Você está na página 1de 35

Poetas contemporâneos

António Ramos Rosa e Herberto Helder

Disciplina: Português
Trabalho realizado pelos alunos: Data de realização: 14-03-2023
Rita Marinho nº1
Bruna Gonçalves nº3
Mariana Rodrigues nº
Rúben Valente nº 24
Duarte Matos nº 5
Introdução

Com este trabalho pretendemos dar vos a conhecer um pouco da vida e obra de dois
poetas contemporâneos portugueses de renome: António Ramos Rosa e Herberto Helder.

Estes autores escreveram numa mesma época histórica e literária, sendo assim, iremos
analisar convosco alguma da sua produção literária, tendo como focos principais: o tema da sua
escrita, alguns recursos expressivos utilizados, conteúdos lecionados relacionáveis e linhas
temáticas contemporâneas presentes.
Poetas em estudo
António Ramos Rosa Herberto Helder
António Ramos Rosa (1924-2013)
Biografia

• Nasceu a 17 de outubro de 1924, em Faro;


• Faleceu a 23 de setembro de 2013 (com 88 anos),em Lisboa, devido a uma infeção respiratória.

António Ramos Rosa foi um poeta, tradutor e desenhador português. Realizou

estudos secundários em Faro, mas não os terminou dado a problemas de saúde. Ao longo da sua

vida, trabalhou como empregado de escritório, tradutor e professor. Contudo, abandonou o seu

emprego para se dedicar única e exclusivamente à atividade literária.


António Ramos Rosa (1924-2013)
Biografia

A sua poesia foi muito variada do ponto de vista formal e discursivo e as


suas primeiras obras aproximavam-se do neorrealismo. Mas, com o passar dos anos,
tentou encontrar uma escrita original.
As suas obras destacavam sensualidade das formas de uma mulher, de
uma planta, de um curso de água, mas também das próprias palavras.
António Ramos Rosa (1924-2013)
Contextualização histórico- literária
António Ramos Rosa viveu grande parte da sua vida durante o Estado Novo e, mais tarde,
assistiu ao início da democracia, tendo integrado o movimento de união democrática (MUD).

Discurso proferido por Cavaco Silva


Manifestação do MUD, Porto, 1945
“Não posso adiar o amor para outro século”

Tema: o amor e a passagem do tempo.

Este poema fala-nos de um amor inadiável, desde logo


visível no título.
O sujeito lírico afirma sua incapacidade de negar o
amor, uma vez que o amor surge no poema como sinónimo de
vida e de liberdade, este termina afirmando a sua incapacidade de
adiar o amor, ou seja, a vida, reclamando uma existência em que a
liberdade esteja no centro da sua vida.
“Não posso adiar o amor para outro século”
Recursos expressivos:
O facto de o amor ser inadiável, é bem visível na construção
anafórica do poema, em que no primeiro verso de cada estrofe se
repete a mesma expressão. hipérbole

A existência de duas forças opostas, sendo elas o amor e o


ódio, sugere a presença da antítese.
metáfora
Encontramos uma metáfora na segunda estrofe, onde o antítese
sujeito poético contrapõe o amor como se fosse um abraço, “uma arma
de dois gumes”.
É possível detetar a presença da hipérbole em “o grito sufoque
na garganta” e “ódio estale e crepite e arda”, pois são exageros da
realidade.
“Não posso adiar o amor para outro século”

Esquema rimático
Estrutura externa:
O poema não apresenta uma estrutura
estrófica, nem métrica regular.
Em quase todo o poema, existe uma
ausência de rima, exceto na 1ª estrofe, onde podemos
encontrar dois versos emparelhados.
O poema é constituído por quatro estrofes,
Rima emparelhada
sendo a primeira uma sextilha, a segunda um terceto,
a terceira uma sextilha e a quarta um monóstico.
Semelhança com a poesia lírica Camoniana
À semelhança da poesia lírica de Camões, o amor é retratado neste poema, de António Ramos Rosa, como algo que
o sujeito poético ambiciona e com o qual este se concretiza, contudo realçando a dualidade deste sentimento.

Poesia de António Ramos Rosa Poesia de Camões

• O amor surge no poema • Natureza do que é o amor:


como sinónimo de vida e de um sentimento que nos leva
liberdade a ideias controversas sem
que se perca o seu sentido
• A existência de duas forças
opostas, sendo elas o amor e • Aproximação de ideias
o ódio opostas

• o sujeito poético contrapõe o • A ideia que se exprime é a da


amor como se fosse um possibilidade de dualidades
abraço, “uma arma de dois do Amor, essa dor que
gumes” consegue ser tão prazerosa
Quais são as linhas temáticas presentes que abrangem os poetas
contemporâneos?

