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- Temperamento: “Reação emocional geral do indivíduo (Henry Clay Lindgren e Dom Byrne,
Op. Cit., p.222).
- Psique: “Antigo termo grego que indica o lado mental, emocional e espiritual do homem;
conceito que pode ser representado, em linguagem moderna, por termos como "mente", "eu" ou
"alma" (Henry Clay Lindgren e Dom Byrne, Op. Cit., p.219).
1
Psicologia: personalidade e comportamento Social. Henry Clay Lindgren e Dom Byrne. - Rio de Janeiro: LTC –
Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1982.
2
Teorias da personalidade. De Calvin S. Hall, Gardner Lindzey, John B. Campbell. 4a Edição. Porto Alegre :
Artmed, 2007.
1. "O primeiro uso iguala o termo à habilidade ou à perícia social. A personalidade de um
indivíduo é avaliada por meio da efetividade com que ele consegue eliciar reações
positivas em uma variedade de pessoas em diferentes circunstâncias" (Calvin S. Hall, Gardner
Lindzey, John B. Campbellp, Op. Cit, p.32). Dando destaque para três palavras neste texto:
- Personalidade biossocial: "[...] ao “valor da impressão social” que o indivíduo provoca". Ela
não é aceita por Allport e ele prefere a biofísica (Calvin S. Hall, Gardner Lindzey, John B.
Campbell, Op. Cit., p.32).
Segundo Allport, ele define a personalidade como: “uma organização dinâmica no
indivíduo viabilizada através dos sistemas psicofísicos que determinam as suas adaptações
singulares ao próprio meio”3.
- Personalidade globalizante: "O termo personalidade é usado aqui para incluir tudo sobre o
indivíduo. […] lista os conceitos considerados de maior importância para descrever o indivíduo e
sugere que a personalidade consiste nisso" (Calvin S. Hall, Gardner Lindzey, John B. Campbell,
Op. Cit., p.32).
3
VIEIRA, Thiago. Gordon Allport e o estudo da personalidade. Publicado em “Psicopedagogia Crítica”. Disponível
em https://psicopedagogiacritica.wordpress.com. Acesso em 07/05/2021.
observada de duas formas: primeiro, pela maneira coerente, segundo a qual as pessoas se
comportam durante um certo período de tempo; segundo, pela associação seletiva de certas
características pessoais entre si” (Henry Clay Lindgren e Dom Byrne, Op. Cit., p.2). De acordo
com estes autores, essa conformidade facilita-nos na avaliação da ovelhinha de Cristo da
seguinte forma: “[…] permite-nos predizer, com um grau razoável de segurança, como os outros
irão comportar-se em situações diferentes” (id., p.2). Inspirado no exemplo dado por Henry Clay
Lindgren e Dom Byrne (id., p.2), imagine esta cena que nós já presenciamos: Numa fila grande
para pegar um lanche no intervalo de um evento na igreja, a ovelhinha observa a organizadora
do evento, por causa do pouco tempo para comer, reclama de modo áspero - “é para pegar o
lanche e sair da fila” - a ovelhinha que cumprimentava a balconista, uma irmãzinha voluntária e
muito gentil, sai sem graça da fila com o seu lanche na mão. A ovelhinha na fila pensa consigo -
“não vou nem dar ‘A Paz do Senhor’ para a balconista, pego o lanche sem falar nada, se não eu
vou ser repreendita; aquela ovelhinha coordenadora é do tipo zangada, tem um traço de pessoa
com ‘pavio curto’, tolerância zero!
Se nós fossemos querer saber o porquê da coordenadora agir dessa forma, certamente ela
diria: “eu não sou uma ovelhinha que vive zangada; apenas fui enfática várias vezes por causa do
pouco tempo, entre pegar o lanche e come-lo, para o próximo evento; tenho culpa se ficam
conversando com a balconista?”. Segundo Henry Clay Lindgren e Dom Byrne: “[…] tendemos
explicar nosso comportamento em função das situações que surgem […], enquanto os outros o
explicam, e predizem, em função dos traços de personalidade [...]” (id., p.2).
- Personalidade como essência: "se refere àquela parte do indivíduo que é mais representativa
da pessoa, não apenas porque a diferencia dos outros, [...] consiste naquilo que é, na análise final,
mais típico e característico da pessoa" (Calvin S. Hall, Gardner Lindzey, John B. Campbell, Op.
Cit., p.32). A personalidade de uma ovelhinha que constitue a natureza do seu ser não diz
respeito, somente o quanto pode-se distinguir uma ovelha da outra, mas nalgum aspecto que é
inconfundível, particular dessa ovelha.
Continuando com Hall (et alii), sabe-se que tais teorias da personalidade, pelo menos a
sua maioria, não tem tanta “clareza” por não serem tão “direta e ordenada”. Às vezes não se sabe
se aquilo é fato científico, i.e., os dados obtidos, ou se é uma declaração feita baseada numa
experiência. Sem fazer qualquer tipo de julgamento, o importante é saber se possível verificação.
6
Teorias da personalidade. Calvin S. Hall, Gardner Lindzey, John B. Campbell. – Op. Cit., p.36-44.
7
Ibidem. Teorias da personalidade. Hall (et alii), p.36.
Apesar desses incovenientes, as teorias da personalidade são um avanço com relação ao senso
comum do conceito de personalidade.
As característica de uma teoria da personaliadade consiste em, de um lado, temos que
considerar vários aspectos apresentados do comportamento humano e, do outro lado, as regras
que conectam esses vários aspectos. O resultado é uma teoria baseada na experiência, portanto,
possível de ser verificável. Dessa forma, podemos classificar nas diversas teorias da
personalidade, dois grupos:
De acordo com Hall (et alii), eles dizem que existem “testes de personalidade planejados”
os quais medem um ponto específico que é parte constituínte da personalidade, a psicologia
social utiliza este procedimento. Hall (et alii) continua:
Segundo Hall (et alii) as teorias da personalidade vai estender-se para cada uma das
modalidades “de comportamentos e de processos e consideram” a pessoa da mesma maneira que
“uma unidade integrada […] como um todo em funcionamento”.
