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NEM TODOS OS RAPAZES

JOGAM FUTEBOL
Rita Paulos
BIOLOGIA VS CULTURA
Professora de História & Filosofia da
Ciência, Universidade de Melbourne

Doutoramento em Psicologia (2001) - Instituto de


Neurociência Cognitiva, University College London

Vencedora do Prémio Livro da Ciência 2017 pela


Royal Society com “Testosterone Rex”
CORDELIA FINE – DELUSIONS OF GENDER (2011)

1. Diferenças inatas no cérebro

2. Utilização da ciência para confirmação de estereótipos

Ideia do cérebro masculino orientado para o “mundo” e do


3. cérebro feminino para “pessoas” cria “profecias auto-realizadas”
CORDELIA FINE – DELUSIONS OF GENDER

Hormonas pré-natais geram


A
cérebros "masculinos” ou “femininos”

Os comportamentos de “género” são


B
inatos e não são alteráveis
CORDELIA FINE – DELUSIONS OF GENDER

“Testosterona pré-
natal elevada mata
células nas ligações
do cérebro referentes
à comunicação e à Não foram demonstradas
emoção” (Louann alterações no cérebro.

Brizendine) Assume-se relação direta com


o comportamento ignorando a
componente sócio-cultural.
CORDELIA FINE – DELUSIONS OF GENDER

“Hormonas pré-natais
geram a tendência
masculina para
sistematização e a
tendência feminina Não está provado que a
para empatia” (Simon quantidade no líquido
Baron-Cohen) amniótico corresponde à
testosterona sérica no
feto.
CORDELIA FINE – DELUSIONS OF GENDER

“Variação de hormonas,
especialmente antes do
nascimento, influenciam
padrões femininos e
masculinos de cognição Não é possível destrinçar o
e personalidade” (Steven biológico do cultural.
Pinker) Ocorre uma Curva de Gauss
nas diferenças entre
homens e mulheres.
CORDELIA FINE – DELUSIONS OF GENDER
Lateralização da Corpus
Linguagem no
Cérebro
Callosum

Não foram encontradas


Pequena amostra (38) que
diferenças significativas
indica diferenças (1995) vs.
uma meta-análise (2008) com entre os sexos numa
todos os estudos existentes meta-análise (1997)
(2000 cérebros) que não com 3000 cérebros
demonstra diferenças
STEVEN PINKER – THE BLANK SLATE (2002)

• Diferenças inatas • Maior adaptação • Cérebro


– divisão das para a naturalmente
funções sobrevivência estruturado para
aptidões e gostos
diferenciados
Não há Provas Pré- Utilização Seletiva Ausência de Provas
Históricas de Modelos Animais de Diferença nos
Cérebros
Livros de Ciência Popular sobre diferenças
entre os sexos influenciam projetos educativos
– abordagens diferenciadas em função do sexo

Expetativas de comportamentos, aptidões e


sucesso diferenciados em diferentes áreas

Profecias “auto-realizadas”
(e.g. Jane Butler Kahle, 1983)
IMPACTO NOS RAPAZES
LEITURA E
COMPETÊNCIAS
DE COMUNICAÇÃO

Exemplo de Solução
•Investir em conversas
desenvolvidas de como
Exemplo de Solução
foi o seu dia
•Incentivar a leitura com
as figuras parentais e a
Impacto
leitura autónoma
•Os rapazes apresentam
menor desenvolvimento
da capacidade de
comunicação e de
interesse na leitura
DEMONSTRAÇÃO
DE EMOÇÕES

