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Secção I - Introdução

A Comissão de Património Mundial da UNESCO declarou, no dia 8 de Julho, por


unanimidade, o centro histórico da cidade de M’ Banza Congo (Membro Efectivo da
UCCLA), norte de Angola, como Património Mundial da Humanidade. A UCCLA
apoiou esta candidatura.  A secular cidade angolana de Mbanza Congo, na província do
Zaire, foi candidatada pelo Governo angolano a Património Cultural da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sendo a primeira
validada no país por aquela Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura.
A decisão de declarar o centro histórico de M’ Banza Congo como Património Mundial
da Humanidade foi tomada durante a 41.ª sessão daquela comissão, reunida em
Cracóvia, no sul da Polónia.

 O projecto "Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar", que tinha como
principal propósito a inscrição desta capital do antigo Reino do Congo, fundado no
século XIII, na lista do património da UNESCO, foi oficialmente lançado em 2007.

 O centro histórico de M’ Banza Congo, na província do Zaire, no norte de Angola, está


classificado como património cultural nacional desde 10 de Junho de 2013, um
pressuposto indispensável para a sua inscrição na lista de património mundial. A
candidatura de Angola destacava que o Reino do Congo estava perfeitamente
organizado aquando da chegada dos portugueses, no século XV, uma das mais
avançadas em África à data.

1.1 Objectivos

1.1.1 Objectivo geral

 Explicar sobre Mbanza Congo como Património Mundial e a sua importância;


 Analisar a suas etapas.

1.1.2 Objectivos específicos

 Aprofundar mais nos conhecimentos da matéria.

1.1.3 Metodologia

 A metodologia utilizada neste trabalho foi indutiva e dedutiva;


 O método utilizado neste trabalho foi o método científico porque foi a base de
pesquisa de livros científicos e páginas virtuais.

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.Secção II - Mbanza Congo como Património Mundial

2.1 Conceito sobre Mbanza Congo

M'banza-Kongo  , é conhecida como São Salvador em português de 1570 a 1975), é a


capital da província do Zaire no noroeste de Angola . M'banza Kongo (propriamente
Mbanza Koongo ou Kôngo em ortografias mais aceitáveis) foi fundada algum tempo
antes da chegada dos portugueses em 1483 e era a capital da dinastia Kilukeni que
governava naquele tempo.  

O local foi temporariamente abandonado durante as guerras civis no século XVII . Fica
perto da fronteira de Angola com a República Democrática do Congo . Está localizado a
cerca de 6 ° 16′0 ″ S 14 ° 15′0 ″ E e fica no topo de uma impressionante montanha de
topo plano, algumas vezes chamada de Mongo a Kaila (montanha da divisão) porque
lendas recentes lembram que o rei criou os clãs do reino e os enviou de lá. No vale ao
sul corre o rio Luezi . Em 2017, Mbanza Kongo foi declarado Património da
Humanidade pela UNESCO .  

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2.2 História

A cidade foi fundada antes da chegada dos portugueses e era a capital de uma dinastia
que governava desde 1483. O local foi abandonado durante guerras civis que eclodiram
no século XVII.

M'Banza Kongo foi o lar dos Menekongo, monarcas que governavam o Reino do


Congo. No ano de 1549, por influência dos missionários portugueses, foi construída
uma igreja católica Catedral de São Salvador do Congo no local em que os angolanos
reclamam ser a mais antiga da África Sub-Saariana, o nome da igreja no local
é nkulumbimbi. Foi elevada a catedral em 1596. O papa João Paulo II visitou a catedral
em 1992.

O nome São Salvador do Congo apareceu pela primeira vez em cartas enviadas


por Álvaro I do Congo ou Álvaro II do Congo, entre os anos de 1568 e 1587. A cidade
voltaria a se chamar M'Banza Kongo, após a Independência de Angola em 1975.

Quando os portugueses aí chegaram, ela já era uma grande cidade, a maior da África
sub-equatorial. Durante o reinado de Afonso I, edificações de pedra foram criadas,
incluindo o palácio e muitas igrejas. Em 1630 foram relatados cerca de 4000 a 5000
baptismos na cidade com uma população de 100.000 pessoas.