A questão aqui não é procurar a teoria perfeita, mesmo porque não existe nenhuma, todas
apenas representam o mehor possível aquilo que se entende por realidade tratada por tal teoria. O
recurso mais eficaz, diante de tantas teorias para o mesmo objeto de estudo - o homem - é o
estudo paralelo delas. Ainda com Hall (et alii), ele cita o ponto de vista de George Kelly – Cada
indivíduo vê o mesmo mundo, porém, cada um fabrica o seu sentido, concatenar as ideias do seu
modo, enxerga com suas lentes e, como resultado, as ações de cada pessoa serão distintas. Mas,
as diferentes interpretações dadas para a mesma realidade não devem analisadas dentro do
critério de qual visão é a correta – cada uma fornece o que cada interpretações subentende desse
mesmo mundo. Logo, as diversas teorias da personalidade fornecem uma sucessão de formas
diferentes de compreender a personalidade, mostra o que tais visões, cada uma delas, podem nos
oferecer e, olhando para todas elas, tal qual um baralho aberto sobre a mesa, veremos as
diversidades de elementos que compõem o comportamento humano. Diante dessa realidade, Hall
(et alii) diz que tais teorias da personalidade podem ser organizadas em quatro grupos, são eles:
8
Dicionário de Filosofia Jacqueline Russ; 1994; editora Scipione.
9
Jung, Carl Gustav (1875-1961). Psicólogo e psiquiatra suíço. Um dos primeiros seguidores de Freud, de quem se
afastou para criar a psicologia analítica. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
experiência (ex.: a atividade psíquica)” (Jacqueline Russ, Op. Cit., p.237).
- Psiquismo: “Conjunto dos fenômenos psiquicos de um indivíduo” (Jacqueline Russ, Op.
Cit.,p.238).
Uma observação: Nesse texto anterior, a personalidade aparece entre aspas, acredito eu
que, Jung em sua psicologia analítica entende a personalidade como um todo, a qual chamou de
"psique", vejamos:
"O conceito de psique sustenta a ideia primordial de Jung que uma pessoa, em
primeiro lugar, é um todo. Não uma reunião de partes, cada uma das quais sendo
acrescentada pela experiência e pelo aprendizado, do mesmo modo como poderíamos
mobiliar uma casa peça por peça. [...] Jung rejeita tal concepção fragmentária da
personalidade. O homem não luta para se tornar um todo; ele já é um todo ele nasce
como um todo. O que lhe cabe fazer durante a existência, afirma Jung, é desenvolver
este todo essencial, até levá-lo ao mais alto grau possível de coerência, diferenciação e
harmonia, e vale para que ele não se fracione em sistemas separados, autônomos e
conflitantes"11.
Resumidamente, a alma é, segundo Descartes: "De sorte que este eu, isto é, a alma, pela
qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo..." (Discurso do Método). Para Nietzsche "A
alma é apenas uma palavra para designar uma parcela do corpo" (Assim Falava Zaratustra) – “E
não temais os que matam o corpo e näo podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer
perecer no inferno a alma e o corpo” (Mateus 10:28).
- Ser: "O Ser no sentido primeiro é 'o que a coisa é', noção que não exprime outra coisa senão a
Substância" (Jacqueline Russ, Op. Cit. – A autora coloca a citação do filósofo Aristóteles -
Metafísica, t.1,liv.Dzeta, 1,p.347,Vrin., p. 265). O termo Ser contém a ideia da existência e da
identidade: 1. Existência: "para exprimir o fato de que determinada coisa existe. Por exemplo: "a
erva é" (= existe)", mas também "o unicórnio é" (ao menos no sentido de existência mental).
Lembremos que os gregos não tinham uma palavra específica para a existência;"12. 2. Identidade:
"para identificar e/ou distinguir algo e/ou alguém em relação a si mesmo e/ou aos outros." (SER.
In: WIKIPÉDIA, ib., em 14 de jul. 2020). Em outras palavras - identidade é o conjunto de
características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível
individualizá-la (Dicionário Houaiss). São Tomás define: "Emprega-se o verbo ser em dois
sentidos. Por um lado, ele designa o ato de existir, por outro, marca a estrutura de uma
proposição que o espírito forma juntando um predicado a um sujeito." (Jacqueline Russ, Op. Cit.
– A autora coloca a citação do filósofo São Tomás - Suma Teológica, in J. Rassam, Saint
Thomas, L´Être et l' Esprit, p.33, PUF. , p. 265). Por isso, São Tomás utilizou o termo proposição
no sentido de lógica - juízo: p.ex., A minha filha é bonita - nesta conclusão temos um juízo
porque concordamos ou discordamos sobre duas ideias, ou seja, a ideia de filha e a ideia de
bonita.
- Identidade: "Identidade é a denominação dada às representações e sentimentos que o indivíduo
desenvolve a respeito de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências. A identidade é a
síntese pessoal sobre o si-mesmo, incluindo dados pessoais (cor, sexo, idade), biografia
12
SER. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ser&oldid=58761635>. Acesso em: 14 jul. 2020.
(trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma representação a
respeito de si"13. Portanto, "Identidade é a síntese pessoal sobre si-mesmo".
Lembre-se: Observe, de um ser humano procedem vários elementos, do simples desenboca no
complexo – a isso se chama de síntese. Também, por síntese, entre outros significados, é o todo
assim formado (Dicionário Houaiss).
- Eu: “Parte do campo total que um indivíduo percebe como tendo relação com sua própria
identidade” (Henry Clay Lindgren e Dom Byrne, Op. Cit., p.212). Vamos recordar: “A
subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme
vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural;”14 – é a
construção do nosso “eu”. O nosso “eu” se distingue através das ideias, dos significados, das
emoções que cada indivíduo tem e que é só seu, de mais ninguém – são suas “ideologias,
cosmologia e cosmovisão”15; as ideologias que cada um crê ou constroem, os ditos pelo não
ditos; as cosmologia e cosmovisão podemos dizer: “[…] nas formas de reflexão sobre a realidade
total da vida, [...], a filosofia, a religião, os valores espirituais [...]”16 - “Nós, autores deste livro,
vemos esse homem como ser datado, determinado pelas condições históricas e sociais que o
cercam.” (p.22)17. O “eu” manifesta-se através das exteriorizações desse “mundo de idéias,
significados e emoções”.
- Eu Sou: Além do que já falamos sobre o "EU", também temos o "Eu sou". Vejamos,
13
Psicologias. Uma Introdução Ao Estudo De Psicologia. De Ana M.Bahia Bock, Odair Furtado E Aria De Lourdes
Trassi Teixeira. 13a edição reformulada e ampliada - 1999. 3a tiragem – 2001. Editora Saraiva., p.145.
14
Psicologias. Uma Introdução Ao Estudo De Psicologia. De Ana M.Bahia Bock, Odair Furtado E Aria De Lourdes
Trassi Teixeira. 13a edição reformulada e ampliada - 1999. 3a tiragem – 2001. Editora Saraiva. Pág.: 23.
