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Resenha : A República - Livro VII

Sócrates prossegue o que lhe foi demandado no livro anterior, a busca do bem em si.
Para isso, ele ilustra uma caverna escura na qual prisioneiros encherga somente as sombras
de seres e objetos transportados atrás deles, graças a um fogo forte atrás deles que as
projeta nas paredes e um muro que os separa. Desse modo, ele tenta elucidar como seria
difícil e doloroso para um desses prisioneiros, caso libertado, a descoberta das coisas reais
diante da luz que queimam seus olhos. Sendo assim, ele diz ser necessário que essa
descoberta se dê de forma branda para que ele se mantenha no caminho da verdade e não
se intimide com a luz a ponto de querer retornar à ignorancia das sombras. E assim,
quando íntimo da ideia do bem, retornar à caverna para encaminhar os outros prisioneiros
ao conhecimento verdadeiro e mais profundo, do mesmo modo brando, para que estes não o
recebam com desdém e risos céticos.

Os que apresentam uma tendência natural para governar devem seguir um gênero de
vida criado para o bem da cidade, que exercitem o pensamento e o corpo, e passem a se
ocupar da filosofia e das atividades políticas na idade correta. Sua formação se inicia,
então, pelo conhecimento que existe de comum em todos os tipos de ciência, e que instiga a
inteligência. Sócrates diz que esse conhecimento é a matemática, pois é fundamental à vida
comum, assim como à guerra. Fundamental ao conhecimento da essência das coisas em
particular, que só é devido ao seu contrário, que se pressupõe existente necessariamente
para que o outro exista e seja concebido pela inteligência, na qual onde é possível
particularizar cada coisa e compreendê-la em si como particular.

Sendo o geometria aquele que analisa apenas o que é, ele se destina na busca
somente da verdade, sendo assim, outro conhecimento a ser ensinado é o da geometria.
Sócrates continua seu raciocínio afirmando que um terceiro conhecimento se faz necessário
antes da astronomia que analisa a profundidade, uma que só pode ser descoberta quando
esses filósofos governantes terem a experiência dessa educação que visa o bem da cidade.
Pois assim serão sábios o bastante para enxergar o que é que relaciona todas as ciências.
Sendo assim, verifica-se que é por meio da inteligência que é possível compreender o bem
em si, ou seja, por meio da dialética. Porém, não é possível discorrer nesse ponto sobre a
natureza e as espécies da dialética, pois quem é capaz de fazê-lo, se Sócrates está correto,
são aqueles que foram formados pela educação e boa instrução sugeridos desde os livros
anteriores até o presente livro.

Mas é possível classificar os 4 tipos de conhecimentos: a inteligência, o


entendimento, o sensível e a imaginação. Desse modo, deve-se destinar esses
conhecimentos às crianças para que elas formem as cidades, e distinguí-las entre as de
natureza para governar e as de cidadãos. E quando jovens de 20 anos, verificar se as de boa
natureza realmente tendem a se apropriar da dialética de modo digno reconhecendo sua
total plenitude, ou se as portam como utensílio de satisfação retórica para fins de prazer
juvenil. Em seguida, aquele que vislumbra o bem em si, desce a caverna e parte para a
guerra, retorna apenas aos 50 anos, quando suficientemente amadurecido para se dedicar à
filosofia e às atividades políticas, visando manter o bem da cidade, pois entende a
necessidade disso e acata sua função natural. Chegando ao fim da discussão sobre os
conhecimentos mais importantes, Sócrates ressalta que tudo o que foi dito até aqui é válido
para as mulheres, e que isso só se realizará a partir do momento que os poucos velhos
sábios existentes no mundo atual se deslocarem para o campo e educar as crianças de modo
que tudo se realize da forma mais semelhante possível com o ideal discorrido até aqui.

Parece que a parte mais difícil foi resolvida por Platão neste livro VII, se seu ideal é
possível e como fazê-lo. Porém, tenho para mim que o próprio modo de fazê-lo está restrito
a uma utopia, pois parece que a primeira ação tem de partir voluntariamente de algum bom
velho sábio e virtuoso. Para esclarecer esse meu pensamento, pergunto: como o primeiro
prisioneiro se libertaria das correntes na caverna? Quem o libertaria?

Referências bibliográficas

Platão. A República. Tradução, introdução e notas de Eleazar Magalhães Teixeira.


Fortaleza, Edições UFC, 2009, 371 pgs.

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