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Microbiologia e Parasitologia

2022 - 2023
AMOSTRA

ANÁLISE RESULTADOS

COLHEITA E TRANSPORTE DE AMOSTRAS BIOLÓGICAS

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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
Amostras biológicas para análise microbiológica

Colheita de amostras biológicas para isolamento de microrganismos

❖ Produto a recolher depende do tipo de infeção


(infeção urinária: urina; infeção respiratória: secreções; diarreia: fezes; meningite: líquido
cefalorraquidiano; lesões cutâneas ou mucosas: exsudado de vesículas, raspagem do
fundo das úlceras, raspagem da lesão; etc.)

❖ Produto a recolher pode depender do tempo de infeção


[p.e. o agente da febre tifóide (Salmonella typhi) é facilmente isolado a partir de
sangue na primeira semana de infeção, enquanto que a cultura de fezes ou urina
poderão ser positivas durante a segunda e terceira semanas]

❖ Colheita deve ser feita antes do início da terapêutica


(p.e. administração de antibióticos antes da colheita da amostra pode inibir o
crescimento dos microrganismos no produto recolhido)

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Amostras biológicas para análise microbiológica

Material para recolha de amostras

Zaragatoa

Seringa Frascos recolha urina

Tubos recolha LCR

Meio de transporte para amostras c/ suspeita


Vírus/Clamídia/Mycoplasma
Cânula para biópsia
Bisturis

Frasco amostra de fezes


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Tubos recolha de sangue Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
AMOSTRAS IMPORTANTES DE VÁRIOS LOCAIS ORGÂNICOS E TIPOS DE INFEÇÃO

Tipo de amostra
Local da infeção
Outras
Fluido Tecido Zaragatoa
amostras
Ap. Urinário
urina Biópsia renal
(bexiga)
Ap. Digestivo
Lavagens, Bílis, Pus Biópsia de fígado
(intestino, fígado, Zaragatoa retal fezes
Aspirado peritoneal ou do intestino
abdómen)
Ap. Respiratório
(Olhos, orofaringe, Lavagens, expetoração, Zaragatoa nasal ou
garganta, pulmões, fluido pleural, lavagem Biópsia pulmonar perinasal, garganta,
brônquios, espaço broncoalveolar auricular, ocular
pleural)
Sistema Nervoso
Central Líquido
(meninges, encefalite, cerebroraquidiano, Biópsia cerebral
outros processos pus
cerebrais)
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AMOSTRAS IMPORTANTES DE VÁRIOS LOCAIS ORGÂNICOS E TIPOS DE INFEÇÃO

Tipo de amostra
Local da infeção
Outras
Fluido Tecido Zaragatoa
amostras
Aparelho urogenital Biópsia testicular, Uretral, cervical, Microscopia
masculino/feminino próstata,endométrio vaginal direta

Pele e tecidos moles Fluido Zaragatoa da pele


Biópsia da pele, raspagens
(pele, feridas) vesicular, pus ou da ferida

Pus, líquido
Ossos e articulações Ossos recolhidos no ato
sinovial
(osteomielite, artrite) cirúrgico
(articular)

Sepsis Esfregaços
Febre de origem sanguíneos para
Sangue Válvula cardíaca recolhida
desconhecida parasitas da
no ato cirúrgico
Endocardite malária

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Qualidade das amostras biológicas para análise microbiológica

• A colheita de amostras para análise microbiológica deverá ser feita respeitando as regras
de ASSÉPSIA, para evitar a contaminação com microrganismos externos.
Uso de material esterilizado preferencialmente de uso único, material de proteção
individual, antisséticos e desinfetantes
• O paciente deve estar elucidado sobre as instruções de colheita (ex. urina, expetoração)
• A colheita das amostras deverá ser feita com cuidado evitando desconforto do doente
• As amostras deverão ser de boa qualidade e quantidade adequada
• Sempre que possível as amostras deverão ser recolhidas antes da aplicação de
terapêutica, nomeadamente terapêutica antimicrobiana
• As amostras deverão ser acompanhadas de um formulário com os dados completos do
doente (letra legível) e as análises requeridas pelo clínico