15
No livro Contextualização: Uma Teologia do Evangelho e Cultura, Bruce J. Nicholls cita G. Linwood Barney.,
p.10.
16
Bruce J. Nicholls, Op. Cit. - ele cita o professor John S. Mbiti., p.10.
17
Psicologias, Op. Cit., p.22.
"Eu sou". Pela primeira vez sentem serem eles próprios a experimentar, a
considerear um passado, no qual se lembram de coisas acontecendo, mas não
tem consciência de si próprios dentro de tais acontecimentos" 18
Dentro desse tópico, antes de chegar ao “Eu sou” temos a seguinte pergunta: O que é
inconsciente e consciência?
- Inconsciente - Rapidamente: Segundo Jung, é tudo aquilo “que não pode ser diretamente
explorada por estar a um nível desconhecido, ao qual não temos acesso. […] A psique
inconsciente, cuja natureza é completamante desconhecida” (ib. As Conferências de Tavistock,
p.22). Mais adiante, abordaremos com detalhes, mesmo porque, o próximo tópico do consciente
já apresenta alguns aspectos do inconsciente.
- Consciência: Basicamente, é um conceito que todos já tem uma noção, mas segundo
Dicionário Houaiss, a consciência, entre outros significados, dentro da rubrica da psicologia é o
“nível da vida mental do qual o indivíduo tem percepção (ao contrário dos processos
inconscientes)” e, na rubrica da psicanálise, a consciência é o “conjunto dos dados da experiência
individual que se oferece ao conhecimento imediato” (id. Houaiss). Vamos dizer assim, uma
resposta rápida: consciência é “Conhecimento, noção da própria existência e do mundo exterior”
(Dicionário Enciclopédico Ilustrado Larousse), ou, “Representação mental clara da realidade de
alguma coisa” (id. Larousse).
Segundo Jung, o nível de consciência vem da “percepção e orientação no mundo externo”
(ib. As Conferências de Tavistock, p.24). Sabemos que percepção é muito mais do que sensação
porque exergamos o mundo com as nossas próprias lentes, isto é, “Eu sou eu e minha
circunstância” (Ortega y Gasset. Meditações do Quixote). A orientação é como me organizo e me
conduzo neste mundo, são os meus interesses e inclinações, além do que, a consciência coleta
poucos dados por vez, depende para onde estou dirigindo o foco da atenção (orientação); iremos
falar mais sobre isso adiante. A a sensação faz parte da percepção, a sensação leva as
informações, seja do mundo externo ou interno, i.e., do nosso organismo, para o cérebro –
“provavelmente se localiza no cérebro […]. É bem possível que a consciência derivada dessa
localização cerebral retenha tais qualidades de sensação e orientação” (ib. As Conferências de
Tavistock, p.24). Ainda com Jung, anteriormente pensava-se que a consciência, ou melhor, o
18
Fundamentos de Psicologia Analítica. As Conferências de Tavistock. C.G. Jung., p.23,24.
conhecimento do mundo exterior ou a representação mental que fazemos da realidade diante de
nós, viesse somente mediante os sentidos. Ainda hoje, conforme Jung relata, algumas psicologias
apresentam essa tendência do sensorial, por exemplo, Freud19 – “Freud não deriva a consciência
de dados sensoriais, mas ele concebe o inconsciente como derivado do consciente” (ib. As
Conferências de Tavistock, p.25) -, segue esse viés do sensorial quando coloca o inconsciente
formado pelo consciente.
Quando Jung discorre sobre a dinâmica da psicologia, ele diz que esta ciência trata
primeiro com a consciência, que é o nível mais fácil de acesso para dentro da nossa mente. Mas
para tratar da “psique inconsciente” a única porta conhecida é o consciente. Um detalhe
interessante quando Jung diz que é próprio da consciência dela ser intervalada, descontínua, uma
vêz que, “Um quinto, um terço, ou talvez metade da vida humana se desenrola em condições
inconscientes”, por exemplo, quando dormimos entramos no inconsciente. A nossa psique é
separada por intervalos de consciência e de inconsciente e, ainda por cima, sabemos muito sobre
a consciência e muito pouco sobre o inconsciente. Jung representa essa diferença de
conhecimento e desconhecimento imaginando que a consciência como algo exterior, a parte
visível, como se fosse uma “película cobrindo a vasta área inconsciente”, cujo fim não se sabe
(ib. As Conferências de Tavistock, p.22,23).
Tem mais um detalhe sobre a consciência. Ela tem uma, podemos dizer assim, uma janela
com uma pequena abertura para captar dados, ou seja, essa fresta só permite apanhar algumas
informações ao mesmo tempo. Durante esse tempo da “estreiteza” da consciência temos a
presença do inconciente. Desse modo, de um lado temos a consciência que só capta instantes de
informações – um flash estreito de luz - e, do outro lado, temos o inconsciente enorme e sempre
presente, sem descontinuidades. Você pode perguntar o seguinte: Como temos uma visão
contínua, um relacionamento consistente com o mundo em minha volta, se temos flash de
informações? A pergunta contém a resposta: são flashes de consciência que se repetem, um atrás
do outro, o que fornece esta impressão de “continuidade”. Quando se dá este flash de
consciência, ele só ilumina uma pequena área, o restante fica fora do campo de “nossa
percepção” (ib. As Conferências de Tavistock, p.24).
Diante desse exposto acima, podemos concluir que sempre chega informações para a
19
Freud, Sigmund (1856-1939). Psiquiatra e neurologista austríaco. Famoso por ter formulado os princípios teóricos
da psicanálise. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
nossa psique, só não temos “uma imagem de totalidade” – o nosso foco nas informações é
estreito e momentâneo, por isso é descontínuo -, mas o inconsciente não é assim, ele está com a
janela aberta e bem iluminada, o que faz da percepção inconsciente ser enorme. Cremos que por
isso Jung considera o inconsciente como condição primeira, daí “brotaria a condição consciente
[…] sendo a consciência quase que um produto” do inconsciente. Inclusive, ele menciona a
nossa “natureza instintiva”, na qual as atividades relevantes ficam no campo inconsciente;
também, permanecer sempre consciente cansa muito, para Jung esta atividade é forçada, não é
feito com naturalidade; no inconsciente não é assim, ele está sempre lá, bem presente, com a
janela aberta e bem iluminado, entrando tudo. Diferentemente de Freud, para ele a consciência
não vem somente de extrair informações do meio, mediante os sentidos, mas o inconsciente é
formado dos materiais que colhe do consciente (ib. As Conferências de Tavistock, p.25).