Linha temática: tradição literária Linha temática: representações do contemporâneo

Temas abordados
Necessidade do sujeito
recuperados do
poético de viver o
passado:
presente e não adiar
• Amor nada para o futuro.
• Passagem do tempo.
“O grito claro”

• Tema: Contraste entre opressão e liberdade.


Nome
O título remete-nos para a ideia de clareza, nomeadamente acompanhado
de um adjetivo
a recusa do que está para trás.
Ao longo dos versos o sujeito poético, caracteriza cada
nome com um adjetivo, ou seja ele caracteriza cada um dos vários
momentos maus que passou, o que o faz “abrir os olhos” para seguir
em frente e deixar todos os seus erros, e os momentos menos bons
para trás, nascendo o grito claro, uma espécie de luz.
“O grito claro”

Recursos expressivos:
• Anáfora: Repetição da preposição “de”, que nos indica as várias origens
deste grito claro. “de escadas insubmissas”, “de fechaduras alerta”, “de
chaves submersas”...

• Anástrofe: Há uma inversão da ordem dos constituintes, o poeta começa


com versos com os complementos oblíquos do verbo nascer, para dar
atenção a este constituinte.
“O grito claro”

Esquema rimático
A
• Estrutura externa: B
O poema é constituído apenas por uma décima, isto é, uma C
D
única estrofe com 10 versos. E
F
Verifica-se apenas uma rima emparelhada. Quanto à métrica verifica-se
G
também uma irregularidade. G
H
I

Rima emparelhada
Semelhança temática

Podemos relacionar o poema “o grito claro”, de António Ramos Rosa,


com um quadro que foi abordado no ano passado, especialmente
em apresentações orais, intitulado “o grito”, de Edvard Munch.
Encontramos a representação de um indivíduo a gritar, que talvez
também dê um grito claro no sentido de se libertar, visto que, no fundo, existe
um contraste de tons quentes com cores escuras.
Encontramos duas pessoas em segundo plano, que podem
simbolizar uma sociedade que reprime, e o homem que grita, tal como o poeta,
não quer ser submisso às regras dessa sociedade.

“o grito”, Edvard Munch.


Quais são as linhas temáticas presentes que abrangem os poetas
contemporâneos?

Linha temática: representações do contemporâneo

O entendimento do
poema surge como imagem
do quotidiano.
Ao longo do poema o sujeito
lírico vai falando sobre as
coisas que acontecem no seu
dia-a-dia.
Herberto Helder (1930-2015)

Biografia

• Nasceu em 23 de novembro de 1930 em Funchal, Madeira, Portugal;


• Morreu no dia 23 de março de 2015 (84 anos), Cascais.

Herberto foi um português que viveu a maior parte da sua vida em Cascais. Em 1948,
matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, mudou para a Faculdade de
Letras, aí frequentando o curso de Filologia Romântica, que não chegou a concluir.

Saiu de Portugal rumo à Europa, vivendo em França, na Holanda, na Bélgica e na


Dinamarca, onde teve diversos empregos (criado, operário, carregador e guia de
marinheiros).
Herberto Helder (1930-2015)

Biografia

Regressado a Portugal, em 1960, integrou o serviço de bibliotecas


itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, foi redator de noticiário
internacional, colaborou em programas televisivos e fez publicidade. A partir da
década de 60, começou a publicar livros com mais regularidade e colaborou em
diversas revistas.
Herberto Helder (1930-2015)

Contextualização histórico- literária

Herberto Hélder viveu durante o Estado Novo e na Democracia, presenciando


assim duas maneiras de governo.
Das quatro vertentes do modernismo Herberto viveu o Presencismo, Neorrealismo e o
Surrealismo.

Teve, antes do 25 de Abril, uma ficha na Polícia Internacional e de Defesa do Estado


que o identifica numa biblioteca em Castro Verde como alguém com “características
comunistas”. Este foi também, por algum tempo, filiado no Partido Comunista Português.

A sua escrita começou por se situar no âmbito de um surrealismo tardio. Em 1964


organizou com António Aragão o 1.º caderno antológico de Poesia Experimental, marco histórico
da poesia portuguesa.
“O poema”

• Tema: Ato da criação poética.

