Entretanto. freqüenternenre o ele- Semanais ou Fugazes Looper
trocardiograma(ECG) mostra determinados substratos muito mensais Prolongados Looper pós-evento
Importantesna avaliação da origem da arritmia como: pré- Não incapacitantes ECGno pronto-socorro
excitaçãoventricular ou hissiana, bloqueios de ramo, bloqueios Incapacitantes Looper
atrioventriculares(AV). presença de zonas inativas, zonas de Pouco Fugazes Reavaliar a conveniência
necroseou isquemia. suspeita dc aneurismas. QT longo, dis- freqüentes do esclarecimento
persiiodoirucrvalo QT. sinal de Brugada, onda épsilon, distúrbio Prolongados Looper implantável
no pronto-socorro
daconduçãointcratrial etc.
570 • Tratado de Clínica Médica

• A hipotcnvão ncuromcdiadu pós-esforço.


• O grau de bloqueio beia-adrenérgico resultante de lima
determinada terapia.
• O controle terapêutico em arritmias udrenérgico-dcpcn-
dentes.
• O comportamento de um foco dc escape num bloqueio
AV congénito mantido sob observação clínica.
• Avaliação de simumas/riuuo cardíaco em cardiopatias
obstrutivas etc,
Apesar dessas possibilidades diagnosticas. um leste ergo-
métrico completamente normal não exclui patologia do sistema
de condução ou substrato de arritmia de risco.

TIL11ES1
Trata-se de exume não invaviv o para idcnt ificar ~íI1C()po.:~ de
A origem funcional, O paciente é colocado cm decúbito dur~~1
numa mesa que. povtcriormcntc é inclinada c cstuciouada entre
60 e SOo, A í'reqüência cardíaca. o ReG c a pressão arterial
são constantemente rcgistrado-, Paciente, com sfncopc de origem
ncurocard iogên ica tendem a apresentar bradicardia, hipotensão,
tontura. pré-síncope e I11Cl>1110 sfncopc. É um exame útil para
o diagnóstico di lcrencial de sfncopeneurocardiogênica, hipotensão
postural. síndrome da taquicardia sinusal onostãtica, disfunção
autonôrnica e síncope psicogênica (Fig. 53.104).

ElETROCARDIOGRAMA DE ALTA RESOlUÇÃO


o elctrocardiograma de alta resolução (ECGAR) também é
conhecido como RCG promcdiado (do inglê». signa! (1I'l'I'II;:Ctl
I'll'cII1J(,(/I'l/iogI'll/Jlty) ou ECG de alta Ireqüência. Consí illli metodo
não invasivo e de I"líc.:ilaplicação clínica. com ns finalidades
principais de melhor avaliação da onda P. de at ividadc do ~i~lcllla
de ll is-Purk injc c detecção de potenciai, tardios,
Sua principal função é redu/ir interferências, conservando
c umplificundo O~ ~il1ail>de alta freqüênciu e baixa amplitude.
resultantes da tragrnentação de atividade elétrica ventricular
c que são identificados na parte terminal do complexo QRS e
no início do segmento ST. mas não são evidentes no ECO
convencional.
um processo da prornediação do sinal elétrico cardíaco é rca-
lizado para detecção de pequenos sinais elétricos constituintes
do complexo QRS. e liminando-sc os ruídos conuuninanres,
conforme movirado 11:1 Figurn 53.105.

Figura 53.103 - Monitor de eventos sintomáticos, externo e Ho.m"I/IHlf09fnlo

implantável. (A) Frente, (B) Perfil. (e) Registrador implantável.


(O) Acionador do paciente, (E) Programador, leitor e impressora ~------,.
........................................ ,r
da telemetria

TESTE ERGOMlTRICO
A mcrodologiu convencional do teste ergométrico não é dire- ..............................;(
S.nd,omt di tlqu1u,di, ponu,.1

clonada ii investigação de arritmias, entretanto. esse exame ....


pode ser muito útil nesse campo, permitindo estudar diversos
aspectos. la is como:
•••••••••••••••••••••••••••••

..
J(

-----••
• A resposta cronorrópica do nó sinusal que normalmente
esrã reduzida na doença cio nó sinusnl.
Figura 53.104 - Gráficos da freqüência cardíaca (FC) e da preso
• A presença de bloqueios frcqüência dependentes.
são arterial (PA) em diferentes condições clínicas. Na síncope neu-
• O desaparecimento ou li pcrslsrênclu da condução por rocardiogênica típica, ocorrem subitamente bradicardia,
um feixe nnôrnalo durante o esforço. hipotensão arterial grave e sincope. Na disautonomia, ocorre
• A' taquinrriuuin-, alrini, nu vcntriculurcv induzida-, por uma redução progressiva da pressão arterial sem compensação
esforço ou cxtrcvse ff~ic(). adequada da freqüência cardiaca até a ocorrência da síncope.
• A resposta cronotrépica dos biosscnsores de marca-passos. Finalmente, na síndrome da taquicardia postural ortostática, apesar
• O comporuuncmo dos marca-passos Fisiológicos na fre- de aumento importante da freqüência sinusal, ocorre queda
qüência máxima de seguimento sinusal. progressiva da pressão arterial
Doenças Cardiovasculares • 571

.. ,_
Magnitude vetorial
Figura 53.105 - Esquema da metodologia para
obtenção do eletrocardiograma de alta reso-
luçao. O eletrocardiograma nas derivações oro
togonais X. Y e Z é amplificado. filtrado e
-
I_.<i

".,..
decomposto em pontos de voltagem. Cada -''''
ponto é promediado sucessivamente com o
mesmo ponto do próximo QRS. Após 200 a 400
complexos QRS promediados geralmente é
obtida boa rejeição de ruído. Após a preme- - .oow
diação, obtém-se a raiz quadrada do somatório
de cada amostra de voltagem. nas derívações
X. Y e X previamente elevadas ao quadrado.
Finalmente. a junção de todas as amostras de
voltagem obtidas com essa metodologia cons- - IOUV

titulo vetor magnitude (somatórlos de todas


as ondas positivas e negativas nas três deriva- Z
ções ortogonais). Na parte final desse vetor,
residem os potenciais tardios

Admite-se a presença dc potenciais tardios potencialmente


arritmogênicos, se dois dos critérios expostos no Quadro 53.7
estiverem presentes (Fig. 5.1.1 O(J)'.

Eletrocardlograma de Alta Resolução nos


Bloqueios de Ramo
50 existe um convenvo cvrabclccido quanto ii utilização do
número de parârncirov anormal ... c ao tipo de filtro utilizado
(25.40 ou 8011/) para que um teste seja considerado poxitivo
na presença dc bloqueio completo de ramo (direito ou esquerdo).
\nalisando-~c paciente ...com duração de QRS basal (não lil- Figura 53.107 - Cardioestimulador transesofágico. Aparelho com
irado) > 120 milisscgundov c utilivando filtros de 25 li 2501-11. caracteristicas eletrônicas especiaiS para a realização de estudo
eletrofisiológico simplificado através do esófago (cardioestimulação
considerou-se a presença de potcnciui-, tardios. quando os trê!>
transesofágica)
parâmetros utilizados no ECGAR estivexsem presentes, além de:

• Duração do complexo QRS filtrado> 120 mi Iisscuundo . formam o substrato para a reentrada. seja qual for sua locali-
• Duração total do), ~inai), de baixa amplitude inferior a zação no complexo QRS.
40IlY. >40 mili ...segundos e voltagem média dos 40 rnilis- O método utiliza as derivações X.Y. Z. processadas separa-
segundos terminais do complexo QRS filtrado < 15~IV. damente. fornecendo gráficos tridimensionais representativos
do conteúdo de freqüências, que constituem Oi. dados de freqüência
espectral, denominados espectrocardiogramas, O~dados de cada
ESPECTROCAROIOGRAFIA derivação xão submcridos ti v(lrio~ cálculo-, e~lalí'licos.lIlediallte
inforrnat ilação (inc III i ndo ii 1/'(I",jll//IItIt/1I rápid« d« NI/I rier),
A espectrocardiografia detecta fluiuuçõcs anormais na com-
posição de frcqüências da onda de dcspolarlvação. que se que. por 'tia VC/,. fornecem índice, 11U1ll":riCIl!'para compor
propagam através c em torno de (lrca.\>lcsudas do miccárdlo c uma escala ascendente de turbulência espectral.

