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EDUCAÇÃO, ARTE E MOVIMENTO

Unidade 6 - Como a(BNCC) e a LDB


abordam o ensino de artes?

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UNIDADE 6

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Prezado(a) aluno(a), este material de estudo é para seu uso pessoal, sendo

vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, venda,

compartilhamento e distribuição.

OBJETIVO
Conforme o plano de ensino e sua importância na
formação profissional e pessoal estudaremos a
importância do Ensino de Artes nas escolas, seu
histórico através das leis, além do entendimento da
presença da Arte no currículo escolar. Esperamos que
ao final da unidade você seja capaz de:

> Compreender o ensino da arte como parte do


currículo nacional;
> Identificar a percepção da legislação para com o
ensino de arte;
> Entender a importância dos conteúdos obrigatórios
de arte no ensino fundamental: artes visuais, dança e
teatro;
> Distinguir de que forma a
lei trata da adaptação para a aplicação dos conteúdos
de arte;
> Duplicar como o ensino de artes está presente no
currículo escola;
> Compreender a arte para além de uma disciplina
escolar.

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6 COMO A BASE NACIONAL


COMUM CURRICULAR (BNCC) E
A LEI DE DIRETRIZES E BASES
DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LDB)
ABORDAM O ENSINO DE ARTES?

6.1 O ENSINO DE ARTE COMO PARTE DO


CURRÍCULO NACIONAL
Conforme estudamos anteriormente, o Ensino de Artes, no Brasil, começa in-
formalmente com a chegada dos jesuítas e possui, naquele momento, o in-
tuito de catequese e aculturação dos povos indígenas.

Victor Meirelles
O artista Victor Meirelles fi ou conhecido por
pintar a emblemática obra Primeira Missa
no Brasil no ano de 1860. Na época com 28
anos, o artista tornou-se um dos pintores
mais reconhecidos do Brasil.

Primeira Missa no Brasil, de Vitor Meirelles


(1860).
O quadro foi pintado a partir dos relatos
sobre a primeira missa no Brasil, contidos na
carta de Pêro Vaz de Caminha. A obra possui
enormes dimensões, medindo cerca de 9
metros quadrados.

Oficialmente, porém, o Ensino de Artes só tem início com a criação da Acade-


mia Imperial de Belas Artes em 1816.

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FIGURA 1: ACADEMIA IMPERIAL DE BELAS ARTES

Fonte: Wikipedia (2020).

Sobre esse aspecto, a pesquisadora Cléa Coitinho Escosteguy afirma que:

Já a formalização do ensino das artes ocorreu logo após a Família Imperial


Portuguesa chegar ao Brasil, com a implementação da Academia Imperial
de Belas Artes, em 1816, sob tutela da Missão Artística Francesa. Predominava
o ensino do exercício do desenho dos modelos vivos, da estamparia e
a produção de retratos, sempre obedecendo a um conjunto de regras
rigorosamente técnicas. O ingresso ao estudo das artes era permitido
somente a uma pequena elite. (ESCOSTEGUY; CORRÊA, 2017, p. 50-51)

Foi somente no ano de 1920 que o Ensino da Arte passou a fazer parte do cur-
rículo escolar. Essa inserção dialoga com as transformações econômicas, polí-
ticas e sociais pelas quais o país passou com a Proclamação da República no
ano de 1889, momento em que a educação foi vista como um campo propício
para a efetivação dessas transformações. Nesse momento, o Ensino da Arte
entra no currículo escolar como uma atividade de apoio a outras disciplinas e
não como um campo de conhecimento em si mesmo.

A inserção do Ensino da Arte no currículo escolar não garantiu, em um pri-


meiro momento, um ensino adequado da Arte. Muitas vezes, a Arte na escola

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foi utilizada para a produção de lembrancinhas para datas comemorativas ou


decorações de festas e eventos da escola. Essas ações que não são, de fato,
Ensino da Arte, perduram até hoje em algumas instituições escolares.