TODAS AS AMOSTRAS CLÍNICAS DEVEM SER CONSIDERADAS POTENCIALMENTE


INFECCIOSAS
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Transporte das amostras biológicas para análise microbiológica

AS AMOSTRAS DEVERÃO SER TRANSPORTADAS AO LABORATÓRIO NO MAIS CURTO


ESPAÇO DE TEMPO, porque certo tipo de amostras (urina, sangue, expetoração) constituem
um excelente meio de cultura para a maioria dos microrganismos (bactérias e fungos),
permitindo a sua multiplicação.
• Refrigeração (mala térmica com placa refrigeradora) e com etiqueta de perigo biológico
• Utilização de meios de cultura de transporte para preservação da amostra: meio de
transporte de Stuart, caldo tioglicolato, meio de transporte para vírus/clamídias
• Quando o clínico suspeita de infeção causada por anaeróbios, a amostra deverá ser
aspirada com uma seringa, a agulha removida e a seringa protegida com o próprio invólucro
da agulha, para reduzir ao mínimo a entrada de O2
• Identificação correta da amostra com os dados referentes ao doente, suspeita clínica
• Amostras biológicas a serem transportadas por via aérea, deverão ser bem embaladas em
embalagem apropriada e com símbolo UN3373 (classificação dada pela ONU
para uma substância biológica de categoria B – Amostra para diagnóstico)
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https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/lab/lab-biosafety-guidelines.html

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Transporte de amostras biológicas para análise microbiológica

Mala térmica c/ display


de temperatura

Substância biológica cat. B


Amostra para diagnóstico

Mala térmica c/ símbolo


de perigo biológico Acondicionamento amostras

Perigo biológico

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Colheita de vários tipos de amostras (5min)
https://www.youtube.com/watch?v=C7W1WdXq-fI

Envio de amostras para o laboratório de diagnóstico (2.30min)


https://www.youtube.com/watch?v=YdzKSaI-NB0

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RELAÇÃO MICRORGANISMO HOSPEDEIRO

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Relação Microrganismo-Hospedeiro

❖ Todos os seres vivos são utilizados como habitats por outros organismos; nenhum
organismo está livre deste tipo de invasão

❖ A evolução animal e o desenvolvimento de organismos maiores, mais complexos e


com sistemas reguladores sofisticados, criou um grande número de habitats para
serem colonizados por microrganismos

❖ Os organismos mais complexos e melhor regulados como as aves e os mamíferos


(incluindo o homem) de sangue quente, fornecem ambientes nutritivos diversificados
permitindo que sejam colonizados

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Relação Microrganismo-Hospedeiro

Categorias de associações simbióticas

O comensalismo é uma relação ecológica interespecífica, que ocorre entre indivíduos de


espécies diferentes, onde uma das espécies obtém para si benefícios, enquanto a outra não
adquire ganhos nem prejuízos. A espécie que obtém ganhos é denominada como comensal,
e o ganho está relacionado com a aquisição de alimento. O comensalismo representa um
tipo de relação positiva, levando ao desenvolvimento de interações benéficas.

Entre o homem e a Entamoeba coli existe uma relação de comensalismo. A Entamoeba


coli é um protozoário, do grupo das amebas, que vive no intestino grosso de humanos e se
alimenta dos seus restos digestivos e não causa doenças ao homem.

Entamoeba coli

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Relação Microrganismo-Hospedeiro

Categorias de associações simbióticas

O Mutualismo é uma associação harmónica entre populações diferentes em que ambas


beneficiam, podendo ou não estabelecer um estado de interdependência fisiológica. Constitui
um factor essencial para a sobrevivência e desenvolvimento de ambas as espécies.
Ex: relação entre um fungo e as raízes de plantas. O fungo recebe os hidratos de carbono e
as vitaminas que não consegue sintetizar por si próprio e a planta recebe os nutrientes
minerais e a água.