ESTUDO EUTROFISIOlÓGICO TRANSESOFACICO


PT- PT.
Esse exame complementar foi dcscnvolv ido no Serviço de
estimulação cardíaca artificial do lnstituto Dante Pazzanesc
- $Opv de Cardiologia e no Serviço de arritmia, c clctrotisiologia cardfaca
40 do Hospital do Coração. O trabalho foi iniciado em 1982. com
o objetivo de buscar alternativas sintplificadas para o diagnóstico
e triagem do pacientes com arritmias cardíaca. A partir dessa
nece idade. construímos um estimulador com características
especiais para estimular os :Í1rio!>através do esôfago". Além

QUADRO 53.7 - Critérios de positividade quanto à presença


de potenciais tardios

Figura 53.106 - Exemplos de eletrocardlograma de alta resolu- Duração do QRS filtrado maior que 114 milissegundos
~ao.A esquerda. potencial tardio negativo (PT·). A direita. po- Voltagem do sinal inferior a 20~V nos últimos 40 milissegundos
do QRS filtrado
tencialtardio positivo (PT+). 1. QRS = duração total do QRS filtrado.
2. Voltagem espacial (X. Y e Z) dos 40 milissegundos finais. Nos.últimos 38 mllissegundos do QRS filtrado. a magnitude dos
Sinais deve permanecer abaixo da linha de 40~V
3. üuração da porção final do QRS com voltagem abaixo de 40llV'
572 • Tratado de Clínica Médica

f- 1 EE = 3 I n41
~H+
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4-
Figura 53.108 - Cardioestimulaçãotransesofágica,na taquicardia
por reentrada nodal, antese ap6sa ablaçãopor radiofreqüência.
No traçado superior, um extra-estlmulo com 300 milissegundos Figura 53.110 - Taquicardia por reentrada AV em portador de
de acoplamento é conduzido com retardo atrioventricular siqni- síndrome de Wolff·Parkinson-White, induzida por cardioes-
ficativo (*), iniciando uma taquicardia por reentrada nodal. No timulação transesofágica pré-ablação (traçado superior). Osdois
traçado inferior, um extra-estimulo com Intervalo de acoplamento complexos assinalados (*) mostram aberrância tipo bloqueio
bem mais longo (350 milissegundos) não maisé conduzido (**), completo de ramo direito, fase III. A taquicardia tem QRSestreio
sendo Impossívelreinduzir a taquicardia. O prolongamento do to, comdiscretodistúrbio deconduçãointraventricular freqüênda-
período refratário efetivo anter6grado atrioventricular ocorre, dependente (QRSde baixa amplitude). Oscomplexosestimulados
tipicamente, ap6s a ablação bem-sucedida da via lenta. E = es- apresentam importante aberrãncia inicial em decorrênciadacon-
tímulo; EE = extra-estlrnulo dução anômala. No traçado inferior, vê-se a cardioestimulaçào
transesofágica de controle pós-ablação.TodososcomplexosQRS
estãonormais. Não foi possívelreinduzír a taquicardia. AV = atrio-
ventricular; E = estimulo; EE= extra-estimulo; E1 = estímuloem
disso, criamos uma metodologia específica para permitir es- período refratário atrial
tudos em regime ambulatorial, chamada cardioestimulação
transesofágica (Ceie) ou estudo cletroflsiológico rransesofágico
(não invasivo) (Fig. 53.107)3. (p > 0,05). Em 91,7% dos feixes ocultos é possível determinar
A Ccrc permite induzir (Figs. 53.108 a 53.110) e reverter a corretamente se estão localizados à esquerda ou à direita, utili-
maioria das raquicurdias supraventriculares de forma incruenta". zando-se o ECG da taquicardia induzida.
Fornece,também, vastainformação a respeito do sistemaexcito- Diante dessesdados, conclui-se que a Cere é metodologia
condutor cardíaco. mesmodurante o ritmo sinusal, Essesaspec- de grande utilidade clínica para o diagnóstico, classificação,
to),possibilitam estudarcom detalheo mecanismodastaquicardias plancjamcnro terapêutico c controle pós-ablação dos diversos
supravcntriculares permitindo. previamente. O planejamenio tipos de taquicurdias supraveruricularcs c stndromes de pré-
minucioso do procedimento intervencionista'. Além disso. tendo- excitação (Fig. 53.111). Além disso. tem grande aplicaçãocorno
'e efetuado o tratamento, a Cete torna possível o controle icra- forma alternativa de reversão imediata, por meio de sobre-
pêutico sema necessidadede reconduzir o pacienteao laboratório estimulação, das taquicardias supraventriculares em unidades
de eletrofisiologiu. de emergência. Adicionalmente. permite estudar o automatismoQ<
Com relação nos feixes anômalos, a Cctc permite localizar sinusal, a condução sinoatrial. a condução interatrial, a esta-~
corretamerue 89.3% dos feixes aparentes. inaparentes ou in- bilidade das paredes arriais, a condução AV verificando fácil- ~
termitentes. Não há diferença significativa entre os períodos mente se está normal, reduzida (bloqueio AV) ou acelerada~
rctrauirios efeiivos determinadospelaCetee pelo estudo invasivo (pré-excitação). ~

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Figura 53.109 - Cardioestimulaçãotransesofágicapara controle Figura 53.111 - Cardioestimulação transesofágica para centro-
terapêutico na taquicardia por reentrada atrioventricular, em le terapêutico de ablação por radiofreqüência em portador de
portador de síndrome de Wolff·Parkinson·White oculto. O extra- síndrome de Wolff-Parkinson-White inaparente. No eletrocar-
estímulocom 300milissegundosde acoplamento induz facilmente diograma inicial a pré-excitação somente é visível durantea
a taquicardiaantesdaablação,porém não a reinduzapósa ablação, cardioestimulação transesofágica (sindrome de Wolff-Parkinson·
denotando que houve sucesso terapêutico. Nessescasos, a White inaparente). Observa-seo desaparecimento da pré-exd-
cardioestimulação transesofáglca se mostrou de extremo valor, taçãono traçado inferior em razãode eliminaçãodo feixeanõmalo
tendo em vista que, na síndrome de Wolff·Parkinson·White ocul- pela ablação. O eletrocardiograma apresenta somente modi·
ta, o eletrocardiograma não tem valor para controle da ablação, ficaçõesmínimas(discreta redução da amplitude da onda r),n~o
pelo fato de não apresentaronda delta mesmoantesda ablação. sendo adequado, isoladamente, para o controle terapêutico.
Assimsendo, a única forma de controle terapêutico objetivo é o E = estímulo. * Aparecimento da onda delta potencializadapela
reestudo pós-ablação. E = estimulo; EE = extra-estímulo cardioestimulação transesofágica
Doenças Cardiovasculares • 573

