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A Constituição Federal e as profissões legalmente


regulamentadas
As atividades profissionais podem ser exercidas em forma de prestação de serviços, com ou sem vínculo empregatício, bem
como na modalidade empresarial, em que o empreendedor articula os fatores de produção na busca da fabricação,
comercialização ou prestação de serviços.

Sob o aspecto empresarial, pelo código civil considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Por outro lado, não se considera empresário quem
exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa (CC,art.966).

Vamos nos preocupar neste contexto apenas com as atividades profissionais de cunho não empresarial. Nesta vertente pela
Constituição Federal, em princípio, as atividades profissionais no nosso país podem ser exercidas por qualquer pessoa,
exceto se houver algum fato contrário à lei e que expressamente venha proibir o exercício profissional.

A nossa Carta Magna, norma maior do ordenamento jurídico brasileiro, prevê no capítulo que trata dos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos, as limitações para o exercício das profissões regulamentadas, cujas atividades para serem exercidas,
terão que obedecer à legislação específica de cada caso (CF, art. 5.º, inciso XIII).

Embora afirme que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, faz
restrição quando se trata do exercício profissional e diz que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

Ser livre para o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão como determina a primeira parte do mandamento
constitucional, “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão...”, significa que qualquer cidadão no gozo dos
seus direitos civis e não estando impedido por legislação específica, pode escolher a atividade profissional de sua
preferência. Entretanto, esta liberdade, para ser exercida, carece de alguns pré-requisitos, especialmente quando se tratar
de profissão legalmente regulamentada.

Algumas atividades profissionais podem ser exercidas sem dificuldades quanto às questões formais, não se exigindo
legalmente nestes casos qualquer documentação ou diploma oficial. Se você, por exemplo, deseja ser eletricista, basta
conhecer alguns princípios básicos da eletricidade, dedicar-se durante um certo tempo para adquirir conhecimentos
necessários ao exercício desta profissão. Para tornar-se um mecânico de automóveis é suficiente aprender o ofício e a partir
daí trabalhar concertando veículos. Nestes exemplos, os próprios interessados assumem a condição de profissional da sua
área intitulando-se eletricista, mecânico, e assim por diante.

Para estes casos e outros semelhantes, temos as chamadas profissões livres, cujo exercício não depende de autorização
legal, sendo necessário e suficiente o conhecimento técnico respectivo.

A segunda parte do inciso XIII do art. 5.º da Constituição Federal estabelece a possibilidade da restrição legal da liberdade
para o exercício de certas profissões, quando diz”,... atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

Constituição Federal

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;

Neste caso a nossa Carta Magna faz referência às profissões legalmente regulamentadas, ou seja, àquelas que foram criadas
por lei e em cujo diploma legal são estabelecidas as condições, prerrogativas, atribuições, etc, para o exercício destas
atividades.

Como exemplos, citamos as profissões de contador, advogado, médico e engenheiro, todas criadas e regulamentadas por
legislação federal.

Para estes tipos de profissão, não basta aprender ou ter habilidade de fato para desempenhar o trabalho. É indispensável
que se conquiste o direito de exercer tais atividades através da formação acadêmica e do registro do diploma no respectivo
Conselho ou Órgão Fiscalizador da Profissão; em outras palavras, temos que atender às qualificações profissionais que a lei
específica estabelecer.
Neste contexto está inserida a profissão contábil, por se tratar de profissão legalmente regulamentada, cuja formalização se
efetivou pelo Decreto-Lei 9.295 de 27 de maio de 1946. Neste diploma legal, dentre outras questões, foram criados o
Conselho Federal de Contabilidade e os Conselhos Regionais de Contabilidade, órgãos que ficaram incumbidos do registro e
da fiscalização do exercício da profissão contábil no Brasil.

Destacamos que embora a regulamentação da profissão contábil tenha ocorrido no ano de 1946, portanto, antes da
publicação da Constituição Federal, que ocorreu somente em 1988, este diploma legal profissional foi recepcionado pela
Carta Magna, haja vista não contrariar suas disposições, atendendo aos requisitos e às exigências constitucionais relativos
ao tema.

JOSÉ CARLOS FORTES


ADVOGADO(A)
jcfortes@grupofortes.com.br

Graduado em Direito, Ciências Contábeis, e Matemática. Pós-Graduado em Administração Financeira e em Matemática


Aplicada. Mestrando em Administração de Empresas. Consultor, Professor Universitário (Direito Empresarial e Contabilidade)
e Escritor nas áreas contábil, jurídica e matemática financeira. Diretor do Grupo Fortes de Serviços (Informática-
Contabilidade-Advocacia-Treinamento-Editora).

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