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Pensando no estômago, nós nos lembramos da fisiologia básica que nos orienta sobre a acidez local, necessária
para o processo de digestão. Em condições fisiológicas normais, o ácido gástrico e a pepsina produzidos não
estão relacionados à produção de danos ou sintomas de doenças pépticas ácidas, devido aos mecanismos
naturais de defesa. Entretanto, em condições patológicas, a mucosa gástrica pode perder sua capacidade de se
defender frente tamanha acidez e iniciar processo inflamatório, que nós conhecemos como gastrite e úlceras.
NESTE CENÁRIO DE AGRESSÃO À MUCOSA GÁSTRICA, FAZ-SE NECESSÁRIO O TRATAMENTO COM FÁRMACOS QUE LEVEM À
DIMINUIÇÃO DA ACIDEZ E FORTALEÇAM AS DEFESAS DESTA MUCOSA TÃO IMPORTANTE PARA O FUNCIONAMENTO PLENO DO
ORGANISMO HUMANO.
Para entender melhor como esses fármacos atuam, precisamos retornar brevemente ao mecanismo fisiológico que
leva à produção de secreção gástrica ácida.
Os receptores muscarínicos, quando estimulados pela acetilcolina, levam ao aumento de cálcio intracelular,
semelhante aos receptores de gastrina, os quais levam ao mesmo evento intracelular. Quanto à origem dos
estímulos, a acetilcolina vem do estímulo das fibras dos nervos parassimpáticos, e a gastrina é produzida pelas
células G, presentes na mucosa antral gástrica e, em pequena proporção, na mucosa do duodeno.
Devemos destacar também a ação da gastrina sobre as células enterocromoafins (ECL), célula produtora de
histamina, que modula, de forma parácrina, os receptores H2 na célula parietal, levando ao aumento do AMP
cíclico (cAMP) intracelular. A ação em conjuntos destes receptores, via os eventos intracelulares mencionados,
resulta em estímulo à bomba de próton potássio ATPase (H+/K+/ATPase) , levando à liberação de prótons (H+) no
lúmen estomacal, que promove a acidificação da secreção gástrica.
O conhecimento da fisiologia envolvida na secreção gástrica ácida, com a elucidação dos receptores e seus
ligantes estimulantes, são a base das abordagens farmacológicas que temos disponíveis no momento para o
tratamento de distúrbios relacionados à acidez em excesso. Os fármacos utilizados pertencem a classes diferentes
de acordo os receptores ou com a via fisiológica que inibem, como os antagonistas H2 (receptores de histamina),
os inibidores debomba de próton potássio ATPase (H+/K+/ATPase) , os fármacos antiácidos e os protetoresde
mucosa. Veremos à frente seus principais representantes e suas características farmacológicas.
No entanto, antes de entrarmos na farmacodinâmica dos fármacos utilizados na diminuição da secreção ácida,
precisamos dar destaque ao intenso trabalho do estômago e do esôfago para se proteger dessa acidez. Sabemos
quão importante ela é para os processos fisiológicos, mas precisamos nos atentar para o fato de que possui
potencial para lesar os epitélios destes órgãos.
O esôfago, via seu esfíncter esofágico inferior, evita o refluxo do
conteúdo ácido estomacal. Já o estômago se protege do seu próprio conteúdo ácido via produção de uma camada
de muco, que mantida próximo das células epiteliais gástricas, secretam bicarbonato, para proteger este grupo de
células. Além disso, o muco se torna importante barreira contra a difusão de íons e demais lesões do epitélio
gástrico.
A Nutrição Enteral (NE) é definida, de acordo com a Resolução 63 da ANVISA (MS, 2000), como:/
“ALIMENTOS PARA FINS ESPECIAIS, COM INGESTÃO CONTROLADA DE NUTRIENTES, NA FORMA ISOLADA OU
COMBINADA, DE COMPOSIÇÃO QUÍMICA DEFINIDA OU ESTIMADA, ESPECIALMENTE ELABORADA PARA USO
POR SONDAS OU VIA ORAL, INDUSTRIALIZADOS OU NÃO, UTILIZADOS EXCLUSIVA OU PARCIALMENTE PARA
SUBSTITUIR OU COMPLEMENTAR A ALIMENTAÇÃO ORAL EM PACIENTES DESNUTRIDOS OU NÃO, CONFORME
SUAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS, EM REGIME HOSPITALAR, AMBULATORIAL OU DOMICILIAR, USANDO
A SÍNTESE OU MANUTENÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS OU SISTEMAS”.