v ESTUDO UETROFISIOlOOICO INVASIVO


É a forma mais extensa e completa de cvtudo do si tema de
condução. É realizado no laboratório de catctcrismo cardíaco
com posicionamento de cletrodos temporários no átrio direito,
ventrículo direito. região do feixe de His, seio coronário ou
esófago (ao nível do átrio esquerdo). Está indicado na suspeita
de le õcs ocultas do sistema His-Purkinje. de taquicardia ven-
tricular ou de feixes anómalos associados. ou quando se pretende
o tratamento intervencionista definitivo. O eletrodo localizado
na região do feixe de His registra o potencial A (que corresponde
à ativação do átrio próximo ti junção AV). o potencial H (que cor-
Figura 53.112 - Estudo eletrofisiológico invasivo. Mediante responde à despolarização do tronco do feixe de His) e o potencial
punçõesvenosassão colocados eletrodos no átrio direito, ao nível V (que corresponde à utivação do miocárdio ventricular). Essas
do folheto septal da valva tricúspide (His) e no ventrículo direito. três ondas permitem dividir a condução AV em três intervalos
O eletrodo ao nivel do feixe de His registra a onda A (que cor-
principais: PA (do início da onda P na supcrffcic até o início
respondeà onda P na região do feixe de Hls), o potencial H (que
sedeveà despolarização do tronco do feixe de His) e o complexo V da onda A. intracavirãrin), que corresponde ao tempo de condução
(quese deve à despolarização do miocárdio ventricular) irura-atriul: AH (da onda A até o potencial de IIb). que cor-
responde ao tempo de condução pelo nó AV. c HV (do poten-
cial H até o início da ativaçâo ventricular), que corresponde
ao tempo de condução no sistema His-Purkinje (Fig. 53.112).
O registro desses potenciais é muito importante para loca-
lizar a origem dos bloqueios AV e das taquicardias.
~ A câmaras arriais e ventriculares são estimuladas, aplicando-
Figura 53.113 - Estimulação ventricular programada durante se extra-estímulos, que são estímulos precoces e permitem medir
estudoeletrofisiológico intracardiaco. Neste caso aplicam-se três os períodos refratârios dos vários segmentos do coração. Além
extra·estimulos de 360, 290 e 250 milissegundos num ciclo bá- dessa informação. a estimulação programada tem valor ines-
sicode estimulação de 500 milissegundos, que corresponde a timável. à medida que permite induzir e reverter as arritmias
120ppm.Observa-se que a seqüência de extra-estimulos induz por reentrada (Fig. 53.113).
taquicardia ventricular De forma sintética. as indicações atuai para estudo elctro-
fisiológico invasivo são rnosiradav no Quadro 53.8".
QUADRO53.8 - Principais indicações para o estudo
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- Avaliaçlloda estabilidade elétrica ventricular (indução de TV 3nd cardiovcolcn: II I'CI~lflor lhe l\mcrrCJn Collqr o( Cardlology/Amcricnn lIearl
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comprometida para implante preventivo de desfibrllador
cardlacoautomático
• Outrasindicações
- Estudoe localizaçAodo foco das taquicardias ventriculares
para proçramaçãc detalhada dos desfibriladores
- Estudoda eficácia de procedimentos intervencionistas, como
Drogas Antiarrítmicas
ablaçãoou cirurgia em taquicardias
- Estudoda eficácia e do grau de proteção de antiarrítmicos, José Carlos Pachón Mateos
em situaçõesespeciais
• Alémdessasindicaçõestem-se utilizado rotineiramente o
estudoeletrofisiológico Invasivo em testes farmacológicos
Enrique Indalécio Pachón Mateos
especlficospara pesquisar
- Bloqueiosatrioventriculares (procainamida)
Juán Carlos Pachón Mateo
- Sindromede Brugada (ajmalina, procainamida)
- Displaslaarritmogênica do VO e TV/FV adrenérglca A utillzação de drogas é a forma mais difundida de traramcnro
(eplnefrina) das arritmias cardíacns. Os mcdlcnmcruos empregados para
- Feixesanómalos (adenosina) esse fim são conhecidos como untiarrttmicos. Atualmerue existem
- Doençado nó sinusal (atropina) antiarrftmicos. que podem ser indicados com sucesso. para
ventricular;TV= taquicardiaventricular;VD = ventriculodireito
FV e fibrllaçao quase todos os tipos de arritmias cardlacas. O grande problema
574 • Tratado de Clínica Médica

entretanto é que cada uma dessas substâncias rem a capacidade díaca, desfibri lador cardíaco e, até mesmo, transplante cardíaco.
de bloquear lima ou mais funções clctrofisiolôgicas da membrana A escolha do tratamento depende de urna série de fatores, como
celular (as drogas de classe I bloqueiam Na e K. as de classe urgência do momento. tipo de arritmia, necessidade de terapia
II bloqueiam as cmccolaminas. :IS de classe III bloqueiam Na. imediata ou a longo prazo. presença de disfunção miocárdica
K e as catecolaminas c as de classe IV bloqueiam o cálcio). ou disfunção sinusal ou de condução atrivenrricular (AV).
São portanto cardiodepressores e devem ser considerados com
muito cuidado nos portadores de cardiopatia.
Apesar de fundamentais no tratamento das arritmias car- PRO-ARRITMIA
díacas apresentam importantes limitações:
Eventualmente. umadroga antiarrítmica pode agravaruma arritmia
preexistente ou originar uma nova arritmia. caracterizando o
• Têm efeito essencialmente paliativo.
efeito pró-arrítmico. Quanto mais comprometida a função ven-
• Apresentam frequentes efeito colaterais.
tricular. maior esse risco. É muito rara a ocorrência de pró-
• Têm eficiência limitada.
arritmia no coração normal. É indispensável que o emprego
• A manutenção de níveis plasmáticos estáveis geralmente
dos antiarrítmicos seja muito criterioso, pois. nos casosgraves.
é difícil.
eles podem aumentar a mortalidade.
• Apresentam risco de pró-arritmia.
• A scleção do antiurrftrnico geralmente é feita por tentativa
e erro.
MODO DE Açlo
o antiarrítmico
pode ser utilizado para reverter a arritmia. De modo geral, os aruiarrümicos utuum inibindo uma ou mais
prevenir seu aparecimento. reduzir a frequência ventricular propriedades da célula ou dos tecidos cardlacos. Podem ser
durante as crises. atenuar os sintomas ou diminuir o risco de classificados de acordo com seu efeito no coração normal
morte subira. (classificação clínica) ou na célula isolada (classificação de
acordo com o potencial de ação).

OPÇGESDE TRATAMENTO
Os untiarrümicos são apenas uma das ahernarivas de tratamento,
CUSSIFICAÇlo cllNICA
Nas crises. por exemplo. podem ser utilizadas manobras vagais. Nesse escopo, os antiarrttmicos podem ser classificados cm
estimulação csofágica (nas taquicardius supruventriculares), es- três grupos:
tirnulaçâo com marca-passo provisório C! cardioversão elétrica.
Para o tratamento definitivo são mais apropriados: ablação por • Efeito importante sobre o nó AV (reduzem a velocidade
radiofrequência. cirurgia. marca-passodefinitivo, denervação car- de condução nodal e são muito úteis no tratamento das
arritmias supraventriculares não relacionadas à condu-
ção nmerõgrada por feixes anômalos. Têm pouca utili-
dade na, arritmias ventriculares):
TABELA 53.13- Classificaçãodas drogas antlarritmlcas. - Vernparnil.
conforme os efeitos na eletrofisiologla celular proposta por
- Diltiazern.
VaughamWilliams
- Adenosina.
CLASSE EFEtTOSELETROFISIOLÓGICOS DROGAS - Digoxina.
IA Deprimema fase O do potencial Quinidina .:. Beta-bloqueadores.
de ação • Ação predominante sobre os ventrfculos (têm poucoefeito
Diminuema condução Disopiramida sobre o miocárdio atrial e sobre o nó AV):
Prolongama repolarização Procainamida - Lidocaína.
- Mcxilcrina.
IB Efeito minimo na fase O do tecido Lidocaina
- Tocainamida.
normal
- Fenitoína.
Deprimea faseO do tecido Mexiletina
isquémico • Açôes sobre os ventrículos. átrios e feixes anômalos (são
Encurtaou não interfere na Tocainida úteis tanto no tratamento das arritmias supraventriculares
repolarização como nas ventriculares):
- Quinidina.
te Deprimemacentuadamentea faseO Propafenona - Disopirarnida.
Deprimemacentuadamentea Flecainida
- Amiodarona.
condução
- Flecainamida.
Efeito discreto na repolarização Encainida
- Procainarnida.
II Bloqueiamos receptores Beta-bloqueadores - Propafenona.
adrenérgicos
Aumentamrefratariedadedo sistema
His-Purkinje CUSSIFICAÇlo CONFORME O POTENCIAL DE Açlo
Deprimema despolarização da
fase4 Nessa classificação, os antiarrfrmicos são divididos em qua-
tro grupos principais. conforme seus efeitos na eletrofisiologia
III Prolongama duraçãodo potencial Amiodarona
celular (Tabela 53.13)'.
de açllo Sotalol
Bretílío As drogas do grupo I diminuem a entrada de sódio durante
a aiivação celular, reduzindo a velocidade da despolarização
IV tnibem ascélulasde respostalenta Diltiazem
(fase O). Tendo em vista que muitas drogas pertencem II esse
Bloqueiamos canaisde cálcio Verapamil
grupo. as mesmas foram divididas em três subgrupos: A. B e
Doenças Cardiovasculares • 575