FIGURA 2: ILUSTRAÇÃO DE CRIANÇAS EM UMA ATIVIDADE DE ARTES

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

O Ensino de Artes nas escolas do Brasil segue então, uma trajetória que abri-
ga a luta de artistas educadores brasileiros por um ensino relevante de Artes
nas escolas e a formalização de leis que buscam garantir a obrigatoriedade
do Ensino de Artes e estabelecer alguns parâmetros para ele.

No entanto, as conquistas no que diz respeito à inserção de Arte no currículo


escolar não são fixas e estão sempre em debate, especialmente no que diz
respeito às mudanças de governo e suas tendências a reafirmar ou retirar as
conquistas adquiridas ao longo dos anos no campo do Ensino de Artes. Por
este motivo, podemos dizer que o papel do artista educador não acontece
somente dentro das escolas, mas especialmente no campo político, na luta
por um ensino de qualidade.

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FIGURA 3: ILUSTRAÇÃO DE UMA MOBILIZAÇÃO DE PROFESSORES EM BUSCA DE


DIREITOS

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

6.2 A PERCEPÇÃO DA LEGISLAÇÃO PARA COM O


ENSINO DE ARTES
Conforme vimos anteriormente, a Arte passa a fazer parte do currículo escolar
em 1920 como atividade de apoio. Nessa mesma década, por influência dos
ideais do Movimento Modernistas, a Arte começa a ser desenvolvida nas es-
colas como uma forma de o aluno expressar seus sentimentos. Ou seja, não
há nada a ser ensinado ao aluno em termos artísticos, bastava que a escola o
deixasse livre para criar o que bem entendesse.

Como vimos anteriormente, a livre expressão nas escolas aparece como uma
espécie de diálogo equivocado com as propostas do Movimento Modernista
visto que os artistas modernos estudavam bastante não só as técnicas artís-
ticas como a História da Arte antes de chegar ao exercício da livre expressão.

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FIGURA 4: CRIANÇAS PINTANDO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para saber mais sobre o movimento modernista no


Brasil leia o livro de Maria Eugênia da Gama Alves
Boaventura intitulado 22 por 22: a Semana De
Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos.

Durante as décadas de 50 e 60, junta-se ao desenho como conteúdo escolar,


o canto orfeônico, a música e os trabalhos manuais. Mas foi somente mais
tarde com a Lei de Diretrizes e Bases de 1971 que o Ensino de Artes passa a
ser obrigatório nas escolas, no entanto sob o título de “Educação Artística”.
Nesse momento, a Arte era ensinada nas escolas sem conteúdo específico e
baseada em atividades descontextualizadas, muitas vezes aplicadas por pro-
fissionais de outros campos de conhecimento.

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Para conhecer a Lei de Diretrizes e Bases de


1971, acesse: https://www2.camara.leg.br/legin/
fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-
publicacaooriginal-1-pl.html

Nas décadas seguintes têm sequência os debates sobre o Ensino de Artes e


permanece a luta dos artistas educadores pelo Ensino de Artes nas escolas, o
que culmina na conquista, no ano de 1996, da obrigatoriedade do Ensino de
Artes como disciplina no currículo escolar.

FIGURA 5: AULA DE MÚSICA

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para conhecer a lei 9.394 de 1996, acesse: http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm

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A autora Cléa Coitinho Escosteuguy, nos informa em seu livro “metodologia


do ensino de artes” que:

Para orientar as bases curriculares dessa modalidade de ensino, o Ministério


da Educação e Cultura (MEC) elaborou e divulgou amplamente os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Arte (BRASIL, 1997, p. 19), que, em sua introdução,
dá ênfase ao papel e lugar da disciplina ao afi mar que a: “[...] Arte tem uma
função tão importante quanto à dos outros conhecimentos no processo de
ensino aprendizagem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas
e tem suas especificid des. (ESCOSTEGUY; CORRÊA, 2017, p. 51)

O estudo dos Parâmetros Curriculares Nacionais, assim como o estudo das


leis citadas anteriormente, é de fundamental importância para o entendi-
mento das conquistas e desafios a serem enfrentados no campo do Ensino
da Arte no Brasil.

