Você está na página 1de 23

Direito e Legislação

Tributária
Nuno Miguel Rebelo
R$300,00. Sobram R$700,00, em relação Tributária no Código Tributário Nacional
aos quais B e C são devedores solidários, e outros casos previstos em Lei Ordinária.
pelo saldo (pelo que sobra, uma vez
abatida aquela isenção). Se B e C estão Assim, a Responsabilidade Tributária é
em regime de solidariedade, cada um tratada pelo Código Tributário Nacional
deve a totalidade do tributo. Apenas A e por Lei Ordinária.
não poderá ser cobrado, pois somente
para ele vale a isenção. Os casos disciplinados no Código
Tributário Nacional têm status de
Lei Complementar, funcionam como
Responsabilidade Tributária normas gerais de Direito Tributário.
Portanto, uma alteração nesses casos de
Vale a leitura do art. 128 do Código responsabilidade necessariamente deve
Tributário Nacional: ser feita por meio de Lei Complementar.

Art. 128. Sem prejuízo do disposto Mas o próprio art. 128 determina que
neste capítulo, a lei pode atribuir de o Código Tributário Nacional não é
modo expresso a responsabilidade exaustivo. Assim, a lei pode estabelecer
pelo crédito tributário a terceira
outros casos de responsabilidade não
pessoa, vinculada ao fato gerador
da respectiva obrigação, excluindo a contemplados no Código Tributário
responsabilidade do contribuinte ou Nacional (inclusive de acordo com
atribuindo-a a este em caráter supletivo
as peculiaridades de cada ente
do cumprimento total ou parcial da
referida obrigação. da Federação). São leis que visam
atender mais particularmente os
entes da Federação. Nesses casos, a
Quando o artigo registra “sem prejuízo Responsabilidade Tributária pode ser
do disposto neste capítulo”, significa atribuída por Lei Ordinária.
que as hipóteses de Responsabilidade
Tributária previstas no Código Tributário A lei atribui a responsabilidade pelo
Nacional não são exaustivas, o que crédito tributário (a responsabilidade pelo
implica na existência de outros casos de pagamento do tributo) a terceiro que a
responsabilidade previstos em lei. lei elege como responsável. Esta terceira
pessoa deve estar vinculada ao Fato
A Responsabilidade Tributária é a eleição de Gerador da respectiva obrigação, deve
terceiros com o dever de pagar o tributo. ter algum vínculo com o Fato Gerador.
Ou seja, sempre quando tivermos
Existem as hipóteses de Responsabilidade hipótese de Responsabilidade Tributária

UNIDADE 2 55
Direito e Legislação Tributária

Casos Específicos de
criada pela lei, teremos a eleição de um Responsabilidade
terceiro que tem obrigação de pagar.
Este terceiro deve estar vinculado ao
Fato Gerador. 1º Caso:

O art. 128 do Código Tributário Leia-se o Art. 130 do CTN:


Nacional, determina que a atribuição
da responsabilidade, a extensão desse Art. 130. Os créditos tributários rela-
dever, pode ocorrer de forma integral, tivos a impostos cujo fato gerador
portanto pode haver atribuição de seja a propriedade, o domínio útil ou
a posse de bens imóveis, e bem assim
responsabilidade ao terceiro e exclusão
os relativos a taxas pela prestação de
do contribuinte, que desaparece, não serviços referentes a tais bens, ou a
terá mais o dever de pagar nada.Ou pode contribuições de melhoria, subrogam-
se na pessoa dos respectivos adqui-
ser uma atribuição de responsabilidade
rentes, salvo quando conste do título a
que seja supletiva e, nesse caso, o prova de sua quitação.
contribuinte ainda tem o dever de pagar. Parágrafo único. No caso de arrema-
tação em hasta pública, a sub-rogação
ocorre sobre o respectivo preço.
A responsabilidade supletiva pode se dar
de duas formas:
Este artigo trata da responsabilidade na
• diante de um regime de aquisição de bens imóveis.
solidariedade, em que temos
contribuinte e responsável no mesmo Imagine-se que A é dona de um imóvel
patamar; ou urbano e deve pagar o IPTU. O Fato
Gerador ocorre todo dia 1º de cada ano.
• diante de um regime de No dia 01/01/12, A realiza o Fato Gerador
responsabilidade subsidiária, em do IPTU, mas ela não paga o tributo. Em
que temos a existência de benefício 10/10/12, A vende o imóvel a B. B não
de ordem entre contribuinte e verificou se o tributo estava ou não pago.
responsável. Em 01/01/13 B realiza o Fato Gerador do
IPTU em relação ao exercício de 2013.
Ele recebe a cobrança do IPTU relativa ao
Resumindo: exercício de 2013, mas recebe também a

• Cumprimento total: solidariedade cobrança relativa aos anos anteriores, no


caso 2012, quando A não pagou o imposto.
• Cumprimento parcial: responsabi- O art. 130 do Código Tributário Nacional
lidade subsidiária. determina que no caso de aquisição de

56 UNIDADE 2
imóvel que tenha débito de IPTU, este Ocorre que para cada uma dessas regras,
débito é transferido para o adquirente. existem exceções:
Isso significa que B, então, é contribuinte
• a última parte do caput do art.
em relação ao IPTU devido em 2013, mas
130 do CTN registra a primeira
é responsável em relação ao IPTU devido
exceção: nos casos em que conste do
em 2012 (que lhe foi transferido por conta
título aquisitivo prova da quitação do
da aquisição do imóvel).
tributo;

Isso vale para o IPTU, para o ITR, vale • haverá sub-rogação real, no preço
para taxas e vale para Contribuições de que é pago pelo bem, nos casos de
Melhoria. Ou seja, vale para todos os aquisição do imóvel em hasta pública
tributos relativos ao imóvel. (o adquirente então recebe o imóvel
totalmente desonerado).
Imaginemos agora que A, ao invés de
não ter pagado apenas o IPTU de 2012,
já não pagava o IPTU há alguns anos, 2º Caso:
acumulando um débito de R$100.000,00.
A vendeu o imóvel a B por R$80.000,00. Leia-se o art. 131 do CTN:
Em 2013 B recebe a cobrança do IPTU
relativo a 2013 e também a cobrança Art. 131 (...)
dos R$100.000,00 já devidos. Ou seja, II - o sucessor a qualquer título e
a dívida do IPTU supera o valor do o cônjuge meeiro, pelos tributos
devidos pelo de cujus até a data da
imóvel. Isso é possível porque nesses
partilha ou adjudicação, limitada esta
casos de aquisição de imóvel o que responsabilidade ao montante do
ocorre a sub-rogação pessoal da dívida, quinhão do legado ou da meação;
III - o espólio, pelos tributos devidos
e não sub-rogação real, ou seja, não está
pelo de cujus até a data da abertura da
limitada ao valor do imóvel. sucessão.