A cidade foi saqueada várias vezes durante as guerras civis do século XVII,
principalmente na batalha de Ambuíla e foi abandonada no ano de 1678, sendo
reocupada em 1704 por seguidores de Kimpa Vita, a partir desta época a cidade não foi
mais abandonada.

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Secção III - O sonho do Património Mundial em Mbanza Kongo: o retorno da
valorização colonial.

3.1 Noções

A iniciativa de Emanuel Esteves para a nomeação de Mbanza Kongo como


Património Mundial da UNESCO tornou-se um objectivo do (mesmo) governo até os
dias de hoje. Em 1996, o governo angolano enviou à UNESCO um dossiê da
candidatura da cidade como património da humanidade. Não tivemos acesso à
documentação referente a esta tentativa de 1996. As informações existentes são as
fornecidas pelo site da UNESCO:

M’banza Kongo era um centro político e administrativo muito importante, porque era a
capital do muito antigo Reino do Kongo, que se expandiu de Angola para a atual
República do Congo. O primeiro contacto português com o rei do Kongo aconteceu em
1490 e teve lugar na capital de M’banza Kongo, onde foi instalado a diocese de Angola
e Congo.

Na verdade, M’banza Kongo ainda contém um importante número de edificações ou


evidências que pertence ao século XVI, tais como: As antigas ruínas da catedral,
construída no mesmo local onde a primeira igreja no sul do Equador foi construído
pelos portugueses anteriormente; A residência dos reis da Kongo, onde é hoje o Museu
do reino do Congo; Os túmulos dos reis, e muitos outros edificações que são de um
relatório extraordinário do mesmo pontos de vista políticos do passado e do histórico,
cultural, arqueológico, religioso.

A área histórica de M’banza Kongo, foi classificada em 1957, devido a sua grande
importância para o patrimônio cultural angolano, para o Continente Africano, para a
África Central, e mesmo a nível Mundial. É uma propriedade do Estado e a
responsabilidade pela sua manutenção, conservação e administração cabe ao Ministério
da Cultura, o governo da Província do Zaire e a Igreja Católica. (RUINS 1996).

Fica clara a valorização de dois elementos: 1- a centralização do Reino do Kongo (tendo


como clara referência o que era centralizado para um Estado europeu); 2- a chegada dos
portugueses e a instalação da religião católica, representada nos vestígios materiais.

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O projecto seguia uma linha tanto favorável de acordo com a narrativa católica
(portuguesa) de Mbanza Kongo. Observando no contexto de envio da candidatura, no
mesmo ano de 1996, foram enviados outros dez lugares possíveis de serem nomeados
pela UNESCO.

Neles, percebe-se claramente a orientação dos responsáveis pelas candidaturas por parte
do Estado de Angola em valorizar e preservar o património de origem católica ou
colonial, ou ambos. São eles:

 Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Muxima


 Igreja de Nossa Senhora da Victoria
 Igreja de Nossa Senhora do Rosario
 Fortaleza de Kambambe
 Fortaleza de Massanganu
 Fortaleza de Muxima
 Fortaleza de S. Francisco do Penedo
 Fortaleza de S. Miguel
 Fortaleza de S. Pedro da Barra
 Pequeno Forte de Kikombo
 Ruínas de M’banza Kongo

Mesmo com uma narrativa favorável ao património colonial, a nomeação de 1996 não
alcançou seu objectivo de tornar qualquer destes lugares património mundial da
UNESCO. O sonho de conseguir a nomeação permaneceria no seio de Estado
Angolano, mas os interessados teriam que esperar mais dez anos, e já com a paz selada
em 2002, para retomar as actividades.