Este poema procura explicar o que é um poema, e reflete


sobre o modo como o poema nasce. O sujeito poético refere a forma
como cria a sua poesia, remetendo para uma espécie de ato que brota
de dentro para fora, de carácter espontâneo.
É uma analogia entre os sentimentos do autor e a
circulação do sangue humano.
“O poema”

• A primeira estrofe aborda a génese do poema, centrada no seu criador e


na sua energia criativa.

• A segunda estrofe apresenta a realidade exterior, a natureza, de certa


forma passiva («inalteráveis», «paz», «dormindo» e silêncio»), mas, por
outro lado, potenciadora do ato de criação poética («bagos de uva de
onde nascem / as raízes minúsculas do sol»), isto é, a natureza surge como
fonte inspiradora da poesia do poeta.
“O poema”

• A terceira estrofe confirma a ideia de que o poema se funde com a


realidade exterior.

• O último verso sugere que o poema e a sua mensagem transcendem o


homem e a sua finitude, e que o poema, pelo poder que a palavra assume,
é fonte de transformação contínua da realidade.
“O poema”

• Recursos expressivos:

Detetamos a comparação estabelecida entre o ato de


criação poética e a circulação do sangue humano, o que mostra a
naturalidade e a falta de controlo do processo criativo.

Está presente a enumeração assindética («e as luzes», «e a


força», «e a redonda»), que reforça o poder indestrutível do poema e
a sua capacidade de reinventar o mundo através da palavra.
“O poema”

• Estrutura externa:
O poema é constituído por 5 estrofes, com diferente número
de versos. Também se verifica a ausência de rima e uma métrica
irregular.

Esta irregularidade formal atesta a despreocupação do


sujeito poético pela forma da sua poesia, dando-lhe um carácter mais
espontâneo e valorizando o seu conteúdo.
Intertextualidade com Alberto Caeiro
À semelhança de Herberto Helder, também este heterónimo, de Fernando Pessoa, afirma que a arte poética deve ser
espontânea, como um qualquer ato da natureza, e não demasiado elaborada ou trabalhada. Caeiro, tal como o sujeito poético desta
composição, também não demonstrava qualquer preocupação com a estrutura formal.

Poesia de Alberto Caeiro

• No poema “O Guardador de
Rebanhos”, Alberto Caeiro
também afirma que o ato de
criação poética é espontâneo.

• Irregularidade da estrutura
formal
(naturalidade/espontaneidade)
Quais são as linhas temáticas presentes que abrangem os poetas
contemporâneos?

Linha temática: arte poética

O poema remete para a


centralidade que a própria
poesia ocupa no processo
de criação.
É uma composição que
explora o próprio trabalho
poético.
“Aos amigos”

• Tema: um amor pacífico e sem agitação pelos


amigos, as suas relações interpessoais.

O sujeito poético exprime um sentimento de


amor perante os seus amigos, sendo este um amor sem
agitações nem desassossegos (“Amo devagar”).
Ao longo do poema, encontramos também uma
representação do quotidiano e das relações interpessoais
que o sujeito lírico mantém com os seus amigos.
“Aos amigos”
• Recursos expressivos:

Encontramos uma dupla adjetivação que


caracteriza o talento partilhado pelo poeta e os seus
amigos, remetendo para algo negativo.

É visível o uso expressivo dos advérbios


“devagar” e “profundamente”, que servem de
modificadores do grupo verbal e que por isso, ajudam a
salientar as ações desses verbos (amar e voltar-se).

A metáfora “um lugar de silêncio/De paixão”


remete para o lugar simbólico construído pelo poeta e
pelos seus amigos, um lugar que só existe para eles,
pleno de harmonia, tranquilidade e paixão.
“Aos amigos”

• Estrutura externa:

O poema é constituído por uma única estrofe,


constituída por oito versos.

Apresenta, mais uma vez, uma métrica irregular e


a ausência de rima.
Quais são as linhas temáticas presentes que abrangem os poetas
contemporâneos?

Linha temática: representações do contemporâneo

Ao longo do poema,
encontramos uma
representação do
quotidiano e das relações
interpessoais que o sujeito
lírico mantém com os seus
amigos.
Conclusão
Ao realizarmos este trabalho conseguimos perceber as diferenças que se estabelecem entre estes
dois poetas contemporâneos. António Ramos Rosa mais focado em representar o seu quotidiano e tecer
considerações à cerca do mesmo, e Herberto Helder mais preocupado em expor os seus sentimentos,
contudo, de uma forma enigmática, pois nem sempre a sua escrita é fácil de decifrar.

Você também pode gostar