Assim, vale destacar do art. 130 do


Código Tributário Nacional: Esses dispositivos tratam da responsabi-
lidade na sucessão.
1. a responsabilidade pelos tributos
devidos em razão do imóvel é do Inciso III: há o evento morte, e, com a
adquirente; e morte, a abertura da sucessão. O de cujus
realizou Fatos Geradores e tem tributos
2. a sub-rogação é pessoal e não
devidos em razão da prática desses Fatos
real.
Geradores. A responsabilidade até a data

UNIDADE 2 57
Direito e Legislação Tributária

da abertura da sucessão será do espólio. Ou seja:


Essa responsabilidade do espólio é
compartilhada com o inventariante. Isso - até a abertura da sucessão →
está previsto no art. 134 do CTN. responsabilidade do espólio

Art. 134. Nos casos de impossibilidade - entre a abertura da sucessão e a partilha


de exigência do cumprimento da → responsabilidade do sucessor e do
obrigação principal pelo contribuinte, cônjuge meeiro (limitada ao quinhão ou
respondem solidariamente com este
à meação).
nos atos em que intervierem ou pelas
omissões de que forem responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por Atenção: a responsabilidade vai até a
seus filhos menores;
data da partilha. Depois da partilha, eles
II - os tutores e curadores, pelos
tributos devidos por seus tutelados ou próprios realizam os Fatos Geradores em
curatelados; relação aos bens herdados e passam a ser
III - os administradores de bens de contribuintes, e não mais responsáveis.
terceiros, pelos tributos devidos por
estes;
IV - o inventariante, pelos tributos
devidos pelo espólio; 3º Caso:
V - o síndico e o comissário, pelos
tributos devidos pela massa falida ou
Leia-se o art. 132 do CTN:
pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais
serventuários de ofício, pelos tributos Art. 132. A pessoa jurídica de direito
devidos sobre os atos praticados por privado que resultar de fusão,
eles, ou perante eles, em razão do seu transformação ou incorporação de
ofício; outra ou em outra é responsável
VII - os sócios, no caso de liquidação pelos tributos devidos até à data do
de sociedade de pessoas. ato pelas pessoas jurídicas de direito
Parágrafo único. O disposto neste privado fusionadas, transformadas ou
artigo só se aplica, em matéria de incorporadas.
penalidades, às de caráter moratório.
– original sem grifo.
Parágrafo único. O disposto neste
Inciso II: entre a abertura da sucessão artigo aplica-se aos casos de extinção
de pessoas jurídicas de direito privado,
e a partilha, a responsabilidade será
quando a exploração da respectiva
do sucessor (ou sucessores) e do atividade seja continuada por qualquer
cônjuge meeiro, só que nesse caso sócio remanescente, ou seu espólio,
essa responsabilidade do sucessor e do sob a mesma ou outra razão social, ou
sob firma individual.
cônjuge meeiro está limitada ao quinhão
ou à meação.

58 UNIDADE 2
Este dispositivo trata da responsabilidade hipótese: aplicação aos casos de extinção
na realização de atos societários. Registra de pessoas jurídicas de direito privado
três atos: quando a exploração da respectiva
atividade seja continuada.
• Fusão: uma empresa A se une
com a empresa B e se transforma na A regra é definir a empresa que resta.
empresa AB; Ela será responsável. Mas o P.U. trata
de uma hipótese de extinção de uma
• Incorporação: a empresa A pessoa jurídica e, nesse caso de extinção
incorpora a empresa B; a empresa nós podemos ter a aplicação da regra
continua sendo A, mas com a empresa do caput. Se uma pessoa jurídica A
B dentro dela;Transformação: a que tem 3 sócios e tem por objeto a
empresa A que é S/A se transforma fabricação de garrafas pet. A empresa A
numa LTDA. é extinta e um sócio antigo da empresa
A constitui uma outra empresa, a
• Imaginemos que essas três empresa B, que tem o mesmo objeto da
ações ocorreram no mesmo dia: dia antiga empresa A. Nesse caso, então,
20/09/13. a empresa B será responsável pelos
débitos tributários de A. Isso porque aqui
No dia 30/10/13 chega uma cobrança temos uma continuação: temos um sócio
de tributo devido pela empresa A remanescente e o mesmo objeto. Mas
relativa ao Fato Gerador realizado por B, atenção: tem que ser a mesma atividade!
antes do dia da fusão, incorporação ou
transformação.
4º Caso:
No caso da fusão a responsabilidade é da
empresa AB; no caso da incorporação a Leia-se o art. 133 do CTN:
responsabilidade é de A (nova empresa);
e no caso da transformação a responsa- Art. 133. A pessoa natural ou jurídica
bilidade é da nova empresa A LTDA. de direito privado que adquirir de
outra, por qualquer título, fundo
de comércio ou estabelecimento
Ou seja, a responsabilidade é sempre de
comercial, industrial ou profissional, e
quem ocupa o último lugar na cadeia. É continuar a respectiva exploração, sob
a pessoa jurídica que sobra, que resulta a mesma ou outra razão social ou sob
firma ou nome individual, responde
da operação.
pelos tributos, relativos ao fundo ou
estabelecimento adquirido, devidos
O P.U. do art. 132, porém, traz uma outra até à data do ato:

UNIDADE 2 59
Direito e Legislação Tributária

I - integralmente, se o alienante cessar


a exploração do comércio, indústria ou O resultado será a responsabilidade do
atividade; adquirente pelos tributos devidos pelo
II - subsidiariamente com o alienante, estabelecimento adquirido.
se este prosseguir na exploração ou
iniciar dentro de seis meses a contar da
data da alienação, nova atividade no Há a necessidade de que haja a aquisição.
mesmo ou em outro ramo de comércio, Atenção para isso: se houve apenas a
indústria ou profissão. locação do estabelecimento, não há a
§ 1o O disposto no caputdeste artigo
responsabilidade.
não se aplica na hipótese de alienação
judicial;
I – em processo de falência; O outro requisito é que haja a continuação
II – de filial ou unidade produtiva
da exploração da mesma atividade.
isolada, em processo de recuperação
judicial.
§ 2o Não se aplica o disposto no § 1o O adquirente responde pelos tributos
deste artigo quando o adquirente for: devidos pelo estabelecimento comercial
I – sócio da sociedade falida ou em
anterior que lá estava.
recuperação judicial, ou sociedade
controlada pelo devedor falido ou em
recuperação judicial; O artigo determina que pode haver duas
II – parente, em linha reta ou colateral espécies de responsabilidade:
até o 4o (quarto) grau, consanguíneo
ou afim, do devedor falido ou em
recuperação judicial ou de qualquer de 1. responsabilidade integral do
seus sócios; ou adquirente: o alienante cessa toda
III – identificado como agente do falido e qualquer atividade; o adquirente
ou do devedor em recuperação judicial
responde por todos os tributos;
com o objetivo de fraudar a sucessão
tributária.
§ 3o Em processo da falência, o produto 2. responsabilidade subsidiária com
da alienação judicial de empresa, filial ou
o alienante: se o alienante prossegue
unidade produtiva isolada permanecerá
em conta de depósito à disposição do
na exploração (em outro estabele-
juízo de falência pelo prazo de 1 (um) ano, cimento, com a mesma atividade),
contado da data de alienação, somente ou se inicia outro tipo de atividade.
podendo ser utilizado para o pagamento
Aqui temos um benefício de ordem:
de créditos extraconcursais ou de créditos
que preferem ao tributário. em primeiro lugar se cobra o tributo
do alienante, e em segundo lugar se
Esse dispositivo aborda a hipótese de cobra do adquirente. Isso ocorrerá se
aquisição de um estabelecimento. A o alienante prosseguir na exploração
pessoa que faz essa aquisição, além ou se o alienante iniciar outra ativi-
de adquirir, continua na exploração do dade (qualquer ramo) no prazo de 6
negócio. meses a contar da data da alienação.

60 UNIDADE 2
devidos pelo espólio;
A Lei Complementar 118/05 ameniza a V - o síndico e o comissário, pelos
responsabilidade do art. 133 do CTN. tributos devidos pela massa falida ou
Ela inclui no dispositivo uma exceção pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais
que está no §1º: não aplica o disposto
serventuários de ofício, pelos tributos
no caput para estimular a venda e a devidos sobre os atos praticados por
recuperação das empresas. eles, ou perante eles, em razão do seu
ofício;
VII - os sócios, no caso de liquidação
Contudo, não se aplica esta exceção do
de sociedade de pessoas.
§1º, porém, nas hipóteses trazidas pelo §2º. Parágrafo único. O disposto neste
artigo só se aplica, em matéria de
penalidades, às de caráter moratório.
O dinheiro da venda, conforme deter-
minação do §3º, ficará indisponível por
um ano e, depois desse prazo, somente Esse dispositivo determina vários
poderá ser utilizado para o pagamento responsáveis. Trata da responsabilidade
de créditos extraconcursais ou para o de terceiros. Observe-se que embora
pagamento de créditos que preferem os o caput registre a expressão “solidaria-
créditos tributários. Ou seja, será utili- mente”, deve ser interpretada como
zado para o pagamento dos créditos que “subsidiariamente”.
estão acima do crédito tributário.
As pessoas enumeradas respondem
juntamente com o contribuinte, nos
5º Caso: casos de impossibilidade de exigência
do cumprimento da obrigação principal
Leia-se o art. 134 do CTN: por ele (ex.: se ele não tem dinheiro
para pagar).
Art. 134. Nos casos de impossibilidade
de exigência do cumprimento da A responsabilidade aqui decorre de atos
obrigação principal pelo contribuinte, praticados com culpa. Nesses casos, os
respondem solidariamente com este
responsáveis que estão enumerados
nos atos em que intervierem ou pelas
omissões de que forem responsáveis: no art. deverão pagar o tributo e as
I - os pais, pelos tributos devidos por penalidades moratórias (apenas essas).
seus filhos menores;
Atenção: no direito tributário nós temos
II - os tutores e curadores, pelos
tributos devidos por seus tutelados ou penalidades decorrentes da mora, mas
curatelados; também temos penalidades de ofício,
III - os administradores de bens de que a doutrina classifica de estritamente
terceiros, pelos tributos devidos por
punitivas (não têm por justificativa a mora,
estes;
IV - o inventariante, pelos tributos mas a punição propriamente dita do

UNIDADE 2 61
Direito e Legislação Tributária

contribuinte por qualquer outro motivo responsabilidade “solidária” (entre aspas,


– ex.: multa de ofício). Nesse caso da porque trata-se de responsabilidade
responsabilidade do art. 134 do CTN não subsidiária) diante da prática de atos
há que se falar em responsabilidade pelas culposos. Essa é a premissa do caput do
multas estritamente punitivas, mas apenas art. 134. Só que essa responsabilidade
nas penalidades decorrentes da mora. não se aplica a todas as situações
indiscriminadamente. O inciso VII vem
O inciso VII trata da responsabilidade dos e especifica a hipótese em que essa
sócios. Esse tema, pela sua importância, responsabilidade se aplica: é a hipótese
será tratado de forma mais aprofundada de liquidação de sociedade de pessoas.
a seguir:
Se o sócio praticar um ato culposo na
liquidação de sociedade de pessoas,
Responsabilidade tributária dos então nesse caso muito específico
sócios
e determinado (e só nele) ele será
responsável “solidário”.
Leia-se o art. 135, III do CTN
Pode-se concluir que o art. 134, VII está
Art. 135. São pessoalmente responsáveis muito longe de ser a regra da responsa-
pelos créditos correspondentes a bilidade dos sócios. Ele é apenas um caso
obrigações tributárias resultantes isolado, que só trata dos atos culposos
de atos praticados com excesso de
praticados na liquidação da sociedade,
poderes ou infração de lei, contrato
social ou estatutos: uma hipótese muito específica.
I - as pessoas referidas no artigo
anterior;
A regra, portanto, está no art. 135
II - os mandatários, prepostos e
empregados; do CTN. Este artigo trata da regra
III - os diretores, gerentes ou da responsabilidade dos sócios pelas
representantes de pessoas jurídicas dívidas tributárias da pessoa jurídica.O
de direito privado. – original sem
caput desse artigo afirma que são
grifo.
“pessoalmente responsáveis”, portanto,
a responsabilidade é pessoal. Quando
No inciso III, a jurisprudência encaixa o há a responsabilidade pessoal, há a
sócio que seja diretor, presidente ou exclusão da pessoa jurídica, que não é
representante de pessoa jurídica de atingida pela dívida tributária. A dívida
direito privado. se concentra inteira na pessoa do sócio.
É caso, pois, de desconsideração da
O art. 134, VII do CTN determina a pessoa jurídica.