FIGURA 6: AULA DE ARTES

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para ler os Parâmetros Curriculares Nacionais


acesse: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
livro06.pdf

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Nos anos de 2008 e 2016 foram sancionadas, respectivamente as leis 11.769


e 13.278. A primeira estabelece a obrigatoriedade do ensino de música nas
escolas de educação básica e a segunda estabelece que os temas de Dança,
Teatro e Artes Visuais devem ser incorporados no currículo da disciplina de Ar-
tes. Assim, o Ensino de Artes, nos dias de hoje, é composto por dança, música,
teatro e artes visuais.

6.3 A IMPORTÂNCIA DOS CONTEÚDOS


OBRIGATÓRIOS DE ARTE NO ENSINO
FUNDAMENTAL: ARTES VISUAIS, DANÇA E
TEATRO
Para dialogarmos sobre a importância dos conteúdos obrigatórios de Arte no
Ensino Fundamental, mais especificamente nas linguagens de artes visuais,
dança e teatro é de fundamental importância abordarmos a existência, desde
2017, de uma Base Nacional Comum Curricular, a BNCC.

FIGURA 7: CAPA DA BNCC

Fonte: MEC (2020).

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A BNCC é um documento, obrigatório para todas as escolas públicas e parti-


culares que têm por finalidade definir quais são as aprendizagens essenciais
às quais todos os alunos devem ter acesso, independente da região do país
onde habita. O documento é válido em todo o território nacional e serve para
pautar a elaboração dos currículos nas escolas brasileiras.

Para ter acesso ao texto da BNCC, clique em:


http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf

A BNCC está vinculada ao Plano Nacional de Educação e estabelece uma sé-


rie de habilidades e competências a serem desenvolvidas juntamente com os
sujeitos da aprendizagem, ou seja, os alunos, ao longo da Educação Básica.
Além disso, a Base delimita, conforme mencionado, os conteúdos mínimos
obrigatórios, a serem desenvolvidos nos currículos das escolas.

No Ensino Fundamental, mais especificamente em Artes, poderíamos dizer


que a definição de conteúdos obrigatórios tem a mesma importância que
para qualquer outra disciplina. No entanto, cabe ressaltar que, muitas vezes,
conforme vimos, ao longo da História, a Arte na Escola é tratada de manei-
ra superficial, para dizer o mínimo. Assim, os conteúdos obrigatórios podem
garantir certa qualidade para o ensino da dança, teatro e artes visuais, assim
como garantir a instância do fazer artístico, visto que muitas vezes, a Arte nas
escolas é tratada somente como o estudo teórico da História da Arte.

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FIGURA 8: DANÇA

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Isso não significa dizer que a Base Nacional Comum Curricular não gerou de-
bates, reflexões e críticas por parte de artistas educadores de todo o Brasil.
Algumas destas questões, serão abordadas posteriormente, no subtópico 6.5
deste material.

O que importa destacar, por agora, é que a discussão sobre os conteúdos


obrigatórios em Arte, para o Ensino Fundamental não deve ser apartada de
um debate sobre a formação do professor e sobre a obrigatoriedade da con-
tratação de especialistas em Arte, por parte das escolas.

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FIGURA 9: REFLEXÕES

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

6.4 DE QUE FORMA A LEI TRATA DA ADAPTAÇÃO


PARA A APLICAÇÃO DOS CONTEÚDOS DE ARTE
Quando a disciplina de Artes se torna obrigatória nas escolas, as instituições
precisam se preparar para as demandas específicas que as diversas lingua-
gens artísticas possuem. Estas demandas têm a ver com espaço físico, equi-
pamentos, materiais, além da formação dos profissionais que ministrarão a
disciplina de Artes na escola.