Pela definição da ANVISA (MS, 2000), a Nutrição Enteral inclui também os complementos que podem
ser ingeridos por via oral e apresentam composição definida. Para início da nutrição enteral, o paciente precisa ter
estabilidade hemodinâmica e o trato digestório deve estar funcionante.
CONDIÇÃO 2
CONDIÇÃO 3
No caso do paciente crítico com intubação orotraqueal, a NE deve ser iniciada, preferencialmente,
dentro das primeiras 48 horas.
CONDIÇÃO 4
No caso de paciente desnutrido, com baixa aceitação via oral, que será submetido à cirurgia de trato
gastrointestinal, iniciar de 5 a 7 dias antes da cirurgia.
Os quadros a seguir apresentam indicações de nutrição por sonda para adultos e crianças:
/
• Anorexia severa e/ou anorexia nervosa;
• Esofagite e faringite;
• Caquexia cardíaca e doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC).
Disfagia severa
• AVC;
• Tumores cerebrais;
• Traumas de cabeça;
• Esclerose múltipla;
• Esclerose lateral amiotrófica (ELA);
• Síndrome de Guillain-Barret.
• Doença de Crohn;
• Fístula colo-cutânea secundária à
diverticulite;
• Trauma.
• Fístula traqueoesofágica.
Hipermetabolismo
• Queimaduras;
• Sepse;
• Traumas múltiplos.
CONTRAINDICAÇÕES
São geralmente relativas ou temporárias mais do que absolutas. A escolha e execução da intervenção
mais adequada requerem conhecimento e acompanhamento do paciente, julgamento clínico
experimentado e reavaliação frequente das metas da TN, com modificações apropriadas sempre que
necessário.
Variáveis avaliadas:
1 - DENSIDADE CALÓRICA
Quantidade de calorias fornecidas por mililitro de dieta pronta. Pode ser calculado pelo número total
de calorias ao dia dividido pelo volume total de dieta ao dia. Pacientes com alguma restrição hídrica
poderão ter indicação de dietas com maiores valores de densidade calórica, podendo atingir valores
de 1,5 a 2 kcal/ml de fórmula.
Pacientes que não têm necessidade de restrição hídrica podem receber dietas com 1,0 kcal/ml,
conforme mostra o quadro a seguir:
OSMOLARIDADE OU OSMOLALIDADE
OSMOLARIDADE
É o número de miliosmoles por litro de solução.
OSMOLALIDADE
É o número de miliosmoles por kg de água.
Ambas as definições refletem a concentração de partículas osmoticamente ativas em solução. O
padrão é usar osmolalidade (mOsm/kg água).
Fatores que interferem na osmolaridade da fórmula:
Aumento da hidrólise dos nutrientes;
Na prática clínica, esses valores são relacionados com tolerância digestiva da dieta enteral. O
estômago tolera fórmulas com maior osmolalidade, enquanto no posicionamento pós-pilórico, as
isotônicas são mais bem toleradas. Quanto mais hidrolisada, maior a osmolalidade da fórmula.
SONDAS NASOENTERAIS
Em posição gástrica, duodenal ou jejunal.
OSTOMIAS Gastrostomia, jejunostomia, gastrojejunostomia. /A inserção da sonda deverá ser feita manualmente, à
beira do leito ou com auxílio endoscópico. Após a passagem da sonda, deve-se realizar raio-X de controle. A sonda
enteral deve ser em poliuretano ou silicone (calibre 10 a 12 F) com peso de tungstênio na ponta, fio guia metálico,
de preferência liso, pois não acumula sujidades, e extremo proximal com conector em y.