62 UNIDADE 2
A Responsabilidade pessoal é dolosos. O simples não pagamento do
responsabilidade integral. Ela se dará tributo por falta de dinheiro não implica
nos casos de Obrigações Tributárias na responsabilização. Essa é a exigência
resultantes de atos que sejam praticados do caput.
com excesso de poder, infração à lei
ou infração aos contratos sociais ou Contudo, para que haja a responsabili-
estatutos. dade pessoal, além do dolo, será neces-
sária a existência de um sócio, gerente ou
O Superior Tribunal de Justiçaanalisa administrador como responsável tribu-
esses atos (praticados com excesso de tário, que esses atos tenha praticado.
poder, infração à lei ou aos contratos
sociais ou estatutos) e entendeu que essa Ou seja, ao lado da prática dos atos
responsabilidade somente se apresenta dolosos, é preciso ter um sócio com poder
diante da prática de atos dolosos, atos de gestão. Só ai a responsabilidade será
fraudulentos. Numa situação como essa, pessoal. São dois os requisitos.
o sócio que praticou esses atos dolosos
deve ser o responsável pessoal pela Resumindo: simplesmente não pagar
dívida tributária. o tributo não gera a responsabilidade
pessoal. E os atos dolosos devem ter
A Fazenda analisa o caput do art. 135 e sido praticados por sócio gerente, sócio
entende que o sócio pode ser respon- com poder de gestão.
sável pessoal se praticar um ato com
infração à lei. Infração à lei é não cumprir
a lei. Se o tributo está previsto em lei, Denúncia Espontânea de Infração
então, não recolher tributo é infração à
lei. Assim, a Fazenda começa a dizer que A denúncia espontânea da infração está
o simples não pagamento do tributo já prevista no art. 138 do Código Tributário
configurava infração à lei, e, então, já Nacional:
acarretava a responsabilidade pessoal. A
Fazenda, então, tentou afastar a necessi- Art. 138. A responsabilidade é excluída
dade de dolo. pela denúncia espontânea da infração,
acompanhada, se for o caso, do
pagamento do tributo devido e dos
O Superior Tribunal de Justiça se
juros de mora, ou do depósito da
posicionou quanto ao tema, afirmando importância arbitrada pela autoridade
que há a necessidade de dolo. Somente administrativa, quando o montante do
tributo dependa de apuração.
haverá a responsabilidade pessoal se
Parágrafo único. Não se considera
houver atos praticados com fraude, atos espontânea a denúncia apresentada

UNIDADE 2 63
Direito e Legislação Tributária

após o início de qualquer procedimento


administrativo ou medida de em que faz o pagamento, o Sujeito
fiscalização, relacionados com a Passivo pagará apenas o tributo devido
infração. acrescido dos juros, sem a incidência
de multa. A exclusão da multa é um
Imagine-se a situação de um Sujeito benefício para o Sujeito Passivo que
Passivo que realizou um Fato Gerador espontaneamente paga o tributo,
de um tributo em mai./13, devendo, por acompanhado da denúncia, antes de
conta da prática deste Fato Gerador, qualquer medida de fiscalização por
efetuar o pagamento de R$ 7.000,00. Em parte da Administração Pública.
10/06/13 ele deve pagar o tributo, mas
não paga. Ele não paga porque não tem Há duas discussões importantes a
dinheiro para pagar. Não há fiscalização respeito desse art. 138 do CTN:
em curso. Em outubro do mesmo ano o
Sujeito Passivo consegue o dinheiro para
efetuar o pagamento, e, nesse momento 1a Discussão:
ele faz o pagamento efetivo.
Vide art. 47, da Lei 9.430/96:
Ao fazer o pagamento, nesse momento,
o Sujeito Passivo verifica que a respeito Art. 47. A pessoa física ou jurídica
desse Fato Gerador não há nenhuma submetida a ação fiscal por parte da
fiscalização em curso. Ou seja, em Secretaria da Receita Federal poderá
pagar, até o vigésimo dia subsequente
outubro, antes da Administração Pública
à data de recebimento do termo de
cobrar, lançar, ou fazer qualquer tipo de início de fiscalização, os tributos e
fiscalização, ele faz o pagamento. contribuições já declarados, de que for
sujeito passivo como contribuinte ou
responsável, com os acréscimos legais
Se o pagamento é feito antes do aplicáveis nos casos de procedimento
início de qualquer fiscalização, esse espontâneo.
pagamento é entendido como uma
Denúncia Espontânea da Infração. Com Primeiramente, é preciso lembrar que
o pagamento, porém, o devedor deve esse artigo só se aplica a tributos
apresentar uma manifestação, uma federais. Ele traz a hipótese em que o
declaração dizendo-se devedor daquele Sujeito Passivo realizou o Fato Gerador
tributo, em razão da prática do Fato de um tributo e não fez o pagamento,
Gerador. e, diante desse não-pagamento o Sujeito
Passivo teve uma fiscalização instaurada,
A vantagem de se fazer a Denúncia para verificar esse Fato Gerador.
Espontânea é a de que no momento