Para finalizar este ponto temos que considerar o que Jung chamou de “quatro funções
mentais”. Sabemos que a consciência é aquilo conhecido “diretamente” pela pessoa e ela surge
bem cedo, talvez, antes da pessa nascer. Se consideramos com atenção uma criança bem
pequena, veremos nela realizar-se “uma percepção consciente” quando explora o ambiente em
sua volta. Esta percepção vai aumentando graças as “quatro funções mentais”, as quais Jung
chamou de: “pensamento, sentimento, sensação e intuição”. Estas quatro funções estão presentes
na criança, porém, uma será mais intensa, mais importante, que ela naturalmente usa mais; esta
função de maior relevo vai funcionar como marca ou traço distintivo com relação a outra criança,
quanto ao caráter básico entre as duas.
Em adição ao que foi dito sobre as quatro funções, a nossa “mente consciente” segue uma
determinada direção quanto ao seu funcionamento, é o caminho que a mente consciente seguirá
com maior predominância. Existem dois cursos que ela pode decidir tomar e àquela que ela mais
escolher mostrará como a mente consciente trabalha de modo predominante: pode tomar os
rumos da “extroversão” ou da “introversão”. A forma de procedimento extrovertida indica que o
rumo traçado pela consciência será em direção ao “mundo externo, objetivo”. Agora, se o rumo
traçado pela consciência for em direção ao “mundo interior, subjetivo objetivo”, temos a forma
de procedimento introvertida (ib. De Calvin S. Hall, Vernon J. Nordby., p.26). Jung continua20:
[1] Em minha prática médica […] constatei, […] que, a par das muitas diferenças
individuais na psicologia humana, há também diferenças de tipos; […] principalmente
20
Tipos Psicológicos. Carl Gustav Jung. – Petrópolis, Vozes, 2015. – Introdução.
dois tipos que denominei de introvertido e extrovertido.
[2] […] vemos que o destino de alguns é mais determinado pelos objetos de seu
interesse e o de outros mais pelo seu interior, pelo subjetivo. E, como todos nós
pendemos mais para este ou aquele lado, estamos naturalmente inclinados a entender
tudo sob a ótica de nosso próprio tipo.
[4] […] Mas todo indivíduo possui os dois mecanismos, tanto o da introversão como o
da extroversão; e apenas a relativa preponderância de um ou de outro define o tipo.
- Inconsciente: Dizemos que é tudo aquilo “que não pode ser diretamente explorada por estar a
um nível desconhecido, ao qual não temos acesso. […] A psique inconsciente, cuja natureza é
completamante desconhecida” (ib. As Conferências de Tavistock, p.22). Em poucas palavras, o
inconsciente é tudo aquilo que ou o que, sem ser consciente, pode influenciar o comportamento
porque gera processo psíquico. Segundo a primeira teoria da psique formulada por S. Freud
(1856-1939), diz-se de ou sistema do aparelho psíquico constituído por conteúdos recalcados
(para Jung não é só isso: “cuja natureza é completamante desconhecida” – nosso parêntesis), nos
quais se desenrolam processos dinâmicos que contribuem para determinar a vida consciente
(Dicionário Houaiss).
O inconciente é muito grande, na verdade, Jung disse que não se sabe o seu tamanho
porque, simplesmente, “desconhecemos tudo ao seu respeito” (ib. As Conferências de Tavistock,
p.23).
- Eu Sou: Em continuação de onde paramos. Um outro ponto que é digno de nossa atenção é
com relação àquele primeiro jato de luz da nossa própria existência. Para Jung, uma criança em
torno dos seus dez anos, seja ela menino ou menina não importa, vai experimentar uma
consciência toda especial com relação ao seu estado de consciência normal das coisas que ela
vive. O que essa criança vai experienciar é um “clarão essencial: ‘Eu sou’” – tornam-se
conscientes de si como pessoa, “uma consciência do ego”, pode-se disser assim. A criança, a
partir desse momento, percebe que tem um passado só dela, “no qual se lembram de coisas
acontecendo, mas não tem consciência” delas mesmas participando nessa história de sua vida. O
ego é o nosso eu, i.e., o “Eu sou”, agora, o que é essa experiência de fato? O que se entende
sobre o ego é um conhecimento parcial, precisa de pesquisas sobre este assunto (ib. As
Conferências de Tavistock, p.22,23).
O tópico agora é sobre o Ego. O material existente no inconsciente para eles chegarem no
consciente precisam se “relacionar com o ego”. Neste ponto, Jung elabora uma definição da
consciência quando fêz uma comparação com o ego: “a consciência como a relação dos fatos
psíquicos com o ego”. Para olharmos esta questão do ego, precisamos antes olhar com os olhos
de Freud, senão vejamos.
- O Ego segundo Freud: Freud disse que a nossa compreensão da psique resulta da pesquisa e
análise do homem, no seu particular, durante a evolução da sua vida. Mediante essas observações
Freud concluiu que existe um território na nossa psique que ele chamou de “id” ou “isso”. O que
é o id? Freud responde (os colchetes são nossos):
Ele contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento, que está assente
na constituição - acima de tudo, portanto, os instintos [impulsos], que se originam da
organização somática e que aqui [no id] encontram uma primeira expressão psíquica,
sob formas que nos são desconhecidas21.
Freud continua. Este território, id, faz fronteira com o mundo à nossa volta e sob a ação
desse mundo precisou adaptar-se, “surgiu uma organização especial que, desde então, atua como
intermediária entre o id e o mundo externo. A esta região de nossa mente demos o nome de “ego”
ou “eu”. Observe, então, comenta Freud, o que era apenas um revestimento chamado de “camada
cortical”, “com orgãos ” para detectar estímulos e, ao mesmo tempo, equipado para se proteger
de estímulos, mas não foi o suficiente diante do enfrentamento com o mundo externo e precisou
criar esse outro setor, o ego (Freud. Volume XXXIII, ib.).
O ego tem as seguintes incumbências (Freud. Volume XXXIII, ib.): 1. Movimento
voluntário: você decide entre o que sente e qual deverá ser a tua resposta muscular. Lembre-se
que no corpo humano temos o Sistema Nervoso Autônomo, isto é, ele “funciona sem a
intervenção da vontade […] não há necessidade de intervenção da consciência, sendo o
funcionamento automático, autônomo. Por exemplo, o coração bate sem que tenhamos
necessidade de obrigá-lo a bater”22. 2. O ego “tem a tarefa de” preservar a nossa própria
21
Moisés e o monoteísmo, Esboço de Psicanálise e outros trabalhos (1937-1939). Dr. Sigmund Freud. Volume
XXXIII. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Volume XXIII. Editora
Imago.