c, conforme seus efeitos sobre a duração do potencial de ação Indicações. Reversão de fibrilação .. irial: profilaxia de fibri-
que se reflete no clctrocardiograma de superfície. na duração lação.flul/a, taquicardia atriaiv, taquicardia, <upraventriculares
do intervalo QT (os grupos IA prolongam. IB encurtam e IC ou juncionais. taquicardias paroxística ventriculares e extra-
têm pouco efeito na duração do potencial de ação). As drogas sístoles ventriculares.
do grupo I B têrn eleito cv-cncialrncntc sobre os ventrículos. Dose Terapêutica:
no passo que aquelas dos grupos IA e IC ntunm tanto nos átrios
como n01>vcntrfculo-, c apresentam importante efeito depressor • Crianças: 15 a 30mg/kg/dia. via oral. dividido cm 3 a 4
da condução intravcntriculnr. doses .
A droga" do grupo II bloqueiam II efeito beta da!>curcco- • Adultos: 200 a 400mg cada 6 ou 8h.
laminas (bctu-bloqucudorcv) tendo portanto interferência direta
nosistema nervo: o aurônomo. Quave não interferem no potencial A literatura rem referido do,e\ maiores. porém do ponto de
de nção da maioria das célula» cardfucas. porém afctarn dirc- vista prático. os possfvci« benefícios não justificam o risco.
temente as células com função de marca-passo (nõs sinusal c AV). Aprescntuçâo, Comprimidos de 200mg em preparações
reduzindo acentuadamente a inclinação da fase 4 ou seja. de liberação normal (xulfutu de quinidina) e lenta (bissulfuto de
diminuem significativamente a despolarização diastólica. resul- quinidinu), Em no ....o meio. não existem a~ preparações para
tando em redução da Ireqüênciu de descarga automática (me- uso parenteral (1M ou IV).
nor automatismo). Metabolismo. Cerca de 50 a 90% Sàll transformados em
As drogas do grupo III prolongam acentuadamente a duração compostos inutivos pelo ríg:.do.
do potencial de ação. porém quase não interferem na fase O. Meia-vida. De 2 a 6h nus crianças. 6 a 8h nos adultos.
As drogas do grupo IV reduzem o transporte de cálcio através Prolonga-se nos idosos. insuficiência cardíaca, cirrose.
da membrana celular que se segue ii fase O do potencial de Excreção. Pela urina.
ação. O efeito é maior sobre a:. célula ....dos nós sinusal e AV. Risco na Gravidez, Nível de risco C, atravessa a placenta
(Tabela 53.14).
palNCIPAIS ASPECTOS PRATICOS DAS DROGAS Lactação. É sccretada pelo Icite materno; contra-indicada
na lactação.
ANIIA881TMICAS EIISTENTES NO MERCADO Contra-indicações. Hipersensibilidade à quinidina ou à
IACIONll (Tabela 53.14) formulação: glaucoma. prosrarismo. síndrome do QT longo,
história de rrombocitopcnia/púrpura com quinidina; miastenia
gravis. mcgacsôfago. mcgacõlon. Bloqueio AV> primeiro grau,
TABELA 53.14 - Escore de risco farmacológico na gravidez bloqueios intravcruricularcv: uvo concomitante de quinolona.
conforme a Food and Drug Administration (FDA) de nntibiéticos que prolongam o QT. de ci-upridn. de nmifúngicos
CATEGORIA INTERPRETAÇÃO com ação no QT. de inibidorcv da prutcave do III V (arnprcnuvir.
rironavir). lactação.
A Estudos controlados não mostram risco
Cuidados Especiais. Pode agravar a doença do nó sinusal
Estudos bem controlados na mulher grávida não
mostram risco fetal e bradicardia, A hipocalcrnia e hipomagncscmia favorecem II
imoxicnção. Pode agravar a insuficiência cardíaca. Reduzir
SemevidenCia de risco em seres humanos a dose nas insuflciências renal ou hepática. no uso concomi-
Estudos em animais mostram risco e estudos em
seres humanos não mostram ou. na ausência de tante de digitálico e na idade avançada. Reduzir a dose ou
estudos em humanos adequados, os estudos em suspender se QT aumentar mais que 25%.
animais não mostram risco Reações Adversas Raras « 1%). Com os devidos cuidados
C O risco não pode ser descartado para ajustar a menor dose eficaz, as reações adversas são raras
Faltam estudos em seres humanos e animais, ou os « I % dos casos). Pode ocorrer hipotensão (por bloqueio alfa
estudos em animais mostram risco fetal, porém a periférico) e síncope. Alimento do QT > 25<ff. Aumentos acen-
possibilidade de beneficio potencial pode justificar tuados do QT estão relacionados a torsades de pointes, síncopes,
o risco potencial
fibrilação ventricular e mortc súbita. Prcdispõe à hcmólise na
O Evidência positiva de risco deficiência de glicosc-ô-fosfuto-desidrogcnase. Pode ocasionar
Dados de pesquisa ou de mercado mostram risco trombocitopeniu, põrpuru, agranuloslrose. hepatite. cinchonismo,
fetal. Entretanto. o beneficio potencial pode
superar o risco síndrome similar ao lúpus. ncurite ôtica. distúrbios auto-imunes
e raramente reação anafilática.
X Contra·indicado na gravidez . Reações Adversas Comuns (até 30%). Aumento tolerável
Estudos em animais ou seres humanos, de pesquisa
ou de mercado têm mostrado risco fetal que do QT (= 25%). palpitações. fadiga. sensação de cabeça vazia,
claramente supera qualquer possibilidade de náuseas. vôrnitos. dispepsia. dor abdominal. diarréia, cefaléia,
beneficio para o paciente dor precordial, hipotensão. rash cutâneo. alteração da percepção
de cores. visão borrada. ncrvosis mo. tinido. zumbido.
lntcrnçõcs Medicamentosas. Amiodarona, cisaprida, cimc-
tidina, antibióticos ou aruifúngicos que prolongam o QT, diso-
'11.101111 pi ramida. procai narnida. sotalol. amitripti Iina. haloperidol,
imipramina etc.
Categoria Farmucolôulcu. Antiarrítmico classe IA.
Ação Farmacológica. Tem efeito e rubilizador da mem- Importante. No trmnmcnto da fibrilação airial, graças
branacelular reduzindo as correntes iónicas de sódio. potássio ao efeito anrlcolinérgico da quinidina. pode ocorrer aumento
ecálcio.O bloqueio do sódio predispõe a bloqueios His-Purkinjc, acentuado da Ircqüência ventricular antes da reversão,
odo potássio prolonga O QT e o do cálcio reduz o inotropisrno. por liberação da condução AV. Elose efeito indesejável
Além disso. tem efeito bloqueador alfa periférico com ação pode ser prevenido pela a sociação de beta-bloqueadores,
anticolinérgica. Scu efeito predomina no território supraven- digitálico ou bloqueadores dc cálcio.
tricular: tem ação ant i 111a lárica.
576 • Tratado de Clínica Médica

PROCAINAMIDA periférica. artralgia, mialgia. síndrome ..imilur no lúpu . picu-


rodinia. efusão pleural. pericarditc etc.
Categoria Farmacológica. Antiarrítmico classe IA. Reações Adversas Menos Rural> (I a 4%). Hiporen ão
A"iiu Fnrmacolôgica. Tem ação semelhante li da quinidinu, arterial principalmente nus injeções intravenosas; rash cutâ-
porém com predomínio no território ventricular, Tem efeito esta- neo: diarréia: náusea. vómito, alteração do sabor; queixas
hihzudor da membrana celular, reduzindo us correntes iõnicas ga~troill(c ..ti nais,
de ~ódi(). potássio e cálcio. O bloqueio de sódio predispõe a Intcrnções Medicamentosas. Amiodarona, cisaprida.
bloqueios His-Purkinje, o de poiãs ..io prolonga o QT e o de cimctidinu. antibióticos ou antifúngicos que prolongam o QT.
cálcio reduz. o inotropismo. Além disso. tem efeito bloqueador disopirarnida. quinidina. sotalol. amitriprilina. haloperidol.
alfa periférico com ação aruicolinérgica. irniprarnina etc.
Indicnções. Traramenro da taquicardia ventricular. extra-
..ístolcs ventriculares. taquicardia atrial. fibrilação atrial e
prevenção das taquicardia .. ventriculares e upraventriculares DISOPIRAMIDA
inclusive as associadas a pré-excitação.
Categnl'ia Farmacológica. Antiarrltrnico ela e IA.
Dose Terapêutica:
Açiio Farmacológica. Tem nção semelhante à da quinidina
com eleito equivalente nos terrliõrios supra e ventricular. Tem
• Crianças: oral: 15 a 50mg/kg/dia, dividida cm 3 li 8 doses:
imramuscular: SOmg/kg/dia divididos em 4 a 8 doses. efeito estabilizador da membrana celular, reduzindo as cor-
rentes iónicas de sódio, potássio e cálcio. O bloqueio dc sódio
• intravenosa: máximo de 15mg/kg como dose de ataque;
dose de manutenção de 20 n 80l1g/lllin (máximo de 2g124h).
predispõe a bloqueios His-Purkinje, o de potãssio prolonga o
• Adultos: via oral: 250 li 500mg cada 3 a 5h (50mg/kg/ QT c o de cálcio reduz o inorropisrno. Além disso. tem efeito
24h), nuivimo de 4g/24h. bloqueador alfa periférico, com ação nnticolinérgica potente.
• intramuvcular: 0.5 a Ig cada 4 a 8h até instituir a terapia Indicações. Tratamento da taquicardia ventricular. extra-
urnl. sfsrolcs ventriculares. taquicardia airial. fibrilação atrial, bem
• h/(/'{/I'(!IIOsa: 10 a ISmg/kg em 15 a 20min como dose
como prevenção de taquicardias ventriculares e supravernriculares,
dc ataque. Manter I a -lrng/min em bomba de infusão. englobando as associadas a pré-excitação. Pode er útil para
irmur taquiarritmias associadas :1 bradicardia na ausência de
Apresentação. Comprimidos de JOOmg. Ampolas de SOOmg. disfunção sinusal importante, avsim como na síncope neuro-
l\Ietabolismo. Accrilação hcpãrica produzindo o mctabélito cardiogênica em decorrência de fortc efeito anticolinérgico.
aiivo v-accrilprocainarnida. Dose Terapêutica:
Meia-vida. Depende da caracrcrfsticu acctilador lento ou
rápido. e das funções hepática, curdfuca e renal. • Crianças: oral: 6::1 15mg/kgldia. dividido em quatro doses.
• Ar/ultos: via oral: IOQmg cada 6h ou 200mg cada 12h.
• Crianças: 1.7h.
• Adultos: 2.5 li Sh. Apresentação. Comprimidos de IOOmg de liberação normal