Em 2007, aconteceu o ponto inicial do actual projecto de nomeação da cidade de


Mbanza Kongo. Durante os dias 17 e 22 de setembro, ocorreu uma mesa redonda
internacional sobre Mbanza Kongo, chamada “Cidade a desenterrar para preservar o
futuro”, sendo organizada pelo mesmo Emanuel Esteves. O objectivo do evento,
segundo o ministro da cultura da época, Boaventura Cardoso, expressa-se na seguinte
transcrição:

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A presente mesa redonda sobre Mbanza Kongo não é senão o
prosseguimento da nossa campanha iniciada em 1988 com vista a
reunir competências científicas, técnicas e financeiras que nos
permitam executar este ambicioso projecto de propor a cidade de
Mbanza Kongo, como potencial candidata à inscrição na lista do
património da humanidade. Hoje estamos aqui para retomarmos a
discussão e para que encontremos de facto as melhores vias e a
melhor estratégia para atingirmos os nossos objectivos.
(CARDOSO, 2007). 

Com esta finalidade, foram convidados especialistas sobre a história do reino do Kongo
de diversos países, e membros do governo e da UNESCO. Os resultados da mesa
redonda foram sumarizados por Simão Souindoula:

 A inscrição do conjunto dos lugares de memória da antiga cidade do Rei Afonso


1,Mvemba a Nzinga, na lista do património histórico da humanidade e a
consideração do Kongo dya Ntotela, como uma das tradições imateriais,
participantes no diálogo intercultural ao nível mundial;
 A promoção de Mbanza Kongo num pólo turístico. (SOUINDOULA, 2007).

Pela afirmação de Souindoula, a orientação de patrimonialização da cidade de Mbanza


Kongo seguiria o recorte cronológico do “ápice” do reino, século XVI-XVII, com a sua
centralização em torno do reinado de Afonso I, enfatizando o passado “católico” e
“promovedor dos encontros culturais”. Nota-se, porém, que existia nos planos do
governo também incorporar o que ele chama de tradição imaterial.

Esta perspectiva seria muito interessante, e pressupunha a inclusão na construção do


projecto segmentos muitos diversos, além dos cientistas e órgãos governamentais, como
igrejas, anciãos, movimentos políticos nacionalistas, organizações comunitárias e etc.
Se esta perspectiva existia no final de 2007, ela foi sepultada com a morte de Emanuel
Esteves (1945-2008) e a troca na liderança do Ministério da Cultura.

Esta nova tentativa também é marcada pela presença fundamental de cientistas sociais
estrangeiros ligados a UNESCO, principalmente arqueólogos portugueses e
historiadores norte-amerianos, que apoiaram a iniciativa, e ajudaram, sem dúvidas a
gestar as narrativas que iriam conduzir os trabalhos futuros. Apoiados por décadas de

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pesquisas sobre a história documental do reino do Kongo, estes agentes possuíam um
caminho claro de patrimonialização, indo de encontro a diferentes interesses, incluindo
a da diáspora, principalmente relacionados com o projecto Rota dos Escravos, da
UNESCO.

Em 2008, assumiu a pasta do ministério a historiadora e ex-diretora do Arquivo


Nacional de Angola, Rosa da Cruz e Silva, e a responsável pelo projecto “Mbanza
Kongo: Cidade a desenterrar para preservar” passou a ser, em 2009, uma jovem
arqueóloga angolana, Sónia Ludmila da Silva Domingos, recém doutorada em
arqueologia.

Desde sua nomeação em 2009, até meados de 2015, aconteceram anualmente em


Mbanza Kongo diversos tipos de pesquisas, incluindo escavações arqueológicas por ela
comandada, com importante respaldo de estrangeiros. Estas pesquisas tiveram bastante
repercussão na mídia oficial angolana, dando ampla cobertura e publicidade as acções.

3.2 Trabalho Arqueológico em Mbanza Kongo

Carlos (2014). Carlos (2014).

Em reportagens, podemos entender os objectivos e pensamentos de Sónia Domingos


sobre o passado da cidade. Ao comentar o nome do projecto, ela destacou o papel
importante da arqueologia: “[...] As escavações é que podem fornecer mais dados.
Muito do que se sabe do Reino do Congo é baseado em tradições orais e registos
literários. A UNESCO quer provas científicas, físicas, de que realmente o Reino teve
todo aquele esplendor.” (PALAVRA, 2011).

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Assim, o projecto parece orientado a fornecer dados para a UNESCO, dados estes
entendidos como verosímeis, ou seja, científicos. A tradição oral e os registos literários
são elementos a serem comprovados pela arqueologia, na fala da arqueóloga, como se
fosse possível hierarquizar o conhecimento.