Podemos dizer que a escassez de recursos e espaço físico pode ser um dos
grandes desafios para os professores de Artes do país, ainda que, seja obriga-
ção do Estado, por exemplo, a garantia dos insumos necessários para a exce-
lência dos processos de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, é importante
que o professor possa conhecer as leis e se atentar para suas responsabilida-
des dentro e fora do espaço escolar. No quarto artigo da lei 9.394 de 1996, des-
taca-se que o “atendimento ao educando, no ensino fundamental público,
por meio de programas suplementares de material didático-escolar, trans-
porte, alimentação e assistência à saúde”.

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Assim, no que diz respeito aos materiais didáticos necessários ao Ensino de


Artes, a responsabilidade do fornecimento é do Estado. Neste sentido, Iavel-
berg esclarece que:

Ao longo de nossa experiência de formação de educadores de arte,


presenciamos situações em que professores, para organizar suas aulas,
mobilizaram a comunidade na pesquisa e obtenção de recursos, como livros
e trabalhos de arte. Tais ações são louváveis, pois denotam espírito criador na
resolução dos problemas; entretanto, o acesso ao material didático precisa
ser garantido pela instituição escolar. Além do material de pesquisa, é preciso
planejar os materiais para o fazer artístico dos alunos e os equipamentos
(vídeo, retroprojetor, computador, etc. (IAVELBERG, 2010, p. 49)

Além disso, a autora também explicita que a lei dispõe da mesma forma, so-
bre a formação de professores, de modo a garantir a qualidade dos processos
de ensino e aprendizagem. Neste sentido, Iavelberg diz que:

É desejável que a formação inicial dos professores de arte seja concretizada


em nível universitário. Art. 87o É instituída a Década da Educação, a iniciar-
se um ano a partir da publicação desta Lei. § 4o – Até o fim da Década
da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível
superior ou formados por treinamento em serviço. (LDB 9394, 1998, p. 55-56)
Além dos cursos de magistério, licenciatura, bacharelado, especialização e
pós-graduação, nossa prática em formação de professores de arte aponta a
necessidade de um processo de formação contínua. (IAVELBERG, 2010, p. 48)

Estes exemplos podem ser úteis para que o professor em formação já esteja
ciente de seu papel e os desafios que serão enfrentados no ambiente escolar,
assim como a importância de conhecer as leis e a amplitude do papel do pro-
fessor dentro do contexto do Ensino de Artes.

6.5 COMO O ENSINO DE ARTES ESTÁ PRESENTE


NO CURRÍCULO ESCOLAR
Conforme vimos anteriormente, o documento que pauta a criação dos cur-
rículos escolares, nos dias de hoje, é a Base Nacional Comum Curricular, a
BNCC. Antes de sua implementação, no entanto, segundo Rosa Iavelberg:

Cada escola e a Secretaria de Educação local passam a ser responsáveis pela


construção do currículo, não havendo defin ção de conteúdos mínimos para
o País ou um currículo comum às comunidades, mas sim um referencial
– os Parâmetros Curriculares Nacionais –, cuja adoção não é obrigatória.
(IAVELBERG, 2010, p. 37)

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Assim, atualmente, o Ensino de Artes está presente no currículo escolar, a par-


tir das abordagens propostas pela Base. Conforme vimos anteriormente, no
campo do Ensino de Artes, a BNCC gerou uma série de reflexões e debates
entre artistas educadores de todo o país, justamente por sua obrigatoriedade
e influência sobre o currículo escolar.

Desse modo, o Ensino de Artes se apresenta no currículo escolar, a partir da


divisão das linguagens artísticas entre: teatro, dança, música e artes visuais.
Reforçar essa divisão é importante desde que se reconheça que cada uma
das linguagens necessita de professores especializados nas mesmas.