...
• tnvuficiéncia renal: I I h. ou de 250mg de liberação prolongada. "...'"
Metabolisrno. Fígado ,
Excreção. Pela urina. Meia-vida, De 4 a IOh.
Risco na Gravidez. Nível de rivco C (Tabela 53.14). Excreção. Pela urina.
Lactação. É secreiada pelo leite materno. Não é necessário Risco na Gravidez. Nível de risco C.
suspender a amamentação. Lactação. É secretada pelo leite materno. ão é necessário
Contra-indicações. Hipersensibilidade à procainarnida Ou suspender li amamentação.
~ tormulação: glaucoma. prostatisrno. síndrome do QT longo. Contra-indicações. Hiper cnsibilidade à disopiramida ou
sfndrornc de Brugada. rnegaesôfago. megacólon.lII;astell;a gravis. à formulação. glaucoma. pro iatismo, síndrome do QT longo.
bloqueio AV> primeiro grau e bloqueio imravernriculares sem síndrome de Brugada, rnegaesôfago, megacólon, miastenia gml'it.
marca-passo. uso concomitante de unribiétices que prolongam bloqueio AV > primeiro grau e bloqueios intravcmricularc sem
o QT. de cisaprida, de antifúnglco« com ação no QT. marca-passo. uso concomitante de antibióticos que prolongam
Cuidados Especiais. Pode agravar a doença do nó sinusal, o QT. de cisaprida. de antifúngicos com ução no QT.
bradicardia, bloqueios de ramo c insuficiência cardíaca. Reduzir Cuidados Especiais. Pode agravar a doença do n6 sinusal,
a dose na insuficiência renal: controlar a do c para evitar bradicardia. bloqueios de ramo e insuficiência cardíaca. Reduzir
alargurucnto do QRS > 50% e prolongamento do QT corrigido. a dose na insuficiência renal, controlar a dose para evitar alarga-
Hipoculcmin pode facilitar intoxicação; pode agravar depres- mente do QRS c prolongamento do QT> 25%; a hipocalemia
são medular. pode facilitar intoxicação.
ItClIÇÕCS Adversas Raras « 1%). Efeito pró-arrítmico com Reuções Adversas Raras « 10%). Efeito pró-arrítmico
agravamento das arritmias existentes 011 surgimento de novas CUIII agravamento das arritmias existentes ou surgimento de
arritmia .. com alongamento excessivo do intervalo QT. bloqueio novas arritmias com alongamento excessivo do intervalo QT.
AV. torsades de pointes e fibrilação ventricular, agravamento bloqueio AV. torsades de pointes e fibrilação ventricular; agra-
de insuficiência cardíaca, aumcmo paradoxal na freqüência vamento dc insuficiência cardíaca. aumento paradoxal da Ire-
cardíaca na librilação utrial e 110 fluuer em razão de efeito qüência cardíaca na fibrilação atrial e nofll/tter em razão de
unticolinérgico. confu ão mental. alucinações, tonturas, deso- efeito unticolinérgico; confusão mental, alucinações. tonturas,
rientação. febre, rash cutâneo. urticária. prurido. edema angio- parestesia. insônia. aumento dali transaminases, aumento da
neurótico. anemia hemolítica. agranulocitose. neutropenia. crcarinina, desorientação, febre. rash cutâneo, urticária. prurido,
trombocitopenia, comprometimento muculopapilur, puncito- agranulocitosc, neutropenia, trombocitopenia, piora de miasteni«
pcnia, hipoplasia medular, anemia aplástica. uumento das enzimas gral';s, fraqueza. polincuropatia periférica. hepatoxicidade,
hepáticas. piora de m;aste";,, g"l/I';~.fraqueza. polineuropatia síndrome similar ao lúpus etc.
Doenças Cardiovasculares • 577

Reações Adversas Menos Raras (> 10 %). Xcrostomia. cons- MEKUETINA


tipação. alterações urinárias.
Categoria Farmacológica. Antiarrírmico classe 113.
lnterações Medicamentosas. Arniodarona, cisaprida. cime-
Ação Farmacológica. Tcm estrutura química e mecanismo
tidina, antibióticos ou antifúngicos que prolongam o QT. procai-
de ação simi lares aos da lidocafna. Bloqueia li permeabilidade
namida. pmpafenona. inibidores do CYP3A3/4, quinidina, soialol,
da membrana ao sódio deprimindo a fase O do potencial de
flecainnmida, arnhriptilina, halopcridol, imipramina, fenobarbital,
ação e estubilizando a membrana celular. Aumenta o limiar
fenitolna. rifampicina etc, ele C~I imulação e reduz o automatismo das células ventriculares
e do sistema His-Purkinjc.
Indicações. Tratamento das taquinrritrnias ventriculares graves
lIDOCAINA c na ...uprcwão da~ cxtra-sístolcs ventriculares. Tratamento da
neuropatia diabética (sob investigação).
Categoria Fnrmacolégica. Amiarrfunico classe IB. ancstévico
Dose Terapêutica. De 100 a 200mg por via oral. cada 12
local.
ou 8h. A dose pode ...er aumentada até 450mg cada 12h: dose
Ação Farmacológica. Aumenta o limiar de estimulação c
máxima: 1.2g/dia.
reduz o mnomarismo das células ventriculares c do sistema
Apresentação. Comprimidos de I ()() c 200mg.
His-Purkinje. Bloqueia a permcabi lidado da membrana ao sódio
Metabolismo. Fígado
deprimindo a fase O do potencial de ação c cstubilizando II
Meia-vida. De 10 a 14h.
~ membrana celular. o tecido nervoso, esse efeito bloqucin o Excreção. Pcla urina.
~ inícioe a condução nervosa. proporcionando um cfclro anestésico. Risco na Gravidez. Nível de risco C.
~
N
No coração. o bloqueio da fase O é muito mais pronunciado Lactação. É compatível com a amamentação.
~ nas células i quêrnicas do que nas normais. proporcionando Contra-indicações. Hipersensibilidade à mexiletina ou à
ao importante ação antiarrümica nas taquicardias relacionadas a formulação: bloqueios airioventriculares ou intraventriculares
isquemia e infarto do miocárdio. avançados: doença do nó sinusal significativa.
Indicações. Tratamento da fibrilação. taquicardia e extra- Cuidados Especiais. Usar com cuidado em bloqueio AV
sístoles ventriculares principalmente relacionadas ao infarto de primeiro grau. bloqueios de ramo. doença do nó sinusal,
do miocárdio. ~ manipulação cardíaca e à intoxicação digitál ica, hipotensão. insuficiências cardíaca, hcpãticn c rcnal.
Na fibrilação ventricular ou na taquicardia ventricular. com Reações Adversas:
choque cardiogênico, deve ser uti Iizuda após a cardioversão e
epinefrinn imravcnosa central, intrucurdíaca ou cndotraquenl. • 10%: Podeocasionar pró-arritmia grave nuscardiomiopatins
Dose Terupêutlca. EI11 geral. utilizu-se IIl11adose inicial graves, tonturas, nervosismo, descoordcnaçâo motora. mal-
de ataque na forma de bolus intravenoso de I u 1,5mg/kg, estar gá~Irico, náuseas e vôrnitos.
repetindo-se 0.5 a O.75mg/kg cada 5 a 10min até a dose má- • De I fi IOCff.: dor precordial, cxtra-sístolcs ventriculares,
xima de 3mglkg. A dose de manutenção é de I li 4mg/rnin: palpiraçôcx. confusão, ccfaléia, insônia, depressão, cons-
do e endotraqucal: 2 a 4mg/kg em I OmL de soro fi~iológico. tipação ou diarréia. xcrostomia. dor abdominal, fraqueza.
Apresentação. Solução injetãvel a 17(' (I Orng/m L) e 2% íormigamcmos. parcstcsias. artrulgiu .... visão borrada.
(20mg/mL). nistagrno.
Metabolismo. Fígado. • < I€(.: lcucopcnia. agranulocitosc. rrombocitcpcnia.
Meia-vida. De I():I 20min. sfndrornc similar ao lúpus. perda dc memória recente.
Excreção, Pela urina. diplopia. convulsão. retenção urinária, impotênciu, perda
Risco na Gravidez. Nível de risco C. da libido, hepatite, aumento das trunsuminuscs, síndrome
Lactação. É cornpnt ívcl com a nrnamcnrução. dc Stcvcns-Johnson, piora dc insuficiência cardíaca.
Contra-indicações. Hiper. ensibilidadc 1\ lidocuínn ou à hipotensão. disfunção sinusal, bloqueio AV, torsades de
formulação. em bloqueios atriovernricularcs ou intravcruricularcs pointes, úlcera péptica etc.
avançados, doença do nó sinusal significativa. prõ-cxcitação
ventricular, depressão respiratória grave. Principais Interações Medicamentosas. Aspirina, cafeína.
Cuidado Especiais. Em pacientes idosos e nas insuficiências propoxifeno. nntiãcidos. ergotaminu, inibidores da anidrase
renal ou hepática a do e deve ser reduzida em 30 a 50% e carbônica. disopirarnida. Ilecainida, fluvoxarnina, lidocaína.
administrada com cautela. quinidina. bloqucadore de prorcascs, sotalol, teofilina,
Reações Adversas: acidificantes c atcalinizarues urinários.