Outro ponto central a ser observado é a apresentação para a UNESCO de um Reino do


Kongo no seu esplendor, ou seja, aquele ligado ao reinado de D. Afonso I, cristão
católico, construidor de monumentos em pedra e principal responsável pelo “encontro
de culturas”. Esta perspectiva de Sónia Domingos se reflecte em suas preocupações com
relação a pesquisa arqueológica e estão directamente relacionadas com a paisagem por
ela vivenciada e compartilhada, como veremos abaixo.

Em suas declarações públicas, a autora entende como gerador de “dados científicos”, o


estudo da ruínas da Sé do Congo, que, segundo a arqueóloga na mesma entrevista, são
constituidas, em primeiro lugar, da “[…] primeira Sé Catedral erguida a sul do Saara,
construída no séc. XVI, testemunha da presença portuguesa na região e da fé cristã.”
(PALAVRA, 2011).

O valor das ruínas advém de seu pioneirismo católico na região e de sua inovação nos
métodos de construção, segundo Domingos: “Um destes indicadores é o Kulumbimbi, a
primeira igreja construída a sul do Saara, cuja construção é feita de pedra e xisto,
semelhante à estrutura que apontamos como antigo palácio. O mesmo material usado na
construção do Comando da Polícia.” (MAVINGA, 2013).

O segundo “dado científico” que destaca é o o lugar chamado em kikongo Tadi dia
Bukikua, que teria sido outrora escavado pelo arquitecto Fernando Batalha no período
colonial, e classificado por seus estudos como sendo vestígios de ruínas ligadas a igreja
católica 9 ARROJA JÚNIOR, 1973). Na revisitarão do sítio, Sónia Domingos
considerou como palácio esta igreja, já consagrada como tal, como se vê na transcrição
a seguir:

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Sónia da Silva referiu que todos os vestígios recolhidos mas (sic)
escavações vão ser decisivos para a classificação de Mbanza Congo
como uma das mais antigas urbanizações a nível da África subequatorial.
‘Estamos a escavar uma estrutura neste local, chamado em quicongo Tadi
(dia) Bukikua (pedra virada), o que para nós pressupõe ser o antigo
palácio real ou alguma estrutura adjacente ao antigo palácio, antes da
mudança do rei Nvebma Nzinga para a sua residência oficial, onde hoje
funciona o Museu dos Antigos Reis do Congo’, frisou. (MAVINGA,
2013).

Apesar do papel de destaque de Domingos na condução das pesquisas, esta sua fala de
que as ruínas seriam um antigo palácio não se repete em nenhum outro trabalho de
arqueologia até então publicado. O que nos importa é a necessidade de “confirmação”
de dados da tradição e da literatura que apontam e valorizam os feitos dos primeiros
monarcas cristãos, feitos estes entendidos como sendo o da centralização, construção
em pedra, conversão ao cristianismo, todas estas sob a alcunha de “encontro de
culturas”.

Vale ressaltar que tanto John Thornton como Linda Heywood participam como
colaboradores do projecto de Mbanza Kongo, tendo visitado a cidade e prestado
assessoria ao grupo.

Em Julho de 2014 a Professora Heywood e o Professor Thornton


viajaram para Angola a convite do Ministério da Cultura de Angola, para
auxiliar na montagem do dossiê de Mbanza Kongo, uma cidade antiga no
norte de Angola, para o status de Património da Humanidade. Sua visita
coincidiu com o trabalho arqueológico que está em andamento desde
2013 na cidade, e suas tarefas eram a de fazer coincidir os registos
históricos da cidade com o que os arqueólogos estavam encontrando.
Suas tarefas, e aquela dos arqueólogos, era localizar e identificar suas
muitas igrejas, palácio real e outros locais de interesse. (FACULTY
2014).