Hifas do
fungo

Raízes
da
árvore

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Relação Microrganismo-Hospedeiro

Categorias de associações simbióticas


O Parasitismo é uma relação ecológica interespecífica em que uma espécie vive no corpo
de outra, da qual retira o alimento.
Ex: a lombriga (Ascaris lumbricoides) é um exemplo de parasita. É um organismo que se
instala no corpo de outro (o hospedeiro) para extrair alimento, causando doenças. Os vermes
parasitas causam má nutrição e perda de peso; em crianças podem prejudicar o crescimento.
De modo geral em determinados hospedeiros, os parasitas não causam grandes danos aos
seus hospedeiros, pois a sua sobrevivência também depende da sobrevivência destes.
Dessa forma, a relação parasitária equilibra-se ao longo do tempo, adaptando um organismo
ao outro, fenómeno denominado de co-adaptação.

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Relação Microrganismo-Hospedeiro
Grau de prejuízo para o hospedeiro Grave Apenas um

Benefícios para as duas espécies


Parasitismo
Benefício unilateral

Comensalismo Mutualismo
Abrigo e alimento Benefício mútuo

Nenhum Ambos
Dependência 100% de
parcial/ocasional Intimidade da associação, fatores fornecidos 17
dependência
FLORA MICROBIANA DO CORPO HUMANO

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Flora microbiana normal do corpo humano

❖ O microbioma humano ou microflora humana representa a totalidade de todos


microrganismos que residem nos tecidos e nos fluidos humanos, é composto
principalmente por bactérias, mas também inclui alguns fungos, vírus e archae. Cada
local anatómico (pele, boca, intestino, vagina, etc) possui o seu microbioma
específico.

❖ Existem triliões de microrganismos em simbiose com cada pessoa. A colonização começa


durante o nascimento e é alterada ao longo da vida pela alimentação, local, clima, sistema
imunitário, doenças e medicamentos, especialmente antibióticos e antifúngicos. Muitas
bactérias sintetizam vitaminas como a B2, a B12, o ácido fólico, a biotina e a vitamina K.
O microbioma tem também um papel protetor para com o feto durante a gravidez.

❖ Existem mais de 1000 espécies de bactérias consideradas flora normal ou comensal,


pois não causam doença quando estão em equilíbrio com o meio. Geralmente, podem ser
encontradas numa pessoa saudável, 500 espécies de bactérias diferentes. No entanto, as
40 espécies mais comuns representam 99% dessa população.
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Flora microbiana normal do corpo humano

https://www.youtube.com/watch?v=YB-8JEo_0bI
Microbioma humano 4.30min

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Flora microbiana normal do corpo humano

O corpo humano é um bom habitat para microrganismos

Rico em nutrientes orgânicos


Rico em fatores de crescimento
pH constante
Pressão osmótica constante
Temperatura constante

❖ Ambiente relativamente seco da pele favorece o crescimento de microrganismos


Gram positivos (p.e. Staphylococcus)

❖ Ambiente anaeróbio do intestino grosso favorece o crescimento de


microrganismos anaeróbios obrigatórios (p.e. Clostridium)

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Flora microbiana normal do corpo humano

• Locais que em condições normais de saúde são estéreis

• Locais que normalmente possuem uma microbiota comensal

Locais do organismo Locais do organismo que possuem


normalmente estéreis uma microbiota comensal
Sangue e medula óssea Boca, nariz e trato respiratório superior
Líquido cefalorraquidiano Pele
Fluidos serosos Trato gastrintestinal
Tecidos Trato genital feminino
Trato respiratório inferior Uretra
Bexiga

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Flora microbiana normal do corpo humano

Benefícios de uma flora microbiana normal “saudável”