• Carâlovascutnres: bradicardia. hipotensão, bloqueio AV.


choque, di~rullção sinusal, pró-arriuuia, aumento do limiar PROPAFENONA
ele dcsflbrilação. evpasmo artcriul. Cateuorin Farmacolõgica. Antiarrürnico classe IC .
• Sistema nervoso central: sonolência e torpor são COIllU- Ação Farmacológica. Bloqueia a permeabilidade da mem-
mente relacionado, à alta conccntruçâo plusmãticu. Também brana ao sódio. deprimindo a fa ..e O do potencial de ação e
podem ocorrer. ternuras. zumbidos, visão borrada. vómito v. cstabili/undo a rncmbrann celular. Tem propriedades anestésicas
náuseas, tremore v, convulsões. letargia. alucinações. ansie- locais: nurncntn o limiar de c. rimulução. reduz o automatismo.
dade. euforia. parcstcsias. psicose etc. a condução c prolonga a refrararicdudc das célula ...ventriculares
e do sistema His-Purkinjc: tem discreto efeito bera-bloqueador,
Principais lnterações Iedicamentosas. Aspirina, cafeí- Indicações. Tratamento das extra-sístolcs c tuquicardias vcn-
na,propoxifcno. cimelidina. disopiramida, cpinct'rina. flecainida, triculares c suprJventriculares e da síndrome de Wolff-Parkinson-
curari7.0nle... opiáccol-. bloqueadores ele proleases, sOlalol, White (WPW). Tem-~e observado efeitu favordvel na reversão
succinilcolina. e prolilaxia da fibrilação atrial.
578 • Tratado de Clínica Médíca

Dose Terupêutlcu: Principais Interações Icdiralllcntnsas.l\nc,té,ic()\ locai....


beta-bloqueadores. aruidcprc-, ..im, tricfclico ... propranolol, meto-
• At/IIII'H: \ ia (Irai: dose mínima JOOmg/dia. dose rnãxirna prolol. digox ina. cimctidina, umicoagulantcs orais. bloqueadores
90()mgdia. divididos cm dU;1~ou três \ cvcs. da s proicuscs (umprenav ir c rironavir).
• Via intravenosa de entergênci«: I a 2111):!/"g cm 5111ill.
• (;,.;'111('(/.1: não há infonnaçõc» 'cgur:l' pnra a rnllização
pcdiãtrica. PROPRANOIOIlREPRESENTANDO
Aprcscutuçãu, Comprimidos de ]()()mg: ampolas de 20m L
OS BETA-BlOQUEADORES]
com 70m!!. CalcJ.:ori:1 Farmacolõaica. Amiarrümíco clil~sl! II.
i\ I et liho Iismu: Ação Farmacológica. O propranolol representa O grupo
do, hera-bloqueadores. lim grupo evrcnvo de drogas que atu-
• Fígat/o: existem geneticamente doi, grupo ...de pacientes am por bloqueio selerivo (B I) c não ...elctivo (B I c 82) dos
quanto ao metabolismo:os mcmboli/ndorcv lemos e os rcccptorcv beta das catccolumina-, (dcucrvação simpática
r:ípido v. Cerca de 10l} dos caucasiunos vão tento-, (nesrc-; Iarmaeolôgica). Também apre ...cntu discreto efeito de bloqueio
o aumento da dose cm trê-, vezc-, pode elevar cm 10 vezes do sódio, vimilar uo grupo I. porém. (execro o sotalol) não
0' nívci« plasrnãrico-, havendo nltn risco de intoxicação). prolongam () potencial de ação.
Indicações. O~ bera-bloqueadores podem ser uulizudos
Mcia-vidn: por via intravenosa ou por via oral. São indicados cm todns
a~ ruquicardias induz idns/Invorccidav pelas catccolurninas,
• f)(}.\(' isoladu: 2 a tlh. entre as quais a síndromc do QT longo. Tem grande utilida-
• Tm/(/1I/1'1I1O crônico: lO a 3211. de no controle das tuquicardias supruvcntriculures (exceio
Excreção. Pela urina e fezes. na WPW com feixe auômalo de alta condução). na fibrilação
({i!.C(l na Gravidez. :"lí\ eI de risco C. atrial (adrcnérgico-dcpcndcntc) e no fluner atrial, nos quais.
I.:u:taçií". 'iiI) é recomendável (leia 1:lIta de Informações
além de favorecer o ritmo sinusal. podem controlar a res-
povru vcnrricular. Também são úteis nas raquiarritmia,
,egura' :lIé (I momento.
.ontru-indicaçõcs. Hipcrxcnvibilidudc ti propafcnona ou vcmriculurcs pés-infurto do miocárdio. na displasia arritmo-
11fonnulução: bloqueio- vinoarriuiv .uriovcutricularcs ou intra- gêuic« do ventriculo direito e na .. arritmia .. da insuficiência
vcnrncularc v. Doença do nó vinu ...al significativa. Hipotensão. cardíaca leve a moderada.
choque cardiogênico, insuficiência cardíaca descornpensadu, Dose Terapêutica. Apesar do grupo furmucolõgico ter efeitos
em qualquer condição com importante comprometimento do muito si 111ilares a do c prccis» ser rigoro ..amcruc ajustada para
rniocrirdm, hroncocspasmo. anormalidades hidroelcrrolúicn v. cudu droga em particular. Siío considcrndav neste tópico soo
Cuidados Especiais, Usar com cuidado cru bloqueio AV mente as doses de propranolol.
de primeiro grau. bloqueios de r:II11Il.docnçu do 116 siuusul.
hipotcn ...ão. insuficiências cardfuca. hcpauca e renal. Se houver • Cri(III('(IS: IV: 0.0 I a O.lmg/kg (máximo de Img).
ulargumcnto vignificativo do QRS IIU do intervalo AV. a dose • VO: é utilizado na do c usual de 2 a -tmg/kg/dia dividida
deve ver redu/ida. 1'\11' portadorc-, de marca-passo pode favo- em três a quatro vezes. não ultrapavsando 60mg.
rccet I'alll<lde <cnvibilidade c de comando, Em pacientes idosos • Adultn«: IV: l mg/dose. Repetir cada 5min se nccessãrio
é rccruucndiivcl um pcríodo inicial dc doses progressivas até at~ o máximo de Smg.
obto.:nç;io du efcito terapêutico COI11 a menor dO!.t! p()s~ível. • \10: 40 a f20mg dividido, cm trê~ (I quatro velCS (cuidado
n(l~ ido,\os).