FIGURA 11: ESTUDANTES EM PEÇA DE TEATRO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

A Arte, no entanto, perde sua dimensão como uma Área de

conhecimento específi o e fica subordinada à área de linguagens. Esta

modific ção pode ser bastante problemática para pensar o papel da Arte no

currículo escolar visto que, segundo o autor José Roberto Pereira Peres:
A Arte como um componente dentro da Área de Linguagem corre o risco
de se tornar apenas uma disciplina acessória que ajudará a compreender
determinado conte do de Língua Portuguesa ou de Literatura, acarretando

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na negligência de seus conte dos próprios que ajudam na refl xão e na


crítica de objetos artístico-culturais situados em diversos tempos históricos
e em diferentes contextos culturais. No texto da BNCC, as Linguagens
Artísticas (Artes Visuais, Dança, M sica e Teatro) são consideradas como
subcomponentes do componente Arte, dando margem para interpretações
equivocadas e para o retorno da famigerada polivalência, tendo como
justificati a a necessidade da valorização do trabalho interdisciplinar.
(PERES, p. 30-31)

Esta reflexão é importante para professores de Arte em geral, pois é um alerta


para uma possível precarização no Ensino de Artes nas escolas amparada por
um documento oficial.

FIGURA 12: ARTES VISUAIS

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Outra questão amplamente debatida durante a construção da BNCC até o


cenário atual, afeta diretamente a forma como a Arte está e estará presente
no currículo das escolas, visto que muitos educadores consideram que o texto
da BNCC acaba por querer retirar da Arte seu papel crítico e reflexivo perante
a sociedade e quase que devolvê-la à livre expressão.

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Você já leu o texto da BNCC? Consegue identificar


as questões propostas nas reflexões aqui
abordadas?

Por fim, vale a pena refletirmos sobre um último questionamento que diz res-
peito à BNCC, ao currículo escolar e à formação de professores. Neste sentido,
José Roberto Pereira Peres afirma que:

A diluição da Área Arte com suas diferentes Linguagens Artísticas (Artes


Visuais, Música, Teatro e Dança) na Área de Linguagem compromete
a conquista da formação de professores de Arte em licenciaturas
específicas, como ocorre na atualidade em diversas universidades,
faculdades e centros universitários no nosso país, pois dá abertura para
que profissionais licenciados em outras áreas possam lecionar Arte,
como acontecia no período da Ditadura Militar. Gatti e Barreto (2009, p.
68) afiançam que a oferta de cursos de licenciatura, dá-se “na medida
em que postos de trabalho no magistério são criados em consonância
com o número de alunos a atender”. Se o espaço da Arte for limitado
no currículo escolar, não haverá tanta necessidade de contratação de
professores formados em Arte, pois estes poderão ser substituídos
por profissionais de outras áreas, que, por sua vez, por não terem
conhecimento específico, poderão reduzir o ensino da disciplina em
mera recreação, para aliviar as tensões após as aulas das “disciplinas
mais sérias”. (PERES, p. 33).

Como vimos, é de fundamental importância conhecer os documentos que


pautam a criação dos currículos escolares, assim como analisá-los criticamen-
te na busca de melhores condições para o Ensino de Artes em suas diferentes
linguagens.

6.6 A ARTE AL M DE UMA DISCIPLINA ESCOLAR


Pensar a Arte para além de uma disciplina escolar é um modo de refletir so-
bre a importância da Arte, de maneira geral, para a sociedade. A Arte na es-

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cola inclusive garante um espaço de debate sobre o que é a Arte para além
do ambiente escolar, desmistificando estereótipos que, porventura, tenham
sido construídos ao longo da trajetória de vida dos alunos como, por exemplo,
a ideia de que Arte só existe em museus.

Grafiti de um ato anarquista


A Arte de rua é uma arte democrática que
prova que o lugar da Arte não é somente o
das instituições fechadas, como os museus.
O artista britânico conhecido como Bansky
é um dos grandes representantes do grafi ti
com obras espalhadas em várias cidades
do mundo.