Prevenção da colonização por microrganismos patogénicos

Bactérias residentes da pele produzem ácidos gordos que impedem o estabelecimento de


outros microrganismos
Estimulação do sistema imunitário
Bactérias “intestinais” libertam fatores com atividade antibacteriana (p.e. bacteriocinas),
prevenindo o estabelecimento de outras espécies, com redução de diarreias, obstipação e
gases, melhoria do processo de digestão, eliminação de toxinas, estimulação do sistema
imunitário
Estimulação do peristaltismo intestinal
Os lactobacilos “vaginais” mantêm um ambiente ácido, suprimindo o crescimento de muitos
outros microrganismos

Produção de compostos com valor metabólico para o hospedeiro

p.e Ácidos orgânicos e vitaminas B e K 23


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Flora microbiana normal do corpo humano

DENSIDADE % OCORRÊNCIA NA POPULAÇÃO


Esófago
Lactobacilos
Estomago < 10%
10 – 25 %
Intestino 25 – 75%
delgado Lactobacilos
100%
Estreptococos
Duodeno
Jejuno Enterobacterias
Bacteroides spp.
Íleo
Bacteroides spp. Enterobactérias
Intestino Fusobacterium spp. Klebsiella spp.
Streptococcus faecalis Eubactérias
grosso
Escherichia coli Bifidobactérias

Lactobacilos Estreptococos
Staphylococcus aureus Pseudomonas
Clostridium spp. Salmonella

Material fecal Bacteroides spp. Coliformes


Bifidobactérias Streptococcus faecalis
103 – 105 /g 108 – 1010 /g
Eubactérias
105 – 108 /g > 1010 /g

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Flora microbiana normal do corpo humano

Flora microbiana da pele


Bactérias de Gram positivo
❖ Localizada principalmente nos folículos
pilosos, glândulas sudoríparas e glândulas sebáceas Staphylococcus
Corynebacterium e outras
❖ Mais concentrada nas áreas húmidas e quentes
(axilas, virilhas)
Glândulas sebáceas
Bactérias de Gram negativo
Escherichia coli
outros habitantes do trato intestinal,
Glândulas sudoríparas resultantes de contaminação fecal
Folículo piloso
Microrganismos transientes Acinetobacter

Microrganismos constantemente a ser inoculados


na pele, mas incapazes de sobreviver e multiplicar Fungos vários
neste ambiente, p.e. devido à desidratação e/ou
(p.e. Candida) ocorrem no couro
baixo pH
Microrganismos residentes cabeludo e em redor das unhas. Não se
encontram normalmente na pele seca.
Capazes de se multiplicarem no habitat “pele”. Na
sua maioria são bactérias de Gram positivo, mas
também algumas de Gram negativo. 25
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Flora microbiana normal do corpo humano

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Flora microbiana normal do corpo humano

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Flora microbiana normal do corpo humano

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FLORA INTESTINAL

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FLORA INTESTINAL

DIETA NÃO SAUDÁVEL DIETA SAUDÁVEL

https://www.youtube.com/watch?v=d-Ln9NNj2KY
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Microbioma intestinal 2.30min Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
FLORA INTESTINAL

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FLORA INTESTINAL

Predominantemente bacteriófagos

Saccharomyces cerevisiae; Cryptococcus; Candida albicans 32


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FLORA INTESTINAL

Aquisição da flora normal


Durante e após o nascimento

Mudança ao longo da vida


(Depende da idade, nutrição e meio envolvente)

Modo de nascimento
(crianças nascidas de parto normal adquirem a maior parte da flora
microbiana da mãe durante o parto, enquanto que as crianças
que nascem de cesariana adquirem grande parte da flora microbiana
hospitalar)

❖ A flora intestinal de crianças de países


subdesenvolvidos é diferente da de desenvolvidos
❖ A flora intestinal de bebés alimentados com leite
materno e leite artificial é diferente, porque os
açúcares do leite humano promovem o crescimento
de microrganismos benéficos, nomeadamente
Bifidobacterium, prevenindo diarreias e infeções
patogénicas em crianças.

