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Os debates sobre a natureza, a essência e o modo de existência do espaço remontam à

antiguidade; a saber, a tratados como o Timeu de Platão , ou Sócrates em suas reflexões


sobre o que os gregos chamavam de khôra (isto é, "espaço"), ou
na Física de Aristóteles (Livro IV, Delta) na definição de topos (isto é, lugar), ou na
posterior "concepção geométrica de lugar" como "espaço qua extensão" no Discurso
sobre o lugar ( Qawl fi al-Makan ) do polímata árabe do século XI Alhazen . [2] Muitas
dessas questões filosóficas clássicas foram discutidas na Renascença e, em seguida,
reformuladas no século 17, particularmente durante o desenvolvimento inicial
da mecânica clássica . Na visão de Isaac Newton , o espaço era absoluto - no sentido de
que existia permanentemente e independentemente da existência de qualquer matéria no
espaço. [3] Outros filósofos naturais , notadamente Gottfried Leibniz , pensaram que o
espaço era na verdade uma coleção de relações entre objetos, dadas por sua distância e
direção um do outro. No século 18, o filósofo e teólogo George Berkeley tentou refutar
a "visibilidade da profundidade espacial" em seu Ensaio para uma nova teoria da
visão .

Nos séculos 19 e 20, os matemáticos começaram a examinar geometrias não euclidianas


, nas quais o espaço é concebido como curvo , em vez de plano . De acordo com a teoria
da relatividade geral de Albert Einstein , o espaço ao redor dos campos gravitacionais se
desvia do espaço euclidiano. [4] Testes experimentais da relatividade geral confirmaram
que as geometrias não euclidianas fornecem um modelo melhor para a forma do espaço.

ARISTÓTELES

O filósofo Aristóteles concebe o espaço como lugar, ou seja, posição de um corpo em


relação aos outros (ABBAGNANO, 2003), não sendo matéria ou forma, de modo que
“o limite primeiro imóvel do continente, eis o que é o espaço” (ARISTÓTELES, 1931,
IV, 211). Ou seja, trata-se da “região ocupada pelo corpo, seu contorno externo e o
contorno do corpo maior onde ele está contido” (CHAUÍ, 2002, p. 411). Compreende-
se, pois, que Aristóteles não pensa o espaço como vazio e homogêneo, visões que se
tornarão hegemônicas no pensamento moderno.

1. A Teoria do Espaço
1.1. Espaço em Aristóteles
Neste primeiro momento se discutirá uma compreensão crítica acerca da noção de
Espaço levando em consideração os oito primeiros capítulos da obra Sobre o Céu de
Aristóteles. Nesta obra, o filósofo apresenta sua teoria astronômica através de um
tratado cosmológico, apoiando-se na observação do mundo. É importante destacar que
esta observação (εμπειρία), que fundamentará a posição aristotélica, não se preocupará
com a validação no sentido da experimentação, mas em construir uma Cosmologia
racional de um Universo fechado (finito) que tenta situar o homem no interior de uma
totalidade.

A primeira concepção é de Espaço como lugar (v.), como posição de um


corpo entre outros corpos. Nesse sentido, o Espaço é definido por
Aristóteles como "o limite imóvel que abraça um corpo" (Fís., IV, 4, 212
a 20), definição que Aristóteles reconhece idêntica ao conceito platónico
que identificava Espaço e matéria (Tim., 52 b, 51 a). Segundo esse
conceito, não haverá Espaço onde não houver objecto material; por isso,
a tese principal dessa teoria do Espaço é a inexistência do vazio (cf.
ARISTÓTELES, FÍS., IV, 8, 214 b 11). (ABBAGNANO, 2007, p.348)

1.2. Espaço em Immanuel Kant


Na Exposição Metafísica do Espaço, Kant discute o primeiro aspecto da intuição a
priori. O espaço, por meio do sentido externo, que é uma propriedade da mente,
representa os objectos como forma fora do indivíduo, dando a ele a percepção espacial,
colocando estes mesmos objectos num campo de observação. A partir desta construção
espontânea do espírito, podemos determinar suas formas e sua quantidade.

