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O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

de
José Saramago

PROPOSTAS DE ANÁLISE E DIDATIZAÇÃO

Oficina de Formação
Vanda Gouveia, 2018
PROGRAMA E METAS CURRICULARES
Novo Programa do Secundário, p. 26
Educação Literária
1.3.2. Ricardo Reis
• Escolher 3 poemas.

• Ricardo Reis: a consciência e a encenação da mortalidade;

Reflexão:
a) Que poemas vamos escolher (já escolhemos)?
b) De que modo esses poemas permitirão a compreensão da dimensão
crítica do romance?
c) Como é que a Expressão Oral pode vir a contribuir para aprofundar a
filosofia de Ricardo Reis pessoano?
Novo Programa do Secundário, p. 27
Educação Literária
4. José Saramago,
• O Ano da Morte de Ricardo Reis (integral)*
• Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e os acontecimentos
políticos.
• Deambulação geográfica e viagem literária.
• Representações do amor.
• Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões, Cesário Verde e Fernando Pessoa.
• Linguagem, estilo e estrutura:
- a estrutura da obra;
- o tom oralizante e a pontuação;
- recursos expressivos: a antítese, a comparação, a enumeração, a ironia e a metáfora;
- reprodução do discurso no discurso.

(14 tempos letivos)


* Nos anos letivos de 2017/2018 e 2018/2019, a obra a estudar será, obrigatoriamente, O
Ano da Morte de Ricardo Reis.
• Que desafios se colocam aos professores e aos alunos no estudo
deste romance saramaguiano?
O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS de José Saramago, foi publicado em
1984.

- O tempo da escrita é de liberdade democrática.

- O tempo da história é o da ditadura salazarista (1935-1936)

- 1935 (30 de novembro) é o ano da morte de Fernando Pessoa…

- Pode ser considerado uma homenagem de Saramago ao poeta do


Modernismo português, cerca de 50 anos após a sua morte.

- Revela atração do autor pela figura mítica de Fernando Pessoa.

- Faz dialogar a História e a Ficção (ficção da ficção).


HISTÓRIA E FICÇÃO
História
• José Saramago inscreve-se na linhagem dos escritores portugueses
contemporâneos que aprenderam a revisitar de maneira crítica os
domínios da História oficial (…).

• O passado recriado é sempre um outro e permite as ousadias do criador.

• O romance faz dialogar a História de Portugal, da Europa e do mundo com


a Ficção da ficção.

"José Saramago : a ficção reinventa a história" / Teresa Cristina Cerdeira da Silva. In: Revista
Colóquio/Letras. Notas e Comentários, n.º 120, Abr. 1991, p. 174-178.
O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

Importância dos paratextos para a compreensão do romance:

1. CONTRACAPA

1.1 Ficção (Fernando Pessoa cria Ricardo Reis)

1.2 Ficção da ficção (Saramago dá “vida” ao heterónimo e fá-lo


regressar do Brasil.)
2. Epígrafes

2.1 Ricardo Reis, heterónimo pessoano (apelo à atitude


contemplativa)

2.2 Bernardo Soares, semi-heterónimo (reflexão sobre a não


intervenção, a apatia)

2.3 Fernando Pessoa (reflexão justificativa do “absurdo” de falar de


quem “nunca existiu”)

Nota:
A terceira epígrafe (quase) justifica a criação do romance: não é absurdo
falar de quem nunca existiu, tal como refere Pessoa a propósito dos seus
heterónimos. Saramago comprova-o…)
“Escrever não é outra tentativa de destruição, mas antes a tentativa de
reconstruir tudo pelo lado de dentro, medindo e pesando todas as
engrenagens, as rodas dentadas, aferindo os eixos milimetricamente,
examinando o oscilar silencioso das molas e a vibração rítmica das
moléculas no interior dos aços ().”

José Saramago
SARAMAGO, José (1983). Manual de Pintura e Caligrafia. Lisboa: Editorial Caminho.
• Reler a História e a Literatura através da arte da escrita é indagar
silêncios ou ausências.

• Mas é também um exercício de questionação, de reconstrução “pelo


lado de dentro”, um discurso criador de sentidos, comprometido com
um tempo e um espaço próprios, cujo destino, por ser arte, é a
conquista da universalidade. É intervir no País…

• Poderá a Arte salvar-nos?


“(…) e ainda há quem duvide de que a arte pode melhorar os homens”,
p. 94
A reinvenção do mundo…

• “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo.”

Ricardo Reis

• E se a figura do distante, estoico e contemplativo Ricardo Reis de


Fernando Pessoa pudesse ser uma “pessoa”, perspetivada sob um
outro olhar?
Mais desafios…
• A extensão da obra – 407 páginas

• O conhecimento da época histórica (nacional e internacional): a década de


30 do século XX – O tempo da ditadura (1926-33 e o Estado Novo).

• A singularidade da intriga: uma personagem literária que ganha vida e


regressa a Portugal, onde se encontra com o seu criador recentemente
falecido… (reveladora da atração de Saramago pela figura mítica de
Pessoa).
• A oposição entre o Ricardo Reis contemplativo (F. Pessoa) e o Ricardo Reis
que se deixa levar pelas paixões (J. Saramago) (que obriga a um
conhecimento profundo da poética estoico-epicurista do heterónimo
pessoano).

• As múltiplas referências políticas, culturais, religiosas e literárias que o


romance encerra na evolução da narrativa e/ou nas reflexões/intervenções
do narrador (política, educação, literatura, religião…)

• A relação dos conteúdos “ensináveis” com os 14 tempos letivos previstos


no Programa.
“Escrevo para desassossegar.”

José Saramago
Polifonia do narrador
• É necessário distinguir os discursos social, religioso e político que
habitam a voz do narrador que

• Sentencia…
• Ironiza…
• Satiriza…
• Comenta…
• Defende…
• Acusa…
• Denuncia…
• Ama…
Polifonia do narrador…

TRABALHO PRÁTICO: inferências

1.Que discurso? Político, social, religioso, filosófico, pedagógico?

2.Que tema?

3.Que postura narrativa? Crítica, sátira, humor, ódio, raiva, denúncia,


reflexão, conivência…?
FIM

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