22
Apontamentos de Anatomia e Fisiologia Humana. Anderson Fernandes Dias. – ed. – São Paulo: Ática, 1983.,
p.138.
existência, cumpre-lhe a missão de tratar como o exterior para a defesa da própria identidade,
opiniões, desejos; de se impor à aceitação do meio. 3. Então, como o ego lida com o mundo
externo? Vejamos: a. Captar os estímulos e arquivar na memória aquilo que é relevante sobre
estes estímulos, i.e., guardar as experiências obtidas deles. b. Se os estímulos são demasiados,
fortes demais, o ego deve esquivar-se por meio da “fuga”; não tão fortes, são esses que o ego
procura, trabalhando nestes estimulos por meio da “adaptação”. c. Não só se adaptando aos
“estímulos moderados”, o ego se esforça para operar transformações no mundo à nossa volta,
tirando vantagens disso no decurso da “atividade” exercida com esse propósito. 4. Saindo do
mundo externo, há um outro mundo – o interno, dentro de nós. Como o ego trata os
“acontecimentos internos”? Quanto ao nosso interior, “em relação ao id”, o ego entra no papel de
controlar os reclames pulsionais23. Antes de continuar, consideremos o termo “pulsionais” e
“instintos”, este será utilizado a seguir. Colocamos o termo pulsão, embora o texto de base não
utiliza, com o propósito de fazer a seguinte observação: o termo pulsão começa a ser utilizado
por Freud e é considerado um dos alicerces da Psicanálise. Pulsão é um processo dinâmico que
faz o organismo tender para uma meta (Dicionário Houaiss) e o instinto é um impulso natural,
independente da razão, que faz o indivíduo agir com uma finalidade específica (ib. Houaiss). Os
dois termos parecem sinônimos, porém, Freud evitou o uso do termo instinto, “visto que este
quer a vida e tem um objeto predeterminado e fixo, ao passo que a pulsão mostra uma satisfação
paradoxal que pode atendar contra a vida”24. Acreditamos que, por efeito da tradução, o texto
utilizado pela editora Imago, com a palavra instinto, na realidade, sugere a palavra pulsão,
mesmo porque, os dois termos tem um ponto em comum - obrigar o organismo a se mover para
um objetivo, seja lá qual for. Feita a essa observação, vamos continuar.
– 4.1. Os instintos [pulsão]. O ego define o que será feito, se vai atender ou não, as condições
impostas pelos intintos: i. O ego pode atender para a satisfação (ib. Esboço de Psicanálise
(1938)), ou assim fazê-lo mais tarde, quando for conveniente no mundo externo, caso contrário,
o ego pode reprimi-lo, ou seja, “suprimindo inteiramente as suas excitações” vindas do id. – 4.2.
Uma outra faculdade do ego é com relação aos estímulos porque eles geram tensões. O ego pode
ter as tensões batendo em sua porta ou já passaram por ela. Em todo caso, as tensões causam dois
estados possíveis: “desprazer” ou “prazer”. I. Desprazer: quando aumentou o nível das tensões.
II. Prazer: baixou o nível das tensãos. III. Freud observou que o desprazer e o prazer talvez não
23
Esboço de Psicanálise (1938). Sigmund Freud. – São Paulo: Ceinbook, 2019., p.30.
24
Tudo que você precisa saber sobre Psicanálise. Silvia Ons. – São Paulo: Planeta do Brasil, 2018., p.57.
estejam ligados, tão somente, ao nível das tensões, pode ser a frequencia de alteração delas. IV.
Uma lei importante que rege o ego: ele “se esforça pelo prazer e busca evitar o desprazer”. –
4.2.1. Quando alguma coisa na tua vida cai no campo da expectativa, você espera por algo, é
deduzido por antecipação, por causa disso, aumenta o nível de desprazer e o ego irá sinalizar
com a ansiedade. – 4.2.2. Quando você está diante de qualquer tipo de ameaça, elas podem vir do
ambiente externo ou do seu organismo, por este motivo, aumenta o nível de desprazer e o ego irá
sinalizar com perigo. 5. Nós precisamos dormir, neste “estado de sono” o ego desliga-se do
ambiente externo e ele dá início a mundança em sua estrutura. Freud deduziu que o ego faz
assim, quando estamos dormindo, para ocorrer uma “distribuição específica de energia mental”.
Ainda não acabou. Freud continua. Este território do ego (eu) sofre a influência de um
outro território com potência suficiente que “se contrapõe a ele, tem-se um terceiro poder” (ib.
Esboço de Psicanálise (1938)). Temos, desse modo, o superego ou supereu. O que é este outro
território da nossa psique?
Freud diz o seguinte: temos a nossa época de criança, que é um tempo relativamente
longo, durante o qual vamos nos desenvolvendo. Neste período estamos sob os cuidados de
nossos pais. O que acontece é o desenvovimento de uma outra área no ego, um novo território,
fronteira com o próprio ego, “um agente especial no qual se prolonga a influência parental”. O
superego ou supereu é o nome dado a este novo poder.
O nosso ego (eu) tem sobre si três forças solicitantes: o id, o superego e a realidade em
nossa volta. O ato de agir do ego é tida como certa se atende ao mesmo tempo as instâncias do
id, do superego e da realidade objetiva, ou seja, quando o ego concorda com as reivindicações
destes.
Até agora em Freud (Freud. Volume XXXIII, ib.) sobre esta conexão do ego com o
superego fica fácil de se compreender quando consideramos o cenário no qual entram a criança e
seus pais, “sem nenhuma exceção” (ib. Esboço de Psicanálise (1938), p.31). Dentro deste cenário
básico, criança e os seus pais, teremos uma confluência de acontecimentos através dos quais o
superego receberá os elementos formadores de sua instância, senão vejamos. Temos, não só a
“influência” pessoal da “personalidade dos próprios pais, mas também a família, as tradições
raciais e nacionais por eles transmitidas” e ainda tem as condições impostas pelos meios sociais
relacionados com respeito aos pais e com respeito a família. Inclusive, enquanto se dá o
desenvolvimento da pessoa, o superego obtém elementos de “sucessores e substitutos” dos seus
pais, especificamente, dos “professores e modelos, na vida pública” e também “os ideais
venerados na sociedade” (ib. Esboço de Psicanálise (1938), p.31).