Reações Adversas AI>rescnlac;ão. Propr:lI1olul: comprimidos de 10.40. 80mg


• DI' I a 10'7(': ou 80 e 160mg de liberaçiio lenta .
- ('lIl1lio\'(/.I·('I""I': efeito pró-:Irrhlllico (indução de nova ;\Ielubolismo e Excreção. O propranolol é mctaboli/auo
arritmia ou agravamento dc algulIla preexistente). pai pi- pelo f'fg:Jdo c cxcretado pela urina.
taçôe" taquicardia vcntricular. angina. bloqueio AV ~Iei:l-"ida. De'" á 6h.
do.:primciru grau. ,íncopt:. aumento da duração du QRS. I{iscl) na Gravidez. :"lí\cl de ri,co C (propranolol) (Tabe·
dor precordial. bradicardia. cdema. bloqueio de ramo. la 53.14).
tihrilação :urial. hipotensão. retardo na conduçiío I,:lclaçiíu. O propr:lnolol é compatívcl com a amamcntaçào.
intr:I\·entricular. Conl ra-indicaçõcs. O propranolol e~tá contra-indicado na
- Si.l/t!/l/CI JI('ITO.W ('(,lI/ml: tontura. ladig:l. dor dc ca- hiper,ensibilidade à droga. no choquc cardiogénico. na bra·
heç:l. fraque/a. atax ia, in)oiHlIa. an'lcdadc. sonolên- dicardia :.inusal. nos bluqul!io:. AV de segundo outcreeiro grau~
,ia. I'biío borrada. (l1a au"êneia de marca-passo artificiai), na asma brônquica c
- (/a.l/mill/ewil/al: ntlu~eas. VÔl11ilO)o. gOl>toestranho. cons- na insuliciência cardíaca grave.
tipaçiío. di,pcp ...ia. diarréia. xcro~lUmia. anorexià. dor Cuid:tdos Especiais. Reduzir a do,>c nas insuficiência:. renal
Ilhdominal e natulêl1l:ia. c hep:ítica. tilizar com cautda na doença d() nó ~inu,aL na
- Nelll'flllll/lclllm'w/III'lético: trcmor e artralgia. inwlicic?ncia cardíaca, no pó,-inf:trtu do l11ioc(ardio. 110 dia·
- /(el'IJim/(írin: di.,pnéia. bete, c na 'cnilidadc; evitar a \lI"pcn,ao abrupta.
• < /'Ir: lellcopcnia. agranulocitose. trumbocitopcnia. ({eaçõe Ad "ersas:
,índrollle :.imi lar ao lúpu". aumcnto do tcmpo dc ,angra-
mo.:nto.hepatite. aumcnto de tran~llmin:l~e,. bloqueio AV. • Sh-im (rar(/.\): insuliciência cardíaca congestiva. broncoe,.
di,runção sinu,al. cole'ta,e. tlbM)ciac;ão AV. parada pa"111).agranulocitose c arritmia ...(pró-arritmia). Sào rcaçõcs
cardfaca. pcs:ldelo ....conru,ão mCl1tal. perda de memó- rnai, freqiicntcs c menos sérias: bradicardia. tonturas,
ria. parc~tcsia. p~ico\e. tonturas. vertigcm. alopecia. insônia. fraqueza. impotência. fadiga. alucinações.l1áu~ea,
impotência. l1ipcrgliccmia. insuficiência cardíaca, fra- vômitos. dor abdominal. (klrréia, cOI,..,tipllÇfío,hipotensão.
que/a muscular. prurido. insuliciência renal etc. eeJ'aléia. alopccia.
Doenças Cardiovasculares • 579

Interuçôe ~ledical11entosas. A ação é potencializada por SOTALOL


cimetidina. digovinu, arniodarona, propafenona, bloqueadores
de cálcio, inibidores do citocromo hepático, fluoxctina. tlccaina- Categoria Farmacológica. Antiarrítmico classes II e III.
mida, haloperidol. hidralazina. sotalol. Ação Farmacolégica. Bela-bloqueador não sctciivo (B I e B2)
cm do cs baixas. Em doses maiores ICI11 efeito de classe 111
(aumento lia duração do potencial de ação e do período refra-
AMIODARONA tário do miocárdio atrial, ventricular. feixes anômalos c nó AV).
Categoria Farmacológica. Antiarríunico classe III Indicações. É utilizado essencialmente por via oral sendo
Ação Fnrmucoléglca. Prolonga a duração do potencial de aplicado a todas as taqu icardias favorecidas pelas catecolaminas
execro a.. da .. Indromc do QT longo na qual e~lií contra-indi-
ação, Tem efeito nntiarrümico : irnilar ti associução dos grupos
cado. Tem grande utilidade no controle da .. taquicnrdias supra-
I. II e IV: promove certo efeito bcm-bloqueador intracelular.
ventriculares (inclusive na:. ~índrome, de pré-excitação), na
Indlcnçõcs. Rever-ão de fibrilação utriul, taquicardia .. utriuis
fibrilaçâo c flutter nrriuis c nas tuquiarrhmius ventriculares,
e vemricularev. Profiluvru de fibrilação . ./711//('/'. taquicardia
UO~t: Terapêutica:
atriai~.taqurcurdia .. ,upr;1\ cmricularcs ou junciouai«, tuquicardia ..
paroxf\lica' vcntricularcv. lihri lução vcnt riculur, cxt f:1-,r'lOle ..
• Criançav: ainda não existem dados lIegur(l' para utilização
venrricularc .. e víndromcx de pré-cxcitucão.
nesta faixa etãriu.
Dose Ternpêutlcn:
• Adllllfls: XO li 160mg VO cada 12h. Disponível lia forma
inrrnvcnosa cm futuro próximo na dose de 1,5rng/kg .
• Crianças: cv itur a Iorrnu lação i ntruvcuosu CIII ncoruuos:
de 10 a 15mgJkg/di;l. via oral. Pode ser precedida por
Apresentação. Comprimidos de 120 ou 160mg.
dose de ataque de 10 a 20mg/kg!tJia durante 5 a 10 dias
.\Ietabolismo e Excreção. É eliminada pelos rins sem
ou por 5mgJkg IV em 60min seguida por dose contínua
modificação. Reduzir para metade da dose na insuficiência
de 5 a 10llg/min.
renal.
• Adulto«: de 200 a 600mgjdia. Nas arritmias graves pode
.\Ida-vida. De 12h.
e fazer uma do e de ataque de 800 a 1.600mg/dia durante Risco 113 Gravidez. ívcl de risco 13 (ver Tabela 53.14).
3 a 10 dias. Na reversão das crises pode-se utilizar 300mg
Lactação. É sccretada pelo leite. É compatível com a
IVem 30min seguido» de Imglmi n durante 611e de: O.5mgl
amamentação. porém deve-se observar o lactente em razão de
min durante 1811:nunca ultrapassar 2.2g cm 2411, possfvcl ocorrêucin de ação farrnacológica.
Contru-indicaçêes. Está conrra-indicado no-, casov de QT
Apresentação. Comprimidos de I(lO c de 2001l1g;umpolas longo. na :.índrolllc do QT longo e na~ cardiominpat ia~ graves.
de 1501l1g:gOI:l\ com 2()()mg/m L. Além divso, não deve ser utilizado quando há alergia. doença
Metnboli~mo. l-igado do nó vinuva] importante. bloqueios AV de segundo OLl ter-
Meio-, ida. Dc -lO a 55 dias. ceiro grauv, insuficiência cardfuca grave. asm«, hipocalernia
Excreçãe. Pcla bilc, IC/e, c. cm menor quantidade. pela c hipomugncveruia.
unna Cuidados Especiais. Reduzir a dose na invuficiêncin renal.
Risco na Gra\ idez. Ni\el de risco D (ver Tabela 53.1-1). \Jtili/ar com cautela na doença do nó sinusul. na insuficiência
Lactação. É secretada pelo leite materno; contru-indicada cardíaca. no pés-infarto do miocárdio e no diabetes. Evitar o
na lactação. uso concomitante de agentes que prolongam o QT. Cuidado com
Conlra-indicações.llipcrsensibilidade. doença do ncísinusal diuréiicos e distúrbios cletrolfticos, Evitar a suspensão abrupta.
avançada. bloqueio AV de segundo ou terceiro graus, bradi- Reaçõcs Adversas. Apesar de raras podem ocorrer torsades
cardia sintomática. disfunção rircoidiana, insuficiência hepá- de {JO;II/I'S C Outras inquicardias vcmriculures. insuficiênciu
tica, pneumopatia crônica importante. cardíaca. QT longo c bradicardia grave. Mcnov rarurncnrc podem
Cuidados Espectais. Pode agravar a doença do nó sinusul. ocorrer dispnéia. fadiga, tonturas. bradicardia. astenia, dor
bradicardia e bloqueio AV. Reduzir a dose nas insuficiências precordial. hipotensão. cefuléia, náusea c vôrnitos, diarréia,
renale hepática. no U\O concomitante de digitál ico. anticoagulantes divpep ..ia. edema. insônia. sudorcsc e impotência.
e na idade avançada. Fazer controle tri mesrral da função tireoi- Interações 1\ledicamentosas. Aumento do QT com amioda-
diana: avaliar a função pulmonar. rona. amilliptilina. aMemizol. bepridil. disopir:lmida, eritromicina.
Reaçõcs Advcrsas Grm·es. ProlongamcllIo accntuado do c1arilromicina. haloperidol. quinidina, pimol.ida. procainamida.
IntervaloQT. pr6-arrilmia. bradicardia grave, bloqueio AV.parada fenoliat.ina, e noxacinas. Cisaprida é contra-indicada pelo risco
sinusal.hipotensão. insuficiéncia cardíaca. choquc cardiogénico de arrilmia' letais: os antiácidos reduzem ii absorç:io do sOlalol.
(IV).hcpatotoxicidade. pancrealile, pneumonite inlersti(;ial. fibro~e
pulmonar,hipo ou hipen ireoid ismo, neu ropal ia peri férica. neu rite
ótica (rara), p cudotumor cerebral (rara), anafilaxia (rara). VERAPAMIl (REPRESENTANDO OS
sfndrome de Stevcn ..-John,>on (rara). lIliel()s~uprc:.são (rara). BLOQUEADORES DE CALCIOJ
ReaçõesAd\'crsa~ Comuns. N:1usea. vl\mitn. constipação.
anore~ia.foto"en\lllllidade. dcpo:.ição uc crisltlis na c<Írnea. Catcgoria Farnlllcol6gica. Anliarritmico cla~se IV.
fadiga.dor abcJomin..l. UI..função hepút ica. cdema. vi\ilo borr:lda. Ação furlllllcIl16).:ica. Inibe o inlluxo de c:ílcio durante a
manchas na pele expo!.ta ao sol. tremor, Ulaxiu. dc'polari/aç:lu lia .. célula .. mioc::írdica .. c 11:1' célula:. da mus-
Inlcroçõc ~Icdicalllcntosas. J\ncM~~ico:. halogen:ldo ... beta- cU!;lIl1ra lI\a.
bloqueadorc~.cimclldina. cl,aprida. coddna. donl1lepam. ciclo,- IndicllçÕcs. Taquicardia por reentrada nodal. IOquicardias
porina.digoxina. dilti:llcm. fcntanil, fll!e:1inalllida, 1Ilt!lOprolol. atriai,. taquicardia por reentrada atriovelltricular com feixe
fenitofnn. toda, a' droga~ que aumcntam () intervalo QT. anôlI1alo dc cnllduçã() ventrf<.:ulo-atriul cxclu,iva. controle de
propranolol.proc;lInamida. quinidina, rifampieina. floxacina:.. freqUência ventricular em fibrilação alrial, taquicardias
ritonavir. all1prenavir. leoli Iina. verapam iI. warfarfn icos etc. fasciculares.
580 • Tratado de Clínica Médica