Nas enfermarias, deve-se utilizar, preferencialmente, a sonda enteral em posição gástrica. Caso o
paciente apresente intolerância, deve-se posicionar a sonda no duodeno ou jejuno.
Já nas unidades de terapia intensiva, deve-se utilizar, preferencialmente, a sonda enteral em posição
pós-pilórica (SBNPE, 2000).
CARBOIDRATOS
FIBRAS
As fontes de fibra mais empregadas em NE têm sido a pectina de característica solúvel, a goma guar
e o polissacarídeo de soja, que, apesar de conterem uma fração insolúvel importante, são submetidos
a um processo de micropulverização de suas partículas, o que lhes confere ação no organismo
humano, como se fossem fibras do tipo solúvel – auxiliam na regularização do trânsito intestinal. Elas
são fermentadas pelas bactérias colônicas e promovem a formação de AGCC (acetato, butirato e
propionato) que são combustíveis para os colonócitos.
Atualmente, as fibras podem ser ofertadas na nutrição enteral em quantidades próximas às fornecidas
por via oral, ao redor de 20 a 30 gramas ao dia, quantidade que parece não interferir na
biodisponibilidade dos nutrientes.
Além de atuarem no trânsito intestinal, ajudam no controle da glicemia e podem reduzir a hipoglicemia
de rebote pós-prandial.
PROTEÍNAS
Correspondem, em geral, de 14 a 20% do VET. Para a função principal da proteína, plástica, torna-se
imprescindível que haja suprimento adequado de energia, de onde surge a relação kcal não proteicas
/ g de nitrogênio. Estudos mostram que a melhor relação está ao redor de 150 kcal não proteicas / g
de nitrogênio, 150:1, variando de 110 a 180:1.
As principais fontes de proteína na NE são as proteínas da soja, caseína e, em menor escala,
lactoalbumina, gema de ovo e soro de leite.
LIPÍDEOS
Correspondem, em geral, a 30-35%. As principais fontes são: triglicerídeo de cadeia longa (TCL),
triglicerídeo de cadeia média (TCM) e lipídeos estruturados.
O triglicerídeo de cadeia longa (TCL) pode ser encontrado nos óleos de milho e de girassol, na carne
bovina, na gordura láctea, no óleo de peixe (fornece AGE importantes para integridade de membrana
e produção de eicosanoides), mas não exerce efeito sobre a osmolalidade da solução.
O triglicerídeo de cadeia média (TCM) é encontrado no óleo de coco ou industrialmente extraído.
Fornece de 8,2 a 8,3 kcal/g, rapidamente absorvido pela veia porta, estimula menos a contração da
vesícula biliar e tem maior influência na osmolalidade. Não veicula AGE.
Os lipídeos estruturados são ácidos graxos reesterificados de cadeias longa e média. Há o processo
de transesterificação do TCM com o óleo vegetal rico em ácido graxo poliinsaturado (AGPI), como o /
ômega 3 ou o ácido linoleico, resultando em triacilglicerol misto, no qual cadeias médias e longas
estão dispostas na mesma molécula de glicerol. Essa configuração parece atuar positivamente no
sistema imune.
VITAMINAS E ELEMENTOS-TRAÇO
As dietas enterais também podem ser classificadas de acordo com a complexidade dos nutrientes. As
dietas poliméricas são aquelas em que os macronutrientes, em especial a proteína, apresentam-se na
sua forma intacta (polipeptídeo). Quando os macronutrientes encontram-se parcialmente hidrolisados,
na forma de oligopeptídeos, a enteral é denominada oligomérica. Existe no mercado a dieta enteral
elementar, na qual os macronutrientes estão na sua forma totalmente hidrolisada (aminoácidos).
Desde que foi demonstrado que a presença de dipeptídeos e tripeptídeos melhoram a absorção
intestinal de nitrogênio, houve mudança para o uso de fórmulas oligoméricas, em especial na má
absorção.