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E em notícia sobre esta visita, Thornton destacou alguns pontos importantes, sobre a
cidade e a tradição. Segue transcrição da notícia que cita sua fala:

O professor de história da Universidade de Bostom, Estados Unidos da América,


definiu a tradição oral como o método através do qual o narrador auxilia-se de teorias
do seu banco de conhecimentos, diferente do analítico, que trata de reconstruir os factos
reais, recorrendo às fontes escritas. Disse, por outro lado, que o reino do Kongo possuía
uma diplomacia internacional bastante avançada, em relação a outros países de África.
Justificou a sua afirmação com o facto de o Reino do Kongo ter-se integrado no mundo
do cristianismo, estabelecendo relações diplomáticas com alguns países europeus. Isso
permitiu-lhe utilizar o sistema internacional semelhante ao do velho continente, para
vincar os seus interesses. (HISTORIADOR 2011).

Sua autoridade científica é colocada em jogo para apoiar e sustentar o projecto de


patrimonialização, que segue, em diferentes medidas, posições que eles sustentam,
principalmente com relação à valorização do legado cristão na cidade, em forma das
ruínas da Sé, que ele também traduz como Kulumbimbi (THORNTON, 2009), mas
também através do legado do “encontro de culturas”, em que a diplomacia, as relações
mundiais são algo a serem lembradas e valorizadas com papel de destaque. As questões
que colocamos aqui não são se as análises históricas dos historiadores estão
equivocadas, longe disso. Nossa pretensão é, no entanto, olhar criticamente como os
estudos de referência científica sobre a cidade e região estão sendo apropriados para a
construção de uma política pública de patrimonialização por um Estado autoritário.

O ex-director do Instituto Nacional do Património Cultural, e atual representante de


Angola na UNESCO, Ziva Domingos, foi o único dos membros do projeto a publicar
artigos e comunicações sobre o projecto de Mbanza Kongo. Nos seus textos ele
explicita os objectivos do projecto (DOMINGOS, 2013, p.267, grifo nosso):

 Realçar o reconhecimento Nacional e Internacional do valor histórico-cultural de


Mbanza Kongo, antiga capital do Reino do Kongo;
 Tornar a cidade um pólo turístico;
 Valorizar a área cultural Kongo;
 Tornar Mbanza Kongo como uma sede espiritual do Cristianismo enquanto
realidade da matriz e identidade do Povo Angolano em geral e da população
Kongo em particular

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Pelo último item percebe-se o interesse intrínseco no regime com as diferentes
religiões cristãs da região, em especial, as Religiões Católica E Baptista, com
forte presença na cidade. Estas buscam se consolidar como vinculadas ao
passado cristão da cidade, marcado pela ruína da igreja, mas também pela
“memória” da aceitação do cristianismo por parte dos kongo. Não atoa, o bispo
católico da diocese de Mbanza Kongo “[…] considerou importante as
escavações, porque ajudam a descobrir o património da igreja católica no Reino
do Congo.” (ARQUEOLOGIA..., 2014).

A participação católica é entendida pelo projecto como integração da comunidade. O


trabalho arqueológico de escavação é o principal a ser realizado pelo projecto, se
juntando a ele a colaboração das autoridades tradicionais. Segundo Ziva Domingos:

As autoridades tradicionais e religiosas, os profissionais e os intelectuais


jogam um papel de biblioteca viva. Trazem os seus conhecimentos
adicionais sobre a história do reino e sobre os bens patrimoniais
existentes e na manutenção dos mesmos. Servem de guias para os peritos
fazendo visitar-lhes a Cidade e dando pistas para lugares com o potencial
arqueológico. Ainda, animam o sítio organizando cerimoniais
tradicionais: o tribunal tradicional e os rituais a volta da árvore sagrada.
(DOMINGOS, 2013, p.272). Há uma forte implicação das comunidades,
inclusive, as religiosas, na manutenção dos bens patrimoniais, a exemplo
das irmãs religiosas que tomaram para si a tarefa de limpeza do espaço
do Palácio Real. (DOMINGOS, 2015, p.59).

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Secção IV- Considerações Finais

Após dos confrontos feitos e leituras feitas por intermédio da internet e alguns livros
virtuais cheguei a seguinte ilação: M'Banza Congo é uma cidade de excecional
significado histórico. Capital do Reino do Kongo, governado pela dinastia dos
Menekongo, era, à data da chegada dos Portugueses, a maior cidade da África
subequatorial, recebendo a designação de São Salvador do Congo, nome que se manteve
até à independência de Angola, até 1975.