64 UNIDADE 2
Diante de uma situação como esta, em O tributo lançado por homologação está
princípio não é mais possível se fazer a previsto no art. 150 do CTN, que diz que
Denúncia Espontânea, pois já teve início nesses tributos o Sujeito Passivo tem
a fiscalização. Ocorre que o art. 47 desta uma participação intensa, ele realiza o
lei determina que nessa situação, o Sujeito Fato Gerador do tributo e tem o dever
Passivo pode efetuar o pagamento com de fazer o pagamento antecipado.
os benefícios da Denúncia Espontânea.
Ou seja, ele ainda pode se aproveitar da Art. 150. O lançamento por homolo-
Denúncia Espontânea, mas apenas se ele gação, que ocorre quanto aos tributos
fizer o pagamento nos primeiros 20 dias cuja legislação atribua ao sujeito passivo
após o início da fiscalização. É uma regra o dever de antecipar o pagamento sem
específica que somente alcança tributos prévio exame da autoridade administra-
federais, sobre os quais já haja a fiscali- tiva, opera-se pelo ato em que a referida
autoridade, tomando conhecimento da
zação, e desde que o pagamento seja feito
atividade assim exercida pelo obrigado,
nos primeiros 20 dias desta fiscalização.
expressamente a homologa.
§ 1º O pagamento antecipado pelo
Ocorre que esse art. 47 faz uma outra obrigado nos termos deste artigo
consideração, determinando que essa extingue o crédito, sob condição
possibilidade está agregada a um resolutória da ulterior homologação ao
requisito específico: o de que o tributo lançamento.
tenha sido declarado. Ou seja, somente § 2º Não influem sobre a obrigação
tributária quaisquer atos anteriores à
se o tributo tiver sido declarado é
homologação, praticados pelo sujeito
que o Sujeito Passivo poderá fazer
passivo ou por terceiro, visando à
o pagamento com os benefícios da
extinção total ou parcial do crédito.
Denúncia Espontânea, nos 20 primeiros § 3º Os atos a que se refere o parágrafo
dias da fiscalização. anterior serão, porém, considerados na
apuração do saldo porventura devido
Essa história da declaração é muito e, sendo o caso, na imposição de
relevante para entendermos um segundo penalidade, ou sua graduação.
tema, que está relacionado a uma § 4º Se a lei não fixar prazo a homolo-
gação, será ele de cinco anos, a contar
Súmula do STJ e que será tratado mais
da ocorrência do fato gerador; expirado
adiante: quando o art. 47 faz menção
esse prazo sem que a Fazenda Pública
a esse tributo declarado, na verdade
se tenha pronunciado, considera-se
ele está fazendo menção a um tributo homologado o lançamento e defini-
lançado por homologação em que exista tivamente extinto o crédito, salvo se
este dever de declarar, ou seja, em que o comprovada a ocorrência de dolo,
dever de declarar esteja presente. fraude ou simulação.

UNIDADE 2 65
Direito e Legislação Tributária

O Sujeito Passivo tem, pois, o dever Imagine-sea seguinte hipótese: diante


de sozinho, sem nenhuma ajuda da de um tributo federal, exemplo o IR, e a
autoridade administrativa, apurar a Base pessoa jurídica realizou o Fato Gerador,
de Cálculo, aplicar a Alíquota e apurar mas não efetuou o pagamento, não
o montante devido do tributo. Esse cumprindo com a obrigação principal,
pagamento antecipado, por ser precário, em relação a um Fato Gerador de maio
não gera a extinção do crédito. Esta de 2012. Vem a Administração Pública,
extinção só ocorrerá com a homologação em maio de 2013 e começa a fiscalizar,
deste pagamento. Se houver a dá início à fiscalização daquele IR que não
homologação, é porque a Administração foi recolhido. O art. 47 da Lei 9.430/96,
Pública concordou com o pagamento. determinaque a partir da fiscalização o
Sujeito Passivo tem 20 dias para fazer
A relação com a Denúncia Espontânea o pagamento, nos termos da Denúncia
ocorre quando o Sujeito Passivo que, Espontânea, desde que tenha feito uma
quando desse tributo lançado por homo- declaração correta quanto ao valor devido
logação, além dodever de pagar, pode ser (ou seja, desde que não haja sonegação).
que o Sujeito Passivo tenha outras atribui-
ções. A depender da lei que disciplina o Portanto, existe a imposição desta
tributo, o Sujeito Passivo, por realizar o Fato condição de que o tributo tenha sido
Gerador, tem mais outras duas obrigações declarado, e declarado corretamente.
tributárias distintas, ou seja, uma obrigação Não pode ter sido sonegada nenhuma
acessória e uma principal. informação à Administração Pública.

A obrigação acessória se refere ao dever A declaração do tributo aqui, portanto, é


do Sujeito Passivo de entregar para a essencial para que haja uma extensão da
Administração Pública uma declaração, aplicação da Denúncia Espontânea.
na qual dirá que realizou o Fato Gerador
e que em virtude da prática desse Fato
Gerador ele deve, por exemplo, R$ 2a Discussão:
7.000,00 de tributo. Na sequência, o
Sujeito Passivo deve fazer o pagamento Ocorre que a declaração tratada até
do tributo (daquele tributo que foi aqui, adquire uma outra importância
declarado). Esse pagamento é precário, quando tratada sob o prisma da Súmula
porque é antecipado e não extingue o 360, STJ:
crédito tributário (o que se dá apenas
com a homologação).

66 UNIDADE 2
O benefício da denúncia espontânea
não se aplica aos tributos sujeitos e afirma ainda que quanto a este
a lançamento por homologação tributo não houve nenhuma fiscalização.
regulamente declarados, mas pagos a Fazendo este pagamento em out/12,
destempo.
então, ele afirma que esse pagamento
pode receber o benefício da Denúncia
Segundo a Súmula em destaque, Espontânea, eis que está cumprido o
existem tributos sujeitos ao lançamento requisito de não existir fiscalização em
por homologação que respeitam a curso.
sistemática da declaração.
Segundo o STJ em tal caso não cabem
Imagine-se um tributo que seja lançado as benesses da Denúncia Espontânea,
por homologação, em que haja o dever isso porque a Denúncia Espontânea
de declarar. Aqui fala-se não só dos pressupõe, além do pagamento antes
casos que se enquadrem no art. 47 da Lei do início de qualquer fiscalização,
9.430/06, visto acima, mas sim do dever conjuntamente ao pagamento, a
de declarar de forma mais genérica. O comunicação para a Administração que
Sujeito Passivo realiza o Fato Gerador o sujeito não pagou e que agora está
e, tendo o dever de declarar, nasce uma pagando.
Obrigação Tributária acessória relativa ao
dever de entrega da declaração, e uma Nesse caso a denúncia não é possível
Obrigação Tributária principal, relativa porque ao entregar a declaração, o
ao pagamento do tributo. contribuinte já confessou que devia
o tributo. Então não haveria ato
Se nesta hipótese, o Sujeito Passivo espontâneo. A Administração Pública já
realizou o Fato Gerador em mai./12, e sabe que o sujeito deve o tributo. Esse
que esse Fato Gerador seja relativo a um pagamento tempos depois, em outubro,
tributo que exige o dever de declarar, é, simplesmente, um pagamento em
oSujeito Passivo, como bom contribuinte, atraso, e sendo um pagamento em
declara então que deve os R$ 7.000,00. atraso, não se beneficia da Denúncia
Espontânea. O pagamento deve vir,
Ocorre que no momento de fazer o pois, acompanhado de juros e multa.
pagamento ele não paga, porque não A Denúncia Espontânea não se aplica
tem dinheiro. Em out/12 ele levanta o porque o Sujeito Passivo já confessou que
dinheiro suficiente para o pagamento devia. Esse é o entendimento do STJ.
daquele tributo. Ele então vai dizer que
pretende fazer o pagamento do tributo A Súmula 360, do STJ enfrenta uma
cujo Fato Gerador é relativo a mai./12, antiga discussão no Direito Tributário,