O trabalho de Bansky possui toques de


humor, crítica política e social e está acessível
aos transeuntes, de forma gratuita.

Estudamos reiteradamente a importância da Arte para o ser humano e sua


presença no cotidiano desde a pré-história. A esse respeito, as autoras Maria
Heloísa Ferraz e Maria de Rezende e Fusari (1999, p.16) apontam que “é a im-
portância devida à função indispensável que a arte ocupa na vida das pessoas
e na sociedade desde os primórdios da civilização, o que a torna um dos fato-
res essenciais de humanização”.

Além da reflexão proposta elas autoras, torna-se essencial pensar a impor-


tância da Arte como um instrumento de reflexão social. Assim, é importante
compreender que, apesar das associações construídas culturalmente entre
Arte e Recreação, os conceitos são bastante diferentes. No livro Recreação e
lazer, sobre a recreação, encontramos:

Como uma atividade estruturada, previamente determinada e com tempo


de duração estabelecido, pode ser considerada uma ferramenta do lazer, em
que se busca por meio da atividade valores e sentimentos agradáveis e de
satisfação. A recreação deve proporcionar alegria e prazer e deve preencher
os momentos de lazer. (GONÇALVES & HERNANDEZ, 2018, p.17)

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A partir do entendimento do conceito de recreação podemos dizer que, ape-


sar de a Arte poder proporcionar, de fato, sentimentos agradáveis e de sa-
tisfação, assim como a recreação, sua função não é essa. É importante fazer
essa diferenciação, pois há uma tendência comum de se acreditar que toda a
atividade que tem meios lúdicos serve à recreação. Portanto, o papel da Arte
não é meramente distrair ou dar prazer, ainda que possa de certa forma, pro-
porcionar prazer.

FIGURA 13: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Assim, a Arte, para além da recreação traz a possibilidade de ampliação do


olhar sobre questões inerentes à humanidade, proporcionando debates so-
bre temáticas fundamentais para uma sociedade mais justa para todos os
cidadãos. Um exemplo deste lugar da Arte pode ser percebido no trabalho da
artista visual e educadora Rosana Paulino.

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Obra da Mostra “Assentamento”


A artista Rosana Paulino nasceu em
1967 na cidade de São Paulo. Educadora,
curadora e doutora em Artes Visuais
pela USP, Rosana debate em suas obras
questões sociais, de gênero e de etnia.
Na mostra “Assentamento”, por exemplo,
as obras problematizam os processos de
escravização de pessoas no Brasil.

Tecelãs
Já a obra Tecelãs, de Paulino, traz um
olhar sobre a ciência e a tecnologia como
instrumentos de controle social.

Este exemplo serve para ilustrar a potência que a Arte pode ter não somente
fora, mas especialmente dentro do ambiente escolar. Para além da diversão,
da recreação, a Arte proporciona debates e reflexões fundamentais para a so-
ciedade e a formação de seres humanos críticos e conscientes.

CONCLUSÃO

Nesta unidade, conhecemos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


e o papel da BNCC no ensino de Artes nas escolas. A partir da reflexão sobre
alguns pontos dos documentos citados, pudemos compreender um pouco
melhor a amplitude do papel do professor de Artes na Escola assim como re-
forçar a importância do Ensino de Artes no ambiente escolar.

Com os estudos propostos notamos a importância de conhecer e acompa-


nhar as aplicações das leis em relação ao Ensino de Arte na educação escolar,

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visto que o artista educador não deve ficar alienado de suas funções de com-
preender a legislação e colaborar com a criação do currículo escolar.

Este estudo inicial demanda que você realize novas pesquisas e aprofunda-
mentos nas temáticas abordadas, ampliando seus conhecimentos sobre os
assuntos aqui tratados, inclusive a partir das fontes indicadas.

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