A cidade está limitada a norte pela República Democrática do Congo e pelo rio Zaire, a
oeste pelo município do Tomboco, a nordeste pelo município do Noqui e a este e a sul
pelas Províncias do Uige e do Bengo. O rei do Kongo, Ne Nwemba Nzinga foi batizado
a seu pedido, adotando o nome de D. Afonso I. Ao rei D. João I, antes o Mani Kongo
Nzinga a Nkuwu, deve-se a construção da mais antiga igreja erguida em terras de
África. O centro histórico de M'Banza Congo, classificado desde 10 de junho de 2013
como património cultural nacional, integra o valioso acervo incluído na candidatura à
lista do Património Mundial da UNESCO, sob o título “Mbanza Congo, Cidade a
Desenterrar para Preservar”.

Entre os bens a classificar contam-se o Palácio Real (hoje museu dos Reis do Congo), a
Árvore Sagrada Yala Nkuwu, o Lumbu (Tribunal Consuetudinário), o Kulumbimbi
(antiga Sé Catedral) e o cemitério dos Reis do Congo. M'Banza Congo Congo recebeu
em 1992 a visita do Papa João Paulo II. O fim dos conflitos em Angola trouxe de
regresso à sua terra dezenas de milhares de angolanos, muitos dos quais foram
absorvidos pelas suas comunidades tradicionais. No entanto, M'Banza Congo não
dispõe ainda de infraestruturas, de saneamento básico, saúde, educação e outras,
adequadas para responder às necessidades decorrentes do forte aumento da população
que acabou por se fixar nas zonas urbanas. Nos últimos anos, o município e o governo
têm desenvolvido grandes esforços para colmatar estas carências. A aceitação da
candidatura e posterior classificação deverá também representar um forte estímulo para
o desenvolvimento económico e social da cidade, com reflexos positivos no bem-estar
da população.

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Bibliografia e Referência

 ABRANCHES, H. Identidade e património cultural. Porto: Edições ASA, 1983.


ABRANCHES, H. Sobre culturas regionais angolanas. Luanda: União dos
Escritores Angolanos, 1979. ABRANCHES, H. Sobre o feiticismo. [Luanda?]:
Instituto Angolano do Livro, 1978.
 SANTOS, J. E. dos. Discurso do camarada presidente José Eduardo dos Santos,
na campanha eleitoral às eleições gerais de 2012. MPLA, Mbanza Kongo, 21
ago. 2012. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2016. SCHRAMM, K. Slave
route projects: tracing the heritage of slavery in Ghana. In: ROWLANDS, M.;
JONG, F. de.  Reclaiming heritage: alternative imaginaries of memory in West
Africa. Walnut Creek: Left Coast, 2007. p.71-98.
 SOUINDOULA, S. Comunicado final da mesa redonda Internacional sobre
Mbanza Kongo. H-net Online, 21 set. 2007. Disponível em . Acesso em: 20 out.
2016. TABLE Ronde Internationale sur l’Aire Culture Kongo/Teke, Nsi,
Luanda, n.4, p.42- 44, Nov. 1988. THORNTON, John.
 Mbanza Kongo. In: APPIAH, A., & GATES, H. L. Africana: the encyclopedia
of the African and African American experience. New York: Basic Civitas
Books, 2009. p.776.
 FRANCISCO, N. Mbanza Kongo celebra o dia do nkulumbimbi. O apostolado,
jul. 2015. Disponível em: . Acesso em: 25 abr. 2018. HEYWOOD, L. M.;
THORNTON, J. K. Central africans, atlantic creoles, and the foundation of the
Americas, 1585-1660. New York: Cambridge University Press, 2007.
 HEYWOOD, L. M. Mbanza Kongo/São Salvador: culture and the
transformation of an African City, 1491 to 1670s. In: AKYEAMPONG, E. et al.
Africa’s development in historical perspective. Cambridge: Cambridge
University Press, 2014. p.366-392. HISTORIADOR americano considera difícil
desligar tradição oral da escrita no Reino do Kongo.

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