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Flora microbiana normal do trato respiratório superior

No trato respiratório superior os organismos vivem essencialmente nas áreas contendo


secreções/ membranas mucosas

Maioria das bactérias “inspiradas” fica aprisionada nas fossas nasais, e é expulsa nas respetivas
secreções

Residentes mais
abundantes

• Staphylococcus
• Streptococcus
• Outros cocos Gram
negativos

Alguns são
potencialmente
patogénicos

• Staphylococcus aureus
• Streptococcus
pneumoniae
• Streptococcus pyogenes
• Corynebacterium
difhtheriae

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Flora microbiana normal do trato respiratório inferior

❖ O trato respiratório inferior é, essencialmente, estéril. Apenas “partículas” de dimensão


inferior a 10 mm conseguem atingir os pulmões.

❖ A traqueia, os brônquios e os pulmões são estéreis devido ao


epitélio ciliado e ao muco que retêm as bactérias; que
posteriormente são expulsas pela tosse, espirro ou
deglutição
❖ Danos no epitélio (bronquite, cigarro) tornam o hospedeiro suscetível à infeção por
agentes patogénicos da nasofaringe: Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae,
Bordetella pertussis
Bordetella pertussis Haemophilus influenzae Streptococcus pneumoniae

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Flora microbiana normal do trato urogenital

A bexiga é, essencialmente, estéril

As células epiteliais da uretra são colonizadas por bactérias aeróbias facultativas (bacilos Gram
negativos e cocos)

Alguns dos microrganismos colonizadores são patogénicos oportunistas (p.e. Escherichia coli e
Proteus mirabilis), causando infeções frequentes no sistema urinário

A vagina constitui um ambiente ligeiramente ácido e com quantidades significativas de


glicogénio. Lactobacillus acidophilus habita este ambiente, fermenta o glicogénio e produz ácido
láctico, baixando o pH

Podem ainda estar presentes representantes de Candida (levedura), Streptococcus e Escherichia


coli.

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Flora microbiana normal do corpo humano

Ocorrência de problemas

Quando a flora microbiana normal invade tecidos e “órgãos estéreis”

Quando ocorrem feridas ou outro tipo de traumatismo na pele


Quando ocorrem situações de traumatismo abdominal com perfuração dos intestinos
Durante a extração de dentes
Infeções urinárias complicadas causadas por colonizadores da uretra

Alterações da flora microbiana (p.e. devido a tratamento com antibióticos)

As bactérias que pertencem à flora normal do corpo podem


em determinadas condições, causar doença, designando-se
por bactérias patogénicas oportunistas

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Flora microbiana normal, 7 min

https://www.youtube.com/watch?v=JYRkXhT1XEs

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RELAÇÃO MICRORGANISMO HOSPEDEIRO

PROCESSOS DE INFEÇÃO E DOENÇA

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INFEÇÃO é a invasão dos tecidos corporais de um organismo hospedeiro por parte de
microrganismos capazes de provocar doenças. Constitui portanto uma reação do
organismo hospedeiro à multiplicação destes microrganismos e eventual produção de
toxinas. As infeções são causadas por agentes infecciosos, como os vírus, priões,
bactérias, nemátodes, artrópodes (carraças, ácaros, pulgas e piolhos) e fungos.

DOENÇA é uma condição anormal que afeta negativamente o hospedeiro e a estrutura


ou função de parte ou de todo o organismo, e que não é causada por um traumatismo
físico externo. As doenças são frequentemente definidas como condições médicas que
são associadas a sintomas e sinais específicos. Uma doença pode ser causada por
fatores externos tais como agentes patogénicos ou por disfunções internas

Infeção não é sinónimo de doença, uma vez que o processo de infeção não
causa sempre danos nos hospedeiros
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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
RELAÇÃO MICRORGANISMO HOSPEDEIRO