Exemplo de Solução
• Incentivar os rapazes a
falarem do que sentem e que
Impacto podem exprimir medo,
tristeza, angústia ou dor
• Os rapazes aprendem que
demonstrar as suas
Facto dificuldades através da raiva
é a única forma de expressão
• Os bebés e crianças pré-
tolerável
escolares choram com a
mesma frequência e
quantidade, situação que só
se altera quando começam a
ter a noção de
“diferenciações de género”
PAPÉIS DE
GÉNERO
Exemplo de Solução
• Não permitir que as
expetativas sociais se
Facto sobreponham aos interesses
inatos, incentivando a
• As diferenças promovidas
exploração de qualquer
socialmente começam a ser
interesse ou preferência como
Facto interiorizadas entre os 2 e os
sendo tipicamente “humano” e
3 anos, quando passam a ter
• Os papéis de género não “feminino” ou “masculino”
consciência da diferença entre
continuam a ser reforçados
os corpos de rapazes e de
nos brinquedos e
raparigas e a noção da
brincadeiras, mas a
existência do “género”
investigação mostra-nos que
as crianças não nascem com
esta divisão de preferências
CUIDAR DE SI E
DOS OUTROS

Exemplo de Solução
• Solicitar que cuide de um/a
irmã/o mais novo ou de
Exemplo de Solução alguém sénior
• A família organizar a
partilha das tarefas
Impacto domésticas
• Os rapazes são menos independentemente do
competentes a limparem, sexo
cozinharem e cuidarem de
si e das outras pessoas,
tendo mais desafios para
se tornarem autónomos
enquanto pessoas adultas
MODELOS DE
MASCULINIDADE

Impacto
• Isto leva a valorizarem
menos o estudo e o bom-
Impacto comportamento e a sentir
com mais força o impacto
• Isto leva os rapazes a
do insucesso enquanto
fazerem uma pior gestão da
Facto emoção, a envolver-se em
provedor “financeiro” ou de
“segurança”
mais brigas e a correr mais
• Prevalece a ideia de que o
riscos, colocando-se em
que é afeto tradicionalmente
perigo, sofrendo mais
ao “feminino” é negativo, em
mortes e acidentes
contraste com a glorificação
dos esteretótipos
tradicionais “masculinos”
SOLUÇÕES?

“É relevante ensinar os rapazes a mostrar força – a força de


revelar as suas emoções e sentimentos; a providenciar para as
suas famílias – sendo cuidadores também; a serem fortes e
duros – o suficiente para não aceitarem a intolerância, o
abuso ou a discriminação; e dar-lhes confiança – de que
podem perseguir qualquer atividade que os apaixone,
independentemente do que seja.”

Claire Cain Miller


JUVENTUDE LGBTI
HOMOFOBIA Fortemente ligada à noção de comportamentos associados
ao outro sexo e à complementaridade dos sexos

“ Uma rapariga deve gostar de um rapaz e vice-versa. „


“ Quem faz de homem e quem faz de mulher? „
“ Um rapaz que gosta de um rapaz está a comportar-se como uma rapariga. „
“ Uma lésbica tem maneirismos ou aparência “masculinizada” e um gay “efeminada”. „
“ Há profissões típicas de gays e de lésbicas. „
“ Se não jogas futebol e preferes fazes ballet és gay. „
Inerentemente ligada à não aceitação de comportamentos
TRANSFOBIA e/ou de uma identificação que não correspondam ao sexo
atribuído à nascença e aos modelos/normas de género

~ Dificuldades de pessoas transexuais terem a sua identidade de género


reconhecida no contexto clínico ou social porque não correspondem a
estereótipos de género.

~ Dificuldades das pessoas genderqueer ou não-binárias serem aceites como


tal.

~ Associação de interesses ou comportamentos associados a outro sexo da


parte de crianças ou jovens como indicativo de ser homossexual ou transexual.

~ Associação de expressão de género não normativa a todos as pessoas


lésbicas, gays ou bissexuais e confusão com transexualidade.
PONTOS DE REFLEXÃO

» Expressão de Género – O elemento-base causador da discriminação


e a chave para a igualdade

» Utilidade das Médias – Para quê, para conhecer tendências? – qual a


relevância?

» Permitir as pessoas serem elas próprias – Não necessariamente a


promoção do género neutro, mas o reconhecimento da não existência
real do género – somente de pessoas com corpos diferentes e funções
biológicas diferenciadas no ato reprodutivo, na gestação e na
amamentação.
CONTACTOS

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96 008 11 11

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