UNIDADE 2 67
Direito e Legislação Tributária

relacionada à possibilidade de se Não obstante, este tema chegou ao STJ e


reconhecer a Denúncia Espontânea em esse tribunal decidiu que o parcelamento
sede de tributos sujeitos a lançamento por é diferente de Denúncia Espontânea.
homologação. A questão está em saber Isso porque, segundo entendeu o
se os tributos lançados por homologação STJ, a Denúncia Espontânea requer o
são abrangidos pelo instituto da Denúncia pagamento integral e em uma única
Espontânea, ou não. parcela.

Segundo a Súmula “obenefício da Se o pagamento parcelado não configura


denúncia espontânea não se aplica Denúncia Espontânea, isso gera um
aos tributos sujeitos a lançamento efeito de não afastar a multa de mora.
por homologação regularmente
declarados, mas pagos a destempo”. Esta é, pois, a regra que o STJ estabelece.
E é entendimento já consolidado, que
Esse posicionamento é adotado pelos veio a ficar mais consolidado ainda pela
tribunais brasileiros, e, principalmente, alteração feita no CTN, pela LC 104/01,
pelo STJ. que introduziu no CTN o art. 155-A que
disciplina especificamente a figura do
No REsp (Recurso Especial) de nº. parcelamento:
572606, a 1ª Turma da Corte ratificou
tratar-se de entendimento pacífico a não Art. 155-A. O parcelamento será
configuração da denúncia espontânea, concedido na forma e condição
com a consequente exclusão da multa estabelecidas em lei específica.
§ 1o Salvo disposição de lei em
moratória, nos casos de tributos
contrário, o parcelamento do crédito
sujeitos a lançamento por homologação tributário não exclui a incidência de
declarados pelo contribuinte e recolhidos juros e multas.
§ 2o Aplicam-se, subsidiariamente, ao
fora do prazo de vencimento:
parcelamento as disposições desta Lei,
relativas à moratória.
O pagamento feito nos termos da § 3o Lei específica disporá sobre
denúncia espontânea pode ser feito de as condições de parcelamento dos
créditos tributários do devedor em
uma vez só, à vista, ou ele pode ser feito
recuperação judicial.
de forma parcelada. Tanto faz. São apenas § 4o A inexistência da lei específica a que
modalidades de pagamento. O que se refere o § 3o deste artigo importa na
importa é que se pague, e que se pague aplicação das leis gerais de parcelamento
do ente da Federação ao devedor em
nos termos da denúncia espontânea.
recuperação judicial, não podendo, neste
Esta foi a argumentação levada a diante caso, ser o prazo de parcelamento inferior
pelos contribuintes. ao concedido pela lei federal específica.

68 UNIDADE 2
Assim, a Denúncia Espontânea implica Denúncia Espontânea estão presentes.
no pagamento de uma só vez. O Portanto, o art. 138 do CTN implica no
parcelamento não será permitido para pagamento do tributo acrescido única e
fins de Denúncia Espontânea. exclusivamente dos juros.

Consideração em relação à multa, mais Só que a Administração Pública, a


especificamente sobre a exclusão da Fazenda, a despeito do disposto no art.
multa, de acordo com o art. 138 do 138 do CTN, tem um entendimento
CTN, sempre é excluída. Não há que se diferente.
falar em multa quando os requisitos da

Assista à videoaula com este conteúdo.

UNIDADE 2 69
Direito e Legislação Tributária

RESUMO

O Sistema Tributário Nacional está Obrigação Tributária principal ou


previsto em na Constituição brasileira. acessória: De acordo com o art. 113 do
Quando da decisão de ser a Constituição Código Tributário Nacional, a obrigação
brasileira uma Constituição analítica, tributária divide-se em:
não pode ser ignorado o fato de que
a intenção é impor limites ao Estado e 1. principal: se dá quando o
consagrar direitos ao indivíduo. contribuinte tem por dever o
pagamento do tributo ou penalidade
É com essa lógica que as determinações pecuniária (multa em dinheiro). Ela
constitucionais de cunho tributário surge com a ocorrência do Fato
devem ser interpretadas. Gerador e extingue-se juntamente
com o crédito tributário dela
Os princípios constitucionais relacionados decorrente (art. 113, §1º do CTN);
aos tributos têm como fundamento
o equilíbrio entre a necessidade de 2. acessória: se dá quando, por força
manutenção da Máquina Estatal, como de lei, a prestação a ser cumprida é a
beneficio para toda a sociedade, e a de fazer ou não fazer alguma coisa, ou
permanente busca da justiça social, com permitir que ela seja feita pelo Fisco,
a manutenção da riqueza com aquele tudo no interesse da arrecadação ou
que a produziu ou adquiriu. da fiscalização dos tributos (art. 113,
§2º do CTN). O descumprimento de
Noções Gerais: A Obrigação Tributária uma obrigação acessória faz com
decorre da relação jurídica tributária. que ela se converta em obrigação
Ela é representada pelo vínculo que se principal relativamente à aplicação de
estabelece entre uma pessoa jurídica de penalidade pecuniária por parte da
direito público, chamada credora, e outra Fiscalização competente.
(na qualidade de contribuinte responsável
ou terceiro), chamada devedora. É em Ressalte-se que, independentemente
razão desse vínculo jurídico que o credor de ser exigido ou não o cumprimento
pode exigir do devedor o cumprimento de obrigação principal, o contribuinte é
da Obrigação Tributária. sempre obrigado a cumprir a obrigação
acessória. Ex.: se uma operação de venda
de mercadoria está isenta do ICMS, esse

70 UNIDADE 2
fato não desobriga o comerciante a emitir lei, impõe a prática ou a abstenção
a respectiva nota fiscal, acobertando a de ato que não configure obrigação
mercadoria. principal.