Processo de Infeção

Cada infeção constitui uma disputa entre a capacidade do


microrganismo se multiplicar, disseminar e provocar a
doença e a capacidade do hospedeiro em controlar e
finalmente debelar a infeção

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PASSOS OBRIGATÓRIOS PARA OS MICRORGANISMOS INFECCIOSOS

❖ Adesão e, eventualmente, colonização

Passagem pelas barreiras anatómicas protetoras do corpo e mecanismos de limpeza


(p.e. pele, secreções mucosas)

❖ Dispersão local ou generalizada no corpo do hospedeiro

Evasão às defesas locais imediatas (p.e. ação bactericida do sangue e fagocitose)

❖ Multiplicação

❖ Evasão às defesas do hospedeiro

Evasão à resposta imunitária por um período suficientemente longo para


permitir que o ciclo de vida se complete

❖ Saída do hospedeiro e transmissão a novos hospedeiros


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Processo de Infeção – BARREIRAS FÍSICAS E QUÍMICAS – 1ª LINHA DE DEFESA

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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
Processo de Infeção

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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
Processo de Infeção

❖ Os próprios microrganismos evoluem e desenvolvem estratégias que lhes permitem


ultrapassar as linhas defensivas dos seus hospedeiros

Tempos de geração muito mais curtos permitem que os microrganismos evoluam


muito mais rapidamente que os seus hospedeiros humanos

Transferência de genes (p.e. genes de resistência a antibióticos em


plasmídeos)

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Processo de Infeção – ADESÃO/ENTRADA DOS MICRORGANISMOS

Locais de entrada: pele

Vários fungos infetam a pele e outras estruturas não vivas (p.e. cabelo e
unhas)

Feridas e queimaduras são os pontos mais comuns para o início de um


processo de infeção

A picadela de mosquitos e de outros artrópodes (vetores) pode também


introduzir agentes infecciosos no corpo humano

Locais de entrada: conjuntiva

A conjuntiva pode considerar-se uma área especializada da pele, sendo


mantida limpa por um fluxo contínuo de fluído, (p.e. lágrimas)

Os microrganismos que normalmente infetam a conjuntiva têm mecanismos


de aderência eficiente, (p.e. clamídias e gonococos) Infeção por Clamídia

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Processo de Infeção – ADESÃO/ENTRADA DOS MICRORGANISMOS

Locais de entrada: trato respiratório

No sistema respiratório superior e inferior os


microrganismos e outras partículas inaladas são “cobertas”
de muco e expulsas pela ação dos cílios

Os microrganismos que invadem com sucesso o trato


respiratório desenvolveram mecanismos que evitam este
processo de limpeza

Adesão firme à superfície das células da camada mucociliar.


Moléculas específicas dos microrganismos (adesinas) ligam- Cílios não funcionais
Cílios funcionais
se especificamente a recetores nas células do hospedeiro (paralisados)

Inativação da atividade ciliar


Bordetella pertussis (agente da Tosse convulsa), além de
aderir às células epiteliais, interfere com a atividade dos cílios.
Esta e outras bactérias produzem substâncias ciliostáticas
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Processo de Infeção – ADESÃO/ENTRADA DOS MICRORGANISMOS

Locais de entrada: trato gastrointestinal

Sobrevivência ao muco, ácidos, enzimas e sais biliares

Todos os microrganismos que infetam os hospedeiros a partir do trato intestinal têm de


sobreviver ao ambiente ácido do estômago

Helicobacter pylori protege-se da acidez do


estômago libertando quantidades enormes da
enzima urease. Esta enzima atua sobre a ureia
local, rodeando as células bacterianas de uma fina
camada de amónia e alcalinizando o micro-
ambiente envolvente Helicobacter pylori

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Processo de Infeção – ADESÃO/ENTRADA DOS MICRORGANISMOS

Locais de entrada: trato gastrointestinal

Em condições normais, a multiplicação da flora residente é contrabalançada pela sua


contínua eliminação no material fecal
As bactérias infetantes têm de aderir ao epitélio intestinal, de modo a estabelecer-se e
multiplicar-se em números elevados