RECOMENDAÇÕES HÍDRICAS
NÁUSEAS E VÔMITOS
Causas:
Intolerância à lactose — se for o caso, usar fórmula isenta de lactose;
Infusão rápida — se a sonda gástrica iniciar com 40 a 50 ml/h, a pós-pilórica deve ser de 20 a
25 ml/h, progredindo criteriosamente;
Solução hiperosmolar (> 350 mOsm) — usar fórmulas isotônicas, se for o caso;
Estase gástrica — aumenta o resíduo gástrico (RG) (> 50% do volume infundido após 2h da
infusão) – oferta em bolus e usar procinético. Verificar se é o caso de gastroparesia diabética;
ESTASE GÁSTRICA
Corresponde à presença de 50% ou mais de volume de dieta após duas horas de infusão.
Causas:
Hipotensão;
Sepse;
Estresse;
MÁ ABSORÇÃO
DISTENSÃO ABDOMINAL
Causas:
Infusão rápida;
Intolerância à lactose.
CONSTIPAÇÃO
Causas:
Inatividade;
Desidratação;
Falta de fibra.
DIARREIA
Atrofia de mucosa;
Deficiência de lactase;
Supercrescimento bacteriano;
Intolerância à soja;
Má absorção de gordura;
Citomegalovírus;
Insuficiência pancreática;
Antibóticoterapia prolongada;
/
Infusão rápida — reduzir a infusão da dieta para 40-50 ml/h quando a sonda estiver posicionada
no estômago; 20-25 ml/horas quando a sonda estiver posicionada no duodeno, progredir
lentamente;
Fórmulas hipertônicas — usar isotônicas e uma taxa de infusão para 40-50 ml/h no estômago e
20-25 ml/h para a pós-pilórica. Aumentar a densidade calórica com polímeros de glicose;
Dieta gelada;
Sonda pós-pilórica;
Dieta sem fibras. A presença de fibras na dieta visa, prioritariamente, regularizar o trânsito
intestinal e minimizar o risco de diarreia. A goma guar hidrolisada tem sido apontada como fonte
adequada de fibras para a TNE, uma vez que não exerce influência na viscosidade e fluidez da
fórmula líquida, minimizando o inconveniente de obstrução da sonda.
50 ml/h, progredindo lentamente. Depois, suspender por dois dias a medicações e monitorar
evacuações.
COMPLICAÇÕES METABÓLICAS
Hiper-
hidratação Desnutrição grave; Aumentar a densidade
calórica da dieta;
Excesso de líquidos
administrados.
Diurético;
BH diário;
Controle de peso.
Desidratação
Fórmulas hipertônicas;
Diarréia;
Dietas hiperproteicas.
Formulas isotônicas;
Controlar diarreia;
Hiperglicemia
Deficiência de insulina
(trauma, sepse, DM,
queimadura, cirurgia, uso de
corticóides);
Insulina e/ou
hipoglicemiantes orais;
Dieta isenta de
sacarose;
Monitorização da
glicemia;
Avaliar a oferta
energética.
Hipoglicemia
Hiperinsulinização.
Monitorizar glicemia;
Observar sinais e
sintomas;
/
20 ml de glicose a 50%
EV.
Anormalides
eletrólitos e
elementos-
traço
Diarreia;
Infecção;
Desnutrição;
Disfunção renal.
Monitorar eletrólitos;
Sobrecarga calórica;
Substratos inapropriados;
Toxinas.
Observar transaminases;
As Complicações mecânicas podem estar relacionadas com a sonda e variando de acordo com o
seu tipo e posição. São elas: obstrução da sonda; saída ou migração acidental da sonda; erosões
nasais, necrose e abcesso septo-nasal; sinusite aguda, rouquidão e otite; esofagite, ulceração
esofágica e estenose; ruptura de varizes esofageanas; fístula traqueoesofágica.
Podem ocorrer complicações infecciosas, que têm como principal consequência a
gastroenterocolite por contaminação microbiana (Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, coliformes
fecais e Escherichia coli) no preparo, nos utensílios e na administração da fórmula.
ESVAZIAMENTO GÁSTRICO