O material contido e acrescentado ao longo do desenvolvimento do indivíduo começa
com os pais e para Freud é, como foi dito, “sem nenhuma exceção”. Porém, existem os
elementos coletados pelo superego, repetimos, dos “sucessores e substitutos” dos seus pais, e é
aqui, neste ponto, que gostaríamos de tecer o seguinte comentário: “Nas palavras dos geneticistas
do comportamento Robert Plomin e Denise Daniels (1987): “duas crianças da mesma família
[são, em média,] tão diferentes uma da outra quanto o são pares de crianças selecionadas
aleatoriamente da população”25. David G. Myers continua:
Dessa forma, o superego coleta, também, elementos “dos pares”, ou seja, segundo Myers,
os nossos pais influênciam muito e é importante, todavia, é uma influência bastante indireta, e é
claro, assim concluímos, que Myers diz isso com relação a uma certa fase da vida da criança e do
adolescente - por exemplo, Myer cita que os nossos pais escolhem o local de moradia e a escola
em que vamos estudar, assim sendo, os pais ajudaram com a escolha (indiretamente) dos
“colegas que influenciam diretamente se seus filhos” (ib. Psicologia Social. Myers., p.157).
Sabemos que o id, o ego e o superego são difrentes, porém, Freud observou que o id e o
superego estão sob o influxo do passado e o ego do presente, da seguinte forma (ib. Esboço de
Psicanálise (1938), p.31):
26
Ibidem. Psicologia Social. David G. Myers.
- superego (supereu): influxo fundamentamente daquilo obtido de outros indivíduos. Um passado
incorporado, por exemplo, culturalmente.
- ego (eu): sobretudo é “determinado pela própria experiência do indivíduo, isto é, por eventos
acidentais e contemporâneos”. Lembre-se que uma das funções do ego é guardar na memória as
experiências causada por estímulos externos. Aqui, não falamos de passado, mas daquilo que é
experienciado pela própria pessoa através das suas interações no meio cultural e social da
sociedade em sua volta.
Já olhamos com a visão de Freud o que é o ego, o nosso eu – em resumo27 podemos dizer
que: o “id” ou “isso” é a “fonte de toda energia psíquica e reservatório de impulsos”. Temos no
“ego” ou “eu” o aspecto “racional do indivíduo funcionando como mediador entre as exigências
do ID e a realidade” em nossa volta e, finalmente, no “superego” ou “supereu” temos “a
consciência moral, representante dos valores e ideais da sociedade que juntas determinariam a
subjetividade da existência humana”.
Vamos enxergar agora com as lentes de Jung o que é o ego, o nosso eu, mas antes temos
que considerar a teoria da personalidade, supracitado, onde o ego e outros elementos dão forma e
cor ao estudo do comportamento humano. Lembre-se que nas teorias da personalidade existentes,
agrupadas em quatro grupos, temos as teorias psicodinâmicas com foco nos “motivos
inconscientes” e Linda L. Davidoff disse o seguinte: “As teorias psicodinâmicas da
personalidade enfatizam a importantância dos motivos, das emoções e de outras forças internas.
Supõem que a personalidade desenvolva-se à medida que os conflitos psicológicos são
resolvidos […]”28. Tanto Freud como Jung, assim como outros, seguem esta teoria psicodinâmica
da personalidade, por isso, há certas semelhanças entre Freud e Jung; ainda com Linda L.
Davidoff:
“Embora Freud tenha formulado a teoria psicodinâmica mais influente, o trabalho de
inúmeros teóricos é importante. […] eram terapeutas […] Muitos apoiavam as ideias de
Freud durante um tempo. […] Carl Gustav Jung (1875-1961) […] abandonou a teoria
psicanalítica ortodoxa […] Jung, como Freud, ressaltou o inconsciente. Entretanto,
focalizou os objetivos e as lutas das pessoas, a procura de sua totalidade e o
desenvolvimento criativo (em vez de a infindável repetição de temas instintivos, como
Freud fazia).”29
27
Curso de Psicopedagogia Institucional. Disciplina: Teorias da Personalidade. Op. Cit., p.12,13.
28
Introdução à Psicologia: Terceira Edição. Linda L. Davidoff. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001., p.505.
29
ib. Linda L. Davidoff., p.510.
Realmente, concordamos lá no tópico - “A Mente da Ovelhinha de Cristo” - sobre aquilo
oculto na gente, bem lá dentro de nós, no nosso inconsciente, ativo, gerando e alterando
comportamentos, e somente Deus sabe e ele pode trazer à tona do nosso consciente - repetimos o
Salmos 19:12: “Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me säo ocultos”;
“Porque eu conheço as minhas transgressöes, e o meu pecado está sempre diante de mim”
(Salmos 51:3). Não é sem razão que Hannah Arendt brilhantemente afirmou que somente Deus
sabe o que somos realmente; quem somos, nós podemos responder com auxílio da Santa Bíblia,
espelho para nós – “a resposta à pergunta ‘Quem sou?’ é simplesmente: ‘És um homem – seja
isso o que for’; e a resposta à pergunta ‘O que sou?’ só pode ser dada por Deus que fez o homem.
A questão da natureza do homem é tanto uma questão teológica quanto a questão da natureza de
Deus; ambas só podem ser resolvidas dentro da estrutura de uma resposta divinamente
revelada”30.
- O Ego segundo Jung: Como Jung trata a questão do ego? Já abordamos alguma coisa do que
ele pensa, e não é muito diferente de Freud, mesmo porque a base dos dois, Jung e Freud, é
psicodinâmica. Porém, esta ligação de alguns conceitos da Psicanálise com a Psicologia Analítica
é aparente, não são equivalentes, porque cada um tem o seu conceito próprio; o início, em alguns
pontos, podem parecerem iguais e até um contribue para a compreender o outro, porém, mais à
frente vão divergir. Por isso, Jung recomendou não se apegar demais aos próprios conceitos, e
sim, se ater mais aos “fatos observáveis (De Calvin S. Hall, Vernon J. Nordby, Op. Cit., p.25). É
um conselho muito sábio de Jung porque concluímos que ele não via na sua Psicologia Analítica
como única e a melhor, para Jung cada escola tinha o seu valor e, estamos de acordo que a
análise psicóloga se dá dentro de "um mito, freudiano, jungeano, adleriano, rogeriano, encarnado
pela personalidade do próprio analista". Realmente, quando se diz que o ponto principal “não é
saber qual é a verdadeira”, mas aquela que atrai mais o paciente, sim, concordamos e aceitamos
que existem ótimos psicoterapeutas em cada escola e cremos, quando lemos, que eles
reconhecem que não existe "um conhecimento absoluto" (ib. As Conferências de Tavistock –
Prefácio com Leon e Jette Bonaventure., p.12).