Adesão às células epiteliais

Vibrio cholerae e Shigella


ligam-se especificamente a
recetores na superfície das células
epiteliais intestinais
Adesão de Vibrio cholerae às vilosidades Adesão de Vibrio cholerae às células
epiteliais intestinais de um coelho na mucosa do íleo humano

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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2021-2022
Processo de Infeção – ADESÃO/ENTRADA DOS MICRORGANISMOS

Locais de entrada: trato urogenital

Defesas vaginais
pH baixo, resultado da fermentação do glicogénio
e consequente produção de ácido láctico por
lactobacilos

Defesas da uretra e da bexiga


Fluxo regular de fluídos (urina)
Na parede da bexiga existe uma camada
protetora de muco, a capacidade de gerar uma
resposta inflamatória e de produzir anticorpos e
células do sistema imunitário

O trato urogenital está constantemente a ser invadido a partir da uretra

Os microrganismos invasores têm de evitar ser removidos na urina, tendo


desenvolvido mecanismos de adesão especializados (p.e. gonococos)
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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
Processo de Infeção – ADESÃO/ENTRADA DOS MICRORGANISMOS

Moléculas recetoras específicas nos


microrganismos ligam-se a recetores
específicos nas células dos hospedeiros

Estas moléculas recetoras estão muitas vezes


presentes em apenas um tipo de células do
hospedeiro, determinando o tropismo de
algumas infeções (p.e. moléculas CD4 para o
HIV)

Após ligação à célula suscetível, o


microrganismo multiplica-se na sua superfície
(p.e. micoplasmas e Bordetella pertussis) ou
entra e infecta a célula (p.e. viroses e
clamídias)
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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
Dispersão pelo organismo do hospedeiro

Infeção Gripe, difteria,


disenteria provocada
TEMPERATURA por Shigella, ...
Pele, garganta, pulmões, intestinos...

Restringe o desenvolvimento de + Locais onde pode ocorrer multiplicação


Nódulo
linfático * Multiplicação na corrente sanguínea ou
endotélio vascular

muitos microrganismos no interior Corrente sanguínea (parasitémia primária)


Locais possíveis de dispersão para o
exterior

do corpo do hospedeiro, tornando


as suas infeções apenas
Baço

superficiais ou pouco invasivas Fígado


Vasos sanguíneos

Corrente
Numa infeção sistémica existe uma Dengue, malária, tifo sanguínea
Hepatite B, Febre amarela
(parasitémia
invasão “em cadeia” de diferentes secundária)
tecidos e órgãos do corpo, via
sanguínea ou linfática
Pele Cérebro Pulmões Rins Glândulas
Dispersão da infeção pelo corpo salivares
(Medula óssea e músculos podem também
ser fontes de parasitémia secundária, em
adição aos vasos sanguíneos, fígado e baço;
No caso do dengue, malária e tifo, a Varicela Raiva Sarampo Leptospirose Raiva
multiplicação ocorre nas células sanguíneas Rubéola
ou endotélio vascular)
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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
Processo de Infeção – DISPERSÃO DOS MICRORGANISMOS

Dispersão pelo organismo do hospedeiro


Produção de Toxinas

Toxina: Uma substância específica, muitas vezes um Endotoxinas


metabolito, que causa danos ao hospedeiro por
perturbação da função metabólica normal

Toxicidade: A capacidade de um organismo produzir


uma toxina

Intoxicação: Doença resultante da entrada no


hospedeiro de uma toxina pré-formada
Exotoxinas

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Microbiologia e Parasitologia | 1ºAno | 1ºSemestre| 2022-2023
Dispersão pelo organismo do hospedeiro Clostridium tetani
Produção de Toxinas Porta de entrada:
feridas ou lesões da pele

EXOTOXINA - TÉTANO

Intoxicação Aguda provocada por neurotoxina

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