A obrigação, seja principal ou acessória, São três os elementos básicos do Fato


nasce sempre da lei (lato sensu). Gerador:

Fato Gerador: a lei descreve situações 1. legalidade: exigibilidade do


hipotéticas, abstratas, que, ao ocorrerem cumprimento do Princípio
na vida real, fazem com que se fixe o Constitucional da Legalidade;
momento do nascimento da Obrigação
Tributária. É essa definição abstrata, 2. economicidade: aspecto econô-
contida na lei, das hipóteses em que o mico do fato tributável (como regra
tributo incide ou em que o tributo deva geral, envolvendo a Base Cálculo e a
ser cobrado, que se denominam como Alíquota do tributo) e a capacidade
Fato Gerador da Obrigação Tributária. contributiva do Sujeito Passivo;

O Fato Gerador é a situação de fato, 3. causalidade: corresponde à conse-


prevista na lei de forma prévia, genérica quência ao efeito do Fato Gerador;
e abstrata, que, ao ocorrer na vida enfim, ao nascimento da Obrigação
real, faz com que, pela materialização Tributária.
do direito, ocorra o nascimento da
Obrigação Tributária, seja esta principal Momento da ocorrência do Fato Gerador,
ou acessória. A lei abstrata, por si só, art. 116 do CTN, salvo disposição de lei
não é capaz de fazer surgir a Obrigação em contrário, considera-se ocorrido o
Tributária. Fato Geral e existentes os seus efeitos:

Nos arts. 114 e 115 do CTN são dois os 1. tratando-se de situação de


conceitos de Fato Gerador: fato, desde o momento em que se
verifiquem as circunstâncias materiais
• obrigação principal: é a situação necessárias a que se produza os
definida em lei como necessária e efeitos que normalmente lhe são
suficiente à sua ocorrência; próprios;

• obrigação acessória: é qualquer 2. tratando-se da situação jurídica,


situação que, na forma da legislação desde o momento em que esteja
aplicável, e não só exclusivamente na definitivamente constituída.

UNIDADE 2 71
Direito e Legislação Tributária

O art. 117 do CTN, nesse sentido, de outrem a prestação objeto da relação


determina que os atos ou negócios jurídica; é a pessoa jurídica de direito
jurídicos condicionais serão reputados público titular da competência tributária
como perfeitos e acabados, desde o para instituir e exigir do contribuinte,
momento de seu implemento, sendo a responsável ou terceiro, o cumprimento
condição suspensiva;e da prática do ato da obrigação (art. 119 do CTN).
ou da celebração do negócio, sendo a
condição resolutória. Sujeito Passivo da Obrigação Tributária:
é a pessoa que tem o dever jurídico
Fatores irrelevantes à definição do Fato de efetuar o pagamento do tributo
Gerador, segundo o art. 118 do CTN, ou penalidade pecuniária, sempre em
devem serinterpretados de modo que contraposição ao sujeito ativo, ente
não sejam levados em consideração tributante, dentro do vínculo jurídico-
questões relacionados: tributário (art. 121 do CTN). Tipos de
Sujeitos Passivos:
1. à validade jurídica dos atos
efetivamente praticados pelos
1. direto: contribuinte, quando tenha
contribuintes, responsáveis, ou
relação pessoal e direta com a situação
terceiros, bem como à natureza do
que constitua o respectivo FG;
seu objeto ou dos seus efeitos;

2. aos efeitos dos fatos efetivamente 2. indireto: responsável, quando, sem

praticados. revestir a condição de contribuinte,


sua obrigação decorra de disposição
Assim, desde que se materialize, na vida real, expressa em lei. Pelo art. 128 do
a hipótese de incidência tributária descrita na CTN, é permitido que a lei atribua de
lei, surge a obrigação principal ou acessória, modo expresso a responsabilidade
inclusive em se tratando de atividades pelo crédito tributário (débito fiscal)
ilícitas em face da norma penal. Por ex.: na a terceira pessoa, vinculada ao Fato
venda de mercadorias contrabandeadas, Gerador da respectiva obrigação,
ingressadas no Brasil irregularmente, o excluindo a responsabilidade do
Estado exige o pagamento do ICMS; da contribuinte ou atribuindo-a a este
mesma forma, as receitas oriundas do tráfico em caráter supletivo do cumprimento
de drogas e corrupção serão normalmente total ou parcial da referida obrigação.
tributadas pelo IR. A sujeição passiva indireta, na
verdade, ocorre quando o Estado,
Sujeito Ativo da Obrigação Tributária: é o visando garantir a sua receita, tem
Estado, pessoa que tem o direito de exigir interesse ou necessidade de cobrar