Temos que lembrar que um conceito científico é “um rótulo, aplicado a um grupo de fatos
30
A Condição Humana. Hannah Arendt. – 10.ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007 - nota de rodapé, p.
19.
observados que dizem respeito a algum fenômeno natural, assim como às ideias, inferências ou
hipóteses que procuram explicar os fatos observados” e, é por isso que conceito é uma abstração
por realiza-se uma operação intelectual em cima daquele fato; cada um desenvolve o seu próprio
raciocínio, eles podem diferir, mas os fatos observados não se altera (ib. De Calvin S. Hall,
Vernon J. Nordby, p.25).
Para darmos esta definição do Ego na visão de Jung é preciso ver alguns aspectos gerais
na Psicologia Analítica, assim como fizemos acima com Freud na Psicanálise, apresentamos o Id,
Ego e o Superego. Na Psicologia Analítica, temos:
- Psique: É um termo que já abordamos, confere lá, e o que mencionamos de Jung foi sucinto,
ele disse mais – “A psique abrange todos os pensamentos, sentimentos e comportamento, tanto
os conscientes como os inconscientes. Funciona como um guia que regula e adapta o indivíduo
ao ambiente social e físico” (ib. De Calvin S. Hall, Vernon J. Nordby, p.25). O que é a psique? É
“a totalidade da estrutura anímica do ser humano englobando, portanto, tanto fenômenos
conscientes quanto inconscientes”31. Qual era o papel principal da Psicologia para Jung? O
objeto de estudo, a “natureza de seu tema central: a própria psique. […] constituindo-se no
objeto da observação e do julgamento científico, ser ao mesmo tempo o seu sujeito, o meio
através do qual se fazem tais observações” (ib. As Conferências de Tavistock, p.21).
Na sua opinião Jung vê naquilo que representa a psique tem como consequência que o ser
humano quando nasce ele “é um todo original da personalidade”, contrariando àqueles que
acham que a personalidade do indivíduo vai sendo formada ao londo do tempo, até se tornar uma
“unidade coerente e organizada”. Jung crer que o indivíduo “nasce como um todo” e, ao longo de
sua vida, ele trabalha nesse “todo essencial” que a vida lhe deu, de maneira que atinja o “mais
alto grau possível “de coerência, diferenciação e harmonia”. Este indivíduo deve tomar todo o
cuidado para que a sua personalidade, durante a sua trajetória de vida, não se torne “dissociada”,
“deformada” porque ela dividiu-se; o seu todo ficou em partes, “autônomos e conflitantes”. Por
isso, Jung tinha o objetivo, como psicoterapeuta, em tonificar a psique de seus pacientes, depois
de ajuda-los a reintregar num todo a “unidade perdida” ” (ib. De Calvin S. Hall, Vernon J.
Nordby, p.25,26).
Realmente, o homem nasce como um todo faz-nos lembrar quando o Senhor Deus, em
31
Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung. Alberto Olavo Advincula Reis, Lúcia Maria Azevedo
Magalhães, Waldir Lourenço Gonçalves. – São Paulo: EPU, 1984. (Temas básicos de Psicologia; v.7)., p.132.
Romanos 9:9-13, não somente diz “quem são”, aos que estavam no ventre de Rebeca, como
também diz “o que são” cada um:
9 Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho.
10 E näo somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso
pai; 11 Porque, näo tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o
propósito de Deus, segundo a eleiçäo, ficasse firme, näo por causa das obras, mas por
aquele que chama), 12 Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. 13 Como está
escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.
Atente bem como o Senhor Deus contemplou a Jacó e Esaú - “não tendo eles ainda
nascido, nem tendo feito bem ou mal”-, disse: “O maior servirá o menor” e “Amei a Jacó, e odiei
e Esaú”. O caro leitor poderá facilmente argumentar que isso se deu porque o Senhor vê o futuro;
sim, certamente! Entretando, Deus, atemporal que é; não precisa aprender nada; tudo sabe e
nunca é pego de surpresa - Deus também vê o que está no nosso íntimo, não somente isso, ele vai
no mais íntimo do nosso íntimo. Assim sendo, bem pode ser que, dentro da concepção de Jung: o
“homem não luta para ser tornar um todo; ele já é um todo, ele nasce como um todo”, Deus então
viu, na gestante preste à dar a luz, dois seres humanos, cada um sendo “um todo original da
personalidade”, ao ponto de dizer o que disse acima sobre eles, ainda no ventre de Rebeca (ib.
De Calvin S. Hall, Vernon J. Nordby, p.25) – “para a Psicologia […] todo ser tende a realizar o
que nele existe em germe, a crescer, a complertar-se. […] Assim é para o homem, quanto ao
corpo e quanro à psique” (ib. Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung. Cita Silveira,
1971., p.133).
A personalidade humana é tratada por Jung como sendo a própria psique, então, para
termos uma idea mais completa de como indagar-se sobre a personalidade é preciso responder o
seguinte questionário, mas antes considere o que já tratamos no início, sobre o ponto de partida
do estudo da personalidade (ib. Calvin S. Hall, Gardner Lindzey, John B. Campbell), onde a
personalidade, basicamente, se apóia na “habilidade ou à perícia social” e na “impressão mais
destacada ou saliente que ele cria nos outros". Dessa forma, a personalidade de um indivíduo é
aquele comportamento que tem um aspecto, em comparação ao tempo de vida, mais duradouro e
consistente, que distingue cada indivíduo” (ib. Henry Clay Lindgren e Dom Byrne). E, na
tentativa de explicar o nosso comportamento, não associamos com a nossa personalidade,
diremos que dependerá da situação – fiz assim, porque…-, todavia, quem olha para nós, explica
que agimos assim porque é a nossa personalidade (ib. Henry Clay Lindgren e Dom Byrne).
Vamos para o questionário sobre a personalidade:
1. Numa visão “estrutural” - Quais são as partes integrantes que se juntam ao conjunto de
elementos da personalidade e como essas partes se afetam ou se influênciam e afetam e
influênciam o mundo exterior?
2. Numa concepção “dinâmica” - De onde vem a energia que impulsiona a personalidade e
como essa energia se canaliza para as suas partes integrantes?