A indicação mail> difundida é na forma intravenosa para li reentrada atrioventricular. entre as quais as taquicardias orro-
reversão de crises de tuquicardias supraventricu lares. nas quais drôrnicas da WPW).
tem &5% de eficiência. Não deve ser urilizudo quando existe É utilizada somente na forma intravenosa para a reversão
suspeita de feixe anómalo com propriedade de condução de crises de taquicardias supraventriculares nas quais têm
untcrógradu. mais de 90% de eficiência.
Dose Ter apêu tica: Dose Terapêutica:

• Crianças: de 0.1 a 0.2mg/kg rv em 2min. repelindo-se • Criancas: de 0.05 a 0.0 Img/kg IV. rcpet i rido-se em 2rnin,
em 30mi 11. se necessário. Não deve ser utilizado em crianças se necessário. até 11 111 a dose máxima de O,25mg/kg (dose
com menos de 2 anos de idade. máxima de 12mg).
• Adultos: de 2.5 a 10rng IV em 2min. Pode se repelir em • Adultos: dose de 6mg IV. Se não for efetiva em I a 2rnin
10 a 15min até a dose máxima de 20mg. Dose de manu- pode se repelir 12mg IV por duas vezes.
tenção: 80 a 120mg VO até três vezes/dia (máximo de
480I11g). Apresentação. Ampolas com 6mg diluídos em solução salina.
Meia-vida: < 10 segundos.
Apresentação. Comprimidos de 80 e 120mg: ampolas de Metabolismo e Excreção. É mctabolizada imediatamente
2mL com 10rng. pelo sangue e por todos os tecidos, sendo um componente natural
Metabolismo. Fígado. das células nas quais é incorporada ao metabolismo do udcuosina
Meia-vida. De 2 a 8h. trifosfato (ATP).
Excreção. Pelas fezes e urina. Risco lia Gravidez. Nível de risco C (ver Tabela 53.14).
Risco na Gravidez. Nível de risco C (ver Tabela 53.14). Lactação. Em vista da rápida eliminação. aparentemente
Lactação. I~ secrciada pelo leite materno em pequena é compatível com a amamentação porém não existem dados
quantidade. É com pai ível com a arnamcntnção. experimentais suficientes a respeito.
Contra-indicações. Hipersensibilidade. hipotensão grave Contra-indicações. É contra-indicada em bloqueio ai rio-
(execro quando por crise de arritmia). choque cardiogênico, ventricular de segundo c terceiro graus e na doença do nó sinusal
insuficiência ventricular esquerda. bloqueio AV de segundo e (execro nos pacientes com marca-passo artificial funcionante)
terceiro graus, doença do nó sinusal. insuficiência cardíaca c em casos de hipersensibilidade i'I adenosina.
congestiva. bradicardia acentuada.flul/er ou fibrilação atrial Cuidados Especiais. Apesar de não haver contra-indicação
associados a feixe anômalo com condução anterógrada (WPW) absoluta. deve-se ter bastante cautela no casos com histérla
e udministraçâo simultânea de bctabloqucadorcs por via de asma e na pncumopaua obstrutiva crónica. A aminofilina
intravenosa. pode ser utilizadn C0l110 antídoto.
Cuidados Especiais. Deve-se ler muita cautela ao admi- Reações Adversas, Pode ocorrer hipotensão cm doses altas.
nistrar cloridrato de vcrapamií a pacientes pediátricos. J\ uti- A reução mais freqüente é o rubor facial, em geral de curta
lização durante a gravidez deve ser bem avaliada quanto fi relação duração (18%). Foram relatadas outras rcações. com menor
cusro-bcncffcio. O cloridrato de veraparnil atravessa a barreira freqüência, (< 1%): 00
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pluccnuiria e pode ser detectado no sangue da veia umbilical :.
durante ti parto, É excretado no leite materno em pequenas doses. ~
• Cardiovasculares: cefaléia, sudorese, palpitação. dor ~
Não CSI:í contra-indicado na lactação. porém deve-se observar torácica e hipotensão. f
atentamente o lactente. suspendendo-o se houver suspeita de • Respiratórias: pressão torácica, hipcrvcntilação. dispnéia/ x
efeito farmacológico na criança. Deve-se evitar a ingestão encurtamento da respiração.
de bebidas alcoólicas durante o uso da medicação. Em pacientes • Sistema nervoso central: vertigem. formigamento nos
com função hepática limitada, o efeito do cloridrato de vcrapamil, braços. torpor. distúrbio da visão, sensação de ardor. dor
dependendo da gravidade do caso. se inrcnsi fica e se prolonga dorsal. peso na nuca e braços.
em função da lernificação do mcrabofismo. J\ administração • Gastrointestinois: náusea (3%), sabor metálico. aperto
intravenosa só deve ser realizada por médico. na garganta e pressão na virilha.
Reaçõcs Adversas. Hipotensão. edema periférico. bloqueios
AV de II e II r gruus. bradicardia. insuficiência cardíaca congcstiva,
lnterações Medicamentosas. Não têm sido observadas
tontura, ccfuléia. fadiga. nervosismo. parestexias, constipação
iruerações com outros fármacos cardioativos, tais como: digi-
c náusea. Em casos muito raros foi observado. cm pacientes

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