72 UNIDADE 2
o tributo de uma pessoa diversa do O P.U. do art. 124 do CTN, ao
contribuinte direto, escolhendo, expressamente dispor que a
assim, outra pessoa para cumprir a solidariedade não comporta
Obrigação Tributária. benefício de ordem, determina
que não poderá qualquer
Com relação às obrigações acessórias, devedor solidário exigir que o
o Sujeito Passivo é a pessoa obrigada Estado, credor da obrigação,
ao cumprimento das prestações que cobre antes deste ou daquele
constituam seu objeto (art. 122 do CTN). devedor, ou seja, observando
certa ordem de preferência, em
De acordo com o Código Tributário razão de estar mais diretamente
Nacional (arts. 124, 125 e 129 ao 138), relacionado com a situação
existem duas modalidades distintas na geradora do tributo. O Estado
sujeição passiva indireta: tem, assim, a faculdade de
exigir o cumprimento da
1. a responsabilidade por transfe- prestação tributária, total ou
rência: a lei tributária, além de escolher parcialmente, de qualquer um
o sujeito passivo, já prevê que, por dos codevedores. Satisfeito o
fato ou acontecimento posterior, a crédito tributário por qualquer
obrigação transfere-se para uma outra um ou por todos os devedores
pessoa, automaticamente. Esta transfe- solidários, as obrigações
rência pode se manifestar de 3 formas: solidárias se extinguem para
todos, simultaneamente, não
• pela solidariedade: nos termos do importando quem as cumpriu.
art. 124 do CTN são solidariamente Nesses casos o que importa é o
obrigadas: interesse público, é a preferência
da arrecadação. Além disso, o
* as pessoas que tenham interesse art. 125 do CTN, expressamente
comum na situação que constitua enumera os seguintes efeitos da
o FG da obrigação principal solidariedade, os quais somente
(solidariedade de fato). Ex.: 3 não prevalecem se houver
pessoas coproprietárias de um disposição de lei em contrário:
imóvel em relação ao IPTU; I) o pagamento efetuado por
um dos obrigados aproveita
* as pessoas expressamente aos demais; II) a isenção ou
designadas pela lei (solidariedade remissão de crédito exonera
de direito). todos os obrigados, salvo se

UNIDADE 2 73
Direito e Legislação Tributária

outorgada pessoalmente a um crédito tributário e à penalidade pecu-


deles, substituindo, nesse caso, a niária (obrigação tributária principal),
solidariedade quanto aos demais abrangendo inclusive as penalidades
pelo saldo; III) a interrupção da de caráter moratório, e somente se
prescrição, em favor ou contra aplica nos casos de impossibilidade
um dos obrigados, favorece ou de cobrança junto ao contribuinte.
prejudica os demais. Assim, a responsabilidade de terceiros
ocorre quando a lei tributária respon-
• pela sucessão: a sucessão ocorre sabiliza outra pessoa pelo pagamento
quando a obrigação se transfere para do tributo, se este não for pago pelo
outra pessoa, que fica na condição de contribuinte direto. Respondem
devedor perante o Estado, em razão solidariamente com o contribuinte
do desaparecimento do devedor nos atos em que intervierem ou pelas
original. Art. 129 ao 133, CTN – essas omissões de que forem responsáveis:
normas se aplicam por igual aos os pais, pelos tributos devidos por
créditos tributários já constituídos ou seus filhos menores; os tutores e
em curso de constituição na data da curadores, pelos tributos devidos
ocorrência dos respectivos atos por seus tutelados ou curatelados; os
sucessórios, bem como aos consti- administradores de bens de terceiros,
tuídos posteriormente, desde que, pelos tributos devidos por estes; o
nestes casos, sejam referentes a obri- inventariante, pelos tributos devidos
gações tributárias surgidas até essa pelo espólio; o síndico e o comis-
data. São as seguintes as situações sionário, pelos tributos devidos pela
que se referem à responsabilidade massa falida ou pelo concordatário;
por sucessão (vide Quadro 2): os tabeliães, escrivães e demais
serventuários de ofício, pelos tributos
Esta responsabilidade também se devidos sobre os atos praticados
aplica aos casos de extinção de por eles, ou perante eles, em razão
pessoas jurídicas de direito privado, do seu ofício; os sócios, no caso de
quando a exploração da respectiva liquidação de sociedade de pessoas.
atividade seja continuada por qual- São pessoalmente responsáveis pelos
quer sócio remanescente, ou seu créditos correspondentes a obriga-
espólio, sob a mesma ou outra razão ções tributárias resultantes de atos
social, ou sob firma individual. praticados com excesso de poderes
ou infração de lei, contrato social
• pela responsabilidade de terceiros: ou estatuto: as pessoas referidas na
arts. 134 e 135 do CTN – refere-se ao relação do art. 134; os mandatários,

74 UNIDADE 2
Pessoas responsáveis
Pagamento dos tributos devidos:
por sucessão:

• Com relação aos bens adquiridos ou


São pessoalmente responsáveis: remidos.
• o adquirente ou remitente; • Pelo de cujus até a data da partilha ou
adjudicação, limitada esta responsabilização
• o sucessor a qualquer título e o
ao montante do quinhão, legado ou meação.
cônjuge meeiro;
• Pelo de cujus até a data da abertura da
• o espólio.
sucessão.

Pessoas jurídicas de direito


Até a data do ato pelas pessoas jurídicas de
privado que resultarem de fusão,
direito privado fusionadas, transformadas ou
transformação ou incorporação de
incorporadas.
outra ou em outra.

Até a data do ato, relativamente ao fundo ou


Pessoa natural ou jurídica de estabelecimento adquirido:
direito privado que adquirir de
• integralmente, se o alienante cessar a
outra, por qualquer título, fundo
exploração do comércio, indústria ou
de comércio ou estabelecimento
atividade;
comercial, industrial ou
profissional, e continuar a • subsidiariamente com o alienante, se este
respectiva exploração, sob a prosseguir na exploração ou iniciar, dentro
mesma ou outra razão social ou de 6 meses, a contar da data da alienação,
sob firma ou nome individual. nova atividade no mesmo ou em outro ramo
de comércio, indústria ou profissão.

Quadro 2: Responsabilidade Tributária por Sucessão

UNIDADE 2 75
Direito e Legislação Tributária

prepostos e empregados; os dire- cargo ou emprego, ou no cumprimento


tores, gerentes ou representantes de de ordem expressa emitida por quem
pessoas jurídicas de direito privado. de direito; II) quanto às infrações em
cuja definição o dolo específico do
2. a responsabilidade por infração: agente seja elementar; III) quanto
arts. 136 e 137 do CTN, salvo às infrações que decorram direta e
disposição de lei em contrário, exclusivamente de dolo específico:
independe da intenção do agente das pessoas mencionadas no art. 134
ou do responsável e da efetividade, (responsabilidade de terceiros, contra
natureza e extensão dos efeitos do aquelas por quem respondem);
ato. A responsabilidade é pessoal dos mandatários, prepostos ou
do agente: I) quanto às infrações empregados, contra seus mandantes,
conceituadas por lei como crimes preponentes ou empregadores; dos
ou contravenções, salvo quando diretores, gerentes ou representantes
praticadas no exercício regular de de pessoas jurídicas de direito
administração, mandato, função, privado, contra estas.

76 UNIDADE 2

Você também pode gostar