3. Numa representação “desenvolvimentista” - De onde provém a personalidade e que
modificações acontecem nela durante a vida do indivíduo?
32
Dicionário Houaiss – verbete “centro” na rubrica: teatro.
esgota todas as possibilidades – Deus vai na divisão da alma e o espírito, pensamentos e
intenções do coração (Hebreus 4.12; Salmo 139.23):
E tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai e serve-o com um coração perfeito
e com uma alma voluntária; porque esquadrinha o SENHOR todos os corações e
entende todas as imaginações dos pensamentos; se o buscares, será achado de ti; porém,
se o deixares, rejeitar-te-á para sempre (1 Crônicas 28.9).
Não é à toa que Jung considerou, com relação as suas pesquisas psicanalíticas, o
inconsciente muito importante assim como o consciente e o Ego são, tanto é que ele chamou o
inconsciente de “esfera mental de ordem sublime”:
23. Eis a descrição de Kekulé de como chegou a essa proposição: “Estava sentado a
escrever no meu texto, mas o trabalho não progredia; […] Voltei a cadeira na direção da
lareira e adormeci. De novo os átomos esvoaçavam diante dos meus olhos. […] O meu
olho mental (o meu precursor interior), tornado mais acuçado por visões repetidas desta
espécie, chegou a poder discenir estruturas maiores, de múltiplas combinações; fileiras
compridas, por vezes próximas, ajustavam-se, entrelaçando-se num movimento
serpentino. Mas olhem! O que era aquilo? Uma das cobras tinha-se agarrado pela cauda
e a imagem rodopiava escarnecedoramente diante dos meus olhos. […] acordei em
sobresalto […] passei o resto da noite solucionando as consequências dessa hipótese”
33
História da Química: um livro texto para a graduação. Luiz Seixas das Neves, Robson Fernandes de Farias.
Campinas, SP: Editra Átomo, 2011. 2a Edição., p.77.
(ib. História da Química. – Nota do rodapé., p.78).
Dessa forma, em 1865 Kekulé descobriu a estrutura cíclica do benzeno34. Curioso como
Kekulé fala de um “meu olho mental (o precursor interior)”; não podemos dizer que este famoso
Químico estivesse falando do inconsciente, não sabemos, porém, é uma bela representação para
o mesmo. O termo inconsciente, “o que se entende por inconsciente freudiano […] essa palavra
já existia antes do nascimento da psicanálise. Empregado pela primeira vez com o significado de
‘não consciente’ pelo jurista escocês Home Kames”35.
34
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
35
Tudo que você precisa saber sobre psicanálise. Silvia Ons. – São Paulo: Planeta do Brasil, 2018., p.43. Rodapé:
“1809 – Em A essência da liberdade humana, Friedrich Schelling já menciona o inconsciente ‘como parte escura’.
1895-1896 – Freud cita como ‘nosso inconsciente’ o inconsciente psicanalítico”., p.44.
O Ego a Personalidade e a Individuação
Graças a essa capacidade do Ego “da seleção e de eliminação” dos conteúdos dentro
daquela massa de material psíquico, a nossa personalidade ganha duas coisas: “identidade e
continuidade”, o que produz uma “personalidade distinta e persistente”. O trabalho estruturante
do Ego, através da censura e da seleção, da lugar a “coerência na personalidade” de cada pessoa.
Por isso, “sentimos hoje sermos a mesma pessoa de ontem”; é o que sentimos com relação a nós
mesmos. Queremos tecer o seguinte comentário: com aqueles que estão em nossa volta devemos
ser nós mesmos da forma mais plena possível e, não é saindo de um grupo, seja ele qual for, que
isso irá acontecer, muito pelo contrário, é precisamente quando estamos juntos que poderemos
ser nós mesmos; para que ocorra uma integração cada vez melhor entre nós, sem a desintegração
de cada um, Jung entra com um outro conceito, o da individualização – “Utilizo o termo
‘individuação’ para indicar o processo por meio do qual uma pessoa se torna um ‘in-divíduo’
psicológico (lat. divíduo – divisível; lat. in- negação), isto é, uma unidade, ou um ‘todo’ separado
e indivisível” (separado: distinguir; independente) (ib. Calvin S. Hall, Vernon J. Nordby. – vol.
9I, p.275., p.27).
O Ego e a individuação estão de mãos dadas com o propósito da personalidade ter uma
identidade forte, i.e., cada vez mais “distinta”, e que seja persistente, ou seja, mantenha a
“continuidade”. Esta ação continuada e crescente para você torna-se cada vez mais um ‘in-
divíduo’ psicológico, isso se dará na proporção em que o ego “permitir que as experiências
recebidas fiquem conscientes” (ib. Calvin S. Hall, Vernon J. Nordby., p.27).
Sabemos que:
“No campo da consciencia, temos o Ego como centro, sendo que este é o sujeito de
todos os atos pessoais da consciencia. Qualquer conteúdo psíquico consciente deve estar
em relação com o Ego. Esta conexão é o próprio critério da consciencia, pois para que
um conteúdo seja conhecido ele deve ser representado para um sujeito. Desta forma, o
Ego não é equivalente ao campo da consciência, mas antes é o seu ponto de referência”
(ib. Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung., p.136).
Self
(Ego - Mente Consciênte - Inconsciente - Personalidade – Individuação)
Nós somos “o sujeito de todos os atos pessoais da consciência” – eu quero isso; eu faço
aquilo etc -, e devemos, ato de nossa vontade consciente - “eu e você queremos - ”trabalhar em
pról do nosso “desenvolvimento e totalização da personalidade”, investir na autoconsciência,
rumo a maior individuação possível (ib. Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung. –
capítulo 16). Aproveitando a exposição dos autores Alberto Olavo Advincula Reis (et alii) no
capítulo 16 (‘A teoria psicológica de Jung: principais conceitos’ – ib. Teorias da Personalidade
em Freud, Reich e Jung), faremos um passo a passo até chegarmos na conclusão do self.
Diante do inconsciente Jung elabora alguns conceitos e insere outros, vejamos:
1. O self dar a conhecer, revela, manifesta a psique, ou seja, o self é a expressão da totalidade
psíquica, ou seja, da psique.
2. O self é o centro da psique como totalidade psíquica.
3. O processo de desenvolvimento e totalização da personalidade é chegar ao self – este é o
“processo de individuação”.
4. O self é a expressão da totalidade psíquica, ou seja, da psique.
5. O ego é o centro da consciência (mente consciente).