A representação pura de espaço tem como objecto um agente externo. Kant, neste texto,
expõe sua tese de que Espaço (também o Tempo) só se liga às formas da intuição por
meio da estrutura da mente subjectiva do indivíduo, sem que este precise dos sentidos
externos, sendo um dado a priori. Kant defende aqui a premissa de que o espaço não é
algo empírico, no sentido de não ser algo passível a sensibilidade empírica, mas sim que
é imanente ao sujeito, e que condiciona todas as experiências do sujeito, do que se
segue, que o espaço é uma intuição pura, permite representações dos fenómenos fora do
indivíduo, assim como ordenar o lugar do “Eu” no espaço, bem como saber se uma ou
mais coisas estão uma ao lado da outra, ou suas distâncias em relação ao “Eu” dentro
deste espaço. Lisa Shabel, em seu artigo publicado pela Cambridge Companion,
denominado Transcendental Aesthetic, afirma: “Kant afirma e decorre desta linha de
raciocínio que a representação do espaço precede e possibilita a representação empírica
de relações espaciais entre objetos externos e, portanto, que a representação do espaço é
a priori.” (SHABEL. 2010.).

Para determinar o que é a representação pura (intuição) do espaço, Kant deve enfatizar
as diferenças entre conceito e intuição mostrando, primeiramente, que o espaço não é
um conceito, nem mesmo universal das relações dos fenómenos em geral, o espaço não
é divisível como são as categorias, pois não se intui um objecto em apenas uma parte do
espaço, mas sim em sua totalidade. Logo, a intuição espacial, além de fundamentar os
fenómenos empíricos, também é infinita, que contém em si a representação originária
do espaço. Kant identifica quatro etapas na classificação do Espaço como uma intuição
pura a priori. São elas:

 O espaço não é um conceito;


 O espaço é condição de possibilidade do conhecimento;
 O espaço não é um conceito universal;
 O espaço é infinito e não é divisível;
Kant quer, com estas afirmações, separar a relação do Espaço com o conceito,
colocando o Espaço como comprovadamente um princípio a priori e mostrar em
cada tópico discutido a particularidade que o Espaço como princípio a priori. O
espaço não é um conceito empírico que tenha sido derivado da experiência. Pois
para que certas sensações sejam referidas a algo fora de mim (...), e para que, do
mesmo modo, eu às possa representar como externas uma ao lado das outras,
portanto, não só diferentes, mas como em diferentes lugares. (CRP. B38).

Kant coloca que para haver um conhecimento de objectos externos a um sujeito, é


necessário uma “bagagem” prévia na mente. Esta “bagagem” seria o dado a priori que
faz parte da estrutura do conhecimento humano. Nesta primeira parte do raciocínio
kantiano, temos a defesa a tese de que não é possível o espaço provir de um conceito
vindo da própria sensibilidade, antes é necessário um conhecimento prévio para se
analisar o objecto em questão e o perceber sendo dado ao Espaço.

O espaço é uma representação necessária, a priori, que serve de


fundamento a todas as intuições externas. É impossível conceber que não
exista espaço, ainda que se possa pensar que nele não exista nenhum
objecto. Ele é considerado como a condição da possibilidade dos
fenómenos, e não como uma representação deles dependente; e é uma
representação a priori, que é o fundamento dos fenómenos externos.
(CRP. B 39)
Assim, de acordo com esta passagem, o espaço seria a priori por ser o fundamento de
toda experiência externa do próprio indivíduo, sendo a condição de possibilidade dos
fenómenos externos que apenas podem ser dados em sua mente, na medida em que este
é afectado por um objecto.

Mais tarde, o metafísico Immanuel Kant disse que os conceitos de espaço e tempo não
são empíricos derivados de experiências do mundo exterior - eles são elementos de uma
estrutura sistemática já dada que os humanos possuem e usam para estruturar todas as
experiências. Kant referiu-se à experiência do "espaço" em sua Crítica da Razão
Pura como sendo uma " forma de intuição pura a priori subjetiva ".

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